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    Corpos elétricos: doCorpos elétricos: doCorpos elétricos: doCorpos elétricos: doCorpos elétricos: doassujeitamento à estética daassujeitamento à estética daassujeitamento à estética daassujeitamento à estética daassujeitamento à estética da

    existênciaexistênciaexistênciaexistênciaexistência

    R R R R R esumo esumo esumo esumo esumo: A busca da ad eq uação a os pad rões de id entidad e socialme nte imp ostos tem justifica do e instituído a s ma is varia da s form as de c on trole c orp ora l. Há c erc a d e d ois séculos vivemos um pro c esso d e c ontínuo disc ip l inam ento e no rma l ização d os co rpo s qu e ta mbém te m c onseqüênc ias sub jetivas, po is a sub jetivida de está direta me nte a ssoc iad a à ma terialida de do c orp o. Assim, a história da c riação de c orp os e iden tida de s soc iais étam bém uma história do s modo s de p rod ução d a subjetivida de . O texto pa rte d essa c onstatação p ara discutir uma forma de resistênc ia a o a ssujeitam ento : a p rop osta fouc au ltiana de uma e stética da existênc ia.P P P P P alavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave ala vras-cha ve: c orp o; subjetivida de ; co ntrole; a ssujeitam ento; e stética da existênc ia.

    Copy r i g h t     2006 b y  RevistaEstudos Feministas.

    Richard MiskolciUniversidade Federal de São Carlos

    Em “Eu canto o corpo elétrico”, poema escrito emmeados do século XIX, Walt Whitman indagava: “E se ocorpo não for a alma, o que é a alma?”. Em tempos emque a matéria parece ter vencido as especulaçõesmetafísicas, parece que estamos longe do corpo sonhadopor Whitman, o corpo intersecção das almas, das relaçõesafetivas e sociais mais intensas – os corpos elétricoscantados pelo poeta da democracia indicavam novoslaços entre as pessoas, corpos cuja sensualidade explícitaanunciava formas mais livres de amar.

    Distantes das belas imagens de corpos-almas unidos

    democraticamente nas páginas de Folha s de re lva ,vivemos na era do corpo como encarnação da identidade,sustentáculo dos ideais societários que incidem sobre osindivíduos e depositário das ansiedades individuais sobrea possibilidade de adequação ao mundo. Sem o saber, amaioria das pessoas em nosso dia parodia amargamenteWhitman ao se questionar: E se meu corpo não se adequarao que esperam de mim, o que será de mim?

    EnsaioEnsaioEnsaioEnsaioEnsaio

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    A busca da adequação aos padrões de identidadesocialmente impostos tem justificado e instituído as maisvariadas formas de controle corporal. Há cerca de doisséculos vivemos um processo de contínuo disciplinamentoe normalização dos corpos. Tal processo também temconseqüências subjetivas, já que a subjetividade estádiretamente associada à materialidade do corpo. A históriada criação de corpos e identidades sociais é também umahistória dos modos de produção da subjetividade. Percebe-se, assim, que o espaço de problematização das relaçõesentre corpo e identidade é maior do que parece à primeiravista, pois vai muito além das técnicas corporaispropriamente ditas e alcança as formas como

    compreendemos a nós mesmos e, sobretudo, a formacomo somos levados a ver o outro.

    O consenso contemporâneo sobre a relação diretaentre corpo e identidade expõe uma sociedade fundadaem uma ética individualista, competitiva e masculinizante.O corpo é visto cada vez mais como um instrumento paraatingir modelos identitários que nada diferem de imposiçõessociais difundidas pelos mais diversos meios deconvencimento: da educação à mídia. Os modelos deidentidade são cada vez mais difíceis de atingir e exigemtambém altas quantias, além de incomensurável esforçofísico-corporal e tempo. Disciplina é um dos valores maiscultuados e expõe o e t h o s    ascético do culto

    contemporâneo ao corpo, um modo de vida impulsionadopelo desejo de integração aos valores constitutivos dacultura dominante.

