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NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃOINTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
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FICHA CATALOGRÁFICA
C748n
Confederação Nacional da Indústria. Negociações comerciais com o Japão : interesses ofensivos do Brasil / Confederação Nacional da Indústria. – Brasília : CNI, 2017. 82 p. : il.
1. Japão. 2. Política Comercial. 3. Acordos Comerciais. I. Título
CDU: 339.5
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Estrutura do PIB do Japão (2014) ................................................................................18
Gráfico 2 - Composição das exportações do Japão em 2015 ......................................................19
Gráfico 3 - Exportações do Japão por países e regiões de destino em 2016...............................19
Gráfico 4 - Composição das importações do Japão em 2015 ......................................................20
Gráfico 5 - Importações do Japão por países e regiões de destino em 2016 ..............................20
Gráfico 6 - Número de produtos com oportunidades no mercado japonês .................................44
Gráfico 7 - Produtos com oportunidades: principais setores de produtos com presença
mínima no Japão ..........................................................................................................45
Gráfico 8 - Produtos com oportunidades: principais setores de produtos com potencial
de venda no Japão .......................................................................................................46
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - PIB do Japão – valor, taxa de crescimento e posição na economia mundial. ..............17
Tabela 2 - Coeficiente de abertura comercial da economia japonesa (2000 e 2015) ...................18
Tabela 3 - Exportações e importações de serviços do Japão em 2015 – (em US$ bilhões) ........21
Tabela 4 - Fluxos e Estoques de IEDs recebidos pelo Japão– 2014/2015
(em US$ milhões e %) ..................................................................................................22
Tabela 5 - Estoque de IED recebidos pelo Japão por países e regiões de origem – 2015
(em %) ...........................................................................................................................22
Tabela 6 - Fluxos e estoques de IED emitidos pelo Japão – 2014/2015
(em US$ milhões e %) ..................................................................................................23
Tabela 7 - Estoque de IED emitidos pelos Japão por países e regiões – 2015 (em %) ................23
Tabela 8 - Comércio bilateral Brasil – Japão em 2016 (milhões de US$ e %) ...............................25
Tabela 9 - Exportações do Brasil ao Japão - principais capítulos em 2016 ..................................26
Tabela 10 - Importações brasileiras do Japão – principais capítulos em 2016 .............................27
Tabela 11 - Exportações de serviços do Brasil – principais destinos em 2015
(milhões de US$) ..........................................................................................................28
Tabela 12 - Importações de serviços do Brasil – principais origens em 2015
(milhões de US$) ..........................................................................................................28
Tabela 13 - Exportações de serviços do Brasil para o Japão – setores em 2015 .........................29
Tabela 14 - Importações de serviços do Japão pelo Brasil – setores em 2015 .............................30
Tabela 15 - Fluxos anuais líquidos de IED recebidos pelo Brasil por países de origem,
em 2009/2010 e 2014/2015 (milhões de US$) .............................................................31
Tabela 16 - Estoque de IED japonês – participação no capital - no Brasil em 2014 .....................31
Tabela 17 - IED do Japão no Brasil por setores de destino em 2014 ............................................32
Tabela 18 - Distribuição de frequência das alíquotas das tarifas NMF do Japão para
produtos agrícolas e não agrícolas em 2015 (%) .........................................................34
Tabela 19 - Alíquotas NMF médias das tarifas de produtos industriais no Japão
em 2015 (%) ..................................................................................................................35
Tabela 20 - Status dos Acordos de Parceria Econômica (EPAs) do Japão ...................................38
Tabela 21 - Subsetores comprometidos pelo Japão no GATS e em ACPs em modo 1 -
comércio transfronteiriço de serviços – (em %) ...........................................................40
Tabela 22 - Subsetores comprometidos pelo Japão no GATS e em ACPs em modo 3 -
presença comercial – (em %) .......................................................................................40
Tabela 23 - Índices de compromissos assumidos pelo Japão no GATS e no “melhor APC”
em modos 1 e 3 (em %) ...............................................................................................41
Tabela 24 - Acordos Bilaterais de Investimentos do Japão em Vigor ............................................41
Tabela 25 - Principais produtos com tarifas no Japão ..................................................................46
Tabela 26 - Exemplos de BNTs relativas a produtos brasileiros com oportunidades
no Japão ..................................................................................................................... 47
Tabela 27 - Produtos com oportunidades e que enfrentam BNTs no Japão ................................48
Tabela 28 - Principais fornecedores do Japão nos produtos selecionados - Grupo 1 .................67
Tabela 29 - Principais fornecedores do Japão nos produtos selecionados - Grupo 2 .................68
Tabela 30 - Tarifas NMF e compromissos de liberalização do Japão em acordos
selecionados - Grupo 1 ...............................................................................................71
Tabela 31 - Tarifas NMF e compromissos de liberalização do Japão em acordos
selecionados - Grupo 2 ...............................................................................................72
SUMÁRIO
SUMÁRIO EXECUTIVO ................................................................................................................... 11
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 15
2 AS RELAÇÕES ECONÔMICAS DO JAPÃO COM O MUNDO ....................................................17
3 RELAÇÕES BILATERAIS BRASIL - JAPÃO ..................................................................................25
4 AS POLÍTICAS COMERCIAIS E DE INVESTIMENTOS DO JAPÃO .............................................33
5 OS INTERESSES OFENSIVOS BRASILEIROS E OS COMPROMISSOS ASSUMIDOS PELO JAPÃO EM ACORDOS PREFERENCIAIS .............................................................................43
5.1 O COMÉRCIO DE BENS: INTERESSES OFENSIVOS, POSIÇÃO BRASILEIRA E COMPROMISSOS JAPONESES EM ACORDOS PREFERENCIAIS ...............................................38
5.2 OUTRAS ÁREAS TEMÁTICAS DOS ACORDOS PREFERENCIAIS: COMPROMISSOS E RESERVAS DO JAPÃO EM COMÉRCIO DE SERVIÇOS, INVESTIMENTOS E COMPRAS GOVERNAMENTAIS ........................................................................................................................ 44
6 CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 59
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 63
APÊNDICES .................................................................................................................................... 65
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
SUMÁRIO EXECUTIVO
O Japão é a terceira maior economia do mundo e tem participação relevante no comércio de bens e
serviços, além de ser fonte de significativos investimentos externos diretos (IED) em diferentes regiões
do mundo. É um parceiro comercial e de investimentos importante para o Brasil, embora os fluxos de
comércio bilateral tenham perdido dinamismo nos últimos anos.
Apesar do baixo dinamismo do comércio de bens com o Brasil, entre 2000 e 2015, o Japão se man-
tinha, em 2016, como um importante parceiro comercial do Brasil. A pauta exportadora do Brasil é
concentrada em bens básicos e semimanufaturados de origem agropecuária e mineral, enquanto a
de importações é essencialmente composta de manufaturados. Nesse sentido, um dos objetivos de
eventuais negociações comerciais com o Japão seria a diversificação das exportações brasileiras, em
especial, de produtos manufaturados.
Também no comércio de serviços, o Japão é um sócio comercial importante do Brasil. A participação
daquele país é ainda maior nos fluxos de IED direcionados ao Brasil: em 2014/2015, o Japão detinha
5% do estoque de IED no país, equivalentes a US$ 26,5 bilhões. Este estoque concentrava-se na indús-
tria de transformação e na extrativa.
12
A política comercial japonesa caracteriza-se pela concentração da proteção em setores agrope-
cuários, por meio de restrições tarifárias e não tarifárias, e em alguns poucos setores industriais,
como couro, calçados e vestuário. Tradicionalmente multilateralista, o Japão desenvolveu, com
maior intensidade a partir da segunda metade da década de 2000, um vetor de política comercial
negociada através de acordos preferenciais, com países do Sudeste Asiático e da costa pacífica
da América Latina.
Mais recentemente, o Japão se engajou nas negociações da Parceria Transpacífica (a TPP) –
concluídas em 2016 - e de acordos com a União Europeia e com China e Coreia do Sul. A entrada
em vigor da TPP e a conclusão bem-sucedida de pelo menos um dos dois grandes acordos em
negociação determinaria a consolidação de uma nova política comercial negociada do Japão,
centrada na dimensão bilateral ou preferencial, em detrimento do multilateralismo.
A experiência do Japão nas negociações de acordos preferenciais confirma a dimensão prote-
cionista de sua política comercial agrícola e explicita a opção por acordos tematicamente abran-
gentes, embora com flexibilidade razoável quanto ao conteúdo específico dos capítulos temá-
ticos incluídos em tais acordos, especialmente quando fatores geopolíticos parecem ter sido
motivação relevante para a negociação daqueles (caso do acordo com a Índia).
Frente a este quadro e do atual perfil da pauta de exportação bilateral do Brasil, os principais
objetivos ofensivos de uma negociação comercial com o Japão na área de bens seriam:
• Reduzir barreiras às exportações de produtos de origem agropecuária; e
• Obter preferências comerciais na área de produtos industriais para reduzir desvan-
tagens geradas por preferências concedidas pelo Japão a países concorrentes do
Brasil e criar condições para uma estratégia de diversificação (de produtos e se-
tores) da pauta exportadora brasileira, que incluiria outros instrumentos de política
comercial, como ações de promoção de exportações.
Com as negociações da TPP e com União Europeia
e China e Coreia do Sul, o Japão vai consolidando
uma política comercial mais centrada na dimensão
bilateral, em detrimento do multilateralismo.
13NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
O Brasil tem um número limitado de produtos (a 6 dígitos) que compõem os seus interesses
ofensivos em eventuais negociações comerciais com o Japão. Do lado dos produtos agrícolas
com presença mínima no mercado japonês ou com potencial de vendas neste mercado, as bar-
reiras tarifárias incluem não apenas as tarifas ad valorem estabelecidas em níveis elevados, mas
também específicas. Aí se concentra o essencial do protecionismo tarifário japonês.
Nas negociações com a Índia, as concessões feitas pelo Japão nessa área foram limitadas,
excluindo número significativo de produtos. A TPP ampliaria as concessões, mas condicionadas
por prazos longos de desgravação, reduções parciais de tarifas e aplicação de salvaguardas
e cotas tarifárias a diversos produtos. Mas a TPP certamente definira, no que se refere a estes
produtos, um novo patamar de oferta de liberalização, que poderia beneficiar países relevantes
concorrentes do Brasil, como Nova Zelândia e EUA, os quais se somariam a países do Sudeste
Asiático e à Austrália entre os beneficiários de preferências japonesas para produtos agrope-
cuários e alimentícios. É esse novo patamar que o Brasil deveria tomar como “piso” em suas
demandas em eventuais negociações com o Japão.
No que se refere a produtos industriais que fazem parte dos interesses ofensivos brasileiros –
químicos, couro e calçados, minerais não metálicos e metalurgia / produtos de metal - nenhum
deles foi excluído do cronograma japonês na TPP, embora alguns poucos produtos se beneficiem
de prazos mais longos de desgravação – principalmente couros e calçados. De forma geral, os
produtos industriais têm suas tarifas – baixas, em sua grande maioria - totalmente eliminadas na
entrada em vigor do acordo. O interesse brasileiro, neste caso, seria obter as mesmas condições
concedidas aos países que conformam a TPP.
No caso do comércio de serviços, de investimentos e de compras governamentais, a lógica bra-
sileira seria a mesma: buscar equalizar as condições de acesso ao mercado japonês, em termos
comparáveis com os oferecidos pelo Japão a seus parceiros na TPP.
As reservas apresentadas pelo Japão em comércio transfronteiriço de serviços e em investimen-
tos não são poucas e a semelhança entre as listas apresentadas pelo Japão nos dois acordos
sugere que a estratégia negociadora deste país é de consolidação do status quo regulatório,
reduzindo fortemente as possibilidades de liberalização adicional através de um acordo bilateral
com o Brasil – um sócio relativamente pouco importante, como ressaltado.
No total são 270 produtos que compõem os interesses
ofensivos do Brasil, sendo que para 41% deles o Japão
aplica algum tipo de tarifa.
14
Em investimentos, as disposições da TPP são muito mais detalhadas do que as do acordo com
a Índia, mas ambos contemplam cláusulas polêmicas como o mecanismo de solução de con-
trovérsias investidor – Estado. Nesta área, o principal desafio para o Brasil seria lidar com as
disciplinas aplicáveis a requisitos de desempenho e com o mecanismo citado. Na realidade, o
modelo de acordo de investimentos adotado pelo Japão, embora flexível, distancia-se bastante
dos Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFIs) do Brasil. Mas não se pode
excluir que o processo de negociação flexibilize posições e permita compromissos mesmo em
temas sensíveis.
Em compras governamentais, não há um capítulo com disposições de acesso a mercados no
acordo com a Índia, em contraste com a TPP, que tem um longo capítulo sobre o tema, incluindo
disciplinas de acesso e listas de entes governamentais e de bens e serviços incluídos no acordo.
O contraste entre os dois acordos nessa área temática sugere que o Japão pode vir a demonstrar
alguma flexibilidade quanto ao escopo do capítulo e/ou a suas disposições de acesso a merca-
do, para contemplar as sensibilidades brasileiras.
Do lado dos interesses ofensivos neste tema, há que se levar em conta que, nos acordos pre-
ferenciais de que o Japão participa e que contam com capítulos específicos de compras gover-
namentais, os compromissos assumidos são praticamente os mesmos dos firmados na esfera
multilateral. Essa afirmação é confirmada pelos compromissos assumidos pelo Japão na TPP.
Neste caso, os patamares a partir dos quais as compras públicas se submetem às disposições
do capítulo são idênticos, para bens, serviços e construção, àqueles adotados pelo Japão no
acordo da OMC. Também nesse caso, o nível de compromissos assumidos pelo Japão na TPP
deveria ser o “piso” para demandas brasileiras que privilegiem os interesses ofensivos.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
O Japão é a terceira maior economia do mundo e tem participação importante no comércio de bens e
serviços, além de ser fonte de significativos IEDs em diferentes regiões do mundo. Trata-se de parceiro
comercial e de investimentos relevante para o Brasil, embora os fluxos de comércio bilateral tenham
perdido dinamismo nos últimos anos.
