2
O SBADO CRISTO: NO MAIS O STIMO DIA?
INTRODUO
Este trabalho acadmico tem como objetivo essencial, por mais humilde
que seja, desenvolver da forma mais detalhada possvel um tema que aos poucos
vem ganhando muita relevncia nos plpitos religiosos, mas que ainda assim
constitui um instituto normativo divino de grande importncia e aplicao prtica na
seara crist num sentido mais amplo o que nos impele, diante disto, a prosseguir
firmemente nesse mister.
Primeiramente, ser abordado o gnero no qual o tema principal desta
pesquisa se encontra subsumido, visto que o desconhecimento de suas origens, ao
menos mais prximas, constituiria bice a uma viso o mais didtica e ampla
possvel do que se pretende aqui perscrutar.
Passando pelo gnero, chegaramos finalmente s espcies, as quais se
enquadrariam na trilha principal que devemos nos embrenhar, e aps um
relativamente breve percurso e encontrando muitas pequenas ramificaes no
caminho tambm pertinentes e constituintes da grande trilha poderemos, enfim,
chegar ao nosso destino final, que nada mais poderia ser do que o objeto de desejo
menos cobiado e ainda assim, o mais difcil de se conseguir: o conhecimento
pretendido.
Pretendendo no desvelar, ainda nesta pgina, o mistrio de qual seja o
nome real desta trilha confabulada, deixamos assim que o leitor por si mesmo
descubra, ao folhear pgina por pgina, do que realmente se trata essa longa
estrada e seus postos ramificados, tal como os veios de um vivo corpo o so para
suas principais moradas.
Prossigamos corajosamente ento, sempre avante e adiante, no
temendo o porvir.
3
1 O SBADO COMO SMBOLO DO DESCANSO ETERNO EM CRISTO
Objetivando uma melhor compreenso do Sbado como uma sinalizao
a apontar para o futuro descanso da redeno que Deus realizaria em favor de Seu
povo e, outrossim, que o stimo dia no consubstanciaria apenas um lembrete do
descanso que ocorreu aps os seis dias da Criao, que se torna imperativo uma
anlise mais aprofundada sobre o tema.
1.1 O RICO SIGNIFICADO DO DESCANSO SABTICO
Primeiramente, preciso que visualizemos sob que aspecto a nfase do
mandamento do sbado de Deuteronmio 5:12-15 diferiria da nfase dada ao mesmo mandamento em outra passagem bblica, a saber, xodo 20:8-11. Segue o paralelo das passagens:
Guarda o dia de sbado, para o santificar, como te ordenou o SENHOR, teu Deus. (...) porque te lembrars que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mo poderosa e brao estendido; pelo
que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sbado.
(Deuteronmio 5:12-15).
Lembra-te do dia de sbado, para o santificar. (...) porque, em seis dias, fez o SENHOR os cus e a terra, o mar e tudo o que neles h e, ao stimo dia,
descansou; por isso, o SENHOR abenoou o dia de sbado e o santificou. (xodo
20:8-11).
Na ocasio de Deuteronmio 5:12-15, Moiss lembrou aos israelitas que eles deveriam guardar o sbado porque Deus os tinha livrado do Egito. O texto no
diz nada sobre os seis dias da criao nem sobre o sbado sendo o descanso de
Deus. Em vez disso, a nfase est na salvao, libertao e na redeno; nesse
caso, redeno do cativeiro egpcio, que smbolo da verdadeira redeno que
temos em Jesus (1Co 10:1-3).
Em outras palavras, no h conflito entre os textos, nenhuma justificativa
para tentar usar uma passagem para negar a verdade de outra. Moiss estava
mostrando que as pessoas pertencem ao Senhor, em primeiro lugar pela criao, e,
em seguida, pela redeno.
4
Lendo tambm Ezequiel 20:12 e xodo 31:13, encontramos ainda outra
razo para a observncia do sbado, o stimo dia. Abaixo segue o paralelo desses
versculos:
Tambm lhes dei os meus sbados, para servirem de sinal entre mim e eles, para que soubessem que eu sou o SENHOR que os santifica. (Ezequiel 20:12).
Tu, pois, falars aos filhos de Israel e lhes dirs: Certamente, guardareis os meus sbados; pois sinal entre mim e vs nas vossas geraes; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica. (xodo 31:13).
As passagens acima, ao mencionarem a santificao, nos lembram de
que s Deus pode nos tornar santos. Somente o Criador pode criar um novo corao
dentro de ns.
Considere as trs razes retro para a observncia do sbado e como elas
esto relacionadas. Primeira: guardamos o sbado em reconhecimento do fato de
que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no stimo. Segunda:
observamos o sbado porque Deus Aquele que nos redimiu e nos salvou em
Cristo. Terceira: guardamos o sbado porque Ele o nico que nos santifica, o que
ocorre apenas pelo poder criador de Deus (Sl 51:10; 2Co 5:17).1
1.1.1 O DOMINGO COMO PROCLAMADOR DO DIREITO DIVINO CRIAO?
Alguns irmos afirmam que s por ocasio da Sua ressurreio que
Jesus teria feito o universo entender que Ele seria, por direito, o Senhor de tudo que
existe. Mas essa uma afirmao que terei data maxima venia de discordar.
Isso porque, independentemente da queda da humanidade, Jesus, como sendo
Criador de todo o Universo, continuaria tendo o Direito a todas as coisas por Ele
criadas. E o dia que fora sinalizado por JEOV como sendo o memorial do Seu ato
criativo e, consequentemente, patenteando perante todo o Universo Seus direitos
Autorais quanto a este mundo, fora justamente o stimo dia e no o primeiro.
Alm disso, para que possamos melhor compreender as implicaes
espirituais da Sua ressurreio, preciso antes tambm entender o que ocorreu na
__________ 1 Cf. GIBSON, L. James. Origens. 1. ed. So Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013. p 135.
5
Cruz do Calvrio. Ali Jesus pagou o preo da dvida que nos condenava morte.
Pelos Seus mritos venceu por ns uma batalha que jamais poderamos pelejar por
nossas prprias foras. Sob este aspecto, ao consumar a Sua obra redentiva na
Cruz, Ele no s continuou a ter o mesmo Direito (inerente Criao) de ser o nosso
Deus, como tambm, pelos Seus mritos (repito), passou a ser o nosso Deus por
MERECIMENTO. Somos duplamente Dele, primeiro pela Criao, e, depois, pela
Redeno. Ilustro este pensamento com a seguinte histria, in verbis:
Um garoto havia feito um pequeno barco, todo pintado e preparado com
muita beleza. Certa vez, algum roubou seu barco, e ele estava angustiado. Um dia,
ao passar por uma casa de penhores, ele viu seu barco. Com alegria, correu ao
dono da casa, e disse: Esse o meu pequeno barco! No, disse o homem, ele
meu, porque eu o comprei. Sim, disse o garoto, mas ele meu, porque eu o fiz.
Bem, disse o penhorista, se voc me pagar dois dlares, pode lev-lo. Era muito
dinheiro para um menino que no tinha um centavo. Em todo caso, ele resolveu
compr-lo. Assim, ele cortou grama, fez todo tipo de trabalhos pequenos, e logo
obteve o dinheiro.
Ele correu at a loja e disse: Eu quero o meu barco. Ele entregou o
dinheiro e recebeu seu barco. Ele pegou o barco em seus braos, o apertou, o
beijou e disse: Amo voc, querido barquinho. Voc meu! Voc meu duas vezes.
Eu fiz voc, e agora eu comprei voc.
Assim acontece conosco. Em certo sentido, somos duas vezes do
Senhor. Ele nos criou, e entramos na casa de penhores do diabo. Ento, Jesus veio
ao mundo e nos comprou a um terrvel custo. No foi prata nem ouro, mas Seu
precioso sangue. Somos do Senhor pela criao e pela redeno (William Moses
Tidwell, Pointed Illustrations [Ilustraes Selecionadas], Kansas City, Missouri:
Beacon Hill Press, 1951, p. 97)
1.2 HEBREUS 4:1-13
Demais, pesquisando este assunto com mais profundidade, conclu que o
texto de Hebreus 4:1-13 tambm no deve ser usado, como prova por si s
suficiente, de que o repouso sabtico fora transmudado para o primeiro dia da
semana. Pelo que pude inferir, permaneceria inaltervel, aps a morte de Cristo, o
sbado do stimo dia ao tomarmos como base to s os versculos retro. Embora o
6
tema ventilado nessa passagem no seja o dia santificado, ele nos traz uma
profunda mensagem referente ao sbado do stimo dia.
Para uma boa compreenso deste problema, preciso estudar os
captulos 3 e 4 da carta aos Hebreus, ou o contexto deste verso. Pela leitura se
conclui que o autor da carta mostra como o povo judeu, do tempo de Moiss e
Josu, no conseguiu entrar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade.
Quando Deus tirou a Israel do Egito Ele disse a Moiss: A minha
presena ir contigo, e eu te darei descanso. xo. 33:14.
Para Moiss e Israel estas novas eram muito agradveis aps um perodo
de lutas e agitaes no Egito.
As promessas de descanso eram condicionais:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes a
minha aliana, ento sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. . ..
Israel, muito interessado em entrar na Terra prometida, sempre se lembrava das
promessas, mas se esquecia de cumprir as condies. Sabemos que por sua
incredulidade quase todos morreram no deserto, sem desfrutarem da Terra
prometida.
Foi a este mesmo descanso que Jeremias se referiu quando disse:
Ponde-vos margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual o
bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas.. . . Jer.
6:16.
O livro de Hebreus tem como centro a obra de Cristo para salvar a
humanidade. Os captulos 3 e 4 constituem um apelo para que o povo no falhasse
em entrar no repouso divino, como havia acontecido aos filhos de Israel durante as
vagueaes pelo deserto.
O descanso aqui mencionado a libertao das tribulaes, tragdias,
angstias e dores aps a segunda vinda de Cristo. Este descanso seria uma
maneira diferente de falar da salvao que Deus nos oferece.
Norman Russell Champlin em O Novo Testamento Interpretado Versculo
por Versculo, Vol. 59, pg. 513, assim se expressou sobre o descanso de Hebreus
3 e 4:
A fim de que se aplique bem a passagem do A.T., em considerao, o
termo chave descanso deve assumir um sentido diferente daquele que foi
obviamente empregado no caso da gerao do deserto. Ali a palavra indicava uma
7
vida pacfica e estabelecida em Cana, a Terra prometida. Portanto, esse termo
tinha um sentido essencialmente fsico. Para os judeus cristos, porm, era
necessrio dar-lhe um significado espiritual, equivalente ao entrar nas bnos do
mundo espiritual. Todavia, essa modificao no foi feita pelo prprio autor sagrado.
