PACHECO, Flix
*jornalista; dep. fed. PI 1909-1920; sen. PI 1921-1922; min. Rel. Ext. 1922-1926.
Jos Flix Alves Pacheco nasceu em Teresina, na provncia do Piau, em 2 de
agosto de 1879, filho do juiz Gabriel Lus Ferreira e de Maria Benedita Cndida da
Conceio Pacheco. Seu pai foi governador do Piau em 1891 e deputado federal de 1894 a
1895. Seu irmo Joo Lus Ferreira foi tambm governador do Piau, de 1920 a 1924, e
deputado federal de 1925 a 1927.
Fez os estudos primrios no Colgio Karnak, onde desde cedo escreveu textos rebeldes, que
lhe valeram o apelido de Oncinha. Preocupado com a ndole do filho, quando o menino
completou 12 anos o pai matriculou-o no Colgio Militar, no Rio de Janeiro, onde ficou sob
a proteo do tio, o senador Teodoro Alves Pacheco, cujo nome adotou. Sem pendores para
a matemtica, mais tarde ingressou na Faculdade de Direito e passou a frequentar os
crculos literrios e bomios da capital da Repblica de fins do sculo XIX. Aos 18 anos
escreveu um estudo sobre Evaristo da Veiga, publicado no Jornal do Comrcio. Admirador
da obra de Cruz e Souza, integrou a segunda gerao dos simbolistas brasileiros ligados
revista Rosa-Cruz, de Saturnino de Meireles, Gonalo Jcome, Maurcio Jubim e Castro
Meneses, dedicada ao culto do poeta negro catarinense ento falecido. Ainda em 1897
lanou Chicotadas, com o subttulo poesias revolucionrias, versos panfletrios, convite
aos povos da Amrica Latina a se unirem contra a Espanha na guerra da independncia de
Cuba e veemente protesto contra a interveno dos Estados Unidos no conflito. Mais tarde
excluiu este livro de sua bibliografia e considerou Via Crucis, de 1900, sua estreia potica.
Flix Pacheco distinguia-se, nas rodas literrias e bomias do Rio de Janeiro do seu tempo,
onde a maledicncia dos jovens escritores voltava-se contra instituies culturais
conservadoras, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, pela inteligncia e pelos
comentrios iconoclastas. Para Lus Edmundo em O Rio de Janeiro do meu tempo, Flix
impressionava os amigos, alarmando o estreito meio literrio em que vivamos com suas
gravatas estapafrdias, as suas frases loucas e as suas atitudes escandalosas. No obstante,
o bomio encontrava tempo para seu trabalho literrio e suas leituras, em especial dos
poetas franceses, a exemplo de Verlaine, Rimbaud, Mallarm e outros. Foi o primeiro
tradutor de Baudelaire no Brasil e escreveu ensaios sobre sua obra, estudos que culminaram
com o discurso pronunciado a 24 de novembro de 1932, intitulado Baudelaire e os
milagres do poder da imaginao, e trs plaquetes publicadas no ano seguinte: O mar
atravs de Baudelaire e Valry, Paul Valry e o monumento de Baudelaire em Paris e
Baudelaire e os gatos. Depois de simbolista na juventude, na maturidade recebeu
influncia da esttica do parnasianismo. Alceu Amoroso Lima (Tristo de Atade) observou
o equvoco do poeta ao analisar sua transio: O livro simbolista, aristocrtico, filosofante
ou mesmo filosfico e cheio de altas evocaes e surto de ambies, era a verdadeira messe
do seu engenho opulento e intrincado. O mais no passou de flor extica e artificial do seu
estro.
Em 1899 Flix terminou o curso de direito e conseguiu um lugar de reprter no jornal O
Debate. Dois anos depois, com a extino daquele peridico, encontrou emprego na seo
de polcia da redao do Jornal do Comrcio, ento dirigido por Jos Carlos Rodrigues.
Seu ingresso no jornal conservador causou espanto entre os companheiros de boemia.
Segundo Lus Edmundo, o jovem iconoclasta trocou o soneto de Baudelaire pela descrio
do incndio da Camisaria Lopes, a estrofe de Mallarm, ou a de Verlaine, pelas faanhas de
Manduca Calombo, conhecido assassino.
Os amigos de Flix, nas palavras de Lus Edmundo, esperavam que a mocidade trepidante
do poeta a rebentar em iras contra toda a sorte de convencionalismos e tradies, em
desafogos e rebeldias, no se acomod[asse] forma burguesa e conservadora da sisuda
gazeta. Mas, ao contrrio da expectativa, Flix, ainda segundo Edmundo, viu minguar os
arroubos febris da sua juventude, ao ponto de mais tarde ser inteiramente absorvido pelo
ambiente onde se introduz[iu]. Assim, o poeta viu-se enquadrado nas rgidas normas do
jornal, cujas Vrias e editoriais sobre poltica, economia e diplomacia muitas vezes
derrubavam ministros, e l permaneceria at a morte.
Ainda reprter de polcia, Flix casou-se com Dora Viana Pacheco, com quem teve duas
filhas, Ins (Inesita) e Marta. O trabalho de jornalista junto s dependncias policiais levou-
o ao servio pblico, passou a estudar o sistema de identificao pelas impresses digitais
de outros pases, inexistente no pas. Representante brasileiro no III Congresso Cientfico
Latino-Americano, realizado em Buenos Aires, conheceu as tcnicas de identificao
dactiloscpica e ao regressar trabalhou para introduzi-las no Brasil. Organizou e renovou o
Gabinete de Identificao e Estatstica da Polcia do ento Distrito Federal, do qual foi
diretor durante seis anos, mais tarde denominado Instituto Flix Pacheco.
Em pouco tempo ascendeu secretaria do Jornal do Comrcio, e em 1909 era o homem de
confiana do proprietrio Jos Carlos Rodrigues, que, em suas viagens ao exterior,
entregava os assuntos polticos da redao aos seus cuidados. Amigo de polticos e
ministros, entre os quais o baro do Rio Branco, ministro das Relaes Exteriores que
depois do expediente no ministrio frequentava a redao do Jornal do Comrcio, onde
escrevia Vrias sobre a situao internacional e as relaes diplomticas do Brasil, Flix
voltou-se para a poltica e naquele ano elegeu-se deputado federal pelo Piau, reelegendo-se
sucessivamente at 1921, quando ascendeu ao Senado. Nesse perodo no esqueceu a
literatura e prosseguiu a publicar poesia, mas sua obra, escrita no perodo da transio entre
o parnasianismo e o simbolismo, no recebeu citao na Apresentao da poesia
brasileira de Manuel Bandeira. A 14 de agosto de 1913 tomou posse na cadeira nmero 16
da Academia Brasileira de Letras, na sucesso de Araripe Jnior, recebido por Sousa
Bandeira, cujo discurso no deixou de aludir, em tom jocoso, s criticas do moo Flix
instituio que ento o recebia.
Em maro de 1922, quando Artur Bernardes, presidente de Minas Gerais, foi eleito
presidente da Repblica, esperava-se a nomeao de Afrnio de Melo Franco, experiente
poltico e diplomata, para o ministrio das Relaes Exteriores. Atento sombra que
Afrnio, expoente da poltica mineira, poderia exercer sobre sua presidncia, Bernardes
alegou querer evitar especulaes em torno da entrada de mineiros para os conselhos do
governo e escolheu para o cargo o senador Flix Pacheco. Sem grande experincia
diplomtica, Pacheco renunciou ao mandato no Senado, licenciou-se do Jornal do
Comrcio e assumiu a chefia do Itamarati em novembro de 1922.
Em 1924, durante sua gesto no ministrio das Relaes Exteriores, o Brasil foi o primeiro
pas a criar, em Genebra, uma embaixada permanente junto Liga das Naes chefiada por
Afrnio de Melo Franco, que, por instrues de Bernardes transmitidas por Pacheco,
apresentou a candidatura brasileira a membro permanente do conselho da Liga. Bernardes
fez desta aspirao tema prioritrio da sua poltica externa e neste sentido orientou Afrnio,
embora sem apoio das grandes potncias, especialmente aps a assinatura do Tratado de
Locarno. A proposta inicial do Brasil sugeria a criao de mais dois lugares permanentes no
conselho da Liga, provisoriamente ocupados pela Espanha e o Brasil, e depois transferidos
para a Alemanha e os Estados Unidos. Apesar dos esforos de Afrnio de Meio Franco, a
falta de apoio de pases latino-americanos e a oposio da Gr-Bretanha inviabilizaram a
pretenso brasileira. Por instrues diretas de Bernardes a Flix Pacheco transmitidas a
Afrnio, o Brasil vetou o ingresso da Alemanha, o que isolou o pas da Sociedade das
Naes e mais tarde, em 1926, levou o governo brasileiro a abandonar a Liga.
Desde 1915 Jos Carlos Rodrigues vendera o controle acionrio do Jornal do Comrcio
para o diretor comercial do rgo, Antnio Ferreira Botelho. Oito anos depois, em 1923,
Botelho procurou um comprador para o jornal. Assis Chateaubriand interessou-se pelo
negcio, que no se realizou por interveno de Flix Pacheco junto ao presidente
Bernardes, de quem Chateaubriand era adversrio poltico. Em 1924 o jornal foi vendido a
Flix Pacheco que, ainda no cargo de ministro das Relaes Exteriores, entregou a direo
do rgo ao jornalista Vtor Viana.
Com a eleio e posse de Washington Lus na presidncia da Repblica, a 16 de novembro
de 1926 Flix Pacheco deixou o ministrio e reassumiu a direo do Jornal do Comrcio.
Nas eleies para o Senado de 1927, embora fosse o mais votado no Piau, Washington
Lus, seu adversrio poltico, conseguiu do Senado a aprovao do segundo colocado, o
marechal Pires Ferreira, poltico da oligarquia piauiense ligado a interesses econmicos de
So Paulo. O Jornal do Comrcio passou a criticar o governo e, na sucesso de Washington
Lus, apoiou a candidatura de Getlio Vargas, da Aliana Liberal. Durante a campanha
publicou entrevista do ex-presidente Epitcio Pessoa, com a manchete As vergonhas da
situao poltica e a covardia prepotente do presidente da Repblica.
Sob a direo de Flix Pacheco o Jornal do Comrcio apoiou a Revoluo de 1930,
permaneceu neutro durante a Revoluo paulista de 1932, e a 16 de julho de 1934 saudou
os mritos da nova Constituio. Nos ltimos anos de sua vida Flix Pacheco voltou aos
estudos da histria, especialmente a do Jornal do Comrcio, e aos estudos literrios.
Faleceu em 6 de dezembro de 1935.
Ccero Sandroni
FONTES: Edio comemorativa do 1 centenrio do Jornal do Commercio
1827/1927; MORAIS, F. Chat; PACHECO, F. Aliana de prata (1932);
PACHECO, F. Amores alvos (versos, 1904); PACHECO, F. Chicotadas (versos
satricos, 1997); PACHECO, F. Descendo a encosta, (1935); PACHECO, F. Em
louvor de Paulo Barreto, (1922); PACHECO, F. Estos e pausas, (1920);
PACHECO, F. Inesita, (1915); PACHECO, F. Lrios brancos, (1919); PACHECO,
F. Luar de Amor (versos, 1906); PACHECO, F. Marta, (1917); PACHECO, F.
Mors amor (versos, 1904); PACHECO, F. No limiar do outono, (1918); PACHECO,
F. O pendo da taba verde, (1919); PACHECO, F. Poesias, (1914); PACHECO, F.
Poesias, (1932); PACHECO, F. Tu s tu..., (1917); PACHECO, F. Via crucis
(versos, 1900); SANDRONI, C. 180; SODR, N. Histria.
