O PROGRAMA MICRO EMPREENDEDOR INDIVIDUAL E OS FATORES
DETERMINANTES À ADESÃO: UM ESTUDO EMPÍRICO NO VALE DO SÃO
FRANCISCO.
RESUMO
O programa Micro Empreendedor Individual, em vigor a partir da Lei Complementar nº
128/2008, foi a maior ação do Governo Federal no tocante ao combate à economia informal,
que em 2009 alcançou R$ 580 bilhões, pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB).
Pela dimensão do programa, torna-se pertinente investigar quais dos benefícios oferecidos,
mostram-se relevantes à sua adesão. Para tal, com o intuito de verificar esta realidade no Vale
do São Francisco, foram aplicados questionários, utilizando escala likert de 5 pontos a 231
vendedores ambulantes nas cidades de Petrolina - PE, Juazeiro – BA e Casa Nova - BA, o que
permitiu identificar 68 participantes do programa. A esta sub-amostra foi efetuado o
procedimento da análise fatorial, tendo em vista o objetivo do presente estudo. A
fatorabilidade dos itens foi considerada satisfatória diante dos resultados obtidos da KMO e
teste de esfericidade de Barlett. Constatou-se que dos 15 benefícios proporcionados pelo
programa, 5 mostram-se estatisticamente insignificantes, ao nível de 5%. Por não serem
pertinentes para a adesão ao programa, acarretam em custos desnecessários para o governo. Já
com relação aos beneficios identificados como estatisticamente relevantes, foram
identificados, através de uma rotação dos 10 benefícios em 6 fatores, a saber: economia de
custos, benefícios adquiridos, realização/auto-estima, condições de crescimento, economia na
captação de recursos e formalização sem burocracia. Estes construtos explicam, de forma
clara, o real desejo dos trabalhadores informais à adesão ao programa do Micro empreendedor
individual. Assim, torna-se necessário replicar o estudo em outras regiões e, se confirmado tal
cenário, excluir os benefícios insignificantes tendo em vista os custos intrínsecos de tais
subvenções.
Palavras - chave: Empreendedor Individual; informalidade; desenvolvimento econômico;
análise fatorial; gestão pública.
1. Introdução
O Brasil, sobretudo, após o advento do plano real e a subsequente realização de
algumas pontuais reformas estruturais realizadas nos últimos anos, despontou como uma das
principais potências econômicas do mundo. Entretanto, a despeito de tal realidade, o país
perde muito da sua competitividade devido, entre outros problemas estruturais, à problemática
da informalidade.
O Governo, com intuito de buscar soluções, ou pelo menos minimizar o atual patamar
da economia subterrânea brasileira, que contempla “quase 10 milhões de empreendedores
informais” (PADUAN, 2010:131), fomentou a formalização destes trabalhadores, potenciais
contribuintes, através da Lei Complementar 128/2008, do Micro Empreendedor Individual –
MEI, promulgada em julho de 2009.
Assim, pode-se notar que as expectativas por parte do Governo em relação à
receptividade e êxito do programa são grandes. O potencial de transformação da economia
informal, no contexto nacional, é encarado como o grande incentivador à divulgação e
desenvolvimento do programa.
Esta investigação buscou mostrar com maior profundidade o fenômeno em estudo, de
modo a torná-lo mais claro, bem como entender as motivações que levam os trabalhadores
informais do Vale do São Francisco a aderirem ao programa do MEI.
Frente a esse cenário, tornou-se pertinente questionar até que ponto os benefícios
oferecidos aos trabalhadores informais são relevantes à opção de adesão ao programa do
MEI? Diante deste questionamento, foi realizado um estudo de caso no vale do São Francisco,
especificamente nas cidades de Petrolina – PE com 290.693 habitantes, considerada a 6ª
maior cidade de Pernambuco, Juazeiro – BA com 194.096 habitantes e Casa Nova- BA com
62.862 habitantes, segundo dados do IBGE 2010.
Por se tratar de um tema novo, praticamente com inexistência de pesquisa para o
referencial teórico, o presente estudo assume maior relevância pelo fato de contribuir para
debates sobre os aspectos que permeiam a formalização dos trabalhadores informais e serve
de referência para fomentar futuras pesquisas sobre essa temática.
O estudo se justifica pela relevância de identificar os fatores preponderantes à adesão
ao programa MEI, tendo em vista, seu impacto social e econômico. Como limitações do
estudo, destacam-se a necessidade de majoração da amostra (tanto nas cidades quanto aos
indivíduos); o aprofundamento do estudo da eventual relação antagônica entre os micro
empreendedores individuais e os beneficiários do Bolsa Família e, por fim, o aprofundamento
das análises fatoriais (construtos).
O estudo subdivide-se em quatro partes. Na primeira, são apresentados os principais
conceitos que nortearam a pesquisa. Na segunda parte, são dispostos os aspectos
metodológicos aplicados no estudo e, em seguida, na terceira parte, são apresentadas as
análises na amostra estudada.
Para concluir, na quarta e última parte, são apresentadas as considerações finais, onde
são abordadas as contribuições advindas do estudo, suas limitações e indicações a futuras
pesquisas.
2. Referencial teórico
2.1 A Informalidade na economia brasileira
A informalidade é o principal estigma de uma sociedade desigual e, como tal, deve ser
minimizada por meio de políticas governamentais. Tanzi (2009:38) argumenta sobre o
surgimento da informalidade, “à medida que os níveis e alíquotas dos impostos aumentam,
intensificam-se os esforços dos contribuintes para evitá-los é maior e a probabilidade de
evasão fiscal por meio de transações não oficiais e não registradas”.
Devido à pressão social por acesso aos serviços básicos garantidos pela Constituição
Federal, os gastos governamentais têm sido paulatinamente incrementados. Essa demanda
crescente pressiona uma maior eficácia na arrecadação, seja pelo acréscimo da quantidade de
contribuintes ou pela majoração das alíquotas dos tributos.
