Revista de Endodontia Pesquisa e Ensino On Line - Ano 1, Número 2, Julho/Dezembro, 2005. 1
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LESÕES ENDODONTICO-PERIODONTAIS: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
ENDODONTIC-PERIDONTIC LESIONS
Maria Gabriela Pereira de Carvalhoa
Jose Antonio Poli de Figueiredob
Cláudia Medianeira Londero Pagliarinc
Rodrigo Gardind
Renata Morgentald
Marina Kaizerd
Resumo
O objetivo deste trabalho é destacar a importância do diagnóstico diferencial de lesões endodôntico-periodontais, identificando os efeitos da lesão endodôntica sobre o periodonto e da lesão periodontal sobre a polpa.
Sabe-se que os tecidos pulpar e periodontal estão intimamente ligados através do forâmem apical, dos canaislaterais, dos túbulos dentinários, dos intercondutos e deltas apicais, promovendo troca de agentes nocivos entre eles.Reabsorções, tratamentos periodontais, fraturas radiculares e perfurações podem proporcionar um maior contatoentre os tecidos conjuntivos que preenchem a cavidade pulpar e o espaço do ligamento periodontal.
Através da apresentação de um caso clínico confirma-se a presença de uma lesão endodôntica-periodontalverdadeira, com bolsa periodontal, alteração clínica pulpar e mobilidade maior que a esperada para a perda ósseaevidenciada radiograficamente. Neste caso o tratamento endodôntico e periodontal foi realizado concomitantemente.Destaca-se a importância da permeabilidade dentinária e o uso de líquidos, na irrigação, que limpem o sistema decondutos radiculares e criem permeabilidade para o medicamento local.
Este trabalho ressalta a importância de estabelecer o diagnóstico diferencial dos vários distúrbios que afetamo tecido pulpar e periodontal para atuar de maneira apropriada em cada caso, excluindo terapias desnecessárias ouaté mesmo iatrogênicas que poderão não resultar em cura, levando o tratamento ao fracasso.
PALAVRAS-CHAVE: Diagnóstico diferencial, endodonto, lesão endodôntico-periodontal combinada, periodonto,tratamento do canal radicular.
a Maria Gabriela Pereira de Carvalho, MSC, PhD. Universidade Federal de Santa Maria, Brasil.
b Jose Antonio Poli Figueiredo, MSC, PhD. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre , Brasil.
c Cláudia Medianeira Londero Pagliarin, DDS. Universidade Federal de Santa Maria, Brasil.
d Marina Kaizer, Renata Morgental, Rodrigio Gardin, DDS. Universidade Federal de Santa Maria, Brasil.
Lesões endodontico-periodontais: diagnóstico diferencial
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Abstract
The objective of this work was to demonstrate the importance of the differential diagnosis of endodontic-periodontic lesions, identifying the effects of an endodontic lesion on the periodontal tissue and periodontal lesion onthe vital pulpal tissue.
It is known that pulpal and periodontal tissues are closely connected through the apical foramen, lateralcanals and dentinal tubules, generating an exchange of noxious agents.
Resorptions, periodontal treatment, root fractures and perforations also generate a greater contact betweenthe conjunctive tissues that fill in the pulpal cavity and the periodontal ligament space.
Through the introduction of a clinical case, the presence of a real endodontic- periodontic lesion could beconfirmed, with periodontal pocket, pulpal clinical alteration and greater mobility than expected considering the littlebone loss, as seen on radiograph. In that case, the endodontic and periodontal treatments were performedconcomitantly. It was pointed out the importance of dentinal permeability and the use of liquids that clean the rootcanals and generate permeability for the intracanal dressing.
This work shows the importance of establishing the differential diagnosis of various disturbancesthat affect the pulpal and periodontal tissues, so that a proper treatment can be given for each case, excludingunnecessary therapies or even iatrogenics treatment, which may result in failure.
KEYWORDS: Endodontic-periodontic lesion, root canal treatment and periodontal treatment, calcium hydroxide.
