Maria Izabel Rodrigues Chaves
Luana Moraes Salles
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Janaína Rodrigues dos Santos
Liliane José Fernandes
Trabalho de grupo apresentado como um dos requisitos para a
conclusão da disciplina: Português I
Por:
Daiana de Mello Andrade
“O português são dois" –
novas fronteiras, velhos problemas¹
__________________________________________________________________________
¹ Rosa Virgínia Mattos e Silva concluiu doutorado pela USP e pós-doutorado pela UFRJ, é professora de língua portuguesa na Universidade Federal da Bahia. publicou pela Parábola Editorial "O português são dois" – novas fronteiras, velhos problemas (2004). É um importante nome da lingüística histórica brasileira.
Língua do dominador e língua do dominado
Todas as variedades, do ponto de vista da estrutura lingüística, são perfeitas e completas em si. O que as tornam diferentes são os valores sociais que seus membros possuem na sociedade.
Os diferentes discursos:• Conservador
Defensores da norma culta, eleita a língua padrão idealizada, expressa valor elitista e autoritário
• Realista
Apóiam o reconhecimento da realidade lingüística no país como fator essencial para o ensino da língua portuguesa
Imposição de um padrão lingüísticoFatores relevantes para a diversidade lingüística no Brasil:
• A influência da língua portuguesa, imposta como língua dominante e das línguas indígenas e africanas subjugadas em função do período colonial, uma herança histórica
• Vasta extensão territorial
• Heterogeneidade sócio, econômico e cultural brasileira
Contribuições para o levantamento lingüístico
•Projeto Nurc/Ufrj
O acervo do Projeto NURC (Projeto de Estudo da Norma Culta Urbana), constitui referência nacional para estudos da variante culta da língua portuguesa nas principais cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Recife entre décadas de 70 a 90.
•Alib (Atlas Lingüístico do Brasil)
O Brasil conta hoje com sete atlas lingüístico regionais publicados. A realização desses atlas se deu, inicialmente, como conseqüência das dificuldades para elaboração de um atlas nacional em um país de extensão territorial tão grande como o nosso. São eles: Atlas Prévio dos Falares Baianos (APFB) - 1963, Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (EALMG) – 1977, Atlas Lingüístico da Paraíba (ALPB) – 1984, Atlas Lingüístico de Sergipe (ALS I) – 1987, Atlas Lingüístico do Paraná (ALPR) – 1990, Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil (ALERS) - 2002 e Atlas Lingüístico de Sergipe II (ALS II) - 2002
• O uso lingüístico na comunicação oral e escrita dos estudantes, reflete características de sua origem socioeconômica e regional (variáveis diastrática e diatópica)
• Requere do professor, frente a esta realidade, um trabalho de conscientização da existência de ambas normas dialetais, contudo explicitando a importância daquela socialmente exigida.
Domínio/falta de domínio da língua portuguesa pelos estudantes universitários
Estudo de uma norma imposta
A problemática cultural do universitário
• O desenvolvimento de um sistema educacional que priorize, a partir da pré-escola, as reais necessidades da população brasileira e como ponto de partida sua diversidade cultural, não para homogeneizá-la mas para enriquecer o patrimônio histórico cultural.
Propostas da autora para a melhora do ensino
• A apresentação e a sistematização do dialeto dominante se faria aos poucos em concomitância com os dialetos conviventes nas comunidades escolares. Através de atividades, como a da leitura, se faria o confronto natural e contrastivo sem avaliações de certo ou errado mas o adequado/inadequado em determinadas situações.
• Assim o aprimoramento da língua materna em toda sua amplitude seria um instrumento de libertação social, um elemento agregador diferentemente do impacto desagregador causado pela imposição de um dialeto específico.
A não consideração das variações lingüísticas
Reportagem extraída do site do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional: http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=216
“Diversidade verde-amarela, inventário irá reconhecer a pluralidade lingüística do país, atendendo às reivindicações de políticas públicas para o setor”
Invisibilidade
“Mais de 200 línguas, além do português, são faladas no Brasil: cerca de 190 línguas indígenas e 20 línguas de comunidades descendentes de imigrantes. Mas, além delas, é preciso conferir visibilidade também às variações no próprio modo de falar o português. “Todos esses contextos bilíngües são de alguma forma também “bidialetais”, pois contemplam alguma variedade de baixo prestígio do português ou de outra língua lado a lado com a variedade de português convencionada como padrão”, lembra Marilda Cavalcanti, professora do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Nesse sentido, a autora afirma que a maioria das escolas públicas brasileiras também podem ser consideradas como bidialetais, na medida em que existem variedades regionais, sociais e estilísticas do português falado pelos estudantes.”
Por Carolina Cantarino
“... a escola tradicionalmente (...) faz tabula rasa do saber lingüístico diferenciado que os indivíduos possuem, em nome de levá-los a dominar o padrão culto idealizado, o que só alcançam, havendo exceções, claro, alguns daqueles que já vem das camadas socioculturais em que esse padrão é a base da comunicação cotidiana, apenas com diferenças próprias aos registros de formalidade”
“Qualquer indivíduo normal que entre na escola para ser alfabetizado em sua língua materna já é senhor de sua língua, na modalidade oral (...).”
