TYRONE ANDRADE DE MELLO
O OLHAR SOBRE O NEGRO SUL-RIO-GRANDENSE NO IMAGINÁ RIO DOS
VIAJANTES EUROPEUS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX
FACULDADE PORTO-ALEGRENSE – FAPA
OUTUBRO DE 2010
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FACULDADE PORTO-ALEGRENSE – FAPA
OUTUBRO DE 2010
TYRONE ANDRADE DE MELLO
O OLHAR SOBRE O NEGRO SUL-RIO-GRANDENSE NO IMAGINÁ RIO DOS
VIAJANTES EUROPEUS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX
MONOGRAFIA apresentada à Comissão
Julgadora do Curso de Pós-Graduação, como
exigência para a obtenção do título de
Especialista em História da África e Afro-
Brasileira pelo Núcleo Integrado de Pós-
Graduação da FAPA.
Orientador: Ms. Jorge Euzébio Assumpção
3
BANCA EXAMINADORA
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_______________________________________________________
_______________________________________________________
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha querida irmã Viviane
(em Londres)
À minha querida mãe pelo amor, compreensão e
incentivo e exemplo de força e determinação. Ao meu
pai de criação pela sua postura.
A todos meus amigos e amigas por me receberem
tanto carinho e dedicação, contornando
pacientemente as crises e me proporcionando
alegrias.
5
AGRADECIMENTO
Ao Orientador Prof. e Ms. Euzébio Assumpção, por sua
postura, desprendimento e auxílio;
Aos professores e coordenadores do Curso de Pós-
Graduação em História Africana e Afro-Brasileira, pelo
estímulo dado ao longo dos dois anos;
Às secretárias da Pós-Graduação e funcionários da
Faculdade pela amizade e carinho;
A Direção, amigos e colegas das Escolas Luiz Gama,
Jerônimo de Ornelas, Três de Outubro e Landel de Moura
pela compreensão;
Aos colegas do curso, em especial ao Cláudio Bandeira e
Luiz Cláudio Knierim;
À minha família.
6
SUMÁRIO
Introdução...................................................................................................... 7
Capítulo I - Breve histórico do Rio Grande do Sul no período escravista … 1-O Negro no Rio Grande do Sul..................................................................
10 13
Capítulo II – A Origem do Negro Sul-Rio-Grandense e os viajantes europeus......................................................................................................... 1.Os negros no olhar dos viajantes................................................................ 2.A relação entre charqueadores e escravos negros no olhar dos viajantes.. 3. O Perfil dos viajantes................................................................................. 4. A ideologia do trabalho.............................................................................. 5.Os testemunhos dos viajantes sobre os castigos.........................................
16 18 20 28 30 33
Considerações Finais..................................................................................... 38
Anexos 40
Tratado de Santo Ildefonso …...................................................................... 41
Entrada de africanos no Rio Grande do Sul.................................................. 42
Referência histórica dos negros através de imagens...................................... 43
Referências Bibliográficas............................................................................. 48
7
INTRODUÇÃO
A História dos negros no Rio Grande do Sul não tem recebido a atenção que merece, em
que pese o avanço das pesquisas sobre a escravidão no século 19. Embora tenhamos vários
relatos e uma vasta documentação sobre o tema, como por exemplo, também o olhar dos
viajantes que visitaram o Brasil meridional. Estes, em grande parte, influenciados pelas
ideias racistas europeias, produziram imagens estereotipadas oriundas do discurso
imperialista que dominados por conceitos racistas tentam justificar a dominação do elemento
branco sobre os demais:
“O historiador russo Léon Poliakov, ao analisar o mito ariano sob uma ótica de longa
duração, percebeu que as bases do arianismo já se encontravam na Europa desde a
Idade Média. O autor destaca a importância dos ‘mitos de origem’ nas sociedades
europeias, que, no século XIX, combinado com as teorias raciais, ditas científicas,
deram a sustentação ideológica para o surgimento do mito ariano, que, mais tarde,
estaria no cerne do discurso hitlerista. Esses mitos de fundação das nações traziam
em seu interior exclusões que, apesar de não se basearem em diferenças físicas,
buscavam segregar determinados grupos de indivíduos. Foi o caso, por exemplo, da
Espanha, onde a herança visigótica foi invocada para se opor aos cristãos novos, em
grande parte, descendentes de muçulmanos e judeus; ou da França, onde, por muito
tempo, a nobreza se auto-intitulava de origem franca, contrapondo-se aos servos,
que seriam de origem gaulesa ou romana, por isso, subjugados.
Segundo Poliakov, em 1684 o francês François Bernier (1625-1688) observou a
existência de quatro ou cinco raças de homens, constituídas pelos: europeus, aos que
se juntavam os egípcios e os hindus morenos, cuja cor é apenas acidental, causada
pelo fato de se exporem ao sol; os africanos, cuja negrura é essencial; os chineses e
os japoneses, com ombros largos, rosto chato, nariz achatado, e ‘pequenos olhos de
porcos’; e os lapões, ‘animais infames’. Já os indígenas, eram considerados por
Bernier como próximos dos europeus. O importante desta classificação é que nela o
autor identifica o que parece ser ‘o primeiro escrito em que o termo ‘raça’ aparece
em seu sentido atual’.
8
No século XVIII, Carolus Linnaeus, ou simplesmente Carlos Lineu (1707-1778),
buscou formular uma teoria ‘científica’ sobre a divisão da humanidade em raças.
Considerado o pai da taxonomia biológica, sugeriu a divisão do homem em quatro
raças, baseada na origem geográfica e na cor da pele: ‘Americanus’, ‘Asiaticus’,
‘Africanus’ e ‘Europeanus’, além do ‘Homo ferus’ (selvagem) e ‘Homo
monstruosus’ (anormal). Segundo Demétrio Magnoli, a raça ‘Europeanus’ era
constituída por indivíduos inteligentes, inventivos e gentis, enquanto os índios
americanos seriam teimosos e irritadiços, os asiáticos sofreriam com inatas
dificuldades de concentração e os africanos não conseguiriam escapar à lassidão e à
preguiça.
Buffon (1707-1788), conhecido naturalista francês, pensou, ainda no século XVIII, a
idéia de degeneração, que seria amplamente usada em meados do século seguinte
para se discutir as misturas raciais. Para o autor, se não existisse o fato de que o
negro e o branco podem:
'produzir juntamente… haveria duas espécies distintas; o negro estaria para o
homem como o asno para o cavalo, ou antes, se o branco fosse homem, o negro não
seria mais homem, seria um animal à parte como o macaco…'“1
Este trabalho elege como objeto de pesquisa o negro sul-rio-grandense que veio
escravizado de outro continente, distante e desconhecido, trabalhar nos grandes latifúndios,
comércio, olarias, trabalhos domésticos etc., contribuindo assim para a formação da história
sociocultural e econômica do atual Rio Grande do Sul. Para tanto nos valeremos dos relatos
de três viajantes: Saint-Hilaire, Arsène Isabelle e Nicolau Dreys que passaram pela Província
de São Pedro.
A pesquisa faz a seguinte indagação:
Neste trabalho procuraremos descrever sobre as diferentes situações do negro sul-rio-
grandense narrados pelos citados viajantes europeus que cruzaram o Rio Grande do Sul entre
1 GIAROLA, Flávio Raimundo. Racismo e teorias raciais no século XIX: principais noções e balanço
historiográfico. (on-line) disponível em: http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=313
9
1815 a 1833. No primeiro capítulo, caracteriza-se o contexto africano e colonial, que
enquadraram o negro no Rio Grande do Sul. No segundo capítulo, o negro no olhar dos
viajantes.
10
CAPÍTULO I
Breve histórico do Rio Grande do Sul no período escravista
Uma grande parte do território sul-rio-grandense é constituído de fronteiras abertas com
a Argentina e o Uruguai, sendo historicamente, o estado brasileiro que mais vínculos possui
com países vizinhos. Formado como ponto estratégico para a definição e manutenção de uma
região de contenda, o Rio Grande do Sul foi área de litígio como afirmou Silmei de Sant'Ana
citando Targa:
“após as independências das colônias americanas, o Rio Grande do Sul passou a
constituir a única verdadeira fronteira do Império do Brasil com as repúblicas
hispano-americanas que rivalizavam política, militar e economicamente com ele: a
Argentina, o Uruguai e o Paraguai, quando o Brasil fazia a guerra ou quando sofria,
o palco brasileiro afetado era sempre o território do Rio Grande do Sul: Local de
fácil passagem das tropas entre os Estados em guerra”.1
A história do Rio Grande do Sul está profundamente identificada com as disputas
territoriais realizadas na Bacia Platina, as quais foram além do período colonial, pois a partir
de 1822, ano da emancipação política do Brasil (independência), a ofensiva diplomática e as
campanhas militares se intensificaram na região.
O historiador Silmei de Sant'Ana chama atenção que os sul-rio-grandenses assumiram
papéis estratégicos no jogo dos interesses metropolitanos. Os comandantes e as tropas
militares brasileiras que lutavam pelo controle da Bacia Platina se constituíam, em grande
parte, por sul-rio-grandenses. A maioria dos efetivos era recrutada entre trabalhadores,
posseiros, proprietários de terras locais e, não raramente, incluíam escravos negros.
