MICRORGANISMOS AOS QUADRADINHOS
PROJETO DE LICENCIATURA DE BIOLOGIA APLICADA
DANIEL JOSÉ COSTA RIBEIRO JULHO 2013
Título do Projeto:
Microrganismos aos Quadradinhos
Autor:
Daniel José Costa Ribeiro
Trabalho realizado sob a orientação de:
Alexandra Nobre (Professora Auxiliar)
Departamento de Biologia (Escola de Ciências da Universidade do Minho)
Microrganismos aos Quadradinhos | Agradecimentos
Daniel José Costa Ribeiro ii
Agradecimentos
Agradeço vigorosamente às seguintes pessoas:
À orientadora de Projeto, Professora Alexandra Nobre, que superou todas as minhas
expectativas no desempenho da sua função, ao fornecer inspiração e motivação para o que
foram dois meses de muito trabalho e muitos becos sem saída.
Aos meus pais, António e Maria Ribeiro que reclamaram das luzes acesas enquanto eu vagueei
por livros e papers durante horas. Sem eles isto não seria possível porque, afinal de contas, são
eles quem pagam as propinas.
Às grandes amigas Filipa Araújo e Catarina Ferreira que fizeram questão de me apoiar quando
eu mais precisei, de uma maneira que poucas pessoas sabem como. Em especial a Catarina
Ferreira que desempenhou um papel fulcral na execução dos cartoons.
Aos meus afilhados e eternos caloiros João Gomes, Bruno Sevivas e Sara Martins, que se
preocuparam e ajudaram no desenvolvimento do projeto do seu padrinho, e se queixavam que
tinham que estudar imenso, mal sabendo, coitados, o que é desenvolver um projeto destes.
Ainda assim, o seu apoio foi fundamental para manter a minha sanidade mental.
Aos meus restantes amigos, que fizeram questão de demonstrar que o tempo só convida a praia
e piscina, e de realçar constantemente a expressão “já faltou mais” na esperança que isso me
fizesse sentir melhor.
Aos meus professores em geral, que contribuíram para o conhecimento que adquiri até hoje
nesta universidade. Um especial agradecimento aos que contribuíram para a adrenalina de ter
testes globais e projeto ao mesmo tempo.
Microrganismos aos Quadradinhos | Índice
Daniel José Costa Ribeiro iii
Índice
Sumário .................................................................................................................................................. iv
Introdução ............................................................................................................................................. 1
1. Comunicar Ciência .................................................................................................................... 1
1.1 Através de livros .............................................................................................................. 1
1.2 Através de recursos em rede ...................................................................................... 3
1.3 Através da interação pessoal e abordagem hands-on ....................................... 3
2. O texto e imagem na comunicação ................................................................................... 4
2.1 O cartoon como veículo de comunicação de Ciência .......................................... 5
3. A Microbiologia ........................................................................................................................... 7
3.1 Os microrganismos e a opinião pública ................................................................... 7
Desenvolvimento ............................................................................................................................... 9
1. A escolha dos tópicos a abordar ......................................................................................... 9
1.1 Os microrganismos e a alimentação ......................................................................... 9
1.1.1 A produção de vinhos ............................................................................................ 9
1.1.2 Os probióticos ......................................................................................................... 10
1.2 Os microrganismos e a saúde ................................................................................... 10
1.2.1 A produção de vacinas ........................................................................................ 10
1.3 Os microrganismos e o meio ambiente ................................................................. 11
1.3.1 Biorremediação .................................................................................................... 101
2 A produção gráfica dos cartoons ...................................................................................... 12
2.1 O processo passo a passo........................................................................................... 12
2.2 A Coleção Microrganismos aos Quadradinhos..................................................... 16
2.2.1 A produção de vacinas ........................................................................................ 16
2.2.2 Probióticos................................................................................................................ 17
2.2.3 Fermentação alcoólica ......................................................................................... 17
2.2.4 Biorremediação ...................................................................................................... 18
Considerações Finais ..................................................................................................................... 19
Referências .......................................................................................................................................... 20
Anexos ................................................................................................................................................... 22
Anexo 1 - Exemplo de panfleto onde está presente a utilização da imagem e do
cartoon na comunicação de conhecimento na área da Saúde ....................................... 22
Anexo 2 - As cinco escolhas estratégicas para a construção de arte sequencial
animada e características importantes inerentes a cada uma delas ........................... 23
Anexo 3 - Compilação dos resultado da pesquisa feita em dicionários de Língua
Portuguesa, em formato de papel e disponíveis online, sobre diversos termos do
léxico comum associados à taxonomia microbiana ............................................................ 24
Microrganismos aos Quadradinhos | Sumário
Daniel José Costa Ribeiro iv
Sumário O objetivo principal deste trabalho é desmistificar a ideia de que o termo “micróbio” significa
“perigo de morte”. Adicionalmente, pretendem-se ilustrar determinadas particularidades que
certos microrganismos possuem (algumas delas essenciais à nossa própria sobrevivência) e uma
forma apelativa e eficaz.
Após uma pesquisa exaustiva no âmbito da Microbiologia Aplicada, foi criada uma coleção
composta por 4 tiras de cartoon que demonstram a utilidade dos microrganismos nas áreas da
Saúde, da Alimentação e do Ambiente. Aqui está a prova de que é possível associar o humor ao
rigor científico e dar vida à coleção Microrganismos aos Quadradinhos.
Microrganismos aos Quadradinhos | Introdução
Daniel José Costa Ribeiro 1
Introdução
1. Comunicar Ciência A partilha do conhecimento científico permite que a Ciência avance, que se desvendem
mistérios e se desfaçam preconceitos a cada dia que passa. As palavras de Dalai Lama, «Share
your knowledge. It’s a way to achieve immortality» (1) remetem-nos, comunidade científica,
para um aspeto muito importante na Ciência: a transmissão do Conhecimento. De nada serve o
Conhecimento se não for partilhado. E mesmo quando o é, a linguagem e a forma utilizadas são,
muitas vezes, desajustadas e até entediantes. A Ciência é um mundo fascinante que deverá ser
transmitido ao público em geral, de forma apelativa e, simultaneamente, direta e precisa.
Que estratégias de comunicação devem ser usadas? De que formatos e suportes dispõem os
comunicadores de Ciência, senso lato para passar a sua mensagem? Basicamente todas as
estratégias são válidas desde que resultem consequentes no seu propósito. Em termos de
suporte/veículo da mensagem, as possibilidades são imensas e têm aumentado nos últimos
tempos, com o desenvolvimento dos recursos tecnológicos e com a tomada de consciência de
que a Comunicação de Ciência à sociedade é um direito, e um dever. Um direito de todos os
cidadãos. Um dever de quem tem acesso privilegiado a este domínio do Conhecimento. Seguem-
se apenas alguns exemplos que me parecem interessantes referir.
