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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU

    Os acidentes de trabalho em prensas analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho do Ministrio do Trabalho e Emprego no perodo de 2001 a 2006

    HILDEBERTO BEZERRA NOBRE JUNIOR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP para obteno do ttulo de Mestre em Sade Coletiva.

    rea de Concentrao: Sade Coletiva

    Orientador: Prof. Dr. Ildeberto Muniz de Almeida

    Botucatu/SP 2009

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU

    Os acidentes de trabalho em prensas analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho do Ministrio do Trabalho e Emprego no perodo de 2001 a 2006

    HILDEBERTO BEZERRA NOBRE JUNIOR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP para obteno do ttulo de Mestre em Sade Coletiva.

    rea de Concentrao: Sade Pblica

    Orientador: Prof. Dr. Ildeberto Muniz de Almeida

    Botucatu/SP 2009

  • expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da tese/dissertao.

  • DEDICATRIA

    A ISAURA DE LIMA NOBRE, HILDEBERTO BEZERRA NOBRE E EUNICE BEZERRA NOBRE, me, pai e tia, por todo o esforo e dedicao ao longo de anos, nunca medindo esforos e sacrifcios para garantir meus estudos.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. ILDEBERTO MUNIZ DE ALMEIDA, incentivador, amigo e mestre que

    demonstrou muita pacincia, sempre disposto a colaborar para meu aprimoramento profissional e acadmico. A Prof. Dra. MARIA CECLIA PEREIRA BINDER e ao Prof. Dr. RODOLFO ANDRADE GOUVEIA VILELA que, com muita gentileza, contriburam em minha

    qualificao com sugestes e orientaes muito valiosas para este estudo. A Prof. Dra. ANA ISABEL B. B. PARAGUAY pelos ensinamentos, ateno e dedicao nas disciplinas cursadas na FSP da USP.

    SEO DE SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR da SRTE/SP pela colaborao com o presente trabalho.

    A Marcia Emiko Asano pela pacincia e compreenso durante este trabalho. Aos colegas de trabalho que Aida Cristina Becker, Roberto Misturini, Carlos Otvio

    Duarte Piancastelli e Leonardo Marlard pela troca de experincia durante a elaborao da Nota Tcnica n. 37 e Nota Tcnica n. 16 do DSST/MTE. Aos colegas que ajudaram a construir a Conveno Coletiva de prensa em So Paulo (Mario Gawryszewski, Maria de Lourdes Moure, Ricardo Silveira da Rosa, Marcio Yuji Suzuki, Sidney Citero e todos os companheiros da SRTE/SP que criaram conosco o Programa Estadual da Indstria Metalrgica no Estado de So Paulo.

    Aos colegas representantes dos trabalhadores (CUT e Fora Sindical) e dos empregadores: (Mauro Soares, Luizinho, Adonai, Luiz Carlos G. Loureno, Jos Amauri Martins, Jos Carlos Freitas, Roberto Guiliano, Marcio L. Damello, Sidney Peinado, Joo Batista Beck (Tita), Oduwaldo lvaro, Carlos Martins, Aparecida Regina Formicola (Cida), Nelson Barreira (SCHULER DO BRASIL), Nerino Ferrari Filho (PRENSAS JUNDIAI), Paulo Norio Umeda (EUCHNER DO BRASIL). Aos colegas pelo incentivo e amizade: Antonio Pereira do Nascimento (toninho), Viviane, Eladir, Adelino, Lel, Dbora, Vera G. Olmpia, Dr. Clovis, Liliane, Paula, Maria Fernanda. Aos colegas do grupo de pesquisa de MPE da UNICAMP pelo incentivo para a

    realizao do mestrado.(Jos Dari Krein, Magda Biavaschi, Anselmo Luis dos Santos, Denis Maracci Gimenez, Cassio Calveti, Amilton Moreto) A LUCILENE CABRAL pela presteza, dedicao e ateno durante o perodo do curso.

  • RESUMO

    Nobre Junior HB, Os acidentes de trabalho em prensas analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho do Ministrio do Trabalho e Emprego no perodo de 2001 a 2006 [Dissertao de Mestrado]. Botucatu: Faculdade de Medicina da Botucatu da UNESP, 2009. Introduo Estudar as anlises dos acidentes do trabalho em prensas realizadas por Auditores Fiscais do Trabalho e armazenadas no banco de dados do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE). Objetivo Conhecer os fatores causais dos acidentes com prensas analisados pela auditoria fiscal do trabalho, visando subsidiar medidas para a preveno de acidentes e estudar as referidas anlises, buscando contribuir para o aperfeioamento do sistema de informaes de anlises de acidentes do MTE. Mtodos As informaes das anlises de acidentes com prensas armazenadas no banco de dados do MTE foram tratadas e estudadas, possibilitando que os fatores causais

    inseridos pelos analistas fossem identificados. Ademais, as descries dos respectivos acidentes foram analisadas, permitindo ao autor reclassificar os fatores causais e compar-los com aqueles inseridos pelos auditores no sistema. Resultados Foram estudadas 148 anlises armazenadas no banco de dados do MTE no Brasil, sendo 71 no

    Estado de So Paulo, no perodo de 2001 a 2006. A mdia de fatores causais por anlise em So Paulo foi de 3,73 e nos demais Estados foi de 5,35. Nas anlises realizadas no Estado de So Paulo e nos demais Estados, a ausncia/inadequao de sistema ou de

    dispositivo de proteo por concepo (12,45%, 14,32%) e o modo operatrio perigoso ou inadequado segurana (8,68%, 7,52%) foram os fatores causais mais freqentes. Na classificao realizada pelo autor, a partir das descries dos auditores, a ausncia/ inadequao de sistema ou de dispositivo de proteo por concepo e o modo operatrio perigoso ou inadequado segurana corresponderam, respectivamente, a 18,44% e 15,57% nos demais Estados e 21,97% e 14,35% no Estado de So Paulo. As prensas mecnicas excntricas de engate por chaveta foram aquelas mais envolvidas nos acidentes. Concluses A maioria das anlises estudada estava relacionada a acidentes cujos sistemas de seguranas estavam ausentes ou inadequados desde a concepo e ao modo manual de alimentao e retirada de peas, indicando que os acidentes ocorreram em precrias condies de operao das mquinas, apesar da existncia de normas sobre proteo de prensas no pas. As anlises realizadas pelo corpo fiscais do trabalho foram marcadas pela viso tradicional e paucicausal, cujos relatos se limitaram aos aspectos

  • tcnicos do acidente, sem a explorar as questes organizacionais, indicam a necessidade

    de aes que estimulem a ampliao conceitual dos AFT em relao causalidade de acidentes em prensas. Descritores: Acidentes do Trabalho, Investigao de Acidente, Acidentes com prensas, Anlise de acidentes.

  • ABSTRACT

    Nobre Junior HB, The labor accidents in presses analyzed by the Labor Inspectors

    of the Labor Ministry from 2001 to 2006 [Dissertation]. Botucatu: Faculdade de Medicina da Botucatu da UNESP, 2009. Introduction Studying the analyses of the labor accidents in presses performed by Labor Inspectors and stored in the database of the Labor Ministry (MTE). Objective Knowing the casual factors of the accidents with presses accomplished by the labor inspection, aiming to subsidize measures in order to prevent accidents and to study the referred analyses looking for contributions on the improvement of the information

    system of analyses of accidents of MTE. Methods The information of the analyses of accidents with presses stored in the database of MTE were treated and studied, making

    it possible for the causal factors inserted by the analysts to be identified. Besides, the descriptions of the respective accidents were analyzed, allowing the author to re-classify

    those factors and compare them to the ones inserted in the system by the inspectors. Results 148 analyses stored in the database of MTE in Brazil were studied and from them, 71 were studied in the State of So Paulo from 2001 to 2006. The average of causal factors in the State of So Paulo was 3,73 by accident and in the other States of

    Brazil was of 5,35. In the analyses performed the State of So Paulo and in the other States, the absence or system inadequacy or of protection device for conception

    (12,45%, 14,32%) plus either the dangerous or inadequate operative way to safety (8,68%, 7,52%) were the most frequent casual factors. Based on the inspectors descriptions, in the classification performed by the author, the absence or system inadequacy or of protection device for conception plus either the dangerous or

    inadequate operative way to safety corresponded respectively to 18,44% and 15,57% in the other States of Brazil and 21,97% and 14,35% in the State of So Paulo. The eccentric mechanic clamp presses for cotter were the most involved ones in accidents. Conclusions Most of the analyses studied were related to accidents whose safety systems were either absent or inadequate from their conceptions and to the manual way of maintenance or pieces removal, showing that the accidents happened in poor

    conditions of operation of the machines despite the existence of rules about protection and presses in the country. The analyses performed by the board of labor inspectors

    were marked by the traditional vision and with few causes, whose reports were limited to the technical aspects of the accident, without exploring the organizational questions,

  • they indicate the need of actions which stimulate the conceptual enlargement of the

    AFT in relation to the causality of accidents in presses. Descritores: Labor accident, Investigation of the accident, Accidents in presses, Analyze of the accident.

  • NDICE 1 INTRODUO 22

    1.1 APRESENTAO DO PROBLEMA 22 1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO 27 1.3 NOES SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO, SUAS CAUSAS E CONCEPES DE ANLISES.

    28

    1.4 CONSIDERAES SOBRE OS ACIDENTES DO TRABALHO NO BRASIL

    37

    1.5 ACIDENTES DE TRABALHO EM MQUINAS 40 1.6 AS PRENSAS E OS ACIDENTES DO TRABALHO 43

    1.7 ASPECTOS TCNICOS E DISPOSITIVOS DE SEGURANA NECESSRIOS PARA A PROTEO DAS PRENSAS ABORDADAS NAS NORMAS TCNICA N. 16/DSST/MTE E NA CONVENO COLETIVA DE PROTEO DE PRENSAS EM SO PAULO

    45

    1.7.1 CONCEITO DE PRENSAS E SEUS TIPOS 49

    1.7.1.1 Prensa Mecnica Excntrica de Engate por Chaveta (PMEEC) 53 1.7.1.2 Prensa Mecnica Excntrica com Freio e Embreagem 55 1.7.1.3 Prensa Mecnica de Frico com Acionamento por Fuso 58 1.7.1.4 Prensas Hidrulicas 60 1.7.1.5 Enfardadeira 61 1.7.1.6 Prensas Pneumticas ou Dispositivos Pneumticos 63

    1.7.2 DISPOSITIVOS DE SEGURANA 64 1.7.2.1 Chaves de Segurana ou Chave de Intertravamento 64 1.7.2.2 Dispositivos de Acionamento 66 1.7.2.3 Vlvulas de Segurana 68 1.7.2.4 Interfaces de Segurana (Comandos Eltricos de Segurana) 70 1.7.2.5 Dispositivos Sensores Foto Eltricos de Presena 71 1.7.2.6 Dispositivos de Paradas de Emergncia 72

    1.7.2.7 Monitoramento do Curso do Martelo 74

    1.7.3 APRECIAO DE RISCOS NAS MQUINAS E CATEGORIAS DOS SISTEMAS DE COMANDO RELACIONADOS SEGURANA

    77

    1.7.4 MANUTENO 82 1.8 A CONVENO COLETIVA DE MELHORIA DAS CONDIES DE TRABALHO EM PRENSAS E EQUIPAMENTOS SIMILARES, INJETORAS DE PLSTICO E TRATAMENTO GALVNICO DE SUPERFCIES NAS INDSTRIAS METALRGICAS NO ESTADO DE

    83

  • SO PAULO E SEU PROCESSO DE ELABORAO

    2- OBJETIVOS 92 2.1 OBJETIVOS GERAIS 92

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS 92 3 MATERIAIS E MTODOS 93

    3.1 MATERIAIS 93

    3.1.1 Materiais Relacionados Descrio de Aspectos Tcnicos de

    Prensas Abordados nas Normas Tcnicas do MTE.