“O ensino é um trabalho de criação e não uma obrigação mecânica que se repete a cada aula que se dá.”
“Língua de cultura”?
“Os estudos acerca das variedades lingüísticas e das diferenças entre variedade social e culturalmente privilegiadas e variedades social e culturalmente estigmatizadas não são recentes. No entanto, esses estudos e pesquisas ainda não beneficiaram o ensino da língua, que tem desconhecido a existência e legitimidade das variedades lingüísticas, e não tem sabido reconhecer que seu objetivo último é proporcionar às novas camadas sociais, hoje presentes na escola, a aquisição da língua de cultura, cujo domínio se soma ao domínio das variedades naturalmente adquiridas. Sem esse domínio da língua de cultura pelas camadas social e economicamente desfavorecidas torna-se impossível a democratização do acesso aos bens culturais e da participação política ” (Relatório da Comissão, p. 2,).
Lei de Diretrizes e Bases em 1971, período em que se dá mais fortemente a chamada democratização da educação
“A Comissão entende que a formação do professor de língua portuguesa, em qualquer nível, deve ser radicalmente modificada, passando a alicerçar-se no conhecimento, compreensão e interpretação das diferenças hoje presentes na escola, a fim de que haja não só uma mudança de atitude do professor diante das condições socioculturais e lingüísticas dos alunos, mas também, e conseqüentemente, uma reformulação dos conteúdos e procedimentos de ensino de língua, que tem, como objetivo último, o domínio da língua de cultura, sem estigmatização das variedades lingüísticas adquiridas no processo natural de socialização” (Relatório da Comissão, p. 2,).
• “(...) Vale ressaltar que o entendimento de “língua de cultura” (...) é definido nas Diretrizes como mais abrangente que o de língua culta ou de norma culta.”• “O entendimento de “cultura” é exclusivo, restringe-se apenas à cultura letrada das classes dominantes, (...)”
O parecer das diretrizes de 1986
Relatório do Ministério da Educação de 1986 para o aperfeiçoamento do Ensino/Aprendizagem da Língua Materna e suas proposições nas Diretrizes da Comissão Nacional.
Primeiro parágrafo da introdução: cria uma expectativa positiva, analisa a situação social, econômica e cultural brasileira que exclui nossa população, acaba por concluir que a democratização crescente do acesso à escola tem levado ao fracasso da escola.
“Para sanar tal fracasso defende, contudo, a Comissão a “excepcional importância e o inegável significado social que tem o ensino da língua de cultura” (Dir., p. 2), que, como sabemos, não é o domínio de largas camadas da população e propõe, por fim, que o objetivo último do ensino da língua portuguesa seja o “domínio da língua de cultura, sem estigmatização das variedades adquiridas no processo natural de socialização” (Dir., p. 3). A ressalva cria mais uma expectativa (...).”
“As expectativas positivas (...) caem por terra quando lemos os tópicos 7 e 8 do documento (...). Analisando-os, fica claro que a tabula rasa da pedagogia de tradição secular, em relação à diversidade lingüística, se mantém (...).”
“(...) Vale ressaltar que o entendimento de “língua de cultura” (...) é definido nas Diretrizes como mais abrangente que o de língua culta ou de norma culta.”
Rosa Vigínia Matos e Silva defende o fato de que o aluno têm o direito de conhecer as variedades lingüísticas que pode utilizar, se essa proposta fosse aceita a escola deveria desde o período pré-escolar implantar um método que visasse desenvolver a expressividade do aluno e assim sendo, que o fosse capaz de dominar as variedades da sua língua, adequando à cada situação e aperfeiçoando-a nas suas modalidades de ouvinte, falante- leitor e escritor, ou seja, oral e escrita.
A defesa de uma pedagogia para o todo da língua
O processo histórico do Português do Brasil
A colonização na homogeneização lingüística do Brasil
• Há mais de cinco séculos a variação do Português do Brasil é discutida. As áreas do português de contato, originaram essa variação, fazendo com que os índios que ali viviam se refugiassem para o Oeste do país, para se protegerem do glotocídio e etnonocídio.• Hoje ainda temos esse português de contato, porém de maneira modificada, que conhecemos como a fala coloquial, que é pouco estudada.• A partir dessa variação lingüística o Brasil ganhou novas “caras”.
Durante o processo de catequização dos índios, houve não somente a implementação da religião cristã, mais também o português. Com seu principal difusor Pe. José de Anchieta utilizou o tupi como meio de comunicação, o que influenciou no desaparecimento muitas línguas e culturas indígenas.
Língua dominadora se difere da língua usada
No século XVII, com a expulsão dos jesuítas e a vinda da Família Real Portuguesa, o português foi determinado como a língua oficial por Marquês de Pombal e, instituiu a primeira rede de ensino leigo de português – mesmo assim o português brasileiro tem suas marcas próprias, devido a miscigenação das raças (AFRICANAS + INDÍGENAS + PORTUGUESA).
