O Bullying como um ato infracional e a O Bullying como um ato infracional e a responsabilização do adolescente que o praticaresponsabilização do adolescente que o pratica
Dra. Ana Carolina Garcia CostaDra. Ana Carolina Garcia Costa
O Bullying como um ato infracional
e a responsabilização do adolescente
que o pratica.
Palestrante: Ana Carolina Garcia Costa
O que é Bullying? O bullying é uma forma de violência que ocorre na
relação entre pares, sendo mais comum entre os
estudantes. É definido como um conjunto de
atitudes agressivas, intencionais e repetitivas,
adotadas por um indivíduo contra outro(s), sem
motivos evidentes, causando dor e sofrimento e
dentro de uma relação desigual de poder, o que
possibilita a intimidação.
OBS: Há entendimento de que o bullying pode
ocorrer também entre professores e alunos.
O que é Bullying?São atos de desprezar, denegrir, violentar, agredir,
destruir a estrutura psíquica de outra pessoa sem
motivação alguma e de forma repetida.
O bullying não pode ser confundido com
brincadeira. É violência gratuita e intencional. É
marcado por um jogo de poder, no qual os mais
fortes – do ponto de vista físico, emocional,
econômico, social – convertem os mais fracos – sob
os mesmos pontos de vista - em objetos de diversão
e prazer.
O Autor do BullyingO autor de bullying é movido pelo desejo de
popularidade, aceitação, status de poder no grupo
social. Para isso, submete aquele que elegeu como
“bode expiatório” à situação de inferioridade, ao
escárnio público na escola ou na internet. Humilha,
constrange, difama, intimida,
persegue, amedronta.
Suas ações são validadas por muitos que assistem e
acabam por participar - direta ou indiretamente -,
como espectadores ativos, passivos ou omissos.
Efeitos do BullyingOs efeitos do bullying afetam a todos, em especial às
vítimas, que poderão ter seu processo de
desenvolvimento comprometido. Dependendo da
gravidade da exposição e temporalidade, as seqüelas
podem acompanhá-las além do período acadêmico.
Poderão se tornar adultos inseguros, tensos,
agressivos, deprimidos, com dificuldades relacionais e
afetivas. Poderão desenvolver transtornos e doenças
de fundo emocional, adotar condutas ofensivas,
reproduzir o sofrimento em outros contextos, como no
trabalho e na família.
Questão a ser debatida
Uma vez posto o conceito de Bullying e
suas consequências deletérias, a pergunta
que fica no ar é:
O que então o sistema Judiciário e os
estabelecimentos de ensino podem
fazer para enfrentar questões
envolvendo bullying?
Considerações sobre o ECAA Lei 8.069/90 delineia a Doutrina da Proteção
Integral, ratificando a absoluta prioridade (art. 4º)
com que devem ser tratadas as pessoas em
desenvolvimento (art. 6º), impondo o dever à família, à
comunidade, à sociedade em geral e ao Poder Público
de assegurar a efetivação dos direitos referentes à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
Ao tratar sobre o tema da prevenção, o Estatuto
estabelece como regra geral que: Art. 70. É dever de
todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente.
Esta norma impõe um dever geral de prevenção à
sociedade (aí incluída as escolas), à família e ao Poder
Público, seja mediante ações afirmativas tendentes a
promover os direitos fundamentais descritos no ECA,
seja mediante a abstenção da prática de atos que
ofendam tais direitos, sob pena de responsabilização
civil, criminal e infracional.
Considerações sobre o ECAAto Infracional X Ato de Indisciplina
O ECA considera ato infracional a conduta descrita
como crime ou contravenção penal praticada por
menor de 18 anos (arts. 103 e 104 do ECA).
Já o ato de indisciplina depende unicamente da
inobservância das normas e diretrizes fixadas pelo
regimento escolar.
Quais são as atitudes muitas vezes tomadas pelas
escolas em relação às situações que se enquadram no
fenômeno descrito como bullying?
Considerações sobre o ECAA. Excessiva permissividade ou omissão por parte de
professores e dirigentes das escolas, os quais tendem a
tratar tais atos de violência brincadeiras próprias da
infância.