Tanzi (2009) afirma ainda que a informalidade cresce proporcionalmente ao aumento
dos impostos. Como as operações realizadas nos setores informais não são declaradas, o
Governo, não arrecada e, em consequência, não detém todos os recursos possíveis. Este
cenário termina por acarretar no incremento da carga tributária implantando assim um ciclo
vicioso. Os indivíduos, por sua vez, como forma de solucionar as dificuldades decorrentes
desta conjuntura, agravada pela falta de emprego, engrossam o setor informal da economia
brasileira.
Segundo Paduan (2010:129), um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas
(FGV) e o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), constatou que a economia
informal movimentou em 2009 R$ 580 bilhões, ou seja, 18,4% do Produto Interno Bruto
(PIB), conforme apresentado na figura 1:
Figura 1 - Economia Subterrânea Brasileira.
Fonte: PADUAN, 2010:129.
Com relação à quantidade de Micro e Pequenos Empreendedores que se enquadram
como informais, a situação tem apresentado uma significativa melhora nos últimos anos,
conforme se pode observar na figura 2:
Figura 2 - Universo de Pequenos Empreendedores na economia brasileira.
Fonte: PADUAN, 2010:129.
Diante do exposto, pode-se perceber que o universo dos pequenos empreendedores
que atuavam na informalidade, com até cinco funcionários, apresentou uma significativa
melhora nos últimos 13 anos, saindo da quase totalidade a um patamar de 83,7%.
A quantidade de pequenos empreendedores formais na economia nacional, também
apresentou incremento nos últimos anos, conforme a figura 3:
Figura 3 - Universo de Pequenos Empreendedores na economia brasileira.
Fonte: PADUAN, 2010:129.
O ambiente de negócios sofreu uma substancial alteração a partir da reforma tributária.
A Lei Complementar 123/2006 criou o Simples Nacional, sistema que unifica os tributos
federais, estaduais e municipais, desonerando a carga tributária e, por consequência,
incentivando os pequenos negócios à formalização. A ação governamental apresentou grande
êxito, indicando boas expectativas para os próximos anos.
2.2 Micro Empreendedor Individual (MEI)
O poder público, com o intuito de combater a informalidade, implantou uma programa
com o intuito de reduzir a economia subterrânea, aumentando a arrecadação, viabilizando o
acesso a quem queira se regularizar. Acerca da definição da figura do empreendedor
individual, o Portal do Micro Empreendedor Individual (BRASIL, 2010) assim se manifesta: É a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno
empresário. Para ser um empreendedor individual, é necessário faturar no máximo
até R$ 36.000,00 por ano, não ter participação em outra empresa como sócio ou
titular e ter um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da
categoria. O Micro empreendedor Individual – MEI é regulamentada pela Lei
Complementar 128/2008, com vigência a partir de 01.07.2009.
A lei propicia a melhoria na vida de quem trabalha por conta própria, disponibilizando
direitos através da legalização dos pequenos negócios. É disponibilizada então, para milhões
de brasileiros, oportunidade de sair da informalidade e usufruir de auxílios, proteções e outras
vantagens oferecidas pelo programa do MEI.
Em outras palavras, a lei 128/2008 propicia, ao trabalhador informal, a elevação à
categoria de pequeno empresário, o que contempla uma série de benefícios e, de forma
atrelada, fomenta uma maior arrecadação por parte do Estado.
Devido à amplitude do universo e, sobretudo, à quantidade de profissões e negócios
informais, tornou-se necessário limitar àqueles que podem aderir ao programa. Assim, para a
formalização como micro empreendedor individual, o trabalhador terá que ter sua atividade
econômica enquadrada em uma das 439 ocupações previstas na lei.
A adesão ao programa é realizada, de forma gratuita, pelo sítio eletrônico do
programa, disponível em <http://www.portaldoempreendedor.gov.br>, ou presencialmente
nos escritórios de contabilidade cadastrados, que são responsáveis, além da inscrição, pela
elaboração da primeira declaração anual simplificada. O Sistema Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) é parceiro deste programa, disponibilizando
orientações à formalização, bem como, oferecendo consultoria gratuita aos beneficiários.
O programa MEI propicia, aos empreendedores, a participação no Sistema de
Recolhimento em Valores Fixos Mensais dos Tributos abrangidos pelo Simples Nacional
(SIMEI), desde que o faturamento esteja abaixo do teto estipulado (R$ 36.000,00/ano).
Conforme incisos I a VI do Art. 13 da Lei Complementar nº 123/2006, “o empreendedor
individual não está sujeito ao recolhimento dos tributos como IRPJ, IPI, CSLL, COFINS, PIS
e Contribuição Patronal Previdenciária, para quem não possuem empregados” (BRASIL,
2010).
De acordo com a lei citada acima, o Micro Empreendedor Individual é isento dos
tributos que se enquadram na tabela do Simples Nacional, por optar pelo SIMEI,
proporcionando numa economia dos valores devidos. Acerca dos aspectos tributários do
programa, O Micro empreendedor Individual (MEI) poderá optar pelo Sistema tributário de
Recolhimento em Valores Fixos Mensais, independentemente da receita bruta
mensal, possibilitando economia no recolhimento dos tributos devidos. Sob a
alíquota de: 11% sobre um salário mínimo para previdência social, em valores fixos
mensais são R$ 1,00 de ICMS para atividades de indústria ou comércio; e R$ 5,00
de ISS para atividades de prestação de serviços. (BRASIL, 2010).
Nota-se o grande apelo à simplificação e à economicidade para os empreendedores.
“Os tributos terão que ser recolhidos até o 20º dia de cada mês, por meio do documento de
arrecadação disponível para impressão no Programa Gerador no Portal do Simples Nacional”,
o que simplifica o processo de contribuição, possibilitando uma economia no recolhimento
dos tributos devidos (BRASIL, 2010).
