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INTERAÇÕES ESPACIAS DA CIDADE DE GUANAMBI NO CONTEXTO DO CENTRO-SUL BAIANO
Sofia Rebouças Neta Pereira1
RESUMO
O artigo discute as interações espaciais, historicamente estabelecidas, entre a cidade de Guanambi/BA e as demais da sua Região de Influência, destacando seu papel frente ao entorno e à rede urbana do estado. Para isso, analisa a especialização funcional que a coloca como um centro sub-regional A na hierarquia urbana estadual, com destaque dos serviços que mais contribuíram para a expansão da sua região de influência. Para obtenção das informações e dados deste estudo, conciliaram-se pesquisas bibliográficas e em publicações de órgãos públicos com pesquisas de campo, por meio de entrevistas, com moradores e questionários direcionados à população flutuante. Assim, observou-se que o comércio e a prestação de serviços em: educação e saúde desempenham papel fundamental para a centralidade urbana dessa cidade. Palavras-chave: Região de influência. Centralidade. Cidade de Guanambi. Interações espaciais. 1 INTRODUÇÃO
A ocupação do núcleo inicial da cidade de Guanambi remonta ao final do século XIX,
às margens do rio Carnaíba de Dentro, época em que os tropeiros comercializavam gêneros
alimentícios e especiarias diversas produzidas em outros recantos da Bahia, Minas Gerais ou
importadas da Europa, ao pousarem nesse lugar para descansar. De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município foi criado em 1919, desmembrado do
de Monte Alto e instalado em 1920 (IBGE, 1958, p.244). Desde tal época, o desenvolvimento
das culturas do algodão e do arroz deram destaque à Guanambi no estado da Bahia. Além disso,
a realização da feira livre constituiu outro elemento de favorecimento à dinâmica do comércio
local. Essa feira cresceu e hoje consagrou-se como um dos setores econômicos da cidade que,
junto ao comércio varejista e atacadista, movimenta grande fluxo de pessoas, todas as segundas
e quintas-feiras.
A posição da cidade de Guanambi como centro regional de maior expressão inicia-se
no percurso das décadas de 1970 e 1980 quando a monocultura do algodão no município e
região contribuiu tanto para a ampliação da oferta de produtos no comércio local quanto a
implantação de diversos serviços e equipamentos de abrangência regional. Desse modo, 1 Doutoranda em Geografia/UFBA. Docente do Instituto Federal Baiano – Campus Guanambi, [email protected]
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percebe-se que tais aspectos colaboraram para o fortalecimento dessa cidade como distribuidora
de bens e/ou prestadora de serviços para a população local e regional. De acordo com Christaller
(1966), esses locais denominam-se “localidades centrais” e a centralidade de que dispõem
provém de seu papel como centro distribuidor de bens e/ou de serviços, segundo as funções que
historicamente desempenham.
A partir do ano 2000, a cidade de Guanambi passou por grandes mudanças: o comércio
foi impulsionado e os novos investimentos públicos e privados em educação e saúde
redefiniram as funções urbanas e permitiu-lhe consolidar-se como polo de comércio e de
serviços mais elevados para sua região. Essa rede urbana de Guanambi vai se consolidando e
as articulações entre ela e os centros urbanos do entorno ocorrem em diferentes intensidades e
escalas. Nas palavras de Corrêa, “[...] no bojo do processo de urbanização a rede urbana passou
a ser o meio através do qual produção, circulação e consumo se realizam efetivamente”
(CORRÊA, 1989, p.5).
O estudo Regiões de Influência da Cidade (REGIC, 2008) reconhece a cidade de
Guanambi como um Centro Sub-regional A, condição de centros que detêm serviços variados
e dinâmicos nos setores de comércio, educação, saúde, justiça, transportes e outros, capazes de
atrair muitos consumidores da sua região imediata, uma vez que muitos desses serviços não
podem ser mantidos nas outras localidades por serem incapazes de se autossustentarem ao
atenderem, exclusivamente, à demanda local.