B. Atitudes de rigor excessivo quando se busca punição via
boletim de ocorrência circunstanciada para atos que
poderiam ser resolvidos tão-somente no âmbito escolar.
C. Escolas abertas a mediação do conflito através do
diálogo com os envolvidos.
Considerações sobre o ECA
Dessa via, somente nos casos em que a escola já
utilizou de todos os meios para solucionar a
questão, chamando todos os envolvidos e seus
familiares para o diálogo, é que entendemos que
a criança ou adolescente deva ser encaminhada
para o Poder Judiciário. Uma das soluções,
conforme veremos, é o encaminhamento do caso
para a Justiça Restaurativa.
Considerações sobre o ECA
No caso de cometimento de ato infracional, deve-se
acabar com a crença popular de que os adolescentes
permanecem impunes. Os adolescentes se submetem
a um sistema de responsabilização socioeducativo,
que inclusive pode lhes privar a liberdade por prazo
indeterminado, no período máximo de 3 (três) anos
(no caso de imposição de medida socioeducativa de
internação ou de semiliberdade).
Considerações sobre o ECASegundo o sistema de responsabilização do ECA,
após a instauração da ação socioeducativa e sua
instrução, com a observância dos princípios da
ampla defesa e do contraditório, poderá ser imposta
uma medida socioeducativa aos adolescentes e
também medidas protetivas, conforme veremos.
Já a responsabilização da criança fica adstrita às
medidas de proteção previstas no art. 101 do
Estatuto, nos termos do art. 105 da mesma Lei.
Considerações sobre o ECADas Medidas de Proteção
As medidas de proteção destinadas às
crianças e aos adolescentes são aplicáveis
sempre que houver violação ou ameaça aos
direitos previstos no ECA, seja em razão de
sua própria conduta, por ação ou omissão
da sociedade ou do Estado, ou por falta,
omissão ou abusos dos pais ou responsável.
Considerações sobre o ECA
Medidas de Proteção – Art. 101
IV.Inclusão em programa comunitário ou oficial
de auxílio à família, à criança e ao adolescente.
V.Requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial.
VI.Inclusão em programa oficial ou comunitário de
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos.
Considerações sobre o ECADas Medidas socioeducativas
O ECA arrola as medidas socioeducativas que
podem ser aplicadas quando for verificada a
prática do ato infracional, sendo elas:
a) ADVERTÊNCIA – a advertência consiste em
admoestação verbal e visa à reeducação do
adolescente e estímulo para não voltar a
cometer infrações.
Considerações sobre o ECAb) REPARAÇÃO DO DANO- deve ser aplicada quando o ato
infracional tiver reflexos patrimoniais e quando for
possível exigir que o adolescente restitua a coisa, promova
o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o
prejuízo da vítima.
c) PRESTAÇÃO DE SERVICOS À COMUNIDADE (PSC)-
consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse
geral por período não excedente a seis meses junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
estabelecimentos congêneres, bem como em programas
comunitários ou governamentais.
Considerações sobre o ECAd) LIBERDADE ASSISTIDA (L.A.)- trata-se de medida de
acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente, sem
haver restrição da liberdade do adolescente. Tem por finalidade
precípua a integração do adolescente à vida em sociedade e em
família através da orientação por parte de um técnico da área
social. A duração mínima será de seis meses, cabendo ao
Ministério Público e ao Poder Judiciário acompanhar sua
execução. O art. 119 do ECA traz algumas possibilidades de
intervenção por parte do orientador da Liberdade Assistida,
como a supervisão à frequência escolar do adolescente e
diligências no sentido de sua inserção no mercado do trabalho.
Considerações sobre o ECA
e) SEMILIBERDADE- é medida de restrição
parcial da liberdade do adolescente.
f) INTERNAÇÃO EM ESTABELECIMENTO
EDUCACIONAL: medida privativa sujeita
aos princípios da brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição
peculiar da pessoa em desenvolvimento.
Considerações sobre o ECAA aplicação da medida socioeducativa deverá
levar sempre em conta os seguintes fatores:
a)A capacidade do adolescente em cumprir a
medida socioeducativa, doravante denominada
MSE.
b)As circunstâncias do ato infracional.
c)A gravidade da infração.