3. Metodologia
A pesquisa apresenta uma abordagem quantitativa e utiliza o método indutivo de coleta
de dados, pois, partindo de uma análise regional acerca da relevância de cada um dos
benefícios proporcionados pelo programa MEI, delineia uma proposta de explicação dos
fatores relevantes à opção de adesão ao programa no nível macro. “Os passos do método
podem ser resumidos em: observação, análise, desenvolvimento de hipóteses, teste
experimental, modelo e, por fim, generalização dos resultados” (KUMAR, 2005:72).
A pesquisa tem cunho parcialmente descritivo, tendo em vista que “visa descrever
sistemas, técnicas e procedimentos seguidos na prática” (MAJOR e VIEIRA, 2009:144). Jung
(2004:198) complementa: “visa a identificação, registro e análise das características, fatores
ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo”. Entretanto, também apresenta
aspectos exploratórios, pois “visa à descoberta, o achado, a elucidação de fenômenos, ou, a
explicação daqueles que não eram aceitos apesar de evidentes” (JUNG, 2004:197).
Como objeto para recolha de dados, foram aplicados questionários de 15 itens com a
descrição de cada um dos benefícios disponibilizados pelo programa do MEI (obtidos no site
do programa na web (http://www.portaldoempreendedor.gov.br), utilizando de escala likert de
5 pontos. As questões apresentam-se como proxies dos benefícios desejados pelos optantes, a
saber: Cobertura Previdenciária; Registro de Funcionários; Possibilidade de obter crédito
junto a bancos; União de empreendedores para compras conjuntas; Baixo custo de
formalização (ICMS e ISS); Controles Simplificados; Inexistência de taxas de abertura e
gratuidade de Alvará; Cidadania; Assessoria contábil gratuita para registro da empresa; Apoio
técnico do SEBRAE; Isenção de taxas de registro e alvará grátis; Obrigação de entrega de
declaração única; Crescimento como empreendedor; Vendas para o governo e, por fim,
Segurança jurídica.
Para o tratamento dos dados, optou-se por utilizar o procedimento de análise fatorial,
“tendo em vista que, fomenta o agrupamento e estudo das variáveis explicativas do objeto em
estudo’’. A ferramenta permite entender a composição de um conjunto de variáveis à adesão
do fenômeno em análise, o programa do MEI (FIELD, 2009).
Quanto aos procedimentos, foi realizado uma pesquisa de campo com intuito de
explicar/entender as motivações à adesão do programa no Vale do São Francisco. Vergara
(2000:48) contribui acerca do procedimento de pesquisa de campo: “a investigação empírica
no local onde ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir
entrevistas, aplicação de questionários, teses e observações participantes ou não”.
A fim de obter os dados, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas, SEBRAE, das cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, foi consultado sobre a
eventual contribuição para o estudo, disponibilizando o banco de dados dos beneficiários da
região para que fosse possível a aplicação dos questionários. Entretanto, o referido órgão não
forneceu as informações necessárias, em razão de serem confidenciais e sigilosas.
Os escritórios de contabilidade que prestavam serviços de assessoria gratuita aos
participantes do programa também foram consultados, entretanto, também não foi obtido
êxito na obtenção dos contatos dos participantes da pesquisa, tendo em vista, a inexistência
deste tipo de controle por parte dos profissionais de contabilidade.
Os empreendedores esclareceram que, devido à restrição legal de participação
conjunta nos programas Microempreendedor Individual (MEI) e Bolsa Família, o
empreendedores informais têm relutado e, sobretudo, abdicado à adesão ao programa do MEI
em detrimento de serem excluídos do programa Bolsa Família. Assim, considerando o cenário
apresentado, testou-se a seguinte hipótese:
(H0:) Existe uma relação antagônica entre o número de optantes do programa
Microempreendedor Individual e os beneficiários dos programas sociais do governo Federal.
Optou-se então por obter as informações diretamente no campo de pesquisa adotando
assim, o procedimento de aplicar o questionário aos ambulantes das cidades pesquisadas,
independentemente destes serem ou não optantes do programa. Apesar de, eventualmente, não
obter uma identificação legítima do respondente, com o intuito de efetuar a segregação
necessária para tabulação dos dados, foi solicitada a identificação dos optantes do programa
no cabeçalho do questionário. Do total de 231 participantes, cerca de 30% enquadravam-se
como micro empreendedores individuais, conforme apresentado na tabela 01:
Participantes Optantes MEI %
231 68 29,4 Tabela 01 - Número de participantes e optantes do programa MEI.
Assim, como o objetivo do estudo detinha-se em verificar a relevância dos fatores
relevantes à adesão ao programa, os dados utilizados foram os correspondentes, apenas, aos
68 vendedores ambulantes que participavam do programa MEI, nas cidades de Petrolina – PE,
Juazeiro – BA e Casa Nova – BA. A delimitação das cidades abrangidas nas análises, deu-se,
sobretudo, por conta da indisponibilidade de recursos financeiros para contemplar toda região,
contudo, este agravante não comprometeu os resultados da pesquisa pois as cidades analisadas
contemplam 96% da população do Vale do São Francisco (SERPRO/MDIC, 2010).
A região do Vale do São Fracisco foi escolhida à realização da pesquisa dada sua
relevância econômica (2º maior produtor nacional de uvas e vinhos finos, notório exportador
de frutas para todo o mundo; polo de ecoturismo (VSF, 2011), pela relevância demográfica -
Petrolina – PE com 290.693 habitantes é a 6ª maior cidade de Pernambuco, Juazeiro – BA
com 194.096 habitantes é a 6ª maior cidade da Bahia, e Casa Nova- BA com 62.862
habitantes é a 27ª maior cidade da Bahia (IBGE, 2010) - e por sua relevância no programa
MEI, dado que responde por, aproximadamente, 4% dos casos de adesão ao programa MEI
nos Estados da Bahia e Pernambuco (SERPRO/MDIC, 2010).
