8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 1/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 2/373
Que livro Tenho a convicção
de
que nossa cultura conhecerá o evangelho por meio de
cristãos que individualmente compreendem e vivem cada aspecto de suas vidas diante da face de
Deus como um ato de adoração. Darrow Miller criou algo de muito valor ao nos ajudar a compreender
e aplicar o evangelho em todas as áreas da vida.
Tyler Johnson
Diretor da Surge School for Transformational Leadership
Darrow Miller adapta como ninguém a visão do reino de Deus às realidades e exigências
essenciais do reino. Esteja avisado Enquanto lê este livro, talvez você se sinta confrontado e
compelido a viver de acordo com o autêntico estilo de vida do rei-no de Deus. Mas por que alguém
aceitaria menos que isso?
Phil A rendt
Diretor do Ministrv Development. Partners International
O trabalho de Darrow sobre cosmovisões é mais completo e prático do que tudo o que
já vi até o momento. A questão merece um sério estudo e implementação por aqueles que desejam
reposi-cionar seu trabalho ou empresas para o propósito de estabelecer o reino de Deus. Uma
referência útil para pastores e líderes de ministério, este livro será valioso em seu esforço de
edificar os crentes a serem efetivos e frutíferos... onde quer que trabalhem. Por trás do texto de
Darrow, há um grande coração de pai voltado para o discipulado das nações. Tenho o privilégio de
vê-lo em ação tanto na Ásia quanto na África.
Seelok Ting
Consultor e Facilitados, GroLving Change Agents' . for the Workplace, Malásia
Darrow Miller transmite uma mensagem profética. Em vez de enfocar os sintomas de
uma cultura doentia, Darrow conduz seus leitores à causa da questão. Ele desafia as suposições
da atualidade e nos convida a analisar profundamente os princípios fundamentais dados por Deus
para assegurar a verdadeira saúde em todas as áreas da vida. O convite é estar plenamente
engajado em todas as áreas da cultura como embaixador do Deus Vivo.
David Collins
Fundador do Paradigm Ministries
O maravilhoso - ainda que crítico - pano de fundo deste livro consiste no fato de que tanto
o autor quanto suas palavras foram "postos à prova" por décadas. Aqueles que buscam chaves
para aplicar o evangelho do reino em todas as áreas da vida, em vez de se fechar entre as quatro
paredes do prédio da igreja, certamente serão equipados por meio desta obra. Os conceitos deste
livro
e
suas aplicações são indispensáveis para os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo.
Mark R. Spengler
Diretor Executivo do Center for Law and Social Strategv, Kailua-Kona, Havaí
Vocação desmascara nosso pensamento e comportamento dualista ao mesmo tempo em
que nos encoraja ao fornecer uma estrutura prática para aplicação do pensamento bíblico correto
à vida como um todo, inclusive em relação ao trabalho. Os empresa-rios cristãos de todas as áreas
poderão enxergar como sua vida de trabalho e sua vida cristã podem ser reconectadas, alcançando
mais realização pessoal enquanto contribuem para o avanço do reino de Deus. Habilidades e
experiências adquiridas no percurso profissional fazem parte do trabalho de uma vida toda, o qual
entrelaça nossas vidas e profissões para cumprir os propósitos de Deus em vez de separá-las em
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 3/373
duas esferas distintas: secular x sagrado. Que libertação advém do entendimento do valor eterno
que nosso aparente trabalho secular pode contribuir para o plano de Deus
John Bottimore
Executivo de Vendas Aeroespaciais Internacionais
A compreensão de que o trabalho é urna vocação a ser realizada para a glória de Deus e o
serviço às pessoas deu-me um firme fundamento para o meu trabalho de desenvolvimento entre
as comunidades carentes do Brasil. Pessoalmente. é uma experiência libertadora compreender o
trabalho como um alto chamado, basca-do em quem Deus é como trabalhador, e executá-lo como
um ato de adoração. Em relação às comunidades. o ensinamento de Dar-row nessa área é a base
para o verdadeiro e duradouro desenvolvimento.
Mauricio J. Cunha
Centro de Assistència e Desenvolvimento Integral (CADD Brasil
Darrow Miller explica que Cristo se tornará Senhor de todas as coisas quando todos os
seus seguidores submeterem suas vidas por completo ao Seu Senhorio.
Vishal Mangalwadi
Autor de Verdade e Trans fOrma
cão
Vocação é cheio de uma verdade instigante. experiências tocantes e um chamado compassivo
a manifestar o reino de Deus em todas as esferas da vida. Ler esta obra completamente ou ape-nas
mergulhar em alguns capítulos é uma oportunidade de rever nossa agenda de trabalho e de vida
com uma perspectiva bíblica inspiradora. conectando nossa história à história do Pai de maneira
prática e redentora.
Roberto Rinaldi Jr.
Empresário da ProBusiness - Empresa de Consultoria. Brasil
O livro de Darrow traz esperança às nações, equipando a igreja com conhecimento
prático de como a Bíblia fala a cada setor da cultura e da sociedade. Como profissional na área de
desenvolvimento atuando na Ásia Central, tenho testemunhado como ensinar_ entender e
implementar uma cosmovisào bíblica impacta as atividades de nosso programa. Isso inspirou
e
transformou os líderes e membros da igreja como um todo. além de ter capacitado o corpo de
crentes a mover-se para fora da igreja local trazendo esperança e
cura a sua comunidade e nação.
Conheço Darrow Miller e venho trabalhando com ele na Ásia Central há mais de uma década. Este
livro é resultado de anos de sucesso na promoção
de
transformação.
Robert C. Hedlund
Presidente e Fundador da Joini Development Associates International. Inc.
Vocação mudará sua cosmovisão acerca cio que devemos fazer na Terra até a volta de
Jesus. Este livro faz você se levantar e
viver mais propositadamente a fim de alcançar o máximo
potencial possível para sua esposa, esposo. filhos. pais, sociedade e para Deus. Vocação descreve
fé e ação como se complementando mutuamente. Quando elas caminham juntas, vivemos
entusiasticamente (do grego en-Theós. Deus em você). Leia este livro repetidas vezes
e comece a
transformar sua sociedade promovendo mudanças neste lindo e abundante mundo.
Andy Budi Janto Sutedja
Diretor Presidente do PT Succe.ss Motivation Instante, Indonésia
Representante da Disciple Nations Alliance, Indonésia
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 4/373
Deus está falando claramente
e
globalmente com o corpo de Cristo em relação à tarefa de
discipular nossas comunidades
e
servir a Deus 24 horas por dia, sete dias por semana em cada área
de nossas vidas. Daqueles que Deus tem chamado para ser precursores, poucos falam com mais
autoridade
e experiência do que Darrow Miller. Por décadas ele tem buscado a Deus e servido às
tribos e
nações com sua mensagem. Qualquer pessoa que tenha sério interesse no processo de
redescoherta da mensagem bíblica para as nações incluirá este livro a sua lista de leitura.
Landa L. Cope
Diretora Executiva do The Template Institut)
,
Autora de The Old Testament Template
Na contramão da concepção limitada e individualista do evangelho que infelizmente é
pregado em muitas igrejas evangélicas, Miller oferece uma descrição acertada e revigorante do
evangelho do reino. Ele apresenta uma visão de como conectar o todo da vida e do trabalho ao nosso
glorioso futuro sobre a Nova Terra. Vocação alarga visão e paixão por assumir nosso grande chamado
de fazer cultura, unindo-nos ao Rei Jesus em Sua missão de restaurar nosso arrasado planeta.
Amy L . Sherman
Diretora do Center on Faith in Communities
Membro Sênior do Sagamore Institute for Policv Research
O livro de Darrow verdadeiramente merece o status de clás-sico. Espero que ele se
torne o "padrão" na área. Nenhum outro livro integra a cosmovisão bíblica com o tópico do
trabalho com tanta profundidade, amplitude e equilíbrio.
Christian Overman
Diretor Fundador do Worldview Matters
Meu colega de ensino Darrow Miller tem um dom. Esse dom consiste em abordar um
problema complexo. defini-lo em linguagem acessível e, em seguida, inspirar àqueles que o lerem
a fazer sua parte no mundo. Vocação é uma chamada à ação para todo discípulo verdadeiro.
Bob M offitt
Presidente da The Harvest Foundation
Darrow Miller possui uma compreensão excepcionalmente clara e bíblica sobre Deus e
o ser humano, criação e
cultura, igreja e sociedade, e de como todos esses elementos devem se
relacionar mutuamente em uma cosmovisão bíblica. Ele compreende que homens e mulheres.
criados à imagem e semelhança de Deus, devem ser projetistas, construtores, cultivadores,
administradores, professores, artistas, músicos e comunicadores. O ministério cristão não ocorre
simplesmente na igreja - e sim na vida
Larry G. Sears
Guarda Florestal Americano (Aposentado) e Consultor cai Engenharia Florestal
Durante milito tempo. os cristãos têm construído e
mantido uma muralha de separação
entre o secular e o sagrado. Essa divi-são mítica resultou na incapacidade de muitas pessoas de
viver uma vida fundamentada na realidade de que todos vivemos em "ministério integral". 0 efeito
dessa barreira é a ausência da alegria e satisfação que experimentaremos quando seguirmos o
comando bíblico de "glorificar a Deus em tudo o que fazemos". Este livro funciona como uma
marreta contra essa muralha.
Tom Shrader
Fundador do Priority Living pr.
Arizona - Pastor de E11,11110 na East Valley Bihle Church
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 5/373
Gostaria que todo estudante lesse os capítulos de Darrow Mi I ler sobre cosmovisão em
operaçãoe
a necessidade dc se combater o dualismo
e
a dicotomia entre o sagrado e o secular. De
maneira brilhante. Darrom, demonstra como viver
e
trabalhar diante de Deus e por que é tão
importante compreendermos a teologia bíblica da vocação. Seu resumo da metanarrativa essencial
da Bíblia é apropriado e sua aplicação dela em questões culturais é exatamente a mensagem que
precisa ser ouvida.
Marvin Olasky
Reitor do The Kin
g
's Coll
e
,
e„New York - Editor Galé Mundial
Tendo trabalhado entre as pessoas mais pobres do mundo. Darrow Mi Iler tem
credibilidade quando escreve sobre as fontes da pobreza. Com
sua inteireza e gentileza de cos-
tume, ele expõe a base da cosmovisão do trabalho
e da criação dc riqueza.
Nancy Pearcey
Amora de l'eniatle Absoluta e (mimara de E
A
g
ora Como Viverennis?
Vôcação ensina os fundamentos para a transformação de nações. Neste livro você
descobrirá ferramentas para a renovação da cultura de cidades
e nações. Vocação contém os
fundamentos para cumprir a oração de Jesus para que venha o reino de Deus e seja feita a Sua
vontade na Terra.
Luis Bush
laciliradoi Internacional, lramsform World Connettion.s
Darrow passou sua vida tentando ajudar cristãos em todo o mundo a redescobrir o
conceito bíblico do reino de Deus. Como é trágico ser que a principal missão de Jesus Cristo (Lucas
4:43) está tão alheia a nossos pensamentos, afeições e comportamentos. Como é extraordinário que
Vocação nos apresente novamente à maravilha do reino e ao nosso papel nele Este livro é genuinamente
de Darrow: cheio de paixão. discernimento bíblico, penetrante análise e aplicação prática. Deve ser lido
por todo cristão no século XXI.
Brian Fikkert
Diretor vecutiro do ("mimeis' Center dói Ecanomic 1)evelopment,
Cmenim Collet
ie - Comam- de When Ilel
a
in
g
Hum
Vislumbramos a igreja unida em cada comunidade ao redor do mundo vivendo e proclamando
as boas novas de Jesus. Vemos igrejas aliadas buscando transformação. santidade e justiça para
indivíduos. famílias. comunidades, povos e nações. Tal visão exige uma significativa mudança na
cosmovisão dos cristãos em todo o mundo. Vocação articula muito bem essa cosmovisão, e será uma
grande ferramenta ajudando a moldar mentes. corações e estratégias em nossa comunidade global.
Geoff Tunnicliffe
Diretor /mei-tu/cio/m /
Executivo chefe da World Eu-an
g
elical Alliance
Finalmente eis um livro que captura o ensino fundamental sobre a cosmovisão que
Darrow Miller vem compartilhando tão efe-tivamente com líderes cristãos de todo o mundo por
tantos anos. O fruto de seu trabalho pode ser visto desde as montanhas do Nepal até as planícies
da África Ocidental. onde cristãos têm sido capacitados a ir além da construção de igrejas
e
têm
impactado suas comunidades por meio do que têm aprendido e aplicado.
Jane Overstreet
Presidente/Executiva ("re
li' da Derelopmem AsNociateç Internacional
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 6/373
As tempestades de areia seculares danificaram gravemente os nossos olhos espirituais.
Elas nos cegaram para que acreditás-serros que a busca do status é compatível com a busca do
reino de Deus. Temos prazer em tudo o que possuímos e marginal i-zamos o que o Senhor possui.
Muitos de nós declaramos amor ao Senhor ao mesmo tempo em que tratamos as pessoas com
desprezo. Essas tempestades de areia têm obscurecido nossa visão de maneira que não conseguimos
mais ver os padrões morais e éticos bíblicos como radicalmente diferentes dos padrões de Holly-
wood. O livro de Darrow Miller nos possibilita remover nossas cataratas espirituais
e
colocar em
seu lugar lentes para que vejamos as boas novas do evangelho.
John DeHaan
Diretor Executivo da Association gf
. Evangelical /Mei' and
Devei opinem O rga n Eat ion s, 1998-2006
Vocação é um sopro de ar fresco - um lembrete
e uma renovação da verdadeira visão
daquilo que os cristãos são chamados a fazer aqui nesta vida... Este livro reflete o contínuo
compromisso de Darrow com o evangelho na medida em que nos guia de maneira muito real e
poderosa em direção ao que Jesus disse sobre "trabalhar até que Ele volte".
Hank Giesecke
Presidente do Reach Out Mnistries
Três elementos são impressionantes em Darrow Miller: sua energia, sua paixão
e seu
amor por Cristo e pelas pessoas. Ele é alguém que pratica o que prega, aproveitando toda
oportunidade - durante o almoço ou enquanto caminha - para conduzir as pessoas para mais perto
do Redentor e inspirá-las a glorificar o Senhor em todos os aspectos de suas vidas. Deus seja
louvado por levantar tal homem em nossos tempos.
Fernando Guarany Jr.
Prafessor de Inglês como Língua Estrangeira e 1Laduior,
Instituto de Educação (riso: Imago Dei, Brasil
Conheço Darrow desde 1998
e
tenho utilizado seus materi-ais sobre cosmovisão
e
desenvolvimento em meus ensinos... Seu livro Discipulando Nações é leitura obrigatória
em
minhas classes. Darrow tem um dom singular de discutir
e escrever sobre seus tópicos de uma
forma desafiadora. transformadora, que muda as vidas de seus ouvintes e leitores. Eu mesmo sou
uma das pessoas que foram influenciadas e transformadas por seus escritos e discurso. Todos os
pastores e
líderes cristãos, assim como aqueles que atuam na academia, deveriam ler seus livros,
especialmente Vocação.
Reynaldo S. Taniajura
Docente na /H/•rua/fona/ Gradua/e
School of Leadership e na
Asian School (d
Development and Cross-Cultural Studies
O sonho de Deus é a "transformação global", e isso se tornará realidade quando as paredes
da igreja desmoronarem e os antigos paradigmas forem abolidos. O dia dos santos está chegando
quando todos os crentes estarão equipados para comunicar o reino todos os dias em todos os
lugares. Esse exército de Ezequiel 37 gerará transformação em cada aspecto da cultura. Se você
quer ser parte do sonho de Deus, leia Vocação de Darrow Miller.
Dave Gustaveson
Diretor da JOCUM Los Angeles e da Gobal largo Networls
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 7/373
OUTROS LIVROS DE DARROW L. MILLER
Discipulando Nações: O Poder da Verdade para Transformar Culturas,
com Stan Guthrie
God's Remarkable Plan for the Nations,
com Scott Allen e Bob Moffitt
God's Unshakable Kingdom,
com Scott Allen e Bob Moffitt
The Worldview of the Kingdom of God,
com Scott Allen e Bob Moffitt
Against All Hope: Hope for Africa,
com Scott Allen e the African Working Group of Samaritan Strategv Africa
On Earth As It Is in Heaven: Making It Happen,
com Bob Moffitt
The Forest in the Seed,
com Scott Allen
Nurturing the Nations: Reclaiming the Dignity of Women
in Building Healthy Cultures.
com Stan Guthrie
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 8/373
V O C A Ç Ã O :
Escreva sua assinatura
no universo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 9/373
Vocação: Escreva Sua Assinatura no Universo
Darrow L. Miller
Traduzido do oric.iinal em inglês
LifeWork: A Biblical Theology for What You Do Every Day
Copyright O 2009 hy Darrow L. Miller
Publicado pelo Instituto
e
Publicações Transforma em parceria com o DNA Brasil
Primeira edição: Fevereiro 2012
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida de forma alguma sem
a permissão escrita da editora. exceto nos casos de citações breves em artigos ou críticas.
A menos que indicada de outra forma, as citações bíblicas neste livro foram retira-das da HOLY
BIBLE. NEW INTERNATIONAL, VERSION®. NIVO. Copyright 973. 1978, 1984 hy Interna-
tional Bible Society. Used hy permission of Zondervan. All rights reserved.
Tradutores
Fernando Guarany
Joanita Tavares
Tradutores (porções)
Andréia Parente Teixeira
Nelson da Costa Monteiro Jr.
Revisores
Joanita Tavares
Andréia Parente Teixeira
Revisores (Porções)
Nelson da Costa Monteiro Jr.
Duleira Torres
Diagramação
a5 Impressões - Curitiba - PR
(41) 3053-6490
Capa
Hiago Angelusi
Coordenador Geral
M.Rodrigo Tapia P.
www.institutotransforma.org
(41) 3095-2269
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 10/373
Dedicado a Francis Schaeffer e Loren e Darlene Cunningham
Dr. Schaeffer tinha esperança de que Deus utilizaria o ministério L'Abri
para inspirar os cristãos a levar o evangelho a todos os setores da sociedade.
Seu sermão "Ocupem-se até que Eu Volte " foi a gênese de minha reflexão
sobre o assunto.
Loren e Darlene Cunningham fundaram a JOCUM (Jovens com uma
Missão) com uma visão parecida. O desejo de seus corações é levantar cristãos
que inundem os continentes com indivíduos construtores de nações.
Que este livro possa contribuir com suas esperanças e legados
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 11/373
SUMÁRIO
Prefácio
3
15
PARTE 1:
O PARADIGMA FALHO
1.
Cosmovisões em Ação
9
2.
Como Chegamos Aqui? O Dualismo na História da Igreja
43
3.
A Dicotomia Sagrado-Secular: Uma Cosmovisão Completa 65
4.
Um Senhor, Um Reino: Uma Parábola 79
5.Coram Deo: Diante da Face de Deus
87
PARTE
2: PRIMEIROS PASSOS EM DIREÇÃO À TEOLOG IA BÍBLICA DA VO CAÇÃ O
6.
A Necessidade de uma Teologia Bíblica da Vocação 105
7.
A Metanarrativa Essencial
111
PARTE 3: O MANDATO CULTURAL
8.
Cultura: Onde o Físico e o Espiritual Convergem
123
9.
Elementos do Mandato Cultural
135
10.
Queda, a Cruz e a Cultura
141
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 12/373
PARTE 4: VOCAÇAO
11.
Chamado: Vocação
153
12.
Chamado Geral: À Vida
161
13.
Chamado Particular: Ao Trabalho
173
14.
Características de Nossa Vocação
191
PARTE 5: A ECONOMIA DE NOSSA VOCAÇAO
15.
Mordomia: A Ética Protestante
209
16.
Economia da Doação: Compaixão Generosa
227
PARTE 6: NO MUNDO
I7. Reino Avança de Dentro para Fora
241
18.
Portões da Cidade 249
19.
Domínios
267
20.
Grande Mandamento
313
PARTE 7: IGREJAS SEM PAREDES
21.
Servindo como Guardiões dos Portões
43
22.Corpo de Cristo: Igrejas sem Paredes
351
2 3. Ocupem-se até que Eu Volte
65
Notas
373
Materiais Extras para Estudo e Aplicação
395
Sobre o autor
39
7
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 13/373
I 13
PREFÁCIO
A parábola dos talentos em Lucas 19 foi meu ponto de partida para
escrever este livro. (Essa parábola também é conhecida como a parábola das
minas ou das moedas de ouro, conforme a tradução.) Ao se aproximarem de
Jerusalém, Jesus utilizou essa parábola para ensinar seus discípulos sobre o
reino de Deus e para corrigir a visão distorcida que tinham - "que o reino de
Deus se havia de manifestar imediatamente" (Lucas 19.11). Assim, ele
comunicou uma nova maneira de compreender quem ele era, quem eles eram
e
qual era o objetivo de suas vidas e trabalho com relação ao reino de Deus. E
por meio disso ele também nos instrui e encoraja a viver e trabalhar ativamente
em e para o reino de Deus que está por vir.
Meu mentor, o falecido Francis Schaeffer - evangelista, apologista, profeta
à nossa geração e fundador do L'Abri - chamou minha atenção para a parábola
das minas muitos anos atrás, na época em que eu vivia e estudava no L'Abri da
Suíça. Isso me inspirou grandemente e, por muitos anos, a mensagem do meu
coração foi expressa em uma palestra intitulada "Ocupem-se até que Eu Volte "
- urna frase adaptada da parábola encontrada em Lucas 19.13 na versão João
Ferreira de Almeida Atualizada. Além disso, meus amigos Moses Kim. da
Universidade das Nações da JOCUM no Havaí, e o Dr. Robert Osburn, do
MacLaurin Institute na Universidade de Minnesota, desafiaram-me a
desenvolver e escrever estudos acerca de uma teologia bíblica da vocação.
Agora, após anos ministrando sobre esse assunto, chegou o momento de
transformar esses ensinamentos em livro.
Agradeço ao Dr. George Grant do Centro de Estudos King's Meadow
que, em um momento particularmente vulnerável na redação deste livro, ofereceu
sua equipe para dar assistência editorial a esta obra. Sem o encorajamento e a
ajuda do Dr. Grant, este projeto não teria sido concluído.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 14/373
14 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
A Cindy Bemn, Sarah Gammill. Lindsay Lavery e, especialmente, Mandie
Miller, que trabalharam incansavelmente neste projeto na área de pesquisa,
levantamento de dados, processamento de texto, verificação de fatos, e edição.
Ao meu colaborador
eamigo Scott Allen, que dialogou, criticou e contribuiu
com ideias para este livro.
A meu editor, Marit Newton, e meu publicador, Warren Walsh, da YWAM
Publishing, meu sincero agradecimento. O objetivo dessas pessoas foi me ajudar
a comunicar esta mensagem da forma mais clara e poderosa possível. Eles
ampararam minha visão, desejando que este livro fale às pessoas de maneira
tão efetiva que elas se tornem atuantes no processo de transformar essa visão
em urna realidade. O sucesso deste livro será em grande parte produto de seu
espírito visionário, trabalho duro, comprome-timento e parceria. Eles foram "além
do dever" para que Vocação pudesse vir à luz.
A centenas de pessoas que durante anos ouviram a apresentação oral
deste material, sob o título de Vocação e Teologia Bíblica da Vocação, e me
encorajaram a escrever este livro. Sua crença na importância desta mensagem
me fez prosseguir nos anos de trabalho deste projeto.
A Marilyn, minha amada esposa e parceira de vida, que, além de me
amar, passou incontáveis horas editando este livro.
Ao nosso Criador que conferiu propósito a nossas vidas, colocou-nos
neste pequeno planeta e nos chamou para sermos criadores de cultura para a
sua glória
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 15/373
I 15
INTRODUÇÃO
Alguns anos atrás, um missionário nas Filipinas encontrou-se com alguns
jovens que estavam pensando em aderir ao grupo de rebeldes maoistas. O
missionário perguntou ao líder daqueles jovens o que ele havia encontrado de
tão convincente no maoismo que não pudesse ser encontrado também no
cristianismo. A resposta do jovem veio com uma profunda crítica, não a Cristo
ou à sua mensagem, mas à realidade e à prática do cristianismo atual:
O maoismo nos oferece... quatro coisas essenciais: (1) uma visão
unificada e coerente do mundo, da história e da realidade; (2) uma meta
bem definida pela qual trabalhar viver e morrer; (3) um chamado a todas
as pessoas à fraternidade comum; e (4) um senso de compromisso junto à
missão de divulgar, aos que perderam as esperanças, as boas novas de que
existe esperança. O jato é que a fé cristã, em toda a sua beleza, parece ser
incapaz de nos oferecer uma visão como essa.'
Com muita tristeza o missionário observou aqueles jovens idealistas
virarem suas costas àquilo que conheciam como cristianismo e abraçarem algo
que os levaria à destruição. Mas por quê? Bem, eles podiam até ter ouvido as
boas novas do evangelho, mas não haviam visto o evangelho.
Por vezes, a igreja se ocupa na proclamação do evangelho, e se esquece
de demonstrá-lo. Dizemos as palavras, mas não as vivemos. Frequentemente
nossas vidas como cristãos são ineficientes porque reduzimos o evangelho às
boas novas para a eternidade, nos esquecendo das boas novas para hoje.
Repetidas vezes compreendemos nossas vidas como tendo duas partes distintas
e separadas: a parte espiritual da vida e o restante da vida, nosso tempo nas
atividades religiosas e nosso tempo na escola e trabalho. Reduzimos o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 16/373
16 1 v()cAcÃo: Escrer,
cristianismo à esfera pessoal e particular, vivendo nossas vidas diárias de maneira
pouco diferente das outras pessoas em nossa sociedade. Temos criado uma
igreja confortável, mas que é grandemente desengajada das realidades da vida
cotidiana no mercado de trabalho, no lar e no exterior. Portanto, temos falhado
em desvelar a verdade e a esperança do reino de Deus para milhões de pessoas
carentes de melhores respostas do que aquelas oferecidas por outras religiões
ou pelo secularismo.
Entretanto. há um mover entre alguns cristãos que se perguntam: Será
que o evangelho não deveria influenciar a vida corno um todo e ajudar a moldar
a minha nação? Será que o evangelho não deveria impactar o mercado de
trabalho, a minha profissão? Será que tenho mesmo que deixar meu emprego e
tornar-me missionário para que a minha vida valha algo no reino de Deus?
Um grupo crescente de pastores tem se perguntado: Será que não há
nada na igreja além de prédios, reuniões e programações? Como podemos
levar nosso povo para fora do prédio
e
para dentro do mundo onde estão as
necessidades e os necessitados? Será que a igreja não deveria influenciar a
sociedade? Por que será que as famílias, comunidades e sociedades estão
desmoronando quando existem tantos cristãos? Em nenhum outro momento
histórico existiram mais cristãos, mais igrejas, e igrejas tão grandes quanto hoje.
então, por que as sociedades estão tão fragmentadas?
Enquanto muitos cristãos e igrejas vivem felizes com suas existências
confortáveis e programações eclesiásticas, enquanto se satisfazem na
proclamação do evangelho, muitas pessoas - Os pobres, os céticos, as pessoas
com a mentalidade pós-moderna do início do século XXI - esperam por "ouvir"
com seus olhos. Palavras não bastam Essas pessoas querem ver a verdade, a
beleza e a justiça do evangelho diante de seus olhos. Porém, muitas vezes, a
igreja está bastante ocupada em proclamar o evangelho, mas não em vivê-lo
As mesmas coisas que os jovens filipinos e grande parte do restante do
mundo procuram - uma visão coerente da realidade, algo pelo que viver e morrer.
um
senso de comunidade e algo que traga esperança para os que a perderam -
nada mais são do que a razão pela qual fomos feitos
e
pela qual Cristo se
entregou: o reino de Deus. O mundo espera por ver o reino demonstrado por
meio de nossas vidas
e
em nosso trabalho diário.
UMA VISÃO CONVINCENTE
Você também foi feito para viver a mesmíssima coisa pela qual os jovens
filipinos ansiavam. Todos Os homens e mulheres foram feitos para viver na
realidade que Deus fez, a realidade do reino de Deus. Uma visão - uma visão
convincente - é uma das mais elementares necessidades humanas. Isso é
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 17/373
1 17
afirmado nas Escrituras: "Onde não há visão, o povo perece" (Provérbios 29.18).
A vida de cada um de nós é conduzida por algum tipo de visão. Mas nem todas
as visões são verdadeiras, tampouco são igualmente gratificantes.
Nossa visão vem de nossa cosmovisão. o modo como compreendemos o
universo e o nosso relacionamento com ele. Nossa cosmovisão molda nossos
valores
e
nossas decisões, nos dizendo o que há de mais importante em nossas
vidas. Por determinar o que vemos em nossas vidas e no mundo a nossa volta
e
a maneira como vemos, geralmente utilizamos o termo óculos para descrever
esse fator em nossa existência. São os óculos através dos quais olhamos o
mundo que determinam nossa visão da vida - e nossa visão para a nossa vida.
A cosmovisão através da qual vivemos nossas vidas nada mais é do que
a visão convincente pela qual Cristo viveu
e
morreu - o reino de Deus. Ele
descreveu sua visão como um logo: "Vim lançar fogo na terra; e que mais
quero, se já está aceso'?" (Lucas 12.49).
Será que a visão de Cristo impulsiona a igreja de hoje? E. Stanley Jones
(1884-1973), o maior missionário estadista à índia, com tristeza declarou: "A
igreja perdeu. A igreja perdeu [a visão bíblica de l o Reino de Deus'. Jones
descreve essa perda de visão como "a doença de nossa era".
Conforme a igreja adentra o século XXI, torna-.se grandemente dividida
em dois grupos, cada um com um entendimento muito diferente sobre o reino
de
Deus. O primeiro compreende o reino de Deus como místico, invisível, ce-
lestial e para o futuro. Esses cristãos declaram que Jesus é o Senhor de tudo.
mas seu reino somente afetará a vida aqui na Terra quando Cristo voltar no fim
da história. O segundo grupo, em contraste, entende que o reino de Deus deve
fazer a diferença aqui e agora. Entretanto, com muita frequência, essas pessoas
enfocam preocupações as sociais e políticas e a utilização de meios humanos
para estabelecer o reino de Deus agora com a exclusão do evangelismo e
aspectos futuros do reino. Cada uma dessas duas visões é equivocada e
incompleta.
De maneira bem simplificada, o reino de Deus existe onde quer que
Deus reine. Esse "onde quer que" não tem limite de tempo, lugar ou esfera. O
Deus Todo-Poderoso, que sempre foi, é e será, é Rei tanto dos céus quanto da
Terra. Ele é Senhor da história assim como da eternidade. Ele está vivo e
presente tanto na esfera espiritual quanto na material. E é muito importante que
entendamos, para o nosso propósito aqui, que é ele quem define, por sua própria
natureza, o que é verdadeiro, bom e belo. Como foi reconhecido pelos primeiros
cientistas modernos, embora por vezes esquecido posteriormente, mesmo as
"leis naturais" aparentemente impessoais vêm da mente divina - o modo corno
ele projetou nosso mundo para funcionar.
Infelizmente, em sua rebelião, os seres humanos perderam a habilidade
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 18/373
18 1 VOCAÇÃO:
Escrevo Nua assinatura no luaverso
de viver plenamente dentro da estrutura divina para a qual foram criados,
conforme o relato em Gênesis 3. O reino não se foi, mas, ao se rebelar contra
os seus caminhos, as pessoas acabaram perdendo até sua habilidade de vê-lo e
entendê-lo, ou seja, de se restabelecer dentro dessa estrutura. Em vez disso.
elas criaram vidas baseadas em uma ilusão da realidade que estava em acentuado
conflito com o reino de Deus. Distante da verdade da existência, esse reino
falso e esse retalho de mentiras era inevitavelmente um caminho de morte.
Contudo, Deus nunca abandonou sua criação a esse fracasso. A narrativa
bíblica relata Deus nos resgatando, revelando-nos a verdade sobre si mesmo e
nos chamando de volta ao seu reino e à verdadeira plenitude de vida com ele.
Por fim, ele faz o inimaginável e se lança ao coração de nossa existência ao
entregar seu próprio Filho, o qual revela da maneira mais plena sua natureza e
o significado da vida com ele. Com
isso, ele escancara a porta de retorno ao
reino. A mensagem introdutória de Jesus na Galiléia, e hoje para nós, declara
que "(...) É chegado o reino de Deus" - uma mensagem maravilhosa e atual -
"Arrependei-vos, e crede no evangelho [boas novas]" (Marcos 1.15). Superando
o peso do pecado que estava sobre nós
e
derrotando a morte, Deus nos tomou
pela mão e está nos levando, bem como nossas sociedades, de volta para o
reino. Este, que vem a ser nossa origem, nosso lar, deve ser habitado tanto no
presente como na eternidade. Jesus nos mostra o caminho; o Espírito Santo nos
dá a inspiração e o poder.
"É por essa visão que Jesus viveu, trabalhou, sofreu e morreu. E foi ela
que ele confiou aos seus discípulos"' e à igreja. Essa visão, de que o reino "é
chegado", caminhando em direção a um tempo de plena realização em toda a
criação no fim da história, é o tema central que permeia toda a Bíblia. É ela que
nos oferece "o mais poderoso símbolo de esperança"' na história da humanidade;
além de definir todo o poder de nossas vidas como crentes. Nossa vida como
cristão deve ser focada em crescer como cidadão desse reino, mantendo a
porta aberta para os outros e os ajudando a entrar por ela e, por meio de nossas
vidas, continuar a resistir e a superar o movimento "antiDeus" presente em
nosso mundo, movimento este que destrói vidas e obscurece o reino. O reino de
Deus é algo pelo qual vale a pena trabalhar, viver e morrer.
VISÕES ANÊMICAS
Infelizmente, a maioria dos cristãos de hoje vive suas vidas não pela
nítida, clara e verdadeira visão revelada pela cosmovisão do reino de Deus,
mas por visões distorcidas e anêmicas de outras cosmovisões. Essas visões
menores são disseminadas pelas culturas em que vivemos e crescemos.
A cosmovisão predominante no Ocidente é o secularismo ou o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 19/373
I19
materialismo ateísta. É através dela que a maioria de nós vive suas vidas. Essa
cosmovisão é a crença de que o universo não possui realidade espiritual - de
que ele é apenas um universo físico - daí sua correspondente compulsão
materialista para um consumo cada vez maior.
A cosmovisão que guia a vida e o trabalho das pessoas nos países em
desenvolvimento frequentemente deriva do animismo. Nesse sistema de crenças,
o universo é compreendido como algo essencialmente espiritual; nele os objetos
e
fenômenos do mundo natural possuem espíritos. Corno consequência, esta
cosmovisão tende a ser altamente fatalista, vendo todos os eventos como
predeterminados pelo destino e, portanto, inevitáveis e inalteráveis. Ela empobrece
nações inteiras moral, espiritual e materialmente, dando à vida pouquíssimo
significado ou propósito.
Conforme os chamados países desenvolvidos adentram o século XXI,
por vezes, nós ocidentais descobrimos que a cosmovisão secular tem reduzido
o trabalho a uma mera carreira e a vida a um infindável consumo de coisas.
Como resultado, vivemos sem esperança e propósito, e tanto nosso trabalho
quanto nossa vida possui pouco ou nenhum significado. As altas taxas de suicídio,
o alcoolismo, as drogas, a pornografia e o sexo, o divórcio e a crescente solidão
(mesmo em blocos de apartamentos lotados) são todos sinais da morte da alma
do ser humano. A vida e o trabalho das pessoas, da forma como Deus gostaria
que fossem, foram prejudicados. Quando vemos nosso valor sendo determinado
no mercado de trabalho pela quantidade de dinheiro que ganhamos, acabamos
por sacrificar o que há de mais valioso - família, amigos, casamento, comunhão
cristã - em busca de sucesso, prestígio, fama, poder e outras metas valorizadas
pelo mundo. Com
muita frequência, há uma relação direta entre nossa crescente
prosperidade material e
o aumento de nossa pobreza moral e espiritual.
Nos países em desenvolvimento também, tanto o trabalho quanto a vida
tem sido grandemente prejudicados em relação às boas intenções de Deus
devido à abordagem das pessoas. Por exemplo, em grande parte do mundo
animista (espírita) em desenvolvimento por onde viajo, o trabalho é visto como
uma maldição e a vida das pessoas é apenas uma questão de destino. Ambas
as crenças são causas de sofrimento físico e pobreza econômica. As pessoas
nesses contextos podem trabalhar arduamente, algumas de quatorze a dezesseis
horas por dia, mas recebem muito pouco como fruto de seu trabalho. Muitas
vezes também há pouca estima social por seu trabalho e pela contribuição que
eles fazem à sociedade.
Logo, tanto para as pessoas do mundo Ocidental quanto para aquelas do
mundo em desenvolvimento, a vida e o trabalho foram separados dos valores e
intenções práticos e diários do reino de Deus no mundo - os quais realmente
conferem ao nosso trabalho verdadeiro valor e significado.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 20/373
7
()
OCAÇÃO: le
,(Tera sua assinatura no universo
Essa separação marca a vida dos crentes também. Muitos cristãos
separam o trabalho da adoração: a vida é vivida em dois compartimentos
diferentes. O primeiro compartimento contém a vida religiosa e espiritual, que
ocorre na igreja no domingo. Nele os cristãos são bastante proati vos e
conscientemente engajados nas atividades cristãs. O segundo compartimento é
o do trabalho e
de nossas vidas na comunidade de segunda a sábado. Nessa
parte da vida, os cristãos são, na melhor das hipóteses, reativos. Na pior das
hipóteses, podemos ser altamente passivos, agindo na suposição de que o
cristianismo é espiritual e de que o reino é apenas uma realidade futura, não
uma existência presente. Enfim, não há conexão entre essas duas partes da
vida. Para muitos de nós, a Bíblia fala à parte espiritual da vida, mas são os
valores de nossa cultura nacional que governam a maior parte de nossas vidas.
Como consequência disso, indivíduos e nações inteiras não conseguem alcançar
seus potenciais dados por Deus.
O EMANUEL ESTÁ CHEGANDO AO QUIRGUISTÃO
Um dos hinos de Natal mais apreciados em todo o mundo, inspirado em
Isaías 7:14, é "Ó vem, ó vem, Emanuel". Ele reconhece a vinda do Cristo ainda
criança, a presença do próprio de Deus, que reinaria do trono de Davi. Isaías
9.6-7 expande essa revelação, declarando que "(...) o governo estará sobre os
seus ombros (...) [reinará] sobre o trono de Davi e no seu reino, para o
estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça. desde agora e para sempre
(...)". Buscando inspiração nesta passagem, este maravilhoso hino de Natal
inclui as seguintes linhas:
Sabedoria que é do além,
Ordena tudo aqui também
O bom caminho, vem mostra;
E como nele sempre andar
Certa vez no Quirguistão durante uma conferência para pastores,
estávamos em adoração à tarde, quando, durante o refrão de um hino em par-
ticular, surgiu no ambiente uma sensação tão forte que tive calafrios que corriam
para cima e para baixo em minha espinha. Por não entender russo, não compre-
endia o que os pastores estavam cantando com tamanha convicção. Assim,
perguntei ao tradutor: "O que eles cantam no refrão?", ao que ele respondeu:
"Emanuel está chegando ao Quirguistão ". Eles haviam vislumbrado, em meio
a sua pobreza e circunstâncias, em meio à fragmentação de sua nação, que a
profecia de Isaías era verdadeira. Há um bom futuro para o Quirguistão com o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 21/373
vindouro reinado do Emanuel; e esses líderes cristãos sabiam que podiam
contribuir para trazer o governo do reino de Deus para a sua nação.
RECONECTANDO NOSSAS VIDAS E TRABALHO
À MISSÃO DE DEUS
Os pastores no Quirguistão haviam enxergado palavras frequentemente
ignoradas na Oração do Senhor: "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade
assim na terra como no céu" (Mateus 6.10). É surpreendente como damos tão
pouca atenção a essa parte da oração de Jesus. Não obstante, aqui Jesus
claramente nos ensina a orar para que o reino de Deus venha à Terra assim
como já é no céu.
Não existe qualquer indicação aqui de que o processo será fácil. Sim, é
"chegado" o reino, a porta foi aberta para nós e Jesus é "o Caminho".
Entretanto, como Jesus diz a seus discípulos mais tarde: "E desde os dias
de
João, o Batista, até agora. o reino dos céus é tornado à força, e os violentos o
tomam de assalto" (Mateus 11.12). A violência não é necessariamente física
(ainda que seja assim para muitas pessoas ao redor do mundo), mas a
resistência contra o avanço do reino pode ser dura. De fato, ela começa
internamente, conforme enfrentamos velhos hábitos, antigas formas de pensar
e de responder às situações, e mesmo nosso senso condicionado acerca do
que é agir de maneira "inteligente" ou "tola". Os padrões enraizados pela
sociedade cedem menos facilmente ainda, às vezes se opondo com grande
força contra aqueles que saem do molde ou desafiam o status quo - e quase
sempre só cedem por meio dos esforços persistentes e concentrados das
pessoas durante um longo período de tempo.
Nesse sentido, a busca pelo reino é de fato uma batalha, com um novo
território sendo tomado em pequenos acréscimos e mantido, ou "ocupado", como
um lugar onde o reino de Deus está em operação, somente pela fidelidade
concedida pelo Espírito. Isso significa que os homens e mulheres que buscam
transformar suas vidas e suas sociedades pelo reino devem ser cristãos robustos.
Esta não é urna empreitada para fracos Todavia, a diferença entre os soldados
do mundo e os cio reino é grande. Enquanto os primeiros se fiam em força
muscular, tanques, armas e no poderio da tecnologia militar moderna, o cristão
que avança com o reino confia no exemplo de vida de Cristo, no poder do
Espírito Santo e em "toda a armadura de Deus... verdade... justiça... o evangelho
da paz... fé... salvação... e... na palavra de Deus" (Efésios 6.13-17). Avançar
não se trata de forçar a vontade de uma pessoa sobre as outras, mas sim de
conduzir pelo caminho de acordo com a visão do reino de Deus, como Cristo
nos conduziu, superando toda resistência que venha contra nós.
1 21
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 22/373
22 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no In/lut
- st)
Fazemos o trabalho de Cristo como igreja. seu "corpo em nosso mundo'',
e cada um de nós tem um papel a desempenhar nesse corpo e, portanto, na
vinda do reino de Deus. O apóstolo Paulo esclarece muito bem a questão:
Porque também o corpo não é um membro, mas muitos. Se o pé
disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixará de ser
do corpo. E se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo:
nem por isso deixará de ser do corpo. Se o corpo todo lOsse olho, onde
estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora
Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos
fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, porém, há muitos
membros, mas um só corpo. ( I Co 12.14-20)
Há grande variedade nos papéis que individualmente os cristãos
desempenham, mas cada um é indispensável na grande mobilização para o
avanço do reino de Deus. De fato, Paulo diz que o papel de cada pessoa é
especificamente designado por Deus para aquela pessoa e para o benefício do
corpo. Nenhuma pessoa, ou trabalho que seja ético, é mais santo, mais abençoado
ou mais consagrado do que outro. Todo cristão - não apenas os pastores, líderes
ou missionários cristãos - deve começar a reconhecer o significado de sua
própria vida e trabalho, os quais Deus projetou para ser parte integrante do
corpo e sem os quais o corpo fica incompleto. Nosso trabalho, o trabalho de
todos, é parte da missão de Deus na Terra, e isso inclui não somente nossa
"carreira" - apesar dela ser uma parte importante - mas todas as áreas da vida,
toda ocupação e atividade que fazemos.
A base comum para todos é a reconexão de nossas vidas e trabalho à
missão de Deus, seu reino vindouro - tornando-nos verdadeiramente o corpo de
Cristo, com o Cristo ressurreto sendo o cabeça. O reino para o qual trabalhamos
não virá em toda a sua glória somente quando Cristo retornar, de fato ele já "é
chegado" e é demonstrado hoje de maneiras substanciais por meio da vida e do
trabalho de cada cristão.
UMA FERRAMENTA PARA O CRISTÃO CONSCIENTE
O propósito deste livro é ajudar os cristãos a começar a reconectar suas
vidas e trabalho ao avanço do reino de Deus. Uma chave para alcançar isso é
o desenvolvimento de uma cosmovisão que nos capacite a entender nosso
trabalho, em termos de chamado e aptidão, e, portanto, nossas vidas mais
consistentemente como algo que glorifica a Deus. Esse processo transforma
nossas vidas e trabalho no que chamo de nossa Vocação - a relação da vida e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 23/373
123
do trabalho do indivíduo com Deus e com o desenvolvimento do seu reino.
Vocação é uma ferramenta para ajudar os cristãos, em todo o mundo, a
alcançar essa transformação. Assim eles poderão "levar o reino"' ao seu trabalho,
qualquer que seja ele, e, por consequência, influenciar suas culturas e sociedades.
Entre as pessoas às quais desejo alcançar de maneira específica com
este livro estão indivíduos que desejam ser o que chamo de cristãos do mercado
de trabalho, mas que questionam o valor ou a fidelidade dessa escolha. Milhões
de cristãos, especialmente no Ocidente, têm um senso de "chamado" ao mercado
de trabalho, para trabalhar em um dos então conhecidos como domínios seculares
da vida. O problema é que muitos desses cristãos aprenderam a pensar sobre
trabalho dentro de um cristianismo que ensina, ou implica, que, se você não
estiver no "ministério", você é um cristão de segunda categoria; em outras
palavras, você não é "espiritual". Assim, eles se sentem culpados em relação a
qualquer trabalho secular que estejam realizando. Outros, talvez havendo tor-
nado-se cristãos após iniciarem suas carreiras, abandonam o trabalho secular
mesmo sem saber se tal trabalho poderia ter sido seu chamado de Deus. Eles
são ensinados a deixar o "mundo" em busca de um trabalho que seja "espiritual".
Na Bíblia, essa dicotomia entre sagrado e secular não existe; o que existe é
apenas uma vida consagrada ou não.
O segundo público que particularmente desejo atingir é o de pastores,
ministros, obreiros de organizações não governamentais (ONGs), ativistas sociais
e
missionários que foram chamados a trabalhar entre os mais pobres do mundo.
Uma das maiores causas da pobreza no mundo em desenvolvimento é a mentira
de que o trabalho não tem sentido ou de que ele é até mesmo uma maldição.
Contudo, um dos principais componentes da cosmovisão judaico-cristã é a
dignidade do trabalho, e essa é uma das principais ferramentas para tirar as
pessoas da pobreza. Se você estiver trabalhando com pessoas carentes, minha
esperança é que você entenda que esses amigos e estrangeiros precisam muito
mais do que simplesmente dinheiro para resolver seus problemas; eles precisam
de Cristo e de uma maneira bíblica de ver o mundo - uma cosmovisão bíblica.
É necessário um esclarecimento nesse contexto. Muitas pessoas pobres
trabalham arduamente. Como disse anteriormente, muitas delas trabalham en-
tre quatorze e dezesseis horas por dia, mas a mentalidade cultural acerca do
trabalho geralmente as leva a duas situações. Primeiro, o fruto de seu trabalho
é roubado pelos outros por meio da corrupção, o que os deixa ainda mais pobres
ou até miseráveis. Segundo, a contribuição de seu trabalho à comunidade não é
reconhecida como algo significativo; assim, aqueles que trabalham são vistos
como tolos. Essas duas situações levam ao seu empobrecimento. Lembro-me
que muitos anos atrás, quando eu era um jovem cristão numa faculdade no sul
da Califórnia, tive a oportunidade de viajar à Cidade do México com um grupo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 24/373
24 1 vc)cAçÃo:
s i n u tu r a n o u n i w t s o
de outros estudantes, um pastor
e
sua esposa. A viagem de Mexicali até a
Cidade do México levou dois dias e três noites. Quanto mais adentrávamos o
México, mais pobreza avistávamos. Começamos a ver que a pobreza era nor-
mal na mentalidade social. E eu era um garoto da praia. salva-vidas, um americano
de classe média: jamais havia visto tanta pobreza. o que acabou me perturbando
profundamente.
Nunca me esquecerei de quando o trem se aproximou da Cidade do
México. Ele se aproximou vagarosamente (como os trens fazem perto do fim
de suas viagens) passando por uma imensa
e
horrenda favela. Consegui ver
bem pela janela e fiquei chocado ao enxergar uma multidão de pessoas vivendo
entre montanhas de lixo. Quando olhei mais
de
perto. percebi que eles haviam
construído suas "casas" com lixo. As janelas eram feitas
de
pneus de carros e
as portas de dezenas de latinhas amassadas e amarradas com barbante ou
pedaços de arame. Vi crianças remexendo o lixo e fiquei sabendo que estavam
procurando itens de valor para vender nas ruas. Foi como se alguém me houvesse
levado para outro planeta. se
tornando um momento decisivo em minha jovem
vida. Meu coração ficou despedaçado, o que me levou a chorar. Eu não havia
visto a pobreza apenas com os meus olhos: Deus me havia permitido vê-la com
meu coração. Eu sabia que no futuro não conseguiria virar as costas para tal
situação. Um forte desejo começou a crescer dentro de mim: quando o dia de
minha morte chegasse, eu veria menos dessa miséria no mundo. Eu não sabia
que um dia eu trabalharia para a Food for the Ilungry International' 1Alimento
para os Famintos], mas sabia que precisava fazer algo em relação à pobreza.
Portanto, o chamado para minha vida tem sido realizado não apenas
entre os cristãos do Ocidente. mas também no mundo em desenvolvimento.
onde diariamente as cosmovisões perpassam considerações muito práticas
acerca da pobreza e da fome. Tenho um grande compromisso tanto com os
cristãos no mercado de trabalho quanto com aqueles que labutam junto aos
pobres do mundo. Ambos buscam consciente. ou intencionalmente, ser cristãos.
O fato de você estar lendo este livro indica que quer viver sua vida como
cristão de forma intencional. Que este livro seja um encorajamento para você.
Infelizmente, como em toda geração. muitos cristãos são apenas nominais. Mas.
graças a Deus, você não está satisfeito em viver uma vida irreflexiva. Você
quer fazer perguntas difíceis e procurar as respostas nas Escrituras. Você é
intencional acerca de sua caminhada com Cristo e quer analisar o significado e
o lugar de sua vida e trabalho dentro do reino de Deus. Você quer pensar sobre
a sua fé e agir de maneira consciente com base nela. O objetivo deste livro é
ser uma ferramenta para você.
Cristãos intencionais. cada um à sua maneira. vivem no meio termo radi-
cal. Eles reconhecem o ensinamento bíblico de que o universo é tanto moral
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 25/373
1 25
quanto aberto'. É moral e, portanto, todos têm a responsabilidade de ser bons
mordomos do que Deus criou e de cuidar da comunidade, particularmente dos
pobres. E por ser "aberto", os recursos devem ser desenvolvidos e utilizados
para o avanço do reino de Deus neste exato momento. Esses cristãos também
reconhecem - ainda que intuitivamente - que Deus os chamou para fazer isso
no mundo e que eles precisam de muito mais ajuda e instrução para tanto do
que as que já possuem. Em Vocação eu tento oferecer justamente essa ajuda.
Também desejo que pessoas reflexivas. que têm começado a ponderar
sobre essas coisas. ou aquelas que ainda não responderam afirmativamente ao
chamado de Cristo se beneficiem ao explorar as questões relacionadas à vida e
ao trabalho a partir de uma perspectiva distintamente cristã.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 26/373
PARTE :
O PARADIGMA FALHO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 27/373
Capirulo I
COSMOVISÕES EM AÇÃO
A maioria dos adultos no mundo Ocidental passa a metade do tempo em
que estão acordados no trabalho. Em muitos países em desenvolvimento, o
número de horas gastas no trabalho é ainda maior. Porém, mesmo passando
todo esse tempo trabalhando, raramente refletimos sobre as perguntas: O que é
o trabalho? Por que trabalhamos? Na maioria das vezes, vivemos vidas
irreflexivas; fazemos as mesmas coisas que nossas mães e pais fizeram (em
alguns países isso acontece durante gerações) sem nenhuma explicação. O
simples fato de levar essas questões a sério pode criar uma reordenação radi-
cal em nossas vidas.
Como com todas as questões, as respostas são, no fim das contas,
determinadas por nossa cosmovisão'. Ela determina como vemos o mundo, o
tipo de vida que vivemos e o tipo de sociedade que criamos. Nossa cosmovisão
molda a maneira como respondemos às questões metafísicas que enfrentamos
- questões básicas sobre a natureza da realidade. Existe uma cosmovisão objetiva,
a cosmovisão da Bíblia. Todas as outras cosmovisões, em maior ou menor
escala, são uma distorção da realidade que Deus fez.
O PODER DA HISTORIA
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 28/373
30 1
VOCAÇÃO: Escrevo .s11(1 assinatura nn universo
Todos os seres humanos são seres sociais. Assimilamos nossa
mentalidade, nossa maneira de ver o mundo, a partir da cultura. Tendemos a
pensar da maneira que nossa cultura pensa e a valorizar aquilo que ela valoriza.
Isso é parte do que significa ser humano. Quando nos tornamos cristãos,
precisamos começar a ter nossas mentes renovadas. A palavra arrepender-se
- metanoeo no grego - significa literalmente mudar a mente de alguém.
Arrepender-se é começar a ver o mundo da maneira corno Deus o fez e a viver
e agir dentro dessa estrutura. Devemos ter a mente de Cristo: levar todo
pensamento cativo a ele; não devemos mais nos conformar ao mundo, mas sim
ser transformados pela renovação de nossas mentes'. Ao nos tornarmos cristãos,
precisamos começar a pensar "cristãmente". Precisamos ter cada vez mais a
mente de Cristo, não a mente que herdamos de nossa cultura.
As cosmovisões de nossas culturas, em grande parte, distorcem a
realidade, sendo assim inadequadas para nos mostrar a natureza de Deus, o
mundo e a nós mesmos como realmente somos. A menos que sejamos
intencionais acerca da renovação de nossas mentes de acordo com a
cosmovisão do reino, nossa cosmovisão cultural determinará, consciente ou
inconscientemente, o nosso conceito de trabalho. Além do teísmo bíblico, existem
duas importantes cosmovisões: o secularismo, que prescreve que a realidade é
apenas física, e o animismo que pressupõe que o universo é, em última instância,
espiritual. Infelizmente, a cosmovisão de grande parte do mundo evangélico,
carismático e pentecostal de hoje não é o teísmo bíblico, mas um subconjunto
da cosmovisão animista, um dualismo grego que divide a realidade entre o físico
e o espiritual, pressupondo que o espiritual é mais importante. Cada uma dessas
cosmovisões nos oferece uma visão empobrecida do universo, empobrecendo,
por sua vez, indivíduos, nações e sociedades inteiras. Testemunhamos isso tanto
nos países "desenvolvidos" quanto em países "em desenvolvimento", apesar de
a tendência seguir em muitas direções diferentes. De que maneira essas
cosmovisões podem estar moldando o seu entendimento de sua vida e trabalho?
SECULARISMO: O custo do consumo
Madre Teresa, originária de Calcutá - talvez uma das cidades mais pobres
do mundo em termos físicos - declarou que jamais havia visto tanta pobreza
quanto encontrara em Nova York. Ela compreendia a triste verdade: a sociedade
Ocidental, em sua maioria, abraçou a falência espiritual em troca do
desenvolvimento material.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 29/373
Cosmoviscie.s• em ação
1 31
SECULARISMO
O conceito de trabalho atual de boa parte do mundo Ocidental, inclusive
do Canadá e dos Estados Unidos, tem sido moldado pelo paradigma materialista
ou secular. Nessa cosmovisão, não há realidade espiritual, somente física. A
partir dessa perspectiva, qual a função do trabalho? É dar-nos acesso a coisas
materiais. O propósito do trabalho é nos permitir o consumo. O ser humano é
visto como um animal, altamente evoluído, mas que é essencialmente um
consumidor. Nesse paradigma, o homem não possui valor intrínseco. Não existe
um Deus em cuja imagem fomos feitos, atribuindo isso valor às nossas vidas.
Ao invés disso, nosso valor como seres humanos é determinado pelo que temos.
De acordo com essa cosmovisão, quanto mais consumimos, melhor é a nossa
vida. Como diz um ditado moderno: "Quem morrer com o maior número de
brinquedos é o vencedor ". Assim sendo, o sucesso no mercado de trabalho
significa subir cada vez mais na carreira, acumulando mais dinheiro ou poder
com o intuito de consumir cada vez mais.
Bem longe dos planos de D eus, o trabalho no O cidente é altamente utilitário
e interesseiro. Os objetivos são dinheiro, poder, lazer e realização pessoal. O
hedonismo reina: "Come, bebe e alegra-te que amanhã morrerás ".
O CUSTO DO CONSUMO
12
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 30/373
32 I vOCA0():
o
As consequências dessa visão da vida e do trabalho são sistêmicas tanto
para os indivíduos quanto para sociedades inteiras. O lar
e a comunidade são
diminuídos conforme o trabalho se torna o ambiente social primário. Sendo a
vida reduzida a ter coisas, as pessoas sacrificam aquilo que o dinheiro não pode
comprar - suas identidades espirituais, seus casamentos e seus filhos. suas
amizades e suas famílias - pelo sucesso no mercado
de
trabalho. fazendo o que
for preciso para progredir em suas carreiras. A verdade e a virtude dão lugar
ao pragmatismo. O profissionalismo substitui o caráter como a virtude mais
importante. Não há fundamento metafísico para a criatividade. O futuro
desaparece em nome do consumo presente. O serviço à comunidade é perdido
em nome do serviço ao eu. O cuidado com a criação é substituído pela violação
dos recursos em nome do consumo opulente. Em última instância, as pessoas
perdem seu propósito na vida, gastando não somente seu dinheiro (conseguido
com tanto esforço) como também todos os seus dias em algo que não pode
satisfazer a alma humana.
O crítico social Os Guinness descreve esse afastamento da cosmovisão
bíblica nas sociedades Ocidentais como a mudança de uma "economia de
chamado" para uma "economia comercial''. Entretanto, desde os tempos
medievais, houve um propósito mais amplo para a educação: enriquecer e formar
a pessoa interior tanto em termos de fé quanto da habilidade de pensar de
forma racional e abrangente sobre a vida e seus muitos elementos - crescer em
sabedoria assim corno em estatura. As primeiras universidades na Europa
foram fundadas como escolas da igreja, de lato. com
uma clara perspectiva
intencionalmente cristã na aquisição do conhecimento
e
do estudo. No início da
história dos Estados Unidos, as escolas eram fundadas não somente para ensinar
os três Rs (Nota do tradutor: Leitura. Escrita
e
Aritmética - Reading, wRiting.
aRithmetic.), mas também para preparar melhores cidadãos para o reino de
Deus. Os currículos faziam frequente referência à informação bíblica e à
instrução moral. Isso se estendeu à educação superior quando as primeiras
universidades americanas foram fundadas pelas igrejas, assim como seu;
predecessores europeus haviam feito. Elas eram uni lugar de treinamento para
os novos religiosos. bem como de preparação dos rapazes para outras finalidade,
sendo a maior parte das disciplinas e do treinamento intelectual vista como boa
base para qualquer direção na vida.
Entretanto, por volta do século XX, unia mudança começou a ocorrer no
entendimento de nossa sociedade em relação ao propósito da vida e o significado
do trabalho. Quer se reconhecesse, quer não. o propósito da vida foi reduzido a
trabalhar para que o indivíduo pudesse ser produtivo, assegurando que haveria
riqueza para consumo na sociedade. O mercado de trabalho tornou-se decisivo
na determinação do valor das pessoas. Aqueles que conseguissem ganhar muito
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 31/373
COSMOViSlies em (1001
3 3
dinheiro eram considerados mais valiosos que os que não conseguissem. Logo,
a razão de se ir à escola ou mesmo à faculdade e universidade era aprender e
crescer como pessoa para poder ter um emprego quando se formasse.
Quando o propósito de nossas vidas é assim definido e quando o nosso
valor é baseado na quantidade de dinheiro que ganhamos e no tamanho de
nossos contracheques, nós acabamos falidos. Nesse paradigma, o trabalho se
torna um deus, um ídolo; o bom impulso da humanidade ao trabalho diligente é
distorcido quando o trabalho é separado do Criador e do reino de Deus. O
trabalho se torna uma fuga das pressões de uma vida quebrada ou sem sentido.
As pessoas se tornam viciadas em trabalho como um meio de fugir de vidas
ocas, irreflexivas e sem propósito, e de sociedades empobrecidas moral,
intelectual e espiritualmente. Mas o elemento trágico de uma sociedade viciada
em trabalho é que, pelo fato de esse trabalho estar separado de Deus, ele se
torna igualmente sem sentido. O que chega com a promessa de nos dar satisfação
acaba acrescentando mais desespero.
Como cristãos do Ocidente, experimentamos o desespero e o
empobrecimento da nova economia comercial em vários graus, dependendo de
quão habituados estivermos com a cultura a nossa volta. Alguns de nós podem
estar, de certa forma, vivendo exatamente como nossos vizinhos sem perceber,
julgando as pessoas e a nós mesmos pela afluência de nossos estilos de vida e
inconscientemente dando valor indevido àquilo que o dinheiro pode comprar.
Podemos forçar a nós mesmos a rios equiparar aos outros em relação ao prestígio
de nossas carreiras ou à maneira pela qual construímos um estilo de vida
desejável ou corno sustentamos nossas famílias com todo o conforto. Podemos
nos encontrar continuamente insatisfeitos, sempre pensando que a vida será
melhor - de fato que a vida finalmente começará - se conseguirmos comprar
nossa própria casa, acrescentar mais um cômodo à nossa residência, mudar
para um bairro melhor, quitar a hipoteca, tirar aquelas férias dos sonhos ou nos
aposentar cedo. Em suma, sem percebermos podemos estar baseando nossos
objetivos, prioridades e planos em uma premissa falsa, esquecendo-nos do
irreconciliável choque cultural entre a cosmovisão das Escrituras e a cosmovisão
de nossa sociedade.
Por outro lado, podemos experimentar um grande nível de dissonância,
reconhecendo essas tendências culturais em nós mesmos e
nos sentindo
desapontados com o abismo entre o que cremos ser verdade e
a forma como
de fato vivemos nesse nível fundamental. Lutamos para realmente ouvir Jesus
nos dizendo: "Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo
que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo,
pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais
do que o vestuário?" (Mateus 6.25). Temos uma boa ideia de onde devemos
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 32/373
34 I
N'OCAcÀO: Escreva ma (Ksinalura no unia erso
estar e do que queremos ser; por isso, ficamos perturbados ao perceber o
quanto não somente estamos neste mundo, mas o quanto também somos dele.
Em relação às nossas necessidades materiais, Jesus disse: "Pois a todas estas
coisas os gentios procuram" (Mateus 6.32), e às vezes nós mesmos não somos
muito diferentes. Em urna cultura onde as expectativas materiais são altas, nós
também encontramos nossa família em luta, nossa conexão com a comunidade
comprometida. nossa identidade em Cristo incerta, e nossa própria identidade
sendo levada pelo vento. Além disso, nos vemos em desespero no abismo entre
o modo como pensamos que a vida deve ser e a falta de significado que às
vezes experimentamos. de forma profunda ou efêmera, por causa da repetitiva
mecânica para sustentar o status quo, o tempo todo sabendo que tantos a nossa
volta estão sofrendo - que nós e o mundo precisamos de algo radicalmente
diferente.
Não são apenas os cristãos que experimentam essa dissonância. Muitas
pessoas que conhecemos em nossas comunidades, universidades, locais de
trabalho e escolas infantis percebem que a vida é mais do que apenas consumir.
Eles buscam viver com propósito, de acordo com um conjunto de valores mais
profundos. Muitos são comprometidos em viver de maneira simples, em uma
rejeição direta ao materialismo da cultura. Estão se tornando mais "ecológicos".
Muitos estão trabalhando para construir urna comunidade mais saudável em
sua própria cidade ou no mundo. Eles são voluntários, ativistas, zelosos,
preocupados. Mesmo não sabendo que o reino de Deus é o que dará sentido ao
seu desejo e tratará da fragmentação presente em todo aspecto da vida humana,
eles conseguem sentir de forma clara a necessidade.
Muitos de nós experimentam essa dissonância porque essa carência -
essa falta - é real. Deus nos criou para um tipo diferente de vida. A vida que
experimentamos
e
tudo o que sabemos sobre nós mesmos simplesmente não se
encaixa com o paradigma materialista secular.
Como cristãos em meio a urna cultura materialista, partilhamos com muitas
ressoas de uma desenfreada fome por um convite contracultural do Criador do
universo, que conhece como e por que nos criou. "Vós, todos os que tendes
sege. vinde às águas. e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei;
sim. vinde e comprai. sem dinheiro e sem preço. vinho e leite. Por que gastais o
dinheiro naquilo que não é pão e o produto do vosso trabalho naquilo que não
-coce satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e deleitai-vos
com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma
vivera..." (Isaías 55.1-3).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 33/373
Cosmovisões em ação
135
ANIMISMO: A maldição do destino
Bilhões de pessoas no mundo em desenvolvimento também esperam por
ouvir esse convite aberto do Criador e Salvador do universo. Alheios à sua
verdadeira identidade e ao real caráter de Deus e sua criação, eles também
estão experimentando a morte da alma do ser humano, além da morte de seus
próprios corpos.
Em muitos dos países materialmente empobrecidos, existem pessoas
preguiçosas, assim como em qualquer outro lugar. Mas a esmagadora maioria
trabalha arduamente, por horas a fio, recebendo pouco retorno. Mesmo os
jovens graduados em faculdades se veem diante de economias estagnadas,
com poucas oportunidades de trabalho. Outros encontram empregos no setor
público o qual em nada se utiliza de seus grandes talentos.
Boa parte da culpa pela estagnação dessas economias pode ser posta no
comp ortamento ganancioso e corrupto dos o ficiais do governo e do s mercantilistas
e caciques que controlam a economia. Esse comportamento é institucionaliza-
do em leis e estruturas que são contra a liberdade, tirando dos pobres os frutos
de seu labor ou roubando sua oportunidade de trabalho. O estilo de liderança
autocrático suprime a iniciativa, a inovação e a criatividade. As economias
controladas e a corrupção desenfreada enfraquecem a iniciativa econômica. A
ausência de direitos de propriedade e da proteção dos direitos autorais impede
os árduos trabalhadores de desfrutar de sua merecida recompensa.
Tudo isso advém de uma cultura de corrupção onde o suborno é uma
forma de vida, na qual os aspectos morais ou metafísicos não são considerados.
Por baixo dessas culturas frequentemente se encontra o sistema de crenças
animista, no qual tudo na natureza possui um espírito. Nessa perspectiva, a
responsabilidade moral é retirada do ser humano; as pessoas estão nas mãos
do "destino" ou nas mãos de espíritos indiferentes, e até mesmo hostis. Vistos
através dessa lente fatalista, a razão e os esforços para aumentar o entendimento
e a habilidade para afetar ou utilizar os recursos naturais possuem pouco valor
aparente. De acordo com essa cosmovisão, o trabalho é uma maldição do destino,
contribuindo apenas para a desgraça do ser humano. É uma labuta. Trabalhamos
para sobreviver.
ANIMISMO O Novo PAGANISMO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 34/373
36 1
VOCAÇÃO:
Es
creva suo assinatura no universo
Lembro-me de ter conhecido um jovem do oeste da África após um
ensino sobre esse assunto. Ele me disse: "Tenho um exemplo para você. Em
meu país, todos os jovens querem ir para a universidade com o intuito de se
formar e depois conseguir um 'emprego de gravata'". O que esses jovens querem
é um emprego público no qual possam trabalhar em um escritório com ar-
condicionado, dirigir um carro com ar-condicionado e receber um contracheque
sem realmente ter que trabalhar. E o jovem estava falando sério quando disse
isso. Em boa parte do mundo em desenvolvimento, as pessoas veem o trabalho
desta forma: uma maldição da qual se deve fugir.
A MALDIÇÃO DO DESTINO
Em alguns países em desenvolvimento, encontramos homens com as
unhas do dedo mínimo compridas como uma demonstração de seu desdém pelo
trabalho. Devido ao fato de ser possível realizar vigorosos trabalhos físicos e ao
mesmo tempo ter longas unhas, eles comunicam ao mundo a mensagem de que
estão acima do trabalho manual - de que são da elite. Quando o trabalho é uma
maldição, nosso desejo é colocar outras pessoas para cumprir nossas obrigações
por nós. Em muitos países onde existe aristocracia, os aristocratas existem
porque há uma visão inferiorizada do trabalho. Por crerem que o trabalho é
ruim, os aristocratas possuem escravos e
servos para realizar o trabalho que
seria deles. Essa cultura de pobreza pode ser encontrada também na antiga
União Soviética. Dois provérbios russos ilustram essa ideia: "O trabalho ama os
tolos" e "Pessoas espertas não trabalham"4 .
Certa vez, eu estava conversando com uma amiga da Venezuela, Xiomara
Suarez, quando ela disse: "Darrow, eu tenho urna música para mostrar a você";
e
então a cantou para mim. Um ano depois, estávamos em uma conferência
e
pedi que Xiomara cantasse aquela canção, pois ela ilustrava a atitude de seu
país em relação ao trabalho. Quando ela começou a cantar em espanhol, pessoas
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 35/373
Cosmorisoes em ação
I 37
de outros quatro ou cinco países de língua espanhola imediatamente se uniram
a ela. Eu havia pensado que aquela canção era apenas venezuelana, mas, ob-
viamente, era uma canção conhecida em todo o mundo de língua espanhola. A
canção se chama "O Negro de Batei".
Chamam-me de negro de Batei
Porque para mim O "trabalho" é inimigo
Todo trabalho eu deixarei para o boi
Pois eus fez o trabalho como castigo [grifo
meu].
Você consegue imaginar uma cultura inteira entoando essa canção o
tempo todo? O trabalho é um castigo? Para que serve o trabalho? Para os
animais, não para os seres humanos.
Gosto de dançar esse merengue
Dançar com uma negra bonita
Gosto de dançai; a noite inteira, pra lá e pra cá
Dançar agarrado com minha negra bonita.
Gosto de dançar merengue,
Merengue é melhor do que trabalho
Pois ter que trabalhar
Me causa grande dor (grifo meu].
Por que algumas nações são pobres? Quando se acredita que o trabalho
é uma maldição, evita-se trabalhar e não se respeita o trabalho dos outros. O
trabalho e o labor são humilhantes. Se existirem nações inteiras onde o objetivo
é evitar o trabalho e nas quais aqueles que possuem poder usufruem dos esforços
dos menos favorecidos, no que isso resultará? O resultado será a pobreza em
vez da produtividade. Na raiz da pobreza está um empobrecimento moral e
espiritual tão trágico como o do Ocidente, com milhões de pessoas removidas
da verdadeira história a respeito delas e do mundo.
Mesmo que vivamos em afluência e pensemos que não temos relação
com o animismo, ainda assim podemos encontrar reflexos de nós mesmos na
cosmovisão animista. A letra da canção "O Negro de Batei" e a identificação
das pessoas com ela, na realidade, não é algo tão chocante para muitos de nós.
Com
um diferente estilo cultural, Os mesmos sentimentos podem ser identificados
nas mesas de milhões de restaurantes, bares e jantares em família toda sexta-
feira. Quase todos conhecem o acrônimo em inglês TGIF (Nota do tradutor:
Thank God It's Friday - Graças a Deus é sexta-feira). Existe até um restaurante
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 36/373
38 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na univena
chamado T.G.I. Friday's. onde se pode comemorar da devidamente o fim da
semana de trabalho. Como crianças liberadas pelo toque de saída da escola,
quando chega a hora de deixar o trabalho, agradecemos a Deus que a sexta-
feira finalmente tenha chegado, quando nosso tempo é todo nosso, e quando a
"vida real" acontece. É claro que podemos nos ale-grar com um trabalho bem
concluído
e
ficar felizes em descansar como Deus pretende que façamos. Mas
o
sentimento geralmente não é dessa natureza.
Durante anos, a lenda americana da música country, George Jones. abria
o final de semana nas estações de rádio em todos os cantos dos Estados Unidos
com sua famosa canção "Finally Friday". Como a letra de "O Negro de Batei",
a letra de "Finally Friday" é urna janela para vermos como as pessoas pensam
e se sentem em relação ao trabalho. A letra contrasta a "tristeza do trabalho"
durante uma semana de labuta quase insuportável com o ótimo tempo livre de
um "final de semana louco" com tempo e dinheiro para gastar. Ainda que a
maioria de nós não saia correndo do trabalho às sextas para exercer nossa
liberdade com bebida e mulheres como descreve essa canção, conhecemos
bem o terror da segunda-feira... e de terça, quarta, quinta... Podemos nos
identificar fortemente com o contraste entre a tristeza do trabalho
e
a expectativa
e
a doçura da liberdade. Ainda que suas imagens exatas possam ser estranhas
a alguns norte-americanos, como aquelas da canção folclórica latina, esse clássico
americano reverbera em meio à cultura do Ocidente viciada em trabalho. Este
poderia ser o nosso hino: Finalmente é sexta-feira; estou livre novamente.
Tampouco estão os cristãos imunes a essa visão da vida
e cenário
emocional presentes em suas culturas. Assim corno nos sentimos
desconfortáveis com a elevação interesseira e materialista do trabalho, também
sentimos grande dissonância entre o que nossa fé cristã diz acerca do caráter
santo de nosso trabalho e nossa experiência negativa com este. Mesmo
conhecendo a verdade, há momentos em que agimos como se o trabalho fosse
mesmo uma maldição. Ainda que às vezes gostemos de nosso trabalho e, em
nossos melhores dias, o percebamos mesmo como um chamado, há momentos
em que nos pegamos agindo ou pensando como se fôssemos escravos dele,
como se quiséssemos abandoná-lo na primeira oportunidade, como se ele não
tivesse qualquer valor intrínseco e nenhuma conexão inerente a quem realmente
somos.
Podemos até saber que Deus não instituiu o trabalho como uma maldição;
e
saber que Deus nos criou à Sua imagem - nos fez para trabalhar como ele,
com um grande propósito e recompensa. Mas para nossa decepção e
desconforto, em nossa real experiência, o trabalho está mais ligado à nossa
sobrevivência do que ao cumprimento de nossos destinos. Podemos trabalhar
somente para suprir nossas próprias necessidades e as de nossas famílias, mesmo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 37/373
Casmovisoes em ação 1 39
não sabendo exatamente o que é necessário, mas certamente alimento, abrigo
e vestuário o são. Pode ser que trabalhemos simplesmente para sobreviver.
Até certo ponto, podemos nos sentir encurralados, como os animistas, à mercê
de forças fora de nosso controle. Por causa dessas necessidades, desses duros
fatos da vida, sacrificamos as horas de trabalho de nossas vidas - mas não mais
do que isso. Quando chega o fim de semana, nossos dias de folga, o recebemos
com um doce alívio.
Infelizmente, essa doçura não dura. Quando passamos a semana inteira
insatisfeitos esperando a vida começar, geralmente continuamos nos dias de
folga com o mesmo padrão mental: de estar presos na areia movediça. Nossos
dias de folga, e todas as nossas esperanças postas neles, geralmente acabam
em frustração. É impossível separar nossa visão do trabalho de nossa visão da
vida. Descobrimos que nossas expectativas de uma vida feliz e significativa
não podem ser alcançadas em alguns dias à exclusão de outros. Deparamo-nos
com a verdade: ao invés de urna maldição, o trabalho faz parte do centro de
nossa identidade e é fundamental para nosso propósito.
UM
DUALISMO ANTIBIBLICO:
Um local de alcance espiritual
A igreja evangélica moderna, em vez de apresentar uma cosmovisão
que desafie o trágico empobrecimento dos paradigmas animistas e materialistas,
tem se retirado da vida pública e abandonado a cultura e o mercado de trabalho.
Em reação ao avanço da cosmovisão secular na sociedade moderna, grande
parte da liderança da igreja, no início do século XX, trocou a cosmovisão bíblica
por uma versão cristã de uma cosmovisão dualista que divide o universo entre
o reino espiritual, que é bom e santo, e o reino físico, que é mau e profano. (No
capítulo 2, traçaremos como esse pensamento dualista infectou a igreja.) Os
resultados nos são familiares.
DUALISMO EVANGÉLICO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 38/373
DEUS
40 I
VOCAÇÃO: Escreva suo asnumura uo universo
A divisão percebida entre o céu e a temi, entre o mundo espiritual e o
mundo físico, tomou duas formas no pensamento cristão acerca do trabalho:
"chamado superior" e "local para alcance espiritual".
A primeira manifestação desse pensamento dualista entre Os cristãos é
um desejo por um chamado superior. De acordo com essa mentalidade, é melhor
deixar a arena secular
e
entrar na arena espiritual para que nos tornemos "obreiros
cristãos de tempo integral". Nesta visão, apenas os evangelistas, plantadores
de igrejas, pastores, missionários e teólogos estão fazendo um trabalho cristão
de tempo integral, já que somente esses tipos de trabalho são espirituais. As
"profissões de apoio" (assistentes sociais, agentes comunitários, conselheiros,
etc.) são quase consideradas como "ministério de tempo integral". Por outro
lado, contabilidade, carpintaria, cinema, arte, agricultura e serviços domésticos
são consideradas atividades seculares e. portanto, inferiores. São vistas como
menos espirituais. Assim, os cristãos abandonam o mercado de trabalho porque
seu desejo é ser mais espiritual. Quando o cristão não se torna missionário e
permanece em sua comunidade para realizar o trabalho "secular" que fazia
antes da conversão, geralmente é levado a ter um sentimento de culpa.
O CHAMADO SUPERIOR
O segundo conceito sustenta que o ambiente de trabalho é um local de
alcance espiritual. A ideia é que se não pudermos ser obreiros cristãos em
tempo integral, devemos fazer atividades espirituais em nossos ambientes de
trabalho. De acordo com essa mentalidade, fazer estudos bíblicos e reuniões de
oração no ambiente de trabalho compensa o fato de não sermos missionários.
Isso nos permite operar nessa esfera inferior porque estamos trazendo o reino
superior para dentro do reino inferior. Mas esse raciocínio ainda é estruturado
por uma dicotomia antibíblica, gerando a sensação de se viver em dois mundos.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 39/373
Co.smori.soe.s
em ação 1 41
LUGAR PARA
ALCANCE ESPIRITUAL
Não é apenas na área da profissão que os cristãos lutam com o problema
de viver em dois mundos, mas também na questão do posicionamento. Quando
existe essa divisão entre o chamado trabalho espiritual e o secular, trabalhar no
exterior se torna uma posição mais elevada. Trabalhar no país de origem é visto
como uma posição inferior. Muitos cristãos se sentem culpados por não trabalhar
no exterior, pois esse é um chamado mais elevado. Permanecer no país de
origem é ser um cristão de segunda classe. Mas, na verdade, essa é uma visão
falha. Quando aceitamos esse raciocínio antibíblico, servir no exterior já não é
suficiente. Para algumas pessoas, trabalhar na Janela 10/40 ou entre os povos
não alcançados é o serviço mais espiritual, enquanto que servir com outras
missões transculturais é um trabalho de segunda classe.
Todo esse ensinamento é um reflexo de um paradigma que torna as
pessoas meras sombras daquilo que Deus pretende, desengajando a igreja da
cultura, lançando as comunidades na lama da pobreza e impedindo que as nações
sejam discipuladas. Jamais houve mais cristãos ou igrejas no mundo do que
existem hoje. Nos últimos cinquenta anos, tem havido um investimento sem
precedentes em evangelismo, implantação e crescimento de igrejas. Em muitas
partes do mundo, temos obtido sucesso naquilo que nos propusemos a fazer:
salvar almas, plantar igrejas e desenvolver megatemplos. Mas, para quê? A
pobreza material ainda reina nos países em desenvolvimento que já foram
evangelizados; por outro lado, a pobreza moral e espiritual reina no ocidente
"cristão".
Em muitas partes do mundo onde a igreja está crescendo, o crescimento
se dá na proporção de "um quilômetro de comprimento e um palmo de
profundidade". A igreja se esqueceu de sua função de ser sal e luz na sociedade,
de viver o reino de Deus e iluminar seus locais rotineiros bem como o ambiente
de trabalho, e. quando necessário, ser uma voz profética. Nesse esquecimento,
a igreja tem se tornado bastante impotente.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 40/373
42 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Deparamo-nos com essa terrível situação em um momento de
oportunidades sem precedentes. O comunismo sucumbiu em todo o mundo. O
paradigma materialista tem deixado muita desilusão no Ocidente, alimentando
o corpo, mas não a alma; então, em meio a toda a nossa riqueza relativa e até
mesmo luxo, há crescentes sinais de agonia. Nesse meio tempo, a igreja tem
enfrentado grandes desafios, até mesmo em relação a sua existência em certos
lugares - e o islamismo vem crescendo por todo o planeta. O mundo anseia por
um cristianismo vibrante, que trate das profundas crises morais, espirituais,
sociais, econômicas e políticas da atualidade.
Por que a igreja está despreparada para apresentar uma resposta a esse
cenário? Porque a vida e o trabalho dos cristãos foram separados tanto de seu
fundamento na cosmovisão bíblica quanto do fim para o qual flui toda a nossa
vida - o reino de Deus. Sem uma estrutura transcendente que fale a todas as
áreas da vida, nosso propósito de vida fica limitado a morrer para ir para o céu.
Perdemos a estrutura mais ampla na qual se entende que nossa vida e trabalho
estão relacionados - no relacionamento com Deus por meio da adoração, com
o próximo pelo serviço e com a criação por meio da mordomia. Nossa vida e
trabalho têm sido, em grande parte, separados de sua missão e isso, em última
instância, advém da perda de uma cosmovisão bíblica. Quando sucumbimos ao
pensamento dualista, a maior parte de nossas vidas - a chamada parte "secu-
lar" - é informada pelas cosmovisões empobrecedoras de nossas culturas, pelos
elementos de materialismo e animismo descritos acima, em vez de pela verdade
das Escrituras.
Como a igreja de Jesus Cristo, e tantos de nós individualmente, chegamos
a esse estado de impotência? No próximo capítulo, traçaremos as raízes do
dualismo em nossa herança cristã de maneira que possamos ir além desse
danoso paradigma de uma vez por todas e consigamos ouvir Deus dizendo a
nós e a toda humanidade: "Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a
vossa alma viverá" (Isaías 55.3; grifo meu). A vida - em todos os aspectos, a
cada dia da semana, pessoalmente ou coletivamente - é encontrada no Deus
que criou e sustenta o céu e a terra e tudo o que neles há. O dualismo, como
veremos nos próximos capítulos e em todo este livro, é antitético à fé cristã e
falacioso à realidade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 41/373
Capítulo 2
COMO CHEGAMOS AQUI?
O
DUALISMO NA HISTÓRIA DA IGREJA
As Escrituras não dividem a existência em dois reinos, natural e
sobrenatural ou material e espiritual. A separação que o mundo moderno tende
a fazer é totalmente alheia à cosmovisão bíblica. É improvável que as pessoas
da Bíblia pudessem até mesmo entender o modo como tendemos a ver nossas
vidas e
o mundo hoje em dia. A Bíblia revela que Deus é o Criador tanto dos
céus quanto da terra. Ele não é apenas transcendente e eterno, mas também o
Deus da história, em todos os seus detalhes. Deus governa os céus
e
é também
Senhor de toda a vida - tanto das atividades comuns ao dia a dia quanto dos
grandes acontecimentos. Ele não somente criou os céus e a terra e toda vida
dentro deles, mas também os sustenta como presença viva e ativa; ele se faz
conhecer no cair da chuva, na colheita frutífera, no nascimento de uma criança
(todas presentes de suas mãos), assim como em profecias realizadas ou em
atos divinos excepcionais. A adoração não ocorre através de cerimônias formais,
ainda que essas também sejam adequadas por se tratar de um Deus poderoso,
porém, mais importante do que isso é o "sacrifício vivo" de urna vida inteira
vivida
em íntima conexão com ele.
Então como nos distanciamos tanto desse entendimento unificado da
vida e do relacionamento com Deus, e chegamos a essa separação moderna da
vida em duas esferas distintas "espiritual" e "física" ou "religiosa" e "secular"?
O dualismo de hoje e os valores que vinculamos a cada reino são produtos de
uni processo que durou séculos e por meio do qual o cristianismo incorporou
elementos de outras filosofias e cosmovisões.
Compreender como chegamos a esse ponto nos dá a oportunidade de
revisitar nosso próprio pensamento e ver que podemos estar embasando algumas
de nossas pressuposições e hábitos em conceitos alheios à cosmovisão bíblica.
Isso, por sua vez, nos libertará para seguirmos a Jesus mais plenamente e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 42/373
44 1 VOCAÇÃO:
Es.crera sua assinatura no universo
sermos mais efetivos em trabalhar com ele a fim de levar nosso mundo ao reino
de Deus até que ele retorne.
ANTIGOS COMEÇOS
O cristianismo teve início dentro da tradicional comunidade judaica na
região galiléia da Terra Santa e nas vizinhanças de Jerusalém. Quando o
cristianismo começou a se expandir além dessas fronteiras e, particularmente,
quando chegou às cidades gregas na Ásia Menor e em seguida à Europa, ele
adentrou em um mundo que pensava de maneira muito diferente. Apesar das
muitas outras religiões ali presentes, as ideias no mundo greco-romano eram
grandemente influenciadas pela filosofia grega.
O filósofo grego Platão (c. 428-348 a.C.) forneceu a inspiração para
uma parte considerável do pensamento que se seguiria por vários séculos. Ele
descreveu o mundo material como uma sombra do mundo espiritual. O mundo
material e finito era simplesmente uma projeção obscura do mundo real
permanente e eterno. A famosa alegoria da caverna de Platão ilustrou suas
ideias. Nela Platão descreve prisioneiros em uma caverna vendo sombras de
fantoches sendo lançadas na parede. Os prisioneiros, não podendo ver os
verdadeiros fantoches, pensam que as sombras são "fantoches reais". O
argumento de Platão é que as coisas que observamos com nossos sentidos são
meras sombras da realidade - os universais - que não conseguimos ver.
A ALEGORIA PLATÔNICA DA CAVERNA
FOGO
ESSOAS MANIPULANDO
IGURAS PROJETADAS
FIGURAS DO LADO DE FORA
A PAREDE
PRISIONEIROS
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 43/373
Conto cheg
amos a
q
,,u,1 45
Antes de Platão, outro filósofo grego, Pitágoras (c. 580-c. 500 a.C.), já
havia imposto limites sobre o valor do mundo físico. Mais conhecido hoje em
dia pelo Teorema de Pitágoras, ensinado nas aulas de geometria no Ensino
Médio, este filósofo ensinou que a essência do mundo físico e mesmo dos
conceitos abstratos podiam ser expressos através da matemática. Os números
- não o mundo físico - representavam a verdadeira realidade.
Tais conceitos dualistas, e as escolas de pensamento que se desen-
volveram a partir deles, separaram efetivamente o reino do bom, ideal e
permanente, de nossas vidas físicas e do mundo em que vivemos nossa existência
diária. Apenas a mente. participando do reino das ideias, poderia se conectar
com o bom e eterno. O mundo material veio a ser visto de maneira negativa.
Ele era temporário e muito menos valorizado, e o corpo não passava de uma
prisão para o mais verdadeiro e valioso elemento do indivíduo.
A partir dessa ideia, o trabalho físico era visto como não possuindo valor
algum. Em um mundo onde apenas os homens providos de posses tinham acesso
à educação e a "mais elevada" vida da mente, e onde a escravidão era comum
e utilizada ao máximo nos trabalhos subalternos, o trabalho físico era facilmente
visto como humilhante. Essa remoção do aspecto físico do mundo
verdadeiramente "real" o destituiu mais ainda de seu valor. O trabalho físico
era, de fato, um uso inferior do tempo do ser humano e de seus talentos. O
entendimento platônico também justificava a atribuição de um baixo status às
mulheres, já que estas eram vistas como seres "físicos", feitas para dar a luz
aos filhos (uma função de seus corpos "inferiores", profanos e limitados) e
cuidar da casa.
Com o passar do tempo, esses pensamentos se desenvolveram. Con-
forme as fronteiras dos impérios se moviam no mundo antigo, as ideias se
espalhavam. Algumas das muitas religiões e filosofias com as quais os gregos e
romanos (assim como os judeus e, posteriormente, os cristãos) entraram em
contato também possuíam pontos de vista fortemente dualistas. A cosmovisão
predominante no Oriente, hoje presente no hinduísmo e no budismo, entende a
realidade como um eterno monismo espiritual, uma unidade espiritual absoluta
de todas as coisas. De acordo com essa cosmovisão, o reino espiritual é real,
enquanto o físico é uma misteriosa ilusão irracional.
Enquanto os registros do Antigo e Novo Testamento são essencial-
mente holísticos' e integradores dos reinos espiritual e natural, a antiga
cosmovisão dualista grega teve, como veremos, uma profunda influência sobre
alguns dos pais da igreja primitiva e, portanto, sobre a toda a história da igreja.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 44/373
46 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
GNOSTICISMO
O gnosticismo foi uma ampla e altamente variada corrente de pen-
samento que surgiu antes do cristianismo e continuou a se desenvolver
paralelamente a ele. Apresentando uma cosmovisão altamente dualista. os
gnósticos criam que o mundo material era mal e profano. Semelhante a Platão.
os gnósticos criam que o verdadeiro eu. constituído de elementos divinos, vivia
aprisionado no corpo físico. A palavra gnóstico significa "conhecimento secreto
e misterioso", e era por meio desse conhecimento, dado por revelação, que o
indivíduo conseguia escapar do mundo material e progredir para o mundo eterno
e espiritual.
Por volta do século II, uma linha do gnosticismo já havia se mesclado
com o cristianismo, tornando-se um significante elemento dentro da igreja. En-
tre aqueles que abraçaram o pensamento gnóstico e ainda assim se consideravam
cristãos, estava Valentim (c. 100-c. 155), um proeminente erudito da época. O
cristianismo gnóstico foi uma mistura (ou sincretismo) do cristianismo com a
filosofia dualista grego-oriental.
Urna das maiores disputas, entre os cristãos gnósticos e os cristãos que
defendiam o que veio a ser conhecido como crenças cristãs ortodoxas, dizia
respeito à natureza de Cristo. Os gnósticos possuíam a crença (conhecida como
docetismo) de que, devido ao fato de o mundo material ser mau. Cristo, que é
puro e divino, apenas parecia ter um corpo físico real e apenas pareceu ter
sofrido fisicamente. Essa questão foi tratada pelo Evangelho de João', por Inácio
de Antioquia em uma carta datada de 110 d.C. e pelo Conselho de Nicéia em
325 d.C.. O cristianismo estabeleceu a doutrina da encarnação da Palavra,
afirmando tanto a plena deidade quanto a plena humanidade de Cristo.
Apesar de o gnosticismo ter desaparecido como religião ou filosofia
dominante, elementos de seu pensamento continuam a reaparecer em pos-
teriores expressões da crença cristã. Hoje é possível descrever, como
gnosticismo evangélico, o dualismo - divisão entre o espiritual e o físico (ou
mundano) - que existe dentro do protestantismo evangélico. Isso é particularmente
verdade quando vemos os cristãos enfatizando atividades "espirituais" (ex.:
encontros de oração ou estudos bíblicos) ou ministérios ou missões "profissionais"
como o único modo de fato satisfatório de vivermos nossas vidas cristãs de
maneira fiel. De forma similar. temos demonstrado uma orientação gnóstica
sempre que inferiorizamos as coisas do mundo físico ou as vemos como
irrelevantes (ex.: meio ambiente, governo, arte, justiça ou saúde pública), ou
quando vemos o trabalho nos campos que lidam com elas como um chamado
menos cristão.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 45/373
Como chegamo.s
47
A DISTORÇÃO NA CORRENTE INICIAL DO CRISTIANISMO
Influenciada pela cultura a sua volta e pelas filosofias e movimentos que a
precederam, até mesmo a igreja convencional desenvolveu padrões dualistas de pensamento.
Uma das maneiras pelas quais o dualismo foi absorvido dentro cio
pensamento cristão convencional foi por meio do precoce desenvolvimento do
monasticismo. Inicialmente tratava-se de um estilo de vida solitário. De fato, a
palavra monge deriva do termo grego "pessoa solitária". Apesar das pessoas
que escolhiam essa vida se embasarem em exemplos bíblicos, o monasticismo
era mais extremo do que os retiros temporários ao deserto relatados na Bíblia.
A rejeição radical dos monges ao "mundo" e seu foco em uma união mais
perfeita com o sagrado pode ser mais bem compreendida no contexto da filosofia
dualista grego-oriental descrita acima.
A princípio, os monges eram todos eremitas, indivíduos que, tanto quanto
possível, rejeitavam as coisas "do mundo" e saíam sozinhos (frequentemente
para o deserto) em busca das "coisas de Deus". No entanto, com o passar do
tempo, pessoas com uma mentalidade parecida começaram a se reunir,. e, em
318, a primeira comunidade monástica foi fundada. Os mosteiros e suas
comunidades religiosas rapidamente se tornaram um importante elemento na
igreja. Apesar de no início serem lugares para uma vida separada e santa, os
mosteiros vieram a se tornar centros para estudo, produção escrita e ensino,
assim como para preservação, tradução e duplicação de importantes textos,
inclusive a Bíblia. Eles também se tornaram importantes centros de trabalho
missionário. Grande parte do crédito pela expansão do cristianismo aos povos
da Europa é dos monges que viajaram pelo continente, estabele-cendo mosteiros
por onde passavam. Séculos mais tarde, as comunidades religiosas levaram o
evangelho ao mundo exterior, como, por exemplo, quando o cristianismo foi
levado ao hemisfério ocidental.
Entretanto, a filosofia dualista por trás do monasticismo é facilmente
identificada na obra de vários escritores da igreja primitiva. Um exemplo é
Eusébio (c. 260-c. 339), bispo de Cesaréia e às vezes chamado de "pai da
história da igreja". Em Demonstração do Evangelho, ele escreveu que Cristo
deixou "duas formas de vida" à igreja:
Duas formas de vida foram dadas pela lei de Cristo à sua Igreja. A
primeira esti', acima da natureza, e além da vida humana comum... Plena e
permanentemente separada da vida comum e costumeira da humanidade,
ela devota-se somente ao serviço de Deus... Esta sim é a perfeita forma de vida
cristã. A segunda, mais humilde, 117alS
humana, permite aos homens... dedicar-
se à agricultura, ao comércio e a outros interesses mais seculares assim como
à religião... E um tipo de grau de piedade secundário é atribuído a eles/
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 46/373
48 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Dois
MODOS DE
VIDA
EUSEBIO DE CESAREIA
A VIDA PERFEITA
VIDA COMUM
VITA CONTEMPLATIVA
ITA ACTIVA
SUPERIOR, SAGRADA,
NFERIOR, SECULAR,
CONTEMPLATIVA
TIVA
SOCIALMENTE E
OCIALMENTE E
ESPIRITUALMENTE
SPIRITUALMENTE
SUPERIOR
NFERIOR
EX.: MONGES,
X.: FAZENDEIROS,
PADRES, FREIRAS,
ONAS DE CASA,
ARISTOCRATAS RABALHADORES
Nesse esquema, havia duas formas de vida, a vida perfeita e a vida
permitida. A vida perfeita era mais elevada, sagrada e contemplativa. Esta era
a vida dos obreiros religiosos, como padres, freiras, monges e teólogos. Estes
eram "superiores", social e espiritualmente, às pessoas comuns ou aos leigos.
Por outro lado, a vida p ermitida era inferior, secular e ativa. Ela envolvia trabalhos
manuais e cabia ao homem comum, ao fazendeiro, à dona de casa, ao marceneiro,
ao comerciante e ao artesão. Estes eram os "inferiores" sociais e espirituais à
classe religiosa.
Com o tempo, esse contraste dualista se transformaria em uma visão na
qual a "igreja", no sentido ativo, significaria o clero e, talvez, os monges. Du-
rante toda a Idade Média, as pessoas comuns - particularmente aquelas que
viviam "no mundo", em vez de viver uma vida "religiosa" consagrada - eram
vistas com tendo um papel distintamente passivo e inferior, dependendo da
"igreja" para se relacionar com Deus e para receber sua graça e salvação.
DICOTOMIA CLÉRIGO - LEIGO
CLÉRIGO
ERVE
ROFISSÕES ESPIRITUAIS
A DEUS
RABALHOS DE ASSISTENCIA
LEIGO
ERVE
ROFISSÕES SECULARES
A MAMON
RABALHOS MANUAIS
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 47/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 48/373
50 1 VOCAÇÃO:
Escreva mu ri.ssinaturn no universo
seriedade religiosa da vocação monástica às atividades do mundo. O
indivíduo é chamado para servir a Deus de maneiras específicas no mundo.
Aqui, a utilização moderna e o sentido da palavra "vocação" ou
"chamado" pode ser visto emergindo no tempo da Reforma, por meio de
uma nova abordagem do trabalho. As línguas de cada área da Europa
afetada pela Refarma apresentam uma mudança decisiva no sentido da
palavra trabalho durante o século X VI: alemão (Beruf), inglês (calling).
holandês (beroep), dinamarquês ( kald), sueco (kallelse) e assim por
O fundamento do entendimento de chamado por Martinho Lutero era
o da doutrina da justificação pela fé. Os cristãos haviam passado a acreditar
em uma hierarquia da vocação: a vida contemplativa era mais elevada e
espiritual, enquanto a vida activa era mais comum e menos espiritual. O trabalho
do padre e da freira, trabalhadores religiosos, era santo, enquanto o trabalho do
fazendeiro e da dona de casa era "secular". Os padres eram justificados, porque
realizavam um trabalho santo. Para as pessoas comuns serem justificadas,
elas teriam que desempenhar "trabalhos espirituais", como ir à missa, pagar
indulgências e dar esmolas aos pobres. Isso escravizou e empobreceu mais
ainda aqueles que já eram pobres. Lutero e os reformadores no norte da Europa
desafiaram a ideia das "obras de justiça" insistindo que nenhuma obra externa,
mas somente o ato interno da fé, poderia tornar uma pessoa justa ou justificada
diante de Deus.
Os reformadores restauraram o conceito de trabalho vinculando-o ao
conceito de chamado. Se a justificação é pela fé, Lutero raciocinou, então, a
vida contemplativa dos monges e padres não é nem superior nem inferior à vida
ativa do fiel fazendeiro, marceneiro ou dona de casa. Lutero, que havia
abandonado a ordem monástica, compreendia que, se somos salvos pela graça
mediante a fé, o que importa não é o tipo de trabalho que se faz, mas a fé com
que se faz tal trabalho. Em outras palavras, o que importa é a consagração ou
a não consagração do trabalho do indivíduo. De repente, todo trabalho, contanto
que seja moralmente legítimo (isto é, não seja mau), torna-se sagrado. Sacerdote
e fazendeiro, freira e dona de casa, teólogo e
trabalhador braçal, todos estão,
pela fé. diante de Deus. Dietrich Bonhoeffer escreve sobre o desafio que Lutero
propõe à visão de trabalho do homem:
O retorno de Lutero do chauim foi o golpe mais forte sofrido pelo
mundo desde os dias do cristianismo antigo. A renú ncia que ele fez quando
se tornou monge virou brincadeira de criança comparada àquilo qu e ele
teve que fazer quando retornou ao mundo. Ele voltou com 1 1 1 7 7
ataque
frontal. A única maneira de seguir Jesus era viver no mundo. Até aqui a
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 49/373
Como che,,,
,
amo.s aqui
2
51
vida cristã havia sido uma façanha de poucos espíritos escolhidos sob as
excepcionalmente favoráveis condições do monasticismo; agora ela é dever
de lodo cristão que vive no mundo. O mandamento de Jesus deve ser
demonstrado em uma perfeita obediência na vocação diária da vida do
indivíduo. (Grifo meu.)'
A Reforma chamou a igreja para fora do prédio e para dentro do mundo,
desafiando diretamente a mentalidade dualista presente na igreja da Idade Média.
Em suma, os reformadores apresentavam dois argumentos. Primeiro,
todos os cristãos, não apenas os trabalhadores religiosos, têm um chamado.
Segundo, todo trabalho, não apenas o trabalho espiritual, pode ser considerado
um chamado. A dicotomia sagrado-secular é então abolida por aqueles que
abraçam esse pensamento bíblico.
PIETISMO - Século XVII
Por volta do século XVII, a jovem igreja protestante que havia virado a
Europa de ponta-cabeça estava cheia de problemas. Uma dificuldade era a
tendência, de algumas tradições ou denominações (ex.: o luteranismo ou a Igreja
Reformada), de se preocupar excessivamente com a teologia e a doutrina
corretas em detrimento de urna fé viva. Este foi um resultado infausto decorrente
das lutas teológicas trazidas pela Reforma.
Outro problema significativo foram os contínuos laços entre a religião e
o estado. Quando a Reforma se estabelecia em determinado estado ou nação,
no geral, a entidade inteira, e não apenas os indivíduos ou congregações, se
tornava oficialmente protestante e novas "igrejas oficiais" nacionais eram criadas.
As igrejas nacionais desempenharam papéis variados no governo de seus estados
e, para muitos indivíduos, ser parte de determinada igreja se tornou indistinguível
de sua cidadania em certo estado ou nação. Ademais, pelo menos nos primeiros
séculos dos novos estados protestantes, a participação ou o apoio a outras
igrejas (tais como os anabatistas) foi frequentemente suprimido ou, até mesmo,
punido de forma severa - às vezes, de maneira muito violenta. Até mesmo
batalhas ocorreram, em vários locais, conforme o movimento religioso se
combinava com os conflitos políticos e a inquietação social.
A experiência com o estabelecimento da igreja gerou a necessidade,
dentro de poucas gerações, de uma nova reforma e da recuperação do signi-
ficado espiritual. O movimento chamado Pietismo foi uma das respostas a essa
necessidade, apresentando um efeito amplo e duradouro.
O movimento pietista no geral é visto como emergindo do luteranismo da
Alemanha no final dos anos 1600. A agitação do pietismo começou com místicos
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 50/373
52
V
o(- w \O
cr is tãos como Jakob Bohm e
15 7
5-162-H..1011am] Arndt (
I 5'5- 1
1 ,2 c I
Midler (1631-1675 1. Müller
-
descre eu a tome lbatismal H o ouipii,
confessionário e o altar como quatro ídolos (nados da Igreja I i(cí; ma" .
