Download pdf - Monografia Direito. PDF

Transcript

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSES DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS CAMPUS DE SANTIAGO CURSO DE DIREITO

A CONCILIAO COMO FORMA DE RESOLUO DOS CONFLITOS

VINCIUS SCALON DURGANTE

SANTIAGO/RS 2011

2

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSES DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS CAMPUS DE SANTIAGO CURSO DE DIREITO

A CONCILIAO COMO FORMA DE RESOLUO DOS CONFLITOS

Monografia apresentada por VINCIUS SCALON DURGANTE, ao Departamento de Cincias Sociais Aplicadas da URI, Campus de Santiago, para a aprovao da disciplina Monografia Jurdica, em cumprimento exigncia para a concluso do curso de Direito. ORIENTADORA: Prof Esp. IONE BRUM DA SILVA

SANTIAGO/RS 2011

3

VINCIUS SCALON DURGANTE

A CONCILIAO COMO FORMA DE RESOLUO DOS CONFLITOS

Monografia apresentada por VINCIUS SCALON DURGANTE, ao Departamento de Cincias Sociais Aplicadas da URI, Campus de Santiago, para a aprovao da disciplina Monografia Jurdica, em cumprimento exigncia para a concluso do curso de Direito.

Aprovada em ____de_____________de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Professora Esp. Ione Brum da Silva (Orientadora) Professor (a) Professor (a)

SANTIAGO/RS 2011

4

Dedico este trabalho a Deus, por me acompanhar nesta caminhada gratificante, minha namorada Tainara Mallmann Duarte e aos meus pais. Tambm aos demais familiares e amigos, pelo amor, carinho, compreenso e por serem to especiais em minha vida e, principalmente, por acreditarem em mim.

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me oportunizar viver momentos especiais, dando respaldo para superar os obstculos, cabendo agradecer-lhe e pedir que continue iluminando o caminho em busca dos meus objetivos. Tainara Mallmann Duarte e sua famlia, pelo apoio, carinho, amor e acolhimento que sempre tiveram comigo, nos bons e complicados momentos que passei nesta trajetria, o que contribuiu significativamente para mais essa conquista. famlia, pela acolhida, motivao e amor que me passaram, seja nos momentos bons ou difceis, com apoio incondicional, e em especial, ao meu pai, Wilson Jos Durgante, que me contagiou pelo seu exemplo de fora e superao, me motivando para prosseguir at o final desta jornada. professora Ione Brum da Silva, pela confiana e apoio na orientao deste trabalho, que se mostrou sempre disposta a compartilhar seus conhecimentos na elaborao da referida monografia, sendo merecedora das mais sublimes homenagens. Universidade, que atravs do seu quadro docente do Curso de Direito, passou experincias e ideias que levaram ao desenvolvimento tanto intelectual como pessoal ao longo do perodo da graduao. Aos amigos, em especial ao Ivan Cassiano Paz, que me auxiliou com sua experincia no Juizado Especial da Comarca de Torres, e demais amigos que sempre estiveram ao meu lado, sempre que precisei. Aos colegas de classe, que tambm foram grandes companheiros, e a todos que torceram, incentivaram e foram solidrios nesta minha caminhada, pois sem essa energia positiva, no obteria xito. Estou certo de que o maior enriquecimento, seja intelectual, como espiritual, vem por meio das demonstraes de carinho e amizade, demonstraes estas, que tive no decorrer de mais uma jornada universitria, as quais, jamais esquecerei.

6

No faz sentido olhar para trs e pensar: devia ter feito isso ou aquilo, devia ter estado l. Isso no importa. Vamos inventar o amanh, e parar de nos preocupar com o passado. Para se ter sucesso, necessrio amar de verdade o que se faz. Caso contrrio, levando em conta apenas o lado racional, voc simplesmente desiste. o que acontece com a maioria das pessoas. Steve Jobs

7

SUMRIO

RESUMO........................................................................................................................

09

INTRODUO.............................................................................................................

10

1 A CONCILIAO JUDICIAL E SEUS PRINCPIOS......................................... 1.1 Definio de conciliao........................................................................................... 1.2 A conciliao no direito brasileiro e sua previso legal........................................ 1.3 Os princpios orientadores da conciliao............................................................. 1.3.1 Princpio da neutralidade e imparcialidade............................................................. 1.3.2 Princpio da aptido tcnica.................................................................................... 1.3.3 Princpio da autonomia privada.............................................................................. 1.3.4 Princpio da deciso informada.............................................................................. 1.3.5 Princpio da confidencialidade............................................................................... 1.3.6 Princpio pax est querenda..................................................................................... 1.3.7 Princpio do empoderamento.................................................................................. 1.3.8 Princpio da validao............................................................................................. 1.3.9 Princpio da oralidade............................................................................................. 1.3.10 Princpio da informalidade.................................................................................... 1.3.11 Princpio da simplicidade...................................................................................... 1.3.12 Princpio da economia processual......................................................................... 1.3.13 Princpio da imediao.......................................................................................... 1.3.14 Princpio da concentrao de atos......................................................................... 1.3.15 Princpio da imutabilidade ou da identidade fsica do juiz................................... 1.3.16 Princpio da celeridade.......................................................................................... 1.3.17 Princpio da irrecorribilidade das decises...........................................................

12 12 14 19 20 21 21 22 22 23 23 23 25 27 28 28 28 29 30 31 32

2 O PAPEL DO CONCILIADOR................................................................................

33

2.1 nfase conciliao................................................................................................. 35 2.2 Audincia de conciliao.......................................................................................... 39

8

2.3 Conciliador e o advogado......................................................................................... 41

3 OS BENEFCIOS DA CONCILIAO NA RESOLUO DE CONFLITOS.. 3.1 Conciliao no Poder Judicirio brasileiro e de outros pases............................. 3.2 Dados estatsticos da conciliao.............................................................................

44 44 47

CONSIDERAES FINAIS....................................................................................... REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................................

53 56

9

RESUMO

O trabalho visa analisar os meios de tornar a tentativa de conciliao mais efetiva entre as partes, onde se buscou embasamentos para verificar como vem ocorrendo na prtica e quais as novas perspectivas da conciliao. Observa-se que a conciliao no depende da edio de novas leis, pois j est prevista no ordenamento jurdico brasileiro e aproveita os princpios advindos da Lei 9.099/95 entre outros, que garantem a aplicabilidade deste meio alternativo. O papel do conciliador fundamental para reatar a comunicao entre as partes, e com uso de tcnicas apropriadas, proporcionar criatividade e captar as propostas para que as partes acordem e eliminem o conflito ora existente. Na prtica, observa-se uma deficincia de conciliadores capacitados para tal fim, e tambm, ainda, no est na cultura de alguns advogados e da sociedade em buscar a jurisdio sem a presena de um magistrado, quanto menos, de um juzo arbitral. Vrios so os benefcios oriundos da conciliao, o que tem instigado o Poder Judicirio a criar movimentos pela conciliao, a capacitar magistrados e a criar setor de conciliao permanente. Tudo visa incentivar a sociedade a fazer uso destes mecanismos alternativos, pois a conciliao se traduz em acordos que podero ser realizados tanto nos processos j em trmite quanto nos conflitos que sequer chegaram a se transformar em aes judiciais. A tendncia ser priorizar a conciliao em todos os processos judiciais e extrajudiciais, principalmente com a aprovao do Anteprojeto do Novo Cdigo de Processo Civil.

Palavras-chave: conciliao, judicirio, efetividade, conciliador.

10

INTRODUO

Um dos graves problemas do Poder Judicirio a morosidade, que ocasiona a falta de efetividade da tutela jurisdicional, causada pelo nmero elevado de processos derivados de diversos fatores, desde um grau de conhecimento maior da populao quanto a seus direitos, a acessibilidade justia com o benefcio da assistncia judiciria gratuita e outros fatores facilitadores, com o advento da Lei 9.099/95.

A Lei 9.099/95, por um lado facilitou o aumento das demandas judiciais pela desburocratizao do processo, por outro, contribuiu na celeridade processual pela forma simples de solucionar os conflitos. Em alguns casos, observa-se que a acessibilidade justia vem a tornar a jurisdio vulgarizada, amparando conflitos de massa, sendo acionada pelas partes para soluo de conflitos pequenos, em que, por um simples dilogo ou por meio de um conciliador, teriam sua satisfao plenamente atendida, antes de iniciar o processo judicial ou depois de iniciado.

Atualmente, uma forma alternativa jurisdio a conciliao, possibilitando a soluo dos conflitos entre as partes, a qual trouxe grandes avanos ao instituir, por exemplo, as Comisses de Conciliao Prvia para tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho, antes de se ajuizar uma reclamao trabalhista ou, ainda, pode-se referir o Projeto Conciliar Legal, institudo pelo Conselho Nacional de Justia.

A conciliao judicial trouxe relevantes avanos para o Poder Judicirio, mas, na prtica, poderia ser melhor, tendo em vista que, nas audincias de conciliao, constata-se a deficincia do conciliador e do juiz leigo atuante, na tentativa de dialogar e conciliar, demonstrando para as partes que ali reside o melhor caminho para a soluo do conflito posto em juzo, agilizando a entrega do bem da vida buscado. H um desinteresse em solucionar preliminarmente o conflito, situao que se torna evidente quando so designadas audincias conciliatrias, via de regra, com durao de cinco minutos, o que torna praticamente impossvel a obteno de xito.

11

O trabalho abordar a importncia da conciliao judicial ou da extrajudicial como forma de resolver os conflitos, a fim de tornar mais clere e eficiente a tramitao dos processos no Poder Judicirio.

O objetivo geral analisar a possibilidade de tornar a tentativa de conciliao entre as partes mais efetiva. Para isso, examina a previso legal e os princpios que orientam a conciliao, analisa os meios para a obteno de xito na tentativa de conciliao e verifica os benefcios da conciliao para o Poder Judicirio.

O presente trabalho visa analisar a possibilidade de instruir as partes, os advogados, os magistrados acerca da importncia em promover a conciliao entre as partes, em que todos usufruiro vantagens, tendo em vista que colabora com a economia processual, para a diminuio do elevado tempo de durao de um processo, e entre as partes, no haver perdedor ou ganhador, mas sim conciliados, verdadeira essncia da justia. Trata-se de esgotar todas as formas de soluo dos conflitos, quando possvel, atravs do dilogo, de acordos, da transao, enfim, de uma forma que vise pacificar o conflito ora existente, onde o advogado ou conciliador atuariam veementemente com esse intuito. No desenvolvimento do trabalho, foi utilizado o mtodo de abordagem dedutivo, ou seja, parte-se de uma ideia geral para uma anlise especfica. O mtodo empregado foi o histrico, monogrfico e hermenutico. A tcnica de pesquisa utilizada foi a bibliogrfica, em que procurou demonstrar posicionamentos doutrinrios, leis e jurisprudncias sobre o tema em discusso.