Na arena das negociações comerciais, o Japão investiu tradicionalmente na esfera multilateral, mas
passou, desde o início dos anos 2000, a celebrar acordos preferenciais bilaterais, sobretudo com paí-
ses do sudeste asiático e latino-americanos (Chile, México e Peru). Mais recentemente, o Japão se
engajou nas negociações da TPP – concluídas em 2016 - e de acordos com a União Europeia e com
China e Coreia do Sul. A entrada em vigor da TPP e a conclusão bem-sucedida de pelo menos um dos
dois grandes acordos em negociação deve consolidar um novo perfil de política comercial negociada
do Japão, centrada agora na dimensão bilateral ou preferencial.
A experiência do Japão nas negociações de acordos preferenciais confirma a dimensão protecionista
de sua política comercial agrícola e explicita a opção por acordos tematicamente abrangentes, embora
com flexibilidade quanto ao conteúdo específico dos capítulos temáticos incluídos em tais acordos,
especialmente quando fatores geopolíticos parecem ter sido motivação relevante para a negociação
daqueles (caso do acordo com a Índia).
1 INTRODUÇÃO
16
Este documento pretende fornecer alguns subsídios para ampliar o conhecimento do setor em-
presarial brasileiro acerca do Japão como potencial parceiro de uma negociação comercial. O
foco do trabalho é colocado nos potenciais interesses ofensivos do Brasil – associados sobretu-
do à exportação de bens – no caso de uma negociação com aquele país.
Para tanto, a seção 2 faz uma apresentação sintética das relações econômicas do Japão com o
mundo, enquanto a seção 3 foca as relações bilaterais com o Brasil. A seção 4 resume algumas
das principais características da política comercial e de investimentos do Japão. Na seção 5,
faz-se, com base em mapeamento prévio realizado pela FUNCEX, a identificação de interesses
ofensivos potenciais do Brasil na área de comércio de bens e analisa-se a posição competitiva
dos produtos identificados, levando-se em consideração as tarifas de nação mais favorecida
(NMF) praticadas para estes produtos pelo Japão, os principais concorrentes do Brasil nos mer-
cados japoneses desses produtos e os compromissos de liberalização firmados pelo Japão
para tais produtos em acordos preferenciais. Nesta seção, que também inclui os compromissos
japoneses em comércio de serviços, investimentos e compras governamentais, são levados em
conta dois acordos preferenciais de perfis muito diversos: a TPP – Parceria Transpacífica – e o
acordo bilateral com a Índia. A seção 6 conclui.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
2 AS RELAÇÕES ECONÔMICAS
DO JAPÃO COM O MUNDO
2.1 O PIB E SUA ESTRUTURA
O Japão respondia, em 2015, pela terceira posição entre as economias de todo o mundo, representan-
do quase 6% da economia global. O país vem registrando baixas taxas de crescimento há muitos anos,
a média anual do período 1990-2000 situando-se em 1,3% e a de 2000-2015 em 0,7%. Nesse último
ano, a taxa de crescimento da economia voltou a alcançar a média dos anos 90, levando o PIB a US$
4.383 bilhões (Tabela 1).
TABELA 1 - PIB DO JAPÃO – VALOR, TAXA DE CRESCIMENTO E POSIÇÃO NA ECONOMIA MUNDIAL
PIB (milhões de US$)
Crescimento PIB 2015 (%)
PIB Japão /PIB mundial
Posição no ranking mundial
4.383.076,30 1,20% 5,91% 3º
Fonte: Banco Mundial, 2016
18
A economia japonesa é amplamente dominada pelos serviços, tendo uma estrutura muito pró-
xima daquela observada para os países de alta renda. Os serviços respondiam, em 2014, por
73,4% do PIB, a indústria por 25,5% (sendo 18% à indústria manufatureira) e a agricultura por
apenas 1% (Gráfico 1). Entre 2000 e 2015, a participação dos serviços no PIB cresceu cinco pon-
tos percentuais, enquanto a da indústria e a da agricultura registraram queda.
GRÁFICO 1 - ESTRUTURA DO PIB DO JAPÃO (2014)
1,1%
25,5%
73,4%
Agricultura Indústria Serviços
Fonte: Banco Mundial
2.2 COEFICIENTES DE ABERTURA E COMÉRCIO EXTERIOR DE BENS
O coeficiente de abertura comercial da economia japonesa experimentou forte crescimento entre
2000 e 2015, passando de pouco menos de 20% para mais de 35% (Tabela 2). Mais do que o
forte crescimento dos fluxos de comércio exterior do país – cujas exportações cresceram apenas
30% e as importações 70% no período – o aumento do coeficiente de comércio reflete essencial-
mente o longo quadro de quase estagnação por que passou a economia japonesa.
TABELA 2 - COEFICIENTE DE ABERTURA COMERCIAL DA ECONOMIA JAPONESA (2000 E 2015)
2000 2015
19,82% 35,59%
Fonte: Banco Mundial
O Japão é o quarto maior exportador do mundo (superado apenas por China, EUA e Alemanha),
sendo, do ponto de vista da composição de suas vendas externas, essencialmente um expor-
tador de manufaturas, que responde por 88% das exportações do Japão. Minérios e metais
ocupam a segunda posição, com 2,5%, enquanto alimentos e matérias primas agrícolas não
alcançam nem 1% do total (Gráfico 2).
19NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
GRÁFICO 2 - COMPOSIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DO JAPÃO EM 2015
88,0%
2,5%1,8%
0,8%0,8%
6,1%
Manufaturas
Minérios e metais
Combustíveis
Alimentos
Matérias primas agrícolas
Outros
Fonte: Banco Mundial, 2016.
A maioria das exportações japonesas (55,6%) é direcionada à região da Ásia-Pacífico, cabendo
aos EUA 20,2% e à União Europeia 11,4% (Gráfico 3). A América Latina responde por apenas
4,2% das exportações japonesas, e o Brasil, 0,6%. Enquanto as exportações totais do Japão
cresceram lentamente entre 2000 e 2015 (acumulando crescimento de apenas 30% no período),
aquelas direcionadas a países em desenvolvimento da Ásia tiveram desempenho mais dinâmico,
mais do que duplicando em valor, especialmente até 2011/2012 – fenômeno muito provavelmen-
te associado à operação das cadeias regionais na Ásia e à emergência da China. Nos anos mais
recentes, no entanto, este dinamismo regional das exportações japonesas parece ter perdido o
fôlego e as exportações do país para a região – e para a China – vêm registrando redução.
GRÁFICO 3 - EXPORTAÇÕES DO JAPÃO POR PAÍSES E REGIÕES DE DESTINO EM 2016
20,2%
11,4%
55,6%
4,2% 8,6% EUA
UE
Ásia-Pacífico
América Latina e Caribe
Demais
Fonte: FMI.
20
Também do lado das importações, o comércio exterior japonês é dominado pelos produtos ma-
nufaturados, embora com intensidade bem menor do que o observado nas exportações do país.
Sessenta por cento das importações do Japão são manufaturas, os combustíveis (20,5%), os
alimentos (10%) e, em posição menos relevante, os minérios e metais (6,4%). Matérias primas
agrícolas têm peso quase marginal do total das importações de bens, em 2015 (Gráfico 4).
GRÁFICO 4 - COMPOSIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES DO JAPÃO EM 2015
59,9%20,5%
10,0%
6,4%
1,8% 1,4%
Manufaturas
Combustíveis
Alimentos
Minérios e metais
Outros
Matérias primas agrícolas
Fonte: Banco Mundial
A região da Ásia-Pacífico tem, nas importações japonesas em 2015, participação praticamente
idêntica àquela registrada nas exportações: 56%. A União Europeia supera os EUA no ranking de
países ou regiões de origem das importações do Japão – invertendo as posições registradas do
lado das exportações – a América Latina tem participação apenas um pouco inferior à observada
nas exportações, mas o peso do Brasil (1,2%) e dos “Demais Países” praticamente duplica nas
importações, comparadas estas às exportações. Portanto, indo além da região da Ásia-Pacífico
(a vizinhança geográfica do Japão), a pauta de importação é nitidamente mais diversificada geo-
graficamente do que a de exportações (Gráfico 5).
GRÁFICO 5 - IMPORTAÇÕES DO JAPÃO POR PAÍSES E REGIÕES DE DESTINO EM 2016
11,4%
12,4%
56,1%
3,7%
16,4%
EUA
UE
Ásia-Pacífico
América Latina e Caribe
Demais
Fonte: FMI
21NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
2.3 O COMÉRCIO DE SERVIÇOS
O Japão é o sexto maior exportador e importador mundial de serviços, superado apenas por
EUA, China e as três maiores economias da União Europeia (Alemanha, França e Reino Unido).
Os fluxos de comércio de serviços do país, em 2015, superaram os US$ 330 bilhões, sendo,
nesse ano, bastante equilibrados: US$ 158 bilhões na exportação e US$ 174 bilhões nas impor-
tações (Tabela 3). Entre 2005 e 2015, as exportações de serviços cresceram 59% contra apenas
27% das importações, o baixo dinamismo destas provavelmente apontando para as baixas taxas
de crescimento da demanda doméstica japonesa no período.
TABELA 3 - EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DE SERVIÇOS DO JAPÃO EM 2015 – (EM US$ BILHÕES)
Exportações Importações
158,2 174,4
Fonte: Banco Mundial
Em 2015, as exportações japonesas de serviços eram compostas principalmente por serviços
comerciais modernos (computação e TI, serviços gerenciais e de consultoria etc), que respon-
diam por 54% do total, contra 46% dez anos antes. Também registravam participação crescente
na pauta as viagens (de 12% para 16%, entre 2005 e 2015), enquanto se reduzia significativamen-
te o peso dos transportes: de 36% para 22%. EUA (25%), União Europeia (17%), China (10%) e
Cingapura (6%) eram, em 2014, os principais destinos das exportações japonesas de serviços.
Do lado das importações, registram-se as mesmas tendências, mas com maior intensidade: a
participação dos serviços comerciais modernos passou de 40% para 61%, entre 2005 e 2015, en-
quanto os transportes reduziam seu peso de 29% para 23% e as viagens de 27% para 9%. Já os
serviços financeiros e de seguros registravam expressivo crescimento, duplicando sua pequena
participação de 2005 (3%). Os principais parceiros do Japão nas importações de serviços deste
país são os mesmos identificados do lado das exportações: EUA (30% do total das importações
em 2014), União Europeia (19%), China (7%) e Cingapura (6%).
Portanto, à diferença do que ocorre no comércio de bens, em que os principais parceiros do
Japão são os países do sudeste asiático, no comércio de serviços essa posição é ocupada por
EUA e pela União Europeia.
22
2.4 OS INVESTIMENTOS EXTERNOS DIRETOS
Embora esteja entre as maiores economias do mundo e entre os principais players no comércio
internacional de bens e serviços, o Japão recebe uma parcela marginal dos fluxos e do estoque
mundial de IED, como se constata na Tabela 4. No que se refere aos fluxos de IED recebidos, a
participação japonesa no total mundial foi de 0,16%, em 2014, e de -0,13%, em 2015. O valor ab-
soluto dos fluxos que crescera significativamente no período anterior à crise de 2008, chegando
a superar US$ 20 bilhões/ano, caiu de forma expressiva a partir de 2010, oscilando entre mais e
menos US$ 2 bilhões.
TABELA 4 - FLUXOS E ESTOQUES DE IEDS RECEBIDOS PELO JAPÃO– 2014/2015 (EM US$ MILHÕES E %)
2014 2015
Fluxos (em US$ milhões) 2.090 - 2.250
Fluxos (% mundo) 0,16% -0,13%
Estoques (em US$ milhões) 171.663 170.698
Estoques (% mundo) 0,68% 0,68%
Fonte: UNCTAD
No tocante aos estoques, essa participação é um pouco maior do que a observada nos fluxos,
mas não vai além de 0,6%, em 2015 (e de pouco mais de 1% para o conjunto de países desen-
volvidos). Também nesse caso, o valor absoluto dos estoques registrou queda importante, redu-
zindo-se em cerca de 25%, entre 2011 e 2015. A baixa participação do Japão como receptor de
IED é uma característica que distingue o país entre as grandes economias desenvolvidas.
Os investimentos externos diretos recebidos pelo Japão, embora pouco significativos, têm ori-
gem geográfica diversificada: 42% do estoque total de IED recebido procedem de países da
União Europeia, 30% dos EUA e 19% de países da Ásia-Pacífico. Paraísos fiscais e outras origens
respondem juntos por apenas 10% do estoque total (Tabela 5).
TABELA 5 - ESTOQUE DE IED RECEBIDOS PELO JAPÃO POR PAÍSES E REGIÕES DE ORIGEM – 2015 (EM %)
EUA UE Ásia e
PacíficoAmérica Latina
Paraísos fiscais
DemaisNão especificado e
ConfidencialTotal
30,2% 41,9% 18,7% 0,0% 5,2% 6,0% -2,0% 100,0%
Fonte: UNCTAD
23NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
Se o Japão é um destino quase irrelevante de IED, o país é um importante emissor de investi-
mentos diretos no exterior (Tabela 6). Os fluxos de IED emitidos se mantêm acima dos US$ 100
bilhões anuais desde 2011 e, em 2014 e 2015, representaram mais de 8% do total mundial. Nes-
ses dois anos, o Japão foi o terceiro maior emissor de IED (depois de EUA e China).
TABELA 6 - FLUXOS E ESTOQUES DE IED EMITIDOS PELO JAPÃO – 2014/2015 (EM US$ MILHÕES E %)
2014 2015
Fluxos (em US$ milhões) 113.595 128.654
Fluxos (% mundo) 8,6% 8,7%
Estoques (em US$ milhões) 1.152.006 1.226.554
Estoques (% mundo) 4,6% 4,8%
Fonte: UNCTAD
A participação do país no estoque de IED emitidos é também muito expressiva, além de cres-
cente. Em 2015, seu total era da ordem de US$ 1,23 trilhão, respondendo por quase 5% do IED
emitido no mundo nesse ano. Em 2000, essa participação era de 3,7% e seu incremento foi pro-
gressivo, mas constante, entre 2000 e 2015. Nesse último ano, o Japão ocupava a sexta posição
entre os emissores de IED, atrás da China (com Hong Kong incluído), EUA e as três maiores
economias europeias.
O estoque de IED japonês no mundo distribui-se, em 2015, em proporções praticamente idênti-
cas entre a região da Ásia-Pacífico e os EUA, cada um com cerca de 1/3 do estoque total. A União
Europeia responde por 20% e a América Latina por 2,5% do total. Observe-se que a participação
dos paraísos fiscais como destino do IED japonês é quase marginal – apenas 1,5% (Tabela 7).