Em grande parte. o pietismo
a experiência rclig iosa era
detrimento da convicção ortodoxa. o que gerou um loa;) na
-
e
Enquanto os primeiro; reformadores h:15 iam ¿`o-to
compreender. interpretar e aplicar as Escrituras ì. 5
ida pública
riv;[,L, - umra
questão relacionada à ratão
e ao compimiliy-o espi Htual - a ao\ .1 abordagem
enfatizava o coração e as
C1110cC)CS, à costa :10 pellv,1111C11L)
lado, a prevalência da experiência sobre a (.1( mi
ei. oh. em Kria
a
posteriores
formas de
liberalismo teológico. nos quais, as. dotai
radiciwiais eram
modificadas ou abandonadas com base iia\aloriiação delas pelo indivíduo. Por
outro. o toco na vida cristã pessoal Irouxe renovo ás vidas de muitos crentes
e.
por essa razão. os pietistas lideraram illThOltilltes
C
S lr~ls
missionário;.
Em relação ao dualismo. o pietismo gerou uni empuxo entre os cristãos
para focarem no reino espiritual e retirarem-se da cultura. Isso pode ser
evidenciado na vida e no ensino de uni hom em conhecido conto o pai do piei ismo.
Phillip Spener (1635-1705). Spener iniciou um movimento de ideia nas casas
com encontros em sua própria residência. Publicou também unia coleção ele
propostas para a restauração da igreja. a qual incluía. entre outras coisas, estudos
bíblicos profundos
en1
encontros privados. fink:oes
In-:is
ara as pessoas
comuns na igreja.reorganiiação do treinamento teológico coma maior ênfase na
vida devocional e UM novo estilo
de
pregação com loco no coração. Durante
anos. ele destacou a necessidade espiritual de uni novo nascimento_
e falou da
separação entre os cristãos e o mundo.
Apesar de se considerar que o pietisnio teve seu rim em meados ou no
final dos anos 1700. suas influencias tem ;ido de longo alcance. Ainda neste
capítulo, veremos como elas estavam presentes na ascendência do gnosticismo
evangélico nos séculos XIX
e
XX.
O ILUMINISE10
éculos XVH 1 1
Também conhecido como a Idade da Ra/ao. o i timinismo foi uni
movimento filosófico centrado na Inglaterra. 1-rança e. inc certo ponto. na
Alemanha. Foi fundamentado na metafísica tradicional de deísmo. que pre-
sumia. assim como o teísmo bíblico. que o Criador existia. Porjm. dilçrente
Bíblia. o deísmo pressupunha que Deus não ara imanente ou presente. No
deísmo. Deus é Criador. mas não Salvador e Senhor. Ele r tun lia is Jistanie:
que criou o universo. o colocou em mo\ Miemo e o daisou. Ele não (
a
j
a
pessoas e não responde
a OracO2S. Sua aVs,LIICLI e\;-.)11..:t
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 51/373
5 : z
h
)1
1(1:Ide
)
1‘,),11
i, 1:11;1111 l
, ltLA
;
,,H.'im
,-,1110 c ulh A;‘,
11011 1
lfl
OHI
•
, • ,
i II
,
01 l'
1'2W
H;)11,1,
JÁ
11', e
),
A1;(1 ,
•
¡¡'¡;¡¡
1,¡¡
dea,
•.
\sLUH1.,'‘
¡¡
1
M.ii",¡Ill,¡101ALHae a
1111eLdl)1
;;-
Ilatic1111
cl
,,É1os pen;
lincitk
Ckll
..
..1)1CL11111J1
1 11;a:
cu
j" c V clas„
C 111- 11`,i1,t. 1
HICIlà:;.1111(p.: Kl°si. Is sul 1a0 L'1111:
111.1111',Wk.)
is),
1,A; 1),)(1:1 II
(1h 1)C11',.
. 1)(p
d.e'
lorirclue,
;c1n._ 1,, - .
01110rou
`
111L'Illk
AH
.1H•„11,
11ht
,
0h111(Thl
,
•
IL011
:-
.C11'
,:d01151
e01n1
101011)
0111C1011;.:11
11
5,
1 . 1 1 1
t
1:11
)Ct ,
1 i 1 1 . 1 1
p„;1'j
,11
011 011
I:
1111[1111010
beo
ACH,1110111
1 ",
O l Cl O
i)(111,0;1.
51 1
(11111(i5:;• hirlp(), c 1)o0e1,;101>0 li'
1 5 \
CYnl111:111
(.1C`
,
\
l) 1
,,IdC1";';`
l) C111. ,211d1111(2 Ill0
m()
1I111()
ndr, idt¡i
j
)M1() 011
dIlIClI
O.
ele
e1 1 \
'(As,'"
A,.:"
doIII
h 11;1 i,1111111;_ . lIs
•Slitb.:,ll,1.10
C 11;_ii 151
5
111LI,
1)111WIL
;1,,C
111111111 0H0
Li5(l,)cil,
lIcUlbr(),,
1:1
C alé I1 e011011*11110,
1lo (1eNut
,
101)11 > 15111
iraup,1(1 [m
o ci haialiNinc)11
.
:01,
-
1011a1
uiLi reli
,:..
2 1 1 1 1 ) ; ) ,
-,;ii_t
11;1 yo 1
;(),
nu1110
-, dcie-,,
: '1111
n°
1111, ele cru de-,n...uLak) (1()
•ein() do(.:()...
1.111
l 1..'
s,,I)11'111lIillltI1le C01110 11i110
sio
000nk.i1
h11111;111a C
)
C11.
ilIld
Is C
0111) 1
Cá
1
(1(5)11)
,
) Clr;lad) ('011 01111Ciac,.10(., 1
111() s Doo11
11011 lo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 52/373
54 1
VOCAÇÃO: Escreva
sua assinantra no universo
Salvador e Senhor da vida. A tendência era observar o universo de maneira
mecânica, corno sendo governado por leis naturais. Essas leis fluíam da natureza
do Criador, mas eram entendidas como operando sem o contínuo envolvimento
pessoal do Legislador.
O iluminismo, com sua celebração da razão humana e a tendência a
desvalorizar o reino espiritual. marcou uma transição na cultura geral do mundo
Ocidental. A igreja respondeu à era do iluminismo com um retorno a uma fé e
prática mais ortodoxas e holísticas.
O GRANDE AVIVAMENTO - Séculos XVIII e XIX
No início do século XVIII (1730-1750), um avivamento cristão ocorreu
dos dois lados do Atlântico. Ele representou um retorno à fé bíblica; não tendo
somente um componente espiritual, mas também holístico, gerando uma das
maiores transformações sociais dos tempos modernos. Aqui temos o surgimento
daquilo que o Dr. Ralph Winter, um impressionante estrategista em missões e o
fundador da Universidade Internacional William Carey, identificou como o
Evangelicalismo da Primeira Herança'. Winter possuía um entendimento amplo
e holístico do evangelho, incluindo salvação pessoal, transformação da sociedade
e missões transculturais. (Isso se contrastava com o que ele chama de
Evangelicalismo da Segunda Herança, cujo foco está primeiramente na salvação
pessoal, no arrebatamento e, em breve, na segunda vinda de Jesus Cristo. Esses
últimos evangélicos têm posto pouca ênfase na capacidade do evangelho de
mudar a sociedade.)
Na Inglaterra, o avivamento foi iniciado por um evangélico da Primeira
Herança, John Wesley (1703-1791), ministro anglicano que se tomou um ardente
evangelista e reformador social, sendo também fundador do movimento
metodista. Wesley pregou sobre o Cristo crucificado para centenas de milhares
de pessoas, pobres e ricas. Mas ele entendia que se Cristo levava alguém à
conversão, não era apenas para ir para o céu. Se a pessoa fosse salva, sua vida
e comportamento precisavam ser transformados e, assim, coletivamente, haveria
uma transformação da sociedade.
Nos Estados Unidos, o Grande Avivamento foi iniciado por dois homens:
Jonathan Edwards (1703-1758) e George Whitefield (1714-1770). Jonathan
Edwards era um pregador congregacional, teólogo e missionário aos americanos
nativos. Ele é reconhecido como talvez o mais refinado evangelista e teólogo
filosófico que os Estados Unidos já produziram. Os ideais da Reforma de João
Calvino fluíram para os Estados Unidos por meio de seus pensamentos, ensinos
e ministério. Sua pregação, particularmente seu famoso sermão "Pecadores
nas mãos de um Deus irado", levou dezenas de milhares de pessoas ao
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 53/373
Como chegamos aqui?
I 55
arrependimento e à cruz de Cristo para a salvação.
George Whitefield havia sido líder do movimento metodista de Wesley
na Inglaterra. Em 1738, Whitefield mudou-se para a colônia britânica da Geórgia,
nos Estados Unidos, e começou a pregar em uma série de encontros de
avivamento. Juntamente com Edwards, ele pregava Cristo e, em seguida,
conduzia aqueles que eram salvos a uma fé e prática profundamente bíblicas.
Esse avivamento, iniciado por Wesley na Inglaterra e por Edwards e
Whitefield nas colônias americanas, nasceu de uma abrangente cosmovisão
bíblica na qual a fé pessoal levava à ação na sociedade civil e no mercado de
trabalho. Entendia-se que Deus é o Deus de toda a vida, não apenas do reino
espiritual. O Grande Avivamento produziu líderes e cidadãos, os filhos e netos
do movimento, que se propuseram a mudar suas sociedades e o mundo.
Na Inglaterra, Deus levantou um filho espiritual de Wesley, William
Wilberforce (1759-1833), que foi um parlamentarista britânico, filantropo e
reformador social. Além disso, ele foi o rosto por trás da abolição da escra-
vidão no Império Britânico e uma grande força na civilização de uma áspera
sociedade britânica. Ele entendia que a escravidão era um mal moral e que a
igreja devia trabalhar para acabar com essa instituição. Por operar com base
em uma cosmovisão bíblica, Wilberforce cria que Deus se interessava pela boa
conduta e pela justiça social, e não simplesmente pela salvação pessoal da
alma. Ele sabia que Deus se importava tanto com a transformação da sociedade
como com a do ser humano individualmente. Assim, além de trabalhar pela
abolição da escravidão, ele convocou a igreja a lutar contra o crescente
alcoolismo, uso de drogas, promiscuidade sexual, exploração patronal e outras
injustiças e elementos grosseiros da sociedade britânica.
Um grupo na Inglaterra, conhecido como Clapham Sect [Seita de
Claphaml, desempenhou um importante papel na transformação da nação em
sua época. Esses homens e mulheres foram social e politicamente ativos de
1790 a 1830. Evangélicos ricos e influentes, eles tinham variados tipos de
vocação - eram estudiosos, clérigos, políticos, banqueiros, escritores, artistas,
economistas, homens de negócios e filantropos. Seu propósito comum era dar
cobertura política e combustível econômico para mudar a cultura e, em seguida,
as leis da sociedade britânica. Foi esse grupo que criou a plataforma para que
homens e mulheres como Wilberforce desafiassem o status quo da sociedade
britânica. Deus os usou, em sua obediência a ele, para transformar sua nação.
Entre muitas das conquistas desse movimento, está o Ato contra o Comércio
de Escravos de 1807, que transformou o comércio de escravos em crime. Três
noites antes de Wilberforce morrer, o Parlamento aprovou o Ato de Abolição
da Escravidão de 1833, emancipando os escravos em todo o Império Britânico.
Outro filho espiritual de Wesley foi William Carey (1761-1834). Este era
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 54/373
pobre sai iatéiro iitgles que somente ilaA ia estudado ate os 14 anos. Quando
e t
tr;;
;a0 t
o
; nadaqo peos ,t\ HaIngaera le
sentiu o
chamado de Deus sobre sua ‘, ida para tornar-sc uni missionário na índia. Caro:
quebrou todos i:s padrões do trabalho nu ssionario e se tornou o "pai das missões
modernas". fio
ares nas ceou com sua jovem família para a índia. Ele
possuía unia Cosll
k
lVlsãU blhhca e prega\ a o (_ cisto crucificado. Pessoas eram
sal \ as e igrefus eram plantadas: :nas allSi'dVa por ver as raites da cultura
da incha subcontmental transformadas. Sua história é muito bem contada por
Ruth c Visitai Nlangalss adi no lis o:
'IML' 1\N:1111W -
11 CaleV: A n
i
odel for
lhe transformation olá etulture I( legtido de V\ illiam ('ares : Um modelo para a
translormaçao de uma cultural.
Caret, mio apenas pregou o es anIciho
da salvação e plantou igrejas.
como também liderou os indianos no (lesem ok intento dc muitos outros setores
ele sua sociedade. Por exemplo, ele apresentou aos cristãos o conceito da
mordomia da terra. ensinando novos sistemas dc jardinagem para a recuperação
da terra deteriorada e a replantaç
:tio das florestas devastadas pelo excesso de
colheita. Ele também afiou por anos para estabelecer a dignidade das mulheres.
Do outro lado do :Atlântico. outros :::. angélicos da Primeira Herança
lança\ um as bases para a funda::ito de nina no\ e. nação. A maioria dos estu-
diosos seculares atribui os runelimentos dos Estados Lindos aos pensadores
deístas do iltiminismo. como Locke. Vol:aire e Montesquieu. Eles argumentam
que Jefterson e Franklin,
ambos influenciados pelo deísmo, foram canais por
meio dos quais o iluminismo entrou na s ia pública americana. No entanto. isso
cotio adi/ o registro hisuirieo.
O experimento político a: ieric
i fundado sobre a le bíblica como
resultado do Grande As rica
.. risitios queriam formar uma cultura e
riaço política com base cio
Conselho Nacional para o
Currículo Bíblico na,
inetis é:itt unia extensa pesquisa feita pelos
professores e cientistas ( ledes S. Em/ e i)onaid S. Hyneman. Eles
aprOXIIlladaMCMC 111111/1.
ustOricos de literatura política,
publicados entre 176(1
e rrinni e quatro por cento do conteúdo dos
documentos da fundaçáo dos
idos indo,
- eram citações diretas da Bíblia'''.
Antes dos pais I undadores.
elitailit, e os peregrinos cruzaram o Atlântico
com Bíblias nas maos. (.) Grande Avis,imento chamou os pais fundadores de
volta ao Livro e a abrangente cosmovisao das Escrituras. Os jornalistas da
Nes\ s \\ eek
1)av id Gates e Kenneth Woodss tirel escreveram que "os historiadores
esta() descobrindo que a Bíblia. tal e/ ainda mais do que a Constituição. é o
nosso documento de fundaeao
.Ao participar na reetipertieão ele tinia cosmos isco bíblica no Grande
Às;
sar
nent
o.
0
„ ev an
,
elleos tornaram ,t se comprometer com a obra de Deus
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 55/373
1 1 1
I
57
no m undo. tr instem
-
mando o Império Britânico e fundando Os Estados tinidos
da América, talvez a nação mais livre. justa e
economicamelue prospere
du
história da humanidade. Na medida em que a igreja Tem abandonado sua laerinea
e se retirado da cultura, temos testemunhado a ascendência dos mundos mi Kierno
e pos-moderno. A questa() e: vamos recuperar a le de nossos ne
c
m sore
s ; j ; . ;
Primeira flerança?
A ERA rvIODERLIA
-:
;éculos MX, e
,Apesar do eleito tangível do Cirande Avis alucino. na era moderna. o
materialismo secular tem se levantado sobre uma absoluta negaeao do reino
espiritual, Pode-se dizer que essa cosmovisão se desenvolveu
como uma
extensão lógica do racionalismo do iluminismo, sendo consolidada pela publicacao.
em I 859. do livro de Charles Darwin A origem das
espécie,.
.\ teoria da evoluçao
de l)arwin oferecia uma explicação puramente natural (oposta ao ,.ohrenittura
para o surgimento da vida. preparando o caminho para o materialismo ateista.
Por definição. o paradigma materialista. quando unido com o ateísmo.
não deixa espaço para o espiritual e o transcendental. A inatéria é a Unica
realidade. Todas as coisas que têm sua fundamentação na realidade da existência
de
Deus desaparecem, pois o próprio Deus não existe.. Milagres não podem
acontecer, a oração não tem eleito, não há céu. Isso. por sua vez. leva a morte
cio ser humano. do amor. da just iça. da verdade. da moral, da graça e do chamado
vocacional. elementos cujo fundamento esta na existéncia de Deus. ,la que não
existe Deus e seu reino é fruto ri
a imaginaçao do ser humano. o trabalho não
pode ser VISA() à luz do reino
de
Deus; portanto. ele existe apenas para SUAS
recompensas materiais.
1-m refaça() à dicotomia entre o sagrado e o secular. o materialismo ido
enfatiza meramente o secular sobre o sagrado: ele reconhece apenas o seca-
lar. Entretanto. o desenvolvimento do materialismo tem causado impacto no
cristianismo de importantes formas a serem reconhecidas. Assim. voltamos
nossa atenção à resposta da igreja à ascensao do secularismo.
A RFSPOSTA DA IGREJA
Conforme o materialismo ateísta se expandiu pelas universidades e culturas
nacionais da Europa e da América do Norte, os fundamentos dessas naçoes
e
de suas igrejas foram desafiados.
Poucos na igreja se levantaram contra a maré do secularismo. tem deles
foi Abraham Kllyper (1837-1920), um pastor e teólogo holandês que. além
dc
ser um proeminente jornalista
e
educador, serviu tainhin como primeiro ministro
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 56/373
58 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
da Holanda. Em 1898, Kuyper foi convidado pelo Seminário de Princeton,
instituição de treinamento teológico da elite americana, para proferir as famosas
Stone Lectures. Seu desejo era podar a maré de secularismo que entrava na
igreja da América do Norte e restaurar seus fundamentos bíblicos, ensinando
sobre o reinado de Cristo em todas as áreas da vida. Mas, como mostra a
história, a igreja, como um todo, abandonou a cosmovisão bíblica.
A SOBERANIA DE
CRISTO
"NÃO HÁ, UM ÚNICO CENTÍMETRO QUADRADO EM TODO O
DOMÍNIO DA EXISTENCIA HUMANA SOBRE O QUAL CRISTO,
QUE E SOBERANO SOBRE TUDO, NÃO CLAME: É MEU '"
— ABRAHAM KUYPER
SOLENIDADE INAUGURAL DA UNIVERSIDADE LIVRE DE AMSTERDÃ, 1880
Em resposta ao secularismo, a igreja apresentou duas respostas
problemáticas. A primeira foi acomodar o novo paradigma secular, e a segunda
foi rejeitá-lo, adotando um antigo paradigma grego. A igreja estava dividida.
A IGREJA DIVIDIDA PELO SECULARISMO
IGREJA
ACOMODAÇÃO
"LIBERAIS"
DENOMINAÇÕES
TRADICIONAIS
REAÇÃO
"FUNDAMENTALISTAS"
EVANGÉLICOS
PENTECOSTAIS
CARISMÁTICOS
Alguns ramos da igreja, frequentemente identificados como "liberais",
abraçaram em vários graus o paradigma secular moderno. O conceito de
verdade absoluta foi substituído pelo relativismo metafísico. A existência de
milagres - Deus agindo fora do reino natural - foi negada. Na medida em que
os ensinos deste lado da igreja foram se tornando cada vez mais consistentes
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 57/373
Como chegamos aqui? 1 59
com a pressuposição ateísta, o poderoso evangelho do reino de Deus, que pode
levar à transformação de vidas e nações (conforme visto no Grande Avivamento),
foi reduzido a um mero ativismo social.
As necessidades físicas e sociais do mundo tomaram precedência sobre
as espirituais, sendo cada vez mais supridas por meios seculares, fundamentados
em urna filosofia secular. Em vez de reconhecer a fonte transcendente de justiça
e cura, a igreja tentou trazer justiça física e transformação social com suas
próprias forças
e fora da salvação de Cristo para o indivíduo como um todo.
Enquanto parte da igreja abraçou o paradigma secular moderno, outras
partes o rejeitaram. Estas reagiram ao que viram como um condenável
"modernismo" (ou "liberalismo") que havia tomado a igreja e ameaçado o
cristianismo ortodoxo. Esses líderes se apresentavam como fundamentalistas,
apegando-se aos fundamentos da fé. Mas, por também haverem abandonado a
cosmovisão bíblica, eles negligenciaram as abrangentes implicações do evangelho
para a transformação da sociedade. Eles se tornaram o que Winter chama de
evangélicos da Segunda Herança.
Os fundamentalistas, em vez de defender a cosmovisão bíblica, ado-
taram a antiga cosmovisão grega da qual falamos anteriormente neste capí-
tulo. Os gregos separavam os reinos espiritual e físico, separavam a graça e a
natureza. Ao adotarem esse paradigma gnóstico-dualista, os cristãos separaram
o sagrado do secular, o domingo da segunda. Muitos se tornaram "cristãos
domingueiros" e abandonaram o conceito de ser igreja na segunda-feira levando
o
reino de Deus à sua vida de trabalho todos os dias da semana, negando
funcionalmente que Cristo é soberano sobre toda a vida. Para os
fundamentalistas - que foram os precursores dos movimentos evangélico,
pentecostal e carismático - o reino espiritual era sagrado enquanto o secular
era profano.
A DICOTOMIA GREGA
D
I
N
O
SUPERIOR
MAIS
IMPORTANTE
FE
TEOLOGIA
GRAÇA ESPIRITUAL ÉTICA
(SAGRADO) ISSÕES
VIDA DEVOC IONAL
EVANGELHO
RAZÃO
<
INFERIOR
IENCIA
4
ZMENOSNATUREZA Físico NEGÓCIOS/ECONOMIA
• IMPORTANTE
SECULAR) OLITICA
al
RTE/MÚSICA
(f)
ATERIAL
ALIMENTO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 58/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 59/373
(71
1/10.1
1
tcrnv cl condicao (I() inundo moderno eram unta indicação de que Jesus
certamente est. a \ (Mando. Mesmo trabalhando duro para levar as pessoas a
Cristo. eles adotaram uma posição passiva em relação ã sociedade enquanto
esperavam o retomo de Cristo.
Em 1 b7t Flal Linsev. um teólogo dispens.,teionalista, publicou o best-
I L ,
l
o
1
I1
tematica do fim dos tempos The Late Great Planet
(
into Planeta Terral. O livro de Lindsev foi publicado em
e \
ais de .'s5 milhões de cópias. permanecendo em publicação
Lincoll o movimento do fim dos tempos em grande aceleração de
1
-
ma a moldar profundamente as três Ultimas gerações de cristãos bem como
seu entendimento sobre a
natureza e a missão da igreja.
e
a vida cristã.
dinámL:a do Grande Avivamento para a transformação da sociedade
deu. O movimento dos evangélicos da Segunda Herança enfoca a
\ aedo pcs.,( ,
;1 e a 1,:c particularizada: tendo sido marcado por um anti-
inteic,:tualismo
-
Nao laça perguntas -- apenas creia " ). um abandono da cultura
Jastamento do mundo.
Os gnOsticos e ‘,
tornaram ao paradigma dualista pré-reforma.
O trabalho religioso. como o do pastor. do evangelista. do missionário e do
plantador de igrejas. era .\ isto conto um chamado mais elevado do que as funções
seculares. como acontecera na Idade Media. As pessoas que quisessem ser
santas tinham que enveredar pelo "serviço cristão em tempo integral". O trabalho
secular" era frequentemente estigmatizado por aqueles que realizavam trabalhos
,...spirittiais
-
Assim. novamente os cristãos passaram a viver em dois mundos
profissionais
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 60/373
OS CHAMADOS
TEÓLOGO
PLANTADOR
DE IGREJAS
PREGADOR
"CRISTÃO DE T EMPO INTEGRAL
"CRISTÃO DE MEIO EXPEDIENTE"
62 1
VOCAÇÃO: ESCrelYI sua assinatura PIO
Mre
S0
Em termos de estratégia de missões, em vez de reconhecer que todos os
cristãos estão envolvidos em missões, somente aqueles que deixassem o trabalho
secular e se dedicassem ao trabalho "espiritual" eram considerados missionários.
Ainda hoje. muitas organizações de missões procuram retirar os cristãos do
mercado de trabalho e colocá-los naquilo que creem ser "mais significativo": o
trabalho missionário.
PONTE GNOSTICA PARA
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
PREGADOR
CARPINTEIRO
ARTISTA
PLANTADOR
DE IGREJAS
PROFESSOR
Músico
DONA DE CASA
ENFERMEIRO
MECÂNICO
TEÓLOGO
Além disso, o posicionamento tornou-se uma importante questão entre
os trabalhadores espirituais. A Grande Comissão de Mateus 28:18-20 foi
reinterpretada, pelo paradigma gnóstico, como sendo para trabalhadores
religiosos profissionais desejosos de trabalhar no exterior e se-parar-se do
trabalho local "comum", indo proclamar o Evangelho em localidades distantes.
Nessa visão, ser enviado para servir transculturalmente era um chamado mais
elevado do que ficar no país de origem. Lembro-me de que, quando compartilhei
isso em uma conferência de liderança da JOCUM norte-americana, todos riram.
Quando lhes perguntei por que estavam rindo, eles responderam que se alguém
quisesse ser o mais espiritual de todos, tinha que trabalhar junto aos grupos não
alcançado
VIVENDO EM
Dois MUNDOS DIFERENTES
ATUAÇÃO
TRABALHAR
COM POVOS
NAO-ALCANÇADOS
MUITO
MAIS
-' ESPIRITUAL
IR PARA
ICAR
OUTRO PAÍS
M CASA
(ESPI
RITUAL
ESPIRITUAL
MAIS
ENOS
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 61/373
Como chegamos aqui?
1 63
Pela primeira vez desde a Reforma, um grande número de cristãos que
não estava no "serviço cristão integral" começou a viver em dois mun-dos: um
durante a semana de trabalho e outro aos domingos. Ao abandonar a cosmovisão
bíblica e adotar uma cosmovisão fortemente dualista, muitos braços da igreja
se retiraram do mercado de trabalho. Dentro desse modelo, a fé cristã passou
a não informar a vida cultural de muitos cristãos. Infelizmente, as tentativas de
muitos destes em rejeitar o secularismo têm resultado em suas próprias vidas e
de suas comunidades sendo destituídas de Deus.
AONDE ESTAMOS INDO?
A história mostra que o pensamento dualista, se manifestando de várias
formas, há tempos tem sido um problema na igreja - na verdade, desde o seu
princípio. Aquilo que a Reforma havia eliminado, no conceito
e na prática, foi
levado adiante e perpetuado por tradições posteriores. Hoje, a dicotomia entre
o sagrado e o secular permanece como um grave problema. Tendo mapeado a
história do dualismo na igreja, analisaremos, no próximo capítulo, algumas
maneiras específicas nas quais o dualismo afeta nosso próprio modo de pensar.
Isso nos ajudará a repudiar esse persistente - e falso - paradigma, recuperando
uma visão verdadeiramente bíblica de nossa vida e trabalho, uma que nos permita
viver sem divisões e em consagração a Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 62/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 63/373
66 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua a.ssinalurn no universo
ALMA - CORPO
Para o dualista, o ser humano é fragmentado. Ele tem um corpo e uma
alma. O dualista acredita que, porque Deus está interessado em coisas espirituais,
a alma de uma pessoa tem mais importância do que seu corpo. A salvação
garante apenas a ida da alma para o céu. Deus não está interessado em salvar
a totalidade do ser humano no tempo e na eternidade.
Meus irmãos e irmãs na Coréia expressam essa dicotomia no que diz
respeito à ministração às necessidades físicas e sociais das pessoas. Por anos,
tenho viajado para a Coréia para treinar jovens cristãos que querem trabalhar
entre os pobres nos países em desenvolvimento. Inevitavelmente, eles sempre
me fazem a pergunta: "A alma de uma pessoa é mais importante do que seu
A FESTA DE BABETTE
Baseado na história de 'sal< Dinesen,
o filme vencedor do Oscar A Festa de Babette
é uma festa em si, apresentando a nós a
generosidade e a bondade de Deus e sua
criação em um lindo conto que reúne corpo e
espírito, dever e prazer.
pesar de her-
deiras da Reforma Protestante e de seus
nomes terem sido dados em homenagem a
Mart inho Lutero e seu amigo Phil ipp Melanchton,
as duas irmãs do filme, Martina e Phillippa, são
completamente dualistas em sua cosmovisão.
Numa comunidade da costa da Dinamarca,
ambas lideram um pequeno grupo de idosos
protestantes fundado por seu falecido pai. Os
membros desse sombrio grupo levam vidas
de autonegação. Eles desconfiam dos
"prazeres do mundo" e temem se "alegrar
demais". Apesar de expressarem seu anseio
por sua "recompensa eterna" e parecerem
externamente piedosos, sua religião se tornou
um conjunto de ortodoxias e princípios
abstratos, em vez de uma fé vivenciada nas
atividades diárias. As duas irmãs lutam para
manter a unidade em meio a sua amargurada e
pequena membresia. Mart ina e Phil ippa, embora
comprometidas ao fiel serviço, negam-se
qualquer "satisfação terrena".
Porém Babette entra em suas vidas.
Quando essa refugiada da guerra na França
chega à sua porta e pede uma oportunidade
de trabalho, Martina e Philippa consentem.
Apesar de serem bondosas com Babette, as
irmãs a tratam com uma gentil
condescendência, sem considerar que ela
possa ter algo a ensiná-las, evitando assim
que Babette as sirva. Na realidade, Babette
havia sido uma famosa chefe de cozinha do
mais refinado restaurante de Paris - segredo
esse que ela guarda para si e humildemente
segue as instruções das irmãs no preparo de
suas insossas refeições. Finalmente, após
servir como sua empregada por muitos anos,
Babette recebe uma soma de dinheiro da
França e pede permissão para preparar uma
refeição francesa para os membros do grupo
em memória de seu fundador, pai das irmãs.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 64/373
A dicotomia sagrado-secular
167
corpo'?". Por anos, tentei responder essa pergunta de maneira direta, só para
ouvir no final a pergunta: "Mas, Darrow, qual é mais importante?". Finalmente,
raiou no meu entendimento a luz de que essa pergunta gnóstica demandava uma
resposta dualista. Para que as pessoas saiam desse paradigma dualista, a própria
suposição da pergunta precisa ser desafiada. Agora, toda vez que alguém me faz
essa pergunta, eu uso a oportunidade para trazer à luz o paradigma não-bíblico.
M inha resposta é: "Esta não é uma pergunta bíblica Ela é uma pergunta gnóstica ".
A Bíblia é holística. Ela traz uma mensagem integral: todo o conselho de
Deus para o todo de cada pessoa ("coração... alma... mente e... força", Marcos
12.30), para toda a humanidade ("todas as nações", Mateus 28.19), e para todo
o mundo ("para reconciliar para si mesmo todas as coisas", Colossenses 1.20).
Apesar de hesitarem em dar a permissão, as
irmãs consentem por reconhecerem que
Babet te jamais lhes hav ia ped ido co isa a lguma.
Carroças com ingredientes especiais
começam a chegar da França - uma tartaruga
e uma gaiola de codornas vivas, uma cabeça
de vaca, champanhes e vinhos caros, trufas
e caviar, sacolas cheias de frutas suntuosas
- e, quando os convidados começam a
perceber o escopo e a suntuosa natureza da
festa que Babette planeja preparar, eles se
unem determinados a não ser minados em sua
rígida distinção entre dever "celestial" e prazer
"mundano". Temendo ter sido "expostos a
forças perigosas e malignas", eles decidem
participar da refeição em respeito à Babette,
mas proclamam: "Usaremos nossas línguas
para a oração", e "será como se jamais
tenhamos tido o sentido do paladar". Contudo,
conforme as bandejas de ofertas, preparadas
com amor, emergem da cozinha e a refeição
continua, o início da transformação no grupo
fica aparente. Antigos conflitos parecem ser
esquecidos e há uma visível diferença no calor
e na unidade à medida que o grupo vai se
retirando. Um membro do grupo admite o que
os outros temem proferir: "Babette foi capaz
de transformar um jantar em um tipo de relação
amorosa - uma que não fez qualquer distinção
entre apetite corporal e apetite espiritual".
No fim, a extensão do sacrifício de
Babette é revelada: em vez de utilizar o
dinheiro para voltar para casa, ela abre mão
de sua carreira como uma renomada chefe
de cozinha para sempre, investindo sua
fortuna na refeição. As irmãs ficam chocadas
com seu amor e generosidade, mas Babette,
falando humildemente de sua vocação como
artista da cozinha, explica: "Fui capaz de fazê-
los feliz quando dei o melhor de mim".
Percebendo que o presente de Babette a eles,
fruto de seu profundo amor, representava
muito mais do caráter gracioso e generoso
de Deus do que o comportamento piedoso
externo do grupo religioso ou do que anos de
serviço realizado pelas irmãs, Philippa
proclama: "Esse não é o fim, Babette. No
Paraíso, você será a grande artista que Deus
queria que você fosse. Ah, e como os anjos
se alegrarão por sua causa".
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 65/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 66/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 67/373
70 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
A HISTÓRIA DE MICHAEL BAER
O currículo de Michael Baer perpassa
pastorado, empreendedorismo, consultoria
empresarial e desenvolvimento de
microempresas no exterior. Conforme ele
explica em seu livro "Business as Mission:
The Power of Business in the Kingdom of
God" [Negócios como missões: O poder dos
negócios no reino de Deus], ele enxerga todo
o seu trabalho como parte de um chamado.
Após ser salvo por Cristo na época
de faculdade, passei os primeiros 14 anos
da vida adulta no ministério pastoral -
trabalhei com adolescentes, implantei duas
igrejas, servi uma terceira e fundei uma escola
de educação cristã. O Senhor abençoou meu
ministério e posso dizer verdadeiramente que
apreciei essas oportunidades e estava seguro
do meu chamado para elas. Entretanto, com o
passar do tempo, comecei a sentir Deus me
conduzindo a uma área diferente. Comecei a
desejar ministrar "de graça" e participar do
mundo dos negócios com as pessoas
perdidas. Em particular, eu queria fugir do
constante rebaixamento do evangelho que
ocorria quando as pessoas a quem eu
evangelizava criam que compartilhar o
evangelho nada mais era do que minha
profissão.
No início dos anos de 1980, comecei
a adentrar o mundo dos negócios estando
ainda no pastorado. Era como se eu estivesse
medindo a profundidade das águas e
procurando saber o que Deus queria que eu
fizesse. Finalmente, acabei deixando o
pastorado formal e passei os dez anos
seguintes no mundo dos negócios - fundando
diversas empresas (inclusive a empresa que
agora possuo) e liderando estratégias de
recuperação de empresas de outros. Deus
tinha prazer em me usar tanto no pastorado
quanto no mundo corporativo, e eu sou grato
a ele por isso. Choviam oportunidades de
comunicar o evangelho e encorajar os
crentes que eu encontrava pelo caminho. Foi
um tempo animador para mim: e era sempre
divertido compartilhar como Deus havia me
conduzido ao pastorado e, em seguida, ao
mundo dos negócios - duas partes da vida
aparentemente tão distintas.
Não obstante, enquanto eu sentia um
direcionamento de Deus para sair do
pastorado formal e entrar no mundo dos
negócios, também comecei a sentir que devia
haver mais na minha vida de negócios do que
ser somente uma testemunha de Cristo.
Comecei a orar e pedir a Deus que me
mostrasse como essas duas partes
aparentemente distintas da minha vida
poderiam se unir - 14 anos no ministério e 10
anos no mundo dos negócios. Seriam eles
capítulos separados ou, de fato, partes de
um todo maior, o "grande quadro" que Deus
havia guardado para mim?
As respostas às minhas perguntas
vieram no mais estranho dos lugares. Em
1993, fui convidado a viajar para uma área
mulçumana da antiga União Soviética para
desenvolver um programa de liderança e
gestão para estudantes de medicina.
Enquanto estava lá, tive uma experiência a
qual chamo de "eu nasci para isso". Finalmente
compreendi porque Deus havia me dado
treinamento no seminário e experiência pas-
toral bem como paixão e sucesso nos
negócios. Seu plano era unir ambos no
serviço a ele. Especificamente, ele desejava
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 68/373
A dicotoma sagrado-secular
I 71
me usar por meio dos negócios para ministrar
àqueles que, de outra maneira, jamais seriam
alcançados. Com meu trabalho na área de
treinamento em negócios, oportunidades de
relacionamento e testemunho inimagináveis
se abriram. Deus começou a abençoar meu
trabalho de maneira poderosa. Durante os
próximos quatro anos, voltei à antiga União
Soviética anualmente com equipes de líderes
cristãos de negócios para realizar seminários
de gestão e compartilhar o evangelho com
aqueles que comparecessem.
Mesmo com a benção de Deus sobre
o trabalho voluntário, eu ainda sentia que o
quadro não estava completo. Então, em 1997,
fui procurado por missionários que
trabalhavam na mesma parte do mundo e
estavam em busca de um programa por meio
do qual cristãos empobrecidos pudessem
aprender a começar seus próprios negócios.
A ideia deles era que esses crentes
perseguidos pudessem escapar do
desemprego (mais de 90 por cento da
comunidade cristã em um dos países),
sustentar suas famílias, apoiar a igreja local
e, até mesmo, utilizar seus novos negócios
como base para a implantação de igrejas em
áreas remotas. Lançamos esse novo
programa em 1998 e hoje o trabalho que
surgiu a partir daquele encontro opera em
mais de 20 localidades ao redor do mundo,
ajudando as minorias cristãs perseguidas a
começar negócios e fornecer tração
econômica para seus movimentos nativos de
implantação de igrejas. Ao mesmo tempo,
deixei a empresa em que vinha trabalhando e
fundei uma nova consultoria empresarial - que
é a minha empresa atual - com o propósito de
fornecer empregos flexíveis a pessoas que
desejassem fazer parte de missões de
negócios no exterior e ainda permanecer
envolvidas com seus negócios em casa.
O resultado é que hoje uma forte
firma de consultoria com fins lucrativos e uma
agência internacional de desenvolvimento de
micronegócios está em operação.
Funcionários e associados, comprometidos
com Cristo e com os negócios do reino,
trabalham junto com centenas de voluntários
de outras empresas utilizando suas
competências empresariais e alinhando-as
aos ministérios de implantação de igrejas en-
tre os povos não alcançados.
Com tudo isso, vim a aprender que
não existem "partes" em minha vida. Minha
história pode apresentar diferentes capítulos,
mas são todos parte de um livro com uma
história unificada sendo escrita por Deus. Não
fico mais me perguntando por que Deus me
tirou do pastorado e me colocou no mundo
dos negócios. Não penso mais nisso como
sair do ministério. Em vez disso, comecei a
ver que, no reino de Deus, todas as coisas
são igualmente santificadas e unificadas nele.
Para os líderes de negócios cristãos, isso
leva ao que chamo de "a perfeita integração
entre negócios e missões". Para buscar essa
perfeita integração, devemos rejeitar o
pensamento antibíblico de que nossas vidas
podem ser dividas em compartimentos do tipo
sagrado e secular ou que o mundo dos
negócios e o ministério são, por definição,
atividades separadas. A Bíblia nos ensina a
abraçar a verdade de que todos os servos
de Cristo têm chamados elevados, santos e
igualmente agradáveis ao Senhor. Se Deus
nos chamou aos negócios, nosso objetivo é
descobrir por que e agir de acordo com esse
propósito. Conforme o fizermos, a criação de
Deus será abençoada e ele será glorificado.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 69/373
72 I VOCAÇÃO: EiCrel'a
.sua assinatu
a no unixvi
sr,
FINS - MEIOS
O pensamento dualista nos encoraja a acreditar que podemos separar Os
fins dos meios, sendo que, na realidade, eles são inseparáveis. Os fins do trabalho
se referem ao propósito para o qual ele
se aplica. Os meios se referem à
metodologia usada para atingir os fins. Há uma quantidade de maneiras de se
relacionar fins e meios. Algumas pessoas são pragmáticas. Elas se concentram
nos fins. Bons fins justificam qualquer meio para alcançá-los. Se o resultado
for bom o bastante, você pode usar meios imorais, injustos e ilegais para alcançá-
lo. Em muitos países onde existe uma cultura de corrupção. os cristãos subornam
os oficiais para conseguir a aprovação ou equipamento para seus ministérios,
da mesma forma como os descrentes fazem. Outras pessoas só se preocupam
com o "profissionalismo". Elas se concentram no processo (os meios). Bons
meios é o que importa; os fins não são importantes. Essas pessoas querem
"fazer as coisas da forma certa". Elas podem até fazer "as coisas erradas da
forma certa". Isso acontece em companhias ou ministérios onde o foco é o
profissionalismo e o trabalho com qualidade. Isso é bom, mas para que fim essa
excelência é aplicada? Uma organização internacional de assistência pode
utilizar métodos de distribuição de ajuda que findam criando dependência e
maior pobreza. O que se esquece em ambas s abordagens é que os meios
tendem a moldar o fim.
A Bíblia demanda meios justos para alcançar fins justos e dignos de
nosso chamado. Como Francis Schaeffer gostava de dizer: "A obra de Deus
deve ser feita à maneira de Deus ". Porque vivemos no universo de Deus - um
universo moral -, processos e resultados morais devem cada vez mais definir
nossa vocação. Usando o ditado de Schaeffer, nós devemos fazer a obra de
Deus à maneira de Deus
A CRUZ - O MANDATO DA CRIAÇÃO
O pensamento dualista é o tipo de pensamento "isso ou aquilo". Dessa
forma, algumas pessoas limitam o poder da Cruz como sendo eficaz apenas
para salvar almas para a eternidade. Outros se concentram em nosso
mandato, dado por Deus, de desenvolver a Terra - um mandato que
estudaremos mais profundamente mais a frente neste livro. O equilíbrio
bíblico enfatiza que Jesus morreu para restaurar todas as coisas para si
mesmo. A Cruz restaura nosso propósito na Terra, como também nos garante
vida eterna, reunindo os dois debaixo do alcance integral de Deus.
De fato, em cada caso em que temos uma mente dividida - seja entre
a cruz e o mandato da criação. entre os fins e os meios, o indivíduo
e
a
comunidade, o coração e a mente, a alma e o corpo - precisamos retornar
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 70/373
A dicotoma sagrado-.secular
173
às Escrituras e à cruz de Cristo, e buscar a ajuda de Deus para reunir os
dois sob uma só esfera de sua criação e reinado: o todo-abrangente reino
de Deus.
DESLOCANDO A VERDADE
O dualismo não apenas polariza nossa compreensão de elementos como
o eterno e o temporal, o coração e a mente, como também afeta a totalidade de
nossa existência de uma outra forma importante. Ao restringir nossa fé cristã a
apenas uma parte de nossa existência e o espiritual a uma área encaixotada, a
mentalidade dualista deixa a maior parte de nossa vida e a realidade para serem
definidas por outras cosmovisões. Como discutimos no capítulo 1, a não ser que
tenhamos conscientemente renovado nossas mentes de acordo com a
cosmovisão das Escrituras - a cosmovisão objetiva e abrangente da realidade
como Deus a criou -, nossa visão da vida e trabalho é largamente determinada
pela cosmovisão de nossa cultura, e para muitos de nós, isso inclui elementos
do materialismo ateísta e do animismo. A seguir estão apenas algumas das
maneiras corno essas cosmovisões preenchem as lacunas abertas pela
mentalidade dualista dos crentes.
A NATUREZA DO UNIVERSO
A partir de uma visão bíblica, entendemos que o universo é parte da
criação. Vivemos na realidade estruturada pelo infinito Criador, onde o
universo é uma consequência da capacidade artística do Criador. Ao mesmo
tempo em que Deus se mantém fora da criação (transcendente), ele está
comprometido com ela (imanente). Parte do papel do homem, antes e depois
da Queda, é cuidar da criação corno mordomo de Deus - como alguém
incumbido de cuidar das posses do outro, nesse caso, da casa ou das
propriedades de Deus.
O entendimento bíblico do universo como criação contrasta com as
crenças que se levantam nas cosmovisões ateísta-materialista e animista. O
materialista tradicional tende a ver a natureza como que existindo para o homem
e não para Deus. Ela é vista como uma mina a ser explorada, uma floresta a
ser ceifada.
Em algumas formas de animismo, este mundo é na verdade maya - uma
ilusão. Em outras, o mundo natural não é importante porque está chegando ao
fim. Paradoxalmente, tanto para animistas quanto para neopagãos modernos
no Ocidente, o mundo natural é um deus a ser adorado. Cada um desses
pontos de vista criam atitudes muito diferentes sobre nossa vida e trabalho.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 71/373
74 1
VOCAÇÃO: Escreva .ma assinatura no universo
A ORIGEM DA HUMANIDADE
Ao criar
a humanidade. Deus não procurou um modelo fora de si. Em
vez disso, ele olhou para ele mesmo. As Escrituras revelam que fomos criados
à imagem de Deus. Nós estamos unidos com a criação - como uma de suas
criaturas. Porém, ao mesmo tempo, nos distinguimos da criação por apenas nós
sermos a imagem de Deus e termos sido feitos para ter domínio sobre o resto
da criação. Porque somos criados por Deus à sua imagem, cada vida humana
é e sempre será sagrada e significativa. Até mesmo a pessoa mais fraca e
destruída tem dignidade por carregar a imagem de Deus.
Esse entendimento da humanidade contraria as antropologias criadas
pelo materialismo e o animismo. No materialismo ateísta, o ser humano é
meramente um animal, um consumidor descontrolado de recursos escassos.
Essa mentalidade consumista floresce no Ocidente. Em contraste, os animistas
tendem a ver os seres humanos como espíritos que temporariamente habitam
corpos; a existência física no geral é passageira e portanto insignificante. Para
o animista, o mundo material não tem valor algum e não precisa se desenvolver.
Quando permitimos que nosso entendimento seja moldado por qualquer uma
dessas falsas visões, nossa vida e trabalho são arrancados da verdade fundacional
de que somos feitos à imagem de Deus.
O MUNDO CAÍDO E A CRUZ DE CRISTO
As Escrituras nos ensinam que, apesar de termos sido criados à imagem
de Deus, nós rejeitamos nosso Criador e o lugar planejado para nós em sua
criação, com trágicas consequências. Mesmo a vida humana tendo dignidade,
e cada indivíduo sendo importante, nós tamb ém som os rebeldes contra o Altíssimo
Rei Celestial, pecadores contra o santo Deus cujo próprio ser define tudo aquilo
que é bom. Como o profeta Isaías disse: "Todos nós andávamos desgarrados
como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho" (Isaías 53.6). O resultado
pode ser visto em palavras posteriores de Isaías, palavras como sofrimento,
enfermidades, pesares, julgamento e pecado. Nós escolhemos a mentira ao
invés da verdade, a injustiça ao invés da justiça. Nos desviamos do caminho
da inteireza e da integridade e assim prejudicamos a nós e ao restante da
criação no processo no qual somos incapazes de dar a volta por cima sozinhos.
A raiz do problema está dentro do homem; estamos, de fato, espiritualmente
mortos. Sem a intervenção de Deus, não temos esperança. Mas nós - e este
mundo caído - não somos um caso perdido. Toda a Bíblia é testemunha do fiel
trabalho de redenção de Deus, o qual culminou na vida, morte e ressurreição
de Jesus Cristo. Em Cristo, Deus está nos reconciliando, assim como todas
as coisas, a ele.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 72/373
A dicotomia sagrado-secular
1 75
O princípio bíblico do mundo caído e da necessidade da cruz de Cristo
contrastam com o materialismo ateísta, que não apresenta nenhuma estrutura
moral e, no entanto, argumenta, de forma irracional, que o homem é bom. Assim,
por que esses problemas se encontram em nosso mundo? Por que existe
sofrimento e discórdia? Nessa visão, a raiz de todos os problemas não está
dentro do homem, mas fora dele, no ambiente em que vive. As instituições
corruptas são o problema. Se as estruturas melhorassem, a bondade natural do
homem floresceria. De acordo com o materialismo, não existe Queda, logo não
há necessidade de salvação. Por meio da educação, o homem e sua cultura são
susceptíveis de perfeição.
Os eventos dos últimos cem anos - as duas guerras mundiais, os genocídios
em Camboja e Ruanda, a limpeza étnica nos Balcãs nos anos 1990, a fome
planejada na Ucrânia na década de 1930, a desumanidade de Mao e Stalin, o
apartheid na África do Sul, e o assassinato deliberado de centenas de milhões
de bebês por meio do aborto - todos negam a visão utópica do materialismo.
Por outro lado, a normalidade da maldade e o capricho dos deuses no
animismo geram culturas onde o fatalismo, a corrupção, a desesperança e o
desespero florescem. Você não pode combater o mal; pode apenas torcer para
satisfazer os deuses e evitar os desastres. Secas, inundações, doenças e fome
são normais. A vida, na melhor das hipóteses, se resume a sobreviver a esses
males.
O pessimismo do animismo contraria vividamente as visões utópicas do
materialismo secular. O p aradigma bíblico p roclama um a po sição radical diferente
de ambos. A Queda é real, mas, à luz da cruz de Cristo, devemos lutar contra
ela. Em suma, devemos ser idealistas realistas, não idealistas românticos (corno
no materialismo) ou realistas cínicos (como no animismo).
LIBERDADE HUMANA
Como cristãos, nossa vida e trabalho são moldados pela dança entre
nossa dependência e independência, entre o agir de Deus e o nosso agir. A
Bíblia apresenta uma tensão entre duas verdades. Primeiro, Deus é
transcendente; nós somos criaturas. Deus não depende da criação, mas tanto
nós como toda a criação somos dependentes de Deus. Ao mesmo tempo, a
humanidade se distingue do resto da criação. Corno imagens de Deus, somos
agentes morais livres com a responsabilidade de cuidar do resto da criação e a
habilidade de tomar decisões que afetam a história. Nesse sentido, nós somos
independentes.
Abordando a tensão por outro ângulo, as Escrituras testemunham que
Deus é soberano sobre toda a criação, incluindo nossas vidas individuais, e, ao
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 73/373
76 OCAÇÃO: Es
crera Avo u.s.vinatura no universo
mesmo tempo. é nosso Pai. Sua soberania fala de seu poder supremo e de sua
autoridade absoluta. Em sua paternidade, ele tem poder e autoridade, mas
também mostra sua terna misericórdia, seu amor, sua orientação paterna. sua
disciplina e seu desejo de se relacionar. Esse entendimento da natureza de
Deus nos ajuda a entender melhor a natureza de nossa liberdade.
Nossa cultura nos contará apenas parte da história, ou nada a respeito
dela. O materialismo vê o universo de forma mecânica, considerando a
uniformidade das causas naturais em um sistema fechado. Nessa cosmovisão,
nós somos autônomos (não há Deus) e autoconfiantes. Isso nos leva a duas
abordagens da vida e do trabalho que não estão em sincronia com a realidade.
Por um lado, já que somos autoconfiantes, tudo depende de nós. Se algo vai
acontecer, devemos realizá-lo com nossa própria força e intelecto. A suposição
é de que somos capazes de cuidar de nossas vidas e do mundo, de vencer
qualquer obstáculo que impeça o aperfeiçoamento da sociedade humana e do
ambiente. Ao mesmo tempo. tendo total autonomia e sem que haja uma
autoridade superior e uma lei moral fluindo do Criador moral, não temos que
responder pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Nesse sentido, o pensamento
materialista-ateísta conduz a uma visão na qual a humanidade é autônoma e
poderosa, mas livre da prestação de contas. Por outro lado, já que ele requer
um universo fechado governado por causas naturais, o materialismo também
nos leva finalmente a conclusão de que nossas ações e vontades são
insignificantes e fúteis. No fim, somos apenas mais um animal, outra parte da
natureza governada unicamente pelos genes, substâncias químicas e forças
externas, sem uma liberdade real.
Apesar de começar por um ponto diferente do materialismo ateísta, o
animismo, como já vimos, conduz ao fatalismo. A função moral é retirada das
pessoas
e
entregue ao destino e a unia pletora de espíritos que são
frequentemente caprichosos. Portanto, não apenas não há um Deus soberano
trabalhando em prol de um fim consistente e bom, como também as pessoas
não têm poder algum. Isso significa que nunca poderá haver um real significado
em qualquer nível de trabalho.
Enquanto cristãos, acreditamos na soberania de Deus e na liberdade
humana. É como criaturas singulares na criação de Deus - tanto dependentes
quanto independentes - que encontramos o propósito de nossa vida e trabalho:
somos chamados a servir como embaixadores da reconciliação de Deus em
todos os relacionamentos humanos e naturais desfeitos pela Queda, e Deus nos
capacitou e espera que tomemos decisões santificadas dentro da estrutura dos
princípios que governam sua criação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 74/373
A
dicolomia sagrado-Acculdr 1 77
A GRANDE SEPARAÇÃO
Nós tocamos em
um punhado de ensinos bíblicos sobre a natureza de
Deus, o universo e a humanidade para explorar este enigma: como cristãos, nós
concordamos com verdades bíblicas fundamentais, porém muitos de nós
experimentamos uma grande separação entre esse conhecimento e a vida que
vivemos no mundo na maior parte do tempo.
Imagine o cérebro de um dualista. Em vez de um cérebro dividido nos
científicos hemisférios direito e esquerdo e em diferentes lobos, imagine um
cérebro dividido em 90% e 10%. Nossa concordância com as verdades
fundamentais sobre a realidade está contida no lobo de 10%, e as vias nervosas
para o resto de nosso corpo estão em grande parte cortadas. Sua transmissão
não é confiável, apenas quando provocada por certos exemplos aprendidos,
talvez nas manhãs de domingo quando nossa mente é desafiada ou com certos
amigos a quem prestamos conta. Não desenvolvemos as vias que fazem as
conexões com nossas ações, vida e trabalho. Em vez disso, as ideias contrárias
à Bíblia que preenchem o lobo de 9 0% enviam impulsos livremente, determinando
o que dizemos e fazemos, assumindo o comando sobre quase tudo.
Como os impulsos neurológicos em nosso corpo, nós não pensamos
conscientemente sobre essas coisas na maior parte do tempo. Mas aqui estamos
nós com uma mente dividida, criada por nossa cultura não examinada. Nós
vemos a realidade como uma série de dicotomias preto no branco - alma e
corpo, clero e leigo, eterno e temporal; vemos a realidade falsamente dividida
entre o espiritual e o material, o sagrado e o secular.
Esse estado mental nos cega para a verdadeira natureza da realidade,
uma realidade que Jesus expressa como o reino de Deus. No próximo capítulo,
ouviremos o próprio Jesus nos contar sobre seu reino enquanto buscamos ir
além do falso paradigma para a realidade que Deus nos criou para vivermos
nela.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 75/373
Capítulo 4
UM SENHOR, UM REINO:
UMA PARÁBOLA
Quando vemos a realidade a partir de uma cosmovisão bíblica, en-
tendemos que existe um Deus e um mundo.
TEÍSMO BÍBLICO
No entanto, os cristãos da contemporaneidade não estão sozinhos entre
os seguidores de Cristo em sua cegueira em relação à verdadeira natureza da
realidade criada por Deus para vivermos. Como ficou bastante claro ao
estudarmos o dualismo na história da igreja, as gerações passadas confundiram
a natureza do reino de Deus e subestimaram o escopo de Sua obra no mundo.
Como meus coautores e eu escrevemos em nosso livro God's Unshakable King-
dom
[O Reino Inabalável de Deus],
O conceito do reino de D eus é um dos mais difíceis, controversos e
mal compreendidos da Bíblia. Algumas pessoas promoveram violentas
revoluções em nome do estabelecimento do reino de Deus na Terra. Alguns
defendem elaborados esquemas de engenharia social e re-distribuição de
riquezas pelo avanço do reino de Deus. Muitos cristãos simplesmente
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 76/373
80 I
VOCAÇÃO:
Escreva
1(1 (1.1,1i Mil IV
no nnilcrso
ignoram o conceito, associando-o a .seitas cristãs heréticas. Outros pensam
no reino de Deus como o céu ou .simplesmente esperam pelo retorno de
Cristo, mas não fica clara a nature:a ou relevância disso para suas vidas
no presente; tendo dificuldades em explicar O conceito para pessoas que
não .são cristãs.
Ainda assim, é 10111à10
indisculird
que o
reino de Deus .seja o tema
central dos ensinamentos de Jesus. A ,frase "reino de Deus" ou "reino dos
Céus" aparece noventa e oito veces no Novo Testamento ... Que ideia era
essa que queimara de maneira tão forte no coração de Jesus.' O que será
que ele estava tentando nos
ensinar.'
Nossa dificuldade, hoje em dia, ao tentar compreender a mensagem do
reino não é diferente da dificuldade enfrentada por aqueles que cami-nhavam
lado a lado com Jesus 2000 anos atrás. Mesmo aqueles que estavam mais
próximos de Cristo tinham dificuldades de entender o que ele
dizia repetidas
vezes sobre si mesmo e sobre o seu reino. Após três anos com ele, seus discípulos
ainda tinham dúvidas ao acompanharem-no em sua última viagem a Jerusalém.
Embarquemos com eles na viagem, ouvindo-os enquanto Jesus tenta corrigir a
compreensão incorreta de seus próprios discípulos em relação ao reino de Deus.
O REINO É CHEGADO
Em sua última viagem a Jerusalém. Jesus e os doze viajaram em
companhia de um grupo maior de seguidores, pessoas que os haviam seguido
desde a Galiléia. As estradas estavam movimentadas, já que todos os judeus
fiéis que podiam estavam a caminho de Jerusalém para celebrar a Páscoa.
Apesar da difícil viagem, eles estavam felizes na expectativa de celebrar, no
grande templo, esse momento tão especial, apreciar as belezas da cidade e
reencontrar pessoas que não viam a tempos.
Além disso, para muitos essa não era uma peregrinação de Páscoa comum;
havia um elemento adicional de animação - e tensão. Pelo menos alguns na
multidão criam finalmente estar prestes a ver o dia em que o Messias se faria
conhecido em toda a sua glória, derrotando o Império Romano que os ocupava,
destituindo governadores injustos e estabelecendo o perfeito reinado de Deus
sobre a Terra. O povo de Deus seria finalmente liberto e Sião manifestaria sua
glória escriturai. E muitos que andavam com Jesus tinham certeza de que ele
era o Messias a tanto esperado e enviado do céu - o seu novo rei
A tensão era sentida fortemente pelos que estavam mais próximos a
Jesus. Eles haviam ouvido as ameaças contra ele e visto a raiva que ele podia
gerar, particularmente na elite governante. Mesmo desconsiderando isso. eles
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 77/373
Um Senhor um reino 1 81
sabiam que os romanos - temerosos em relação aos insurgentes judeus - estariam
de prontidão com uma segurança reforçada no momento da entrada das
multidões em Jerusalém. Esperava-se que os romanos respondessem de maneira
muito áspera a tudo e a todos que parecessem ameaçar a ordem pública.
Paralelamente, os 12 discípulos não deixaram de ser afetados pela animação
messiânica, especialmente porque sabiam que Jesus era cheio de poder divino
e haviam ouvido sua pregação de que era "chegado" o reino de Deus.
A PARÁBOLA DOS TALENTOS
Em uma de suas últimas paradas durante a viagem, Jesus tentou mais
uma vez esclarecer, para os discípulos e para a multidão que o cercava, o tipo
de experiência da qual ele falava. Ao parar na casa de Zaqueu, um coletor de
impostos e
colaborador romano, Jesus reiterou seu propósito ao vir à Terra:
"Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas
19.10). Então, outra vez mais, contou-lhes uma parábola. Ao relatar essa
parábola, Lucas, escritor de um dos evangelhos, destaca o fato de Jesus desafiar
o conceito errôneo sobre a vinda do reino: "Ouvindo eles isso, prosseguiu Jesus,
e
contou uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém, e pensarem eles que
o reino de Deus se havia de manifestar imediatamente" (v. 11). Com essas
palavras, Lucas revela que as pessoas que esperavam a vinda do Messias
judaico tinham um paradigma falho - assim como muitos de nós ainda temos. É
por essa razão que Jesus contou a parábola dos talentos:
Certo homem nobre partiu para uma terra longínqua, a fim de
tomar posse de um reino e depois voltar. E chamando dez servos seus, deu-
lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.
Mas os seus concidadãos odiavam-no, e enviaram após ele uma
embaixada, dizendo: Não queremos que este homem reine sobre nós.
E sucedeu que, ao voltar ele, depois de ter tomado posse do reino,
mandou chamar aqueles servos a quem entregara o dinheiro, a fim de
saber como cada um havia negociado.
Apresentou-se, pois, o primeiro, e disse: Senhor, a tua mina rendeu
dez minas. Respondeu-lhe o senhor: Bem está, servo bom Porque no mínimo
foste fiel, sobre dez cidades terás autoridade.
Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.
A este também respondeu: S ê tu também sobre cinco cidades.
E veio outro, dizendo: Senhor, eis aqui a tua mina, que guardei
num lenço; pois tinha medo de ti, porque és homem severo; tomas o que
não puseste, e ceifas o que não semeaste.
Disse-lhe o Senhor: Servo mau Pela tua boca te julgarei; sabias
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 78/373
82
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
que eu sou homem severo, que tomo O que não puis, e ceifo o que não
semeei; por que, pois, não puseste o meu dinheiro no banco? Então vindo
eu, o teria retirado com os juros.
E disse aos que estavam ali: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem as
dez minas. Responderam-lhe eles: Senhor, ele tem dez minas.
Pois eu vos digo que a todo o que tem, dar-se-lhe-á: mas ao que não
tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado. Quanto, porém, àqueles meus
inimigos
que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e
matai-os diante de mim. ( Lucas 19.12-27)
CONCEITOS ERRÔNEOS SOBRE O
REINO
Jesus contou essa história para corrigir o entendimento falho de seus
seguidores acerca de que tipo de reino havia chegado e de que papéis ele, o
Rei, e eles, seus servos, haviam de desempenhar. Anteriormente, du-rante a
viagem, ao se aproximarem da antiga cidade de Jericó, Jesus falou sobre sua
morte a seus discípulos pela terceira vez'. Mas, como Lucas acres-tenta, "(...)
eles não entenderam nada disso" (Lucas 18.34). O entendimento dos discípulos
estava bloqueado por diversos conceitos equivocados.
Em primeiro lugar, eles criam que, quando o Cristo entrasse em Jerusalém,
ele se tornaria rei e estabeleceria um reino político. O reino, pensavam eles,
seria presente e físico. Eles tinham em mente o poder e a autoridade terrenos e
queriam "um pouco de ação", como vemos em Marcos 10.35-44. E pensavam
que isso aconteceria se eles simplesmente pedissem.
Em segundo lugar, considerando o contexto da passagem e a palavra
imediatamente, em Lucas 19.11, fica claro que os discípulos pen-savam que
nada precisavam fazer além de esperar pelo reino. Jesus logo o estabeleceria;
tudo o que haviam de fazer era esperar.
Mesmo o tempo passando sem a Segunda Vinda, ou o Dia do Senhor,
aguardados pelos que ouviram Jesus, cristãos, durante toda a história da igreja,
têm sido imobilizados por essa "teologia da espera". Ela é expressada, por
exemplo, por pensamentos do tipo: "Fui salvo; agora é só esperar a volta de
Cristo ". Infelizmente isso abrange apenas os elementos da justificação e da
glorificação incluídos na salvação. Para muitas pessoas na igreja, é como se o
elemento da santificação do cristão não existisse. Eles agem como se tivessem
sido salvos apenas para o céu, dando pouca atenção a servir a Cristo e ter um
papel a desempenhar aqui e agora no avanço do reino na Terra.
Duas tendências teológicas falsas têm se desenvolvido entre os cris-tãos
que encorajam a passividade. A primeira é o fatalismo, não muito dife-rente do
tipo encontrado entre os animistas. Tudo o que acontece na vida é vontade de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 79/373
Um Senhor, um reino
183
Deus, creem eles. Morte fora de hora? Doença ou perda de capa-cidade física?
Essas pessoas creem que é a vontade de Deus. Diante da po-breza, fome e
injustiça, muitos acreditam ou agem como se não "houvesse nada que pudesse
ser feito ". Muitos usam o adágio "Sempre teremos pobres entre nós"' para
escapar do seu chamado à ação. Quando dizem que a fome mundial é inevitável,
negligenciam Aquele que alimentou cinco mil pessoas e venceu a morte.
A segunda tendência que alimenta a passividade na igreja é o insidioso
dualismo no pensamento cristão que já traçamos desde seu antigo começo.
Com o tempo, esse pensamento nos levou a ver uma dicotomia entre a realidade
física e espiritual, com a última sendo o que realmente importa. Na realidade,
quando os cristãos se ocupam apenas de preocupações definidas como
"espirituais", eles estão inconscientemente negando a importância e a realidade
do ensino de Cristo sobre o mundo e a vida presentes, sua ressurreição física e
muitos outros de seus ensinamentos e milagres. Jesus curou os doentes e
alimentou os famintos. Em vez de seguir Jesus, os cristãos, influenciados pelo
gnosticismo evangélico, geralmente se tornam muito passivos. O pensamento
dualista os impede de pôr sua fé em prática no dia a dia, tornando-a particular
e ineficiente, como se nada tivesse a oferecer a este mundo, nem tivesse qualquer
poder ou relevância no presente.
UMA TEOLOGIA DE AÇÃO
Em contraste a isso, nosso Senhor, prestes a passar pela cruz e agin-do
decisivamente na história para reverter os resultados da Queda, contou uma
parábola que vincula os dois aspectos da realidade e é claramente contrária à
teologia da espera. Ela descreve o presente e o futuro do reino como um só,
uma vida contínua, com um importante trabalho a ser feito pelos trabalhadores
do mestre. Essa parábola incluí o aspecto "ainda não chegado" do reino, o
tempo em que o mestre estaria fora antes de voltar para receber seu reino; mas
também apresenta uma teologia de ação e avanço no presente - no tempo de
espera por sua volta.
Perceba o papel ativo de Cristo na parábola. Cristo, "o nobre", sai "para
urna terra distante para receber um reino e depois voltar" (Lucas 19.12). Note
também o papel ativo dos discípulos, retratados como servos (ou escravos), na
parábola. "E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes:
'Negociai até que eu venha.-
(Lucas 19.13).
As dez minas representam a porção de "capital"' que Cristo investe na
vida de cada crente. Além dos talentos, habilidades, interesses e temperamento
naturais do indivíduo, Cristo presenteia os crentes com seu Espírito e dons
espirituais (1 Co 12), e
"todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais"
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 80/373
84 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
(Efésios 1.3). Esses dons não são dados para ser desperdiçados ou usados
para inflar nossos próprios egos. Eles são dados corno recursos a serem investidos
e utilizados na expansão de seu reino.
Após entregar o "capital", Cristo deu um comando: no grego, o comando
é pragmateuomai, que significa "negociar", "fazer negócios" ou "ocupar". Essa
é a única vez em que essa palavra é utilizada no Novo Testamento. A palavra
pragmático deriva dessa palavra grega. Podemos ver a natureza pragmática da
palavra refletida em muitas traduções: "fazer negócios", "colocar esse dinheiro
para render", "negociar com esse dinheiro", "fazer negócios com esse dinheiro"
e "comprar e vender com esse dinheiro". A tarefa dada por Cristo a seus discípulos
é muito simples: utilizar pragmaticamente o capital natural e espiritual que ele
nos deu para engajar nossas culturas e o mundo para Cristo e seu reino. Ele
capitalizou cada um de nós para fazer uma contribuição singular ao avanço
atual de seu reino. Nosso chamado é sermos criativos, práticos, diligentes,
enérgicos, ativos e zelosos com o "capital" que ele nos deu.
A
CONTRIBUIÇÃO ÚNICA
Além de relatar nosso chamado e tarefa básicos como crentes, a parábola
dos talentos serve como um lembrete de outra verdade sobre o reino de Deus.
A versão da Bíblia King James em inglês traduz a palavra pragmateuomai
como "ocupar", de maneira que o comando de Cristo, em Lucas 19.13, significa
"ocupem até que eu volte". Nos dias de hoje, a palavra ocupar tem certo tom
militar, mas não militarista, o que acertadamente coloca o comando de Cristo e
nossa tarefa em meio a um conflito espiritual histórico. Realmente há um conflito
cósmico acontecendo. A expansão do reino de Deus se cumpre em meio à
antiga guerra espiritual contra o reino das trevas.
Entretanto, essa guerra espiritual se manifesta aqui na Terra de maneiras
altamente tangíveis e tem consequências tanto para os indivíduos quanto para
as culturas. O inimigo tomou a Terra, mas seu reino é temporário. O Rei já veio
e derrotou o inimigo e logo voltará. Ele já enviou suas tropas, a igreja, adiante
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 81/373
Uni Senhor um reino 1 85
de si, para tomar espaço e avançar no território inimigo e, em seguida, ocupar a
recém-conquistada terra para o seu retorno. Batalhas estão acontecendo em
muitas frentes. Há a batalha pela verdade, outra pela santidade na vida, outra
pela justiça, outra contra a fome, outra contra a pobreza, outra contra a ignorância.
Os servos do Rei devem ocupar-se - usando seus dons, talentos, habilidades
naturais e dons espirituais - em lutar contra as forças do mal e "ocupar" o
território inimigo. Dessa maneira, a noção de ocupar tem para nós um sentido
duplo de servir a Deus ativamente ("estar ocupado" com os negócios de Deus)
em meio ao conflito espiritual (no qual devemos "ocupar" o território). Essa é a
tarefa unificada que o nosso Senhor colocou diante de nós.
Em suma, pertencemos e servimos a um Senhor e participamos de um
reino, desde agora e para sempre. A propriedade do senhor na parábola não é
menos dele por estar distante, muito menos está ele entregando qualquer porção
de sua propriedade por considerá-la irrelevante ou menos valiosa. Além disso,
o trabalho atual de seus servos é tão importante para ele e para o seu propósito
final quanto sua celebração e serviço a ele em seu retorno.
Assim como ele fez com seus discípulos, Jesus quer abrir seus olhos
para a magnitude da vinda do reino de Deus, que engloba todos os aspectos de
nossa vida e trabalho. Como veremos, ele nos chama a um novo modo de vida
- de forma plena em sua presença.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 82/373
Capítulo 5
CORAM DEO :
DIANTE DA FACE DE DEUS
A parábola dos dez talentos nos ensina que cada cristão é chamado a
desempenhar um papel importante na manifestação do Reino de Deus na Terra.
Em contraste com o paradigma dualista ou gnóstico, as Escrituras revelam uma
visão integrada e holística do Reino o qual somos chamados a avançar. Deus é
o Senhor de toda a vida, e não apenas de parte dela. Ele é o Senhor da fé, das
missões e da implantação de igrejas, mas é também o Senhor dos negócios, da
ciência e das artes. Deus é o Senhor de tudo.
CORAM
DEO
PERANTE A FACE DE DEUS
DEUS
FÉ
TICA
CIENCIA
AZÃO
NEGÓCIOS POLÍTICA
VIDA
EOLOGIA
DEVOCIONAL
EVANGELISMO
ARTE/MÚSICA SERVIÇO
MISSÕES COMUNITÁRIO
ALIMENTO EVANGELHO
JUSTIÇA NATUREZA
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 83/373
88 I VOCAÇÃO: Es crera sua assinatura no
(MU( 'rs'a
CRIADOR, REDENTOR, SUSTENTADOR
O senhorio abrangente de Deus é verdadeiro em três níveis.
Primeiro, Deus é o Criador do mundo e de tudo o que nele há. O livro de
Gênesis revela que a arte de Deus era boa e bela, em harmonia com Deus e
consigo mesma. O mundo físico, assim como o mundo espiritual, é sagrado.
Tudo é criação de Deus.
Segundo, Deus sustenta toda sua criação hoje. Vemos isso em Colossenses
1.17: "Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por
ele",
e em
Hebreus 1.3: "O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da
sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder".
Terceiro, em Cristo, Deus trabalha redimindo toda a sua criação. O
apóstolo Paulo escreve: "Porque foi do agrado do Pai que toda plenitude nele
habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio
dele reconcilias-se consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra
como as que estão no céu" (Cl 1.19-20). Deus continuará seu trabalho de
reconciliação por meio de Cristo até que Este retorne no fim dos tempos'.
Por essas três razões, o paradigma gnóstico é na realidade falso. Não existe
dicotomia na mente de Deus. Ele criou, sustenta e está redimindo um só mundo,
não dois, e os cristãos, da mesma maneira, são chamados a viver em um só mundo.
VIVENDO CORAM DEO
Nossos antepassados na fé usaram a frase em latim coram Deo para
descrever esse estilo de vida. A palavra coram é derivada do latim cora, que
significa "a pupila do olho". É traduzida como "em pessoa", "face a face", "na
presença de alguém", "diante dos olhos", "na presença de", "diante de"
2 . A segunda
palavra, Deo, é a palavra latina para Deus. A ideia chave na frase é de um
relacionamento pessoal e íntimo. Nesse caso, Deus me conhece intimamente.
Nada está oculto. E eu estou conscientemente procurando viver toda a minha
vida na presença de Deus - "diante da face de Deus". Alguns têm usado o
conceito de "plateia de um só espectador" para descrever esse estilo de vida.
CHAMADOS PARA VIVER
CORAM DEO
ESTE
E O NOSSO CHAMADO:
VIVEREMOS TODA A NOSSA VIDA
NA PRESENÇA DE DEUS.
SOB A AUTORIDADE DE DEUS.
PARA A HONRA E A GLORIA DE DEUS.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 84/373
Coram Den
1 89
Na Europa, a Reforma Protestante do século XVI reacendeu essa
compreensão bíblica, como vimos anteriormente ao traçarmos a história do
dualismo na Igreja (Capítulo 2). Mais tarde, o pastor puritano Cotton Mather
(1663-1728) colocou a questão desta maneira: "Que todo cristão ande com
Deus enquanto trabalha em seu chamado, e atue em sua profissão com os
olhos em Deus, trabalhando sob os olhos de Deus"3 . Até o grande poeta inglês
John Milton (1608-1674) captou o sentido de viver sob o olhar do Empregador
celestial:
Tudo está, se eu tiver graça para assim usai;
Como sempre sob Os olhos do meu grande Mestre.'
Leland Ryken interpreta essas duas linhas do sétimo soneto de Milton
corno: "Tudo o que importa é que eu tenha graça para usar meu tempo, já que
vivo sempre na presença do meu grande Mestre"
5
.
FEITO PARA A PRESENÇA DE DEUS
O que esses cristãos que viveram antes de nós reconheceram foi que os
humanos foram feitos para andar na presença de Deus. De Gênesis a Apocalipse,
Deus se revela como um "Deus Infinito e Pessoal", usando o termo de Francis
Schaeffer. Em Gênesis 1.26, Deus revela que não só é o Deus Pessoal, como
também o Deus da comunhão. "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança". Antes da criação do mundo havia a intimidade da comunhão
e da comunicação entre as Pessoas da Trindade - o Único e Múltiplo Deus.
Deus fez o homem a sua imagem para que ele pudesse ter relacionamento
com os de sua própria raça (outros humanos) e também comunhão com o seu
Criador. A intimidade planejada por Deus é encontrada em Gênesis 3.8-9: "E
ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e
escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores
do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?".
Esse mesmo senso de comunhão é encontrado na peregrinação no deserto
quando Deus instrui Moisés a construir uma tenda para ele para que sua presença
divina transcendente pudesse habitar no meio do acampamento hebreu. Os
hebreus viviam em tendas, e Deus desejou tanto identificar-se com seu povo
que quis um "tabernáculo" - viver em uma tenda - assim como eles. "E me
farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo que eu te mostrar
para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus vasos, assim mesmo
o fareis" (Êxodo 25:8-9).
Talvez a demonstração mais extraordinária da intenção de Deus de fazer
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 85/373
90 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na univers'a
com que os seres humanos habitem em Sua presença seja que ele escolheu
entrar na história como um bebê vulnerável. A Encarnação marca o ponto alto
da comunhão de Deus com o homem, pois nela o Filho de Deus se fez Ho-
mem, Jesus Cristo. A Tradução Literal de Young da Bíblia sintetiza a emoção
da intimidade da Encarnação em João 1.14: "E o Verbo se fez carne, e fez
tabernáculo entre nós, e vimos a sua glória, glória como do unigênito de um pai,
cheio de graça e de verdade" '̀.
A palavra grega usada para "tabernáculo", em Êxodo 25.8-9 na
Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), skenoo, é a mesma
palavra usada em João 1.14. Significa "fixar o tabernáculo de alguém; ter o
tabernáculo de alguém; morar (ou viver) em um tabernáculo (ou tenda);
tabernáculo" ou "habitar". Essa é uma imagem poderosa do desejo e das intenções
de Deus de que habitetnos em sua presença, "perante a face de Deus".
Deus continua a tomar a iniciativa e a se oferecer para restabelecer a
intimidade conosco por meio de seu Filho, Jesus Cristo. O apóstolo Paulo
escreve: "A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no
entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou no corpo
da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e
irrepreensíveis, e inculpáveis. E não vos moverdes da esperança do evangelho"
(Cl 1.21-23).
Na redenção, assim como na criação, descobrimos que Deus deseja que
seu povo habite em sua presença.
O TRABALHO COMO ADORAÇÃO
Um dos principais pontos da Reforma foi a justificação pela fé, e o fato
de que devemos viver pela fé, perante a face de Deus.
O apóstolo Paulõ escreve claramente sobre a nossa justificação pela fé
em Efésios 2.8-9: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem
de vós, é dom de Deus, não por obras, para que ninguém se glorie". Quando nos
aproxima-mos de Deus, chegamos em fé - de mãos vazias. Boas obras não nos
salvarão. Estamos diretamente diante de Deus somente por sua graça, mediante
a fé no único mediador, Jesus Cristo'.
Assim córno na salvação estamos diante de Deus pela fé, as Escrituras
dizem que temos que 'viver diariamente perante Deus pela fé. Uma vez mortos,
estamos agora vivos em Cristo. Paulo escreve sobre isso em suas cartas; talvez
em nenhum outro lugar de forma tão clara como em Gálatas: "Já estou
crucificado com Cristo e eu já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que
agora vivo na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou
por mim" (2.20). Verdadeiramente os "que recebem a abundância da graça, e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 86/373
Coram Deo
1 91
do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo" (Rm 5.17).
Para os cristãos que entendem que somos salvos pela graça por meio da
fé, todo o conceito de trabalho foi transformado no de adoração. Paulo falou
para os crentes romanos: "Rogo-vos pois, irmãos [e irmãs], pela compaixão
de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1; grifo meu).
O historiador e crítico social escocês Thomas C arlyle (1795-1 881 ) capturou
a maravilha do que nossos antepassados entenderam:
Laborare est Orare, Trabalhar é Adorar... Todo trabalho verdadeiro
é sagrado; em todo verdadeiro trabalho, ainda que seja ele um trabalho
manual, existe algo divino... Nenhum homem tem trabalho, ou pode
trabalhar, senão religiosamente; nem mesmo o diarista pobre, o tecelão
de seu casaco, o costureiro de seus sapatos.'
Em 1520 Martino Lutero publicou uma obra curta chamada de
O
Cativeiro Babilônico da Igreja. À
medida que esse folheto começou a circu-
lar em toda a Europa, um ardente movimento foi gerado, transformando os
pensamentos de culturas inteiras sobre a vida e o trabalho. Conta-se uma história
anônima sobre dois padres que leram o panfleto quando este chegou à Holanda.
O texto a seguir é parte do que leram e que tanto mudou sua forma de pensar:
Os trabalhos dos monges e padres, por mais santo e árduo que
sejam, não diferem em nada, aos olhos de Deus, do que faz o trabalhador
braçal no campo ou da mulher que cuida das tarefas de sua casa, mas
todas as obras são medidas perante Deus somente com base na fé. Na
verdade, o trabalho doméstico de um servo ou serva é muitas vezes mais
agradável a Deus do que todos os jejuns e outras obras de um monge ou
padre, porque ao monge ou sacerdote falta a fé."'
Esse folheto desafiou os dois padres sobre a natureza da salvação, a
natureza da igreja e a natureza do trabalho. Até aquele momento, a igreja esteve
aberta para a paróquia sete dias por semana. Depois de lerem o panfleto,
anunciaram que as portas da igreja seriam abertas aos domingos, mas fechadas
no resto da semana.
Foi uma mudança chocante. Em que eles estariam pensando? Por meio
dos escritos de Lutero, os padres chegaram à conclusão de que o trabalho que
seus paroquianos faziam durante seis dias por semana não era menos sagrado
que o trabalho que eles mesmos faziam, isto é, se cada um tivesse trabalhado
com fé. Eles entenderam que as pessoas não precisavam visitar a igreja
diariamente para realizar seus serviços "espirituais" ou acrescentar medidas de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 87/373
92 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
santidade a seus dias. Ambos o clérigo e o "leigo" deveriam viver cada dia da
semana, cada hora do dia e em tudo que fizessem, coram Deo, diante da face
de Deus. Tanto aqueles que trabalhavam na igreja da comunidade quanto os
que trabalhavam nos campos, casas e
lojas tinham o potencial de prestar culto
a Deus com seu trabalho. Não era a natureza do trabalho em si, mas a fé com
a qual ele era realizado que importava.
SOLI DEO GLORIA
Não menos agora que no século XVI, seja qual for nossa profissão.
somos chamados a viver 24 horas por dia, sete dias por semana, perante a face
A HISTÓRIA DE ANA SANTOS
Ana Santos é uma estudante
brasileira de Direito que está buscando
formação em Direito Internacional com o in-
tuito de ajudar a promover a justiça junto a
mulheres e crianças ao redor do mundo. Ela
escreveu:
Obter uma cosmovisão bíblica acerca
do trabalho de uma vida é como ter uma
erupção de ideias que traz à tona o melhor de
Deus por meio de nós, tornando possível
compreender o que realmente significa ser
feito à sua imagem
Isso aconteceu comigo uns quinze
anos atrás quando ouvi pela primeira vez a
mensagem de Darrow Miller "Ocupem-se Até
que Eu Volte" em um rancho no leste do
Texas. Aquela mensagem faria toda a
diferença na direção que minha vida tomaria.
Percebi que devemos conectar nossas
habilidades e talentos ao reino de Deus não
somente para sermos cristãos agradáveis,
mas para tomar de volta o território de Deus
em todas as esferas da sociedade.
Foi enquanto trabalhava com o
governo de uma nação mulçumana que
comecei a enxergar e aplicar a centralidade
de Deus à minha vocação. Vi que era mais
fácil levar meus princípios cristãos a todo um
sistema de vida que ficar presa numa caixinha
de religião. O ambiente, o sistema de justiça,
a higiene e a assistência médica - tudo o que
eu vivenciava diariamente - passou a ser um
problema meu também. Parei de pensar em
estar no céu andando em ruas de ouro (que,
claro, é algo grandioso em que se pensar) e
entendi que o cristianismo é muito maior do
que esse sonho. Decidi exercer mordomia
sobre o meu entorno como cidadã do reino
que possui responsabilidades, assim como
todo cidadão tem em qualquer governo.
É impossível ver a vida como
entediante após essa revelação, pois há
muitas coisas com as quais se envolver e as
quais podemos trazer diante da face de Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 88/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 89/373
94 I VOCAÇÃO: Escreva .sua (1 ,S inanira no universo
Em primeiro lugar, as Escrituras revelam que a glória de Deus é parte
integrante da realidade, é resultado de quem ele é, um fato de sua insuperável
e infinita grandeza e bondade. O apóstolo João expressou a glória de Deus
desta maneira: "Deus é luz; e não há nele trevas nenhumas" (1 Jo. 1:5). O
próprio Deus é a luz por meio da qual todos enxergam. É por isso que João
escreveu sobre Jesus: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a
luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam" (Jo. 1:4-5). O
Antigo Testamento nos diz: "Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem
com o resplendor a lua te iluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o
teu Deus a tua glória" (Is. 60:19). O Novo Testamento afirma isto: "E a cidade
não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória
de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada" (Ap. 21:23). Deus é
vida e luz; fora de Deus só há morte e escuridão. Essa é a mais pura verdade.
A glória de Deus é a nossa luz.
Em segundo lugar, toda a Escritura mostra que nós glorificamos a Deus
tornando a verdade sobre ele conhecida aos outros, não do ponto de vista de
Deus para que ele possa dizer "eu sou grande " ou "eu sou bom ", mas para que
toda a Terra experimente sua grandeza e bondade, para que toda a sua criação
seja restaurada às suas intenções originais. Onde Deus reina, há vida e luz.
Onde Deus reina, sua verdade, justiça e beleza são manifestas. Trabalhamos
para o dia em que "a terra será cheia do conhecimento da glória do Senhor,
como as águas cobrem o mar" (Hc. 2:14).
Na Escritura Sagrada, tão cheia de mistérios, encontra-mos um Deus
tão grande, tão cheio de glória, que nenhum ser humano pode vê-lo e ainda
viver. Vemos um Deus que inspira as pessoas a gritar para as montanhas e
rochas: "Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado no
trono e da ira do Cordeiro" (Ap. 6:16). Ainda assim, ele é um Deus que por
nossa causa "aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se
semelhante aos homens" (Fp. 2:7). Com essas verdades em mente, vejamos o
que as Escrituras dizem sobre a glória de Deus.
Toda glória é encontrada em Deus porque tudo pertence a ele.
Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a
vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há nos céus e
na terra; teu é, Senhor (I Cr 29:11)
Porque dele e por ele, e para ele, cão todas as coisas;
glória pois a ele eternamente. Amém. (Rni. 11:36)
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 90/373
Coram Deo
1 95
A glória de Deus está enraizada em sua natureza e em seu caráter.
Desde a eternidade, Ele, o Único Deus, manifesta bondade, amor, fidelidade e
sabedoria.
Então Moisés disse: "Rogo-te que me mostres a tua glória".
Porém ele disse: "Eu farei passar toda a minha bondade por
diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e
me compadecerei de quem me compadecer". (Ex 33.18-19)
E todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo, e a glória
do Senhor sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra
sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao Senhor: "Porque
ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre". (II Cr 7.3)
Não a nós, Senhos; não a nós, mas ao teu nome dá glória,
por amor da tua benignidade e da tua verdade. (Sl 115.1)
Ao único Deus, sábio, seja dado glória por Jesus Cristo
para todo o sempre. Amém. (Rm 16.27)
Ora ao Rei dos Séculos, imortal, invisível, ao único Deus
seja honra e glória para todo sempre. Amém. (1 Tm 1.17)
A natureza da glória de Deus está revelada em suas obras de criação e
redenção.
Os céus manifestam a glória de Deus; e o firmamento
anuncia a obra de suas mãos. (SI
19.1)
Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos
as suas maravilhas (Si
96.3).
Aquele que nos ama e que em seu sangue nos lavou dos
nossos pecados e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai
- a ele glória e poder para todo o sempre Amém. (Ap 1.5-6)
O que parecia impossível - que a glória do Deus infinito se manifestasse
em forma humana - tornou-se realidade. A vida de Jesus Cristo representa
perfeita e tangivelmente a glória do eterno Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 91/373
96 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua LISS
juntura no universo
O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão
exata do seu ser (Hb 1-3)
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. E 111710S a sua
glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade. (Jo 1.14)
Porque Deus, que disse que das trevas resplande-cesse a
luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação
do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. (II
Co 4.6)
Se quisermos compreender a glória de Deus, precisamos apenas olhar
para a face de Cristo. Conforme entendemos o que significa viver
constantemente na presença de Deus e trabalhar unicamente para a glória
dele, podemos meditar sobre o Cristo que não faz nada por ambição egoísta ou
por vaidade, mas que com humildade considera os outros superiores a si
mesmo'. Esse é o Deus que sonha em morar conosco, que nos convida a viver
intimamente em sua presença. Esse é o Deus que nos chama a trabalhar com
ele - soli Deo gloria.
ALÉM DO DUALISMO À CONSAGRAÇÃO
Paulo nos encoraja: "E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo coração,
como ao Senhor, e não aos homens" (Cl 3.23). Tudo quanto fizerdes significa
exatamente isso. Gerard Manley Hopkins disse em um sermão: "Levantar as
mãos em oração dá glória a Deus, mas um homem com uma forquilha na mão,
uma mulher com um balde, também lhe dão glória. Ele é tão grande que todas
as coisas o glorificam, se você as fizer com esse desejo"'. Em uma veia
ligeiramente diferente, Madre Teresa disse: "Nós não fazemos coisas grandes,
fazemos só coisas pequenas com grande amor'. Esta é a grande reparação
da teologia bíblica da vocação feita por Martinho Lutero na Reforma. Além de
ser uma descoberta que pode transformar nossas vidas e trabalho hoje.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 92/373
Coram Deo
197
A HISTÓRIA DE CHARLES THAXTON
O Dr. Charles
Thaxton estava deitado
em sua cama em nossa casa no Chalé
Bethany na L'Abri de Huemoz na Suíça. Ele
havia concluído seu doutorado em físico-
química na Universidade Estadual de lowa e
havia chegado à L'Abri para estudar com o
Dr. Francis Schaeffer, proeminente
evangelista, apologista e teólogo cristão.
Certo dia, quando entrei em seu quarto após
o almoço, encontrei Charles olhando para o
teto. Perguntei a ele se estava bem. Ele me
disse que havia dado estudos bíblicos du-
rante toda a graduação e pós-graduação. Ele
disse: "Todos esses anos, eu tinha as
'respostas' mas nunca tive as perguntas".
Vivendo e estudando em L'Abri, Charles havia
conseguido entender que as perguntas que
as pessoas faziam tinham respostas nas
Escrituras.
Assim como muitos cristãos na
segunda metade do século XX, ambos tínhamos
sidos influenciados pelo gnosticismo
evangélico. Nosso trabalho e estudos
ocupavam a "esfera secular" enquanto nossa
fé cristã ficava na "esfera espiritual". Francis
Schaeffer desafiou essa dicotomia e chamou
a igreja a retornar a uma cosmovisão bíblica.
Charles estava sendo confrontado com a
separação entre sua fé cristã e seu trabalho
como cientista. Foi em L'Abri que essa
"personalidade dividida" começou a ser curada.
Depois de seu tempo em L'Abri, Dr.
Thaxton buscou estudos de pós-doutorado
em história da ciência na Universidade de
Harvard e nos laboratórios de biologia mo-
lecular da Universidade de Brandeis.
Posteriormente, ele se tornou o editor
acadêmico do livro escolar de biologia para o
Ensino Médio, de 1989, intitulado Of Pandas
and People: The Central Question of Biologi-
cal Origins [Sobre Pandas e Pessoas: A
Questão Central da Origem Biológica], no qual
apareceu a primeira menção significativa ao
Desenho Inteligente. Ele é membro do Centro
para Ciência e Cultura do Discovery Institute,
fundado para desafiar as suposições
metafísicas sobre as quais a ciência
darwiniana foi fundada.
Muitos anos atrás, Charles relatou,
em uma carta aos seus amigos, uma
experiência que tivera enquanto palestrava
a um grupo de professores de ciências nas
universidades pós-comunistas da Romênia.
Um professor seguiu Charles até o hotel. O
homem aproximou-se dele e disse que havia
testemunhado um milagre naquele dia. O pro-
fessor exclamou: "Pela primeira vez na minha
vida, vi um cristão e um cientista no mesmo
corpo ". Que tragédia isso ser tão incomum
Com muita frequência, os cristãos envolvidos
com a ciência vivem em dois mundos. Talvez,
com o trabalho do Dr. Thaxton e de seus
colegas, os fundamentos da ciência
naturalista venham a rachar no Ocidente
assim como racharam na Oriente pós-
soviético.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 93/373
98 1
VOCAÇÃO:
Escreva sim r.SsÍnOMvu no universo
O grande teólogo. pastor, educador e primeiro-ministro holandês Abraham
Kuyper falou com paixão para a igreja no mundo ocidental com o intuito de
renovar a visão de seu chamado
e levá-la a voltar ao primeiro amor. Escrito no
alvorecer da cultura secular materialista da modernidade, o toque de convocação
da trombeta de Kuyper ainda é muito relevante para nós hoje:
Não é concebível nenhuma esfera da vida humana na qual unia
religião não mantenha suas exigências de que Deus seja louvado, de que
as ordenanças de Deus sejam observadas, e de que cada labora (trabalho)
seja permeado por sua ora (oração/adoração), em oração fervorosa e
incessante. Onde quer que o homem possa estar, o que quer que ele possa
fazer, onde quer que ele possa usar sua mão - na agricultura, no comércio
e na indústria, ou em sua mente, no mundo das artes e da ciência - ele está,
em qualquer que seja seu trabalho, constantemente diante do seu Deus,
ele é um empregado à serviço de seu Deus e deve obedecer rigorosamente
a ele, e acima de tudo deve visar a glória cio seu Deus.''
Não há dois mundos nem dois tipos de vida para se viver. Toda a vida,
incluindo as horas de meu trabalho, é para ser vivida coram Deo, para o avanço
do reino de Deus, para a glória do Senhor dos céus e da Terra.
É evidente que viver coram Deo significa que não devemos fazer uma
separação entre o sagrado e o secular. O secular habita na presença do sagrado.
O secular é infundido ao sagrado.
VIVENDO EM UM MUNDO
CONSAGRAGA0 OCAÇÃO
TUAÇÃO
POETA
NAO SANTIFICADO ANTIFICADO
RTISTA
O LAR
RANSCULTURAL
PASTOR
CARPINTEIRO
EVANGELISTA
DONA DE CASA
CONTADOR
FILOSOFO
JARDINEIRO
PLANTADOR DE IGREJAS
EMPRESÁRIO
CINEASTA
MISSIONÁRIO
FAZENDEIRO
COZINHEIRO
ENFERMEIRO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 94/373
Coram Deo
I 99
Mas, como os reformadores entenderam, há uma distinção que devemos
fazer. Essa distinção está entre viver uma vida consagrada e viver uma vida
não consagrada. A vida consagrada é a vida vivida coram Deo, em adoração,
Soli Deo Gloria. Uma vida consagrada é a que glorifica a Deus. É aquela que
modela a glória de Deus em uma pessoa que vive sob o senhorio de Cristo, que
representa a glória de Deus na Terra. Uma vida consagrada é uma vida dedicada
a Deus em todas as áreas. Ela é santificada Uma vida não consagrada é
aquela em que uma pessoa funciona como um cristão só na parte reli-giosa da
vida, ou quando é conveniente. Uma pessoa pode ser um adorador mecânico
de carros enquanto o outro é um evangelista adúltero. O indivíduo pode ser um
adorador agricultor, enquanto o outro, um pastor corrupto.
Ser consagrado é ser "devotado ou dedicado ao serviço e
à adoração a
Deus""'. Nós adoramos a Deus em nosso trabalho conforme conectamos a
totalidade de nossas vidas ao seu propósito divino - um propósito redentor
expressado por meio das Escrituras como o reino de Deus. O conceito bíblico
de trabalho é que o trabalho de uma pessoa é sua contribuição única para o
reino de Deus. Como estudado no capítulo anterior, nossa profissão é o lugar
para onde somos enviados para retomar o "território ocupado" para Cristo e
seu reino. Esse é o principal trabalho da vida cristã.
Como nossas vidas e trabalho ocupam territórios para Cristo e seu reino
é uma das questões que exploraremos no restante deste livro na medida em
que desenvolvemos uma verdadeira teologia bíblica sobre a vocação. O
Presidente americano Teddy Roosevelt proferiu "a ordem de Miquéias", que
pode servir como o lema da vida e trabalho cristãos, afirmando o meio pelo qual
ocupamos nossa esfera de influência para Cristo:
Ele declarou, 6 homem, o que é bom.
E que é o que o Senhor pede a ti?
Senão q ue pratiques a justiça, e ames a beneficência,
e andes humildemente com o teu Deus. (Mq 6 .8)
Em meio a um mundo caído, procuremos viver uma vida moral. Em meio
à injustiça e à corrupção, procuremos a justiça. Em meio a culturas que muitas
vezes são brutais e insensíveis, devemos amar a misericórdia. Em meio ao
poder e à arrogância, caminhemos humildemente com Deus. Somos, de alguma
forma, a encarnação de Cristo neste mundo falido. Nosso trabalho deve ser o
local onde damos vida às nossas orações: "Seja a tua glória sobre toda a terra"
(SI 57.5) e "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como nos
céus" (Mt 6.10). Os princípios de vida do reino são para ser exercidos em
nossa vida
e
na esfera da sociedade onde trabalhamos.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 95/373
100 1 VOCAÇÃO:
li
reva
1r ,n~iirer co
Leland Ryken capta o efeito radical dessa visão bíblica do trabalho em
Redeeming the Time:
Obviamente, essa visão de trabalho dá a cada tarda um valor
intrínseco e integra todas as vocações ou tarefas legítimas à vida espiritual
cristã. Ela dá significação a cada trabalho, afirmando-o
C01710
uma esfera
para se glorificar a Deus, e fornece um caminho para os trabalhadores
servirem a Deus não só em seu trabalho no mundo,
mas por meio dele
também [grifo meu)."
Esse é o chamado que cada um de nós precisa ouvir hoje; que é possível
viver uma vida integrada de valores e propósitos na qual servimos a Deus pelo
nosso trabalho no mundo. É possível viver urna vida de consagração em vez de
separação.
O missionário à Índia E. Stanley Jones compreendeu o tipo de pessoa
que somos chamados a ser, o tipo de pessoa que queremos ser, em seu livro
The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person. Ele escreveu que nossa
ocupação está enquadrada no maravilhoso reino de Deus:
Esse tipo de pessoa enxerga a Deus, não em unta visão, mas o vê
trabalhando com ele e nele e o apoiando. Ele vê Deus trabalhando em
todo lugar: O universo se torna vivo com Deus - cada arbusto incendiado
por ele, cada evento carregado de destino, a vida é uma aventura
emocionante com Deus. Você o enxerga operando em você, em eventos, no
universo. Deli da com você e o orienta. Vocês trabalham no mesmo
negócio,
na ntesnta
ocupação - o Reino. E esse negócio é a ocupação mais
emocionante e estimulante do mundo. Tudo mais é monótono e vazio - sem
graça. Você trabalha no melhor emprego, da maior escala, na tarefa mais
recompensadora, com o resultado mais significativo - o reino de Deus na
Terra [grifo
171CUI.
IN
Quando entendemos que todos Os cristãos devem viver a vida toda co-
ram Deo, entendemos que estamos todos em uma missão. Somos todos
missionários Em contraste com o gráfico da Ponte Gnóstica para o Significado
do Trabalho (ao final do capítulo 2), a Bíblia estabelece uma ponte onde todos
saem do paradigma missionário e adentram no significado do trabalho.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 96/373
PONTE BÍBLICA PARA
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO
OS
CHAMADOS
PREGADOR
CARPINTEIRO
ARTISTA
PROFESSOR
Músico
DONA DE CASA
ENFERMEIRO
PLANTADOR
DE IGREJAS
MECÂNICO
TEÓLOGO
PREGADOR
CARPINTEIRO
ARTISTA
PROFESSOR
Músico
DONA DE CASA
ENFERMEIRO
PLANTADOR
DE IGREJAS
MECÂNICO
TEÓLOGO
CRISTÃO DE TEMPO INTEGRAL
Coram Deo 1 101
A HISTÓRIA DE CHARLES THAXTON
John Beckett cresceu em Elyria, Ohio.
Logo após graduar-se bacharel em ciências
econômicas e engenharia mecânica na M.I.T,
Beckett se uniu a seu pai em uma pequena empresa
famil iar de manufatura. Alguns anos mais tarde,
com a morte de seu pai, Beckett assumiu o
negóc io. Durante anos ele fez a empresa crescer
até se to rnar uma f i rma g loba l com m ais de 600
empregados. Hoje a firma é líder mundial em
vendas e manufatura de aparelhos de
aquecimento com erc ia is e res idencia is .
Em 1998 Beckett escreveu seu primeiro
livro, Loving Monday: Succeeding in Business
W ithout Se ll ing Your Soul [Amando a Segunda-
Feira: Vencendo nos Negócios Sem Vender Sua
Alma ]. Nele o autor relata a jornada de sua vida
pessoal. O livro começa com Beckett contando
sobre sua vida com Cristo e seu desejo de
crescer como um dedicado cristão, esposo e
pai na época em que sua vida estava
estruturada sobre um paradigma gnóstico. Sua
caminhada com Cristo estava impactando sua
vida particular, mas não sua vida nos negócios.
Foi durante esse tempo que sua busca pela
santidade o levou a pensar que precisava
vender seu negócio e viajar para o exterior como
missionário.
Beckett descreve como a vida e obra
de Francis Schaeffer começaram a influenciar
sua própria vida. Schaeffer desafiou suas
suposições dualistas que separavam a fé do
trabalho. Suas palavras chamaram Beckett a
viver em um único mundo, diante da face de
Deus. O negócio de Beckett não devia estar
separado de sua fé; ao contrário, este devia
ser o lugar onde ele a viveria na prática. A
última parte de Loving Monday descreve como
Beckett empregou princípios bíblicos de
empreendedorismo para mudar a maneira
como conduzia sua empresa. John Becket t ve io
a compreender que o Senhor é Senhor de toda
a vida, inclusive dos negócios, e que a Bíblia
tem muito a dizer sobre os princípios para se
administrar uma empresa de maneira santa.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 97/373
P A R T E :
P R IM E IR O S P A S SO S E M
D IR EÇ Ã O A U M A T E O L O G IA
B ÍB LIC A D A V O C A Ç Ã O
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 98/373
Capítulo
6
A NECESSIDADE DE
UM A TEOLOGIA BÍBLICA
DA VOCAÇÃO
Em um discurso intitulado "Por que trabalhar?", a autora inglesa Dorothy
Sayers disse o seguinte:
Em nada a igreja tem perdido tanto seu senso de realidade como
em seu fracasso em entender e respeitar a vocação secular. Ela permitiu
que o trabalho e a religião se tornassem departamentos separados; e é
espantoso descobrir que, como resultado disso, o trabalho secular do
mundo tornou-se puramente egoísta e com fins destrutivos, com grande
parte dos trabalhadores inteligentes do mundo se tornando irreligiosos
ou, no mínimo, desinteressados por religião. Mas isso é mesmo espantoso?
Como alguém poderia permanecer interessado em uma religião que parece
não ter qualquer relação com nove décimos de sua vida?'
Sayers fez esta declaração na década de 1940. Infelizmente, a igreja de
Deus ainda pode ver a si própria - e ao mundo - espelhado em suas francas
palavras.
Qual é o remédio para a separação entre trabalho e religião que tanto
incomodou Sayers e continua nos incomodando hoje? Seguindo pelo mesmo
Espírito que iluminou os reformadores protestantes, temos uma resposta
poderosa de um papa. Em sua mensagem para o XXXV Dia Mundial de Oração
pelas Vocações, o Papa João Paulo II apelou aos jovens católicos para verem
seu trabalho singular no contexto de uma nova cultura das vocações:
O Espírito de Deus escreve no coração e na vida de cada pessoa
batizada um projeto de amor e graça, que é a única maneira de dar total
sentido à existência, abrindo o caminho para a liberdade dos filhos de
Deus, permitindo a oferta pessoal e a insubstituível contribuição para o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 99/373
106 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
progresso da humanidade no caminho da justiça e da verdade. O Espírito
não apenas nos ajuda a nos colocar sinceramente diante das grandes
questões do coração - De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? Qual
o propósito da vida? Como devo utilizar o meu tempo? - como também
abre a perspectiva para uma resposta corajosa.