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IntroduçãoA relação existente entre a doença periodontal
e a pulpar tem sido motivo de estudo por muitos
autores. Não há dúvidas quanto ao íntimo
relacionamento entre a cavidade pulpar e o espaço
periodontal. Portanto, deve-se ter cuidado ao
diagnosticar o paciente, pois sabe-se que os sinais
podem ser confusos.
A ligação entre o tecido periodontal e pulpar é dada,
principalmente, através do forâmem apical, dos canais
acessórios, secundários, laterais e dos túbulos
dentinários, promovendo a troca de agentes nocivos
como produtos da degeneração tecidual e bactérias.
Procedimentos tais como raspagem e alisamento
radicular em pacientes com doença periodontal
subgengival fazem com que o cemento seja removido
da superfície da raiz, gerando assim contato direto dos
túbulos dentinários abertos com a região externa da
raiz (Ruiz e colaboradores14, Bergenholtz e
Hasselgren2). Perfurações radiculares, reabsorções
internas e externas e fraturas radiculares também são
condições que permitem um contato mais direto entre
as estruturas pulpar e periodontal. Os agentes
patológicos presentes no órgão pulpar podem ser
transmitidos aos tecidos periodontais, porém, a
influência da doença periodontal sobre o estado pulpar
ainda é um assunto controverso (Ruiz e
colaboradores14). Langeland citado em Bergenholtz e
Hasselgren2 afirmou que a vitalidade pulpar não
parece ser afetada até que a lesão periodontal, com
seus produtos bacterianos, tenha atingido o forâmem
apical.
Analisando a literatura pode-se verificar a existência
de inúmeros tipos de classificações, dentre elas as
encontradas em Bergenholtz e Hasselgren2; Simon e
colaboradores15; Oliet e Simon P. citados em
Barkhordar1; Klaus e colaboradores11; Torabinejad e
Trope18. Após compilação de vários autores, elegeu-se
a classificação que divide as lesões endodôntico-
periodontais em: 1) origem periodontal; 2) origem
endodôntica; 3) origem endodôntica e periodontal
associada e preferiu-se acrescentar mais um tipo a
esta classificação: 4) as lesões de origem endodôntico-
periodontais duvidosas, as quais serão explicadas
posteriormente.
A lesão endodôntica-periodontal verdadeira é aquela
onde há uma lesão endodôntica e uma periodontal em
um mesmo dente, sendo que não existem demarcações
óbvias entre as duas, pois radiografica e clinicamente
aparecem como uma lesão única (Lindhe e
colaboradores12 ; De Deus6). De Deus6 também
descreveu critérios para se definir uma lesão
endodôntica-periodontal verdadeira: 1) o dente
envolvido deve estar despolpado ou ser portador de
alteração irreversível da polpa dental; 2) deve existir
destruição do aparelho periodontal de inserção, a
partir do sulco gengival, em uma profundidade
variável, atingindo até mesmo a região do ápice
radicular; 3) o tratamento endodôntico e o tratamento
periodontal combinados são necessários para a sua
solução.
O diagnóstico da lesão endodôntica-periodontal
verdadeira é dado através de vários recursos
semiotécnicos. O teste de sensibilidade verifica a
necrose pulpar. O exame clínico observa normalmente
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a presença de doença periodontal generalizada. O
exame radiográfico sugere perda óssea vertical e
horizontal, indicando comprometimento periodontal
além de lesões periapicais e/ou perirradiculares que
indicam envolvimento pulpar. O exame de sondagem
nota a presença de sulco profundo (Hiatt10). Existem
três fatores que determinam clinicamente uma lesão
endodôntica-periodontal verdadeira: presença de bolsa
periodontal, alteração clínica pulpar e mobilidade
acentuada, maior que a esperada para a pouca perda
óssea evidenciada radiograficamente. A presença de
nódulos pulpares sinaliza processo degenerativo
pulpar.
