UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR VII
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO
A REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO
ELETRÔNICO NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DO COMÉRCIO
Billy Silveira Souto Maior
São José (SC), junho de 2002
BILLY SILVEIRA SOUTO MAIOR
A REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO NO ÂMBITO
DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO
Monografia apresentada, à Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de Relações Internacionais na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ensino Superior VII, Campus São José, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: Professor Msc. André Lippi Pinto Bastos Lupi.
São José, junho de 2002.
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BILLY SILVEIRA SOUTO MAIOR
A REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO ELETRÔNICO NO ÂMBITO
DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO
Esta monografia de conclusão de curso foi julgada adequada para obtenção do Título de
Bacharel em Relações Internacionais e aprovada pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade
do Vale do Itajaí, Campus VII, São José (SC).
São José, 24 de julho de 2002
______________________ ____________________
Coordenador de Estágio Coordenador de Curso
_________________________
Supervisor de Campo
Apresentada à Banca Examinadora formada pelos Professores:
_______________________________
Professor Orientador
_______________________________
Membro
_______________________________
Membro
iii
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado ao meu Pai. Voador, “loucão”, incansável... meu grande herói, e que esteja onde estiver, tenho certeza que está sempre presente ao meu lado, e feliz por tudo que me ensinou. Dedico também a minha mãe, que sabe como ninguém suportar momentos difíceis e está sempre, a qualquer hora, pronta para me ajudar.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente as minhas menininhas, Carolzinha e Beatriz, por terem me suportado todo o momento escrevendo esse trabalho. Todos os dias, nas horas mais chatas, estavam sempre de bom humor, e felizes pela minha conquista. Gostaria de destacar um agradecimento especial ao Professor André Lupi, pois mesmo sendo uma das pessoas mais ocupadas que conheço, teve paciência e boa vontade na orientação desse humilde trabalho.
v
RESUMO
O presente trabalho pretende analisar a regulamentação do comércio eletrônico no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Serão analisadas as dificuldades e obstáculos decorrentes da evolução do Programa de Trabalho atualmente em prática na OMC. Todas essas questões serão descritas através de uma contextualização da OMC e o importante papel do comércio eletrônico no sistema de comércio internacional. O trabalho também objetiva mostrar as diversas propostas enviadas pelos países sobre a regulamentação da matéria e fazer uma breve análise dessas contribuições, destacando também a ausência de uma proposta brasileira.
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ABSTRACT
This current work intends to analyze the regulation of the electronic commerce, on the role of the World Trade Organization. Difficulties and obstacles resulting from the current Work Programme progress will be analyzed. All these questions will be described through a contextualization of the WTO and the important meaning of the electronic commerce for the international trade system. This work also aims to show different proposal submitted by the countries regarding regulation of this subject and making a brief analysis of its contributions, and also highlighting a missing of a brazilian participation on it.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO 13
2.1 Contextualização 13
2.2 Estrutura Organizacional 15
2.3 O Processo decisório na OMC 18
2.4 Acordos da OMC 19
3 O COMÉRCIO ELETRÔNIC O E A OMC 21
3.1 Defini ção do Tema 21
3.2 Benefícios do comércio eletrônico 24
3.3 Ponderações sobre o comércio eletrônico 25
3.4 O Programa de Trabalho da OMC sobre o comércio eletrônico 26 3.4.1 O comércio eletrônico no GATS 28 3.4.2 O comércio eletrônico no GATT 31 3.4.3 O comércio eletrônico no TRIPs 32 3.4.4 O comércio eletrônico no Comitê para Comércio e Desenvolvimento 33
3.5 Considerações Atuais sobre o Programa de Trabalho em comércio eletrônico 34
4 AS PROPOSTAS DOS PAÍSES 36
4.1 A Posição dos Países Desenvolvidos 37 4.1.1 Proposta dos EUA 38 4.1.2 Proposta da União Européia 40 4.1.3 Proposta do Japão 41
4.2 A Posição dos Países em Desenvolvimento 42 4.2.1 Proposta de Cuba 42 4.2.2 Proposta de Cingapura E Indonésia 44 4.2.3 Proposta do MERCOSUL 45
4.3 Análise Geral 47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1: Acordos Multilaterais 20
Tabela 2: Definição dos Modos no GATS 28
Tabela 3: Artigos relacionados ao comércio eletrônico na esfera do GATS 30
Tabela 4: Diferença entre Assuntos no GATT e no GATS 32
Tabela 3: Lista de Propostas dos Países 37
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LISTA DE ABREVIATURAS
ESC – Entendimento de Solução de Controvérsias
GATS – General Agreement on Trades and Services
GATT – General Agreement on Tariffs and Trade
ITA – Information Technology Agreement
ITU – International Telecommunication Union
OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMC – Organização Mundial do Comércio
OMPI – Organização Mundial de Propriedade Intelectual
ONU – Organização das Nações Unidas
OSC – Órgão de Solução de Controvérsias
TPRM – Trade Policy Review Mechanism
TRIMs – Trade Releated Investment Measures
TRIPs – Trades Related Aspects of Intellecutal Property
UE – União Européia
UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development
VPNs – Virtual Private Networks
WIPO – World Intellectual Property Organization
WTO – World Trade Organization
1 INTRODUÇÃO
O comércio internacional vem crescendo a cada dia, e é fato sua grande importância
no sistema internacional há bastante tempo.
Desde 1947 com a assinatura do acordo do GATT, sempre foi observada uma
necessidade de fazer com que o comércio internacional, se tornasse amplo, livre, e que fosse
ao menos igualitário.
Porém, a evolução do comércio internacional e as mais freqüentes relações de trocas
entre os Estados e nações, pressupõem também a necessidade de uma Organização
Internacional de maior amplitude, considerando que as suas normas e acordos firmados teriam
aceitação por completo, e seus princípios seriam mais eficazes.
Dessa forma, através da assinatura da Ata final de Marraqueche em 1994, finalizou-se
a Rodada Uruguai, considerada a mais ambiciosa de todas as rodadas de negociações
multilaterais, instituindo a Organização Mundial do Comércio, e que inseriu acordos e normas
sobre temas como: comércio de bens industriais, serviços, propriedade intelectual e
investimentos, além de um sistema de solução de controvérsias, visando a garantia do livre
comércio e análise dos conflitos no comércio internacional.
Além disso, a estrutura criada na Organização Mundial do Comércio através de
Conselhos, Comitês e Programas de Trabalhos específicos, visa também suprir novas
demandas de temas emergentes, e dentre eles está o comércio eletrônico.
Portanto, no segundo capítulo desse trabalho se desenvolverá uma contextualização da
Organização desde sua criação, seus objetivos, seus acordos e sua estrutura organizacional,
visando abordar o seu aspecto normativo e institucional, importante para uma análise da
regulamentação do comércio eletrônico. Além disso, é necessário o embasamento de alguns
conceitos da OMC como um todo, mesmo que de forma sucinta, considerando suas diferenças
para o antigo GATT como amplo foro de negociação das relações comerciais multilaterais.
Muito recentes para entrar como tema na agenda de negociações da Rodada Uruguai,
as primeiras questões relativas ao comércio eletrônico só apareceram na Conferência
Ministerial em Cingapura, em 1996, na qual foi adotada a Declaração Ministerial sobre
11
Tecnologia da Informação (ITA), concedendo liberalização de tarifas internacionais de
produtos de computação e bens tecnológicos.
O importante crescimento do comércio eletrônico nas negociações globais incentivou
os membros da OMC a adotar uma declaração sobre o e-commerce mundial em 20 de maio de
1998, na segunda Conferência Ministerial em Genebra, na Suíça. A declaração direcionou ao
Conselho Geral da Organização o estabelecimento de um Programa progressivo de Trabalho
sobre a disciplina, além de examinar e relatar todos os acontecimentos dentro do comércio
eletrônico mundial.
Através do Programa de Trabalho muitos questionamentos estão sendo levantados,
inclusive sobre a própria classificação e inserção do comércio eletrônico no Acordo sobre
Comércio de Bens (GATT) ou Comércio de Serviços (GATS). A abordagem desses
questionamentos baseia -se em opiniões dos diferentes países e seus interesses distintos em
relação ao futuro do comércio eletrônico global.
Também, devido ao rápido crescimento e avanço da Internet, o comércio eletrônico
torna-se o comércio do futuro e é preocupação da OMC viabilizá-lo para o progresso do
comércio em geral, além de estimular o acesso a todas às pessoas. Inclusive, uma das
principais preocupações do Programa de Trabalho está na garantia do acesso à infra-estrutura
necessária para viabilização do e-commerce, principalmente nos países em desenvolvimento,
historicamente distantes tecnologicamente dos países desenvolvidos.
Dessa forma, para a OMC, a ampliação das redes de telecomunicação e os debates
sobre o tema tornam-se também necessários. Talvez, em nenhuma outra ocasião surgiu a
necessidade do debate contínuo, pois os acontecimentos acerca do comércio eletrônico
ocorrem em grande velocidade, e a todo o momento, margeados pelos avanços tecnológicos.
Nesse sentido, o capítulo três irá aprofundar as preocupações e os detalhes específicos
sobre o comércio eletrônico, desde os seus impactos, sejam eles negativos ou positivos na
sociedade. Destacar-se-á também o Programa de Trabalho desde sua criação e que a partir da
Rodada de Doha, em 2001, ganhou “novo fôlego” para que sejam alcançadas as devidas
conclusões para a regulamentação da matéria.
Vale ressaltar que o leitor notará a ausência de alguns dados e números sobre o
comércio eletrônico, mesmo dentro da Organização. Isto é justificado pelas grandes
disparidades entre vários indicadores e pesquisas sobre o crescimento do comércio eletrônico
como um todo.
Finalmente, a necessidade de debater e discutir sobre o tema está presente nas
propostas submetidas pelos países sobre o Programa de Trabalho, e os avanços obtidos até
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então. São propostas tanto de países desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento,
enviadas ao Conselho Geral e aos outros órgãos designados pelo Programa de Trabalho a
abordar os assuntos relativos ao comércio eletrônico na Organização.
Ainda que de forma sucinta, o objetivo do capítulo quatro será promover uma análise
em relação às diferentes propostas postuladas pelos países e seus interesses distintos, tendo
em vista o grau de inserção de cada um deles no e-commerce. Nessas propostas, estão
levantados os principais questionamentos sobre a regulamentação do tema no âmbito da
Organização, e constituem as fontes de estudo dos vários autores consultados para a
elaboração desse trabalho.
2 A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A criação da OMC em 1995, após o fim da Rodada do Uruguai1, foi sem dúvida um
dos principais marcos para as Relações Internacionais, e principalmente para as relações
comerciais entre os países. Conforme Lafer (1998, p.14), a OMC constituiu a primeira
Organização Internacional pós-Guerra Fria, o que caracteriza sua originalidade no cenário
internacional. Lafer (1998, p.15) afirma que as normas da OMC, fomentadas pela lógica da
globalização que também inclui a esfera dos valores, representam uma abrangente
“codificação” e um significativo desenvolvimento progressivo do direito internacional.
As relações econômicas internacionais giram fortemente em torno do comércio
internacional2, que já vinha se desenvolvendo mesmo quando da assinatura do acordo do
GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), em Genebra no ano de 1947. O GATT era
caracterizado basicamente como um amplo foro de negociações, e tinha como seus pilares a
cláusula da nação mais favorecida3 e o princípio do tratamento nacional4.
Porém, os países perceberam que neste novo cenário internacional, a capacidade do
GATT para atuar como instrumento adequado para a administração do comércio mundial
estava se esgotando. De acordo com Barral (2000, p.25), algumas limitações sistêmicas
caracterizavam fraquezas do acordo, principalmente em relação ao seu aspecto jurídico e
fortaleciam o aspecto diplomático negocial. Ou seja, o acordo do GATT não era de fato
caracterizado como uma Organização Internacional. Inclusive, as limitações relativas ao
acordo do GATT foram invocadas e debatidas quando se iniciou a rodada de negociações no
1 Desde a criação do GATT em 1947 até a constituição da OMC, foram 8 as rodadas de negociação:
Genebra(1947), Annecy(1949), Torquay(1951), Genebra(1956), Rodada Dillon(1960-61), Rodada Kennedy(1964-67), Rodada Tóquio(1973-79) e a Rodada Uruguai(1986-94).
2 “As relações de comércio sempre foram e continuam sendo a principal modalidade de relacionamento
econômico entre os países” (SINGER, 1998, p.112). 3 É a disposição constante do artigo I do GATT, segundo a qual um benefício concedido a um membro
será necessariamente estendido aos demais. 4 Constante do artigo III do GATT, princípio pelo qual a um produto importado que já tenha
atravessado a alfândega de um país será assegurado o mesmo tratamento que receber seu similar nacional.
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Uruguai. Surgiu a necessidade da passagem do sistema orientado pelas relações de poder
entre as partes (power oriented), para um sistema mais orientado por normas (rule-oriented),
em que as partes referenciem as normas que considerem aplicáveis à relação. Portanto,
observa-se que há um encaminhamento para um aspecto de decisões num caráter mais
jurídico do que político, incluindo-se as decisões e soluções de conflitos e controvérsias.
