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CAPÍTULO 16

PATOLOGIA EMALVENARIAESTRUTURAL DEBLOCOSVAZADOS DECONCRETO

Prof. Eng. ROBERTO JOSÉ FALCÃO BAUERDiretor Técnico do Grupo Falcão Bauer. Professor nadisciplina de Materiais de Construção Civil no curso deEngenharia Civil da UNITAU – Universidade de Taubaté –São Paulo.

16.1. RESUMO

Este trabalho procura analisar as eventuais anomalias que possam vir a ocorrer em alvena-rias estruturais de blocos vazados de concreto, relacionando-as a uma ou mais características dequalidade eventualmente não atendidas; as causas que as geraram.

Geralmente decorrem de deficiências de projeto, da especificação de material, da execução,da utilização ou da manutenção.

16.2. INTRODUÇÃO

16.2.1. Principais características As facilidades construtivas proporcionadas pelo empre-go de um único elemento são diversas, podendo-se relacionar como principais vantagens:

– técnicas de execução simplificadas;– menor diversidade de materiais empregados;– redução do número de especializações da mão-de-obra empregada;– redução de interferências no cronograma executivo, entre os subsistemas (estrutura e

alvenaria são executadas conjuntamente).

16.2.2. Técnica Executiva Visando atingir o desempenho técnico de edificações, em alve-naria estrutural armada, de blocos vazados de concreto, deverão ser tomados cuidados especiaisnas fases de concepção, projeto e execução.

Durante a concepção e projeto devem-se tomar os seguintes cuidados:

– conceituação dos projetos arquitetônico e estrutural;– conhecimentos técnicos adquiridos com base em experiência nacional, visando a ade-

quação e concepção dos projetos de fundação e estrutural;

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– normalização técnica existente quanto à especificação dos materiais constituintes e pro-cedimentos de execução.

Enquanto na fase de execução deve-se proporcionar um controle de qualidade efetivo, sejados materiais, com relação ao recebimento e estocagem, seja da execução.

16.3. ANOMALIAS

Com base no diagrama idealizado pelo professor Ishikawa (diagrama causa e efeito),podemos avaliar as eventuais anomalias que possam ocorrer relacionando-as a uma ou maiscaracterísticas da qualidade não atendidas, portanto, os fatores que as geraram.

Se lembrarmos dos 5 Ms da qualidade representados na Fig. 16.1, veremos que hánecessidade de estimular a economia, diminuir desperdício e anomalias, melhorandosensivelmente a qualidade e, conseqüentemente, a imagem do sistema construtivo.

Com relação aos 5 Ms da qualidade podem-se relacionar os seguintes cuidados a seremadotados:

Material

a. Critérios de qualificação técnica dos fabricantes de blocos estruturais.b. Qualificação técnica dos fabricantes.c. Especificação técnica, mediante Normas Técnicas e Cadernos de Encargos (acordo-

prévio). Por exemplo, no caso de blocos vazados de concreto deve-se, com base nanorma brasileira NBR 6136, especificar:

– resistência à compressão;– umidade;– absorção de água;– características dimensionais.

Já para argamassa de assentamento e grautes deve-se, com base na normabrasileira NBR 8798, especificar:

– dosagens;– retenção de água (argamassas);– resistência à compressão.

Com relação aos demais materiais utilizados na execução da alvenaria estruturalde blocos vazados de concreto, deve-se especificá-los com base em suas normastécnicas, como, por exemplo:

Fig. 16.1. Representação dos 5 Ms da qualidade.

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– aço (NBR 7480)– cimento– cal hidratada (NBR 7175)– agregados (NBR 7211)– água– aditivos (NBR 11768)

d. Pedido de compra.

Deverá conter as especificações técnicas previamente acordadas entre as partes.

e. Controle de recebimento e estocagem.

Metodologia

É necessário introduzir o uso de normas técnicas aplicáveis na aquisição e no emprego demateriais, na contratação de serviços e na construção em geral, uma vez que esta é uma exigênciaprevista no artigo 39, item VIII do Código de Defesa do Consumidor, que diz: “que é vedado aofornecedor de produtos ou serviços colocar no mercado de consumo qualquer produto ou serviçoem desacordo com as Normas da ABNT ou de qualquer outra entidade credenciada peloCONMETRO”.

a. Projetos

Projeto arquitetônico contendo detalhes construtivos com relação a medidasespecíficas quanto às condições de habitabilidade (térmica, acústica e de umidade).

