Fernanda Rohlfs Pereira
O PNBE NAS UMEI’S DE BELO HORIZONTE:
LITERATURA INFANTIL DISTRIBUÍDA, LITERATURA INCLUÍDA?
Belo Horizonte
2010
Fernanda Rohlfs Pereira
O PNBE NAS UMEI’S DE BELO HORIZONTE:
LITERATURA INFANTIL DISTRIBUÍDA, LITERATURA INCLUÍDA?
Monografia de final de
curso de Pedagogia pela
Faculdade de Educação
da Universidade Federal
de Minas Gerais.
Orientadora: Professora
Doutora Aparecida Paiva
Belo Horizonte
2010
Monografia intitulada O PNBE nas UMEI’S de Belo Horizonte: Literatura Infantil
distribuída, literatura incluída? De autoria de Fernanda Rohlfs Pereira. Banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:
Prof. Doutora Aparecida Paiva
Faculdade de Educação – FaE/UFMG – Orientadora
Prof. Doutora Sara Mourão Monteiro
Faculdade de Educação – FaE/UFMG
Belo Horizonte, 08 de julho de 2011
DEDICATÓRIA
Dedico a meus pais, a meus irmãos, a meu amor e a minha
professora Cidinha, pessoas fundamentais e queridas, com
quem divido esta alegria.
AGRADECIMENTOS
Concluir mais uma etapa. Vencer mais um desafio. Acreditar que é possível, mesmo quando
tudo leva a crer que não é. Superar as dificuldades. Não desistir jamais. Ter confiança.
É com muito orgulho que concluo mais uma etapa da minha (breve e inicial) jornada
acadêmica, consciente da minha dedicação e certa de que, se não fosse a presença de alguns
anjos na minha vida, não teria chegado até aqui.
Agradeço imensamente a Cidinha, que foi muito além do seu papel de orientadora; foi
também amiga, mãe, professora, confidente e grande ponto de apoio. A Cidinha, que não só
acreditou numa menina magricela, como também me fez acreditar no que eu era capaz. A
Cidinha, que me ensinou a amar os livros. Essa querida professora ocupará para sempre um
lugar profundo no meu coração.
Ao meu amado Breno, agradeço pelo amor, dedicação e companheirismo. Agradeço por ter
compreendido, com tanto carinho, os meus momentos de ausência e por ter me dado força
quando as minhas já eram mais suficientes.
Aos meus pais Daniel e Cristina, agradeço pelo simples fato de eles existirem na vida. Sem
eles, definitivamente nada teria sentido. Fontes inesgotáveis de amor e cumplicidade.
Obrigada por fazerem de mim o que eu sou hoje.
A meus queridos irmãos, Pedro e Vinícius, que são uma extensão de mim, agradeço pela
força. Agradeço principalmente ao meu pequenino Vivi por entender as minhas insistentes
ausências nos finais de semana.
Agradeço às minhas amigas, Bruna, Dani, Elaine, Mari e Paula por me incentivarem e por
serem sempre tão carinhosas comigo! Agradeço especialmente a Cristiane que, além da
valiosa ajuda nesta pesquisa, é uma amiga maravilhosa e uma pessoa incrível.
Agradeço também às minhas amigas Carol e Dora pela convivência diária e por me
aguentarem durante o curso todo! Adoro vocês e não pensem que vão se livrar de mim assim
tão fácil...
Agradeço à professora Ana Galvão e à Juliana pelas considerações valiosas e pelo cuidado.
Parabéns por ministrarem uma disciplina com tanta seriedade, respeito e conteúdo.
Agradeço muitíssimo à Virgínia que, mesmo com uma série de afazeres, aceitou solicitamente
a tarefa de ler minha monografia. Seu olhar atento e seguro me deu muita tranquilidade. Você
é um grande exemplo e tem toda a minha admiração.
Agradeço profundamente à professora Sara que além de muito atenciosa e extremamente
competente, acompanhou este trabalho desde o projeto.
Agradeço finalmente, a todos os profissionais da UMEI’s de Belo Horizonte, que me
receberam tão bem e tornaram possível a realização do meu trabalho.
RESUMO
O presente estudo monográfico teve como objetivo investigar se a política de distribuição de
livros de literatura, feita através do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), está
sendo efetiva para as bibliotecas escolares das Unidades Municipais de Educação Infantil
(UMEI’S) de Belo Horizonte. Verificamos também se os espaços de leitura presentes nas
UMEI’s favorecem o uso e a fruição na leitura dessas obras. Nessa perspectiva, foi feito um
levantamento das condições de distribuição, acesso e conhecimento do PNBE por parte de
professores e profissionais, bem como da adequação e dos usos das bibliotecas como espaço
de leitura nas UMEI’s. Foram enfocadas as edições do PNBE 2008 e 2010 que selecionaram
acervos para a Educação Infantil. Para realização desta pesquisa, foi feito um estudo
quantitativo através da aplicação de questionários em 74% das UMEI’s de Belo Horizonte que
foram respondidos por professores e coordenadores/diretores das UMEI’s. Dentre outras
conclusões, foi possível constatar que o PNBE é bastante falho no quesito divulgação, o que
implica o não recebimento dos acervos do PNBE na grande maioria das UMEI’s. A fim de
contextualizar a pesquisa, foi apresentado um breve histórico do PNBE e suas principais
características e objetivos. Em relação à Educação Infantil, foram feitas discussões sobre as
principais leis que, de alguma forma, favorecem esse segmento da educação e sobre a
importância da literatura para as crianças e para os espaços escolares.
Palavras Chave: Literatura Infantil, PNBE, UMEI’s
ABSTRACT
The current monographic study had as an objective to investigate if the politics of literature
books distribution, held through the Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE-
National Program of Library in the School), is being effective to the school libraries of the
Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI’S- Municipal Unities of Infant Education)
of Belo Horizonte. It was also verified that if the reading spaces found in the UMEI’s favor
the use and the fruition in these works readings. Over this perspective, a survey of the
conditions of distribution, access and knowledge of PNBE reflected by the teachers and
professionals, as well as the adequacy and uses of the libraries as reading spaces in the
UMEI’s, was developed. The focus relied on PNBE 2008 and 2010 editions that selected
collections for Infant Education. For the accomplishment of this survey, a quantitative study
was made through questionnaires applications in 74% of the UMEI’s in Belo Horizonte.
These surveys were answered by teachers and coordinators/principals of the UMEI’s. Among
other conclusions, it was possible to discover that PNBE fails greatly on the divulgation,
which causes the large majority of the UMEI’s not to receive the works from PNBE. In order
to contextualize the survey, it was presented a brief PNBE transcript and its main characterists
and objectives. In regards to the Infant Education, the main laws favoring this segment of
education in some way, and the importance of literature for kids and other scholar spaces
were discussed.
Key Words: Infant Literature, PNBE, UMEI’s
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - UMEI da regional Centro Sul que foi inaugurada em 2010.....................................40
Figura 2 - UMEI da regional Centro Sul que foi inaugurada em 2010.....................................40
Figura 3 - UMEI da regional Centro Sul que foi inaugurada em 2009.....................................41
Figura 4 - UMEI da regional Centro Sul que foi inaugurada em 2009.....................................41
Figura 5 - UMEI da regional Leste inaugurada em 2004.........................................................41
Figura 6 - UMEI da regional Leste inaugurada em 2004.........................................................41
Figura 7 - UMEI da regional Nordeste.....................................................................................42
Figura 8 - UMEI da regional Nordeste.....................................................................................42
Figura 9 - UMEI da regional Oeste...........................................................................................43
Figura 10 - UMEI da regional Oeste.........................................................................................43
Figura 11 - UMEI da regional Pampulha..................................................................................43
Figura 12 - UMEI da regional Nordeste...................................................................................43
Figura 13 - UMEI da regional Nordeste...................................................................................45
Figura 14 - UMEI da regional Barreiro....................................................................................45
Figura 15 - UMEI da regional Centro Sul.................................................................................46
Figura 16 - UMEI da regional Centro Sul.................................................................................46
Figura 17 - UMEI da regional Norte.........................................................................................46
Figura 18 - UMEI da regional Oeste.........................................................................................46
Figura 19 - UMEI da regional Leste.........................................................................................46
Figura 20 - UMEI da regional Centro Sul.................................................................................46
Figura 21 - UMEI da regional Nordeste...................................................................................47
Figura 22 - UMEI da regional Norte.........................................................................................47
Figura 23 - UMEI da regional Leste.........................................................................................47
Figura 24 - UMEI da regional Leste.........................................................................................47
Figura 25 - UMEI da regional Leste.........................................................................................48
Figura 26 - UMEI da regional Leste.........................................................................................48
Figura 27 - UMEI da regional Oeste.........................................................................................48
Figura 28 – UMEI da regional Barreiro....................................................................................48
Figura 29 – UMEI da regional Barreiro....................................................................................56
Figura 30 – UMEI da regional Barreiro....................................................................................56
Figura 31 – UMEI da regional Centro Sul ...............................................................................56
Figura 32 – UMEI da regional Barreiro....................................................................................56
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição dos acervos - PNBE 2006 a 2010........................................................23
Tabela 2 - Dados estatísticos do PNBE no período de 1998 a 2010.........................................24
Tabela 3 - Formas de conhecimento sobre o Programa na Rede Municipal.............................51
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Quantidade de livros inscritos por segmento - PNBE 2008...................................26
Gráfico 2 - Quantidade de livros inscritos por categoria - PNBE 2010....................................26
Gráfico 3 - Quadro de profissionais da Rede Municipal..........................................................31
Gráfico 4 – Existência de bibliotecas nas UMEI’s...................................................................39
Gráfico 5 – Existência de profissional responsável pela biblioteca adaptada nas UMEI’s......44
Gráfico 6 - Existência de profissional responsável pela biblioteca projetada nas UMEI’s......44
Gráfico 7 – Conhecimento dos profissionais das UMEI’s sobre o PNBE................................50
Gráfico 8 - Conhecimento sobre o PNBE.................................................................................50
Gráfico 9 - Chegada dos acervos de Educação Infantil nas UMEI’s de Belo Horizonte..........52
LISTA DE SIGLAS
CNE – Conselho Nacional de Educação
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escla
SMED – Secretaria Municipal de Educação
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UMEI – Unidade Municipal de Educação Infantil
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................14
CAPÍTULO 1: A LITERATURA INFANTIL NO PNBE: CONSIDERAÇÕES ACERCA
DOS ACERVOS DE 2008 E 2010...........................................................................................20
1.1 Edições anteriores...............................................................................................................20
1.2 Acervos do PNBE para crianças.........................................................................................25
CAPÍTULO 2: A EDUCAÇÃO INFANTIL............................................................................27
2.1 O surgimento das UMEI’s..................................................................................................29
2.2 A importância da Literatura na Educação Infantil..............................................................32
CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DOS DADOS..................................................................37
3.1 O PNBE nas UMEI’s .........................................................................................................49
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................55
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................61
ANEXOS..................................................................................................................................64
14
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa se insere no campo de estudos das políticas públicas educacionais de promoção
da leitura no Brasil. Nosso objetivo principal foi avaliar se as Unidades Municipais de
Educação Infantil – UMEI’s de Belo Horizonte - estão recebendo os acervos de literatura
infantil do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE, em execução desde o ano de
1997, sob a coordenação da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação -
SEB/MEC -, em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE-
Além da presença dos acervos, investigamos, também, o conhecimento dos profissionais das
UMEI’s em relação ao PNBE. Por outro lado, realizamos um levantamento sobre a existência
ou não de espaços destinados à literatura nessas instituições de ensino e procuramos investigar
como é trabalhada a literatura infantil nesse segmento. Nosso propósito é contribuir para a
ampliação das discussões sobre a ação governamental que tem por finalidade expandir a
democratização do acesso aos livros literários, bem como refletir sobre a importância da
literatura para a Educação Infantil. Através de um estudo exploratório, buscamos conhecer a
estrutura e a existência ou não de bibliotecas dentro das UMEI’s e verificar se o objetivo
principal do Programa, que é possibilitar ao aluno o contato com os livros, está sendo
atingido.
O interesse pela pesquisa foi despertado no decorrer do curso de Pedagogia e principalmente
pelo trabalho como bolsista do PNBE desde 2008. O contato com os livros a participação em
várias etapas do Programa aguçaram o interesse pela política de distribuição de livros. Ao
vivenciar a fase de chegada das obras, montagem dos acervos e processo de seleção dos
títulos, foi possível perceber que, além do grande capital financeiro que é investido nesse
Programa, também há uma grande mobilização de pessoas em torno de um só objetivo: fazer
com que obras literárias de qualidade cheguem às escolas e, consequentemente, às mãos das
crianças. A respeito da importância da literatura dentro da escola, Faria salienta que:
Mesmo vivendo numa sociedade letrada, a grande maioria das crianças
brasileiras não tem a oportunidade de conviver com a literatura nos seus
primeiros anos de vida. Essa constatação nos leva a inferir sobre o papel
fundamental da instituição da Educação Infantil como espaço privilegiado de
aproximação da criança com a literatura (2004, p. 56).
Perceber que a quantidade de UMEI’s cresce progressivamente (no início da pesquisa eram
44, no final já eram 50 UMEI’s) só nos fez acreditar ainda mais na importância de ampliar o
15
acesso das crianças ao impresso e permitir ao professor o acesso a novos títulos (MACIEL
20098, p.17). Foi possível ver que livros infantis, cada vez mais elaborados esteticamente,
abordando assuntos diferenciados e preparados especificamente para o público infantil,
despertam um grande desejo e uma grande indagação: desejo de que todas as crianças tenham
acesso a livros de literatura infantil, e questionamento para saber se aqueles livros, que eram
cuidadosamente selecionados pelo PNBE, estariam chegando às unidades que reúnem a maior
quantidade de alunos entre 0 e 5 anos: as UMEI’s. Durante o processo de organização do
PNBE, ao abrir um livro, tentávamos imaginar qual seria a reação de uma criança ao fazer o
mesmo. Será que acharia graça? Será que ficaria com medo? Será que a faria sonhar? Ou
simplesmente, será que não significaria nada, somente um folhear de páginas? Acreditamos
que a última alternativa até poderia ser bem possível, mas não por muito tempo. Ao ser
inserida no mundo letrado, cada abertura de livro poderá representar para ela um novo
significado, uma nova descoberta. Evidentemente, que tudo dependerá de uma boa mediação
e interlocução por parte do educador. Nessa perspectiva, Maciel afirma que os livros de
literatura, no espaço escolar, conferem à criança uma multifacetada forma de acesso ao saber
(2008, p. 7). Ainda sobre a importância da literatura, Faria discute sobre o quanto é essencial
o jogo do faz-de-conta para o imaginário infantil:
(...) a literatura pode ser um espaço privilegiado para que a criança, por meio
do faz-de-conta, vivencie a sua forma primordial de ser e estar no mundo, ou
seja, brincar. Isso significa dizer que essa é principal atividade e a forma
prioritária de aprender e se desenvolver, inserindo-se na cultura (2004, p.55).
