O PROBLEMA DO MAL
WILLIAM R. DOWNING
Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Traduzido do original em Ingls
The Problem Of Evil
By William R. Downing
Via: SGBCSV.org Copyright William R. Downing
(Sovereign Grace Baptist Church of Silicon Valley)
Traduo e Capa por William Teixeira
Reviso por Camila Almeida
1 Edio: Junho de 2015
As citaes bblicas usadas nesta traduo so da verso Almeida Corrigida Fiel | ACF
Copyright 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bblica Trinitariana do Brasil.
Traduzido e publicado em Portugus pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a graciosa
permisso do Dr. William R. Downing, sob a licena Creative Commons Attribution-NonCommercial-
NoDerivatives 4.0 International Public License.
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O Problema do Mal Por William R. Downing
INTRODUO
Desde os tempos dos primeiros filsofos gregos, muitos pensadores se preocuparam com
o que se tornou conhecido como o problema do mal1. O presente artigo visa apresentar e
analisar esta questo a partir da perspectiva da Escritura, e, a partir do raciocnio das
Escrituras, fazer uma defesa inteligente e coerente da posio bblica.
Qual o problema do mal?
O problema do mal pode ser indicado nos seguintes termos: Como pode existir o mal em
um universo criado e governado por um Deus todo-poderoso e benevolente [inerentemente
e completamente bom]?
PRESSUPOSTOS
Deve ser entendido desde o incio que todo o pensamento humano pressuposicional, ou
seja, o homem no intelectualmente neutro [no tem a mente completamente aberta],
mas se aproxima de um determinado assunto com certos pressupostos que regem o seu
processo de pensamento. Isto certamente evidente no mbito da teologia e da metafsica.
Questes como a finitude da razo humana, a natureza da revelao especial Divina2, e os
efeitos noticos do pecado3, todos estes trs exercem uma influncia determinante sobre o
tema da origem do pecado e do problema do mal. Criaturas finitas simplesmente no podem
compreender um Ser infinito, a menos que o Ser infinito, de alguma forma condescenda em
revelar-Se ou revelar Suas aes a elas. parte de uma revelao Divina, eles so simples-
mente deixados com uma especulao centrada no homem, finita, emprica ou filosfica.
__________
[1] Este artigo foi adaptado do Apndice II do livro, Lectures on Calvinism and Arminianism [Estudos Sobre o
Calvinismo e o Arminianismo], por W. R. D.
[2] Deus Se revelou tanto de forma geral [natureza, criao] quanto de forma especial [comunicao direta e
inteligente que foi escrita]. A especial revelao Divina as Escrituras no deve ser explicada
antropomorficamente ou figurativamente. fundamental compreender que a revelao especial foi dada para
ser compreendida pelo homem.
[3] O termo notica deriva de , pensar, e refere-se aos efeitos pecaminosos e limitantes da Queda
sobre o processo de pensamento humano. O Esprito de Deus na iluminao Divina compensa alguns destes
no caso dos verdadeiros crentes (1 Joo 2:20, 27), mas nem toda limitao ou prejuzo so removidos.
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O Deus Triuno e autorrevelado, o Criador e Governador do universo, no entanto, escolheu
revelar a Si mesmo, Sua auto-consistncia moral, Seu propsito redentivo e algumas das
principais questes acerca do bem e do mal, da justia e do juzo, em Sua Palavra escrita
Palavra esta que compreensvel, inspirada, infalvel e autoritativa. Esta revelao
especial Divina no exaustiva, mas suficiente para a f e prtica. O conhecimento do
homem, no entanto, no apenas finito, ainda limitado pelos efeitos noticos do pecado.
Assim, h uma determinada quantidade de prejuzo ou limitao pecaminosa de sua parte
quando se aproxima da verdade Divina. As Escrituras devem ser tomadas como elas so,
e a pessoa, carter, propsitos e aes de Deus no devem ser postos em questo
criaturas finitas no tm esse direito (Romanos 9:14-21). As Escrituras devem falar como a
autoridade final. Qualquer explicao sobre a origem do pecado ou o problema do mal
devem ser encontrados na natureza, aes ou propsito de Deus medida que Ele os
revela.
O MISTRIO DO MAL
A existncia do mal no universo de um Deus justo e santo um grande mistrio, mas as
Escrituras revelam que Deus determinou todas as coisas e isso deve incluir o pecado.
Negar ou tentar contornar isso traria Deus at o nvel do finito e tornaria o mal um mistrio
inexplicvel existente em oposio a Deus num sentido dualista. Isto certamente insa-
tisfatrio. I. Howard Marshall, um estudioso do Novo Testamento, procura fazer isso por
causa de seus pressupostos Arminianos em relao a Deus e natureza do mal:
A Bblia clara em dizer que Deus no o autor do mal. Sua origem e talvez deva
ser um mistrio. Esta maldade reside na falta de bom propsito, e, portanto, na
irracionalidade e oposio ao propsito de Deus. Como o mal pode ter vindo a existir
em um universo criado por Deus incognoscvel. Temos de nos contentar em deixar
a questo em aberto. O Calvinista cai em erro quando atribui a razo de algumas
pessoas no serem salvas vontade decretiva de Deus; na verdade, ele est tentando
explicar o mal. mais sbio identificar no puro mistrio do mal a razo do porqu
algumas pessoas no so salvas4.
A SOBERANIA DIVINA
Que Deus absolutamente soberano sobre todas as coisas, e mesmo sobre o mal, e usa
o tal para o Seu propsito e glria, um fato bblico: Eu formo a luz, e crio as trevas; eu
__________
[4] I. Howard Marshall, Predestination in the New Testament [Predestinao no Novo Testamento], Grace
Unlimited, p. 138.
