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Louis Claude de Saint-Martin

Homem: Sua verdadeira Natureza e Ministrio

Sobre o verbo

Se no houvesse nenhum poder de harmonia e de ordem, poder este que se engendrou a partir de toda eternidade, nunca veramos a ordem surgir e vencer a corrupo

que ocorre em tudo o que constitui o crculo universal, como vemos, a cada momento, diante de nossos olhos. Sim, proclamemos, em alta voz, que h um Verbo Eterno,

depositrio da Luz Eterna, da vida e da medida que equilibram, por causa do homem, a desordem, a angstia e a infeo em que ele se afunda aqui neste plano. Se o

homem no se mantm constantemente em elevao onde este suporte habita, ele cai novamente no abismo do mal e do sofrimento, no extremo oposto. No h meio termo

para ele: se no usa a fora de Hrcules, permanece esmagado sob o peso de Atlas.

Sim, toda a Luz Divina necessria para dissipar as trevas intensas que circundam o homem. Ele precisa de toda virtude divina para equilibrar a regio do crime

a qual est amarrado; em resumo, se o homem no consegue manter a santidade, permanece afundado na abominao.

em vo que o homem tenta obter este triunfo atravs de meias medidas e de frgeis especulaes da sua mente e de sua razo. Estes supostos esforos s o enganam,

pois so ilusrios.

As distraes fteis e artificiais as quais o homem prende sua existncia diariamente o engana ainda mais; o caminho vivo o nico caminho proveitoso; este caminho

vivo s pode ser a prpria mo do Altssimo pois, somente Ele pode manter e governar todas as coisas; Ele criou uma compensao para todas as deficincias.

Quando foi dito que o Dirigente Supremo mantinha todas as coisas pelo poder de seu Verbo, isto no era uma expresso mstica planejada para deixar nossa mente em

suspense, era positiva e fisicamente verdade, em qualquer ordem que possamos imaginar.

Se o Verbo no sustentasse o Universo em sua existncia, dirigindo-o em todos seus movimentos, seu progresso teria um fim imediato e ele retornaria no manifestao:

verdade que, se o Verbo no sustentasse as plantas e os animais, eles reintegrariam imediatamente seus prprios germes, que seriam absorvidos pelo esprito temporal

do universo.

verdade que, se o Verbo no sustentasse sua ao e execuo, todos os fenmenos do Universo cessariam de se manifestar aos nossos olhos.

Tambm verdade, na ordem espiritual, que, se o Verbo no sustentasse o pensamento e a alma do homem, assim como sustenta, diariamente, todas as coisas no Universo,

nossas mentes recuariam, de imediato nas trevas e nossas almas no abismo, sobre o qual somos capazes de nos sobrepor, apesar de nossos crimes, unicamente atravs

do inestimvel e mais misericordioso poder do Verbo: assim, a menos que sejamos voluntariamente insanos e coincidentemente nossos piores inimigos, no cessaramos

nem pr um momento a busca pelo Princpio de todas as coisas e pela inclinao ao Verbo; no agir assim eqivale a negar nossa existncia e renunciar a tudo o que

til nas regies onde o auxlio advm do Ministrio Espiritual do Homem.

Os metafsicos e especuladores da Divindade.

Religio Poltica

Ai de Vs, metafsicos insensveis, que fizeram do Ser Divino e de tudo o que dele emana

um mero tema para suas dicertaes e raciocnio! Ai, de vs especuladores que no deram fundamento religio, mas poltica. O fundamento essencial da religio

o Verbo, sem o qual nada pode ser sustentado!

Vs, sem dvida, nada vem na religio seno suas formas obscuras, que se tornaram ainda mais tenebrosas pelos abusos que as desfiguraram; como eu digo, vs olhais

para a religio e suas correntes misteriosas, apenas como um meio de relacionar o que elementar e pensais que ela no serve para mais nada.

Por isto posso te desculpar, to espessas so as trevas que cobrem a terra! Mas, no te perdo quando fazes do Verbo uma reverncia aos seus propsitos polticos.

Deus, o Verbo, e as reverncias que lhe so devidas, no so resultados do clculo e da reflexo; ainda pouco relacionar esta reverncia apenas com um dever de

acreditar neste Deus Soberano e seu Verbo Eterno, que possui o direito venerao de suas criaturas. Esta crena mais que uma conseqncia filosfica; mais

que um direito e uma obrigao; uma necessidade constituinte radical de nosso ser; e sua presente situao uma prova disto; a destituio universal em que vive

suficiente para que sintas esta necessidade a cada instante de sua vida e a partir do momento em que deixas de sustent-la, cais novamente no abismo.

Analogia entre faltas e punies:

Como descobrir a nossa ofensa

Vamos nos dirigir agora brilhante luz universal com relao as faltas e punies em geral e aos princpios aos quais estas faltas tem ofendido.

Na estrita justia, assim como na estrita verdade, deve haver uma perfeita analogia entre punies e faltas. Examinando cuidadosamente a infeliz condio do homem

neste plano, veremos claramente a natureza de seu erro e crime pois, a punio e o crime so moldados um pelo outro.

Nesta mesma estrita justia, deve haver tambm uma repulsiva conexo, igualmente marcante, entre a falta e o princpio que ofendeu, j que a falta s pode ser, em

todos os sentidos, o universo e o contrrio do princpio; vamos ser bem entendidos quando dizemos que a falta pode consistir apenas numa direo oposta quela do

princpio. consequentemente, ao retroceder na linha do crime, no deixaremos de chegar ao princpio; da mesma forma, ao examinar a natureza da penalidade no deixaremos

de reconhecer a natureza da ofensa, da qual so os resultados

Devemos comear com a punio, j que serve para nos ensinar qual foi a ofensa. O passo seguinte deve ser o de voltar ao longo da linha desta ofensa, a fim de chegar

ao princpio. Assim, nosso primeiro dever acabar com as reclamaes e passar pr todos os nveis de nossa punio com resignao, se que realmente queremos chegar

ao verdadeiro conhecimento de nossa desordem.

Nosso segundo dever consiste numa atividade viva e ardente sem olhar para a mo direita ou esquerda; s isso pode dissipar nossas trevas e nos trazer de volta

vida da qual a ofensa nos separou.

Nosso confinamento em um mundo mudo mostra

que nossa ofensa foi contra o Verbo

Quando examinamos nossa punio, notamos que seu mais proeminente carter de que somos mantidos calados e amarrados a um universo que, embora sustentado pelo Verbo,

est sem fala; isto representa para ns uma dupla punio que nos faz sentir, por um lado, a vergonhosa desproporo que h entre ns e as criaturas mudas nossa

volta; e de outro lado quo desgastante este universo deve ser para o prprio Verbo, j que deveria ser manifestado em todos os lugares e corresponder livremente

com tudo o que existe.

Ora, a primeira destas punies demonstrada no s pelo atual estado das coisas, mas tambm pela conduta do homem com relao ao seu semelhante.

Apesar de a conversao dos homens estar muito longe do verdadeiro Verbo, no obstante, quando esto juntos, se no estimularem a atmosfera com seus discursos (uma

frgil sombra do Verbo), se no animam um pouco a sepultura em que se encontram, no conhecero nada alm do frio tdio da morte.

A segunda punio tambm nos mostra uma fonte viva, que busca incessantemente reviver todas as coisas por meio da palavra individual; pois, sem esta fonte, o homem

no desfrutaria desta palavra individual, da qual faz uso dirio de forma to pueril e da qual pode tirar pouco proveito enquanto no estiver regenerado.

Assim, podemos dizer, que estamos devidamente esclarecidos sobre as punies que chegam at ns. Contudo, observando a necessria analogia que subsiste entre punio

e ofensa, podemos concluir que, se somos punidos com a privao do verdadeiro Verbo, com certeza ao Verbo que temos ofendido.

Pela segunda lei, ou, como conseqncia da analogia entre a ofensa e o princpio, o resultado que, se, em nossa palavra deveramos agir numa direo inversa quela

que tomamos por ocasio da sua corrupo, onde caminhamos todos os dias, chegamos mais uma vez ao grande, fixo e luminoso Verbo, com o qual sentimos que devemos

habitar na alegria ao invs dos sofrimentos que nos atormentam.

O Verbo ou a verdadeira palavra, requer uma prtica

assim como outras habilidades; O silncio

Como podem os homens manterem a satisfao ativa deste instrumento universal, este Verbo, que embora tenha to grande importncia e seja to desejado, , ainda,

a nica habilidade ou, pr assim dizer, a nica prtica que se pode exercer sem a preparao de um longo aprendizado, como ocorre ao cultivarem outras habilidades?

Pois, repito, qual homem que fala em todo lugar, o dia todo, no deve estar enganado com relao ao Verbo (palavra, verdadeira fala)? Com certeza ele ftil e ignorante

o bastante para no perceber isto.

De fato, o Verbo s conhecido no silncio de todas as coisas deste mundo; s assim pode ser ouvido; quando falamos, seja com os outros ou com ns mesmos, sobre

qualquer coisa que pertena a este mundo, certo que agimos contra o verdadeiro Verbo e no a seu favor; pois, s nos degradamos e nos naturalizamos com o mundo

que, como j dissemos, sendo mudo , ao mesmo tempo o modo e o instrumento de nossa punio.

No vamos esquecer de um outro fato, igualmente verdadeiro, e muito mais confortante: o sentimento de que se o pecado nos priva de todas as coisas e nos deixa num

estado de absoluta destituio, necessrio para nossa cura, que tudo nos seja dado novamente pelo Infinito Amor Universal; de outra forma nossa cura nunca ser

absoluta.

Ora, este auxlio universal, em que o Amor novamente se presta ao mundo, comprimido nas maravilhas do Verbo; a perda dessas riquezas que nos coloca em privao.

Mas agora, podemos conhecer esta palavra (Verbo) do Esprito, apenas de forma lenta, assim como vemos as crianas aprenderem a linguagem humana. Devemos tambm,

aprender de forma natural, de forma insensvel, como as crianas. Assim diz o preceito do Evangelho: "A menos que sejais como as criancinhas, no entrars no reino

dos cus".

O Verbo mostra a aliana de Deus

com o Homem e a Natureza

Vamos olhar com admirao, dentro desse esprito, tudo o que o Verbo trouxe ao nosso conhecimento; segue-se um extrato daquilo que devemos apreender:

Foi atravs do Verbo que Deus fez Seu pacto divino da aliana universal, com tudo o que existe na imensido.

Foi atravs do Verbo que Deus, em Seu processo restaurador, formou sua aliana espiritual temporal geral, nas diferentes pocas de sua obra graciosa, manifestada

na origem e criao da natureza, na promessa feita ao pecador Ado, em seus diferentes lideres eleitos que proclamaram suas leis e mandamentos sobre a terra, tanto

antes da idade mdia e a partir dela e naqueles que ir enviar at o final dos tempos e no fim de tudo.

tambm atravs do Verbo, que Deus faz uma aliana espiritual especial com o homem individual, plantando nele os germes dos diferentes dons e virtudes que se atraem

uns aos outros e se agregam atravs desta atrao at adquirirem, pr sua fora e atividade harmnica, tamanha afinidade com a Unidade, que esta Unidade vem e se

junta a elas concentrando-as com sua aprovao.