TABELA 7 - ESTOQUE DE IED EMITIDOS PELOS JAPÃO POR PAÍSES E REGIÕES – 2015 (EM %)
EUA UE Ásia e
PacíficoAmérica Latina
Paraísos fiscais
Demais Não especificado Total
33,7 20,4 34,3 2,5 1,3 3,0 4,8 100,0
Fonte: FMI
24
2.5 COMPRAS GOVERNAMENTAIS
Em 2013, o mercado de compras governamentais do Japão era estimado em 16,2% do PIB, con-
tra 13% na média da OCDE, sendo o terceiro maior do mundo, com US$ 393,1 bilhões1 . O valor
das compras governamentais do Japão, naquele ano, representava 38,3% dos gastos totais do
governo – nitidamente acima da média da OCDE (29%). As políticas de compras governamentais
adotadas pelo Japão contemplam objetivos como a promoção de bens e serviços “verdes”, o
apoio a pequenas e médias empresas e à inovação.
Cerca de 70% das compras governamentais do Japão são efetuadas por governos subcentrais,
percentual também superior ao da média da OCDE e que coloca o Japão na oitava posição por
este critério, entre os 31 países-membros da Organização, em 2013.
A participação dos fornecedores estrangeiros no mercado de compras públicas do Japão é
pequena em termos agregados (cerca de 3%, em valor, em 2014), mas pode ser bastante ex-
pressiva em certos setores, especialmente no caso da indústria e de produtos minerais. Dentro
dos setores da indústria, a participação estrangeira é maior em produtos farmacêuticos, veículos
ferroviários, equipamentos médicos e instrumentos científicos – todos eles setores em que o
valor das compras públicas foi expressivo em 2014. No caso de serviços, a participação de for-
necedores estrangeiros é marginal, exceto alguns poucos setores em que as compras públicas
são pouco significativas. Entre os países de origem dos fornecedores estrangeiros que obtiveram
contratos de compras públicas no Japão, destacam-se os EUA e a União Europeia.
1 Fonte: UN National Accounts Statistics e United States GAO, Report to Congressional Requesters, 2015.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
3 RELAÇÕES BILATERAIS
BRASIL - JAPÃO
3.1 O COMÉRCIO DE BENS
O Japão é um importante parceiro comercial do Brasil, sendo destino, em 2016, de 2,5% das exporta-
ções e por 2,6% das importações brasileiras. Para o Japão, o Brasil é um parceiro comercial de peso
relativamente menor, já que foi destino, no mesmo ano, de apenas 0,5% das exportações e origem de
0,7% das importações totais daquele país (Tabela 8).
Entre 2000 e 2015, a participação do Japão no comércio exterior brasileiro se reduziu drasticamente, de
4,5% para 2,5%, nas exportações, e de 5,3% para 2,8%, nas importações. Em 2016, a participação nas
exportações se manteve, mas aquela nas importações teve pequena redução adicional.
TABELA 8 - COMÉRCIO BILATERAL BRASIL – JAPÃO EM 2016 (MILHÕES DE US$ E %)
Exportação Importação
Valor (em US$ milhões) % mundo Valor (em US$ milhões) % mundo
4.604,3 2,5% 3.566,4 2,6%
Fonte: MDIC
26
A corrente de comércio bilateral experimentou forte crescimento entre 2002 e 2008, quando atin-
giu praticamente US$ 13 bilhões. Após a forte queda observada em 2009 – como efeito da crise
internacional – os fluxos bilaterais retomaram seu dinamismo em 2010 e 2011, quando atingiram
US$ 17,3 bilhões. Nos dois anos subsequentes, este patamar não se manteve, mas a corrente
de comércio se sustentou ainda acima dos US$ 15 bilhões.
É a partir de 2014 que o valor do comércio bilateral passa a sofrer fortes quedas anuais, redu-
zindo-se para US$ 12,6 bilhões, naquele ano, para US$ 9,7 bilhões, em 2015, e para US$ 8,2
bilhões, em 2016. Nesse último ano, portanto, o valor do comércio bilateral de bens representava
menos de 50% do registrado no melhor ano do período 2000 – 2015 (2011). A redução observada
se manifesta com intensidade semelhante nas exportações e importações.
No período entre 2009 e 2014, o Brasil teve saldos comerciais bilaterais expressivos, embora com fortes
oscilações ano a ano. Em 2015, o Brasil registrou pequeno déficit bilateral, mas em 2016 retomou a traje-
tória de geração de saldos positivos – e neste caso, com valor expressivo (pouco mais de US$ 1 bilhão).
A composição da pauta brasileira de exportações bilaterais é fortemente concentrada em produ-
tos básicos e semimanufaturados, de origem agropecuária e mineral, a única exceção, entre os
“dez mais” sendo o capítulo 88 – aeronaves. Os dez principais capítulos do SH na pauta repre-
sentaram, em 2016, 83% das exportações bilaterais do Brasil e apenas os quatro primeiros juntos
respondem por quase 60% destas exportações. Nesse sentido, do ponto de vista do Brasil, um
dos objetivos de eventuais negociações comerciais com o Japão seria buscar a diversificação de
sua pauta bilateral de exportações e, em especial, de produtos manufaturados.
TABELA 9 - EXPORTAÇÕES DO BRASIL AO JAPÃO - PRINCIPAIS CAPÍTULOS EM 2016
Capítulo Descrição do SH2 US$ milhões Part. sobre o total
26 Minérios, escórias e cinzas 1.101,0 23,91%
2 Carnes e miudezas, comestíveis 727,0 15,79%
10 Cereais 456,5 9,92%
9 Café, chá, mate e especiarias 414,7 9,01%
76 Alumínio e suas obras 248,5 5,40%
72 Ferro fundido, ferro e aço 246,0 5,34%
88 Aeronaves e outros aparelhos aéreos, e suas partes 218,9 4,75%
12 Sementes e frutos oleaginosos, grãos, sementes 180,5 3,92%
47 Pastas de madeira ou matérias fibrosas celulósicas 113,1 2,46%
20 Preparações de produtos hortícolas, de frutas 109,9 2,39%
Total dos 10 principais capítulos 3.816,1
Total de exportações para o Japão 4.604,3
Part. dos 10 caps. no total de exp. para o Japão 82,88%
Fonte: MDIC
27NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
Do lado das importações, a pauta também é bastante concentrada em torno dos dez principais
capítulos, 90% do total importado pelo Brasil em 2016. Nove dos dez principais capítulos da pau-
ta de 2016 se referem a produtos manufaturados (o único capítulo de semimanufaturados, é o
décimo), com destaque para bens de capital e de consumo durável: aparelhos mecânicos, com
veículos automotores e equipamentos e aparelhos eletroeletrônicos e instrumentos e aparelhos
de óptica. Esses quatro capítulos representam 67% das importações do Brasil. Três capítulos
da cadeia química (químicos orgânicos, plásticos e borracha) também estão representados no
ranking, além de dois capítulos do setor siderúrgico.
TABELA 10 - IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS DO JAPÃO – PRINCIPAIS CAPÍTULOS EM 2016
Capítulos Descrição do SH2 US$ milhões Part. sobre o total
84 Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos 938,0 26,30%
87 Veículos automóveis, tratores e suas partes/acessórios 655,5 18,38%
85 Máquinas, aparelhos e material elétricos, suas partes 458,1 12,84%
90 Instrumentos e aparelhos de óptica, fotografia, etc. 264,9 7,43%
29 Produtos químicos orgânicos 252,5 7,08%
73 Obras de ferro fundido, ferro ou aço 220,4 6,18%
39 Plásticos e suas obras 132,5 3,72%
88 Aeronaves e outros aparelhos aéreos e suas partes 101,1 2,83%
40 Borracha e suas obras 96,7 2,71%
72 Ferro fundido, ferro e aço 89,9 2,52%
Total dos 10 principais capítulos 3.209,5
Total de importações vindas do Japão 3.566,4
Part. dos 10 caps. no total de imp. Vindas do Japão 89,99%
Fonte: MDIC
3.2 O COMÉRCIO DE SERVIÇOS
O Japão é um parceiro relativamente importante do Brasil no comércio de serviços: em 2015, foi
o sétimo principal destino das exportações (com 2,7% do total) e o nono país de origem das im-
portações brasileiras (com 1,7% do total). A corrente bilateral de comércio de serviços alcançou,
nesse ano, US$ 1,3 bilhão e o Brasil registrou déficit equivalente a US$ 258 milhões, ou seja, 20%
da corrente comercial (Tabelas 11 e 12).
28
TABELA 11 - EXPORTAÇÕES DE SERVIÇOS DO BRASIL – PRINCIPAIS DESTINOS EM 2015 (MILHÕES DE US$)
Destinos Valor % sobre total Mundo
Estados Unidos 6.165,2 32,51%
Holanda 1.778,6 9,38%
Alemanha 1.093,0 5,76%
Reino Unido 899,0 4,74%
Suíça 876,0 4,62%
França 609,8 3,22%
Japão 514,4 2,71%
Cayman, Ilhas 455,0 2,40%
Argentina 398,3 2,10%
Colômbia 378,8 2,00%
Total 13.168,1 69,44%
Fonte: MDIC
TABELA 12 - IMPORTAÇÕES DE SERVIÇOS DO BRASIL – PRINCIPAIS ORIGENS EM 2015 (MILHÕES DE US$)
Origens Valor % sobre mundo
Estados Unidos 13.050,28 28,63%
Holanda 11.905,24 26,12%
Reino Unido 2.625,79 5,76%
Alemanha 2.604,43 5,71%
Noruega 1.739,08 3,82%
França 1.337,77 2,93%
Uruguai 1.233,48 2,71%
Suíça 1.079,40 2,37%
Japão 772,33 1,69%
Espanha 728,39 1,60%
Total 37.076,19 81,34%Fonte: MDIC
Quatro setores se destacam nas exportações brasileiras de serviços para o Japão: outros ser-
viços profissionais (34%), serviços financeiros (17%), serviços de apoio aos transportes (14%) e
serviços de distribuição de mercadorias (10%). Juntos, esses quatro setores representaram 75%
das exportações bilaterais do Brasil, em 2015 (Tabela 13). Outros setores com participação rele-
vante, embora secundária, são os de serviços jurídicos e contábeis (7%), serviços de transporte
de carga (6%) e serviços de apoio às atividades empresariais (5%).
29NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
TABELA 13 - EXPORTAÇÕES DE SERVIÇOS DO BRASIL PARA O JAPÃO – SETORES EM 2015
Setor US$ mil Part. sobre o total
Outros Serviços profissionais 171.086,0 33,72%
Serviços financeiros e relacionados; securitização de recebíveis e fomento comercial
84.824,0 16,72%
Serviços de apoio aos transportes 70.153,9 13,83%
Serviços de distribuição de mercadorias; serviços de despachante aduaneiro
51.178,1 10,09%
Serviços Jurídicos e Contábeis 34.993,4 6,90%
Serviços de transporte de cargas 30.120,3 5,94%
Serviços de apoio às atividades empresariais 27.423,7 5,41%
Serviços de manutenção, reparação e instalação 16.535,0 3,26%
Fornecimento de alimentação e bebidas e serviços de hospedagem
9.425,4 1,86%
Serviços de telecomunicação, difusão e fornecimento de informações
5.315,8 1,05%
Arrendamento mercantil operacional, propriedade intelectual, franquias empresariais e exploração de outros serviços
2.017,0 0,40%
Serviços de pesquisa e desenvolvimento 1.966,5 0,39%
Serviços de tecnologia da informação 1.481,0 0,29%
Cessão de direitos de propriedade intelectual 362,3 0,07%
Serviços educacionais 307,9 0,06%
Serviços de transporte de passageiros 148,0 0,03%
Serviços pessoais 16,6 0,00%
Serviços relacionados à saúde humana e de assistência social 10,2 0,00%
Fonte: MDIC
Nas importações, o setor com maior peso é o de arrendamento mercantil operacional, proprie-
dade intelectual, franquias empresariais – que também tem participação muito expressiva nas
importações totais de serviços do Brasil e que se refere em geral à operação de empresas que
atuam na área de petróleo e gás. Esse setor respondeu, em 2015, por cerca de 40% das impor-
tações bilaterais de serviços do Brasil, seguido por serviços de transporte de cargas (19%), servi-
ços financeiros e relacionados (16%), serviços de apoio a atividades empresariais (10%) e outros
serviços profissionais (8%). Juntos, esses cinco setores responderam por 93% das importações
brasileiras de serviços com origem no Japão.
30
TABELA 14 - IMPORTAÇÕES DE SERVIÇOS DO JAPÃO PELO BRASIL – SETORES EM 2015
Setor Valor Part. sobre ototal
Arrendamento mercantil operacional, propriedade intelectual, franquias empresariais e exploração de outros serviços
305.016,9 39,65%
Serviços de transporte de cargas 142.897,8 18,58%
Serviços financeiros e relacionados; securitização de recebíveis e fomento comercial
121.263,6 15,76%
Serviços de apoio às atividades empresariais 76.870,0 9,99%
Outros Serviços profissionais 59.240,7 7,70%
Cessão de direitos de propriedade intelectual 28.332,3 3,68%
Serviços de apoio aos transportes 11.939,8 1,55%
Serviços de manutenção, reparação e instalação 5.711,2 0,74%
Serviços de tecnologia da informação 5.465,6 0,71%
Serviços de pesquisa e desenvolvimento 4.279,7 0,56%
Serviços de telecomunicação, difusão e fornecimento de informações
1.960,9 0,25%
Serviços de distribuição de mercadorias; serviços de despachante aduaneiro
1.819,7 0,24%
Serviços Jurídicos e Contábeis 1.110,8 0,14%
Serviços de transporte de passageiros 1.069,9 0,14%
Serviços educacionais 1.018,2 0,13%
Fornecimento de alimentação e bebidas e serviços de hospedagem
455,9 0,06%
Serviços imobiliários 358,1 0,05%
Serviços postais; serviços de coleta, remessa ou entrega de documentos (exceto cartas) ou de pequenos objetos; serviços de remessas expressas
167,9 0,02%
Serviços recreativos, culturais e desportivos 141,0 0,02%
Serviços de publicação, impressão e reprodução 82,8 0,01%
Serviços pessoais 51,7 0,01%
Serviços relacionados à saúde humana e de assistência social 15,7 0,00%Fonte: MDIC
3.3 OS INVESTIMENTOS DIRETOS
O Japão é um dos principais investidores externos no Brasil. No biênio 2014/2015, os fluxos
anuais líquidos de IED originados no Japão foram de US$ 3,3 bilhões, o quinto maior investidor
externo no Brasil. Na comparação com o biênio 2009/2010, o Japão subiu duas posições no
ranking dos países com IED no Brasil e os fluxos registraram um incremento significativo na com-
paração com 2009/2010 (Tabela 15).
31NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
TABELA 15 - FLUXOS ANUAIS LÍQUIDOS DE IED RECEBIDOS PELO BRASIL POR PAÍSES DE ORIGEM, EM 2009/2010 E 2014/2015 (MILHÕES DE US$)
Total recebido (Ingresso - Retorno)
2009/2010 2014/2015
Total Percentual Total Percentual
Países Baixos 6.608,5 15,7% 10.182,3 17,9%
Estados Unidos 5.523,0 13,1% 7.613,4 13,4%
Luxemburgo 4.677,9 11,1% 6.629,1 11,6%
Espanha 2.474,0 5,9% 6.265,7 11,0%
Japão 2.087,4 5,0% 3.328,5 5,8%
França 2.809,9 6,7% 2.893,0 5,1%
Alemanha 1.505,5 3,6% 2.513,6 4,4%
Reino Unido 1.030,8 2,4% 1.687,6 3,0%
Suíça 3.412,5 8,1% 1.549,1 2,7%
Noruega 1.105,5 2,6% 1.499,5 2,6%
Total 42.131,4 100,0% 57.003,2 100,0%
Fonte: BACEN
A relevância japonesa é confirmada pelos dados de estoque de IED detido por investidores do
país no Brasil em 2014, tanto pelo critério de investidor imediato quanto pelo de investidor final.
Como se observa na Tabela 16, o estoque de IED japonês no Brasil superava, em 2014, US$ 26,5
bilhões em qualquer dos dois critérios, representando 5% do estoque total de IED no país.
TABELA 16 - ESTOQUE DE IED JAPONÊS – PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL - NO BRASIL EM 2014
Investidor Imediato(US$ milhões)
Percentual MundoInvestidor Final (US$ milhões)
Percentual Mundo
26.573 5,0% 26.820 5,0%
Fonte: BACEN
Em termos de composição setorial do estoque de IED detido por investidores japoneses no
Brasil, em 2014, a indústria de transformação concentra quase 50% do estoque no Brasil, ca-
racterizando uma nítida especialização setorial (Tabela 17). Outros dois setores relevantes, do
ponto de vista destes investimentos, são os de indústrias extrativas (com pouco mais de 20%) e
o de atividades financeiras e de seguros (14%). Nestes três setores concentram-se 84% do IED
japonês no Brasil. O setor de comércio e reparação de veículos automotores representou 7%.
32
TABELA 17 - IED DO JAPÃO NO BRASIL POR SETORES DE DESTINO EM 2014
Setores Total (US$ milhões) Part. sobre o total
Agricultura, Pecuária, Produção Florestal e Aquicultura 147 0,55%
Indústrias Extrativas 5 497 20,68%
Indústrias de Transformação 13 204 49,69%
Eletricidade e Gás 579 2,18%
Construção 244 0,92%
Comércio, Reparação de Veículos Automotores e Motocicletas 1 894 7,13%
Transporte, Armazenagem e Correio 821 3,09%
Alojamento e Alimentação 32 0,12%
Informação e Comunicação 52 0,20%
Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados 3 720 14,00%
Atividades Imobiliárias 31 0,12%
Outros 351 1,32%
Total 26.573 100,00%
Fonte: BACEN
Do lado dos investimentos externos brasileiros, a participação do Japão como país de destino é
marginal. Em 2015, o estoque de IED do Brasil naquele país atingia, segundo dados do Banco
Central do Brasil, apenas US$ 120 milhões, ou seja, menos de 0,05% do estoque de IED brasileiro
no mundo. Já os fluxos anuais líquidos de IED do Brasil no Japão que, em 2009/2010, haviam
sido de US$ 43 milhões, tiveram forte redução nos últimos anos, não ultrapassando US$ 4,5 mi-
lhões, em 2014/2015.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
4 AS POLÍTICAS COMERCIAIS E
DE INVESTIMENTOS DO JAPÃO
4.1 A POLÍTICA COMERCIAL UNILATERAL: TARIFAS E MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL
A política tarifária do Japão compreende as tarifas de nação mais favorecida (NMF), os vários tratamen-
tos tarifários favorecidos negociados em acordos preferenciais e os esquemas de concessão unilateral
a países menos desenvolvidos e em desenvolvimento, do tipo Sistema Geral de Preferências (SGP),
programa que o Brasil era beneficiário até 2016, mas foi excluído no mínimo até o ano de 2019. O Ja-
pão consolidou na OMC 98,2% das linhas tarifárias. As linhas tarifárias não consolidadas se referem a
produtos do mar (peixes, crustáceos etc), petróleo e madeira.
Em 2016, a tarifa NMF variava entre zero e 389%. A média (simples) do universo tarifário era de 6,1%,
mas entre produtos agrícolas esta média sobe para 16,3%, em contraste com a observada para produ-
tos industriais, de 3,6%. A grande maioria das linhas tarifárias tem tarifas ad valorem (93,1% do universo
tarifário), sendo que 40,1% das linhas tarifárias são duty free (tarifa zero). Às restantes linhas tarifárias
– 6,8% do total – aplicam tarifas específicas, seja isoladamente (2,7%), seja em combinação ou alter-
nância com tarifas ad valorem (4,2%).
O tratamento diferenciado conferido pela política tarifária japonesa aos produtos agrícolas pode ser
avaliado a partir dos dados da Tabela 18. No caso de produtos industriais, 97,1% das linhas tarifárias
34
têm alíquotas entre zero e 10% e apenas 0,6% têm alíquotas superiores a 15%. Entre os produtos
agrícolas, estes percentuais são de respectivamente 71,6% e 20,3%. Portanto, é entre os produ-
tos agrícolas que se encontra a quase totalidade dos chamados “picos” tarifários.
Outro indicador relevante do tratamento protecionista conferido a produtos agrícolas é a presen-
ça de tarifas específicas, de cotas tarifárias e de produtos sujeitos a salvaguardas. Quase ¼ dos
produtos agrícolas está sujeito a uma destas três medidas, enquanto entre os produtos indus-
triais o percentual é de apenas 2%. Alimentos e produtos vegetais são aqueles em que, entre
os produtos agrícolas, concentra-se o maior número de linhas tarifárias submetidas a alíquotas
não ad valorem. No caso dos produtos industriais, este tipo de alíquotas se concentra em têxteis
e vestuário, mas a participação de tarifas não ad valorem nas linhas tarifárias é particularmente
elevada em calçados, em que quase 25% das linhas tarifárias estão sujeitas a este tipo de tarifas.
TABELA 18 - DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DAS ALÍQUOTAS DAS TARIFAS NMF DO JAPÃO PARA PRODUTOS AGRÍCOLAS E NÃO AGRÍCOLAS EM 2015 (%)
Alíquotas (%) Japão
Agrícola Não agrícola
Duty-free 36,5 55,7
0 <= 5 18,0 26,1
5 <= 10 17,1 15,3
10 <= 15 7,2 2,1
15 <= 25 11,1 0,4
25 <= 50 6,2 0,2
50 <= 100 0,7 0,0
> 100 2,3 0,0
Percentual de tarifas NAV 11,6 2
Cotas tarifárias 6,2
Percentual sujeito a salvaguardas 5,4
Fonte: OMC
Entre os produtos industriais, as médias tarifárias setoriais são em geral bastante baixas (entre
zero e 2,2%), exceto para três setores: têxteis (5,4%), vestuário (9,0%) e couro e calçados (8,9%).
No caso de vestuário, apenas 1,9% das linhas tarifárias tem alíquotas igual a zero, enquanto em
têxteis este percentual é de 8,1%. Isso em contraste com a maioria dos setores industriais, em
que a participação das linhas tarifárias com alíquota zero supera 70% (Tabela 26).
35NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
TABELA 19 - ALÍQUOTAS NMF MÉDIAS DAS TARIFAS DE PRODUTOS INDUSTRIAIS NO JAPÃO EM 2015 (%)
Setor Média Tarifa zero Faixa
Produtos minerais e metais 1,0 70,4 0-10
Químicos 2,2 38,8 0-7
Madeira, celulose, papel e móveis 0,8 80,8 0-10
Têxteis 5,4 8,1 0-25
Vestuário 9,0 1,9 0-13
Couro, borracha e calçados 8,9 54,1 0-371
Equipamentos mecânicos 0,0 100 0
Equipamentos elétricos 0,1 97,8 0-5
Material de transporte 0,0 100 0
Outros setores 1,2 75,7 0-8
Fonte: OMC
As tarifas preferenciais praticadas unilateralmente pelo Japão derivam do seu SGP, que beneficia
138 países em desenvolvimento (inclusive a China) - e do tratamento ainda mais favorável (duty
free quota free) concedido às importações de 47 países menos desenvolvidos. Como menciona-
do anteriormente, o Brasil deixou de ser beneficiário deste programa no ano de 2016.
Sob o SGP, a alíquota média praticada é de 5% (contra 6,1% para as tarifas NMF), sendo 2,6%
(contra 3,6%) para produtos industriais e 15,3% (contra 16,3%) para produtos agrícolas. Sob este
regime, a 58% das linhas tarifárias aplica-se alíquota zero (contra 40,1% para a tarifa NMF).
Sob o esquema de preferências favorecendo os países menos desenvolvidos, a alíquota média
cai para 0,5%, a 97,9% das linhas tarifárias aplica-se alíquota zero e as alíquotas médias para
produtos industriais (0,2%) e principalmente agrícolas (1,7%) sofrem reduções muito expressivas
em comparação com as tarifas NMF praticadas pelo país.
No que diz respeito às medidas de defesa comercial, o Japão não é um usuário relevante de
medidas antidumping. No final de 2016, estavam em vigor apenas seis medidas antidumping e
um caso sob investigação. Das medidas em vigor, três se aplicam a importações provenientes
da China, mesmo país de origem do produto sob investigação à época. Em relação a medidas
compensatórias aplicadas em resposta a subsídios, não há nenhuma em vigor.
4.2 O REGIME DE POLÍTICA APLICÁVEL AOS SERVIÇOS E AOS INVESTIMENTOS EXTERNOS
As políticas aplicáveis aos serviços variam conforme os setores a que se destinam e incluem
medidas de fronteira e regulações domésticas. Foge ao escopo desse trabalho uma análise mais
36
profunda deste tema, mas cabe avaliar, de forma estilizada, o grau de restrição ao comércio de
serviços vigente no Japão, especialmente na comparação com outros países desenvolvidos.
Para tanto, recorreu-se ao Services Trade Restrictiveness Index, elaborado pela Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que permite posicionar o Japão, quanto ao
grau de restrição comercial de suas regulações aplicadas aos serviços, entre seus pares.
Comparando primeiro os graus de restrição vigentes em uma amostra de doze2 setores relevan-
tes de serviços no Japão, observa-se que ele é particularmente elevado em transporte aéreo,
transporte marítimo, operadores de logística, bancos comerciais, telecomunicações, além de
contabilidade (um dos chamados serviços profissionais)3 . Os índices mais baixos se encontram
em construção, distribuição e audiovisual.
Na comparação internacional (com outros seis países desenvolvidos)4, o nível de restrição iden-
tificado no Japão, a partir dos índices da OCDE para a amostra de setores aqui utilizada, nunca
aparece como o maior. O Japão é o segundo mais restritivo em operador de logística e bancos
comerciais, mas em nove dos outros dez setores o país aparece entre a quarta e a sétima posi-
ção (em sete países) quanto ao grau de restrição. Este é menor, em termos relativos, em setores
como construção, audiovisual e transporte aéreo – em que o Japão ocupa a sétima posição nes-
se grupo de países – ou em serviços de computação, distribuição, contabilidade e engenharia,
em que o Japão detém a quinta ou sexta posição em sete países.
É possível, portanto, concluir, à luz dos indicadores da OCDE, que, embora haja variação signi-
ficativa entre os índices setoriais de restrição no Japão, esses são, em geral, inferiores aos dos
outros países desenvolvidos5.
No que se refere ao regime de investimentos externos, a política oficial é intensificar esforços
para atrair investimentos em um contexto em que a participação do IED na economia japonesa
é anormalmente baixa, como já se constatou nesse trabalho. As medidas de incentivo envolvem
em boa medida a melhoria do ambiente de negócios, através da redução das alíquotas de im-
postos corporativos e de incentivos específicos. O objetivo governamental é duplicar o IED até
2020 e foi criado, em 2014, o Conselho para a Promoção do IED, organismo interministerial que
busca catalisar esforços para assegurar que o objetivo de política visado possa ser alcançado.
2 Bancos comerciais, seguros, construção, distribuição, serviços de computação, telecomunicações, transporte marítimo, transporte aéreo, audiovisual, engenharia, contabilidade, operadores de logística. 3 Entre os serviços profissionais, o grau de restrição é maior em serviços legais e em contabilidade. Para serviços de arquitetura e engenharia, os índices são nitidamente menores. 4 EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá e Coreia do Sul. 5 E também muito inferiores, para os 12 setores considerados, aos indicadores referentes ao Brasil.
37NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
4.3 A POLÍTICA COMERCIAL NEGOCIADA: COMPROMISSOS NA OMC E EM ACORDOS PREFERENCIAIS
O Japão tem uma forte tradição de compromisso com o multilateralismo e suas incursões no ter-
reno dos acordos preferenciais de comércio são recentes e – pelo menos até a sua participação
na Parceria Transpacífica (a TPP) - bastante limitadas.
Na esfera multilateral, o Japão participou tradicionalmente das Rodadas de negociação do
GATT/OMC, tendo inclusive sediado uma delas (a Rodada Tóquio, de 1973 a 1979). Quase a to-
talidade do universo tarifário de bens do país está consolidada, o Japão assumiu compromissos
de tratamento nacional e de acesso a mercados em serviços no GATS. É também signatário de
dois acordos plurilaterais na OMC: o Acordo de Compras Governamentais (ACG) e o Acordo de
Tecnologia da Informação – nos dois casos, tanto em suas primeiras versões, quanto em suas
versões revisadas e ampliadas.
