CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
APARECIDA MENDES DE PAIVA
O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO DE CASO
NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE, EM BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS
Belo Horizonte
2018
APARECIDA MENDES DE PAIVA
O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO
ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE, EM BELO
HORIZONTE, MINAS GERAIS
Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una como requisito parcial à obtenção do título de mestre. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local.
Orientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
Belo Horizonte 2018
NOTA INTRODUTÓRIA
No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas aprovadas por seu Colegiado:
Para os elementos textuais: 1. A introdução deve trazer o tema, problema, questão central da
pesquisa, hipótese (facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos;
2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática
da pesquisa, dentro de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices;
3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo
mestrando. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica, metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;
4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão
teórica e da pesquisa realizada pelo mestrando, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;
5. Por último, o mestrando deve trazer as considerações finais da
dissertação; 6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em
dissertações e teses; 7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser
considerada, mas é indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de um artigo.
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus que sempre esteve comigo me carregando em seus braços de
amor e suprindo todas as minhas necessidades – Ebenézer!
Ao meu marido Rogério, que me apoiou, sustentou, suportou e ajudou a
realizar este projeto de vida. Sem você meu amor, a caminhada teria sido
insuportável. Você é minha sorte na vida.
À minha orientadora Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos,
que com suas orientações lapidou meu trabalho transformando-o de pedra
bruta em diamante. Neste processo gestacional, você foi obstetra, anestesista
e, na hora, final foi minha doula. Obrigada por compartilhar comigo seu saber
e vasta experiência.
Aos meus filhos Mayna e Guto pela paciência que tiveram comigo durante
este percurso e por sempre me apoiarem na realização de meus sonhos.
Vocês são os meus galardões.
À Professoras Dra. Maria Lucia Afonso e ao Professor Dr. Claudio Márcio
Magalhães pelas brilhantes e enriquecedoras contribuições no exame de
qualificação.
Aos Professores Dra. Carla Bronzo Ladeira e Dr. Cláudio Márcio Magalhães
pela disponibilidade em participar e contribuir na banca de defesa.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,
Educação e Desenvolvimento Local, por terem sido os responsáveis pela
desconstrução, reconstrução e ressignificação de saberes e fazeres
acadêmicos.
Ao Leandro e demais funcionários e colaboradores do Centro Universitário –
UNA que sempre recebem com carinho, atenção e competência as nossas
demandas.
Aos amigos e às amigas do Mestrado, pela convivência, aprendizado, confiança e
amizade durante esta longa caminhada.
Ao professor André Borges, que se dedicou (e que dedicação) à revisão gramatical
em língua portuguesa.
A professora e amiga Fabiana Fadul que colocou “caraminholas” em minha
cabeça e me incentivou a fazer este mestrado.
Aos meus amigos e amigas, aos familiares que compreenderam minhas ausências
e torceram por mim.
Aos moradores e amigos do bairro Jardim Felicidade, que participaram como
sujeitos desta pesquisa e cooperaram para que eu pudesse realizar este
trabalho acreditando em meu projeto. A vocês, toda minha gratidão.
A todos e todas que de alguma maneira contribuíram para que esta
dissertação fosse realizada.
“Alarga o espaço da tua tenda, estende as
cordas, reforça as estacas. Pois hás de
transbordar para a direita e para a esquerda”.
Isaias 54:2
RESUMO
Esta pesquisa teve o propósito de elucidar a possível relação existente entre o sentimento de pertencimento social dos moradores do Bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG) e o engajamento comunitário destes moradores, no que tange às ações de cuidado com o território e o desenvolvimento local.Optou-se pela pesquisa com abordagem qualitativa, descritiva e concebida pelo estudo de caso, aprovada sob n° CAAE: 75117717800005098. Os sujeitos dessa pesquisa são moradores do bairro Jardim Felicidade, selecionados pela técnica de snowball sampling até a saturação. Foram realizadas 25 entrevistas semi-estruturadas e um grupo focal com participação de 19 moradores. Para análise desses dados, utilizou-se a análise de conteúdo, submetidos ao software IRAMUTEQ e foram obtidas cinco categorias: (1) Responsabilidade e cuidado com o território; (2) Identidade social; (3) Engajamento e participação comunitária; (4) Mobilização comunitária; e (5) Sentimento de pertencimento social. Para os dados do grupo focal, adotou-se o discurso do sujeito coletivo, submetido ao software DSCSoft, gerando três categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento; (2) Ter uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação social; e (3) Engajamento e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade. Constatou-se que o sentimento de pertencimento dos moradores em relação ao bairro, é maior entre os moradores que participaram da sua construção, demonstrando a aquisição do pertencimento, devido à vivência de mobilização e participação coletiva nesse processo. Assim, esse grupo se engaja nas ações que visam o desenvolvimento local e as melhorias do território. Esses resultados serão socializados por meio de um média-metragem/documentário que resgata a história de construção do bairro Jardim Felicidade, sendo protagonizado e produzido pelos próprios moradores. Palavras-chave: Pertencimento. Engajamento comunitário. Mobilização social. Desenvolvimento local. Gestão social.
ABSTRACT
This research had the purpose of elucidating the possible relationship between the residents of Bairro Jardim Felicidade neighborhood, in Belo Horizonte (MG) feeling of social belonging and the community engagement of these residents, regarding the actions of care with the territory and the development local. The qualitative, descriptive approach research was chosen and conceived by the case study, approved under CAAE n °: 75117717800005098. The subjects of this research are residents of Jardim Felicidade district, selected by the snowball sampling technique until saturation. Twenty-five semi-structured interviews and a focus group were carried out with the participation of 19 residents. In order to analyze these data, we used the content analysis, submitted to IRAMUTEQ software and obtained five categories: (1) Responsibility and care for the territory; (2) Social identity; (3) Community engagement and participation; (4) Community mobilization; and (5) Feeling of social belonging. For the focus group data, the discourse of the collective subject, submitted to DSCSoft software, was adopted, generating three categories: (1) Jardim Felicidade neighborhood history strengthens the sense of belonging; (2) Social emancipation is to have a house in Jardim Felicidade neighborhood; and (3) Engagement and participation are different among residents of Jardim Felicidade neighborhood. It was verified that the residents' feeling of belonging to the neighborhood is greater among the residents who participated in its construction, demonstrating the acquisition of belonging, due to the experience of mobilization and collective participation in this process. Therefore, this group engages in actions aimed at local development and territorial improvements. These results will be socialized through a medium-length documentary that rescues the history of construction of the neighborhood Jardim Felicidade, being starred and produced by the residents themselves. Keywords: Belonging. Community engagement. Social mobilization. Local development. Social management.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Inter-relação entre engajamento e participação 42
Figura 2: Bairro Jardim Felicidade 80
Figura 3: Representação gráfica – nuvem de palavras 90
Figura 4: Resultado da análise de similitude 91
Figura 5: Classificação Hierárquica Descendente 95
Figura 6: Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente 96
Figura 7: Representação gráfica – nuvem de palavras 120
Figura 8: Significado e freqüência da palavra GENTE 120
Figura 9: Preparação para gravação em estúdio de gravação 175
Figura 10: Imagem de abertura do vídeo 175
Figura 11: Visão geral do bairro Jardim Felicidade – Rua 16 176
Figura 12: Fotos antigas do bairro na época de sua fundação 176
Figura 13: Parte do córrego Tamboril atualmente - Poluição 177
Figura 14: Imagem usada na personalização do pencard 178
LISTA DE TABELA e QUADROS
LISTA DE TABELA
Tabela 1: Correlação palavras e categorias geradas pelo
IRAMUTEQ
95
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Principais temas e seus respectivos autores 28
Quadro 2: Setores censitários e classificação de risco do índice de
vulnerabilidade da saúde – IVS do território Jardim Felicidade
81
Quadro 3 Descrição dos sujeitos da pesquisa entrevistados 83
Quadro 4 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central
– Categorias referentes à pergunta 1
122
Quadro 5 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central
– Categorias referentes à pergunta 2.
123
Quadro 6 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central
– Categorias referentes à pergunta 3
124
Quadro 7 Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central
– Categorias referentes à pergunta 4.
125
Quadro 8 Créditos de produção do média-metragem/documentário
JARDIM FELICIDADE: Vozes em transformação
177
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
% Porcentagem
AC Análise de Conteúdo
BH Belo Horizonte
CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CF Constituição Federal
CHD Classificação Hierárquica Descendente
COOPERLIX Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
CRAS Centro de Referência da Assistência Social
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
DSCSOFT Software do Discurso do Sujeito Coletivo
ECH Expressão-Chave
GEMA Grupo de Elaboração de Materiais para Aprendizagem
GF Grupo Focal
IAD1 Instrumento de Análise de Primeiro Nível
IAD2 Instrumento de Análise de Segundo Nível
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IC Ideia Central
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IRAMUTEQ Interface de R Pour Les Analyses Multidimensionnelles de
Textes et de Questionnaires
IVS Índice de Vulnerabilidade da Saúde
Km² Quilômetro quadrado
m² Metro quadrado
MG Minas Gerais
MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
MSTS Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
n° Número
NAVLAB Nave Laboratório áudio visual
ONG Organização Não Governamental
PBH Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PNAS Política Nacional de Assistência Social
PNEA Política Nacional de Educação Ambiental
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PVC Policloreto de Polivinila
RS Representação Social
SCIELO Scientific Electronic Library Online
ST Segmento de Texto
SUAS Sistema Único da Assistência Social
TCLE Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido
TIC Tecnologia da Informação e Comunicação
TNT Tecido Não Tecido
UCE Unidades de Contexto Elementares
UFLA Universidade Federal de Lavras
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
X² Qui-Quadrado
SUMÁRIO
1 Introdução .....................................................................................
15
2 O Sentimento de Pertencimento Social no Engajamento Comunitário: Um Estudo de Caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)...............................................................................
23
2.1 Introdução........................................................................................ 25
2.2 Sentimento de pertencimento social................................................ 29
2.3 Engajamento comunitário................................................................ 38
2.4 Território: espaço de promoção do pertencimento social e do engajamento comunitário................................................................
44
2.5 A gestão social para o desenvolvimento local................................. 50
2.6 Considerações Finais...................................................................... 55
Referências...................................................................................... 57
3 Influência do Sentimento de Pertencimento Social na Participação e Engajamento Comunitário...................................
65
3.1 Introdução........................................................................................ 67
3.2 Revisão de literatura........................................................................ 70
3.2.1 Pertencimento e identidade social................................................... 70
3.2.2 Engajamento comunitário 72
3.2.3 Gestão social e desenvolvimento Local.......................................... 73
3.3 Metodologia..................................................................................... 78
3.3.1 Caracterização da Pesquisa............................................................ 79
3.3.2 Unidade de análise.......................................................................... 80
3.3.3 Sujeitos de pesquisa........................................................................ 82
3.3.4 Coleta de Dados.............................................................................. 84
3.3.5 Tratamento dos Dados.................................................................... 86
3.3.6 Aspectos Éticos............................................................................... 88
3.4 Análise dos Resultados................................................................... 88
3.4.1 Categoria (1) – Responsabilidade e cuidado com o território.......... 98
3.4.2 Categoria (2) – Identidade social..................................................... 101
3.4.3 Categoria (3) - Engajamento comunitário........................................ 105
3.4.4 Categoria (4) – Mobilização comunitária......................................... 110
3.4.5 Categoria (5) – Sentimento de pertencimento social....................... 114
3.5 Análise do Discurso do Sujeito Coletivo.......................................... 119
3.5.1 Pergunta orientadora 1 – O que o bairro Jardim Felicidade representa para você?.....................................................................
127
3.5.2 Pergunta orientadora 2 – Como os moradores mais recentes vêem o bairro?.................................................................................
130
3.5.3 Pergunta orientadora 3 – Você se sente responsável pelo o que bairro se tornou hoje?......................................................................
131
3.5.4 Pergunta orientadora 4 – Você acredita que algo ainda pode ser 132
feito pela melhoria do bairro?.......................................................... 3.6 Considerações Finais...................................................................... 139
Referências...................................................................................... 145
4 Média-Metragem como Ferramenta de Intervenção Social para Educação Ambiental no Bairro Jardim Felicidade em Belo Horizonte (MG)......................................................................
155
4.1 Introdução........................................................................................ 157
4.2 Breves considerações sobre os média-metragens/documentários. 159
4.3 Metodologia..................................................................................... 168
4.4 Análise dos Resultados................................................................... 171
4.4.1 Média-metragem/vídeo documentário: Jardim Felicidade – Vozes em transformação............................................................................
171
4.4.2 Roteiro do média-metragem/documentário: Jardim Felicidade – Vozes em transformação.................................................................
173
4.4.3 Organização do espaço e tratamento do material gravado............. 174
4.5 Considerações Finais...................................................................... 180
Referências...................................................................................... 181
5 Considerações Finais.................................................................... 186 5.1 Limitações da pesquisa................................................................... 192 5.2 Sugestões do trabalho futuro........................................................... 194 Referências
........................................................................................
197
Apêndices
Apêndice A Roteiro para entrevista semiestruturada com os moradores do bairro Jardim Felicidade / MG ................
198
Apêndice B Roteiro de perguntas norteadoras para grupo focal ..... 199
Apêndice C Produto técnico .............................................................
200
Anexos
Anexo A CAAE da plataforma Brasil ............................................ 201 Anexo B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............... 202 Anexo C Termo de autorização de gravação e uso de imagem e
depoimentos .................................................................. 203
Anexo D Autorização para coleta de dados ................................. 204 Anexo E Termo de compromisso da resolução 466/12 ............... 205 Anexo F Declaração de revisão textual e gramatical 206 Anexo G Declaração de tradução dos resumos da dissertação
para língua inglesa 207
15
1 INTRODUÇÃO
A participação e o engajamento comunitário são conceitos atualmente em
eminência nas discussões acadêmicas e nos diversos segmentos sociais. O
advento da promulgação da Constituição Federal, em 1988, trouxe, em seu
arcabouço legal, o reconhecimento da participação social, que estimulou a
atuação da sociedade na gestão pública. A partir disso, o cidadão brasileiro
passou a se envolver mais nas agendas políticas, tornando-se um dos atores
nas escolhas de projetos e na elaboração de políticas públicas, o que antes era
restringido apenas aos governantes.
No campo das políticas públicas, o argumento para participação social foi e
ainda é a demanda por aumento das ações eficazes de políticas públicas que
beneficiam o coletivo. Pode-se perceber que a demanda por ações que
beneficiam o coletivo é frequentemente apresentada pelas comunidades de
baixa renda.
As comunidades de baixa renda são espaços territoriais que sofrem com o
descaso do poder público. Esses locais são marcados pela degradação
urbana, taxas elevadas de pobreza e desemprego, péssimas condições de
saneamento básico e insuficiência de serviços básicos, como saúde, educação,
assistência social. As condições habitacionais são precárias e, por vezes,
inseguras. As pessoas convivem rotineiramente com problemas sociais, tais
como: crime, violência, drogas e taxas elevadas de doenças mentais.
O Bairro Jardim Felicidade em Belo Horizonte é o objeto de estudo dessa
pesquisa. Por suas características, ele é considerado uma comunidade de
baixa de renda, cujos problemas incluem, além dos citados anteriormente, a
construção de moradias com infraestrutura precária, mas construídas de forma
interativa, popularmente conhecida por puxadinhos, e que se expandem de
acordo com as necessidades da família. Um exemplo é a agregação de novos
integrantes à família, que gera um outro fenômeno comum nas comunidades
de baixa renda: a superlotação.
16
Nesse contexto, o tema desta dissertação propõe discutir a questão do
sentimento de pertencimento mais especificamente no âmbito da comunidade
do bairro Jardim Felicidade. Essa discussão se faz importante, pois propicia um
constructo importante para o entendimento da formação de uma identidade
social dessa comunidade, identidade essa que é necessária ao engajamento e
participação no que tange às ações de cuidado com o território e com a
mitigação dos problemas ambientais vivenciados.
Em relação à identidade social, Bauman (2005, p. 18), aponta que a formação
de identidade não vai acontecer enquanto o pertencimento continuar sendo
uma condição que não se realizou. Assim, um indivíduo ou grupo, ao sentir-se
pertencente a algo ou a algum lugar, poderá contribuir intervindo para
transformar o seu meio ambiente, a partir da transformação de sua visão de
mundo que, segundo Bourdieu (1983, p. 65) pode ser interpretada como sendo
a forma pela qual os sujeitos percebem o mundo à sua volta, a partir de um
conjunto integrado de arranjos constantes e transponíveis de experiências
vividas.
O problema que delineou esse estudo perpassa pelo fato de que o bairro
Jardim Felicidade, situado na região Norte do município de Belo Horizonte
(MG), por ser uma comunidade periférica com alto índice de vulnerabilidade
desde sua construção, favorece o fato de que os moradores convivam
cotidianamente com problemas sociais como a criminalidade, que envolve os
adultos, as crianças e adolescentes, a violência doméstica, e a tóxico
dependência. Toda essa caracterização inclui o território Jardim Felicidade no
rol de comunidades vulneráveis.
Esta vulnerabilidade social deve ser compreendida em suas perspectivas
estruturais e subjetivas. Sob o escopo do apresentado por Bronzo (2010), a
vulnerabilidade social pode se estruturar territorialmente, sendo abordada pelo
vetor espacial em que se identifica que determinados espaços/territórios
concentram aspectos objetivos (estruturais) e subjetivos (relações
17
interpessoais, baixa auto-estima, processos de estigmatização e exclusão
social) que a produz e reproduz.
De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), famílias,
grupos e indivíduos, em situação de vulnerabilidade social, criam estratégias e
alternativas diferenciadas de sobrevivência, como o trabalho infanto-juvenil, o
envolvimento com práticas ilícitas dentre outras. Além disso, o longo período de
permanência fora de casa por parte dos pais e responsáveis por crianças
aumenta os riscos, pessoais e sociais, tornando essas crianças cada vez mais
vulneráveis e susceptíveis às vicissitudes do meio em que vivem (PNAS, 2004,
p. 18-19).
O descaso do poder público em investimentos no saneamento básico para
desenvolvimento local do território tem sido pauta de reuniões comunitárias. Os
fóruns realizados no bairro, após sua fundação, nos quais são discutidos os
problemas ambientais recorrentes, têm levantado demandas importantes tais
como a questão dos lixões, dos bota-foras e do descarte de toda natureza de
lixo em locais públicos e no córrego do bairro. No entanto essas demandas têm
gerado tensões entre os moradores pelo fato de que apenas alguns se
prontificam a desenvolver algumas ações de cuidado, ainda que seja em uma
pequena área de seu entorno residencial, ao contrário de outros moradores
que parecem não se importar.
No sentido de compreender o fenômeno de descuido do território por parte de
seus moradores, a resignação diante das problemáticas sociais e ambientais
com as quais convivem diariamente, compreender a forma como cada
indivíduo percebe o ambiente em que vive (age e reage sobre esse ambiente)
e como se dá, por parte dos moradores, o sentimento de pertencimento em
relação a esse território, surgiu a questão norteadora dessa pesquisa que é:
qual a influência do sentimento de pertencimento social no engajamento
comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade?
18
Partindo dos pressupostos:
o senso de pertencimento em relação ao bairro Jardim Felicidade
por parte dos moradores mais antigos é maior quando
comparados aos dos moradores que chegaram recentemente ao
bairro;
o sentimento de pertencimento interfere no nível de engajamento
comunitário;
a presença do sentimento de pertencimento proporciona na
comunidade uma gestão social;
o comportamento cuidado com o território é interpretado de
diferentes formas entre os moradores.
O objetivo geral desta pesquisa é analisar como o senso de pertencimento
social pode contribuir para a promoção do engajamento comunitário tendo em
vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com
características de inovação social e potencializadora do desenvolvimento local.
Para tanto, os objetivos específicos foram estabelecidos da seguinte maneira:
1. Realizar revisão teórica sobre a questão do pertencimento social e seus
impactos no engajamento comunitário no que tange às ações de
cuidado e desenvolvimento desse território.
2. Caracterizar as relações dos moradores com o bairro Jardim Felicidade.
3. Identificar se existe relação entre o senso de pertencimento social e o
engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade.
A escolha do tema desta pesquisa surgiu a partir da experiência do trabalho
exercido pela pesquisadora no Centro de Referência da Assistência Social
(CRAS) Jardim Felicidade. O vínculo estabelecido com esta comunidade
ocorreu a partir da relação de trabalho com famílias que propiciou à
pesquisadora a aproximação, tanto das pessoas quanto de seus mais diversos
problemas e desafios sociais e ambientais, favorecendo o conhecimento de
suas fragilidades e potencialidades.
19
Um aspecto de potencialidade que pode ser constatado no bairro Jardim
Felicidade é que esta comunidade, desde sua formação, à sua maneira e com
os recursos disponíveis, luta por melhorias e pelo desenvolvimento local.
Nessa luta, alguns moradores permanecem buscando o desenvolvimento e a
melhoria da qualidade de vida da população deste lugar, desde a fundação do
bairro.
Atualmente, estas ações incluem a construção de parques, jardins, quadras
poliesportivas, formação de associação comunitária, implantação de transporte
público, saneamento básico, segurança pública, melhoria da estrutura de
equipamentos públicos como os centros de saúde, escolas e melhoria do
próprio Centro de Referência da Assistência Social, CRAS Jardim Felicidade,
pois estes são os espaços onde acontecem as convivências.
Nesse contexto, esta pesquisa se faz relevante por tornar possível a
compreensão de que pode existir relações entre o sentimento de pertencimento
e o engajamento comunitário. Constanzo (2005) menciona que a participação
comunitária promove tanto o desenvolvimento comunitário quanto o social, na
medida em que desenvolve sentimentos de pertença, autonomia, pró atividade
e ativa mecanismos psicológicos que se interconectam os indivíduos com o
espaço público e privado fazendo com que a necessidade do bem comum seja
uma tarefa compartilhada.
Essa pesquisa mostra que, quando a sociedade, o governo e as comunidades
acadêmicas se interessam pelo conhecimento teórico sobre os conceitos de
pertencimento e engajamento, podem elaborar estratégias direcionadas à
mitigação dos problemas existentes em comunidades de baixa renda, como é o
caso do bairro Jardim Felicidade.
Esta pesquisa é também importante para a sociedade porque mostra que o
sentimento de pertencimento pode favorecer processos participativos como a
formação de conselhos para discussão de políticas públicas. A prerrogativa é
que os sujeitos envolvidos nesses conselhos se tornem mais comprometidos e
20
engajados e se tornem multiplicadores da ideia de uma gestão social
participativa, em nível local.
No que tange à área de concentração deste Programa de Pós-graduação que é
Inovação Social e Desenvolvimento Local, a pesquisa é importante por trazer a
compreensão de que o sentimento de pertencimento pode interferir no
engajamento comunitário. Dessa maneira, se faz necessário pensar ações que
promovam o sentimento de pertencimento e auxilie na formação de sujeitos
engajados, de modo a contribuir com ações inovadoras que culminem no
desenvolvimento local.
Bignetti (2011, p. 4) define a inovação social “como uma das formas de se
buscarem alternativas viáveis para o futuro da sociedade humana”, já que ela
traz em sua dimensão principal as respostas para solucionar problemas ou
necessidades de pessoas vulneráveis, envolvendo-as e motivando a
participação, de forma que as ações e intervenções possam ir ao encontro de
suas reais necessidades, considerando suas potencialidades e aproveitando os
fazeres locais. Esses fatos refletem na melhoria da qualidade de vida e das
relações sociais, fortalecendo os mecanismos de participação (LOPES et al.,
2015, p. 2).
A autora desta pesquisa é graduada em Psicologia, Especialista em
Intervenção Psicossocial no contexto das Políticas Públicas, servidora pública
de carreira na área da Educação atuando como diretora em Escola Municipal
de Educação Infantil de Belo Horizonte. Assim, esta pesquisa é relevante por
contribuir para ampliação da experiência profissional, capacitando-a para
melhorar sua atuação nessas áreas e em outras diversas áreas em que possa
contribuir com saberes adquiridos para tornar a sociedade um lugar melhor.
A estrutura dessa dissertação será organizada da seguinte maneira: o capítulo
introdutório contempla o tema abordado, a questão central ou problema da
pesquisa, os pressupostos e a relevância da pesquisa para a sociedade, para a
academia, para a área de concentração desse programa de mestrado.
21
Em seguida serão apresentados outros três capítulos: O primeiro, que tratará
da apresentação do referencial teórico que embasou a pesquisa e tornou
possível a compreensão de fenômenos como pertencimento social,
engajamento comunitário e cuidado com o território que são as principais
temáticas norteadoras. Será abordada a metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa e as implicações dos referidos fenômenos no
que tange à gestão social e ao desenvolvimento, bem como as possíveis
lacunas que o estudo pode suprir e as considerações finais acerca desse
capítulo.
O segundo capítulo será composto pela apresentação da pesquisa empírica.
Na introdução se fará um breve apontamento do tema com os principais
conceitos (pertencimento e engajamento comunitário), os objetivos da pesquisa
empírica e as implicações e lacunas que poderão ser preenchidas a partir do
alcançado com o estudo de campo realizado.
Será apresentada a revisão de literatura feita a partir dos conceitos da gestão
social e seus pressupostos e de como esta gestão pode ser aplicada ao
desenvolvimento local; a metodologia usada para desenvolvimento da pesquisa
empírica; os resultados alcançados através da análise das entrevistas e do
grupo focal; as considerações finais e as referências do capítulo.
No terceiro capítulo, será apresentado o produto técnico oriundo de todo o
trabalho realizado, que é um média-metragem/documentário elaborado a partir
dos resultados da pesquisa empírica com a co-participação da própria
comunidade na criação do roteiro, na participação dos depoimentos acerca da
história do bairro desde sua fundação e nas imagens cedidas que compuseram
o documentário.
A revisão de literatura deste capítulo compreenderá os conceitos de curta e
média-metragem, as implicações de seu desenvolvimento na comunidade,
considerando a complexidade técnica e social desde sua elaboração. O média-
metragem/documentário, depois de exibido, será usado como ferramenta de
22
intervenção sob a perspectiva da inovação social, com vistas à formação e
potencialização do sentimento de pertencimento social. E abrangência do
média-metragem/documentário, para além da comunidade do bairro Jardim
Felicidade.
As considerações finais desta pesquisa, bem como as limitações para sua
realização, as sugestões para trabalhos futuros e aspectos sociais importantes
serão abordados no quarto capítulo dessa dissertação.
23
2. O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO
COMUNITÁRIO: um estudo de caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte
(MG)
1Aparecida Mendes de Paiva
2Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
RESUMO
O propósito deste artigo é apresentar a visão de diferentes autores acerca dos
temas: pertencimento social, engajamento e participação comunitária, território,
gestão social e desenvolvimento local. Estes temas são importantes para que
se compreenda a possível relação existente entre o sentimento de
pertencimento social dos moradores do Bairro Jardim Felicidade, em Belo
Horizonte (MG) e a participação e o engajamento comunitário destes, no que
se refere às ações de cuidado e de desenvolvimento local do território. A
metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa que incluiu a pesquisa
bibliográfica. Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que pode existir
influência do sentimento de pertencimento no que tange à participação e ao
engajamento comunitário, pois quando o sujeito se sente pertencente a algum
lugar, ele pode desenvolver interesse pela participação e engajamento de
ações que envolvam esse território. Entretanto, existem fatores que podem
potencializar ou fragilizar esse sentimento de pertencimento.
Palavras-chaves: Desenvolvimento local. Gestão social. Território.
1 Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em
Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] 2 Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em
Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
24
2 THE FEELING OF SOCIAL BELONGING IN COMMUNITY ENGAGEMENT: A case study in Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)
[1] Aparecida Mendes de Paiva
[2]Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
The purpose of this article is to present the vision of different authors about the themes: social belonging, engagement and community participation, territory, social management and local development. These themes are important in order to understand the possible relationship between the residents of Bairro Jardim Felicidade` s neighborhood feeling of social belonging in Belo Horizonte (MG), and their participation and community engagement, with regard to care actions and local development of the territory. The methodology used was the qualitative approach that included bibliographical research. The results evidenced that there may be influence of the feeling of belonging with regard to community participation and engagement, because when the subject feels he belongs somewhere, he may develop interest in participation and engagement in actions that involve that territory. However, there are factors that can enhance or weaken this sense of belonging. Keywords: Local development. Social management. Territory.
______________
¹Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
² Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
25
2.1 INTRODUÇÃO
Este artigo analisa os fenômenos sociais que engendram a participação e o
engajamento comunitários. Alguns desses fenômenos são complexos e
envolvem o desemprego, a inflação, a distribuição das riquezas, o consumismo
exacerbado e tendem a maximizar as forças sociais que são constituídas por
associações de moradores, de trabalhadores, comissão de cidadãos, partidos
políticos, igrejas, organizações não governamentais, que se encarregam de
ações contra a pobreza na defesa das classes sociais desfavorecidas.
