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  • FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA FGF Curso de Licenciatura Plena em Qumica

    O Ensino de Qumica e o Cotidiano: Tendncias Atuais

    Marciano Rocha Ribeiro Filho

    Igapor - Bahia 2008

  • Marciano Rocha Ribeiro Filho

    O Ensino de Qumica e o Cotidiano: Tendncias Atuais

    Monografia apresentada ao Curso de Programa Especial de Formao Pedaggica de Docentes na rea de Licenciatura em Qumica, da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF, ponto de Presena de Porteirinha-MG, sob a orientao da Prof. Ana Cristina Facundo de Brito.

    Igapor - Bahia2008

  • Monografia apresentada como requisito necessrio para a obteno do grau de Licenciado, do Curso de Programa Especial de Formao Pedaggica de Docentes na rea de Licenciatura em Qumica, da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF.

    _________________________________________

    Marciano Rocha Ribeiro Filho

    Monografia aprovada em ............/.........../.................

    _________________________________________

    Prof. Ana Cristina Facundo de Brito Orientadora

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    Prof. Clia Digenes Coordenadora do Curso

  • DEDICATRIA

    A Deus, centro inefvel para quem se direcionam e se fundem todas as cincias, artes e verdades superiores.

    Aos meus queridos filhos e esposa por aceitar a privao de muitas coisas em funo da necessidade de dedicao a esse curso.

    minha me e, especialmente ao meu pai que sempre se preocupou com as minhas caminhadas e estudos, e teve a oportunidade de me ver comear este curso, mas que no mais est entre ns para presenciar a concluso do mesmo. Um grande abrao pai. Sei que onde estiver continuar olhando sempre por todos ns.

  • AGRADECIMENTOS

    Esta monografia resultou de uma somatria de eventos aos quais sou bastante grato.

    Agradeo a toda equipe da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza que, mesmo distncia, sempre souberam transmitir grandes oportunidades de avanos e novos conhecimentos.

    Agradeo minha famlia, que durante todo este tempo sempre me incentivou a prosseguir para a concluso deste curso.

    E, finalmente, agradeo a Deus, fonte inesgotvel de apoio para superao dos mais variados obstculos.

  • Nosso conhecimento nasce da dvida e se alimenta da incerteza. Precisamos aprender a viver no repouso do movimento e na segurana da incerteza.

    Hilton Japiass

  • RESUMO

    Este trabalho surge da necessidade de se estudar o papel da qumica, como contribuio no processo educacional, no cotidiano ou realidade prtica do educando. Desta forma, o objetivo deste estudo apontar uma proposta pedaggica para o ensino de qumica, a partir de dois tipos de mtodos: o dialgico sob o enfoque de Luckesi e o mtodo freireano para que o educando possa desenvolver os conhecimentos prticos na disciplina qumica. Pretende-se demonstrar que possvel despertar um maior interesse nesta disciplina por parte do aluno. A metodologia do estudo pautou-se na viso de ensino, mtodos e tcnicas de Luckesi e Freire. Trata-se de um estudo descritivo para a proposio pedaggica de um estudo de qumica mais voltada realidade do aluno. Justifica-se a realizao desse estudo com base no pressuposto de que a qumica e seus contedos so conhecimentos prticos e convivem no cotidiano das pessoas que muitas vezes desconhecem ou no se questionam sobre o seu papel na sociedade atual. Os resultados elencados demonstraram que o docente tem um leque de opes metodolgicas, de possibilidades de organizar sua comunicao com os alunos, de introduzir um tema poltico, de cunho social e cultural e encontrar sua forma mais adequada de integrar muitos procedimentos metodolgicos que podero ser possveis a partir da criatividade do docente. Mas tambm importante que as aulas sejam voltadas realidade social do educando.

    PALAVRAS-CHAVE: Qumica, Proposta Pedaggica, Conhecimentos, Mtodos, Tcnicas, Realidade Social

  • ABSTRACT

    This work appears of the necessity of if studying the paper of chemistry, as contribution in the educational process, daily or the practical reality of educating. Of this form, the objective of this study is to point a proposal pedagogical with respect to the chemistry education, from two types of methods: the dialgico under the approach of Luckesi and the freireano method so that educating can develop the practical knowledge in disciplines chemistry. It is intended to demonstrate that it is possible to awake a bigger interest in this disciplines on the part of the pupil. The methodology of the study was pautou in the vision of education, methods and techniques of Luckesi and Freire. One is about a descriptive study for the pedagogical proposal of a study of chemistry more directed to the reality of the pupil. It is justified on the basis of accomplishment of this study the estimated one of that chemistry and its contents are practical knowledge and coexist in the daily one of the people who many times are unaware of or they are not questioned on its paper in the current society. The elencados results had demonstrated that the professor has a fan of metodolgicas options, of possibilities to organize its communication with the pupils, to introduce a subject politician, of social and cultural matrix and to find its form more adequate to integrate many metodolgicos procedures that could be possible from the creativity of the professor. But also it is important that the lessons are come back to the social reality of educating.

    PALAVRAS-CHAVE: Pedagogical Chemistry, Proposal, Knowledge, Methods, Techniques, Social Reality

  • SUMRIO

    INTRODUO ....................................................................................................... 10

    CAPTULO I - O CONHECIMENTO DE QUMICA NO COTIDIANO ESCOLAR ASSOCIADO A REALIDADE DO ALUNO ............................................................ 13

    1.1 Aspectos da formao do leitor crtico ............................................... 13 1.2. Aspectos da vivncia prtica no Ensino de Qumica ......................... 13 1.3. A leitura como descoberta e conscincia do mundo ........................... 14 1.4. A formao do Educador em Qumica ............................................... 16

    CAPTULO II - O ENFOQUE HISTRICO-CRTICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUMICA.......................................................................................................... 21 2.1 A importncia de um enfoque crtico .................................................... 21

    CAPTULO III - ANLISE DO LIVRO DIDTICO DA DISCIPLINA QUMICA NO ENSINO MDIO ............................................................................................. 26

    3.1 Uma reflexo....................................................................................... 26

    CAPTULO IV - PROPOSTA METODOLGICA PARA O ENSINO DE QUMICA................................................................................................................ 32 4.1 Proposta Pedaggica .......................................................................... 32 4.2 Diagnstico das dificuldades de interpretao do texto de qumica .... 37 4.3 Mtodos Luckesi e Paulo Freire em Qumica...................................... 38

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 52 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 54 ANEXOS ................................................................................................................ 58

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Nvel de escolaridade dos Professores de qumica............................... 33 Figura 2 - Dificuldade dos professores em relao aos contedos de qumica..... 34

  • Figura 3 - Dificuldade dos professores para realizao de aulas prticas............. 34 Figura 4 - Voc gosta de estudar qumica?........................................................... 35 Figura 5 - Grau de influncia de alguns fatores no ensino de qumica.................. 35

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    INTRODUO

    Um estudo realizado por Silva e Del Pino (2003) demonstrou que os alunos de ensino mdio tm dificuldades de compreenso dos fenmenos que constituem a cincia qumica. As suas dificuldades repousam nas limitaes do ensino-aprendizagem em estimular a curiosidade do educando para compreender a dimenso da disciplina na prtica e vivncia de sua realidade no cotidiano. No mbito da escola bsica, os educadores utilizam poucas metodologias aplicadas na prtica que dimensionem experincias ou que correlacionem tais conhecimentos com a bagagem cultural do aluno.

    Este trabalho surge da necessidade de se estudar o papel da qumica, como contribuio no processo educacional, no cotidiano ou realidade prtica do educando. Desta forma, o objetivo deste estudo apontar uma proposta pedaggica para o ensino de qumica, a partir de dois tipos de mtodos: o dialgico sob o enfoque de Luckesi e o mtodo freireano1 (Paulo Freire) para que o educando possa desenvolver habilidades e conhecimentos prticos na disciplina qumica. Pretende-se demonstrar que possvel utilizar alguns conhecimentos de qumica no cotidiano do aluno, despertando deste modo um maior interesse nesta disciplina.

    Justifica-se a realizao desse estudo com base no pressuposto de que a qumica e seus contedos so conhecimentos prticos e convivem no cotidiano das pessoas que muitas vezes desconhecem ou no se questionam sobre o seu papel na sociedade atual.

    Percebemos que o ensino de qumica tem se reduzido transmisso de informaes, definies e leis isoladas, sem qualquer relao com a vida do aluno, exigindo deste quase sempre a pura memorizao restrita a baixos nveis cognitivos. Transforma-se muitas vezes a linguagem qumica, uma ferramenta, no fim ltimo do conhecimento.

    Constata-se que atravs dos livros didticos que os termos cientficos tm seu contedo semntico ou sua estrutura sinttica modificada (por supresso, generalizao

    1 Paulo Freire criou um mtodo de ensino baseado em duas as categorias: conscientizao e dilogo se constituem nas

    bases sobre o qual se aporta o Mtodo Freireano que defendia conscincia poltica e o uso de materiais e textos extrados da vida cotidiana dos alunos.

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    ou reconstruo), podendo, inclusive ser esvaziados de seu contexto e muitas vezes o professor utiliza o livro didtico como instrumento de forma a dar nfase somente aos aspectos tericos, sem nortear a curiosidade do educando para os conhecimentos prticos que a qumica poder proporcionar em seu cotidiano.

    Nesse sentido, parece interessante refletir sobre algumas relaes entre conhecimento e prtica educacional para se discutir a necessidade de um mtodo de ensino e de comunicao presentes no processo de formao de professores. A unio entre conhecimento e prtica exige formao por parte do educador, no apenas conhecer a qumica, mas outros saberes possveis que permitam articular novas metodologias de ensino.

    A motivao para a escolha do tema centrou-se no pressuposto de que os textos cientficos no ensino de qumica no ambiente escolar, a partir do uso de processos de ensino terico-prticos favorece uma aprendizagem que possa ser til na vida cotidiana. A preocupao tornar essa disciplina mais prxima da realidade e auxiliar o educando a explorar os contedos de forma a serem teis na vida social e profissional.

    A realizao deste estudo aponta a problemtica de que tanto o educador em incio de formao como o aluno tem dificuldades de aproximar a leitura de um contexto social, histrico e cultural, quando se trata de texto com contedos de qumica.

