UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
MARINA DE ALMEIDA LÓPEZ MOREIRA
A OFERTA NO DISCURSO RELIGIOSO: ATRAVESSAMENTO DO DISCURSO
PUBLICITÁRIO
CURITIBA
2013
MARINA DE ALMEIDA LÓPEZ MOREIRA
A OFERTA NO DISCURSO RELIGIOSO: ATRAVESSAMENTO DO DISCURSO
PUBLICITÁRIO
Monografia apresentada como requisito para obtenção do diploma de Bacharel em Estudos Linguísticos com habilitação em Português, do curso de Letras da Universidade Federal do Paraná, sob orientação da professora Gesualda Rasia.
CURITIBA
2013
RESUMO
Esta pesquisa apresenta um estudo a respeito das estratégias discursivas utilizadas
por pastores de igrejas de corrente neopentecostal para convencer os fiéis a doarem
a oferta. A hipótese é a de que esse discurso religioso é atravessado pelo discurso
publicitário, gerando o efeito de sentido de convencimento do fiel a doar dinheiro
para as instituições religiosas. Os textos foram analisados com base na escola de
análise de discurso francesa e foram retirados da internet, sendo quatro textos
transcritos de vídeos do YouTube e dois textos retirados de um blog de um desses
pastores. No decorrer do estudo, os efeitos de sentidos das estratégias discursivas
são comparados aos sentidos produzidos pela discursividade bíblica, textualidade
considerada fundadora na questão de dízimos e ofertas.
Palavras-chave: estratégias discursivas; discurso religioso; discurso publicitário.
ABSTRACT
This research presents a study about the discourse strategies used by some priests
of the neo-Pentecostal churches concerning the receiving of donations. The main
hypothesis is that this religious discourse is mixed with the advertising discourse,
which provides the followers of these churches with the meaning effects that get
them to donate their money to these institutions. The texts were analyzed based on
the French school of discourse analysis and they were extracted from the internet,
being four transcriptions of videos from YouTube and two texts extracted from a blog
written by one of these preachers. During the study, the effects of the discourse
strategies are compared to the effects of the Bible discursivity one can see that these
strategies go against the lessons one can find in the Bible, including some quotes
from the sacred book.
Key words: discourse strategies; religious discourse; advertising discourse.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 9
1.1 TEXTO E DISCURSO .................................................................................................. 9
1.2 SUJEITO E MEMÓRIA DISCURSIVA ........................................................................ 10
2 O DISCURSO RELIGIOSO .................................................................................... 14
2.1 TIPOS DE DISCURSO ............................................................................................... 14
2.2 O DISCURSO RELIGIOSO ........................................................................................ 16
3 O DISCURSO PUBLICITÁRIO .............................................................................. 18
3.1 A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA ................................................................................. 18
3.2 CARACTERÍSTICAS .................................................................................................. 19
3.2.1 Os intensificadores ............................................................................................... 22
4 ANÁLISES ............................................................................................................. 24
4.1 CLASSES DE PALAVRAS ......................................................................................... 24
4.1.1 Intensificadores ..................................................................................................... 24
4.1.1.1 Diminutivos e numerais ........................................................................................ 26
4.1.3 Vocativos, tempos e modos verbais .................................................................... 28
4.2 REPETIÇÕES ............................................................................................................ 29
4.3 VERBOS E SUBSTANTIVOS FUNCIONANDO COMO LUGARES DE MEMÓRIA .... 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
ANEXOS ................................................................................................................... 38
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INTRODUÇÃO
O Cristianismo surgiu na Palestina no século I e difundiu-se por todo o
mundo, servindo de base moral para a maioria dos países de cultura ocidental. O
Cristianismo passou por diversas modificações no decorrer da história, sendo que
há atualmente uma grande variedade de igrejas, com propósitos e discursos
distintos.
O movimento pentecostal é uma corrente do Cristianismo que surgiu nos
Estados Unidos no início do século XX e chegou ao Brasil em 1910. A partir daí,
sofreu expansão e diversas igrejas foram criadas. Para tornar mais fácil o
entendimento do crescimento do pentecostalismo e suas especificidades, os
pesquisadores costumam dividir as igrejas pentecostais em três fases de implantação.
A primeira onda (1910) trouxe para o país as duas primeiras igrejas
pentecostais: Congregação Cristã do Brasil e Assembleia de Deus, sendo que esta
teve um crescimento mais acelerado do que aquela. Alderi de Souza Matos afirma
que “quando chegaram os primeiros pentecostais, todas as denominações históricas
já haviam se implantado no país: anglicanos, luteranos, congregacionais,
presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais. Todavia, o seu crescimento havia
sido modesto” (MATOS, 2012).
A segunda onda aconteceu a partir dos anos 50 e início dos 60, devido a
uma fragmentação nos primeiros grupos pentecostais, dando origem a outras três
grandes igrejas: Deus é Amor, O Brasil para Cristo e Igreja do Evangelho
Quadrangular. Elas tinham por característica a ênfase na cura milagrosa.
A terceira onda, que é a que interessa para o desenvolvimento deste
trabalho, é a do movimento neopentecostal, que surgiu entre os anos 70 e 80, tendo
como principal foco a “Teologia da Prosperidade”, ou seja, a crença de que o cristão
deve ter uma vida terrena próspera e feliz. Nessa doutrina, é feito um tipo de
“contrato com Deus”, sendo que para que as bênçãos sejam alcançadas em vida, é
necessário que se façam alguns sacrifícios como “prova” da fé. Esses sacrifícios
podem ser ofertas, dízimos e doações. Fazem parte desse grupo a Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD), Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja Mundial
do Poder de Deus, para citar as mais conhecidas (MATOS, 2012).
Faz parte da maioria das religiões cristãs a crença de se fazer um sacrifício,
como jejum, entrega de dízimo, ofertas, prestação de trabalhos voluntários para a
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igreja ou para entidades beneficentes etc., para a obtenção de uma bênção de
Deus.
O tema deste trabalho foi desenvolvido com base no discurso proferido por
representantes da vertente neopentecostal, que seguem os ensinamentos da
Teologia da Prosperidade, com foco na solicitação de ofertas. Para essa doutrina, “o
discurso do pregador é de que o membro, o visitante, o frequentador deve investir
seu dinheiro e que Deus vai pagar de volta ainda em vida” (SILVEIRA, 2007) (leia-se
pagar de volta como retribuir ou devolver).
Marcelo Silveira (2007, p. 23), doutor em Letras pela Universidade de São
Paulo, define alguns dos termos utilizados pelas igrejas para tratar os fiéis: dizimista
(aquele que doa 10% de sua renda, mensalmente, para a igreja); ofertante (fornece
à igreja uma quantidade qualquer, geralmente direcionado a alguma obra);
patrocinador (contribui para manter programações de rádio e TV no ar, dentre outros
usos bem definidos) e associado (que deposita um valor mensalmente, mas,
diferentemente do patrocinador, esse montante não é destinado a nada específico).
Neste trabalho, não será feita uma distinção tão detalhada a respeito. Considera-se
que ofertante, patrocinador e associado contribuem, todos, com a chamada oferta, e
dizimista é aquele que contribui com o dízimo.
O dízimo é a contribuição mensal que os fiéis fazem às igrejas e está
presente em praticamente todas as práticas cristãs. O dízimo surgiu quando Abraão,
por vontade própria, resolveu dar 10% do que havia ganhado para um rei: “Então
Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e
abençoou Abrão, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador dos
céus e da terra. E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou seus inimigos em
suas mãos’. E Abrão lhe deu o dízimo de tudo” (GÊNESIS, 14:18-20). Depois de
algum tempo, o dízimo passou a ser lei: os israelitas deveriam entregar 10% de sua
renda (crias dos animais, produtos agrícolas e outras) como demonstração de
agradecimento a Deus pelas bênçãos concedidas, com a finalidade também de
contribuir com o sustento dos sacerdotes da época. Atualmente, a maioria das
religiões cristãs de corrente evangélica convencionou o dízimo mínimo de 10% da
renda para contribuir com as despesas das próprias igrejas, porém ele não é
obrigatório e nem predeterminado. Como dito, é uma convenção, embora o estudo
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mostre que as estratégias utilizadas acabam gerando, pela coerção, efeito ou
sentimento de obrigatoriedade no fiel.
O foco deste texto é justamente nas estratégias discursivas utilizadas pelos
oradores das igrejas neopentecostais para obtenção de ofertas, que são
contribuições dadas pelos fiéis para as igrejas. Há, na Bíblia, uma parábola de uma
senhora que doou tudo que tinha, numa grande demonstração de fé: “Jesus olhou
e viu os ricos colocando suas contribuições nas caixas de ofertas. Viu também uma
viúva pobre colocar duas pequeninas moedas de cobre. E disse: ‘Afirmo-lhes que
esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos esses deram do que
lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver’”
(LUCAS, 21:1-4). Com este trecho da bíblia, pode-se perceber que não é o valor
da oferta que importa, mas o valor simbólico do que move a oferta. Também não
deve ser dado o “resto”, o que sobra no mês; o essencial da oferta é o que é doado
por vontade própria, conforme a renda e o desejo do ofertante, sendo que os
valores não devem ser predeterminados pela igreja. A oferta deve ser dada para
contribuir com obras e manutenção das igrejas, e não para obtenção de bênçãos
ou produtos físicos (como será visto nas análises) pode ser visto na citação a
seguir: “Separem dentre os seus bens uma oferta para o Senhor. Todo aquele que,
de coração, estiver disposto, trará como oferta ao Senhor ouro, prata e bronze; (...)”
(ÊXODO, 35:5). Portanto, segundo a Bíblia, tanto os dízimos quanto as ofertas
devem ser dados com alegria, e não por obrigação e também não devem ser
obrigatórios, mas voluntários; não devem ter valores estipulados pelas igrejas ou
pelos pastores, mas o próprio fiel deverá determinar com quanto irá contribuir.. “Pois
dou testemunho de que eles deram tudo quanto podiam, e até além do que podiam.
Por iniciativa própria eles nos suplicaram insistentemente o privilégio de participar
da assistência aos santos” (2 CORÍNTIOS, 8:3-4, grifo não presentes no original).
No entanto, não é isso o que se percebe nos discursos de muitas das igrejas
de corrente neopentecostal. E isso serviu como motivação para se realizar um
estudo de como se organizam discursivamente as estratégias que geram efeito de
convencimento para a doação da oferta, mascarando o caráter comercial que ela
tem assumido, deixando, inclusive, de ser oferta. Nesse sentido, analisa-se, então,
como se materializa a presença do discurso publicitário no discurso religioso e que
efeitos de sentido produz.
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No primeiro capítulo, será feita uma discussão teórica a respeito da análise
de discurso, fornecendo algumas ferramentas para as análises posteriores. No
segundo capítulo, são demonstradas algumas características do discurso religioso,
de onde o corpus do trabalho foi extraído. No terceiro capítulo, há uma discussão
referente ao discurso publicitário e suas principais características.
Em seguida, serão feitas as análises, pois é dessa forma que se confirmarão
as hipóteses levantadas sobre as características de discurso publicitário encontradas
imersas no discurso religioso.