A
descoberta de que cada
homem e cada mulher tem seu próprio lugar no coração de Deus e na
história da humanidade constitui o ponto de partida para uma nova
cultura das vocações.'
Enquanto Sayers acendeu os holofotes sobre o problema que en-
frentamos, esta rica visão colocada no coração de João Paulo II ilumina a
solução. Se a tragédia de "uma religião que parece não ter qualquer relação
com nove décimos de [nossa] vida" e a visão desta "nova cultura vocacional"
ressoam em nós, o que devemos fazer?
TODOS SOMOS TEÓLOGOS
Devemos aceitar nosso papel como teólogos e tornar-nos bons teólogos.
O apelo do Papa João Paulo II para uma nova cultura vocacional é feito com o
mesmo espírito da chamada dos reformadores da Reforma Protestante, que
mobilizou os cristãos a viver a totalidade de suas vidas diante da face de Deus,
recuperando a teologia bíblica da vocação que precisamos desesperadamente
redescobrir hoje.
Você pode estar pensando: Não sou teólogo. Mas o ponto que não pode
ser ignorado é que todos somos teólogos.
Porque Deus existe e é soberano, todos estão vinculados a ele de uma
forma ou de outra. Algumas pessoas entram em um relacionamento direto e
pessoal com o Deus vivo. Alguns negam sua existência e, portanto, têm uma
relação hostil com ele. Mas mesmo o ateu, que diz que não há Deus, estabelece
uma base teológica para sua vida. Quer sejamos ateus ou pessoas de fé, não
deixamos de ter uma teologia. A teologia pode ser autoconsciente ou
inconscientemente formada. Pode ser uma boa teologia ou uma teologia mim.
Mas o fato é que temos uma teologia que molda nossas vidas.
Os cristãos inevitavelmente viverão sua verdadeira teologia com um bom
grau de consistência. Alguns estão procurando viver de uma forma cristã
consistente, isto é, estão procurando intencionalmente pensar e fazer sua teologia
- viver de maneira encamacional, manifestando o espírito vivo e os ensinamentos
de Cristo em suas vidas, comunidades e locais de trabalho.
Em contrapartida, existem pessoas que professam a Cristo, mas cuja
vida, linguagem e escolhas refletem que, na prática, são ateus. Elas falam as
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 100/373
A necessidade de urna teologia bíblica da vocação
1 107
palavras certas sobre o que acreditam e podem até mesmo ser membros ativos
da igreja, mas suas vidas e valores práticos são mais formados pelos conceitos
de secularização do mundo contemporâneo do que pelo espírito do Cristo vivo
e os conceitos das Escrituras.
Como Jesus, seus seguidores devem organizar suas vidas baseados em
uma teologia bíblica consistente, em uma visão de mundo do reino de Deus.
Jesus compreendeu sua vida e trabalho nessa perspectiva, viveu sua vida e
realizou sua obra consistentemente. Nós devemos seguir seu exemplo. Para
seguir Jesus, para entender quem somos e para que fomos criados e chamados,
precisamos tanto de uma relação com o Deus vivo como de um entendimento
crescente da cosmovisão bíblica.
VIVENDO UMA VIDA EXAMINADA
Como o filósofo Richard Weaver nos lembra, as ideias têm conse-
quências. A perspectiva pela qual enxergamos o universo, nosso mundo e nossas
próprias vidas moldará o que vemos, o que nos tornamos e como vivemos
nossas vidas. Como vimos até agora, a igreja e nossa própria compreensão da
vida cristã têm, em muitos aspectos, sido moldadas pela defeituosa visão dualista,
criando a situação descrita por Dorothy Sayers. O que tenho chamado de
"gnosticismo evangélico"
tem consequências enormes para nossa própria
jornada, para o bem-estar de nossa sociedade e nossas igrejas, e para o
estabelecimento do reino de Deus no mundo.
A fim de efetivamente sair dessa visão de mundo defeituosa, preci-samos
desenvolver uma nova teologia da vocação. Isso significa redescobrir, para a
era contemporânea, como refletir sobre nossas vidas de acordo com uma
cosmovisão bíblica.
O preço de não refletir é alto. Como diz Dallas Willard,
"a teologia
prática de cada um afeta vitalmente seu curso de vida... Uma teologia
impensada ou desinformada cativa e orienta nossa vida tão intensamente
quanto unia teologia esclarecida e reflexiva'.
Ainda assim muitos de nós vivemos sem refletir sobre nossas vidas.
Podemos raramente, ou nunca, pensar sobre a teologia em que estamos vivendo;
muitas vezes funcionamos de forma rotineira, como se por controle remoto.
Raramente pensamos sobre o pensar, raramente examinamos por que fomos
colocados aqui na Terra. Podemos gastar de 50 a 75% de nossas horas
acordados e de 60 a 90% dos anos de nossas vidas trabalhando. No entanto,
quanto tempo é dado para responder às perguntas: Qual é o propósito de minha
vida? Por que trabalho? Qual o propósito da vida?
Não somente quase nunca refletimos a nível pessoal, como também a
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 101/373
108 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura na universo
igreja moderna passa pouco tempo focando no comum, focando, na maior parte
do tempo, no espetacular, no escandaloso, naquilo que traz conforto, ou em
outros assuntos que são facilmente retirados de nosso mundo cotidiano.
A igreja tem a habilidade de preparar a força missionária - "o corpo de
Cristo" - para o local de trabalho, para a praça pública e para a comunidade. A
teologia bíblica da vocação deveria fazer parte do ciclo regular de pregação da
igreja. Classes devem ser criadas para preparar os membros da igreja para
discipular a esfera do mercado que eles ocupam em sua vida profissional. No
entanto, quando foi a última vez que seu pastor ensinou uma série de estudos
sobre o trabalho? Sobre princípios bíblicos de liberdade, iniciativa, ou ética nos
negócios? Quando foi a última vez que houve pequenos grupos ou escola
dominical que focasse no local de trabalho? A ausência desse tipo de pensamento
e pregação na comunidade cristã é um reflexo de como a falsa dicotomia secu-
lar/sagrado infectou nossa teologia.
Os principados e potestades, as forças do mal, usam o trabalho para
aumentar o reino das trevas. Ao mesmo tempo, Deus usa o trabalho para fazer
avançar o reino da luz. Existem tanto meios e usos piedosos do trabalho quanto
meios e usos iníquos dele. Mas isso deve dar-nos grande razão para fazer uma
pausa quando consideramos que tanto os cristãos professos quanto os não
cristãos podem contribuir para o reino da luz ou para expansão do reino das
trevas. A escolha pode ser feita conscientemente, de forma intuitiva, ou
relutantemente. Na verdade, os não cristãos podem contribuir para o reino da
luz simplesmente porque, mesmo o mundo estando caído, ele é intrinsecamente
um universo moral e a humanidade foi projetada para a atividade moral. Por
outro lado, o pecado faz com que cristãos e não cristãos da mesma forma
contribuam para o reino das trevas. Enquanto o trabalho é parte do bom projeto
de Deus para a humanidade, o pecado corrompe tanto os fins quanto o significado
de nosso trabalho.
Se como cristãos não agirmos conscientes constantemente em nome do
reino de Deus, é provável que nos encontremos contribuindo para o reino das
trevas. Sem a consciência de qual é nossa teologia pessoal, funcional e verdadeira,
corremos o risco de acordar tarde demais para entender que não vivemos de
maneira alguma a vida que queremos, e certamente não vivemos a vida que
Deus nos chamou e nos capacitou para viver. Guiados pelas distorções das
falsas visões de mundo e por nossa própria natureza pecaminosa, sem termos
sido transformados por Deus em nossos corações e mentes, é improvável que
a verdade e a justiça se manifestem; sem viver na presença de Deus, torna-se
difícil fazê-lo conhecido em nosso mundo falido.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 102/373
A necessidade de ama teologia bíblica da vocação
1 109
UMA ESTRUTURA ABRANGENTE
Assim, tanto pessoal quanto coletivamente, existe urna necessidade de
estabelecer urna estrutura abrangente para desenvolver urna teologia do trabalho.
Tal estrutura nos permite construir um entendimento integrado de nossa vida e
trabalho - nossa vocação. Isso requererá uma leitura diferente da Bíblia. A
maioria de nós lê a Bíblia corno um exercício devocional para nossa vida
espiritual. Isso é bom, mas precisamos ver as Escrituras pelo que são: o manual
de Deus para a vida como um todo. Elas falam de forma abrangente (mas não
exaustiva) sobre tudo na vida. Devemos ler a Bíblia de maneira plena, discernindo
toda a cosmovisão que ela representa em vez de juntarmos rapidamente textos
para provar um determinado assunto.
Outra maneira de dizer isso é comparando a Bíblia a uma floresta. Você
pode estudar a floresta a partir do interior, examinando cada árvore (verso) que
compõe as Escrituras. Mas há urna segunda forma de ler as Escrituras - a
partir de seu exterior. Na segunda abordagem, sobe-se até o topo da montanha
para ver a floresta de cima. Esta é a perspectiva da cosmovisão das Escrituras.
Existem três conceitos úteis que podem nos auxiliar ao nos aproximarmos
da Bíblia com urna perspectiva de cosmovisão: a largura e a profundidade das
Escrituras, e o fato de que a Bíblia é o manual do proprietário.
LARGURA E PROFUNDIDADE DAS ESCRITURAS
ANTES DO
PRINCIPIO
O FLUXO DA HISTORIA BÍBLICA
FUTURO
LARGURA
TERNO
CRIAÇÃO: QUEDA PEDENGAO CONSUMAÇAO:
No
PRINCÍPIO
OLTA DE CRISTO
O
S
D
D
H
S
O
O
Q.
t
O QUE
E QUE
E ARA ONDE A
A NATUREZA?
HOMEM?
ISTORIA ESTA INDO?
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 103/373
11 O 1 VOCAÇÃO: E
screva sua as's'inatura
110 universo
Em primeiro lugar, as Escrituras têm largura. A Bíblia é uma história. É a
história do Criador. Ela começa em Gênesis e termina no Apocalipse. Existem
quatro componentes principais na narrativa: a Criação, a Queda. a Redenção
(a cruz de Cristo) e a Consumação (o retorno de Cristo e seu reino).
Em segundo lugar, a Bíblia tem profundidade. Ela revela a realidade da
maneira que Deus fez e responde às perguntas: O que é a verdade? O que é
bom? O que é belo? Ela responde a questões filosóficas básicas do ser humano.
Existem três principais áreas das questões humanas. Há questões
epistemológicas sobre conhecimento: O que posso saber? Como posso saber?
O que é verdade? Existe alguma verdade? Há questões metafísicas sobre a
natureza da realidade: O que é real? Existe um Deus? O que é o homem? Qual
é a natureza da criação? Para onde a história está indo? Qual o propósito de
minha vida? E existem questões morais: Existe certo e errado? O que é certo e
errado? Se existe um Deus bom, de onde o mal veio? O que é a beleza? A
profundidade das Escrituras revela a cosmovisão bíblica.
Em terceiro lugar, a Bíblia é o manual do proprietário. Quando você
compra um aparelho ou um veículo, ele vem com um manual do proprietário.
Quem escreveu o manual? Aqueles que projetaram e construíram o item Por
que eles escreveram? Para que o proprietário saiba o propósito do item e como
este funciona. A Bíblia é o manual de instruções que Deus escreveu para nós.
Ela nos ajuda a compreender o propósito de nossa vida; revela a estrutura
sobre a qual devemos fundamentar nossa vocação.
À medida que avançamos no desenvolvimento de uma teologia bíblica
da vocação - e enquanto buscamos descobrir nosso próprio "projeto de amor e
graça" - exploraremos as Escrituras a partir dessas perspectivas de cosmovisão.
Vamo s primeiro examinar a Bíblia como uma história - A H istória Transformadora
de Deus - uma narrativa que vai de Gênesis a Apocalipse e finalmente se
estende para abarcar nossa vida e trabalho no tempo e na eternidade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 104/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 105/373
1 12 I VOCAÇÃO: Escreva mui assinatura no universo
A narrativa bíblica pode ser chamada de A História Transformadora.
pois tem a capacidade de mudar vidas, comunidades e nações enquanto
transforma nosso pensar e agir em todas as áreas da vida. Como a lagarta se
transforma em urna borboleta. assim também Deus tem o poder para transformar
trevas em luz. morte em vida, escravidão em liberdade, corrupção em justiça.
crueldade em compaixão, ganância em contentamento, pobreza em abundância.
Ao fazer isso, ele salva indivíduos, trazendo curas substanciais em suas vidas e
relacionamentos. A história bíblica tem a habilidade de tirar comunidades da
pobreza. Tem a capacidade de construir nações livres, justas e compassivas.
A história bíblica começa em Gênesis e termina no livro de Apocalipse.
Ela começa em um jardim, o Jardim do Éden, e termina em uma cidade, a
Cidade de Deus - a Nova Jerusalém. Ela começa com o primeiro casal. Adão
e Eva, e termina com o casamento do Cordeiro. No final da "História do Criador",
Jesus voltará para se casar com sua noiva, a igreja. Esta é uma história poderosa,
é A História, e é a verdade. Ela é a História para a qual pessoas no mundo
inteiro foram criadas e pela qual elas anseiam.
Vamos então dar urna olhada nessa maravilhosa narrativa.
CRIAÇÃO - No princípio, Deus
O silêncio da eternidade foi quebrado pelo estrondo das linhas iniciais da
narrativa bíblica: No princípio. DEUS... criou... os céus e a terra Cada cultura
tem uma história, e as linhas inicias da história estabelecem qual será o enredo.
No hinduísmo, a primeira linha é da "des-criação", a quebra do eterno. No
secularismo, o início foi uma piscina de água viscosa. Deus revelou a Moisés a
linha inicial da História Verdadeira de todas as culturas e de todos os tempos:
"No princípio DEUS criou os céus e a terra".
Se houve um "princípio", deve ter havido, como Francis Schaeffer nos
lembra, um "antes do princípio". Se no começo Deus criou, então Deus existe
antes daquele momento. O universo foi moldado pela natureza e o caráter do
Deus Eterno. Um exemplo disso é encontrado em Gênesis 1.26: "Então Deus
disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e
domine ele...". Deus revela a si mesmo como o Único e múltiplo Deus. Antes da
criação havia comunhão e comunicação entre os membros da Trindade. Todos
os anseios do homem por uma comunidade e uma comunicação significativa
têm fundamentos na eternidade. Da mesma forma, encontramos estas palavras
marcantes de Jesus registradas em João 17.24: "Pai, desejo que onde eu estou,
estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória,
a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo". Neste
texto descobrimos que o amor existia antes da fundação do mundo. Todos os
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 106/373
A inetanarratira essencial 1 113
desejos humanos de amar e ser amado estão fundamentados na eternidade. A
cosmovisão para as nossas vidas e para a criação em si tem sua identidade
estabelecida "antes do início".
Gênesis 1 registra que Deus criou o universo do nada. Ele criou declarando
palavras. E depois que criou cada coisa, ele usou palavras mais uma vez para
denominar o que havia feito. Deus trouxe a criação à existência pela fala. No
final de cada fase da criação', ele proclamou que o que havia feito era "bom"
ou "agradável", no sentido de alegre. Da mesma forma, vemos que Deus profere
um comando criativo e, em seguida, lê-se imediatamente que "foi assim", "direito",
"justo" ou "verdade', no sentido de ser firme ou estável. Depois de concluir a
criação fazendo o homem, ele proclamou que seu trabalho era "muito
'extremamente] bom" (Gn 1.31). Tudo o que Deus fez, tanto no espiritual quanto
no mundo físico, é bom; está em harmonia com Deus e consigo mesmo. No
momento da criação, o homem tinha uma relação contínua com o seu Criador e
com o resto da criação.
Apesar de Deus haver criado tudo perfeito e completo desde o início, a
criação não havia alcançado seu pleno potencial. Deus fez o homem para
desenvolver esse potencial, como exploraremos em profundidade na Parte 3,
com ramificações motivadoras para a importância de nossa vocação.
QUEDA -
O Homem se Rebela contra
o Soberano Rei dos Céus
O homem foi colocado como mordomo da criação de Deus, para cuidar
e
administrar sua casa - o mundo. Mas acabamos descobrindo que a serpente
- Satanás - faz bem seu trabalho: ele distorce a verdade e desafia Adão e Eva
a pecar contra o Criador. Eles, por sua vez, escolhem acreditar nas mentiras de
Satanás em vez de na verdade de Deus, rebelando-se contra o Soberano Rei
dos Céus. Nessa revolta, a principal relação entre Deus e o homem é quebrada.
Como resultado, todas as relações secundárias, construídas em cima dessa,
foram desfeitas também. Todas as dimensões espirituais e morais acabaram
refletidas no físico.
O homem e o eu. O pecado do homem levou à morte - primeiro espiritual,
e
depois física. A identidade do homem foi destruída, a imagem de Deus nele
foi distorcida, e a âncora da ligação de sua vida ao Deus eterno foi quebrada.
Perguntas abundavam: "Quem sou eu?", "Minha vida tem algum propósito?",
"Eu sou apenas um animal?", "O que acontecerá quando eu morrer?".
O homem e os outros. A relação do homem com seu semelhante está
quebrada. Porque não sabemos mais quem somos, não sabemos quem nosso
próximo é. Agora há ódio, cobiça, ganância e desrespeito para com os outros e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 107/373
114 1
VOCAÇÃO:
Evcrera sua assinatura lu) univervo
seus bens. Racismo, tribalismo, a superioridade masculina e os sistemas de
castas abundam; falsos desenvolvimentos hierárquicos criados pelo homem para
mantê-los separados, sem trabalhar em conjunto. Assassinato e guerra se
proliferam. Existe desrespeito aos pais. Uma cultura de culpa é estabelecida na
qual as pessoas não assumem a responsabilidade por suas próprias ações, mas
apontam o dedo a outros. "Quem é o meu próximo?", "Qual é a responsabilidade
que tenho em relação aos outros?", "O que é uma família?". A própria âncora
das relações sociais foi quebrada.
O homem e o mundo físico. Como registrado em Gênesis 3, haverá ervas
daninhas no jardim e dor no parto. Ademais do mal natural, o homem agirá com
desrespeito para com a criação. Em vez de cuidá-la e administrá-la, ele tende
ao abuso e à violência em sua orgia consumista. O homem se esquece de que,
assim como a criação, ele também é uma criatura no universo do Criador e que
tem a responsabilidade de cuidar dele. "Será que este mundo existe mesmo'?" É
urna questão levantada na Ásia. Outras questões levantadas ao redor do mundo
incluem: "De onde o universo veio?", "Qual é a natureza do universo?", "Qual é
minha relação ou responsabilidade para com a natureza'?".
O hom em e o mundo metafísico. Além de se relacionar com o mundo f ísico, o
homem se relaciona com o mundo não físico, com o reino espiritual do angelical e
demoníaco . Ademais destas, a rebelião do hom em trouxe distorções em quatro áreas:
conhecimento, moral, estética e cultura, entendida como o aspecto de nossa vida
comum que funciona como um a ponte entre o mundo espiritual e o mundo físico.
No domínio do conhecimento, a sabedoria é abandonada para dar lugar à
loucura, a verdade é trocada por mentiras, as quais fortificam as fortalezas da
mente. No domínio da moral, o bem se torna mal e o mal se torna bem. A
corrupção substitui a justiça. Cada pessoa faz o que é certo a seus próprios
olhos. De igual modo, no domínio da estética, a beleza é trocada pela utilidade,
a amabilidade pela esterilidade, o esplendor pela desolação. Em vez de criar
urna cultura que reflete a verdade, a justiça e a beleza, o homem cria uma
cultura em que se encontra a corrupção e floresce a feiura. "Existe alguma
verdade?", "O que é a verdade'?", "Porque o mundo parece tão injusto?", "O
que é a beleza'?". Estas representam algumas das questões metafísicas em que
as pessoas trabalham desde a Queda.
A rebelião contra Deus trouxe consequências abrangentes e sistêmicas.
Todos os homens, todos os seus relacionamentos, e toda a criação foram
danificados pela Queda. Consequentemente, se existe alguma salvação, esta
deve ser abrangente, envolvendo não apenas as relações primárias, mas também
todas as relações secundárias. Esta é exatamente a provisão da cruz de Cristo.
o cumprimento e culminação da obra de Deus por meio da história, redimindo
sua criação e estabelecendo seu reinado no mundo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 108/373
A metanarrativa essencial 1 115
REDENÇÃO - A Cruz
Os efeitos da Queda foram drásticos, mas Deus não abandonou sua
criação. Em Gênesis 3, Deus amaldiçoa a serpente:
Maldita serás tu dentre todos os animais domésticos e dentre todos
os animais do campo Sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os
dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua
descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás
o calcanhar (Gil 3.14-15)
Aqui já vemos a promessa de Deus de redenção. Ele declara que irá
esmagar a cabeça da serpente por meio da descendência de Eva. Esta prole, o
Cristo, virá ao mundo por meio da linhagem de um homem chamado Abrão. Em
Gênesis 12, Deus faz uma aliança com Abrão (a quem é dado um novo nome,
Abraão, em Gênesis 17, quando Deus reitera esta aliança):
O Senhor disse a Abrão: "Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da
casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti unia grande
nação abençoar-te-ei; e engrandecerei o teu nome, e tu será uma benção.
Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te
amaldiçoar; todas as famílias da terra em ti serão benditas". (Gn 12.1-3)
O plano de Deus de abençoar todos as famílias da Terra começou com
o chamado de Abraão, a quem Deus tornou em urna grande nação - a nação de
Israel, o povo escolhido de Deus.
O restante do Antigo Testamento, de Gênesis 12 em diante, conta a
história do povo de Deus e, juntamente com o Novo Testamento, forma toda a
metanarrativa bíblica. Na realidade, está não é simplesmente a história do povo
de Deus, é, sim, a História, a História de Deus e sua obra na história. Deus
arranca seu povo da escravidão (várias vezes), dá a eles uma lei a cumprir, e
fala com eles por meio da voz de seus profetas. O povo de Deus, em meio a
seus triunfos e fracassos, anseia continuamente pelo momento da libertação,
quando Deus levantará um redentor. O profeta Isaías fala sobre esse tempo:
Então brotará um rebento do toco de Jessé; e das suas raízes um
renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor - O Espírito
de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o
Espírito de Conhecimento e temor do Senhor (Is 11.1-2)
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 109/373
116 I
VOCAÇÃO: Escrevo sua ussuummi
PIO 1111i1V1111
Por meio deste servo de Israel, Deus
irá redimir toda a criação, o cos-
mos inteiro. O Antigo Testamento termina em uma ansiosa expectativa por
essa vinda do redentor, o Cristo, e o Novo Testamento começa com sua chegada.
No momento kairós definitivo - a plenitude do tempo, quando a eternidade in-
vade o tempo - Deus assumiu a carne humana. A primeira vinda de Cristo
marcou o ponto decisivo na batalha pelo céu e a terra. Totalmente Deus e
totalmente homem, Jesus Cristo viveu uma vida perfeita por mim. E em seguida,
morreu a morte que eu merecia. Mas ressuscitou no terceiro dia, vencendo a
morte. dando-me uma nova vida. Este é o evangelho.
A Queda trouxe consequências cósmicas, mas também o fez a obra de
Cristo. Lemos na carta de Paulo aos colossenses que Cristo morreu para
reconciliar todas as coisas para si mesmo. A morte de Jesus na cruz assentou
os alicerces na relação primária do homem com Deus para que ela fosse plena-
mente restaurada e para que houvesse cura substancial nas relações secundárias
entre as pessoas e o mundo em que vivem. Isso gera uma cura significativa
dentro do homem, em suas relações sociais, em sua relação com a natureza e
no reino metafísico. A vida e o trabalho do homem são, então, colocados
novamente dentro da estrutura do reino de Deus. Quando Cristo voltar pela
segunda vez em glória, o processo desencadeado no calvário será consumado.
A CONSUMAÇÃO - O Retorno em Glória
Quando Jesus retornar no fim dos tempos, o processo de reconciliação
de todas as coisas para si mesmo estará concluído. Vemos um vislumbre desse
quadro por meio do profeta Isaías:
Morara o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se
deitará, e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um
menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas
crias juntas se deitarão, e o leão comerá a palha como o boi. A criança de
peito brincará sobre a toca da áspide, e a desmamada meterá a sua mão
na cova do brasílico. Não se fará mal nem dano em todo o meu santo
monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as
águas cobrem o mar. Naquele dia a raiz de lesse será posta por estandarte
dos povos, a qual recorrerão as nações; gloriosas lhe serão as suas
moradas. (Is 11.6-10)
O profeta também diz daquele dia:
E o Senhor dos exércitos dará neste monte a todos os povos um
banquete de coisas gordurosas, banquete de vinhos puros - de coisas
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 110/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 111/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 112/373
A CRUZ
NOSSAS VIDAS
CONSUMAÇÃORIAÇÃO
A metanarratira essencial
I 119
circunstâncias modernas, e você terá o enredo de sua vida"
5 .
Nossa vocação ganha importância no âmbito da história bíblica,
especificamente ocupando o tempo e espaço entre a primeira vinda de Cristo,
na cruz, e sua segunda vinda, na consumação da história no fim dos tempos.
Entre a Queda e a Segunda Vinda, há dois eventos importantes. O primeiro é a
primeira vinda de Cristo à Terra para nos redimir. O segundo é você
DOIS EVENTOS IMPORTANTES
PASSADO A QUEDA UTURO
ETERNO TERNO
Você foi feito, como nenhuma outra pessoa na história, para tomar seu
lugar único no desenvolvimento do reino de Deus. Na economia de Deus, as
palavras de Mardoqueu a Ester falam da singularidade de cada uma de nossas
vidas dentro desse desenvolvimento: "E quem sabe se não foi para tal tempo
como este que chegaste ao reino?" (Ester 4.14).
Qual é o seu lugar na História de Deus? Qual é a sua vocação, a conexão
de sua vida e trabalho com o reino de Deus em desenvolvimento? Enquanto
prosseguimos em construir uma teologia bíblica da vocação, olharemos
atentamente os elementos-chave da História Transformadora, começando com
o chamado de Deus a nós na criação - um chamado renovado pela cruz de
Cristo e digno dos dias de nossa vida e do trabalho de todo o nosso ser: coração,
alma, mente e força.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 113/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 114/373
Capítulo 8
CULTURA:
ONDE O FÍSICO E O ESPIRITUAL
CONVERG EM
A pequena Hakani, com dois anos, ainda não sabia andar nem falar, por
isso os líderes de sua tribo ordenaram que seus pais a matassem. A decisão dos
líderes refletia urna crença comum entre várias tribos indígenas na Amazônia,
de que crianças com defeitos físicos não possuem alma e devem ser eliminadas
como se faz a um animal doente ou deformado.
Em vez de assassinar sua filhinha, a mãe e o pai de Hakani comete-ram
suicídio. O irmão adolescente de Hakani herdou a ordem brutal dos líderes e
tentou cumpri-la, golpeando sua irmãzinha com um facão. Mas ela acordou no
momento em que estava sendo enterrada e ele não conseguiu tentar matá-la
novamente. O avô de Hakani atirou uma flecha em sua netinha, porém, em
seguida, ficou com tanto remorso que tentou tirar a própria vida.
Ferida pela flecha de seu avô, Hakani fugiu para a floresta onde viveu
como um animal por três anos enquanto seu irmão lhe levava alimento. Adotada
por Márcia e Edson Suzuki, Hakani ainda não estava a salvo. Autoridades no
Brasil queriam impedir que os Suzuki, um casal brasileiro que vinha trabalhando
com a tribo Suruwahá por vinte anos, buscassem ajuda para a menina de cinco
anos por "respeito" à cultura tribal. A política oficial do departamento de saúde
do Brasil é "respeitar a cultura das pessoas", dizendo com isso que crianças
podem ser assassinadas com o pleno conhecimento do governo. Dezenas de
crianças na Amazônia são mortas todo ano, crianças como Hakani bem como
gêmeos e trigêmeos, os quais se acredita serem amaldiçoados.
Ativistas como os Suzuki trabalham para combater não somente as
crenças mortais da tribo, mas também as visões mortais dos burocratas e
acadêmicos. Ecoando a resposta oficial do governo, um professor de antropologia
de uma universidade da Amazônia é o exemplo máximo de uma visão comum
entre os antropólogos: "Essa
é a forma de vida deles e não deveríamos julgá-los
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 115/373
124 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
com base em nossos valores. A diferença entre as culturas deve ser respeitada"'.
Será? Será que a cultura é realmente neutra? Será que não existe uma
realidade objetiva pela qual se possam medir as crenças e práticas de uma
cultura? As crianças não são feitas à imagem de Deus? Se sim, precisamos nos
posicionar contra o relativismo cultural; precisamos lutar contra uma cultura e
suas leis que permitem se tirar a vida de um ser humano inocente ou a
escravização de pessoas por causa da cor de sua pele. Se a cultura for relativa.
então, será o poder que determinará quem vive e quem morre. Se os poderosos
quiserem matar pessoas negras ou pessoas com retardos mentais, o que os
impedirá?
A mãe e o pai de Hakani sabiam disso. O irmão e o avô de Hakani
julgaram o modo de vida de sua cultura e chegaram às suas próprias conclusões.
Para fazê-lo, eles não tiveram que consultar valores de outra cultura e, como
pessoas de fora, não devemos julgá-los com base em nossos valores. Mas eles
podem e nós podemos emitir um julgamento com base nos valores que fluem da
Realidade.
CRIADORES DE CULTURA
Como discutimos no capítulo anterior, existe uma realidade objetiva,
testemunhada pela metanarrativa das Escrituras. Descobrimos que nossa
identidade humana e a identidade do universo têm suas raízes "antes do início"
no caráter e na natureza de Deus, seu Criador. Quando nos aprofundamos na
narrativa da criação, deparamo-nos com um conjunto de verdades vitais ao
correto entendimento de nossa natureza e propósito final: Deus fez a humanidade
para ser criadora de cultura, e é grandemente importante o tipo de cultura que
criamos. Qualquer que seja nosso chamado e aonde quer que sejamos enviados,
como cristãos, nosso trabalho maior é criar a cultura do reino - uma cultura que
reflete a verdadeira natureza e caráter de Deus.
Nossa m issão como criadores de cultura é o mandato da criação ou o ma ndato
cultural. Podemos encontrá-lo na narrativa da criação em Gênesis 1.26-28:
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu,
sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que
se arrasta sobre a terra. Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou
e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai
sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que
se arrastam sobre a terra.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 116/373
Cultural
125
Lemos aqui que, em meio a sua atividade criativa, Deus disse: "Façamos
o homem à nossa imagem". Com essas palavras, ele estabeleceu a identidade
do ser humano. O ser humano é feito imago Dei - à imagem de Deus. Ele disse
também: "Domine ele...". Com essas palavras, ele estabeleceu o propósito do
ser humano. O ser humano foi feito para governar a Terra para Deus, como
mordomo da casa de Deus.
O que Deus havia feito era perfeito, porém ainda não estava pronto.
Deus é o Criador primário; a humanidade, para usar as palavras de J. R. R.
Tolkien, é uma "subcriadora"
=
. Deus fez a primeira criação. A humanidade
deve fazer urna criação secundária - a cultura - que revele e glorifique o primeiro
Criador e a primeira criação. Os seres humanos foram feitos para ser ativos na
criação, corno mordomos de Deus. Eles devem preencher a Terra com
portadores da imagem de Deus que, por sua vez, desenvolverão a Terra. Como
urna semente que é nutrida e se transforma em um grandioso carvalho, a criação
da mão de Deus era perfeita e completa em si, mas o potencial tinha que ser
liberado pelo homem e a mulher.
Um dos salmos mais lindos faz a seguinte pergunta: "Que é o homem,
para que te lembres dele?". E então revela que os seres humanos, tendo sido
feitos por Deus um pouco abaixo dos anjos, devem governar para Deus. O
Salmo 8.3-8 diz:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as
estrelas, que estabeleceste. O que é o homem para que te lembres dele, e o
filho do homem, para que o visites.' Contudo, pouco abaixo de Deus o
fizeste; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras
das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois,
assim como os animais do campo, as aves do céu, e os peixes do mar tudo
o que passa pelas veredas dos mares.
Não é impressionante? Deus fez os seres humanos para "ter domínio
sobre as obras de [suas] mãos" Quantos de nós cederíamos o controle de algo
sobre o qual tenhamos grande interesse ou tenhamos feito grande investimento?
Ainda assim, diferentemente de nós que governamos domínios muito menores,
nosso Deus, todo-poderoso, não é um louco controlador. Deus é mestre em
delegar. Ele nos convida, meros estagiários, a entrar na sala da direção executiva
corno colegas. E não nos dá tarefas sem importância. Ele nos projetou eequipou
para suportar peso. Ao nos fazer à sua imagem, ao nos criar para ser criadores,
Deus deu a cada um de nós uma tremenda responsabilidade e oportunidade. O
estudioso e escritor indiano Vishal Mangalwadi expressa isso com apropriada
reverência: "Deus fala e cria o universo. O homem fala e cria uma cultura que
molda o universo".
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 117/373
126 I VOCAÇÃO:
Escreva .sua assinatura tio unixTry,
CULTURA: ADORAÇÃO EXTERNALIZADA
Por que se referir às passagens de Gênesis corno um mandato cultural?
Afinal, o que é cultura? E o que significa criar cultura?
Apesar de a história de Hakani mostrar que as pessoas não têm uma só
definição de cultura nem concordam se ela é "criada" ou não, na realidade é
fácil se definir cultura. O teólogo Henry Van Til fez uma afirmação clara e
concisa: "Cultura é a religião externalizada."
4
.
As palavras cultura, cultivar e culto capturam essa conexão. A maioria
de nós conhece a palavra culto em seus variados usos, desde a conotação
religiosa das seitas à obsessiva veneração às celebridades. Entretanto, nesses
casos, as pessoas erram o objeto de sua adoração, já que, em sua raiz, culto
significa "adoração ou homenagem reverencia a um ser divino". Assim como
cultura e cultivar, a palavra culto é derivada do latim cultus, particípio do verbo
colere: cuidar, arar, cultivar. Os dicionários definem cultus - raiz das três palavras
- como cuidado, adoração e veneração.
Essa família de palavras interconcctadas reflete a verdade de que a raiz
da cultura é a adoração. Em Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of
Culture [Cultivando com Esperança: Por urna Teologia Bíblica da Cultura],
David B. Hegeman declara:
O termo [cultura] também poderia ser utilizado em uni contexto
religioso com o sentido de adoração. A ideia aparentemente é que, da
mesma maneira que um agricultor cuida de forma ativa de suas plantações,
o adorador também dá grande atenção à deidade a quem .serve. Por
conseguinte, o termo está intimamente relacionado com O termo latino
cultos que significa adoração ou veneração. A língua inglesa preserva
essa conexão com termos como cult, calar, occult, etc.'
Em seu cerne, a cultura é produto do culto de um povo ou de sua religião
cívica. Ela é um reflexo do deus a quem se adora.
Isso entra em contraste com a premissa materialista moderna de que a
cultura é de alguma forma a soma de um modo de vida de grupos específicos
de pessoas. Em seu livro The Micah Mandate [O Mandato de Miquéias], George
Grant - pastor e educador - aponta o entendimento agostiniano da natureza da
cultura. Ele escreve:
De acordo com Agostinho, a cultura não é um reflexo da raça, da
etnia, do folclore, da política. da língua ou da herança de um povo. A
cultura é, na verdade, um reflexo do credo de um povo. Em outras palavras,
a cultura é uma manifestação temporal da fé de uni povo. Se a cultura
começa a mudai; isso não se deve a modismo ou ao passar do tempo, mas
é devido a uma mudança na cosmovi.são - devido a uma mudança de fé.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 118/373
Cultura
1 1 27
Portanto, raça, etnia, folclore, política, língua ou herança são
simplesmente unia expressão de um paradigma mais profiindo na matriz
espiritual da igreja de
III1Ia
comunidade e na integridade de seu
testemunho.
A razão pela qual Agostinho passou tanto tempo de sua vida e
ministério criticandoUSfilosqffias
pagãs do mundo e expondo as aberrantes
teologias da igreja foi porque entendeu muito bem que essas coisas são
importantes não somente no aspecto da eternidade, ao determinar o
destino espiritual da humanidade, mas também no aspecto do aqui e agora,
determinando o destino temporal de civilizações inteiras.
(...) Agostinho reconheceu que a cosmovisão dominante de um
povo inevitavelmente molda o seu mundo.'
É fácil ver isso em nosso mundo moderno. O Talibã, no Afeganistão,
criou uma sociedade que refletia seu culto. De forma semelhante, a cultura
popular dos Estados Unidos é um reflexo dos ideais materialistas do sistema de
crenças secular.
O conceito moderno de antropologia, derivado do pensamento ma-
terialista, vê a cultura como neutra. No paradigma materialista, no qual não há
Deus, não existe uma verdade objetiva; portanto, tudo é relativo. A partir desse
grupo de pressuposições, não há como uma pessoa ou cultura criticar a outra.
Nenhuma cultura ou aspecto de uma cultura é visto corno melhor do que outro.
Como tal, toda cultura é avaliada pelo que é. Com esse panorama, como podemos
distinguir entre os campos de concentração da Alemanha nazista, os hospitais
das Irmãs de Caridade de Madre Teresa e a cultura pop da América
contemporânea?
Sendo derivada do culto, a cultura nada possui de neutra. A cultura está
na convergência das esferas espiritual e física. Na realidade, pode-se dizer que
a esfera espiritual influencia a esfera física no nível da cultura. Assim como as
ideias têm consequências, nosso culto também tem.
O culto leva à cultura. Isso, por sua vez, determina os tipos de socie-
dades e nações que construímos. Se as pessoas adoram uma deidade cheia de
caprichos e que pode ser subornada, como no animismo do Oriente, logo uma
cultura de corrupção se estabelece na qual o suborno é parte da vida cotidiana.
Tal situação se manifesta nos sistemas comerciais, econômicos, governamentais
e judiciais que se enchem de corrupção. Isso, por sua vez, leva ao empo brecimento
material da nação, sem mencionar o empobrecimento espiritual.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 119/373
128 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura na universo
A HISTÓRIA DE KATHLEEN NORRIS
Quando a poetisa Kathleen Norris
deixou o mundo das artes de Nova Iorque
para mudar-se temporariamente para Dakota
do Sul ao herdar a casa de sua avó, ela não
fazia ideia do tipo de viagem na qual estava
embarcando. A mudança "temporária" acabou
durando vinte e cinco anos na medida em
que ela e seu esposo se tornaram parte da
comunidade das planícies - uma cultura bem
diferente.
Enquanto vivia na casa de seus avós,
Norris tornou-se membro e atuou como
pregadora na Igreja Presbiteriana de sua avó,
uma viagem que ela narra em seu primeiro
livro de não ficção Dakota: A Spiritual Geog-
raphy [Dakota: Uma Geografia Espiritual].
Norris tornou-se aberta ao cristianismo em
parte por causa dos monges de um mosteiro
beneditino. Para ela, assim como para muitos
escritores, a poesia em si era sua religião. Ao
comparecer em algumas sessões de leitura
literária no mosteiro, Norris deu outro passo
em uma profunda jornada que seria apoiada
por sua crescente amizade com os monges.
Por meio de uma longa luta, a poetisa veio a
ser uma seguidora de Cristo.
Anteriormente convencida de que ser
cristã e escritora eram coisas incompatíveis,
um temor que seus amigos escritores
continuavam a expressar, Norris provou o
contrário, prosperando em sua vocação. Além
de sua poesia, ela escreveu diversos
bestsellers para o New York Times, entre os
quais, Dakota e Amazing Grace: A Vocabu-
lary of Faith [Maravilhosa Graça: Um
Vocabulário da Fé]. Este último é uma série
de ensaios, cada um explorando uma palavra
importante para a fé cristã - inclusive muitas
palavras que ela diz terem parecido
assustadoras ou pesadas quando retornou
à igreja na idade adulta. A intenção e sucesso
de Norris com esse livro é bem resumido pela
agência Barclay que a representa: "Seu livro
Amazing Grace dá continuidade ao tema de
que o mundo espiritual está arraigado ao caos
da vida diária. Nesse livro, ela lança luz sobre
conceitos teológicos muito difíceis, tais como
graça, arrependimento, dogma e fé. Sua
intenção é contar histórias sobre esses
conceitos religiosos embasando-os no
mundo em que vivemos"'. O San Francisco
Sunday Examiner & Chronicle chama Norris,
de maneira muito acertada, de "uma das mais
eloquentes escritoras espirituais terrenas de
nosso tempo'.
Em uma entrevista, o jornal Homiletics
perguntou a Norris por que ela havia por tanto
tempo sentido que o cristianismo e sua
atividade
omo
scritora
ram
irreconciliáveis:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 120/373
Cultura 1 129
NORRIS:
Foi em grande parte devido
a minha educação. Cresci nos anos 50 e 60.
A psicologia fez parte disso também. Muitos
escritores se interessaram bastante pelo
crescimento da psicologia após a Segunda
Guerra Mundial e pela visão freudiana; a
religião era uma infantilidade que deveria ser
superada. Assim, acho que isso se infiltrou
em minha educação e cultura. A religião era
algo para crianças e velhinhas; se você fosse
realmente sofisticado e adulto, não precisaria
de religião. E ainda se vê essa atitude. Não
houve muitos escritores contemporâneos dos
quais gostasse e que fossem cristãos ou
expressassem ideias cristãs em seu trabalho.
Mas isso está mudando. Há muitos escritores
de minha geração e mais jovens que não
veem problema algum [em serem escritores e
cristãos]. E eu também não vejo mais. Porém
foi realmente uma luta. Eu pensava que teria
que abrir mão do meu intelecto, que minha
habilidade de escrever seria prejudicada...
HOMILETICS:
Que seria algo de
qualidade inferior.
NORRIS:
Sim, e houve outros
escritores que se preocuparam com isso e
disseram: "Como você consegue escrever
agora?". Lembro-me de uma sessão de
leitura certa vez. Eu havia escrito alguns
poemas com base em temas bíblicos e a
sensação era algo do tipo: "Olha, eu
consigo ". E foi divertido juntá-los e dizer:
"Esses não são opostos polares. Um alimenta
o
outro. Um inspira o outro. Eles trabalham
juntos".
Como Norris descobriu e demonstra
tão vividamente em seu trabalho, a fé cristã
não impede a honestidade, a criatividade ou
a arte, mas as inspira. Seus tópicos refletem
uma vida plena que não é presa, mas
alimentada pela fé; sua escrita explora
experiências diversas, inclusive o momento
em que encontrou seu espaço na faculdade
e
no mundo das artes de Nova Iorque du-
rante os tumultuados anos de 1960 e 1970; a
vivência, por meses, entre os beneditinos; a
interação com crianças na condição de artista
visitante em escolas de educação básica nas
Dakotas; o modo como lidava com sua
herança espiritual; a luta com questões
relacionadas à identidade e à depressão; a
peleja e o florescimento em seu casamento
de trinta anos. Uma verdadeira criadora de
cultura por meio de seu trabalho como
escritora e sua vida na comunidade, Kathleen
Norris engajou-se com a criatividade e a
disciplina, manifestando para a igreja e para
a cultura geral um pouco da natureza de Deus
e
das pessoas em sua criação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 121/373
130 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
AVALIANDO A CULTURA
Está claro que a cultura não é neutra. Por vivermos em um universo
criado pelo Deus vivo e por existir uma realidade objetiva, apesar do que diz o
pensamento pós-moderno, a cultura de um povo pode ser criticada e avaliada.
Não somente pode, como deve ser avaliada. Se estivermos interessados na
saúde das nações, devemos distinguir os aspectos que levam à justiça daqueles
que geram corrupção. Devemos examinar os aspectos que geram liberdade,
compaixão e bem-estar econômico em contraste com aqueles que geram
escravidão, crueldade e pobreza.
Três principais padrões culturais podem nos guiar na avaliação de uma
cultura: a cultura do reino, a cultura falsa e a cultura natural'. Elas podem ser
encontradas em graus diferentes em qualquer nação. Toda nação terá algum
tipo de cultura do reino e de cultura falsa. Esse padrão presume que existe um
Deus e que ele criou um universo real e objetivo em que existe verdade e
falsidade, bem e mal, beleza e escuridão.
ELEMENTOS DA CULTURA
A VERDADE
AFIRMA
A MENTIRA
NATURAL
OPÕE-SE
ELEBRA
A
Cultura do Reino
A cultura do reino é construída sobre a realidade, a realidade criada por
Deus. Ela é um reflexo da natureza e do caráter do Deus vivo. A cultura do
reino é produzida quando as pessoas, consciente e inconscientemente, obedecem
às leis de Deus, que são uma manifestação de seu caráter. Assim como Deus
é verdadeiro, justo e belo, também o são sua criação e as leis que a governam.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 122/373
Cultura 1 131
Quando Jesus disse aos discípulos que fizessem discípulos de todas as nações
"ensinando-lhes a obedecer tudo o lhes havia ordenado" (Mateus 28.20), a frase
"tudo que lhes tenho ordenado" está ligada à verdade (que reflete as leis
metafísicas e físicas de Deus), à justiça (que reflete as leis morais de Deus) e
à beleza (que reflete as leis estéticas de Deus). Douglas Jones e Douglas Wil-
son descrevem essa trilogia como "as três faces da cultura". Esses são os
fundamentos da cultura do reino, e eles levam à vida, à saúde e ao
desenvolvimento.
CULTURA DO REINO: CONSTRUÍDA NA REALIDADE
VERDADE: REFLETINDO AS LEIS FÍSICAS E METAFÍSICAS DE DEUS
JUSTIÇA: REFLETINDO AS LEIS MORAIS DE DEUS
BELEZA: REFLETINDO AS LEIS ESTÉTICAS DE DEUS
A cultura do reino é uma manifestação do reino de Deus. Jesus chama
seus discípulos a fazer o reino dos céus impactar o reino da Terra. A Oração do
Senhor'" reconhece a conexão entre os dois reinos: "Venha o teu reino, seja
feita a tua vontade assim na terra como no céu". O reino de Deus é qualquer
esfera onde sua vontade é feita e onde as pessoas obedecem aquilo que ele
ordenou. A substância do reino é a mesma no presente e no futuro, na terra e
no céu. A diferença não é a substância, mas o nível de realização.
A cultura do reino chama cada pessoa e nação a ir "mais alto e se envolver
mais"" no reino de Jesus. Ela chama ao desenvolvimento da terra, ao cultivo
do solo assim como da alma, como um ato de adoração ao Deus vivo. A igreja
deve criar uma cultura que manifeste a natureza e o caráter do Deus vivo ao
mundo que os observa. Isso significa que devemos levar a verdade (a metafísica
bíblica), a justiça (a ética bíblica) e a beleza (a estética bíblica) para a vida
como um todo.
Em toda nação, se encontrará elementos da cultura do reino. E onde
quer que eles forem encontrados devem ser cultivados e encorajados.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 123/373
132 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
CULTURA DO REINO VIVIDA E PROCLAMADA
METAFÍSICA BÍBLICA
1
01.0
ESTÉTICA
BÍBLICA
N
.0
S
ÉTICA BÍBLICA
A Cultura Falsa
A cultura falsa é o produto de se crer nas mentiras de Satanás sobre o
que é verdadeiro, justo e belo. Satanás mente tanto para indivíduos quanto para
nações. Ele mente às nações no nível da cultura. Isaías alerta a nação de Israel
contra a distorção da realidade:
Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas
por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo (Is.
5.20)
É a crença nessas mentiras que leva à morte, à escravidão e ao em-
pobrecimento de nações inteiras. Cada nação tem algum nível de cultura falsa,
como as ideias da tribo dos Suruwahá em relação aos bebês que devem viver,
ou a crescente cultura americana que diz não haver Deus, ou a cultura sexista
encontrada em tantas partes do mundo que insiste que as mulheres são inferiores
aos homens. Se a nação quiser crescer com saúde, ela deve reconhecer os
elementos destrutivos, desarraigá-los e substituí-los pelos princípios do reino.
Cultura Natural
Os elementos naturais de uma cultura se encaixam no aspecto da
neutralidade moral - nem bons, nem maus. Eles dizem respeito à singularidade
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 124/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 125/373
Capítulo 9
ELEMENTOS DO
MANDATO CULTURAL
Como aprendemos no capítulo anterior, o trabalho do cristão, independente
de sua vocação específica, é criar a cultura do reino - uma cultura que reflete
a verdadeira natureza e caráter de Deus. A narrativa da criação fornece diversos
princípios básicos que nos guiarão enquanto vivemos esse chamado, enchendo
a Terra com o conhecimento de Deus.
AS DUAS PARTES DO MANDATO CULTURAL
Em primeiro lugar, é importante que reconheçamos que há duas partes
principais no mandato cultural em Gênesis, uma em relação à sociedade e a
outra em relação ao desenvolvimento.
O Mandato para a Sociedade
Após criar os seres humanos à sua imagem, Deus os abençoou e lhes
disse: "Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra..." (Gn 1.28). A humanidade
foi criada para viver em comunidade; e a unidade básica da comunidade é a
família. Adão e Eva deviam ter filhos, e seus filhos deviam ter filhos. Eles
deveriam frutificar e multiplicar-se para encher a Terra. Mas encher a Terra
de que? O materialista vê o ser humano como um animal, um consumidor de
recursos, uma boca a se alimentar - e nada mais. Quando o comando à
multiplicação e ao enchimento da Terra é abordado pelo ponto de vista
materialista, ele quer dizer cada vez mais bocas a se alimentar.
Mas o modelo bíblico entende que os seres humanos são a imagem de
Deus. Eles têm mentes e corações capazes de inovar e criar. "Encher a terra"
não é multiplicar o número de bocas que consomem recursos, mas aumentar o
número de portadores da imagem de Deus que administram e cultivam a Terra
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 126/373
136 VOCAÇÃO:
Escreva
sua assinatura no universo
para gerar beleza e abundância.
Os criadores de cultura devem ser enviados a todo canto do mundo para
encher a Terra com o conhecimento de Deus.
O Mandato ao Desenvolvimento
A segunda parte do mandato cultural diz respeito ao desenvolvimento.
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem. conforme a nossa
semelhança; domine ele sobre os peixes do mar. sobre as aves do céu, sobre os
animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta
sobre a terra" (Gn 1.26). Como discutimos no capítulo anterior, o homem foi
criado para governar para Deus. Ele nos criou para sermos mordomos de sua
casa.
Há duas maneiras pelas quais a humanidade pode exercer a mordomia -
com as mãos e os pés, e com a alma e o espírito. Gênesis 2.15 declara: "Tomou,
pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e
guardar". E Gênesis 2.19-20 revela o segundo aspecto desse mandato ao
desenvolvimento:
Da terra ~no'', pois, o S enhor Deus todos os animais do campo e
todas as aves do céu e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria;
e tudo o que o hom em chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim
o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a
todos os animais do campo.
Vemos nessas duas passagens os aspectos gêmeos dados ao homem, o
criador de cultura. Em primeiro lugar, há o cultivo do solo, usando suas mãos
para trabalhar e cuidar do jardim. Em segundo, o cultivo da alma, usando a
mente e o coração para nomear os animais. Aqui o homem usa a mente na
observação, no raciocínio e na categorização, e, em seguida, há a utilização do
coração na criatividade e paixão.
É interessante ressaltar que o significado das palavras cultivar e cultura
testificam desses aspectos do trabalho do homem no mandato cultural. Juntas,
as palavras cultivar e cultura têm dois sentidos: preparar a terra física para o
plantio e preparar a mente do indivíduo e da sociedade para o crescimento e a
maturidade. Literalmente, a palavra cultivar significa "melhorar e preparar (a
terra), arando ou fertilizando, para o plantio"'. Nesse sentido, também podemos
falar de "cultivar a mente", a tal ponto que alguns dicionários primeiro definem
cultivo como "refinamento" e "cultura".
Por outro lado, a palavra cultura na língua portuguesa também significa
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 127/373
Elementos do mandato cultural
I 137
urna área de terra cultivada. A partir desse sentido de cultivo do solo, essa
palavra tomou o sentido de cultivo da mente, das faculdades ou das boas
maneiras. Cultura pode se referir ao "treinamento, desenvolvimento, refinamento
da mente e das boas maneiras; condição de ser treinado e refinado; o lado
intelectual da civilização"
2
. As definições do dicionário capturam tanto as raízes
quanto a utilização corrente de cultura: "o cultivo do solo" e "a totalidade dos
padrões de comportamento, artes, crenças, instituições e todos os outros
produtos do trabalho humano transmitidos socialmente".
Perceba que ambos os aspectos de nossa mordomia - o cultivo do solo e
o cultivo da alma - são alcançados por meio do uso do corpo, e que existe um
equilíbrio entre ação (trabalhar e cuidar do jardim)
4
e reflexão (nomear os
animais)5
. Deus nos deu mãos e pés para nos engajarmos fisicamente no mundo.
Ele nos deu mentes e corações para pensarmos e criarmos. Não devemos
trabalhar de forma mecânica; também devemos pensar sobre o nosso trabalho.
Deus estabeleceu o domínio do homem sobre a natureza ao fazê-lo criador
de palavras. Parte da imagem de Deus em nós está em nossa habilidade de
raciocinar, criar palavras e compreender distinções criadas. Como o homem
segue a Deus na utilização da linguagem, ele é separado do restante da criação
como o criador de cultura. Enquanto guiados pela adoração (culto), Adão e Eva
deveriam criar cultura cultivando tanto o solo quanto a alma.
CARACTERÍSTICAS CRÍTICAS DO MANDATO CULTURAL
Gênesis revela verdades que caracterizam esse trabalho que Deus nos
criou para fazer.
Um Projeto Comunitário
Primeiro, o mandato cultural é um projeto comunitário. Esse mandato e
seus elementos subordinados, relativos à sociedade e ao desenvolvimento,
necessitam tanto de homens quanto de mulheres. Ambos são igualmente
portadores da imagem de Deus e igualmente chamados a exercer mordomia
sobre a criação '̀.
O relato de Gênesis revela que um único homem não era suficiente para
completar a tarefa. Eram necessários homens e mulheres para criar uma
comunidade. Após criar o homem, "O Senhor disse: 'Não é bom que o homem
esteja só. Far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.' (...) Então, o Senhor
fez o homem cair em um profundo sono; e enquanto dormia, ele tirou uma das
costelas do homem e fechou a carne em seu lugar. E da coste-la que o Senhor
Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem" (Gn 2.18, 21-22).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 128/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 129/373
Elementos do mandato cultural
1 139
Um Processo Dinâmico
Terceiro, alcançar o potencial que Deus construiu na criação é um
processo dinâmico, caracterizado por atividade e progresso. A criação de Deus
não é para ser estática, mas estimulada a se desenvolver. Deus entrega ao
homem as tarefas de explorar, desenvolver e cultivar o solo, a alma e a cultura.
Os recursos devem ser descobertos e criados. A cultura piedosa deve ser
manifesta e as sociedades civilizadas devem ser construídas. Cidades devem
ser estabelecidas onde floresçam as artes, a ciência e o empreendedorismo. E
a Terra seja cheia do conhecimento do Senhor".
Há um tema que mantém as Escrituras unidas. A narrativa bíblica e toda
a história humana começam em um jardim - o Jardim do Éden
1 2 - e terminam
em uma cidade - a Nova Jerusalém'. David Hegeman descreve a beleza da
unidade das Escrituras do início de Gênesis ao fim de Apocalipse: "Existe uma
profunda sequência que perpassa a Bíblia inteira, do jardim original à Jerusalém
celestial. O lugar final é descrito tanto como um jardim [paradeisos] quanto
como uma cidade [polis], formando a paradigmática cidade-jardim" 5 .
A tarefa conferida aos seres humanos em Gênesis, como criadores de
cultura, é administrar a criação para que, de um lindo jardim, ela venha a se
tornar uma gloriosa cidade em um parque, uma cidade-jardim. A harmonia que
existia antes da Queda entre o homem, a criação e Deus deve ser restaurada,
e ela é o objetivo do fim dos tempos quando haverá uma harmonia completa
entre a criação do homem (a cidade) e a criação de Deus (a natureza).
De Semente a Árvore
Em quarto lugar, conforme cumprimos o mandato cultural, seguimos uma
progressão como a da semente de uma árvore. A humanidade deve liberar o
potencial presente na criação, assim como uma semente deve liberar seu potencial
e tornar-se uma grandiosa árvore. A pequena, simples (ainda que complexa) e
linda semente deve ser trabalhada e guardada de maneira a se tornar uma
árvore grandiosa. Esta se torna a casa de pássaros e esquilos, além de prover
sombra ao trabalhador cansado e um lugar para o piquenique de um casal
apaixonado. Ela se torna objeto da caneta do poeta e do pincel do pintor. Produz
também suas próprias sementes, manifestando o princípio da multiplicação e
criando centenas de novas florestas.
Deus colocou na criação os surpreendentes princípios iniciais. A
sementinha torna-se uma grandiosa árvore com o potencial de semear muitas
florestas. O DNA do primeiro cachorro continha todas as características dessa
espécie, gerando a incrível variedade de cães que vemos ao redor do mundo
hoje. O DNA da primeira rosa produziu todas as rosas que existem hoje. A
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 130/373
140 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
partir das três cores primárias, surgiram todas as pinturas já pintadas ou que
ainda o serão. Dos fundamentos das notas musicais e de suas harmonias vieram
todas as sinfonias, baladas e canções de amor já compostas. Dos princípios
elementares dos números veio a matemática e o desvelar das verdades científicas
descobertas até o momento e que ainda o serão. Do primeiro princípio da fala
surgiram todos os poemas, versos, sonetos e provérbios de todas as línguas - e
até mesmo mundos inteiros como a Terra Média (de J. R. R Tolkien) e Nárnia
(de C .S. Lewis). De fato, começando com o trabalho de Adão de dar nome
aos animais, as vastas esferas do conhecimento diante de nós continuam a se
multiplicar hoje.
Toda vez que o ser humano constrói sobre os princípios iniciais, ao
descobrir coisas escondidas, explorar a imensidão do espaço, escrever e compor.
ele faz o que Deus planejou para que ele fizesse. Assim ele está exercendo
mordomia sobre o jardim, cumprindo o mandato cultural.
UMA QUESTÃO DE VIDA OU
MORTE
Claramente, o ser humano foi feito para criar cultura. Essa é sua primeira
tarefa. No entanto, a questão não é: O homem fará cultura?, mas sim: Fará ele
uma cultura boa ou ruim? Será ela construída sobre princípios do reino ou sobre
princípios falsos? Será que ela contribuirá para a verdade, a justiça e a beleza
ou para a ignorância, a corrupção e a feiura?
Neste capítulo, exploramos apenas algumas das preciosas intenções de
Deus para conosco como criadores de cultura. No próximo capítulo,
consideraremos o que significa ser criador de cultura em um mundo caído.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 131/373
Capítulo 10
A QUEDA, A CRUZ E A
CULTURA
Mesmo tendo Deus criado o ser humano à sua própria imagem, dando-
lhe a tremenda responsabilidade e alegria de ser seu mordomo, o homem rejeitou
sua identidade e seu propósito. Na Queda, o homem se tornou um rebelde
contra o Altíssimo Rei dos Céus que é a própria definição de tudo o que é bom.
O homem escolheu não participar da perfeita bondade de Deus. E a Queda
levou os seres humanos a criarem uma cultura que não reflete a natureza dele.
O fundamento para a cultura perfeita fora destruído, causando uma
fragmentação em todos os relacionamentos: de Deus com a humanidade, pessoa
a pessoa, pessoa e criação. Essa fragmentação inclui nosso relacionamento
com o trabalho e nossa função como criadores de cultura.
Mas a história não termina com a Queda Deus continua operando no
mundo, avançando seu reino. Jesus morreu na cruz para redimir os perdidos e
restaurar o que foi quebrado. Paulo revela que toda a criação espera pela
redenção', e que Jesus morreu para reconciliar todas as coisas consigo mesmo'.
A cruz não restaura somente o relacionamento do indivíduo com Deus, mas
também lança o fundamento para a cura substancial em todos os
relacionamentos. Isso significa que o mandato cultural encontrado em Gênesis
1 e 2 tem a capacidade de ser renovado.
A morte de Jesus restaurou e afirmou o ser humano como criador da
cultura de Deus.
Dallas Willard, em seu maravilhoso livro The Divine Conspiracy [A
Conspiração Divina], diz o seguinte:
Jesus esteve entre nós para mostrar e ensinar a vida para a qual fo-
mos feitos. Ele veio muito gentilmente, abriu o acesso ao governo de Deus
consigo e estabeleceu uma conspiração de liberdade em verdade entre os
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 132/373
142 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
seres humanos. Tendo vencido a morte, ele permanece entre nós. Confiando
em sua palavra e presença, somos capacitados a reintegrar o pequeno
reino o qual nossa vida constitui no infinito governo de Deus. E esse tipo
de vida é eterno. Dentro de seu ativo governo, nossas ações tornam-se um
elemento na história eterna de Deus. Elas são o que Deus e nós fazemos
juntos, tornando-nos parte de sua vida e ele parte da nossa
Aqui Willard expressa o mistério da conexão orgânica entre nossa vida
e trabalho e a vida e o trabalho de Deus. A Queda gerou reinos quebrados que
rejeitaram o governo de Deus e resultaram em um mundo de desordem e morte.
Mas Jesus venceu a morte e nos mostrou como viver. Somos capacitados por
ele a trabalhar juntos com Deus para reparar e reunir os reinos separados pela
Queda. A questão crucial para os cristãos em relação ao mandato cultural é
esta: A Queda tomou nossa mordomia mais difícil. Entretanto, seguindo os passos
de Cristo, a humanidade é perfeitamente capaz de se posicionar contra suas
consequências.
O TRABALHO EM UM MUNDO DISTORCIDO
Em sua obra magistral Além do Planeta Silencioso
4 , C. S. Lewis des-
creve um planeta em rebelião contra o Criador do Universo como o "planeta
silencioso". Desde a rebelião de Adão e Eva, vivemos em um mundo caído e
estamos corrompidos.
Houve consequências naturais de nossa rebelião. Negar a ordem de
Deus é trazer desordem. Moisés explica a escolha diante de nós: viver na
ordem de Deus, obedecendo as suas ordenanças ou viver na desordem e na
morte, consequências do pecado:
Porque este mandamento, que eu hoje te ordeno, não te é difícil de-
mais, nem tampouco está longe de ti. Não está no céu para dizeres: Quem
subirá por nós ao céu, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o
cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós
além do mar, e no-lo trará, e no-lo fará ouvir, para que o cumpramos? Mas
a palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a
cumprires. Vê que hoje te pus diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.
Se guardares o mandamento que eu hoje te ordeno de amar ao Senhor teu
Deus, de andar nos seus caminhos, e de guardar os seus mandamentos, os
seus estatutos e os seus preceitos, então viverás, e te multiplicarás, e o
Senhor teu Deus te abençoará na terra em que estás entrando para a
possuíres. (...) O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que
te pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois,
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 133/373
A queda, a cruz e a cultura
1 143
a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu
Deus, obedecendo à sua voz, e te apegando a ele; pois ele é a tua vida, e
o prolongamento dos teus dias; e para que habites na terra que o Senhor
prometeu com juramento a teus pais, a Abraão, a saque e a Jacó, que lhes
havia de dar (Dt 30.11-16; 19-20)
E. Stanley Jones sintetizou a importância da obediência às leis de Deus
em muitos de seus escritos. Ele explica que, como as leis e ordenanças de
Deus são imutáveis, elas são inquebráveis. Assim, quando nós, seres humanos,
tentamos quebrar as leis de Deus, nós é que somos quebrados. Se tentarmos
quebrar a lei física da gravidade saltando de um alto prédio, não conseguiremos
quebrar a lei, mas seremos quebrados. Se tentarmos quebrar, por exemplo, a lei
moral "não cometerás adultério", não quebraremos a lei, quebraremos a nós
mesmos e nossas famílias contra a lei.
Nosso pecado nos tornou pessoas quebradas e trouxe fragmentação à
criação. Ainda assim, para compreendermos corretamente nosso trabalho no
mundo, é crucial entendermos o que está quebrado e o que não está. Sobre a
questão do trabalho, muitos cristãos consideram o trabalho uma maldição. Mas,
como já dissemos, o trabalho já existia antes da Queda. Não foi o trabalho que
foi amaldiçoado, mas o solo. Além do que ele produzia de bom, agora produziria
também espinhos e cardos', e haveria secas, inundações, terremotos e fome.
Passaria então a existir o mal na esfera natural, algo que nossos antepassados
chamavam de "mal natural". O trabalho do ser humano seria mais difícil ("do
suor do rosto"), mas não seria mau em si.
Então, será que devemos nos assentar passivamente e deixar as ervas
daninhas infestarem o solo? Ou será que devemos desafiá-las? Como nossos
antepassados disseram, nós também devemos nos posicionar ativamente con-
tra o mal natural. O grande escritor de hinos e pastor inglês Isaac Watts (1674-
1748) sintetizou a mentalidade apropriada ao cristão em sua linda canção de
Natal "Joy to the World" [Alegria ao Mundo]. Em uma estrofe, canta-se do mal
natural e de nossa resposta a ele.
Que os pecados e as dores não cresçam mais,
Nem os espinhos infestem o solo;
Ele vem fazer fluir Suas bênçãos
Onde quer que se encontre maldição,
Onde quer que se encontre maldição,
Onde quer, onde quer que se encontre maldição.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 134/373
144 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura na universo
Essencial ao desenvolvimento de uma teologia bíblica da vocação é
lembrarmos que o trabalho é parte do que declarou Deus como sendo "muito
bom" (Gn 1.31). O homem foi feito para trabalhar como parte de sua dignidade.
como parte da inerente natureza do que significa ser humano, ser imagem do
Deus que trabalha. Como escreveu o Papa João Paulo II: "O homem foi feito
para ser no universo visível uma imagem e semelhança do próprio Deus; e foi
posto na terra para dominá-la. Portanto, desde o princípio, ele é chamado a
trabalhar".
Não somente o trabalho do ser humano não é amaldiçoado, como o próprio
ser humano não o é. Na batalha decisiva da guerra espiritual, o Filho de Eva
estava destinado a esmagar (derrotar) Satanás no mesmo momento em que
este ferisse Cristo na cruz'. Nós, seres humanos, somos imediatamente objetos
da promessa redentora de Deus, e nosso trabalho será um agente da redenção
no mundo na medida em que trabalhamos com Deus.
Não obstante, a inteireza de nossa vida e trabalho, parte tão importante
da intenção de Deus para nós, sentirá o peso da corrupção do pecado. Nas
dificuldades para realizar papéis que nos são conferidos dentro do contexto da
destruição gerada pelo pecado. podemos experimentar que o próprio trabalho
está desconectado de Deus e, portanto, de suas âncoras e significado teológicos.
O trabalho como mordomia, chamado. empreendedorismo e
parte do mandato
cultural está ameaçado e, nesse contexto degradado, podemos considerá-lo
entediaste, mecânico, repetitivo, difícil e, até mesmo, fútil.
Em uma escala maior, a Queda levou os sistemas econômicos a se
separarem dos princípios do reino. Princípios contrários levam a sistemas
dominados pela ganância e a corrupção. Esses sistemas, em vez de criarem um
ambiente onde os portadores da imagem de Deus podem florescer em seus
talentos artísticos e habilidades, reduzem o trabalho a nada mais do que
movimentos de engrenagens em uma máquina, como na cosmovisão comunista/
materialista, ou ao desempenho de um papel menos importante do que o serviço
de um servo ao bel-prazer de seu senhor feudal, como nos sistemas
mercantilistas.
Contudo, onde quer que o pecado tenha gerado maldades sistêmicas
como essas ou uma deslocação pessoal de nossas vidas e trabalho para longe
das intenções de Deus, este também está trabalhando para reverter os efeitos
da Queda e nos chamando a trabalhar com ele.
REALISMO-IDEALISMO
Vivendo em um mundo caído, somos incumbidos da responsabilidade de
lutar tanto contra o mal ético quanto contra o mal natural. Há urna guerra para
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 135/373
A queda, a cruz
, e a cultura I 145
redimir toda a criação dos efeitos da Queda'. Deus continua a operar, por meio
da graça comum, para sustentar o universo. O homem colabora com Deus
para reverter os efeitos do mal natural por meio da ciência e tecnologia, e as
fronteira da pobreza por meio do empreendedorismo econômico. Conforme o
evangelho avança para transformar os corações das pessoas e conformá-las à
imagem de Cristo - a imagem original do ser humano - a dignidade do trabalho
é afirmada e a vocação é estabelecida por meio da conexão com o reino de
Deus.
Devemos ter duas atitudes em relação ao trabalho em um mundo caído:
realismo e idealismo. O realismo nos lembra de ver as coisas como elas são:
estruturas econômicas corruptas, seres humanos pecadores e mal natural. Não
existe vida perfeita nem trabalho perfeito. Até Cristo voltar, o suor do rosto
permanecerá. Não podemos ser romanticamente utópicos. Como Francis
Schaeffer gostava de dizer: "Se esperarmos a perfeição ou nada, o resultado
será sempre nada ".
Entretanto, além de sermos realistas, precisamos ser idealistas. Sabemos
que Cristo, na cruz, venceu uma batalha crucial que marcou o ponto decisivo na
guerra cósmica contra o mal moral e natural'. Conhecemos o resultado final do
conflito. Cristo nos chamou a seguir sua bandeira em meio à batalha. Deus está
em operação no mundo, redimindo sua criação, construindo seu reino. Nós
devemos participar disso. A agenda de Cristo é a nossa agenda. O idealismo
nos chama a ver as coisas como deveriam ser, refletidas na oração: "Venha a
nós o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu" (Mateus
6.10). Somos chamados a nos engajar na batalha para o avanço do reino em
vez de ficarmos sentados de forma passiva. Como servos do Rei, fazemos isso
de maneiras muito tangíveis aqui na terra, empregando todos os dons naturais e
espirituais com os quais fomos equipados para combater a fome, a pobreza e a
ignorância e para lutar pela verdade, pela vida e pela justiça.
Em meio à fragmentação, o homem redimido deve trabalhar para redimir
a cultura e transformar as nações. David Hegeman resume a questão desta
forma:
Portanto, Deus procura criar urna comunidade de pessoas
redimidas e equipadas para toda a boa obra. Somos redimidos para que
possamos trabalhar A raça humana é trazida de volta a um estado de
justiça para que possamos retornar ao nosso chamado edênico de desen-
volver ("trabalhar") a Terra, transformando-a em uma gloriosa cidade-
jardim e finalmente tomando posse de nossa esperada herança.'"
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 136/373
146 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
O ser humano redimido não deve simplesmente seguir a cultura existente,
muito menos deve apenas enfocar o ataque às coisas negativas da cultura. Ele
deve promover a cultura do reino. E deve sempre ser "contracultural" em relação
ao sistema do mundo. Como alguém já disse, não basta reclamar da escuridão;
precisamos acender uma luz em meio às trevas.
Em suma, a Queda é real, mas devemos lutar contra ela. Culturas podem
ser transformadas e nações reformadas. A Aliança Abraâmica" que abençoa
todas as nações agora está vinculada à Grande Comissão dada por Cristo para
que discipulássemos as nações "ensinando-as a obedecer tudo o que ordenara"
(Mateus 28.20).
Esse processo é progressivo e dinâmico. A transformação pode ser
substancial, com significativa cura em todas as áreas da vida. Entretanto, não
devemos nos iludir acerca de nossa "perfectibilidade". Nada será perfeito por
aqui até a segunda volta de Cristo. E o progresso acontecerá no Espírito, não
na carne. O processo é uma dança. Cristo é o líder, e nós o seguimos. Ele tem
seu papel e nós temos o nosso. Ele voltará com o seu reino, e enquanto isso
cabe a nós seguirmos seu comando de ocupar o território até que ele volte
(Lucas 19.13). A consumação ocorrerá quando Cristo voltar.
A FINALIDADE DA CULTURA
Qual é a finalidade da cultura? Qual é o propósito da cultura? Para que
estamos trabalhando? Quando Cristo volta no fim da história, ele vem para desposar
sua noiva, a igreja'. Ele retomará com a Cidade Santa, a Nova Jerusalém'.
Então os reis da terra virão carregando presentes para a festa de casamento.
Encontramos essas palavras impressionantes em Apocalipse 21.22-26:
Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor Deus
Todo-Poderoso, e o Cordeiro. A cidade não necessita nem do sol, nem da
lua, para que nela resplandeçam, porém a glória de Deus a tem alumiado,
e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão à sua luz; e os reis da
terra trarão para ela a sua glória. As suas portas não se fecharão de dia,
e noite ali não haverá; e a ela trarão a glória e a honra das nações.
Que cena Os reis da Terra trarão a glória e a honra das nações para
a Cidade de Deus. No final dos tempos, como cumprimento da benção e do
discipulado das nações, a glória singular de cada nação será revelada à luz da
glória de Deus. Assim como os magos do Oriente presentearam o menino Jesus
com ouro, incenso e mirra', também os reis da Terra levarão a glória e o
esplendor das nações a Cristo no dia de seu casamento.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 137/373
A queda, a cruz e a cultural
147
Vemos imagens de Apocalipse 21 nos Salmos 46, 72.10-1 7, e 11 7 e em
Isaías 60.1-20. 62.1-3, e 66.18-21. Hegeman aponta as quatro semelhanças
das duas visões
1 5 : Primeiro haverá o ajuntamento das nações para adoração'.
Segundo, não haverá mais sofrimento'
7
. Terceiro, os portões da cidade nunca
se fecharão'''. E quarto, os presentes das nações serão entregues'''.
Vejamos os presentes entregues conforme registrado em Isaías 60.4-14:
Levanta em redor os teus olhos, e vê;
todos estes se ajuntam, e vêm ter contigo;
teus filhos vêm de longe, e tuas filhas se criarão a teu lado.
Então o verás, e estarás radiante,
e o teu coração estremecerá e se alegrará;
porque a abundância do mar se tornará a ti,
e as riquezas das nações a ti virão.
A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Midiã e Efá;
todos os de Sabá, virão; trarão ouro e incenso,
e publicarão os louvores do Senhor.
Todos os rebanhos de Quedar se congregarão em ti,
os carneiros de Nebaoite te servirão;
com aceitação subirão ao meu altar,
e eu glorificarei a casa da minha glória.
Quem são estes que vêm voando como nuvens
e como pombas para as suas janelas?
Certamente as ilhas me aguardarão,
e vêm primeiro os navios de Társis,
para trazerem teus filhos de longe, e com eles a sua prata e o seu ouro,
para o nome do Senhor teu Deus,
e para o Santo de Israel, porquanto ele te glorificou.
E estrangeiros edificarão os teus muros,
e os seus reis te servirão; porque na minha ira te feri,
mas na minha benignidade tive misericórdia de ti.
As tuas portas estarão abertas de contínuo;
nem de dia nem de noite se fecharão;
para que te sejam trazidas as riquezas das nações,
e conduzidos com elas os seus reis.
Porque a nação e o reino que não te servirem perecerão;
sim, essas nações serão de todo assoladas.
A glória do Líbano virá a ti;
a faia, o olmeiro, e o buxo conjuntamente,
para ornarem o lugar do meu santuário;
e farei glorioso o lugar em que assentam os meus pés.
Também virão a ti, inclinando-se, os filhos dos que te oprimiram;
e prostrar-se-ão junto às plantas dos teus pés
todos os que te desprezaram;
e chamar-te-ão a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 138/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 139/373
A queda, a cruz e a cultura 1 149
G. B. Caird, em seu comentário sobre Apocalipse, escreve o seguinte em
relação à gloria e honra das nações:
Nada da antiga ordem que tenha valor à vista de Deus deixará de
entrar na nova ordem. O céu de João não é um nirvana que rejeita o
inundo, e no qual as pessoas podem escapar das incuráveis mazelas da
existência terrena; o céu de João é um s elo de confirmação da bondade da
criação de Deus. O tesouro que as pessoas encontram no céu são os tesouros
e riqueza das nações, o que de melhor conheceram e amaram na Terra
redimido de todas as imperfeições e transfigurado pelo esplendor de Deus.
2 2
C. S. Lewis sintetiza isso em seu livro A Última Batalha'. O mundo
caído que atualmente habitamos é chamado por Lewis de "Terra das Som-
bras", e ele se refere ao "novo céu e a nova terra" como o "País de Aslam".
Aslam, o leão, é uma ilustração de Cristo, Rei dos céus e da terra. Quando os
heróis e heroínas de A Última Batalha passam da Terra das Sombras para o
País de Aslam, este os recebe chamando-os a entrar'. Conforme as crianças
adentram o país, ocorre um alvorecer, uma progressiva revelação. Quanto mais
longe eles vão, mais claro fica que agora estão livres da Terra das Sombras;
estão no lugar pelo qual ansiavam, o lugar para o qual foram feitos. Lewis
escreve: "Finalmente cheguei em casa Esta é minha verdadeira nação Meu
lugar é aqui. Esta é a terra que venho procurando a minha vida inteira, apesar
de não tê-la conhecido até agora". E as crianças inglesas não apenas chegaram
em casa; conforme avançam no País de Aslam, elas sentem que "já estiveram
ali antes". E continuando a viagem, descobrem que estão na Inglaterra em toda
sua glória. Todas as impurezas foram queimadas. Restou somente a singular
beleza da nação". Nessa imagem, Lewis dramatiza lindamente a verdade da
bondade de cada cultura sendo redimida, purificada à luz da glória de Deus.
NOSSO PROPÓSITO ORIGINAL E FINAL
Que tipo de cultura você e as pessoas de sua comunidade estão tra-
balhando para criar? Isso é imensamente importante, no tempo e na eternidade.
O ser humano como imagem de Deus é um criador de cultura. Seu propósito
original, pela ordem de Deus no mandato cultural, é criar uma cultura santa -
uma cultura que incarne a natureza e o caráter do próprio Deus em toda a sua
verdade, beleza e justiça. Ao desafiar Deus e em nossa ignorância, temos
multiplicado a fragmentação por toda a Terra. Mas Deus está trabalhando para
reconciliar todas as coisas a si mesmo. É como reconciliador que ele avança
seu reino, e é como reconciliadores que trabalhamos com ele, manifestando
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 140/373
150 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
sobre a Terra a cultura de um reino verdadeiramente celestial.
O teólogo holandês Herman Bavinck (1854-1921) escreveu:
A cultura, em seu sentido mais amplo, é o propósito para o qual
Deus criou o ser humano à Sua imagem... [que] inclui não somente os
chamados mais antigos à... caça e pesca, agricultura e criação de animais,
mas também ao comércio e à ciência e às artes."
Quer médicos, chefes de cozinha, paisagistas, pastores ou desenvol-
vedores de software, todos nós trabalhamos como criadores de cultura.
Entender nosso trabalho no contexto do mandato cultural é fundamental para
se construir uma teologia bíblica da vocação. Como toda a metanarrativa das
Escrituras testemunha, desde a Criação até a Consumação, nosso trabalho é,
no fim das contas, ver as pessoas chegarem a Cristo, serem levadas à vida de
seu reino e dedicarem suas profissões ao avanço da cultura do reino. É nesse
contexto que encontramos nossos chamados - a conexão de nossa vida e trabalho
com o reino de Deus. Nos próximos capítulos, pesquisaremos o que significa,
para cada um de nós, ser chamado a uma vocação conforme continuamos a
explorar a História Transformadora de Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 141/373
PARTE 4:
VOC AÇ Ã O
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 142/373
Capítulo l
O CHAMADO: Vocação
Os Guinness escreve em The Call [O Chamado]: "Se não houver quem
chame, não haverá chamado - apenas trabalho". E trabalho sem sentido. Se o
universo se cala, como diria o modernista, não há propósito na vida, apenas
"escuridão" e perguntas sem respostas.
Mas, na realidade, o universo não está em silêncio. Antes da criação do
mundo, a comunidade já existia na Trindade. Relacionamento é um dos princípios
fundamentais do universo. Deus criou o ser humano para viver em uma conexão
profundamente pessoal com ele. Dentro do relacionamento de Deus com o ser
humano, Deus é aquele que chama e o homem, aquele que é o chamado.
Portanto, o nosso chamado está na comunhão com a Trindade, com o Deus
soberano que ordena todas as coisas e tem um lugar nessa ordenação
especificamente para "mim".
NOSSO DUPLO CHAMADO
Desde Adão e Eva no Jardim, passando pelos patriarcas e apóstolos, até
chegar aos homens e mulheres dos dias atuais, vemos o Deus do universo
chamando as pessoas para um relacionamento face a face com ele, e cha-
mando-as para suas tarefas pessoais para o avanço de seu reino.
Nosso chamado é, antes de tudo, à salvação. Esse é o primeiro cha-
mado ao qual todos os crentes devem responder. Mas o chamado secundário,
que é singular a cada crente, é à vocação ou ocupação. Cada um de nós em
Cristo é chamado a um papel específico no avanço do reino de Deus, da mesma
forma como Deus chama cada estrela pelo nome. A oração do Senhor: "Venha
o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mt 6.10),
deve ser levada a sério pelos súditos leais do reino de Deus. Somos chamados
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 143/373
154 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
a entrar no reino e, em seguida, estender esse reino ao mundo levando verdade
(a metafísica bíblica), justiça (a ética bíblica) e beleza (a estética bíblica) para
todos os aspectos da vida por meio de nossa fé e vocação.
A palavra vocação vem do latim vocatio e significa chamado, convo-
cação ou convite, como na frase "o chamado de Deus". Por sua vez, vocatio
vem de vocare, chamar. Noah Webster definiu vocação em seu dicionário de
1828, o American Dictionary of the English Language:
Entre os teólogos, um chamado pela vontade de Deus; ou a
concessão da distinta graça de Deus sobre uma pessoa ou nação, pela
qual a pessoa ou nação é posta no caminho da salvação; 2. Convocação;
chamamento; encorajamento. 3. Designação ou destinação a um estado
ou profissão em particular. 4. Emprego; chamado; ocupação; uma palavra
que inclui profissões assim como ocupações mecânicas. Que cada teólogo,
médico, advogado e mecânico sejam diligentes em sua vocação. 2
Webster, primeiro lexicógrafo do inglês americano, operava a partir de
uma cosmovisão bíblica. Suas definições estão arraigadas na linguagem e no
pensamento bíblico. No dicionário de Webster, o entendimento bíblico de vocação
inclui tanto o sentido de chamado à salvação quanto a convocação à profissão.
Ainda que frequentemente utilizemos a palavra vocação para nos referirmos à
nossa área específica de atuação, em um sentido mais amplo, nossa vocação
inclui nossa vida de trabalho como um todo, nossa ocupação primária, mas
também todo serviço que Deus nos dá para fazer neste mundo. Em outras
palavras, o chamado de Deus aos crentes é um chamado que aponta para
Cristo e um chamado para que todo crente seja um instrumento do reino de
Deus no mundo. É um chamado geral à vida e um chamado singular e particu-
lar ao trabalho: uma vida de trabalho.
O ABRANGENTE CHAMADO DE DEUS
Entender o todo de nossa vida e trabalho no contexto do chamado de
Deus é essencial ao desenvolvimento de uma teologia bíblica da vocação.
Lembremos que foram os reformadores que recuperaram a aplicação do conceito
de chamado à grande arena da vida, ensinando que todos os cristãos têm
chamados a todos os tipos legítimos de vocação, não somente vocações
monásticas e eclesiásticas. Essa aplicação foi divulgada pela Europa à medida
que alguns cristãos, tocados pelo pensamento da Reforma, recuperaram uma
cosmovisão bíblica abrangente.
Como os reformadores compreenderam, o chamado de Deus não é
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 144/373
O chamado: vocação 1 1 55
fragmentado; é holístico, integrado e abrangente. Ele envolve todo o nosso ser
e toda a realidade. Infelizmente, hoje, a igreja, de maneira geral, apresenta um
chamado altamente truncado, estreito e com ênfase no aspecto espiritual. É um
chamado somente à salvação da alma para a eternidade. Esse conceito grego
de chamado deixa o mundo ansiando por algo que fale a toda a nossa existência,
tanto agora como na eternidade.
Na introdução, iniciei a discussão sobre vocação relatando a história de
um grupo de jovens filipinos que estavam pensando em aderir aos rebeldes
maoístas. Indagados por um missionário acerca daquilo que viam no maoísmo
que não enxergavam no cristianismo, seu líder respondeu:
Senhor, o maoísmo oferece aos jovens em nossa situação atual
quatro coisas essenciais: (1) uma visão unificada e coerente do mundo,
da história e da realidade; (2) uma meta bem definida pela qual trabalha];
viver e morrer; (3) um chamado a todas as pessoas à fraternidade comum;
e (4) um senso de compromisso e uma missão de divulgar aos que perderam
as esperanças as boas novas de que existe esperança. É fato, senhor, que a
fé cristã em toda a sua beleza parece ser incapaz de nos o ferecer uma visão
como essa.'
Ah, como deveríamos chorar. Apesar daqueles jovens filipinos não
saberem, eles nada estavam buscando além do Rei e de seu reino. A alma do
homem e a alma das culturas anseiam por aquilo para o qual foram criadas.
Além de verdade, justiça e beleza, a fé cristã fornece os "quatro essenciais"
que o mundo procura: uma visão coerente da realidade, algo pelo que se viver
e morrer, um senso de comunidade, e algo que traga esperança aos que a
perderam. Mas a igreja tem oferecido apenas uma sombra da glória que recebeu.
Como membros do corpo de Cristo, precisamos ser lembrados de que o
chamado de Deus envolve o ser humano inteiro e todos os seus relacionamentos.
Envolve o coração, a mente, a alma e a força do homem. Envolve seu
relacionamento com Deus, com seu próximo e com a criação.
Como afirma Os Guinness: "O chamado é a premissa da própria existência
do cristão. Ele implica que todas as pessoas, em todos os lugares e em tudo
cumprem os seus chamados (secundários) em resposta ao chamado (primário)
de Deus"
4 .
EXPLORANDO A PALAVRA CHAMADO
Nas Escrituras, as palavras hebraicas e gregas para chamar são usadas
mais de setecentas vezes'. Assim como a palavra chamar em português, as
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 145/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 146/373
O chamado:
1'0c0((701
157
um mundo no qual exerceriam suas vocações. Da mesma forma com Abraão;
Deus o abençoou para a tarefa de se tornar uma nação modelo a partir da qual
todas as nações do mundo seriam abençoadas: "Abençoar-te-ei" (Gn 12.2). Deus
chamou Moisés para construir o tabernáculo. Ele o proveu para a tarefa chamando
o povo a apresentar sua abundância material e suas habilidades. Semelhantemente,
na Grande Comissão, Jesus chamou os discípulos a discipular as nações". E
vemos que ele os equipou para a tarefa'".
O que significa equipar? No Novo Testamento, a palavra equipar é
katartismos". Ela é encontrada uma vez em Efésios 4.12 onde se traduz como
"aperfeiçoamento"; aqui, os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres
são entregues à igreja para que a "equipem" ou "treinem completamente" para
a obra. Essa palavra é derivada da palavra katartizo, que significa "pôr em
ordem", "preparar", "fortalecer", "tornar o indivíduo aquilo que ele deve ser"''.
Nós a vemos sendo utilizada em Hebreus 13.20-21: "Que o Deus da paz... vos
aperfeiçoe em toda boa obra, para fazerdes a sua vontade".
O tema comum ao Antigo e Novo Testamentos é que Deus tem um
propósito para as nossas vidas e nos equipa para esse propósito. A nível pessoal,
encontramos essa revelação nas maravilhosas palavras do salmista:
Pois tu formaste os meus rins;
entreteceste-me no ventre de minha mãe.
Eu te louvarei, porque de uni modo tão admirável
e maravilhoso fui formado:
maravilhosas são as tuas obras,
e a minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te
.
foram encobertos,
quando no oculto fui formado,
e esmeradamente tecido nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram a minha substância ainda informe,
e no teu livro foram escritos os dias,
sim, todos os dias que foram ordenados para mini,
quando ainda não havia nem um deles. (Salmo 139.13-16)
Fomos criados de modo admirável e maravilhoso para um propósito; e
Deus nos planejou, equipou e abençoou para o propósito para o qual fomos
feitos. O DNA de nosso código genético estabelece nossa constituição física.
Simultaneamente existe o DNA metafísico que molda nosso chamado singular.
Há algo que fomos criados para fazer que ninguém mais foi feito para fazer da
maneira como nós fazemos. Michael Novak, filósofo economis-ta, articula isso
de maneira eloquente: "O que nos faz diferentes é a trajetória do chamado que
seguimos, como meteoritos que cortam o céu noturno da história'.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 147/373
158 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
FEITOS PARA O AUTOR DO
CHAMADO
Deus planejou o ser humano para trabalhar com ele, moldando o curso
da história. As palavras e ações de todas as pessoas influenciam a história de
outros indivíduos, comunidades e nações. O Dr. Francis Schaeffer disse que
uma pessoa é como uma pedrinha que, lançada num lago, produz ondas, ondas
que "adentram a eternidade". Meu bom amigo, Dr. Bob Moffitt, fundador da
The Harvest Foundation, disse: "Todas as pessoas foram criadas para escrever
sua assinatura no universo".
Ansiamos por propósito, significado e realização porque há algo para o
qual fomos criados. Fomos feitos para o Autor do Chamado, para a eternidade.
Os Guinness sintetiza isso maravilhosamente: "O fato de nós humanos termos
desejos é a prova de que somos criaturas. Incompletos em nós mesmos,
desejamos tudo aquilo que achamos estar nos atraindo para nos completar'''.
Somos como Abraão, que foi chamado, pela fé, a deixar sua terra e
cultura em Ur dos Caldeus e vagar pelo deserto'. Ele abandonou tudo o que
conhecia, todo o conforto, pela viagem, pelo reino de Deus. O que ele estava
procurando enquanto andava pelo deserto? Ele buscava a Cidade de Deus'
6
.
Assim como fizeram todos os santos da antiguidade. Eles vagaram pelo deserto
em busca da cidade. Todos eles morreram na fé sem receber as promessas'
7 .
Como Abraão e a grande nuvem de testemunhas, somos "peregrinos em uma
viagem", "peregrinos em uma terra estrangeira", ansiando pelo reino de Deus,
procurando nosso lugar no universo.
Guinness escreve:
Chamados pessoalmente pelo Criador do universo, recebemos um
significado no que fazemos que incendeia cada segundo e milímetro de
nossas vidas... O chamado é sempre para irmos mais alto, mais fundo e
mais longe.
Despertados em relação a nossos mais profundos dons e aspira-
ções, sabemos que a importância do chamado sempre deve preceder a
importância da carreira, e que somente podemos buscar a mais profunda
satisfação no trabalho dentro das perspectivas do chamado.
(...) Deus nos chamou, e nunca mais seremos os mesmos a não ser
que o respondamos plenamente.'
Devemos deixar o familiar e o conforto de nossa própria Ur dos Cal-
deus e vagar no deserto, fixando nossos olhos naquilo que ainda está fora do
alcance: "a cidade que tem os fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é
Deus" (Hb 11.10).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 148/373
O chamado: vocação
1 159
CHAMADOS A UMA VIDA DE
TRABALHO
Nossa jornada à Cidade de Deus começa no momento de nossa con-
cepção. Fomos chamados à vida. Nascemos em uma família, uma comunida-
de, um povo e uma nação. Nascemos em um contexto e em uma rede de
relacionamentos específicos. A jornada continua com o chamado à salvação; é
aqui que entramos em uma nova família; somos adotados na família de Deus.
Essa é uma fraternidade que vai além do tempo e do espaço. Ela se conecta à
grande nuvem de testemunhas mencionada em Hebreus 11 e continua no
presente. Ela se conecta a uma família de toda tribo e nação'. O chamado é
para entrar no reino de Deus.
A jornada continua com o chamado de Deus ao trabalho. Aqui Deus nos
equipa para nossa ocupação, para o lugar onde realizaremos o trabalho de
nossa vida. Nesse lugar ou lugares, devemos crescer e amadurecer até que o
trabalho para o qual ele nos chamou esteja completo.
Qualquer que seja o trabalho de nossa vida, ele deve ser compreendido
em meio ao plano de Deus - no contexto da história do Criador. Deus está
trabalhando para avançar o seu reino, reconciliando todas as coisas consigo
mesmo, e ele nos chama a trabalhar com ele.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 149/373
Capáulo 12
O CHAMADO GERAL:
À VIDA
O chamado geral à salvação - o entrar no reino de Deus - é fundamental
para o nosso chamado particular ao trabalho - de propagar o reino. O chamado
geral define, em termos morais e espirituais, a estrutura para o nosso chamado
particular.
Enquanto buscamos responder ao duplo chamado de Deus - conectar
toda a nossa vida e trabalho ao reino de Deus - vivemos firmemente na realidade.
Essa busca é possível e vital, pois o trabalho de Deus de reconciliação abrange
todas as coisas em todos os tempos. O chamado de Deus à vida - à salvação -
é abrangente.
A NECESSIDADE DE UM PLANO ABRANGENTE
Corno vimos anteriormente, antes da rebelião do homem contra Deus,
toda a criação estava em harmonia. Gênesis 1 registra que, em cada etapa da
criação, Deus examinou o que havia feito e declarou que aquilo era "bom" ou
"excelente"' ou "justo". "certo" ou "verdadeiro'. Estas não são decisões
arbitrárias, mas as determinações do Criador divino sobre o que ele havia feito
e mantém até hoje. Em Gênesis 1.31, quando o homem, a joia da coroa da
criação, foi criado, Deus declarou que ele era "muito" ("extremamente" ou
"abundantemente") bom. Toda a criação estava em harmonia com Deus
e
consigo mesma.
Na rebelião do homem contra Deus, essa harmonia foi quebrada, e a
principal relação entre o homem e Deus foi desfeita. Por essa relação primária
ser fundamental para todas as outras, todos os relacionamentos secundários da
humanidade foram desfeitos também. O efeito da rebelião estendeu-se para
todos os relacionamentos
e
toda a criação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 150/373
162 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Tanto o relacionamento interno do homem, ou sua capacidade única de
refletir sobre sua própria existência, quanto seus relacionamentos externos,
com os outros e com o restante da criação, foram afetados. Com
seu
relacionamento com Deus rompido, o próprio senso de identidade do homem se
perde. Todas as questões referentes à identidade - Quem sou eu? Qual o
propósito de minha vida? Eu tenho algum significado? - começam a se levantar.
Além de não saber quem ele é, o homem também não sabe o que é o
resto da criação. Em relação a seu próximo, os mais íntimos relacionamentos
familiares estão rompidos. Em nenhum outro lugar isso é mais aparente do que
na América contemporânea, onde os casamentos e as crianças são sacrificados
pelo mercado de trabalho ou por conveniência pessoal. Em muitos lugares do
mundo, esquece-se que as mulheres são feitas à imagem de Deus. Elas são
muitas vezes tratadas como escravas em suas próprias casas, como uma
propriedade de seus maridos ou como objetos sexuais. As maravilhas da
sacralidade do casamento são trocadas por adultério e prazeres fugazes de
uma noite. A beleza do amor é substituída pela destruição do ódio e do
assassinato. Temos família lutando contra família, clã contra clã, nação contra
nação. As maravilhas da justiça são trocadas pelos ganhos a curto prazo da
ganância e da corrupção. Em relação ao resto da criação de Deus, em vez de
serem mordomos, as pessoas violentam e destroem o lugar que Deus lhes deu
para viver e trabalhar. Elas não conseguem ver a importância de cuidar da
criação, e acabam contaminando o local de sua vida de trabalho. Em sua rebelião,
o homem divorciou tudo o que ele é e faz de seu significado original.
A ABRANGENTE PROVISÃO DE DEUS
Por a Queda ser abrangente, a salvação também deve ser abrangente.
No Antigo Testamento, a palavra que melhor descreve essa salvação é paz. No
Novo Testamento, a palavra é salvação.
O Novo Dicionário da Bíblia fornece um amplo entendimento da pa-
lavra paz como usada no Antigo Testamento:
"completude", "solidez", "bem-estar"... É utilizada quando alguém
pede ou ora pelo bem-estar do outro (Gn 43.27; Ex 4.18; Jz 19.20), guando
se está em harmonia ou união com o outro (Js 9.15; 1 Rs 5.12), quando se
busca o bem de uma cidade ou país (SI 122.6; Jr 29.7). Ela pode significar
prosperidade material (SI 73.3) ou segurança física (SI 4.8). Mas também
pode significar bem-estar espiritual. Tal paz é o adjunto da justiça e da
verdade, mas não da maldade (Si 85.10; Is 48.18, 22; 57.19-21).3
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 151/373
O chamado geral
1 163
Conforme utilizado no Novo Testamento, a palavra grega para paz abrange
o sentido pleno dessa palavra no Antigo Testamento "e quase sempre tem uma
conotação espiritual. A amplitude de seu significado é especialmente aparente
em sua ligação com palavras-chave como graça (Rm 1.7, etc.), vida (Rm 8.6),
justiça (Rm 14.17), e em seu uso em bênçãos como em 1 Ts 5.23 e Hb 13.20"
4
.
Como usado na Bíblia, paz expressa a plenitude do plano redentor de
Deus, restaurando todos os relacionamentos desfeitos na Queda:
Para o homem pecador é necessário primeiro haver paz com Deus,
a remoção da inimizade do pecado por meio do sacrifício de Cristo (Rm
5.1; Cl 1.20). Então a paz interior pode seguir (F14.7), sem os impedimentos
dos conflitos do mundo (Jo 14.27; 16.33). A paz entre os homens é parte
do propósito pelo qual Cristo morreu (Ef 2) e da obra do Espírito (G1
5.22); mas o homem também deve ser ativo em promovê-la (Ef 4.3; Hb
12.14), e não apenas como a eliminação de discórdias, mas como a har-
monia e o real funcionamento do corpo de Cristo (Rm 14.19; 1 Co 14.33).
5
O conceito bíblico da solução de Deus para o problema do pecado e suas
consequências é abrangente. Encontramos estas notáveis palavras na carta de
Paulo aos colossenses:
Porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que,
havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra
como as que estão no céu. (Cl 1.19-20)
Quando as pessoas são questionadas: "Por que Cristo morreu na cruz?",
a resposta geralmente é: "Para salvar minha alma " ou "Para que eu possa ir
para o céu ". Essas respostas são verdadeiras, porém elas limitam o efeito do
sangue de Cristo na cruz às almas dos indivíduos apenas. O que Deus nos
revela em Colossenses é que ele tem um plano abrangente, e que esse grande
plano é de basicamente reconciliar todas as coisas com ele. Isso inclui a alma
do homem. Inclui cada pessoa integralmente. Mas não se limita apenas à
humanidade. Devido ao fato de a rebelião do homem ter trazido consequências
para todas as coisas, a reconciliação também deve alcançar todas as coisas. O
sacrifício de Cristo não foi somente para garantir o perdão dos pecados, mas
também para reestabelecer as relações do homem entre si e com a criação.
Vemos o grande plano de Deus sendo descrito no livro de Romanos.
Paulo escreve:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 152/373
164 I
VOCAÇÃO: EA
crera sua assinatu
a no universv
Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação
dos filho.s• de Deus. Porquanto a criação,
ficou sujeita à vaidade, não por
-
sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que
também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção,
para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a
criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora. (Rm
8.19-22)
A linguagem de Paulo mergulha na profundidade do impacto do pecado
na criação - "frustração". "cativeiro da corrupção" e "geme e está com dores do
parto" - e sobe às alturas da redenção que está por vir - "aguarda com ardente
expectativa", " liberta" e "para a liberdade da glória". O abrangente plano de
Deus se estende a toda a criação.
CURA SU BSTANCIAL
-
P,
"P
9
C'4
0 Com DEUS
<<
P <
1
- -
çxic
DO HOMEM CONSIGO
ESvO
\ P
C
p
P . ,
Cf'
00 HOME
M
,o,,_
_ ,
O0‘.A
.
M
COM O PRÓXIM
O
--
Esse processo pode ser visto como uma série de círculos concêntricos.
O círculo interior representa a restauração da relação primária do homem com
o Pai celeste, o novo nascimento. O círculo central representa a cura substancial
na vida de um indivíduo devido à cura no primeiro relacionamento interior -
físico, psicológico, intelectual e no desenvolvimento do caráter (moral). O terceiro
círculo representa a cura substancial que ocorre em suas relações externas
secundárias no mundo externo, com seu próximo e com a criação.
INVESTIGANDO A PALAVRA SALVO
Em Efésios 2.1-9. Paulo descreve a situação do homem e a solução de
Deus para o problema. a salvação:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 153/373
O chamado geral I 165
Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe das potestades do ar; do espírito que agora opera nos filhos da
desobediência... Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito
amor com q ue nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos
vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)... Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não
vem das obras, para que ninguém se glorie. (NASB)
Observe como Paulo descreve a condição do homem não redimido: "E
vós estáveis mortos nos vossos delitos e pecados". Entrando nesse estado
desesperador, onde um "homem morto" não pode tornar-se vivo novamente.
vêm a palavra maravilhosa que nos preenche: "Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, pelo seu muito amor...". Enquanto estávamos mortos espiritu-
almente e incapazes de salvar a nós mesmos, Deus nos amou tanto que enviou
seu próprio Filho para morrer por nós e para ser ressuscitado por nós. Portanto,
a nossa salvação é pela obra consumada de Cristo na cruz.
Mas o que a palavra salvo significa?
Embora a palavra salvo seja geralmente usada no sentido espiritual
clássico de salvar as almas das pessoas, na verdade, ela tem um caráter muito
mais abrangente. Quando utilizada no Novo Testamento, ela tem um sentido de
restaurar aquilo que foi quebrado, purificar o que é profano. A palavra grega
traduzida como salvo nos versos de Efésios que acabamos de ler é usada mais
de cem vezes no Novo Testamento. Seu significado inclui manter alguém salvo,
salvar alguém do perigo ou da destruição, e restaurar a saúde de alguém que
sofre de uma doença. É também traduzida como "tornar inteiro", "curar" e "ser
inteiro'. Tiago fala do crente que pacientemente enfrenta tribulações, tornando-
se "maduro e completo, não faltando em coisa alguma" (1.4). Ser salvo inclui
tornar-se inteiro (completo) e santo (moralmente virtuoso). Na justificação,
somos declarados santos; na santificação, vivemos uma vida santa. A salvação,
de fato, tem uma conotação ampla; podemos assim dizer que a salvação é
"holística" - ela engloba a totalidade.
ANALISANDO A PALAVRA SALVO
Não somente a definição de salvação é abrangente, como também o é o
cronograma da vida do crente e do desenvolvimento do reino. Durante todo o
Novo Testamento, o conceito de salvação aparece no tempo passado, presente
e futuro no que se refere ao crente. Como cristãos, podemos dizer: "Eu fui
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 154/373
166 1 VOC AÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
salvo ", "Eu estou sendo salvo " e "Eu serei salvo ". Aqueles a quem Deus
justificou, ele os está santificando e os glorificará.