    O grupo social que ganhou visibilidade a partir dadécada de 1980, sob o duvidoso nome de “geraçãosaúde”, cresceu exponencialmente e hoje generalizou-senas classes médias e altas e já estendeu seus tentáculos àsclasses menos favorecidas. Por isso, o fenômeno social dacorporificação das identidades pautados por modelosinalcançáveis pela imensa maioria das pessoas exige umolhar mais atento e crítico. O culto ao corpo levou aoincremento de um individualismo perverso, no qual cadaum se torna o responsável pelo que é de forma que suacondição física é diretamente atribuída à sua capacidade

    de autodisciplina.1.As técnicas de disciplina corporal são assujeitadoras

    porque criam não apenas corpos padronizados, mastambém subjetividades controladas. Nas palavras deFrancisco Ortega, “Trata-se da formação de um sujeito quese autocontrola, autovigia e autogoverna. Umacaracterística fundamental dessa atividade é aautoperitagem. O eu que se pericia tem no corpo e no atode se periciar a fonte básica de sua identidade”.2 César

    1 A atribuição da responsabili-dade ao indivíduo por suaadequação corporal e identitáriaàs demandas sociais é visível noprocesso que Guita Grin Debertdenomina de “reprivatização davelhice”, ou seja, “sua transfor-mação em um problema de

    indivíduos negligentes que não seenvolveram no consumo de bense serviços capazes de retardarseus problemas. Neste sentido, avelhice poderia novamentedesaparecer do leque depreocupações sociais” (DEBERT,2003, p. 154). Sobre a mesmaquestão, consulte tambémDEBERT, 1999.2 ORTEGA, 2002, p. 155.

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    Sabino exemplifica esse assujeitamento pela atividade físicaem seu estudo sobre os “marombeiros”:

    “No processo de cultivo à forma é o indivíduo, e tão-somente ele, quem vai prestar contas ao olhar crítico ehierarquizante dos seus pares, além de se submeter aoescrutínio constante da fita métrica e do espelho emum processo que dele exige uma conduta ascética,racional e individualista”.3

    Neste artigo, proponho uma discussão sobre asrelações entre corpo e identidade na perspectiva dosestudos de gênero, particularmente as formas deassujeitamento e narcisismo que marcam a formação dos

    corpos-identidades de homens. Não farei muita distinçãoentre heterossexuais e gays nem adentrarei no universoainda mais particular de travestis. Meu intuito é discutir osvalores, objetivos e, principalmente, as formas deassujeitamento corporal e subjetivo a que se submetemhomens de classe média independentemente de suaorientação sexual. Não devemos cair no senso comum,antes constatar que homens heterossexuais ou gays sãotodos homens e partilham, em sua grande maioria, domesmo culto da masculinidade.4

    Inicio com uma breve apresentação sobre aconstituição histórica de um modelo de masculinidadehegemônica para adentrar na tendência contemporâneade adesão a uma ética individualista e masculinizante. Essa

    ética narcisista repousa na formação de subjetividades queincorporam literalmente os valores dominantes e aderem aquaisquer meios que acenem com a adequação corporale identitária que, em sua lógica pouco ortodoxa, levaria àintegração ao grupo socialmente mais valorizado e feliz.

    Ao final, proponho uma reflexão sobre apossibilidade de recusa dos ideais normativos e doindividualismo narcisista por meio de formas de resistênciaque apontam para a constituição de uma estética daexistência, ou seja, da re-invenção de si mesmo e dasrelações com o outro, seguindo os “corpos elétricos” deWalt Whitman, que anunciam a verdadeira democracia, adiversidade, as diferenças entrelaçadas na energia que

    se troca e une, formando relações mais profundas entre aspessoas.

    Narcisismo e assujeitamentoNarcisismo e assujeitamentoNarcisismo e assujeitamentoNarcisismo e assujeitamentoNarcisismo e assujeitamento

    Uma identidade hegemônica não se estabelece semum apelo e uma incitação à disciplina. No caso particulardos homens, desde o início da era contemporânea osexércitos e os esportes se encarregaram de criaridentidades hegemônicas reconhecíveis em contornos

    3 SABINO, 2000.

    4 A maioria dos homens heterosse-xuais e gays cultua as represen-tações sociais da masculinidadehegemônica, mas masculini-dades outras e até alguns gayssão dissidentes desse culto à

    masculinidade. Daí o fato de quealguns se adaptam às formascorporais que podem ser perce-bidas como sinônimos de femini-lidade, pois suas identidades seassentam no atravessar defronteiras.