Ao final deste estudo, será possível perceber como se tece a trama
discursiva para mascarar a ideia de comercialização de produtos que se tornam
objeto de desejo dos frequentadores das igrejas, como martelos ou água
abençoada, além de produtos não materiais, como o recebimento de bênçãos que
serão realizadas após o recebimento das ofertas.
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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este trabalho é fundamentado na teoria de análise do discurso francesa, em
especial, de Michel Pêcheux, a partir da leitura de obras as obras de Eni Orlandi.
Essa escolha para o embasamento teórico é justificada por encontrar nesta teoria
os conceitos que ajudam a entender os fenômenos que serão observados. A referida
autora inicia com uma breve explicação do que se entende por discurso e segue
com as noções de sujeito, memória discursiva, e interdiscurso, que serão
necessárias ao analisar os textos propostos como objetos deste trabalho.
1.1 TEXTO E DISCURSO
Para iniciar, faz-se necessário, a princípio, diferenciar a noção de texto da
noção de discurso.
O texto pode ser uma palavra, uma sequência delas ou apenas uma letra. É
a abordagem discursiva que lhe confere significado por meio de valor simbólico. E é
nessa teoria que se insere este trabalho.
Orlandi (1999, p. 69) exemplifica com uma situação bastante simples: a letra
“O” ou a letra “A” postas em portas de banheiros. Para um sujeito que não fala língua
portuguesa (ou outra língua que também faça a distinção entre feminino e masculino
por meio das vogais “o” e “a”), como, por exemplo, um sujeito originário de um país
anglófono, essa designação “O” ou “A” não faria sentido, podendo levá-lo, inclusive,
a entrar no banheiro do sexo oposto. Entretanto, para falantes de língua portuguesa
(e outras que seguem a mesma distinção), que fazem parte de uma cultura em que
os banheiros são divididos em masculino e feminino, deduziriam por meio de seus
conhecimentos culturais qual banheiro deve ser utilizado.
Na análise de discurso, tem-se a combinação entre três campos de
conhecimento: a Linguística, a Psicanálise e as Ciências Sociais. Um mesmo texto
pode ser interpretado por meio de diversas formações discursivas. O discurso,
portanto, não é sinônimo para texto. Segundo Pêcheux (apud GRIGOLETTO, 2003,
p. 43), discurso é “efeito de sentido entre locutores”. A análise do discurso constitui-
se do estudo dos textos levando-se em consideração o contexto sócio-histórico de
produção e ideologia, tanto do enunciador quanto do destinatário. De acordo com
Orlandi:
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(...) o sujeito e a situação que tinham sido postos para fora da análise linguística, contam fundamentalmente para a análise do discurso. Mas este sujeito e esta situação contam na medida em que são redefinidos discursivamente como partes das condições de produção do discurso. Daí dizermos que na análise de discurso não podemos deixar de relacionar o discurso com suas condições de produção, sua exterioridade. (ORLANDI, 2010, p. 15).
Para a análise do discurso:
a língua tem sua ordem própria mas só é relativamente autônoma (...); a história tem seu real afetado pelo simbólico (...); o sujeito de linguagem é descentrado pois é afetado pelo real da língua e também pelo real da história, não tendo o controle sobre o modo como elas o afetam. Isso redunda em dizer que o sujeito discursivo funciona pelo inconsciente e pela ideologia. (ORLANDI, 1999, p. 19-20).
Pode-se afirmar, então, que os textos materializam os discursos e estes
materializam a ideologia. A análise do discurso é uma teoria que tem como objeto de
estudo os textos, suas condições de produção, ideologia daqueles que os produzem
e também leva em conta o fator sócio-histórico em que são produzidos.
Visto sob o viés da análise do discurso, também se pode dizer que o texto
tem início, meio e fim como efeito de completude, no entanto, na verdade, ele joga
com a incompletude porque joga com o interdiscurso.
1.2 SUJEITO E MEMÓRIA DISCURSIVA
Segundo Orlandi, o sujeito do discurso não é necessariamente o indivíduo
(definido por ela como forma-sujeito). Cada indivíduo pertence a um contexto
sócio-histórico que está imerso em uma determinada cultura e ideologia. Portanto,
o sujeito do discurso não é o sujeito biológico, mas o social, o que significa dizer
que um sujeito do século XXI difere do sujeito do século XIX, pois as condições
históricas e sociais que colaboram na formação desse sujeito são diferentes. Há a
interferência do momento sócio-histórico na formação da ideologia. Ela “interpela o
indivíduo em sujeito e este submete-se à língua significando e significando-se pelo
simbólico na história” (ORLANDI, 2010, p. 19). A essa interpelação dá-se o nome
de assujeitamento. Ainda segundo Orlandi, “não há sentido nem sujeito se não
houver assujeitamento à língua. Em outras palavras: para dizer, o sujeito submete-
se à língua” (ORLANDI, 2010, p. 19).
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Esse sujeito, que se define por meio da formação discursiva, normalmente
esquece que todo discurso é formado historicamente, por consequência, até
mesmo, dos sentidos das próprias palavras que mudam ao longo do tempo. Dessa
forma, percebe-se que as formações discursivas podem ter significados diferentes
em contextos sociais distintos. Isso significa que o sujeito não tem “consciência de
seu assujeitamento” e “mantém fortemente arraigada a ilusão de ser plenamente
responsável por seu discurso e suas posições” (INDURSKY, 1997, p. 27-28, apud
GRIGOLETTO, 2003, p. 52). Significa dizer que existe no sujeito uma angústia
relacionada à incompletude de seu discurso e, por isso, é nas outras posições-
sujeito que ele busca reverter essa situação, ou seja, busca a completude. Pode-se
dizer, portanto, que o sujeito “anseia pela completude, pela vontade de querer ser
inteiro”, ou seja, o “centro da relação não está nem no eu, nem no tu, mas no
espaço discursivo criado entre ambos” (GRIGOLETTO, 2003, p. 52). Para que haja
sentido no texto, é necessário que se percebam não só as relações do sujeito com
a linguagem, mas também com a exterioridade, ou seja, com o contexto sócio-
histórico.
Grigoletto (2003, p. 52) afirma que “para que o seu discurso tenha um
sentido, o sujeito se inscreve (e inscreve o seu dizer) em uma FD [formação
discursiva] que se relaciona com outras FDs”.
Assim, há que se contemplar a noção de esquecimento, sendo que, de
acordo com Orlandi (2010), na análise de discurso há dois tipos. O esquecimento 1,
ou ideológico, pode-se dizer que é inconsciente: esquecer faz parte da natureza do
sujeito, ele “se constitui pelo esquecimento do que o determina”; é através desse
esquecimento que se tem a impressão de originalidade, de “ser a origem do que diz”
(ORLANDI, 2010, p. 19), já que para que exista sentido, o discurso deve se inserir
em um contexto histórico-social. Um mesmo discurso proferido em um contexto
diferente produzirá efeitos diferentes, e o sujeito desse discurso terá a impressão de
ter sido o primeiro na história a dizê-lo.
O segundo esquecimento é o chamado enunciativo, que pode, inclusive, ser
consciente. É esquecer que há outros sentidos possíveis para os diversos discursos,
e também que há outros modos possíveis de enunciar, de modo que, muitas vezes,
o sujeito explicita para seus interlocutores esse esquecimento, explicando
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detalhadamente o sentido que pretende para o seu discurso, com a finalidade de
não ser mal compreendido.
Este “esquecimento” produz em nós a impressão da realidade do pensamento. Essa impressão, que é denominada ilusão referencial, nos faz acreditar que há uma relação direta entre o pensamento, a linguagem e o mundo, de tal modo que pensamos que o que dizemos só pode ser dito com aquelas palavras e não outras (...). (ORLANDI, 1999, p. 35).
Constituída, então, por esses esquecimentos, tem-se a chamada memória
discursiva. Ela é formada por todo dizer já exposto e esquecido, e, por isso, não se
tem o controle das interpretações e sentidos formados nos sujeitos, pois
trata-se do fato que quando enunciamos há essa estratificação de formulações já feitas que presidem nossa formulação e formam o eixo de constituição do nosso dizer. Mas são formulações já feitas e esquecidas. Por isso é que podemos afirmar que a memória discursiva é constituída pelo esquecimento. (ORLANDI, 2010, p. 21).
A essas enunciações esquecidas, mas que de alguma forma estão
presentes no inconsciente, dá-se o nome de interdiscurso (ORLANDI, 2010).
O interdiscurso é irrepresentável. Ele é constituído de todo dizer já-dito. Ele é o saber, a memória discursiva. Aquilo que preside todo dizer. É ele que fornece a cada sujeito sua realidade enquanto sistema de evidências e de significações percebidas, experimentadas. E é pelo funcionamento do interdiscurso que o sujeito não pode reconhecer sua subordinação-assujeitamento ao Outro, pois, pelo efeito de transparência, esse assujeitamento se apresenta sob a forma da autonomia. O Outro aí é o interdiscurso. (ORLANDI, 2010, p. 18).
Portanto, é através dos esquecimentos que o interdiscurso se torna possível.
O discurso do Outro é esquecido de tal maneira que o sujeito tem a impressão de
ser o primeiro na história a dizer determinadas palavras de determinada forma.
Porém, se buscada a memória discursiva, percebe-se que o interdiscurso está
sempre presente, “ele é sempre uma relação que tem a ver com o conjunto de
formações discursivas” (ORLANDI, 2010).
A autora cita também um segundo tipo de memória que denomina “memória
de arquivo”, que seriam os discursos documentados, “aquela justamente que fica
disponível, arquivada em nossas instituições e da qual não esquecemos. A ela
temos acesso, basta para isso consultar os arquivos onde ela está representada”
(ORLANDI, 2010, p. 22).
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Nas análises que serão feitas neste trabalho, serão apontadas as noções
discutidas neste capítulo será demonstrado de que forma essas definições ajudam o
analista a perceber elementos que caracterizam os discursos.
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2 O DISCURSO RELIGIOSO
Para cumprir com o objetivo proposto, é necessário, em primeiro lugar,
esclarecer características dos diferentes discursos, enfatizando aquelas que serão
observadas nas análises. Inicia-se esse processo tratando do discurso religioso, que
é de onde foi retirado o corpus do trabalho. Para isso, será utilizado o livro de
Evandra Grigoletto (2003), Sob o rótulo do novo, a presença do velho, no qual a
autora aponta aspectos do discurso religioso de uma forma geral e parte para
análise de discurso da renovação carismática.
No momento das análises, que serão demonstradas no capítulo 4, não será
considerada necessária uma longa caracterização para demonstração de que os
discursos presentes são discurso religioso, pois isso já é determinado pelo contexto
de produção (pastores e bispos das igrejas neopentecostais).
2.1 TIPOS DE DISCURSO
Antes de prosseguir com a classificação do discurso religioso em si, é
necessário citar algumas diferenciações que se faz entre os diversos tipos de discurso.
