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FACULDADE PROJEO SAMMUEL WAYNESON NERI DE ARAJO

TRIBUNAL DO JRI: DEMOCRACIA OU ENCENAO?

BRASLIA/DF 2011

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SAMMUEL WAYNESON NERI DE ARAJO TRIBUNAL DO JRI: DEMOCRACIA OU ENCENAO?

Trabalho de concluso de curso apresentado perante Banca Examinadora do curso de Direito da Escola de Cincias Jurdicas e Sociais da Faculdade Projeo como prrequisito para a aprovao na disciplina TCC II e para a obteno do grau de bacharel em Direito. rea de concentrao: Direito Penal Orientador: Professor Vitor Teixeira Bittencourt

BRASLIA/DF

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2011 SAMMUEL WAYNESON NERI DE ARAJO

TRIBUNAL DO JRI: DEMOCRACIA OU ENCENAO?

DATA DE APROVAO:

Professor Msc. Vitor Teixeira Bittencourt Orientador

Professor Joo Pavanelli Neto Primeiro Examinador

Professora. Fabiana Deflon dos Santos Segundo Examinador

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Dedico este trabalho aos meus pais, que me apoiaram e incentivaram constantemente para que o sonho tornasse realidade, vocs construram os alicerces para que fosse possvel essa realizao.

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Agradeo a Deus em primeiro por me iluminar a cada passo de minha jornada, aos meus pais, namorada e amigos pelos incentivos. Agradeo tambm ao meu orientador pela pacincia e pela dedicao.

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No h melhor maneira de exercitar a imaginao do que estudar direito. Nenhum poeta jamais interpretou a natureza com tanta liberdade quanto um jurista interpreta a verdade. Jean Giraudox RESUMO

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NERI DE ARAJO, SAMMUEL WAYNESON, O tribunal do Jri: Democracia ou Encenao? - Trabalho de concluso de curso. Graduao Faculdade Projeo 2011. O Tribunal do Jri, a sua essncia, procedimentos e aspectos do julgamento. O presente trabalho constitui na anlise detalhada da evoluo histrica do instituto do Jri. Demonstrando a necessidade da mudana, buscando a realizao da justia. O principal objetivo a modernizao do Tribunal do Jri no ordenamento jurdico, tornando mais clere, simples e gil. Constitui nas anlises das alteraes feitas pela Lei 11.689/2008. Sero feitas consideraes sobre os Princpios Constitucionais, sendo eles a plenitude de defesa, sigilo das votaes, soberania e veredictos e competncia para o julgamento dos crimes dolos contra a vida, bem como direito comparado, o modelo de vrios pases e suas eficcias. A finalidade do trabalho a conscientizao, em que o Tribunal do Jri sendo apenas uma pea teatral, uma encenao, e ainda a influencia miditica nas decises, onde os jurados sem leigos aderem a melhor encenao, ou ao apelo da mdia sobre decises, tendo o ru antes mesmo de ter a sua sentena proferida, um pr-julgamento da sociedade. principais criticas em relao ao instituto.

Palavras-chave: Tribunal do Jri, princpios constitucionais, direito comparado, reforma do instituto, influncia da mdia, encenao.

ABSTRACT

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The jury, in essence, procedures and aspects of the trial. This work is in the detailed analysis of the historical evolution of the institute of the jury. Demonstrating the need for change, seeking the realization of justice. The main objective is the modernization of the grand jury in the legal system, making it quick, simple and fast. It is the analysis of the changes made by Law 11.689/2008. Considerations will be made on the Constitutional Principles, and they were full defense, secrecy of votes, verdicts and sovereignty and jurisdiction to adjudicate intentional crimes against life, as well as comparative law, the model for many countries and their purpose eficcias.A work is the realization, that the jury was only a play, a play, and yet the media in influencing decisions, where no lay jurors, adhere the best scenario, or call the media on decisions, having defendant before it has rendered its verdict, a pre-trial society. Main criticism of the institute.

Keywords: grand jury, constitutional principles, comparative law, reform of the institute, media influence, staging.

SUMRIO INTRODUO.................................................................................................................10 CAPTULO 01 - ASPECTOS HISTORICOS DO TRIBUNAL DO JURI..........................12

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1.1 - ORGANIZAO DO TRIBUNAL DO JRI ......................................................15 1.1.1 - PROCESSO..........................................................................................15 1.1.2 PARTES ENVOLVIDAS.......................................................................16 1.1.3 JUIZ PRESIDENTE...............................................................................16 1.1.4 - MINISTRIO PBLICO.........................................................................17 1.1.5 - ASSISTENTE DE ACUSAO.............................................................19 1.1.6 - DEFESA................................................................................................19 1.1.7 - SERVIDORES DE JUSTIA.................................................................20 1.1.8- JURADOS..............................................................................................20 1.2 DEBATES.........................................................................................................23 1.3 QUESISTOS.....................................................................................................24 1.4 VOTAO........................................................................................................25 1.5 - SENTENA.......................................................................................................25 CAPTULO 02 PRINCIPOS CONSTITUCIONAIS REGENTES DO TRIBUNAL DO JRI.................................................................................................................................28 CAPITULO 03 - DIREITO COMPARADO.......................................................................33 CAPITULO 04- PRINCIPAIS ALTERAES INTRODUZIDAS NO TRIBUNAL DO JRI COM A LEI 11. 689/2008.................................................................................................36 4.1 FASE DE INSTRUO.......................................................................................36 4.2 JURADOS...........................................................................................................38 4.3 PREPARO DO PROCESSO...............................................................................40 4.4 SESSAO DE JULGAMENTO..............................................................................41 4.5 QUESTIONRIO.................................................................................................39 CAPTULO 05 - A INFLUNCIA DA MDIA...................................................................42 CAPITULO 06 TRIBUNAL DO JRI: ENCENAO...................................................46 CAPTULO 07 ASPECTOS CRITICOS AO INSTITUTO E A NECESSIDADE DA MUDANA.......................................................................................................................49 7.1 OS DEFENSORES DA EXCLUSO DO JRI...................................................50 7.2 OS DEFENSORES DA EFICCIA E MANUTENO DO JRI........................52 7.3 CASOS DE REPERCUSO................................................................................53 CONCLUSAO..................................................................................................................54 REFERENCIAS...............................................................................................................56

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INTRODUO

A presente monografia tem como tema central o Tribunal do Jri: encenao ou democracia, uma anlise sobre a influncia nos julgamentos, a eficcia do jri, expondo seus defeitos atravs de pensamentos dos juristas, e ate onde o sensacionalismo e a informao ultrapassam os limites dos Direitos Individuais. A pesquisa visa abordar, os aspectos da doutrina a respeito do Tribunal do Jri, suas opinies e seus fundamentos a respeito, para que, somente ao final da exposio dos argumentos, sejam feitas anlise da maneira como os doutrinadores brasileiros tm apreciado a mudana e a efetiva aplicao do novo Tribunal do Jri. . Depois de observar todos os detalhes do tema, pode-se visualizar a forma como as crticas so inevitveis. A presente pesquisa aborda os aspectos histricos da instituio Tribunal do Jri seu surgimento que bem confuso e de onde se acredita ter surgido o Jri Considerando a organizao do tribunal do jri, sua composio,e a cada parte envolvida delimitando para cada uma suas funes, desde o processo quesitos, votao at a sentena. Considerando os princpios norteadores da Constituio Federal de 1988, que dispe no seu Art.. 5, inciso XXVII, sejam eles plenitude de defesa, o sigilos das votaes, a soberania dos veredictos, bem como a competncia para o julgamento dos crimes dolosos conta a vida. O estudo detalhado das principais alteraes introduzidas no Tribunal do Jri, com a Lei 11.689/2008 A presente pesquisa tem como finalidade o estudo do Tribunal do Jri e sua eficcia democrtica, em torno da interferncia da forma teatral e da influncia da imprensa nos julgamentos, respeitando os Princpios Constitucionais e do Processo Penal, onde o sensacionalismo e o poder da mdia trazem a dvida ser os jurados so influenciados, com o seu forte poder de convencimento, diante de suas matrias fortes sobre casos, em que se deveria respeitar o princpios norteadores da Constituio Federal, no somente aos jurados leigos, mas at mesmo a Juzes. O jri seria uma debates,

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arma da democracia, que se conceitua da emana da vontade do povo, se tornando uma viso miditica e teatral, O tema de importante pesquisa proposta neste estudo foi falta de respeito com o individuo julgado, onde era pra se ter dignidade, ampla defesa, se tornando uma total concluso das matrias miditicas em relao a casos concretos, ou seja, o tribunal do jri no mais sendo como democracia. Sua observncia em fatos ocorridos em que sentenas, so unnimes, e ate mesmo erros judiciais, o que ao invs de haver uma reparao de danos ocorre um erro sem observncia, onde no so retratados. Todos ns temos o direito de se defender, e ter a sua privacidade respeitada. A problematizao do tema traz para os dias de hoje, uma confuso de idias, no querendo calar a imprensa, mas fazer com que haja um respeito aqueles que a sentena ainda no transitou em julgado, deixando o sensacionalismo de lado, e respeito dignidade humana. O principal desse o tribunal do jri como democracia, respeitando todos os princpios legais que o regem, no sendo influenciado por opinio publica, respeitando o direito da impressa, e os princpios da dignidade, da ampla defesa, da inocncia. Tendo como fato a funo de instrumento da democracia, fazendo com que os participantes do julgamento no tenham imparcialidade, e que faam justia diante dos fatos, no tendo a sua opinio forjada pela mdia, sem a presso de condenar ou absolver o ru, diante da sua exposio.

