Levantamento Fitoterápico das Plantas Medicinais do
Município de Zé Doca – Maranhão.
Davina C. Chaves ², Elys Nayanne V. Matos¹, Gilcilene M. Morais¹, Jéssica F. Pereira¹, Maria José M. Correia¹, Thaylan P. Araújo¹.
1- Discentes do curso técnico em Análise Química e Bicombustíveis - Instituto Federal do
Maranhão/ Campus Zé Doca.
2- Docente Orientador - Departamento de Química - Instituto Federal do Maranhão/ Campus
Zé Doca.
E-mail para contato: [email protected]
Palavras Chave: Plantas Medicinais, Fitoterapia, Conhecimento Popular.
1. Resumo
O desenvolvimento da fitoterapia tem se destacado pela utilização em
estudos farmacológicos, que partem do conhecimento popular, pois suas ações
são comprovar ou reprovar práticas que vem sendo utilizadas desde a
antiguidade. Este trabalho visa à obtenção de dados sobre a utilização de
plantas medicinais no município de Zé Doca – Maranhão, e comparando com
os dados da literatura. A metodologia utilizada para a obtenção dos resultados
foi baseada na aplicação de um questionário contendo perguntas
socioeconômicas e especificas referentes ao uso de plantas medicinais. Os
resultados obtidos reforçam a idéia do uso de plantas medicinais como
principal fonte de medicação, tendo em vista que, com o crescimento da
indústria farmacêutica a medicina popular tentou desmistificar a utilização de
plantas medicinais. Conclui-se, portanto que há uma necessidade de se obter
maiores estudos na área de fitoterápicos, possibilitando um crescimento na
área de produtos naturais e farmacêuticos.
2. Introdução
A evolução das indústrias química e farmacêutica fez com que a
medicina passasse a preferir substâncias puras e sintéticas, com isso parte da
cultura popular foi depreciada, havendo descrédito sobre a terapêutica caseira
com plantas e desestimulando a pesquisa necessária nessa linha. Segundo
estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população
mundial usa recursos da medicina popular para suprir necessidades de
assistência médica privada e pública. (MACEDO et al., 2006).
A cultura etnobotânica vem sendo divulgada por várias gerações,
principalmente pelo conhecimento popular. A utilização de plantas medicinais é
uma prática comumente realizada por grande parte da população, que muitas
vezes é a única forma de cura para algumas pessoas. Porém, muitos dos
princípios ativos podem ser prejudiciais. Assim como os remédios
farmacêuticos as plantas também possuem efeitos adversos.
Diante dos seguintes dados, pode-se verificar o grau de conhecimento
da população da cidade de Zé Doca em relação à medicina popular. Sendo
uma cidade do interior do estado do Maranhão, localizada numa área
influenciada tanto pela vegetação pré-amazônica quanto pela caatinga possui
uma grande diversidade de plantas medicinais, cujo conhecimento é
transmitido de geração a geração, podendo está ou não de acordo com
citações literárias.
3. Objetivos
3.1 Geral
• Verificar o grau de conhecimento da população da cidade de Zé
Doca em relação à medicina popular.
3.2 Específicos
• Verificar a relação sócio-economica, utilização e meios de
obtenção da matéria prima.
4. Metodologia
Realizaram-se entrevistas utilizando-se questionário semi-estruturado
composto de 8 questões, focalizando a situação socioeconômica, o grau de
escolaridade, obtenção e utilização das plantas medicinais entre outras. O
questionário foi aplicado pelos estudantes dos cursos de bicombustíveis e
analise química do IF-MA/ Campus Zé Doca, as entrevistas decorreram no
período de 20 dias do mês de janeiro de 2009 distribuídas por dois bairros do
município de Zé Doca - MA, com abrangência de 50 famílias, totalizando 196
entrevistados. A opção por entrevistar dois bairros foi julgada o seguinte: A
situação sócio-econômica e as diferenças relacionadas com setores
associados à agricultura familiar e comercias, pois o Bairro I apresenta
características da área rural que é estruturada principalmente na agricultura
familiar e o Bairro II destaca-se por ser um setor comercial da cidade por
apresentar-se como um dos setores mais urbanizado do município, tendo em
vista que os dois representam fortemente as características do presente
município situado a 320 km da capital, São Luis e que tem como principal
atividade econômica no setor varejo e na agricultura de subsistência.