Para Fábio Kuhn, durante o século XVIII e nos anos iniciais do século XIX, o Rio
Grande do Sul inseriu-se economicamente no mercado interno brasileiro e o trigo foi a
principal atividade sulina. Já o historiador Mário Maestri explica que a produção de trigo e a
agricultura daria lugar à pecuária como base de riqueza sulina.2
1 PETIZ, Silmei de Sant'Ana. Buscando a liberdade: as fugas de escravos da província de São Pedro para além-fronteira (1815-1851).Passo Fundo: Ed. UPF, 2006,p.29-30. 2MAESTRI, Mário. O escravo gaúcho: resistência e trabalho. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1993,p.76.
11
Porém foi somente a partir da criação das grandes charqueadas, que houve com maior
intensidade a interação do Rio Grande Lusitano, ao restante do Brasil assim como a
afirmação e prosperidade desta região. A primeira grande charqueada, voltada para a
exportação, foi montada por José Pinto Martins às margens do arroio Pelotas, que segundo o
historiador Fábio Kuhn, teria sido este terreno concedido pelo governo. Segundo o mesmo, as
charqueadas tiveram seu desenvolvimento beneficiado por três fatores principais:
“Primeiro, a situação de paz decorrente da assinatura do Tratado de Santo Ildefonso,
1777, (ver anexo), que permitiu a expansão das estâncias de criação sobre as novas
terras, agora economicamente ocupadas; em segundo plano, tiveram influência as
secas ocorridas no Nordeste (Ceará, Piauí e Bahia) nas décadas de 1770 e 1790, que
desarticularam a produção de carne seca nessas regiões, criando um nicho de
mercado que passou a ser ocupado pela produção do Continente; finalmente, foi
decisivo o aumento crescente da demanda de gêneros alimentícios no Centro e
Nordeste do Brasil, em virtude do aumento populacional” 3
O trabalhador negro escravizado em geral esteve sempre presente na fazenda gaúcha,
mas em particular nas charqueadas. Em 1839, o comerciante francês Nicolau Dreys escreveu
que “às vezes os peões” são negros escravos, outras vezes, e mais comumente, são índios ou
gaúchos assalariados”.
Sobre a produção do charque afirmou ainda Fábio Kuhn: “o Rio Grande aumentou sua
produção de charque em um curto período de tempo, transformando-se numa das áreas de
crescimento mais acelerado do Império português no período de 1780 a 1820”, além de
integrar-se, definitivamente, ao cada vez mais expressivo mercado interno brasileiro.
Sobre as exportações provenientes das charqueadas relata o viajante Sant-Hilaire:
“Exportavam-se por ano, perto de vinte mil couros do porto do Rio Grande, mas em
1813, a exportação elevou-se a 215.500; em 1814, a 298.140; em 1815, a 269.830;
em 1816, a 207.525; em 1817, a 172.045; em 1818, a 189.280; em 1819, a 150.860.
Essas informações são as últimas e rigorosamente exatas, pois me foram dadas pelo
Sargento-mor Matheus da Cunha Telles, sócio de João Rodrigues Pereira de
Almeida, numa empresa de couros. O sr. Matheus forneceu-me, também, a relação
das quantidades de couros que saíram de Porto Alegre, durante os mesmos anos,
3KUHN,Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXV, 2002.p.68.
12
mas ele as considera como aproximativas; avalia em 150.000 os exportados daquela
cidade de 1813; em 170.000, os que o foram em 1814; em 155.000 a exportação de
1815; em 140.000, a de 1816; e, afinal, em 125.000, a dos anos de 1817, 1818 e
1819. Do volume dessas exportações, pode-se avaliar a de carne seca e a de sebo,
pois cada animal produz quatro arrobas de carne seca e doze de sebo.”4
Sobre as exportações destaca Fábio Kuhn: “entre 1790 e 1815, os produtos pecuários
responderam por 70% do total das exportações da capitania, destacando-se o charque, os
couros e o gado em pé (cavalos, mulas e bovinos). Os 30% restantes das exportações eram
representados principalmente por gêneros como o trigo e os queijos”.5
Sobre o mesmo assunto diz Euzébio Assumpção citando Alvarino Marques:
“ ‘Antes da independência o valor do charque sozinho representava 57% do valor total
das nossas exportações provinciais.
Junto com os demais produtos animais sebos e chifres, representavam 85% de tudo o
que se vendia para fora’
A julgar correto os dados apresentados, podemos afirmar que as charqueadas chegaram
a ser responsáveis por no mínimo, 85% das exportações gaúchas; ou seja, as exportações
sulinas, no período estudado, dependiam dos estabelecimentos charqueadores e por
consequência da mão-de-obra escrava.”6
Segundo o mesmo autor, somente após a fundação das charqueadas é que começou a
entrada, em grande escala e de maneira sistemática, a entrada de trabalhadores negros
escravizados.
O Rio Grande do Sul se articulou, assim, à economia colonial através de gado em pé,
charque e couro para diferentes regiões do nosso país, impulsionada pela força de trabalho do
braço negro, como veremos, os números totais da população escrava para a Província de São
Pedro totalizava em 26.010 indivíduos em 1814.
4SAINT-HILAIRE, Auguste de.Viagem ao Rio Grande do Sul. Trad. de Adroaldo Mesquita da Costa. Porto Alegre, 1999.p.77. 5Kuhn, Fábio.Op.Cit.2002.p.68. 6ASSUMPÇÃO, Jorge Euzébio. Pelotas: Escravidão e charqueadas, 1780-1888. (Dissertação de. Mestrado).
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, PUC-RS, Porto Alegre, 1994.
13
O Negro no Rio Grande do Sul
Os trabalhadores escravizados negros estabeleceu-se na Província de São Pedro do
Rio Grande do Sul em 1737. Segundo o historiador Mário Maestri, alguns dos paulistas e
lagunenses que a partir dos anos 1820, ocuparam os Campos de Viamão, devem ter trazidos
escravos negros.7 Já Vinícius Oliveira, citando Décio Freitas, diz:
“O município de Pelotas, por exemplo, grande centro da economia charqueadora
da província, possuía, em 1814, o total de 712 brancos, enquanto a soma de escravos
(1.226) com ‘livres de todas as cores’ (232) totalizava 1.458 pessoas. Já em Porto
Alegre, os números para essa mesma data apontam a existência de 2.746 brancos,
enquanto a soma de escravos e ‘livres de todas as cores’ totalizava 2.900 indivíduo.
O município de Piratini, área de estâncias criadoras de gado onde a escravidão teria
tido, segundo determinada historiografia, pouca relevância e difusão, apresentava no
referido ano um total de 1.439 brancos, enquanto o número de escravos (1.535)
somado aos ‘livres de todas as cores’ (335) totalizava 1.870 almas. Quanto aos
números totais para a Província de São Pedro, nessa mesma data, a soma de escravos
com os ‘livres de todas as cores’ totaliza 26.010 indivíduos. Se a esses números
foram somados os 8.655 indígenas, chega-se ao total de 34.665 indivíduos não
brancos, superando em 2.365 pessoas o número total de brancos, que era de
32.300.”8
Assim como em diversas áreas do nosso país o negro esteve presente, em maior ou
menor escala, em quase todos os poros da sociedade sul-rio-grandense e ao longo dos anos
desempenhou as mais diversas atividades urbanas e rurais como agricultor, carregador,
pedreiro, artesão, trabalhador nas olarias e curtumes, tropeiros de gado, peão, carneador e
campeiro nas estâncias, trabalhador doméstico, vendedor e outros.
Segundo Mário Maestri, porém, desde 1680, o negro desempenhou papel determinante
no relacionamento luso-espanhol meridional. Ele diz:
“Nos séculos 16 e 17, a Coroa espanhola limitou-se a conceder, graciosamente ou
não, licencias para a introdução de africanos no Novo Mundo. Nas primeiras
décadas, os possuidores destas cartas abasteceram-se com os lusitanos que
7MAESTRI, Mário. op.cit.1993.p.26 8OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. De Manoel Congo a Manuel de Paula – um africano ladino em terras meridionais.Edições EST, Porto Alegre, 2006..p.27.
14
controlavam o tráfico negreiro. De 1595 a 1640, no contexto da Unificação Ibérica
(1580-1640), viveu-se o período dos asientos portugueses. Na primeira metade do
século 17, os lusitanos detinham a exclusividade de internar um número anual
delimitado de cativos nas Índias Ocidentais hispânicas. Estes comerciantes
geralmente eram contratantes monopólicos do direito de extrair homens
escravizados da África portuguesa. Eles eram obrigados a desembarcar em
Cartagena (na costa atlântica da atual Colômbia) e em Veracruz (no atual México).
Dali, os africanos podiam ser distribuídos por toda a Colônia. Como estavam
afastadas desses portos, as regiões andinas e as do Rio da Prata ficavam 'mal-
abastecidas'.