12

1 A CONCILIAO JUDICIAL E SEUS PRINCPIOS

Devido ao aumento das demandas judiciais, em que, na maioria das vezes, os conflitos no so satisfeitos devido morosidade da tramitao de um processo no Poder Judicirio brasileiro, busca-se mudar a mentalidade das partes, aduzindo meios conciliatrios com profissionais capacitados, antes de se iniciar um processo judicial ou, quando iniciado, para focar a conciliao na audincia preliminar e no decorrer do processo.

A conciliao judicial prevista no ordenamento jurdico brasileiro e tambm por disposio de princpios que norteiam o trabalho da conciliao.

1.1 Definio de conciliao

A palavra conciliao, etimologicamente, deriva do latim conciliatione, cujo significado ato ou efeito de conciliar; ajuste, acordo ou harmonizao de pessoas; unio; combinao ou composio de diferenas1.

No direito, a conciliao empregada no sentido de um procedimento do Poder Judicirio, presidido por um terceiro imparcial, o conciliador, cuja atuao visa facilitar o acordo entre as partes envolvidas no conflito. Busca-se , sobretudo, que as partes cheguem soluo de seus problemas, por si mesmas. A conciliao um mecanismo autocompositivo, informal em que a soluo do problema no dada por um terceiro, e sim, pela atuao conjunta das partes, que proporcionam o fim do conflito como resultado de um consenso e uma soluo com benefcios mtuos2.

Portanto, a conciliao tem como objetivo possibilitar o dilogo e recuperar a negociao entre as partes, a fim de se chegar a um acordo sobre os interesses em questo.1

http://www.ejef.tjmg.jus.br/home/files/manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/t05_conciliacao_conceito. pdf. Acesso em 10 jun 2011. 2 http://www.ejef.tjmg.jus.br/home/files/manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/t05_conciliacao_conceito. pdf. Acesso em 11 jun 2011.

13

JOS LUS BOLZAN DE MORAES define conciliao:[...] figura de um terceiro interlocutor que proporcionar o debate entre s partes, s, que, no entanto, este conciliador se limitar a receber propostas de uma ou de outra parte, tentando, para fazer jus ao nome do instituto, conciliar os envolvidos na relao de atrito.3

A diferena entre conciliao e mediao reside em que, basicamente, na mediao, a terceira parte mediadora apoia as partes na sua reflexo e na sua deciso, fazendo emergir a deciso das mesmas. Na conciliao, a terceira parte conciliadora prope uma soluo s partes no processo. J a diferena entre mediao e arbitragem, reside no fato do rbitro tomar uma deciso que impe s partes que optaram pela arbitragem4.

Especificando a distino entre arbitragem, conciliao e mediao, tem-se que:

a)

Arbitragem quando as partes submetem seu conflito de interesses ao

julgamento de um rbitro que, aps a anlise do caso, proferir uma deciso, no caso, uma sentena arbitral, que vincular as partes ao seu cumprimento.

b)

Conciliao quando o conciliador oferece s partes uma alternativa para a

soluo do conflito. Cabe lembrar que o conciliador no impe s partes uma deciso, pois o conflito resolvido por propostas sugeridas pelo conciliador, e de forma voluntria aceita pelas partes. o que se observa nos Juizados Especiais (Lei 9.0099/95), em que a conciliao conduzida por um juiz togado, leigo, ou por um conciliador. c) A mediao busca aproximar os litigantes a fim de que estes, aps discutirem

os pontos controvertidos, cheguem a uma autocomposio do litgio. O mediador no decide e no sugere ou indica uma soluo, apenas propicia s partes auxlio para que se chegue a um acordo.5

Nota-se que, embora a arbitragem seja um meio extrajudicial de soluo de conflitos, no pode ser confundida com a mediao e a conciliao, pois estas so meios autocompositivos de soluo de litgios.

3 4

MORAES, Jos Lus Bolzan de. In. CHIOVENDA. Revista da Ajuris. n.77, vol. lII, p.201 http://www.forum-mediacao.net/module2display.asp?id=39&page=1. Acesso em 12 jun 2011. 5 Snteses Organizadas Saraiva. Conciliaao, mediao e arbitragem. ed. Saraiva.

14

1.2 A conciliao no direito brasileiro e sua previso legal

A conciliao est disposta no direito brasileiro, dentre outros, no artigo 331 do Cdigo de Processo Civil, que estabelece a audincia preliminar e a possibilidade de conciliao das partes anteriormente fase de instruo e julgamento da lide. Conforme WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI6, no ocorrendo as hipteses de extino do processo com base nos artigos 267 e 269, II a V, do Cdigo de Processo Civil, nem sendo casos de julgamento antecipado da lide, e a causa versar sobre direitos que admitem transao, dever o juiz designar audincia preliminar.

A tentativa de conciliao das partes no processo visa a ideia de otimizao do Poder Judicirio, sendo dever do magistrado propici-la, em qualquer fase do processo. Com isso, busca-se agilizar a tramitao dos processos com a soluo da lide via conciliao judicial, gerando, consequentemente, economia processual. 7

A conciliao possui as seguintes bases legais: no Cdigo de Processo Civil, o artigo 125, IV, relata que compete ao juiz tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes; o artigo 269, III, cita que haver resoluo de mrito quando as partes transigirem; o artigo 277 prev que o juiz designar a audincia de conciliao a ser realizada no prazo de trinta dias, sendo a conciliao, se houver, reduzida a termo e homologada por sentena, podendo o juiz ser auxiliado por conciliador; o artigo 331 ressalta que se versar a causa sobre direitos que admitam transao, o juiz designar audincia preliminar, a realizar-se no prazo de trinta dias, para a qual sero as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir e no pargrafo primeiro desse artigo, confere que, se obtida a conciliao, ser reduzida a termo e homologada por sentena; os artigos 448 e 449, dizem que antes de iniciar a instruo, o juiz tentar conciliar as partes, e chegando a acordo, o juiz mandar tom-lo por termo. O termo de conciliao, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, ter valor de sentena. J o artigo 475-N, trata como ttulo6

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flvio Renato C. de Almeida; TALAMINI, Eduardo, Curso Avanado de Processo Civil, vol. 1, 5 ed., So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p 520 e 521. 7 Ibid, p. 522.

15

executivo judicial a sentena homologatria de conciliao ou de transao, ainda que inclua matria no posta em juzo.8

No Cdigo Civil est a conciliao prevista no art. 840, em que afirma que lcito aos interessados prevenirem ou terminarem o litgio mediante concesses mtuas (transao). A Lei de Arbitragem Lei 9307/96, contribui para a conciliao e a diminuio das demandas judiciais, mas no frequentemente aclamada pelas partes. A arbitragem o acordo em que as partes, diante de um conflito, concordam remeter a lide para deciso de um rbitro, afastando-a do Poder Judicirio. Com a arbitragem, as partes pedem a um terceiro que aprecie a lide, devendo a deciso ser cumprida pelas partes, como se fosse uma sentena judicial. O artigo 1 da Lei 9307/96, define que as pessoas capazes de contratar podero valer-se da arbitragem para dirimir litgios relativos a direitos patrimoniais disponveis. No artigo 21, pargrafo 4, expe que competir ao rbitro ou ao tribunal arbitral, no incio do procedimento, tentar a conciliao das partes e, no seu artigo 28, se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litgio, o rbitro ou o tribunal arbitral poder, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentena arbitral; com esta, afasta a apreciao pelo Poder Judicirio, conforme o artigo 267, VII, do Cdigo de Processo Civil, extinguindo o processo sem resoluo de mrito por estar submetido conveno de arbitragem.9

No Cdigo de Defesa do Consumidor, a conciliao est disposta no artigo 5, IV, exaltando que cabe tambm aos Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a soluo de litgios de consumo e no artigo 107, ressalta que as entidades civis de consumidores e as associaes de fornecedores ou sindicatos de categoria econmica podem regular, por conveno escrita, relaes de consumo que tenham por objeto estabelecer condies relativas ao preo, qualidade, quantidade, garantia e caractersticas de produtos e servios, bem como reclamao e composio do conflito de consumo.

A conciliao no mbito do Poder Judicirio evoluiu significativamente sua aplicao com a Lei n. 9.099/95, dos Juizados Especiais Cveis e Criminais, na qual se8 9

http://portal.tjpr.jus.br/web/conciliacao/base_legal. Acesso em 25 jun 2011. BRASIL, Lei 9.307/1996, de 23 de setembro de 1996. On line, http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/leis/ L9307.htm. Acesso em 15 set 2011.

16

consagram vrios princpios jurdicos previstos j no artigo 2 dessa Lei, estabelecendo que o processo orientar-se- pelos critrios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possvel, a conciliao ou a transao. O artigo 3 dessa Lei define:Art. 3- O Juizado Especial Cvel tem competncia para conciliao, processo e julgamento das causas cveis de menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo valor no exceda a quarenta vezes o salrio mnimo; II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Cdigo de Processo Civil; III - a ao de despejo para uso prprio; IV - as aes possessrias sobre bens imveis de valor no excedente ao fixado no inciso I deste artigo. 1 Compete ao Juizado Especial promover a execuo: I - dos seus julgados; II - dos ttulos executivos extrajudiciais, no valor de at quarenta vezes o salrio mnimo, observado o disposto no 1 do art. 8 desta Lei. 2 Ficam excludas da competncia do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pblica, e tambm as relativas a acidentes de trabalho, a resduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. 3 A opo pelo procedimento previsto nesta Lei importar em renncia ao crdito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hiptese de conciliao.10

O artigo 60, da Lei 9.099/95, estabelece que o Juizado Especial Criminal, provido por juzes togados ou togados e leigos, tem competncia para a conciliao, o julgamento e a execuo das infraes penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexo e continncia. Portanto, cabe conciliao em matria criminal, nas hipteses previstas na Lei. A Lei n. 10.259/01, dos Juizados Especiais Federais, segue o mesmo caminho da Lei 9.009/95, conforme expe o artigo 1 dessa Lei - So institudos os Juizados Especiais Cveis e Criminais da Justia Federal, aos quais se aplica, no que no conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Nos Juizados Especiais, compete ao juiz, conciliadores e aos juzes leigos, buscarem uma soluo amigvel entre as partes, tentando, em contato prvio, anterior ao do juiz, encontrar uma alternativa que seja conveniente a ambas, e quando celebrado o acordo, o conciliador reduzir a termo e encaminhar a homologao pelo juiz.11 chamada de sesso de conciliao, conforme GONALVES12, ocorrer que: Na audincia,

10

BRASIL, Lei 9.099/1995 de 26 de setembro de 1995. On line, http// www.planalto.gov.br/ccivil/.../L9099.htm. Acesso em 15 out 2010. 11 GONALVES, Marcus Vincius Rios. Novo curso de direito processual civil. vol 2, 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2006. p.456. 12 Op.cit. p. 463 e 464.