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fao a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, fao todas estas coisas (Isaas 45:7)5. Deus enviou
um esprito maligno entre os cidados de Siqum e Abimeleque (Juzes 9:23-24). Ele
enviou um esprito maligno para atormentar o Rei Saul (1 Samuel 16:14, 18:10, 19:9). Ele
trouxe o mal sobre Israel por seus pecados (1 Reis 9:9). Um esprito de mentira foi enviado
por Deus para conduzir Acabe, sua derrota e morte (1 Reis 22:20-23). O Senhor designou
aniquilar o conselho de Aitofel para que Ele trouxesse o mal sobre Absalo (2 Samuel
17:14). Deus mudou o corao dos egpcios para que odiassem os israelitas (Salmo
105:25). O maior crime da histria a ilegalidade do julgamento, o abuso, a vergonha, o
sofrimento e a morte do Filho de Deus, com todo o pecado inerente deste ato da parte dos
homens foi predeterminado por Deus (Lucas 22:22; Atos 2:23; 4:27-28). Como Deus
pode fazer essas coisas e ainda assim permanecer santo, justo e livre do pecado? Os
problemas so dois: a origem do pecado e do problema do mal.
A ORIGEM DO PECADO
Como caste desde o cu, Lcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que
debilitavas as naes! E tu dizias no teu corao: Eu subirei ao cu, acima das estrelas de
Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregao me assentarei, aos lados do norte.
Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altssimo. E contudo levado
sers ao inferno, ao mais profundo do abismo (Isaas 14:12-15)6.
E disse-lhes: Eu via Satans, como raio, cair do cu (Lucas 10:18).
Vs tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida
desde o princpio, e no se firmou na verdade, porque no h verdade nele. Quando ele
profere mentira, fala do que lhe prprio, porque mentiroso, e pai da mentira (Joo 8:44)7.
__________
[5] Observe a declarao feita pela Bblia de Referncias Scofield: Heb. ra, traduzido como tristeza, misria,
adversidade, aflies, calamidades, mas nunca traduzido como pecado. Deus criou o mal s no sentido
de que Ele criou a tristeza, a misria, etc., para serem os frutos certos do pecado. p. 754.
; (ra), no entanto, a palavra comum para o mal moral e, embora nunca tenha sido traduzida como
pecado, ela traduzida centenas de vezes como mal e oitenta e uma vezes como mpios, impiedade e
iniquidade, referindo-se a todos os tipos de pecados. Neste contexto, nem a paz nem o mal podem ser
usados em um sentido restrito, tais como a Bblia de Referncia Scofield tentou dar a estes termos paralelos,
como as Escrituras na sua utilizao destes revela.
[6] No contexto de Isaas 14 (v. 4ss) esta declarao refere-se ao rei de Babilnia, dirigindo-se, eviden-
temente, a Satans atravs deste rei.
[7] ...desde o princpio... deve referir-se tentao e subsequente queda de Ado atravs da tentao do
Diabo por meio da serpente.
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E aos anjos que no guardaram o seu principado, mas deixaram a sua prpria habitao,
reservou na escurido e em prises eternas at ao juzo daquele grande dia (Judas 6).
E vi descer do cu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua
mo. Ele prendeu o drago, a antiga serpente, que o Diabo e Satans, e amarrou-o por
mil anos. E lanou-o no abismo, e ali o encerrou, e ps selo sobre ele, para que no mais
engane as naes, at que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um
pouco de tempo... E o diabo, que os enganava, foi lanado no lago de fogo e enxofre, onde
esto a besta e o falso profeta; e de dia e de noite sero atormentados para todo o sempre
(Apocalipse 20:1-3, 10).
O pecado no se originou com a Queda [apostasia] do homem. O pecado se originou no
mundo espiritual [anglico]. Lcifer [Sat, o Diabo] apostatou de Deus e levou consigo uma
parte de outros de seres angelicais com ele. Ele esteve sob o disfarce de serpente e tentou
Ado e Eva e, atravs disto provocou a Queda da humanidade. A entrada do pecado na
raa humana veio atravs de desobedincia deliberada de Ado ao mandamento explcito
de Deus (Gnesis 2:16-17, 3:1-7; Romanos 5:12, 3:23)8. A raa humana apostatou de Deus
em Ado como seu cabea e representante. Ao lidar com a origem do pecado, porm,
temos de chegar a um acordo, no s com a sua histria revelada nas Escrituras, mas
tambm com a sua relao com um Deus absolutamente justo ou reto e santo. Sustentado
que as Escrituras so a Palavra de Deus escrita, inspirada e infalvel, devemos aceitar seu
registro quanto origem do pecado.
O PROBLEMA DO MAL
Declaraes Escritursticas:
Porque eis que eu trago um dilvio de guas sobre a terra, para desfazer toda a carne em
que h esprito de vida debaixo dos cus; tudo o que h na terra expirar (Gnesis 6:17).
Vs bem intentastes mal contra mim; porm Deus o intentou para bem, para fazer como se
v neste dia, para conservar muita gente com vida (Gnesis 50:20).
__________
[8] A utilizao do aor. em ambas as passagens de Romanos, em seu determinado contexto, aponta para um
evento, ou seja, a humanidade no simplesmente herda uma natureza pecaminosa ou tendncia de Ado
todos pecaram, refere-se assim experincia e atividade pessoal, mas todos pecaram refere-se tambm
a um evento, um ponto no tempo (Romanos 3:23: :
Porque todos pecaram e destitudos esto da glria de Deus.... Romanos 5:12: ...
... : Por um homem entrou o pecado no mundo... por isso que todos
pecaram). Todo ser humano pecador por imputao, por natureza e por atividade pessoal.
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...E irs, tu com os ancios de Israel, ao rei do Egito, e dir-lhe-eis: O Senhor Deus dos he-
breus nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de trs dias para o deserto, para
que sacrifiquemos ao Senhor nosso Deus. Eu sei, porm, que o rei do Egito no vos deixar
ir, nem ainda por uma mo forte. Porque eu estenderei a minha mo, e ferirei ao Egito com
todas as minhas maravilhas que farei no meio dele; depois vos deixar ir (xodo 3:18-20).