A partir de 1640, com o fim da Unificação Ibérica, os lusitanos perderam o asiento
espanhol, só retomando em 1696. Neste interregno, os holandeses abocanharam
uma parte significativa da trata espanhola. Os portos de chegada continuavam no
Caribe e continuava a discriminação dos colonos e escravistas andinos e platenses.
Estes últimos insurgiram-se contra tal situação praticando um furibundo
contrabando. O Rio da Prata foi um privilegiado cenário deste tráfico clandestino.
Com o mineral do Alto Peru e os couros do pampa, pagavam-se as 'peças da Índia' –
os africanos escravizados. Com a perda do asiento e a crise do fim do século, a
Coroa lusitana resolveu institucionalizar o contrabando do Sul: em 1680, fundou a
'feitoria' do Sacramento.”9
Assim, o historiador chama atenção para o fato de que já havia um sistemático
contrabando de trabalhadores negros escravizados no Rio da Prata que se intensificou a partir
de 1737 com a fundação do Rio Grande Lusitano.
Sobre a participação do Negro na fundação de Rio Grande, afirma Cláudio Moreira
Bento:
“Dentro deste raciocínio é válido afirmar: o negro e descendentes estiveram
presentes em número expressivo entre os 150 homens do coronel de Ordenanças
Cristóvão Pereira de Abreu. Isso, na oportunidade em que assegurou, em terra,
condições militares para o desembarque em Rio Grande atual, na tarde de 19 de
fevereiro de 1737, do brigadeiro José da Silva Paes e sua expedição, para dar início
ao povoamento português oficial do Rio Grande do Sul” 10
9MAESTRI, Mário.Op. Cit.1993.p.24-5. 10 BENTO, Cláudio Moreira. Estrangeiros e descendentes na história do Rio Grande do Sul – 1865 a 1870. Porto Alegre, A Nação, Instituto Estadual do Livro, 1976.p.268. 11 SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit.1999.p.73.
15
Esses trabalhadores feitorizados desempenharam um importante papel na economia
sulina até o término da escravidão em que pese o grande número de “cartas de alforrias”
concedidas em 1884 com cláusula de prestação de serviço, principalmente pelos
charqueadores que salvo engano o segmento social que mais se beneficiou com a exploração
de seres humanos reduzidos ao cativeiro.
Sobre o tratamento dispensado aos cativos descreveu Saint-Hilaire:
“Nas charqueadas os negros são tratados com rudeza. Sr. Chaves, tido
como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos
com exagerada severidade no que é imitada por sua mulher, os
escravos parece tremer diante dos seus donos.
Há sempre na sala um pequeno negro de 10 a 12 anos, cuja função é
ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços
caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança.”11
Esta afirmação de Saint-Hilaire é de suma importância, pois além de mostrar o
tratamento a quem eram dispensado aos negros no Rio Grande do Sul se destaca também por
ser dito por alguém que sabidamente não demonstrava quaisquer tipo de simpatia pelos
africanos e descendentes.
Assim, com a proliferação das charqueadas o Rio Grande do Sul necessitou de grandes
contingentes de cativos, imprimindo uma importante transformação na economia gaúcha.
16
CAPÍTULO II
A ORIGEM DO NEGRO RIO-GRANDENSE E OS VIAJANTES EURO PEUS
A origem do negro gaúcho é desconhecida, já que o expansionismo ultramarino europeu
foi responsável por encontros e desencontros entre várias etnias e que foram trazidas através
da diáspara africana. Apesar dos novos estudos nesta área, ainda é uma tarefa muito difícil a
identificação étnica dos vários grupos que se concentraram no Rio Grande do Sul. Pois
geralmente a informação étnica dos trabalhadores escravizados se dá devido ao porto de
embarque em que esta se efetuou e, não necessariamente, ao local de origem onde havia sido
capturados
Em grande parte os escravos vindos para o Rio Grande do Sul foram embarcados em
portos nacionais como descreve Vinícius Pereira de Oliveira:
“Na tentativa de caracterizar brevemente o tráfico para esta província, recorremos
ao trabalho de Berute, que utilizando documentação referente à entrada de cativos
na região nos últimos anos do século XVIII e início do século seguinte, apresenta
algumas observações e dados demográficos sugestivos quanto ao comércio de almas
para região no período colonial.
'O Rio Grande do Sul inseria-se no comércio de escravos somente em sua etapa
interna, ou seja, participava do tráfico doméstico, não estabelecendo negociações
diretas com o continente africano. Em outras palavras, o abastecimento de escravos
no continente de São Pedro dava-se a partir dos demais portos da Colônia (Rio de
Janeiro, Bahia e Pernambuco).'
Nesse sistema, o Rio de Janeiro – maior porto importador de africanos escravizados
da América – figurava como o principal abastecedor de cativos para o Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais no século XIX, seja por
via terrestre ou marítima.”1
Segundo o historiador Mário Maestri, o grupo majoritário era quatro: angolas,
benguelas, congos e kicongos.
Afirma o mesmo autor:
1OLIVEIRA, Vinicius Pereira de.Op.Cit.2006.p.28-9.
17
“Os cativos que ingressaram no Rio Grande do Sul nos séculos 18 e 19 eram -
segundo a definição escravista da época – escravos 'novos' ou 'crioulos'.
Denominavam-se de crioulos os cativos nascidos no Brasil. De ‘novos’ ou de nação,
os trazidos recentemente da África. Estes últimos, após viverem algum tempo no
Brasil e aprenderem uma profissão e a falar, bem ou mal, português, passavam a ser
chamados de 'ladinos'. Em geral, os trabalhadores feitorizados possuíam apenas um
nome. A este, acrescentava-se sua profissão ou naturalidade, brasileira ou africana.
O cativo perdia o nome africano no momento em que era embarcado para a
América e sumariamente batizado/registrado numa praia do Continente Negro ou
já a bordo do tumbeiro (….) O nome de origem de um cativo pode somente assinalar
o porto em que ele foi embarcado. É o caso dos escravos 'minas', procedente da
fortaleza erguida, em 1482, pelos lusitanos, na 'Costa do Ouro', na atual Gana. Com
esse entreposto fortificado, esperava-se monopolizar o rico comércio aurífico que se
acreditava existir na região. Daí o seu nome: Castelo de São-Jorge-da-Mina. O ouro
ali escambado inicialmente pelos lusitanos não era de produção local e esgotou-se
rapidamente. Com o crescimento da importância do comércio negreiro, esta
fortaleza, de altos muros e poderosamente artilhada, dedicou-se sobretudo ao
tráfico. Seus porões podiam receber cativos. Os africanos que de lá partiam eram
chamados 'minas' “2
A grande concentração de africanos e descendentes no Rio Grande do Sul, ocorreu na
antiga São Francisco de Paula, atual cidade de Pelotas, onde encontramos a maior
concentração de trabalhadores escravizados proporcionalmente no Rio Grande do Sul, assim
como um dos mais completos estudos em relação aos aspectos demográficos, sobre a
população negra cativa.3
Infelizmente os viajantes estudados não se detiveram nas observações étnicas das
populações, negras escravizadas, carecendo ainda este assunto de uma investigação mais
apurada para toda a região meridional do Brasil.
2 MAESTRI, Mário.Op.Cit.1993.p.30-1. 3ASSUMPÇÃO, Euzébio. Op.Cit.1994.pp.175.
18
Os negros no olhar dos viajantes
Ser escravo não é somente viver trancado em uma senzala, sob vigilância contínua ou
agrilhoado. Sem dúvida um escravo não tem direito de escolha, tem sua liberdade restringida,
mas não necessariamente é um homem que vive aprisionado. Ao longo da história existiram,
entre os diversos povos, diferentes formas de escravidão.
Em várias sociedades, ser escravo significou ser proprietário de outro, não ter o direito
de decidir sobre a própria vida. Enfim, ter sua vontade dominada pela de outra pessoa. Em
muitos casos, no decorrer da história humana, o não cumprimento das ordens do senhor por
parte do cativos resultava em castigo corporal ou na execução de alguma tarefa ainda mais
árdua. No Brasil colonial, por exemplo, os conflitos sociais eram decidos tanto na esfera
pública quanto na privada. Muitos castigos eram públicos, de modo a servir de exemplo ao
restante da população livre ou escravizada. O que demonstrava o poder dos grandes senhores,
assim como seviria de forma didática para ensinar a escravaria na tentativa de reprimir os
atos de insubordinação de outros, e scravos ou não. Sobre a interferência do setor público que
se colocava aos serviços das classes abastada escreveu José Carlos Barreiro:
“Saint-Hilaire utilizou amplamente o expediente de recorrer às autoridades para resolver as
situações de conflito com os homens que lhe prestavam serviços. Passando por São Paulo em
1820, mandou confeccionar malas de madeira para sua expedição, pagando adiantado ao
mercenário encarregado da execução do serviço. Pisou o solo rio-grandense pela primeira
vez em Torres neste mesmo ano e esteve entre nós durante aproximadamente, considerando o
período de três meses em que visitou a Banda Oriental do Uruguai, então território
pertencente ao Império do Brasil.”4
O historiador chama atenção ao fato de que Saint-Hilaire procurava ressaltar a
indisciplina ao trabalho do homem livre (mameluco) de quem descumpriu o contrato. Para ter
suas malas prontas, porém, ele recorria sempre a uma intimidação maior, denunciando ao
governador da província, esperando uma solução para o problema social.
