UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ALUNA: Carolina de Paula Alves
DISCIPLINA: Antropologia da Morte
Professora Karenina Andrade
Resenha Crítica do Filme “Menina de Ouro”
O filme “Menina de Ouro”, no original “Million Dollar Baby”, é um drama
dirigido e estrelado por Clint Eastwood, com Hilary Swank e Morgan Freeman. O filme
retrata a história da garçonete Maggie Fitzgerald, personagem de Hilary Swank e de seu
sonho de ser uma lutadora de boxe. Ela busca a ajuda de Frankie Dunn (personagem de
Eastwood), um treinador de lutadores. Dunn tem uma filha, de quem se afastou. É uma
pessoa fechada e não treina garotas. Maggie começa a treinar sozinha no ginásio em que
Frankie trabalha após o expediente e acaba conquistando o apoio do personagem de
Morgan Freeman, Scrap, um ex-lutador que foi treinado por Frankie e é seu amigo. No
decorrer do filme observamos a evolução da carreira de Maggie e de sua relação com
Frankie, de quem se torna grande amiga, em uma relação quase filial.
No auge de sua evolução como lutadora, enfrentando o preconceito de gênero e
a falta de apoio e estrutura de sua família, Maggie sofre um grave acidente que a leva à
paralisia. Desse ponto em diante entra a polemica discussão a respeito da eutanásia e o
direito de morrer. E também a respeito do poder de decisão de terceiros sobre a escolha
da morte por outros.
Na trama vemos o desespero de Maggie, que se nega a continuar vivendo como
paralitica após levar uma vida ativa de esportista. Muitos críticos e organizações de
pessoas paralíticas fizeram severas criticas ao filme, que segundo eles, leva à ideia de
que é melhor morrer que ser um “invalido”, enquanto há ainda muita vida para aqueles
que se veem em situação de privação dos movimentos. Mas a discussão provocada por
Eastwood não tange à questão da paralisia, mas do desejo de não viver da personagem e
sua incapacidade de dar cabo de sua própria vida, dependendo da “ajuda” de outra
pessoa. E cabe a seu personagem a decisão de ajudar Maggie e ser leal a ela, ou não
ajuda-la em nome de não infringir a lei, que impede mortes assistidas.
Maggie enfrentou um ambiente misógino, em que seu próprio treinador a avisa
de que pode “esquecer de que ela é uma garota”, se referindo à sua crença de que a
moça não resistirá a seu pesado treinamento. Maggie enfrentou a descrença de seus
familiares. Sua mãe a aconselha a “conseguir um homem” se casar e desistir do sonho
de ser boxeadora. Mas decide não enfrentar o desafio de se adaptar à sua nova condição.
Os motivos de sua decisão não estão em questão, seja por estar cansada da luta diária,
seja por se ver impedida de fazer o que ama. O que sabemos é que Maggie não é fraca e
nem covarde. Que a decisão de morrer é sua, como foi a de viver até ali.
A partir daí surgem vários empecilhos à sua decisão. Questões éticas, morais e
religiosas se confundem e determinam à lutadora (em todos os sentidos da palavra) um
destino que não coincide com o que é seu desejo.
Vemos o dilema enfrentado por Dunn, a quem Maggie faz o pedido de ajuda e
seu árduo processo de decisão em praticar a eutanásia por ela, após ver seu sofrimento e
suas próprias tentativas desesperadas de cometer suicídio.
O filme trata de toda a questão do direito de morrer da morte assistida de uma
forma direta, mas não agressiva e leva à reflexão sobre o poder de decisão das
instituições sobre a vida e a morte dos indivíduos. É um filme, sobretudo sobre as
escolhas que fazemos e o direito do outro em escolher por nós.