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    físicos definidos. Guerreiro ou jogador, ambos incitam aconformação dos homens a um modelo de masculinidadedominador, agressivo e disciplinado, modelo que impõelimites corporais e identitários estreitos, pois se assenta emum duplo assujeitamento: corporal e subjetivo.

    Somente aqueles que se submetem aos ideaishegemônicos podem querer incorporá-los no sentido maisliteral, ou seja, por meio de todas as técnicas, exercícios edrogas que objetivam adequar suas formas corporais aomodelo socialmente imposto de masculinidade, aquele queautores como Miguel Vale de Almeida 5 denominammasculinidade hegemônica, a que subordina outros tiposde masculinidade e perpetua a dominação dos homens

    sobre as mulheres. Os seguidores da masculinidadehegemônica submetem-se, nas palavras de César Sabino,

    [a] um ethos ascético com profunda preocupação deintegração aos valores constitutivos da culturadominante combatidos anteriormente pelos grupos dacontracultura. Neste processo, parece ocorrer, também,tanto por parte de homens quanto de mulheres, a buscareforçada de uma ética masculinizante que se rebate,não apenas nas atitudes, nas práticas, mas, também,no plano simbólico, inscrevendo-se em uma estéticacorporal que valoriza o cultivo muscular e hierarquizaa realidade a partir de valores relacionados a estecultivo.6

    Esses valores da masculinidade hegemônicainstauraram representações sociais de saúde, beleza,sucesso e aceitação social.

     Tudo aponta para uma tendência a igualar formafísica modelar à saúde e conseqüentemente à beleza. Umcorpo belo nunca esteve tão exposto a formas desgastantesde exercício, o consumo de drogas e dietas duvidosas.Nesse processo de assujeitamento psíquico-corporal apalavra-chave é adequação. Fazer parte de um grupo ideal(e idealizado) é o principal objetivo dos praticantes deginástica, musculação, dos consumidores de suplementosalimentares, esteróides anabolizantes e hormônios diversos.Como se alguém que se adequasse passasse a ser um dosprivilegiados que exibem seus corpos modelares nas várias

    mídias.A aceitação social baseia-se na conformação às

    normas de conduta ascética voltadas para adquirir umpadrão corporal cada vez mais inalcançável. Assim, osconformistas acreditam que “A adaptação, a obediênciae a identificação com a norma é o refúgio do eu que fezde sua aparência a essência”. É o consenso bem expressopor Ortega de que “Ou somos idênticos, ou nosdenunciamos”.7 E se nos denunciamos como diferentes

    5 ALMEIDA, 2000. Uma genealogiado conceito de masculinidadehegemônica ainda está por ser

    feita, mas o autor que o popula-rizou foi Michael KIMMEL, 1998.

    6 SABINO, 2000.

    7 ORTEGA, 2002, p. 170.

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    nesse mundo de padrões tão rígidos somos expostos a umpreconceito crescente. Quem não tem um corpobronzeado, malhado, “sarado”, lipoaspirado e siliconadoé visto como alguém que fracassou e isso explica o aumentonos casos de anorexia, bulimia, distimias e depressões. Umcorpo inadequado não apenas marca a maior parte dapopulação como gorda, feia ou disforme, segundo ospadrões modelares de uma elite, mas também gerasubjetividades autodestrutivas em sua busca de adequaçãoa qualquer custo. Em alguns casos, o medo da rejeiçãosupera até mesmo o desejo de sobreviver.

    Apesar de aparecer como o objetivo último, naverdade, a adequação corporal é a suposta porta de

    entrada para o mundo da felicidade, compreendida comoalgo individual e utilitário. As técnicas de transformaçãocorporal, em especial a cirurgia estética, prometem asuperação das fronteiras da ordem social.

