Presidente da República Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto Paulo Renato Souza
Secretário Executivo Luciano Oliva Patrício
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS:
informações para o professor
Presidente da República: Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto: Paulo Renato Souza
Secretário Executivo: Luciano Oliva Patrício
COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS:
informações para o professor
Editor Luís Donisete Benzi Grupioni
Com a colaboração de André Toral, Bruce Albert, Denise Fajardo Grupioni,
Ismael Tressmann. Jussara Gruber. Kléber Gesteira e Matos, lydia Poleck. Manana Kawall Leal Ferreira.
Nietta Lindenberg Monte e Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio.
Capa Fernando Secchi
Projeto gráfico/editoração Vera Feitosa
Brasília. 1998
Secretária de Educação Fundamental: Iara Glória Areias Prado
Diretora do Departamento de Política da Educação Fundamental: Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha
Coordenadora Geral de Apoio às Escolas Indígenas: Ivete Maria Barbosa Madeira Campos
MEC/SEF/DPEF Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 615 70047-902, Brasília - DF Tel: (061) 224-9598 e (061) 410-8630 Fax: (061) 321-5864
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Grupioni, Luís Donisete Benzi (Editor) Coleção de livros didáticos do referencial curricular
nacional para as escolas indígenas: informações para o professor / Luís Donisete Benzi Grupioni (Editor) - Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental, Departamento de Política da Educação Fundamental, Coordenação de Apoio às Escolas Indígenas.
Brasília: MEC/SEF/DPEF/CGAEI, 1998 42p.:il.
1. Educação escolar indígena. 2. Livro didático.
CDU 371.671.1
índice
Apresentação 7
Geografia indígena 9
O Livro das Árvores 13
Xanetawa Parageta - Histórias das Nossas Aldeias 16
Yama Ki Hwërimamouwi thë ã oni - Palavras escritas para nos curar 19
Pangyjej Kue Sep - A nossa língua escrita no papel 23
Adornos e Pintura Corporal Karajá 26
Atlas Geográfico Indígena do Acre 29
Aprendendo Português nas Escolas da Floresta 30
Txopai e Itôhã 35
O tempo passa e a história fica 37
"Madikauku - os dedos das mãos": Matemática e Povos Indígenas no Brasil 40
Apresentação
O programa de apoio à produção de material didático para as escolas indígenas da Secretaria de Educação Fundamental foi desenvolvido tendo em vista a escassez de material em língua indígena que contemplasse as reais necessidades dos diversos povos indígenas brasileiros, e que levassem em conta os aspectos culturais, lingüísticos e demais saberes.
Como parte da política implementada pelo Ministério da Educação e do Desporto para a educação escolar indígena está o apoio técnico e financeiro aos cursos de formação de professores indígenas e à produção e publicação de material didático-pedagógico a ser utilizado nas escolas indígenas. Dos livros publicados pela SEF para as escolas indígenas foram selecionados os que atendessem a cada área do conhecimento trabalhada no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas.
A produção de textos para as escolas indígenas concretiza-se com a publicação de livros de qualidade, que resultam direta ou indiretamente dos cursos de formação de professores indígenas. Em tais cursos, desenvolvem-se idéias de construção de material didático, onde os professores expressam e registram as diferentes formas de linguagem, partindo de seus conhecimentos étnicos, com a orientação de profissionais experientes nessas atividades.
Apresentamos, assim, esta coleção de livros elaborados por professores de diferentes etnias, pretendendo oferecer referências, exemplificando como é possível a construção de material didático de qualidade adequado a cada comunidade indígena, e ao mesmo tempo, iniciar um intercâmbio entre os diferentes povos e escolas indígenas do país.
Secretaria de Educação Fundamental
Geografia indígena
GEOGRAFIA INDÍGENA
Parque Indígena do Xingu Projeto de Formação de Professores
Indígenas do Parque Indígena do Xingu ISA/MEC/PNUD
São Paulo, 1996, 63 págs.
O livro - O livro "Geografia Indígena -Parque Indígena do Xingu" foi escrito e desenhado pelos professores índios do Parque Indígena do Xingu e das Terras Indígenas Kapôt/Jarina e Mekangotire, envolvidos no "Curso de Formação de Professores Indígenas do Parque Indígena do Xingu para o Magistério (2° Grau)". Ele é o resultado de um conjunto de atividades didáticas de geografia, coordenadas pelo geógrafo Renato Antonio Gavazzi, durante o III Curso de Formação de Professores índios, realizado no final do inverno de 1995 nos Postos Indígenas Pavuru e Diauarum. Na época, o curso estava sob coordenação da Associação Vida e Ambiente, mas a publicação foi encaminhada para edição pelo MEC, quando o Instituto Socioambiental assumiu o gerenciamento do programa de formação dos professores indígenas, em 1996.
Dividido em quatro capítulos (O que é geografia?, O mundo no universo, Geografia da Área Indígena e O que é cidade?), o livro contém textos, desenhos, perguntas e exercícios preparados pelos professores índios para uso nas escolas indígenas do PIX. Escrito em português, o livro registra a reflexão dos professores indígenas sobre os seus conhecimentos étnicos e sobre os novos conhecimentos adquiridos durante o curso e sintetiza, em textos e desenhos, um novo saber geográfico.
O projeto - O Programa de Formação de Professores Indígenas do Parque Indígena do Xingu para o Magistério tem como objetivo formar 53 professores indígenas dos povos Kuikuro, Kalapalo, Matipu, Nahukuá, Mehinako, Waurá, Aweti, Kamaiurá, Trumai, Suiá, Kaiabi, Yudjá, Tapaiuna e Panará, que lecionam atualmente para cerca de 850 alunos, entre crianças e adolescentes, em 30 escolas em funcionamento.
O Programa de Formação teve início em 1994 com a Associação Vida e Ambiente, com apoio da Rainforest Foundation da Noruega. Em 1996 passou a ser gerenciado pelo Instituto Socioambiental. Até novembro de 1998, nove cursos foram realizados, sendo que sete contaram com a parceria financeira do Ministério da Educação e do Desporto. O programa se realiza através de dois cursos anuais ministrados por especialistas -lingüistas, antropólogos, matemáticos e educadores- e de acompanhamento pedagógico às escolas indígenas nos períodos intermediários entre os cursos. O Programa tem impulsionado o estudo das línguas indígenas faladas no Parque do Xingu e a produção de ortografias, que permitam o ensino da língua indígena nas escolas e a produção de material didático-pedagógico diferenciado. Até este momento, quatro livros foram editados com apoio do MEC (Geografia Indígena, em 1996, Tisakisü, em 199, Kamajura Jemo'etap, em 1988 e Livro de História, em
1998), e outros 5 estão em fase de publicação.
O Programa, reconhecido em 1998 pelo Conselho Estadual de Educação do Mato Grosso, tem uma duração prevista de 6 anos e pretende capacitar os professores indígenas como educadores e pesquisadores de suas culturas, de forma que eles se tornem os agentes do processo de ensino e aprendizado de suas escolas e sejam capazes de formular e conduzir currículos próprios, adaptados à sua realidade. Para isso, o Programa tem investido no estudo, por parte dos professores indígenas, de suas línguas nativas e no desenvolvimento da escrita nessas línguas, de forma a garantir o uso da língua indígena ao longo de todo o processo educacional, como disciplina em si e como instrumento de ensino em todas as outras disciplinas do currículo escolar. Temas como preservação dos recursos naturais, melhoria de saúde e qualidade de vida, invasão de madeireiros, garimpeiros, pescadores e caçadores, alternativas econômicas e relacionamento com a sociedade envolvente, em especial a dos municípios vizinhos, têm sido tratados nos cursos visando uma integração da escola no cotidiano dos grupos indígenas do Parque do Xingu. O Programa de Formação dos Professores está articulado com dois outros programas existentes dentro do Parque do Xingu: o de formação de agentes indígenas de saúde, promovido pela Unid a d e de Saúde e Meio Ambien te da
UNIFESP, e o de alternativas econômicas e fronteiras, promovido pelo ISA.