Em âmbito preferencial, os acordos bilaterais em vigor recebem a denominação de Acordos de
Parceria Econômica (Economic Partnership Agreement – EPA). O Japão tem, atualmente, 15 acor-
dos preferenciais em vigor e outros cinco estão em processo de negociações ou, já negociados,
encontram-se em fase de ratificação. Vale ressaltar que a TPP já foi ratificada pelo Japão, mas
não há perspectivas de entrada em vigor após a saída dos EUA.
A geografia da rede de acordos preferenciais do Japão privilegia nitidamente a região da Ásia-
-Pacífico (Ásia, Oceania e Costa Pacífica das Américas), tendência que se fortaleceria com uma
eventual entrada em vigor da TPP – já ratificada pelo Japão. Os acordos em negociação re-
forçam a opção asiática e, se concluídos, envolveriam as principais economias da região e as
articulariam com as economias em desenvolvimento da região: trata-se da Parceria Econômica
Abrangente Regional (Regional Comprehensive Economic Partnership – RCEP) - reunindo, além
do Japão, a China, a Coreia, a Índia, a Austrália, a Nova Zelândia e dez países da ASEAN - e de
dois acordos, um com China e Coreia e outro com os países da ASEAN – que ampliaria o escopo
temático do acordo em vigor. Além disso, o menu de negociações em curso inclui a União Euro-
peia e mais um país sul-americano (Colômbia), além da Turquia.
38
TABELA 20 - STATUS DOS ACORDOS DE PARCERIA ECONÔMICA (EPAS) DO JAPÃO
Em vigor Ratificado Em negociação Negociações adiadas ou suspensa
Cingapura TPP Colômbia GCC
México China Coreia do Sul
Malásia União Europeia Canadá
Chile RCEP
Tailândia Turquia
Indonésia
Brunei
ASEAN
Filipinas
Suíça
Vietnã
Índia
Peru
Austrália
Mongólia
Fonte: Ministério das Relações Exteriores do Japão
Se concluídas as negociações de pelos menos alguns destes acordos – com a União Europeia ou
com Coreia e China – a política comercial japonesa terá passado por uma significativa transforma-
ção, em que os acordos preferenciais adquirirão uma relevância nitidamente maior do que a atual.
Os acordos preferenciais do Japão que se encontram em vigor, em sua grande maioria, têm um
amplo escopo temático, incluindo diversos capítulos relativos ao comércio de bens (eliminação
de tarifas, regras de origem, procedimentos aduaneiros, barreiras técnicas e medidas sanitárias
e fitossanitárias), comércio de serviços, entrada temporária de pessoas naturais, investimentos
(com cláusulas de proteção e mecanismo de solução de controvérsias investidor – Estado),
compras governamentais, propriedade intelectual, competição (ou atividades anticompetitivas) e
solução de controvérsias. Além disso, incluem um capítulo sobre melhoria do ambiente de negó-
cios e um “acordo de implementação” do texto negociado.
Em relação ao escopo dos acordos preferenciais, há algumas características específicas a al-
guns deles. A mais significativa se refere ao acordo com os países da ASEAN (de 2008) de menor
desenvolvimento relativo. Esse acordo é bem mais sintético do que os demais, focando essen-
cialmente no comércio de bens. Serviços e investimentos são objeto de artigos de aconselha-
mento e a expansão de compromissos nessas áreas é objeto de negociações em curso. Outros
acordos têm capítulos sobre temas específicos, como aquele com a Indonésia (2007), que inclui
um capítulo sobre energia e recursos naturais.
39NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
De forma geral, os acordos preferenciais do Japão seguem, com alguma flexibilidade, a “arqui-
tetura NAFTA”, no que se refere especialmente ao escopo temático abrangente e ao tratamento
profundo dado a temas como investimentos, assim como a certas opções “metodológicas”,
como o uso de listas negativas para reservas em serviços e investimentos6. Não há, no entanto,
disposições específicas e consolidadas em capítulos sobre trabalho e meio ambiente.
Embora o escopo temático dos acordos apresente grau razoável de homogeneidade, há diferen-
ças significativas entre os acordos na profundidade e em compromissos vinculantes estabeleci-
dos por certos capítulos. Um bom exemplo desta heterogeneidade é fornecido pelos capítulos
de compras governamentais do Japão com Peru e Chile, de um lado, e com a Índia, de outro.
Os dois primeiros com compromissos juridicamente vinculantes de acesso a mercados, enquan-
to com a Índia há um texto que se refere mais a transparência e melhores esforços.
Na área de bens, os acordos têm como objetivo a eliminação de tarifas e barreiras não tarifárias,
mas os esquemas de desgravação que concretizam o processo de liberalização preferencial
preveem diferentes “cestas” de produtos, inclusive aquela dos bens excluídos da desgravação.
Segundo WTO (2017), as tarifas médias japonesas no âmbito dos acordos preferenciais em vigor
– muitos dos quais com cronogramas de desgravação ainda em curso – situavam-se dentro do
intervalo entre 2,7% e 3,4% - sendo que as aplicadas a países do Sudeste Asiático se situavam
no limite inferior do intervalo. No caso de bens industriais, o intervalo era de 0,5% a 1%, enquanto
para bens agrícolas (cuja média NMF é 16,3%), o intervalo era de 12,4% a 14,4%.
Sob esses acordos preferenciais, em 2016, entre 77,1% e 87,2% das linhas tarifárias tinham alí-
quota zero, sendo que, no caso de bens industriais, esse intervalo era de 85,5% a 96,6% (contra
43,7% na tarifa NMF) e, no de bens agrícolas, de 40,4% a 56,1% (contra 25,5% na tarifa NMF).
4.4 OS ACORDOS DE SERVIÇOS
Além de signatário do GATS/OMC, o Japão assumiu compromissos adicionais no comércio de
serviços em seus acordos preferenciais. As Tabelas 21 e 22 sintetizam os dados sobre os com-
promissos assumidos pelo Japão nos modos 1 e 3 de prestação de serviços no GATS e em
acordos preferenciais7.
6 Embora o acordo com a Índia utilize listas positivas de compromissos em serviços. 7 O modo 1 se refere à prestação trasnfronteiriça de serviços e o modo 3 à presença comercial do prestador no país em que o serviço é prestado (equivalendo a um investimento externo em serviços neste país).
40
Para o modo 1 de comércio de serviços – prestação transfronteiriça – (Tabela 21), observa-se que
o escopo setorial de compromissos assumidos pelo Japão no GATS (soma das duas primeiras
linhas) foi significativo, superando 50% do número de subsetores. A estes compromissos multi-
laterais, os acordos preferenciais praticamente agregaram muito mais compromissos em “novos
subsetores” do que em setores já objeto de compromissos na OMC, levando o patamar de seto-
res com compromissos nos dois tipos de acordo a cerca de 75%.
TABELA 21 - SUBSETORES COMPROMETIDOS PELO JAPÃO NO GATS E EM ACPS EM MODO 1 - COMÉRCIO TRANSFRONTEIRIÇO DE SERVIÇOS – (EM %)
MODO 1 Japão
Subsetores com compromissos no GATS não melhorados em ACPs (%) 44,4%
Subsetores com compromissos no GATS melhorados em ACPs (%) 7,8%
Subsetores com compromissos apenas em ACPs (%) 22,5%
Subsetores sem compromissos (%) 25,4%
Fonte: OMC
Para o modo 3 de prestação de serviços – presença comercial ou investimentos em serviços –
(Tabela 22), o nível de compromissos é nitidamente mais elevado do que em modo 1, tanto para
compromissos multilaterais (quase 64% dos subsetores), quanto para compromissos melhora-
dos em ACPs (15%). Como o número de subsetores negociados no GATS ou nos ACPs atinge
79%, aqueles que são objeto apenas de compromissos preferenciais é de apenas 16%, ainda
assim levando o total de subsetores sujeitos a algum tipo de compromisso a quase 95%.
TABELA 22 - SUBSETORES COMPROMETIDOS PELO JAPÃO NO GATS E EM ACPS EM MODO 3 - PRESENÇA COMERCIAL – (EM %)
MODO 3 Japão
Subsetores com compromissos no GATS não melhorados em ACPs (%) 63,82
Subsetores com compromissos no GATS melhorados em ACPs (%) 15,13
Subsetores com compromissos apenas em ACPs (%) 15,79
Subsetores sem compromissos (%) 5,26
Fonte: OMC
A Tabela 23 sintetiza os índices de compromissos assumidos pelo Japão no GATS e no seu
“melhor APC” – aquele com maior índice – para os modos 1 e 3, confirmando que, apesar de
partir de um nível relativamente elevado de compromissos no GATS, o Japão expandiu de forma
significativa (e especialmente em modo 1, em que a taxa de “cobertura” cresce quase 50% as se
agregarem os compromissos preferenciais) o número de subsetores sujeitos a compromissos.
41NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
TABELA 23 - ÍNDICES DE COMPROMISSOS ASSUMIDOS PELO JAPÃO NO GATS E NO “MELHOR APC” EM MODOS 1 E 3 (EM %)
Japão
GATS PTA
Modo 1 43,5 62,9
Modo 3 61,7 76,2
Total 52,6 69,6
Fonte: OMC
4.5 OS ACORDOS DE INVESTIMENTOS
Além dos compromissos definidos pelos capítulos de investimentos que fazem parte de quase
todos os acordos comerciais preferenciais do Japão, o país assinou mais de 20 acordos bilate-
rais de proteção e promoção de investimentos. Metade destes acordos envolvem parceiros asiá-
ticos, como a China, a Coreia do Sul, Hong Kong e o grupo de países menos desenvolvidos da
ASEAN (Camboja, Laos, Vietnã, Mianmar). O país tem ainda acordos bilaterais com dois países
sul-americanos (Colômbia e Peru), com países africanos (Egito e Moçambique), com a Rússia,
Turquia e países da Ásia Central (Uzbequistão e Cazaquistão).
TABELA 24 - ACORDOS BILATERAIS DE INVESTIMENTOS DO JAPÃO EM VIGOR
Parceiro Vigor Parceiro Vigor
Egito 14/01/1978 Uzbequistão 24/09/2009
Sri Lanka 07/08/1982 Peru 10/12/2009
China 14/05/1989 Nova Guiné 17/01/2014
Turquia 12/03/1993 Kuwait 24/01/2014
Hong Kong 18/06/1997 Iraque 25/02/2014
Bangladesh 25/08/1999 Mianmar 07/08/2014
Rússia 27/05/2000 Moçambique 29/08/2014
Paquistão 29/05/2002 Colômbia 11/09/2015
Coreia do Sul 01/01/2003 Cazaquistão 25/10/2015
Vietnã 19/12/2004 Ucrânia 26/11/2015
Camboja 31/07/2008 Arábia Saudita 07/04/2017
Laos 03/08/2008
Fonte: UNCTAD
Além disso, o Japão tem uma vasta rede de tratados voltados para questões tributárias, sendo
que 55 deles são acordos para evitar a dupla tributação dos investimentos.
42
4.6 OS ACORDOS DE COMPRAS GOVERNAMENTAIS
O Japão é membro do ACG da OMC, um acordo plurilateral cujos compromissos somente im-
pactam os países signatários, tendo ainda participado das negociações para a ampliação da
cobertura deste acordo, concluídas formalmente em março de 2012.
Os compromissos adotados pelo Japão no ACG/OMC são bastante amplos – como de resto
para os demais países desenvolvidos que participam do acordo - cobrindo uma vasta gama de
entidades do governo central, governos subnacionais e muitas entidades classificadas como
“outras” (bancos públicos, agências governamentais, fundos públicos de pensão etc).
Os patamares (thresholds) – valores a partir dos quais os contratos de compras governamentais
se sujeitam às disciplinas do ACG/OMC são particularmente elevados para serviços de engenha-
ria, de arquitetura e outros serviços técnicos em todas as instâncias de governo, mas são ainda
mais elevados no caso das compras de entidades subnacionais. Exceto por esta especificidade,
os compromissos japoneses não diferem muito dos de EUA e União Europeia.
O tema das compras públicas também faz parte de diversos acordos preferenciais assinados
pelo Japão, sendo, na grande maioria deles, objeto de capítulo específico. Como já observado,
o grau de profundidade destes capítulos, em termos de extensão de compromissos, pode variar.
No caso do acordo com a Índia, os compromissos se limitam a transparência, sem incluir acesso
a mercados, e o capítulo é bastante sintético.
Nos acordos com o Chile e com o Peru, os compromissos japoneses retomam a lista de entida-
des (em diferentes níveis de governo), bem como praticamente todos os valores dos patamares
constantes no acordo multilateral. No caso do acordo com o Peru, no entanto, os patamares
estabelecidos pelo Japão para bens e serviços em geral são superiores aos que constam dos
compromissos japoneses na OMC e no acordo preferencial com o Chile.
De forma geral, os acordos preferenciais do Japão com capítulos específicos de compras go-
vernamentais, possuem compromissos praticamente iguais aos do ACG. Essa afirmação é con-
firmada também na TPP. Neste caso, os patamares a partir dos quais as compras públicas se
submetem às disposições do capítulo são idênticos, para bens, serviços e construção, àqueles
adotados pelo Japão no acordo da OMC. Uma característica específica dos compromissos japo-
neses na TPP é a exclusão dos benefícios de acesso a mercado para alguns países (como EUA
e México), em compras públicas de entidades subnacionais.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
5 OS INTERESSES OFENSIVOS
BRASILEIROS E OS COMPROMISSOS
ASSUMIDOS PELO JAPÃO EM
ACORDOS PREFERENCIAIS
5.1 O COMÉRCIO DE BENS: INTERESSES OFENSIVOS, POSIÇÃO BRASILEIRA E COMPROMISSOS JAPONESES EM ACORDOS PREFERENCIAIS
Em estudo prévio realizado pela FUNCEX, foram identificados os produtos (a seis dígitos do SH) que de-
veriam receber prioridade em eventuais negociações preferenciais com o Japão. Essa priorização tem por
objetivo, seja a consolidação e o aumento da participação dos produtos presentes no mercado japonês,
seja a diversificação da pauta de exportação brasileira para esse país, com a inclusão de novos produtos.