    O primeiro captulo enfoca a necessidade de se colocar o ensino-aprendizagem integrado com a prtica cotidiana, mencionando aspectos da vivncia prtica, bem como a importncia da leitura como ferramenta de descobertas. Enfoque especial dado tambm no que diz respeito formao continuada dos educadores em qumica, com utilizao de tcnicas e mtodos que estimulem a inovao.

    O segundo captulo apresenta um enfoque histrico-crtico no ensino-aprendizagem de qumica, fazendo uma anlise do saber produzido historicamente e a sua relao com as atuais tendncias de transformao.

    O terceiro captulo explora o livro didtico na disciplina qumica, relacionando os mesmos com as tendncias atuais, discutindo seus contedos e, para tal, utiliza-se da anlise de algumas colees comumente utilizadas no ensino mdio das nossas escolas.

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    O quarto captulo faz uma reflexo acerca de algumas propostas metodolgicas para o ensino de qumica e a importncia da busca por mecanismos de interpretao de textos com a finalidade de facilitar o trabalho do educador e do processo ensino-aprendizagem.

    As concluses refletem sobre o ensino de qumica e a necessidade do uso de mtodos e tcnicas de ensino para facilitar a compreenso dos textos didticos utilizados no cotidiano escolar do Ensino Mdio.

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    CAPTULO I O CONHECIMENTO DE QUMICA NO COTIDIANO ESCOLAR ASSOCIADO

    REALIDADE DO ALUNO

    1.1 Aspectos da formao do leitor crtico

    Os professores do Ensino Mdio necessitam colocar o ato de ensino-aprendizagem em consonncia com a prtica cotidiana, como um comprometimento no processo de formao para a dinamizao do conhecimento e as formas de atuar criticamente sobre o conhecimento.

    Os livros, de modo geral, expressam a forma pela qual seus autores vem o mundo; para entend-los indispensvel no s penetrar em seu contedo bsico, mas tambm ter sensibilidade e esprito de busca, para identificar, em cada texto lido, os diversos nveis de significao e de interpretaes das idias expostas por seus autores.

    J se tomou antolgica e obrigatria, quando se trata de leitura, a concepo de Freire (1984), para quem a leitura do mundo precede a leitura da palavra; contudo, torna-se necessrio ir mais alm, refiro-me que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e desta implicam a continuidade da leitura daquele. De alguma maneira, porm, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra no apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de escrev-lo ou de reescrev-lo, quer dizer, de transform-lo atravs de nossa prtica consciente.

    O processo de ler implica vencer as etapas da decodificao, da inteleco, para se chegar interpretao e, posteriormente, aplicao. A decodificao uma necessidade bvia, tarefa que qualquer pessoa alfabetizada pode empreender; pois consiste apenas na traduo dos sinais grficos em palavras.

    Na viso de Candau (1983) cabe ao educador refletir sobre a realidade teoria-prtica e teoria no isoladamente, e encontrar nas tcnicas de leitura em sua totalidade, complexidade e problemtica, na perspectiva concreta da experincia de aprendizado.

    1.2 Aspectos da vivncia prtica no Ensino de Qumica

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    A proposta de Educao dos Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs procura valorizar a realidade social e a vivncia prtica com a finalidade de utilizar alguns conhecimentos de qumica com base em conhecimentos que possam se converter em prtica. O conhecimento se refaz na medida em que repassado e transformado. (Souza e Oliveira; 2005)

    Nesse sentido o ensino de qumica no poderia ser diferente, pois muitas vezes fica-se exposto aos contedos que pouco tem a ver com a realidade do aluno, apesar de termos nossa disposio meios que poderiam facilitar a compreenso e contribuir nas atividades cotidianas.

    necessria a mediao do conhecimento pelo professor, cuja principal funo trabalhar as concepes prvias dos alunos, adotando estratgias de ensino, onde haja maior interatividade entre professor e aluno, dando voz aos alunos. A utilizao de inmeros recursos didticos possibilita uma mudana na transmisso de contedos onde o aluno passa a participar efetivamente. O grande desafio dos educadores uma docncia comprometida com a prtica, a partir do ensino da qumica como disciplina que pode se transformar em conhecimento. (Romanelli e Justi, 1998)

    O ensino de qumica atravs do educador dever ser aplicada de forma a contribuir para a compreenso da realidade e utilizar a bagagem cultural do educando.

    1.3 A leitura como descoberta e conscincia do mundo

    Como base terica fundamental ao discente, a contribuio da leitura como forma inerente comunicao nas relaes dialgicas no conjunto de manifestaes exteriores ao indivduo, se concretiza na forma de vivncias e experincias cotidianas no universo da leitura.

    Neste contexto Freire (1997) reflete que linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreenso do texto a ser alcanada por sua leitura crtica implica a percepo das relaes entre o texto e o contexto.

    Tomando como foco o ato de ler enquanto experincia individual, este no deixa de constituir, ao mesmo tempo, uma experincia social, uma vez que envolve pensamento e linguagem, cuja gnese marcadamente social.

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    O conhecimento dessas teorias, sem dvida, pode levar o professor a repensar a situao sobre as implicaes sociais na formao da mente e as conseqncias desse processo ativo na subjetividade caracterstica do envolvimento com o ato de ler.

    O movimento dinmico da leitura do mundo um dos aspectos centrais carregados de significao e, portanto, de experincia existencial e no da experincia do educador. Na concepo de Freire (1997), a representao do significado da leitura um ato particular entre o sujeito e o conhecimento e s depois, o sujeito realiza a internalizao da leitura e do mundo, correlacionando-as com sua vivncia.

    Por isso, a importncia do ato de ler evoca um profundo papel poltico da ao educativa e, como tal, exige posturas conscientes e coerentes dos educadores e da escola. Neste contexto, parte-se do princpio de que, na perspectiva discursiva dos textos, os sentidos sempre podem ser outros em que se disfaram as ideologias dominantes. H, entretanto, em todo discurso, uma relao tensa, considerando-se que as aes educativas neste contexto representam uma funo poltica, o que necessariamente submete o profissional a um constante exerccio de reflexo e de conscincia de seu papel social.

    A leitura tambm se constitui numa completa relao com o mundo, do ponto de vista da realidade e sua natureza poltica. A relao entre a educao enquanto subsistema e o sistema maior so relaes dinmicas contraditrias. As contradies que caracterizam a sociedade como est sendo, penetram a intimidade das instituies pedaggicas em que a educao sistemtica se d alterando o seu papel ou o seu esforo reprodutor da ideologia dominante.

    Assim, o papel social da escola assumir uma postura poltica, e ser coerente com a prtica. A opo de educadores crticos pode alavancar as mudanas sociais, na ao transformadora do real. Ao mesmo tempo o educador deve estar estimulando e desafiando, com a capacidade de fazer, de pensar, de saber e de criar problemas.

    O docente necessita estar preparado para dispor de atitudes pedaggicas e habilidades tecnolgicas a fim de intervir com base em conhecimentos atualizados, favorecendo ao aluno uma relao mais concreta entre o curso e os contedos aplicados. Desta forma seu conhecimento ser dimensionado para a realidade do

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    mercado e o exerccio profissional em um determinado campo de atuao, conseguindo assim atender demanda de um mercado flexvel e gil.

    1.4 A formao do Educador em Qumica

    O ensino da disciplina qumica no ambiente escolar reflete a necessidade de propostas para o Ensino Mdio que dimensionem a renovao pela qual passa essa rea do conhecimento. Ao mesmo tempo, partindo-se de uma concepo de que a qumica um conhecimento dinmico e tem uma intensa relao com o cotidiano, os cursos de formao continuada devero apresentar tcnicas e mtodos que estimulem a inovao, alm de novas competncias terico-prticas.

    Ferretti (1997) considera que a noo de competncia representa a atualizao do conceito de qualificao, tendo em vista a adequao s novas tendncias no quadro de mudanas educacionais. As competncias representam as novas exigncias educativas que configuram na conjuntura da formao de professores e educao continuada.

    Assim, entende-se que a dimenso conceitual da qualificao o que se refere justamente, formao e ao diploma, portanto, ao nvel de domnio dos conceitos e do conhecimento. Contudo, o diploma no garantia de competncia. Mas o conceito de competncia mais abrangente e envolve outras dimenses que se caracterizam pelo domnio de tticas, experincias pessoais, comportamentos sociais e interpessoais que possam produzir resultados positivos no cotidiano escolar.

    Neste contexto, Ramos (2001) analisa que as competncias no se deduzem automaticamente aos saberes, a profissionalizao de educador requer a construo de competncias que coloca em causa os contedos da formao.

    Conforme Ferreira (2003), a perspectiva do ensino de qumica exige mudanas que estimulem o pensar prtico em face de uma realidade em permanente mudana que exige uma constante formao do educador em servio.

    Nesse sentido, a pesquisa relevante por que ter como centro e fenmeno de estudo a formao continuada do educador mantendo-se a idia predominante de uma

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    pesquisa, em especial direcionada aos professores de qumica em aes de formao continuada que acontecem em situaes e espaos especficos institucionalizados.

    As mudanas no processo educacional trouxeram novos desafios aos educadores qumicos no contexto da construo de novas competncias e uma constante dinmica de relaes e experincias mtuas na construo do conhecimento no cotidiano escolar que gera a necessidade de um trabalho mais qualitativo.

    Nesse contexto, a finalidade da pesquisa se constitui na busca de respostas aos questionamentos de anlise prtica que se referem a real conjuntura da transformao identificada pelo educador nos cursos de formao continuada e sua importncia na reconstruo de sua profissionalidade, diante dos novos desafios que requerem a constituio de uma identidade no fortalecimento das perspectivas no campo educacional.

    O estudo a ser realizado relevante na busca de um contexto prtico e vivencial dos educadores que passaram pela formao continuada e na avaliao dos benefcios da formao quanto s experincias vividas e sua correlao com o cotidiano escolar.

    A concepo do ensino de qumica nos PCNs representa a idealizao de um tipo de proposta educativa que deve envolver uma boa formao do educador para contextualizar os procedimentos pedaggicos com base em um amplo caminho pelas demais disciplinas.

    Considerando-se que conforme Martnio (2001), a qumica deve ser vista como uma disciplina com base histrica que permitiu o desenvolvimento das civilizaes, determinando maneiras diferenciadas no modo de viver. Nesse contexto, o educador no pode negar essa conjuntura que transpe claramente o ensino cientfico de qumica para a noo de tempo, cultura e evoluo social.

