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CARINNA MARIA MERCEDES VIEIRA PIRES

ANEMIA FALCIFORME:

Importância do entendimento e responsabilidade do educador na formação do aluno falcêmico.

Cuiabá, MT

Faculdade de Ciências Biológicas

2008/2

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CARINNA MARIA MERCEDES VIEIRA PIRES

ANEMIA FALCIFORME:

Importância do entendimento e responsabilidade do educador na formação do aluno falcêmico.

Cuiabá, MT

Faculdade de Ciências Biológicas

2008/2

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade

de Cuiabá – UNIC, para obtenção de grau de

Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas

orientada pela Profª. Drª Cilene Maria Lima Antunes

Maciel e co-orientada pela Profª MSc. Cleonice

Terezinha Fernandes.em 2008/2.

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UNIC UNIVERSIDADE DE CUIABÁ

Reitor Dr. ALTAMIRO BELO GALINDO

Pró-Reitor Acadêmico Prof. RUI FAVA

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Diretora

Prof. Dra. MIRAMY MACEDO

PROFESSORA COORDENADORA DA DISCIPLINA DE TC-II Lenir Maria de Oliveira Assumpção

Dados CIP - Biblioteca Central da UNIC, 2008.

PIRES,Carinna Maria Mercedes Vieira.

ANEMIA FALCIFORME: Importância do entendimento e responsabilidade do educador na formação do aluno falcêmico. Autorais: Cuiabá: UNIC – Departamento de Ciências biológicas, 2008/2.

Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas orientado pela Profª, Drª Cilene Maria Lima Antunes Maciel, e co-orientado pela Profª MSc. Cleonice Terezinha Fernandes com defesa em Banca examinadora ocorrida em novembro de 2008. 1.Hemoglobina S 2. Anemia falciforme. 3. Educação

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Dedicatória

A minha mãe, que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos de minha

vida, me dando força e acreditando sempre em meu potencial, torcendo e me

fazendo acreditar que sou capaz. Eu te amo muito.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por essa grande conquista alcançada, a toda

minha família principalmente, meus pais Edelberto Vieira Pires e Maria Luiza Niz

Vieira, por acreditarem em meu potencial, por terem me proporcionado tamanho

presente, terem tido paciência e por acompanharem essa minha caminhada.

Com muito amor e muito carinho agradeço a minha vozinha Joana Niz Vieira

que me ajudou tanto em meus trabalhos, momentos inesquecíveis.

Em especial agradeço carinhosamente, minha orientadora Profª Drª Cilene

Maria e co-orientadora Profª MSc Cleonice Terezinha que acreditaram na

importância desse trabalho e me deram a chance de realizá-lo.

Agradeço a todos os professores em especiais: profª Érica Cesarine, Gislei

Amorim, Randal Barreira e Ana Cláudia Badan ,por terem marcado minha vida

acadêmica de maneira única e especial.

Ofereço meus votos de agradecimento ao Sr Rosalino e sua esposa

representando a ASFAMT, pela grande ajuda que proporcionaram para que esse

trabalho pudesse ser realizado, e as famílias que fizeram parte desse estudo.

Com muito carinho e admiração, agradeço a minha querida Alessandra Reis

pela força e pelo estímulo que me proporcionou.

Aos meus amigos e pessoas especiais, anjos na minha vida, que se fizeram

presentes e me ajudaram de alguma forma: Leila Mariotto, Mª Terezinha Vittorazzi,

Suelen Lima, Renata Figueiredo, Késia Augusta, Suzamar Rodrigues, Bruno de

Arruda, Gustavo Silva, Renner Benevides, Glieber Beliene, Alex César e demais

amigos, saibam todos que nunca me esquecerei de cada um de vocês.

Enfim, que Deus retribua em dobro tudo o que fizeram por mim e agradeço de

coração pela ajuda e existência de todos em minha vida.

Carinna Pires.

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"O que é a gloria senão a conquista. Que nunca deixemos de lutar, que nunca deixemos de arriscar,

que nunca deixemos de seguir os nossos sonhos, que nunca nos falte garra. Homens sem sonhos são

homens sem pulso, são homens sem vida." Desiely S. Gusmão.

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RESUMO

A anemia falciforme é considerada a doença hereditária mais comum no Brasil, acomete em maior número pessoas negras e pardas, devido sua originalidade histórica. No Brasil hoje há cerca de 3.500 nascimentos de crianças com doença falciforme por ano, dentre elas 1.900 aproximadamente com anemia falciforme. Baseando-se na formação populacional de Mato Grosso, é provável grande prevalência, tendo em vista a ultima distribuição étnica do IBGE no ano de 2007, onde sua formação se constituía de 63% de negros e pardos, onde foi um estado de grande índice de recepção de escravos africanos o que comprova a importância de estudos referentes ao tema. Essa doença caracteriza-se principalmente por apresentar inúmeras complicações clínicas, o que dificulta o cotidiano dos indivíduos afetados, devido aos tratamentos, acompanhamento médico contínuo e manifestações clínicas. Isso gera a ausência de assiduidade de seus compromissos particulares, como a escola. A partir disso, este trabalho tem por objetivo analisar a vida escolar de dois casais de falcêmicos, um do município de Cuiabá e o outro de Várzea Grande, a responsabilidade dos educadores e da escola quanto à vida escolar desses indivíduos e a posição da escola baseando-se no decreto-lei 1.044/69 quanto às necessidades de ausência escolar, devido ao tratamento contínuo e indispensável para sua melhoria de vida. O trabalho se fundamentou em levantamento bibliográfico e estudo de caso, com pesquisa de caráter qualitativo, descritivo, utilizando como técnica a entrevista estruturada e não estruturada e caderno de campo para registrar quaisquer informações que venham contribuir para o enriquecimento do trabalho. Com isso, pode-se verificar a falta de informação de uma das escolas em relação à doença, ocasionando dificuldades na formação escolar dos seus respectivos alunos falcêmicos, e em contrapartida, quando existe informação como é o caso da outra escola estudada, a vida escolar desses indivíduos torna-se mais produtiva, principalmente quando conta com o auxilio dos educadores. Palavras-chave:

Hemoglobina S – Anemia Falciforme – Educação

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Mutação da Hemoglobina ...................................................................... 14

FIGURA 2: Pacientes falcêmicos do hemocentro de mt ........................................... 17

FIGURA 3: Indicadores Sociais, população MT ........................................................ 18

FIGURA 4: Paralização dia nacional Doença Falciforme ......................................... 19

FIGURA 5: Probabilidade genética ........................................................................... 22

FIGURA.6: Icterícia .................................................................................................. 26

FIGURA 7: Dactilite ou síndrome mão e pé ............................................................. 27

FIGURA 8: Aumento do baço ................................................................................... 28

FIGURA 9: Úlceras de perna..................................................................................... 32

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................ 13

1.1 Anemia Falciforme no Brasil e MT ..................................................................... 15

1.2 ASFAMT- ASSOCIAÇÃO DOS FALCÊMICOS DE MT ...................................... 18

2. PROBABILIDADE GENÉTICA E ACONSELHAMENTO GENÉTICO PARA ANEMIA FALCIFORME ............................................................................................ 20

3.DIAGNÓSTICO DA DOENÇA FALCIFORME ........................................................ 23

4. SINAIS,SINTOMAS E POSSÍVEISTRATAMENTOS DA ANEMIA FALCIFORME 25

4.1 Anemia Hemolítica e Icterícia .............................................................................. 26

4.2 Dactilite- síndrome mão e pé ............................................................................... 27

4.3 Complicações renais ........................................................................................... 27

4.4 Infecção e febre ................................................................................................... 28

4.5 Acidente Vascular Encefálico (ave) ..................................................................... 29

4.6 Complicações articulares .................................................................................... 30

4.7 Retardo na maturação física e sexual ................................................................. 31

4.8 Priapismo ............................................................................................................ 31

4.9 Úlceras de perna ................................................................................................. 32

5. A CRIANÇA COM ANEMIA FALCIFORME NA ESCOLA E A RESPONSABILIDADE DO EDUCADOR .................................................................. 33

6. MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 36

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 45

OBRAS CONSULTADAS .......................................................................................... 47

APÊNDICES .............................................................................................................. 51

ANEXO ...................................................................................................................... 58

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INTRODUÇÃO

A anemia falciforme é uma anemia hemolítica hereditária grave, ocasionada por

uma mutação de aminoácidos na formação da proteína hemoglobina, formando

assim a hemoglobina S ao invés de A considerada normal (BRASIL, 2007). A

hemácia com hemoglobina S tem menor tempo de vida, alem de transportar menos

oxigênio. Após o transporte ela se enrijece sofrendo afoiçamento, podendo causar

obstrução de vasos sanguíneos causando crises de dor, complicações no

funcionamento de diversos órgãos, sistemas ou aparelhos, havendo algumas vezes

a ocorrência de acidente vascular encefálico.

Acredita-se que a formação da hemoglobina S seja entendida como seleção

natural, acontecida a milhares de anos na África e demais regiões, devido a um

surto de malária. Através do fluxo de tráfico de escravos, a anemia falciforme foi

irradiada mundialmente, os países que no passado tiveram maior predomínio de

escravos africanos como o Brasil, possuem significativos índices de falcêmicos.

Devido sua originalidade a anemia falciforme acomete principalmente

pessoas negras e pardas, porém a partir da grande miscigenação há ocorrências em

pessoas brancas.

O indivíduo quando recebe apenas um gene para a hemoglobina S, vindo do

pai ou da mãe é chamado de traço falcêmico. “Os portadores do traço falciforme são

geralmente assintomáticos, não apresentam nenhuma anormalidade física e sua

expectativa de vida é semelhante ao da população geral” (ANVISA, 2001). Quando o

indivíduo possui dois genes para esse tipo de hemoglobina, ele é chamado de

falcêmico, o qual sofre vários tipos de complicações clínicas.

“É provável que existam aproximadamente 3500 nascimentos de crianças

anualmente com doença falciforme, dentre elas 1900 com anemia falciforme”

(BRASIL, 2004). Em relação ao traço há probabilidade de 2,10% da população em

geral e 3,05% em Mato Grosso segundo (ARAÚJO, 2000), ou seja, acima da média

geral da população, resultado o qual torna-se necessário maior atenção ao caso.