Os questionários foram aplicados entre os meses de agosto e setembro de 2010,
apresentadando uma questão aberta (análise descritiva) e as demais fechadas, utilizando-se da
escala de Likert de cinco pontos, com o intuito de facilitar a tabulação dos dados e,
consequentemente propiciar a análise quantitativa do fenômeno em estudo. Em todas as fases
do estudo foi utilizado o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences SPSS
Statistics 17.0®.
Optou-se pela Análise Fatorial para tratamento dos dados por ser uma metodologia
bastante utilizada, sobretudo, pelos pesquisadores sociais para mensurar construtos que não
podem ser quantificados diretamente. Field (2009:553) contribui: Por exemplo, estudantes de administração (ou mesmo psicólogos) podem estar
interessados em medir a exaustão (burnout) que é quando alguém que tem
trabalhado muito em um só projeto (um livro, por exemplo) por um longo período
de tempo subitamente se encontra destituído de motivação e inspiração e quer bater
a cabeça várias vezes no computador.
Ainda sobre a análise de fatores, Hair (1998:193) cita que uma de suas principais
atribuições é: “construir um questionário para medir variáveis subjacentes”. No estudo em
questão, a técnica estatística de análise fatorial foi utilizada para testar a relevância estatística
das variáveis/benefícios do fenômeno, isto é, adesão ao programa do MEI.
4. Análise dos dados
4.1 Levantamento prévio
Verificou-se a relação entre a quantidade de pessoas optantes pelo programa MEI,
frente às beneficiárias do programa Bolsa Família, na região Norte/Nordeste, conforme a
tabela 02: ESTADO BENEF. SOCIAIS OPTANTES MI
BA 4.138.983 6.413
PE 2.648.109 858
CE 2.589.009 744
PB 1.222.857 627
RN 873.012 494
AL 1.039.467 414
MA 2.190.513 360
SE 537.006 165
PI 1.081.533 144
PA 1.590.774 750
AM 667.944 404
RO 276.612 328
TO 307.203 248
AC 165.747 198
RR 103.896 91
AP 118.158 154
Total 19.550.823 12.392
Tabela 02 – Optante do programa MEI X beneficiários B.F, nas regiões Norte/Nordeste em 2009.
Fonte: SERPRO/MDIC ,2009. Tabela elaborada pelo autor
As regiões Norte e Nordeste foram agregadas nas análises devido a similaridade em
termos econômicos/sociais/culturais. Os resultados apresentados na tabela 03, revelam que
existe uma correlação positiva (R) relevante, isto é, correlação de cerca de 76%, entre os
optantes do programa MEI e os beneficiários dos programas do governo federal.
Micro_Emp Benef_Soci
Micro_Emp Pearson Correlation 1 ,761**
Sig. (2-tailed) 0,001
N 16 16
Benef_Soci Pearson Correlation ,761** 1
Sig. (2-tailed) 0,001 N 16 16
Tabela 03 – Cálculo da correlação linear da relação inversa MEI X B.F, nas regiões Norte/Nordeste.
Fonte:Saída do software SPSS.
Verifica-se então, um coeficiente de correlação (R) de 0,761, índice considerado alto,
e um nível de significância de 95% (LEVINE, 2005). Analisando a tabela 03, nota-se a
existência de uma correlação linear positiva, ou seja, nos estados compreendidos na análise, a
adesão ao programa Bolsa Família apresenta comportamento similar à adesão ao programa
MEI. Esta relação linear positiva é melhor apresentada no gráfico 01:
Gráfico 01 – Relação inversa dos optantes do programa MI X beneficiários BF, nas regiões Norte/Nordeste.
Fonte: do autor
É perceptível que os pontos encontram-se muito próximos da linha de tendência,
denotando que converge com o número de micro empreendedores individuais, não sendo
antagônicos (correlação negativa), como previsto pelos profissionais de contabilidade
consultados. Nota-se, também, que os pontos encontram-se muito próximo da linha de
tendência traçada pelo modelo.
Outro ponto que demanda atenção decorre do coeficiente de determinação (R2) que
explica a quantidade percentual explicativa de uma variável em relação à participação da
variação total (ROSS,1997), atinge aproximadamente 58%, isto é, os benefícios da Bolsa
Família explicam, aproximadamente, 3/5 da adesão ao programa MEI, na região estudada.
Assim, a hipótese nula foi refutada.
Entretanto, torna-se necessário um aprofundamento das análises da relação entre os
dois programas, por cidade, sobretudo do interior dos estados federativos. Estudos acerca da
análise da constituição da renda familiar – eventualmente o optante pode inscrever algum
dependente da bolsa família e ambos podem usufruir dos programas assim como-, oferecem
informação incremental para futuros estudos.
4.2 Identificação dos fatores
Na abertura do questionário, foi solicitada a identificação dos participantes do
programa MEI. Àqueles que indicavam que não participavam, foram questionados acerca das
motivações para tal opção. Os resultados encontram-se destacados no gráfico 01:
Gráfico 01 - Motivações dos participantes para não adesão ao programa MEI no Vale do São Francisco
Fonte: do autor
A maior parte dos participantes, 38% preferiram não opinar sobre as motivações à não
adesão ao programa. Cerca de 27% se justificaram que por já receber o Bolsa Família temiam
perder o benefício, uma vez que o MEI é oferecido, exclusivamente, para pessoas
impossibilitadas de ter seus próprios rendimentos.
Outra justificativa relevante, que compreende cerca de 18% dos entrevistados, decorre
do desconhecimento dos benefícios advindos da formalização dos negócios, fato este, que
demanda atenção por parte do Governo, tendo em vista que, eventualmente as ações de
divulgação podem estar sendo realizadas de forma equivocada e/ou ineficaz.
