A Matinada
Mestres do coco de roda se reúnem e mostram domínio na arte do improviso
Reunindo grandes protagonistas do coco de roda de Pernambuco – Galo Preto, Zé de Teté,
Bio Caboclo, Cícero Gomes e Adiel Luna – a ideia central d’A Matinada é promover um
encontro entre os vários tipos de coco do Estado. O projeto conduz a uma viagem no tempo,
mostrando a manifestação desde sua forma mais pura e encantadora – como cantiga de
trabalho – até como modalidade mais elaborada de rimas e métricas.
Apesar de estarem unidos pela paixão – o samba, a festa e a arte do improviso –, estes
mestres possuem estilos distintos, típicos das regiões distintas onde cada um brinca: Litorial,
Zona da Mata, Agreste e Sertão. Levando ao palco essa mistura e convidando o público a
fazer uma imersão na geografia do coco, eles trabalham a mazurca (do agreste e sertão), o
trupé (do sertão e mata), a embolada de pandeiro e de viola, o coco de engenho (mata), o
coco de sala e o coco de obrigação (agreste, mata e litoral).
Ora todos juntos, ora em duplas, ora apresentando seus trabalhos individuais, os mestres
brincam, improvisam e exploram os toques, as pisadas e os versos nas mais diversas
métricas e em lindas melodias, cantando e encantando todos os presentes.
Junto com os mestres, completam a brincadeira Maureliano Ribeiro – coquista e artesão de
instrumentos percussivos de Camaragibe - e Iran Calixto, Pecon Calixto e Damares Calixto -
importantes figuras do Coco Raízes Arcoverde.
Os Mestres
Galo Preto. É cantador, coquista, repentista, músico, compositor e percussionista. Fluente em
vários estilos de coco, o mestre passeia com destreza pela embolada, pelo coco de pisada e
pelas cantigas de bata de feijão. Nascido em 1935, no município de Bom Conselho - hoje
quilombo de Santa Izabel – em Pernambuco, é um dos últimos representantes da tradição do
coco daquela região. Na década de 70 ganhou grande visibilidade nacional, apresentando-se
em muitos programas de televisão. Galo Preto fez parceria com grandes nomes da música
brasileira, como Jackson do Pandeiro, Cauby Peixoto, Arlindo dos Oito Baixos e Luiz
Gonzaga. Em 2007 retornou aos palcos, depois de 11 anos afastado, e agora está presente n’
A Matinada.
Zé de Teté. Nasceu no Sítio Araras, município de Limoeiro, no ano de 1944, e começou a
cantar e compor nos anos 70, já adulto. Hoje possui mais de duzentas composições, sendo
61 delas gravadas. Seu último CD “O Rei do Coco” foi gravado com apoio do FUNCULTURA.
Zé faz shows em grande parte das cidades pernambucanas e sente-se bastante
recompensando pela fidelidade de seu público, tornando-se bastante conhecido no cenário
sem precisar abandonar sua cidade natal. O coco de São João é o estilo mais explorado no
trabalho do mestre.
Bio Caboclo. Sua vocação para repentista apareceu na infância, estimulado pelo pai Zé
Caboclo, que o levava nos eventos culturais promovidos em casas de amigos, onde cantava
folhetos e versos de coco de roda. Aos 18 anos Bio iniciou sua carreira artística como violeiro,
herdando do pai o dom e o apelido 'Caboclo'. Logo depois, também nesta idade, foi convidado
a ser mestre de maracatu e a cantar coco no São João de Lagoa de Itaenga. Bio Caboclo é
conhecido como uma lenda viva da Cultura de Pernambuco e domina como ninguém essas
três artes poéticas (viola,baque solto e coco de engenho). Nasceu em 1959, natural de Glória
do Goitá/PE.
Cícero Gomes. Remanescente do Coco de Raízes, é líder e vocalista do Coco Trupé de
Arcoverde, grupo que mantém junto com seus filhos e sua mulher. Ciço, como é mais
conhecido, já se apresentou em diversas cidades do país e da Europa, divulgando a cultura
arcoverdense e o coco de trupé, de pisada mais forte e acelerada, com influências da
musicalidade de tribos xucurus, do xaxado e do samba de roda. O trupé é música e é dança,
onde o tamanco de madeira de solado grosso usado pelos coquistas tem importante papel na
marcação da batida. Nascido em 1955, começou a cantar aos 5 anos, acompanhado da mãe.
Nos anos 60, se dedicou às brincadeiras, cantando músicas tradicionais. Nos anos 70, iniciou
a carreira profissional no Coco, com o mestre Ivo Lopes. O primeiro grupo a participar se
chamava "A Caravana".
Adiel Luna. Nascido em 1984, em Tiúma, município de São Lourenço da Mata, é coquista,
violeiro e mestre de baque solto, tendo passado por maracatus como o Piaba de Ouro, o
Leãozinho de Aliança e o Leão do Norte. Adiel também é cantador e cordelista – participou de
festivais e recitais ao lado de poetas importantes como Chico Pedrosa, Jessier Quirino e
Sinésio Pereira e tem mais de 50 títulos de cordéis publicados. O documentário étnico “O
Coco de Improviso e a Poesia Solta no Vento” (Natália Wanderlei, 2011) conta sua relação
com seus principais mestres dentro do coco. Sua matriz é o repente, poesia fundamentada na
rima, na métrica e na oração de improviso. De família de poetas cantadores, Adiel Luna, se
apresentou em todas as regiões de Pernambuco, em cidades importantes do Brasil e na
Europa. É um destaque da nova geração de artistas e a figura que, n’ A Matinada, costura a
brincadeira dos mestres, já que dialoga com todos os estilos de coco trabalhado por eles.
O projeto é novo, mas já se apresentou em eventos importantes de cultura popular com o
Festival Lula Calixto, em Arcoverde, o Festival de Inverno de Garanhuns, o Festival
Pernambuco Nação Cultural da Mata Norte e o Festival de Culturas Tradicionais da Chapada
dos Veadeiros, em Goiás.
Contato: Alexandra Lima
(81) 9265.5292