    Assim, na base do estudo, fundamental que o educador possa estar estabelecendo essa correlao que existe de forma a permitir ao educando identificar a inter-relao entre a histria e outras disciplinas e o surgimento da qumica no universo educacional.

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    Partindo-se de uma anlise social e histrica do contexto educativo, a qumica uma disciplina fundamental por que se insere diretamente nas aes e nos recursos utilizados nas diversas atividades dirias das pessoas.

    Segundo Bizzo (2002), o domnio dos fundamentos cientficos hoje em dia indispensvel para que se possa realizar tarefas to triviais como ler um jornal ou assistir televiso. Da mesma forma, decises a respeito de questes ambientais, por exemplo, no podem prescindir da informao cientfica, que deve estar ao alcance de todos.

    Os educandos devem conhecer os contedos didticos de cunho cientfico e suas vrias faces que a disciplina envolve, nos aspectos ambientais, econmicos, sociais, polticos, culturais e ticos que so realizados atravs da leitura de textos e aulas expositivas.

    Um dos aspectos preocupantes no ensino da qumica a forma de lidar com o texto cientfico nos mecanismos de leitura. Assim, constata-se que esse tipo de leitura mais complexo e exige do educador uma atuao mais sistemtica.

    Nesse processo, exigem a leitura e a interpretao do texto com base nas estratgias para a compreenso mais profunda ou globalizante de sua mensagem, assim como a discusso da problemtica que envolve a mensagem textual.

    Conforme Kleiman (2000) esse processo de interpretao envolve mltiplos processos cognitivos em um conjunto de processos, atividades, recursos e estratgias mentais prprios do ato de compreender. Ainda Andrade (2003), expe:

    O processo de transmisso/aquisio de cultura, apesar de todo o avano tecnolgico observado na rea de comunicaes, ainda fundamentalmente realizado atravs da leitura (...). H, contudo, os alunos que no gostam de leitura. O fato que os estudantes no esto habituados a encarar a leitura como um processo mais abrangente, que envolva o leitor com o autor, no conseguindo prestar ateno, entender e analisar o que lem.

    Assim, a importncia da leitura fundamental para o aluno conhecer o mundo, atravs das mudanas tecnolgicas e cientficas. O ensino de leitura nesse caso envolve, a necessidade do educador incorporar uma tcnica ou procedimento que possa facilitar a compreenso dos textos (significncia, delimitao de suas dimenses, anlise da materializao lingstica, as intenes e objetivos do autor) para a

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    formulao de pressupostos sobre a temtica que envolve a apreenso do texto em estudo.

    A predominncia de um modelo de teoria adjacente ao ensino da qumica deve tambm estar voltada para a experincia obtida atravs da leitura. Assim no processo textual, o educador precisa incentivar o educando a questionar o texto, o problema da validade de enunciados universais, as definies e conceitos apresentados.

    No contexto educacional, a prtica social comum a professores e alunos pode apresentar diferentes nveis de conhecimento e experincia desta prtica social que muito enriquecedora para ambos. A partir da prtica poltica, fundamental a insero da problematizao para identificar que questes precisam ser resolvidas dentro da prtica social e que conhecimentos preciso dominar para resolver estes problemas.

    Neste processo, a instrumentalizao se constitui da apropriao dos instrumentos tericos e prticos necessrios soluo dos problemas identificados, que depende da transmisso dos conhecimentos do professor para que essa apropriao acontea, j que esses instrumentos so produzidos socialmente e preservados historicamente.

    A catarse2 do contedo, a partir das experincias vivenciadas e dos instrumentos culturais, como forma elaborada de entender a transformao social, tendo como ponto de partida prtica social e a mediao da ao pedaggica.

    A qumica uma cincia que est inserida no processo produtivo atravs dos procedimentos tecnolgicos e por serem comumente fruto de experimentao est sempre trazendo novos usos e melhorando a qualidade de vida na sociedade.

    O conhecimento qumico evolutivo e precisa ser identificado pelo aluno como integrado diretamente a vrios processos de trabalho envolvendo o uso de matria-prima como os recursos naturais.

    2 Esta a fase em que o educando mostra que de uma sncrese inicial sobre a realidade social do contedo que foi

    trabalhado, chega agora sntese, que o momento em que ele estrutura, em nova forma, seu pensamento sobre as questes que o conduziram a construo do conhecimento. Segundo Saviani (1999 p.80-81), o momento carttico pode ser considerado como o ponto culminante do processo educativo, j que ai que se realiza pela mediao da anlise levada a cabo no processo de ensino, a passagem da sncrese sntese. o momento que se assemelha a um grito de gol. a concluso de todo um trabalho, mas que dever continuar sempre em construo, atravs dos tempos e de novos conhecimentos.

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    Nesse contexto, apresenta uma correlao direta com reas como a geografia, a histria, a ecologia e o meio ambiente, dentre outras, como temas transversais. Assim, o estudo de textos de qumica exige planejamento para que o educador possa explorar as vrias nuances que o texto poder produzir em correlao com outras disciplinas para enriquecer o ensino.

    O enfoque crtico aponta para a necessidade de tratar de aspectos gerais que envolvem a presena e a importncia da qumica na vida moderna, seus benefcios e as limitaes de seu uso.

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    CAPTULO II O ENFOQUE HISTRICO-CRTICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUMICA

    2.1 A importncia do enfoque crtico

    Compreende-se que a pedagogia histrico-crtica em relao educao escolar, exige implicaes como a identificao das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condies de sua produo e compreendendo as suas principais manifestaes, bem como as tendncias atuais de transformao; a converso do saber objetivo em saber escolar de modo a torn-lo assimilvel pelos alunos no espao e tempo escolares, a partir da identificao dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos docentes e educandos, o que se constitui numa viso de mundo crtica e engajada na transformao da escola em espao de reflexo, desvelamento de uma realidade e sua correlao com a concretude cotidiana.

    Assim, cabe aos docentes utilizar forma especfica e metdica: a comunicao como linguagem crtica em sala de aula, de preferncia que ela esteja inserida em um projeto didtico-pedaggico maior, com um grau intensivo de regulao a fim de obter os objetivos esperados no processo de aprendizagem.

    Cabe ao docente superar a tentativa normal na sala de aula de homogeneizar as formas de transmisso de conhecimento, esperando que todos tenham exatamente o mesmo grau de intensidade de prazer de aprender, de facilidade de apreenso, de grau de interao com o tema abordado, sendo que os comportamentos de nossos alunos so to diferentes, assim como o conjunto de conhecimentos adquiridos de forma emprica nos relaes sociais extra-classe.

    As estratgias que podem dar excelentes resultados partem da escolha de como abordar um tema que seja de importncia central, como o caso das disciplinas que possuem uma forte influncia histrico-sociolgica, no sentido de sensibilizar o educando a perceber a realidade em sua volta, como as desigualdades sociais dentro da prpria instituio.

    O sistema capitalista e a cultura ocidental buscam ultrapassar a particularidade na construo de uma mesma clula ideolgica, da qual a escola est inserida como

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    instrumento de reproduo do sistema vigente. Assim, caber ao docente avaliar as formas de superar a premissa maior que vincula a objetividade neutralidade.

    A proposta da pedagogia histrico-crtica, sob o enfoque de uma poltica socialista, pode superar o ensino de qumica fragmentrio e desvinculado da realidade, existentes na escola, que impedem a participao e a democratizao em todos os pontos e paradigmas que devem ser superados para a reformulao de novas aes.

    Desta forma, o professor deve se indagar de que forma est contribuindo para ultrapassar os entraves que so percebidos pela resistncia de mudanas frente s situaes emergentes na escola.

    Uma das alternativas a superao do acentuado carter tcnico do texto e sua substituio pela anlise centrada em vrios enfoques (objetivos, delimitao, bases de fundamentao, etc.).

    Nesse aspecto, compreende-se que no apenas no cotidiano escolar que a realidade deve perpassar para o ensino fazer sentido, mas o ensino deve inserir os movimentos caractersticas da convivncia histrico-social que so determinados por fatores econmicos, sociais e polticos.

    A proposta da superao dos paradigmas tradicionais uma forma de evitar os aspectos corporativistas que impedem a escola de pensar coletivamente os propsitos educativos, das diferentes realidades presentes no contexto escolar. Da, porque a importncia da construo coletiva do projeto poltico pedaggico interdisciplinar para tornar as disciplinas mais conectadas e o estudo mais globalizado.

    possvel a construo de um trabalho educativo integrado e coletivo na possibilidade de gerar educandos crticos e conscientes, a partir de um ensino que permita a expresso de todas as falas, nas formas democrticas e mais transparentes na conduo da escola.

    A nova proposta pedaggica com base histrico-crtica pode ajudar a implementar a melhoria do ensino de qumica, a partir do uso de textos cientficos. Para Candau (1983), uma atuao conjunta dos atores educativos na escola poder favorecer uma ao educativa que permita ao educando apreender os mecanismos da

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    leitura e da interpretao. Acredita-se que somente atravs da construo de um projeto poltico-pedaggico, buscando superar as relaes de isolamento das disciplinas, a partir da organizao do trabalho escolar no ponto de vista tico e poltico, o ensino de qumica se tornar efetivamente qualitativo.

    Levando-se em considerao que a escola historicamente herdou todas as conjunturas de poder, hierarquia e privilgios, a pedagogia histrico-crtica tem grande fundamento em relao educao escolar implicando a identificao das formas mais desenvolvidas de tcnicas de ensino que explorem as potencialidades dos alunos.

    Nos dias atuais, quando o contexto educativo exige tanto do docente, no se pode deixar de repensar as prticas sociais, no mbito da escola, que sejam comprometidas com uma abordagem educativa valorizadora da formao poltica. Atualmente, a conjuntura social e poltica impem verdadeiros desafios educativos em relao ao papel do professor como mediador do conhecimento e da formao de conscincias.

    Nesse contexto, Gramsci (1995) afirma que a ao do educador, como prtica educativa, tem um carter intelectual, na prtica efetiva das mudanas positivas em relao funo social em uma sociedade de classes.

    O aspecto mais relevante para uma mudana qualitativa na escola, o educador ter firmeza e coragem para empreender debates e discusses poltico-sociais, organizar e estimular o comprometimento com os aspectos sociais em relao ao carter formativo para um mbito pedaggico que incorpore o carter poltico da prtica pedaggica.