    93

    3.1.2 Materiais Relacionados Descrio do Processo de Elaborao

    da Conveno Coletiva de Melhoria das Condies de Trabalho em Prensas e Equipamentos Similares, Injetoras de Plstico e Tratamento Galvnico de Superfcies nas Indstrias Metalrgicas no Estado de So Paulo.

    93

    3.1.3 Materiais Relacionados s Informaes Contidas no Sistema Federal de Inspeo do Trabalho (SFIT)

    93

    3.1.3.1 Caractersticas gerais do SFIT e a Insero de informaes sobre acidentes do trabalho no SFIT 93

    3.2 MTODO 97 3.2.1 Abrangncia e Perodo do Estudo

    97

    3.2.2 Critrios para Seleo dos Casos 97

    3.2.3 Codificao das Informaes 99 3.2.4 Criao dos Bancos de Dados das Informaes das Anlises Armazenadas no SFIT Utilizadas no Estudo.

    99

    3.2.5 Identificao e Estudo do Grupo de Fatores Causais e dos Fatores Causais dos Acidentes de Trabalho com Prensas Armazenados no SFIT em So Paulo e nos Demais Estados no Perodo de 2001 a 2006

    99

    3.2.6 Estudo das Descries das Anlises de Acidentes com Prensas Armazenadas no SFIT.

    100

    3.2.6.1 Classificao dos Fatores Causais dos Acidentes Feita pelo Autor a partir das Descries Armazenadas no SFIT

    100

  • 3.2.6.2 Estudo dos Problemas Tcnicos Envolvidos nos Acidentes com Prensas a partir das Descries Armazenadas no SFIT

    101

    3.2.6.3 Estudo de 02 Acidentes de Trabalho em Operaes com Prensas a partir das Descries Armazenadas no SFIT

    103

    4 RESULTADOS E DISCUSSAO 105 4.1 Os Acidentes do Trabalho com Prensas Analisados por AFT e Inseridos

    no SFIT entre 2001 a 2006. 105

    4.2 Os Tipos de Prensas Envolvidas nos Acidentes Analisados 108

    4.2.1 A Falta de Informao Encontrada nas Anlises 108

    4.2.2 Os Tipos de Prensas 109

    4.3. Os Fatores Causais das Anlises de Acidentes com Prensas no SFIT 113

    4.3.1 Grupo de Fatores Causais nos Acidentes Analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho e Armazenados no SFIT.

    113

    4.3.2 Fatores Causais nos Acidentes Analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho e Armazenados no SFIT

    118

    4.3.3 Fatores Causais nas Descries de Acidente com Prensas Armazenadas no SFIT aps Anlise Realizada neste Estudo em So Paulo e nos Demais Estados de 2001 a 2006

    124

    4.4 Os Principais Problemas Tcnicos nos Acidentes com Prensas Armazenados no SFIT

    132

    4.4.1 PMEEC/Frico por Fuso (Ciclo Completo) 133 4.4.2 Prensas Mecnicas de Freio e Embreagem 135

    4.4.3 Prensas Hidrulicas e Pneumticas

    140

    4.5 Anlise de Dois Casos de Acidentes de Trabalho Armazenados no SFIT 144

    4.5.1 Caso 1: Acidente com Prensa Mecnica Excntrica de Engate por Chaveta.

    146

    4.5.1.1 O Intertravamento 147

    4.5.1.2 O Repique e o Problema da Manuteno 150

    4.5.1.3 Aspectos Organizacionais 152

    4.5.1.4 O Descumprimento da Legislao de Segurana e Sade do Trabalhador

    155

  • 4.5.2 Caso 2: Acidente com Freio Embreagem (Monitoramento do Curso do Martelo)

    160

    5- CONCLUSES 166 6- REFERNCIAS 171

  • LISTA DE ANEXOS

    ANEXO I - Tabela dos cdigos e descrio dos fatores causais de acidentes de acidentes utilizados no SFIT

    184

    ANEXO II - Tabela do cdigo e da descrio do fator imediato de morbidade e mortalidade utilizado no SFIT

    189

    ANEXO III - Ficha de coleta de dados dos acidentes do SFIT

    193

    ANEXO IV - Cdigos utilizados para elaborao do banco de dados deste estudo

    194

    ANEXO V - Formulrio de registro das descries das analises dos acidentes do SFIT

    195

    ANEXO VI - Formulrio de registro dos problemas tcnicos envolvidos nos acidentes com prensas

    196

    ANEXO VII - Dados relativos ao acidente, do acidentado e da empresa inseridos no SFIT

    197

    ANEXO VIII - Cpia da ata de reunio que firmou o acordo entre os trabalhadores, empregadores e DRT/SP para elaborao da conveno coletiva de prensas no estado

    198

    ANEXO IX - Principais medidas de segurana estabelecidas na conveno coletiva de prensas

    199

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Benefcios de incapacidade permanente e bitos liquidados 39 pelo INSS por ano, Brasil, 2002 2006 Tabela 2 - Total de Acidentes de Trabalho Tpicos e dos Acidentes de Trabalho

    que atingiram os membros superiores. Brasil. 2003-2006. 39

    Tabela 3 - Acidentes do trabalho com prensas analisados pelos AFT e

    armazenados no SFT em So Paulo e no Brasil, 2001 a 2006 106

    Tabela 04 . Nmero de anlises de acidentes em prensas armazenadas no SFIT que possuam descries que permitiram a reconstruo dos casos em So Paulo e nos demais Estados de 2001 a 2006.

    107

    Tabela 05. Distribuio das anlises de acidentes em prensas armazenadas no SFIT segundo a existncia ou no da informao do tipo de prensa envolvida nos acidentes em So Paulo e nos demais Estados de 2001 a 2006

    108

    Tabela 06. Distribuio percentual dos tipos de prensas envolvidas nos acidentes inseridos no SFIT no Estado de So Paulo e nos demais Estados de 2001 a 2006

    110

    Tabela 7 - Grupo de fatores causais dos acidentes com prensas armazenados no

    SFIT e analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho, So Paulo e demais Estados. 2001 a 2006

    114

    Tabela 8 - Detalhamento dos fatores causais mais freqentes nos acidentes com

    prensas analisados pelos AFT e armazenados no SFIT nos demais Estados. 2001 a 2006

    119

    Tabela 9 - Detalhamento dos fatores causais mais freqentes nos acidentes com prensas analisados pelos AFT e armazenados no SFIT em So Paulo, 2001 a

    2006 120

    Tabela 10 - Grupo de Fatores Causais nas descries de acidente com prensas

    armazenadas no SFIT aps anlise realizada neste estudo em So Paulo e nos demais Estados. 2001 a 2006

    126

    Tabela 11 - Fatores Causais nas descries de acidente com prensas armazenadas no SFIT aps anlise realizada neste estudo em So Paulo . 2001 a 2006

    128

    Tabela 12 - Fatores Causais nas descries de acidente com prensas armazenadas

    no SFIT aps anlise realizada neste estudo nos demais Estados. 2001 a 2006 128

    Tabela 13 - Distribuio do grupo de problemas tcnicos encontrados nos 133

  • acidentes ocasionados por Prensas de ciclos completos (PMEEC e Frico por fuso) analisados pelo MTE, So Paulo e demais Estados, 2001 a 2006 Tabela 14 - Distribuio do grupo de problemas tcnicos encontrados nos acidentes ocasionados por prensas mecnicas excntricas de freio/embreagem analisados pelo MTE, 2001 a 2006.

    136

    Tabela 15 - Distribuio do grupo de problemas tcnicos nos acidentes ocasionados por Prensas Hidrulicas e Pneumticas analisados pelo Ministrio

    do Trabalho e Emprego em So Paulo e nos Demais Estados, 2001 a 2006. 140

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Categorias de paradas de mquinas segundo a NBR 13.759 (ABNT,

    1996) 73

    Quadro 2 - Parmetros utilizados para definio das categorias de segurana conforme EN 954-1(BSI, 1998) e a NBR 14153 (ABNT, 1998) 79

    Quadro 3 - Resumo dos requisitos das categorias de segurana dos sistemas de

    comandos relacionados segurana segundo a EN 954-1(CEN, 1998) 81

    Quadro 4 - Grupo de fatores causais de acidentes utilizados pelo SFIT 97

    Quadro 5 - Grupo de problemas tcnicos elaborados neste estudo e os problemas encontrados nas descries dos acidentes com prensas armazenadas no SFIT no

    Brasil entre 2001 e 2006 102

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Ilustrao da Teoria dos domins 30

    Figura 2 Retirada preferencial da terceira pea 31

    Figura 3 Exemplos de proteo fixa e de proteo mvel com intertravamento 47

    Figura 4 Exemplo de prensa e localizao de pontos importantes 48

    Figura 5 Exemplos de ferramentas fechadas 49

    Figura 6 Exemplos de eixos rompidos por efeito de sobrecarga 51

    Figura 7 Prensa mecnica excntrica de engate por chaveta e sistema de

    transmisso de fora 53

    Figura 8 - Detalhe da chaveta meia-cana e pino L 54

    Figura 9 - Detalhe do motor, da polia e de volante de PMEEC 54

    Figura 10 Prensa mecnica excntrica de freio/embreagem 56

    Figura 11 Conjunto Freio/embreagem pneumtico e vlvula de segurana 57

    Figura 12 - Lonas de Freio do conjunto e freio/embreagem 58

    Figura 13 - Prensa Mecnica de frico por fuso 59

    Figura 14 - Exemplo de prensa hidrulica 60

    Figura 15 - Exemplo de prensa enfardadeira 62

    Figura 16 Exemplos de prensas pneumticas 63

    Figura 17 - Esquema simplificado de atuao positiva do embolo da chave de

    segurana sobre os contatos 65

    Figura 18 - Exemplos de dispositivos de comandos bimanuais 67

    Figura 19 Exemplos de pedais com proteo contra acionamentos acidentais 68

    Figura 20 Exemplo de Vlvulas de Segurana 69

  • Figura 21 - Esquema ilustrativo da ligao dos dispositivos de segurana s

    interfaces de segurana 70

    Figura 22 - Exemplo de cortina de luz instalada em prensa 71

    Figura 23 Exemplos de Botes de Emergncia utilizados geralmente em

    prensas. 74

    Figura 24 Chaves rotativas de monitoramento do curso do martelo 75

    Figura 25 Ilustrao do escorregamento mximo permitido em norma em

    ngulo 76

    Figura 26 - Quadro de enquadramento da categoria de segurana 80

    Figura 27- Ilustrao do nmero de anlises armazenadas no SFIT e o nmero de

    acidentes com prensas em So Paulo e nos demais Estados de 2001 a 2006. 105

    Figura 28.- Esquema do acidente do trabalho com prensa mecnica de engate por

    chaveta 146

    Figura 29 - Esquema do acidente do trabalho com prensa mecnica de freio e

    embreagem 161

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Evoluo dos Acidentes Tpicos Registrados pelo INSS. Brasil. 1988 a

    2006

    24

    Grfico 2 - Distribuio percentual dos tipos de prensas envolvidas nos acidentes

    inseridos no SFIT no Brasil. 2001 a 2006.