Pelo Verbo, Deus rege o curso de sua aliana espiritual temporal geral: quando esta aliana adquirir fora suficiente, pela atrao de seus poderosos elementos divinos,

o Verbo permite que exploda e Ele prprio passe na torrente desta exploso, a fim de que suas substncias salutares possam ser melhor infiltradas nas regies que

as esperam; esta uma das maravilhas dos nmeros ativos que, embora no sejam nada em si, como j foi dito anteriormente, representa fielmente o curso oculto do

Verbo, e suas inestimveis propriedades. pelo Verbo, tambm, que Deus faz uma aliana contnua e particular com a vegetao e a natureza terrestre, onde cada produo

sempre precedida pelas gradaes da atividade, germinao e crescimento, atraindo umas as outras reciprocamente, at culminar na exploso, seja pela florescncia

ou pelo nascimento, quando o boto, ou o centro da vida em cada uma, tenha dissipado os obstculos que as circundam, sendo capaz de tomar posse de seus direitos.

A necessidade de uma linguagem espiritual

Assim como estes nveis de ao esto disseminados pela Natureza, os germes da cincia esto disseminados pr todos os homens: s precisamos de uma linguagem anloga

ou palavras para comunicar uma com a outra. Se cultivssemos estes germes cuidadosamente, produziriam uma linguagem capaz de transmitir seus frutos a ns; mas somos

levados pela impacincia; ao invs de esperar pela frutificao desta linguagem, temos pressa em compor diferentes linguagens para ns mesmos, de acordo com as cincias

que praticamos.

Ao mesmo tempo, como estas linguagens so estreis, diferentes daquela cujo lugar usurparam, no trazem nenhum proveito a ns; elas no tocam os germes dos quais

o fruto pode brotar.

Os resultados cientficos dos homens terminam, na maior parte, em nossas linguagens faccionais compostas; as cincias humanas geralmente residem na forma externa,

no na virtude das palavras; as linguagens cientficas no tendo vida em si mesmas, no podem vivificar umas as outras e como no podem vivificar, do incio a disputa

e a oposio e acabam destruindo umas as outras.

Desta forma, as cincias propagam a morte que, desde a queda, tem espalhado seu imprio pr todos os lados; ao invs disto, deveriam dar continuidade a vida, ou

ao Verbo, que desde a grande transformao, no pode dar um passo sem ter que lutar pr isso. De fato, toda gerao, toda vegetao, todo ato restaurador ou operao

e at mesmo todo pensamento em direo a regio da luz, formam muitas ressurreies e reais conquistas sobre a morte. Aquele que for capaz de penetrar to longe

quanto possvel de conceber e sentir a contnua ressurreio do Grande Verbo, ir dar graas, e ficarei surpreso se no se esternecer e perder a fala de tanta admirao.

Portanto, qual no ser a alegria dos poderes divino, espiritual e celeste, quando conseguirem gerar, no mundo da Verdade e da Luz, um homem semelhante a eles prprios,

seu Filho bem-amado!

O Verbo na angstia; todas as coisas nascem

na angstia, at mesmo a prpria vida

O verdadeiro Verbo esta universalmente na angstia; no podemos realizar ou receber coisa alguma seno atravs da angstia; tudo o que existe de forma visvel

uma perptua demonstrao fsica do Verbo na angstia; portanto, no se deve evitar a angstia interna; portanto, s as palavras da angstia podem beneficiar; elas

semeiam a si prprias e geram, porque so a expresso da vida e do amor.

Oh, homem! esta lei severa evidente no pranto de sua me quando te d luz e nas tuas prprias lgrimas quando a recebe. Imagine, ento, o quanto no custou,

Fonte de todo repouso, se reproduzir em tua forma espiritual corrupta e se tornar semelhante a ti. Compara tua vida temporal, livre e ativa, com aquela que tinhas

no ventre de tua me e v se as alegrias de tua existncia no te fazem esquecer suas primeiras lgrimas; imagina, ento, o que podes esperar das menores impresses

que a angstia real pode fazer nascer em ti.

Prepara, portanto, teus olhos para ver e tua compreenso para admirar, aquilo que vem diariamente da angstia particular do Reparador ou do Verbo e que ir, daqui

para frente, proceder de sua angstia geral; pois, o resultado de todas estas angstias so to certas quanto imensurveis.

Acontece que, como nenhuma palavra viva e salutar pode nascer em ns, seno na angstia; com certeza os homens a quem ouvimos diariamente no pronunciam nenhuma

palavra e mesmo assim nos convencem quando fingem proclamar a verdade; eles falam sem o poder e a interveno da angstia.

Alm do mais, as palavras de angstia so sempre novas, j que nesse ponto reside o princpio da linguagem. Ora, as palavras daqueles que ouvimos todos os dias no

so novas e no dizem nada alm de reminiscncias e repeties que j foram ditas vrias vezes.

possvel perceber qual o sublime objetivo desta angstia do Verbo? Quando o homem escuta atentamente, a Verdade parece lhe dizer: Oh, homem, no posso dar vazo

as minhas lgrimas em lugar algum seno em teu seio".

Assim, ento, o corao do Homem escolhido para ser o depositrio da angstia de Deus, o amigo de sua escolha, o confidente de todos os seus segredos e desejos,

visto que nenhum deles pode ter expanso ou ser emitido exceto atravs da angstia. Depois disto, to doce e amigvel proclamao feita ao Homem, ele percebe e

pr sua vez exclama: "Torrentes de dor inundem minhas veias e todo meu ser se elevar com amargor".

Da graas ento, pois neste momento a vida tem incio.

Como manter vivo o fogo da vida Espiritual

A seguir um caminho seguro para evitar que estes primeiros elementos de tua vida sejam extintos. Tem cuidado ao te afastar, mesmo pr um instante, do fogo central

fundamental, no qual repousas e nunca deves deixar de te exercitar na dor, a fim de que esta dor se estenda a todas as suas faculdades e faam sair seus frutos.

este fogo que deve te preparar incessantemente e mant-lo no medo; sem esta preparao contnua o Verbo vivo da angstia no ir te penetrar; irs te tornar um

objeto repulsivo e quando o Verbo vier te envolver ters que virar sua cabea pr causa de teu hlito infectado; pois, se o Homem Esprito ofendido to freqentemente

pelo hlito que sai da boca do homem, como Deus poderia suport-lo?

Permanece, ento, constantemente neste fogo central fundamental, como uma criana permanece no ventre de sua me, at ficar forte o bastante para suportar a Luz

do dia, ou, se que uma comparao menos digna pode ser feita, como um alimento que permanece no fogo at estar pronto.

Atrs de tudo isto h grandes verdades e princpios experimentais. O mais importante que deveramos saber e sentir qual a grande angstia de Deus. aquela que

se origina de sua contnua tentativa de se revelar atravs do corao do Homem, e dos tenebrosos obstculos que o corao do Homem ope a Ele.

Por esta razo, todo fogo abismal que aceso abaixo de ns atravs da vida, no o bastante para dissolver as espessas coagulaes que sufocam.

Se este fogo abismal no preparar o caminho, os Verbos da angstia divina nunca iro penetrar em ns; se o Verbo da angstia no nos penetrar, nunca compreenderemos

a angstia universal de todas as coisas e nunca poderemos ser aquele que ir confort-las. Sim, se no tivermos a substncia da vida em atividade dentro de ns,

como seremos capazes de julgar, ou mesmo de ser sensveis ao que est morto nossa volta?

Assim, no apenas o sabat da natureza ou aquele da alma humana que requerem nossos cuidados urgentemente, temos tambm de fazer com que o Verbo propriamente dito,

desfrute de seu sabat, j que no se pode negar, em nome do uso falso, ftil ou perverso que o homem faz do Verbo Divino, que o Verbo esteja em seu leito de sofrimento,

para no dizer em seu leito de morte; o homem no pode trazer-lhe alvio algum at que sinta cada angstia do Verbo nascer em seu interior.

A verdadeira Cruz

Vemos os homens darem o nome de "cruzes de expiao" aos desapontamentos da vida temporal, as aflies mundanas, as enfermidades humanas, etc.; este nome em seu

verdadeiro significado se aplica unicamente as dores espirituais dos homens devotados obra do senhor, chamados a trabalharem nesta obra, segundo suas habilidades

e dons.

Esta classe de homens geralmente presa a circunstncias bem opostas a obra divina a qual almejam, para a qual foram feitos e da qual so to pouco capazes de falar,

pois freqentemente permitem serem cobertos de escrnio e desdm para ento abrirem suas bocas sobre tal obra. para estes homens que o preceito Evanglico se aplica:

"Aquele que no me seguir, no digno de mim". Pois, se eles no tomarem a determinao de suportar a cruz que lhes mostrada e irem em frente, apesar da angstia

que lhes esperam correm o risco de perderem sua obra e serem tratados como maus servos.

O esprito do mundo mascarou os mais belos significados das Escrituras ao dar-lhes as aplicaes mais ordinrias e vulgares. No temo em dizer que, at mesmo muitos

grandes santos falharam em dar a esta grande passagem todo o significado que lhe pertence; a famosa frase de Santa Teresa "Deixe-me sofrer ou morrer" nos d apenas

metade do verdadeiro significado. A cruz de longe anterior ao mal e quando se faz sentir em ns, atuando no confinamento de nossos presentes obstculos espirituais,

para nos conduzir sua prpria ao livre e nos instruir, em sua prpria generosidade infinita, apesar de nossa obscuridade, o que a cruz anterior ao mal.

No, no! a cruz no um sofrimento; a Raiz Eterna da Luz Eterna. No menos verdade que se o eleito deve suportar, corajosamente os esforos dolorosos que esta

cruz realizam nele, a fim de chegar regio da liberdade, com muito mais razo devemos todos suportar as tribulaes deste mundo, tanto corporais como espirituais,

as quais damos o nome de cruzes; esta resignao ser a mais meritria, pois mesmo no estado de desordem e discordncia em que a queda nos lanou, no somos todos

impedidos de sentir, ao menos no mesmo nvel, a angstia da cruz superior.

No diria que os homens no podem tirar proveito de sua maneira inferior de ver os preceitos evanglicos com referncia cruz; gostaria apenas que os homens de

desejo soubessem que podem tirar muito mais vantagens disto de outra forma; pois, em seus desapontamentos e contrariedades, nas coisas divinas, que sua f ao

mesmo tempo testada e alimentada; aqui que comea, pela primeira vez a apreender o que o sofrimento do Verbo e daqui que tiram conforto e se sentem satisfeitos

ao invs de reclamarem; porque o Verbo no avana em suas dores, sem avanar tambm rumo grande poca de sua libertao.