17

Aberta a sesso de conciliao, o juiz togado ou leigo far na presena das partes e dos conciliadores, uma exortao a que se encontre uma soluo amigvel, estimulando as partes a se compor. Essa a oportunidade para que ele mostre o quo conveniente a soluo consensual [...]. Em seguida o conciliador conversar com as partes, e tentar obter a conciliao. Ele possivelmente se sentir mais a vontade do que o juiz para faz-lo, dado que no julgar o litgio. Assim, poder fazer sugestes e dar conselhos s partes, sem que parea uma antecipao de convico. Cumpre ao conciliador ser paciente, hbil na negociao, com sensibilidade de detectar os fatores emocionais subjacentes e os afastar ou superar.

Portanto, a criao dos Juizados Especiais est regulada pela Lei 9.099/95 no mbito estadual e 10.259/01, no mbito federal, tendo a devida previso constitucional no artigo 98 da Constituio Federal, dispondo que:

Art. 98- A Unio, no Distrito Federal e nos Territrios, e os Estados criaro: I - juizados especiais, providos por juzes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliao, o julgamento e a execuo de causas cveis de menor complexidade e infraes penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumarssimo, permitidos, nas hipteses previstas em lei, a transao e o julgamento de recursos por turmas de juzes de primeiro grau. 13

Para TOURINHO NETO14 , o Magistrado tem perante os litigantes, um importante compromisso, que tentar a autocomposio, pois a composio amigvel a melhor forma de solucionar conflitos jurdicos e sociolgicos . A vantagem da conciliao e da transao, que ambos os institutos proporcionam a extino da lide processual, parcial ou total, atravs de uma sentena de mrito, sem que dela resultem vencedores e perdedores, o que proporciona entre as partes, profunda satisfao.

Por tudo isso, os Juizados Especiais so considerados um marco e um grande divisor entre a denominada justia clssica e a contempornea com o advento da Lei 9.099/95, sendo recepcionada pela Lei 10.259/0115.

A Lei 5.478/68 (Lei de Alimentos), no artigo 9, fixa que aberta a audincia, lida a petio ou o termo, e a resposta, se houver, ou dispensada a leitura, o juiz ouvir as partes litigantes e o representante do Ministrio Pblico, propondo conciliao, e no artigo 11,13

BRASIL, Constituio Federal de 1988. On line, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao /constitui % C3 % A7ao.htm. Acesso em 10 jun 2011. 14 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais: comentrios Lei 10.259, de 10.07.2001/ Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias Figueira Jnior- So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. P. 79-82 15 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit, p. 83.

18

pargrafo nico, firma que terminada a instruo, o juiz renovar a proposta de conciliao e, no sendo aceita, ditar sua sentena, que conter sucinto relatrio do ocorrido na audincia.16 Na Consolidao das Leis Trabalhistas CLT, a conciliao est prevista no artigo. 649, em que as Juntas de Conciliao e Julgamentos podero conciliar, instruir ou julgar. No artigo 764, institui:Art. 764- Os dissdios individuais ou coletivos submetidos apreciao da Justia do Trabalho sero sempre sujeitos conciliao. 1 - Para os efeitos deste artigo, os juzes e Tribunais do Trabalho empregaro sempre os seus bons ofcios e persuaso no sentido de uma soluo conciliatria dos conflitos. 2 - No havendo acordo, o juzo conciliatrio converter-se- obrigatoriamente em arbitral, proferindo deciso na forma prescrita neste Ttulo. 3 - lcito s partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juzo conciliatrio. 17

O artigo 831, pargrafo nico, da Consolidao das Leis do Trabalho, institui que, no caso de conciliao, o termo que for lavrado valer como deciso irrecorrvel, salvo para a Previdncia Social, quanto s contribuies que lhe forem devidas, e no artigo 850 da citada consolidao, ressalta que terminada a instruo, podero as partes aduzir razes finais, em prazo no excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovar a proposta de conciliao, e no se realizando esta, ser proferida a deciso.

Outra forma de conciliar as partes por intermdio da conciliao extrajudicial prvia, resultante da Lei 9958/00, que incrementou os artigos 625-A a 625-H, 876 e 877-A, na Consolidao das Leis Trabalhistas- CLT. O artigo 625-A da CLT define que as empresas e os sindicatos podem instituir Comisses de Conciliao Prvia, de composio paritria, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribuio de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Estabelece, no artigo 625-D da referida CLT, que qualquer demanda de natureza trabalhista ser submetida Comisso de Conciliao Prvia se, na localidade da prestao de servios, houver sido instituda a Comisso no mbito da empresa ou do sindicato da categoria e no pargrafo nico, que no prosperando a conciliao, ser fornecida ao empregado e ao empregador declarao da tentativa conciliatria frustrada com a16

BRASIL, Lei 5.478/1968 de 25 de julho de1968. On line http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5478 .htm. Acesso em 29 out. 2010. 17 BRASIL, Decreto-Lei 5452/1943 de 01 de maio de1943, Consolidao das Leis Trabalhistas CLT. On line http//www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em 25 out. 2010.

19

descrio de seu objeto, firmada pelos membros da Comisso, que dever ser juntada eventual reclamao trabalhista. Por fora do artigo 625-E da CLT, aceita a conciliao, ser lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da Comisso, fornecendo-se cpia s partes. O termo de conciliao extrajudicial ttulo executivo extrajudicial e ter eficcia liberatria geral, exceto quanto s parcelas expressamente ressalvadas. Os acordos extrajudiciais no cumprido, sero executados, e ser competente o juiz que teria competncia para o processo de conhecimento relativo matria, como prevem os artigo 876 e 877-A, da Consolidao das Leis Trabalhistas, respectivamente. 18

Com a premissa legal supramencionada, vm se intensificando ncleos intersindicais de conciliao trabalhista, com o propsito de participar da conciliao prvia. Conforme ARRUDA(2002), em algumas cidades de Minas Gerais e Paran, entre outras, recentemente, foram criadas entidades comunitrias com a participao dos sindicatos patronais e dos trabalhadores, alm de autoridades pblicas, que se dedicam conciliao dos litgios trabalhistas, homologaes de rescises contratuais, bem como arbitragem voluntria.19

1.3 Os princpios orientadores da conciliao

A conciliao a forma de soluo de conflitos atravs da interveno de um conciliador. Para isso, de suma importncia a utilizao as tcnicas de conciliao para facilitar o dilogo e a comunicao das partes envolvidas, de maneira que o conflito seja resolvido a partir de alternativas construdas por elas mesmas. A soluo, portanto, h de se mostrar satisfatria para ambas as partes e no apenas para o eventual vencedor do processo, contribuindo para o amadurecimento delas enquanto cidados, uma vez que, conhecendo melhor a si mesmos e ao prximo, podero viver e conviver de forma mais harmnica, evitando conflitos futuros20.

18 19

http://portal.tjpr.jus.br/web/conciliacao/base_legal. Acesso em 25 jun 2011. ARRUDA, Hlio Mrio de; DIONSIO, Snia das Dores. A Conciliao Extrajudicial Prvia. Belo Horizonte: Lder, 2002. p. 35 20 BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador. On line http://www.ejef.tjmg.jus.br /home/files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso em 15 julho 2011.

20

Segundo o Manual do Conciliador elaborado pelo Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, alguns princpios so utilizados na mediao de conflitos, que podem nortear o trabalho da conciliao.

1.3.1 Princpio da neutralidade e imparcialidade

Na interpretao deste princpio, o conciliador deve ser e manter-se imparcial diante dos envolvidos na lide, sob pena de comprometer a sua atuao e a efetividade da conciliao. Deve manter-se equidistante, e na medida em que se observe parcial no conflito, dever abandonar o processo conciliatrio. Conforme SANTOS21, o juiz, bem como o conciliador, dever ser um terceiro com relao s partes, ficando impedido de exercer a jurisdio, quando ocorrer circunstncia que o torne passvel de parcialidade, como preceitua os artigos 134 e 135 do Cdigo de Processo Civil. Quanto neutralidade, RODOLFO PAMPLONA FILHO22 ensina:

[..] impossvel para qualquer ser humano conseguir abstrair totalmente os seus traumas, complexos, paixes e crenas (sejam ideolgicas, filosficas ou espirituais) no desempenho de suas atividades cotidianas, eis que a manifestao de sentimentos uma dos aspectos fundamentais que diferencia a prpria condio de ente humano em relao ao frio "raciocnio" das mquinas computadorizadas.

Portanto, no se deve descuidar da diferenciao existente entre a neutralidade e imparcialidade, visto que, no se deve exigir do bom conciliador que seja ele neutro no exame do conflito, porque por certo, ele detentor de preconceitos culturais e sociais, que devem ser relativizados por ocasio da tentativa de pacificao. Ento, deve sim ele ser imparcial, pois jamais ser efetivamente neutro.

21

SANTOS, Ernane Fidlis dos. Manual de direito processual civil, volume 1, 13 Ed. So Paulo: Saraiva, 2009. p. 12. 22 FILHO, Rodolfo Pamplona. Artigo: O mito da neutralidade do juiz como elemento de seu papel social. On line, http://jus.com.br/revista/texto/2052/o-mito-da-neutralidade-do-juiz-como-elemento-de-seu-papel-social. Acesso em 15 julho 2011.

21

1.3.2 Princpio da aptido tcnica

Conforme o Manual do Conciliador do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, a conciliao no deve guiada apenas por instinto, espera-se que o conciliador tenha a sua atuao pautada na tcnica e preparado para conduzir harmoniosamente a sesso de conciliao.23

Tambm conhecido como princpio da competncia, pois o conciliador deve possuir as qualificaes necessrias para atender as expectativas das partes.24

Com esse princpio, o cidado se sentir mais seguro e interessado a participar do processo de conciliao, tendo confiana em seu condutor na aplicao das tcnicas adequadas no desenvolvimento e alcance de uma soluo.