Nesses casos, o tratamento endodôntico e periodontal
deve ser realizado concomitantemente. A
permeabilidade dentinária é uma característica
importante e deve ser obtida pela irrigação. Eleger o
hidróxido de cálcio de boa procedência como medicação
intracanal e ter cuidado no armazenamento assim
como na manipulação e na utilização do veículo e da
forma de aplicação adequada são passos importantes
para o tratamento. Na literatura não há consenso no
que se refere ao período entre as trocas da pasta de
hidróxido de cálcio. O tratamento pode ser concluído
em poucas semanas ou estender-se por mais tempo,
dependendo de cada caso.
O prognóstico da lesão endodôntica-periodontal
verdadeira é desfavorável e pode ser recomendado
tratamento sistêmico, no entanto deve-se avaliar a
necessidade específica do paciente. É importante
diferenciar essas lesões, daquelas de origem
exclusivamente endodôntica ou periodontal. As de
origem exclusivamente endodôntica se caracterizam
por apresentar polpa necrosada, sendo solucionadas
através de terapia endodôntica e controle pós-
operatório. As lesões de origem periodontal, por sua
vez, são verificadas em dentes com polpa vital e
geralmente encontramos a presença de doença
periodontal generalizada. Sua resolução é obtida
através de raspagem e alisamento radicular,
permitindo assim, o controle adequado de placa pelo
paciente (Hiatt10). Algumas lesões apresentam
aspecto de lesões endodôntico-periodontais
combinadas mas não o são. Entre elas destacam-se
fraturas verticais e sulcos de desenvolvimento
(Simon16). Estas lesões são as que se classificam como
duvidosas. Os testes de sensibilidade são de extrema
importância para o reconhecimento de lesões de
origem duvidosa. O comportamento de tais lesões
frente ao tratamento endodôntico e/ou periodontal,
muitas vezes, será o meio de estabelecer o diagnóstico
(Simon16; Hiatt10; Bergenholtz e Hasselgren2).
Relato do caso
Uma mulher de 56 anos de idade, de
ascendência européia, compareceu à clínica da
Universidade Federal de Santa Maria, procurando
tratamento periodontal. Apresentava intenso
sangramento e edema gengival, cálculo supragengival
que a incomodava esteticamente e não relatava
sensibilidade. Sua historia médica não apresentava
nenhum outro problema e ela não tomava qualquer
medicação.
Exame intra e extra-oral revelou uma saúde
bucal adequada, exceto pela doença periodontal. A
paciente apresentava bolsas de 3 a 5 mm em todos os
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dentes e uma fístula sobre o rebordo edêntulo na
região distal do segundo pré-molar inferior direito . A
respectiva face deste dente apresentava uma perda de
inserção de 6mm com profundidade de sondagem de
3mm . O exame radiográfico evidenciou uma área
radiolúcida, estendendo-se pela face distal do dente,
até a região apical (Fig.1-A). O referido dente não
respondeu aos testes térmicos, palpação e percussão. É
importante ressaltar que na face vestibular desse
elemento dentário havia uma extensa restauração em
resina composta, que apresentava uma falha na região
cervical . A mobilidade foi classificada em grau 1. O
primeiro pré-molar inferior direito não apresentava
qualquer alteração.
O diagnóstico foi de necrose pulpar com perda
do osso perirradicular da porção distal e apical do
segundo pré-molar inferior direito, associada à lesão
periodontal que acometia a mesma região. Portanto foi
classificada como lesão endodôntica-periodontal
verdadeira . O tratamento endodôntico foi realizado
com trocas de hidróxido de cálcio até a paciente
receber alta do tratamento periodontal.