    107

    Grfico 3 - Distribuio percentual dos tipos de prensas envolvidas nos acidentes

    inseridos no SFIT em So Paulo. 2001 a 2006

    108

  • SIGLAS UTILIZADAS

    ABIMAQ Associao Brasileira de Mquinas ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas AOPD - Active Opto-Electronic Protective Devices (Dispositivo De Proteo Optoeletrnico Ativo) CAT Comunicao de Acidente do Trabalho

    CE Comunidade Europia CID Classificao Internacional de Doena CLP - Controlador Lgico Programvel CPN-IM - Comit Permanente de Negociao do Setor Metalrgico

    CUT Central nica dos Trabalhadores DSST Departamento de Segurana e Sade DRT/SP Delegacia Regional do trabalho

    EN - European Standard FIERGS Federao das Indstrias do Rio Grande do Sul

    HSE - Health and Safety Executive INSS Instituto Nacional de Seguro Social ISO - International Organization for Standardization MPAS Ministrio da Previdncia e Assistncia Social MPS Ministrio da Previdncia Social MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    NBR NM Norma Brasileira e do MERCOSUL NIOSH - The National Institute for Occupational Safety and Health OSHA -

    Occupational Safety and Health Administration OS Ordem de servio PET - Politereftalato de etileno PIB Produto Interno Bruto

    PMEEC Prensa Mecnica Excntrica de Engate por Chaveta PMI Ponto Morto Inferior

    PMS Ponto Morto Superior PPRPS - Programa de Preveno de Riscos em Prensas e Similares RAIS Relao Anual de Informaes Sociais

  • RI Relatrio de inspeo

    RIAT - Relatrio de inspeo de acidente do trabalho SEGUR - Seo de Segurana e Sade do Trabalhador SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SDS - Social Democracia Sindical SFIT Sistema Federal de Inspeo do Trabalho SINDIPLAST - Sindicato das Indstrias Plsticas de So Paulo

    SIT Secretaria de Inspeo do Trabalho

  • Sobre o Autor

    Em 1995, conclui minha graduao em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Par(UFPA/PA). Em 1998, ingressei no Ministrio do Trabalho e Emprego, atravs de concurso pblico para exercer a atividade de fiscalizao da segurana e

    sade dos espaos laborais. Neste mesmo ano, conclui a Especializao em Engenharia de Segurana do Trabalho na Universidade Federal Fluminense(UFF/RJ) e em 2003, cursei a Especializao em Economia do Trabalho e em Sindicalismo no Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (CESIT/UNICAMP/SP). Atualmente, trabalho como Auditor Fiscal do Trabalho, desenvolvendo minhas atribuies na Gerncia do Trabalho em Osasco, tendo minha atuao voltada, prioritariamente, para s questes relacionadas segurana e sade dos trabalhadores daquela regio. Em 2001, juntamente com um grupo de Auditores Fiscais do Trabalho, criamos o Programa Estadual da Indstria Metalrgica (PEIM/SP) no Estado de So Paulo. Participei da elaborao da Conveno Coletiva de Prensas em So Paulo e da elaborao das Notas Tcnicas n. 37 e n. 16 do DSST/MTE que estabeleceram requisitos tcnicos de proteo de prensas utilizados em todo o pas e da Nota Tcnica n. 94 que traz requisitos para proteo de mquinas no setor de panificao, supermercado e aougue.

    Integrei a bancado do governo na CPN (Comisso Permanente de Negociao do setor metalrgico em So Paulo) at 2007 e, atualmente, dedico-me elaborao e reviso da Norma Regulamentadora n. 12 do MTE, que trata de segurana em mquinas no pas, alm de ser um dos representantes do MTE no Grupo Tcnico de

    criao da certificao de segurana em prensas mecnicas pelo INMETRO. Nos ltimos anos, interessei-me em estudar os acidentes com pressas na

    perspectiva de contribuir para o aprimoramento dos conhecimentos sobre a segurana na operao destes equipamentos, devido seus potenciais acidentognicos.

    Constatei, ao longo destes anos, que diversos conhecimentos sobre proteo de mquinas foram desenvolvidos por tcnicos de empresas privadas, necessitando serem resgatados, consolidados e divulgados para a sociedade.

    Assim, face minha formao acadmica e atuao profissional e diante da

    possibilidade de estudar os acidentes de trabalho com prensas analisados pelo MTE, assumi o compromisso de dar minha contribuio para a melhoria das condies de

    trabalho nas operaes tais equipamentos.

  • 22

    1 INTRODUO

    1.1 Apresentao do Problema

    Os acidentes de trabalho so temas recorrentes nos debates sobre segurana e sade do trabalhador, tanto em virtude das seqelas e do sofrimento suportados pelas vtimas e por suas famlias, quanto pelos custos sociais arcados pela coletividade e pelos

    custos econmicos que afetam diretamente os cofres pblicos federais, estaduais e municipais.

    Os acidentes do trabalho constituem fenmeno de mltiplas facetas. Sua

    ocorrncia costuma trazer tona, no mnimo, a face existencial, a jurdica e a tcnica, ou seja, simultaneamente ao drama existencial que produz s vtimas, familiares e pessoas prximas, os acidentes costumam ser seguidos de iniciativas tcnicas visando compreenso de suas causas e podem ensejar aes tambm na esfera judicial.

    Segundo GOMES (2003), o acidente possui, alm da dimenso tcnica, a dimenso social, pois as conseqncias e seqelas deixadas nas vtimas, principalmente quando irreversveis, desencadeiam uma nova fase em suas vidas, cujas marcas o acompanham ao longo de sua histria, interferindo, em certo grau, no seu futuro e de sua famlia. Alm disso, a dimenso social do acidente pode ser identificada pela aceitao da sociedade em conviver com pssimas condies de trabalho e com modos de produo degradados que propiciam a ocorrncia destes infortnios no Brasil.

    O Ministrio da Previdncia Social (2001, p. 01) destaca que A ocorrncia de acidentes de trabalho implica danos sociais imediatos. Primeiro, e mais importante, pelo comprometimento da sade e integridade fsica do trabalhador. Segundo, pelos seus dependentes que podem eventualmente perder a base de sustentao familiar. Terceiro, pelos custos que ocorrem nas reas sociais, principalmente na Sade e na Previdncia Social.

    Em 2000, o custo econmico dos acidentes nas empresas foi cerca de R$ 26,6 bilhes, correspondendo a 2,2% do PIB naquele ano, sendo R$ 5,9 bilhes relativos aos

  • 23

    gastos com benefcios previdencirios, aposentadorias especiais e reabilitao profissional e o restante so custos com a assistncia sade do acidentado,

    indenizaes, retreinamento, reinsero no mercado de trabalho e horas perdidas (Ministrio da Previdncia Social, 2001).

    Segundo dados da Previdncia Social, as contingncias sociais decorrentes dos

    ambientes de trabalho tm um impacto substancial nas contas previdencirias. Em 2003, somente entre os trabalhadores formais, o custo deste infortnio ao sistema de Previdncia Social chegou a 8,2 milhes de reais, devido os benefcios acidentrios e aposentadorias especiais (Ministrio da Previdncia Social, 2004).

    No ano de 2006, o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) registrou, aproximadamente, 503 mil acidentes do trabalho, que representou um aumento de 0,8% em relao ao ano anterior, sendo que os acidentes tpicos representaram 80% deste

    total (Ministrio da Previdncia Social, 2006).

    Cabe registrar que os dados de acidentes de trabalho apresentados representam apenas uma parcela dos trabalhadores do mercado formal da economia cujos acidentes foram informados ao INSS (CORDEIRO, 2002), ou seja, os nmeros de acidentes, no Brasil, apresentados pelo governo so menores que aqueles de ocorrem em nosso mundo do trabalho.

    ALMEIDA (2001) destaca que as estatsticas oficiais mostram que os acidentes do trabalho no Brasil assumem dimenses alarmantes, apesar das limitaes e das precariedades dos dados disponveis em relao ao nmero real de acidentes ocorridos.

    O Grfico 1 mostra a evoluo do nmero de acidentes tpicos no Brasil a partir de 1988, em que se constata a ocorrncia de 403.264 acidentes registrados pelo INSS em 2006, representando um acrscimo 1,16% em relao ao ano anterior.

  • 24

    .

    Fonte: Anurio estatstico de acidentes do trabalho do INSS

    No perodo de 1999 a 2003, a Previdncia Social registrou 1.875.190 acidentes de trabalho, sendo 15.293 bitos e 72.020 com incapacidade permanente, media de 3.059 bitos/ano, entre os trabalhadores formais. O coeficiente mdio de mortalidade, no perodo considerado, foi de 14,84 por 100.000 trabalhadores. A comparao deste coeficiente com outros pases, tais como Finlndia 2,1(2001), Frana 4,4(2000), Canad 7,2(2002) e Espanha 8,3(2003), demonstra que o risco de morrer por acidente no Brasil duas a cinco vezes maior (Brasil, 2005).

    Uma parcela importante destes acidentes ocasionada por mquinas obsoletas, desprotegidas e inseguras (MENDES, 2001). GOLDMAN (2002), estudando as informaes das CAT no setor metalrgico e metal-mecnico do estado do Rio Grande do Sul, tambm, menciona a grande incidncia de acidentes envolvendo mquinas.

    As prensas so responsveis por um nmero considervel destas ocorrncias,

    fato que ensejou algumas iniciativas tripartites, atravs de negociaes coletivas, visando estabelecer medidas de segurana em suas operaes (MAGRINI, 1999). Dentre elas, destaca-se a conveno coletiva para melhoria das condies de trabalho em prensas no municpio de So Paulo em 1999.

    050

    0.00

    01.

    000.

    000

    1988

    1989

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    926.

    354

    825.

    081

    632.

    012

    579.

    362

    490.

    916

    374.

    167

    350.

    210

    374.

    700

    325.

    870

    347.

    482

    347.

    738

    326.

    404

    304.

    963

    282.

    965

    323.

    879

    325.

    577

    375.

    171

    398.

    613

    403.

    264

    Acid. Tpicos

    Grfico 1- Evoluo dos Acidentes Tpicos Registrados pelo INSS. Brasil.1988 a 2006

  • 25

    Em 2002, por iniciativa dos sindicatos dos trabalhadores e dos representantes dos empregadores no Estado de So Paulo e de representantes da Delegacia Regional do

    Trabalho em So Paulo, foi assinada a Conveno Coletiva de Melhoria das Condies de Trabalho em Prensas e Equipamentos Similares, Injetoras de Plstico e Tratamento Galvnico de Superfcies nas Indstrias Metalrgicas no Estado de So Paulo, com a participao de 62 sindicatos de trabalhadores e 11 sindicatos patronais, e a intervenincia da Delegacia Regional do Trabalho em So Paulo (DRT/SP), tendo como um dos objetivos estabelecer critrios mnimos de segurana no trabalho em prensas para todo o Estado de So Paulo (MTE, 2002).

    Esta conveno serviu de parmetro, no mbito nacional, para alguns programas de fiscalizao das prensas e similares do Ministrio do Trabalho e Emprego, alm de subsidiar a elaborao da Nota Tcnica n. 16 DSST/MTE, servindo de referencial e suporte tcnico (MTE, 2005).