1.3.3 Princpio da autonomia privada

Possibilita liberdade para que o cidado possa decidir assuntos de seu interesse, sem a interferncia de terceiros, especialmente do Estado. Portanto, no processo de conciliao, o prprio envolvido pode construir a soluo do seu conflito sob a coordenao do conciliador cuja interveno facilitar o restabelecimento da comunicao entre os envolvidos.

Considera-se tambm como o Princpio da Autodeterminao, onde as partes devem encontrar um acordo voluntrio, sem imposio coercitiva.25

As solues construdas pelos prprios interessados tendem a ser cumpridas, ao revs do que ocorre com as decises impostas que, por vezes, resultam em no cumprimento, com a23

BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador. On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso em 15 julho 2011. 24 MANUAL DO CONCILIADOR. On line,www.ceunsp.com.br/revistajuridica/artigos/manual_conciliador.pdf. Acesso em 03 set 2011. 25 Ibid.

22

instaurao de um novo conflito, causa de frustrao e descrdito no processo e no Poder Judicirio.26

1.3.4 Princpio da deciso informada

O Manual do Conciliador do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais relata que as pessoas tm o direito de receber informaes sobre as composies que esto se realizando, de modo que no sejam surpreendidas por qualquer fato inesperado da soluo pela qual optaram27.

1.3.5 Princpio da confidencialidade

O princpio trata da importncia do sigilo nos assuntos tratados entre o conciliador e os envolvidos para um bom andamento da conciliao. O conciliador precisa conquistar a confiana dos envolvidos no conflito, nico modo que os levar a relatar o problema em toda sua dimenso, sendo que, poucos tm a franqueza de detalhar sua vida particular, as suas divergncias com outras pessoas, se no confia plenamente no conciliador.28

O conciliador somente revelar informaes quando receber autorizao de todas as partes ou por requisio legal.29

26

BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador. On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso em 15 julho 2011. 27 Ibid. 28 Ibid. 29 MANUAL DO CONCILIADOR, On line,www.ceunsp.com.br/revistajuridica/artigos/manual_conciliador.pdf. Acesso em 03 set 2011.

23

1.3.6 Princpio pax est querenda

Tambm conhecido por princpio da normalizao do conflito, esse princpio exige do conciliador uma postura que tranquilize os envolvidos, uma vez que a contraposio de interesses comum e mesmo inseparvel da pessoa humana. Sendo assim, se a desavena um produto natural da sociedade humana, tambm verdade que a soluo desses embates almejada por todos, especialmente pelos envolvidos.30

1.3.7 Princpio do empoderamento

O princpio do empoderamento adota o carter pedaggico de formar o cidado para se tornar agente de resolues de conflitos futuros, em que porventura esteja envolvido, a partir da experincia que viveu no mbito da conciliao.31

1.3.8 Princpio da validao

A adeso consciente e voluntria ao pacto estabelecido na conciliao fundamental para que o acordo seja cumprido, extinguindo de vez o desencontro entre os envolvidos.

Para evitar que o conflito ressurja de outras maneiras, convm assegurar se o acordo expressou a vontade das pessoas, se ficou algum ponto obscuro, se as conseqncias do acordo ficaram bem esclarecidas e se os envolvidos esto satisfeitos com o pacto que celebraram. Por esse princpio, exige-se tambm que o acordo seja analisado em suas caractersticas intrnsecas enquanto ttulo executivo extrajudicial, ou seja, se atende aos requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade32.

30

BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador, On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso em 15 julho 2011. 31 Ibid. 32 Ibid.

24

J o art. 2 da Lei no 9.099/95, expe os principais princpios informadores dos Juizados Especiais, e, consequentemente, so esteios da conciliao, estabelecendo que o processo orientar-se- pelos critrios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando sempre que possvel a conciliao e a transao. Estes princpios constituem a prpria razo de ser dos Juizados Especiais, criados objetivando estender maior parte da populao brasileira a possibilidade de vindicar os seus interesses, na esfera institucional, como forma de solucionar racionalmente os problemas do cotidiano, segundo os princpios maiores do estado de direito e do regime democrtico.33 por isso que o legislador veio dispor sobre os princpios da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da economia processual e da celeridade. Ele percebeu que as regras processuais comuns quase haviam se tornado um fim em si mesmo, deixando muitas vezes de lado o direito material.34

Nos Juizados Especiais, a conciliao e a transao so buscadas sempre que possvel, a fim de que a vontade do rgo monocrtico no se substitua as partes. Conforme reafirma SILVA35, uma maneira de devolver a estas a capacidade inicial de resolver os prprios problemas sem que seja necessria a interveno estatal, que, por mais justa que seja, deixar um dos litigantes descontente e insatisfeito. Do ponto de vista social, mais interessantes que os litigantes saiam parcialmente satisfeitos e conscientes que aquele litgio encontrou um fim tambm no nvel psicolgico do que haja uma soluo tcnica e juridicamente perfeita. Segundo DINAMARCO36, a liberdade das formas no processo nos Juizados Especiais, expressa no binmio simplicidade-informalidade que o art. 2 da Lei no 9.099/95 recomenda, no compromete a boa qualidade do servio, pois a Lei traz em si as indispensveis salvaguardas destinadas a evitar o arbtrio judicial e assegurar a plena realizao das exigncias constitucionais relativas ao due processo of Law.

Destaca-se, ainda, no referido artigo, o princpio da economia e da celeridade, que foram cultivados com extrema preocupao no procedimento concentrado que a Lei33

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Lei dos juizados especiais cveis anotada. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2001. p.4. 34 Ibid. p. 5. 35 Ibid. p. 6. 36 DINAMARCO, Cndido Rangel. Manual dos juizados cveis. 2 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2001. p.24-25.

25

disciplina. O processo autenticamente oral, onde o princpio da oralidade adornado por princpios-satlites que o tornam efetivo, til e vivel(imediatidade, concentrao, irrecorribilidade das decises interlocutrias).37 Para DINAMARCO38, o legislador teve conscincia, tambm, de que a conciliao constitui poderosssima arma de pacificao social, dada a natural tendncia das pessoas a aceitar e a cumprir as solues que elas prprias elaboraram ou aceitaram voluntariamente. O valor social da conciliao destacado no art. 2 da Lei dos Juizados Especiais, que se encarregou de oferecer a programao dos princpios e critrios do novo processo institudo.

Dando nfase aos princpios elencados no art. 2 da Lei 9099/95, TOURINHO NETO39 define os princpios da oralidade, da informalidade, da simplicidade, da economia processual, da imediao, da concentrao dos atos, da identidade fsica do juiz e o da celeridade, que norteiam conjuntamente a conciliao.

1.3.9 Princpio da oralidade

Quando h a predominncia da palavra oral sobre a escrita, com o objetivo de dar maior agilidade entrega da prestao jurisdicional, beneficiando, desse modo o cidado.40 J para CHIOVENDA41, o processo oral se resolve com a aplicao dos seguintes princpios:

a. Prevalncia da palavra como meio de expresso combinada com uso de meios escritos de preparao e de documentao; b. Imediao da relao entre o juiz e as pessoas cujas declaraes deva apreciar;37

DINAMARCO, Cndido Rangel. Manual dos juizados cveis. 2 ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2001. p.24-25. 38 Ibid, p. 25. 39 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.65. 40 Ibid, p.65

26

c. Identidade das pessoas fsicas que constituem o juiz durante a conduo da causa, explicando que este princpio depende dos dois outros; d. Concentrao do conhecimento da causa num nico perodo(debate) a desenvolver-se numa audincia ou em poucas audincias contguas, frisando que este princpio a principal caracterstica exterior do processo oral, e a que mais influi na abreviao das lides; e. Irrecorribilidade das decises interlocutrias em separado. Para por em prtica a oralidade e a concentrao exige-se ademais que a deciso do incidente no seja recorrvel parte da questo principal. Para TOURINHO NETO42, o legislador, atento ao princpio da oralidade, disps, quanto aos Juizados Especiais, que: a composio dos danos civis ser homologada pelo juiz em sentena irrecorrvel (art. 74 da Lei 9.099/95); s os atos exclusivamente essenciais sero objeto de registro escrito (art. 65, 3, da Lei 9.099/95); nenhum ato ser adiado (art. 80 da Lei 9.099/95); todas as provas sero produzidas na audincia de instruo e julgamento (art. 81, 1, da Lei 9.099/95); a sentena ser proferida em audincia (art. 81, 2, da Lei 9.099/95); somente ser admitido recurso de sentena definitiva, salvo nos casos do art. 4 da Lei 10.259/01, conforme preceitua o art. 5 dessa Lei.

Observa-se, pois, que o Juizado Especial , realmente, regido pela oralidade. a forma objetiva que as partes interagem entre si e com o juiz, o que viabiliza o dilogo, o acordo, as propostas, enfim, a conciliao.

Cabe ao juiz estar atento audincia, no pode desviar o pensamento, sob pena de deixar de escapar dados importantes para o julgamento, ele deve estar presente na audincia de corpo e esprito, o que leva a detectar onde as partes, as testemunhas foram deficientes por omisso ou inexatido, e reparar por meio de oportunas interrogaes. Constatar-se- sinais de veracidade ou de mentiras na fisionomia, no som da voz, na serenidade ou no embarao de quem depe. um acmulo precioso de provas indiretas, que se perde quando se julga pelo escrito.4341

CHIOVENDA, Giusepe. Instituies de direito processual civil. 1969. In: TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.65-66. 42 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 66. 43 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 67.

27

Naturalmente que falar-se em processo oral no a mesma coisa que falar em processo verbal, ou seja, aquele processo em que as partes s falam e nada se escreve. Essa prtica sequer recomendada, em especial quando se sabe que, em caso de recurso, a turma julgadora precisar tomar conhecimento das provas produzidas para poder manifestar-se sobre o recurso.44

A oralidade reduz de escrita, mas no a elimina, fazendo que o procedimento adote a oralidade como princpio e venha a reduzir a termo somente os atos relevantes para a causa. JOS CRETELLA JNIOR45 leciona sobre a oralidade, in literes:

Na realidade, os procedimentos oral e escrito complementam-se. Quando o legislador alude ao procedimento oral, ou ao procedimento escrito, isto significa no a contraposio ou excluso, mas a superioridade de um, ou de outro modo, de agir do juzo. Ambos os tipos de procedimentos dizem respeito ao modo de comunicao entre as partes e o juiz.[] O procedimento oral fundamenta-se no apenas em fatos e atos que o juiz conhece, de viva voz, como tambm em provas produzidas.