Ento disse Moiss ao Senhor: Ah, meu Senhor! eu no sou homem eloquente, nem de
ontem nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou
pesado de boca e pesado de lngua. E disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem?
ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que v, ou o cego? No sou eu, o Senhor? Vai, pois,
agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hs de falar (xodo 4:10-12).
E disse o Senhor a Moiss: Quando voltares ao Egito, atenta que faas diante de Fara
todas as maravilhas que tenho posto na tua mo; mas eu lhe endurecerei o corao, para
que no deixe ir o povo. Ento dirs a Fara: Assim diz o Senhor: Israel meu filho, meu
primognito E eu te tenho dito: Deixa ir o meu filho, para que me sirva; mas tu recusaste
deix-lo ir; eis que eu matarei a teu filho, o teu primognito (xodo 4:23).
Ento disse o SENHOR a Moiss: Eis que te tenho posto por deus sobre Fara, e Aro, teu
irmo, ser o teu profeta. Tu falars tudo o que eu te mandar; e Aro, teu irmo, falar a
Fara, que deixe ir os filhos de Israel da sua terra. Eu, porm, endurecerei o corao de
Fara, e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Fara, pois,
no vos ouvir; e eu porei minha mo sobre o Egito, e tirarei meus exrcitos, meu povo, os
filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes juzos. Ento os egpcios sabero que eu
sou o Senhor, quando estender a minha mo sobre o Egito, e tirar os filhos de Israel do
meio deles (xodo 7:1-5).
E aconteceu, meia-noite, que o Senhor feriu a todos os primognitos na terra do Egito,
desde o primognito de Fara, que se sentava em seu trono, at ao primognito do cativo
que estava no crcere, e todos os primognitos dos animais. E Fara levantou-se de noite,
ele e todos os seus servos, e todos os egpcios; e havia grande clamor no Egito, porque
no havia casa em que no houvesse um morto (xodo 12:29-30).
E sucedeu que, ao stimo dia, madrugaram ao subir da alva, e da mesma maneira rodea-
ram a cidade sete vezes; naquele dia somente rodearam a cidade sete vezes. E sucedeu
que, tocando os sacerdotes pela stima vez as buzinas, disse Josu ao povo: Gritai, porque
o Senhor vos tem dado a cidade. Porm a cidade ser antema ao Senhor, ela e tudo
quanto houver nela; somente a prostituta Raabe viver; ela e todos os que com ela esti-
verem em casa; porquanto escondeu os mensageiros que enviamos... E tudo quanto havia
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na cidade destruram totalmente ao fio da espada, desde o homem at mulher, desde o
menino at ao velho, e at ao boi e gado mido, e ao jumento (Josu 6:15-17, 21).
E ser que, assim como sobre vs vieram todas estas boas coisas, que o Senhor vosso
Deus vos disse, assim trar o Senhor sobre vs todas aquelas ms coisas, at vos destruir
de sobre a boa terra que vos deu o Senhor vosso Deus. Quando transgredirdes a aliana
do Senhor vosso Deus, que vos tem ordenado, e fordes e servirdes a outros deuses, e a
eles vos inclinardes, ento a ira do Senhor sobre vs se acender, e logo perecereis de
sobre a boa terra que vos deu (Josu 23:15-16).
Por onde quer que saam, a mo do Senhor era contra eles para mal, como o Senhor tinha
falado, e como o Senhor lhes tinha jurado; e estavam em grande aflio (Juzes 2:15).
Enviou Deus um mau esprito entre Abimeleque e os cidados de Siqum; e estes se
houveram aleivosamente contra Abimeleque (Juzes 9:23).
E o Esprito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um esprito mau da parte do
Senhor... E aconteceu no outro dia, que o mau esprito da parte de Deus se apoderou de
Saul, e profetizava no meio da casa; e Davi tocava a harpa com a sua mo, como nos
outros dias; Saul, porm, tinha na mo uma lana. E Saul atirou com a lana, dizendo:
Encravarei a Davi na parede. Porm Davi se desviou dele por duas vezes... Porm o esprito
mau da parte do Senhor se tornou sobre Saul, estando ele assentado em sua casa, e tendo
na mo a sua lana; e tocava Davi com a mo, a harpa. E procurou Saul encravar a Davi
na parede, porm ele se desviou de diante de Saul, o qual feriu com a lana a parede; ento
fugiu Davi, e escapou naquela mesma noite (1 Samuel 16:14, 18:1-11, 19:9-10).
Ento disse Absalo e todos os homens de Israel: Melhor o conselho de Husai, o arquita,
do que o conselho de Aitofel (porm assim o Senhor o ordenara, para aniquilar o bom
conselho de Aitofel, para que o Senhor trouxesse o mal sobre Absalo) (2 Samuel 17:14).
E houve nos dias de Davi uma fome de trs anos consecutivos; e Davi consultou ao
SENHOR, e o SENHOR lhe disse: por causa de Saul e da sua casa sanguinria, porque
matou os gibeonitas. Ento chamou o rei aos gibeonitas, e lhes falou (ora os gibeonitas no
eram dos filhos de Israel, mas do restante dos amorreus, e os filhos de Israel lhes tinham
jurado, porm Saul, no seu zelo causa dos filhos de Israel e de Jud, procurou feri-los).