PASSADO - eu fui salvo (Justificação)
Cada cristão pode declarar: "Eu fui salvo ". Na linguagem teológica, isso
se refere à justificação. Este é o momento do arrependimento, o tempo na vida
de um pecador quando ele "nasce de novo". Outra maneira de dizer isso é que
a justificação é uma chamada à cruz "E como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo
aquele que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3.14-16).
Assim como a cura física veio àqueles hebreus que, pela fé, olharam
além de si mesmos e levantaram seus olhos para o cajado com a serpente
enrolada em torno dele, assim também, de forma permanente, a cruz salva o
crente.
CURA
Justificação é
um termo jurídico que se refere ao fato de que ao crente
é imputada a justiça de Cristo e que este carregou a pena do pecado do crente
em si mesmo na cruz. Vemos essa afirmação em 2 Coríntios 5.1: "Aquele que
não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos
feitos justiça de Deus". Jesus, que era sem pecado, foi feito pecador por nós.
Nós, que éramos pecadores por nascimento e por opção, tivemos a justiça de
Deus credenciada a nós. Tendo-a recebido, somos declarados "inocentes".
"Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"
(Rm 8.1). Que notícia maravilhosa Esta é realmente uma boa notícia.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 155/373
O chamado geral 1 167
PRESENTE - Eu estou sendo salvo (Santificação)
Assim como um crente pode dizer: "Eu fui salvo ", ele pode dizer: "Eu
estou sendo salvo". Enquanto a justificação marca um ponto no tempo, a
santificação é o termo teológico que descreve um longo processo pelo qual nos
tornarmos na realidade o que já somos em nossa posição em Cristo. Assim
como há o momento da concepção na vida de um bebê, e desde então um longo
processo de crescimento, há um processo similar marcado pelo nascimento e
crescimento espiritual. Enquanto a justificação nos chama a ficar à sombra da
cruz, a santificação tem como marca a negação de nós mesmos e a chamada
para pegarmos a nossa cruz diariamente e seguirmos a Jesus.'
Na justificação, somos declarados santos e justos; na santificação,
estamos nos tornando aquilo que fomos declarados ser - santos e justos na
prática Vemos isso na resposta de Paulo em Efésios 2.10 aos versículos
anteriores 1-9. A santificação é a resposta à justificação: "Porque somos feitura
sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou
para que andássemos nelas". Descobrimos que somos salvos pela fé para uma
finalidade. Somos salvos pela fé para fazer as boas obras que Deus preparou
para nós desde a fundação do mundo. Nossas obras não nos justificam, mas
elas são parte do processo de santificação que o Espírito Santo opera em nós.
Da mesma forma, Filipenses 2.12-13 revela a operação dual de nossa
santificação. Embora seja a obra de Deus que justifica por si só, tanto Deus
quanto os seres humanos trabalham no processo da santificação: "De sorte
que, meus amados, do modo como sempre obedecestes - não como na minha
presença somente, mas muito mais agora na minha ausência - efetuai a vossa
salvação [santificação] com temor e tremor, porque Deus é o que opera em
vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade".
A "salvação" inclui a vida cristã diária, vivida a cada momento. Mas o
justo viverá pela fé9
. A santificação é viver diante da face de Deus em todas as
áreas de nossa vida e em todos os nossos relacionamentos enquanto somos
fortalecidos e restaurados à imagem de Cristo pela obra do Espírito Santo.
Demasiadas vezes na igreja moderna, quando falamos de santificação, falamos
dela como algo interior e pessoal. Falamos de santidade pessoal. Esta é uma
parte importante do processo de santificação, mas ele não se limita a isso.
Além do desenvolvimento da moral e do caráter na santidade pessoal,
deve haver também uma mudança de mentalidade
0
. Não apenas o homem
natural nasce morto espiritualmente como também cresce até ter a metafísica
- mentalidade - de sua família e cultura. Cada pessoa, por meio do processo de
aculturação, desenvolve uma maneira de ver o mundo, uma cosmovisão que
molda tudo em sua vida. Ainda que Deus nos tenha criado para viver no mundo
da cosmovisão bíblica, nossas culturas, a não ser que estejam adorando ao
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 156/373
168 1 VOCAÇÃO: Escreva mia (i.s•.s
inotiow no 1111i1V111,
Deus vivo, têm "trocado a verdade de Deus pela mentira" (Rm 1.25). Parte do
processo da santificação pessoal está em nos apropriarmos da mente de Cristo
para termos uma maior compreensão da cosmovisão bíblica, a visão de mundo
que reflete a realidade.
O processo de santificação também produz tanto responsabilidade social
quanto administrativa. Trata-se
de vi ver no presente e promover a cura
substancial a todas as relações secundárias do homem. O crente deve procurar
levar o amor onde há ódio, a paz onde há conflitos, a beleza onde existe
monotonia, a verdade onde há mentira. o bem onde existe o mal. Os cristãos
devem posicionar-se, com Deus, contra a devastação do mal natural, das secas,
inundações, terremotos, fome, doenças. e
contra a destruição humana causada
pela criação de resíduos, pelo consumo irresponsável e pela violência ao ambiente
natural. Como parte do processo de santificação, devemos ser mordomos da
criação. Como o apóstolo Paulo nos lembra, a criação aguarda a revelação dos
filhos de Deus". Ela está esperando que aqueles que foram declarados filhos
de Deus em sua justificação comecem a agir como filhos de Deus em sua
santificação.
A santificação é ampla e progressiva. Em tudo isso há uma "dança"
entre o crente e Deus. Deus guia a dança, mas o crente é responsável por
envolver-se voluntariamente em resposta. Na santificação, o crente é ativo e
intencional nesta parte da salvação.
Não somos simplesmente chamados da escuridão para a luz, também
somos chamados a "andar na luz". Assim como o slogan de minha geração nos
lembra: "Devemos ser coerentes ". Deus é amor; devemos amar nossos amigos,
vizinhos e até inimigos. Deus é justo; devemos buscar a justiça em um mundo
corrupto. Deus é misericordioso; temos que expandira compaixão em um mundo
destruído. Deus é verdadeiro: falemos a verdade em vez de mentiras, e vivamos
uma vida digna de confiança em um mundo de promessas traiçoeiras. Deus é
belo; temos que promover a beleza em nossas comunidades. edifícios, paisagens,
arte e música.
Assim como a salvação de Deus é abrangente, nosso serviço também o
é. Ele deve ser expresso na adoração ao Rei, no amor aos nossos semelhantes
e na administração da criação.
FUTURO - serei salvo (Glorificação)
Aquilo que começou na justificação e manteve-se no processo da
santificação será completado quando Cristo voltar no final da história. Enquanto
temos a tarefa de ocupar territórios até o retorno de Cristo, este tem a missão
de voltar com o reino''. No final da história, todos os planos e propósitos de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 157/373
O chamado geral
1 169
Deus serão cumpridos. O retorno de Cristo no fim dos tempos, para completar
o processo que começou na cruz, é conhecido em termos teológicos como a
glorificação. Portanto, além de dizer: "Eu fui salvo " e "Eu estou sendo salvo ",
com alegria, o crente pode dizer: "Eu serei salvo ". Jesus voltará em glória e
toda a dor e o sofrimento da vida presente serão lançados fora. O processo,
uma vez iniciado, será gloriosamente concluído.
Uma palavra que capta a plenitude disso em tempo e espaço e com
relação ao indivíduo
e
ao reino é consumação. A palavra fala de chegar à
plenitude, à realização, para cumprir um propósito e glória eternos. Paulo fala
disso em 1 Coríntios 13.12: "Porque agora vemos como por espelho, em enigma,
mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei
plenamente, como também sou plenamente conhecido". Vemos agora em um
mero reflexo urna imagem desfocada do que virá. C.S. Lewis fala de nossa
existência agora como sendo na "Terra das Sombras". Mas, quando Cristo
voltar, as coisas serão como foram feitas para ser.
Enquanto na justificação somos declarados santos e justos em rela-ção à
nossa posição perante Deus; e, na santificação, procuramos viver uma vida
santa e justa na prática; na glorificação, seremos de fato perfeitamente santos
e justos.
Aquilo que fomos declarados ser será final e completa-mente alcançado.
Vemos exemplos da promessa da conclusão do processo nos escritos de Paulo:
No qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados
com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança,
para redenção da possessão de Deus - para o louvor da sua glória. (Ef
1.13-14)
Aqui, Paulo utiliza duas imagens que falam da conclusão do processo de
salvação. A primeira é a de ser "marcado com um selo". Antigamente, se um
documento importante ou algo estimado fosse ser transportado para outro destino,
o rei colocava seu próprio selo sobre o objeto. O selo garantia a chegada segura
do objeto apreciado. A segunda imagem é a de fazer um depósito. Em muitas
culturas, se você quer separar um item até que possa finalizar a compra, você
pode fazer um pré-pagamento ou, no caso de um imóvel, pode depositar um
sinal da compra. Ou seja, o depósito é urna de-monstração de compromisso de
que a operação final será concluída. Assim Paulo está dizendo nessa passagem
que Deus o Pai selou a entrega final e perfeita de nossa salvação com o selo ou
o depósito do Espírito Santo.
Vemos urna imagem diferente em Filipenses 1.6: "tendo por certo isto
mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 158/373
170 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Cristo Jesus". Paulo está confiante de que o Deus que iniciou a boa obra de
nossa salvação tem a capacidade e o compromisso de prosseguir com o processo
até sua conclusão quando Jesus Cristo voltar.
Nossa salvação pessoal é abrangente. Deus completará o bom trabalho
que começou em nós pessoalmente, para fazer-nos santos, "perfeitos e
completos, não faltando em coisa alguma" (Tiago 1.4). Mas não devemos nos
esquecer do abrangente plano de Deus: restaurar todas as coisas, tudo em
cada cristão, e todos os seus relacionamentos. Haverá a restauração completa
de todas as coisas quando Jesus retornar com seu reino. Quando o Rei voltar, o
reino estará consumado. No momento, devemos trabalhar na graça e no poder
de Deus para ver cura substancial em todas as áreas da vida. Quando Jesus
voltar, o clímax do processo será a consumação do reino em toda a sua glória'.
O reino de Deus existirá em toda a sua plenitude e glória.
SALVAÇÃO : O N DAS
\
AotAEM I NTER/
0,,
CORP
O ALMA CORAv
o
13 4
70 r
N
C"
00
.-*e0/OR
xt
PLP.
Y
P
,7O
)9 N4
°
BS
-
P‘G
cA
URA
Em suma, a salvação produz ondas; ela faz parte do passado, do presente
e do futuro do crente.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 159/373
O chamado geral
1 171
A NATUREZA DA SALVAÇÃO
CoNCEITo
JUSTIFICAÇÃO
SANTIFICAÇÃO GLORIFICAÇÃO
TEMPO
ASSADO RESENTE
UTURO
FUI SALVO
STOU SENDO SALVO
EREI SALVO
POSIÇÃO
DECLARADOTORNANDOSESANTO
JUSTO E SANTO
USTO E SANTO
LIVRE DA
ORNANDO-SE IVRE
CONDENAÇÃO
IVRE DO PODER
DO PECADO
O PECADO
TEXTOS
REF. BÍBLICAS
...SE, PORÉM ALGUÉM
PECAR, TEMOS UM
INTERCESSOR JUNTO
AO PAI, JESUS
CRISTO, O
JUSTO.
IJoÃo 2:1
DEUS TORNOU
PECADO POR NÓS
AQUELE QUE NÃO
TINHA PECADO, PARA
QUE NELE NOS
TORNÁSSEMOS
JUSTIÇA DE DEUS.
2
CORINT1OS
5:2 I
...PORQUE SOMOS
CRIAÇÃO DE DEUS
REALIZADA EM CRISTO
JESUS PARA FAZERMOS
BOAS OBRAS, AS QUAIS
DEUS PREPAROU
ANTES PARA NÓS AS
PRATICARMOS.
EFÉSIOS 2: 10
ASSIM, MEUS AMADOS,
COMO SEMPRE VOCÊS
OBEDECERAM, NÃO
APENAS NA MINHA
PRESENÇA, PORÉM
MUITO MAIS AGORA NA
MINHA AUSÊNCIA,
PONHAM EM AÇÃO A
SALVAÇÃO DE VOCÊS
COM TEMOR E TREMOR.
FILIPENSES 2: 2
...TENDO CRIDO,
VOCÊS FORAM
SELADOS EM CRISTO
COM O ESPÍRITO
SANTO DA PROMESSA.
EFÉSIOS I : 1
3
ESTOU CONVENCIDO
DE QUE AQUELE
QUE COMEÇOU BOA
OBRA EM VOCÊS, VAI
COMPLETÁ-LA ATÉ
O DIA DE CRISTO
JESUS.
FILIPENSES
I :6
JÁ E AINDA NÃO
Cristo já veio e virá outra vez. O Rei esteve aqui
1 4 e virá novamente.
Seu reino já é, mas ainda não. O reino é uma realidade presente onde quer que
Cristo reine'', no entanto, ele será plenamente revelado no futuro' quando
Cristo voltar. Ele está presente agora em seus primórdios e virá no futuro em
toda a sua glória. Esta é a dinâmica da História de Deus, da história da redenção.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 160/373
172 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
A salvação abrange integralmente cada crente e todos os seus rela-
cionamentos.
e
isso envolve o passado, o presente e o futuro da vida do crente.
Nem todos os cristãos ou tradições da igreja têm dado ênfase na plenitude da
salvação. Alguns têm enfatizado um ou dois elementos em detrimento dos outros.
O teísmo bíblico, no entanto, com sua cosmovisão bíblica, salienta que a salvação
é o nosso estado pessoal diante de Deus, bem como o processo de trazer cura
substancial a todos os nossos relacionamentos. Esse processo será concluído
quando Cristo voltar.
Toda a nossa vida e trabalho estão intrinsecamente ligados à obra de
Deus de reconciliar todas as coisas consigo mesmo, avançando seu reino de
justiça, paz e alegria, no tempo e na eternidade.
As Escrituras revelam que nós, tendo sido chamados para a vida, temos
uma missão - nossa vocação singular na vida
e
nosso lugar específico no corpo
de Cristo. No próximo capítulo, exploraremos este segundo aspecto do duplo
chamado de Deus - nosso chamado particular ao trabalho.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 161/373
Capítulo 13
O C H A M A D O P A R TIC U L A R :
AO TRABALHO
As Escrituras revelam que, tendo sido chamados ao reino, cada um de
nós tem um papel singular em sua manifestação e expansão. Quer Deus nos
conceda muitos ou poucos dias, devemos usá-los para descobrir e viver nossa
tarefa particular. Quer ele nos conceda "emprego" ou "desemprego", períodos
de saúde ou de doença, a tarefa continua. Sendo chamados por Deus, devemos
evitar o sentido secular de "trabalho" em que existe um tempo de trabalho e um
tempo de aposentadoria. O conceito de aposentadoria é estranho à cultura bíblica.
Como cidadãos do reino de Deus e membros do corpo de Cristo, somos
chamados a pôr nossos pés, mãos e imaginação em ação para fazer valer a
oração "venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade". A nossa vida é de
paixão e não de apatia, de trabalho e não de facilidades.
FEITURA DE DEUS
Se a passividade ou o descompromisso fossem a norma de Deus, o
inevitável teria acontecido: teríamos nos perdido para sempre. Em vez disso,
como exploramos em Efésios 2.1-9, por iniciativa de Deus, quando estávamos
mortos, fomos salvos pela graça, mediante a fé. Não somente fomos resgatados
da morte, mas Deus também nos sarou e está nos tornando incorruptíveis. Por
sua graça, ele está restaurando o propósito e o potencial que pôs em nós quando
nos criou à sua imagem. Paulo escreve em impressionante contraste à morte
existente fora de Cristo: "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas"
(Efésios 2.10). Coerente com o restante das Escrituras, esse versículo testifica
que o trabalho é central à nossa identidade e propósito em Cristo. Trabalhamos
à luz de nossa cria-ção e redenção em Cristo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 162/373
174 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
Dois termos nesse poderoso versículo chamam nossa atenção, feitura e
boas obras. Encontrada apenas aqui em Efésios e em Romanos 1.20, a palavra
feitura é a palavra grega poiema, raiz da palavra poema'. Em Romanos 1.20,
poiema se refere a toda a criação - mediante "as coisas criadas". Deus é o
Primeiro Poeta. Sua criação e a minha vida são atos de seu poiema. Minhas boas
obras são viabilizadas por ele e em resposta a ele. Como sempre, Deus é o
iniciador, o ponto de partida. Meu trabalho é parte do trabalho dele, de sua feitura.
A segunda palavra a se explorar é ergon, palavra grega utilizada para um
feito ou ação em contraste à inatividade ou meras palavras. Encontrada 169
vezes no Novo Testamento, ela é usada de variadas maneiras, incluindo a obra
de Cristo, a obra do evangelho, a boa obra de servir aos necessitados e a obra
da "ocupação" ou "profissão'.
A palavra hebraica equivalente no Antigo Testamento é abad, trabalhar
ou servir. Ela é utilizada para se referir ao trabalho do homem conforme atribuído
por Deus e é parte dos ciclos comuns de trabalho/descanso do Decálogo'.
Essa é a mesma palavra que exploramos anteriormente e que é parte do mandato
cultural dado ao homem de abad e shamar o jardim.
Fomos redimidos para trabalhar, e esse trabalho pode ser visto em um
amplo contexto, desde o "trabalho espiritual" até as obras de serviço e compaixão
4
e as tarefas comuns dadas ao homem no mandato cultural. Devemos ter cuidado
para não compreendermos a palavra obras apenas em um restrito sentido
espiritual. Toda boa obra quer dizer todo bom trabalho E também implica que
todo o nosso trabalho deve ser bom - bem feito; devemos fazer nosso trabalho
com excelência.
PARTE DO
TODO
Se compreendermos nosso trabalho como algo para o qual fomos criados
e redimidos, então, o que anteriormente víamos como um simples emprego ou
degrau na carreira pode se tornar parte de nossa vocação. Enquanto cada um
de nós partilha de um propósito em comum, nossa própria vocação, nossa vida
de trabalho, é singular. A natureza de nosso singular "projeto de amor e graça',
como o Papa João Paulo II tão bem chamava nossa ocupação particular, advém
da natureza de nosso Criador e Convocador. Como escreve Michael Novak:
Cada um de nós é tão único em seu chamado quanto somos por
sermos feitos à imagem de Deus. (Seria preciso um número infinito de seres
humanos, escreveu São Tomás de Aquino, para refletir as infinitas facetas
da Trindade. Cada pessoa reflete apenas uma pequena - mas linda - parte
do todo.'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 163/373
O chamado particular 1
175
Que ilustração magnífica para se meditar Cada um de nós é um reflexo
singular de sua infinita imagem. Nossa própria natureza e "as boas obras, as
quais Deus antes preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:10) estão
arraigadas na natureza do próprio Deus.
AS HISTÓRIAS DE LISA ETTER E HAYDEN SMITH
"Você foi criada para ser apaixonada
e propositada para Deus e para as pessoas
desse mundo " Essas palavras, escritas pelo
pai de Lisa Etter para sua filha de doze anos,
moldaram a vida de Lisa e impactaram as
vidas de inúmeras outras.
Anos após a carta de seu pai, Lisa
conheceu Hayden Smith na Calvin College em
Grand Rapids, Michigan. As duas rapidamente
reconheceram sua visão de vida
compartilhada e se tornaram melhores
amigas. Após sua graduação na Calvin em
2002, elas mudaram-se para uma diversificada
vizinhança de Chicago onde Hayden ensinava
a primeira série e Lisa trabalhava como
estagiária em um abrigo para mulheres sem-
teto. Foi revelador viver em meio a esse
ambiente urbano e interagir diariamente com
indivíduos de aparência diferente e com
experiências de vida diferentes de sua
educação de classe média.
"Conforme construíamos amizades
com nossos vizinhos e com as pessoas com
as quais trabalhávamos, ficávamos tristes
com a maneira que esses amigos tinham sido
reduzidos a rótulos-'em risco,' baixa renda,'
'sem-teto' pelo mundo em sua volta.
Percebemos que eles não eram tão diferentes
de nós. Todos nós, independentemente de
nossa história ou situação, têm as mesmas
necessidades básicas: descobrir quem
somos, ser amados como somos, usar nossos
dons, contribuir. Nossos anseios básicos são
os mesmos e, no fim das contas, todos
apontam para Deus e como ele nos fez. Tantas
pessoas são privadas de oportunidades de
explorar essas coisas e contribuir com seus
dons para o mundo por serem vistas ou
tratadas como se não tivessem nada de valor
a oferecer."
Diante da realidade de como tantas
pessoas vivem, as duas começaram a fazer
perguntas: Quem somos? Como devemos
viver? O que esse conhecimento significa para
nossas vidas? Seu desejo de criar um lugar
onde todos os tipos de pessoa fossem bem-
vindos e recebessem espaço para explorar
seus dons começou a crescer.
Em meio ao período de Lisa e Hayden
em Chicago, o pai de Lisa ficou terminal-mente
enfermo e ela deixou a cidade para voltar
para casa e cuidar dele. Certa noite, conforme
a saúde de seu pai continuava a se deteriorar,
Lisa estava pensando sobre as questões com
as quais ela e Hayden vinham lutando, os
valores que seus pais haviam semeado nela
e seus sonhos e dons. Quando começou a
unir essas peças, ela disse: "Vamos sonhar
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 164/373
176 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no univer,a
juntos, Senhor." Oportunamente, ela começou
a visualizar um tipo singular de cafeteria que
permitisse que muitos tipos de pessoas em
uma comunidade pudessem se reunir e
sentir-se parte de um lugar onde fossem
valorizados e amados por quem são. Ela
escreveu e delineou os detalhes em seu diário
e mais tarde os compartilhou com Hayden,
que ficou igualmente animada com a idéia
como uma maneira de estar disponível às
pessoas ao seu redor enquanto integrava
muitos aspectos de sua vida.
Após a morte do pai da Lisa, uma série
de eventos e conexões improváveis levaram
Lisa e Hayden para Seattle, onde elas
entraram em contato com uma igreja em busca
da pessoa correta para abrir uma cafeteria
para servir de ponte com a comunidade. Na
primavera de 2005, a cafeteria Green Bean
Coffee Shop abriu as portas, com Hayden e
Lisa como gerentes. Agora a Green Bean se
estabeleceu como ponto de encontro da
comunidade, oferecendo aulas propostas e
ministradas pelos próprios fregueses,
sediando eventos da vizinhança, sendo um
local para os artistas locais exporem seu
trabalho, dando boas vindas e conectando
um grupo diverso de fregueses uns com os
outros. As gorjetas também são doadas a
organizações da comunidade local.
Hayden e Lisa transbordam de
histórias de fregueses que se tornaram parte
da comunidade Green Bean. "Chris," um bem-
sucedido advogado, inicialmente deixou sua
hostilidade ao cristianismo bem clara e deixou
a cafeteria várias vezes dizendo que jamais
voltaria. Com
o tempo, ele se tornou parte de
seu grupo de amigos e, apesar de não ter se
tornado cristão, começou a imitar o amor de
Cristo que ele testemunhou nesse grupo.
recentemente pedindo a seus amigos
advogados que comprassem um computador
portátil para um freguês carente.
''Jay" tornou-se um freguês frequente
logo após o Green Bean ser inaugurado. mas.
na maior parte do tempo se mantinha
reservado, sentado no canto por horas,
escrevendo poesia. Com
o tempo, ele
começou a se abrir e compartilhar a sua
poesia com Lisa e Hayden, que imediatamente
colocaram molduras em algumas de suas
composições e as penduraram nas paredes
do Green Bean. Quando ele ficou sabendo
que seu câncer havia voltado, Lisa e Hayden
lhe ofereceram um lugar para ficar enquanto
durasse o tratamento, reconhecendo que ele
não tinha nenhum outro familiar para apoiá-
lo. Lisa e Hayden e outros fregueses o
levavam de carro para fazer o tratamento.
Quando ficou claro que ele não ia se
recuperar, ele deu às duas uma procuração
para tomar suas decisões de ordem médica.
No hospital, Lisa e Hayden compartilharam o
evangelho com ele e Jay aceitou o Senhor.
Na primeira vez que Lisa e Hayden
se encontraram com "Rex," ele lhes contou
sobre os heróis de revistas em quadrinhos
que ele pensava serem reais e balbuciou
coisas sem sentido a maior parte do tempo.
Conforme as duas passaram a conhecê-lo
melhor e continuaram a tratar dele como um
valioso ser humano. ele se tornou uma figura
regular na cafeteria, oferecendo-se para lavar
janelas. varrer a varanda e ajudar a carregar
as compras para dentro, além de frequentar
a igreja com elas aos domingos. Quando as
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 165/373
O chamado particular
1 177
duas ficaram sabendo de seu interesse por
eus é compartilhada através de nosso
música, elas conseguiram um teclado e, a
partir de então, Rex podia ser encontrado em
grande parte do tempo na varanda por trás
do Green Been tocando música.
Essas são apenas algumas das
histórias de vidas transformadas, e Lisa e
Hayden reconhecem a importância de
celebrar esses caminhos que Deus está em
operação no Green Bean. "É muito fácil ficar
preso nas dificuldades do dia-a-dia," explicou
Hayden. "Mas é muito mais uma questão de
perspectiva. Faço uma longa viagem para
comprar suprimentos para o Green Bean toda
semana e minha atitude poderia ser 'Que
tarefa irritante' ou posso ir entendendo que
estou servindo a Deus através disso. Não
importa o que você está fazendo, você pode
glorificar a Deus através disso. Precisamos
superar essa idéia de que algumas pessoas
estão no ministério e outras não. A glória de
trabalho."
Lisa concorda. "Sempre me confunde
e
me deixa triste quando as pessoas dizem
coisas do tipo: 'Sou advogado, mas meu
ministério é trabalhar no abrigo de mendigos
nos finais de semana.' Precisamos perceber
que cada momento é significativo e que temos
o
poder de impactar as pessoas em nossa
volta de maneiras que nem mesmo
percebemos, não importa o que façamos.
Hoje mesmo estava conversando com o
atendeste da quitanda e algo que ela disse
me deu coragem para enfrentar outra difícil
visita ao Jay no hospital.
"Trata-se de viver na alegria de ser
alguém redimido. Se crermos que fomos sal-
vos de algo, viveremos essa alegria onde
quer que formos, quer sirvamos café ou
estejamos fazendo compras ou pastoreando
e essa alegria transformará as pessoas."
O Deus Único e Trino
Deus é uma Trindade, não o deus do unitarismo. Pai, Filho e Espírito
Santo são pessoas únicas com papéis e responsabilidades singulares, existentes
como três personalidades separadas. Ainda assim, eles são igual e
indivisivelmente Deus: um Deus - três Pessoas. Da mesma forma, na família e
na sociedade, existe uma diversidade de dons, talentos, personalidades, papéis
e responsabilidades; ao mesmo tempo, todos os membros da família humana
são iguais em dignidade e valor, pois todos são a imagem de Deus. E, assim
como os membros da Trindade são definidos tanto por sua singularidade quanto
por seu relacionamento na comunidade, também cada pessoa é igualmente
definida tanto individual quanto coletivamente.
A Igreja -
o Corpo de Cristo
Não é de se admirar que, quando Deus chamou a igreja, ele também
chamou a comunidade. Paulo utiliza a imagem do corpo de Cristo' para refletir
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 166/373
178 1
VOCAÇÃO:
Escreva ma assinatura no universo
a unidade na diversidade da igreja. E a igreja de Cristo mani-festa suas diversas
partes e funções na unidade de um corpo. Paulo descreve a manifestação do
primeiro princípio de comunidade no corpo de Cristo de forma muito plena em
1 Coríntios 12.12-27:
Porque, assim como O corpo é
ruir,
e tem muitos membros, e todos os
membros cio como, embora muitos, forni
a
m um só corpo, assim também é
Cristo. Pois em uni só Espírito fomos todos nós batizados em uni só corpo,
quer judeus, quer gregos, quer escrcn'os quer livres; e a todos nós foi dado
beber de um só Espírito.
Porque também o corpo não é um membro, mas muitos. Se o pé
disser: Porque não sou mão, não sou do como; nem por isso deixará de ser
do corpo. E se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo;
nem por isso deixará de ser do corpo. Se o corpo todo fosse olho, onde
estaria o ouvido'? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora
Deus colocou os membros no corpo, cada um deles
(1)1710
quis. E, se todos
.
fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, porém, há muitos
membros, mas um só como.
E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti. Nem
ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros
do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os membros do
corpo que reputamos serem menos honrados, a esses revestimos com muito
mais honra; e os que em nós não são decorosos têm muito mais decoro, ao
passo que os decorosos não têm necessidade disso. Mas Deus assim formou
o corpo, dando limito mais honra ao que tinha falta dela, para que não haja
divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros.
De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele;
e s e 1 1 1 1 1
membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.
Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros.
Ao refletir nessa passagem, vemos que Deus organizou as partes, da
forma como desejou, para um propósito específico (v. 18). Cada parte tem um
papel singular a desempenhar no corpo; cada uma é indispensável (v. 22). Embora
cada uma tenha diferentes papéis e funções, cada parte tem igual valor e
dignidade (v. 24-25). A descrição de Paulo é similar em Romanos 12:4-8 e
Efésios 4.11-13.
Unidade e Diversidade nos Dons
Cristo dá ao seu corpo uma diversidade de dons. Como 1 Coríntios 12.4-
7. 11 revela:
Ora, há diversidade de dons, mcis o Espírito é o mesmo. E há
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 167/373
O chamada particular
1 179
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de
operações. mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um,
porém, é dada a manifestação do Espírito para O proveito comum. (...)
Mas um sé e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo
particularmente a cada uni como quer
Nessa passagem, vemos a referência à unidade na diversidade de Deus
como fundamental à unidade na diversidade na concessão dos dons ao corpo
de Cristo. Vemos um Deus e três Pessoas: o mesmo Espírito (Espírito Santo), o
mesmo Senhor (Jesus Cristo)
e o mesmo Deus (o Pai).
Também percebemos que, assim como Deus criou a unidade na
diversidade, ele também estabeleceu o princípio da semente para a multiplicação.
Existe uma qualidade orgânica acerca dos dons que Deus nos deu. Um provérbio
africano nos lembra do milagre natural da semente: "Você pode contar as
sementes da manga, mas não consegue contar as mangas na semente". Cada
manga tem uma semente. Mas essa semente produz milhares de árvores e
inúmeros frutos
Vemos esse efeito multiplicador na dispensação dos dons: diferen-tes
tipos de dons são multiplicados por diferentes tipos de serviço e trabalho. Um
dom em particular dado a um indivíduo terá uma forma diferente de serviço do
mesmo dom entregue a outra pessoa. O resultado do ministério terá um impacto
diferente em diferentes contextos por causa da singularidade de cada contexto.
Mesmo havendo uma infinita variedade de efeitos para cada dom, todos
os dons individuais são entregues para o bem comum (1 Co 12.7). Os dons
devem ser usados não para urna diversidade de benefícios pró-prios, mas para
o bem de todo o corpo. Essa mesma ênfase também se encontra em Efésios
4 .11-13:
E ele deu uns como apóstolos. e outros como profetas, e outros
como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação
do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da
estatura da plenitude de Cristo.
Essas singulares vocações de líderes "na" igreja foram entregues para
que esta funcione em serviço, de forma que a unidade, a maturidade e a pleni-
tude do corpo de Cristo sejam estabelecidas. Como mencionamos anteriormente,
esses dons de liderança são funções singulares, mas não mais elevados do que
outros dons dados ao corpo de Cristo. Uma igreja saudável, por sua vez, não
existe para si. Ela existe para ser um instrumento de cura em um mundo destruído.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 168/373
180 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
DEUS HABITA NAS COISAS COMUNS
É como membros do corpo de Cristo que podemos começar a entender
a nós mesmos e a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com as
necessidades que encontramos no mundo.
O Papa João Paulo II disse que cada um tem seu "próprio lugar no
coração de Deus e na história da humanidade", e é com base nisso que cada
um é capaz de dar uma "contribuição pessoal e insubstituível ao progresso da
humanidade na vereda da justiça e da verdade". Você acredita ter seu próprio
lugar no coração e na história de Deus? Você crê que Deus o capacitou e
chamou para dar uma contribuição insubstituível? Você consegue ouvir de
verdade o que o apóstolo Paulo diz acerca do seu lugar no corpo de Cristo?
Ouça novamente: "Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um
deles como quis" (1 Co 12.18). A sua parte no corpo é legítima e necessária.
Deus não somente cria aquilo que chamamos de comum - as flores do campo,
as estrelas do céu, a respiração em nosso peito e tantas outras coisas que são
milagres do dia a dia - como também habita nas coisas comuns, operando em
todo homem e mulher e através deles. Vemos, por toda a Escritura e na história,
como Deus utiliza pastores e donas de casa, sapateiros e agricultores, para
moldar a história. Dallas Willard sintetiza isso ao dizer: "O segredo das coisas
"simples" é que elas foram feitas como receptáculo do divino, um lugar onde
flui a vida de Deus"".
Dois de meus exemplos favoritos disso estão no Antigo Testamento. O
profeta Jeremias escreve:
Dai voltas às ruas de Jerusalém,
e vede agora, e informai-vos,
e buscai pelas suas praças
a ver se podeis achar um homem .
se há alguém q ue pratique a justiça,
que busque a verdade;
e eu lhe perdoarei a ela. (Jr 5. I )
É impressionante pensar que Deus está buscando uma pessoa, não 10.000,
100 ou 10. Ele pode e trabalhará com e por meio de até mesmo uma pessoa.
Mas perceba que essa não é uma pessoa qualquer; é alguém que "pratique a
justiça, que busque a verdade". Vemos uma ilustração parecida em Eclesiastes
9.13-18:
Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que me
pareceu grande: Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens;
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 169/373
O chamado particular 1
181
e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes
tranqueiras. Ora, achou-se nela um sábio pobre, que livrou a cidade pela
sua sabedoria; contudo ninguém se lembrou mais daquele homem pobre.
Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força; todavia a sabedoria
do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.
As palavras dos sábios ouvidas em silêncio valem mais cio que o
clamor de quem governa entre os tolos. Melhor é a sabedoria do que as
armas de guerra; mas um só pecador faz. grande dano ao bem.
Que ilustração maravilhosa Deus usou um homem pobre e desconhecido
para salvar uma pequena cidade de um poderoso rei e seu cerco. Sabedoria e
palavras mansas são mais significativas do que as armas de guerra e os "brados"
dos poderosos. Deus pode utilizar até mesmo as pes-soas mais insignificantes,
cujos nomes o mundo não reconhece, para res-taurar sua comunidade e até
mesmo seu mundo.
O teólogo britânico F. W. Farrar (1831-1903) expressa a maravilha de
quando Deus usa as coisas simples:
Há unia grandeza em nomes desconhecidos; há uma imortalidade
nos deveres silenciosos e alcançados pelo ser humano mais simples; e
quando o Juiz virar a mesa, muitos desses últimos serão os primeiros... a
preencher um pequeno espaço, porque Deus assim?, o quer; prosseguindo
alegremente com uma porção de tarefas simples, pequenas vocações;
aceitando sem murmurar uma posição inferior; sendo incompreendidos,
tendo suas palavras distorcidas, caluniados, sem reclamar; sorrindo com
as alegrias dos outros mesmo que seu coração esteja doendo; - a banir
toda ambição, todo orgulho e toda inquietação por amor à obra de nosso
Salvador. Fazer isso durante toda uma vida é um imenso esforço e aquele
que o faz é um herói maior do que aquele que fica na brecha por uma hora
ou se lança sem medo cio fogo ou na frente de uma bala. Suas obras o
seguirão. Ele pode não ser herói para o mundo, mas é uni dos heróis de
Deus."'
As marcas da grandeza e do sucesso que o mundo reconhece não são as
que Deus reconhece. Vemos em Paulo, inicialmente um impiedoso inimigo da
cruz de Cristo, as credenciais daqueles chamados ao serviço do reino:
Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios
segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são
chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para
confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 170/373
182 I vocAcAo:
f:
suleru
ta as,nuinou no uni
verso
despre:adas, e a.s que não .são, para redu:ir a nada as que são,' para que
nenhum mortal se glorie na presença de Deus. Mas' vós sois dele, em Cristo
Jesus, o qual para nosfi
ui feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação,
e redenção; para que. como esta escrito: Aquele que se gloria, glorie-se
no Senhor: ( I Co 1.26-31: grilo meu)
Os critérios de Deus são muito diferentes dos critérios do mundo. Ele
escolhe as pessoas loucas, fracas e ignóbeis. Ele escolhe pessoas com pouca
significância aos olhos do mundo para fazer seu trabalho. Por quê? Porque a
força de Deus se manifesta melhor por meio de humildes servos. Imagine uma
vela posta em um jarro de barro. São as fendas no jarro que deixam a luz
passar. Semelhantemente, a glória de Deus é melhor revelada por meio das
coisas loucas, fracas e ignóbeis. Paulo enxerga isso em sua própria vida. Ele
escreve em 2 Coríntios 12.9-10:
E ele me disse: A
minha graça te basta, porque o meu poder se
aperfeiçoa na jraquez.a. Por isso. de boa vontade antes me gloriarei nas
minhos,fraque:as, a fim de que repouse sobre Mini O poder de Cristo. Pelo
que .sinto irar,-.er nas fraquezas. nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou
.fraco, então e que sou forte.
Em seu poderoso sermão "1 Qualify ", meu amigo e pastor da Igreja
Lighthouse em Nairóbi, Done Mathenv. declara:
A Bíblia e lieti relato de indi
duo.s conntn.s sendo usados por Deus
para realizar o extraordinário - homens e mulheres que, pelos padrões e
aparência naturais, pareciam bastante inadequados à tarda para a qual
foram chamados ou escolhidos. Entretanto, Deus os considerou adequados
ao propósito ou posição: assim. eles se tornaram poderosas ferramentas
em Suas mãos. Nas Escritureis, lemos sobre uni menino pastor que se tornou
o maior guerreiro e rei de Israel. Sobre um simples copeiro que
arregimentou toda uma cidade para recoustruir seus muros dest•uídos na
guerra décadas antes. Sobre uni homem que em sua juventude matou outro
e, ainda assim, foi educado para libertar o povo de Deus do Egito após
400 anos de amargo cativeiro e grandes dificuldades. Indiváluos
qualificados pelo próprio Deus'.
Você deve se
lembrar de que todos os grandes homens e mulheres
de Deus na historia tinham imperfeições. defeitos, .falhas e fracassos. Moisés
gaguejava. Sara ria. Gideão demorava a crer lonas se aborrecia com
facilidade. Pedro amaldiçoava. Tomé duvidava. Não obstante, cada um
deles foi escolhido e chamado por Deus
e,
portanto, qualificado para
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 171/373
O eIit,nudu p a r t i c u l a r
1 1 8 3
realizar proezas em Seu nome. O que você precisa entender é que a
qualificação não se baseia no desempenho ou na produção. A qualificação
se baseia na posição. Deus não usa uma pessoa com base em suas
conquistas. Deus usa aquele que está mais próximo a Ele "
Assim, ficamos maravilhados pelas coisas simples, pela maneira como
Deus usa pessoas comuns de forma tão extraordinária, como escreve o Apóstolo
Paulo para igreja de Corinto:
Antes em tudo recomendando-nos como ministros de Deus; em muita
perseverança, em aflições, em necessidades, em angústias, em açoites, em
prisões, com tumultos, em trabalhos, em vigílias, em jejuns, na pureza, na
ciência, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não
,fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas aromas da justiça
à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por má lama e por boa
.
fama; como enganadores, porém verdadeiros; como desconhecidos, porém
bem conhecidos; como quem morre, e eis que vivemos; como castigados,
porém não mortos: como entristecidos, mas sempre nos alegrando: corno
pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, mas possuindo
tudo. (2 Co 6.4-10)
Fomos criados para fazer história. Fomos feitos para cumprir um destino
em nosso tempo e lugar para o qual ninguém mais foi feito. Devemos viver
nossas vidas comuns em meio ao extraordinário chamado de Deus.
A partir de Miquéias 6.8 - "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que
é o que o Se nhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benev olência,
e andes humildemente com o teu Deus'?" -, meu amigo educador e pastor Dr.
George Grant descreve como Deus usa pessoas comuns para moldar o destino
das nações:
Afinal de contas, o futuro de nossa cultura não depende de Ille.SrSitIS
políticos 00 de soluções institucionais. Muito menos depende da
emergência de algum novo e brilhante porta-voz ou de uni líder inspirada:
Pelo contrário, o futuro de nossa cultura depende de homens e mulheres
comuns da igreja que escolham viver vidas de justiça, misericórdia e
humildade diante de Deus.'
Há poder não apenas nas vidas comuns, mas em dias comuns. A Batalha
do Bulge, que marcou o extraordinário ponto de virada da 2" Guerra Mundial na
Europa, ocorreu dentro do contexto de um dia de guerra comum. Phillip Yancey,
escrevendo para o Christianity Today, faz uma reflexão sobre um especial de
televisão que entrevistou sobreviventes da guerra na Europa:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 172/373
184 1 vocAçÃo:
ENCIVIYI
Sua
assinalara no universo
Os soldados se recordam de como passaram um dia em particular
Um deles ficou sentado em um fosso o dia inteiro; uma ou duas vezes,
passou um tanque alemão e ele atirou nele. Outros jogavam cartas e
passavam o tempo. Alguns se envolveram em terríveis tiroteios. De maneira
geral, o dia passou como qualquer outro para os infantes no fronte.
Posteriormente, eles ficaram sabendo que haviam participado de uni dos
maiores e mais decisivos combates da guerra, a Batalha do Bulge. Não
pareceu decisivo para nenhum deles na época, pois nenhum deles
conseguia imaginar o que estam se desenrolando em outras frentes.
Grandes vitórias são conquistadas quando pessoas comuns
executam suas tarefas; e unia pessoa fiel não debate todo dia se está de
bom humor para seguir as ordens do sargento ou ir trabalhar em uni
emprego entediante. Exercitamos nossa fé ao responder à tarefa diante de
nós. c'
Deixemos que uma extraordinária heroína americana, a cega, surda e
muda Helen Keller, explique, com suas próprias palavras, o poder e o significado
de uma vida comum. Algumas pessoas poderiam até mesmo dizer que Keller
nem chegava a ser comum. Em uma cultura como a do Terceiro Reich, ela
teria sido rotulada como "uma vida que não merece viver". Keller escreve:
Anseio por cumprir uma grandiosa c' nobre tarefa, mas é meu gran-
de dever cumprir tarefas humildes como se fossem grandiosas e nobres.
Não se move o mundo pelos fortes empurrões de seus heróis, mas pelos
minúsculos e agregados impulsos de cada trabalhador honesto.
1 4
O que isso ilustra? De maneira simples, Deus usa pessoas comuns, na
parte comum do mundo em que habitam, para moldar o destino das nações.
Sua vida vale algo neste mundo perdido. Deus o fez para fazer história. Você é
chamado para um papel singular no desenvolvimento do reino de Deus.
4 0611 0 1
A HISTÓRIA DE JEMIMAH WRIGHT
Jemimah Wright escreveu a história
sobre o infanticídio no Brasil relatado no início
do capítulo 8. Seu artigo levou essa
atrocidade à atenção de leitores na Grã-
Bretanha e muito além. Desde então ela
escreveu um livro sobre Hakani e os Suzu-
kis. Aqui ela conta a história de como-
finalmente-encontrou seu chamado como
escritora independente.
Conclui meu bacharelado em
publicação e história na Universidade de Ox-
ford Brookes, em grande parte porque queria
estar em Oxford. Não sabia muito sobre
publicação, mas pelo que eu tinha
conhecimento me parecia como uma boa
carreira a se ter. Após a graduação, consegui
empregos temporários em publicação
acadêmica, os quais eu odiava. Lembro-me
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 173/373
O chamado particular
1 185
de orar dizendo que preferia ir logo para o
céu a continuar em um emprego que não me
inspirasse, mas que, ao contrário, parecia
sugar a minha vida. Para meu alívio, ano após
ano, consegui um trabalho em um jornal
cristão. Mas após três anos, fui demitida e,
mais uma vez, não tinha idéia do que fazer
com minha vida. Deus parecia estar em
silêncio em relação ao assunto. Com
minhas
próprias forças tentei salvar a mim mesma.
Pensei em todo emprego possível, mas no
fundo sabia que eu não queria nenhum deles.
O desespero tomou conta de mim.
Entretanto, eu tinha o desejo de
trabalhar com órfãos da AIDS na África do
Sul. Mandei um email para o pastor da igreja
Vineyard na Cidade do Cabo e perguntei se
poderia ir ajudá-lo. Mas aí entrei em pânico,
pensando que precisava de um emprego "de
verdade" e começar a subir os degraus da
minha carre i ra. Em minha confusão, pedi a Deus
deixar claro se ele queria que eu fosse à África
do Sul; ele confirmou fornecendo, de forma
milagrosa, o dinheiro de que precisava.
Voei para África do Sul em 2003 e
trabalhei em um município chamado Imizamo
Yethu ajudando os mais pobres dentre os
pobres. Estava aberta a esse ser meu
chamado, mas sentia que não seria por muito
tempo. Voltar à estaca zero pedindo a Deus
para me mostrar o que fazer. Fazia seis meses
que estava na Cidade do Cabo quando
completei vinte e cinco anos. Certo dia estava
dirigindo de volta para casa quando um
pensamento me veio à mente: Seja jornalista
independente . Era uma voz ca lma, não um gr i to
ressoante dos céus, mas no momento que tive
esse pensamento, soube que vinha de Deus.
Então, após um ano na África do Sul,
voltei a Londres para me tornar jornalista
independente. Eu tinha uma profunda
convicção de que Deus estava naquilo, mas
não tinha a mínima ideia de como ir em frente.
E também não tinha dinheiro Fui informada
sobre um curso de jornalismo de cinco meses.
O preço normal do curso era 700 libras, mas
por eu estar desempregada antes de iniciar o
curso, o governo subsidiou o valor e somente
tive que pagar 10 libras Após terminar o curso,
candidatei-me a um emprego como escritora
de assuntos diversos (faits divers) em uma
agência jornalística. Parecia a maneira
perfeita de aprofundar meu treinamento e
fazer contatos para o futuro.
Consegui o emprego, mas tinha
alguns meses livres antes de meu trabalho
começar. Tinha mantido contado com a
JOCUM do Haiti e enviei-lhes uma mensagem
eletrônica perguntando se poderia ir ajudá-
los com os trabalhos assistenciais
relacionados com o furacão. Quando lá
cheguei, Terry Snow, líder da base da JOCUM,
disse-me: "Jemimah, você é jornalista. Quer
escrever um livro?" Eu ri. Eu mal podia me
chamar de jornalista. Não tinha experiência,
então respondi "de jeito nenhum." Terry tentou
me convencer, mas eu estava decidida. Mas
as semanas foram se passando e eu comecei
a desejar escrever o livro. Certa manhã orei
e pedi a Deus que, se ele quisesse mesmo
que eu escrevesse o livro, que ele fizesse a
Terry me convidar novamente naquele dia.
(Eu precisava saber que Deus estava naquilo,
pois sabia que precisaria de sua ajuda ) Terry
raramente ficava na base da JOCUM e eu já
havia dito de jeito nenhum, então as
probabilidades eram remotas. Contudo, a
primeira pessoa em quem esbarrei naquele
dia foi Terry, que disse: "Jemimah, tem certeza
de que não quer escrever aquele livro?" Fiquei
boquiaberta. "Ok ' Respondi.
Após trabalhar no livro, voltei para
casa e assumi o emprego na agência
jornalística em Bristol. Tive o maior susto da
v ida O em prego era com jorna l ismo de tab ló ide
e era um mundo muito sujo. Logo no primeiro
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 174/373
1 86 1
VOCAÇÃO:
Esc rem vni (I.s.sinatura no universo
F 1.1• • .
a al
dia, voltei para casa pensando: "Tenho que
pedir demissão." Certamente o Senhor não
me quer aqui, não é, Senhor? Orei. Mas senti
que Deus continuava confirmando que eu
estava onde ele me queria porque viria uma
benção extraordinária. Minha cota mensal no
jornal era de 3000 libras em histórias
vendidas. Na primeira semana pedalei de
volta para casa preocupada com a cota;
parecia impossível. Então, repentinamente,
senti Deus dizer: "Quem conseguiu esse
emprego para você? "Ah, sim. Foi o Senhor,"
respondi. "Bem, se eu consegui o emprego,
você crê que posso lhe dar as histórias para
alcançar sua cota?" Um peso foi retirado dos
meus ombros quando percebi que o problema
não era meu. Mas a benção de Deus veio
com um preço de obediência. Senti que ele
me pedia para caminhar em firme integridade-
em um contexto tentador para não fazê-lo.
Nosso pagamento era um salário
mínimo, mas todo mês ganhávamos um bônus
de 100 libras se alcançássemos nossas
metas. Entretanto, para ganhar a bonificação,
tínhamos que mentir e registrar o valor como
despesas para burlar os impostos. Sabia
que Deus estava dizendo que eu não podia
fazer isso. Foi difícil, pois realmente precisava
do dinheiro, mas, no fim das contas, entendi
que Deus era meu provedor e que precisava
temê-lo. Assim fiz e, na primeira semana,
ganhei 5000 libras para a empresa com uma
história. Era um milagre sem precedentes,
pois quando se está começando não se
ganha nada no primeiro mês. Logo fui
apelidada de "Ouro" pois eles diziam que tudo o
que eu tocava virava ouro. Pude falar-lhes que aquilo
não t inha nada a ver comigo; era simplesmente o favor
de Deus. Eu era a única cristã no escri tório e tenho
certeza que eles ficaram sem saber o que pensar
Após um ano senti Deus dizer que
estava na hora de virar freelancer. Mas todos
diziam que não iria funcionar, que primeiro eu
teria que mudar para Londres e trabalhar para
os jornais de alcance nacional por alguns anos
e, somente depois, tentar atuar como
freelancer. Comecei a acreditar no que diziam
e passei a achar que eles sabiam mais do
que Deus Certa noite estava sozinha em
casa. Sabia que Deus estava tentando falar
comigo, mas eu o ignorava, arrumando a
casa, distraindo me fazendo qualquer coisa
menos buscá-lo. Acabei indo dormir.
Geralmente quando repousava a cabeça no
travesseiro, logo adormecia. Mas, naquela
noite, não consegui dormir. Fiquei virando de
um lado para o outro com a cabeça cheia de
preocupações sobre minha atuação como
freelancer. Às 3:00 da manhã entreguei os
pontos. Acendi a luz e disse: "Senhor, por
favor, fale comigo." Abri minha Bíblia em
Deuteronômio 11 e li: "Entra na Terra que Deus
te deu, vá e serás abençoada...." Sabia que
Deus estava dizendo que ele havia ido adiante,
eu apenas teria que seguir e ele faria o resto.
Depois disso, as pessoas me diziam que não
iria funcionar, mas eu sabia que Deus me havia
dito para fazê-lo, e eu tinha que ir
Tornei-me jornalista independente no
dia do meu aniversário em 20 de março de
2006. E tem sido maravilhoso. Deus me tem
dado as histórias e meu emprego é perfeito
para o meu caráter. Amo a criatividade de
escrever e amo ouvir as histórias das pessoas.
Amo a animação de vender as histórias e o
desafio de encontrá-las. Ser freelancer também
significa que tenho tempo para sair do país e
escrever mais livros como Taking the High
Places [Alcançando os Lugares Altos], a
história do ministério de Terry Snow no Haiti.
Acabo de voltar do Brasil, onde fiquei um mês
escrevendo a biografia de dois missionários
da JOCUM que estão tentando parar o
infanticídio naquela nação.
Sinto como se Deus, por algum tempo,
tivesse escondido o chamado e emprego que
ele queria que eu realizasse para me preparar,
fazer-me buscá-lo e ensinar-me a confiar.
Assim, quando passei a buscar primeiro o
seu reino na África do Sul-não a minha própria
carreira-ele me mostrou o que fazer. Ele
proveu de maneira espantosa a cada
momento, abrindo portas que jamais imaginara
e,a1
,
90 muito animador
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 175/373
O chamado parficular
187
O REI E SUA OBRA
Já estudamos o extraordinário significado da vida humana comum.
Analisemos agora, por um momento, o extraordinário significado da mais
extraordinária vida humana, o Deus-Homem, Jesus Cristo.
Quando o Deus do universo veio à Terra em carne humana, em que
ocupação ele veio? Ele poderia ter vindo como uma figura política - um rei, um
faraó ou um imperador. Poderia ter vindo como um sacerdote, para afirmar a
superioridade do trabalho espiritual. Poderia ainda ter nascido em um palácio
em uma cidade de classe mundial como Atenas ou Roma. Mas como ele escolheu
vir? Ele nasceu no que chamamos hoje em dia de uma nação do terceiro mundo
ocupada por um exército conquistador. Deus veio em carne humana; nasceu
em uma família comum e
de uma mulher pobre dentre o oprimido povo judeu.
Sua primeira cama foi uma manjedoura
de animais; sua primeira morada foi um
estábulo. O Deus do universo escolheu nascer em uma família comum da classe
trabalhadora e vir a tornar-se um carpinteiro proletário.
Sabemos que Jesus foi e é um servo-rei. Ele é o Rei dos reis e Senhor
dos senhores, não obstante, como diz Marcos 10.45: "Ele não veio para ser
servido, mas para servir, e dar sua vida em resgate de muitos". A plena imagem
de Deus foi revelada em Cristo por meio de seu serviço; enquanto a obra
primária de Cristo era a nossa salvação, ele executou essa obra no contexto de
uma vida comum, dois mil anos atrás, por meio de uma série de vias vocacionais.
Ele foi carpinteiro e fazia mobília, montava portas e janelas. Ele foi professor e
ensinava tanto crianças quanto adultos. Ele foi "agente de saúde" levando cura
emocional, espiritual e física.
Deus é um Deus que trabalha. Ele trabalha diretamente na história e
trabalhou distintamente em Cristo durante trinta e três anos na Terra. Ele também
está em
operação por meio das vidas dos crentes em suas profissões. O escopo
de seu trabalho é imenso.
Uma das heroínas de nossa fé, a missionária estadista à índia, Amy
Carmichael, captou o relacionamento entre o trabalho de Deus e o nosso trabalho.
Em Anima: The Life and Words of Amy Carmichael [Arrima: A Vida e as
Palavras de Amy Carmichaell, a autora Elizabeth R. Skoglund apresenta citações
de Carmichael. Eis um trecho das palavras de Amy e a correspondente citação
das Escrituras:
"Qual é o seu trabalho:' Qualquer que seja, o Senho,: o Rei,
sse
tipo de trabalho e você habita com Ele para realizar a Sua obra [trabalho]...
"Seu trabalho é proteger (como tuna mãe), confortar e fortale-cer?
( 'antes nos apresentamos brandos entre vós, [como uma mãe que acaricia
seus próprios
1 Ts 2 .7.)
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 176/373
188 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
"Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei: e
em Jerusalém vós sereis consolados...
"Você trabalha na costura?
"E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os
vestiu...
"O seu trabalho é cozinhar acender o fogo na cozinha, cedo pela
manhã, preparando comida para os outros?
"Mas ao romper da manhã, Jesus se apresentou na praia: toda-via
os discípulos não sabiam que era ele. Ora, ao saltarem em terra, viram ali
brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão. Disse-lhes Jesus: Vinde,
comei. (João 21.12)...
"Você trabalha como enfermeira, fazendo curativos em feridas?
"[Ele] sara os quebrantados de coração, e cura-lhes as feridas...
"Você trabalha COM
contabilidade, com ensino ou aprendizado de
aritmética ou C0171 110111e
de coisas difíceis de lembrar?
"[Ele] conta o número das estrelas, chamando-as a todas pelos
seus nomes. Mas até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados...
"O seu trabalho é na fazenda com os animais?
"Como pastor ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço...
"Ele fez o trabalho que agora você faz. E você habita com o Rei
para realizar a Sua obra [trabalho]"''.
Como Amy Carmichael reconheceu, Deus já fez o trabalho que agora
estamos fazendo. Deus nos dá uma espécie de arquétipo por princípios para
que desenvolvamos vocações moralmente legítimas. Ele foi o Primeiro Agricultor,
Curador Divino, Engenheiro de Águas, Contador, Investidor/Empreendedor'
6
.
O modelo da natureza de Deus é manifestado em Cristo por toda as Escrituras.
Cristo é o comunicador, o agricultor, o construtor, o curador e o comerciante. O
mais extraordinário ser humano de todos os tempos, Jesus de Nazaré, infundiu
dignidade em todo trabalho que o mundo chama de ordinário. Ele obteve glória
e glorificou atividades comuns.
O estudioso do Novo Testamento e autor Paul S. Minear (1906-2007)
escreve sobre o impacto do Deus do universo ao se encarnar em um humilde
carpinteiro:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 177/373
O chamado par calar
1 189
Um efeito disso foi dar aos trabalhadores, em todas as áreas, uma
genuína igualdade diante de Deus e uma genuína importância na vida da
comunidade... Nenhum trabalho comum está em si abaixo da dignidade
do profeta, do sacerdote ou do rei. De fato, Deus escolheu um desconhecido
pastorzinho como rei e um incógnito carpinteiro como Messias.'
Dallas Willard também capta a essência de Cristo e da vocação:
Se ele viesse hoje em dia como veio no passado, poderia cumprir
sua missão por meio de qualquer ocupação decente e útil. Ele poderia ser
assistente ou contador em uma loja de eletrônicos, um técnico de
computadores, um banqueiro, um editor, um médico, um garçom, um pro-
fessor, um empregado de fazenda, um técnico laboratorista ou um
trabalhador da construção civil. Ele poderia administrar um serviço de
faxina doméstica ou consertar automóveis.
Em outras palavras, se ele viesse hoje, poderia muito bem fazer o
que você faz. Poderia muito bem morar em seu apartamento ou casa e ter
o seu emprego.' 0
Cristo quer habitar o mundo por meio de seu povo no local onde vivem
e trabalham. Como cristão, eu não sou discipulado a fazer "coisas espirituais"
nem como um chamado mais elevado nem para suplementar meu "trabalho
secular". Não, eu devo aprender a viver toda a minha vida da maneira como
Jesus gostaria que fosse, na casa e na vocação às quais fui chamado. Outra
vez, Dallas Willard captou esse sentido:
Estou aprendendo com Jesus a viver minha vida como ele a viveria
se fosse eu. Não estou necessariamente aprendendo a fazer tudo o que ele
fez, mas estou aprendendo afazer tudo o que faço da maneira como ele fez
tudo o que fez.'
O Deus do universo andou no jardim com nossos primeiros pais, Adão
e Eva. Ele ordenou que Moisés construísse um tabernáculo, pois queria "habitar"
com seu povo'. Em Cristo, "a Palavra se fez carne e habitou entre nós"''.
Agora ele quer habitar entre as nações por meio de sua igreja'. Devo aprender
com Jesus como ele viveria a minha vida, de sorte que ele esteja substancialmente
presente em meu local de trabalho e no local onde vivo. Devo ocupar o território
e o tempo de minha vida para Jesus Cristo.
O Irmão Lawrence (c. 1614-1691), autor do clássico The Practice of
the Presence of God [A Prática da Presença de Deus], sintetiza o sentido
desse foco quando comenta: "Nossa santificação não depende tanto de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 178/373
190 1 VOCAÇÃO: E.screra .vuti as•cinalura
no univena
mudarmos nossas atividades como de fazê-las para Deus em vez de para nós'.
Deixa de ser a minha obra para ser a obra de Deus. Não é algo que eu faça
meramente para sobreviver ou para acumular riquezas ou poder. Meu trabalho
é o local por meio do qual o Seu reino vem e a Sua vontade é feita. As coisas
simples são vivificadas com o sagrado.
Corno vimos nessa parte de nossa jornada. Cristo nos salvou para além
de "irmos para o céu". Tendo sido salvos para o céu, também fornos salvos para
a Terra; fomos salvos para servir a Cristo e avançar o seu reino na Terra assim
como no céu. Até agora analisamos três fundamentos. Primeiro, fomos salvos
para um propósito e esse propósito é nossa vida de trabalho. Segundo, esse
chamado é um chamado geral para todos os cristãos adorarem a Deus, amarem
o próximo e exercerem mordomia sobre a criação. Terceiro, cada um de nós
tem um chamado particular para o qual fomos feitos singularmente e o qual
devemos descobrir e vivenciar.
Agora exploraremos mais características de nossa vida de trabalho.
Conforme continuamos a avançar, minha esperança é que você veja o potencial
de sua vida e trabalho dentro da estrutura da vinda do reino de Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 179/373
Capitulo 14
CARACTERÍSTICAS DE
NOSSA VOCAÇÃO
A história de Deus revela que ele é o Rei, o mundo é o seu reino e nós
somos seus mordomos. Portanto, devemos ter domínio sobre a criação. Devemos
cumprir o mandato de Cristo de discipularmos as nações para que a glória das
nações seja preparada para o retorno de Cristo. Devemos fazer isso como
cristãos dentro do nosso contexto de trabalho, mas não apenas ali. Nossa tarefa
é manifestar o reino de Deus por meio de nosso trabalho como parte de nosso
chamado.
Quando buscamos andar em nossa vocação, precisamos considerar quatro
diretrizes importantes: a primazia da graça, a redenção do tempo e do espaço,
a manifestação da excelência de Deus e a revelação da glória de Deus.
OS FRUTOS DE NOSSA VOCAÇÃO
SÃO RESULTADO DA GRAÇA
Ao considerarmos os frutos de nosso trabalho, nos perguntamos: O que
constitui o "sucesso"? Sucesso, em termos simples, é a realização daquilo que
nos propomos a fazer. O objetivo pode ser bom ou mal, mas é alcançado.
As pessoas geralmente definem riqueza e poder como medidas de
sucesso. Em um paradigma bíblico, o objetivo não é a riqueza nem a pobreza'
nem o poder; devemos ser servos. Em um paradigma bíblico, o objetivo é a
entrada no reino de Deus e o seu avanço'. Assim a pergunta adequada para o
cristão é: Como minha vida e trabalho podem contribuir para o avanço do reino
de Deus?
Assim como em tantas outras coisas, há um equilíbrio radical tanto em
termos de objetivo - "não me dês nem pobreza nem riqueza" (Pv 30.8) - quanto
em termos de processo ou meios. Em culturas materialistas, as pessoas acreditam
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 180/373
192 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no univervo
que o sucesso é alcançado somente por meio de seus esforços. O mantra é
esse: "Consegui sozinho " ou "Venci por meus próprios esforços ". Em culturas
animistas fatalistas, as pessoas creem que o sucesso depende do capricho dos
deuses ou do acaso. Na visão bíblica, a graça de Deus e a responsabilidade das
pessoas dançam juntas. As pessoas têm a responsabilidade de aplicar seus
esforços e de ter disciplina em suas vidas e trabalho: mas é pela graça de Deus
que vem o sucesso. Isso é claramente articulado em Deuteronômio 8.18: "Mas,
lembrem-se do Senhor, o seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade dc
produzir riqueza, confirmando a aliança que jurou aos seus antepassados.
conforme hoje se vê".
Pelo que dizem, Charles Spurgeon, grande pastor e pregador inglês do
século XIX, contava uma história que ilustrava esse equilíbrio. Havia duas
meninas, uma das quais tirava boas notas na escola. A menina que não conseguia
alcançar boas notas perguntou à outra qual era o segredo de seu sucesso. Esta
respondeu que estudava muito e se preparava para as avaliações. Então, a
menina com notas ruins tentou se esforçar mais. Após a avaliação seguinte,
suas notas haviam melhorado pouco. Ela então perguntou à outra por que, após
tanto esforço, ela não havia logrado êxito. Ao que a outra menina perguntou-
lhe: "Você orou?". E a menina respondeu: "Não ". Assim, a outra menina lhe
disse que, além de ter estudado muito, ela havia também buscado o favor de
Deus. Conforme a história continua, Spurgeon diz:
Devemos trabalhar corno se tudo dependesse de nós.
Orar como se tudo dependesse de Deus e
Dar a Deus a glória pelos resultados.
Por toda a Bíblia, vemos que o relacionamento entre Deus e a humanidade
está acima de todos. Vemos que Deus é soberano e que nós somos responsáveis.
Esta é a tensão bíblica sobre a qual a vida acontece. O equilíbrio radical das
Escrituras revela que os seres humanos são independentes. Isso significa que
eles têm liberdade - independência - e responsabilidade pessoal para agir, mas
também que eles devem viver em relacionamento tanto com Deus quanto com
a comunidade, e ali encontrar sua verdadeira independência - em sua in-
dependência. E o sucesso é todo pela graça.
Enquanto nossa salvação e justificação pertencem totalmente a Deus,
nossa santificação reflete a dança da responsabilidade com o relacionamento.
Paulo nos lembra em Filipenses 2.12-13: "ponham em ação a salvação de
vocês
com temor e tremor [disciplina pessoal], pois é Deus quem efetua em vocês
tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele [poder de
Deus]". Vemos esse equilíbrio, de forma semelhante, em Tiago 1.5: "Se algum
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 181/373
Características de nossa vocação
1 193
de vós tem falta de sab edoria, peça-a a D eus, que a todos dá livremente, de boa
vontade; e lhe será concedida". Como uma criatura "independente", uma pessoa
tem a responsabilidade de conhecer suas próprias limitações e orar. Deus tem
a habilidade de prover sabedoria, discernimento, coragem e força.
Esse equilíbrio radical foi bem articulado pelos reformadores na Europa
e posteriormente pelos puritanos na América do Norte. Martinho Lutero
escreveu:
Quando as riquezas chegam, o coração do indivíduo sem Deus
pensa: Consegui isso por meus esforços. Ele não pensa que essas são
puramente bênçãos d e Deus, bênçãos que às vezes vêm até nós por meio de
nossos esforços e outras vezes sem eles, mas nunca por causa deles; pois
Deus sempre as concede devido a sua plena misericórdia, a qual não
merecemos.'
Similarmente, João C alvino escreveu:
As pessoas em vão se estafam com trabalho em demasia e se consomem
para adquirir riquezas, já que essas coisas também são um benefício
concedido por Deus.'
Cotton Mather (1663-1728) foi um influente pregador puritano e um
escritor prolífico, sendo às vezes até mesmo um pioneiro na ciência e um líder
na política, nos primórdios de M assachusetts. Ele escreveu: "Em no ssa profissão,
espalhamos nossas redes, mas é Deus quem traz para elas tudo o que
carregam"'.
O professor de Inglês Leland Ryken, escrevendo em Worldly Saints
[Santos Mundanos], resume para nós:
Os puritanos consideravam a riqueza um bem social. Eles não a
consideravam um bem pessoal - ela era um presente de Deus e não o
resultado do esforço humano apenas ou um sinal da aprovação divina.'
Quando procuramos andar em nossa vocação, somos guiados por essas
percepções profundas: nosso sucesso provém da graça divina, a riqueza não é
um sinal da aprovação divina, mas da graça, e nossa riqueza não é para posse
ou consumo pessoal, mas para o bem da comunidade. Este é o pensamento do
reino.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 182/373
194 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
NOSSA VOCAÇÃO REDIME O TEMPO E O ESPAÇO
Nossas próprias vidas são o primeiro presente de Deus para nós. Além
disso, ele nos deu tanto o espaço quanto o tempo nos quais se desenvolvem
nossa vocação. Ele nos deu o espaço deste planeta, e um vasto universo no
qual habita nosso pequeno planeta, como um contexto para as nossas vidas.
Foi-nos dada uma alma e um corpo que nos permitem nos envolver com o
conjunto da criação, tanto com os elementos materiais quanto com os imateriais.
Nossos corpos e seus sentidos dão-nos a capacidade de apreciar, participar e
explorar o universo. Ele nos deu mentes racionais para explorar e descobrir os
segredos do universo, e nos deu a criatividade com a qual criamos novos
universos em nossa imaginação.
Como vimos na parábola das minas, Cristo financiou seus discípulos para
promover seu reino'. Uma das minas de seu investimento é o tempo de nossas
vidas. Jesus nos diz que sua vocação - sua vida, morte e ressurreição - foi para
que "tenham vida, e a tenham plenamente" (Jo 10.10 b). Ele nos deu tempo
para explorar, criar, participar de seu plano, e, como importantes agentes.
escrever a história. Como usamos nosso tempo, no entanto, tem sido a questão
crucial desde a Queda. Será ele aproveitado ou desperdiçado?
Ele nos deu sete dias por semana e cinquenta e duas semanas por ano.
Esse tempo deve ser usado para gerar vidas que honrem o Criador, expandam
sua criação, e criem uma cultura que reflita Deus e sua ordem criada. Ele nos
deu o sol, a lua e as estrelas para marcar as estações do ano e nos orientar no
processo de ter domínio sobre este mundo"
.
O apóstolo Paulo nos lembra que devemos usar o tempo e as
oportunidades com sabedoria: "Portanto, vede prudentemente como andais, não
como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus"
(Ef 5.15-16). O tempo não pode ser trazido de volta. Uma vez que ele se foi, se
foi para sempre. Temos perdido tempo ou temos tirado proveito dele? Temos
considerado o tempo como um presente precioso ou o temos desperdiçado?
Temos usado o tempo para criar uma cultura que reflita o Criador e o trabalho
que ele nos deu na criação, ou temos seguido a orientação do mentiroso -
Satanás - e criado mundos que refletem falsos princípios e que se baseiam nas
ilusões de Satanás?
John Wesley escreveu:
Não perca tempo. Se você compreende a si mesmo e ao seu
relacionamento com Deus e com o homem, você sabe que não tem tempo
nenhum de sobra. Se você entende seu chamado como deveria, não ficará
ocioso."
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 183/373
Características de nossa vocação
1 195
A extensão de nossa vida terrena é limitada, como somos lembrados em
Isaías 40.6-7: "Que toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória como
as flores do campo. A relva murcha e as flores caem". Além disso, podemos
também concordar com Isaque: "Eu
7
2
não sei o dia de minha morte" (Gn
27.2). Será que viveremos um dia, cem dias ou cem anos? Mais ainda, não
sabemos quando o Mestre, que investiu em nós e nos deu como incumbência o
trabalho de seu reino, voltará''. O Senhor não nos questionará: "Quantos anos
você viveu?", mas "O que você fez com os anos que lhe dei?". Como temos
usado nosso tempo?
Conforme buscamos cultivar esse tipo de consciência do valor do tempo,
podemos ser atraídos a uma direção diferente por nossa cultura. Para o
materialista, o principal valor do tempo é econômico: ele é, antes de tudo, um
fator na produtividade e nas relações de tempo-salário. O que mais importa é a
quem o tempo pertence. Já que não existe Deus em um contexto secular, existe
apenas o "tempo do relógio", não há tempo transcendente ou a plenitude dos
tempos. A passagem do tempo pode ter importância em termos de
desenvolvimento, mas a história não tem significado eterno. Além disso, não há
nenhum significado duradouro para o tempo na vida de um indivíduo fora da
realização de certos objetivos - econômicos, intelectuais ou de lazer. Em última
análise, essa falta do valor eterno do tempo apoia a abordagem hedonista
exemplificada pelo lema "Coma, beba e seja feliz, porque amanhã você morrerá ".
O tempo que não está sendo empregado no trabalho passa a ser visto como
destinado ao prazer. Você trabalha a semana toda para que possa passar os
fins de semana no lazer. Vida e trabalho são frequentemente separados.
Curiosamente, de fato, há algo que as culturas animistas têm em comum
com as Escrituras nesse ponto, e essa é a importância dos relacionamentos e
do uso do tempo dedicado a eles. As pessoas nessas culturas valorizam muito
os relacionamentos - por vezes vivem em uma teia muito complexa formada
por eles - e gastarão um tempo considerável desfrutando da companhia das
pessoas que conhecem, mesmo que não haja nenhum ganho material nesse uso
do tempo. As crianças, muito valorizadas, provavelmente serão mantidas por
muito mais tempo na companhia dos pais e de outros adultos, tanto nos períodos
de lazer quanto nos de trabalho. E muitas vezes os membros da sociedade que
dependem de outros -crianças pequenas, doentes, idosos enfermos - são atendidos
pessoalmente com pouco caso, ignorados ou confiados apenas aos cuidados de
profissionais. Isso tudo está em total contraste com as sociedades materialistas
cuja produção e os valores são orientados para o prazer, frequentemente levando
as pessoas a sacrificar os relacionamentos a fim de buscar o sucesso no mercado
de trabalho ou a perseguição desenfreada pelo prazer.
No entanto, embora as pessoas em culturas animistas possam ter tempo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 184/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 185/373
Características de nossa vocação 1
197
geologia e biologia até a capacidade que Deus deu ao homem de expressar essas
diversas leis na matemática ou na poesia, a habilidade refinada de Deus se
manifesta. O salmo 104.1-5 revela a arte e a habilidade maravilhosa de Deus:
Bendize o Senhor a minha alma
Ó Senhor, meu Deus, tu és tão grandioso
Estás vestido de majestade e esplendor
Envolto em luz como numa veste,
Ele estende os céus conto urna tenda,
E põe sobre as águas dos céus
As vigas dos seus aposentos.
Faz das nuvens a sua carruagem. E cavalga nas
asas do vento. Faz dos ventos seus mensageiros
e dos clarões reluzentes seus servos.
Firmaste a terra sobre os seus fundamentos,
para que jamais se abale.
Como a poesia deste salmo transmite, a excelência de Deus se manifesta
na criação e na forma como ele trabalha para sustentar o mundo natural. Vemos
também a excelência de Deus na redenção e na maneira como ele trabalha
para sustentar seu povo, como expressado nas belas palavras do Salmo 111:
Aleluia.
Darei graças ao Senhor de todo o coração
na reunião da congregação dos justos.
Grandes são as obras do Senhor,
nelas meditam todos os que as apreciam.
Os seus feitos manifestam majestade e esplendor,
e a sua justiça permanece para sempre.
Ele fez proclamar as suas maravilhas;
o Senhor é misericordioso e compassivo.
Deu alimento aos que o temiam,
pois sempre se lembra de sua aliança.
Mostrou ao seu povo os seus Jeitos poderosos,
dando-lhe as terras das nações.
As obras das suas mãos são fiéis e justas;
todos os seus preceitos merecem confiança.
Estão firmes para sempre;
santo e temível é o seu nome.
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;
todos os que cumprem os seus preceitos
revelam bom senso.
Eles será louvado para sempre
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 186/373
198 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Lemos neste salmo um manifesto à excelência. Como o salmista diz,
quando ponderamos as obras do Senhor, vemos sua doçura, glória, majestade,
justiça, graça, compaixão, poder, fidelidade, justiça, lealdade, constância, retidão.
santidade e sabedoria. Assim como Deus nos capacita, e assim como
trabalhamos diligentemente para desenvolver a capacidade que ele nos deu,
nosso trabalho deve manifestar essa mesma natureza excelente de Deus. Ob-
serve que esse salmo de louvor a Deus termina com uma promessa para nós
em nosso próprio trabalho: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;
todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso" (S1 111.10).
Em que tipo de trabalho nosso Deus excelente nos chama a trabalhar
com ele? Em um trabalho excelente Por quê? Porque nosso trabalho contribui,
de alguma maneira, para com a morada de Deus e para com nossa futura
morada - o reino de Deus. Exploremos este belo quadro.
Vimos que existe uma simetria maravilhosa entre o Antigo e o Novo
Testamento. No Antigo Testamento, Deus se revela como o primeiro artista e o
primeiro artesão; no Novo Testamento, ele continua sua criatividade como
arquiteto e construtor da cidade eterna". No Antigo Testamento, vemos Deus
e as pessoas colaborando para construir primeiro o tabernáculo'' e,
posteriormente, o templo
l°
como moradas de Deus'
7
. No Novo Testamento,
vemos Deus e as pessoas colaborando para construir o presente e o futuro
reino de Deus, onde os redimidos viverão com Deus para sempre'''.
A construção de uma morada onde Deus se manifesta nos chama à
excelência. Vemos um exemplo dessa excelência na descrição da construção
do templo em 2 Crônicas 2.1-14:
Ora, resolveu Salomão edificar uni templo em honra ao nome do
Senhos; como também um palácio real para si. Designou, pois, Salomão
setenta mil homens para servirem de carregadores, e oitenta mil para
cortarem pedras na montanha, e três mil e seiscentos como capatazes.
Depois Salomão enviou esta mensagem a Hirão, rei de Tiro: "Envia-me
cedros como ,fizeste para meu pai Davi, quando ele construiu seu palácio.
Agora estou para construir um templo em honra do nome do Senhor, o meu
Deus, e dedicá-lo a ele. "O templo que vou construir será grande, pois o
nosso Deus é maior do que todos os outros deuses. Mas, quem é capaz de
construir um templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo? "Por
isso, manda-me um homem competente no trabalho com ouro, com prata,
para trabalhar em Judá e em Jerusalém com os meus hábeis artesãos,
preparados por meu pai Davi. "Também envia-me do Líbano madeira de
cedro, de pinho e de jui -
per°, pois eu sei que os teus servos são hábeis
artesãos em cortar a madeira de lá. Hirão, rei de Tiro, respondeu por carta
a Salomão: "O Senhor ama o seu povo, e por isso te fez rei sobre ele". E
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 187/373
Características de nossa vocação
1 199
acrescentou: "Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, que fez os céus e a
terra, pois deu ao rei Davi um filho sábio, que tem inteligência e
discernimento, e que vai construir um templo para o Senhor "Estou te
enviando Hirão-Abi... Ele foi treinado para trabalhar com ouro e prata...
Ele é hábil em todo tipo de entalhe. Ele pode executar qualquer projeto
que lhe for dado. Trabalhará com os teus artesãos e com os de meu senhor
Davi, teu pai."
Como Salomão, temos a grande tarefa de contribuir com uma morada
para Deus e seu povo e mostrar a excelência de sua natureza diante de um
mundo observador. Nossa vocação é nossa contribuição para a vinda do reino
de Deus. Com
esse rei de Israel, podemos dizer: "O templo que vou construir
será grande, pois o nosso Deus é maior do que todos os outros deuses" (v. 5).
Podemos ficar maravilhados como ele: "Mas, quem é capaz de construir um
templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo??Quem sou eu, então,
para lhe construir um templo...?" (v. 6). Contudo, Deus nos chamou. Abordamos
nosso trabalho como Salomão fez, com seriedade, criatividade e desenvoltura,
procurando o que para nós equivale aos melhores projetos, os materiais de
maior qualidade e beleza, e os artesãos mais qualificados.
As gerações anteriores de cristãos compreenderam a chamada para a
excelência melhor do que nós hoje. A filosofia das comunidades Shaker, que se
sobressaíram na confecção de móveis, reflete esse tipo de cuidado:
Faça cada produto melhor do que jamais tenha sido feito. Faça as
peças que você não pode ver tão bem quanto as peças que você pode ver.
Use apenas o melhor material, até mesmo para os itens de uso mais
corriqueiro. Dê atenção aos mínimos detalhes, assim como dá aos maiores.
Projete seu produto para durar para sempre."
John Wesley, o reformador da Inglaterra e fundador do movimento
metodista, captou esse mesmo sentido de excelência em seu sermão sobre o
dinheiro:
Você deve estar sempre aprendendo, a partir da experiência dos
outros ou de sua própria experiência, da leitura, da reflexão, para fazer
tudo o que você precisa fazer melhor hoje do que o fez ontem. E procure
praticar aquilo que aprendeu, para que você possa fazer o melhor em tudo
o que estiver em suas mãos.'"
Uma história é contada sobre uma menina brasileira, de doze anos de
idade, que também compreendeu essa necessidade da excelência em todo o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 188/373
200 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
trabalho porque é feito para o Senhor. O pai de Luiza ofereceu-se para consertar
uma velha caixa usada para coletar as ofertas na Capela da Videira. Ele fez um
ótimo trabalho e a caixa ficou linda. Luiza acrescentou algo a mais, no entanto.
Ela fez um pequeno travesseiro para caber dentro da caixa e o adornou com
ponto-cruz. O anseio de Luiza em ajudar e o cuidado em fazer o travesseiro se
tornaram um exemplo e uma inspiração que encorajou outros ao serviço do
Senhor'. Assim como essa menina brasileira percebeu em sua pouca idade, a
Bíblia nos chama à fidelidade e à excelência, não só nas grandes coisas, mas
também naquelas que podemos achar inconsequentes, supérfluas ou comuns.
Porque há dignidade e mistério nas pequenas coisas, somos chamados a santificar
as coisas "servis" e pequenas. Mas, porque Deus está interessado no comum,
os filhos de Deus devem apreciar as coisas simples e dar dignidade a elas,
trabalhando com excelência não importando o quão insignificante a tarefa possa
parecer. Quando entendemos o milagre do comum, reconhecemos o que um
puritano escreveu: "que um cristão pode considerar 'sua loja bem como sua
capela como um lugar sagrado"
Cerca de trinta anos atrás, minha esposa Marilyn e eu estávamos dirigindo
de Phoenix, Arizona, para Denver, Colorado. No meio do deserto do sudoeste
do Colorado, eu parei no único posto de gasolina, depois de milhas, para utilizar
as instalações. Nos EUA, naquela época, os banheiros dos postos de gasolina
eram famosos por serem imundos. Quando abri a porta do banheiro masculino,
eu esperava o pior. Mas que surpresa O banheiro estava impecável, e ao lado
da pia havia um vaso de flores frescas. Quem quer que fosse a pessoa que
cuidava daquele banheiro, ela entendia que devemos trazer dignidade e prazer
para o trabalho servil.
Em outra ocasião, eu estava hospedado em um hotel. Quando entrei no
banheiro do quarto, os pequenos sabonetes embalados estavam artisticamente
dispostos em forma de leque ao lado da pia. Quando vi isso, agradeci a Deus
pela pessoa que me recebeu com essa pequena amostra de arte no meio do que
é normalmente um item utilitário. A empregada daquele hotel deixou sua
assinatura ali, escolhendo trazer dignidade para um simples banheiro.
Essas pequenas obras de cuidado e arte estão em consonância com uma
cosmovisão bíblica. Um compromisso com a excelência e a beleza contrasta
com a filosofia pragmática do materialista moderno, para quem a eficiência,
utilidade e reprodutibilidade são valores primários. Nada exemplifica mais isso
do que a indústria de fast-food. A cadeia de restaurantes McDonald's construiu
todo um modelo de negócios sob esses valores. Suas lojas têm a mesma
aparência em todo o mundo, a aquisição e a preparação dos alimentos são
altamente padronizadas, e os trabalhadores são treinados e julgados de acordo
com métodos de trabalho, velocidade e eficiência exatos e padronizados. Embora
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 189/373
Características de nossa vocação 1
201
haja um lado bom nessas eficiências, elas não tendem a promover beleza e
excelência.
Nas cosmovisões animista e fatalista ou nos sistemas corruptos, que
muitas vezes estão associados a elas, também pouco se faz para promover a
excelência no trabalho. Se nada nesta vida tem um significado duradouro, ou se
os trabalhadores e empresários não têm o senso de que a qualidade de seu
trabalho faz diferença tanto para eles como para as pessoas que eles beneficiam,
há poucas razões para se fazer um esforço extra para se ter produtos ou serviços
considerados excelentes.
Mas, se sabemos o tipo de Deus para quem e com quem estamos
trabalhando, temos motivos de sobra para buscar a excelência. Como John
Politan da Igreja Bíblica Scottsdale colocou,
A única e maior declaração que a maioria das pessoas farão em
suas vidas pela causa de Cristo - por bem ou por mal - é o modo como
fazem seus trabalhos. 2 3
E Chuck Colson escreve:
A excelência, que a Bíblia exige, em nosso chamado se torna nosso
mais poderoso testemunho no local de trabalho. Aqueles cristãos já nos
campos missionários da contabilidade, das vendas, dos softwares, da
construção e de outras honrosas vocações, precisam ser equipados para
trabalhar com integridade e, assim, compartilhar sua fé em ações, bem
como em palavras."
Como retratado na parábola das minas, como seguidores de Cristo, somos
trabalhadores administrando os negócios do Mestre, responsáveis por continuar
a desenvolvê-los, fazendo nosso trabalho diário de acordo com seus planos.
Somos chamados a fazer nosso trabalho com a excelência apropriada a Aquele
que nos chamou.
NOSSA VOCAÇÃO REVELA A GLÓRIA DE DEUS
A glória de Deus é revelada quando seus servos são obedientes a seu
apelo em suas vidas. À medida que buscamos, de alguma maneira, dispor nossos
pés, mãos e imaginação para viver a Oração do Senhor, as primícias do reino
são reveladas e o Rei do reino é glorificado.
Como Cristo e seu reino avançam neste mundo corrompido, Deus fez
cada um de nós para cumprir um propósito único. Dentre uma infinidade de
possibilidades, podemos ilustrar isso com duas figuras bíblicas: Moisés e Jesus;
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 190/373
202 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
com uma dádiva da história recente: William Wilberforce; e com um a das heroínas
da fé de hoje: Joni Eareckson Tada.
Olharemos primeiro para o profeta Moisés, um hebreu nascido de forma
humilde, que, por meio de circunstâncias providenciais, foi criado para se tornar
um príncipe no Egito. Deus usou este homem para tirar o povo hebreu da
escravidão e leva-los à fronteira da Terra Prometida. Como vimos, durante
quarenta anos de peregrinação pelo deserto, Deus instruiu Moisés a construir
um tabernáculo. Em Êxodo 25.8-9 se lê: "E farão um santuário para mim, e eu
habitarei no meio deles. Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo
do tabernáculo e de cada utensílio". No desenrolar da história, Deus revela
seus planos, o fornecimento de suprimentos e de artesanato é realizado, e o
tabernáculo é construído. Assimilamos a narrativa em Êxodo 40.33: "Finalmente,
Moisés armou o pátio ao redor do tabernáculo e colocou a cortina à entrada do
pátio. Assim, Moisés terminou a obra". O tabernáculo foi concluído pouco an-
tes de ele morrer.
Moisés viveu sua vida ao máximo, procurando ser obediente ao Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó. Ele "terminou bem"; completou sua missão. Ele
guiou o povo hebreu para fora do cativeiro no Egito. E terminou o tabernáculo.
Hoje encontramos essas extraordinárias palavras em Êxodo 40.34-35: "Então a
nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo.
Moisés não podia entrar na Tenda do Encontro, porque a nuvem estava sobre
ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo". Descobrimos que, quando Moisés
terminou a missão que Deus tinha para ele, "a glória do Senhor" preencheu
aquele espaço. Quando o trabalho de Deus é feito à maneira Dele, ele é
glorificado e sua glória vivifica a obra - sopra vida nela. Note duas coisas aqui.
Primeiro, Deus é glorificado por nossa obediência, por completarmos a tarefa
que nos foi dada. Segundo, quando a tarefa está concluída, a glória de Deus
transforma o trabalho.
Vemos um padrão semelhante refletido na vida de Cristo. No início de
sua vida, Jesus reconheceu que tinha uma tarefa dada pelo Pai. Isso está
registrado em seu ministério público:
Enquanto isso, os discípulos insistiam com ele: "Mestre, come
alguma coisa". Mas ele lhes disse: "Tenho algo para comer que vocês não
conhecem". Então os seus discípulos disseram uns aos outros: "Será que
alguém lhe trouxe comida?". Disse Jesus: "A minha comida é fazer a
vontade daquele que me enviou e concluir a
sua obra."
(Jo 4.31-34; grifo
adicionado)
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 191/373
Características de nossa vocação 1
203
Jesus compreendeu que tinha um trabalho a fazer, o trabalho que seu Pai
havia delegado a ele. Vemos isso refletido em João 5.17: "Disse-lhes Jesus:
"Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando"".
Jesus é uma parte indispensável do que Deus está fazendo. O chamado é
semelhante em nossas vidas. O chamado de Cristo é um chamado para realizar
os trabalhos do Pai. Ele está trabalhando agora, e deseja conectar nossas vidas
a sua obra. Nossa vocação é essa conexão.
Jesus reflete sobre seu trabalho. Na última ceia, ele ora o que viemos a
conhecer como sua Grande Oração Sacerdotal. A primeira parte da oração nos
instrui a pensar sobre a necessidade de conectar nosso trabalho ao reino de
Deus. João 17.1, 4-5 diz:
Depois de dizer isso, Jesus olhou para o céu e orou: "Pai, chegou a
hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Eu te
glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer. E agora,
Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o
mundo existisse".
Vemos que Jesus glorificou o Pai, "completando a obra que me destes
para fazer" Jesus tinha uma tarefa específica, e a conclusão dessa tarefa
trouxe glória ao Pai. Você quer trazer glória ao Pai? Então execute o trabalho
que ele tem para você Não glorificamos a Deus executando o trabalho de
outra pessoa, mas o glorificamos quando fazemos o trabalho que ele nos dá
para fazermos.
Quando eu era um jovem cristão, estudando no L'Abri Fellowship na
Suíça, ficava depressivo ao acordar de manhã. Eu tinha três heróis em L'Abri
- Francis Schaeffer, Udo Middelmann e Os Guinness. Fiz uma composição de
cada um dos seus pontos fortes e disse: Esta é a pessoa que quero ser. No
entanto, não considerei nenhum de seus defeitos na formação dessa caricatura.
Ao comparar-me com esse "homem modelo", vi como estava longe de satisfazer
os padrões. Fiquei desanimado. Um dia percebi meu pecado em fazer isso e
entendi que Deus me fez para um propósito. Glorificamos a Deus quando nossa
vida cumpre o propósito para o qual fomos feitos. Destruímos a nós mesmos
quando nos comparamos com os outros. Não glorificamos a Deus tentando
fazer o que ele fez para outra pessoa fazer.
Devemos também observar que, quando Jesus completou a obra que o
Pai tinha para ele, o Pai glorificou o Filho. Cada um de nós é absolutamente
único. O mistério de nossa própria habilidade especial é revelado quando somos
obedientes ao chamado que Deus tem sobre nossas vidas.
A vida de um de meus heróis, William Wilberforce, ilustra isso. Como
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 192/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 193/373
Caracterislicas de no.ssa vocação1
205
Várias vezes, durante sua
fala, vi o presidente Bush olhar
diretamente para Jani. No final de seu discurso, o presidente surpreendeu
a todos. Descendo do pódio, ele colocou os braços em torno de Joni e
abraçou-a e beijou-a. Foi um momento comovente. Certamente, pensei
que esse foi o mom ento e a razão para os q uais Joni havia nascido. Havia
uni propósito para todos os seus s ofrimentos.'
Joni poderia ter se voltado para si mesma após o acidente. Sua vida
poderia ter sido marcada pela autopiedade, amargura e desespero. Mesmo
assim não foi. O que poderia ter feito a diferença? Em vez de fazer
incessantemente a pergunta: "Por que, Senhor?" Joni começou a fazer as
perguntas: "Senhor, que queres que eu faça? Como posso responder a essa
tragédia de forma a honrá-lo?". Na busca por ouvir o chamado de Deus em sua
vocação, a vida de Joni foi transformada e tem sido usada por Deus para
promover o seu reino. Enquanto Joni estava sentada em sua cadeira de rodas
na Casa Branca, a voz de Mardoqueu podia ser ouvida ao longo da história:
"Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição
de rainha?" (Ester 4. 14).
Deus é glorificado por meio de nosso trabalho - quando andamos no
chamado particular que ele colocou em nossas vidas. Ele é glorificado quando
terminamos a tarefa para a qual ele nos fez, quando atingimos o nosso destino.
Ele é glorificado quando somos carpinteiros, políticos e artistas piedosos; quando
somos piedosos como filhos e filhas, mães e pais, irmãs e irmãos, maridos e
esposas. Ele é glorificado quando manifestamos a verdade, a beleza e a justiça
em nossas comunidades, locais de trabalho e nações. Ele é glorificado quando
caminhamos com confiança em nossa vocação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 194/373
PA RTE 5:
A E C O N O M IA D E N O S SA
V O C A Ç Ã O
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 195/373
Capítulo 15
MORDOMIA:
A ÉTICA PROTE STANTE
Uma característica de nossa vida de trabalho deve sem dúvida ser uma
compreensão bíblica sobre economia. Se você lesse a Bíblia do Gênesis ao
Apocalipse e registrasse em um diário cada passagem que encontrasse sobre a
salvação da alma ou sobre negócios e economia, qual lista seria mais longa ao
final da pesquisa? As passagens sobre negócios e economia seriam muito mais
numerosas do que aquelas sobre a salvação espiritual. Será este um sinal de
que a salvação espiritual é secundária? Não Muito pelo contrário; a salvação
de uma pessoa é fundamental para todo o resto. Mas isso destaca que Deus
está interessado na economia e nos deu os primeiros princípios para nos ajudar
a cuidar da criação e promover uma atividade econômica saudável.
"HOMEM ECONÔMICO"
A atividade econômica segundo Deus se refere ao valor encontrado em
produzir, guardar e dar. Em Gênesis, Deus ordena a mordomia sobre a criação'.
A mordomia implica tanto em progredir (produção abundante) quanto em
conservar (cuidar da criação). Vemos esse senso de boa mordomia na raiz
grega da palavra economia, que é oikonomia e significa "gerenciar uma casa"
ou "administrar uma propriedade". (Oikos pode significar "casa" ou "templo", e
nomia vem de nemein, que significa "colocar" ou "gerenciar".) Se pensarmos
no mundo que Deus criou como sua "casa", então podemos pensar em nós
mesmos como os mordomos que ele tem colocado para administrá-la. É por
isso que sempre digo que o homem é homo oikonomia - "homem econômico".
Portanto, poderíamos dizer que a economia é uma sábia gestão da família de
Deus (o mundo) por meio da imaginação moral, ou, dito de outra forma, a
gestão dos recursos dentro dos limites das leis de Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 196/373
210 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
EVITANDO DOIS
ERROS
Deus confiou sua família a nós e, como podemos ver com a parábola do
administrador astuto= e na parábola das dez minas', ele espera que sejamos
gestores responsáveis. Na parábola do administrador astuto, o senhor elogiou o
administrador desonesto por sua gestão "prudente". Este não é um chamado
para ser desonesto, mas um chamado a ser sábio na área econômica. Na parábola
das dez minas, o mestre enaltece os administradores piedosos que renderam
dez' e cinco vezes' mais em seus investimentos. Ele condena a pessoa que
escondeu o capital e não o converteu em lucro'. Qual foi o foco de interesse do
mestre? Ele estava olhando para o uso sábio e inteligente de seus investimentos
de capital. Um investimento prudente produzirá "lucro" para o mestre e para o
reino de Deus.
Como discutimos no começo do livro, parábolas como as das dez minas
não são apenas sobre economia, mas servem também como metáforas para as
realidades espirituais. No entanto, parte de como Deus nos criou, e de como ele
tem nos chamado e nos equipado para manifestar e estender o reino, está em
nosso trabalho literal na área econômica, pela forma como lidamos com o que
ele nos confiou, incluindo tempo, espaço e recursos, tanto os da Terra como os
dos nossos lares.
Pode ser fácil ignorarmos vários ensinamentos bem práticos das Escrituras
sobre as intenções de Deus para nossa vida econômica. Por um lado, se estamos
mergulhados na mentalidade do dualismo evangélico, veremos o mundo mate-
rial como irrelevante, ou apenas uma sombra do mundo espiritual "real". Assim
não haveria sentido em discutir algo tão "mundano" como economia em um
livro sobre teologia; não veríamos uma conexão entre nossa fé e nossa vida
econômica. Por outro lado, ao reconhecer que não existe essa dicotomia - que
o físico está infundido ao sagrado - podemos ser tentados a cair em outro erro
e incluir o material no espiritual. Podemos acabar espiritualizando em excesso
a questão de forma que já não tenha sua natureza física como Deus a criou.
Neste cenário também não haveria sentido em discutir a economia. Em vez de
cair no mesmo erro, queremos que nosso pensamento seja moldado por uma
compreensão bíblica da relação entre os mundos material e espiritual, na qual
ambos são partes inseparavelmente ligadas a uma realidade que Deus fez. Só
então poderemos ser o tipo de administradores que Deus quer que sejamos,
sem excluir nada nem ninguém de seus cuidados e redenção.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 197/373
Mordomia
1211
A ÉTICA PROTESTANTE E
AS TRÊS REGRAS SIMPLES DE JOHN WESLEY
Os reformadores do movimento protestante reconheceram a importância
de nossa vida econômica como cidadãos do reino de Deus. Seus ensinos sobre
esse tema vital mudou o mundo. Na verdade, como discutiremos no capítulo 19
(Os Domínios), foi a cosmovisão bíblica ensinada pelos reformadores que os
historiadores econômicos têm reconhecido como um fator importante no
levantamento de nações inteiras da pobreza por meio do desenvolvimento da
sociedade de classe média. Por meio das novas economias da Europa, multidões
foram libertadas para viver de forma muito diferente dos antigos criados e
servos contratados, para desfrutar de oportunidades mais amplas em suas vidas,
e para ter um efeito significativo sobre a vida da nação.
Os ensinamentos dos reformadores sobre o trabalho tiveram uma
influência tão grande e duradoura que acabou sendo conhecida como a ética
protestante. Assim como nosso Salvador ensina as virtudes da humildade e do
perdão aos seus seguidores, os reformadores formularam, por meio de frequentes
admoestações, uma série de princípios econômicos. Estes foram impressos nas
mentes, quebrando as fortalezas das falsas visões de mundo e os vícios que
derivam delas. Como as mentes e os corações foram instruídos com as virtudes
bíblicas, as culturas foram transformadas'.
O que os reformadores ensinaram na esfera do mercado, que trans-
formou economias e estruturas sociais na maior parte do norte da Europa? Já
vimos que eles abo liram o p aradigma gnóstico da vida perfeita e da vida p ermitida;
que acabaram com a distinção entre vita contemplativa (vida contemplativa) e
vita activa (a vida ativa). Com o entendimento de que toda a vida é sagrada e
de que estamos vivendo coram Deo (diante de Deus), o que os reformadores
ensinaram sobre o trabalho?
O lema de John Wesley sobre o trabalho e o uso do dinheiro pode o-
ferecer uma estrutura simples para se analisar os ensinamentos econômicos
dos reformadores na Europa. Deus usou John Wesley para iniciar um
avivamento na Inglaterra, em meados de 1700, que transformou a nação em
pouco mais de uma geração; semelhantemente às transformações iniciadas
por Lutero e Calvino em suas regiões 200 anos antes. Wesley pregava a cruz
de Cristo para a salvação pessoal e, em seguida, extraía as implicações sociais
do evangelho para a transformação nacional. As três regras básicas de Wesley
sobre o uso de dinheiro são:
Ganhe tudo o que puder
Salve tudo que o puder
Dê tudo o que puder
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 198/373
212 1
VOCAÇÃO: E
screva sua assinatura no universo
Essas advertências devem ser infundidas novamente nas nações
ocidentais, que estão perdendo rapidamente sua alma, e em um mundo em
desenvolvimento, que anseia por realização e por uma saúde material elusiva
garantida por esses princípios. Examinemos cada um desses aspectos.
GANHE TUDO O QUE PUDER:
TRÊS RAZÕES PARA TRABALHAR
A primeira parte do chamado de Wesley é para o trabalho: "Ganhe tudo
o que puder, sem prejudicar a si mesmo ou ao seu vizinho, na alma ou no corpo,
aplicando-se com diligência intermitente e com todo o entendimento que Deus
lhe deu"". O chamado de Wesley é para o trabalho saudável e moral, o trabalho
que edifica a si e ao próximo de forma holística. Ele deve ser realizado com
cuidado; as pessoas devem se empenhar e empregar todos os dons e habilidades
dadas por Deus. Somos chamados a cultivar as virtudes da constância e da
diligência e a acabar com os vícios da ociosidade, da apatia e da preguiça.
Martin Luther capturou a essência dessa discussão em Êxodo 13.18:
"Deus não quer que o sucesso venha sem o trabalho... Ele não quer que eu
sente em casa, com preguiça, e entregue os problemas a Deus, esperando que
um frango frito caia na minha boca. Isso seria tentar a Deus". Devemos
trabalhar duro, com produtividade e diligência.
O pregador puritano Robert Bolton (1572-1631) escreveu: "Seja diligente,
com consciência e fidelidade, em alguns chamados particulares, legais e
honestos... nem tanto para acumular ouro e absorver riqueza, mas para a provisão
necessária e moderada da família e para a posteridade: e em consciência e
obediência àquela responsabilidade comum colocada sobre todos os filhos e
filhas de Adão até o fim do mundo"".
Na essência da ética protestante, descobrimos que o trabalho tem um
valor intrínseco. Nosso trabalho, juntamente com nossa cidadania, é o lugar
onde contribuímos para a construção da cultura. Nosso trabalho não é apenas
o que fazemos para sobreviver (animismo), para consumir (materialismo) ou
para ter uma plataforma de testemunho (gnosticismo evangélico). Em vez disso,
as Escrituras revelam três razões para o trabalho.
Deus Trabalha
Deus é um Deus de trabalho. Como já estabelecemos, o trabalho não é
uma parte da maldição, como muitos supõem. Quando pensamos que o trabalho
é uma maldição, as palavras de Gênesis 2.2-3 nos surpreendem:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 199/373
Mordomia
1 2 1 3
Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha
Jeito, descansou nesse dia de toda a obra que fiz:era. Abençoou Deus o
sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que
criara e fizera.
A criação do universo foi um trabalho. E foi Deus quem fez esse tra-
balho. Deus trabalhou seis dias na criação e ao sétimo dia descansou. Trabalhar
está na natureza de Deus. Note que a palavra trabalho aqui é o hebraico melakah.
Ela é usada 167 vezes no Antigo Testamento e é traduzida como "ocupação",
"trabalho" ou "negócio'. Esta é a mesma palavra' hebraica utilizada nos Dez
Mandamentos quando se fala do ciclo de trabalho e descanso que devemos
manter."
Acabamos descobrindo que Deus não apenas trabalhou na época da
criação, como também continua a trabalhar na manutenção dela. Salmos 104.10-
16 é um testemunho de seu trabalho em curso:
És tu que tios vales fazes rebentar nascentes que correm entre
as
colinas. Dão de beber a todos os animais do campo; ali os asnos monteses
matam a sua sede. Junto delas habitam as aves dos céus dentre a ramagem
fazem ouvir o seu canto. Da tua alta morada regas os montes; a terra se
.
farta do fruto das tuas obras. Fazes crescer erva para os animais e a
verdura para uso do homem - de sorte que tia terra tire o alimento, o vinho
que alegra o seu coração o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que
lhe fortalece o coração. Saciam-se as árvores do Senhor os cedros do
Líbano que ele plantou.