É indiscutível a importância dos livros assim como a presença de bibliotecas em escolas,
sendo ela de Educação Infantil ou não. Portanto, faz-se necessária não só a discussão dessa
temática, mas também a pesquisa sobre esse Programa de tamanha magnitude focado na
distribuição de livros literários. Talvez esta seja a maior crítica ao PNBE: manter-se
praticamente na distribuição de livros e não investir na formação de profissionais que
medeiam a leitura. Como salienta Silva (2009), essa estratégia deveria ser acrescida às
políticas públicas de melhoria e implantação de bibliotecas, bem como a informação nesses
espaços.
Muitas pesquisas já foram realizadas abordando temas como PNBE, literatura infantil e
UMEI’s de Belo Horizonte, mas não foram encontrados trabalhos que relacionassem essas
16
três vertentes. Verificamos esse dado realizando uma breve pesquisa nos principais sites1 de
produção acadêmica e no acervo de teses e dissertações da Faculdade de Educação – FAE.
Com a dissertação Programa Nacional Biblioteca da Escola – Uma análise da chegada dos
acervos do PNBE/2005 nas escolas da rede municipalde Belo Horizonte (MONTUANI,
2010), foi possível fazermos uma comparação dos dados e perceber o quão distinta é a forma
de recepção dos acervos do Programa para as escolas da rede municipale para as UMEI’s de
Belo Horizonte. Através dessa comparação, também foi possível alcançar a diferença que
existe a respeito do conhecimento dos profissionais sobre o PNBE nessas instituições. Para
entender com maior profundidade o surgimento das UMEI’s e o processo de criação do
projeto arquitetônico desses espaços, utilizamos as dissertações “Entre fraldas e letras,
fazeres e afetos: enredos de educadoras infantis (UMEI’s de Belo Horizonte /2007-2008)”
(MATOS, 2009) e “As Unidades Municipais de Educação Infantil em Belo Horizonte:
Investigações sobre um padrão arquitetônico” (AMORIM, 2010).
A literatura deve não só estar presente em instituições de Educação Infantil , mas também
estar inserida nelas de forma a proporcionar o contato e a interação da criança com o livro,
fazendo-a imaginar, criar, sentir, experimentar.
Creches e pré-escolas devem e podem realizar um trabalho de imersão da
criança no mundo literário, superando uma visão instrucional, pragmática e
escolarizante da literatura infantil. A escolha dos textos literários é uma
condição importante para que esse trabalho contribua para o
desenvolvimento do letramento literário (BAPTISTA, 2010 p.8)
Portanto, o desejo maior é fazer com que o uso dos livros que estão nas creches e nas pré-
escolas não se restrinja a práticas meramente didáticas e, sim, que sejam promovidas
atividades de leitura, manipulação de textos literários e conversas sobre eles. É necessário
criar situações nas quais se promova a fruição e se ampliem as referências estéticas, culturais
e éticas das crianças (BAPTISTA, 2010 p.7-8).
Com relação às escolhas metodológicas, esta pesquisa envolveu uma vertente de investigação
quantitativa, que foi a coleta de dados através da aplicação de dois questionários, que
continham perguntas abertas e perguntas fechadas, em quarenta UMEI’s de Belo Horizonte. O
1 O sites consultados foram: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações - http://bdtd.ibict.br/; Google
acadêmico - http://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR&as_sdt=0,5; Scientific Electronic Library Online -
http://www.scielo.br/;
17
questionário foi respondido por diferentes profissionais, dependendo de cada UMEI: diretor,
supervisor, coordenador. O segundo questionário foi respondido por educadores das UMEI’s,
sendo que não houve nenhum critério para selecioná-los, apenas a sua disponibilidade no
momento. O questionário foi aplicado pessoalmente nas UMEI’s; o que o contato com a
instituição e seus profissionais foi de suma importância para alcançarmos mais informações a
respeito da distribuição dos acervos. Além disso, a percepção do ambiente é fundamental para
obtermos subsídios a respeito dos espaços e estrutura física das UMEI’s. Da mesma forma,
ficou mais simples percebermos a significação que os profissionais dão ao Programa Nacional
de Biblioteca da Escola.
Os questionários foram aplicados durante o segundo semestre do ano de 2010, sendo que a
pesquisadora Cristiane Dias Martins da Costa, doutoranda do Programa de pós-graduação da
FaE/UFMG, nos auxiliou nessa tarefa, visto que o questionário não abrangia somente
aspectos relativos ao PNBE, mas também assuntos relativos aos Kits de Literatura da
Prefeitura de Belo Horizonte2 (PBH), que é tema de interesse da pesquisadora. As visitas nas
UMEI’s eram agendadas previamente por telefone; em seguida, o encontro era feito
pessoalmente. No primeiro momento, a receptividade por telefone não era tão solícita, pois as
UMEI’s demonstravam certo desânimo ao pensar que seria mais uma aluna pedindo
autorização para fazer estágio. Pessoalmente, as pessoas nos recebiam bem e foram bastante
solidárias com a pesquisa, autorizando-nos, em sua maioria, a fotografar os espaços e
conhecer o interior das salas de aulas e demais ambientes da instituição. Algumas fotos foram
utilizadas nesta pesquisa, com o intuito de auxiliar a apresentação dos dados e exemplificar as
categorias de bibliotecas que foram criadas. Acreditamos que a foto insere-se neste trabalho
de forma secundária, mas não deixa de ser um importante recurso didático.
(...) a imagem , com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro
restrito, mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais –
concreto, materiais. [...] o mundo em que vivemos é crescentemente
influenciado pelos meios de comunicação, cujos resultados, muitas vezes,
dependem de elementos visuais. (LOIZOS, 2002, p.137 e 138)
2 Anualmente, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SMED), vem
oferecendo obras de literatura nos kits de material escolar distribuídos gratuitamente aos alunos das escolas
municipais, Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI’s) e creches conveniadas. (Belo Horizonte,
PORTARIA SMED Nº 012/2011).
18
Ressaltamos que somente foram tiradas quando houve a permissão do diretor(a) da UMEI, e
que deixamos as pessoas à vontade para decidir se deixariam ou não tirarmos fotos. Elas
mostram apenas os espaços, não aparecendo profissionais da instituição nem crianças.
O questionário respondido por um responsável administrativo da UMEI, em anexo neste
trabalho, procurou abranger os seguintes temas:
1) Dados pessoais - Formação e tempo de trabalho na UMEI pesquisada.
2) Compra de livros pelo UMEI - A escola tem recurso próprio para a compra de livros?
Como é feita a escolha dos acervos? Quem participa e quais critérios são utilizados
para a seleção dos livros?
3) Dados da escola - Quantidade de alunos e professoras por turma, assim como o
público que a escola atende e em que turnos.
4) Dados da biblioteca - A escola possui ou não biblioteca? Em caso afirmativo, existe
profissional responsável pela biblioteca e qual é o seu cargo na UMEI? A biblioteca
foi projetada ou foi um espaço adaptado pela própria UMEI? Quais são as atividades
realizadas dentro da biblioteca?
5) Sobre o Kit da PBH - As UMEI’s receberam o Kit de literatura da PBH? Como foi
realizada a sua distribuição para os alunos? As UMEI’s proporcionam uma
apresentação dos livros do Kit para crianças e pais? Perguntamos sobre a opinião a
respeito da qualidade das obras literárias do Kit e se existem trabalhos ou projetos
sendo realizados pelos professores com os alunos através dessas obras. Para finalizar,
questionamos se existia alguma dificuldade em relação a esse Programa da Prefeitura
de distribuição de livros. Como foi falado anteriormente, esses dados eram de especial
interesse da pesquisadora Cristiane Dias, portanto não serão abordados neste trabalho.
6) PNBE – o Objetivo era saber se as pessoas sabiam o que era o PNBE e, se positivo,
como haviam tomado conhecimento do programa. Em seguida, a pergunta mais
importante: Os acervos do PNBE 2008 e PNBE 2010 chegaram na UMEI? Onde estão
armazenados? Estão disponíveis para empréstimo? Existem trabalhos sendo realizados
com os livros? Quais são as experiências significativas de leitura que estão sendo
realizadas por meio das obras selecionadas do PNBE?
19
Já o questionário que foi respondido por educadoras das UMEI’s abordavam praticamente as
mesmas perguntas, acrescentando-se apenas questões relativas às práticas de leitura em sala
de aula e a respeito de cursos de capacitação, como: Com qual frequência você lê um livro
para o seu aluno? Existe biblioteca na sua sala de aula? Você já participou de alguma
capacitação relacionada com a formação de leitores?
Ao visitar as UMEI’s, além do questionário, levávamos também uma pasta contendo a
imagem reduzida das capas dos livros que foram selecionados no PNBE 2008 e 2010, pois
acreditávamos que, com a visualização dos livros, seria mais fácil os profissionais
reconhecerem se aquelas obras tinham ou não chegado até a UMEI. Ao final, foi possível
perceber que a lista com a imagem da capa dos livros selecionados serviu mais como
divulgação do Programa do que como reconhecimento dos acervos.
Serão colocadas em foco as edições do PNBE 2008 e PNBE 2010, pois foram as únicas
edições que selecionaram acervos destinados à Educação Infantil. Para melhor situar o que é o
PNBE e como foi o seu desenvolvimento desde a sua criação em 1997, apresentaremos, no
Capítulo 1, uma breve descrição cronológica do Programa e traremos um maior detalhamento
sobre as edições de 2008 e 2010.
No Capítulo 2, o eixo central é a Educação Infantil e sua aproximação com a literatura.
Apresentaremos um apanhado geral acerca das leis que foram sendo criadas em prol desse
segmento da educação e mostraremos como se deu o surgimento das UMEI’s em Belo
Horizonte. Para finalizar o capítulo, será discutida a importância da literatura infantil para
crianças e seu papel dentro das instituições escolares.
No terceiro e último capítulo serão apresentados os dados da pesquisa de campo e
considerações sobre os resultados obtidos.
20
CAPÍTULO 1
A LITERATURA INFANTIL NO PNBE: CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS
ACERVOS DE 2008 E 2010
O presente capítulo tem como objetivo apresentar o Programa Nacional Biblioteca da Escola
– PNBE- e mostrar como foi o seu desenvolvimento desde a data de sua criação. Vários
estudos já abordaram esse histórico, por meio de dissertações e artigos3, mas acreditamos ser
de fundamental importância apresentá-lo aqui, visto que o PNBE é parte integrante desta
pesquisa e norteará o possível leitor deste trabalho. Além disso, essa política pública continua
em vigor e se faz necessária a sua ampla divulgação e discussão. Na sequência, colocaremos o
foco nas edições do PNBE 2008 e PNBE 2010 que, como mencionado anteriormente, foram
as únicas versões do Programa que selecionaram acervos literários para crianças menores de 6
anos.
1.1 Edições anteriores
Por meio da distribuição de acervos de literatura e outros materiais relacionados às áreas de
conhecimento da Educação Básica, o PNBE, que foi instituído em 1997, tem como principal
objetivo democratizar o acesso aos livros, fomentar a formação de leitores literários e
contribuir para democratização do conhecimento tanto para alunos quanto para os
professores4. Desde o início, o Programa tem se pautado majoritariamente na distribuição de
livros de literatura. Essa prática foi feita de diferentes formas, contemplou diferentes
segmentos, diversos gêneros e diferentes tipos de espaço. O Programa é uma iniciativa do
Governo Federal e é executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação –
FNDE em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação –
SEB/MEC. De acordo com informações obtidas no site do FNDE5, desde a sua criação, esse
Programa vem se modificando com o desígnio de se adaptar às realidades e necessidades
educacionais do país.
3 A trama do acervo: a literatura nas bibliotecas escolares pela via do Programa Nacional Biblioteca da Escola
(PAIVA, 2009).
Programa Nacional Biblioteca da Escola – Uma análise da chegada dos acervos do PNBE/2005 nas escolas da
rede municipalde Belo Horizonte (MONTUANI, 2010). 4 Informações disponíveis em:
<http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=biblioteca_escola.html>. Acesso em: julho 2007 5 www.fnde,gov.br
21
Nos anos de 1998, 1999 e 2000, o foco da distribuição de livros era a biblioteca pública
escolar. Em 1998, foram escolhidos 215 títulos, entre os quais nem todos eram literários, pois
os acervos também incluíam dicionários, enciclopédias, e atlas. Em 1999, foram selecionadas
109 obras literárias infanto-junvenis sendo que 4 eram para crianças portadoras de
necessidades especiais. Por último, em 2000, as escolas receberam acervos de livros didático-
pedagógicos destinados aos professores do ensino fundamental, com o objetivo de incentivar
e promover o desenvolvimento desses profissionais. Nos anos seguintes, o Programa ficou
mais conhecido como Literatura em minha casa, pois, em 2001 e 2002, o objetivo era
distribuir livros para o uso pessoal dos alunos e seus familiares, fazendo com que eles
tivessem acesso direto a obras representativas da literatura. O ano de 2003 foi atípico, visto
que o Programa foi realizado por meio de cinco ações distintas6, como se vê a seguir.
1) Continuação do Programa Leitura em Minha Casa, privilegiando o uso pessoal do
livro, pois o mesmo se torna propriedade do aluno. O público atendido foram os
alunos da 4ª e da 8ª série. As obras escolhidas eram tanto de literatura quanto de
informação.
2) Palavra da Gente - Educação de Jovens e Adultos, sendo que os acervos eram
distribuídos para os jovens que estavam no último ano de sua formação. Também
foram distribuídos livros literários e didáticos.
3) Casa da Leitura - foram criadas bibliotecas itinerantes com 154 títulos de literatura
para o acesso comunitário. Essa versão possibilitou o contato de muitas famílias
carentes com o livro.
4) Biblioteca do Professor - acervos selecionados para o uso exclusivo do professor
alfabetizador de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.
5) Biblioteca escolar, acervos selecionados exclusivamente para compor as bibliotecas
públicas, para o acesso de toda comunidade. Os acervos foram enviados para as 20 mil
escolas que tivessem o maior número de crianças matriculadas entre a 5ª e a 8ª série.
6 Para maiores informações, consultar o site do FNDE - http://www.fnde.gov.br/index.php/be-historico
22
Em 2004, não houve PNBE visto que o Programa estava passando por reformulações, porém,
de acordo com informações obtidas no site do FNDE, foi dada continuidade às ações de 2003.