O mesmo autor escreve que era constante as relações de tensão entre o viajante e o
artesão urbano (mameluco, negro), mediadas pela intervenção coercitiva do presidente da
Província. Outro exemplo, quando ele conseguiu contratar um negro livre para integrar sua
4BARREIRO, José Carlos. A liberdade entendida como malandragem. In.: O Olhar dos Viajantes: O Brasil e a sua gente. Liliana Pinheiro (org.) SãoPaulo: Duetto, 2010.p.24.
19
comitiva como tocador, graças à intervenção do comandante da região. O tocador, porém não
havia aparecido às 9 horas do dia seguinte e Saint-Hilaire, indo até sua casa, ficou sabendo
que ele fugira durante a noite. O viajante comunicou o fato ao comandante da região, que
jurou manter o fugitivo na cadeia, enviando outro negro livre em substituição ao primeiro.
Saint-Hilaire procura apreender sempre situações que comprovem a ociosidade como
característica básica das classes subalternas no Brasil. Ele, estando no Rio Grande do Sul,
relata o descontentamento com o seu empregado: um negro livre:
“Há muito tempo, José Mariano vem repetindo que me deixaria ao chegar a
Montevidéu, e eu esperava todos os dias, que ele me pedisse suas contas. Foi ontem
que ele me revelou não ir mais adiante. 'O que o sr. me dá disse-me – não basta. Vou
partir para o Rio de Janeiro, se o senhor não me der o que vestir e calçar.' - Farei hoje
mesmo suas contas – respondi-lhe, e você pode ir quando quiser. De fato, esta manhã,
apresentei-lhe as contas, dizendo-lhe que pagaria na cidade acompanhado dele fui a
presença do Cavaleiro del Host e contei a este toda a história. Ele me exortou a ter
paciência e o desejo de completar a minha coleção de pássaros forçou-me a conservar
ainda este homem que já me afigurava insuportável. Ofereci-lhe, então, o dobro. E,
mediante este aumento, ele concordou em ficar, mas estipulamos que este dobro
seria descontado do seu ordenado, se ele me deixar antes de minha volta a Porto
Alegre.”5
Saint-Hilaire procura expor a ideia de trabalho como sinônimo de progresso e sucesso
individual sempre ligado à superioridade do europeu. Também produzia a imagem do negro
estereotipada quando diz em seus relatos:
“num país cujos habitantes têm ideias pouco desenvolvidas e estão acostumados à
preguiça, o europeu senhor da vantagem de ter muito maior destino deve
mecessariamente ganhar alguma coisa, se trabalhar com perseverança e comportar-
se bem.”6
Segundo Mário Maestri, a visão da hierarquização racial nasceu da racionalização da
exploração colonial que, principalmente a partir do século 19, procurou apoiar-se na ciência:
5SAINT-HILAIRE, Auguste de. Op.Cit, 1999..p.147-8 6 Ibid.p.147-8.
20
“Saint-Hilaire ensaia uma explicação fisiológica para a inferioridade do índio. Para
ele, 'os negros, raça tão distante da nossa também', seriam 'entretanto superiores
aos índios'. Saint-Hilaire abona os preconceitos nascidos da produção e do tráfico
negreiro sobre a hierarquização das raças africanas 'negros-mina, tribos bem
superiores a todas as outras'
O racismo científico abominava a miscigenação. Saint-Hilaire explicava a
ingratidão de dois acompanhantes por serem mestiços. Comparando possivelmente
as províncias de população maciçamente negra, com a importante comunidade
açoriana do Rio Grande do Sul, assinalou que a 'maior vantagem' do sul era sua
'população sem mescla', patrimônio que deveria ser mantido. O mestiço incorporaria
as qualidades inferiores das raças dos progenitores: 'essas misturas farão a Capitania
do Rio Grande perder a sua maior vantagem – a de possuir uma população sem
mescla'
A visão de Saint-Hilaire do trabalhador negro era pré-moderna. O francês explicava
as reações do trabalhador escravizado como decorrentes da raça; Chaves apontava-
as como causadas pela escravidão: 'os negros são naturalmente poucos ativos;
quando livres só trabalham o suficiente para não morrerem de fome'. Relacionando
certamente as condições de existência dos cativos pastoris com os das plantações
agrícolas, afirma que não havia 'lugar onde os escravos' fossem 'mais felizes' do que
no sul, onde os 'senhores' trabalhariam 'tanto quanto os escravos', manteriam-se
'próximos deles' e os tratariam 'com menos desprezo'. O 'escravo' comeria 'carne à
vontade', não andaria 'a pé' e sua ocupação seria 'galopar pelos campos', cousa mais
'sadia que fatigante'”7
A relação entre charqueadores e escravos negros no olhar dos
viajantes
O Polo charqueador, que foi responsável pela entrada em grande escala de trabalhadores
escravizados foi alvo de descrição por parte dos viajantes o que nos proporcionou ter uma
visão das duras condições de trabalho a que eram submetidos os negros. Nas palavras de
Dreys, que relatou sobre as relações entre os escravos negros e os charqueadores afirmou:
“Uma charqueada bem administrada é um estabelecimento penintenciário.”8
7MAESTRI, Mário.História e historiografia do trabalhador escravizado no Rio Grande do Sul (on-line). Disponível em: http://revistas.ufg.br/index.php/historia/article/viewFile/9061/6255 p.227. 8DREYS, Nicolau. Notícias descritiva província do Rio Grande do Sul. Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense,
1927..p.200.
21
Essa afirmação do viajante traz ao nosso conhecimento a importância da vigilância
em tais estabelecimentos, algo fundamental para o andamento das atividades produtivas das
charqueadas e para prevenir movimentos de resistência.
Essa afirmação é comprovada também por Saint-Hilaire, como segue:
“Afirmei que nesta Capitania os negros são tratados com bondade e que os brancos
com eles familiarizam, mais que em outros pontos do país. Referia-me aos escravos
das estâncias, que são um pequeno número; nas charqueadas a coisa muda de figura,
porque sendo os negros em grande número e cheios de vícios, trazidos da capital,
torná-se necessário tratá-los com mais energia.” 9
Segundo o historiador Euzébio Assumpção, o grande número de escravos em Pelotas
deve-se à produção de charque. Somando-se os libertos, que, salvo engano, seriam
descendentes de africanos, teremos um percentual de 60,2% de elementos afros. Por isso, o
controle era fundamental nesses grandes centros econômicos. De acordo com o censo de
1814, os escravos negros nesta frequesia superavam a soma das outras etnias. Enquanto que,
no ano do censo, os escravos pelotenses perfaziam um total de 5,8% de toda a população
cativa afro do Rio Grande do Sul, os brancos moradores naquela região somavam apenas
2,2% do total. Sobre o tema nos dias Saint-Hilaire:
“32.000 brancos, 5.399 homens de cor livres, 20.611 homens de cor escravizados e
8.655 índios”10
Sobre o grande número de escravos e a violência com que eram tratados nas
charqueadas, as historiadoras Zilá Bernd e Margaret Bakos escreveram:
“gerava descontentamento que sempre poderia manifestar-se sob a forma de
revoltas escravas. Essa era uma das grandes preocupações dos grandes
charqueadores, especialmente quando circulavam notícias de que nas cercanias dos
9SAINT-HILAIRE. Auguste de.Op.Cit.1999.p.73. 10 SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit.1999.p.46.
22
estabelecimentos organizavam-se quilombos. O receio do possível ajuntamento não
era ameaça apenas para o charqueador, mas para toda a sociedade civil.” 11
O historiador Moacyr Flores chama atenção que Dreys informa que o Rio Grande do
Sul era considerado o purgatório para os negros. Ele desfaz as duas ideias falsas de que a
população negra na província do Sul era moralmente péssima, porque para aqui viriam
escravos de má índole e de que na província predominavam péssimas condições para os
cativos. Argumenta que os escravos no Rio Grande do Sul não eram mais viciosos e nem
mais maltratados do que nas outras províncias. Os negros domésticos eram os mesmos em
toda a parte do país. Os escravos das estâncias trabalhavam só no rodeio. O trabalhador nas
charqueadas era mais exigente, principalmente no seu horário de trabalho de 12 horas, da
meia-noite até o meio-dia.12
11 BERND, Zilá; e BAKOS, Margaret M. O negro – consciência e trabalho. Porto Alegre: Ed. Da Universidade
/UFRGS, 1991.p.52 12 FLORES, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha: traição em porongos e farsa em Ponche Verde. 2ªed.
Porto Alegre: EST, 2010 (Raízes africanas, v.4).p.41-2.
23
TABELA: CENSO DA POPULAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL.POR ZONAS, SEGUNDO A
CONDIÇÃO DA POPULAÇÃO PRESENTE EM 1814.