Considerações sobre o ECAEstas medidas poderão ser aplicadas isoladas ou
cumulativamente, bem como substituídas a
qualquer tempo, o que poderá ser feito no decorrer
da execução da MSE.
Do mesmo modo, a aplicação da medida
socioeducativa pelo Juiz levará em conta as
necessidades pedagógicas do adolescente,
preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários.
Considerações sobre o ECA5. Dos atos infracionais comumentes
relacionados às práticas de bullying
Cumpre registrar que todo ato de bullying é um
ato ilícito, causando lesão à dignidade da
pessoa humana, estando todos (poder público e
cidadãos) obrigados a respeitar este direito
constitucional,sob pena de responsabilização
nas esferas cível e criminal.
Considerações sobre o ECA Pela experiência vivenciada na Vara da Infância e Juventude
Infracional/CIA - BH, percebemos a identificação de alguns
atos infracionais frequentemente ligados à prática de bullying,
principalmente no ambiente escolar, quais sejam:
a)Lesão corporal (art. 129 do CP) e vias de fato (art. 21 da LCP)
b)Ameaça (art. 147 do CP)
c)Crimes contra a honra (injúria, difamação e calúnia).
Obs: Há um Projeto de Lei no Senado Federal com propostas
de criminalização do Bullying.
Considerações sobre o ECA
Há violências outras que caracterizem o fenômeno,
consoante se depreende do julgado do TJDF:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. TENTATIVA DE
ROUBO E POSTERIOR EXTORSÃO CONTINUADA.
CREDIBILIDADE DA PALAVRA DA VÍTIMA.
AFASTADA A CONTINUIDADE DELITIVA.
SENTENÇA MANTIDA 1.
A vítima, um garoto com apenas quatorze anos de
idade, foi submetida ao que a Associação
Brasileira Multiprofissional de Proteção à
Infância e à Adolescência denomina de bullying.
Seu sofrimento começou a partir de uma
tentativa frustrada de roubo, quando gritou por
socorro e o réu se afastou, temendo a reação dos
transeuntes. Desde então, passou a importuná-la
no caminho da escola, exigindo-lhe dinheiro.
As ameaças de morte a si e aos familiares levavam-na
a entregar ao extorsionatário todo o dinheiro que
ganhava dos pais, passando também a vender seus
pertences a fim de atender a essas exigências. Diante
do clima de terror que lhe infundia o algoz,
desenvolveu grave distúrbio psicológico que
prejudicaram seu desempenho escolar e a obrigaram
a tratamento especializado, passando a ser medicada
com psicotrópicos. (Apelação Criminal n.
2004091011545-4-APR – DF, 3.10.2008)
Diante desses atos o representante do Ministério
Público procederá imediata e informalmente à
oitiva do adolescente, e sendo possível, seus pais
ou responsável, vítima e testemunhas e, de
acordo com o art. 180 do Estatuto, poderá:
I. Promover o arquivamento dos autos;
II.Conceder a remissão;
III.Representar à autoridade judiciária para
aplicação de medida socioeducativa.
Obs: O adolescente será responsabilizado
pelo ato infracional cometido. As medidas
administrativas devem ser tomadas pela
escola junto a Secretaria de Educação,
sempre observado o direito de acesso e
permanecia e da proteção integral do
adolescente.
Justiça Restaurativa Em qualquer dessas alternativas, conforme previsto
pela Lei 12594, de 18 de janeiro de 2012 (Lei do
Sinase), o Juiz, a requerimento do Ministério Publico,
poderá encaminhar o caso para a Justiça Restaurativa,
tendo em vista que em seu art. 35, incs. II e III, há
previsão da excepcionalidade da intervenção judicial e
da imposição de medidas, favorecendo-se meios de
autocomposição de conflitos, bem como a prioridade a
práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre
que possível, atendam às necessidades das vítimas.
O que é Justiça Restaurativa?
Justiça Restaurativa pode ser definida como “Um processo
através do qual todas as partes envolvidas em um ato que
causou ofensa reúnem-se em círculos restaurativos para
decidir coletivamente como lidar com as circunstâncias
desse ato e suas implicações para o futuro" na busca de
soluções que promovam acordo, reconciliação e
segurança. (Tony Marshall-1996).