Projeto estrutural com base em teorias atuais, fundamentadas em base experimentalsólida.

b. Normas Técnicas e Cadernos de Encargos, contendo inclusive procedimentos de exe-cução.

c. Procedimentos de recebimento de materiais e serviços.d. Procedimentos com relação ao recebimento de outras atividades que possam intervir

na execução dos trabalhos e no desempenho como um todo (interfaces: lajes, contrapiso,instalações em geral etc.).

e. Manual do Proprietário

Deverão constar os procedimentos relativos ao uso adequado e eventuais restrições,cuidados na manutenção e limpeza, e quanto à pintura, interna ou externa, especificaros produtos recomendáveis, bem como sua periodicidade.

Máquinas

É indispensável colocar, imediatamente, máquinas (ferramentas) simples à disposição dosoperários.

Por quanto tempo ainda nossos pedreiros continuarão a assentar blocos, fazendo 25 mo-vimentos por peça, quando Taylor e Fayol já nos ensinaram que é possível fazê-lo com oitomovimentos? Será que a caixa de argamassa não poderia estar à altura de 0,80 m, ergometrica-mente colocada, diminuindo a energia gasta em movimentos inúteis e cansativos?

A máquina humana deve ser cada vez mais inteligentemente utilizada.O emprego de pequenas e eficientes ferramentas irá melhorar a qualidade e a produtivi-

dade.

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Os equipamentos utilizados nos processos construtivos, nas verificações de serviços e nosensaios deverão estar em conformidade com os procedimentos e devidamente calibrados.

Mão-de-obra

“A qualidade começa pela educação e acaba na educação. Uma empresa que progride emqualidade é empresa que aprende, que aprende a aprender” — Professor Ishikawa.

Meio ambiente

É necessário entendermos, claramente, que o lixo das cidades não pode ser constituídode entulho de obras. Melhor dizendo: desperdício, que cria, junto com o lixo domiciliar, escon-derijo, alimentação, ambiente propício para a criação de roedores, insetos e de agentes trans-missores de doenças infecto-contagiosas.

Os principais fatores de desperdício podem ser resumidos em:

– perda de material e retrabalho, por falta de qualidade dos materiais, qualificação damão-de-obra com alta rotatividade e falta de projeto específico;

– perda de cerca de 20% de material utilizado no nivelamento de paredes fora de prumoou em revestimento de paredes que apresentam variações de espessura;

– armazenamento inadequado de materiais no canteiro de obras.

Devemos nas fases de projeto e execução atentar para preservarmos o meio ambiente,sem comprometimento da qualidade de vida do cidadão e do mundo.

16.3.1. Principais Anomalias As anomalias mais comuns que podem ocorrer em alvenari-as estruturais de blocos vazados de concreto são as relacionadas a seguir.

16.3.1.1. Fissuras. As fissuras ocupam o primeiro lugar na sintomatologia em alvenarias estru-turais de blocos vazados de concreto.

As causas da fissuração nem sempre são de fácil determinação, entretanto, o conheci-mento das mesmas é de vital importância para a definição do tratamento adequado para a recu-peração.

A configuração da fissura, abertura, espaçamento e, se possível, a época em que a mesmaocorreu (após anos, semanas ou mesmo algumas horas da execução) podem servir como ele-mentos para diagnosticar a causa ou causas que as produziram.

Considerando-se as diferentes propriedades mecânicas e elásticas dos constituintes daalvenaria e em função das solicitações atuantes, as fissuras poderão ocorrer nas juntas de assen-tamento (argamassa de assentamento — vertical ou horizontal) ou seccionar os componentesda alvenaria (blocos vazados de concreto).

Relacionamos a seguir outros fatores que podem influenciar o comportamento dasalvenarias:

– bloco vazado: dimensões, aspecto com relação à porosidade e ao acabamento super-ficial;

– argamassa de assentamento: consumo de aglomerantes, retenção de água e retração;– alvenarias: geometria do edifício, esbeltez, eventual presença de armaduras, existên-

cia de paredes de contraventamento;– fundações: recalques diferenciais;– movimentações: higroscópicas e térmicas.

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As Tabelas 16.1, 16.2 e 16.3 apresentam um resumo das diferentes configurações das fissurasocorridas em alvenaria estrutural e as prováveis causas geradoras de cada uma destas tipologias.

16.3.1.2. Eflorescências. A eflorescência é decorrente de depósitos salinos, principalmente de saisde metais alcalinos (sódio e potássio) e alcalino-terrosos (cálcio e magnésio) na superfície de al-venarias, provenientes da migração de sais solúveis nos materiais e componentes da alvenaria.

As eflorescências podem alterar a aparência da superfície sobre a qual se depositam e,em determinados casos, seus sais constituintes podem ser agressivos, causando desagregaçãoprofunda, como no caso dos compostos expansivos.