Segundo Pentean (2003),
Orlandi (1996) distingue três tipos de discursos, o discurso lúdico, o discurso polêmico e o discurso autoritário. O critério adotado para a distinção desses discursos é a relação entre o referente (objeto do discurso) e os interlocutores (locutor e ouvinte), e nessa distinção è fundamental a noção de reversibilidade. Diz ainda a autora que, pela noção de reversibilidade, não se pode fixar o locutor no lugar do locutor e o ouvinte no lugar do ouvinte. Daí, que ao serem afetados pelo simbólico da língua, eles podem perfeitamente transpor o seu lugar de origem. (PETEAN, 2003, p. 90).
No discurso lúdico, portanto, “há a expansão da polissemia pois o referente do
discurso está exposto à presença dos interlocutores” (ORLANDI, 2006, p. 29). Isso
significa dizer que esse é o tipo de discurso menos persuasivo, ou mais “democrático”.
Já no discurso polêmico, os interlocutores possuem um grau de posicionamento
ideológico, ou seja, “a polissemia é controlada uma vez que os interlocutores procuram
direcionar, cada um por si, o referente do discurso” (ORLANDI, 2006, p. 29). O terceiro
tipo de discurso descrito pela autora é o autoritário, em que “há contenção da
polissemia, já que o agente do discurso se pretende único e oculta o referente pelo
dizer” (ORLANDI, 2006, p. 29).
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Seguindo as definições de Orlandi, Grigoletto (2003, p. 37) classifica o
discurso religioso como um discurso autoritário, ou seja, “Trata-se de um discurso
onde não há espaço para o outro e, consequentemente, a polissemia tende a zero”.
Sendo assim, o fiel está submetido à palavra do orador, sendo que este não se diz
autor desse discurso, é apenas o reprodutor dele, um intermediário do discurso de
Deus. Dessa forma, pode-se dizer que o discurso do pregador não é a voz de Deus,
pois entre “a voz de Deus, que pertence ao plano divino, e a voz do homem, que
pertence ao plano temporal, há um espaço que é preenchido pelo silêncio e pelas
relações imaginárias e simbólicas. E é nesse espaço que também se constroem os
sentidos do discurso religioso” (GRIGOLETTO, 2003, p. 38-39).
Para embasar essa classificação, pode-se utilizar o conceito de
reversibilidade, definido por Orlandi (2006, p. 239) como “a troca de papéis na
interação que constitui o discurso e que o discurso constitui”. Os lugares do locutor e
do ouvinte “não se definem em sua essência mas quando referidos ao processo
discursivo: um se define pelo outro, e, na sua relação, definem o espaço da
discursividade”. Dessa forma, pode-se entender que se a reversibilidade no discurso
for nula, o discurso deixa de existir, já que ela é característica fundamental dele.
Contudo, essa característica tende a zero nos discursos ditos autoritários, mas não
pode ser tida como igual a zero, pois, assim, o discurso se desfaz. Orlandi (2006),
então, afirma esse discurso é, na verdade, sustentado pela “ilusão da reversibilidade”.
Grigoletto (2003, p. 39) afirma que “O padre, como representante legítimo de
Deus, se investe do poder divino que deve ser considerado absoluto e
inquestionável, ultrapassando todos os limites. Por isso, julga-se completo e superior
diante dos fiéis (...)”, ou seja, o locutor e o ouvinte do discurso religioso se situam em
dois planos distintos: divino e temporal, respectivamente. Sendo que este é
dominado por aquele, há uma assimetria no discurso e, portanto, percebe-se a “não
reversibilidade do discurso religioso” (GRITOLETTO, 2003), que é a característica
fundamental do discurso autoritário.
De acordo com Petean (2003, p. 91), “Impedir a reversibilidade é, como foi
dito, congelar o locutor no lugar que lhe é de direito, e congelar o ouvinte, também,
no lugar que lhe é de direito e dever”. Dessa forma, percebe-se que o padre (ou
pastor), tendo o poder investido de ser o “representante de Deus na Terra”, põe-se
como autoridade máxima no espaço do discurso religioso.
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2.2 O DISCURSO RELIGIOSO
Definido, então, o discurso religioso como autoritário, em seguida
apresentam-se outras características deste discurso.
Segundo Orlandi (2006), através da noção de sujeito, discutida no primeiro
capítulo, é que se pode entender o discurso religioso, pois “há uma condição
absoluta para se pôr em cena sujeitos religiosos cristãos: só existe essa multidão de
sujeitos religiosos possíveis porque existe um Outro Sujeito único absoluto”
(ORLANDI, 2006, p. 241). Para que isso fique mais claro, a autora cita Althusser
(1974), que afirmava que “Deus define-se portanto a si mesmo como sujeito por
excelência, aquele que é por si e para si (...) e aquele que interpela seu sujeito (...)”.
Com isso, torna-se mais claro o porquê dessa reversibilidade tender a zero
no discurso religioso. Sendo Deus a autoridade máxima, cuja voz se revela através
dos oradores da igreja (católica, protestante ou outra), tem o seu discurso
inquestionável. O sujeito ouvinte submete-se ao Sujeito; há uma relação de
desigualdade. O discurso religioso caracteriza-se por ser instaurado a partir de um
lugar de autoridade que emana de seu próprio interior. O que os enunciadores desse
discurso fazem é ocupar o lugar de representantes dessa voz de autoridade.
A assimetria, que assim se constitui, caracteriza a tendência para a não reversibilidade: os homens não podem ocupar o lugar do Locutor porque este é o lugar de Deus. Portanto, essa relação de interlocução, que constitui o discurso religioso, é dada e fixada, segundo a assimetria. (ORLANDI, 2006, p. 244).
A autora também cita outros tipos de discurso autoritário, como o político
(em que se fala a voz do povo), o pedagógico (quando a voz do saber se faz ouvir
através do professor) e outros. Entretanto, nesses tipos de discurso, eventualmente,
os sujeitos podem, sim, se transformar no outro, ou seja, o aluno, dotado de
formação, pode passar a ser professor, por exemplo. Porém, jamais isso poderá
acontecer no discurso religioso.
O representante, ou seja, aquele que fala do lugar de Deus transmite Suas palavras. O representa legitimamente, mas não se confunde com Ele, não é Deus. Essa, do meu ponto de vista, é a expressão fundamental da não reversibilidade. E daí deriva a “ilusão” como condição necessária desse tipo de discurso: o como se fosse sem nunca ser. (ORLANDI, 2006, p. 253).
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Tem-se, portanto, que o discurso religioso é dito como autoritário, pois é tido
como “aquele em que fala a voz de Deus”, ou seja, possui autoridade sobre os
demais sujeitos que, aliás, é irreversível, pois um homem jamais poderá elevar-se ao
mesmo patamar de Deus. O sujeito é, obrigatoriamente, submisso ao Sujeito. De
acordo com Grigoletto, “não há limites precisos para definir no discurso o que é de
Deus e o que é dos homens” (2003, p. 79).
Nos textos escolhidos como corpus deste trabalho, portanto, serão
analisadas as marcas de outro discurso que estão presentes dentro do discurso
religioso, em especial as marcas do discurso publicitário, cujas características serão
apontadas no próximo capítulo e ressaltadas nas análises.
Orlandi (1999, p. 70) afirma que “em um texto não encontramos apenas uma
formação discursiva, pois ele pode ser atravessado por várias formações discursivas
que nele se organizam em função de uma dominante”. Assim, a hipótese que se faz
é a de que o discurso publicitário está mascarado no discurso religioso, e diz-se
mascarado porque, nos casos dos discursos extraídos de programas televisivos, por
exemplo, não se trata de publicidade nos comerciais. O discurso publicitário está
imerso no religioso, havendo, então, uma mercadologização da figura divina. Deus
e suas bênçãos são tratados como mercadorias a serem adquiridas pelos fiéis por
meio das ofertas, que são dadas para aquisição de amuletos, dádivas e, até
mesmo, status perante os outros membros de uma mesma igreja.
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3 O DISCURSO PUBLICITÁRIO
É difícil falar em linguagem publicitária sem logo se pensar em manipulação.
Contudo, há que se ressaltar que, na publicidade, utilizam-se estratégias discursivas
de coerção ou até mesmo imposição.
Necessária se faz a distinção entre os termos propaganda e publicidade. De
acordo com Carvalho (2010, p. 9), propaganda é “mais abrangente que publicidade.
O primeiro estaria relacionado à mensagem política, religiosa, institucional e
comercial, enquanto o segundo seria relativo apenas a mensagens comerciais”. Por
exemplo, quando há eleições, as mensagens que são vistas na televisão e nas ruas,
sejam visuais, orais ou escritas, são de propagandas eleitorais. Já a publicidade
pode ser exemplificada com os anúncios de redes de supermercados, lojas de
roupas, concessionárias etc. Na publicidade, há o interesse da comercialização de
um determinado produto ou serviço. Ela normalmente aparece em anúncios em
revistas, jornais, rádio, televisão e, mais recentemente, na internet. Na propaganda,
pode haver também o interesse comercial, mas ele não é necessariamente o foco.
Pode-se afirmar que a propaganda abrange a publicidade.
3.1 A LINGUAGEM PUBLICITÁRIA
Segundo Carvalho (2010, p. 10), a publicidade “não tem autoridade para
ordenar”, então “o emissor utiliza a manipulação disfarçada: para convencer e
seduzir o receptor, não deixa transparecer suas verdadeiras intenções, ideias e
sentimentos, podendo usar de vários recursos: a ordem (...); a persuasão (...); a
sedução (...)” (sem grifos no original).
A autora segue, afirmando que na mensagem publicitária, o enunciador da
mensagem tem de tornar o seu produto objeto de desejo do consumidor e, para isso,
a linguagem utilizada se caracteriza pelo “reforço do individualismo” (CARVALHO,
2010, p. 13), ou seja, o receptor dessa mensagem centra-se em si, em satisfazer o
próprio desejo de adquirir determinado produto. Ainda, Carvalho (2010, p. 13)
reforça que a linguagem utilizada (assim como no discurso religioso, visto no
capítulo anterior) muitas vezes se encontra no modo imperativo, ou seja, autoritário.
Contudo, essa forma autoritária é substituída “pela linguagem da sedução”
(CARVALHO, 2010, p. 17), ou seja, o receptor da mensagem não é forçado a
19
adquirir o produto, e sim seduzido. Segundo Carvalho (2010, p. 17), essa sedução
se dá por meio de três vias: psicológica, antropológica e sociológica, sendo esta a
mais importante para analisar o corpus deste trabalho visto que “não se dirigindo a
ninguém em especial, a publicidade dá a cada um a ilusão de que dirige-se a ele
individualmente e, ao mesmo tempo, o faz ter consciência de ser membro de uma
pólis” (CARVALHO, 2010, p. 17).
O discurso publicitário, portanto, atua em três etapas: “na construção das
relações entre o produtor/anunciante e o público; na construção da imagem do
produto; e na construção do consumidor como membro de uma comunidade”
(CARVALHO, 2010, p. 26). Pode-se afirmar que no discurso publicitário, o efeito de
sentido produzido é o da manipulação, da sedução. O interlocutor desse discurso é
um indivíduo que tem uma consciência própria, que possui desejos, e é com esses
desejos que o discurso publicitário trabalha. Pode-se dizer que o discurso publicitário
manipula o interlocutor a adquirir um produto incentivando-o a buscar a realização
de seus desejos.