As negociações realizadas no decorrer da Rodada Uruguai, iniciada em 1986 na
cidade de Punta del Este e efetivamente concluída em Marraqueche em 1994, culminaram na
elaboração de um novo conjunto de regras e instrumentos mais adequados à nova realidade do
contexto internacional e na criação da Organização Mundial do Comércio. A criação de uma
estrutura institucional coerente com o conseqüente aumento da importância do papel do
aspecto normativo nas relações econômicas internacionais em escala mundial é importante
como medida da liberalização acordada nas negociações e fundamentalmente dentro da nova
Organização ora criada. A Rodada também representou a emergência de um novo paradigma
de agenda negociadora internacional, através da incorporação de negociações de políticas
comerciais à tradicional negociação de produtos.
Nesse contexto, pode-se destacar que o foco das negociações comerciais multilaterais
deslocou-se da redução das barreiras ao comércio de mercadorias, concessões tarifárias,
originalmente do acordo do GATT, para a negociação de regras e disciplinas aplicáveis a
temas tão diversos quanto o comércio de bens e serviços, os investimentos internacionais, as
políticas industriais nacionais e os direitos de propriedade intelectual.
Lafer (1998, p. 18) afirma que:
A OMC derivou do GATT, mas foi muito além do GATT. Tem um número muito maior de membros, função do seu alargamento ratione personae, e uma vocação de universalidade, pela lógica do processo de acessões. Tem normas de maior alcance, por conta do seu ratione materiae, pois agora abrange serviços, propriedade intelectual, medidas de investimentos relacionadas ao comércio(TRIMs) e contempla agricultura e têxteis, setores que não estavam efetivamente incluídos da jurisdição do GATT.
Tamanha é a diferença que o acordo do GATT foi assinado por apenas 23 países em
1947, já no acordo constitutivo da OMC, foram 123 os países signatários em Marraqueche em
1994.
15
Além disso, é importante destacar como um ponto fundamental da amplitude e dos
novos rumos das negociações, o princípio do single undertaking5, segundo o qual todos os
países signatários deveriam aceitar todos os acordos como um conjunto não dissociável,
aceitando todos os pontos negociados, diferentemente do que antes era concebido dentro da
esfera do GATT, caracterizado pela “fragmentação”, com vários acordos paralelos sujeitos à
adoção voluntária pelas Partes Contratantes.
O conceito dessa fragmentação é chamado de GATT à la carte, convencionado a
partir da Rodada Tóquio, em que os países poderiam escolher, por exemplo, por aderir ao
código anitdumping da Rodada, e não aderir ao Acordo sobre compras governamentais,
aprovado na mesma rodada. Esta era uma característica do GATT citada por Lafer (1998,
p.18) como o subproduto de natureza estritamente contratual, proveniente do fato de
concepção jurídica entre as partes contratantes.
Com relação à criação da OMC, Casella (1998, p.740) observa que:
A OMC é, em todo caso, uma organização internacional sob todos os aspectos. A sua criação preenche um vazio no setor das relações comerciais e remedia um limite fundamental do anterior sistema GATT. Por conseqüência disso, as regras materiais tornaram-se mais precisas e passaram a vigorar em um âmbito geográfico e setorial mais amplo. Por outro lado, estas serão administradas por um ente que dispõe de poder apropriado de supervisão, de interpretação, soluções de controvérsias, atuação e sanção.
Segundo Thorstensen (2001, p.43), a Organização se constituiu como um foro para a
continuação do processo de negociações na área do comércio, visando sempre uma maior
liberalização do comércio de bens e serviços, além de inúmeros outros temas e principalmente
o comércio eletrônico, objeto desse trabalho.
Torna-se evidente que todas as “novas” funções, ou melhor, uma maneira diferente
de tratar as relações econômicas internacionais, bem como os instrumentos de trabalho e as
formas de tomada de decisão, caracterizam a organização como única do cenário multilateral.
2.2 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
5 O conceito de Single Undertaking está expresso no artigo II, parágrafo 2º, do Acordo de Marraqueche.
16
Após o fim da Rodada Uruguai e, como resultado das negociações comerciais
multilaterais, foi assinada a Ata Final em Marraqueche (Acordo constitutivo da OMC), e seus
quatro anexos, dispostos da seguinte forma:
a) O primeiro é o Acordo sobre Comércio de Bens (anexo 1A), além do Acordo
Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS - anexo 1B) e o Acordo sobre Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs - anexo 1C);
b)O segundo é o entendimento sobre solução de controvérsias (ESC);
c)O terceiro é o Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais;
d)O quarto é composto pelos Acordos Comerciais Plurilaterais, exceções à regra do
“single undertaking” da Rodada Uruguai, firmados por apenas alguns dos Membros da OMC,
embora estejam abertos à adesão dos demais. São eles: Acordo sobre o Comércio de
Aeronaves Civis; Acordo sobre Contratação Pública; Acordo Internacional dos Produtos
Lácteos; Acordo Internacional de Carne Bovina.
Dessa forma, a Organização pretende, acima de tudo, ter seus pilares fixos e
constituídos em torno das negociações comerciais multilaterais.
Segundo Thorstensen (2001, p.42), a OMC pretende ser a coluna mestra do novo
sistema internacional do comércio, agora mais estável e viável, fornecendo as bases
institucionais e legais.
O acordo constitutivo da OMC engloba as regras estabelecidas pelo antigo GATT,
bem como as diversas modificações ocorridas ao longo dos anos, incentivadas pelas reduções
tarifárias e liberalização do comércio, e, claro, os resultados obtidos através da Rodada
Uruguai, a mais ambiciosa e complexa ocorrida no âmbito do antigo acordo.
Conforme definido no GATT 1994, a OMC tem basicamente cinco funções, sendo
estas: a) facilitar e administrar o Acordo Constitutivo, e também os Acordos Multilaterais do
Comércio. Além de constituir um foro jurídico em relação aos Acordos Comerciais
Plurilaterais; b) Ser o foro para negociações em relação aos seus acordos e tratados. Poderá
também servir como foro de negociação entre seus membros acerca de suas relações
comerciais multilaterais; c) Administrar o “Entendimento sobre Solução de Controvérsias
(ESC)”; d) Administrar o Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais, denominado TPRM;
e) Cooperar, em situações cabíveis, com o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, objetivando alcançar maior coerência em
relação à política econômica mundial.
Após a Rodada Uruguai, concluíram-se também, entre 1996 e 1997, três importantes
acordos de liberalização, aplicáveis aos produtos de tecnologia de informação, aos serviços
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básicos de telecomunicações e aos serviços financeiros, os quais serão trabalhados,
principalmente no âmbito da regulamentação do comércio eletrônico, no decorrer dos
próximos capítulos.
Com relação à sua estrutura orgânica, a Organização é composta por uma
Conferência Ministerial, que é o seu órgão máximo e composto por representantes de todos os
membros, reunindo-se no mínimo a cada dois anos. Tem autoridade para tomar decisões sobre
todas as matérias dentro de qualquer um dos Acordos Multilaterais. Desde a criação da OMC
ocorreram quatro Conferências, sendo a primeira em Cingapura, em 1996, uma outra em
Genebra, em 1998, a terceira em Seattle em 1999 e por fim a última realizada em Doha, no
Catar, em novembro de 2001. Vale ressaltar que a maioria das decisões da Conferência
Ministerial são tomadas por consenso, salvo disposição em contrário (Artigo IX do acordo
constitutivo), permitindo decisões por maioria simples e em alguns casos por maioria de dois
terços.
Ainda, em relação ao período de intervalo entre as Conferências, o corpo diretor da
Organização é constituído por um Conselho Geral, no qual representantes de todos os
Membros desempenham as funções da Conferência nesse ínterim. Além disso, o Conselho
Geral pode funcionar como um instrumento para a solução de controvérsias, e também
operando como órgão de exame das políticas comerciais. É integrado por embaixadores e
delegados permanentes das missões em Genebra. Thorstensen (2001, p.45) destaca que o
Conselho Geral, na função específica de Órgão de Solução de Controvérsias, contém sistemas
de regras e procedimentos, prevendo uma fase de consultas entre as partes e se necessário
lança da abertura de painéis para exame das questões.
Sobre o OSC6, o objetivo é reforçar a observância das normas comerciais
multilaterais e a adoção de práticas compatíveis com os acordos negociados. Um conflito é
primeiramente examinado por um painel de árbitros, formado por especialistas (geralmente
diplomatas ou acadêmicos), escolhidos pelos países em litígio ou pelo diretor da OMC. Em
seguida, após as etapas de exames e a consulta as partes, o painel deve elaborar um relatório
provisório podendo sofrer comentários pelas partes. O relatório provisório, já com as
conclusões do painel, será considerado o relatório final, pronto para a circulação entre todos
os membros, se não houver comentários. Assim, caso não haja contestação o relatório deve
ser adotado pelo OSC, do contrário qualquer uma das partes pode recorrer ao Órgão de
6 Para maiores detalhes vide: Entendimento relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias,
(DSU) em www.wto.org
18
Apelação (composto por sete integrantes) que novamente examinará a notificação e submeterá
um novo relatório conclusivo ao OSC. Após essa fase, a parte em litígio terá um período de
30 dias e deverá informar ao OSC suas intenções com relação à implementação das decisões e
recomendações daquele Órgão.
Na seqüência da estrutura organizacional, estão instituídos três órgãos específicos,
fiscalizando áreas de suma importância dentro da OMC, como Conselho de Comércio de
Bens, de Comércio de Serviços e outro para os Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados com o Comércio (TRIPs). Participam desses Conselhos os
delegados dos Membros residentes em Genebra ou integrantes dos países enviados
especialmente para as reuniões.
Diretamente vinculados aos Conselhos, estão cerca de 30 Comitês que desenvolvem
as atividades dentro da OMC, onde se encontram técnicos dos ministérios e delegados
residentes da missão em Genebra. Thorstensen (2001, p.45) ressalta, inclusive, que na última
Rodada de negociações, ocorrida em Doha, em 2001, foi estabelecido através da Declaração
Ministerial, um Comitê de Negociações Comerciais, subordinado ao Conselho Geral da
OMC, com a função de supervisionar o andamento das negociações e que será presidido, em
caráter ex offício, pelo Diretor Geral da OMC até o final da Rodada.
Há ainda a designação de outros Órgãos, criados através das Conferências
Ministeriais, subordinados aos Conselhos ou Comitês.
Por fim, a OMC conta com o apoio de um Secretariado chefiado por um Diretor
Geral, que é indicado pela Conferência Ministerial e vários vice-diretores. O Diretor Geral e o
staff com cerca de quinhentos técnicos da Secretaria, não podem buscar nem aceitar
instruções de qualquer governo ou autoridade externa à OMC.
2.3 O PROCESSO DECISÓRIO NA OMC
Relembrando os princípios do antigo acordo do GATT, o processo de tomada de
decisões dentro da OMC permanece como antes, ou seja, através de consenso (artigo IX do
acordo constitutivo). Entretanto, na falta do alcance do consenso entre os membros, as
questões serão resolvidas através de maioria simples, cada um dos Estados dispondo de um
voto. No caso da Comunidade Européia essa terá o número de votos correspondente ao
número de seus Estados membros.
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As decisões podem ser tomadas com maioria qualificada de três quartos, em alguns
casos como o da interpretação das medidas previstas nos acordos ou ainda, no caso de
derrogações temporárias (waivers) às obrigações impostas a um membro por qualquer acordo.
Quando da acessão de novos membros ou modificações nos acordos o processo de decisão é
ocorre com uma maioria qualificada de dois terços.
A despeito do processo decisório da OMC e principalmente pela manutenção do
princípio do consenso, Lafer (1998, p. 34) afirma que: “O procedimento a ser efetivamente
utilizado é o consenso, e é por isso que foi codificado, como preeminência jurídica, pelo
artigo IX:1 do Acordo de Marraqueche. Consenso é pois o ingrediente básico das normas de
organização da OMC”.
Já Thorstensen (2001, p.47) destaca que existem críticas a tal prática do consenso,
pois obriga toda a instituição a caminhar rumo ao mínimo denominador comum, co-
relacionando os interesses de mais de uma centena de membros.
2.4 ACORDOS DA OMC
Com o término das negociações da Rodada Uruguai, o termo GATT passou a ser
tratado como o conjunto de todas as regras negociadas do Acordo Geral do GATT de 1947,
além de suas modificações até a efetiva criação da Organização em 1995.
Conforme descreve Thorstensen (2001, p.41), o termo deixa de existir como órgão
internacional, porém está vivo como sistema das regras do comércio internacional.
Basicamente, o texto do original Acordo Geral de 1947, além de todos os
entendimentos até o fim da Rodada Uruguai, formam o acordo do GATT 1994, o primeiro
acordo de constituição da OMC. Além disso, todos os outros Acordos principais, negociados
ao fim da Rodada Uruguai, compreendidos aqueles relativos ao GATS (General Agreement
on Trade in Services) e ao TRIPs (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights),
também foram incluídos como anexos ao Acordo da OMC.