Esses fenômenos sociais, presentes na atualidade, incidem na forma pela qual
os indivíduos e grupos se posicionam perante à sociedade, podendo inclusive
influenciar o seu status quo, já que nem sempre esses valores predominantes
na sociedade globalizada, respeitam os valores coletivos, a diversidade e a
justiça social. A complexidade dos fenômenos sociais, como observa
Constanzo (2005), desafiam as pessoas a enfrentarem mudanças em diversos
campos da vida, sejam eles, tecnológicos, sociais e/ou valorativos.
De acordo com Alba Zambrano Constanzo, faz sentido questionar a aliança
entre por um lado os valores culturais, os valores éticos ou de consciência e,
por outro lado os valores econômicos predominantes numa sociedade
capitalista, quando se busca o desenvolvimento social. Esse questionamento
faz sentido porque, de acordo com os valores predominantes numa sociedade
capitalista nem todos os seres humanos são contemplados, de fato, como
pessoas em uma conjuntura de oportunidades (CONSTANZO, 2005).
Outro fator que pode incidir sobre os sujeitos, em razão da presença dos
fenômenos sociais como a pobreza, a exclusão e a estigmatização pode ser o
sentimento de apatia frente aos problemas sociais. A apatia, segundo o
dicionário Aurélio de língua portuguesa, pode ser identificada como a falta de
energia, indiferença e indolência. É uma condição psicológica caracterizada
por um estado emocional de impassibilidade, falta de sentimento ou
26
encorajamento de um indivíduo perante alguma situação e tem como
particularidades o desgaste físico, a inércia e a letargia. (FERREIRA, 2002, p.
50).
Sobre a apatia ou inércia, Cardoso (2008) analisa que este estado se manifesta
de maneira mais profunda, devido ao impacto de séculos de escravidão, o que
de certa forma pode ser visto como um fenômeno revisitado na sociedade
capitalista atual, que vive num contexto de exploração e exclusão social e que
se consolidaria num comportamento de apatia e indiferença frente aos
problemas sociais, que corroboram para que as pessoas, devido à dificuldade
de acesso aos bens e recursos essenciais à sobrevivência, se revoltem ou se
anulem ante o problema.
A resignação e apatia diante dos desafios é um fenômeno no qual a parcela
social mais empobrecida e oprimida pode estar sujeita. Segundo Cidade (2012,
p. 112), isso ocorre quando indivíduos e grupos experimentam cotidianamente
frustrações recorrentes dos seus esforços em transformar o curso de suas
vidas. Seu imaginário social aciona mecanismos psíquicos que são um
conjunto de leis, justificativas e modelos explicativos, que os auxiliam a
entender a realidade em que vivem. Um desses mecanismos é a justificativa de
que existe uma ordem divina já estabelecida, que é responsável pelo destino
dos sujeitos e, dessa forma, se aceita passiva e resignadamente a situação,
por acreditar ser da vontade divina.
A resignação e a passividade de determinados indivíduos e grupos, perante às
condições de opressão e descaso que acometem parte da população mais
vulnerável são denominadas por Martín-Baró (1998) de fatalismo. Segundo
Cidade (2012), o fatalismo é um fenômeno psicossocial que advêm das
condições de pobreza e opressão consequentes da forma como vivem as
sociedades oprimidas, perpetuadas por crenças religiosas que estimulam e
disseminam ideais de resignação.
27
Nesse contexto, Martín-Baró (1998, p. 89) assevera que o fatalismo lançaria
suas raízes, mais na psique das pessoas, do que na operação de estruturas
econômicas, políticas e sociais. Essa incursão psíquica é o que poderia levar
os indivíduos e grupos a uma aceitação passiva e resignada das condições de
opressão e descaso que os cercam, podendo levá-los ao comportamento de
obstinação à participação, e apatia ante ao engajamento nas ações de
desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida local. E ainda, “Em crescente
isolamento, com as pessoas sendo capazes de participar cada vez menos nas
cerimônias sociais e tradições que uma vez reuniu as pessoas e ajudou a criar
e manter laços sociais entre os indivíduos.” (REYLES, 2007, p. 2).
Nesse enquadramento, Bauman também assinala que esse fenômeno, às
vezes inconsciente, de resignação e aceitação passiva perante aos problemas
sociais vivenciados pela comunidade se assemelha a um abismo do qual
apenas alguns se atreveriam a sair de forma voluntária sem serem empurrados
para fora, pois “forças centrípetas e centrífugas, de atração e repulsão, se
combinam para segurar os inquietos e estancar a inquietude dos
descontentes.” (BAUMAN, 2007, p. 13).
Observa-se que resignação, fatalismo e sentimento de apatia são
comportamentos que se contrapõem ao sentimento de pertencimento e ao
engajamento, e que podem ser assimilados em razão da vivência contínua de
opressão e descaso, pela qual as pessoas de baixa renda são acometidas. E,
que de alguma maneira, estes fenômenos podem incidir no modo como as
pessoas se relacionam umas com as outras e com o meio em que vivem, ou
seja, o território.
O objetivo deste capítulo foi apresentar através da revisão teórica realizada
autores que discursaram sobre os temas pertencimento social, engajamento
comunitário, gestão social, desenvolvimento local e território, a fim de encontrar
elementos que subsidiassem a pesquisa sobre o pertencimento social e seus
impactos e implicações no engajamento comunitário no que tange às ações de
28
cuidado e desenvolvimento local por parte dos moradores do bairro Jardim
Felicidade.
O Quadro 1 apresenta a organização dos principais temas abordados e que
fizeram parte da revisão de literatura para o desenvolvimento deste trabalho,
bem como os aportes dos autores utilizados e suas referências.
Quadro 1 – Principais temas e seus respectivos autores
Tema de pesquisa Contribuição para o campo de investigação
Autores
Pertencimento social
Os autores conceituam o construto e demonstram sua importância e aplicação em diferentes contextos
Brea (2014); Santos e Manfrin (2016); Maturana (2002); Sá (2005); Cousin (2013); Bauman (2005); Amaral (2006); Lestinge (2004).
Engajamento Comunitário
Os autores conceituam o engajamento comunitário e discorrem sobre sua aproximação com o tema participação social. Além de explicitar sua importância e campos de aplicação.
Lima e Galimbertti (2016); Sales (2014); Alencar (2014); Mccloskey (2011); Jacobi (2005); Piva et al. (2010); Freitas (1996); Montero (1996).
Desenvolvimento Local
Definição, aplicação e caracterização
Gómez (2002); Kuyumjian, Santos e Sant’Anna (2014); Tenório (2007); Lizuka, Goncalves-Dias e Aguerre (2012).
Gestão Social
Conceituação, aplicação e caracterização
Tenório (1998); Fischer et al. (2006); Cançado (2011); Sousa (2012); Wanderley (2013); Freitas et al. (2016); Dias e Figueiredo (2015); Sabino e Araujo (2015).
Território
Os autores apresentam os conceitos e sua aplicação.
Gattari (1985); Raffestin (1993); Santos (2000); Haesbaert (2005); Koga (2003); Brasil (2008); Gottmann (2012); Nascimento e Mellazo (2013); Itaborahy (2010); Gottmann (2012).
Fonte: Elaboração própria.
29
Almeja-se, com este estudo, contribuir para que a compressão dos conceitos
pertencimento social e engajamento comunitário possam dirimir as lacunas
ainda existentes nas intervenções em comunidades desfavorecidas
socioeconomicamente (como ocorre no bairro Jardim Felicidade, objeto desse
estudo). Contribuir na formulação de estratégias que viabilizem e aprimorem
novas práticas e ações de desenvolvimento local que levem em consideração
as especificidades dos territórios e que, principalmente, envolvam os sujeitos
desse território nessas ações.
Uma dessas lacunas é o que se tem observado na forma verticalizada de
intervenção social nos territórios, principalmente nos mais vulneráreis. Esta
forma de intervenção desconsidera as potencialidades que este território e
estes atores têm para oferecer e inviabilizam as práticas de Gestão Social.
2.2 SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL
O pertencimento social tem sido um construto bastante discutido na literatura.
Dentre os autores visitados pela pesquisadora, citam-se Brea (2014); Santos e
Manfrin (2016); Maturana (2002); Sá (2005), Cousin (2013); Bauman (2005).
Esses autores promovem discussões relacionadas aos fatores que
potencializam ou fragilizam o pertencimento e os benefícios desse sentimento
no engajamento comunitário, que subsidiaram a pesquisadora com elementos
necessários para responder a questão central da pesquisa, que foi identificar a
possível relação entre o sentimento de pertencimento e o engajamento
comunitário, e como isso se estabelece entre os moradores de um território, tal
qual pode ser constatado no território estudado.
Áreas de estudos, como a Psicologia, têm promovido discussões acerca do
sentimento de pertencimento e trazido contribuições para compreensão desse
fenômeno. Para a Psicologia Social Crítica, a subjetividade humana é uma
constituição sócio-histórica, em que os sujeitos, em sua relação com meio,
30
determinam e são por ele determinados (TAVARES, 2014). A Psicologia Social
Crítica compreende que
a construção da identidade e da subjetividade dos indivíduos
são processos psicossociais que têm em sua composição
fatores históricos e contextuais, que afetam as relações e
segmentam a sociedade em classes e/ou categorias. Dessa
forma, acentuam-se as semelhanças e diferenças entre os
indivíduos e produzem, ao mesmo tempo, sentimentos de
pertença a determinados grupos, bem como discriminações e
exclusão de outros. (TAVARES, 2014, p. 193).
Rosana Carneiro Tavares também argumenta que o pertencimento social é
sentimento típico da condição humana, e que é necessariamente elementar ao
ser humano o sentir-se parte da sociedade. Isso ocorre pelo fato de o ser
humano, em sua constituição, ser inerentemente social.
No contexto da Psicologia Ambiental, Lima e Bomfim (2009) evidenciam as
contribuições trazidas pela psicologia social através dos estudos de Kurt Lewin
e da preocupação com o meio ambiente ao estudar as relações e inter-relações
entre as pessoas e o ambiente, bem como os processos afetivos e cognitivos
que perpassam por este ambiente social. Na medida em que seu objeto de
estudo são as relações em todas as suas configurações, esta vertente
psicológica se preocupa com o que as pessoas sentem, pensam e como
vivenciam e experimentam o espaço em que vivem. Esses aspectos assinalam
na direção do pertencimento social.
Nesse sentido, tanto a Psicologia Social quanto a Psicologia Ambiental, são
estudos para o construto pertencimento social, na medida em que, os sujeitos
em destaque nas duas vertentes constroem suas subjetividades e identidades
nas relações e inter-relações com o Outro e com o meio. Este Outro se
relaciona ao conceito de alteridade, o Outro que está em relação com, e se
diferencia do outro (com letra minúscula) que quer dizer, semelhante, próximo
(LACAN, 1985). De acordo com Gilberto Velho (2008), este Outro é que
ressalta a diferença existente entre os sujeitos sociais.
31
As discussões realizadas entre os diferentes autores e áreas de estudo
perpassam pelo fato de que o sentimento de pertencimento esteja ligado às
relações interpessoais estabelecidas com e no território e à forma como os
indivíduos e grupos interagem dentro desse espaço. Assim, transcorre pela
discussão de que o sentimento de pertencimento esteja relacionado ao
cooperativismo e à coletividade, podendo assim, favorecer o engajamento
comunitário.
Seguindo esta lógica, a pesquisadora compreendeu que tais discussões
apresentavam alguns elementos que a auxiliariam nas respostas da questão
central desta pesquisa, propiciando condições de análise da identificação da
relação entre pertencimento e engajamento comunitário, o que de fato ocorreu
durante todo o processo de pesquisa de campo.
Nessa direção, tornou-se fundamental para o estudo a que se propunha esta
pesquisa, fazer menção dos sujeitos implicados em todo o processo de
subjetivação que os envolve. Assim, não se pode fazer referência ao
sentimento de pertencimento sem ter em mente os indivíduos e grupos, seu
território e as relações ali estabelecidas. No contexto desta pesquisa, esses
sujeitos e grupos foram os moradores e as instituições do bairro Jardim
Felicidade. São os sujeitos pertencentes ao território, a partir de uma lógica de
proximidade do cidadão, reconhecendo-se também a existência de diversos
fatores sociais, econômicos, políticos e culturais nele presentes
(NASCIMENTO; MELAZZO, 2013, p. 67).
Afonso e Fadul (2014) corroboram com a discussão de que, ao se fazer
referência ao sentimento de pertencimento, deve-se considerar os indivíduos e
os grupos, bem como considerar as relações estabelecidas entre estes e seu
território. Isso quer dizer que as intervenções devem levar em conta tanto os
sujeitos sociais, como seus territórios, ou seja, os moradores, as lideranças, as
instituições públicas (escolas, centros de saúde, Centro de Referência da
Assistência Social, igrejas, entre outros) e privadas (comércios da região),
32
Organização Não Governamental, pois estas intervenções “não se
materializam sem a participação do sujeito” (AFONSO; FADUL, 2014, p. 105).
Dessa maneira, o sentimento de pertencimento é a crença subjetiva num laço
comum que une distintos sujeitos. Esses sujeitos, a partir desse sentimento de
pertença, passam a pensar em si mesmos como membros de uma
coletividade, cujos sinais ou marcas que os identificam expressam valores,
medos e aspirações. O sentimento ainda pode ser reconhecido na maneira
como um grupo desenvolve suas atividades, respeitando as diferenças
individuais e mantendo as relações sociais (AMARAL, 2006).
A partir do momento que os membros de uma comunidade são reconhecidos a
partir da crença subjetiva de comunidade, surge daí o sentimento de pertença
em que os laços se fazem a partir do compartilhamento da crença de que, ao
se envolverem, o fazem em benesse de um objetivo e de um destino comum
que é, por exemplo, a esperança de uma vida melhor.
Brea (2014) entende o pertencimento como diretamente ligado ao modo como
um sujeito ou grupo social interage com o meio em que vive. Assim, quando os
sentimentos de pertencimento e identidade estão mais fortalecidos, valores
como respeito, cuidado e ajuda mútua estarão presentes nas relações
humanas, facilitando a cooperação entre os sujeitos, em ações que visem o
bem comum.
Isso pode explicar o motivo de muitos grupos minoritários, assim considerados
pelos seus aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos, ao
invés de submergirem, se organizarem e se unirem na busca por espaço na
sociedade e na conquista por igualdade de direitos, reconhecimento e
dignidade humana. Dessa maneira, o senso de pertença pode contribuir para
que grupos, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS), os movimentos de defesa
dos negros, índios, das mulheres, dos homossexuais se apropriem do lugar e
33
passem a acreditar que podem intervir para promover a transformação desse
lugar (AMARAL, 2006).
Este sentimento faz com que os grupos minoritários, a despeito das
dificuldades, dos desafios e de suas limitações estruturais, se organizem em
prol de um projeto social, político e/ou comunitário. A isso Amaral (2006)
chama de pertencimento. A autora discorre acerca desse sentimento,
argumentando que o esse sentimento corrobora para a formação de grupos
com objetivos comuns de desenvolvimento e de luta por direitos, inferindo que
esse sentimento de pertença tenha relação estreita com a noção de
participação e de engajamento, na medida em que os atores ali envolvidos
persuadem uma construção coletiva de forma participativa e co-responsável no
processo, pois se considera os resultados como parte de cada integrante.
O sentimento de pertencimento é definido com um sentimento que cria raízes e
identificação do individuo com um determinado grupo ou ambiente. Quando o
individuo se sente pertencente, ele passa a ter um compromisso com o seu
próprio desenvolvimento, com o desenvolvimento do grupo de pertença e com
o lugar (BREA, 2014).
Na perspectiva do agir coletivamente, Santos e Manfrin (2016) demonstram
que o sentimento de pertencimento se relaciona ao cooperativismo e à
coletividade. As autoras reforçam a necessidade de fortalecer a coletividade e
o cooperativismo de modo que as pessoas reconheçam sua importância e, ao
reconhecê-los percebam que, a partir do trabalho coletivo, podem-se obter os
resultados desejados. E, havendo a satisfação pelo resultado alcançado,
desenvolver no grupo o sentimento de pertencimento poderá favorecer a
participação dos sujeitos nos processos de planejamento e tomada de decisão
em relação ao coletivo.
A exemplo de como o sentimento de pertencimento é importante para o
fortalecimento do trabalho coletivo, Santos e Manfrin (2016) relatam o trabalho
desenvolvido na Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis
34
(Cooperlix) que vinha se reestruturando fazendo necessária a inclusão de
novos cooperados.
Assim, segundo as autoras, era necessária uma intervenção para que se
fortalecesse a cooperativa, expandindo-a no mercado de trabalho, com vistas à
geração de renda, qualidade de vida e inclusão social, dos catadores de
materiais recicláveis, na cidade de Presidente Prudente. Nessa intervenção, o
sentimento de pertencimento esteve presente na medida em que propiciou a
participação de todos os cooperados evitando assim a transformação da lógica
cooperativista em uma lógica de mercado empresarial (SANTOS; MANFRIN,
2016).
Nesse contexto, Brea (2014) alega que autores vinculados a empresas, situam
o sentido de pertencimento ao empregado que, dentro de uma organização
compartilha os valores e metas desta empresa. Que sente desejo de
permanecer e se percebe aceito, valorizado, incluído e parte importante da vida
e das atividades do grupo.
Assim, não fará diferença ao sujeito se ele se sente pertencente a uma
organização, a uma comunidade, a um território, a uma cidade, a um país, a
uma família; este sentimento fará com que este sujeito se aproprie deste lugar
e se sinta à vontade para intervir neste lugar. E mais que isso, ele sente que
vale a pena investir na transformação daquele lugar e empenha esforços para
isso.
O fato de não fazer diferença ao sujeito de qual grupo, organização ou
comunidade, ele faz parte, desde que ele se sinta pertencente é
problematizado por Koury (2010) que argumenta que o sentimento de pertença
também pode gerar práticas negativas, como no caso do sujeito se sentir
pertencente a um grupo, cujos valores e preceitos norteiam ações e práticas de
extremismo.
35
Baseado nessa análise Koury (2010, p.42) esclarece que a “emoção deixa de
ser pura subjetividade de expressões de sentimento para ser moldada e
praticada pelos indivíduos e pelo conjunto societário através de seus
micropoderes” e ainda que
os compromissos morais para com o grupo, para com os outros
e para com a pessoa mesma, deste modo, passam a
ressignificar o caráter da ação social individual e grupal, e os
indivíduos que nela se movem são sujeitos ao conjunto das
normas e regras socialmente instituídas e vêem-se uns aos
outros através deste complexo moral. (KOURY, 2010, p. 42).
Outra questão é a que Bauman apresenta ao mencionar que as relações entre
algumas pessoas estão cada vez mais fragilizadas e descartáveis; com
“ligações frouxas e compromissos revogáveis” (BAUMAN, 2007, p. 12). Estes
fatos, conforme enunciado por Bauman e problematizados por Guattari, alertam
para a possibilidade de que, o simples fato de se estabelecer as inter-relações -
condição inerente aos processos grupais -, essas inter-relações podem gerar
tanto o comprometimento, quanto o conflito e o descomprometimento, devido à
relação entre a subjetividade e a exterioridade, que leva os sujeitos da relação
a vivenciarem um “movimento geral de implosão e infantilização regressiva”
(GUATTARI, 2001, p. 8).
Este movimento de implosão e infantilização vivenciado pelos indivíduos e
grupos, conforme Guattari podem gerar inquietações e perturbações
estruturais, relacionais e psíquicas, que terão implicações nos modos de vida
dos seres humanos, individuais e coletivos e podem ter como consequência a
degradação progressiva das relações de reciprocidade e empatia entre as
pessoas. Exemplos dessa degradação progressiva aparecem na vida familiar e
conjugal, nas relações de vizinhança que tendem a se reduzir ao mínimo até
chegarem à mais indigente expressão (GUATTARI, 2001)
Essas inquietações e perturbações estruturais, relacionais e psíquicas, que
culminam na fragilização das relações familiares e de vizinhança podem estar
vinculadas ao sentimento dos indivíduos pelo espaço territorial, e ao
36
sentimento de inserção destes indivíduos, na medida em que se sentem ou
não, integrados a um propósito maior, numa dimensão não só concreta, mas
também abstrata e subjetiva. No que tange ao sentimento de pertencimento
dos sujeitos para com o território, Lestinge (2004) assinala que este
sentimento, pode ser também definido como enraizamento e, neste caso, está
associado à realidade política, social e econômica.
Sá (2005) profere que, em razão de uma sociedade que tem suas bases de
construção no capitalismo, o ser humano passa a desconhecer as relações que
o tornam humano ou, nos termos de Maturana (2002) e Machado (2010), que o
hominizam, como por exemplo, a aceitação do outro como legítimo na
convivência. Esta deshominização tende a levar o indivíduo a ignorar um
problema que não o afete direta e eminentemente, ou seja, desde que não se
sinta prejudicado diretamente por alguma situação proveniente do desrespeito
e descuido com o meio ambiente, este sujeito não se implica; não se envolve;
não participa.
Nessa circunstância, Sá ainda destaca que “o sentimento de pertencimento é
sublinhado como uma capacidade humana de empatia entre subjetividades,
desde que o ser humano reconheça a subjetividade como uma qualidade do
mundo vivido e entre em comunicação intersubjetiva com ele” (SÁ, 2005, p. 3).
Nesse contexto, entende-se como subjetividade o mundo interno dos seres
humanos. Esse mundo interno contempla suas emoções, sentimentos e
pensamentos em relação a tudo que o circunda.
Através de seu mundo interno, ou seja, a partir da subjetividade, os sujeitos
constroem seu mundo externo, suas relações interpessoais e intersubjetivas,
ou seja, a subjetividade compartilhada coletivamente com os outros membros
da comunidade. Esses relacionamentos vão se construindo e se
desconstruindo a partir das representações sociais de cada indivíduo. Isso
permite que cada indivíduo desempenhe diferentes papéis, conforme os
ambientes e as situações com as quais precisa lidar cotidianamente, pois
37
“Toda ação decorre de certa compreensão/interpretação, de algo que faz
sentido” (CARVALHO; GRUN, 2005, p. 180).
Cousim (2013) corroborando com a opinião de Sá (2005) acrescenta que o
“pertencimento pode ser compreendido como uma crença ou ideia que une as
pessoas, e é expresso por símbolos e valores sociais, morais, estéticos,
políticos, culturais, religiosos e ambientais dentre outros, de um determinado
lugar” (COUSIN, 2013, p. 10). Isso reforça o entendimento de que o
pertencimento pode ser um sentimento adquirido e, portanto, pode ser
promovido através de ações e intervenções sociais.
Como visto na literatura estudada, o sentimento de pertencimento é primordial
nas relações do sujeito com o meio ambiente. O meio ambiente, enquanto o
lugar onde se vive, configura-se como o espaço das relações, dos conflitos, da
formação de identidade. E, portanto, existem fatores que favorecem o
pertencimento e fatores que o desfavorecem.
Dos fatores que favorecem o pertencimento, e que estão no contexto deste
trabalho, citam-se o reconhecimento e a valorização das potencialidades dos
indivíduos; relacionamentos pautados no respeito, na reciprocidade e na
empatia; o respeito às diferenças; o compartilhamento de crenças e desejos
comuns; a participação em algum grupo; a apropriação do território; a
cooperação e o trabalho coletivo.
Dos fatores que desfavorecem o pertencimento social, foram vistos na literatura
que discorre sobre o tema, os relacionamentos cada vez mais fragilizados e
descartáveis; os desequilíbrios ecológicos; o consumismo exacerbado; a
exclusão social; a estigmatização das minorias; a presença de conflitos não
resolvidos; o descomprometimento social; a degradação do afeto nos
relacionamentos; as interações baseadas na agressão que interferem e
rompem a convivência (MATURANA, 2002); o desrespeito aos seres humanos
e aos espaços públicos; o isolamento social; o descaso do poder público para
38
com a classe empobrecida e para com os territórios mais vulneráveis e o
fatalismo religioso.
A fim de compreender a relação que envolve o sentimento de pertencimento
dos indivíduos e grupos de uma comunidade e o engajamento destes sujeitos
nas intervenções propostas, sejam por meio de políticas públicas, sejam por
meio de programas e projetos, se fez necessária a sua conceituação. Cabe
esclarecer que a pesquisadora não pretendeu trazer conclusões definitivas em
relação ao conceito, mas apenas provocar a reflexão a cerca da importância do
sentimento de pertencimento na relação do cidadão com o seu território.
2.3 ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO
Vale ressaltar que engajamento comunitário e participação comunitária são
vistos como conceitos semelhantes em algumas das literaturas revisadas que
versam sobre a temática: Lima e Galimbertti (2016); Sales (2014); Alencar
(2014); McCloskey et al. (2011); Jacobi (2005). Nesse aspecto, Sales (2014)
analisa as convergências entre os dois conceitos, descritas nos aspectos tanto
presentes em um, quanto em outro e assegura que no Brasil, o Engajamento
Comunitário e Participação Comunitária tendem a ser compreendidos como
termos semelhantes.
Para o contexto desta pesquisa, foram apresentados os conceitos de
participação e engajamento, no sentido de fundamentar a reflexão acerca
destes conceitos e, para tanto, se fez necessário conceituá-los à luz dos
referenciais teóricos encontrados, sem, contudo, pretender esgotar e/ou chegar
à definição unânime acerca dos conceitos.
O engajamento comunitário será compreendido, para a conjuntura pesquisada,
como construto que poderá ser identificado quando um sujeito ou grupo
comunitário age sobre determinada coisa ou determinado lugar, para
transformá-lo positivamente, para si e para o Outro. De acordo com o proposto
por Sales (2014, p. 27),
39
o Engajamento Comunitário deve ser entendido como um
processo, que envolve um continuum de atividades [...]
Enquanto um continuum, as metas propostas podem variar
desde o fornecimento e intercâmbio de informação até a
coprodução de serviços/atividades, bem como o controle, pelas
comunidades [...].
Nesse sentido, o engajamento é um processo que gera ações contínuas por
parte dos envolvidos em relação à comunidade e o território. Os esforços e a
mobilização de potências subjetivas e intersubjetivas tendem a assumir o
formato de pequenos grupos, em que cada participante trabalha de maneira
colaborativa buscando o bem comum e não somente buscando seus interesses
individuais (SALES, 2014). Dessa maneira, McCloskey et al. (2011) dizem que,
o engajamento comunitário também pode ser visto como um envolvimento da
comunidade nos mecanismos de participação.
Mccloskey et al. (2011) asseveram que o engajamento da comunidade pode
ser alcançado durante um período de tempo limitado, quando, por exemplo, um
determinado problema transitório afeta parte da população e esta se mobiliza
em um projeto temporário, até que o problema específico seja resolvido. Mas,
frequentemente, as pessoas envolvidas nestas ações temporárias podem
desenvolver parcerias de longo prazo, que passam de uma única questão, ou
seja, um problema pontual na comunidade (como falta de saneamento básico,
por exemplo) para abordar uma gama de fatores sociais, econômicos e
ambientais que afetam a vida de todos.
As parcerias estabelecidas em busca da solução de problemas e a participação
como produto do engajamento da comunidade que surgiram com o advento da
CF/88, se tornaram espaços institucionalizados, como é o caso dos “conselhos
de políticas públicas, as conferências nacionais, as audiências públicas e as
ouvidorias” (ALENCAR, 2014, p. 261) que são instituições participativas que
possuem o objetivo de unir os membros de uma comunidade em prol de um
mesmo objetivo: construir os processos de participação da sociedade no
cenário político e propor o diálogo entre diversos atores da sociedade civil e o
estado.
40
No que tange às instituições participativas, Alencar (2014) apresenta, em seu
estudo (Participação Social: Institucionalização e Integração ao Ciclo de
Políticas Públicas) canais de participação, criados e fortalecidos, como é o
caso das comissões, conferencias e conselhos temáticos da (assistência,
saúde, educação). Segundo a autora, estes espaços participativos vieram
crescendo ao longo do tempo e o número de conselhos e comissões
aumentaram consideravelmente. A autora aponta que
de 1988 até 2010, foram criados 52 conselhos nacionais, que
se somaram aos cinco existentes, 24 deles foram criados de
2003 a 2010 Organizaram-se 103 conferências nacionais entre
2003 e 2014, nas diversas áreas de políticas públicas. No
período de 2004 a 2009, foram realizadas mais de 203
audiências públicas (Ipea, 2013a). As ouvidorias públicas do
Poder Executivo federal, ouvidorias gerais dos estados,
Legislativo e Judiciário no Brasil, segundo levantamento mais
recente, totalizam 420 (ALENCAR, 2014, p. 261).
Lima e Galimbertti (2016) acrescentam que, no Brasil, a participação da
sociedade, em diversas instâncias sociais, se deu histórica e paulatinamente
imersa em um cenário de opressão e resistência. Este cenário incentivou e
conduziu o debate sobre a participação social nas políticas públicas e sobre a
criação de mecanismos políticos de participação de diferentes atores sociais. O
reconhecimento da importância da participação desses atores sociais ocorreu a
partir de 1980 (DIEGUES, 2012).