3.2 CARACTERÍSTICAS
Não é novidade para nenhum linguista que a escolha das palavras, em
determinados contextos, pode influenciar o modo de pensar dos receptores da
mensagem. No caso da publicidade, isso é ainda mais evidente, visto que “com o
uso de simples palavras, a publicidade pode transformar um relógio em joia, um
carro em símbolo de prestígio e um pântano em paraíso tropical” (CARVALHO,
2010, p. 18).
Sendo assim, por meio da linguagem publicitária, o locutor da mensagem
consegue persuadir o receptor a comprar seu produto ou serviço.
A palavra deixa de ser meramente informativa, e é escolhida em função de sua força persuasiva, clara ou dissimulada. (...) Pode-se, eventualmente, resistir ao imperativo (“compre”), mas quase sempre se atende ao indicativo. E mesmo que eu não acredite no produto, “creio na mensagem publicitária que quer me fazer crer” (Baudrillard, 1968, p. 272). Pode-se dizer que é algo parecido com a crença em Papai Noel: mesmo que não se acredite no mito, todos o aceitam como símbolo de amor e proteção. (CARVALHO, 2010, p. 18).
20
Visto que as escolhas das palavras podem influenciar o receptor da
mensagem publicitária, neste item serão tratadas algumas das características
presentes nesse tipo de discurso, com o objetivo de identificá-las nas análises.
De acordo com Maingueneau,
O discurso publicitário não possui verdadeiramente uma cenografia própria: ele é uma espécie de camaleão que pode imitar enunciados de qualquer gênero de discurso, tanto numa perspectiva de captação quanto de subversão. (...) por um lado, o discurso publicitário pode absorver qualquer cena de fala e, por outro, tem uma capacidade para se difundir, como formatação, ao conjunto dos outros discursos. (MAINGUENEAU, 2010, p. 168, 170).
Segundo Carvalho (2010), na linguagem publicitária, a classe dos
substantivos é muito utilizada, especialmente aqueles com conotação mais positiva
do que negativa, pois “a mensagem publicitária é o reino da felicidade e da
perfeição” (CARVALHO, 2010, p. 21). Com isso, afirma-se também que “a linguagem
publicitária é conotação pura, e o discurso é sempre alegórico” (CARVALHO, 2010,
p. 21). Com o uso da linguagem conotativa, criam-se anedotas, fazem-se metáforas
e conseguem-se efeitos de sentido que auxiliam na coerção do interlocutor da
mensagem.
Para demonstrar outras características, Carvalho (2010) entrevistou
publicitários brasileiros, com o objetivo de poder analisar a forma como se irradia
a mensagem publicitária no Brasil.
Um desses entrevistados foi o diretor de uma agência de publicidade de
Recife. Quando questionado sobre pontos básicos para se analisar a publicidade,
ele respondeu que “70% da publicidade brasileira são feitos para tevê”, ou seja,
utilizando-se canais visuais e orais de divulgação. Isso porque, no Brasil, onde “um
público, quando não analfabeto, com muito pouca familiaridade com a língua
escrita”, a mensagem publicitária com linguagem mais simplificada e vocabulário
menos rebuscado é mais eficiente. A autora também perguntou sobre as escolhas
linguísticas, obtendo como resposta:
A campanha pode ser pensada em termos de hipérbole, pleonasmo, metonímia ou metáfora. Após a escolha, sigo o caminho traçado: o do exagero ou da repetição, ou da parte pelo todo, ou da simbologia. Quanto à escolha do vocabulário, a nível dos signos, deve ser sempre simples, com termos conhecidos e corriqueiros. O que vai valorizá-los e ampliá-los serão as relações que se estabelecem: a polissemia, a oposição, o duplo sentido
21
ou, às vezes, um novo sentido para um termo bastante conhecido. (CARVALHO, 2010, p. 29).
O publicitário afirmou, também que sempre toma muito cuidado com a
escolha de adjetivos, pois, por serem muito subjetivos, é preferível que não sejam
utilizados, ou, se o forem, que sejam transformados em substantivos abstratos, para
evitar que seja atribuído juízo de valor. O exemplo que o executivo fornece é dizer
que é preferível utilizar “a beleza de um tapete” do que “um belo tapete”, pois isso
mascara o efeito de atribuição de qualidade ao substantivo.
Péninou (1974, p. 94, apud CARVALHO, 2010, p. 41), afirma que a
mensagem publicitária tem por características três atos:
• “nomear – conferir uma identidade por meio de um nome;
• qualificar – estabelecer uma personalidade por meio de atributos;
• exaltar – garantir a promoção por meio da celebração do nome e seus
atributos”.
Carvalho segue, demonstrando que nos textos, o verbo principal geralmente
convida o receptor da mensagem a adquirir algum produto ou serviço, muitas vezes,
por meio de uma ordem (compre, beba, dê um presente). No entanto, é bastante
comum, também, ao invés de encontrar verbos no imperativo, deparar-se com
verbos no futuro composto, como em Você vai ficar na moda da cabeça aos pés.
Dessa forma, o interlocutor não é ordenado a cumprir uma determinada tarefa, mas
é envolvido pela mensagem por meio do uso do pronome em segunda pessoa.
A nomeação (CARVALHO, 2010) é o ato de dar um nome característico ao
objeto que se pretende divulgar, distinguido-o de outros e dando a ele atributos
próprios, chegando a confundir-se, às vezes, o nome com o próprio produto (como
no exemplo clássico, quando as pessoas referem-se a Bombril ao invés de palha
de aço).
No ato da exaltação (CARVALHO, 2010), o objetivo é relacionar o objeto ao
nome, porém elevando o objeto a um patamar mais alto do que os de seus
concorrentes. “Serão impostos os traços da virtude (reconhecimento de qualidade),
da força (reconhecimento de autoridade) ou da singularidade (reconhecimento da
originalidade)” (CARVALHO, 2010, p. 47). É neste ato que se presta maior atenção à
22
linguagem, utilizando-se palavras que pertencem ao léxico do prazer, da
confiabilidade e do prestígio (CARVALHO, 2010).
Um termo pouco usual, erudito, quando dirigido a um público específico, resulta em força argumentativa na medida em que simboliza um status elevado ou até mesmo devido ao estranhamento que causa. Já um termo usual tem o poder de alcançar o grande público e obter alto grau de compreensibilidade. (CARVALHO, 2010, p. 47).
Outra característica muito usada no discurso publicitário é a ambiguidade.
Carvalho (2010, p. 59), citando Dubois, afirma que há dois tipos de ambiguidade. “A
ambiguidade sintática é aquela em que a mesma estrutura de superfície resulta de
duas ou mais estruturas profundas diferentes; na lexical, um morfema pode ter
vários sentidos, constituindo a ambiguidade decorrente da polissemia ou da
homonímia”.
Para esclarecer, um exemplo de sentença com ambiguidade sintática seria
João disse que ele iria à festa, em que o pronome ele pode se referir tanto a João
quanto a uma outra pessoa. Um exemplo com ambiguidade lexical pode ser A pata
sangrava muito. O vocábulo pata pode se referir tanto à quanto ao membro inferior
de um animal qualquer.
3.2.1 Os intensificadores
Optou-se por criar um subitem para os intensificadores, tendo em vista que
eles terão papel relevante no momento das análises. Eles têm a função de modificar
a intensidade da qualidade daquilo que se está sendo descrito. Exemplos desses
intensificadores são os advérbios, adjetivos e locuções adverbiais (CARVALHO,
2010). De acordo com Carvalho (2010, p. 69), “é um recurso muito utilizado na
língua corrente, escrita ou falada, em especial nos discursos que visam influenciar o
receptor, como a publicidade”.
Carvalho (2010) continua, classificando os intensificadores em
enfatizadores, amplificadores e moderadores.
• Enfatizadores: têm como função reforçar o que foi dito (advérbios de
modo, como honestamente ou seguramente);
• Amplificadores: são classificados pela autora como maximizadores ou
levantadores. Sua função é a de indicar o mais alto grau, funcionando
23
como os superlativos; normalmente, abrangem a classe de “advérbios
e adjetivos, além da exclamação e da comparação” (CARVALHO,
2003, p. 70);
• Moderadores: “são os intensificadores que menos interessam à
linguagem publicitária” (CARVALHO, 2010, p. 70).
Viu-se, portanto, algumas das principais características tanto do discurso
publicitário quanto do religioso, que serão buscadas nas transcrições e analisadas
conforme o embasamento teórico proposto.
24
4 ANÁLISES
Os textos presentes no corpus deste trabalho foram todos retirados da
internet, sendo 4 orais e 2 escritos, totalizando um corpus com 6 textos. Os sermões
orais foram retirados do YouTube e transcritos de acordo com as normas do projeto
NURC1; já os textos escritos foram retirados de sites ou blogs dos pastores. Foram
selecionados para compor este trabalho textos de pastores e bispos da Igreja
Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça, Igreja Mundial do Reino
de Deus e Assembleia de Deus Vitória em Cristo, todas de base pentecostal ou
neopentecostal. Todos os textos encontram-se nos anexos, no entanto, optou-se por
utilizar recortes das sequências discursivas2 (doravante Sd) para facilitar a
visualização dos pontos em comum entre todos eles. Os gestos de análise resultam
de um acordo entre pressupostos utilizados para se pensar o discurso publicitário
estruturado por categorias linguísticas com função persuasiva e o funcionamento
discursivo dessas categorias.
4.1 CLASSES DE PALAVRAS
Como ressaltado por Carvalho (2010), há determinadas classes de palavras
que contribuem para reforçar a mensagem do discurso publicitário. A seguir, serão
demonstrados alguns casos desses usos e a forma com que eles podem ressaltar a
mensagem publicitária. As sequências apresentadas foram também recortadas dos
anexos e servem como exemplos.
4.1.1 Intensificadores
Como visto no capítulo 3, os intensificadores são muito utilizados na
linguagem publicitária. Esses recursos são os numerais, advérbios, adjetivos, e
locuções adverbiais (CARVALHO, 2010).
Sd4: nós precisamos de MILHARES... e MILHARES... de pessoas AJUDANDO essa programação porque ela não pode sair do ar... você que vai ajudar com uma oferta de cem reais, uma oferta de duzentos,
1 Projeto Norma Linguística Urbana Culta. Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/>. Acesso em 23 abr. 2012. 2 Courtine (1981): define as sequências discursivas como “as sequências orais ou escritas de dimensão superior à frase, o que implica que o movimento de análise não se limita por uma razão espacial, mas orienta-se pelo fato linguajeiro que, na materialidade linguística, aponta pistas de funcionamento da ideologia, da historicidade”.