A grande vantagem é que a Justiça Restaurativa envolve
todos na identificação do que está ocorrendo e na
construção de formas alternativas de reparação dos danos.
A Justiça Restaurativa, mais do que preocupada com a
infração à regra, volta-se, sobretudo, às
consequências da situação de conflito, aos danos e,
por conseguinte, à relação entre as pessoas
envolvidas, tanto as afetadas diretamente (vítima e
ofensor), como indiretamente (família, suportes -
amigos, colegas - e comunidade), tendo, portanto, o
encontro e confronto destas pessoas e grupos como
condição para atingir seus resultados, através de sua
competência e recursos pessoais.
Os valores que regem a Justiça Restaurativa são:
Empoderamento;
Participação;
Autonomia;
Respeito;
Busca de sentido e
pertencimento na
responsabilização pelos
danos causados, mas
também na satisfação
das necessidades
evidenciadas a partir
da situação de conflito.
Conclusões
A punição não provoca necessariamente a reflexão sobre as
causas que estão na raiz do conflito. O importante é
comprometer a todos os envolvidos, e chegar a um plano de
ação factível, que respeite os indivíduos e suas
necessidades.O diálogo que deveria estar presente na ação
educativa e que raramente ocorre em sala de aula, ocorre
nos procedimentos estabelecidos nos Encontros
Restaurativos. Tais procedimentos garantem que todos
possam ser ouvidos igualmente, sem julgamentos prévios e
definições de quem está certo ou errado.
Conclusões A escola tem uma responsabilidade que vai muito
além do ensino de um conteúdo pedagógico
programado. “As escolas são solicitadas a ter
responsabilidade ativa em ensinar às crianças as
habilidades da vida que ajudarão em seu
desenvolvimento social e pessoal. As habilidades de
resolução de conflito constituem um enfoque
fundamental nessas atividades”. Jones e Bodtker.
Exemplo da Justiça Restaurativa nas escolas de São
Caetano do Sul- SP.
Sugestões de Prevenção ao Bullying nos
Espaços Escolares melhor vigilância durante
os intervalos das atividades;
equipe de trabalho voltada
para o desenvolvimento do
meio social da instituição;
elogiar iniciativas de
combate ao bullying
adotadas pelas crianças,
adolescentes e/ou jovens;
Reunião de pais e
funcionários da instituição;
Utilizar normas claras;
Aplicar sanções quando
necessário;
Ouvir envolvidos;
Criar outras possibilidades
de acordo com a realidade
da instituição;
Reflexão Final
Todos têm receio de ser alvo de
humilhação, exclusão ou brincadeiras de
mau gosto por parte dos colegas, mas
poucos pensam sobre suas atitudes e se
elas estão causando sofrimento ao outro.
Reflexão FinalQuem praticou o ato ofensivo deve assumir a
responsabilidade pelo que praticou,
compreendendo as consequências para o outro
e para si mesmo, das escolhas que fez. A
responsabilidade pelas implicações do ato
ofensivo não é apenas de quem praticou o ato,
mas de um conjunto de atores sociais, inclusive
do Poder Público e da comunidade.
REFERÊNCIAS ALBINO, Priscilla Linhares e Terêncio, Marlos Gonçalves - CONSIDERAÇÕES
CRÍTICAS SOBRE O FENÔMENO DO BULLYING: DO CONCEITO AO COMBATE E
À PREVENÇÃO
CALHAU. B. L. “Bullying: o que você precisa saber”. Impetus, 2ª edição. Rio de
Janeiro: 2010.
CECCON. Claudia et all. Conflitos na escola: modos de transformar: dicas para
refletir e exemplos de como lidar.CECIP: Imprensa Oficial de São Paulo; São Paulo,
2009.
MEIRELLES. Cristina T. Assumpção et all. Justiça Restaurativa como método de
resolução de conflitos. 1º Encontro sobre Mediação Escolar e Comunitária.
www.mediativa.org.br acessado em 09/08/2012 as 14:04.
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal 8069/90 de 13 de julho de
1990.
Produção de Laís Bodnzky. Filme: “As melhores coisas do mundo”. Brasil: 2010.