Os autores e usuários do livro - O Parque Indígena do Xingu abriga, em seus 2.642.003 hectares no estado de Mato Grosso, uma surpreendente variedade de grupos indígenas, diferenciados dos pontos de vista étnico, lingüístico e Sócio-Cultural. São quinze povos, com uma população estimada em 3.496 pessoas (EPM/97), distribuídos em 32 aldeias.
Procedendo do norte até o extremo sul do Parque, encontramos os Suyá e os Tapayuna, falantes de línguas do tronco Jê; os Kayabi e os Juruna, povos Tupi do alto curso do Xingu; os Ikpeng (Txikão), grupo Karibe, e os Trumai, falantes de uma língua isolada. Até recentemente, também viviam no Parque, os Panará, que reconquistando parte de seu território tradicional, mudaram-se para a TI Panará, localizada no Pará.
Na porção meridional do Parque, na bacia dos rios formadores do Xingu, sobrevive até hoje um conjunto de povos que ao longo de séculos constituiu uma sociedade intertribal com uma organização social e traços culturais compartilhados. Esta região, conhecida como Alto Xingu, é também uma unidade geográfica e ecológica, protegida pelo leque dos rios Kuluene, Kuliseu, Batovi, Ronuro e Von den Steinen e pelas serras Formosa, a oeste, e do Ron-
cador, ao leste, pelo Cha-padão mato-grossense, ao sul, e pelas cor rede i ras do Xingu, ao norte. Foi para essa região que confluí-ram em sucessivas migrações e deslocamentos grupos Tupi como os Kamayurá e os Aweti; grupos Aruak, co-mo os Yawalapiti, os Mehi-nako e os Waurá e grupos Karibe como os Nahukwá, os Matipu, os Kalapalo e os Kuikuro. No Alto Xingu foi se formando uma rede de intensas trocas matrimoniais, comerciais e cerimoniais. Rituais como o Kwarup, o Yamurikumalu, o Javari continuam agrupando as aldeias em grandes festas coletivas que recriam periodicamente os laços de alianças entre unidades sociais que prezam sua autonomia numa convivência sempre realimentada. Esse processo ainda hoje conduz as mudanças da sociedade alto xinguana e suas estratégias políticas de convivência interna e externa, face a outros povos indígenas e face aos brancos.
Os conhecimentos disponíveis sobre a história do Alto Xingu, até o final do século XIX, fundamentam-se em pesquisas arqueológicas e em relatos da memória oral
indígena. A história escrita pelos brancos começa com as viagens do etnógrafo alemão Karl Von den Steinen no final de 1800. Foi ele quem apontou para o mundo a riqueza cultural da região. Nos anos 40, a Expedição Roncador-Xingu, liderada pelos irmãos Villas Boas marcou o contato definitivo com o universo dos brancos e com a presença do Estado. O território a l to xinguano foi fechado e demarcado pelo processo de criação do Parque, processo que se desenrolou do início dos anos 50 até 1978. Para os índios, cuja população já tinha sofrido sucessivas baixas demográficas, em decorrência das violentas incursões dos bandeirantes nos séculos XVIII e XIX e das epidemias que acompanharam todas as fases do contato, a criação do Parque significou proteção, dependência e um território com fronteiras definitivas. Deste foram, todavia, excluídas áreas com valor histórico e cosmológico, e hoje grandes fazendas formam um anel de desmatamentos e queimadas. Os riscos de contaminação das nascentes do Xingu, que estão todas fora dos limites do Parque, invasões de madeireiros, garimpeiros, pescadores e caçadores, novas necessidades de consumo impostas pelo contato e o confinamen-to nos limites do Parque são os desafios atuais para os povos xinguanos.
O Livro das Arvores O livro - "O Livro das Árvores", editado pela Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües, contou com a part icipação de cerca de 200 professores indígenas, envolvidos no Curso de Formação de Professores Ticuna - habi l i tação para o magistério. Organ izado pe la art ista p lás t ica Jussara Gomes Gruber, o livro reúne desenhos e textos coletivos preparados pelos professores durante as etapas do curso de formação. O livro faz parte de um projeto intitulado "A natureza segundo os Ticuna", que teve início em 1987, e que tem como objetivo a realização de registros, levantamentos e pesquisas, além de desenhos, sobre a fauna e a flora regionais, que possam compor materiais didático-pedagógicos para as escolas ticuna.
"O livro das Árvores" apresenta a intensa e rica relação dos Ticuna com as árvores que formam a floresta, com enfoque especial para o valor e o significado das várias espécies importantes para a sobrevivência física e cultural do grupo. Mais que um livro de botânica, trata-se, na verdade, de uma memória das árvores, onde os professores Ticuna registraram, nos textos e nas imagens, conhecimentos práticos e valores simbólicos. O livro foi premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1997, como melhor livro informativo e melhor projeto editorial.
Jussara Gomes Gruber (Org.) Projeto Educação Ticuna Organização Gerai dos
Professores Ticuna Bilíngües Benjamin Constant 1997, 96 págs.
O projeto - A Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB) foi criada em dezembro de 1986. Ela é a responsável pelo curso de fo rmação dos professores Ticuna, que funciona no Cen-tro de Formação de Professores Ticuna -Torü Nguepataü ("nossa casa de estu-dos"), localizado na aldeia de Filadélfia, município de Benjamin Constant (AM). O Centro foi planejado pelos professores e construído em 1993, dispondo de salas de aula, bibl ioteca e alojamentos para os cursistas. Durante o período letivo, o Centro abriga duas salas de aula de alunos da 5° e 7° séries, e nos períodos de férias, de janeiro/fevereiro e julho, acontecem os cursos de formação dos professores Ticuna.
O Curso de Formação de Professores Ticuna - Habilitação para o Magistério teve início em 1993 e, a partir desta, data foram realizadas 10 etapas. Em 1996,212 professores ticuna concluíram o 1° grau com qualificação para o magistério. Este curso foi reconhecido pelo Conselho Estadual de Educação do Amazonas em 1997, ficando a OGPTB autorizada a emitir os certificados de conclusão.
O Curso de Formação, que integra o Projeto Educação Ticuna, envolve uma série de atividades desenvolvidas com a participação dos alunos/professores índios, tais como a organização de materiais di-dático-pedagógicos e a preparação de
um currículo diferenciado para as escolas ticuna, além de sub-projetos voltados para as áreas de saúde, meio ambiente e cultura. O Curso é ministrado por professores com experiência em educação indígena, procedentes de universidades e outras instituições de ensino do país.
Na produção de materiais didáticos, os professores recebem orientação sobre metodologia de pesquisa e part ic ipam de oficinas para produção de textos e desenhos. Além de "O livro das Árvores", foram preparados outros materiais para uso nas escolas: "Manua l da Escrita -Ngiã Tanaütch icünaagü" , "Livro do Professor" para ap l icação do Manual da Escrita, "A Matemática do Meu Dia", e "Manual de Saúde - Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids". Estão em preparação outros 10 livros, o Livro dos Peixes e o Dicionário Ticuna/Ticuna e Ticuna/Português.
O Projeto Educação Ticuna abrange professores e escolas dos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá e Santo Antônio do Içá. Nesses municípios existem 92 escolas e cerca de 7.000 alunos ticuna. O Projeto tem apoio do Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola - FIDA, Ministério da Educação e do Desporto, Fundação Nacional do índio, além da colaboração de algumas prefeituras municipais do Amazonas.
Os autores e usuários do livro - Os Ticuna vivem no Brasil, na Colômbia e no Peru. No Brasil, estão localizados no estado do Amazonas, ao longo do rio Solimões, nos seus afluentes e ilhas. Atualmente constituem o mais numeroso grupo indígena do país, com aproximadamente 28.000 pessoas, e suas aldeias, cerca de 100, localizam-se em terras dos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Fonte Boa, Anamã e Beruri.
Os Ticuna falam uma língua considerada isolada, que não mantém semelhança com nenhuma outra língua indígena. Sua característica principal é o uso de diferentes alturas na voz, peculiaridade que a classifica como uma língua tonai. Os Ticuna estão organizados em clãs, ou "nações", agrupados em metades, que regulam os casamentos. Membros de uma metade devem casar-se com pessoas da metade oposta, e seus filhos herdam o clã do pai. Numa das metades agrupam-se os clãs com nomes de aves: mutum, maguari, arara, japó, etc. Na outra metade estão os clãs que possuem nomes de plantas e de animais, como o buriti, jenipapo, avaí, onça, saúva.