Assim, este trabalho tem como objetivo analisar as interações espaciais entre
Guanambi e sua região de influência, a fim de explicar a importância socioeconômica dessa
cidade frente às outras da região. Além da pesquisa bibliográfica, realizaram-se as pesquisas
em publicações de órgãos públicos e de campo. Tais coletas forneceram elementos para analisar
a intensidade das relações entre Guanambi e sua região de influência, identificar a origem e o
destino dos fluxos populacionais e permitir a apreensão das articulações verificadas no espaço
urbano regional de Guanambi, possibilitando explicar a dinâmica interna do município. 2 CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DA REGIÃO DE INFLUÊNCIA DE GUANAMBI
O estudo das interações espaciais entre as cidades requer a definição dos aportes teóricos
e metodológicos que fundamentarão as análises realizadas. Assim, nesta pesquisa utilizou-se os
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conceitos de centralidade (CHRISTALLER,1966) e rede urbana (CORRÊA, 1989),
considerados essenciais para a compreensão das inter-relações entre as cidades. Para identificar
e diferenciar os núcleos urbanos que compõem a Região de Influência de Guanambi analisou-
se a evolução demográfica e socioeconômica desses espaços nas últimas décadas. Além disso,
procedeu-se o entendimento do papel funcional que a cidade de Guanambi exerce na rede
urbana. Para tanto, optou-se por analisar serviços tidos como impulsionadores da interação entre
as cidades como ensino superior e saúde.
Christaller (1966), nos seus estudos sobre o desenvolvimento dos lugares centrais,
afirma que um lugar central não somente distribui bens e serviços relativos à sua importância,
mas também a outros centros colocados em uma posição inferior. Para o referido autor, a região
complementar é aquela região em que há déficit de importância. Essa deficiência surge
contrabalanceada pelo excedente de importância da localidade central (CHRISTALLER, 1966,
p. 22).
Para Garner (1975, p. 128), as “[...] localidades de ordem mais elevadas fornecem
todos os bens a localidades de ordem mais baixa”, pois possuem “mais estabelecimentos,
populações maiores, áreas de comércio e populações de áreas de comércio e fazem maior
volume de negócios do que as povoações de ordem mais baixa”. Para esse autor, “as
localidades centrais de ordem mais baixa, ao serem providas com bens e serviços de ordem
mais elevada estão contidas ou ‘aninhadas’ dentro das áreas de comércio das localidades de
ordem mais elevada”. No estudo REGIC (IBGE, 2008) a cidade de Guanambi classifica-se
como Centro sub-regional A, exercendo influência sobre vários centros urbanos do entorno.
Essa condição enquadra os centros que possuem cerca de 95 mil habitantes e 112
relacionamentos. Neste sentido, Guanambi exerce influência sobre o Centro sub-regional B,
Bom Jesus da Lapa; sobre os centros de zona A, Caetité, Santa Maria da Vitória e Macaúbas;
sobre os centros de zona B, Ibotirama e Caculé. Influencia também os centros locais: Candiba,
Carinhanha, Feira da Mata, Iuiú, Jacaraci, Malhada, Matina, Palmas de Monte Alto, Pindaí,
Riacho de Santana, Sebastião Laranjeiras, Urandi, Licínio de Almeida, Mortugaba, Rio do
Antônio, Ibiassucê, Botuporã, Igaporã, Lagoa Real, Tanque Novo, Paratinga, Serra do
Ramalho e Sítio do Mato.
Em relação aos estudos sobre a rede urbana, os geógrafos os abordam por diferentes
vias. “As mais importantes dizem respeito à diferenciação das cidades em termos de suas
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funções, dimensões básicas de variação, relações entre tamanho demográfico e
desenvolvimento, hierarquia urbana e relações entre cidade e região” (CORRÊA, 1989, p. 10).
Neste estudo consideraram-se como vias de análise a evolução demográfica e socioeconômica
da Região de Influência de Guanambi. Em termos demográficos, observam-se variações na
dinâmica populacional dos municípios que compõem essa região, no período de 1970 a 2010
(Tabela 1). Entre 1970 e 1980 ocorreu aumento populacional mais acentuado de determinados
municípios, como é o caso de Bom Jesus da Lapa (5,4%), Ibotirama (4,9%), Guanambi (3,9%)
e Rio do Antônio (2,9%), que superaram a média de crescimento do Brasil (2,5%), da Bahia
(2,4%) e da Região de Influência de Guanambi (2,2%).