A partir de 2005 até os dias atuais, o foco voltou-se para as bibliotecas. Tal ação significou a
retomada da valorização da biblioteca como promotora da universalização do conhecimento e,
também, da universalização do acesso e acervos pelo coletivo da escola (PAIVA, 2009,
p.149). No ano de 2005, os acervos de literatura foram selecionados por representantes de
escolas de 1ª a 4ª séries (1º e 2º ciclo) cadastradas no Censo Escolar do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/Mec). Através de uma carta convite
enviada pelo Mec, algumas escolas puderam participar pela primeira vez da escolha dos
acervos que seriam distribuídos para todas as escolas públicas do país. A fim de propiciar um
melhor conhecimento das obras e favorecer uma escolha mais consciente, foi disponibilizada,
no site do FNDE, uma resenha de cada título do acervo. (MONTUANI 2010 p.54).
Desde o PNBE de 2006 7 até a atual edição PNBE 2011, a avaliação pedagógica tem sido
coordenada pelo Centro de Alfabetização Leitura e Escrita – Ceale8/Fae/UFMG – aprovado
pelo MEC por meio de licitação. O processo de avaliação estabelecido pelo Ceale, ao longo
das últimas edições do PNBE tem se pautado pela democratização e descentralização da
avaliação, já que esse centro agrega avaliadores de diferentes estados e instituições de ensino
brasileiras. A avaliação das obras literárias se orienta por meio de três critérios9 básicos:
Qualidade textual - Os textos literários, além de contribuírem para ampliar o
repertório linguístico, deverão propiciar a fruição estética. Para tanto, serão
avaliadas as qualidades textuais básicas e o trabalho estético com a linguagem.
Qualidade gráfica - O projeto gráfico-editorial deve apresentar equilíbrio entre texto
principal, ilustrações, textos complementares e as várias intervenções gráficas que
conduzem o leitor para dentro e para fora do texto principal. Deve garantir
7 A partir de 2007, houve uma mudança na nomenclatura do PNBE. Até 2006, o nome do Programa se referia ao
ano em que era feita a seleção dos acervos. Em 2007, passou a referir-se ao ano de distribuição dos acervos.
Assim, o PNBE 2008 foi realizado em 2007, porém as obras foram distribuídas para as escolas em 2008.
Portanto, não houve uma versão do Programa chamada “PNBE 2007”. 8 “O CEALE (Centro de Alfabetização Leitura Escrita) é um órgão complementar da Faculdade de Educação da
UFMG, criado, em 1990, com o objetivo de integrar grupos interinstitucionais de pesquisa, ação e documentação
na área de alfabetização e do ensino de Português” (MACIEL, 2008, p.8). 9 Esta descrição, com pequenas
variações, se repete nos editais das quatro últimas
edições do PNBE.
23
condições de legibilidade do ponto de vista tipográfico, do espaçamento entre letras,
palavras e linhas, do alinhamento do texto e da qualidade do papel e impressão.
Qualidade temática - Obras devem apresentar diversidade temática, de diferentes
contextos sociais, culturais e históricos. Entre outras características, serão
observadas a capacidade de motivar a leitura, o potencial para incitar novas leituras,
a adequação às expectativas e à faixa etária do público-alvo, as possibilidades de
ampliação das referências do universo cultural do aluno e a exploração artística dos
temas.
A quantidade de obras e acervos a serem selecionados e o segmento pretendido é
estabelecido, a cada ano, em Edital do MEC. A tabela, a seguir, dá visibilidade a essa
distribuição.
Tabela 1
Distribuição dos acervos - PNBE 2006 a 2010
Ano Segmento Obras selecionadas Quantidade de acervos
PNBE 2006 Anos finais do Ensino Fundamental 225 3 acervos com 75 obras
cada
PNBE 2008 Educação Infantil
60 3 acervos com 20 obras
cada
Anos iniciais do Ensino Fundamental 100
5 acervos com 20 obras
cada
PNBE 2009 Anos finais do Ensino Fundamental
300 3 acervos com 100 obras
cada
Ensino Médio 300
3 acervos com 100 obras
cada
PNBE 2010
Educação Infantil 100
4 acervos com 25 obras
cada
Anos iniciais do Ensino Fundamental 100
4 acervos com 25 obras
cada
Educação de Jovens e Adultos 50
2 acervos com 25 obras
cada
Fonte: Tabela construída a partir de informações dos editais do PNBE.
Os acervos contemplaram diversos gêneros literários, como romance, poema, crônica, conto,
obras clássicas da literatura universal (traduzidas ou adaptadas), memória, relato de viagem,
diário, história em quadrinhos, livros de imagens, novela, obras ou antologias de textos de
tradição popular brasileira e peças teatrais brasileiras ou estrangeiras. A tabela a seguir
apresenta dados relativos ao PNBE de 1998 até 20011. Esses dados revelam a magnitude e a
abrangência do Programa assim como o alto investimento que é feito.
24
Tabela 2
Dados estatísticos do PNBE no período de 1998 a 2010
Programa/Ano Distribuição Alunos
Beneficiados
Escolas
Beneficiadas
Quantidade
de Livros Investimento
PNBE 98 1999 19.247.358 20.000 3.660.000 29.830.886,00
PNBE 99 2000 141.112.285 36.000 3.924.000 24.727.241,00
PNBE 2000* 2001 18.718 3.728.000 15.179.101,00
PNBE 2001 2002 8.561.639 139.119 60.923.940 57.638.015,60
PNBE 2002 2003 3.841.268 126.692 21.082.880 19.633.632
PNBE 2003 Literatura em minha casa 4ª série 2003/2004 3.449.253 125.194 20.855.750 18.494.879,10
PNBE 2003 Literatura em minha casa 8ª série 2003/2004 2.969.086 36.685 13.689.320 14.757.086,96
PNBE 2003 Palavra da gente (EJA) 2003/2004 463.134 10.964 3.470.904 2.956.053,24
PNBE 2003** Casa da Leitura 2003/2004 ND 3.659 6.372.912 6.246.212,00
PNBE 2003*** Biblioteca do Professor 2003/2004 ND ND 1.451.674 13.769.873,00
PNBE 2003 Biblioteca Escolar 6º ao 9º ano 2003/2004 ND 20.021 3.193.632 3.193.632,00
Total PNBE 2003 6.881.473 196523 49034192 59417736,30
PNBE 2004****
PNBE 2005 2005/2006 16.990.819 136.389 5.918.966 47.268.337,00
PNBE 2006 - Fundamental 6º ao 9º ano 2006 13.504.906 46.700 7.233.075 46.509.183,56
PNBE 2007*****
PNBE 2008 - Educação Infantil 2009 5.065.686 85.179 1.948.140 9.044.930,30
PNBE 2008 - Fundamental 1º ao 5º ano 2009 16.430.000 127.661 3.216.600 17.336.024,72
PNBE 2008 - Ensino Médio 2009 7.788.593 17.049 3.437.192 38.902.804,48
Total PNBE 2008 29.284.279 229.889 8.601.932 65.283.759,50
PNBE 2009 - Fundamental 6º ao 9º ano 2010 12.949.350 49.516 7.360.973 47347807,62
PNBE 2009 - Ensino Médio 2010 7.240.200 17.419 3.028.298 27.099.776,68
Total PNBE 2009 20.189.550 66.935 10.389.271 74.447.584,30
PNBE 2010 - Educação Infantil 2011 4.993.259 86.379 3.390.050 12.161.043,13
PNBE 2010 - Fundamental 1º ao 5º ano 2011 15.577.108 122.742 5.798.801 29.563.069,56
PNBE 2010 - EJA 2011 4.153.097 39.696 1.471.850 7.042.583,76
Total PNBE 2010 24.723.464 248.817 10.660.701 48.766.696,45
PNBE 2011 - Fundamental 6º ao 9º ano 2010 12.780.396 50.502 3.861.782 44.906.480,00
PNBE 2011 - Ensino Médio 2010 7.312.562 18.501 1.723.632 25.905.608,00
Total PNBE 201 1 20.092.958 69.003 5.585.414 70.812.088,00
Total Geral: 304.429.999 1.334.785 190.742.371 559.514.260,71
* Em 2000, foram produzidos e distribuídos materiais pedagógicos, voltados para a formação continuadas de professores.
**No PNBE 2003, Casa da Leitura, foram distribuídas bibliotecas itinerantes para mais de 3 mil municípios nos quais o acesso era comunitário. ***No PNBE 2003, Biblioteca do Professores, foram beneficiados 724.188 professores da rede pública das classes de alfabetização do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
****Em 2004, foi dada continuidade as ações do PNBE 2003.
***** A partir de 2007, foi mudada a nomenclatura do PNBE. Até 2006, o nome do Programa se referia ao ano de aquisição. Em 2007, passou a referir-se ao ano de atendimento. Assim, a aquisição do PNBE 2008 foi em 2007, não existindo uma versão do Programa chamada “PNBE 2007”.
ND = Não disponível
Fonte: Construída a partir de dados obtidos através do site do FNDE http://www.fnde.gov.br/index.php/be-
dados-estatisticos.
25
Esses dados não podem ser ignorados ainda mais que, como afirma Magda Soares:
Este é um país de raras e precárias bibliotecas: raras e precárias bibliotecas
públicas, raras e precárias bibliotecas escolares [...] Este é também um país
de poucas, pouquíssimas livrarias [...] Este é um país de livros caros para
uma população em sua maioria pobre. (SOARES, 2004).
Num país de pouquíssimas bibliotecas e livros caros, mais de 190 milhões de livros
distribuídos, 304 milhões de alunos beneficiados e um milhão de escolas atendidas ao longo
dos 14 anos do PNBE não é qualquer coisa. Sabemos que as críticas ao Programa são muitas,
com toda razão de ser, porém esses números devem ser considerados e comemorados uma vez
que proporcionar o acesso a livros literários de qualidade para uma população
majoritariamente sem recursos e sem incentivo à leitura já é uma grande vitória. Digamos que
os quesitos acesso e distribuição estão sendo cumpridos, ou melhor, em partes, já que os
acervos de literatura infantil do PNBE praticamente não estão presentes nas UMEI’s, como
mostraremos no capítulo 2.
1.2 Acervos do PNBE para crianças
Em 2008, o Programa teve a sua abrangência ampliada, pois, além de selecionar livros para os
anos iniciais do ensino fundamental, também selecionou sessenta obras literárias para a
Educação Infantil. Os acervos foram compostos por textos em verso (poemas, quadras,
parlendas, cantigas, travalínguas, adivinhas), em prosa (pequenas histórias, novelas, contos,
crônicas, textos de dramaturgia, memórias, biografias), livros de imagens e de histórias em
quadrinhos e, ainda, obras clássicas da literatura universal.
O PNBE de 2010 foi marcado por algumas especificidades, a começar pelo número de obras
inscritas, que foi superior a todos os outros anos do Programa, desde 2006. A média por ano
de inscritos era 2047 livros e, em 2010, esse valor subiu para 2514. Nesse ano, a formação de
acervos foi elaborada levando em consideração quatro categorias, sendo que a Educação
Infantil se subdividiu em duas:
- Categoria 1: Educação Infantil - crianças entre 0 e 3 anos
- Categoria 2: Educação Infantil - crianças de 4 e 5 anos
- Categoria 3: Anos iniciais do Ensino fundamental
26
- Categoria 4: Educação de Jovens e Adultos (EJA)
Para os acervos de EJA, foram selecionados tanto livros para o ensino fundamental quanto
livros para o ensino médio. Os gráficos, a seguir, relativos ao PNBE de 2008 e 2010,
evidenciam o quadro de inscrições.
Gráfico 1 Gráfico 2
Fonte: Gráfico construído a partir da Base de Dados do PNBE.
Essas edições do PNBE foram escolhidas para esta pesquisa, uma vez que a distribuição
desses acervos é a mais recente e contempla a Educação Infantil, fato que acarreta a
distribuição de livros literários para as escolas de Educação Infantil de todo país, inclusive as
de Belo Horizonte. Sendo assim, esta pesquisa teve como objetivo encontrar respostas para as
seguintes perguntas:
1) Os acervos de Educação Infantil do PNBE chegaram às UMEI’s?
2) Onde os livros do PNBE são armazenados nas UMEI’s?
3) Os alunos das UMEI’s têm acesso aos livros do PNBE?
4) O que os educadores das UMEI’s sabem a respeito do PNBE?
Quantidade de livros inscritos por segmento
PNBE 2008
Quantidade de livros inscritos por categoria
PNBE 2010
27
CAPÍTULO 2
A EDUCAÇÃO INFANTIL
Pouco a pouco vem sendo construída, no país, a concepção e o reconhecimento da Educação
Infantil como primeira etapa da Educação Básica, tendo como objetivo o desenvolvimento
integral da criança de até seis anos de idade, no aspecto físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade (LDBN 9394/95, art.29). Nesse
contexto, vale apena citar algumas das mais importantes leis que contribuíram para o
reconhecimento da Educação Infantil como política educacional e, principalmente, a
consideração da criança como sujeito de direito.
A Constituição Federal de 1988 afirma que a educação é um direito de todos e um dever do
Estado e da Família, os quais devem garantir ao educando o pleno desenvolvimento e o
exercício da cidadania (BRASIL, art.205). O artigo 208 institui que a educação básica deve
ser obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade e que o atendimento à Educação Infantil deve ser
realizado em creches e pré-escolas. Esse foi um grande salto na conquista dos direitos das
crianças que, anteriormente, eram tratadas pelas leis somente como objeto de tutela.
A Declaração Mundial de Direito para Todos foi firmada em 1990, na cidade de Jomtien,
Tailândia. Entre os principais objetivos estabelecidos, destaca-se que “Cada pessoa - criança,
jovem ou adulto - deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas
para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem.” (JOMTIEM, 1990). Em relação
à educação básica, a Declaração ainda afirma que “ela é a base para a aprendizagem e o
desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual os países podem construir,
sistematicamente, níveis e tipos mais adiantados de educação e capacitação.” (JOMTIEN,
1990). No mesmo ano, foi estabelecido, no Brasil, um conjunto de normas que tinha como
prioridade garantir a proteção integral da criança e do adolescente em suas múltiplas
necessidades. O direito à vida, saúde, educação, cultura, esporte, lazer, liberdade, dignidade,
convivência familiar e proteção foram certificados a partir do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA. O artigo 54, parágrafo IV, afirma que é dever do Estado assegurar às
crianças de 0 a 6 anos o atendimento em creches e pré –escolas.
28
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.034/1996 estabeleceu que é dever do
Estado garantir atendimento gratuito, em creches e pré-escolas, às crianças de 0 a 6 anos de
idade (BRASIL, 1996). Isso representou um grande marco e uma grande vitória para a
Educação Infantil, já que esta foi reconhecida como primeira etapa da educação básica.
A resolução nº 5 de 17 de dezembro de 2009 fixou as Diretrizes Curriculares para Educação
Infantil e estabeleceu a importância de elaborar propostas pedagógicas que coloquem a
criança no centro do planejamento curricular, pois ela é sujeito de direitos que, nas interações,
relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (MEC/CNE, 2009). Essas propostas devem
respeitar os princípios éticos, estéticos e políticos, oferecendo principalmente ludicidade,
liberdade de expressão, sociabilidade e autonomia. Ainda em relação às propostas
pedagógicas, o art.8 prevê que:
A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como
objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e
articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens,
assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao
respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras
crianças. (MEC/CNE, 2009).