As primeiras notícias sobre a presença dos Ticuna na região do alto rio Solimões datam da metade do século XVII. Os contatos com os brancos, todavia, acentuaram-se a partir das últimas décadas do sé
zando, direta e indiretamente, a força de trabalho indígena. Após o declínio da exploração da seringa, os Ticuna retornaram às suas atividades agrícolas tradicionais, integrando-se, gradativamente, à economia regional. Hoje em dia, constituem os principais fornecedores de farinha de mandioca e de frutas para os mercados das cidades da região.
Apesar do longo contato com os brancos e das formas de dominação, exploração e aculturação impostas pelas frentes de expansão e pelas diferentes missões religiosas em atuação entre eles, os Ticuna mantêm viva sua língua e sua organização social. Desde 1980, os Ticuna vêm lutando pelo reconhecimento oficial de suas terras. Já foram homologadas 14 áreas, num total de 1.272.742 ha no Amazonas.
culo passado, quando suas terras foram maciçamente ocupadas por seringalistas e comerciantes que aí se esta-b e l e c e r a m para extrair a borracha, utili-
Xanetawa Parageta Histórias das
Nossas Aldeias
Comunidade Tapirapé MARI/MEC/PNUD
São Paulo/Brasília, 1996, 112 págs.
O livro - O livro "Xanetawa Parageta-Histórias das nossas aldeias" reúne histórias pesquisadas sobre o território tradicional dos Tapirapé pelos alunos da Escola Estadual de Primeiro Grau Tapirapé, em 1992. O projeto foi coordenado pelo antropólogo André Amaral de Toral e pelos indige-nistas Eunice Dias de Paula e Luiz Gouvêa de Paula.
Os Tapirapé encontram-se envolvidos num processo de recuperação territorial e, preocupados com o pouco conhecimento das novas gerações a respeito de seu território tradicional, as lideranças deste grupo indígena, utilizaram-se da escola como veículo para recuperação desse conhecimento. Excursões, organizadas a partir da escola e orientadas por membros mais velhos da comunidade, tentaram minorar o pouco conhecimento dos mais jovens a respeito das terras do grupo. Convertidos em autores e pesquisadores, os alunos reuniram parte do acervo da memória tribal sobre a terra em que viveram nos últimos dois séculos e com elas compuseram este livro.
O projeto - Em 1973, o casal de indigenis-tas Luís e Eunice Gouvêia de Paula, apoiado pela Prelazia de São Félix, instalou-se na aldeia Tapirapé, atendendo o pedido do grupo indígena por ensino feito ao bispo D. Pedro Casaldaliga. O trabalho iniciou-se
com estudos sobre a língua e a grafia e prosseguiu até a elaboração de um currículo diferenciado e próprio para a escola Tapirapé. Foi o primeiro currículo diferenciado de uma escola indígena reconhecido. Hoje a "Escola Estadual de Primeiro Grau Tapirapé" conta com professores indígenas formados na escola. Todos os Tapirapé em idade escolar aprendem a ler e escrever em sua própria língua e em português.
A elaboração do livro visou a valorização do conhecimento da história do território tradicional Tapirapé, estimulando consultas aos membros mais velhos do grupo e às atividades de pesquisa realizadas no espaço da escola. Ao mesmo tempo, o livro serve de subsídio para a reflexão da comunidade sobre a situação atual de seu território, d i vu lgando suas demandas territoriais aos membros mais jovens e junto a órgãos do governo.
O trabalho de feitura do livro iniciou-se com a pesquisa dos alunos com seus parentes mais velhos. Muitos deles, nesse processo, recuperaram parte da memória de sua família sobre parcialidades de seu território tradicional. Juntando todas essas visões parciais reuniu-se um bom material sobre a totalidade do território. Depois que fizeram a pesquisa com os mais velhos, os textos foram trabalhados em grupos pelos alunos, que se encarregaram de juntar e sistematizar as versões individuais em uma só e ilustrar as histórias. O resultado desse
primeiro trabalho foi digitado e apresentado aos alunos para alterações em novembro de 1995 e setembro de 1996.
Uma vez editado, com o apoio do Ministério da Educação e do Desporto e do Mari - Grupo de Educação Indígena da USP, o livro foi distribuído aos Tapirapé. Ele é um estímulo para novas pesquisas e conversas, além de ser material de leitura na língua do grupo atualmente utilizado na escola. Para o público mais amplo, o livro é um testemunho da antigüidade da presença dos Tapirapé no Serra do Urubu Branco e o registro poético da memória desse povo sobre o local onde viveram. Animados com o livro e sua repercussão junto a comunidade, os professores Tapirapé já estão em fase de finalização de um novo livro. O novo livro dedica-se a registrar os cantos religiosos do grupo e traz, também, uma descrição de suas festas e rituais mais importantes. Está sendo organizado e será editado pelos próprios Tapirapé. Xanefawa Parageta abriu o caminho: outras obras vêm vindo na mesma trilha.
Os autores e usuários do livro - Os Tapirapé são um povo de língua da família Tupi-Guarani que habitam terras no Estado do Mato Grosso, próximo à foz do rio Tapirapé com o Araguaia. Por volta de 1900, acredita-se que os Tapirapé somavam cerca de 1.500 pessoas. Eles passaram a ter contato regular com a sociedade brasileira a partir de 1950, quando se estabelece-
desapareceram. Quando em 1952, a Missão das Irmãzinhas de Jesus, a pedido do bispo dominicano de Conceição do Araguaia, instalou-se entre eles, para prestar assistência na área de saúde, a população estava reduzida a cerca de 50 pessoas.
Na década de 60, toda a região do Mato Grosso começou a ser ocupada por grandes companhias agropecuárias e fazendas que avançaram sobre os territórios indígenas. A 30 km da aldeia cresceu o povoado de Santa Terezinha, depois transformado em município. Posseiros foram empurrados pelas novas fazendas para dentro do território indígena, na época ainda não demarcado. Só em 1983, a Terra Indígena Tapirapé-Karajá foi demarcada, com a extensão de 66.166 ha, nos municípios de Luciara, Comodoro e Santa Terezinha.
Hoje, o grupo experimenta um vigoroso processo de recuperação populacional: somam 363 pessoas e estão envolvidos num processo de recuperação de suas ter-
c a ç a e coleta. Decididos a recuperar a área e cansados de esperar uma ação por parte da Funai, os Tapirapé procuraram fortalecer sua presença no local que culminou com a re-instalação de uma aldeia, chamada Tapi'itawa, que havia sido abandonada devido a um ataque dos Kayapó em 1947. Ali edificaram uma aldeia no estilo tradicional: um círculo de casa tendo ao centro a takara, a casa dos homens. Esse local, que constitui o "coração" do território tradicional Tapirapé, é denso de significado afetivo, religioso e histórico. Seus habitantes vêm sofrendo hostilidade declarada de fazendeiros da região e da população regional contrária ao reconhecimento deste território, que recentemente foi declarado como de posse permanente dos Tapirapé. A demarcação física do território Tapirapé já foi concluída. Falta ainda a retirada dos ocupantes. Os Tapirapé estão confiantes que conseguirão, em breve, recuperar seu território tradicional.
ras tradicionais. Em 1993, os Tapirapé reocuparam uma parcela de seu território, invadido por fazendas, no município de Confresa e Santa Teresinha, no extremo norte do Mato Grosso. Esse território, conhecido como Terra Indígena Urubu Branco, vinha sendo util izado nos últimos anos pelos Tapi rapé pa ra
ram junto a um posto indígena do antigo Serviço de Proteção aos índios (SPI), na foz do rio que leva o nome da tribo, no noroeste do estado de Mato Grosso. Na época , em função do conta to , do aparecimento de epidemias e em conseqüênc ia de a taques de grupos indígenas vizinhos, os Tapirapé quase
Esco/a dos Watoriki theripe Programa de Educação de CCPY
CCPY/MEC/PNUD São Paulo, 1997, 92 págs.