FREGUESIA BRANCOS INDÍGENAS LIVRES ESCRAVOS R.NASCIDO TOTAL
Viamão 1545 11 188 908 160 2812
Santo Antônio da Patrulha
1706 8 330 961 98 3103
Conceição do Arroio 837 19 180 538 74 1648
S.Luiz de Mostarda 723 5 68 281 74 1151
N.S.dos Anjos (Aldeia)
1292 256 233 716 156 2653
Porto Alegre (cidade)
2746 34 588 2312 431 6111
S.Bom Jesus de Triunfo (vila)
1760 55 240 1208 193 3450
Santo Amaro 953 27 66 773 65 1884
S. José de Taquari (fazenda)
1092 42 67 433 80 1714
Rio Pardo (cidade)
5931 818 969 2429 298 10445
Cachoeira (vila)
4576 425 398 2622 204 8225
Piratini (vila)
1439 182 335 1535 182 3673
Pelotas 712 105 232 1226 144 2419
Rio Grande (cidade)
2047 38 160 1119 226 3590
Missões' (povos)
824 6395 77 252 403 7951
TOTAL DAS PROVÍNCIAS
32300 8655 5399 20611 3691 7951
Fonte: ASSUMPÇÃO, Euzébio, 1994,p:10.
O censo de 1814 mostra a presença do negro gaúcho na participação na formação do
Rio Grade do Sul e não apenas luso-brasileiros, açorianos, alemães e italianos.
Sobre o gaúcho, Carlos Alberto dos Santos Dutra diz:
“(...) o gaúcho histórico, vivido e testemunhado pelos primeiros viajantes, cientistas
e comandos militares que percorreram o Rio Grande do Sul de Espanha e de
Portugal no início do século XIX.
24
não é o mesmo gaúcho que é retratado pelos valores míticos atribuído pela literatura,
como veremos adiante. O retrato marginal e o perfil social do gaúcho descrito pelos
diferentes autores e personagens históricos submetem-se, sem dúvida, à mentalidade
da época em que foram produzidos esses escritos.
A descrição do gaúcho real, portanto, veicula igualmente ingredientes míticos que
servem de sustentação ideológica à classe dominante que se encontra no poder.
‘seu conteúdo simbólico reflete a realidade histórica e psicológica dos membros de
uma determinada sociedade que interpreta o mito com diferentes finalidades. Ou
seja, seu sentido e significado varia conforme a situação histórica.’”13
Sobre a descrição do gaúcho diz Nicolau Dreys diz:
“A população da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul se divide em duas
seções distintas: a população livre, predominantemente pelo número e pela
perfeição intelectual, e a população escrava, composta de africanos proletários e
trabalhadores, ou de seus descendentes na mesma condição social.
(…) um dos indivíduos em que circula o sangue europeu, seja como for o canto no
Velho Mundo que os vira nascer a eles ou a seus pais. Outro, dos homens de quem a
terra do Novo Mundo é a fundamental, quer dizer, dos indígena. Mas a Província
do Rio Grande oferece ainda a esse assunto a existência de uma nação mista,
intercalada entre as populações originárias e que pertence à raça livre, menos
ainda por sua extração, do que pela possessão imemorial de uma liberdade
indefinida que as leis das sociedades vizinhas podem dificilmente refrear,
dizemos nação, por ter essa associação excepcional, moral, costumes e gestos sui
generis, entendemos falar de gaúcho.”14
Sobre o assunto, o historiador Mário Maestri diz que os relatos de Nicolau Dreys:
“fornece informação sintética sobre a confirmação da população, formada por
'duas secções: 'livres' e 'escravas'. A segunda era formada por 'africanos' e 'seus
descendentes'; a primeira tinha uma 'subdivisão' em 'indivíduos em que circula
sangue europeu' e os 'indígenas'. Disserta sobre o terceiro grupo dos 'gaúchos',
'formados originalmente do contato com a raça branca com os indígenas'. Nega a
crença do resto do Brasil de que a 'população negra' sulina fosse 'moralmente
péssima' e que 'péssima' também fosse 'a condição (de existência) dos escravos'.
13 DUTRA, Carlos Aberto dos Santos. A outra face do Rio Grande – ideologia e mitificação do gaúcho histórico.
(on-line). Disponível em: http://www.paginadogaucho.com.br/tese/outraface.pdf p.10. 14 DREYS, Nicolau.Op.Cit.1927.p.156.
25
Visão oposta a do cativeiro privilegiado, dos escravistas sulinos, de Saint-Hilaire e,
mais tarde, da historiografia regional.
Afirma que jamais tinha visto no Sul 'os escravos nem mais viciosos, nem mais
maltratados'. Afirma que o cativo tinha pouco o que fazer nas estâncias e que, nas
charqueadas, o trabalho, 'mais exigente', não era 'pesado'. Os 'negros' seriam bem
alimentados, bem vestidos e bem tratados, o brigados apenas a 'um serviço usual' e
ao bom comportamento'. Defende que a escravidão era necessária para que o negro
não se entregasse às 'misérias e aos vícios' e que o cativo submetia-se sem
problemas à escravidão na África, mas se rebelava 'em todas as mais partes do
mundo'. Destaca que ser 'soldado' 'talvez' fosse a 'única profissão' para a qual o
'negro' seria 'naturalmente próprio'. Refere-se às tentativas e aos perigos de revoltas
servis.”15
A população escrava ocupava uma situação de destaque nas charqueadas, nas olarias,
nos transportes e em muitas fazendas. Sobre os escravos negros campeiros, diz Helen
Osório:
“As características da atividade pecuária no período colonial - extensiva, com pouca
necessidade de mão-de-obra, produzindo para o mercado interno, com baixos
rendimentos, pequena capacidade de acumulação e sempre vista como mera
atividade subsidiária das atividades exportadoras – foram interpretadas como um
óbice à utilização de mão-de-obra escrava.
Fernando Henrique Cardoso, que compartilhou tal explicação, surpreendeu-se com a
grande proporção de escravos (29%) presente no censo de 1780 e elaborou uma
explicação para esta importante presença do cultivo do trigo, inicialmente realizado
com mão-de-obra familiar, expandiu-se, possibilitou exportações e a acumulação de
capital necessária para a aquisição de escravos.
Concomitantemente, na década de 80, o estabelecimento das charqueadas
conformaria o ‘núcleo duro’ do escravismo no sul. Esta interpretação foi superada
pela simples consulta de outros tipos de fontes, que indicam importante presença de
escravos desde os primórdios da ocupação lusitana do território.
Kuhn analisou os róis de confessados de Viamão de 1751, quando a capela tinha
apenas pouco mais de 700 habitantes e 136 fogos. Encontrou uma população escrava
de origem africana que correspondia a 45% do total, além de 3,2% de índios
administrados. Os campos de Viamão, quatorze anos após a fundação do presídio de
Rio Grande (1737), possuíam uma proporção de escravos semelhante a das zonas
mineradoras ou de plantation! Naquele momento estavam estabelecendo-se as
15 MAESTRI, Mário.Op.Cit.(on-line).p.228.
26
primeiras estâncias de criação. Após a invasão espanhola de 1763, sua população
será reforçada por parte dos habitantes de Rio Grande que aí se refugiaram. Em
1778, a população escrava diminuiu para 40,5% do total, estando presente em 65%
dos fogos, ou unidades censais.
A escravidão aparece, portanto, como uma característica estrutural da região, ainda
no que poderíamos chamar de período formativo.
A utilização de mão-de-obra escrava nas lides da pecuária tem sido objeto de
discussão na bibliografia sobre o Rio Grande do Sul, mas tal discussão não avançou
em função das fontes analisadas, pois continuou-se consultando quase que
exclusivamente os relatos de viajantes, e dos mesmos viajantes.
Ainda que em 1962 Cardoso em seu livro sugerisse a utilização de inventários e
testamentos para dirimir a questão, pouco foi feito. Acompanhando as assertivas de
Décio Freitas, Mário Maestri conclui que ‘para a pecuária, o escravo era um fator de
produção fortuito’.
Mais recentemente, Zarth, baseado de uma amostra de inventários do séc. XIX
demonstrou a forte presença escravidão para municípios de várias regiões do Rio
Grande do Sul. Observou, corretamente, que nas estâncias não se praticava apenas a
pecuária mas também a agricultura; no entanto, lança a hipótese que os escravos
‘roceiros’ constituiriam a maior parte dos escravos das estâncias. Como ele não
analisou individualmente as unidades produtivas nem a quantidade de escravos
‘campeiros’ e ‘roceiros’ presentes em cada inventário, nada pôde concluir a
respeito.”16
Segundo Moacyr Flores, os viajantes Saint-Hilaire, Nicolau Dreys e Arsène Isabelle
descreveram as chácaras na periferia das vilas e povoados, com lavouras, pomares, hortas e
pequena quantidade de gado. Nessas lavouras trabalhavam escravos próprios do dono da terra
ou alugados. Ele diz:
“Quem tiver escravos para alugar para serviços da roça, procure João Caetano
Ferraz, morador na Rua da Praia, para efetuar o ajuste.
Na Rua de Bragança há para vender um negro roceiro, assim mais duas escravas de
mui pouca idade, tudo por preço cômodo, quem as pretender dirija-se à sobredita
Rua, casa nº 71, que achará com quem tratar.