    A viso do processo histrico deve ser amplamente inserida no contexto escolar, por que a educao requer do educador uma postura comprometida com a formao da conscincia de que para centrar-se no contedo e na prtica da formao poltica deve haver engajamento e predisposio para lutar contra o sistema de produo que contribui para as desigualdades e excluses sociais.

    Para Saviani (2000), na realizao de uma reflexo para a mudana, o docente deve antes de tudo compreender as diferentes modalidades de educao e, em contrapartida, um profundo conhecimento da escola.

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    A anlise do papel de educador, sob o ponto de vista da dialtica e das mistificaes ideolgicas pode ser a condio fundamental para que sejam analisadas as correntes ideolgicas que se mesclam no cotidiano escolar e que necessitam de uma certa conscincia social.

    O carter ambguo da educao e a forma como o erro e a verdade se confundem face aos mltiplos aspectos ideolgicos que perpassam as relaes internas da escola, esto profundamente arraigadas no processo histrico e cultural da sociedade.

    Para Giroux (1997), a questo essencial o desenvolvimento de uma linguagem, atravs da qual os educadores e outros possam desvelar e compreender o relacionamento entre ensino escolar, as relaes sociais mais amplas que o informam e as necessidades e competncias historicamente construdas que os estudantes trazem para a escola.

    No ensino de qumica, a ao docente dever buscar constituir o entendimento de que o processo de produo do conhecimento da disciplina envolve tambm outros aspectos relevantes como a tecnologia e a atividade humana.

    Assim, importante que o ensino desenvolvido na disciplina de qumica, possibilite ao educando, a partir de seus conhecimentos prvios, a construo do conhecimento cientfico, por meio da anlise, reflexo e ao, para que possa argumentar e se posicionar criticamente.

    Uma compreenso crtica deste relacionamento torna-se necessria para que os educadores reconheam como a cultura escolar dominante est implicada nas prticas hegemnicas que muitas vezes silenciam os grupos subordinados de estudantes.

    fundamental aos educadores, uma linguagem crtica para ajudar os educandos a compreender o ensino como uma forma de poltica cultural, isto , como um empreendimento pedaggico que considera com seriedade as relaes de raa, classe, gnero e poder na produo e legitimao do significado e experincia.

    Como podem os educadores construir um projeto pedaggico que legitime uma forma crtica de prtica pedaggica no ensino de qumica? De que forma os professores

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    podem trabalhar para apoiar uma pedagogia responsvel pela formao crtica do aluno?

    A pedagogia crtica se incorpora tambm nos pressupostos tericos de Saviani (1991), no que concerne a uma viso de pedagogia histrico-crtica que reconhea e combata a excluso social, o poder dominante e a ideologia que operam como aparatos de dominao nos contedos, trazendo uma compreenso da realidade do discurso. Nesse contexto, necessria a leitura de textos e a utilizao de mecanismos que permitam a anlise da realidade social.

    Matui (1996) considera que o educador deve ter uma postura afetiva e estar em constante dilogo com seus alunos. Entende-se que esse dilogo perpassa necessariamente pela reflexo sobre seus objetivos a partir de correlaes com a vivncia diria em sala de aula. Para que as relaes construdas na escola sejam enriquecedoras essencial o dilogo aberto para criar um ambiente, no qual os questionamentos, debates e discusses tornem-se uma constante, acabando com a passividade e apatia, possibilitando assim, a formao de um indivduo crtico e consciente.

    A pedagogia libertadora e humanizadora inserida no mtodo dialgico se manifesta nas teorias que contribuem para o senso crtico e uma viso mais abrangente dos aspectos polticos que envolvem a educao, a partir de caractersticas que permitem enfoques que contribuem para alargar o campo do conhecimento.

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    CAPTULO III ANLISE DO LIVRO DIDTICO DA DISCIPLINA QUMICA NO ENSINO MDIO

    3.1 Uma reflexo

    Os livros didticos tm sido, ao longo de nossa tradio cultural, um poderoso instrumento de seleo e organizao de contedos e mtodos de ensino. Em muitos casos, os livros didticos se constituem no nico material de apoio didtico disponvel para alunos e professores.

    A anlise realizou-se em trs diferentes colees de Qumica para o Ensino Mdio, conhecidas como: Qumica/Ricardo Feltre, da Editora Moderna; Srie Novo Ensino Mdio, da Editora tica e Qumica e Sociedade, da Editora Nova Gerao.

    Analisando os sumrios (anexo I) dos livros das trs colees, possvel perceber que no existe uma diferena muito significativa quanto seqncia de abordagem dos assuntos. A anlise mostra que os contedos aparecem numa seqncia logicamente organizada e que se repete na maioria dos livros desta disciplina.

    A diferena bsica recai sobre a forma de abordagem desses contedos:

    - A Srie Novo Ensino Mdio da Editora tica trabalha os contedos de forma direta sem a preocupao de relacionar os mesmos com a vivncia prtica do aluno.

    - A coleo Qumica / Ricardo Feltre da Editora Moderna trabalha os contedos de forma mais detalhada, com um grande nmero de tpicos vinculados aos temas em discusso, alm de atividades prticas e de pesquisa.

    - A coleo Qumica e Sociedade da Editora Nova Gerao se diferencia na forma de apresentao dos contedos pelo fato de utilizar, na abordagem da cada unidade, um tema social. Utiliza tambm algumas atividades prticas.

    A coleo Qumica/Ricardo Feltre apresentada em trs volumes divididos em captulos. Cada captulo, por sua vez, aparece divido em tpicos. No final de cada tpico so feitas revises das idias principais seguidas de exerccios. Nos captulos so

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    colocados tambm boxes com curiosidades e aplicaes da qumica, pequenas biografias de cientistas e sugestes de atividades prticas e leituras.

    A Srie Novo Ensino Mdio uma verso em volume nico. Os assuntos so divididos em trs partes e estas subdivididas em mdulos com apresentao da teoria seguida de exerccios resolvidos e exerccios propostos. O livro trs ainda algumas questes de provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio).

    A coleo Qumica e Sociedade, apresentada em volume nico, dividida em nove unidades que se aglutinam em torno de um tema social central. Os contedos so trabalhados em tpicos que envolvem notcias da atualidade, alm de exerccios, sugestes de atividades e leituras complementares.

    A coleo Qumica/Ricardo Feltre engloba a introduo de contedos buscando a simplificao da teoria atravs da articulao dos fatos do cotidiano. Os boxes tratam de temas relativos ao cotidiano pessoal e profissional, relacionando o conhecimento cientfico e tecnolgico com o conhecimento qumico e com o contexto social mais amplo. Tambm so sugeridas atividades prticas e de pesquisa alm de exerccios, leitura e questes sobre a leitura. A coleo no traz uma tabela peridica para consultas.

    A Srie Novo Ensino Mdio bastante compacta, apresenta uma organizao seqencial de contedos, sendo pouco contextualizada, levando o aluno memorizao de frmulas e conceitos e repetio de exerccios. No traz o gabarito com as respostas dos exerccios propostos e nem as referncias bibliogrficas.

    Na coleo Qumica e Sociedade, os contedos so apresentados em mdulos editorados e diagramados sob a forma de revistas. A organizao dos mdulos dessa coleo, diferentemente dos demais, em torno de um tema central. Por exemplo, o primeiro mdulo baseado no tema Lixo e o segundo, no tema Poluio Atmosfrica. Cada mdulo organizado em captulos que introduzem os contedos qumicos a partir de textos amplos relacionados ao assunto central intitulado Tema em Foco. Ao longo dos captulos so propostos exerccios com perguntas para reflexo sobre o texto ou sobre as imagens, nos quais questes so levantadas e relacionadas com outros conhecimentos disciplinares, alm de atividades prticas relacionadas ao contedo estudado, denominadas Qumica na Escola. A estrutura em mdulos em si aponta para

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    a flexibilizao das unidades de contedos, pois os professores so mais estimulados a utilizar os mdulos na ordem que julgarem conveniente. O livro no traz uma tabela peridica para consultas.

    O livro de Cincias deve propiciar ao aluno uma compreenso cientfica, filosfica e esttica de sua realidade (Vasconcellos, 1993).

    Na perspectiva citada por Vasconcellos, o livro didtico tem uma funo importante. Mas para que ele propicie uma compreenso cientfica, filosfica e esttica da realidade deve ser muito bem elaborado e no o que se percebe nos livros didticos de qumica. Divulgados no ano 2000, os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (PCNEM) trazem uma proposta de trabalho para tornar o ensino efetivo, focando principalmente a formao do cidado. Um dos objetivos desenvolver competncias que possibilitem uma viso de mundo atualizada, capacidade de compreenso das problemticas abordadas pelos meios de comunicao e a ao e relao do ser humano com seu meio social e suas tecnologias. Os PCNs no so regras impostas para dizer o que os professores devem ou no fazer. Muito menos podem ser chamados de proposta curricular ou programa curricular. So, isto sim, parmetros que podem proporcionar subsdios para melhorar a educao, apontando e sugerindo possibilidades de trabalho, levando os profissionais da educao, professores e comunidade escolar a refletir sobre por que e para que ensinar. (Brasil, 1999).

    Os PCNs so resultado de muita pesquisa realizada nas escolas brasileiras sobre o desempenho dos alunos e as prticas pedaggicas dos professores. Esses documentos (Brasil, 1998) definem Cincia como uma elaborao humana para a compreenso do mundo. Seus procedimentos visam estimular uma postura reflexiva e investigativa sobre os fenmenos da natureza e de como a sociedade nela intervm, utilizando seus recursos e criando uma nova realidade social e tecnolgica.

    Um dos eixos norteadores da Proposta Curricular para o Ensino de Qumica presente nos PCNs a contextualizao, que se refere abordagem dos contedos qumicos a partir de temas cotidianos. A contextualizao deve dar significado aos contedos e facilitar o estabelecimento de ligaes com outras reas de conhecimento, possibilitando, juntamente com os temas transversais que servem para ampliar o conhecimento do aluno fazendo com que as discusses de sala de aula ultrapassem os limites da disciplina e se ampliem para um universo cada vez maior incluir questes e

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    temas da realidade local ou regional, como tica, meio ambiente, sade, orientao sexual etc. em aulas de Cincias, tornando o ensino de maior significao para o educando, pois faz uma ponte entre teoria e prtica, o que previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - LDB e nos PCNs (Brasil, 1998).