O livro - O livro 'Yama ki hwerimamouwi the ã oni - Palavras escritas para nos curar" reúne cinco cartilhas bilíngües Yano-mami-Português, produzidas na Escola dos Watoriki theri pe ("habitantes da serra do vento forte"), no período de 25 de maio a 17 de junho de 1996, no âmbito dos projetos de educação e de saúde desenvolvidos pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY), com o apoio do Ministério da Educação e do Desporto. As cinco cartilhas versam sobre as epidemias dos brancos, o mal da malária, o mal da gripe, o mal da tosse e as dores de dentes.
A e laboração das cartilhas contou com a participação de quatro jovens alfabetizados, Joseca, Cláudia, Geraldo e Tenosi, todos fluentes na escrita do Yano-mami; dos líderes da comunidade Lourival Yanomami e Davi Kopenawa; e de quatro assessores não-índios: Deise Francisco (médica), Ana Isabel Dias (dentista), Maria Edna de Brito (educadora) e Bruce Albert (antropólogo). Além de propiciar conhecimentos básicos sobre questões de saúde relevantes para aquela comunidade, a produção das cartilhas teve como objetivo incentivar os alunos a produzirem textos na sua própria língua, gerando material de leitura para o processo de alfabetização em curso na escola daquela comunidade.
Yama ki hwérimamouwi the ã oni -
Palavras escritas para nos curar
O projeto - A Comissão Pró-Yanomami tem como objetivo a defesa dos direitos, da cultura e das terras dos Yanomami da Amazônia Brasileira. Em 1978, quando foi criada, a CCPY desenvolveu uma grande campanha pela demarcação do território dos Yanomami. Paralelamente colocou ênfase na defesa da vida deste povo indígena através de um programa de saúde desenvolvido na área. Para dar aos Yanomami condições de enfrentar o contato, a CCPY iniciou em 1995 a implantação de um projeto de educação integrado, que além da alfabetização, visa a formação de monitores de saúde e professores entre os próprios índios.
O projeto de educação tem como objetivo principal a oferta de subsídios e mecanismos para a implantação de uma política educacional que valorize a cultura yanomami e ao mesmo tempo prepare esse povo para uma convivência digna com a sociedade brasileira mais ampla. O projeto visa, num primeiro momento, introduzir o processo de alfabetização para que os Yanomami possam ler e escrever em sua língua materna, concomitantemente com o aprendizado oral do português. Num segundo momento, visa passar da escrita em Yanomami para a escrita em português.
O projeto, que conta com apoio do Ministério da Educação e do Desporto, UNICEF e Earth Love Fund, iniciou-se na aldeia dos Watoriki theri pe, sub-grupo Yano-
mami, que conta com uma população de 101 pessoas, das quais quase a metade tem menos de 10 anos de idade. Este projeto foi estendido em 1998 para as aldeias da região vizinha do rio Toototobi e alto Demini (Balawaú).
Os autores e usuários do livro - Os Yanomami são um povo da floresta amazônica, cuja população é estimada em 22 mil pessoas, habitando um território no oeste do Maciço das Guianas, região de fronteira entre o Brasil e a Venezuela. No Brasil, este território compreende parte dos Estados de Roraima e Amazonas. Aqui eles somam cerca de 10.500 pessoas, distribuídos em aproximadamente 220 comunidades, numa área contínua de 9.419.108 ha.
O termo Yanomami é usado de maneira genérica para designar o conjunto cultural e territorial constituído pelo grupo indígena como um todo. No plano lingüístico designa uma família de quatro línguas subdivididas em vários dialetos.
Os Yanomami praticam a caça, pesca, coleta e, em menor grau, agricultura. Habitualmente uma casa Yanomami abriga de 30 a 150 moradores, podendo chegar a 300. Os grupos locais podem ser constituídos por uma ou várias casas comunitárias, que mantém entre si intenso contato, consolidado por relações econômicas, matrimoniais, rituais ou de aliança política. Da movimentação entre as aldeias ou conjunto de aldeias depende a dinâmica e o
equilíbrio da vida econômica e social das comunidades Yanomami. Essa movimentação envolve, freqüentemente, contatos intensos e prolongados entre aldeias que distam de um a cinco dias ou mais de viagem a pé pela floresta, ou mais raramente de canoa.
As cerimônias em homenagem aos mortos (reahu) atraem grande número de hóspedes de aldeias próximas e distantes. Podem durar uma semana ou mais, precedidas por caçadas coletivas, feitas pelos anfitriões e pelos visitantes, muitas danças, pajelanças, prantos, brincadeiras, jogos e desafios. São ocasiões para troca de notícias e de objetos, para casamentos, refeições abundantes, definição de alianças políticas e resolução das divergências.
A tradição oral indígena e o relato de expedições científicas enviadas a essa região comprovam a presença yanomami nesta área pelo menos desde o fim do século XVIII. A partir da década de 50 insta-
bre a existência de ouro, cassiterita e outros minérios na região, dando início a uma verdadeira corrida a essas riquezas. A partir de 1987 a invasão dos garimpeiros chegou a 40 mil, levando malária, pneumonia, fome e morte a 20% dos Yanomami.
Em 1978 foi criada a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), com sede em São Paulo, que inicia uma campanha nacional e internacional pela demarcação das terras Yanomami contra uma primeira tentativa de desmembramento do território Yanomami pelo governo militar da época.
No final da década de 1980, o governo federal começa a implantar o projeto Calha Norte, para a proteção de uma extensa faixa ao longo da fronteira amazônica brasileira. O território Yanomami é f ragmentado e demarcado em 19 pequenas ilhas não contíguas, inseridas numa reserva florestal destinada à exploração econômica. Enquanto isso, fome e
morte alastram-se nas aldeias Yanomami.
Em 1991, o governo federal realizou uma operação de retirada dos garimpeiros e a terra Yanomami foi reconhecida e demarcada fisicamente como um território contínuo. Em maio de 92, o presidente da República homologou a demarcação do terri-
lam-se em terras Yanomami várias missões religiosas, entre elas a Missão Salesiana, a Missão Consolata, a Missão Evangé l i ca da Amazôn ia (Meva) e a Missão Novas Tribos do Brasil. Na década de 70 a rodovia Perimetral Norte corta o território Yanomami, e são também divulgados os resultados do Projeto Radam so-
tório e, neste mesmo ano, recomeçou a invasão dos garimpeiros e eles ainda continuam na área, ilegalmente, ainda que em número menor que na corrida ao ouro (1987-1989).
Em 1998, o mega-incêndio que atingiu o centro-oeste e o norte do país também consumiu parte da floresta dos Yanomami. Hoje, projetos de colonização contíguos à área indígena estão avançando sobre o território demarcado, abrindo caminho para a invasão de colonos.
Pangyjej Kue Sep A nossa língua escrita
no papel
Escola Zoró da Barreira / Depto. para Assuntos Indígenas do Conselho
de Missão entre índios (COMIN/IECLB) I NEIRO
Parque Indígena Aripuanã, 1994, 97págs.v
O livro - O livro "Pangyjej Kue Sep-Anossa língua escrita no papel" contém textos elaborados por Xinepusat Waratã Zoró, com a colaboração de Xinepukujkap Zoró e de outros alunos da Escola Zawãkej Alakit (Escola Zoró da Barreira). Ilustrado por Mbedurap Zoró, o livro foi organizado por Ismael Tressmann, indigenista que viveu cerca de um ano e meio entre este grupo indígena.
O livro, todo escrito em língua Zoró, destina-se à alfabetização de adultos e à formação de professores indígenas. Temas como o artesanato, a construção das malocas, a floresta, os animais, a roça, a alimentação, as festas, as músicas, a guerra, a pajelança, o casamento e a história do contato deste povo Tupi-Mondé com os não-índios são tratados no livro. Foi o primeiro livro didático editado pelo MEC dentro da linha de apo io à p rodução de matérias didát ico-pedagógicos para as escolas indígenas.