25
trezentos, ou MAIS... MIL reais seiscentos reais... nós vamos ENVIAR PRA VOCÊ... essa ÁGUA ungida essa água CON-sagrada (...) quando esse garrafãozinho esse galãozinho chegar na tua casa... SÓ UMA GOTA dessa água ... SÓ UMA GOTA dessa água que esta aí dentro desse garrafãozinho desse galãozinho... SÓ UMA GOTA... será o suficiente... para mudar a história da tua vida será o SUficiente... para lhe abençoar de uma forma poderosa... de uma forma ... GRANdi(osa) ((corte de vídeo)) (Anexo B)
Sd5: Gente, vamos usar a fé inteligente nesta Fogueira Santa. Se você foi selado com o Espírito de Deus e está absolutamente certo da sua salvação, então, corra em busca da realização de seu sonho material ou sentimental. Mas, se há um mínimo de dúvida com respeito à sua salvação eterna, então, dê prioridade a isso. É o mais importante para você. O que você aproveita se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Você pode até aproveitar a vida regalada por algum tempo, mas nunca por toda a eternidade! Vamos investir na alma e garantir a salvação eterna. (Anexo F)
Sd6: É verdade que os favores de Deus não são adquiridos com dinheiro. Mas com a fé!… Só através da fé é possível relacionar-se com Ele e adquirir Seus benefícios. É verdade também que a oferta não é dinheiro e dinheiro não é oferta. Oferta é a expressão da fé. (...) o que importa é que se entenda o verdadeiro significado da oferta, para que haja o desfrutar das bênçãos abundantes da fé. Deus abençoe a todos abundantemente! (Anexo E)
Na Sd4, pode-se perceber a exaltação que o sujeito faz do produto
oferecido. Além das repetições, que serão vistas adiante, o orador utiliza adjetivos
que pertencem ao domínio de memória dos discursos religiosos (ungida,
consagrada, poderosa, grandiosa) para classificar a água que ele está divulgando.
Essa água, segundo o pastor, é milagrosa e irá ajudar o fiel a “mudar a história da
vida”. A água, neste caso, assim como o martelo em Sd1 funcionam como amuletos
da sorte, que trarão sucesso financeiro e solução para todos os outros problemas.
Isso é incoerente com ensinamentos da própria, que transcrevo:
Um homem chamado Simão vinha praticando feitiçaria durante algum tempo naquela cidade, impressionando todo o povo de Samaria. Ele se dizia muito importante, e todo o povo, do mais simples ao mais rico, dava-lhe atenção e exclamava: "Este homem é o poder divino conhecido como Grande Poder". Eles o seguiam, pois ele os havia iludido com sua mágica durante muito tempo. No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram nele, e foram batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão também creu e foi batizado, e seguia a Filipe por toda parte, observando maravilhado os grandes sinais e milagres que eram realizados. Os apóstolos em Jerusalém, ouvindo que Samaria havia aceitado a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, ao chegarem, oraram para que eles recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles; tinham apenas
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sido batizados em nome do Senhor Jesus. Então Pedro e João lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Vendo Simão que o Espírito era dado com a imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro e disse: "Deem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo". Pedro respondeu: "Pereça com você o seu dinheiro! Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro? Você não tem parte nem direito algum neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus. Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu coração, pois vejo que você está cheio de amargura e preso pelo pecado". (ATOS, 8:9-23) (sem grifos no original).
Em Sd6, pode-se observar o constante uso dos derivados da palavra
abundância. No início do trecho, o bispo afirma que “oferta não é dinheiro”, mas
“oferta é a expressão da fé”. No final, ele afirma que desfrutará das “bênçãos
abundantes da fé” aquele que entender “o verdadeiro significado da oferta”. Com
isso, traduzindo o que o pastor está dizendo, desfrutará dos favores de Deus aquele
que fizer ofertas, mas diferentemente do que afirma o sacerdote, a oferta é sim dada
em dinheiro. Sendo ela a expressão da fé, quanto maior a oferta, maior a fé. E ao
final, quando o pastor deseja que “Deus abençoe a todos abundantemente” fica
implícito que todos aqueles que derem maiores ofertas e, portanto, demonstrarem
maior fé serão mais abençoados do que os que não ofertarem. Mais uma vez, vê-se
aqui a comercialização da bênção de Deus.
Na Sd5, o bispo prevalece da insegurança do fiel em dúvida, afirmando que
é melhor “investir na alma” (dando ofertas, é claro) do que perseguir os sonhos
materiais, pois dessa forma os fiéis vão ter a garantia da salvação eterna.
4.1.1.1 Diminutivos e numerais
Outra categoria que chamou a atenção foi o uso de diminutivos e palavras
que atentam para a ideia de “pouco” ou que geram efeito de sentido de minimização
(por exemplo, os numerais).
Sd1: no primeiro horário você vai se dirigir... a uma agência bancária... e vai fazer aquela ofertinha de mil reais... e nós estaremos enviANdo... via correio pro senhor pra senhora... esse martelo que você está vendo aqui nas minhas mãos.. esse martelo... você vai tocar com ele... naquilo que você deseja... que seja quebrado que seja esmiuçado... que seja extraído arrancado da sua vida... e eu tenho certeza absoluta que essa aJUda... que você vai fazer...você vai procurar uma agência... do banco do Brasil por exemplo... e vai digitar lá agência quinze doze traço um... conta corrente sete um zero sete... traço DOIS... ou banco Bradesco agência noventa e oito ... conta corrente cem mil traço quatro de preferência ... no banco do Brasil como no:sso... aPÓStolo tem nos orientado..se você
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preferir ... a caixa econômica federal... você vai digitar lá agência... dois cinco três... operação... zero zero três... conta corrente duzentos e oitenta... traço dois... e você vai efetuar essa ajudinha essa oferTInha... de mil reais (Anexo A)
Sd2: quando esse garrafãozinho esse galãozinho chegar na tua casa... SÓ UMA GOTA dessa água ... SÓ UMA GOTA dessa água que esta aí dentro desse garrafãozinho desse galãozinho... SÓ UMA GOTA... será o suficiente... para mudar a história da tua vida será o SUficiente... para lhe abençoar de uma forma Poderosa... de uma forma... GRANdi(osa) (Anexo B)
Sd3: você vai oferecer... UM aluguel seu... UM aluguel... você paga aluguel?... PEga esse aluguel... de abril a dezembro... divide ele UM aluguel... por exemplo... eu pago::: quinhentos reais de aluguel... eu vou oferecer UMA semente de um aluguel... para que eu possa... para que o senhor possa abrir a porta pra eu TER a minha casa própria... ((...)) estou pagando a minha casa própria... você vai pegar o valor de UMA MENsalidade e também dividir... do jeito.. ou paga tudo ou dividir... COMO você quiser... para que deus te dê os recursos... até o fiNAL pra quiTAR essa casa (Anexo C)
Pode-se perceber que há, em todos os casos, uma ênfase muito grande
quando se trata do numeral um. Os pastores enfatizam essa palavra com o objetivo
de convencer os fiéis de que esse um aluguel ou uma mensalidade, na Sd3, é
pouco. Na Sd2, o galãozinho de água do qual será usada apenas uma gota funciona
da mesma forma. O efeito de sentido de minimização leva o fiel a acreditar que vale
a pena adquirir esse garrafãozinho, pois apenas uma gota dessa água será
suficiente, ou seja, ele crê que essa água tem mesmo poderes milagrosos.
Na Sd1, é o valor da oferta pedida é de mil reais. No entanto, ao dizer o
valor da oferta pretendida, o pastor usa uma palavra no diminutivo ofertinha, no
primeiro caso, e ofertinha e ajudinha, no segundo. Essas palavras no diminutivo
geram um efeito de sentido que faz com que o ouvinte da mensagem pense que o
valor que ele doará do martelo em questão é baixo, se levar em consideração os
benefícios que ele pode prover. Entretanto, mil reais, se analisado com
imparcialidade e sem interferências da fé, é um valor considerável a se dispender
por um martelo.
Além disso, não há, nesses produtos, garantia de que vão funcionar de
acordo com a vontade dos fiéis. A aquisição desses produtos e bênçãos “vendidas”
por esses pastores é bastante diferente de acessar um site de compras, como o
Mercado Livre ou Submarino e comprar algum produto on-line. Em ambos os casos,
há estruturas logísticas em comum: as estruturas logísticas de entrega dos produtos.
No entanto, no caso dos produtos religiosos, estes serão enviados após a
28
confirmação do recebimento da oferta, feita por depósito bancário; já no caso dos
sites de compras, é gerado um número de protocolo com o qual o comprador poderá
recorrer em caso de mau funcionamento do produto adquirido ou de não entrega
deste. O fiel deve fazer um depósito e apenas, literalmente, rezar para que o seu
produto (por exemplo, o martelo) ou bênção sejam de fato entregues. Não há
qualquer garantia de que irão funcionar ou da devolução do dinheiro, porque o fiel
está doando, ofertando para a igreja. O que esse indivíduo não percebe é que está,
na verdade, comprando um produto por um valor predeterminado por alguém que
está em uma posição de autoridade.
4.1.3 Vocativos, tempos e modos verbais
No capítulo 3, foi discutida a forma como os tempos e modos verbais são
utilizados no discurso publicitário. Afirmou-se que, muitas vezes, o verbo está no
modo imperativo, mas acontece com frequência de o verbo estar no futuro
composto, descaracterizando a ordem verbal e persuadindo o consumidor por meio
do uso do vocativo em segunda pessoa (você) ou mesmo em primeira pessoa (eu),
em casos em que o pastor instaura uma posição-sujeito interlocutor e faz ouvir a voz
deste:
Sd7: vocÊ vai realizar neste mês de outubro... uma oferta especial pra AJUDAR ... essa programação... você vai realizar uma oferta ou de cem reais ou de duzentos trezentos quatrocentos quinhentos ou MAIS... ou mais ou mil reais ou mais ((corte de vídeo)) então você vai ligar... nós vamos enviar pra você ... é claro que quando você ligar ... nós já vamos deixar SE-parada a sua água... aí depois que você realizar o SEU depó::sito... você vai realizar ou no ban::co do Brasil... ou no banco do Bradesco...(...) quando você ligar... um dos nossos atendentes vai receber sua ligação você já peça... você vai pedir pra RE-ser-var já sua água peça, fala reserva aí minha água... e aí você vai realizar o seu depósito... (Anexo B)
Sd8: preste bastante atenção... para isto... eu quero desafiar você... na igreja SEDE e nas filiais... durante TODO esse ano... TODO esse ano... é voCÊ que vai fazer... conforme... você quiser fazer... num enveLOpe especial... você vai oferecer... UM aluguel seu... UM aluguel... você paga aluguel?... PEga esse aluguel... de abril a dezembro... divide ele UM aluguel... por exemplo... eu pago::: quinhentos reais de aluguel... eu vou oferecer UMA semente de um aluguel ... para que eu possa... para que o senhor possa abrir a porta pra eu TER a minha casa própria... então você pode pegar esses quinhentos reais e dividir... de... abrIL até dezembro... ah um mês eu dou cinquenta, no outro mês eu dou trinta... você que vai dizer... (Anexo C)
Sd9: os irmão vão passar agora, passa lá, irmão, você vai pegar o papel e colocar, seus dados, nome e endereços completo... se for um ente
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querido ao lado do seu nome você põe um tracinho põe o nome desse ente querido... desTAca.... e me deVOLva... eu vou colocar você... no livro das orações de patrocinador... o que ficar em sua mão é a guia pra ir ao banco e depositar... AO depositar eles vão lhe dar... essa parte que tem o meu ... endereço nas costas... que é... com o recibo ... você manda que lhe mandaremos a revista graças show da fé ... se deus nunca lhe chamou mas estiver lhe chamando HOje... então hoje é o dia que você deve se inscrever... os irmãos tem caneta lhe empresta até preenchem pra você ... e você que esta em casa em qualquer lugar telefone para zero prestadora vinte e um ...dois um...quatro um...trinta e cinco dez... (Anexo D)
Em todas as sequências acima, há o uso do vocativo você. Dessa forma, a
mensagem parece direcionada ao indivíduo específico, e não a todos os fiéis
igualmente. O interlocutor da mensagem sente-se envolvido por ela, e os verbos no
futuro composto, como já dito, não dão a ideia de se estar recebendo uma ordem. O
fiel é convencido a seguir os conselhos dos oradores, que prometem a ele a
salvação da alma e a garantia de solução de seus problemas.