Ao avanar, sua angstia e tribulao aumentam cada vez mais; os Salmos seriam bem diferentes do que so, se fossem escritos agora. Pois, o Verbo o desejo divino,

personificado e em ao no homem. Na medida em que ele penetra e se descobre na atmosfera humana se v obrigado a alimentar a amargura e o desespero. Mas qual no

ser sua satisfao quando encontrar uma alma cheia de f e desejo que realmente procura se regenerar de acordo com a nova lei do esprito e da verdade!

Considere, ento, oh homem de Deus, que nenhum sofrimento vale a pena seno aquele que tem o bem comum como objetivo. Pode o soldado que adoece por intemperana

ou por sua prpria negligncia, ser considerado como servidor do estado quando segue precisamente as prescries do mdico? No, ele serve unicamente a si prprio,

busca sua prpria recuperao; ele s ir servir novamente seu pas quando voltar luta.

Esta nossa situao aqui neste plano: estamos todos sob tratamento mdico, pr conseqncia da grande desordem ou de nossos prprios erros; quando observarmos

e seguirmos tudo o que prescrito para nossa sade espiritual, seremos teis somente a ns mesmos. errado chamar isto de servir a Deus, pois isto no servir

a Deus.

Quando formos regenerados e capazes de cumprir os diferentes ministrios de nosso Mestre, ento poderemos realmente servir a Deus; ento poderemos, pr meio de nossas

prprias penas, sentir e conhecer pr experincia prpria, as dores do Verbo: at ento, sentimos apenas as nossas. Vamos ento, fechar os portes do mal e da futilidade

em ns, a fim de que as regies da vida possam entrar.

A mo do Senhor sobre o homem

Quando a mo do Senhor est sobre o homem, a fim de puni-lo, este fica preso com relao as suas faculdades. Ele atormentado pela inquietao, pela necessidade

de ao e movimento, alm da intolerante tortura (Geena, inferno) que mantm todo o seu ser numa violenta contrao; o homem permanece inativo, tudo incerteza.

Quando a mo do Senhor est sobre o Homem a fim de acelerar a obra e o progresso do Verbo, o peso da mo de Deus tambm o atormenta, mas com a nsia do reino de

justia; a geena que ele experimenta o faz avanar diariamente na regio da vida, iluminado pela atividade espiritual.

O traioeiro prestgio da regio das aparncias o circunda com suas iluses; ele passa pr elas e no lhes d ateno. As trevas e as paixes terrestres o perseguem

em vo, ele passa pr elas e deixa tudo para trs.

Pode-se preparar a ele qualquer armadilha dos desejos desta vida, a mo do Senhor o atrai e sua nsia de justia mais forte que seus desejos. Pode-se martiriz-lo

ele ir aceitar, no ir sentir nada seno o peso da mo do Senhor que o atormenta com a nsia de justia.

Quando uma veia estoura pode algum dbil lao evitar seu declnio? Ela estoura e mergulha no oculto. Podero alguns pequenos obstculos impedir seu caminho? ela

os reduz a p, ou os arremessa ao fogo e mergulha no oculto.

Isto o que o homem deve se tornar quando for feliz o bastante para sentir o peso da mo do Senhor e se sentir atormentado pela nsia de justia.

Busca e encontrars a mo do Senhor sobre ti

Oh, Homem de Desejo! como conseguirs sentir o peso da mo do Senhor e ser atormentado pela nsia de justia? Fazendo um compromisso contigo mesmo, dizendo "nunca

vou parar de orar at sentir que Deus propriamente dito ore em mim".

"Se for fiel a este compromisso, no terei que esperar pela lentido de minha prpria orao para que Deus possa orar comigo, pois Ele ir orar comigo desde o incio

de minha orao".

"Ele logo ir at mesmo orar comigo quando eu no orar!" "No se fatigaro inutilmente, nem geraro filhos para a desgraa; porque constituiro a raa dos benditos

de Iahveh, juntamente com seus descendentes".

Acontecer ento que antes de me invocarem, j lhes terei respondido; enquanto ainda estiveres falando, j os terei atendido". (Is. LXV. 23, 24).

"Sim, toda minha vida ser a partir de ento uma orao ininterrupta; j que no ser mais eu quem busca Deus, com splicas isoladas, proveniente da fraqueza humana,

mas ser Deus a me buscar, na continuidade de sua ao infalvel".

"No devemos um dia nos tornar como tantas torrentes flamejantes, disparando sem cessar, de cada ponto de todas nossas substncias constituintes, luzes vivas e ardentes?"

Ento poders dizer: "minha alma encontrou o amigo de sua vida, eles se beijaram e no iro mais se separar. Ela no foi ao mercado ou aos subrbios da cidade, buscar

este amigo; ela no precisou perguntar-lhe sobre os vigias de Jerusalm;

"Este amigo veio pessoalmente encontr-la num acesso de seu amor; eles se beijaram e no iro mais se separar".

"Estas so as riquezas que ele me trouxe e que emanaram em meu corao, no acesso de seu amor".

"Eu era uma alma curvada com o peso de sua prpria misria; o desespero quase tomou conta de mim mas quando vi a abordagem do Consolador, ouvi estas doces palavras

sarem de sua boca: Por que estais deprimido? No disse o teu Deus para perdoar teu irmo sete vezes setenta? Se Deus te julga capaz de tanta clemncia para com

teu irmo, O crs incapaz da mesma clemncia com relao a ti?"

Portanto, suplica para que te perdoe, no somente sete vezes setenta, mas de acordo com o nmero eterno de sua infinidade; no descanses at sentires que Ele tenha

selado teu perdo e que Ele prprio tenha tomado a lei, o preceito e o mandamento que te deu.

Quando Ele assim tiver te perdoado, diga-lhe: "Senhor, a cidade no mais ser destruda; tu exigistes ao menos dez equidades para impedir o fogo que aproximava-se

de Sodoma e Gomorra e estas dez equidades no foram encontradas.

"Tu exigistes no mais que uma equidade para salvar Jerusalm, nos dias de Jeremias, e nem uma foi encontrada (vi 13)".

"Mas agora a cidade no ser destruda, se tu exigires esta nica equidade, pois ela encontrada; esta nica equidade entrou na cidade; foi ela prpria que fez

uma aliana comigo".

"Esta nica equidade ir salvar a cidade e todos os seus habitantes, porque esta nica equidade tua divina Unidade que ir se espalhar pr todos os habitantes

de Jerusalm".

"Dissestes ao profeta Jeremias: mesmo que Moiss e Samuel estivessem diante de mim, eu no teria piedade deste povo (XV 1)".

"Mas eles no eram sacerdotes da ordem de Melquisedek, eram apenas ministros da lei simblica e desta forma, no podiam abrir o porto sagrado da misericrdia eterna".

"Agora este porto vivo est aberto, este porto s tu mesmo; portanto, tu no podes mais ajudar a salvar o homem que os segue; tu s o profeta que ests diante

de ti mesmo, a quem deves implorar auxlio a este povo e tu tens sido levado a libertar minha alma quando ela derrama sua desgraa e misria diante de mim".

Contudo, o homem de Desejo ainda ir estremecer: Por que choras, Oh! minha alma? Por que choras? Qual o novo motivo de dor?

"Se estremeo, porque o homem se tornou o assassino do Verbo e da Verdade; porque as regies vitais no encontram nada nele seno a morte, e so obrigadas a

se retirarem; porque seus prprios infortnios, negligncias, dores e ainda suas prprias iluses impedem que sinta as dores do Verbo".

"O que posso fazer seno Chorar! J que as dores do Verbo esto sempre diante de meus olhos e toda minha substncia aflio!"

"Alm do homem, correntes de infeo correm dele como rios de gua lamacentas; desta forma, minha nica tarefa deve ser a de impedir que se aproximem do Verbo para

que no transmitam sua infeo!"

"Vou me dedicar inteiramente a esta tarefa; vou me devotar a isto com um ardor intermitente. a nica coisa recomendada como necessria; tudo o que no se refira

a este santo e indispensvel dever vou fazer como se no fizesse".

"E tu, oh! Esprito de Orao, sers o companheiro de meu trabalho, ou melhor, sers o mestre, o agente e o princpio; irs me ensinar a ser como tu, o mestre, o

agente e o princpio de minha obra, porque irs me ajudar a ser um orador como tu".

"Como no poderia me tornar um orador, j que o Verbo fora invocado sobre mim, afugentando todos os inimigos da Verdade, a fim de que todos os homens de Deus se

originem de mim e ali celebrem a alegria de ter encontrado uma morada de paz?"

"Oh! como iro regozijar-se quando encontrarem esta morada de paz! Iro realizar festivais de jbilo e cantar hinos sagrados de vida, levantaro suas vozes, para

que seus companheiros possam ouvi-los e se apressem para compartilhar desta felicidade".

O homem um administrador e no um legislador,

tanto na poltica como nas coisas divinas

H alguns anos, quando falava de poltica, disse que o homem no deve ser um legislador e sim um administrador no posto confiado a ele. Mostrei que, estritamente

falando, um homem legislador contrrio a razo; que no um bom exemplo enviar uma criatura a um lugar onde ela tenha que fazer leis para ela prpria seguir;

disse ainda, que como conseqncia deste princpio fundamental e inquestionvel, o poder administrativo tinha absorvido o legislativo, em todos os governos do mundo;

isto pode ser facilmente verificado com referncia aos fatos, especialmente na histria religiosa.

Agora, posso estender este princpio ao Homem considerado em seu posto divino, onde, longe de ter que estabelecer qualquer lei, no tem outra funo seno a de ser,

sem intermisso, o rgo e ministro de seu Mestre. pr conta da urgncia da obra do Mestre e da vigilncia e atividade universal que ela requer, que os homens

que alcanaram a ser nela empregados no tem tempo de falar sobre seus prprios direitos.

Por esta razo, o conhecimento espiritual deve ser o nico pagamento da ao constante; a luz brilhante comunicada atravs dos escolhidos, como Jacob Behme parece

pertencer a prxima era; que se segue a este mundo e de ser o preo nico da ao universal (influncia) que ir nos conclamar, na qualidade de administradores,

a fim de renovarmos a face do mundo atraindo os novos cus e a nova terra, onde devemos contemplar as maravilhas do Verbo natural, espiritual e divino.

No penses ento, oh!, Homem de Desejo, que tens algum dia, qualquer lei a promulgar, a no ser aquelas de teu Mestre.

Alegrias espirituais, como receb-las para a

extenso do Reino de Deus

Quando as alegrias descerem sobre ti durante os exerccios espirituais, no penses que te so enviadas apenas pr tua causa. No, elas no tem outro objetivo seno

a obra de teu Mestre, nutrir suas foras e sustentar sua coragem. Quando o prprio Verbo descer sobre ti no esqueas a importante intimao que acabas de ler e

diz:

pr minha causa que tu me visitas? Eu que nada tenho feito para que tu chegues perto de mim, mas, ao contrrio, tenho feito tudo para mant-lo afastado?

"No irei me entregar a esta alegria at sentir aquele desejo universal que anima e cria a ti eternamente".

"No irei me entregar a ela, at que perceba o objetivo particular que tu tens e o tipo de tarefa que queres que eu faa, na obra do progresso geral".