PACHECO, Francisco Manuel dos Santos *gov. AL 1899-1900.
Francisco Manuel dos Santos Pacheco foi eleito senador estadual em Alagoas
em 1897. Nesse mesmo ano foi eleito vice-presidente do estado, na chapa encabeada
por Manuel Jos Duarte. Exerceu seu mandato no Senado estadual at 1898. No dia 17
de junho de 1899, aps a renncia de Manuel Duarte, assumiu a chefia do governo
alagoano. Permaneceu no governo at 12 de junho de 1900, quando foi substitudo por
Euclides Vieira Malta.
Voltou a ser eleito senador estadual em 1901. Foi reeleito para as legislaturas
subsequentes e exerceu o mandato at 1906. Voltou mais uma vez ao Senado estadual
em 1913 e nele permaneceu at 1916.
Reynaldo de Barros
FONTE: BARROS, F. A B C das Alagoas.
PACHECO, Teodoro Alves
* const. 1891; sen. PI 1891.
Teodoro Alves Pacheco nasceu em Teresina no dia 18 de julho de 1851, filho de
Jos Flix Alves Pacheco e de Benedita Cndida da Conceio Pacheco. Sua irm, Maria
Benedita Cndida da Conceio Pacheco, casou-se com Gabriel Lus Ferreira, que foi
governador do Piau em 1891 e deputado federal de 1894 a 1895.
Estudou na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou em 1877. Durante o
Imprio militou no Partido Conservador e dirigiu vrios jornais ligados ao partido. Foi
tambm promotor em Teresina e ocupou diversos cargos pblicos. Em 1887 assumiu a
vice-presidncia da provncia do Piau e exerceu o cargo at 1889.
Com a proclamao da Repblica em 15 de novembro de 1889, fez parte da junta
governativa que assumiu o poder no Piau at a chegada do governador nomeado, Gregrio
Taumaturgo de Azevedo. Em 1890 foi conselheiro municipal em Teresina e secretrio do
governo do Piau. Na eleio para a Assembleia Nacional Constituinte realizada em
setembro desse ano foi eleito senador com a segunda maior votao do estado. Empossado
em novembro seguinte, participou dos trabalhos constituintes e, aps a promulgao da
Constituio em 24 de fevereiro de 1891, a partir de junho passou a exercer o mandato
ordinrio.
Faleceu em 29 de novembro de 1891, em pleno exerccio do mandato.
Seu sobrinho Jos Flix Alves Pacheco, homnimo de seu pai, foi deputado pelo Piau de
1909 a 1920, senador de 1921 a 1922 e ministro das Relaes Exteriores do governo Artur
Bernardes, de 1922 a 1926; alm disso, dedicou-se ao jornalismo, no Jornal Comrcio, e
literatura, tornando-se membro da Academia Brasileira de Letras; defensor da introduo
no Brasil do mtodo de identificao pelas impresses digitais, teve seu nome dado ao
Instituto de Identificao Flix Pacheco. Outro sobrinho, Joo Lus Ferreira, foi governador
do Piau de 1920 a 1924 e deputado federal de 1925 a 1927.
Raimundo Helio Lopes
FONTES: ABRANCHES, J. Governos; GONALVES, W. Grande; Grande encic. Delta Larousse; LEITE NETO, L. Catlogo biogrfico.
PACTO BRIAND-KELLOG
O Pacto Briand-Kellogg, tambm chamado Pacto Multilateral contra a Guerra, foi
originado de uma proposta apresentada por Aristide Briand, ministro francs das Relaes
Exteriores, a Frank Billings Kellogg, secretrio de Estado estadunidense. O pacto foi
assinado em 27 de agosto de 1928 por 15 pases: Alemanha, Estados Unidos, Frana, Reino
Unido, Itlia, Japo, Blgica, Polnia, Canad, Austrlia, Nova Zelndia, frica do Sul,
Irlanda, ndia sob mandato britnico-, e Tchecoslovquia. Dos 57 Estados existentes na
poca praticamente todos aderiram, exceto dois da pennsula arbica, Arbia Saudita e a
Repblica rabe do Imem, e trs sul-americanos: Argentina, Bolvia e Brasil.
Composto de um pequeno prembulo e de trs breves artigos, o pacto afirmava que as
partes assinantes condenavam o recurso guerra para a soluo das controvrsias
internacionais e a ela renuncia(va)m como instrumento de poltica nacional nas suas mtuas
relaes (Artigo 1), e se comprometiam que a superao ou a resoluo de controvrsias
ou conflitos que entre elas surjam, seja qual for a origem ou a natureza dos mesmos, s
deve encontrar-se por meios pacficos (Artigo 2).
ORIGEM E DESFECHO
Aps a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o principal desafio era construir uma
nova ordem internacional com base em novos fundamentos e valores inspirados nos ideais
do presidente norte-americano Woodrow Wilson. Uma nova distribuio de poder emergia,
com diferentes graus de assimetria entre Estados, e o principal arranjo constitucional para
essa nova ordem foi a criao da Liga das Naes. A Liga devia superar o tradicional
equilbrio de poder por uma governana multilateral, alicerada em critrios liberais, para
garantir a segurana coletiva e a paz. Na Europa esse projeto estava diretamente
relacionado com a questo alem, diante da qual as posies da Frana e do Reino Unido
divergiam diametralmente. A primeira, obcecada por sua segurana, queria conter a
Alemanha que se projetava como potncia continental; a segunda procurava um retorno ao
tradicional equilbrio europeu. Para a Alemanha, que fora humilhada em Versalhes,
perdendo territrios e a prpria guerra, as reparaes simbolizavam tal situao e pareciam
pereniz-la.
A assinatura do Tratado de Locarno (1925) foi um ponto de inflexo, pois
reconciliou a Frana e a Alemanha, consolidou o poder da Inglaterra, que se tornou rbitro
entre os dois pases (Londres e Roma eram os garantes do tratado), e separou os problemas
de segurana do Leste (fronteiras negociveis) e do Oeste (fronteiras inviolveis) da
Europa. O triunfo do apaziguamento significou tambm a reintegrao da Alemanha no
sistema europeu, como membro permanente do Conselho da Liga da Naes. A soluo
pacfica das controvrsias, segundo as linhas de Kant, tornou-se um princpio entre as
partes.
A iniciativa de um pacto para instaurar a paz no mundo partiu de Aristide Briand e
foi apresentada como uma mensagem ao povo americano em 1927, por ocasio do
dcimo aniversrio da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra. O objetivo inicial
no era chegar a um tratado multinacional, mas desfazer a imagem de uma Frana
militarista nos Estados Unidos. Frank Billings Kellogg aceitou a proposta, e ela foi
apresentada a outros pases. O pacto, apesar de representar o apogeu da segurana
coletiva, foi negociado fora da Liga das Naes e no atendia plenamente s
reivindicaes dos pacifistas, poderosa fora poltica na poca, tais como a no violncia,
a no resistncia, a guerra fora da lei e o desarmamento unilateral. No prescrevia a
guerra de conquista nem preenchia as lacunas que existiam no Pacto da Liga das Naes,
no evitou a corrida armamentista entre as potncias e tampouco previu uma sano contra
aqueles que o violassem. A guerra continuou sendo legtima em quatro situaes: legtima
defesa; instrumento de ao coletiva de uma organizao internacional (segurana
coletiva); resposta a Estados que violassem o pacto ao utilizar o recurso guerra, e guerra
entre signatrios do pacto e no signatrios.
Em 1926, a Alemanha ocupou finalmente um assento permanente no Conselho da Liga das
Naes e iniciou com a Frana a chamada era Briand-Stresemann. Essa nova fase de
conciliao, arbitragem e paz contou com o apoio das opinies pblicas e dos intelectuais
de ambos os pases. Ainda em 1926, foram criados o comit franco-alemo de
documentao e informao, com o objetivo de combater o nacionalismo, a Union
conomique et Douanire e a Union Panaeuropenne Internationale. O movimento pan-
europeu atingiu seu auge em setembro de 1929, com o clebre discurso de Aristide Briand,
primeiro-ministro francs, na Assembleia da Liga das Naes, quando defendeu a idia de
uma federao de naes europeia baseada na solidariedade, na procura de
desenvolvimento econmico e na cooperao poltica e social. Em 1930, o poltico francs
apresentou um memorandum sobre a organizao de um sistema de Unio Federal
Europeia. Os objetivos eram trs: manter vivo o esprito de Locarno, apesar da persistncia
do revisionismo alemo; resistir ao peso econmico dos Estados Unidos e rivalidade
comercial provocada pelas novas tarifas alfandegrias americanas, e enfrentar a ameaa
sovitica.
Aps 1924 a Europa conheceu um perodo de prosperidade econmica e social, em grande
parte provocada pela entrada macia de capitais americanos. O sistema era simples: os
bancos privados americanos emprestavam recursos Alemanha; com esses recursos ela
pagava as reparaes definidas pelo Plano Dawes de 1924; as reparaes recebidas pela
Inglaterra e a Frana permitiam o pagamento de suas dvidas de guerra com os Estados
Unidos. A fragilidade dessa triangulao decorria do fato de depender essencialmente dos
capitais americanos privados. Em 1929, a Alemanha aceitou a novo Plano Young em troca
da evacuao antecipada (cinco anos antes do previsto) da Rennia (1930). O plano,
elaborado por um comit de expertos financeiros presidido pelo banqueiro americano Owen
Young, pretendia colocar um fim definitivo no problema das reparaes.
A crise de 1929 abortou as esperanas de criao de uma Europa solidria e em segurana,
porque a ordem existente era precria e baseada sobretudo na prosperidade dos Estados
Unidos. Por outro lado, nenhuma potncia era forte o suficiente para manter a ordem
sozinha, de maneira hegemnica. A chegada, em 1933, de Adolf Hitler ao poder na
Alemanha, com um programa de revisionismo extremo do sistema de Versalhes, sepultou
definitivamente as esperanas de segurana coletiva. A Liga das Naes e o Pacto Briand-
Kellog no conseguiram impor a paz, e uma srie de acontecimentos trgicos relacionados
crise econmica e poltica, levando instaurao de regimes totalitrios, dispostos a
conseguir pela fora o que no podia ser obtido por meio de negociao, ao
desenvolvimento de enfrentamentos ideolgicos e multiplicao de crises internacionais,
fizeram desvanecer a iluso de segurana: a invaso da Manchria pelo Japo imperial
(1931), a invaso da Abissnia pela Itlia (1935), o expansionismo da Alemanha nazista e a
Guerra Civil de Espanha (1936-1939). O fracasso da Conferncia do Desarmamento em
Genebra, em 1932, e a retirada do Japo, em 1933, da Alemanha, em 1934, e da Itlia, em
1937, da Liga das Naes significaram praticamente o fim dessa organizao, que j se
tinha mostrado ineficiente na resoluo das crises internacionais do perodo.