Em trinta dias o dente permanecia
assintomático e a fístula havia cicatrizado. O exame
clínico revelou a obtenção de saúde gengival na região
tratada. Sessenta dias após a obturação do conduto
radicular, uma radiografia de controle evidenciou o
início de formação óssea. É importante ressaltar que
as radiografias de diagnóstico e controle foram
realizadas pela técnica do paralelismo com
posicionador para padronizar a incidência, conforme
Pereira e colaboradores13. A paciente não apresentou
sinais nem sintomas desagradáveis e foi informada da
necessidade de controle pós-operatório periódico. Novo
exame radiográfico foi executado noventa dias após a
conclusão da terapêutica endodôntica, e mostrou
redução da radiolucidez local, podendo-se evidenciar
início de remodelação do trabeculado ósseo, ainda
pouco mineralizado. Ao completar seis meses do
término do tratamento endodôntico, novo exame
radiográfico evidenciou a contínua remissão da lesão,
quando comparado aos aspectos radiográficos
anteriores (fig.1-A e B).
Fig. 1 – Comparação entre a condição inicial (A) e 180 dias
após o tratamento endodôntico (B). Pode ser vista redução da
lesão.
Um ano após a obturação do conduto
radicular, uma nova radiografia de controle mostrou
radiopacidade em toda área da lesão, evidenciando o
sucesso do tratamento proposto (fig.2).
Fig. 2 – O controle radiográfico, um ano após o tratamento
endodôntico, mostrou radiopacidade em toda a área da lesão.
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Planejou-se controles periódicos a cada três
meses, quando foram realizados exames radiográficos
da região, exame clínico completo, incluindo sondagem
periodontal, visando à manutenção da saúde bucal da
paciente, sua remotivação e avaliação do sucesso da
terapêutica instituída.
Discussão
Os casos de lesão endodôntica-periodontal,
como o que foi relatado no presente estudo, requerem
um diagnóstico cuidadoso por parte do profissional. O
fator mais importante ao se diagnosticar estes tipos de
lesões é verificar o estado da polpa, se vital ou não.
Uma vez, a falta de vitalidade pulpar sendo
diagnosticada, a terapia do canal radicular poderia ser
iniciada (Blair3).
O exame radiográfico também é de extrema
importância não só para o diagnóstico, mas para o
controle de tais lesões. O uso de radiografias
periapicais antes, durante e após o tratamento
endodôntico é essencial para verificar detalhes
anatômicos, comprimento do conduto radicular,
qualidade da obturação, além de permitir o
monitoramento das lesões dentárias e ósseas,
conforme cita Fava e Dummer8.
A paciente em questão apresentava alteração clínica
pulpar com lesão intra-óssea na região distal do
segundo pré-molar inferior direito, presença de doença
periodontal e mobilidade acentuada, maior que a
esperada para a pouca perda óssea evidenciada
radiograficamente, constituindo desta forma, uma
verdadeira lesão endodôntica-periodontal. Os exames
clínicos apontaram como provável origem da lesão
endodôntica periodontal combinada ou verdadeira, a
presença de uma extensa restauração na porção
vestibular com falha na região cervical, além da
ineficiência quanto aos cuidados com a higiene oral.
Segundo Bergenholtz e Hasselgren2, o tratamento das
lesões endodôntico-periodontais combinadas é idêntico
ao tratamento dado às lesões quando ocorrem
isoladamente. Vários autores como, Bergenholtz e
Hasselgren2; Blomlöf e colaboradores4; Hiatt10
preconizam a realização prévia da terapia endodôntica
para posteriormente instituir a terapia periodontal, se
necessário.
No caso relatado, o tratamento endodôntico e
periodontal foi realizado concomitantemente. Levou-se
em consideração a permeabilidade dentinária, usando
líquidos durante a irrigação que limpassem bem o
sistema de condutos radiculares e proporcionassem a
permeabilidade desejada para a ação do hidróxido de
cálcio utilizado como medicamento local.
A literatura indica trocas de hidróxido de cálcio em
períodos variáveis, porém não há consenso no que se
refere ao período entre as trocas da pasta de hidróxido
de cálcio. Após compilação entre vários autores,
Tronstad e colaboradores19, Bramante e Berbert5,
Estrela e colaboradores7, Siqueira e Lopes17, Gomes9,
entendeu-se que se faz necessário padronizar o período
dessas trocas que poderão variar de acordo com alguns
fatores, tais como a sintomatologia, presença de
exudato e controle radiográfico. No caso do paciente
apresentar um aumento de sensibilidade antes do
período se completar, a troca deverá ser antecipada.