"Sem esta precauo no s a minha alegria seria v, como meu curso seria incerto, como aquele do nefito. Eu ainda posso, a qualquer momento, cair novamente na

obscura regio dos homens da torrente".

Assim ento, Oh, Homem de Desejo, quando o Verbo Divino descer sobre ti, pense apenas em permitir que ele penetre todo o seu ser e faa com que os grmens que l

esto depositados, frutifiquem, ao visit-los com o poder de sua prpria gerao eterna.

O Verbo Divino to poderoso, que uma mera lembrana dos auxlios que tu deves ter recebido dele, ir capacit-lo a afugentar o inimigo, assim como a mera sombra

dos Apstolos curava os doentes; pois este Verbo Divino no pode aparecer em lugar algum sem deixar sinais indelveis: s temos que observar estes sinais mais cuidadosamente

e segu-los com mais segurana; nada mais exigido dos homens alm de que faam todo esforo para serem constantes numa orao eficiente para a recuperao universal;

ou seja, constante no estado de exercitar o Ministrio Espiritual do Homem.

Quando o Verbo ordena ao homem que esteja pronto, isto significa que deve estar sempre preparado para responder ao impulso, quando quer que ele o convide para a

obra de recuperao; pois o Verbo a prpria medida correta; ele tende a restaurar os homens as suas prprias propores originais, a fim de que possa, mais tarde,

fazer com que as medidas divinas revivam, em todas as regies onde se perderam; esta a verdadeira extenso do reino de Deus; o reino de Deus existe primeiro para

ele e depois para ns.

Como os homens menosprezam o Verbo que tudo

governa: a conversao morta

Se tivermos a felicidade de conhecer, experimentalmente, uma parte do imenso poder do Verbo, a exclusiva universalidade de seu governo, a vivacidade de sua ao

e a suavidade de seu esprito isto nos afetar profundamente; no s pr ver o homem privado de seu suporte inefvel durante sua jornada diria, mas principalmente

de nem ao menos suspeitar de sua existncia eterna e imortal, silenciando a natureza, que est vazia (nant).

Este doloroso sentimento seguido pela surpresa pois, vendo que este Verbo o nico suporte de toda ordem, de tudo o que vive, de toda harmonia e vendo o homem

dispensar, todos os dias, seu suporte indispensvel, ou at mesmo se declarar seu inimigo, s podemos ficar atnitos de que os homens no sejam ainda piores do que

so e que devem, no mnimo, manter algum trao, mesmo que s em pensamento, ou alguma idia de justia e perfeio.

Como pode o homem avanar, no caminho da regularidade e da vida, com esta imensa massa de conversaes to inteis, vazias, falsas, terrestres e avarentas que dia

a dia preenchem todo o mundo? Desde a grande corrupo, os homens tem cado sob a autoridade de palavras mortas (conversas) que os governam tiranicamente e no permitem

que escapem, nem pr um momento, de seu controle.

Olhe em todas as classes, pegue todas as palavras que pronunciam desde que acordam at quando vo dormir outra vez; irs encontrar uma palavra relacionada ao progresso

na verdadeira retido ou em relao ao destino original do homem?

No vamos falar aqui do homem de trabalho que, enquanto cultiva a terra em silncio, faz correr o suor de sua fronte cumprindo a sentena promulgada famlia humana;

pelo menos, ele realiza, por sua resignao e por aquela espcie de palavra silenciosa, num plano inferior aquilo que nossa palavra virtual deve realizar no plano

espiritual; no vamos considerar nem mesmo aquelas palavras extorquidas de nossas carncias, misrias terrestres e sofrimentos temporais, mas nos referimos quela

torrente de palavras estpidas e pestilentas que sacrificamos diariamente preguia, vaidade, as ocupaes frvolas, as paixes, defesa de nossos falsos sistemas,

pretenses, fantasias, injustia, ao crime e abominao.

Desde que o Verbo vivo foi retirado do homem, ele tem sido envolvido por uma atmosfera de morte. Ele no mais ativo o suficiente para unir o seu Verbo com o fogo

vivo. Ao invs de agentar esta privao corajosamente e esperar pacientemente o aparecimento nas alturas, ele substitui a falta do Verbo por aquela enxurrada de

palavras destrutivas que emanam do delrio de seus pensamentos. O homem se contaminou neste caminho e ao mesmo tempo, contaminou seus semelhantes e ento com toda

docilidade e humildade permite que o Verbo infernal atue sobre si, aquele Verbo que procura unicamente vivificar a ele, j que vivifica, continuamente, todas as

criaturas as quais deu existncia.

A substncia das palavras dos homens se

levantaro em julgamento contra eles

O homem esquece que, quando a substncia de suas palavras se dispersa no ar, ela no destruda; portanto, no se evapora, formando uma massa que corrompe a atmosfera

espiritual, assim como nossas exalaes ftidas corrompem a atmosfera em nossas moradas; o homem esquece que cada palavra que sua lngua pronuncia ser um dia pronunciada

novamente diante dele e o ar que nossa boca se utiliza para formar nossas palavras ir restaur-las assim que as receber, da mesma forma que cada elemento ir restaurar

o que est semeado nele, de acordo com o seu modelo; o homem esquece que at mesmo nossa fala silenciosa, pronunciada tacitamente no segredo de nosso ser, ir da

mesma maneira reaparecer e ressonar em nossos ouvidos; pois o silncio tambm tem seu eco; o homem no pode produzir um s pensamento, uma palavra, um ato, que no

seja implantado no espelho eterno no qual todas as coisas esto gravadas, e do qual nada jamais apagado.

O santo pavor de um juramento se deriva, originalmente, de um profundo sentimento destes princpios pois, quando penetramos o plano de nosso ser, descobrimos que

podemos nos unir com a fonte inefvel da verdade, atravs de nosso Verbo; contudo, tambm podemos nos unir com o terrvel abismo de mentiras e trevas, pelo uso criminoso

de nosso Verbo.

H povos incultos, que, embora sem a nossa cincia, tem se perdido menos do que ns, pois consideram enormemente seus juramentos, enquanto que entre as naes civilizadas,

o uso de juramentos somente uma formalidade, conseqncias morais daquilo que parece ser de pouca importncia.

Contudo, deixando de lado estes falsos juramentos e perjrios: quando vemos os grandes males que resultam diariamente, do mal emprego de nossas palavras, isto no

suficiente para nos dar uma lio de sabedoria?

Oh, homem! se o cuidado de tua prpria sade espiritual no suficiente para te fazer dignar a prestar ateno nas palavras para teu prprio bem, presta ateno

pelo menos pelo bem de teus semelhantes; no fique satisfeito ao encher-lhes, como fazes todos os dias, de palavras vazias que no trazem benefcio algum, que os

levam a todo tipo de dvidas e iluses; faa com que suas palavras sejam ao mesmo tempo uma tocha que guia o seu irmo e uma ncora que firme e o segure durante

as tempestades.

Leis essenciais para a administrao da fala

Quais so, ento, as leis para a conduta ou administrao de nossa fala, para com nossos semelhantes?

, pensar de forma elevada sobre a inteligncia humana, fazendo com que a conversao seja desta ordem e que possamos apresentar nada alm do que seja melhor e possa

acrescentar riquezas a inteligncia;

, se convencer que a inteligncia do homem deve ser tratada como seres elevados, como ocorre no Oriente, que no podem ser abordados sem que uma oferenda lhes sejam

oferecida.

, tentar sempre acrescentar algo, luz e as virtudes daqueles que conversam conosco, a fim de que suas palavras possam mostrar sempre um benefcio queles que

as ouvem.

, conversar somente sobre o que certo e verdadeiro, sem alimentar os homens com meros recitais e narrativas frias, j que estes so compostos de tempo que possui

apenas passado e futuro, enquanto que as grandes verdades so sempre presente, como os axiomas; elas no pertencem ao tempo, mas permanente regio eterna.

, distribuir suas palavras sobriamente, com moderao; pois somente as ms causas necessitam muitas palavras para defend-las.

, nunca esquecer que a fala ou o Verbo, a luz da infinidade, que deve estar sempre crescendo.

, sempre examinar, antes de falar, se aquilo que irs dizer corresponde a estes importantes objetivos.

Se voc se manter apenas no nvel daqueles com quem conversa, a obra no ir avanar. Se manter abaixo, a obra retrocede. Se, observares todas estas leis, o avano

da obra ser sua principal meta; cada respirao de sua vida deve ser empregada neste trabalho.

O Verbo ir dirigir seu prprio ministrio

Eu sei que, nas sociedades no operativas, estas leis da fala no podem ser observadas, porque o Verbo no pode exercitar ali seu ministrio, de forma conveniente;

no para elas que eu me reporto. Isto para voc que conduz a ti prprio, para quem o Verbo dar um ministrio a realizar, onde quer que esteja pois, se tentar

fazer isto por si prprio, ir apenas acrescentar extravagncias profanao.

A fala o fruto de um contrato ou aliana;

e nada somos sem algum tipo de contrato

Toda fala nada mais pode ser seno o fruto de um pensamento, e todo pensamento fruto de uma aliana; porm, como as alianas que fazemos so to diferentes umas

das outras, no de se surpreender que nossa fala tenha, da mesma forma, tantos aspectos variados.

De fato, somente atravs de nossa aliana ou, se preferir, de nosso contato com Deus que podemos ter algum pensamento Divino.

O contato com o Esprito nos proporciona pensamentos espirituais; os pensamentos siderais ou astrais surgem de nosso contato com o Esprito astral, que chamado

de Esprito do Grande Mundo; os pensamentos materiais e terrestres surgem de nosso contato com as trevas terrestres; os pensamentos criminosos surgem do contato

com o Esprito de mentiras e de fraquezas. Temos o poder e a liberdade de fazer qualquer uma destas alianas, basta escolher.

O que deve nos manter constantemente ativos e atentos que, de cada natureza de nosso ser, o fogo que no pode ser extinto, somos a cada instante pressionados a

contatar uma ou outra destas alianas. E mais: no podemos ficar sem contratar uma, seja de um tipo, seja de outro. Em resumo, nunca ficamos sem engendrar algum

tipo de fruto, j que estamos sempre em contato com um destes centros, Divino, espiritual, sideral, terrestre ou infernal que nos rodeiam.

Os frutos Divinos comparados com os naturais

A tarefa do Homem, particularmente do Homem da Verdade, que aspira se tornar um ministro de Deus e um servo do Senhor, consiste em examinar cuidadosamente as palavras

que correspondem a estes frutos, pensamentos ou alianas; isto o que ocorreria ao homem se estivesse restaurado em suas Divinas propores, atravs do processo

de regenerao:

Nenhum desejo, seno em obedincia;

Nenhuma idia, que no seja uma comunicao sacra;

Nenhuma palavra, que no seja um decreto soberano;

Nenhum ato, que no seja uma extenso e um desenvolvimento da regra vivificante do Verbo.

Ao invs disto, nossos desejos so falsos, pois surgem apenas de ns mesmos.