Apesar do fracasso em impor a paz no mundo, o Pacto Briand-Kellogg constituiu um marco
fundamental do ponto de vista do direito internacional porque foi o primeiro pacto que
formalizou uma proposta de renncia total guerra, limitando assim um dos atributos
fundamentais dos Estados. O Brasil, que considerara desnecessrio assin-lo por causa da
tradio pacifista do pas e porque princpios anlogos j faziam parte da prpria
Constituio de 1891, s aderiu em 3 de abril de 1934 (Decreto n 24.557), para assinalar
sua aproximao com os Estados Unidos e prestigiar o pan-americanismo, num contexto
onde a poltica externa do pas comeara a mudar. Por exemplo, as relaes bilaterais do
Brasil com a Argentina, tradicional rival na regio, se modificaram consideravelmente. A
cooperao com o pas vizinho se consolidou com a assinatura, em outubro de 1933, do
Tratado de Conciliao e de No Recurso Guerra, mais conhecido como Tratado
Saavedra-Lamas, proposto pela Argentina um ms aps sua reintegrao na Liga das
Naes, e com disposies calcadas no Pacto Briand-Kellogg. O tratado recebeu a adeso
da maioria dos pases do hemisfrio e de alguns pases europeus.
Hugo Rogelio Suppo
FONTES: GIRAULT, R.; FRANK, R. Turbulente; MILZA, P. Les relations; SOUTOU, G. L'Europe; ZORGBIBE, C. Histoire.
PACTO DE PEDRAS ALTAS
Acordo poltico assinado em 14 de dezembro de 1923 que, aps 11 meses de luta
armada no Rio Grande do Sul, ps fim Revoluo de 1923 envolvendo de um lado os
partidrios do presidente do estado, o republicano Antnio Augusto Borges de Medeiros, e,
de outro, os aliados do lder federalista Joaquim Francisco de Assis Brasil.
Antecedentes: federalistas e republicanos, um passado de rivalidades extremadas
O incio do perodo republicano foi marcado por forte tenso poltica no Rio Grande
do Sul, dentro do panorama das graves crises polticas que marcaram os governos
presidenciais de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e de Floriano Peixoto (1891-1894), que,
segundo Antnio Mendes Jr. e Ricardo Maranho, devem ser entendidas no quadro poltico
geral da consolidao das novas instituies republicanas. De um lado, os representantes
(gasparistas ou maragatos) do Partido Federalista do Rio Grande do Sul, criado em 1892
por Gaspar Silveira Martins, com razes monarquistas, defensores do parlamentarismo
como forma de governo e da reviso da Constituio. De outro, os republicanos
(castilhistas ou pica-paus) de Jlio de Castilhos, inspirados no positivismo,
presidencialistas e defensores da autonomia estadual. Mas, embora a poltica no Rio
Grande do Sul tenha se caracterizado, ao longo de toda a Primeira Repblica, pela
polarizao partidria, o estado foi governado desde o incio, e de modo ininterrupto, pelo
Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).
Se a Jlio de Castilhos coube a construo da nova estrutura poltica no estado, a Antnio
Augusto Borges de Medeiros ficou a tarefa de consolid-la, contando, para tanto, com a
constituio estadual de 1891, que garantia ao presidente do estado o poder de intervir
diretamente nas eleies locais, e que determinava o voto a descoberto, alm de controlar a
Brigada Militar. A atuao de Borges de Medeiros frente do partido e do estado garantiu
assim um longo perodo de estabilidade, traduzido em sua permanncia frente do governo
de 1898 a 1908, e de 1913 a 1928, que s seria rompido em 1923, embora as eleies de
1907 j houvessem apresentado grande agitao nas demais, Borges fora sempre
candidato isolado.
As eleies de 1922
Em 1921, ao mesmo tempo em que se preparavam as eleies presidenciais de
maro do ano seguinte, iniciaram-se no Rio Grande do Sul as articulaes para as eleies
presidncia do estado, a serem realizadas em novembro de 1922. Consultado oficialmente
pelo Partido Republicano Mineiro (PRM) sobre a possvel candidatura de Artur Bernardes
sucesso de Epitcio Pessoa, Borges de Medeiros aproveitou a oportunidade para criticar
o processo de escolha dos candidatos chefia do governo federal. Reagindo chamada
poltica do caf-com-leite prtica estabelecida na Primeira Repblica, atravs da qual
era garantida a alternncia entre mineiros e paulistas na presidncia da Repblica , o
governante gacho passou a defender a prvia divulgao do programa de cada candidato,
de modo a propiciar a melhor escolha do nome pelos convencionais, sem beneficiar
necessariamente os representantes de Minas Gerais ou So Paulo. Por seu lado, a oposio
gacha apoiou a indicao de Artur Bernardes, o que acabou dando, no estado, uma nova
dimenso campanha presidencial.
A disputa entre os adeptos da Reao Republicana e os da chapa governista no Rio Grande
do Sul acabou por assumir outra dimenso, tendo em vista a proximidade com as eleies
que decidiriam a sucesso de Borges de Medeiros. Tanto assim que a vitria de Artur
Bernardes acabou por garantir o apoio do governo federal s oposies gachas. De seu
lado, Borges de Medeiros procurou retardar a questo sucessria, mas, no final de agosto,
seu nome j era apresentado pelos republicanos como o nico suficientemente forte para
proteger o Rio Grande do Sul durante o governo de Artur Bernardes.
Ainda mobilizada pela campanha da sucesso presidencial, a oposio gacha mostrou-se
decidida a enfrentar a candidatura de Borges de Medeiros, partindo para a escolha de um
nome que se mostrasse capaz de unir suas trs principais correntes: os federalistas, os
antigos democratas de Joaquim Francisco de Assis Brasil e a dissidncia republicana. Em
meados de outubro de 1922, pouco depois da confirmao do nome de Borges de Medeiros
pelos republicanos, as oposies gachas lanaram manifesto apresentando o nome de
Assis Brasil. Segundo Maria Antonieta Antonacci, a arregimentao poltica realizada
ento pela oposio foi grandemente facilitada por este desconforto que se havia
estabelecido entre os setores ligados pecuria e o governo borgista.
O pleito, realizado em novembro, foi seguido por acusaes de fraudes partidas de ambos
os lados. A apurao foi conduzida por uma comisso de trs deputados (Getlio Vargas,
Ariosto Pinto e Jos de Vasconcelos Pinto) que, no dia 17 de janeiro de 1923, declarou a
vitria de Borges de Medeiros com 106.360 votos, contra os 32.216 dados a Assis Brasil.
Segundo a apurao da comisso, Assis Brasil s obtivera maioria no municpio de So
Jos, muito embora tivesse obtido votao expressiva na regio da campanha gacha (onde
os federalistas sempre haviam sido fortes) e na capital (onde a fraude era mais difcil). Com
maioria na Assembleia Legislativa, os republicanos rapidamente proclamaram a reeleio
de seu lder.
A Revoluo de 1923
Como no poderia deixar de ser, a reeleio de Borges de Medeiros foi
enfaticamente contestada pela oposio gacha, que denunciou a existncia de fraude,
procurando assim provocar a interveno federal no estado.
Logo aps a divulgao dos resultados, Assis Brasil ainda tentou a criao de um tribunal
arbitral, a ser constitudo por quatro deputados estaduais, um federal e um senador de cada
faco, sob a presidncia de Artur Bernardes. A esta proposta, Borges de Medeiros
condicionou sua aceitao a que o arbitramento tivesse apenas um desempatador, o
presidente da Repblica. Bernardes, no entanto, recusou qualquer envolvimento, por
consider-lo incompatvel com o exerccio do cargo, tendo sua negativa sido determinante
para que Assis Brasil e seus partidrios optassem pelas armas, com a inteno de com isso
provocar a interveno federal no Rio Grande do Sul.
No dia marcado para a posse do novo mandato de Borges de Medeiros, 25 de janeiro de
1923, teve incio mais um movimento armado no Rio Grande do Sul, voltado para a
deposio do novo governo. Desde as primeiras horas, no entanto, a correlao de foras se
mostrou desfavorvel aos rebeldes, pois, enquanto Borges de Medeiros mobilizava cerca de
12 mil homens junto Brigada Militar e aos corpos provisrios tropas irregulares,
legalistas, compostas por civis , os partidrios de Assis Brasil arregimentaram apenas a
metade deste nmero. Para reduzir a inferioridade numrica, os rebeldes foram obrigados a
adotar como estratgia a mobilidade, fragmentando assim as tropas e os comandos.
Uma primeira tentativa de pacificao foi feita pelo governo federal em abril de 1923, por
intermdio de Augusto Tavares de Lira ento ministro do Tribunal de Contas, e foi amigo
de Pinheiro Machado , que partiu para Porto Alegre, no incio de maio, com um plano de
pacificao acertado, em comum acordo, com o presidente Artur Bernardes e o ministro da
Justia, Joo Lus Alves, e que se resumia em trs pontos bsicos: a no discusso da
legitimidade do novo governo de Borges de Medeiros; a concesso de ampla anistia aos
rebeldes e a reforma da Constituio gacha, de modo a, entre outros aspectos, ficar vedada
a reeleio do presidente do estado. Com base nesta proposta, Tavares de Lira deveria
buscar o entendimento com Borges de Medeiros, cabendo a Artur Bernardes a negociao
com Assis Brasil, Francisco Antunes Maciel e representantes republicanos da bancada
federal gacha que se encontrassem no Rio de Janeiro. Estranho poltica gacha, Tavares
de Lira no logrou xito em sua misso. Os esforos federais somente encontraram maior
eco junto aos rebeldes a partir do momento em que estes se certificaram de que haviam
esgotado todos os esforos para a obteno de apoio junto a Minas Gerais e So Paulo, e de
que no contariam com a interveno federal no estado. Somente ento os rebeldes
passaram a buscar uma paz honrosa para o conflito, j que a derrota militar se mostrava
inevitvel.
Assim, em fins de outubro de 1923, o presidente Artur Bernardes nomeou o prprio
ministro da Guerra, Fernando Setembrino de Carvalho, para substituir Tavares de Lira na
funo de mediador da pacificao no Rio Grande do Sul. Gacho e conhecedor da poltica
estadual embora afastado houvesse mais de 20 anos das lutas partidrias de seu estado ,
o general Setembrino de Carvalho j partiu do Rio de Janeiro tendo feito contatos iniciais
com alguns deputados republicanos da bancada federal gacha, e com o prprio Assis
Brasil, a quem deixou claro ser impossvel ao presidente Bernardes apoiar a reivindicao
do afastamento de Borges de Medeiros, uma vez que j havia reconhecido a legitimidade
das eleies.
Tendo feito estes contatos iniciais, Setembrino de Carvalho partiu para o Rio Grande do
Sul, onde teve a oportunidade de constatar o grau de desarticulao das foras rebeldes.
Encontrou-se tambm, j no incio de novembro, com Borges de Medeiros. O primeiro
encontro deu-se no dia 2, no Palcio Piratini, sede do governo gacho, ocasio em que o
ministro da Guerra deixou claro ao lder republicano a posio do presidente da Repblica,
no sentido de manter o reconhecimento da legitimidade de sua eleio. Deste modo, o
militar procurava eliminar qualquer desconfiana por parte de Borges de Medeiros, e assim
facilitar o estabelecimento de um armistcio entre as partes, que conseguiu fazer vigorar a
partir do dia 7.
Nas conferncias realizadas aps o armistcio, um mesmo ponto se colocava como maior
entrave definio de um acordo: a forma de escolha do vice-presidente do estado. Com
base na vigente Constituio estadual, Borges de Medeiros insistia sempre em defender que
a escolha do vice-presidente deveria ser feita diretamente pelo presidente. Temia que a
realizao de eleies para preencher o cargo pudesse no apenas provocar a derrocada da
Carta estadual, como acarretasse maiores poderes Cmara dos Deputados e,
consequentemente, a reduo dos poderes do presidente do estado.