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CAPTULO 01 ASPECTOS HISTRICOS DO TRIBUNAL DO JRI

A origem do tribunal do Jri teve origem na Magna Carta, na Inglaterra, em 1215. A controvrsia apresentada por Maximiliano para quem `` as origem do instituo, vagas e indefinidas, perdem-se na noite dos tempos``1 Guilherme Nucci informa que na Grcia, desde o Sculo IV a.C. , tinha-se o conhecimento da existncia do Jri. O denominado Tribunal de Heliastas era a jurisdio comum, reunindo-se em praa pblica e composto de cidados representantes do povo. Nucci informa ainda que `` as primeiras notcias do jri podem ser apontadas na Palestina, onde havia o Tribunal dos vinte de trs nas vilas em que a populao ultrapassasse as 120 famlias, sendo os membros escolhidos dente padre, levitas e principais chefes das famlias de Israel.2 No que se tende o Tribunal do Jri, nem mesmo o Senhor de todos os julgamentos se livrou, pois foi o povo que o condenou a morte na cruz, naquele tempo o Rei, no sabendo como agir se negou a julg-lo, lavando suas mos diante da multido que estava enfurecia, sendo a multido a julgadora do destino de Cristo. A figura de Jesus Cristo bem associada ao juiz supremo de todos os julgamentos, a quem as vitimas podem recorrer, pedindo-lhe por justia, e a somente a Ele que os rus podem admitir culpa, e pedir perdo, j para os jurados a lembrana muda e dolorosa do julgamento mais injusto da humanidade. No passado, o homem decidia em nome de Deus, os culpados eram atirados em poos com cobras venenosas ou era jogado dentro de fornalhas de fogo, se conseguissem sair ilesos, eram inocentes Com a criao da Carta Magna, em 1215, determinou que as pessoas devessem ser julgadas pelas leis terrenas e no pelas divinas. Ainda determinou que

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MAXIMILIANO, Carlos. Comentrios Constituio brasileira p. 156 apud . NUCCI, Guilherme de Souza, Tribunal do Jri, Ed. REVISTA DOS Tribunais, So Paulo, 2008, p.41.

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os bares deveriam serem julgados pelos bares, ou seja nascia assim o tribunal do jri, no to popular assim. Com o passar do tempo o homem tentou afasta a imagem de Deus dos seus julgamentos, criando leis. Em Roma, durante a Repblica, o Jri atuou, sob a forma de juzes em comisso, conhecidas por quoestine, se tornando definitivas e chamando de quoestiones perpetuoe,, ano de 155 a. C `` No Brasil o tribunal do Jri foi criado atravs do decreto do Prncipe regente, em 18 de junho de 1822. No inicio era competente para julgar somente os crimes de imprensa, sendo composto por 24 cidados, ``bons, honrados, inteligentes e patriotas``, sendo que as decises eram passiveis de reviso pelo Prncipe Regente. A Constituio do Imprio de 1824 tinha como intuito colocar os jurados como integrantes do poder judicirio, julgadores de causas cveis e criminais, conforme determinava a lei. Com a vigoraco do Cdigo de Processo Criminal, em 1832, determinou que apenas cidados, que pudessem ser eleitores, com bom senso e probidade e tivessem boa situao econmica, serem jurados, bem como trouxe maiores poderes aos juzes de paz, julgando assim a grande maioria dos crimes. O jri do Imprio era a cpia aproximada do jri ingls, dividido em dois jris, o grande jri, e o pequeno jri, segundo Mendes de Almeida: O nosso Cdigo de processo consagrou os dois jris, dando ao grande jri o nome de Jri de acusao e ao pequeno jri o nome de Jri de sentena; entretanto no seguiu completamente o sistema ingls, isto , no admitiu que a queixa ou denuncia pudesse ser diretamente apresentada ao Jri de acusao.3 O grande Jri como se fosse um Conselho de Sentena, onde os 23 jurados decidiam se o ru iria ou no a plenrio ser julgado, formando por 12 outros jurados,

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ALMEIDA, Joo Mendes de. O Processo Criminal Brasileiro. 4 ed., Rio de Janeiro Freitas Bastos, 1959, v.

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que decidiria sobre o mrito da acusao, tratando agora do pequeno jri, que decidia debatendo entre si. Em 31 de janeiro de 1842, a Lei n. 261, regulamentada pelo Decreto n. 120, reformou o sistema do jri, acabando com o jri de acusao, ou grande jri. com a reforma o jri, antes para condenar a pena de morte necessitava apenas de unanimidade de votos, depois deveria ser decidido por duas teras partes de votos, sendo que as outras decises poderiam ser por maioria absoluta, se houvesse empate a deciso mais favorvel ao ru. Na Proclamao da Repblica, o jri foi mantido. Era composto por 12 jurados, nmero utilizado em vrios outros pases e pocas como uma referncia aos apstolos de Cristo. A Constituio de 1937 no se referiu ao julgamento popular, lacuna que foi encoberta pela lei processual de 1938. Nesta poca, havendo divergncia entre a deciso do povo e as provas presentes no processo, a sentena podia ser reformada por tribunal superior. Em 1948, o jri voltou a ser soberano suas decises s poderiam ser reformadas atravs de um novo jri, se a sentena fosse nitidamente contrria s informaes do processo. A partir da, como hoje, nenhum juiz togado poderia rasurar a deciso escrita pelos representantes do povo. Justa ou injusta, a deciso popular costuma refletir posies e valores da sociedade. Se o tempo modificou tantas nuances das leis que regulam o jri, tambm mudou seus julgamentos. At o final dos anos 50, aproximadamente, um marido que matasse a esposa adltera ou um pai que matasse o homem que engravidasse a filha podiam ser facilmente absolvidos, principalmente no interior. "O jurado se colocava no lugar do ru e pensava: eu faria a mesma coisa", diz O''dwyer. Com o tempo, os pensamentos mudaram. As decises do jri tambm. "Hoje, penso duas vezes antes de suscitar a tese de legtima defesa da honra para o marido trado", diz Tilson Santana.

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1.1 - A ORGANIZAO DO TRIBUNAL DO JURI

O Tribunal do Jri um rgo do Poder Judicirio composto por um juiz de direito,(Juiz Presidente) e por 07 (sete) jurados, que so denominados juzes do fato, sorteados dentre os 25 (vinte e cinco) jurados para compor o Conselho de Sentena ou Conselho de Jurados.Os requisitos necessrios para compor a lista de jurado ser maior de 18 (dezoito) anos, ser pessoa idnea e residir na comarca. Sero convocados anualmente e ficam disposio do Tribunal do Jri at o trmino da pauta. Sabe-se que uma sesso de julgamento um ato solene, cheio de formalidades Composto por detalhes, cada ato e ao tem seu tempo previsto e sua razo de existir. 1.1.1 - Processo Um processo de competncia do Tribunal do Jri composto por duas fases, a primeira tambm conhecida como judicium accusationis, onde h instruo processual, recebimento da denuncia, fase das provas, oitiva de testemunhas, interrogatrio do acusado, ate a interposio de recurso da sentena de pronuncia. Se o juiz estiver convencido da autoria e materialidade do fato delituoso, remete o acusado a segunda fase do processo, que o julgamento pelo jri popular, Art. 413, 1 do Cdigo de Processo Penal. O Juiz no se pronuncia sobre a autoria do fato, mas sobre os indcios suficientes de autoria, no tendo o mesmo a funo de julgar, mas somente fazer a dosagem na pena e fixar em sentena os detalhes dos seus cumprimentos. Na segunda fase, o Ministrio Pblico e a Defesa do acusado podem requerer provas, antecedentes criminais tanto do acusado como da vitima, oitiva de testemunha e juntada de documentos e produzir perante o julgamento.

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Posteriormente, o magistrado fixa data e horrio para julgamento do acusado, de acordo com a ordem de preferncia, Art. 429, CPP, salvo motivo relevante tero preferncias: IIIIII. 1.1.2 - Partes Envolvidas O Tribunal do Jri composto por um juiz presidente, pela acusao, representada pelo membro do Ministrio Pblico e, caso haja, um assistente de acusao, pela defesa, representada pelo defensor pblico, defensor dativo ou por advogado legalmente constitudo pelo acusado e pelos juzes do fato: os jurados. 1.1.3 Juiz Presidente O magistrado tem a funo de presidir o julgamento, realizar o sorteio dos jurados, colher seus juramentos, regular os debates, dando a palavra s partes e os interrompendo quando do trmino do tempo regular e controla a atividade policial Todas as atribuies do magistrado esto artigo 497, do Cdigo de Processo Penal, in verbis: So atribuies do juiz presidente do Tribunal do Jri, alm de outras expressamente referidas neste Cdigo: I regular a polcia das sesses e prender os desobedientes; II requisitar o auxlio da fora pblica, que ficar sob sua exclusiva autoridade; III dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, Os acusados presos; Dentre acusados presos, aqueles que estiverem h mais tempo na priso; Em igualdade de condies, os precedentemente pronunciados.

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excesso de linguagem ou mediante requerimento de uma das partes; IV resolver as questes incidentes que no dependam de pronunciamento do jri; V nomear defensor ao acusado, quando consider-lo indefeso, podendo, neste caso,dissolver o Conselho e designar novo dia para o julgamento, com a nomeao ou a constituio de novo defensor; VI mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realizao do julgamento, o qual prosseguir sem a sua presena; VII suspender a sesso pelo tempo indispensvel realizao das diligncias requeridas ou entendidas necessrias, mantida a incomunicabilidade dos jurados; VIII interromper a sesso por tempo razovel, para proferir sentena e para repouso ou refeio dos jurados; IX decidir, de ofcio, ouvidos o Ministrio Pblico e a defesa, ou a requerimento de qualquer destes, a argio de extino de punibilidade; X resolver as questes de direito suscitadas no curso do julgamento; XI determinar, de ofcio ou a requerimento das partes ou de qualquer jurado, as diligncias destinadas a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade; XII regulamentar, durante os debates,a interveno de uma das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo conceder at 3 (trs) minutos para cada aparte requerido, que sero acrescidos ao tempo desta ltima. 1.1.4 - Ministrio Pblico O Ministrio Pblico rgo autnomo e essencial funo jurisdicional do Estado. O Ministrio Pblico entre suas funes o responsvel por promover ao penal pblica que, no caso dos processos de competncia do Tribunal do Jri incondicionada,ou seja, ao promover a ao penal.