Nossos pensamentos so vagos e corruptos, pois formamos constantemente alianas adulteras.

Nossa fala ou palavras no tem virtude ou eficcia, pois permitimos que fiquem embotadas, todos os dias, pelo rancor, substncias heterogneas que empregamos nas

palavras.

Nossos atos so estreis e insignificantes, pois no podem ser outra coisa seno o resultado de nossas palavras.

Nesta relao melanclica, nada serve para a obra. No h nada para a glria e a consolidao do Verbo, desde que no h nada para o real Ministrio Espiritual do

Homem.

O poder do inimigo durante a noite, na ausncia da fala.

Homens bravos temem as trevas

O poder de expulsar o inimigo, atravs da virtude de nossa fala, um de nossos direitos primitivos, no s permanece em suspenso, mas por ter cado em desuso h tanto

tempo, tem sido considerado algo imaginrio; aqui, independentemente da inatividade, que une as pessoas, mundialmente, compreendemos a razo pela qual amam as altas

horas, trocando o dia pela noite; eles esto longe de suspeitarem que esta inclinao tem uma profunda raiz.

Se o homem estivesse em sua verdadeira posio de combate, ele teria muito mais cuidado noite, para afugentar o inimigo, do que de dia: este era o objetivo original

das preces noturnas das aflies religiosas; este cuidado ainda praticado materialmente em nossos acampamentos militares, pois nas duas ordens, durante a noite

que os inimigos cometem seus grandes ataques como, de fato, ocorreu durante o sono do primeiro homem, que se tornou a presa de seu adversrio esquecendo o pacto

Divino.

O homem no precisaria despertar para esta lei espiritual de combate se estivesse em sua lei natural, pura; poderia dormir pacificamente durante a noite e tirar

de seu descanso uma renovao de foras para o seu trabalho. Este o caso do homem de trabalho pesado e do agricultor; eles so pouco incomodados pelo inimigo durante

seu sono.

Porm, o homem do mundo que se alimenta unicamente de estupidez e corrupo e no trabalha, no desfruta de tais noites tranqilas; enquanto ele seguir aquelas falsas

substncias das quais permite ser continuamente impregnado e sobre as quais se estende os direitos do inimigo, (direitos que so reforados muito mais durante o

dia) as pessoas mundanas que no possuem o Verbo (verdadeira fala) e fogem de si mesmas, ainda buscam uns aos outros to avidamente, durante a noite, porque assim,

inconscientemente, diminuem a fora de ataque do inimigo.

Alm do mais, sabe-se que alguns homens de coragem que continuamente enfrentam a morte e o perigo com firmeza, no entram numa igreja ou num cemitrio sozinhos

noite. Sem dvida, estes homens bravos no possuem todos os seus princpios racionais desenvolvidos; o desenvolvimento de sua razo, por si s, no o torna capaz

de triunfar nestes casos, se houver um trao real de timidez inspirado pelas trevas; alm disso, aquilo que os sbios chamam de desenvolvimento da razo, a este

respeito, consiste, no na superao de obstculos, mas no convencer a si mesmo de que isto no existe.

Para falar a verdade, devemos dizer que este temor tem fundamento e o que nos coloca acima dele nos voltarmos para o ponto de vista luminoso do Verbo ou do Esprito

que desenvolvido e nutrido com toda a luz que lhe pertence. aprender que a natureza foi dada ao homem para servir como um modelo ou figura da suprema verdade

que ele no pode mais ver; quando o homem se encontra privado deste modelo, pelas trevas e no recupera sua fala, ele est duplamente separado da verdade; no tendo

nem a cpia nem o original perto de si, ele est em completa privao e repleto de estupidez com todos os seus horrores. Mas esta soluo, embora correta, ainda

no a mais profunda. A que se segue mais profunda e no menos verdadeira.

Natureza, uma priso para o inimigo,

uma proteo para o homem

A natureza deveria servir de priso para o inimigo mais do que para o homem, pois para este ela tambm serve como proteo. Quando a natureza no est diante dos

olhos do homem, o pensamento do inimigo est secretamente despertado nele; talvez o inimigo possa abord-lo mais facilmente quando este obstculo est menos ativo,

j que o homem no consegue extrair desta preservao todo o suporte que poderia, caso a natureza lhe fosse visvel. Assim, neste caso, a presena de qualquer pessoa

tranquilizadora, porque a combinao de suas foras pode afastar o inimigo. este temor secreto do inimigo que persegue os homens nas trevas; tal temor s pode

ser completamente dissipado pelo senso de um poder espiritual, s encontrado quando o homem renasce verdadeiramente ou faz uma aliana com o Verbo.

Quando reconhecemos que as trevas agem to poderosamente sobre ns e que a visibilidade da natureza proporciona um sentimento de segurana, como podemos evitar a

concluso de que a natureza foi dada ao homem muito mais para a sua preservao e segurana do que para separ-lo da Grande Luz?

A raiz larval da natureza

J foi dito que este medo tem produzido larvas em algumas pessoas. Esta opinio que foi lanada pelo Dr. Andry em seu "treatise on the Generation of Worms in the

Human Body" corresponde a princpios verdadeiros. Aqueles que tiveram a oportunidade de considerar e compreender as formas fundamentais da natureza, esto cientes

de que a larva retrata a raiz da natureza, a degradao pela qual tem passado e o esforo que faz, em vo, para se livrar da angstia, atravs da sua contnua circulao.

O poder salutar que aplicou uma restaurao esta raiz desordenada, fez com que a natureza se tornasse oculta a ns durante a existncia animal. Ela est, por assim

dizer, absorvida pela influncia harmoniosa e beneficente desta restaurao. Mas quando, por qualquer causa que seja, a natureza vem a ser perturbada e perde seu

domnio, ento a raiz larval toma as rdeas naturalmente e aparece. Ora, de todas as nossas paixes, fraquezas e medos aquilo que mais prontamente nos priva da fala

tambm o mais apto a perturbar a restaurao e consequentemente o mais apto a gerar nossa raiz larval com suas produes, uma preeminncia que de outra forma no

ocorreria, se, por exemplo, o homem tivesse a posse de sua fala.

O poder de cura: mesmerismo, etc.

O poder de cura que, contudo, deve ser considerado um privilgio secundrio, at mesmo no homem regenerado, se transforma numa das armadilhas que o inimigo nos prepara

quando, ao exercitar este poder, fazemos uso de algum meio extraordinrio; especialmente, se o usarmos por nossa prpria mera vontade humana. Quando o homem usa

esta prtica pelo poder e autoridade Divina, ele esta perfeitamente em ordem tanto em relao a si prprio quanto ao paciente, porque assim a Vontade Suprema rege

os dois. Podemos acrescentar que s ento que o homem pode ter certeza de atingir algum sucesso. Quando ele atua atravs do magnetismo e do sonambulismo, ele pode

ferir seu paciente, mesmo ao cur-lo, pois no sabe se sua doena pode ter tido um objetivo moral que ser neutralizado por uma cura prematura; desta forma, o operador

se expe enormemente, porque no sabe se intrometeu-se num ministrio mais elevado; ele tem portanto, sempre razo em duvidar destes resultados.

Quando o homem atua unicamente atravs da medicina comum, no peca, mesmo que seja ignorante porque, como usa somente substncias de ordem inferior, s atinge o

corpo material; ento, se a doena tem uma causa e um objetivo moral, o remdio no ter efeito j que a ordem moral superior.

Assim, o mdico comum que emprega sua cincia de forma prudente e modesta, submetendo sempre os resultados ao Grande Governador, est mais em ordem e seguro do que

o magnetizador, que usa meios de uma classe superior com tanta segurana, leviandade e orgulho.

Deveres e responsabilidades do

homem esclarecido

Destas observaes, aprendemos a ver quo longe o homem est de seu objetivo, quando abusa do privilgio de uma ordem superior, aquele de curar uma doena do corpo.

Fao aluso ao blsamo universal para a cura de nossas doenas espirituais, que deve fluir continuamente da boca dos homens esclarecidos, das canetas dos escritores

e o qual, da maneira que tem sido utilizado, no traz melhores frutos do que o Verbo em suas conversas frvolas.

Portanto para vocs poetas e homens de letras que me dirijo neste momento: vocs so considerados as luzes das mentes dos homens; de se supor que vocs forneam,

com seus dons, aquilo que est faltando aos simples mortais. Com que precauo devemos agir em relao a eles se estivermos convencidos de que estes homens tm o

papel de preencher aqui na terra o sublime ofcio de ministros da Verdade?

A m direo do trabalho literrio.

Partidrios da forma e do estilo

O nico objetivo dos homens de letras, o charme que os atraem, o estilo. Quando eles conseguem que seja dito que suas obras "so bem escritas", parecem atingir

o pice de seus desejos. Este princpio formou tamanha raiz entre eles, que um de seus lideres no hesitou em afirmar que estilo era tudo. Sim, correto para aqueles

que possuem desenvolvido unicamente seu senso extremo e que se sentem completos quando este senso satisfeito; isto pertence ao sistema superficial, que o da

idade atual...

Para estes clamorosos admiradores do estilo geralmente verdadeiro que seu senso extremo seja afetado ou passvel de ser afetado devido direo que tm dado as

suas faculdades. O homem interno representa muito pouco ou quase nada no que entendem por satisfao. Suas imaginaes esto acima de tudo, quase sempre baseadas

em uma qualidade perceptvel e no racional ou imparcial o que se transforma neles em algo muito mais sensvel e convencional do que a verdade viva. Bons versos

e lindas frases no so suficiente para elevlos, no importa se so resultados do que falso ou verdadeiro.

Eu, que rendo sinceras homenagens verdadeira literatura e que gostaria de v-la aplicada ao seu objetivo legtimo; Eu, que acredito que seus poderes so to vastos

quanto o prprio infinito e que se supe servir como um prazer privilegiado, sofro em saber que seus partidrios a colocam num patamar to inferior, restringindo-a

harmonia de palavras, quando deveria ser empregada a fim de coletar grandes pensamentos disseminados e perdidos em nosso deserto desde nossa infeliz disperso.

Quando vejo os homens literrios, especialmente os poetas, se confinarem em regras convencionais da versificao e da arte da escrita e ento se glorificarem com

alegria, apesar das breves luzes que ocasionalmente nos apresentam, me parece como um homem forte atando todos os seus membros com correntes, pensando que tal impedimento

o torna honorvel, quando apesar de seu peso, consegue mover um dedo.

O privilgio da verdadeira literatura ser regida pelas leis do prprio esprito e participar da fecundidade do Verbo. Este tipo de literatura esta acima de qualquer

impedimento e tem o poder de ir at ao exato santurio da verdade, a fim de verificar o que deve ser dito e como deve ser expresso.

Contudo, o que acontece com estes ardentes partidrios da forma e do estilo? Quando se deparam com uma obra, cuja forma e estilo, fogem sua conveno preestabelecida,

a explicam levando em considerao a localidade e o ambiente em que foram produzidas, isto quando no a condenam aplicando um julgamento ao qual no cabe apelao.