Primeiramente, isso faz parte inerente do prprio A.T., pois, apesar de que Israel
buscava um descanso terreno, por outro lado sempre houve o ensino de seu
paralelo celeste, o bem-estar espiritual, embora os pensamentos sobre o outro
mundo no tenham sido definidos do mesmo modo como o no cristianismo,
sculos mais tarde.
Uma pergunta natural que vem nossa mente esta: Em que tempo o
cristo entra para este repouso? Quando aceita a Cristo ou apenas aps a sua
segunda vinda?
O estudo do contexto, especialmente das palavras resta (katakeipo), hoje
(semeron) e entrar (eiserkomai) nos do a idia de que o repouso est nossa
disposio no presente. Este descanso pode ser parcialmente desfrutado agora,
mediante a lealdade a Cristo, mas a apropriao plena deste descanso s ser
possvel no futuro, na Nova Terra.
O livro Consultoria Doutrinria da Casa Publicadora, pg. 161, declara:
Quando o homem angustiado e perdido abandona seus prprios esforos e lutas,
suas prprias obras, sua justia prpria e seus pecados, e se rende inteiramente a
Deus atravs de Cristo e de sua justia imaculada, ele entra no princpio desse
repouso, e esse repouso se completar, quando o homem entrar na Terra renovada
por ocasio da segunda vinda de Cristo.
Uma outra pergunta que nos ajuda a reflexionar a seguinte: Como se
entra para este repouso? A resposta se encontra no captulo 4 verso 3. Este o
repouso no qual entraro os crentes e do qual fala Jesus em Mat. 11:28 e 29. Vinde
a mim. Porque ns, os que cremos, entramos neste descanso. Crer ter f,
obedecer, ter confiana em Deus.
Esta oportunidade no estar para sempre nossa disposio, por isso
Heb. 3:13, 15, nos mostra que ela deve ser aproveitada hoje. Este privilgio est
disposio de todo aquele que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal.
Atravs de Hebreus 3 e 4 Paulo usa 9 vezes o termo repouso katapausis,
como o alvo a ser atingido, mas em Heb. 4:9 surge uma palavra diferente para
repouso sabbatisms, que apropriadamente pode ser traduzida por descanso
8
sabtico.
A palavra usada como repouso aqui diferente da que tem sido
empregada em toda a primeira parte do comentrio (katapausis) . . . A palavra
significa o repouso de um sbado, e fornece um importante elo de ligao no
argumento, indicando o fato de que o repouso que o autor tem em vista o repouso
de Deus, uma concepo muito mais alta de repouso, do que qualquer espcie de
descanso que Cana pudesse tipificar de modo adequado. O sbado, que em II
Macabeus 15:1 chamado o dia de repouso, tipo mais aproximado do cu do que
Cana. Farrar, Cambudge, Greek Testament, Epistle to the Hebrews, pg. 88.
Os estudiosos so unnimes em declarar que o termo sabbatisms foi
criado pelo autor de hebreus, j que em nenhum documento ou inscrio esta
palavra foi encontrada.
Qual a razo do emprego desta nova palavra?
Tudo indica que o apstolo est unindo a mais profunda experincia de
repouso, qual Deus convida seu povo, com o smbolo da f que o prprio Deus
instituiu, o sbado. Em outras palavras, sendo katapausis o smbolo do repouso de
Deus em Cristo, ele nos relembra o repouso do sbado como cessao das nossas
obras, assim como Deus cessou das Suas no stimo dia da Criao.
Como bem asseverou Russel Norman Champlin em O Novo Testamento
Interpretado, ao explicar Hebreus 4:9: O autor sagrado criou um vocbulo, que fala
ao mesmo tempo, de descanso e de sbado. E foi assim que ele obteve dois
resultados:
1) Ele distinguiu esse descanso restante de qualquer outro descanso.
2) Ele o identifica com o prprio descanso de Deus, o qual no quarto
versculo, visto como algo que ocorreu no stimo dia, quando toda a obra da
criao se completara.
Aps citar Heb. 4:9, uma conhecida autora crist diz:
O repouso aqui mencionado o repouso da graa, que se obtm
seguindo o preceito: Trabalhai diligentemente. . . . Aqueles que no esto dispostos
a prestar ao Senhor um fiel, zeloso e amorvel servio no acharo repouso
espiritual nesta vida nem na vida porvir. Apenas de um diligente trabalho provm a
paz e o gozo no Esprito Santo felicidade sobre a Terra e glria no alm. The
SDA Bible Commentary.
O pastor Jerry N. Page em artigo no Ministry, junho 1978, pg. 13, com
9
muita propriedade assim se expressou sobre o repouso de Heb. 4:9:
Embora o sbado seja mencionado apenas incidentemente em um
contexto que enfatiza a disponibilidade do repouso da salvao para o homem, o
repouso de Deus, no stimo dia da semana da Criao, revela que o sbado um
smbolo, uma amostra do repouso da graa. Da mesma forma que o homem
comunga com Deus pela f e desse modo obtm o repouso, assim aconteceu no
domnio do tempo, de modo que esta comunho encontra sua suprema expresso
na simblica ddiva divina do sbado. Quando nosso autor introduz o conceito do
repouso divino, no por coincidncia que ele faz um trocadilho pela introduo da
palavra sabbatisms. A relao entre o repouso divino como experincia e o sbado
como seu smbolo de maneira conveniente explicada por E. J. Waggoner: O
repouso no den era repouso sabtico. O sbado um pedao do den que nos
resta, at que o den seja novamente restaurado; aquele que guarda o sbado
como Deus o fez, como Deus o concedeu para ser guardado, goza do repouso que
o Senhor Jesus Cristo tem no cu. Mas como pode algum guard-lo? pela f!
O sbado como um smbolo da realidade do repouso espiritual tem
implicaes com a futura, bem como com a passada e a presente salvao. O
sbado um elo especial com a consumao do prometido repouso de Deus. . . O
sbado, como smbolo daquele repouso eterno , num sentido especial, o sinal entre
Deus e seu verdadeiro povo do concerto (Ezeq. 20: 12). Ele o antegozo do eterno
repouso e comunho vindoura com Aquele que o fundamento de nossa confiana
e nosso Criador, Jesus Cristo. O sbado um smbolo do profundo repouso de Deus
no qual entramos agora, enquanto aguardamos a experincia ainda mais completa
da qual partilharemos se conservarmos firmes nossa confiana e esperana at o
fim.
Concluo com as palavras de Vincent em Word Studies in the New
Testament, Vol. IV, pg. 420:
A salvao crist, aps ter sido exposta como a autoridade (de Cristo)
sobre o mundo vindouro, como o livramento do temor da morte, agora apresentada
como a participao no descanso de Deus. O propsito dos versculos primeiro a
dcimo primeiro do quarto captulo (de Hebreus) consiste em confirmar a esperana
desse descanso, advertindo contra a possibilidade de perd-lo. O descanso de Deus
foi proclamado aos nossos antepassados; mas no entraram no mesmo devido
sua incredulidade. Tal descanso tambm nos foi proclamado. E podemos falhar
10
como aqueles falharam, e devido mesma razo.
Do livro Reposo Divino para la Inquietud Humana, de Samuel
Bacchiocchi, no captulo O Sbado Mensagem de Redeno, pgs. 127-132,
retirei os seguintes pensamentos esparsos por serem os mais expressivos:
Neste captulo vamos ver de que maneira o sbado tem sido utilizado na
Bblia por Deus, para dar a seu povo um vislumbre de sua salvao presente e
futura.
Anteriormente vimos, como a bno e santificao do sbado so a
expresso do desejo divino de transmitir aos homens vida abundante por meio de
sua presena.
Quando o pecado arruinou as perspectivas de uma vida feliz na presena
de Deus, o sbado se converteu no smbolo do empenho divino para restabelecer
essas relaes rompidas aps a queda.
Havendo identificado em Heb. 4:4 a promessa que Deus fez de um
repouso para seu povo com o descanso do sbado, o autor se sente livre para
substituir no versculo 9 a expresso comum para descanso katapausis, pelo termo
mais especfico de repouso sabtico sabbatisms. Que este vocbulo se refere
explicitamente observncia do stimo dia, est provado pelo significado que este
termo tem nos escritos de Plutarco, Justino Mrtir e Epifnio, entre outros. Ademais,
o verbo afim sabbatizo repousar empregado vrias vezes na Septuaginta
referindo-se claramente observncia do sbado (conf. xo. 16:30; Lev. 23:32; II
Crn. 36:21). Estes fatores advogam decisivamente em favor da interpretao de
sabbatisms repouso sabtico, como uma referncia ao descanso do povo de
Deus (4:7) no stimo dia. De outro lado, aquele repouso de Deus que os israelitas
encontraram ao chegar terra prometida atualiza-se no sbado, de maneira que
resta um repouso sagrado para o povo de Deus (4:9). Porm, por outro lado, esse
descanso tem adquirido uma nova dimenso com a vinda de Cristo (4:3, 7).
Para o autor de Hebreus, como disse Gerhard von Rad, a finalidade
ltima da criao e a finalidade ltima da redeno se identificam na realizao dos
objetivos, que Deus havia simbolizado no descanso do sbado.
O conceito de repouso sabtico menuhah, como explica Abraham
Joshua Heschel, significa na mentalidade bblica felicidade e tranquilidade, paz e
harmonia. A paz e o repouso do sbado, como aspiraes polticas, permaneceram
geralmente sem ser cumpridas, e se converteram em smbolos da era messinica,
11
chamara o fim dos tempos ou o mundo por vir. Teodoro Friedman observa que
duas das trs passagens nas quais Isaas menciona o sbado esto relacionadas
com o tempo do fim (Isa. 56:4, 6; 58;13, 14; 66:22, 24) . . . No uma mera
coincidncia que Isaas empregue as palavras alegria (oneg) e honra (havod) tanto
em suas descries do sbado como nas do dia da restaurao final (58:13
considera este dia como dia de alegria. . . e digno de honra conf. 66:10). A razo
clara: a alegria e o gozo que caracterizaram aquele dia esto ao nosso alcance, aqui
e agora, no sbado.
A literatura rabnica e apocalptica tardia proporciona exemplos mais
especficos do sbado concebido como uma antecipao do mundo por vir.
O tema do sbado, como sinal de liberao, aparece em diferentes
formas no Antigo Testamento e na literatura judaica posterior. Sua condio de dia
de descanso, faz que o sbado seja a primeira vez um smbolo e um agente de
liberao fsica e espiritual particularmente eficaz. O fato de que o sbado
proporcione liberdade da opresso do trabalho o converte na mais afetiva expresso
da redeno divina. Da a razo do sbado aparecer frequentemente associado com
o tema da salvao.
12
2 O DOMINGO O SMBOLO DIVINAMENTE DETERMINADO PARA CELEBRAO DA RESSURREIO?
Perscrutando as escrituras em busca de evidncias que indicassem ter
sido o primeiro dia da semana2 estabelecido como o dia de adorao aps a
redeno, me deparei com algumas intrigantes ilaes.