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As funes do Ministrio Pblico esto elencadas no artigo 129 da Constituio Federal: So funes institucionais do Ministrio Pblico: I - promover, privativamente, ao penal pblica, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Pblicos e dos servios de relevncia pblica aos direitos assegurados nesta Constituio, promovendo as medidas necessrias a sua garantia; III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; V promover a ao de inconstitucionalidade ou representao para fins de interveno da Unio e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituio; VI defender judicialmente os direitos e interesses das populaes indgenas; VII expedir notificaes nos procedimentos administrativos de sua competncia, requisitando informaes e documentos para instru-los, na forma da lei complementar respectiva; VIII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; IX - requisitar diligncias investigatrias e a instaurao de inqurito policial, indicados os fundamentos jurdicos de suas manifestaes processuais; X - exercer outras funes que lhe forem conferidas, desde que compatveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representao judicial e a consultoria jurdica de entidades pblicas.

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1.1.5 - Assistente de Acusao O assistente de acusao pouco se v nas sesses de julgamento, atua ao lado do membro do Ministrio Publico dividindo seu tempo para debate para fazer sua acusao tcnica. Em resumo, a funo do assistente de acusao defender a vitima auxiliando o membro do Ministrio Publico.

1.1.6 - Defesa A defesa pode ser representada pelo defensor pblico, advogado ou defensor dativo. Quando o acusado possui capacidade financeira para custear a sua defesa, ou seja, ter um advogado particular, e ter que pagar os honorrios advocatcios. Quando o acusado no tem condies de pagar os honorrios, o Estado disponibiliza a Defensoria Pblica, que os assiste gratuitamente. A Defensoria Pblica essencialmente promover aos necessitados o acesso justia, inclusive a Constituio, em seu artigo 134, prev: a Defensoria Pblica instituio essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientao jurdica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados na forma do artigo 5,LXXIV.

A defensoria pblica, assim como a advocacia, so funes essenciais justia, e instrumentos de realizao do Estado Democrtico de Direito, afim garantir o princpio do acesso Justia aos cidados carentes. H, ainda, o advogado dativo. Muito usada no interior do Estado, os defensores dativos auxiliam o Poder Judicirio e que cobram, quando h a possibilidade financeira do acusado, um valor menor se comparado a um advogado particular. So

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profissionais que tm muita experincia em realizar defesas tcnicas e, sem dvidas, auxiliar por demais no andamento dos processos. 1.1.7 - Servidores da Justia Cada vara do jri deve ter dois oficiais de justia lotados para funcionarem durante as sesses de julgamento. Suas funes so de auxiliar o magistrado para a organizao da sesso, das pessoas que iro assistir, na votao dos jurados aos quesitos, assim como, na ausncia do juiz, zelar pela ordem quando dos debates. Alm do citado, os servidores da justia tm como funo privativa atestar a incomunicabilidade dos jurados. . Existe entre os servidores, um que desempenha a funo de escrivo. Tal servidor tem como atribuio, assim como os oficiais de justia, o auxlio ao magistrado, contudo, faz o prego, exercendo a funo de porteiro, chamando as partes e certificando quando do seu no comparecimento para comunicao ao magistrado, assim como a digitao, intermediada pelo magistrado, do que ser dito pelo acusado em seu interrogatrio, testemunhas e demais acontecimentos da sesso, ficando responsvel pela ata da sesso de julgamento, que deve conter tudo o que ocorreu, inclusive os pedidos das partes para constar em tal documento. 1.1.8 - Jurados O jurado deve ter mais de dezoito anos, residir na comarca que o requisita e, sobre tudo, ter notria idoneidade. Com esses requisitos, o cidado deve se dirigir ao Frum de sua comarca para proceder ao alistamento. As inscries, ou alistamento ocorrem durante os meses de agosto e setembro, tendo em vista que a primeira publicao desta lista tem que ocorrer at o dia 10 de outubro. Uma vez alistado, o candidato deve acompanhar a publicao da lista geral, feita atravs do Dirio da Justia, pois, uma vez figurando na lista geral, tem a possibilidade de concorrer para a composio do Conselho de Sentena durante o ano seguinte.

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A denominada lista geral publicada no Dirio da Justia para que terceiras pessoas possam questionar a incluso de qualquer cidado, logicamente que deve o mesmo fazer prova da incapacidade de ser jurado e, desta forma comprovar o alegado. Isto ocorre porque o magistrado no teria como atestar a idoneidade de uma lista de oitocentos nomes. importante salientar, que pode o magistrado requerer s reparties ou rgos pblicos, associaes e sindicatos a indicao de cidados que preencham os requisitos para serem jurados, fazendo figurar na lista geral, uma vez que o servio de jurado obrigatrio, por fora de lei. Vejamos o artigo 436, do Cdigo de Processo Penal: o servio do jri obrigatrio. O alistamento compreender os cidados maiores de 18(dezoito) anos de notria idoneidade. O juiz verificar quando da iseno dos mesmos de participarem do conselho de sentena, de acordo com o artigo 437, do Cdigo de Processo Penal, so isentos: Esto isentos do servio do jri: I o Presidente da Repblica e os Ministros de Estado; II os Governadores e seus respectivos Secretrios; III os membros do Congresso Nacional, das Assemblias Legislativas e das Cmaras Distrital e Municipais; IV os Prefeitos Municipais; V os Magistrados e membros do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica; VI os servidores do Poder Judicirio, do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica; VII as autoridades e os servidores da polcia e da segurana pblica; VIII os militares em servio ativo; IX os cidados maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa;

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X aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento. Alm destas isenes previstas pela lei, pode o juiz presidente, verificando motivo justo, dispensar algum de compor o conselho de sentena, tais como por motivo de doena, fora maior ou qualquer outro motivo relevante, de acordo com o supracitado artigo 437, X. Uma vez sorteado, no pode ser feito desconto nos vencimentos do jurado, de acordo com o artigo 441, do Cdigo de Processo Penal: nenhum desconto ser feito nos vencimentos ou salrio do jurado sorteado que comparecer sesso do jri. Alm deste, outros direitos so conferidos aos jurados, tais como o elencado no Artigo 439, do Cdigo de Processo Penal: o exerccio efetivo da funo de jurado constituir servio pblico relevante, estabelecer presuno de idoneidade moral e assegurar priso especial, em caso de crime comum, at o julgamento definitivo, Assim como o elencado no artigo 440 do mesmo diploma legal: constitui tambm direito do jurado, na condio do art. 439 deste Cdigo, preferncia, em igualdade de condies, nas licitaes pblicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou funo pblica, bem como nos casos de promoo funcional ou remoo voluntria. O magistrado proceder com o sorteio dos sete jurados que iro compor do Conselho de Sentena para cada sesso de julgamento, dentre os vinte e cinco. Cabe salientar que cada uma das partes ter direito a trs recusas imotivadas.

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Em suma, deve o jurado sorteado para compor o Conselho de Sentena sentar em seu lugar e vestir sua toga, comprometido com a verdade dos fatos e o sentimento de justia que deve brotar de sua ntima e livre convico. Aps, o magistrado far o compromisso do Conselho de Sentena, de acordo com o artigo 472, do Cdigo de Processo Penal: Formado presentes, o Conselho aos de Sentena, a o

presidente, levantando-se, e, com ele, todos os far jurados seguinte exortao: Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa deciso de acordo com a vossa conscincia e os ditames da justia. Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, respondero: Assim o prometo. 1.2 - Debates Depois de prestado compromisso pelos jurados, haver a realizao da oitiva de testemunhas se arroladas pelas partes e, aps ser interrogado o acusado. neste momento que o juiz presidente conceder a palavra para a acusao e depois defesa, cabendo a cada uma das partes o tempo igual de uma hora e meia, de acordo com o artigo 477: o tempo destinado acusao e defesa ser de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a rplica e outro tanto para a trplica.

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1.3 - Quesitos Uma vez terminados os debates, inclusive depois da rplica e trplica, se houver, o juiz presidente far a redao dos quesitos que sero indagados aos jurados. De acordo com o artigo 482, do Cdigo de Processo Penal: ``O Conselho de Sentena ser questionado sobre matria de fato e se o acusado deve ser absolvido. Pargrafo nico. Os quesitos sero redigidos em proposies afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessria preciso. Na sua elaborao, o presidente levar em conta os termos da pronncia ou das decises posteriores que julgaram admissvel a acusao, do interrogatrio e das alegaes das partes.`` Conforme o artigo 483, do Cdigo de Processo Penal os quesitos devero ter uma seqncia determinada pela lei, que seja: `` Os quesitos sero formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I a materialidade do fato; II a autoria ou participao; III se o acusado deve ser absolvido; IV se existe causa de diminuio de pena alegada pela defesa; V se existe circunstncia qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronncia ou em decises posteriores que julgaram admissvel a acusao. Lidos os quesitos em plenrio, indagar o juiz presidente se as partes tm alguma observao sobre os mesmos. Caso afirmativo, a parte dever dizer o motivo da observao, assim como requerer sua correo. Em caso negativo, os jurados, a acusao, a defesa, os servidores da justia e o juiz presidente se dirigiro a uma sala para a votao dos quesitos, que ser feita atravs de cdulas contendo as palavras sim e no.

