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Introdução à Cultura Védica(Artigos escritos pelos Gaudiya Vaishnava Acharyas)

Yuga Acharya Srila Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj

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Om Visnupad Srila Bhakti Ballabh Tirtha Goswami Maharaj

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PrefácioEste livro tem o objetivo de esclarecer a todos os simpatizantes e

admiradores da cultura mais antiga e espiritual do planeta, o verdadeiro objetivo da vida humana, o qual é amplamente explicado nos Vedas.

Selecionamos aqui alguns artigos escritos pelos Gaudiya Vaishnava Acharyas, por serem eles seguidores estritos das instruções dadas nas escrituras sagradas védicas. A cultura védica foi desenvolvida visando o bem estar de todas as entidades vivas. Para os seres racionais que, por sua boa fortuna, recebem cérebros capazes de diferenciar entre o corpo e a alma, o bom e o ruim, os Vedas são da maior utilidade porque nos conduzem ao caminho que leva à felicidade e à auto-realização: a Deus. Esta é a real riqueza da cultura da Índia: a espiritualidade em um nível que só pode ser encontrado lá. E por que este lado é pouco mostrado a nós, aqui? É simples: a cultura védica tem como princípio a austeridade, o autocontrole, o sacrifício e uma vida bem simples; e, ao mesmo tempo, é contrária ao desfrute dos sentidos, tais como: sexo, intoxicação, jogos de azar, consumo de carne, peixe e ovos... e isto vai de encontro à proposta ocidental de vida, que hoje em dia é chamada de sociedade ‘consumista’ ou ‘moderna’. "Vamos todos consumir e desfrutar o máximo que pudermos e assim seremos felizes". Este é o lema que as pessoas hoje em dia aceitam como sua filosofia de vida. Elas aceitam pessoas tolas como sendo seus Gurus. Mesmo assim, vemos que aqui as pessoas não são tão felizes como os arianos, ao contrário, estão completamente frustradas, mesmo com todo o desenvolvimento econômico e tecnológico. A filosofia védica nos alerta que através do caminho do desfrute e da exploração não podemos ser felizes e realizados; ao passo que uma vida simples, com a mente focada em Deus, pode ser de maior sucesso e felicidade. Ela nos dá o caminho da autorrealização que se deve à conexão com o Supremo através de práticas espirituais, praticadas sob a guia de um agente divino auto-realizado que realmente viu e realizou a Verdade de forma concreta e profunda. Este agente nos ajuda a compreender a essência desta cultura que há milhões de anos vem sendo praticada no oriente por sábios auto-realizados.

Baladeva Das Brahmachari

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O Leitor progressivo e o leitor infrutíferoPor Srila Saccinandana Bhaktivinoda Thakur Maharaj

Amamos ler um livro que nunca havíamos lido antes. Ficamos ansiosos em obter qualquer informação nele contida. E com tal obtenção feita, nossa curiosidade cessa. Este espírito de estudo prevalece entre um grande número de leitores que são grandes homens em sua própria apreciação, bem como daqueles que lhes são semelhantes. De fato, a maioria dos leitores são meros repositórios de fatos ou afirmações feitas por outras pessoas. Mas isto não é estudo. O estudante deve ler os fatos visando criar, e não com o objetivo de retenção infrutífera. Os estudantes, como satélites, devem refletir qualquer luz que tenham recebido dos autores, e não aprisionar os fatos e pensamentos assim como os magistrados aprisionam os criminosos na cadeia!

O pensamento é progressivo. O pensamento do autor deve progredir no leitor, na forma de correção ou desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento subsequente de um velho pensamento, mas o mero denunciador é o inimigo do progresso e consequentemente, da natureza. Deve haver correções e desenvolvimento no decorrer do tempo. Mas, o progresso significa ir adiante ou elevar-se cada vez mais. O crítico superficial e o leitor infrutífero são dois grandes inimigos do progresso. Devemos evitá-los.

O verdadeiro crítico, por outro lado, aconselha-nos a manter aquilo que já obtivemos e ajustar nossa marcha a partir do ponto onde chegamos. Ele nunca nos aconselhará a voltar ao ponto de onde começamos, uma vez que neste caso haveria uma perda infrutífera do nosso precioso tempo e trabalho. Ele orientará o ajuste do ângulo de nossa marcha a partir do ponto onde estamos. Esta também é a característica do estudante útil. Ele lerá um velho autor e encontrará sua posição exata no progresso do pensamento. Ele nunca aconselhará queimar um livro sob alegação que possui pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil. Os pensamentos são meios pelos quais alcançamos nossos objetivos. O leitor que denuncia um mal pensamento não sabe que até mesmo uma má

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estrada é capaz de melhorar e desembocar em uma boa. Um pensamento é uma estrada que leva a outra. Assim, o leitor observará que um pensamento que é o objeto hoje, será o meio de um objeto subsequente amanhã. Os pensamentos necessariamente continuarão a ser uma interminável série de meios e objetos no progresso da humanidade.

Os grandes reformadores sempre afirmarão que vieram não para destruir a antiga lei, mas para cumpri-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus Cristo, Maomé, Confúcio e Chaitanya Mahaprabhu afirmam este fato expressamente ou por suas próprias condutas.

Nosso crítico, entretanto, pode nobremente dizer-nos que um reformador como Vyasa, a menos que puramente explicado, pode em pouco tempo, levar milhares de homens a uma situação problemática. Mas, querido crítico, estude as histórias das eras e países! Onde você encontrou um filósofo ou reformador que foi plenamente compreendido pela população? A religião popular é medo de Deus, e não o puro amor espiritual que Platão, Vyasa, Jesus e Mahaprabhu ensinaram aos seus respectivos povos! Quer você dê a religião absoluta através de expressões figurativas ou simples, ou ensine-as por meio de livros ou palestras orais, o homem ignorante e o homem não pensativo certamente a degradarão.