Disse, pois, Davi aos gibeonitas: Que quereis que eu vos faa? E que satisfao vos darei,
para que abenoeis a herana do Senhor? Ento os gibeonitas lhe disseram: No por
prata nem ouro que temos questo com Saul e com sua casa; nem tampouco pretendemos
matar pessoa alguma em Israel. E disse ele: Que , pois, que quereis que vos faa? E
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disseram ao rei: O homem que nos destruiu, e intentou contra ns de modo que fssemos
assolados, sem que pudssemos subsistir em termo algum de Israel, De seus filhos se nos
deem sete homens, para que os enforquemos ao Senhor em Gibe de Saul, o eleito do
Senhor. E disse o rei: Eu os darei... E os entregou na mo dos gibeonitas, os quais os
enforcaram no monte, perante o Senhor; e caram estes sete juntamente; e foram mortos
nos dias da sega, nos dias primeiros, no princpio da sega das cevadas... E fez subir dali
os ossos de Saul, e os ossos de Jnatas seu filho; e ajuntaram tambm os ossos dos enfor-
cados. Enterraram os ossos de Saul, e de Jnatas seu filho na terra de Benjamim, em Zela,
na sepultura de seu pai Quis, e fizeram tudo o que o rei ordenara; e depois disto Deus se
aplacou com a terra (2 Samuel 21:1-14).
E diro: Porque deixaram ao Senhor seu Deus, que tirou da terra do Egito a seus pais, e
se apegaram a deuses alheios, e se encurvaram perante eles, e os serviram; por isso trouxe
o Senhor sobre eles todo este mal. (1 Reis 9:9).
Disse mais Jeosaf ao rei de Israel: Peo-te, consulta hoje a palavra do Senhor. Ento o
rei de Israel reuniu os profetas at quase quatrocentos homens, e disse-lhes: Irei peleja
contra Ramote de Gileade, ou deixarei de ir? E eles disseram: Sobe, porque o Senhor a
entregar na mo do rei. Disse, porm, Jeosaf: No h aqui ainda algum profeta do
Senhor, ao qual possamos consultar? Ento disse o rei de Israel a Jeosaf: Ainda h um
homem por quem podemos consultar ao Senhor; porm eu o odeio, porque nunca profetiza
de mim o que bom, mas s o mal; este Micaas, filho de Inl. E disse Jeosaf: No fale
o rei assim. Ento o rei de Israel chamou um oficial, e disse: Traze-me depressa a Micaas,
filho de Inl... E o mensageiro que foi chamar a Micaas falou-lhe, dizendo: Vs aqui que as
palavras dos profetas a uma voz predizem coisas boas para o rei; seja, pois, a tua palavra
como a palavra de um deles, e fala bem. Porm Micaas disse: Vive o Senhor que o que o
Senhor me disser isso falarei. E, vindo ele ao rei, o rei lhe disse: Micaas, iremos a Ramote
de Gileade peleja, ou deixaremos de ir? E ele lhe disse: Sobe, e sers bem sucedido;
porque o Senhor a entregar na mo do rei. E o rei lhe disse: At quantas vezes te
conjurarei, que no me fales seno a verdade em nome do Senhor? Ento disse ele: Vi a
todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que no tem pastor; e disse o Senhor:
Estes no tm senhor; torne cada um em paz para sua casa. Ento o rei de Israel disse a
Jeosaf: No te disse eu, que nunca profetizar de mim o que bom, seno s o que
mal? Ento ele disse: Ouve, pois, a palavra do Senhor: Vi ao Senhor assentado sobre o
seu trono, e todo o exrcito do cu estava junto a ele, sua mo direita e sua esquerda.
E disse o Senhor: Quem induzir Acabe, para que suba, e caia em Ramote de Gileade? E
um dizia desta maneira e outro de outra. Ento saiu um esprito, e se apresentou diante do
Senhor, e disse: Eu o induzirei. E o Senhor lhe disse: Com qu? E disse ele: Eu sairei, e
serei um esprito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse: Tu o induzirs,
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e ainda prevalecers; sai e faze assim. Agora, pois, eis que o Senhor ps o esprito de men-
tira na boca de todos estes teus profetas, e o Senhor falou o mal contra ti (1 Reis 22:5-23).
Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a
saber: todas as palavras do livro que leu o rei de Jud (2 Reis 22:16).
E disse o Senhor a Satans: Observaste tu a meu servo J? Porque ningum h na terra
semelhante a ele, homem ntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. Ento
respondeu Satans ao Senhor, e disse: Porventura teme J a Deus debalde? Porventura
tu no cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mos
abenoaste e o seu gado se tem aumentado na terra. Mas estende a tua mo, e toca-lhe
em tudo quanto tem, e vers se no blasfema contra ti na tua face. E disse o Senhor a
Satans: Eis que tudo quanto ele tem est na tua mo; somente contra ele no estendas a
tua mo. E Satans saiu da presena do Senhor... E disse o Senhor a Satans: Observaste
o meu servo J? Porque ningum h na terra semelhante a ele, homem ntegro e reto,
temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda retm a sua sinceridade, havendo-me
tu incitado contra ele, para o consumir sem causa. Ento Satans respondeu ao Senhor, e
disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dar pela sua vida. Porm estende a tua
mo, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e vers se no blasfema contra ti na tua face! E
disse o Senhor a Satans: Eis que ele est na tua mo; porm guarda a sua vida. Ento
saiu Satans da presena do Senhor, e feriu a J de lceras malignas, desde a planta do
p at ao alto da cabea. E J tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado
no meio da cinza. Ento sua mulher lhe disse: Ainda retns a tua sinceridade? Amaldioa
a Deus, e morre. Porm ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o
bem de Deus, e no receberamos o mal? Em tudo isto no pecou J com os seus lbios
(J 1:8-12; 2:3-10).
E o Senhor virou o cativeiro de J, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescen-
tou, em dobro, a tudo quanto J antes possua (J 42:10).
Certamente a clera do homem redundar em teu louvor; o restante da clera tu o
restringirs (Salmos 76:10).
O Senhor fez todas as coisas para atender aos seus prprios desgnios, at o mpio para o
dia do mal (Provrbios 16:4).