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Com o advento da lei 11.689/08, tornou-se obrigatrio o quesito: o jurado absolve o acusado?, tornando, pois mais simples a redao e entendimento pelos jurados. 1.4 - Votao O magistrado ento far a leitura de cada quesito e explicar aos jurados seu significado, que, de posse das cdulas de votao, depositaro em uma urna seu voto. Verificado pelo juiz quatro votos idnticos, encerrar o resultado daquele quesito. Antes da lei 11.689/08, o juiz era obrigado a demonstrar todos os votos e consignar em termo tal resultado, o que fere frontalmente o sigilo das votaes, no caso de votao unnime. Com o advento da citada lei somente sero exibidos os votos para compor a maioria, ocultando-se, pois, os demais votos. Encerrada a votao de todos os quesitos, o juiz presidente declara o fim deste ato, convocando as partes para o plenrio, onde far o escrivo consignar em termo prprio o resultado da votao. 1.5 - Sentena Como ato final e de posse do resultado da votao, o juiz presidente dever proferir sentena de acordo com a vontade da maioria dos jurados. Far, pois, a dosimetria da pena, de acordo com o Cdigo Penal Brasileiro, em seu artigo 59: ``O juiz, atendendo culpabilidade, aos antecedentes, conduta social, personalidade do agente, aos motivos, s circunstncias e conseqncias do crime, bem como ao comportamento da vtima, estabelecer, conforme seja necessrio e suficiente para reprovao e preveno do crime: I - as penas aplicveis dentre as cominadas;

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II - a quantidade de pena aplicvel, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituio da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espcie de pena, se cabvel. Aps, o magistrado ler a sentena em plenrio e intimar as partes da deciso, cabendo contra a mesma recurso de apelao, que pode ser interposto de forma oral na ocasio ou posteriormente nos autos. Encerrados todos os atos, ser confeccionada ata pelo escrivo e devidamente assinada pelo juiz presidente que, de acordo com o artigo 495, do Cdigo de Processo Penal, dever conter: A ata descrever fielmente todas as ocorrncias, mencionando obrigatoriamente: I a data e a hora da instalao dos trabalhos; II o magistrado que presidiu a sesso e os jurados presentes; III os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou sem ela, e as sanes aplicadas; IV o ofcio ou requerimento de iseno ou dispensa; V o sorteio dos jurados suplentes; VI o adiamento da sesso se houver ocorrido, com a indicao do motivo; VII a abertura da sesso e a presena do Ministrio Pblico, do querelante e do assistente, se houver, e a do defensor do acusado; VIII o prego e a sano imposta, no caso de no comparecimento; IX as testemunhas dispensadas de depor; X o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas no pudessem ouvir o depoimento das outras; XI a verificao das cdulas pelo juiz presidente; XII a formao do Conselho de Sentena, com o registro dos nomes dos jurados sorteados e recusas;

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XIII o compromisso e o interrogatrio, com simples referncia ao termo; XIV os debates e as alegaes das partes com os respectivos fundamentos; XV os incidentes; XVI o julgamento da causa; XVII a publicidade dos atos da instruo plenria, das diligncias e da sentena. Aps tal procedimento, os autos so encaminhados Secretaria de Vara, onde devero ser realizados os expedientes necessrios para o devido cumprimento da sentena.

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CAPTULO 2 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS REGENTES DO TRIBUNAL DO JRI

A Constituio Federal de 1988, dispe no seu art. 5, inciso XXVII, os princpios que regem o Tribunal do Jri, tanto seja a plenitude de defesa, o sigilo das votaes, a soberania dos veredictos, bem como a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. O elemento essencial na instituio Tribunal do Jri o Principio da Plenitude de defesa, que garante aos acusados a defesa ampla, completa, perfeita e absoluta. Tendo os acusados a mais aberta possibilidade de defesa, usando o instrumento previstos na lei para sua defesa, evitando o cerceamento dos direitos do acusado. A plenitude de defesa possui um sentido maior que a ampla defesa, assegurada de modo geral a todos os acusados. A defesa tcnica do acusado no Jri realizada por um procurador, constitudo ou dativo, se o acusada no indicar ou no puder arcar com um o Estado nomear um procurador para defender o ru. No Jri, deve o juiz deve informar aos jurados sobre as teses apresentadas pela autodefesa e pela defesa tcnica, para assim garantir a plenitude de defesa. Caso se verifique que a defesa tcnica falha a ponto de ser inepta, o juiz poder dissolver o Conselho de Sentena para declarar o ru indefeso, com base no artigo 497, inciso V, do Cdigo de Processo Penal. Com esse intuito Nestor Tvora informa que a Plenitude de defesa, se dividi em defesa tcnica e autodefesa. Sendo a primeira de natureza obrigatria, exercida por profissional habilitado, bem como a ltima sendo faculdade do imputado, valer-se do direito do silncio. Prevalecendo assim a possibilidade no s da utilizao de argumentos tcnico, mas tambm de natureza sentimental e social.44

TVORA, Nestor e Alencar, Rosmar RODRIGUES, Procedimentos, editora juspodium, salvador, 2009, p. 2-3

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O prximo princpio regente do Tribunal do Jri o Sigilo das Votaes, significa que os jurados devem proferir o veredicto em votao, em sala especial, assegurando tranqilidade e possibilidade para reflexo, com eventual consulta ao processo, bem como pergunta ao magistrado. Os jurados devem de proferir o seu veredicto livres e isentos. Estaro presentes somente, o Juiz Presidente, os jurados, o Ministrio Pblico , o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivo e o oficial de justia, disposto no art. 485, caput, do Cdigo de Processo Penal. A Lei maior traz em seu Art. 93, inciso IX, o princpio da publicidade: `` Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispor sobre o estatuto da Magistratura, observados os seguintes princpios: (...) IX-todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e fundamentadas todas as decises, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse pblico o exigir, limitar a presena em determinados atos, s prprias partes e a seus advogados, ou somente a estes.`` O Sigilo nas Votaes do Jri garantido por meio de trs formas: pela incomunicabilidade dos jurados, pelo julgamento em sala secreta e pelo julgamento dos jurados com base na sua ntima convico. Seguindo neste contexto, a Constituio consagra o Princpio da Soberania dos Veredictos, significa que a deciso dos jurados no pode ser alterada, mesmo admitindo o duplo grau de jurisdio, caber apenas o Recurso de Apelao, contra deciso do Tribunal do Jri, previsto no Art. 593, inciso III do CPP, nas seguintes hipteses: a) ocorrer nulidade posterior pronncia; b) for sentena do juiz-presidente contrria lei expressa ou deciso dos jurados;

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c) houver erro ou injustia no tocante aplicao da pena ou da medida de segurana; d) for deciso dos jurados manifestamente contrria prova dos autos. O importante princpio da soberania dos veredictos do Tribunal do Jri foi restabelecido pela Constituio de 1946, no se permitindo que as suas decises fossem reformadas pelo mrito em grau recursal. A deciso do Tribunal do Jri significa supremacia da vontade do povo, ressalta Ricardo Vital, patrimnio da cidadania e garantia fundamental, a soberania plena dos veredictos do Jri acima de quaisquer presentes justificativas que possam permitir sua negao.5 Mesmo com a apelao, no ser invalidado o veredicto proferido pelo tribunal de justia, sendo o ru submetido a novo julgamento, preservando o Princpio da Soberania dos Veredictos. A soberania dos veredictos deve ser considerada relativa, pois to somente a impossibilidade de outro rgo jurisdicional alterar ou rescindir sua deciso. Neste sentido Fernando Capez se posiciona: ``A soberania dos veredictos no exclui a recorribilidade de suas decises, limitando-se,contudo, a esfera recursal ao juzo rescindente (judicium rescindem), ou seja, anulao da deciso pelo mrito e a conseqente devoluo para novo julgamento. Do mesmo modo, em obedincia ao princpio maior da verdade e em ateno ao princpio da plenitude de defesa, admite-se alterao do meritum causae, em virtude de reviso criminal.``6 O tribunal do jri, quando tem sua sentena transitada em julgado, reveste-se de revisibilidade. passvel de desconstituio, mediante ao de reviso criminal, no se lhe sendo oposta a clusula constitucional da soberania dos veredictos.5 6

ALMEIDA, Ricardo. O Jri do Brasil, aspectos Constitucionais, P. 57, CAPEZ, Fernando. Processo Penal. So Paulo: Paloma, 2000.

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Segundo Frederico Marques: A soberania do Jri relativizada, pois no se pode barrar o alcance do princpio da verdade real, que um dos informadores do processo penal. Ademais, a Reviso criminal um tipo de ao rescisria de coisa julgada criminal, sempre em favor do acusado, nunca pro societate,7 . O ultimo, mas no menos importante para o instituto Jri o Princpio da Competncia, ou seja, o intuito para a formao do Tribunal do Jri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, previsto no Art. 5, inciso XXVIII, ``d`, da Constituio Federal, sendo uma clusula ptrea, sendo impossvel a sua mudana, no obstante nada impede a sua ampliao de competncia, demonstrando ser possvel que o Tribunal possa julgar outros delitos, que no somente os dolosos contra a vida, bem como os crimes conexos. Os crimes previsto para o julgamento do Tribunal do Jri, so o previsto no Capitulo I (Dos crimes contra a vida), do Titulo I ( Dos Crimes contra a pessoa), da Parte Especial do Cdigo Penal, originariamente, os seguintes delitos do CPP: Homicdio Simples (Art. 121, caput); Privilegiado (Art. 121, 1 ); Qualificado ( Art. 121, 2 ); Induzimento, instigao e auxilio ao suicdio (art. 122); Infanticdio (art. 123); E as varias formas de aborto (Arts. 124, 125, 126 e 127); Conexos por fora da atrao exercida pelo jri (Art. 76, 77 e 78, I, CPP).7

MARQUES, Jos Frederico. A Instituio do Jri. So Paulo: Bookseller, 1997.

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O entendimento do Supremo Tribunal Federal, o crime de Genocdio no ira a jri popular, por ser tratar de crime contra a humanidade, sendo este competncia da Justia Federal, somente seria encaminhado a Tribunal do Jri, se houvesse conexo com os delitos dolosos contra a vida desconectada do Genocdio8. Da mesma forma o Latrocnio, e um crime contra o patrimnio, sendo competncia do juiz singular como informa a Sumula 603 do STF, in verbis: A competncia para o processo e julgamento de latrocnio do juiz singular e no do Tribunal do Jri.