Na verdade, é muito fácil dizer, e agradável ouvir, que a Verdade Absoluta tem tal afinidade com a alma humana que se revela de modo como que intuitivo, e que nenhum esforço é necessário para nos ensinar os preceitos da verdadeira religião, mas esta é uma idéia enganosa. Isso pode ser verdade no que diz respeito à ética e ao alfabeto da religião, mas não no que se refere à forma mais elevada de fé, que requer uma alma exaltada para compreendê-la. Todas as verdades superiores, embora intuitivas, requerem prévia educação nas verdades mais simples. A religião mais pura é aquela que dá a ideía mais pura de Deus. Como então é possível que o ignorante obtenha a religião absoluta, enquanto permanece ignorante?

Assim, não devemos escandalizar o salvador de Jerusalém ou o salvador de Nadiya por estes males subsequentes. Luteros, ao

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invés de críticos, é o que queremos para a correção daqueles males através da verdadeira interpretação dos preceitos originais.

Deus dá-nos a verdade, como deu a Vyasa, quando ansiosamente buscamos por ela. A verdade eterna inexaurível. A alma recebe revelação quando está ansiosa por ela. As almas dos grandes pensadores de eras passadas, que agora vivem espiritualmente, frequentemente se aproximam do nosso espírito indagador e o assistem em seu desenvolvimento. Assim, Vyasa foi assistido por Narada e Brahma. Nossas escrituras, ou ‘livros de pensamento’, não contém tudo que poderíamos obter do Pai Infinito. Nenhum livro está desprovido de erro. A revelação de Deus é Verdade Absoluta, mas é escassamente recebida e preservada em sua pureza natural. No Srimad Bhagavatam, somos aconselhados a acreditar que a verdade, quando revelada, é absoluta; no entanto obtém a mácula da natureza do receptor no decorrer do tempo, e se converte em erro pela contínua troca de mãos. Novas revelações, portanto, são necesárias para manter a verdade em sua pureza original. Assim, somos advertidos a ser cuidadosos em nossos estudos de velhos autores, por mais sábios que eles sejam no que diz respeito à sua reputação. Aqui, temos plena liberdade de rejeitar a idéia errônea, que não é sancionada pela paz da consciência.

Vyasa não estava satisfeito com aquilo que coletou nos Vedas, dispôs nos Puranas, e compôs no Mahabharata. A paz da sua consciência não sancionava seu trabalho. Ela lhe dizia internamente: “Não, Vyasa! Não deve descansar contente com o quadro errôneo da verdade que lhe foi necessariamente apresentado pelos sábios de tempos passados! Deves, tu próprio, bater à porta do reservatório inexaurível da verdade, do qual os sábios antigos retiraram sua riqueza. Vá! Vá à fonte da verdade, onde nenhum peregrino encontra qualquer tipo de desapontamento”. Vyasa o fez e obteve o que desejava. Todos nós somos aconselhados a fazer o mesmo.

A liberdade, então, é o princípio que devemos considerar como a mais valiosa dádiva de Deus. Não devemos permitir que sejamos liderados por aqueles que viveram e pensaram antes de nós. Devemos pensar por nós mesmos, e tentar obter verdades subsequentes que ainda não estão descobertas. No Srimad Bhagavatam (11.21.23) somos aconselhados a absorver o espírito

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dos sastras, e não as palavras. O Bhagavata é a religião da liberdade, verdade descontaminada, e amor absoluto.

A outra característica é o progresso. A liberdade certamente é a mãe de todo progresso. A santa liberdade é a causa do progresso cada vez mais elevado na eterna e interminável atividade de amor. Liberdade mal usada causa degradação, mas o Vaishnava deve sempre usar cuidadosamente esta bela dádiva de Deus.

O espírito deste texto apresenta-se para honrar todos os grandes reformadores e mestres que viveram e viverão em outros países. O vaishnava está pronto a honrar todos os homens, sem distinção de casta, porque eles estão repletos de energia de Deus. Vedes quão universal é a religião do Bhagavata. Ela não se destina a uma certa classe de Hindus apenas, mas é uma dádiva para os homens em geral, estejam eles em qualquer país ou sociedade. Em suma, o Viashnavismo é o Amor Absoluto unindo todos os homens ao infinito, não-condicionado e absoluto Deus. Que a paz reine para sempre em todo universo no contínuo desenvolvimento de sua pureza, através do esforço dos futuros heróis, que serão abençoados, de acordo com a promessa do Bhagavata, com poderes do Pai Todo-Poderoso, O Criador, Preservador e Aniquilador de todas as coisas no céu e na terra.De uma palestra em inglês dada em Dinajpur, Bengala Ocidenatl, Índia, em 1869

Introdução ao Jaiva DharmaPor Srila Bhakti Prajnana Keshav Goswami Maharaj

Das muitas tradições religiosas no mundo, quase todas elas adotaram vários métodos para propagar seus respectivos ideais. Com isto em mente, publicaram literaturas em diferentes idiomas. É auto-evidente que, no campo da educação não religiosa, haja níveis elementar, intermediário e avançado, tanto em elevados quanto em baixos ramos de aprendizados. Similarmente, o mesmo, em relação

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ao estudo da religião, é auto-evidente para aqueles que são extenuados leitores e profundos aprendizes de diversas tradições religiosas. Entre todas estas ideologias religiosas, as instruções dadas por Sri Chaitanya Mahaprabhu sobre a religião do amor puro são as mais elevadas revelações de todas as perspectivas de visão. Certamente, uma vez que pensadores não partidários deste mundo sejam expostos a tal sublime entendimento, eles irão por unanimidade aceitar este fato.