Tabela 1 - REGIÃO DE INFLUÊNCIA DE GUANAMBI CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL, 1970 – 2012
Fonte: IBGE. Censos demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010 Sistematização dos dados: Sofia
Rebouças Neta Pereira. (*) Municípios emancipados em 1991 (**) Estimativas 2012
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Ao observar o censo de 1991, constatou-se mudanças no contingente demográfico dos
municípios da região complementar de Guanambi, em virtude do desmembramento de muitos
deles devido suas emancipações políticas. Fato que provoca o decréscimo na taxa geométrica
de crescimento anual desses municípios, a saber, Botuporã (-6,9%) com a criação do município
de Tanque Novo; Bom Jesus da Lapa (-3,9%) com a emancipação política de dois dos seus
distritos: Serra do Ramalho e Sítio do Mato; Malhada (-2,5%) com a emancipação política de
Iuiú; Riacho de Santana (-1,9%) com a criação do município de Matina; Caetité (-1,1%) com a
criação do município de Lagoa Real. Somente Carinhanha manteve crescimento ascendente de
(1,4%) apesar da independência política de Feira da Mata. Licínio de Almeida, mesmo sem tal
fragmentação, houve redução de (-1,9%) da taxa de crescimento. Nesse decênio, as maiores
taxas de crescimento ocorreram em Guanambi (3,7%), Sebastião Laranjeiras (3,6%), Ibotirama
(3,1%) e Palmas de Monte Alto (2,7%). A Bahia apresentou um crescimento de 2,3%, sendo
maior que o do Brasil (1,9%). Entre 1991 e 2000, as maiores taxas de crescimento foram observadas em Sítio do Mato (3,1%),
Tanque Novo (2,2%) e Licínio de Almeida (2,0%). Entretanto observou-se que os municípios: Pindaí (-
0,7%); Candiba (-0,4%); Serra do Ramalho, Iuiú e Jacaraci (- 0,3%); Mortugaba, Palmas de Monte Alto
e Feira da Mata (-0,2%); e Santa Maria da Vitória (-0,1%) apresentaram declínio demográfico. Ainda
assim, a média geral de crescimento da Região de Influência de Guanambi (1,1%) foi maior que a da
Bahia (1,0%) e menor que a do Brasil (1,4%) no referido período.
No período entre 2000 e 2010, as maiores taxas de crescimento foram verificadas em
Bom Jesus da Lapa (1,6%), Macaúbas (1,2%), Guanambi/Caculé (0,9%) e Matina (0,8%).
Todavia, nessa década, houve decréscimo na taxa de crescimento de Ibiassucê (-2,4%);
Botuporã/Serra do Ramalho (-0,3%); Santa Maria da Vitória (-0,2%); Feira da Mata/Mortugaba
(-0,1%). Neste contexto, a Região de influência de Guanambi apresentou média de crescimento
de 0,5%, seguido pela Bahia com 0,7% e, por último, o Brasil com 1,2%.
As estimativas de aumento populacional para 2012 mostraram que Jacaraci configurou
a maior taxa de crescimento geométrico da população – 0,6%, e os municípios de Bom Jesus
da Lapa, Caculé, Lagoa Real, Macaúbas, Matina, Rio do Antônio e Sebastião Laranjeiras
apresentaram crescimento de 0,2%, o mesmo percentual do Brasil. Outros apresentaram
decréscimo como: Mortugaba (- 0,6%), Ibiassucê (- 0,5%) e Botuporã (- 0,2%). Verificou-se
também crescimento de 0,1% em Guanambi e noutros municípios da sua Região de Influência.
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Apesar dessas oscilações, o município de Guanambi manteve crescimento ascendente ao longo
das décadas apresentadas. No gráfico a seguir, pode-se observar a trajetória demográfica de
Guanambi e dos municípios mais populosos de sua Região de influência.
A análise da dinâmica populacional apresentada na Figura 1 permite inferir que as taxas
geométricas de crescimento anual dos municípios supracitados oscilaram entre 1970 e 2010,
mas a população de Guanambi, que em 1970 era menor do que a de três outros municípios
(Bom Jesus da Lapa, Caetité e Santa Maria da Vitória), cresce paulatinamente, de modo que,
em 1991, já ultrapassa a de todos eles e mantém a ascensão, tornando, desse modo, o município
mais populoso dentre os citados. Isso se explica pela trajetória das atividades econômicas
desenvolvidas no município: de grande produtor de algodão nas décadas de 1970 e 1980 a
importante centro de comércio e serviços a partir dos anos 2000, funções que contribuíram para
atrair população e consolidar o papel dessa cidade como centro regional. Em 1970 a população
total de Guanambi era de 31.174 habitantes, atingiu 45.520 habitantes em 1980 e 65.592
habitantes em 1990. Diante disso, observou-se que a população duplicou em 20 anos e, a partir
de então, no ano de 2001 alcançou 71.728 habitantes, 78.801 habitantes em 2010 (Censo IBGE)
e 85.237 habitantes em 2014 (Estimativa IBGE, 2014).