O projeto - O Projeto de Educação Escolar entre os Zoró, realizado em parceria com o Núcleo de Educação Indígena de Rondônia, está inserido dentro de uma unidade maior, o PROARI (Projeto de Assessoria ao Parque Indígena Aripuanã). Os trabalhos de assessoria estão voltados para as áreas de educação, saúde e apoio jurí-
dico, e incluem além dos Zoró, os vizinhos, Cinta-Larga.
O objetivo principal do Projeto de Educação é a formação de professores indígenas, dentro da proposta de uma educação intercultural, comunitária, bilíngüe, específica e diferenciada. A proposta do projeto é fazer com que a educação escolar seja somada aos processos educativos próprios da sociedade Zoró e criar condições para que a própria comunidade indígena possa gerir a sua escola.
Entre 1993 e 1994, o trabalho em educação escolar seguiu as seguintes etapas: coleta de dados e pequenas descrições e análises da língua; proposta de uma escrita, em co laboração com os educandos; alfabetização de algumas pessoas do grupo; e realização de dois encontros/ cursos para a e laboração de textos na língua. O resultado desse trabalho foi o livro "Pangyjej Kue Sep - A nossa língua escrita no papel" e a publ icação de um Caderno de Preparação para a Escrita. A proposta do livro partiu dos próprios índios que desejavam um material acessível que abordasse seus etno-conhecimentos e sua cosmologia e que lhes permitisse exercitar a leitura.
A imp lan tação da Escola Zawãkej Alakit foi igualmente uma iniciativa dos próprios Zoró. Com o aumento do número de alunos, o barracão improvisado foi substituído por um espaço físico mais amplo,
construído com recursos da própria comunidade.
Os autores e usuários do livro - Os Zoró se autodenominam Pangyjej, que significa "nós comemos carne moqueada". Povo de língua da família Mondé, pertencem ao complexo Tupi-Mondé, do qual também fazem parte os povos Cinta Larga, Gavião, Mondé, Surui, Aruá, todos de Rondônia, e os Arara do Beiradão (MT).
Vivem na Terra Indígena Zoró, no município de Aripuanã, Rondônia, entre os rios Branco e Roosevelt/14 de Abril, tributários da margem direita do rio Madeira. A área localiza-se no Parque Indígena Aripuanã, que abriga ainda os Cinta Larga e os Surui. Algumas famílias Zoró vivem na Área Indígena Igarapé Lourdes junto ao povo Gavião e outras entre os vizinhos Cinta Larga, na Área Indígena Roosevelt.
Os Zoró distribuem-se em vários grupos locais semi-nômades, autônomos em termos políticos e econômicos, que falam uma mesma língua e comparti lham um mesma cosmovisão. Hoje somam cerca de 300 pessoas.
A penetração e avanço da sociedade nacional naquela região a partir dos anos 60, e mais intensivamente na década de 70, ocasionou uma enorme depo-pulação, perda de parcelas do território tradicional e outras conseqüências negativas que perduram até hoje. Os Zoró es-
tabeleceram seus primeiros contatos amistosos com peões das fazendas próximas em 1976. Na época, estima-se que eles eram umas 800 pessoas. Em outubro do ano seguinte um grupo Zoró, seguido pelos demais, aceitou o contato com uma frente de atração da Funai. O contato oficial ocasionou a perda da autonomia política e econômica, a seden-tarização dos diferentes grupos locais numa única aldeia, além de impor o cultivo de grandes roçados para a produção de excedentes.
Entre 1978 e 1981, os Zoró foram convertidos por missionários da Novas Tribos, por meio da pregação de pastores Gaviões (de Rondônia) e passaram a professar uma forma de evangelismo fundamentalista. Alguns tornaram-se pastores dessa nova igreja e passaram a considerar manifestações diabólicas os antigos ritos, danças, festas, mitos e pajelança. Por volta do início dos anos 90, os Zoró se "desconverteram". Voltaram, então, a fazer guerra, tomar chicha fermentada, fazer festa, dançar e procurar novamente o velho pajé Paiô, para que se encontrassem com os seres invisíveis e realizassem os rituais de cura.
Em outubro de 1991, a Área Indígena Zoró foi homologada com 352.000 ha. Em setembro de 1992, posseiros invasores fo-
ram retirados da área. Sem assistência, nem para cuidar dos doentes, os Zoró, influenciados por seus vizinhos Suruí e Cinta Larga, se dividiram e cederam às pressões das madeireiras, que abriram estradas dentro da área indígena e estão devastando o território para a retirada do mogno.
Adornos e Pintura Corporal Karajá
Coleção Textos Indígenas - Série Cultura Programa de Educação Indígena para o Estado do Tocantins - Convênio Governo
do Estado do Tocantins/Funai/UFG Goiânia, 1994, 47 págs.
O livro - O livro ''Adornos e Pintura Corporal Karajá" integra a coleção "Textos Indígenas - Série Cultura", editada pelo Programa de Educação Indígena para o Estado do Tocantins, por meio do convênio estabelecido entre o governo do Estado do Tocantins, Funai e Universidade Federal de Goiás. Organizado pela lingüista Lídia Poleck, o livro reúne textos e ilustrações preparadas por professores Karajá, durante a VI etapa do Curso de Capaci tação de Professores Indígenas, realizado no município de Formoso do Araguaia, no Estado do Tocantins, em setembro de 1992. Os textos e os desenhos foram elaborados pelos professores para dar suporte a uma exposição de artefatos sobre "festas", que o projeto de e d u c a ç ã o realizou em Goiânia, no Museu Antropológico da UFG, em comemoração ao Dia Internacional dos Museus.
O livro apresenta um inventário comentado das pinturas realizadas pelos Karajá e Javaé tanto para uso diário quanto para os dias de festa, bem como sobre o uso de adornos corporais.
O projeto - O Projeto de Educação Indígena para o Estado do Tocantins, que conta com apoio financeiro do MEC, envolve professores indígenas das etnias Karajá, Javaé, Xambioá, Xerente, Krahô e Apinayé. Teve início em 1991 por meio de um convênio entre o Museu Antropológico da Uni-
versidade Federal de Goiás, a Secretaria de Educação do Estado do Tocantins e a Funai.
O primeiro curso de capaci tação, realizado entre 1991 e 1993, envolveu uma primeira turma de 38 professores de 37 comunidades diferentes, que participaram de sete etapas de cursos. O segundo curso de capac i tação iniciado em 1994 envolve uma segunda turma de 47 professores indígenas que participaram de 6 etapas de cursos. Em maio de 1997 iniciou-se o terceiro curso de capaci tação, envolvendo uma terceira turma de 19 professores, que já participaram de duas etapas com um total de 168 horas de aulas.
Além dos cursos de capac i tação, o projeto envolve acompanhamento dos professores nas aldeias, preparação de exposições sobre os grupos indígenas do Tocantins para a sociedade envolvente e produção de material didático-pedagógico elaborado pelos próprios índios. Em princípio estes materiais têm sido elaborados nos cursos, mas de acordo com a abordagem pedagógica do projeto eles deverão ter uma produção contínua, envolvendo alunos, e textos coletados pelos professo-res-pesquisadores junto às suas comunidades. São textos onde se preservam as especificidades das línguas indígenas, tanto estruturais quanto estilísticas, o que só é possível a partir do momento em que os índios são os produtores de seus textos. A
forma como desenvolveram estes textos nos cursos está intrinsecamente ligada à prática pedagógica e às futuras decisões de encontrar-se um espaço para a língua escrita em suas comunidades.
Os materiais editados pelo Projeto, dentro da coleção intitulada Textos Indígenas, estão distribuídos em três séries: Cultura, Natureza e Receituário. Além do livro "Adornos e Pintura Corporal Karajá", já foram publicados os seguintes títulos: "Receitas Krahô e Apinajé", "Cobras da Área Xerente", "Festas Indígenas Xerente", "Peixes da Área Xerente", Festas Krahô", "História de Aruanã".
Nas comunidades indígenas do Tocantins há escolas onde são oferecidos cursos até a 4° série: são ao todo 56 escolas onde lecionam 87 professores indígenas que atendem 2.078 alunos. No que se refere especificamente aos Karajá, há cinco escolas indígenas na Ilha do Bananal, onde lecionam 23 professores que atendem 425 alunos.