Quando existe presença de exudato na primeira
sessão, o período para próxima troca deve ser
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diminuído. Em todos os casos devem ser realizadas
radiografias logo após o preenchimento de hidróxido de
cálcio assim como na sessão seguinte, antes da troca.
Após a análise do grau de radiopacidade e constatada
a semelhança entre as duas radiografias, conclui-se
que a pasta foi pouco reabsorvida, assim a troca
poderá ser protelada. No caso de comparar-se as duas
radiografias e perceber-se que a atual apresenta
menos radiopacidade, significa que houve reabsorção
da pasta de hidróxido de cálcio existente no(s)
conduto(s), portanto deve-se realizar a troca.
Na primeira sessão preenche-se o conduto radicular
com hidróxido de cálcio. Após 7 dias realiza-se a
segunda sessão. O terceiro acompanhamento ocorrerá
15 dias após a segunda sessão. Aguarda-se 30 dias e
faz-se nova avaliação. As avaliações seguintes
ocorrerão em 60 e 90 dias e assim sucessivamente.
Freqüentemente, a troca do curativo ocorre a cada
vinte e um ou trinta dias (três a quatro semanas). Tais
trocas devem ser realizadas até que seja dada alta no
tratamento periodontal para, então, concluir a
obturação do conduto radicular. A cada troca, deve-se
irrigar abundantemente com hipoclorito de sódio e
finalizar com EDTA-T para remover o hidróxido de
cálcio. Os indicadores da necessidade das trocas
periódicas do hidróxido de cálcio no interior do conduto
radicular são a solubilidade da pasta, a formação do
carbonato de cálcio que é insolúvel, a redução do
estímulo da formação de tecido duro e a redução do
nível alcalino do meio. O tratamento pode ser
concluído em poucas semanas ou estender-se por até
dois anos, dependendo do caso e dos fatores envolvidos
já citados.
Neste caso, a terapêutica implantada respondeu
positivamente, observando-se reparo do defeito ósseo e
ausência de sintomatologia nas sessões de controle
realizadas após 30, 60, 90 e 180 dias, permitindo a
permanência do dente em função e concordando com a
afirmativa de Blair3, que aponta o suporte periodontal
e não a vitalidade pulpar como fator determinante
para a manutenção do dente.
Conclusão
O diagnóstico diferencial entre lesões
endodôntico-periodontais pode ser, na maioria das
vezes, estabelecido sem muita dificuldade. Porém, os
sintomas e sinais clínicos podem se apresentar muito
semelhantes e um profissional menos atento corre
risco de adotar uma terapêutica inadequada.
Teste de sensibilidade, exame radiográfico, sondagem
periodontal, história médica e dental do paciente são
alguns dos recursos semiotécnicos que podem ser
utilizados para diferenciar as lesões de origem
endodôntica e periodontal. Porém, em determinados
casos, nas chamadas lesões endodôntico-periodontais
duvidosas, a sua origem poderá ser confirmada após a
instituição de terapia e acompanhamento do
comportamento da lesão frente a ela.
Durante o tratamento das lesões endodôntico-
periodontais verdadeiras, preconiza-se a realização de
trocas de hidróxido de cálcio até que seja dada alta do
tratamento periodontal para concluir a obturação dos
condutos radiculares.
No presente caso, os resultados obtidos foram
satisfatórios, observando-se o reparo ósseo e ausência
de sintomatologia. Concluiu-se que é de extrema
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importância estabelecer o diagnóstico diferencial dos
vários distúrbios que afetam os tecidos pulpar e
periodontal para atuar-se de maneira apropriada em
cada caso, excluindo tratamentos desnecessários ou
até mesmo iatrogênicos que poderiam não resultar em
cura.
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