1.3.10 Princpio da informalidade

Trata-se do desapego s formas rgidas e burocrticas. Procurar o juiz, os conciliadores e os servidores do juizado evitar ao mximo o formalismo, a exigncia desproporcional no cumprimento de normas processuais e cartorria. Perdurar mera formalidade necessria, o tratamento adequado, sempre reprovvel a vulgaridade. As formas solenes, burocratizantes e vexatrias, que no levam a nada, so desnecessrias perfeio dos atos, de acordo com TOURINHO NETO.46

1.3.11 Princpio da simplicidade44

FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias. Juizados especiais federais cveis e criminais: comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.91. 45 J. CRETELLA JR, Comentrios Constituio de 1988,vol.VI, art. 98 I. 1990. In: FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.91. 46 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 68

28

O procedimento deve ser simples, natural, sem aparato, franco e espontneo, a fim de deixar os interessados vontade para exporem seus objetivos. Para a conciliao poder ser exitosa, as partes devem estar num ambiente agradvel, calmo, simples, para ento o juiz ou o conciliador, ser efetivo.47

1.3.12 Princpio da economia processual

A agilidade essencial para a eficincia da conciliao, pois, reduz satisfatoriamente a durao do conflito entre as partes. Para TOURINHO NETO48 , a diminuio de fases e atos processuais leva rapidez, economia de tempo, logo, economia de custos. O objetivo obter o mximo resultado com o mnimo emprego possvel de atividades processuais, possibilitando tambm a concentrao dos atos processuais. No Juizado Especial, busca-se, sobretudo, com aplicao desses princpios, a reparao dos danos sofridos pela vtima e aplicao de pena no-privativa de liberdade, conforme prev o art. 62, da Lei 9.099/95. E isso conseguido com o princpio da identidade fsica, dele derivando os princpios da imediao e da concentrao dos atos.

1.3.13 Princpio da imediao

Por esse princpio, d-se uma relao prxima, imediata, entre o juiz, acusado, vtima e testemunhas, havendo um maior contato do juiz com as partes. Com esse princpio, s o juiz que participou da audincia que pode julgar o feito. Corolrio, portanto, da identidade fsica do juiz.49

47 48 49

TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 68 Ibid, p. 69. Ibid. p.69.

29

Segundo FIGUEIRA JNIOR50, este princpio preconiza que o juiz deve proceder de forma direta a colheita das provas, em contato imediato com as partes e advogados, bem como propor a conciliao, expor questes controvertidas, dialogar, sem maiores formalidades. Com isso, facilitar numa composio amigvel, ou no melhor convencimento do julgador. A vantagem desse princpio a obteno de qualidade na colheita das provas pela aproximao com as partes.

1.3.14 Princpio da concentrao de atos

Por fora desse princpio, os atos praticados no processo devem ficar juntos ou prximos uns dos outros. At a sentena pode ser prolatada em audincia, logo aps a instruo, o que na prtica tem sido raro. Para FIGUEIRA JNIOR51, este princpio pressupe que os atos processuais sejam concentrados dentro do possvel, ou seja, realizados numa nica etapa ou em audincias aproximadas. Por isso, nada impede que se faa na prtica a sesso de conciliao em fase preliminar instruo e julgamento, esta, a ter seguimento em data posterior, em face do acmulo de audincia nas pautas dos juzes e, tambm, porque a fase preliminar, muitas vezes, presidida por conciliadores ou juzes leigos. Geralmente o que tem se observado, porm precisamos avanar na qualificao de conciliadores e juzes para a efetividade da conciliao. Como lembra DEMERCIAN52:

Nem sempre se pode concentrar numa nica audincia todos os atos de instruo. O direito prova deve ser resguardado, incumbindo ao magistrado, sempre atento, s regras garantidoras do contraditrio e da ampla defesa, alm do indeclinvel bom senso, indeferir as provas que demonstrem inequvoco carter procrastinatrio ou que no guardem qualquer relao com o objeto do processo.

50 51

FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias. Op.cit. p. 94. Ibid, p. 94 52 DEMERCIAN, Pedro Henrique. A oralidade no processo penal brasileiro. 1999. In: TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.70.

30

1.3.15 Princpio da imutabilidade ou da identidade fsica do juiz

Por esse princpio, o magistrado que colheu a prova deve ser o mesmo a sentenciar, salvo nas hipteses de aposentadoria, remoo ou outras excepcionalidades.53 Ensina TOURINHO NETO54:

Dos princpios da oralidade, da concentrao dos atos processuais e da imediaticidade, decorre, sem dvida alguma, o princpio da identidade fsica do juiz, pois, sendo quase todos os atos orais, como outro juiz, que no presidiu a instruo, poderia proferir a sentena? Se isso acontecesse, os atos teriam de ser repetidos.

Explica CHIOVENDA55:

claro, com efeito, que tanto a oralidade quanto a imediao so impraticveis se os diversos atos processuais se desenvolvem perante pessoas fsicas a cada trecho variadas; pois que a impresso recebida pelo juiz que assiste a um ou mais atos no se pode transfundir no outro que tenha de julgar, mas somente se lhe poderia transmitir por meio da escrita, e, em tal hiptese, o processo que seria oral em relao ao juiz instrutor, tornar-se-ia escrito relativamente ao julgador". Adiante, explica didaticamente: [...] Tudo isso, ao invs, indiferente no processo escrito, no qual, julgando-se sobre o que est escrito, pouco importa que uma atividade seja exercida perante um juiz, outra perante outro, e um terceiro juiz decida. como se o processo fosse um quadro, uma esttua, um edifcio, que um artista pode esboar e outro concluir, e no uma cadeia de raciocnios, que exige, quanto seja possvel, a unidade da pessoa que o realiza.

Nas lies de FIGUEIRA JNIOR56, destaca a importncia do magistrado seguir pessoalmente o trmite processual, a instruo da causa, preferencialmente desde o incio da demanda, at seu trmino, ressalvadas as hipteses do art. 132 do Cdigo de Processo Civil que diz:Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audincia julgar a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passar os autos ao seu sucessor.53 54

TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 70. Ibid, p. 71. 55 CHIOVENDA, Giusepe. Instituies de direito processual civil. 1969. In: TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.71. 56 FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias. Op.cit. p.95.

31

Pargrafo nico. Em qualquer hiptese, o juiz que proferir a sentena, se entender necessrio, poder mandar repetir as provas j produzidas. 57

1.3.16 Princpio da celeridade

Explica TOURINHO NETO58 que nas frias forenses e nos feriados, o andamento dos feitos no sofrer soluo de continuidade, conforme determina o art. 64 da Lei n. 9.099/95. Os atos processuais sero pblicos e podero realizar-se em horrio noturno em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organizao judiciria. No h distino entre atos dos Juizados e das Turmas Recursais. O Juizado Especial pode, portanto, funcionar em qualquer dia da semana, de domingo a domingo, e a qualquer hora, seja durante o dia, seja durante a noite. O Cdigo de Processo Penal, no art. 797, faculta que os atos do processo, excetuadas as sesses de julgamento, possam ser praticados em perodo de frias, em domingos e dias feriados. Faz, portanto, distino. Comentando este artigo, explica EDUARDO ESPNOLA FILHO59:

Somente em relao a sesses de tribunal, de primeira ou segunda instncia, vigora a proibio de convocao para domingo ou feriado; ainda assim, o julgamento iniciado em dia til pode prolongar-se pelo dia, ou pelos dias seguintes, a despeito da supervenincia de domingo ou feriado. Regra que, na prtica, s interessa ao funcionamento do jri. Bem se percebe que, apenas excepcionalmente, admissvel o funcionamento do juzo em domingos e feriados, e a fantasia ou capricho do magistrado, mesmo apegando-se ao acmulo de servio, muito mal impressionariam, sujeitando os outros a trabalhar nestes dias de repouso semanal.

Conforme TOURINHO NETO60 , a celeridade decorrente, tambm, de no haver inqurito policial, do rito ser por demais simples, da adoo dos princpios da oralidade, da imediatidade e da identificao fsica do juiz.57

BRASIL, Lei 5.869/73 de 11 de janeiro 1973,. On line, http// www.planalto.gov.br/ccivil/.../L5869.htm. Acesso 15 jul 2011 58 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 72. 59 ESPNOLA FILHO, Eduardo. Cdigo de processo penal brasileiro anotado. 1976. In: TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cveis e criminais:comentrios lei 10.259, de 10.07.01, Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias figueira Jnior. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.72. 60 TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Op.cit. p. 72.

32

1.3.17 Princpio da irrecorribilidade das decises

Princpio defendido por FIGUEIRA(2002), em que permite a agilidade no andamento do processo, com a irrecorribilidade das decises interlocutrias, bem como, preserva a oralidade do processo. Com o princpio da oralidade e da concentrao dos atos, por si s desaconselham o recurso, onde na prpria audincia poder ser resolvida a divergncia. 61

Os princpios supramencionados so os principais que orientam a conciliao na resoluo dos conflitos, sejam eles judiciais ou at mesmo, extrajudiciais. Cabe ao

conciliador segui-los, na busca da efetividade da conciliao e da satisfao das partes envolvidas.

61

FIGUEIRA JNIOR, Joel Dias. Op.cit. p. 94.

33

2 O PAPEL DO CONCILIADOR

Para a conciliao ser exitosa, imprescindvel uma eficiente atuao do conciliador, transmitindo conhecimento e consequentemente, segurana s partes. O artigo 21 da Lei 9.099/95 j estabelece essa atribuio do conciliador, em que este, deve esclarecer as partes das vantagens e desvantagens da conciliao e os riscos do desenrolar do litgio.

Diz o supracitado artigo que, aberta a sesso, o juiz togado ou leigo esclarecer as partes presentes sobre as vantagens da conciliao, mostrando-lhes os riscos e as conseqncias do litgio, especialmente quanto ao disposto no 3 do art. 3 desta Lei. De forma relevante, SILVA62 ensina que:

O acordo sempre vantajoso para as partes, as quais, normalmente, fazem concesses recprocas, assim como para a sociedade, que prefere que os prprios litigantes coloquem um fim sua disputa a que o litgio tenha de se resolvido por terceira pessoa, coercitivamente, para a satisfao de um e para a insatisfao do outro.

Conforme o Conselho Nacional de Justia(CNJ):

Conciliao um meio alternativo de resoluo de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a funo de aproxim-las e orient-las na construo de um acordo. O conciliador uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntria e aps treinamento especfico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propcio ao entendimento mtuo, aproximao de interesses e harmonizao das relaes. Conforme o momento em que for feito o acordo, a conciliao pode se dar na forma processual, quando a lide j est instaurada, ou pr-processual, tambm denominada informal, quando os conflitos ainda no foram jurisdicionalizados. A conciliao possibilita Justia atuar de forma dinmica e efetiva, uma vez que resulta na pronta resoluo das lides, alm da conseqente diminuio do tempo de anlise das questes judiciais63.