“A anemia falciforme é considerada a doença genética mais comum no Brasil”

(BRASIL, 2007). Mesmo assim, ainda é pouco conhecida pela população o que

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dificulta sua descoberta e tratamento. Ainda não possui cura, mas possíveis

tratamentos para melhoria da qualidade de vida desses portadores.

O falcêmico ao sofrer todas as conseqüências da anemia falciforme, quando

identificada desde muito cedo é submetido a um acompanhamento multiprofissional,

e dependendo da gravidade dos sintomas, durante muitos anos de sua vida são

necessários cuidados hospitalares como transfusões, consultas, inúmeras

internações decorrentes de crises de dor incessantes. O que prejudica sua vida em

geral, necessitando de se ausentar de vários compromissos como trabalho, escola e

outros.

A falta de conhecimento sobre essa doença ultrapassada a população leiga,

essa desinformação acontece também em meio a profissionais da saúde, o que

dificulta ainda mais a melhora da qualidade de vida desses portadores. Se acontece

em meio à saúde o que dizer das escolas?

Este trabalho tem por objetivo, avaliar o conhecimento dos educadores sobre

a anemia falciforme e sua preparação profissional para dar o auxilio necessário a 4

alunos falcêmicos, um casal de irmãos residentes na cidade de Cuiabá, e outro

casal morador do município de Várzea Grande-MT, todos em idade escolar. Além de

avaliar o conhecimento dos educadores sobre a doença, este trabalho teve a

intenção de analisar a vida escolar desses alunos, e se os mesmos quando

necessário são auxiliados pela escola com base no decreto-lei 1.044/69, que

ampara os alunos em relação às faltas escolares devido complicações de saúde que

os impossibilitem de frequentar a escola. Meio esse que disponibiliza atividades

domiciliares com o intuito de mantê-los assíduos em relação aos conteúdos

trabalhados em sala com os outros colegas, para que quando possível os mesmos

voltem a escola e não sofram tamanha dificuldade de aprendizado após dias de

ausência.

A pesquisa é de caráter qualitativo, descritivo, tem como metodologia o

estudo de caso, baseando-se em levantamento bibliográfico, levantamento cadastral

da Associação de falcêmicos de MT, a fim de se obter informações sobre falcêmicos

em idade escolar. Foi utilizada a técnica de entrevista estruturada e não estruturada,

aplicadas aos pais, aos falcêmicos e a escola com educadores, diretores ou

coordenadores das respectivas escolas. Além do uso do caderno de campo com a

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finalidade de registrar fatos de caráter relevante acontecidos pela família devido à

doença, que puderam complementar os resultados das entrevistas.

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1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O sangue é formado de plasma e células sanguíneas dentre elas, as hemácias

ou eritrócitos (BRASIL, 2007). O mesmo autor também descreve os eritrócitos como

células redondas, flexíveis e constituída de hemoglobina, pigmento que dá a cor

vermelha ao sangue. Essa hemoglobina chama-se A, de adulto. A hemoglobina e o

ferro trabalhando em conjunto no sangue têm a função de oxigenação, eles

transportam o oxigênio dos pulmões para todo o corpo.

“A diminuição de eritrócitos ou hemoglobina no sangue causa a anemia”

(MANUILA, 1997). Ela também pode ser causada pela carência de ferro, anemia

ferropriva, ocorrendo assim a chegada de menor quantidade de oxigênio aos órgãos,

os quais passam a não desempenhar suas funções corretamente. Porém, essa

diminuição de ferro no sangue pode vir a ser sanada com acompanhamento médico

e uma boa alimentação rica em ferro (QUEIROZ;TORRES,2000).

Existem anemias ocasionadas por disfunção na formação da hemoglobina, a

anemia falciforme é uma delas. Ao contrário da anemia ferropriva, a anemia

falciforme ainda não possui cura e consiste em uma alteração genética na formação

da hemoglobina, dando origem a hemoglobina S em contraposição a hemoglobina

A, considerada normal (BRASIL, 2007).

Essa disfunção é encontrada em um cromossomo não gamético, portanto,

trata-se de um distúrbio genético e hereditário, pois essa informação é passada de

pais para filhos, se expressando em homozigose, um gene vindo do pai e outro da

mãe, sendo assim, considerada um distúrbio autossômico recessivo da hemoglobina

(THOMPSON, 2002).

A presença de HbS (hemoglobina S) no sangue, ou quando associada a

outros tipos de hemoglobinas mutantes, ocasionam as doenças falciformes. Dentre

elas, a anemia falciforme é a mais prevalente e com maiores complicações clínicas

(ANVISA, 2002).

Segundo autores, (NETO E PITOMBEIRA, 2003), a hemoglobina S(onde a

letra S deriva da palavra inglesa sickle, o que significa foice) é uma hemoglobina

anormal, originada a partir de uma mutação durante a formação da hemoglobina A,

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HbA, onde ocorre a troca de uma base nitrogenada adenina por timina (GAGGTG)

no gene da globina beta da hemoglobina (Figura 1). Esta mudança ainda leva a

substituição de um ácido glutâmico por uma valina na posição 6 da cadeia beta, esta

substituição causa modificações na estrutura molecular da hemoglobina, falcizando

os eritrócitos e diminuindo seu tempo médio de vida, além de possíveis episódios de

vaso oclusão (Figura 1), crises de dor e lesões de órgãos, devido o enrijecimento

desses glóbulos vermelhos.

Figura 1: Mutação da hemoglobina- A- hemoglobina A originando a hemoglobina S, causando modificações em sua estrutura, tornando a hemácia em forma de foice. B- Obstrução de vaso sanguíneo devido ao acúmulo de hemácias falciformes. Fonte: IBRAFH, S.d modificado

“A verdadeira origem da hemoglobina S ainda é desconhecida” (Naoum, 1997

apud Naoum 2000). Por outro lado, o autor salienta que, conforme estudos

antropológicos, o gene para hemoglobina S pode ter se desenvolvido nos períodos

Paleolítico e Mesolítico, a partir da hipótese à resistência a malária, no continente

africano. Onde os grupos populacionais existentes tenham irradiado essa

característica por todo a região centro-oeste da África, Índia e leste da Ásia. Esse

fato levou Allison, em 1954, a estabelecer uma relação do efeito de resistência de

heterozigotos para hemoglobina S, ao desenvolvimento da malária causada pelo

Plasmodium falciparum. Ao contrário do indivíduo heterozigoto, o indivíduo normal,

possuidor apenas de hemoglobina A no sangue, é mais suscetível á malária.

Essa hipótese pode ser entendida como uma seleção natural ocorrida diante

da epidemia de malária onde, o heterozigoto para hemoglobina S, prevaleceu,

transmitindo essa resistência a seus descendentes. Porém devido aos cruzamentos

entre heterozigotos, houve o grande problema sofrido por esses povos, surgindo

B

A

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assim a anemia falciforme, que acarreta inúmeras complicações clínicas e até a

morte. (TROMPOWSKY,S.d)

O primeiro caso clínico da anemia falciforme foi descrito por James B. Herrick

em 1910, em um jovem negro das Antilhas emigrado para Chicago. James pode

caracterizar um tipo de anemia hemolítica, onde as hemácias tinham formas de

foice, diferentes das normais (MOREIRA, 2008). Mas somente em 1979 Linus

Pauling et al. através da técnica de eletroforese de hemoglobina puderam considerá-

la como uma doença molecular (NETO & PITOMBEIRA, 2003).

A partir dessa modificação estrutural, o eritrócito perde sua flexibilidade,

tornando-se rígido, dificultando assim sua passagem através de pequenos capilares

sanguíneos, causando obstruções, onde acarretará diversas complicações clínicas

para o indivíduo falcêmico.

Entende-se, portanto, que a denominação de anemia falciforme se dá

somente em homozigose SS. Porém, alem da forma homozigose da HbS

(hemoglobina S), a sua associação a outros tipos de mutações de hemoglobina,

pode desencadear outras hemonoglobinopatias sintomáticas como:

hemonoglobinopatia SC, SF, S/beta-talassemia, são conhecidas como doença

falciforme (ANVISA, 2001).

1.1 Anemia Falciforme no Brasil e Mato Grosso

A anemia falciforme foi irradiada mundialmente, os países que no passado

tiveram maior predomínio de escravos africanos possuem significativos índices de

falcêmicos e traço falcêmicos (BRASIL, 2007).

O Brasil foi um deles, onde o tráfico de escravos da África para o Brasil teve

grande crescimento nos séculos XVI e XVIII, com o crescimento da produção do

açúcar e a descoberta do ouro, respectivamente. Os principais portos de

desembarque no Brasil foram: Bahia, Rio de janeiro e Pernambuco, de onde

seguiram para outras cidades (Sua Pesquisa..., 2004-2007).

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Com isso, a anemia falciforme é a doença hereditária monogênica mais

comum do Brasil (BRASIL, 2007; ANVISA, 2001). Encontra-se distribuída de forma

heterogênea pelo país, sendo mais freqüente em regiões onde houve permanência

de escravos, como a região nordeste. A partir disso, entende-se que a anemia

falciforme acomete na maioria das vezes pessoas de etnia parda e negra, mas

devido a grande miscigenação essa característica ocorre também em brancos.

Com base nos dados do Programa Nacional de Triagem Neonatal, calcula-se

que nasçam anualmente no país 3500 crianças com doença falciforme, dentre elas

1900 com anemia falciforme (PORTAL DA SAÚDE). Quanto ao traço, espera-se que

haja 2,10% em relação a população em geral (ARAÚJO, 2000).

Os dados de incidências para determinadas doenças a partir de recém

nascidos são obtidos através do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN),

conhecido como teste do pezinho, onde após ser reavaliado pelo Ministério da

Saúde foi criado no dia 6 de junho de 2001 publicado pela Portaria GM/MS n.o 822,

sendo realizado pelo SUS (BRASIL, 2004). O PNTN (Programa Nacional de Triagem

Neonatal) é constituído de 3 fases:

Fase I: Hipotireoidismo congênito fenilcetonúria;

Fase II: Hipotireoidismo congênito, fenilcetonúria e hemoglobinopatias;

Fase III: Hipotireoidismo congênito, fenilcetonúria, hemoglobinopatias

fibrose cística.