    Em 20 de abril de 2006, esta conveno coletiva foi renovada, com prazo de vigncia de 02 dois anos, contando com a participao de 16 sindicatos patronais e 62 sindicatos de empregados e com a incorporao de melhorias relacionadas a protees

    de mquinas (MTE, 2006).

    A despeito do sentimento dos signatrios de que estas iniciativas trouxeram melhorias na segurana da operao de prensas em vrios segmentos econmicos, pelo

    menos pela produo de conhecimento tcnico em proteo de mquinas, os acidentes com estas mquinas ainda necessitam ser estudados buscando enriquecer as informaes sobre o assunto, alm aprimorar os instrumentos legais existentes, a partir da noo de que os acidentes com estes tipos de mquinas so frutos da interao de diversos fatores

    dentro de um sistema produtivo que possui componentes tcnicos e sociais.

    O Ministrio do Trabalho e Emprego criou, a partir de 2001, um banco de dados onde so inseridas as informaes das anlises dos acidentes de trabalho realizadas pelos Auditores Fiscais do Trabalho. Este banco de dados foi inserido em um sistema

    denominado de SFIT (Sistema Federal de Inspeo do Trabalho) (MTE, 2001).

  • 26

    O SFIT um sistema de armazenamento e gerenciamento de dados destinado ao registro das informaes dos resultados das aes fiscais dos Auditores-Fiscais do

    Trabalho (MTE, 2008).

    O Estudo das anlises dos acidentes realizadas pelos Auditores Fiscais do Trabalho, buscando identificar suas causas, constitui uma ferramenta com potencial para

    subsidiar medidas de carter preventivo. Neste sentido, ALMEIDA (2003) ressalta que a melhoria do conhecimento da rede de fatores causais envolvida na origem dos acidentes, nos casos analisados pelos Auditores Fiscais do Trabalho, de grande importncia para a preveno de acidentes.

    Neste esprito, o presente trabalho pretende, a partir dos acidentes com prensas armazenados no SFIT, estudar os casos analisados e inseridos pelos Auditores Fiscais do Trabalho no Brasil, buscando subsidiar melhorias da segurana no trabalho com

    estes equipamentos, assim como propor sugestes que visem aprimorar as anlises de acidentes pelos auditores fiscais do trabalho.

  • 27

    1.2 Estrutura do Trabalho

    Esta dissertao encontra-se estruturada em sees, conforme segue abaixo:

    Na introduo, busca-se apresentar a importncia do estudo dos acidentes do

    trabalho, especialmente, em relao aos acidentes com prensas entendidos como um problema relevante de sade pblica, sendo objeto de vrias aes preventivas dos atores sociais envolvidos no tema que culminaram na elaborao de regulamentos tcnicos obrigatrios para as empresas e que necessitam ser constantemente

    aprimorados.

    Na seqncia, so abordados aspectos associados s noes de acidentes do trabalho, causas e concepes de anlise, procurando mostrar, sem esgotar o assunto,

    que o entendimento dos acidentes evoluiu ao longo da Histria. Houve pocas em que foram considerados como produtos demonacos, obras do acaso ou resultados da propenso de alguns indivduos. Explica-se ainda a Teoria do Domin e suas implicaes nas anlises que culpabilizam as vtimas pela sua ocorrncia, alm de

    mostrar olhares de acidentes do trabalho como frutos da interao de mltiplos fatores que ocorrem nas organizaes e, portanto, enfatizam a necessidade dos estudos dos aspectos organizacionais envolvidos em suas origens.

    Posteriormente, so tecidos comentrios sobre a problemtica dos acidentes do

    trabalho no Brasil, procurando mostrar a relevncia das mquinas como agentes envolvidos nestes infortnios. Diante deste contexto, as prensas assumem um papel de destaque no estudo dos acidentes com mquinas, em funo de seus potenciais acidentognicos e das seqelas deixadas nas vtimas, geralmente, amputaes ou

    mutilaes que as acompanham pelo resto da vida.

    Neste tpico, so apresentados aspectos tcnicos necessrios para o entendimento das anlises dos acidentes com prensas, tais como, seus tipos e

    dispositivos de segurana importantes para sua operao segura. Segue-se relatando o processo de negociao e elaborao da Conveno Coletiva de Prensas em So Paulo cuja evoluo influenciou vrios trabalhos de proteo destas mquinas no pas. Finalmente, apresentam-se os resultados e a discusso do estudo das anlises dos

  • 28

    acidentes de trabalho envolvendo prensas armazenadas no SFIT no Brasil e em So Paulo.

    A seo 2 traz os objetivos gerais e especficos do estudo e a seo 3 apresenta os materiais utilizados, em especial, o Banco de Dados do Ministrio do Trabalho e Emprego - SFIT (Sistema Federal de Inspeo do Trabalho). Neste tpico, so apresentados, ainda, os mtodos usados na obteno dos resultados deste estudo.

    A seo 4 se dedica a apresentar as concluses do trabalho acerca dos resultados finais encontrados no presente estudo.

    1.3 Noes sobre Acidentes de Trabalho, suas Causas e Concepes de Anlises.

    Os temas acidente de trabalho e suas anlises constituem assuntos complexos, com mltiplos conceitos, cujas explicaes trazem entendimentos do fenmeno de forma complementar ou, s vezes, contraditria.

    O debate sobre a ocorrncia dos acidentes do trabalho traz luz aspectos de ordem social, tcnica, jurdica, econmica, tica, poltica, ou seja, envolve diversas reas do conhecimento humano, sofrendo variaes ao longo dos anos.

    A noo de acidentes de trabalho passou por inmeras mudanas na historia da humanidade. VILELA (1998) destaca que os diferentes enfoques dados nos estudos dos acidentes de trabalho trazem suas prprias concepes, representam diversos interesses

    e que promovem repercusses para a sua preveno.

    Segundo DWYER (2006), as demandas por teorias que buscam explicar as origens dos acidentes possuem vrios componentes e so recepcionadas, pelos

    interessados, no s pela contribuio na preveno de acidentes, mas tambm pelos seus interesses e pelas suas vises de mundo. CARMO et al (1995) tambm defende que a definio de acidentes est intimamente influenciada pelos objetivos de quem a formula.

  • 29

    A literatura faz referncia poca em que os acidentes eram entendidos como obras demonacas, nas quais os trabalhadores acidentados eram julgados devorados por demnios ou como eventos inevitveis (DWYER, 2006).

    Em outros momentos, estudos procuraram provar a existncia de trabalhadores mais propensos a acidentes (GOLDMAN, 2002; NEBOIT, 2003; SCHMIDT, 2006), conseqentemente, os empregadores deveriam evitar selecionar pessoas que possuam maior probabilidade de se envolverem nestes eventos (DWYER, 2006). Esta teoria, denominada de Teoria da Propenso Inicial Desigual e da Propenso ao Acidente, teve grande influncia na historia dos estudos dos acidentes, explicando-os pela

    existncia de pessoas cuja propenso era influenciada por suas caractersticas pessoais ou pela ocorrncia de eventos crticos em suas vidas (CARMO et al, 1995).

    Algumas teorias buscaram naturalizar os acidentes, considerando-os como

    eventos normais decorrentes da natureza no dominada ou do baixo avano tcnico da poca de sua ocorrncia. Tal pensamento procurava mistificar as foras da natureza ou as foras sociais que esto nas gneses destes fenmenos (LIMA, 2000).

    ALMEIDA (2001) faz referncia existncia de entendimentos dos acidentes como eventos de causas remotas e desconhecidas, eventos no planejados e no previstos, como produto de falta de sorte, azar ou descuido do acidentado.

    CARMO et al (1995) apresenta vrias teorias sobre a casualidade acidentrias. Segundo Teoria do Puro Acaso, todas as pessoas que esto expostas a um mesmo risco teriam a mesma probabilidade do sofrerem acidentes, que aconteceriam ao acaso, segundo a vontade de Deus. A Teoria da Propenso tendenciosa explica que o

    envolvimento de um indivduo em um acidente, influencia sua propenso em nova ocorrncia. A Teoria do Alerta estabelece uma relao entre o nvel de alerta ou viglia da pessoa com seu desempenho nas tarefas.

    H ainda Teorias Psicanalticas que buscam explicar o acidente como resultado

    de um processo inconsciente, iniciados por sentimentos de culpa, ansiedade, conflitos motivacionais ocorridos na infncia (CARMO e col., 1995).

  • 30

    Na dcada de 30, o superintendente de diviso de uma empresa de seguros Herbert William Heinrich publicou o livro Industrial accident prevention A cientific approach, que trouxe idias que influenciam a interpretao da causalidade dos acidentes at os dias atuais (LIEBER, 1998). Esta abordagem ficou conhecida como a Teoria dos Domins e merece ser destacada por ter sido considerada uma contribuio poca na anlise de acidentes de trabalho, pois correspondeu a uma

    tentativa de sistematizao do processo de acidente do trabalho, contrapondo-se a idia de fatalidade destes eventos (ALMEIDA, 2001). Todavia, a generalizao do uso das noes de atos inseguros e condies inseguras ensejou concluses que, em geral, culpabilizaram as prprias vtimas pelos acidentes que sofreram (CARMO e col., 1995).

    Em estudo sobre a trajetria da anlise de acidentes, ALMEIDA (2006) faz um paralelo com a periodizao histrica da humanidade e define a teoria dos domins como a pr-histria da anlise de acidentes.

    Segundo a Teoria dos Domins, o acidente de trabalho ocorre em uma seqncia linear de 05 estgios, dispostos como pedras de domins, em que a queda da primeira desencadeia um processo de derrubada das pedras subseqentes, levando ao acidente

    (CARMO e col., 1995; ALMEIDA, 2001; GOMES, 2003; ALMEIDA, 2006).

    Figura 1 Ilustrao da Teoria dos domins

    A ocorrncia do acidentes seria evitada pela retirada de uma das pedras fazendo com que a cadeia de eventos posterior pedra retirada no acontea, prevenindo-se assim o infortnio. Nesta concepo dada preferncia retirada da terceira pedra

    (Atos Inseguros e Condies Inseguras) (GOLDMAN, 2002).

  • 31

    Figura 2 Retirada preferencial da terceira pea

    Outros trabalhos tambm enfatizam que a terceira pedra da seqncia linear, ou seja, os atos inseguros e as condies inseguras assumem um carter de destaque na preveno dos acidentes segundo esta viso (ALMEIDA, 2001; CARMO e col.,1995).

    A idia de que os atos inseguros so responsveis pela maioria dos acidentes foi base para Heinrich formular sua teoria acidentria, entretanto h quem conteste o carter cientfico de sua obra, pois o autor no mencionava os mtodos e critrios utilizados em

    seus estudos (GOMES, 2003; VILELA et al, 2007).

    A difuso desta concepo durante anos entre os profissionais de segurana e sade do trabalhador no Brasil, inclusive em publicaes de rgo governamentais,

    cunhou na sociedade a compreenso dos acidentes como um evento simples, originrios de poucas causas, determinstico, encadeados de forma linear, que privilegia as falhas dos operadores ou os descumprimentos de normas ou prescries legais como causas destes eventos (VILELA et al, 2004).