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STF RE 351.487 RR, Pleno, Rel. Cezar Peluso, 03.08.2006, m.v, informativo 434

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CAPTULO 3 DIREITO COMPARADO Aspecto histrico relevante o fato de o Jri brasileiro ter se baseado no modelo anglo-saxo. Tal influncia se verifica pela existncia de um rgo colegiado e heterogneo, composto por um magistrado togado, que preside o julgamento, e, por sete jurados,sorteados dentre vinte e um, que formaro o Conselho de Sentena. O instituto adotado no Brasil do Tribunal do Jri, no se assemelha a nenhum da Amrica do Sul. Os Estados Unidos h muitos conflitos de legislaes federais e estaduais. O Trial Jurie composto por 12 jurados, e a votao tem que ser unanime. No existe a incomunicabilidade, nem o sigilo das votaes, sendo o voto revelado. O que diferencia o Tribunal do Jri brasileiro do Norte-americano a escolha dos jurados que feita com bastante critrio, baseado no perfil, na formao, nas opinies. O que sabemos sobre os jurados que so selecionados anualmente para compor o Tribunal do Jri no nosso pas? Talvez a profisso deles, caso as fichas do respectivo Tribunal estejam atualizadas. Cremos ser chegada hora de nos aproximarmos, nesse ponto, do sistema norte-americano. muito importante (quem milita no jri sabe bem disso) conhecer o perfil, a formao assim como as opinies daqueles que decidiro o mrito de um caso com pena bastante severa. o destino de uma pessoa (muitas vezes inocente) que est jogo. No dia-a-dia forense, as partes trabalham quase que s cegas: debatem e expem seus pontos de vista, fazem apreciaes subjetivas, religiosas, jurdicas e filosficas, sem saber a quem endeream seu discurso. O ato de julgar acaba tendo, muitas vezes, cunho eminentemente ideolgico ou classista ou, porque no dizer, racista. Na Argentina e na Holanda no h o instituto do Tribunal do Jri. Na Espanha se adota o tribunal Popular, sendo expresso a participao dos cidados na distribuio da Justia, sendo nesse modelo nove os jurados, contudo para que haja a condenao apenas so necessrios sete votos. Na Franca, se adota um modelo tradicional, modelo chamado de escabinado ou misto, sendo trs juzes e nove jurados, heterognea, no havendo tempo para os

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debates, chamado de a Cort DAssises, para que haja condenao exige que haja oito votos pelo crime levado. O sistema adotado pela Blgica tem 12 jurados que deliberam sobre a culpa do agente antes de se reunirem com os 3 magistrados para decidir sobre a pena a ser aplicada. A Dinamarca adota procedimento de um Tribunal Correcional, para crimes apenados com mais de quatro anos de recluso. Embora em vigor desde 1919, foi em 1936 que os jurados passaram a decidir (tambm) o quantum da pena decorrente do veredicto condenatrio por eles proferido. Tal modificao adveio da insegurana revelada pelos jurados comuns por no saberem ou no poderem influenciar na pena a ser efetivamente cumprida nos casos de condenao. Descobriu-se que alguns jurados absolviam o acusado por receio da severidade da pena a ser aplicada pelo juiz togado. Essa no parece uma m idia. O jurado brasileiro poderia ter maior participao no julgamento. Eventual contribuio sua na escolha e na dosagem da pena com certeza permitiria uma maior e mais efetiva participao popular na administrao da Justia. As salas secretas bem revelam quantos quesitos, ao serem votados, no vm precedidos da indagao, pelo jurado, de qual ser a conseqncia prtica de sua resposta em um ou outro sentido. A Alemanha adota um sistema misto ou jri clssico chamado de mixed-courts Desde 1925, foi suprimido o sistema tradicional do Tribunal do Jri, o sistema no o acusatrio puro, combinando um juiz profissional e dois leigos, denominados assessores, Amstgericht, ou dois profissionais e trs assessores, Landgerischt, dependendo da gravidade da infrao. Na Itlia, funciona o Giudia Popolari, composto por dois juzes e seis jurados, adotando tambm o sistema denominado misto que em grau de recurso remete a matria para outro Conselho de Sentena (tambm misto), sem vinculao deciso de primeira instncia, julgando livremente, interessante e adequada aos princpios norteadores do jri a apelao contra os veredictos na Itlia. Embora a a Corte tambm seja mixta, com seis juzes leigos e dois togados, em grau de apelo a devoluo do conhecimento da matria recorrida e da prova se faz para outro Conselho de Sentena (tambm misto), que julga de maneira mais livre e mais sensata, em

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comparao com nossos tribunais de segunda instncia, onde predomina o tecnicismo (quando no, a pura burocracia). A idia de se contemplar um novo corpo de jurados em segundo grau, onde outros cidados (somente leigos) pudessem, sem a influncia de um pronunciamento judicial tcnico, decidir acerca de eventual apelao interposta, no parece desarrazoada. Na Sucia, apesar de ter sido adotado o sistema misto, o procedimento do Tribunal do Jri s aplicado aos crimes de imprensa. O Canad, a ustria, a Austrlia, a Grcia, a Noruega e a Nova Zelndia adotam sistema semelhante ao Jri que conhecemos. Entretanto, pases como Bulgria, Polnia, Rssia e Romnia adotam o sistema conhecido como misto ou escabinado.

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CAPITULO 4 PRINCIPAIS ALTERACOES INTRODUZIDAS NO TRIBUNAL DO JURI COM A LEI 11.689/2008

O intuito de alterar o procedimento do Tribunal do Jri e outras mudanas do Processo Penal, foi proposto em 2001, projeto de lei n.4.203/01, de autoria do Executivo e relatado pelo deputado Flvio Dino (PCdoB-MA). O projeto teve sua aprovao, e entrou em vigor em agosto de 2008, leis n. 11.689/08 e 11. 690/08, tratando de modificar o processo penal desde o sumrio da culpa at a sesso de julgamento.

4.1- Fase de Instruo

A lei 11.689, trouxe a inovao, em que as testemunhas devem ser ouvidas em uma audincia nica, ou seja, no caso de um s acusado, sero ouvidas at dezesseis pessoas. As principais mudanas ocorreram na fase de instruo processual, antes da vigncia da lei, o ru era citado, interrogado, apresentava defesa previa com seu rol de testemunhas, oitiva de testemunhas, primeiro as de acusao, depois as de defesa, alegaes finais ou memoriais, sentena de pronuncia, impronncia ou absolvio sumaria.

Com a Lei 11. 689/08, a ordem mudou, de acordo com o Art. 406 da citada lei:

O juiz, ao receber a denncia ou a queixa, ordenar a citao do acusado para responder a acusao, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. 1o O prazo previsto no caput deste artigo ser contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juzo, do acusado ou de defensor constitudo, no caso de citao invlida ou por edital.

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2o A acusao dever arrolar testemunhas, at o mximo de 8 (oito), na denncia ou na queixa. 3o Na resposta, o acusado poder argir preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justificaes, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, at o mximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimao, quando necessrio. Outra inovao foi a audincia unificada, com intuito de dar maior celeridade ao procedimento, especialmente no que se refere a processos com rus presos, Art., 411, Lei 11.689/2008:

Na audincia de instruo, proceder-se- tomada de declaraes do ofendido, se possvel, inquirio das testemunhas arroladas pela acusao e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclarecimentos dos peritos, s acareaes e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o debate. 1o Os esclarecimentos dos peritos dependero de prvio requerimento e de deferimento pelo juiz. 2o As provas sero produzidas em uma s audincia, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatrias. 3o Encerrada a instruo probatria, observar se, se for o caso, o disposto no art. 384 deste Cdigo. 4o As alegaes sero orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, acusao e defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogveis por mais 10 (dez). 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusao e a defesa de cada um deles ser individual 6o Ao assistente do Ministrio Pblico, aps a manifestao deste, sero concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual perodo o tempo de manifestao da defesa. 7o Nenhum ato ser adiado, salvo quando imprescindvel prova faltante, determinando o

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juiz a conduo coercitiva de quem deva comparecer. 8o A testemunha que comparecer ser inquirida, independentemente da suspenso da audincia, observada em qualquer caso a ordem estabelecida no caput deste artigo. 9o Encerrados os debates, o juiz proferir a sua deciso, ou o far em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos. O magistrado deve ouvir peritos, fazer reconhecimento de pessoas e objetos, assim como acareaes, o que ocorriam em momentos diversos. Alm do citado, as alegaes finais sero feitas de forma oral, aps o juiz proferir sua deciso, num prazo de dez dias, em forma de pronncia, ou seja, submetendo ao Tribunal do Jri, ou impronncia, ou absolvio sumria. A lei prev ainda o prazo para o trmino desta fase de instruo, de acordo com o artigo 412: o procedimento ser concludo no prazo mximo de 90 (noventa) dias.