1.1. Através de livros Existem diversas coleções de livros focadas nas mais diversas áreas da Ciência, que utilizam uma
linguagem desconstruída e acessível ao cidadão comum.
Por exemplo, “The Manga Guide to Molecular Biology” faz parte da série de Masaharu
Takemura, Sakura e Ltd. Becom Co. (Fig. 1A) (2). O aspeto inovador desta coleção está na
utilização da manga, técnica de desenho e animação japonesas, que permite ao leitor
acompanhar as aventuras dentro do corpo humano, de um modo gráfico sequencial. Alguns dos
tópicos abordados passam pelos organelos celulares, pelos processos de mitose e citocinese e
pelas técnicas de clonagem e manipulação de DNA. Em termos de escrita ocidental também há
vários exemplos de coleções de banda desenhada (BD) dedicadas a temas de ciência. Adventures
in Synthetic Biology acerca do novo campo interdisciplinar da Biologia Sintética (Fig. 1B),
Conundrum of a Corona Virus, uma história de detetives acerca da Síndrome Respiratória Aguda
Grave e ainda Cindi in Space, a história de uma super-heroína em que se fala de ionosfera e de
satélites (2) são apenas alguns.
Numa vertente de texto tradicional, a coleção Ciência Aberta da Gradiva já há mais de 30 anos
que disponibiliza, em português, as melhores obras de divulgação de Ciência. Das cerca de 200
obras editadas gostaria de destacar “Darwin aos tiros e outras históricas de ciência que, segundo
garantem os autores David Marçal e Carlos Fiolhais, anda à volta de “episódios divertidos ou
pelo menos curiosos para falar de ciência e da vida dos cientistas” (3) (4) e “Pipocas com
telemóveis e outras histórias de falsa ciência” (Fig. 1C), dos mesmos autores, que promete
desmontar “aldrabices científicas” espalhadas na Internet, nos media, nos supermercados e até
em escolas e universidades (5).
Não poderei também deixar de realçar a coleção Era uma vez…, um clássico de desenhos
animados dos anos 80 também editado em livro e em coleção de cromos (Fig 1D). O
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Daniel José Costa Ribeiro 2
funcionamento do corpo humano e das células era abordado de tal forma fascinante, que me
influenciou a mim, e com certeza muitos dos meus colegas, a enveredar pela área da ciência (6).
Figura 1 - Livros que abordam temas de ciência destinados a um público abrangente: Manga Guide to Molecular Biology (A); Adventures in Synthetic Biology (B); Pipocas com Telemóveis e Outras Histórias de Falsa Ciência (C) e Era Uma Vez (D).
A
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1.2. Através de recursos em rede Outro excelente meio ao nosso dispor para divulgar Ciência é a Internet. E excelente porquê?
Porque dada a forma como evoluiu nos últimos anos espalhando-se por todo o globo
(obviamente há assimetrias consideráveis com, por exemplo, o continente africano numa
posição claramente desfavorecida), permitiu “democratizar” a partilha de informação e de
conhecimento. Dados de 2012 indicam que existem cerca de 2,4 mil milhões de utilizadores de
internet a nível mundial e que estão disponíveis para consulta cerca de 634 milhões de websites
(7). Na Web, uma das formas mais comuns de difusão do conhecimento científico é feita através
de blogues (ou blogs, em inglês). Para se ter uma ideia, recuperam-se 29 800 000 resultados de
pesquisa cruzando os termos “blog” e “ciência” no motor de busca Google (8). O blogue De
Rerum Natura (do latim, “sobre a natureza das coisas”), fundado há vários anos por cientistas
portugueses reconhecidos e envolvidos na divulgação da Ciência, faz parte de uma grande lista
que traz ao leitor, diariamente, informação sobre: a atualidade nos mais diversos campos de
intervenção humana, descobertas científicas recentes, lançamento de livros relacionados com a
Ciência, eventos que relacionam a Ciência e a Arte, para citar apenas alguns aspetos (9). Um
outro blogue dedicado a esta temática é “Ciência ao Natural”, o blogue de Luís Azevedo
Rodrigues convidado pelo Jornal Público, é um sítio na Web onde se podem encontrar
publicações direcionadas para a Evolução e História da Terra. Para além de blogues, a Web
permite muitos outros formatos como páginas de projetos, páginas de instituições (museus,
centros de investigação, universidades, escolas, etc.) e a criação de perfis e de grupos
extremamente dinâmicos nas redes sociais, como por exemplo, o Facebook. Estes são apenas
alguns dos muitos exemplos de como, cada vez em maior número, surgem na rede recursos que
permitem abrir a Ciência à sociedade.
1.3. Através da interação pessoal e abordagem hands-on Uma forma de comunicação de Ciência com enorme sucesso e que torna o público recetor, ator
do próprio processo, é levada a cabo por centros de experimentação de ciência e Museus de
abordagem hands-on. Em Portugal, embora esta filosofia seja seguida por diversos museus de
génese recente ou pela atualização/reciclagem de museus mais clássicos, sem dúvida que o
Pavilhão do Conhecimento em Lisboa e a rede de dezenas de Centros Ciência Viva disseminados
por todo o território nacional (http://www.cienciaviva.pt/centroscv/), têm um papel
incontornável na divulgação da cultura científica e tecnológica junto da população portuguesa.
Constituem espaços dinâmicos de conhecimento e de lazer, onde se estimula a curiosidade
científica e o desejo de aprender e em que se convidam os visitantes de todas as idades, a
participar em atividades e exposições interativas. Uma das iniciativas de grande sucesso que
lhes está associada é o Programa Ciência Viva no Verão
(http://www.cienciaviva.pt/veraocv/2013/) lançado em 1997 e cuja adesão por parte da
população é enorme. Basta dizer que este ano o programa foi lançado no dia 9 de Julho e, após
apenas 15 minutos da abertura, já contava com mais de 4000 inscrições (Fig. 2) (10).