Figura 1 - REGIÃO DE INFLUÊNCIA DE GUANAMBI EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA
DOS DEZ MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS, 1970 – 2010 Fonte: IBGE. Censos demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000, 2010. Elaborado gráfica: Sofia Rebouças
Neta Pereira
Em 2012, quanto aos aspectos econômicos, o município de Guanambi apresentou
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Produto Interno Bruto (PIB) total de R$ 691.145,00 e PIB per capita de R$ 8.733,80 (IBGE,
2012). Os três municípios com maior PIB na Região de Influência são: Guanambi, Bom Jesus
da Lapa e Caetité; com a seguinte distribuição: Guanambi possui 84% do PIB proveniente do
setor de serviços, seguido por Caetité com 71% e Bom Jesus da Lapa com 70%. No que se
refere à produção agropecuária, o município de Bom Jesus da Lapa alcançou o maior PIB, com
20%, em decorrência do perímetro irrigado em plena produção (fruticultura); em seguida,
Caetité com 7% e Guanambi com 4%. No tocante à indústria, Caetité encontra-se em primeiro
lugar com 22%, em seguida Guanambi com 12% e, por último, Bom Jesus da Lapa com 10%.
Notadamente Guanambi apresenta a maior parcela do PIB no setor de serviços (IBGE, 2009).
Vale considerar que, na primeira década do século XXI, houve elevação do PIB dessa região,
no entanto, a renda permaneceu concentrada nas mãos de uma minoria (IBGE, 2010). O setor
de emprego e renda do município se apresenta aquém do esperado, ensejando maiores
investimentos em projetos sociais, maior geração de emprego e melhor distribuição de renda.
O destaque de Guanambi no setor de serviços pode ser visto por meio dos dados do
Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), (IBGE, 2010). Nessa região, os três municípios que
se destacam em maior número de empresas cadastradas são: Guanambi com 2.513 unidades,
Bom Jesus da Lapa com 1.459 unidades e Caetité com 910. Prevalecem os setores de comércio,
reparação de veículos automotores e motocicletas em Guanambi com 1.524 unidades, Bom
Jesus da Lapa com 933 e Caetité com 496.
Outros setores também se sobressaem pelo maior volume apresentado em Guanambi,
Bom Jesus da Lapa e Caetité, com seus respectivos valores, são as indústrias de transformação,
219, 43 e 83; os serviços de saúde humana e social, 121, 39 e 31 e a construção com 63, 14 e
27. Destaca-se também o número de atividades administrativas e serviços complementares em
Guanambi (78), Bom Jesus da Lapa (32) e Caetité (30); e as instituições educacionais com 68
unidades em Guanambi, 36 em Bom Jesus da Lapa e 19 em Caetité. Em relação à quantidade
de empresas, percebe-se a primazia do setor de serviços em Guanambi ao ocupar 51%, Bom
Jesus da Lapa 30% e Caetité 19% (IBGE, 2010).
A análise da Figura 2 possibilita perceber que a cidade de Guanambi possui o maior
número de empresas instaladas dentre as principais cidades de sua região de influência e permite
inferir que a diversidade também apresenta superior, o que eleva a sua importância frente aos
demais municípios da sua hinterlândia. Assim, o setor terciário da cidade tem se ampliado
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devido à demanda de um mercado regional em expansão.
Figura 2 - MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE INFLUÊNCIA DE GUANAMBI COM MAIOR
QUANTIDADE DE EMPRESAS Fonte: IBGE, cidades@ 2006, 2010
Elaboração gráfica: Sofia Rebouças Neta Pereira
Conforme Christaller (1966), à medida que a cidade se transforma e assume novas
funções, ela passa a oferecer mais serviços para uma população externa, residente na “região
complementar” Quanto maior a quantidade de funções ofertadas pela cidade, maior a
centralidade exercida e, consequentemente, maior a área de influência que atenderá
consumidores não só do entorno imediato, mas de localidades mais distantes, estendendo o
tamanho e a hierarquia da rede urbana.