A LDBEN de 1996 reconheceu não só o direito da criança à Educação Infantil, mas também
definiu que o profissional responsável pelas crianças nas instituições escolares deveria ser o
professor com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração dos
educandos (art.59). Esse fato valorizou o profissional da educação, provando mais uma vez
que a Educação Infantil necessita de saberes específicos e não simplesmente cuidados
assistencialistas. Com isso, o professor infantil obteve direito ao plano de carreira e melhor
condição de trabalho.
Diante desse breve apanhado, percebe-se que muitas foram as conquistas legais para o
reconhecimento da criança como sujeito de direitos assim como o reconhecimento dos
educadores infantis, porém esses avanços aconteceram e acontecem a passos lentos. Ainda
possuímos poucas escolas públicas em tempo integral que ofereçam um planejamento escolar
adequado para alunos e professores, possuam estrutura física apropriada, ofereçam
29
remuneração justa e cursos de especialização e capacitação para professores. Muito ainda
deve ser feito para se alcançar a educação universal e de qualidade que estabelecem as Leis. A
criança precisa ser reconhecida como sujeito que produz sentido sobre o mundo que o cerca
através de suas ações e interações com o outro, pois ela é inventiva, imaginativa, portadora e
construtora de história.
O lugar da criança foi e ainda está sendo conquistado aos poucos. Um exemplo disso é a
criação de prédios específicos para o atendimento de crianças de 0 a 5 anos, as chamadas
Unidades Municipais de Educação Infantil, que possuem instalações próprias para atender as
demandas necessárias dessa faixa etária. Atualmente, a maior parte das crianças que estão
frequentando escolas da rede pública se encontra em UMEI’s; portanto não haveria lugar mais
adequado para o conhecimento sobre a recepção de acervos infantis que é o campo de
pesquisa deste trabalho. O tópico seguinte tem como objetivo apresentar, de forma breve, o
processo de surgimento das UMEI’s e como se deu o desenvolvimento do seu processo de
elaboração.
2.1 O surgimento das UMEI’s
De acordo com as Proposições Curriculares para a Educação Infantil elaborada pela Secretaria
Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED-BH), os espaços coletivos destinados a
cuidar e dar assistência para crianças carentes com idade entre 0 e 5 anos nasceram quando
mães que precisavam garantir o sustento dos filhos necessitaram sair de casa para trabalhar. O
atendimento era feito voluntariamente por mulheres, sendo que o único requisito para
trabalhar era ser mãe, e/ou gostar muito de crianças. Entre 1900 e 1950, esses espaços
coletivos se desenvolveram e se subdividiram em duas categorias: o primeiro, de cunho
assistencialista, que cuidava das crianças a fim de que a mãe pudesse trabalhar fora, ficou
conhecido como Creche. O segundo caracterizava a Pré-Escola ou Jardim de Infância que
atendia basicamente crianças de famílias favorecidas economicamente e pretendia prepará-las
para o ingresso no Ensino Fundamental (BELO HORIZONTE, 2009).
Durante muitos anos, Belo Horizonte foi umas das poucas cidades do Brasil que não oferecia
atendimento educacional público para crianças de 0 a 3 anos. Em 1979, com o intuito de
defender o espaço educativo, a criação, organização e manutenção das creches, foi criado o
30
Movimento de Lutas Pró-Creches (MLPC). Quatro anos após sua criação, a Prefeitura de Belo
Horizonte fez um convênio com as creches comunitárias existentes, para tentar atender a
crescente demanda (BELO HORIZONTE, 2009). Com isso, até o ano de 2003, o atendimento
escolar a crianças menores de seis anos era feito basicamente por meio desses convênios.
Havia apenas 13 escolas para o atendimento à Educação Infantil (MATOS, 2009 p. 42).
Somente o convênio com as creches e as 13 escolas não era suficiente para atender a
quantidade de crianças que necessitavam dos espaços escolares infantis. Considerando ainda
que, após a LDBN de 1996, a Educação Infantil passou a ser direto das crianças e primeira
etapa da Educação Básica, tornou-se necessário tomar outras providências. Diante disso, foi
promulgada a Lei 8.679/2003 em 11 de novembro de 2003, com o objetivo de aumentar a
participação do poder público municipal na gestão das políticas de Educação Infantil. A partir
de então, teve início um novo modelo de atendimento à Educação Infantil, que responde a
novas diretrizes para essa etapa da educação na Rede municipalde Ensino de Belo Horizonte
(RME/BH). (MATOS, 2009).
Mais do que isso, era fundamental que fosse elaborado uma proposta de ampliação do
atendimento às crianças de 0 a 3 anos em jornada integral. Para enfrentar esse desafio, foi
criado, em 2001, o Grupo Gerencial da Educação Infantil (GGEI). Após muita discussão,
reflexão e planejamento, a solução encontrada pelo grupo e respaldada pela lei 8.679/2003 foi
a criação das Unidades Municipais de Educação Infantil – UMEI’s e criação do cargo de
educador infantil (BELO HORIZONTE, 2009). Desse modo, de acordo com o artigo 2º, todas
as UMEI’s deveriam estar vinculadas a uma Escola Municipal já existente, sendo a direção da
UMEI exercida pela Diretora da escola polo.
Os critérios adotados para a distribuição das vagas procurou levar em consideração o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) e as políticas da Educação Infantil. Sendo assim, num
primeiro momento, a rede municipalse propôs a realizar o atendimento compulsório para a
população infantil que estivesse sob medida protetiva e para crianças portadoras de
necessidades especiais. Em seguida, seriam atendidas crianças em estado de vulnerabilidade
social. Com o restante das vagas, primeiramente seria feito um sorteio para as famílias que
morassem ou trabalhassem no entorno da UMEI. Por último, um sorteio geral para toda a
comunidade que fizesse inscrição na unidade escolar (BELO HORIZONTE, 2009).
31
Os espaços das UMEI’s foram delineados de acordo com uma parceria de pedagogos,
engenheiros e arquitetos, visando proporcionar condições favoráveis para o desenvolvimento
e aprendizado das crianças, fazendo com que os espaços fossem capazes de atender as suas
múltiplas necessidades. As UMEI’s foram projetadas para fazerem atendimento específico
para crianças entre 0 e 5 anos, sendo que, para as menores de 3 anos, em horário integral, e
para as demais em horário parcial (BELO HORIZONTE, 2009).
Atualmente, de acordo com o site da Prefeitura de Belo Horizonte10
, existem 231 instituições
municipais. Desse total, 97 instituições atendem a Educação Infantil, de maneira que, 4711
são
UMEI’s, 37 são escolas municipais que atendem Educação Infantil e Ensino Fundamental, e
13 são escolas municipais exclusivas para a Educação Infantil, totalizando um atendimento a
39.439 crianças. Além disso, a prefeitura é conveniada com 193 creches que atendem uma
população de 21.457 alunos. Segue abaixo, um gráfico com a quantidade de profissionais que
existem em cada uma das áreas de atuação da rede municipalde Belo Horizonte.
Gráfico 3
10.571
1.837228 44 441 879 539
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Profe
ssore
s Municipais
Educadores In
fantis
Pedagogos
Bibliote
cário
s
Auxiliar d
e bibliote
ca
Auxiliar d
e escola
Auxiliar d
e secre
taria
Quadro de profissionais da Rede Municipal
Fonte: Dados obtidos através do site http://portalpbh.gov.br
10
Para maiores informações, consultar o site da PBH: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ 11
Dados da prefeitura atualizados em julho de 2009, mas sabe-se que hoje o número de UMEI’s em Belo
Horizonte subiu para 54.
32
Considerando apenas os educadores infantis12
, que totalizam 1.837 profissionais, 1.184 deles
possuem nível superior, 210 possuem ensino superior incompleto e 443 educadores têm
apenas o Ensino Médio. A partir dessa pequena amostra de dados, pode-se perceber que o
número de escolas que fazem o atendimento exclusivo para as crianças é muito pequeno em
vista da grande metrópole que é Belo Horizonte e que ainda existem muitos educadores
infantis que não possuem nível superior de ensino. Nota-se também o baixo número de
Pedagogos presentes nas escolas Municipais e, mais grave que isso, a quantidade ínfima de
bibliotecários, ficando fácil constatar que a grande maioria das escolas não possui este tipo de
profissional.
2.2 A importância da Literatura na Educação Infantil
Literatura, em nosso país, não é algo popular. Não ouvimos falar de Literatura na mesma
intensidade com que ouvimos falar de novelas; muito pelo contrário, a palavra Literatura soa
como algo distante, culto, e para poucos. Vivemos num país em que as bibliotecas são poucas
e livros são artigos de luxo. Num Brasil onde a miséria ainda não foi erradicada, parece justo
que a preocupação com a formação de leitores não esteja entre as prioridades. Mas será que
esse é um bom caminho? Parece mesmo que entramos num ciclo: a leitura não é incentivada,
logo, se formam adultos que não têm o hábito de ler; consequentemente, esses adultos
também não incentivarão a leitura e também não formarão novos leitores e assim
sucessivamente. É importante que se tenha claro que somente aquele que lê e que ama os
livros é capaz de formar outros leitores (FARIA 2009, P.57). Mudar esse ciclo exigiria
múltiplas ações entre as quais poderíamos citar: investimento maciço na educação e nos seus
profissionais, melhoria da estrutura física das escolas, construção de mais bibliotecas
públicas, incentivo ao autor e produtor do livro, incentivo à cultura e pesquisa científica,
qualificação e valorização de professores. Nessa perspectiva, seriam necessárias políticas
públicas que englobassem não somente a distribuição de livros para as escolas, mas também
um subsídio de capacitação para os profissionais envolvidos lidarem com esses acervos e
também reciclarem o seu modo de encarar a Literatura, esquecendo um pouco o caráter
12
Fonte: GPLI/GEOE
Levantamento Mensal da Gerência de Comunicação Social (GCOS/SMED) atualizado em 15/07/2009
33
didático que esse segmento assume nas escolas e deixando de lado a concepção estereotipada
de leitura. Nesse sentido, Cademartori salienta a relação do livro com o povo brasileiro.
O Brasil ainda não é um país de leitores, situação determinada por fatores de
natureza social, econômica, política, histórica, cultural. No entanto, existe
hoje especial sensibilidade para esse assunto, traduzida em inúmeras
iniciativas, públicas e privadas, para promover a leitura. Não podemos
esquecer, porém, que muitos professores não tiveram as condições
necessárias para se desenvolverem devidamente como leitores e, às vezes,
pensam ser deficiência pessoal o que, na verdade, provém de âmbito muito
mais amplo, como a dívida social do país com o seu povo.
(CADEMARTORI, 2009 p. 25)
Por essa dívida do Brasil com sua população é que acreditamos fortemente na importância de
políticas públicas de distribuição de livros, principalmente os infantis, que estão ganhando
cada vez mais espaço no mercado editorial e no de formação dos educadores, para fomentar
as práticas de leitura no cotidiano escolar. O livro também não pode ser tratado como mero
adereço, mas como peça fundamental do processo de aquisição da cultura, leitura e escrita. Os
editores já perceberam o grande mercado consumidor que existe para o público infantil; por
isso, investem cada vez mais em livros específicos e abordam temas, situações e personagens
que agradam, divertem e inserem a criança no mundo letrado.
Para a criança, a literatura infantil torna o mundo e a vida compreensíveis,
porque revela outros mundos e outras vidas; a fantasia, o imaginário na
literatura infantil tem papel valioso no processo de amadurecimento
emocional da criança; a leitura literária possibilita o acesso da criança ao
rico acervo dos contos de fadas, de fábulas, de poemas que fazem parte da
cultura de nossas sociedades ocidentais. (SOARES, 2010 p.16).
A concepção de leitura literária na Educação Infantil pode ser marcada por dois momentos
distintos, como salienta Magda Soares (2010). No primeiro, que vai até a década de 80, era
importante que a criança apreendesse os códigos da escrita para somente depois ler, ou seja, a
criança aprendia a ler com o apoio das cartilhas nas quais os textos eram artificialmente
construídos e depois de ter dominado os pré-requisitos básicos para a leitura é que poderia ter
acesso a outros tipos de textos, isto é, primeiro era preciso aprender a ler, para só depois ler
(SOARES, 2010). O segundo momento inicia-se no final da década de 80 e início da década
de 90. A concepção de leitura já se apresentava de maneira diferenciada, pois concebia a
alfabetização como um processo gradual e coletivo. Nesse processo, escola e sociedade são
responsáveis pela formação da criança, sendo a escola de maneira sistematizada e a sociedade
de forma diversificada apresentada de diferentes modos. Sendo assim, a leitura literária não
34
era vetada nas escolas no início do processo de alfabetização, e sim incentivada. Em outras
palavras, já se acreditava que só se aprendia a ler, lendo. Essa concepção permanece atual, de
maneira que a alfabetização desenvolve-se no contexto de uma vivência intensa dos usos e
das práticas sociais da língua escrita, o que significa interagir com materiais reais de leitura e
de escrita (SOARES, 2010).
Através dos livros de literatura infantil, assuntos delicados de natureza humana podem ser
abordados de maneira leve, prazerosa e lúdica, pois, por meio da ficção, penetramos no
patamar da subjetividade, da analogia, da intuição, do imaginário e da fantasia (AZEVEDO,
2004). Essa afirmação pode ser comprovada em dois exemplares de livros que foram
selecionados para comporem os acervos de Educação Infantil do PNBE de 2010, o “Dolores
Dolorida” de Vera Cotrim e “Com quem será que eu me pareço” de Georgina Martins.
O primeiro livro, que apresenta o texto em verso, traz como personagem principal uma
serpente que só reclama o tempo todo, reclama de dor de barriga, de cabeça, de garganta, de
calo no pé e outras inúmeras enfermidades. Por mais que os outros bichos da floresta fizessem
para ajudá-la, nada fazia com que as dores de Dolores Dolorida se curassem, até que a
serpente foi sendo deixada de lado pelos seus amigos, que estavam super animados com a
festa para comemorar a chegada do verão. Dolores, ao perceber isso, esqueceu todas as suas
mazelas e foi aproveitar a festança. Resumidamente, esse livro trata, de forma bem humorada,
de um assunto que é corriqueiro no mundo infantil: carência afetiva que se transforma em
hábitos de reclamação para chamar a atenção dos outros. Quem nunca viu uma criança
inventar alguma dor ou algum machucado para atrair a atenção de adultos? O livro, além de
poético, é divertido, traz imagens que dialogam e ampliam o significado do texto verbal,
abordando um assunto completamente pertencente ao mundo infantil, principalmente no
contexto escolar, no qual as crianças não têm atenção exclusiva.