Numa outra vertente, o Circo Matemático (http://ludicum.org/cm) é um projeto proposto pela Associação Ludus e constituído por um grupo de pessoas, entusiastas da Matemática obviamente, com formações diversas e complementares, por forma a conseguirem atingir um nível de intervenção muito abrangente. O seu principal objetivo é “maravilhar, divertir e atrair para a matemática mediante a realização de atividades lúdicas variadas”. Nas ações de animação são usados materiais simples como puzzles, quebra-cabeças, jogos de cartas e mesmo artefactos de ilusão de ótica. Os espetáculos com duração inferior a duas horas são adequados ao público a que se destinam e incluem animações de rua, espetáculos de sala, ações em escolas e em
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empresas, formação de animadores, atuações em feiras de ciência, entre muitos outros formatos (11). Seguindo uma filosofia ligeiramente diferente, mas ainda assim privilegiando o contacto direto com o público, surge o grupo de stand-up comedy “Cientistas de Pé” (http://cientistasdepe.pt) coordenado pelo bioquímico David Marçal a que se juntaram cientistas das mais diversas áreas desde a Biologia à Arqueologia e à Informática, para citar apenas algumas (Fig. 2). A ideia surgiu em 2009 quando iniciou um pós-doutoramento em comunicação de ciência sob a supervisão do professor Carlos Fiolhais, com um projeto que visava recorrer ao teatro e ao humor para comunicar ciência. Desde então, o grupo tem vindo a aumentar em número de elementos e as atuações também se multiplicam de dia para dia.
Figura 2 - Cartaz ilustrativo do programa CIência Viva No Verão 2013 (à esquerda) e logotipo do grupo de stand-up comedy Cientistas de Pé (à direita).
2. O texto e imagem na comunicação Como se sabe, os estilos de aprendizagem utilizam basicamente três formas de perceção da informação: a visual, a auditiva e a cinestésica, sendo que grande parte da população se enquadra na primeira categoria. As pessoas visuais fazem uso da visão como forma de obter e reter as informações, ou seja, compreendem muito melhor um texto associado a um gráfico, a uma ilustração ou a uma foto, do que uma mancha de texto apenas (12). Segundo Rota & Izquierdo, a conjugação de texto e imagem tem uma enorme capacidade de contar histórias e transmitir mensagens (13). Na verdade, basta olhar ao nosso redor para perceber o “uso e abuso” da imagem no dia-a-dia, sobretudo na publicidade, quer na imprensa diária, quer na televisão ou mesmo em formatos maiores como cartazes/posters e outdoors. Quando o objetivo é cativar a atenção e partilhar informação sem que esta seja perdida instantaneamente, a imagem, quando usada com os critérios adequados, revela-se o melhor método (14).
Um campo em que a imagem desempenha um papel fundamental é o da informação médica à população. É recorrente haver dificuldade por parte do cidadão comum em compreender conceitos, procedimentos e regras ligadas aos cuidados básicos de saúde (15). Isto acontece dada a sua complexidade e à utilização de um léxico específico, desconhecido de grande parte da população. No entanto, como descrito por Delp e Jones, a presença de imagem associada ao
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texto em panfletos com indicações médicas e destinados aos utentes, desperta um interesse muito maior por parte da população-alvo. Além disso, possibilita uma melhor compreensão da mensagem comparativamente às situações em que a literatura é fornecida apenas sob a forma de texto. Adicionalmente, de acordo com estes autores, parece que o uso da imagem permite ao paciente-idoso memorizar melhor os procedimentos a seguir e os conselhos descritos nos panfletos (16). Por outro lado, quando o recetor da mensagem é a população infantil, os elementos gráficos e a cor aumentam o grau de atenção e a compreensão. São inúmeros os exemplos de panfletos, desdobráveis e mesmo cartazes que fazem uso desta estratégia para passar a sua mensagem de modo eficiente. Encontra-se um exemplo elucidativo no Anexo 1 da página 22.
2.1. O cartoon como veículo de comunicação de Ciência O termo cartoon surgiu na Idade Média referindo-se ao esboço de uma obra de arte, pintura ou
escultura. Só mais tarde, já no século XIX, foi associado a uma ilustração de carácter humorístico
publicada na imprensa diária, de que é exemplo pioneiro a revista Punch (Fig. 3) (17) (18).
Figura 3 - Primeiro cartoon publicado na revista Punch (retirado de http://punch.photoshelter.com/about/).
Hoje em dia pode definir-se cartoon como um desenho ou pintura não-realista, que usa na sua
génese elementos como a sátira, a caricatura ou o humor. O termo cartoon é amplamente
associado a tiras de BD, como o “Calvin & Hobbes”, e também a desenhos animados, já que são
utilizadas na sua conceção técnicas semelhantes às da BD (ver Anexo 2 da página 23) (17). Em
Portugal, esta estratégia é usada em vários jornais, entre eles o Expresso, o Público ou A Bola,
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funcionando como veículo de crítica social aos mais recentes acontecimentos, nos diversos
setores da sociedade (Fig. 4).
Figura 4 - Exemplo de uma tira do cartoon "Calvin" que reflete preocupações ambientais (adaptado de http://www.cooperativeindividualism.org/political-economy-of-calvin-and-hobbes-3.html).
Assim, o cartoon, como forma de arte sequencial composta por texto e imagem, revela-se uma ferramenta interessante para a divulgação “descontraída” de conhecimento científico. Há mesmo quem defenda que a imagem, incluindo o cartoon, permite que os alunos se interessem por Ciência e a aprendam, em vez de se resumirem a “decorar texto para os exames” (19). No âmbito do campo virtual surgem alguns blogues e páginas em redes sociais que publicam regularmente cartoons sobre ciência e que, “à boleia” de algum humor, despertam o público que os visita para assuntos sérios e atuais de natureza científica. É o caso das páginas “Diário de Biologia” (http://diariodebiologia.com), “Saturday Morning Breakfast Cereal” (http://www.smbc-comics.com) e do projeto STOL – Science Through Our Lives na rede social Facebook (http://fb.com/pages/STOL-Science-Through-Our-Lives/157428631036940). Resumindo, quando utilizados na Ciência, os cartoons permitem ao leitor adquirir conhecimentos sobre vários temas e assuntos sérios e reais, mesmo que se usem abordagens mais fictícias e fantasiosas para explicar conceitos verdadeiros (2). Na figura seguinte está patente um exemplo de interesse atual.
Figura 5 - Exemplo de cartoon científico, ilustrando o processo de transformação genética de microrganismos e da transferência horizontal de genes responsável pela disseminação da resistência bacteriana a antibióticos, um problema com que a sociedade atual se debate (retirado de http://www.deviantart.com/art/Cell-meets-plasmid-151423037).
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3. A Microbiologia A vida no planeta Terra apareceu há muito tempo, cerca de 3,7 mil milhões de anos atrás, sob a
forma de organismos unicelulares muito simples (20). Crê-se que no Período Pré-Câmbrico todas
as formas de vida seriam microscópicas (21). Pode dizer-se então que os microrganismos
habitam o planeta há muito mais tempo do que a espécie humana, e que mesmo assim
conseguiram sobreviver até aos dias de hoje.