Nesse sentido, a seleção feita pela FUNCEX identificou dois conjuntos de produtos:
• Produtos com presença mínima relevante nas exportações brasileiras para o Japão (aque-
les que respondem por, pelo menos, 0,1% das exportações brasileiras para o país); e
• Produtos com potencial de venda no mercado japonês, identificados, entre os produtos
não exportados ou com exportação inferior à mínima do grupo anterior, mas que atende
a alguns critérios8, como o Brasil possuir vantagem comparativa e o Japão ser um com-
prador importante.
8 Os critérios e parâmetros adotados são os seguintes: o valor anual das importações desse produto pelo Japão, em 2015/2016 foi expressivo (superior a US$ 5 milhões); o valor anual das exportações totais desse produto pelo Brasil, em 2015/2016, foi superior a US$ 20 milhões; e o Brasil apresenta vantagens comparativas em relação a esse produto (índice de vantagens comparativas relativas superior a um, na média do biênio 2014/2015).
44
Foram assim identificados 50 produtos no primeiro grupo e 220 no segundo. No primeiro grupo,
21 produtos (a seis dígitos do SH) têm alíquotas NMF ad valorem diferente de zero e dois têm
tarifa específica, sem equivalentes ad valorem. No segundo grupo, 91 produtos têm alíquota NMF
ad valorem diferentes de zero, sendo que sete deles combinam tarifas ad valorem e específicas.
Além disso, um produto tem tarifa específica, sem equivalente tarifário.
GRÁFICO 6 - NÚMERO DE PRODUTOS COM OPORTUNIDADES NO MERCADO JAPONÊS
112
158
Tarifa diferente de zero Tarifa zero
Fonte: FUNCEX. Elaboração CNI.
Em princípio, para a análise dos interesses ofensivos do Brasil na negociação, o conjunto rele-
vante de produtos é composto por aqueles que, nos dois grupos acima discriminados, tenham
tarifas NMF diferentes de zero – ou seja, 23 produtos do primeiro grupo e 92 do segundo. Se
tais produtos foram objeto de preferências em acordos comerciais assinados pelo Japão e se os
países beneficiados por tais preferências têm market-share significativo no Japão, eles ganham
relevância ainda maior, do ponto de vista das demandas brasileiras.
No grupo 1, soja, minérios, ferro ligas, celulose, seda, algodão, e algumas máquinas e equipa-
mentos fazem parte do grupo de produtos que já possuem tarifa zero aplicada. No grupo 2, são
excluídos celulose e papel, máquina e equipamentos, veículos automotores etc9.
Eliminados os produtos beneficiados por tarifa zero, permanecem no primeiro grupo sobretu-
do produtos alimentícios e químicos. No segundo, mantêm-se como prioritários os produtos
agropecuários e alimentícios, os têxteis e couros / produtos de couro, produtos de minerais não
metálicos, de madeira e de metal.
9 O fato dos produtos terem tarifa zero antes mesmo da negociação não significa que eles sejam irrelevantes do ponto de vista desta. De fato, em relação a tais produtos, interessa ao Brasil consolidar, através de negociação de acordo preferencial, a tarifa zero praticada, mas não necessariamente consolidada na OMC, precavendo-se de eventuais elevações de alíquota.
45NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
As Tabelas 26 e 27 (Anexo I) apresentam, para os produtos dos dois grupos com tarifas de
importação diferentes de zero, a participação nas importações Japão (em 2015/2016) dos três
principais fornecedores dos produtos.
Já as Tabelas 28 e 29 (Anexo I) trazem as tarifas vigentes para os produtos selecionados pelos
critérios acima nos dois grupos e os compromissos assumidos pelo Japão, no que se refere à
desgravação tarifária, em dois acordos preferenciais: a TPP e o acordo com a Índia. A TPP ainda
não entrou em vigor, embora tenha sido ratificada pelo Japão, enquanto o acordo com a Índia foi
assinado em 2011 e já se encontra vigente.
As principais considerações sugeridas pelos dados reunidos nas Tabelas 26 a 29 – apresentadas
no Anexo I - são apresentadas a seguir:
- Em relação às tarifas NMF vigentes
As tarifas NMF vigentes diferenciam claramente entre o tratamento dado a produtos agrícolas
(SH 1 a 24) e não agrícolas (do SH 25 em diante). Este último grupo tem produtos que concen-
tram tarifas específicas e que combinam ad valorem e específica, além de terem níveis muito
superiores de proteção do que os produtos não agrícolas.
No primeiro grupo – produtos com presença mínima no Japão – as tarifas que combinam ad valo-
rem e específica ou são apenas específicas estão concentradas em milho, carnes e álcool etílico.
Entre os produtos industriais, as tarifas específicas encontram-se em dois produtos petroquímicos
(polietilenos) e em níquel e as tarifas ad valorem variam entre zero e 14% (caso dos couros e peles).
GRÁFICO 7 - PRODUTOS COM OPORTUNIDADES: PRINCIPAIS SETORES DE PRODUTOS COM PRESENÇA MÍNIMA NO JAPÃO
4
4
7
8
12
Agricultura e pecuária
Máquinas e equipamentos
Metalurgia
Produtos químicos
Produtos alimentícios
Quantidade de SH6
Fonte: Funcex. Elaboração CNI.
46
No segundo grupo – produtos com potencial de venda no Japão – o padrão se repete, com maior
intensidade: os níveis mais elevados de proteção e as tarifas específicas ou combinadas se en-
contram em produtos agropecuários e alimentos (13 em 14 casos em que há ocorrência de tarifa
específica). Carnes, feijão, amendoim e sucos de frutas têm tarifas bastante elevadas.
GRÁFICO 8 - PRODUTOS COM OPORTUNIDADES: PRINCIPAIS SETORES DE PRODUTOS COM POTENCIAL DE VENDA NO JAPÃO
12
18
26
31
43
Veículos automotores, reboques e carrocerias
Máquinas e equipamentos
Produtos alimentícios
Produtos de minerais não-metálicos
Produtos químicos
Quantidade de SH6
Fonte: Funcex. Elaboração CNI.
No caso dos produtos industriais, as alíquotas mais elevadas encontram-se na cadeia de couros
e calçados, com a tarifa máxima alcançando 171% e a média da cadeia superando 30%. Com a
exceção dos produtos de couro e calçados, apenas um produto (gelatinas) tem tarifa superior a
10%, a grande maioria dos demais tendo alíquotas inferiores ou iguais a 6%.
TABELA 25 - PRINCIPAIS PRODUTOS COM TARIFAS NO JAPÃO
SH6 DescriçãoMédia tarifária NMF no Japão
Participação nas Importações
Japonesas em 2016
IVCR
1701-11Açúcar de cana, em bruto, sem adição de aromatizantes ou de corantes
39,74 0,00% 47,77
0202-30 Carnes de bovino, desossadas, congeladas 38,50 0,16% 16,73
4107-92Couros e peles, incluídas as ilhargas, de bovinos ou de eqüídeos, preparados após curtimenta ou secagem, divididos, com a flor
19,61 0,00% 7,60
6406-10Partes superiores de calçados e seus componentes, exceto contrafortes e biqueiras rígidas
17,80 0,02% 2,68
47NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
SH6 DescriçãoMédia tarifária NMF no Japão
Participação nas Importações
Japonesas em 2016
IVCR
2101-11 Extratos, essências e concentrados de café 15,93 0,02% 9,36
1805-00Cacau em pó, sem adição de açúcar ou outros edulcorantes
12,90 0,01% 2,72
0207-12Carnes de galos e galinhas da espécie doméstica não cortadas em pedaços, congeladas
11,90 0,00% 48,62
3503-00Gelatinas e seus derivados; ictiocola e outras colas de origem animal, exceto cola de caseína
10,03 0,01% 12,80
1602-32Preparações alimentícias e conservas de galos e de galinhas
9,10 0,32% 5,22
2207-10Álcool etílico não desnaturado com volume de teor alcoólico => 80%
8,02 0,07% 12,92
6402-20Calçados de borracha ou plástico, com parte superior em tiras ou correias, com saliências (espigões) que se encaixam na sola
6,70 0,00% 7,06
0807-19 Melões frescos 6,00 0,00% 8,63
2905-32 Propilenoglicol (propano-1, 2-diol) 5,50 0,01% 1,54
3901-10 Polietileno de densidade < 0,94, em forma primária 5,27 0,01% 2,19
5402-44Outros fios simples de elastômeros, sem torçao ou com torção <= 50 voltas por metro
5,03 0,00% 1,96
Fonte: Funcex. Elaboração CNI.
Além das barreiras tarifárias, os exportadores brasileiros também enfrentam barreiras não tari-
fárias (BNTs) no Japão. O levantamento de dados de acesso a mercados pela Seção Brasileira
do Comitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão10, secretariado pela CNI, permitiu identificar
BNTs relativas a produtos com oportunidades no Japão11.
TABELA 26 - EXEMPLOS DE BNTS RELATIVAS A PRODUTOS BRASILEIROS COM OPORTUNIDADES NO JAPÃO
Produto BNT
Carne suínaNecessidade de negociações sobre padrões sanitários para aprovação de plantas; e regime tarifário com preço mínimo de entrada (gate price) que encarece as importações de carne suína e favorece produtores locais.
Carne bovinaNecessidade de conclusão de negociações relacionadas a padrões sanitários para efetiva abertura do mercado para carne termoprocessada; e reconhecimento da zona livre de febre aftosa pelo Japão para carne in natura e regime especial tarifário.
Suco de laranja Sistema que estabelece picos tarifários a depender do conteúdo de sucrose contido no produto.
10 O Comitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão reúne entidades de representação do setor privado com o objetivo de aprimorar o ambiente de negócios e promover o comércio e os investimentos entre o Brasil e o Japão.11 CNI. Programa de Trabalho da Seção Brasileira do Comitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão. Brasília: CNI, 2017.
48
Produto BNT
Produtos alimentícios industrializados
Banimento pelo Japão do uso do TBHQ (Tertiary Butylhydroquinone), antioxidante utilizado como conservante em certos alimentos industrializados produzidos localmente ou em alimentos importados; e exigências dos regulamentos técnicos impostos pelo Japão para rotulagem.
Farinha e banha de origem animal
Exigências dos regulamentos técnicos e sanitários.
Fonte: CNI, 2017.
Assim, a eventual negociação de um ALC com o Japão deve contemplar os produtos abaixo e as
barreiras tarifárias e não tarifárias enfrentada pelos mesmos.
TABELA 27 - PRODUTOS COM OPORTUNIDADES E QUE ENFRENTAM BNTS NO JAPÃO
SH6 Descrição Média tarifa
020329 Outras carnes de suíno, congeladas 48,3
160100Enchidos e produtos semelhantes de carne, miudezas ou sangue; preparações alimentícias à base de tais produtos
10,0
160232 Preparações alimentícias e conservas de galos e de galinhas 9,1
200911 Sucos de laranjas, congelados, não fermentados 25,5
020130 Carnes de bovino, desossadas, frescas ou refrigeradas 38,5
020230 Carnes de bovino, desossadas, congeladas 38,5
021099Carnes de outros animais, comestíveis, salgadas, secas ou defumadas; miudezas, farinhas e pós
21,9
160250 Preparações alimentícias e conservas, de bovinos 24,7
160300Extratos e sucos de carnes, de peixes ou de crustáceos ou de outros invertebrados aquáticos
10,8
180400 Manteiga, gordura e óleo de cacau 0,0
190532 "Waffles" e "wafers" 18,0
200919 Outros sucos de laranjas, não fermentados 25,5
230990 Outras preparações para alimentação de animais 5,5
210690 Outras preparações alimentícias 32,7
Fonte: Funcex. Elaboração: CNI.
- Em relação aos concorrentes do Brasil no mercado japonês
No primeiro grupo, em que o Brasil já tem alguma presença no mercado japonês, o país é um
dos três principais fornecedores externos do Japão em 13 dos 22 produtos, ocupando a primeira
posição em oito deles. No caso dos produtos alimentícios, o Brasil ocupa a primeira posição em
quatro dos nove produtos incluídos na Tabela 30, estando entre os três primeiros em seis casos.
Também em couros e peles e em álcool, o Brasil ocupa a primeira posição.
49NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
Os principais concorrentes do Brasil nesse grupo são a China – com oito produtos na lista e
principal fornecedor de seis deles – os EUA – também com oito produtos e principal fornecedor
em dois, seguidos de Tailândia, Vietnã, Austrália, Indonésia e Coreia do Sul. Os países da União
Europeia têm representantes entre os três primeiros em apenas seis produtos e somente em um
caso ocupam a primeira posição no ranking de fornecedores.
Portanto, entre os principais fornecedores dos produtos do primeiro grupo apenas os países
do Sudeste Asiático - Tailândia, Vietnã e Indonésia – além da Austrália têm atualmente acordos
preferenciais negociados com o Japão. China e Coreia do Sul e União Europeia estão em nego-
ciação. Para este conjunto de bens, esses países concorrem com o Brasil no mercado japonês
em produtos alimentícios, químicos e de madeira.
No segundo grupo, a presença brasileira é menos relevante, o que é esperado em função dos cri-
térios utilizados para definir os dois grupos. Há apenas quatro produtos em que o Brasil aparece
entre os três principais fornecedores do Japão: outros sucos de laranja (em que o Brasil ocupa a
primeira posição), calçados de borracha (segunda posição) e couros e peles e ferro-níquel (em
terceira posição nos dois produtos).
Os principais concorrentes do Brasil nesse grupo são a China e, em segundo lugar, os EUA. A
China aparece entre os principais fornecedores em diversos setores industriais, com destaque
para têxteis, calçados, madeira e produtos de minerais não metálicos. Os EUA se destacam em
produtos agropecuários, alimentícios e em vários setores industriais. A participação dos países
do Sudeste Asiático – principalmente Tailândia e Malásia – também é relevante em produtos ali-
mentícios (açúcar, cacau e sucos), mas também em químicos.
Com exceção da China – que aparece como um dos principais fornecedores em todos os setores,
exceto em agropecuária – há alguma “especialização” regional da concorrência. Assim, no setor de
carnes, há um claro protagonismo de EUA, Austrália e Nova Zelândia (especialmente em bovinos);
em têxteis, além da China destacam-se países do Sudeste Asiáticos e Coreia do Sul; em madeira,
os países do Sudeste Asiático, a Coreia do Sul e a Nova Zelândia. Já os países da União Europeia
só se sobressaem em produtos químicos, produtos de minerais não metálicos e produtos de metal.