Elucida FTIMA NANCY ANDRIGHI64 que, para prosperar a conciliao, no s o comportamento do juiz relevante, mas tambm o papel do advogado. Apesar disso, o que62 63

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Op.cit. p. 95. http://veredictum.adv.br/blog/2008/01/31/conciliacao-o-papel-do-conciliador/. Acesso em 09 set 2011.

34

se observa por parte de alguns advogados um repdio pela realizao da audincia de conciliao, onde as partes so orientadas de que no precisam comparecer audincia, porque o juiz s vai tentar a conciliao.

Para mudar essa concepo de alguns advogados sobre a conciliao, cabe mostrar o quanto ela oportuna se considerarmos a sobrecarga de atividades de um juiz nos dias atuais, acrescida da celeridade e segurana do ato conciliatrio. Contudo, a homologao do acordo e a extino do processo permitem ao advogado agilidade no recebimento dos honorrios, sem as surpresas do julgamento pelo magistrado.

Cabe relembrar a diferena entre conciliao e mediao, em que, na mediao, a terceira parte mediadora apia as partes na sua reflexo e na sua deciso, fazendo emergir a deciso das mesmas, enquanto que na conciliao, a terceira parte conciliadora prope uma soluo s partes no processo. Portanto, a mediao uma tcnica de resoluo alternativa de conflitos nos quais as partes envolvidas na lide so orientadas por um terceiro, denominado mediador. Ele que o responsvel por conduzir o dilogo de forma imparcial, o que proporciona um alto grau de satisfao.

A mediao um sistema de negociao facilitada, pelo qual as partes em conflito, de preferncia assistido por seus advogados, tentando resolver com a ajuda de um terceiro imparcial (mediador ou conciliador), que atua como um condutor da sesso, ajudando os envolvidos na mediao para encontrar uma soluo que seja satisfatria. O objetivo promover a aproximao pacfica e cooperativa entre os envolvidos no conflito. O mediador ajuda a esclarecer e identificar os interesses e chegar a um acordo, sem perda de tempo, dinheiro e esforo que significa outros processos.65

64

ANDRIGHI, Ftima Nancy. Ministra do Superior Tribunal de Justia , conciliao judicial, Palestra Proferida na IV Jornada Brasileira de Direito Processual Civil. Fortaleza, 2009. On line, http://bdjur.stj.gov.br/ dspace handle/2011/605. Acesso em 15 ago 2011. 65 FRANCO O., Oscar J., Considerasiones y anlisis de la normativa vigente en Latinoamrica sobre los medios alternativos de resolucin de conflictos. On line, http//www.adrr.com/camara/analysis.htm. Acesso em 01 out 2011.

35

2.1 nfase conciliao

A mobilizao em capacitao de magistrados, no que se refere conciliao para a soluo pacfica de conflitos, verifica-se no Ministrio da Justia, que recentemente criou um curso de Tcnicas de Conciliao e Composio de Conflitos em Florianpolis (SC). O pblico-alvo foram vinte e cinco juzes federais do Tribunal Regional Federal da 4 Regio que atuam na capital de Santa Catarina. O curso teve como objetivo capacitar os magistrados a buscar novas estratgias de pacificao social, substituindo o atual paradigma de batalha na resoluo de conflitos. Para o Ministrio da Justia, o curso parte da poltica do Ministrio de aperfeioamento dos magistrados para conferir maior efetividade pacificao. Caber aos magistrados transformar a realidade social da regio atuando como multiplicadores e repassando as tcnicas aprendidas durante o curso a outros profissionais.66

O fortalecimento da mediao e da conciliao uma dessas aes que busca a construo de uma nova cultura voltada pacificao social dos conflitos j judicializados. Em 2008, o Pronasci destinou cerca dois milhes e meio de reais em cursos de capacitao e aperfeioamento em tcnicas de mediao e conciliao de conflitos. Os Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran, alm do Distrito Federal, j realizaram cursos para aproximadamente trezentos magistrados, entre juzes estaduais e federais, conforme divulga o Ministrio de Justia. 67

Ademais, a importncia da conciliao se observa, inclusive, no Anteprojeto do Novo Cdigo Processo Civil. Nota-se que a ideia da Comisso responsvel pela redao do anteprojeto foi a de incentivar a utilizao dos mtodos alternativos de soluo de conflitos, principalmente da conciliao e da mediao, no curso do processo.68

Vrios so os artigos e incisos que inserem enfaticamente a conciliao e a medio na soluo dos conflitos, como o artigo 107, inciso IV do Anteprojeto do Novo Cdigo de66

http://portal.mj.gov.br/cfdd/data/Pages/MJ65097B8FITEMID41AA34488DAF462686C13AFC777E5CD1PT BRNN.htm, acesso 20 ago 2011. 67 Ibid 68 LUCHIARI, Valria Ferioli Lagrasta. Juza de Direito da 2 Vara da Famlia e das Sucesses da Comarca de Jundia/SP. Artigo: O anteprojeto de cdigo de processo civil, a conciliao e a mediao. On line direitoprocessual.org.br /.../A_conciliao_no_projeto_de_Novo_CPC.Acesso em 01 set 2011.

36

Processo Civil (ANCPC), onde se estabeleceu entre os deveres do juiz, o de tentar prioritariamente e a qualquer tempo, compor amigavelmente as partes, preferencialmente com auxlio de conciliadores e mediadores.69 Assim, VALRIA LAGRASTA LUCHIARI70 conclui que:

Pode-se considerar relevante a redao deste inciso, mais ampla que do artigo 125, inciso IV, do CPC em vigor, que apenas menciona a conciliao, permitindo que a qualquer tempo possa o magistrado tentar conciliar as partes, permitindo mas no priorizando a tentativa de composio das partes no curso do processo, deixando de mencionar, ainda, que a mesma deveria preferencialmente ser levada a efeito com o auxlio de terceiros facilitadores (conciliadores e mediadores).

Com esse incremento do ANCPC, observar-se- uma soluo clere, justa, adequada e efetiva para o conflito, e o reconhecimento dos conciliadores e mediadores, devidamente capacitados para tal efetividade.

O Anteprojeto do Novo Cdigo de Processo Civil delegar a cada tribunal a atribuio de institurem um setor de conciliao e mediao, como j se observa na prtica em alguns tribunais do Pas. Isso tudo est previsto no art. 134, bem como, os princpios que a nortearo a conciliao.Art. 134. Cada tribunal pode propor que se crie, por lei de organizao judiciria, um setor de conciliao e mediao. 1 A conciliao e a mediao so informadas pelos princpios da independncia, da neutralidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade e da informalidade. 2 A confidencialidade se estende a todas as informaes produzidas ao longo do procedimento, cujo teor no poder ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberao das partes. 3 Em virtude do dever de sigilo, inerente sua funo, o conciliador e o mediador e sua equipe no podero divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliao ou da mediao.71

69

BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comisso de Juristas Responsvel pela Elaborao de Anteprojeto de Cdigo de Processo Civil. Braslia : Senado Federal, Presidncia, 2010, on line, http:// www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf, acesso 01 set 2011. 70 LUCHIARI, Valria Ferioli Lagrasta. Juza de Direito da 2 Vara da Famlia e das Sucesses da Comarca de Jundia/SP. Artigo: O anteprojeto de cdigo de processo civil, a conciliao e a mediao. On line direitoprocessual.org.br/.../A_conciliao_no_projeto_de_Novo_CPC.Acesso em 01 set 2011. 71 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comisso de Juristas Responsvel pela Elaborao de Anteprojeto de Cdigo de Processo Civil. Braslia : Senado Federal, Presidncia, 2010, On line www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf, acesso 01 set 2011.

37

O art. 135 do ANCPC, prev tambm por quem a conciliao ou mediao deve ser estimulada, conforme o artigo in verbis:

Art. 135. A realizao de conciliao ou mediao dever ser estimulada por magistrados, advogados, defensores pblicos e membros do Ministrio Pblico, inclusive no curso do processo judicial. 1 O conciliador poder sugerir solues para o litgio. 2 O mediador auxiliar as pessoas em conflito a identificarem, por si mesmas, alternativas de benefcio mtuo.

Ensina, ainda, VALRIA LAGRASTA LUCHIARI72:O caput do artigo 333, do Anteprojeto estabelece a obrigatoriedade do juiz designar audincia de conciliao no incio do processo, ao verificar que a petio inicial preenche os requisitos essenciais. E nem se argumente que a designao desta audincia atrasa o andamento do processo, acrescentando-lhe uma fase, porque o 7, do mesmo artigo 333, possibilita que o juiz a dispense quando constatar que a conciliao invivel ou quando as partes manifestarem expressamente sua disposio contrria. Assim, o dispositivo no fere nem a voluntariedade da conciliao (pois as partes podem se manifestar contra a designao), nem o princpio da inafastabilidade da jurisdio (art. 5, inciso XXXV, da CF). E, quanto a este ltimo, como j dito acima, hoje no h dvida de que o acesso justia inclui o acesso aos meios alternativos de soluo de conflitos, havendo uma relao de complementaridade entre estes e a soluo adjudicada atravs da sentena; ainda mais se levarmos em considerao que a conciliao e a mediao, aqui tratadas, so disciplinadas pelo prprio Poder Judicirio, e se tivermos em mente que o acesso justia visa o acesso a uma soluo, clere, justa e efetiva, que leve pacificao das partes, a qual nem sempre obtida pela sentena.

O referido anteprojeto do novo CPC est em apreciao na Cmara dos Deputados. Em junho de 2010, foi apresentado o Anteprojeto de Cdigo de Processo Civil ao Senado, elaborado por uma comisso de juristas. No anteprojeto houve a insero do mediador judicial como auxiliar da justia (como os peritos judiciais e os oficiais de justia). Em dezembro do mesmo ano, 2010, o Senado aprovou o Anteprojeto do novo CPC, com algumas alteraes.73

Cabe ressaltar, contudo, a importncia da capacitao dos conciliadores e mediadores, conforme a anlise do ANCPC, para a efetividade da conciliao e, consequentemente, para a celeridade processual. O conciliador torna figura essencial na conciliao, tendo em vista que facilita o dilogo e a negociao entre os envolvidos.72

LUCHIARI, Valria Ferioli Lagrasta. Juza de Direito da 2 Vara da Famlia e das Sucesses da Comarca de Jundia/SP. Artigo: O anteprojeto de cdigo de processo civil, a conciliao e a mediao. On line direitoprocessual.org.br/.../A_conciliao_no_projeto_de_Novo_CPC.Acesso em 01 set 2011. 73 http://www.mediarconflitos.com/2011/04/mediacao-judicial-e-o-novo-codigo-de.html. Acesso em 01 set 2011.