De acordo com Casella (1998, p.57), “o acordo geral e os instrumentos jurídicos a ele
anexados que formam o GATT-1994, aqueles relativos ao GATS e ao TRIPs são ‘parte
integrante’do Acordo sobre a OMC e são vinculantes unicamente para todos os Estados que
pretendem aderir a tal Organização (artigo II.2 do Acordo da OMC)”.
A OMC tem o encargo de administrar duas categorias de Acordos: os Acordos
Multilaterais e os Plurilaterais.
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a) Acordos Multilaterais:
São os acordos e instrumentos jurídicos conexos incluídos nos anexos 1, 2 e 3 que
formam parte do Acordo Constitutivo da OMC e são vinculantes para todos os membros.
TABELA 1: ACORDOS M ULTILATERAIS
ANEXOS ACORDO ÓRGÃO
Acordos multilaterais sobre o comércio de bens:
Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio de 1994 (GATT 94)
Conselho sobre Comércio de Bens
Acordo sobre a Agricultura Comitê sobre Agricultura
Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
Comitê sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
Acordo sobre Têxteis e Confecções Órgão para o Monitoramento de Têxteis
Acordo sobre Obstáculos Técnicos ao Comércio Comitê sobre Barreiras Técnicas ao Comércio
Acordo sobre as Medidas em Matéria de Investimentos Relacionadas com o Comércio
Comitê sobre Medidas de Investimentos Relacionadas ao Comércio
Acordo sobre a Aplicação do Artigo VI do GATT (dumping)
Comitê sobre práticas Anti-dumping
Acordo sobre a Aplicação do Artigo VII do GATT (valoração aduaneira)
Comitê sobre Valoração Aduaneira
Acordo sobre a Inspeção Prévia à Expedição Entidade Independente Estabelecida pelo Acordo sobre Inspeção Pré-embarque
Acordo sobre Normas de Origem Comitê sobre Regras de Origem
Acordo sobre os Procedimentos para o Trâmite de Licenças de Importação
Comitê sobre Licenças de Importação
Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias
Comitê sobre Subsídios e Medidas Compensatórias
Anexo 1A
Acordos sobre Salvaguardas Comitê sobre Salvaguardas
Anexo 1B Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços e Anexos – GATS
Conselho sobre Comércio de Bens e Serviços
Anexo 1C Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio – TRIPs
Conselho sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio
Anexo 2 Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos que Regem a Solução de Controvérsias
Órgão de Solução de Controvérsias (função do Conselho Geral)
Anexo 3 Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais Órgão de Revisão de Política Comercial
Fonte: OMC, The WTO in Brief, 2002. www.wto.org
b) Acordos Plurilaterais do Comércio:
Anexo 4: Acordo sobre o Comércio de Aeronaves Civis, Acordo sobre Contratação
Pública, Acordo Internacional dos Produtos Lácteos, Acordo Internacional de Carne Bovina.
Os acordos relacionados no Anexo 4 são de adesão voluntária e foram excluídos da
concepção unitária.
3 O COMÉRCIO ELETRÔNICO E A OMC
3.1 DEFINIÇÃO DO TEMA
O primeiro pensamento que vem à mente sobre o comércio eletrônico é de lojas
virtuais e a idéia de se fazer compras sem sair de casa.
Mas, para diversos autores, o comércio eletrônico é antes de tudo uma nova maneira
de realizar transações comerciais, tendo o mundo como mercado. Isto não era preocupação de
nenhum especialista em comércio e surge como algo “novo”, principalmente dentro da OMC.
Surgem vários questionamentos e debates sobre a aplicação ou não de taxas e impostos
cobrados nas transações comerciais normais.
Em uma acepção mais ampla, pode-se dizer que o comércio eletrônico abrange todas
as relações comerciais que, de uma forma ou de outra, utilizam equipamentos, mídias ou
serviços compreendidos em telecomunicações.
De acordo com Thorstensen (2001, p.351), os principais instrumentos de comércio
eletrônico são: telefone, fax, televisão, sistemas de pagamento e transferência de moeda, troca
eletrônica de dados incluindo informações e documentos e Internet. Nesse sentido, comércio
eletrônico é definido, conforme o Programa de Trabalho da OMC, como a produção,
propaganda, venda e distribuição de produtos através de redes de telecomunicações.
“A transação eletrônica compreende três estágios: a busca que permite a interação de
consumidor e fornecedor; o pedido que inclui o pagamento através de meio eletrônico; e a
entrega que pode ser feita eletronicamente, como no caso de produtos digitalizáveis como
programas de computação, música, filmes, ou via correio ou entrega especial como livros,
flores, roupas, eletrodomésticos ou até mesmo carros” (THORSTENSEN 2001, p. 351).
Entretanto, caracterizar o comércio eletrônico traz logo à idéia de Internet e todos os
seus avanços com relação à redução de barreiras na comunicação. Mas comércio eletrônico
não é somente Internet, apesar de ser esse o meio principal e mais difundido atualmente. Com
a Internet as negociações podem ser conduzidas em apenas um ambiente, através de texto,
22
dados, voz e imagens, fazendo com que essa seja um meio muito mais versátil de
comunicação do que os outros meios dentro do comércio eletrônico.
Para regular a matéria, é necessário envolver todo o comércio feito por meios
tecnológicos de telecomunicações, como já definido pela OMC. Porém, mesmo na própria
OMC, a ênfase é sempre maior em relação à Internet, considerada a principal de todas as vias
de comércio eletrônico, e a razão das maiores batalhas na regulamentação do que será o
comércio no futuro.
Mike Moore, atual Diretor Geral da OMC, em um de seus discursos descreveu o
conceito a ser estudado em relação ao comércio eletrônico e também à Internet. Moore
destaca que: “a Internet está crescendo e a OMC está aumentando seu envolvimento com o
comércio eletrônico, nossa responsabilidade para isso é limitada e especializada. Nós não
estamos no negócio de regulação da Internet e nunca deveremos estar” (WTO, 2000) 7. Ou
seja, é explícita a preocupação da OMC apenas em relação aos rumos e a regulamentação do
comércio eletrônico e não na Internet, pois essa dota de característica muito mais ampla, e de
um espaço de “livre” comunicação.
Mesmo assim, para citar apenas como exemplos de comércio eletrônico através de
outras vias, basta dizer da possibilidade de se comprar pelo telefone passagens áreas, ou
mesmo utilizar o disque horóscopo. Ainda vale citar todas e quaisquer trocas eletrônicas de
dados, que podem decorrer de compra ou mesmo por uma negociação, sem utilizar a Internet
e nem mesmo qualquer tipo de rede pública, pois hoje há no ramo da Internet, um forte
conceito de redes virtuais, chamadas de VPNs, que interligam dois ou mais pontos e podem
permitir a comunicação por meio de interconexão de redes diferentes sem sequer passar pela
Internet8.
Mas, no mundo das telecomunicações, ou no mundo virtual, a idéia de espaço é
puramente abstrata e é a Internet, criada principalmente com o intuito de pesquisa pelas
grandes universidades9, que hoje desperta maior interesse e que passa a dar lugar a um espaço
puramente comercial.
7 Do original: “The Internet is growing and the WTO is increasingly involved with electronic
commerce, our responsibility for it is limited and specialised. We are not in the business of regulating the Internet and we never shall be” (WTO, 2000).
8 Para maiores referências vide: www.matrix.com.br / www.brasiltelecom.com.br/ ww.embratel.com.br.
9 A popularização da Internet ocorre através das grandes universidades, mas a origem da Internet se dá
em meados de 1960 quando novas maneiras de comunicação foram vistas. Em 1969, a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) foi criada entre quatro Universidades americanas com suporte do departamento de defesa. A ARPANET permitia a comunicação entre usuários através do “Protocolo de Controle de Rede” no qual convertia, a partir de sua origem, mensagens em pacotes e os decodificava novamente em mensagens em seu destino. Durante a primeira década, a ARPANET foi principalmente usada para facilitar o
23
De acordo com Kaku (2000, p.157), o comércio eletrônico é antes de tudo um novo
meio de realizar transações comerciais, apenas de forma bastante barata e tendo o planeta
como mercado, especialmente para quem estiver conectado à Internet.
Também é importante frisar que o comércio eletrônico, apesar de ser tema de estudo
recente inclusive na OMC, ao contrário do que imaginam alguns, não nasceu recentemente,
com a Internet considerada num ambiente mais comercial. No Brasil, o comércio eletrônico é
praticado há cerca de 15 anos, por grandes corporações, através de outras tecnologias, sendo a
mais expressiva o EDI - Electronic Data Interchange10 ou a Troca Eletrônica de Dados.
Muito se estima11 em relação ao comércio eletrônico mundial e no futuro, inclusive em
relação às altas cifras e montante de capital investido ao redor do mundo. Além disso, é
necessário ressaltar que boa parte do crescimento desse comércio eletrônico deve ser
creditado à massificação de uso de computadores e à presença da Internet num ambiente mais
comercial em centenas de corporações em boa parte do globo.
correio eletrônico (o primeiro foi enviado em 1972), possibilitar discussões de grupos on-line, permitir o acesso a base de dados dis tantes, e a transferência de arquivos entre agências do governo, companhias e universidades. O Pentágono se tornou ligeiramente interessado na ARPANET como ferramenta de comunicação em época de guerra, mas essa idéia foi rapidamente abandonada. Durante o início dos anos de 1980, o protocolo TCP/IP foi criado e no qual estabelecia padrões para o fluxo de informações enviadas pela rede e permitia a identificação de usuários através dos endereços de Internet ou domínios. Isso proveu um crescimento entre a comunicação de várias redes interconectadas e, então deu origem ao nascimento da Internet. Do original: The origins of the Internet go back to the 1960s when new ways of communicating between researchers were sought. In 1969, the ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) was established between four U.S. Universities with support from the Department of Defense. The ARPANET allowed communication between users through the “Network Control Protocol” which converted messages into streams of packets at the source, and then reassembled them back into messages at the destination. During the first decade, the ARPANET was mainly used to facilitate e-mail (the first one was sent in 1972), support online discussion groups, allow access to distant databases, and support the transfer of files between government agencies, companies and universities. The Pentagon became briefly interested in the ARPANET as a wartime communication tool, but this idea was quickly abandoned. During the early 1980s, the TCP/IP protocol was introduced, which set standards for the flow of information across networks and allowed the identification of users through Internet addresses or domain names. This gave rise to communication between various interconnected networks and, thus, the Interne t was born. (BACCHETTA, 2001, p.10).
10 Criado pela indústria de transportes nos Estados Unidos, no início dos anos de 1970, o EDI
compreende a troca de documentos e informações entre computadores de dois negócios sem a intervenção humana. Lojas tais como WalMart utilizam essa tecnologia para conectar seus fornecedores diretamente dentro de suas bases de estoque.
Do original: “Created by the trucking industry in the United States in the early 1970s, EDI entails the exchange of documents and information between the computers of two businesses without human intervention. Stores such as WalMart use the technology to link their suppliers directly into their stock databases” (PANAGARIYA, 2000, p.2).
11 Para o momento, uma pesquisa da Forrester argumenta que até o ano de 2004 aproximadamente 1,4
trilhões de dólares em exportações serão feitas online. Isso corresponde a aproximadamente 18% da exportação global .Do original: Forrester Research, for instance, argues that until the year 2004 approximately 1.4 trillion US$ of exports will be traded online. This corresponds to the claim that in 2004 close to 18 % of global exports will be undertaken online (FORRESTER, 2000).
24
3.2 BENEFÍCIOS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO
Em relação ao e-commerce, tratar especificamente de suas características, benefícios e
soluções, é objeto essencial numa análise para sua regulamentação e descrição da matéria
como um todo.
Sem dúvida é o comércio, através da Internet, que desperta o maior interesse da
sociedade e tem suscitado inúmeras discussões, nos mais diversos setores, através de
inúmeros artigos, seminários, palestras e principalmente na OMC, com uma grande
quantidade de documentos de trabalho remetidos por diversos países.
O primeiro motivo para essa atenção é, certamente, a relevância que essa nova
possibilidade de comércio assumiu no cenário mundial de economias globalizadas, em que a
eficiência e a aproximação das pessoas, com a diminuição virtual da distância real entre
produtores, prestadores de serviços, comerciantes e consumidores finais tornou-se não só
estratégica, mas até mesmo imprescindível para a sobrevivência das atividades empresariais.
Conforme Daniels (1996, p.150), a globalização é mais do que fazer negócios em
determinado número de países em todo o mundo. A globalização envolve fazer negócios em
todo o mundo, de uma nova maneira.
Nesta caracterização de comércio eletrônico, ou simplesmente e-commerce, temos
benefícios logísticos que podem agilizar o dia -a-dia, tornando a sociedade um tanto quanto
mais dinâmica. Segundo Kaku (2000, p.160), a ausência de filas, os não deslocamentos, a
possibilidade de fim dos problemas de trânsito nos grandes centros, são alguns dos fatores que
podem estar presentes no cotidiano social. Além disso, o comércio eletrônico, com seu poder
de integrar fornecedores, clientes e consumidores e interligar as diferentes localidades, sem
restrição de tempo, viabiliza também a globalização das inúmeras organizações.