5. Resultados e Discussões.
No total 50 famílias foram entrevistadas, totalizando 196 pessoas que
participaram direta ou indiretamente do estudo.
Das 50 residências abordadas, apenas duas declararam nunca ter feito
uso de plantas medicinais. Resultado semelhante ao descrito pela OMS.
Portanto, a população ainda encontra nas plantas medicinais uma fonte de
saúde acessível e eficaz.
Dentre as plantas mencionadas pelos entrevistados destacam-se a erva
cidreira (Melissa officinalis) e o boldo (Peumus boldus) dados também
relatados por outros autores (RODRIGUES, 2006; CARNEIRO et al., 2008).
Portanto, são essas as plantas mais difundidas e conseqüentemente as mais
utilizadas pelos raizeiros da cidade de Zé Doca. Além das duas espécies
citadas, há destaque para outras 16 espécies descritas na tabela I.
Planta Medicinal
Nome Cientifico (Referência
bibliográfica) Uso mencionado na literatura Cultura popular
Babosa
Aloe Vera (Barbosa, G. A., 2006)
Anticaspa, antifúngico, antibacteriano, cicatrizante, repelente, glaucoma, asma, câncer de pele e queimaduras.
Cicatrizante e gastrite
Boldo
Peumus boldus (Macedo, A.F.et,
AL.,2007)
Afecções do fígado e do estômago, litíase biliar, cólicas hepáticas, hepatites, dispepsia, tontura, insônia, prisão de ventre, reumatismo, gonorréia.
Problemas Intestinais
Camomila
Matricaria chamomilla (Macedo, A.F.et,
AL.,2007)
Ansiedade, insônia, síndromes febris, dispepsia, flatulência, náusea, vômito, inflamação bucal e do aparelho geniturinário, reumatismo, clareadora dos cabelos e para menstruação dolorosa.
Calmante
Capim Santo
Cymbopogon citratus
stapf (Oliveira e Araújo,
2007)
O capim santo (ou Capim limão) apresenta ação calmante e antiespasmódico suave. O infuso, recém preparado das folhas frescas ou secas, é útil no alivio de pequenas crises de cólicas intestinais e uterinas, bem como em estados de nervosismos e intranqüilidade.
Dor de cabeça, calmante, gripe
Casca de Cajueiro
Anarcardium occidentale L.
(Junior et. al., 2006)
Antiinflamatórias, anti-hemorrágicas e analgésicas para o tratamento de odontalgias e de outras afecções orais.
Derrame e diabetes
Casca do eucalipto
Eucalyptus globulus Labil
(Barbosa, G. A., 2006)
Tosse, gripe, laringite aguda, pleurite, sinusite aguda Derrame, diabetes, febre, gripe
Colônia
Alpinia speciosa schum (Oliveira e Araújo, 2007)
Contém alguns flavonóides que têm ação anti-hipertensiva e alguns princípios que apresentam ações ansiolíticas e sedativas.
Calmante
Erva Cidreira
Melissa officinalis (Macedo, A.F.et,
AL.,2007)
Regular menstruação, cólicas, tem efeito tônico no útero e, às vezes, pode ajudar em casos de esterilidade, insônia nervosa, problemas gastrintestinais funcionais, herpes simplex, lava feridas. Combate mau hálito, antidepressivo, antialérgico (embora possa irritar peles sensíveis), digestivo, revigorante, carminativo, hipotensor, nervino, sudorífero, tônico geral, antiespasmódico, bálsamo cardíaco, antidisentérico, antivômitos
Pressão arterial, febre, calmante,
problemas intestinais e gripe
Algodão
Cochlospermum
regium (Mart. & Sch.) Pilger
Com a casca prepara-se o chá usado como depurativo do sangue. Muito comum em áreas do cerrado.