Em julho de 1998 foi iniciado um Projeto de Formação envolvendo os professores indígenas das três turmas que deverá habilitá-los como professores da 1° fase do 1° grau, dentro de uma proposta educacional diferenciada, bilíngüe, específica e intercultural.
Os autores e usuários do livro - Os Karajá contam hoje com uma população
vivem na margem do rio Javaé, na Área Indígena Boto Velho, município de Pium (GO); os Xambioá, que habitam as margens do rio Araguaia, Al Xambioá, no município de Araguaína, extremo norte de Tocantins; e os Karajá, que vivem em 18 aldeias na ilha do Bananal, no Parque indígena do Araguaia (TO). Há ainda famílias Karajá que moram no estado de Mato Grosso (Al Tapirapé-Karajá, Al São Domingos e Al Aruanã ll); em Goiás (Al Aruanã I e III); e no Pará (Al Maramanduba e na Al Karajá Santana do Araguaia), além de outras áreas ainda não regularizadas.
A história de contato dos Karajá com a sociedade envolvente foi sempre marcada por lutas de resistência desse povo pela posse de suas terras, pela preservação de sua cultura e identidade étnica. É provável que esse contato tenha se iniciar do no século XVI e XVII. Os documentos históricos registram inúmeros conflitos dos índios com invasores de seus territórios, prin-
Os Karajá compõem uma sociedade de pescadores e coletores, com uma produção agrícola pequena. Moradores das praias do Araguaia, acabaram por especializar-se como fornecedores de peixes e de mantas de pirarucu salgados no comércio regional. Exímios artesãos, produzem grandes quantidades de bonecas de argila, mudialmente conhecidas.
Os Karajá organizam-se em famílias extensas. A chefia tradicional é exercida pelo hyri, xamã, que possui dotes de vidência e poder de cura. Realizam vários e elaborados rituais, dos quais se destacam a festa de Hetohoky, que assinala a fase de iniciação do menino na sociedade Karajá, e a festa de Arauanã, realizada para agradar os espíritos.
estimada em 1.600 pessoas, a maior parte dos quais vive no Parque Indígena do Araguaia, Tocantins. A língua Karajá, pertencente ao tronco macro-jê, é falada por toda a comunidade, exceto algumas poucas crianças de pais com casamentos mistos.
Os Karajá dividem-se em três sub-grupos: os Javaé, que
cipalmente com exploradores de ouro. Esse contato vai se acelerar a partir dos anos 50 e 60, sobretudo após a criação de Brasília, e hoje tende a ser mais destrutivo pela abertura de estradas na Ilha do Bananal e pelo estabelecimento da hidrovia do Araguaia.
Atlas Geográfico Indígena do Acre
Projeto de Autoria da Comissão Pró-índio do Acre CPI-AC Rio Branco, J 996, 62 págs.
O livro - O livro "Atlas Geográfico Indígena do Acre" foi preparado pelos professores Apurinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxina-wa, Katukina, Manchineri, Shawãdawa e Yawanawa, do Acre, durante cinco cursos de geografia realizados entre 1993 e 1996, dentro do Programa de Formação de Professores Indígenas, desenvolvido pela Comissão Pró-índio do Acre (CPI-AC) desde 1983. Organizado pelos geógrafos Renato Antonio Gavazzi e Márcia Spyer Resende, este é o oitavo livro didático na área de geografia de autoria indígena publicado dentro do projeto "Uma experiência de autoria".
Com textos e ilustrações realizadas pelos professores indígenas, o Atlas congrega diversas informações sobre o estado do Acre e sua ocupação por índios e não-ín-dios. Divisão política, hidrografia, ocupação indígena, relevo, transporte e comércio, caça e pesca, extrativismo, pecuária são alguns dos temas tratados nos diferentes textos e mapas do Acre, elaborados com fino acabamento pelos professores indígenas em seu domínio da cartografia, das técnicas de desenho e de registro históri-co-geográfico como conteúdo curricular de sua formação. Este livro, assim como o próximo, fazem parte do mesmo projeto descrito a partir da página 31.
Aprendendo Português nas Escolas da Floresta
Projeto de Autoria da Comissão Pró-índio do Acre
MEC/UNESCOICPI-AC Rio Branco, 1997, 77 págs.
O livro - O livro "Aprendendo Português nas Escolas da Floresta" apresenta textos, desenhos e atividades voltados ao ensino do português, elaborados em 1993 pelos professores índios do Projeto de Autoria da Comissão Pró-índio do Acre, durante o 12o
Curso de Formação na Área de Estudo de Línguas e Pedagogia. O livro contém textos e desenhos de professores Apurinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa, Katukina, Manchineri, Shawãdawa e Yawanawa. Organizado pela lingüsta Tereza Maher, com a participação das educadoras Vera Olinda Sena e Nietta Monte, o livro foi editado pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1997.
Trata-se de um material de pós-alfa-betização em português como segunda língua, voltado aos alunos das escolas da floresta, para ampliar sua fluência lingüística oral e escrita. O livro, construído pelos professores a partir de situações de uso da língua portuguesa que consideram comuns e que necessitam de um enfrentamento discursivo que favoreça sua relação intercultural, está dividido em duas partes: falando português na aldeia e falando português na c idade. A primeira é voltada para crianças e jovens, com um domínio incipiente do português, que desejam ou têm que interagir com não-índios (assessores, vizinhos regionais, etc) em suas al-
déias. A segunda destina-se a jovens e adultos, mais fluentes no português, e que precisam se comunicar nas cidades em situações diversas como tirar documentos, negociar produtos, votar, etc.
O projeto - Em princípios do ano de 1983 a Comissão Pró-índio do Acre deu início ao Projeto "Uma Experiência de Autoria" que visa possibilitar a formação continuada de professores indígenas das etnias Kaxinawá, Katukina, Kaxarari, Ashaninka, Manchineri, Jaminawá, Shawãdawa, Yawanawá, Apu-rinã e Poyanáwa, todas localizadas no Acre. Inaugurava-se, nesta época, uma renovação nos modelos de educação escolar no país e no continente, resultado do momento histórico representado pelos "novos Tempos dos Direitos": os processos de demarcação de terras indígenas na região vinham acompanhados pela necessidade de substituição dos sistemas de dependência e integração, representados pelas escolas das agências missionárias e governamentais, por novas formas de pensar e fazer educação escolar indígena. Para tal mudança, jovens indígenas eram escolhidos, por suas comunidades, para serem formados e, ao mesmo tempo, iniciarem experiências de alfabetização bilíngüe de seus parentes, cujas terras, na época, estavam em processo de demarcação.
O projeto vem realizando, desde então, a formação permanente de um grupo de mais de 60 professores indígenas; a
elaboração, por uma equipe de assessores e professores indígenas, de currículos bilíngües e interculturais para as escolas e para os cursos de magistério indígena; a produção e publicação de quase uma centena de materiais didáticos e para-di-dáticos elaborados nos cursos de formação pelos professores indígenas e seus assessores, para uso nas escolas; o acompanhamento e assessoria permanente a estes professores nas escolas das aldeias pela equipe de educadores da entidade, de forma a possibilitar-lhes a continuidade de sua formação à distância. Por tais características e linhas de trabalho, a marca registrada do projeto acreano, envolvendo pesquisa e criação pedagógica, tem sido o conceito de "autoria".
Durante todos os cursos de formação oferecidos pela CPI-AC, os professores indígenas desenham e escrevem, em suas diversas línguas, recentemente grafadas e em português, livros nas diversas áreas de estudo de seu currículo (matemática, línguas, geografia, história, ciências) que são imediatamente editados pela entidade para serem utilizados ao longo do ano letivo em suas respectivas escolas, até serem renovados por novos materiais nos próximos anos. Desta forma, o projeto conta com um extenso acervo de materiais didáticos e de literatura de autoria indígena, que vêm sendo referência importante para os novos programas de educação escolar no Brasil.