Ai da Assria, a vara da minha ira, porque a minha indignao como bordo nas suas
mos. Envi-la-ei contra uma nao hipcrita, e contra o povo do meu furor lhe darei ordem,
para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos ps, como
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a lama das ruas. Ainda que ele no cuide assim, nem o seu corao assim o imagine; antes
no seu corao intenta destruir e desarraigar no poucas naes. Porque diz: No so
meus prncipes todos eles reis? No Calno como Carquemis? No Hamate como
Arpade? E Samaria como Damasco? Como a minha mo alcanou os reinos dos dolos,
cujas imagens esculpidas eram melhores do que as de Jerusalm e do que as de Samaria,
porventura como fiz a Samaria e aos seus dolos, no o faria igualmente a Jerusalm e aos
seus dolos? Por isso acontecer que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte
Sio e em Jerusalm, ento castigarei o fruto da arrogante grandeza do corao do rei da
Assria e a pompa da altivez dos seus olhos. Porquanto disse: Com a fora da minha mo
o fiz, e com a minha sabedoria, porque sou prudente; e removi os limites dos povos, e
roubei os seus tesouros, e como valente abati aos habitantes. E achou a minha mo as
riquezas dos povos como a um ninho, e como se ajuntam os ovos abandonados, assim eu
ajuntei a toda a terra, e no houve quem movesse a asa, ou abrisse a boca, ou murmurasse.
Porventura gloriar-se- o machado contra o que corta com ele, ou presumir a serra contra
o que puxa por ela, como se o bordo movesse aos que o levantam, ou a vara levantasse
como no sendo pau? (Isaas 10:5-15).
Eu formo a luz, e crio as trevas; eu fao a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, fao todas estas
coisas (Isaas 45:7).
...Suceder algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito? (Ams 3:6).
Disse-lhe, pois, Pilatos: No me falas a mim? No sabes tu que tenho poder para te cruci-
ficar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se
de cima no te fosse dado... (Joo 19:10).
A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e prescincia de Deus, prendestes,
crucificastes e matastes pelas mos de injustos (Atos 2:23).
...E, ouvindo eles isto, unnimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu s o
Deus que fizeste o cu, e a terra, e o mar e tudo o que neles h; que disseste pela boca de
Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vs? Levan-
taram-se os reis da terra, e os prncipes se ajuntaram uma, contra o Senhor e contra o
seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se
ajuntaram, no s Herodes, mas Pncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para
fazerem tudo o que a tua mo e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se
havia de fazer (Atos 4:24-28).
E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a
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Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito... Quem nos separar do amor
de Cristo? A tribulao, ou a angstia, ou a perseguio, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo,
ou a espada? Como est escrito: Por amor de ti somos entregues morte todo o dia; somos
reputados como ovelhas para o matadouro (Romanos 8:28, 35, 36)
Porque, no tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propsito
de Deus, segundo a eleio, ficasse firme, no por causa das obras, mas por aquele que
chama), foi-lhe dito a ela: O maior servir ao menor. Como est escrito: Amei a Jac, e
odiei a Esa. Que diremos pois? que h injustia da parte de Deus? De maneira nenhuma.
Pois diz a Moiss: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericrdia de
quem eu tiver misericrdia. Assim, pois, isto no depende do que quer, nem do que corre,
mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Fara: Para isto mesmo te
levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda
a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-s ento:
Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido sua vontade? Mas, homem,
quem s tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dir ao que a formou: Por
que me fizeste assim? Ou no tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa
fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Romanos 9:11-21).
profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da cincia de Deus! Quo inson-
dveis so os seus juzos, e quo inescrutveis os seus caminhos! Por que quem compre-
endeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele,
para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, so todas as coisas;
glria, pois, a ele eternamente. Amm (Romanos 11:33-36).
Digno s, Senhor, de receber glria, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e
por tua vontade so [existem] e foram criadas (Apocalipse 4:11).
A QUESTO ESSENCIAL E POSSVEIS RESPOSTAS
O problema do mal pode agora ser reconsiderado: Como o mal pode existir em um uni-
verso criado e governado por um Deus todo-poderoso e benevolente [inerentemente e com-
pletamente bom]? As respostas possveis, de acordo com o raciocnio humano, so:
Se o mal existe (e ele de fato existe como uma realidade triste e terrvel), ento, no h
nenhum Deus onipotente [todo-poderoso] e benevolente o argumento do ateu.
O mal existe, e, portanto, se Deus existe, Ele deve ser ou limitado em Seu poder ou arbi-
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trrio em Seu carter moral. O primeiro o argumento do Pelagiano ou Arminiano; o ltimo,
o argumento dos que defendem um conceito no-bblico [pago] de Deus.
O mal existe, portanto, h mais de um nico Deus, ou h foras iguais [o bem e o mal] em
conflito. Este o argumento no-bblico [pago] daqueles que postulam um dualismo (um
deus bom e um deus mau ou foras opostas ou princpios do bem e do mal iguais), ou
um politesmo em conflito pelo controle do universo9.
O mal no existe, exceto como uma iluso no nosso pensamento humano a viso de
alguns cultos ocidentais e religies orientais (por exemplo, da Cincia Crist [Christian
Science] e o Budismo). Isto faria qualquer distino final entre o bem e o mal arbitrria e,
portanto, nega a auto-consistncia moral do carter Divino.
O mal existe como um mistrio, independente de Deus, o Qual permanece, embora em
um grau limitado, poderoso e benevolente. Este o argumento inconsistente de alguns
(incluindo Pelagianos e Arminianos), que tentam livrar Deus da acusao de ser o autor
do pecado, e ainda procuram manter a Sua bondade10.
O mal existe no universo de um Deus benevolente e onipotente, o Qual completamente
soberano sobre ele e usa-o para a Sua prpria glria e para o bem maior o consistente
argumento do Calvinista.
__________
[9] Este o pensamento de alguns Cristos professos quando reduzem o seu conceito de Deus ao nvel do
Diabo, considerando-os iguais, o que um conceito dualista, pago. Tal [falta de] pensamento est presente
em tais declaraes como: Deus pede sua escolha, o Diabo pede sua escolha, e agora cabe a voc decidir,
quando se refere eleio dos pecadores para a salvao. Tal fala totalmente irracional. Assim eles mantm
um conceito de Deus que simplesmente no bblico, pois a Palavra revela que Deus absolutamente
soberano, mesmo sobre os atos perversos dos homens e a Escritura a autoridade mxima.