4.2 - Jurados De acordo com a lei 11.689/08 houve uma mudana em relao data de publicao que foi alterada para 10 de outubro, artigo 426 : A lista geral dos jurados, com indicao das respectivas profisses, ser publicada pela imprensa at o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados porta do Tribunal do Jri. O numero de listados aumento com a nova Le, Artigo 425: Anualmente, sero alistados pelo presidente do Tribunal do Jri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milho) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas

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comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor populao. Tendo em vista que, de acordo com a nova lei, deve ter idade superior a 18 anos e no mais 21 anos, como antes. Na grande maioria dos casos, os jurados so servidores pblicos e ficavam, muita vezes dois, trs, ou at 05 anos a disposio do Judicirio, com a vigncia da Lei 11.689/08, em seu artigo 426, pargrafo 4, ela veda expressamente por mais de dois anos: o jurado que tiver integrado o Conselho de Sentena nos 12 (doze) meses que antecederem publicao da lista geral fica dela excludo O nmero de jurados para compor o Conselho de Sentena mudou: passou de 21 para 25 jurados, assim como a data do sorteio, que era realizada no ms de dezembro do ano anterior, foi alterara para se realizar de 10 a 15 dias teis antes da realizao da primeira reunio peridica de julgamento. Segundo o artigo 433, caput, e seu pargrafo 1, respectivamente: O sorteio, presidido pelo juiz, far-se- a portas abertas, cabendo-lhe retirar as cdulas at completar o nmero de 25 (vinte e cinco) jurados, para a reunio peridica ou extraordinria. 1o O sorteio ser realizado entre o 15o (dcimo quinto) e o 10o (dcimo) dia til antecedente instalao da reunio. O magistrado poder aplicar multa para o jurado que mesmo sorteado no comparecer sesso, de acordo com o pargrafo 2, do artigo 436: a recusa injustificada ao servio do jri acarretar multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salrios mnimos, a critrio do juiz, de acordo com a condio econmica do jurado, assim como a aplicao de multa para aquele que faltar sesso de julgamento sem justificativa, de acordo com o artigo 442: ao jurado que, sem causa legtima, deixar de comparecer no dia marcado para a sesso ou retirar-se antes de ser dispensado pelo presidente ser aplicada multa de 1 (um)

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a 10 (dez) salrios mnimos, a critrio do juiz, de acordo com a sua condio econmica.

4.3 - O Preparo do Processo A figura do libelo crime acusatrio3, e da contrariedade ao libelo foram extintas. De acordo com o artigo 422, o magistrado deve intimar as partes e conceder s mesmas um prazo para requerimentos, que devem ser feitos em, no mximo, cinco dias para cada uma: Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Jri determinar a intimao do rgo do Ministrio Pblico ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que iro depor em plenrio, at o mximo de 5 (cinco), oportunidade em que podero juntar documentos e requerer diligncia. O legislador garantiu a celeridade processual, uma vez que tais citadas peas eram dispensveis para o regular andamento do feito. 4.4 Sesso de Julgamento Uma grande inovao desta lei foi a possibilidade de julgar o acusado sem a sua presena. O julgamento no ser adiado pela ausncia de acusado solto, contudo, se preso e no for conduzido por falha do instituto penal ou delegacia que se encontra detido, ser marcada a prxima data desimpedida para a realizao de tal ato, artigo 457 e seu pargrafo 2 O julgamento no ser adiado pelo no comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado. (...) 2o Se o acusado preso no for conduzido, o julgamento ser adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunio, salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. Outra novidade foi a possibilidade de gravao do interrogatrio e oitiva de testemunhas para posterior transcrio pelo escrivo nos autos.

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Foi modificada a durao dos debates: de duas horas para uma hora e meia e da rplica e trplica de meia hora para uma hora, art. 477: O tempo destinado acusao e defesa ser de uma hora e meia para cada, e de uma hora para a rplica e outro tanto para a trplica. 1o Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinaro entre si a distribuio do tempo, que, na falta de acordo, ser dividido pelo juiz presidente, de forma a no exceder o determinado neste artigo. 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusao e a defesa ser acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da rplica e da trplica, observado o disposto no 1o deste artigo. 4.5 Questionrios Outra inovao se refere aos quesitos formulados pelo juiz. Deve ser simples e objetivo a sua redao. Com o advento da nova lei, incluiu-se um quesito que passa a ser obrigatrio, na prtica, tal quesito tem a seguinte redao: o jurado absolve o acusado. Em conformidade com o artigo 483, os quesitos devem ter a seguinte ordem: Os quesitos sero formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I a materialidade do fato; II a autoria ou participao; III se o acusado deve ser absolvido; IV se existe causa de diminuio de pena alegada pela defesa; V se existe circunstncia qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronncia ou em decises posteriores que julgaram admissvel a acusao. . A mudana do sigilo das votaes, o legislador instituiu votao por maioria de votos, atravs do artigo 489: as decises do Tribunal do Jri sero tomadas por maioria de votos, Antes o magistrado revelava todos os votos, mesmo que j tendo atingido maioria. Com essa mudana O legislador protege o sigilo de voto.

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CAPITULO 5 A INFLUNCIA DA MDIA

A imprensa Brasileira tem seu incio em 1808 com a chegada da famlia real portugus, apenas era aceita a publicao de jornais, livro ou panfletos. Nasceu oficialmente no Rio de Janeiro em 13 de maio de 188, com a criao da Impresso Rgia, hoje chamada de Imprensa Nacional. O primeiro Jornal publicado em territrio nacional foi a Gazeta do Rio de Janeiro em 1 de setembro de 1808, porm o primeiro jornal brasileiro, foi o Correio Brasiliense, em 1 de junho de 1808. H durante o passar do tempo uma modernizao do Tribunal do jri e da Democracia, onde a mdia se tornou a principal causadora dessa situao, para Vera Chaia, doutora e livre docente em Cincia Polticas na PUC-SP, ``a influencia da mdia e dos poderes econmicos nas eleies uma realidade, ou seja, onde fica a democracia, que seria a livre e espontnea vontade que emana das cidades se a imprensa que dependendo da sua atuao pode muda a preferncia do eleitorado. Casos como o do casal Nardoni, ser que existe algum que no tenha sido induzido pela mdia a condenar o pai e a madrasta da menina Nardoni? A sentena foi decidida em jri popular, onde encontrar jurados que ainda no tenha opinio formada pelo mo espetaculoso com que a tragdia foi tratada. Outro momentos onde podemos ver a influencia da mdia no caso do estupro seguido de morte da atriz da globo Daniella Perez, ocorrida em 28 de dezembro de 1992, foi um caso em que a imprensa espetacularizou o acontecimento por anos, em 1997 os noticirios j informavam que o ru j era um condenado, esquecendo do Direito da presuno da inocncia. At mesmo houve um acrscimo a Lei, tratando o estupro como crime Hediondo. A atual Constituio Federal em seu art. 5, XXXVIII, alnea `d``,reconhece a instituio do Tribunal do Jri para julgamentos de crimes dolosos contra a vida, como os referidos crimes so de grande valor moral e tico a sociedade, naturalmente h uma comoo, sendo assim a sociedade tenta buscar explicaes para o ocorridos. A mdia tem um papel fundamental dos acontecimentos no pais e no mundo, assumindo uma divulgao mais clara e transparecendo perante a sociedade.

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A grande questo quando a mdia assume uma postura seja ela positiva ou negativa em razo de um crime, emitindo juzo de valor quanto aquele ato criminoso. Discute-se a divulgao de fatos apurados no Inqurito Policial, segundo Fernando Capez : finalidade do inqurito policial to somente a apurao de fato que configure a infrao penal e a respectiva autoria para servir de base a ao penal ou as previdncias cauteladores.9 Sendo que a imprensa em busca de ibope divulga os fatos que era pra serem produzidos para serem atacados na fase processual. Nesse sentido a sociedade vai atribuindo a condio de heri ou vilo, sendo figurados ate o momento em que so levados a julgamento, por cidados comuns alistados que possuam notria idoneidade, ou seja, so cidados comuns, no so operadores do Direito, so pessoas que como quaisquer podem se deixar levarem pelas concluses precipitadas da imprensa. Se at mesmo o juiz que preside o julgamento e tem formao para interpretar pode deixar-se deixando influencia pela opinio miditica. Em nossa memria vem o caso da Missionria Dorothy Stang, Witalmiro Bastos, o Bida e mais quatro pessoas foram indiciadas e condenadas pelo tribunal do jri, sendo um forte apelo popular para que os mesmos fossem condenados. visto o papel preponderante da Mdia como formadora de opinio. Emissoras de rdio, jornais e veculos televisivos bombardeiam notcias e informaes. No foi por acaso que h muito tempo a Mdia foi alcunhada de QUARTO PODER. Ela realmente exerce poderes supra-constitucionais. Investiga, denuncia, acusa, condena e executa! Sua inegvel fora dentro das instituies e o seu poderio econmico e ideolgico transformaram-na em uma espcie de condutora das massas e ditadora de regras. Opinies, das mais argutas s mais esdrxulas, sobre poltica, economia, histria, direito, literatura, sexo, e uma mirade de outros assuntos so reproduzidas cotidianamente pelos veculos de comunicao. Regras e princpios so ditados, aceitos e estabelecidos da forma mais passiva possvel. No que concerne s informaes trazidas sobre o mundo jurdico, sobre o Direito, notadamente, o Direito

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CAPEZ. Fernando - Curso de Processo Penal (2009, p112)

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Penal, a situao calamitosa, merecendo uma abissal anlise do telespectador sobre o que lhe transmitido. A maior preocupao reside no fato de que a Mdia, no af do sensacionalismo e do glamour, transformou-se numa espcie de legisladora penal, tendo em vista que casos criminais clebres so espetacularizados pelos meios de comunicao e acabam provocando imediatas alteraes na lei penal, na imensa maioria das vezes precipitadas e desastrosas. O que acontece nos atuais acontecimentos um sensacionalismo em torno dos casos com amplo nacional, tornando a vida pblica um espetculo, um cenrio prprio em que divergem Princpios Constitucionais. Confunde tentar saber qual o papel da mdia, negativo ou positivo, demonstrando ser uma dominadora de opinies e puramente comercial, por outro lado informativa e educadora. A imprensa se tornou o quarto poder, formadora e criadora de opinies, um produto que tem o poder de conduzir, influenciar, dominar, legitimar, formar e criar opinies e que infelizmente domina a todos. Tem que se rever a funo que est sendo delimitada a informao, ser que no estamos infringindo normas de dignidade da pessoa humana. A imprensa tem que assumir como item essencial a informao, o debate e a implementao de todas as polticas publicas, levando em conta o tema da segurana publica. Sendo uma grande aliada a polcia, nas investigaes, nas denuncias, esquecendo o sensacionalismo, que impe mudanas. Devemos respeitar os Direitos Humanos, a presuno da inocncia, sem julgarmos, e a ponto de considerarmos que uma suposta pessoa que comete crime brbaro poder ter uma socioeducados, e voltarem a ter dignidade. No h de ser voltar ditadura, e querer calar a mdia, mas sim de mudanas e analisar a cobertura de violncia e criminalidade a diminuio do uso de recursos sensacionalistas e noes apelativas. Mas as mudanas no se restringem apenas ao peridicos do tipo `` espreme que sai sangue, `` mas a linguagens e apelaes e bravatas do tipo `` bandido bom bandido morto.