    Essas anlises, baseadas na concepo dicotmica de atos inseguros e de condies inseguras, freqentemente desembocam na atribuio de culpa vitima e recomendam medidas de preveno orientadas para mudanas de comportamento dos

    trabalhadores (BINDER e ALMEIDA, 1997).

    VILELA (1998) destaca que h, na sociedade, a difuso da idia de que o culpado pelo acidente o prprio acidentado, mesmo nos acidentes em que a responsabilidade da empresa aparece evidente. Em algumas situaes, as vtimas

    assumem a culpa das ocorrncias, apesar de estarem trabalhando em mquinas quebradas e sem proteo.

  • 32

    OLIVEIRA (2007), estudando a persistncia da noo dos atos inseguros no discurso dos trabalhadores em uma indstria metalrgica, defende que os argumentos

    que sustentam o repertrio interpretativo dos atos inseguros como explicao para os acidentes recebem respaldo de um processo que denominamos como naturalizao dos riscos (grifo nosso). Do modo como aparecem nos discursos, os riscos ambientais so compreendidos como parte do processo de trabalho, como naturais e inevitveis (p.6).

    Esta concepo de anlise, tambm conhecida por Abordagem Tradicional sustenta que a obedincia s normas e aos procedimentos capaz de proteger o sistema contra os acidentes, cujas origens so os comportamentos faltosos dos trabalhadores. Nesta abordagem o acidente entendido como de estrutura causal linear e resultado dos atos inseguros dos trabalhadores, do descumprimento de normas ou prescries com origens nos aspectos pessoais (ALMEIDA, 2006).

    Para BINDER e ALMEIDA (2005), atualmente se destacam duas correntes de pensamentos sobre os acidentes do trabalho: A Escola Comportamentalista que trata os acidentes a partir das aes humanas no trabalho e a corrente de autores que os exploram associando contribuies das diversas reas do conhecimento.

    Segundo a viso comportamentalista, h uma forma correta e segura de realizao de um trabalho e que pode ser descrita em normas, regulamentos ou procedimentos. Esta corrente defende que os acidentes so ocasionados por aes ou

    omisses e derivadas de livres escolhas dos trabalhadores, tomadas em situaes em que h diferentes alternativas possveis e disponveis. Assim, investigar as causas dos acidentes comparar o ocorrido com o padro pr-estabelecido pela empresa, sendo sua preveno centrada no estmulo da mudana do comportamento das vtimas,

    recomendando a punio de atitudes no desejadas e premiando aquelas desejadas. (ALMEIDA, 2006).

    OLIVEIRA JC (2003) critica os modelos de gesto de segurana no trabalho fundamentados nos comportamento dos trabalhadores, sem considerar as condies dos

    ambientes laborais, principalmente seus elementos determinantes na organizao formal e informal, pois tendem a tratar a questo de segurana e sade do trabalhador de modo superficial e parcial. A viso comportamental peca, no apenas por privilegiar os

  • 33

    comportamentos dos trabalhadores como as causas dos acidentes, em detrimento da qualidade dos ambientes de trabalho e de suas organizaes, mas por supor que os erros

    cometidos pelos trabalhadores derivam de suas prprias limitaes, sem qualquer relao com a forma de agir e de ser das empresas.

    Nos ltimos anos, diversos estudos trouxeram discusso outras formas de

    entendimentos dos acidentes do trabalho, incorporando conceitos de vrios ramos do conhecimento, sendo os acidentes entendidos como originrios da interao de mltiplas causas que ocorrem nas organizaes, contrapondo-se s vises centradas nos comportamentos humanos (BINDER E ALMEIDA, 2005; ALMEIDA, 2006).

    Segundo o Modelo Sociotcnico de Tavistock, a organizao concebida como um sistema sociotcnico aberto, ou seja, constituda de dois subsistemas (tcnico e social) que interagem permanentemente entre si e com o meio ambiente. O subsistema tcnico formado pelas instalaes fsicas, pelas tarefas a serem desempenhadas, equipamentos e instrumentos utilizados, pelo tempo de durao das operaes, pelo ambiente fsico, ou seja, tudo que envolve a tecnologia, o territrio e o tempo. O subsistema tcnico responsvel pela eficincia potencial da organizao. O subsistema

    social composto pelos indivduos, suas caractersticas fsicas e psicolgicas, pelas relaes sociais e por todas as exigncias formais e informais da organizao na situao de trabalho. Este subsistema transforma a eficincia formal do sistema em eficincia real (CHIAVENATO, 2004).

    Os dois subsistemas se acham em interao mtua e recproca, um influenciando o outro, de modo que a natureza da tarefa influencia a natureza da organizao das pessoas, bem como as caractersticas psicossociais das pessoas influenciam a forma de

    execuo do trabalho e so influenciadas pelo ambiente de trabalho (CHIAVENATO, 2004).

    Para LLORY (1999), a viso comportamentalista obscurece a compreenso dos acidentes, necessitando ampliar sua concepo para uma abordagem organizacional. Em

    sua obra, o autor define acidente como um evento organizacional, pois se revela como um produto da organizao sociotcnica, mas no deve ser entendido como a simples combinao especfica de erros humanos e falhas materiais.

  • 34

    Na viso de LLORY (1999), o acidente est enraizado na historia da organizao, em que decises gerenciais, aliadas a vrios fatores do contexto organizacional, promovem a degradao progressiva das condies do sistema, levando ao acidente. Segundo o autor: O Acidente Encuba!

    Nesta concepo, sugere-se que o acidente comporta trs fases sucessivas: Fase pr-acidental ou perodo de incubao, marcada pela lenta e progressiva degradao do sistema; Fase acidental propriamente dita que desencadeada por um evento iniciador, seguida de uma perturbao que conduz ao acidente; Fase ps acidental,

    marcada pelas conseqncias sociais, polticas e institucionais do acidente, sob a forma de crise organizacional e social, que, por vezes, extrapolam as dimenses da organizao (LLORY, 1999).

    REASON (1997) tambm defende que os acidentes tm origens organizacionais. Contudo, o autor sustenta que estes eventos so frutos da liberao de energia que ultrapassa as barreiras existentes nos sistemas e so desencadeados por erros ativos, facilitados por condies latentes (REASON, 1997; ALMEIDA, 2003).

    As condies latentes so originadas de decises, cujas conseqncias adversas no so observveis imediatamente, mas permanecem ocultas no sistema organizacional at que se combinem a outros fatores desencadeando os acidentes (REASON, 1997).

    VILELA (2007) sustenta que o modelo proposto por Reason, tambm conhecido por modelo de acidente organizacional, enfatiza a busca dos fatores organizacionais que propiciaram o aparecimento de condies latentes nos sistemas. Estes fatores podem se

    combinar com erros ativos, ocasionando a liberao de energia que ultrapasse as barreiras de proteo existentes.

    Segundo ALMEIDA (2006), os erros ativos podem ser denominados como as contribuies dos comportamentos humanos liberao do fluxo de energia ocorrida no

    sistema, sendo o objetivo desta concepo de anlise a busca das causas das causas que, em geral, so de origem gerencial ou organizacional.

  • 35

    REASON (1997) explica que, em uma organizao, todas as medidas de proteo do sistema se arranjam como barreiras, dificultando a ocorrncia do acidente. Entretanto, elas possuem vulnerabilidades (condies latentes) que podem se combinar em um dado momento, possibilitando a liberao da energia contida. Esta forma de explicar o acidente ficou conhecida tambm como o modelo do queijo suo.

    Em outras palavras, segundo o modelo do queijo suo, a organizao possui um conjunto de barreiras que impossibilita a passagem da energia que pode levar ao acidente. Estas barreiras apresentam fragilidades (condies latentes) que, em uma situao normal, se encontram desalinhadas. Estas fragilidades permanecem no sistema,

    em todos os nveis organizacionais, convivendo com a produo normal da empresa sem serem identificadas como fatores potenciais de acidentes. Contudo, em circunstncias especficas, elas se combinam ou se alinham, gerando janelas de oportunidades, que poder possibilitar a ocorrncia do acidente (REASON, 1997).

    VILELA et al (2004) destaca que, no modelo proposto por Reason, os acidentes esto associados s escolhas adotadas pelos gestores das organizaes. Conseqentemente, estes eventos so produtos de condies latentes presentes no

    sistema, originadas por decises daqueles responsveis pelo seu gerenciamento. VILELA et al (2007) afirma que, em suas investigaes, identificou que problemas em decises administrativas que trouxeram conseqncias prejudiciais segurana cujo nus final foi arcado pelos operadores, em outras palavras, os erros ativos dos

    operadores foram influenciados pelas condies presentes nos sistemas cujas origens foram decises tomadas pelas prprias empresas.

    REASON (1990) sustenta que a preveno deve ser fundamentalmente focada na correo das condies latentes e que tm potencial para contribuir, provocar ou permitir os erros ativos, sendo estes de pouca importncia para aes preventivas.

    Em relao atuao dos gerentes1 ou tomadores de decises nas questes

    ligadas segurana no trabalho, OLIVEIRA JC (2003) destaca que pesquisas

    1 Gerentes foram entendidos como ocupantes de cargos que tem funo de mando ou facilitador

    do trabalho de outrem.

  • 36

    realizadas, entre 1995 e 1996 e em 2001, em seis grandes empresas dos ramos siderrgico, metalrgico, de minerao e servios, identificaram que os fatores abaixo

    mencionados podem ter repercusso negativa para as organizaes:

    - Os gerentes que trabalham com riscos com potenciais de gerarem danos sade dos trabalhadores no possuem conhecimento necessrio para lidar tais riscos;

    - Aqueles que convivem com riscos no assumem o compromisso de corrigi-los, alegando ser tarefa do SESMT;

    - As situaes de risco so mantidas, pois sua existncia no atrapalha ou impede a realizao do trabalho;

    - A exposio ao risco por longo perodo, sem controle, induz as pessoas a enxerg-las como normais e aceitveis;

    - As preocupaes e recursos das empresas so voltados prioritariamente para o atendimento da produo;

    - As situaes de risco so mantidas, pois os gerentes alegam no dispor de recursos para a soluo, alm disso, ningum toma providncias para corrigi-las.

    Outras reas do conhecimento contribuem para o entendimento dos acidentes,

    buscando a necessidade da ampliao conceitual das anlises, tais como a ergonomia, a psicologia e a sociologia, incorporando o carter interdisciplinar na forma de olh-los.

    Entende-se ampliao conceitual a incorporao de novos conceitos no processo

    de anlise, abrindo caminhos para a sua compreenso de modo mais completo (ALMEIDA, 2006).

    Apesar dos avanos conceituais nas concepes de acidentes, ainda convivemos

    com o que OLIVEIRA (2008) denominou de sincretismo terico, isto , "idias sistmicas convivendo com a teoria dos domins, algo como construir a rvore de causas para descobrir o que produziu o ato inseguro do trabalhador (p.25).

    Ampliando a viso sobre a segurana nas organizaes, ROCHLIN (2001) salienta que ela est relacionada construo de uma cultura de segurana. Para o autor, segurana ultrapassa a idia de eliminao do erro ou ausncia de risco para a noo de funcionamento organizacional. A segurana tem origem nas relaes sociais, ritos e

  • 37

    mitos, seja no mbito individual ou do grupo, seja no mbito mais amplo da organizao.

    LEVESON (2002) recomenda que, a fim de ampliar os modelos de anlises, tente-se alargar a viso do mecanismo de ocorrncia dos acidentes, buscando considerar outros fatores alm das falhas e dos erros humanos, assim como, examinar todo

    processo envolvido no acidente, encorajando os mltiplos pontos de vistas e interpretaes.