Todos querem ser inspirados pelos mais elevados ideais e ensinamentos, mas como este auspicioso desejo vai trazer frutos? É com este pensamento que a grande personalidade liberada, e jóia mais preciosa da elite educada, Srila Bhaktivinoda Thakura, estabeleceu, pelo seu próprio exemplo, o ideal pioneiro da vida espiritual, compondo muitos livros sobre vaisnava-dharma em diferentes idiomas.

(...)Dentro deste mundo, os Vedas são os mais antigos escritos. Seus corolários, que incluem os Upanisads e outras literaturas compiladas por Sri Vyasadeva - como o Mahabharata e o Srimad Bhagavatam, são todas literaturas consumadas.

Com o passar do tempo, variedades de livros foram escritos inspirados por idéias enunciadas do corpo destas literaturas. Eles foram amplamente distribuídos e, circulando, ganharam vasta popularidade. Neles encontramos não somente gradações de pensamentos, como também: exclusividade mútua, polarização da doutrina e especulação filosófica. Como resultado, houve revoltas e calamidades no domínio religioso, e isto continua até o presente dia.

Diante de tal precária circunstância, o Senhor Supremo, Bhagavan, que é a Verdade Absoluta, apareceu, há aproximadamente 500 anos atrás, no mais notável dos sete lugares sagrados, Sridhama Mayapura, dentro de Navadvipa dhama, para liberar as entidades vivas condicionadas. Naquela época, o Senhor dotou de poder alguns de seus queridos associados para compilar volumosos livros, os quais contém o propósito verdadeiro e a essência de todos os sastras. A maioria deles foi escrita em Sânscrito. Por intermédio desta literatura, o senhor desejou investir em Bhakti, que é a raíz do conhecimento transcendental dentro do coração de todas as pessoas. Alguns, incapazes de averiguar o

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verdadeiro significado dos sastras, são impelidos a interpretá-los de acordo com o seu entendimento relativo. Em alguns casos, tais pessoas tomam somente um significado parcial dos sastras; em outros, suas interpretações obscurecem o verdadeiro significado, e, em outros ainda, adotam uma visão que é completamente oposta à intenção original. Srila Jiva Gosvami não está em qualquer uma destas categorias, e as instruções que fluem de sua caneta são absolutamente conclusivas instruções de Sri Chaitanya Mahaprabhu e dos Vedas. (...)Pelo desejo de Mahaprabhu, Srila Krsna Das Kaviraja Gosvami, um associado muito querido de Sri Gauranga, compôs vários belíssimos versos na literatura entitulada “Caitanya Caritamrta”, nos quais se encontra o seguinte verso:

Jivera svarupa haya krsnera nitya dasaKrsnera tatastha sakti bhedabheda prakasa

“A condição natural da jiva é ser uma serva de Krsna. A jiva é a potencia marginal de Krsna e uma manifestação simultaneamente igual e diferente de Krsna.”

Há muitos exemplos de grandes personalidades e até de outros seres não humanos, como pedras, vacas e lagartos, que também aceitaram este fato. Somente pessoas de eminente qualificação podem aceitar o ideal que está contido nos ensinamentos mais avançados. Os seres humanos são privilegiados, pois são dotados de consciência com a qualidade de raciocínio, porém apenas aqueles que desenvolveram plenamente esta consciência, estão qualificados para o entendimento profundo real. Através deste entendimento conclui-se que todos os seres, móveis e imóveis estão destinados ao dharma, porém apenas os seres humanos exibem esta tendência religiosa. Filósofos ocidentais têm afirmado que os homens são seres racionais, contudo é essencial notar que o significado da filosofia ocidental é consideravelmente limitada, pois a maioria dos homens são equivalentes aos animais, devido ao fato de não expandirem sua consciência. Na filosofia ariana, a palavra dharma é extremamente abrangente. Dentro de um simples aspecto deste

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significado, ele encerra o conceito filosófico Ocidental de racional, e o chuta para longe, ao incluir adiante a adoração a Deus.

Está declarado no Hitopadesa:

“Seres humanos são iguais aos animais na questão de dormir, acasalar-se, comer e defender-se. Sem religião eles não são melhores do que os animais.”

Sistemas de casta. A sociedade ideal.

(Tirado do Bhagavad Gita (18.41), falado pelo próprio Senhor Krishna, com comentário Prakasika-vrtti de B.V.Narayana Goswami Maharaja)

“Ó Parantapa! Os deveres prescritos dos brahmanas, dos ksatriyas, dos vaisyas e dos sudras, estão divididos de acordo com as tendências provindas de suas respectivas naturezas.” (Prakasika-vrtti)

Com o propósito de situar os seres humanos além da jurisdição dos três gunas e promovê-los gradualmente a uma atitude mais elevada, Bhagavan Sri Krishna estabelece o varna-dharma dividindo os deveres prescritos de acordo com as qualidades e ações. O sistema de varna puro é muito benéfico, favorável e científico para a vida humana. Porém, com o decorrer do tempo, os homens ordinários perderam a fé neste sistema, após detectarem diversos defeitos em seus respectivos seguidores. Perdeu-se a fé de tal maneira que, hoje em dia, até as pessoas ordinárias da sociedade hindu responsabilizam o sistema de varnasrama, pelas divisões e hostilidade criada por suas castas. A maioria da população hindu está determinada a destruir o varna-dharma para estabelecer uma sociedade ateísta sem nenhum varna. É fácil destruir algo útil, mas é muito difícil criar e propagar, neste caso, o sistema ideal. Que Sri Bhagavan outorgue uma boa inteligência a estas pessoas. Estão elas

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assumindo esta postura após a deliberação sobre o assunto ou elas estão sendo arrastadas por seus sentimentos? Com relação a isto, citaremos fragmentos dos comentários de Bhaktivinoda Thakura encontrados no Chaitanya Charitamrta. Oramos humildemente ao leitor fiel que os examine cuidadosamente e tente compreendê-los.