Também se pode resgatar a noção da reversibilidade, pois no discurso
religioso, ela tende a zero. Dessa forma, o fiel escuta essas mensagens religiosas e
aceita-as como mensagens divinas. Se não há reversibilidade, também não há
escolha, pois em momento algum as falas desses pastores entram no condicional. É
sempre afirmativo, imperativo ou futuro composto: “você vai realizar”, “você que vai
fazer”. O fiel, que entende o pastor como sendo o representante da voz de Deus,
não tem a possibilidade de escolher se vai ou não realizar essas ações propostas.
Se a ordenança vem de Deus, não há reversibilidade, há apenas obediência.
Na Sd7, o efeito de sentido da oferta é sobreposto pelos campos semânticos
que reportam aos sentidos da troca econômica regida pelo sistema bancário e,
portanto, fica bastante claro que trata-se de um comércio, pois o pastor explica que é
para a pessoa fazer o pedido e a água só será enviada após a confirmação do
depósito. Não fosse comércio, a água seria enviada de todas as formas, e não após
o recebimento da contribuição.
4.2 REPETIÇÕES
Como visto no capítulo 3, no livro de Nelly Carvalho (2010) constam algumas
entrevistas com publicitários, nas quais eles afirmaram de que maneira conseguem
persuadir o seu público. Um deles destacou justamente o uso de exagero e
repetições. Como pode ser visto, por exemplo, nas sequências a seguir:
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Sd10: a pedra... e eu sei que há pessoas do outro lado... que existe muitas pedras atrapalhando seus caminhos... tem mães agora que... a pedra que atrapalha os seus caminhos... é o filho no alcooLIsmo, nas DROgas, desempreGAdo, endiviDAdo... tem esposas que a pe::dra que tem atravessado seus caminhos é o marido na mão da amante dos vícios ... nos jogos de azar... e ela não sabe mais o que fazer... pra remover pra extrair essa pedra dos seus caminhos... mas há uma promessa do nosso deus de esmiuÇAR ... quebrar despedaçar essas pedras... talvez eu fale com pessoas agora ... que as pedras que tem atravessado seus caminhos... é as dívidas... (Anexo A)
Sd11: quando esse garrafãozinho esse galãozinho chegar na tua casa... SÓ UMA GOTA dessa água... SÓ UMA GOTA dessa água que esta aí dentro desse garrafãozinho desse galãozinho... SÓ UMA GOTA... será o suficiente... para mudar a história da tua vida será o SUficiente... para lhe abençoar de uma forma poderosa... de uma forma... GRANdi(osa) (Anexo B)
Os trechos demarcados em negrito mostram claramente que esses oradores
das igrejas também utilizam a mesma técnica do publicitário mencionado. A Sd11
proporciona, ainda, uma visualização do exagero, tendo em vista que, além da
repetição, o pastor enfatiza constantemente a expressão “só uma gota”. Ele utiliza a
repetição das mesmas palavras e também o exagero, enfatizando que apenas uma
gota da água que eles estão enviando aos fiéis será suficiente, o que parece querer
reforçar que água é tão poderosa que apenas uma gota operará milagres na vida
das pessoas.
Isso remete imediatamente ao domínio de memória de publicidade comum,
por exemplo, quando se assiste a um comercial de produtos para cabelos.
Normalmente, os cabelos exibidos nos comerciais televisivos, em especial,
aparecem sempre sedosos e brilhantes, sem nenhum tipo de defeito, como se o
próprio produto fosse, também, milagroso.
Retomando a noção do esquecimento enunciativo, tem-se que “Este
‘esquecimento’ produz em nós a impressão da realidade do pensamento”
(ORLANDI, 1999, p. 35). Na Sd10, o pastor utiliza a repetição constante da pedra
no caminho, fazendo reaparecer a memória do poema de Drummond “Tinha uma
pedra no meio do caminho / no meio do caminho tinha uma pedra”. Esse poema
faz referência às dificuldades ou problemas que surgem na vida das pessoas. O
pastor utiliza a mesma expressão para se referir aos problemas dos seus fiéis,
usando a a memória discursiva do poema de Drummond e também o apagamento
da historicidade do mesmo na literatura. O fiel não retoma o poema em si,, mas o
efeito de sentido que ele causa. Assim, tem-se a impressão de que falar sobre a
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“pedra no caminho” é a única maneira de falar sobre as dificuldades ou obstáculos,
e o martelo, portanto, é a única forma de solucionar o problema. O pastor faz a
repetição constante da pedra e, em seguida, apresenta a solução, uma forma de
remover essa pedra do caminho dos fiéis. Fica clara a escolha do objeto do
martelo pelo pastor: quando alguém está com uma pedra no caminho, essa pessoa
precisa uma forma de remover a pedra. A maneira oferecida pelo pastor é um
martelo para quebrar as pedras. No entanto, o martelo nesse caso não é metafórico,
como a pedra. É um objeto existente, real, e que o fiel pode adquirir através da
doação de uma oferta de mil reais.
4.3 VERBOS E SUBSTANTIVOS FUNCIONANDO COMO LUGARES DE MEMÓRIA
Acrescentando a tudo que já foi demonstrado, no discurso religioso, muitas
vezes, percebe-se o atravessamento por palavras de outros campos semânticos. No
caso específico do discurso religioso/publicitário, nota-se a utilização de palavras
que trazem a memória de seu funcionamento no campo da economia, como
demonstrado nos exemplos a seguir:
Sd12: O que você aproveita se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Você pode até aproveitar a vida regalada por algum tempo, mas nunca por toda a eternidade! Vamos investir na alma e garantir a salvação eterna. (Anexo F)
Sd13: você vai pegar o papel e colocar, seus dados, nome e endereços completo... se for um ente querido ao lado do seu nome você põe um tracinho põe o nome desse ente querido... desTAca.... e me deVOLva... eu vou colocar você... no livro das orações de patrocinador... o que ficar em sua mão é a guia pra ir ao banco e depositar... AO depositar eles vão lhe dar... essa parte que tem o meu endereço nas costas... que PE... com o recibo... você manda que lhe mandaremos a revista graças show da fé... (Anexo D)
Sd14: o ser humano é assim. Sempre procura uma promoção, coisas grátis, e uma maneira de não ter que pagar o preço. Mas por que relacionar pedidos de oração com ofertas? Se a oferta é espontânea, por que tenho de sacrificar para garantir a resposta de Deus? É verdade que os favores de Deus não são adquiridos com dinheiro. Mas com a fé!… Só através da fé é possível relacionar-se com Ele e adquirir Seus benefícios. (...) Como se sabe do amor de alguém se não há dedicação, entrega e sacrifício por ele? Que tipo de amor seria esse sem o seu devido custo voluntário? Por isso, o Senhor ensina dar para então receber. (Anexo E)
Sd15: você que ainda não tem esse galãozinho esse garrafãozinho eu gostaria que você ligasse e adquirisse... porque no mês de outubro, nesse mês de outubro você que vai... AJUDAR esse ministério nós
32
precisamos de MILHARES... e MILHARES... de pessoas AJUDANDO essa programação porque ela não pode sair do ar... você que vai ajudar com uma oferta de cem reais, uma oferta de duzentos, trezentos, ou MAIS... MIL reais seiscentos reais... nós vamos ENVIAR PRA VOCÊ... essa ÁGUA ungida essa água CON-sagrada (Anexo B)
Ao mesmo tempo que utilizam palavras que são bastante utilizadas no
campo da economia, os oradores evitam usar palavras que caracterizam seus
discursos como comércio, instaurando o que em análise do discurso se designa
domínio de contradição, pelo princípio da heterogeneidade da formação discursiva.
São utilizadas palavras como ofertar ou então efetuar ou fazer uma oferta
(“você vai efetuar essa ajudinha essa oferTInha” – Sd1), pedir (“ele vai registrar
algu:mas ligaçõ:es... de pessoas que já ligaram pra cá:: e pediram esse martelo” –
Anexo A), realizar o depósito ou depositar (Sd9). Em nenhum dos casos, os
produtos e bênçãos oferecidas pelos pastores são caracterizados como uma
comercialização. Contudo, em qualquer comércio atual, normalmente as pessoas
trocam dinheiro por algum produto ou serviço. Em um dos casos, o pastor ainda
avisa que é para “reservar” a água, ou seja, o fiel receberá a sua água apenas após
realizar o pagamento (que é tratado pelos sacerdotes como ofertas).
Na Sd13 vê-se uma elipse do objeto direto do verbo depositar. O pastor não
se refere à oferta ou dinheiro em momento algum. Ele apenas explica para o fiel que
irá colocar o nome no livro das orações de patrocinador e que o fiel ficará com a guia
para ir ao banco depositar nas mãos. Não é mencionado depositar o que nem
quanto, contudo, sabe-se, pela memória, pelo conhecimento partilhado, que no
banco, instituição financeira, os depósitos recebidos são em dinheiro (ou cheques).
Grigoletto (2003) discorre, a partir de Orlandi (1997)3 brevemente sobre o silêncio
em seu livro, afirmando que “sem silêncio, não há sentido”, ou seja, o silêncio não é
nada, ele é significante. Na Sd13, o apagamento do objeto direto do verbo depositar
produz um efeito de sentido por causa do silêncio. O sentido gerado por meio da
elipse desse objeto direto é o esquecimento. O fiel esquece que está pagando para
receber a revista, pois o valor da oferta não é dito, assim como não é utilizada a
palavra dinheiro.
Na Sd14, pode-se dizer que há uma incoerência quando o pastor afirma que
os favores de Deus não são adquiridos com dinheiro, mas com a fé. Ora, o verbo
3 ORLANDI, Eni. As formas do silêncio. São Paulo: UNICAMP, 1997.
33
adquirir pode ter significado de “obter, alcançar”, mas ele também faz parte de uma
memória discursiva que remete ao comércio, ele está relacionado à ideia do favor
que, por definição, é uma ação gratuita que um indivíduo realiza por benevolência,
ou seja, sem a expectativa de receber algo em troca. Quando se fala em favor, o
efeito de sentido produzido é o da gentileza.