Porém, por outro lado, o crescimento deste mesmo comércio muitas vezes traz
inúmeros pontos negativos como atraso na entrega de produtos adquiridos eletronicamente,
cancelamento de pedidos, desconsideração das mensagens de reclamação, ofertas de estoque
esgotado, e outros.
Assim, isto se torna ainda mais problemático se pensarmos na compra feita
eletronicamente no exterior. Conforme Kaku (2000, p.161), alguns produtos comprados fora
do país podem sofrer taxações referentes à importação e nesse caso, o consumidor é tratado
como importador, devendo pagar taxas de desembaraço aduaneiro, impostos sobre produtos
importados, etc.
25
Mesmo assim, os benefícios que essa “nova” tecnologia pode prover são enormes e
ainda pode favorecer mais a competição e fortalecer o crescimento das economias que
desfrutam dessa nova modalidade de comércio.
A OMC destaca que inclusive as transações internacionais, fruto basicamente do
capitalismo, são facilitadas através do comércio eletrônico entre os países. São facilidades
justificadas pela grande variedade de produtos que podem ser negociados, aliados à redução
de tempo e custo dos processos tradicionais de embarque de mercadorias (shipping).
Em suma, a evolução do comércio eletrônico trouxe mudanças significativas dos
pontos de vista estratégico, econômico e comunicativo, os quais podem em alguns casos
reluzir pontos negativos, mas, na maioria das vezes, destacar os pontos positivos.
Nesse sentido, Bacchetta (2001, p.1) cita que: “a expansão contínua dessa tecnologia
será acelerada significantemente através de redução de custos ocasionada pelo contínuo
avanço técnico, o qual, combinado com o aumento da eficiência guiados pela concorrência,
irá trazer benefícios significantes para os consumidores através de baixos preços e melhores
escolhas.” 12
3.3 PONDERAÇÕES SOBRE O COMÉRCIO ELETRÔNICO
Apesar das altas expectativas de crescimento para os anos seguintes, o
desenvolvimento da Internet aliada ao comércio eletrônico como sendo além de um meio de
diminuição de custos, surge como mais um passo para a redução de mão-de-obra, podendo
gerar um corte exorbitante nas empresas tradicionais em vias de implantação de seu comércio
virtual, ocasionando assim mais desemprego.
Por esse ponto de vista, a Internet e o comércio eletrônico, hoje em destaque, podem
causar danos significativos ao comércio tradicional. Sua evolução, regulamentação e a relação
entre os países em desenvolvimento, devem ser feitas cuidadosamente, bem como observada
de forma constante, ao ponto em que a OMC consiga garantir através de seu Programa de
Trabalho, que os países em desenvolvimento possam aproveitar ao máximo os benefícios da
tecnologia.
12 Do original: The spread of this technology will be accelerated significantly through cost reductions
occasioned by continuing technical advance, which, combined with increased efficiency driven by competition, will bring significant benefits to consumers through lower prices and greater choice.
26
Está é a posição final da Organização, pois conforme Moore (2000), a Internet oferece
novas oportunidades para que as pessoas melhorem suas vidas, encurtando distâncias,
facilitando a troca de informações e o acesso a mercados, mas não deve haver ilusão nisso,
pois o crescimento da Internet pode causar o aumento da marginalização e da pobreza
mundial, a menos que sejam tomadas atitudes para que todos tenham acesso a Internet 13.
Moore (2000) complementa que, a “Internet é maravilhosa e que a OMC tem por
objetivo promover o seu desenvolvimento e ajudar para que tanto os países ricos como os
pobres possam se beneficiar dela”. 14
Mas, não cabe a OMC consertar e atuar na distância tecnológica existente entre os
países hoje em dia. Porém, é necessário fomentar o acesso a infra-estrutura e o livre comércio,
seja ele eletrônico ou não, através dos seus acordos e o amplo foro multilateral, sua principal
característica.
3.4 O PROGRAMA DE TRABALHO DA OMC SOBRE O COMÉRCIO
ELETRÔNICO
As primeiras questões relativas ao comércio eletrônico apareceram primeiramente na
primeira Conferência Ministerial acontecida em Cingapura, em 1996, onde a Declaração
Ministerial de Comércio e Tecnologia da Informação foi adotada. Esta, também conhecida
como Acordo de Tecnologia da Informação, ou em inglês, Information Tecnology Agreement
(ITA)15, trata sobre liberalização de alguns produtos essenciais como hardwares (maquinário
de computação), para o comércio eletrônico até o ano de 2000, e também liberalização de
serviços de telecomunicações, do qual depende a Internet.
13
Do original: The Internet offers new opportunities for people to better their lives: linking distant markets and creating entirely new ones, bringing remote people together and helping people share more information. But we should be under no illusions about its ubiquity. The growth of the Internet can also increase the marginalisation of the world's poor, unless we take steps to ensure they get access to the Internet too.
14 Do original: The Internet is a wonderful thing. We at the WTO aim to do our best to promote rather
than hinder its development and to help the poor as well as the rich benefit from it. 15
“O acordo foi assinado para por em aplicação a Declaração Ministerial da OMC sobre o Comércio de Produtos de Tecnologia da Informação, no qual foi acordado reduzir os direitos aduaneiros sobre produtos de informática e de telecomunicações até o ano de 2000. O acordo abrange os computadores, semicondutores, suportes físicos de telecomunicações, suportes lógicos de computadores, equipamentos para fabricação de semicondutores, instrumentos científicos. Além dis so, o Acordo de Tecnologia da Informação abrange caixas registradoras, equipamentos para tratamento de textos, etc.., mas não abrangendo equipamentos eletrônicos de grande consumo”. (KAKU, 2000, p.174)
27
Já com o importante crescimento do comércio eletrônico nas negociações globais, os
membros da OMC adotaram uma declaração sobre o e-commerce mundial em 20 de maio de
1998, na segunda Conferência Mundial em Genebra na Suíça. A Declaração direcionou o
Conselho Geral da Organização a estabelecer um programa progressivo de trabalho sobre a
disciplina, além de examinar e relatar todos os acontecimentos dentro do comércio eletrônico
mundial.
Através dessa Declaração, as práticas correntes de não impor direitos aduaneiros sobre
transmissões eletrônicas foram continuadas, e também ficou decidido que a revisão da
Declaração seria feita concomitantemente com a evolução do Programa de Trabalho.
O Programa de Trabalho da OMC sobre o comércio eletrônico foi adotado pelo
Conselho Geral em 25 de setembro de 1998, o qual designou quatro organismos para analisar
as questões relativas a essa matéria. São eles: O Conselho sobre Comércio de Bens (GATT), o
Conselho sobre Comércio de Serviços (GATS), Conselho sobre os Direitos da Propriedade
intelectual (TRIPs) e o Comitê para Comércio e Desenvolvimento.
Cada órgão deve examinar basicamente o que estiver em relação ao seu quadro legal
dos respectivos acordos.
Entretanto, a principal questão é em relação à definição dos produtos em comércio
eletrônico, que de acordo com os documentos formulados pela OMC (proposta dos países,
relatórios de progressão dos órgãos, entre outros) devem ser tratados prioritariamente em
relação a qualquer debate no âmbito da Organização. Toda a questão está centrada no que
tange às definições e distinções entre bens e serviços, ligados ao tema do comércio eletrônico,
além de uma limitação da responsabilidade de cada Conselho (principalmente GATT e
GATS) ou Comitê a respeito dos “produtos” comprados eletronicamente, e que cruzam as
fronteiras dos países (cross-border delivery).
Existem alguns produtos que são comprados através da Internet e entregues
fisicamente, os chamados produtos tangíveis, como roupas, computadores e flores. Esses
produtos claramente podem ser considerados como mercadorias, e, portanto, serem analisados
e submetidos às regras do Conselho sobre Comércio de Bens (GATT)16. Por outro lado, há
16
Exceto pela compra e o pagamento dos mesmos, essas transações são tratadas como venda de bens, e as regras do GATT são aplicáveis. A ambigüidade acontece somente quando as mercadorias são entregues pela Internet. Do original: “ Except for the order and payment themselves, these transactions are treated as goods trade and the GATT discipline applies to them. The ambiguity arises only when the goods are delivered on Internet (PANAGARIYA, 2000, p.4)”.
28
uma série de produtos e também serviços que podem ser digitalizados. Ou seja, produtos tais
como músicas, softwares e mesmo e-books (livros digitalizados), são comumente
transacionados e “baixados” pela Internet, e a entrega é feita de forma digital, o que remete à
questão central para a Organização, no que concerne à própria natureza do comércio
eletrônico. Em outras palavras, os produtos entregues de forma digital são realmente
classificados como produtos tangíveis ou outro tipo de produto que requer outra classificação?
Essas questões vêm sendo tratadas pelos três Conselhos e pelo Comitê de Desenvolvimento.
Dentro dessa ótica é que estão as propostas dos países e os relatórios elaborados pelos
órgãos em relação à taxação ou não de produtos negociados no campo do comércio eletrônico.
3.4.1 O COMÉRCIO ELETRÔNICO NO GATS
No que se refere ao GATS, várias transações de comércio eletrônico já foram cobertas
pelo acordo. A ênfase está principalmente nos serviços digitais distribuídos através da
Internet, nas áreas de entretenimento, consultoria financeira, telecomunicações, entre outros.
Tão logo a questão seja submetida à esfera do GATS, é necessário decidir em qual modo (ver
tabela abaixo) o serviço deve ser registrado. Geralmente os serviços em comércio eletrônico
estão relacionados ao modo 1 e também especialmente ao modo 2, porém podem ocorrer
ocasiões onde também estarão ligados aos modos 3 e 4.
Segundo Hauser (2001, p.8), a classificação do modo define a origem da legislação
que deve ser aplicada em relação à transação efetuada.
TABELA 2: DEFINIÇÃO DOS M ODOS NO GATS
Modo 1: prestações transfronteiriças (cross-border supply) : o serviço é prestado do território de um membro da OMC para o território de qualquer outro membro da Organização.
Modo 2: serviços de consumo no exterior (consumption abroad): o serviço é consumido no país de origem da prestação do serviço, mas por um consumidor de outro país membro).
Modo 3: presenças comerciais (commercial presence): o serviço é entregue /executado por um membro da OMC, via uma subsidiária estrangeira para algum outro membro da Organização.
Modo 4: circulação de pessoas físicas (movement of natural persons): o serviço é oferecido por qualquer pessoa de um dos membros da Organização em um outro país.
Fonte: Hauser, 2001, p.8
29
De um modo geral, são muitos os artigos do acordo do GATS afetados pelos
progressos e pela negociação do comércio eletrônico no âmbito da OMC. Isto inclusive
incentiva alguns países, como os membros da UE, a submeterem suas propostas de modo a
classificar que as transações efetuadas em comércio eletrônico devem ser principalmente
caracterizadas como serviços.
Alguns autores como Panagariya acreditam17 que a classificação dos “produtos” que
são negociados pelo comércio eletrônico, ou mesmo pela Internet, devem ser enfocados na
esfera do GATS. Segundo a autora, dois pontos são chaves para justificar sua opinião: o
primeiro é que a partir do momento que o produto é negociado pela Internet e cruza a
fronteira de dois países, isso não se caracteriza como uma negociação de bens. Mesmo que a
partir dessa transação o “produto” negociado venha a ser transformado em um bem físico
(como CDs e livros), isso não quer dizer que no instante em que a transação comercial foi
executada (troca de informações), cruzando uma das fronteiras, esse produto sofra qualquer
mutação adquirindo uma forma física. Ou seja, ao executar a transação comercial, o produto
permanecerá de forma digital, e posteriormente poderá se tornar especificamente um bem
físico.
De fato, isso faz grande sentido num contexto de classificação do comércio eletrônico,
pois muitos dos “produtos” transacionados eletronicamente independentemente de sua forma
física, são parte de um ato de negociação, através de uma ferramenta específica, e, portanto,
os sites de comércio eletrônico tornam-se prestadores de serviços, sendo de produtos tangíveis
ou mesmo intangíveis.
Ainda assim, em segundo lugar, Panagariya (2000, p.5) destaca que “a vantagem de
adotar esse tipo de definição é permitir que sejam evitadas futuras disputas em relação à
classificação de certas transmissões como bens intangíveis ou mesmo serviços” 18.
17
“Em minha opinião, no balanço, faz mais sentido classificar todas as transmissões eletrônicas como serviço. Em um lado, toda a vez que uma transmissão via Internet cruza a fronteira de dois países, elas não tem uma forma fisicamente negociada. A eventual transformação dessa transmissão em um bem, tal como livros ou CD, não nega o fato de que na fronteira a transmissão não possuía uma forma física”. Do Original: “In my judgement, on balance, it makes more sense to define all electronic transmissions as services. At one level, it may be argued that at the time Internet transmissions cross the border between two countries, they do not have a physically traded counterpart. The eventual transformation of the transmission into a good such as a book or CD does not negate the fact that at the border the transmission did not have a physically traded counterpart ” (PANAGARIYA, 2000, p.4).