Portanto, nesse grupo de produtos, a concorrência com países beneficiados por acordos prefe-
renciais assinados pelo Japão envolve Austrália e os países do Sudeste Asiático, potencialmente
impactando setores como carnes, têxteis, madeira e químicos – onde estes países já têm po-
sição destacada entre os fornecedores do Japão. A eventual entrada em vigor da TPP definiria
preferências para países que concorrem com o Brasil, mas hoje não beneficiados por acordos
bilaterais do Japão, como os EUA e a Nova Zelândia.
50
- Em relação aos compromissos de eliminação tarifária assumidos pelo Japão em acordos
preferenciais
Os cronogramas de desgravação do Japão nos dois acordos aqui considerados preveem a imple-
mentação da liberalização tarifária para diversas cestas de produtos em diferentes prazos e ritmos.
No caso do acordo com a Índia, o cronograma é bastante simples, prevendo desgravação ime-
diata ou em 5, 8, 11 ou 16 anos, sempre levando à completa eliminação das tarifas. Há ainda
uma cesta de produtos que são excluídos de qualquer compromisso de redução ou eliminação
de tarifas (ver Anexo II).
No caso da TPP, o cronograma é extremamente complexo, contemplando mais de 70 cestas de
produtos: além da desgravação imediata, os prazos de eliminação ou redução de tarifas podem
alcançar 21 anos (há cestas de 4, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 16 e 21 anos). Para um mesmo prazo de
desgravação, pode haver diferentes cestas, de acordo com o ritmo e o resultado final da desgra-
vação: além das categorias para as quais se prevê a eliminação de tarifas ao final do processo,
há mais de 20 cestas com prazos de desgravação entre 4 e 16 anos, mas que não resultam na
eliminação das tarifas, apenas na redução destas em relação às tarifas base da desgravação.
Além disso, há cestas de produtos sujeitos a cotas no acordo da OMC, há uma cesta referente
a produtos com cotas tarifárias, outra a produtos aos quais se aplicará a tarifa de nação mais fa-
vorecida em qualquer redução e outra de produtos sujeitos a salvaguardas agrícolas e florestais
(ver Anexo III).
No que se refere aos produtos prioritários para o Brasil, há quatro características que chamam a
atenção e que são compartilhadas pelos dois grupos de produtos:
• Os produtos de origem agropecuária e alimentícios estão sujeitos, em muitos casos,
a longos cronogramas de eliminação de tarifas, a cronogramas de redução parcial
de tarifas ou, no acordo com a Índia são excluídos da desgravação. Já os produtos
industriais, com pouquíssimas exceções, são objeto de desgravação imediata;
• As condições de liberalização oferecidas pelo Japão na TPP são mais favoráveis
(aos parceiros) do que as oferecidas no acordo com a Índia. Isso é claro para
produtos alimentícios, muitos dos quais são excluídos da desgravação no acordo
com a Índia, mas incluídos – embora com longos prazos de desgravação e, em
certos casos, apenas com redução parcial das tarifas – nos cronogramas da TPP.
Entre os produtos industriais, a diferença é menos nítida, mas aparece em produtos
petroquímicos;
51NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
• Os produtos industriais com maior nível de proteção tarifária recebem tratamento
cauteloso por parte do Japão, beneficiando-se de prazos longos de desgravação.
É o caso do setor de couros e calçados, de madeiras compensadas, de produtos
petroquímicos e ferros liga; e
• Dentro de um mesmo produto (SH 6 dígitos), há distintos tratamentos concedidos
a produtos a 8 dígitos. Isso aparece nitidamente no caso de produtos alimentícios,
como carnes, sucos e preparações alimentares. Assim, por exemplo, o produto
(a seis dígitos) 2106.90 – outras preparações alimentares - contempla 49 linhas
tarifárias e a estas se aplicam 11 diferentes cronogramas de liberalização na TPP,
alguns de desgravação gradual, mas integral, outros de desgravação parcial, outro
de cota tarifária e mais outro de nação mais favorecida.
Portanto, de forma geral, o tratamento conferido pelo Japão nessas negociações diferencia ni-
tidamente entre produtos agrícolas e alimentícios, de um lado, e bens industriais, de outro, mas
também leva em consideração suas sensibilidades na esfera industrial. A TPP “eleva” cautelo-
samente o patamar de concessões do país em produtos agropecuários e industriais, em que
diversos países-membros são hoje fornecedores relevantes do Japão.
5.2 OUTRAS ÁREAS TEMÁTICAS DOS ACORDOS PREFERENCIAIS: COMPROMISSOS E RESERVAS DO JAPÃO EM COMÉRCIO DE SERVIÇOS, INVESTIMENTOS E COMPRAS GOVERNAMENTAIS
Os acordos preferenciais assinados pelo Japão têm, em sua quase totalidade, amplo escopo
temático, indo muito além da liberalização do comércio de bens e do estabelecimento de regras
para este intercâmbio. Exceto pelos 30 capítulos que compõem a TPP, os acordos preferenciais
assinados pelo Japão têm estrutura semelhante, com cerca de 15 capítulos.
Por seu escopo temático, os acordos preferenciais do Japão têm o NAFTA como referência,
embora estejam longe de ser meras reproduções deste acordo. De fato, mais além do escopo
formal dos acordos, estes podem ter conteúdos bastante distintos no que se refere ao escopo de
certos capítulos e à profundidade dos compromissos neles assumidos. Isso fica muito claro nos
acordos com a ASEAN e a Índia, em que os compromissos são, em vários capítulos, menos sig-
nificativos do que nos demais acordos. Além disso, em alguns acordos compromissos setoriais
10 Na TPP, as Partes listam suas reservas, horizontais e setoriais, às disciplinas de tratamento nacional, tratamento de nação mais favorecida, proibição de exigência de presença local e acesso a mercados. Trata-se de listas negativas, relativas a reservas atuais e a reservas futuras – aquelas em que os países se reservam o direito de “manter ou adotar” medidas não conformes a certas disciplinas do capítulo.
52
em serviços são assumidos sob forma de lista positiva e não negativa, como ocorre nos acordos
que seguem o modelo NAFTA.
Em relação ao que se poderia denominar “modelo japonês de acordos preferenciais”, a TPP in-
troduz uma série de inovações, incluindo temas que não faziam parte daquele modelo (empresas
estatais, meio ambiente, trabalho e comércio eletrônico, entre outros), e aprofundando certas
regras e disciplinas de capítulos tradicionais.
Os dois acordos preferenciais aqui considerados (o acordo bilateral com a Índia e a TPP) têm
capítulos de comércio de serviços, de investimentos e de compras governamentais – três áreas
temáticas de interesse para o Brasil. As principais características destes capítulos e das reservas
e exceções a eles apresentadas nos dois acordos considerados são descritas em seguida e
sumarizadas nos Anexos IV (Quadros 1, 2 e 3) e V (Quadro 4) .
Comércio transfronteiriço de serviços – Quadro 1
• Os capítulos de comércio de serviços dos dois acordos têm escopos diversos:
enquanto o da TPP contempla apenas o comércio transfronteiriço de serviços, o do
acordo com a Índia inclui os quatro modos de provisão de serviços definidos pelo
GATS, incluindo de presença comercial – ou seja, o investimento direto externo em
serviços. No capítulo da TPP, esta modalidade de prestação de serviços faz parte
do capítulo de investimentos.
• Os capítulos também diferem quanto à metodologia de apresentação de compro-
missos e/ou reservas: na TPP, as listas de reservas são negativas (modelo NAFTA),
ou seja, listam-se as medidas que ficam excluídas dos compromissos do capítu-
lo10. No acordo com a Índia, as listas de compromissos e restrições são positivas,
ou seja, apresentam-se as condições de acesso a mercado e tratamento nacional
aplicáveis à prestação de serviços dos diferentes setores e subsetores nas quatro
modalidades consideradas.
• Ambos os capítulos têm cláusulas de acesso e mercados – que veda restrições
quantitativas não discriminatórias descritas no Artigo XVI do GATS – e de tratamen-
to nacional. Apenas o capítulo da TPP tem uma cláusula vinculante de tratamento
de nação mais favorecida (no acordo com a Índia, essa cláusula se refere apenas
à sua aplicação na eventualidade de assinatura, por uma Parte, de acordo com um
terceiro país).
53NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
• Ambos os capítulos têm cláusula de regulação doméstica, que estabelece o prin-
cípio de administração “razoável, objetiva e imparcial” de medidas relacionadas a
procedimentos e requisitos de qualificação e licenciamento e a padrões técnicos
aplicáveis a serviços.
• Apenas o capítulo da TPP – que se refere especificamente ao comércio transfrontei-
riço de serviços – tem uma cláusula que proíbe a exigência de presença local para
a prestação de serviços.
• Nos dois acordos, setores como transportes aéreos e atividades associadas e ati-
vidades e práticas governamentais, como as compras públicas e subsídios estão
excluídos das disposições dos capítulos. No acordo com a Índia, uma cláusula
específica sobre subsídios prevê a possibilidades de consultas sobre o tema, mas
esta cláusula não se submete às regras de solução de controvérsias do acordo.
• A maioria das disposições substantivas dos dois acordos é, neste tema, bastante
semelhante, sendo as principais diferenças relacionando-se ao escopo dos capítu-
los e à metodologia de apresentação de compromissos.
• Ambos os acordos têm capítulos específicos sobre entrada temporária de pessoas
naturais e a TPP tem diversos outros capítulos cujo objeto são setores de serviços
(financeiros, telecomunicações) ou temas com forte interseção com o comércio de
bens, como comércio eletrônico, além de anexos setoriais (serviços profissionais,
serviços de courier). Isso confere à TPP um grau de cobertura e de detalhamento
dos temas relacionados a serviços muito mais amplo do que o observado no acor-
do com a Índia, em que a caracterização dos serviços pertinentes ao acordo se
identifica a apresentada no GATS.
Investimentos – Quadro 2
• Os capítulos de investimentos têm, nos dois acordos, escopos diferentes: o da TPP
se refere a investimentos em bens e serviços, enquanto o do acordo com a Índia
diz respeito apenas a bens (investimentos em serviços são tratados como o modo
3 de comércio de serviços, no capítulo respectivo).
• Os dois capítulos também diferem significativamente quanto ao grau de detalha-
mento de suas disposições. Na TPP, o capítulo de investimentos tem 52 páginas,
contra 16 no acordo com a Índia. Apenas a cláusula de “definições” do capítulo
54
ocupa quase cinco páginas na TPP, contra menos de uma página no acordo com a
Índia. Quase todas as disposições do capítulo da TPP são mais longas e detalha-
das do que as do acordo com a Índia, mesmo quando seu objeto é o mesmo (por
exemplo, a regra de tratamento nacional). De forma geral, o capítulo de investimen-
tos da TPP segue o modelo NAFTA, mas incorpora evoluções baseadas na expe-
riência de países desenvolvidos e em desenvolvimento com acordos anteriores na
área de investimentos.
• As obrigações dos capítulos de ambos os acordos se aplicam aos níveis central, re-
gional e local de governo – sujeitas às reservas apresentadas em anexos pelos países.
• Na TPP, os investimentos cobertos pelo capítulo são definidos por um conceito
amplo (asset-based), enquanto no capítulo do acordo com a Índia não há nenhuma
definição explícita do que se considera como investimento.
• Apesar destas diferenças, os dois acordos compartilham um conjunto de regras e
disciplinas relevantes para o tratamento dos investimentos externos (embora mui-
tas vezes o detalhamento das disciplinas seja maior no capítulo da TPP): tratamen-
to nacional e de nação mais favorecida, padrão mínimo de tratamento (na TPP) ou
tratamento geral (no acordo com a Índia) - ambos se referindo aos conceitos de
tratamento justo e equitativo e de plena proteção e segurança – proibição de re-
quisitos de desempenho indo além das regras da OMC, cláusula de expropriação,
inclusive indireta, cláusula ambiental e de transferências.
• No capítulo da TPP, as cláusulas que impactam o direito de estabelecimento, o tra-
tamento justo e equitativo e a expropriação indireta são qualificadas em anexos es-
pecíficos para evitar interpretações “frívolas” por parte de investidores que venham
a acionar o mecanismo de solução de controvérsias investidor - Estado.
• No acordo com a Índia, requisitos de desempenho do investidor externos, que
seriam vetadas em outras circunstâncias, podem ser exigidos em contrapartida à
concessão pelo país que recebe o investimento de vantagens (incentivos). No caso
da TPP, mesmo em caso em que o investidor recebe incentivos, o Estado receptor
não pode condicionar a concessão do benefício a requisitos de desempenho.
• Ambos os acordos preveem o mecanismo de solução de controvérsias investidor
– Estado, mas as disposições do capítulo da TPP têm um grau de detalhamento e
qualificação que não se encontra no acordo com a Índia.
55NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
• Na TPP, as listas de reservas são negativas, explicitando-se as medidas, os setores
a que se aplicam (quando setoriais) e a origem legal da restrição. No acordo com a
Índia, há uma lista negativa de reservas e outra lista – também negativa - de medi-
das cujo teor de restritividade pode inclusive ser ampliado no futuro.
Compras governamentais – Quadro 3
• Há uma enorme diferença entre o escopo e o conteúdo dos capítulos de compras
governamentais dos dois acordos aqui considerados. O acordo com a Índia limi-
ta-se a compromissos de transparência de procedimentos e de não discriminação
vis à vis dos fornecedores do país sócio, além de não contemplar as instâncias
subfederais de governo. Já o capítulo de compras governamentais da TPP trata
de acesso a mercados, mas também de transparência, e se aplica a bens, servi-
ços em geral e serviços de construção adquiridos por entes governamentais em
diferentes níveis- listados em anexos nacionais - através de diversas modalidades
contratuais (inclusive concessão).
• No acordo com a Índia, os países se comprometem com futuras negociações com
vistas à conclusão de um capítulo abrangente sobre o tema quando a Índia expres-
sar seu interesse em aderir ao acordo de compras governamentais da OMC.
• Na TPP, as regras e disciplinas gerais do capítulo são muitas e ambiciosas, refe-
rindo-se a tratamento nacional e não discriminatório, à eleição da licitação aberta
como método preferencial de compras públicas, à proibição de condições com-
pensatórias especiais, inclusive de qualquer tipo de offset e à adoção, no caso de
bens importados por conta de compras governamentais, das regras de origem do
acordo que se aplicam ao comércio de bens.