No Brasil as 27 unidades federativas já realizam a 1ª fase do PNTN

(Programa Nacional de Triagem Neonatal), porém, somente 13 estão cadastradas

para a fase II, a qual faz a detecção precoce para doenças falciformes. O que causa

grande preocupação, já que muitas crianças podem vir a óbito se não forem

diagnosticadas precocemente (PORTAL DA SAÚDE).

Infelizmente MT ainda não dispõe da fase II do PNTN (Programa Nacional de

Triagem Neonatal), porém no dia 8 de outubro de 2007 o juiz federal substituto

Marcel Peres de Oliveira, determinou que a 2ª fase fosse implantada no estado, com

prazo de 120 dias após a data, sendo cobrada multa diária de R$ 3 mil após o prazo

(ALVES, 2007). Mas ainda não foi implantado.

Com isso, MT ainda não dispõe de dados precisos quanto a falcêmicos no

estado. Porém os dados existentes são de falcemico cadastrados no hemocentro de

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MT onde fazem os devidos acompanhamentos médicos e tratamentos, esses dados

foram cadastrados no ano de 2006 (Figura 2). Mas são dados obtidos

aleatoriamente, somente após a implantação do PNTN fase II o estado saberá a

incidência real.

Figura 2: Pacientes falcêmicos cadastrados no hemocentro de MT em 2006 Fonte: ASFAMT (Associação dos Falcêmicos de MT)

Levando em consideração maior prevalência da doença em indivíduos afro

descendentes, e sabendo-se que MT foi um estado de grande recepção de escravos

no passado devido a mineração, espera-se que MT tenha em média de 3,05% de

traço falcêmicos, acima da média geral nacional 2,10% (ARAÚJO, 2000).

O estado de MT, com base em dados da última síntese de indicadores sociais

de 2007 do IBGE, possui cerca de 63% da população com formação étnica parda e

negra, 35% branca e 2% amarela ou indígena (Figura 3). A partir disso, é verificável

tamanho grau de miscigenação existente no estado, o que pode ser preocupante

quanto a existência da anemia falciforme.

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1.2 ASFAMT- Associação dos Falcêmicos de Mato Grosso

Existe no estado, a Asfamt (Associação de falcêmicos de MT), criada em

1997 sem fins lucrativos, tendo como presidente o Sr. Rosalino de oliveira com sede

em Cuiabá. Seu principal objetivo é prestar serviço social e assistencial ao falcêmico

e sua família buscando o máximo possível de assistência para tratamento,

medicação, informações sobre a doença, mas no momento, seu principal objetivo é

buscar a implantação do PNTN (Programa Nacional de Triagem Neonatal) fase II

que como dito anteriormente já foi aprovado, essa proposta partiu da Asfamt, e de

acordo com Rosalino até o final de 2008 esse teste já será implantado no hospital

Julio Muller onde acontece a fase I do teste do pezinho em MT.

Existem cerca de 160 falcêmicos cadastrados na associação, (ARAÚJO,

2000) onde os cadastrados quando possível freqüentam as reuniões que ocorrem

mensalmente, para discutir sobre o funcionamento do hemocentro, e quaisquer

novidades importantes para conhecimento dos mesmos. Essas reuniões são

realizadas no período matutino, sempre no primeiro sábado do mês, tendo como

local definido o auditório do hemocentro de Cuiabá.

Figura 3: Síntese de indicadores sociais de 2007 da população de MT Fonte: IBGE, 2007

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Contudo, a grande responsável pela divulgação das doenças falciformes no

estado sem dúvidas é a ASFAMT (Associação de falcêmicos de MT). Uma das

formas de divulgação são as paralisações, este ano foi realizada uma paralisação

referente ao dia nacional de doenças falciformes, dia 26 de novembro (Figura 4),

mas realizada no dia 31 do mesmo mês no centro de Cuiabá, com intuito de levar

informações a população principalmente sobre anemia falciforme, utilizando faixas,

panfletagem e divulgação televisiva.

Figura 4: Paralisação do Dia nacional das doenças falciformes, realizada pela ASFAMT Fotos: Carinna M.M.V. Pires

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2. PROBABILIDADE GENÉTICA E ACONSELHAMENTO GENÉTICO PARA

ANEMIA FALCIFORME

“Aconselhamento genético é o processo, no qual as pessoas são testadas e

informadas sobre as características genéticas que possuem” (RAMALHO E SILVA

apud DINIZ E GUEDES, 2005). Através dele, as pessoas que apresentam riscos em

gerar filhos afetados por quaisquer síndromes genéticas, têm o direito de serem bem

informadas sobre o tipo da doença, probabilidade genética, os tipos de tratamentos,

e quaisquer informações necessárias para que os aconselhados tomem suas

próprias decisões quanto a gerar filhos (ANVISA, 2001).

Com relação a anemia falciforme, após a detecção de HbS (hemoglobina S)

no sangue, por intermédio de exames realizados no PNTN (Programa Nacional de

Triagem Neonatal) ou em doações de sangue, os indivíduos são encaminhados a

fazer o aconselhamento genético realizado geralmente por um especialista em

hemonoglobinopatias, mas devido a falta de profissionais especialistas, quem o faz

em grande maioria, são os hematologistas como acontece em Cuiabá.

Infelizmente a falta de profissionais especialistas, podem não garantir um bom

aconselhamento, já que o mesmo requer informações precisas quanto a doença,

deve manter uma comunicação adequada ao tipo de aconselhado, tendo como

objetivo geral, garantir que o individuo adquira todas as informações sobre a anemia

falciforme, de maneira que haja uma reflexão e plena segurança em ter um possível

filho afetado pela doença. Dessa maneira, o aconselhamento genético não pode de

maneira nenhuma, induzir a proibição de reprodução desse individuo, ou causar

qualquer conflito emocional agravante em decorrência da falta de despreparo para

fornecer os dados (ANVISA, 2001).

Por se tratar de maior incidência na população, os indivíduos mais

submetidos ao aconselhamento são casais heterozigotos (AS). Uma maneira para

informar os aconselhados sobre a probabilidade genética da doença (Figura 5) é o

método do jogo de cartões, onde os cartões são marcados com as letras A e S, os

quais poderão demonstrar as possíveis probabilidades genéticas para anemia

falciforme de maneira mais prática.

O aconselhamento genético é dividido em 3 (três) modalidades básicas:

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Aconselhamento genético ou consultoria genética: é o aconselhamento

realizado geralmente para casais que realmente sejam possíveis geradores

de um filho afetado, ou que já tiveram um filho afetado, e só por isso

descobriram ser traço falcemico;

Orientação genética: é o aconselhamento realizado para indivíduos traço

falcemico, que pode vir a ter um risco para gerar um filho afetado, mas que

depende da constituição genética de um futuro parceiro;

Informação genética: essa é realizada para a população em geral, utilizando

cartazes, folders, palestra, aulas e outros meios de comunicação a fim de

divulgar a doença.

Além de 3 (três) modalidades o autor, (ANVISA, 2001), ainda complementa

dizendo que o aconselhamento se baseia em cinco princípios étnicos: autonomia,

privacidade, justiça, igualdade e qualidade. Onde a autonomia estabelece que os

testes genéticos sejam estritamente voluntários, a privacidade determina que os

resultados devam ser mantidos em sigilo, a justiça garante os direitos do cidadão

estudado, a igualdade rege o acesso aos testes a qualquer tipo de pessoa, sem

discriminação alguma e finalmente, a qualidade assegura a especificidade e a

realização dos testes por profissionais e laboratórios capacitados com monitoração

profissional e ética.

Page 23: Monografia Pronta Carinna

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Quadro 1- Probabilidades Genéticas da anemia falciforme

Pai (AS) / Mãe (AS) Pai (AS) / Mãe (SS)

Pai (AS) / Mãe (AA) Pai (SS) / Mãe (SS)

Pai (AA) / Mãe (SS)

Fonte: Brasil, 2007 modificado. Figura 5.

Normal

25%

Anemia falciforme

25%

AS AS

AA AS AS SS

traço falciforme

50%

SS SS

AS AS SS SS

Anemia falciforme

100%

SS SS

S

SS SS

Traço falciforme

100%

SS AA

AS A

S

SS SS AS AS AS AS

Anemia falciforme

50%

traço falciforme

50%

AS SS

AS AS SS SS

Normal

50%

Traço falcêmico

50%

AA AS

AS AS SS SS AA AA AS AS

Page 24: Monografia Pronta Carinna

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3. DIAGNÓSTICO DA DOENÇA FALCIFORME

Para a detecção das diversas formas de doenças falciformes, é necessário

principalmente o diagnóstico a partir de técnicas eletroforéticas, hemograma e

dosagens da hemoglobina fetal (ANVISA, 2001).

Todavia para o diagnóstico neonatal, (FERRAZ; MURAO 2007), afirmam que

em geral é utilizado o sangue do cordão umbilical ou amostras de sangue do

calcanhar do recém nascido, obedecendo as normas do PNTN (Programa Nacional

de Triagem Neonatal). Vale ressaltar que, no sangue de uma criança recém nascida

normal existe cerca de 90 a 100% de Hb Fetal; 10% de Hb A e 0 a 1% de Hb A2.

Após 6 meses de vida essa constituição de componentes hemoglobínicos sofrerá

modificações, observando-se após esse período os valores que serão definitivos na

fase a adulta: HbA (96 -98%); Hb A2 2,5 a 3,4% e Hb Fetal 0-2% (ANVISA, 2001).

Porém, (ANVISA, 2001) ainda ressalta que os resultados obtidos a partir da

triagem neonatal, a princípio não são decisivos quanto ao tipo de doença falciforme,

devido a prematuridade da composição sanguínea, detectando-se somente a

presença de hemoglobina S, ao invés da Hb A. Sendo assim é necessário o

acompanhamento médico e uma nova amostragem para a confirmação do

diagnóstico com precisão após os 6 meses de vida, incluindo medidas profiláticas e

educativas.

A importância do diagnóstico precoce pode ser explicado da seguinte forma:

O diagnóstico precoce tornou-se um diferencial no tratamento da

Doença Falciforme, no entanto, compreender as reais implicações dessa

doença para o contexto familiar, pode minimizar os sofrimentos advindos

desse processo, além de contribuir para uma postura mais ativa na aceitação

da doença, garantindo um tratamento de qualidade e eficiente aos pacientes.