O segundo livro - “Com quem será que eu me pareço” – trata, de forma delicada, simples e
atraente, do tema da identidade racial, apresentando filhotes de animais e crianças que
perguntam para as mães com quem se parecem. A filhote de pantera negra pergunta à mãe
com quem ela se parece. A mãe responde, de forma carinhosa, que ela se parece com
“meninas de pele cor da noite, e por isso todas acham você tão maravilhosa” (p. 6). Depois
uma menina negra pergunta à mãe com que ela se parece e a mãe lhe responde que se parece
35
com uma pantera negra. Várias comparações entre crianças e animais são feitas, destacando as
características e diferenças de cada um, como sardas, cabelos anelados e pele branquinha.
Além de abordar o assunto da diversidade, o livro ainda traz a relação entre mães e filhos, que
também propicia uma maior identificação da criança com o livro. Logo, assuntos que muitos
vezes são evitados pelo discurso didático informativo, justamente por serem considerados
subjetivos, ambíguos e imensuráveis (AZEVEDO, 2004), são tratados de maneira natural,
poética e bem humorada pelos livros de literatura infantil, proporcionando autoconhecimento,
reflexão e diálogos entre os pequenos.
Independentemente de abordar ou não assuntos delicados do cotidiano (mesmo porque esses
livros são minoria), o primordial é apresentar e oferecer o “faz de conta” para a criança em
formação, pois será para ela uma maneira de se relacionar e interagir com o outro no mundo,
expressando sentimentos, desejos, necessidades e ideias (FARIA, 2004). A obra de ficção
ajuda o pequeno leitor a colocar em prática a sua capacidade de imaginação, fazendo-o pensar
criticamente e conhecer melhor o mundo que o cerca. O espaço escolar não só deve
proporcionar, mas também incentivar o contato da criança com o livro e com as práticas
literárias, pois muitas vezes o único contato da criança com o livro se fará dentro da escola.
No campo da sociologia, Bourdieu nos mostra a importância do capital cultural e evidenciar à
sua influência na trajetória escolar dos indivíduos, definindo o seu sucesso ou fracasso. Os
estudos de Maria Alice Nogueira e Cláudio Nogueira acerca desse teórico apontam que a
posse do capital cultural favoreceria o desempenho escolar na medida em que facilitaria a
aprendizagem dos conteúdos e códigos (2009, p.52). Em outras palavras, significa dizer que
o êxito escolar está intimamente relacionado com a bagagem cultural que o indivíduo acumula
durante toda a sua vida. Quando maior a bagagem cultural, maiores as chances de obter bons
resultados. Para aqueles que desde o nascimento conviveram com gestos, atitudes, bens
materiais e culturais consagrados pela classe dominante, ao chegarem à escola, apenas
continuariam essa trajetória sem maiores estranhamentos. Para um sujeito advindo das classes
populares, que pouco contato teve com a cultura letrada, possivelmente encontraria grande
dificuldade ao entrar na escola, pois seria um ambiente totalmente novo, dotado de costumes,
regras e convenções sociais desconhecidas. Nesse sentido, não poderíamos mais falar que um
aluno bem sucedido é detentor de certo dom, ou certa aptidão para os estudos, mas sim que
ele tem um capital cultural que permitiu que ele tivesse uma trajetória escolar vitoriosa.
36
A leitura literária é considerada um capital cultural, visto que a apreciação desse material
simbólico foi legitimada tanto por parte das artes quanto das letras. Acontece que, como
falado anteriormente, o Brasil é um país onde o livro literário ainda é considerado um artigo
de luxo, haja vista o alto custo que um livro com padrões mínimos de qualidade apresenta no
mercado. Sendo assim, garantir o acesso seria o primeiro passo para que crianças de baixa
renda pudessem iniciar seus passos na cultura letrada. A escola toma especial destaque, pois
ela tem se configurado como um espaço fundamental para possibilitar esse acesso e
proporcionar práticas para a aquisição da leitura (PAIVA, 2009, p.141). Nesse mesmo
sentido, Souza também afirma que, apesar de todos os problemas funcionais e estruturais, é na
escola que a maioria das crianças aprende a ler. Muitas têm no ambiente escolar o primeiro (e,
às vezes, o único) contato com a literatura (2009, p.63).
A apreciação do caráter estético de obras literárias é fundamental para a construção crítica do
futuro leitor. Vale lembrar também que a formação de um leitor não é tarefa fácil. O
importante é não conduzir o discurso para uma vertente simplista e fantasiosa; necessário
mesmo é escapar dos famosos jargões da literatura, como: “nas asas da imaginação”, “uma
viagem no mundo da fantasia”. Desde muito cedo, é importante explicar para as crianças que
leitura não é só prazer e deleite, mas também esforço e persistência. Somente aqueles que se
dedicam a essa tarefa é que usufruem dos benefícios de uma boa leitura. A respeito disso,
Azevedo salientou que
[...] a leitura, exige esforço e que o chamado prazer da leitura é uma
construção que pressupõe treino, capacitação e acumulação. O contato com
adultos pseudoleitores e com idealizações infelizes a respeito da literatura e
da leitura, de qualquer forma, tenho certeza, não tem contribuído em nada
para a formação de novos leitores. (2004, p.38).
Outro ponto a ser destacado é a necessidade de oferecer uma diversidade de temas e gêneros
linguísticos para os pequenos leitores. O contato com obras que apresentem narrativas,
história em quadrinhos e livro de imagens não só amplia o conhecimento literário, mas
também auxilia no processo de letramento literário e conduze a diferenciação dos diversos
tipos de textos. Nesse aspecto, o PNBE é extremamente eficiente na medida em que compõe
acervos que contemplam uma enorme gama de textos, como: conto, poesia, romance, teatro,
biografia, obras clássicas, crônicas, texto da tradição popular, quadrinhos e tudo mais que for
possível.
37
CAPÍTULO 3
APRESENTAÇÃO DOS DADOS
A partir da análise dos dados obtidos por intermédio da aplicação de um questionário e
observação própria, apresentamos uma visão específica a respeito da estrutura física, mais
precisamente a presença de bibliotecas nas UMEI’s de Belo Horizonte. Após a leitura do
trabalho de dissertação, “As Unidades de Educação Infantil de Belo Horizonte: Investigações
sobre um padrão arquitetônico”, de Marcelo Otávio de Amorim, apresentado ao Programa de
Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, no ano de 2010, tínhamos uma
noção do que encontraríamos nas UMEI’s, porém acreditávamos que a totalidade das visitas
não representaria um único padrão. De acordo com o autor, para a elaboração dos projetos
arquitetônicos, o grupo de arquitetos do GGEI se reuniu com o grupo de profissionais da
SMED de forma que fossem compreendidas as intenções, necessidades e o programa da
escola infantil (AMORIM, 2010, p.74). O Conselho Municipal de Educação de Belo
Horizonte, responsável por fixar normas para a Educação Infantil no Sistema Municipal,
definiu, através da resolução CME/BH Nº 01/2000, importantes padrões que devem ser
considerados, como se vê a seguir.
Art. 12 - Os espaços físicos deverão ser adequados à proposta pedagógica da
instituição de Educação Infantil, respeitada a necessidade de desenvolvimento das
crianças de zero a sei anos.
Por esse artigo, é possível notar que a construção das UMEI’s não foi pautada somente em
critérios arquitetônicos; também foram levadas em consideração as propostas pedagógicas
existentes para essa faixa etária e principalmente os aspectos necessários para o pleno
desenvolvimento das crianças, em suas múltiplas dimensões.
Art. 14 - O espaço físico da instituição que oferta Educação Infantil deverá atender às
diferentes funções que lhe são próprias e conter uma estrutura básica que contemple:
I - espaço para recepção;
II - sala de professores, para serviço administrativo-pedagógico e de apoio;
III - salas para as atividades das crianças, com ventilação adequada, iluminação natural e
artificial e visão para o ambiente externo, com mobiliário e equipamentos adequados;
38
IV - refeitório, instalações e equipamentos para o preparo de alimentos, que atendam às
exigências de nutrição, saúde, higiene e segurança, nos casos de oferta de alimentação;
V - disponibilidade de água potável para consumo e higienização;
VI - instalações sanitárias completas, adequadas e suficientes para atender separadamente
crianças e adultos;
VII - berçário provido de berços individuais, com espaço mínimo de meio metro entre eles,
dentro das normas de segurança específicas para este mobiliário, com área livre para
movimentação das crianças, locais para amamentação e para higienização de utensílios,
com balcão e pia, espaço próprio para banho das crianças;
VIII - área com incidência direta de raios de sol ou espaço externo que atenda a essa
necessidade;
IX - área de serviço, lavanderia;
X - área coberta para atividades externas compatível com a capacidade de atendimento, por
turno, da instituição.
De acordo com essa resolução, pode-se perceber que o espaço da biblioteca não é
contemplado. Mesmo com essa definição, esperávamos que espaços alternativos de leitura
tivessem sido criados dada a grande importância do contato com os livros e da importância
que o ambiente de biblioteca tem para a formação das crianças. Maciel afirma que “é ponto
indiscutível que os livros de literatura, no espaço escolar, conferem à criança uma
multifacetada forma de acesso ao saber” (2008, p.7). Ainda sobre a importância do livro para
a Educação Infantil, Soares afirma que:
E porque a Educação Infantil ainda não recebeu pleno estatuto como
instituição educativa, a primeira iniciativa de políticas públicas no sentido de
reconhecer o direito ao livro e à leitura das crianças desse nível de educação
básica concretizou-se por meio de um jogo de confrontos e ajustes entre
políticas de edição, direcionadas para um mercado editorial ainda não
reconhecido, uma cultura escolar que ainda não se convenceu inteiramente
da importância do livro na Educação Infantil, e ainda atribui funções nem
sempre legítimas à literatura infantil, e políticas públicas de leitura e
formação de leitores que só agora buscam propiciar práticas de letramento
literário nas instituições de Educação Infantil. Esperamos que seja a criança
a grande vitoriosa nesse jogo. (2008, p.33)
Após observação, foi possível constatar que as UMEI’s se dividem em duas espécies: a
primeira, que apresenta um projeto arquitetônico padrão, ou seja, modelo que foi planejado
após a concepção das UMEI’s. Todas elas, por maiores diferenças e peculiaridades que
39
diferenciam uma das outras, mantêm o mesmo padrão nas formas, cores e espaços. A segunda
são creches que, após convênio com a prefeitura, se tornaram UMEI’s. Essas são bem
diferentes entre si, de forma que cada uma segue um modelo arquitetônico distinto.
Independente do molde de construção, perguntamos para os coordenadores, diretores ou
supervisores se existia biblioteca em sua UMEI de atuação. O resultado obtido é apresentado
a seguir:
Gráfico 4
Fonte: Gráfico construído a partir de informações obtidas através da aplicação do questionário.
Observando o resultado obtido e avaliando o que propunham as resoluções para a criação das
UMEI’s, a grande discrepância nas porcentagens não é nenhuma surpresa, ou seja, a maior
parte das UMEI’s, 32 num total de 40, não possuem biblioteca. Apesar de saber que a maioria
das UMEI’s não foi projetada com bibliotecas, esperávamos que mais espaços adaptados de
leitura tivessem sido criados dentro das instituições, porém, isso foi feito em apenas 5 delas.
Esse dado revela que muito ainda deve ser feito para se ter o espaço da biblioteca valorizado
dentro de instituições escolares, até o ponto em que envolvidos percebam o quanto ele é
fundamental para os alunos em formação. Aproveitamos esse resultado da pesquisa para citar
a frase de Antônio Viñao Frago, que diz: “Espaço escolar não é apenas um cenário onde se
desenvolve a educação, mas sim, uma forma silenciosa de ensino” (2002, p. 19). A biblioteca
tem essa função de formar silenciosamente, na medida em que seu ambiente por si só cria
uma atmosfera de curiosidade, fantasia e imaginação. Ao expor livros em prateleiras, com
capas coloridas, ilustrações inusitadas, títulos divertidos ou também instigantes, além de
almofadas no chão e mesas para a leitura, criará um ambiente propício e convidativo para as
Existência de biblioteca nas UMEI’s
40
crianças. Fora o ambiente em si, se esse espaço for usado para socialização das crianças,
contação de histórias, teatro de fantoches, uso de fantasias, rodas de leitura, maiores serão os
ganhos, dos professores e alunos.
A biblioteca deveria ser um espaço essencial em qualquer escola, seja ela de Educação
Infantil ou não. Na Educação Infantil ela deveria ser primordial, pois nessa fase a criança está
totalmente aberta à ficção, à vivencia de histórias e o seu instinto imaginativo está mais
aflorado do que nunca. Vale ainda lembrar que as bibliotecas infantis deveriam ser espaços
organizados de modo a atender às peculiaridades e especificidades das crianças; sendo assim,
necessita de mobiliário específico, livros adequados, espaço livre, ambiente colorido e
convidativo e outros adereços que complementem o ambiente de modo a favorecer a
dimensão lúdica do espaço. Em relação ao espaço da biblioteca, Silva afirma que a biblioteca
da escola deve estar organizada de modo que proporcione aos alunos e aos demais membros
da comunidade escolar a busca pela leitura (2009, p.116). As UMEI’s visitadas que possuem
bibliotecas planejadas, apesar de pouquíssimas, são muito bem paramentadas e certamente
convidativas para as crianças. Abaixo, seguem fotos dessas UMEI’s.
Figuras 1 e 2: UMEI da regional Centro Sul inaugurada em 2010.
Fonte: Foto Cristiane Dias Martins da Costa, 2010
41
Figuras 3 e 4: UMEI da regional Centro Sul inaugurada em 2009
Fonte: Foto Cristiane Dias Martins da Costa, 2010
Figuras 5 e 6: UMEI da regional Leste inaugurada em 2004.
Fonte: Foto Cristiane Dias Martins da Costa, 2010
Nota-se que das três UMEI’s que tiveram bibliotecas projetadas, duas são da Regional Centro
Sul e foram recentemente inauguradas. Pelas fotos, podemos perceber que o livro não é o
único atrativo das bibliotecas, mas também fantoches, miniteatros, som e almofadas, e
bonecos. Durante conversa informal com os supervisores dessas UMEI’s, contamos que estes
espaços ocupam posição de destaque na escola, e também que todos sentem orgulho e apreço
por esse ambiente. Verificamos que são inúmeras as atividades que acontecem dentro das
bibliotecas, desde tarefas direcionadas até momento livre para ler (folhear) livros
aleatoriamente, ou até mesmo deitar simplesmente nas almofadas para descansar. Nas três
bibliotecas (umas mais, outras menos), os livros são dispostos de maneira com que a criança
consiga pegá-lo sozinha, garantindo, assim, a liberdade e acessibilidade do ambiente. Em se
42
tratando das bibliotecas que foram adaptadas, percebemos o esforço e a preocupação da
equipe da UMEI em tornar o espaço o mais adequado possível para as crianças. Inclusive,
uma UMEI da regional Oeste fez o espaço de leitura adaptado no canto do refeitório. Esse é
um exemplo de creche conveniada que possui modelo arquitetônico semelhante ao de uma
casa, modelo típico dessas instituições antes da criação de prédios específicos para a
Educação Infantil, no caso as UMEI’s.