    Contextualizar o contedo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relao entre sujeito e objeto. (...) O tratamento contextualizado do conhecimento o recurso que a escola tem para retirar o aluno da condio de espectador passivo (Brasil, 1998).

    Essa citao leva reflexo sobre a importncia da contextualizao na motivao dos educandos. Desse modo, com a implantao do programa de distribuio gratuita de livros didticos nas escolas pblicas pelo Ministrio da Educao, e mais, com a implantao do critrio avaliativo para seleo de tais obras, houve uma srie de esforos por parte de autores e editoras para enquadrar as colees dentro das exigncias do Ministrio da Educao e Cultura - MEC.

    Entretanto, um dos problemas originados dessa busca por enquadrar as colees aos critrios sugeridos pelo MEC diz respeito a como os livros didticos entendem a contextualizao. Os atuais materiais didticos, como livros didticos e apostilas, com contedos selecionados pelos autores e que parecem, na maioria das vezes, copias de outros livros no que se refere seleo de contedos, freqentemente no esto em acordo com as novas tendncias educacionais tais como interdisciplinaridade, contextualizao, tecnologia etc. Nos livros didticos, muitos autores entendem a contextualizao como mera exemplificao de situaes cotidianas que ilustrem aplicaes do conhecimento qumico. Muitas vezes citam acontecimentos do dia-a-dia para ilustrar algum tpico do contedo estudado em sala de aula, como se isso bastasse para ser considerado ensino contextualizado.

    A explorao de novidades cientficas pelos meios de comunicao acaba por criar uma demanda no contexto escolar para que professores e materiais didticos estejam sempre atualizados.

    O mundo contemporneo altamente tecnolgico; para compreend-lo, funo da escola, principalmente dos programas de Cincias Naturais e Sociais e de Fsica, Qumica e Biologia, incluir no seu currculo os assuntos relevantes para a formao de um cidado esclarecido sobre o que o cerca.

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    Na busca por um material contextualizado e atualizado, os livros didticos de Cincias vm inserindo de maneira crescente textos e imagens originalmente publicados em revistas e jornais de divulgao cientfica, incorporando temas de discusso da sociedade como clonagem, transgnicos e outros apontados por Auler, Strieder & Cunha (1997), quando citam temas como efeito estufa, destruio da camada de oznio, poluio ambiental generalizada, chuva cida, gua potvel e a questo energtica.

    O efeito estufa, por exemplo, presente em alguns livros didticos em geral apresentado de maneira pouco criativa como leitura complementar ou caixas de texto. Em grande parte, os textos utilizados com a principal funo de promover a atualizao de contedos acabam por no estabelecer conexes com as demais partes do livro. Os textos de divulgao cientfica possuem caractersticas que ilustram um tipo de texto cujos objetivos e composio so distintos daqueles que materializam o discurso cientfico escolar, particularmente os livros didticos de Cincias (Auler; Strieder & Cunha, 1997). Portanto, necessria a adaptao desses textos sem alterar significantemente sua estrutura e sem causar fragmentao das idias.

    Dessa forma, percebe-se que necessria uma discusso ampla e conceitual sobre conceitos como contextualizao, interdisciplinaridade, tecnologia etc. fundamental uma formao que permita ao professor diferenciar contextualizao de exemplificao, por exemplo, para que esse professor possa analisar criticamente os materiais didticos que utiliza, pois o livro didtico ainda a fonte de acesso ao saber institucionalizado de que dispem professores e alunos e constitui o centro do processo de ensino-aprendizagem em todos os graus de ensino no cenrio atual da educao brasileira.

    Para os professores que trabalham no ensino fundamental e mdio ou pesquisam a realidade desses nveis educacionais, evidente a influncia que o livro didtico exerce no ambiente escolar. Por essas e outras razes, analisar a qualidade do livro didtico passou a ser o foco de muitos educadores. Mas que qualidade essa que se avalia nos livros didticos? Vrios nveis de respostas podem ser dados para essa questo. Num primeiro nvel, pode-se pensar em qualidade do livro didtico enquanto objeto material. Outro nvel de anlise aquele que focaliza o livro didtico enquanto meio de comunicao. H um bom tempo o livro didtico brasileiro vem deixando de ser livro-texto para incluir figuras, imagens e outros recursos que o tornam mais bonito e colorido. Praticamente desapareceram os livros que tratam de determinado assunto com amplitude e surgiram aqueles que reduzem o conhecimento a pequenas partes. Por fim,

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    resta ainda outro nvel de livro didtico, que o analisa como instrumento capaz de levar o aluno aprendizagem.

    As estratgias e tticas que podem dar excelentes resultados partem da escolha de como abordar um tema para interagir na sala de aula. Assim, uma das competncias do professor deve ser o domnio de uma grande quantidade de estratgias e tticas para empreg-las para uma instruo eficiente. Para isto, o professor depende de uma formao e do uso direto do dilogo como ponte para a mediao pedaggica.

    Mesmo num mbito maior, se estivermos pensando em uma perspectiva de inovaes no ensino de Cincias que envolva elementos de uma discusso sobre as relaes Cincia, Tecnologia e Sociedade, a anlise de materiais didticos poder ser extremamente til.

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    CAPTULO IV PROPOSTA METODOLGICA PARA O ENSINO DE QUMICA

    4.1 Propostas metodolgicas

    Os textos escolares so instrumentos fundamentais para ensinar e estudar Cincias. Entende-se que no so escritos para apresentar o conhecimento cientfico, mas sim adaptados para guiar os alunos na aquisio do conhecimento escolar. Convertem-se para o docente num referencial direto dos contedos que desenvolve, dos exemplos que utiliza, dos problemas que resolve e dos que prope aos alunos.

    A proposta metodolgica apresentada neste estudo tem a finalidade de facilitar o trabalho pedaggico do educador e a estimular o aluno a desenvolver suas capacidades de leitura e interpretao. Compreende-se que o mtodo eficaz para atingir esse objetivo na medida em que se buscam os mecanismos de interpretao dos textos escolares no estudo de qumica.

    O mtodo se aplica para estabelecer as diretrizes gerais de domnio dos contedos, sendo utilizado como recurso quando se impe o interesse pela compreenso da leitura que se reveste de uma importncia maior porque se trata de um componente da formao do educando que compete ao professor atender.

    A compreenso deste processo envolve, entre outros, a codificao semntica, aquisio de vocabulrio, compreenso das idias do texto, criao de modelos mentais do texto e a compreenso do texto com base no contexto.

    O objetivo da apresentao de uma proposta pedaggica no ensino de qumica representa uma forma de contribuir para a melhoria do ensino. A escolha do mtodo e a tcnica partiram da concepo de dialogicidade na concepo de Luckesi e o uso do mtodo Paulo Freire, a partir dos recursos sugeridos como o uso de palavras geradoras.

    A viso Freireana de educao tambm est concentrada na viso de dialogicidade e de reconhecer o espao social e vivencial do educando sendo, portanto, uma contribuio fundamental.

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    A metodologia do estudo orientou-se pela pesquisa bibliogrfica e exploratria centrada nas contribuies tericas de vrios autores que realizaram artigos e livros sobre os mecanismos de leitura e interpretao de texto, mtodos e tcnicas de ensino para facilitar o pleno entendimento da mensagem textual. O mtodo aplicado compreendeu ainda a elaborao de questionrios (Anexo II) aplicados a professores e alunos do Ensino Mdio do Colgio Estadual Jos Rocha, localizado em Igapor, Estado da Bahia, com perguntas discursivas envolvendo a prtica docente e aspectos sociais e escolares. Portanto, o estudo tem a finalidade de conhecer as contribuies cientficas sobre o tema, tendo como objetivo analisar e interpretar as contribuies tericas existentes sobre o fenmeno pesquisado, com base descritiva das caractersticas apresentadas pelos vrios autores que fundamentaram a pesquisa.

    Com os resultados obtidos no questionrio apresentado na Figura 1 ficou evidente que a maioria dos professores de qumica do Colgio Estadual Jos Rocha em Igapor-BA, no tem formao especfica na rea para ministrar aulas de qumica (83,3%) e, mesmo os que tm (16,7%), no se reciclam e nem tm tempo para proporcionar aos alunos aulas mais significativas, fazendo com que a aprendizagem seja limitada, lenta e restrita a objetivos de baixo nvel cognitivo.

    16,7

    66,6

    16,7

    Licenciado em qumicaPs-graduado em outras reasNo-especializado

    Figura 1 - Nvel de escolaridade dos Professores de Qumica

    Os professores tm conscincia da importncia deles na formao de cidados, mas infelizmente a maioria no consegue romper com o sistema e optam por um ensino tradicional, pautado pela utilizao dos modelos oferecidos pelos livros didticos mais conservadores.

    Os professores de qumica (66,7%) apresentaram alguma dificuldade com relao ao contedo abordado em sala de aula como mostrado na Figura 2. Verifica-se que um dos grandes problemas com relao ao ensino de cincias e em particular o

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    ensino de qumica e suas tecnologias tem sido o baixo ndice de professores habilitados nas reas especficas de atuao e, mesmo aqueles com formao especfica esto carentes de oportunidades de atualizao de seus conhecimentos e de serem postos em contato com tendncias inovadoras para o ensino de qumica e suas tecnologias, pois ao longo dos anos estes profissionais tm adotado metodologias que privilegiam a aprendizagem por aquisio conceitual (aprendizagem mecnica), dificultando consequentemente a assimilao e domnio dos contedos por parte dos alunos.

    66,7

    33,3Domnio dos contedos porfalta de conhecimentos prviosRepasse aos alunos

    Figura 2 - Dificuldade dos professores em relao aos contedos de qumica.

    A dificuldade em abordar certos contedos de qumica poderia ser minimizada com a utilizao de aulas prticas, entretanto a grande maioria dos professores tem dificuldades neste tipo de aula, provocada pela falta de conhecimentos especficos para o trabalho de laboratrio, infraestrutura e tempo para preparao das aulas. Os resultados podem ser visualizados na Figura 3.

    5033,3

    16,7Falta de conhecimentosespecf icos para o trabalhode laboratrioFalta de roteiros

    Falta de tempo para preparara aula

    Figura 3 - Dificuldade dos professores para realizao de aulas prticas.

    J no estudo realizado com os alunos da mesma escola, verificou-se que estes, em sua grande maioria (70%), demonstram gostar de estudar qumica.