Dessa forma, a articulação gerada entre os centros urbanos de hierarquia complementar
contribui para fortalecer a interdependência e diferenciação entre eles, pois, ao atender às
demandas dos centros de ordem mais baixa, os centros de ordem mais elevada veem as suas
receitas ampliarem-se. Sendo assim, é comum haver menos localidades maiores do que menores
numa região, e dos centros maiores fornecerem um número e variedade maior de bens do que
as localidades pequenas (GARNER, 1975).
3 INTERAÇÕES ESPACIAIS DA CIDADE DE GUANAMBI COM SUA REGIÃO DE INFLUÊNCIA
A frequência e intensidade das relações socioeconômicas entre os diferentes agentes
sociais de uma determinada região permitem a complementação dos serviços entre os núcleos
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urbanos e contribuem para a organização e a hierarquização dos centros urbanos com suas
respectivas áreas de influência. Nesse contexto, a cidade de Guanambi constitui-se a maior
centralidade regional, pois há especificidades dos serviços ofertados por ela que contemplam a
sua região de influência. Assim, devido à ausência de serviços de uso pouco frequente em
muitos centros urbanos do entorno, a população local se desloca para Guanambi em busca
desses serviços menos usuais.
Em Guanambi, nota-se a presença de uma população flutuante que chega à cidade
diariamente por meio de veículos de médio e grande porte (ônibus, micro-ônibus, topics e vans)
e de pequeno porte oriundos de outros municípios. Tal observação decorre da pesquisa realizada
entre os passageiros provenientes das cidades circunvizinhas ao buscarem a cidade de
Guanambi, fato comprovado pela procura diária dessas pessoas por serviços de educação (30%)
e saúde (27%), além do comércio (13%), serviços bancários (10%), INSS (5%), justiça (5%)
entre outros (Figura 3).
Essa população flutuante contribui para incrementar a economia da cidade, pois
constitui importante mercado de consumo que movimenta o comércio, a saúde e os setores
alimentícios, de postos de combustíveis e de transporte rodoviário da cidade, dentre outros.
Assim, estima-se que oscile entre 2.000 e 3.000 pessoas recém-chegadas, por dia, ao
considerar o levantamento realizado em Instituições de Ensino Superior, hospitais e também
aquelas em veículos da região de influência de Guanambi.
Figura 3 - MOTIVAÇÕES DE MOBILIDADE INTERCITADINA PARA GUANAMBI,
2012 Fonte: Pesquisa de campo, 2012
Elaboração gráfica: Sofia Rebouças Neta Pereira
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No que se refere à educação superior pública, a cidade conta com a Universidade do
Estado da Bahia (UNEB) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano -
Campus Guanambi. Quanto à rede privada, há cinco instituições: Centro de Educação Superior
de Guanambi – Faculdade Guanambi (FG); Líder Centro de Educação da Bahia Ltda.
(UNOPAR); Universidade Paulista (UNIP); Instituto PRÓ SABER; Faculdade de Tecnologia
e Ciências Sociais (FTC) e Universidade Salvador (UNIFACS), a iniciar suas funções. Tais
prestações de serviços constituem de alta complexidade e contribuem para reforçar a
centralidade da cidade de Guanambi. “Na linguagem da Teoria das Localidades Centrais, a sua
função é típica de um limiar muito alto e de um amplo alcance regional” (SILVA; SILVA;
LEÃO, 1987, p. 344-345).
Vale ressaltar que por essa centralidade muitas pessoas (docentes, discentes e técnicos
administrativos) independente da distância de origem, vêm a Guanambi e fixam residência, sem
tempo determinado. Já outras, por residirem próximo, vêm diariamente a Guanambi e, ao terem
acesso aos serviços educacionais, interagem no processo dinâmico inter-citadino. A Tabela 02
apresenta as Instituições de Ensino Superior (IES) de Guanambi com respectivos níveis de
ensino e quantidades de estudantes em 2012. Tabela 2 - NÚMERO DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR EM GUANAMBI/BA,
NÍVEIS DE ENSINO E QUANTIDADES DE ESTUDANTES, 2012
Fonte: Pesquisa de campo, 2012.