“As inclinações ou qualidades de uma pessoa dependem da sua natureza. Ela deve atuar de acordo com esta natureza individual, pois a ação que não é realizada de acordo com este princípio é defeituosa. É difícil que uma pessoa mude sua natureza uma vez que esta amadureceu, portanto ela deve trabalhar para viver e aperfeiçoar-se espiritualmente através das ações próprias da sua natureza específica. Na Índia, as pessoas são divididas em quatro varnas segundo suas naturezas. O resultado é que as pessoas, situando-se em um lugar social adequado, sempre atuam naturalmente de forma fruitiva e a humanidade se torna favorável. Uma sociedade com este fundamento é digna de respeito de toda a humanidade.”

“Pode ser que algumas pessoas duvidem do sistema de varnasrama e digam: ‘Na Europa e América ninguém segue as instruções baseadas nas divisões de varnas, e as pessoas destes continentes são mais avançadas e respeitadas, econômica e cientificamente, do que o povo hindu.’ Aqueles que pensam assim consideram que é inútil aceitar este sistema. Mas as dúvidas carecem de fundamento, pois as sociedades européias são consideravelmente novas. As pessoas destas sociedades são geralmente muito fortes e audaciosas. Com toda esta audácia e força, executam diversas atividades no mundo e aceitam parte do conhecimento, ciência e artes que estão preservadas pelas sociedades mais antigas. Mas estas sociedades se extinguirão gradualmente, porque sua estrutura social não tem fundamento científico. Mas os sintomas do sistema de varna original, que existia na sociedade ariana hindu, se podem ver também na sociedade hindu atual apesar de ser tão antiga e débil.

“Antigamente, as sociedades romana e grega eram muito mais poderosas e avançadas do que os países europeus modernos, mas qual é a sua condição atual? Perderam seu antigo sistema de castas e abraçaram as religiões e sistemas das sociedades modernas ao

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extremo, tanto que as pessoas dessas castas nem sequer proclamam as glórias dos seus nobres ancestrais. Mesmo que a sociedade ariana da Índia seja mais antiga que a romana e a grega, os arianos atuais se sentem orgulhosos de seus grandes e heróicos antepassados. Qual a razão disto? Se deve ao forte alicerce no qual se sustenta a sociedade ariana, que é o sistema de varnasrama, cujas divisões sociais, ou de castas, todavia ainda permanecem. Os descendentes de Ram, que foram derrotados pelos mlecchas, ainda se consideram heróicos descendentes de Sri Ramacandra. Enquanto a estrutura do varna continuar existindo na Índia, as pessoas continuarão sendo arianas.”

“Ainda que o varna-dharma seja parcialmente aceito na Europa, não se estabeleceu em sua forma plena e científica. Onde quer que o conhecimento e a civilização progridam, o varna-dharma se manifesta proporcionalmente de forma mais completa. Em qualquer atividade, há duas classes de métodos efetivos: o científico e o intuitivo. Uma atividade é executada intuitivamente até que se aceite o processo científico. Por exemplo, antes da invenção dos barcos a vapor, as pessoas viajavam em botes desenhados para depender do vento. Mas quando se introduziu as embarcações fabricadas cientificamente, todas as viagens começaram a ser feitas nelas. O mesmo princípio pode ser aplicado à sociedade. Enquanto o varna não se estabelecer apropriadamente em um país, sua sociedade se estruturará em um sistema rudimentar e intuitivo. Esta estrutura de varna rudimentar e primitiva opera e controla hoje as sociedades de todos os países do mundo, com exceção da Índia. Por esta razão, a Índia vem sendo denominada como karma-ksetra, ou a terra ideal para a execução apropriada do karma.”

“Poder-se-ia perguntar agora se o sistema de varna ainda funciona na Índia atual... A resposta é não. Mesmo que este sistema tenha sido estabelecido plenamente, se debilitou com o decorrer do tempo e sua degradação é visível hoje em dia na Índia.”

“A fama da Índia se difundiu pelo mundo inteiro, como o poderoso brilho do sol meridional, quando o varna funcionava de maneira inteligente. Pessoas de todos os países do mundo ofereciam tributo à Índia e aceitavam seus governantes, regentes e mestres

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espirituais como sendo seus. As pessoas de países como o Egito e China escutavam e recebiam instruções dos hindus com grande fé e reverência.”

“O sistema de varnasrama-dharma mencionado perdurou na Índia, em sua forma pura, durante muito tempo. Depois, devido à influência do tempo, Jamadagani e Parasurama, que possuíam uma natureza ksatriya, foram ilegalmente aceitos como brahmanas, mas eles abandonaram esta casta que era oposta à suas naturezas. Então, surgiu uma disputa entre os brahmanas e os ksatriyas que causou uma perturbação na paz em nível mundial. O resultado desfavorável desta luta no sistema de varna foi que se deu maior ênfase no nascimento. Com o passar do tempo, o sistema de varna deturpado foi se infiltrando de maneira encoberta, de modo que até os sastras foram afetados. Os ksatriyas perderam toda a esperança de alcançar um varna superior e começaram uma revolta. Eles apoiaram o dharma budista e focaram toda energia na destruição dos brahmanas. A oposição a qualquer atividade ou opinião nova se desenvolvia com a mesma intensidade da propagação. Quando o dharma budista, oposto aos Vedas, nasceu para confrontar os brahmanas, a estrutura do varna fundamentada no nascimento se aprofundou ainda mais. Logo surgiu um desacordo entre este sistema erroneamente concebido e um espírito nacionalista, conduzindo à virtual desintegração da civilização ariana da Índia.”