[10] Alguns deste grupo afirmam que Deus est ou trabalhando de uma forma utilitria da melhor maneira
possvel, ou que Ele apenas previu o mal e os seus resultados, mas no foi capaz de impedi-los; ou que
existem algumas situaes provocadas por agentes moralmente livres que at mesmo Deus no previa.
Enquanto os dois ltimos so um pouco extremos, a ideia de que Deus meramente previu ou pr-conheceu
o mal no eliminaria a culpabilidade de Deus. Se Deus previu o que aconteceria e, em seguida, fez Seus
planos de acordo com o previsto, ento Ele poderia ter evitado o pecado, mas evidentemente escolheu no
faz-lo. Assim, Deus seria o responsvel final pelo pecado, sendo permissivo a este, e ainda no exercendo
controle sobre ele para o bem maior e Sua glria. Alm disso, se Deus apenas previu o mal como uma certeza
e isto deve ter acontecido certamente pois Deus prev como tal no sentido bblico , ento o prprio Deus
no poderia ter evitado o pecado. O pecado teria vindo existncia e sido determinado por uma fora que
est fora de Deus. Ele teria, assim, existido finitamente dentro de um universo sobre o qual Ele no exerceu
o controle final, um universo controlado no sentido final por um determinismo atesta!
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DEUS SOBERANO SOBRE O MAL
A ltima viso de que Deus absolutamente soberano tanto sobre o mal natural como
moral11, e usa o mal para a Sua prpria glria e para o bem maior a nica viso que
pode ser consistentemente alinhada com o ensino das Escrituras. Todas as outras vises
derivam-se do raciocnio humanista pecaminoso [incapacitado pelos efeitos noticos do
pecado e pela rebelio deliberada contra Deus e Sua verdade], e assim colocam Deus e
Suas aes em questo, visando apontar uma incoerncia no sistema Cristo. Estes pontos
de vista ou negam a Deus e o mal, ou limitam Deus e procuram rebaix-lO para o nvel do
finito e destroem Sua auto-consistncia moral e, assim, qualquer base suficiente ou con-
sistente para moralidade12.
A verdade da soberania de Deus sobre o mal pode ser esclarecida pelas seguintes consi-
deraes e implicaes:
A existncia do mal em um universo criado e governado por um Deus benevolente no
incoerente se Deus tem uma razo moralmente suficiente para esse mal de existir. Este
problema mais psicolgico do que lgico ou filosfico13. Homens preferem colocar Deus
e Suas aes em questo do que submeterem-se em completa confiana (Romanos 9:11-
24), mesmo a um Deus que benevolente no contexto da Sua justia.
Tal viso no remove todo o mistrio do problema do mal. Deus infinito, e assim so
Sua sabedoria, poder e propsito. Ns somos finitos, e simplesmente no podemos com-
preender tudo o que est implcito nesta profunda questo. Por que Deus, que absoluta-
mente auto-consistente moralmente, ordenou o mal, deve, em um determinado grau, per-
manecer como um mistrio para seres finitos. Tais assuntos devem ser abordados por uma
f que repousa em um Deus sbio e moralmente auto-consistente.
Como criaturas finitas, estamos temporalmente limitados em nosso pensamento ao
__________
[11] O mal natural o mal que ocorre no reino da natureza (calamidades como inundaes, fome, doena,
sofrimento, terremotos e peste). O mal moral o mal ou pecado que ocorre por causa da maldade do homem
contra o homem (por exemplo, guerras, estupros, torturas, assassinatos, dio, engano, roubo, destruio,
etc.).
[12] Esta , muitas vezes, a abordagem dos professores seculares de colgios ou universidades ao desafia-
rem os alunos que professam ser Cristos, mas que so doutrinariamente dbeis e inconsistentes em sua f.
Eles procuram destruir tanto a sua f quanto a sua base para a moralidade.
[13] Esta questo totalmente tratada por Greg Bahnsen em Always Ready [Sempre Pronto]. Texarkana:
Covenant Media Foundation, 1996. pp. 165-174. Ele afirma que O Problema do Mal na verdade uma
expresso pessoal de uma falta de f.
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presente e o passado. Ao considerar o problema do mal, preciso levar em conta a reali -
dade do tempo. O que pode ser considerado como o mal no contexto da realidade passada
ou presente pode mais tarde vir a ser uma grande bno ou resultar em tal. Isto certamente
foi verdade em todas as ms realidades e eventos que conspiraram na providncia de Deus
ao exaltar Jos para se tornar o primeiro-ministro do Egito (por exemplo, o fato dele ter sido
mimado por seu pai, a inveja e o dio de seus irmos, o fato de ter sido vendido como
escravo, a tentativa de seduo pela esposa de Potifar, o seu encarceramento, o esqueci-
mento do copeiro de Fara, etc.). Nenhuma dessas coisas eram boas em si mesmas, mas
cada uma era, sem dvida, m contudo todas elas contriburam juntamente para o bem.
Esse bem pode ou no ser visto ainda nesta vida, mas tambm pode aguardar para a
revelao da eternidade (Romanos 8:28-31)14.
As Escrituras ensinam que Deus benevolente [absolutamente bom] e tambm que Ele
ordena aes ms. A citao a seguir est de acordo com o testemunho das Escrituras e
merece ser cuidadosamente estudada:
Deus bom, mas Ele decreta aes ms. Sabemos que estas verdades so compatveis,
pois a Escritura ensina ambos e Deus no pode negar a Si mesmo... Deus pode preordenar
o mal somente se Ele prprio for bom, porque na Escritura o mal mal apenas por
contraste com a bondade de Deus. Deus verdadeiramente bom apenas se o mal no
mundo foi preordenado por Ele, pois s se o mal for totalmente controlado por Deus que
podemos estar confiantes de que h um bom propsito nisso, e somente se houver um bom
propsito nisso que podemos confiar no bom propsito geral de Deus15.