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Sendo assim at o julgamento, o acusado de um crime dever apresentado apenas como acusado, suspeito, incriminado, ru, investigado, no devem indicar culpa no comprovada. Tem que se haver uma modernizao, onde os Direitos Humanos, tem que estar acima de qualquer, ibope, ou dinheiro, a de se dar dignidade, antes do julgamento e at mesmo depois do julgamento. A imprensa no seu papel de informar, de investigar, denunciar, entreter, no infringindo e to menos se considerando um quarto poder, pois definio de poder na democracia, tudo aquilo que emana do povo, sem fins lucrativos, totalmente diferente da mdia, que so empresas privadas destinadas a obterem lucros.

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CAPITULO 6 TRIBUNAL DO JRI: ENCENAO O Tribunal do apaixonante, no s para quem o estuda, ou pratica, mas tambm para quem leigo no assunto, pois se tratar de crimes dolosos contra a vida, onde a inteno do acusado em tirar a vida da vitima. Um dos norteadores Jri popular que no apenas os aplicadores da lei, promotores e advogados sejam dotados de conhecimentos jurdicos, mas que estes profissionais tenham emoo, paixo pela causa, e vocao para tal militncia. O Conselho de Sentena proferiro o veredicto final, so estes pessoas comuns, e de diversas personalidades, que certamente so levados pela emoo. Como dito anteriormente a grande importncia da emoo e convencimento das circunstncias, no apenas de enfatizar a lei e sua aplicao Sendo os jurados, pessoas comuns, estes se sensibilizam com fatos cotidianos, como o aumento da criminalidade. H de se enfatizar que pessoas comuns, sem conhecimento jurdico tcnico, procedem ao julgamento de uma pessoa que cometeu um crime, ao tentar, ou ceifar a vida de outro. . Ou seja, diante dos fatos, o s defensores e promotores de justia, deixam de lado enfatizar as leis e partem para o lado emocional, o convencimento sobre suas teses, onde muitos do Conselho de Sentena j trazem de casa, pois se formou as teses com o convencimento da mdia. Os jurados apenas com o conhecimento natural, no tendo o conhecimento tcnico e o qual no acompanharam as investigaes do caso, certamente formaram o seu convencimento na tese da defesa ou da acusao, ou seja, aquele se persuadir melhor em suas conscincias. No Jri poder ser mostradas, peas dos autos, como laudos periciais, onde a acusao ou defesa poder fazer de diversas formas, com muita imaginao e uma tima oratria, que por si formaro o convencimento dos jurados O douto professor Nelson Hungria afirma acerca das divergncias: O Jri s interessa ao povo como espetculo, como show, como tablado de ring, em que os promotores e os defensores se defrontam para gaudium certaminis, para os duelos de oratria. uma pea teatral que o povo assiste de graa

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e exclusivamente por isso que desperta ainda a sua simpatia.10 Nassif ressalta que, de fato o jri teatro, porm, longe de ser negativo, isto constitui um ponto positivo. 11 As divergncias sobre do Tribunal do Jri, enorme, diversos doutrinadores acreditam que o Instituto o cone do exerccio popular da democracia,onde o poder emana do povo e por ele naquele momento exercido soberanamente,como pensa Bandeira Stampa: O tribunal popular corpo e alma do princpio basilar das democracias, de que todo o poder emana do povo e em seu nome exercido. Este princpio que a Constituio brasileira consagra no seu primeiro artigo, como advertncia maior no portal de todo o nosso direito codificado, no Jri que se realiza melhor, porque no Jri todo o poder emana do povo e pelo povo exercido, sem intermedirios, soberanamente. 12 H de ser sincero, que a dramatizao, a inteligncia, a retrica e a te a simpatia, influenciam no convencimento dos compsitos do conselho de jurados. Um dos juristas grandiosos a este ponto de interpretao era Edgard Matta, criminalista, baiano, atuante entre as dcadas de 30 a 50, dominava como poucos a linguagem do jri,suas artimanhas usadas no discurso eram determinantes no resultado da sentena , o gestos da mos, era como o maestro de sua prpria voz, um homem de 1,90m com uma toga negra e um palet escuro o tornava ainda mais visvel, e eloqente, hipnotizando a platia. Os promotores tende a serem mais contidos, j a defesa sempre mais emocional. O advogado um tradutor do ru, sempre com seus gestos, frases de efeitos e encenaes. As figuras de linguagem lanadas pelos advogados possibilitam o encantamento e a mgica da oratria.

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Apud MENDONA LIMA, op. cit., p. 21. Art. Prof. . Brulio Eduardo Pessoa Ramalho. Op. cit. , p. 123. Art. Prof. . Brulio Eduardo Pessoa Ramalho. 12 Prefcio da 2 edio, In: LIMA, Carlos de Arajo. Os Grandes Processos do Jri. 5 ed.,Vol. I, Rio de Janeiro: Ed. Liber Juris, 1988, p. 8.

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. "Sempre que eu defendo uma tese, estou plenamente convicto dela. Posso estar errado, mas estou convencido", diz Joo de Melo Cruz, advogado defensor pblico, com mais de mil julgamentos populares. . Um dos casos mais emblemticas, conta-se que o advogado comeou sua defesa: "Excelentssimo senhor doutor juiz de direito. Excelentssimo senhor doutor juiz de direito. Excelentssimo senhor doutor juiz de direito. O juiz, farto daquele tratamento, retorquiu irritado: ''Chega, acabou! Comece logo seu libelo''. O advogado olhou na face de cada um dos jurados e, pausadamente, prosseguiu: ''Vejam, senhores. O excelentssimo se incomodou porque o chamei por trs vezes pelo nobre tratamento que ele merece, e ordenou que eu parasse. Esse pobre homem que defendo escutou, a vida inteira, apelido que odiava. E perdeu a cabea. Fez o que qualquer um faria!'`. O ru acabou sendo absolvido por unanimidade. Citamos abaixo, o depoimento do ex-presidente da Associao de Advogados Criminalistas de So Paulo Defendi um homem acusado de matar uma criana, ele foi absolvido pelo tribunal do jri, um ano depois disse ter violentado e assassinado outras duas meninas. Fui para casa, vi minhas filhas e chorei. At hoje me sinto co-autor dos crimes. Fiz tratamento por seis meses13

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GOMES, Ademar. So Paulo. Entrevista Drible na Justia. Revista Veja. N 5 fevereiro/1997.

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CAPITULO 7 ASPECTOS CRTICOS AO INSTITUTO E A NECESSIDADE DA MUDANA A Constituio Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 60, 4 ,ao tratar das clusulas ptreas, elenca a sua extenso: Art. 60. A Constituio poder ser emendada mediante proposta: 4 - No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e peridico; III - a separao dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais.

No obstante o artigo anterior em seu inciso IV, fala em direitos e garantias individuais, .Seguindo este pensamento o Supremo Tribunal Federal reconheceu que direito fundamental clausula ptrea, e portanto quando o Constituinte fala direitos e garantias individuais deve-se interpretar de forma extensiva a todos os direitos fundamentais. Dessa forma, inclui-se nesse rol o art. 5, XXXVIII da Constituio Federal, quando disciplina que reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados a plenitude de defesa, o sigilo das votaes, a soberania dos veredictos, a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. O Supremo Tribunal Federal, em virtude da incluso do art. art. 5, XXXVIII da CF/88, com o clausula ptrea, entendeu que possvel o acrscimo de pequena monta, desde que no alterasse o ncleo essencial da norma. possvel tanto acrscimos quanto alteraes de pequena monta, desde que mantendo intacto o ncleo essencial do direito protegido pela clusula ptrea. No se pode falar em extino do Tribunal do Juri, se tratando de um direito fundamental, protegido por se uma clausula ptrea, no entanto, no impede a sua alterao com acrscimo ou alteraes de pequena monta que no modifique o ncleo essencial. No se pode falar em extinguir da competncia do Tribunal Juri os crimes dolosos contra a vida, sao expressamente elencados como direitos fundamentais, mas no se pode negar que crimes de tamanha complexidade no poderiam estar envolvidos sob o manto de decises imotivadas proferidas por leigos, inexperientes, facilmente influenciveis pelos profissionais que funcionam perante o jri.