18 Do original: “The key advantage of adopting the across-the-board definition is that it is clean and
minimizes possible disputes that may arise from countries wishing to have certain transmissions classified as intangible goods and others as services ” . (PANAGARIYA, 2000, p.5).
30
A tabela abaixo mostra os artigos do GATS que estão potencialmente relacionados e
são afetados com o progresso do comércio eletrônico, e as considerações do próprio Conselho
sobre Comércio de Serviços sobre o Programa de Trabalho em relação aos artigos do Acordo.
TABELA 3: ARTIGOS RELACIONADOS AO COMÉRCIO ELETRÔNICO NA ESFERA DO GATS
ARTIGOS CONSIDERAÇÕES Artigo I – Definição e Alcance o acordo aplica-se a todos os serviços,
independente da maneira que eles são entregues (prestados); a entrega eletrônica de serviços pode se estabelecer em qualquer um dos quatro modos de serviços.19
Artigo II – Tratamento da Nação mais Favorecida A visão geral é que todos os princípios do GATS, incluindo o Tratamento da Nação mais Favorecida são aplicáveis ao fornecimento de serviços por meios eletrônicos.20
Artigo III – Transparência --------------------- Artigo IV – Participação dos países em
desenvolvimento A implementação do artigo IV deve acontecer através da liberalização do acesso a mercados em áreas de interesse para exportação, e melhores condições de acesso à tecnologia, incluindo tecnologia relativa à criptografia e segurança das transações, e a serviços eficientes de telecomunicações.21
Artigos VI e VII – Regulamentos domésticos e Reconhecimento
é crucial que se mantenha um meio termo entre o direito dos membros de regular e o necessário para que essas medidas de Regulamentos domésticos, não constituam barreiras desnecessárias ao comércio.22
Artigos VIII e IX – Monopólios e os prestadores exclusivos.
Monopólios e práticas restritivas de negócios podem colocar obstáculos ao comércio eletrônico.23
Artigo XIV – Exceções Gerais – Proteção da moral privada e pública e prevenção de fraude
Medidas tomadas pelos membros não devem ser mais restritivas do que o necessário para cumprir tais objetivos. Elas também não devem constituir
19
Do original: “(...) since the Agreement applies to all services regardless of the means by which they are delivered, and that electronic delivery can take place under any of the four modes of supply ” (WTO, 1999h).
20 Do original: “(...) the general view that all general GATS provisions, including the MFN obligation,
are applicable to the supply of services through electronic means” (WTO, 1999h). 21
Do original: “(...) the implementation of Article IV of the GATS throughthe liberalization of market access in areas of export interest to them and through better access to technology, including technology relating to encryption and security of transactions and to efficient telecommunication services” (WTO, 1999h).
22 Do original: “(...) in the area of domestic regulation it is crucial to maintain a balance between the
right of Members to regulate and the need to ensure that domestic regulatory measures do not constitute unnecessary barriers to trade ” (WTO, 1999h).
23 Do original: “(...) monopolies and restrictive business practices might pose obstacles to electronic
commerce” (WTO, 1999h).
31
arbitrariedade, discriminação injustificada, ou promover restrições no comércio de serviços.24
Artigos XVI e XVII – Compromissos Específicos – Acesso a mercados no fornecimento de serviços
eletrônicos.
É entendimento geral que o compromisso do Tratamento Nacional cobre o fornecimento de serviços através de meios eletrônicos.25
Anexo sobre Telecomunicações Acessar e usar as redes públicas de transporte de Telecomunicações e Serviços. 26
Fonte: OMC, Conselho sobre Comércio de Serviços (S/L/74), 1999.
3.4.2 O COMÉRCIO ELETRÔNICO NO GATT
Já com relação ao GATT estão atribuídas à esfera do acordo as seguintes questões: as
transações no comércio eletrônico, principalmente o acesso de mercados para produtos
relacionados ao comércio eletrônico; valoração aduaneira; licenças de importações; direitos
aduaneiros, outros direitos e taxas sobre importações; padrões relacionados ao comércio
eletrônico; regras de origem e classificação de bens.
A essência do GATT busca a redução ou eliminação de tarifas através do tempo, e isso para
alguns países, como os EUA, pode ser importante para a negociação do comércio eletrônico no
âmbito da Organização. Ou seja, os princípios do Tratamento Nacional e da Nação Mais Favorecida
são obrigações gerais dentro do escopo do GATT, e, portanto, os países membros aceitando essa
negociação na esfera do acordo do GATT, perderão o direito sobre qualquer discriminação de
produtos importados através de meios eletrônicos, principalmente pela Internet.
Nesse sentido, a tabela abaixo objetiva mostrar alguns dos principais itens que fazem a
diferença do tratamento de alguns assuntos, relativos ao comércio eletrônico na esfera do GATT ou
do GATS, e que são fonte inesgotável dos debates no Programa de Trabalho hoje vigente na
Organização.
24
Do original: “(...) measures taken by Members must not be more trade restrictive than necessary to fulfill such objectives. They also must not constitute a means of arbitrary or unjustifiable discrimination, or a disguised restriction on trade in services ” (WTO, 1999h).
25 Do original: “(...) it is a general understanding that national treatment commitments cover the supply
of services through electronic means” (WTO, 1999h). 26
Do original: “Access to and use of public telecommunications transport networks and services” (WTO, 1999h).
32
TABELA 4: DIFERENÇA ENTRE ASSUNTOS NO GATT E NO GATS
ASSUNTOS GATT GATS
Tarifas Eliminação Progressiva e tendência a zerar.
Não são reconhecidas
Licenciamento Dos importadores: Regras Dos fornecedores: existência de princípios
Restrições Proibidas Eliminação progressiva: são permitidas quando os governos
querem manter algumas restrições ao acesso de
mercados27.
Tratamento Nacional Obrigatório Depende do compromisso específico que foi feito em relação a um tipo de setor.
Subsídios Regulado Podem ter efeitos distorcivos no comércio de serviços. Mas o
princípio do Tratamento Nacional pode ser aplicado,
quando necessário.
Fonte: OMC, Implications of Classification Issues, 2002. www.wto.org
3.4.3 O COMÉRCIO ELETRÔNICO NO TRIPS
Sobre o acordo de TRIPs estão relacionados os temas sobre proteção e cumprimento
legal de proteção aos direitos autorais, proteção às marcas, e acesso a novas tecnologias.
Inclusive vale ressaltar que o comércio eletrônico tem contribuído principalmente no
surgimento de novos temas, como unauthorised downloading, que não constava no acordo de
informática (ITA) e que está na pauta de futuras negociações entre os membros da
Organização.
Ainda com relação ao acordo de TRIPs, é importante destacar que com o avanço do
comércio eletrônico, o crescimento de troca de informações, e mesmo documentos pela
Internet, tem colaborado para que algumas questões referentes ao direito da Propriedade
Intelectual sejam resguardadas, tanto no âmbito nacional como internacional.
27
Os membros só podem impor restrições onde compromissos específicos de acesso a mercados não forem assumidos.
33
Segundo Bacchetta28 (1998, p. 61), “entre os questionamentos que surgem estão os
problemas em relação à dificuldade na determinação da lei aplicável em certas situações”,
pois mesmo que os problemas sejam limitados a assuntos como marcas registradas e direito
de Propriedade Intelectual, isso reflete a própria dificuldade de se caracterizar leis específicas
de cada lugar, devido a característica global adquirida pela Internet.
Além disso, as propostas americanas estão mais tendentes a apontar que questões
relativas ao direito da Propriedade Intelectual, bem como marcas e patentes, já são abordados
pela WIPO (World Intellectual Property Organization), ou em português, OMPI, e, portanto,
estariam numa esfera mais avançada de negociações, não cabendo ao Programa de Trabalho
rever tudo isso. Por outro lado, propostas como da UE remetem muito mais ao foco do
Programa de Trabalho questões do direito a Propriedade Intelectual, além de outros tópicos
relacionados a segurança, autenticação e também privacidade de dados.
Conforme o relatório de trabalho enviado pelo Conselho de TRIPs ao Conselho Geral
(WTO, 2000k, p.2), o Conselho de TRIPs ainda conduzirá os trabalhos e estudos relativos ao
avanço de questões sobre o direito da Propriedade Intelectual que surgem em conexão com o
comércio eletrônico. Mas, também reconhece os importantes estudos efetuados por diversas
Organizações Internacionais sobre o tema até então, e considera que estudos futuros feitos em
relação à matéria, devem ser guiados em trabalho conjunto com a OMPI, e feita uma análise
de seus acordos.
3.4.4 O COMÉRCIO ELETRÔNICO NO COMITÊ PARA COMÉRCIO E
DESENVOLVIMENTO
O Comitê para Comércio e Desenvolvimento analisa questões ligadas ao
desenvolvimento do comércio eletrônico, considerando as necessidades econômicas e
financeiras dos países em desenvolvimento, como também os efeitos causados pelo próprio
avanço do comércio eletrônico nessas economias. Compreende o incentivo aos países em
desenvolvimento para colaboração acerca do tema, concomitantemente com os interesses
nacionais.
28
Do original: “Among the issues that have arisen are the problems that concern the difficulties in determining the applicable law in certain situation” (BACCHETTA, 1998, P.61).
34
3.5 CONSIDERAÇÕES ATUAIS SOBRE O PROGRAMA DE
TRABALHO EM COMÉRCIO ELETRÔNICO
Após as explicações e exposições acerca da estrutura de trabalho para regulamentação
do comércio eletrônico no âmbito da OMC, é importante ressaltar e analisar alguns pontos
que são considerados temas essenciais nas futuras rodadas de negociação na Organização.
Conforme Thorstensen (2001, p.356-357), o tema tem sido amplamente discutido após
a Conferência Ministerial de Genebra em 1998, e de lá pra cá, alguns pontos merecem atenção
especial na continuação dos debates, chamados de checklist of issues (WTO, 1999).
São vários os pontos tratados como Agenda Futura para o tema comércio eletrônico,
tais como: a importância de estabelecer no programa de trabalho dispositivos identificados já
existentes na OMC ou mesmo criação de novos dispositivos a serem melhor adequados.
Também analisar e melhor compreender os impactos do comércio eletrônico nas esferas
regional, nacional, bilateral e global. Avaliar os direitos e obrigações dos Estados membros
nos acordos existentes perante o avanço do comércio eletrônico. Enfatizar o desenvolvimento
no aspecto de infra-estrutura, bem como o fortalecimento dos países em desenvolvimento em
relação ao amplo acesso de mercado, garantias nas oportunidades de negócios em comércio
eletrônico, para que não se tornem conflitantes com o comércio tradicional. Inclui-se também,
a garantia de acesso aos países em desenvolvimento, e a contínua evolução tecnológica e
avanços na área de segurança, encriptografia etc. E, por fim, considerações em relação às
receitas tarifárias e outros aspectos fiscais, relativos ao tema de comércio eletrônico.
Desse ponto de vista, entende-se que há muito por fazer, mas principalmente urge a
necessidade de respostas relativas aos questionamentos já apresentados no início do Programa
de Trabalho, em 1998, e que para alguns autores ainda continuam sem definição.
Nesse sentido, Hauser analisou alguns pontos em seu artigo, A call for a WTO E-
commerce Initiative (2001), desde que o assunto vem sendo abordado na Organização e
precisamente sobre a questão de uma falta de atitude mais ativa da OMC perante a
regulamentação do comércio eletrônico, cada vez mais evoluído.
Segundo Hauser (2001, p. 20), os esforços feitos até agora não compreendem
realmente o desenvolvimento do comércio eletrônico no âmbito da Organização. O Programa
de trabalho sobre o comércio eletrônico tem tomado uma forma muito mais reativa do que
pró-ativa nas questões de negociações eletrônicas.
35
De certa forma, o programa, desde sua implementação, produziu muito pouco em
conclusões e definições em relação a evolução do e-commerce até os dias atuais. Hauser
(2001 p.21) considera que até mesmo a moratória sobre transações de produtos em comércio
eletrônico é questionável, principalmente depois da quebra das negociações em Seattle.
Em recente estudo sobre as evoluções constantes do programa de trabalho, a OMC
reafirma a necessidade de se ter uma definição aos questionamentos impostos pelo Programa
de Trabalho implantado. Isso ficou explícito principalmente nas declarações feitas na última
Conferência Ministerial realizada em Doha, em 2001. A Declaração referenda o Programa de
Trabalho sobre comércio eletrônico da OMC desenvolvido nos últimos dois anos e pede que
seja discutido o melhor arranjo institucional para dar prosseguimento às discussões do tema
na OMC. Além disso, como já era previsto por alguns autores, a Declaração mantém a
moratória de tarifas sobre transmissões eletrônicas até a próxima Conferência Ministerial.
4 AS PROPOSTAS DOS PAÍSES
Vários foram os países que enviaram propostas sobre o tema comércio eletrônico no
âmbito da OMC, todas referentes especificamente ao Programa de Trabalho adotado pela
Organização em 1998.