Tabela 16.1. Fissuras Verticais – Principais Tipologias e Prováveis Causas

Configuração Prováveisda Fissura Ilustração Causas

Resistência à tração do blocovazado de concreto é superiorà resistência à tração daargamassa.

Resistência à tração do blocovazado de concreto é igual ouinferior à resistência àtração da argamassa.

Sob ação de cargasuniformemente distribuídas,em função principalmenteda deformação transversalda argamassa de assentamentoe da eventual fissuração deblocos ou tijolos por flexãolocal, as paredes em trechoscontínuos apresentarãofissuras tipicamente verticais.

Sendo constituída de materiaisporosos, o comportamento dasalvenarias será influenciadopelas movimentaçõeshigroscópicas desses materiais.A expansão das alvenarias porhigroscopicidade ocorrerá commaior intensidade nas regiõesda obra mais sujeitas à ação daumidade, como, por exemplo,cantos desabrigados,platibandas, base dasparedes, etc.

FISSURASVERTICAIS

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Tabela 16.2. Fissuras Inclinadas– Principais Tipologias e Prováveis Causas

Configuração Prováveisda Fissura Ilustração Causas

Em trechos com a presença deaberturas haverá considerávelconcentração de tensões nocontorno dos vãos. No casoda inexistência ousubdimensionamento de vergase contravergas, as fissuras sedesenvolverão a partir dosvértices das aberturas.

Devido a cargas verticaisconcentradas, sempre que nãohouver uma correta distribuiçãodos esforços através de coxinsou outros elementos, poderãoocorrer esmagamentoslocalizados e formação defissuras a partir do ponto detransmissão da carga.

Recalques diferenciados,provenientes, por exemplo,de falhas de projeto,rebaixamento do lençol, faltade homogeneidade do soloao longo da construção,compactação diferenciadasde aterros e influência defundações vizinhasprovocarão fissuras inclinadasem direção ao ponto ondeocorreu o maior recalque.

FISSURASINCLINADAS

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Tabela 16.3. Fissuras Horizontais – Principais Tipologias e Prováveis Causas

Configuração Prováveisda Fissura Ilustração Causas

As fissuras horizontais nasalvenarias, causadas porsobrecargas verticais atuandoaxialmente no plano da parede,não são freqüentes; poderãoocorrer, entretanto, peloesmagamento da argamassadas juntas de assentamento.Tais fissuras, contudo, não sãomuito raras em paredessubmetidas à flexocompressão.

Em alvenarias pouco carregadas,a expansão diferenciadaentre fiadas de blocos podeprovocar, por exemplo, aocorrência de fissurashorizontais na base dasparedes.

Na retração por secagem degrandes lajes de concretoarmado sujeitas à forteinsolação, poderá ocorrerfissuração devida aoencurtamento da laje queprovocará uma rotação nasfiadas de blocos próximos àlaje.

Devido a movimentaçõestérmicas, surgirão fissurasidênticas àquelas relatadas paraa movimentação higroscópicae retração por secagem. Estasserão mais intensas nas lajesde cobertura que poderão serevitadas com um cintamentomuito rígido ou sistema deapoio deslizante.

FISSURASHORIZONTAIS

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Para a ocorrência da eflorescência devem existir, concomitantemente, três condições:existência de teor de sais solúveis nos materiais ou componentes, presença de água e pressãohidrostática necessária para que a solução migre para a superfície. Desse modo, para se evitar aocorrência da eflorescência deve-se eliminar uma dessas três condições, sendo, portanto,necessário identificar a origem de cada uma delas.

Com relação à origem dos sais, a Tabela 16.4 apresenta uma relação da natureza químicados sais solúveis e suas prováveis fontes.

Com relação à segunda condição para existência de eflorescência, nota-se que a água podeser proveniente da umidade do solo; da água de chuva, acumulada antes da cobertura da obra, ouinfiltrada por meio das alvenarias, aberturas ou fissuras; de vazamentos de tubulações de água,esgoto, águas pluviais; da água utilizada na limpeza e de uso constante em determinados locais.

Por fim, com relação à pressão hidrostática, verifica-se que o transporte de água por meiodos materiais e a conseqüente cristalização dos sais solúveis na superfície ocorrem porcapilaridade, infiltração em trincas e fissuras, percolação sob o efeito da gravidade, percolaçãosob pressão por vazamentos de tubulações de água ou de vapor, pela condensação de vapor deágua dentro das paredes, ou pelo efeito combinado de duas ou mais dessas causas.