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No seria posicionar sobre a extino do Tribunal do Jri, nem muito menos tratar como ultrapassado, pois o instituto mais democrtico de um pas Todavia, h de se ver, com a preponderncia dos princpios constitucionais na aplicao de todo e qualquer direito, especialmente do postulado da dignidade da pessoa humana, permitir o julgamento do crime mais relevante para uma sociedade por iguais despidos de tcnica, com decises sem fundamentao ferir frontalmente outras garantias igualmente fundamentais. Atentos a esses conflitos, os inconstitucionalistas sustentam a possibilidade de afastar a aplicao do Tribunal do Jri, j que seus princpios, como, por exemplo, a ausncia de motivao das decises, estariam em confronto com outros princpios constitucionais. Seria a aplicao da ponderao de princpios, o que estaria to somente no mbito doutrinrio e jurisprudencial. O jri causa polmica principalmente, em relao a capacidade dos jurados para decidir questes relacionadas a crimes de grande repercusso social. Na atualidade, o jri, mais que um mero rgo judicirio, uma instituio poltica, acolhida entre os Direitos e Garantias Individuais, a fim de que permanea conservado em seus elementos essenciais, reconhecendo-se seja, implicitamente, um direito dos cidados o de serem julgados por seus pares, ao menos sobre a existncia material do crime e a procedncia da imputao 14 Para os crticos do jri, um dos aspectos se refere falta de motivao da deciso quando da votao pelos jurados, enquanto uns dizem que tal motivao se contrape ao principio do sigilo das votaes, outros opinam no sentido de que a justificativa ou motivao poderia ocorrer e permanecer dentro da sala secreta. 7.1- Os defensores da excluso do jri Segundo os defensores da excluso do Jri, atualmente com o Estado Democrtico de Direito em plena ascenso e a garanta de uma justia independente, menos suscetvel corrupo e excessos, no h mais razo de se continuar com Tribunal popular. A respeito dessa forma de julgamento o Juiz paulista Fanganiello Maierovich, criticou o Tribunal do Jri como mtodo democrtico de fazer justia, quando disse: No Tribunal do Jri h o aspecto da possibilidade de condenao sem certeza. Os jurados no precisam motivar sua deciso. Condenam ou absolvem imotivadamente, bastando em segredo, a colocao em uma

MARREY, Adriano. Doutrina do Jri.Teoria e Prtica do Jri. RT. So Paulo. 1994.p.10014

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cdula grafada com sim ou no que um absurdo15 Outro assunto abordado pelos partidrios da excluso deste Tribunal Popular o poder de influncia dos jurados, buscando saber at que ponto os debates so Decisivos na formao da convico do Jri, bem como se a forma de julgamento isenta de motivao. Em se tratando dos julgamentos nos Tribunais do Jri, constata-se que na atuao dos promotores e advogados em plenrio, respectivamente, como acusao e defesa tem como carter decisivo no convencimento dos jurados o discurso racional e emocional, sendo que este ltimo figura como principal responsvel pelo convencimento dos jurados. Segundo Gabriel Chalita, um processo de seduo, encanto, fascnio. O discurso do sedutor no se fundamenta puramente em argumentos lgicos; recorre a artifcios retricos e visuais a fim de comover. 16 Assim, para tais defensores da excluso do jri, diante da possibilidade da utilizao de tcnicas de persuaso e artifcios dialticos, bem como diante da ignorncia dos jurados referente ao conhecimento tcnico da aplicao da norma existe grande possibilidade de manipulao do convencimento dos jurados, e conseqente cometimento de injustias. O jurista gaucho Walter Coelho faz uma veemente critica instituio do jri. o Tribunal do Jri continuar, julgando mais pelo instinto do que pela lgica ou pela razo, pouco ligando para o que diga o Cdigo repressivo ou a moderna dogmtica penal. Escudado na soberania de seus veredictos e no juzo ntimo de convico, suscetvel de influncias momentneas as mais diversas, prosseguir claudicando em sua misso, ora absolvendo os culpados e, o que grave, tambm condenando inocentes, conclui. 17 Diante disso, o que se verifica das crticas tecidas em desfavor do jri que sua motivao esta calcada na falta de formao tcnico-jurdica, consoante preconiza a doutrina29 o jri pouco esta ligando para as altas questes jurdico-doutrinrias, mas comove-se, facilmente, com a retrica fcil e a oratria retumbante e vazia (...).

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MAIEROVICH, Fanganiello. Reportagem Verdade no Dita, Revista ISTO em 19/07/1989. CHALITA, Gabriel. A seduo no discurso. O poder da linguagem nos tribunais do jri. Ed. Max Limonad 3 ed. So Paulo 2002. p.16. 17 COELHO, Walter Marciligil. Erro de tipo e erro de proibio no novo Cdigo Penal. In Giacomuzzi, Wladimir (org). O Direito Penal e o novo Cdigo Penal Brasileiro. Porto Alegre, Fabris,1985, p.82.

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7.2 - Os defensores da eficcia e manuteno do jri Segundo Evandro Lins e Silva as crticas em relao ao tribunal do jri ocorrem por ignorncia, por interesse ou m-f, e muitos a maioria mal informados sobre os critrios orientadores das decises dos jurados e o mecanismo de funcionamento da instituio ou por um conhecimento incompleto do fato, de seus antecedentes, de sua motivao, de suas circunstancias, de seus protagonistas.18 Lenio Luiz Streck, diz em sua obra esse famoso advogado referindo-se a Evandro Lins e Silva, que atuou no rumoroso caso Doca Street mostra, em diversas obras, seu posicionamento favorvel ao Tribunal do Jri e sua manuteno como melhor forma de aplicao da lei nos casos de crimes dolosos contra a vida.19 Citando Casamayor, Lins e Silva diz que o jri e a imagem mais fiel, o smbolo da solidariedade humana. A indulgncia no defeito, virtude, e a conscincia caminha, de preferncia, no sentido do perdo, como a histria caminha no sentido da atenuao da pena. Os defensores da instituio Tribunal do Jri questionam o julgamento pelo juiz singular, uma vez que tanto o juiz, ser humano, pessoa fsica, como os jurados esto inseridos no mundo ftico e no mundo da linguagem interpretativa. de se perquirir, se o juiz singular que julga uma causa comum sempre o faz com acerto, coerncia e justia? Por fim, importante salientar o posicionamento de Mariza Correa citada por Lenio Luiz StreK os argumentos favorveis ou contrrios manuteno do jri ou sua representatividade popular so sempre argumentos polticos ou ideolgicos, ou seja, levantados a partir de interesses dos envolvidos na discusso seja em termos de sua funo e atuao no jri ou fora dele e argumentos fundados na viso de mundo dos debatedores.20 No h concretamente uma estatstica que traga informaes sobre julgamentos injustos, ou seja, que tenha condenado pessoa inocente, uma vez que a prpria legislao traz a possibilidade de haver novo julgamento quando a deciso dos jurados for manifestamente contraria prova dos autos.

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SILVA, Evandro Lins e. A defesa tem a palavra. Rio de Janeiro. Aide, 1980, p.63 STRECK, Lenio Luiz Streck. Tribunal do Jri Smbolos e Rituais. 4. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p.90. 20 CORREA, Mariza, apud, STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do Jri. p.96.19

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7.3 -Casos de repercusso 1. Suzane Von Richthofen, Daniel e Cristian Cravinhos , a primeira foi condenada a 39 anos por matar o seus pais, j os irmos Cravinhso foram condenados a 38 anos, por participar do homicdio, ocorrido em So Paulo no ano de 2002. 2. Missionria Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005, ela trabalhava na luta contra grileiros de terra, esse caso tomou propores internacionais por ser tratar de estrangeira e de pessoas poderosas na regio, os rus foram condenados a 30 anos,sendo 4 reus, dentre eles Wiltamiro Basto, fazendeiro poderoso da regio 3. Isabella Nardoni, uma criana de 5 anos de idade que sofreu queda do 6 andar do Edifcio London em So Paulo, em 2009. Os acusados fora o pai Alexandre Nardoni e a Madras Anna Carolina Jatob, condenados, pela grande repercusso onde a populao pedia a priso destes.F oram setenciados ele o pai a uma pena de 31 anos, 1 ms e 10 dias, e ela a madrasta, a 26 anos e 8 meses. 4. Caso dos irmos Naves: o fato ocorreu em Araguari Minas Gerais. Sebastio Naves Joaquim Naves, ambos condenados a 25 anos e 6 meses pela suposta morte de Benedito Pereira Caetano, que desaparecera em 29 de Novembro de 1937. No entanto, o suposto morto, reapareceu vivo em 1952. Inocentes os acusados. 5 - Caso Mrcia Nakashima - acusado e indiciado seu ex namorado, advogado e ex policial Mizael Bispo dos Santos. 6- Caso Goleiro Bruno do Flamengo acusado e indiciado como mandante do crime de homicdio qualificado de Eliza Samudio., a vitima encontra-se desaparecida.

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CONCLUSO

Mesmo com a criao da Lei 11. 689/2008, o Tribunal do Jri deriva de uma reforma em sua base, no restando dvida alguma sobre a sua atuao democrtica. O instituto adotado em vrios pases, e outro j foi extinto, ou ao menos modificado em virtude da construo histrica. uma forma de julgar histrica, mas com a modernizao, perdeu o seu intuito que seria a julgamento justo, passando a ser um no garantidor dos direitos e garantias individuais. No entanto, a Constituio Federal veda a extino do Tribunal do Jri, por se tratar de um direito fundamental, ou seja, uma clausula ptrea, que somente poder ser modificada e nunca extinta H de se pensar em uma escolha mais detalhada dos jurados, como o modelo norte-americano, ou ento os crimes dolosos contra a vida serem julgados por juzes de direito No querendo calar a imprensa, pois o meio universal de comunio, considerado o Quarto Poder, mas tem que se haver o respeito ao principio da inocncia, que ningum ser julgado antes mesmo de trnsito em julgado. O sensacionalismo que muitas das vezes fazem com que o Conselho de Sentenca, antes mesmo do julgamento, j obtenha um posicionamento contra ou a favor do ru. A mdia consegue torna uma pessoa em`` Super-Heroi ou `` Pior Pessoa``, tem que se deixar o valor econmico da noticia de lado, pois o sensacionalismo hoje em dia que traz ibope e vende, e respeitar cada individuo, dentro dos princpios da Constituio Federal. Com a seleo de jurados, ou at mesmo o juiz de direito julgar os crimes dolosos contra a vida, a forma teatral e a encenao, a defesa ou procuradores, no iriam trazer mais a emoo, que s vezes atrapalha no julgamento, trazendo erros enormes.. Contudo o Tribunal do Jri de v ser sempre preservado, sendo a principal arma democrtica, se readequando com o tempo,mas respeitando os direito do ru, de ter um julgamento justo, observando direitos a eles adquiridos.

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necessrio esse debate para sanar erros e vcios histricos, onde na criao deste instituto Jri no se pensava em direitos indiviuais. Esse debate levar ao aperfeioamento ou a melhora do julgamento. Um instituto dito como o mais democrtico de uma sociedade no pode permanecer com estruturas medievais inalteradas.

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REFERNCIAS

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