Figura 6 - Evolução da vida no planeta Terra, evidenciando os procariotas como primeiras formas de vida existentes
(adaptado de http://www.tutorvista.com/content/biology/biology-iii/organic-evolution/organic-evolution.php).
Os microrganismos são seres vivos ubíquos, capazes de habitar qualquer tipo de ambiente. Estão
por todo o lado, desde o fundo dos oceanos até ao limite da atmosfera, devido à sua grande
variabilidade, versatilidade metabólica e capacidade de suportar condições abióticas em que, à
partida, seria impensável a existência de vida (22) (23) (24). A título de curiosidade, note-se que
o intestino de um ser humano possui entre 500 a 1000 espécies diferentes de bactérias (25) e
que existem cerca de 10 vezes mais células bacterianas do que células humanas no nosso corpo
(26). Sabe-se ainda que os microrganismos possuem cerca de 50% do carbono orgânico e 90%
do azoto orgânico existentes no nosso planeta (22).
O seu estudo foi impulsionado por diversos feitos e descobertas que permitiram revelar,
primeiro a sua existência, e depois o seu funcionamento. Alguns marcos incontornáveis dos
primeiros passos no estudo da microbiologia são: o primeiro registo de estruturas frutíferas de
um fungo realizado por Hobert Hooke em 1665, a construção do primeiro microscópio de
Antoine Van Leeuwenhoek em 1676 que permitiu observar bactérias e, mais tarde, no século
XIX, o destronar da Teoria da Geração Espontânea por Louis Pasteur (24).
3.1. Os microrganismos e a opinião pública Para o público em geral as palavras micróbio, bactéria e microrganismo, são quase sempre
sinónimo de algo nocivo, prejudicial e causador de enfermidade. A sua presença passa
naturalmente despercebida pelo simples facto de, na sua grande maioria, serem invisíveis a olho
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nu o que não ajuda, em nada, à compreensão dos benefícios que estão associados à sua
presença. Para o cidadão comum a sua existência (quase) só se torna realidade quando algo de
desagradável acontece, seja o aparecimento de alguma doença, a deterioração de um alimento
ou a decomposição de uma estrutura. Assim, é inevitável que as pessoas associem os
microrganismos a doenças, mesmo quando apenas uma minoria é patogénica (23). Esta tendência é visível, até em fontes aparentemente credíveis que definem bactéria como “Ser
vivo microscópio que pode causar doenças” (27) ou “microrganismo que causa doenças” (28). E
consonante com a ideia errada que a população em geral tem sobre este grupo de seres vivos,
desconhecendo que a Vida, simplesmente não existiria sem eles. Esta é uma ideia bastante
antiga, que teve origem mesmo antes da invenção do microscópico, quando Girolamo
Fracastoro propôs, em 1546, que as doenças epidémicas fossem causadas por entidades capazes
de transmitir a infeção por contacto direto ou indireto ou mesmo através de longas distâncias
(29). Na tabela 1 do Anexo 3 (página 24) estão compilados os resultados de uma pesquisa de
termos associados à Microbiologia e feita em diversos dicionários de Língua Portuguesa.
Por tudo o que foi dito atrás, e por influenciarem o planeta de tantas e tão variadas formas, estes seres merecem uma atenção especial neste projeto. Assim, ao desafio proposto de utilizar a técnica do cartoon para comunicar conceitos de Ciência a um público generalizado juntou-se esta área da Biologia que está geralmente associada a uma série mitos, preconceitos e ideias deturpadas, que podem resultar em receios, em comportamentos errados e mesmo em tomada posições extremadas e perigosas por parte de alguns elementos da população.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
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Desenvolvimento
1. A escolha dos tópicos a abordar Chegado a esta fase foi altura de decidir, no imenso mundo de possibilidades em que os
microrganismos se revelam úteis e até mesmo indispensáveis, quais os tópicos que faria sentido
abordar. Basicamente, e pensando de um modo sistemático em termos de Microbiologia
Aplicada, os microrganismos desempenham papéis fundamentais em três grandes áreas:
Alimentação, Saúde e Ambiente. A proposta inicial era elaborar uma coleção de seis cartoons,
dois associados a cada uma das áreas referidas anteriormente. Entretanto, com o passar do
tempo e a tomada de consciência de todo o trabalho envolvido, o objetivo inicial foi
redimensionado para um conjunto de quatro cartoons, ainda assim abarcando os três grandes
domínios de atuação microbiana.
1.1. Os microrganismos e a alimentação A área da microbiologia alimentar é, provavelmente, a menos desconhecida para o cidadão
comum, ou pelo menos, aquela em que ele apresenta, empiricamente, alguma capacidade de
entendimento. Afinal toda a produção de alimentos fermentados como o iogurte, o queijo, a
cerveja, o vinho, o vinagre e o pão remonta a dezenas de séculos atrás (24), quando o processo
foi descoberto de modo acidental e, mais tarde, intencionalmente levado a cabo pelo Homem
como forma de aumentar, quer a capacidade de conservação, quer as características
nutricionais e organoléticas do alimento em causa. No caso particular das bebidas alcoólicas
parece que devemos recuar muito mais no tempo, até aos finais da Idade da Pedra, ou seja,
10.000 AC (30). Numa vertente menos tradicional, os microrganismos são imprescindíveis na
produção industrial de: (i) vitaminas; (ii) aditivos alimentares como corantes, conservantes,
espessantes e gelificantes; (iii) no processamento e maturação do chá, café e cacau e ainda; (iv)
na produção de novos alimentos como single-cell protein, alimentos resultantes de manipulação
genética e alimentos probióticos (23) (31). Ainda na área alimentar não posso deixar de referir
os macrofungos, vulgarmente conhecidos por cogumelos, que desempenham um papel
preponderante na dieta alimentar de determinadas populações (32).
1.1.1. A produção de vinhos
O vinho é um produto característico do nosso país, sendo em Portugal que se produz o melhor
vinho do Mundo (33). É um dos produtos mais exportados, é importante na nossa economia
(34), faz parte da cultura portuguesa e leva o nome de Portugal aos quatro cantos do Mundo.
Por ser cada vez menos comum a produção de vinho em pequena escala, a perceção da
sociedade sobre a produção do vinho é cada vez menor. O facto de as leveduras não serem
visíveis a olho nu, contribui para que não seja associada qualquer atividade biológica ao
processo, quando na verdade a flora microbiana presente no mosto é essencial e imprescindível.