Para Jacobi (2005), a participação pode ser vista como um processo de ação
coletiva e colaborativa de participação, de mobilização de potências de ação
subjetiva e intersubjetiva que possibilita e estimula a formação de identidades
coletivas nos espaços de convivência. Sugere-se que pertencimento, por sua
vez, poderá levar ao envolvimento e ao engajamento comunitário, a partir do
momento em que se mobilizam forças intersubjetivas que incluem “tanto a
compreensão do que está acontecendo na mente do outro, quanto à imersão
empática na experiência vivida” (PIVA et al., 2010, p. 82).
41
A partir dessa premissa, McCloskey et al. (2011) descrevem que o
engajamento comunitário é o processo ocorrido quando se trabalha
colaborativamente em grupos de pessoas afiliadas por proximidade geográfica,
interesse comuns ou problemas semelhantes, que se reúnem para tratar de
questões que afetam o bem estar dessas pessoas. Seguindo esse raciocínio, o
engajamento, como forma de materializar a participação comunitária, torna-se
um conceito que pode ser compreendido dentro do escopo das atividades
comunitárias, constituindo-se num processo participativo, dialógico e
conscientizador (SALES, 2014).
Nestes termos, a participação pode ocorrer a partir do engajamento, do
envolvimento dos sujeitos nas ações, a partir do compartilhamento das
necessidades e das relações empáticas e de reciprocidade estabelecidas, o
que justifica o atrelamento e a justaposição dos conceitos: engajamento e
participação, no contexto desta pesquisa. Assim, essa inter-relação entre
engajamento comunitário e participação poderá ser vista da seguinte maneira:
A participação pode promover o engajamento comunitário. O engajamento
comunitário pode consolidar a participação. E, assim sucessivamente,
conforme exemplificado na figura 01.
FIGURA 1: Inter-relação entre o engajamento e a participação comunitária.
Fonte: Elaborado pela autora.
42
A participação comunitária será abordada à luz da Psicologia Comunitária que,
de acordo com Ornelas (1997), tem estudos direcionados ao desenvolvimento
de técnicas inovadoras de prestação e criação de serviços adequados ao
atendimento das populações socialmente marginalizadas, através de
estratégias de empoderamento, a fim de favorecer a participação de grupos.
A respeito da Psicologia Comunitária, Góis afirma que está voltada ao
“desenvolvimento humano e à mudança sociopolítica de uma realidade
psicossocial caracterizada por relações de dominação e de exclusão social”
(GOIS, 2003, p. 286). Assim a Psicologia Comunitária se interessa pelo
desenvolvimento do sujeito enquanto sujeito sócio-histórico e comunitário e,
para tanto, se preocupa em estudar os fenômenos psicológicos decorrentes de
vida em comunidade buscando compreender seus sistemas de relações e
valores. Estuda, ainda, a pertença dos membros em relação aos grupos e à
própria comunidade.
Dessa maneira, a Psicologia Social Comunitária, segundo Freitas torna
possível a reflexão sobre as práticas que a psicologia em comunidade tem
assumido, ao passo que, compreende que toda “prática profissional e humana
é dimensionada e adquire significação em sua relação direta com o contexto
social do qual se origina” (FREITAS, 1996, p. 65). A Psicologia Social
Comunitária privilegia o trabalho com grupos, na medida em que colabora,
através de sua práxis que “se materializa na recuperação da memória histórica,
na potencialização das capacidades populares e na construção de novas
formas de consciência, possibilitando uma análise sobre o poder social e o
desenvolvimento de um novo poder histórico” (FREITAS, 1996, p. 75).
Coadunando com Freitas (1996), Montero (1996) assinala que a participação é
entendida como o fazer alguma coisa juntos, de maneira compartilhada, em
que o fenômeno é considerado coletivamente. Desse modo, o participante
constrói e modifica o objeto no qual participa e ao fazê-lo é também
transformado, numa relação de reciprocidade.
43
A partir do exposto acerca dos conceitos, engajamento comunitário e
participação, a literatura consultada apresentou alguns pontos de convergência
entre eles, que foram: a realização de atividades continuadas; a colaboração; a
formação de identidades coletivas; a afiliação geográfica; a vivência de
interesses comuns ou problemas semelhantes; a empatia frente às situações
vividas; a mobilização de potências subjetivas e intersubjetivas conforme Sales
(2014); Jacobi (2005); McCloskey et al. (2011); Alencar (2014); Piva et al.
(2010). Esses foram alguns dos aspectos considerados, no contexto desta
pesquisa, que auxiliaram na análise da relação entre o engajamento
comunitário e o sentimento de pertencimento dos moradores do bairro Jardim
Felicidade, considerando a importância da participação dos sujeitos nesse
processo.
No entanto, o sentimento de pertencimento e o engajamento podem se tornar
um problema quando orientam e motivam um determinado grupo a agir de
maneira que suas ações não respeitem as diferenças individuais e não
observem os direitos universais de todo ser humano. Um exemplo disso se deu
na Alemanha Nazista: o sentimento de pertencimento a esta nação e a crença
na grandeza da raça ariana, em detrimento de outras raças, principalmente os
judeus, fez com que, muitos alemães concordassem e lutassem pela
purificação racial (FAUSTO, 1998).
De acordo com literatura estudada existem fatores que favorecem o
engajamento comunitário e também fatores que o desfavorecem. Os fatores
que favorecem o engajamento comunitário são: a formação de identidades
coletivas; os mecanismos de participação ou as instituições participativas; o
reconhecimento da participação dos atores sociais, pela sociedade e governo;
a imersão empática nos problemas sociais; a proximidade geográfica; a
solução coletiva dos problemas/resultados positivos, segundo Brea (2014);
Alencar (2014); Santos e Manfrin (2016); McCloskey et al. (2011); Diegues
(2012); Sá (2005).
44
Os fatores que desfavorecem o engajamento comunitário, identificados na
literatura pesquisada foram: a resignação e a apatia frente aos problemas
sociais, o fatalismo religioso, o descaso do poder público diante das questões
sociais; o não reconhecimento da participação social; a ausência de
mecanismos de participação no território; a não valorização das
potencialidades territoriais, em conformidade com Bauman (2007); Cardoso
(2008); Cidade (2012); Martin-Baró (1998); McCloskey et al. (2011).
A partir da premissa de que existem fatores que podem favorecer e
desfavorecer o pertencimento social, em um dado contexto, é importante
considerar a possibilidade da criação de mecanismos e estratégias processuais
e participativas, que corroborem na elaboração de ações que busquem o
desenvolvimento e ou potencialização de sujeitos e comunidades engajadas
nessas ações. É importante pensar ações que possam favorecer o
pertencimento social nas comunidades vulneráveis e, ao mesmo tempo, mitigar
os fatores que o desfavorecem.
Como exposto anteriormente neste trabalho, um dos fatores que favorece o
engajamento comunitário é a proximidade geográfica, ou seja, o fato das
pessoas estarem localizadas geograficamente em um mesmo território físico
favorece os processos participativos. Para tanto, a pesquisadora trouxe para o
cenário desta pesquisa a temática do território como sendo um espaço onde se
dão o pertencimento e o engajamento comunitário.
2.4 TERRITÓRIO: ESPAÇO DE PROMOÇÃO DO PERTENCIMENTO SOCIAL
E DO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO
A pesquisadora adotou o conceito de território, devido a sua importância para o
contexto estudado, tanto no que tange ao pertencimento social quanto ao que
se refere ao engajamento comunitário. Para tanto, se fez uma incursão nos
trabalhos de autores que trazem diferentes conceitos de território, mas sem
pretender esgotar as considerações sobre o tema, a saber, Guattari (1985);
45
Raffestin (1993); Santos (2000); Haesbaert (2005); Koga (2003); Brasil (2008);
Gottmann (2012); Nascimento e Mellazo (2013).
Observou-se, durante a pesquisa bibliográfica sobre essa temática, que a
definição e o conceito de território foram se alternando no espaço e no tempo.
Com as ferramentas tecnológicas à disposição da sociedade organizada, pôde-
se averiguar que esse conceito sofreu alterações ao logo dos séculos
(GOTTMANN, 2012) e evolui na história do pensamento, a partir dos contextos
que inspiraram suas conceituações e discussões (ITABORAHY, 2010).
De acordo com Gottmann (2012), o território se define por um conceito político
e geográfico, cuja porção do espaço geográfico combina com a extensão
espacial da jurisdição de um governo, sendo para este, um invólucro físico e
sustentáculo político dentro de uma estrutura governamental. Dessa maneira
Jean Gottmann pondera que
o território consiste, é claro, de componentes materiais
ordenados no espaço geográfico de acordo com certas leis da
natureza. Entretanto, seria ilusório considerar o território como
uma dádiva divina e como um fenômeno puramente físico. Os
componentes naturais de qualquer território dado foram
delimitados pela ação humana e são usados por um certo
número de pessoas por razões específicas, sendo tais usos e
intenções determinados por e pertencentes a um processo
político. (GOTTMANN, 2012, p. 523).
Haesbaert (2005), por sua vez, relata que o território se apresenta com dupla
conotação em sua origem. E que essa conotação perpassa pelas dimensões:
material e simbólica, já que etimologicamente a palavra território quer dizer
tanto terra-territorium, quanto terreo-territor (terror, aterrorizar). Esse segundo
sentido expressa o sentido de dominação jurídico-política através do medo.
Entretanto, sob a perspectiva da extensão, o território pode inspirar a
identificação positiva e a efetiva apropriação do espaço por aqueles que têm o
privilégio de usufruí-lo.
46
É valido ressaltar que, nesta pesquisa, os conceitos de comunidade e território
são diferentes, contudo sobrepostos e interligados entre si. Assim, a
comunidade será entendida como um aglomerado de pessoas que vivem
dentro de uma mesma área geográfica, rural ou urbana, ligadas por interesses
e condições de vida comuns. A comunidade se caracteriza por uma base
territorial, com distribuição de pessoas, de instituições, de uma vida social
marcada por certo grau de coesão social (SILVA; HESPANHOL, 2016) e onde
existe a partilha das vantagens entre os membros, independentemente do
talento ou importância deles (BAUMAN, 2005).
O território será compreendido como produto e resultado das ações sociais dos
sujeitos que os produzem. O território será compreendido também como campo
de forças e relações sociais que se organizam em um espaço de vida com
dinâmicos movimentos em múltiplas escalas, conforme mostram estudos de
Nascimento e Mellazo (2013). E ainda, como espaços de vida, de relações, de
trocas, de construção e desconstrução de vínculos cotidianos, de disputas,
contradições e conflitos, de expectativas e de sonhos, que revelam os
significados atribuídos pelos diferentes sujeitos (BRASIL, 2008).
Entrementes, o território será abordado pela perspectiva dos autores citados
como sendo um lugar em que ocorrem as relações sociais e onde a vida
acontece diariamente. Também pelos autores, o território é um espaço que
ultrapassa os limites geográficos e se faz também pelos limites e jurisdições de
um governo. Assim, pode-se pensar na construção de uma perspectiva
analítica e de intervenção (NASCIMENTO; MELAZZO, 2013), que leve em
consideração os sujeitos e seus territórios.
Por essa perspectiva analítica, e também pela ideia da “intervenção” como um
movimento em que os sujeitos envolvidos no processo, Koga (2003) aponta o
território como representativo da base da cidadania, talvez influenciada por
Santos (2000) que por sua vez expõe o território como sendo o chão mais a
população. Koga acrescenta que cidadania significa a vida ativa no território
47
onde as relações sociais, de vizinhança e solidariedade e de poder se
concretizam.
Antes de Koga (2003) e Santos (2000), Guatarri (1985) já havia se referido ao
território como estando ligado a uma ordem de subjetivação individual e
coletiva, funcionando em uma relação intrínseca com a subjetividade que o
delimita, ou seja, o conjunto formado por elementos interconectados naturais
existentes em um dado país ou num dado espaço e pelos acréscimos que os
homens impuseram a esses sistemas naturais (SANTOS, 1996).
No que tange ao proposto por Guatarri (1985), quanto aos acréscimos dos
homens frente aos sistemas naturais, Raffestin (1993) traz a concepção de
território como sendo o resultado de uma ação conduzida por atores
sintagmáticos em qualquer nível e que, ao se apropriarem de um determinado
espaço, seja concreta ou abstratamente, esses atores se sentem parte desse
espaço. O território é, dessa maneira, o local onde se projeta energia e
informação, e que, por consequência, revela as relações marcadas pelo poder.
E, dessa maneira, Raffestin declara que
em graus diversos, em momentos diferentes e em lugares
variados, somos todos atores sintagmáticos que produzem
"territórios". Essa produção de território se inscreve
perfeitamente no campo do poder de nossa problemática
relacional. Todos nós combinamos energia e informação, que
estruturamos com códigos em função de certos objetivos.
Todos nós elaboramos estratégias de produção, que se
chocam com outras estratégias em diversas relações de poder.
(RAFFESTIN, 1993, p. 153).
Ao partir dessa reflexão, Raffestin confere ao território, o status de um lugar de
resistências e conflitos em que se faz presente o dinamismo das relações
sociais, com sua multiplicidade de fatores que maximizam as relações de poder
e que podem culminar no desmantelamento de ações coletivas condicionantes
da resistência dos indivíduos e grupos em aderir a novas ações.
48
Portanto, ao planejar e organizar ações e estratégias a fim de minimizar ou
mitigar problemas em um determinado território é necessário que se conheça
este território, seus recursos, sua população, as relações sociais e de classes
estabelecidas nele. É importante conhecer as demandas desse território, suas
carências, mas é também fundamental conhecer as suas potencialidades.
Assim, o território além de representar mais que do que o espaço geográfico e
possuir múltiplos espaços intra-urbanos que expressam diferentes arranjos e
configurações socioterritoriais (BRASIL, 2008), ele pode ser também um lugar
de desafios, em que se consolida todo tipo de conflito, já que sua
materialidade, enquanto um espaço vivido reúne a materialidade e a vida que o
anima (SANTOS, 1996, p. 51). Este fato avaliza a abordagem do conceito de
território a partir da ideia de Milton Santos e dos autores que corroboram com
sua visão, sobre o mesmo.
Alicerçado no exposto, Milton Santos (2000) elucida a importância do território
ao apontar que ele não é apenas
o resultado da superposição de um conjunto de sistemas
naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo
homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma
identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos
pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das
trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi.
Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que
se está falando em território usado, utilizado por uma dada
população. (SANTOS, 2000, p. 96).
É no território “vivido”, território “usado”, como aponta Santos (2000), que
acontecem as relações, as trocas e as possibilidades de participação coletiva
em prol de um objetivo comum. Partindo dessa premissa, o Sistema Único da
Assistência Social (SUAS) elege o território como sua base de organização,
asseverando que
os territórios são espaços de vida, de relações, de trocas, de
construção e desconstrução de vínculos cotidianos, de
disputas, contradições e conflitos, de expectativas e de sonhos,
49
que revelam os significados atribuídos pelos diferentes sujeitos.
É também o terreno das políticas públicas, onde se
concretizam as manifestações da questão social e se criam os
tensionamentos e as possibilidades para seu enfrentamento.
(BRASIL, 2008, p. 53).
Compreende-se assim, que os sujeitos inseridos no território são os sujeitos
que detém a possibilidade de transformação local, a partir da participação e do
engajamento comunitário, a partir de suas relações, dos vínculos
estabelecidos, das expectativas, do desejo por melhorias locais, mas também a
partir das disputas, contradições e conflitos.
Estes sujeitos imprimem significado ao território, produzem a formação de
identidade e transforma e são, por ele, transformados. Mas, em alguma
medida, o território pode ser também o produtor da estagnação, da apatia e
resignação social, em razão das percepções ambientais, dos processos de
subjetivação, ou seja, das memórias afetivas e do sentido e significados que a
população imprimiu sobre ele.
Pensar o território como o lugar onde a vida acontece, a partir das experiências
afetivas e das relações de poder que ali se estabelecem (SANTOS, 2000), é
reconhecer as possibilidades de transformação nele, com ele e para ele. É no
território que se encontra um campo fértil de expectativas e sonhos em que se
manifestam as demandas sociais, ambientais e é nele também onde as
possibilidades para seu enfrentamento emergem e se efetivam.
Para fins desta dissertação, o território foi enfatizado porque está diretamente
relacionado à questão central e ao problema desta pesquisa no que resvala a
importância dos sujeitos, no discurso sobre gestão social e desenvolvimento
local, no que tange à percepção ambiental e ao cuidado desses sujeitos com o
território.
50
2.5 A GESTÃO SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL
A Gestão Social tem sido uma temática comumente discutida, tanto na esfera
pública, quanto na esfera empresarial cada qual buscando suas próprias
especificidades na aplicação do conceito. Autores que discorrem sobre o tema
atribuem a ele um caráter polissêmico e interdisciplinar. Os autores
consultados para esta pesquisa foram: Tenório (1998); Fischer et al. (2006);
Cançado (2011); Sousa, Vasconcelos e Vasconcelos Sobrinho (2012); Lizuka,
Gonçalves-Dias e Aguerre (2012); Wanderley (2013); Freitas et al. (2016);
Vandenberghe (2015); Cruz et al. (2015); Rodrigues (2015).
Tenório aponta ao descrever a gestão social, que esta intenta “substituir a
gestão tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo,
dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes
sujeitos sociais” (TENÓRIO, 1998, p.16). De acordo com esse autor, para a
esfera pública, no que tange aos governos, este tema tem sido proclamado
para sublinhar a importância das questões sociais e igualmente das questões
ambientais, especialmente, na implementação de políticas públicas.
No que tange a gestão dialógica e participativa, a professora associada ao
Departamento de Política e Gestão Social da Faculdade de Ciências Sociais da
PUC-SP, Mariângela Belfiore Wanderley, traz em seus estudos uma concepção
de gestão social, com raízes nos movimentos sociais, de camponeses e de
operários, em que a ideia de participação e ação coletiva é fundamental para a
gestão social e tem como objetivo, trabalhar o fortalecimento das relações
sociais e estimular práticas de cidadania propiciando o “desenvolvimento de
processos decisórios, auto e cogestionados, participativos e coletivizados”
(WANDERLEY, 2013, p. 20).
Nesse sentido, há sintonia entre o pensamento de Wanderley (2013) e Tenório
(2005), na medida em que Tenório assevera que, a gestão social se dá a partir
de um dialogismo em que a “autoridade decisória é compartilhada entre os
participantes da ação” (TENÓRIO, 2005, p.102), aonde o social é percebido
51
como o espaço singularizado de relações sociais onde todos têm o direito à
fala, sem nenhum tipo de repressão.
Dentro da premissa de que a participação e a ação coletiva são fundamentais
na Gestão Social, Tenório (2007) ressalta a necessidade de construção de um
processo de articulação dos empreendimentos individuais, comunitários,
urbanos e rurais, que partam de uma integração socioeconômica, da
reconstrução do tecido social e também de geração de renda. Pois parte-se do
pressuposto de que a Gestão Social está fundada na lógica da cidadania e dos
direitos, sendo, portanto, um processo democrático que compreende os
diferentes atores envolvidos em uma determinada ação, e que pode
desembocar em disputas, conflitos e cooperação (WANDERLEY, 2013).
Lopes e Machado (2014) argumentam que na ideia de Gestão Social estão
incutidas concepções teóricas e práticas que tomam o dialogismo como um
elemento constitutivo, posto que a coerção é estranha ao processo de Gestão
Social. Assim, a Gestão Social tem na participação uma de suas principais
características, tomando como elementos fundamentais a tomada de decisão
coletiva, a inclusão social, o diálogo, a participação e a emancipação. As
autoras argumentam que a participação é fundamental no processo de Gestão
Social, tendo em vista que
o necessário processo de tomada de decisão coletiva, esse
processo só se efetiva a partir da participação, não somente
simbólica (presencial), mas interventora dos sujeitos sociais
nela envolvidos. A participação é um elemento básico da
Gestão Social, pois como ação prática, somente se concretiza
se houver a disponibilidade dos sujeitos envolvidos no
processo, que devem acreditar e trabalhar para que uma nova
e aperfeiçoada prática social seja construída diariamente.
(LOPES; MACHADO, 2014, p. 20).
Compreende-se, portanto, que a gestão social é importante para o
desenvolvimento local, na medida em ocorre a partir da participação e do
envolvimento dos atores sociais, como observa Herberton Sabino e Wânia
Maria Araújo
52
[...] para que ocorra um efetivo Desenvolvimento Local,
algumas ações mostram-se imprescindíveis: o debate e a
definição pela comunidade do que ela entende como
desenvolvimento, a criação de uma cultura participativa que
amplie o capital social, o estabelecimento consensual de
objetivos claros a serem alcançados, a transformação desses
objetivos também em políticas públicas, a criação pelos atores
sociais envolvidos de indicadores quantitativos e qualitativos
capazes de medir e avaliar a eficácia das ações empreendidas.
(SABINO; ARAUJO, 2015, p. 115-116).
Ainda segundo os autores, a Gestão Social compreende a importância da
participação de todos os atores sociais de uma forma horizontal, que incentiva
e valoriza a fala dos que participam promovendo, dessa maneira, o
empoderamento da comunidade local, tornando-a mais ativa e mais autônoma
nas tomada de decisões que apontam para o desenvolvimento local (SABINO;
ARAUJO, 2015)
Assim, o engajamento e o pertencimento podem ser comportamentos
necessários na Gestão Social, ou como afirma Tenório (2012, p. 29), num
processo de relação entre pessoas, em que o “eu interage com o tu, se
tornando, o nós” e ainda em uma relação em que haja vínculos de cooperação
e solidariedade entre os indivíduos: uma relação entre “sujeito/sujeito e não
sujeito-objeto, tampouco objeto-objeto”. Cruz e colaboradores acrescentam
assinalando que “a participação popular, em tomadas de decisões, remete
diretamente à Gestão Social.” (CRUZ et al., 2015, p. 14).
À vista disso, pensar a Gestão Social e o desenvolvimento local no contexto
desta pesquisa se fez relevante. Tanto a Gestão Social, quanto o
Desenvolvimento Local decorrem, com e a partir da coletividade e da
participação social, tendo em vista que seu esboço se arquiteta nas relações
sociais, que se manifestam nas relações de poder, de conflitos e de
aprendizagens (LIZUKA; GONÇALVES-DIAS; AGUERRE, 2012).
53
Dessa forma, a Gestão Social se faz por meio de atores sociais envolvidos que
participam e se articulam em redes de cooperação, onde suas queixas,
desafios e problemas são explicitados através de diálogo aberto e
argumentativo, em que as propostas e deliberações, têm um objetivo coletivo e
são partilhados entre todos (SOUSA; VASCONCELOS; VASCONCELOS
SOBRINHO, 2012), tornando possível o processo de Desenvolvimento Local.
Explorando a questão, Gómez (2002) alerta que o conceito de desenvolvimento
local progrediu concomitantemente com as necessidades de superação das
crises do capital nas últimas seis décadas, considerando, em seu formato mais
recente, o território local como lugar apropriado para se estimular o
ambicionado desenvolvimento. Nesse sentido, o autor convida para uma leitura
crítica acerca das relações entre desenvolvimento e participação, que permita ir
além do sistema ideológico que o capital propõe como ideia de
desenvolvimento.
Em face disso, Gómez (2002) reflete que, além da polissemia em torno do
conceito desenvolvimento local, existe também quem o critique. Por exemplo, o
fato do desenvolvimento local retratar uma ideia de desenvolvimento que é
habitualmente utilizada no “corpo ideológico do capital, que serve como
instrumento dinamizador da sua expansão e da acumulação” (GÓMEZ, 2002,
p. 1), ainda que supostamente seja visto como um fator eminentemente
positivo e que beneficia toda sociedade.
Nesta perspectiva, ao considerar os aspectos elencados acerca do
desenvolvimento, buscá-lo é pretender a melhoria da qualidade de vida, na
diversificação produtiva e na participação. E, nesse contexto se insere o
território, com todas as suas peculiaridades, pois
o território vai servir como aglutinador, como ponto de
convergência, dessa tripla visão do “novo” desenvolvimento. A
nova guinada na procura do desenvolvimento incorpora esta
importância da base territorial, ainda que de forma parcial e
unilateral, através do local. [...] se trata de uma incorporação do
território de forma unilateral, no sentido de que as
54
possibilidades que o território oferece são peneiradas pelo
estreito crivo do capital. (GÓMEZ, 2002, p. 4).
O que também é passível de crítica por parte de Gómez (2002), pois este
considera que, numa conjuntura capitalista, também o território local e os
sujeitos nele inseridos, bem como suas relações no processo de participação,
acabam servindo ao interesse do capital, além de levantar e reunir demandas
que são oriundas da própria desestruturação, dos desequilíbrios e das
desigualdades sociais causadas pela própria lógica do capital.
Ainda assim, o território é um conceito importante na discussão proposta nesta
pesquisa, no que tange à influência do pertencimento na participação e no
engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo
Horizonte. O território, no contexto como apresentado nesta pesquisa, é
concebido como espaço vivido e dessa maneira, compreendido como o espaço
“formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações [...] no qual a história se dá”
(SANTOS, 1996, p. 26), e onde se podem materializar as práticas de
desenvolvimento local.
Uma vez que no território se dão as práticas de desenvolvimento local, o
sentimento de pertencimento para com o território é fator significativo no
engajamento e participação da comunidade nessas práticas. Kuyumjian,
Santos e Sant’Anna (2014) entendem por práticas de desenvolvimento local o
conjunto de ações e medidas adotadas por intermédio de um grupo de
pessoas, que se organizam na condução de certas unidades socioterritoriais,
com vistas a reduzir os níveis de pobreza e, simultaneamente, viabilizar a
ascensão das condições mínimas de saúde, educação, lazer, cultura,
segurança, moradia, renda e o bom uso dos recursos naturais, considerando
as potencialidades dos sujeitos e de seus territórios.
Em conformidade com o destacado por Kuyumjian, Santos e Sant’Anna (2014),
acerca das práticas de desenvolvimento local no território, Sarlot e Schmidt
assinalam que o sentimento de pertencimento é fundamental para a formação
55
dos modos de ser e de agir do ser humano sobre o meio. O sentimento de
pertencimento pode se desenvolver nos indivíduos e grupos, atitudes de
filiação com o meio ambiente e de cuidado com o território onde se vive. Para
tanto, é necessário que o sujeito conheça o seu território, se identifique com ele
e com seus desafios, mas também com suas potencialidades, pois “sem o
conhecimento sobre um determinado local, não pode haver sentimento de
pertencimento.” (SARLOT; SCHMIDT, 2014, p. 139).
Dessa maneira, esta pesquisa apontou para a existência de um processo, um
caminho lógico, para se chegar ao engajamento comunitário num território e
promover, por meios da participação e envolvimento da comunidade, o
desenvolvimento local, a preservação, a conservação, o cuidado com o
território e a melhoria das condições de sobrevivência.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado demonstrou que o pertencimento social é inerente à
condição humana. O estudo demonstrou também que o sentir-se pertencente a
algo e/ou entender que determinada coisa, lugar, projeto lhe pertence é
importante para criar nos indivíduos e grupos o desejo de contribuir para o
desenvolvimento do que é tomado pelo sujeito, como ‘seu’.
Um dos pressupostos levantados nesta pesquisa é de que o pertencimento
favorece o engajamento comunitário e interfere no nível de participação dos
moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG), no que se
refere às ações de cuidado e desenvolvimento local, a partir das práticas de
Gestão Social.
A literatura estudada revelou que, de fato, existe correlação entre o sentimento
de pertencimento e o engajamento comunitário, já que o pertencimento cria
uma identidade no indivíduo que é compartilhada pelos demais sujeitos
inseridos no território e, dessa maneira, emerge o desejo pelo agir coletivo que
56
faz com que estes sujeitos se empenhem coletivamente na luta por uma
sociedade mais igualitária.
O estudo trouxe importantes informações acerca do território como o lugar
onde as vivências acontecem. Sejam estas vivências positivas ou negativas, é
no território que elas se darão. Portanto, torna-se fundamental em qualquer
intervenção que se faça no âmbito de uma comunidade, que se conheça e
reconheça o território. Não o território geográfico, como alguns autores
apresentam, mas o território que se caracteriza pela experiência dos sujeitos
no determinado espaço e tempo. Território também em que as relações
interpessoais, culturais, étnicas, religiosas..., são consideradas na proposição
de uma intervenção de modo que esta intervenção seja construída ‘com’ o
sujeito e não ‘para’ o sujeito.