Elaboração gráfica: Sofia Rebouças Neta Pereira (*) Cursos da Plataforma Freire (**)Sendo 676 (67,3%) matriculados no Ensino Médio e Pós-Médio e 328 (32,7%) no Ensino Superior
Dentre as IES instaladas em Guanambi, a UNEB, o IFBaiano e a Faculdade Guanambi
contribuíram para fortalecer a centralidade exercida por este centro na rede urbana. A UNEB
se destaca, pelo tempo de atuação; a Faculdade Guanambi pelo número de alunos atendidos,
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pela diversidade de cursos oferecidos e pela renda indiretamente canalizada para o município;
e o IFBaiano pelas diferentes modalidades de ensino (Superior, Médio Integrado, Subsequente
presencial e à distância) além de empregos gerados. Estas instituições respondem pelos maiores
fluxos intermunicipais decorrentes da busca pela educação no município.
A dinamização desses serviços contribuiu para reforçar as relações interurbanas
relativas às atividades do setor terciário local para além da sua região de influência. Os serviços
prestados pelo Instituto Federal e Universidades exigem maior qualificação profissional,
estando classificados entre aqueles ofertados por um menor número de centros, mas de maior
alcance, conforme definição de Christaller (1966).
Em termos espaciais, os dados da pesquisa de campo revelaram que o alcance da
educação contribui para estender o raio de influência da cidade de Guanambi e a sua
importância como centro de bens e serviços. Essa atividade atrai pessoas que se beneficiam
com a inserção no mercado de trabalho, ocupando funções ligadas à educação, a exemplo dos
professores e técnicos administrativos, bem como aqueles discentes que buscam a sua formação
profissional, que, ao fixarem residência na cidade, geram demandas em outros setores
vinculados ao comércio e serviços.
Outro serviço importante para a dinâmica regional da cidade em estudo refere-se ao de
saúde. Conforme os estudos realizados por Silva; Silva; Leão (1987, p. 356 -357), “[...] os
serviços de saúde são organizados, em princípio, com base em uma hierarquização funcional e
espacial, como decorrência da maior ou menor complexidade e abrangência do atendimento”.
Assim, os serviços menos complexos que requerem maior procura são oferecidos em um maior
número de municípios, pois possuem um alcance espacial reduzido; no entanto, os serviços
mais especializados encontram-se em poucos locais, haja vista que possuem um elevado
alcance espacial e a sua manutenção depende das demandas local e regional.
No tocante aos serviços de saúde, a cidade conta com sete hospitais, vide tabela 03, a
saber, dois públicos: Hospital Regional (estadual) e Polimédica de Guanambi (municipal), e
cinco particulares: Hospital Aliança, Hospital do Rim, Hospital São Lucas, Policlínica e
Maternidade Guanambi e Pronto Socorro e Maternidade (PROMATER).
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Tabela 3 - RELAÇÃO DE HOSPITAIS DE GUANAMBI ESFERA ADMINISTRATIVA, NÚMERO DE LEITOS, 2012.
Fonte: Dados da pesquisa, 2012. Elaboração: Sofia Rebouças Neta Pereira
A partir dos resultados da pesquisa, constatou-se que a implantação dos serviços de
UTI e UTI neonatal no Hospital Regional, a realização de hemodiálise no Hospital do Rim e os
exames de média e alta complexidade como: densitometria óssea, tomografia computadorizada,
ressonância magnética, radiologia geral e contrastada, eletroencefalograma e outros realizados
por várias clínicas na cidade de Guanambi contribuíram para ampliar a região de influência da
cidade e intensificar os fluxos diários nela. Isso ocorre porque o município de Guanambi firmou
um pacto de saúde com 30 municípios do entorno. De acordo com a Prefeitura Municipal de
Guanambi (2011), a Portaria nº 320 de 04/05/2005 do Gabinete Ministerial habilitou o
município a oferecer serviços para uma gama de municípios, por meio do repasse de recursos
do Sistema Único de Saúde (SUS)2. Tal organização iniciou-se com o estabelecimento de cotas
de internação e procedimentos ambulatoriais de referência e regulação para os processos de
abrangência para esses municípios.