Marquês de Pombal
Distribuição espacial dos povos indígenas
Os índios refugiados, hoje em sua maioria na região amazônica, foram analisados e classificados, pelos seus diferentes graus de contato com a sociedade dominante, pelo antropólogo Darcy Ribeiro, do extremo isolado ao permanente e, a existência de povos em contato intermitente e outros em permanente, diferenciando os graus de aculturação e aliado ao tempo desse contato.
Darcy Ribeiro
Tribo Yatê ou Fulniô
O contato com os indígenas e seus reflexos
• A maior área de preservação indígena do país é o Parque nacional do Xingu, onde ocorre um controle político, através do FUNAI, desde 1961, onde habitam dois grandes troncos lingüísticos, os jê e o tupi. Antes da criação do FUNAI, os índios tinham contato com jornalistas, cientistas e até organizações nacionais, como o Correio Aéreo Nacional e equipes científicas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foi um contato mais evoluído.
• Apesar de tantos contatos, os xinguanos mantêm sua língua e sua cultura sua vivas, sendo o português utilizado como língua de contato, configurando-se como um piding. Entretanto, isso não depende somente do contato, mais também do papel desempenhado pelo o índio dentro da sua sociedade, pois a linguagem é social, porém fenômeno individual.
Preservação das línguas indígenas na atualidade.
O Parque Nacional do Xingu conseguiu preservar algumas etnias indígenas, porém o processo educacional sofre turbulências, devido às interferências missionárias do presente e do passado. A escola indígena, com suas metodologias, deve favorecer os índios e não a sociedade dominante – pois faz uma ponte entre duas culturas diferentes – e para que eles possam interagir com o mundo, não cometendo etnocídio e vivendo em paz dentro da mesma região
Reserva Nacional Parque do Xingu
A língua materna
• A aquisição da língua materna ocorrer nos primeiros anos da infância e o seu desenvolvimento acontece durante a vida de cada individuo a partir de suas experiências e história de vida.
• O léxico o lugar das línguas históricas em que se refletem as mudanças socioculturais e sociopolíticas, tanto no passado como no presente, nos neologismos (palavra ou expressão de criação recente ), arcaísmos (palavras ou expressões que já pertencem ao passado da língua) , empréstimos se refletem a história social das línguas.
AS 19 diretrizesComissão Nacional para o aperfeiçoamento do Ensino/
aprendizagem da língua materna do ministério da educação. (1986)
1. Denominação da língua e da disciplina;2. Língua de cultura;3. Nomenclatura;4. Sociedade Nacional de professores de português;5. A questão ortográfica; 6. Formação e qualificação aperfeiçoamento do
magistério;7. Orientação metodológica;8. Programas de ensino;9. O livro didático;10. Livros instrumentais de consulta;11. Acesso à obra literária;12. O corpus Lexical;13. A pesquisa no ensino da língua portuguesa;14. A língua portuguesa e as demais atividades;
escolares, notadamente o ensino das línguas estrangeiras;
15. Carga horária;16. Gramática e Lingüística no ensino;17. Sobre as línguas maternas minoritárias do Brasil;18. Ação lingüística dos meios de comunicação de
massa;19. A questão do latim e o ensino da língua portuguesa.
• “Crise da língua portuguesa”
• “O mau uso da língua portuguesa no Brasil”
• “Estudantes de letras dizem não saber português”
(um saber comum a todos)
Educação com a web2.0
“Terão, por esses brasis , mestres e alunos condições de elaborar criticamente a multiplicidade que é dita democrática pelas novas
tecnologias para o ensino?” (Mattos e Silva)
• Projeto UCA
• Distribuição de laptops para os professores do estado
• Formação continuada
“A educação em segundo plano”
Políticas de ensino da língua portuguesa no Brasil
• Formação do professor nos diversos níveis de ensino
• Sala de aula lotada;
• Mal remuneração do professor
• Infraestrutura e manutenção dos equipamentos
Referencias:
Castilho, Ataliba T. de.”O português do Brasil” In ILARI, Rodolfo. Lingüística romântica. São Paulo: Ática, 1992.p. 237-269.
MATTAR, João; VALENTE, Carlos. Second life e web 2.0 na educação - O potencial revolucionário das novas tecnologias. São Paulo: Novatec, 2007.
PÓVOA, Marcello. O QUE É WEB 2.0? Uma visão pragmática do termo que define a segunda geração da internet. 2006. Disponível em: webinsider.uol.com.br/index.php/2006/10/30/o-que-e-web-20/ - 47k . Acesso em 12/11/2008.
Bagno, M. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz? São Paulo: Loyola.1999
Silva, Rosa Virginia Mattos e . O português são dois: novas fronteira, velhos problemas. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
PERINI, Mário A. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios São Paulo, ed. Parábola, 2004.
Barros, M.C.D.M. (1996) A Língua Geral como identidade construída. Revista de Antropologia, 39/1: 191-220
Cavalcanti, M.C. & Maher, T.M. (1993) Interação transcultural na formação do professor índio in L. Seki (org.) Lingüística Indígena e Educação na América Latina. Campinas: Editora da Unicamp.