Por último, aproximadamente 12% da amostra não tem interesse, principalmente, por
considerar a situação dos trabalhadores informais melhor que a dos formais, sobretudo,
devido ao fato de não possuirem vínculo empregatício, inexistindo obrigação com
pagamentos de impostos ao governo.
Com os questionários em mãos, foi efetuado o procedimento de análise fatorial nos
dados obtidos via formulários. O primeiro passo trata de verificar a relevância estatística do
conjunto de variáveis analisadas, conforme apresentado na tabela 04:
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,729
Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 112,389
DF 105
Sig. 0,293
Tabela 04 - Significância de todas as variáveis dos benefícios do programa MEI, no Vale do
São Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Nota-se que, apesar da ocorrência de uma Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) de 0,729,
índice considerado bom, o nível de significância geral de 0,293 ficou bem acima do nível
aceitável de 0,05 (FIELD, 2009). Assim, tornou-se necessário avaliar cada um dos benefícios
oferecidos pelo programa MEI e seus respectivos níveis de significância, individualmente.
Segundo Field (2009:271), a KMO: “representa a razão da correlação ao quadrado
para correlação parcial ao quadrado entre as variáveis”, isto é, a medida evidencia quais
variáveis se relacionam com as demais. Nesse sentido, Hutcheson e Sofroniou (1999: 224-
225) contribuem na análise da KMO afirmando que “valores acima de 0,50 são aceitáveis,
porém, medíocres; entre 0,70 e 0,80 são bons; entre 0,80 a 0,90 são ótimos e acima de 0,90
são excelentes’’.
Outra variável que demanda atenção é o teste de Bartlett’s (Bartlett's Test of
Sphericity) que “testa a hipótese nula de que a matriz de correlações original é uma matriz
identidade” (FIELD, 2009:580). Em outras palavras, o teste verifica se as variáveis são não
correlacionadas.
Em análises fatoriais, é imprescindível um alto grau de correlação entre as variáveis,
assim, deseja-se negar a hipótese nula de que a matriz é identidade. Analisando a tabela 04,
nota-se um nível de significância de 0,293, acima do aceitável de 0,05. Conclui-se, assim, que
a matriz em questão é identidade, o que inviabiliza o processo de extração de fatores. Análise
individualmente o KMO, pode-se notar que 5 dos benefícios apresentaram-se não
significativos ao nível de 5%, uma vez que orbitrarem abaixo do limiar de 0,70. Os resultados
foram destacado e podem ser observados na tabela 05:
Isenção taxas
de Registro e
Alvará grátis
Obrigação de
entrega de
declaração única
Vender para o
Governo
Possibilidade de
crescimento como
Empreendedor
Segurança
Jurídica
Isenção taxas de
Registro e Alvará
grátis
,617a
-,046
,005
-,064
,066
Obrigação de entrega
de declaração única
-,046
,532a
-,063
-,034
-,171
Vender para o
Governo
,005 -,063 ,607a -,098 ,081
Possibilidade de
crescimento com
Empreendedor
-,064
-,034
-,098
,583a
-,072
Segurança Jurídica ,066 -,171 ,081 -,072 ,56a
Tabela 05 – KMO individual dos benefícios não relevantes para os benefícios do programa
MEI, no Vale do São Francisco. .
Fonte:Saída do software SPSS.
Embora insignificantes na amostra estudada, os 5 benefícios excluídos demandam
algumas reflexões a serem levadas em consideração. A isenção de taxas de registro e alvará
grátis não acarreta em grande economia aos trabalhados informais, assim, eventualmente,
pode-se justificar sua insignifância quando comparado aos demais benefícios.
Quanto à obrigação de entrega de declaração única, eventualmente, não é interessante
devido não estarem totalmente isentos de declarar ao governo o faturamento, necessitando,
por sua vez, dispor de declaração única/anual com o montate vendido em todos os meses.
Já com relação à possibilidade de crescimento como empreendedor, este não se
apresenta como interessante, devido à própria restrição legal do programa que limita o
faturamento em R$ 36.000,00/ano. Em um cenário de crescimento progressivo, o
desenquadramento do programa torna-se iminente e a migração para o Simples Nacional
necessária, acarretando a perda dos benefícios, sobretudo da redução das alíquotas, oriundas
do programa MEI.
Quando se fala em vender ao governo, para o micro empreendedor este benefício pode
não ser desejado, sobretudo, pela dificuldade implícita de participação em morosos processos
de licitação que demandam, entre outras exigências, emissão de nota fiscal, que acarreta,
necessariamente, em recolhimento dos impostos devidos e pressiona o faturamento para o teto
máximo permitido pelo programa. Neste cenário, torna-se mais interessante concentrar as
vendas para pessoas físicas, em decorrência da dispensa de emissão de notas fiscias.
Outros aspectos pertinentes ainda em relação às vendas para ao governo, trata-se da
burocracia, uma vez que a necessidade de manter em dia a documentação de regularidade
fiscal e da necessária agilidade na apresentação da documentação em licitações. Tudo isto
sem abordar o iminente descompasso entre os prazos médios obtidos pelos fornecedores e
oferecidos/demandados pelo governo, que necessariamente, acarreta na falta de sincronismo
entre recebimentos e desembolsos de caixa oriundos. Este último cenário finda por pressionar
a detenção de recursos próprios adicionais e/ou a captação de recursos de terceiros a título de
capital de giro com o objetivo de evitar problemas com fornecedores, sobretudo, de
desabastecimento.
Quanto à segurança jurídica, trata-se de um direito do cidadão, garantido pela
Constituição Federal, visando estabilidade e a proteção contra as alterações bruscas de uma
lei. Neste contexto, o benefício não agrega muito, frente ao cenário anterior.