São principalmente os países desenvolvidos os principais autores das propostas, bem
como os que mais contribuíram através de documentos de trabalhos e pesquisa em relação à
matéria. Além disso, o que se observa é que os países desenvolvidos são, basicamente, os
maiores interessados em que haja uma certa definição por parte da Organização na questão da
regulamentação do comércio eletrônico como um todo, por serem os maiores detentores da
tecnologia que o veicula.
A tabela a seguir lista uma série de documentos oficiais e disponíveis na OMC, os
quais foram submetidos pelos países membros aos conselhos responsáveis pela continuidade
do Programa de Trabalho adotado, e que foram usados como análise na composição deste
capítulo. Também, constam um resumo e uma breve análise das propostas submetidas pelos
principais países desenvolvidos (EUA, UE, Japão), além das propostas mais relevantes dos
países em desenvolvimento (Cuba, Cingapura e Indonésia), bem como algumas considerações
referentes a proposta formulada pelo Mercosul.
37
TABELA 3: LISTA DE PROPOSTAS DOS PAÍSES
PAÍS DOCUMENTO DATA CONSELHO
Austrália WT/GC/W/86 abr/98 Conselho Geral Austrália WT/GC/W/367 out/99 Conselho Geral
Austrália IP/C/W/144 jul/99 TRIPs
Canadá WT/GC/W/82 abr/98 Conselho Geral Canadá WT/GC/W/339 set/99 Conselho Geral
Cuba WT/GC/W/380 out/99 Conselho Geral
Cuba WT/GC/W/435 mai/01 Conselho Geral Egito WT/GC/W/93 jul/98 Conselho Geral
Egito WT/COMTD/W/38 mar/98 Com. e Des.
Estados Unidos WT/GC/W/78 fev/98 Conselho Geral Estados Unidos WT/GC/W/95 jul/98 Conselho Geral
Estados Unidos WT/GC/W/17 fev/99 Conselho Geral
India IP/C/W/147 jul/99 TRIPs
Indonésia e Cingapura
WT/GC/W/247 jul/98 Conselho Geral
Japão WT/GC/W/253 jul/98 Conselho Geral
Japão IP/C/W/145 jul/99 TRIPs
Suíça WT/GC/W/94 jul/98 Conselho Geral
Mercosul WT/GC/W/434 mai/01 Conselho Geral
Suíça IP/C/W/286 Jun/01 TRIPs
União Européia WT/GC/W/85 abr/98 Conselho Geral
União Européia WT/GC/W/306 ago/99 Conselho Geral
União Européia G/C/W/138 mar/99 GATT
Venezuela WT/GC/W/376 out/99 Conselho Geral
Fonte: OMC, Documents Online Search Facility, 2002. www.wto.org
4.1 A POSIÇÃO DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS
De forma geral, são os países desenvolvidos os que mais documentos emitiram e que
mais têm participado nas várias reuniões informais organizadas pelos comitês. São também
eles que buscam submeter ações e desenvolver trabalhos específicos sobre a evolução e as
diretrizes do Programa de Trabalho até então.
Todos os membros da Organização sabem da importância da atuação da OMC sobre o
comércio eletrônico, e inclusive concordam que a evolução dessa tecnologia, e das várias
tecnologias ligadas a essa nova modalidade de comércio, é inevitável. Conforme Mann (2000,
38
p.14), a evolução do comércio eletrônico e a Internet representam a oportunidade de “saltar”
para o próximo estágio do desenvolvimento econômico, através de conhecimentos,
informações e o uso da tecnologia por todos os países.
Nesse sentido, os países desenvolvidos, como os EUA, posicionam-se totalmente
favoráveis à não imposição de taxas e tarifas sobre qualquer transação comercial por vias
eletrônicas, porém consideram que nem tudo o que é negociado pela Internet é caracterizado
como serviço. 29
Diferente da posição americana, a União Européia, por exemplo, pretende que haja
uma discussão relevante sobre o tema, mas já classifica que todo e qualquer tipo de transação
eletrônica deve ser caracterizada como serviço. Além disso, propõe que todas as negociações
e os trabalhos relativos a evolução do Programa de Trabalho, sejam levadas no âmbito do
GATS.
Segundo Kaku (2000, p.177), a grande maioria das propostas são complementares,
revelando que é de fato no âmbito da OMC e pelos seus avanços jurídicos que o futuro do
comércio eletrônico será delineado com maior clareza.
4.1.1 PROPOSTA DOS EUA
Falando especificamente da proposta americana, através dos documentos remetidos à
Organização, os pontos chaves são: a não imposição de qualquer tarifa aduaneira a produtos
negociados eletronicamente; a correta classificação do que é negociado eletronicamente
(GATT ou GATS); o fomento a participação dos países em desenvolvimento dentro da
evolução do comércio eletrônico; e por fim, o correto tratamento que deve ser dado ao tema,
considerando o Programa de Trabalho ora vigente.
Dessa forma, em relação às negociações do tema relativas ao Programa de Trabalho,
os americanos consideram que deveria haver não grupos ou conselhos específicos tratando do
tema, mas sim um trabalho específico dentro do âmbito do Conselho Geral, o que satisfaz as
29
A forma menos ambígua de garantir que o comércio eletrônico se beneficie de um tratamento aduaneiro liberalizado é conceder caráter permanente a moratória na aplicação dos direitos aduaneiros nas transações eletrônicas. Do original: “The most unambiguous way to ensure liberalized customs treatment of lectronic commerce is to make permanent the moratorium on customs duties on electronic transmissions” (WT/COMTD/17, 1999).
39
necessidades30 dos países em desenvolvimento, mas que deixaria de forma paralela qualquer
tipo de debate sobre a classificação, como acontece atualmente.
Conforme exposto no documento americano (WT/GC/W/17, 1999, p.1), precisamente
porque o comércio eletrônico é tão difícil de ser caracterizado, a presença do Conselho Geral
se torna essencial para que nenhum elemento relevante passe sem ser examinado e para que as
questões chamadas transversais (cross-cutting issues)31, possam ser avaliadas através de uma
ampla visão, para que quaisquer conflitos de jurisdição possam ser resolvidos.
Ainda assim, no que concerne à questão da classificação das negociações de produtos,
os EUA (WT/GC/W/17, 1999, p.3) não defendem que os produtos intangíveis sejam
classificados como bens, no sentido tradicional. Mas, dado o maior alcance das disciplinas da
OMC no GATT, pode ser uma vantagem enfocar esses tipos de produtos nesta esfera, tendo
em vista uma maior liberalização do próprio comércio eletrônic o.
Segundo estudos americanos sobre a internacionalização do comércio eletrônico (U.S.
DEPARTMENT OF STATE, 2000, p.35), os Estados Unidos convocaram os membros da
OMC a adotarem formalmente a compreensão de que o comércio eletrônico se inclui no
escopo das normas e compromissos existentes da OMC, visto a importância que as obrigações
da OMC têm para impedir regulamentações restritivas ao comércio que afetem o comércio
eletrônico. 32
Também estão presentes nos documentos questões relativas à participação, ou mesmo
a inserção dos países em desenvolvimento, no âmbito do debate sobre a regulamentação da
matéria na OMC. Basicamente são comentários em torno de que é fundamental que tais
países dotem-se de infra-estrutura necessária, bem como ampliem e revejam as limitações
impostas ao acesso à tecnologia da informação, para beneficiar o desenvolvimento do
comércio eletrônico como um todo.
30
Conforme Mann (2000, p.12), os países em desenvolvimento têm encontrado dificuldade em poder participar das diversas reuniões informais ocorridas nos vários órgãos, devido geralmente a pouca quantidade de delegados presentes, ou representantes nas missões em Genebra.
31 Conforme Hauser (2001, p.8) são consideradas àquelas questões que não compreendem as esferas dos
quatro órgãos designados para o acompanhamento do Programa de Trabalho sobre comércio eletrônico, como por exemplo, a definição quanto à classificação do tema no âmbito do acordo do GATT ou do GATS. Ou seja, são questões que transcendem às responsabilidades dos conselhos e comitês e, portanto, estariam no âmbito de negociações no Conselho Geral.
32 A condução do comércio eletrônico em conformidade com as normas e compromissos da OMC assegurará,
portanto, um ambiente previsível de liberação do comércio, promoverá o crescimento do comércio eletrônico e criarão oportunidades de comércio para os membros da OMC em todos os estágios de desenvolvimento. Do original: “Conducting e-commerce in conformity with WTO rules and commitments will thereby ensure a predictable, trade-liberalizing environment, promote the growth of e-commerce, and create opportunities for trade for WTO members at all stages of development” (U.S. DEPARTMENT OF STATE , 2000, p.35).
40
Contudo, para Kaku (2000, p.178), apesar dos incentivos fornecidos pelos países
desenvolvidos em suas propostas relativos à participação dos países em desenvolvimento, em
nenhum momento ficou claro, nas posições dos principais países desenvolvidos, qualquer tipo
de vantagem ou algum tipo de tratamento diferenciado aos países em desenvolvimento, e
inclusive esses tiveram que colocar por eles mesmos o debate dessas questões relativas ao
tema do comércio eletrônico.
4.1.2 PROPOSTA DA UNIÃO EUROPÉIA
Diferente em alguns pontos da proposta americana, a União Européia aborda muito
mais a questão comércio eletrônico como um ponto de troca de dados, remetendo inclusive ao
conceito do EDI – Eletronic Data Interchange, algumas de suas observações acerca da
regulamentação do tema no âmbito da OMC.
Preliminarmente, conforme a UE (WT/GC/W/306, 1999, p.1), todos os tipos de
transmissões eletrônicas são caracterizadas como serviço, e conseqüentemente todos os
produtos negociados, ou mesmo remetidos de forma digital, devem recair sobre a esfera de
análise do GATS. Nesse sentido, a proposta expressa que futuras liberalizações tratadas
especificamente no âmbito dos serviços, e conseqüentemente no GATS, irão fazer com que a
infra-estrutura necessária para a evolução da tecnologia de comércio eletrônico e para o EDI
se torne ainda mais acessível a todos.
As propostas da UE expõem principalmente seis aspectos relevantes em relação ao
comércio eletrônico: visa uma automatização e o uso o EDI; a automatização como elemento
de uma estratégia geral de facilitação do comércio; a utilização do comércio eletrônico e o
EDI por outros organismos; a utilização de normas internacionais; a cooperação dos setores
público e privados; e, por fim, a criação de capacidades.
Dentro do escopo do GATS, a União Européia (WT/GC/W/306, 1999, p.2) observa
que, considerando quaisquer tipos de serviço, dentro da esfera eletrônica, estão relacionados
as obrigações gerais, tais como: o princípio da nação mais favorecida, transparência,
tratamento nacional, concorrência, pagamentos, transferências e etc...) e as exceções gerais
ao GATS (artigo XIV), são aplicáveis ao processo eletrônico de entrega (delivery). Também,
de acordo com a proposta européia, todos os modos de serviços são potencialmente aplicáveis
para processos eletrônicos de entrega.
41
Com relação ao apoio à participação dos países em desenvolvimento no processo de
evolução e também da regulamentação do comércio eletrônico, a exemplo da proposta
americana, a UE (WT/GC/W/306, 1999, p.2) observa que existe a necessidade de aumentar
essa participação dos países em desenvolvimento, em particular melhorando e facilitando o
acesso aos serviços de telecomunicações dos usuários nesses países, inclusive das pequenas e
médias empresas. Além disso, salientam que a assistência técnica deve ser estabelecida de
forma coordenada e transparente.
Em geral, as propostas da UE são as mais conservadoras nos aspectos relacionados ao
Programa de Trabalho na Organização até então. Ou seja, mesmo em pontos específicos como
o acordo de TRIPs, o qual parece não ter muitas divergências de definições como o GATT e o
GATS, a UE tem mantido uma posição menos direta, refutando algumas decisões e
incentivando maiores estudos e documentos de trabalho dentro do próprio acordo, e apenas
aceitando participação de outras Organizações Internacionais, como por exemplo, a OMPI.
Por fim, nota-se que diferente da posição clara e assumida dos EUA, a UE, através de
suas propostas formuladas ao Conselho Geral, e mesmo especificamente nas Rodadas de
Negociação em Seattle e Doha, ainda defendem a moratória atual de não aplicação de taxas
aduaneiras à todo e qualquer tipo de transação eletrônica.
4.1.3 PROPOSTA DO JAPÃO
O Japão, através de seu comunicado remetido ao Conselho de TRIPs (IP/C/W/145,
1999, p.1), demonstra de certa forma uma preocupação um tanto quanto diferente dos demais
países desenvolvidos participantes e propositores no Programa de Trabalho sobre comércio
eletrônico na OMC.
Destaca-se preliminarmente a importância atribuída à proteção dos direitos da
propriedade intelectual como essenciais para a promoção do comércio e dos investimentos.
Para o Japão (IP/C/W/145, 1999, p.1), visando assegurar corretamente a circulação de
material e conteúdos digitais através do comércio eletrônico, sendo em forma tangível como
livros e CDs, ou intangíveis, tais como dados eletrônicos, os direitos de propriedade
intelectual devem ser resguardados corretamente.