Deus preordena o mal; Ele no se limita a permitir ou consenti-lo. A expresso: Deus
permite [consente] o mal muitas vezes usada pelos telogos que visam ou procuram
evitar a ideia de que Deus o autor culpvel do pecado, ou esto usando a linguagem
humana por falta de uma outra forma de expressar16.
__________
[14] importante notar que a verdade de Romanos 8:28 ocorre no contexto da eternidade, e no se limita a
esta vida terrena (cf. vv. 28-31). Alm disso, o contexto envolve aquilo que de pior os homens podem fazer
para os crentes (vv. 35-36).
[15] John M. Frame, The Problem of Theological Paradox [O Problema do Paradoxo Teolgico], Foundations
of Christian Scholarship [Fundamentos do Conhecimento Cristo] p. 321.
[16] Tal linguagem como autorizar ou permitir quando usada para se referir a Deus, embora como uma
acomodao a ttulo de compreenso, no contexto da linguagem humana e finita, pode sugerir que Deus
relativo, ou seja, que h algo absoluto acima ou parte dEle, ao qual Ele mesmo ou sujeito ou contra o qual
Ele deve lutar (ou seja, o mal existe independentemente de Deus). Ambos no so verdade.
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Deus, claro, no o autor do mal no sentido de que Ele prprio culpvel [censurvel]
ou maculado pelo pecado. Isto seria uma negao da Sua bondade inerente. A verdade de
que Deus no o autor do pecado pode ser esclarecida pelas seguintes consideraes:
1. As Escrituras sustentam que os homens so totalmente responsveis por seus prprios
pecados, o que no seria e nem poderia ser verdade se Deus fosse o autor do pecado (Atos
2:23; Romanos 1:18-32; 2 Tessalonicenses 1:7-9; Judas 14-15; Apocalipse 20:11-13).
2. Se Deus cobrasse dos homens pelos pecados dos quais eles no fossem verdadeira-
mente responsveis, ento Ele no seria e nem poderia ser justo, na verdade, Ele seria
menos do que justo Ele prprio se tornaria um criminoso, um pecador! Tal seria absoluta-
mente impensvel e antibblico. Assim, a realidade bblica da culpabilidade humana
necessariamente exclui qualquer alegao de Deus ser o autor do pecado.
3. Embora Deus queira o mal, no se deve imaginar que Ele o quer, no mesmo sentido e
forma que Ele quer o que justo, santo e bom. Ele decreta que o mal exista e controla-o,
revertendo para o bem maior e a Sua glria (Salmos 145:17; Romanos 11:33-36;
Apocalipse 4:11). Ele no tem prazer no mal em um sentido positivo. Assim, pode ser
correto a Deus decretar o que no correto para o homem fazer e, portanto, errado para
Deus comandar o homem a fazer sob a sua vontade preceptiva. O Telogo holands
Herman Bavinck procura explicar esta verdade por uma ilustrao:
Porque o homem um ser racional, moral, Deus no trata-o como se ele fosse uma pedra
ou um cepo, mas lida com ele e se dirige a ele de acordo com sua natureza. Assim como
um pai probe seu filho de tocar em uma faca afiada, embora ele mesmo a use sem provocar
ferimentos ou danos, assim Deus nos probe de pecar embora Ele mesmo seja capaz de
usar e fazer uso do pecado como um meio de auto-glorificao17.
Deus decreta o pecado, mas no o comanda. O pecado existe como parte do propsito
teleolgico Divino, mas no forado sobre os homens por necessidade. Os homens no
podem fazer de Deus culpado por seu prprio pecado e violao da vontade preceptiva de
Deus. Eles devem, como seres morais, racionais e responsveis, arcar com as consequn-
cias de suas prprias transgresses. Deus, portanto, controla o mal, mas no no sentido de
que Ele Se alegra ou tem prazer nele. Dizer que Deus no controla o mal negar Sua oni-
potncia. Dizer que Ele quer o mal no mesmo sentido em que Ele quer o que certo e santo
negar Sua justia e santidade. Dizer que Ele controla o mal de tal forma que os homens
__________
[17] Herman Bavinck, The Doctrine of God [A Doutrina de Deus], p. 240.
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so escusados de sua responsabilidade moral negar tanto a liberdade de sua vontade
quanto a sua natureza essencial. Dizer, porm, que Deus ordena homens a contradizerem
Sua Lei/Palavra atravs de suas prprias aes intencionais, e que Ele controla isso para
o bem e glria de Seu eterno propsito final, afirmar a soberania absoluta de Deus sobre
o mal e ainda assim preservar Sua sabedoria, justia e santidade. Criaturas finitas devem
deixar tal mistrio para o Deus infinito.
Donald Macleod procura colocar as questes da pr-ordenao do pecado e da liberdade
humana em simples, mas profundas declaraes, afirmando que Deus pr-ordenou tanto o
pecado quanto a liberdade humana:
...Deus no o autor do pecado. Deus decretou o pecado. Ele preordenou tudo que
venha a acontecer, o pecado veio a acontecer, e Deus em Seu propsito controla,
limita, preserva e governa o universo, mesmo na presena deste fato do pecado... Ele
mesmo no comete pecado. Ele no tolera o pecado. Ele no compele a pecar. Ele
no induz ao pecado. Ele no tenta ao pecado... A pr-ordenao no destruidora
da liberdade; Deus decretou a liberdade... A pr-ordenao o que estabelece a liber-
dade... nada pode tirar do ser humano a liberdade essencial para a responsabilidade
moral, porque Deus tem pr-ordenado a liberdade dos homens no momento da
tomada da deciso moral... Deus decretou suas aes, mas ele as decretou como
aes livres: medida que eles fazem as coisas baseados em sua prpria vontade
pessoal... Eu sou livre porque Deus decretou minha liberdade18.