A prola debaixo de seus ps

Viajando pela terra, freqentemente caminhamos sobre pedras preciosas, ocultadas a uma pequena profundidade debaixo de nossos ps e no as vemos; isto ocorre com

os literrios e os homens da torrente que so como eles; quando o literrio l os escritos dos amigos da Verdade, s v areia e p, no v nada da fecunda germinao

debaixo da superfcie. Oh! quo oculta a obra de Deus! comece pelo o que est debaixo do vu da natureza, depois pelo que est oculto nas ltimas ramificaes

das relaes sociais, das trevas e ignorncia dos homens!

Heis o porque das expresses arrojadas, das imagens extraordinrias e eficazes que inundam os livros sagrados e aqueles dos amigos da Verdade; aos olhos vulgares,

se justificam somente ao atribu-las ao estilo Oriental. Por que tais expresses parecem to estranhas aos homens da torrente? Porque perderam as afeies que produziriam

estas expresses no seu interior; porque se prenderam s regies inferiores, onde os contrastes so mais dceis, as nuanas quase uniformes e as impresses que produzem

quase nulas.

Suspenda seus julgamentos, voc que deveria ser nosso guia rumo ao Ministrio da Verdade!

Descries profticas

Contemple o grande trabalho do esprito e do Verbo; os choques dos mundos agitados caindo um sobre os outros com temeroso impacto; observe os rios de leite e mel

que escoam da Jerusalm eterna, a fim de consolar e confortar os fiis servos da Verdade!

Observe o inimigo desta Verdade tentando incessantemente converter estas correntes salutares em cido corrosivo e venenoso, para que estes servos no sejam confortados,

mas levados infidelidade. Olhe para a alma humana at mesmo rejeitando estes presentes que lhe so enviados, voltando-se para as festas de Jbilo onde alimentam

as serpentes. Olhe a terrvel justia destruindo, em todo lugar, com violncia, todos os agentes da desordem, que parecem brotar de baixo da terra!

Olhe o universo da Verdade, desenvolvendo seus maravilhosos poderes, a fim de atestar sua existncia ao mundo e obrig-lo a confessar de que h um Deus! Observe,

por outro lado, o universo de Falsidades, declarando suas iluses e imposturas a fim de atestar que no h Deus algum!

Se voc for capaz de se manter frio e imparcial diante de tal espetculo; se seu pensamento, sua lngua no so torturados e no tomam um estilo correspondente,

ento estar certo ao considerar o estilo das Escrituras como o efeito do ambiente em que fora produzido.

Entretanto, se voc se elevar a ponto de ser admitido pelo Esprito aos atos vi-vos que compem estes quadros; se voc estiver presente em esprito, como os profetas,

naquelas cenas terrveis de fazer arrepiar, ou aquelas encantadoras que abrem as maravilhas Divinas diante de seus olhos, reconhecer que os homens de Deus desenharam

estes quadros com cores to vivas e que no podendo usar as mesmas cores ficaram satisfeitos de encontr-las prontas em suas mos. Grande ser sua considerao com

relao a tudo que ir descrever.

Nossas obras tomam as caractersticas

de nossos sentimentos

A arte de escrever se no for um dom uma armadilha, talvez a mais perigosa que o inimigo capaz de nos preparar. pela escrita que busca nos encher de orgulho

ao fazer com que contemplemos a ns mesmos naquilo que escrevemos; ou o que ainda pior, tenta retardar nosso progresso ao nos fazer esperar, um bom tempo, por

o qu e de qu forma escrever.

Se escrevemos levados unicamente por influncias inferiores bvio que o inimigo estar muito perto para que sua influncia no seja sentida.

Nosso prprio sentimento a substncia de que o esprito que nos rege faz uso, seja qual for este esprito. Quando o Esprito puro quer nos ensinar, toma as caractersticas

dos sentimentos, a fim de comunicar seu desejo. So Pedro estava ansioso quando o Esprito lhe anunciou, figurativamente, que no deveria recusar a se relacionar

com os Gentils; o anjo tomou por emblema um pano cheio de todos os tipos de quadrpedes, bestas, rpteis e pssaros.

Vemos ento com que cuidado os escritores devem observar seus sentimentos! pois o esprito de mentira pode fazer uso deles, assim como o Esprito da Verdade, este

nada nos nega at aos ps de seu altar. Contudo, se tivermos o cuidado de preservar a ordem e a pureza de nossos sentimentos, todos iro cumprir seus objetivos sem

prejudicarem uns aos outros, muito pelo contrrio, iro zelar e apoiar uns aos outros.

O Redentor tambm estava ansioso no deserto; o prncipe das mentiras se valeu deste sentimento para tent-lo; contudo, esta lei da matria, a qual o Redentor estava

sujeito, no obscureceu nele, a luz do Esprito; e a lei de sua inteligncia triunfou sobre as emboscadas armadas pelo inimigo segundo sua lei da matria.

Poetas, homens de letras, reconheam aqui tudo o que o Esprito pode introduzir em suas mais brilhantes produes.

Todas aquelas imagens e figuras das quais fazemos uso, so quase todas compostas e engendradas pelos hbitos, localidades, modos e sentimentos do povo com quem vivem.

Elas tambm derivam, com freqncia, de seus prprios hbitos, modos, habitat e sentimentos, pois todo homem um povo, uma nao, um mundo em si mesmo.

Heis o porque acham to fcil representar tanto a falsidade quanto a verdade.

O mal de retratar as faltas da humanidade

Se, do estilo, passamos para a substncia, veremos que os escritores, crticos e at mesmo os moralistas, parecem estar muito ocupados em descrever os vcios e defeitos

da humanidade; alguns deles poderiam dizer que o nico objetivo nos encher de dio com relao nossa espcie; ou, ao menos nos mostrar sua existncia ao apontar,

na humanidade, somente o que repulsivo e repreensvel. No pensam o quanto ferem a eles prprios e a ns, agindo desta forma.

Em primeiro lugar, o orgulho destes escritores tudo o que se consegue com este trabalho, pois raro que conheam to bem as faltas dos outros sem que, secretamente,

se glorifiquem, pretendendo mostrar atravs destas observaes, que esto isentos de tais faltas.

Uma tolerncia afetuosa tenderia a curar estas faltas

e os homens estariam saldando seus mestres

Em segundo lugar, estes escritores no sabem que poderiam contribuir muito mais para sua prpria glria e nossa felicidade, se nos mostrassem as caractersticas

satisfatrias da espcie humana, que sempre podem ser reconhecidas, at mesmo na lama em que est mergulhada.

A faculdade afetiva e a tolerncia seriam vantajosas, pois este raio de amor que ascendem em ns talvez seria suficiente para consumir uma boa parte daquelas ervas

daninhas to venenosas e destrutivas que tanto gostam de apontar no domnio do homem.

Escritores ilustres, renomados homens de letras, vocs no tm idia do quanto poderiam estender seu legtimo imprio sobre ns, se pensassem mais em direcion-lo

ao nosso verdadeiro benefcio.

Poderamos por conta prpria, nos posicionarmos ao seu jugo: no teramos nada melhor a desejar do que v-los exercitar e estender suas regras. A descoberta de um

nico tesouro contido na alma humana, enaltecida por seus ricos detalhes, lhes dariam com certeza direito ao nosso voto de confiana e asseguraria seu triunfo.

A linguagem da inteligncia universal

o grande desiderato

Os escritores afirmam que tudo o que desejam serem compreendidos: Bem! poderiam vocs ter maior sucesso em relao a este objetivo, se tentassem introduzir nossos

espritos nas regies da inteligncia universal?

Vocs poderiam falar atravs, para e desta inteligncia; e como ela a linguagem natural e eterna de tudo o que respira e pensa, possvel por este intermdio

exercitar o verdadeiro Ministrio do Verbo, cumprindo as expectativas e satisfazendo as necessidades de todas as criaturas. Agora, tal necessidade est to profundamente

enraizada e to imperiosa, que se vocs conseguirem satisfaz-la ao tornarem-se compreendidos, falando a linguagem da inteligncia universal, no haver criatura

existente que no ir abeno-los.

Os escritores mal olham para os domnios da

Verdade e impedem que ns os adentremos.

A Hipocrisia destes escritores

Contudo, os mestres literrios e aqueles em geral que nos alimentam com obras da imaginao, no vo alm dos limiares da Verdade; eles ficam rodeando continuamente

e parecem ter o cuidado de no adentr-la e de no permitir que seus leitores a penetrem, com receio que s a glria da Verdade ir brilhar.

De todas as obras consagradas da imaginao dos homens, dificilmente encontramos alguma que no seja feita sobre uma base frgil e desgastada, sem falar daquelas

baseadas na blasfmia ou no irreverente resultado de uma orgulhosa hipocrisia. Pois, escritores que falam de providncia, moralidade e at mesmo de religiosidade

esto includos nesta reprovao, caso no tenham condies de dar conta daqueles grandes temas de suas especulaes; se trazem tais temas tona apenas para servir

de ornamentos a suas obras e alimento para o orgulho; se sua moralidade no se baseia, principalmente numa renovao completa e radical de nosso ser que a nica

forma que temos de cumprir o verdadeiro objetivo de nossa existncia.

Os escritores no podem ensinar aquilo que no sabem.

O segredo do falso sucesso

Como pode um autor nos ensinar esta doutrina se ele prprio no a conhece? Desafortunadamente o que o frvolo ou perdido esprito (e onde est o esprito que assim

no se encontre?) pede aos escritores que permitam a ele experimentar os prazeres das virtudes, sem aquele contnuo e doloroso processo de renovao, que sentimos

ser to difcil de realizar; pede para que mostrem a ele as infelicidades do crime, estando secretamente conectadas com as foras do destino, permitindo assim que

o esprito descanse em suas faltas dispensando sua lei primitiva e original, a qual poderia at mesmo guiar seu destino.

O encanto que muitos novelistas nos proporcionam surge apenas disto. Eles nos poupam da fadiga de ser virtuoso ao nos entusiasmar com algumas imagens de virtude;

eles nos dispensam do dever de nos unirmos ao nosso Princpio permitindo que o coloquemos de lado, de tanto nos identificar com o que no Princpio. Desta forma,

ao favorecer a covardia e ao nos preparar um caminho suave, dentro da obscura ordem material, censuram nosso sufrgio e o prprio sucesso deles.

Por esta razo, a poca mais propcia a grandes escritores no aquela propcia ao maior progresso na sabedoria. Um autor torna uma idia atrativa dando-lhe uma

nova direo: o leitor a capta com grande prazer mas, o primeiro se satisfaz ao ter lanado um bom conceito, e o segundo se satisfaz ao senti-lo, ambos se privam

de coloc-lo em prtica.

Sursum corda! Resgate a prola da lama

Quando a marcha da mente humana ser direcionada a um final mais sbio e proveitoso? Ser esta literatura, nas mos humanas, sempre uma arte de falsidade dissimulada,

vcios e erros sob uma roupagem graciosa ou picante, ao invs de ser uma passagem de virtude e verdade? Como pode a Verdade acompanhar tal curso?