As negociaes chegaram a novo impasse nos primeiros dias de dezembro, tendo ento o
general Setembrino de Carvalho apelado para o deputado Francisco Antunes Maciel Jnior
que, embora partidrio de Assis Brasil, se mostrava favorvel a um acordo que mantivesse
Borges de Medeiros frente do governo gacho. Sua atuao, segundo Hlio Silva, foi
decisiva para que fossem efetivamente removidos os obstculos definio do acordo de
paz por parte dos rebeldes.
Depois de vrios encontros, finalmente foi assinado, em 14 de dezembro de 1923, na
estncia de Assis Brasil, em Pedras Altas (RS), o acordo de paz que ps fim a 11 meses de
combates entre republicanos e libertadores, tendo contado ainda com a presena de Joo
Batista Luzardo, Armando de Alencar e Cipriano Laje; os majores Euclides de Oliveira
Figueiredo e Sebastio do Rego Barros; os capites Cacildo Krebs e Carlos Silveira Eiras,
entre outros. Conhecido como Pacto de Pedras Altas, este acordo apontado por muitos
como fruto da habilidade e da viso poltica de Joaquim Francisco de Assis Brasil.
A Ata de Pacificao do Rio Grande do Sul, em suas 10 clusulas, em sntese garantia a
permanncia de Borges de Medeiros no governo at o final do mandato, mas lhe vedava a
reeleio; e a escolha do vice-presidente do estado, que at ento era atribuio do titular,
passava a ser feita atravs do voto. Mas tambm ficava acertada a adaptao s eleies
estaduais e municipais da legislao eleitoral federal, instituindo garantias lisura dos
processos eleitorais no estado e pondo fim ao voto a descoberto. Clusulas que implicavam,
em ltima instncia, alterao da Constituio estadual. Por fim, foi assegurada aos
rebeldes a anistia geral, sem a qual no seria possvel garantir a pacificao no estado.
Acompanhando a Ata de Pacificao, seguia-se a Ata da Cerimnia da Assinatura da
Paz, assinada pelos generais Eurico de Andrade Neves e Manuel Tefilo Barreto Viana;
pelo major Euclides Figueiredo; por Protsio Alves; pelos desembargadores Andr Rocha e
Armando de Azambuja; e por Vtor Russomano e Ariosto Pinto, entre outros.
Se a Revoluo de 1923 no Rio Grande do Sul e, por extenso, o Pacto de Pedras Altas
podem ser apontados como um marco do incio do declnio do poder de Borges de
Medeiros, foram tambm responsveis, segundo Hlgio Trindade, pela institucionalizao
da oposio liberal, que at ento ocupava um espao marginal ao sistema poltico
dominante. Logo em meados de janeiro de 1924, as oposies gachas integradas por
federalistas, democratas e republicanos dissidentes, e tendo como principais lderes Joo
Batista Luzardo, Plnio Casado, Augusto Simes Lopes Filho e Raul Pilla se uniriam
formalmente na Aliana Libertadora, sob a liderana de Assis Brasil, para lutar pela
liberdade poltica, baseada no princpio representativo, e pelo combate situao
dominante no Rio Grande do Sul.
Por outro lado, o Pacto de Pedras Altas no chegou a promover a total pacificao no
estado. Sentindo-se ainda perseguidos por Borges de Medeiros, muitos dos elementos
oposicionistas passaram a ingressar no Exrcito ou a estabelecer ligaes com a jovem
oficialidade revolucionria, isto , o grupo dos tenentes. Insatisfaes que acabaram
confluindo com as rebelies tenentistas que grassavam o pas desde 1922.
Regina da Luz Moreira
FONTES: ANTONACCI, M. RS; CARONE, E. Repblica; FERREIRA FILHO, A.
Histria; FERREIRA FILHO, A. Revolues; MENDES JNIOR, A.;
MARANHO, R. Repblica; MOREIRA, R. Assis; MOREIRA, R. Borges;
PECHMAN, R. Setembrino; PESAVENTO, S. Poltica (p. 273-295, 1978);
PESAVENTO, S. Repblica (p. 193-228); SILVA, H. 1922; TRINDADE, H.
Aspectos (p. 119-190); VIZENTINI, P. Liberais.
PADILHA, Rodolpiano
*min. TCU 1894-1905.
Rodolpiano Padilha nasceu em Fortaleza no dia 6 de maro de 1853, filho de
Ursizino Csar de Melo e de Maria Gertrudes Samico Padilha.
Em 1881 tornou-se inspetor da Tesouraria da Fazenda da Paraba. Exerceu o mesmo
cargo no Cear, de 1884 a 1887, e na Bahia, a partir de 1889. J em 1893, foi designado
subdiretor da 2 Subdiretoria-Geral das Rendas Pblicas do Tribunal do Tesouro Nacional
do Ministrio da Fazenda.
Em 5 de maio de 1894 tomou posse como ministro do Tribunal de Contas da Unio
(TCU). O tribunal, criado pelo Decreto n 966-A, de 7 de novembro de 1890, por iniciativa
do ento ministro da Fazenda, Rui Barbosa, e norteado pelos princpios da autonomia,
fiscalizao, julgamento, vigilncia e energia, foi institucionalizado definitivamente pela
Constituio de 1891, ainda por influncia de Rui Barbosa. Contudo, sua efetiva instalao
s ocorreu em 17 de janeiro de 1893, graas ao empenho de Serzedelo Correia, ministro da
Fazenda do governo do presidente Floriano Peixoto (1891-1894). Originariamente o TCU
era responsvel pelo exame, reviso e julgamento de todas as operaes relacionadas
receita e despesa da Unio. A Constituio de 1891 conferiu-lhe competncia para
liquidar as contas da receita e da despesa e verificar sua legalidade antes de serem prestadas
ao Congresso Nacional.
Exerceu o cargo de ministro do TCU at setembro de 1905, quando se aposentou. Ao longo
da vida, foi tambm inspetor da alfndega de Natal, no Rio Grande do Norte. Faleceu em 2 de junho de 1917. Izabel Pimentel da Silva
Fonte: Receita Federal/ Memria/ Administrao Fazendria/ Tesourarias da
Fazenda.. Disponvel em:
; TRIB. CONT. UNIO. Disponvel em:
; TRIB. CONT. UNIO.
Ministros do Tribunal.
PAIM FILHO, FIRMINO
*dep. fed. RS 1924-1928; sen. RS 1930; dep. fed. RS 1935-1937.
Firmino Paim Filho nasceu em So Sebastio do Ca (RS) no dia 15 de dezembro
de 1884, filho do coronel Firmino Paim e de Francisca Acauan Paim. Do lado paterno,
descendia de tradicional famlia aoriana, estabelecida em Gravata (RS) ainda em meados
do sculo XVIII; do materno, vinha de famlia nordestina, tendo sua me nascido na
Paraba.
Iniciou os estudos primrios na cidade de Vacaria (RS) em 1894, concluindo-os dois anos
mais tarde. Entre 1897 e 1902 fez o curso secundrio em So Leopoldo (RS) e em 1903
matriculou-se na Faculdade de Direito de Porto Alegre, bacharelando-se em dezembro de
1907. Como acadmico, integrou a chamada gerao 1907, que em sua maioria se
formou em 1907 e 1908. Data desse perodo sua iniciao poltica, no Bloco Acadmico
Castilhista, durante a campanha de Carlos Barbosa Gonalves, candidato do Partido
Republicano Rio-Grandense (PRR) presidncia do estado em 1907. Na mesma poca, e
ao lado de Joo Neves da Fontoura, Getlio Vargas e Joaquim Maurcio Cardoso, fundou o
jornal O Debate, rgo do Bloco Acadmico, tendo sido escolhido seu diretor por
designao do prprio presidente do estado, Antnio Augusto Borges de Medeiros. Dessa
gerao de polticos gachos, que viria a ganhar notoriedade com as revolues de 1923 e
1930, Paim Filho era considerado o membro mais conservador, e o republicano que mais
levava a srio a tradio castilhista.
Fixando-se em Vacaria, foi definitivamente introduzido na vida poltica por seu tio, o
coronel Avelino Paim de Sousa, chefe poltico local de grande prestgio. Nessa cidade foi
conselheiro municipal e, em 1909, recebeu a indicao para intendente. Assumiu de
imediato o cargo, no qual permaneceu at 1912. Ainda em 1909, foi eleito deputado
estadual para a legislatura que se estenderia at 1913.
Em 1913, foi convidado pelo governo de Borges de Medeiros para ocupar a direo geral
da Secretaria do Interior e Exterior do Rio Grande do Sul, na qual se manteve at 1915. Foi,
ainda, chefe da Casa Civil do mesmo governo. Nomeado em 1916 chefe de polcia do
estado cargo anteriormente oferecido a Getlio Vargas, que o recusara , permaneceu
nessa funo at 1918, quando foi novamente eleito deputado estadual.
NAS REVOLUES DE 1923 E 1924
Em 1922, participou ativamente da campanha eleitoral de Borges de Medeiros, que
foi reeleito pela quinta vez presidente do estado. O resultado das eleies, contudo, foi
contestado pelos federalistas (maragatos), liderados por Joaquim Francisco de Assis
Brasil, num movimento armado que eclodiu no incio de 1923. Com o conflito, Paim Filho,
que era coronel da Guarda Nacional, licenciou-se da Assembleia dos Representantes e foi
encarregado de organizar a Brigada Provisria do Nordeste, cuja rea de atuao
compreendia todo o nordeste do estado. Depois de recrutar combatentes na regio da Serra,
conseguiu formar seis corpos provisrios, num total de seis mil homens.
Em pouco tempo, a revoluo espalhou-se por todo o Rio Grande do Sul. No segundo
semestre de 1923, Paim Filho recebeu a misso de operar, em combinao com o general
Firmino de Paula, contra a coluna rebelde comandada pelo caudilho Filipe Portinho. Em
trincheira na regio de Erexim, a tropa dos maragatos escapou ao cerco legalista, na altura
de Quatro Irmos, e seguiu em direo estrada que ligava Passo Fundo a Vacaria. Os
corpos provisrios de Paim Filho partiram em seu encalo e conseguiram, depois de intenso
combate, forar a retirada dos rebeldes para Santa Catarina. Com o recuo de Portinho, Paim
Filho deixou parte de suas foras no local para prevenir um possvel retorno dos revoltosos,
enquanto o restante seguia em direo a Cruz Alta em perseguio s tropas de Honrio
Lemes.
Em dezembro de 1923, encerrou-se o conflito com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, o
qual, apesar de vedar nova reconduo de Borges de Medeiros ao governo do estado, no
chegou a promover a pacificao, j que os maragatos continuaram a reclamar de
perseguio.
Em outubro de 1924 eclodiu novo movimento revolucionrio, liderado por elementos
tenentistas e vinculado ao levante paulista de 5 de julho, ao qual aderiram tambm alguns
dos chefes polticos da oposio gacha. Paim Filho, que no incio do ano se elegera
deputado federal, foi solicitado pelo governo estadual. Assim, retornou ao Rio Grande do
Sul, onde organizou o Destacamento Paim, formado por quatro corpos provisrios, num
total de 1.600 homens. Dada a concentrao das tropas rebeldes no oeste do Paran, esse
destacamento foi enviado, assim como outras foras, para aquela regio.