De forma a dar relevância a um processo que nos é tão caro achei que seria pertinente a
elaboração de um cartoon em volta desta temática. O seu objetivo será demonstrar o que
acontece durante a produção de vinho, na perspetiva de atuação da levedura Sccharomyces
cerevisiae.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
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1.1.2. Os probióticos
A sociedade atual está cada vez mais sensibilizada para a vantagem de seguir uma alimentação
saudável (35) (36). Hoje em dia, o consumidor informado procura alimentos que, para além das
propriedades nutricionais promovam benefícios específicos para a saúde, (37). Os probióticos
são microrganismos vivos adicionados a alimentos que, ao serem ingeridos com alguma
regularidade, permitem melhorar o desempenho e a função de determinados órgãos, e
consequentemente, do organismo no seu todo. São frequentemente processados por adição a
iogurtes, já que estes constituem alimentos de consumo diário, regular, com tempo de vida de
prateleira curto e mantidos em condições refrigeradas, tudo condições necessárias para
manutenção e atuação adequadas do microrganismo probiótico (38). O consumo deste tipo de
alimentos aumentou 128% em apenas 5 anos, entre 2004 e 2009 (39), o que explica a crescente
variedade de probióticos nas prateleiras das superfícies comerciais. Entre estes microrganismos
destacam-se Bifidobacterium bifidum e Lactobacillus acidophillus (40). Um deles será
protagonista de um dos cartoons da coleção.
1.2. Os microrganismos e a saúde É verdade que muitos microrganismos são capazes de nos provocar doenças mas apenas alguns
se revelam verdadeiramente letais ao ser humano. Na sua grande maioria e em condições
normais de funcionamento do sistema imunitário, somos indiferentes à maioria dos
microrganismos (41). Por outro lado, há muitos exemplos de microrganismos capazes de
promover a nossa saúde, direta ou indiretamente. O exemplo paradigmático será, porventura,
a descoberta da penicilina, o primeiro antibiótico produzido intencionalmente. Em 1929
Alexander Fleming detetou a capacidade bactericida de um fungo que tinha crescido, “por
acidente”, nas placas de Petri onde tinha inoculado culturas de Staphilococcus. Este
acontecimento abriu as portas à descoberta dos antibióticos que são hoje produzidos em larga
escala para combater infeções bacterianas (22) (24).
A vacinação, criada por Edward Jenner em 1796 para o combate da varíola é uma das estratégias
de maior sucesso na profilaxia de doenças usada até aos dias de hoje (22) (24) (42). Uma vacina
pode conter organismos inteiros, partes de microrganismos ou toxinas por eles produzidas, que
foram previamente alterados de forma a desencadear uma resposta segura do sistema
imunitário do hospedeiro. Também o facto de o nosso corpo estar totalmente colonizado por
certos microrganismos confere-nos uma barreira adicional a outros nocivos, e funciona como
um sistema imunitário secundário. Sem esta proteção inata estaríamos demasiado expostos e
muito mais suscetíveis a quaisquer ataques microbianos (43).
Outro exemplo inevitável de referir é a produção de insulina por manipulação genética de
Escherichia coli, uma hormona envolvida na manutenção do nível de glicémia e imprescindível
à qualidade de vida dos pacientes de diabetes tipo I (44).
1.2.1. A produção de vacinas
As vacinas são poderosos meios de prevenção de doenças, produzidas pela primeira vez por
Jenner. Permitem-nos fortalecer o nosso sistema imunitário, pois contêm partes de
microrganismos patogénicos (por vezes até inteiros) ou as suas toxinas desativadas, permitindo
a produção de anticorpos, e em consequência, a imunização contra uma determinada doença
(45). O processo de vacinação tem também a vantagem de, ao impedir o contágio dos indivíduos
imunizados, evitar a propagação da patologia e o aparecimento de epidemias (46). O Programa
Nacional de Vacinação define as imunizações obrigatórias e essenciais para qualquer cidadão
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português. Se bem que haja vacinas em que uma única toma é garantia de imunização vitalícia,
no caso do tétano e da difteria, causadas, respetivamente, por C. tetanus e C.diphteriae, um
adulto deverá ser imunizado a cada 10 anos (47). Apesar da imunização representar maior
garantia de saúde para a população adulta, existe por vezes, alguma dificuldade em a cumprir,
seja por relutância, por preconceito, ou mesmo por esquecimento (48). Por esta razão foram
escolhidos os caos específicos de produção e funcionamento da vacina do tétano e da difteria
para a representação em cartoon.
1.3. Os microrganismos e o meio ambiente Também a nível do meio ambiente os microrganismos apresentam imensas vantagens para o
ser humano, senso lato. Após a Revolução Industrial e depois da 2ª Guerra Mundial, os níveis de
poluição atmosférica e no solo atingiram níveis difíceis de ignorar. Mais tarde, com o boom de
desenvolvimento tecnológico e consequente pico no consumo de combustíveis, o panorama
piorou consideravelmente. A revolução verde das décadas 60 e 70 do século XX associada ao
consumo massivo de fertilizantes e pesticidas químicos também contribuiu, grandemente, para
o aumento alarmante dos níveis de poluição. Atualmente usam-se microrganismos para
remover eficientemente alguns poluentes do meio ambiente como é o caso de biolixiviação de
metais pesados do solo (49). A diminuição da utilização de químicos na agricultura por utilização:
de bioinsecticidas de origem microbiana (50), de bactérias capazes de fixar o azoto atmosférico
e o transformar em produtos facilmente assimilados pelas plantas (51) e ainda, de plantas
micorrizadas altamente adaptadas a solos e climas (52), também tem consequências muito
positivas em termo ambientais.
A biorremediação é uma outra área em que os microrganismos têm, já hoje, um papel de
destaque. A sua enorme versatilidade metabólica e capacidade de adaptação a condições
extremas possibilita que, potencialmente, possam ser usados em situações de desastre
ecológico (como fuga de efluentes ou derrames de petróleo) para metabolizar total ou
parcialmente, os compostos nocivos (52).