Estes livros, escritos desde a década de 80, em português e nas diversas línguas envolvidas no programa, referem-se a temas como suas "Histórias de Hoje e de Antigamente" (1984); suas "Escolas da Floresta" (1984); sua cultura material, "Fábrica do índio" (1985); suas músicas, "Nuku Mimawa" (1994); suas diversas abordagens da geografia, "Geografia Jaminawa", "Geografia Manchineri", "Geografia Yawanawá", "Geografia Kaxinawá" (1995); sua relação com outras literaturas indígenas e não-indígenas, "Antologia da Floresta" (1996); suas mitologias pesquisadas entre os velhos e reunidas em livros como "Shenipabu Miyui" (1996) e "Noke Shoviti" (1998); totalizando hoje 57 publicações de uma nova literatura indígena em sua fase atual de aquisição e uso da escrita com a concomitante valorização dos mecanismos tradicionais de oralidade.
Por este elenco de realizações, o Projeto de Autoria tem sido reconhecido como um dos principais modelos pedagógicos possíveis para a Educação Escolar não só no Brasil como em outros países da América Latina, promovendo importante papel na discussão das políticas públicas a serem traçadas para as populações indígenas. Como resultado de sua trajetória histórica, a CPI/AC conquistou a aprovação e regulamentação dos currículos das escolas e dos cursos de magistério pelo Conselho Estadual de Educação do Acre em 1993 e
1997 respectivamente, tendo promovido, desde seus primórdios, importantes e pioneiras parcerias entre órgãos federais e estaduais como a Funai, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação, algumas universidades brasileiras e or-ganizações-não governamentais de caráter civil.
Hoje existem no Acre mais de 110 escolas indígenas regularizadas, a maioria delas desenvolvendo seus currículos diferenciados sob a responsabilidade dos professores índios em processo de formação no magistério, lecionando para cerca de 2.500 alunos. Apoia-se, assim, a permanência das populações indígenas em suas terras e sua preparação para o uso e a conservação destes territórios, em ações integradas de educação escolar, meio ambiente e saúde.
Os autores e usuários do livro - Foi na década de 70, que os índios do Acre e Sudoeste do Amazonas passaram a ser reconhecidos como grupos étnicos diferenciados, com o apoio de ações de indi-genistas de entidades civis e religiosas e com a instalação da Funai no Estado. Até então, o governo e vários segmentos da sociedade, desconheciam a existência de índios naquela região, sendo estes identificados como caboclos e integrados em sua maioria como mão de obra nas frentes extrativistas (borracha e castanha)
que chegaram à região nos finais do século passado.
Hoje, existem 27 terras indígenas, com diferentes situações de regular ização fundiária, totalizando cerca de 13% da extensão total do estado. Nelas vivem aproximadamente 10 mil índios das etnias Apu-rinã, Ashaninka, Jaminawa, Kaxinawa, Katukina, Manchineri, Yawanawa, Kulina, Shawanawa, Shanenawa, Poyanawa, Jamamadi, Nukini, Kaxarari, além de vários outros grupos ainda isolados. Esses grupos falam línguas pertencentes a três famílias lingüísticas: Aruak, Pano e Arawá.
A exploração e a ocupação, por brasileiros e por peruanos, das extensas áreas de florestas banhadas pelas bacias formadoras dos altos rios Purús e Juruá no Acre, desenrolou-se a partir das duas últimas décadas do século XIX. A partir deste período, ocorreu a penetração de duas frentes de expansão extrativistas: uma, itineran-te e de curta duração, ganhou forma através das atividades dos caucheiros peruanos, que visavam a exploração do caucho e de outros produtos florestais (peles de animais e madeira-de-lei); outra, maciça e duradoura, constituída por brasileiros que passaram a trabalhar nos seringais abertos nos altos rios incidentes, na faixa territorial que viria a constituir posteriormente o Território Federal do Acre.
Os integrantes dessas duas frentes extrativistas praticamente cercaram as popu
entes dos altos rios. Este período inicial de conquista dos seringais foi marcado por sangrentos enfrentamentos entre os membros dessas populações nativas tanto com os nordestinos quanto com os caucheiros peruanos. A estes enfrentamentos e suas trágicas conseqüências deu-se o nome de correrias. Os caucheiros freqüentemente se aproveitaram de tradicionais conflitos inter-tribais, aliando-se a uma das partes, fornecendo armamento, munição e outros produtos industrializados para que se realizassem as correrias e fossem escravizados os membros das populações derrotadas.
A inserção das populações indígenas nos seringais administrados por patrões se-ringalistas regionais se estende até meados da década de 70 e é vista por seus membros como o tempo do cativeiro. Os integrantes dessas populações passaram a ser indistintamente denominados de caboclos e a sofrer forte discriminação no interior dos seringais. Os seringueiros cariús se viram
lações nativas, pe r tencen tes aos t roncos l i n g ü í s t i c o s Pano e Aruak, que t rad i c io na lmente habitavam as terras firmes e as margens dos igarapés, aflu-
atrelados aos barracões dos patrões, sendo obrigados a pagar renda pela utilização das estradas de seringa, e roubados nos preços da borracha e das demais mercadorias. Eram proibidos de praticar festas e rituais de suas tradições culturais, assim como de atualizar importantes aspectos de suas formas próprias de organização social e política.
Em 1975, a Divisão de Estudos e Pesquisas da Funai realizou os primeiros levantamentos fundiários, demográficos, sócio-econômicos e culturais das populações indígenas que habitavam os rios Envira, Murú, Humaitá, Tarauacá e Jordão. Como desdobramento desse levantamento e, principalmente, do acirramento dos conflitos pela posse da terra no Acre, a Funai constituiu equipes de trabalho para realizar, no ano de 1977, as primeiras identificações de terras indígenas em diferentes rios e micro-regiões do Estado. Até às demarcações físicas das áreas indígenas do Acre, os diversos grupos étnicos locais receberam pequenos montantes de recursos para o financiamento das safras extratívista e agrícola, através de distintos projetos de organização de cooperativas, intermediados pela CPI-AC junto a entidades governamentais e agências humanitárias estrangeiras.
Nesses primeiros anos, a estruturação das cooperativas serviu de base para a conquista e a ocupação produtiva dos se
ringais incidentes nas áreas indígenas, assim como para a reorganização política, econômica e social dos grupos familiares extensos que integravam as populações indígenas. A partir de 1982-83, as lideranças começaram a participar das assembléias indígenas e começaram a exigir a agilização da demarcação de suas terras, o financiamento de suas safras extrativistas e agrícolas e a capac i tação de membros dos próprios grupos para a execução de programas educacionais e sanitários a serem desenvolvidos em suas áreas.
Nasce assim o Projeto "Uma Experiência de Autoria", como forma de atender a solicitação das lideranças indígenas na sua luta pela libertação dos patrões e de outros agentes formais do violento contato até então promovido nesta região. É o início dos novos Tempos dos Direitos, onde a escola passa a ocupar um lugar estratégico fundamental.
Txopai e Itôhã
Kanátyo Pataxó Programa de Implantação das Escolas
Indígenas de Minas Gerais MEC/UNESCO/SEE-MG
Belo Horizonte, 1997, 24 págs.
O livro - O livro "Txopai e Itôhã" reúne uma história contada por Apinhaera Pataxó e escrita e desenhada por Kanátyo Pataxó. É a história do começo dos tempos, do primeiro índio que surgiu na terra, Txopai, e do surgimento da nação Pataxó. O livro foi editado pelo Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais e pu-blicado pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1997. Destina-se a um público infantil, Pataxó ou não.
Os autores e usuários do livro - Os Pataxó têm uma longa história de contato com diferentes segmentos da sociedade brasileira. Por força do contato abandonaram sua língua original, da qual conservam algumas palavras, e expressam-se apenas em português. Pertencem a família lingüística Maxakali, tronco Macro-Jê.
São originários do sul da Bahia, onde atualmente estão nove dentre os dez territórios Pataxó. Expulsos de sua aldeia original, Barra Velha, por causa da criação do Parque Florestal do Monte Pascoal pelo IBDF, alguns Pataxó vieram para Minas Gerais na década de 80. Residem atualmente, junto a alguns Pankararu e Krenak, no Posto Indígena Guarani, no município de Carmésia.