“Movidos por desejos egoístas, os supostos brahmanas, carentes de qualidades bramínicas, criaram suas próprias escrituras religiosas e começaram a enganar as outras castas. Os supostos ksatriyas haviam perdido suas qualidades e seu espírito ksatriya, e eram contrários à guerra, e assim perderam seus reinos. Finalmente, todos começaram a pregar o dharma budista, que era insignificante e inferior. Como resultado, o cultivo de conhecimento e as discussões sobre os sastras védicos foram barrados. Os governantes dos países baixos atacaram então a Índia e estabeleceram seu controle. A indústria naval da Índia sofreu e finalmente desapareceu devido à má administração. Assim, a influência de Kali se intensificou. A raça ariana da Índia, que havia sido um exemplo para o mundo inteiro, se deteriorou até a lastimosa condição que vemos hoje. A razão deste desafortunado acontecimento não é o

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envelhecimento da civilização hindu, mas os numerosos defeitos que se infiltraram neste sistema de varna.”

“Paramesvara (Krishna) é o controlador original de todos os sistemas e entidades vivas. Ele tem a capacidade de eliminar todos os elementos desfavoráveis e outorgar aquilo que é favorável. Até mesmo os escritores dos Puranas afirmam que Sri Kalki-deva virá à terra e reinstalará as glórias do sistema de castas e asrama. O princípio básico deste sistema é que uma pessoa adquire deveres de acordo com sua própria natureza.”

A meta da vida humanaPor Bhaktivedanta Swami Maharaj

O objetivo da vida é a autorrealização, ou a realização de Deus, mas os cientistas não sabem disto. A sociedade moderna é liderada por homens cegos e tolos. Os assim chamados tecnologistas, cientistas e filósofos não conhecem o real objetivo da vida. E o povo também é cego como eles. Então nós temos a situação na qual um cego está guiando outro cego. Se um homem cego tenta guiar um outro cego, que tipo de resultado podemos esperar? Nenhum. Este não é um bom processo. A pessoa deve se aproximar de uma pessoa autorrealizada se quiser compreender a Verdade. A pessoa deve primeiro compreender a diferença entre o corpo e a alma. Ela deve saber que não é este corpo. Quando a pessoa compreende este princípio básico, ela pode avançar no conhecimento mais profundo. É muito simples entender que não somos este corpo. No Bhagavad Gita, Krishna diz que somos espíritos que estamos dentro deste corpo, e que estamos sofrendo as misérias deste corpo material. Então a pergunta é "Como vamos conseguir nos livrar deste corpo?"

O termo reencarnação significa que eu sou uma alma espiritual que entrou neste corpo. Após a morte, vou receber outro corpo, e este pode ser um corpo de cachorro, pássaro, ou pode ser

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um corpo de um rei, porém sempre vai haver sofrimento, tanto em um corpo animal como no de um rei. Este sofrimento inclui nascimento, doença, velhice e morte. Então, visando nos livrar destes quatro tipos de sofrimento, temos que nos livrar deste corpo. Este é o real problema humano: como livrar-se do corpo material. Isto pode durar muitas vidas ou pode-se conseguir em apenas uma vida. A partir do momento em que adquirimos este conhecimento de que precisamos sair deste corpo, então sentimos a necessidade de nos aproximarmos de um Sad-Guru (a pessoa que realmente realizou a Verdade). Este Guru passará o mesmo ensinamento que lhe foi passado por seu mestre espiritual que também ouviu de seu Guru e assim por diante. Isto se chama sucessão discipular, e o primeiro Guru é o próprio Krsna e suas instruções estão também nos Vedas, Srimad Bhagavd Gita, Srimad Bhagavatam etc. Desta maneira devemos ouvir desta pessoa sobre como encontrar a chave que nos libertará de toda a miséria causada pelo corpo material. Este é o processo da Consciência de Krsna, o processo da autorrealização.

Texto de Srila Prabhupada extraído do livro em inglês chamado "Coming Back"

A doçura da palavra amor.Por Bhaktivinoda Thakura. Tirado de Rays Of Harmonist N:13, primeira vez em

português.

Amor é uma palavra muito doce. Quando ela é falada, um doce sentimento se manifesta no coração de ambos: a pessoa que falou e a pessoa que a escutou. Mesmo que poucos sejam capazes de entender seu verdadeiro significado, todo mundo gosta de escutar esta palavra. Todas as entidades vivas são controladas pelo amor. Muitos iriam até mesmo abandonar suas vidas por isto. Amor é o único objetivo da vida humana. Muitos pensam que a satisfação dos seus próprios desejos é o objetivo primário da existência, mas isto é errado. Por amor, um homem pode sacrificar todo o seu interesse próprio.

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Auto-satisfação causa a busca por sua própria felicidade e autonomia. Mas amor causa o sacrifício de todo o interesse próprio para a satisfação da coisa ou pessoa que é querido por alguém. Mesmo que haja uma disputa entre amor e luxúria(auto-satisfação) o amor é vitorioso. Mesmo que a auto-satisfação seja muito intensa, ainda sim ela continua subordinada ao amor. Amor é proeminente também no caminho da devoção. Aqueles que anseiam por prazer espiritual, considerando que prazer material é temporário, são de dois tipos: Aqueles que desejam desfrutar e aqueles que desejam a liberação. Os que buscam por desfrute estão constantemente preocupados pela busca de riqueza, reino, esposa ou crianças; ou desejam a posição de Indra, ou qualquer semi-deus em Svarga pela felicidade nos planetas superiores, tal qual Brahmaloka. Porque eles têm amor por estas coisas, eles constantemente se esforçam para ter isto. Aqueles que desejam liberação não têm amor por estas coisas, desfrutes mundanos, mas permanecem ainda com o desejo de serem liberados do mundo. Amor é o que os materialistas buscam do seu próprio desfrute e os liberacionistas da liberação. Então, obter amor é o objetivo final de ambos os tipos de pessoas.