(ATAÍDE E RICAS, S.d)

Page 25: Monografia Pronta Carinna

24

Para indicar o resultado definitivo para o tipo de doença falciforme, é utilizado

conforme (FERRAS E MURAO, 2007) o uso da eletroforese por focalização

isoelétrica e a cromatografia líquida de alta resolução, após os seis meses de vida.

Os pacientes que não realizaram a triagem neonatal para detecção de doença

falciforme e traço podem realizar a partir do 6º mês diversos exames como dosagem

de hemoglobina fetal, hemograma completo e outros. Porém o qual resultará no

verdadeiro diagnóstico será a eletroforese de hemoglobina.

Page 26: Monografia Pronta Carinna

25

4. SINAIS, SINTOMAS E POSSÍVEIS TRATAMENTOS DA ANEMIA

FALCIFORME

As diversas complicações clínicas da anemia falciforme se dão a partir da

distorção dos eritrócitos do sangue, tornando-se rígidos quando expostos a baixa

concentração de oxigênio, situação essa causada por stress físico, altas altitudes,

exposição ao frio e outras. Os eritrócitos falcêmicos mesmo após a desoxigenação

podem voltar a se oxigenar, caso suas membranas não tenham sofrido nenhuma

ruptura. Porém, quando essa falcização ocorre de forma contínua, os glóbulos

vermelhos perdem sua capacidade de oxigenação, tornando-se irreversíveis,

acumulando-se em pequenos vasos sanguíneos causando obstruções, as quais

causam as crises de dor (HEBBEL, 1991 apud ANVISA, 2001). Além da baixa

oxigenação, as crises podem ser ocasionadas por desidratação, onde o sangue

torna-se mais viscoso, sendo extremamente necessário a hidratação do paciente.

Como já se sabe a anemia falciforme ainda não têm cura no Brasil, porém,

“existem testes com transplante de medula, publicados na Europa que 80 a 90 %

proporcionaram cura (MACMAHON 1998 apud KIKUCHI, 2003).

A maior causa do fato de ainda não existirem esses resultados no Brasil,

conforme a autora, (KIKUCHI, 2003), é a dificuldade de compatibilidade de medula,

o que dificulta maiores estudos e possíveis resultados positivos para esse tipo de

tratamento. Embora essa compatibilidade fosse existente, este método ainda não

seria o ideal, devido ao alto risco de complicações e significativos índices de

mortalidade (SHIMAUTI E SILVA, 2006).

Logo, existem alguns casos de tratamentos a partir de Hidroxiuréia, um

agente quimioterápico, utilizado a partir de prescrição médica. Essa droga de acordo

com pesquisas americanas diminuem cerca de 50 % dos casos de dor, internações

e transfusões. Com tudo, apesar de tais benefícios essa medicação possui grande

toxidade o que pode vir a causar câncer se usada em longo prazo (KIKUCHI, 2003).

Para minimizar sintomas da anemia falciforme são utilizados meios

específicos de tratamento para cada sintomatologia. A seguir, serão citados alguns

tipos de sintomas e respectivos tratamentos.

Page 27: Monografia Pronta Carinna

26

4.1 Anemia hemolítica e icterícia

Devido a falcização o tempo de vida dos eritrócitos falcêmicos é reduzida a 15

dias ao contrário dos normais com 120 dias (KIKUCHI, 2003). Esse fato resulta-se

em anemia hemolítica (destruição dos glóbulos vermelhos) como afirma (MADEIRA,

1995). Esse tipo de anemia não é corrigida com uso de vitamina e faz parte da

doença, podendo causar cansaço, desânimo e sono excessivo. Com essa

destruição, o individuo passa a sofrer icterícia (Figura 6), devido ao acumulo ao

excesso de bilirrubina liberados pelos eritrócitos hemolisados. Apresentando

também conforme (KIKUCHI, 2003) coloração amarelada nas escleras dos olhos e

urina cor de coca-cola.

Tratamento

Deve-se ingerir muito liquido. E se houver piora da anemia e vier acrescido de

outros sintomas como febre e náuseas, é necessário procurar atendimento médico

(ANVISA-4, S.d). O manual também indica o uso do ácido fólico como meio de

estimular a produção de hemácias, já que o mesmo é uma vitamina importante para

a formação dessas células.

Figura 6: Icterícia- resultado do excesso de bilirrubina no sangue

Fonte: Vieira, S.d

Page 28: Monografia Pronta Carinna

27

4.2 Dactilite- Síndrome mão e pé

Essa síndrome é o primeiro sinal da doença (ANVISA-4, S.d). Consiste em uma

inflamação dos tecidos que revestem os tornozelos, punhos, mãos e pés, (BRASIL,

2007) complementa dizendo que a dactilite é a primeira crise de dor que a criança

pode sentir. A dor é intensa e se manifesta a partir dos 4 meses de idade, deixando

a criança nervosa e chorosa. O local torna-se inchado (Figura 7), vermelho e quente

(ANVISA- 4, S.d).

Tratamento

Ingerir bastante liquido colocar compressa morna sobre a vermelhidão. Em

dias de frio agasalhar com o uso de luvas e meias. Levar para a emergência do

hospital (ANVISA-2, S.d).

4.3 Complicações renais

Por conseqüência das obstruções de pequenos vasos sanguíneos dos rins,

devido a falcização dos eritrócitos, esse órgão como explica (KIKUCHI, 2003), pode

sofrer complicações estruturais e funcionais. Além disso, a autora também afirma

que, com essas disfunções o paciente perde a capacidade de concentrar urina,

Figura 7: Dactilite ou Síndrome Mão e Pé Fonte: Brasil, 2007

Page 29: Monografia Pronta Carinna

28

necessitando de urinar com maior freqüência. ocasionando uma possível

desidratação, o que desencadeará crises de dor.

Para tratar desse sintoma é necessário procurar atendimento médico e fazer

uso de água e soro para hidratação.

4.4 Infecção e febre

Os falcêmicos são muito submetidos a infecção, ela é responsável pela

principal causa de morte nesses pacientes (BRASIL, 2006). Eles apresentam

diminuição e até possível atrofia do baço, conseqüência das crises falcêmicas,

acontece principalmente quando crianças (ANVISA-4, S.d). Conforme a morte

contínua de eritrócitos pode-se ocorrer a crise de seqüestro esplênico, onde o baço

aumenta seu volume (Figura 8), por aprisionar grande quantidade de sangue

diminuindo ainda mais o nível de hemoglobina (BRASIL, 2006).

A febre resultado das infecções quando acima de 38,5ºC deve ser

caracterizada como emergência médica (ANVISA-4, S.d).

Figura 8: Aumento do baço Fonte: Brasil, 2007

Page 30: Monografia Pronta Carinna

29

Tratamento

Os pacientes devem ser encaminhados para o pronto de tratamento de

infecção, onde receberá uma dosagem de antitérmico com paracetamol e dipirona.

As vacinas devem estar sempre em dias, e em caso de seqüestro esplênico é

recomendado a transfusão sanguínea e a remoção do baço após o segundo

episódio (KIKUCHI, 2003).

4.5 Acidente vascular encefálico (AVE)

O acidente vascular encefálico consiste na interrupção no fluxo sanguíneo,

popularmente conhecido como derrame (KIKUCHI, 2003). Acomete cerca de 6% das

crianças falcêmicas, dependendo da área lesada, segundo (ANVISA 4, s.d) e

(KIKUCHI, 2003), os sintomas podem ser diversos como:

o Problemas motores pequenos;

o Perda da fala;

o Paralisias completas ou bilaterais;

o Déficit neurológico de maior ou menor gravidade;

o Dificuldade de memorização e aprendizagem;

o Convulsões e comas.

Em alguns casos de convulsões e coma, (BRASIL, 2006) aponta que embora

haja recuperação completa de alguns casos, há ocorrências freqüentes de danos

intelectuais, seqüelas neurológicas graves e morte.

Tratamento

Ficar atento em relação ao comportamento, fala e marcha do falcêmico. A dor de

cabeça e distúrbios visuais podem ser sintomas do AVE. Os falcêmicos com essas

características, devem ser encaminhados com urgência para uma unidade de saúde

adequada. Falcêmicos com problemas neurológicos devem ser internados e

Page 31: Monografia Pronta Carinna

30

submetidos a transfusão sanguínea imediata. Após um caso de AVE a transfusão

periódica conforme receitação médica, é necessária para diminuir maiores chances

de novos episódios (BRASIL, 2006).

Após várias transfusões o individuo começa a apresentar excesso de ferro no

organismo, o qual deve ser eliminado por uma droga, o quelante de ferro. A

quelação de ferro pode se realizada me casa ou no hospital, utilizando a bomba de

infusão, pela qual a droga é injetada gradativamente (KIKUCHI, 2003).

4.6 Complicações articulares

O processo de vaso-oclusão desencadeia várias complicações já citadas

anteriormente, como por exemplo, o AVE, essa obstrução pode também provocar a

obstrução da circulação óssea, a necrose asséptica (morte do tecido, não

relacionada a infecção) (KIKUCHI, 2003). “É mais freqüente no final da adolescência

e na fase adulta” (ANVISA, 2001).

Esse processo pode acontecer em qualquer osso, porém é mais predominante

na cabeça do fêmur, após os cinco anos de vida. Devido a grande solicitação da

medula óssea em suprir a morte de hemácias, (KIKUCHI, 2003) explica utiliza esse

argumento para explicar as transformações típicas de alterações ósseas em

falcêmicos.

O quadro clínico pode ser assintomático, ou causar dores no quadril, quando o

indivíduo sustenta se peso, quando esta sofrendo essa complicação, isso pode

causar lesão da superfície articular (ANVISA, 2001).

Tratamento

O tratamento deve ser empregado o quanto antes, baseando-se no

diagnóstico precoce, antes da lesão articular. É indicado que o individuo não

sustente seu peso sobre o osso afetado, pois pode provocar cicatrização

Page 32: Monografia Pronta Carinna

31

inadequada. Nos casos de sintomas persistente de dor intensa, é indicado o uso de

prótese de quadril, a fim de obter resultados em curto prazo bons (CLARKE, 1989

apud ANVISA, 2001).

4.7 Retardo na maturação física e sexual

O crescimento e desenvolvimento é mais lento em pessoas com doença

falciforme, a anemia crônica persistente é o fator que faz com que o organismo

supra suas necessidades de nutrientes, causando um retardamento de maturação

sexual, crescimento e desenvolvimento (ANVISA, 2001).