Pergunto uma vez mais, oh! astutos escritores e consagrados homens de letras, quando iro deixar de usar seus preciosos dons de forma to tola e nociva?

O ouro s serve para ornar as vestes usadas no palco? Os raios que devero comandar a fim de derrotar os adversrios de seu bem estar podem ser desperdiados como

fogos de artifcios para a diverso da multido desocupada? Em estados bem ordenados o que suprfluo se presta para este papel, toda produo til do pas, existe

para prover abundncia e segurana aos cidados e meios de defesa ao governo.

Vocs pretendem estimular nossos coraes e transportar nossas almas com emoes vivas! Onde poderiam encontrar algo mais vivo seno no grande drama do Homem, que

nunca deixou de ser apresentado desde o princpio, naqueles quadros reais de dores e assustadores perigos que atacam a negligente famlia do Homem, desde sua queda?

Neste drama, encontrariam cenas prontas, ainda que sempre novas e que consequentemente teriam maior impacto sobre ns, do que aquelas que vocs compem com a doura

de sua fronte e que vos alimentam, assim como a ns, apenas com imagens artificiais das verdadeiras emoes que deveriam despertar em ns.

O Verbo aqui, desenvolve todos estes poderes maravilhosos diante de ns e poderia, de fato, torn-los mestres de todas nossas emoes e ao mesmo tempo nossos benfeitores.

Mas, como poderiam realizar o prodgio de penetrar nossas almas, no estando vocs familiarizados com elas?

verdade que Deus, algumas vezes, nos empresta nossos prprios pensamentos, ou seja, Ele nos deixa conosco, como um mestre que d alguns momentos de relaxamento

e liberdade aos seus servos, aps terem feito seu trabalho. Pode-se supor que isto ocorra com a grande maioria de pensadores no mundo que, realmente, parecem escolares

em frias. Contudo, estes escolares esto brincando, de frias, sem primeiro terem freqentado suas aulas ou feito o trabalho do mestre; eles consomem seus momentos

de liberdade, com disputas, discusses e lutas um com os outros; freqentemente at falam mal do instrutor ou fazem intrigas contra ele.

Imaginem se eu fosse falar aqui da classe cientfica de escritores, que insistem em dirigir nossas mentes a nada alm de resultados superficiais ao invs de dirigi-las

ao Centro e ao Princpio. J disse o bastante sobre eles em vrias passagens desta obra.

Como o Homem deve ser o sinal de seu Princpio, que Deus, tudo em sua existncia e em seus caminhos deve ser Divino; tudo deve ser DEO-crtico em seu progresso,

em todas as suas medidas, sociais, polticas, especulativas, cientficas, literrias ou outra qualquer.

Quem no percebe as trevas espalhadas por toda a terra atravs das obscuras especulaes do homem, quando deixado ao seu prprio esprito? Nestas variaes da

literatura e das cincias, o que restou do Verbo? o que restou, ao menos da linguagem dos homens?

As palavras tem se tornado, nas linguagens humanas, o que os pensamentos tem se tornado nas mentes dos homens. Se tornaram como mortos enterrando mortos ou vivos

talvez, ao menos, muitos que desejavam viver. Muitos homens se enterram a cada dia com suas prprias palavras pervertidas que perderam completamente seu sentido.

Eles, desta forma enterram o Verbo.

A Literatura Religiosa

At aqui considerei apenas a literatura beletrstica e seu principal objetivo que o de divertir; Mal me aludi ao que se pode chamar de literatura religiosa. Vamos

agora nos devotar mais particularmente a ela que ainda est mais intimamente ligada ao Ministrio Espiritual do Homem e ao Verbo.

Escritores de grande talento tem tentado descrever os gloriosos resultados do Cristianismo. Contudo, embora leia freqentemente suas obras com admirao, no encontro

o que considero ser requerido por tal tema e vejo que freqentemente nos fornecem eloqncias no lugar de princpios; leio suas obras com cautela. No entanto, se

fao alguns comentrios sobre seus escritos, certamente no so com um esprito atestico ou desacreditado. Tenho lutado contra o mesmo inimigo que eles atacam to

corajosamente; meus princpios, a este respeito, tm somente se fortificado com o passar do tempo.

No ser como um homem de letras ou um escolar que farei meus comentrios; Deixo esta rea a eles, com tudo que ali puderem adquirir. Mas como um apreciador da Filosofia

Divina, argumento e eles no podem maltratar um colega que, sob este ttulo, ama, assim como eles prprios, a verdade sobre todas as coisas.

Cristandade e Catolicismo ou Igrejismo

A principal reprovao que apresento contra eles que a cada passo, confundem Cristianismo com a Igreja (Catolicismo). Vejo freqentemente, clebres mestres literrios

atriburem religio obras de famosos Bispos que muitas vezes se desviam enormemente do esprito do Cristianismo.

Vejo outros num momento, sustentarem a necessidade dos mistrios (sacramentos, etc.) em outro, tentarem explic-los afirmando, mais uma vez que a demonstrao de

Tertuliano sobre a trindade pode ser compreendida at pelos mais simples. Vejo como se vangloriam da influncia do Cristianismo na poesia, ainda que concordem em

alguns casos, que a poesia se alimente do erro!

Vejo como se desorientam com relao aos nmeros rejeitando, com razo, as especulaes fteis que emergiram do abuso desta cincia, afirmando que o trs no engendrado,

que segundo a expresso atribuda Pitgoras, este nmero deve existir sem uma me, enquanto que a gerao de nenhum nmero mais evidente que a gerao do nmero

trs; o dois claramente sua me, em todas as ordens, natural, intelectual ou Divina; a diferena que na ordem natural, esta me engendra a corrupo, assim como

o pecado engendrou a morte; na ordem intelectual, engendra variabilidade, como podemos observar pela instabilidade de nossos pensamentos; na ordem Divina, engendra

a fixidez, com reconhecida na Unidade Universal.

Em resumo, apesar do brilhante efeito que suas obras possam produzir, no consigo encontrar aquele alimento substancial que a inteligncia exige, a saber, o verdadeiro

esprito do Cristianismo, encontro, sim, o esprito do Catolicismo.

Ora, o verdadeiro Cristianismo anterior, no s ao Catolicismo, mas ao prprio nome Cristianismo que no encontrado nos Evangelhos, embora o esprito deste nome

esteja bem claramente expressado e consiste, de acordo com Joo (I.12) no poder de se tornarem filhos de Deus ; o esprito dos filhos de Deus, ou dos Apstolos de

Cristo, que acreditaram nele, mostrado, segundo Marcos (XVI. 20) pelo Senhor agindo com eles e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

Neste ponto de vista, estar verdadeiramente no Cristianismo, seria estar unido com o Esprito do Senhor e ter completado ou consumado nossa aliana com Ele.

A este respeito, o verdadeiro carter do Cristianismo no seria tanto o de se tornar uma religio e sim o de ser um termo e ponto de repouso de todas as religies

e de todos aqueles laboriosos caminhos pelos quais a f dos homens e suas necessidades de serem purificados de suas manchas, os obrigam a caminhar diariamente.

notvel que, em todos os quatro Evangelhos, fundados no Esprito do verdadeiro Cristianismo, a palavra religio no encontrada nem uma s vez; e nos escritos

dos Apstolos, que completaram o Novo Testamento encontrada somente cinco vezes.

A primeira vez que a palavra religio aparece em "Atos dos Apstolos" (XXVI.5 [da verso inglesa; tambm, Gl.I.13,14]) quando se fala da religio judaica.

A segunda vez em Colossenses (II.18) quando o Apstolo casualmente condena o culto aos anjos.

Na terceira e quarta vez, aparece em So Tiago (I.26,27) onde ele diz simplesmente: "Se algum pensa ser religioso, mas no refreia a sua lngua, antes se engana

a si mesmo, saiba que a sua religio v", e "A religio pura e sem mcula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: em assistir os rfos e as vivas em suas

tribulaes e em guardar-se livre da corrupo do mundo"; estes so exemplos em que o Cristianismo parece se inclinar mais sua sublimidade Divina ou condio de

repouso, do que se revestir daquilo que costumamos chamar de religio. Portanto, h diferenas entre Cristianismo e Catolicismo:

Cristianismo nada mais do que o esprito de Jesus Cristo em sua amplitude, depois que este terapeuta Divino escalou todos os passos de sua misso, que teve incio

com a queda do homem, quando prometeu que a semente da mulher esmagaria a cabea da serpente. O Cristianismo o complemento da pregao de Melchisedek; a alma

do Evangelho; o Cristianismo faz com que as guas vivas, de que as naes tm tanta sede, circulem no Evangelho.

O Catolicismo (a Igreja), ao qual pertence o ttulo de religio, uma espcie de esforo e tentativa de se chegar ao Cristianismo.

O Cristianismo a regio da emancipao e da liberdade, o Catolicismo apenas o seminrio do Cristianismo, a regio das regras e disciplina para o nefito.

O Cristianismo enche toda a terra com o Esprito de Deus. O Catolicismo enche apenas uma parte do globo embora se intitule universal.

O Cristianismo eleva nossa f luminosa regio do Verbo Divino e Eterno; O Catolicismo limita esta f palavra escrita ou tradio.

O Cristianismo nos mostra Deus abertamente, no centro de nosso ser, sem o auxlio de formas e frmulas. O Catolicismo nos deixa em conflito com ns mesmos, pois

quer que encontremos Deus oculto nas cerimnias.

O Cristianismo no tem mistrios; esta palavra repugnante para ele pois, essencialmente, o Cristianismo a prpria evidncia, a nitidez universal. O Catolicismo

repleto de mistrios e seu fundamento velado. A esfinge pode ser colocada na entrada dos templos, tendo sido feita pelas mos dos homens; no pode ser posicionada

no corao, que a real entrada do Cristianismo.

O Cristianismo a fruta da rvore, enquanto que o Catolicismo s pode ser o adubo.

O Cristianismo no faz nem monastrios e nem eremitas, porque no pode se isolar mais do que pode a luz do sol e porque, como o sol, procura brilhar em todo lugar.

O Catolicismo povoou os desertos com solitrios e encheu as cidades com comunidades religiosas; no primeiro caso, para que pudessem se dedicar com mais facilidade

sua prpria salvao, no segundo caso, para apresentar ao mundo corrupto algumas imagens de virtude e piedade a fim de despert-lo de sua letargia.

O Cristianismo no tem secto, j que embarca a unidade e esta sendo nica, no pode ser dividida. O Catolicismo tem presenciado uma multiplicidade de cismas e sectos

brotando em seu seio, o que propiciou o reino da diviso ao invs do reino da concrdia; o Catolicismo, mesmo acreditando ocupar o mais alto degrau de pureza, dificilmente

encontra dois de seus membros que pensam da mesma forma.

O Cristianismo nunca deveria ter realizado as Cruzadas: a cruz invisvel que carrega em seu seio no tem outro objetivo seno o alvio e felicidade de todas as criaturas.