2.1 JESUS APARECEU AOS SEUS DISCPULOS REUNIDOS NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA
"Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas
da casa onde estavam os discpulos com medo dos judeus, veio Jesus, ps-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!" (Joo 20:19)
Os discpulos estavam reunidos no primeiro dia da semana, mas
observamos que o objetivo no era religioso, visto que eles estavam assim reunidos
por medo dos judeus. Veja que eles tambm no sabiam que Jesus havia
ressuscitado, e existem duas passagens bblicas paralelas que provam isso. A
primeira delas est em Marcos 16:11-14, e lemos o seguinte:
Estes, ouvindo que ele (Jesus) vivia e que fora visto por ela, no
acreditaram. Depois disto, manifestou-se em outra forma a dois deles que estavam
de caminho para o campo. E, indo, eles o anunciaram aos demais, mas tambm a
estes dois eles no deram crdito. Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando
estavam mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de corao, porque no
deram crdito aos que o tinham visto j ressuscitado."
E a segunda passagem a provar que os discpulos no tinham
conhecimento da ressurreio, tanto que ficaram surpresos e atemorizados, pois
acreditavam estarem vendo um esprito, podemos encontrar em Lucas 24:36-46.
No foi a toa que Jesus lhes indagou: Por que estais perturbados? E por que
sobem dvidas ao vosso corao?
Deste modo, foi preciso que Jesus "lhes abrisse o entendimento para
__________ 2 O Domingo. primeira vista, Sunday [Sun = dia Day = sol], o nome ingls do domingo, no parece ter significado cristo. De fato, a palavra inglesa de origem pag, uma lembrana do culto ao sol no mundo antigo. Entre os romanos, esse era o dies solis, o dia consagrado ao deus-sol.
13
compreenderem as Escrituras", as quais revelavam que Ele ressuscitaria no terceiro
dia, para s ento seus seguidores poderem passar a crer; em outras palavras, os
discpulos no criam na ressurreio de nosso Senhor quando decidiram se reunir
tarde no domingo. Se reuniram por estarem com medo de que, assim como mataram
o seu Senhor, os judeus viessem a persegui-los e mata-los tambm.
Digo isso porque algumas pessoas dizem que eles estavam reunidos
porque sabiam que Jesus j tinha ressuscitado e estariam, pela suposta cincia
deste fato, comemorando assim a ressurreio. Mas vimos acima que, no dia de
domingo, eles nem haviam entendido ainda que Jesus havia ressuscitado. E, pelo
que pude compreender das Escrituras, para comemorar a Sua ressurreio, Jesus
previamente j houvera estabelecido o batismo por imerso; podemos ler isso em
Romanos 6, nos versculos 3 em diante. Deste modo, possvel compreender qual
fora a forma divinamente instituda para a comemorao da ressurreio do Filho de
Deus, verbis: porventura, ignorais que todos ns que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glria do Pai, assim tambm andemos ns em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhana da sua morte, certamente, o seremos tambm na semelhana da sua ressurreio (Romanos 6:3-5).
As escrituras so claras ao afirmarem que o rito estabelecido por Deus
para a memria e celebrao da ressurreio reside na instituio do batismo por
imerso; uma vez que entramos nas guas batismais ns estamos sendo sepultados
juntos com Jesus. O velho eu egosta ali morre. E quando ns nos levantamos das
guas batismais, estamos ento, simbolicamente, ressuscitando para uma nova vida
em Cristo Jesus.
2.2 O DIA QUE O APSTOLO PAULO ELEGERA PARA O DESCANSO
Na cidade de Corinto, Paulo trabalhou um ano e meio fazendo tendas. O
fato de que se dedicasse a uma atividade no religiosa durante um tempo to
prolongado nos ajuda a descobrir o dia em que ele repousava e que, desta maneira,
ele reservava para as atividades religiosas. Atos 18:3, 4 nos do essa resposta:
E, posto que eram do mesmo ofcio, passou a morar com eles e ali
trabalhava, pois a profisso deles era fazer tendas. E todos os sbados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos. (Atos 18:3-4). E caso
14
voltemos a nossa pgina um pouquinho s, para atos 16:13, voc ir encontrar nas
viagens de Paulo algo muito interessante, que faz bem prestarmos ateno:
"No sbado, samos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver
um lugar de orao; e, assentando-nos, falamos s mulheres que para ali tinham
concorrido." (Atos 16:13). E isso muito curioso, vez que os cristos, mesmo muito
tempo depois de Jesus Cristo ter ressuscitado, estavam guardando o sbado, e o
mais interessante que essas pessoas crists no faziam parte do povo judeu, o
que facilmente identificado em razo de ali nos ser dito o nome deles: "Certa
mulher, chamada Ldia, da cidade de Tiatira, vendedora de prpura, temente a
Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o corao para atender s coisas que Paulo
dizia." (Atos 16:14). Minha irm, que Deus seja louvado, porque a bblia clara a
este respeito.
E se o apstolo Paulo realmente entendesse que o sbado, o stimo dia,
no devesse mais ser observado, ento porque ele no aproveitaria esta
oportunidade e daria o exemplo aos irmos gentios recm-convertidos acima
citados, de modo a no deixar mais dvidas quanto a sua suposta mudana para o
domingo? No entanto, o que vemos justamente o oposto.
2.3 O PRIMEIRO DIA DA SEMANA NO NOVO TESTAMENTO
Passo agora a uma breve anlise de todas as passagens do NT que se
referem diretamente ao primeiro dia da semana. O objetivo a localizao dos
trechos autorizadores da mudana do sbado para o domingo3. So ao todo oito
passagens que encontrei.
1) No findar do sbado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro (Mt 28:1). O verso apenas diz que
elas foram ao sepulcro no primeiro dia da semana, aps o sbado, pois elas haviam
descansado no sbado em obedincia ao mandamento (cf. Lc 23:54-56). Este texto
foi escrito no ano 62 d.C., 31 anos depois da ressurreio de Jesus. Deste modo, a
__________ 3 Na Bblia o primeiro dia da semana nunca chamado de domingo. Nem chamado de dia santo, nem nela expressamente existem indicaes no sentido dele ter sido separado como um dia de adorao.
15
partir deste verso ainda nada possvel inferir sobre a santificao do primeiro dia
da semana, para fins de guarda, posteriormente ressurreio de Cristo.
2) E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao tmulo (Mc 16:2). Outro verso que apenas faz o relato de que as mulheres foram
ao sepulcro no primeiro dia da semana, e apresenta que s foram neste horrio
porque o sbado j havia passado (cf. Mc 16:1). Nada fala sobre a santidade do
domingo, e ainda confirma que elas guardavam o sbado do Senhor.
3) Havendo ele ressuscitado de manh cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demnios (Mc 16:9).
Apenas mais um relato sobre o momento histrico no qual Jesus ressuscitou. Mais
uma vez, nada apresentado sobre uma suposta santidade do domingo como dia
da ressurreio de Cristo.
Registre-se tambm o fato deste texto tambm ter sido escrito 31 anos
aps a ressurreio de Jesus. Alm de no nos permitir deduzir nada sobre a guarda
do domingo, possvel tambm notar que Jesus teve todo o cuidado de no violar o
sbado nem na sua morte. Da mesma forma como repousara aps a concluso do
ato de criao em Gnesis, igualmente repousara aps a concluso da obra da
Redeno em Cristo Jesus. Seus trabalhos de criao e redeno foram realizados
honrando o Sbado.
4) Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao tmulo, levando os aromas que haviam preparado (Lc 24:1). Como o ltimo verso
do cap. 23 deixa claro que aquelas mulheres guardavam o sbado, foi s passar o
pr-do-sol e elas foram ao sepulcro realizar o trabalho que havia sido deixado por
fazer, para no se transgredir as horas santas do sbado do Senhor (cf. Lc 23:54-
56). Assim, at aqui ainda no consegui visualizar algo que ateste para a santidade
do domingo.
5) No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de
madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra estava revolvida (Joo 20:1).
Apenas a repetio das passagens anteriores. No possvel questionar
biblicamente que Jesus ressuscitou no domingo (louvado seja o SENHOR por isso!),
16
mas dizer que, to somente por este motivo, este dia estaria agora no lugar do
sbado, seria acrescentar palavras no passveis de serem depreendidas to s
com o emprego dessas passagens. At aqui ainda estou esperando para ver onde
estaria a tal autorizao para mudar o sbado para o domingo.
[Abro aqui um parntesis]. Veja nas Escrituras quo solenemente o
stimo dia vinha sendo anunciado por Deus como o nico dia de guarda ao longo de
toda a trajetria do povo de Deus especialmente at a vinda do Messias. E no
foram somente os Israelitas a guarda-lo, visto que o sbado e sua santidade foram
institudas l no den, muito antes no s da queda do homem, como, com mais
forte razo ainda, antes de Abrao e Moiss. E se algo to solene e enfatizado
assim pelo Rei de todo o Universo devesse ser mudado, seria esperado ao menos
uma clara e expressa declarao do mesmo Eterno Deus no sentido de alterar o Seu
repouso semanal do stimo para o primeiro dia do ciclo semanal. [fecho o
parntesis]
6) Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discpulos com medo dos judeus, veio Jesus, ps-
se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco (Joo 20:19). O texto muito claro em
afirmar o motivo pelo qual eles estavam reunidos: o medo dos judeus. No tinha
nada que ver com um culto ou missa dominical. O v. 26 diz que oito dias depois
Jesus Se apresentou novamente para os discpulos. Jesus encontra-os ainda
escondidos dos judeus, com as portas trancadas, e aproveita para apresentar-Se a
Tom, que estava ainda duvidando de Sua ressurreio. Nada ainda encontramos
sobre a autoridade de mudar o sbado para o domingo. E olha que este seria um
bom momento para Jesus aproveitar e ensinar para os discpulos que o domingo
agora deveria ser o dia de guarda. Mas o estranho por que Ele no procedera
desta forma. Se, no velho testamento, o Senhor escrevera Ele mesmo os dez
mandamentos em tbuas de pedra, com o Seu prprio dedo, e em meio a claras
manifestaes de Seu poder e Sua Glria, porque agora no faria nem sequer uma
simples declarao como, p. ex., lembra-te do primeiro dia da semana para o
santificar, porque no primeiro dia da semana o SENHOR ressuscitou? Mas nada.
Nada pudemos encontrar at agora que indique a expressa mudana do quarto
mandamento.
17
7) No primeiro dia da semana, estando ns reunidos com o fim de partir o po, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o
discurso at meia-noite (At 20:7). O motivo pelo qual os discpulos estavam
reunidos neste primeiro dia da semana revelado no prprio texto bblico: Paulo
estava para viajar no dia seguinte.