Sob o comando geral do general Nestor Sezefredo dos Passos, que estabelecera seu quartel-
general na cidade paranaense de Palmas, o Destacamento Paim desembarcou em Irati (SC),
de onde seguiu para Barraco (PR). A partir do rio So Francisco (PR), suas tropas
sustentaram, durante cerca de um ms, violentos combates contra os rebeldes comandados
por Joo Alberto Lins de Barros e Antnio Siqueira Campos, tendo-os perseguido at a vila
de Dionsio Cerqueira, na fronteira com a Argentina.
Controlado, em parte, o movimento j que o restante da tropa rebelde, origem da Coluna
Prestes, deu ento incio sua marcha pelo territrio nacional , Paim Filho foi nomeado
pelo presidente da Repblica, Artur Bernardes (1922-1926), general honorrio do Exrcito,
tendo sido seu fardamento de gala oferecido por seus colegas da Cmara dos Deputados.
Em 1927 foi novamente eleito deputado federal, para a legislatura 1927-1929. No chegou,
porm, a cumprir integralmente o mandato, pois renunciou no ano seguinte para ocupar a
Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, ento governado por Getlio Vargas, seu
amigo desde os tempos da Faculdade de Direito.
No exerccio desse cargo, e pretendendo incentivar a agricultura e a pecuria, determinou a
criao do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, do qual foi o primeiro presidente.
Segundo Joo Neves da Fontoura, em suas memrias, a gesto de Paim Filho foi
responsvel pelo agravamento do problema financeiro no Rio Grande do Sul. Por outro
lado, a agitao poltica e a ameaa revolucionria tambm atuaram decisivamente para o
decrscimo dos negcios. Paim Filho manteve-se como secretrio da Fazenda de seu estado
at 1930, quando foi eleito, com o apoio de Vargas e Borges de Medeiros, para o Senado
Federal.
A MISSO PAIM
Em 1928, embora o presidente Washington Lus ainda tivesse mais dois anos de
governo, j emergira a questo sucessria. Em dezembro desse ano, Paim Filho debateu o
problema com Getlio Vargas, tendo ambos concordado que o candidato natural era Jlio
Prestes, no apenas por convir a So Paulo mas tambm por sua identificao com o plano
de estabilizao da moeda proposto pelo presidente gacho quando ministro da Fazenda.
No entanto, se a candidatura Jlio Prestes fosse posta de lado, concordavam que Vargas
deveria ser o indicado.
Ao longo do ano de 1929, cresceu a oposio ao nome de Prestes, principalmente por parte
dos polticos gachos e mineiros, o que culminou com o lanamento da candidatura Vargas
pelo Partido Republicano Mineiro (PRM), em meados do ano. Nessa ocasio, reunido em
Porto Alegre com os lderes do PRR, Paim Filho manifestou-se contrrio aceitao da
candidatura por Vargas, mas acabou cedendo. Durante a conveno da Aliana Liberal,
realizada em 20 de setembro de 1929, foi lanada a chapa constituda por Getlio Vargas e
Joo Pessoa, presidente da Paraba e candidato vice-presidncia da Repblica.
Cerca de um ms depois do incio da campanha liberal, Fernando de Melo Viana, vice-
presidente da Repblica, rompeu com o PRM, por discordar da indicao de Olegrio
Maciel para o governo de Minas Gerais, e em seguida indisps-se com a Aliana Liberal.
Ainda em outubro, em reunio com Joo Neves da Fontoura, Paim Filho e Jos Antnio
Flores da Cunha, Vargas mostrou-se favorvel conciliao, sobretudo diante da ciso que
se verificara na poltica mineira, reduzindo as possibilidades eleitorais no estado. O
presidente gacho afirmou no ver inconvenincia em abrir mo de sua candidatura, desde
que Jlio Prestes aceitasse os principais pontos do programa da Aliana Liberal. No
entanto, Paim Filho discordou, insistindo no prosseguimento da campanha, uma vez que
apoiara a chapa liberal por seu vnculo pessoal com Vargas, e no pelo programa da
Aliana.
Ao longo do ms de novembro de 1929, Vargas procurou estabelecer a conciliao com o
presidente Washington Lus, j contando com a concordncia de Antnio Carlos Ribeiro de
Andrada, presidente de Minas Gerais, para a escolha de um terceiro nome. Em dezembro,
Vargas enviou Paim Filho a So Paulo e ao Rio de Janeiro, ento Distrito Federal, com o
encargo de negociar o acordo com Jlio Prestes e Washington Lus.
Dando incio sua misso, Paim Filho procurou Jlio Prestes, que se mostrou favorvel
modificao da situao criada com o dissdio sucessrio, fosse ela efetuada antes ou
depois das eleies. Da capital paulista, Paim dirigiu-se a Minas, encontrando-se, em
Viosa, com Artur Bernardes, que no se revelou contrrio a um novo exame da situao, e
com Antnio Carlos, para quem a situao da Aliana Liberal era a melhor possvel, e a
ciso na poltica mineira em nada alteraria o resultado eleitoral no estado. Mesmo assim,
Antnio Carlos manifestou-se favorvel ao acordo, que para ele s seria admissvel com a
apresentao da candidatura de Estcio Coimbra, presidente de Pernambuco, como terceiro
nome.
Depois desses encontros, Paim Filho viajou para o Distrito Federal e procurou Washington
Lus, a quem transmitiu as condies do acordo. O presidente, contudo, recusou-se a
abandonar o nome de Jlio Prestes, o que, ao lado da inflexibilidade dos mineiros, tornou
impossvel a negociao proposta por Vargas e levou manuteno de sua candidatura.
Em vista disso, Paim Filho dedicou-se busca de um modus vivendi entre o governo
federal e o Rio Grande do Sul. Pelo que ficou estabelecido, Vargas assumia os
compromissos de: no fazer propaganda eleitoral fora de seu estado, conformar-se com o
resultado das eleies, apoiar o governo federal e, caso fosse eleito, manter boas relaes
com So Paulo. Por sua vez, Washington Lus e Jlio Prestes, entre outros pontos,
concordaram em reconhecer, na apurao das eleies para o Congresso Nacional, os
candidatos gachos diplomados, aceitar a possvel eleio de Vargas e, no caso de vitria
de Prestes, restabelecer as relaes entre o governo federal e o Rio Grande do Sul nos
termos anteriores crise sucessria. Segundo Joo Neves da Fontoura, esse acordo foi
responsvel por no ter havido depurao (recusa de diplomas aos candidatos eleitos) na
bancada gacha.
Em carta enviada a Borges de Medeiros em maio de 1930, Paim Filho historiou e justificou
sua atuao, mas omitiu o modus vivendi combinado com o governo federal. Apesar do
sigilo em que foram envolvidas as negociaes com Washington Lus e Jlio Prestes, a ida
de Paim Filho a So Paulo, Minas Gerais e ao Distrito Federal logo despertou em Joo
Neves da Fontoura, lder da bancada gacha na Cmara de Deputados, a certeza de que o
objetivo dessa viagem fora um entendimento com o governo federal. Sendo contrrio a
qualquer tipo de acordo, Joo Neves procurou impedir, de todas as formas, sua realizao.
Na ocasio, em conversa com o lder da bancada, Paim Filho confirmou haver mudado de
parecer, declarando-se agora totalmente contrrio a um movimento armado.
Apesar dos termos do modus vivendi estabelecido com o governo federal, intensificou-se a
campanha da Aliana Liberal, principalmente atravs de caravanas que percorreram os
demais estados da Federao. A Paim Filho coube superintender a campanha eleitoral em
Santa Catarina.
ATUAO EM 1930
Diante da vitria de Jlio Prestes nas eleies, o lder do PRR, Borges de Medeiros,
manifestou-se a favor da aceitao desse resultado e do encerramento da campanha da
Aliana Liberal, o que foi imediatamente transmitido por Vargas bancada gacha, antes
do embarque de Paim Filho, eleito senador, para o Distrito Federal. Ao chegar ao Rio de
Janeiro para assumir sua cadeira, Paim informou Washington Lus da deciso do presidente
do Rio Grande do Sul. Pouco depois, entretanto, foi notificado da mudana na orientao
dada por Borges, resultante da interveno de Joo Neves da Fontoura: a partir de ento,
seria adotada como diretriz a continuao da luta da Aliana Liberal.
Paim Filho discordou dessa linha, afirmando que, inclusive, ela no contava com o apoio de
Vargas. Em suas memrias, Joo Neves da Fontoura contesta tal afirmao. Segundo ele, a
discordncia de Vargas no se referia ao contedo do Heptlogo (memorando que Joo
Neves enviara a Borges, enumerando os pontos a serem observados pela bancada gacha
em sua atuao), mas autoria do mesmo: a bancada estaria, com esse documento,
determinando a orientao a ser adotada pelo partido e pelo governo gacho. Joo Neves
acrescenta que a divergncia foi eliminada por intermdio de Osvaldo Aranha.
Em maio de 1930, Paim Filho escreveu a Borges de Medeiros, pedindo-lhe que confirmasse
a mudana de orientao. Em sua resposta, o chefe do PRR afirmou que, na realidade, os
pontos enumerados no Heptlogo correspondiam a uma reforma, e no a uma revoluo.
Anteriormente, Paim Filho j se havia manifestado contrrio a esses pontos entre outros,
voto secreto, anistia e revogao das leis compressoras , os quais correspondiam aos
principais aspectos do programa da Aliana Liberal. Tendo confirmado, dessa vez, sua
divergncia, recebeu de Borges de Medeiros autorizao para que continuasse a defender,
no Senado, sua posio pessoal.
A partir de ento, Paim Filho orientou sua atuao parlamentar no sentido da colaborao
com o governo federal, muito embora fosse duramente criticado por alguns jornais
gachos, entre os quais o Correio do Povo, a cada discurso que pronunciava. Em setembro
de 1930, em entrevista a esse jornal, o senador Flores da Cunha negou a Paim Filho
autoridade para falar em nome do PRR, j que, na ausncia de Joo Neves da Fontoura, o
intrprete autorizado seria Lindolfo Collor.
Com a ecloso da Revoluo de 1930, a 3 de outubro, Paim Filho colocou-se ao lado do
governo federal, sustentando o compromisso firmado no modus vivendi. Procurando
justificar sua posio, fez publicar no jornal O Pas (9 e 10/10/1930) um manifesto
intitulado Ao Rio Grande do Sul e nao, no qual historiava a evoluo da situao
poltica do pas desde 1929. Ao mesmo tempo, procurou retornar ao seu estado, onde
tentaria evitar que o PRR mantivesse seu apoio revoluo. No o conseguindo, buscou
ainda participar da ao militar legalista, de modo a deter a marcha das tropas
revolucionrias para o Rio de Janeiro.
Vitoriosa a revoluo, Paim Filho exilou-se no Uruguai e teve cassada sua patente de
general honorrio do Exrcito, s restaurada pela Constituio de 1946. Em fins de 1931,
ao lado de outros exilados, tentou articular, sem sucesso, um movimento contra o governo
provisrio chefiado por Getlio Vargas.