Preenchida esta lacuna, após a remoção das 5 variáveis insignicantes, uma nova
análise de fatores foi efetuada. Avaliando novamente a relevância estatística do conjunto de
variáveis (agora 10 no total), obteve-se resultado satisfatório a um nível de significância de
5%, conforme apresentado na tabela 06:
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. 0,718
Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 85,698
DF 45
Sig. 0,000
Tabela 06 - Significância das 10 variáveis remanescentes dos benefícios do programa MEI, no
Vale do São Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Nota-se que, embora a Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) tenha sofrido suave subtração,
permaneceu acima do limiar de 0,70 e, de forma atrelada, apresentou nível de significância
geral de 0,000, valor aceitável, tendo em vista ser menor que o nível de significância de 0,05
(FIELD, 2009:581). O próximo passo necessário às análises foi verificar a Kaiser-Meyer-
Olkim (KMO) diagonais da matriz anti-imagem das correlações, conforme apresentado na
tabela 07:
Cobertura Previdenciária ,635 a -0,334 -0,058 0,129 0,021 0,013 -0,03 -0,113 -0,254 -0,192
Registro de Funcionários -0,334 ,710a -0,004 0,195 -0,035 -0,054 -0,317 0,15 -0,108 0,183
Possibilidade de obter
crédito junto à bancos -0,058 -0,004 ,789a -0,134 -0,178 0,175 -0,059 0,079 -0,123 0,021
União de empreendedores
para compras conjuntas 0,129 0,195 -0,134 ,663a 0,015 0,059 0,019 0,133 -0,019 0,208
Baixo custo de
formalização (ICMS e ISS) 0,021 -0,035 -0,178 0,015 ,706a 0,019 -0,327 0,08 0,094 -0,101
Controles Simplificados 0,013 -0,054 0,175 0,059 0,019 ,764a 0,02 -0,081 0,053 -0,195
Inexistência de taxas de
abertura da firma -0,03 -0,317 -0,059 0,019 -0,327 0,02 ,736a 0,271 -0,075 -0,07
Cidadania -0,113 0,15 0,079 0,133 0,08 -0,081 0,271 ,783a 0,071 -0,168
Assessoria contábil gratuita
para registro da empresa -0,254 -0,108 -0,123 -0,019 0,094 0,053 -0,075 0,071 ,757a 0,183
Apoio técnico do SEBRAE -0,192 0,183 0,021 0,208 -0,101 -0,195 -0,07 -0,168 0,183 ,624a
Tabela 07 - Matrizes Anti-Imagem da variáveis remanescente dos benefícios do programa MEI, no Vale do São
Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Segundo Field (2009:280): “Além das estatísticas KMO, também é importante
examinar os elementos diagonais da matriz anti-imagem das correlações: o valor deve estar
acima de um mínimo de 0,50 para todas as variáveis”. Analisando os valores obtidos, nota-se
que todos os valores gravitam acima deste limiar, satisfazendo a exigência mínima para
validação das variáveis.
A tabela 08 apresenta os autovalores associados a cada benefício antes da extração (10
fatores), depois da extração (6 fatores) e depois da rotação (permaneceram 6 fatores).
Component Initial Eigenvalues
Extraction Sums of Squared
Loadings
Rotation Sums of Squared
Loadings
Total
% of
Variance Cumulative % Total
% of
Variance
Cumulative
% Total
% of
Variance
Cumulative
%
1 2,734 27,341 27,341 2,734 27,341 27,341 1,935 19,352 19,352
2 1,784 17,838 45,18 1,784 17,838 45,18 1,61 16,102 35,453
3 1,183 11,83 57,009 1,183 11,83 57,009 1,348 13,476 48,929
4 0,907 9,068 66,077 0,907 9,068 66,077 1,081 10,815 59,744
5 0,768 7,684 73,761 0,768 7,684 73,761 1,022 10,222 69,966
6 0,618 6,178 79,94 0,618 6,178 79,94 0,997 9,974 79,94
7 0,585 5,854 85,793
8 0,577 5,769 91,562
9 0,463 4,633 96,195
10 0,381 3,805 100
Tabela 08 - Variância total explicada dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Segundo Field (2009:580): “a rotação tem o efeito de otimizar a estrutura do fator e
uma consequência para estes dados é que a relativa importância dos fatores é equalizada”.
Antes do procedimento, o fator 1, por exemplo, era responsável por 27,34% da variância total
(Cumulative %), após a extração, sua capacidade explicativa caiu para 19,352%, todavia, com
os 5 fatores, têm-se um efeito sinérgico que garante a explicação de, aproximadamente
79,94% de toda a variação total da amostra.
A tabela 09 apresenta as comunalidades de cada benefício, isto é, a proporção a
variação comum presente dentro de cada variável (FIELD, 2009:262). Em outras palavras, as
comunalidades apresentam a proporção de cada variável que é comum às demais, ou seja,
quanto cada variável explica o fenômeno estudado.
Initial Extraction
Cobertura Previdenciária 1 0,812
Registro de Funcionários 1 0,716
Possibilidade de obter crédito junto à bancos 1 0,933
União de empreendedores para compras conjuntas 1 0,954
Baixo custo de formalização (ICMS e ISS) 1 0,719
Controles Simplificados 1 0,99
Inexistência de taxas de abertura e gratuidade de Alvará 1 0,726
Cidadania 1 0,663
Assessoria contábil gratuita para registro da empresa 1 0,693
Apoio técnico do SEBRAE 1 0,788
Tabela 09 - Comunalidades dos 10 Benefícios relevantes do programa MEI, no Vale do São
Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Assim, analisando a tabela 09, pode-se afirmar que 81,2% da variância associada ao
benefício 1 é comum ou compartilhada, em outras palavras, o fator cobertura previdenciária
reflete, aproximadamente, 81% de aspirações comuns aos demais fatores. Esta informação é
útil para entender a finalidade da análise fatorial: Antes da extração existem tantos fatores quanto variáveis, assim, toda variância é
explicada pelos fatores e todas as comulidades são 1. Entretanto, depois da extração,
alguns dos fatores são descartados e alguma informação é perdida. Os fatores retidos
não podem explicar toda variação presentes nos dados, mas podem explicar uma
parte (FIELD, 2009:582).