Registre-se que, como cedio, nos tempos de Cristo, tanto romanos
quanto judeus observavam o comeo e trmino dos dias mediante o pr do sol do
perodo de 24 horas imediatamente antecedente (incio do dia) at o pr do sol
seguinte (final do dia). Em outras palavras, os dias eram contados de um pr do sol
at o outro. Assim, p.ex., o pr do sol de quinta-feira, j seria (consoante essa forma
bblica de contagem do tempo) o comeo da sexta-feira! Dia este que s terminaria
no pr do sol da prpria sexta-feira (que para ns atualmente, e de forma diversa
daqueles tempos, s iniciaria e terminaria aps a meia-noite).
Tendo isso em mente, ao ser descrito em atos 20:7 que o apstolo Paulo
estaria reunido no primeiro dia da semana a fim de partir o po, podemos
facilmente inferir que no se tratava de uma reunio que se iniciara no primeiro dia,
mas sim no stimo dia, indo at depois do pr do sol, e, consequentemente, tendo
seu prosseguimento num domingo, o qual comeara justamente no pr do sol deste
mesmo sbado. O fato de que estaria to escuro que fora preciso o ambiente ser
iluminado por muitas lmpadas no cenculo onde estavam reunidos somente
atesta para esta realidade, pois se a reunio ali descrita tivesse se estendido aps o
pr do sol de um domingo (e indo at a meia-noite) como dizem alguns, no mais
poderia ter sido no primeiro dia da semana a reunio no cenculo tal como descrita
em atos 20:7, mas sim, e em completa contradio lgica, no segundo dia da
semana, a segunda-feira.
Mas como sabemos que tal reunio se deu estando j no primeiro dia da
semana, o qual se iniciou a partir do pr do sol de sbado, e findou a meia-noite,
temos a certeza de que o dia em que Paulo decidiu seguir viagem no poderia
logicamente ter sido na segunda, pois para que assim fosse, o apstolo teria de
esperar at o pr do sol de domingo, quando ento se iniciaria o segundo dia da
semana, para s ento poder prosseguir viagem. E sabemos quo perigoso era
viajar aps o crepsculo naqueles tempos. Da porque fcil ento deduzir que a
viagem se deu quando ainda havia claridade solar no domingo, o dia seguinte ali
mencionado.
18
Ante o exposto, a interpretao desse primeiro dia dependeria da
maneira como pensamos que Lucas contava o dia: como os judeus (a partir do pr
do sol) ou como a nossa sociedade atual (a partir da meia-noite).
Refora este entendimento a traduo do texto grego conferida pela Bblia
na NTLH, na qual se optou pela expresso sbado noite ao invs de primeiro dia
da semana: No sbado noite ns nos reunimos com os irmos para partir o po.
Pois conforme vimos, Paulo falou nessa reunio e continuou falando at a meia-
noite, pois ia viajar no dia seguinte. No texto grego, porm, no existe nenhuma
expresso que possa ser traduzida por primeiro dia da semana. No Novo
Testamento Interlinear, que traduz, rigorosamente, palavra por palavra, do grego
para o nosso idioma, o versculo encontra-se traduzido da seguinte maneira:
Em, porm, o um dos sbados, tendo conduzido juntos ns quebrar po, o Paulo
discursava-lhe, estando para ir-se de no sobre a manh, estendeu ao lado e a
palavra at meia noite.
Seguindo essa traduo, mais uma ver corroborada a concluso de que
o culto em Trade comeou durante o sbado, isto , antes do pr-do-sol, e no no
domingo noite, e prolongou-se at a meia-noite. Ademais, outro fato grave que a
traduo do Novo Testamento Interlinear deixa claro que as verses RA e RC
traduziram erroneamente o versculo. Obviamente, esses problemas de traduo
no so puramente produtos da ignorncia ou descuido, pois os que fazem parte
das equipes de traduo que so na maior parte contra a observncia do sbado,
como dia de adorao e descanso so algumas das maiores autoridades quando o
assunto a ser tratado se refira ao domnio da lngua grega.
Tendo isso em mente, uma traduo correta do texto grego poderia ser:
No sbado, estando ns reunidos com o fim de partir o po, Paulo, que devia seguir
viagem no dia imediato, exortava-os.
E esse dia escolhido por Paulo para prosseguir a sua viagem, ainda num
domingo, s refora mais o respeito que o apstolo tinha para com a instituio
divina do stimo dia, vez que esperara no s o sbado passar, como tambm a
primeira parte escura (a tarde ou noite) do dia de domingo tambm passar, para
s na parte clara (a manh) do primeiro dia da semana iniciar ento a sua viagem.
mesmo estranho para ns hoje esta contagem dos dias, com o dia comeando
noite (tarde) e terminando aps cessar a parte clara do dia (a manh) com o
crepsculo. Para entender melhor cito uma breve passagem, verbis:
19
Quando Deus criou o mundo, o fez em seis dias, descansando no stimo. Gnesis captulo 1 e 2:1-3. interessante observar que aps cada dia, o escritor bblico registra: "houve tarde e manh, o primeiro dia" (verso 5); "houve tarde e manh, o segundo dia" (verso 8); "houve tarde e manh, o terceiro dia" (verso 13); "houve tarde e manh, o quarto dia" (verso 19); "houve tarde e manh, o quinto dia" (verso 23); "houve tarde e manh, o sexto dia" (verso 31). Voc percebeu? ... TARDE e MANH. Primeiro TARDE (a parte escura do dia), depois MANH (a parte clara). Assim comeou o mundo e assim eram contados os dias.
O Dicionrio da Bblia, de John D. Davis, esclarece que "Dia era o intervalo de tempo, compreendendo o perodo entre dois nascimentos sucessivos do sol. O dia na Bblia era de uma tarde at a outra. De um pr do sol a outro (Lev. 23:32; xodo 12:18). Este modo de medir o tempo baseava-se no costume de calcular os meses pelo aparecimento da lua nova. A designao exata do dia civil compreendia a tarde e a manh, ou noite e dia (Daniel 8:14; II Cor. 11:25). Posto que a tarde servia de entrada para um novo dia, tambm fazia parte do dia natural, que restritamente falando, o completava. A tarde que dava incio ao dia quinze de Nis designada pela expresso "desde o dia quatorze do primeiro ms tarde, comereis pes asmos, at a tarde do dia vinte" xodo 12:18; compare com II Crnicas 35:1 e Levtico 23:32. Os dias da semana no tinham nome; eram designados por nmeros, com exceo do stimo dia que tinha o nome de sbado."
8) No primeiro dia da semana, cada um de vs ponha de parte, em casa,
conforme a sua prosperidade, e v juntando, para que se no faam coletas quando
eu for (1Co 16:2). Este o LTIMO dos oito nicos versos do Novo Testamento
que fala sobre o primeiro dia da semana. J vimos que as sete passagens anteriores
nada falam sobre a autorizao para os cristos mudarem o sbado para o domingo.
Resta agora analisar esta ltima passagem. Paulo est falando sobre uma ajuda que
seria enviada para os irmos da Judia (v. 1; cf. At 11:28-30). Os irmos no so
orientados a se reunirem no primeiro dia da semana para adorarem ao Senhor. O
apstolo d uma orientao para separarem sua contribuio em casa, muito
provavelmente junto com as provises semanais da prpria famlia. Quando Paulo
visitasse a cidade, as ofertas j deveriam estar todas prontas. O fato de os
discpulos se reunirem em um dia especfico, alm do stimo semanal, no faz de tal
dia um substituto do sbado do 4o mandamento, pois eles se reuniam diariamente
(cf. At 5:42). O que torna um dia santo a determinao de Deus, e isto acontece
na Bblia SOMENTE para o sbado (cf. Gn. 2:1-3; x 16:1-10: 20:8-11).
Analisamos TODAS as passagens do Novo Testamento que tratam do sbado, e
vimos que TODOS os discpulos e seguidores de Jesus guardaram este dia
normalmente, pois fazia parte do seu dia-a-dia. No h nenhuma cogitao entre os
discpulos sobre a mudana do sbado para outro dia qualquer.
20
3 A BBLIA E AS SUAS LEIS
Tendo em vista as diferentes vises e interpretaes das Escrituras no
que tange vigncia, validade e eficcia das normas nela contidas, acho oportuno
abrir este captulo com o escopo de melhor delimitar o tema e permitir uma mais
ampla compreenso dos objetos desta pesquisa. E como o sbado, tema central da
nossa discusso, um dos mandamentos constantes do declogo, uma das
espcies de leis presentes nas sagradas escrituras, de grande relevncia uma
maior elucidao da sua real natureza, origem e finalidades.
Contudo, dado o carter sucinto desta presente pesquisa, no ser
possvel um apropriado aprofundamento dos temas a serem aqui apresentados.
3.1 O QUE A LEI DE DEUS? O QUE SO OS DEZ MANDAMENTOS?
DECLOGO. Do grego deka dez logos razo, sentena. o conjunto dos Dez Mandamentos da Lei de Deus que, segundo a tradio bblica, foram
comunicados por Jeov a Moiss, no Monte Sinai, insculpidos em pedra, que os
israelitas conservaram na Arca da Aliana. Ele a explicitao mais essencial lei
natural. () o Declogo a sntese mais perfeita de toda a experincia moral e
religiosa da humanidade. o cdigo mais simples e mais fundamental sobre o qual,
em ltima anlise, repousam todas as legislaes que regulam o comportamento
humano. Em Pequena Enciclopdia de Moral e Civismo, p. 170. Muitas pessoas pensam que o Declogo foi dado apenas ao povo de
Israel, l no Monte Sinai, e que no serve mais para o povo de Deus, na atualidade.
O que podemos pensar disso? Certamente que aqui no cabe espao para uma
detida anlise sobre o tema, assim por hora colaciono os dizeres contidos no
Dicionrio Enciclopdico da Bblia, organizado pelo Dr. A. Van Den Born, e
publicado pela Editora Vozes Ltda. (catlica). Ele diz:
O dom da lei de Deus, porm, e particularmente o do declogo no era
destinado apenas para o Israel segundo a carne, mas tambm para o novo Israel,
que a Igreja de Cristo. Por isso o declogo vrias vezes citado no Novo
Testamento por Jesus e pelos apstolos. Coluna 363. Outra vez, a contribuio do Padre Jlio Maria, no mesmo livro:
Deus escreveu os mandamentos em duas pedras como no-lo indica a Bblia. ()
21
Na primeira pedra estavam escritos os mandamentos que indicam os nossos
deveres para com Deus e na segunda, estavam escritos os nossos deveres para
com os homens. () Os mandamentos da lei de Deus encontram-se no xodo e no
Deuteronmio (5:6-21). Op. cit., p. 86 e 95. Podemos ento concluir que:
a) Deus escreveu em tbuas de pedra, os Dez Mandamentos;
b) a primeira tbua tem os deveres do homem para com Deus; isto , o
amar a Deus sobre todas as coisas;
c) A segunda tbua tem os deveres do homem para com o homem; isto
, amar o prximo como a si mesmo; e
d) Os Dez Mandamentos se encontram, nas Sagradas Escrituras, nos
livros de xodo (captulo 20) e de Deuteronmio (captulo 5).