ATUAO NA CMARA DOS DEPUTADOS
Tendo retornado ao Rio Grande do Sul em 1934, Paim Filho logo integrou-se
direo da Frente nica Gacha (FUG), ao mesmo tempo em que era eleito deputado
Assembleia Constituinte estadual. Em abril de 1935, na abertura dos trabalhos legislativos,
a FUG mostrou-se disposta pacificao. Membro da comisso diretora do PRR, Paim
Filho foi eleito lder do partido na Assembleia, onde, entretanto, permaneceu pouco tempo:
em maio, viria a assumir o mandato de deputado federal pelo Rio Grande do Sul.
Em maro de 1936, a priso de quatro deputados e um senador, acusados de ligaes com o
levante comunista de novembro do ano anterior, provocou forte reao entre os membros
da minoria parlamentar. Tentando diluir o episdio, o governo enviou ao Congresso, na
sesso de abertura, a 3 de maio, um projeto em que propunha a suspenso das restries s
imunidades parlamentares. A minoria, buscando demonstrar a incongruncia dessa medida,
props uma reunio com Vargas. Na oportunidade, Joo Neves da Fontoura, Paim Filho,
Maurcio Cardoso e Batista Luzardo apresentaram um documento no qual reivindicavam,
entre outros pontos, trgua poltica at janeiro de 1937, respeito s imunidades
parlamentares e direito da oposio de fiscalizar as eleies municipais. Ante a recusa de
Vargas, a minoria apresentou novo documento, mas nada conseguiu. Com isso,
acentuaram-se as divergncias entre a oposio e o governo.
Aps o golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, Paim Filho retirou-se da poltica,
qual s retornou em 1945, para dedicar-se campanha eleitoral do general Eurico Gaspar
Dutra. Nessa fase, ocupou tambm a chefia do diretrio gacho do Partido Social
Democrtico (PSD), na qual permaneceu at a eleio de Juscelino Kubitschek, em 1955.
Nesse ano abandonou definitivamente a poltica, por motivo de sade.
Paim Filho, alm de grande fazendeiro no Rio Grande do Sul, foi tambm diretor-vice-
presidente do Banco Nacional da Cidade de So Paulo e diretor-presidente da Seleo
Industrial de Artefatos de Madeira S.A., sediada na capital paulista.
Morreu em Porto Alegre no dia 11 de fevereiro de 1971.
Foi casado com Cndida Alves Paim, com quem teve quatro filhos.
Regina da Luz Moreira
FONTES: ARQ. GETLIO VARGAS; CARONE, E. Repblica nova; CONSULT.
MAGALHES, B.; Correio do Povo; Cronologia da Assemblia; CRUZ, E. Histria do
Par; DULLES, J. Getlio; ENTREV. PEIXOTO, A.; FERREIRA FILHO, A. Histria;
FONTOURA, J. Memrias; Grande encic. Delta; HIRSCHOWICZ, E. Contemporneos;
LEITE, A. Histria; LOVE, J. Regionalismo; MORAIS, A. Minas; POERNER, A. Poder;
SILVA, H. 1922; SILVA, H. 1926; SILVA, H. 1930; SILVA, H. 1931; SILVA, H. 1932;
SILVA, H. 1937; SILVA, R. Notas; TIMM, O.; GONZALEZ, E. lbum.
PAIS, lvaro Correia
*jornalista; dep. fed. AL 1927-1928; gov. AL 1928-1930.
lvaro Correia Pais nasceu em Palmeira dos ndios (AL), filho de Jos Correia Pais
Sarmento Jnior.
Como jornalista, lutou contra a oligarquia Malta em Alagoas, tendo conseguido o apoio de
Pedro da Costa Rego. Quando este foi nomeado secretrio do governo Clodoaldo da
Fonseca, em 12 de junho de 1912, foi convidado para dirigir a Imprensa Oficial, mas no
ocupou o cargo por muito tempo. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, ento Distrito
Federal, voltou a se dedicar ao jornalismo e tornou-se professor do Instituto de Surdos
Mudos. O governo fluminense o nomeou prefeito de Itagua.
Em 1924 Costa Rego foi eleito governador de Alagoas e resolveu inscrev-lo na chapa de
deputados federais. Eleito, tomou posse em maio de 1927. No incio do ano seguinte,
porm, foi eleito governador de Alagoas, sucedendo ao prprio Costa Rego. Empossado em
12 de junho de 1928, prosseguiu com a poltica dos governos anteriores, ampliando a rede
de estradas de rodagem e expandindo as cooperativas de crdito agrcola, com a criao do
Banco Central de Crdito Agrcola e do Banco Popular e Agrcola de Alagoas. Instalou um
rgo de pesquisas e anlises na rea da agricultura e realizou a primeira exposio
agrcola, visando diversificao de culturas. Estabeleceu na cidade de Satuba uma estao
de monta, com reprodutores das raas bovina, equina, assina, caprina e suna, mas os
criadores se mostraram indiferentes, no se interessando pelo cruzamento com raas mais
nobres, a partir do qual se poderia iniciar a formao de uma aceitvel mestiagem.
Com a ecloso da evoluo de 1930 em 3 de outubro, foi deposto e substitudo
interinamente pelo major Reginaldo Teixeira, que em 9 de outubro passou o governo a
Hermlio de Freitas Melro. Voltou ento para o Rio de Janeiro, e a se dedicou a atividades
particulares, tornando-se tambm articulista de uma revista semanal. Convidado por Osman
Loureiro, que, como interventor e governador, esteve no poder em Alagoas de 1934 a 1940,
foi prefeito de Palmeira dos ndios e secretrio da Fazenda e Produo. Tornou-se ao
mesmo tempo pequeno pecuarista em Limoeiro de Anadia. J no governo Arnon de Melo
(1951-1956) foi membro do Conselho de Contas de Alagoas.
Reynaldo de Barros
FONTES: BARROS, F. A B C das Alagoas; PAES, A. Mensagem (1929, 1930).
PAS, O
Jornal carioca dirio fundado em 1 de outubro de 1884 por Joo Jos dos Reis
Jnior. Teve sua circulao interrompida entre 24 de outubro de 1930 e 22 de novembro de
1933, e encerrou definitivamente suas atividades em 18 de novembro de 1934. Apresentava
em seu ttulo a grafia O Paiz.
Durante os ltimos anos da Monarquia, O Pas destacou-se por sua participao nas
campanhas abolicionista e republicana. O primeiro redator-chefe do jornal foi Rui Barbosa,
logo substitudo por Quintino Bocaiva. Este ltimo dirigiria o peridico at o ano de 1901,
e mesmo aps essa data continuaria a exercer influncia sobre a linha editorial.
Defensor dos militares na Questo Militar iniciada em 1884, O Pas combateu a priso do
tenente-coronel Sena Madureira, apoiando seu artigo Arbtrio e inpcia, publicado no
jornal gacho A Federao com a simpatia do marechal Deodoro da Fonseca. A partir de
1888, o jornal passou a publicar artigos veementes contra a Monarquia, escritos por Silva
Jardim com o apoio de Quintino Bocaiva. Com a proclamao da Repblica, O Pas
atingiu sua fase de maior influncia na vida poltica brasileira, tornando-se um dos
peridicos mais vendidos na capital federal. Nesse momento, ocorreu tambm a primeira
mudana de proprietrios: em decorrncia da crise desencadeada pela priso de seu filho
Jos Elsio dos Reis Jnior, o fundador do jornal vendeu a folha ao conselheiro Francisco
de Paula Mayrink.
Durante o segundo governo republicano, vendo diante de si grandes oportunidades
eleitorais, Quintino Bocaiva se utilizou de O Pas para defender a realizao de eleies,
opondo-se permanncia de Floriano Peixoto, vice-presidente que assumira o poder aps a
renncia de Deodoro da Fonseca em 23 de novembro de 1891. Em 1895, entretanto, j no
governo Prudente de Morais (1894-1898), a orientao do jornal mudou. Quintino
Bocaiva passou a combater a poltica de pacificao do Rio Grande do Sul desenvolvida
por Prudente de Morais, aproximando-se assim dos florianistas. Em 1896, por ocasio do
primeiro aniversrio da morte do marechal, O Pas declarou que no s continua aberta,
como at mesmo lesada a sucesso do Salvador da Repblica. A ligao do jornal com os
grupos florianistas chegou mesmo a fazer com que sua sede sofresse um ataque popular
como represlia a um atentado sofrido por Prudente de Morais.
No final do mandato de Prudente de Morais, ao se articular a candidatura de Davi
Campista, O Pas foi o primeiro a combat-la. O jornal apoiou o marechal Hermes da
Fonseca, fazendo cerrada oposio Campanha Civilista. Na poca, era redator-chefe o
portugus Joo de Sousa Laje. A atuao de O Pas nesse momento foi descrita por Lima
Barreto, tambm colaborador do jornal, no romance Numa e a ninfa.
Marcando sua atuao por um situacionismo que muitas vezes foi acusado de trazer em
troca negcios vantajosos para a direo, O Pas foi novamente apedrejado quando Hermes
da Fonseca deixou o governo.
Durante o perodo Artur Bernardes, apoiando o presidente em todos os seus atos, inclusive
a decretao do estado de stio, o jornal teve sua credibilidade reduzida e sua circulao
caiu. Ainda assim, foi mantido o apoio ao governo.
No momento em que se formou a Aliana Liberal, O Pas foi um dos primeiros rgos a
atac-la. Em setembro de 1929, o redator-chefe Antnio Jos Azevedo do Amaral publicou
o editorial Arcasmo poltico, tentando diluir as diferenas entre as categorias liberal e
reacionrio e alertando contra a ao agressiva de foras que, por serem efmeras, no
so menos perigosas na sua maleficncia dissolvente.
A identificao de O Pas com toda a estrutura poltica da Repblica Velha fez com que sua
sede fosse saqueada e empastelada aps a vitria da Revoluo de 1930. Trs anos depois,
ainda sob o Governo Provisrio, o jornal reapareceu sob a direo de Alfredo Neves, mas
no chegou a durar um ano.
Carlos Eduardo Leal
FONTES: CARONE, E. Repblica velha; Pas (1884-1934); SODR, N. Histria da imprensa.
PAIS, Tot
*pres. MT 1903-1906.
Antnio Pais de Barros, conhecido como Tot Pais, nasceu em Cuiab no dia 15 de
dezembro de 1851, filho do comendador Joaquim Pais de Barros e de Maria da Glria
Vieira de Barros. Seus pais eram proprietrios de terras, da Usina Conceio e de um
estabelecimento comercial. Seu irmo Joo Pais de Barros exerceu interinamente o governo
de Mato Grosso entre 4 de abril e 24 de agosto de 1900.
Junto com os irmos, Tot Pais auxiliou o pai nos trabalhos da usina e, posteriormente,
com a parte que lhe coube da herana paterna, adquiriu as terras da sesmaria Itaici, s
margens do rio Cuiab. Sem recursos para iniciar a montagem de sua usina, viajou para
Buenos Aires e obteve do empresrio alemo Otto Frank os crditos necessrios. Na
oportunidade pde conhecer de modo mais pormenorizado o funcionamento de unidades
produtivas similares em Juju, nas proximidades dos Andes, e em Tucum, na Argentina.
O evento poltico que marcou seu ingresso nos confrontos oligrquicos em Mato Grosso foi
a disputa pelo governo do estado em 1899. O rompimento ocorrido entre o ento senador
Generoso Ponce e a poderosa famlia Murtinho culminou com episdios de luta armada e
com o cerco da Assembleia Legislativa, levando renncia o ento presidente estadual
Cesrio de Figueiredo. A liderana dos grupos armados foi assumida precisamente por Tot
Pais, comandante da denominada Legio Campos Sales. A vitria no campo militar
elevou o at ento usineiro condio de lder poltico, tornando-o o principal sustentculo
armado do governo de Antnio Pedro Alves de Barros, que, apesar da similitude do
sobrenome, no era membro de sua famlia.