Dentre as cinco UMEI’s pesquisadas que possuem bibliotecas adaptadas destacados algumas.
Figuras 7 e 8: UMEI da Regional Nordeste, o espaço é mais conhecido como Tudoteca, pois de
acordo com as educadoras é biblioteca, videoteca e brinquedoteca.
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010
Essa foto revela que, apesar da proposta de criar um espaço adaptado para biblioteca, o lugar
ainda é ocupado por caixas e por um acúmulo de materiais, tornando o ambiente tumultuado e
não proporcionando destaque para os livros, que se apresentam de forma compactada nas
prateleiras, sem qualquer visibilidade para as crianças e pouco acessíveis. Nota-se que a
televisão divide espaço com os livros, fato que deveria ser evitado dentro de uma biblioteca,
pois, a princípio, na ordem das preferências das crianças, certamente o livro seria preterido em
prol da televisão. De acordo com a supervisão desta UMEI, o local é conhecido como
Tudoteca, pois é ao mesmo tempo é biblioteca, videoteca e brinquedoteca. Diante da
observação do espaço, apesar da boa intenção, foi possível perceber que ele não atende, de
maneira plena, a nenhuma das classificações, não sendo uma brinquedoteca, nem uma
videoteca e tampouco uma biblioteca.
43
Figuras 9 e 10: UMEI da regional Oeste.
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010
A biblioteca mostrada nas figuras 9 e 10 foi adaptada no canto direito do refeitório. Apesar do
tamanho reduzido, pode-se perceber o cuidado na organização dos livros de forma a deixá-los
num patamar inferior onde as crianças poderão ter acesso. Pela foto, não é possível visualizar,
mas os livros estão separados por gênero. Logo na entrada dessa biblioteca, existe um
pequeno armário somente com livros para os professores, literários e didáticos. O espaço é
pequeno, porém é bem ventilado e iluminado, capaz de proporcionar um ambiente
aconchegante para as crianças.
Figura 11: UMEI da regional Pampulha Figura 12: UMEI da regional Nordeste
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
Pelas fotos, percebe-se que as bibliotecas, apesar da simplicidade, agregam condições
favoráveis para o desenvolvimento de atividades e promoção de leitura. Consideramos que o
importante não é somente criar o espaço, e sim proporcionar um ambiente ativo, envolvente, e
44
fazer dele um local de referência dentro da escola. Em relação aos usos das bibliotecas Silva
afirma que:
A biblioteca escolar trará benefícios para o contexto escolar se não for
tratada como peça decorativa, mas como um organismo vivo que emana para
toda a comunidade escolar possibilidades distintas de conhecer, de
sedimentar o que já se sabe, de refletir e ampliar a compreensão de mundo
dos alunos (SILVA, 2009 p. 118).
Realmente, percebemos que as bibliotecas são organismos vivos dentro das UMEI’s que as
possuem, pois nelas são realizadas múltiplas atividades com crianças de todas as idades, até
mesmo as que ainda são de colo. Ainda em relação a esse espaço, perguntamos se existia
algum responsável por ele, e o resultado também não foi nenhuma surpresa.
Gráfico 5 Gráfico 6
Fonte: Gráfico construído a partir de informações obtidas através da aplicação do questionário.
Das bibliotecas adaptadas, uma UMEI relatou que tem um funcionário da Prefeitura
disponível; outra afirmou que existe um educador responsável e três disseram que não existe
ninguém para cuidar/trabalhar na biblioteca. No caso das UMEI’s que tiveram as bibliotecas
projetadas, duas alegaram que professores que estavam com atestado médico ficavam
responsáveis pela biblioteca e outra afirmou que os educadores é que tinham a
responsabilidade pelo cuidado da biblioteca quando estivessem fazendo o uso dela.
Esse dado nos revela que mesmo as UMEI’s que têm biblioteca ainda não possuem condições
adequadas para o seu funcionamento. Um profissional, no caso o bibliotecário, seria de
fundamental importância para o cuidado, manutenção, organização e planejamento de
atividades direcionadas na biblioteca. Ele seria o responsável por fomentar ações que
Existência de profissional responsável pela
biblioteca adaptada nas UMEI’s Existência de profissional responsável pela
biblioteca projetada nas UMEI’s
45
englobassem a prática da leitura e certamente faria desse espaço um ambiente adequado,
agradável e convidativo. Não estamos dizendo que os professores não são capazes de fazer
isso, de forma alguma, mas, certamente, um profissional que é capacitado para trabalhar na
biblioteca o faria de forma bem mais dinâmica e especializada e, em contrapartida, seria
menos uma responsabilidade para o professor que por si só já se desdobra para desenvolver
inúmeras atividades diariamente.
Após verificar a quase (in)existência de espaços adequados para o armazenamento dos livros
e promoção da leitura, investigamos, então, sobre os espaços alternativos que as UMEI’s
utilizavam para armazenar os livros. O resultado encontrado com maior frequência foram
salas “multimeios” e os armários alocados em corredores ou na sala da direção. A chamada
sala “mutlimeios” é um espaço onde fica armazenada uma série de utensílios da escola, como
caixas, materiais, móveis inutilizados, brinquedos e demais objetos. Abaixo, seguem
exemplos desses dois modelos.
Figura 13: UMEI da regional Noroeste Figura 14: UMEI da regional Barreiro
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
Essas fotos mostram os típicos armários na sala da direção com os livros emparelhados
praticamente sem nenhuma visibilidade. Isso faz com que o acesso da criança ao livro se torne
remoto, uma vez que certamente ela nem saberá da existência deles. A chance dos alunos
chegarem aos livros se dará através dos professores que terão de buscá-los na sala da direção.
É possível notar que a quantidade de livros é bem pequena considerando a quantidade de
crianças nas UMEI’s.
46
Figura 15: UMEI da regional Centro Sul Figura 16: UMEI da regional Centro Sul
Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
Figura17: UMEI da regional Norte Figura 18: UMEI da regional Oeste
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
Essas fotos mostram os livros dispostos em salas de “multimeios”. O que chama atenção é a
desorganização dos livros. As crianças têm pouco ou quase nenhum acesso a essas salas, de
modo que mais uma vez o acesso aos livros é dificultado.
Figura 19: UMEI da regional Leste Figura 20: UMEI da regional Centro Sul
Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
47
Figura 21: UMEI da regional Nordeste Figura 22: UMEI da regional da regional Norte.
Fonte: Foto Fernanda Rohlfs, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010.
Este conjunto de quatro fotos mostra a alternativa criada por diferentes UMEI’s para
promover os livros, expondo-os nos corredores. De fato, mesmo que isso não seja o ideal,
representa um grande avanço na percepção da importância da literatura para as crianças. Esse
modo de apresentação, na pior das hipóteses, fará com que, pelo menos, a criança veja o livro
e saiba da existência dele dentro da escola. Mesmo que não seja feito nenhum tipo de
promoção e incentivo à leitura, já é melhor do que simplesmente empilhá-los numa prateleira
qualquer de uma sala qualquer. Acreditamos que a curiosidade não deixará que os livros
passem despercebidos. Como é característica de quase todas as crianças pegar com as mãos
tudo aquilo que vê, o contato, mesmo que superficial, será garantido.
Figuras 23 e 24: UMEI da regional Leste
Foto Cristiane Dias 2010.
48
Figuras 25 e 26: UMEI da regional Leste
Foto Cristiane Dias 2010.
Este conjunto de quatro fotos representa a sala “multiuso” de uma das poucas UMEI’s que
receberam os acervos do PNBE. Observem que, na parte superior da primeira foto, à
esquerda, encontra-se um conjunto de caixas empilhadas. Nessas caixas, estão guardados os
acervos de literatura infantil selecionados pelo PNBE 2010. De acordo com a supervisora,
eles não foram retirados das caixas por falta de lugar disponível. Verificamos, porém, que os
brinquedos ocupam um grande espaço na sala, assim como a televisão e o aparelho de som. O
espaço reservado para os livros resume-se a duas prateleiras e uma estante (figura xx).
Diferentemente das salas “multimeios”, esse espaço é frequentemente utilizado pelas crianças,
que brincam, assistem a vídeos, escutam música, descansam nos colchonetes e, quem sabe,
manipulam livros. Essa última atividade é feita com menor frequência, pois os livros
presentes nessa sala possuem poucos atrativos e também não estão acessíveis. Como é
possível ver, os brinquedos ocupam as prateleiras inferiores e os livros, as superiores. Os
brinquedos e a televisão ocupam lugar de destaque e os livros, apesar de existentes (inclusive
os do PNBE), ficam esquecidos.
Figura 27: UMEI da regional Oeste Figura 28: UMEI da regional Barreiro
Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010 Fonte: Foto Cristiane Dias, 2010
49
A figura 27 representa a “biblioteca” da UMEI. É alarmante percebermos como uma
montoeira de livros em prateleiras pode receber a classificação de biblioteca. Que concepção
de biblioteca as crianças dessa UMEI terão? Certamente, não construirão uma boa imagem,
mesmo porque elas nem alcançarão os livros, muito menos terão vontade de pegá-los. Na
sequência, observamos a figura 28 da regional Barreiro que também demonstra uma precária
organização dos livros, que se encontram desorganizados dentro de uma caixa de plástico.
Em um arquivo de fotos, percebemos que os livros literários, apesar de poucos, existem nas
UMEI’s. Aliás, de formas bem diferentes e quantidades também variadas, podemos afirmar
que a literatura infantil está presente em 100% das UMEI’s. A direção das unidades de
Educação Infantil foi unânime em afirmar a importância do livro literário para as crianças
pequenas e o desejo de ter mais espaço e maior número de títulos. Aproveitando a visita
nesses espaços escolares, averiguamos superficialmente a origem dos livros de literatura que
compõem o acervo das UMEI’s. Descobrimos que acontece quase o mesmo processo em
todas elas. Uma parte advém de doação, outra de sobras de Kits Literários da Prefeitura de
Belo Horizonte e a restante é obtida por meio da compra pela direção. A maioria das
coordenaras/diretoras relataram que existe uma porcentagem específica na verba que a UMEI
recebe para a compra de livros. A escolha dos livros a serem adquiridos é feita
principalmente de acordo com a demanda dos professores e catálogos de livros literários que
as editoras disponibilizam. É notável que as UMEI’s são carentes de livros e almejam por
eles.
3.1 O PNBE nas UMEI’s
Diante do principal objetivo da pesquisa, que era averiguar o processo de distribuição dos
livros dentro das UMEI’s de Belo Horizonte, muitas foram as surpresas. Em primeiro lugar,
antes de começar o trabalho de campo, o objeto de estudo seria o processo de chegada dos
livros do PNBE nas UMEI’s, a recepção dos acervos e as práticas de leitura desenvolvidas a
partir dos livros selecionados para a Educação Infantil. Após aproximadamente a décima
visita, percebemos que esses objetivos não poderiam ser cumpridos, pelo simples fato dos
livros não estarem nas UMEI’s. Além disso, a maior surpresa foi constatar que, praticamente,
50
ninguém dentro das UMEI’s sabe o que é o PNBE, a maioria nunca ouviu falar. Os resultados
são apresentados no gráfico, a seguir:
Gráfico 7
Fonte: Gráfico construído a partir de informações obtidas na aplicação do questionário.
Esse resultado nos mostra que, das 40 pessoas indagadas sobre o conhecimento do Programa,
apenas duas afirmaram conhecer o que o significa o PNBE, sendo que uma, apesar de ter
confirmado que sabia do que se tratava, não deu a explicação coerente sobre o que realmente
é o PNBE. A outra conhecia com precisão o Programa, disse que tomou conhecimento por
meio do curso de biblioteconomia na UFMG, no qual estava se graduando. Essa averiguação
também foi feita em toda a rede municipalde Belo Horizonte para a dissertação de mestrado,
já citada anteriormente, da autora Daniela Montuani. O resultado da rede municipalapresenta-
se a seguir:
Gráfico 8
Fonte: MONTUANI (2010, p.63)
Conhecimento dos profissionais das UMEI’s
sobre o PNBE
Conhecimento sobre o PNBE
51
Na rede Municipal, dos 176 profissionais entrevistados, entre eles 146 auxiliares de
biblioteca, quatro bibliotecários, um estagiário e 25 professores em readaptação13
, 137
declararam que conheciam o PNBE. A pesquisadora ainda complementou essa informação
indagando dos entrevistados como tinham tomado conhecimento sobre o Programa. O
resultado obtido segue abaixo.
Tabela 3
Formas de conhecimento sobre o Programa na rede Municipal
CHEGADA DOS LIVROS 97 71% OFÍCIOS DO MEC 9 7%
INFORMAÇÕES DA BIBLIOTECÁRIA 8 6% CHEGADA DOS LIVROS; OFÍCIOS DO MEC 6 4% SITE DO MEC 6 4% ATRAVÉS DA ESCOLA 5 4% PESQUISA NA FACULDADE 1 1% PROGRAMAS DE TV 1 1% ENCONTROS PBH 2 1%
Fonte: MONTUANI (2010, p.64)
Percebe-se que o fato de receber os livros faz com que as pessoas saibam o que é o PNBE,
mesmo que superficialmente. A pesquisadora mostrou que grande parte dos entrevistados
associa os livros do PNBE com o FNDE, que é o órgão financiador. Isso ocorre porque os
acervos chegam em caixas onde o que aparece é a sigla do FNDE. Par demonstrar esse
conhecimento superficial do Programa pelos auxiliares de biblioteca da rede municipalde
Belo Horizonte, a autora transcreveu trechos de algumas das entrevistas que seguem abaixo, a
título de exemplificação.
O Programa Nacional Biblioteca da Escola periodicamente tem enviado
material pra biblioteca. Nós temos recebido. Então é através do meu trabalho
na biblioteca mesmo que eu tive conhecimento.
(Auxiliar 1. Apud Montuani) (Montuani 2010, p.162)
Assim, a fundo, não. Já ouvi falar. Chegam livros aqui do PNBE. Então se
eu te falar que eu conheço realmente estou mentindo. (...) A gente lê alguma
coisa a respeito falando do Plano Nacional do Desenvolvimento Educacional
(...) ah, é o PNBE...
(Auxiliar 2. Apud Montuani) (Montuani 2010, p.162)
13
A readaptação, segundo uma Lei Municipal de 2003, é “a atribuição de atividades especiais ao servidor,
observada a exigência de atribuições compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou
mental, verificada em inspeção médica pelo órgão municipal competente, que deverá, para tanto, emitir laudo
circunstanciado” (art. 47, seção II, Capítulo II)
52
O Programa não. Eu sei porque os livros chegam pra gente e os temos que
colocar se foi doação, de qual lugar, então nós colocamos FNDE, porque
eles vêm registrados, com a data, com o ano, mas nunca procurei saber como
é que é o Programa, sua funcionalidade.