Nesse aspecto, constatou-se que além dos 30 municípios pactuados na gestão plena de
saúde: Bom Jesus da Lapa, Botuporã, Caculé, Caetité, Candiba, Carinhanha, Cocos, Coribe,
Feira da Mata, Guajeru, Ibiassucê, Ibotirama, Igaporã, Iuiu, Jacaraci, Lagoa Real, Licínio de
Almeida, Livramento de Nossa Senhora, Malhada, Matina, Mortugaba, Palmas de Monte Alto,
Pindaí, Riacho de Santana, Rio do Antônio, Sebastião Laranjeiras, Serra do Ramalho, Sítio do
Mato, Tanque Novo e Urandi; percebe-se comum a frequência de pacientes de determinados
municípios do Norte de Minas Gerais nos hospitais da cidade de Guanambi, a exemplo de
2 Art. 4º - O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS) (Constituição Federal de Brasil, 1988)
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Espinosa, Monte Azul, Juvenília e Montalvânia.
O município de Guanambi apresenta um total de 235 leitos. Para atender a demanda, os
principais hospitais de Guanambi possuem seus exames e consultas previamente agendadas
pela Central de Regulação do município. Dentre os hospitais que atuam em Guanambi, somente
o Hospital Promater e a Polimeg Polimédica de Guanambi não oferecem serviços de internação.
O serviço de saúde, somado às demais funções existentes na cidade, contribuem para
fortalecer o potencial urbano de angariar fluxos de diferentes lugares e escalas. Desse modo,
vê-se que Guanambi consiste em um centro urbano regional por agregar em sua área de
influência imediata 697.524 habitantes distribuídos em 30 centros (IBGE/REGIC, 2008).
Tal área de influência se fortalece mediante o fluxo de consumidores procedentes de
municípios baianos e mineiros em seu alcance máximo de bens, serviços e informações, além
de dividir, com as cidades de Vitória da Conquista, Barreiras e Montes Claros, uma pequena
área de influência, estendendo o raio de influência da cidade para além do apresentado pelo
estudo REGIC (2008). Inclui-se nesse grupo cidades de municípios mineiros como: Espinosa,
Monte Azul, Juvenília e Montalvânia; e cidades de municípios baianos como: Livramento de
Nossa Senhora, Guajeru, Cocos e Coribe, conforme figura 4.
A ampliação da área de influência da cidade de Guanambi se explica, mormente, pelos
serviços especializados que ela passou a oferecer. Os moradores oriundos das cidades mineiras:
Espinosa, Monte Azul, Juvenília e Montalvânia encontram em Guanambi os serviços de saúde
e educação que necessitam ao percorrerem menores distâncias do que em seu. Por outro lado,
os moradores dos municípios de Livramento de Nossa Senhora, Guajeru, Cocos e Coribe
tiveram incentivos dos gestores públicos, por meio da pactuação de saúde para vencerem as
distâncias que os separam da cidade de Guanambi.
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Figura 4 - GUANAMBI-BA – HIERARQUIA DOS CENTROS URBANOS, LIGAÇÕES ENTRE OS CENTROS E REGIÃO DE INFLUÊNCIA
Fonte: Dados da pesquisa, 2012 Sistematização das informações: Sofia Rebouças Neta Pereira Elaboração cartográfica: Altemar
Amaral Rocha
Constata-se que a hierarquia espacial apresentada pelo estudo REGIC se materializa na
cidade de Guanambi, obedecendo à lógica da regionalização dos serviços especializados. As
funções assumidas por essa cidade nos últimos anos possibilitaram a intensificação dos fluxos
econômicos e socioespaciais capazes de inseri-la em uma rede de relações simultaneamente
distintas e complementares que contribuem para a sua centralidade urbana.
As articulações espaciais entre cidades na rede urbana requerem maior fluidez nas
diferentes escalas de abrangência em que as longas distâncias não podem representar entraves
nas relações. Assim, para vencer as barreiras físicas e imateriais, os agentes modeladores do
espaço avançam por meio da utilização de técnicas inovadoras e de estratégias de aproximação
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entre os lugares e os seus respectivos sujeitos sociais.
Nesse contexto, a cidade de Guanambi se firma como a maior centralidade regional,
pois muitos dos seus serviços ofertados constituem únicos na sua região de influência. Em geral,
devido à ausência de serviços de uso pouco frequente nos pequenos centros urbanos, estas
populações se deslocam para outros centros em busca desses serviços menos usuais. Porém,
esse deslocamento interurbano não faz parte de todas as classes sociais, uma vez que a
população de baixo poder aquisitivo não possui condições para adquirir os produtos e serviços
mais especializados. A exceção ocorre para a saúde, visto que em decorrência dos repasses do
SUS, qualquer cidadão pode conseguir o atendimento especializado, desde que passe pelos
trâmites requeridos para obtê-lo.