Ao dizer “adquirir os favores de Deus com a fé”, há uma ambiguidade na fala
do pastor, que pode ser tanto “obter os favores de Deus” quanto “comprar os favores
de Deus”. Sendo o texto voltado à obtenção de oferta, o efeito de sentido produzido
pelo texto desse bispo é justamente o da aquisição por meio do dinheiro. O pastor
afirma que oferta não é dinheiro, é a expressão da fé, no entanto, desde os tempos
de Jesus Cristo (lembrando a parábola da viúva pobre), a oferta é sim a expressão
da fé, porém ela é efetuada com o dinheiro4. O bispo busca silenciar o sentido do
dinheiro ao afirmar que “oferta não é dinheiro”. Parece um esforço para minimizar o
valor financeiro do dinheiro, mas essa tentativa de estabelecer um novo sentido para
a palavra oferta é falha quando retomado o sentido da oferta na memória discursiva
dos fiéis. A oferta, como já afirmado, é uma contribuição financeira doada às igrejas
de forma voluntária. O pastor procura silenciar o sentido do dinheiro, mas não
consegue, ao dizer que o amor que os fiéis querem demonstrar a Deus tem o seu
custo voluntário, mais um termo relacionado diretamente com a economia. Se a
oferta não é dinheiro, mais é a expressão da fé, o efeito de sentido desse discurso
se dá não por meio do que foi dito, mas pelo não dito que, neste caso, é “quanto
mais fé, mais oferta; quanto mais oferta, mais fé”.
4 Ou com coisas que reportam a valores econômicos. Vide, por exemplo, o sistema de ofertas no Antigo Testamento, em que as pessoas levavam produtos (as primícias) de suas colheitas e animais.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tem-se no discurso publicitário, portanto, estratégias discursivas que
produzem efeito de persuasão. O interlocutor do discurso publicitário é seduzido a
adquirir um determinado produto, no entanto, ele tem uma maior consciência a
respeito dessa tentativa de convencimento. A publicidade faz parte do contexto
social do capitalismo. A mensagem explicitamente publicitária, como as que passam
na televisão, por exemplo, provê ao indivíduo uma escolha. Este pode optar por
comprar o produto ou não, embora existam os mecanismos implícitos de
convencimento/coerção.
Diferentemente, no discurso religioso, essa escolha não é tão evidente a
quem ouve a mensagem, justamente por ser proveniente de um orador da igreja,
que, como visto, é aquele em quem se faz ouvir a voz de Deus.
Para o público desses oradores, há uma dificuldade em separar a voz do
sacerdote da voz de Deus, ou seja, quando o pastor faz o anúncio de determinado
produto (ou bênção), o fato de este anúncio vir de um orador da igreja leva o fiel a
crer que é o próprio Deus quem está se manifestando na voz do pastor e pedindo
ofertas. Como no discurso religioso não temos a reversibilidade, o fiel fica submetido
à vontade do orador. Em nenhum momento o pastor esclarece para o fiel que aquela
determinada fala não é divina, mas humana.
Ao mercantilizarem a fé, os discursos desses pastores vão de encontro às
próprias escrituras. Há uma passagem na Bíblia na qual Jesus, transtornado com o
comércio que havia sido criado no templo, expulsou todos que lá estavam:
Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém. No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: "Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!" (JOÃO, 2:13-16).
Se for feita uma retomada da parábola da viúva pobre, transcrita na
introdução deste trabalho, será possível perceber que as ações desses sacerdotes
neopentecostais descritas aqui parecem ser contrárias aos ensinamentos bíblicos.
Na parábola, a viúva deu com fé as duas únicas moedas que poderiam garantir o
seu sustento. No entanto, a viúva doou as moedas por vontade própria, sem que
35
nenhum sacerdote a coagisse. Os produtos e bênçãos são comercializados por meio
do uso da palavra de Deus ou, pelo menos, o fiel crê que as palavras vêm de Deus,
e esses pastores se aproveitam desta crença e dos problemas pessoais que esses
indivíduos enfrentam (drogas, alcoolismo, traição, dívidas etc.) para solicitar
contribuições financeiras. É isso que descaracteriza o conceito bíblico de oferta. Não
há voluntariedade, há manipulação por meio do discurso publicitário.
36
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://www.bibliaonline.com.br>. Acesso em: 02 mar. 2013.
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BÍBLIA ONLINE. Nova versão internacional. Disponível em: <http://www.bibliaonline.
com.br>. Acesso em: 02 mar. 2013.
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2010.
COURTINE, J.-J. (1981). Análise do discurso político: o discurso comunista
endereçado aos cristãos. São Carlos: EDUFSCAR, 2009.
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GÊNESIS. In: BÍBLIA Online. Nova versão internacional. Cap. 14, Vers. 18-20.
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funcionamento da repetição e das relações divino/temporal no discurso da
Renovação Carismática. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
JOÃO. In: BÍBLIA Online. Nova versão internacional. Cap. 2, Vers. 13-16. Disponível
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LUCAS. In: BÍBLIA Online. Nova versão internacional. Cap. 21, Vers. 1-4. Disponível
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MAINGUENEAU, Dominique. Doze conceitos em análise do discurso.
Organização de Sírio Possenti, Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva. Tradução
Adail Sobral et al. São Paulo: Parábola, 2010.
37
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Primeiro Centenário. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/6982.html>. Acesso
em: 19 jun. 2012.
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sigismundo/ortografia.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2013.
ORLANDI, Eni. Análise de discurso. In: ORLANDI, Eni; LAGAZZI-RODRIGUES,
Suzy. Discurso e textualidade. Campinas, SP: Pontes, 2010.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos.
Campinas: Pontes, 1999.
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PETEAN, Antonio Carlos Lopes. O sujeito e a reversibilidade no discurso religioso.
Revista Philologus, ano 14, n. 41. Rio de Janeiro: CiFEFiL, maio/ago. 2008. p. 91.
SILVEIRA, Marcelo. O discurso da teologia da prosperidade em igrejas
evangélicas pentecostais. Estudo da retórica e da argumentação no culto religioso.
Tese (Doutorado em Letras). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-07022008-
113110/pt-br.php>. Acesso em: 26 fev. 2013.
38
ANEXOS
39
Sinais a serem utilizados5
5 Alguns dos sinais mostrados no quadro foram utilizados nas transcrições dos vídeos. O quadro foi elaborado com base nas normas para transcrição fonética criadas pelo projeto NURC. A referência para o quadro é: NORMAS para transcrição ortográfica. Disponível em: <http://www.letras.etc.br/ sigismundo/ortografia.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2013.
OCORRÊNCIAS SINAIS EXEMPLIFICAÇÃO* Incompreensão de palavras
ou segmentos ( ) do nível de renda...( ) nível de renda nominal...
Hipótese do que se ouviu (hipótese) (estou) meio preocupado (com o gravador)
Truncamento (havendo homografia, usa-se acento
indicativo da tônica e/ou timbre)
/ e comé/ e reinicia
Entoação enfática maiúscula porque as pessoas reTÊM moeda
Prolongamento de vogal e consoante (como s, r)
:: podendo aumentar para :::: ou mais
ao emprestarem os... éh::: ...o dinheiro
Silabação - por motivo tran-sa-ção Interrogação ? eo Banco... Central... certo?
Qualquer pausa ...
são três motivos... ou três razões... que fazem com que
se retenha moeda... existe uma... retenção
Comentários descritivos do transcritor
((minúsculas)) ((tossiu))
Comentários que quebram a sequência temática da
exposição; desvio temático -- --
... a demanda de moeda -- vamos dar essa notação --
demanda de moeda por motivo
Superposição, simultaneidade de vozes { ligando as linhas
A. na { casa da sua irmã B. sexta-feira? A. fizeram { lá...
B. cozinharam lá? Indicação de que a fala foi
tomada ou interrompida em determinado ponto. Não no
seu início, por exemplo.
(...) (...) nós vimos que existem...
Citações literais ou leituras de textos, durante a gravação " "
Pedro Lima... ah escreve na ocasião... "O cinema falado em língua estrangeira não
precisa de nenhuma baRREIra entre nós"...
40
ANEXO A Igreja Mundial do Poder de Deus6
que… o NOSSO deus... através do nosso apóstolo... colocou... um propó::sito em nosso coração... a palavra de deus diz que... a palavra é fogo... é martelo que esmiúça bem... a pedra... e eu sei
que há pessoas do outro lado... que existe muitas pedras atrapalhando seus caminhos... tem mães
agora que... a pedra que atrapalha os seus caminhos... é o filho no alcooLIsmo, nas DROgas ,
desempreGAdo, endiviDAdo... tem esposas que a pe::dra que tem atravessado seus caminhos é o marido na mão da amante dos vícios ... nos jogos de azar... e ela não sabe mais o que fazer... pra remover pra extrair essa pedra dos seus caminhos... mas há uma promessa do nosso deus de
esmiuÇAR ... quebrar despedaçar essas pedras... talvez eu fale com pessoas agora ... que as
pedras que tem atravessado seus caminhos... é as dívidas... o desemprego a miséria... talvez eu fale com ex-empresários que já tiveram de TU-DO e hoje estão a bancarrota na lo:na... talvez já
abriu concorda:ta já está no vermelho... talvez você é uma pessoa que:... não entende como você... se afundou TANto na lama sabe... e você fica sem entender ... sem saber... como quebrar essas
pedras que atravessaram seus caminhos... mas há uma promessa do nosso deus... pro senhor pra
senhora que está aí do outro lado... ele disse: que vai esmiuçar vai quebrAR... essas PEdras que apareCEram... nos seus caminhos... você vai ligar aGOra em nossa central de atendimento... você
vai ligaR a-go-ra... no zero operadora onze... três cinco sete sete três oito zero zero... inclusive o
bispo Washington está aqui conosco... e ele vai registrar algu:mas ligaçõ:es... de pessoas que já ligaram pra cá:: e pediram esse martelo... e:::... ainda hoje.. ou amanhã se possível for... no primeiro horário você vai se dirigir... a uma agência bancária... e vai fazer aquela ofertinha de mil
reais... e nós estaremos enviANdo... via correio pro senhor pra senhora... esse martelo que você
está vendo aqui nas minhas mãos.. esse martelo... você vai tocar com ele... naquilo que você
deseja... que seja quebrado que seja esmiuçado... que seja extraído arrancado da sua vida... e eu tenho certeza absoluta que essa aJUda... que você vai fazer...você vai procurar uma agência... do banco do Brasil por exemplo... e vai digitar lá agência quinze doze traço um... conta corrente sete
um zero sete... traço DOIS... ou banco Bradesco agência noventa e oito ... conta corrente cem mil
traço quatro de preferência ... no banco do Brasil como no:sso... aPÓStolo tem nos orientado..se
você preferir ... a caixa econômica federal... você vai digitar lá agência... dois cinco três... operação... zero zero três... conta corrente duzentos e oitenta... traço dois... e você vai efetuar essa ajudinha essa oferTInha... de mil reais, tá bom?... o bispo Washington está conosco pra quem
tem o privilégio ... de receber aqui na nossa programação.. e ele estará registrando as ligações das
pessoas que ligaram pra cá... boa tarde bispo Washington a paz do nosso Deus
6 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=E9yvUL0P2GA>. Acesso em: 28 fev. 2013.