3.2 HAVIA UMA LEI DIVINA ANTES DO DECLOGO?4
Muitos acreditam que os Dez Mandamentos surgiram quando Moiss os
recebeu no monte Sinai, sendo at ento desconhecidos. Outros creem que Jesus
os substituiu por "dois novos" mandamentos, e um terceiro engano afirma que eles
foram destinados aos judeus e no precisam ser obedecidos pelos gentios. Estas
noes absurdas contrariam fortemente os ensinos da Bblia, e Deus aniquila
pessoalmente a primeira iluso ao declarar:
"Porque Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois
dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justia e o juzo. (...)
Na tua descendncia sero abenoadas todas as naes da terra; porque Abrao
obedeceu Minha palavra e guardou os Meus mandados, os Meus preceitos, os
Meus estatutos e as Minhas leis." (Gnesis 18:19; Gnesis 26:4-5 RA).
Estes versos declaram que Abrao seguiu e foi escolhido para ensinar a
conduta de vida estabelecida por Deus. Mas antes desse testemunho, Deus tinha
feito ele a seguinte recomendao: "(...) guarde a Minha aliana, tanto voc como
os seus futuros descendentes." (Gnesis 17:9 NVI). E ser que os descendentes de
__________ 4 Cf. O DECLOGO no den. IASD on-line TMA, S.l., s. d. Disponvel em: Acesso em 14 Jul. 2013.
22
Abrao foram igualmente zelosos com a aliana proposta por Deus, obedecendo os
ensinos que receberam? Vejamos:
"Ento, disse o Senhor a Moiss: Eis que vos farei chover do cu po, e o
povo sair e colher diariamente a poro para cada dia, para que Eu ponha prova
se anda na Minha lei ou no.
Dar-se- que, ao sexto dia, prepararo o que colherem; e ser o dobro do
que colhem cada dia. (...) Seis dias o colhereis, mas o stimo dia o sbado; nele,
no haver.
Ao stimo dia, saram alguns do povo para o colher, porm no o
acharam. Ento, disse o Senhor a Moiss: 'At quando recusareis guardar os Meus
mandamentos e as Minhas leis?'" (xodo captulo 16 RA).
Isso ocorreu no deserto de Sim, antes que os descendentes de Abrao
chegassem ao deserto do Sinai, onde receberam os Dez Mandamentos na sua
forma escrita (em duas tbuas de pedra) aps firmarem com o Senhor o pacto de
aliana (xodo 16:1; xodo 19:1-8). Agora surge as seguintes perguntas: Como
poderia Deus pr os israelitas prova em relao ao sbado do quarto mandamento
se eles ainda iriam receb-lo no monte Sinai? E por que os reprovou questionando:
"At quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?" (xodo
16:28).
O uso da locuo adverbial "at quando", que provm do hebraico
"'anah", e o uso dos substantivos "mandamentos" e "leis", que so respectivamente
tradues do hebraico "mitsvah" e "towrah", demonstram que os israelitas
conheciam tanto a observncia sabtica quanto outras instrues divinas, e vinham
a muito tempo negligenciando-as. Deus jamais teria testado-os naquela ocasio se
eles no conhecessem os Seus preceitos, isso seria injusto. Atravs de Abrao eles
receberam as orientaes que foram transmitidas desde a poca de Ado.
Outros exemplos bblicos tambm demonstram a existncia do Declogo
antes dele ser entregue no monte Sinai, tais como: o assassinato de Abel (Gnesis
4:8); promiscuidade e idolatria de vrios povos da antiguidade como de Sodoma e
Gomorra (Gnesis 18:20; Gnesis 19:4-5 cf. Romanos 1:18-32); Abro antes de se
tornar Abrao mentiu a respeito de seu parentesco com Sara (Gnesis 12:10-20);
Jos resistiu ao pecado de adultrio (Gnesis 39:7-23); enfim, esses atos no
poderiam ser classificados e condenados como pecaminosos se a lei de Deus no
existisse anteriormente para denunci-los (I Joo 3:4; Romanos 4:15; Romanos 7:7).
23
Pois "o pecado no levado em conta quando no existe lei." (Romanos 5:13 NVI).
3.2.1 FUNDAMENTOS DO DECLOGO
"Amars o Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua alma e
de todo o teu entendimento. Este o grande e primeiro mandamento. O segundo,
semelhante a este, : amars o teu prximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas." (Mateus 22:37-40 RA; Marcos
12:30:31).
Atravs de falsas interpretaes destes versos, existe o esforo em
substituir o Declogo pelos dois mandamentos citados por Jesus. Porm, sem
dificuldade alguma, percebe-se a leviandade nesta tentativa uma vez que os versos
de Mateus 22:37-40 so na realidade a resposta para a pergunta: "Mestre, qual o
grande mandamento na lei?"5 (Mateus 22:36 RA). Neste questionamento no se faz
qualquer aluso sobre alguma substituio da lei e seus respectivos preceitos; tanto
a pergunta quanto a resposta esto envolvidas em destacar o mandamento de maior
importncia.
Na expectativa de constranger Jesus, os fariseus interrogaram-No a
respeito dos mandamentos contidos na lei mosaica e esperavam que Ele indicasse
algum que no satisfizesse a pergunta. Mas, se decepcionaram ao receberem como
resposta os dois mandamentos que retm os princpios bases de toda a lei: amor a
Deus e amor ao prximo. A lei mosaica em sua totalidade esta alicerada sobre
estes fundamentos e Jesus simplesmente assinala o que j era ensinado pela
prpria lei: "Amars, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua
alma e de toda a tua fora. (...) amars o teu prximo como a ti mesmo."
(Deuteronmio 6:5; Levtico 19:18 RA).
Ao contrrio do que muitos imaginam, a resposta de Jesus no era algo
novo ou exclusivo do Novo Testamento, como se observa nestes versos6. E Joo
__________ 5 A palavra "lei" em Mateus 22:36 origina-se do grego "nomos" e no contexto da questo refere-se a lei de Moiss, ao conjunto de mandamentos da Torah. 6 A crena de que o preceito, "amars o teu prximo como a ti mesmo", originou-se com o Novo Testamento, ocorre pela interpretao errnea das seguintes palavras de Jesus: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei (...)" (Joo 13:34 RA). Jesus no afirmou que este preceito era "novo" no sentido de "indito" ou "recm estabelecido", mas, que era
24
chama ateno para isso ao dizer: "(...) peo-te, no como se escrevesse
mandamento novo, seno o que tivemos desde o princpio: que nos amemos uns
aos outros." (II Joo 1:5).
O apstolo Paulo tambm refere-se a esse alicerce ou fundamento da lei:
"(...) no adulterars, no matars, no furtars, no cobiars, e, se h qualquer
outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amars o teu prximo como a ti
mesmo. O amor no pratica o mal contra o prximo; de sorte que o cumprimento da
lei o amor." (Romanos 13:9-10 RA). Nota-se ainda que Paulo exemplifica este
assunto citando exclusivamente os mandamentos do Declogo, os quais alm de
estarem fundamentados no princpio do amor, so a base da lei mosaica(h). O amor
a Deus sempre estar sintetizado na obedincia aos quatro primeiros mandamentos
do Declogo, assim como o amor ao prximo desenvolver o respeito pelos seis
ltimos.
3.3 NA BBLIA H MENO A ESPCIES NORMATIVAS DIVERSIFICADAS?
s vezes, encontramos, nas Escrituras Sagradas, algumas afirmaes
aparentemente contraditrias. Uma hora nos dito que a lei seria eterna e, por isso,
jamais poderia ser abolida; outra hora, que a lei no precisa mais ser guardada.
Mas tal confuso apenas aparente, na medida que percebemos que a
Bblia trata de vrios tipos de leis. E certo que muitos grupos cristos fazem uma
distino entre as leis cerimoniais (regulamentos que ensinam o plano da salvao
por meio de smbolos e prticas rituais), leis civis (instrues relativas vida
comunitria do antigo Israel), e leis morais (instrues acerca do padro divino de
conduta para a humanidade).
Como no h pretendo me demorar muito neste tpico, cito as palavras
novo para aqueles que o ouviram na ocasio, pois eles desconheciam o mandamento anunciado. No idioma grego, a palavra "novo", pode ser escrita de duas formas: "neos" (quando algo novo no sentido de: tempo recente; jovem; recm originado; surgiu a pouco tempo), e "kainos" (quando algo novo no sentido de: antes desconhecido; incomum; anteriormente ignorado; recm revelado). E o verso de Joo 13:34 utiliza a palavra "kainos", identificando que o mandamento j existia, porm, era desconhecido para os ouvintes de Jesus. Outros exemplos que utilizam o adjetivo "kainos": "Todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: 'Que vem a ser isto? Uma nova [kainos] doutrina!' (...)" (Marcos 1:27 RA); "Estes sinais ho de acompanhar aqueles que crem: em Meu nome, expeliro demnios; falaro novas [kainos] lnguas." (Marcos 16:17 RA).
25
do Padre Jlio Maria, um telogo catlico, o qual, por ser guardador do domingo,
com imparcialidade pode discorrer sobre o assunto, verbis: Os preceitos do Antigo Testamento dividem-se em trs gneros: 1o. Os preceitos morais, que prescrevem aos homens os seus deveres para com Deus e para com o prximo. 2o. Os preceitos cerimoniais, que indicam os ritos exteriores e as cerimnias que os judeus deviam seguir no culto divino. 3o. Os preceitos judiciais, que determinam o modo de administrar a justia ao povo. Destes trs gneros de preceitos, s o primeiro fica em p, integralmente; os outros preceitos s tm o valor que lhes comunica a palavra de Jesus Cristo. A lei antiga, na sua parte cerimonial, era apenas uma figura da nova lei, e por isto que cessou, desde que foi promulgada a lei nova. Em Ataques Protestantes, p. 9697.
Demais, BILLY GRAHAM, considerado o maior evangelista da atualidade,
batista e fundamentalista, assim se expressou sobre a lei de Deus. Reproduzo a
pergunta especfica de um reprter e conseqente resposta textual , como esto na
coluna de um jornal londrino, e reproduzido em Signs of the Times de 23-8-1955,
pg. 4: Pergunta: Mr. Graham, alguns homens religiosos que conheo dizem que os Dez Mandamentos so parte da lei e no se aplicam a ns hoje. Dizem que ns, como cristos, estamos livre da lei. Est certo?