Na Rua da Praia, nas casas do Sr. Manoel Ferreira Porto, há para vender três
escravos, sendo um próprio para todo o serviço e entende de roça; uma escrava que
lava e cozinha e uma negrinha que terá de 10 a 12 anos de idade.
16 OSÓRIO, Helen. Fronteira, Escravidão e Pecuária: Rio Grande do Sul no período colonial. (on-line)
Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/2/h4-09.pdf
27
Historiadores da corrente do materialismo histórico afirmam que, de acordo com a
lei de mais-valia, o estancieiro não empregava escravos no serviço de campo. O
historiador Décio Freitas, em sua obra O Capitalismo Pastoril afirma que os
escravos das estâncias trabalhavam somente em serviço doméstico e nas pequenas
roças. No entanto, percorrendo os anúncios de jornal, os relatos de viajantes e os
documentos do período Farroupilha, encontra-se o escravo campeiro e o negro forro
também como peão e agregado da estância. Saint-Hilaire deparou com um escravo
responsável pelo gado na parte ocidental da lagoa de Itapeva, morando numa
choupana e cuidando do correio que seguia pelo litoral.
Em julho de 1837, foi a leilão um negro, pelo juiz de Órfãos, portanto, fazendo parte
de uma herança, conforme o anúncio:
'No dia 8 e 12 do corrente, em casa do Senhor Juiz de Órfãos, se há de achar em
hasta pública, um escravo de nome João, nação cabinda, idade 19 anos, pouco mais
ou menos, bom campeiro, domador e roceiro; o qual está avaliado em 500$000 réis,
que se receberão em moeda de cobre grosso.
Vende-se um pardo, natural desta província, de idade de 25 a 26 anos, muito fiel e
sem vício algum, bom campeiro e domador, pela quantia de 1:000$000 réis, livres da
sisa, quem o pretender dirija-se ao porteiro da Alfândega, nesta cidade e na Estância
das Pederneiras, do cel. Filipe Neri.”17
Já Nicolau Dreys informa que os negros nas fazendas apenas tinham trabalho nos
rodeios. Nas charqueadas trabalhavam de novembro a março, num turno de trabalho da
meia-noite ao meio-dia. Os negros permaneciam no batuque nas horas de descanso até serem
chamados pelo feitor. O dono queria trabalho e bom comportamento, o que era facilitado pelo
fato das charqueadas ficarem longe das pulperias.18
Nas estâncias, o principal trabalhador da pecuária era o gaúcho, mestiço, de um
espanhol transbandeado, de um indígena aculturado, de um negro liberto. O denominador
comum de toda esta população era a condição de trabalhadores da pecuária desprovidos de
terra.
Essa população, que não possuía grande extensão de terra, era forçada a separar-se dos
filhos e buscar ocupação em campos distantes.
Dreys não nega os trabalhadores negros nas estâncias como destaca em seu diário:
17 FLORES, Moacyr. Op.Cit.2010.p.20-1. 18 DREYS, Nicolau.Op.Cit.1927.p.128. 19 Ibid.p.156.
28
“era servida originalmente por um capataz, e por peões, debaixo da direção daqueles,
que às vezes eram negros escravos, outras vezes e mais comumente eram índios ou
gaúchos assalariados.”19
O perfil dos viajantes
O historiador José Carlos Barreiro apresenta um perfil dos viajantes:
“a miscigenação dava origem a uma tradição cultural voltada mais diretamente para
os valores dos viajantes, vinculados à ideia de propriedade e à ética do trabalho
capitalista. A presença massiva de homens negros, mulatos e mestiços – livres e
libertos – apresenta um potencial destrutivo que era eminentemente político. Fazia
soltar aos olhos os desarranjos e desregramentos sociais operados no interior das
próprias relações senhoriais.”20
Para o historiador José Carlos Barreiro, os homens pobres e livres na primeira metade
do século XIX ocupavam na sociedade brasileira uma condição social marginal, numa ordem
econômica orientada fundamentalmente pela produção escravista. A trapaça e a esperteza
acabavam por se constituir na forma possível de acomodação numa sociedade que, além de
perversa, fazia de sua atividade um expediente marginal e quase dispensável. A observação
dos viajantes europeus sobre tal comportamento conduziu, mais tarde, alguns historiadores a
criarem a figura malandro à categoria símbolo para o entendimento nacional brasileiro.
Outro fator importante nos olhares dos viajantes se faziam sob o prisma das ciências
biológicas, do progresso científico e das novas teorias raciais constante no século 19. Sobre o
tema Saint-Hilaire, reflete diretamente no pensamento de Saint-Hilaire:
“Os negros brasileiros estão muito afastados de nossa raça que os da costa da
África. Pode-se-ia atribuir a educação a superioridade que demonstram em relação
à inteligência; mas ao mesmo tempo, são, comumente, de um negro menos
carregado; a cabeça é menos arrendondada; os lábios menos grossos; o nariz menos
20 BARREIRO, José Carlos. Imaginário e viajantes do século XIX: cultura e cotidiano, tradição e
resistência.São Paulo: Editora UNESP, 2002
29
chato; enfim, não há pessoa que, com um pouco de prática, não distinguia
facilmente um negro brasileiro de um africano.
(…) quase todos os escravos do barão pertencem a tribo minas, bens superiores às
outras, por sua inteligência, fidelidade e amor ao trabalho, quando via muitos gado e
pouco escravos. Mas descreve a classificação da população da Província que além
poucos escravos “não há mais de 80 crioulos, incluindo nesse número os que
trabalhavam na construção do custumes, e que serão, em seguida aí aproveitados.”21
Saint-Hilaire escreve sabidamente ideias racistas europeias tentando justificar a
dominação do elemento branco dos demais.
Segundo a historiadora Iohana Brito de Freitas, as teorias gestadas em torno da “mistura
de raças”, não eram unívocas e, ao longo do século XIX, as diferenças se acentuariam, diz a
historiadora:
“A título de exemplo, Louis Agassiz, pesquisador suíço que esteve no Brasil na
segunda metade do oitocentista, levava do país em sua bagagem de anotações sobre
esse território ideia marcadamente distinta da mestiçagem:
'que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-
entendida filantropia, a botar abaixo todas as barreiras que as separam, venham ao
Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças mais
gerais aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando
rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio deixando um
tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental.'
O universo de proposições que acompanha estes viajantes nos remete aos
pensadores do século XVIII. De um lado se tinha a visão humanista herdeira da
Revolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana partir da noção de
perfectibilidade de Rousseau; de outro, uma reflexão ainda tímida sobre as
diferenças básicas existentes entre os homens, tendo como expoentes Buffon – que
rompe com a mítica do paraíso e passa a personificá-lo sob o signo da carência,
corroborando com a tese de debilidade e imaturidade destas terras – e De Pauw,
com a teoria da 'degeneração americana'. Apesar da unidade do gênero humano
permanecer como postulado, um agudo senso de hierarquia aparecia como
novidade.
Se a visão monogenista, influenciada por estes pensadores, será dominante até
meados do XIX, uma visão poligenista, encorajada, sobretudo, pelo nascimento
21 SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit.1999.p.42.
30
simultâneo da fremologia e da antropometria, ganha força a partir de então,
privilegiando uma interpretação biológica do comportamento humano,
acreditando na diversidade de espécies humanas classificadas em raças através da
comparação de particularidades morfológicas indicadas de diferentes potenciais
entre os indivíduos. O embate entre as duas correntes, segundo Schwarcz, só se
abrandaria quando da publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, em
1859. Pautando-se nos teóricos evolucionistas, ambas as correntes viriam justificar
a 'missão civilizatória do homem branco.'”22
Segundo a mesma historiadora, será este universo de proposições, com a noção de raça
variando entre a ciência, a moral e os costumes, que balizará as obras dos viajantes.
A ideologia do trabalho
O tema Trabalho é importante para a sociedade. Em cada época aparecem novas
estratégias de utilizar o trabalho como fonte de riqueza para o mais forte, não para o
trabalhador.
Segundo o historiador José Carlos Barreiro, as práticas do furto e a assistematicidade
das atividades de trabalho como componentes essenciais do cotidiano das classes subalternas,
inscreve-se um confronto entre concepções diversas de propriedade e trabalho.
O escravo negro respondia violentamente às condições de vida e de trabalho que lhe
eram impostas. Essa violência emergia no trabalho, nas suas relações pessoais, na própria
forma como ele compreendia-se contra a escravidão.
Sobre o assunto, o historiador José Carlos Barreiro diz:
“o chamado crime contra a propriedade, na forma da prática do furto, emergiu
como uma das mais significativas facetas do protesto popular no Brasil do século
XIX. O seu entranhamento no interior das relações sociais foi de tal ordem que ele
se impôs como realidade, nas anotações dos viajantes estrangeiros.”23
22 FREITAS, Iohana Brito de. Cores e olhares no Brasil Oitocentista: os tipos negros de Rugendas e Debret.
Niterói, 2009. (on-line).Disponível em: http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2009_Iohana_Brito_de_Freitas-S.pdf/ p.83-4.