Vemos também nas palavras de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
que seu Pai está sempre trabalhando. "Mas Jesus lhes respondeu: 'Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também.'" (João 5.17), e em João 4.34: "A
minha comida... é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua
obra". Jesus veio aqui fazer a obra do Pai. Nossa salvação e o progresso do
reino são seu trabalho contínuo. Note que Deus continua a trabalhar hoje. Sua
obra de graça comum sustenta o universo. Sua obra de graça especial é seu
trabalho por nossa salvação. Deus é um Deus trabalhador. Isso faz parte de
sua natureza.
O Homem Foi Feito para Trabalhar
A segunda razão pela qual trabalhamos é que o homem foi feito para
trabalhar. As Escrituras deixam claro que o trabalho não faz parte da maldição,
mas parte da bênção; é parte da dignidade do homem. Vimos isso no debate
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 200/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 201/373
Mordomia
1 215
O trabalho é uma atividade normal. Como a lua marca as estações do
ano, como o leão caça sua presa, assim o homem sai para trabalhar. Deus
trabalha e o homem trabalha. De forma similar, o salMo 128.1-2 diz:
Bem-aventurado todo aquele que teme ao Senhor
e anda nos seus caminhos.
Pois comerás do trabalho das tuas mãos;
feliz serás, e te irá bem.
Encontramos aqui o sentido de contentamento, satisfação e realização
do trabalho. Existe uma bênção no contentamento da alma e na satisfação de
um trabalho bem feito.
Somos Colegas de Trabalho de Deus
Há uma terceira razão para o trabalho: somos colegas de trabalho de
Deus. Ele é um Deus de trabalho, e tem um plano para a sua criação. Ele fez o
homem para trabalhar, mas não apenas para trabalhar por conta própria para
seus próprios fins; ele fez o homem para trabalhar com ele em seu grande
plano para o universo. Como vimos na discussão sobre o mandato cultural, por
serem feitas à imagem do Deus Criador, as pessoas devem usar sua criatividade
e espírito empreendedor para cultivar o mundo, formá-lo e extrair seu potencial.
Gênesis 1.26-28, juntamente com Gênesis 2.15 e 2.19, reflete que estamos
criando cultura. Deus não concluiu a criação ao descansar. Agora é nossa vez
de trabalhar ao lado de Deus. Devemos usar nossas mãos, corações e mentes
para ampliar o jardim e trazer à tona todo o potencial da criação, para a glória
de Deus.
Também estudamos em Efésios 2.10: "Porque somos feitura sua, criados
em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que
andássemos nelas". Por que fomos salvos? Fomos salvos dos nossos pecados a
fim de nos juntarmos a Deus em seu trabalho. Deus está trabalhando hoje.
Nosso trabalho deve ser um veículo para a obra de Deus. Ele é uma atividade
comunitária e relacional. Nossa vida e trabalho devem estar conectados a vinda
do reino. Como vimos em Colossenses 3.23, devemos fazer tudo "como se
estivéssemos trabalhando para o Senhor ". Por quê? Porque Deus está
trabalhando e nos chamou para fazer parte de sua obra.
Por que, então, devemos trabalhar? Primeiro, trabalhamos porque Deus
trabalha. Segundo, trabalhamos porque o homem foi feito para trabalhar. Terceiro,
trabalhamos porque o homem foi feito para ser um colaborador de Deus em
seu empreendimento.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 202/373
216 I
VOCAÇÃO: Escrcva .sua assinatura no universo
SALVE TUDO O QUE PUDER:
SEIS RAZÕES PARA ECONOMIZAR
A segunda parte do chamado de John Wesley foi para poupar: "Salve
tudo o que puder, cortando todos os gastos que servem apenas para saciar os
desejos insensatos; para satisfazer o desejo da carne, dos olhos, ou o orgulho da
vida: não desperdice nada, vivendo ou morrendo. no pecado ou na loucura, quer
para si ou para seus filhos'.
Para um ocidental que foi afetado pelo "espírito da era" da cultura de
consumo, esta linguagem é de outra época. Não alimente paixões infames; não
desperdice nada na vida ou na morte. Aqui encontramos um apelo à frugalidade,
um estilo de vida simples, e à prática da simplicidade externa. Somos chamados
a cultivar as virtudes da parcimônia, da frugalidade, do contentamento e da
moderação, e a extirpar os vícios da inveja e do desperdício.
Alguns cristãos são, no fundo, materialistas; eles idolatram a riqueza. O
evangelho da prosperidade ensina que somos filhos do Rei, e o Rei quer que
seus filhos sejam ricos, saudáveis e felizes - portanto, satisfeitos Outros cristãos
idolatram a pobreza. Mateus 19.24 diz o quanto é difícil para um rico entrar no
reino dos céus. Lucas 6.20 diz: "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso
é o reino de Deus". Estes cristãos veem a riqueza como um sinal de impiedade,
e a pobreza como uma virtude, um sinal de piedade. Alguns se identificam tanto
com os pobres que se tornam empobrecidos. Não há nenhuma razão para poupar,
mas todos os motivos para doar.
Em contraste com essas compreensões erradas mantidas por muitos
cristãos, a Bíblia revela seis razões para pouparmos. Os princípios que levam
ao investimento demandam uma comunidade de pessoas que sejam progressivas
o suficiente para gerar riqueza e conservadoras o suficiente para cuidar da
criação e das necessidades de uma comunidade maior.
Deus Cuida da Criação
Em primeiro lugar, como Deus governa sua criação com cuidado, nós
também devemos governar com cuidado o que ele tem colocado sob nossa
responsabilidade. Sabemos que por meio de sua graça comum, Deus sustenta
todas as coisas hoje". Podemos imaginar Deus como o primeiro lavrador. O
significado da palavra cultivar inclui "os cuidados de um lar", "o controle ou a
utilização judiciosa de recursos" e "o cultivo ou a produção de plantas ou
animais '9
. Como o primeiro lavrador, Deus apoia e cuida de sua criação com
prudência, ou com um julgamento são.
As palavras do grande hino de Walter Chalmers Smith, "Imortal, Invisível,
Deus único e sábio", capta o sentido de Deus como lavrador: "Sem descanso,
sem pressa, e
silencioso como a luz, nem desprovendo, nem desperdiçando. Tu
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 203/373
Mordomia I
217
dominas em poder". Deus cuida de sua criação. Ele governa com força, sem
falta nem desperdício; e deseja que seus filhos façam o mesmo'. O juízo vem
sobre aqueles que causam necessidade e desperdício sobre a terra".
Assim, a primeira razão para se poupar é que isto é um reflexo da
administração de Deus sobre a criação, manifestado na virtude da economia.
Vemos as instruções dadas à humanidade em Gênesis 2.15 quando Adão e Eva
foram colocados no jardim para "trabalhar nele" (avançar) e para "cuidar dele"
(conservar). Como bons "lavradores", temos que mostrar economia.
Trabalhe Seis Dias
- Viva Sete
A segunda razão para poupar é que trabalhamos seis dias e vivemos
sete. Gênesis 2.2 estabelece que Deus modelou o padrão de descanso e trabalho.
Deus trabalhou seis dias na criação e então descansou no sétimo dia. Esse
mesmo padrão é ordenado ao homem. Vemos isso em Êxodo 20.8-11, onde o
quarto mandamento obriga tanto o trabalho sagrado quanto o descanso sagrado.
Temos que trabalhar seis dias e descansar no sétimo. A razão para se poupar é
que, se vivemos sete dias
e trabalhamos apenas seis, precisamos economizar
durante os dias úteis para o dia do descanso sabático. Enquanto esta razão para
economizar pode ter pouca aplicação no mundo da classe média, ela tem uma
força significativa para as pessoas que ainda vivem na pobreza.
Vivemos em um Mundo Caído
A terceira razão para se poupar é que vivemos em um mundo caído.
Gênesis 3 revela que houve consequências para a rebelião do homem. A Terra
agora está amaldiçoada, e haverá ervas daninhas no jardim. O que os teólogos
chamam de "mal natural" agora faz parte da paisagem. Haverá secas e
inundações, terremotos e fomes. A fim de preparar-nos para Os anos ruins (e
eles virão), precisamos economizar nos anos bons. Se não pouparmos nos anos
bons, morreremos de fome nos anos ruins.
O exemplo clássico disso é encontrado em Gênesis 41 na história de
José. O Faraó do Egito teve um sonho no qual viu sete vacas gordas e sete
vacas magras. Elas representavam sete anos de abundância e sete anos de
escassez. José desenvolveu o que foi provavelmente o primeiro plano de
preparação para desastres na história. O plano pedia o armazenar nos anos
bons e
a distribuição de alimentos nos anos ruins. Pessoas prudentes salvarão
nos anos bons, porque sabem que os anos ruins virão. Isso se aplica, de forma
real, nos países economicamente desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento,
quando encaramos desastres naturais, recensões e crises pessoais.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 204/373
218 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
Provisão para o Futuro
A quarta razão é semelhante à terceira, para gerar provisão para o fu-
turo. Em contraste com sociedades materialistas e animistas nas quais não há
crença no futuro, na economia bíblica - na realidade - há um futuro. De fato,
uma das facetas da cosmovisão bíblica é que a história está indo para algum
lugar. Houve um passado, há um presente e há um futuro no qual Cristo volta
com seu reino. Por enquanto, vivemos no reino contínuo. Temos que apreciar o
passado, aproveitar o presente, e construir e contribuir para a vinda do reino.
Há um futuro em minha vida. Há um futuro para meus filhos e os filhos de
meus filhos. Há um futuro para a sociedade. Precisamos atrasar a recompensa
pelo bem dos outros. Precisamos economizar agora para a educação de nossos
filhos ou para capitalizar um negócio, comprar uma casa, dotar a arte, construir
bibliotecas, universidades, clínicas e hospitais.
Vemos esse princípio ilustrado no exemplo da formiga em Provérbios
6.6-8:
Vai ter com a formiga ó preguiçoso,
considera os seus caminhos, e sê sábio;
a qual, não tendo chefe
nem superintendente nem governador,
no verão faz a provisão do seu mantimento
e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa.
Até a formiga é sábia (leia astuta) a este respeito. Ela armazena provisões
no verão para o inverno. Se a formiga é prudente, certamente as pessoas
deveriam ser mais então.
Virtude na Vida Simples
A quinta razão para se poupar é que há virtude na moderação e na
simplicidade. Levaremos um longo tempo para rever este ponto, pois é necessário
estabelecer duas verdades colocadas em tensão na cosmovisão bíblica: as
Escrituras afirmam que as pessoas têm direito ao fruto de seu trabalho e que,
como cristãos, somos chamados a escolher um estilo de vida moderado,
procurando ser criadores, poupadores e doadores de riqueza, não apenas
consumidores dela.
Para entender nosso apelo a uma vida simples, é importante primeiro
reconhecer que Deus quer que a humanidade receba o fruto de nosso trabalho.
O princípio de que "o trabalhador merece o seu salário" (Lucas 10.7), ou como
traduz a versão King James: "o trabalhador é digno do seu salário", foi
estabelecido por Deus desde o início:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 205/373
Mordomia
1 219
E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para
o lavrar e o guardar. E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De
toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás. (Gn 2.15-17)
Nesses versos, naturalmente ouvimos o mandamento de Deus sobre que
o homem não deve comer. Mas eles também mostram que, com exceção de
uma árvore, o fruto de todas as outras é para que o alimento do homem. Este
está cultivando e guardando o jardim, e o fruto de seu trabalho é sua provisão.
Da mesma forma, Gênesis 1.29-30 registra:
Então Deus disse: "Eis que vos tenho dado todas as ervas que
produ-zem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem
como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para
mantimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todo
ser vivente que se arrasta sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes
como mantimento." E assim foi.
Aqui, também, vemos Deus ordenando que o trabalho da humanidade no
jardim os sustentaria. Ele fez as plantas com sementes. Se você plantar uma
semente, recebe de volta cem ou mil vezes mais. Deus fez o mundo para produzir
em abundância, provendo para a expansão da comunidade humana.
Deus confirmou a verdade de que o trabalhador merece o seu salário
nos mandamentos que deu a seu povo, por meio de Moisés, após tirá-los da
escravidão no Egito. O oitavo e o décimo mandamento são fundados no princípio
de que uma pessoa tem direito ao fruto de seu trabalho:
Não furtarás... Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás
a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi,
nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (Êx 20.15, 17)
Esses mandamentos estabelecem o direito da "propriedade privada".
Embora, em sentido absoluto, tudo pertença a Deus, as pessoas têm direito ao
fruto de seu trabalho. A propriedade privada é estar encarregado daquilo que
basicamente pertence a Deus.
Da mesma forma, o Novo Testamento também ensina que o trabalhador
é digno do seu salário. Tiago 5.4 diz: "Eis que o salário que fraudulentamente
retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama e os clamores
dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor Todo Poderoso". Uma pessoa
tem direito ao seu salário. Reter o salário de alguém é fraude e roubo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 206/373
220 I VOCAÇÃO:
E.s•orea mu a.s
.cinatura no unirory,
Enquanto a Bíblia afirma que ternos direito ao fruto de nosso trabalho e
que devemos apreciar a bondade das coisas físicas da criação de Deus, ela
também nos chama à moderação. A moderação estabelece um equilíbrio entre
idolatrar a riqueza (materialismo) e ser condenado à pobreza (animismo). Vemos
isso articulado em Provérbios 30.7-9:
Duas coisas te peço;
não mas negues, antes que morra
Alonga de mim a falsidade e a mentira;
não me dês nem a pobreza nem a riqueza:
dá-me .só o pão que me e necessário;
para que eu de farto não te negue,
e diga: Quem é o SENHOR.'
ou, empobrecendo, não venha a fitam;
e profane o nome de Deus.
"Não me dês nem a pobreza nem a riqueza". Existe um equilíbrio aqui.
Nem as riquezas, para que eu não reconheça a necessidade de Deus, nem a
pobreza, para que eu não desonre o nome do Senhor roubando. As Escrituras
estabelecem a meta de "adequação" - suficiência em todos os âmbitos da vida.
Ela chama para um estilo de vida simples, baseado em um ascetismo externo.
Alguns já chamaram isso de "teologia do suficiente".
Alguns veem a riqueza como um sinal do favor de Deus. Mas os re-
formadores e puritanos não. Ryken escreveu:
Será um choque para os céticos da ética protestante saber que os
protestantes originais viram uma relação inversa entre a riqueza e a
piedade. Dada sua posição como uma minoria muitas vezes perseguida,
os prilneims protestantes consideravam a perseguição e o sofrimento, não
um sucesso terreno, como o maior resultado provável da vida piedosa."
Isso reflete o pastor colonial Samuel Willard, que escreveu em A Com-
plete Body of Divinity: "Como as riquezas não são evidências do amor de Deus,
consequentemente, não é a pobreza evidência de sua raiva ou ódio"'". A pobreza
não indica desaprovação de Deus ou falta de fé, nem é a pobreza um sinal de
piedade, como diria o asceta. Nem a riqueza um sinal do favor de Deus. Cristãos
impactados por um sistema de valores materialistas têm idolatrado a riqueza
(servindo às riquezas), enquanto aqueles que se identificam com os pobres têm
romantizado a pobreza.
O equilíbrio está em apreciar o mundo material sem ter um relacio-
namento idólatra ou avarento com ele. Ternos que buscar um estilo de vida
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 207/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 208/373
222 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
desampararei
-
O Dr. Howard Hendricks, Presidente do Centro de Liderança
Cristã no Seminário Teológico de Dallas, comenta sobre o erro humano da
"ânsia pelo dinheiro como forma de obter o 'suficiente', em vez de ansiar por
Deus como o provedor do 'suficiente'"'. A questão aqui não é a renda, mas o
consumo. Trata-se de uma atitude e um estilo de vida de contentamento.
O que acontece quando as virtudes do trabalho duro e da economia são
praticadas? A riqueza, ou o "capital", é criada Mas a riqueza não é para o
consumo. Os princípios da moderação - uma vida simples e o contentamento -
definem o uso da riqueza. O que deve ser feito com toda essa riqueza? Ela
deve ser entregue para o avanço o reino.
DÊ TUDO O QUE PUDER: TRÊS RAZÕES PARA DOAR
A terceira parte do chamado de John Wesley é para doar: "Dê tudo o
que puder, ou, em outras palavras, dê tudo o que tem a Deus. Não se limite... a
esta ou aquela proporção. 'Dai a Deus', não um décimo, não um terço, não a
metade, mas tudo o que é de Deus, seja mais ou menos; empregando tudo em
si mesmo, em sua casa, em sua família da fé e em toda a humanidade, de tal
maneira que você possa dar boa conta de sua administração quando não mais
puder administrar""
Tudo o que temos, não só o capital criado pelo trabalho árduo e pela
economia, pertence a Deus, e deve ser empregado a serviço de Cristo e seu
reino. Wesley escreveu:
Quando o Possuidor dos céus e da terra o trouxe à existência, e o
co-locou neste mundo, ele o colocou aqui, não como proprietário, mas
como administrador. Como tal, ele confiou a você, por uma estação,
mercadorias de vários tipos, mas a propriedade exclusiva destas repousa
em si, não podendo ser alienadas dele. Assim como você não é dono de si
mesmo, mas dele, assim é, igualmente, com tudo o que você gosta. Assim a
sua alma e seu corpo, não são seus, mas de Deus... E ele disse a você, em
claros e expressos termos, como deve empregá-los para ele, de tal forma
que tudo seja um sacrifício santo, aceitável por meio de Cristo Jesus.
2 7
Como Wesley reconheceu, Deus é o dono de todas as coisas. Devemos
cultivar as virtudes da comunhão, da benevolência, da caridade, da generosidade
e da compaixão, e acabarmos com os vícios da avareza, da cobiça, da ganância
e do egoísmo. No centro da questão, o egoísmo impede o doar. "O egoísmo, em
seu pior ou inadequado sentido, é a essência da depravação humana, e isso o
coloca em oposição direta à benevolência, que é a essência do caráter divino.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 209/373
Mordonual
223
Como Deus é amor, logo o homem, em seu estado natural, é egoísmo"". Como
crentes, queremos uma atitude de sacrifício próprio em favor dos outros, não
sacrificar os outros em nosso favor. O foco bíblico, em todo o Antigo e o Novo
Testamento, é sempre externo para uma comunidade maior. As Escrituras
revelam três razões para se doar: a gratidão, o pragmatismo e a obediência.
Gratidão
A primeira razão para se doar é para agradecer a Deus por seu amor e
graça
2 9
. Ele nos tem dado o que não merecemos: a vida eterna e abundante. E
é misericordioso em não nos dar o que merecemos: a morte.
Como devemos responder a tal misericórdia e graça? Com gratidão O
apóstolo Paulo recorda-nos a resposta lógica à misericórdia de Deus em
Romanos 12.1: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apre-
senteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,
que é o vosso culto racional". É razoável. Paulo elogia a igreja da macedônia ao
escrever aos coríntios:
Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que ,foi
dada as igrejas da Macedônia; como, em muita prova de tribulação, a
abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas
da sua generosidade. (2 Co 8.1-2)
Paulo continua em 2 Coríntios 9.6-7:
Mas digo isto: Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e
a-quele que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada
um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por
constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria.
O ato de dar deve ser feito livremente e com alegria, como fruto de um
coração agradecido.
Pragmatismo
A segunda razão para dar é pragmática, fomos projetados para dar. Deus
é um Deus que serve3 0 . A própria natureza de seu amor revela sacrifício próprio'''.
E mais uma vez, somos feitos à sua imagem. Fomos criados para servir. Somos
mais completos e mais humanos quando compartilhamos com os outros.
Porque Deus revela em si a comunidade, nós fomos feitos para a
comunidade. Fomos feitos para nos conectar com outras pessoas. Sendo assim,
devemos olhar para fora, não só para nossos próprios interesses, mas também
para os interesses dos outros32.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 210/373
224 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Em Isaías 58, lemos que a nação de Israel está "deprimida". Ela está
fora do favor de Deus. Nos versículos 6-10, Deus dá sua receita para sair da
"escuridão":
"Acaso não é este o jejum que escolhi?
que soltes as ligaduras da impiedade
que desfaças as ataduras do jugo?
e que deixes ir livres os oprimidos
e despedaces todo jugo?
Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto,
e recolhas em casa os pobres desamparados?
vendo o nu. o cubras,
e não te escondas da tua carne?
Então romperá a tua luz como a alva
e a tua cura apressadamente brotará
e a tua justiça irá adiante de ti
e a glória do Senhor será a tua retaguarda.
Então clamarás, e o SENHOR te responderá
gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui.
"Se tirares do meio de ti o jugo,
o estender do dedo e o falar iniquamente;
e se abrires a tua alma ao faminto,
e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas,
e a tua escuridão será como o meio dia."
Por que Deus disse que, quando o povo de Israel alimentasse os famintos
e vestisse os nus, a sua luz nasceria das trevas? Porque eles foram concebidos
para dar. Se eles dessem aos outros, cumpririam um dos objetivos centrais de
suas vidas, afirmando a imagem de Deus dentro de si e nos outros.
Quando funcionamos com base em nosso projeto, a vida funciona melhor
do que quando tentamos negar nossa concepção. Quando damos, somos
abençoados e a comunidade é abençoada. Paulo nos lembra, em seu discurso
de despedida a seus amigos de Efésios: "Em tudo vos dei o exemplo de que
assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras
do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar
do que receber" (Atos 20.35).
Obediência ao Mandamento de Deus
A terceira razão para dar está fora da obediência ao mandamento de
Deus. Às vezes, na maioria das vezes, não agimos por gratidão. E às vezes não
agimos de certa forma porque é o melhor para nós. No entanto, Deus
providenciou uma rede de segurança para nos apanhar quando cairmos. Ele diz
que temos que dar "porque eu ordenei ".
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 211/373
Mordomia
225
Os cristãos geralmente citam as palavras de Jesus aos seus discípulos
em Mateus 26.11: "Porquanto os pobres sempre os tendes convosco". Muitos
cristãos tomam isso corno uma desculpa para não cuidar dos pobres e
necessitados, e poucos tiram um tempo para estudar a passagem a qual Jesus
estava se referindo em sua declaração. Ela vem de Deuteronômio 15.7-11,
onde Deus chama seu povo a dar generosamente aos pobres no meio deles. A
passagem termina com estas palavras: "Pois nunca deixará de haver pobres na
terra. Portanto, eu ordeno que você seja mão aberta com seus irmãos e para
com os pobres e necessitados na sua terra". Ao povo de Deus foi ordenado
cuidar dos pobres e necessitados. Não é uma opção. Os cristãos que interpretam
mal as palavras de Jesus a fim de servir seu próprio egoísmo falham em ouvir
o coração e o comando de Deus.
Foi dito pelo Dr. Larry Ward, o fundador da Christian Relief e da or-
ganização de desenvolvimento Food for the Hungry, que ninguém no mundo
havia visto mais rostos famintos do que ele. Certa vez, durante uma entrevista,
um repórter perguntou por que o Dr. Ward era tão fervoroso em ajudar os
pobres e famintos. "Será que foi porque você viu muitos famintos?", o repórter
perguntou. Larry Ward respondeu segurando sua Bíblia. Ele disse que foi por
causa deste livro. Do começo ao fim, a Bíblia fala de um Deus compassivo, que
ama os pobres e comanda seu povo a cuidar dos indigentes e famintos.
Logo, podemos dar os agradecimentos pela graça de Deus em nossas
vidas, pela razão pragmática na qual fomos criados para fazê-lo, ou por
obediência.
Wesley resume:
Rogo-vos, em nome tio Senhor Jesus, que ajam de acordo com a
dignidade da vossa vocação Chega de preguiça Tudo quanto vos vier à
mão para ,fazer, laçam-no com toda a vossa força Chega de desperdício
Cortem todos os gastos que a moda, o capricho ou carne e sangue pedem
Chega de ambição Mas empreguem o que Deus vos confiou em fazer o
bem, todo o bem possível, em todos os tipos e graus possíveis para com a
família da fé, para com todos os homens Esta não é uma pequena parte da
"sabedoria dos justos". Deem tudo o que tendes, bem como tudo o que sóis,
como um sacrifício espiritual a Ele que não vos poupou seu Filho, seu
único Filho."
Como Wesley e outros reformadores protestantes reconheceram, somos
chamados a viver como cidadãos econômicos do reino de Deus. Fomos feitos
não apenas para sermos seres espirituais, mas também para sermos seres
econômicos. Corno os cristãos antes de nós, abracemos a ética bíblica do
trabalho. Busquemos um estilo de vida de generosa compaixão.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 212/373
Capítulo 16
A ECONOM IA DA DOAÇÃO :
COMPAIXÃO GENEROSA
Entender a economia da doação - tantas vezes incompreendida - é vital
para que caminhemos em nossa vocação. Assim, antes de avançar com o
conceito bíblico de mordomia encontrado nas três regras de John Wesley, quero
debruçar-me sobre o tema da doação generosa.
DOAÇÃO: UM REFLEXO DO PLANO
ABRANGENTE DE DEUS
Lembrando que Deus tem um plano abrangente - nada menos do que
reconciliar todas as coisas consigo mesmo' e ver todas as nações trans-
formadas por meio do discipulado2
-, somos chamados a ser nada menos do
que os embaixadores de seu reino. É nosso privilégio e responsabilidade doar
de forma a refletir o abrangente plano de Deus.
RELAÇÕES
DEUS
HOMEM CRIAÇÃO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 213/373
228 1
VOCAÇÃO:
Escreva sue as•cinutura no universo
Há três relacionamentos que estão na essência de nossa doação. De-
vemos dar a Deus na adoração. à criação na mordomia e ao próximo na cari-
dade.
O HOMEM E SUAS RELAÇÕES
ADORAR
A DEUS
CUIDAR
DA CRIAcAO
AMAR
O HOMEM
A Deus em Adoração
Paulo escreve sobre a doação generosa dos macedônios à igreja em
Jerusalém, apesar de sua própria pobreza: "E não somente fizeram como nós
esperávamos, mas primeiramente a si mesmos se deram ao Senhor, e a nós
pela vontade de Deus" (2 Co 8.5).
O puritano Richard Baxter escreveu:
Escolha o emprego ou a vocação... no qual você possa ser mais útil
a Deus. Não escolha aquela na qual você pode ser mais rico Ou honrado
no mundo. mas aquela em que você mais possa faz,er o bem e fugir do
pecado.'
Que visão maravilhosa Temos que escolher o trabalho que nos permita
maximizar nossa utilidade para Deus, e que nos permita uma maior oportunidade
para fazer o bem a toda a comunidade. Nosso trabalho deve ser tal que não nos
tente ao consumo excessivo, mas que facilite nossa doação ao reino de Deus.
Trabalhamos por dinheiro? Ou trabalhamos para o reino? Estamos "promovendo
o reino" em nosso trabalho para fazer o melhor para o reino?
À Criação na Mordomia
Vimos que a cruz de Cristo restaurou o mandato da criação. Nosso trabalho
e
doação destinam-se à administração da criação, primeiro em não fazer o mal
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 214/373
A economia (1,1 doação
1229
e segundo em reverter o mal natural. A criação aguarda "a revelação dos filhos
de Deus" para a "liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.19,21). Nosso
tempo, talentos, recursos e estilo de vida devem refletir nossa administração da
criação.
À Comunidade na Caridade
Por estarmos, por meio da criação, relacionados com a comunidade maior,
temos a responsabilidade de levar a cultura do reino - verdade, justiça e beleza
- para dentro dela. Cristo colocou os interesses dos outros antes de seus próprios.
e somos chamados a seguir seu exemplo'. Quando Jesus retornar, ele julgará o
quão bem nos importamos com a sociedade em geral por meio de nosso trabalho.
bem como por seus frutos'.
O puritano William Perkins escreveu:
O principal fim de nossas vidas... é servir a Deus servindo aos
homens nas obras de noss os chamados... Alguns homens talvez digam: O
que? Não devemos trabalhar em nossos chamados para manter nossas
famílias? Eu respondo: isso deve ser feito, mas este não é o escopo nem a
finalidade de nossas vidas. Sua principal finalidade é
. lazer o serviço para
Deus servindo ao homem'
Foi isso que o Dr. Bob Moffitt, da Fundação Harvest, chamou de
"Mínimo Irredutível". Se analisarmos os mandamentos de Deus até sua essência,
o mínimo irredutível é que demonstramos nosso amor e serviço a Deus amando
e servindo as pessoas. O apóstolo João captura uma parte disso em 1 João
3.17-18: "Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando.
lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos,
não amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e
em verdade".
O príncipe dos pregadores, Charles Haddon Spurgeon, disse:
A intenção de Deus em munir qualquer pessoa com mais substância
do que ela precisa é para que ela tenha o prazeroso trabalho, ou melhor,
o maravilhoso privilégio, de aliviar a carência e a aflição.'
Quando damos a Deus em adoração, à criação na mordomia, e a nossa
comunidade na caridade, participamos da grande amplitude do plano de Deus.
Ao longo deste livro, temos explorado nossa vida de trabalho tanto como culto
quanto como mordomia. Aqui nos concentraremos na caridade - a generosa
doação à comunidade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 215/373
230 1
VOCAÇÃO: Escreva .sua (i.S.Sillafut no universo
A DOAÇÃO DEVE BASEAR-SE NA
REALIDADE
Vivemos em um universo com limites morais e metafísicos. O universo
é moral, e assim temos a responsabilidade de sermos tanto "guardiões de nosso
irmão" corno administradores da criação. Isso contrasta com a visão amoral
tanto do secularismo como do animismo.
O universo também é um sistema aberto. É aberto à intervenção de
Deus, seu Criador, bem como à intervenção dos anjos, demônios e do homem.
Pelo fato de os seres humanos terem mentes para descobrir e resolver
problemas. e corações para imaginar e inventar, e por serem agentes morais
livres', os recursos são, em primeiro lugar, um fator das habilidades humanas,
produto da imaginação humana e da mordomia moral"
.
O conceito bíblico de que os recursos são, em primeiro lugar, um fator da
capacidade humana está em contraste com o secularismo, ou naturalismo, em
que não há Deus, nem anjos, nem demônios. No secularismo, o homem é apenas
um ser biológico, um animal - parte da grande "máquina cósmica". Ele é um
consumidor de recursos. Não há realidade transcendente. A natureza é tudo o
que existe. Assim, o universo é um "sistema fechado". Nesse paradigma, os
recursos são limitados: finitos. A "torta" econômica é fixa - soma zero". Como
existem cada vez mais pessoas na Terra para compartilhar da torta, seus pedaços
ficam cada vez menores.
A maioria dos sistemas modernos de doação é baseada nessa premissa
materialista. Neste paradigma, como se ajuda aos pobres? O que resta para
nós é simplesmente dividir as fatias da torta. Se a fatia da torta de uma pessoa
ou uma nação é grande, então a dos outros é necessariamente menor. De
acordo com esse pensamento, a razão pela qual os pobres são pobres é porque
os ricos têm muito da torta. A maneira de ajudar os pobres é redistribuindo a
torta dos ricos aos pobres. Quando comecei meu trabalho com a Food for the
Hungry, em 1981, esse foi o modelo que considerei para resolver os problemas
da fome e da pobreza.
Mas a visão bíblica da economia - que nasceu tanto de estudos bíblicos
quanto do que experimentei em várias nações no campo - mostra um universo
aberto. Por Deus haver criado o universo, este está "aberto" a sua intervenção.
Também está aberto à intrusão de anjos, demônios e seres humanos. A criação
física é regida por leis físicas, mas Deus, os anjos, os demônios e toda a
humanidade podem impactar este mundo com suas decisões e ações. Por
causa disso, a economia é um sistema de soma positiva (pense no princípio da
semente em que uma vasta e interminável colheita é gerada a partir de uma
única semente). A riqueza não é fixa, ela é criada. Nesse sistema aberto, os
recursos são criados e descobertos e, assim, a riqueza pode crescer
exponencialmente.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 216/373
economa da doação 1 1 3 1
Para sermos eficazes em nossa administração, como cristãos, precisamos
rejeitar a visão naturalista do universo em favor de nosso chamado ao mandato
cultural e ser subcriadores, extraindo o potencial latente da criação de Deus.
Precisamos aceitar a evidência bíblica e prática de que a supervisão da família
de Deus não é análoga a dividir pedaços de urna torta finita.
Da mesma forma, em nossa era consumista, precisamos ouvir que a
natureza aberta do universo não significa que podemos nos dar ao luxo de
sermos irresponsáveis ou egoístas com os recursos que Deus confiou à nossa
administração. Há uma razão para que muitas pessoas estejam preocupadas
em dividir a torta: estamos certos em nos preocupar com os outros; estamos
certos em querer que todas as pessoas compartilhem da abundância da criação
de Deus. Essa preocupação com a justiça e o bem-estar dos outros é o âmago
da verdade no defeituoso paradigma da "torta".
Talvez um gráfico ajude a explicar o que estou dizendo.
FILOSOFIA ECONÔMICA
SISTEMA ABERTO SISTEMA FECHADO
U
V
O
O
R
OIKONOMIA
OCIALISMO
(MORDOMIA DEALISTA
DA CRIACÃO) UNIVERSO
MECÂNICO
MATERIAL)
_ J
o
• CAPITALISMO OMUNISMO
•
PREDATÓRIO
LÁSSICO
ln
(CONSUMISMO
CONTROLE
• HEDONISTA) NSTITUCIONALIZADO)
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 217/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 218/373
economa da doação 1 23 3
um consistente paradigma ateísta-materialista. O universo é fechado e não há
nenhuma restrição moral. Este regime está alinhado ao darwinismo social - a
sobrevivência do mais forte. E tem tudo a ver com o poder. Vemos modelos
fracassados no Terceiro Reich na Alemanha e no marxismo da União Soviética.
A segunda posição consistente é o que a Bíblia e os antigos conheciam
como oikonomia; podendo ser chamada de economia da mordomia do teísmo
bíblico. O sistema é ab erto e o universo é mo ral. Portanto, somo s de filio guardiões
de nossos irmãos e recebemos a ordem de sermos administradores morais da
criação de Deus.
Dissemos anteriormente que a economia é a gestão inteligente da
família de Deus com a imaginação e a gestão dos recursos dentro dos
limites das leis de Deus. Isso significa que existem restrições morais sobre
a forma corno ganhamos e usamos a riqueza. Na economia de Deus, a
obtenção de riquezas precisa acontecer na perspectiva dos cuidados com
a criação, e seu uso deve acontecer na perspectiva do cuidado com a
grande comunidade. É importante ouvirmos isso em meio a nossa cultura
materialista.
Será que ganhamos dinheiro e outros recursos de forma honesta e sem
prejudicar a nós mesmos, nossos familiares, vizinhos e ao meio ambiente? E
será que gastamos o que ganhamos com nós mesmos ou incluímos outros em
nossa generosidade, por amor a Cristo e seu reino?
Como devemos considerar as pessoas pobres quando nos pusermos a
compartilhar nossos ganhos? Como todos os seres humanos são criados à
imagem de Deus, eles não são apenas bocas a se alimentar; são pessoas, com
mentes e corações, prontas a receberem a oportunidade de alcançar o potencial
dado por Deus corno desenvolvedores de suas comunidades, criadores da cultura
divina. Eles podem utilizar seus corações
e
mentes para criar sua própria
recompensa e exercitar a mordomia moral compartilhando a recompensa com
seus vizinhos e cuidando da criação.
Ao desenvolvermos nossos ministérios ou criarmos instituições de
caridade ou praticarmos a caridade pessoal de cuidar do próximo, estamos
buscando conscientemente viver na realidade de um sistema aberto e um universo
moral?
PRINCÍPIOS
DA COMPAIXÃO
É
um axioma dizer que o caráter de Deus informa todas as coisas boas
da vida. Quando pensamos em articular os princípios da generosidade, não
precisamos observar mais nada além de seu caráter. A natureza de Deus sempre
deve
informar os princípios do ministério.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 219/373
234 1 VOCAÇÃO:
Escreva .,71,1 assinatura no universo
Um dos livros que se revelou fundamental em minha própria jornada de
compreensão foi o do Dr. Marvin Olasky The Tragedy of American Compas-
sion''. Olasky relata como o conceito americano de compaixão mudou ao sairmos
de uma cosmovisão bíblica para uma cosmovisão ateísta-materialista. O livro
de Olasky tem sido um dos profundos formadores de meu próprio pensamento.
Um dos capítulos do livro é intitulado "Sete Marcas da Compaixão", e mostra
os princípios de uma antiga geração de trabalhadores que funcionavam a partir
de um paradigma bíblico.
Daniel A. Bazikian escreveu uma crítica sobre o livro do Dr. Olasky
para a Foundation for Economic Education. Sua crítica resume as sete marcas
derivadas dos princípios bíblicos:
"As Sete Marcas da Compaixão" constitui o cerne do estudo [de O-
lasky] e de sua crítica. Sete ideias básicas motivaram os trabalhadores da
caridade cem anos atrás: ,filiação, que é manter a família do indivíduo, a
religião ou os fortes laços comunitários, de modo a reforçar seu sentido de
pertencer a algo: ligação, ou o desenvolvimento de uma estreita relação
pessoal entre o voluntário da caridade e o destinatário, a fim de persuadir
e incentivar o último a um status de autossuficiência; categorização, ou a
atribuição de indivíduos às diferentes categorias de necessidade (por
exemplo, a necessidade de ajuda permanente, ajuda temporária, auxílio
na busca de um emprego, ou apenas a designação de alguém como
impróprio à assistência devido à falta de vontade de trabalhar); com isso
veio o discernimento, a vontade de separar os objetos dignos de caridade
daqueles fraudulentos; buscando a meta do emprego de longo prazo a
todos os chefes tio lar fisicamente capazes, de modo a incutir a
autosstificiência e a responsabilidade no indivíduo; enfatizando a
liberdade, ou a capacidade de trabalhar sem as restrições governamentais,
ele modo a melhorar sua sorte na vida cio longo de um período de tempo;
e, finalmente, reconhecendo a relação da pessoa com Deus, já que homens
e mulheres tinham necessidades espirituais bem como físicas.
A presença desses princípios deu à caridade tradicional sua grande
força. Por outro lado, sua ausência na caridade contemporânea explica a
pobreza espiritual e moral da compaixão americana e suas trágicas
consequências sociais: o declínio da mobilidade ascendente dos pobres,
o estado enfraquecido da caridade privada e o estado de desintegração
do casamento. Estes princípios, que Olaskv sustenta, precisam ser
reinseridos e reintegrados elll programas de ajuda aos pobres.'
Como povo de Deus, não participaremos da tragédia que Olasky descreve.
Devemos ser um povo de compaixão, e é importante articularmos e aplicarmos
princípios bíblicos de compaixão, pois os povos, as culturas e as instituições de
caridade tornam-se como o Deus ou os deus(es) a quem eles adoram.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 220/373
A economia da doação
1 235
A fonte de compaixão é o coração de Deus. De fato, pode-se dizer que
um mundo sem Cristo é um mundo com compaixão limitada. Deus manifestou
sua compaixão na encarnação, quando Cristo, o servo sofredor, "juntou-se" ao
povo em sua necessidade.
O Conde Zinzendorf, que liderou a renovação de influência morávia na
Alemanha do século XVIII, foi estimulado pela obra de Domênico Feti Ecce
Homo, "Eis o Homem". A pintura retrata Cristo usando sua coroa de espinhos
diante de Pilatos e do povo judeu. Sob a famosa obra foi inscrita a expressão:
"Isto eu fiz por ti. que fizeste por mim?". A partir do momento em que leu essas
palavras, Zinzendorf adotou como lema de vida: "Tenho uma única paixão, Jesus.
Ele e somente Ele"
4 .
Quando li isso pela primeira vez, fui profundamente tocado. Como faço
para responder à pergunta: "Isso eu fiz por ti, que fizeste por mim?".
Os cristãos, reconhecendo que são feitos à imagem de Deus, e em
gratidão pela compaixão de Deus, são chamados a "sofrer com" aqueles em
necessidade. Deus escolhe manifestar sua compaixão por meio de seu povo. A
Bíblia está repleta de admoestações para representar a extravagante compaixão
de Deus, não apenas dando dinheiro, mas também se identificando com os
pobres e servindo-os. Exemplos não faltam. Lemos em Isaías 58.6-7:
Acaso não é este o jejum q ue escolhi?
que soltes as ligaduras da impiedade
que desfaças as ataduras do jugo...?
que repartas o teu pão com o faminto,
e recolhas em casa os pobres desamparados?
que rendo o nu, o cubras
e não te escondas da tua carne?
A conhecida história do Bom Samaritano, em Lucas 10 é também uni
retrato perfeito da compaixão que Deus deseja ver em seu povo. Essa passagem
muda a palavra próximo de substantivo para verbo".
Em Mateus 25.34-36, Jesus reforça a necessidade dos cristãos agirem
com bondade ao descrever o que estará procurando ao retornar:
Então dirá o R ei aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos
de meu P ai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo; p orque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me
destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e
171C
vestistes;
adoeci, e me visitastes; estava na prisão e Mies ver-me."
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 221/373
236 1
VOCAÇÃO: Escreva sua a.ssinauura nn wiircr.so
Quando vivemos a compaixão de Cristo, o resultado é impressionante.
Durante o século III. o imperador Juliano reconheceu que os primeiros cristãos
eram urna nova raça de pessoas. A compaixão não existia como um conceito
110 mundo greco-romano até os cristãos chegarem. Juliano escreveu:
[A
fé cristã tem avançado especialmente por meio do serviço
amoroso prestado a estranhos, e de seus cuidados para com o enterro dos
mortos. E um e.scandalo que não haja um único judeu que seja mendigo, e
que os ímpios galileus cuidem não apenas de seus próprios pobres, mas
também dos
nossos,
enquanto aqueles que pertencem a nós buscam em
vão pela ajuda que devemos dar a eles.'
Podemos ser inspirados pela história da doação generosa do comer-
ciante Stephen Girard da Filadélfia, em 1790, como relatado por Marvin Olasky:
Nascido na França em 1750, Girard saiu de casa ainda menino,
viajou por 12 de anos, instalou-se na Filadélfia, no início da Revolução,
e acumulou uma fortuna no negócio com transportes durante as duas
décadas seguintes. Mas foi sua obra durante a epidemia de febre amarela
de 1793, em ve: de seu talento para negócios, que lhe rendeu grande
renome. Girard, que recebera exposição prévia à doença, encarregou-se
de pagar contas de um hospital durante a epidemia. Mas também passou
mese.s tratando os presos e fornecendo alimentos e combustível aos doentes
e .sua.slamílias. Mais tarde, ele colocou muitos órfãos em sua própria casa,
e, após sua morte, deixou um legado que estabeleceu lana escola para
meninos órfãos carentes.'
Cada uma dessas passagens e exemplos reflete que devemos doar -
nosso tempo e talento - bem como nosso tesouro. A compaixão de Deus fez
grandes exigências a ele, que sacrificou seu próprio filho. A generosidade da
compaixão não é medida pela quantidade dinheiro doada, mas pelas
admoestações das Escrituras que representam a extravagante compaixão de
Deus por se identificar com os pobres e servir a eles. Como o professor Robert
Thompson. da Universidade da Pensilvânia, escreveu no final do século XIX:
Você pode julgar a escala em que qualquer sistema de ajuda aos
necessitados baseado nesta única qualidade: Ela ,fà: grandes exigências
aos homens de doarem-se a seus irmãos?'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 222/373
A economia da doação 1 237
LIÇÕES DO LIVRO DE RUTE
Finalmente tiraremos uma lição da Bíblia sobre como podemos ajudar
aos necessitados. A história de Rute e Boaz demonstra lindamente a dádiva
bíblica:
Também à hora de comer, disse-lhe Boaz: "Achega-te. Come do pão e
molha o teu bocado no vinagre". E, sentando-se ela ao lado dos segadores, ele
lhe ofereceu grão tostado. E ela comeu e ficou satisfeita, e ainda lhe sobejou.
Quando ela se levantou para respigar, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo:
Até entre os molhos deixai-a respirar, e não a censureis. Também, tirai dos
molhos algumas espigas e deixai-as ficar, para que as colha, e não a repreendais."
(Rute 2.14-16)
A moabita Rute estava entre as mais pobres dos pobres de sua época.
Durante urna grande fome em Israel, a família de seu marido havia fugido
como refugiados para Moabe, onde ela se juntou à família. Após cerca de dez
anos, o marido, o sogro e o cunhado de Rute morreram, e Rute acompanhou
sua sogra, Noemi, em sua volta para Israel.
Nessa terra estrangeira, Rute chegou destituída a casa de Boaz. É de se
notar que Boaz tratou dela pessoalmente, corno um ser humano. Ele a convidou
para comer em sua casa. Após a refeição, ele planejou provisões para Rute e
Noemi. A maneira como ele fez isso é muito instrutiva. Nossa dignidade está
ligada ao nosso trabalho. Se você tirar uma pessoa de seu trabalho, você tira
dela sua dignidade. Assim Boaz seguiu o comando' de Deus para os proprietários
de deixarem as margens sem sega - uma colheita para os pobres apanharem.
Em vez de fazer a coisa mais fácil para ele e Rute (fazer que seus operários
trouxessem os feixes de grãos colhidos para dar a ela), Boaz escolheu permitir
que Rute trabalhasse para seu sustento. Ele instruiu seus trabalhadores a retornar
ao campo e "retirar algumas hastes para ela a partir dos feixes e deixá-los para
ela pegar". Boaz estava preocupado com a saúde física de Rute, mas também
com sua dignidade. Se ele a despisse disso, na verdade, ele a deixaria em maior
pobreza.
Essa parte da maravilhosa e doce história de Rute ilustra um dos princípios
de compaixão de Deus: que os pobres devem receber cuidados, mas também
que sua dignidade deve ser preservada na provisão.
Gravemos esses princípios bíblicos firmemente em nossas mentes ao
consideramos nosso papel como doadores de compaixão, uma marca da vida
de trabalho de um cristão.
Voltemos agora nossa atenção ao potencial de nossa vocação para o
avanço do reino de Deus, em nossas comunidades e nações, por meio de nossa
participação nos domínios da sociedade: os campos inspiradores aos quais
podemos ser chamados, tais corno negócios, artes, educação e ciência.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 223/373
P A RT E 6:
N O M U ND O
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 224/373
Capítulo 17
O REINO AVANÇ A DE
DENTRO PARA FORA
Os reinos deste mundo expandem seus territórios por meio de guerras,
derramamento de sangue e colonialismo. Diferente deste mundo, o reino de
Deus não invade um país militarmente para impor sua cultura divina - ou seja,
uma cultura que reflete a verdadeira natureza de Deus e de sua criação.
Uma citação atribuída ao novelista russo Alexander Solzhenitsyn nos faz
lembrar daquilo que a Bíblia deixa claro': "A linha entre o bem e o mal não é
traçada entre nações ou partidos, mas em cada coração humano". Nós não
veremos sociedades transformadas até que vejamos os corações humanos
transformados. Jesus ilustrou em sua conversa com o intrigado Nicodemos:
"Em verdade te digo, quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus"
(João 3.3).
A transformação das nações acontece na medida em que crentes de
todas as origens obedecem às ordenanças de Deus, amam seus próximos, servem
suas comunidades, se engajam no mercado das ideias, e compartilham em
palavras e ações as boas novas de Jesus Cristo. Essas palavras e ações criam
uma oportunidade para que os indivíduos e, no final, as comunidades e nações,
tornem-se uma força em prol do reino de Deus.
A transformação de um indivíduo causa impacto fora dele, por meio das
instituições da família e da igreja, chegando até as estruturas e instituições das
comunidades, nações, e, eventualmente, do mundo. Jesus ilustrou um quadro
da extensão expansiva, inspiradora e transformadora do reino ao compará-lo
com o fermento: "O reino de Deus é como o fermento que uma mulher pegou
e misturou com uma grande quantidade de trigo, até que ele levedou toda a
massa" (Mateus 13.33). Cada um de nós está ligado a esta transformação
misteriosa.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 225/373
242 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua trssilullIal 110
universo
Ao considerarmos tanto o contexto quanto a substância da obra que
desenvolvemos na vida, podemos imaginar qualquer cultura como uma série de
círculos concêntricos. O círculo mais interior é o coração e a mente humana.
Os círculos ao redor deste representam, nesta ordem, a família, a igreja, a
nação e o mundo.
O PROCESSO DE AVANÇO DO REINO
/N
ipi
vi
Du
0
Fg
MÍLlA
C°14
U
N
I
AD
E (
IGREJA S
AlCÃo
MUNDO
O CORAÇÃO HUMANO
A primeira batalha para o avanço do reino de Deus, e também a mais
fundamental, acontece dentro do coração humano. Alguém já disse que "as leis
de Deus devem estar escritas no coração do indivíduo, e então, nas tábuas de
pedra das instituições da sociedade'. Quando uma guerra é travada, o exército
que vai ao ataque precisa determinar o primeiro ponto de combate. Na narrativa
do Velho Testamento acerca da conquista de Canaã, o ponto inicial da invasão
foi na batalha de Jericó. A ofensiva para conquistar o coração de uma nação
começa com a batalha para conquistar o coração dos cidadãos individualmente.
Nós observamos isto no fato de que o próprio Jesus Cristo invade o coração e
nos chama a uma nova natureza' e uma nova ordem - o reino de Deus. É a
obra do Espírito Santo e a atratividade das ações e palavras dos crentes que
são a chave para a abertura dos corações humanos.
Deus se utiliza de muitas maneiras para alcançar o coração humano,
mas é importante lembrar que, na maioria dos contextos, a entrada para o
coração humano acontece por meio da demonstração do amor de Deus, que
representa nada menos do que nosso serviço ao próprio Cristo
4
. Estamos
buscando o avanço do reino de Deus? Então, precisamos ir ao lugar onde as
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 226/373
O reino avança de dentro para foral
243
pessoas estão feridas. Deus é um Deus de compaixão. Ele quer se encontrar
com as pessoas no lugar onde elas estão sangrando. Esse é o significado da
estratégia samaritana - o plano de Deus para que seu povo mostre compaixão
às pessoas em seu ponto de necessidade'.
Outro ponto crítico da atratividade do crente é manifestar a cultura do
reino - verdade, beleza e justiça. As pessoas que estão escravizadas pela
ignorância e por mentiras esperam por alguém que traga a verdade e o
conhecimento a elas. As pessoas que estão cercadas pelas trevas e pela
monotonia desejam ver a beleza. E as pessoas que estão esmagadas pelo peso
da corrupção desejam a justiça. A chave para entrar no coração humano é
demonstrar o amor de Deus e manifestar Sua verdade, beleza e justiça.
Uma vez que nossos corações foram regenerados pelo poder do Espírito
Santo - uma vez que "nascemos de novo" - devemos receber a oportunidade de
entrar na "Escola Bíblica" de Deus. O chamado ao arrependimento é o chamado
para ser (literalmente) liberto na mente das "filosofias e vãs sutilezas, segundo
a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo"
(Cl 2.8). Somos chamados a amar a Deus não apenas com todo o nosso coração
(emoções), mas também com toda a nossa mente. O apóstolo Paulo nos lembra:
"E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente" (Rm 12.2). Nós devemos iniciar o processo, que durará a vida
inteira, de conscientemente desvelar as suposições que não se alinham à Palavra
de Deus e substituí-las pela verdade bíblica. O comportamento humano só
mudará quando nossas mentes forem transformadas pela cosmovisão bíblica.
Haverá transformação nas famílias e sociedades quando a mente e o
comportamento humano estiverem voltados para Deus.
Pessoas em todo o mundo anseiam por comunidades e nações que reflitam
a justiça, a beleza e a verdade. Mas não é possível haver justiça na comunidade
até que o conceito de justiça esteja na mente das pessoas. Não é possível haver
beleza até que ela esteja no coração. E não é possível haver verdade até que
ela esteja na mente. As pessoas anseiam por ver suas comunidades e nações
se desenvolvendo. Mas esse desenvolvimento ocorre quando há uma renovação
nos corações e nas mentes de uma massa crítica de pessoas - renovação esta
que encontrará naturalmente seu caminho à sociedade.
Em toda sociedade, há três instituições fundamentais: a família, a igreja e
o governo civil. Observaremos a família e a igreja neste capítulo e examinaremos
o governo no capítulo 19.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 227/373
244 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
A FAMÍLIA
A família é a primeira instituição fundamental de Deus. Ela existe para
cumprir, de duas formas, o mandato da criação dado em Gênesis. A primeira é
a função social do mandato - encher a Terra com carregadores da imagem de
Deus, criar grandes famílias, comunidades e finalmente nações. A segunda é a
função do desenvolvimento do mandato - ser mordomo sobre a criação.
É responsabilidade dos pais, não do estado, nutrir e educar seus filhos,
preparando-os pa ra viver como cidadãos livres e produtivos na sociedade Tal educação
deve alimentar a alma por meio do desenvolvimento do intelecto a fim de que seja
inquisitivo e inovador. Os p ais preparam o coração de seus filhos para a criatividade e
a vontade deles para a virtude. Os pais têm a ma ravilhosa opo rtunidade de mo ldar a
próxima geração de cidadãos e líderes de uma nação. Se os pais forem b em-sucedidos
nisto, a família será sã e as nações prosperarão moral e materialmente. Haverá paz
social, suficiência econôm ica e justiça cívica. Se a família não fo r sã, a sociedade se
tornará progressivamente disfuncional, corrupta e empobrecida.
O mundo ocidental moderno é dominado tanto pelo individualismo quanto
pelo egocentrismo. Por causa disso, vemos, em um nível menor, a desintegração
da família e, a nível nacional, o crescimento de um movimento "anti-materno"
que tem gerado um suicídio cultural em muitas nações europeias°.
Logo, se queremos ver uma nação transformada, é necessário começar
com a transformação interna dos indivíduos e então prosseguir para a
transformação da família imediata e da família como um todo. Partindo daí, há
uma próxima instituição fundamental, a comunidade de crentes, a igreja.
A IGREJA
A igreja é a comunidade escolhida por Deus, selecionada para avançar
seu reino na Terra. Diferente do governo, que deve "manusear a espada" -
proteger a nação e promover a paz e a justiça social - a igreja deve usar a
"espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6.17). Ela é o agente essencial
de Deus para o desenvolvimento de comunidades e a formação de nações.
A missão da Igreja é conduzir a humanidadea seu destino final,
revelando o plano oculto de Deus através dos séculos. O apóstolo Paulo fala
dos mistérios dos tempos, o propósito divino da igreja.
Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do
mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos
dos homens... A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo
corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui
feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me
foi dado segundo a
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 228/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 229/373
PREGAR À
TODA CRIAÇÃO
Ir
FAZEI 1
DISCÍPULOS
DE TODAS r
1
AS NAÇÕES
6
O
ATÉ OS
CONFINS
DA TERRA
246 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
e até os "confins da terra ' ' . Este é um chamado à com issão
geográfica
do evangelho
de viajar ao redor do mundo. Ela é uma perspectiva horizontal da Grande Comissão.
Em Mateus 28.18-20, há um foco diferente: "fazei discípulos de todas as
nações". Observe que o foco aqui não são as almas individuais. A palavra
grega para nações é
ethne;
ela significa grupo de pessoas ou grupo étnico.
Observe também que não é dito "evangelize"; mas "fazei discípulos". É claro
que o evangelismo por vezes precede o discipulado; no entanto, é possível
evangelizar as pessoas e nunca discipulá-Ias. Aqui Deus está nos dizendo para
discipularmos as nações. O evangelho não deve apenas ir até os confins da
Terra, mas deve penetrar as culturas. Este é o aspecto vertical da Grande
Comissão; o componente
demográfico
do mandato. Discutiremos mais sobre
isso a frente.
O Evangelho de Marcos tem uma perspectiva muito diferente. Aqui Cristo
nos diz para "pregarmos as boas novas a toda a
criatura "(a toda a criação)8
.
Novamente, nada é dito sobre almas; além de não haver referência a nações
também. Esta é a palavra grega
ktisis -
criatura ou criação. Podemos adotar o
termo ktisisográfico
para descrever essa perspectiva da Grande Comissão. Deus
está interessado em toda a sua criação. Lembre-se Cristo morreu para reconciliar
todas as coisas a si mesmo". Paulo nos lembra disso ao dizer que toda a criação
aguarda a redenção'". O apóstolo João diz isso desta forma: "Porque Deus amou o
mundo
[kosmos - universo]
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito" (Jo 3 .16).
Assim, quando pensamos na Grande Comissão, devemos entender que
ela é um mandato abrangente que vai até os confins da Terra, penetra as culturas
e traz boas novas a toda a criação.
TIRES DIMENSÕES DA
GRANDE COMISSÃO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 230/373
O reino avança (k dentro para Iara I 247
Todos os Domínios da Sociedade
No último passo do desenvolvimento do reino de Deus, queremos voltar
e focar no componente vertical da Grande Comissão. Como a igreja discipula
uma nação? Ela penetra a cultura da nação com a cultura do reino - verdade,
beleza e bondade. Ela traz ordem e princípios bíblicos a todas as esferas da
sociedade. Isso é feito na medida em que o povo de Deus vive coram Deo -
perante a face de Deus - em todas as áreas de suas vidas. Enquanto isso
acontece, a cosmovisão bíblica flui por meio da igreja para o mundo. Como
crentes, nosso comprometimento com o mundo é determinado a uma larga
extensão por nossos chamados específicos na vida - nossas vocações. Nós
temos a oportunidade de examinar nossas vidas, entender nossos dons, e
reconhecer as oportunidades dadas por Deus para exercitá-los para o avanço
de seu reino. A maioria dos cristãos será chamado a pequenas esferas, onde
exercerão algum tipo de influência. Pela graça de Deus, temos a habilidade de
amadurecer em nossas habilidades para a glória de Cristo e seu reino.
Cada área vocacional válida oferece oportunidades únicas ao avanço do
reino de Deus. Cristãos envolvidos na política e com a legislação podem
reconhecer a Deus como a autoridade suprema e a suas leis como superiores a
todas as outras. Os cristãos nos negócios podem trabalhar com honestidade e
integridade. Os médicos cristãos podem defender a inviolabilidade da vida
humana e trazer curar a seus pacientes. Os artistas cristãos podem refletir a
natureza de Deus e a glória de sua criação por meio da arte. Os cristãos
envolvidos na ciência podem buscar entender as complexidades da ordem criada
por Deus e desenvolver inovações para ajudar a combater a fome e as doenças.
Em todos os casos, os cristãos devem ser cidadãos buscando oportunidades de
oferecer liderança e serviço na vizinhança e na comunidade, e assim representar
a cultura do reino de Deus da forma correta. Alguns cristãos trarão reforma
institucional por meio de suas vocações - reforma esta que consiste com o
reino de Deus. Outros responderão ao chamado de Deus de confrontar o mal
institucionalizado em suas culturas. Em todos os casos, as atividades dos cristãos
devem estar relacionadas à mensagem e ao poder do evangelho e ao
entendimento de que o reino avança de "dentro para fora"".
Onde podemos ser agentes da mudança social? As possibilidades são
praticamente infinitas. Lembre-se do que disse Dallas Willard, o qual lemos
anteriormente:
Se ele viesse hoje em dia como veio no passado, poderia cumprir
sua missão por meio de qualquer ocupação decente e útil. Ele poderia ser
assistente ou contador em uma loja de eletrônicos, um técnico de
computadores, um banqueiro, um editor, um médico, um garçom, um pro-
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 231/373
248 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
fessor, uni empregado de fazenda, um técnico laboratorista ou um
trabalhador da construção civil. Ele poderia administrar um serviço de
faxina doméstica ou consertar automóveis.
Em outras palavras, se ele viesse hoje, poderia muito bem fazer o
que você faz. Poderia muito bem morar em seu apartamento ou casa e Zer
o seu emprego.'
No próximo capítulo, extrairemos sabedoria das Escrituras para vivermos
nossos chamados nos "portões da cidade", e, nos capítulos 19 e 20, exploraremos
o vasto potencial para um trabalho significativo, vivificador e transformador
nos domínios modernos.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 232/373
Capítulo /8
AS PORTAS DA CIDADE
Como vimos, a obra de redenção de Deus - o avanço do seu reino -
trabalha de dentro para fora. Como o fermento, trabalhando sua maneira
transformadora todo o caminho através da massa, a transformação do coração
e da mente de um indivíduo feita por Deus, trabalha o seu caminho externo para
a família, na igreja de Cristo, e através da igreja para o mundo em geral.
ASSUMINDO A RESPONSABILIDADE PELAS PORTAS
Adotando uma metáfora (e uma realidade) desde os tempos bíblicos, o
conceito de "Portas da cidade" expressa o ambiente da nossa vocação. Como
cidadãos do reino de Deus, devemos ocupar as portas das nossas cidades,
como seus administradores, com a nossa vocação. Para nós, o propósito de
administrar a entrada na porta não é para comandar e controlar a sociedade.
Pelo contrário, o objetivo é enviar os servos líderes ao mercado de trabalho e à
praça pública para levar a verdade, beleza e justiça em nossas sociedades. Ao
ocupar os seus portões, o reino de Deus pode ser manifestado na cidade.
Essa aplicação metafórica do conceito de portas da cidade vem da
importância real dessas estruturas nos tempos bíblicos. As portas da cidade
desempenhavam uma função decisiva tanto social quanto civicamente no mundo
antigo. Ao longo da história, quando os judeus erguiam cercas e muros para
delimitar os limites de sua propriedade, portas eram construídas em locais
estratégicos ao longo das paredes para fornecer acesso. Quando os judeus
eram nômades, eles tinham portas nas entradas de seus acampamentos.' E
quando eles estavam vivendo na Terra Prometida, eles tinham portas para o
palácio real,' para o templo,' e, especialmente, dentro das cidades.4
Todos os
tipos de vida pública e discurso foram realizados nessas portas, além de ser
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 233/373
250 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua as.vinatura
PIO
universo
uma medida para defender uma cidade. As portas pode também se referir à
área em volta delas, exatamente a terra dentro e fora dos portões. Na verdade,
as pessoas, muitas vezes, usavam o termo as portas para a cidade como um todo.
Hoje, as nossas sociedades estão se definhando, porque as portas
metafóricas das nossas cidades têm sido bastante abandonadas pelas próprias
pessoas, que podem levar a pessoa de Cristo e o poder transformador do
evangelho para a alma da sociedade. Deus quer que os descendentes de Abraão
ocupem as portas das cidades com o objetivo de abençoar as nações.' Têm-se
uma ideia desse potencial, se associamos a esse chamado, o fato de sermos
cristãos, que têm um evangelho que salva, redime, renova, e restaura, e a
cosmovisão da Escritura, que nos instrui sobre como desenvolver essa visão
transformadora do mundo, através de nossos chamados em cada área da vida.
Visão semelhante tem trazido desenvolvimento econômico sem precedentes,
liberdade política, Estado de direito e o conceito de educação universal em
grande parte do mundo. Isso tem trazido a emancipação dos escravos e a
dignidade para as mulheres. Em outras palavras, isso tem dado à raça humana
a sua humanidade.
Administração cristã de " as portas", portanto, é vital para a vida das
nossas sociedades. Quem assume a responsabilidade pelas portas irá definir o
projeto de saúde ou de destruição da sociedade.
AS PORTAS COMO O LUGAR DA VIDA PÚBLICA
O cenário para grande parte da nossa vocação pode ser retratado como
as portas da cidade: o lugar de vida pública nos tempos bíblicos. Em muitas
cidades européias e latino-americanas, a praça da cidade era o local de vida
pública. A igreja da cidade ou catedral poderia ser encontrada em um dos lados
da praça e os prédios do governo local, do outro lado, com as tendas para os
mercados e comércio localizados em outros lugares ao redor da praça. Esse
era o local onde a vida pública da cidade acontecia. No mundo ocidental de
hoje, as high streets de cidades na Grã-Bretanha e na Europa e as áreas
conhecidas como downtown nas cidades americanas, desempenham uma função
semelhante, como fazem grandes arenas esportivas suburbanas, que muitas
vezes são contratadas para eventos públicos, como as convenções políticas,
feiras, encontros religiosos e shows de música e outras formas de entretenimento.
Os aspectos importantes da vida pública que ocorriam nas portas de
uma cidade nos tempos bíblicos incluem o seguinte:
•
realização de negócios e comércio"
•
audição da leitura da Lei'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 234/373
As portas da cidade 1
251
•audição e resolução de disputas legais '̀
•
conservação do governo e administração cívica'
•
audição das notícias e anúncios publicosu
•
participação em reuniões públicas e fazer discurso público'
Em cada uma dessas áreas da vida pública, a Escritura nos dá
conhecimento das formas através das quais o cristão pode ser fiel com o seu
trabalho em "as portas da cidade." Vamos explorar a vida nas portas da cidade
antiga, com um olho aberto para as idéias novas e criativas a fim de pensarmos
sobre os nossos próprios chamados hoje.
Negócios e Comércios
As portas da cidade eram lugares de negócio e comércio. Algumas portas
eram chamadas pelo nome dos grandes mercados que aconteciam próximos a
elas, como, por exemplo: a Porta das Ovelhas (Ne 3.1), a Porta dos Peixes (Ne
3.3), e a Porta dos Cavalos (Ne 3.28). O segundo livro de Reis 7.1 descreve a
comercialização de farinha de trigo e cevada. Podemos imaginar os vendedores,
com suas bancas de mercadorias e seus quiosques de comida, temperos e
utensílios domésticos, trocando e vendendo seus produtos ao redor das portas
da cidade. Até hoje, a cidade velha de Jerusalém (a área de Jerusalém contida
nas paredes antigas) mantém alguns dos nomes das Portas. Uma delas é a
Porta do Esterco,'
2
por onde passava o lixo da antiga cidade para ser queimado
fora dos muros. A Porta das Ovelhas também é conhecida agora como a Porta
do Leão e a Porta de Santo Estevão.
Transações de negócios muito maiores, como a com pra e venda de imóveis,
também ocorreu nas portas. Em Gênesis, foi na "porta da sua cidade" onde Abraão
fez um acordo com um homem chamado Efrom, e por "quatrocentos siclos de
prata" comprou um imóvel onde ele iria enterrar sua amada esposa, Sara (Gn
23.1-20). Características de uma operação empresarial moderna podem ser
encontradas nesta história: era propriedade privada, um "levantamento" do imóvel
foi feito, houve discussão pública e negociações abertas para estabelecer um
preço justo de mercado, o dinheiro mudou de mãos e havia testemunhas para a
transação. Em transações públicas como essas era difícil haver fraude, corrupção
ou balanças enganosas. Um lembrete de que as transações comerciais devem
ser justas, ordenadas e imparciais. Negócios eram uma atividade santa. Investir
em empreendimentos era incentivado e riquezas eram geradas.
Hoje também, alguns são chamados às portas da cidade, como cristãos do
mercado de trabalho para assegurar que os m ercados são livres e justos. Os cristãos
do m ercado de trabalho podem fazer negócios com integridade. Eles podem o cupar
as portas da cidade, com verdade e justiça, serviço e pro visão, criatividade e inovação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 235/373
252 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
A Leitura da Lei
Os portões da cidade também eram locais onde a Lei era lida, como no
livro de Neemias 8:
Todas as pessoas reunidas como um só homem na praça diante da
Porta das Águas. Eles disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro
da Lei de Moisés, que o Senhor tinha ordenado a Israel. Assim, no primeiro
dia do sétimo mês, o sacerdote Esdras trouxe a lei diante da assembléia,
que era composta de homens e mulheres e todos os que eram capazes de
entender. Ele o leu em voz alta, desde o amanhecer até o meio-dia, na
praça diante da Porta das Águas, na presença de homens, mulheres e
outras pessoas que podiam compreender. E todo o povo ouvia atentamente
o Livro da Lei. No segundo dia do mês, os chefes de todas as famílias, em
conjunto com os sacerdotes e os levitas, se reuniram ao redor de Esdras, o
escriba, para dar atenção às palavras da lei. (Ne 8.1-3,13)
A HISTÓRIA DE SHERRON WATKINS
Criada em uma cidade desconhecida
de Tomball, Texas, por pais que trabalhavam
como professores do Ensino Médio, Sherron
Watkins era contadora, cujos talentos e
habilidades a levaram a tornar-se vice-
presidente de desenvolvimento corporativo
da infame Enron Corporation. Nessa época,
a Enron era a décima sétima maior empresa
dos Estados Unidos. Membro da Primeira
Igreja Presbiteriana de Houston, Texas,
Sherron tinha no coração o desejo de viver
sua fé no trabalho, mas não tinha a menor
ideia do que isso significaria.
Em 2001, após trabalhar na Enron por
oito anos, Watkins ficou preocupada com a
saúde financeira da empresa. Ela veio a
perceber que grande parte da riqueza da
empresa havia sido construída de maneira
fraudulenta. Quando a fraude viesse à tona,
a empresa provavelmente iria à falência.
Sherron assistiu quando um bom amigo e
colega de trabalho, o tesoureiro da empresa
Jeff McMahon, fora punido por seu chefe, o
executivo Jeffrey Skilling, quando tentou
expor os problemas contábeis na Enron.
Sherron não queria ser punida por falar algo.
Mas o que ela deveria fazer? Ela desejava
fazer o que era certo. Ela queria ser uma
pessoa íntegra.
Watkins tinha medo de falar
publicamente. Assim, ela escreveu uma
carta anônima detalhando suas
preocupações e a deixou na caixa de
sugestões da empresa. Nada aconteceu.
Então, em agosto de 2001, com o intuito de
fazer "a coisa certa", ela escreveu uma
carta de sete páginas para Ken Lay,
Presidente do Conselho de Diretores da
Enron. A carta detalhava questões relativas
à fraude financeira perpetuada contra o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 236/373
As portas da cidade 1 253
A praça diante da Porta das Águas era larga o suficiente para todas as
pessoas da cidade se reunirem em um só lugar. Note que eles se reuniam
"como um só homem", "tanto homens quanto mulheres." Havia unidade entre
eles. E não devia nenhuma distinção perante a Lei; tanto homens quanto mulheres
deveriam ouvir sua leitura. Tanto homens quanto mulheres deveriam ser cidadãos
responsáveis.
Observe também que a Lei foi lida em um lugar público. Por quê? A
razão é que a leitura da Lei de Deus, para eles, não era apenas um evento
religioso particular.
O Livro da Lei foi dado aos hebreus para ajudá-los a ser bons
administradores de sua nação. Ou seja, a Lei do Senhor pôs os alicerces de
uma sociedade justa, fornecendo a base para o desenvolvimento do caráter
individual e para o direito civil, ambos vitais para a construção de uma sociedade
justa.
público em geral, empregados e acionistas.
Watkins levou a carta em mãos para Ken
Lay. Nessa época, Sherron não sabia que
dois dias antes, Lay havia vendido suas
ações para a empresa com um lucro de um
milhão e meio de dólares. Posteriormente,
veio à tona que Skilling e Lay estavam no
centro da fraude. Logo a Enron ruiu,
derrubando com ela a firma Arthur Andersen
que, até então contava com excelente
reputação.
Cinco meses mais tarde, após a Enron
ir à falência, a carta de Watkins tornou-se
parte do registro público e Sherron tornou-se
heroína para milhões de pessoas ao redor do
mundo por posicionar-se e confrontar Lay
com a verdade do que estava ocorrendo na
Enron. Havia profunda falha moral na
liderança e cultura da Enron. As pessoas se
interessavam mais por ganho econômico de
curto prazo do que pela verdade, prestação
de contas e pela saúde a longo prazo da
empresa.
Essa falha moral, caso se torne
endêmica nos cidadãos americanos, acabará
por fazer a nação desmoronar. (Grandes
civilizações não são conquistadas de fora
para dentro, mas morrem de dentro para fora,
devido à falência moral e espiritual.) Uma
mulher teve o caráter moral e a coragem para
confrontar o problema. Por causa disso, ela
foi reconhecida pela revista Time como uma
das três Pessoas do Ano de 2002. Sua
fotografia apareceu na capa da Time duas
vezes naquele ano. Watkins não estava
buscando ser famosa; como cristã, ela
simplesmente queria fazer a coisa certa,
mesmo que isso significasse perder seu
emprego.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 237/373
254 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
As sociedades modernas democráticas são baseadas no Estado de Direito,
mas, ao invés de serem alicerçadas na Lei de Deus, frequentemente elas
instituíam suas próprias leis, por causa de considerações egoístas ou pragmáticas,
ou por causa da forte pressão do secularismo e percepções distorcidas do "bem
público." Na realidade, as leis de Deus são sempre para o verdadeiro bem
público. Elas conduzem sem falta para justiça e vida.
Nos Estados Unidos, porque muitos se esqueceram ou não foram ensinados
que as leis bíblicas ajudaram a formular uma parte importante e vital do nosso
sistema judicial, controvérsias surgem facilmente. Por exemplo, em 2001, no
Supremo Tribunal de Justiça de Alabama, Roy Moore tinha um monumento de
granito dos Dez Mandamentos instalado e exibido durante a noite, na rotunda do
Prédio Judiciário do Estado de Alabam a, onde um número de tribunais e bibliotecas
de direito do Estado residem e onde o juiz Moore presidia. Ele acreditava que era
de fundamental importância reconhecer e homenagear os Dez Mandamentos
como uma realidade histórica e devido aos fundamentos morais para o sistema de
leis que fizeram da América um das nações mais justas no mundo. Lutas jurídicas,
políticas e religiosas se sucederam em ambos os lados desta questão para
determinar se o m onumento poderia ficar ou se deveria ser removido. Em novem bro
de 2002, uma Corte Judiciária dos Estados Unidos decidiu contra o monumento,
alegando que ele violava a Cláusula de Estabelecimento da Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos da América. Quando o Chefe de Justiça Moore
se recusou a obedecer a uma ordem do tribunal federal de retirar o monumento,
um grupo de jurados de ética jurídica votou para removê-lo da tribuna. As apelações
subsequentes de Moore falharam, e o Supremo Tribunal Federal dos Estados
Unidos da América decidiu não considerar o caso.
No entanto, a posição de Moore provocou debate por todo o país, entre
cristãos e não cristãos. Apesar dos custos pessoais e profissionais, como observou
em seu livro So Help Me God (Assim Deus me Ajude), o ex-chefe de Justiça
Moore se mantém firme em sua convicção de que "ao recusar-se a seguir
ordens ilícitas de um juiz federal, ele negou a regra do homem e confirmou a
Constituição dos Estados Unidos, o verdadeiro Estado de Direito, como exigia
seu juramento."
1 3 Como Martin Luther King Jr., que foi preso por desobediência
civil, Moore fez uma escolha consciente que muitos reformadores fizeram,
positivamente aceitando as consequências jurídicas de seus atos. Como os
assuntos trazidos ao conhecimento do público por Moore continuam sendo
debatidos pelo povo e pelos tribunais dos Estados Unidos, o juiz Moore poderia
ser considerado um administrador da porta da lei e da justiça nos Estados Unidos
do século XXI. Quer trabalhemos dentro do sistema judicial como Moore fez
ou em outro domínio no geral, Deus chama a todos nós para sermos cidadãos
responsáveis e bons administradores das nossas nações, à luz da lei do Senhor.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 238/373
As portas da cidade
1 255
Disputas Legais
Além de ser o local ideal para a leitura pública da lei, as portas da cidade
eram os lugares para a resolução de litígios. Quando Deus conduziu o povo
para fora do Egito para o deserto, ele instituiu um sistema de governança e
justiça, que funcionava através de uma delegação de autoridade, com os líderes
e administradores sendo nomeados por Moisés "chefes de mil, chefes de cem,
chefes de cinquenta e chefes de dez." (Éx 18.25). Essa delegação de poderes
surgiu como resultado de Moisés se queimar ao tentar (estupidamente) re-
solver sozinho as disputas de todos (como lemos anteriormente em Ex 18). É
dessa forma que um sistema eficaz de justiça foi iniciado na antiga cidade de
Israel. Pouco tempo depois, "juízes e oficiais" foram designados para resolver
pendências nas portas. Em Deuteronômio 16.18-20, lemos:
Nomeiem juízes e oficiais para cada uma de suas tribos em todas as
cidades que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, para que eles julguem o povo
com justiça. Não pervertam a justiça nem mostrem parcialidade. Não
aceitem suborno, pois o suborno cega até os sábios e prejudica a causa
dos justos. Siga única e exclusivamente a justiça, para que tenham vida e
tomem posse da terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá.
Um número de princípios é estabelecido nesta passagem. Cada cidade
tem que ter seu próprio juiz, e todos devem ter acesso a um julgamento justo.
Presentes e subornos são tabus, porque isso perverte a justiça. E porque Deus
"não age com parcialidade" (Dt 10.17), os juízes devem ser imparciais. Tais
princípios são particularmente vitais para os pobres, que, simplesmente porque
são pobres, podem não ter acesso à justiça. Por exemplo, por falta de dinheiro,
eles podem carecer de poder legal para corrigir as injustiças cometidas contra
eles. Em nossos dias, podemos dizer que "eles não podem pagar um advogado."
O profeta Amós adverte contra deixar os pobres a enfrentar a injustiça (note
também, que os pobres têm vindo à porta procurar a justiça):
Eles odeiam ao que na porta os repreende [Sha'ar: porta]
e abominam ao que fala a verdade.
Portanto, visto que pisais o pobre
e dele exigis tributo de trigo,
embora tenhais edificado casas de pedras lavradas
não habitareis nelas;
e embora tenhais plantado vinhas desejáveis
não bebereis do seu vinho.
Pois sei que são muitas as vossas transgressões
e graves os vossos pecados;
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 239/373
256 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
afligis o justo, aceitais peitas,
e na porta negais o direito aos necessitados [Sha'ar: porta].
Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo,
porque o tempo será mau.
Buscai o bem, e não o mal
para que vivais;
e assim o Senhor, o Deus dos exércitos, estará convosco,
como dizeis
Aborrecei o mal, e amai o bem,
e estabelecei o juízo na porta
Talvez o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha piedade
do resto de José. (Amos 5.10-15)
Nesse cenário, a nação trocou a verdade de Deus pela mentira, e a
adoração do Deus vivo pela adoração de ídolos. Essa falsa adoração não está
sem consequências nos tribunais. A partir da adoração aos deuses pagãos, a
justiça se desvirtua por meio de suborno e outros meios. Assim, os pobres são
feitos mais pobres e são ainda mais oprimidos, porque o juiz aceita suborno.
Observe, também, que, em Amós 5.15 os justos não devem ficar longe das
portas por causa da corrupção. Na verdade, é precisamente por causa da
corrupção que eles devem se envolver corretamente. Eles devem ir aos tribunais
lutar contra o mal, amar o bem e estabelecer a justiça.
Infelizmente, em muitas sociedades materialistas, a profissão jurídica se
torna um meio para revolver enormes quantidades de processos judiciais para
assegurar amplos rendimentos para os advogados. É bastante frequente no
mundo de hoje, ver cristãos se ajuntando a outros em sociedade e entrando na
lei só porque é financeiramente lucrativo. Esses cristãos têm uma vida dividida.
separando a fé de seu trabalho.
Os cristãos podem ser chamados por Deus para trabalhar no sistema
judicial. Os juízes, advogados, auxiliares jurídicos, e outros especialistas jurídicos
podem trabalhar para trazer justiça e servir como defensores dos pobres e
oprimidos. Alguns advogados são nomeados pelo tribunal para defender as
pessoas que não têm dinheiro para contratar seus próprios advogados. Esses
representantes legais não ficam ricos, mas eles trabalham para justiça. Outros
advogados trabalham alguns dos seus casos pro bono (para o bem do povo)
sem custo, dedicados a ver que a justiça é feita para os pobres. Mesmo o
cidadão comum pode trabalhar ou se voluntariar como companheiros de tribu-
nal para crianças no sistema judicial, tornando-se seus defensores e um rosto
familiar constante no sistema intimidador legal. Evidentemente, trabalhar no
sistema jurídico pode ser um chamado sagrado.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 240/373
As portas da cidade 1
257
Governar e Administrar
Hoje em culturas animistas, o palácio do chefe é o lugar onde todas as
decisões importantes são feitas para o bem da comunidade. O equivalente nos
tempos bíblicos era a porta da cidade, que funcionava como sede do governo. A
Escritura, portanto, fala dos "anciãos à porta" (Dt 21.19, 25.7), cuja função era
a de influenciar e supervisionar civilmente a cidade. Um simples exemplo bíblico
é encontrado em Provérbios 31.23: "Conhece-se o seu marido nas portas, quando
se assenta entre os anciãos da terra." Aqui os mais velhos se reúnem na porta
para supervisionar os assuntos da cidade, e este homem é respeitado por suas
habilidades. Daniel 2.47-49 é um notável exemplo de governança às portas:
O rei disse a Daniel: "Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos
deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios, pois você conseguiu
revelar esse mistério".
Então o rei colocou Daniel num alto cargo e o cobriu de presentes. Ele o
designou governante de toda a província da Babilônia e o encarregou de todos
os sábios da província. Além disso, a pedido de Daniel, o rei nomeou Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego administradores da província da Babilônia, enquanto o
próprio Daniel permanecia na corte do rei. ltera': Caldeu para "portal
O rei de Babilônia admitiu o Deus do universo e reconheceu que
Daniel servia a esse Deus. Nabucodonosor, então, designou Daniel para
governar toda a província de Babilônia, fazendo dele a cabeça sobre
todos Os outros governadores, o que hoje poderíamos chamar de um
primeiro-ministro. Daniel tomou seu lugar designado na porta da cidade,
a partir da qual o rei governava o povo através de Daniel. Note também
que Daniel garantiu posições no governo para três outros homens,
qualificados e piedosos: Sadraque, Mesaque e Abednego (veja também
Dn 1.17).
Na vida moderna, os homens e mulheres de Deus precisam estar prontos
para servir no governo, quer a nível local, como no quadro de escola ou do
município, a nível estadual ou provincial, ou mesmo a nível nacional. Por isso
não quero dizer que os cristãos precisam apenas tornar-se políticos ou
governantes eleitos. Os funcionários eleitos precisam de vários tipos de
assistentes e colaboradores trabalhando com eles, e cristãos podem ocupar
para o reino em tais posições.
Em grande parte do mundo de hoje onde o evangelho da salvação tem
sido declarado, alguns cristãos, infelizmente, buscam cargos no governo apenas
para conquistar o poder político. Talvez possa haver também um sentimento de
triunfalismo nas visões cristãs de governança. Por exemplo, as pessoas podem
pensar: "Se conseguíssemos um cristão para a presidência, então, todos os
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 241/373
258
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
problemas da nação seriam resolvidos." Basta olhar para o Quênia, Guatemala
e Coréia do Sul, onde os cristãos evangélicos têm estado em posições de poder
político e se corromperam por esse poder, para ver que ter líderes cristãos
simplesmente, não garante a transformação de uma nação.
O poder político pode também corromper de outras maneiras. Meu amigo
ganense Chris Ampadu disse que em algumas sociedades, na África, depois de
um ser feito um chefe tradicional, ele se torna adorado, e de repente, suas
opiniões são consideradas sempre certas. O chefe deve ser respeitado por
todos, e não deve haver nenhuma dissidência interna ou até mesmo fóruns para
a crítica adequada de políticas. Chefes, então, podem facilmente dominar, em
vez de servir a seu povo. Além disso, muitas pessoas altamente instruídas se
envolvem em política simplesmente pelo respeito que ela traz e porque lhes
dará acesso às propriedades tribais ricas em depósitos minerais ou madeireiras
florestais, as quais procura explorar por ambição egoísta.
Corrupção como essa tem impedido os cristãos de entrarem para a política
nessas sociedades, porque eles perguntam: "Se o sistema político é corrupto, o
que me impede de ser corrompido?" Muitos de nós estamos familiarizados com
o ditado de Lord Acton: "O poder leva à corrupção, o poder absoluto corrompe
totalmente". O importante é que não devemos procurar o "poder" político, mas
que os cristãos que são chamados para a política deveriam vir para servir os
outros. Eles devem buscar a Deus, como fez Daniel, na Babilônia e como José
fez no Egito. Como esses homens buscavam a Deus, Deus os colocou em suas
vocações políticas nacionais através das quais eles serviam o povo.
Por outro lado, muitos cristãos veem a política como algo mundano, e
eles alegam que "bons" cristãos não deveriam entrar no governo, porque eles
serão contaminados pelo mundo. Essa não é uma atitude bíblica. Deus
estabeleceu o governo' como uma das instituições mais básicas da sociedade.
Por muito tempo, por causa de suas atitudes pietistas, os cristãos evacuaram o
campo da política, que deixou um grande vazio moral nas nossas sociedades e
contribuiu para a sua decadência. Os cristãos ao responderem ao chamado
para o governo e para a administração civil podem ajudar a mudar isso.
Notícias e Anúncios Públicos
Nos tempos antigos, as portas também eram centros de comunicação
para um fluxo constante de notícias e informações públicas importantes. Vemos
um exemplo de um grande anúncio, feito quando, Senaqueribe, rei da Assíria.
invade Judá. O rei Ezequias organiza a defesa da cidade e, em seguida, chama
o povo para se reunir na praça da porta da cidade de Jerusalém, para ouvir sua
mensagem de incentivo referente à defesa da cidade. II
Crônicas 32.6-8 registra
esse evento:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 242/373
As portas da cidade
I 259
Então pôs oficiais de guerra sobre o povo e, congregando-os na
praça junto à porta cia cidade falou-lhes ao coração, dizendo: "Sede
corajoso, e tende bom ânimo. Nem vos espanteis, por causa do rei da
Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele, pois há
conosco um maior do que o que está com ele. Com ele está um braço de
carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos ajudar e para guerrear
por nós" E o povo descansou nas palavras de Ezequias, rei de Judá.
Mais do que apenas notícias corriqueiras eram proclamadas às portas.
Os profetas proclamavam mensagens lá também. 1 5
E em Provérbios 1.20-21,
vemos uma personificação da sabedoria nas portas:
"A sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças
públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da
cidade faz o seu discurso."'
Enquanto que em Provérbios 31 .28-31 , notícias honrando a mulher virtuosa
é tornada pública às portas da cidade.
No mundo de hoje, temos jornais, revistas, serviço de correio, telefone,
televisão, fax, rádio, internet, e-mail, YouTube e blogs para a divulgação de
notícias e fazer anúncios públicos. Quem controla essas "portas" (a mídia) no
seu país? Quem controla os mecanismos de informação pública? As pessoas
estão sentadas nas portas dessas indústrias, mas quem eles representam e
quais ideias estão espalhando? Não é exagero dizer que os cristãos são chamados
em primeiro lugar para ser comunicadores. Isso significa que muitos de nós
devíamos estar envolvidos nas indústrias de comunicações, para ajudar a resgatar
as nossas sociedades, através do trabalho, feito em obediência a Deus, para
comunicar a verdade através de todas as formas da mídia e da imprensa.
Reuniões Públicas e Discursos
As portas bíblicas da cidade , como observamos, eram lugares onde as
pessoas eram ativas em assuntos relativos a comércio, lei, governo, questões
civis e jurídicas. Eram também lugares, para onde amigos e vizinhos vinham de
suas casas, para se reunir e conversar, ou onde os viajantes encontravam amigos
e obtinham informações seguras sobre hospedagem e aprendiam sobre a cidade.
Encontramos um exemplo em Gênesis 19.1-2:
Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer, e Ló estava sentado à
porta da cidade. Quando os avistou, levantou-se e foi recebê-los. Prostrou-se,
rosto em terra, e disse: "Meus senhores, por favor, acompanhem-me à casa do
seu servo. Lá poderão lavar os pés, passar a noite e, pela manhã, seguir caminho."
"Não, passaremos a noite na praça", responderam.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 243/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 244/373
As portas da cidade 1
261
AS PORTAS COMO UMA METÁFORA PARA A
CIDADE
Até Jesus voltar, as portas continuarão a ser um local estratégico de
ocupação. Observando a maneira como as portas representam a vida pública,
o termo as portas no Antigo Testamento é usado, às vezes, para se referir a
toda a cidade- para o que era bom e mau, ou glorioso e fraco. O que era dito
sobre as portas era uma reflexão sobre o poder e a glória da cidade, ou a sua
falta.
Às vezes sha'ar é até traduzida como "cidade", como a Nova Versão
Internacional faz em Gênesis 22:17-18: "esteja certo de que o abençoarei, e
farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia
das praias do mar. Sua descendência conquistará as cidades [sha'ar] dos que
lhe forem inimigos e, por meio dela, todos os povos da terra serão abençoados,
porque você me obedeceu". Aqui encontramos a reafirmação da aliança
Abraâmica que Deus abençoaria Abraão como um veículo para a bênção das
nações. Nessa reafirmação daquela promessa, vemos que a bênção de Deus
através de Abraão se estende às próprias cidades.
Mas, muitas vezes, mesmo quando sha'ar é traduzida como "as portas",
é uma óbvia referência metafórica à cidade (ou cidades) em questão. Tomemos,
se papel do estado resolver os problemas
da pobreza. O livro de Olasky foi,
sobretudo, um chamado aos fundamentos
bíblicos e, portanto, um avivamento do
engajamento pessoal e coletivo da
caridade. Foi Olasky quem começou a
declarar a necessidade de um
"conservativismo com-passivo" que
influenciou líderes nacionais como William
Bennett, Newt Gingrich e o Presidente
George W. Bush.
Por Olasky compreender que os
cristãos precisam se pronunciar no mercado
de idéias e buscar o engajamento social,
político e econômico, em 1992 ele se tornou
editor chefe da revista World, a quinta revista
semanal mais lida nos Estados Unidos. Ele
continuou o seu trabalho e foi um dos
catalisadores na criação do Instituto de
Jornalismo Mundial para treinar os jornalistas
cristãos a abordarem seu ofício a partir de
um ponto de vista distintamente bíblico (ao
invés de secular).
Não contente em guardar os portões
da cidade, Marvin Olasky é um modelo de
influência que podemos ter na sociedade se
rejeitarmos uma mente dividida e uma vida
dividida e passarmos a viver toda a vida co-
ram Deo, trabalhando fielmente na esfera à
qual Deus nos chamou.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 245/373
262 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
por exemplo, Gênesis 24.60, quando a família de Rebeca a abençoa quando ela
é prometida ao filho de Abraão, Isaque: "E abençoaram a Rebeca, e disseram-
lhe: Irmã nossa, sê tu a mãe de milhares de miríades, e possua a tua descendência
a porta lsha'arl de seus aborrecedores." Desde que possuir as portas significava
ter o controle da cidade em si, podemos ver o significado metafórico do verso.
Além disso, quando uma cidade é próspera, diz-se que suas portas são
prósperas. Quando a cidade está padecendo, suas portas padecem. Quando
uma cidade está em sua glória e em seu poder, as suas portas são fisicamente
mantidas, de uma forma que condiz com a glória da cidade. Em contraste,
quando uma cidade está cheia de lamentações, suas portas revelam isto. As
entradas para a cidade revelam o seu estado debilitado, sua perda da glória e
de poder. Por exemplo, no livro de Jeremias, encontramos a nação de Judá sob
o juízo divino, após o reinado do malvado rei Manasses. Julgamento virá através
de seca, fome e exércitos invasores. Em Jeremias 14.2-7 podemos ver o
entendimento metafórico de "as portas" no registro da palavra do Senhor sobre
o impacto da seca:
"Judá pranteia, as suas cidades [sha'ar] estão definhando e os
seus habitantes se lamentam, prostrados no chão O grito de Jerusalém
sobe. Os nobres mandam os seus servos à procura de água; eles vão às
cisternas, mas nada encontram. Voltam com os potes vazios, e,
decepcionados e desesperados, cobrem a cabeça. A terra nada produziu,
porque não houve chuva; e os lavradores, decepcionados, cobrem a cabeça.
Até mesmo a corça no campo abandona a cria recém-nascida,
porque não há capim. Os jumentos selvagens permanecem nos altos,
farejando o vento como os chacais, mas a sua visão falha, por falta de
pastagem". Embora os nossos pecados nos acusem, age por amor do teu
nome, ó Senhor Nossas infidelidades são muitas; temos pecado contra ti.
Prósperas cidades, que um dia foram cheias de vendedores de grãos e
comércios, agora "padecem", como Jeremias registra ao usar o termo porta da
cidade.
QUE O REI DA GLÓRIA POSSA ENTRAR
Não apenas exemplos como aquele em Jeremias mostram como as portas
representam a cidade metaforicamente; eles também ressaltam a profundidade
de um povo de luto pela perda da glória de Deus dentro de suas cidades. Uma
descrição de tal luto é encontrada em Lamentações 4.6-9:
A punição do meu povo é maior que a de Sodoma, que foi destruída
num instante sem que ninguém a socorresse. Seus príncipes eram mais
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 246/373
As portas da cidade 1 263
brilhantes que a neve e mais brancos do que o leite, tinham a pele mais
rosada que rubis; sua aparência lembrava safiras. Mas agora estão mais
negros do que o carvão; não são reconhecidos nas ruas. Sua pele enrugou-
se sobre os seus ossos; parecem agora madeira seca. Os que foram mortos
pela espada estão melhor do que os que morrem de fome, os quais, torturados
pela fome, definham pela falta de produção das lavouras.
Observe o dramático contraste esboçado através da descrição dos
príncipes que eram "mais brilhantes do que neve e mais brancos do que o leite",
mas agora são "mais negros que a fuligem". Observe, ainda, a triste constatação
de que é melhor morrer pela espada do que por fome.
Pode ficar muito escuro e pervertido em cidades, sociedades e nações
quando "as luzes" enfraquecem ou apagam. Muitos reis e outras autoridades
durante os tempos do Velho Testamento trouxeram grande escuridão sobre as
suas cidades e terras quando se afastaram de Deus para adorar "outros deuses."
Na linguagem do Novo Testamento, esses reis "trocaram a verdade de Deus
pela mentira e adoraram e serviram as coisas criadas ao invés do Criador" (Rm
1.25). Em vez de olhar para o Deus vivo para obter força, prosperidade e
proteção para as suas sociedades, eles adoraram e seguiram os mandamentos
dos ídolos para a vida religiosa, econômica e política. Na canção de Deborah,
durante o tempo dos juízes, encontramos essas trágicas palavras:
"Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, as estradas
estavam desertas; os que viajavam seguiam caminhos tortuosos. Já tinham
desistido os camponeses de Israel, já tinham desistido, até que eu, Débora,
me levantei; levantou-se uma mãe em Israel. Quando escolheram novos
deuses, a guerra chegou às portas, e não se via um só escudo ou lança
entre quarenta mil de Israel. " (Jz 5.6-8)
Deus trouxe juízo sobre o seu povo quando eles adoraram as divindades
Baal e sua consorte Astarote. Quando veio a guerra, as defesas foram dominadas,
as estradas foram abandonadas, as pessoas pararam de viajar, o comércio
encolheu e a vida da aldeia cessou. Os agricultores abandonaram os seus cam-
pos para a relativa proteção dentro dos muros da cidade. Eles se tornaram um
povo derrotado e deprimido. A vida normal ficou paralisada. Ainda hoje, quando
Deus é recusado e negado, as sociedades se corrompem. Elas se organizam
em torno da adoração cultual, quer seja do tipo animismo pagão ou do tipo
humanismo pagão,' que dita ao povo como suas vidas sociais, econômicas e
políticas devem ser vividas. Isso prejudica muito a sociedade, porque a vida do
seu povo não é "ordenada" pela sabedoria das Escrituras.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 247/373
264 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Impressionantes ilustrações atuais disso podem ser encontradas na África
animista, onde os padrões de trabalho são baseados em sistemas de crenças
derivadas dos espíritos. Portanto, há dias em que a agricultura e a pesca são
proibidas, porque, nesses dias, os deuses precisam de paz e descanso e ninguém
dever perturbá-los. Isto, naturalmente, perturba muito a atividade econômica.
Além disso, há rios e córregos em que as pessoas sempre estão proibidas de
pescar, porque acredita-se que os canais são permanentemente habitados por
espíritos. Mesmo que a saúde das famílias que moram perto desses rios e
riachos sejam muito beneficiadas pelos peixes, os conselhos dos espíritos (deuses)
impedem isso, mesmo durante tempos de
fome.
No Ocidente pagão secular, estamos assistindo à morte lenta dos nossos
países. Não há nenhuma norma transcendente da verdade e da moralidade, de
modo que cada pessoa faz o que é certo aos seus próprios olhos. Dependência
de drogas, álcool, jogos e pornografia são galopantes. O aborto e a
homossexualidade que, em meados do século XX, foram rejeitadas, são
promovidos e praticados como normais. Enquanto europeus e norte-americanos
abandonam suas raízes na fé judaico-cristã, perdem sua identidade. Isto leva a
uma prática antinatal; a maioria dos países da Europa e alguns estados dos
EUA têm taxas de natalidade (1,2-1,5 filhos por mãe) que não vai sustentar
suas sociedades. Como resultado, haverá suicídio cultural em pouco mais de
uma geração.
Como Débora, Neemias, e muitos outros reformadores bíblicos, os cristãos
são chamados a mudar esses padrões culturais. Devemos crescer e descobrir
o nosso chamado e vivê-lo, para o bem de nossas sociedades, para o avanço do
reino de Deus. Temos que fazer isso se vivemos no Ocidente ou em países em
desenvolvimento. O clamor do Salmo 24.7-10 pode ser o nosso clamor:
Abram-se, ó portais; abram-se, ó portas antigas,
para que o Rei da glória entre.
Quem é o Rei da glória? O Senhor forte e valente,
o Senhor valente nas guerras.
Abram-se, ó portais; abram-se, ó portas antigas,
para que o Rei da glória entre.
Quem é esse Rei da glória? O Senhor dos Exércitos;
ele é o Rei da glória
Como este salmo declara nos versos de sua abertura, o Senhor é o Criador
e o proprietário da terra e tudo que há nela. Aqui, as portas se referem à
gloriosa Cidade de Sião, cujo glorioso Rei é introduzido. Ele está tomando posse
para governar e reinar.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 248/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 249/373
Capítulo 19
OS D OMÍNIOS
Vamos explorar o amplo potencial para transformar o trabalho nas "portas
da cidade" em nossos dias, aprendendo como, historicamente, os cristãos
ocuparam essas portas, ajudando a transformar suas sociedades.
O que era representado pelas portas da cidade nos tempos bíblicos veio
a ser conceituado no mundo de hoje como domínios ou esferas da sociedade.
Jesus Cristo e os cristãos que o seguiram, fizeram mais para transformar os
domínios da sociedade para o bem, do que qualquer outro tipo de movimento
religioso ou social em todo o mundo. Não quero dizer com isso que o cristianismo
tornou perfeita a vida no mundo ou que injustiças e atrocidades não foram
cometidas em nome do cristianismo. Não obstante, penso que o registro histórico
mostra que o cristianismo tem moldado as sociedades pai o bem como nada
mais o fez. Em seu livro
The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsid-
era History [A Ascensão do Cristianismo: Um Sociologo Reconsidera a
História], o sociólogo evangélico Rodney Stark escreve:
Creio que foram as doutrinas particulares da religião que
permitiram que o cristianismo estivesse entre os mais abrangentes e bem
sucedidos movimentos de revitalização da história. E foi a m aneira que
essas doutrinas se tornaram físicas, a maneira que guiaram as ações
organizacionais e o comportamento individual, que levaram à ascensão
do cristianismo [itálicos adicionados].'
Quando os cristãos apresentam o evangelho em pormenores, a sociedade
muda. O historiador Thomas Cahill aponta que "o 'impulso inicial' do cristianismo
lançou 'atos e idéias', não somente 'através dos séculos', mas também ao redor
do mundo."2
Essas "idéias e atos" têm transformado muitas áreas nos domínios
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 250/373
268
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
da vida, conforme os discípulos de Cristo ocuparam territórios para o reino e
vivenciaram os seus chamados na história. No prefácio do livro de Alvin Schmidt
Under the Influence: How Christianity Transformed Civil ization [Sob influência:
Como o Cristianismo Transformou a Civilização], Paul L. Maier. professor de
história antiga na Western Michigan University. descreve como Cristo e seus
seguidores moldaram a história:
Não, foram só as vidas de inúmeras pessoas que foram transformadas
por Jesus Cristo, mas a própria civilização. No mundo antigo, seus
ensinamentos elevaram os brutais padrões de moralidade, pararam o
infanticídio, melhoraram a vida humana, emanciparam mulheres, aboliram
a escravidão, inspiraram organizações de caridade e socorro, criaram
hospitais, estabeleceram orfanatos e fundaram escolas.
Em tempos medievais, o cristianismo, quase que exclusivamente,
manteve viva a cultura clássica através da reprodução de manuscritos,
construção de bibliotecas, moderação de gu erras através de dias de trégua,
além de liincionar como mediador em contendas. Foram os cristãos que
inventaram faculdades e universidades, dignificaram o trabalho como
vocação divina e estenderam a luz da civilização aos bárbaros nas
fronteiras.
Na era moderna, o ensinamento cristão, corretamente expresso,
promoveu o avanço da ciência, difundiu conceitos de liberdade econômica,
política e social, promoveu a justiça e forneceu a m aior fonte de inspiração
para as grandiosas realizações nas artes, arq uitetura, música e literatura
que tanto apreciamos hoje em dia.'
Nós também podemos encontrar nossos chamados em qualquer urna
dessas áreas. Assim como o povo de Israel participava da dinâmica vida de
suas comunidades nas portas, e assim como os seguidores de Cristo seguiram
seus passos em todo tipo de empreendimento humano, nós também temos um
escopo ilimitado para viver nossos chamados. Nós também podemos ser parte
da transformação de comunidades e sociedades inteiras. As possibilidades
expandem a imaginação; o potencial é inesgotável.
Ao discutir os domínios, utilizarei amplamente o livro de Alvin Schmidt
Under the Influence, o livro de Stark Stark The Rise of Christianity, e o livro do
Dr. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?
[E se Jesus Jamais Tivesse Nascido?' Esses livros extraem de diversas áreas
da história variados domínios transformados pela vocação dos cristãos. Meu
objetivo é que aprendamos com o passado e sejamos inspirados em nossos
chamados hoje. Neste capítulo exploraremos seis domínios modernos: governo,
educação, saúde, arte, atividade econômica e ciência.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 251/373
Os domínio,
1 269
GOVERNO
Já vimos que a transformação do reino opera a partir de corações e
mentes, através da família, penetrando na igreja e, através da igreja, adentra
outros domínios da sociedade. Ao considerar a sociedade como um todo,
começaremos corno o domínio do governo porque Deus ordenou três instituições
primárias na sociedade: famílias,' igrejas.' e governo civil - o estado.' Essas
são as instituições fundamentais de qualquer sociedade. Para que uma sociedade
seja saudável, cada uma dessas instituições deve ser saudável. Para serem
saudáveis, essas instituições devem estar em um relacionamento correto umas
com as outras.