Derrame, diabetes e depurativo do
sangue
Hortelã
Mentha piperita (Macedo, A.F.et,
AL.,2007)
Tônico, estimulante sobre o aparelho digestivo, antisépticos e ligeiramente anestésicas. Fortificante de glândulas, nervos e coração. Antiespasmódicos e calmantes. Combate dores do baixo ventre, câimbras e prisão de ventre. A infusão quente favorece transpiração e facilita menstruação
Gripe
Casca da Laranja
Citrus Sinensis Osbeck (Oliveira e Araújo, 2007)
A casca de laranja é calmante e tônico estomacal, útil nos casos de dores de estomago e indigestão.
Problemas intestinais
Malva do reino
Malva sp
(Rudder, 2002) Tosse, Bronquite, colite, gengivite, laringite aguda, prisão de ventre, sinusite aguda
Gripe, problemas na mestruação,
garganta Mamona
Ricinus communis
Cabelos, frieiras, prisão de ventre, vermífugo, hemorróidas, tumores
Calvície
Pata de vaca
Bauhinia spp (Macedo, A.F.et,
AL.,2007
Problemas do aparelho urinário, diabetes
Diabetes
Romã Punica granatum Linn (Junior et. al., 2006)
Possui atividade antimicrobiana sobre streptococcus mu-tans, microrganismo de extrema importância na formação do biofilme dentário, por sua ação anti-séptica e antibiótica.
Câncer de garganta
Sucupira Pterodon
emarginatus (Macedo, A.F.et,
AL.,2007)
Usada para reumatismo, diabetes e Inflamação Derrame
Verificou-se, com relação ao nível escolar da população entrevistada,
que 16% são analfabetas, 32% possuem ensino médio completo e 20%
possuem ensino superior e sobre a renda familiar, que 32% recebem menos de
um salário mínimo, 52% entre 1-2 salários mínimos, 10% entre 3-4 salários
mínimos e apenas 6% ganham mais de 5 salários. Isto nos leva a crer que, as
pessoas mesmo com um grau de conhecimento e uma renda per capita maior,
continuam usando a medicina popular, semelhante aos resultados relatados
por Macedo et al. (2007). Os dados sobre a aplicação do questionário
encontram-se no gráfico I.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Gráfico I - Porcentagem de entrevistados que utilizam plantas medicinais e fazem uso constante de remédios farmacêuticos de acordo com a renda familiar.
O conhecimento sobre ervas é adquirido, em sua maioria, através de
familiares mais velhos, pais e avós. A segunda fonte mais mencionada é pais,
avós e vizinhos, como mostra o Gráfico II. As propriedades medicinais ainda
são pouco divulgadas pelos meios de co
passado oralmente, de pessoa para pessoa.
Gráfico II - De onde vem o conhecimento sobre plantas medicinais.
Os casos mais freqüentes de doenças nas famílias foram: hipertensão
(17%); colesterol (14%); garganta (14%); e diabetes (11%), como mostra o
Gráfico III.
0 %1 0 %2 0 %3 0 %4 0 %5 0 %6 0 %7 0 %8 0 %9 0 %1 0 0 %M e n o sd e 1S á l a r i oM í n i m o E nS áM í
PAIS E AVÓS
PAIS, AVÓS
E VIZINHOS
VIZINHOS
PAIS, AVÓS
E TV
OUTROS
Porcentagem de entrevistados que utilizam plantas medicinais e fazem uso constante de remédios farmacêuticos de acordo com a renda
conhecimento sobre ervas é adquirido, em sua maioria, através de
familiares mais velhos, pais e avós. A segunda fonte mais mencionada é pais,
avós e vizinhos, como mostra o Gráfico II. As propriedades medicinais ainda
são pouco divulgadas pelos meios de comunicação, assim, o conhecimento é
passado oralmente, de pessoa para pessoa.