23 Saint-hilaire, Auguste de.Op.Cit.1999.p.19-20.
31
Sobre a criminalidade e as possiveis punições referiu-se Saint-Hilaire:
“Antes do governo de Marquês de Alegrete, predecessor do Conde de Figueira, os
criminosos desta capitania eram enviados ao Rio de Janeiro para aí serem julgados.
Mas, como nesta distante cidade se tornava difícil reunir provas suficientes para
condená-los, e como ninguém agisse contra eles, era costume deixá-los padecer
durante vários anos nas prisões, terminando por libertá-los sem julgamento”.24
O naturalista francês Saint-Hilaire, afirmou que o Marquês do Alegrete solicitou rei a
criação de uma junta administrativa reunido anualmente. Esta se dissolveu depois do
julgamento de quatro indivíduos.
Os relatórios e falas dos presidentes da província, a documentação policial e judiciária
e o jornais do Império são relativamente prolixos no registro de notícias de furtos na região.
“(...) entre eles 200 acusados que estão encarcerados em Porto Alegre. Segundo o
depoimento de um dos membros da junta os crimes são muito frequentes nesta
capitania, principalmente entre os negros, o que não é de se admirar, devido ao
costume, no Rio de Janeiro, de mandar vender aqui todos os escravos de que e
querem livrar.”25
Esta afirmação de Saint-Hilaire escreve que entre os 200 acusados encarcerados em
Porto Alegre havia os negros. Estes não eram um problema social, pois todos os trabalhadores
escravizados de que o senhor queria se livrar eram vendidos para fora da cidade.
Sobre o assunto, o historiador José Barreiro diz:
“(...) a prática negadora de certos valores das classes dominantes, projetou-se de
forma eficaz graças à existência de uma infraestrutura de receptação que se baseava
fundamentalmente na existência de uma grande quantidade de vendas e tabernas
(ver anexo) espalhadas por bairros e beiras de estradas. Os numerosos pequenos
alambiques, as feiras de fim de semana, bem como a população ribeirinha que
24 Ibid.p.19-20. 25 Ibid.p.34.
32
habitava densamente as choupanas e casinholas ao longo da praia onde a rebentação
não era violenta.”26
Os negros viviam espalhados pelas ruas, por bairros e beiras de estradas. Saint-Hilaire
ao na Rua da Praia e o Mercado (ver anexo) diz:
“A única comercial, é extremamente movimentada. Nela se encontram numerosas
pessoas a pé e a cavalo, marinheiros e muitos negros, carregando fardos. É provida
de lojas muito bem instaladas, de vendas bem sortidas e de oficinas de várias
profissões.
(...) É na Rua da Praia, próximo ao cais, que fica o Mercado; nele vendem-se
laranjas, amendoim, carne seca, pão, feixes de lenha e legumes, principalmente
couve. Como no Rio de Janeiro, as vendedoras são negras, algumas vendem
acocoradas junto à mercadoria; outras possuem barracas, dispostas desordenadas
pelas ruas.
Em Porto Alegre, negros que mascateiam fazendas pelas ruas, Atualmente vendem
muito o fruto de araucária, a que chamam pinhão, nome que se dá, na Europa, às
sementes de pinheiro. Usam-no cozido ou ligeiramente assado, ao chá ou entre às
refeições, sendo frequentemente presentear com ele os amigos.”27
Sobre o contraste da desigualdade racial e social Saint-Hilaire diz:
“o rápido aumento da população de Porto Alegre fazendo os terrenos se tornarem
mais valorizados na capital da província do Rio Grande do que nas cidades do
interior. Algumas casas possuem jardins e muitos não têm sequer quintal. Por isso
um grave inconveniente de atirarem à rua todo o lixo tornando-as imundas. As
encruzilhadas, os terrenos baldios e, principalmente, as margens da lagoa são
entulhadas de sujeira. Os habitantes só bebem água da lagoa e continuamente veem-
se negros encher seus cântaros no mesmo lugar em que os outros acabam de lavar as
vasilhas.”28
26 BARREIRO, José Carlos. Op.Cit.2002.p.26-7. 27 SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit.1999.p.43-6. 28 Ibid.p.43.
33
Os testemunhos dos viajantes europeus sobre os castigos
Arsène Isabelle (1806-1879) negociante e naturalista amador já em seu primeiro
comentário sobre a escravidão em Porto Alegre, Isabelle denuncia os europeus por
promoverem o comércio clandestino de escravos negros:
“Viajantes que foram testemunhos da bárbarie impiedosa dos colonos franceses e
ingleses puderam achar o jugo dos escravos mais suportáveis, no Brasil; mais eu que
vi negros livres, trabalhadores, fazendo viver os brancos, na categoria de homens, na
República Argentina e Banda Oriental, peço que me seja permitido achar sua sorte
deplorável no Brasil e revelar a infâmia dos europeus que não tem vergonha de
levar a imortalidade a ponto de fazer ainda clandestinamente o comércio de carne
humana.”29
O viajante, além da denúncia, relaciona ainda ao fato de que, nos países do Prata, a
escravidão fora abolida nas décadas de 1840 e 1850, enquanto, no Rio Grande do Sul, os
negros continuaram escravizados.
Arsène Isabelle destaca a sua condição de viajante testemunho, diferenciando-se, porém
na sua critica à escravidão urbana:
“tereis sofrido como eu, vendo as cenas mortificantes de que fui testemunha, mas
vossa indignação, vosso sofrimento teria caído um raio no meio destes homens que
ousam dizer-se civilizados.”30
Segundo a historiadora Maria Angélica Zubaran, além de uma visão pitoresca própria
dos viajantes europeus, há uma visão humanista, possivelmente relacionada ao ideário da
Revolução Francesa, ou à sua condição de liberal e exilado político onde o tema da
escravidão é abordado criticamente.31
Sobre a alfândega (ver anexo), atual Praça da Alfândega, perto do Cais do Porto do lago
a Guaíba, Arsène Isabelle diz:
29 ISABELLE, Arsène. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro,1983p.43. 30 ISABELLE, Arsène.Op.Cit.1983. p.59. 31 ZUBARAN, Maria Angélica. O eurocentrismo do testemunho: relatos de viagem no Rio Grande do Sul do
século XIX. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/anos90/article/viewFile/6590/3911 32 ISABELLE, Arsène.Op.Cit.1983.p29.
34
“Os fardos, por pesados que sejam, são transportados pelos negros para o pátio da
alfândega para serem vistoriados; dali outros negros (porque a raça africana
desempenhava no Brasil a profissão de cavalos e mulas) os transportavam para seus
respectivos destinos.”32
Aqui nesta afirmação, Isabelle escreve sabidamente ideias racistas europeias tentando
justificar a dominação do elemento branco dos demais, quando representou os escravos
negros carregadores como “burros de carga” na Alfândega.
Também quando retrata os escravos negros nas ruas da cidade de Porto Alegre os vê
embrutecidos, animalizados nos seus relatos:
“Estais sempre só nesta rua porque não é possível, decentemente, (...) vos crerdes
acompanhado, em meio de negros embrutecidos, circulando misturados com bondes
e cabras que se apinham na via pública.”33
O estereótipo de escravos como “bestas de carga” esteve também presente na narrativa
de Saint-Hilaire e Nicolau Dreys nas atividades que desenvolveram no meio urbano e
mediações, o seu papel é majoritariamente de força de trabalho. É o responsável pelo
transporte de água, mercadorias e excrementos e mesmo pelo transporte humano.
Muitas vezes, os negros livres para sobreviver montavam barracas de ganho onde
vendem tudo quanto é tipo de mercadoria, além de ser responsável por todas as atividades,
desde pavimentação de ruas, passando pelo barbeiro à lavandeira de roupa. É natural que a
escravidão presente no cotidiano das relações sociais não passe despercebidas aos olhos dos
viajantes.
É importante destacar que, na narrativa de Arsène Isabelle em contraste com os relatos
de Saint-Hilaire os negros não foram representados como indolentes ou ineficientes, mas
como “homens laboriosos, trabalhadores, aqueles que têm necessidade de exercitar mais a
sua inteligência, mas que têm a desgraça de ser escravos e sobretudo de ser negros.” Percebe-
se, portanto, uma certa ambiguidade no discurso de Arsène Isabelle, que representa os negros
como “brutos” não para inferiorizá-los, mas em razão da condição embrutecedora da
escravidão e racismo. 33 Ibid.p.56.