A tabela 10 apresenta 6 variáveis, denominados construtos, que condensam os 10
benefícios. Embora não consigam explicar toda a variação, obtém êxito em aproximadamente
80%. Field (2009:582) contribui: “depois que os fatores foram extraídos, temos uma ideia
melhor de quanta variância é, na realidade, comum”.
Os 6 fatores em questão não são suficientes para explicar toda a variação presente,
entretanto, explicam parte substancial. A quantidade de variável explicada e relacionada com
as demais variáveis é apresentada na tabela 10:
Reproduced
Correlation
Cobertura
Previdenciária ,812a 0,483 0,065
-
0,251 0,066
-
0,029 0,282 0,049 0,478 0,255
Registro de Funcionários
0,483 ,716a 0,11 -
0,294 0,262
-0,041
0,582 -
0,413 0,453
-0,175
Possibilidade de
obter crédito junto à
bancos
0,065 0,11 ,933a 0,142 0,374 -
0,262 0,23
-0,218
0,343 -
0,184
União de empreendedores para
compras conjuntas
-
0,251
-
0,294 0,142 ,954a
-
0,018
-
0,175
-
0,049
-
0,251 0,086
-
0,253
Baixo custo de
formalização (ICMS e ISS)
0,066 0,262 0,374 -
0,018 ,719a
-
0,096 0,581
-
0,362
-
0,073 0,171
Controles
Simplificados
-
0,029
-
0,041
-
0,262
-
0,175
-
0,096 ,990a
-
0,106 0,214
-
0,128 0,325
Inexistência de taxas
de abertura e gratuidade de Alvará
0,282 0,582 0,23 -
0,049 0,581
-
0,106 ,726a -0,55 0,23
-
0,072
Cidadania 0,049 -
0,413
-
0,218
-
0,251
-
0,362 0,214 -0,55 ,663a
-
0,243 0,45
Assessoria contábil
gratuita para registro da empresa
0,478 0,453 0,343 0,086 -
0,073
-
0,128 0,23
-
0,243 ,693a
-
0,332
Apoio técnico do
SEBRAE 0,255
-
0,175
-
0,184
-
0,253 0,171 0,325
-
0,072 0,45
-
0,332 ,788a
Residualb
Cobertura
Previdenciária
-
0,053 0,032
-
0,001 0,02 0,041
-
0,054
-
0,057
-
0,165
-
0,128
Registro de Funcionários
-0,053
0,056 0,1 -0,03 -
0,013 -
0,084 0,094
-0,122
0,025
Possibilidade de
obter crédito junto à
bancos
0,032 0,056 0,021 -
0,115 0,001 0,021
-0,044
-0,116
0,027
União de empreendedores para
compras conjuntas
-
0,001 0,1 0,021
-
0,003 0,002
-
0,004 0,078
-
0,068
-
0,031
Baixo custo de
formalização (ICMS e ISS)
0,02 -0,03 -
0,115
-
0,003 0,017
-
0,138 0,108 0,115
-
0,135
Controles
Simplificados 0,041
-
0,013 0,001 0,002 0,017
-
0,008 0,005
-
0,032 -0,04
Inexistência de taxas
de abertura e gratuidade de Alvará
-
0,054
-
0,084 0,021
-
0,004
-
0,138
-
0,008 0,117 0,017 0,001
Cidadania -
0,057 0,094
-
0,044 0,078 0,108 0,005 0,117 0,011
-
0,149
Assessoria contábil
gratuita para registro da empresa
-
0,165
-
0,122
-
0,116
-
0,068 0,115
-
0,032 0,017 0,011 0,09
Apoio técnico do - 0,025 0,027 - - -0,04 0,001 - 0,09
SEBRAE 0,128 0,031 0,135 0,149
Tabela 10 - Correlações reproduzidas dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São
Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Na parte superior da tabela 10 são apresentados os coeficientes de correlações entre
todos os benefícios remanescentes. Na verdade, trata-se de uma re-leitura da tabela 07 após a
extração dos fatores, ou seja, é uma “aplicação do modelo de extração de fatores para explicar
o fenômeno em detrimento dos dados observados” (FIELD, 2009:587).
Para constatar o ajuste do modelo, deve-se analisar a parte inferior da tabela, onde são
apresentados os valores residuais (diferenças entre o valor previsto pelo modelo e os
observados) (GUJARATI, 2000). A divergência entre ambos cenários foi de 21 ocorrências,
46%, valor aceitável uma vez que o “teto máximo de 50% para aceitação do modelo como
pertinente”, isto é, permite considerá-lo válido (op cit, 2009:587).
A tabela 11 apresenta os autovalores associados a cada benefício após a rotação dos 10
fatores, correlacionados a 6 construtos reais:
Component
1 2 3 4 5 6
Inexistência de taxas de abertura e gratuidade de Alvará 0,809
Baixo custo de formalização (ICMS e ISS) 0,752
Cidadania -0,629 0,472
Cobertura Previdenciária 0,829
Assessoria contábil gratuita para registro da empresa 0,717
Registro de Funcionários 0,517 0,555
Apoio técnico do SEBRAE 0,861
União de empreendedores para compras conjuntas 0,955
Possibilidade de obter crédito junto à bancos 0,926
Controles Simplificados 0,968
Tabela 11 - Rotação dos componentes da Matrix (Fatores) dos Benefícios do programa MEI, no Vale do São
Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Segundo Field (2009:589) a tabela 11 revela que o questionário composto inicialmente
por 15 benefícios, na verdade, representam 6 construtos, qualidades, almejadas por àqueles
que optam por aderir ao programa.
O próximo passo foi identificar os construtos extraídos e apresentados na tabela 11. O
valor máximo a ser obtido por uma variável é 1, assim, os valores apresentados próximo deste
limiar mostram-se mais relevantes do que os demais (FIELD, 2009). Para Field (2009:589):
“se o fator matemático produzido pela análise representa um construto real, temas comuns
entre as perguntas com cargas altas podem nos ajudar a identificar o que o construtor pode
ser”.