    Em outras palavras, é como se adquirir um abdômensemelhante ao de um ator famoso pudesse alçar um rapazpobre da periferia ao estilo de vida glamouroso que associaa seu ídolo. A busca da felicidade por meios voltados àadequação corporal baseia-se em uma dicotomia deexclusão e inclusão. Os excluídos, os pobres e infelizes, sãoa grande maioria. A inclusão acenaria com a felicidade, ofeito de cruzar a fronteira entre essas categorias belo e feioque, na verdade, são posições sociais.8

    A infelicidade com o próprio corpo e, portanto, coma própria identidade é muito comum em nossos dias. SanderGilman explica que essa infelicidade equivale à frustraçãoquando a realidade percebida de si mesmo é diferenteda categoria almejada. É importante observar que oindivíduo almeja uma categoria que lhe é socialmenteapresentada como modelar, bem-sucedida. No casoespecífico da cirurgia estética, Gilman afirma que

    O paciente acredita que há uma categoria desejávelde ser da qual ele ou ela está excluído por razões quesão definidas como físicas. Os resultados dessa exclusãosão sintomas de ‘infelicidade’ psicológica. Outros sinaispresentes no mundo exterior podem marcar a exclusão,mas eles são vistos como corolário da diferença física.

    O indivíduo deseja unir-se a um novo grupo definidoeconomicamente, socialmente, eroticamente (ou nostrês modos), mas esse grupo é definido primariamentede forma física.9

    Diferenças de c lasse, raça/etnia, gênero e geração,historicamente criadas, tendem a ser percebidas comonaturais, corporalmente visíveis, mas, por isso mesmo,modificáveis por técnicas de adequação corporal. É comose alguém pudesse deixar de ser pobre, “negro” ou feminino

    8 Sander L. Gilman analisa essa“promessa” de adequação socialem seus aspectos psíquicos emCreating Beauty to Cure the Soul (GILMAN, 1998). Em Ma king the Bod y Beautiful  (GILMAN, 1999), ohistoriador cultural norte-americano desenvolve umaanálise da história da cirurgiaestética. Gilman parte de umacrítica à concepção utilitária defelicidade que afirma aadequação física como meio deentrada para o grupo socialhegemônico e, posteriormente,analisa o caráter etnocêntrico eaté mesmo racista por trás dacirurgia estética.

    9 GILMAN, 1999, p. 22 . Traduçãominha.

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    apenas por meio de técnicas, cosméticos, drogas ecirurgia.

    A sociedade contemporânea não cansa de propormeios técnicos para solucionar questões que apenasmodificações sociais profundas seriam capazes de resolver.É como se, diante das desigualdades econômicas,propuséssemos vestir com uma roupa cara um indigenteao invés de criar condições para aumentar sua renda. Semdúvida, a corporificação das identidades é reacionária emmuitos sentidos. O primeiro é o fato de que tal corporificaçãoreduz toda a complexidade humana às suas formas físicase visíveis. O segundo é permitir que desigualdades sociaise econômicas sejam interpretadas como produto da mera

    adequação ou inadequação individual a modelos enormas supostamente incontestáveis. Não sejamosingênuos, o que se apregoa como beleza é a norma socialde que devemos ser jovens, “brancos”, masculinos e, éclaro, ricos.

    Gilman aponta que um dos perigos inerentes àstécnicas de adequação corporal está no fato de que abeleza é culturalmente constituída e as formas que tornamum corpo adequado em uma época ou lugar podemmudar. Há menos de duas décadas as mulheres brasileirastinham como ideal seios pequenos enquanto na últimadécada vimos emergir como ideal os seios grandes.Aquelas que se submeteram à cirurgia de redução nos anos

    oitenta e se adequaram a um padrão que imaginavamimutável tornaram-se potenciais clientes na fila do implantede próteses para aumentar seus seios e preencher suasnovas expectativas de adequação.

    No caso dos homens, o culto do grande volumecorporal e dos músculos visível em astros de filmes depancadaria tem cedido espaço nas classes médias e altaspara corpos muito definidos, mas esbeltos. Ao invés de umaflexibilização do ideal corporal de masculinidade essa figuradefinida e esbelta aponta um ideal corporal ainda maisdifícil de alcançar, pois exige a junção de massa musculare magreza em um composto só atingível com a utilizaçãode técnicas mais especializadas e caras. Diante desses

     jovens musculosos na medida certa como ficam os

    marombeiros da década de 1980? Qual é a possibilidadede adequação de seus corpos a uma nova forma? Nãotenho a resposta, mas desconfio que a condição desseshomens cujo modelo corporal passou é ainda mais difícildo que a das mulheres que reduziram seus seios e depoisse depararam com a onda do implante de silicone paraaumentá-los.