De onde vem o conhecimento sobre plantas medicinais.
Os casos mais freqüentes de doenças nas famílias foram: hipertensão
(17%); colesterol (14%); garganta (14%); e diabetes (11%), como mostra o
t r e 1 e2á l a r i o sí n i m o s E n t r e 3 e4S á l a r i o sM í n i m o s M a i s d e5 s á l a r i o sM í n i m o sP e s s o a s q u e u t i l i z ap l a n t a s m e d i c i n a i sE n t r e v i s t a d o s q u eu t i l i z a m r e m e d i o sf a r m a c e u t i c o sc o n s t a n t e s
Porcentagem de entrevistados que utilizam plantas medicinais e fazem uso constante de remédios farmacêuticos de acordo com a renda
conhecimento sobre ervas é adquirido, em sua maioria, através de
familiares mais velhos, pais e avós. A segunda fonte mais mencionada é pais,
avós e vizinhos, como mostra o Gráfico II. As propriedades medicinais ainda
municação, assim, o conhecimento é
De onde vem o conhecimento sobre plantas medicinais.
Os casos mais freqüentes de doenças nas famílias foram: hipertensão
(17%); colesterol (14%); garganta (14%); e diabetes (11%), como mostra o
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6. Conclusão
Conclui-se que, a utilização
uma prática muito acessível e
levando-nos a crer que a difusão desta cultura milenar é perpassada através do
conhecimento diversificado, entre eles através de familiares, vizinhos, raizeiros
e outros. Este trabalho tem como premissa
herbário e do laboratório de ex
Zé Doca.
7. Referências Bibliográficas.
• BARBOSA, G. A.
Pará: Edições Amazônia,
• MACEDO, A.F.; Oshiiwa, M.; Guarido, C.F.
plantas medicinais por
Marília-SP. São Paulo
• CARNEIRO, M.J.C. et al.,
utilizadas pelos moradores do bairro de Brasí
2008
• RODRIGUES, A.C.C.; Guedes, M.L.S.
medicinais no Povoado Sapucaia, Cruz das Almas
das Almas – BA, 2006
Gráfico III – Doenças mais comuns entre os entrevistados
que, a utilização de plantas medicinais ainda continua
acessível e viável, independente do nível sócio-econômico,
nos a crer que a difusão desta cultura milenar é perpassada através do
conhecimento diversificado, entre eles através de familiares, vizinhos, raizeiros
trabalho tem como premissa a viabilização da implantação do
herbário e do laboratório de extratos de plantas medicinais no IF-MA
ibliográficas.
A. Tratamento pela Natureza. 1. ed. atual.
Edições Amazônia, 2006. 56 p.
, A.F.; Oshiiwa, M.; Guarido, C.F. Ocorrência do uso de
plantas medicinais por\moradores de um bairro do município de
. São Paulo-SP, 2007.
, M.J.C. et al., A diversidade de plantas medicinais
utilizadas pelos moradores do bairro de Brasília. Altamira
, A.C.C.; Guedes, M.L.S. Utilização de plantas
medicinais no Povoado Sapucaia, Cruz das Almas – Bahia
2006
Doenças mais comuns entre os entrevistados
de plantas medicinais ainda continua sendo
econômico,
nos a crer que a difusão desta cultura milenar é perpassada através do
conhecimento diversificado, entre eles através de familiares, vizinhos, raizeiros
da implantação do
MA Campus
. ed. atual. Bélem-
Ocorrência do uso de
moradores de um bairro do município de
A diversidade de plantas medicinais
Altamira-PA.
Utilização de plantas
Bahia. Cruz
• OLIVEIRA, C. J. de, ARAÙJO, T. L. Plantas medicinais: usos e
crenças de idosos portadores de hipertensão arterial.Revista Eletrônica de Enfermagem [serial on-line] 2007 jan – abr; 9(1): 93-105. Available from: URL: http://www.fen.ufq.br/revista/v9/n1/v9n107.htm