Ainda segundo o mesmo autor, o peso, altura, desenvolvimento esquelético,

sexual e gonadal são abaixo do normal. A puberdade dos falcêmicos acontece por

volta dos 17 anos de idade. Embora, na fase adulta esses indivíduos se normalizam

apenas na maioria das vezes permanecendo magras. (ANVISA-2, S.d).

4.8 Priapismo

Obstrução de vasos sanguíneos do pênis, causando ereção muito dolorosa,

geralmente acontece espontaneamente, de forma passageira ou repetida (ANVISA-

2, S.d). Pode ser mais freqüente na adolescência (KIKUCHI, 2003).

Tratamento

A autora (KIKUCHI, 2003) explica que o priapismo é uma emergência

urológica, e a não intervenção adequada pode causar impotência. Acrescenta

também, que é importante dar uma segurança emocional ao falcêmico com esse

sintoma.

Page 33: Monografia Pronta Carinna

32

Deve-se oferece muito liquido, e estimular o individuo a caminhar, para ajudar

a minimizar o problema, o uso de analgésico também e indicado segundo (KIKUCHI,

2003).

4.9 Úlceras de perna

São feridas que surgem ao redor do tornozelo (Figura 9), demoram meses e

as vezes anos para cicatrizarem, sendo possível haver inflamações. Surgem

também a partir de picadas de insetos. Causam constrangimento limitando o

individuo de usar bermudas, ir a praia e outros. (ANVISA-4, S.d).

Tratamento

O curativo segundo autora (KIKUCHI, 2003) deve ser feito pelo menos duas

vezes ao dia, deve-se evitar a exposição em locais infestados de insetos, evitar

traumas e ficar em repouso.

Figura 9: Úlceras de perna Fonte: Brasil, 2007

Page 34: Monografia Pronta Carinna

33

5. A CRIANÇA COM ANEMIA FALCIFORME NA ESCOLA E A

RESPONSABILIDADE DO EDUCADOR

As manifestações clínicas da anemia falciforme diferem de individuo para

outro, mas elas são as principais responsáveis por dificultar a vida escolar do

individuo falcêmico (KIKUCHI, 2003). Já que para minimizá-las é necessário que

haja acompanhamento médico, repouso, algumas vezes transfusões e outros.

Em média, segundo (KIKUCHI, 2003), podem existir por ano letivo, cerca de

40 a 50 dias de faltas. Porém essa média tende a aumentar, se as manifestações

clínicas forem maiores.

Vale ressaltar que, se o aluno falcêmico não apresentou nenhuma

complicação neurológica durante sua vida, ele não apresentará deficiência em seu

potencial para realizar os estudos. “O falcêmico possui o mesmo potencial intelectual

de uma pessoa normal” (KIKUCHI, 2003). Embora, deve-se haver uma atenção

especial, já que o individuo apresentará dificuldades tanto de origem psicológica

quanto produtiva devido ao afastamento da sala de aula.

Diante disso, é notável a responsabilidade do educador perante esse aluno,

sendo assim, obter maiores informações sobre a doença é de extrema importância

para lhe oferecer o apoio necessário. Uma maior atenção individual e acima de tudo

uma forma para minimizar a falha escolar existente na maioria desses alunos, são

primordiais.

A melhor maneira de minimizar maior comprometimento escolar é acatar o

decreto-lei 1.044/69 (ANEXO-A) que decreta:

Art 1º São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbitas, determinando distúrbios agudos ou agudizados, caracterizados por:

a) incapacidade física relativa, incompatível com a freqüência aos trabalhos escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes; [...]

Page 35: Monografia Pronta Carinna

34

[...] Art 2º Atribuir a esses estudantes, como compensação da ausência às aulas, exercícios domiciliares com acompanhamento da escola, sempre que compatíveis com o seu estado de saúde e as possibilidades do estabelecimento. [...]

Diante disso, todos os falcêmicos têm o direito a assistência decretada

quando preciso. O grande problema é o não conhecimento desse decreto pelos

profissionais da educação, agravando ainda mais a vida escolar desses indivíduos.

Através dele, o aluno poderá manter-se informado sobre os conteúdos

ministrados na escola durante seu período de ausência, desenvolvendo atividades

domiciliares cedidas pelo educador. Já que após a medicação adequada o individuo

na maioria das vezes precisará de repouso, mas não lhe prejudicaria desenvolver

tais atividades. Porém, deve-se analisar o grau de complicação clínica de cada

individuo. É importante também a colaboração dos pais ou responsáveis, onde os

mesmos terão de possuir maior vinculo com a escola para que essas atividades

sejam desenvolvidas de forma promissora.

Dessa forma, esse fato proporcionará maior segurança após o retorno dos

alunos a escola, já que após verificar que não se encontram atrasados ao conteúdo,

não se sentirão excluídos da turma. O incentivo do educador também é de grande

valia, ao passo que entusiasmará o aluno a se empenhar nos estudos.

A grande preocupação em trabalhar a educação com esses indivíduos se dá

por possuírem uma expectativa de vida relativamente curta, em média cerca de 18

anos (AMARO 1996 apud KIKUCHI, 2003). Todavia, existem exceções, e pelo fato

de estarmos em evolução em relação a tratamentos e estudos em relação a saúde,

essa expectativa pode vir a ser aumentada.

Mas o que deve ser entendido é que a educação para esses indivíduos é de

extrema importância para garantir uma melhoria em sua vida adulta quando

possível. Já que a maioria dos falcêmicos podem ter limitações funcionais ou

anatômicas o que os tornam limitados a certos tipos de trabalhos (KIKUCHI, 2003).

Como não poderão realizar esforços físicos bruscos, ou movimentações

repetitivas, se expor ao sol, ou seja, tudo o que poderá desenvolver crises de

Page 36: Monografia Pronta Carinna

35

falcização. Sendo assim, para garantirem uma estabilidade profissional de acordo

com suas limitações, o grau de escolaridade sem dúvidas é de total importância.

Page 37: Monografia Pronta Carinna

36

6. MATERIAIS E MÉTODOS

A fim de atingir o objetivo proposto pelo trabalho, o tipo de pesquisa utilizada

foi o estudo de caso,enquadrado como pesquisa qualitativa, descritiva. A pesquisa

qualitativa pode ser caracterizada como:

[...] tentativa de uma compreensão detalhada dos significados

e características situacionais apresentadas pelos

entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas

de características ou comportamento (RICHARDSON, 1999,

p 90).

E descritiva onde pode-se observar , descrever, analisar, classificar e registrar

fatos (FURASTÉ, 2006).

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado primeiramente o

levantamento bibliográfico a fim de construir um referencial teórico bem estruturado.

A partir de então, por meio da Associação dos Falcêmicos de MT e análise das

fichas cadastrais de falcêmicos associados a ela, foram encontrados para

investigação, 4 indivíduos: 1 casal de irmãos do município de Cuiabá e outro casal

de Várzea Grande.No presente estudo de caso, foi utilizado como técnicas: a

entrevista estruturada baseada em questionários (APÊNDICE-A), e entrevista não

estruturada, onde pode-se obter do entrevistado aspectos mais relevantes de

determinado problema proposto durante a entrevista (RICHARDSON, 1999).

Foi utilizado também, o caderno de campo para anotação de dados,

acontecimentos e quaisquer complementações de informações com a finalidade de

enriquecer o resultado da pesquisa.

As entrevistas foram aplicadas primeiramente aos pais dos indivíduos

investigados e logo depois aos professores, diretores ou coordenadores das

respectivas escolas de cada casal de estudantes falcêmicos.

Page 38: Monografia Pronta Carinna

37

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir dos relatos obtidos por meio das entrevistas e caderno de campo,

pode-se obter informações sobre a família dos indivíduos investigados, principais

complicações clínicas de cada falcêmico, seu comportamento escolar e relação com

educadores na vida escolar desses indivíduos.

Duas famílias foram estudadas, onde cada uma possui um casal de crianças

falcêmicas em idade escolar.

Pela análise do estudo de caso de cada família, foi possível conhecer alguns

dados sociodemográficos da família Santos, (Tabela 1) moradora do município de

Cuiabá, o diagnóstico para anemia falciforme só foi detectado após o nascimento do

1º filho do casal, Y.G.O. S 11 anos, que após 4 meses de nascimento apresentou a

síndrome mão e pé, o que levou os médicos a prescrição da eletroforese de

hemoglobina da criança e posteriormente dos pais para confirmação exata do

genótipo da família.

Dados Sociodemográficos:

Tabela 1- Família Santos moradora do município de Cuiabá.

Família Idade Etnia Profissão Genótipo Escolaridade

Pai 38 Negro Autônomo SS/falcêmico Cursando ES

Mãe 32 Parda Técnica em enfermagem AS/traço EM completo

Filho Y.G.O. S 11 Pardo SS/falcêmico EF

Filha Y.G.O. S 10 Negra SS/ falcêmico EF

Fonte: Pais dos indivíduos falcêmicos

O pai diagnosticado como falcêmico nunca soube da existência da doença, mas

relatou:

[...] sempre tive dores constantes e fortíssimas, não tem nem como

explicar, procurei vários médicos, cheguei de ir a São Paulo tratar como

reumatismo, tomei muito remédio e as dores nada de passar [...] mas eu

consigo ter uma vida mais amena, só tenho as dores e evito tê-las não me

esforçando demais.

Page 39: Monografia Pronta Carinna

38

A mãe traço falcêmica também não sabia que era portadora do traço, porém

por se tratar de traço, nunca teve quaisquer sintomas.

Além do menino Y.G.O. S 11 anos, tiveram uma segunda filha, Y.G.O.S 10

anos, também diagnosticada como falcêmica aos 4 meses pelo mesmo indício de

seu irmão, a síndrome mão e pé. Ambos, porém, possuem manifestações clínicas

diversificadas.O menino possui maior freqüência de falcização havendo maiores

internações, onde o pai salienta:

[...] meu filho tem muitas crises de dor, principalmente quando

resolve brincar demais, como jogar futebol que ele não pode de jeito

nenhum. E isso já aconteceu ele fugiu da casa da tia e jogou bola a tarde

toda, ah! Aí foi uma semana internado com extrema crise de dor, sem

mexer nem o dedo da mão teve que tomar remédios para dor, fazer

transfusão e ficar de repouso absoluto.