1.3.1. Biorremediação
A remediação biológica é o processo de remoção ou mitigação de agentes poluentes com
recurso a organismos vivos, sejam elas plantas (fotorremediação), microrganismos
(biorremediação) ou eventualmente, outros (52) (53). Apesar de poder ocorrer
espontaneamente na natureza sem a intervenção do Homem (biorremediação intrínseca), pode
também ser potenciada por ele (bioestimulação e bioaumento ou bioampliação) como acontece
nas estações de tratamento de águas. As vantagens deste processo relativamente à remoção
química ou mecânica incluem menor necessidade de equipamento, de energia e de mão-de-
obra, o que se reflete num menor custo. Além disso, evitam-se processos como escavações,
remoção e transporte de solos pois a atividade microbiana ocorre no próprio local (54). No
entanto, apesar das enormes vantagens referidas, a biorremediação dependente da intervenção
humana (bioestimulação e bioaumento) encontra-se ainda em fase muito incipiente, em termos
de aplicação prática “no terreno”. A título de exemplo de exceção, refira-se um desastre
ecológico de enormes proporções que se registou no Alasca nos anos 90. Por acidente, um
cargueiro libertou 500000 toneladas de petróleo no oceano, numa zona de reserva natural e pôs
em risco todo um ecossistema ímpar. A par com a remoção mecânica foram adicionados
nutrientes específicos que permitiram duplicar a taxa natural de biodegradação do petróleo
(55).
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 12
Os microrganismos têm, virtualmente, a capacidade de metabolizar qualquer composto e desse
modo, de recuperar desastres ecológicos causados pelo homem. Em situações em que a
biodiversidade está em risco podem ser uma ajuda preciosa. Por isso mesmo, esta temática
pareceu-me merecedora de um cartoon que elucide, ou pelo menos alerte o público, para o
contributo dos microrganismos na remediação das catástrofes causadas pelo Homem.
2. A produção gráfica dos cartoons Antes de iniciar a elaboração dos cartoons foi essencial adquirir alguns conhecimentos sobre as
técnicas e as premissas inerentes à sua conceção e ver vários exemplos da aplicação da arte
sequencial animada em geral, e do cartoon em particular, ao campo da Ciência. Tendo em conta
que o recetor-alvo é um público geral, sem restrição de sexo ou idade, e não particularmente
conhecedor de Ciência para além do senso comum, para que o cartoon funcione torna-se
imprescindível adaptar o teor humorístico, o conteúdo científico e a linguagem utilizada, a este
mesmo público. Segundo Scott McCloud, o desenho de banda-desenhada deve ter em conta 5
aspetos importantes: o número de quadros essenciais à transmissão da mensagem, a
contextualização visual da história (presença/ausência de pormenores), a capacidade de
comunicação rápida e clara, os elementos textuais indispensáveis (e apenas esses) e o fluxo da
leitura do cartoon seguindo uma ordem correta (Anexo 2 da página 23) (56). Destaca-se ainda a
importância da cor, luminosidade e do texto sonoro (onomatopeias) que deverão ser apelativos
sem prejudicar a leitura do cartoon (57).
2.1. O processo passo a passo Passarei a relatar o processo passo a passo, tomando como exemplo o cartoon sobre o
mecanismo de produção de vacinas. De um modo geral, posso dizer que na génese de todos os
cartoons houve um procedimento equivalente, composto por muitas etapas e que foi
melhorado de modo empírico e iterativo, à medida que iam aparecendo as dificuldades.
Para este cartoon foram selecionadas duas personagens principais: os bastonentes Clostridium
tetani e Corynebacterium diphteriae, causadores do tétano e da difteria, respetivamente.
Inicialmente os esboços foram produzidos em papel de desenho, usando lápis e/ou caneta e
tendo sempre presentes as escolhas da tabela apresentada no Anexo 2 da página 23 (Fig 7).
Figura 7 - Etapa 1 da conceção do cartoon: as personagens C. tetani (à esquerda) e C. diphteriae (à direita).
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 13
Depois de aprovados os esboços como representativos das principais características dos
microrganismos em causa, a saber, bastonetes de dimensões equiparáveis, foi necessário pensar
num enredo cientificamente correto, coerente, simples e com algum humor (Fig 8).
Figura 8 - Etapa 2 da conceção do cartoon: a construção do enredo.
Seguidamente desenharam-se vários quadros e, após a sua digitalização, procedeu-se à
adaptação dos desenhos de modo a corrigir eventuais erros surgidos na conceção. Foi também
nesta fase que se construíram os diálogos. Chegado aqui deparei-me com alguns avanços e
recuos já que tive que reduzir o número de quadros a no máximo quatro, valor limite adequado
a uma tira. Não foi fácil. Havia muita informação a ser passada e com a redução e fusão de
quadros, a mensagem tinha que continuar a ser cientificamente correta, coerente, simples e
bem-humorada. Algumas imagens e ideias “perderam-se” como é o caso do exemplo seguinte
(Fig. 9).
Figura 9 - Etapa 3 da conceção do cartoon: ajuste da quantidade de quadros.
Seguiu-se a pintura digital dos desenhos com recurso ao software Adobe Photoshop CS6 v13.0
(http://www.adobe.com/products/photoshop.html). Foi utilizado um fundo em gradiente para
suavizar a visualização do cartoon e destacar as personagens, estas coloridas usando cores vivas.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 14
A tira fez-se acompanhar de texto repartido ao londo dos vários quadros que ajudou a transmitir
e a clarificar a mensagem associada aos balões de fala.(Fig 10)
Figura 10 - Etapa 4 da conceção do cartoon: pintura digital e introdução de texto.
Foi ainda necessária a correção digital de pequeninos detalhes no desenho (falhas de traço,
imperfeições, posicionamentos de imagem, etc) que obrigaram a trabalhar com um zoom
mínimo de 200%. Por vezes, já nesta fase adiantada do processo, teve-se consciência de que
poderia haver alguma omissão de dados desejáveis à inequívoca compreensão da mensagem
por parte do público alvo. Então procedeu-se à adição de um elemento gráfico produzido
digitalmente e colado ao quadro existente (caso contrário, seria necessário proceder novamente
ao desenho manual e à repetição de todos os passos previamente elencados). Foi o caso do
cartaz criado para o quadro 3 da tira, que remete para a relação entre as personagens principais
e a vacinação (Fig 11).
Figura 11 - Etapa 5 da conceção do cartoon: correção digital de detalhes e adição de elementos gráficos posteriores.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 15
Seguiu-se a introdução dos diálogos das personagens com recurso a balões de fala simples que
permitem uma leitura clara do seu conteúdo (Fig 12).
Figura 12 - Etapa 6 da conceção do cartoon: introdução dos diálogos das personagens com recurso a balões de fala.
Foram ainda adicionadas margens de cor negra aos quatro quadrados finais de modo a melhorar
a organização do mesmo e a aumentar o contraste com as cores do cartoon. A margem serviu
ainda para a identificação projecto e do autor no canto inferir direito (Fig. 13).