Quando se volta o olhar para o bairro Jardim Felicidade, levando em conta o
que foi visto na revisão de literatura desta pesquisa, percebe-se que esta
comunidade traz, em seu arcabouço, forte elemento de engajamento
comunitário que fincam suas bases no sentimento de pertencimento como
poderá ser visto no capítulo 3 (três). Nesse capítulo será apresentada a
pesquisa realizada em campo em que foram entrevistados os moradores do
território e se teve a clara compreensão de que os moradores mais antigos (os
que participaram da construção do bairro) exprimem um apego e sentimento de
pertença em relação ao bairro, sendo, portanto, os que continuam, à sua
maneira e com os recursos disponíveis, lutando pela melhoria no bairro.
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65
3 INFLUÊNCIA DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO.
[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
RESUMO
O sentimento de pertencimento é um construto que tem sido investigado como
uma variável situacional e que se manifesta a partir de características
individuais. A necessidade deste sentimento influencia a forma como os
indivíduos percebem e se relacionam com o meio social. Este artigo apresenta
os resultados da pesquisa de campo realizada com o intuito de identificar se
existe relação entre o sentimento de pertencimento social e o engajamento
comunitário, nos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte
(MG). A metodologia adotada foi entrevista semiestruturada com 25 moradores
do bairro, transcritas e submetidas à análise de conteúdo e grupo focal de um
encontro, com 19 participantes, cujo conteúdo também foi transcrito e
submetido à análise do discurso do sujeito coletivo. Por se tratar de pesquisa
que envolve a participação de humanos, foi submetida na Plataforma Brasil e
aprovada sob o nº CAAE: 75117717800005098. Os resultados demonstraram
que o sentimento de pertencimento social é um construto que exerce influência
na participação e engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim
Felicidade. Revelaram ainda que, os moradores que desenvolveram com este
território o sentimento de pertença são os sujeitos que contribuem com as
ações que visam ao desenvolvimento local a partir da participação e do
engajamento comunitário.
Palavras-chave: Desenvolvimento local. Engajamento comunitário.
Pertencimento social. Identidade social. Gestão social.
___________
[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
66
3 THE FEELING OF SOCIAL PERFORMANCE INFLUENCE IN COMMUNITY ENGAGEMENT.
[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
ABSTRACT
The sense of belonging is a construct that has been investigated as a situational variable and that manifests itself from individual characteristics. The need for this feeling influences how individuals perceive and relate to the social environment. This article presents the results of the field research carried out in order to identify if there is a relationship between the feeling of social belonging and the community engagement of the residents of Jardim Felicidade neighborhood in Belo Horizonte, MG. The methodology adopted was a semi-structured interview with 25 residents of the neighborhood, transcribed and submitted to content analysis and focal group of a meeting, with 19 participants, whose content was also transcribed and submitted to the discourse analysis of the collective subject. The research was submitted in Brasil Platform and approved under the number CAAE: 75117717800005098 because it involves the participation of humans. The results demonstrated that the sense of social belonging is a construct that exerts influence in the participation and community engagement of Jardim Felicidade neighborhood’s residents. They also revealed that the residents who developed the feeling of belonging to this territory are the subjects that contribute to the actions that aim at local development based on participation and community engagement. Keywords: Local development. Community engagement. Social belonging. Social identity. Social management.
_________
[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].
67
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta de forma breve os conceitos de pertencimento, de
engajamento comunitário e suas implicações para a gestão social, assim como
para o desenvolvimento local no que tange a comunidade do bairro Jardim
Felicidade, em Belo Horizonte, Minas Gerais (BH/MG). Serão apresentados
aqui também os modos como estes conceitos se convergem em práticas
comunitárias na perspectiva de inovação social, conforme apontado por
Bignetti (2011). Esse autor assevera que, em face de carências sociais, as
comunidades vêm adotando práticas inovadoras na busca de alternativas que
solucionem ou minimizem os seus impactos sociais negativos.
O sentimento de pertencimento é um construto que tem sido investigado como
uma variável situacional e que se manifesta a partir de características
individuais. A necessidade deste sentimento influencia a forma como os
indivíduos percebem e se relacionam com o meio social (GASTAL; PILATI,
2016), funcionando como estímulo à formação da identidade social que une os
indivíduos ao local (ARAUJO; AGUIAR NETO; GOMES, 2016).
Freitas (2008) define o pertencimento como o conjunto de relações que unem
os indivíduos e grupos a partir do modo de ser, de se comportar e dos estilos
específicos de cada grupo. Dessa maneira, os indivíduos se sentem
participantes e passam a agir de modo pleno, no que tange aos papéis sociais,
às normas e aos valores. Como observam Oliveira e Cavalcante (2017), a
subjetividade que envolve o construto pertencimento torna difícil sua
conceituação.
O sentimento de pertencimento influencia o modo como as pessoas se
relacionam com o meio e pode influenciar no engajamento e participação de
um determinado grupo nas atividades locais em prol do desenvolvimento. O
contexto desta pesquisa apresenta os termos engajamento e participação
como correlatos. Sendo engajamento definido por Ferreira (2002), como ato ou
efeito de engajar-se, em que engajar-se significa: pôr-se a serviço de uma
causa.
68
Entende-se por este viés que a participação em si não caracteriza o
engajamento, pois o simples fato de participar de uma ação, não significa ter
responsabilidade sobre esta ação (BENINCÁ, 1995). No entanto, ao participar,
o sujeito pode vir a se engajar no processo participativo e, por isso, a
participação deve ser construída fundamentada num processo coletivo de
tomada de decisões e da gestão das ações implementadas pela própria
comunidade (SOUZA, 1996).
Dessa maneira, concorda-se com Soratto e Witt (2013) que a criação e o
fortalecimento dos processos participativos são importantes para que as vozes
da população sejam ouvidas e que os saberes e práticas da comunidade sejam
reconhecidos e aplicados. A participação dos sujeitos nas atividades pode
despertar o sentimento de pertencimento propiciando ligação emocional e
afetiva deste sujeito para com o lugar, motivando neste indivíduo o
engajamento comunitário (SILVA; ALMEIDA, 2016).
As lacunas que se pretendem suprir e que justificam este trabalho são de que
as metodologias que intentam promover o pertencimento e o engajamento
comunitário consideram a implicação social que garanta participação de todos
os sujeitos, instituições e grupos sociais envolvidos.
Essas metodologias devem priorizar a participação dos moradores na
construção das propostas, de tal modo que se garanta o protagonismo dessas
pessoas e se valorize a criatividade e contribuições de cada um. Uma forma de
suprir essas lacunas no território do Jardim Felicidade (BH/MG) seria o
fortalecimento da Rede de Apoio ao Desenvolvimento do Bairro, existente
desde 2001 neste território, atuando por meio dos processos formativos para
todos os envolvidos (SILVA; GOMES, 2013), cuja demanda de intervenção
parte exclusivamente da comunidade.
Dessa maneira, tais metodologias precisam contemplar a promoção de
diferentes níveis de aprendizagem social de maneira que sejam
contextualizadas e compartilhadas em uma flexibilidade criativa. Por sua vez,
essa flexibilidade criativa alcançada permite reajustar ações que sejam cada
69
vez mais efetivas em uma realidade social em constante mudança.
(CONSTANZO, 2005).
Destarte, outra lacuna existente diz respeito à falta de valorização da
criatividade e das potencialidades endógenas em um território. Para dirimi-la,
faz-se necessário reconhecer que o processo criativo pode se originar da
participação dos sujeitos pertencentes ao contexto local. Dessa capacidade de
criação podem surgir ações com características de inovação social, já que esta
inovação é definida como resultado de um conhecimento aplicado às
necessidades sociais através da participação de diversos atores (BIGNETTI,
2011).
Nesse sentido, a revisão teórica feita neste capítulo se faz relevante pelo fato
de apresentar aspectos fundamentais para a compreensão de construtos e
conceitos, tais como: sentimento de pertencimento, identidade social,
engajamento e participação comunitária que incidem diretamente sobre
fenômenos sociais, a saber, violência; degradação do meio ambiente (poluição
diversa, depredação de espaços públicos; problemas de saúde provenientes de
vetores: mosquitos, baratas, ratos).
A contribuição cientifica deste estudo é que, ao conhecer estes fenômenos e
compreendê-los à luz da literatura consultada, torna-se possível identificar os
modos pelos quais as medidas de intervenção contextualizadas e factíveis no
âmbito local se tornem mais efetivas, eficazes e principalmente autogeridas, no
sentido de continuarem o trabalho, quando do afastamento do interventor
externo.
O objetivo desse artigo foi analisar de que modos o sentimento de
pertencimento pode contribuir para o engajamento comunitário, engajamento
esse que promove a realização de intervenções que visam à inovação social e
o desenvolvimento local no bairro Jardim Felicidade – BH/MG.
70
3.2 REVISÃO DE LITERATURA
Os principais temas abordados neste capítulo são pertencimento e identidade
social; participação e engajamento comunitário; gestão social e
desenvolvimento local. A abordagem destes conceitos e construtos é
necessária para o entendimento dos modos pelos quais a participação e o
engajamento comunitário podem ocorrer a partir do sentimento de
pertencimento que o indivíduo estabelece com o seu território.
3.2.1 PERTENCIMENTO E IDENTIDADE SOCIAL
Os construtos pertencimento e identidade social foram abordados à luz do
proposto por Bauman (2005); Bonder (1999); Brea (2014); Cousin (2013);
Maldonado e Oliva (2010); Menezes (2010); Moreira (2014) e Sá (2005).
Nesse contexto, a identidade é entendida como resultado da interação entre o
individuo e o mundo social. Essa interação inclui os papéis sociais, as relações
sociais, a identidade grupal. Por serem compostas por elementos da cultura, as
identidades só poderão ser compreendidas dentro de um sistema de
significação (MENEZES, 2010). No caso dessa pesquisa, o bairro Jardim
Felicidade é o sistema de significação visto que é nesse território que as
relações sociais são estabelecidas.
A identidade é composta por elementos da cultura e não da natureza. Menezes
(2010) contradiz o que antes fora dito por Silva (2009) que expõe que a
identidade não é uma essência, não é um fato ou dado, seja da natureza seja
da cultura. No entanto, Silva observa que
a identidade é uma construção, um efeito, um processo de
produção, uma relação, uma ato performativo. A identidade é
instável, contraditória, fragmentada, inconsciente, inacabada. A
identidade está ligada a sistemas de representação. A
identidade tem estreitas conexões com relações de poder.
(SILVA, 2009, p. 97).
Nesse sentido, a identidade é o resultado da interação social, corroborando
com o pensamento de Maldonado e Oliva (2010), pois a identidade social
implica no sujeito se reconhecer como membro de um grupo, no qual, por sua
71
vez, lhe permite se diferenciar dos membros de outros grupos. Assim, a
identidade supõe um exercício de autorreflexão por meio do qual o indivíduo
pondera suas capacidades e potencialidades e tem consciência do que é como
pessoa, porém que não está sozinho, mas coexistindo com outros
(MALDONADO; OLIVA, 2010).
O fato das identidades requererem uma autorreflexão é problematizado por
Bonder (1999) e Bauman (2005). Bonder (1999) ao mencionar que não existe
identidade sem o outro, assim como, não existe o bom sem o mau e o bem
sem mal, adverte que a identidade se faz na presença do outro. Bauman (2005,
p.19) por sua vez completa que as “identidades flutuam no ar, algumas de
nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa
volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em
relação às últimas.”
O pertencimento é compreendido como a crença ou a ideia que une as
pessoas. É um sentimento expresso através de símbolos e valores sociais,
morais, políticos, estéticos, culturais, religiosos e ambientais de um
determinado local (COUSIN, 2013).
O pertencimento social consiste na inclusão dos indivíduos em grupos que
podem ser formados a partir das demandas individuais, do grupo, dos papéis
sociais ou por meio da apropriação ou internalização de questões
emblemáticas na comunidade. Dessa maneira, implica em afiliação ou pertença
ao grupo e no compartilhar de conteúdos socialmente aceitos pelo grupo, isto
é, estar atento aos traços que os tornam comuns e permitirão os diferentes
entrelaçamentos (MALDONADO; OLIVA, 2010).
A construção da noção de pertencimento humano exige que se permita
inscrever a “lógica da vida nas condições específicas do modo de organização
da sociedade humana.” (SÁ, 2005, p. 5). Nesse aspecto, o território torna-se o
lugar do pertencimento, em que é possível formar a identidade social a partir
dos elementos do espaço vivido. No território, considerado como o lugar das
vivências sociais, cada objeto ou coisa tem uma história que se confunde com
a história dos seus habitantes. (MOREIRA, 2014).
72
Nesse ínterim, Wanderley Codo (2002) assevera que o pertencimento é o
fundamento no qual se erige a identidade e é uma chave importante para
compreendê-la. Desse modo, a identidade social se constrói a partir do
pertencimento.
Desse modo, os conceitos de pertencimento adotados neste capítulo são os
propostos por Cousin (2013), no qual o pertencimento é visto como sentimento
expresso por meio de símbolos e valores, compreendido com uma crença ou
ideias comuns e, por Sá (2005) que evidencia o pertencimento como uma
capacidade humana de empatia entre subjetividades, em que os indivíduos se
reconhecem como sujeitos na relação com o mundo vivido e que entrem em
comunicação intersubjetiva com o outro e com seu mundo vivido.
3.2.2 ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO
Outras características importantes são a participação e o engajamento
comunitário apresentados para o contexto desta pesquisa, conforme proposto
por Freitas (1996), Jacobi (2005), Sales (2014), Vieira-Silva (2015) visto que
esses autores interligam esses conceitos de maneira a suscitar a promoção do
desenvolvimento local de um determinado território.
A partir do que profere Jacobi (2005), a participação pode ser compreendida
como o envolvimento de pessoas nas ações, de forma coletiva e colaborativa.
Essa participação pode mobilizar nos sujeitos envolvidos potências de ação
subjetiva e intersubjetiva que possibilitam e estimulam a formação de
identidades coletivas nos espaços de convivência.
Nesse sentido, Freitas (1996) pressupõe o trabalho coletivo, o produzir em
conjunto, de maneira compartilhada, sendo que cada participante constrói e
transforma o contexto do qual participa e, na mesma medida em que
transforma um determinado contexto, ele é também transformado por este
contexto, numa relação de reciprocidade.
A participação da sociedade e o engajamento comunitário aconteceram a partir
do processo de redemocratização do Brasil nos anos 1980. Em 1988, com o
advento da Constituição Federal, a sociedade passa a formar parcerias
73
estabelecidas para solucionar problemas sociais. Estas parcerias se fortalecem
e se tornaram espaços institucionalizados de participação, o que é
exemplificado pelos conselhos, conferências nacionais, audiências públicas e
auditorias (ALENCAR, 2014; SILVA, 2015).
Dessa forma, a participação comunitária e o envolvimento dos sujeitos na ação
podem levar ao engajamento comunitário. McCloskey et al. (2011) assinalam
que esse processo é observado quando o grupo trabalha de maneira
colaborativa, tendo como participantes pessoas que se reúnem a partir de
interesses e problemas comuns. Nesse viés, Sales (2014) acrescenta que a
participação engendra o engajamento comunitário que é constituído no
processo participativo, dialógico e consciente, favoráveis aos processos de
gestão social e de desenvolvimento local.
3.2.3 GESTÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL
A gestão social tem sido discutida nas últimas décadas. Trata-se de um
conceito cuja construção teórica é resultado de práticas governamentais e da
sociedade civil que se mobilizam cotidianamente (PINHO; SANTOS, 2014) o
que reflete, de certa maneira, o sentimento de pertencimento e o engajamento
de uma determinada comunidade.
Wanderley (2013) observa que o conceito de gestão social exige um
aprofundamento dos saberes produzidos pelas várias áreas de conhecimento e
de uma ampliação da capacidade de articulação e de diálogo. Sendo, portanto,
necessário que a gestão social constitua uma ação de constante construção
coletiva.
O social da gestão social abrange uma dimensão humana que envolve valores
universais, valores construídos com base na solidariedade e equidade
territorial. Além disso, esse social (da gestão social) abarca um conjunto de
elementos cognitivos que estruturam as ações coletivas, de modo coerente e
autogestionário (OFFRENDI, 2013). Desse modo, a gestão social implica em
processo dialógico e participativo pautado nos valores universais, de equidade
e de solidariedade.
74
O dialogismo e a participação na gestão social estão associadas aos
movimentos sociais, em que a ideia de participação e ação coletiva são
fundamentais e têm por objetivo trabalhar o fortalecimento das relações sociais
e impulsionar as condutas de direitos e deveres dos cidadãos, propiciando o
incremento de demandas decisórias, participativas e coletivizadas
(WANDERLEY, 2013).
Nesse sentido, há sintonia entre o pensamento de Wanderley (2013) e Tenório
(2006), na medida em que este último assevera que
(...) o conceito de gestão social é entendido como o processo
gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada
entre os participantes da ação. O adjetivo social qualificando o
substantivo gestão é percebido como o espaço privilegiado de
relações sociais onde todos têm o direito à fala, sem nenhum
tipo de coação. (TENÓRIO, 2006, p. 147-148).
Nas discussões sobre a concepção de gestão social, Silva e Moretto Neto
(2015, p.141) afirmam que “os processos decisórios devem ser participativos,
pressupondo a autoridade decisória compartilhada entre os participantes da
ação.”.
Dentro da premissa de que a participação e ação coletiva são fundamentais na
gestão social, Tenório (2007) ressalta a necessidade de construção de um
processo de articulação, coordenação e inserção dos empreendimentos
empresariais associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, que
compreendam a integração socioeconômica, a reconstrução de tecido social e
de geração de renda, representado pelo desenvolvimento local que se
expressa na territorialidade e é viabilizado pela gestão social.
Neste contexto, a gestão social orienta-se pela mudança e para a mudança, ou
pode-se dizer, para o desenvolvimento local de uma determinada comunidade
e requer envolvimento e participação de todos na construção de estratégias e
tomadas de decisão (FISCHER et al., 2006). Esta construção deve ser coletiva,
dialogada e que valorize os diversos saberes técnicos, científicos e populares
existentes. Assim,
75
a gestão social caracteriza-se pela construção coletiva de
regras, normas e instrumentos de gestão; pela inovação de
metodologias que privilegiam o diálogo, a participação,
decisões compartilhadas, horizontalidade hierárquica, com a
valorização de diferentes saberes na ação. (MACHADO;
AFONSO, 2012, p. 76).
Nesses moldes, a gestão social ocorre por meio do envolvimento dos atores
sociais que participam e se articulam em redes de cooperação buscando
também o desenvolvimento local por meio do debate aberto e argumentativo,
cujas propostas e deliberações têm objetivo coletivo e são partilhados entre
todos (LIZUKA; GONÇALVES-DIAS; AGUERRE, 2012; SOUSA;
VASCONCELOS; VASCONCELOS SOBRINHO, 2012).
Assim, a participação e o engajamento comunitário são fundamentais para que
a gestão social aconteça em territórios como o bairro Jardim Felicidade
(BH/MG). É por meio da participação e do envolvimento dos moradores que as
demandas por desenvolvimento local, podem ser discutidas e requisitadas
junto ao poder público. Logo, o poder público se unirá ao grupo, construindo
coletivamente as estratégias de promoção do desenvolvimento local na
comunidade, de forma dialogada, com decisões compartilhadas, de modo que
todos os saberes e conhecimentos sejam valorizados.
Nessa pesquisa, pressupõe-se que o desenvolvimento local envolva a
participação efetiva da comunidade. A participação em todo processo de
desenvolvimento ocorre desde o planejamento até a execução das ações bem
como a sua avaliação e as propostas de adequação e melhoria. Neste
processo devem ser observadas as demandas e as necessidades
apresentadas pela própria comunidade e elencar suas potencialidades,
permitindo e incentivando o protagonismo comunitário, de gestão social e,
principalmente, da autogestão.
Dessa maneira, Tenório (1998, p. 22) adverte que “este processo de
desenvolvimento deve ocorrer desde a identificação do problema, o
planejamento de sua solução e o acompanhamento da execução até a
avaliação do impacto social efetivamente alcançado.”
76
Gómez convida para uma leitura crítica sobre as relações entre
desenvolvimento e participação, que permita ir além do sistema ideológico que
o capital propõe como ideia de desenvolvimento. Nesse sentido, o autor
assevera que críticas em torno do conceito ocorrem pelo fato do
desenvolvimento local retratar uma ideia de desenvolvimento que é
habitualmente utilizada no “corpo ideológico do capital, servindo como
instrumento dinamizador da sua expansão e da acumulação”, conforme
descrito por Gómez (2002, p. 1), ainda que supostamente seja visto como um
fator eminentemente positivo e que beneficia toda sociedade.
Nesta perspectiva, ao considerar os aspectos elencados acerca do
desenvolvimento, buscá-lo, é pretender a melhoria da qualidade de vida na
diversificação produtiva e na participação. É nesse contexto que se insere o
território, com todas as suas peculiaridades, pois
o território vai servir como aglutinador, como ponto de
convergência, dessa tripla visão do “novo” desenvolvimento. A
nova guinada na procura do desenvolvimento incorpora esta
importância da base territorial, ainda que de forma parcial e
unilateral, através do local. [...] se trata de uma incorporação do
território de forma unilateral, no sentido de que as
possibilidades que o território oferece são peneiradas pelo
estreito crivo do capital. (GÓMEZ, 2002, p. 4).
O que também é passível de crítica por parte de Gómez (2002), pois este autor
considera que numa conjuntura capitalista, tanto o território quanto os sujeitos
nele inseridos acabam servido ao interesse do capital, além de levantar e reunir
demandas que são oriundas da própria desestruturação, dos desequilíbrios e
das desigualdades sociais causadas pela própria lógica destrutiva do capital.
Como assinalado, a gestão social refere-se à gestão das ações sociais
públicas e à gestão das demandas e necessidades dos cidadãos. Os projetos
de âmbito local são canais para se alcançar os propósitos da gestão social e
trazer respostas às demandas e às necessidades das políticas públicas
(CARVALHO, 1999).
77
A gestão social considera que a participação das pessoas nas decisões que lhe
dizem respeito é essencial na prática de cidadania. Portanto, ao se propor a
integração entre gestão social e desenvolvimento local, dialoga-se com Lizuka,
Dias e Aguerres (2012), que propõem uma gestão social considerando uma
dimensão do próprio desenvolvimento local, que se materializa por meio dos
pressupostos da gestão social, a saber, construção coletiva, processo decisório
dialógico, participação social.
Seguindo esse raciocínio, entende-se que a formação de agentes
transformadores engajados nas ações de desenvolvimento local advém da
participação. Para as autoras, a participação não é espontânea e nem
acontece automaticamente, mas depende de vários fatores, como
compreender como é ou não promovida, que fatores a potencializam ou a
fragilizam, que instrumentos e estratégias são utilizados na promoção da
participação, devendo ser considerada como um aspecto importante no
processo de transformação dos sujeitos (DUTRA; AFONSO, 2015).
O engajamento comunitário é característica fundamental à gestão social que
pode viabilizar o processo de desenvolvimento local, ao possibilitar tomadas de
decisões coletivas e conscientes dos sujeitos envolvidos além de engajar
vários atores sociais nessas diferentes ações. Como discorrem Lopes e
Machado (2014, p. 20), “a participação é um elemento básico da gestão social,
pois como ação prática, somente se concretiza se houver a disponibilidade dos
sujeitos envolvidos no processo, que devem acreditar e trabalhar para que uma
nova e aperfeiçoada prática social seja construída diariamente.”.
É válido ressaltar que a gestão que visa a potencialização do desenvolvimento
local, é uma gestão social com características de inovação social. Nessa
gestão, os atores locais são considerados numa conjuntura de efetiva
participação. De acordo com Boullousa e Schommer (2010), a inovação social
nessa perspectiva deve conter o gene do desenvolvimento, inclusive o
crescimento econômico, como maior e mais amplo impacto social.
Nesse aspecto da gestão social com características de inovação social, o
cidadão, inserido no processo de participação é percebido como indivíduo
78
político que, no decurso da participação, aprende e desenvolve seus
potenciais. Dessa maneira, esse indivíduo se torna um sujeito ativo na
comunidade se engajando em ações que busquem o desenvolvimento local
(BOULLOUSA; SCHOMMER, 2010) de maneira a introduzir mudanças criativas
dentro de uma ordem existente ou planejada, pois inovar “(...) é sempre inovar
em relação a algo(...)” (JACOBI; PINHO, 2006, p. 8).
Esse caminho se constitui da compreensão de que é necessário conhecer o
território e seus sujeitos, bem como os fenômenos sociais que incidem sobre
eles, quando se pretende o desenvolvimento local. Assim, surgem algumas
questões: É fundamental identificar os fatores que existem nesse território e
estabelecer como devem ser potencializados? Qual é a cultura e valores
predominantes na comunidade? Existem participação e engajamento no Jardim
Felicidade? Em qual medida? Estas indagações precisam ser feitas para se
conhecer um território.
3.3 METODOLOGIA
O procedimento adotado nessa pesquisa, quanto à abordagem foi a qualitativa,
quanto aos fins, foi a pesquisa descritiva e quanto aos meios adotou-se o
estudo de caso. Para coleta dos dados, optou-se pela pesquisa bibliográfica,
entrevista semiestruturada e grupo focal. Para o tratamento e análise dos
resultados, fez-se opção pela análise de conteúdo, conforme proposto por
Bardin (2016) e a análise do discurso coletivo do sujeito, proposto por Lefrève e
Lefrève (2003; 2014).
3.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A abordagem qualitativa foi adotada por propiciar a compreensão do significado
que uma determinada circunstância tem para o sujeito ou para o grupo de
sujeitos, no desempenho de suas ações e na atuação de seus distintos papéis
na sociedade. Este tipo de pesquisa privilegia a singularidade do sujeito, uma
vez que a atitude de escuta e o interesse por parte do pesquisador desperta no
entrevistado o impulso de revelar-se mediante a narrativa (BRISOLA;
79
MARCONDES, 2011), respondendo a questões muito particulares que não
podem ser quantificadas (MINAYO, 2009).
Assim, buscou analisar o sentimento de pertencimento dos moradores
fundadores do bairro que moram nele há mais de 30 anos, e dos que passaram
a morar no bairro posteriormente e não colaboraram diretamente na sua
construção.
Quanto aos fins, a pesquisa é descritiva, pois se pretendeu descrever as
características da população do bairro Jardim Felicidade e dos fenômenos
presentes neste território, que estão direta ou indiretamente relacionados às
temáticas propostas: pertencimento social, participação e engajamento
comunitário.
Esta abordagem permite a exposição de características claras e delineadas de
determinada população, envolvendo técnicas padronizadas e estruturadas de
coleta de dados (VERGARA, 2007). Este tipo de pesquisa vai “além da simples
identificação da existência entre as variáveis e pretendem determinar a
natureza dessa relação.” (GIL, 2010, p. 28).
Para se alcançar o objetivo geral da pesquisa, adotou-se o estudo de caso que
“consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira
que permita seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 2010, p. 37), por
entender que este método viabilizaria a análise do senso de pertencimento
social e do engajamento comunitário, no contexto do território e seus múltiplos
fenômenos sociais.
3.3.2 UNIDADE DE ANÁLISE
A unidade de análise foi o bairro Jardim Felicidade, situado na região Norte do
município de Belo Horizonte (MG), conforme mapa apresentado na Figura 2.
Este bairro foi oficialmente reconhecido como bairro Jardim Felicidade, em
agosto de 2005 e tem uma área que abrange 793.641m².
O bairro possui dois centros de saúde, duas escolas municipais, duas creches
comunitárias, três organizações de base comunitária e igrejas de variadas
denominações. O comércio no bairro é concentrado em uma avenida beira-rio,
80
contendo padaria, mercearia, papelaria, açougue, salão de beleza e bares.
(SILVA; GOMES, 2013).
Figura 2 – Delimitação em vermelho do Bairro Jardim Felicidade.
Fonte: GOOGLE MAPS. [Jardim Felicidade]. [2017].
O bairro foi construído a partir da demanda e da mobilização de moradores que
não se viam em condições de pagar aluguel. Assim, para reivindicar a posse da
antiga Fazenda Tamboril, desapropriada pela Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte, seis pessoas se reuniram no bairro Primeiro de Maio (BH/MG) para
discutir sobre moradia. Foi
nesta reunião o Padre Piggi informou sobre as possibilidades
da desapropriação do terreno “Fazenda Tamboril”. Disse que já
havia verificado os impostos e outras questões legais junto à
Prefeitura e o Estado de Minas Gerais. A negociação sobre a
doação do terreno teve início com Prefeito Rui Lage,
concretizando no mandato de Sergio Ferrara. A verba para
aquisição do terreno veio da aprovação federal e repassada
para a prefeitura pelo ministro de planejamento Sr. Aníbal
Teixeira. (SILVA; GOMES, 2013, p. 9).