A menina segundo os pais sofreu AVE por volta de um ano e meio, segundo

parecer dos médicos perdeu pouco da capacidade de concentração o que pode vir a

causar algumas dificuldades em seu desenvolvimento escolar, é o que diz os pais.

Os dois filhos realizam consultas mensais com hematologistas e anuais com

multiprofissionais da saúde (dentistas, oftalmologistas, cardiologistas e outros), onde

são submetidos a diversos exames de rotina. Isso faz com que sempre se ausentem

de suas responsabilidades, principalmente da escola. Ao analisar a situação escolar

(Tabela 2) dessas crianças, pode-se perceber a ocorrência de reprovações.

Page 40: Monografia Pronta Carinna

39

Tabela 2: Situação escolar das crianças falcêmicas da família Santos

Fonte: Pais dos indivíduos falcêmicos pesquisados

Conforme relato dos pais, essas reprovações foram frutos das faltas

escolares, onde os professores não avaliaram o potencial intelectual de seus filhos,

usando a ausência escolar como principal fator da repetência, e não entendendo os

motivos de tais faltas devido a doença, por esse motivo decidiram mudar seus filhos

de escola.

A nova escola proporcionou aos indivíduos uma situação diferente da antiga,

onde os pais comentam:

[...] lá a professora já conhecia a anemia falciforme, mas sempre

íamos à escola conversar com ela, nesses casos de internações e repousos,

ela sempre preparava exercícios onde eu ia pessoalmente pegar com ela e

levar para o hospital ou para casa enquanto ele estava de repouso, o melhor

é que Y.G.O. S 11 sempre foi bom aluno, sempre tirava boas notas, quando

voltava para escola na hora das provas, a professora sempre deixava

recadinhos na prova corrigida: parabéns, sucesso, que Deus ter abençoe,

todas vinham com corações, estrelinhas, ele sempre chegava feliz em casa,

para mostrar pra nós o recado, assim ele sempre se dedicava.

Utilizando a entrevista pode-se saber que o conhecimento da educadora

sobre a anemia falciforme conforme declaração da mesma:

[...] meu conhecimento sobre anemia falciforme veio a partir, de um amigo que veio a falecer, devido as complicações da doença, veio a falecer, mas fui entender um pouco mais, quando a mãe dele me explicava sobre sintomas: anemia e crises de dor.

Sexo Idade Série atual

Idade (iniciação escolar) Nº de reprovações

F 10 3ª 5 1- (1ª série)

M 11 3ª 5 2- (1ª e 2ª série)

Page 41: Monografia Pronta Carinna

40

Apesar desse episódio particular, ainda é preciso maiores informações quanto

a doença. Segundo ela, esse foi o primeiro aluno falcêmico para quem lecionou,

então desenvolveu seus próprios métodos para auxiliá-lo.

Porém, apesar de tais iniciativas da professora, verificou-se o

desconhecimento da lei 1.044/69 onde é direito do aluno a inserção de exercícios

domiciliares quando necessário se ausentar por motivos de saúde. Ela agiu somente

por conta própria sem saber o quanto contribuiu para a formação escolar desse

aluno, o qual adora estudar e ir a escola, e reconhece seu apoio.

Já a menina Y.G.O. S 10, não precisava dessa atenção especial, pois não

apresentava tamanhas complicações como o irmão, mantendo maior freqüência

escolar. Somente após o AVE pode ser que precise de maior atenção para a

questão de memorização.

Além do auxilio da professora, a inspetora da escola também auxiliava os

alunos em questão de cuidados, a respeito do que os pais comentaram:

[...] até mesmo a inspetora cuidava dos dois na hora do intervalo, não

deixando se envolver em confusões, porque tínhamos muito medo de

brigas, já víamos como existiam alunos violentos, e sabíamos que uma

briga seria motivo para mais no mínimo uma semana de internação.

Na mesma escola, a questão de preconceito também foi tratada

principalmente em sala de aula pela mesma professora estudada onde ela diz: “[...]

meu método de ensino baseia-se na questão social e psicológica, sempre trabalho

com esse propósito no projeto “aprendendo com a cabeça e o coração”

Projeto esse desenvolvido por ela na escola, para trabalhar qualquer tipo de

pensamento negativo voltado para o preconceito entre os alunos.

Todavia, esse ano as crianças precisaram se mudar para Acorizal/MT, pois o

pais precisavam trabalhar. Estão morando com avó, a qual pode cuidar diretamente

dos mesmos, mas todo mês precisam retornar para a capital, para realizar todas as

consultas e tratamentos. Ao contrário da escola anteriormente estudada, lá já

existem problemas quanto as faltas, onde o pai explica:

Page 42: Monografia Pronta Carinna

41

[...] o médico só dá um dia de atestado médico, e não temos como

provar para a escola de lá, que eles estão em acompanhamento médico o

que acarretam faltas, e podem comprometer mais um ano de estudo das

crianças [...] o médico se explica dizendo que não pode ceder mais de um

dia porque não esta vendo eles a semana toda, e eu já não tendo mais

paciência não falo mais nada porque não adianta quem sou eu para falar.

Mas os pais acrescentam que, no próximo ano as crianças voltarão para a

capital e irão voltar para escola onde tiveram a atenção necessária, e bons

resultados.

A segunda família estudada, a família Oliveira, moradora do município de

Várzea Grande é caracterizada a partir dos dados sociodemográficos abaixo:

Tabela 3: Família Oliveira moradora do município Várzea Grande

Família Idade Etnia Profissão Genótipo Escolaridade

Pai 42 Negro Pedreiro Desconhecido Alfabetizado

Mãe 30 Parda Do lar AS/traço EF incompleto

Filho J.F. O12 Pardo SS/falcêmico EF

Filha J.F. O14 Negra SS/ falcêmico EF

O casal teve a primeira filha a qual, nasceu com a taxa de hemoglobina

inferior a normal. Por não existir a fase II do teste do pezinho, nada foi diagnosticado

precocemente, e devido a baixa taxa de hemoglobina, os médicos logo

transfundiram a criança. Com isso o diagnóstico para anemia falciforme da 1ª filha

do casal demorou a ser verificado, só pode ser detectado após o nascimento de seu

irmão, que aos 4 (quatro) meses sofreu a primeira crise falcêmica e foi submetido a

eletroforese, momentos em que os pais e sua irmã também foram submetidos aos

exame. A menina já estava com dois anos de idade quando foi detectada a anemia

Fonte: Pais da família Oliveira

Page 43: Monografia Pronta Carinna

42

falciforme, a mãe foi diagnosticada como traço falcêmica, o filho falcêmico e o pai se

recusou a fazer o exame.

Em relação as complicações clínicas, esse casal de crianças falcêmicas é

semelhante a da família Santos, onde a menina não possui maiores sintomas e já o

menino possui vários tipos de manifestações como fortes crises de dor. Neste caso

quem sofreu AVE (Acidente vascular encefálico), foi o menino, no começo do ano,

mas não foi detectado quaisquer seqüelas até o momento. Foi submetido a

transfusões mensais para diminuir o risco de novos casos. Diferente dos demais já

sofreu descalcificação do fêmur, devido as complicações articulares.

Ambos fazem acompanhamentos com hematologistas e com

multiprofissionais da saúde (dentistas, oftalmologistas, cardiologistas e outros), onde

também realizam diversos exames de rotina. O que também agrava as ausências

escolares principalmente a do J.F. O12, que possui freqüentes crises de dor, e no

momento devido as complicações ósseas, sempre precisa de consultas e exames

freqüentes.

Sua irmã possui uma vida escolar mais estável só se ausenta durante as

consultas de rotina e raramente quando sofre crise de dor.

Ao analisarmos a situação escolar desses indivíduos (Tabela 4), pode-se

perceber que nunca houve reprovações, mas quando o J.F.O 12 anos volta a

escola, ele possui muita dificuldade segundo a mãe, pois tem que copiar todo a

matéria perdida, fazer exercícios que ficaram acumulados, enfim sempre está

atrasado no conteúdo curricular.

Tabela 4- Situação escolar das crianças falcêmicas da família Oliveira

Sexo Idade Série

atual

Idade (iniciação escolar) Nº de reprovações

F 14 9ª 6 -

M 12 7ª 6 -

Fonte: Pais da família Oliveira

Page 44: Monografia Pronta Carinna

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Realizou-se a entrevista na escola, aplicadas à coordenadora e a professora

de ciências, professora essa escolhida pelo fato de poder ter algum conhecimento

da doença devido sua área de formação. Mesmo assim, a falta de conhecimento é o

mesmo para ambas entrevistadas.

Quando foi questionado o que sabia sobre anemia falciforme a coordenadora

explica: “só ouvi falar dessa doença agora depois das crianças que estudam aqui na

escola [...] só que não sei muito o que é”.

Com isso, foi possível expor algumas complicações clínicas, breve histórico

da doença, problemas psicológicos sofridos pelas crianças.Foi notável tamanho

espanto por parte da coordenadora, a qual comentou: “nossa!, não sabia que era

isso tudo”.

Apesar de nunca terem tido auxilio escolar específico, como aconteceu na 1ª

família estudada, até o momento,esses indivíduos não repetiram nenhuma série,

porém a coordenadora por meio de um breve comentário diz: “[...] ele falta muito [...]

apesar do abono de faltas o menino vai reprovar, é muito fraquinho na escola”.

A professora conceitua anemia falciforme como: “É uma doença que varia

com a região , é grave deve ter acompanhamento médico, e é passado de geração

para geração”.

Com isso, foi possível verificar de maneira geral nessa escola,a carência de

informações quanto a doença, onde não existe nenhum programa de auxilio para

tais alunos.

Analisando os dois estudos de caso e o que diz a autora (KIKUCHI, 2003),

quando o aluno não recebe o apoio dos professores quando voltam a escola após as

faltas, eles se sentem excluídos, diferentes, incapazes, o que os tornam pessoas

retraídas e desestimuladas em relação aos estudos. Quando há colaboração

principalmente psicológica do professor, o aluno possivelmente se motivará a

continuar sua vida escolar.