Reconhecer esses relacionamentos corretos começa com o entendimento
de que Deus é soberano sobre toda a criação. Portanto, Deus e suas leis e
ordenanças são soberanos sobre cada uma dessas instituições. Cada instituição
deriva sua vida, fronteiras e autoridade de Deus. A saúde de cada instituição é
determinada por sua livre obediência às leis e ordenanças de Deus. Livre
porque a obediência não é coagida pela tirania externa. Os seres humanos
nascem livres; portanto, a obediência nasce da motivação interna e do
autogoverno. Cada uma dessas instituições fundamentais tem que prestar contas
somente a Deus. Enquanto esses reinos se relacionam uns com os outros e
enquanto membros individuais da sociedade podem estar engajados em todas
as três instituições, a integridade de cada uma é protegida dos abusos das outras
através da prestação de contas e responsabilidade somente para com Deus. O
teólogo J. 1. Packer capta isso quando escreve:
Cada meio [família, igreja e estado] tem sua própria esfera de
autoridade sujeita a Cristo, que agora governa o universo no nome de seu
Pai, e cada esfera tem que ser delimitada em referência às demais. Em
nosso mundo caído, isso limciona como um anteparo contra a anarquia, a
lei da selva e a dissolução da sociedade ordenada.'
O estado tem o poder da espada e a igreja tem o poder da Palavra de
Deus. A igreja não deve lançar mão da espada e o estado não deve usurpar a
Palavra de Deus. A família tem a responsabilidade de cultivar e educar a
próxima geração de cidadãos. Isso não é tarefa do estado, como se pensa em
muitas sociedades hoje em dia.
O padrão bíblico para relacionar essas três instituições fundamentais
reconhece que Deus é soberano sobre o universo e sobre os negócios do ser
humano. Aqui reinam a liberdade e o autogoverno. Deus é soberano sobre
indivíduos livres e autogovernados. Esses indivíduos são membros de famílias,
igrejas e governo civil. A lei, não os homens, governa o estado.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 252/373
270 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Cada uma das três instituições funciona em sua própria esfera sujeita às
leis de Deus para glória de Deus. Cada uma tem sua própria área de autoridade
sob Deus, mas não possui autoridade máxima sobre as outras esferas. A família
possui responsabilidade delegada para promover as crianças fisicamente,
emocionalmente e socialmente e para educá-las no desenvolvimento do
conhecimento, sabedoria e virtude, tudo isso para que as crianças possam ser
cidadãs livres e autogovernadas em suas nações.
A igreja tem a responsabilidade delegada de proclamar em palavra e
ação a Palavra de Deus. Ela é responsável pela adoração coletiva e por equipar
os santos para serem cidadãos livres no mercado de trabalho e na esfera pública;
ela deve ainda servir o bem-estar da comunidade como um todo.
O estado tem a responsabilidade primária de levantar a espada. Por
vivermos em um mundo caído e por sermos pecadores, o estado tem a
responsabilidade de defender os cidadãos contra ameaças externas e cuidar
para que haja paz e tranquilidade à sociedade. Ela deve defender o domínio da
Lei e estabelecer a estrutura do livre comércio e liberdades civis.
Conforme homens e mulheres assumem seus papéis como pais de famílias,
membros de igrejas e cidadãos de comunidades, eles influenciam as portas da
cidade - os vários setores das sociedades - com a cultura do reino, repleta de
verdade, beleza e bondade. O que resulta disso é a sociedade mais livre, justa
e sadia já imaginada. Esse tipo de sociedade pode ser identificado como uma
"república constitucional." Nela, cidadãos livres e autogovernados assentam-se
às portas da cidade.
REPÚBLICA CONSTITUCIONAL
(DEUS
É SOBERANO)
4
C
IDADÃOS AUTOGOVERNADOS)
FAMÍLIA
CRIA E EDUCA
SEUS FILHOS
IGREJA
PROCLAMAÇÃO E
DEMONSTRAÇÃO DA
PALAVRA DE DEUS
GOVERNO
CIVIL
JUSTIÇA E
PROTEÇÃO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 253/373
Os domínios 1 271
Esse padrão de ordem social reconhece que a liberdade nasce dentro
das pessoas; ela é dada por Deus e não pelo estado. Ela reconhece que a mais
elevada forma de governo é o autogoverno interno. O advogado e teólogo
holandês Hugo Grócio assim resumiu o princípio do autogoverno:
Aquele que não sabe governar um reino, não pode administrar
uma Província; nem conseguirá governar uma província aquele que não
sabe ordenar uma Cidade; nem ordenar uma Cidade aquele que não sabe
regular uma Vila; nem uma vila, aquele que não consegue guiar uma
Família; nem conseguirá guiar bem uma família o homem que não sabe
Governar a si mesmo; e ninguém conseguirá Governar a si mesmo a menos
que sua Razão seja o Senhor e que Vontade e Apetite sejam vassalos dessa
Razão; mas a Razão não conseguirá governar a menos que ela própria
seja governada por Deus e (plenamente) obediente a Ele.'
Minha boa amiga e fundadora da Chrysalis International, Dra, Elizabeth
Youmans, ajuda a esclarecer esse princípio:
O princípio cristão do autogoverno é Deus governando
internamente a partir do coração do crente. Para alcançar a verdadeira
liberdade, o homem deve DE BOA VONTADE (voluntariamente) ser
governado INTERNAMENTE pelo Espírito e Palavra de Deus ao invés de
ser governado por forças externas. O governo é primeiro interno
(causativo) e depois externo (efeito).°
Quanto mais autogovernado for um povo, mais livre será o estado. Quanto
menos as pessoas se governam, maior a necessidade do poder do estado. O
fundador da Pensilvânia, William Penn, escreveu: "Aqueles que não são
governados por Deus serão governados por tiranos."
0 Aqueles que se permitem
serem governados internamente por Deus podem ser participantes de um governo
civil que promove a liberdade e justiça respeitando a integridade da família, da
igreja e todos os domínios da sociedade.
Os princípios que levam a esse tipo de governo são encontrados na
cosmovisão bíblica. Indivíduos, famílias, igrejas e governos alcançam seu mais
elevado potencial quando servem ao Deus vivo. A saúde de cada governo é
determinada por sua obediência às leis e ordenanças de Deus. Se as leis civis
forem baseadas na lei moral de Deus - os Dez Mandamentos - e se forem
obedecidas por cidadãos livres e autogovernados, o resultado é verdade, justiça
e liberdade.
Deus tornou alcançável o governo humano baseado na verdade, na justiça
e na liberdade ao revelar a si mesmo e os seus caminhos a nós. Como discutimos
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 254/373
272 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no unirem,
anteriormente, Deus revelou a si mesmo através da criação e da revelação.
Suas ordenanças estão incorporadas à realidade e estabelecem a ordem natu-
ral, metafísica e moral. Deus fala claramente através de sua criação para que
todas as pessoas possam saber que Deus existe e possam conhecer algo de
sua natureza através das coisas que ele fez." Em termos teológicos, isso se
chama revelação geral.
Similarmente, a lei moral de Deus é revelada na criação e em sua Palavra.
Paulo fala da "lei . . . gravada em seu coração. Disso dão testemunho também
sua consciência" (Rm 2.15). Essa revelação está incorporada na criação. Os
antigos chamavam essa forma de revelação de "lei natural." A Bíblia também
revela a natureza da lei moral de Deus através dos Dez Mandamentos e da
vida de Cristo.
Como Paulo testifica em Romanos, o mundo greco-romano da antiguidade
sabia "ler" a lei revelada na criação e na consciência humana - a lei natural.
Schmidt escreve:
A lei natural era compreendida como o processo na natureza,
através do qual os seres humanos, fazendo uso da sã razão, eram capazes
de perceber o que era moralmente certo e errado. Essa lei natural era
vista como um fundamento eterno e imutável de todas as leis humanas."
Mas mesmo a lei natural tinha que ser "interpretada" e aplicada. Isso era
feito por pessoas caídas e que, geralmente, estavam buscando os seus próprios
interesses e operando sem a revelação e diretrizes das Escrituras. Assim sendo,
a criação de leis era geralmente injusta e cruel e feita de acordo com os desejos,
ordens e caprichos de governantes e reis.
A lei de Moisés, entretanto, era muito diferente da lei greco-romana.
Nela, a origem divina da lei era enfatizada. Isso levou a significativas diferenças
no entendimento da lei abraçada por Israel e pelas outras nações. Isso significava
que para a nação de Israel, a autoridade máxima da lei residia em Deus,
diferentemente de outras nações, cuja autoridade máxima estava no rei, no
ditador ou no estado (nas democracias ocidentais de hoje em dia, o poder reside
no "povo").
Talvez, a diferença mais fundamental apareceu quando os Dez
Mandamentos foram anunciados, começando com o prefácio "Eu sou o Senhor
teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão" (Êxodo 20.2). Essa
declaração geralmente passa despercebida, mas é indispensável para o que
segue, pois significa que a Lei de Deus começou com a grande verdade de
libertação (da escravidão no Egito) e que os mandamentos e leis que seguirão
traziam consigo um caráter redentor. Em outras palavras, a Lei foi
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 255/373
Os domínios
1 273
fundamentada na experiência de salvação das pessoas, no favor divino que a
Israel antiga havia recebido de Javé, algo que não foi recebido por nenhuma
outra nação.'
Além disso, os Dez Mandamentos não diziam respeito somente à piedade
pessoal. Eles também diziam respeito ao desenvolvimento da ordem social
para as pessoas que, até aquele momento não tinham leis para governá-las
como povo e, posteriormente, como nação. Anteriormente eles eram
dependentes das leis do Egito para a sua vida social e política.
O entendimento da lei também era diferente em escopo do entendimento
de outras nações. Muitos códigos legais da antiguidade lidavam somente com
questões legais, deixando as questões morais e religiosas para outros ramos da
literatura. Mas na Lei de Moisés, também chamada Torá, os comandos legais,
morais e religiosos formam uma unidade inseparável.
Desde o tempo de Cristo, os cristãos procuram interpretar a lei bíblica e
a instituem para mudar políticas injustas e opressivas em suas próprias cidades
e nações. Por exemplo, tipicamente em toda a história, o chefe, rei, imperador
ou czar era uma lei para si mesmo, o que hoje em dia chamaríamos de ditador.
Ele fazia as leis e todos estariam presos à elas exceto ele. O primeiro incidente
conhecido de alguém ter levado o ditador a responder à lei está registrado em
Ambrósio (c. 340-397): o bispo de Milão desafiou o injusto massacre dos
inocentes pelo Imperador Teodósio o Grande (r. 379-395).
1 4
No início do século XIII, Stephen Langton, arcebispo de Canterbury,
liderou os esforços que levaram o Rei João a concordar com a Magna Carta,
que é um dos documentos mais fundamentais de liberdade já escritos.1 5 Essa
carta, estabelecida com base em esforços anteriores, tornava até mesmo um
rei sujeito ao domínio da lei e concedia alguns direitos básicos aos cidadãos.
Entre outros princípios, ela estabelecia que a justiça não poderia mais ser
comprada ou vendida, que não poderia haver cobrança de impostos sem
representação, muito menos prisão sem julgamento e que a propriedade não
poderia ser confiscada sem justa compensação.''
Em 1520, Martinho Lutero pregou a posição de separação entre igreja e
estado. Cristo distinguiu entre dois reinos - Deus e César'' - e Lutero
argumentou a partir desse ponto de vista. O cristão, disse ele, é membro de
ambos os reinos e tem a obrigação de ser um bom cidadão tanto de sua nação
quanto do reino dos céus. Outro reformador, João Calvino, realizou profundos
estudos sobre como lei e aliança bíblicas podem ser interpretadas e aplicadas
na Europa.
As idéias dos reformadores atravessaram o Atlântico e foram cruciais
na formação da governança das colônias e, basicamente, na formação dos
Estados Unidos da América. Por exemplo, o renomado estudioso de legislação,
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 256/373
274 1 VOCAÇÃO:
Escreva suo assinatura no universo
o inglês William Blackstone (1723-1780) descreveu expressivamente os conceitos
da lei natural ensinados por Paulo18
e
pelos gregos e que foram divulgados
pelos pais da igreja. Sua obra Commentaries on the Laws of England
[Comentários sobre as Leis da Inglaterra] (1675) era leitura comum dos
fundadores dos Estados Unidos. A Constituição dos Estados Unidos-chamada
por muitos de "a maior carta de liberdade e justiça do mundo"-foi assinada por
trinta e nove dos fundadores da nação, dos quais a maioria era cristã.' '̀
Muitas das características que hoje deixamos passar despercebidas na
sociedade Ocidental estão ligadas a uma cosmovisão bíblica. Já discutimos a
separação entre igreja e estado, na qual ambas as esferas respondem a Deus
sem ter poder uma sobre a outra, e também tratamos do princípio do autogoverno.
Adicionalmente, o domínio da lei e o sistema de freios e contrapesos na
governança (separação de poderes) estão ligados a um entendimento bíblico da
depravação do ser humano. Também a igualdade do indivíduo diante da lei está
ligada ao fato de que todos os homens e mulheres são feitos à imagem de Deus
e, portanto, são iguais em dignidade e valor.
Deus ordenou o governo-o seu governo, o autogoverno e o governo civil.
Ele nos mostrou como governar e governou em liberdade e justiça. Ele chama
os cristãos a essa esfera de influência para manifestar seu reino redentor, o
reino de Deus.
Nossos Chamados Hoje
•
Promover liberdade, justiça e o conceito de autogoverno. Esse é um
chamado ao qual podemos responder quer estejamos trabalhando em um dos
ramos do governo ou em nossas famílias, escolas, mídia, negócios, igreja ou
programas comunitários.
•
Sermos cidadãos que respeitam às leis.
•
Tornarmo-nos eleitores conscientes, conhecendo as questões envolvidas
e os candidatos.
•
Engajar-nos no processo político de outras maneiras no nível local,
regional ou nacional; por exemplo, participando de reuniões na prefeitura ou do
conselho diretivo de escolas, comunicando-nos com os representantes eleitos,
voluntariando-nos para trabalhar como mesários em uma eleição ou trabalhando
em uma campanha.
•
Protestar contra as autoridades onde as ações do governo ou quando a
lei local, regional ou internacional se opõe às leis de Deus. Declarar apoio a
ações e leis que manifestem verdade e justiça.
•
Trabalhar com habilidade e integridade no serviço público no governo
municipal, regional ou nacional.
•
Servir em um cargo público, desde a câmara dos vereadores e conselho
para questões hídricas até cargos de alcance estadual e nacional.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 257/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 258/373
276 1 VOCAÇÃO: Escreva
sua assinatura na univer.sv
logo em seguida nos livretos educativos como, por exemplo, o Didache que
instruía novos convertidos,'' e nas escolas "catequéticas" de Justin Martyr do
segundo século, que forneceram instrução na fé e prática."
Seguindo o padrão das escolas catequéticas fundadas pelos pais da igreja,
as escolas "catedráticas" e "episcopais" administradas pelos bispos eram
construídas junto aos prédios das igrejas e das catedrais. Essas escolas
ensinavam tanto doutrina quanto as "sete artes liberais." O currículo tinha duas
partes: O trivium (gramática, retórica e lógica) e o quadrivium (aritmética, música,
A HISTÓRIA DE JOHN W. WHITEHEAD
Muitos anos atrás, ouvi uma história
sobre meu mentor Francis Schaeffer ter
ministrado a um grupo de advogados
cristãos. Ele lhes perguntou o que tornava
cristã a prática de um advogado. Seria
suficiente colocar revistas cristãs na mesa
do cafezinho na sala de espera? Schaeffer
fez uma provocante pergunta àqueles
jovens advogados: "O que vocês têm feito
diante da Corte Suprema ultimamente?"
Conforme a história que me
contaram, havia um jovem advogado
chamado John Whitehead entre eles. A
pergunta de Schaeffer motivou Whitehead
a examinar sua própria vida e trabalho. Em
resposta ao desafio de Schaeffer, em 1982
Whitehead fundou o Instituto Rutherford,
uma firma de direito de interesse público
especializada em questões de diretos
humanos e civis. Por mais de vinte e cinco
anos, o Instituto Rutherford oferece
serviços advocatícios gratuitos a pessoas
que necessitam de proteção de seus
direitos. O Instituto Rutherford tem sido um
contrapeso na sociedade americana em
relação ao Sindicato das Liberdades Civis
Americanas (American Civil Liberties Union
- ACLU).
O próprio John Whitehead seria o
primeiro a admitir que suas ações iam con-
tra o pensamento corrente em relação tanto
como cristão quanto como advogado. "As
pessoas religiosas em grande parte haviam
se retirado e não estavam participando de
sua cultura," diz Whitehead. De fato, White-
head ouviu de alguns cristãos que "o
envolvimento cristão nas cortes era
antibiblico."
Hoje, após muitos anos de
perseverança, fé e ação, o Instituto Ruth-
erford de John Whitehead pode responder
ao desafio de Schaeffer de maneira
afirmativa. Em 2007, o Instituto Rutherford
recebeu 1594 pedidos de assistência
advocatícia e 66 casos que tratavam de
várias violações de direitos civis e humanos
seguiram os estágios pré-litigiosos e
litigiosos, inclusive vários que tiveram
apelos diretos à Suprema Corte dos Estados
Unidos.
2
Em vinte e cinco anos, o Instituto
Rutherford tem assegurado para os Estados
Unidos uma porção de êxitos em áreas como
liberdade de expressão, liberdade religiosa,
direitos religiosos, direitos parentais e
assédio sexual. Recentemente, em um
movimento para proteger à liberdade de
expressão não violenta dos ativistas pró-
vida, os membros do Instituto Rutherford
declaram sua crença de que "a expressão
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 259/373
Os domínio,
1 277
geometria e astronomia).' Perceba que nisso, a educação cristã vai além da
instrução religiosa e moral e começa a alcançar todas as áreas da vida. Isso
ficou conhecido como educação cristã clássica, mas, para sociedades que
abandonaram os fundamentos da Escritura, isso ficou conhecido como artes
liberais.
Indo além da educação cristã clássica, os seguidores de Cristo fundaram
as primeiras universidades durante a Idade Média. Apesar dos gregos e romanos
terem produzido alguns dos maiores filósofos, poetas e eruditos do mundo, eles
em nossa república deve continuar livre não
somente para oradores populares, mas
também para os impopulares e
dissidentes."'
Em um caso diferente, o Instituto
Rutherford impetrou uma ação solicitando
que a Suprema Corte invalidasse a decisão
de uma corte inferior que determinava não
ser necessária a autorização dos pais para
que um menor de idade fizesse um aborto.
Respondendo à decisão positiva da
Suprema Corte, Rutherford declarou:
"Estamos satisfeitos que a Suprema Corte
confirmou os direitos reservados aos
estados e às pessoas de proteger os
menores que enfrentam decisões sérias
como o aborto.. .. Afinal de contas, se os
menores precisam de autorização dos pais
para colocar piercings, fazer tatuagens ou
bronzeamento artificial, por que não
deveriam os pais serem notificados sobre
algo tão determinante quanto o aborto?"
É importante percebermos que o
Instituto Rutherford compromete-se em
proteger os direitos individuais de cada
pessoa nos Estados Unidos, não somente
os direitos das pessoas com cujas visões
e ações eles concordam. Isso pode trazer
desconforto em certo momento. Nas
palavras de Whitehead: "Nossa esperança
é que todos os americanos se lembrem que
nossos direitos e liberdades constitucionais
devem se aplicar a todos os cidadãos, não
apenas àqueles a quem o nosso governo
decide concedê-los."
Em setembro de 2008, continuando
sua decisão de "assentar-se no portão da
lei," Whitehead respondeu a um chamado
de prestar testemunho diante do Subcomitê
Constitucional do Comitê Judicial do Senado
dos Estados Unidos. A questão a qual
Whitehead foi solicitado a tratar era o
enfraquecimento do estado de direito nos
Estados Unidos. Em seu testemunho por
escrito, ele declarou: "Nunca na história
americana houve uma necessidade mais
premente de se viver pelo estado de direito,
respeitar a separação de poderes e
verificar o poder e abuso do governo. . .
Isso é particularmente crítico neste
momento, quando os efeitos da guerra
americana contra o terrorismo continuam a
ser sentidos em casa e no exterior."
6
O Instituto Rutherford tem sido uma
forte voz para a liberdade, fazendo a nação
prestar contas por sua Constituição e
particularmente por sua Declaração de
Direitos e Garantias. Como a vocação de
John Whitehead tem demonstrado, é
possível, - e vital-que os cristãos se
engajem com a cultura em todos os níveis,
no caso de Whitehead nas complexidades
do direito e governança que afetam a todos
nós.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 260/373
278 1 VOCAÇÃO:
Escreva .sua assinatura no universo
deixaram de criar instituições de educação superior que resistissem ao tempo.'
Foram os seguidores de Cristo que, com sua paixão por obter conhecimento
bíblico em todos os domínios, lançaram as bases da educação superior. Du-
rante o início da Idade Média na Europa, várias ordens monásticas cristãs
desenvolveram bibliotecas, que atraíram para si estudiosos e lançaram os
fundamentos das primeiras universidades. A primeira foi a Universidade de
Bolonha na Itália em 1158. Não demorou muito tempo para as universidades
aparecerem na Espanha, Escócia, Suécia, Polônia e Itália. A Universidade de
Paris na França apareceu em 1200 e, em seguida, veio Oxford na Inglaterra e
as universidades de Portugal, da Alemanha e da Áustria.
No outro lado do Atlântico, as primeiras universidades americanas antes
da Guerra da Independência dos Estados Unidos, com exceção da Universidade
da Pensilvânia, também foram fundadas por cristãos e baseavam-se em
princípios para os propósitos do reino." Harvard, Yale e Princeton estavam
entre elas. De fato, mais de cem das primeiras faculdades e universidades
fundadas nos Estados Unidos tinham raízes cristãs." Fica claro que os cristãos
durante séculos tiveram uma grande paixão pelo aprendizado e responsabilidade
de passar conhecimento às próximas gerações.
Outro aspecto da educação que deixamos passar despercebido em nossos
dias é a "educação universal," na qual todos devem ter acesso ao aprendizado
básico, independente de seu gênero, raça ou condição social. O acesso irrestrito
à educação é outro legado dos Reformadores do século XVI. Eles criam que
todas as pessoas, inclusive os camponeses e atendentes de lojas, deveriam ter
acesso à educação básica em disciplinas como gramática, leitura, aritmética e
religião, assim como educação secundária com o propósito de treinar os cidadãos
para exercerem a liderança civil e eclesiástica. Isso começou com a profunda
crença dos Reformadores de que a Bíblia deveria ser traduzida para muitas
línguas e estar disponível a qualquer indivíduo, não apenas aos "representantes"
da igreja. Kennedy e Newcombe escrevem: "Foi somente quando a Bíblia
tornou-se novamente o foco do cristianismo que a educação para as massas
nasceu.' O historiador da educação William Boyd observa: "Lutero, de fato,
queria um sistema de educação tão livre e irrestrito quanto o Evangelho que ele
pregava [e] indiferente, assim como o Evangelho, às distinções de sexo ou
classe social.""
Hoje, na esfera educacional, tanto problemas quanto oportunidades são
abundantes. Em muitas nações da África, a epidemia de HIV/AIDS está
estagnando ou impedindo o progresso na área educacional. Há poucos
professores e as crianças e suas famílias são forçadas a lutar pela sobrevivência
diária ao invés de se prepararem para o futuro. Mesmo nas regiões onde não se
cobram mensalidade, o custo de uniformes, livros, materiais e transporte tornam
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 261/373
Os domínios 1
279
a educação algo inatingível. Sem condições de ter essas coisas, muitas crianças-
tanto órfãos quanto aqueles que ainda têm a felicidade de ter pais-são forçados
a trabalhar para suprir necessidades básicas. Mesmo onde não há uma epidemia
de HIV/AIDS, a falta de acesso, oportunidades iguais para meninas e a
necessidade de trabalhar acabam impedindo milhões de crianças em todo mundo
de receber educação. Quando visitei uma das regiões mais pobres da Guate-
mala, um amigo me falou de uma das escolas locais. Essa escola existia há
trinta anos e contava com quatrocentos alunos. Mas em trinta anos, apenas
doze meninos haviam completado o sexto ano e apenas uma menina havia
frequentado a escola. Essa é uma ilustração típica do cenário educacional atual
em grande parte do mundo em desenvolvimento, onde é necessário que haja
maior influência cristã e mais trabalhadores cristãos.
As nações ricas também enfrentam seus próprios dilemas educacionais.
Há tempos abandonaram a instrução sobre virtude e o desenvolvimento do
caráter, e passaram a ser promotores militantes da cosmovisão ateísta/
materialista, da "ciência" darviniana e do relativismo moral e cultural.
Quando pensamos nas carências de nosso país e de todo o mundo e os
muitos tipos de métodos educacionais, como educação no lar, escolas públicas
e particulares, vemos que os cristãos tem inúmeras oportunidades de descobrir
sua vocação no domínio da educação.
Nossos Chamados Hoje
•Codificar línguas para que todos os povos tenham acesso às Escrituras.
Esse é o chamado de homens e mulheres em organizações cristãs como a
Wycliffe Bible Translators.
•Fundar bibliotecas em comunidades e bairros pobres para encorajar a
alfabetização e o aprendizado.
•Estabelecer programas de alfabetização para crianças e adultos em
sociedades não alfabetizadas e para pessoas analfabetas em geral.
•
Estabelecer programas de treinamentos e capacitação.
•
Ser tutor de crianças e adultos que necessitem de encorajamento e
treinamento adicionais para alcançarem seu potencial.
•Demonstrar aos pais como assumir responsabilidade pela educação de
seus filhos.
•
Estabelecer escolas que sejam conscientemente fundamentadas sobre
uma cosmovisão bíblica e utilize um currículo com base na Bíblia para todos os
aspectos da vida, não apenas para instrução religiosa.
•Apoiar a escola de seus filhos ou as escolas comunitárias doando tempo,
dinheiro e outros recursos.
•Oferecer estágios
e
mentores para estudantes em sua área de trabalho.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 262/373
280 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
•
Trabalhar como estudiosos cristãos, sendo os melhores professores e
pesquisadores que pudermos.
•
Trabalhar como professores e administradores em escolas públicas,
particulares ou escolas do lar, preparando a próxima geração para seus papéis
como líderes-servos em suas áreas de atuação.
•
Trabalhar na equipe de apoio em escolas e universidades, ajudando a
oferecer a melhor educação possível para os alunos.
SAÚDE
Questões de saúde e enfermidade são vistos muito diferentemente do
que eram vistas no tempo de Jesus. Você pode imaginar como deve ter sido se
pensar que no mundo greco-romano, a crueldade e a violência eram consideradas
virtudes e a compaixão um sinal de fraqueza (discutiremos isso melhor no
A HISTÓRIA DE ELIZABETH YOUM ANS
Dra. Elizabeth Youmans é uma
educadora que conseguiu entender que a
Bíblia não é somente um livro "espiritual",
mas também o "manual do proprietário" para
toda vida. Ela entende que a Palavra de
Deus estabelece a verdadeira natureza do
que significa ser um ser humano e uma
criança e, portanto, tem algo de importante
a dizer sobre educação.
Frequentemente, os educadores
cristãos, tendo sido criados em um ambiente
secular, começam com um entendimento
ateísta de criança e da natureza humana e,
portanto, consciente ou inconscientemente
aderem a uma filosofia e pedagogia
seculares de educação. Com
essa base,
eles contratam cristãos para ensinar em
suas escolas, constroem uma capela e
inserem uma aula de estudo da Bíblia e
concluem que isso é educação cristã.
Elizabeth Youmans compreende que
precisamos ir ao Livro como fundamento
para desenvolver uma teologia da criança
e, então, desenvolver uma filosofia e
pedagogia educacional fundamentadas em
uma cosmovisão bíblico-cristã. Ela escreve:
A primeira questão é se Deus criou
as crianças cheias ou vazias. Se a
resposta for vazias, então a filosofia de
educação é despejar informação dentro da
cabeça da criança para que ela memorize e
repita a resposta "correta" como um
papagaio. Se a resposta for cheia, então a
filosofia de educação será trazer para fora
o potencial de Cristo da criança de maneira
que ela possa desenvolver sua habilidade
de pensar e raciocinar a partir de uma
perspectiva bíblica ou base de verdade. O
papel da educação é trazer para fora o
pleno potencial de cada criança de forma
que ela possa atingir o destino de Deus para
sua vida.
Todo pensamento e raciocínio
começa com alguma base, alguma premissa,
alguma filosofia. A base para pensar e
raciocinar na perspectiva de Deus é a
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 263/373
Os domínios
1 281
próximo capítulo). "Assistência Médica" certamente não era uma prioridade
como é no mundo moderno. Havia poucas instituições gregas e romanas nessa
área. O autor John Jefferson Davis escreve:
No Império Romano pré-cristão, só existiam hospitais para soldados,
gladiadores e escravos. Trabalhadores braçais e outros indivíduos
desfavorecidos não tinham lugar de refúgio. Os homens. . . pouco se
interessavam pelos doentes e frequentemente os punham para fora de
casa, deixando-os à mercê do destino."
O mundo hebreu ou judaico da época de Cristo (e de antes) foi chamado
por Deus a abandonar o pensamento pagão acerca da saúde e a seguir suas
leis. Obediência era a chave para uma vida saudável (veja, por exemplo, Dt
7.11-15). O livro de Levítico é cheio de sabedoria prática para sustentar a
verdade e palavra reveladas de Deus. A
palavra de Deus é central à educação
cristã.'
Assim sendo, a Dra. Youmans tem
sido pioneira na educação centrada na
Palavra. Ela é líder na Abordagem por
Princípios, que utiliza o método histórico
americano de raciocínio e coloca a verdade
da Palavra de Deus no centro da educação.
Ela atuou como professora de sala de aula,
administradora escolar, treinadora de
professores, professora da pós-
graduação, escritora de currículos e editora
do The Noah Plan, um currículo na
Abordagem por Princípios para escolas
cristãs e para pais que preferem ensinar
seus filhos em casa.
Essa apaixonada educadora
abraçou o chamado de Deus sobre sua vida
para levar a Educação por Princípios ao
mundo em desenvolvimento. Professora
visitante na Universidade de Regent na
Virgínia, Youmans treinou estudantes do
mundo inteiro que retornam para seus
países para serem líderes na educação. Ela
também fundou e lidera a Chrysalis Interna-
tional, um instituto educacional sem fins
lucrativos que busca ensinar líderes
cristãos ao redor do mundo a aplicar
princípios bíblicos à educação. Ela viaja ao
redor do mundo, comunicando a visão da
educação com bases numa cosmovisão
cristã, treinando professores cristãos e
ajudando a fundar escolas e associações
educacionais cristãs em alguns dos países
mais pobres do mundo. Ela também
desenvolveu um currículo por princípios para
crianças chamado AMO.
Elizabeth Youmans tem quatro filhos
e sete netos e tem uma vocação que abraça
as crianças do mundo. Seu trabalho
reconhece que "cada criança é feita à
imagem de Deus e destinada à imortalidade"
e que "cada criança é uma promessa com
um nome, uma paixão, uma história e um
lugar na história do Criador "2
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 264/373
282 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
saúde das pessoas e de suas comunidades. Os capítulos 11 a 15, por exemplo,
instruem em princípios de nutrição, dieta, saneamento, higiene, doenças
infecciosas, criação de filhos e cuidados com crianças.
Quando Jesus veio à terra, podemos ver o grande choque entre as
cosmovisões hebraica e greco-romana ao observarmos suas diferentes atitudes
em relação aos cuidados com os doentes. Apesar do famoso médico grego
Hipócrates (460 -377 AC), "Pai da Medicina", ter introduzido a ética aos
profissionais de saúde através do Juramento de Hipócrates e apesar de ter
feito muito para colocar a medicina em uma base científica separando-a da
superstição, esses benefícios em grande parte afetaram somente os ricos e
livres.
Em contraste, Jesus e seus seguidores tornaram a misericórdia universal
e a compaixão pelos enfermos um dos mais elevados valores da obediência e
discipulado cristãos. Jesus geralmente é chamado de o Grande Médico por
conta de sua ênfase determinada em curar pessoas de qualquer raça ou condição
social. A misericórdia, compaixão e o cuidado dos cristãos, nos primórdios,
com os doentes, foi algo revolucionário no mundo greco-romano e esses valores
têm sido um contraponto redentor contra atitudes cruéis e impiedosas em relação
aos doentes desde então. Jesus chegou ao ponto de ensinar que quando cuidamos
dos doentes, estamos cuidando dele.
3 1
Durante o início da era cristã, os cristãos abandonaram a cultura pagã ao
levar os doentes e moribundos para suas casas para cuidar deles. Muitos
pagãos fugiram das pragas que assolaram o Império no segundo e terceiro
séculos, enquanto os cristãos ficaram para cuidar dos que sofriam e padeciam.
Eles sabiam que o reino de Deus avança mesmo em meio ao sofrimento.
Cipriano, bispo de Cartago, escreveu em 251:
Que apropriado e necessário que essa praga e pestilência, que
parece horrível e mortal, busque a justiça de cada indivíduo e sonde as
mentes da raça humana; se os bons realmente cuidam dos enfermos, se os
parentes amam os seus entes como deveriam, se os senhores mostram
compaixão pelos seus escravos que padecem, se os médicos não
abandonam os aflitos [grifo meu]. -"
Lembre-se que a maior parte desses cristãos não eram pessoas com
treinamento médico. Eram pessoas comuns que simplesmente ajudavam como
que podiam. Ao oferecer simples confortos como água, cobertores e um toque
humano, assim com seu tempo, cuidado, compaixão e, sim, às vezes até mesmo
suas próprias vidas, esses cristãos sustentaram milhares de pessoas abandonadas
pela sociedade pagã durante os estágios difíceis da praga. O evangelho, como
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 265/373
Os domínios 1 283
vemos, é uma operação de resgate e esses cristãos sabiam o que isso queria
dizer.
Em 325 o Conselho de Nicéia, além de lidar com questões teológicas,
determinou que fosse fundado um hospital em cada cidade onde se construísse
uma catedral.' No século VI, os hospitais haviam se tornado tão comuns quanto
mosteiros."' E no início da Idade Média, já havia tantos hospitais administrados
por cristãos que o mundo árabe-tão impressionado com o cuidado dos cristãos
com os doentes -começou no século VIII a construir hospitais em suas próprias
terras. O termo utilizado, muitas vezes, para se referir a esses hospitais era
casa de Deus.
Henry Dunant (1828-1910), um seguidor de Cristo, originário da Suíça e
um dos fundadores da YMCA [No Brasil, ACM - Associação Cristã da
Mocidade], presenciou uma batalha em Solferino, Itália, que se tornou um marco
em sua vida. Dessa experiência ele viu a necessidade de uma organização
internacional voluntária que cuidasse dos feridos em tempos de guerra." Como
resultado, a Cruz Vermelha Internacional foi fundada em 1864. Foi a fé cristã
de Dunant que o levou a usar a cruz como símbolo da nova organização. Em
1876, a Sociedade Mulçumana do Crescente Vermelho foi fundada no Império
Otomano, a Turquia dos dias atuais. Essa iniciativa humanitária estabelecida
por não-cristãos foi resultado da obediência cristã a Jesus."'
Na França, o Dr. Louis Pasteur (1822-1895), outro seguidor de Cristo,
foi um dos maiores biólogos de seu tempo. Kennedy escreve que a "pesquisa
em bacteriologia de Pasteur deu luz à pasteurização, esterilização e
desenvolvimento de vacinas contra a maior parte das doenças letais, entre elas
a raiva, difteria e o carbúnculo."' Milhares de pessoas em todo o mundo hoje
desfrutam de boa saúde porque Pasteur ouviu as palavras de Cristo para ajudar
os enfermos.
Depois da Guerra Civil americana, hospitais começaram a florescer nos
Estados Unidos, geralmente fundados por denominações ou igrejas individuais.
Suas raízes católicas e protestantes podem ser vistas em seus nomes ainda
hoje: Hospital Batista, Hospital Luterano, Hospital Metodista, Hospital
Presbiteriano, São João, São Lucas, Santa Maria e São José. "
A enfermagem médica também é um legado dos seguidores de Jesus.
Mesmo não havendo enfermeiras "profissionais" durante os primeiros anos da
era cristã, evidências "indicam que viúvas, diaconisas e virgens comumente
serviam como enfermeiras nos primeiros hospitais cristãos."'" Nos séculos
seguintes, comunidades religiosas cuidaram dos doentes e muitos dos hospitais
de hoje foram fundados por irmãs enfermeiras. Florence Nightingale (1820-
1910) é conhecida como a fundadora da enfermagem moderna. Cristã devota,
ela começou a liderar equipes
de
mulheres que cuidavam dos moribundos e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 266/373
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 267/373
Os domínios 1 285
•
Fundar ou trabalhar em algum empreendimento que ofereça serviços
de "cuidados diários" para aliviar pessoas que estejam cuidando de parentes
idosos, doentes ou deficientes ou voluntariar o seu tempo para ajudar familiares
que estejam cuidando de enfermos.
•
Voluntariar-se para participar de viagens missionárias de assistência
médica. Sempre há necessidade de médicos, enfermeiras, dentistas e equipe
de apoio.
•
Oferecer treinamento a profissionais da área médica em países em
desenvolvimento contribuindo para seu aperfeiçoamento.
•
Ofertar o seu tempo para cuidar dos doentes pobres em sua própria
comunidade.
•
Continuar a pesquisa na luta contra doenças, que ajuda a combater os
efeitos da Queda.
•Trabalhar para mudar as leis injustas na área de saúde, seja na condição
de advogado, político ou cidadão.
ARTE
Com exceção do islamismo, judaísmo e cristianismo, as grandes religiões
e filosofias mundiais defendem um mundo sem princípio, um mundo sem Criador.
Mas se o ato da criação não existe, de onde vem o impulso criativo que vemos
nas pessoas ao redor do mundo? Por que, então, existe música, escultura, drama,
poesia e pintura? Que estrutura pode explicar e dar sentido à criatividade da
humanidade? Em contraste a um mundo sem início, a linha de abertura da
narrativa bíblica explode nos anseios de artistas ao redor do mundo: "No princípio
Deus criou os céus e a terra" (Gênesis 1.1). Essas palavras revolucionárias
estabelecem o "enredo" da História. A metanarrativa que começa com essas
palavras cria um mundo muito diferente e um contexto muito diferente para
nossas vidas do que as histórias de outras cosmovisões. Entre outras coisas, ela
responde às questões de nossos anseios por desenhar, pintar, esculpir, compor
música e dançar.
Deus fez o ser humano à sua semelhança; e como tal, os seres humanos
tanto são fabricantes de palavras41 quanto fabricantes de arte.42 O autor inglês
J. R. R. Tolkien escreve que a arte é o "vínculo operativo entre a imaginação e
o resultado final, a Subcriação."
4 3
A maravilha do ser humano, a imago Dei, é que começando com o que
Deus forneceu, o homem é capaz de fazer novas coisas. O compositor pode
criar uma sinfonia que ninguém jamais ouviu. O pintor pode criar uma pintura
que nenhum olho jamais viu. O poeta pode escrever um poema que ninguém
jamais leu. Enquanto tudo isso é original, nada disso surpreende Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 268/373
286 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
A HISTÓRIA DE MARY HOLMGREN
Na vocação que engloba ser esposa
de pastor, com seis filhos e doze netos,
Deus traçou em sua vida um chamado es-
pecial para cuidar dos doentes e idosos.
Através da vocação de uma mulher a servir
os idosos, Deus fez a si mesmo conhecido
na simplicidade.
Olhando a vida de Mary Holmgren,
surge um padrão. Ela se sentia à vontade
com os idosos ainda quando era
adolescente. Sua mãe dirigia uma casa de
repouso na residência da familia nos anos
de 1950. Essa foi uma das diversas
maneiras que a mãe de Mary sustentava a
família após ficar viúva - e ela contava com
a ajuda de Mary. Mary lembra que muitos
dos residentes da casa de repouso eram
como avós. Esse padrão de chamado na
vida de Mary continuou quando ela saiu de
casa. Após o Ensino Médio, enquanto
cursava graduação em serviço social, Mary
residiu com senhoras idosas que aceitavam
acompanhantes. Alguns anos mais tarde,
Mary casou-se com Alvin Holmgren e, como
esposa de pastor, tanto na juventude
quanto quando se tornou mais madura, ela
percebeu que seu trabalho estava sempre
relacionado com as muitas pessoas idosas
da congregação. Enquanto ela e Alvin
criavam uma jovem familia e cuidavam de
seus pópios pas, suacasa
frequentemente ficava cheia de visitantes
idosos e seus filhos se lembram de ter
passado horas em casas de repouso,
hospitais e funerais.
Posteriormente, quando a maioria de
seus filhos havia crescido, os Holmgrens
acomodavam e cuidavam de um amigo da
família que sofria de câncer ósseo em
adiantado estágio. Seguindo essa
experiência, enquanto pastoreavam, eles
decidiram abrir uma casa de repouso, um
modelo de assistência que estava se
reavivando na época. Eles reformaram uma
parte do primeiro andar da casa e fizeram
tudo o que era preciso para conseguir a
autorização do governo para funcionar.
Em certo momento, havia cinco
residentes vivendo com os Holmgrens.
Alguns residentes ficavam alguns meses;
outros se tornaram parte da família por
anos. Durante dez anos de operação da
atividade, Mary realizou muitas tarefas de
rotina. Ela visitava os residentes, preparava
três refeições por dia sem falta, ajudava as
pessoas a caminharem até o banheiro,
esvaziava cadeiras sanitárias, dava
banhos, aplicava medicações, atendia a
chamados no meio da noite e participava
de reuniões de associações para ficar a
par das regulamentações do governo e
para fazer novos clientes. Sobretudo, Mary
ficava em casa e disponível vinte e quatro
horas por dia; quando queria sair por alguma
razão, ela precisava pagar um substituto
qualificado. A rotina era ininterrupta, 24
horas por dia, 7 dias por semana, o que
afetou a família de maneiras desafiadoras.
Certamente podemos chamar o que Mary
fazia de trabalho. Mas era trabalho com um
propósito. A atividade tanto ajudou a
sustentar sua família quanto forneceu uma
alternativa familiar à assistência
institucional para vinte e nove pessoas.
Mary conhecia as histórias dos
residentes, de onde vinham e como haviam
passado suas vidas. la sabia o que
gostavam de comer e o que lhes deixava
nervosos. À vontade com os idosos de
uma maneira que muitas pessoas não ficam,
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 269/373
Os domínios I 287
ela tratou as pessoas sob seu cuidado com
amor e respeito, como indivíduos, não de
maneira genérica como "idosos
simpáticos." Quando familiares e amigos
apareciam ou quando membros da igreja se
reuniam no lar dos Holmgrens para
comunhão u elebração, la
frequentemente convidava os residentes a
participar, ajudando-os a manobrar seus
andadores até a sala de estar da família.
Mary sabia que cuidar dos
residentes envolvia cuidar de suas famílias
mesmo que ela estivesse ocupada ou
cansada. Ela ouvia suas histórias e
preocupações, ajudando-os a lidar com o
processo de envelhecimento de seus
amados. Ela ouvia as histórias dos parentes
dos idosos. Para os residentes que
possuíam famílias atenciosas-quer filhos e
filhas, netos, irmãos, sobrinhos ou
sobrinhas-tudo se tornava familiar. Uma das
idosas, esposa de um dos residentes,
passava horas conversando com Mary toda
semana. Quando não conseguia mais viver
independentemente, ela mudou-se para a
casa de repouso dos Holmgren, já se
sentindo à vontade.
Talvez a parte mais singular do
trabalho de Mary ocorria quando os
residentes ficavam fracos ou doentes. Se
a hospitalização não funcionasse e fosse
possível para ela continuar a cuidar deles,
May pemtiaqueos idosos
permanecessem na casa, mesmo com o
aumento da carga de trabalho. Ao invés de
mandar as pessoas embora quando a morte
se aproximava, ela era capaz de oferecer
um ambiente familiar para os residentes e
suas famílias. A começar por seu amigo
com câncer, muitas pessoas faleceram no
lar Holmgren. Para Mary como profissional
da saúde e Alvin como pastor, ajudar as
pessoas no fim da vida era uma parte inte-
gral de seu chamado. O que era
incompreensível e assustador para as
pessoas havia se tornado corriqueiro para
eles, ainda que não banal. Confiantes no
aspecto sagrado da vida e de nossa
passagem para a próxima vida, eles foram
capazes de ajudar famílias a negociar tanto
os aspectos práticos quanto as emoções
da morte de um ente querido.
Para que fosse financeiramente
viável e oferecesse assistência de
qualidade, esse trabalho era extremamente
confinador, exigindo que Mary estivesse a
postos a maior parte do tempo. Mas ela foi
capaz de dedicar-se ao cuidado dos idosos
nesse período de sua vida, enquanto, por
uma série de razões, os familiares eram
incapazes de oferecer cuidado vinte e
quatro horas por dia aos seus entes
queridos.
Nos anos que vieram após Mary se
aposentar do trabalho na casa de repouso,
ela e Alvin cuidaram em sua casa de uma
pessoa idosa de sua família com esclerose
múltipla e não possuía condições de viver
sozinha. Agora com mais de setenta anos,
os Holmgrens enfrentam-antes do que
imaginaram-os mesmos desafios com os
quais, com graça e esperança, ajudaram
outros indivíduos e suas famílias. Conforme
sofrem com as mudanças progressivas
causadas pelo mal de Alzheimer em Alvin,
eles se apoiam no mesmo Deus que os
chamou à salvação em Cristo e os sustenta
em fé, o Deus que também os preparou e
os sustenta na Vocação.
Olhando essas duas vidas comuns
que Deus uniu, fica claro que, assim como
Deus preparou e chamou Alvin para a
Vocação como pastor, Deus também
preparou e chamou Mary para a Vocação
na qual ela continua a se fazer conhecida
em dias comuns e de maneiras simples.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 270/373
288 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Somos destinados a ser criadores. Como Edith Schaeffer escreve:
Somos criados à semelhança do Criador. Somos criados à imagem
de um Criador. Assim, somos, num nível finito, pessoas que podem criar.
Por que o ser humano tem criatividade? Por que o homem pode pensar em
tantas coisas com sua mente [imaginação], escolher e, em seguida, trazer
à existência algo que as outras pessoas possam experimentar com o paladar,
olfato, tato, audição e visão? Porque o ser humano foi criado à imagem de
um Criador. O homem foi criado para que pudesse criar. Ser criativo não
é perda de tempo. Não é desperdício dedicar-se a realizações artísticas e
cientificas com criatividade, porque foi para isso que o ser humano foi
feito."
O chamado às artes, como Schaeffer reconhece, ao início de tudo, à
criação. Assim como todas as vocações, a vocação do artista está ligada ao
nosso chamado coletivo a criar cultura. Assim como a cultura é uma
manifestação da adoração, toda arte pode ser dita religiosa, e não somente a
arte que trate explicitamente de um tema religioso. E assim como uma sociedade
individual tem vários graus de cultura do reino, cultura falsa
e cultura natural, o
mesmo pode ser dito da arte.'
Assim como a arte de cada cultura, a expressão criativa do povo de
Deus, Israel, refletia sua adoração. No mundo hebraico, restrições claras da lei
judaica determinavam como Deus poderia ou não ser retratado em sua arte.
Por exemplo, a Israel da antiguidade foi ordenada a não fazer imagens religiosas
que pudessem usurpar sua adoração a Deus." Entretanto, as pessoas eram
livres para ser artísticas de outras maneiras. Eles podiam basear nos recursos
da criação e nas leis da estética que Deus deu a todos nós. Certo escritor
aponta que Deus não proibiu todo tipo de arte representacional,
4 7 "os hebreus
antigos ainda estavam desconfiados em relação a fazer 'imagens' do tipo que
seus vizinhos adoradores da natureza veneravam como manifestações de seus
deuses. Isso não significa, como comumente se alega, que eles não faziam
arte. Enquanto os pagãos adornavam sua cerâmica e outros artefatos com
figuras de animais, seres humanos e deidades, os hebreus favoreciam desenhos
não representacionais. Padrões confusos, formas integradas e cores
agradáveis."
4
" Além disso, o Antigo Testamento evidencia que os judeus
preencheram a sua cultura com dança, música, poesia e canções em sua
adoração ao Deus vivo. As seções poéticas da Escritura como os Salmos e a
Canção de Salomão são testemunhos disso. Também vemos um exemplo
impressionante de criatividade artística no livro de Êxodo, onde Deus chama e
capacita diversos tipos de artesãos para a construção de seu tabernáculo (morada
para Deus) no deserto.' Quando esse grande empreendimento artístico foi
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 271/373
domínio, I 289
concluído, Deus o abençoou ricamente com sua presença.'"
Com a exceção da cultura hebraica, a arte do mundo greco-romano na
qual Cristo entrou revelava a adoração do povo pelas coisas da criação,
retratando seus deuses e deusas
e as forças da natureza. O Infinito ou Divino,
no sentido em que judeus e cristãos entendem por 'Deus,' não era retratado,
pois o Deus transcendente não era parte de sua cosmovisão.
Desde a revelação de si mesmo em Cristo, os cristãos fielmente vivendo
suas vocações nas artes têm exibido a natureza de Deus, a natureza de sua
criação, e a natureza de seu povo. Eles têm contado a verdadeira história, a
história do Criador. Cynthia Pearl Maus, em seu livro Christ and the Fine Arts
[Cristo e as Belas Artes], escreve: "Mais poemas foram escritos, mais histórias
contadas, mais pinturas pintadas e mais canções cantadas sobre Cristo do que
qualquer outra pessoa na história humana, pois por essas avenidas a mais pro-
funda apreciação do coração humano pode ser expressa da maneira mais
adequada."5 1 Isso foi feito em toda a história da igreja de muitas maneiras e
formas, de simples "hinos e cânticos espirituais" registradas em Efésios 5.19, a
basílicas e catedrais da Europa, ao trabalho de Michelangelo.
Uma disciplina artística em que os cristãos em toda a história da
humanidade têm feito significativas contribuições é a música. Música que sirva
à Palavra de Deus tem sido criada para elevar a alma à Deus." O Papa Gregório
o Grande (c. 540-604) reestruturou a liturgia e a música da igreja, criando o
canto gregoriano. No início do século IX, "as óperas de igreja" (histórias bíblicas
transformadas em drama) eram escritas e cantadas próximo aos altares
franceses. Elas foram as precursoras das óperas que se desenvolveram
quinhentos anos mais tarde durante a Renascença."' E no século XI, um monge
chamado Guido de Arezzo (c. 990-1050) tornou-se o "pai da notação musical
moderna." A partir daí, a música ocidental foi liberta da dependência da tradição
oral, um passo crucial para transformar a música em "linguagem escrita."'
Muitos hinos grandiosos, como "Castelo Forte é o Nosso Deus" de
Martinho Lutero, vieram do período da Reforma. George Frideric Handel (1685-
1759), seguidor de Cristo, deu ao mundo o Messias, que ele escreveu em menos
de um mês, dizendo estar sob inspiração de Deus.' E o renomado Johann
Sebastian Bach (1685-1750), considerado "pai da música moderna," também
era cristão. Para Bach, a música era um ato de adoração. Em todos os seus
manuscritos e partituras podem-se encontrar as seguintes anotações: "S. D.
G", sigla de Soli Deo gloria, que significa "Glória somente a Deus"; "J.J.", Jesu
Juban, que quer dizer "ajuda-me, Jesus"; e "I.N.J" para In Nomine Jesu, que
quer dizer "no nome de Jesus."'
A música é apenas uma faceta do trabalho criativo dos cristãos nas
artes. Os cristãos lideraram as artes no passado e podem
liderar novamente.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 272/373
290 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Para isso ocorrer, o corpo de Cristo deve reconhecer que a arte é um dom de
Deus. Os artistas não precisam de outra justificativa além do fato de serem
chamados às artes. Existem, é claro, muitas justificativas válidas; o filósofo
grego Platão resumiu a importância das artes para moldar o futuro de uma
nação: "Dê-me as canções de uma nação e não fará diferença quem escreve
suas leis."' Entretanto, na raiz, não é necessária nenhuma outra validação
além do chamado de Deus.
Infelizmente, contrariando uma cosmovisão bíblica, muitos artistas têm
A HISTÓRIA DE STEFAN EICHER
Stefan Eicher é um artista da Índia.
Ele é muito consciente das injustiças
perpetuadas contra os pobres por causa
do sistema de castas hindu e sobre as
mulheres, por serem do sexo feminino e
consideradas muito inferiores aos homens.
Para ele, amar a Deus e amar ao próximo
através de seu trabalho assumiu diferentes
formas ao longo de sua viagem, finalmente
o levando a uma vocação que ele não
previu. Aqui ele conta a história de como
ele encontrou o seu chamado e uma
conexão entre arte, fé e justiça.
Estudei física na faculdade por ser,
de todas as ciências, a mais fácil para mim.
O fato de sentir que eu somente tinha as
ciências a escolher teve muito a ver com a
história de três gerações de trabalho
missionário de minha família na Índia.
Estudar ciências parecia legítimo porque o
único precedente havia sido a escolha de
meu irmão de estudar biologia na faculdade.
Eu era grato pela história que minha família
traçou nessa nação, como também por meus
pais me ensinarem a crer em Deus e serem
modelos de amor pelas pessoas, mas
quando entrei na faculdade, o fiz com a
decisão de que eu me desassociaria daquilo
que era, e ainda é, amplamente chamado
de "ministério em tempo integral," em outras
palavras, ser evangelista e pastor.
Em meu último ano de faculdade vim
a conhecer o conceito de trabalho de
desenvolvimento cristão e fiquei
entusiasmado com a ideia de que Deus nos
chama a servir os pobres, pois havia visto
o crescimento da pobreza. Na realidade,
fiquei entusiasmado de que havia
oportunidades de fazê-lo profissionalmente
em um "emprego real," sem ter que "levantar
recursos" como via meus pais terem que
fazer.
Após sete anos de trabalho com uma
agência de socorro e desenvolvimento, eu
tive um esgotamento e tirei um sabático. Uma
de minhas orações em relação a minha
recuperação era que Deus me desse
oportunidades de ser criativo pois desde
minha infância eu amava arte. Finalmente
tive a oportunidade de estudar arte na
faculdade, junto com física, e o ateliê me
forneceu grande alívio do laboratório de
física. Durante meu sabático, um grupo de
quatro antigos colegas de arte decidiu se
reunir para uma semana de comunhão em
que escolhêssemos o tema e pintássemos
a partir da perspectiva de nossa fé; a
semana terminava com uma exibição na qual
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 273/373
Os domínios 1 291
pouco apoio ao seu chamado e, frequentemente, são desencorajados por suas
igrejas, pastores e colegas cristãos. Com
muita frequência a igreja abandona o
seu rico chamado às artes em favor de um tipo de superespiritualidade. Para a
arte ter algum valor em muitos círculos evangélicos, ela tem que tratar
explicitamente e de forma inequívoca de temas espirituais e religiosos. Ela pode
ser justificada se for empregada na adoração e evangelismo. Fora disso, há
pouco espaço para o artista cristão ser artista. Existe também pouco entendimento
e espaço para o cantador de baladas"-o artista profético-falar ao mundo.
vendíamos nossas pinturas. A semana foi
uma experiência tão profundamente
satisfatória que se tornou um evento anual
e deu um nome ao nosso grupo: A
Sociedade Limner.
Em meu trabalho eu havia mudado
de saúde comunitária para tentar
diretamente fazer as igrejas responderem
aos pobres e, ainda assim, fiquei
crescentemente animado com a ideia dos
artistas serem discipuladores de nações.
Certo dia enfrentei um dilema ao descobrir
que o encontro anual da Limner estava
agendado na mesma semana que um
importantíssimo retiro de planejamento da
equipe de treinamento de nossa igreja.
Fiquei entre a cruz e a espada em relação
ao que fazer. O líder de minha equipe
asseverou que se eu tivesse claro em
relação ao meu chamado, essas decisões
menores fluiriam naturalmente. Ele
recomendou que eu tirasse o dia de folga e
perguntasse a Deus. Sentado em minha
cadeira de balanço, senti, pela primeira vez
em minha vida, que quando Deus olhava
para mim, ele via um artista. Jamais havia
pensado nisso, pois isso ia contra o que as
pessoas a vida inteira consideravam
"importante," "urgente," ou "espiritual."
Também tive uma visão de que, se me
trancasse naquele quarto e passasse os
próximos trinta anos pintando imagens de
Jesus no "aqui e agora" da Índia,
simplesmente para me ajudar a conhecê-lo
melhor e ninguém jamais visse essas
pinturas, minha vida seria um completo
sucesso. Desnecessário dizer, mas acabei
indo para o encontro de arte ao invés do
retiro para planejamento. Desde então
comecei a organizar um encontro anual na
índia intitulado "Consciência Criativa,"
baseado na Sociedade Limner, em que
artistas seguidores de Cristo pintavam
acerca das questões sociais com uma
cosmovisão bíblica e, em seguida,
compartilhavam seu trabalho com o público.
Meu desejo de pintar somente
cresce, assim como minha convicção que
da mesma maneira que a igreja se interessa
pelo evangelismo por causa do amor pelos
perdidos, ou pelos ministérios de alcance
social devido ao cuidado de Deus com os
pobres, a igreja também deveria separar
recursos e pessoal para criar arte, pois
Deus é o Criador. Tenho uma visão de
começar uma fundação de artes que crie
espaços para que os artistas seguidores
de Cristo na Índia possam praticar a arte,
descobrir seus chamados e conectar a sua
arte, sua fé e as realidades de um mundo
corrompido à sua volta. E isso me permitiria
pintar
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 274/373
292 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Essa é outra consequência da mentalidade sagrado-secular: que a igreja
perpetua a idéia de categorias estreitamente definidas de "arte religiosa" e "arte
cristã," truncando o chamado dado por Deus às pessoas. O romancista e escritor
de histórias Flannery O'Connor, católico devoto, vê o problema tanto do ponto
de vista bíblico quanto artístico:
O próprio termo "romance católico" é, obviamente, suspeito e as
pessoas que são conscientes de suas complicações não o usam exceto
entre aspas. Se eu tivesse que explicar o que é um "romance católico",
somente poderia dizer que é um romance que representa a realidade
adequadamente como a vemos manifestada nesse mundo de coisas e
relacionamentos humanos
Igreja que vemos, mesmo a Igreja univer-
sal, é um pequeno segmento de toda a criação. . . . Toda a realidade é o
reino de Cristo em potencial e a face da terra espera ser recriada por seu
espírito. Isso tudo significa que, o que chamamos de romance católico,
não é necessariamente sobre um mundo cristianizado ou catolizado, mas
simplesmente que é um mundo em que a verdade conhecida pelos cristãos
foi utilizada como luz para que se veja o mundo através dela. Esse pode ser
um mundo católico ou não e pode ter sido visto ou não por um católico."
5
'
O escopo do trabalho do artista é a realidade como um todo. É o reino de
Cristo em potencial; é a "face da terra." O que o distingue é a cosmovisão.
Por outro lado, o termo arte cristã, geralmente, traz à mente uma subcultura
de trabalho inferior, quer seja ficção, pintura ou música. Em seu ensaio "Por
que Trabalhar?" a escritora inglesa Dorothy Sayers diz:
Em seus próprios prédios, em sua própria arte e música eclesiástica,
em seus hinos e orações, em seus sermões e em seus livrinhos de devoção,
a igreja tolera, ou permite uma intenção piedosa para desculpar trabalhos
tão feios, tão pretensiosos, de tão baixa qualidade e assuntos tolos, tão
insinceros e insípidos, tão ruins que chocam e horrorizam qualquer artista
decente. E por quê? Simplesmente porque perdeu todo o senso do fato de
que a verdade viva e eterna é expressa em obra somente na medida em que
o trabalho é verdadeiro em si, para si, e para os padrões de sua própria
técnica. Ela se esqueceu de que a vocação secular é sagrada. Esqueceu
que uni prédio tem que ter uma boa arquitetura antes de ser uma boa
igreja; que uma pintura tem que ser bem pintada antes de ser uma boa
imagem sacra; que o trabalho tem que ser bom antes que possa ser chamado
de uma obra de Deus.
Que a Igreja lembre isto: que todo construtor e trabalhador é
chamado a servir a Deus em sua profissão ou área-não fora dela?'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 275/373
Os (101111'17i0.S' 1 2 9 3
O'Connor lança luz sobre esse ponto. Após falar sobre aqueles que
conscientemente distorcem seus talentos em troca de popularidade ou dinheiro,
O'Connor diz:
Com muita frequência, penso eu, vemos pessoas que distorcem os
seus talentos em nome de Deus, por razões que acham ser boas-para
reformar ou ensinar ou levar as pessoas à Igreja. E é muito menos fácil se
dizer que isso é repreensível. Nenhum de nós é capaz de julgar tais pessoas,
mas devemos, em nome da verdade, julgar os produtos que fazem. Devemos
considerar se esse ou aquele romance retrata verdadeiramente o aspecto
da realidade que se propõe a retratar O romancista que, deliberadamente,
abusa de seu talento para algum bom propósito, pode não estar cometendo
pecado algum, mas, certamente, está caindo em um a grave contradição,
pois está tentando refletir Deus em algo que equivale a unia inverdade
prática.
Romances m al escritos-não importa o quão piedosos e edificantes
seja o comportamento dos personagens-não são bons em si mesmos e,
portanto, no findo não são realmente edificantes.'
O'Connor continua, reconhecendo que Deus pode usar trabalhos ruins,
mas aponta que fazer isso é prerrogativa de Deus, não dos seres humanos.
Infelizmente, existe uma pobreza estética na igreja que também é
encontrada na cultura como um todo. A "arte cristã" também deixa a desejar
em relação à natureza encarnada e sacramental que pode conter verdade, beleza
e mistério. Conforme a cultura ocidental vira às costas para o Deus Vivo, ela
se torna utilitária em imaginação e gosto. O mundo moderno faz perguntas
pragmáticas: "Vai funcionar?" ao invés de "É verdadeiro?" "É de valor" ao invés
de "É bom?" e "É funcional?" ao invés de "É belo?"
Em meio à riqueza material, o Ocidente de hoje está, em muitos casos,
moral, espiritual e esteticamente falido por termos abandonado o Deus Vivo e a
beleza de sua santidade. Conforme nos distanciamos de um padrão objetivo de
beleza encontrada na beleza e santidade de Deus para um padrão sedimentado
em relativismo, a beleza passa a estar "nos olhos de quem vê."
Essa falência na cultura geral tem se disseminado dentro da igreja. Mesmo
ainda havendo uma forma de espiritualidade ou, em alguns casos, de religiosidade,
a igreja hoje está tomada pelo gnosticismo grego, que leva ao anti-intelectualismo,
aumento da imoralidade e ao antiesteticismo. Como a igreja no Ocidente vive
em uma cultura pós-cristã que nega o Deus da Verdade, Bondade e Beleza, ela
assume os valores da cultura geral. Tanto a igreja quanto o mundo precisam da
visão e liderança dos cristãos nas artes que entendam a natureza de Deus e de
sua criação.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 276/373
294 I
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
Nossos Chamados Hoje
•
Comprar obras de arte originais para encorajar e apoiar os artistas
cristãos.
•
Criar formas de arte que reflitam a natureza de Deus e sua criação.
•
Levar beleza a ambientes comuns e simples como casas e escritórios.
•
Fundar escolas onde todas as formas de arte e teologia bíblica são
fundidas, de maneira que a arte possa ser tanto para glória de Deus quanto
para o avanço do reino.
•
Tornar nossos locais de adoração mais belos e instigantes ao pensamento
e menos utilitários.
•
Promover aulas de arte e história da arte em escolas.
•
Escrever e produzir boas peças de grandes temas bíblicos.
•
Plantar lindos jardins de flores.
•
Promover o uso da arte em espaços públicos como parques, centros de
convenções e salões de concerto.
•
Engajar-se pessoalmente em alguma forma das artes: escrever poesia
e prosa; compor, tocar ou cantar música; pintar; esculpir ou dançar.
•
Encorajar seus filhos a desenvolver suas habilidades criativas.
A HISTÓRIA DE MAKOTO FUJIMURA
Makoto Fujimura é um pintor
americano cujas obras estão expostas em
todo o mundo. Ele mora no local onde um
dia havia a sombra do World Trade Center.
No dia 11 de setembro ele ficou preso no
metrô abaixo do Marco Zero. O ataque
deixou Makoto, sua esposa e três filhos sem
onde morar por três meses. Seus filhos fo-
ram resgatados de suas escolas por
bombeiros logo antes de as torres
desabarem.
Como ser humano, artista e cristão,
como Fujimura responderia aos eventos de
11 de setembro e a subsequente
experiência de suas devastadoras
consequências? A tragédia levantou
profundas questões para Fujimura sobre o
sentido de sua vida e o significado da arte.
Ele se perguntou: "Será que Nova Iorque é
como a Babilônia ou Jerusalém'?" Como
posso permanecer fiel nessa situação,
mesmo em meio a escombros?"'
Ele escreveu para amigos:
"Devemos criar e responder a esse
momento negro. O mundo precisa de
artistas que se dediquem a comunicar as
imagens de Shalom. Jesus é a Shalom."
Como um artista cristão comunica a Paz
Shalom em meio à guerra? Entre as
respostas à tragédia estava a exibição de
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 277/373
Os domínios
1 295
pinturas abstratas de Fujimura chamada de
"Chamas de Água." Fujimura descobriu que
o caminho para a Paz em um mundo caído é
através do fogo; ele encontrou o tema de
seu trabalho nas obras dos poetas Dante e
T. S. Eliot.
Uma raridade na cultura
contemporânea, Fujimura é tanto cristão
quanto um dos artistas visuais mais
proeminentes dos Estados Unidos. Ele
introduziu na arte abstrata moderna a
antiga técnica japonesa nihonga, a qual
ele passou seis anos estudando no Japão.
Ele também introduziu temas de beleza e
verdade, redenção e cura. Fundador do
Movimento Internacional das Artes e
presbítero em uma igreja presbiteriana em
Greenwich Vil lage, Fujimura reconhece
que alguns críticos "não sabem em que
prateleira categorizar as minhas obras.
Eles conseguem enxergar a óbvia
dimensão religiosa. Mas, mesmo que eles
gostem, meu trabalho está fora de sua
semântica
omo ríticos
contemporâneos." Ainda assim, seu
trabalho é altamente respeitado no mundo
da arte e ressoa tanto junto às plateias
seculares quanto cristãs.
Greg Wolfe, editor do jornal literário
e de artes Image, diz que Fujimura demonstra
à cultura corrente que "a arte que lida com
a realidade da experiência tradicional em
um contexto bíblico, pode ser tão boa quanto
qualquer coisa que alguém possa estar
produzindo em artes visuais", ao mesmo
tempo em que desafia os cristãos "a terem
mais discernimento, conforme somos
chamados pelo Apóstolo Paulo a aprender
a discernir os sinais dos tempos."
O Movimento Internacional de Artes
de Fujimura se dedica a encorajar a arte
reflexiva em meio à sociedade moderna.
Sua liderança nas artes foi reconhecida
pela comenda presidencial ao Conselho
Nacional de Arte. Em dezembro de 2005, a
revista World conferiu a Makoto Fujimura
sua capa, como "Daniel do Ano", por
restaurar o bom nome da arte entre os
cristãos e por dar aos cristãos um bom
nome nas artes.
Em uma entrevista ao Instituto
MacLaurin, perguntaram a Fujimura como
ser artista contribuía para seu entendimento
do caráter de Deus. Ele respondeu: "Deus
é o Criador perfeito e nós somos 'pequenos
criadores.' A Bíblia, de Gênesis a
Apocalipse, deixa bem claro que o caráter
de Deus é definido por seu amor pelo
mundo e pela graça que opera através de
pessoas quebrantadas. Ser artista faz o
indivíduo perceber como o amor de Deus
está incorporado na criação e em nossa
criatividade." Fujimura vê que, além de a
igreja negligenciar a estética, existe uma
profunda questão teológica em operação
que não permite que o todo de nossa
humanidade seja integrado em nossa vida
e adoração." Nossa esperança para
"recuperar a arte e a criatividade na igreja,"
diz ele, está em "redescobrir o evangelho
holístico."
Mais informações sobre a
fascinante história e arte de Fujimura estão
disponíveis no artigo de capa da World
intitulado "Art Aflame." [A Arte em Chamas]
por Mindy Belz."2
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 278/373
296 I
VOCAÇÃO: Escreva
.ma assinatura no universo
ATIVIDADE ECONÔMICA
Neste livro tentamos desenvolver uma visão bíblico-cristã do trabalho
que é. obviamente, algo ligado à atividade econômica. Muito já foi dito sobre
economia, mas eu quero mencionar algumas outras ideias essenciais sobre esse
domínio e sua ênfase e importância em toda a história cristã.
Como aprendemos, o ser humano foi feito para empreender, para a
atividade econômica pessoal. É por isso que me refiro ao ser humano como
homo oikonomia - "homem econômico." Os seres humanos, feitos à imagem
de Deus, foram feitos para os negócios. Dennis Peacocke escreve em Doing
Business God's Way [Fazendo Negócios à Maneira de Deus], "A maneira que
Deus administra sua Criação O qualifica como o mais proeminente e produtivo
homem de negócios de todos."" Em outras palavras, a humanidade foi feita
para se unir a Deus no empreendimento de construir o reino.
Infelizmente, ao invés de nos unirmos ao empreendimento de Deus, nosso
trabalho e atividade econômica no mundo moderno são, geralmente, marcados
por pessoas e corporações que correm apressadamente para fazer cada vez
mais dinheiro enquanto desperdiçam os recursos conhecidos da natureza.
Através dessa atitude antiética podemos ver até onde as sociedades se
distanciaram de um entendimento bíblico sobre a moderação e prudência que
devem cercar a atividade econômica. É uma confirmação do ensinamento do
Novo Testamento de que "o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males" e,
assim, as pessoas "têm se atormentado com muitos sofrimentos" (1 Tm 6.10).
Tiago também tem palavras duras para os ricos cujo amor é o dinheiro,
ao invés de Deus:
Ouçam agora vocês, ricos Chorem e lamentem-se, tendo em vista a
miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças
corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a
ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a
carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos
trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com
fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos
ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra,
desfrutando prazeres; (Tiago 5.1-5a)
Veja que Tiago não está repreendendo as pessoas simplesmente por serem
ricas. Afinal de contas, Deus chama algumas pessoas para serem muito ricas,
e elas podem ser bons mordomos dessa riqueza. Tiago está, particularmente,
repreendendo aqueles que praticam o que chamamos hoje em dia de políticas
injustas de emprego, particularmente deixando de pagar salários justos. Eles
conseguem sua riqueza através de meios injustos (veja v. 4.).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 279/373
Os domínios' 1 297
A história está cheia desses exemplos. Pense no que muitas empresas
de petróleo fizeram em países em desenvolvimento. Assinaram contratos com
governos corruptos permitindo que as empresas de petróleo extraíssem valiosos
recursos nacionais com pouquíssimo retorno para os trabalhadores dos campos
de petróleo e para a nação. Pense na exploração de trabalhadores no mundo
em desenvolvimento, onde os menores salários são pagos a pessoas que
trabalham praticamente como escravos para suprir a parte mais rica do mundo,
inclusive muitos de nós, com vários tipos de produtos (geralmente não essenciais).
Hoje, o mundo Ocidental é culpado de muita injustiça, comportamento e políticas
antiéticas na esfera econômica. Conforme o mundo pós-cristão avança,
presenciamos um crescente vácuo de padrões morais. A quebra da Enron em
2001 e a falência da Global Crossing em 2002 são exemplos do aumento dessa
ganância e corrupção nos níveis mais altos da vida corporativa. A crise imobiliária
de 2007 e 2008 é um reflexo de práticas de empréstimo corruptas baseadas na
maximização dos lucros e sem restrições morais.
Já que o homem é ser econômico, o objetivo do cristão deve ser resgatar
a esfera econômica através da aplicação de princípios bíblicos de economia.
As Escrituras estão cheias de provérbios, parábolas e profecias relacionadas
com a atividade econômica. Além de passagens específicas, a Bíblia hebraica
reflete uma metafísica em que o mundo físico é honrado como criação de
Deus, afirmando o valor do nosso trabalho neste momento e lugar. De acordo
com a Escritura, ao longo da história os cristãos têm contribuído de forma
significativa na esfera econômica.
O próprio Jesus trabalhou nesse domínio. Não sabemos quanto dinheiro
Jesus ganhou quando trabalhou como carpinteiro ou o que ele fez com esse
dinheiro. Mas podemos supor que, assim como ele cumpriu obediência às leis
de Deus em todas as outras esferas, ele o fez na sua vida econômica. Usando
suas ferramentas de carpinteiro - formões, serras, plainas e martelos - Jesus
dignificou o trabalho, mesmo com unhas sujas e mãos calejadas. E quando ele
entrou em seu ministério aos trinta anos, ele usou várias lições, histórias e
parábolas sobre a vida econômica para ilustrar verdades eternas sobre o reino.
O Apóstolo Paulo, também, entendia a necessidade da atividade
econômica moderada e prudente. Ele entendia claramente a visão de Deus da
esfera econômica. Sabemos que, durante vários períodos do seu ministério
público, que durou décadas, Paulo não considerou algo inferior dedicar um pouco
do seu tempo aos trabalhos manuais. Na verdade, as Epístolas demonstram
várias vezes o trabalho do dia-a-dia de Paulo através do qual ele ajudou a
sustentar sua própria vocação financeiramente. Atos 18.3 revela que Paulo
trabalhou como fabricante de tendas, uma profissão que ele aprendeu
provavelmente nos seus primeiros anos em Tarso, sua cidade natal. Uma vez
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 280/373
298 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
que as tendas eram geralmente feitas de couro, isso significava que Paulo teve
de ser treinado como coureiro. E parece que Paulo trabalhou nessa função
regularmente. "trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos", escreveu
Paulo (1 Cor. 4:12). E em 2 Tessalonicenses 3:7-10 lemos:
Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo,
porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem
comemos coisa alguma à custa de ninguém. Pelo contrário, trabalhamos
arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum
de vocês, não por que não tivéssemos tal direito, mas para que nos
tornássemos um modelo para ser imitado por vocês. Quando ainda
estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser
trabalhar, também não coma.
A HISTÓRIA DO GRUPO MANTHEI
O empresário Jim Manthei escreve:
O Grupo Manthei consiste de seis
irmãos e primos que cresceram juntos no
norte de Michigan. Fomos criados em duas
famílias que possuíam sociedades
comerciais e uma forte fé cristã. No final
dos anos de 1960, seis de nós resolveram
investir e trabalhar em grupo. Acreditávamos
que trabalhando em equipe e entendendo
os dons uns dos outros, poderíamos atingir
mais do que se trabalhássemos
individualmente. Hoje temos negócios que
incluem manufatura de folheados, parques
veiculares recreativos e casas móveis,
desenvolvimento de terras, construções
pré-fabricadas, construção de estradas e
produtos comercializados internacional-
mente para cobertura de solos. Todos nós
somos crentes em Cristo e compartilhamos
um objetivo comum de divulgar as boas no-
vas.
Na condição de cristãos, os
membros do Grupo Manthei servem
individualmente vários projetos missionários
e estão profundamente envolvidos com
missões transculturais. Ganhar dinheiro e
doá-lo ao campo missionário internacional
foi a maneira na qual fomos criados, então,
isso acontece naturalmente em nossas
vidas. Muitos cristãos têm corações
desprendidos e são fiéis apoiadores de
missões. Para nós, o maior desafio tem
sido aprender a integrar nossa fé às nossas
vidas diárias no trabalho entendendo que o
aspecto "secular" do trabalho é, na
realidade, parte do chamado sagrado que
Deus colocou em nossas vidas.
Creio que o que nos ajudou a
crescer nesse caminho mais do que
qualquer outra coisa foi lidar com lutas
pessoais travadas nos relacionamentos
dentro de nosso grupo. Nós, seis,
começamos a nos reunir, bissemanalmente,
com um pastor local e vários de nossos
filhos envolvidos em nossas empresas.
Fizemos um curso chamado de Gospel
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 281/373
Os domínios
1 299
Avançando na história da igreja, o monge franciscano frei Luca Pacioli,
teólogo e matemático, publicou um livro em 1494 sobre a ciência e a teologia da
matemática. Nele, ele escreveu um capítulo que estabeleceu a contabilidade de
dupla entrada, um método em que uma transação é inscrita como um débito
para uma conta e um crédito para outra, a fim de que os totais de débitos e
créditos sejam iguais. O pai da contabilidade moderna escreveu que as pessoas
devem se envolver em transações econômicas "em nome de Deus.' A respeito
desse humilde seguidor de Cristo, Kennedy escreve: "A metodologia que ele
desenvolveu mudou o futuro dos negócios para sempre e levou ao
desenvolvimento de planilhas. Sua engenhosa equação contável de "Ativos =
Passivos + Patrimônio do proprietário" é usada até hoje em todo o mundo."
6 5
Transformations [Transformações pelo
Evangelho] que nos ajudou a entender o
quanto somos maus e o quão Deus é bom.
Após isso, passamos vários meses
estudando uma série em vídeo chamada de
On Earth as It Is in Heaven [Assim na Terra
como no Céu], ministrada por Darrow Miller
e Bob Moffitt. Através desse estudo,
crescemos em entendimento do chamado
de Deus para nossas vidas, que é sermos
modelos de Cristo em nossa comunidade
local. Em seguida, estudamos um livro de
Gregory Boyd, Repenting of Religion: Turn-
ing from Judgment to the Love of God
[Arrependendo-se da Religião: Rejeitando
o Julgamento e abraçando o Amor de Deus].
Como resultado desse tempo de
crescimento, o Grupo Manthei decidiu
fundar uma clínica em nossa comunidade
para ministrar a nossos empregados e suas
famílias. Temos uma enfermeira que
trabalha em tempo integral e dois médicos
que dão meio expedientes. Oferecemos
assistência médica gratuita, ensinamos
princípios de nutrição e proporcionamos
aconselhamento financeiro e familiar.
Inicialmente, muitos empregados ficaram
desconfiados, pensando que estávamos
tentando invadir suas vidas pessoais. Mas
a clínica cresceu e temos servido muitas
pessoas e ajudado diversas delas a
mudarem suas vidas. Essa tem sido uma
maneira de honrar nossos funcionários e
mostrar-lhes que nos importamos com eles
e que Deus se importa com eles. Agora
estamos começando a ter mais
envolvimento intencional em nossa
comunidade local, doando, servindo e
ajudando a alcançar os objetivos da
comunidade. Queremos construir pontes
com nossa comunidade, sendo sensíveis
ao direcionamento do Espírito Santo. Nosso
objetivo é usar nossas vidas e negócios
para servir a Deus através do serviço às
pessoas.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 282/373
300 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
O mundo econômico que hoje conhecemos também foi grandemente
moldado pelo reformador protestante João Calvino. Kennedy escreve sobre a
contribuição de Calvino para a mudança econômica: "Calvino tirou o dinheiro
do cativeiro em que havia sido mantido durante séculos, e ele liberou o poder
que o capitalismo produziu:
6 6
As idéias de Calvino foram parte de um movimento econômico muito
maior, que varreu os países influenciados pela Reforma Protestante. Na verdade,
é a cosmovisão bíblica recuperada pelos reformadores que os historiadores
econômicos têm reconhecido como um importante fator no desenvolvimento
da "classe média" da sociedade. Antes da Reforma na Europa, a esmagadora
maioria das pessoas ao redor do mundo era pobre. A maioria de todos os povos
e nações eram, para usar a linguagem moderna, subdesenvolvidos. Havia poucas
pessoas ricas, incluindo as famílias reais, chefes tribais, alguns agentes políticos,
alguns proprietários privados, comerciantes bem sucedidos, e mercantilistas,
que controlavam o comércio. Mas, essencialmente, todo o restante era pobre;
alguns eram servos, vassalos ou escravos.
Depois da Reforma, nos países do norte da Europa que foram tocados
pelos reformadores, muitos foram retirados da pobreza. Pela primeira vez na
história da humanidade, havia uma classe média, de tamanho significativamente
grande, para se tornar um importante setor da sociedade. Essas pessoas não
eram nem pobres nem tão ricas, mas participantes da economia do país, completos
o bastante para desfrutar tanto de oportunidades mais amplas e terem uma
influência significativa sobre a vida da nação.
Que conteúdo dos ensinamentos da Bíblia tirou nações inteiras da
pobreza?
Em seu livro The Wealth and Poverty of Nations [A Riqueza e a Pobreza
das Nações], o historiador econômico David S. Landes levanta a questão: "Por
que alguns países são tão ricos e alguns tão pobres?" Landes mostra a forte
influência das culturas chinesa e islâmica e pergunta por que eles não produziram
a dinâmica retirada de nações inteiras da pobreza da maneira que o experimento
econômico da Europa o fez. Ele atribui isso aos "valores religiosos" ou cosm ovisão
judaico-cristãs. Landes escreve:
Diferentes estudiosos sugeriram várias razões, geralmente
relacionadas a valores religiosos:
I. O respeito judaico-cristão pelo trabalho manual. . . .
2. A subordinação da natureza judaico-cristã ao homem. Isso é uni
abandono às crenças e práticas animstas que viam algo de divino em
todas as árvores e córregos (daí os termos náiades e dríades). Os
ecologistas de hoje podem pensar que essas crenças animistas são
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 283/373
Os domínios
1 301
preferíveis, mas ninguém dava atenção ao culto pagão à natureza na
Europa cristã.
3.
A percepção judaico-cristã de tempo linear. Outras sociedades
pensavam no tempo como cíclico, voltando a estágios anteriores e
começando de novo, o que implicava em nenhum progresso na história e
nenhum sentido do trabalho para o ser humano. O tempo linear é
progressivo ou regressivo, avançando para coisas melhores ou decaindo
de estágios anteriores e mais felizes. Para os europeus, desde a época
medieval até os nossos dias, a visão progressista prevaleceu.
4.
Em última análise, no entanto, gostaria de destacar o mercado.
O
empreendedorismo era livre
na Europa. A inovação funcionava e
compensava, e os governantes e interesses pessoais eram limitados na sua
capacidade de impedir ou desencorajar a inovação. O sucesso gerava
imitação e reprodução; além disso, havia um senso de poder que, em
longo prazo, elevava
as pessoas quase ao nível de deuses
¡grifo ~111'7
Assim, a diferença, de acordo com Landers era a cosmovisão religiosa:
a dignidade do trabalho, a humanidade tendo domínio sobre a criação, a história
progredindo para algum lugar e um mercado livre. Landes acertou os três
primeiros, mas, em minha opinião, entendeu o quarto ponto ao contrário. A
visão elevada do ser humano não foi resultado do empreendedorismo; foi o
conceito bíblico de uma perspectiva elevada do ser humano-a imagem de Deus-
que levou ao empreendedorismo. O ser humano é o criador, inovador, inventor
e artista secundário. São esses elementos de cosmovisão (além de outros) que
tiraram as nações da pobreza.
Dois outros economistas políticos e sociais de dois séculos diferentes
têm articulado a tese de que o desenvolvimento econômico tem mais a ver com
a mentalidade e os valores do que com recursos naturais: Max Weber (1864-
1920) da Alemanha e Michael Novak (1933-present) dos Estados Unidos.
Primeiro, vejamos Weber.
Max Weber viveu na Alemanha durante o mesmo século que Karl Marx
(1818-1883). O mundo conhece o nome de Karl Marx por causa do marxismo
e de seu movimento social e econômico, agora desacreditado, conhecido como
comunismo. Poucas pessoas fora do campo da sociologia sabem quem foi
Max Weber. Entretanto. ambos tinham interesse em filosofia social e econômica.
Marx, como materialista completo, acreditava em um modelo econômico
de sistema fechado e soma zero,68 onde o homem é um consumidor e os recursos
são limitados. Se algumas pessoas têm mais recursos do que outras, é porque
elas os têm roubado, de uma maneira ou de outra. O sistema sócio-econômico
de Marx foi feito para resolver esta discrepância, mas no final do século XX, o
mundo presenciou o colapso da ordem comunista. O sistema entrou em colapso
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 284/373
302 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
porque as ideias sobre as quais foi fundamentado não eram válidas.
Max Weber tinha o mesmo interesse que Marx, mas estava trabalhando a
partir de um conjunto diferente de suposições econômicas. Weber entendia que o
sistema era aberto e acreditava em um modelo econômico de soma positiva. Ele
entendia que ideias têm consequências. Ele fez a observação de que havia uma
ética do protestantismo que dava dignidade ao trabalho do ser humano. Essa
ética protestante foi ensinada dos púlpitos da R eforma. À medida que os princípios
éticos foram aplicados pelas massas, a cultura foi transformada e novos sistemas
político e econômico foram desenvolvidos para refletir esses princípios.
A Reforma não só trouxe mudança para a igreja, mas também na cultura
européia que, por sua vez, transformou nação após nação-um processo que,
quinhentos anos mais tarde, fez florescer a economia global. Hoje, uma mudança
na cosmovisão dos países escravizados pela pobreza pode certamente causar
um impacto sobre o desenvolvimento e clima econômico das nações.
Da mesma forma, pode-se argumentar que a livre iniciativa tem um poder
revolucionário de impactar nações atoladas em opressão e injustiça e que, por
sua própria natureza e para sua própria sobrevivência, as empresas devem
trabalhar para esse fim. O escritor e filósofo econômico Michael Novak
argumenta que as empresas precisam não apenas trabalhar a partir de um
quadro moral, mas também contribuir para um clima moral na cultura, cultivando
virtudes.69 Novak escreve que a ecologia moral na alma dos negócios é tão
importante quanto a ecologia natural com a qual o mundo (corretamente) se
preocupa. Embora alguns argumentem que "realismo" significa reconhecer que
as empresas não podem se dar ao luxo de se preocuparem excessivamente
com questões morais, na realidade, o próprio DNA do empreendedorismo-seu
código genético-exige sociedades livres e justas. Para serem plenamente bem
sucedidas, as empresas devem apoiar o Estado de Direito e liberar o potencial
de homens e mulheres livres para agirem com responsabilidade em relação aos
membros mais fracos da comunidade. A empresa que age contrariando, o que
Novak chama de "ecologia moral", com perversão, corrupção ou atacando os
princípios de piedade que nos foram revelados na Escritura, acaba por minar a
sociedade e, no fim das contas, causar a sua própria morte.
Novak dá um aviso às empresas em uma sociedade livre:
Em suma, as empresas têm muitas responsabilidades para a ecologia
moral de nossa nação e, especialmente, para a cultura da virtude. É errado-
devastadoramente errado-que os anunciantes, em nome dos negócios
promovam ataques às tradicionais virtudes. Elas são os músculos,
ligamentos e tendões de uma sociedade livre. Corte-os e paralisará a
liberdade.'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 285/373
Os domínios
1 3 03
Claramente, a esfera econômica tem um enorme potencial para o bem.
Todos os seres humanos são "seres econômicos." Cabe aos cristãos de hoje
descobrir vocações na área econômica, procurar expandir a livre iniciativa,
gerar empregos, ajudar os pobres a saírem da pobreza e produzir prosperidade
econômica.
Nossos Chamados Hoje
•
Restabelecer uma teologia bíblica e uma ética da atividade econômica
que se posicione contra a corrupção econômica.
•Enfocar atividades econômicas que administrem adequadamente a terra
e o desenvolvimento humano.
•Desenvolver uma declaração de visão e missão que conecte o seu
negócio diretamente ao avanço do reino de Deus.
o • Trabalhar com afinco.
o • Pagar um salário justo e familiar, para que o chefe de família possa
sustentá-la e permitir que tenha tempo para ficar em casa e cuidar da próxima
geração de cidadãos.
•
Participar no processo político com o intuito de desenvolver políticas
que apóiem o empreendedorismo e a livre iniciativa.
•
Apoiar leis que preservem os direitos de propriedade e a liberdade
econômica.
•
Estimular a criação de negócios em comunidades pobres.
•
Ensinar as virtudes bíblicas da econo mia, do trabalho árduo, da excelência
do trabalho e do chamado para trabalhar em comunidades pobres.
•
Recompensar o trabalho árduo e de excelência no mercado de trabalho.
Ampliar as recompensas com base em mérito e não no nepotismo e no exercício
do cargo.
•
Estabelecer programas de microcrédito para comunidades carentes.
•
Estabelecer a utilização de medidas precisas e boas práticas de
contabilidade.
•
Pensar em termos de produção e criação de riqueza em vez de
simplesmente tomar e receber a riqueza.
•
Ofertar parte dos lucros de sua empresa para aumentar a saúde e
integridade da comunidade como um todo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 286/373
304 1
VOCAÇÃO:
Escre a sua assinatura no universo
A HISTÓRIA DE TED CORWIN
Ted Corwin é um homem que,
como muitos dentre nós, sabe o que é
ser rejeitado pelo chefe ou pela cultura
de uma organização. Recebemos a sua
história no momento em que ele foi
"politicamente" tirado de um emprego
que ama. A rejeição foi devastadora.
Como parte de seu processo de cura e
reagrupamento, ele reservou tempo para
buscar ao Senhor. Durante esse tempo
de reflexão, Ted sentiu o Senhor dizendo
a ele: "Construa uma organização cristã.
Compartilhe a sua fé. Ajude as pessoas
a crescerem. Seja um exemplo de uma
casa construída sobre um fundamento
sólido. Seja humilde. Importe-se. Entre
nos negócios."
Essa foi uma grande mensagem
para alguém que pensava: "Eu não tenho
jeito para fundar um negócio. Sou
conservador demais e não quero
fracassar." Não obstante, Corwin estava
convencido de que era o Senhor que o
estava chamando para algo que ele não
estava capacitado a fazer; assim, ele
sabia que se fosse mesmo o chamado
de Deus sobre sua vida, o Senhor o
ajudaria a ter êxito. Ted contatou alguns
amigos para pedir conselho. Um deles
era um amigo mais velho que conhecia
bem o ramo da manufatura de móveis.
O segundo era um amigo que prestava
consultoria a pessoas de negócios no
tocante a como conectar a fé ao trabalho
ou como integrar os negócios à missão.
A partir de vários conselhos,
oração e obediência, a Designmaster
Móveis foi fundada em março de 1989
para ser especialista na manufatura de
móveis de qualidade para salas de jantar.
A admoestação de Jesus a Pedro em
João 21.17 - "Apascenta minhas
ovelhas"-tem definido o propósito da
Designmaster. Corwin escreve que o
propósito da Designmaster pode ser
visto de várias perspectivas.
•
Apascentamos os empregados
e representantes de vendas da
Designmaster fisicamente com trabalho,
de forma que eles possam sustentar
suas famílias.
•
Apascentamos todos os
envolvidos com a Designmaster
espiritualmente, orando com eles e por
eles e compartilhando com eles como
Deus está trabalhando em nossas vidas.
•
Dizimamos dos lucros da
Designmaster, usando produtos e
dinheiro para ajudar a sustentar as obras
de caridade e ministérios cristãos.
Além disso, devido aos seus
relacionamentos pessoais com Jesus
Cristo, a liderança da Designmaster
escolheu valorizar o seguinte:
•Obediência através de oração
• Relacionamentos santos
•
Verdade
• Trabalho de qualidade
•
Liberdade e responsabilidade
Ted Corwin e sua equipe buscam
conscientemente integrar sua fé em
Cristo ao seu trabalho.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 287/373
Os donthliosi
305
CIÊNCIA
Já foi dito que a ciência é o homem pensando os pensamentos de Deus
segundo ele. Ciência envolve a busca humana por entender o universo através
do estudo empírico. Historicamente, a palavra ciência não se limitou à maneira
pela qual a entendemos hoje, como o desenvolvimento metodológico e aplicação
de leis naturais. Até o século XIX, ciência significava o estudo de qualquer área
do conhecimento,
e
aqueles que estudavam esses campos eram oficialmente
conhecidos como filósofos naturais. É importante notar que, durante a Idade
Média, quando não havia separação metafísica entre o espiritual e o mundo
físico. a teologia, sendo o ponto de integração de todos os estudos universitários,
era chamada a rainha das ciências.
O domínio da ciência, no qual podemos incluir a tecnologia, é muito
complexo e tem significado coisas muito diferentes ao longo da história. Duas
correntes históricas se destacam: o antigo método dedutivo e o método indutivo
mais moderno. Analisemos cada uma dessas importantes correntes.
Até onde sabemos, a primeira corrente significativa foi desenvolvida pelos
gregos antigos, que se engajaram em pensamento sistemático sobre os
fenômenos naturais. A natureza, conforme vista por eles, era controlada por
leis naturais "impessoais," que podiam ser descobertas e compreendidas. Nesse
modelo é necessário começar, em algum lugar, com um primeiro passo, que é
tão óbvio que não pode ser desafiado. Exemplos disso seriam: o fogo é quente,
o gelo é frio, argila exposta ao sol endurece, água evapora quando aquecida e
assim por diante. Kenneth McLeish escreve:
Todas essas idéias se baseiam na observação da Natureza-e, de
é possível viver uma vida confortável e segura simplesmente
aceitando-as sem se preocupar com explicações. . . Há uma sequência
contínua de
"conhecimento" baseado em senso comum sobre o mundo
natural que é suficiente para a maioria das pessoas.'
Esse método de estudar a natureza é chamado de dedução e é quase
totalmente uni exercício intelectual.
Nos tempos antigos, e até mesmo durante o período medieval, o método
dedutivo foi considerado uma das maiores conquistas do pensamento humano.
E foi mesmo. Entretanto, a grande fraqueza desse modelo é que ele depende
somente do pensamento. Falta-lhe o tipo de observação e experimentação
rigorosas com a natureza, tão necessárias para testar se os primeiros passos
são falhos. A partir do século XV em diante, mais e mais teorias "científicas"
dedutivas foram derrubadas e a "ciência moderna" com seus métodos de indução
nasceu.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 288/373
306 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
O método de indução é a outra corrente científica significativa na história:
uma mudança de 180 graus em relação à dedução na maneira como as pessoas
investigam o mundo da natureza. No raciocínio dedutivo se inicia com uma
declaração particular e se prossegue intelectualmente por passos lógicos até
que uma conclusão geral seja atingida (por exemplo, a terra é o centro do
universo, por isso os planetas orbitam a Terra). Com o método indutivo científico,
tem início um grande conjunto de observações de caráter geral
e conclui-se,
em particular, (por exemplo, até agora o sol tem subido todos os dias na
experiência humana, então, também nascerá amanhã). É a partir desse tipo de
investigação rigorosa da natureza que as "leis científicas" de hoje foram
descobertas e aplicadas.
Embora alguns cientistas" gregos da antiguidade e posteriormente, no
período medieval, alguns cientistas árabes e mulçumanos terem feito descobertas
notáveis na astronomia, matemática e medicina, foi o cristianismo, durante o
período entre o século XIV e século XIX, que criou realmente a estrutura
metafísica para a rápida ascensão da ciência. Tudo isso ocorreu com a difusão
do cristianismo e seu entendimento do mandato cultural. Os cristãos sabiam
que Deus havia criado um mundo que funcionava por leis físicas universais que
podiam ser descobertas, compreendidas e aplicadas para glória de Deus. E
muitos cristãos fizeram da ciência sua vocação.
Acredita-se que no século XIII, Robert Grosseteste (c. 1175-1253), um
bispo franciscano e o primeiro chanceler da Universidade de Oxford, foi o
primeiro a propor seriamente utilizar o método indutivo de ciência e conduzir
experiências segundo ele.' Ainda no século XIII, outro notável monge
franciscano, Roger Bacon (c. 1214-1294), propôs que "todas as coisas podem
ser verificadas pela experiência.' Bacon estudou em Oxford e Paris e é mais
conhecido por sua clara antecipação dos métodos da ciência moderna. Ele
acreditava que o fim de toda verdadeira filosofia é chegar a um conhecimento
do Criador através do conhecimento do mundo externo.
No século XVI, os líderes da Reforma Protestante ensinaram que Deus
revelou a si mesmo em dois "livros". Francis Bacon (1561-1626), outro seguidor
de Jesus e um dos defensores iniciais do método indutivo, escreveu: "Há dois
livros postos diante de nós para que os estudemos, para evitar que incorramos
em erro; em primeiro lugar, o volume das Escrituras, que revelam a vontade de
Deus: depois, o volume das Criaturas, que expressam o seu poder."
7 5
Em outras
palavras, existem leis naturais ordenadas por Deus que podem ser conhecidas
ao investigarmos metodicamente a ordem criada por Deus. Bacon, praticamente
sozinho, direcionou os pensamentos da Europa em direção a Deus ao
desenvolver e promover o seu método de indução. Bacon também ensinou que
as obras produzidas usando as leis da natureza deveriam ser motivadas pela
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 289/373
Os domínios
1 307
caridade cristã. O conhecimento adquirido, disse Bacon, deve ser utilizado para
servir aos outros, para aliviar o sofrimento humano e aumentar o bem estar das
pessoas. Seu método, amplamente conhecido pelos cientistas de hoje, envolve
o exame de uma multidão de experiências particulares e o desenvolvimento de
leis gerais da natureza a partir delas. Desta forma, estudamos e compreendemos
o que Deus tem realmente feito na criação.
7 6
Vários outros cristãos notáveis "fundadores da ciência moderna" incluem
Johannes Kepler (1571-1630), astrônomo alemão, que disse que conforme
descobrimos as leis da natureza, "pensamos os pensamentos de Deus segundo
ele."77 Kepler escreveu: "Visto que nós astrônomos somos sacerdotes do Deus
altíssimo em relação ao livro da natureza, cabe a nós raciocinarmos, não pela
glória de nossas mentes, mas, acima de tudo, pela glória de Deus?
Isaac Newton (1642-1727), filósofo e matemático inglês, escreveu:
"Tenho uma crença fundamental na Bíblia como Palavra de Deus, escrita por
homens que foram inspirados. Estudo a Bíblia diariamente." Reconhecido
como um dos maiores cientistas, Newton fez importantes contribuições ao estudo
da luz e também inventou um telescópio refletor. Mas ele é mais conhecido por
sua formulação das leis da gravidade e do movimento.
A HISTÓRIA DE FRANCIS COLLINS
Pode surpreender a alguns
cristãos contemporâneos que um ex-
diretor do Projeto Genoma Humano seja
um cristão evangélico. Esse renomado
cientista, Francis Collins, analisa o seu
estudo do DNA humano com uma
cosmovisão diferente do que se pode
esperar. "A elegância e complexidade
do genoma humano é fonte de profundo
assombro," "Esse assombro somente
fortalece minha fé ao fomentar
percepções de aspectos da humanidade
sempre conhecidos por Deus, mas que
nós, apenas, estamos começando a
descobrir."'
Como outros cientistas durante os
séculos, Collins reconhece que a fé e a
ciência não são conflitantes. Ele explica:
"A ciência explora o mundo natural. A fé
explora o mundo sobrenatural. . . Será
que isso as torna separadas e
impossíveis de se integrar em uma
pessoa, uma experiência e um
pensamento? . . . Não, na minha
perspectiva essas duas visões de
mundo coexistem em mim e em muitos
de vocês neste exato momento. Nós
não somos separados por causa
disso; não somos forçados a
contradições. Ao invés disso, creio que
somos enriquecidos e abençoados.
Temos a oportunidade de praticar
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 290/373
308 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
ciência como forma de adoração.
Temos a chance de ver Deus como o
maior dos cientistas. Conforme
descobrimos coisas sobre o mundo,
podemos apreciar as maravilhas da
criação de Deus. Que benção ser
cientista e poder fazer isso."'
No Projeto Genoma Humano,
Collins e sua equipe trabalharam treze
anos para completar o mapeamento de
três bilhões de pares de letras que
descrevem a sequência do DNA
humano. Essa sequência de DNA
comanda todas as propriedades
biológicas de nossos corpos,
determinando se teremos olhos azuis
ou castanhos, se correremos risco de
doenças cardíacas ou de um tipo
específico de câncer. O projeto foi
concluído em 2003 criando um novo
corpo de conhecimento que propiciará
avanços científicos e médicos, mas
também gerará um grande potencial
para grandes abusos.
O conhecimento do mapa do DNA
humano oferece grandes oportunidades
de melhorar a efetividade dos
tratamentos médicos. Assim como
avanços anteriores na medicina
pouparam milhões de pessoas da pólio
e varíola, o mapeamento genético
permite maiores possibilidades de aliviar
os efeitos das doenças. Entretanto, junto
com grandes possibilidades vêm
verdadeiros perigos, entre os quais o da
discriminação genética e acesso
desigual dos pobres aos benefícios.
Talvez o perigo de maior
preocupação seja a potencial
manipulação do DNA para afetar a
constituição de futuras gerações, algo
de que Collins tem bastante
consciência. Ele reconhece que deve
haver uma firme divisão entre usar o
conhecimento do DNA para tratar
doenças na geração atual e utilizá-la
para produzir "bebês de grife por
encomenda" no futuro. Para mostrar
essa distinção, ele explica o termo linha
germinal. "A linha germinal é parte do
DNA que se transfere para a geração
seguinte. A maior parte de nosso DNA
não é linha germinal. . . Se eu tivesse
fibrose cística e quisesse que fosse
curada em meus pulmões, e você
tivesse como mudar os genes em meus
pulmões que apresentassem o
problema, eu iria querer que você o
fizesse. Mas isso não afetaria a minha
descendência. Acho que essa é uma
distinção crítica. E todas as promessas
que vejo para as terapias genéticas da
diabete, doenças do coração ou câncer,
não requerem que se entre na linha ger-
minal para fazer essas modificações."3
A relativa novidade desse
conhecimento significa que cristãos
como Collins têm uma grande
oportunidade de ajudar a moldar a ética
relacionada a seu uso. A igreja como
corpo e a igreja espalhada na ciência e
no governo podem ser influentes em
determinar se a sociedade utiliza de
maneira ética ou antiética as
descobertas que Deus tem nos
permitido fazer.
No fim das contas, como Francis
Collins reconhece, Deus é o único
cientista que sempre conhecerá todos
os segredos de sua criação. Somos
privilegiados em nos unir ao trabalho
do "maior dos cientistas."
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 291/373
o. donaniml 309
O apelo e os benefícios da ciência e da tecnologia de hoje são tão
poderosos em todo o mundo que mesmo as sociedades animistas os buscam
incessantemente. Talvez por causa de todos os muitos benefícios legítimos da
descoberta científica, o mundo parece estar em uma louca corrida para descobrir
coisas novas. Neste sentido, temos ido muito além de obediência a Deus no
cumprimento do mandato cultural. Na verdade, a ciência médica em particular,
está se movendo tão rápido que é extremamente difícil dizer que tipo de restrições
éticas devem ser estabelecidas em relação a ela. Basta pensarmos em avançar
com a investigação do DNA e o mapeamento do genoma humano e considerar
as implicações graves que virão. Será que um tipo particular de ciência e
tecnologia deve ser desenvolvido? Como podem os benefícios dos avanços
científicos e tecnológicos serem estendidos aos pobres? Que novas descobertas
ainda estão para ser feitas que irão ajudar a reverter os efeitos da Queda?