Portanto, é nesse sentido, que, segundo o Japão (IP/C/W/145, 1999, p.1), alguns
debates sobre a correta proteção relativa aos direitos da propriedade intelectual em relação a
questões como: domínios de Internet e marcas registradas; jurisdição internacional (a escolha
42
do fórum) e conflitos de leis (escolha da lei aplicável), devam ser discutidas no futuro e,
principalmente, sem afetar ou privilegiar nenhum tipo de aspecto particular.
De certa forma o Japão mantém uma posição observadora nas questões acima
relacionadas, e através de sua proposta, apenas alerta para que toda e qualquer decisão seja
tomada com atenção especial ao status atual do comércio eletrônico, e respeitando
basicamente as legislações e acordos vigentes e aprovados pelos membros, inclusive levando
em conta os acordos internacionais já firmados.
4.2 A POSIÇÃO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
Considerando a grande importância do comércio eletrônico atual, além de suas
expectativas de crescimento para os anos seguintes, torna-se fundamental a participação dos
países em desenvolvimento no decorrer de todo esse processo.
É facilmente notada a distância existente entre economias desenvolvidas e em
desenvolvimento. Além disso, no campo tecnológico e especificamente na Internet e no
comércio eletrônico, essa distância também existe, e alimenta a necessidade de que os países
em desvantagem possam minimizar algumas dessas diferenças, ao menos expondo seus
interesses no âmbito da OMC e seu Programa de Trabalho sobre o e-commerce.
Para Mann (2000, p. 15), países em desenvolvimento devem ser capazes de
impulsionar sua grande participação no comércio eletrônico, através de grande abertura de
suas áreas de interesses tradicionais.
Porém, essa é uma questão complicada e que é a mais presente nas propostas dos
países em desenvolvimento submetidas à Organização. Se por um lado, há o interesse em
aumentar o grau de desenvolvimento tecnológico desses países, por outro esses mesmos
países em desenvolvimento tendem a repensar algumas questões, e posicionam-se também de
forma conservadora, principalmente na questão da moratória sobre transações eletrônicas.
4.2.1 PROPOSTA DE CUBA
Em relação às propostas de Cuba, primeiramente é necessário destacar sua forte
participação nas submissões de documentos de posição e efetiva contribuição ao Programa de
Trabalho em pauta.
43
Na proposta cubana, são destacadas as informações de que o comércio eletrônico tem
contribuído para aumentar a entrada de divisas nos países em desenvolvimento, através de
transações eletrônicas, principalmente as de serviços.
Entretanto, essa aparente contribuição contrasta com o fato de que os países em
desenvolvimento contam com um menor grau de acesso à infra-estrutura de
telecomunicações, de acesso à Internet e tecnologia da informação em geral. Essas
dificuldades são ainda mais acentuadas quando consideradas questões como os pagamentos
eletrônicos, proteção de dados e autenticidade de documentos.
É nesse sentido que, preliminarmente, os cubanos remetem à necessidade de todos os
países em desenvolvimento incorporarem as normas técnicas necessárias para garantir o
intercâmbio de equipamentos, baseado em padrões, sistemas de segurança de dados e,
diminuição de incompatibilidades operacionais. Dessa forma, algumas diferenças relativas à
tardia entrada dos países em desenvolvimento em todo o processo poderiam ser reduzidas.
São basicamente quatro os pontos fundamentais da proposta de Cuba.
Em primeiro lugar, segundo a proposta Cubana (WT/GC/W/380, 1999, p.2), há
necessidade de se reformular e recomeçar um novo Programa de Trabalho na Organização,
analisando aspectos já existentes e também novas questões ligadas ao tema, em conformidade
com os vários estudos já existentes na esfera de outras Organizações Internacionais, tais como
a OMPI, OCDE, ITU.
Cuba também observa que o Comitê sobre Barreiras Técnicas ao Comércio deva ser
engajado no Programa de Trabalho de comércio eletrônico. Além disso, reitera que o
Programa de Trabalho sobre o tema de transferência de tecnologia precisa avaliar a constante
inserção de novas tecnologias, principalmente no comércio eletrônico, e em relação aos países
em desenvolvimento.
Por fim, o ponto mais delicado está na questão da contínua liberalização do comércio
relativo ao tema do comércio eletrônico, e inegavelmente apoiada pelas propostas americanas.
Conforme a proposta cubana (WT/GC/W/380, 1999, p.2), “(...) não é possível que se
consiga garantir a justiça e a igualdade nessas liberalizações, sem que haja garantias e
medidas especiais em favor dos países em desenvolvimento”. 33
De fato, essa é sem dúvida a questão mais complicada que os países em
desenvolvimento devem enfrentar, considerando o seu progresso num âmbito de avanço
33
Do original: “(...)will not be possible on a fair and equitable basis without the application or consideration of provisions to guarantee special and differential treatment for developing countries”. WT/GC/W/247, 1999, P.2).
44
tecnológico do comércio eletrônico. Ou seja, até que ponto é valido abrir suas áreas de
interesse tradicionais, em busca do maior avanço tecnológico?
4.2.2 PROPOSTA DE CINGAPURA E INDONÉSIA
A proposta de Cingapura e Indonésia tem como característica comum com as outras
propostas dos países em desenvolvimento, o pleno reconhecimento dos organismos
responsáveis pela condução do Programa de Trabalho sobre e-comerce na OMC.
Nesse sentido, a proposta aponta (WT/GC/W/247, 1999, p.1) o possível
estabelecimento de um grupo de trabalho, responsável por discutir e analisar os
entendimentos desses acordos com o comércio eletrônico como um todo. Além disso, procura
estabelecer e embasar sua proposta em três questões específicas, sendo estas: o marco
jurídico, acesso a mercados e assistência técnica e suporte aos países em desenvolvimento.
Com relação ao aspecto do marco jurídico, a proposta apresenta a mesma característica
dos problemas de classificação abordados até agora. Pois, o comércio eletrônico caracteriza-se
como um simples meio de interconexão, entre fornecedores e compradores. Ou seja, os
produtos tradicionais, comercializados eletronicamente, não sofreriam quaisquer problemas
de classificação, uma vez que o comércio eletrônico apenas seria uma ferramenta para essa
comercialização. Mas por outro lado, essa classificação é afetada quando se tratar de conteúdo
digital, ou melhor, informações trafegadas e transacionadas online, pois nesse caso a
ferramenta (comércio eletrônico) vai muito mais além da compra e do simples pagamento.
Portanto, o aspecto legal levantando é o mesmo já exposto no próprio Programa de
Trabalho atual, e nesse sentido a posição desses países só vem reforçar que a forma de
classificação dessas transações deve ocorrer de forma segura juridicamente, podendo afetar as
outras duas questões levantadas, sobre o acesso a mercados e de assistência técnica aos países
em desenvolvimento.
Entretanto, a proposta é co-relacionada com a proposta australiana, no que tange a
definição e classificação do comércio eletrônico na esfera do GATS. Conforme a proposta
(WT/GC/W/247, 1999, p.3), a caracterização do comércio eletrônico como inovação
tecnológica leva a considerar sua neutralidade em relação aos compromissos assumidos no
acordo do GATS pelos países, podendo portanto estar relacionado a qualquer um dos modos
de serviço.
45
Em relação à questão da não imposição de tarifas aduaneiras, a proposta observa a
dificuldade que se encontra no controle específico das transações efetuadas no comércio
eletrônico. Segundo a proposta (WT/GC/W/247, 1999, p.3), como não é possível o controle
sobre as informações que trafegam pela Internet, a solução seria continuar com as práticas de
não imposição de tarifas ao comércio eletrônico, e uma ampliação no acordo de Tecnologia da
Informação, discriminando os tipos de produtos que podem ou não ser digitalizados. Assim,
isso iria prever reduções em certas barreiras aduaneiras nesses produtos, inclusive os
softwares, facilitando o amplo comércio.
Por outro lado, essa proposta não se aplicaria ao aspecto e o âmbito da Propriedade
Intelectual, e sim, conforme a proposta (WT/GC/W/247, 1999, p.4) torna-se necessária a
criação de um novo sistema para proteção dos direitos do autor, e que deveria estar vinculado
às propostas e estudos formulados pela OMPI.
Por fim, a proposta expressa (WT/GC/W/247, 1999, p.5), a necessidade da OMC
trabalhar não somente como programas de assistência técnica e criação de capacidades e
infra-estrutura, mas também no acesso de tecnologia necessária, e através de outras
Organizações Internacionais, tais como a OMPI e a UNCTAD.
4.2.3 PROPOSTA DO MERCOSUL
O Mercosul se limitou a postular uma proposta que não fornece uma posição concisa e
uma definição de quais os interesses reais e imediatos do acordo e de seus países no Programa
de Trabalho sobre o comércio eletrônico. Ou seja, é uma proposta que apenas observa e
aponta o reconhecimento da existência de duas classes de temas (questões) em comércio
eletrônico no âmbito da Organização. São elas: questões setoriais, relacionadas ao comércio
de bens, serviços, propriedade intelectual e comércio e desenvolvimento, tratadas nas esferas
dos quatro Órgãos. E, os temas de características transversais, chamados de cross cutting
issues ou horizontais, abrangendo um contexto mais amplo de discussões além do âmbito
específico de cada Órgão.
Conforme o documento do Mercosul (WT/GC/W/434, 2001, p.1), há o
reconhecimento da importância do tratamento de questões como a classificação de alguns
produtos em comércio eletrônico (GATT x GATS) na esfera do Conselho Geral, devido
principalmente à natureza transversal desse assunto.
46
Dessa forma, o documento (WT/GC/W/434, 2001, p.1) observa que, apesar da
consciência dos membros da existência dessas duas temáticas, a forma de como as
negociações se efetuaram, levando em consideração um debate mais em questões
procedimentais, justificou uma paralisação do Programa de Trabalho até a Rodada de Doha.
Assim, a proposta, mesmo que de forma não oficial (pelo menos não assumida de fato
no documento), analisa uma possível categorização dos seguintes temas setoriais em relação
aos quatro Órgãos.
Em relação aos serviços, de acordo com a proposta do Mercosul (WT/GC/W/434,
2001, p.2), estariam formuladas as seguintes sugestões de temas a serem abordados: a)
alcance do GATS em relação aos modos de entrega e prestação dos serviços, particularmente
em relação ao conceito de neutralidade tecnológica do comércio eletrônico; b) questões
relativas à regulamentação nacional, constante do artigo VI. 4 do acordo do GATS. c)
princípios da Nação Mais Favorecida e do Tratamento Nacional; d) barreiras ao comércio,
aspecto dos serviços; e) acesso aos canais de distribuição e rede de informação,
principalmente à Internet; f) compromissos específicos em relação à Internet. g) a utilização e
o acesso às redes públicas, em virtude do anexo de telecomunicações, parágrafo 20 do
documento S/L/74 que relatou o progresso do Programa de Trabalho no GATS.
Para o Comércio de Bens, conforme a proposta (WT/GC/W/434, 2001, p.2), os temas
abordados estariam relacionados ao acesso a mercados para produtos relacionados ao
comércio eletrônico. Alem disso, muitos dos aspectos delegados ao Conselho de bens, tais
como: normas de origem, valoração aduaneira e obstáculos técnicos ao comércio, só fariam
sentindo com os resultados de uma classificação de algumas das transações em comércio
eletrônico, o que novamente retornaria a importância do debate sobre as questões transversais.
Nas questões de Propriedade Intelectual, a sugestão é de uma análise setorial relativo
ao conceito de neutralidade tecnológica do assunto, disposto no parágrafo 4 do acordo de
TRIPs. Também inclui uma análise referente aos trabalhos já conduzidos no âmbito da OMPI
e inserção desses trabalhos no Programa de Trabalho da OMC. Porém, isso não reflete uma
posição efetiva de que é real o interesse do Mercosul em considerar os avanços já alcançados
em negociações sobre a Propriedade Intelectual em outros organismos internacionais, a
exemplo do que diz a proposta americana. Dessa forma, a contribuição do Mercosul torna-se
apenas ilustrativa, não expondo objetivos claros e interesses comuns às outras propostas
apresentadas.
47
Por fim, as sugestões de temas setoriais específicos para o Comércio e
Desenvolvimento giram em torno da infra-estrutura e o desenvolvimento humano, e a
participação de empresas de países em desenvolvimento no comércio eletrônico.
As questões horizontais segundo a proposta do Mercosul (WT/GC/W/434, 2001, p.4),
estão relacionados a: a) questões referentes ao conteúdo de certas transações eletrônicas, e
classificação de alguns produtos na esfera do GATT ou do GATS, já citado anteriormente; b)
relação do comércio tradicional com o comércio eletrônico; c) questões relativas ao
desenvolvimento, e principalmente sobre a assistência técnica.
Portanto, da mesma forma que foram apresentadas sugestões dos temas a serem tratados de
forma setoriais, as questões transversais (horizontais) apresentadas são apenas uma
concordância do que já vem sendo concluído pelo Programa de Trabalho e os países
participantes do debate. Formulam somente as questões já consideradas transversais como
um todo, e que efetivamente fazem mais sentido sendo negociadas no âmbito do Conselho
Geral, promovendo uma maior amplitude do debate.