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ANEXO B
Igreja Mundial do Poder de Deus7
PASTOR 1: da água... a água que apóstolo Valdemiro abençoou... que tá nesse ((inaudível)) nas
suas mãos... DEclarando através desta água... a restauração da sua vida em apenas U:MA gota
dela... que você utilizar já vai ser o suficiENTE... pra que Deus opere milagres na sua vida. ((corte de vídeo))
PASTOR 2: você que ainda não tem esse galãozinho esse garrafãozinho eu gostaria que você ligasse e adquirisse... porque no mês de outubro, nesse mês de outubro você que vai... AJUDAR
esse ministério nós precisamos de MILHARES... e MILHARES... de pessoas AJUDANDO essa
programação porque ela não pode sair do ar... você que vai ajudar com uma oferta de cem reais, uma oferta de duzentos, trezentos, ou MAIS... MIL reais seiscentos reais... nós vamos ENVIAR
PRA VOCÊ... essa ÁGUA ungida essa água CON-sagrada. ((corte de vídeo)) você já tem essa água ai ou ainda não? Você já pegou essa água ainda não? Você que não tem
essa água eu gostaria que você ligasse... zero operadora onze três cinco sete sete três oito zero
zero... ( ) três quatro oito oito TRINta. cinQUENta... zero operadora ONZE... vocÊ vai realizar neste mês de outubro... uma oferta especial pra AJUDAR ... essa programação... você vai realizar uma
oferta ou de cem reais ou de duzentos trezentos quatrocentos quinhentos ou MAIS... ou mais ou mil
reais ou mais ((corte de vídeo)) então você vai ligar... nós vamos enviar pra você ... é claro que quando você ligar ... nós já vamos deixar SE-parada a sua água... aí depois que você realizar o SEU depó::sito... você vai realizar ou no ban::co do Brasil... ou no banco do Bradesco... banco do
Brasil ou banco do Bradesco você vai realizar... olha só o do Brasil banco do Brasil agência
novento e oito conta corrente cem mil traço quatro... como pelo banco do Brasil agência quinze
doze traço um... conta corrente setenta e um zero se:te ... ((corte de vídeo)) quando esse garrafãozinho esse galãozinho chegar na tua casa... SÓ UMA GOTA dessa água ... SÓ UMA GOTA dessa água que esta aí dentro desse garrafãozinho desse galãozinho... SÓ UMA
GOTA ... será o suficiente... para mudar a história da tua vida será o SUficiente... para lhe abençoar
de uma forma Poderosa... de uma forma ... GRANdi(osa) ((corte de vídeo))
então você que não tem ainda esse galãozinho com água... eu gostaria que você ligasse... você vai ligar... zero operadora onze três cinco sete sete três oito zero zero... nós vamos enviar pra você... esse galão na tua casa... na sua casa... essa água abençoada só uma GOTA... dessa água... só
uma GOTA dessa água será o suficiente pra mudar a hisTÓria da tua vida... só uma gota dessa
água... só uma GOTA dessa água... eu tenho certeza ABSOluta ABsoluta . quando você ligar... um
dos nossos atendentes vai receber sua ligação você já peça... você vai pedir pra RE-ser-var já sua água peça fala reserva aí minha água... e aí você vai realizar o seu depósito... OU vai procurar uma igreja mundial MAIS próximo... da tua casa mais próximo da tua casa você ta procurando uma
igreja mundial... você pode procurar ainda HOJE uma igreja mundial mais próxima... leva aí essa
oferta de cem reais... ou de duzentos ou de trezentos quatrocentos quinhentos seiscentos mil ou MAIS
7 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=mxZ8nX7NX_0. Acesso em: 28 fev. 2013.
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ANEXO C
Assembleia de Deus Vitória em Cristo8
e para isso… preste bastante atenção... para isto... eu quero desafiar você... na igreja SEDE e nas
filiais... durante TODO esse ano... TODO esse ano... é voCÊ que vai fazer... conforme... você
quiser fazer... num enveLOpe especial... você vai oferecer... UM aluguel seu... UM aluguel... você paga aluguel?... PEga esse aluguel... de abril a dezembro... divide ele UM aluguel... por exemplo...
eu pago::: quinhentos reais de aluguel... eu vou oferecer UMA semente de um aluguel ... para que eu possa... para que o senhor possa abrir a porta pra eu TER a minha casa própria... então você
pode pegar esses quinhentos reais e dividir... de... abrIL até dezembro... ah um mês eu dou
cinquenta, no outro mês eu dou trinta... você que vai dizer... mas num envelope especial... e alguém aí está dizendo... pastor... eu... estou pagando a minha casa própria... você vai pegar o
valor de UMA MENsalidade e também dividir... do jeito.. ou paga tudo ou dividir... COMO você quiser... para que deus te dê os recursos... até o fiNAL pra quiTAR essa casa... e alguém pode
dizer... pastor... eu... estou mo-ran-do de fa-vor... que a coi-sa está fei-a pro meu la-do ((silabando
todas as palavras))... e eu estou morando de favor... então... eu vou te dar uma dica... você vai pegar TRINta por CENto... do que você ganha em um mês... mas estou desempregado
((exclamação))... alguém te ajuda?... um MÊS que você recebeu uma aJUda... então... você vai
pegar de UM MÊS... por exemplo... em abril... pastor...eu estou vivendo de favor estou desempregado... eu... fiz uns bisCAtes recebi trezentos reais... ok.. então... a tua semente vai ser noventa reais... para UM ano... entendeu?... você vai pegar TRINTA por cento... ou se você está
empregado... ah pastor... eu ganho... seiscentos reais e estou vivendo aqui... moro na casa do meu
pai... ok... TRINta reais... cento e oitenta reais... você tem de abril a dezembro... pra você plantar...
esses cento e oitenta reais... vai ser a SUA semente... pra que você tenha... uma casa...
8 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=A_JkR4cevuI>. Acesso em: 28 fev. 2013.
43
ANEXO D
Igreja Internacional da Graça de Deus9
ela sabe também quanto... os irmão vão passar agora, passa lá, irmão, você vai pegar o papel e
colocar, seus dados, nome e endereços completo... se for um ente querido ao lado do seu nome
você põe um tracinho põe o nome desse ente querido... desTAca.... e me deVOLva... eu vou colocar você... no livro das orações de patrocinador... o que ficar em sua mão é a guia pra ir ao
banco e depositar... AO depositar eles vão lhe dar... essa parte que tem o meu endereço nas costas... que é... com o recibo ... você manda que lhe mandaremos a revista graças show da fé ...
se deus nunca lhe chamou mas estiver lhe chamando HOje... então hoje é o dia que você deve se
inscrever ... os irmãos tem caneta lhe empresta até preenchem pra você ... e você que esta em casa em qualquer lugar telefone para zero prestadora vinte e um ...dois um... quatro um... trinta e
cinco dez... dois um... quatro um... trinta e cinco dez... enquanto vocês preenchem vamos a novela da vida real.
9 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Az6L1-kSSY4>. Acesso em: 28 fev. 2013.
44
ANEXO E
Igreja Universal do Reino de Deus10
Oferta não é dinheiro Muitos me chamam de ladrão por causa dessa questão. Eles confundem oferta
com dinheiro e acham que Deus é quem tem que dar. Aliás, o ser humano é
assim. Sempre procura uma promoção,
coisas grátis, e uma maneira de não ter que pagar o preço.
Mas por que relacionar pedidos de oração com ofertas? Se a oferta é espontânea, por que tenho
de sacrificar para garantir a resposta de Deus?
É verdade que os favores de Deus não são adquiridos com dinheiro. Mas com a fé!… Só através da
fé é possível relacionar-se com Ele e adquirir Seus benefícios.
É verdade também que a oferta não é dinheiro e dinheiro não é oferta. Oferta é a expressão da fé. Pense bem nisso. Leia de novo se você ainda não conseguiu entender: Oferta é a expressão da fé.
Assim como o verdadeiro amor une as pessoas através da entrega no altar, também no mesmo
altar a verdadeira fé requer oferta. Como se sabe do amor de alguém se não há dedicação, entrega
e sacrifício por ele? Que tipo de amor seria esse sem o seu devido custo voluntário? Por isso, o Senhor ensina dar para então receber.
Ninguém contrata serviços de um médico, por exemplo, sem manifestar fé na sua competência. E a
consulta que se paga reflete a confiança. Quando você dá a sua oferta, você está fazendo o
mesmo: confiando em Deus, usando a sua fé. Não há fé sem oferta, assim como não há oferta sem fé.
Imediatamente após ter curado o leproso Jesus o enviou ao sacerdote para fazer a oferta determinada pela Lei. A oferta tinha o objetivo de servir como testemunho ao povo. (Mat.8.4 - Mr.
1.44 - Lc. 5.14)
Interessante não? Mas aqueles que têm seus corações no dinheiro não querem entender isso, pelo contrário, criticam aqueles que são da fé como se fossem donos da verdade.
Mas isso não importa, o que importa é que se entenda o verdadeiro significado da oferta, para que haja o desfrutar das bênçãos abundantes da fé.
Deus abençoe a todos abundantemente!
10 Disponível em: <http://www.bispomacedo.com.br/2008/11/02/oferta-nao-e-dinheiro/>. Acesso em: 28 fev. 2013.
45
ANEXO F
Igreja Universal do Reino de Deus11
MONTE SINAI
Gente, vamos usar a fé inteligente nesta Fogueira Santa. Se você foi selado com o Espírito de
Deus e está absolutamente certo da sua salvação, então, corra em busca da realização de seu sonho material ou sentimental. Mas, se há um mínimo de dúvida com respeito à sua salvação
eterna, então, dê prioridade a isso. É o mais importante para você.
O que você aproveita se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Você pode até aproveitar a vida regalada por algum tempo, mas nunca por toda a eternidade! Vamos investir na alma e
garantir a salvação eterna. Pois, quando se realiza esse sonho espiritual (selo de Deus), todos os demais sonhos se realizam, de forma natural, com o tempo. Está escrito:
…buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas as demais coisas serão
acrescentadas. Mateus 6.33 Muitas pessoas têm cometido um erro que, às vezes, tem sido fatal: a não observação desse conselho. Por conta disso, têm fixado a fé, primeiro, nas conquistas sentimentais e materiais.
Esquecem-se que a conquista espiritual alicerça a fé para todas as demais conquistas. Perseguir
um sonho qualquer antes do espiritual é como correr atrás do vento. Há quem o faça com sucesso,
mas o mesmo não é sustentável. Por conta disso, há frustração.
De que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma? O sábio ganha alma. Mas, primeiro, a sua própria.
Se ainda não houve experiência pessoal com o Senhor Jesus, então, esta deve ser a prioridade
para a Fogueira Santa do Monte Sinai.
Aqui vão algumas fotos de quando subimos o Sinai com bispos e pastores do mundo inteiro levando os sonhos daqueles que vivem esta fé do sacrifício. Visite o site: http://www.arcauniversal.com/fogueirasanta
11 Disponível em: <http://www.bispomacedo.com.br/2010/05/24/monte-sinai/>. Acesso em: 28 fev. 2013.
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