O artesanato é a principal atividade dos Pataxó. Vivem também da agricultura
de subsistência e da criação de animais. Os Pata-xó estão vivendo um interessante e vigoroso processo de rec o n s t r u ç ã o de sua identi
dade étnica. Como parte deste processo deve ser entendido o uso de seus nomes indígenas, a realização do ritual do Auê, a criação de cantos rituais na língua Pataxó e a reconstrução de seu acervo mitológico.
Participam, juntamente com outros povos indígenas localizados no Estado de Minas Gerais, do Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, descrito a partir da página 38.
O tempo passa e a história fica
índios Xacriabá Programa de Implantação das Escolas
Indígenas de Minas Gerais MEC/UNESCO/SEE-MG
Belo Horizonte, 1997, 95 págs.
O livro - O livro "O tempo passa e a história fica" reúne textos e ilustrações realizadas pelos professores Xacriabá que participam do Curso de Formação do Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais. Durante dois anos, os professores realizaram pesquisas sobre as tradições do povo Xacriabá em suas aldeias. Histórias e casos de seus pais, avós e tios foram ouvidos, gravados e transcritos. Este trabalho resultou em tipos diferentes de textos: narrativas em versos e em prosa de fatos importantes na vida da comunidade, e coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao universo ficcional do sertão mineiro.
O livro foi editado pelo Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais e publicado pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1997.
Os autores e usuários do livro - Os Xacriabá contam hoje com uma população de 6.000 pessoas. Pertencem ao tronco Macro-Jê, família Akwén, embora hoje falem apenas o português. Tinham como território tradicional uma grande extensão de terras nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás. Foram a ldeados na Missão de Monsenhor São João no início do século XVIII juntamente com diversos outros grupos, prevalecendo a identidade Xacriabá.
drado como tentativa de genocídio. Apenas após estes assassinatos a área foi homologada e os invasores retirados.
Hoje vivem na Terra Indígena Xacria-bá, demarcada em 1979 e homologada em 1 987, com 46.415 ha, nos municípios de Itacarambi e de São João das Missões, ao norte de Minas Gerais, a 800 km de Belo Horizonte. Distribuem-se em cerca de 30 aldeias, afastadas entre si e dirigidas por um cacique geral. Cada aldeia tem seu representante, eleito pela comunidade e indicado pelo cacique geral. As mulheres cuidam dos trabalhos domésticos e ajudam os homens a trabalharem na terra e a cuidarem dos animais. Aos homens cabe, além dos trabalhos de subsistência, a condução da vida política do grupo. Realizam tradicionalmente o Toré
e o consumo de uma bebida preparada com a casca da raiz de uma árvore conhecida como Jurema.
Vivem da agricultura de subsistência e da criação de gado. Castigados pelas inconstâncias do clima, os Xacriabá, como todos os habitantes da região, índios ou não, sofrem as conseqüências da seca constante.
O projeto - O Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais teve início em 1993, com a realização de dois encontros de educação indígena. Seu objetivo é a criação de escolas indígenas no Estado de Minas Gerais e a formação de 66 professores indígenas para atuar nas escolas Krenak, Pataxó, Xacriabá e Maxaka-li. Esses professores atendem hoje 1364 crianças Xacriabá, 321 Maxakali, 61 Pataxó e 35 Krenak em 11 escolas indígenas nucle-adas. Participam do programa, além da Secretaria de Educação de Minas Gerais, a Universidade Federal de Minas Gerais, A FUNAI e o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
A coordenação do programa é composta por um Conselho de Representantes formado por dois membros de cada uma das quatro etnias, três representantes da Secretaria de Educação e de um representante da FUNAI, IEF e UFMG. Além de visar a construção de uma proposta de educação escolar indígena específica e diferenciada para c a d a um dos quatro grupos envo lv idos, o p r o g r a m a tem
Em 1728, receberam do governo uma doação de terra, da qual atualmente resta apenas um terço e pela qual tiveram que lutar muito para conservar a sua posse.
Em 1987, na aldeia Sa-pé, foram mortos três Xacria-bá, entre eles olíder Rosalino Gomes de Oliveira. O massacre, cometido por grileiros, foi enqua-
como objetivo habilitar os professores indígenas, através de um curso de magistério, viabilizar o ingresso dos professores indígenas no quadro de professores do Estado de Minas Gerais e publicar material didático-pedagógico para uso nas escolas indígenas.
O Curso de Formação é realizado no Parque Estadual do Rio Doce e nas próprias áreas indígenas. Os módulos desenvolvidos no Parque são semestrais, com 192 horas-aula cada e abrangem áreas de saber relacionadas ao português, matemática, ciências naturais, geografia, história, educação física e educação artística. Os módulos desenvolvidos nas áreas indígenas tratam de cultura, língua e uso do território indígena, específicos para cada povo. Orientados por assessores, os professores desenvolvem atividades de pesquisa, leitura e escrita nas aldeias e são acompanhados por supervisores.
O Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais tem também como meta incentivar e propiciar a produção escrita dos índios para uso nas escolas indígenas. Até este momento foram editados, em parceria com o Ministério da Educação e do Desporto, "O povo Pataxó e sua história" (1997), "Coisa tudo na língua Krenak" (1997), "Plantas Medicinais: fonte de esperança e mais saúde" (1997) e "O livro que conta histórias de antigamente" (1998). Além dos livros, quatro
vídeos-documentários estão sendo elaborados sobre os grupos indígenas de Minas Gerais para subsidiar o ensino de primeiro e segundo graus desenvolvidos nas escolas mineiras.
Madikauku - os dez dedos das mãos:
Matemática e Povos Indígenas no Brasil
Manana Kawall Leal Ferreira MEC/SEF
Brasília, 1998, 177págs.
O livro - O livro "Madikauku - os dez dedos das mãos: matemática e povos indígenas no Brasil" é uma publicação do Ministério da Educação e do Desporto, concebida especialmente para acompanhar a coleção de livros didáticos do Referêncial Nacional Curricular para as Escolas Indígenas. De autoria de Mariana Kawall Leal Ferreira, do Mari-USP, o livro conta com introdução de Ubiratan D'Ambrósio.
O livro procura contribuir para o estudo da matemática nas escolas indígenas do país. O estudo da matemática, por parte dos povos indígenas, é visto como algo imprescindível nos dias de hoje, quando o contato intercultural entre os diferentes povos, e entre estes povos e a sociedade envolvente, tornou-se inevitável. Trata-se de uma proposta pedagógica, cuja finalidade é levar para a sala de aula a pluralidade de idéias matemáticas, expressas em atividades do cotidiano. O livro traz sugestões didáticas para os professores desenvolverem trabalhos de pesquisa e exercícios em educação matemática, mostrando como transformar resultados matemáticos em conteúdos e material de ensino.
O livro, fartamente ilustrado, está dividido em duas partes. A primeira parte, "A matemática é uma criação humana", aborda diferentes invenções que, ao longo da história, as sociedades lançaram
mão para classificar e ordenar o mundo, dando-lhe sentido. Os povos desenvolveram modos próprios para se orientar no espaço, contar, calcular, reconhecer e medir as formas do universo. Disto resultaram formas culturalmente distintas de manejar quantidades, números, medidas, formas e relações geométricas. Composta por quatro capítulos, esta parte enfoca concepções matemáticas de quatro povos indígenas: Juruna, Palikur, Xavante e Kayabi.
Na segunda parte, "Números, contas e mapas", trabalha-se com idéias matemáticas do sistema numérico decimal, das quatro operações fundamentais e das idéias de legenda, escala, perímetro e área. Traz informações sobre os algarismos indo-arábicos, a escrita e o valor posicionai dos números. Oferece sugestões para lidar com estas idéias matemáticas, a partir de situações do dia-a-dia, como o cotidiano na farmácia e a necessidade de se entender o traçado dos mapas.
Assim estruturado, o livro mostra que existem muitas matemáticas, isto é, que cada sociedade tem uma maneira específica e própria de entender o mundo que a cerca, articulando formas também específicas e próprias de contar e manejar quantidades. Pretende-se que o livro, cuja elaboração foi encomenda pelo Ministério da Educação e do Desporto, seja um subsídio para que professores indígenas de
várias regiões do país possam discutir a importância do estudo da matemática e de sua relação com outras áreas do currículo escolar.
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