Foi uma imitao falsa do Cristianismo, para no dizer outra coisa, que inventou as Cruzadas; o Catolicismo a adotou posteriormente: mas, o fanatismo as comandaram:

o Jacobinismo as compuseram, a anarquia as dirigiram e o banditismo as executaram.

O Cristianismo s declarou guerra contra o pecado; O Catolicismo declarou guerra contra os homens.

O Cristianismo s marcha pela experincia segura e contnua; O Catolicismo marcha apenas pela autoridade e pelas instituies ; O Cristianismo a lei da f; O Catolicismo

a f da lei.

O Cristianismo a completa instalao da alma do homem no rangue de ministros ou servos do Senhor; O Catolicismo limita o homem ao cuidado de sua prpria sade

espiritual.

O Cristianismo contnuo une o homem a Deus, j que so, por natureza, dois seres inseparveis; o Catolicismo, ainda que use a mesma linguagem, alimenta o homem unicamente

com meras formas e isto faz com que ele perca de vista o seu real objetivo e adquira muitos hbitos que nem sempre contribuem para seu benefcio ou para um real

progresso.

O Cristianismo baseia-se no Verbo oral, no escrito, o Catolicismo baseia-se no Verbo escrito ou Evangelho em geral e na massa em particular.

O Cristianismo um ativo e perptuo sacrifcio espiritual e Divino, tanto da alma de Jesus Cristo como da nossa prpria alma; o Catolicismo que se baseia particularmente

na massa, apresenta unicamente um sacrifcio ostensivo do corpo e do sangue do Redentor.

O Cristianismo pode ser composto apenas pela raa santa do homem primitivo, a verdadeira raa sacerdotal. O Catolicismo, baseando-se particularmente na massa, foi

como a ltima Pscoa do Cristo, um mero degrau iniciador deste sacerdcio, pois quando Ele disse a seus discpulos "Faam isto em minha memria" eles j haviam recebido

o poder de expulsar os espritos malignos, curar doentes e ressuscitar os mortos; mas ainda no tinham recebido o que era mais importante para o cumprimento do sacerdcio

j que a consagrao de um padre consiste na transmisso do Esprito Santo e o Esprito Santo ainda no havia sido dado porque o Redentor ainda no havia sido glorificado

(Joo VII.39).

O Cristianismo se torna uma contnua luz crescente a partir do momento em que a alma do homem nele admitida; o Catolicismo que fez da Santa Ceia o ponto mais alto

e sublime de seu culto, permitiu que um vu fosse jogado sobre esta cerimnia introduzindo at mesmo, como disse anteriormente, na liturgia da missa, as palavras

mysterium fidei, que no esto no evangelho e so contrrias luz universal do Cristianismo.

O Cristianismo pertence eternidade; o Catolicismo pertence ao tempo.

O Cristianismo o termo; o Catolicismo, com toda a majestosa imposio de suas solenidades e a sagrada grandiosidade de suas oraes apenas o meio.

Finalmente, possvel que haja muitos catlicos, que ainda, sejam incapazes de julgar o que o Cristianismo; mas impossvel para um verdadeiro cristo no ser

capaz de julgar o que o Catolicismo e o que deve ser.

O Cristianismo e a Arte

Quando se leva o Cristianismo em conta no progresso das artes, particularmente no aperfeioamento da literatura e da poesia, ele fica longe de qualquer crtica.

O Verbo no penetra o mundo para ensinar os homens a fazerem poesia ou para se destacarem na composio literria; Ele no vem para que o esprito do homem seja

exaltado diante de seus semelhantes, mas para que o Esprito Eterno e Universal possa brilhar por todo o infinito.

O que significa a afirmao de que o Cristianismo no necessita de todos esses talentos dos homens? Porque ele habita entre as maravilhas Divinas e para proclamar

esta verdade, no h a necessidade de buscar um meio de expresso. O Cristianismo por si s capaz de responder aquilo que os eloqentes escritores tm afirmado:

"No sabemos onde a mente humana encontrou tal coisa; no se conhece caminho algum para tal sublimidade! " que, neste nvel a mente humana nada pensa; o Esprito

do Cristianismo fornece tudo.

A Origem e o esprito da arte e da literatura so

pago: nem Cristo e nem Catlico

O catolicismo, que tem recebido o nome de Cristianismo, no o responsvel pelo desenvolvimento da literatura e da arte; A formao dos poetas e artistas no se

apoia nem mesmo no Catolicismo ou na sua congregao: eles estudaram as obras primas da antigidade, que eram pags e tentaram copi-las; mas, como viviam em meio

a instituies catlicas, era natural que suas obras abordassem, de forma geral, assuntos religiosos. No de se surpreender que, ao tocarem nestes temas religiosos,

descobrissem algumas daquelas belezas reais, as quais esto indiretamente conectadas, alm de alguns tesouros do Verbo, dos quais a Bblia est repleta; eles,

claro, tentaram aplicar estes tesouros e belezas ao tipo de arte que cultivavam, esperando com isto acrescentar algo a glria da arte; de fato, toda arte tem sido

enriquecida por eles.

Contudo, no verdadeiro afirmar que o Catolicismo foi o princpio e a causa do enriquecimento das artes e da literatura; ao contrrio, foram estas que tiveram

a idia de serem empregadas no sentido de enriquecer o Catolicismo. Este ao admirar, com razo, aquelas obras primas da arte e da literatura, logo buscou se apropriar

delas; uma para ornamentar seus templos, a outra para nutrir a eloquncia e a glria de seus oradores e escritores.

De fato, se no houvesse nenhum Phidias e Praxiteles, ser que teramos tido Raphael e Michelangelo, e suas obras primas? Se no houvesse Demosthenes e Ccero, quem

sabe se teramos tido um Bossuet e um Massillon? Se no houvesse Homero e Virglio, Dante, Tarso, Milton ou um Klopstock, provavelmente nunca se pensaria em revestir

os eventos religiosos que celebravam com caractersticas de fico potica; porque o mais puro gnio do Catolicismo haveria se oposto a estas obras e fices da

imaginao.

Porm, se o imprio de Constantinopla no tivesse sido superado, teria o Catolicismo despertado tantos tipos de maravilhas e geniosidades, dos quais se tornou o

centro e o foco aps este evento? E, se a Itlia no tivesse recebido a brilhante herana, teria a Frana, que em matria de escritores e oradores, tem sido a mais

brilhante coroa do Catolicismo, alcanado to alto degrau de glria?

Podemos, confidencialmente, dizer que no e afirmar que sem a era de Julius II e Len X, o Catolicismo no teria desenvolvido nenhum talento e nem colhido os louros

que o distinguiu na poca de Luiz XVI. Mas, como todos estes adventos coadjuvantes, estas artes e modelos da antigidade, tanto na eloquncia como na literatura,

contriburam apenas com uma luz ou vida emprestada ao Catolicismo, inclinando-o mais para a glria humana do que para a glria slida e substancial da qual nada

conhecem; eles no so capazes de acrescentar nenhuma vantagem duradoura real glria.

Considerando as frgeis e precrias relaes destes artistas com o Catolicismo vemos que logo deixaram este para traz carregando a coroa para si prprios. Quanto

mais progresso faziam, mais o Catolicismo retrocedia; vimos o quanto cresceu seu imprio no sculo dezoito e o quanto o Catolicismo declinou; mesmo agora, apesar

dos esforos governamentais no sentido de restabelecer a Igreja ainda esto longe de recuperar o campo perdido; contudo, este um triunfo no conquistado com muita

facilidade sobre o Cristianismo ou o Verbo.

Se voltarmos os olhos ao passado, veremos que as artes e a literatura sempre foram subsidirias do Catolicismo e nunca suas protegidas ou amparadas. Durante os primeiros

sculos de nossa era, os padres, que j possuam apenas um pouco mais do que reflexes e a mera histria do verdadeiro Cristianismo, viviam entre os monumentos literrios

da Grcia e Alexandria e dai extraram o carter impressivo ainda que desigual de seus escritos.

Extraram ainda de filsofos consagrados da antigidade muitas particularidades de uma doutrina oculta, que explicaram apenas atravs da letra, uma vez que no possuam

mais a chave do verdadeiro Cristianismo. Assim, foram, na maioria dos casos, discpulos dos filsofos enquanto que deveriam ter sido seus mestres.

O Catolicismo toma a complexidade de cada

poca e circunstncia

Quando a idade das trevas chegou, destruindo as belas artes e a beletrstica, alm de numerosos monumentos da mente humana, o catolicismo tambm perdeu as belezas

provenientes destas artes; no tendo fixidez nela prpria, sendo sempre mvel e dependente de impresses externas, foi impossvel resistir as torrentes.

Aps ter sido erudita com Plato, Aristteles e Ccero, se tornou arrogante e agressiva, caractersticas das naes que inundaram a Europa. Se tornou brbara e selvagem

com os povos que tinham este carter. No tendo, por um lado, a luz suave ou o poder resistente do Cristianismo e nem, por outro lado, a restrio das letras e o

exemplo das naes cultas, se tornou notvel apenas pelo furor de seu fanatismo e pelo delrio de seu despotismo. Pode-se dizer que assim foi sua existncia por

cerca de dez sculos.

A arte literria totalmente desconectada do Cristianismo.

A literatura religiosa.

A partir de todos estes fatores, se tivermos a impresso de que o Catolicismo nunca teve nenhuma relao com as artes e a literatura sem ser aquela da dependncia,

o que diremos do Cristianismo que nunca teve nenhuma relao com as artes e a literatura sem ser aquela da dependncia, o que diremos do Cristianismo que nunca teve

nenhuma relao direta e muito menos de dependncia com estas artes? Para compreender a imensa distncia que h entre artes, literatura e Cristianismo, basta repetir

que, nestas obras do homem, o seu esprito, e s vezes menos do que isto, que tudo faz; alm disso, no Cristianismo o Verbo Eterno governa por si s.

Sei o quanto esta idia ser pouco aceita pelos literrios religiosos e at mesmo pelos que crem, apesar do esforo que fazem no intuito de glorificarem o que chamam

de Cristianismo; porm, o caminho que a maioria destes notveis eruditos religiosos tem tomado, me obriga a insistir mais e mais nisto, porque, enquanto parecem

acreditar no Cristianismo, talvez acreditem unicamente no Catolicismo.

Um desses eloqentes escritores diz, com terna sensibilidade, que ele chorou e ento acreditou! Meu Deus! ainda bem que ele no teve a felicidade de ter comeado

por ter a certeza! Como poderia chorar depois?!

No entanto, ele parece estar mais frente do que a maioria de seus companheiros, que so devotos, de mente e corao, ao Cristianismo literal ou Catolicismo que

a mesma coisa.

Em meio ao xtase em que vivem os famosos poetas, este escritor faz crticas emoo para este tipo de literato, flashes de verdade e sinceridade lhe escapam, o

que demonstra que naturalmente, ele concorda inteiramente comigo; s que s vezes se desvia de meu sistema. Por exemplo, quando faz referncia histria da humanidade