38

Segundo o Manual do Conciliador elaborado pelo Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, para que o conciliador possa ter uma atuao efetiva, deve desenvolver certas habilidades:

a. Capacidade de escutar com ateno a exposio de uma pessoa; b. Capacidade de inspirar respeito e confiana; c. Capacidade de manter o controle em situaes em que os nimos estejam exaltados; d. Pacincia; e. Capacidade de lidar com as diferenas, afastando preconceitos; f. Imparcialidade; g. Empatia, ser capaz de colocar-se no lugar do outro; h. Gentileza e respeito no trato com as pessoas. 74

O conciliador deve sempre se lembrar de que no um juiz, de que no tem nenhum poder coercitivo e principalmente de que sua funo a de pacificar as pessoas em conflito. Assim, no deve forar o acordo, nem submeter as pessoas a qualquer tipo de constrangimento, e sim, deve procurar sempre valorizar e demonstrar o potencial e a dignidade que elas tm.75

No desempenho de sua funo, o conciliador se insere como um auxiliar da justia, como prev o art. 73 da Lei 9.099/95, in verbis:

Art. 73. A conciliao ser conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientao. Pargrafo nico. Os conciliadores so auxiliares da Justia, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharis em Direito, excludos os que exeram funes na administrao da Justia Criminal.

Cabe ao conciliador restabelecer a comunicao entre as partes, garantir que a discusso proporcione um acordo fiel, moral e justo. Porm, deve ele ser hbil, comunicativo, com capacidade de exprimir seus pensamentos de forma simples e clara, mas apurada, e de receber os pensamentos oriundos das partes com sapincia na interpretao conforme a inteno de quem o exprimiu. Ser atravs dessas informaes colhidas que o conciliador poder trabalhar a fim de elaborar possveis solues do conflito, portanto, fundamental que74

BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador, On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso 15 julho 2011 75 Ibid.

39

o conciliador seja capacitado, que saiba ouvir e compreender as partes para a obteno de xito na sesso conciliatria.76

2.2 Audincia de conciliao

A audincia de conciliao a reunio das partes com o conciliador, visando a harmonizao dos envolvidos no conflito de modo que cheguem a um acordo. Deve se amoldar conforme a participao e interesse das pessoas. Por isso, pode-se dizer que se trata de um mtodo autoconstrutivo, que vai se construindo segundo o envolvimento e a participao de todos os interessados.77

Na audincia, a principal atribuio do conciliador conduzir a sesso de conciliao, alertando as partes dos riscos e as consequncias do litgio, alm de redigir o acordo que as partes chegaram aps a sesso, conforme estabelece o art. 21 e 22 da Lei 9.099/95.Art. 21. Aberta a sesso, o Juiz togado ou leigo esclarecer as partes presentes sobre as vantagens da conciliao, mostrando-lhes os riscos e as conseqncias do litgio, especialmente quanto ao disposto no 3 do art. 3 desta Lei. Art. 22. A conciliao ser conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientao. Pargrafo nico. Obtida a conciliao, esta ser reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sentena com eficcia de ttulo executivo.

Sucintamente, as atribuies do conciliador, relacionadas com a direo da audincia de conciliao e com o atendimento s partes, so:

1- Abrir e conduzir a sesso de conciliao, sob a superviso do juiz togado, promovendo o entendimento entre as partes; 2- Redigir os termos de acordo, submetendo-os a homologao do juiz togado; 3- Certificar os atos ocorridos na audincia de conciliao; 4- Tomar por termo os requerimentos formulados pelas partes na audincia de conciliao;76

MANUAL DO CONCILIADOR, On line,www.ceunsp.com.br/revistajuridica/artigos/manual_conciliador.pdf. Acesso em 03 set 2011. 77 BRASIL.Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador, On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso em 15 set 2011.

40

5- Reduzir a termo os pedidos das partes, em conformidade com o que ficar acertado com o juiz.78

A maneira do conciliador conduzir a audincia de conciliao determinante para a criao de um ambiente que favorea positivamente resoluo dos conflitos. Para isso, vrios procedimentos devem ser adotados para tal fim, tais como:

a. facilitar a comunicao entre as partes, abstendo de uma linguagem altamente jurdica; b. estabelecer uma relao de confiana, de credibilidade com as partes e domnio para conduzir a sesso de conciliao; c. estimular a negociao; d. manusear e contornar as diferenas; e. focalizar os conflitos e no as pessoas; f. considerar as maneiras alternativas de ver a realidade; g. ajudar na descoberta de novas opes de soluo; h. avaliar os critrios para a eleio de opes; i. possibilitar a autonomia das pessoas; j. compartilhar informaes; k. favorecer a tomada de deciso responsvel; l. analisar os custos e benefcios de cada escolha; m. coordenar o processo e no as decises. 79

O conciliador deve proporcionar um ambiente agradvel, a fim que se consiga uma estrutura de paz, harmonia, de solidariedade, evitando ambientes que possam criar ansiedade, irritao nas pessoas. importante o cumprimento do horrio, mas tambm estipular um prazo considervel para a durao da sesso, e no de cinco, dez ou no mximo quinze minutos, como se observa na prtica na maioria dos Juizados Especiais. Promover o dilogo e sensibilizar as partes pelo bom senso, uma das atribuies essenciais para a obteno do xito na sesso conciliatria.

Para a desembargadora LLIA SAMARD GIACOMET, do Tribunal de Justia do Estado do Paran, ao iniciar a audincia, cabe ao conciliador se apresentar as partes, fazer a declarao de abertura (perguntar o nome e como querem ser chamados), como ser conduzida a audincia, explicando seu papel de auxiliar, atendendo aos interesses das partes, recomendar que respeite a parte que esta expondo suas colocaes, pedir a colaborao das partes no que for necessrio para o bom andamento da audincia. Alertar que a presena do78

MANUAL DO CONCILIADOR, On line,www.ceunsp.com.br/revistajuridica/artigos/manual_conciliador.pdf. Acesso em 03 set 2011. 79 BRASIL. Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador, On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso 15 julho 2011.

41

advogado importante para que nenhum direito seja suprimido. Deve o conciliador no decorrer da audincia, fazer anotaes, um resumo para uma melhor preparao na elaborao das propostas e dialogar com as partes. As partes devem dar as solues e o conciliador ajudar a encontrar tais solues atravs de questionamentos.80

O conciliador deve atuar visando a pacificao do conflito, deve satisfazer as partes se posicionando para ajudar a solucionar o conflito.

2.3 Conciliador e o advogado

Para efetividade

da conciliao, o advogado deve estar imbudo na busca da

satisfao de seu cliente, seja pela sentena de resoluo de mrito no decorrer do processo, seja pelo acordo na audincia de conciliao. A vontade maior ser da parte, que dever estar ciente das vantagens e desvantagens da conciliao, bem como, do desenrolar de um processo judicial.

tendencioso, num primeiro momento, que o advogado no seja simpatizante por uma conciliao, pelo fato de poder ser mais atuante no decorrer do processo judicial, e consequentemente, poder perceber honorrios maiores, alm da sucumbncia da causa. Por outro lado, o advogado deve considerar que, pelo fato da celeridade da conciliao, poder perceber mais rpido os honorrios contratados, e satisfazer o seu cliente pela agilidade na soluo do litgio, por acordos oriundos das prprias partes e advogados.

Conforme afirma o Manual do Conciliador elaborado pelo Tribunal de Justia de Minas Gerais, que:

O papel do conciliador consiste em estimular o advogado a ter um desempenho profissional que permita o atingimento das metas do seu cliente ao mesmo tempo em que reconhecido profissionalmente. Isto , cabe ao conciliador esclarecer qual o papel do advogado em processos autocompositivos e deixar claro que bons advogados so muito importantes para a conciliao na medida em que apresentam80

GIACOMET, Llia Samard. Cartilha: mediao e tcnicas autocompositivas, Ed.Tribunal de Justia do Estado do Paran, 2009. On line,www.ceunsp.com.br/revistajuridica/artigos/manual_conciliador.pdf. Acesso em 03 set 2011.

42

propostas que as partes no vislumbrariam sozinhas e trazem a segurana de que a parte no est abrindo mo de seus direitos.81

Nota-se que a atuao do advogado em processos autocompositivos bem diferente da adotada em procedimentos heterocompositivos judiciais. Isso decorre porque a conciliao, atravs de seus princpios, visa estimular uma troca de informaes que auxilia a parte a compreender melhor a outra parte, proporciona expressar de maneira mais clara, interesses, sentimentos e questes que no sejam necessariamente tuteladas pela ordem jurdica.

Contudo, contribui significativamente para a composio da lide, pois se promove o dilogo que otimiza o relacionamento das partes , enquanto que procedimentos heterocompositivos judiciais resulta de uma atribuio de culpa ou responsabilidade.82

A conciliao estimula a criatividade para a soluo do conflito, baseadas nos interesses e acordos voluntrios das partes. No se admite que as partes sejam obrigadas, coagidas a acordar, to pouco pode o conciliador ser impaciente ou parcial nas sesses conciliatrias, pois cabe a este, justamente, que amenize o ambiente conflitante das partes, proporcionando calma, tranqilidade, criatividade para dialogar a fim de efetivar a conciliao.

Expe o Tribunal de Justia de Minas Gerais, em seu manual supracitado, que:

[...] A conciliao no pode ser compreendida pelo advogado apenas sob uma dimenso jurdico-contenciosa. O advogado em processos autocompostivos deve ser estimulado para atuar com o intuito de compor a controvrsia de maneira criativa e incentivando seu cliente a entender as necessidades da parte contrria, a comunicarse bem e com clareza, a buscar opes de ganho mtuo, a aperfeioar seu senso de empatia, dentre outras condutas.83

Para o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, FRANCISCO REZEK, o uso das vias alternativas nas solues de conflitos no Brasil j est em ascendncia e, para o advogado, a arbitragem tem futuro promissor no Brasil, por ser um caminho alternativo 81

BRASIL. Tribunal de Justia de Minas Gerais. Manual do Conciliador, On line http://www.ejef.tjmg.jus.br/ home/ files/ manual_conciliadores/arquivos_hot_site/pdfs/versao_completa.pdf. Acesso 15 set 2011. 82 Ibid 83 Ibid.