Figura 13 - Etapa 7 da conceção do cartoon: adição de margens de cor negra e identificação do projeto e autor.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 16
O passo final passou por organizar a tira na sua sequência lógica e de corrigir algumas gralhas/
pormenores de última hora que, por mais cuidado que se tenha, sempre acontecem (Fig. 14).
Figura 14 - Etapa 8 da conceção do cartoon: correção de gralhas e pormenores de última hora.
Finalmente, após todos estes procedimentos e muitas dezenas de horas de trabalho, o cartoon
foi considerado finalizado. O objetivo de utilizar desenhos simples, de fácil compreensão e
apelativos, para transmitir a um público geral algum conhecimento científico no âmbito da
microbiologia aplicada utilizando apontamentos de humor, foi considerado alcançado (Fig. 15).
2.2. A Coleção Microrganismos aos Quadradinhos A coleção consiste num conjunto de 4 tiras de cartoon onde são abordadas diferentes temáticas
dentro das áreas da Microbiologia ligada à Saúde, à Alimentação e ao Ambiente.
2.2.1. A produção de vacinas
Neste cartoon estão presentes informações pertinentes sobre os microrganismos causadores
do tétano e da difteria, nomeadamente a sua morfologia e o seu papel na produção de vacinas.
Está ainda ilustrada uma das estratégias utilizadas para a criação de vacinas (usando as toxinas
dos microrganismos), bem como a necessidade de tomar várias doses de vacina como garantia
de imunização. O cartoon remete ainda para o efeito nas vacinas no fortalecimento do sistema
imunitário (Fig. 15).
Figura 15 - Versão final do cartoon que aborda a temática da produção de vacinas.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 17
2.2.2. Probióticos
Este cartoon remete para existência de microrganismos benéficos ao ser humano que são
adicionados a alimentos, associando o ser cariz nutricional com outro promotor da saúde.
Apresenta como protagonista a bactéria Bifidobacterium bifidum e acrescenta algumas
informações, nomeadamente: a sua morfologia, o modo como podemos ter acesso a ela e os
benefícios imediatos que traz à saúde do sistema digestivo (Fig. 16).
Figura 16 - Versão final do cartoon que aborda a temática dos alimentos probióticos.
2.2.3. Fermentação alcoólica
Neste cartoon dá-se enfoque a Saccharomyces cerevisae e ao seu papel na produção de vinho
através da fermentação alcoólica. Além da sua morfologia estão ilustrados alguns
acontecimentos inerentes à produção de vinho, nomeadamente: a matéria-prima para
produção de vinho, o processo de multiplicação celular por gemulação, a libertação de produtos
de fermentação, a alteração de cor do mosto ao longo do processo, o tempo de duração da
fermentação primária e a mudança de ambiente após este processo (Fig. 17).
Figura 17 - Versão final do cartoon que aborda a temática da fermentação alcoólica do vinho.
Microrganismos aos Quadradinhos | Desenvolvimento
Daniel José Costa Ribeiro 18
2.2.4. Biorremediação
Neste cartoon pretende-se ilustrar a capacidade de vários microrganismos em efetuar trabalho
de limpeza e purificação de ecossistemas, estejam poluídos devidos à ação humana ou não. A
mitigação dos efeitos nocivos do derrame de petróleo em alto mar (maré negra) é o exemplo
concreto abordado. Na tira realça-se o facto de este ser um processo complexo e moroso e de
poder ser composto por várias etapas, entre as quais a remoção mecânica, química ou
resultante do metabolismo microbiano. Não está evidenciado uma espécie em particular porque
estão envolvidos vários microrganismos diferentes, com metodologias diferentes mas sempre
com o objetivo de deixar os ecossistemas um pouco mais limpos (Fig. 18).
Figura 18 - Versão final do cartoon que aborda a temática da biorremediação.
Microrganismos aos Quadradinhos | Considerações Finais
Daniel José Costa Ribeiro 19
Considerações Finais Uma das razões que me levou a interessar-me por este projeto foi o facto de representar um
mundo desconhecido para mim. O objetivo de fazer os meus próprios cartoons foi um desafio,
simultaneamente aliciante e assustador. Ainda assim, apesar deste último ponto, arrisquei.
Não foi, de todo, uma tarefa fácil. Às dificuldades inerentes à pesquisa e redação da monografia,
somam-se todas aquelas relacionadas com o desenho e edição digital, áreas nas quais não
possuo qualquer formação. Estive limitado ao meu fluxo de imaginação e criatividade porque,
afinal, fazer Ciência com piada não é tão fácil quanto possa parecer.
A qualidade final dos cartoons superou todas as expectativas. Considero que foi um objetivo
cumprido. Apenas tenho a lamentar a redução do número de cartoons a que inicialmente me
tinha proposto, quando ainda não tinha consciência das horas de trabalho inerentes à criação
da coleção.
Espero que estes cartoons cumpram a sua missão ao levar conhecimento ao maior número de
pessoas possível. Terei todo o gosto em cedê-los para eventuais exposições e outros eventos de
divulgação científica.
Microrganismos aos Quadradinhos | Referências
Daniel José Costa Ribeiro 20
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Microrganismos aos Quadradinhos | Referências
Daniel José Costa Ribeiro 21
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Microrganismos aos Quadradinhos | Anexos
Daniel José Costa Ribeiro 22
Anexo 1
Anexo 1 - Exemplo de panfleto onde está presente a utilização da imagem na comunicação de conhecimento na área da Saúde (retirado de http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/noticias/arquivo/2011/5/dgs+crianca+sol.htm)
Microrganismos aos Quadradinhos | Anexos
Daniel José Costa Ribeiro 23
Anexo 2
Anexo 2 - As cinco escolhas estratégicas para a construção de arte sequencial animada e características importantes inerentes a cada uma delas. (Adaptado de Scott McCloud – Making Comics
pg1-37 1st ed, 2006)
Escolhas Estratégicas para Construção da Arte Sequencial Animada
MOMENTO QUADRO IMAGEM TEXTO FLUXO Decidir o que incluir ou não numa banda-desenhada, de forma a comunicar um enredo da modo direto e eficiente. Acertar o número de quadros necessário e suficiente. (A remoção ou a adição de quadros podem alterar o enredo da história. Se a remoção de um quadro não afetar o enredo, então esse quadro não será essencial.)
Relaciona-se com a distância, o ângulo e o corte da imagem que compõe o quadro. A variação do ângulo só deve ser usada quando necessária, (Esta mudança pode desviar a atenção do leitor do que é importante realçar). A distância a que os objetos e personagens são desenhados permite incluir um maior ou menor número de pormenores, que contextualizam a ação. A posição central de um quadro é a primeira zona a focar atenção do observador. (As cenas e os objetos mais importantes deverão localizar-se aqui).