Resposta: No, no est certo, e espero que V. no seja desencaminhado por essas falsas opinies. de suma importncia compreender o que quer dizer o Novo Testamento quando afirma que estamos livres da lei. Como evidente, a palavra lei usada pelos escritores do Novo Testamento em dois sentidos. Algumas vezes ela se refere lei cerimonial do Velho Testamento,que se relaciona com matria ritualstica e regulamentos concernentes a manjares, bebidas e coisas deste gnero. Desta lei, os cristos esto livres na verdade. Mas o Novo Testamento tambm fala da lei moral, a qual de carter permanente e imutvel e EST SUMARIADA NO DEZ MANDAMENTOS. (grifos nossos).
Para esse evangelista, que fala aos maiores auditrios do mundo, a lei
de Deus est em vigor, e o Declogo um cdigo distinto de outras leis que
caducaram.
De tudo que est registrado, fica mais do que claro que esses
documentos confessionais cristos histricos, alm de mestres de outras confisses,
admitem que existam pelo menos duas leis, dentre outras, das quais fala a Escritura
Sagrada: a) Lei Moral: sumariada nos Dez Mandamentos, b) lei Cerimonial: representada pelos sacrifcios e ordenanas rituais para Israel e, outros ainda, de
uma terceira espcie, as leis civis ou judiciais.
Os preceitos morais permanecem; os cerimoniais, eram uma figura,
26
sombra dos bens futuros, e foram substitudos pela Realidade: Cristo; e os
judiciais, s existiram enquanto havia a nao de Israel como uma teocracia
(governada por Deus)! E os dez mandamentos morais tratam do amor a deus e do
amor ao prximo.
3.4 H RAZES PARA AINDA SANTIFICARMOS O SBADO?
Por se tratar de questo sobremodo polmica, convido o testemunho do
Frei Leopoldo Pires Martins, OFM, para responder, Ipsis Litteris: Este Preceito do Declogo regula o culto externo, que devemos a Deus. () Ora, como esse dever no pode ser facilmente cumprido, enquanto nos deixamos absorver por negcios e interesses humanos, foi marcado um tempo fixo, para que se possam comodamente satisfazer as obrigaes do culto externo. () O quanto aproveita aos fiis respeitar este Preceito, transparece do fato de que sua exata observncia induz, mais facilmente, os fiis a guardarem os outros Preceitos do Declogo. Em Catecismo Romano, p. 434435.
Existem catlicos leigos, mesmo sinceros, que acreditam que Jesus no
guardou os Dez Mandamentos e que ele combateu o sbado. O que diz a Bblia?
At onde vai o conhecimento deles? Caso Jesus tivesse profanado o sbado, ou
qualquer outra lei, Ele no poderia ser um cordeiro sem defeito nem mancha
(1Pe.1:19), nem poderia ser o Messias que tem a funo de engrandecer a lei e
torn-la gloriosa (Is.42.21). Ento, quem afirma que Cristo violou o sbado, est
negando que Ele era o Messias, tornando-O um mero pecador e mentiroso, pois Ele
mesmo disse ter observado os mandamentos (Jo.15:10).
O Frei Leopoldo responde, com muita propriedade, que o mandamento do
sbado rege o culto, e que os fiis tornam-se mais fiis a Deus, quando praticam
esse mandamento especfico.
O sbado era um dia sagrado, que seria profanado pelo trabalho (Eze.
22:18). Conforme xodo 20:8-11 e 31:17 (mais um passo adiante) a santidade do
sbado era uma santidade objetiva, devido bno de Deus, que no 7o dia
descansou da Sua obra, a criao, pensamento esse que foi largamente elaborado
em Gn. 1:1-2:4a. Em Dicionrio Enciclopdico da Bblia, coluna 1340. Outra contribuio bastante proveitosa de John Mckenzie:
O sbado profanado pelo exerccio do comrcio, e Neemias fechava os portes de Jerusalm no sbado para impedir o comrcio (Nee. 13:15-22). Carregar cargas viola o sbado (Jer. 17:2127) . Em Dicionrio Bblico, p. 810.
27
Indiscutivelmente, todas essas autoridades e documentos religiosos
catlicos no concordam com a viso hertica semi-antinomista/dispensacionalista
que nega a validade e vigncia do Declogo (lei moral) como norma crist, e prega o
fim total do quarto mandamento, considerando-o erroneamente como uma lei
cerimonial.
3.4.1 O SBADO NO FOI ABOLIDO COMO ALGUNS APREGOAM?
Nesta seo serei o mais breve e conciso possvel, pois caso contrrio, ao
invs de duas pginas teramos o equivalente a dez vezes mais.
Alguns dizem (erroneamente, frise-se) que o Sbado foi abolido. E para isso fazem uma distorcida aplicao de Efsios 2:15: Na sua carne desfez a
inimizade, isto a lei dos mandamentos que consistia em ordenanas.
Quando Cristo morreu s a lei de ordenanas (expresso sinnima de lei
cerimonial) fora abolida (ela consistia em ordenanas, a exemplo da pscoa,
circunciso, sacrifcios de animais, etc), contudo, a Lei de Deus, contida no declogo
(os Dez Mandamentos) no poderia ter sido abolida. Nesse sentido tambm se
manifesta A. HOPKINS STRONG (eminente telogo Batista), em seu conhecido tratado Systematic Theology, vol. 2, pg. 408, diz: Nem tudo na lei mosaica est
abolido na cruz. Cristo no encravou em Sua cruz nenhum mandamento do
Declogo.
Os judeus tinham assim duas espcies de leis: a) Ordenanas = cerimonial (regras, normas, estatutos sombras da verdadeira realidade em cristo) e os 10 Mandamentos (a Santa Lei de Deus = Lei Moral).
Dizem que o Sbado foi cravado na cruz (Colossenses 2:14 e 16) Havendo riscado a cdula que era contra as ordenanas cravando-as na cruz
Portanto ningum vos julgue pelo comer, beber, ou por causa dos sbados.
A palavra sbado quer dizer descanso, todo feriado religioso era chamado de
sbado: o dia da pscoa, o dia da expiao ou o dia do perdo, eram 7 os feriados,
eram datas fixas, ou seja caiam em dias diferentes da semana (segunda, tera, )
mas mesmo assim eram chamados de sbado (descanso) mesmo caindo num
28
domingo por exemplo. Com a morte de Cristo, esses feriados acabaram. Mas o
Sbado semanal este permanece!
Comentando sobre o assunto, J. Skinner, abalizada autoridade evanglica, reitor do Colgio de Westminster (Cambridge), anota: "O nome sbado
podia ser aplicado a qualquer poca sagrada como tempo de cessao de trabalho
e assim usado com relao ao Dia de Expiao, o qual era observado anualmente, no dcimo dia do stimo ms. Levtico 16:31; 23:32. Nos livros profticos e histricos, 'sbados' e 'Luas Novas' esto associados de tal modo a
sugerir serem ambos festividades lunares. Ams 8:5; Osias 2:11 e Isaas 1:13.7"
E tambm com propriedade, Alfred Edersheim, escritor de nacionalidade
judaica, convertido ao protestantismo, profundo conhecedor da lei Cerimonial,
referindo-se festa dos Tabernculos, diz: "O primeiro dia da festa e tambm o
oitavo (ou Hzereth) eram dias de santa convocao e eram tambm um sbado,
mas no no sentido do sbado semanal, seno de um festivo descanso diante do
Senhor em que nenhuma obra servil de qualquer espcie podia ser feita.8"
Deste modo, h uma diferena bem definida entre os Dez Mandamentos,
os quais so mandamentos eternos e morais por serem uma transcrio do carter
divino, e, por outro lado, aqueles mandamentos consistentes em ordenanas
mencionados em Efsios 2:15. Porquanto, como vimos acima, estes ltimos tinham
haver to-s com os rituais cerimoniais que Deus estabeleceu, os quais
simbolizavam o evangelho para eles (judeus), e compunham-se de ordenanas
como: ofertas diversas, holocaustos, ablues, sacrifcios, dias anuais de festas
especficas e deveres sacerdotais. E tais ordenanas foram registradas na Lei de
Moiss [Lei Cerimonial], no na Lei de Deus [Lei Moral]. (II Crnicas 23:18; II
Crnicas 30:15 a 17; Esdras 3:1 a 5).
Para encerrar esta seo, seguem algumas declaraes de famosos pregadores de renome internacional:
O Sbado de obrigao perptua como memorial institudo por Deus, de sua atividade criadora. A exigncia do Sbado anterior poca do Declogo, e forma uma parte da lei moral. Feito na criao aplica-se ao
__________ 7 Cf. J. Skinner, art. "Sabbath." Hasting's Biblie Dictionary, pg. 807. 8 Cf. A. Edersheim, Festas de Israel, pg. 86.
29
homem como homem, em toda a parte e em qualquer tempo, em seu presente estado de existncia.
Referindo-se a 1 Joo 2:2-6 e 5:2 e 3, o Pr. Pearlman escreveu,
apropriadamente, estas palavras: "O nosso amor a Deus encontra a sua manifestao na observncia de Seus mandamentos. ... Obedincia aos mandamentos de Deus em imitao de Cristo. ... Assim sendo, ele [o apstolo Joo] ordena aos homens que dem prova do seu conhecimento de Deus. Para saberem de certo se tm ou no o conhecimento de Deus, a prova simples guardam os mandamentos de Deus?" Atravs da Bblia, pgs. 344 e 341.
Isso est perfeitamente de acordo com as palavras do Senhor Jesus, em
Joo 14:15 e 21, que diz: "Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. ... Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda esse o que Me ama; e aquele que Me ama ser amado de Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele."
3.4.2 COMO MANIFESTAMOS NOSSA LEALDADE A JESUS?
Assim disse o Senhor Jesus: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos. [Joo 14:15].
Jesus e o Pai so um. E sabemos tambm que esses mandamentos
desse nico Deus, na nova aliana, esto sendo inscritos diretamente em nossos
coraes:
"E porei dentro de vs o meu Esprito, e farei que andeis nos meus
estatutos, e guardeis os meus juzos, e os observeis... Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu corao as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me sero por povo." [Ezequiel 36.27; Hebreus 8.10].
Igualmente somos sabedores de que tais mandamentos divinos (do
declogo) esto em pleno vigor, e isso justamente por Deus no nos ter liberado do
dever de no matar, no roubar, no adulterar et cetera. E que o salrio da
transgresso dos mesmos significa a separao eterna de Deus para os que no
vierem a aceitar o perdo ofertado por Jesus. Ningum contesta isso. Tendo em
mente esta realidade, ento voc pode se perguntar: e o quarto mandamento
tambm entra nessa lista?
O Pr. Harold J. Brokke bastante enftico, e categrico, ao dar uma
resposta a esta questo. Ele proclama "em alto e bom som":
" possvel que algum imagina que a transgresso desse quarto
30
mandamento menos grave do que a transgresso dos outros nove. A verdade,
porm, que quem se dispe a transgredir o quarto mandamento j tem no corao
a inclinao de transgredir um ou mais dos outros mandamentos. ...