81
O bairro Jardim Felicidade é constituído por 26 setores censitários3 de acordo
com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE 2010) (BELO HORIZONTE, 2016). Ao relacionar os setores censitários
com base no território de abrangência do Centro de Referência da Assistência
Social – CRAS Jardim Felicidade, com a classificação do Índice de
Vulnerabilidade da Saúde (IVS 2012), descritos no quadro 2.
Quadro 2 – Setores censitários e classificação de risco do índice de
vulnerabilidade da saúde – IVS do território Jardim Felicidade.
Nº Setor Censitário IVS 2012
1 60.66.0002 Elevado
2 60.66.0011 Médio
3 60.66.0012 Médio
4 60.66.0013 Elevado
5 60.66.0014 Muito elevado
6 60.66.0015 Elevado
7 60.66.0016 Muito elevado
8 60.66.0017 Muito elevado
9 60.66.0018 Muito elevado
10 60.66.0035 Muito elevado
11 60.66.0036 Elevado
12 60.66.0037 Elevado
13 60.66.0038 Muito elevado
14 60.66.0039 Elevado
15 60.66.0040 Elevado
16 60.66.0206 Elevado
17 60.66.0217 Elevado
18 60.66.0218 Elevado
19 60.66.0252 Elevado
20 60.66.0258 Muito elevado
21 60.66.0264 Muito elevado
22 60.66.0309 Elevado
23 60.66.0310 Médio
24 60.66.0312 Elevado
25 60.66.0314 Médio
26 60.66.0315 Muito elevado
Fonte: BELO HORIZONTE, 2016, p. 14.
Constatou-se que 50% destes setores censitários foram classificados de risco
elevado; 35% de risco muito elevado e 15% de risco médio (Quadro 2). Por
3 Setor Censitário é unidade territorial de coleta das operações censitárias, definido pelo IBGE,
com limites físicos identificados, em áreas contínuas e respeitando a divisão político-administrativa do Brasil (IBGE, 2010)
82
essas informações, o território do bairro Jardim Felicidade é classificado com
elevado risco de vulnerabilidade social (BELO HORIZONTE, 2016).
De acordo com o IBGE (2010), a população presente no território bairro Jardim
Felicidade totaliza 19.175 pessoas, sendo que deste total, 10.049 (52%) são do
sexo feminino e 9.126 (48%) são do sexo masculino. Os segmentos jovens e
adultos se destacaram numericamente representando respectivamente,
23,04% e 37,96% do total da população do território. Enquanto a população de
idosos, acima de 60 anos, totalizando 7,41% (BELO HORIZONTE, 2016).
3.3.3 SUJEITOS DE PESQUISA
Os sujeitos da pesquisa foram selecionados entre moradores e lideranças
comunitárias do bairro, pertencentes à faixa etária de 18 a 80 anos, por
acessibilidade, utilizando também a técnica bola de neve. Essa técnica permite
que os participantes indiquem novos participantes até que o ponto de
saturação seja alcançado.
Os sujeitos foram divididos para a entrevista em dois grupos: (i) moradores
mais antigos, ou seja, aqueles que estão no bairro desde a sua fundação em
1987; e (ii) moradores mais recentes aqueles que se mudaram para o bairro
após 2010. Ano em que se iniciou a entrega de títulos de propriedades dos
imóveis aos moradores, concluída em 2011. No total foram realizadas 25 (vinte
e cinco) entrevistas, sendo 12 (doze) entrevistados pertencentes ao grupo dos
moradores mais antigos e 13 (treze) moradores do grupo dos moradores que
habitam o Jardim Felicidade após 2010, conforme quadro 3.
83
Quadro 3 - descrição dos sujeitos da pesquisa entrevistados
SUJEITO DA PESQUISA (P) Pertence / (NP) Não Pertence
IDADE TEMPO DE MORADIA
ENTREVISTADO 1 P 40 30 a 20 anos ENTREVISTADO 2 NP 21 Menos de 10 ENTREVISTADO 3 P 32 30 a 20 anos ENTREVISTADO 4 P 37 30 a 20 anos ENTREVISTADO 5 P 63 30 a 20 anos ENTREVISTADO 6 NP 35 Menos de 10 ENTREVISTADO 7 P 54 20 a 10 anos ENTREVISTADO 8 NP 28 Menos de 10 ENTREVISTADO 9 NP 19 Menos de 10 ENTREVISTADO 10 P 18 Menos de 10 ENTREVISTADO 11 P 60 30 a 20 anos ENTREVISTADO 12 P 39 30 a 20 anos ENTREVISTADO 13 P 37 30 a 20 anos ENTREVISTADO 14 P 58 20 a 10anos ENTREVISTADO 15 NP 23 20 a 10 anos ENTREVISTADO 16 P 48 30 a 20 anos ENTREVISTADO 17 NP 36 30 a 20 anos ENTREVISTADO 18 P 23 20 a 10 anos ENTREVISTADO 19 P 38 Menos de 10 ENTREVISTADO 20 NP 43 30 a 20 anos ENTREVISTADO 21 P 55 20 a 10 anos ENTREVISTADO 22 NP 62 30 a 20 anos ENTREVISTADO 23 P 68 30 a 20 anos ENTREVISTADO 24 NP 21 Menos de 10 ENTREVISTADO 25 P 48 20 a 10 anos
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Dos 25 (vinte e cinco) indivíduos que responderam as entrevistas, 19
(dezenove) aceitaram o convite para participar do grupo focal. A faixa etária
destes moradores era de 19 a 56 anos, sendo que 64,29% são do sexo
feminino e 35,71% do sexo masculino. Dos 19 participantes, 14 (quatorze)
responderam às perguntas e participaram do diálogo. Com relação ao grau de
escolaridade, 36,36% desses indivíduos concluíram o Ensino Médio e 9,09%, o
Ensino Superior; enquanto 54,55% mencionaram não ter completado o Ensino
Fundamental.
3.3.4 COLETA DE DADOS
Os procedimentos adotados para a realização da coleta de dados desta
pesquisa incluíram a revisão de literatura, através de pesquisa bibliográfica
com o foco nos temas pertencimento social, engajamento comunitário, gestão
social, desenvolvimento local e território. A busca foi realizada em bancos de
dados, periódicos, artigos, revistas, dissertações, selecionadas através dos
84
sites IBICT e SCIELO, CAPES, Bibliotecas Digitais e sites oficiais do Governo e
livros.
A pesquisa de campo foi realizada junto aos moradores do bairro Jardim
Felicidade (BH/MG), por meio dos instrumentos de coleta de dados, entrevista
semiestruturada (APÊNDICE A) e grupo focal (APÊNDICE B) que foram
previamente elaborados com base na literatura consultada.
As entrevistas foram do tipo semiestruturadas que não seguem um rigor em
sua classificação, o que as tornam semelhantes a uma conversa, na qual o
pesquisador busca compreender os significados que os sujeitos atribuem aos
fenômenos que os circundam no cotidiano (ALVES-MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER, 2001). As entrevistas propiciaram a compreensão do
significado que uma determinada circunstância tem para o sujeito ou para o
grupo de sujeitos, no desempenho de suas ações e na atuação de seus
distintos papéis na sociedade.
Este instrumento de coleta de dados privilegiou a singularidade dos moradores,
uma vez que a atitude de escuta e o interesse por essas contribuições
despertaram no (na) entrevistado (a) o impulso de revelar-se mediante a
narrativa, de acordo com a proposta de Brisola e Marcondes (2011),
respondendo a questões muito particulares que não podem ser quantificadas
em consonância com Minayo (2009).
As entrevistas foram previamente agendadas com cada entrevistado
particularmente, por meio de telefonemas, mensagem via telefone e aplicativos,
e pessoalmente em visita domiciliar, para aqueles que não possuíam estes
meios de comunicação. Logo, dias e horários foram devidamente acordados.
O grupo focal (GF) foi escolhido como o segundo instrumento de coleta de
dados desta pesquisa, com o intuito de qualificar os dados obtidos nas
entrevistas semiestruturadas (APÊNDICE A). Para tanto, as perguntas do
roteiro de entrevista que necessitaram de qualificação nortearam a discussão
no GF e estão descritas no Apêndice B.
85
De acordo com Nicolau, Escalda e Furlan (2015), os GF constituem debate
aberto e acessível a todos os participantes. Os assuntos que norteiam as
discussões são de interesse de todo o grupo e não se faz acepção das
pessoas quanto às diferenças referentes à posição social. Essa técnica permite
a coleta de dados diretamente dos depoimentos do grupo, a partir do momento
em que os indivíduos relatam suas experiências e percepções em torno de um
tema de relevância coletiva e proporcionam “a troca de experiências, conceitos
e opiniões entre os participantes.” (BUSANELO et al., 2013).
Todos os entrevistados foram convidados a participar do GF cujo encontro
ocorreu no dia 21 de novembro de 2017, às 18:30 horas e contou com a
participação de 19 (dezenove) moradores. A equipe de apoio do GF foi
composta por 4 pessoas voluntárias, exercendo as seguintes funções: papel de
mediadora, gravação em áudio, filmagem e observador.
A reunião do grupo focal durou duas horas e trinta minutos, sendo os últimos
trinta minutos dedicados a um lanche coletivo. Foi preservada a
homogeneidade do grupo considerando os aspectos: tempo de moradia no
território estudado e pertencerem à faixa etária de 18 a 80 anos (BUSANELO et
al., 2013; KINALSKI et al., 2017). Ressalta-se que o GF aconteceu em uma
sessão, em conformidade com o exposto por Aschidamini e Saupe (2004).
3.3.5 TRATAMENTO DOS DADOS
Para o tratamento dos resultados, os dados das entrevistas foram submetidos
à análise de conteúdo conforme Bardin (2016), por meio do software gratuito
Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionnaires (IRAMUTEQ) que é um programa que viabiliza diferentes tipos
de análise de dados textuais, desde as mais simples até análises multivariadas,
organizando o vocabulário de forma compreensível e visualmente clara
(CAMARGO; JUSTO, 2013).
Para fins didáticos, Bardin (2016) divide a fase de análise de conteúdo em: (i)
pré-análise; (ii) exploração do material e (iii) tratamento dos resultados,
86
considerando a inferência e a interpretação. Para a pré-análise, fez-se a
organização de todo o material a ser analisado, ou seja, transcrição na íntegra
de cada uma das 25 entrevistas, cuidando para que o máximo de informações
fosse preservado. Feito isso, realizaram-se diversas leituras em todo o
material.
Após a pré-análise do material, passou-se à fase de exploração dos dados
alcançados e à formulação das categorias de análise referendadas na
literatura. As 25 entrevistas foram organizadas por respostas dos entrevistados,
sendo compiladas na íntegra para compor um corpus textual, seguindo a
formatação sugerida pelo software IRAMUTEQ, como por exemplo: **** *E_1
*sex_1 *mor_1, em que, E = entrevistado; *sex = sexo do entrevistado; *mor =
tempo de moradia no bairro.
Os entrevistados e suas respostas foram assinalados como: Entrevistado (1 a
25); sexo (masculino e feminino) em que 1 se refere ao sexo feminino e 2 ao
sexo masculino e para o tempo de moradia no bairro, 1 se refere a quem mora
no bairro de 20 a 30 anos; 2, a quem mora no bairro de 10 a 20 anos e 3, a
quem mora há menos de 10 anos no bairro.
O agrupamento do conjunto de textos por diferenciação segundo o gênero é o
que se chama categorização. Essa distribuição dos segmentos de textos, em
categorias possibilita e facilita as interpretações e as inferências. As categorias
são classes que reúnem um conjunto de elementos sob um título genérico que
é feito a partir dos caracteres comuns destes elementos. Nesta pesquisa se
adotará o termo categoria, para classificação das unidades de registro, ao
invés do termo classe.
O Iramuteq faz o agrupamento do conteúdo das entrevistas, a partir da base
estatística que tem como fórmula o chi2 (X² - de associação do segmento de
texto com a classe), formando um dendograma em que é factível analisar a
frequência das palavras no corpus e torna-se possível a identificação do
conteúdo lexical presente nos segmentos de texto (ST) de cada uma das
classes ou categorias. Assim, na terceira fase dessa análise, foram
87
estabelecidas cinco categorias: (1) Responsabilidade e cuidado com o
território; (2) Identidade social; (3) Engajamento comunitário; (4) Mobilização
comunitária e (5) Sentimento de pertencimento social.
Esse software também possibilitou a análise hierárquica descendente (CHD) ao
organizar os dados que ilustram as relações entre as classes, dando ao
pesquisador condição de realizar inferências minimamente pessoais,
garantindo validade à análise.
Assim como as entrevistas, o material verbal coletado no grupo focal foi
formado por 33 depoimentos que responderam 4 perguntas norteadoras
(APÊNDICE B), transcritos e, posteriormente, submetidos à análise do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) com auxílio do DSCSoft, ambos propostos
por Lefèvre e Lefèvre (2003; 2014).
A partir deste cadastro, o software fez as análises de primeiro nível no
Instrumento de Análise do Discurso 1 (IAD1) e de segundo nível no
Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2). As análises de primeiro nível
(IAD1) e segundo nível (IAD2) foram feitas organizando o material verbal de
sentidos semelhantes ou complementares, como preconizadas na metodologia
do DSC. A IAD1 abrangeu a seleção das expressões-chave (ECH) e das ideias
centrais (IC), que direcionaram para a categorização. A IAD2 construiu o DSC
a partir das ECH de sentido semelhante ou complementar (MARINHO, 2015).
Após passarem pelo processamento e serem analisados, os depoimentos
deram origem a 8 (oito) Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) e foram
identificadas três categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece
o sentimento de pertencimento e identidade social; (2) Ter uma casa no Jardim
Felicidade representa a emancipação social e (3) Engajamento e participação
são diferentes entre os moradores do bairro.
3.3.6 ASPECTOS ÉTICOS
Os aspectos éticos foram observados em todas as fases dessa pesquisa.
Assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil, para que fosse submetido
ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), observando a Resolução n° 466/2012
88
(vigente à época da solicitação), do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO E),
sendo aprovado pelo CAAE n° 75117717.8.0000.5098, apresentado no Anexo
A.
Após explicar aos sujeitos como a coleta de dados seria realizada e tendo a
sua concordância, foi feita a solicitação de sua assinatura, em duas vias no
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) apresentado no Anexo B,
do Termo de Autorização de Gravação e Uso de Imagem e Depoimentos
(ANEXO C) sendo que uma via ficou com as pesquisadoras e outra foi
entregue ao entrevistado e/ou participante do grupo focal. Após esse
procedimento, as entrevistas foram gravadas em áudio e filmadas, para
posterior transcrição.
3.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise e interpretação dos resultados ocorreram após criteriosa exploração
de todo o material coletado nas entrevistas e no grupo focal (GF). A definição
das categorias de análises geradas, tanto pela análise de conteúdo (AC)
quanto pela análise do discurso do sujeito coletivo (DSC) tiveram por base a
literatura estudada, os depoimentos dos sujeitos entrevistados e dos
participantes do grupo focal.
A análise de conteúdo originou o corpus textual e as suas respectivas
categorias extraídas das entrevistas semiestruturadas; e o Discurso do Sujeito
Coletivo foi organizado a partir das expressões chaves (ECH) e das ideias
centrais (IC) oriundas das informações do grupo focal. Neste tópico serão
apresentados primeiramente os resultados da análise de conteúdo e, em
seguida, os do Discurso do Sujeito Coletivo.
Para a análise de conteúdo, confirmou-se que a saturação foi atingida na
vigésima quinta entrevista realizada quando ficou evidente a lógica interna do
objeto de estudo, com todas as suas conexões e interconexões e que a partir
daquele momento, as próximas entrevistas não trariam maiores
esclarecimentos para o objeto estudado (MINAYO, 2017). Esse resultado foi
89
confirmado pelos resultados gerados pelo Interface de R pour les Analyses
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ), visto que
dos 878 segmentos que compuseram o corpus textual, 795 foram classificados,
ou seja, 90,55%. Observa-se que o software considera que uma classificação
válida requer uma retenção mínima de 75% dos segmentos de texto (JUSTO;
CAMARGO, 2014).
O primeiro produto oferecido pelo Iramuteq, a nuvem de palavras, constitui uma
análise lexical mais simples, em que se trabalha com a representação gráfica
dos principais vocábulos que apareceram nos depoimentos, tendo em vista, a
frequência das palavras presentes nesse corpus textual. Conforme
apresentado na figura 3, a nuvem de palavras é interessante, pois possibilita
rápida identificação das palavras-chave de um corpus textual, contribuindo na
interface dos resultados (JUSTO; CAMARGO, 2014).
Figura 3: Nuvem de palavras obtidas nas falas dos entrevistados pelo Iramuteq.
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
Especificamente, na nuvem de palavras gerada para o contexto desta
pesquisa, as palavras mais frequentes foram: gente e bairro. A palavra gente
surge nos relatos dos sujeitos 287 vezes (32,68%) seguida da palavra, bairro,
90
que aparece 216 vezes (23,69%). É válido ressaltar que o vocábulo gente,
pode ser interpretado nos discursos dos entrevistados com o sentido de nós,
cuja conotação é a coletividade, corroborando com os seguintes relatos:
-“... E aí a gente chegou nesse momento e, aí, passamos a morar no
Jardim Felicidade.” (ENTREVISTADO 7).
-“Então... a gente está nesse processo de busca e de aprendizagem
e de experiência ainda.” (ENTREVISTADO 15).
-“E a gente quer propor isso para as pessoas e que elas se sintam
incentivadas a participar desse processo e a se preocupar com a
sua comunidade também, porque muitos deles vão ter filhos no
bairro, vão crescer.” (ENTREVISTADO 4).
- “A gente joga tudo que é lixo no rio, cachorro, cavalo, até guarda
roupa de tudo de tudo mesmo.” (ENTREVISTADO 19).
Para estabelecer as categorias de análise desta pesquisa, os dados obtidos
das entrevistas foram submetidos ao software Iramuteq. A figura 4 expõe a
análise de similitude realizada pelo Iramuteq utilizada frequentemente por
pesquisadores das representações sociais.
Por meio da análise de similitude, é possível identificar as co-ocorrências entre
as palavras nas categorias. Às palavras mais representativas é dado destaque
usando como referencia o Qui-quadrado (X²) de associação dessas palavras
dentro das categorias. Esse resultado traz indicações da concatenação entre
essas palavras, auxiliando na identificação da estrutura da representação
(CAMARGO; JUSTO, 2013).
Assim, é possível verificar, por meio de uma análise característica, que, apesar
das palavras pertencerem a uma determinada categoria, elas subsidiam o
entendimento. Podem também fortalecer outras categorias visto que a
sobreposição de vocábulos representativos para as ações contempla as 5
categorias estudadas.
91
Figura 4 – Resultado da análise de similitude
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
Ao observar os quadrantes da figura 4 de análise de similitude, percebem-se as
partes comuns, cujas palavras que exibem alguma conexão estão mais
próximas entre si. Esta forma de apresentação gráfica separa os grupos de
palavras por cores, tornando possível a criação e análise das categorias.
Quanto mais próximas ao eixo horizontal as palavras estiverem, maior
familiaridade há entre as categorias representadas. Quanto mais, as palavras
se distanciam do eixo horizontal, menor ligação existe entre as categorias
representadas.
92
As palavras que compuseram a categoria 1 – Responsabilidade e cuidado com
o território – jogar, lixo, córrego, rua, responsabilidade – estão na cor vermelha,
no quadrante III (inferior à esquerda), mais afastada do centro do quadrante.
As palavras que compõem a categoria 2 – Identidade social– trabalhar, noite,
Deus, graça, ficar – estão representadas pela cor cinza, no quadrante II
(inferior à direita), mais próxima do centro do quadrante e atingindo partes do
quadrante I (superior direito). Os quadrantes I e II apresentam as palavras – vir,
“cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar – que compõem a categoria 5 – Sentimento
de pertencimento social, e está representada na cor lilás.
As palavras vir, “cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar estão localizadas mais
afastadas do centro desse quadrante, porém estão associadas com as
palavras trabalhar, noite, Deus, graça, ficar, que compõem a categoria
identidade social e estão mais próximas ao centro desse quadrante o que
comprova uma proximidade temática entre essas categorias, oriundas dos
diversos relatos.
As palavras que compõem a categoria 3 – Engajamento comunitário: bairro,
comunidade, talvez, gosto, melhor, processo estão representadas na cor verde.
Encontram-se localizadas no quadrante inferior esquerdo, mais próximo do
centro do quadrante e agrupadas entre as palavras grupo, ajudar, Cleiton,
participar, CRAS, que compõem a categoria 4 – Mobilização comunitária, na
qual está representada na cor azul, localizadas no quadrante IV (superior à
esquerda).
O agrupamento das palavras por cores favorece a constatação de que as
palavras mais próximas representam conectividade entre as categorias. Por
exemplo, as palavras nas cores em azul e verde no quadrante superior
esquerdo são mais frequentes e representam as categorias 3 (Engajamento
comunitário) e 4 (Mobilização comunitária), apresentadas, respectivamente
verde e azul.
93
Nota-se, portanto, que as palavras: grupo, ajuda, participar, comunidade,
bairro, mobilização, correlacionam as propostas de engajamento comunitário e
mobilização comunitária no Bairro Jardim Felicidade.
Assim, seguindo a lógica de aproximação e interrelação entre as palavras nos
quadrantes, a partir da análise da figura 4, concebe-se que as categorias 3
Engajamento comunitário (verde) e 4 Mobilização comunitária (azul); 1,
Responsabilidade e cuidado com o território (vermelho); e 5 Sentimento de
pertencimento (lilás) e 2 Identidade social, constituem 3 blocos que encontram-
se distantes do eixo horizontal, o que indica uma menor ligação entre as
categorias 1; 3 e 4; 2 e 5.
Seguindo esse mesmo raciocínio, as palavras jogar, córrego, lixo,
responsabilidade representam a categoria 1 - Responsabilidade e cuidado dos
moradores, para com bairro Jardim Felicidade, enquanto que as palavras lote,
mãe, pai, morar, ganhar estão na categoria 5 – e representam o sentimento de
pertencimento social dos moradores ao local. Percebe-se que, as ações de
responsabilidade e cuidado com o território não estão diretamente relacionadas
ao sentimento de pertencimento no contexto desta comunidade, mas com a
formação da identidade social.
No entanto, percebe-se que, como visto na figura 4, o sentimento de
pertencimento está ligado à formação de identidade social – categoria 2 – que,
está de acordo com o estudo de Brea (2014), pois o indivíduo deverá se
empenhar coletivamente pela melhoria da qualidade de vida, por meio de um
pensamento mais crítico e reflexivo dentro de uma perspectiva que leva à
emancipação.
A constatação de que o sentimento de pertencimento e a identidade social
estão correlacionadas, se confirma com a análise de similitude (Figura 4), nos
quadrantes I e II da figura 4, que exibe a proximidade das palavras que
compõem as categorias Identidade social e Sentimento de pertencimento
social. Nesse sentido, a identidade social é um ponto importante na relação
94
com o sentimento de pertencimento, na medida em que, segundo Brea (2014),
tanto o pertencimento quanto a identidade podem interferir na construção de
valores e atitudes, e podem influenciar a forma de como os indivíduos e grupos
interagem entre si e com o local onde vivem.
Nesse mesmo sentido, tanto o pertencimento quanto a identidade social podem
interferir no modo como as pessoas agem sobre o meio, conforme propõem
Fassini, Machado e Schultz (2013) ao mencionarem que o ser humano se
humaniza a partir da linguagem e da vida em grupo. E como proposto por
Sarlot e Schmidt (2014), é no convívio com os demais que as identidades são
afirmadas e as atitudes de afiliação dos indivíduos com o local são fortalecidas,
estabelecendo as características desse ambiente social.
A análise feita a partir da Classificação Hierárquica Descendente (CHD)
possibilitou a separação do corpus textual (conjunto de textos analisados), em
25 unidades de textos iniciais, 878 segmentos de texto, 3428 formas distintas,
30.916 ocorrências, 2051 formas ativas, 5 classes formadas a partir da
aproximação dos sentidos e relevância das palavras, conforme apresentado na
figura 5.
Figura 5: Classificação Hierárquica Descendente (CHD)
------------------------ |I|R|A|M|U|T|E|Q – Tue Nov 28 15: 40:32 2017 ------------------------ Number of texts: 25 Number of text segments: 878 Number of forms: 3428 Number of occurrences: 30916 Número de lemas: 2222 Number of active forms: 2051 Numero de formas suplementares: 162 Numero de formas ativas com a frequência: >=3:726 Média das formas por segmento: 35.211845 Number of clusters: 5 795 segments classified on 878 (90.55%) ############################ Tempo: 0h 0m 23s ############################
Fonte: Dados da pesquisa gerados no Iramuteq, 2017.
95
A tabela 1 apresenta a correlação das palavras nas 5 categorias, em que
Eff.S.t representa o número de segmentos de texto que contêm a palavra na
classe; Eff. Total o número de segmentos de texto no corpus que contêm, ao
menos uma vez, a palavra citada; Porcentagem corresponde a ocorrência da
palavra no segmento de texto nesta classe, em relação a sua ocorrência no
corpus textual; Chi2 representa o X² de associação da palavra com a classe; e
UCE é a Unidade de Contexto Elementar que é entendida como a
representação elementar, o enunciado mínimo de discurso dentro de um texto.
O software localiza o vocabulário nas diferentes unidades de contexto e as
coloca em relação. Em outras palavras, conecta contextos que possuem
palavras comuns. (DELAVIGNE, 2003).
Tabela 1 – Estruturação das categorias a partir das palavras-chave.
Categoria 1 – Responsabilidade e cuidado com o território UCE: 24,03%
Palavras Eff. S.t. Eff. Total Porcentagem Chi2 Jogar 59 63 93.65% 181.72 Lixo 56 66 84.85% 145.88 Córrego 30 41 73.17% 57.2 Rua 42 72 58.33% 51.05
Responsabilidade 12 12 100.0% 38.53 Morador 20 31 64,52% 28,97
Papel 12 14 85,71% 29,71 Categoria 2 – Identidade social
UCE: 21,51% Trabalhar 39 53 73.58% 91.21
Noite 10 10 100.0% 36.96 Deus 20 31 64.52% 35.34 Ficar 40 91 43,96% 30,67 Tarde 9 9 100.0% 33.22 Graça 15 21 71.43% 31.84
Categoria 3 – Engajamento comunitário
UCE: 21,26% Bairro 63 149 42.28% 48.42 Comunidade 24 38 63.16% 41.86
Talvez 8 8 100.0 29.93 Gosto 31 66 46.97% 28.43
Bom 30 65 46.15% 26.21
Melhor 14 23 60,87% 22,2
Processo 8 10 80,0% 20,88
Categoria 4 – Mobilização e participação comunitária UCE: 14,59%
Grupo 16 21 76.19% 65.68
Ajudar 32 82 39.02% 43.8 Cleiton 7 7 100.0% 41.34
Participar 27 66 49.90% 40.0 CRAS 11 18 61.11% 31.98
Categoria 5 – Sentimento de pertencimento social UCE: 18,62%
Lote 21 22 95.45 88.17 Mãe 34 55 61.82% 72.79
Pai 23 30 76.67% 69.34 Vir 63 116 54,31% 114,21 Lote 21 22 95,45 88,17
Cá 32 41 78,05 100,78 Morar 46 94 48.94% 64.68 Ganhar 23 32 71.88% 62.42
Fonte: Dados da pesquisa, 2018
96
A Classificação Hierárquica Descendente (CHD) visa obter classes de
segmentos textuais semelhantes entre si e, ao mesmo tempo, diferentes dos
segmentos de outras classes. Com essa organização, o software analisa os
dados e os apresenta em um dendograma que ilustra as relações entre as
possíveis classes (CAMARGO; JUSTOS, 2013), como pode ser verificado na
figura 6. Observe que o dendograma mantém as diferentes cores utilizadas na
análise de similitude.
Figura 6: Dendograma Classificação Hierárquica Descendente (CHD)
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
Como base no conteúdo lexical e na representação fatorial da CHD, foram
obtidas cinco categorias com seus respectivos vocábulos, a saber:
97
Categoria 1, Responsabilidade e cuidado com o território, com as
palavras jogar, lixo, córrego, rua, responsabilidade e morador;
Categoria 2, Identidade social, trabalhar, noite, Deus, graça;
Categoria 3, Engajamento comunitário, contendo as palavras bairro,
comunidade, talvez, gosto, bom, tarde, melhor e processo;
Categoria 4, Mobilização comunitária, estruturada com os termos grupo,
ajudar, Cleiton, participar e CRAS;
Categoria 5, Sentimento de pertencimento social, com as palavras, vir,
“cá” (significando aqui), lote, mãe, pai, morar e ganhar.
Assim, cada categoria recebeu uma denominação em função dos termos
apresentados e das temáticas dessa pesquisa (pertencimento social,
participação e engajamento comunitário) como propõem os estudos de Justo e
Camargo (2014).