4.3 ANÁLISE GERAL
Em uma breve análise nas propostas apresentadas pelos membros da Organização é
possível se destacar certas tendências, que inclusive confirmaram-se após as Conferências
Ministeriais de Seattle e principalmente de Doha.
Conforme Mann (2000, p.13), os países membros da OMC através de suas propostas
vivem um importante desafio, no qual, primeiramente, devem estabelecer um ambiente para
que o comércio eletrônico prospere, permitindo todos os benefícios dessa nova forma de
comércio internacional, para ser realizada por todos os consumidores em todos os países.
Ainda, em relação a esse desafio, a OMC deve trabalhar para que o comércio eletrônico
permaneça livre de barreiras internacionais ao comércio, e continue guiar um crescimento
nacional e global.
São por esses objetivos que, em geral, os membros da Organização que remeteram
propostas e documentos de opinião sobre o Programa de Trabalho de comércio eletrônico
concordam que todos os esforços devem ser feitos para encorajar a participação de países em
desenvolvimento no processo de evolução do e-commerce, através de melhorias na infra-
estrutura de telecomunicações e no acesso às novas tecnologias. Mas, ainda que isso seja uma
48
questão de grande debate, não fica claro, principalmente nas propostas dos países já
desenvolvidos, de que forma isso deva ser feito34.
Contudo, para Hauser (2001, p.22), “ao contrário de outras questões de comércio na
qual as partes negociadoras enfrentam diversas opiniões divergentes (ex: agricultura), a
exploração do E-potential parece se encontrar em um consenso geral”. 35
Dessa forma, os países, acima de tudo os desenvolvidos, parecem ter alcançado um
consenso na confirmação da continuidade da moratória sobre as transações efetuadas no
âmbito do comércio eletrônico, baseando-se principalmente em dois pontos. Por um lado,
buscando a não intervenção e imposição de barreiras ao desenvolvimento desse comércio
eletrônico. E também, por outro lado, pelo fato de que qualquer barreira ou mesmo taxa
aplicável a qualquer transação eletrônica seria inviável e muito difícil de ser administrada,
ratificando ainda mais a posição assumida nas propostas americanas.
Ao que parece, essa conformidade é alcançada acima de tudo por dificuldades
estruturais decorrentes do avanço da tecnologia. Pois, mesmo com todo know how tecnológico
atual, essa tecnologia torna-se refém de si mesma, ficando impossibilitada de se auto-regular e
conseqüentemente impedida de controlar de forma eficaz todos os tipos de transações
comerciais efetuadas digitalmente.
Mesmo o ex-Diretor Geral da OMC, Renato Ruggiero, em um de seus primeiros
discursos sobre o Programa de Trabalho da OMC (1999), reconheceu o surgimento de um
novo tipo de sistema econômico, e que é caracterizado principalmente por ser “sem
fronteiras”. 36
Por outro lado, ainda que com maior cautela37, os países em desenvolvimento também
têm emitido opiniões favoráveis e, inclusive colaboraram na ratificação em Doha da questão
34
Mike Moore, atual Diretor Geral da Organização em um de seus discursos sobre o Programa de Trabalho de comércio eletrônico relembra: que um dos principais meio de garantir o acesso a tecnologia aos países em desenvolvimento, está no acordo de Tecnologia da Informação assinado em 1997, através da redução das taxas de importação sobre os produtos de computação e liberalizando os serviços de telecomunicações, no qual depende a Internet. Do original: “The WTO's Information Technology and Basic Telecoms agreements, both signed in 1997, help promote e-commerce by eliminating duties on computer hardware and liberalising the telecoms services on which the Internet depends. (MOORE, 2000).
35 Do Original: Contrary to other trade issues where the negotiating parties hold rather diverging
opinions (e.g. agriculture), the exploitation of the E-Potential seems to meet with general consensus. 36
Das palavras do autor, do original: For when we talk of the impact of the Internet or electronic commerce we are talking about more than new technologies, new distribution networks, or new services. In a certain sense, we are talking about the rise of a new kind of global economic system – one that is creating the closest thing yet to a single, "borderless" world market.
37 Segundo Kaku (2000, p.177), a cautela na aceitação definitiva das normas ou princípios sobre o
assunto, refere-se ao pouco conhecimento de muitos aspectos envolvidos, devido a novidade da matéria em pauta. Ainda que seja uma matéria nova debatida no âmbito da OMC causadora dessa cautela, muitos dos discursos, classificam que os países em desenvolvimento tendem a ganhar e diminuir as diferenças entre as
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relativa à decisão sobre moratória nas taxações aduaneiras sobre o comércio eletrônico.
Porém, a dúvida que paira sobre a questão da moratória temporária, ou mesmo a confirmação
permanente dessa prática de não imposição de tarifas aduaneiras, pode complicar e
desequilibrar ainda mais a “balança” de negociações e do livre comércio.
Para Panagariya (1999. p.31), uma vez que as definições sobre a classificação do
comércio eletrônico como GATT ou GATS ainda continuam em negociação como um todo,
os países em desenvolvimento deveriam se certificar que o comércio eletrônico não
permaneça definitivamente com as tarifas zeradas, uma vez que isso liberaria o comércio
eletrônico como padrão num todo, e minaria o poder de barganha frente aos países
desenvolvidos.
Com relação à classificação dos produtos comercializados através da Internet, questão
tão debatida no âmbito da OMC, ainda existem dúvidas e consentimentos sobre o assunto.
Mas, de acordo com a AITIC (Agency forInternational Trade Information and Cooperation)
em seu relatório (AITIC, 1999), de um modo geral, os países, tanto desenvolvidos como em
desenvolvimento, concordaram que produtos pedidos pela Internet, porém entregues
fisicamente, são de fato cobertos pelas regras do GATT. Por outro lado, produtos pedidos e
entregues virtualmente, deveriam ser classificados como serviços e, portanto, submetidos às
regras do GATS.
Contudo, para a AITC, “seria uma boa idéia, formular uma definição clara, precisa e
completa não somente do que poderia ser incluído na definição de comércio eletrônico, dos
termos tradicionais usados em comércio internacional (taxas aduaneiras, modos de entrega,
comércio além da fronteira, etc), cujas definições não eram necessárias quando as regras
foram estabelecidas para o comércio convencional (de bens ou serviços)”.38
Em relação a outros pontos, também constam nos discursos dos países em
desenvolvimento questionamentos sobre como Organização tem tratado o Programa de
Trabalho atualmente. Nota-se que são basicamente questões e propostas relativas à
dificuldade desses países de participarem em vários encontros e debates nos diferentes
Conselhos e Comitês, preferindo, portanto, que o assunto seja levado apenas no âmbito do
economias desenvolvidas e em desenvolvimento, não impondo restrições ao fluxo normal de evolução do comércio eletrônico através de um ambiente livre de comércio sem taxas e barreiras. (Seminar on Revenue Implications of E-commerce, 2002).
38 Do Original: “It would be a good idea to formulate a clear, precise and complete definition not only of what
could be included within the definition of electronic commerce, of the traditional terms used in international trade(customs duties, modes of delivery,cross-border trade, etc.), whose definitions were not necessary when rules were established for conventional trade (of goods and services)”. (AITIC, 1999, p.7)
50
Conselho Geral, principalmente pela menor quantidade de pessoal presente na Organização,
em comparação com os países desenvolvidos.
Especificamente nessa questão, a proposta americana é de que tendo em vista a
manutenção de um comércio eletrônico sendo tratado como questão transversal (cross-
cutting), ou seja, de forma ampla, os americanos propõem que haja a criação de um grupo de
trabalho não negociador, no âmbito do Conselho Geral para que sejam encaminhados novos
estudos. Isso, portanto, poderia satisfazer as necessidades dos países em desenvolvimento,
além de garantir o interesse à liderança do Conselho Geral.
Finalmente, é necessário observar a não participação de alguns países em
desenvolvimento nesse processo de participação e definição sobre os rumos do Programa de
Trabalho sobre o comércio eletrônico. Principalmente, destaca-se a não participação do
Brasil, que nem sequer se expressou através de algum documento de posição, ou colaborou
em conjunto com os outros países em desenvolvimento.
Por derradeiro, vale ressaltar que com o novo “incremento” dado pela Rodada de
Doha, a retomada do Programa de Trabalho e dos debates acerca do tema, é a hora de entrar
com novas soluções e propostas, considerando os entraves acontecidos até agora.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A evolução do comércio eletrônico mundial é fato. Uma revolução tecnológica que
proporciona a qualquer um a possibilidade de negociar seus produtos de forma virtual, sem
sair de casa. Ainda, se isso é feito através da Internet, os custos são bem menores se
comparado ao comércio tradicional, e sua capacidade de alcance é algo excepcional.
Entretanto, o crescimento desse comércio que tem guiado os rumos do Programa de
Trabalho na OMC sobre esse tema, deve ser de certa forma regulado, visando um mínimo de
garantia e condições para que todos tenham acesso aos benefícios dessa tecnologia.
Nesse sentido, os princípios da Organização e uma contextualização acerca da
estrutura organizacional e decisória do mais amplo foro de negociações internacionais devem
ser conhecidos. São detalhes importantes que ajudam a compreender melhor algumas
definições e questionamentos em torno da classificação e inserção do tema na esfera dos
Acordos Multilaterais de Comércio.
Dessa forma, uma análise, seja ela atual ou futura, sobre Programa de Trabalho do e-
commerce mundial no âmbito da OMC deve ser pautada nas premissas do conhecimento geral
da criação e evolução da própria Organização, bem como as diferenças existentes entre alguns
desses Acordos, mais especificamente em relação ao GATT e ao GATS.
Toda a questão central da regulamentação do comércio eletrônico está vinculada a
uma correta classificação do tema na esfera de um dos Acordos. Além disso, as propostas
formuladas pelos países, justificam, cada um de sua forma e interesse, uma posição definitiva.
É consenso que os interesses dos países desenvolvidos sejam de manter uma moratória
em relação às transações eletrônicas. Também, observa-se que é fundamental a participação
dos países em desenvolvimento nesse processo e inclusive uma participação brasileira.
Apesar da sucinta colaboração do Mercosul, é difícil se estimar perdas para ausência
efetiva da participação brasileira, mas é fácil de se inferir que um país como o Brasil, onde
alguns provedores e mesmo grandes empresas praticam o comércio eletrônico de forma
crescente e giram um volume alto de capital, de forma nenhuma poderia deixar de contribuir e
observar as dificuldades encontradas atualmente nos problemas em relação ao Programa de
Trabalho atual.
52
A não participação brasileira torna-se ainda mais injustificada, principalmente pelo seu
recente processo de desregulamentação e privatização do setor de telecomunicações. Ou seja,
num país que tem concorrência de mercado, e está aberto ao capital externo para melhoria de
infra-estrutura tecnológica em suas redes de comunicação, de maneira nenhuma poderia não
acompanhar de forma efetiva, e com propostas, essa evolução do comércio eletrônico na
OMC.
Dessa forma, a ausência de opiniões e sugestões da parte brasileira possibilita que os
países desenvolvidos possam inserir no processo de regulamentação características específicas
de seus interesses, visando um benefício unilateral. Em outras palavras, é dizer que os
interesses atuais, referentes principalmente à moratória, podem prejudicar e aumentar a
distância tecnológica existente entres os países. Além disso, destaca-se o fato de que uma
liberalização total, tendo o mercado como órgão regulador, é mais dependente de incentivos
externos, e que podem não vir, conforme o interesse dos investidores.
Mesmo que com uma posição de cautela perante os rumos do Programa de Trabalho,
uma possível proposta brasileira deveria contemplar uma tendência para que o comércio
eletrônico esteja sobre as regras do GATS. Este, através de negociação de compromissos
específicos, poderia proporcionar a garantia de alguns interesses e em contra-partida, maior
poder de negociação em relação a outros pontos.
Ademais, é necessário que o Brasil mantenha uma posição de líder em relação aos
países em desenvolvimento, e em conformidade com as propostas já apresentadas por esses
países, possa barganhar em conjunto um maior acesso à infra-estrutura tecnológica.
Além disso, com o novo “impulso” fornecido ao Programa de Trabalho através da
Rodada de Doha, para que o Brasil pudesse se inserir em definitivo em todo esse processo
seria interessante que o país expressasse um interesse em ter o Programa de Trabalho sendo
abordado mais especificamente no Conselho Geral. Isso permitiria que, juntamente com os
demais países em desenvolvimento, o foro de debates fosse ampliado, permitindo maior
atividade e continuidade nas negociações.
Finalmente, seria interessante que as relações e os debates junto a outras Organizações
Internacionais como a UTI, OMPI e UNCTAD continue, devido aos avanços alcançados por
essas Organizações em seus temas específicos. Porém, numa possível proposta brasileira, o
sentindo poderia ser o mesmo expresso na proposta da UE, e que através de acordos
específicos da OMC (como o de TRIPs), os avanços formulados por essas Organizações
seriam bases para a constituição de regulamentação específica, estando num meio termo entre
interesses muitas vezes contrários.
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