43

Justia que permite a economia de tempo e de recursos. Para o ministro, o grande trunfo da arbitragem a rapidez na resoluo dos conflitos.84

Cabe ao conciliador despertar a conciliao entre os operadores do direito, entres as partes, relatando os benefcios e celeridade na soluo do conflito. Os advogados devem assumir o papel de satisfazer seus clientes, respeitando suas vontades, quando estes esto dispostos a conciliar, e se no, convenc-los das vantagens.

Para isso, o advogado deve ser valorizado pelo conciliador, demonstrando a importncia daquele na sesso de conciliao, atravs de um bom dilogo, para se conseguir chegar soluo do conflito.

84

http://www.conjur.com.br/2011-mai-03/solucoes-alternativas-sao-melhores-decisoes-judiciais. Acesso em 06 out 2011.

44

3 OS BENEFCIOS DA CONCILIAO NA RESOLUO DOS CONFLITOS

Inmeros so os benefcios da conciliao para o Judicirio brasileiro, bem como, para as partes envolvidas na resoluo do conflito. Para o judicirio, possibilita a celeridade e a economia processual, dentre outros benefcios, e, para as partes, a satisfao por fazer parte do acordo conciliatrio de forma participativa e eliminao do conflito com maior agilidade.

3.1 Conciliao no Poder Judicirio brasileiro e de outros pases

O Poder Judicirio vem, aos poucos, se mobilizando em prol da conciliao, mostrando os benefcios atravs de diversas campanhas e movimentos, inclusive com o apoio do Conselho Nacional de Justia (CNJ). Dentre esses movimentos, cabe destacar:O Movimento pela Conciliao desencadeado pelo Conselho Nacional de Justia CNJ, com o slogan Conciliar legal, quer reverter esse quadro. Quer colocar em prtica essa forma preferida do nosso sistema processual para a soluo dos litgios judiciais, a conciliao. Quer despertar maior empenho dos juzes e advogados nas fases de conciliao previstas na tramitao normal do processo (arts. 277, 331 e 448, do CPC) e tirar do papel e colocar na prtica tambm o artigo 125, inciso IV, que quer que o juiz tente conciliar as partes em qualquer tempo do processo. Quer seguir o exemplo dos pases tidos como desenvolvidos em que mais de 70% dos processos judiciais so resolvidos pela forma conciliada, ao passo que aqui em nosso pas essa mdia gira em torno de 30%, considerando todos os setores do nosso Judicirio (Justia Comum, Trabalhista, Federal e Juizados Especiais). Quer, com isso, resolver em parte os problemas da morosidade, da carestia e da ineficcia da Justia, para poder atender melhor os anseios da sociedade brasileira. Quer, enfim, fazer com que o Judicirio desempenhe com mais nfase o seu papel de pacificador social. Tambm se estabeleceu, de rotina, a Semana Nacional pela Conciliao, em que os Tribunais selecionam os processos que tenham possibilidade de acordo e intimam as partes envolvidas no conflito 85.

No entanto, busca-se a realizao de acordos nos conflitos judiciais e extrajudiciais, colaborando com a diminuio do tempo de durao de um litgio e do nmero de processos existentes no Poder Judicirio em mbito nacional. Trata-se de solucionar os conflitos de85

http://portal.tjpr.jus.br/web/conciliacao/25. Acesso em 16 out. 2010.

45

forma simples, econmica, rpida e segura, evitando transtornos com a atual morosidade da tramitao de todo o processo at seu trnsito em julgado.

O Tribunal de Justia do Paran elaborou a Resoluo 10/2008, dispondo sobre a conciliao em ambos os graus de jurisdio. Tambm criou a Secretaria da Conciliao, com conciliadores nomeados dentre magistrados aposentados. Nela so realizadas audincias de conciliao em processos encaminhados pelos relatores ou indicados pelos advogados. Convm analisar alguns artigos da Resoluo 10/2008:Art. 1. Fica criada a Secretaria de Conciliao com estrutura fsica no mbito do Departamento Judicirio. 1. A Secretaria ter trs funcionrios e tem por atribuio receber e processar, para fins de conciliao, os recursos indicados pelos relatores ou pelas partes como aptos realizao da respectiva tentativa. 2. No primeiro ano de funcionamento da Secretaria o encaminhamento de processos pelos relatores limitado a cinco (5) por ms. 3. O chamamento das partes e de seus advogados para a conciliao dever ser feito de forma clere, admitindo-se por telefone, fax, correio eletrnico, carta, ou publicao no Dirio da Justia. 4. A audincia de conciliao dever ser realizada no prazo de sessenta dias contados do recebimento dos autos pela Secretaria e em sala a ser definida pela Secretaria-Geral para tal finalidade. 5. Frustrada a conciliao, o fato ser certificado nos autos, que sero restitudos de imediato ao relator para o processamento e julgamento do recurso. 6. Obtida a conciliao, esta ser reduzida a termo, assinado pelas partes, seus advogados e pelo Conciliador, com encaminhamento ao Relator para homologao. 7. As audincias de conciliao sero realizadas na primeira sexta-feira de cada ms, caso necessrio poder haver designao de outros dias para tal finalidade. [...] Art. 4. Independentemente e sem prejuzo das audincias de conciliao previstas como fases obrigatrias dos processos (arts. 277 e 331, do CPC), devem os juzes de 1 grau valer-se da primeira sexta-feira de cada ms para a realizao de audincias de conciliao com base no artigo 125, inciso IV, do Cdigo de Processo Civil. 1. A conciliao poder ser tentada tambm nos processos j sentenciados, nos quais haja recurso(s), antes do envio para o Tribunal, hiptese em que cabe ao juiz do processo homolog-la. 2. As audincias sero designadas por iniciativa do juiz e/ou a pedido das partes e as intimaes podero ser realizadas por qualquer forma eficaz. Art. 5. Em 2 Grau, as audincias de conciliao podero ser designadas e realizadas tambm pelos relatores, em seus gabinetes, competindo-lhes homologar os acordos firmados. Pargrafo nico. O relator poder valer-se do pessoal de seu gabinete para auxili-lo nas audincias de conciliao. Art. 6. A Escola da Magistratura e a Escola dos Servidores do Poder Judicirio do Paran incluiro nas suas programaes anuais mdulos de tcnicas de conciliao nos seus cursos.[...].8786

86 87

http://portal.tjpr.jus.br/web/conciliacao. Acesso em 25 out. 2010. Ibid.

46

No contexto mundial, muitos pases do nfase conciliao, principalmente a extrajudicial, que recm no Brasil est se difundindo, nas relaes trabalhistas, com a Lei 9958/00, que incrementou os artigos 625-A a 625-h, 876 e 877-A, na Consolidao das Leis Trabalhistas. Na Amrica Latina, a Argentina possui a Lei de Mediao e Conciliao, Lei 24.573/95, que estabelece:Artigo 1- Instituyese con carcter obligatorio la mediacin previa a todo juicio, la que se regir por las disposiciones de la presente ley. Este procedimiento promover la comunicacin directa entre las partes para la solucin extrajudicial de la controversia. Las partes quedarn exentas del cumplimiento de este trmite si acreditaren que antes del inicio de la causa, existi mediacin ante mediadores registrados por el Ministerio de Justicia[]. LEY DE MEDIACION Y CONCILIACION Ley 24.573. Boletn Oficial, 27 de octubre de 1995. 88

Na Venezuela, por sua vez, a Constituio da Repblica Bolivariana da Venezuela, prev no seu artigo 258, que la ley promover el arbitraje, la conciliacin, la mediacin y cualesquiera otros medios alternativos para la solucin de conflictos.89

Pases latino-americanos, como Peru, Colmbia, Costa Rica, El Salvador, Paraguai, Uruguai, entre outros, tambm possuem previso legal que institui a conciliao e a arbitragem como meios de solucionar conflitos, onde, para alguns pases, indispensvel a tentativa de conciliao prvia para , posteriormente, recorrer via judicial. 90

Nos Estados Unidos, o presidente da Sociedade Americana de Direito Internacional e professor de Arbitragem Internacional na Faculdade de Direito de Nova York, Donald Donovan falou sobre experincias bem sucedidas de arbitragem vividas nos Estados Unidos. Segundo ele, a lei que regula o mtodo naquele pas de 1926 e bastante direta e objetiva, apesar de j ter sofrido diversas emendas, ao determinar que todos acordos de arbitragem feitos nos Estados Unidos devem ser respeitados e obedecidos, sem direito de apelao.91

88 89

MORAIS, Jos Luis Bolzan de. Mediao e arbitragem. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. p. 267. FRANCO O., Oscar J., Considerasiones y anlisis de la normativa vigente en latinoamrica sobre los medios alternativos de resolucin de conflictos, http://www.adrr.com/camara/analysis.htm. Acesso em 26 out 2010. p. 2. 90 Ibid, p. 2-5. 91 http://www.conjur.com.br/2011-mai-03/solucoes-alternativas-sao-melhores-decisoes-judiciais. Acesso em 06 out 2011.

47

A partir dos fundamentos aduzidos ao presente estudo, mostrou-se a base legal da conciliao, tanto a judicial, como a extrajudicial, a mobilizao do judicirio brasileiro em promov-la e os pases latino-americanos que j instituram a conciliao. Contudo, buscou-se meios que possam dar efetividade tentativa de conciliar as partes judicialmente, e at mesmo, extrajudicialmente, onde deve atuar, principalmente, os advogados, as partes, os magistrados, os conciliadores e mediadores, para implantarem, na prtica, essa nova reestruturao do Poder judicirio a fim de promover a agilidade na durao dos processos e a criao de meios alternativos na soluo dos conflitos. Atualmente, observa-se que a conciliao est perto de virar regra em todo o Pas. As mudanas incluem a implantao da mediao e conciliao nas primeira e segunda instncias, que j existem em alguns Estados, e vir a tona, com o Anteprojeto do Novo Cdigo de Processo Civil. A ideia ampliar o acesso Justia por meio da conciliao, bem como a celeridade processual, e que o Judicirio leve as partes a essa mentalidade.

Segundo opina o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ministro Cezar Peluso, a via alternativa pouco utilizada, a sociedade no precisa apenas que o Judicirio julgue rpido os processos, mas que a demanda diminua. A sentena termina o conflito, mas no pe fim a ele, enquanto que na conciliao no h vencedor ou vencido. Conclui ainda que melhor um acordo de boa-f do que uma deciso contrria.92

3


Recommended