Os 6 (seis) construtos obtidos e analisados são apresentados abaixo na tabela 12: Fatores Construtos
Fator 1 Economia de Custos
Fator 2 Benefícios Adquiridos
Fator 3 Realização/Auto-estima
Fator 4 Condições de crescimento
Fator 5 Economia na captação de recursos
Fator 6 Formalização sem burocracia
Tabela 12 - Fatores almejados pelos participantes do programa MEI, no Vale do São Francisco.
Fonte:Saída do software SPSS.
Analisando mais detalhadamente a tabela 12, pode-se notar no fator 1 o agrupamento
dos benefícios, inexistência de taxas de abertura e gratuidade de alvará, baixo custo de
formalização (ICMS e ISS) e registro de funcionários, todos apresentando valores positivos,
indicando que medem a mesma característica. Percebe-se claramente que estão ligados a
questões de redução de custos, denominados como o construto real “economia de custos”, que
representa a intenção de reduzir os custos organizacionais após a formalização.
Quanto ao fator 2 representa o construto real, “benefícios adquiridos”, considerando
que as cargas maiores apresentadas são as dos benefícios previdenciários, assessoria contábil
gratuita para registro da empresa e registro de funcionário. Este último, surge nos dois
primeiros construtos, entretanto no fator 2 ele aparece, mais relevante que no primeiro, onde
encontra-se mais ligado a benefícios adquiridos do que a economia de custos. Assim, neste
fator representa o desejo por ter acesso aos direitos que serão adquiridos pelos MEI, ao aderir
ao programa.
Já o fator 3 que compreende os benefícios de cidadania e apoio técnico do SEBRAE
foi denominado como construto de “realização/auto-estima”. Pode-se notar, que está
relacionado ao direito à dignidade, auto-realização profissional, pessoal e social, ou seja, o
cidadão consegue se realizar exercendo, de forma digna, a cidadania, de acordo com as leis
em vigor, podendo, inclusive, contar com apoio técnico do SEBRAE, com orientações e
capacitações, para se tornar mais apto para realizar e desenvolver suas aptidões e, por
extensão, tornar perene a sensação de auto-realização.
O fator 4 contemplou apenas o benefício de União de empreendedores para compras
conjuntas, que foi caracterizado como o construto de “Condições de crescimento”, pois
proporciona, aos empreendedores, condições mais vantajosas, sobretudo no tocante aos preços
e condições de pagamento das mercadorias compradas, tendo em vista o iminente volume das
compras.
O quinto fator, assim como o quarto, compreendeu apenas um benefício: Possibilidade
de obter crédito junto a bancos. É nítida a necessidade e, sobretudo, a intenção de captar
recursos bancários para financiar os pequenos empreendimentos, assim, o construto foi
denominado de “Economia na captação de recursos”. Com o acesso ao programa MEI, torna-
se real a possibilidade do empreendedor obter créditos bancários com significativa redução
dos custos (tarifas e taxas de juros adequadas para ao micro empreendedor individual em
detrimento às captações por meios não oficiais).
Por último, o sexto fator representa a desburocratização por meio dos Controles
Simplificados, com uma alta carga de 0,96. O construto foi denominado como “formalização
sem burocracia” pois a inexistência da necessidade de contabilidade formal e da exigência,
após a formalização, apenas de uma única declaração de faturamento anual através da
Internet.
5 Considerações finais
O programa Micro Empreendedor Individual surgiu com intuito de regularizar os
milhões de negócios informais no país. O governo criou o programa com diversos benefícios
para fomentar/incentivar o setor informal a abdicar da situação, tendo em vista a amplitude da
economia subterrânea que chega a movimentar cerca de 18% do PIB do país.
Este cenário é proveniente, em parte, devido às altas cargas tributárias incidentes nas
atividades empresariais, às taxas de desemprego da economia nacional e as diversas
burocracias exigidas por parte do governo às instituições normalmente formalizadas. Assim,
até então, não existia outra opção aos pequenos empreendedores a não ser optar pela
informalidade. O objetivo principal desta pesquisa foi estudar a motivação que leva os
trabalhadores informais, do Vale do São Francisco, à adesão ao programa Micro
empreendedor individual. Nesse sentido, o trabalho constatou que dos quinze (15) benefícios
oferecidos pelo programa, cinco (5) não apresentaram relevância estatística, isto é, não foram
características desejadas pela amostra estudada.
No entanto, a despeito da irrelevância dos cinco (5) benefícios, estas subvenções
acarretam em custos para o Governo no momento em que uma série de subvenções é por ele
realizada, propiciando na ineficácia do gasto público.
Os dez (10) benefícios que se mostraram significantes, estão relacionados aos aspectos
legais, tributários, previdenciários e trabalhistas, considerados indispensáveis para o seu
sucesso. Após uma nova rotação foi possível condensar os dez (10) benefícios em seis (6)
fatores. Ficando assim, considerados como “construtos reais”, que explicam, de forma mais
clara, o desejo dos trabalhadores informais a adesão ao programa do Micro empreendedor
individual.
Os construtos reais encontrados receberam a nomenclatura de: economia de custos,
benefícios adquiridos, realização/auto-estima, condições de crescimento, economia na
captação de recursos e formalização sem burocracia. Em outras palavras, estes fatores
revelam os temas comuns almejados e, consequentemente, buscados pelos participantes do
programa MEI.
Como sugestões para futuras pesquisas, recomenda-se o aprofundamento das análises
acerca da relação entre o programa Bolsa Família e o programa do Micro Empreendedor
Individual, sobretudo, na perspectiva do optante inscrever dependentes no bolsa família e
usufruir dos programas, indo de encontro à restrição legal de gozar de ambos programas.
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