Para alm da experincia de lder do movimento ocorrido em 1899, Tot Pais foi
deputado estadual no trinio 1900-1902. Diferentemente da maior parte dos membros das
elites polticas mato-grossenses, sua carreira foi rpida, pois em quatro anos passou da
Assembleia estadual ao governo de Mato Grosso. O cerco Assembleia em 1899 e o apoio
armado gesto de Alves de Barros o tornaram candidato preferencial e imbatvel para o
quadrinio 1903-1906, o que de fato se confirmou com sua eleio em fevereiro de 1903.
A passagem do governo em 1903, apesar dos quatro anos (1899-1903) em que o Executivo
estadual foi duramente fustigado, foi feita sem maiores percalos. Amparado
economicamente pela projeo alcanada no ramo aucareiro, e do ponto de vista poltico
pelo prestgio de comandante da Legio Campos Sales, que garantiu militarmente a posse
e a gesto de seu antecessor, o coronel Tot Pais assumiu o poder com expressiva base de
apoio. Lder do Partido Republicano Constitucional, viu seu partido afirmar-se como centro
do novo ncleo poltico no estado, at ento vinculado ao Partido Republicano, e tornou-se
ele prprio o mais importante ator poltico em Mato Grosso entre 1899 e 1906.
No houve uma razo especfica para o desgaste de Tot Pais na cena poltica, mas
sim um conjunto de fatores: de um lado, medidas e atitudes tomadas por sua gesto, e de
outro, fatores de natureza essencialmente partidria. Entre as primeiras, figuravam duas
questes fronteirias, uma interna, envolvendo o estado do Amazonas, e outra externa,
relacionada com as disputas entre Brasil e Bolvia pelas terras que hoje constituem o Acre.
Nos dois casos a postura assumida pelo governo de Mato Grosso foi interpretada como
lesiva aos interesses estaduais. As concesses feitas ao governo amazonense foram
consideradas excessivas e, de outro lado, a cesso de terras mato-grossenses Bolvia, bem
como a postura de total apoio do presidente Rodrigues Alves questo litigiosa, resolvida
atravs da assinatura do Tratado de Petrpolis, indisps Tot Pais com lideranas
oposicionistas.
Do ponto de vista poltico, as motivaes apontadas pelos trabalhos existentes incluem a
pretendida reviso constitucional, que, segundo os opositores de Tot Pais, permitiria sua
reeleio, o apoio oferecido candidatura de Bernardino de Campos presidncia da
Repblica lanada por Rodrigues Alves, e a discordncia com relao aos nomes dos
candidatos Cmara e ao Senado no pleito de janeiro de 1906. Permeando esse conjunto de
complexos problemas, haveria ainda um emaranhado de frequentes e mtuas acusaes de
uso da fora contra adversrios polticos. Por fim, contribuiu para o desgaste a ruptura com
a famlia Murtinho. A aliana construda em 1899 foi aos poucos se deteriorando, e a perda
de apoio poltico de personagens com expressivo trnsito junto ao governo federal, bem
como o reatamento de relaes dos Murtinho com Generoso Ponce fragilizaram
sobremaneira a posio de Tot Pais.
A confluncia desses fatores produziu o isolamento do presidente do estado, que foi
agravado pela derrota nas eleies federais em 1906. Revelando a fragilidade de sua base, a
representao federal que o apoiava ficou extremamente reduzida. Outro aspecto no
menos relevante foi a sistemtica atuao das foras de oposio na imprensa, enviando
com regularidade para fora do estado matrias com o propsito de desgastar o governo,
enquanto internamente se organizavam foras para o enfrentamento armado. O
enfraquecimento do Partido Republicano Constitucional, sua principal base de sustentao,
era a senha de que necessitavam seus adversrios, em especial Generoso Ponce, para
rearticular suas foras.
Sem dvida, a grave crise institucional que atingiu o estado em 1906 foi a mais convulsiva,
pois culminou na morte do presidente do estado. Ela expressou o ponto culminante das
sucessivas fragmentaes no interior das elites, agravadas a partir de 1899. A violncia em
si no era um dado novo na vida republicana do Mato Grosso. O problema foi a magnitude
do evento. Tot Pais foi assassinado no dia 6 de julho de 1906, prximo fbrica de
plvora do Coxip, em Cuiab. Substituiu-o no governo o deputado estadual Pedro Leite
Osrio.
Joo Edson Fanaia
FONTES: CORREIA FILHO, V. Histria; FANAIA, J. Elites; MENDONA, E.
Datas; MENDONA, R. Histria das; MENDONA, R. Histria do; MENEZES,
A. Morte..
PAIVA, ATAULFO DE
*magistrado; pres. Trib. Justia DF 1925-1926; min. STF 1934-1937.
Ataulfo Npoles de Paiva nasceu em So Joo Marcos, no municpio de Rio Claro
(RJ), no dia 1 de fevereiro de 1865, filho do tenente Joaquim Pinto de Paiva e de Feliciana
Rosa do Vale Paiva.
Em 1871 transferiu-se com a famlia para Barra Mansa (RJ), onde fez o curso primrio.
Devido a seu bom aproveitamento e falta de recursos para continuar os estudos, a
associao comercial da cidade assumiu o custeio de seu curso secundrio no Colgio
Alberto Brando, em Vassouras (RJ). O diretor do colgio, porm, resolveu admiti-lo
gratuitamente como interno. O jovem Ataulfo concluiu o curso em dois anos. No podendo
ingressar na universidade devido pouca idade, permaneceu no colgio como auxiliar do
ensino de ingls.
Ingressou em 1883 na Faculdade de Direito de So Paulo, diplomando-se em 1887.
Retornou ento a Barra Mansa, publicou seus primeiros escritos no jornal Aurora
Barramansense e advogou na cidade at ser nomeado juiz da comarca de
Pindamonhangaba (SP) por Prudente de Morais, presidente do estado de So Paulo de 1889
a 1890. Nesse cargo, procedeu ao primeiro alistamento eleitoral da histria da Repblica.
Com a organizao da Justia do Distrito Federal em novembro de 1890 e a consequente
criao do cargo de pretor, foi nomeado para a 13 Pretoria, sendo transferido depois para a
12, onde permaneceu por seis anos e meio. Em maio de 1897 foi nomeado juiz do tribunal
Civil e Criminal.
Interessado pela questo da assistncia pblica, representou o governo brasileiro em
conclaves sobre assistncia pblica e privada realizados em Paris (1900) e em Milo
(1906), tendo sido eleito vice-presidente honorrio do congresso de Milo. Elaborou um
plano de sistematizao da assistncia pblica e privada, operando em conjunto e sob a
inspeo direta do Estado, que o presidente Rodrigues Alves converteu em mensagem ao
Congresso Nacional.
Em janeiro de 1905, assumiu o cargo de desembargador da Corte de Apelao do Distrito
Federal. Eleito presidente desse tribunal em 1912, promoveu a execuo das reformas
Rivadvia Correia e Joo Lus Alves, que modificaram profundamente a organizao
judiciria.
Membro da Liga Brasileira Contra a Tuberculose desde a sua fundao (1900), assumiu sua
presidncia em 1912, afastando-se um ano depois. Em 1919 assumiu novamente o cargo,
nele permanecendo at falecer. Em dezembro de 1916 foi eleito para a Academia Brasileira
de Letras, tomando posse em 1918. Anos mais tarde, em 1937, foi eleito presidente da
entidade.
Nomeado membro do Conselho Nacional do Trabalho pelo presidente Artur Bernardes em
1923, exerceu a presidncia da instituio. Organizou o Cofre dos rfos, que se achava
paralisado, e estabeleceu as diretrizes que iriam dar origem ao Ministrio do Trabalho,
criado em 1930.
Eleito presidente do Tribunal de Justia do Distrito Federal para o perodo 1925-1926,
inaugurou a nova sede do palcio da Justia em novembro de 1926.
Em 1927, criou o Preventrio Dona Amlia, na ilha de Paquet (RJ), destinado a crianas
enfermas. No mesmo ano, deu incio vacinao antituberculose por BCG. A Liga
Brasileira contra a Tuberculose, que presidia, foi a instituio responsvel pelo programa de
vacinao no Rio de Janeiro. Devido a seu desempenho nessa campanha, a liga passou a
chamar-se Fundao Ataulfo de Paiva em 1936.
Em fevereiro de 1932, quando foi promulgado o primeiro Cdigo Eleitoral e instituda a
justia eleitoral, Ataulfo de Paiva foi designado presidente do Tribunal Regional Eleitoral
do Distrito Federal. Em 5 de abril de 1934 foi nomeado ministro do Supremo Tribunal
Federal, mas foi aposentado no dia 16 de novembro de 1937.
Em 1940, com a criao do Conselho Nacional de Servio Social pelo Ministrio da
Educao e Sade, foi indicado para ocupar sua presidncia, nela permanecendo at morrer.
Ainda em 1940, assumiu a presidncia da Comisso Especial do Livro do Mrito,
recebendo o grau de chanceler da Ordem Nacional do Mrito.
Ataulfo de Paiva foi ainda membro do conselho executivo da Liga de Defesa Nacional,
scio benemrito da Associao Brasileira de Imprensa, membro fundador da Cruz
Vermelha Brasileira, membro honorrio da Associao Comercial do Rio de Janeiro,
primeiro e nico scio benemrito do PEN Clube, membro do conselho deliberativo da
Legio Brasileira de Assistncia, membro honorrio do Instituto Histrico e Geogrfico
Brasileiro e presidente da comisso que organizou o servio de alistamento eleitoral.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 8 de maio de 1955.
Alm de discursos, relatrios, artigos, conferncias e pareceres jurdicos, publicou as
seguintes obras: O Brasil no Congresso Internacional de Direito Comparado de Paris
(1900), Assistncia pblica, sua funo jurdica (1903), Lassistance publique au Brsil
(1906), O Brasil no Congresso Internacional de Assistncia Pblica e Privada de Milo
(1907), Assistncia pblica (1907), Assistncia metdica: meio para obter uma aliana
entre assistncia pblica e privada; o problema do Brasil (1908), Justia e assistncia: os
novos horizontes (1916), Assistncia pblica e privada no Rio de Janeiro (1922) e Oraes
na Academia (1944).
Slvia Pantoja
FONTES: AUTUORI, L. Quarenta; CONSULT. MAGALHES, B.; Correio da Manh
(10/5/1955); COSTA, E. Grandes; Encic. Mirador; Grande encic. Delta; Jornal do
Comrcio, Rio (10/5/1955); LAGO, L. Supremo; LEITE, A. Histria; MACEDO, R.
Efemrides; MENESES, R. Dicionrio.; NEVES, F. Academia; VAMPR, S. Memrias.
PAIVA, Bueno de
* const. 1891; dep. fed. MG 1891-1892 e 1900-1911; sen. MG 1912-1920; vice-pres. Rep.
1920-1922; sen. MG 1923-1928.
Francisco lvaro Bueno de Paiva nasceu em Vila do Caracol, ento distrito da
comarca de Caldas (MG), no dia 17 de setembro de 1861, filho de Antnio de Paiva Bueno,
major da Guarda Nacional, e de Ana de Paiva Bueno.