Alguns cristãos são chamados à ciência. Que eles apliquem os frutos da
descoberta científica para reverter a maldição.
Nossos Chamados Hoje
•
Encorajar a reintegração na ciência do estudo das revelações de Deus em
relação ao mundo e a sua Palavra. Isso desafia os pressupostos metafísicos da ciência
materialista ou naturalista.
•
Incentivar os alunos com uma inclinação para a ciência ao estudo da ciência e
a fazerem cursos avançados para que possam ensinar e fazer pesquisas científicas.
•
Trabalhar nos países em desenvolvimento para educar as pessoas sobre a
ordem do universo, os princípios indutivos de descoberta e de resolução de problemas,
assim como conceitos básicos de ciência e tecnologia e ajudá-los a construir suas
sociedades nesta área tão importante.
•
Realizar pesquisas para desenvolver tecnologia que combata o "mal natural",
tais como inundações, terremotos, plantas, animais e doenças humanas, e outros eventos
devastadores.
•
Realizar pesquisas sobre prevenção e tratamento de doenças, defeitos
congênitos, lesões e outros problemas de saúde.
•
Reintroduzir critérios morais e a ética no campo científico. Não é o suficiente
fazer ciência e tecnologia, simplesmente porque "agora podemos fazer isto ou aquilo."
Devemos perguntar: "Será que devemos?"
•
Promover a troca de conhecimento na área de saúde animal, agricultura,
aquicultura entre as nações. Criar a livre troca de ideias na ciência e tecnologia.
•
Introduzir o uso de tecnologias apropriadas para ajudar os pobres a dar passos
significativos entre a agricultura da idade da pedra
e
agricultura moderna.
•
Apoiar políticas que incentivem uma maior produtividade e manejo da terra.
Temos uma grande nuvem de testemunhas que viveram suas vidas como
cristãos nas portas da cidade, trazendo os princípios bíblicos, visão e vida em
todos os domínios. Será que faremos o mesmo no Século XXI?
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 292/373
3 10 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
A HISTÓRIA DE GEORGE WASHINGTON CARVER
Renomado cientista e inventor afro-
americano do início do século XX, George
Washington Carver (c. 1861-1943) dedicou
sua vida ao serviço do Grande Criador e à
busca incessante de seus sonhos.
Enquanto a maioria dos cientistas da época
(e muitos na atualidade) achava que a fé e
a ciência não podiam ser justapostas,
Carver as considerava inseparáveis; seu
estudo e descoberta do mundo natural eram
simplesmente maneiras através das quais
se podia conhecer a Deus mais
profundamente. Conforme o próprio Carver:
"A natureza e suas variadas formas são
pequenas janelas através das quais Deus
permite que tenhamos comunhão com Ele e
vejamos muito da Sua glória, majestade e
poder; basta levantar a cortina e olhar."'
Ainda bem jovem, George, já era
interessado por plantas e tinha um talento
natural tão grande em mantê-las vivas que
foi apelidado de "Médico das Plantas."
Vizinhos distantes levavam-lhe plantas para
que as reanimasse. Conforme foi cre-
scendo, as perguntas de Carver sobre o
mundo natural só foram aumentando e,
percebendo que as pessoas à sua volta
não conseguiam respondê-las, ele lançou-
se na busca por conhecimento. Falando de
sua infância, Carver disse: "Eu queria sa-
ber o nome de toda pedra e flor e inseto e
pássaro e animal. Eu queria saber de onde
vinha a sua cor, de onde vinha a sua vida-
mas não havia quem me dissesse."2
George
nfrentou
uitos
obstáculos em busca de seu sonho: ele
nasceu escravo durante a Guerra Civil e
tornou-se órfão ainda bebê, ele foi impedido
de ter acesso às escolas por causa de sua
raça, testemunhou e sofreu espancamentos
e ataques por motivação racial e lidou
constantemente com a perpétua
desconfiança e ódio, inúmeras dificuldades
que poderiam tê-lo forçado a desistir de sua
paixão e contentar-se com um caminho que
lhe exigisse menos. Ao invés disso,
George tratou cada derrota como uma
experiência de aprendizagem. Sua
tenacidade e criatividade em romper
barreiras, combinadas ao apoio de alguns
mentores fundamentais, mantiveram-no na
vereda para a qual ele sabia ter sido feito.
Finalmente, George foi trabalhar
como professor no Instituto Tuskegee no
Alabama, instituição para negros
estabelecida por Booker T. Washington para
educar antigos escravos. Conforme a fama
de Carver cresceu, ofereceram-lhe
posições em outras organizações que
aumentariam significativamente o seu
salário, mas ele escolheu permanecer em
Tuskegee por todos os seus anos de
ensino, reconhecendo a importante
influência que possuía na instituição.
A influência de Carver se expandiu
muito além das fronteiras do campus. Além
de mentorear estudantes tanto
espiritualmente quanto academicamente,
Carver era profundamente comprometido em
usar sua crescente perícia para ajudar os
fazendeiros do sul que passavam por
dificuldades. A agricultura no sul dos
Estados Unidos estava em apuros. A
indústria era completamente dependente do
sucesso das plantações -de algodão e,
naquele momento, após explorar a mesma
plantação por muitos anos, os fazendeiros
começaram a se dar conta de que ela tinha
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 293/373
Os domínios 1
311
27 1101~11.1MME..
passado a não produzir tão bem. Além
disso, o bicudo-do-algodoeiro, um inseto
temido por sua habilidade em destruir
plantações de algodão, havia chegado à
região a partir do México. George viu isso
como a oportunidade perfeita de introduzir
e encorajar o cultivo de diferentes
plantações. Essas novas plantações não
ficavam suscetíveis ao bicudo-do-
algodoeiro, restaurariam os nutrientes do
solo e ofereceriam aos fazendeiros uma
maneira de alimentar suas próprias famílias.
George passava muito tempo em
seu laboratório, trabalhando para descobrir
o maior número possível de usos para as
novas plantações. Para compartilhar esse
conhecimento, George publicou "livretos
triplos" sobre os produtos que ele estava
encorajando os fazendeiros a plantarem,
numa tentativa de ajudá-los a tirar o máximo
de cada plantação. Esses populares
livretos incluíam conselhos de plantios para
fazendeiros, receitas e muitos outros usos
práticos da plantação para suas esposas,
além de informação científica sobre as
plantas para centenas de graduados em
agriculturas de Tuskegee espalhados na
região que atuavam como professores e
fazendeiros. Além dos livretos, George
transformou Tuskegee em um centro de
recursos para os fazendeiros da região.
Para divulgar ainda mais o seu trabalho, ele
ajudou a estabelecer uma caravana que
viajava por toda a região sul oferecendo
informações sobre agricultura.
Através da calma e persistente
influência de Carver, os métodos de cultivo
no Sul dos Estados Unidos começaram a
mudar e organizações de todo o país
começaram a procurar seus métodos e
sabedoria. Com o tempo, o trabalho e a
influência de Carver se estenderam aos
mais altos níveis da ciência e do governo e
cruzaram o mundo. Entre outras honras,
Carver foi chamado a depor diante do
Congresso, recebeu o Presidente Theodore
Roosevelt em Tuskegee e serviu de
conselheiro para oficiais da África e da
União Soviética no tocante a métodos de
cultivo.
Entretanto, para George cada uma
dessas oportunidades era simplesmente
uma ocasião para compartilhar seu amor
por Deus e pela ciência. Ele desejava
particularmente que as pessoas
influenciadas por ele utilizassem a natureza
em sua volta como meio de vir a conhecer
seu Criador mais profundamente, assim
como ele conhecia. "Àqueles que ainda
não descobriram o segredo da verdadeira
felicidade, que é a alegria de entrar no mais
íntimo relacionamento com o Criador e
Preservador de todas as coisas: comecem
agora a estudar as pequenas coisas em
seu próprio quintal, partindo daquilo que já
é conhecido para o mais próximo
desconhecido, pois, de fato, cada nova
verdade nos leva para mais perto de
Deus."'
George Washington Carver é
reconhecido como um dos primeiros
defensores da agricultura sustentável e
técnicas de fertilização orgânicas e por
tornar conhecidas centenas de usos
práticos de produtos derivados do
amendoim, da batata doce, noz pecan e da
argila. Apesar de ser lembrado
popularmente por ter inventado a manteiga
de amendoim, Carver realizou mais, muito
mais do que isso. Através de sua vida de
estudo e serviço, Carver certamente
vivenciou aquilo que ele gostava de dizer:
"Nenhum indivíduo tem qualquer direito de
vir ao mundo e sair dele sem deixar atrás
de si razões legítimas e distintas para ter
passado por aqui."'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 294/373
Capítulo 20
O G R A N D E M A N D A M E NT O
Foi dito que um mundo sem Cristo é um mundo sem amor e piedade.
Isso é visivelmente verdadeiro hoje, em um mundo onde a condição das cidades,
por exemplo: alienação de raças, desconfiança e crueldade. Sem o verdadeiro
amor e compaixão, a vida social espalha as sementes do descontentamento,
amargura
e violência. Partindo de nossa depravação pecadora, a desumanidade
das pessoas com os outros causa grande parte da instabilidade social e violência
no mundo. Contrária à crença secular de que o homem é basicamente bom, os
seres humanos nascem com uma propensão para o pecado. Tanto as Escrituras
como a história revela que os seres humanos são egocêntricos, egoístas, e
muitas vezes cruéis. Eles precisam ser "civilizados" para obedecer ao Estado
de Direito, sendo compassivo com estranhos, colocando as necessidades dos
outros antes das suas próprias, amando um ao outro e os inimigos, e até mesmo
praticando o que as pessoas de outrora chamavam de "refinamento de cos-
tumes." O Sociólogo Rodney Stark afirma que o cristianismo subjugou a
sociedade pagã greco-romana por manifestar um conjunto superior de idéias
no seu centro:
Algo distinto veio ao mundo com o desenvolvimento do pensamento
judaico-cristão: a vinculação de um código altamente s ocial e ético com
religião. Não havia nada de novo na ideia de que o sobrenatural faz
exigências comportamentais em humanos - os deuses sempre quiseram
sacrifícios e adoração. Nem havia nada de novo na noção de que o
sobrenatural responderia as ofertas-que os deuses podem ser induzidos à
troca de serviços pelos sacrifícios. O que era novo era a noção q ue, mais
do que as relações de troca de interesse próprio, elas eram possíveis entre
os humanos e o sob renatural. A doutrina cristã de que Deus am a aqueles
que o amam foi alheio a crenças pagãs... Igualmente estranho ao
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 295/373
314 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
paganismo foi a noção de que, porque Deus ama a humanidade, os cristãos
não podem agraciar a Deus a menos que eles amem uns aos outros. Na
verdade, como Deus demonstra seu amor através do sacrifício, os seres
humanos devem demonstrar o seu amor através do sacrifício a favor cio
outro. Além disso, tais responsabilidades' deveriam ser ampliadas para
além dos laços de família e tribo, aliás para "todos os que, em todo lugar,
invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" ( I Co 1.2). Essas foram
idéias revolucionárias.'
Para que a sociedade se torne civil, os indivíduos devem se tornar amorosos
e morais. Indivíduos brutais criam sociedades brutais. Sociedades brutais geram
pobreza. Na miséria da sociedade greco-romana, os primeiros cristãos trouxeram
não só esperança, mas também transformação social. Stark escreve:
Cristianismo serviu como um movimento de revitalização, que surgiu
em resposta à miséria, caos, medo e brutalidade da vicia urbana no mundo
greco-romano... [O Cristianismo proveu] novas normas e novos tipos de
relações sociais capazes de lidar com muitos problemas urbanos urgentes.
Para cidades cheias de desabrigados e pobres, o Cristianismo oferecia
caridade, bem como esperança. Para cidades cheias de recém chegados e
estranhos, o Cristianismo oferecia uma base imediata para vínculos. Para
cidades cheias de órfãos e viúvas, o Cristianismo oferecia uma nova e
ampliada sensação de família. Para cidades dilaceradas por conflitos
étnicos violentos, o Cristianismo oferecia uma nova base para
solidariedade social... E para as cidades que enfrentavam epidemias,
incêndios e terremotos, o Cristianismo oferecia serviços eficazes de
enfermagem... Então, o que eles trouxeram não era simplesmente um
movimento urbano, mas unia nova cultura capaz de fazer a vida nas cidades
greco-romanas mais tolerável.'
O que Cristo e seus seguidores têm feito, como observa Stark no final de
seu livro, não é nada menos do que a humanização do homem.'
A HUMANIZAÇÃO DO HOMEM
E O GRANDE MANDAMENTO
Não é por acaso que essas observações são feitas sobre o efeito do
Cristianismo que acompanhou Jesus. Jesus disse que é pelo nosso amor um
pelo outro que seremos conhecidos como seus seguidores.
4
E Jesus resumiu
toda a Lei e os Profetas da seguinte maneira: ame a Deus e ame o teu próximo
como a ti mesmo.' Na verdade, isso é o que Jesus disse quando foi perguntado:
"De todos Os mandamentos, qual é o mais importante?"
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 296/373
O grande mandamento
1 315
"O mais importante 7 7
é este: 'Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda
a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.' O segundo é
este: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo.' Não há outro mandamento
maior que estes." (Mc 12.29-31)
Qualquer que seja o domínio para o qual somos chamados, em qualquer
que seja a forma particular que somos chamados para ocupar as portas da
nossa cidade, esse Grande Mandamento é a base para nosso trabalho. Seja
qual for a nossa vocação, se seguimos a Jesus, vamos manifestar em nosso
trabalho o amor de Deus por todas as pessoas, jovens e velhos, homens e
mulheres, escravos e livres, independentemente de cor e credo. Nesse aspecto,
vamos resgatar o que significa ser verdadeiramente humano, feito à imagem de
Deus.
Cristãos ao longo da história, trabalhando em uma pluralidade de domínios,
têm exemplificado para nós como ver e tratar as pessoas como Deus faz, um
verdadeiro marco da cultura do reino. Vamos olhar quatro áreas da vida que os
seguidores de Jesus têm ajudado a ajustar às intenções de Deus: a santidade da
vida humana, a emancipação dos escravos e a reconciliação racial, dignidade e
respeito pelas mulheres, esposas e casamento, e misericórdia e compaixão pelos
pobres.° Essas quatro áreas continuam sendo lugares onde somos chamados a
viver o Grande Mandamento hoje.
A SANTIDADE DA VIDA HUMANA
O mundo greco-romano no qual Cristo entrou foi um de grande e rotineira
crueldade, violência e barbaridade. Pense dos gladiadores. Assim como as
pessoas hoje assistem a uma partida de futebol ou um jogo de beisebol, os
romanos antigos enchiam coliseus para ver seres humanos serem mortos, como
se fosse um tipo de evento esportivo. O historiador William Stearns Davis escreve
que os jogos de gladiadores "ilustra completamente o espírito impiedoso e a
falta de cuidado com a vida humana escondida por trás do esplendor, do brilho,
e das pretensões culturais da grande era imperial."' Além disso, como uma
forma de entretenimento para si e para a elite romana, o imperador Nero (r. ad
54-68) atirava os cristãos aos leões nas arenas, os crucificava, ou os queimava
em postes para fornecer luz para estradas e festas nos jardins.'
O suicídio foi outro ato comum de violência, tão comum que "tirar a
própria vida era [considerado] um ato de glória pessoal."
9 Na verdade, o suicídio
era tão "normal" que um ditado surgiu a partir disso. Quando chegava a hora de
tirar a própria vida, as pessoas muitas vezes reagiam com o refrão "abra suas
veias." '" Muitos líderes romanos, como Pôncio Pilatos, os senadores Brutus e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 297/373
316 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
Cássio, Antônio, e o Imperador Adriano cometeram suicídio."
O infanticídio e o abandono de crianças eram outros dois atos comuns de
barbaridade. O infanticídio foi justificado por filósofos como Sêneca, Platão e
Aristóteles1 2 e foi consagrado pela lei. "As Doze Tábuas" - o mais antigo código
legal romano conhecido, escrito a cerca de 450 ac-permitia a um pai abandonar
qualquer criança do sexo feminino e com qualquer deformação ou qualquer
criança debilitada do sexo masculino." Devido ao conceito romano de paterfa-
milias (segundo o qual os pais de família detinham o poder absoluto nas famílias),
o pai romano tinha poder absoluto de vida ou morte sobre seus filhos. George
Grant escreve que, devido ao conceito de paterfamilias,
o nascimento de um romano não era um
. fato biológico. Bebês eram
recebidos no mundo apenas se a família quisesse. Um romano não tinha
um filho; ele adquiria um filho. Imediatamente após o parto, se a família
decidisse não criar a criança-literalmente, elevando-a acima da terra-era
simplesmente abandonada. Havia lugares especiais elevados ou muros,
onde o recém-nascido era levado e abandonado para morrer"
Esse desrespeito "natural" pelas criancinhas naqueles dias é demonstrada
na repugnante história do assassinato, a mando de Herodes, de todos as crianças
de dois anos para baixo, conforme registrado em Mateus 2.16.
O aborto também era comum. Devido ao conceito de paterfamilias, um
marido romano poderia ordenar a sua esposa a fazer um aborto, atendendo ao
seu próprio capricho.' Em Roma, algumas mulheres abortavam por razões
econômicas, algumas para cobrir seus adultérios, e algumas, por não terem
filhos, ter mais "influência."''
O mundo ocidental moderno, apesar dos amplos fundamentos cristãos,
está agora se saindo um pouco melhor. Durante o século XX, as nações ocidentais
viveram uma virada, saindo da visão bíblica da "santidade da vida humana"
para o sistema de valores moderno e secular-pagão da "qualidade de vida." O
ocidente moderno está retornando ao paganismo através de práticas de aborto,
infanticídio, eutanásia e pesquisas com células-tronco usando embriões humanos.
No entanto, mesmo nos tempos da igreja primitiva, toda a vida humana,
incluindo a do nascituro, era considerada sagrada por cristãos. E à medida que
a igreja crescia nos primeiros séculos, a influência da visão de vida dos cristãos
pôs fim em muitas práticas pagãs. Por exemplo, por volta do século IV, "Sob o
reinado do imperador cristão Teodósio I (378-395), lutas de gladiadores foram
encerradas no Oriente, e seu filho Honorius acabou com elas em 404 no
Ocidente." '
7
A elevada visão cristã de toda a vida humana mudou gradualmente a
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 298/373
O grande mandamento
1 317
opinião das pessoas sobre o suicídio, infanticídio, abandono de crianças, e aborto.
Já que os cristãos entendiam que "tu não matarás" também incluía não "matar-
se", os pais da igreja primitiva se posicionaram contra o suicídio. E como os
seguidores de Cristo aumentavam em número, o infanticídio e abandono de
crianças diminuíram no mundo greco-romano. D. James Kennedy escreve: "O
clamor foi para trazer as crianças à igreja. Fundações, orfanatos e creches
passaram a acolher as crianças."'' De fato, um documento influente da primeira
Igreja chamado Didaqué (escrito entre 85 e 110 e, muitas vezes referido como
Doutrina dos Apóstolos) afirma em seu segundo parágrafo: "Não matarás uma
criança através de aborto, nem as mate quando nascer." A igreja medieval
continuou esta tradição, emitindo mais de quatro mil cânones entre os séculos
IV e XII, que reconhecia a santidade da vida. A Igreja da Reforma, semelhante
à Católica Romana, também reafirma a santidade da vida humana. ''
A igreja moderna tem tido uma resposta misturada. Tanto o Catolicismo
quanto o cristianismo evangélico têm sido uma proteção para a santidade da
vida humana. Mas muitas das denominações Protestantes tradicionais estão
mais alinhadas com o pensamento secular sobre as questões do aborto e da
eutanásia. Apesar disso, nos Estados Unidos, por exemplo, os cristãos de todos
os tipos criaram milhares de centros de crise da gravidez, onde as mulheres
podem receber aconselhamento e apoio para salvar a vida de seus bebês du-
rante a gestação. Este é um grande chamado em uma nação onde,
surpreendentemente, cerca de 1,5 milhões de bebês a cada ano são sacrificados
antes do nascimento através do aborto, com (até recentemente),
aproximadamente 13 mil mortos por ano no momento do nascimento, por "aborto
por nascimento parcial."
Cabe a todos os cristãos lutar pela santidade de toda vida humana, tanto
os jovens e os velhos, tanto aqueles que são saudáveis quanto aqueles que
estão doentes ou deficientes. Hoje os cristãos estão liderando a luta para proteger
a vida humana através de preparação e voluntariado em centros de crise da
gravidez para as mães e bebês e em casas de repouso aqueles que servem ao
fim da vida.
Nosso Chamado Hoje
•
Estabelecer políticas pró-vida e procedimentos nos hospitais.
•
Trabalhar para estimular uma legislação pró-vida nacional.
•
Cuidar de bebês que foram deixados para morrer sob as ordens do
médico, e chamar a atenção das pessoas para esta "prática médica" através da
mídia.
•Apoiar a execução ou a promulgação de leis que protegem toda vida
humana.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 299/373
318 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
•Trabalhar no suporte à saúde das famílias, sem fins lucrativos ou através
do governo de serviços sociais.
•Trabalhar dentro do governo para melhorar as vidas das crianças sob
os cuidados do Estado.
•Providenciar instituições ou famílias adotivas para crianças.
•Adotar órfãos e crianças abandonadas.
•
Trabalhar com os sem-teto e outros jovens em situação de risco.
•Cuidar dos idosos, doentes e deficientes, em sua própria família e ampliar
esse cuidado a outros.
•
Comprometer-se a servir os idosos e os doentes na sua igreja, incluindo
os que não podem estar presentes ao culto.
•
Procurar conhecer daqueles desvalorizados em sua própria comunidade
ou em outras comunidades ou países, incluindo os deficientes, os doentes, os
pobres, minorias étnicas e religiosas, e meninas e mulheres. Orar por eles e ser
uma voz para eles.
A HISTÓRIA DE JILL STANEK
Jill Stanek é uma enfermeira
diplomada que veio a entender o que
significa viver como cristã em meio a um
mundo corrompido. Ela escreve:
Estava trabalhando há um ano no
Christ Hospital em Oak Lawn - Illinois, no
Centro Obstétrico, como enfermeira
diplomada, quando soube através de um
relatório que abortaríamos um bebê no
segundo trimestre de gravidez com
síndrome de Down. Fiquei completamente
chocada. Na verdade, particularmente, eu
havia escolhido trabalhar no Christ Hospital
porque era um hospital cristão e não
envolvido, pensava eu, em aborto. Doeu
muito saber que o mesmo lugar onde esses
abortos estavam sendo cometidos era um
hospital chamado pelo nome de meu Senhor
e Salvador Jesus Cristo. Doeu-me mais
ainda descobrir que os associados
religiosos do hospital, a Igreja Evangélica
Luterana da América e a Igreja Unida de
Cristo, eram pró-aborto. Não tinha a menor
ideia de que uma denominação cristã
pudesse ser pró-aborto
Mas o que foi mais doloroso foi
tomar conhecimento do método que o Christ
Hospital utiliza para abortar, chamado de
aborto por parto induzido, também
conhecido como "aborto de nascido vivo."
Nesse procedimento de aborto específico,
os médicos não tentam matar o bebê no
útero. O objetivo é simplesmente causar o
parto prematuro da criança que morre du-
rante o processo de nascimento ou logo
depois....
Não é incomum que um bebê
abortado vivo sobreviva uma ou duas horas
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 300/373
O ,strantle mandamento 1319
ou até mais. No Christ Hospital um desses
bebês sobreviveu quase um plantão inteiro
de oito horas. . . .
Caso um bebê abortado nasça vivo,
ele recebe "cuidados de conforto," que
significa manter o bebê aquecido em um
cobertor até que morra. Os pais podem
segurar o bebê se quiserem. Se os pais
não quiserem segurar seu bebê abortado
enquanto morre, um membro da equipe cuida
do bebê até que morra. Se o membro da
equipe estiver ocupado ou se recusar a
segurar o bebê, o bebê é levado à nova
Sala de Conforto do Christ Hospital, que é
completo com uma máquina fotográfica,
caso os pais desejem fotos profissionais
de seu bebê abortado; produtos para
batismo, túnicas e certidões; equipamento
para tirar as digitais dos pés; pulseirinhas
de recordação e uma cadeira de balanço.
Antes da Sala de Conforto ser construída,
os bebês eram levados para a asquerosa
sala de utilidades para morrer.
Certa noite, uma colega enfermeira
estava levando um bebê com síndrome de
Down abortado vivo para a Sala de
Utilidades porque seus pais não queriam
segurá-lo e ela estava ocupada. Eu não
podia suportar pensar naquela criança
agonizante morrendo na sala de utilidades,
então o coloquei em um berço e o balancei
durante os 45 minutos que ele sobreviveu.
Ele tinha entre 21 e 22 semanas, pesava
talvez um pouco mais de 200 gramas e tinha
quase 25 centímetros de comprimento. Ele
estava fraco demais para se mover muito e
usava toda a energia que lhe restava para
respirar. Perto do fim ele estava tão quieto
que eu mal podia dizer se ele ainda estava
vivo. Eu o levantei e pus na luz para
enxergar através de seu peito se o seu
coração ainda estava batendo. Após ser
considerado morto, dobramos os seus
bracinhos em seu peito, envolvemos seu
corpo em uma pequena manta e o levamos
ao necrotério do hospital para onde todos
os nossos pacientes falecidos são
levados.
Após segurar aquele bebê, o peso
do que eu sabia tornou-se grande demais
para suportar. Eu tinha duas escolhas: Uma
escolha era pedir demissão e ir trabalhar
em um hospital que não cometesse abortos.
A outra era tentar mudar a prática de abortos
do Christ Hospital. Assim, li a Bíblia que
falou diretamente a mim e à minha situação.
Provérbios 24.11-12 diz: "Liberte os que
estão sendo levados para a morte; socorra
os que caminham trêmulos para a matança
Mesmo que você diga: "Não sabíamos o que
estava acontecendo "Não sabíamos o que
estava acontecendo " Não o perceeberia
aquele que pesa os corações? Não o
saberia aquele que preserva a sua vida?
Não retribuirá ele a cada um segundo o seu
procedimento?" Decidi que pedir demissão
naquele momento seria irresponsabilidade
e desobediência a Deus. Certamente eu
ficaria mais à vontade se deixasse o hos-
pital, mas os bebês continuariam a morrer.'
O que você faria nessa situação:
separaria sua fé de seu trabalho ou
conectaria o seu trabalho ao reino de Deus?
Jill fez sua escolha. Ela se posicionou con-
tra as políticas do hospital. Ela foi a público
com suas acusações e acabou por
testemunhar quatro vezes diante dos
Subcomitês Nacional e Congressional de 11-
linois. Em 31 de outubro de 2001, após
uma batalha de dois anos e meio, Jill Stanek
foi demitida de seu emprego. Qual foi o seu
"crime"? Ela falou a verdade contra os
poderosos e defendeu o direito das
crianças viverem. Faríamos o mesmo?
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 301/373
320 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
A EMANCIPAÇÃO DOS ESCRAVOS
E A RECONCILIAÇÃO RACIAL
No
mundo em que Jesus entrou, metade da população do Império Roma no
e 75 por cento dos Atenienses eram escravos.'" Esse número incluia tanto
trabalhadores braçais quanto artesãos qualificados. Schmidt escreve:
Escravos realizavam praticamente todo o trabalho físico ou manual. Assim.
a Via Ápia, as Sete Maravilhas do Mundo, e até mesmo as belas esculturas da
época foram trabalhos de escravos. A cada vez que os turistas de hoje ficam
impressionados pelos magníficos edifícios antigos e estátuas
''
nos países do
Oriente Médio ou na Europa, eles estão olhando para produtos de trabalho
escravo.'
O filósofo grego Aristóteles (384-322 BC) se tornou representante da
época quando ele descreveu a escravidão como "natural", expediente. e justa."22
Em algum lugar ele escreveu que "um escravo é uma ferramenta viva, assim
como uma ferramenta é um escravo inanimado. Portanto, não pode haver
amizade com um escravo sendo ele um escravo."23
Durante a Idade Média, a escravidão era comum entre os Árabes e os
Mongóis, bem como entre os Vikings e
outros Europeus. Saint Patrick foi
capturado e levado como escravo para a Irlanda. Muitas tribos indígenas
americanas praticavam a escravidão também.' A escravidão do negro pelo
negro podia ser encontrada na África, e foram em grande parte os negros
africanos que, mais tarde, venderam seus compatriotas africanos para os
comerciantes Europeus. Mesmo depois de abandonar a escravidão em suas
próprias nações, muitos estados Europeus ainda permitiam a escravidão em
suas colônias. A prática continuou sendo legal até 1865 no recém-independente
Estados Unidos, e no Brasil, até 1888. No século vinte, possuir escravos foi
legal na Etiópia até 1941, na Arábia Saudita até 1962, no Peru até 1964, e na
Índia até 1976."
Hoje, a escravidão continua sendo um problema internacional trágico.
Em todo o mundo, na Europa, no Sudeste Asiático, na Índia, nas Américas. na
África e no Oriente Médio, o moderno comércio de escravos cresce. Meninos
são geralmente escravizados como trabalhadores ou soldados mirins, mulheres
e meninas são frequentemente vendidas no comércio do sexo, algumas jovens
com cinco anos de idade. Mesmo nos Estados Unidos, as mulheres, muitas
vezes importadas sob falsos pretextos. são mantidas cativas ilegalmente nos
negócios do sexo. Os imigrantes têm sido encontrados trabalhando em condições
escravizantes, com pouca ou nenhuma compensação, alguns supostamente
"pagando" aqueles que os levaram até o país - uma forma de escravidão. ou
pelo menos trabalho contratado. Em todo o mundo. o tráfico de seres humanos
é um grande fabricante de dinheiro, geralmente ligado ao crime organizado.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 302/373
O grande mandamento 1
321
Centenas de milhares de pessoas são comercializadas através das fronteiras
nacionais a cada ano, e milhões são vendidas e utilizadas dentro de seus próprios
países. Na Índia, mais de milhões são praticamente escravas através do sistema
de castas.
Jesus Cristo morreu para destruir as barreiras entre raça, classe e
preconceito de castas que estão na raiz da escravidão. Vemos isso, por extensão,
em alguns princípios seminais que Paulo apresenta em suas epístolas. Efésios
2.11-22 revela que, através do sangue de Cristo e através da cruz, Judeus
"circuncidados" e Gentios "incircuncisos" se tomam "um novo homem." No
nível mais básico, isso significa que as divisões baseadas em raça, classe, etnia
e castas devem ser abolidas de nossa humanidade. As paredes divisórias devem
ser demolidas. Em Cristo, esse percentual sobe ao ponto mais alto de coação,
porque o sangue precioso de Cristo foi derramado para fazer um novo homem.
Gaiatas 3.28 ensina que "em Cristo" não há nem "escravo nem livre... porque
todos vós sois um em Cristo Jesus "(ver também Cl 3.11).
A igreja primitiva, embora não tenha alterado a atual estrutura social de
escravidão, apesar de tudo, procurou, onde foi possível, mudar as atitudes em
relação à escravidão. Um exemplo extraordinário está no relato de Paulo
enviando um escravo fugitivo, Onésimo, de volta ao seu senhor, Filemom, que
era um cooperador cristão em Colossos. Ao que tudo indica Onésimo havia
roubado de Filemom, ou causado algum outro tipo de dano considerável ao seu
mestre, e depois fugiu. De alguma forma, Onésimo acabou em Roma, onde
Paulo lhe deu abrigo, e ele se tomou um cristão. Buscando transformar apenas
uma pequena parte do conceito de escravidão existente, Paulo, no final das
contas, enviou Onésimo de volta a Filemom, com uma carta, dizendo que ele
deveria receber Onésimo como um irmão no Senhor. Evidentemente, era
impensável para Paulo que um cristão devesse "possuir" outro cristão. (Veja no
livro de Filemom a história toda.)
Mais tarde, a atitude cristã a respeito da escravidão se espalhou
politicamente. Em 315 d.C. Constantino "impôs a pena de morte para aqueles
que roubavam crianças para tomá-las escravas."
2 6
Santo Agostinho (354-430
d.C.) declarou que a escravidão era o produto do pecado e era contrário ao
plano divino de Deus.
2 7
Em 1102 um concílio da igreja de Londres aboliu a
escravidão na Inglaterra." Durante o século XII na Europa os escravos eram
raros, e até o século XIV a escravidão era quase desconhecida no continente.""
O século XVI, no entanto, trouxe um ressurgimento do comércio de
escravos nas colônias das nações Européias. Cerca de dez milhões de escravos
foram enviados para as Américas.
A resposta cristã à escravidão nos tempos modernos foi conduzida em
grande parte, como já vimos, por William Wilberforce, um seguidor de Cristo e
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 303/373
322 I VOCAÇÃO: Esmera s.sinatarw na unircno
membro do Parlamento Britânico, e pelo Grupo de Clapham que lutou durante
décadas para acabar com a escravidão no Império Britânico. A Lei da abolição
de 1833 emancipou 700.000 escravos britânicos. Nos Estados Unidos uma
grande renovação religiosa no final do século XVIII
e
início do século XIX
ajudou a inflamar o movimento abolicionista. O grande avivalista e evangelista
Charles G. Finney fundou a Oberlin Collegx para treinar evangelistas e para
liderar a luta contra a escravidão. Diz-se que Finney escondeu escravos fugitivos
em seu próprio sótão.'" Em 1835, dois terços dos membros do movimento
abolicionista nos E.U.A faziam parte do clero.31 E muitos outros líderes desse
movimento, tais como Charles Torrey, Harriet Beecher Stowe, e William Lloyd
Garrison, eram seguidores de Cristo. Eles vivenciaram seus chamados em um
ambiente nacional muito enfurecido. Foi urna luta dura, com sentimentos intensos
nos dois lados de uma questão que dividiu a maioria das denominações e partidos
políticos nacionais. Pessoas foram mortas por defender seus pontos de vista, e
a escravidão era um ingrediente principal na sangrenta e onerosa Guerra Civil
nos E.U.A. (1861-1865). A Décima Terceira Emenda à Constituição dos Estados
Unidos que foi proposta e ratificada em 1865, aboliu a escravidão.
Em nosso contexto moderno, os cristãos foram os grandes responsáveis
nos E.U.A. pela liderança do movimento pelos direitos civis. John M. Perkins
cresceu no Sul como um produtor agrícola. Ele se tornou um ativista dos direitos
civis e fundador da Fundação John M. Perkins para a Reconciliação e
Desenvolvimento. Perkins trabalhou para aplicar os princípios bíblicos na esfera
da reconciliação racial e desenvolvimento econômico para aqueles que nasceram
na pobreza. Talvez o mais famoso dos líderes do movimento moderno dos direitos
civis foi o Dr. Martin Luther King Jr., um pastor batista que iniciou a Southern
Christian Leadership Conference (Conferência de liderança cristã do sul) em
1957, cujo propósito foi usar a autoridade moral das Escrituras e a poderosa
organização das igrejas formadas por negros para liderar um movimento não
violento pelos direitos civis. Em 28 de agosto de 1963, das escadas do Lincoln
Memorial durante a Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade, o
Dr. King pronunciou um discurso intitulado "I Have a Dream" ( Eu tenho um
Sonho). Esse discurso tanto eletrificou quem ouviu quanto lembrou a nação dos
princípios de sua fundação, onde "todos os homens são criados iguais." Era um
momento decisivo para o Movimento Americano de Direito Civil.
Foram figuras corno Perkins e King que chamaram os Estados Unidos
da América e o mundo para a responsabilidade dada por Deus para reconhecer
na lei e na prática a dignidade de todos os seres humanos. Hoje muitos crentes
estão seguindo o chamado de Cristo para libertar aqueles que estão escravizados
e trazer a reconciliação. Um grupo. a International Justice Mission, está
empregando advogados e ativistas cristãos para contestar, internacionalmente,
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 304/373
O grande mandamento 1 3 23
a escravidão sexual infantil . É o apelo ao cristão de hoje para trabalhar contra
o racismo, sistema de castas, e tribalismo, onde quer que estejam predominando
no mundo de hoje.
Nosso Chamado Hoje
•
Demonstrar o poder do sangue de Cristo, para derrubar as barreiras
entre casta, raça e classe, modelando em nossas igrejas "um novo homem"
(veja Efésios 2).
•
Construir relacionamentos no trabalho ou em suas comunidades com
pessoas que são de diferentes origens étnicas e raciais.
• Pressionar os governos a condenar o Sudão por suas práticas de
escravidão moderna, assim como outras nações por participação ou cumplicidade
com o tráfico de seres humanos e a indústria do sexo comercial.
•Trabalhar por direitos civis e áreas dos direitos humanos.
•Apoiar a igreja na Índia e chamá-la para se opor, em palavra e prática,
ao equivalente da escravidão em operação no sistema de castas hindu.
•Formar grupos de artistas para a justiça ou mães para justiça em seu
país ou estado.
•
Estudar direito internacional ou lei de direitos civis e se tornar um
advogado ativista.
DIGNIDADE E RESPEITO PARA AS MULHERES, ESPOSAS
E CASAMENTO
O mundo greco-romano que Cristo entrou não era diferente do mundo
"sexista" de hoje. Mulheres durante esse tempo, muitas vezes tinham o status
social de uma escrava. Aristóteles disse: "O silêncio dá graça à mulher."32
Segundo a lei ateniense, uma mulher de qualquer idade sempre foi considerada
uma criança "e, portanto, era a propriedade legal de um homem em todas as
fases de sua vida."3 3 Na vida grega, era comum uma mulher sair de casa apenas
na companhia de um acompanhante masculino, geralmente um escravo. As
meninas não podiam ir à escola, e uma mulher não poderia falar em público.
3 4
Enquanto que uma mulher romana tinha mais liberdade do que sua irmã
grega, quando comparadas com homens elas praticamente não tinham direitos
e privilégios. A lei romana manus estabeleceu ao marido a "propriedade" e
absoluto controle sobre a vida de suas esposas." Houve, de fato, tão pouco
respeito com as mulheres que quando presas ficavam, muitas vezes, nas mesmas
celas dos homens, criando condições extremamente abusivas. E em relação
aos solteiros, Philip Schaff escreve: "A virtude da castidade, em nosso sentido
cristão, era quase desconhecida entre os pagãos. A mulher era essencialmente
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 305/373
324 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no soliverso
A HISTÓRIA DE DOLPHUS WEARY
"Eu não volto " foi o voto de Dolphus
Weary após finalmente deixar para trás a
paralisante pobreza, racismo e injustiça de
Mendenhall, Mississipi, nos anos de 1960.
Como negro no extremo Sul dos Estados
Unidos durante o início do movimento dos
Direitos Civis, as oportunidades eram
limitadíssimas e os afro-americanos tinham
que lidar diariamente com a realidade de
assédio e violência indiscriminados.
Quando Dolphus teve a
oportunidade de frequentar a Faculdade
Batista de Los Angeles (Los Angeles Bap-
tist College - LABC) na Califórnia como um
de seus primeiros estudantes negros, sua
experiência naquela instituição mudou a sua
vida. Diferente do Mississipi, Dolphus teve
acesso à mesma educação oferecida aos
estudantes brancos. As oportunidades
começaram a se descortinar diante dele e
ele se animou por ter escapado da vida
humilhante que tantas pessoas ainda
levavam aprisionadas no Mississipi.
Apesar do futuro promissor de
Dolphus, ele ainda tinha que lidar com uma
forma sutil de racismo e desconfiança mais
sutil na LABC. Após testemunhar a alegria
de alguns alunos brancos ao ouvir a notícia
do assassinato de Martin Luther King Jr,
Dolphus percebeu que ele não conseguiria
mais continuar procurando se adequar e
ficar à vontade, mas precisava criar
coragem para se pronunciar. Apesar de
machucado pelo comportamento de seus
colegas, Dolphus sabia que ele podia ser
usado por Deus para abrir portas de
entendimento em estudantes que haviam
sido ensinados por suas famílias e
comunidades a serem preconceituosos e
que o propósito do tempo que passara na
LABC significava mais do que apenas obter
uma graduação; também era uma
oportunidade de educar e desafiar as
pessoas próximas em suas atitudes em
relação a outros grupos raciais.
Posteriormente, perto de alcançar
um segundo título, um mestrado em
educação cristã, Dolphus começou a
pensar mais seriamente sobre sua direção
futura, agora, junto com sua esposa Rosie.
A primeira vez que Dolphus tinha ido à
Califórnia havia sido com uma bolsa de
basquetebol e teve a oportunidade de
passear pelo leste da Ásia com um time de
basquete. Durante o passeio, ele ficou
surpreso que, sendo um negro do Missis-
sippi, ele era tratado com muito respeito e
começou a pensar em voltar com Rosie para
ministrar nos países asiáticos onde havia
sido tão bem recebido.
Entretanto, não demorou muito an-
tes que a insistência de um dos mentores
de Dolphus, um homem chamado John
Perkins, e do gentil chamado do Senhor o
levassem de volta ao Mississippi.
Inicialmente, Dolphus resistiu, lembrando-
se do seu volto de nunca voltar ao lugar
que tanto o havia oprimido. Mas, com o
passar do tempo, seu coração mudou.
"Percebi que não importava o quanto eu
fugisse, para a Califórnia ou Taiwan, jamais
poderia fugir da Mendenhall dentro de mim,
dentro de minha mente e dentro do meu
coração. Até conseguir superar isso, viveria
aprisionado a um senso de desesperança.
Ainda assim, sabia que eu, por mim mesma,
jamais conseguiria superar isso-somente
Deus poderia. . . . Voltar ao Mississippi
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 306/373
O grande mandamento
I 325
//411-14Ã
envolvia um sacrifício de meus próprios
desejos para servir pessoas que
precisavam de ajuda. Senti que Deus
estava me chamando: 'Dolphus, tenho algo
para você no Mississippi."
Quando Dolphus e Rosie voltaram a
viver em Mendenhall, a comunidade negra
estava paralisada em um ciclo de pobreza.
Ficou claro que, muito do racismo e da
desesperança com os quais eles haviam
crescido, ainda estava presente. Conforme
se familiarizaram novamente com seus
vizinhos e com a comunidade, ficaram
claras as necessidades de cuidados
básicos de saúde, educação de qualidade,
assistência jurídica, treinamento pastoral e
muito mais. Nos mais de trinta anos desde
então, o Ministério Mendenhall cresceu e
respondeu a essas necessidades fundando
e operando instituições que jamais
estiveram presentes na comunidade
anteriormente: uma clínica de saúde; uma
escola particular de qualidade e preço
acessve eumpogamade
acompanhamento escolar; um armazém que
gerava empregos e vendia mercadorias a
preços razoáveis; um centro comunitário
que dá aos jovens oportunidades de
comunhão e recreação; e muito mais.
Todos esses ministérios existem em volta
da Igreja Bíblica de Mendenhall.
No início, Dolphus e sua equipe
enfrentaram dificuldades para integrar o
evangelho aos ministérios que atendiam as
necessidades físicas das pessoas. Eles
reconheciam que frequentemente as
pessoas nem mesmo conseguiam entender
as palavras do evangelho por causa de
suas gritantes necessidades físicas. Ainda
assim, sem uma transformação de dentro
para fora, poucas das necessidades físicas
que o ministério pudesse resolver teriam
um efeito duradouro. Às vezes parecia que
eles estavam operando dois ministérios
separados: as pessoas vinham à clínica ou
à escola em busca de saúde ou educação
e
eram enviadas à igreja por questões
espirituais. Com o tempo, isso mudou. Nas
próprias palavras de Dolphus: "O que
queremos é que cada trabalhador faça o
seu trabalho com base em um espírito de
serviço cristão. E queremos que cada um
deles saiba como conduzir alguém a Cristo
e como enxergar isso como parte do seu
trabalho."'
Agora como presidente da Missão
Mississipi, durante os dez últimos anos,
Dolphus tem se concentrado na
reconciliação racial. O Ministério Jackson
de Mississippi patrocina e coordena
oportunidades para pessoas de diferentes
denominações e raças se encontrarem,
conhecerem e servirem juntas ao Senhor.
Trabalhando para sarar as divisões raciais
e
denominacionais entre as igrejas cristãs,
Dolphus fala extensivamente tanto para
congregações de negros quanto de
brancos nos Estados Unidos, desafiando
os crentes com a questão: "Como devem
viver os redimidos?", a partir de textos
poderosos, tais como Efésios 2.3
Ele não
pede às pessoas que mudem de
denominação mas que mudem sua atitude
de separação. "A Missão Mississippi, vista
por muitos como uma voz de esperança,
ajuda a fechar aquela velha brecha racial
histórica," diz Dolphus. "Estamos fazendo
coisas agora que não poderíamos ter feito
cinco ou dez anos atrás."'
De Mendenhall a Jackson a
comunidades em todos os Estados Unidos,
qualquer pessoa que cruzou o caminho de
Dolphus Weary experimentou o resultado
transformador de um homem fiel ao
chamado de Deus.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 307/373
326 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
uma escrava das paixões inferiores do homem.' A respeito do casamento,
Schmidt salienta o historiador do segundo século Tácito afirmando que "a
imoralidade sexual era tão evidente que uma mulher casta era vista como uma
raridade."
7
Além disso, o infanticídio no mundo greco-romano era parcialmente
destinado a eliminar a criança "inferior"-a fêmea. Garotas recém-nascidas eram
mortas rotineiramente através da exposição ou afogamento. Uma carta de um
soldado romano chamado Hilarião, lotado no Norte da África, para sua esposa
grávida, Alis, mostra essa típica atitude:
Saiba que eu ainda estou em Alexandria. E não se preocupe se
todos eles voltarem e eu permanecer em Alexandria. Eu peço e imploro
que cuide hem de nosso filho querido, e assim que eu receber o pagamento
enviarei para você. Se você tiver uma criança [antes de eu voltar para
casa], se é uni menino o mantenha, se uma menina descarte-a. Você me deu
a palavra, "Não se esqueça de m im." Como posso te esquecer. Peço-lhe
que não se preocupe.'
Mais tarde as sociedades também tiveram atitudes e leis sobre as mulheres
que fazem o mundo moderno cristão se encolher. No mundo hindu da índia, as
mulheres acreditam terem sido, numa vida anterior, homens que tiveram um
mau karma. Pensando assim, ser mulher é uma punição pelo "pecado" cometido
em uma vida passada. Casamentos de noivos infantis e suttee-queima de viúvas-
estiveram entre as práticas culturais decorrentes dessa visão hindu de mulheres.
Embora a Índia moderna tenha legislado contra o suttee e essa prática seja
agora relativamente rara, hoje persistem outros problemas. Esposas ainda estão
sendo assassinadas, geralmente queimadas, seja porque elas são julgadas
insatisfatórias ou, muitas vezes, porque a família do marido gostaria de receber
outro dote. (A concessão de dotes é ilegal, mas ainda é comum.) Embora esses
assassinatos de esposas seja tão ilegal quanto qualquer outro assassinato, eles
continuam. É uma triste realidade que fala em crenças culturais persistentemente
malignas, bem como a corrupção no sistema de justiça da Índia.
Também resistente à mudança é a prática da noiva infantil, que continua
na Índia e em muitas outras nações. Na Etiópia, onde 57 por cento das mulheres
etíopes se casam antes dos dezoito anos, não é incomum que meninas de nove
anos de idade casem-se contra sua vontade. O casamento precoce tragicamente
nega às meninas uma educação e as expõe a um risco muito maior de violência
doméstica, HIV/AIDS, e a morte ou invalidez durante o parto.
Infelizmente, milhões de meninas no mundo são vítimas de aborto e
infanticídio. Alguns pesquisadores estimam que, devido ao diagnóstico do sexo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 308/373
O grande mandamento 1 327
no período pré-natal e devido ao aborto seletivo, cerca de dez milhões de meninas
não nasceram, só na Índia durante os últimos vinte anos.
3
" Os abortos com
base no sexo foram considerados ilegais por uma lei, aprovada na Índia há mais
de uma década. Mas isso não mudou o sentimento cultural que impulsiona à
procura.
Em todo o mundo, uma falsa crença na superioridade masculina leva a
uma grande injustiça e à corrupção das intenções de Deus para homens e
mulheres, ambos feitos à sua imagem. Na China, Japão e Coréia, o
confucionismo ensina uma relação hierárquica entre homens e mulheres. O
relacionamento entre marido e mulher é "o marido superior" dominando "a m ulher
inferior", que, naturalmente, leva à e perpetua a valorização da criança do sexo
masculino sobre as crianças do sexo feminino. Os muçulmanos instruem, através
do Alcorão (Sura 4:34), que "homens são superiores às mulheres... Mas aqueles
cuja perversidade temais, admoesta-os e remove-os para dormitórios e surra-
os; mas se eles se submeterem a você, então não procure um caminho contra
eles.4
" " Na América Latina e na América do Sul, o machismo é a palavra de
um ideal de masculinidade popular, que inclui a noção de superioridade masculina.
Na África animista, as mulheres são vistas como propriedade dos homens.
"Verdadeiros homens", como um Ruandês me disse, "bate em suas esposas."
Mesmo quando essa não é a atitude, em muitas culturas animistas o homem
ainda é o chefe tirânico da família e uma mulher é obrigada a submeter-se. Em
algumas situações, as mulheres devem se ajoelhar ao cumprimentarem os
homens. Também pode haver contextos, como em um grupo de homens e
mulheres, em que as mulheres não podem ter conversas conjuntas com os
homens.
Nessas culturas, embora existam muitos casos em que os homens protejam
bem suas mulheres, e em algumas culturas alguns homens trabalhem arduamente
na agricultura ou no pastoreio para alimentar e sustentar a família, é inegável o
fato que a crença antibíblica na superioridade masculina tem consequências
devastadoras para todos. De fato, na esfera dos costumes sexuais, existe uma
mentalidade cultural comum em partes da África que as meninas e as mulheres
não têm direito a dizer não e podem até mesmo ser violentadas sem
consequências para o agressor. Esse é um dos fatores que faz com que a luta
contra o HIV/AIDS seja tão difícil. A epidemia de HIV/AIDS também é
agravada em algumas culturas, pela tradição da herança da esposa e pelo fato
das mulheres não poderem possuir imóvel. Nessas culturas, na morte do marido,
uma mulher que resiste a ser "herdada" pela família dele é enxotada de sua
casa pelos parentes do marido. A fim de sustentar seus filhos e
ter um lugar
para morar, ela pode ser forçada a aceitar um acordo sexual arriscado com um
parente ou alguém de fora da família.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 309/373
328 I
VOCAÇÃO:
Escreva
s
ua assinatura na universo
A um mundo de distância na experiência de suas mulheres e meninas, o
ocidente tem seus próprios desafios. Embora a cultura popular ainda promova
uma visão das mulheres e até meninas como objetos sexuais, e embora algumas
mulheres ainda sofram violência doméstica, a maioria das mulheres têm muito
mais oportunidade de cumprir o seu potencial dado por Deus e realizar os seus
sonhos do que as mulheres nos países subdesenvolvidos. As mulheres têm a
liberdade de casar ou não casar, estudar e seguir suas vocações, protegidas por
lei em vigor, alicerçada por uma crença cultural ampla no valor de todas as
pessoas,. No entanto, em uma triste reviravolta, mulheres que optam por ficar
em casa e cuidar da família são muitas vezes desvalorizadas porque não ganham
dinheiro, a moeda de valor. Isso porque a dignidade é encontrada no mercado
na cultura ocidental. A cultura secular, muitas vezes promove a ideia de que
para uma mulher ter a dignidade real, ela deve ter um emprego que pague,
porque a sua dignidade e valor básicos são determinados por sua renda. De
fato, nas últimas décadas, muitos homens substituíram a esperança de ser capaz
de sustentar suas famílias totalmente, pela análise cuidadosa de esposas em
potencial do ponto de vista econômico. Alguém que traga mais riqueza para o
lar. Além disso, já construímos uma economia que exige que as mulheres façam
parte da força de trabalho pública, de forma que haja trabalhadores o suficiente
para manter a roda de riqueza girando. Agora temos de ter duas pessoas
trabalhando para obter o estilo de vida que aprendemos a considerar necessário.
Então, apesar da cultura ocidental promover a igualdade e a dignidade das
mulheres do ponto de vista do mercado, o valor intrínseco de uma mulher como
a imagem de Deus e o valor de seu trabalho como educadora de crianças tem
pouco ou nenhum valor.
Essa busca por riquezas e valores materiais significa que sacrificamos
as coisas que mais importam: nosso casamento e nossos filhos. Chegamos a
uma proporção epidêmica de divórcio ou de estilos de vida que não colocam o
casamento em primeiro lugar. Ao mesmo tempo, as crianças são colocadas em
creches com algumas semanas ou meses de idade para que suas mães possam
retornar ao trabalho. As crianças são, muitas vezes, criadas por empregados
mal pagos da creche que são estranhos à família.
A ima gem b íblica é muito diferente. De G ênesis ao Apo calipse, as mulheres
são apresentadas com dignidade. Desde a criação, elas são feitas à imagem de
Deus e têm valor e responsabilidade iguais aos homens. Do primeiro casamento
em Gênesis ao casamento de Cristo e da Igreja no Apocalipse, o casamento e
a família está estabelecida como uma instituição sagrada. O próprio Cristo foi
um revolucionário em sua geração na forma como ele desafiou as normas
culturais e no seu tratamento e visão com relação às mulheres.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 310/373
O g ronde mandamento
1 329
É um equívoco comum na cultura contemporânea achar que homens
como Jesus e Paulo considerassem as mulheres como seres inferiores. Isto
está longe dos fatos. As mulheres se dirigiam a Jesus, porque ele ensinou
publicamente e demonstrou a liberdade, a dignidade e a igualdade que elas
tinham em Deus desde o início da criação. Os relatos das conversas de Jesus
com uma mulher junto ao poço`' e a mulher apanhada em adultério4 2
são
exemplos disso. Em ambos os casos, Jesus estava violando as proibições da lei
rabínica tradicional. Jesus apareceu primeiro às mulheres depois da sua
ressurreição, até mesmo chamando-as a anunciar publicamente a ressurreição.
4 3
É como se isso marcasse o início de uma nova era de "emancipação" das
mulheres no mundo. Claramente, Jesus estava quebrando um padrão muito
antigo da vida cultural judaica.
Jesus foi também um reformador do casamento. Ele ensinou sobre a
igualdade que a esposa e o marido tem tido desde o início.
4 4
Na verdade, ele
elevou bastante o padrão para os casamentos, ao dizer que se um homem
desejar outra mulher, ele cometeu adultério com ela em seu coração. Em
outras palavras, não é preciso o ato físico para cometer adultério.
4 5
Até o padrão
de pensamento do marido em relação à sua esposa é, então, crucial.
A igreja primitiva adotou a visão de Cristo centrada em Deus com relação
a mulheres e relacionamentos conjugais. As mulheres foram aceitas de bom
grado na fé e apresentadas à igreja através do batismo, e elas participavam da
Ceia do Senhor e adoração. Mais uma vez, foi Paulo quem escreveu que em
Cristo não há masculino nem feminino.
4 6
E, como Jesus, Paulo tinha muitas
mulheres que participam ativamente nas suas "equipes de ministério".
4 7 A igreja
primitiva condenou "o divórcio, incesto, infidelidade conjugal e poligamia"."
No ano de 374 o imperador Valentiniano I teve a iniciativa de revogar a Claúsula
da patria potestas, cuja lei romana tinha mil anos de idade, que dava ao homem
o poder absoluto (vida ou morte) sobre sua esposa e filhos.
4 9
Uma nova cultura de respeito surgiu como resultado dos valores cristãos
a respeito das mulheres. O escritor de Hebreus reflete o coração de Deus para
o casamento: "O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal
conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros." (Hb 13.4)
Em 125 d.C. um filósofo Ateniense e cristão chamado Aristides escreveu
ao Imperador Adriano sobre a atitude e o comportamento dos seguidores de
Cristo em relação ao sexo e ao casamento:
Eles não cometem adultério ou imoralidade. Suas esposas, ó rei,
são tão puras como as virgens, e suas filhas são modestas. Seus homens se
abstêm de todo contato sexual ilegal e da impureza, na esperança de
recompensa que está por vir em outro mundo.
5"
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 311/373
330 1
VOCAÇÃO: Escreva .sua assinatura no universo
A HISTÓRIA DE KIM ALLEN
Kim Allen era uma "mulher de
carreira" que conseguiu enxergar o
poder de ser uma mãe que educa seus
filhos em casa. Ela está investindo
seu tempo, talento e as melhores
horas de seu dia na construção de
uma família forte e, através de seus
filhos, investindo no futuro de sua
comunidade e nação criando seus
filhos para serem edificadores da
nação.
Certa noite após ter concluído
a graduação, época em que estava
ensinando no Japão, fiz a seguinte
pergunta aos meus alunos: "O que
vocês querem fazer após terminarem
a escola?"
"Ser mães e esposas,"
responderam de maneira entusias-
mada.
"Só isso?" Indaguei, surpresa
com suas pequenas aspirações.
Bem, quase vinte anos mais
tarde, apesar de mim mesma e devido
à abundante misericórdia de Deus,
agora sou esposa há quinze anos e
mãe de cinco filhos. Deus
graciosamente abriu os meus olhos
para seu lindo plano para que eu me
tornasse, não apenas o que poderia
ser, mas abraçasse meu papel como
auxiliadora idônea junto ao meu
maravilhoso marido. Apesar de ter
sido criada para ser independente,
Deus está me ensinando o que
significa me submeter ao meu esposo
por reverência a Cristo. Quando
comecei minha jornada de
matrimônio, tive que mudar minha
mentalidade de "eu" para "nós." Deus
fez ambos de nós de maneira singu-
lar com certos dons individuais que
poderíamos
scolher tilizar
separadamente ou juntos para
avançar o seu reino. Vejo que somos
verdadeiramente mais efetivos
conforme combinamos esses dons
complementares e trabalhamos em
equipe.
Minha esfera de influência e
centro de operações é o lar, mas
dessa base é possível pela graça de
Deus investir nas vidas de meu esposo
e filhos assim como alcançar outras
pessoas. Daqui posso amar e servir
meu esposo ajudando-o a manter a
casa em ordem, encorajando-o em
sua visão, orando por ele diariamente
e respeitando-o como líder espiritual
de nossa família.
Hoje percebo que parte da
intenção de Deus para o casamento é
educar os filhos para que sejam
piedosos (Ml 2.15). Aprendi que não
sou capaz de educar nem mesmo
uma criança e garantir que ela
crescerá e seguirá a Deus, mas posso
ensiná-las a conhecê-lo e a sua
palavra. Minha tarefa é ser fiel e instruí-
los no caminho que devem seguir.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 312/373
O grande mandamento 331
Deus é responsável pelo resultado.
Deus deu a meu marido e a
mim uma visão para nossos filhos.
Queremos vê-los crescendo em amor
pelo Senhor, vivendo uma vida de fé
ativa e amando as pessoas.
Trabalhamos para cultivar neles um
coração
ronto
ervir,
particularmente os perdidos e os que
sofrem. Também queremos lhes
comunicar o amor pela verdade.
Queremos que sejam autogovernados
e tenham amor pela beleza e pela
criação de Deus, uma paixão pelo
aprendizado e pela descoberta, e amor
por outras culturas e nações. Uma
grandiosa visão-e uma visão que
parece impossível em dias que o
devocional do café da manhã é sobre
paciência e, duas horas depois, eu a
perco quando as crianças começam
a brigar e a enxaqueca aparece
Graças a Deus que ele é capaz de
trabalhar mesmo através de vasos
fracos para cumprir seus propósitos.
Quando eu estava crescendo, a
educação era centrada em notas e em
minhas atividades, como minha
participação na equipe de natação.
Hoje vejo minha educação não
somente como uma disciplina a ser
conquistada ou a busca de boas
notas. Agora é mais entusiasmante
porque cada disciplina revela parte do
caráter de Deus. Em ciências
exploramos a criatividade de Deus.
Em matemática, vemos sua ordem.
Em história, vemos o desvelar de sua
história redentora. Além desses
tópicos mais acadêmicos, parte da
educação é aprender a amar nosso
próximo, praticando a hospitalidade e
servindo a igreja e a comunidade.
Podemos fazer coisas simples como
preparar refeições para os doentes,
visitar vizinhos, desenvolver amizades
com famílias de refugiados ou fazer
uma viagem missionária ao México.
Ser mãe é o maior desafio e
benção que já conheci. Quer eu esteja
trocando fraldas, preparando
sanduíches de pasta de amendoim,
explicando fração ou lendo sobre a
Grécia antiga, estou ocupando o
território para Deus até que ele volte
Ao invés de um chamado de segunda
classe, vejo isso como o mais elevado
privilégio de passar meus dias em
casa servindo meu esposo e criando
meus filhos.
Essa experiência não é só
minha. Conheço dezenas de
mulheres que trilharam caminhos
parecidos. Após a graduação e de se
estabelecerem em suas carreiras,
elas voltaram seus corações para o
lar. Elas encontraram realização e paz
respondendo ao chamado de Deus
para que "a amem aos seus maridos
e filhos, sejam moderadas, castas,
operosas donas de casa, bondosas,
submissas a seus maridos, para que
a palavra de Deus não seja
blasfemada" (Tt 2.4-5).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 313/373
332 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
As normas culturais que permeiam nossas vidas hoje e parecem óbvias.
têm suas raízes nas primeiras virtudes cristãs. O historiador Britânico Edward
Gibbon (1737-1794) nos lembra de que depois de anos do desrespeito Romano
pelas mulheres e casamento, "a dignidade do casamento foi restaurada pelos
cristãos."" Constâncio II (r.337-361), filho do Imperador Constantino, ordenou
a separação de homens e mulheres presos' para a proteção das mulheres.
Embora Cristo tenha entrado em um mundo polígamo, ele ensinou
monogamia." Quando o Cristianismo se espalhou, as relações poligâmicas fo-
ram largamente abandonadas. Na era moderna, William Carey e outros
seguidores de Cristo trabalharam em seus chamados para pôr fim à suttee e
casamentos infantis na Índia. Os cristãos na China trabalharam para trazer a
liberdade às mulheres que sofriam com o doloroso e humilhante ritual dos pés
amarrados. E são os cristãos que estão desafiando a clitoridectomia (a mutilação
genital feminina) na África e o comércio do sexo feminino em partes da Ásia e
ao redor do mundo.
A vida de Amy Carmichael é um exemplo notável da vocação cristã
para libertar as meninas e mulheres. Quando Carmichael, uma missionária
Irlandesa, viajou para a índia, ela descobriu que meninas de cinco anos estavam
sendo vendidas para templos de prostituição. Ela tomou uma posição contra
essa prática, o que também significou, por vezes, ir contra as autoridades
Britânicas e Indianas e até mesmo contra alguns colegas missionários Ela
lutou arduamente pela dignidade e honra daquelas crianças. Ela estabeleceu
uma casa e uma escola, chamada Donhavur Fellowship, para aquelas meninas
que ela poderia salvar da prisão e abuso sexuais. Sua vida foi literalmente
dedicada a esse chamado.
L.F. Cervantes escreve na Nova Enciclopédia Católica (1967) que "o
nascimento de Jesus foi um divisor de águas na história da mulher."" Isso não
é um exagero. Aquele carpinteiro judeu era nada menos que um revolucionário.
Hoje, muitos cristãos estão descobrindo chamados nos quais eles podem avançar
com a marcha, que Cristo desencadeou, da liberdade e da dignidade das
mulheres."
Nosso Chamado Hoje
•
Lute contra o tráfico de meninas e mulheres como objetos sexuais, seja
no "mercado da carne" no mundo ocidental, seja no machismo da cultura latina.
ou na escravidão sexual no comércio de sexo.
•
Trate todas as mulheres com respeito e dignidade porque são feitas à
imagem de Deus.
•
Resista à pressão da sociedade ocidental que fez o mercado determinar
o valor humano. Essa tendência de forças das mulheres no mercado em busca
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 314/373
O grande nandamenrol
333
A HISTÓRIA DA JOCUM DE PORTO RICO
Alguns anos atrás fui contratado por
Yarley Nino, uma das líderes da Jovens Com
Uma Missão (JOCUM) de Porto Rico. Ele me
contou que meu primeiro livro, Discipulando
Nações: O Poder da Verdade para
Transformar Culturas, tinha impactado a ela
e a alguns os líderes do ministério e do
centro de treinamento, de tal forma, que sua
equipe tinha começado a ver a importância
de abandonar a cosmovisão dualista da
igreja e abraçar a poderosa, integrada e
abrangente cosmovisão da Bíblia. Como
resultado, eles começaram a ver tanto suas
vidas individuais e coletivas de uma
perspectiva muito nova.
No verão de 2003 nos encontramos
em uma oficina de Artes Globais onde dei
uma série de palestras que chamei de
"Cosmovisão e as Artes: Chamado aos
Cantadores de Baladas." A arte é talvez a
mais poderosa ferramenta para moldar a
cultura. Músicos, cineastas, poetas e
escritores estão na linha de frente da
formação cultural. Nessa série, reconheci
como os cristãos têm utilizado a arte na
adoração e evangelismo. AJOCUM é famosa
por suas escolas de adoração e, por anos,
venho os desafiando a fundar uma escola
que prepare os cristãos talentosos nas artes
a falar profeticamente a suas culturas.
Nessas palestras chamei os artistas cristãos
a começar a pensar a partir de princípios e
paradigmas
íblicos , ntão,
conscientemente falar a verdade, a bondade
e a beleza-a trilogia da cultura do reino-às
suas nações. Os jovens e mulheres de Porto
Rico ouviram o chamado e alguns deles
formaram um grupo chamado DNA
(Discipulando as Nações através da Arte).
Em 2005 tive o privilégio de facilitar
uma oficina de Cosmovisão e
Desenvolvimento em seu ministério em
Porto Rico. Certa noite me perguntaram
sobre o coração maternal de Deus.1 No meio
da sessão, o Espírito de Deus veio em nosso
meio trazendo um espírito de
quebrantamento e arrependimento em
relação à cultura machista de Porto Rico
que oprimia as mulheres. Mal sabia eu o
que significaria aquela noite nas vidas
desses jovens artistas.
Quando retornei ao centro no verão
de 2006 para apresentar uma série de
palestras intituladas "Levantando Ester," os
artistas me saudaram alegremente com o
trabalho criativo que haviam feito desde que
estivéramos juntos pela última vez. Vários
dos membros da equipe me mostraram seus
diários de poesia tratando da dignidade das
mulheres. Outro membro, Miguel Rodriguez,
mostrou-me um vídeo de quarenta e cinco
minutos feito pela equipe para contar a
história da santidade da vida e dignidade
das mulheres. Em seguida, ele me mostrou
um álbum de onze canções e partituras
originais que os membros da DNA haviam
escrito, tocado e gravado. Esse grupo de
jovens artistas se move com o desejo de
falar à sua nação através das artes com o
intuito de mudar uma cultura que denigre
as mulheres transformando-a em uma
cultura que as honra. Que sua tribo cresça.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 315/373
3 3 4 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
de sua identidade, que muitas vezes leva à desagregação da família.
•
Crie ambientes amigáveis onde as mulheres são incentivadas a
desenvolver o seu potencial de liderança.
•
Valorize a maternidade, a criação dos filhos e a construção do lar.
•
Mostre a santidade do casamento em palavras e ações.
•
Construa casamentos fiéis e bonitos que honrem a Cristo.
•
Inicie ou participe de programas para o desenvolvimento de castidade
entre os adolescentes.
•
Lute contra a mutilação genital feminina.
•
Ministre para aqueles que estão presos na prostituição por razões
econômicas.
•
Trabalhe com mulheres presas ou escapando da violência doméstica.
•
Trabalhe para a educação das meninas, onde elas têm menos acesso à
educação que meninos.
MISERICÓRDIA E COMPAIXÃO PELOS POBRES
No mundo em que Cristo entrou, compaixão e misericórdia eram
consideradas sinais de fraqueza, muitas vezes vistas até mesmo como vícios.
Plauto (c.254-184 a.C.), um filósofo romano, resume a atitude romana: "Você
faz um mau serviço a um mendigo, dando-lhe comida e bebida. Você perde o
que você dá e prolonga a vida dele para mais miséria." Os romanos praticavam
liberalitas: doando para agradar um destinatário que viria depois a retribuir o
favor.5 7
De fato, de acordo com os achados de Kennedy, "A antiguidade não
deixou nenhum vestígio de qualquer esforço de caridade organizada." Os pobres
e os necessitados não conseguiram se sair melhor em outras sociedades que
não tinham o evangelho. Citando Edward Ryan, Schmidt salienta que os "bonzas,
ou sacerdotes japoneses, ao sustentar que os doentes e necessitados eram
odiosos aos deuses, impediu os ricos de aliviá-los."
5 9
E até hoje, no mundo
Ocidental rico, ajudar os pobres não é, na maioria das vezes, visto como uma
responsabilidade individual.
Em contraste, toda a vida de Jesus Cristo pode ser definida como uma
vida de entrega aos pobres. Abra qualquer página do Novo Testamento e você
verá a prova. A parábola do bom samaritano
6 0
e o ensinamento de Jesus sobre
"as ovelhas e as cabras" (Mt 25.31-46) são exemplos contundentes, chamando
os cristãos para servir os pobres, os necessitados e os marginalizados. De fato,
é esta vocação que é, ou deveria ser, a marca do cristão.
Em contraste com o mundo greco-romano circundante, que praticou
Liberalitas, a igreja primitiva praticava caritas, doando para atender as
necessidades físicas e econômicas, sem esperar nada em troca.
6
' Desse modo
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 316/373
O
grande mandamento 1 3 35
os primeiros cristãos padronizaram sua compreensão de ágape, grande palavra
grega do Novo Testamento, usada para expressar o amor de Deus para o
homem. O verdadeiro amor ágape sempre dá, mas não espera nada em troca.
Ele sempre coloca o valor no receptor. Então os primeiros cristãos simplesmente
amavam os pobres e necessitados da maneira que Deus os amava. Era a coisa
certa a fazer. Um dos primeiros padres da igreja, Tertuliano (c.155-230).
escreveu: "É nosso cuidado com os indefesos, a prática da bondade amorosa,
que nos condena aos olhos de muitos dos nossos adversários. "Apenas veja,"
eles dizem: 'Veja como eles se amam 6 2
Tertuliano também relatou que os
cristãos tinham criado um fundo voluntário para apoiar "as viúvas, deficientes
físicos, órfãos carentes, doentes, prisioneiros presos devido à sua fé cristã, e os
professores que necessitavam de ajuda; esse fundo cuidava dos enterros de
pessoas pobres e, por vezes, levantava recursos para a libertação de escravos."'
O imperador romano pagão Juliano (r.361-363) escreveu: "Eu acho que quando
os pobres a serem negligenciados e esquecidos pelos sacerdotes, os ímpios
galileus [ele está se referindo aos cristãos como "ímpios ", porque esses se
recusaram a curvar os joelhos e adorar o imperador] cuidaram disso e se
dedicaram à benevolência."
6 4
E, em uma mensagem diferente, ele disse: "Os
ímpios galileus ajudam não só os seus pobres, mas também os nossos. Todos
podem ver que nosso povo carece de nossa ajuda."'
A igreja cristã, desde então, teve um recorde impressionante de ajuda
aos pobres e necessitados ao redor do mundo. Inúmeros são os asilos, orfanatos,
hospitais, refeitórios, alojamento para os refugiados, escolas e outras obras de
caridade e sociedades começaram pelas ordens religiosas cristãs, igrejas
e
organizações de serviços. Exemplos dos passados duzentos anos abundam. O
movimento de orfanato de George Müller na Inglaterra era cuidar e educar
mais de oito mil crianças na época de sua morte, em 1898.
6
' Também em
Inglaterra, a Igreja do Tabernáculo Metropolitano de Charles Spurgeon
demonstrou o amor de Deus aos pobres e excluídos através de mais de sessenta
ministérios diferentes. Nos EUA, Charles Loring Brace fundou a Children's
Aid Society na construção de casas para crianças abandonadas. Em 1887, uma
série de líderes cristãos de Denver, Colorado, fundou a Organização da Sociedade
de Caridade, agora conhecida como United Way.
No mundo contemporâneo existem exemplos contemporâneos
importantes da Igreja trabalhando para ajudar os pobres e necessitados. Um
excelente exemplo é a Igreja Pentecostal de Kampala, em Kampala, Uganda.
Sob a direção do Pastor Gary Skinner, esse grupo de crentes, enquanto eu
escrevia este livro, tem oferecido casas para mais de dois mil órfãos da Aids. A
visão dessa única igreja, atualmente com quinze mil membros, em mil e
quinhentas células, é proporcionar lares para
dez
mil crianças órfãs devido
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 317/373
3 3 6 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
AIDS e ser uma resposta da igreja para a pandemia da AIDS por toda a África.
Cada célula tem sido desafiada a "adotar" uma pessoa que está morrendo de
AIDS e cuidar dessa pessoa e de sua família.
Outro exemplo é Abba Love, uma igreja em grandes células em Jacarta.
na
Indonésia, que está ministrando aos muçulmanos pobres em favelas perto
da igreja e prestando cuidados de saúde, escolas para crianças e cuidando das
viúvas e órfãos.
A assistência humanitária cristã para socorro e desenvolvimento Food for
the Hungry (Alimento para os famintos) trabalha para salvar vidas durante a
guerra e fome. Em M oçamb ique durante a década de 1990 , alimentou meio milhão
de pessoas po r mês durante dois anos e então providenciou sementes e ferramentas
para as pessoas plantarem a sua própria comida quando a fome acabou.
Meu amigo ganense Chris Ampadu disse que, na maioria das sociedades
africanas onde há vida em comum, cada família geralmente é capaz de cuidar
de seus próprios doentes e pobres. As famílias usam os recursos disponíveis
para tratar dos seus necessitados com respeito e compaixão. No entanto, um
dos efeitos devastadores da epidemia do HIV/AIDS na África é o colapso
dessas redes causado pela morte de muitos membros das mesmas famílias e
comunidades, deixando muito poucos ou mesmo ninguém para cuidar dos doentes
ou, mais triste ainda, para criar adequadamente as crianças sobreviventes.
Hoje, no Ocidente, organizações como a Food for the Hungry e a Youth
With A Mission (JOCUM) estão proporcionando oportunidades para dezenas
de milhares de homens e mulheres para viver e trabalhar entre pessoas pobres
e necessitadas. Após o furacão Katrina ter atingido a Costa do Golfo dos EUA.
foram as igrejas locais em toda a América que provaram ser os primeiros que
reagiram. Nascida de um amor para com os pobres nos Estados Unidos, Kit
Danley fundou o Neighborhoo d M inistries, em Phoenix - Arizona, e Am y Sherman
estabeleceu Charlottesville Abundant Life Ministries em Charlotteville - Virgínia.
A hora é agora para todos os cristãos se envolverem, seja pouco ou muito, no
ministério de misericórdia com os pobres.
Nosso Chamado Hoje
•
Cuidar de pessoas com AIDS.
•
Fornecer casa e abrigo para os órfãos da AIDS.
•
Ajudar os pobres e famintos a começarem a cuidar de si próprios.
•
Construir casas para muçulmanos pobres (como algumas igrejas estão fazendo
nas Filipinas).
•
Ser monitor de crianças pobres que estão com dificuldades na escola.
•
Visitar aqueles que estão na prisão.
•
Auxiliar em um refeitório local.
•
Trabalhar entre os refugiados.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 318/373
O grande mandamento
1 337
•
Iniciar ou apoiar um programa da Angel Tree, que dá presentes no Natal para
crianças pobres cujos pais estão presos.
•
Empreendedores, empresários, e executivos corporativos: criar empresas em
bairros arruinados.
•
Advogados e políticos: trabalhar para o estabelecimento de leis que apoiam a
livre iniciativa e premiar a iniciativa humana.
•
Banqueiros: estabelecer programas de micro poupança em comunidades pobres
como parte de seu serviço à comunidade.
•
Empreiteiros: ajudar a construir habitações de baixa renda tanto em comunidades
de classe média como em comunidades arruinadas.
A HISTÓRIA DE DAVID BUSSAU
Começando com um carrinho de
cachorro-quente na idade de quinze anos,
o empreendedor australiano David Bussau,
logo cedo, mostrou seu dom para os
negócios. Quinze empreendimentos mais
tarde, com trinta e cinco anos, ele se
aposentou de um negócio multimilionário na
área da construção, tendo alcançado o que
chama de "a economia do bastante."
Após realizar trabalho de
assistência, em uma vila remota da Indonésia
após um terremoto, e descobrir que fazer
obras de infraestrutura como escolas, pon-
tes e estradas não estava quebrando o ciclo
de pobreza na comunidade, Bussau
transformou seu dom em uma organização
que lida com a pobreza em suas raízes. Ele
foi cofundador da Opportunity International,
uma organização que fornece pequenos
empréstimos a empreendedores em vinte e
sete países em desenvolvimento.
Hoje, os empréstimos a
microempresas dos quais Bussau foi pioneiro
são um meio encorajador através do qual
Deus trabalha para ajudar os pobres de uma
maneira que reconheça sua dignidade. Muitas
agências cristãs de socorro agora oferecem
programas que capacitam as pessoas em
países em desenvolvimento a fazer pequenos
empréstimos para iniciar ou expandir um
negócio. Os microempréstimos são pagos
em dia em mais de 95% das vezes e têm sido
utilizados no crescimento de grande variedade
de negócios, desenvolvendo milhares de vilas
no processo.
Como cristão, Bussau definiu como
seu objetivo administrar recursos em
benefício das pessoas. Ele vê a criação de
riquezas como um aspecto crítico da
mordomia cristã. Com
o desenvolvimento de
microempresas, ele e outros estão
desafiando o modelo convencional de
redistribuição de riqueza e estão criando
riqueza de maneira responsável. Bussau
diz: "Cada um de nós tem a capacidade de
ser incrivelmente produtivo e aqueles que
percebem isso são aqueles que fazem a
diferença no mundo. Para mim o desafio é
encontrar maneiras de liberar esse incrível
potencial nos seres humanos,
possibilitando que essa força e impulso
criativos sejam colocados para fora."'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 319/373
DIMENSÓES:
338 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
O EVANGELHO PLENO
Em conclusão, o evangelho de Cristo é o "evangelho pleno." Cristo nos
ensinou a orar: "Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade assim na terra,
como no céu." À medida que seus seguidores responderam a esse chamado ao
longo da história, eles trouxeram a progressiva transformação em culturas e
nações. Os cristãos são chamados a serem fabricantes de história. Não fomos
feitos para ficar passivos e assistir a história passar. Devemos viver coram
Deo, contribuindo agora como exemplos de primícias da expressão plena do
reino que ainda está por vir para todos os domínios. Qualquer coisa menos que
isso não é viver de acordo com o evangelho de Deus.
Muitos leitores deste livro podem estar vivendo em sociedades, tais como
as do mundo em desenvolvimento, onde as questões sociais discutidas neste
capítulo se tornarão focos bastante necessários de seus chamados. Outros
viverão em sociedades em que essas alterações já estão presentes em graus
variados. Se assim for, seus chamados hoje incluem perguntar que outras
injustiças precisam ser abordadas e quais outras descobertas e possibilidades
excitantes nos esperam, enquanto aprendemos com a Bíblia a ver o nosso mundo
pela luz do evangelho. Não há sociedade no mundo que não precise de mais
sabedoria de Deus e de mais influência do reino. Como cristãos, somos chamados
a assumir a liderança através de nossos chamados no mundo.
Cristo chamou seus seguidores a levar todo o evangelho para cada pessoa,
em cada nação, e para cada setor da sociedade. Como já vimos, a Grande
Comissão é abrangente.
CULTURA DO REINO E A GRANDE COMISSÃO
PREGAR
TODA CRIAÇÃO
,
109
C _
C
CULTURA
DO REINO
NFU
-I
c 2 °
c ,
•
c)
O
•
ATÉ OS
O
CONFINS
G )
A TERRA
FAZEI >.
DISCÍPULOS
DE TODAS
AS NAÇÕES
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 320/373
O grande mandamento
1 339
É um chamado para ir até os confins da terra (geográfica - Atos 1.8),
para ir a toda a criação (ktisisográficos - Marcos 16.15), e para penetrar na
cultura (demográficas - Mateus 28.18-20). E o que devemos levar? Começamos
com as boas novas de Jesus Cristo. E acabamos levando a cultura do reino de
Deus: verdade, bondade e beleza. Quando infundimos a cultura do reino na
Grande Co missão, o fruto é "Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade assim
na terra, como no céu."
É minha esperança e oração que este estudo das portas e domínios, e a
aplicação do Grande Mandamento (manifestar o amor de Deus para todas as
pessoas) ao nosso trabalho nos domínios tenham nos ajudado a entender com
mais firmeza o evangelho pleno e poderoso do reino de Deus. É um evangelho
que leva homens e mulheres a um conhecimento redentor de Cristo. Mas não
termina aí. Ele chama os cristãos para entrar nos portões da cidade e nos
domínios da vida com a única e verdadeira esperança para um mundo perdido
e confuso.
Na parte 7 - Igrejas sem Paredes - vamos procurar fazer dessa entrada
de esperança uma realidade. Vamos sair de nossos prédios para o mundo.
Vamos seguir a bandeira de Cristo e de seu reino até as portas da cidade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 321/373
PARTE 7:
IGREJAS SEM PARED ES
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 322/373
Capítulo 21
SERVINDO COM O
GUARDIÕES DAS PORTAS
Até agora vimos que é imperativo que cada um de nós conecte a sua
vocação ao reino de Deus. Como nos lembra Dallas Willard, fazer nosso trabalho
"como Jesus faria... é o coração do discipulado, e não podemos ser verdadeiros
aprendizes de Jesus sem integrar o nosso trabalho ao Reino em Nosso Meio."'
O cristão que ocupa as portas da cidade pode ser considerado um "Pro-
motor do Reino"' - alguém que procura fazer do seu local de trabalho um lugar
onde o reino pode tornar-se realidade. Tal crente procura conscientemente
levar verdade, beleza e bondade ao mercado de trabalho e ao público, unido à
comunidade da igreja para adoração, para equipar-se e disseminar-se no serviço
e discipulado das nações. Os Promotores do Reino realizam seu trabalho por
Cristo e por seu reino, não primeiramente pelo dinheiro.'
Um promotor do reino é:
• médico não por dinheiro, mas por Jesus e pela saúde da
comunidade;
•
advogado, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pela justiça na
sociedade;
•engenheiro, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pela luta contra
os efeitos do mal natural;
•
artista, não pelo dinheiro, mas por Jesus e pelo avanço da verdade
e da beleza no mundo;
•empresário, não para autoengrandecimento, mas por Jesus e pela
suficiência econômica da sociedade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 323/373
344 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
PROMOVENDO
O REINO
e,
0.
_ Lis V E R
0
4 o e
o
r„....
-----'----
-
,.,
g
e
4,
o
O
04/
: 11114
S >
F
<
ti
, C / V O N J O 9
Quando oramos "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu", estamos orando para que a terra seja mais parecida com o
céu. Quando paramos de orar e agir, a terra se torna mais com o inferno. Em
nosso trabalho, temos o potencial para tornar o mundo mais parecido com o
inferno e
a oportunidade de tornar o mundo mais parecido com o céu, mais
parecido com o que Deus planejou na criação.
Como podemos começar hoje, em princípio e prática, a ocupar as portas
da cidade?
IT
i
1
L
C O
P
.
I
l á
95
C C I
. .
O
t.
V S
A '
OCUPANDO AS PORTAS EM PRINCÍPIO
Em primeiro lugar, cada um de nós pode começar agora mesmo a ocupar
as portas da cidade, em princípio, atacando a fortaleza da mente. Precisamos
começar a pensar como cristãos em todas as áreas de nossas vidas, inclusive
em relação ao nosso trabalho. Precisamos confessar que temos cedido ao espírito
deste mundo. Romanos 12.2 chama o cristão a parar de se conformar aos
sistemas do mundo. Esse cativeiro é rompido através da renovação da mente.
Paulo lembra-nos em 2 Coríntios 10.4-6 que a batalha que estamos enfrentando
é uma batalha de idéias e ideais. É uma batalha pelas mentes das pessoas e
culturas. Existem fortalezas em nossas mentes que precisam ser quebradas,
trazendo cativo todo pensamento a Cristo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 324/373
Servindo corno guardiões das portas
I 345
Em segundo lugar, cada um de nós pode procurar compreender
e
manifestar que Cristo deve ser preeminente em todas as coisas.
4 Como vimos,
devemos levar os princípios do reino a todos os domínios da sociedade: no
direito (levar a justiça), nos negócios (levar a honestidade e integridade), nas
ciências (levar a objetividade), na comunicação (levar a verdade), e na arte
(levar a beleza).
Em terceiro lugar, cada um de nós pode restaurar o conceito e conteúdo
de virtude às portas procurando de alguma pequena forma praticar o que é
verdadeiro, bom e belo. Isso deve ser feito em todas as áreas de nossas vidas.
Em quarto lugar, podemos começar a ocupar as portas passando a ver a
igreja como um povo, não um prédio. Como veremos no próximo capítulo, o
nosso conceito de igreja deveria libertar o povo para estar no mundo, nas portas
da cidade, no mercado de trabalho, na praça pública e nas universidades, como
pequenas comunidades encarnadas.
OCUPANDO AS PORTAS NA PRÁTICA
Quais são algumas coisas práticas que você pode começar a fazer
imediatamente para ter maior influência na porta que você ocupa?
Primeiro, se ainda não o fez, você precisa procurar identificar o(s)
domínio(s) para os quais você foi chamado a servir.'
Em segundo lugar, você pode fazer a oração do Senhor no que se refere
ao seu domínio. "Venha o teu reino, seja feita a tua vontade neste domínio assim
na terra como no céu." Comece a perguntar "Se Cristo trabalhasse nessa área,
como ele mudaria as coisas? Conforme responde essa pergunta, você vai
começar a ver qual é o seu plano.
Em terceiro lugar, trabalhe para descobrir como Deus o equipou para
exercer a liderança nesse domínio.
Em quarto lugar, estude as Escrituras no tocante à sua vocação.
Desenvolva uma teologia bíblica da vocação específica para o seu chamado,
para que possa começar a ter a mente de Cristo no que se refere ao seu
trabalho.
Em quinto lugar, desenvolva uma série de estudos bíblicos que possam
ser utilizados para ensinar outras pessoas os princípios relacionados aos seus
domínios.'
Em sexto lugar, una-se a um grupo da igreja ou célula no local de trabalho
que se concentre em ser uma comunidade de redimidos nesse domínio. Os
exemplos incluem uma célula de médicos para o hospital local, uma célula de
engenharia para a empresa, e uma célula de alunos e professores para a
universidade.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 325/373
346 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Em sétimo lugar, procure se desenvolver mais, formalmente ou
informalmente, conforme necessário, para aumentar sua excelência.
profissionalismo e respaldo em sua área profissional. Isso pode incluir a leitura
de livros conceituais que se relacionem a uma teologia bíblica para o seu domínio
ou avançar em sua formação acadêmica ou técnica.
Em oitavo lugar, crie materiais de treinamento para preparar outros
cristãos para o mercado de trabalho. Escreva livretos e livros que ajudem a
promover o reino no mercado de trabalho. Promova treinamentos em sua igreja
local ou local de trabalho para ajudar os cristãos a começarem a conectar o seu
trabalho ao reino. Quando tiverem concluído o treinamento, os participantes
podem ser comissionados para o local de trabalho.
COM QUAL FINALIDADE?
Com qual finalidade devemos ser guardiões das portas, ser promotores
do reino? A fim de que as culturas sejam transformadas e as nações-não apenas
os indivíduos em cada nação-sejam discipulados. Jesus tem levantado a igreja
para discipular as nações.' Ele é o Rei do céu e da terra agora.' Seu reino deve
avançar neste mundo.
9
Quando oramos o Pai Nosso, "Venha o teu reino".
estamos orando para o avanço do reino de Cristo tanto na terra como no céu.
Dallas Willard escreve:
Então, quando Jesus nos orienta a orar; "Venha o teu reino", ele
não quer dizer que devemos orar para que esse reino venha a existir. Pelo
contrário, devemos orar para que ele assuma o controle em todos os pontos
na ordem pessoal, social e política, de onde agora está excluído: "na
terra como no céu." Com esta oração, estamos invocando isso ao mundo
real de nossa existência diária ao mesmo que agimos pela fé."
Nações são discipuladas conforme são ensinadas a obedecer "a tudo o
que lhes ordenei" (Mt 28.20). O que vemos em uma nação discipulada? Dr. Jun
Vencer do Ministério DAWN apresenta um útil resumo do objetivo. Uma nação
discipulada, diz ele, seria caracterizada pelo seguinte:
•
Suficiência econômica
• Paz social
• Justiça pública
•
Justiça nacional
•
E onde todos os aspectos da vida são centrados no Senhorio de Jesus
Cristo"
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 326/373
Servindo como guardiões das portas 1 347
Da mesma forma, Lawrence Harrison, estudioso e antigo trabalhador da
USAID no Caribe, escreve sobre os anseios de pessoas em todo o mundo que
A vida é melhor do que a m orte
A saúde é m elhor do que a doença.
A liberdade é melhor do que a escravidão.
A prosperidade é melhor do que a pobreza.
A educação é melhor do q ue a ignorância.
A justiça é melhor do que a injustiça.' 2
Vivemos no mundo que Deus fez e as pessoas anseiam pela vida para a
qual foram feitos. Cada cristão tem um papel a desempenhar para satisfazer os
anseios dos seus vizinhos e colegas de trabalho. Profissionais de saúde podem
oferecer cuidados pessoais, saúde, educação e novas tecnologias para promover
uma saúde melhor. Empresários e empreendedores podem criar empresas nas
quais não basta obter lucro, mas sim fazê-lo criando um ambiente de trabalho
humano e contribuindo para a saúde em longo p razo e a integridade da com unidade
como um todo. Os professores podem promover não só o conhecimento
acadêmico, mas também a verdade, a sabedoria e o desenvolvimento do caráter
nas escolas e universidades onde trabalham. Advogados, juízes e políticos podem
estabelecer leis que sejam justas e equitativas. Cada cristão tem uma ocupação
nas portas da cidade.
EXEMPLO DE UM GUARDIÃO DE PORTAS:
WILLIAM CAREY
A maioria de nós chamados a ocupar as portas da cidade continuará a
ser desconhecido para o resto do mundo. No entanto, cada um de nós tem um
chamado que pode encontrar inspiração na transformadora vocação de Will-
iam Carey, um homem cujo trabalho continua a influenciar vários domínios
mesmo já tendo se passado muitas gerações após sua morte. Conhecido como
o pai das missões modernas, William Carey não foi nenhum missionário comum
em sua época, e ele continua a ser excepcional hoje em dia. No notável livro de
Vishal e Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey [O Legado de Will-
iam Carey], vemos como Deus usou um humilde sapateiro inglês para influenciar
o povo da Índia. Carey utilizou a mente bíblica em sua estratégia e metodologia
de missões, entendendo que o evangelho era para impactar todas as áreas da
sociedade.
No capítulo de abertura do livro, os Mangalwadis expõem a Carey através
dos olhos de vários estudantes universitários indianos que participam de uma
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 327/373
348 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
competição nacional de História da Índia. Uma das perguntas foi: "Quem é
William Carey?" Eis algumas das respostas:
"William Carev foi um missionário cristão", responde uni estudante
de ciências. "E ele também foi o botânico que deu o nome à Careya herbace.
É uma das três variedades de eucalipto encontrada somente na índia.
"Carey trouxe a margarida inglesa para a índia e introduziu o
sistema de Lineu à jardinagem. Ele também publicou os primeiros livros
sobre ciência e história natural da Índia, como a Flora Indica de William
Roxburgh, porque acreditava na visão bíblica de que "Todas as Tuas
obras Te louvam, Ó Senhor" Carev acreditava que a natureza é declarada
"boa" pelo seu Criador; ela não é maya (ilusão), não deve ser evitada,
mas é um assunto digno de estudo pelos seres humanos. Ele frequentemente
palestrou sobre ciência e tentou mostrar que mesmo os insetos não são
almas humildes em escravidão, mas criaturas dignas da nossa atenção.'
William Carev introduziu o estudo da astronomia no
Subcontinente", declara um estudante de matemática. "Ele era
profundamente preocupado com as ramificações culturais destrutivas da
astrologia: fatalismo, temor supersticioso, e a incapacidade de organizar
e gerir o tempo.
"Carey queria introduzir a índia à cultura científica da astronomia.
Ele não cria que os corpos celestes eram 'divindades que regem nossas
vidas.' Ele sabia que os seres humanos são criados para governara natureza,
e que o sol, a lua e os planetas são criados para nos ajudar em nossa tarefa
de governar. Carey era convicto de que os corpos celestes devem ser
cuidadosamente estudados, uma vez que o Criador os fez para ser sinais
ou marcadores. Eles ajudam a dividir a monotonia do espaço em direções:
Leste, Oeste, Norte e Sul e do tempo em dias, anos e estações. Eles
possibilitam que concebamos calendários; estudemos geografia e história;
planejemos nossas vidas, nosso trabalho e nossa ordem social. A cultura
da astronomia nos liberta para ser governantes, ao passo que a cultura
da astrologia nos tornam vítimas e nossas vidas determinadas pelas
estrelas.
1 4
"William Carey", diz uma estudiosa da ciência social feminista, foi
o primeiro homem a ficar contra tanto os assassinatos cruéis e da opressão
generalizada contra as mulheres-quase sinônimos de hinduísmo, nos
séculos XVIII e XIX. Os homens na Índia estavam oprimindo as mulheres
através da poligamia, do infanticídio feminino, do casamento infantil, da
queima das viúvas, da eutanásia e forçando o analfabetismo feminino-
todos sancionados pela religião. O governo britânico aceitava timidamente
esses males sociais como sendo uma parte intrínseca e irreversível das
tradições religiosas da Índia. Carey começou a conduzir pesquisas
sociológicas sistemáticas e bíblicas sobre estas questões. Ele publicou os
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 328/373
Servindo cama guardiões das portas
1 349
seus relatórios, a fim de levantar a opinião pública e protestar, tanto em
Bengala quanto na Inglaterra. Ele influenciou toda uma geração de
servidores públicos-seus alunos na faculdade Fort William College-a
resistir a esses males. Carey findou escolas para moças. Quando viúvas se
convertiam ao cristianismo, ele as encorajava a se casarem novamente.
Foi a persistente batalha de 25 anos de Carey contra o sati, a queima de
viúvas, que finalmente levou ao famoso édito de Lorde Bentinck em 1829,
proibindo uma das mais abomináveis de todas as práticas religiosas. "'-s
Através destas descrições dos alunos sobre a transformadora influência
produzida em seu país pela cosmovisão de William Carey, podemos ver o
potencial do trabalho transformador nesses e em outros domínios em nossos
dias.
Fica claro que cada cristão é chamado a servir como guardião de portas;
cada cristão é chamado a uma vocação que conecte toda a sua vida e trabalho
ao reino de Deus. Também fica claro que somos chamados, não isoladamente,
mas como parte da igreja de Cristo. É necessário um novo entendimento de
"igreja" para vermos os cristãos vivendo seus chamados nas portas das cidades
e vermos o cumprimento dos anseios das pessoas pelo o reino para o qual
foram feitas. Nos dois últimos capítulos desse livro, consideraremos o que
significa ser corpo de Cristo no mundo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 329/373
Capítulo 22
O CORPO DE CRISTO:
IGREJAS SEM PAREDES
Jesus declarou: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas
do Hades não poderão vencê-la" (Mt 16.18). Estas palavras revelam que a
igreja de Cristo está a avançar em território inimigo. As portas do inferno não
poderão resistir ao ataque da Igreja. "Edificarei" marca o avanço do reino e do
plano de Cristo. Irá ocorrer porque o Senhor do universo declarou.
Nesse quadro quem está na ofensiva? A igreja. Cristo venceu o medo da
morte na cruz e a própria morte na ressurreição. Ele agora é o Rei do céu e da
terra. Satanás está na defesa. Ele perdeu a grande batalha da guerra pelo
universo. Ele está em retirada. Cristo está levando suas forças em operações
de limpeza. Devemos seguir Cristo e sua bandeira para as portas do inferno.
A guerra continua entre Deus e Satanás, entre a verdade e a mentira,
entre o bem e o mal, entre a luz e a escuridão, entre a vida e a morte. As forças
do mal não são páreos para o ataque do reino. O reino de Deus irá prevalecer
no final.
Essa guerra se manifesta aqui na terra de maneiras muito concretas que
têm consequências tanto para os indivíduos como para a cultura. Há batalhas
que precisam ser combatidas em várias frentes. Há uma batalha pela verdade
e contra as mentiras, para a cultura da vida e contra a cultura da morte; e outra
para a justiça e contra a corrupção; outra para a beleza e contra o feio e
horrível; outra para a abundância e contra a fome; outra para suficiência
econômica e contra a pobreza; e outro para a sabedoria e contra a ignorância;
e outro para a saúde e contra a doença. Servos do Rei devem se ocupar-
usando seus dotes naturais, talentos e habilidades-para a luta contra essas
batalhas. Eles devem fazer uma contribuição única, em sua vida e vocação,
para ocupar o território inimigo para Cristo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 330/373
352 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
Como parte do exército de Deus não lutamos com espadas, armas, ou
bombas, mas com a verdade, a beleza e a justiça. Não avançamos em navio ou
em tanques, mas de joelhos e através de um trabalho humilde. À medida que
cada cristão está posicionado estrategicamente, ele implanta a bandeira de
Cristo.
A CONTRIBUIÇÃO ÚNICA
A guerra na qual somos chamados a servir hoje tem diminuído e se
enfraquecido ao longo da história. Às vezes o reino de Deus avança, às vezes
as forças das trevas avançam. Neste momento da história têm ocorrido avanços
sem precedentes no evangelismo e implantação de igrejas. Jamais houve mais
cristãos ou igrejas no mundo do que existem hoje. Mas o impacto da Igreja na
cultura ocidental está diminuindo drasticamente. O reino das trevas está
impactando profundamente as nações mesmo enquanto as igrejas crescem
numericamente. A igreja praticamente perdeu o Ocidente para o secularismo, e
o secularismo está desmoronando sob o peso da ganância e da corrupção em
sua insuficiente fundação. O pós-modernismo ou neo-paganismo está avançando
nos corações e mentes das nações, especialmente na Europa pós-cristã e as
principais cidades da América do Norte. Em grande parte do mundo em
desenvolvimento, a mentalidade e o sistema de valores do espiritismo continuam
a prevalecer, diminuindo o impacto do crescimento numérico da igreja.
Então, qual é o prob lema? A igreja, na nossa geração, tem uma m entalidade
de que Satanás está na ofensiva e que a Igreja está na defensiva. Esta
mentalidade é exatamente o oposto do ensino da Escritura e está criando uma
mentalidade derrotista na igreja.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 331/373
O corpo de CO corpo de cristoristo
1 353
Precisamos ser lembrados de quem ganhou a batalha da cruz e quem venceu
a batalha sobre a morte. Cristo e seu reino continuarão avançando até que seu
triunfo seja concluído. Ele é o Rei de Israel prometido escrito em Isaías 9.6-7:
Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo
está sobre os seus ombros. E ele será chamado M aravilhoso C onselheiro,
Deus P oderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de
Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão,
desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos E xércitos fará isso.
Deus vai realizar a sua obra de redenção completamente. As portas do
inferno não prevalecerão.
Se isso é verdade, a igreja deve ter a mentalidade vitoriosa de avançar
contra o reino de escuridão. Ela deve ser proativa, atacando as portas do in-
ferno, não desprendida ou remota. Nem ela deve ser reativa-na defensiva,
respondendo aos ataques do reino das trevas.
A falsa mentalidade da dicotomia do sagrado-secular é aquela que iria
ver as portas da cidade-os domínios de governo, a mídia ou a ciência-como as
"portas do inferno". Por sua resultante postura separatista ou antagônica em
relação ao mundo, os gnósticos cristãos evangélicos têm mostrado que, algumas
vezes, eles (equivocadamente) igualam o trabalho "nas portas da cidade" ou
"no mundo" com o trabalho bem nas portas do inferno. Obviamente esse não é
o caso. As esferas da sociedade humana são ordenadas por Deus ou provem
do mandato dado por nosso Deus de administrar toda a criação. A harmonia
encontrada na criação antes da Queda é o objetivo do fim dos tempos, onde
haverá uma harmonia entre a criação do homem-a cidade-e a criação de Deus-
a natureza.'
É evidente que as portas da cidade, os domínios da sociedade, não são as
portas do inferno que a igreja deve se mover contra; elas não são o alvo do
ataque da Igreja. Como Paulo escreve: "pois a nossa luta não é contra pessoas,
mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de
trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais." (Ef. 6:12).
Como as culturas mais amplas da qual fazem parte, os domínios da sociedade
que somos chamados a ocupar e influenciar têm diferentes graus de cultura do
reino, cultura falsa e cultura natural. Não é atacando verbalmente devido à
frustração pela ação ineficaz, nem é nos fechando, que atacamos as portas do
inferno, mas manifestando mais claramente a cultura do reino nas portas da
cidade. Na força da palavra de Jesus, sua igreja deve tomar a iniciativa. Trata-
se de tomar a ofensiva. Porque Jesus disse, a verdade irá desafiar a mentira, o
bom irá vencer o mal, o amor irá superar o ódio, e a luz irá vencer as trevas.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 332/373
354 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua a.s.s
inatura no universo
UMA COMUNIDADE ENCARNADA
O que é a igreja? Na sua essência, ela é uma comunidade encarnada.
Na sua essência, ela não é um edifício. Ela não é definida por sua estrutura
eclesiástica e política. Não, ela é uma comunidade de crentes que devem
encarnar o Verbo em um mundo corrompido.
Em primeiro lugar, a Igreja é a comunidade. A igreja é descrita como o
corpo de Cristo,' a noiva de Cristo.' e uma nação santa e sacerdócio real.'
Essas são todas descrições relativas à vida, orgânicas. A igreja não é estática.
O que marca uma igreja é o seu povo e sua vida em conjunto, e não o lugar ou
edifício onde se reúnem, adoram, e estão preparados para a batalha e servidão.
Um edifício pode ser o lugar onde os crentes se reúnem para adorar e se
preparar, mas o templo não é a igreja. De certa forma, a igreja é uma comunidade
de crentes, uma comunidade dos redimidos através da qual Deus trabalha. Ao
identificar a igreja como o corpo de Cristo, Paulo revela que essa comunidade
é uma unidade da diversidade de muitos membros únicos' com uma variedade
de dons, serviços e ministérios.
°
Essa é uma comunidade que reflete a própria
natureza e propósitos de Deus.
Em segundo lugar, a igreja é encarnada. Ao chamar a igreja de "o corpo
de Cristo", faz com que se lembre de que ela é uma comunidade encarnada.
Assim como Cristo foi "Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre
nós." (Jo 1:14), agora o Verbo (Jesus) é encarnado hoje através de sua igreja.