"Por que deve o homem guardar o sbado do Senhor? Porque justo!
Segue-se aqui o mesmo princpio de no furtar porque no justo." Ob. Cit.,
pgs. 58 e 59.
Vemos assim em Tiago 2:10 que, quem deixa de guardar qualquer
mandamento que seja, j estar transgredindo toda a Lei (transcrio do carter
divino) que o Esprito deseja imprimir em nosso corao:
Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropea em apenas um ponto, torna-se culpado de quebr-la inteiramente. Pois aquele que disse: `No adulterars tambm disse: `No matars. Se voc no comete adultrio mas
comete assassinato, torna-se transgressor da Lei.
Conclui-se que essa matemtica do cu diferente da qual estamos
familiarizados. Para Deus, 10 menos 1 no nove, mas sim ZERO. Logo, ao
voluntariamente recusarmo-nos a obedecer ao quarto mandamento, estaremos
somente dificultando o trabalho do Esprito de inscrev-lo em nossos coraes, tal
como prometido na nova aliana. Deus no fora a vontade de ningum; assim
sendo, temos que permitir que Ele opere em ns tanto o querer quanto o efetuar
segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2:13).
3.5 A FORMA COMO JESUS CONSIDERAVA O SBADO
Alguns irmos enxergam no sbado algo triste, como um mandamento
para um dia especfico da semana consistente to-s na adoo de comportamentos
restritivos, que nos acarretassem desprazer. E finalizam dizendo que seria uma
tortura e uma priso e no um presente que devssemos apreciar. Mas haveria
alguma verdade nessas asseres? O que nos diz o Filho do Homem a este
respeito?
Eu creio que contrastaria diretamente com a vontade de Jesus se o
considerssemos como um dia de meras restries, no sentido de devermos nos
comportar de uma determinada maneira, seguindo regras especficas que no
tenham nada a ver com o verdadeiramente ordenado pelo Senhor e exemplificado
em Sua vida.
31
Sob este aspecto, quando percebemos que a sua guarda implicaria numa
tortura ou numa priso, isso estaria fora do esprito de alegria e regozijo que o
SENHOR, mesmo no den, estabelecera para o mesmo (afinal, Ele deseja que
proclamemos tal dia como deleitoso e digno de honra Isaas 58:13). Podemos
extrair semelhante entendimento at mesmo de documentos oficiais constantes de
modernas denominaes religiosas, as quais firmemente propugnam pela guarda do
domingo, a exemplo do Dicionrio de Teologia, editado por Heinrich Fries,
publicado pelas Edies Loyola (catlica), textualmente: Os escritos apcrifos e sobretudo os rabnicos apresentam uma interpretao exageradamente severa do descanso do sbado, perdendo-se um uma casustica sutilssima e transformando o sbado maravilhoso (Isa. 58:13) num peso insuportvel. () Jesus ops energicamente s interpretaes extremamente escrupulosas dos escribas e fariseus, e mais de uma vez provocou propositalmente discusses sobre este ponto (Mat. 12:10-14; Luc. 13:10-17; 14:1-6; Joo 5:8-18). () Jesus considerava o mandamento do sbado com grande liberdade interior, e recusava resolutamente aquela rigorosa observncia que escribas e fariseus exigiam. Vol. 3, p. 134 e 115.
Para melhor compreendermos a real natureza do Sbado, preciso que
voltemos os nossos olhos para o dia imediatamente seguinte ao da criao da
humanidade. Deus, o Verbo Eterno Jesus, passou um dia completo com o casal
recm-criado. Foi um dia de indescritvel alegria e honra sem precedentes para o
par. Aquele que os criara se disps a encetar uma relao de companheirismo direta
com os seres humanos, caminhando junto com eles e Se deleitando em estar na sua
companhia e lhes descortinando as maravilhosas obras das Suas mos, as quais
por amor a eles foram ento to extraordinariamente concludas. A terra toda ecoava
o Sua divina bondade e uma preocupao perfeccionista, nos mnimos detalhes,
para conosco.
Vemos tambm que na medida em que Deus fora criando o planeta, a
cada etapa principal da Criao concluda, Ele ento clamava que estava tudo
muito bom. E dentre essa diversidade de coisas criadas em benefcio do homem se
pode incluir o prprio ar que respiramos. Mas atente que Jesus no abenoou
solenemente o ar e o separou como algo distintamente sagrado, isso a despeito de
saber que sem o oxignio nele presente nenhuma das Suas criaturas poderia
continuar vivendo. A primeira e nica vez que o SENHOR to solene e distintamente
se manifestara a respeito de algo por Si mesmo institudo fora com relao
instituio do Seu sbado. Observe que o Sbado DEle, mas no obstante fora
assim santificado e separado para o benefcio da coroa da Sua criao, a
32
humanidade.
E por ter sido de forma to marcantemente enfatizada por Ele ao
longo de todas as Escrituras sagradas a importncia de continuarmos atentando
para a solenidade desse santo dia, mesmo aps a queda da humanidade, mui
temerrio que no atentemos para os Seus reclamos e compreendamos o que
verdadeiramente signifique o ato de descansar, junto com Ele, no dia que representa
o aniversrio da criao do nosso planeta.
E nesse aniversrio, nessa data comemorativa to especial, Jesus nos
convida para adentrarmos no asilo por Ele erigido no tempo e espao a fim de
restaurarmos as nossas energias fsicas e espirituais despendidas com as inmeras
labutas seculares do dia a dia.
O Sbado, sob este prisma, um grande presente de Deus para ns,
na medida em que nos permite passar um dia especialmente separado, abenoado
e em perfeito e pleno companheirismo com o nosso Senhor e Salvador ao longo da
sucesso das eras sem fim. E sabemos que mesmo na eternidade, aps o retorno
glorioso de Jesus, ainda o guardaremos, Ipsis Litteris:
Porque, como os novos cus e a nova terra, que hei de fazer, estaro
diante de mim, diz o SENHOR, assim h de estar a vossa posteridade e o vosso
nome. E ser que, de uma Festa da Lua Nova outra e de um sbado a outro, vir toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR. (Isaas 66:22-23 RA) Mateus 12 contm uma vvida exemplificao do companheirismo que
deve existir entre Jesus e seus seguidores no Seu santo dia. Estavam os discpulos
a caminhar entretidos numa alegre e santa comunho com o seu Senhor quando,
repentinamente, apareceram alguns judeus legalistas a censurar o procedimento
DAquele que houvera sido o prprio instituidor do mandamento a respeito do qual
estaria supostamente violando. Quanta presuno humana! Intentavam aferir o
comportamento divino mediante critrios puramente humanos. Pautavam-se por
normas que tornavam a guarda do sbado excessivamente enfadonha e triste,
quando o Senhor nada houvera dito a esse respeito.
No foi por outra razo que o Criador, quando velada Sua Glria Divina
por ocasio da Sua primeira vinda, declarou que aqueles que procediam desta
maneira legalista, tal como os fariseus, estariam to s honrando-o com os lbios, mas tendo, a despeito disso, os seus coraes longe dEle. E em vo assim o adoravam, prosseguia dizendo o Salvador, ao persistentemente ensinarem
33
doutrinas que no seriam outra coisa a no ser meros preceitos ou regras
inventadas por homens (Mateus 15:8, 9).
Confirmando este entendimento acima, temos o Catecismo da Igreja
Catlica, em citao indireta no Dicionrio Bblico, de John L. Mckenzie, publicado
pelas Edies Paulinas (catlica), in verbis: O Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus acusado de violar a lei do sbado. Mas Jesus nunca profana a santidade desse dia. (Cf. Mar. 1:21; Joo 9:16). D-nos com autoridade a sua autntica interpretao. P. 495.
Ainda mais uma contribuio de John L. Mckenzie, no seu Dicionrio
Bblico, nos refora a compreenso desse assunto, quando registra: Sem rejeitar a observncia do sbado no seu conjunto, Jesus salienta que as prticas rabnicas eram meras interpretaes humanas do preceito, que basicamente para o bem humano. P. 811.
Deste modo, mesmo sendo acusado, pelos escribas e fariseus da Sua
poca, e por alguns religiosos modernos, o Catecismo assegura que JESUS
NUNCA PROFANA A SANTIDADE DESSE DIA9.
Mantenhamo-nos, portanto, firmemente alicerados na Sua Palavra, e
o prprio Verbo eterno quem nos declara: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e
no fazeis o que vos mando?" (Lc 6.47) "De tudo o que se tem ouvido, a suma :
Tema a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isso o dever de todo
homem" (Ec 12.13).
Ora, e os Seus mandamentos no so penosos! No podemos nos
esquecer de que Ele o nosso Pai, e lhe devemos obedincia da mesma forma que
requeremos que os nossos filhos e filhas tambm nos obedeam. A nica diferena
que os Seus mandamentos so sempre justos e verdadeiros, vez que,
contrariamente a esta realidade, podemos, como falveis seres humanos, ainda
cometer injustias.
E o prprio apstolo Paulo declara que o 5 mandamento do declogo
vlido mesmo aps a ressurreio de Jesus, conforme nos diz: "Honra a teu pai e a
tua me, que o primeiro mandamento com promessa (Efsios 6:2). E se devemos
honrar a nossos pais terrenos, quanto mais ao nosso Pai Celestial!
__________ 9 Cf. WILL, Marllington K. O QUE A IGREJA CATLICA DIZ SOBRE A LEI E O SBADO?. Stimo dia, S.l., s. d. Disponvel em: < http://setimodia.wordpress.com/2010/01/07/o-que-diz-a-igreja-catolica-sobre-a-lei-e-o-sabado/> Acesso em 07 Jul. 2013.
34
Contudo, desonramos a esse mesmo Pai quando, ao pr do sol de
sexta-feira, recusamos entrada especial ao divino hspede em nosso lar, para que
Ele possa comungar conosco num companheirismo assim especialmente
estabelecido e especificamente delimitado no tempo mediante a Sua prpria
autoridade.
E se nem mesmo a um amigo comum dizemos que a sua visita nos
seria uma tortura e uma priso, contudo, em aes manifestamos justamente o
contrrio quando a questo envolva o especial companheirismo que o Filho de Deus
requer de ns no dia em que este mundo tem o seu aniversrio.
verdade que quando um colega nos d o presente de uma visita,
no podemos mais andar com trajes ntimos na sua presena, nem proferir
palavras que s teramos coragem estando a ss ou mesmo entre os do lar. Mas
so restries mais que recompensadoras na medida em que possamos desfrutar
e nos deleitar da companhia de uma alma muito amada e que nos concedeu a
bondade de vir assim nos visitar.
Nada obstante, devemos reconhecer que a visita de um Deus, que
tremendamente Santo, certamente causaria uma angustiante sensao para algum
que no esteja em perfeita sintonia com a Sua Soberana vontade. At mesmo os
santos anjos, ao proferirem o Seu Santo nome, velam os seus rostos em respeitoso
temor e solene admirao.