    Os exemplos de como os modelos corporais variamcom uma rapidez assustadora em nossos dias não por

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    acaso apontaram para as mulheres como clientespreferenciais da cirurgia estética. A visão hegemônicaainda é a de que a masculinidade é antitética à cirurgiaplástica,10 e portanto, apesar do crescimento da demandapor procedimentos cirúrgicos pela clientela masculina, asformas dominantes de adequação corporal voltadas paraos homens ainda se baseiam em exercícios físicos, consumode suplementos alimentares e drogas ilícitas. 11

    A idéia que permanece nessa sucessão de ideaiscorporais e jogo de aparências é a de que o corpo refletiriaa alma, o caráter. Não por acaso, quaisquer que sejam osobjetivos particulares visados por homens e mulheres, ohorror à gordura é comum. O que se associa culturalmente

    à gordura em nossos dias é o estigma da indolência, daincapacidade para o trabalho e até mesmo da exposiçãoao risco de doenças fatais. Um corpo “saudável” tem deser esbelto, pois a magreza (no ponto certo) é vista comoprova de disciplina corporal e alimentar, de uma menteativa e sob controle, enquanto o gordo é visto como umcompulsivo, um descontrolado, ou seja, alguém ameaçadopor uma versão contemporânea da loucura.12

    Não deixa de ser curioso que nossa sociedadeatribua naturalidade ao corpo que não cessa de incitar àdisciplina, ao exercício, à dieta, às drogas e até à cirurgiaestética. Qual a naturalidade de um corpo que só existesob o domínio dessas técnicas e só é reconhecido

    socialmente como adequado quando elas se revelameficientes? O que há de natural em músculos inflados àbase de longas sessões de musculação, consumo desuplementos alimentares e até injeções ilegais (muitas delascriadas originalmente para a utilização em cavalos)? Amasculinidade precisa da natureza como fontelegitimadora de seus privilégios como atemporais eimutáveis, mas em realidade a mesma masculinidade seassenta em uma corporeidade que cobra o preço doassujeitamento de homens a representações hegemônicas,ideais de masculinidade que os aprisionam em aparelhose disciplinas de todo tipo.

    A construção da subjetividade masculina é tãocorporificada quanto a feminina, de forma a colocar parte

    dos homens no topo da hierarquia de gênero. No entanto,é importante frisar que apenas parte dos homens alcançaessas exigências sociais, permitindo que sejamreconhecidos como exemplares da masculinidadehegemônica. Um homem ideal – e em nossos dias modelossão levados a sério –, além de heterossexual, deve ser“branco”, cristão, de classe média ou alta, “ocidental”,

     jovem, com boa relação peso–altura, sexualmente ativo ecom sucesso recente nos esportes. Quantos se encaixam

    11 Por maiores que sejam as forçassociais e históricas que impõemum modelo corporal e deidentidade hegemônico, nãopodemos cair no discurso quevitimiza o homem contempo-râneo. Pedro Paulo de Oliveira

    observa que o discurso contem-porâneo que apela para assupostas dificuldades de serhomem só consegue se dissemi-nar ignorando algo fundamental,ou seja, o fato de que, “antes deser vítima, o homem é benefici-ário do sistema de gênerovigente” (OLIVEIRA, 2004, p. 190).12  Ao aplicar os padrões dedeficiência da OMS ao mundodos obesos, Gilman demonstraque a obesidade é compre-endida como um dano, o queassocia excesso de peso comfalta de controle e personalidade

    tendente ao vício. Dessa forma,o obeso passa a ser visto comoportador de uma espécie dedoença mental, a qual seexpressaria corporalmente e odenunciaria em sua incapaci-dade de corresponder aomodelo corporal magro e,portanto, a uma identidadesocial aceitável, leia-se, marca-da pelo autocontrole (GILMAN,2004, p. 333-334).

    10 GILMAN, 1999, p. 32.

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    nessas exigências em termos mundiais? E quantos no Brasil,onde as desigualdades são tão profundas?

    O assujeitamento às representações do verdadeirohomem – do corpo musculoso, da obrigação da conquistae do domínio – faz parte da auto-representação, dasubjetivação identitária moldada por mecanismosregulatórios que impõem modelos inseridos em regimes deverdade que mal começamos a desconstruir. Asrepresentações sociais sobre o que é um homem deverdade são poderosas.