    A ampliao conceitual na analise de acidentes do trabalho abre novos caminhos

    para sua compreenso (ALMEIDA, 2006). As noes de acidente organizacional, de falhas ativas e passivais, alm de outras contribuies de diversos ramos do conhecimento podem contribuir para seu entender como um evento sociotcnico, multicausal e complexo, auxiliando efetivamente para sua preveno.

    1.4 Consideraes sobre os Acidentes do Trabalho no Brasil

    A legislao previdenciria considera acidente do trabalho aquele que ocorre a servio da empresa, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause morte, perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade laboral. Equiparam-se ao acidente de trabalho, para fins previdencirios, aqueles que ocorrem no percurso da residncia para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo, inclusive em veculo de propriedade do segurado (BRASIL, 1991).

    De acordo com PANDAGGIS (2003), apesar da subnotificao, os dados estatsticos do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social sobre acidentes do trabalho no Brasil se mostram elevados. ALMEIDA (1997) destaca que, apesar da precariedade das informaes disponveis e de suas limitaes, em relao s CAT, as estatsticas oficiais mostram que a ocorrncia de acidentes de trabalho, no Brasil,

    assume dimenses alarmantes.

    O anurio estatstico da Previdncia Social informa que, em 2006, foram registrados 503,9 mil acidentes do trabalho no Brasil, representando um aumento de

  • 38

    0,8% em relao ao ano anterior, sendo os acidentes tpicos responsveis por 80% das ocorrncias, com 14,7% de acidentes de trajeto e 5,3% de doenas do trabalho (MPAS, 2006).

    O INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) define acidente liquidado aquele cujo processo foi encerrado administrativamente, depois de completado o tratamento e indenizadas as seqelas. No perodo compreendido entre 2003 a 2006, dentre os benefcios liquidados como acidentes de trabalho pelo INSS, ocorreram 10.996 por bitos e 49.083 benefcios por incapacidades permanentes. Os dados da Tabela 1 mostram que houve uma mdia anual de 2.749 benefcios liquidados por acidentes fatais e de 12.270 benefcios liquidados por acidentes com incapacidade permanente no perodo. Os dados indicam que houve um acrscimo de 1,60% nos benefcios liquidados por acidentes fatais e uma reduo 37,51% por incapacidades permanentes de 2006 em relao ao ano de 2003. A Unio Europia registra uma mdia anual de 5.500 mortes devido acidentes do trabalho (EASHW, 2005).

  • 39

    Tabela 1 Benefcios por incapacidades permanentes e bitos liquidados pelo INSS por ano, Brasil, 2002 - 2006.

    Ano Incapacidade Permanente bito 2003 13.416 2.674 2004 12.913 2.839 2005 14.371 2.766 2006 8.383 2.717 Total 49.083 10.996

    Fonte: Anurio Estatstico da Previdncia Social.

    Os dados do Ministrio da Previdncia Social (Tabela 2) revelam que os acidentes que atingem os membros superiores representaram em mdia 59,65% dos acidentes tpicos registrados no perodo de 2003 a 2006. O INSS define acidentes registrados como aqueles cujas Comunicaes de Acidentes do Trabalho - CAT foram cadastradas, no sendo contabilizado o reincio de tratamento ou afastamento por

    agravamento de leso de acidente do trabalho ou doena do trabalho j comunicado anteriormente.

    No ano de 2006, os dedos, as mos (exceto punho ou dedos), o antebrao (entre o punho e o cotovelo) e punho representaram, respectivamente, 29,30% (118.171), 9,15% (36.911), 3,87% (15.605), 2,10% (8.502) dos acidentes tpicos registrados pelo INSS, totalizando 44,43% de todos estes registros (MPAS, 2006).

    Tabela 2 - Total de Acidentes de Trabalho Tpicos e dos Acidentes de Trabalho que atingiram os membros superiores, Brasil, 2003-2006.

    Fonte: Anurio Estatstico da Previdncia Social.

    Vrios estudos apontam para a representatividade dos nmeros de acidentes que

    afetam as mos ou os dedos dos trabalhadores (MENDES, 2001; SELL, 2002; SILVA, 1995). Segundo MENDES (2001), dentre 72.489 acidentes estudados, os acidentes traumticos envolvendo as mos dos segurados representaram 37,8% (27.371). Em

    Ano Acid.Tpicos Memb.Sup. % 2003 325.577 193.551 59,44%

    2004 375.171 225.537 60,11%

    2005 398.613 238.805 59,90%

    2006 403.264 238.512 59,14%

    Total 1.502.625 896405 59,65%

  • 40

    estudo realizado na regio da Zona Norte de So Paulo (SILVA, 1991), em que foram analisadas 2.339 CAT, no perodo de outubro a dezembro de 1988, os acidentes com membros superiores representaram 42,1% do total de acidentes estudados, sendo que as mos e os dedos foram nas regies mais afetadas, correspondendo a 31,5% dos acidentes analisados. Em Belo Horizonte, em pesquisa sobre acidentes de trabalho, FARIA (1986) cita que dedos e mos representam 31,5% de todas as localizaes das leses dos acidentes estudados.

    Em estudo sobre os acidentes de trabalho na indstria metal-mecnica do Rio Grande do Sul, GOLDMAN (2002) relata que as mos foram a regio mais atingida do corpo, correspondendo a 45% das leses, principalmente nos dedos indicadores, pois segundo o autor, eles so freqentemente utilizados para ajeitar e empurrar peas.

    Os ferimentos do punho e da mo, as fraturas ao nvel do punho ou da mo e

    traumatismo superficial do punho e da mo figuram entre os 50 cdigos de CID com maior incidncia nos acidentes de trabalho registrados, com, respectivamente, 13,6%, 6,9% e 5,7% do total de registros em 2006 (MPAS, 2006).

    1.5 Acidentes de Trabalho em Mquinas

    Neste cenrio, os acidentes com mquinas so relatados como responsveis por um percentual significativo em todos os setores econmicos. VILELA (1998) ressalta o papel relevante que as mquinas tm, no mbito nacional, na gerao de acidentes do trabalho.

    A definio de mquinas no apresenta uniformizao na literatura, devido ao

    vasto universo existente, aos objetivos das definies e o campo de suas aplicaes.

    A Norma Regulamentadora n. 12, que trata de mquinas e equipamentos, e a Nota Tcnica n. 16/2005 do MTE e a conveno coletiva de prensa em So Paulo no trazem, em seu texto, suas definies de mquinas, alm de no fazerem qualquer diferena entre mquina e equipamento. As demais normas tcnicas oficiais vigentes no pas trazem apenas a definio de mquinas, sem fazer referncias aos equipamentos (BRASIL, 2005).

  • 41

    O Decreto N 1.255, de 29 de setembro de 1994, que promulga a Conveno n 119 da Organizao Internacional do Trabalho sobre Proteo das Mquinas, define mquina como aquela movida por foras no humanas. (BRASIL, 1994)

    A NBR NM 213-1 define mquina como o conjunto de peas ou de componentes ligados entre si, em que pelo menos um deles se move, com apropriados atuadores, circuitos de comando e potncia etc., reunidos de forma solidria com vista a uma aplicao definida, tal como a transformao, o tratamento, o deslocamento e o acondicionamento de um material (ABNT, 2000a).

    Segundo a diretiva europia 206/42/CE (CE, 2006), mquina o conjunto, equipado ou destinado a ser equipado com um sistema de energia, diferente da fora humana ou animal diretamente aplicada, composto por peas ou componentes ligados

    entre si, dos quais pelo menos um mvel, reunidos de forma solidria com vista a uma aplicao definida.

    De acordo com a norma ISO 12100-12, a mquina definida como o conjunto de peas ou componentes ligados, em que pelo menos uma se move, reunidos para uma aplicao especfica, em especial para a transformao, tratamento, acondicionamento ou deslocamento de materiais. Entende-se mquina tambm como o conjunto de mquinas que, para atingir a mesma finalidade, so organizadas e controladas de modo

    que eles funcionam como integrante de um todo (ISO, 2003).

    Em uma perspectiva mais abrangente, VILELA (2000) sustenta que o conceito de mquina, ultrapassa os aspectos meramente tecnicistas, sendo definido como um

    artefato social e cultural, criado por seres humanos com interesses diversos, com objetivo de satisfazer determinadas necessidades.

    Contrariamente ao que se imagina, a mquina no um artefato tcnico, um objeto neutro voltado a si mesmo. A mquina um artefato social e cultural, criado por seres humanos reais dotados de interesses e preocupaes, para satisfazer determinadas necessidades. (VILELA, 2000, p.6)

    2 Estabelece conceitos bsicos e princpios gerais sobre segurana em mquinas em projetos.

  • 42

    Esta concepo entende a que interao homem-mquina ocorre dentro de uma

    organizao sociotcnica, sofrendo influencias internas e externas que trazem repercusso forma de utilizao ou operao das mquinas ou equipamentos e podem influenciar na ocorrncia dos acidentes.

    Historicamente, os acidentes com mquinas so relatados na literatura como uma preocupao daqueles que estudam esses eventos.

    As primeiras greves no Brasil, no sculo XIX, foram motivadas, principalmente,

    por aumento salarial, pela reduo da jornada de trabalho e tambm por melhores condies de trabalho nas mquinas (GIANNOTI, 2007).

    POSSAS (1981, p.195) cita relato das condies de trabalho no incio do sculo XX no Brasil: as mquinas se amontoavam ao lado umas das outras e as suas correias e engrenagens giravam sem proteo alguma. Os acidentes se amiudavam porque os trabalhadores cansados, que trabalhavam s vezes alm do horrio, sem aumento do salrio, ou trabalhavam aos domingos, eram multados por indolncia ou pelos erros

    cometidos, se fossem adultos, ou surrados, se fossem crianas. Segue ainda relatando que, em 1905, nas indstrias Matarazzo, fiscais e inspetores se depararam com mquinas confeccionadas especialmente para o trabalho dos meninos operrios.

    Em 1987, o estudo realizado pelo Programa de Sade dos Trabalhadores da Zona Norte apontou as mquinas como responsveis por 13,30% dos acidentes pesquisados.

    A OSHA (2007) cita que, em 2005, aproximadamente 44% das amputaes que ocorreram nos locais de trabalho tiveram origens no setor industrial e que a maioria delas foram resultado do uso ou manuteno de mquinas.

    As mquinas tambm aparecem com destaque no estudo realizado por

    GOLDMAN (2002), em que constatou que 29,82% dos acidentes estudados no setor metal-mecnico ocorreram com mquinas, ferramentas, prensas e tornos.

  • 43

    Em estudo sobre acidentes com prensas em Portugal, SILVA (2004) destaca que, em 1998, 44% dos acidentes foram ocasionados por mquinas cujas leses ocorreram geralmente nas mos dos trabalhadores. Em 1999, constatou-se que 21,1% dos acidentes estavam relacionados com mquinas.

    VILELA (2000), abordando o papel relevante das mquinas nos acidentes de trabalho, salienta que, no Brasil, as mquinas so concebidas sem a preocupao com a proteo do trabalhador, sendo vendidas sem os requisitos mnimos de segurana e colocadas em uso nestas condies, alm disso, quando se tornam obsoletas so vendidas a empresas de pequeno e mdio porte que, geralmente, possuem relaes de

    trabalho mais precrias, potencializando ainda mais os riscos de agravos sade do trabalhador.