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    70%

    30%

    SimNo

    Figura 4 - Voc gosta de estudar Qumica?

    Estes consideram o estudo da qumica importante devido marcante presena desta disciplina em suas vidas, possibilitando um melhor conhecimento do mundo, e pela necessidade na futura profisso. A existncia de uma "prtica comprovando a teoria" e a facilidade de assimilao dos conceitos tambm os motiva. Em contrapartida, alguns alunos consideram a disciplina desinteressante ou sem utilidade em sua vida cotidiana. A forma como a matria apresentada e a dificuldade em sua assimilao, desestimulam e contribuem para a falta de motivao. Observa-se que as justificativas, tanto para a motivao quanto para a desmotivao demonstrada no ensino de qumica, esto associadas a alguns fatores, como: necessidade/no necessidade; facilidade/dificuldade e teoria/prtica (forma como apresentada).

    55%23%

    22%

    ProfessorInteresse pela matriaForma como a matria apresentada

    Figura 5 - Grau de influncia de alguns fatores no ensino de qumica.

    Consideramos que a presena destes opostos valida a anlise do questionrio, sugerindo que a necessidade, a facilidade e a forma como o contedo apresentado so fatores que estimulam e motivam o aluno a estudar qumica, alm da figura do professor como elemento de grande significado no processo ensino-aprendizagem.

    A dificuldade em relacionar a qumica escolar com a qumica do cotidiano, indica que esta relao no estabelecida de forma clara e sistemtica. As observaes

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    realizadas levam ao questionamento acerca da validade dos fatores que motivam o estudo da qumica. Consideramos que estes fatores so vlidos, pois mostram aspectos da disciplina ou de seu ensino, que agradam aos alunos e esto entre algumas das sugestes fornecidas para a melhoria do ensino da qumica e que podem ser alcanados na prtica. Estes fatores, aliados utilizao das concepes prvias dos alunos oriundas das relaes sociais, podem levar a uma melhoria no ensino da qumica. Entendemos esta melhoria como a possibilidade de nosso estudante, ao final de seu curso, ter a capacidade de perceber e relacionar, de forma mais efetiva, os conhecimentos qumicos adquiridos na escola a aspectos de sua vida social e profissional, rompendo a barreira existente entre o conhecimento escolar e o social.

    Diante das observaes realizadas possvel enumerar tpicos voltados para minimizar a problemtica em questo:

    Instituir no ensino de qumica uma docncia aplicada com base na prtica, visando minimizar as dificuldades que limitam esses conhecimentos. Portanto, uma forma de interveno pedaggica pode ser um dos meios para facilitar o ensino de qumica, enquanto cincias com a aplicao de conceitos, mtodos e linguagens prprias, relacionando os conhecimentos tericos aos prticos;

    Possibilitar ao docente melhores condies de trabalho, com remunerao digna e possibilidade de capacitao continuada;

    Definir um tipo de interveno pedaggica com base em mtodos e tcnicas para que os educandos possam ter um ensino-aprendizagem mais direcionado sua realidade social;

    Reconhecer aspectos qumicos relevantes na interao individual e coletiva do ser humano com o meio ambiente. A qumica tem papel no sistema produtivo, industrial e rural e muitos desses eixos devero ser levados ao educandos em forma de exemplos diretos que estabeleam conexo com sua realidade;

    Reconhecer as relaes entre o desenvolvimento cientfico e tecnolgico da qumica e os aspectos sociopoltico-culturais.

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    Favorecer um ensino de qumica que poder ser apresentado de forma significativa de modo que o aluno reconhea e compreenda as transformaes qumicas que ocorrem nos processos tecnolgicos nos diferentes aspectos em diferentes contextos e suas aplicaes ambientais, sociais, polticas e econmicas;

    Desenvolver dinmicas de grupo, alm de experincias e aulas prticas com base nos contedos;

    Apresentar os experimentos e oficinas atravs dos questionamentos e das pesquisas realizadas;

    O uso de diferentes recursos didticos e estratgias de ensino contribuem para um maior engajamento, participao e interesse dos alunos nas aulas, questionando, opinando e agindo em situaes problemas.

    4.2 Diagnstico das dificuldades de interpretao do texto de Qumica

    Conforme Kleiman (2001) necessrio ao educador identificar as dificuldades dos alunos e analisar as formas de interveno. Existem meios de diagnsticos prticos que definem as dificuldades a partir da leitura de textos, desde os problemas de vocabulrio, semnticos e lingsticos que exigem o desenvolvimento de habilidades quantitativas, como efetuao de clculos e resoluo de problemas, desenvolvimento de habilidades qualitativas, que devem ter estratgias de ensino relacionadas ao aperfeioamento da linguagem.

    Os meios de diagnstico com os alunos podem ser realizados atravs de interpretao de textos e de criao escrita. Essas estratgias permitem ao professor identificar as dificuldades de compreenso na leitura e a capacidade vocabular do educando. O diagnstico importante por que se constitui em um instrumento para a descoberta de limitaes a serem sanadas no cotidiano escolar.

    A identificao de nveis de compreenso de leitura em textos que utilizem linguagem cientfica e na sua relao com o rendimento escolar do aluno nesta rea especfica do conhecimento depende basicamente das caractersticas do texto, atendendo aos diferentes nveis lingsticos, do seu contedo e da sua estrutura. Assim,

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    a seleo de textos pelo professor abranger todas as tipologias textuais que a disciplina envolve desde tabelas, grficos e textos didticos.

    Atravs da anlise dos textos, da observao e do dilogo possvel ao educador identificar as dificuldades do aluno na interpretao de textos.

    4.3 Mtodos Luckesi e Paulo Freire em Qumica

    Os mtodos se caracterizam pelo uso de aes direcionadas na busca de um determinado conhecimento. Metodologia o conjunto de mtodos ou caminhos que so percorridos na busca do conhecimento. Nesse sentido, a pesquisa voltada para as cincias se situa em cincias da natureza e cincias sociais. (Martins; 2000)

    Conforme Andrade (2003), em relao ao mtodo cientfico, h as correntes que consideram que existe mais exatido e rigor nas cincias experimentais que nas cincias humanas. Embora as cincias humanas sejam mais flexveis, estudam fenmenos reais, ainda que diferentes dos mtodos experimentais usados nas cincias formais, pois tratam de fatos humanos, em processos que exigem anlises qualitativas. Na viso de Cervo & Bervian (1983):

    Em seu sentido mais geral, o mtodo a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessrios para atingir um fim dado ou um resultado desejado. Nas cincias, entende-se por mtodo o conjunto de processos que o esprito humano deve empregar na investigao e demonstrao da verdade.

    O mtodo , portanto, um conjunto de procedimentos utilizados na investigao de fenmenos.

    Serra Negra & Serra Negra (2003), consideram que mtodo o conjunto de processos pelos quais se torna possvel conhecer determinada realidade para produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos. Entende-se que mtodo um conjunto de processos racionais postos em prtica para determinar a busca da verdade e de conhecimentos.

    O mtodo de leitura e interpretao basicamente se apresenta atravs do mtodo dialgico. Conforme Luckesi (2003), o mtodo dialgico abrange estudos tericos e analticos de documentos e textos, atravs de procedimentos que tem como

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    base o dilogo compartilhado entre os grupos ou comunidades que fazem parte do fenmeno de estudo.

    Do ponto de vista etimolgico, o termo dilogo se origina da fuso das palavras gregas dia e logos. Dia significa por meio de e logos traduz-se para o latim ratio (razo), mas tem vrios outros significados, como palavra, expresso, fala, verbo. Neste contexto, a definio de metodologia dialgica est expressamente definindo um modelo, seu sentido e seu significado.

    O mtodo dialgico permite direcionar uma srie de tcnicas de ensino para complementar as atividades do professor no processo de ensino-aprendizagem, com nfase a mtodos crticos e de natureza voltadas ao aluno como sujeito do processo de ensino, com propostas de processos de elaborao contnua, sistemtica, cientfica e integral nas bases de identificao de objetivos educacionais que podero ser alcanados pelo professor no produto final como resultado do processo interativo com os alunos.

    O processo de administrao das aprendizagens permite ao professor trabalhar os erros e obstculos de aprendizagem. O mtodo dialgico se processa como instrumento formativo que, dependendo da ao prtica do docente, poder ser adaptado gesto das situaes de aprendizagem e regulagem dos resultados.

    O processo de contextualizao dos contedos aplicados deve apoiar-se em um julgamento especializado, envolvendo o educando e seu ponto de vista. A dialocidade s se completa quando h uma mediao em que ambos se encontram interados, envolvendo-se no processo de aprendizagem. Essa construo se faz mutuamente.

    Neste processo de mediao na aula de qumica, o docente dever manter a linha da continuidade e dos aspectos formativos, enfocando os aspectos cognitivos, somando-os aos domnios do conhecimento, com criticidade e reflexo.

    O mtodo dialgico permite superar a assimetria na relao professor-aluno e o professor deixa de ser a nica fonte de conhecimento na relao de aprendizagem. Assim, supera-se a idia falsa de que o aluno pressupostamente vazio de experincia e de conhecimento evitando, portanto, a noo de autoridade, submisso e obedincia.

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    A relao de construo do conhecimento de forma mtua e participativa favorece ao educando certos comportamentos ou habilidades consideradas como requisitos prvios para o xito no ensino-aprendizagem, a partir das condies para a autonomia intelectual. Conforme Luckesi (2003):

    Os resultados dos estudos prticos e tericos do mtodo dialgico se fazem na insero de uma prtica pedaggica dinmica com base na assimilao ativa dos contedos socioculturais, do desenvolvimento das capacidades cognoscitivas do educando e da construo de um ensino mais justo e democrtico que coloca o aluno como sujeito do conhecimento.

    Assim, constata-se que Luckesi (2003), ao realizar algumas concluses sobre o mtodo dialgico, avalia que a sua conduta procedimental fornece condies propcias para o dimensionamento da aprendizagem.

    A proposta de mtodo dialgico em Freire (1996) se enquadra em uma sntese cultural como forma sistematizada e deliberada de ao que incide sobre a estrutura social, no sentido de transform-la, ao mesmo tempo buscando a superao da invaso cultural e de aes no-dialgicas.

    Neste enfoque o direcionamento favorece a articulao do aprender, do analisar, do discutir o texto de qumica, com base em opes existentes execuo, em situaes concretas em que o vivido se aproxima cada vez mais.