(Auxiliar 3. Apud Montuani) (Montuani 2010, p.162)
Com esse dado, temos a resposta para a tamanha diferença que existe acerca do conhecimento
do PNBE entre profissionais da UMEI’s e da Rede Municipal. A ciência a respeito do PNBE
está intimamente atrelada ao recebimento dos acervos e, como as UMEI’s praticamente não
recebem os livros do PNBE, como mostraremos a seguir, consequentemente também não o
conhecem. Vale ressaltar que, apesar dos entrevistados da Rede municipalafirmarem conhecer
o PNBE, isso não significa o entendimento global a respeito dos seus objetivos, periodicidade,
processo e foco do Programa.
Após perguntarmos sobre o conhecimento ou não do PNBE, seguimos para o ponto crucial da
pesquisa: Os acervos de Educação Infantil selecionados através do PNBE chegaram nas
UMEI’s? O gráfico a seguir mostra o resultado indesejável que obtivemos.
Gráfico 9
Fonte: Gráfico construído a partir de informações obtidas através da aplicação do questionário.
Das 40 UMEI’s pesquisadas, encontramos os acervos do PNBE em apenas duas, sendo que o
modo como chegaram nas UMEI’s acontecem de forma diferenciada. A primeira, localizada
na regional Nordeste, recebeu os livros da maneira correta, ou seja, a escola polo a qual à
UMEI está vinculada recebeu os acervos de Educação Infantil e, em seguida, encaminhou
para a UMEI. O acervo chegou completo e ainda nas caixas lacradas. Isso seria bom se depois
Chegada dos acervos de Educação
Infantil nas UMEI’s de Belo Horizonte
53
do recebimento os livros fossem disponibilizado para as crianças, porém, como mostram as
figuras 25 e 26, a realidade encontrada foi bem diferente: livros ainda nas caixas e
armazenados no alto de uma estante. A outra UMEI da regional Leste recebeu os livros por
mero engano. Antes de se tornar uma UMEI em 2009, o espaço era ocupado pela Escola
Estadual Sarah Kubitschek. Logo, o acervo do PNBE foi enviado com o objetivo de atender à
Escola Estadual.
Com esse resultado, fica evidente que a política pública ainda é falha no quesito distribuição
dos acervos infantis para as UMEI’s. Podemos dizer que a primeira vitória literária para a
Educação Infantil foi conquistada quando, pela primeira vez, foram selecionados acervos
específicos para as crianças de 0 a 6 anos no PNBE de 2008. A segunda vitória foi
permanecer com a escolha de acervos infantis periodicamente, que é feita nos anos pares,
PNBE 2010 e futuramente o PNBE 2012 que, inclusive, já possui edital confirmando a
contemplação desse segmento. Apesar do grande esforço e da grande conquista que foram
esses acervos, a conquista maior que seria colocar as crianças das UMEI’s em contato com
esses livros, não está acontecendo. Aproveitamos essa constatação para averiguar as causas de
tal fato.
Em primeiro lugar, consideramos a inexistência de divulgação do Programa. Isso faz com que
as instituições de ensino apenas recebam caixas de livros sem saberem ao menos que esses
livros foram cuidadosamente selecionados com foco no público alvo que o receberá. Não
sabem também que os acervos selecionados fazem parte de uma política pública que visa
ampliar e democratizar o acesso ao livro. Ainda no quesito divulgação, as escolas que
recebem os acervos infantis não são orientadas para encaminhá-los às UMEI’s que estão
vinculadas ao programa.
Em segundo lugar, a grande maioria das UMEI’s não está preparada para receber os acervos
devido à falta de espaço. Algumas alternativas foram criadas na tentativa de solucionar o
problema, mas nada se compara a um espaço devidamente pensado e preparado para receber
os livros e as crianças. Proporcionar um ambiente que favoreça a leitura em todas as suas
dimensões faz toda a diferença na construção e formação de um futuro leitor. A biblioteca se
faz extremamente importante ao criar um cenário propício para o jogo do faz de conta e para
colocar a criança em contato com uma grande diversidade de livros. Uma coisa é apresentar
54
um livro em sala de aula para uma criança, outra bem diferente é apresentar o mundo dos
livros para criança, sugestiva metáfora para a biblioteca. Afinal, o que todo livro deseja, se
assim o pudesse, seria pertencer a uma bela biblioteca que o ressaltasse, divulgasse e fizesse
dele um organismo vivo dentro daquele espaço.
Por último, a grande questão, e certamente um dos pontos frágeis do PNBE, é justamente ser
tão somente uma política de distribuição de livros, quando poderia e deveria ser uma política
pública de formação de leitores. Capacitar professores e incentivar publicações que auxiliem
esses profissionais, certamente poderiam amenizar o caráter meramente distributivista do
Programa ao trazer alguma orientação para o professor manusear os acervos. Sabemos que o
processo da leitura nem começa, nem termina com a posse material de uma obra - posse, aliás,
precária, dado o fato de que muitas escolas nem abrem as caixas de livros.
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo feito em 40 UMEI’s de Belo Horizonte, algumas constatações puderam ser
feitas. A mais importante e inesperada delas é que os acervos de literatura infantil do PNBE
praticamente não chegam nas UMEI’s de Belo Horizonte. A política pública de distribuição
de livros deveria ser repensada de modo a buscar estratégias para reverter esse quadro e fazer
valer o direito de acesso das crianças pequenas a livros literários.
Os espaços destinados aos livros nas UMEI’s ainda são poucos e com inúmeras inadequações;
portanto, seria necessário um projeto de revitalização e outro de construção de bibliotecas nas
UMEI’s. Infelizmente, dadas as realidades do nosso país, esse desejo é um tanto quanto
utópico, quando na verdade deveria ser um direito garantido. Porém, é inconcebível que nos
recentes projetos arquitetônicos das UMEI’s não sejam contempladas as bibliotecas.
A realização desse Programa não deveria se pautar somente no quesito compra e distribuição
de livros. Faz-se necessário e com urgência, investimento maciço em conscientização a
respeito da importância do livro para a primeira infância e divulgação do Programa. O
investimento também deveria ser feito em favor dos profissionais que estão nas UMEI’s com
o objetivo de capacitá-los e fazê-los, além de professores, mediadores de leitura e formadores
de futuros leitores.
Apesar de todos os empecilhos (falta de espaço, de livros, de profissionais preparados), não
podemos deixar de registrar o grande esforço dos profissionais das UMEI’s em proporcionar
aos alunos o contato com os livros. Vários projetos de leitura nos foram apresentados
espontaneamente, demonstrando a preocupação e o interesse em formar cidadãos leitores. A
literatura está presente sim nas UMEI’s e proporcionando experiências significativas para os
alunos. Projetos estão em andamento, como produção de livros pelos próprios alunos,
dramatização de histórias, confecção de murais a partir de temáticas dos livros, caixas com
obras literárias itinerantes que passeiam pelas salas de aula, sacola de leitura na qual os alunos
escolhem livros para levar para casa e várias outras atividades. Essas iniciativas demonstram
o esforço e a preocupação dos educadores em colocar as crianças pequenas em contato com os
livros. A seguir, estão algumas fotos para ilustrar alguns desses projetos.
56
Figura 29: Umei regional Barreiro Figura 30: Umei regional Barreiro
A figura 29 mostra um projeto de confecção de baners relacionado com a temática indígena,
Histórias como a do Curumim são exploradas trazendo à tona uma série de questões
relevantes sobre a nossa cultura de uma forma atraente e descontraída. Outro trabalho
relacionado com a questão racial também foi trabalhado com crianças pequenas através do
livro “o Cabelo de Lelê” de Valéria Belém. A figura 30 mostra o resultado do reconto da
história através de pinturas, desenhos e pequenas frases feitas pelas crianças. Abaixo, imagem
de um livro construído com fotos das próprias crianças que fizeram a dramatização da história
“João e pé de Feijão”. Ao lado, um painel exibindo o trabalho feito a partir do livro “A
Bonequinha Preta”.
Figura 31: Regional Centro Sul Figura 32: Regional Barreiro
Enfim, poderíamos citar uma infinidade de trabalhos feitos nas UMEI’s para demonstrar o
quanto a literatura está presente nesses espaços, mesmo com tanta precariedade e com tanta
falta de recursos. O Programa que talvez pudesse melhorar um pouco essa situação não está
57
sendo, de fato, capaz de proporcionar o recebimento de obras literárias. As crianças não têm
somente o direito, mas também necessitam e precisam ser inseridas no mundo letrado de
modo que a literatura faça parte do seu dia-a-dia tornando-a capaz de se formar como uma
leitora crítica e perspicaz.
O PNBE tem suas virtudes e a sua magnitude já foi comprovada por meio de números e de
outras pesquisas. Outra virtude do Programa foi a iniciativa de selecionar acervos específicos
para a Educação Infantil e fazer disso uma rotina em todos os anos pares. Com o PNBE,
podemos dizer que o espaço da biblioteca foi valorizado pelo fato distribuir milhares de livros
para milhares de escolas espalhadas pelo Brasil afora. Sabemos, porém, que os desafios ainda
são muitos, principalmente para a Educação Infantil e para as UMEI’s que estão conquistando
espaço, respeito e autonomia no cenário educacional. Os resultados foram mostrados assim
como os pontos fracos do PNBE. O que falta é repensar a política pública e desconstruir seu
caráter meramente distributivista, além de colocar em foco a importância da literatura para
crianças de 0 a 5 anos e garantir, em primeiro lugar, o acesso das crianças aos livros.
Apesar de constatarmos o esforço dos profissionais para adaptarem espaços de leitura,
sabemos que isso não é o ideal. Temos que deixar claro que essas ações são louváveis, mas os
profissionais das escolas, assim como os pesquisadores, não podem nunca deixar de lutar pela
conquista de espaços adequados. Não podemos nos contentar com os “cantinhos”, com as
precárias prateleiras espalhadas pelos corredores afora, com as caixinhas de livros e com as
“sacolinhas de leitura”. Temos que exigir bibliotecas equipadas e preparadas para receber este
público tão específico e tão peculiar, que são as crianças. Não apostar nelas é continuar na
mesmice e no patamar de país subdesenvolvido.
Como fechamento provisório dessa discussão, - verificamos o quanto esse campo ainda
merece estudos mais aprofundados – retomaremos, resumidamente, nossas questões iniciais
de pesquisa.
1) Os acervos de Educação Infantil do PNBE chegaram às UMEI’s?
Não. Os acervos de Educação infantil, selecionados pelo PNBE, não estão chegando às
Unidades Municipais de Educação da rede municipalde Educação de Belo Horizonte. Com a
pesquisa, foi possível constatar que 95% dessas UMEI’s não estão recebendo os livros. Como
58
nessas instituições estão as crianças para as quais os acervos foram constituídos, quais seriam
as razões pelas quais a distribuição dos acervos não está sendo garantida? Seria a inexistência
de espaço para biblioteca, não previsto no projeto arquitetônico dessas instituições? Seria o
desconhecimento dos profissionais da educação infantil acerca do PNBE? Seria ainda uma
postura consciente de que crianças dessa faixa etária não precisam ter contato com livros?
Seriam esses acervos encaminhados para as escolas de Ensino Fundamental, cujas bibliotecas
ainda carecem de acervo em quantidade e qualidade? Se em uma cidade, como Belo
Horizonte, a questão da distribuição dos acervos não está equacionada, como essa distribuição
está ocorrendo em municípios mais afastados dos centros urbanos do estado de Minas Gerais
e do país? A formação ainda precária de professores, mediadores de leitura, está contribuindo
para agravar ainda mais essa situação?
2) Onde os livros do PNBE são armazenados nas UMEI’s?
Nas pouquíssimas UMEI’s onde os acervos foram encontrados, observamos que a maioria
livros ainda permanecia dentro das caixas. O principal argumento para este fato é a falta de
espaço dentro das UMEI’s. Em 5% das instituições os acervos chegam, mas permanecem em
caixas, o que nos leva a acreditar que a inexistência de bibliotecas é um dos grandes
impedimentos para que as obras circulem na escola. Por outro lado, a possibilidade de
cantinhos de leitura nas salas de aula sempre existe e poderia suprir, de alguma maneira, a
inexistência de um espaço específico. De todo modo, ainda que em número irrisório, algumas
instituições foram atendidas na distribuição e, talvez, uma investigação mais verticalizada
sobre a chegada dos acervos nessas instituições nos permitiria levantar alguns fatores que
contribuiriam para que a distribuição se concretizasse.
3) Os alunos das UMEI’s têm acesso aos livros do PNBE?
Em apenas uma Umei, alguns livros selecionados pelo PNBE estavam disponíveis para as
crianças, pois, como foi dito anteriormente, a maior parte deles estavam armazenados dentro
de caixas. Os poucos livros ficavam dispostos em prateleiras e permitiam certa acessibilidade
por parte das crianças que conseguiam pegá-los autonomamente, porém, como o espaço para
os livros era totalmente adaptado, o ambiente não favorecia as práticas de leitura. Garantir a
chegada e fazer circular os acervos é, portanto, o grande desafio. O PNBE levou anos para
59
contemplar esse segmento em sua política e, agora, é necessário e urgente que se estabeleçam
estratégias que garantam a efetiva democratização da leitura do acesso aos livros de literatura.
4) O que os educadores das UMEI’s sabem a respeito do PNBE?
Os profissionais sabem muito pouco a respeito do PNBE. De todos os entrevistados, apenas
8% sabiam o que era o PNBE, sendo que entre esses alguns apresentaram conhecimento
superficial e, de certa forma, distorcido. Percebemos que o fato de receber os acervos faz com
que as pessoas saibam o que é o PNBE. Constatamos isso através da dissertação de Mestrado
da pesquisadora Montuani que fez a mesma pergunta, mas para profissionais que atuam em
bibliotecas escolares das escolas de ensino fundamental da rede municipalde educação de
Belo Horizonte, que em sua grande maioria recebem os acervos do PNBE. Essa falta de
conhecimento está intimamente relacionada com a falta de acesso ao Programa.
É importante também ressaltar que, por mais que os resultados de nossa pesquisa não tenham
sido os esperados e os desejados, já que gostaríamos de ter constatado ao menos a distribuição
dos acervos e a existência deles na maioria das instituições de educação infantil, acreditamos
que o processo de pesquisa em si, além de revelar essa realidade das UMEI’s de Belo
Horizonte, contribuiu, significativamente com a divulgação dessa política pública, o PNBE.
Após as entrevistas, éramos solicitadas a dar explicações sobre o programa, o que fazíamos
com grande entusiasmo, enfatizando seus principais aspectos, como seu funcionamento e de
que modo as UMEI’s poderiam ter acesso aos acervos selecionados. Aproveitávamos ainda a
ocasião para apresentar aos profissionais das UMEI’S investigadas os títulos dos livros que já
tinham sido escolhidos pelo PNBE desde sua primeira edição para esse segmento em 2008.