Diante das diferentes circunstâncias, as ações dos empreendedores públicos e privados
tornaram-se múltiplas e até conjuntas para possibilitar o acesso das pessoas a tais serviços, por
meio da mobilidade. Desse modo, quando um determinado lugar não dispõe de equipamentos
e funções suficientes para atender à demanda populacional, os gestores oportunizam condições
de deslocamento para o atendimento às necessidades pleiteadas, a saber, saúde e educação.
Os centros urbanos mais capacitados para atender a demanda populacional têm o poder
de atrair um maior número de consumidores. Portanto, destacam-se as ligações de diferentes
centros para a cidade de Guanambi, tanto de centros locais quanto centros de zona ou centros
sub-regionais. Assim, tais articulações interurbanas compõem a área de influência da cidade de
Guanambi.
Pode-se afirmar que a frequência e intensidade das relações sociais e econômicas entre
os diferentes agentes sociais de uma determinada região permitem a complementação dos
serviços entre os núcleos urbanos e contribuem para os processos de organização e
hierarquização com suas respectivas áreas de influência.
A teoria da localidade central de Walter Christaller (1966) apresenta uma classificação
hierárquica acerca do modo como os locais de mercado de diferentes dimensões se distribuem
em uma região. Neste estudo, percebeu-se que, na Região de Influência de Guanambi, não
existe uma hierarquia uniforme, reproduzindo o que ocorre, com frequência, na rede urbana
brasileira, mas há lugares de tamanhos e localizações diferentes que se tornam interdependentes
e complementares. E, nessa articulação, as relações hierárquicas que subsidiam e sustentam a
rede vencem a distância física. Assim, o estudo do espaço urbano regional de Guanambi não
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pode se realiza de modo isolado, pois mesmo os lugares espacialmente não contíguos à cidade
compõem nós que contribuem para manter a dinâmica dessa rede.
Constata-se, portanto, que as desigualdades socioespaciais e econômicas entre os
municípios e os indivíduos fortalecem a rede urbana, pois elas não permitem a equidade dos
resultados, mas reforçam as diferenças e contribuem para a drenagem de riquezas para os
detentores do poder, concentrados nos maiores centros urbanos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos diferentes aspectos inter-relacionais abordados, vê-se que o intercâmbio
dos municípios promove o crescimento urbano de Guanambi e mantém sua centralidade
frente à região de influência. Tal processo de interação espacial demanda multiplicidade de
ações por parte dos diversos agentes sociais, mediante serviços possibilitados aos cidadãos,
por meio da mobilidade inter-citadina.
Assim, este estudo permitiu identificar as principais interações espaciais entre a cidade
de Guanambi e sua Região de Influência e trouxe elementos para a compreensão da sua
centralidade urbana. Observou-se que, nas últimas décadas, houve intensificação das relações
intermunicipais motivadas pela ampliação do comércio de Guanambi e dos diferentes serviços
por ela oferecidos.
Nessa perspectiva interacional, a criação e instalação de novas Instituições de Ensino
Superior, a implantação de serviços médicos de média e alta complexidade, a instalação de
novas lojas, serviços de transportes, dentre outros, contribuíram para intensificar os fluxos para
Guanambi e alavancar a economia local e regional. Tal processo influenciou a dinâmica da
cidade e atraiu novos investidores, possibilitando a alteração da sua estrutura urbana.
Observou-se, portanto que, de 1970 a 2010, a população da cidade de Guanambi
ascendeu-se, de modo considerável, superando a de três outros municípios dessa região até se
tornar a maior. Isso permitiu inferir que o rápido processo de urbanização e de ascensão
populacional ocorreu pela centralidade que esse local passou a exercer.
Os referidos fatores realçaram as funções assumidas pela cidade de Guanambi e
permitiram que ela comandasse uma extensa área. Tal fato contribuiu para elevar a posição
dessa cidade na rede urbana sub-regional e para se estabelecer como o maior centro fornecedor
de produtos comerciais e de serviços para a sua região de influência.
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