Vejam o que Candi Das (poeta Vaishnava) diz sobre Amor: “As três silabas pi-ri-ti (amor) são a essência dos três sistemas planetários. Eles permanecem na minha mente dia e noite. Eu não penso em nada além disso.”

Concentrado profundamente, Brahma criou a sílaba pi. Aí quando o oceano de rasa encheu, a sílaba ri emergiu. Quando o oceano transbordou pela segunda vez, o néctar emergiu, e veio a sílaba ti. Como posso comparar qualquer coisa com estas três sílabas, que são a residência de toda felicidade? A pessoa que realizou no coração a essência destas três sílabas se viu forçada a abandonar todo dharma, karma, timidez, casta e família; e considera isso tudo sem nenhum sentido. Eu não sei a natureza de tal amor e qual vai ser o resultado. O duas vezes nascido Candi Das diz: "A escravidão do amor é realmente terrível."

Candi Das diz em outro poema: "Apenas aquele que conhece o que é Amor pode alcançar Ele(Krishna). Piriti(amor) tem três sílabas e é de três tipos, mas quando isto fica condensado como resultado do continuo bhajana, se torna de apenas um tipo."

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As almas em escravidão são de dois tipos: O amor de quem está completamente desatento em relação a Krishna é extremamente distorcido pela associação com a matéria. Eles não sabem nada, sabem apenas amar os objetos dos sentidos e desfrute, e assim engajam-se em gratificação dos sentidos dia e noite. Esquecendo-se de si mesmos, eles se mantém ocupados na busca da satisfação dos sentidos. Em outro poema Candi Das diz: "Kanu é minha vida, minha casta, meu tesouro e a pupila do meu olho. Ele é meu amado que mora no meu coração. Eu não tenho ninguém, apenas meu amor SYAMA(Krishna). O que mais eu posso dizer sobre dharma e karma? Minha mente não é independente. Meus familiares criticam-me, mas eu não vou para suas casas. E mais: "Amor por Kanu(Krishna) rejeita casta, família e caráter."

Os transcendentais passatempos de Krishna no mundo espiritual, Vraja, são eternos. A alma é uma diminuta partícula sentimental, então é elegível para participar destes passatempos. Quando a alma está em escravidão, sua identidade transcendental aparece numa forma ilusória como seu corpo grosseiro e sutil. Similarmente o amor puro por Krishna que é encontrado nesta identidade transcendental aparece na ilusória forma como o amor pela ciência mundana ou objetos mundanos. Então, amor corporal ou amor mental são simplesmente distorções do amor puro por Bhagavan Sri Krishna. Eles não são amor verdadeiros. Mas porque a alma errou sobre a deliberação da própria identidade, ela considera isto ser o real amor. Amor real, como sempre, é o amor existente entre duas almas.

Bhaktivinoda Thakura, no Brhad Aranyaka Upanisad diz: "Quando a esposa de Yajnavalkya - Maitreyi, desapegou-se do corpo grosseiro e sutil, ela se aproximou de seu marido e pediu algumas instruções. Yajnavalkya replicou:

- “Óh Maitreyi, a esposa não ama realmente o marido para benefício dele. Mas, a todo momento ela faz isto apenas para seu benefício(interesse) próprio. Similarmente, um marido ama sua esposa apenas para seu próprio interesse. Este assim chamado amor pelo marido, filho, riqueza e tudo mais, é simplesmente uma mentira, uma fraude. Por completamente rejeitar tal desonestidade você deve adorar Bhagavan Sri Krishna, o eterno objeto do amor de

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todas as almas. A pessoa que desapegou-se do mundo material e do corpo sutil deve inquirir sobre Esta Alma (Krishna), que é a maior amante da jiva. Fazendo isto, a pessoa conhecerá tudo.”

Assim, o que pensamos ser amor é simplesmente luxúria. Quando falamos de luxúria logo pensamos no desfrute sexual, devido ao fato de que o sexo é a maior forma de desfrute sensual, porém todo desejo de satisfazer nosso próprio interesse é chamado de luxúria. No ocidente, todos estão 24 horas tentando aproximar os sentidos dos objetos dos sentidos, visando o desfrute sexual último; e assim, desperdiçamos nossa chance de obter o amor puro a Deus. Amor puro significa, como Bhaktivinoda disse, sacrifício de nosso próprio interesse visando satisfazer os sentidos de Sri Krishna. Quando sacrificamos nossa própria felicidade para a felicidade de Bhagavan, isto se chama Bhakti, amor e devoção por Krishna. Assim, mesmo que pareçam a mesma coisa, há um abismo de diferença entre o amor mundano e amor puro. Tal amor não é encontrado neste mundo e na troca de sentimentos com pessoas mundanas. Tal amor puro é encontrado somente nos devotos puros que tem o poder de passar algo deste amor ao coração da pessoa que sacrificou sua vida de interesses próprios para o interesse de Sri Guru e Sri Krishna.

Suddha Bhakti – Devoção Pura Por Bhakti Ballabh Tirtha Goswami Maharaj

Todos nós buscamos por felicidade neste mundo, porém tal felicidade nos parece uma miragem: quanto mais corremos atrás dela, mais ela se distancia de nós. Quando uma pessoa inteligente percebe que está correndo atrás de algo ilusório e temporário, ela começa a questionar acerca da real e eterna felicidade ‘ananda’.

A natureza de todo ser vivo é ser feliz e bem-aventurado, e sentir-se em êxtase na conexão com a fonte do prazer: Sri Krishna.