Tudo isso, com o intuito de encurtar a distância dos livros do PNBE e as crianças das
UMEI’s.
Por fim, esse primeiro exercício de pesquisa significou para mim muito mais que o
cumprimento de um dos requisitos para conclusão do meu curso de graduação. Minha
inserção na pesquisa acadêmica ampliou minha visão sobre a Literatura Infantil, sobre
políticas públicas de incentivo à leitura e me proporcionou uma visão geral das UMEI’s de
Belo Horizonte. Aprender a pesquisar, entrar em contato com diferentes possibilidades de
investigação e, principalmente, iniciar a aprendizagem de como lidar com a escrita de textos
acadêmicos, proporcionou-me uma oportunidade, tornando a conclusão de minha graduação
60
muito mais significativa. Ainda assim, tenho plena consciência do quanto ainda é inicial o
meu processo de inserção na pesquisa e, por essa razão, uma das minhas principais metas para
o meu futuro profissional é investir em novas pesquisas. Na condição de uma pedagoga com a
graduação quase concluída, estou segura de que nosso o processo de aprendizagem só termina
quando termina também a vontade de aprender.
O fato de ter percorrido muitas UMEI’s e de ter visto muitas coisas fora do esperado,
suscitaram em mim novas inquietações e novos desejos. Ver como a literatura se insere na
Educação Infantil e de que maneira ela se dá para crianças pequenas despertaram-me uma
enorme curiosidade e vontade de saber mais. Averiguar e refletir sobre práticas de leitura que
sejam desvinculadas de atividades didáticas e que tenham como objetivo desenvolver nas
crianças o gosto pela leitura é um grande objeto de interesse. Além dessas, outras questões
foram surgindo ao longo dessa pesquisa e, como iniciante nesse processo, pretendo refiná-las
de modo a pensar em novas pesquisas e na continuidade permanente da minha formação.
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Marcelo Otávio de. As Unidades Municipais de Educação Infantil em Belo
Horizonte: Investigações sobre um padrão arquitetônico. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
Dissertação (Mestrado).
AZEVEDO, Ricardo. Formação de leitores e razões para a literatura. In: SOUZA, Renata
(Org). Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004. Pág. 37-48.
BAPTISTA, Mônica Corrêa. A linguagem escrita e o direito à educação na primeira infância.
Belo Horizonte: Ceale, 2010.
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Conselho Municipal de Educação. Resolução
001/2000. Padrões básicos de infra-estrutura para o funcionamento das instituições de
Educação Infantil . DOM, v.6, n.1252, 11 nov. 2000.
BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação. Estudo
técnico para ampliação do atendimento da Educação Infantil . Belo Horizonte:
PBH/SMED, 2002.
BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Educação. Proposições Curriculares. Educação
Infantil. Rede municipalde Educação e creches conveniadas. Belo Horizonte: PBH/SMED.
2009
BRASIL. Lei n. 8069/90, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente,
Brasília, 1990.
______. Lei n. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1996.
______.Os serviços para criança de 0 a 6 anos no Brasil: algumas considerações sobre o
atendimento em creches e pré-escolas e sobre a articulação de políticas. Brasília: UNESCO
Brasil, 2003.
CADERMATORI, Lígia. O que é Literatura Infantil. São Paulo: ed. Brasiliense, 1986
CADERMATORI, Lígia. O Professor e a Literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2009
COLOMER, Teresa. A Formação do Leitor Literário: Narrativa infantil e juvenil atual: São
Paulo: Global, 2003
62
LOIZOS, Peter. Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa. In: BAUER,
Martin W., GASKELL, George (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um
manual prático. Rio de Janeiro: Loizos, 2002, p.137-155.
MACIEL, Francisca. O PNBE e o Ceale: de como semear leituras. In: PAIVA, Aparecida,
MAGDA, Soares (Orgs). Literatura Infantil: Políticas e concepções. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2008. Pág 7-20.
MATOS, Genícia. Entre Fraldas e Letras, fazeres e afetos: enredos de educadoras infantis (
UMEI’s de Belo Horizonte/2007-2008). Belo Horizonte, 2009. Dissertação (Mestrado).
MONTUANI, Daniela Freitas Brito. Programa Nacional Biblioteca da Escola – Uma análise
da chegada dos acervos do PNBE/2005 nas escolas da rede municipalde Belo Horizonte. Belo
Horizonte: UFMG, 2010. Dissertação (Mestrado).
NOGUEIRA, Maria Alice e NOGUEIRA, Cláudio M. M. Bourdieu e a Educação. Belo
Horizonte: Autêntica, 2009.
PAIVA, Aparecida (Org.); SOARES, M. B. (Org.). Literatura infantil: políticas e concepções.
1. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. Pág 21-34.
PAIVA, Aparecida. A trama do acervo: a literatura nas bibliotecas escolares pela via do
Programa Nacional Biblioteca da Escola. In: SOUZA, Junqueira (Org). Biblioteca escolar e
práticas educativas. Campinas, SP:Mercado das Letras, 2009. Pág 137-155.
SILVA, Rovilson. Biblioteca escolar: organização e funcionamento. In: SOUZA, Junqueira
(Org.). Biblioteca escolar e práticas educativas. Campinas, SP:Mercado das Letras, 2009. Pág
115-135.
SOARES, Magda. Alfabetização e Literatura. Guia da Alfabetização, São Paulo, edição
especial, v. 2, p. 12 – 29, 2010.
SOARES, Magda. Livros para a Educação Infantil: a perspectiva editorial. In:_____, FARIA,
Vitória. Memórias de leitura e educação Infantil. In: SOUZA, Renata (Org). Caminhos para a
formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004. Pág. 49-58.
SOARES, Magda. A leitura e democracia cultural. In: PAIVA, Aparecida et AL. (Org.).
Democratizando a leitura: pesquisas e práticas. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica, 2004.
SOUZA, R.J. (org.). (2009). Biblioteca escolar e práticas educativas: o mediador em
formação. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2009
SOUZA, R.J. Caminhos para a formação do leitor. São Paulo: DCL, 2004
63
ZILBERMAN, Regina & LAJOLO, Marisa. Um Brasil para crianças. Para conhecer a
literatura infantil brasileira: história, autores e textos. Global, SP, 1993.
www.fnde.gov.br acessado em 10 de agosto de 2010www.pbh.gov.br acessado em 12 de
agosto de 2010-09-0
64
Anexo 1
Faculdade de Educação da UFMG
Linha de Pesquisa: Educação e Linguagem
1 - Dados pessoais do diretor ou vice-diretor 1.1 - Nome________________________________________________________________________ E-mail_________________________________Telefone_______________________________
1.2 - Formação: ( ) Ensino Médio____________________ ( ) Graduação______________________________
( ) Especialização___________________ ( ) Pós-graduação___________________________ ( ) Curso em andamento ( ) Concluído 1.3 - Há quanto tempo está na direção desta
escola?_______________________________________
___________________________________________________________________
______________
1.4 - A escola possui recurso próprio para a compra de livros para a biblioteca? ( ) Sim ( ) Não 1.5 - Quem se encarrega da tarefa de comprar os livros que compõem o acervo da biblioteca? _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.6 - Como é realizada a escolha dos livros que compõem o acervo da biblioteca? ( ) Direção ( ) Sugestão de professores ( ) Sugestão de alunos ( ) Sugestão de pais/comunidade ( ) Comissão ( ) Responsável pela biblioteca ( ) Sugestão editoras
65
( ) Outros 1.7 - Que critérios de escolha são utilizados, caso seja feita pela direção? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.8 - Gostaria de acrescentar alguma informação sobre esse processo de constituição do acervo? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2 - Dados da escola/ da biblioteca
Nome da escola: ________________________________________________________________ Endereço:______________________________________________________________________ Telefone:___________________________ 2.1 - A escola atende: ( ) creche 0-3 ( ) pré-escola 4-5
2.2 - As quais turnos atende: ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Integral
2.3 - Quantas turmas
Turmas 0 1 2 3 4 5
Manhã
Alunos
Tarde
Alunos
2.4 - Quantas professores (as) (auxiliares, estagiárias...)
Turmas 0 1 2 3 4 5
66
Manhã
Tarde
Colocar P – professor PA professora E – estagiária A - auxiliar
2.5 - A escola possui biblioteca: ( ) Sim ( ) Não Se sim, ( ) projetada/planejada na construção ( )adaptada 2.6 - Horário de funcionamento da biblioteca ____________________________________________ Obs: Tirar foto
2.7 - Qual o profissional responsável pela biblioteca
( ) Estagiário
( ) Professor com atestado médico
( ) Bibliotecário - Tem bibliotecário ( ) Sim ( ) Não
( ) Ninguém
( ) Outros
2.8 - Quais atividades acontecem na biblioteca
( ) Empréstimo ( ) Visita Programada
( ) Pesquisas professores ( ) Pesquisas alunos
( ) Contação de histórias ( ) Projeção de filmes
( ) Ensaios festividades ( ) Outros
Sobre o Kit da prefeitura de Belo Horizonte
3 - Você recebe, anualmente, o kit de literatura da prefeitura para distribuir aos
alunos?
( ) Sim ( ) Não
3.1 - Como é realizada a distribuição dos livros para os alunos? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.2 - A escola proporciona uma apresentação do kit:
67
( ) sim ( ) não 3.3 - Quem são os participantes e como é feita esta apresentação? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.4 - Caso a resposta seja afirmativa, qual tipo de trabalho é realizado? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.5 - Em relação a qualidade literária das obras distribuídas, qual a sua opinião? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 3.6 - Você saberia informar se os professores realizam algum trabalho com estes livros em sala de aula? ( ) Sim ( ) Não 3.7 - Existe algum trabalho realizado pelos professores e/ou profissionais que atuam na biblioteca com os livros do kit literário? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.8 - Quais são as suas dificuldades em relação a este Programa? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Sobre o PNBE (Programa Nacional de Biblioteca da Escola do MEC)
4 - Você conhece o Programa Nacional de Biblioteca da Escola? ( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, como tomou conhecimento? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.1 - Os livros das duas últimas edições do Programa (PNBE/2008 e PNBE/2010),
chegaram à escola?
PNBE/2008 ( ) Sim ( ) Não ( ) Não soube informar
68
Quantos acervos ( ) 1 acervo ( ) 2 acervos ( ) 3 acervos
PNBE/2010 - 0 a 3 anos ( )Sim ( ) Não ( ) Não soube informar
Quantos acervos ( ) 1 acervo ( ) 2 acervos PNBE/2010 - 4 e 5 anos ( )Sim ( ) Não ( ) Não soube
informar Quantos acervos ( ) 1 acervo ( ) 2 acervos
4.2 - Onde estão armazenados os livros do PNBE?
( ) Caixa ( ) Estantes da biblioteca
( ) Sala de aula ( ) Direção
( ) Escola responsável pela UMEI ( ) Outros
4.3 - Os livros estão disponíveis para empréstimo?
( ) Sim ( ) Não
4.4 - Existe algum trabalho realizado pelos professores e/ou profissionais que atuam
na biblioteca com os livros recebidos pelo PNBE? ( ) Sim ( ) Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________
4.5 - Você saberia indicar nome ou nomes de professores que desenvolvem um
trabalho mais intenso com a literatura?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________
4.6 - Você poderia relatar alguma experiência significativa de leitura literária que
tenha ocorrido na escola? (em especial, na biblioteca)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________
4.7 Você gostaria de acrescentar mais alguma informação que considere
importante?
69
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
________________________________________________________
5 Dados da pesquisadora
Nome:
___________________________________________________________________
________
Telefone: _____________________________
70
Anexo 2
Faculdade de Educação da UFMG
Linha de Pesquisa: Educação e Linguagem
Dados pessoais dos entrevistados
1 - Qual a turma que você leciona?__________
Turno: ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Integral
1.2 - Formação:
( ) Ensino Médio___________________
( ) Magistério______________________
( ) Graduação_____________________
( ) Especialização__________________
( ) Pós-graduação ( ) Curso em andamento ( ) Concluído
1.3 - Existe biblioteca na sua escola?
( ) Sim ( ) Não
1.4 - Qual a freqüência de visita realizada na biblioteca com os alunos?
( ) 1 vez por mês
( ) 2 vezes por mês
( ) 1 vez por semana
( ) mais de uma vez por semana
( ) todo dia
( ) nunca
1.5 - Existe biblioteca na sua sala de aula?
( ) Sim ( ) Não
1.6 - Qual a freqüência que você conta um livro para os alunos? ( ) 1 vez por mês ( ) 2 vezes por mês ( ) 1 vez por semana ( ) mais de uma vez por semana ( ) todo dia
71
( ) nunca
1.7 - A PBH oferece ou já ofereceu algum tipo de capacitação para os profissionais
em relação a formação de leitores?
( ) Sim ( ) Não
1.8 - Você já participou?
( ) Sim ( ) Não
Citar________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________
1.9 - Você já participou de outras capacitações que não foram oferecidas pela PBH? ( ) Sim ( ) Não Citar______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Sobre o kit da prefeitura 2010
2 - Você conhece o kit literário distribuído pela prefeitura aos alunos?
( ) Sim ( ) Não
2.1 - Em relação a qualidade literária das obras distribuídas, qual a sua opinião? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 2.2 - Você tem acesso aos livros recebidos pelas crianças através do kit literário da PBH? ( ) Sim ( )Não ( ) Não soube informar 2.3 - Você pode trabalhar com os livros do kit em sala de aula? ( ) Sim ( ) Não 2.4 - Caso a resposta seja afirmativa, você já realizou algum trabalho com os livros deste kit? ( ) Sim ( ) Não Cite o livro:______________________________________________________________________
72
Sobre o PNBE (Programa Nacional de Biblioteca da Escola do MEC)
3 - Você conhece o Programa Nacional de Biblioteca da Escola?
( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, como tomou
conhecimento?___________________________________
3.1 - Você ficou sabendo se os livros das duas últimas edições do Programa
(PNBE/2008 e PNBE/2010), chegaram à escola?
PNBE/2008 ( )Sim ( ) Não PNBE/2010 - 0 a 3 anos ( )Sim ( ) Não
PNBE/2010 - 4 e 5 anos ( )Sim ( ) Não
3.2 - Onde estão armazenados os livros do PNBE?
( ) Caixa ( ) Estantes da biblioteca
( ) Sala de aula ( ) Direção
( ) Escola responsável pela UMEI ( ) Outros
3.3 - Os livros estão disponíveis para os alunos fazerem empréstimo?
( ) Sim ( ) Não
3.4 - Você realiza algum trabalho com os livros recebidos pelo PNBE? ( ) Sim ( )
Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
____________________________
3.5 - Você gostaria de acrescentar mais alguma informação que considere
importante?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________________________