Assegurar a representação clara das personagens, dos objetos e do ambiente. A imagem como um todo deve comunicar de forma rápida e clara (um desenho pode ser esteticamente perfeito mas se for incapaz de comunicar uma mensagem ou ideia, não serve).
O texto fornece informação valiosa a uma imagem O texto tem que estar em harmonia com a imagem. O texto ajuda a direcionar uma imagem com uma ideia vaga no sentido desejado. O texto permite encurtar o número de quadros necessários para contar a história. O texto deve ser usado apenas quando as imagens fazer sozinhas não passam a mensagem desejada, ou quando não são a melhor solução para comunicar uma ideia.
O fluxo refere-se à ordem correta dos quadros e dos objetos neles contidos. O fluxo guia o leitor durante a história, primeiro da esquerda para a direita e só depois de cima para baixo. (Esta regra aplica-se tanto à organização entre vários quadros como aos elementos dentro do mesmo quadro, p.e. balões de fala.) Por vezes usa-se o desenho fora dos limites dos quadros, de forma a recriar o movimento e a auxiliar o leitor na ordem correta.
Microrganismos aos Quadradinhos | Anexos
Daniel José Costa Ribeiro 24
Anexo 3
Anexo 3 - Compilação dos resultado da pesquisa feita em dicionários de Língua Portuguesa, em formato de papel e disponíveis online, sobre diversos termos do léxico comum associados à taxonomia microbiana
Fungo
Organismo unicelular ou pluricelular, que se
reproduz por esporos e pode ser parasita de
planta ou animal ou viver sobre matérias orgânicas
que se encontrem de preferência em ligares
húmidos e pouco iluminados.
Cogumelo. Organismo que se cria em ambiente
húmido.
Planta criptogâmica sem clorofila;
cogumelo.
Organismo eucariota, geralmente saprófito
ou parasita., sem clorofila, cujas
paredes celulares contêm quitina.
Organismo que se cria em ambiente
húmido
Designação do grupo de seres vivos eucarióticos,
heterotróficos e microconsumidores.
Germe Organismo na fase inicial do seu desenvolvimento;
embrião.
Micro-organismo que pode provocar doenças (adaptado)
Microrganismo susceptível de
provocar doenças. = Bactéria, Micróbio
(adaptado).
Micróbio.
Levedura
Fungo responsável pela fermentação na
panificação e indústria de bolos e bebidas.
Fermento. Não encontrado Fermento Fermento Fermento.
Grupo de fungos unicelulares, muitos
dos quais são utilizados na panificação e na indústria de bolos e
bebidas produzidas por fermentação;
fermento.
Microrganismos aos Quadradinhos | Anexos
Daniel José Costa Ribeiro 25
Bacilo
Microrganismo microscópico em
forma de filamento ou bastonete que pode
causar doenças contagiosas.
Vibrião que determina doenças no organismo
animal.
Designação genérica das bactéricas com forma
de bastonete ou filamento curto.
Vibrião que determina doenças no organismo
animal. Espécie de micróbio.
Designação geral de bactérias em forma de filamento ou de
bastonete, com algumas espécies
patogénicas para o homem.
Bactéria
Microrganismo unicelular que
desempenha a sua atividade em
importantes reações químicas e na
produção de doenças.
Nome geral dado aos micróbios unicelulares
de forma alongada (bacilos), esférica (cocos)
ou espiralada, sem membrana nuclear e que se alimentam segundo o
modo vegetal.
Ser vivo microscópico que
pode causar doenças; micróbio.
Microrganismo unicelular procariota,
sem pigmento de clorofila, que vive no
solo, na água, sobre os animais e vegetais ou nos líquidos orgânicos
destes últimos, responsável pela decomposição de
substâncias orgânicas e pela propagação de
doenças.
Nome geral dado aos micróbios unicelulares
de forma alongada (bacilos), esférica
(cocos) ou espiralada, sem membrana nuclear e que se
alimentam segundo o modo vegetal.
Microorganismo que causa doenças.
Designação de seres vivos microscópicos
unicelulares, procariotas,
desprovidos de membranas internas.
Bolor
Aglomerado de fungos, que se desenvolve na matéria orgânica em decomposição; mofo.
Vegetação criptogâmica parasita, originada pela
humidade
Fungo que surge em algo que está a
apodrecer.
Vegetação criptogâmica que se forma nas
matérias orgânicas quando entram em
decomposição.
Vegetação criptogâmica parasita,
originada pela humidade.
Aglomerado constituído por fungos, que se desenvolve na
matéria orgânica em decomposição.
Microrganismos aos Quadradinhos | Anexos
Daniel José Costa Ribeiro 26
Micróbio
Ser vivo, animal ou vegetal, de dimensões tão pequenas que só é visível ao microscópio. Microrganismo capaz de provocar doenças.
Organismos microscópico (animal ou vegetal); bactéria;
bacilo.
Microrganismo que pode causar doenças em
pessoas e animais.
Organismo microscópico,
animal ou vegetal. Bactéria.
Organismo microscópico (animal ou vegetal); bactéria;
bacilo.
Organismo vivo que provoca doenças.
Ser vivo, animal ou vegetal, de
dimensões tão pequenas que só
pode ser visto com o auxílio do
microscópio, que causa doença;
Microrganismo que causa doença.
Microrganismo Organismo animal ou vegetal de dimensões
microscópicas.
Bactéria;organismo excessivamente
pequeno.
Ser animal ou vegetal, visível ao
microscópio.
Organismo microscópico,
animal ou vegetal.
Organismo excessivamente
pequeno, como as bactérias, os
protistas, os vírus, etc.
Micróbio.
Organismo, animal ou vegetal, de
dimensões microscópicas.
Nota: Os dicionários em formato de papel foram escolhidos por se encontrarem atualmente à venda ao público em livrarias. Os dicionários online selecionados devem-se à classificação do maior
número de pesquisas do Google, sendo priberam.pt, lexico.pt e infopedia.pt os três primeiros Exclui-se o portoeditora.pt por se tratar da mesma editora de dicionários em formatos de papel já
contemplada
(1) - Dicionário da Língua Portuguesa – Porto Editora, 2012; (2)- Dicionário de Bolso Lello – Lello Ediores, 2012; 3 - Maxi Dicionário Ilustrado 1º Ciclo – Texto Editores, 2011;
(4) - Dicionário Fundamental da Língua Portuguesa – Texto Editores, 2009; (5) - Priberam – Dicionário online; (6) - Léxico – Dicionário online; (7) – Infopédia – Enciclopédia e
Dicionários Porto Editora online
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