    Desta forma, a questo da qualidade do ensino de qumica passa necessariamente por uma reavaliao destes aspectos que envolvem a coerncia do professor para que possam superar a dicotomia, entre teoria e prtica, entre o real e o abstrato, superao da fragmentao a partir de mudanas qualitativas e do uso de outras disciplinas como a histria, geografia, cincias e artes para demonstrar a correlao entre os conhecimentos.

    Freire (1997) externaliza que somente quando professor e aluno criam e constroem um conhecimento mutuamente, o aprendizado se realiza de forma biunvoca, ambos aprendem, ambos se sentem parte constitutiva da produo.

    Neste contexto, o professor poder estar refletindo sobre as formas de utilizao da informao, buscando verificar as possibilidades de sua aplicao de maneira mais

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    inventiva ou criativa de modo a colocar o educando em contato com o saber j elaborado de forma reflexiva ou ativa.

    Entende-se que na medida em que o educando precisa usar de seus mecanismos de assimilao receptiva inteligvel ter condies de reelaborar uma nova anlise sobre o conhecimento e relacion-lo com a experincia vivida, como primeiro elemento fundamental da aprendizagem ativa.

    A perspectiva do mtodo utilizado na aprendizagem da disciplina qumica um fator que poder contribuir para o professor direcionar sua aula, a um mtodo reflexivo e crtico, na concepo segundo a qual a realidade ser abordada na forma de contedos em suas vises valorativas do mundo e da realidade, assimilados pelos educandos.

    Da, a importncia de uma valorao crtica do professor acerca da viso ideolgica a perpetrar os caminhos pedaggicos, ao trabalhar com os educandos no processo de ensino, para que eles no assumam posies ingnuas e alienantes que possam limitar suas formas de compreender a realidade.

    Portanto, Luckesi (2003) enfoca especialmente a questo do mtodo dialgico para o desenvolvimento interno das capacidades cognoscitivas no exerccio do pensar crtico do educando. O mtodo dialgico favorece as capacidades cognitivas para o estmulo participao ativa em situaes-problema que juntamente com o uso de recursos metodolgicos so muito importantes para o professor atingir os objetivos almejados no ensino.

    As tcnicas possveis de se utilizar no ensino de qumica podem demonstrar as matrias primas sendo transformadas. Para isso so necessrios recursos didticos de diversas modalidades: exposio oral, demonstrao, exemplificao, apresentao por meio de um filme, de um vdeo, de um texto a ser lido, etc.

    Assim, compreende-se que so necessrias ao professor a competncia terica e a conscincia crtica para aplicar de forma dinmica os contedos de qumica dentro dos limites de complexidade e dificuldade em relao aos alunos, como a busca de novos conhecimentos, se necessrios, para a produo de um novo. Para a adaptao do professor ao uso do mtodo dialgico em sala de aula depender o planejamento

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    especfico, para evitar procedimentos aleatrios. O planejamento parte integrante do modo de conduzir a ao. Como afirma Luckesi (1998):

    O planejamento no um ato de preencher formulrios, como vem ocorrendo na prtica docente, mas sim um ato de preparao para a contextualizao dos contedos e tcnicas a serem utilizadas. A execuo do planejamento, portanto, importante na prtica cotidiana do professor por que favorece a constituio de compromissos e princpios para o planejamento que permitam ao educador criar as condies favorveis ao ensino-aprendizagem.

    Assim compreende-se que o mtodo dialgico garante tambm um ensino heterogneo e individualizado que permite a formao das competncias e habilidades dos alunos, mas depende tambm das competncias do professor para lidar com prticas educativas mais complexas como os textos de qumica que possuem teor cientfico e que exigem o desenvolvimento do esprito de conscientizao e autocrtica nos mecanismos de leitura de textos.

    A aprendizagem pode ser mais significativa a partir de posturas mais abertas, formao pedaggica atualizada e formao terica baseada em concepes humansticas e de formao libertadora. Conforme Freire (1997):

    necessrio que o educador se conduza definio do significado primordial de sua prtica educativa, porm no apenas de modo superficial, mas levando em conta os problemas desvelando em profundidade as questes que so colocadas sobre a realidade social em um processo concebido como um processo de libertao.

    fundamental ao professor, buscar rumos novos no sentido de construir uma relao agradvel, uma relao mtua e que desenvolve aquilo que de competncia dele, quer dizer, de trabalhar com o conhecimento, de encaminhar o aluno ao desenvolvimento de um pensar crtico e criativo.

    Devem-se avaliar novos processos de humanizao na relao pedaggica entre professor-aluno para que seja possvel, ao educando uma educao mais democrtica e autnoma. Certamente, o caminho da autonomia na relao pedaggica, depende de mudanas nas posturas e atitudes mais tradicionalistas, cujas transformaes dependem fundamentalmente de aes objetivas e claras.

    O aspecto da competncia pedaggica envolve muito mais do que o domnio de mtodos e tcnicas, envolve uma postura fundamentada no ato pedaggico que demanda segurana, generosidade e tica para com aquele que est aprendendo.

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    Certamente, este ato pedaggico est diretamente vinculado ao desempenho do docente, em usar seus conhecimentos fundamentados numa concepo filosfica e numa poltica de educao humanizadora na sua ao educativa.

    O professor deve respeitar os saberes dos educandos, sobretudo as classes populares, no que concerne aos saberes construdos na prtica comunitria e deve ter a conscincia de discutir com o educando, formas de relacionar contedo e prtica cotidiana, discutindo com os alunos a realidade concreta associada aos contedos de qumica.

    A formao contnua dos profissionais que atuam no mercado de trabalho se tornou uma questo fundamental. E quanto ao professor, a responsabilidade parece ser dobrada, quando ainda existe a manuteno da ideologia de que a educao a sada para as crises do pas. A especializao, o pensamento e as competncias do professor so objetivos ainda a alcanar com certa dificuldade.

    A instrumentalizao de competncias no se constri em um perodo curto de tempo, e requer certo grau de autonomia do docente e conhecimento para adotar medidas didtico-pedaggicas.

    Os avanos tecnolgicos trouxeram a informtica para o mbito da vida cotidiana nas escolas o que exige do professor competncia e segurana no uso de tecnologias e das formas de utiliz-las com os alunos. Essa mudana tecnolgica, principalmente na escola, gerou uma reflexo sobre os mtodos educativos e a necessidade de formao continuada do professor para enriquecer as experincias do processo educativo.

    O papel do professor amplia-se significativamente. Do informador, que dita contedo, pode transformar-se em orientador de aprendizagem, em gerenciador de pesquisa e comunicao, dentro e fora da sala de aula.

    Nesse contexto, o docente poder ajudar a contextualizar o ensino de qumica, a ampliar o universo alcanado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informaes trazidas. Esse caminho de ida e volta, no qual todos podem se envolver e participar na sala de aula fascinante, criativo, cheio de

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    novidades e de avanos. O conhecimento que elaborado a partir da prpria experincia torna-se muito mais forte e definitivo.

    Certamente a utilizao de recursos didtico-pedaggicos no suficiente para organizar e dirigir situaes de aprendizagem, portanto, indispensvel que o docente domine os saberes e, mais que isso, saiba como torn-lo significativo frente realidade, confrontando-o com a prtica. (Candau; 1993)

    No basta apenas o domnio dos contedos de qumica, mas essencial que a construo do conhecimento possa se realizar em condies abertas que envolvem situaes complexas.

    O recurso didtico importante porque estimula a criatividade e tornam os momentos educativos menos extenuantes, mas por si s, os recursos no garantem a qualidade do ensino. (Bizzo; 2002)

    O desempenho didtico-pedaggico envolve um aspecto relacional entre prtica e teoria, entre transmisso de conhecimentos e transformao desses conhecimentos em um aprendizado significativo dentro da realidade vivenciada no momento histrico e scio-cultural.

    As trs etapas do Mtodo Paulo Freire (Tabela 1) se enquadram efetivamente no mtodo dialgico que tem por base os seguintes pressupostos: Na primeira etapa, o docente deve conhecer a realidade social do educando para que possa estabelecer com ele um dilogo mediativo, ou seja, o conhecimento de sua conjuntura social e cultural permitir ao educador entender seu universo, viso de mundo e conhecimentos experienciais.

    O mtodo dialgico favorece tambm elaborao e desenvolvimento de uma metodologia alternativa a partir de observaes concretas, utilizando-se para isso da experimentao (com material convencional ou alternativo) necessria como suporte para o aprendizado dos conceitos ministrados. Nesse sentido, cabe ao docente motivar os educandos a usarem o laboratrio para experincias.

    Certamente as posturas de melhoria na qualidade do ensino dependem diretamente da formao do professor e sua motivao para propiciar as atividades

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    interativas. Nesta etapa o professor tambm se torna um educando, medida que pesquisa e explora o universo educativo para com seus alunos construrem um novo conhecimento.

    Com a pesquisa, o docente ter a oportunidade de confrontar-se com as dvidas e as incertezas de um determinado campo de conhecimento, de se tornar tambm um docente-discente e de ser iniciado nos mtodos e na epistemologia da investigao, estimulando a apropriao ativa dos conhecimentos cientficos. Isto porque em uma pesquisa necessrio lidar com conceitos, variveis e hipteses, e trabalhar de forma mais sistemtica com o conhecimento terico do que nas atividades prticas.

    A eleio de temas se constitui em um importante processo do mtodo dialgico, por que o momento da escolha dos temas geradores ou palavras significativas no universo do contedo aplicado. A escolha se efetiva na explicitao do relato dos participantes a respeito de suas experincias de vida, suas dificuldades e problemas.

    Assim, Freire (1997) partiu do universo vivencial de cada educando, para que a partir da discusso com os alunos, houvesse espao para uma ao dialgica, marcada pela experincia de cada um e intensificada pelos novos conhecimentos adquiridos.

    Portanto, os temas geradores nos contedos de qumica podero fornecer uma importante ao desencadeadora de elementos culturais novos e estimuladores da participao do educando. Ao iniciar a aula, o professor poder apontar o tema gerador e a problematizao para ser discutida e analisada pelos grupos de alunos, a partir de conhecimentos mtuos e mediatizados pelas experincias e pressupostos tericos em um esforo pelo qual os educadores e educandos, se apropriam de novos conhecimentos que permita-lhes perceber criticamente a realidade.