35
Sobre este assunto afirma a historiadora Maria Angélica Zubaran:
“O viajante europeu havia percebido os códigos culturais locais e os significados de
'ser negro' no Brasil na primeira metade do século XIX onde a cor da pele ainda era
o mecanismo mais importante de diferenciação social, diretamente associada à
condição de escravo e aos maus tratos. Essa ambiguidade manifesta-se também
quando, por um lado, reforça o estereótipo do escravo 'burro de carga' e, por outro,
critica o mau trato aos escravos no Rio Grande do Sul.”34
A descrição que Arsène Isabelle do pelourinho (ver anexo) em Porto Alegre é uma das
poucas imagens do açoitamento público de escravos negros em relatos de viagem ao Rio
Grande do Sul no século XIX. Ele afirma:
“Cada dia, das sete às oito horas da manhã, pode-se assistir, em Porto Alegre, a um
drama sangrento (…) vereis uma coluna erguida num maciço de alvenaria a ao
pé.... uma massa disforme, alguma coisa certamente pertencendo ao reino animal,
mas que não podeis classificar entre bímanos e bípedes... é um negro! Um negro
condenado a duzentas, quinhentas, mil, seis mil fustigadas de relho! Passai, retirai-
vos dessa cena de desolação; o infortunado tem apenas membros mutilados, que mal
se reconhecem, sob os farrapos ensanguentados de sua pele murcha.”35
Nessa cena percebe a visão extremamente crítica de Arsène Isabelle sobre o mau trato
dos escravos no Rio Grande do Sul. Ele descreve com exatidão o tratamento dado a um
escravo quando do descumprimento das ordens do senhor por parte do cativo resultou em
castigo corporal ao ar livre.
Sobre o assunto Luiz Cláudio Knierim diz:
“Uma das lendas urbanas da nossa cidade surgiu da construção da Igreja das Dores
(ver anexo), que teve lançada sua pedra fundamental em 1807. Os ilustres senhores
ofereciam seus escravos para trabalhar na construção. Em 1832, Domingos José
Lopes, grande proprietário de escravos e comerciante, mandou seu escravo Jósimo
para o trabalho de construção. Por esse tempo começou a desaparecer materiais da
construção. O próprio comerciante se apressou em denunciar Jósimo, que, segundo
34 ZUBARAN, Maria Angélica. Op.Cit.pp.20. 35 ISABELLE, Arsène.Op.Cit.1983.p.59.
36
a lenda, tinha seu especial desafeto. Jósimo foi sumariamente julgado e mandado
para a morte no Largo da Forca. No momento do seu enforcamento lançou o seguinte
desfio: se realmente eu tiver culpa ele há de ver a conclusão das obras da Igreja, mas,
do contrário, ele não verá o seu termo. Só 95 anos depois a Igreja pode ser
inaugurada.”36
Nesta cena, a imagem repetida do negro animalizado, não-homem, funde-se com a
tradição do escravo “vítima infeliz”, sofredor e agonizante, que desperta a empatia e
compaixão do autor.
O mesmo autor, sobre o Largo da Forca, diz:
“Local onde eram enforcados escravos e libertos por crimes, sendo a lei,
evidentemente, mais severa com os escravos. Por roubo, um escravos podia ser
enforcado. Nessa ocasião os professores tinham que trazer seus alunos para a
execução. O povo de maneira geral era chamado e os senhores levavam seus
escravos para aprenderem a lição. Após o enforcamento, o corpo ficava pendurado
por vários dias a vexação pública póst-mortem.”37
Arsène Isabelle denuncia que os negros no Rio Grande do Sul eram maltratados como
cães, a bofetadas, pontapés, amarrados em postes e flagelados com corda, relho, pau ou barra
de ferro, até ficarem inanimados. Os senhores cruéis nas cidades e nos campos que
praticavam incisões nas faces, espáduas, nádegas ou coxas dos escravos, onde colocavam
pimentas. Em seu furor assassinavam o negro, depois atiravam o corpo aos cães ou numa
cova. Havia também leis contra estes senhores cruéis, mas atingiam apenas os pequenos.
Diariamente, no pelourinho, em frente da Igreja N. S. das Dores, em Porto Alegre, “os
escravos eram punidos com 200, 500, 1000 e até 6000 chibatadas. Admirava-se que os negros
não se revoltavam contra os brancos”.38
Para Saint-Hilaire, os negros eram poucos ativos quando livres, geralmente não
trabalhavam senão o estritamente necessário para não morrerem de fome. Quando obrigados
pelo medo, trabalhavam mal e com excessiva lentidão. Concluiu que não havia revolta de
36 KNIERIM, Luiz Cláudio. Cavalgada dos Lanceiros Negros na Semana da Consciência Negra – locais de
referência Histórica dos negros por onde passará a Cavalgada. Folheto turístico, 2007. 37 Ibid.p.1. 38 ISABELLE, Arséne.Op.Cit.1983.p.68-9. 39SAINT-HILAIRE, Auguste de.Op.Cit.1999.p.362.
37
negros na província, pois não existia população. Os negros socialmente estavam distantes dos
homens e por demais subjugados para se enredarem em disputas.39
Os depoimentos dos viajantes atingem somente a superfície, não penentram na
mentalidade do africano. Nicolau Dreys afirma que havia um desejo vago de liberdade, mas
todos os projetos falharam pela grande repressão por parte da classe dominante. Considera o
negro como um bom soldado em serviço na América, mas precisa de chefes instruídos e
firmes na disciplina. Os negros abandonados a seu próprio impulso não sabiam usar a
liberdade.40
40DREYS, Nicolau.Op.Cit.1927.p.129.
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das intenções que moveram esta monografia, chegar a um “final” é, para nós,
tarefa quase impossível. O avanço das pesquisas sobre a escravidão no século 19 e o
emaranhado de questões decorrentes da análise das obras de cada um dos viajantes indicam
um longo trabalho que, certamente, não se esgotou.
Frente à rica variedade de temas abordadas nos relatos de Saint-Hilaire, Arsène Isabelle
e Nicolau Dreys. Estes, em grande parte, influenciados pelas ideias racistas europeias,
produziram imagens estereotipadas oriundas do discurso imperialista que dominados por
conceitos racistas tentam justificar a dominação do elemento branco dos demais. Interessava-
nos descrever sobre as diferentes situações do negro sul-rio-grandense pelos viajantes que
cruzaram o Rio Grande do Sul entre 1815 a 1833.
Na narrativa de Arsène Isabelle encontramos contrastes com os relatos de Saint-Hilaire
nos quais os negros não foram representados como indolentes ou ineficientes, mas como
“homens laboriosos, trabalhadores, aqueles que têm necessidade de exercitar mais a sua
inteligência, mas que têm a desgraça de ser escravos e sobretudo de ser negros.” Porém,
percebe-se, uma certa ambiguidade no discurso de Isabelle, quando representa os negros
como “brutos” em razão da condição embrutecedora da escravidão e racismo.
Os viajantes Saint-Hilaire, Nicolau Dreys e Arsène Isabelle descreveram as chácaras na
periferia das vilas e povoados, com lavouras, pomares, hortas e pequena quantidade de gado:
“(...) Saint-Hilaire deparou com um escravo responsável pelo gado na parte ocidental
da lagoa de Itapeva, morando numa choupana e cuidando do correio que seguia pelo
litoral.
Em julho de 1837, foi a leilão um negro, pelo juiz de Órfãos, portanto, fazendo parte
de uma herança, conforme o anúncio:
'No dia 8 e 12 do corrente, em casa do Senhor Juiz de Órfãos, se há de achar em
hasta pública, um escravo de nome João, nação cabinda, idade 19 anos, pouco mais
ou menos, bom campeiro, domador e roceiro; o qual está avaliado em 500$000 réis,
que se receberão em moeda de cobre grosso
Vende-se um pardo, natural desta província, de idade de 25 a 26 anos, muito fiel e
sem vício algum, bom campeiro e domador, pela quantia de 1:000$000 réis, livres da
39
sisa, quem o pretender dirija-se ao porteiro da Alfândega, nesta cidade e na Estância
das Pederneiras, do cel. Filipe Neri. (...)”41
Nicolau Dreys informa que os negros nas fazendas apenas tinham trabalho nos rodeios.
Nas charqueadas trabalhavam duras nelas; e permaneciam no batuque nas horas de descanso
até serem chamados pelo feitor.
O Rio Grande do Sul, desde o estabelecimento de trabalhadores escravizados em 1737,
se articulou à economia colonial através de gado em pé, charque e couro para diferentes
regiões do nosso país, impulsionada pela força de trabalho do braço negro a soma de escravos
com os “livres de todas as cores” totalizava 26.010 indivíduos na Província de São Pedro pelo
censo de 1814.
41 FLORES, Moacyr. Op.Cit.2010.p.20-1.
47
(1)Vendas em Recife (Rugendas).
(2)Negros e mulatos coletando esmolas para irmandades, Viagem Pitoresca e Pitoresca ao
Brasil, 1834, Debret.
(3)Quadro "Loja de Rapé", aquarela inacabada do pintor Jean-Baptiste Debret, mostra o
cotidiano dos negros no Brasil da escravidão; autor de "Iracema" escreveu há 140 anos cartas
defendendo o cativeiro no país.
(4)Aquarela de Debret retrata os maus tratos e punições sofridas por escravos no Brasil do
século XIX.
(5)Pelourinho, em frente à atual Igreja das Dores.
(6)Alfândega e a Rua da Praia nos relatos dos viajantes europeus observa negros livres
pedintes.
(7)lugar de reunião dos negros no dia a dia onde trabalhavam os vendedores, carregadores,
construtores.
(8)Largo da Forca, atual Praça Brigadeiro Sampaio.
48
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