Quando viemos a Cristo, entramos em seu reino. Como a igreja, devemos viver
como ele viveria no mundo.'
DUPLA CIDADANIA
Em A Cidade de Deus, Santo Agostinho disse que somos cidadãos de
"duas cidades." Cristo é o Rei do céu e da terra, agora e no futuro.' Porque
suas leis são eternas e imutáveis, os princípios bíblicos são aplicáveis tanto nos
céus quanto na terra. O cristão é, em cada momento, um cidadão dos céus'
quanto deste mundol0 e está sujeito às leis de Cristo, em ambos os reinos.
O reino de Deus é agora e ainda não. O cristão deve viver a realidade do
futuro retorno do rei, enquanto manifesta a presença do reino no mundo de
hoje. O reino de Deus está plenamente estabelecido no céu, e está avançando
consideravelmente sobre a terra agora. Isso significa que o Reino da Luz estará
desafiando o reino das trevas de Satanás. Os aspectos do reino futuro irão
realizar uma colheita plena, quando Cristo voltar. Seu reino será consumado
mediante uma única soberania. A paz Shalom vai reinar Até então, os cristãos
serão cidadãos dos dois reinos, com um pé em cada um.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 333/373
PARA A MORTE
O corpo de Cristo 1 355
A IGREJA E O MUNDO
A igreja deve ser ao mesmo tempo separada do mundo (santificada-
separada) e ativamente engajada (conquistando para Cristo) no mundo. Jesus
deixa isso claro quando ele ora por seus discípulos na Grande Oração Sacerdo-
tal na Última Ceia (Jo 17.15-19):
"Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno.
Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os na verdade;
a tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei
ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam
santificados pela verdade."
Imediatamente antes da jornada para a cruz, Cristo ora por si mesmo,
por seus discípulos e por todos os crentes.11 Ele ora para que seus discípulos
estejam no mundo, mas não serem do mundo. O que isso significa? De duas
formas muitos membros da Igreja que se opõem ao conceito correto de "estar
no mundo, mas não ser do mundo." O primeiro é o que chamo de igreja fortaleza.
A Igreja Fortaleza
A igreja fortaleza procura fisicamente se separar do mundo. Para usar a
expressão da oração de Cristo no sentido inverso, a igreja está "fora do mundo
e dentro do templo." A Igreja, na tentativa de manter-se afastada do mundo e
do diabo, se separa da vizinhança pelas paredes do templo. Ela deixa o mundo
para trás e desengaja da cultura. Nesta perspectiva, tudo o que Deus quer é
que a igreja esteja escondida por trás dos muros de proteção de uma cultura
independente e isolada. Por muitas vezes essa tem sido a postura de muitos
fundamentalistas e igrejas evangélicas.
IGREJA FORTALEZA
DESCONECTADA
DENTRO DA IGREJA E FORA DO MUNDO
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 334/373
356 1
VOCAÇÃO: Escreva
.11W
assinatura no universo
A Igreja Sincrética
A segunda forma eu chamo de igreja sincrética. No sincretismo as igrejas
compartilham da mesma estrutura básica moral e metafísica da sociedade em
geral. Ela está conforme o mundo em vez de estar conforme a Cristo. Para
distorcer a expressão da oração de Cristo, a Igreja está "no mundo e do mundo."
Na tentativa de ser relevante ou atrativa para a sociedade, ela torna-se como a
sociedade, indistinguível da cultura. Ao invés de transformar a cultura por Cristo,
a igreja é transformada pelo mundo até que ela já não se diferencia dele.
Demasiadas vezes, as denominações chamadas liberais e muitas das igrejas
com "exigências amigáveis" de hoje têm sucumbido a essa tendência.
IGREJA SINCRÉTICA
CONFORMADA
INDISTINGUIVEL DO MUNDO
I I I 1 1 1
1
L
PARA A MORTE
A Igreja do Reino
No meio radical está a igreja do reino. Essa igreja é engajada na sociedade
e, ao mesmo tempo é moralmente e metafisicamente consagrada. Para usar a
expressão exata da oração de Cristo, a Igreja está "no mundo, mas não é do
mundo." A Igreja esta sempre se reformando e buscando transformar a
sociedade. Ela é sempre contra cultural. Ela pede para construir reinos de
comunidade e cultura que se dedicam ao mundo com a verdade, beleza e justiça.
A palavra grega para igreja é ekklesia, que significa "chamar para fora."
Ser chamado para fora significa ser chamado de algo e para algo. Como a
Igreja, somos chamados para fora da mentalidade do mundo, ético e estético,
mas não do próprio mundo. Somos chamados a ser separados por Cristo, com
Cristo e para Cristo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 335/373
O corpo de Cristo
1 357
Somos chamados para fora do mundo e para dentro do reino. Mas porque
devemos estar no mundo nos relacionando com ele, embora não sejamos dele,
o chamado para fora é a separação do sistema do mundo, da sua atitude, da sua
ética e de sua estética, para entrar na cosmovisão do reino e da cultura.
A Igreja é chamada para ser uma comunidade encarnada que reflete e
apresenta o caráter de Deus. Esta chamada para fora e impressionar a
comunidade e nação em geral com a fidelidade, santidade e beleza de Deus. É
para ser um povo com uma maneira diferente de pensar (a verdade), uma
maneira diferente de viver (virtude), e uma maneira diferente de se expressar
(amabilidade, esplendor).
A noção de sermos os "chamados para fora" é verdadeira tanto para as
expressões universais quanto locais do corpo de Cristo. A igreja deve ser
separada moralmente e metafisicamente, mas não fisicamente. Ela deve ser
um povo santo e especiall 2 vivendo no mercado de trabalho e na praça públical3
como comunidades encarnadas. Os cristãos como indivíduos, a igreja espalhada,
devem ser socialmente e fisicamente engajados na comunidade e na nação,
levando o reino para o mundo, em todos os domínios da sociedade, enquanto
inteiramente consagrados, com uma mente bíblica, com uma estética bíblica e
com urna ética bíblica. A comunidade do reino é como sal e luz,14 como o
fermento do pão:15 informa, explica, esclarece, demonstra, influencia e afeta a
comunidade. Não é controladora, dominante, ditadora ou manipuladora. Não é
desengajada, individual, isolada ou inacessível. Ela deve ser um farol no mundo,
e não uma fortaleza contra o mundo. Ela deve trazer sabor, conservação e
limpeza, trazendo vida para a comunidade.
IGREJA DO REINO
REFORMANDO: INFLUENCIANDO O MUNDO
NO MUNDO, MAS NÃO DO MUNDO
PARA A VIDA
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 336/373
358 1
VOCAÇÃO:
Escreva .ma assinatura no universo
DESENFOCADA
Grande parte da igreja evangélica moderna no Ocidente tem hoje um
entendimento completamente sem foco. Ela está tanto fora do mundo quanto
conforme o mundo. Está fisicamente separada, além de estar metafisica e
ideologicamente conforme. Hoje a igreja ocidental é na maior parte mundana-
agimos religiosamente quando reunidos, e agimos como o mundo quando estamos
dispersos. Demasiadas vezes, agimos como cristãos quando é "conveniente",
quando não há nenhum custo.
Dietrich Bonhoeffer, que foi martirizado pelo Terceiro Reich nazista por
resistir à sua reivindicação de poder absoluto, denunciou o sincretismo na igreja
alemã de sua época, que é tão semelhante à da Igreja em nosso tempo. Ele
escreve sobre o conceito da graça barata que é essencial nas igrejas liberais e
evangélicas de hoje:
Se a graça é o valor para a minha vida cristã, isso significa que eu
me propus a viver a vida cristã no inundo com todos os meus pecados
justificados de antemão. Eu posso ir e pecar o quanto quiser, e contar com
a graça para perdoar-me, afinal o mundo é justificado, em princípio, pela
graça. Por isso, posso agarrar a minha existência burguesa secular, e
permanecer como eu era antes, mas com a garantia de que a graça de
Deus vai me cobrir É sob a influência desse tipo de "graça" que o mundo
foi feito "cristão", mas ao custo da seculariJação da religião cristã como
nunca antes' A
ida cristã passa a significar nada mais do que viver
no mundo e como o inundo; não ser diferente do mundo, o qual na verdade
significa que, é proibido ser diferente do mundo por causa da graça [itálico
adicionado ] .
1
"
Durante o Terceiro Reich, noventa por cento dos alemães eram cristãos
professos. Mas a maioria da igreja tinha se submetido totalmente ao Estado.
Essa triste condição permeia a maior parte do mundo cristão hoje. Na Igreja
ocidental, o cristianismo é em grande parte sincretizado com o materialismo
secular.
Ao observar o nosso mundo hoje, é claro que o verdadeiro "sucesso" de
uma igreja não é determinado pelo critério materialista de seu tamanho e riqueza,
mas pelo critério orgânico de sua piedade e pelo seu impacto positivo sobre a
cultura circundante. Nunca houve mais cristãos no mundo do que há hoje.
Nunca houve mais igrejas do que existem hoje. Nunca existiu tantas igrejas
grandes como as que existem hoje. No entanto, as nações ainda estão
corrompidas, empobrecidas
e
escravizadas. Os indivíduos são as sombras dos
seres humanos que Deus pretendia. Há pouca cura verdadeira ocorrendo.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 337/373
O corpo de Cristol
359
Normalmente conseguimos apenas o que nos propusemos a fazer. Du-
rante os últimos cinquenta anos, o mantra tem sido "o crescimento da igreja."
As igrejas ao redor do mundo estão atingindo esse objetivo. Mas, para quê? A
igreja é viva? O Verbo se fez carne na vida dos crentes? As grandes comunidades
e nações estão sendo transformadas pela Igreja local? Infelizmente, existem
muito poucos lugares onde as comunidades e nações estão sendo afetadas, e
muito menos transformadas.
IGREJAS DE PROGRAMAÇÃO ORIENTADA
Uma das razões para o fracasso da igreja em impactar a cultura é o
entendimento errado das igrejas como um edifício ou um conjunto de programas.
Uma igreja de programação orientada é uma igreja que define a si mesma por
seus programas. Seu objetivo é tirar as pessoas do mundo (o lugar secular),
para a igreja (o lugar sagrado). A igreja de programação orientada muitas vezes
vê a igreja corno um templo ou como pessoas que estão na igreja quando elas
estão em uma "reunião da igreja" ou quando estão "fazendo o trabalho da igreja."
Essas igrejas são definidas pelo calendário semanal de reuniões e atividades.
Muitas vezes, é o número de reuniões que uma pessoa participou que marca
sua espiritualidade. Muitas vezes, o sucesso da igreja é definido pelo número de
reuniões e o número de pessoas presentes nessas reuniões. Quanto mais
reuniões houver, mais "sucesso" a igreja terá.
O autor e teólogo Elton Trueblood descreve o erro desse fenômeno: "É
um erro grosseiro supor que a causa cristã avança, somente ou principalmente,
nos finais de semana. O que acontece nos dias normais pode ser muito mais
importante, no que diz respeito à fé cristã, do que aquilo que acontece aos
domingos."' Podemos acrescentar que o que acontece fora das paredes do
templo da igreja pode ter mais a ver com o avanço do reino do que aquilo que
acontece dentro da igreja. Um professor universitário da Coréia uma vez
lamentou-se comigo que a pressão da responsabilidade pelos "trabalhos" e pelas
reuniões que ele tinha em sua igreja o mantinha distante de trabalhar e ministrar
eficazmente aos seus alunos na universidade.
TODO CRISTÃO É UM MINISTRO
Em oposição ao conceito da igreja como um templo ou um conjunto de
programas, devemos perceber que a igreja é uma comunidade encarnada.
A igreja reúne e dispersa. Ela reúne para adorar e preparar, e dispersa
para o ministério. Em uma igreja de programação orientada os componentes da
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 338/373
360 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura
110
universo
equipe pastoral são vistos como ministros. Os membros existem para apoiar a
equipe pastoral em "seu" ministério. Em uma igreja orientada pelo reino, as
pessoas são os ministros. A função dos pastores e dos professores é preparar
os santos para o ministério, não para fazer o ministério sozinho. Precisamos
restaurar os ministros para as portas da cidade.
IGREJA: REUNIDA E ESPALHADA
REUNIDA PARA LOUVAR
E SE EQUIPAR
ESPALHADA PARA SERVIR
E DISCIPULAR AS NAÇÕES
O apóstolo Pedro nos lembra: "Vocês, porém, são geração eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas
daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe. 2:9). As
Escrituras anunciam claramente que cada cristão é um ministro, cada membro
é um sacerdote. Isso tem sido chamado o sacerdócio dos crentes Lembro-me
quando jovem de ver um cartaz na frente de uma igreja que tinha captado essa
verdade. Lia-se:
O pastor-o preparador;
A congregação-os ministros
Hendricks chama o congregado de "O Novo Clero."18 Isso instiga a
imaginação. Mas não é um conceito novo; de certa forma, é um conceito bíblico
que se perdeu e precisa ser restaurado.
A Grande Comissão libera todos os cristãos no mercado de trabalho.
Quando Cristo diz: "Portanto ide" (Mt. 28:19), a frase literalmente significa
"então vá" ou "vai indo." Assume-se que o cristão está engajado nas portas da
cidade, fazendo negócios, mantendo relacionamentos, ouvindo os anúncios, etc.
A Igreja se reúne para preparar e adorar e, em seguida, se dispersa pelas
portas da cidade para trazer a cultura do reino às pessoas.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 339/373
O corpo de Cristo
I 361
PORTÕES DA CIDADE
SOCIAL
COMUNICAÇÃO
DUCAÇÃO
ARTES
SAÚDE
NEGÓCIOS
IENCIA
E ECONOMIA
TECNOLOGIA
GOVERNO E LEI
Devido ao gnosticismo evangélico ter cegado a igreja em relação à Grande
Comissão, vale a pena abordar duas questões que dizem respeito a "ir": a questão
da implantação e a questão da vocação.
Em termos de implantação, o gnóstico evangélico considera que essa
passagem refere-se a missionários profissionais que vão trabalhar no exterior.
No entanto, uma cosmovisão bíblica pressupõe que esta passagem é para todos
os cristãos onde quer que eles sejam designados. A segunda questão refere-se
à vocação. Os gnósticos evangélicos supõem que essa passagem é destinada
ao profissional religioso. O teísmo bíblico pressupõe que todos os cristãos são
chamados para discipular as nações, e, além disso, considera-se que isso pode
ocorrer em qualquer vocação honesta ou moral. O sacerdócio dos crentes
entende que todos os cristãos são sacerdotes e que têm um encargo ou domínio
designado onde eles deverão servir.
PREPARANDO OS MINISTROS
A igreja tem um papel vital a desempenhar na preparação dos cristãos
para suas mobilizações no mercado de trabalho e em praça pública. George
Grant resume o trabalho da igreja ao levantar aqueles líderes em seu livro
Changing of the Guard (Troca da Guarda):
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 340/373
362 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assimoura no universo
A Igreja deve treinar o povo de Deus para a obra do ministério. Se
nossa nação deve ter pastores completamente preparados, então a Igreja
deve formar os jovens para o ministério do Evangelho (Romanos 10: 14-
15). Se nossa nação deve ter professores completamente preparados, então
a Igreja deve treinar jovens mães e pais para o ministério da educação
(Tito 2:1-15). Se nossa nação deve ter artesãos, artistas, músicos, filósofos,
médicos, operários, advogados, cientistas, comerciantes, completamente
preparados, então a Igreja deve treiná-los para o ministério da aculturação
(2 Timóteo 3:16-17). E, evidentemente, se a nossa nação deve ter
magistrados completamente preparados, então a Igreja deve treiná-los
para o ministério da ação política.'
9
O que é preciso para preparar os ministros para as portas da cidade?
Em primeiro lugar, é preciso que os pastores e os professores estejam
dispostos a preparar os santos. O modelo de pastor como superstar, fazendo
todo o ministério, deve ser abandonado. Assim também deve ser o modelo de
negócio dos pastores como administradores ou gerentes de negócios da mega
igreja. Paulo revela o importante papel do pastor e professor em Efésios 4.11-
12:
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros
para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar
os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja
edificado.
Note a progressão nesta passagem. A tarefa dada aos apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e professores é preparar os santos. Para qual propósito?
Para as obras de serviço. Para qual finalidade? Para a edificação do corpo de
Cri sto.
A palavra preparar em Efésios 4.12 é a palavra grega katartismos que
significa "mobiliário completo", ou "equipamento'. Como vimos, as pessoas-
os santos-são os ministros. Eles precisam estar preparados para as obras de
serviço. Então, de que modo os ministros são preparados para o serviço? Por
aqueles que têm dons de liderança e no ensino da Palavra. O papel de preparar
os santos não é maior do que aquele dos ministros; é apenas diferente. Não é o
papel do pastor-professor fazer todo o trabalho do ministério, mas é o seu papel
preparar os santos para as suas missões.'
Segundo, preparar os ministros para as portas da cidade precisará de um
ensino constante do púlpito sobre a teologia da vocação. Tenho sido um cristão
desde 1957. Em todos os anos desde então tenho ouvido apenas dois sermões
dedicados ao tema do trabalho. O primeiro foi o de Francis Schaeffer no L'Abri
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 341/373
O corpo de Cristo
1363
Fellowship na Suíça. A segunda foi por um pastor nos Estados Unidos que
equivocadamente declarou que o trabalho era parte da maldição. Na realidade,
a causa de Cristo pode avançar mais durante os seis dias da semana do que no
domingo, mais no mercado de trabalho do que no templo da igreja. Devido a
isso, precisamos gastar mais tempo ensinando sobre assuntos do reino e sobre
a vocação do que apenas sobre o foco "espiritual" encontrado em muitas igrejas.
Em terceiro lugar, serão necessárias aulas de discipulado para preparar
as pessoas para trabalhar holisticamente no mercado de trabalho. Além de
falar do púlpito sobre temas profissionais, deve haver grupos de células ou
aulas sobre o reino de Deus na igreja para discipular os cristãos para o mercado
de trabalho. Passamos a maior parte de nosso tempo na escola dominical, estudo
bíblico, e até mesmo reuniões de célula para preparar as pessoas para agirem
espiritualmente. É preciso treinar os empresários para serem santos em suas
práticas de negócios e trazer princípios do reino para o mercado de trabalho.
Precisamos preparar os advogados e juízes cristãos para exigir justiça na
sociedade e para conduzir questões ao Supremo Tribunal do país, se necessário,
não simplesmente para ganhar o seu sustento ou dar sentenças corruptas, como
acontece em muitos países.
Em quarto lugar, será necessário o reconhecimento público para
comissionar e enviar empresários preparados para ministrar no mercado de
trabalho; advogados no sistema judicial; os funcionários públicos no governo, a
força policial, e o corpo de bombeiros; administradores para as fazendas, pomares
e vinhas, empregados domésticos nos lares. Cada cristão deve ser ordenado
para o seu ministério, deve ser separado para a missão dada por Cristo. A igreja
deve liberar cada pessoa para o seu destino.
Em quinto lugar, serão necessários grupos de células de cristãos, a partir
de domínios individuais na sociedade, em uma cidade ou em um país para
requerer a verdade e os princípios bíblicos em seus próprios setores. Como
exemplo, uma igreja que tem um trabalhador da área de saúde pode enviá-lo
para um grupo de células de cristãos da área de saúde, não só para ter comunhão
juntos, mas a fim de desenvolver uma estratégia de introdução do reino no
hospital. No nível estadual ou federal, profissionais setoriais cristãos podem se
unir para tentar impactar políticas públicas e legislativas para a justiça. Esse
padrão pode ser aplicado para qualquer esfera da sociedade.
ENVIANDO LÍDERES PARA AS PORTAS DA CIDADE
A restauração dos ministros para as portas da cidade é importante.
Nossas comunidades e nações precisam desesperadamente de liderança do
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 342/373
364 1 VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
reino. Pastor E.W. Lutzer, da famosa Moody Church em Chicago, descreveu a
escolha diante da igreja de hoje, quando ele denunciou a forma como a igreja na
Alemanha falhou em criticar sua própria cultura. Em vez disso foi bastante
complacente com a ascensão de Hitler e até mesmo, por uma questão de serem
bons alemães, apoiaram o Terceiro Reich. A escolha deles é a nossa escolha:
"A igreja teve que escolher entre um Cristo que era Senhor sobre uma 'esfera
espiritual' minguada e um Cristo que era "o Senhor sobre tudo.'"22 Em seu livro
Hitler's Cross (A Cruz de Hitler), Lutzer mostra que padrões existentes hoje
nos E.U.A. são muito semelhantes aos que existiam na Alemanha na ascensão
de Hitler ao poder. Ele desafia a Igreja nos E.U.A. e, por consequência, a
igreja no resto do mundo:
Se a cruz de Cristo é a maior expressão do amor de Deus ao mundo,
então aqueles entre nós que o segue tem de mostrar o nosso amor para o
mundo também.
É tempo dos cristãos se tornarem líderes na arte, na política, na
educação e na lei. Não vamos cometer o erro da igreja alemã e isolar a
esfera espiritual da esfera política, social e cultural.
Uma vez que partilhamos o planeta com toda a humanidade, temos
de restabelecer a liderança em todas essas áreas onde os cristãos muitas
vezes guiaram o caminho. Educação, política e lei - aqui é onde temos
credibilidade para que o inundo possa ouvir nossa mensagem. A Cruz
deve ser vista onde quer que os cristãos sejam encontrados. 2 3
Especialistas em liderança Warren Bennis e Burt Nanus contribuem com
um tema semelhante:
Se alguma vez houve um momento na história em que uma visão
estratégica global da liderança era necessária, não apenas por alguns
líderes em altos cargos, mas por um grande número de líderes em cada
trabalho... é agora.2 4
Os domínios da sociedade têm necessidade de liderança de reino que
manifesta a verdadeira natureza e propósitos de Deus e sua criação. O trabalho
da igreja é de vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, e não apenas
aos domingos. É no mundo, não em um templo. O trabalho da igreja é levar a
mente e o sistema de valores do reino para todo o mundo, não a mente e o
sistema de valores do mundo para a igreja. Quando uma massa importante de
membros do corpo de Cristo abraçar seus chamados como ministros e estiver
preparada para viver e trabalhar no mundo como comunidades encarnadas, a
verdade, a bondade e a beleza fluirão com vivacidade da Igreja para a
comunidade e nação. Através do corpo de Cristo, Deus se fará conhecido.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 343/373
Capítulo 23
OCUPEM-SE ATÉ
QUE EU VOLTE
Na jornada que fizemos juntos, vimos que a igreja e nós, como cristãos,
individualmente, em grande parte temos nos retirado de nossas culturas e
privatizado a nossa fé. Vimos que nossas estratégias de evangelismo e
implantação de igrejas têm funcionado muito bem. Jamais houve mais cristãos
ou igrejas no mundo do que existem hoje. Não obstante, frequentemente as
nossas comunidades e nações se encontram irremediavelmente corrompidas.
Vimos que a razão para essa corrupção é por termos abandonado a
poderosa e integrada cosmovisão bíblica trocando-a pela cosmovisão anêmica
e dualista do gnosticismo evangélico. Essa cosmovisão reduziu a nossa visão a
simplesmente ir à igreja e ir para o céu. Perdemos a poderosa visão para a qual
Cristo nos chamou.
Neste livro procuramos estabelecer as bases para um retorno à
cosmovisão bíblica e poderosa e ao papel da igreja de ser voltada para fora,
para o mundo e para o mercado de trabalho. Temos chamado a igreja a ser
igreja na segunda-feira, tomando o seu lugar nas portas da cidade. Isso significa
que cada cristão deve viver coram Deo.
HABITANDO NA PRESENÇA DE DEUS
Como membros do corpo de Cristo, somos chamados a trabalhar com
ele com o intuito de que "a Terra se encherá do conhecimento da glória do
Senhor, como as águas enchem o mar" (Hc 2.14). Temos de ser agentes para
a vinda do reino de Deus. Paulo escreve que em Cristo Jesus, estamos "sendo
edificados juntos, para nos tornarmos morada de Deus por seu Espírito" (Efésios
2.22). Somos membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, na qual todo o
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 344/373
366 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor" (Efésios
2.19-21). Assim como a presença de Deus habitou entre seu povo de Israel no
templo, a sua presença habita neste novo templo, um templo sem muros.
Na ilustração do reino vindouro, somos lembrados de que o homem habita
cada vez mais na presença de Deus. Deus será o nosso Deus e nós seremos o
seu povo. Gênesis 3.8, Êxodo 25.8 e João 1.14 são claros lembretes de que
Deus habita entre as pessoas. E se Deus habita entre as pessoas, então as
pessoas habitam na presença do Deus vivo. Somos chamados e privilegiados
por viver toda a nossa vida diante da face de Deus.
As histórias da construção do tabernáculo e do templo no Antigo Testa-
mento criam para nós imagens de pessoas habitando na presença de Deus para
usar os seus dons e talentos para fazer uma morada para Deus entre os homens.
Deus chamou artesãos e artífices para manusear coisas inertes e moldá-las
para a glória de Deus. Ao criar a terra, Deus fez um lugar para o ser humano
habitar. O ser humano, ao criar o tabernáculo e o templo, fez lugares para Deus
habitar.
Deus criou uma miríade de ocupações piedosas para encher a terra com
o conhecimento do Senhor. Como já mencionado anteriormente, isso é ilustrado
nos dons necessários para construir o tabernáculo:
Disse então o Senhor a Moisés: "Eu escolhi a Bezalel, filho de Uri,
filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhes
destreza, habilidade e plena capacidade artística para desenhar e
executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e esculpir pedras,
para entalhar madeira e executar todo tipo de obra artesanal. Além disso,
designei Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, para auxiliá-lo.
Também capacitei a todos os artesãos para que executem tudo o que lhe
ordenei:
Disse então Moisés aos israelitas: "O Senhor escolheu Bezalel,
.filho de Uri, neto de Hur, da tribo de Judá, e o encheu do Espírito de Deus,
dando-lhe destreza, habilidade e plena capacidade artística, para
desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e
lapidar pedras, entalhar madeira para todo tipo de obra artesanal. E
concedeu tanto a ele como a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã,
a habilidade de ensinar os outros. A todos esses deu capacidade para
realizar todo tipo de obra como artesãos, projetistas, bordadores de linho
fino e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, e como tecelões. Eram capazes
para projetar e executar qualquer trabalho artesanal".
"Assim farão Bezalel, Aoliabe e todos os homens capazes, a quem o
Senhor concedeu destreza e habilidade para fazerem toda a obra de
construção do santuário, realizarão a obra como o Senhor ordenou. "
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 345/373
Ocupem-se ate que eu volte
1
367
"Então Moisés chamou Bezalel e Aoliabe e todos os homens capazes
a quem o Senhor dera habilidade e que estavam dispostos a vir realizar a
obra." (Êxodo 31.1-6; 35.30-36.2)
Que ilustração incrível Deus construiu uma casa para o homem,
e
agora o povo de Deus deve construir uma casa para Ele. Deus tinha um plano
detalhado para o tabernáculo. Ele pediu para que o povo de Israel fizesse provisão
para sua casa.' As pessoas liberalmente traziam ofertas que ultrapassaram a
necessidade do tabernáculo. Então o Senhor chamou Bezalel, filho de Uri, um
mestre artesão, para liderar o projeto. Bezalel foi cheio do Espírito de Deus e
preparado para a tarefa. Deus também forneceu artesãos que tinham a
capacidade de ensinar os outros a trabalhar sob a liderança de Bezalel. Deus
tinha um plano. Ele chamou pessoas para completar esse plano. Ele os preparou
e deu-lhes poder, como diria Francis Schaeffer, para "fazer a obra do Senhor à
maneira do Senhor."
D.B. Hegeman, escrevendo em Plowing in Hope [Cultivando com
Esperança], lembra-nos a glória da diversidade de dons e talentos utilizados no
tabernáculo:
A variedade de
ocupações
utilizada na construção do tabernáculo
e do templo é impressionante: madeireiros, carpinteiros, fiandeiros,
tintureiros, artesãos, bordadeiras, costureiras, trabalhadores de fundição
e metalúrgicos, ourives, entalhadores, curtidores, perfumistas, mineiros e
pedreiros. E havia aqueles que davam direto apoio logístico: fabricantes
de ferramentas, tratadores de animais de tração, marítimos e trabalhadores
braçais... Havia pessoas envolvidas nas atividades de culto, após os
santuários serem concluídos. Sacerdotes e assistentes, músicos, cantores,
fabricantes de instrumentos musicais e salmistas. As graciosas
circunstâncias da redenção do Antigo Testamento são uma celebração da
impressionante diversidade profissional e habilidade humana. O
tabernáculo e o templo eram ambos emblemáticos - ainda que em uma
escala pequena - da grande diversidade que viria a marcar o esforço
cultural global dado ao homem no Jardim do Éden. E eles apontam para
as maravilhosas potencialidades culturais que serão liberadas após a
consumação, quando uma humanidade glorificada e sem pecado cumprirá
com perfeição o desenvolvimento cultural da Nova Terra [grifo meu].'
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 346/373
368 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
À medida que construímos, devemos construir com o fim em mente.
Esse fim é a vinda do reino de Deus. As questões que devemos responder são:
Como vivemos diante da face de Deus? Como podemos utilizar nossos dons,
talentos e habilidades para avançar o reino de Deus? De que maneira as nossas
vidas contribuem para o lugar futuro, a Cidade de Deus, onde Deus habitará
conosco para sempre? Assim como os homens e mulheres dos dias de Moisés
foram dotados para a construção do tabernáculo - habitação de Deus - nós
também fomos preparados em nossa geração para contribuir para a plenitude
da vinda do reino de Deus.
VIVENDO ENTRE DOIS TEMPOS
Estamos vivendo antes da segunda vinda, mas depois da primeira vinda
de Cristo. Cristo veio entre nós e morreu para restaurar nosso relacionamento
primário com Deus e criar as bases para uma cura real de todos os nossos
relacionamentos secundários. Não devemos "esperar" pelo retorno de Cristo,
devemos trabalhar pelo seu retorno. Vivemos em um tempo de expectativa.
Durante os dias concedidos para as nossas vidas, devemos cuidar dos interesses
de Cristo. Devemos viver ativamente; devemos dar ouvido ao seu comando de
"ocupar até que eu volte " O lugar da minha profissão deve ser o lugar que
reivindico para Cristo e seu Reino.
Eu me lembro, quando criança, de assistir a um filme sobre a invasão da
Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Uma cena do filme mostrava uni
grande mapa da Europa controlada pelos nazistas, as ilhas britânicas e o Canal
da Mancha. No mapa havia uma grande seta no meio do Canal da Mancha que
marcava a posição da armada aliada pronta para a invasão. E havia setas que
eram um pouco menores representando pontos de invasão ao longo das praias
da Normandia. Bem dentro da França controlada pelos nazistas, os cruzamentos
principais, as pontes, os depósitos de combustível e os estaleiros de trem foram
todos identificados com setas menores mostrando onde os paraquedistas ou
tropas aerotransportadas desceriam. Esse foi o mapa da batalha do Dia D.
Nesse plano, cada pessoa tinha um papel a desempenhar: cada soldado, cada
marinheiro e cada aviador tiveram um papel fundamental na libertação da
Europa. Cada soldado devia lutar para liberar a terra e estabelecer uma cabeça
de ponte para a libertação da França. Eles deviam lutar para ocupar o território.
para destituir a tirania e pela liberdade da Europa. Os soldados tinham sido
alistados, treinados (discipulados), equipados e faziam parte do plano de batalha.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 347/373
EXERCITO
BRITÂNICO
r
...4 9 1 .
4
1 1 0°
.i,
E X E R C I T O
A M E R I C A N O
I
/
LINHA DE OcupAçÃo
DO PLANO DO DIA D
Ocupem-se até que eu voltei
369
DIA D: A REOCUPAÇÃO
Isso criou uma imagem vivida em minha mente. A obrigação do cristão é
ocupar o território para Cristo. Devemos nos opor à tirania do mundo, da carne
e do diabo em qualquer lugar, estrutura e instituição nos quais nos engajarmos
em nossa vocação. Nossa grande oportunidade é lutar pela liberdade, pelo reino
da justiça, pela vinda da compaixão, de suficiência econômica para todos, pela
paz social e por mais saúde em nossas comunidades. Assim como cada soldado
aliado tinha uma tarefa, assim também o cristão. Cristo conquistou a cabeça de
ponte em cada uma de nossas vidas e tem planos para que avancemos mais.
Talvez possamos entender as palavras de Cristo "Ocupem até que eu volte "
meditando em outro drama da Segunda Guerra Mundial. General Douglas
MacArthur, comandante das forças aliadas no Pacífico durante a Segunda Guerra
Mundial, foi expulso das Filipinas pelas tropas invasoras japonesas. Após ter sido
levado ao Território do Norte da Austrália para planejar a libertação das Filipinas
como parte da grande ofensiva contra o Japão, MacArthur mandou uma mensagem
para a resistência filipina: "Eu saí de Bataan e vou voltar."
4
O General MacArthur
queria que o mundo soubesse que ele havia escapado do plano japonês para
capturá-lo e que queria que a resistência filipina continuasse a lutar, porque ele
iria voltar para as Filipinas. Dois anos e sete meses após sua mensagem ter sido
enviada ao mundo, ele voltou para as Filipinas para restaurar a sua liberdade.
Isto é essencialmente o que Cristo chamou seu povo a fazer. Ele venceu
a morte na ressurreição e voltou para o Pai para obter o reino e depois voltar.
Enquanto isso, ele diz a seu povo: "Continuem a lutar, pois Eu voltarei " Não nos
rendamos às forças inimigas. Não esperemos passivamente pelo retorno de
Cristo. Devemos ocupar o território até que ele volte.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 348/373
370 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no unirerm
Estamos vivendo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Vivemos
no tempo entre o agora e o ainda não do reino de Deus. Não devemos ser
espectadores em meio à batalha pelo coração e alma das nações e das culturas.
Cada cristão tem uma vida e um trabalho. Nossa vocação é ocupar o território
para Cristo. Os reformadores na Europa e os puritanos na América tinham um
forte senso de compreensão do papel que a vocação significava para o reino. O
pastor puritano Richard Steele escreveu: "Aquele que emprestou os talentos
também disse: "Negocie até que eu volte " Como é que você fica o dia todo sem
fazer nada?... Sua vocação é ocupar o seu próprio território."' Lutero compreendia
tanto a natureza quanto a intemporalidade da tarefa, quando supostamente disse:
"Se eu soubesse que Cristo voltaria amanhã, plantaria uma árvore hoje."
Não devemos esperar Devemos apressar o dia do seu retorno
APRESSE O DIA DO SEU RETORNO
Nesse tempo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, vivemos
tanto no reino terrestre quanto celestial, servindo como embaixadores do reino
celestial. Através do apóstolo Pedro, o Senhor revela mais sobre a posição do
crente nesse tempo intermediário. Em 2 Pedro 3.10, Pedro reflete sobre o
futuro retorno de Cristo e o papel do crente antes de sua segunda vinda: "Virá,
pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo,
e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão
descobertas." À luz desses eventos vindouros, como devemos viver nossas
vidas? Essa é a questão levantada e respondida em 2 Pedro 3.11-12. Três
coisas se esperam: (1) que vivamos vidas santas e piedosas, (2) que esperemos
com grande expectativa o dia do seu retorno e (3) que apressemos o dia do seu
retorno. Incrível De alguma forma, a atividade do crente e da igreja influencia
o retorno de Cristo.
Nossas vidas devem ser vividas com base no fato histórico da primeira
vinda de Cristo. Nossas estratégias e declarações devem ser feitas com a
certeza de sua segunda volta.
Devemos ser rebeldes nesse mundo. Devemos nos posicionar contra as
forças do mal. Devemos nadar contra a maré de nossa cultura. Devemos viver
na realidade da existência de Deus e de sua obra na história. Devemos moldar
a história pelas coisas que dizemos e pelas escolhas que fazemos, de maneira
que evidencie e honre ao Deus vivo.
Devemos ser advogados em busca de justiça e verdade; estudantes
tornando-se educados pela maravilha do conhecimento; pais reconhecendo a
responsabilidade sagrada com seus filhos; escritores criando mundos que
refletem a criação de Deus; agricultores colhendo fartura em suas terras;
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 349/373
Ocupem-se até que eu volte 1 371
cidadãos votando e participando nas atividades de escolas; líderes empresariais
discutindo questões de ética no mercado de trabalho; pessoas estabelecendo
relações de confiança com os seus vizinhos; e igrejas desenvolvendo ministérios
para os pobres, viúvas e órfãos.
ENCONTRANDO UM TRABALHO QUE SOMENTE
UM CAVALEIRO POSSA FAZER
Na clássica história de São Jorge e o Dragão, as virtudes cristãs de um
cavaleiro: verdade, justiça e coragem guerreiam contra o dragão, que representa
as virtudes pagãs do pecado e do mal. Quando São Jorge estendeu a paz do reino
para um lugar, ele procura um novo trabalho "que só um cavaleiro possa fazer "
Esta história lembra-nos o chamado do reino de Deus. Conta a história que:
Um dia de São Jorge cavalgou por todo o país. Por todo canto ele
via homens ocupados em seu trabalho nos campos, as mulheres a cantar
enquanto trabalhavam em suas casas e as criancinhas a gritar com suas
brincadeiras.
"Essas pessoas estão todas seguras e felizes. Elas não precisam
mais de mim," disse São Jorge.
"Mas em algum lugar, talvez, haja problemas e medo. Pode haver
um lugar onde crianças não possam brincar em segurança, uma mulher
pode ter sido levada de sua casa-talvez haja até mesmo dragões a serem
aniquilados. Amanhã irei embora e nunca pararei até conseguir encontrar
uni trabalho que só um cavaleiro possa fazer"
Assim como São Jorge, devemos procurar trabalhos que só um cristão
possa fazer. Felizmente, o Senhor nos deu uma ordem inspiradora para discipular
as nações, começando de onde estamos agora. O Papa João Paulo
II
capta a
imaginação de todos os filhos de Deus, jovens e velhos, quando escreve:
Desejo, por fim, dirigir-me a vós, queridos jovens, e repetir essas
palavras a vocês com carinho: Sejam generosos e entreguem suas vidas ao
Senhor. Não tenham medo Nada a que se temer, porque Deus é o Senhor
da história e do universo. Que cresça em vós o desejo de grandes e nobres
projetos. Cultivem uni senso de solidariedade: pois, isso é o sinal da ação
divina em seus corações. Coloque ao dispor de suas comunidades os
talentos que a Providência derramou sobre vós. Quando mais disposto
estiverdes em entregar-vos a Deus e ao próximo, tanto mais descobrirás o
verdadeiro sentido da vida. Deus espera muito de vós
7
O comando foi dado: "Ocupem-se até que eu volte "
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 350/373
1373
NOTAS
INTRODUÇÃO
1.
ohn Fuellenbach, The Kingdom of God: The Message of Jesus Today 10 Reino de
Deus: A Mensagem de Jesus Hoje] (Maryknoll, N.Y.: Orbis Books, 1995), 9.
2.
E. Stanley Jones, The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person [O Reino
Inabalável e a Pessoa Imutável] (Nashville: Abingdon Press, 1971), 19.
3.
Ibid.
4. Fuellenbach, The Kingdom of God [O Reino de Deus], 15.
5.
Ibid, 6.
6.1 Co 12.27.
7.A primeira vez que ouvi o termo promotor do reino [em inglês, kindomizer] usado foi
por Paul Jeong da Natural Church Development da Coreia no Fórum da Aliança para o Discipulado
das Nações em Phoenix, Arizona em 16 de abril de 2002. Devemos ser agentes do Rei e seu reino
em nossa vida e em nosso trabalho. Devemos levar o reino ao nosso trabalho.
8.0 autor trabalhou para a organização Food for the H ungry International (www.fhi.net)
por vinte e seis anos e agora trabalha para a Aliança para o Discipulado das Nações
(www.disciplenations.org ).
9.0s dois principais entendimentos do universo que desejo distinguir aqui são um universo
aberto e um universo fechado. A Bíblia revela que antes do universo existir, Deus existia. Deus
criou o universo e, portanto, o universo é "aberto" à sua intervenção assim como à intrusão dos
anjos e dos seres humanos. Deus, anjos, demônios e o ser humano podem impactar esse mundo
através de suas decisões e ações. Em um sistema aberto, os recursos são criados e descobertos e,
portanto, a riqueza pode crescer. O conceito de que os recursos podem crescer define-se como um
modelo de soma positiva. Isso entra em contraste com um sistema "fechado", visão do darwinismo,
secularismo e naturalismo. Nessa visão da realidade, não há Deus, nem demônios ou anjos, e o ser
humano é produto de forças evolucionárias. O universo é uma grande máquina, sendo o homem
uma parte dessa máquina. Em um sistema fechado, não existe liberdade para os seres agirem e os
recursos são coisas físicas e, portanto, finitos; a riqueza é limitada. O conceito de uma quantidade
"fixa" de recursos define-se como um modelo econômico de soma zero.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 351/373
374 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
CAPÍTULO 1: COSMOVISÕES EM AÇÃO
1.
Para mais informações sobre cosmovisões, veja meu livro Discipling Nations: The
Power of Truth to Transform Cultures : O Poder da Verdade para Transformar Culturas (YWAM
Publishing, 1998; publicado no Brasil por Fatoé Publicações, 2003)(Seattle: YWAM Publishing,
1998) ou The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalog de James W. Sire (Downers
Grove. III.: InterVarsity Press, 1997).
2.
Veja 1 Co 2.16: 2 Co 10.5: Rm 12.2.
3.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O
Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 141.
4.
Relatado a mim em uma Conferência de Lançamento da Visão em Rostov, Rússia em
junho de 2002. Para mais informações sobre Conferências de Lançamento da Visão, visite o cite
da Aliança para o Discipulado das Nações, www.disciplenations.org/vc.
5.
Bobby Boyd, Dewayne Mize, Dennis Robbins, e Warren Haynes, "Finally Friday,"
Trevcor Music Corporation (Código do Título: 360247010).
CAPÍTULO 2: COMO CHEGAMOS AQUI?
1.
Uso a palavras holístico conforme me amigo e colaborador Dr. Bob Moffitt, Presidente
da Harvest Foundation. Holístico se refere ao todo da palavra de Deus para todo ser humano no
mundo todo. Reconhecemos que holístico é uma palavra inventada. E fazemos clara distinção
entre a maneira que a utilizamos (no sentido de abrangente) e que a maneira que o movimento da
Nova Era a utiliza com o significado de unidade sem diversidade.
2.
João 1.1-4, 14.
3.
Eusébio, Demonstration of the Gospel (Demonstratio Evangelica) [Demonstração do
Evangelho], cidado em W. R. Forrester, Christian Vocation [Vocação Cristã] (New York: Charles
Scribner's Sons. 1953), 42, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]
(Grand Rapids: Baker Books, 1995), 74.
4.
Donald K. McKim, ed., Westminster Dictionary of Theological Terms [Dicionário
Westminster de Termos Teológicos] (Louisville, Ky.: John Knox Press, 1996), 62.
5.
Alister E. McGrath, Reformation Thought: An Introduction [O Pensamento da Reforma:
Uma Introdução] (Malden, Mass: Blackwell Publishers, 2001), 266-67.
6.
Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship [O Custo do Discipulado] (New York:
MacMillan Publishing Co., 1977). 51-52.
7.
LovetoKnow Classic Encyclopedia Enciclopédia Clássica LovetoKnow], s.v. "Pietism"
[Pietismo], http://www. 1
91 lencyclopedia.org/Pietism
(acessado em 27 de maio de 2009).
8.0s fundadores da ciência teísta moderna eram homens tementes a Deus como Francis
Bacon (1561-1626), Johannes Kepler (1571-1630), Blaise Pascal (1623-1662), e Isaac Newton
(1642-1727). Para esses homens não existia separação entre fé e razão, entre o reino natural e o
reino espiritual.
9.
Ralph D. Winter, "The Future of Evangelicals in Mission" [O Futuro dos Evangélicos
em Missões] Mission Frontiers, Setembro-Outubro de 2007.
10.
Vishal and Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey: A Model for the Trans-
formation of a Culture [O Legado de William Carey: Um Modelo de Transformação Cultural]
(Wheaton, 111.: Crossway Books, 1999). O livro dos Mangalwadis vale seu peso em ouro.
Altamente recomendado para qualquer pessoa que deseja transformar a cultura.
11.
Woodrow Kroll, Taking Back the Good Book: How America Forgot the Bible and
Why h Matters to You [Retomando o Bom Livro: Como a América Esqueceu-se da Bíblia e por
que Isso Interessa a Você] (Wheaton, III.: Good News/Crossway, 2007), 41.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 352/373
Notas
1 375
12. Kenneth Woodward e David Gates, "How the Bible Made America" [Como a Bíblia
Formou a América], Newsweek, 27 de dezembro de 1982.
CAPÍTULO 3: A DICOTOMIA SAGRADO-SECULAR
1.Apocalipse 21.1, 5-6.
2. Para mais informações, veja o capítulo 13 de meu livro Discipulando Nações: O Poder
da Verdade para Transformar Culturas.
3.1s 30.28: Hh 12.27-28; Ap 16.18-19.
4.1 Co 3.10-15; 2 Pedro 3.10.
5.Mateus 22.37; Marcos 12.30.
6.
Cl 1.20.
A FESTA DE BABETTE
Babette's Feast, DVD, dirigido por Gabriel Axel (1987; Los Angeles: MGM Studios,
2001).
A HISTÓRIA DE MICHAEL BAER
Michael R. Baer, Business as Mission: The Power of Business in the Kingdom of God
[Negócios como Missão: O Poder dos Negócios no Reino de Deus], (Seattle: YWAM Publishing,
2006), 10-12. Citado com permissão.
CAPÍTULO 4: UM SENHOR, UM REINO
I.Scott
D. Allen, Darrow L. Miller e Bob Moffitt, "God's Unshakable Kingdom" [O
Reino Inabalável de Deus], Kingdom Lifestyle Bible Studies [Estudos Bíblicos do Estilo de Vida
do Reino) (Seattle: YWAM Publish-ing, 2005), 15.
2. Lucas 18.31-33.
3. Mateus 26.11.
4. Um termo para descrever recursos que estão disponíveis para ser usados e produzir
mais riqueza.
CAPÍTULO 5: CORAM DEO
l.Efésios
1.7-10.
2.
William Whitaker, PALAVRAS, s.v. "coram," http://www.archives.nd.edu/cgi-bin/
wordz.pl
?keyword=coram (acessado em 27 de maio de 2009).
3.Cotton Mather, "A Christian at His Calling" [O Cristão e Seu Chamado] citado em
Ralph Barton Perry, Puritanism and Democracy [O Puritanismo e a Democracia] (Nova Iorque:
Vanguard, 1944), 127, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]
(Grand Rapids: Baker Books, 1995), 106.
4.John Milton citado em Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really
Were [Santos na Terra: Os Puritanos como Realmente Eram] (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 28.
5. Ryken, Worldly Saints, 28.
6. Robert Young, Young's Literal Translation [Tradução Literal de Young] (Oak Harbor,
Wash.: Logos Research Systems, 1997), S. Jn 1:14.
7. Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "skenoo."
8. I João 2.1
9. Thomas Carlyle, Past and Present [Passado e Presente] (1843; Project Gutenberg,
1996), www.gutenberg.org/files/13534/13534.txt
(acessado em 27 de maio de 2009).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 353/373
376 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
10.
Martin Luther, The Babylonian Captivity of the Church [O Cativeiro Babilônico da
Igreja] (1520: Project Wittenberg Online Electronic Study Edition [Edição de Estudo Eletrônica],
2002), www.ctsfw.edu/etext/luther/babylonian/babylonian.htm
(acessado em 27 de maio de 2009).
11.Ex 3.20.
12.
Fl 2.1-11.
13.
Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O
Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 200.
14.
Kathryn Spink e Madre Teresa, Life in the Spirit: Reflections, Medi-tations, Prayers,
Mother Teresa of Calcutta [Vida no Espírito: Reflexões, Meditações, Orações, Madre Teresa de
Calcutá] (Nova Iorque: Harper Collins, 1983). 74.
15.
Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism [Palestra sobre o Calvinismo] (Grand
Rapids: William B. Eerdmans, 1943), 52.
16.
Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano
da Língua Inglesa de Noah Websted, s.v. "consagrado."
17.
Ryken, Redeeming the Time, 104.
18.
E. Stanley Jones, The Unshakable Kingdom and the Unchanging Person [O Reino
Inabalável e a Pessoa Imutável] (Nashville: Abingdon Press, 1972), 159.
A HISTÓRIA DE ANA SANTOS
Ana Santos, em testemunho escrito ao autor, 13 de agosto de 2007.
A HISTÓRIA DE JOHN BECKETT
John D. Beckett. Loving Monday: Succeeding, in Business Without Selling Your Soul
(Downers Grove, III.: InterVarsity Press, 2001). Veja também "About John Beckett" [Sobre John
Beckett] em www.lovingmonday.com
/about (acessado em 26 de janeiro de 2008).
CAPÍTULO 6: A NECESSIDADE DE UMA TEOLOGIA
BÍBLICA DA VOCAÇÃO
1.Dorothy L. Sayers, "Why Work?" ["Por que trabalhar?"] in Creed or Chaos? [a Fé ou
no Caos?] (Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1949), 56.
2.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer
for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 3 de maio.
1998, http://www.vatican.va/holy_father/john
paul_ii/messages/vocations/documents/he jp-
ii_mes_24091997_xxxv-voc-1998_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).
3.
Dallas Willard, The Spirit of the Disciplines [O Espírito das Disciplinas] (Nova Iorque:
HarperCollins, 1998), 14.
CAPÍTULO 7: A METANARRATIVA ESSENCIAL
1.Gn 1.4, 10, 12, 18, 21, 25.
2.
Gn 1.7, 9, 11, 15, 24, 30.
3.
Cl 1.20.
4. "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus
antes preparou para que andássemos nelas" A para feitura aqui é a palavra grega poiema, raiz da
palavra poema.
5.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O
Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998),
178.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 354/373
Notas
1 377
CAPÍTULO 8: CULTURA
1. Jemimah Wright, "Girl Survived Tribe's Custom of Live Burial" [A Menina que
Sobreviveu ao Costume do Enterro Vivo] Telegraph, 22 de junho de 2007, http://
www.telegraph.co.uk/news/worldnews/1555339/Girl-survived-tribe's-custom-of
-live-baby-burial.html (acessado em 27 de maio de 2009).
2.J. R. R. Tolkien, Tree and Leaf [A Árvore e a Folha] (Londres: Unwin Books, 1964), 61.
3.
Vishal Mangalwadi, palestra sem título (Mercy Ship's Foundation in Community
Development School, Tyler, Texas, Maio de 1995).
4.
Henry Van Til, citado em David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical
Theology of Culture [Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow,
Idaho: Canon Press, 1999), 15.
5.
The Compact Edition of the Oxford English Dictionary [Edição Compacta do Dicionário
Oxford de Inglês] (Oxford: Oxford University Press, 1971), s.v. "cult [culto]."
6.
Hegeman, Plowing in Hope, 13-14.
7.George Grant, The Micah Mandate: Balancing the Christian Life [O Mandato de
Miquéias: Equilibrando a Vida Cristã] (Nashville: Cumberland House, 1999), 243.
8.A idéia básica para isso veio de Colin Harbinson da JOCUM, The Arts and Cultural
Restoration [As Artes e a Restauração Cultural], www.colinharbinson.com/order/cultrestbook.html
(acessado em 29 de maio de 2009).
9.Douglas Jones e Douglas Wilson, Angels in the Architecture: A Protestant Vision for
Middle Earth [Anjos na Arquitetura: Uma Visão Protestante para a Terra Média] (Moscow,
Idaho: Canon Press, 1998), 18.
10.
Mateus 6.9-13.
11.
C. S. Lewis, The Last Battle [A Última Batalha] (1956; repr., Nova Iorque: The
MacMillan Company, 1967), 149.
A HISTÓRIA DE KATHLEEN NORRIS
1.
Steven Barclay Agency, "Kathleen Norris," www.barclayagency.com/norris.html
(acessado em 31 de janeiro de 2008).
2. Ibid.
3."Entrevista de Homilética: Kathleen Norris: Flowers in the Desert" [Flores no Deserto]
Homiletics Online, http://homileticsonline.com/subscriber/interviews/norris.asp (acessado em
26 de janeiro, 2008). Impresso com permissão da Homiletics Online, www.HomileticsOnline.com
.
CAPÍTULO 9: ELEMENTOS DO MANDATO CULTURAL
The American Heritage Dictionary of the English Language, s.v. "cultivar."
2. The Compact Edition of the Oxford English Dictionary, s.v. "cultura."
3. The American Heritage Dictionary of the English Language, s.v. "cultura."
4. Gn 2.15.
5. Gn 2.19.
6. Veja Gn 1.26-28.
7. Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "abad."
8. Ibid., s.v. "shamar."
9. João Calvino, Commentaries on the First Book of Moses called Genesis [Comentários
do Primeiro Livro de Moisés chamado Gênesis], tradução de Rev. John King (Grand Rapids:
Baker Book House, 1979), 125.
10. Para mais informações, veja os capítulos 7 e 11 de meu livro Discipulando Nações: O
Poder da Verdade para Transformar Culturas.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 355/373
378 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
11.
Is 11.9; Hb 2.14.
12.
Gn 1-2:.
13.
Apocalipse 21-22:, .
14.
Apocalipse 22.1-5.
15.
David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of Culture
[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press.
1999), 33-34.
CAPÍTULO 10: A QUEDA, A CRUZ E A CULTURA
1.
Rm 8.18-23
2.
Cl 1.20.
3.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:
HarperSanFrancisco, 1998), 27.
4.C. S. Lewis, Out of the Silent Planet [Além do Planeta Silencioso] (Nova Iorque:
Scribner, 2003).
5.
Gn 3.17-18.
6.
Papa João Paulo II, Laborem Exercens (Sobre o trabalho humano) (Washington, D.C.:
Conferência Católico nos Estados Unidos, 1981), 1, citado em Chuck Colson e Jack Eckerd, Wh)
America Doesn't Work [Por que a América não Funciona] (Nashville: W Publishing Group.
1991), 31.
7.
Veja Gn 3.14-15.
8.
Rm 8.18-23
9.Cl 2.15.
10.
David Bruce Hegeman, Plowing in Hope: Toward a Biblical Theology of Culture
[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press.
1999), 71.
11.
Gn 12.1-3.
12.
Apocalipse 19.6-9.
13.
Apocalipse 21.2.
14.
Mateus 2.11.
15.
Hegeman, Plowing in Hope, 86.
16.
Is 60.1-3; Ap 21.24.
17.
Is 60.18; Ap 21.4.
18.
Is 60.11; Ap 21.25.
19.
Is 60.6-7, 9, 13, 17; Ap 21.24, 26.
20. Anthony Hoekema, The Bible and the Future [A Bíblia
e
o Futuro] (Grand Rapids:
William B. Eerdmans Publishing Co., 1979), 285, citado em Hegeman, Plowing in Hope, 87-88.
21.
Hegeman, Plowing in Hope, 88.
22.
G. B. Caird, The Revelation of Saint John [A Revelação (San Francisco:
HarperSanFrancisco, 1966) citado em Hegeman, Plowing in Hope, 93.
23.
C. S. Lewis, The Last Battle [A Última Batalha] (Nova Iorque: MacMillan Publish-
ing, 1956).
24.
Ibid, 162.
25.
Ibid.
26.
Herman Bavinck citado por Charles Colson e Nancy Pearcey em How Now Shall We
Live? [E agora, como viveremos?] (Wheaton,
yndale House Publishers, Inc., 1999), 293.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 356/373
Notas
1379
CAPÍTULO 11: O CHAMADO
1.0s Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O
Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998), 42.
2.
Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano
da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "vocação."
3.
John Fuellenbach, The Kingdom of God: The Message of Jesus Today [O Reino de
Deus: A Mensagem de Jesus Hoje] (Maryknoll,
rbis Books, 1995), 9.
4.
Guinness, The Call, 34.
5.
A palavra grega keleo é traduzida como chamado 125 vezes e convocar 16 vezes. A
segunda palavra grega, klesis, se traduz como chamado 10 vezes e vocação uma vez. A palavra do
Antigo Testamento qara se traduz chamado 528 vezes e clamor 98 vezes.
6.
Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano
da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "chamado."
7.
Robert Laird Hamis, Gleason Leonard Archer, e Bruce K. Waltke, eds., Theological
Wordbook of the Old Testament [Caderno Teológico do Antigo Testamento], vol. 1 (Chicago:
Moody Press, 1980), s.v. "barak," 132.
8.
Ex 35.4-5, 10.
9.
Mateus 28.18-20.
10.
Mt 25.14-17; Lucas 19.12-13.
11.
Enhanced Strong's Lexicon iLexicon Ampliado de Strong], s.v. "katartismos."
12.
Ibid., s.v. "katartizo."
13.
Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Negócios como
chamado e a vida Examinada] (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 40.
14.
Guinness, The Call, 13.
15.
G 11.31; 12.1, 4.
16.
Hebreus 11.10.
17.
Hebreus 11.12-16.
18.
Guinness, The Call, 151.
19.
Apocalipse 5.9-10.
CAPÍTULO 12: O CHAMADO GERAL:
1.G 1.4, 10, 12, 18, 21, 25.
2.G 1.7, 9, 11, 15, 30, .
3.
F. Foulkes, "Peace" [Paz], The New Bible Dictionary (Wheaton, 111.: Tyndale House
Publishers, 1962), no sistema de bibliotecas Logos 2.1, Logos Research Systems, Oak Harbor,
Wash.
4.
Ibid.
5.Ibid.
6.
Cura Substancial é um termo usado por Francis Schaeffer. Ele reflete que certo nível de
cura deve ocorrer no relacionamento secundário como manifestação da restauração do relacionamento
primário do indivíduo para com Deus. Mesmo sendo uma cura real, ela não será completa em
nenhuma área até que Cristo retorne.
7.
Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "sozo."
8.
Mateus 16.24.
9.
Rm 1.17
10. Rm 12.2; 1 Co 2.16.
11.
Rm 8.19-22
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 357/373
380 I VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
12.
Lucas 19.12-13.
13.
Isaías 11.6-9; 60.1-13; Apocalipse 60.1-13.
14.
Mateus 28.18.
15.
Apocalipse 19.11-16.
16.
Lucas 11.20; 17:21.
17.
Lucas 19.12, 15.
CAPÍTULO 13: O CHAMADO PARTICULAR:
1.
Enhanced Strong's Lexicon, s.v "poiema."
2.
Por exemplo, a palavra ergon fala da palavra obra (feitos) de Cristo em Mateus 11.2 e
Lucas 24.19; a obra do evangelho em João 6.27-29 e Fl 2.30; a boa obra de serviço àqueles que
necessitam em Mateus 5.16, Cl 1.9-10; e a obra de "emprego" ou "ocupação" em Marcos 13.34;
João 4.34; 17.4; Atos 13.2: e 1 Ts 5.12-13.
3.Colin Brown, ed., The New International Dictionary of New Testament Theology, vol.
3 (Grand Rapids: Zondervan, 1979), 1147-1151. Para exemplos, veja Gn 2.15; Êx 20.9; Dt 5.13.
4.
Veja Mt 25.34-40; Lucas 10.25-37; Efésios 4.12.
5.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer
for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 3 de maio,
1998, http://www.vatican.va/holy father/john_paul ii/messages/vocations/documents/hf_jp-
ii_mes_24091997_xxxv-voc-1998_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).
6.
Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Nego-cios como
chamado e a vida Examinada] (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 34.
7.Rm 12.4-5; Efésios 1.22-23; 4.12-13.
8.Pope John Paul II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer for
Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial de Oração por Vocações.]
9.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:
HarperSanFrancisco, 1998), 14.
10.
Frederic W. Farrar, The Fall of Man and Other Sermons (Londres: Macmillan and
Co., 1878), 210-211, http://books.google.com/books?id=A3Q3AAAAMAAJ.
11.Essa transcrição do sermão de Don Matthew "Eu me qualifico ," que ouvi pregada em
uma conferência para pastores de igrejas em célula em Maio de 2003 na Cidade do Cabo, África
do Sul, me foi dada por Matheny. Matheny é pastor da Igreja Nairobi Lighthous em Nairobi no
Kenya.
12.
George Grant, The Micah Mandate: Balancing the Christian Life [O Mandato de
Miquéias: Equilibrando a Vida Cristã] (Nashville: Cumberland House, 2a Edição), 1999, 25.
13.
Philip Yancey, "Living with Furious Opposites," Christianity Today, 4 de setembro
de 2000, www.christianitytoday.com/ct/2000/september4/4.70.html.
14.
H. Lyndon Kilmer, Helen Keller (Nova Iorque: Skillen e Fortas, 1964), 194, citado em
Grant, The Micah Mandate, 250.
15.
Elizabeth R. Skoglund, Amma: The Life and Words of Amy Carmichael (Grand
Rapids: Baker Books, 1994), 110-112.
16.
Gn 2.9; Ex 15.26; Gn 1.6-9: Dt 25.13-16; Lucas 19.12-13, 15.
17.
Paul S. Minear, "Work and Vocation in Scripture," em Work and Vocation: A Christian
Discussion, ed. John Oliver Nelson (Nova Iorque: Harper, 1954), 32-83.
18.
Willard, The Divine Conspiracy, 14.
19.
Ibid. 283.
20. Êx. 25:8.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 358/373
Notas 1381
21. João 1.14
22.
Mt 28.19-20; Lucas 17.15-18; Efésios 2.22.
23.
Irmão Lawrence [Nicholas Herman], The Practice of the Presence of God (Springdale.
Pa.: Whitaker House. 1982), 20.
AS HISTÓRIAS DE LISA ETTER E HAYDEN SMITH
Lisa Etter e Hayden Smith, entrevistadas por Cynthia Kniffin, 25 de setembro de 2007.
A HISTÓRIA DE JEMIMAH WRIGHT
Jemimah Wright, em testemunho escrito ao autor, 11 de fevereiro de 2008.
CAPÍTULO 14: CARACTERÍSTICAS DE NOSSA
VIDA DE TRABALHO
1.Provérbios 30.8-9:
2.
Marcos 10.35-45
3.Mateus 6.33.
4.
Efésios 5.19 2:8-9.
5.Martinho Lutero, "Exposition on Deuteronomy 8:17-18," em What Luther Says: An
Anthology, ed. Ewald M. Plass (St. Louis: Concordia, 1959), 1495, citado em Leland Ryken,
Redeeming the Time (Grand Rapids: Baker Books, 1995), 99.
6.João Calvino, Comentário do Salmo 127:2, em Leland Ryken, Worldly Saints: The
Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 32.
7.Cotton Mather, "A Christian at His Calling" [O Cristão e Seu Chamado] citado em
Ralph Barton Perry, Puritanism and Democracy [O Puritanismo e a Democracia] (Nova Iorque:
Vanguard, 1944), 312, citado em Leland Ryken, Redeeming the Time [Redimindo o Tempo]
(Grand Rapids: Baker Books, 99), .
8.
Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really Were [Santos na Terra:
Os Puritanos como Realmente Eram] (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 33.
9.Lucas 19.13.
10.
Gên 1.14-19.
11.
John Wesley, "The Use of Money" (Sermão 50, texto da edição 1872), http://gbgm
-umc.org/umw/wesley/serm-050.stm (acessado em 27 de maio de 2009).
12.
Marcos 13.32-33
13.
Os Guinness, The Call: Finding and Fulfilling the Central Purpose of Your Life [O
Chamado: Encontrando o Propósito Central de Sua Vida] (Nashville: Word Publishing, 1998),
132, 133.
14.
Hebreus 11.10.
15.
Êxodo 31.1-6; 35.30-36.1
16.
2 Cr 2-3.
17. Êx 25.8; 40.33-34, 38.
18.
Mt 6.9-10, 33; 28.19-20; Lucas 19. 10-13.
19.
Guinness, The Call, 198-199.
20.
Wesley, "The Use of Money."
21. Relatado por Cleiton e Eli Oliveira após uma Conferência para Lançamento da Vião
em Belém, Brasil, em maio de 2002.
22. George Swinnock, The Christian Man's Calling em Richard B. Schlatter, The Social
Ideas of Religious Leaders:1660-1688 (1940; repr., Nova Iorque: Octagon Books, 1971), 189,
citado em Ryken, Worldly Saints, 15.
23.
John Politan (sermão, Capela de Food for the Hungry, Phoenix, Ariz., 9 de fevereiro
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 359/373
382 I VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
de 2000; fonte: anotações de Scott Allen).
24.
Charles Colson, "What's So Important About Faith and Work?" BreakPoint Com-
mentary #020201, 1 de fevereiro de 2002.
25.
Glimpses of Christian History, " 26 de julho de 1833: Dying Wilberforce Learned
Slaves Were Finally Liberated," http://www.christianhistorytimeline.com/DAILYF/2001/07/daily
-07-26-2001.shtml (Acessado em 27 de maio de 2009).
26. Charles Colson, "Can Adversity Be a Blessing?" BreakPoint Commentary #020503,
3 de maio de 2002.
CAPÍTULO 15: MORDOMIA:
I.Gênesis
1.26-28.
2.
Lucas 16.1-15.
3.Lucas 19.1 I -26.
4. Lucas 16.8.
5.Lucas 19.16-17.
6.Lucas 19.18-19.
7.Lucas 19.20-26.
8.Virtude é a prática do que é verdadeiro e bom. Em seu Dicionário de 1828, Noah
Webster disse: "Virtude nada mais é do que a voluntária obediência à verdade." Ele a chamou de
"excelência moral particular." Virtude é diferente da palavra moderna valores no sentido de que
valores são subjetivos e representam padrões pessoais e sociais, os valores não exigem a prática.
As virtudes, por outro lado, são fundamentadas em uma estrutura de absolutos morais e obediência.
9.
John Wesley, "The Use of Money" (Sermão 50, texto da edição 1872), http://
gbgm-umc.org/umw/wesley/serm-050.stm (acessado em 27 de maio de 2009).
10.
Martinho Lutero, "Exposition on Exodus 13:18," em What Luther Says: An Anthol-
ogy, ed. Ewald M. Plass (St. Louis: Concordia, 1959), 1496, citado em Leland Ryken, Redeeming
the Time (Grand Rapids: Baker Books. 1995), 102.
11.
Robert Bolton, General Directions for a Comfortable Walking with God (Ligonier,
Pa.: Soli Deo Gloria, 1991), 77, citado em Ryken, Redeeming the Time, 102.
12.
Enhanced Strong's Lexicon [Lexicon Ampliado de Strong], s.v. "melakah"
13.
Como vimos no capítulo 13, abad também é utilizado no Decálogo.
14.
Êxodo 20.8-11.
15.
Gênesis 1.28.
16.
John Milton, Paraíso Perdido, linhas 618-20, citado em Leland Ryken, Worldly
Saints: The Puritans As They Really Were [Santos na Terra: Os Puritanos como Realmente Eram]
(Grand Rapids: Zondervan, 1990), 35
17.
Wesley, "The Use of Money."
18.
Cl 1.17; Hb 1.3.
19.
Merriam-Webster's Online Dictionary, s.v. "pecuária."
20.
Rm 8.19-21
21. Apocalipse 11.18.
22. Ryken, Worldly Saints, 99.
23. Samuel Willard, A Complete Body of Divinity, citado em Stephen Foster, Their
Solitary Way: The Puritan Social Ethic in the First Century of Settlement in New England (New
Haven: Yale University Press, 1971), 128, citado em Ryken. Worldly Saints, 100.
24.
Mateus 6.33.
25. Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to God (Colorado Springs:
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 360/373
Notas 1 383
NavPress, 1988), 185.
26.
Wesley. "The Use of Money."
27.
Ibid.
28.
Noah Webster's American Dictionary of the English Language [Dicionário Americano
da Língua Inglesa de Noah Webster], s.v. "egoísmo."
29.
João 3.16; 1 João 4.9-10, 16.
30.
Salmo 23; Marcos 10.45: João 13.2-17.
31.
João 3.16; Fil. 2.6-8.
32.
Fil. 2:4.
33.
Wesley, "The Use of Money."
CAPÍTULO 16: A ECONOMIA DA DOAÇÃO:
i .C1
1.20.
2.Mateus 28.18-20.
3.
Richard Baxter, A Christian Directory, in Protestantism and Capitalism: The Weber
Thesis and its Critics, ed. Robert W. Green (Boston: D. C. Heath, 1959), 72, citado em Leland
Ryken, Worldly Saints: The Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 31.
4.
Fl 2.4-8.
5.
Mateus 25.31-46.
6.
William Perkins, Vocations or Callings of Men, em Works, 1:757, em Leland Ryken,
Redeeming the Time (Grand Rapids: Baker Books, 1995), 106.
7.
Charles Spurgeon, Metropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 23 (London, U.K.: Morgan &
Chase, 1930), 19, citado em George Grant, Bringing in the Sheaves: Transforming Poverty into
Productivity (Brentwood, Tenn.: Wolgemuth & Hyatt, 1988), 54.
8.
Veja meu livro Discipulando Nações: O Poder da Verdade para Transformar Culturas,
cap. 6
9.
Veja Scott Allen e Darrow Miller, The Forest in the Seed (Phoenix: Disciple Nations
Alliance, 2007).
10.
Veja meu livro Discipulando Nações, capítulos 7 e I 1 .
l 1. Soma zero é um termo econômico derivado da visão naturalista da realidade. Ele
supõe que os recursos são coisas físicas "no solo." Por natureza, eles são finitos ou limitados. Se
uma pessoa ou nação ganha mais, isso acontece à custa de outra pessoa ou nação.
12.
Marvin Olasky, The Tragedy of American Compassion (Washington, D.C.: Regnery
Gateway, 1992).
13.
Daniel A. Bazikian, "Book Review: The Tragedy of American Compassion by Marvin
Olasky," http://www.thefreemanonline.org/columns/book-review-the-tragedy-of-american-com-
passion-by-marvin-olasky/
(acessado em 27 de maio de 2009).
14.E. E. Ryden, The Story of Christian Hymnody (Philadelphia: Fortress Press, 1959), 139.
15.Veja os versículos 29 e 36.
16.
Stephen Neill, A History of Christian Missions (New York: Penguin Books, 1966). 42.
17.
Olasky, The Tragedy of American Compassion, 19.
18.
Ibid, 225.
19.
Lv 19.9-10; 23.22; Dt 24.19-21.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 361/373
384 I
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
CAPÍTULO 17: O REINO AVANÇA
DE DENTRO PARA FORA
1.G 6.5-6; Rm 3.23.
2. Grover Gunn, "Making Waves," TableTalk (Janeiro de 2001): 12.
3.2 Co 5.17.
4. Mateus 25.35-40.
5.Lucas 10.25-37.
6.Para mais informações veja meu livro. Nurturing the Nations: Reclaiming the Dignity
of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs: Paternoster Publishing, 2008).
7.0 1.20.
8.Marcos 16.15
9.C1 1.20.
10.
Rm 8.19-21
11.
Gunn, "Making Waves," 12.
12.
Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:
HarperSanFrancisco, 1998), 14.
CAPÍTULO 18: OS PORTÕES DA CIDADE
1.xodo
32.26.
2.
Neemias 2.8.
3.1 Reis 6.34-35.
4.Gn 19.1; Juízes 16.3; Jr 37.13.
5.Gn 22.17-18.
6.Gn 23.17-18; 2 Reis 7.1; Neemias 3.1, 3, 28.
7. Neemias 8.
8.Dt 16.18-21; 21.18-20; Josué 20.4; Rute 4.1-2, 11; 2 Reis 23.8: Pv 22:2; Amós 5.15.
9.2 Sm 19.8; 1 Reis 22.10; Pv 31.23; Dn 2.48-49.
10.2 Reis 7.1; 2 Crônicas 32.6-8; Pv 31.31; Jr 7.2; 17.19-27; 36.10.
11.
Gn 19.1; Rute 4.11; SI 69.12; Amós 5.12.
12.
Neemias 3.14.
13. Roy Moore e John Perry, So Help Me God: The Ten Commandments, Judicial
Tyranny, and the Battle for Religious Freedom (Nashville: B&H Publishing Group, 2005).
14.
Rm 13.1-6
15.
Jr 7.2; 17:19-20.
16.
Veja também Pv 8.1-4.
17.
Rm 1.18-23
A HISTÓRIA DE SHERRON WATKINS
A história de Sherron Watkins é contada em vários veículos, desde o Wall Street Journal
até a revista Time e Today's Christian Woman. Por exemplo, veja Bob Jones, "Reluctant Hero,"
World, vol. 17, no. 4 (2 de fevereiro de 2002) e Franklin Pellegrini, "Person of the Week: 'Enron
Whistleblower' Sherron Watkins," Time, 18 de janeiro de 2002.
A HISTÓRIA DE MARVIN OLASKY
1. Marvin Olasky, The Tragedy of American Compassion (Washington. D.C.: Regnery
Gateway, 1992).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 362/373
Notas 1385
CAPÍTULO 19: OS DOMÍNIOS
1.
Rodney Stark, The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsiders History (Princeton:
Princeton University Press, 1996), 211.
2.
Thomas Cahill, Desire of the Everlasting Hills: The World Before and After Jesus
(New York: Doubleday, 1999), 310-311.
3.
Paul L. M aier in Alvin J. Schmidt, Under the Influence: H ow C hristianity Transformed
Civilization (Grand Rapids: Zondervan, 2001), 8.
4.
Gn 2.24.
5.
Mateus 16.18.
6.
Gn 9.6.
7.
J. 1. Packard, Concise Theology: A Guide to Historic Christian Beliefs (Wheaton, Ill.:
Tyndale House Publishers, 1993), no sistema de bibliotecas Logos 2.1, Logos Research Systems,
Oak Harbor, Wash.
8.R. J. Slater, Teaching and Learning America's Christian History (San Francisco: Foun-
dation for American Christian Education, 1960), 199 citado em Elizabeth Youmans, The Chris-
tian Principie of Self-Government (não publicado, 2005), 1.
9.
Youmans, The Christian Principie of Self-Government, 1. Para saber mais sobre Chrysalis
International, visite http://www.chrysalisinternational.org/default.asp.
10. H. Dolson, William Penn: Quaker Hero (New York: Random House, 1961), 155,
citado em Youmans, The Christian Principie of Self-Government, 1.
11.
Rm 1.18-20
12.Schmidt, Under the Influence, 253.
13.
Veja o Salmo 147.19-20.
14.
Schmidt, Under the Influence, 249-250.
15.D. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom? (Nash-
ville: Thomas Nelson, 1994), 81.
16.
Schmidt, Under the Influence, 251.
17.
Mateus 22.21.
18.
Gn 1.18-20; Rm 2.14-15.
19.Schmidt, Under the Influence, 256.
20.
Rm 1.25
21.
Schmidt, Under the Influence, 171.
22. Ibid.
23. Ibid, 173.
24.
Charles H. Haskins, The Rise of Universities (New York: Henry Holt, 1923), 3,
citado em Schmidt, Under the Influence, 186.
25.
Ellwood P. Cubberly, The History of Education (Boston: Houghton Mifflin, 1948),
218, citado em Schmidt, Under the Influence, 187.
26. Paul Lee Tan, Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times (Rockville,
Md.: Assurance Publishers, 1984), 157, citado em Schmidt, Under the Influence, 190.
27. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?, 52.
28.
Ibid, 43.
29.
William Boyd, The History of Western Education (New York: Barnes and Noble,
1955), 189, citado em Schmidt, Under the Influence, 177.
30.
John Jefferson Davis, Your Wealth in God's World: Does the Bible Support the Free
Market? (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1984), 65, citado em
Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Born?, 144.
31. Mateus 25.36.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 363/373
38 6 1
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
32.
Cyprian, Mortality 15-20, 1958 ed., citado em Rodney Stark, The Rise of Christian-
ity. 81.
33. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 145.
34.
David Riesman, The Story of Medicine in the Middle Ages (New York: Harper and
Brothers, 1936). 356, citado em Schmidt, Under the Influente. 157.
35. Kennedy e
Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 151.
36.
Schmidt, Under the Influence, 166.
37. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 152.
38.
Schmidt, Under the Influence, 160.
39.
Ibid, 162-163.
40.
Ibid, 165.
41.
Gn 2.19.
42.
Êxodo 31.1-6; 35.30-36.1
43.
J. R. R. Tolkien, Tree and Leaf [A Árvore e a Folhai (Londres: Unwin Books, 1964), 44
44.
Edith Schaeffer, Hidden Art (London: The Norfolk Press, 1971), 24.
45.
Veja o capítulo 8 para uma discussão da cultura como adoração e as três principais
áreas da cultura do reino, cultura falsa e da cultura natural.
46.
Êx 20.4, 23.
47.
Êx 25; 1 Reis 7.2-37.
48.
Mindy Belz, "Art Aflame," World, 17 de dezembro de 2005, http://
www.worldmag.com/
articles/11356 (acessado em 27
de
2009).
49.
Êxodo 31.1-11; 35.4-39.43
50. Êx 40.34-38.
51.
Cynthia Pear Maus, Christ and the Fine Arts: An Anthology of Pictures, Poetry.
Music, and Stories Centering in the Life of Christ, edição revisada e ampliada (Nova Iorque:
Harper and Row Publishers. 1938. 1959), 2, citado em Kennedy e Newcombe, What If Jesus Hal
Never Been Bom?, 174.
52.
Kennedy e Newcombe. What If Jesus Had Never Been Bom'?, 182.
53.
Paul Griffiths. "Opera." in The Oxford Companion to Music, ed. Denis Arnold (New
York: Oxford University Press, 1983), 3:1291, citado em Schmidt, Under the Influence, 316-317.
54.
Kennedy e Newcombe. What If Jesus Had Never Been Born?, 182.
55. Ibid.
56.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 185.
57.
Platão, A República, citado em Schmidt, Under the Influence, 342.
58.
A expressão cantor de baladas era usada nos tempos medievais para se referir a
pessoas que cantavam baladas-histórias musicadas-em lugares públicos. Uso a palavra em relação
aos cristãos que são artistas (não apenas os compositores e cantores) chamados a ser uma voz
profética à sua cultura ou às nações. Seu chamado é conscientemente levar a cultura do reino-
verdade, bondade e beleza-para o mercado de trabalho e esfera pública.
59.
Flannery O'Connor, Mystery and Manners: Occasional Prose (Nova Iorque: Farrar.
Straus and Giroux, 1969). 172-173.
60.
Dorothy L. Sayers, "Why Work?" ['Por que trabalhar'?"1 in Creed or Chaos? [na Fé
ou no Caos?] (Nova Iorque: Harcourt, Brace and Company, 1949). 57.
61.
O'Connor, Mystery and Manners, 74.
62.
Dennis Peacocke, Almighty & Sons: Doing Business God's Way (Santa Rosa, Calif.:
Rebuild, 1995). ix.
63. Mateus 5.17.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 364/373
Notas
1 387
64.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 111.
65.
Ibid.
66. Ibid, 114.
67.
David S. Landes, The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and
Some So Poor (Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1998), 58-59.
68.
Para urna explicação completa de sistemas fechados e abertos, veja o capítulo 16.
69.
Michael Novak, Business as a Calling: Work and the Examined Life [Negócios corno
chamado e a vida Examinada (Nova Iorque: The Free Press, 1996), 112.
70.
Ibid.,159.
71.
Kenneth McLeish, Key Ideas in Human Thought (Prima Publishing, 1995), 658-659.
72.
Homens como Pitágoras, Hipócrates e Euclídes.
73. Thomas Goldstein, Dawn of Modern Science: From the Arabs to Leonardo da Vinci
(Boston: Houghton Mifflin, 1980), 171, citado em Schmidt, Under the Influence, 219.
74.
Roger Bacon, Opus Majus, tradução de Robert Belle Burke (Nova Iorque: Russell
and Russell, 1962). 584, citado em Schmidt, Under the Influence, 219.
75. Henry Morris, Men of Science Men of God (San Diego: Master Books, 1984), 35,
citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 97.
76. John Peck e Charles Strohmer, Uncommon Sense: God's Wisdom for Our Complex
and Changing World (Londres: SPCK Publishing, 2001), 155.
77.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 99.
78.
Henry Morris, Men of Science Men of God (San Diego: Master Books, 34-35),
citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 99 .
79.
Heroes of History, vol. 4 (West Frankford, 111.: Caleb Publishers, 1992), 36, citado em
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 100.
A HISTÓRIA DE JOHN W. WHITEHEAD
1.
History of The Rutherford Institute," The Rutherford Institute, http://www.rutherford
.org/About/History.asp
(acessado em 27 de maio de 2009).
2.
"About Us," The Rutherford Institute, http://www.rutherford.org/About/AboutUs.asp
(acessado em 27 de maio de 2009).
3.
"Rutherford Attorneys Weigh In On 'Nuremberg Files' Case, Ask U.S. Supreme Court
To Affirm Right Of Pro-Life Activists To Engage In Non-Violent Speech," The Rutherford
Institute News, April 6, 2006, http://rutherford.org/articles_db/press_release
.asp?article_id=610 (acessado em 27 de maio de 2009).
4.
"U.S. Supreme Court Ruling Calls For Emergency Exception While Affirming Parents'
Right To Be Notified If Minor Child Opts To Have An Abortion," The Rutherford Institute
News, 19 de janeiro de 2006. http://rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article
_id=597 (acessado em 27 de maio de 2009).
5.
"Rutherford Institute President Commends U.S. Supreme Court Decision To Limit
President's Power To Detain 'Enemy Combatants,'?" The Rutherford Institute News, 28 de
junho de 2004, http://rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article
id=497 (acessado em
27 de maio de 2009).
6.
"John W. Whitehead Testifies To U.S. Senate Constitution Subcommittee On Steps
The Next President Must Take To Restore Rule Of Law In America," The Rutherford Institute
News, 16 de setembro de 2008, http://www.rutherford.org/articles_db/press_release.asp?article
id=726 (acessado em 27 de maio de 2009).
A HISTÓRIA DE ELIZABETH YOUMANS
1. Elizabeth L. Youmans, Ed.D., Education of Children, a Biblical Perspective (Food for
the Hungry International Child Development Seminar, Lima, Peru, 27-30 de maio de 2002).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 365/373
388 1 VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
2. Elizabeth Youmans. Ed.D.. "The Christian View of Children PowerPoint," Chrysalis
International, http://www.chrysalisinternational.org/assets/pdfs/Chr_View
of Child
PPT.pdf (acessado em 27 de maio de 2009).
A HISTÓRIA DE MARY HOLMGREN
Escrito para o autor por Marit Newton, filha de Mary Holgrem em 7 de julho de 2008.
A HISTÓRIA DE STEFAN EICHER
Stefan Eicher, em testemunho escrito ao autor. 6 de agosto de 2007.
A HISTÓRIA DE MAKOTO FUJIMURA
1.
As citações desse parágrago vem da entrevista do MacLaurin Institute's interview com
Makoto Fujimura, "Discovering Grace Through Art with Makoto Fujimura," The MacLaurin
Institute, verão de 2008, 3.
2.
A substância dessa história e todas as citações não atribuídas são de Mindy Belz, "Art
Aflame." World, 17 de dezembdro de 2005, http://www.worldmag.com/articles/11356
(acessado
em 30 de janeiro de 2008).
A HISTÓRIA DO GRUPO MANTHEI
Jim Manthei, em testemunho escrito ao autor em 31 de julho de 2007.
A HISTÓRIA DE TED CORWIN
A substância dessa história vem das correspondências com Ted Corwin e do relato de
Corwin em "On My Own?" Guideposts, March 1999, publicado em http://www
.designmasterfurniture.com/History.aspx (acessado em 20 de setembro de 2008).
A HISTÓRIA DE FRANCIS COLLINS
A história de Francis Collins foi adaptada do 2009 Personal Prayer Diary and Daily
Planner (Seattle: YWAM Publishing, 2008), 43. Utilizado com permissão.
1.
Francis Collins, Faith and the Human Genome (palestara na American Scientific Affili-
ation, Malibu, Calif., 4 de agosto de 2002), http://www.asa3.org/ASA/PSCE/2003/PSCF9
-03Collins.pdf (acessado em 27 de maio de 2009).
2.
bid.
3.Francis Collins. entrevistado por Bob Abernathy, Religion and Ethics Newsweekly,
PBS, 16 de junho de 2000, http://www.pbs.org/wnetheligionandethics/transcripts/collins.html
(acessado em 27 de maio de 2009).
A HISTÓRIA DE GEORGE WASHINGTON CARVER
1.
George Washington Carver and Gary R. Kremer, George Washington Carver: In His
Own Words (Columbia: University of Missouri Press, 1991), 143.
2.
Linda McMurry Edwards, George Washington Carver: The Life of the Great American
Agriculturist (Nova Iorque: Rosco Publishing, 2004), 18.
3.
Carver e Kremer, George Washington Carver: In His Own Words, 143.
4.Ibid, 1.
CAPÍTULO 20: O GRANDE MANDAMENTO
1 .
Rodney Stark, The Rise of Christianity: A Sociologist Reconsiders History (Princeton:
Princeton University Press, 1996). 86.
2.Ibid, 161-162.
3.Ibid, 215.
4.João 13.34-35
5.
Mateus 22.36-40.
6.
Ao discutir essas áreas de influência cristã, utilizarei o livro de Alvin Schmidt Under the
Influence: How Christianity Transformed Society. e o livro de Rodney Stark The Rise of Chris-
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 366/373
Notas
1 389
tianity: A Sociologist Reconsiders History, e o livro de D. James Kennedy e Jerry Newcombe.
What If Jesus Had Never Been Bom?
7.
William Stearns Davis, A Day in Old Rome (Boston: Allyn & Bacon, 1925), 389,
citado em Alvin J. Schmidt, Under the Influence: How Christianity Transformed Society (Grand
Rapids: Zondervan, 2001), 61.
8.
D. James Kennedy e Jerry Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom? (Nash-
ville: Thomas Nelson, 1994), 22.
9.
Schmidt, Under the Influence, 67.
10.
Ibid, 68.
11.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 25.
12.
Stark, The Rise of Christianity, 118.
13.
Michael J. Gorman, Abortion and the Early Church (Downers Grave, 111: InterVarsity
Press, 1980), 25, citado em Stark, The Rise of Christianity, 118.
14.
George Grant, Third Time Around: A History of the Pro-Life Movement from the
First Century to the Present (Franklin, Tenn.: Legacy, 1991), 20, citado em Kennedy and
Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom, 11.
15.
Stark, The Rise of Christianity, 120.
16.
Schmidt. Under the Influence, 55.
17. Ibid, 63.
18.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 12.
19.
Schmidt, Under the Influence, 59.
20.
Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 18.
21. Schmidt, Under the Influence, 272-273.
22.
Aristóteles, Política 1.1255, citado em Schmidt, Under the Influence, 272.
23.
Aristóteles, Ética a Nicômaco 8.11, citado em Schmidt, Under the Influence, 274.
24.
David R. James, "Slavery and lnvoluntary Servitude," in Encyclopedia of Sociology,
ed. Edgar F. Borgatta and Marie L. Borgatta (Nova Iorque: Macmillan, 1992), 4:1792, citado em
Schmidt, Under the Influence, 272.
25.
Schmidt, Under the Influence, 273.
26.
Charles Schmidt, The Social Results of Early Christianity, tradução de Mrs. Thorpe
(Londres, R.U..: Wm. Isbister Ltd., 1889), 430, citado em Alvin Schmidt, Under the Influence, 274.
27.
Santo Agostinho, Cidade de Deus, tradução Mateus Dods (Nova Iorque: Random
House, 2000), 693.
28.
Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (Nova Iorque: Harper and
Brothers, 1953), 558, citado
em
Schmidt, Under the Influence, 276.
29.
W. E. H. Lecky, History of European Morais: From Augustus to Charlemagne (Nova
Iorque: D. Appleton, 1927), 2:71; citado em Schmidt, Under the Influence, 275.
30.
Sherwood Eliot Wirt, The Social Consciente of the Evangelical (Nova Iorque: Harper
and Row, 1968), 39, citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 22.
31.
Liberty (September/October 1984), citado em Kennedy and Newcombe, What If
Jesus Had Never Been Bom, 22.
32.
Aristóteles, Política 1.1260a, citado em Schmidt, Under the In-fluence, 99.
33.
Stark, The Rise of Christianity, 102.
34.
Schmidt, Under the Influence, 98-99.
35.
J. P. V. D. Balsdon, Roman Women: Their History and Habits (Nova Iorque: John
Day, 1963), 272, citado em Schmidt, Under the Influence, 100.
36.
Philip Schaff, The Person of Christ: The Miracle of History (Boston: American Tract
Society, 1865), 210, citado em Schmidt, Under the Influence, 101.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 367/373
39 0 1
VOCAÇÃO: Escreva sua assinatura no universo
37. Schmidt. Under the Influence, 82.
38.
Annales (Tácito) 3.34. citado em Schmidt. Under the Influence, 82.
39. Christine Toomey, "Gender Genocide." The Sunday Times, 26 de agosto de 2007. http:/
/www.timesonline.co.uk/tol/news/world/asia/article2307893.ece (acessado em 27 de maio de 2009).
40. Alcorão. Sura 4.34, citado em Schmidt, Under the Influence, 97.
41. João 4.4-29
42. João 8.1-11
43.
Mateus 28.1-10.
44. Mateus 19.4-6.
45. Mateus 5.28.
46.
Gálatas 3. 28.
47. Rm 6.1-2, 6; 1 Co 16.19; FI 4.2-3; C14.15.
48. Stark, The Rise of Christianity, 104.
49.
William C. Morey, Outlines of Roman Law (Nova Iorque: G. P. Putnam's Sons,
1884), 150, citado em Schmidt, Under the Influence, 111.
50. Wirt, The Social Conscience of the Evangelical (Nova Iorque: Harper and Row, 29),
131, citado em Kennedy and Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?, 131.
51. Edward Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (1789:
repr., Londres: Penguin Books, 1994). 813, citado em Schmidt, Under the Influence, 84.
52.
C. Schmidt, The Social Results of Early Christianity, 441-42, citado em A. Schmidt.
Under the Influence, 65.
53.
Mateus 19.4-6.
54.
L. F. Cervantes, "Women," New Catholic Encyclopedia (New York: McGraw-Hill,
1967), 14:991, citado em Schmidt. Under the Influence. 98.
55. Para mais informações, veja meu livro, Nurturing the Nations: Rec-laiming the Dig-
nity of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs: Patemoster Publishing, 2008).
56. Trinummus Plauto 2.338-'39, citado em Schmidt, Under the In-fluence, 129.
57. Schmidt, Under the Influence, 126.
58. Kennedy e Newcombe, What If Jesus Had Never Been Bom?. 29.
59. Edward Ryan, The History of the Effects of Religion on Mankind: In Countries
Ancient and Mudem, Barbarous and Civilized (Dublin: T. M. Bates, 1802), 268, citado em
Schmidt, Under the Influence, 131.
60.
Lucas 10.25-37.
61. Schmidt, Under the Influence, 126.
62.
Tertulliano, "Apology." The Ante-Nicene Fathers, ed. Alexander Roberts and James
Donaldson (Grand Rapids: Eerdmans, 1989), 39, em Stark, The Rise of Christianity, 87.
63. Adolf Harnack, The Mission and Expansion of Early Christianity in the First Three
Centuries, tradução de James Moffat (Nova Iorque: G. P. Putnam's Sons, 1908). 1:153, citado em
Schmidt, Under the Influence, 125-26.
64. Stark. The Rise of Christianity, 84.
65. Ibid.
66. Cyril J. Davey, "George Müller," in Great Leaders of the Christian Church, ed. John
Woodbridge (Chicago: Moody Press, 1988), 320, citado em Schmidt, Under the Influence, 133.
A HISTÓRIA DE JILL STANEK
1.Jill Stanek, "Live Birth Abortions: Testimony of Jill Stanek," Priests for Life, http://
www.priestsforlife.org/testimony/jillstanektestimony.htm
(acessado em 8 de setembro de 2008).
Usado com permissão de Priests for Life.
A HISTÓRIA DE DOLPHUS WEARY
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 368/373
Noras
1391
1. Dolphus Weary e William Hendricks, I Ain't Comin' Back (Wheaton, III.: Tyndale,
1990), 88.
"). Ibid, 125.
3.
Para um exemplo, veja o sermão "How Should the Redeemed Live?" do Rev. Dolphus
Weary pregado na Igreja Presbiteriana Bethany em Seattle, Washington, 16 de setembro de 2007,
http://www.bethanypc.org/sermons/2007/index.htm
4.
Daniel Townsend, "Dolphus Weary," Jackson Free Press, 20 de abril de 2005, http://
www.jacksonfreepress.com/index.php/site/comments/dolphus_weary.
A HISTÓRIA DE KIM ALLEN
Kim Allen, em testemunho escrito ao autor, 3 de fevereiro de 2008.
A HISTÓRIA DA JOCUM DE PORTO RICO
1.
Para mais informações sobre o coração materno de Deus, veja meu livro, Nurturing the
Nations: Reclaiming the Dignity of Women in Building Healthy Cultures (Colorado Springs:
Paternoster Publishing, 2008).
A HISTÓRIA DE DAVID BUSSAU
A história de David Bussau foi adaptada do 2009 Personal Prayer Diary and Daily
Planner ( (Seattle: YWAM Publishing, 2008), 55. Utilizado com permissão.
I.David Bussau, Mylmpact, http://www.myimpact.ch/Our%20Work/
Our%20work_book%20MyImpact/Interviewees/Australia/Our%20work book%
20Mylmpact_Interviewee_DavidBussau_OpportunitiesInternational_main.htm (acessado em
29 de maio de 2009).
CAPÍTULO 21: SERVINDO COMO
GUARDIÕES DOS PORTÕES
1.Dallas Willard, The Divine Conspiracy [A Conspiração Divina] (São Francisco:
HarperSanFrancisco, 1998), 287.
2.
A primeira vez que ouvi o termo promotor do reino [em inglês, kindomizer] usado foi
por Paul Jeong da Natural Church Development da Coreia no Fórum da Aliança para o Discipulado
das Nações em Phoenix, Arizona em 16 de abril de 2002.
3.Não é que o dinheiro seja ruim. Não é. É o amor ao dinheiro a raiz de todos os males (1
Tim. 6:10). O reino é de primeira importância (Mateus 6:33). O dinheiro é secundário.
4.
Cl 1.18.
5.Uma ferramenta para isso é "Discovering Your Call" e pode ser encontrada no website
da Monday Church: www.MondayChurch.org.
6.Uma ferramenta para isso é "Biblical Theology of Vocation"
e
pode ser encontrada no
website da Monday Church: www.MondayChurch.org
7. Mateus 28.19.
8.
Mateus 28.18.
9.Mateus 6.10.
10.
Willard, The Divine Conspiracy, 26.
11.
Relatado pelo colega de trabalho de Jun Vencer Roy Wingerd no Fórum da Aliança
para o Discipulado das Nações em Fênix, Arizona em 16 de abril de 2002.
12.
Lawrence E. Harrison, "Why Culture Matters," em Culture Matters: How Values
Shape Human Progress, eds. Lawrence E. Harrison and Samuel P. Huntington (Nova Iorque:
Basic Books, 2000), xxvi-xxvii.
13.
Vishal and Ruth Mangalwadi, The Legacy of William Carey: A Model for the Trans-
formation of a Culture (Wheaton, 111.: Crossway Books, 1999, 17
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 369/373
392 I
VOCAÇÃO:
Escreva sua assinatura no universo
14.
Ibid, 21.
15.
Ibid, 22-23.
CAPÍTULO 22: O CORPO DE CRISTO
1.
Veja Apocalipse 21-22.
2.
Efésios 1.22-23.
3.
Apocalipse 19.7.
4.1 Pedro 2.9.
5.1 Co 12.12.
6.1 Co 12.4-6.
7.
Um excelente material de apoio é o livro Se Jesus fosse Prefeito (Editora Jocum) do
cofundador da Aliança para o Discipulado das Nações, Dr. Bob Moffitt. Esse livro pode ser
adquirido pelo site da Aliança para o Discipulado das Nações: www.disciplenations.org/store.
8.
Mateus 28.18.
9.F1 3.20.
10.
Rm 13.1-7
11.
João 17.
12.
João 17.17, 19; 1 Pedro 2.9.
13.
João 17.15, 18.
14.
Mateus 5.13-16.
15. Mateus 13.33.
16.
Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Nova Iorque: MacMillan Publishing
Co., 1977), 54.
17.
Elton Trueblood, Your Other Vocation (Nova Iorque: Harper and Brothers, 1952),
57, citado em Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to God (Colorado Springs:
NavPress, 1988), 217.
18.
Sherman e Hendricks, Your Work Matters to God, 215.
19.
George Grant, The Changing of the Guard: Biblical Principies for Political Action (Ft.
Worth: Dominion Press, 1987), 130.
20.
Enhanced Strong's Lexicon, s.v. "katartismos."
21.
O site da Harvest Foundation (parceiro da DNA) dispõe de excelentes materiais para
pastores equiparem o seu povo para o trabalho do ministério no mundo:
www.harvestfoundation.org
.
22.
Erwin W. Lutzer, Hitler's Cross: The Revealing Story of How the Cross of Christ
Was Used as a Symbol of the Nazi Agenda (Chicago: Moody Press, 1995), 133.
23.
Ibid, 204.
24.
Warren Bennis e Burt Nanus, Leaders: Strategies for Taking Charge (Nova Iorque:
Harper e Row, 1985), 20, citado em David J. Vaughan, The Pillars of Leadership (Nashville:
Cumberland House Publishing, 2000), 13.
CAPÍTULO 23: OCUPEM ATÉ QUE EU VOLTE
1.Êx 35.4-9.
2.
Ex 36.3-7.
3.
David Bruce Hegeman, Plowing In Hope: Toward a Biblical Theology of Culture
[Cultivando Esperança: Por uma Teologia Bíblica da Cultura], (Moscow, Idaho: Canon Press,
1999), 52-53.
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 370/373
Notas1 3 93
4.
Australia's War 1939-1945, "The Old War Horse: The Battle of Surigao Strait, 25 de
outubro de 1944," http://www.ww2australia.gov.au/waratsea/story_warhorse.html
(acessado em
11 de setembro de 2008).
5.
Richard Steele, The Tradesman's Calling, in R. H. Tawney, Religion and the Rise of
Capitalism (New York: Harcourt, Brace, 1926), 240, 321, citado em Leland Ryken, Worldly
Saints: The Puritans As They Really Were (Grand Rapids: Zondervan, 1990), 27.
6.
William J. Bennett, ed., The Book of Virtues: A Treasury of Great Moral Stories (Nova
Iorque: Simon & Schuster, 1993), 192-195.
7.Papa João Paulo II, Message of the Holy Father for the XXXV World Day of Prayer
for Vocations [Mensagem do Santo Pai para o XXXV Dia Mundial das Vocações, 15 de agosto,
1995, http://www.va/holy_father/john_paul_ii/messages/vocations/documents/hfjp-
ii_mes_l
5081995 world-day-for-vocations_en.html (acessado em 27 de maio de 2009).
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 371/373
1395
MATERIAIS EXTRAS PARA
ESTUDO E APLICAÇÃO
Esperamos que este livro o tenha desafiado e inspirado com uma visão
para o avanço do reino de Deus através de sua vocação em particular.
Para ajudá-lo a aprofundar-se mais e ap licar os p rincípios apresentados
neste livro, gostaríamos de convidá-lo a visitar www .M ondayC hurch.org. Lá
você enco ntrará um variedade de m ateriais, entre os quais:
Um guia de estudos por capítulo com perguntas para reflexão, dis-
cussão e aplicação
Um estudo bíblico gratuito desenvolvido para ap licação individual ou
em pequenos grupos
Um inventário pessoal para ajudá-lo a descobrir a sua vocação e
chamado pessoais
Informações para realizar uma conferência vocacional e como a vo-
cação está relacionada ao avanço do reino de Deus
Sugestões úteis para pastores e membros de igreja compartilharem a
visão e equiparem suas congregações para avançarem o reino de Deus através
de suas vocações
E m uito m ais
www.mondaychurch.org
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 372/373
DISCIPLE NATIONS A LLIANC E
[ALIANÇA PARA O DISCIPULADO DAS NAÇÕES]
Equipando a Igreja para Transformar o Mundo
A Disciple Nations Alliance [Aliança para o Discipulado das Naçõ es]
faz pa rte de um mo vimento global de indivíduos, igrejas e organizações com
uma visão com um: ver a Igreja mundial alcançar o seu pleno po tencial como
instrumento de Deus para a cura, benção e transformação das nações.
A DNA foi fundada em 19 97 através de uma pa rceira entre a Food for
the Hungry [Alimento para os Famintos] (www.fh.org
) e a Harvest
(www.harvestfoundation.org
). Nossa missão é influenciar o paradigma e a
prática das igrejas locais ao redor do mundo, ajudando-as a reconhecer e
abando nar falsas crenças, e abraçar um a robusta cosmo visão bíblica-levando
verdade, justiça e beleza a toda esfera da sociedade e demonstrando o am or
de Cristo de maneiras práticas, abordando a fragmentação de suas
comunidades e nações a partir de seus próprios recursos.
Para ob ter mais informações sob re a Disciple Nations Alliance e acessar
diversos recursos, currículos, livros, materiais de estudo e ferramentas de
aplicação, visite nosso web site.
www.DiscipleNations.org
E-mail: [email protected]
396 1
8/18/2019 Livro Vocação - Darrow Miller
http://slidepdf.com/reader/full/livro-vocacao-darrow-miller 373/373
1 397
O AUTOR
Darrow L . M iller é cofundador da Aliança o D iscipulado das naçõ es.
É um reconhecido autor e mestre. É um conferencista bem conhecido após
ter ensinado por mais de 25 anos sobre temas como: O cristianismo e a
cultura, Apologética, Cosmovisão, Pobreza e a Dignidade da M ulher.De 1 981 -
200 7, Darrow trabalhou para a fundação contra a fom e (FH ), da qual é vice
presidente deste 1994. Antes de fazer parte da FH, fez parte do pessoal da
comunidade L'Abri, Suíça, por 3 anos, onde foi discipulado por Francis
Sheaffer. Tamb ém tem servido com o Pastor Estagiário na No rthern Arizona
University e como p astor na Sherman Street Fellowship , no centro de Den-
ver, Colorado. Ao mesmo tempo em que se formou em Educação para Adultos
pela Universidade do estado do Arizona, Darrow realizou estudos de
graduação em filosofia, teologia, apologética cristã, estudos bíblicos e m issões,
nos Estados Unidos, Israel e Suiça. Também é autor de números trabalhos,
artigos, estudos bíblicos e livros, entre outros Discipulando Na ções, O Poder
da Verdade para transformar C ulturas (Editoria FatoÊ-) e Ensino as Naçõ es:
Reivindicação da Dignidade das M ulheres para Edificar Culturas Sadias (Edi-
torial JUCUM, Tyler, Texas, 2011).