Completou os estudos secundrios no curso anexo Faculdade de Direito de So
Paulo e ingressou no curso de direito em 1879, obtendo o grau de bacharel em cincias
jurdicas e sociais em 1883. Depois de formado, advogou em Esprito Santo do Pinhal (SP)
por um ano e retornou terra natal em 1885.
Defensor da abolio da escravatura e dos postulados republicanos, iniciou sua carreira
poltica filiando-se ao Partido Republicano Mineiro (PRM), em cuja legenda foi eleito, em
setembro dde 1890, deputado por Minas Gerais Assembleia Nacional Constituinte.
Empossado em 15 de novembro seguinte, aps a promulgao da Constituio de 24 de
fevereiro de 1891 passou a exercer o mandato ordinrio, mas no chegou a complet-lo.
Renunciou em maro de 1892 para assumir a funo de juiz de direito de So Jos do
Paraso (MG), na qual permaneceu at setembro de 1894. Nesse mesmo municpio foi
eleito vereador e e presidente da Cmara Municipal (1898-1900).
Em 1898 foi eleito senador estadual para a legislatura 1899-1902. Renunciou ao mandato
em 1900, por ter sido eleito deputado federal no pleito de novembro do ano anterior.
Assumindo sua cadeira na Cmara dos Deputados em maio de 1900, foi reeleito para as
legislaturas 1903-1905 e 1906-1908, foi presidente da Cmara e membro das comisses de
Finanas e de Justia. Em abril de 1906 promoveu o I Congresso das Municipalidades de
Minas, no municpio de Itajub (MG). Em 1909 foi eleito, simultaneamente, senador
estadual e deputado federal, mas optou pela cadeira na Cmara dos Deputados. No pleito de
novembro de 1911 foi eleito senador federal por Minas Gerais. Assumiu sua cadeira no
Senado em maio do ano seguinte e, reeleito, exerceu seu mandato de 1912 a 1920. Foi lder
da bancada mineira, alm de relator, durante alguns anos, do oramento da Receita.
Integrou diversas comisses mistas e especiais, como a da Reforma da Lei de Montepio, a
da Reforma Eleitoral e a do Cdigo Civil e Comercial.
Com o falecimento do vice-presidente da Repblica, Delfim Moreira, no dia 10 de junho de
1920, foi eleito para o cargo, no qual permaneceu por dois anos, no restante do perodo
presidencial de Epitcio Pessoa (1919-1922). Nessa condio assumiu a presidncia do
Senado, na qual permaneceu at 15 de novembro de 1922. Retornou ao Senado Federal em
maio de 1923, para completar o mandato de Raul Soares. Mais uma vez reeleito, faleceu no
Rio de Janeiro, ento Distrito Federal, no dia 4 de agosto de 1928, em pleno exerccio do
mandato.
Foi casado com Maria Antonieta Carneiro Bueno de Paiva.
Vanessa Lana
FONTES: DEPT. ENG. CIV. Disponvel em <
http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/FrancABP.html>. Acesso em: 4/3/2009;
MONTEIRO, N. Dicionrio; SENADO. Disponvel em:
. Acesso em: 9/11/2008.
PAIVA, Osrio de *militar; dep. fed. CE 1915-1920.
Vicente Osrio de Paiva nasceu em Fortaleza no dia 21 de agosto de 1849, filho
de Antnio Pereira do Brito Paiva e de Ana Joaquina Conceio Cmara Paiva.
Assentou praa em 1871 e foi promovido a tenente em 1880. Capito em 1885, foi
mandado para o Mato Grosso em expedio comandada por Deodoro da Fonseca. J na
Repblica, foi promovido a major em 1890 e esteve ao lado do governo de Floriano
Peixoto (1891-1894). Tenente-coronel efetivo em 1894 e coronel em 1897, serviu no
Amazonas em 1903 e 1904. Em 1908 foi promovido e general de brigada e em dezembro
de 1912 reformou-se como marechal graduado em 1912. Ao longo desses anos foi eleito
senador estadual em Alagoas, comandou o 36 Batalho de Infantaria na Bahia, exerceu
interinamente o comando do 3 Distrito Militar, foi inspetor da 10 Regio e comandante da
1 Brigada de Cavalaria.
Em 1915 foi eleito deputado federal pelo 2 distrito do Cear. Assumindo sua cadeira na
Cmara dos Deputados, no Rio de Janeiro, ento Distrito Federal, em maio daquele ano, foi
reeleito para a legislatura seguinte e exerceu o mandato at dezembro de 1920.
Kleiton de Sousa Moraes
FONTE: CM. DEP. Deputados brasileiros; STUDART, G. Dicionrio (v.3, p. 208-
209).
PAIXO, Antnio Jac da
* const. 1891; dep. fed. MG 1891-1893.
Antnio Jac da Paixo nasceu em Senhor do Bom Jesus do Rio Pardo, ento Distrito de
Pomba, atual Argirita (MG), no dia 28 de novembro de 1842, filho de Antnio Jlio da
Paixo e de Maria Eudxia de Miranda. Seu pai foi o primeiro juiz de paz do distrito de Rio
Pardo, atual cidade de Argirita, de 1857 a 1862; no distrito de Leopoldina (MG) foi
vereador a partir do final de abril de 1862 e terceiro substituto de juiz municipal em 1866.
Seu primo, Rodolfo Gustavo da Paixo, foi presidente de Gois no incio da Repblica, de
1890 a 1891 e deputado federal por Minas Gerais de 1897 a 1914.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, ento capital do Imprio, fez os estudos
preparatrios no Externato Aquino, dirigido por Joo Pedro de Aquino, e no externato do
Mosteiro de So Bento, onde concluiu o curso de Filosofia. Com a especializao em
Aritmtica, lgebra e Geometria, habilitou-se para o exerccio do magistrio. Saiu do
externato em 1870 e, no ano seguinte, mudou-se para So Paulo, onde ingressou na
Faculdade de Direito do Largo de So Francisco, na capital paulista, pela qual se
bacharelou em 1875.
Depois de formado retornou a Minas Gerais e fixou residncia em Rio Novo, onde passou a
advogar e iniciou a carreira poltica. Foi eleito para a Assembleia Provincial de Minas
Gerais em 1880 e reeleito em 1882 e 1884, exercendo o mandato at o final de 1885. Foi
lder do Partido Liberal do Imprio nessa casa legislativa. Em 1886 voltou a se dedicar
advocacia em sua cidade. No ano seguinte, j um defensor confesso das ideias republicanas,
foi eleito vereador em Rio Novo, onde chegou a ocupar o cargo de Agente Executivo
Municipal, correspondente ao de atual prefeito.
Retornou ao cenrio poltico aps a proclamao da Repblica (15/11/1889), quando se
filiou ao Partido Republicano Mineiro (PRM), em cuja legenda foi eleito deputado ao
Congresso Nacional Constituinte em 15 de setembro de 1890. Tomou posse em 15 de
novembro seguinte, quando foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte no Rio de
Janeiro, e foi um dos signatrios da primeira Constituio republicana do pas promulgada
em 24 de fevereiro de 1891. Com o fim da Constituinte aps a eleio do presidente da
Repblica no dia seguinte, em 15 de junho desse ano assumiu sua cadeira na Cmara dos
Deputados no Rio de Janeiro, agora Distrito Federal, e passou a exercer o mandato
ordinrio. Permaneceu no Legislativo federal at dezembro de 1893, quando se encerraram
o seu mandato e a legislatura. Retornou Cmara Federal em 1897, quando foi eleito para
um novo mandato. Assumiu, em maio desse ano, sua cadeira de deputado federal no Rio de
Janeiro, cumprindo seu mandato por toda a legislatura que se encerrou em dezembro de
1899. Depois disso afastou-se da poltica para se dedicar advocacia.
Foi, ainda, diretor do Banco Regional de Minas Gerais no Rio de Janeiro.
Faleceu em Rio Novo no dia 26 de setembro de 1912.
Era casado com Virglia Maria da Silva Leal, com quem teve 11 filhos.
Ioneide Piffano Brion de Souza
FONTES: ARQ. HIST. MG. Senadores e deputados de Minas Gerais. Disponvel em: <
http://www.arquivohistorico-mg.com.br/deputadosesenadores.html >. Acesso em:
4/5/2010; BARBOSA, W. Histria; Estudos de Histria de Leopoldina. Antigas
autoridades do Distrito do Rio Pardo. Disponvel em:
. Acesso em:
4/5/2010; CM. DEP. Constituio de 1891. Disponvel em:
. Acesso em: 19/4/2010; CM. DEP. Deputados
Brasileiros; COL. BRAS. GENEAL. Antonio Jacob Paixo. Disponvel em:
. Acesso em:
4/5/2010; Geneaminas. Genealogia mineira. Disponvel em:
. Acesso em:
5/5/2010; MONTEIRO, N. Dicionrio (v.2, p.501); VASCONCELOS, D. Histria;
VEIGA, J. Revista (p. 50, 78).
PAIXO, Rodolfo Gustavo da
*militar; pres. GO 1890-1891; dep. fed. MG 1897-1914.
Rodolfo Gustavo da Paixo nasceu em So Brs do Suau, ento distrito de Entre
Rios (MG), atual Entre Rios de Minas, no dia 13 de julho de 1853, filho de Joaquim
Manuel da Paixo e de Matilde Jos Lopes, tradicional famlia na poltica mineira. Seu
primo, Antnio Jac da Paixo, foi deputado geral por Minas Gerais, constituinte de 1891 e
deputado federal de 1891 a 1893 e de 1897 a 1899.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, ento capital do Imprio, ingressou na Escola Militar
e tornou-se alferes-aluno em 1877. Nessa unidade de ensino fez os cursos das trs armas,
concluindo-os em 1879. Bacharel em matemtica e cincias fsicas e formado em
engenharia militar, serviu em Cruz Alta (RS) e a se casou com Josefina Annes Dias da
Paixo em maro de 1883. Em seguida foi transferido para o Rio de Janeiro e tornou-se
militante das campanhas abolicionista e republicana. Atingiria o posto de general-de-
brigada, no qual seria reformado em 1913.
Depois de proclamada a Repblica em 15 de novembro de 1889, foi nomeado presidente do
estado de Gois pelo governo provisrio do marechal Deodoro da Fonseca e tomou posse
em 24 de fevereiro de 1890. O antigo governador da provncia, Eduardo Augusto de
Montandon, fora deposto em 6 de dezembro de 1889, e para ocupar seu lugar, o governo
provisrio nomeou o tenente-coronel Bernardo Vasques, ento comandante do 1
Regimento de Artilharia a Cavalo. Bernardo Vasques no chegou, porm, a tomar posse,
pois os polticos goianos se articularam a fim de que uma junta representativa dos grupos
oligrquicos locais fosse nomeada para exercer provisoriamente o governo. A junta,
composta por Joaquim Xavier Guimares Natal, Jos Joaquim de Sousa e Eugnio Augusto
de Melo, tomou posse em 7 de dezembro de 1889 e governou o estado at a chegada de
Rodolfo Gustavo da Paixo.
Desde os primeiros tempos do novo regime, os polticos goianos, numa tentativa de superar
as divergncias pr-existentes, se organizaram em torno do Centro Republicano, liderado
pelas famlias Bulhes e Caiado. Entretanto, as antigas disputas logo afloraram e resultaram