Tabela 16.4. Natureza Química das Eflorescências

Composição Química Fonte Provável Solubilidade em Água

Carbonatação da cal lixiviadaCarbonato de Cálcio da argamassa ou concreto. Pouco solúvel

Carbonatação da cal lixiviadaCarbonato de Magnésio de argamassa de cal não- Pouco solúvel

carbonatada.

Carbonatação dos hidróxidosCarbonato de Potássio alcalinos de cimentos com Muito solúvel

elevado teor de álcalis.

Carbonatação dos hidróxidosCarbonato de Sódio alcalinos de cimentos com Muito solúvel

elevado teor de álcalis.

Hidróxido de Cálcio Cal liberada na hidratação do Solúvelcimento.

Sulfato de Magnésio Água de amassamento. Solúvel

Sulfato de Cálcio Água de amassamento. Parcialmente solúvel

Sulfato de Potássio Agregados, água de Muito solúvelamassamento.

Sulfato de Sódio Agregados, água de Muito solúvelamassamento.

Água de amassamento, limpezaCloreto de Cálcio com ácido muriático. Muito solúvel

Cloreto de Magnésio Água de amassamento. Muito solúvel

Cloreto de Alumínio Limpeza com ácido muriático. Solúvel

Cloreto de Ferro Limpeza com ácido muriático. Solúvel

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Quanto à remoção das eflorescências sobre a superfície da alvenaria, esta só poderá serrealizada após a eliminação da causa da infiltração de água (umidade) e secagem do revesti-mento, sendo então procedida escovação da superfície e, se necessário, reparo de eventual re-gião com pulverulência.

16.3.1.3. Infiltrações de água. Entre as manifestações mais comuns referentes aos problemas deumidade em edificações encontram-se manchas de umidade, corrosão, bolor, fungos, algas, liquens,eflorescências, descolamentos de revestimentos, friabilidade da argamassa por dissolução de com-postos com propriedades cimentíceas, fissuras e mudança de coloração dos revestimentos.

Há uma série de mecanismos que podem gerar umidade nos materiais de construção, sendoos mais importantes relacionados a seguir:

– absorção capilar de água;– absorção de água de infiltração ou de fluxo superficial de água;– absorção higroscópica de água;– absorção de água por condensação capilar;– absorção de água por condensação.

Nos fenômenos de absorção capilar e por infiltração ou fluxo superficial de água, a umi-dade chega aos materiais de construção na forma líquida; nos demais casos a umidade é absor-vida na fase gasosa.

A infiltração de água pode ser agravada pela ação combinada do vento (pressão), da dire-ção e da intensidade tanto da chuva como do vento, além das condições de exposição da alve-naria. Eventuais anomalias, principalmente fissuração da parede, irão contribuir sobremaneirana gravidade das manifestações patológicas decorrentes.

Infiltração pelos componentes da alvenaria

Na fase de projeto é necessário analisar os seguintes itens, visando a minimizar os efeitosadvindos da penetração de umidade:

– orientação das fachadas em relação aos ventos predominantes;– detalhes arquitetônicos e técnicos das fachadas e muros, tais como frisos, pingadeiras,

rufos e contra-rufos, beirais, platibandas, tipo de cobertura e respectivos detalhes, juntasde movimentação ou de controle em paredes e muros externos e respectivos materiaisde selagem das mesmas;

– intensidade e duração das precipitações na região da edificação;– conhecimento das propriedades dos materiais constituintes das alvenarias, quanto a

higroscopicidade, porosidade e absorção de água.

Infiltração pelas juntas de assentamento

A infiltração de água pelas juntas de assentamento pode acontecer por falhas na argamassade assentamento, na interface argamassa–bloco vazado de concreto e pela própria argamassade assentamento. As diversas causas geradoras constam da Tabela 16.5.

Infiltrações relacionadas a outros fatores

Na fase de projeto devem ser adotados determinados cuidados de modo a minimizar asinfiltrações de água.

As chuvas, sob pressão do vento ou não, provocam a formação de lâminas de água queirão escorrer sobre as fachadas. Portanto, para garantir a estanqueidade e minimizar adeteriorização do revestimento, deverão ser adotados alguns detalhes construtivos, comopingadeiras, molduras, cimalhas, peitoris e frisos, visando a dissipar concentrações de água.