Com base no dendograma (Figura 6), da esquerda para a direita, têm-se dois
subcorpus que representam as categorias dois e cinco; a seguir, outros dois
subcorpus que correspondem às categoria quatro e três e, isoladamente a
categoria um. Assim, foram estabelecidas cinco categorias: (i)
Responsabilidade e cuidado com o território; (ii) Identidade social; (iii)
Engajamento comunitário; (iv) Mobilização comunitária; (v) Sentimento de
pertencimento social que serão apresentadas a seguir.
3.4.1 CATEGORIA 1 – RESPONSABILIDADE E CUIDADO COM O
TERRITÓRIO
A Responsabilidade e o cuidado do território, como visto nos resultados desta
pesquisa, estão relacionados às práticas de manutenção e limpeza, descarte
adequado dos resíduos (lixo), saneamento básico e revitalização do córrego
Tamboril. Estas práticas estão relacionadas ao cuidado com o meio ambiente e
estão previstas na Constituição Federal de 1988, no artigo 225 que trata desse
assunto: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
98
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 1998).
A categoria - Responsabilidade e cuidado com o território envolveu 24,3% dos
relatos dos entrevistados. As palavras em evidência são: jogar (93,65%); lixo
(85,85%); córrego (73,17%); rua (58,33%); responsabilidade (38,53%); papel
(85,71%) e morador (64,52%). Para os moradores do bairro Jardim Felicidade,
a relação de cuidado e responsabilidade com o território está diretamente
ligada à manutenção da limpeza das ruas, do córrego e deposição dos
resíduos sólidos em local adequado.
Vale esclarecer que a palavra jogar, neste contexto foi usada pelos
entrevistados no sentido de: arremessar, depositar, atirar, lançar. Ela tem
representatividade de 93,65% na categoria Responsabilidade e cuidado com o
território, o que equivale ao X² de 181,72. A categoria, Responsabilidade e
cuidado com o território é composta pelas unidades de contexto elementares
(UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 24,03% dos relatos dos
sujeitos entrevistados, conforme tabela 1.
Percebe-se que cuidado e responsabilidade enunciam o zelo com o meio
ambiente, local onde se vive, remetendo ao cuidado com o território em seu
aspecto estrutural e relacional (BRASIL, 2008; KOGA, 2003; LIMA; YASUI,
2014; RAFFESTIN, 1993; SANTOS, 2000).
O território pode ser, portanto, referência de pertença e identificação positiva,
quando os moradores dele se apropriam e têm o privilégio de usufruí-lo
(HAESBAERT, 2005). O cuidado, neste contexto, envolve as práticas
relacionadas ao saneamento básico (limpeza, acondicionamento, descarte
correto dos resíduos sólidos e líquidos em local apropriado), ou mesmo, a
despoluição do córrego. Alguns relatos das entrevistas ilustram essa categoria,
a saber:
- “Então, no Jardim Felicidade, eu não sou um mero espectador. Sou uma pessoa, uma pessoa que se importa com esse bairro. Eu gosto do que principalmente do que eu ajudei a construir porque eu me sinto parte
99
dessas coisas, responsável. Eu gosto de gostar delas é o primeiro passo para se envolver com elas, para se preocupar com elas, se não, eu as negaria. Eu posso dizer que eu não gosto do Córrego poluído, mas eu gosto muito desse córrego e gosto tanto a ponto de querer que ele seja limpo, que as pessoas não jogam mais lixo nele, que o esgoto não caia mais nele, que as revitalizações que as nascentes sejam revitalizadas. (...).” (ENTREVISTADO 4).
-“Principalmente a questão do lixo é tão simples uai o caminhão de lixo já não passa nos dias alternados tudo direitinho? é só colocar o lixo no dia certo na hora certa (...) A mensagem desse bairro é essa, é isso! Um bom dia, isso é cuidar do seu espaço, isso é cuidar do ambiente, essa educação entre as pessoas, isso é um cuidado.” (ENTREVISTADO 18).
- “(...) então assim, retiramos os lixos de alguns pontos (...) então, eu vejo
que quando algumas pessoas começa a conhecer a importância daquela
ação, elas cuidam então a importância de não se ter lixo.”
(ENTREVISTADO 1).
- “(...) e essa falta de cuidado que a gente pode observar na rua com os
lixo as casas mal acabadas isso as vezes nem é tanto problema financeiro.
Isso é mais às vezes porque a pessoa não se importa mesmo com aquele
lugar. Então, como eu falei né do cuidado com as casas como os lixo na
rua... isso dos moradores primeiramente né porque eu acho até que é uma
questão social.” (ENTREVISTADO 9).
- “Jogando lixo no lugar certo, doando tempo para desenvolver atividades
que beneficiam os outros moradores e criando campanhas de
conscientização contra vícios, violência e o descuido com o meio
ambiente.” (ENTREVISTADO 3).
Nessa perspectiva de cuidado e responsabilidade, o território foi mencionado
de forma explícita nos relatos dos sujeitos entrevistados, especificamente
quando estes falam sobre o bairro, o ambiente, o espaço, o lugar:
- “E aí, esse lugar foi me encantando, foi me encantando.”
(ENTREVISTADO 20).
- “Não tenho nada a reclamar desse bairro (...) hoje, então para mudar para
melhorar esse bairro, nosso aqui, as coisas tem que começar a mudar lá
em cima”. (ENTREVISTADO 5)
- “Aí eu peguei elas e arrumei um lote aqui no Jardim Felicidade.”
(ENTREVISTADO 7).
100
Os dados revelam ainda que, a queixa dos moradores em relação ao bairro
Jardim Felicidade está relacionada ao fenômeno da violência no território,
principalmente, a que envolve crianças, adolescentes e jovens.
- “Tem muita violência aqui no bairro tem muita gente no meio das drogas.
Eu não gosto quando isso entra dentro da casa da gente, sabe? Porque às
vezes, a gente acha que as coisas não acontecem dentro da casa da
gente, só na casa dos outros.” (ENTREVISTADO 15).
- “Deus um dia, vai colocar uma pessoa que pensa. Que vai arrumar um
projeto para os nossos jovens, alguma coisa assim, que tenha onde focar.
Que eles gostam de fazer, que eles não têm esse tempo de tá mexendo
com coisa errada.” (ENTREVISTADO 7).
Independente da conotação positiva ou negativa do depoimento, no que tange
à categoria Responsabilidade e cuidado com o território, fica evidente que o
território é compreendido como sendo o lugar das relações sociais em que a
vida acontece diariamente. Seguindo esta lógica, o território pode inspirar a
identificação positiva e a efetiva apropriação do espaço por aqueles que têm o
privilégio ou a necessidade de usufruí-lo (HAESBAERT, 2005), conforme relato
de um dos sujeitos entrevistados, que ao descrever sobre seu sentimento em
relação ao bairro, diz:
- “(...) isso aqui é um lugar que eu não admito que fale isso, [entrevistada faz gestos de unir os dedos polegar e indicador numa demonstração de coisa pequena] desse bairro, porquê eu comecei ali do zero (...) Ah.... ele representa o meu crescimento. O meu crescimento como pessoa.” (ENTREVISTADO 22).
- “(...) porque trabalho e faço faculdade. Então, meu dia a dia é mais fora
da comunidade mesmo (...) eu acho que se elas tivessem chance, elas não
morariam aqui, as vezes, muitas delas não todas, mas se elas tivessem
condição de ter né outra casa, em outro lugar... talvez, elas cuidariam
melhor né valorizaria o bairro. Então, assim, eu acho que elas moram aqui,
mas não porque gostam daqui, mas porquê precisam, porque quando você
gosta do lugar que você mora, você cuida muito mais.” (ENTREVISTADO
9).
A categoria Responsabilidade e cuidado com o território é bem retratada nas
respostas dos entrevistados, evidenciando como as pessoas podem cuidar do
local onde moram e que tipo de cuidado o bairro precisa. Conclui-se que o
construto cuidado com o território é compreendido pelos moradores como
101
ações que retratem a responsabilidade dos moradores bem como o papel de
cada um para a manutenção da limpeza do bairro e para a preservação do
córrego Tamboril.
3.4.2 CATEGORIA 2 – IDENTIDADE SOCIAL
A identidade pode ser construída tanto em âmbito individual quanto coletivo,
pois está relacionada ao indivíduo como ser único, com suas peculiaridades,
que vão se desenvolvendo ao longo da vida. Assim, a identidade social é
formada nas relações deste sujeito único, com outros indivíduos e com meio
social, que transita por diferentes contextos e grupos formando sua identidade,
ao permitir a esse sujeito que se localize socialmente (BERLATTO, 2009;
OLIVEIRA; SILVA, 2017).
A categoria, Identidade social é composta pelas unidades de contexto
elementares (UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 21,51% dos
relatos dos sujeitos entrevistados conforme apresentado na tabela 1. A palavra
trabalho (73,58%) e suas variações lexicais (trabalhar, trabalhando, trabalhei,
trabalhavam) aparecem nos relatos dos sujeitos atreladas, principalmente, à
história de construção coletiva do bairro. Inter-relacionadas a elas, estão as
palavras: noite (100,0%) Deus (64,52%), ficar (43,92%), perder (88,89%) e
graça (71,43%).
- “Isso aqui foi feito com muito suor, muita luta. A gente começou do nada. Então, quem viu isso aqui e quando olha para isso aqui é um bairro humilde, mas para mim, isso aqui... para mim, é um Belvedere!4 Porque isso aqui foi com muito muita luta. Cada casinha dessa aqui que a gente viu crescer.” (ENTREVISTADO 24).
A análise que se faz do conteúdo destes relatos é que os moradores atribuem
o trabalho de construir suas moradias e o bairro, a uma graça e providência
divina. Por esse motivo, expressões como Deus e graça aparecem em
4 Belvedere é um bairro situado na região Sul da capital de Belo Horizonte, com localização
privilegiada e que abriga as classes de maior poder aquisitivo.
102
evidencia. Neste contexto, justificam-se as palavras: ficar (43,92%), perder
(88,89% e noite (100%). Para os moradores, o fato de trabalharem edificando
suas moradias, principalmente à noite com o intuito de conseguirem edificar
suas casas sem que seu direito fosse perdido, estava de acordo com o critério
de construção em 45 dias estabelecido pela AMABEL. Os depoimentos a
seguir ilustram essa percepção.
- “A gente pegou uma afinidade muito grande do começo pra ver o bairro
crescer, nascer. Eu carreguei muita lata_d´água na cabeça, ajudei muitas
pessoas.” (ENTREVISTADO 5).
- “Então... sabe, eu tava no céu. Isso aqui é meu graças a Deus. Não tinha
muro nem nada, não tinha nada, nada, nada, sabe? [...] Que tinha aquele
tanto de gente construindo [...] Hoje, eu tenho maior orgulho disso aqui [...]
Eu ganhei material pra dois cômodos e como era muito acidentado, eu fiz
me deram os bloco para fazer o porão. Aí, o que eu fiz? Eu fiz o porão de
cozinha, uma escada, até no quarto e banheiro. Fiz dois andar e o piso era
queimado que fala né? Aí eu não tinha muito móvel, aí comprei dois
móveis. Aí eu tava no meu Palácio.” (ENTREVISTADO 21).
-“Não conseguiram melhorar tem alguns cantinhos aqui tem as casas
antigas e graças a Deus hoje não, hoje a maioria tá melhor. Essa casa
minha, você vê desse tamanho, isso foi feito com muito sacrifício.”
(ENTREVISTADO 7).
- “Esse bairro representa tudo. Tudo que eu consegui, eu consegui aqui,
eu estudei aqui, tive meus amigos aqui, o meu primeiro emprego foi aqui,
eu fui jovem aprendiz do Banco Brasil e lá eu aprendi muito. Então, ele
representa tudo... tudo... mesmo.” (ENTREVISTADO 17).
Ao analisar o contexto em que as palavras se evidenciam nesta categoria, e
com base na literatura estudada, identifica-se que a formação da identidade,
especificamente, a identidade social está associada ao conjunto de vinculações
de um sistema social que permite ao sujeito localizar-se e ser localizado
socialmente (BERLATTO, 2009).
- “Você só via muita gente trabalhando porque tinha prazo de construir que
era 45 dias que o povo tinha para construir, 2 cômodos se não construísse
em 45 dias, a pessoa perderia.” (ENTREVISTADO 5).
- “Era final de semana e de noite que a gente construía, porque tinha que
trabalhar né?” (ENTREVISTADO 22).
103
- “Aí depois minha mãe foi morar com meu padrasto, aí a vida ficou um
pouco mais difícil aí ficava naquele vai e volta sabe aí até que hoje, graças
a Deus, a gente tá melhor.” (ENTREVISTADO 12).
Dessa maneira, percebe-se, ao analisar os relatos dos moradores
entrevistados, que estes sujeitos formam com este território seu espaço de
identificação, sua identidade social. Nesse sentido, Tavares (2014) observa a
partir do que propõe a Psicologia Social Crítica, que
a construção da identidade e da subjetividade dos indivíduos são processos psicossociais que têm em sua composição fatores históricos e contextuais, que afetam as relações e segmentam a sociedade em classes e/ou categorias. Dessa forma, acentuam-se as semelhanças e diferenças entre os indivíduos e produzem, ao mesmo tempo, sentimentos de pertença a determinados grupos, bem como discriminações e exclusão de outros. (TAVARES, 2014, p. 193).
Como visto à priori, para os moradores do bairro Jardim Felicidade, a formação
de identidade se relaciona ao território a partir do trabalho exercido por eles na
construção do bairro. Nesse sentido, é possível perceber que não só
moradores que ajudaram na construção do bairro, mas também aqueles que
conhecem a história de luta dos primeiros moradores ou participaram
indiretamente e/ou que, de alguma forma estão envolvidos em ações de
desenvolvimento deste território, aparentam ter mais identificação com o local.
- “Então, o bairro eu vim de uma realidade que ela foi destruída né? Então,
minhas raízes não estão mais lá. Elas foram destruídas. Só estão na
lembrança, né? E, é no Felicidade que eu reconstruí.” (ENTREVISTADO
4).
- “Isso aqui é minha segunda casa e a comunidade também. Aqui, eu
aprendi, eu ganhei muito aqui... nossa eu aprendi muito, gente eu ganhei
muito aqui, eu gosto daqui, da acolhida.” (ENTREVISTADO 23).
A identidade é formada a partir das relações sociais. Nesse sentido, Brea
(2014) assinala que a identidade é um sentimento que faz referência à
singularidade e à participação do indivíduo nos ideais e nos modelos culturais
do grupo; na medida em que os processos de sua formação são sociais
(DESCHAMPS; MOLINER, 2009).
104
Dessa maneira, analisa-se que, os moradores que vivenciaram a construção do
bairro Jardim Felicidade, tiveram sua identidade social concebida a partir das
relações e vínculos estabelecidos, das expectativas, do desejo por melhorias
locais e também pelas possíveis disputas, contradições e conflitos
estabelecidos durante a edificação de suas casas, quando chegaram ao bairro
e precisavam construí-las em curto período de tempo. Estes moradores
construíram suas identidades a partir de causas e necessidades comuns com o
território e com outros moradores.
- “O povo trabalhava tudo junto, era mais unido, um ajudava o outro na
construção da casa e, ali também, eu gostava.” (ENTREVISTADO 15).
- “Este bairro é a extensão da minha casa. É onde eu vivo. Onde construí
minha vida, foi aqui nesse bairro... Então, ele é isso extensão da minha
casa.” (ENTREVISTADO 14).
Outros moradores, em contrapartida, não estabeleceram uma identidade
positiva com o bairro.
- “Eu acho que as pessoas moram aqui no bairro, mais pela situação de não ter onde morar, de não ter condições de ter um outro lugar. Eu acho que se elas tivessem, elas não morariam aqui (...).” (ENTREVISTADO 8).
- “Amigos assim que eu posso trocar ideias desse tipo, eu não tenho. Eu
não tô trabalhando. Não estou estudando. Eu fico mais é em casa mesmo.
Esse bairro não representa nada prá mim. Não tem coisa boa hoje em dia.
Não tem uma coisa legal aqui. Mas, ele foi bom na época que eu tinha 7
anos. Tinha meus amigos que a vida levou. Esse bairro então, ele
representa para mim é saudade dos meus amigos que a vida levou.”
(ENTREVISTADO 10).
Os resultados da pesquisa apontam para o fato de que, no processo de
construção do bairro Jardim Felicidade, houve a formação da identidade social
dos moradores, na medida em estes desenvolveram o sentimento de
pertencimento para com este território em consonância com os estudos de
Fassini, Machado e Schultz (2013).
Entretanto, também foram apresentados relatos de moradores que não
estabeleceram uma identidade positiva em relação ao bairro. Problematiza-se o
fato deste não pertencimento e não identificação com o bairro estar vinculado
105
ao estigma atribuído aos moradores de comunidades de baixa renda (SILVA;
FINELLI; ALMEIDA, 2016), como é o caso do Bairro Jardim Felicidade.
As respostas dos entrevistados evidenciaram que os grupos sociais possuem
identidades que lhes são peculiares ou que podem ser fruto de uma
conjugação de características decorrentes da vivência social (OLIVEIRA;
SILVA, 2017). Dessa maneira, a construção de identidade social se dá nas
relações e inter-relações com o Outro e com o meio conforme observado nos
relatos citados anteriormente.
Este Outro tem relação com o conceito de alteridade, o Outro que está em
relação com, e se diferencia do outro que quer dizer, semelhante, próximo
(LACAN, 1985). De acordo com Gilberto Velho (2008), este Outro é que
ressalta a diferença existente entre os sujeitos sociais e também pode
fortalecer os processos de estigma voltados à comparação e à diferenciação,
que são aspectos relevantes na formação de identidade social e que podem
influenciar negativamente a construção dessa identidade (ANDRÉ, 2007).
3.4.3 CATEGORIA 3 - ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO
O engajamento comunitário, de acordo com Jacobi (2005) e Sales (2014), é um
construto que deve ser compreendido como processo que envolve
continuidade nas ações. Além de ser coletivo e colaborativo, esse processo
mobiliza potências subjetivas e intersubjetivas em espaços de convivência (SÁ,
2005). O engajamento pode ser identificado quando os indivíduos trabalham
juntos em favor de uma causa, um objetivo comum.
A categoria Engajamento comunitário é composta pelas unidades de contexto
elementares (UCE) absorvidas nessa classificação totalizando 21,26% dos
relatos dos sujeitos entrevistados (TABELA 1) e está em acordo com o
proposto por Sales (2014), quando esta diz que engajamento comunitário
implica em modos de agir e de planejar a ação em parceria com os sujeitos de
determinado território. Isso justifica os termos: talvez, bom e melhor nas
entrevistas realizadas, pois o comportamento do indivíduo é diferente em
relação às ações comunitárias existentes.
106
Assim, as palavras em destaque nesta categoria são: bairro (42,28%);
comunidade (63,16%); talvez (100,0%); gosto (46,97%); bom (46,15%); melhor
(60,87%) e processo (80,0%) conforme descrito na tabela 1. Elas surgem nos
relatos dos sujeitos da seguinte maneira.
- “Mas, a comunidade tem que fazer sua parte também, Tem que ajudar
porque que se os governantes fazem alguma coisa e a comunidade não
ajuda, não adianta. Então, eu acho que é mais da comunidade.”
(ENTREVISTADO 3).
- “Eu gosto... gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas. Eu acho que o
bairro... é um bairro de pessoas simples como eu e eu acho que é um
bairro que eu posso ajudar, você entendeu?” (ENTREVISTADO 6).
Nota-se que as palavras em evidência nos relatos dos entrevistados foram:
bairro e comunidade. A palavra Bairro tem 42,28% de ocorrências nos
segmentos de texto na classe em relação ao corpus. A palavra comunidade
aparece tem 63,16% de ocorrência nos segmentos de texto na classe em
relação ao corpus conforme descrito na tabela 1.
Vale ressaltar que o sentido da palavra comunidade para o contexto desta
pesquisa está elucidado à luz do proposto por Silva e Hespanhol (2016), como
sendo um grupo de pessoas que vivem dentro de um mesmo espaço territorial,
ligadas por interesses e condições de vida comuns. Para as autoras, a
comunidade é caracterizada a partir de uma base territorial, com distribuição de
pessoas, de instituições e de uma vida social marcada por certo grau de
coesão social e pode ser ilustrado pelo seguinte depoimento:
- “Minha família conta da luta que foi pra construir, pra conseguir as coisas.
Aqui, era um bairro muito pobre mesmo. Meu dia a dia, na comunidade, é
tranquilo porque conheço a maioria dos moradores.” (ENTREVISTADO 3).
Nesse contexto, a palavra bairro aparece com sentido semelhante ao de
comunidade na medida em que é a integração natural da vida social. A análise
do conteúdo das entrevistas indica que o bairro e a comunidade são, para os
moradores, o lugar em que se dá o engajamento comunitário como
apresentado nos depoimentos a seguir:
107
- “É um bairro que tem tudo para dar tudo certo, mais do que já deu... tem
uma comunidade, vamos falar assim... boa, uma boa vizinhança.”
(ENTREVISTADO 19).
- “Acho que todo mundo tem que fazer sua parte a comunidade tem que
juntar e levantar os problemas, o que o bairro precisa e deve levar pros
governantes que também tem que fazer a parte deles.” (ENTREVISTADO
17).
Os demais vocábulos evidentes nesta categoria são gosto, do verbo gostar,
cuja ocorrência de segmentos de texto é 46,97% (TABELA 1), refletindo a
apreciação pelo bairro Jardim Felicidade, conforme os depoimentos a seguir:
- “Eu gosto, gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas. Eu acho que o
bairro é um bairro de pessoas simples como eu.” (ENTREVISTADO 5).
- “Eu gosto das pessoas, dessa união. Sabe... tem muita coisa pra fazer
aqui na questão do córrego e a gente tá fazendo.” (ENTREVISTADO 20).
- “Eu gosto do que eu ajudei a construir. Eu gosto de tá ajudando.”
(ENTREVISTADO 4).
- “Eu gosto da boa convivência com os moradores, gosto de que aqui
tenha moradores dispostos a se envolverem com políticas sociais para a
melhoria do próprio bairro.” (ENTREVISTADO 3).
A palavra gosto também surgiu em relatos negativos em relação às questões e
fenômenos existentes no bairro, como a violência, o tráfico de drogas, os
problemas socioambientais que podem comprometer o engajamento
comunitário, a saber:
- “(...) eu não gosto do Córrego poluído, (...) eu não gosto dessa violência,
dessa disputa do tráfico (...).” (ENTREVISTADO 4).
- “Eu não gosto de falar que eu moro aqui.” (ENTREVISTADO 10).
A palavra processo aparece nos segmentos de texto em relação ao corpus com
80,0% de ocorrência conforme tabela 1 e surge nos seguintes relatos dos
entrevistados:
- “Ele [o bairro] pede como uma troca essa união, ele está em processo de
começar a ser unido em ações, ele tá começando a ganhar isso, assim tá
pouquinho, pouquinho e a gente tá fazendo.” (ENTREVISTADO 20).
108
- “Esse processo foi através da privatização da vale e aí nós fomos
desapropriados e aí meu pai começou no desespero de procurar outra
moradia (...) Eu participei de todos os processos também e aí eu participei
de muitas coisas aqui que culminam na pessoa que eu sou hoje, assim de
luta, ai eu tô aqui para continuar, sabe?” (ENTREVISTADO 4).
Constata-se que, nesse estudo, a palavra processo está investida do
significado de sucessão, estado de mudança, realização, execução de alguma
tarefa, de um objetivo comum, em consonância com Ferreira (2002). No
contexto dos moradores do bairro Jardim Felicidade, o processo ao qual se
referem os entrevistados diz respeito à evolução em que os acontecimentos
relacionados à busca por melhoria das condições de sobrevivência no bairro se
deram no passado e que ainda ocorrem na atualidade.
- “Tem um grupo também de mulheres que é da economia solidária que eu
as acompanho (...) Eu estudei Serviço Social. (...) estou colocando à
disposição da comunidade meu conhecimento. Lá, elas têm oficinas e
constroem coisas maravilhosas. (...). Tenho participado dessas lutas
ambientais, por exemplo, da revitalização do córrego Tamboril. Tenho
participado da rede de moradores na perspectiva também de criar
intervenções mais amplas para uma comunidade melhor. Eu tenho
participado de uma série de interlocuções com escola municipais.”
(ENTREVISTADO 1).
- “Bom, eu tenho liderado o coletivo da juventude que cria e organiza
ações em prol de uma comunidade melhor. Tenho participado dessas lutas
ambientais, por exemplo, da revitalização do Córrego Tamboril. Tenho
participado da rede de moradores na perspectiva também de criar
intervenções mais amplas para uma comunidade melhor. Eu tenho
participado de uma série de interlocuções com Escola Municipais, com o
CRAS, com os instrumentos públicos que nós temos aqui na perspectiva
de que eles possam também realizar melhor os seus trabalhos e
possamos fazer trocas.” (ENTREVISTADO 4).
- “(...) hoje, eu sou oficineiro (...) aqui no bairro (...). Eu faço oficina e eu
sou muito ligado à educação física, eu sou formado em Educação Física e
trabalho com artes marciais, sou professor de jiu jitsu numa academia e
vim com o desafio de implantar o futebol que é a coisa mais fácil no
espaço.” (ENTREVISTADO 14).
Com relação ao engajamento comunitário, os dados dessa pesquisa revelam
que 56% dos moradores que exercem alguma atividade no bairro, são
109
moradores há mais de trinta anos ou são filhos desses moradores. 28% dos
moradores entrevistados que disseram não estarem engajados em nenhuma
atividade relacionada ao bairro, justificam que estão no bairro há menos de 10
anos e 12% afirmaram morar no bairro há mais de trinta anos.
Dos moradores que responderam não estarem envolvidos em nenhuma
atividade de desenvolvimento do bairro, a porcentagem é maior (12%) quando
se trata daqueles que disseram terem ido morar no bairro há menos de 10
anos. Os motivos foram justificados pelos depoimentos:
- “Mas, agora, eu não participo mais, cansei. A gente luta, luta e não
melhora, aí cansei.” (ENTREVISTADO 6).
- “Não! Não dá tempo de participar de nada. Só de trabalhar.”
(ENTREVISTADO 2).
Esta constatação vai de encontro ao pressuposto da pesquisa, que o
sentimento de pertencimento interfere no engajamento comunitário, uma vez
que a porcentagem de moradores engajados é maior quando se trata daqueles
indivíduos que moram no bairro desde sua fundação.
A categoria Engajamento comunitário permitiu a inferência de que, para os
moradores do bairro Jardim Felicidade, este território é o local, o espaço vivido
(SANTOS, 1996) onde se materializa o processo de engajamento. Esse
processo, segundo os entrevistados 4 e 20, ocorreu por meio do engajamento
dos moradores nas ações.
3.4.4 CATEGORIA 4 – MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA
A mobilização comunitária consiste em um processo de participação popular
que ocorre quando cidadãos se reúnem na busca de soluções para problemas
comuns. No contexto desta pesquisa, a mobilização comunitária visa à
capacitação da comunidade para lidar com os problemas sociais que os
afetam, de acordo com o estudo de Santos (2012).
Em Ferreira (2002), a palavra mobilizar significa: “Movimentar, Motivar, mover
em prol de causa, campanha, movimento, etc”. (FERREIRA, 2002, p. 466). De
110
acordo com o dicionário de língua portuguesa Priberam, a palavra mobilizar
tem as seguintes conotações: pôr-se em movimento, pôr-se em ação
(PRIBERAM, 2008-2013).
A categoria Mobilização comunitária apresentada na figura 6, é a 4ª categoria
nesta base de análise. Os relatos dos entrevistados totalizaram 14,6%. As
palavras em evidência são: grupo (76,19%); ajudar (39,02%); Cleiton (100,0%);
participar (40,91%); CRAS (61,11%). A categoria Mobilização comunitária é
composta pelas unidades de contexto elementares (UCE) absorvidas nessa
classificação totalizando 14,59% dos relatos dos sujeitos entrevistados,
conforme tabela 1.
De acordo com Henriques (2013, p. 31), a mobilização social é “um ato de
vontade das pessoas em torno de propósitos comuns, tendo em perspectiva as
contribuições de cada um, no processo de transformação das suas condições”.
As palavras em evidência na categoria Mobilização comunitária surgem nos
relatos dos sujeitos, conforme a seguir:
- “Eu preciso, mais tem gente que precisa mais. O CRAS me ajudou muito.
Eu participo da Academia da Cidade vou no posto de saúde quando
preciso, faço caminhada... só esse bairro representa pra mim um lugar
bom pra morar e conviver.” (ENTREVISTADO 3).
- “Mas, com minha proximidade com o Cleiton, com essa proximidade, eu
fico mais por conta. Então, por causa da associação, eu vou em muitas
reuniões, participo das mobilizações de tudo sabe.” (ENTREVISTADO 20).