Para retratar a importância do apoio escolar para o aluno falcêmico e a partir

disso, analisar os resultados sobre a colaboração ou não dos educadores, segue

abaixo um depoimento de uma falcêmica adulta:

Fonte: Pais da família Oliveira

Page 45: Monografia Pronta Carinna

44

[...] sou professora de educação infantil, formada só em magistério. Trabalho como professora efetiva já a 4 anos [...] completar os estudos não é uma tarefa muito fácil para quem tem Anemia Falciforme, principalmente se possui longos períodos de crises, pois com as diversas hospitalizações, fica complicado acompanhar os estudos, e falo mais no sentido de faltas, pois nas escolas é isso que conta, e não o seu real conhecimento. Nunca reprovei pois tive sempre bons professores que estavam dispostos a me ajudar, fornecendo material extra que minhas amigas me entregavam em casa, deixando fazer as provas no hospital (sempre com um professor ou um aluno escolhido por ele me acompanhando), oferecendo trabalhos extras para que eu fizesse e assim obtivesse nota. Alguns colocavam até mesmo presenças para que eu não estourasse em faltas, etc.. Mas se eu não tivesse tido este apoio (como muitos amigos meus não tiveram), eu teria com certeza reprovado e quem sabe até mesmo desistido de estudar (como alguns destes meus amigos) [...] sofri este problema atualmente, na Faculdade. Cursei 1 ano e meio de Pedagogia entre 2005 e 2006, e tive que parar de estudar devido ter perdido minha bolsa de estudos na PUC em decorrência das faltas excessivas. Apesar de justificadas, a Faculdade disse que não poderia mais manter a minha bolsa, posto que pouco freqüentasse as aulas. Para não perder totalmente, tranquei a matricula (pois ao cancelamento da bolsa, foi diretamente transferida para a lista de alunos pagantes e com isso poderia trancar a matricula e retornar em no máximo 5 anos). Pretendo voltar, mas ainda não sei como pagar, posto que a mensalidade é muito cara [...] Bem, também deixei muitos outros cursos incompletos ao longo dos meus 29 anos de vida, por estes caminhos afora... e sempre pelo mesmo motivo: incompreensão das faltas e desmotivação por estar mais ausente do que presente naquilo que você está fazendo![...] Não existe ainda um preparamento do profissional da educação para lidar com uma situação assim. Eu, hoje enquanto professora, sei que existe diversos motivos para essa não atenção a este aluno que necessita de algo a mais para conseguir concluir os seus estudos da melhor maneira possível. Mas também vejo a importância que essa atenção tem e a diferença que ela causa na vida de quem dela necessita. Eu tenho diversos amigos que deixaram de concluir os estudos no primário (ensino fundamental) devido a não conseguir ou acompanhar as aulas, entender as explicações, ou pelas faltas. Desistem por falta de terem uma maior compreensão das suas limitações e dificuldades, por falta de incentivo ou estimulo, [...] eu já desisti de muita coisa devido a AF. E com certeza não teria desistido se nesses outros cursos, eu tivesse tido o apoio que consegui na minha formação fundamental e no magistério (A.R, 29 anos).

Page 46: Monografia Pronta Carinna

45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A anemia falciforme é a doença mais comum do país, além de causar inúmeras

complicações clínicas, pode levar a morte. Por isso trata-se de um problema de

saúde pública.

A partir da pesquisa realizada, pode-se perceber o quanto a falta de

informação referente a doença acarreta complicações no desempenho e vida

escolar dos alunos falcêmicos. Fazendo com que percam o estímulo de estudo, se

evadindo precocemente da escola ou não garantindo uma boa qualidade escolar. O

conhecimento dos professores e coordenadores ou diretores e a iniciativa dos

mesmos em colaborar na vida escolar desses alunos, é o grande fator para a

garantia de um futuro promissor do adulto falcêmico.

Somente tendo conhecimento sobre a gravidade da doença, as pessoas serão

capazes de entender e buscar alternativas eficazes para melhoria da qualidade de

vida desses indivíduos. A escola é um dos pontos mais importantes para garantir um

futuro promissor e estável para um adulto falcêmico. Pois possuem limitações

quanto a determinados tipos de trabalho de natureza braçal, os quais podem vir a

piorar o estado clínico da doença.

Mas para que a evasão escolar desses indivíduos diminua de maneira relevante,

tem-se a partir dessa pesquisa uma proposta de intervenção, onde haja a criação de

um projeto voltado a divulgação e preparação de profissionais da educação, com

intuito de prepará-los para receber e amparar esses indivíduos de maneira

adequada, dando-lhes oportunidades de aproveitamento escolar promissor para seu

futuro.

Para que isso aconteça, aderir o decreto-lei 1.044/69 é o primeiro passo, já que

os falcêmicos se enquadram no perfil, onde podem estar recebendo exercícios

domiciliares, que farão com que eles dêem continuidade ao conteúdo ministrado na

escola, o que os garantirá segurança em relação ao conteúdo e quando do retorno a

escola, não sofrerão nenhuma discriminação decorrente de suas faltas e por

conseqüência, desentendimento do assunto. Isso fortalecerá o estímulo a manter-se

na escola fazendo desses alunos, indivíduos participativos sem distinção entre os

colegas.

Page 47: Monografia Pronta Carinna

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A partir do conhecimento da doença, o professor, o qual passa maior tempo com

os alunos, pode estar os auxiliando em vários tipos de complicações clínicas quando

necessário, e havendo vínculo da escola com a família, todos esses problemas tanto

físicos quanto psicológicos, podem vir a diminuir, fazendo com que esses indivíduos

garantam sua qualidade de vida escolar.

Contudo, fica claro a desinformação populacional relacionada a anemia

falciforme,devendo haver maior atenção principalmente regional a esse problema

tão comum e tão esquecido pelas pessoas não afetadas.

Page 48: Monografia Pronta Carinna

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OBRAS CONSULTADAS

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Manual de diagnóstico e Tratamento de Doenças Falciformes. Brasília: ANVISA, 2001. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA -1. Doença Falciforme: Manual do Professor. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-2. Doença Falciforme: Manual do Paciente. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-3. Doença Falciforme: Meu bebê tem doença Falciforme, o que fazer? AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-4. Doença Falciforme: Manual do Agente de Saúde. ALVES, ALECY. Diário de Cuiabá.Teste do pezinho tem que verificar.Disponível em: <http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=302523&edicao=11962& anterior=1> acesso 07 outubro de 2008. ÂNGULO, Ivan de Lucena. Crises falciformes. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 427-430 abr/dez. 2003. ARAÚJO, Reginaldo Silva. A organização como instrumento de luta para sobrevivência dos portadores de anemia falciforme da grande Cuiabá. 2000. 34 f. Monografia (Especialização em Antropologia) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso. ATAIDE, Cintia Aparecida; RICAS, Janete. SD. A implicação da doença falciforme para o contexto familiar.[S,d]. Disponível em: < http://www.inicepg.univap.br/INIC_ 07/trabalhos/humanas/epg/EPG00328_01O. pdf> acesso 15 outubro de 2008. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Normas Técnicas e Rotinas Operacionais do Programa Nacional de Triagem Neonatal. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília: MS, p 58, 2004. ______. Manual da Anemia Falciforme para a População. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília: MS, 2007.

Page 49: Monografia Pronta Carinna

48

______. Manual de Condutas Básicas na Doença Falciforme. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília: MS, 2006. ______. Manual de Normas Técnicas e Rotinas Operacionais do Programa Nacional de Triagem Neonatal. Série A. Normas e Manuais Técnicos, Brasília: MS, 2004. COSTA, Alcione Alves da. Anemia Falciforme. 2007. 32 f. Monografia (Graduação em Farmácia) – Centro Universitário de Várzea Grande, Várzea Grande, Mato Grosso. DINIZ, Debora;GUEDES, Cristiano. Confidencialidade, aconselhamento genético e saúde pública: um estudo de caso sobre o traço falciforme. Cad. Saúde Pública [online]. 2005, vol. 21, no. [32008-10-08] DUTRA,André Moreira. Doenças humanas gênicas: Anemia falciforme. Disponível em: <http://www.ufv.br/dbg/bio240/dg12.HTM>.Acesso em 02 outubro 2008.

FERRAZ, Maria Helena C.MURAO, Mitiko. Diagnóstico laboratorial da doença falciforme em neonatos e após o sexto mês de vida. Rev. Bras. Hematologia. E Hemoterapia. 2007, vol. 29, no. [32008-10-15], pp. 218-222. FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico: Elaboração e Formatação das Normas da ABNT. 14. ed. Porto Alegre: s.n., 2007. IBRAFH- Instituto Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. Anemia falciforme. [{S.d} Disponível em:<http://ibrafh.org/AnemiaFalciformee TracoFalcemico.html>.Acesso em 01 outubro 2008. INTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Síntese de indicadores sociais 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/servidor_ arquivos_est/ >Acesso em 7 outubro 2008. KIKUCHI, Berenice Assumpção. Anemia falciforme: Manual para agentes de educação e saúde. São Paulo: Health, 2003. L,MANUILA, A; MANUILA, M. NICOULIN. Dicionário Médico Andrei. 7. ed. São Paulo:Organização Andrei,1997.

Page 50: Monografia Pronta Carinna

49

MADEIRA,Thaís Fernanda Leite. O impacto das doenças genéticas sobre a construção da identidade étnica: o caso da anemia falciforme no Brasil.Monografia universidade federal de são Carlos centro de educação e ciências humanas departamento de ciências sociais.são Carlos 1999.55 p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva, Maria. Técnicas de Pesquisas. 4ª ED. São Paulo: Atlas,1999. SILVA, Michelle C; SHIMAUTI, Eliana L. T. Eficácia e toxicidade da hidroxiuréia em crianças com anemia falciforme. Rev. Bras. Hematologia. E Hemoterapia. 2006;28(2):144-148

NAOUM, Paulo Cesar. Eletroforese: Técnicas e diagnósticos. São Paulo: Santos, 1990. NAOUM,Paulo C. Interferentes eritrocitários e ambientais na anemia falciforme. Revista brasileira de hematologia e hemoterapia. 2000,22(1): 05-22. NETO, Gentil Claudino de Galiza; PITOMBEIRA, Maria da Silva. Aspectos moleculares da anemia falciforme. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de janeiro, V. 39, n. 1, p. 51-56,2003. PAIVA e SILVA, R.B. de et al. A anemia falciforme como problema de Saúde Pública no Brasil. Rev.Saúde Pública,27: 54-58,1993. PORTAL DA SAÚDE. Doença Falciforme: anemia falciforme. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=27777&janela=1> acesso 06 outubro de 2008. QUEIROZ, Suzana de Souza;TORRES, Marco,A. Anemia ferropriva na infância. Jornal de pediatria- vol. 76,supl3,2000. Disponível em:<http://www.idpas.org/pdf/16 81Anemiaferropriva.pdf> Acesso: 31 outubro de 2008. RICHARDSON. Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas,1999. SAIKALI, Maria Olímpia Jabur. Crianças portadoras de Anemia Falciforme: aspectos do desenvolvimento cognitivo e desempenho escolar. Campinas: 1992,121 p. Dissertação (Mestrado em educação na área de concentração:Psicologia Educacional)- Universidade Estadual de Campinas.