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“Krishna” significa “aquele que dá prazer” e “também aquele que atrai tudo e todos”. Aqueles que têm esta conexão transcendental podem sentir felicidade ilimitada, a qual não é encontrada neste mundo. Então pode surgir uma pergunta: “Se Krishna atrai a todos, e nesta atração encontramos felicidade, por que ele não me atrai e não estou feliz?”. Podemos aqui usar a analogia do metal e do magnésio (imã). O imã tem a natureza de atrair o metal, porém quando há uma cobertura de sujeira no metal, o imã não consegue atraí-lo. Assim também, a sujeira acumulada nos nossos corações não permite que o todo-atrativo nos atraia. Esta é nossa principal doença. Por estarmos esquecidos de Sri Krishna, dormindo no colo da ilusão, acumulamos muita poeira nos nossos corações. Assim o todo-atrativo não nos atrai, ao contrário, estamos sendo atraídos pela energia ilusória(maya). Queremos desfrutar deste mundo separadamente de Sri Krishna, e o resultado disto é o sofrimento. Às vezes, desfrutamos um pouquinho de algo sensual e nos sentimos felizes, mas logo em seguida, sofremos a reação de tal ato, e a infelicidade nos toma por completo novamente. Doença inevitavelmente acompanha o desfrute irrestrito. Na verdade, todos os atos praticados com base no ego pervertido levam ao sofrimento. Então a pergunta é: “Devemos permanecer neste mundo eternamente, inflingindo a nós mesmos, tanto sofrimento?”. No Gita, Krishna diz:

“Eu sou a causa de tudo neste mundo. Ó Arjuna, tudo que você fizer, faça como uma oferenda a mim. Assim você alcançará verdadeira paz e felicidade.”

“Aquele que me adora com amor e devoção alcança minha eterna morada, e nunca mais volta a nascer neste mundo material”

Um dia, todos terão que deixar este corpo, seja a pessoa rica ou pobre, feia ou bonita, todos terão que partir.

Yada vabda satante vaMrtyu vai praninam drhuvah

(Padma purana)

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“Uma pessoa pode permanecer aqui neste mundo por mais um dia, um mês, um ano ou cem anos, mas o certo é que um dia ela vai ter que morrer”.

Porém, por estarem completamente encobertos pela energia ilusória de Deus, as pessoas não entendem este mundo. Elas pensam que ele é cheio de prazer, e que podem conseguir felicidade aqui. Deus é a causa deste mundo. Quando as pessoas se tornam aversas a Deus devido à sua relativa independência, sua sombra vem e as encobre. Esta sombra as faz pensar que este mundo é eternamente consciente e feliz, mas de fato isto não tem uma real substância.

Tudo que você vê é como um sonho. Enquanto você está dormindo você pensa que tudo é realidade, mas quando acorda, realiza que é falso. Assim, o mundo inteiro está sonhando. Assim como quando temos uma doença, procuramos um médico e o questionamos sobre qual foi a causa de tal doença, e qual é a forma de tratamento; também devemos nos aproximar de um médico espiritual (Guru) e perguntar a ele qual foi a causa de tamanho sofrimento e infelicidade, e também qual é a forma de tratamento para esta doença. O médico divino, o guru perfeito, então, irá nos transmitir internamente, no campo da alma, o conhecimento sobre: quem somos, o que é este mundo, quem é Deus e qual é a nossa relação com Ele. Também dará o remédio, o método prático através do qual alcançaremos a felicidade divina. Devemos seguir às ordens do Guru cem por cento, com uma rendição incondicional e dar todo nosso coração a ele. Mas primeiro devemos analisar se tal Guru é realmente um guia fidedigno. Sobre isto, uma vez o Senhor Shiva disse à sua esposa Parvati:

“Ó Parvati, neste mundo é muito fácil encontrar um guru que está só interessado em tirar toda a riqueza dos seus discípulos e extrair fama deles, mas é muito difícil encontrar um Guru que realmente pode livrar o discípulo deste oceano de repetidos nascimentos e mortes.” (Shiva purana)

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Então, devemos primeiro analisar bem as características do Mestre espiritual a quem vamos nos render. Aceitando a guia e as instruções do guru genuíno, a pessoa interessada na real felicidade (acordar deste sonho, o mundo material), deve se render completamente ao Senhor Supremo Sri Krishna: “saranagati, hoibe janhara”.

A mensagem de Sri Krishna Chaitanya MahaprabhuPor Srila Bhakti Ballabh Tirtha Goswami Maharaj

De acordo com o Deus Sri Chaitanya Mahaprabhu, o divino amor transcendental é a maior força espiritual, na face da Terra, que pode estabelecer uma íntima relação amorosa no coração de todas as entidades vivas, e assim estabelecer real paz no mundo. Existem vários e vários grupos digladiando entre si no mundo inteiro. Não se encontra paz em lugar algum. Eu fiquei um pouco aborrecido ao ler no jornal sobre bombas e explosões. Uma seção de um povo tornou-se tão violenta e bárbara, que eles não hesitam em cometer crimes e assassinatos contra milhões de pessoas inocentes visando satisfazer seus objetivos políticos. Todas as considerações humanas foram abandonadas. Enquanto houver diferentes interesses, ninguém irá abandonar as lutas individuais, grupais, nacionais etc. De acordo com o Deus Chaitanya Mahaprabhu, deve haver o conhecimento do próprio ser, do real interesse e do centro do interesse. Apenas o Deus Supremo Sri Krishna pode ser o centro de interesse comum de todas as almas que dele emanaram. Se dermos água à raiz de uma árvore, todas as outras partes se nutrem e ficam satisfeitas; assim também se servimos Krishna, todos ficam satisfeitos. Não-violência significa não causar sofrimento aos outros, isto é negativo; mas amor significa fazer o bem aos outros. Se alguém desenvolve amor puro por alguém, ele não é capaz de causar sofrimento a esta pessoa ou a qualquer parte dela. Se desenvolvermos nosso amor por Krishna, não seremos capazes de causar sofrimento a qualquer parte

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que emana da sua potência marginal. Todas as entidades vivas estão inter-relacionadas em conexão com Krishna.