No humanamente possvel se regozijar em coisas que conflitem com
a natureza interior do velho homem no santificado. A dificuldade reside justamente
a, no velho eu egosta e independente de Deus, que j nasce naturalmente
inclinado para as coisas ms deste mundo, e que desesperadamente tenta fugir e se
esconder do Criador quando ouve a Sua voz, mansa e delicada, a lhe chamar
Minha filha, meu filho, Onde ests?
E quando esse homem ou mulher a quem o compassivo Salvador hoje
est agora a chamar, humildemente vai ao Seu encontro e, em contrio e
arrependimento, pleiteia que os mritos do Senhor Jesus os cubram tal como um
manto, ento um milagre acontece, pois "Ele fiel e justo para nos perdoar os
pecados, e nos purificar de toda a injustia." (1 Joo 1:9).
A antiga inimizade para com Deus deste modo derribada, "Porque
Deus, que disse: `Que da escurido brilhe a luz o mesmo que fez a luz brilhar no
nosso corao. E isso para nos trazer a luz do conhecimento da glria de Deus, que
35
brilha no rosto de Jesus Cristo." (2 corntios 4:6).
Mas com isso no quero dizer que voc esteja na condio de algum
que no fora ainda a Jesus e nem que no o conhea. As linhas acimas tratam de
um apelo que Deus faz a toda a humanidade pecadora (para os que at agora no o
tenham aceitado).
O que quero lhe dizer que o processo da santificao algo
progressivo. No se opera num segundo, mas sim que leva certo tempo para o
Esprito Santo concluir a obra que iniciara no sentido de nos transformar
semelhana do glorioso carter de Cristo Jesus, nosso Senhor. Mas como Deus no
opera contra a nossa vontade, preciso que a cada dia renovemos nosso ato de
entrega a Ele de todo o nosso corpo e mente, "at que todos cheguemos unidade
da f e do pleno conhecimento do Filho de Deus, perfeita varonilidade, medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que no mais sejamos como meninos,
agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela
artimanha dos homens, pela astcia com que induzem ao erro." (Efsios 4:13, 14)
Fechando esta linha de raciocnio, me parece pertinente uma ligeira
aluso s palavras de um bem conceituado irmo nosso, o pastor Dave Hunt, verbis:
A cruz o lugar onde ns morremos em Cristo
Eis o "x" da questo. O evangelho foi concebido para fazer com o eu aquilo que a cruz fazia com aqueles que nela eram postos: matar completamente. Essa a boa notcia na qual Paulo exultava: "Estou crucificado com Cristo". A cruz no uma sada de incndio pela qual escapamos do inferno para o cu, mas um lugar onde ns morremos em Cristo. s ento que podemos experimentar "o poder da sua ressurreio" (Fp 3.10), pois apenas mortos podem ser ressuscitados. Que alegria isso traz para aqueles que h tempo anelam escapar do mal de seus prprios coraes e vidas; e que fanatismo isso aparenta ser para aqueles que desejam se apegar ao eu e que, portanto, pregam o evangelho que Tozer chamou de "nova cruz".
Paulo declarou que, em Cristo, o crente est crucificado para o mundo e o mundo para ele (Gl 6.14). linguagem bem forte! Este mundo odiou e crucificou o Senhor a quem ns amamos e, atravs desse ato, crucificou a ns tambm. Ns assumimos uma posio com Cristo. Que o mundo faa conosco o que fez com Ele, se assim quiser, mas fato que jamais nos associaremos ao mundo em suas concupiscncias e ambies egostas, em seus padres perversos, em sua determinao orgulhosa de construir uma utopia sem Deus e em seu desprezo pela eternidade.
Crer em Cristo pressupe admitir que a morte que Ele suportou em nosso lugar era exatamente o que merecamos. Quando Cristo morreu, portanto, ns morremos nEle: "...julgando ns isto: um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem no vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Co 5.14-15).
"Mas eu no estou morto", a reao veemente. "O eu ainda est bem vivo." Paulo tambm reconheceu isso: "...no fao o bem que prefiro, mas o mal que no quero, esse fao" (Rm 7.19). Ento, o que que "estou crucificado com Cristo" realmente significa na vida diria? No significa que estamos automaticamente "mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (Rm 6.11). Ainda possumos uma vontade e ainda temos escolhas a fazer.
O poder sobre o pecado
36
Ento, qual o poder que o cristo tem sobre o pecado que o budista ou o bom moralista no possui? Primeiramente, temos paz com Deus "pelo sangue da sua cruz" (Cl 1.20). A penalidade foi paga por completo; assim sendo, ns no tentamos mais viver uma vida reta por causa do medo de, de outra sorte, sermos condenados, mas sim por amor quele que nos salvou. "Ns amamos porque ele nos amou primeiro" (1 Jo 4.19); e o amor leva quem ama a agradar o Amado, no importa o preo. "Se algum me ama, guardar a minha palavra" (Jo 14.23), disse o nosso Senhor. Quanto mais contemplamos a cruz e meditamos acerca do preo que nosso Senhor pagou por nossa redeno, mais haveremos de am-lO; e quanto mais O amarmos, mais desejaremos agrad-lO.
Em segundo lugar, ao invs de "dar duro" para vencer o pecado, aceitamos pela f que morremos em Cristo. Homens mortos no podem ser tentados. Nossa f no est colocada em nossa capacidade de agirmos como pessoas crucificadas mas sim no fato de que Cristo foi crucificado de uma vez por todas, em pagamento completo por nossos pecados. Em terceiro lugar, depois de declarar que estava "crucificado com Cristo", Paulo acrescentou: "logo, j no sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela f no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2.20). O justo "viver por f" (Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38) em Cristo; mas o no-crente s pode colocar sua f em si mesmo ou em algum programa de auto-ajuda, ou ainda num guru desses bem esquisitos10.
3.6 ANTIGA E NOVA ALIANA
H uma grande confuso na cristandade acerca do Novo Concerto.
Acham que pelo fato do Velho Concerto ter sido abolido, a lei dos Dez mandamentos
tambm o foi; sendo assim, se estamos no Novo Concerto, no precisamos mais
observar a lei de Deus. Mas isto est longe de ser verdade, conforme veremos a
seguir em um estudo feito pelo escritor Arnaldo B. Christianini:
Afirmamos que os Dez Mandamentos eram a base do velho concerto,
como igualmente o so do novo. Os oponentes, tomando o contedo pelo
continente, concluem que se o velho concerto caducou, tambm caducou a lei de
Deus. Mas no assim.
De fato, em Deuteronmio 4:13 se afirma que os Dez Mandamentos
(dez palavras, no original) eram o concerto, porm essa maneira de expressar um
modismo hebraico. Do mesmo modo Moiss dissera aos israelitas: ... eu tomei o
vosso pecado, o bezerro que tnheis feito, e o queimei. Deut. 9:21. Em linguagem
exata, o pecado era o volver deles para um falso deus um ato da vontade rebelde
mas o bezerro era a base daquele pecado, era apenas aquilo em relao ao qual
fora o pecado cometido. Assim tambm, o concerto fora feito pela vontade dos
__________ 10 Cf. HUNT, Dave. A FINALIDADE DA CRUZ. Chamada.com.br, S.l., s. d. Disponvel em: < http://www.chamada.com.br/mensagens/cruz.html> Acesso em 12 Jul. 2013.
37
israelitas em resposta a Deus (xo. 19:5-8); os dez mandamentos eram a base o
ponto de referncia sobre o qual fora o concerto feito. Esta a legtima relao do
declogo com o concerto. Nada mais claro.
Por aquele concerto, Israel prometera guardar o declogo. O concerto
dependia do declogo, mas o declogo no dependia do concerto. Sem dvida, o
concerto o trato que Israel fizera podia ser quebrado um milho de vezes, porm
isto no afetaria a lei de Deus...vamos ilustrar esta verdade. Um estrangeiro pode
prometer guardar a lei do nosso pas, sob a condio de que seja aceito como um
cidado brasileiro. H ento como que um concerto, uma promessa formal da parte
dele, e aceita pelas nossas autoridades mximas. A lei do pas (Constituio,
cdigos etc.,) seria no caso a lei que serviria de base a esse convnio ou promessa.
Pois bem, esse indivduo poderia quebrar sua promessa, ou violar seu convnio;
isso, porm, no aboliria e de modo algum afetaria a lei do pas. Ela permaneceria
em vigor quer ele a observasse ou no. O seu convnio dependia da lei, mas a lei
no dependia do convnio.
A promessa do novo concerto no prediz uma poca em que a graa
suplantaria a lei de Deus, mas ao contrrio, refere-se claramente a um tempo em
que a lei de Deus seria escrita no corao dos homens, e isto, sem dvida, pela
graa de Deus atuando nos seus coraes. Jer. 31:33; Heb. 8:10; 10:16. Assim
evidente que, longe de ser a lei de Deus abolida, ela guardada no interior daquele
que recebeu um novo corao. Ela , portanto, reafirmada, e no ab-rogada.
oportuno lembrar que o insucesso do velho concerto no estava na lei
de Deus, mas no povo. Em Hebreus 8:9 se diz que Deus os repreendeu, porque
eram repreensveis. A traduo inglesa diz: Porque sendo eles (o povo) achado em
falta....
O velho concerto era um pacto de obras, feito sobre promessas
humanas, e seu fracasso demonstrou a falibilidade do homem em pretender, por
esforo prprio, guardar os mandamentos de Deus, ou pr-se em harmonia com a lei
do Cu. Quo significativas as palavras de Paulo, ao dizer que a inclinao da
carne a mente carnal que caracterizou o Israel rebelde no est sujeita lei de
Deus, nem em verdade o pode ser. Rom. 8:7. Isto significa que, quando, pelo
evangelho, somos transformados do carnal para o espiritual, ento a lei de Deus
pode ser escrita em nossos coraes, e o novo concerto ratificado com o precioso
38
sangue de Cristo efetivado em nossa vida. Quem no tem um novo corao e
no se pe em harmonia com a lei do Cu, nunca nasceu de novo, pois quem vive
transgredindo a lei de Deus continua no pecado, porque pecado a transgresso
da lei, segundo a melhor da traduo de I Joo 3:4 e o mais autorizado conceito
teolgico.
As leis civis e cerimoniais eram derivao de lei de Deus, para os
judeus. Primeiro, porque eram, na poca, depositrios dos orculos divinos, e assim
entendemos que, enquanto no surgisse o Messias o cordeiro de Deus que Se
imolou pelos pecadores as leis cerimoniais com suas prefiguraes consistentes
em smbolos, holocaustos, ofertas, sacerdcio, ritos e festividades que apontavam
para Ele, tinham que vigorar. Em segundo lugar, porque Israel, como nacionalidade