- “Passei a participar da Rede e minha vida fluiu e cada vez me sinto mais
conectada nesse lugar. Cada vez me sinto mais presente, cada vez mais
me sinto eu neste lugar, eu juro para você (...).” (ENTREVISTADO 1).
- “Então, eu sempre participei, assim... de mobilizações muito pontuais,
tipo a igreja chamou o pessoal pra participar do Orçamento Participativo,
então eu ia. Na rua chamava, fazia aquele movimento ah sei lá... alguma
coisa da festa do bairro.” (ENTREVISTADO 14).
De acordo com Vráblíková (2013), a mobilização versa sobre aspectos de
participação do cidadão na sociedade, no sentido de suprir as lacunas das
privações e carências sociais, levando os sujeitos a se mobilizarem na busca
111
de melhores condições para a coletividade. Entretanto, Moisés et al. (2010)
argumentam que a mobilização social, sob um ponto de vista mais crítico, não
se limita a engajar os indivíduos, as famílias e a coletividade para uma ação,
mas trata de incentivá-los à participação efetiva dos recursos das comunidades
locais, capacitando, fortalecendo e organizando os sujeitos por meio de
processos educativos transformadores.
Os relatos das entrevistas condizentes com o exposto anteriormente foram:
- “(...) comecei desde um pequeno convite de morador Z, para fazer, para
fazer um trabalho no Jardim Felicidade e, hoje, estou aqui... de verdade,
sério! Sabe? Eu comecei a entender o que é ser morador. Aí... eu comecei
a perceber, mesmo eu sendo nova, que eu tenho um papel. Eu tenho uma
função, né? E, é bom quando você começa a perceber que você tem essa
função, que não é nada imposto.” (ENTREVISTADA 18).
- “Então, eu sempre participei assim de mobilizações muito pontuais, tipo a
igreja chamou o pessoal pra participar do orçamento participativo então eu
ia na rua chamava, fazia aquele movimento.” (ENTREVISTADO 1).
- “Agora, eu tô ajudando o morador X no coletivo da juventude to vindo
agora participar da rede que eu não sabia que existia se não já tinha vindo
oferecer minha ajuda aqui.” (ENTREVISTADO 21).
- “Mas, com minha proximidade com o morador X eu fico mais por conta da
associação eu vou em muitas reuniões participo das mobilizações de
tudo.” (ENTREVISTADO 17).
Constata-se que as pessoas compreendem a mobilização, ou seja, estarem
mobilizadas, quando estão de alguma forma ligada a um movimento, seja
atuando em alguma instituição, em prol de alguma ação, seja convidando e
incentivando outros a se envolverem, conforme exposto a seguir:
- “Aí depois que eu vim pra “cá”, foi quando eu vim fazer parte da
Associação que era da quarta sessão. Aí, eu comecei a fazer parte da
Associação E aqui era assim, não tinha nada. Em alguns setores tinha
começado a chegar, mas nas outra parte não tinha. Não tinha água, não
tinha esgoto, não tinha asfalto, entendeu? E a gente olhando! tem que
fazer parte dos movimentos para conseguir para buscar recurso para
melhoria né? Nessa luta, aí comecei a participar das reuniões, das
associações, dos órgãos públicos, para poder conseguir a luz, a água e
esgoto, eu fazia parte desse grupo que representava a Associação.”
(ENTREVISTADO 22).
112
De acordo com Oliveira (2009), numa visão mais ampla, os movimentos sociais
são compostos por atores que reivindicam leis, cujos movimentos e
organizações sociais pressionam o Estado para que sejam promovidas ações
institucionais capazes de atender as demandas sociais. Assim, o pressuposto
da mobilização comunitária é de que “se a ação é desempenhada
coletivamente, nas formas de movimentos sociais ela também deve ser
concebida, pensada e percebida de modo coletivo por meio de um processo de
construção e atribuição de sentido à luta coletiva.” (OLIVEIRA, 2009, p. 10).
No caso dos moradores do bairro Jardim Felicidade, isso fica evidente quando
se têm os relatos de alguns entrevistados que mencionaram algum
envolvimento nas atividades de melhoria das condições de sobrevivência no
bairro, enquanto foram motivados por alguém ou alguma instituição do
território, mas que deixaram de se envolver, após ausência dessas pessoas ou
instituições. Tal situação está ilustrada no seguinte relato:
- “Eu já cooperei. Agora, num coopero mais não. Já estive no CRAS, no
projeto rua saudável, porque a [nome ocultado] incentivava a gente, ela era
animada e ajudou muito nosso bairro, participava do Maria-Maria, das
oficinas de dança do CRAS, do EJA. Eu era do EJA, mas briguei com a
professora e não fui mais. Se ela sair da EJA, eu vou voltar.”
(ENTREVISTADO 25).
Analisa-se que a mobilização comunitária no contexto do bairro Jardim
Felicidade ocorre em razão de uma demanda coletiva por melhoria da
qualidade de vida e pelo desenvolvimento local. Tal mobilização acontece,
conforme apontam Toro e Werneck (2007), quando um grupo de pessoas
decide e age com um objetivo comum, na busca de resultados definidos e
desejados por todos.
No entanto, questiona-se o posicionamento dos moradores que relatam
estabelecer com o território uma identidade positiva, porém demonstram pouco,
ou nenhum envolvimento em ações que buscam a melhoria do local. Se de
alguma forma estão envolvidos, esse envolvimento ocorre somente a partir da
mobilização e da proximidade com outros moradores que são envolvidos.
113
- “(...) e aí comecei desde um pequeno convite de [nome ocultado] para
fazer, para fazer um trabalho no Jardim_Felicidade e, hoje, estou aqui de
verdade, sério! Sabe? Eu comecei a entender o que é ser morador.”
(ENTREVISTADO 18).
- “Não. Não, porque é igual eu te falei, né? É só quando eu recebo convite.
Aí quando tem reunião e dá pra mim participar, eu vou. Dá pra descer a
lenha? Eu desço também.” (ENTREVISTADO 11).
Assim, interroga-se: A formação de identidade social estaria atrelada ao
comodismo frente à segurança de poder usufruir do espaço e da moradia que
os antepassados conquistaram e construíram? Estes sujeitos saíram do bairro
em busca de outras oportunidades, e somente por não terem sido bem
sucedidos, necessitaram retornar ao bairro? Frente a estas situações, o
pertencimento social e a identificação com o bairro não poderiam estar
vinculados à resignação, apatia e fatalismo gerados pela frustração? Situações
semelhantes foram observadas nos estudos de Bauman (2007), Cardoso
(2008), Cidade (2012) e Martin-Baró (1998).
Conforme Santos (2000), se nesse território ativo e dinâmico ocorrerem
relações de disputa, conflitos e resistências, esses fatores podem culminar no
desmantelamento das ações coletivas. Por consequência, o desmantelamento
acarreta a resistência dos indivíduos ou grupos em aderir a novas ações. O
relato a seguir exemplifica o enunciado:
- “Eu acho que tem algumas instituições que explora isso politicamente.
Isso me deixa muito, muito, muito irritado e desanimado, sabe? [...] aqui
deve ter uns 22.000, 25.000 habitantes aqui e a pessoa faz um trabalho
com cinquenta ou cem pessoas e fala que está representando a
comunidade. Entendeu? Isso eu acho que é explorar a comunidade, isso
me deixa muito irritado...” (ENTREVISTADO 23).
A categoria Mobilização comunitária pode ser interpretada, no contexto do
bairro Jardim Felicidade, como uma ação em prol de um objetivo comum como
por exemplo, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento do bairro.
Nesse aspecto, essa mobilização tem acontecido nos moldes de movimentos
sociais, nos quais os moradores se reúnem e as demandas são pensadas e
planejadas de maneira coletiva. No entanto, a partir dos relatos, observa-se
que as intervenções propostas necessitam de um maior número de
114
participantes e que haja sempre um cuidado especial em mobilizar aqueles que
estão menos interessados ou que, por algum motivo, encontram-se
desiludidos.
3.4.5 CATEGORIA 5 – SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL
O sentimento de pertencimento aqui apresentado está de acordo com o
proposto por Brea (2014). Segundo esse autor, um indivíduo sente que
pertence a uma comunidade quando sente que faz parte e se identifica com
ela. Uma vez se sentindo pertencente, esse indivíduo passa a adotar
comportamentos e promover ações no sentido de melhorar a qualidade de vida
e do ambiente da comunidade.
Sá (2005) descreve o sentimento de pertencimento como a capacidade do
sujeito de se sentir enraizado a um determinado ambiente. Esse enraizamento
desperta, nos sujeitos, uma sensibilidade em relação a aquele local. Dessa
forma, os sujeitos passam a refletir sobre o que realmente valorizam na vida e
se dispõem a pensar coletivamente sobre os problemas que incidem sobre
aquele espaço.
O Sentimento de pertencimento social foi a quinta categoria identificada, sendo
composta por 18,62% unidades de contexto elementares (UCE), conforme
tabela 1 e caracterizada pelas seguintes palavras: vir (54,31%); “cá” (78,05%);
lote (95,45%); mãe (61,82%); pai (76,67%); morar (48,94%) e ganhar (71,88%).
As palavras vir, “cá” (no sentido de neste lugar), lote, mãe e pai, morar e
ganhar, se encontram contextualizadas nos relatos dos entrevistados, quando
estes dizem respeito à família, à organização do espaço, à experiência de
edificação das casas e do próprio bairro. Como exemplo, a palavra vir e suas
variações lexicais (vim, vinham, veio, vieram) aparecem no sentido de se fixar
em um determinado lugar, retratando segurança, satisfação e possibilidade de
prosperidade, como ilustrado nos seguintes relatos:
115
- “Muitos dos meninos que vieram para “cá” e ficaram sem escola, ficaram
sem estudar. Até, logo em seguida, construir o Jardim Felicidade, a escola
e, depois como foi expandido as outras glebas, aí construiu a Rui da Costa
Val.” (ENTREVISTADO 24).
- “Minha tia veio primeiro. Ela tinha feito a inscrição e veio, ai ela conheceu
as pessoas aqui, viu como era que fazia pra conseguir as casinhas e
chamou minha mãe, aí minha mãe veio.” (ENTREVISTADO 17).
- “Até vi uma criança nascer aqui, a mãe veio pra “cá” no dia de ganhar
menino e, na hora que acabou de armar a barraca de lona, eu escutei um
choro... era a menina nascendo, a menina nasceu junto com o Felicidade.”
(ENTREVISTADO 12).
- “Aí eu peguei elas [filhas] e arrumei um lote aqui no Jardim Felicidade. Na
época, o povo tava invadindo mesmo... aí, eu fiquei sabendo e vim
também era o único jeito.” (ENTREVISTADO 7).
A palavra “cá” se revela como advérbio de lugar surge nos relatos dos
entrevistados, vinculada à experiência de ida dos moradores para o bairro. Ao
dizerem “cá”, eles fazem menção ao bairro.
- “Então, depois que eu vim para “cá” é que eu vi que tu tem que lutar, que
você tem que correr atrás do seu objetivo.” (ENTREVISTADO 23).
- “Eu vim pra “cá” com minha filha.” (ENTREVISTADO 12).
- “Eu fui indenizada lá e eles compraram e aí a gente veio e mudou para
“cá” comprou uma casa que eu e meu esposo a indenização né.”
(ENTREVISTADO 6).
- “Por isso que o Felicidade virou um depósito de pessoa porque quanto
mais filhos, a família tinha o terreno era garantido aí quando o pessoal veio
para “cá”, os filhos eram de 0 a 8 anos.” (ENTREVISTADO 24).
- “A minha mãe veio para “cá” primeiro do que eu. Veio para “cá” minha
mãe, minha sogra, meus irmãos. Aí... nós lutamos também para ter um lote
aqui.” (ENTREVISTADO 18).
Pai e Mãe são palavras classificadas como substantivos e nos discursos dos
sujeitos funcionam como ratificadoras dos relatos de como foi a ida para o
bairro, com quem foram, quem construiu e como construíram suas casas.
- “Eu moro aqui no Jardim Felicidade com minha mãe e meu padrasto, tem
5 anos... meu padrasto comprou a nossa casa aqui. Nós morava em
116
Neves. Mas lá, lá é muito longe e meu padrasto tem um amigo que queria
mudar do Jardim Felicidade e vendeu a casa pra gente.” (ENTREVISTADO
2).
- “Moro aqui, desde o início, eu tinha uns 10 anos, 10 para 11 anos. Meu
pai tinha um lote em Neves, ele tinha feito a inscrição do loteamento aqui
do Jardim Felicidade foi contemplado (...). Eram 2 cômodos com banheiro,
2 portinhas de madeira, ou seja, de ferro. Eu vinha mais é brincar mesmo,
mas lembro da luta do meu pai e de todos também.” (ENTREVISTADO
14).
- “Muitas pessoas não conseguiram comprar outras casas, gastaram o
dinheiro todo em aluguel. Meus pais conseguiram comprar essa aqui,
compramos de uma família que ela tinha problema com filho né.”
(ENTRVISTADO 4).
- “Quem construiu foi meu pai e meu avô, meus tios e nós. Pegamos água
do córrego e a água do córrego era branquinha, branquinha mesmo.
Aquela água corrente que você via peixinho e as pedrinhas.”
(ENTREVISTADO 22).
As palavras morar, ganhar e lote estão também dentro da conjuntura de como
ocorreu a construção do bairro e das casas.
- “(...) porque a gente tem dois filhos e é apertado pagar aluguel e como eu
conheci o bairro aqui, eu também comecei ir nas reuniões para ver se
conseguia um lote, uma casa aqui igual minha sogra conseguiu.”
(ENTREVISTADO 21).
- “A gente morava na casa da minha avó paterna de favor e minha mãe ia
nas reuniões... foi onde ela ganhou lote que ganhou material para tá
construindo 2 cômodos e 1 banheiro (...).” (ENTREVISTADO 22).
- “Tinha um tempo específico para entregar a casa. Então, os vizinhos
tinham que ajudar os materiais de construção, eram colocados em alguns
cantos longe e você ia lá e pegava os seus tijolos o que precisava, a
porta...” (ENTREVISTADO 14).
- “O critério para ganhar as casas era você participar das reuniões... não
poderia faltar das reuniões, não poderia ter falta.” (ENTREVISTADO 18).
- “Tem 10 anos que a gente mora sozinha com meu avô. Foi meu avô, ele
é que ganhou a casa, ele que tá aqui desde a fundação, ele é que ganhou
a casa e deixou a gente vir morar com ele.“ (ENTREVISTADO 10).
Os depoimentos dos moradores acerca de como ocorreu a ida para o bairro e a
construção das casas estão de acordo com o proposto por Lestinge (2004).
117
Segundo o autor, o pertencimento remete à possibilidade de vinculação e ao
sentimento de inserção num espaço territorial. Também para este autor, o
pertencimento leva as pessoas a se sentirem integrados ao espaço territorial
que ajudaram a construir e criam, com este espaço, uma identidade que faz
com este sujeito integrado a um grupo de pertencimento se empenhe numa
luta coletiva por melhorias sociais (BREA, 2014).
Em complemento à ideia de que o pertencimento contribui para que as pessoas
se empenhem coletivamente na busca por melhores condições de
sobrevivência e com isto promovam o desenvolvimento local. Convém ressaltar
que o pertencimento e a identidade se constroem, se desconstroem e se
reconstroem de acordo com as situações cotidianas (CUCHE,1999).
Nesse sentido, Bauman (2005) propõe que o pertencimento e a identidade não
são sólidos e nem garantidos para toda vida, são negociáveis e revogáveis.
Santos (2010, p. 78), por sua vez, contribui mencionando que, “os vínculos de
pertencimento e identidade devem ser construídos continuamente durante todo
o processo de formação”, pois estão em constante movimento. Dessa forma
qualquer mudança social faz com que tais vínculos se reformulem de modo
diferente.
Os depoimentos a seguir demonstram o que foi apresentado nos estudos de
Cuche (1999), Santos (2010) e Brea (2014) acerca do sentimento de
pertencimento e de como ele está diretamente ligado à maneira como as
pessoas interagem com o lugar onde se estabelecem.
- “Também ajudo as meninas que fazem crochê e tricô e vagonite, a gente
é como família.” (ENTREVISTADO 7).
- “Por que a gente cresceu e viveu aqui. Então tudo que eu adquiri, tudo
que eu vejo, tudo que eu aprendi foi dentro do Felicidade. Foi na
comunidade. Foi nesta comunidade, como se diz, carente né? Então, eu
sou fruto dessa comunidade, então tenho muito esse pensamento, muito
coletivo, né?” (ENTREVISTADO 4).
118
- “Ó menina deixa eu te falar com você, cada um tem uma visão do Bairro,
na minha visão aqui é a terra prometida, né?” (ENTREVISTADO 5).
- “Nossa! [demonstração de muita alegria] esse bairro é minha vida! Esse
bairro é minha vida!” (ENTREVISTADO 16).
A partir do entendimento de que o pertencimento está relacionado aos modos
como os indivíduos interagem com meio social, relacionado aos caminhos que
percorrem e à maneira como agem, identifica-se neste estudo, que alguns
moradores não desenvolveram sentimento de pertencimento em relação ao
bairro, conforme os relatos a seguir:
- “Então, ah! Esse bairro não representa para mim, ah! Sei lá! Não, é. Não
tem coisa boa [...]. Esse bairro então, ele representa para mim é saudade
dos meus amigos que a vida levou. Pra mim, hoje em dia, ele não tem
mais nada de bom, eu perdi muitos amigos aqui.” (ENTREVISTADO 9).
- “Esse bairro representa muita coisa, assim, eu tenho receio. Parte pelo
que ele se tornou. Isso sim, a questão da segurança que ainda não é boa.”
(ENTREVISTADO 8).
Nos depoimentos supracitados, está explícita a ideia de que o pertencimento
está diretamente relacionado à maneira como os moradores interagem com o
território, com as histórias, com a maneira como agem e formam com este, sua
identidade social.
Entretanto, observa-se que, mesmo a despeito dos fenômenos sociais que
ocorrem no território e que são motivo de queixas, a maior parte, 64% dos
moradores entrevistados desenvolveram o sentimento de pertencimento ao
bairro Jardim Felicidade, alicerçados em objetivos e desejos comuns (sair do
aluguel, ter a casa própria, melhoria da qualidade de vida no local), que são
importantes na formação da identidade social.
Destes, apenas dois são moradores a menos de dez anos. 36% dos
entrevistados não demonstram sentimento de pertencimento em relação ao
bairro, sendo que cinco são moradores a menos de 10 anos, conforme pode
ser verificado no quadro 3.
119
Fundamentados na análise de conteúdo proposta por Bardin (2016) e com o
auxílio do software Iramuteq, os dados da pesquisa foram organizados e
sistematizados. Ressalta-se que essa organização e sistematização geraram
as cinco categorias: Sentimento de pertencimento social; Identidade social;
Engajamento comunitário; Mobilização comunitária e Responsabilidade e
cuidado com o território.
3.5 ANÁLISE DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO
Para se analisar o conteúdo do GF, fez-se a opção pelo método de Análise do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que, segundo Lefèvre e Lefèvre, constitui
em
uma forma de metodologicamente resgatar e apresentar as
Representações Sociais obtidas de pesquisas empíricas.
Nessas, as opiniões ou expressões individuais que apresentam
sentidos semelhantes são agrupadas em categorias
semânticas gerais, como normalmente se faz quando se trata
de perguntas ou questões abertas. (LEFÈVRE; LEFÈVRE,
2014, p. 503).
Assim, como na análise de conteúdo, o material obtido no grupo focal foi
submetido à análise e obteve-se a nuvem de palavras apresentada na figura 7.
O site utilizado foi o Wordclouds que pode ser acessado gratuitamente em:
wordclouds.com. O resultado obtido do conteúdo verbal gerado pelos relatos dos
sujeitos no grupo focal demonstra a palavra GENTE em evidência. No corpus
de texto, esta palavra aparece sete vezes.
120
Figura 7- nuvem de palavra gerado do conteúdo do grupo focal pelo Wordclouds.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
É importante salientar o significado atribuído à palavra GENTE, nos relatos dos
sujeitos. A figura 8 traz a demonstração do significado e da frequência em que
a palavra GENTE aparece no texto.
Figura 8 – Significado e frequência da palavra gente, no DSC.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Dessa maneira, de acordo com o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), proposto
por Lefèvre e Lefèvre (2014), do material verbal coletado e analisado, foram
obtidas 33 ideias centrais (IC) e suas correspondentes expressões-chave
(ECH), para que assim fossem nomeadas as categorias. Após definidas
121
observando-se as ideias centrais, as 3 categorias foram assim nomeadas: 1 =
A história fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social; 2 = Ter
uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação social e 3 =
Engajamento e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim
Felicidade, originando 8 Discursos do Sujeito Coletivo (DSC).
Os resultados deste enquadramento de respostas, considerando a transcrição
total das falas do grupo focal, feito com o auxílio do DSCSoft e com base no
referencial teórico desta pesquisa, revelaram que 51,5% dos depoimentos
foram enquadrados na categoria 3; 42,4% dos depoimentos na categoria 1 e
apenas 6,6% foram enquadrados na categoria 2.
De acordo com Figueiredo, Chiari e Goulart (2013) e Marinho (2015), a ideia
central (IC) é um nome ou uma expressão que descreve os sentidos presentes
nas expressões-chave (ECH) analisadas. São descrições do núcleo de sentido
presentes nas respostas e que são reunidas de forma sintética para compor o
DSC.
As expressões-chave (ECH) são trechos das narrativas a serem detectadas
pelo pesquisador, que revelam as ideias e opiniões, a essência do discurso
comunicada em conformidade com a cultura e a singularidade da cada falante.
É “A Representação Social (RS) na qualidade de conhecimento do senso
comum está sempre presente numa opinião, posicionamento, manifestação ou
postura de um individuo em sua vida cotidiana”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2014,
p. 503).
Dessa maneira, o objetivo das perguntas norteadoras da discussão no grupo
focal foi identificar a representação social (RS), ou seja, o que pensam os
moradores sobre o bairro Jardim Felicidade. A partir das perguntas
norteadoras, foi gerado o conteúdo verbal que é a resposta de cada
participante a estas questões. Com esse material verbal transcrito e lançado no
DSCSoft, foi possível identificar as IC e ECH para a pergunta 1 (QUADRO 4);
para a pergunta 2 (QUADRO 5); para a pergunta 3 (QUADRO 6); para a
122
pergunta 4 (QUADRO 7) por meio do Instrumento de Análise do Discurso 1
(IAD1), que posteriormente gerou o Discurso do Sujeito Coletivo, enunciando a
representação social dos sujeitos em relação aos temas e as categorias
estabelecidas.
Nesse contexto, os resultados da pergunta 1 (O que o bairro representa para
você?) aludiram o que o bairro representa socialmente para os seus
moradores: um lugar melhor que muitos outros, o renascimento, o lugar que é
amado, o trabalho coletivo... conforme os depoimentos a seguir descritos
estruturalmente no quadro 4:
- “Melhor que muitos bairros mais velhos. O Jardim Felicidade é um bairro maravilhoso.” (PARTICIPANTE 7). - “Esse bairro para mim foi o meu renascimento.” (PARTICIPANTE 1). - “O lugar que eu amo.” (PARTICIPANTE 6). - “Muita gente trabalhando junto na construção do bairro.” (PARTICIPANTE 9).
Quadro 4 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –
Categorias referentes à pergunta 1
Pergunta 1 – O que o bairro Jardim Felicidade representa para você? Expressões chave (ECH) Ideia Central (IC) Categorias
- “... eu também não sairia do Felicidade nem se ganhasse um milhão, sabe porque? é aqui que eu amo, é aqui que eu quero ficar.”
O lugar que eu amo.
Conhecer a história fortalece o sentimento de pertencimento e
identidade social.
- “Nós temos muita coisa em vista de que bairro mais velho do que esse tem... Eu não pretendo sair daqui por nada nesse mundo. Eu acho esse bairro maravilhoso.”
Melhor que muitos bairros mais velhos. O Jardim Felicidade é um bairro maravilhoso.
- “Eu gosto muito do bairro. Tô aqui desde que eu nasci.”
Eu gosto muito do bairro. Tô aqui desde que eu nasci.
- “Isso aqui é muito importante. A história do Felicidade é maravilhosa.”
O bairro é muito importante e sua história é maravilhosa.
- “Esse bairro para mim foi o meu renascimento.”
Esse bairro para mim foi o meu renascimento.
- “Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro é maravilhoso.”
Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro é maravilhoso.
- “Mas tinha uma bica e aí eu ficava a noite inteira de madrugada esperando a água de madrugada quando a água chegava em mim já tava acabando aí eu pegava o balde de fralda e ia lavar roupa na Biquinha. Aí depois a rua era barro puro. Eu já tinha três meninas. Mas eu tinha a minha casa. Era humilde, mas era a minha casa que eu sonhava.”
É a minha casa. É humilde, mas é a minha casa que eu sonhava.
Ter uma casa no Jardim Felicidade representa o sonho realizado.
- “...e a gente não tinha dinheiro para pagar aluguel direito. Agora é Felicidade mesmo.
Não precisar mais pagar aluguel
- “...e tem muita gente e muitos grupos de reunião que se reuni para lutar pelo bairro. É muita gente do bem aqui louco para ver esse Felicidade Grande.”
Muitos grupos e pessoas se reúnem para buscar o desenvolvimento do bairro.
O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos
moradores mais antigos e mais recentes do bairro.
- “Era muita gente trabalhando junto, fazendo as casas, lutando para ter luz, esgoto, essas coisas”.
Muita gente trabalhando junto na construção do bairro.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
123
O que o bairro representa socialmente para seus moradores mais recentes
também foi observado nas repostas da pergunta 2 (Como os moradores mais
recentes veem o bairro?): os mais jovens estão inertes aos problemas do
bairro; os jovens que ouvem a história do bairro são mais participativos; o
bairro não é favela e tem muita coisa boa, conforme se verifica nos relatos a
seguir e apresentados no quadro 5:
- “Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas, principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.” (PARTICIPANTE 7). - “Os jovens que ouvem a história do bairro, contada por seus antecessores são mais participativos.” (PARTICIPANTE 6). - “Meu bairro não é favela.” (PARTICIPANTE 11). - “Esse bairro tem coisa boa.” (PARTICIPANTE 12).
Quadro 5 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –
Categorias referentes à pergunta 2.
Pergunta 2 – Como os moradores mais recentes veem o bairro? ECH IC Categorias
- “Então eu vejo que aqueles pais que conta as historias para os filhos, eles são uma pouco mais participativos, mas aqueles
jovens que não conheceram a historia eu vejo que eles não estão nem ai.”
Os jovens que ouvem a historia do bairro contada por seus antecessores são mais
participativos.
Conhecer a historia fortalece o sentimento de pertencimento e
identidade social.
- “... que esse bairro tem coisa boa. Igual Nivaldo já chegou até discutir com uma
moça que veio morar aqui tem uns 10 anos já por causa desse bairro.”
Esse bairro tem coisa boa.
- “Minhas filhas odeiam isso aqui. Elas falam que aqui é muito parado. De noite não pode
sair na rua. Elas não gostam daqui.”
Filhas não gostam do bairro. Não dão valor
porque pegaram tudo pronto. - “Os jovens falam que o Felicidade não
cresceu. Eles não tem noção quando fala que esse bairro não cresceu.”
Jovens falam que o Felicidade não cresceu, mas o bairro cresceu.
- “Isso que me deixa revoltada, quando fala comigo eu cheguei na favela. Meu bairro
num é favela.”
Meu bairro não é favela.
- “O bairro viveu momentos de muita conquista, mas nós jovens paramos naquilo
que estava e não quisemos melhorar mais. É um momento de inércia que o povo esta
vivendo hoje.”
Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas, principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.
O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores
mais antigos e mais recentes do bairro.
-“As pessoas já fizeram tudo errado e agora nós jovens é que temos que remediar? Nem
sei se tem como.”
Jovens “chateados”, pelo descuido dos antecessores em relação ao bairro. Não
veem como “remediar” a situação. - “Tem muita gente fazendo tudo para mudar o bairro e ele mudou, nós é que não fazemos
nada, falei!”
O bairro mudou através da participação das pessoas. À exceção dos jovens.
- “...Toninho falou, do que a tia falou: que os meninos hoje estão com “mamãozinho com
mel.”.”
Os jovens já pegaram tudo pronto. Não vivenciam as dificuldades dos fundadores.
- “A população do bairro mudou. Os filhos construíram em cima, embaixo. Foi
aumentando a população e os jovens já pegaram tudo pronto.”
A população mudou. Os jovens já pegaram tudo pronto. Ponto final
Fonte: Dados da pesquisa, 2018. Nota: a composição do grupo focal considerou os critérios gênero, idade e tempo de moradia no bairro.