    Representações são formas de conhecimentosocialmente criadas e compartilhadas, mas que se apóiamem valores que variam de um grupo social a outro.13 Assim,

    as técnicas corporais, devido a sua expertise e preço elevado,estão restritas às classes médias e altas em nossa sociedade.Não é mero acaso o fato de que os corpos modelares dasclasses mais bem favorecidas são muito diferentes dos corposmodelados pelo trabalho braçal. O corpo-identidademasculino é, também, um privilégio de classe.

    O corpo da mulher é construído, assim como suasubjetividade, para um outro a quem deve agradar. O corpodo homem e sua subjetividade são construídos para odomínio de si e do outro, para a constituição de umarelação de oposição com o mundo, com as pessoas e atémesmo com amigas/os e parceiras/os amorosas/os. Issodemonstra que tecnologias corporais são, portanto,

    tecnologias do gênero, pois conformam as pessoas aformas corporais socialmente compreendidas comomasculinas e femininas. Só temos dois objetivos prescritospara as atividades físicas: perder peso e realçar as marcasculturalmente associadas ao feminino para as mulheres eadquirir volume ou massa muscular para os homens. Oprocesso prescrito é a busca de materialização dasrepresentações sociais sobre o feminino e o masculino.

    O sistema de gênero que dirige nossa sociedadeassenta-se no bio-poder para criar os sexos alojados emcorpos que se diferenciam e se opõem e, assim, dãomaterialidade às representações que justificam a hierarquiaque atribui ao masculino o domínio e ao feminino asubmissão. O sexo que apresentam como evidência se

    revela, assim, construção social e histórica.Diante do exposto, o que fazer? Teoricamente podemos

    des-naturalizar esses corpos-identidades que são, na verdade,produto de técnicas que ancoram no corpo a inteligibilidadedas identidades.14 A centralidade do corpo na discussão dasidentidades está no fato de ele ser o ponto em que se pensaa relação dentro e fora, mesmo e outro e até a velha oposiçãocorpo e alma. Tania Swain afirma: “A questão da identidaderevela-se crucial, portanto, para modificação de um regime

    14 O melhor exemplo teórico de

    desnaturalização dos corpos-identidades é o empreendido por J udith Butler em seu livro Bodies tha t Mat te r , no qual a filósofanorte-americana aprimora oconceito de performatividadepara expor e analisar a formacomo as identidades sociaisganham materialidade e,portanto, inteligibilidade (BUTLER,1993).

    13 Cf. Tania SWAIN, 2002a.

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    de verdade que insiste em impor o binário como eixo deapreensão e institucionalização do mundo”.15

    O mesmo contexto que assujeita também pode gerarresistência. Assim, para ser fiel à proposta de Michel Foucaultde fazer uma ontologia crítica de nós mesmos devemosanalisar tanto esses limites e imposições sociais,historicamente criadas, quanto as possibilidades desuperação. É possível resistir à sujeição que cria corpos eidentidades masculinos marcados pela dominação dasmulheres, dos próprios corpos e da rejeição de sentimentose relações.

    A resistência não equivale à recusa simplista dosmodelos difundidos pela mídia e à aversão à musculação

    ou às dietas. Essa é apenas a parte visível de umassujeitamento maior: aquele que faz dos corpos e dasidentidades objetivos narcísicos, veículos do isolamento eda constituição de laços superficiais entre as pessoas – umculto a si mesmo que pouco difere da busca especular desi mesmo no outro.

    A resistência ao narcisismo e ao conseqüenteassujeitamento que residem nas técnicas de controlecorporal e subjetivo exige um outro tipo de atitude. Comoassinala Margareth Rago, “Problematizar a relaçãoestabelecida com o mundo, com o outro e consigo mesmoparece, assim, condição fundamental para que se possamabrir novas saídas mais positivas e mais saudáveis para o

    exercício da liberdade e a invenção da vida”.16

    A estética da existênciaA estética da existênciaA estética da existênciaA estética da existênciaA estética da existência