    MENDES (2001) sugere que estes acidentes esto relacionados existncia e a utilizao de mquinas perigosas por no possurem dispositivos de proteo ou de segurana e existncia e utilizao de mquinas de tecnologia obsoleta, favorecendo, agravando ou desencadeando a condio de risco (p.81).

    Segundo SILVA (1995), as mquinas foram responsveis por 25% de todos os acidentes graves ocorridos na regio norte de So Paulo, destacando que as prensas estavam envolvidas no maior nmero de ocorrncias, principalmente no setor metalrgico/mecnico.

    1.6 As Prensas e os Acidentes do Trabalho

    Em 1860, foi construda a primeira mquina no pas e se tratava de uma prensa a vapor, com a finalidade de cunhar moedas e instalada na Casa dos Pssaros, conhecida atualmente por Casa da Moeda do Brasil (ABIMAQ, 2006).

    A despeito da contribuio que este equipamento trouxe ao desenvolvimento do pas, principalmente no setor automotivo onde utilizada largamente, tambm responsvel por um vasto nmero de acidentes geralmente com leses graves.

  • 44

    Alguns estudos citam as prensas como envolvidas em grande nmero de acidentes graves que ocorrem no parque industrial, produzindo nmero elevado de

    trabalhadores mutilados. Estes trabalhos destacam que a maioria das prensas utilizadas no Brasil do tipo mecnicas excntricas de chaveta (MAGRINI, 1989; WHITAKER, 1994).

    De acordo com Clemente, citado por VILELA (1998), foi realizado pesquisa no municpio de Osasco, no inicio da dcada de 70, cujo resultado mostrou que, dentre 1.000 acidentes analisados, as mquinas foram responsveis por 85,5% dos casos, sendo que as prensas corresponderam a 31,8% das ocorrncias.

    Os estudos mostram a importncia dos acidentes de trabalho ocasionados por prensas, seja pelo nmero de ocorrncias, seja pelas seqelas deixadas nos acidentados que, na maioria dos casos, encontram grandes dificuldades de se integrar ao mercado de

    trabalho aps o acidente, em virtude das graves mutilaes que estes equipamentos causam (BLANGER, 1994; MAGRINI, 1999; MENDES, 2001; SILVA, 2004).

    O estudo sobre os acidentes no setor metal-mecnico no Rio Grande do Sul

    mostra que as prensas foram responsveis por 8,60% dos acidentes com leses na regio da mo dos trabalhadores (GOLDMAN, 2002).

    Segundo pesquisa promovida pela NIOSH (1987) sobre os acidentes e amputaes resultantes da operao com prensas mecnicas, ocorrem, aproximadamente, 2.000 amputaes por ano entre os operadores destas mquinas nos EUA, correspondendo a 10% de todas as leses com amputaes no pas.

    Em 1989, um estudo realizado em cinco fbricas pela empresa Ergonomist Inc. em nome do Instituto de Pesquisa em Sade e Segurana no Trabalho de Quebec (IRSST), constatou que, em 184 relatrios de acidentes, as mquinas estavam envolvidas em 149 casos, sendo que as prensas corresponderam a aproximadamente a 58% das ocorrncias (BLANGER, 1994)

    Estas mquinas so largamente utilizada pelos setores metalrgico e mecnico em todos o pas, concentrando-se nas pequenas e mdias empresas (MENDES, 2001).

  • 45

    SILVA (2004) destaca que h um consenso sobre o potencial de perigo no trabalho com prensas, tanto em funo da gravidade das leses como pelos custos envolvidos nestes acidentes.

    Esta situao fica mais preocupante ainda no contexto atual de abertura

    econmica, em que diversas mquinas sem protees, oriundas de pases asiticos ou do oriente mdio, entram no pas expondo nossos trabalhadores aos perigos que estes equipamentos oferecem quando no esto adequadamente protegidos.

    Assim, diante da potencialidade acidentognica das prensas, cujas leses so geralmente graves, deixando muitos trabalhadores mutilados com seqelas que os acompanham pelo resto da vida, trazendo reflexos em suas qualidades de vida e problemas sociais graves, os casos de acidentes envolvendo estes equipamentos devem

    abordados como fenmenos de sade relacionados ao trabalho, devendo ser tratados como um problema de sade pblica.

    1.7 Aspectos Tcnicos e Dispositivos de Segurana Necessrios para d Proteo das Prensas Abordados nas Normas Tcnica N. 16/DSST/MTE e na Conveno Coletiva de Proteo de Prensas em So Paulo

    Este item buscar fornecer subsdios tcnicos necessrios para melhor

    entendimento dos acidentes envolvendo prensas cujas anlises foram objeto deste estudo.

    Ademais, procurou-se consolidar, sem esgotar o assunto, os requisitos tcnicos

    sobre proteo de prensas que esto esparsos em poucas literaturas publicadas ultimamente sobre o tema, alm de trazer conhecimento de vrios tcnicos que participam dos debates em torno no assunto, pois grande parte do conhecimento sobre segurana de prensas encontra-se apropriado por empresas, fabricantes e tcnicos que

    lidam com o tema.

  • 46

    Uma das dificuldades encontradas neste trabalho foi a ausncia de normas tcnicas especficas sobre proteo de prensas no pas. Algumas normas no foram

    recepcionadas pelas Normas Tcnicas do MTE que tratam de proteo de prensas e nem foram traduzidas e publicadas pela ABNT, prejudicando a disseminao do conhecimento tcnico sobre a segurana na operao destes equipamentos.

    Neste trabalho, entendem-se protees como as partes das mquinas constitudas de barreiras fsicas destinadas proverem segurana aos operadores ou a terceiros contra perigos existentes (ABNT, 2002a).

    A seleo das protees adequadas aos riscos deve atender a critrios tcnicos, para todas as fases de vida das mquinas (fabricao, transporte e colocao em servio, utilizao3, desmontagem e desativao ou sucateamento), levando em considerao a probabilidade e gravidade previsvel de leso, de acordo com: a) a apreciao de risco; b) a utilizao prevista das mquinas; c) os perigos presentes nas mquinas e d) a natureza e freqncia de acesso (ABNT, 2002a; ABNT, 2000b).

    As protees podem ser fixas ou mveis. Consideram-se protees fixas aquelas

    que necessitam de ferramentas para sejam abertas ou retiradas, caso contrrio, so consideradas mveis (NBR ABNT, 2002a).

    Segundo BOLLIER (2003), o tipo de proteo escolhida depende das freqncias de acessos s reas de risco, ou seja, as protees mveis devem ser escolhidas quando existir necessidade de interveno dos operadores nas reas protegidas de modo freqente, a partir da apreciao de riscos nas mquinas. Nestes casos, as protees devem estar associadas a dispositivos de intertravamento (chaves de segurana) que podem ser simples ou com bloqueio (ABNT, 2002a). Cabe registrar que, na escolha das protees, devem-se considerar os comportamentos dos operadores resultantes da aplicao da Lei do Menor Esforo durante o cumprimento de uma tarefa (ABNT, 2000a).

    3 Entende-se por utilizao as fases de regulagem, treinamento/programao ou mudana de processo de

    fabricao, funcionamento, operao, limpeza, pesquisa de falhas ou de avarias e manuteno (NBR NM 213-1, 2000).

  • 47

    Figura 3 Exemplos de proteo fixa e de proteo mvel com intertravamento

    Todas as protees devem ser projetadas e construdas de modo atenderem as seguintes caractersticas, segundo a ABNT (2000b):

    a) Devem ser resistentes; b) No devem ocasionar riscos suplementares; c) No devem ser facilmente neutralizados ou postos fora de servio; d) Devem estar situados a uma distncia adequada da zona perigosa; e) No devem limitar a observao do processo de produo mais do que o

    absolutamente necessrio; f) Devem permitir as intervenes indispensveis colocao e/ou

    substituio das ferramentas, bem como os trabalhos de manuteno,

    limitando o acesso ao setor onde o trabalho deva ser realizado e, se possvel, sem desmontagem do protetor ou do dispositivo de proteo.

    As protees mveis com intertravamento simples, quando abertas, devem interromper totalmente os movimentos perigosos das mquinas antes do acesso dos trabalhadores s reas de risco. Caso contrrio, devem-se utilizar os intertravamentos com bloqueio que no permitem a abertura das protees at que os movimentos

    tenham cessados completamente (ABNT, 2002a).

    As protees mveis associadas aos intertravamentos simples, ao serem abertas, devem garantir que as funes de perigo das mquinas parem e s voltem a funcionar quando as protees forem fechadas. Alm disso, o simples fechamento das protees

    Proteo fixa

    Proteo mvel com

    intertravamento

  • 48

    no deve reiniciar as operaes das mquinas, necessitando que os operadores acionem um dispositivo de comando especfico (ABNT, 2002a).

    Em relao s protees mveis dotadas de intertravamentos com bloqueios, a Norma Brasileira (ABNT, 2002a; ABNT, 2002b) estabelece que elas no devam possibilitar suas aberturas at que os riscos decorrentes das funes perigosas tenham

    sido eliminados, permanecendo fechadas e bloqueadas, em outras palavras, os dispositivos de intertravamento no podem permitir aberturas das protees enquanto houver movimentos de risco nas reas protegidas. Alm disso, as funes de perigo das mquinas no podem funcionar enquanto as protees no estiverem fechadas e

    bloqueadas e o reinicio das operaes no podem ocorrer pelo simples fechamento das protees (ABNT, 2002a).

    As Zonas de prensagens (ZP) das mquinas so consideradas as reas onde os acidentes ocorrem com maior freqncia. So definidas como os espaos entre os martelos e as mesas, onde as ferramentas so instaladas. Nelas, encontram-se o Ponto Morto Inferior (PMI), que corresponde ao ponto onde a ferramenta superior est mais prxima da ferramenta inferior, e o Ponto Morto Superior (PMS) onde as ferramentas esto mais afastadas.

    Figura 4 Exemplo de prensa e localizao de pontos importantes

    Ponto Morto Superior (PMS)

    Ponto Morto Inferior (PMI)

    Zona de prensagem

    Mesa

    Martelo

  • 49

    A Nota Tcnica n. 16/2005 do MTE define ferramentas como os elementos que so fixados aos martelos e s mesas das prensas tendo a funo de cortar e/ou conformar

    a matria prima (BRASIL, 2005).

    Uma das possibilidades de proteo das zonas de prensagens a utilizao de ferramentas fechadas de modo que no permitam o ingresso dos dedos dos operadores

    nas reas protegidas, possibilitando apenas que os materiais a serem prensados ingressem nas ferramentas.

    Figura 5 Exemplos de ferramentas fechadas

    1.7.1 Conceito de Prensas e Seus Tipos

    Prensas so mquinas utilizadas na conformao e corte de materiais diversos, onde

    os movimentos dos martelos so provenientes de sistemas hidrulicos/pneumticos (cilindros hidrulicos/pneumticos) ou de sistemas mecnicos. Nestes casos, os movimentos rotativos dos volantes so transformados em lineares, atravs de sistemas de bielas, manivelas ou fusos (BRASIL, 2005).