• Uma parte significativa do capítulo da TPP é dedicada a regras e procedimentos
de licitação e impugnação, de maneira a assegurar não discriminação nas várias
etapas e várias modalidades do processo de licitação e contratação (publicação
de informação pertinente, condições de participação, qualificação de fornecedo-
res, definição das especificações técnicas do produto ou serviço, disponibilidade
de documentação para participar das licitações, prazos, regras para contestação e
impugnação de resultados etc).
• Ainda na TPP, as listas das entidades centrais – e, no caso de alguns países, sub-
centrais – são apresentadas em anexos nacionais, como listas positivas. Em princí-
56
pio, todos os bens estão sujeitos às disposições do capítulo, mas os países apre-
sentam suas listas de exclusões. No caso dos serviços, há países que apresentam
listas positivas, enquanto outros optam por listas negativas. Além disso, são esta-
belecidos, para cada país, patamares de valores a partir dos quais as compras go-
vernamentais se sujeitam às regras da TPP. Tais valores variam entre bens, serviços
em geral e serviços de construção, bem como segundo os países.
Reservas e exceções do Japão – Quadro 4
• As matrizes de compromissos dos dois acordos seguem dois modelos diferentes:
o de listas negativas de medidas que não cumprem as regras e disciplinas dos
capítulos em questão – casos de comércio transfronteiriço de serviços e investi-
mentos na TPP e de investimentos no acordo com o Japão – e o de listas positivas
que apresentam compromissos e restrições por setores e subsetores – caso de
comércio de serviços no acordo com a Índia.
• Na TPP, as listas negativas contemplam medidas restritivas relacionadas a uma ou
mais das seguintes disciplinas do capítulo de investimentos: acesso a mercados,
tratamento nacional, tratamento de nação mais favorecida, requisitos de desem-
penho, composição da alta administração e da diretoria das empresas e acesso
a mercados. No caso do capítulo de serviços, não constam reservas à proibição
de requisitos de desempenho – que não existe neste capítulo – mas há reservas á
proibição de exigência de presença local.
• No acordo com a Índia, as listas negativas se referem a apenas três disciplinas do
capítulo de investimentos (que é válido apenas para bens): tratamento nacional,
tratamento de nação mais favorecida e proibição de requisito de desempenho. Já
no capítulo de serviços, que inclui investimentos neste setor, as restrições listadas
de forma positiva (no modelo GATS) se referem às regras de acesso a mercados,
tratamento nacional e de nação mais favorecida.
• Nos dois acordos há anexos listando medidas horizontais ou setoriais aplicáveis ao
comércio de serviços e aos investimentos que as Partes se reservam o direito de
manter ou de vir a adotar no futuro.
• Todas as medidas listadas como reservas horizontais ou setoriais pelo Japão são
da alçada do governo central. Outros países signatários da TPP listaram medidas
57NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
subcentrais, nos anexos aos capítulos de investimentos e comércio de serviços,
mas tais listas são meramente ilustrativas e não geram compromissos para os go-
vernos subfederais.
• Embora a metodologia de apresentação de compromissos e restrições seja dife-
rente, entre os dois acordos, no que se refere ao comércio de serviços, e apesar
das reservas se referirem às disciplinas dos acordos – que diferem, especialmente
entre os capítulos de investimentos dos dois acordos - não há diferenças relevan-
tes entre os perfis de reservas do Japão que podem ser identificados em ambos.
• No comércio de serviços, os setores de serviços profissionais (serviços legais,
contabilidade e auditoria, engenharia e arquitetura etc.) e os de transporte (em
diferentes modais) são os que têm presença mais relevante entre as reservas japo-
nesas. Neste e em outros setores de serviços, as reservas se referem, na maioria
dos casos, às disciplinas de acesso a mercados e à proibição de exigência de
presença local para a prestação de serviços. Em muitos destes setores, no Japão,
a prestação de serviços é condicionada à presença local do prestador e o acesso
ao mercado afetado por restrições quantitativas.
• Em investimentos, há reservas relativas a bens e a serviços. No caso de bens, a in-
dústria aeroespacial, farmacêutica, de armas e explosivos, de couro e produtos de
couro (inclusive calçados), construção naval, petróleo, mineração e pesca têm res-
trições de tratamento nacional em função da exigência de notificação e autorização
oficial previamente ao investimento (mecanismo de screening). Esse mecanismo
parece bastante difundido no Japão, condicionando o investimento externo em di-
ferentes setores. Em alguns destes setores, não apenas os investimentos em bens,
mas também em serviços associados à produção industrial são objeto de reservas
diversas a tratamento nacional, requisitos de desempenho etc.
• No que se refere às reservas aplicáveis a investimentos em serviços, estas atingem
os setores de transporte e logística, alguns segmentos de telecomunicações, ener-
gia elétrica e nuclear, serviços sociais e outros serviços. Em geral, as reservas se
referem a presença local e a acesso a mercados.
• Alguns setores são objeto de reservas simultaneamente ao comércio transfronteiri-
ço de serviços e aos investimentos: é o caso do setor aeroespacial, da indústria de
armas e explosivos, de energia elétrica e nuclear e de mineração. Nesses setores,
58
reservas a diversas disciplinas se aplicam: tratamento nacional, requisitos de de-
sempenho e alta administração e diretorias – para os investimentos – e presença
local e acesso a mercados – para o comércio de serviços.
• Em compras governamentais, a lista de entidades federais, subfederais e outras
entidades (empresas estatais e outros entes públicos) que se submetem às regras
do capítulo da TPP é bastante extensa. Provavelmente por uma questão de reci-
procidade, as disposições do capítulo não se aplicam a cinco países signatários
do acordo (entre os quais os EUA e o México) no caso das compras de entes
subfederais.
• Todos os bens estão cobertos pelas disposições do capítulo de compras governa-
mentais da TPP. No caso de compras do Ministério da Defesa, a lista de produtos
aos quais se aplicam as disposições do capítulo é apresentada no anexo referente
aos compromissos japoneses. Já no caso de serviços, o quadro é mais complexo:
há uma lista positiva de serviços cobertos para compras das entidades listadas,
mas, para os entes subfederais e outras entidades, excetuam-se das disposições
do capítulo alguns destes serviços. Já a lista de serviços de construção inclui todos
os setores da divisão 51 do Central Product Classification (CPC), sem exceções.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
6 CONCLUSÕES
Apesar da perda de relevância do Japão como parceiro comercial do Brasil, observada entre 2000 e
2015, o Japão se mantinha, em 2016, como um importante parceiro comercial do Brasil, sendo destino,
de 2,5% das exportações e origem de 2,6% das importações brasileiras. A pauta exportadora do Brasil
é concentrada em produtos básicos e semimanufaturados de origem agropecuária e mineral, enquanto
a de importações é essencialmente composta de manufaturados.
A importância do Japão é ainda maior nos fluxos de IED direcionados ao Brasil: em 2014/2015, o Japão
foi o quinto maior investidor externo no país, respondendo por cerca de 6% do total e o estoque de IED
equivale a US$ 26,5 bilhões (5% do total). Este estoque concentra-se na indústria de transformação e
nas indústrias extrativas.
A política comercial japonesa caracteriza-se pela concentração da proteção em setores agropecuários,
com restrições tarifárias e não tarifárias, e em alguns poucos setores industriais, como couro e calça-
dos e vestuário. Tradicionalmente multilateralista, o Japão intensificou, na segunda metade da década
de 2000, política comercial negociada de acordos preferenciais, com países do sudeste asiático e da
costa pacífica da América Latina.
60
Mais recentemente, o Japão se engajou nas negociações da TPP – concluídas em 2016, mas
sem perspectiva de entrada em vigor - e de acordos com a União Europeia e com China e Co-
reia do Sul. A conclusão e entrada em vigor de pelo menos um dos dois grandes acordos em
negociação consolidaria o novo perfil de política comercial do Japão, centrada em acordos pre-
ferenciais.
A experiência do Japão nas negociações de acordos preferenciais confirma a dimensão pro-
tecionista agrícola e explicita a opção por acordos tematicamente abrangentes, embora com
flexibilidade razoável quanto ao conteúdo específico dos capítulos temáticos incluídos em tais
acordos, especialmente quando fatores geopolíticos parecem ter sido motivação relevante.
Frente a este quadro e do atual perfil da pauta de exportação bilateral do Brasil, os principais
objetivos ofensivos de uma negociação comercial com o Japão na área de bens seriam:
• Reduzir barreiras às exportações de produtos de origem agropecuária; e
• Obter preferências comerciais na área de produtos industriais para reduzir desvan-
tagens geradas por preferências concedidas pelo Japão a países concorrentes do
Brasil e criar condições para uma estratégia de diversificação da pauta exportadora
bilateral brasileira, que incluiria a promoção comercial.
O Brasil tem um número limitado de produtos (a 6 dígitos) que compõem os seus interesses
ofensivos em eventuais negociações comerciais com o Japão. Do lado dos produtos agrícolas
com presença mínima ou com potencial de vendas no Japão, as barreiras tarifárias incluem as
tarifas ad valorem e específicas. Aí se concentra o essencial do protecionismo tarifário japonês.
Nas negociações com a Índia, as concessões feitas pelo Japão foram limitadas, excluindo núme-
ro significativo de produtos. A TPP amplia as concessões, mas estas continuam condicionadas
por prazos longos de desgravação, reduções parciais de tarifas e aplicação de salvaguardas
e cotas tarifárias a diversos produtos. Mas a TPP certamente definiria, no que se refere a estes
produtos, um novo patamar de oferta de liberalização. É esse novo patamar que o Brasil deveria
tomar como “piso” em suas demandas em eventuais negociações com o Japão.
Nesse sentido, embora o futuro da TPP seja incerto – ao menos no curto prazo – o interesse dos
setores brasileiros de bens agropecuários e de produtos alimentares em uma negociação com
o Japão tende a aumentar com uma eventual entrada em vigor do acordo. Ao mesmo tempo,
cresce a possibilidade de que, através de negociações bilaterais, o Brasil obtenha alguma me-
lhoria – ainda que não imediata - das condições de acesso ao mercado do Japão no setor.
61NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
No que se refere a produtos industriais que fazem parte dos interesses ofensivos brasileiros
- produtos químicos, de couro e calçados, de minerais não metálicos e metalurgia / produtos
de metal - nenhum deles foi excluído do cronograma japonês na TPP, embora alguns poucos
produtos tem prazos longos de desgravação – o destaque aqui é o setor de couros e calçados.
De forma geral, os produtos industriais têm suas tarifas – já baixas, em sua grande maioria – to-
talmente eliminadas na entrada em vigor do acordo. O interesse brasileiro, neste caso, seria obter
as mesmas condições concedidas aos países que conformam a TPP.
No caso do comércio de serviços, de investimentos e de compras governamentais, a lógica
brasileira seria a mesma: buscar equalizar as condições de acesso ao mercado japonês, em ter-
mos comparáveis com os oferecidos pelo Japão a seus parceiros na TPP. O número de reservas
apresentadas pelo Japão em comércio transfronteiriço de serviços e em investimentos não é
pequeno e, em geral, os acordos bilaterais trazem pouca liberalização adicional em relação aos
compromissos multilaterais.
Em investimentos, as disposições da TPP são muito mais detalhadas do que as do acordo com
a Índia, mas ambos os acordos contemplam a cláusula polêmica de solução de controvérsias
investidor – Estado. Nesta área, o principal desafio para o Brasil seria lidar com as disciplinas
aplicáveis a requisitos de desempenho e com o mecanismo citado. Na realidade, o modelo de
acordo de investimentos adotado pelo Japão, embora flexível, distancia-se dos ACFIs defendi-
dos pelo Brasil. Mas não se pode excluir a hipótese de que o processo de negociação flexibilize
posições e permita soluções de compromissos mesmo em temas sensíveis.
Em compras governamentais, não há um capítulo com disposições de acesso a mercados no
acordo com a Índia, em contraste com a TPP, que tem um longo capítulo sobre o tema, incluindo
disciplinas de acesso e listas de entes governamentais e de bens e serviços incluídos no acordo.
O contraste entre os dois acordos nessa área temática sugere que o Japão pode vir a demons-
trar, em eventual negociação com o Brasil, alguma flexibilidade, quanto ao escopo do capítulo e
disposições de acesso a mercado, para contemplar as sensibilidades brasileiras.
Do lado dos interesses ofensivos neste tema, há que se levar em conta que, nos acordos pre-
ferenciais de que o Japão participa e que contam com capítulos específicos de compras gover-
namentais, os compromissos assumidos são praticamente os mesmos dos firmados na esfera
multilateral, o que é confirmado pelos compromissos assumidos pelo Japão na TPP.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
REFERÊNCIAS
OCDE. Government at a glance 2015. 2015. Disponível em: <http://www.oecd-ilibrary.org/governan-
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OMC. Trade policy review: report by the secretariat: Japan. WT/TPR/S/351. 18 jan. 2017. Disponível
em: <https://www.wto.org/english/tratop_e/tpr_e/s351_e.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2017.
NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
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75NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
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79NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
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81NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O JAPÃO: INTERESSES OFENSIVOS DO BRASIL
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CNI
Robson Braga de AndradePresidente
DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – DDICarlos Eduardo AbijaodiDiretor de Desenvolvimento Industrial
Gerência-Executiva de Negociações InternacionaisSoraya RosarGerente-Executiva de Negociações Internacionais
Gerência-Executiva de Comércio ExteriorDiego BonomoGerente-Executivo de Comércio Exterior
Gerência de Política Comercial Constanza NegriGerente de Política Comercial
Fabrizio Panzini Coordenação
Carolina MatosEduardo AlvimSilvia MenicucciRonnie PimentelCristhyane MartinsLeandro BarcelosFelipe CarvalhoEquipe Técnica
DIRETORIA DE POLÍTICAS E ESTRATÉGIA – DPEJosé Augusto Coelho FernandesDiretor de Políticas e Estratégia
Gerência Executiva de Pesquisa e Competitividade – GPCRenato da FonsecaGerente-Executivo de Pesquisa e Competitividade
Carla Regina Pereira GadêlhaProdução Editorial e Diagramação
DIRETORIA DE SERVIÇOS CORPORATIVOS – DSCFernando Augusto TrivellatoDiretor de Serviços Corporativos
Área de Administração, Documentação e Informação – ADINFMaurício Vasconcelos de Carvalho Gerente-Executivo de Administração, Documentação e Informação
Alberto Nemoto YamagutiNormalização
CINDES BrasilFuncexElaboração do Estudo