    Se a resistência é desejável e possível, também éfato, até o momento, que ela se manifestou através dosmovimentos sociais e por meio de pensadores/as querefletiram sobre as condições de assujeitamento em queviviam (e vivem) grupos sociais estigmatizados. Há, portanto,experiências sociais e culturais que apontam para apossibilidade de constituição de uma estética da existência.Essas experiências têm compromisso com mudanças quelevam à criação de novos estilos de vida baseados emuma ética capaz de criar subjetividades mais libertárias e,

    a partir delas, novas formas de sociabilidade.17

    A emergência de uma nova cultura de si podeoriginar novas relações críticas aos modelos de identidadesocialmente propostos, recusando o aparato disciplinar quenos torna algozes de nós mesmos. Associada a essareinvenção de si mesmo, uma nova cultura de si tambémpode permitir novas relações com o outro, relações decompanheirismo e amizade. Assim, percebe-se que outrasformas de produção da subjetividade podem se dar de

    16

     RAGO, 2002, p. 15.

    17

     Sobre estética da existênciaconsulte ORTEGA, 1999;MISKOLCI, 2006; RAGO, 2005; eSWAIN, 2002b.

    15 SWAIN, 2002a, p. 22.

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    maneira não-individualista, sem valorizar a vida privada emdetrimento da pública.

    A estética da existência só é possível como devir,quando desconstrói as representações sociais que criam eimpõem identidades. A estilística da existência buscamodificar as relações ancoradas na tradição e na normae não por acaso emergiu das sombras em que antes viviamaqueles cujo preconceito social os inferiorizava ouinvisibilizava. Dois exemplos históricos concretizam a criaçãode estéticas da existência. O primeiro é o grupo de mulheresanarquistas que se constituiu durante a Guerra Civilespanhola, o movimento Mujere s Libres.18 O segundo foiconstituído por artistas e filósofos que refletiram sobre meios

    para superar as condições de assujeitamento daqueles queamam seus iguais. De Oscar Wilde a Michel Foucaultavançou e se refinou a proposta de constituição de novosestilos de vida que tomassem como ponto de partida orompimento normativo que marca as vidas daqueles quese relacionam com pessoas do mesmo sexo.19

    É importante ressaltar que não podemos cair nasimplificação de imaginar que novos estilos de vidasurgiriam apenas para exercer uma sexualidade não-hegemônica. As propostas de estética da existênciadesenvolvidas por figuras como Wilde e Foucault nãopartem da sexualidade, mas sim da transgressão daheteronormatividade. Portanto, o fundamento de uma

    estilística da existência é o rompimento com padrões sociaisque prescrevem uma forma única de associação eafetividade entre as pessoas.

    A apologia de práticas sexuais como definidoras deidentidade é uma armadilha, como aponta Tania Swain:“seria necessário buscar a inserção das práticas sexuaisnas redes de poder que nos domesticam e instituem corpossexuados, sujeitos sexualizados, escravos de um mestre quese tornou nós mesmos”.20 A historiadora alerta que odispositivo de sexualidade escraviza sob a bandeira dalibertação, pois “a sexualidade passou a ser a música quenos canta”.21

    A estética da existência recusa o assujeitamento aosmodelos de corpos e identidades socialmente impostos e

    é necessário perceber que identidades hegemônicas emarginais não se opõem, antes constituem uma relaçãode interdependência. Não há heterossexualidade semhomossexualidade. A adesão a uma definição nesses doispólos aprisiona os indivíduos no mesmo jogo de poder.22

    Apenas a transgressão do dispositivo de sexualidade vigenteaponta para a constituição de algo diverso.

    Sem dúvida, os gays foram o grupo social em quemuitos depositaram esperanças de rejeição das normas

    21 SWAIN, 2002a, p. 26.

    20 SWAIN, 2002a, p. 23.

    19 Cf. MISKOLCI, 2006.

    18 Cf. RAGO, 2005.

    22 Eve K. Sedgwick apontou essainter-relação em um dos livrosfundadores da Teoria Queer –Betwee n M en: English Literature and Ma le Homosoc ia l Desi re (SEDGWICK, 1985) – e J oan W.Scott a rediscutiu em seu texto “Ainvisibilidade da experiência”(SCOTT, 1998).