NOTA: A declarao acima por Macleod no deve ser interpretada no sentido Arminiano
que Deus criou o homem com uma vontade livre e por isso no pode violar essa vontade,
mas no sentido de que Deus criou o homem como um livre agente moral e responsvel.
Deus no limitaria, sim, no poderia limitar externamente Sua prpria soberania a tal ponto
de tornar-se moralmente incapacitado ou at mesmo inconsistente. Ele, ento, deixaria de
ser Deus.
Na grande teodicia de Romanos 919, o apstolo responde a acusaes relativas
soberania absoluta de Deus sobre o carter moral e destino dos homens. (Seu argumento
assume trs perguntas: Ser que Deus infiel Sua promessa da aliana [vv. 6-13]? Deus
injusto em Sua prerrogativa soberana [vv. 14-18]? Deus injusto ou arbitrrio por manter
_________
[18] A Faith to Live By [Uma F Pela Qual Viver]. Mentor, Geanies House, Fearn, Ross-Shire: Christian
Publications Foco, 1998, pp. 40-44.
[19] Teodicia, uma defesa de Deus, (theos), Deus, e (diqe), justia, portanto, uma tentativa de
justificar Deus no contexto do problema do mal. Os argumentos do apstolo, no entanto, so mais do que
uma tentativa, eles so a Escritura inspirada e, portanto, a palavra final sobre o assunto.
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os homens responsveis [vv. 6-29]?). Ele afirma que Deus , de fato, absolutamente
soberano nas esferas espirituais, morais e ticas, e que ningum tem o direito de questionar
a prerrogativa ou propsito Divino.
A soberania absoluta e a natureza moral de Deus devem nos levar concluso de que
Deus no o autor do pecado, pelo fato dEle controlar completamente o mal de Suas
criaturas morais. Deus aquele grande e incompreensvel Absoluto, a fonte ltima de todo
o significado. Em ltima anlise, no h verdadeiro significado parte de Deus. O universo
criado e todos os fatos nele (sendo um fato criado) derivam seu significado de Deus e
devem ser interpretados por Ele. Assim, o mal em si deve ser, e s pode ser compreendido
e interpretado no contexto de Deus medida que Ele tem tido o prazer de revelar-Se nas
Escrituras. Assim, ao invs de fazer de Deus o autor do pecado, a predestinao no contex-
to da revelao bblica da Sua natureza e carter, preserva Deus dessa acusao e uma
garantia de Sua perfeio moral absoluta.
A f ou confiana do Cristo em Deus como Ele revelado nas Escrituras. Sua espe-
rana e conforto no descansam apenas na onipotncia ou soberania absoluta de Deus,
embora tais verdades so certamente reconfortantes e encorajadoras. A esperana ltima
do crente repousa sobretudo na auto-consistncia do carter moral de Deus que Ele
absolutamente justo, bom e verdadeiro, gracioso e misericordioso; que Ele no pode mentir,
e que Suas promessas permanecem fiis. A verdade, glria e esperana de Romanos 8:28
Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem que Deus
moralmente auto-consistente e Seu propsito infalivelmente resultar em Sua prpria glria
e no bem maior20. A verdadeira f bblica no meramente ou somente intelectual; ela
tambm inclui um compromisso sem reservas e uma confiana em uma Pessoa infinita e
na auto-consistncia moral de Sua personalidade.
__________
[20] Romanos 8:28, (E sabemos [pela f, que vai muito alm de toda experincia])
(que para os que so caraterizados habitualmente como aqueles que amam a Deus)
(todas as coisas esto constante e conjuntamente trabalhando para o seu bem)
(para aqueles que so caracterizados como sendo chamados segundo o seu [eterno, infalvel]
propsito). O contexto (vv. 28-39), que contm o que de pior os homens podem fazer para os crentes, ainda
assim declara que o amor imutvel de Deus por meio de Cristo pertence a eles, o que demonstra a verdade
do verso 28. Observe que usado, e no , para enfatizar uma percepo que ultrapassa a
experincia e as relaes. Isto , necessariamente, a percepo de uma f que repousa no eterno e infalvel
propsito de Deus.
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2 Corntios 4
1 Por isso, tendo este ministrio, segundo a misericrdia que nos foi feita, no desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, no andando com astcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos conscincia de todo o homem,
na presena de Deus, pela manifestao da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho est
encoberto, para os que se perdem est encoberto. 4 Nos quais o deus deste sculo cegou os
entendimentos dos incrdulos, para que lhes no resplandea a luz do evangelho da glria
de Cristo, que a imagem de Deus. 5 Porque no nos pregamos a ns mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e ns mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, quem resplandeceu em nossos coraes,
para iluminao do conhecimento da glria de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porm,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelncia do poder seja de Deus, e no de ns. 8 Em tudo somos atribulados, mas no angustiados; perplexos, mas no desanimados.
9 Perseguidos, mas no desamparados; abatidos, mas no destrudos;
10 Trazendo sempre
por toda a parte a mortificao do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste tambm nos nossos corpos; 11
E assim ns, que vivemos, estamos sempre
entregues morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste tambm na
nossa carne mortal. 12
De maneira que em ns opera a morte, mas em vs a vida. 13
E temos
portanto o mesmo esprito de f, como est escrito: Cri, por isso falei; ns cremos tambm,
por isso tambm falamos. 14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitar
tambm por Jesus, e nos apresentar convosco. 15
Porque tudo isto por amor de vs, para
que a graa, multiplicada por meio de muitos, faa abundar a ao de graas para glria de
Deus. 16
Por isso no desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. 17
Porque a nossa leve e momentnea tribulao
produz para ns um peso eterno de glria mui excelente; 18
No atentando ns nas coisas
que se veem, mas nas que se no veem; porque as que se veem so temporais, e as que se
no veem so eternas.
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