Page 51: Monografia Pronta Carinna

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Sua Pesquisa. Escravidão no Brasil. 2004-2007. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.htm> acesso 05 outubro 2008. THOMPSON & THOMPSON. Genética Médica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. TROMPOWSKY, Patrick Marques. Anemia Falciforme. Disponível em: <http://www.ufv.br/dbg/BIO240/DG106.htm> Acesso em 31outubro de 2008. TORRES, Felipe R; DOMINGOS, Claudia R Bonini. Hemoglobinas humanas -hipótese Malaria ou efeito materno? Rev. brasileira de Hematologia e hemoterapia. 2005;27(1) :53-60. ZAGO, Marco Antonio; PINTO, Ana, Cristina Silva. Fisiopatologia das doenças falciformes: da mutação genética à insuficiência de múltiplos órgãos. Rev. brasileira de Hematologia e hemoterapia. 2007;29(3): 207/214. IBRAFH- Instituto Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. Anemia falciforme. Disponível em: <http://ibrafh.org/AnemiaFalciformeeTracoFalce mico.html>.Acesso em 01 outubro 2008.

Page 52: Monografia Pronta Carinna

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APÊNDICES

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APÊNDICE- A : Questionário aplicado Família

Questionário- Anemia Falciforme

A- Informações referentes aos pais.

1- Em que município residem? Qual bairro? E a quanto tempo?

Cuiabá ( ) Várzea Grande ( ) Bairro: Tempo:

2- Nível de escolaridade do pai: 3- Nível de escolaridade da mãe:

EF incompleto ( ) EF incompleto ( ) EF completo ( ) EF completo ( ) EM incompleto ( ) EM incompleto ( ) EM completo ( ) EM completo ( ) ES incompleto ( ) ES incompleto ( ) ES completo ( ) ES completo ( ) 5- cor ou raça do pai: 6- cor ou raça da mãe: branca ( ) branca ( ) parda ( ) parda ( ) negra ( ) negra ( ) amarela ( ) amarela ( ) indígena ( ) indígena ( )

4- Idade da mãe:

5- Idade do pai:

6- Pai está empregado?Qual profissão? Mãe está empregada? Qual

profissão?

Sim ( ) Sim ( )

Não ( ) Não ( )

7- Quanto a AF:

Pai AS ( ) Mãe AS ( ) Pai SS ( ) Mãe SS ( )

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Como descobriram: ________________________________________________

8- Já fizeram algum aconselhamento genético?

( ) sim ( ) não

9- Na família existe caso de Anemia falciforme?

Pai Mãe Sim ( ) quem? Sim ( ) Não ( ) Não ( )

OBS:

Sobre a Anemia Falciforme vocês conhecem a, as/o, os:

( ) origem ( ) sintomas ( ) cuidados ( ) probabilidade de terem mais filhos falcêmicos ( ) como acontece as crises de dor

10- Com quantos anos tiveram o 1º filho?

Pai: Mãe:

B- Informações referentes aos filhos

11- Quantos filhos?

Sexo Idade SS AS/AA Cor/raça

12- Como descobriram que a criança era falcêmica? E quantos anos ela tinha?

13- Ela faz algum tratamento?Qual ou quais?

Menina -Sim ( ) Menino -Sim ( )

14- A quanto tempo ela realiza o tratamento?

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15- Esse tratamento é:

Particular ( ) Maioria Público ( ).

C- ASFAMT- Associação de falcêmicos de MT

16- Como souberam da ASFAMT?

Por conhecidos ( ) Mídia ( ) Hemocentro ( ) Outros ( )_________________________

17- Qual a importância da ASFAMT para o falcêmico e a família?

D- Falcêmico/Escola

18- A criança falcêmica está estudando? Em qual escola?

Sim ( ) ( ir para questão 20) Não ( )

19- Se não está, por quê?

( ) internações ( ) desistência ( ) outras_________________________________

20- Assinale o quadro:

Sexo Idade Série atual

Idade do começo da vida escolar

Nº de reprovações

21- Motivo das reprovações:

( ) faltas ( ) dificuldade escolar ( ) desistência ( ) outros __________________________

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22- Já houve caso de seu filho faltar muitos dia de aula devido a consultas,

internações?

Sim ( ) Não ( )

23- Como a escola tratou desse caso?

24- Quanto ao envolvimento da escola com o aluno falciforme, avalie:

( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) indiferente ( ) ruim ( ) péssimo

25- Os professores, coordenadores e diretor conhecem as complicações da AF?

( ) sim ( ) não

26- Como a escola auxilia na vida do aluno falcêmico?

27- O professor está sempre presente e ajudando o aluno falcemico em relação

alguma dificuldade ou sintoma?

Sim ( ) Não ( )

28- Já houve caso de discriminação em relação ao falcêmico na escola?

( ) Sim __________________________________ ( ) Não

29- Na opinião de vocês como o professor e a escola poderiam ajudar seus filhos

para a melhoria de sua vida escolar?

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APÊNDICE- B : Questionário aplicado na escola

Questionário – Escola

Tema:

Aplicar a diretora:

1- Já ouviu falar sobre anemia falciforme? O que seria?

( ) sim – Já lidei com essa doença em outras escolas ( ) não

2- Há ou já houve casos de alunos falcêmicos na escola?Quantos?

( ) sim _______________________________________ ( ) não-

3- Se houve casos, quais eram as idades e séries desses alunos?

Idade Série

4- Em geral como foi/é a vida escolar desse(s) aluno(s)?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- Esse aluno precisou de atenção especial por algum motivo na escola?

Qual/quais?

( ) sim ____________________________________________________ ( ) não

6- Na sua opinião, como a escola pode contribuir para a melhoria da qualidade

de vida desse aluno?

7- Em caso de muitas faltas devido a repousos por crises de dor,

internações,consultas, transfusões, enfim causas decorrentes da

manifestações da anemia falciforme ou meio de tratamentos obrigatoriamente

necessários para esse aluno como a escola o avaliaria ao fim do ano:

( ) pelas faltas ( ) pelo conhecimento aplicando provas, testes, trabalhos e outros

8- Existe algum meio possível para a adaptação de um aluno falcêmico na

escola, diante da invariabilidade de dias de freqüência escolar? Qual?

( ) sim ____________________________________________________

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( ) não

9- Quanto o decreto-lei nº 1.044 de 21 de outubro de 1969, é utilizado para o

falcêmico na escola?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Aplicar a professora:

1- Qual seu entendimento sobre anemia falciforme?

2- Leciona ou já lecionou para algum aluno falcêmico nessa escola? Quando?

( ) sim ( ) não

3- Como descobriu a existência da anemia falciforme do aluno?

( ) pela direção da escola ( ) diretamente pelos pais do aluno ( ) o próprio aluno contou

4- O aluno faltava/falta muitas aulas? Qual era o motivo?

( ) sim ( ) não

5- Na sua opinião como o professor pode auxiliar os alunos falcêmicos em casos

de faltas, devido aos problemas causados pela anemia falciforme como

longas internações?

6- Houve casos de discriminação dos colegas de sala com o aluno falcêmico? O

que poderia ser feito?

( ) sim ( ) não-

7- Você seria capaz de ao menos “desconfiar” de um aluno falcêmico em sala de

aula, a partir de sintomas físicos? Cite um exemplo de sintoma.

( ) sim ( ) não

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ANEXOS

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ANEXO A: DECRETO-LEI Nº 1.044, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969.

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO-LEI Nº 1.044, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969.

Dispõe sobre tratamento excepcional para os alunos Portadores das afecções que indica.

OS MINISTROS DA MARINHA DE GUERRA, DO EXÉRCITO E DA

AERONÁUTICA MILITAR, usando das atribuições que lhes confere o artigo 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § 1º do artigo 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e

CONSIDERANDO que a Constituição assegura a todos o direito à educação;

CONSIDERANDO que condições de saúde nem sempre permitem freqüência

do educando à escola, na proporção mínima exigida em lei, embora se encontrando o aluno em condições de aprendizagem;

CONSIDERANDO que a legislação admite, de um lado, o regime excepcional

de classes especiais, de outro, o da equivalência de cursos e estudos, bem como o da educação peculiar dos excepcionais;

DECRETAM:

Art 1º São considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de

qualquer nível de ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições mórbitas, determinando distúrbios agudos ou agudizados, caracterizados por:

a) incapacidade física relativa, incompatível com a freqüência aos trabalhos

escolares; desde que se verifique a conservação das condições intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento da atividade escolar em novos moldes;

b) ocorrência isolada ou esporádica;

c) duração que não ultrapasse o máximo ainda admissível, em cada caso, para a continuidade

do processo pedagógico de aprendizado, atendendo a que tais características se verificam, entre outros, em casos de síndromes hemorrágicos (tais como a hemofilia), asma, cartide, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas a correções ortopédicas, nefropatias agudas ou subagudas, afecções reumáticas, etc.

Page 61: Monografia Pronta Carinna

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Art 2º Atribuir a esses estudantes, como compensação da ausência às aulas, exercícios domiciliares com acompanhamento da escola, sempre que compatíveis com o seu estado de saúde e as possibilidades do estabelecimento.

Art 3º Dependerá o regime de exceção neste Decreto-lei estabelecido, de laudo

médico elaborado por autoridade oficial do sistema educacional.

Art 4º Será da competência do Diretor do estabelecimento a autorização, à autoridade superior imediata, do regime de exceção.

Art 5º Este Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

Brasília, 21 de outubro de 1969; 148º da Independência e 81º da República. AUGUSTO HAMANN RADEMAKER GRÜNEWALD AURÉLIO DE LYRA TAVARES MÁRCIO DE SOUZA E MELLO Tarso Dutrah