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A geometria das fachadas deverá ser estudada de modo a evitar que o fluxo de água sedirija para pontos vulneráveis, como juntas e caixilhos, permitindo que o próprio fluxo de águafaça a limpeza do paramento impedindo a deposição de fuligem e empoçamento de água. Asprumadas externas de águas pluviais, em tubo de PVC, galvanizado ou zinco, em geral são fi-xadas da alvenaria. Caso a superfície da parede apresente irregularidades, o que é normal, aprumada e a alvenaria se tocarão em certos locais, e a sujeira, como pó e folhas, se acumularáformando deposições que reterão na alvenaria a umidade proveniente da chuva.

Pode ser que não ocorram infiltrações se a alvenaria estiver em uma fachada ensolarada.Porém, não é possível descobrir a tempo as infiltrações, e podem surgir problemas sérios antesque se perceba a causa.

A utilização de espaçadores entre o parafuso de fixação e a prumada evitará possíveispontos de contato e, portanto, o acúmulo de sujeira e umidade.

Deve-se evitar que os parafusos de fixação sejam introduzidos diretamente nas argamas-sas de assentamento dos blocos, a fim de impedir que ocorram preferenciais de penetração deumidade.

É fundamental que se façam verificações periódicas do estado da tubulação, quanto aeventuais entupimentos, perfurações, corrosão e estado da pintura, se for o caso.

A elaboração de projeto de isolação térmica e impermeabilização das lajes é essencialpara que se obtenha desempenho satisfatório das alvenarias, evitando dessa maneira a ocorrên-cia de trincas em alvenarias e de infiltrações de água pelas fissuras do revestimento, ou pordeficiência da impermeabilização.

É conveniente que sejam evitados detalhes que favoreçam o acúmulo de água. Assim,não devem ser utilizadas seções em “U” desprovidas de pontos de drenagem em sistemas decaptação de água pluvial de coberturas.

As superfícies horizontais devem ter inclinação de pelo menos 1%. Este caimento seráprevisto de modo que a água verta para o exterior da obra. Além disso, deverão ser tomadoscuidados especiais de manutenção, a fim de que os pontos de drenagem não fiquem obstruídose permitam que a água de telhados e balcões verta distante da obra.

Os ralos e respectivos condutos de captação de água devem ser dimensionados correta-mente, evitando vazamentos e encharcamentos de platibandas.

Tabela 16.5

Anomalias Causas Geradoras

Fissuras verticais contínuas na argamassa deassentamento.

Fissuras horizontais e verticais (tipo escada). As principais causas geradoras foram analisadasno item 16.3.1.1.

Fissuras horizontais.

Fissuras na própria argamassa de Retração hidráulica da argamassa — argamassaassentamento. excessivamente rígida — baixa retenção de

água da argamassa.

Deficiência de execução (espessura elevada daFissuras na interface argamassa de argamassa � 1,0 cm — blocos excessivamente

assentamento–bloco vazado de concreto. secos ou com contaminação), — argamassacom baixa retenção de água.

Argamassa preparada com excesso de água deInfiltração pela argamassa. amassamento (elevada porosidade e

permeabilidade à água).

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Os caixilhos podem constituir um ponto vulnerável às infiltrações de água, uma vez queapresentam problemas de estanqueidade.

As janelas devem ser submetidas a ensaio, a fim de se detectar eventuais pontos susceptíveis ainfiltrações de água para que sejam procedidas as devidas correções no projeto, de modo que se obtenhaperfeita vedação e se evite, dessa forma, a penetração de água, que poderá gerar quadros patológicos.

Os ensaios de desempenho quanto à estanqueidade ao ar e à água e quanto à resistência àcarga de vento são realizados conforme metodologias específicas, discriminadas, respectiva-mente, nas normas brasileiras NBR 6485, NBR 6486 e NBR 6487.

O ensaio visa a simular condições de exposição a chuvas com vento e ao vento simples-mente, com a aplicação de pressões equivalentes a velocidades de vento determinadas seguin-do as isopletas de vento, específica para cada região.

16.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A normalização exerce papel preponderante no desempenho de países altamente indus-trializados, como Alemanha e Japão. Essas nações, que após a II Guerra Mundial construíram,partindo do nada, todo seu parque industrial e são hoje grandes potências industriais, utilizandoa tecnologia como força motriz e tendo como lastro as Normas Técnicas como forma de garan-tir os graus de capacidade e qualidade requeridos.

Portanto, devemos incentivar o processo de normalização do setor, visando a fornecersubsídios técnicos aos projetistas, engenheiros, arquitetos, construtores e usuários, de modo aobter melhorias de qualidade e, conseqüentemente, redução de anomalias.

O desenvolvimento e o poder de um país estão condicionados ao uso adequado da tecnologia.Se não houver educação, não há acesso à tecnologia; sem a tecnologia, não se consolida,

não se legitima, nem se perpetua o poder de uma Nação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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