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    CORPOS ELÉTRICOS: DO ASSUJEITAMENTO À ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA

    sociais e constituição de novos estilos de vida. Foucaultapontava o potencial inventivo que residia nas relaçõessociais inventadas por aqueles que a sociedade classificavacomo anormais e desviantes. Infelizmente, esse potenciallibertário não se realizou completamente devido às forçasdo controle social que levaram gays do gueto ao mercadoou da marginalidade para o mundo do consumo marcadopor um estilo de vida individualista voltado para aconformação aos valores socialmente prescritos.23 A lutapelos direitos civis reduzida ao casamento gay é o sinalmais recente e claro dessa cooptação de um movimentosocial que já ameaçou transgredir e inventar outras formasde relação para consigo e com o mundo.

    A aceitação da sexualidade como centro definidorde identidades reforça o culto ao corpo e, portanto, umamasculinidade tão misógina quanto hostil a seus própriosseguidores. O ponto de onde emerge a estética daexistência não é a sexualidade, antes a transgressão queela pode instaurar diante dos modelos relacionais existentes.A constituição de novas relações para consigo e para comos outros é uma forma de resistência que exige um esforçode desenraizamento, descorporificação, ou seja, derejeição das oposições aprisionantes entre masculino efeminino, corpo e identidade, assim como a maisconhecida de todas: a oposição entre corpo e alma.

    Para finalizar, evoco a arte ou a sua força, como

    define Gilles Deleuze: “A arte é o que resiste: ela resiste àmorte, à servidão, à infâmia, à vergonha”.24 Recorro àpoesia, definida por Thomas Mann como uma docevingança contra a realidade. Mais do que vingança, poesiatambém pode ser resistência ao quadro sombrio de nossosdias. Assim, voltemo-nos a Fernando Pessoa, ou maisexatamente a uma das materializações de suasubjetividade nômade: seu heterônimo Álvaro de Campos.É ele o camarada de Whitman em nossa língua. Sim,camarada, pois já afirmara o americano que o amor doscamaradas anunciava a democracia, amor cujos abraçosa protegeriam.

    Fernando Pessoa, ou Álvaro de Campos sepreferirem, captou em um dos poemas mais belos do século

    XX – “Saudação a Walt Whitman” – a forma como o poetaamericano anunciou a liberdade e por isso mesmo afirmou:“E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos demãos dadas,/ De mãos dadas, Walt, de mãos dadas,dançando o universo na alma”. Por meio desse vínculo, aamizade, é que reencontramos o bardo dos corpos elétricosa anunciar dias em que nosso ser será o envelope do corpo:

    24 DELEUZE, 1992, p. 215.

    23 Sobre a passagem do gueto aomerca do consulte J úlio AssisSIMÕES, 2005.

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    RICHARD MISKOLCI

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    Meu velho Walt, meu grande Camarada, evohé!Pertenço à tua orgia báquica de sensações em liberdade,Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até ànáusea em meus sonhos,Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me aocontrário:De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vêsa minha alma –Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meucorpo.25

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    [Recebido em janeiro de 2006 e aceito para publicação em setembro de 2006]

    Elec tric Bod ies: F Elec tric Bod ies: F Elec tric Bod ies: F Elec tric Bod ies: F Elec tric Bod ies: F rom Sub jec tion to the Aesthetic s of Existenc e rom Sub jec tion to the Aesthetic s of Existenc e rom Sub jec tion to the Aesthetic s of Existenc e rom Sub jec tion to the Aesthetic s of Existenc e rom Sub jec tion to the Aesthetic s of Existenc e 

    Abstract Abstract Abstract Abstract Abstrac t: The searc h to c om ply with soc ially imp osed stand ard s of iden tity ha s justified a nd instituted a numb er of wa ys of bo dy c ontrol. During the last two c enturies we have lived unde r an ong oing proc ess of discip l ine a nd norma lization of ou r bo dies. This proc ess has subjec tive co nseq uenc es bec ause subjec tivity is direc tly co nnec ted to the m ateriality of the bo dy. Therefore,a history of crea tion of bo dies and soc ial identities is also a history of ways of pro duc ing subjec tivity.This pa pe r star ts with this history to discuss a form of re sistanc e: M iche l Fouc au lt ś prop osal of a n ae sthetics of existenc e.Key W Key W Key W Key W Key W ords ords ords ords ord s: Bod y; Sub jec tivity; Con trol; Sub jec tion; Aesthetic s of the Self.