O Senhor Krishna disse no Bhagavad Gita: “Ó Arjuna, renda-se completamente á mim. Por minha graça, você alcançará paz suprema e também minha eterna morada transcendental”. Rendição absoluta à Suprema Personalidade de Deus é a única maneira de conseguir paz eterna. No momento em que desejarmos servir o Deus Supremo incondicionalmente, todas as nossas doenças e sofrimentos irão embora. Saranagati, ou seja, rendição absoluta a Krishna, é o remédio que cura todas as nossas doenças e a solução para todos os problemas. Falso ego gera falsos interesses, e esta disputa de interesses faz o fogo florestal queimar toda a terra. O Deus Supremo Sri Chaitanya Mahaprabhu disse que se as almas individuais espirituais tiverem o conhecimento de que estão interconectadas através de uma relação amorosa, o incêndio florestal das disputas de interesses pode acabar. Mahaprabhu disse que o amor divino é a melhor e única solução para a caótica situação do mundo. Este amor divino(prema bhakti) pode ser alcançado através da prática do cantar dos santos nomes de Deus tais como Krishna, Rama, Madhava, Govinda etc. Nesta era atual, este cantar (nam sankirtan) é o melhor remédio e prática efetiva para todos alcançarem o sommun bonnum da vida humana; e isto pode ser praticado em qualquer circunstância que nos encontremos. Este cantar dos santos nomes de Deus é a religião universal na qual todos aqueles que foram rejeitados, de todas as religiões ou seitas, podem se unir.

OCEANO DE FÉPor Srila B.R.Sridhar dev Goswami Maharaj

Embora o objeto da fé de nosso coração seja infinito, algumas concepções dele foram dadas pelos homens com experiência no oceano da fé. Neste oceano, muitos tiveram sua experiência especial, e isso foi registrado nas escrituras. Através disso,

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podemos nos aproximar dos santos que se alçam como faróis para nos auxiliar a cruzar o oceano de nesciedade... Mas de um santo fidedigno, e não meramente uma hipócrita ou um imitador. Talvez seja possível também imitar a coisa verdadeira, quando pegamos nossa experiência mundana e a introduzimos no mundo da fé. Portanto devemos nos aproximar desse plano com muito cuidado através da linhagem dos santos confiáveis.

Devemos cuidar bem para sabermos as qualificações de um verdadeiro santo. Seus sintomas estão disponíveis nas escrituras. E quem é um discípulo e qual deve ser sua atitude. Todas essas coisas estão nas escrituras.

A fé é requisito para se trabalhar nesse substancial mundo consciente, que é subjetivo. Essa é a coisa mais importante que temos de lembrar: o infinito é subjetivo. Ele pode nos guiar e ser afetuoso para conosco. Devemos contar com todas essas coisas. Ele pode nos guiar. A verdade revelada repousa sobre este fundamento: não podemos nos aproximar de Krishna pelo método ascendente, porém Ele pode descer até nosso nível para dar-Se a conhecer. Devemos entender este ponto muito fundamental e substancial: Ele pode vir até nós, e só pela fé é que nós podemos chegar a Ele.

Sraddha - fé - é mais importante do que a verdade calculista. O exemplo de grandes almas é mais valioso para nós que nosso cálculo humano. A verdade externa, material, física não tem muito valor; em vez disso, é uma atitude falsa da mente que é muito forte. Essa verdade física não deve receber mais respeito que as práticas intuitivas dos devotos puros; mas sim, a intuiçäo de um devoto puro deve ter preferência aos cálculos da verdade feitos por homens comuns.

A fé não possui nenhuma conexão com a assim chamada realidade desse mundo. É completamente independente. Há um mundo que é guiado apenas pela fé (sraddha-mayam-lokan). Fé é tudo ali, e é infinita. No mundo da fé, tudo pode ser verdade pela doce vontade do Senhor. E aqui, na terra da morte, o cálculo é inconclusivo e destrutivo em sua meta final; não tem nenhum valor no final das contas. Deve ser rejeitado. O conhecimento no qual os materialistas se apoiam, o cálculo falível das almas exploradoras,

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não tem nenhum valor. Mas no mundo do infinito, a fé é o único padrão de acordo com o qual tudo se movimenta.

svayam samuttirya sudustaram dyumanbhavarnavam bhimam adabhra-sauhrdah

bhavat padambhoruha-navam atra tenidhaya yatah sad-anugraho bhavan

Srimad Bhagavatam 10.2.31

Aqui, o Srimad-Bhagavatam diz que assim como no vasto oceano, quando nada mais pode ser visto, a bússola é a única orientação, também no mundo do infinito, nossa única guia são os passos daquelas grandes almas que viajaram no caminho da fé. O caminho foi marcado pelos santos passos daqueles que foram para o quadrante mais elevado. Essa é nossa única esperança. Yudhishthira Maharaja também diz que o verdadeiro segredo está oculto no coração dos santos, assim como um tesouro se esconde numa misteriosa caverna (dharmasya tattvam nihitam guhayam). A longa linha que leva à verdade é demarcada por aqueles que estão indo para o mundo divino. E isso é nossa guia mais segura. Todos os outros métodos de orientação podem ser eliminados porque o cálculo é falível. Orientação vem do absoluto infinito. E a orientação Dele pode vir de qualquer forma, em qualquer lugar, a qualquer hora. Com esta ampla visão, devemos perceber o significado de Vaikuntha. Vaikuntha significa "sem limites". É como se estivéssemos num barco flutuando num infinito oceano. Muitas coisas podem vir nos ajudar ou atrapalhar. Mas somente nossa boa fé otimista poderá ser nossa guia, nosso gurudeva. O guia é Sri Guru.

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