    Na educao, a comunicao essencial para garantir o nvel de interao que condiciona o aprendizado em consonncia com o meio, que suscita um mundo novo de experincias e significaes. Portanto a linguagem representa uma fonte de incurso no mundo da comunicao e das novas experincias.

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    Tabela 1 Etapas do Mtodo Paulo Freire

    AS TRS ETAPAS DO MTODO PAULO FREIRE (MTODO DIALGICO)

    Vivncia e pesquisa

    Momento em que o educador vive, realmente na comunidade do educando, participando de sua listagem e de seus problemas. Neste passo, Paulo Freire quer que a dicotomia educador-educando desaparea, dando lugar ao educando-educador-educador-educando. neste momento em que o educador comea recolher o que sero os temas geradores ou palavras geradoras.

    Eleio dos temas geradores

    A partir da vivncia, o educador recolhe temas e palavras no contexto da aula e passa a organizar junto com os educandos os crculos de cultura, o grupo onde aconteceria o dilogo amoroso, humilde, horizontal entre educando-educador e educador-educando. O mtodo dilogo aqui empregado consistiria na explicitao do relato dos participantes a respeito de suas experincias de vida, suas dificuldades e problemas. O animador do centro de cultura, uma vez tendo vivido na comunidade, estaria apto a resgatar, nesse momento, os temas geradores e as palavras geradoras, j previamente sentidos por ele prprio na comunidade, como que espelhando dificuldades.

    Problematizao atravs do dilogo

    A problematizao implicaria a idia de que ningum educa ningum, e tambm de que ningum se educa a si mesmo, mas os homens se educam em comunho, mediatizados pelo mundo. Como escreveu Paulo Freire: a problematizao se faria, assim, atravs do esforo pelo qual educadores e educandos iriam percebendo, criticamente, como esto sendo no mundo com que e em que se acham.

    Assim, compreender que a prtica de educar para a autonomia e criticidade, depende de aes conscientes que no sejam voltadas apenas para a transmisso de contedos particulares de conhecimento, reduzir o ensino a determinadas matrias, nem restringir o saber exclusivamente a assuntos de natureza tcnica. muito mais do que isto, despertar no educando um novo modo de pensar e de sentir a existncia, em face dos desafios que o mundo impe.

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    Considera-se que o mtodo de ensino e suas estratgias devem ser predominantemente crticos em relao ao contexto social e s necessidades do desenvolvimento educativo do aluno. A escolha metodolgica fundamental porque tem efeitos na formao do acadmico, na sua cosmoviso no seu modo de viver.

    Neste contexto, o dilogo entre educador e educando e o objeto do conhecimento uma ponte de mediao entre as possibilidades de transformao de uma educao baseada em contextos no-crticos e alienantes para uma nova construo do saber.

    Segundo Freire (1997), o dilogo estabelecido na relao educativa possibilita a construo de um ambiente favorvel produo do conhecimento, onde o medo do professor e o mito que se cria em torno dele sejam quebrados estabelecendo desta forma uma relao de respeito e confiana entre as peas fundamentais do espao pedaggico.

    Assim, compreende-se que cabe ao professor formular competncias como hospitalidade, responsabilidade e bondade. Hospitalidade entendida como capacidade de abertura, de escuta e de relao, como disposio para acolher a diferena misteriosa testemunhada por outro ser humano e a partir da qual se desenvolve uma responsabilidade profissional ativa. Uma responsabilidade que, investida pelo poder da bondade, deve ser vivida num contexto de sensibilidade, dilogo, ateno e cuidado.

    A ao dialgica do professor em sala de aula ajuda o aluno manter uma reflexo crtica contra a desmotivao e passividade no desenvolvimento das atividades propostas. As atitudes de aproximao e dilogo eliminam o distanciamento entre educador e aluno no processo de ensino-aprendizagem estabelecendo na sala de aula um ambiente agradvel de troca de conhecimentos.

    Portanto, conforme Silva (2005) primordial que o professor e o educando estabeleam, em sala de aula, postura dialgica, aberta, curiosa, indagadora, onde o principal objetivo favorecer a constante aquisio de conhecimentos. Essas aes no processo educacional so importantes por que o educador no pode ficar reduzido apenas a suas capacidades didticas e cientficas, mas deve estar preparado para demonstrar sua capacidade comunicativa.

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    Compreende-se que a educao escolar deve assumir, atravs do dilogo, as condies para a construo do conhecimento, com a responsabilidade de dar ao educando o instrumental para que ele exera uma cidadania mais consciente, crtica e participante necessrias para uma prtica social viva e transformadora.

    Segundo Saviani (1991), os mtodos estimulam a atividade e iniciativa dos alunos, mas o professor no deve abrir mo da iniciativa que favorecero o dilogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o dilogo com a cultura acumulada historicamente.

    O modelo de educao que se pretende transformador tem como base a conscincia histrica e a reflexo crtica sobre os conceitos, as idias e as aes educativas de nossa poca, que possibilitam nossa contribuio efetiva na construo de prticas e teorias de educao escolar com sensibilidade s necessidades e interesses dos alunos.

    Neste contexto, o educador ter de entrelaar a sua prtica-teoria e a dialogicidade consistente nas propostas pedaggicas que perpetuam uma perspectiva de desenvolver competncias para a compreenso da importncia do dilogo em sala de aula.

    A interpretao de textos depende de tcnicas de debate dialgico, a partir de reflexes crticas acerca dos seus fundamentos, de sua semntica prpria, e do conhecimento de seu vocabulrio. Nesse sentido, a base para facilitar o trabalho do educador sero as anlises epistemolgicas ou metodolgicas que articulam os procedimentos e os critrios de interpretao de textos, com o uso de simulaes de textos, imagens, grficos e tabelas.

    O mtodo dialgico permite direcionar uma srie de tcnicas de discusses de grupo com propostas de processos de elaborao contnua, sistemtica, cientfica e integral nas bases de identificao de objetivos. Portanto, a tcnica se pauta em situaes analticas de problemticas que envolvem opinies, autocrticas e reforo de idias e solues criadas pelo prprio grupo. (Luckesi, 2003)

    O processo de administrao das aprendizagens dever ser estimulado pelo educador que busca trabalhar os obstculos na apreenso dos contedos dos textos. O

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    mtodo dialgico se processa como instrumento formativo que, dependendo da ao prtica do educador, poder ser adaptado gesto das situaes de aprendizagem em grupo, ativando um clima de motivao e regulagem dos resultados.

    O processo de contextualizao dos contedos aplicados aos trabalhos realizados em grupos deve apoiar-se em um julgamento especializado, envolvendo cada membro da equipe e seu ponto de vista. A dialocidade se completa quando todos os grupos colocam suas concluses e ocorrem processos de mediao em que todos interagem envolvendo-se no processo de aprendizagem. Essa construo se faz mutuamente. (Gasparin, 2002)

    Neste processo de mediao, o professor precisa manter o enfoque da continuidade e dos aspectos formativos, trabalhando os aspectos cognitivos, somando-os aos domnios do conhecimento lingstico do vocabulrio e da interpretao baseada na criticidade e reflexo.

    Conforme Luckesi (2003), os resultados dos estudos prticos e tericos do mtodo dialgico se fazem na insero de uma prtica pedaggica dinmica com base na assimilao ativa dos contedos e do desenvolvimento das capacidades cognoscitivas do aprendente.

    Avalia-se que em um grupo de aprendizagem mtua que dialoga, as palavras circulam entre os integrantes e passam atravs destes, circulando atravs de anlises, avaliaes e inferncias gerais ou juzos de valores, tal como se apresentam os fenmenos diante da experincia imediata dos participantes nas anlises de interpretao do texto.

    Portanto, a interao dialgica um instrumento que permite a formao de redes, voltadas para as experincias de reflexo conjunta. De acordo com Luckesi (2003), o mtodo dialgico permite direcionar uma srie de tcnicas de discusses de grupo com propostas de processos de identificao dos aspectos semnticos, lingsticos, vocabulares e cientficos.

    Assim, constata-se que Luckesi (2003), ao realizar algumas concluses sobre o mtodo dialgico, avalia a sua conduta procedimental como as condies propcias para o dimensionamento da leitura interpretativa de textos. O mtodo dialgico se apresenta

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    como ferramenta metodolgica de reflexo conjunta, favorecendo a observao compartilhada das experincias realizadas entre esses e as orientaes do educador.

    O mtodo dialgico seria uma definio adequada para a preparao para os mecanismos metacognitivos da interpretao, em um dinamismo que permite a interao verbal, atravs da tcnica de discusso/debate, aplicao dos problemas reais, soluo compartilhada e individual e a elaborao da sntese dos resultados. O dilogo se caracteriza por uma metodologia que estimula a conversao na busca de resultados.

    importante incorporar tambm o estudo de palavras e termos no linguajar dos contedos de qumica atravs do dicionrio. Essa tcnica fundamental. Conforme Serra Negra & Serra Negra (2003), o sentido geral do termo tcnica compreende um conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade. Assim, compreende que a tcnica um processo regulado por normas e munido de certa eficincia.

    A riqueza vocabular se adquire com a leitura e o uso de dicionrio durante a interpretao dos textos. A tcnica de anlise de grficos e tabelas no contedo de qumica se pauta em situaes analticas de problemticas que envolvem opinies, reforo de idias e solues encontradas atravs da dinmica da conversao. O objetivo da tcnica de discusso/debate se constitui na busca de melhoraria da comunicao e o compartilhamento de significados atravs da experincia de cada um dos membros do grupo.

    Os procedimentos esperados pelo educador se desencadeiam na seguinte lgica: assimilao do contedo, a comunicao entre o grupo para as colocaes de suas solues atravs da discusso/debate e as reflexes para o encaminhamento de uma sntese do processo, ou seja, o encaminhamento da melhor soluo para determinados problemas e a apreenso dos contedos reconhecendo as idias primrias e secundrias. (Kleiman; 2000)

    A tabela 2 tem por finalidade demonstrar de forma sinttica, o roteiro utilizado para facilitar os mecanismos de interpretao de textos nos contedos de qumica, atravs do uso de tcnicas especficas.

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    Tabela 2 Mecanismos de interpretao de textos

    RESULTADOS ESPERADOS

    RESULTADOS ESPERADOS

    1- Apresentao do contedo atravs de


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