    A Norma Brasileira 13930 (ABNT, 2008) que estabelece requisitos de proteo para prensas mecnicas de freio/embreagem define prensa mecnica como uma mquina projetada para transmitir energia de um acionamento principal para uma ferramenta por meios mecnicos, com o propsito trabalhar metal frio ou material composto parcialmente de metal frio.. Essa energia pode ser transmitida por meio de um conjunto volante e embreagem ou acoplamento direto.

  • 50

    Cabe ressaltar que no h normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) que estabeleam requisitos de segurana especficos para os demais tipos de prensas, ou seja, atualmente, s existem normas tcnicas da ABNT que abordam a segurana das prensas mecnicas.

    Estes equipamentos so utilizados em diversos setores econmicos, com

    preponderncia no setor metal-mecnico, sendo usados em diversas aplicaes, como conformar, moldar, cortar, furar, cunhar e vazar peas.

    Para SILVA (2004), sua utilizao est relacionada conformao de metal a frio ou a quente produzindo uma infinidade de materiais ou componentes que integram outros equipamentos.

    No Brasil, h relatos de Auditores Fiscais do Trabalho que algumas prensas de

    empresas metalrgicas do Estado de So Paulo foram vendidas a pequenas empresas, na Bahia, para serem usadas na produo de brita, ou seja, so utilizadas para quebrar pedras.

    Embora estes equipamentos sejam utilizados em diversas atividades, possuem caractersticas individuais que necessitam ser avaliadas antes de suas operaes com segurana. A espessura de corte ou altura de conformao, a fora necessria de acordo com as geometrias e com os materiais das peas, a altura de trabalho so exemplos de

    variveis que devem ser analisadas nas operaes com prensas (JUNDIA, 2008).

    A utilizao de prensas em trabalhos para os quais no foram projetados pode submeter seus componentes a esforos que ultrapassem seus limites de resistncias

    mecnicas. Dentre estes problemas, JUNDIAI (2008) ressalta o perigo da sobrecarga nas prensas excntricas, que pode levar a ruptura do eixo sobre seus operadores.

  • 51

    Figura 6 Exemplos de eixos rompidos por efeito de sobrecarga.

    Fonte: fotos do manual de treinamento em prensas mecnicas (PRENSAS JUNDIAI S/A, 2008)

    Este problema proveniente, dentre outras causas, da utilizao de prensas em

    condies no previstas em projeto, da falta de conhecimento acerca da utilizao adequada dos equipamentos pelas diversas reas das empresas (engenharia, produo, compra, gerencia, manuteno, etc.), da utilizao de ferramentas em mal estado de conservao, da falta de procedimentos de manuteno e ausncia de inspeo das

    ferramentas (JUNDIA, 2008).

    JUNDIAI (2008) recomenda que as empresas adotem algumas medidas necessrias para reduzir a probabilidade da sobrecarga nos equipamentos, tais como:

    1. Realizar treinamento de todos os profissionais envolvidos quanto utilizao adequada das prensas existentes em seus estabelecimentos, assim como das ferramentas a serem usadas na produo, em especial quanto aos limites das

    foras a serem aplicadas (engenheiros, projetistas, gerentes de compras, ferramenteiros, operadores, encarregados de manuteno, etc.).

    2. Elaborar um programa de inspeo e manuteno preventiva das ferramentas usadas pela empresa;

    3. Implementar plano de manuteno preventiva de prensas que deve ser seguido, rigorosamente, conforme determinaes dos fabricantes;

    4. Utilizar as prensas dentro dos limites de fora e energia, segundo informaes dos fabricantes. Neste caso, JUNDIAI (2008) recomenda que as prensas operem com, no mximo, 70% da fora estipulada como limite;

  • 52

    5. Utilizar sistema de leitura de fora, a fim de controlar efetivamente este parmetro4.

    Cabe salientar que a nota tcnica do Ministrio do Trabalho e Emprego e a conveno coletiva sobre segurana de prensas no Estado de So Paulo no estabelecem obrigaes aos empregadores para que adotem medidas que reduzam os riscos de

    acidentes por sobrecargas nas prensas.

    No mercado, encontra-se um leque de variedades de prensas, classificadas segundo suas dimenses, marcas, tipos, modelos, capacidade de aplicao de fora ou

    velocidade.

    As prensas estudadas neste trabalho foram classificadas em: 1. Prensas Mecnicas

    a. Excntricas

    i. De engate por chaveta

    ii. Com freio/embreagem b. De frico com acionamento por fuso

    2. Prensas Hidrulicas a. Enfardadeiras

    3. Prensas Pneumticas (ou dispositivos pneumticos)

    4 Algumas prensas so vendidas com um sistema de leitura da fora aplicada atravs de instrumentos

    instalados na mquina para este fim.

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    1.7.1.1 Prensas Mecnicas Excntricas de Engates por Chavetas (PMEEC)

    Estes equipamentos so largamente utilizados na indstria nacional pelos baixos preos em relao aos outros tipos de prensas, pela simplicidade construtiva, permitindo suas fabricaes por empresas com baixas capacidades tecnolgicas e pela preciso da descida do martelo no ponto morto inferior. Tem como caractersticas o curso limitado,

    energia constante e fora varivel do martelo (FIERGS, 2006; SENAI, 2002; SILVA, 2003).

    Nestas prensas, a descida do martelo provm do movimento rotativo do volante,

    transformado em linear por ao de uma biela situada em uma extremidade do eixo. Na outra extremidade, o volante movimentado por um motor. O acoplamento do eixo ao volante ocorre por meio de um sistema de engate de uma chaveta meia cana.

    Figura 7 - Prensa mecnica excntrica de engate por chaveta e sistema de transmisso de fora

    O motor (Figura 9) ligado a um volante por intermdio de uma polia gira constantemente. Quando o trabalhador aciona a mquina, um conjunto de peas movimenta um pino em forma de L(Figura 8), que puxa uma mola fazendo que uma chaveta rotativa seja acoplada a bucha de engate, transmitindo o movimento de rotao ao conjunto eixo/bucha. A biela transforma o movimento rotativo do eixo em movimento linear, fazendo o martelo realizar o movimento de descida ao PMI e subida ao PMS (FIEGS, 2006).

    Volante

    Biela Martelo

    Mesa

    Eixo

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    Figura 8 - Detalhe da chaveta meia-cana e pino L

    Figura 9 - Detalhe do motor, da polia e do volante de PMEEC

    Uma caracterstica importante deste equipamento que se trata de uma mquina de ciclo completo ou de revoluo completa, ou seja, quando acionada, esta prensa no permite a parada do martelo at que ele realize o movimento de descida ao PMI e subida ao PMS.

    Um fenmeno importante associado a este tipo de equipamento denominado de Repique (repetio de golpe), que responsvel por inmeros acidentes graves com mutilaes de dedos e mos de muitos trabalhadores. Trata-se da repetio involuntria da descida do martelo, sem o acionamento do trabalhador que, devido o trabalho

    repetitivo com alimentao manual, surpreendido enquanto sua mo retira a pea conformada da zona de prensagem (FIERGS, 2006, SENAI, 2002, MAGRINI, 1999, FERRARI FILHO, 2005).

    Volante

    Correia

    Motor

    Pino L Chaveta meia cana

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    FIERGS (2004) alerta que os repiques so ocasionados por falhas mecnicas no sistema de acoplamento, quebra ou desgaste da chaveta, relaxamento das molas, dentre

    outras causas.

    As medidas de proteo preconizada pela Conveno Coletiva e pela Nota Tcnica N. 16/2005 do Ministrio do Trabalho e Emprego para estes tipos de equipamentos esto divididas segundo a rea a ser protegida.

    Para as Zonas de Prensagens, pode-se adotar uma das seguintes medidas: a) Enclausuramento atravs de protees fixas com frestas ou passagens que no permitam

    o ingresso dos dedos e mos dos operadores. Neste caso, havendo necessidade de troca freqente de ferramentas, as protees podem ser mveis dotadas de intertravamentos com bloqueios, por meio de chave de segurana, de modo a permitir as aberturas somente aps a parada total dos movimentos de risco; b) Ferramentas fechadas, significando o enclausuramento do par de ferramentas, com frestas ou passagens que no permitam o ingresso dos dedos e mos dos trabalhadores.

    A cadeia cinemtica, composta por todas as peas envolvidas efetivamente no

    movimento dos martelos (volante, correia, engrenagem, eixo, bielas, etc.), deve ser enclausurada por protees fixas.

    A utilizao de pedais mecnicos proibida nestes equipamentos, somente

    sendo admissveis os pneumticos, eltricos ou comando bimanuais. Os pedais devem tambm ser protegidos atravs de caixas protetoras.

    1.7.1.2 Prensa Mecnica Excntrica com Freio e Embreagem

    Este tipo de maquina possibilita o monitoramento e o controle do curso do martelo, permitindo a adoo de um numero maior de medidas de segurana que protejam os operadores. Possui um conceito construtivo mais complexo e, conseqentemente, tem custo mais elevado do que as prensas de engate por chaveta.

    Estes equipamentos tm como caractersticas o curso limitado do martelo, energia constante e fora varivel do martelo em funo da altura do trabalho.

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    Nestas prensas, o motor eltrico transfere movimento de rotao ao volante,

    atravs de um sistema de transmisso, fazendo-o girar em falso (sem a transmisso de movimento ao eixo). O dispositivo de acionamento, geralmente comando bimanual, envia um sinal eltrico interface de segurana (rel de segurana ou CLP de segurana) que informa vlvula de segurana para que injete ar no sistema de freio/embreagem, fazendo a embreagem se acoplar ao volante e liberando o freio, transmitindo o movimento de rotao do motor ao eixo que o transfere biela, propiciando a subida e descida do martelo. Para a parada da mquina, a vlvula de segurana libera a presso de ar do sistema freio/embreagem e um conjunto de molas acionam o freio da mquina.

    Figura 10 Prensa mecnica excntrica de freio/embreagem

    Os conjuntos de freios/embreagens podem ser pneumticos ou hidrulicos, todavia, a maioria das prensas que possuem estes tipos de acoplamentos utiliza o

    conjunto com acionamento pneumtico e a frenagem realizada por molas. Estes sistemas so responsveis, juntamente com o eixo e a biela, pela subida, descida ou parada do martelo e devem ser acionados pela ao de vlvulas de segurana, com

    Zona de Prensagem

    Volante

    Conjunto freio embreagem

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    caractersticas de serem de fluxos cruzados, classificadas como categoria 4 (FIERGS, 2006; BRASIL, 2005)

    Figura 11 Conjunto freio/embreagem pneumtico e vlvula de segurana

    Deve-se garantir que o ar comprimido do sistema pneumtico seja limpo e seco, pois as impurezas podem danificar a vlvula de segurana ou partes do conjunto de freio/embreagem (JUNDIAI, 2006). A legislao brasileira exige que os sistemas de alimentao de ar comprimido para circuitos pneumticos de prensas possuam dispositivos de retirar de gua (purgadores) ou outro sistema de secagem (BRASIL, 2005).

    O desgaste das lonas do sistema de freio deve ser medido, de acordo com as recomendaes do fabricante, a fim de possibilitar a parada imediata das mquinas quando solicitada e diminuir o escorregamento das prensas (JUNDIAI, 2008).

    Conjunto de freio embreagem pneumtico

    Vlvula de segurana

    Vlvula de segurana

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    Figura 12 - Lonas de freio do conjunto de freio/embreagem

    Ao contrrio das prensas excntricas de engates por chavetas, estes equipamentos permitem a parada do curso do martelo de modo