124
No que refere à pergunta 3 (Você se sente responsável pelo que o bairro se
tornou?), A representação social que os moradores possuem do bairro Jardim
Felicidade para com o território é: o bairro melhorou devido à participação e
envolvimento da comunidade; o bairro foi feito com sacrifícios, conforme
descritos nos relatos a seguir e estruturados no quadro 6.
- “O bairro melhorou e conquistou muita coisa, devido à participação da comunidade.” (PARTICIPANTE 4).
- “Construção do bairro feita com sacrifício e envolvimento na participação.” (PARTICIPANTE 9).
Quadro 6 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –
Categorias referentes à pergunta 3.
Pergunta 3 – você se sente responsável pelo que o bairro se tornou hoje? ECH IC Categorias
- “Tô aqui na luta lutando para melhorar esse bairro. Participo de tudo aqui no bairro porque aqui é onde a minha família mora. Aqui, meus filhos mora. É onde meus netos vão morar.”
Participação em busca de melhoria do bairro.
O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores mais antigos e
mais recentes do bairro.
- “A gente ir para vários lugares. ia na Câmara Municipal para lutar.” - “Então, hoje tá muito melhor. A gente foi fazendo. Todo mundo ajudando, a gente fazendo as coisas pra vender, pra ajudar.”
O bairro melhorou e conquistou muita coisa, devido a participação da
comunidade.
- “Aqui tudo foi feito com muito sacrifício e com muita ajuda das pessoas e por isso que eu tô sempre na luta, sempre que precisa tô ai pra ajudar.”
Construção do bairro feita com sacrifício e envolvimento na
participação.
- “A gente tinha que roubar água nos vizinhos do Jardim Guanabara, Floramar para construir. eles até ameaçava a gente, porque a gente roubava as águas.”
As dificuldades na construção das casas levaram a “roubar” águas dos
bairros vizinhos.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
No que se refere a pergunta 4 (Você acredita que algo ainda pode ser feito pela
melhoria do bairro?), a representação social dos moradores é a mobilização da
comunidade na busca por melhoria é necessária. O progresso chegou ao
bairro, mas os problemas socioambientais também chegaram, conforme os
depoimentos a seguir e a estrutura para o DSC proposta no quadro 7.
- “Devido aos muitos problemas que ainda existe, a mobilização deve continuar.” (PARTICIPANTE 1).
125
- “O progresso que chegou através da COPASA gerou problemas socioambientais.” (PARTICIPANTE 9).
Quadro 7 - Síntese da estrutura do DSC: Expressões-Chave – Ideia-Central –
Categorias referentes à pergunta 4.
Pergunta 4 – Você acredita que algo ainda pode ser feito pela melhoria do bairro? ECH IC Categorias
-“ Eu falo que o progresso foi chegando no Felicidade e também foi matando os rios. A COPASA é uma destruidora do córrego. Ela matou e a população tira o entulho de dentro de casa e joga no córrego.”
O progresso que chegou através da COPASA gerou problemas socioambientais.
Conhecer a historia fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social.
-“...o que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem.”
O que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem.
- “Todo dia eu levanto as mãos nas
minhas orações, eu levanto, eu
agradeço pela casa que eu tenho, pelos
vizinhos que eu tenho no bairro todo.”
Gratidão pelo bairro e pelos vizinhos.
- “Mas tem muita coisa que pode ser feita e tem o pessoal da rede que reúne as pessoas para ajudar.”
A rede de moradores promove mobilização.
O nível de engajamento e mobilização é maior em relação aos moradores mais antigos e mais recentes do bairro.
- “...a gente então chegou no feijão com a arroz. Chegou no básico e agora Os jovens não querem mais buscar melhoria.”
Pouca participação dos jovens na busca por melhoria.
- “Aqui tem muita coisa que melhorar.” - “Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Temos que continuar a mobilizar o povo pra luta.”
Devido aos muitos problemas que ainda existem, a mobilização deve continuar.
-“ A gente já conseguiu, mas e os outros que tá precisando? É isso que me leva a lutar ainda. Ver que muita gente ainda precisa.”
O que motiva a participação é saber que as pessoas ainda precisam de ajuda.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018. Nota: Foi mantido nessa análise o discurso proposto pelos diferentes sujeitos
Com base na proposta metodológica do DSC, essas representações sociais se
manifestaram na forma de discursos individuais que, após serem processados,
deram origem ao discurso do sujeito coletivo. O processamento dos dados pelo
DSCSoft permitiu a identificação das Expressões-chave de cada resposta,
possibilitando a elaboração das ideias centrais correspondentes a cada uma
das 4 perguntas.
O agrupamento das respostas com sentido semelhantes na pergunta 1
oportunizou a classificação de 3 categorias: (1) A história do bairro Jardim
Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento social e favorece o
desenvolvimento da identidade social; a categoria (2) Ter uma casa no bairro
Jardim Felicidade representa a emancipação social e a categoria (3)
Engajamento e Mobilização comunitária são diferentes entre os moradores do
bairro Jardim Felicidade. Nesse caso, 60% das respostas atenderam à
126
categoria 1 – A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de
pertencimento e identidade social.
Os DSC gerados a partir das respostas à pergunta 1 indicam que, quando se
trata da representação social, ou seja, a forma como os moradores do bairro
Jardim Felicidade o interpretam coletivamente, a história do bairro torna-se um
fator relevante para os moradores, pois alegam que, ouvir e conhecer a história
do bairro fortalece o sentimento de pertencimento e a formação da identidade
social, conforme o depoimento a seguir.
- “Então... eu vejo que aqueles pais que conta as histórias para os filhos,
eles são uma pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não
conheceram a história, eu vejo que eles não estão nem ai.”
(PARTICIPANTE 4).
A categoria 2, ter uma casa no Jardim Felicidade representa a emancipação
social, também foi classificada na pergunta 1, com 20% de enquadramento,
indicando que alguns moradores veem o bairro como o local que propiciou a
realização do sonho de se ter uma casa própria e não precisar mais pagar o
aluguel.
- “É a minha casa. É humilde, mas é a minha casa que eu sonhava.”
(PARTICIPANTE 5).
Percebe-se que, sob a perspectiva de alguns dos falantes, nem todos os
moradores se envolvem como deveriam nas atividades no/do/para o bairro.
Estes sujeitos justificam essa falta de envolvimento visto que eles se mudaram
para o bairro depois de sua edificação e essa é a causa. A justificativa é que os
jovens são menos envolvidos e engajados, por não terem vivenciado a
experiência de construção do bairro.
Portanto, essas respostas atenderam à categoria 3, evidenciando que o nível
de engajamento e mobilização comunitária é diferente entre os moradores mais
antigos e aqueles recentes no bairro, com 20% de enquadramento.
- ”(...) gostei que o [nome ocultado] falou, do que a tia falou: que os
meninos hoje estão com “mamãozinho com mel.” (PARTICIPANTE 8).
127
- “A população do bairro mudou. Os filhos construíram em cima, embaixo.
Foi aumentando a população e os jovens já pegaram tudo pronto.”
(PARTICIPANTE 9).
3.5.1 PERGUNTA ORIENTADORA 1 – O QUE O BAIRRO JARDIM
FELICIDADE REPRESENTA PARA VOCÊ?
O objetivo da pergunta 1 foi identificar o que os moradores do bairro Jardim
Felicidade pensam e como se sentem em relação ao bairro. O quadro 4
apresenta a pergunta e as ideias centrais elaboradas a partir das respostas dos
falantes a esta pergunta.
O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) redigido para a pergunta 1 a partir da
categoria A - A história do bairro Jardim Felicidade que fortalece o sentimento
de pertencimento e identidade social – foi:
DSC 1 - Eu também não sairia do Felicidade nem se ganhasse um milhão,
sabe porque? É aqui que eu amo, é aqui que eu quero ficar. Nós temos muita
coisa aqui, em vista “de que” bairro mais velho do que esse tem. Eu não
pretendo sair daqui por nada nesse mundo. Eu acho esse bairro maravilhoso.
Eu gosto muito do bairro. “Tô” aqui desde que eu nasci. Então, hoje, eu tenho
primeiro que agradecer a Deus e ao padre radical que foi muito importante.
Isso aqui é muito importante. A história do Felicidade é maravilhosa. Esse
bairro para mim foi o meu renascimento. Esse bairro é maravilhoso. Esse bairro
é maravilhoso.
A ideia de que o bairro Jardim Felicidade é um bom local para se viver está
presente no discurso coletivo. Nesse discurso é possível identificar que os
moradores formaram uma identidade positiva em relação ao local,
principalmente no que tange ao resgate das memórias de construção do bairro.
Nota-se que o fato destes moradores partilharem dos mesmos objetivos e
dificuldades na construção das casas propiciou a criação de vínculos de
amizade com os vizinhos e filiação para com o território. Este vínculo de
amizade e filiação com o bairro engendrou o sentimento de pertencimento,
como pôde ser constatado no DSC.
128
O DSC redigido para a pergunta 1, a partir da categoria 2 – Ter uma casa no
Jardim Felicidade representa a emancipação social – foi:
DSC 2 - Aí depois a rua era barro puro. Eu já tinha três meninas. Mas, eu tinha
a minha casa. Era humilde, mas era a minha casa que eu sonhava. Ai do
jeitinho que eu sonhava, pois eu fiz. Ainda bem que ficou esse nome mesmo,
porque era aluguel e a gente não tinha dinheiro para pagar aluguel direito.
Agora não. Agora é Felicidade mesmo.
Este DSC revela que, para os moradores do bairro Jardim Felicidade, a ida
para o bairro tornou possível planejar melhores condições de vida. Para eles, a
única possibilidade de terem a casa própria decorreu em consequência da
oportunidade que tiveram de se estabelecerem no local, ainda que de forma
precária. O fato de considerarem a ida para o bairro o vislumbre de dias
melhores, e poder construir nele a casa dos sonhos, favoreceu que alguns
moradores desenvolvessem o sentimento de pertencimento para com o bairro.
O DSC redigido para a pergunta 1, a partir da categoria 3 - Engajamento e
mobilização comunitária participação são diferentes entre os moradores do
bairro Jardim Felicidade – foi:
DSC 3 - O Felicidade hoje “tá” maravilhoso e tem muita gente e muitos grupos
de reunião que se reuni para lutar pelo bairro. É muita gente do bem aqui louco
para ver esse Felicidade Grande. Quando eu vim para “cá”, eu vim na
construção do bairro. Tinha muita gente trabalhando junto, fazendo as casas,
lutando para ter luz, esgoto, essas coisas. O rio era limpo e tinha um lugar que
a gente pegava água pra construir. Era no lugar que chamava Biquinha e lá
tinha muitos peixinhos, era piabinha, peixe pequenininho. No lugar que tinha,
as crianças tomavam banho nessa Biquinha, nesse córrego. A água era limpa.
Quando os moradores do bairro Jardim Felicidade discursam sobre o
engajamento e a mobilização comunitária nas atividades que visam à melhoria
da qualidade de vida no local, pode-se perceber que as pessoas mais
envolvidas nestas atividades são aquelas que citam como sua experiência a de
participar na construção do bairro.
O discurso também revela um saudosismo latente em relação às perdas que
tiveram com o crescimento desordenado do bairro, como por exemplo, a
129
poluição do rio que eles usaram para pegar água e construir suas casas e que
hoje em dia tornou-se um problema socioambiental.
O conteúdo foi classificado para a pergunta 2 (QUADRO 5) e geraram 2
categorias. 70% das respostas atenderam à categoria 1 – a história do bairro
Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e identidade social e
60% das respostas foram enquadradas na categoria 3 – Engajamento e
participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade.
O número de respostas enquadradas por categorias (13) é maior que o número
de respostas dos sujeitos (10) porque, no processamento do software, uma
única resposta pode gerar duas ideias centrais distintas e, consequentemente,
podem ser enquadradas em diferentes categorias, como pode ser constatado
na resposta a seguir:
- “Eu vejo as pessoas mostrando para os filhos como fazer prá
cuidar do bairro que a gente construiu, mas muita gente não faz isso.
Não conta as histórias do que vivemos para os filhos. Então, eu vejo
que aqueles pais que conta as história para os filhos, eles são um
pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não conheceram
a história do eu vejo que eles não estão nem ai.” (PARTICIPANTE
6).
Esta resposta gerou duas ideias centrais: (i) importância da história e (ii)
engajamento e participação. As ideias centrais foram enquadradas em duas
categorias distintas: (i) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o
sentimento de pertencimento e identidade social dos moradores do bairro
Jardim Felicidade; e (ii) Engajamento e participação são diferentes entre os
moradores do bairro Jardim Felicidade. Isso pode acontecer, uma vez que a
quantidade de respondentes pode ser menor que a quantidade de respostas
dadas.
3.5.2 PERGUNTA ORIENTADORA 2 – COMO OS MORADORES MAIS
RECENTES VÊEM O BAIRRO?
O objetivo da pergunta 2 foi identificar se existe diferença entre a forma como
os moradores mais recentes veem o bairro e se relacionam com ele. O quadro
130
5 representa as ideias-centrais elaboradas a partir das respostas dos falantes a
esta pergunta.
Com relação à pergunta 2 (Como os moradores mais recentes veem o bairro?),
foram obtidas as categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece
o sentimento de pertencimento social e identidade social e (3) Engajamento e
participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade.
Assim, o Discurso do Sujeito Coletivo produzido para a pergunta 2, a partir de
das Ideias-centrais, foi:
DSC 4 - Então eu vejo que aqueles pais que conta as histórias para os filhos,
eles são um pouco mais participativos, mas aqueles jovens que não
conheceram a história, eu vejo que eles não estão nem ai. Minhas filhas
odeiam isso aqui. Elas falam que aqui é muito parado. De noite não pode sair
na rua. Elas não gostam daqui. [nome ocultado] já chegou até discutir com uma
moça que veio morar aqui tem uns 10 anos por causa desse bairro. Os jovens
falam que o Felicidade não cresceu. Eles não têm noção quando fala que esse
bairro não cresceu. Eu não gosto, no conjunto, é quando as pessoas falam que
está chegando numa favela. Isso que me deixa revoltada, quando fala comigo,
eu cheguei na favela. Meu bairro num é favela.
Percebe-se que, no discurso coletivo do sujeito redigido a partir da resposta à
pergunta (Como os moradores mais recentes veem o bairro?), os moradores
expõem a ideia de que conhecer a história do bairro fortalece o pertencimento
e a identidade social. O pensamento destes moradores é: aquelas pessoas que
afirmam não gostarem do bairro, ou mesmo, o denigrem, são aquelas que não
compartilharam da história e que “já pegaram tudo pronto” no bairro.
DSC 5 - O bairro viveu momentos de muita conquista, mas depois de um
tempo pra “cá” ele passou também a viver momentos de muita inércia, porque
nós jovens paramos naquilo que estava e não quisemos melhorar. É um
momento de inércia que o povo está vivendo hoje. As pessoas já fizeram tudo
errado e, agora, nós jovens é que temos que remediar? Nem sei se tem como.
É porque tipo assim, na discussão que a gente teve para o documentário eu
até gostei muito que o [nome ocultado] falou, do que a tia falou que os meninos
hoje estão com mamãozinho com mel. A população do bairro mudou e, hoje,
dobrou a população. Os filhos construíram em cima, embaixo. Foi aumentando
a população e os jovens já pegaram tudo pronto.
131
O DSC redigido das respostas para a pergunta (como os jovens veem o bairro
Jardim Felicidade?) mostra que, para alguns, os moradores mais recentes, que
não conhecem a história do bairro, são menos engajados e mobilizados para
as atividades que visem a sua melhoria. Este fato tem gerado tensão e
insatisfação por parte de alguns moradores que se queixam do
desengajamento, principalmente dos mais jovens.
- “Existe uma inércia em relação ao envolvimento das pessoas,
principalmente os jovens na busca por melhoria do bairro.”
(PARTICIPANTE 7).
Afirmam que já houve engajamento e mobilização da comunidade, mas que
atualmente, há uma inércia que leva os mais jovens a não continuarem
buscando melhorias para o local. O DSC induz à forma como os moradores
mais recentes se relacionam com o bairro é diferente da forma como os
moradores mais antigos o veem.
3.5.3 PERGUNTA ORIENTADORA 3 – VOCÊ SE SENTE RESPONSÁVEL
PELO O QUE BAIRRO SE TORNOU HOJE?
O objetivo dessa pergunta foi o de verificar o que os moradores pensam sobre
suas ações no bairro e se eles se sentem responsáveis pelo que o bairro se
tornou. As ideias-centrais elaboradas a partir das respostas dos participantes
estão demonstradas no quadro 6. Cinco respostas foram classificadas para a
pergunta 3, com 20% das respostas enquadradas na categoria 3. O Discurso
do Sujeito Coletivo elaborado desses relatos foi:
DSC 6 - A gente ia para vários lugares. Lá, na Câmara Municipal, para lutar.
Então, assim, hoje tá muito melhor. Todo mundo ajudando, a gente fazendo as
coisas prá vender, pra ajudar. A gente tinha que roubar água nos vizinhos do
Jardim Guanabara, Floramar para construir. Eles até ameaçava a gente,
porque a gente roubava as águas. Aqui, tudo foi feito com muito sacrifício, com
muito sacrifício e com muita ajuda das pessoas e, por isso, que eu tô sempre
na luta, sempre que precisa tô ai prá ajudar. Tô aqui na luta, lutando para
melhorar esse bairro. Participo de tudo aqui no bairro porque aqui é onde a
132
minha família mora. Aqui... meus filhos mora. É onde meus netos vão morar. A
Rua 16 todinha foi doado a pessoas que construíram com benefícios próprios.
Observa-se que o agrupamento das respostas à pergunta gerou apenas a
categoria C, que retrata ser o nível de engajamento e mobilização comunitária
diferente entre os moradores mais antigos e mais recentes no bairro. A partir
do DSC, infere-se que os moradores do bairro Jardim Felicidade têm a
consciência coletiva de que eles são os responsáveis pelo o que o bairro se
tornou hoje, tanto nos aspectos positivos (melhorar o bairro, buscar seu
desenvolvimento, emancipação social, mobilização comunitária, trabalho
coletivo), quanto nos aspectos negativos (rio poluído, invasão das áreas
verdes, destinação inapropriada dos resíduos).
Nesse sentido, o engajamento dos moradores ao construírem suas casas e a
mobilização constante na busca de melhores condições de sobrevivência no
local é o que justifica essa categoria.
3.5.4 PERGUNTA ORIENTADORA 4 – VOCÊ ACREDITA QUE ALGO
AINDA PODE SER FEITO PELA MELHORIA DO BAIRRO?
O objetivo da pergunta 4 foi o de averiguar se, para os moradores do bairro
Jardim Felicidade, o bairro ainda pode melhorar e se eles ainda estão
dispostos a impelir esforços para esta melhoria. O quadro 7 apresenta as
ideias-centrais elaboradas a partir das respostas para esta pergunta. A história
do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e
identidade social, com 37% de enquadramento na categoria 1; e Engajamento
e participação são diferentes entre os moradores do bairro Jardim Felicidade,
com 75% de enquadramento na categoria 3.
Com relação à pergunta 4, a conjunção das respostas com mesmo sentido
classificou duas categorias: (1) A história do bairro Jardim Felicidade fortalece
o sentimento de pertencimento e identidade social, com 37% de
enquadramento; e (3) Engajamento e participação são diferentes entre os
133
moradores do bairro Jardim Felicidade. Os Discursos do Sujeito Coletivo
redigido para a pergunta 4 foram:
DSC 7 - Todo dia eu levanto as mãos nas minhas orações, eu levanto, eu
agradeço pela casa que eu tenho, pelos vizinhos que eu tenho no bairro todo.
Eu falo que o progresso foi chegando no Felicidade e também foi matando os
rios. A Copasa é uma destruidora do córrego. Ela matou e a população agora
tira o entulho de dentro de casa e joga no córrego.
Nesse DSC, A história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de
pertencimento e identidade social. Isto fica explicito no DSC, quando os
sujeitos revelam a gratidão pelo bairro, pelos amigos. Denota-se também que
existe um incômodo pela poluição e pela degradação do córrego ao longo dos
anos. Nesse aspecto, está manifesto no DSC o sentimento de pertencimento
social e a formação da identidade dos moradores para com o território.
DSC 8 – A gente então chegou no feijão com arroz. Chegou no básico e, agora, os jovens não querem mais buscar melhoria. Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Em época de chuva, é muito perigoso, mas eu acho assim, que diante do que a gente já enfrentou, tá bom demais. Temos que continuar a mobilizar o povo prá lutar. Aqui, tem muita coisa que melhorar. O bairro melhorou muito. Mas ainda tem muito o que fazer. Tem que acabar com violência e o lixo no bairro. O que me faz querer fazer é a energia que esse lugar tem. Se a gente lutando tá difícil, se a gente cruzar os braços é pior. A gente já conseguiu, mas e os outros que tá precisando? É isso que me leva a lutar ainda. Ver que muita gente ainda precisa.
O DSC enuncia o fato que moradores concordam com os avanços e conquistas
que o bairro teve desde sua fundação. Contudo, há concordância de que
muitas ações ainda precisam ser feitas e por isso a comunidade deve continuar
se mobilizando e se engajando em situações que possam minimizar a violência
e o lixo no bairro. Assim, entendem que é necessário continuar engajados,
conforme a resposta:
- “Se a gente lutando tá difícil, se a gente cruzar os braços é pior.”
(PARTICIPANTE 13).
134
Contradizendo ao DSC anterior, apontado por parte de alguns moradores, o
conformismo em relação à situação do bairro também foi relatada pelo
participante 14:
- ”... mas eu acho assim, que diante do que a gente já enfrentou ta
bom demais.”
A análise realizada a partir do método do DSC evidenciou que 50% dos
moradores acreditam que, quando a história do bairro é contada e os
moradores mais recentes se apropriam desta história, o sentimento de
pertencimento e identidade social se fortalecem, engendrando assim maior
engajamento e mobilização destes moradores para com as ações de
desenvolvimento do bairro.
Os moradores afirmam que todo o trabalho coletivo e participativo da
comunidade fez com que o bairro se tornasse o que é hoje. Entretanto,
reforçam o pensamento de que existe maior envolvimento por parte daqueles
que participaram da construção do bairro. Assim, a análise direciona para o
entendimento de que a mobilização e o engajamento dos moradores, na tarefa
de construção das casas e do bairro, possibilitaram o seu crescimento.
De acordo com a análise dos dados gerados, os moradores respondentes
avaliam que ainda existe muito a ser feito pelo desenvolvimento do bairro e
citam, por exemplo, os problemas socioambientais:
- “Nós temos um problema sério com a invasão das áreas verdes. Temos
que continuar a mobilizar o povo pra luta.” (PARTICIPANTE 2).
- “O bairro melhorou muito, mas ainda tem muito o que fazer. Tem que
acabar com a violência e o lixo no bairro.” (PARTICIPANTE 14).
Ao observar os relatos dos participantes no grupo focal, percebe-se que os
moradores mais antigos do bairro Jardim Felicidade queixam que os moradores
mais recentes no bairro não se engajam nas ações de cuidado e melhoria da
qualidade vida no local.
135
O Discurso do Sujeito Coletivo revela a representação social dos moradores,
ou seja, a crença de que os jovens, por não conhecerem a historia do bairro, se
envolvem menos na participação e são menos engajados nas ações de
melhoria do bairro. Assim, no que tange ao pertencimento e à formação da
identidade social, essa análise sinaliza que a manutenção da memória de lutas
e conquistas coletivas corrobora na promoção do sentimento de pertencimento
e na formação da identidade social em relação ao bairro.
Nesse sentido, ressalta-se que os moradores mais antigos compreendem que
é importante a história ser contada, e acreditam que os moradores mais
recentes no bairro exibem menor nível de engajamento e mobilização, pelo fato
de não terem vivenciado a experiência de lutas e conquistas pela construção
do bairro ou por não conhecerem estes acontecimentos.
Conforme foi possível perceber, os resultados da análise de conteúdo, gerados
a partir do Software Iramuteq, e os resultados da análise do Discurso do Sujeito
Coletivo gerados pelo Software DSCSoft, no que tange aos principais conceitos
abordados neste estudo (Pertencimento social, Identidade social e Participação
e engajamento comunitário) responderam ao objetivo geral desta pesquisa:
analisar como o sentimento de pertencimento social pode contribuir para a
promoção do engajamento comunitário.
A análise de conteúdo (AC) e o discurso do sujeito coletivo (DSC) permitiram a
criação de categorias de base de análise que possibilitaram a interpretação dos
resultados e posterior inferência sobre os mesmos. A convergência entre os
métodos se deu, primeiramente, pelo fato de ambos, AC e DSC utilizarem
material verbal (respostas da entrevista semiestrutura e respostas às perguntas
no grupo focal), como objeto de análise. A AC e o DSC extraem os sentidos e
significados desse material e sistematiza-os de maneira a possibilitar a
interpretação e a análise dos resultados, tomando como base o referencial
teórico da pesquisa.
136
Desse modo, a convergência e os resultados alcançados por meio do DSC e
da AC podem ser sintetizados da seguinte maneira: A AC é uma técnica de
análise de dados qualitativos das comunicações, que consiste em organizar de
forma sistemática um corpo de texto. É um conjunto de instrumentos
metodológicos que se aplicam a discursos e que possibilita desvendar os seus
sentidos e significados (BARDIN, 2016).
A DSC é uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos, que
são organizados a partir de expressões ou opiniões de sentidos semelhantes
que são agrupados em categorias semânticas gerais. Tem como objeto o
pensamento das coletividades, que se faz mediante operações sobre os
depoimentos de diferentes sujeitos (LEFRÈVE; LEFRÈVE, 2014;
FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013; MARINHO, 2015).
Nesse sentido, tanto o DSC quanto a AC têm como objeto de análise os
conteúdos das comunicações e dos discursos dos sujeitos. A partir deste
material verbal é possível desvendar os sentidos e significados desses
conteúdos. O conteúdo verbal das entrevistas analisado pela AC gerou cinco
categorias: Responsabilidade e cuidado com o território; Identidade social;
Engajamento comunitário; Mobilização comunitária e Sentimento de
pertencimento social.
O conteúdo verbal do grupo focal analisado pelo DSC gerou três categorias: A
história do bairro Jardim Felicidade fortalece o sentimento de pertencimento e
identidade social; Ter uma casa no Jardim Felicidade representa a
emancipação social; e Engajamento e participação são diferentes entre os
moradores do bairro Jardim Felicidade.
Os conteúdos verbais da AC e do DSC foram organizados e agrupados com
base nas palavras, expressões e ideias, cujos sentidos e significados eram
semelhantes ou complementares entre si, para compor a mesma categoria e
ao mesmo tempo, diferentes para formarem outras categorias (CAMARGO;
JUSTO, 2013).
137
No caso das categorias da AC e do DSC, que correspondem ao sentimento de
pertencimento e identidade social, os resultados são condizentes, e expõem
que: o sentimento de pertencimento dos moradores do bairro Jardim Felicidade
favoreceu a formação de identidade social destes moradores com o local.
- “(...) porque a gente cresceu e viveu aqui. Então tudo que eu adquiri, tudo
que eu vejo, tudo que eu aprendi foi dentro do Felicidade. Foi na
comunidade. Foi nesta comunidade, como se diz, carente né? Então, eu
sou fruto dessa comunidade, então tenho muito esse pensamento, muito
coletivo, né?” (ENTREVISTADO 4).
O que também é explicitado no DSC 1 que se refere à história do bairro no
sentido de fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade social.
Ao observar a figura 4 - análise de similitude - gerada pelo Iramuteq, se verifica
que o agrupamento das palavras com sentidos e significados semelhantes está
nos mesmos quadrantes, inferior e superior direito compostas pelas palavras:
trabalhar, noite, deus, graça, ficar e vir, “cá”, lote, mãe, pai, morar, ganhar,
indicando que estas categorias estão interrelacionadas, ou seja, infere-se que
os vínculos de pertencimento e identidade social dos moradores foram
incorporados durante o processo de construção do bairro.
As categorias de análise da AC e do DSC que referem ao engajamento
comunitário e que culminam nas ações de cuidado com o território também
convergiram, pois os resultados retratam que alguns moradores participam e
estão engajados em ações que visam o cuidado com o território, a melhoria da
qualidade vida e o desenvolvimento local.
- “(...) eu passei a participar da rede e minha vida fluiu e cada vez me sinto
mais conectada nesse lugar, cada vez me sinto mais presente, cada vez
mais me sinto eu nesse lugar.” (ENTREVISTADO 1).
O DSC gerado para categorias que dizem respeito ao engajamento comunitário
é o DSC 6. Foi possível verificar que os moradores que se sentem
pertencentes ao bairro Jardim Felicidade e formam com este, sua identidade
138
social, são os mesmos que se dizem participativos e engajados nas tarefas que
objetivam o desenvolvimento do bairro.
- “Então no Jardim Felicidade (...) sou uma pessoa, uma pessoa que se importa com esse bairro. Eu gosto do que... principalmente, do que eu ajudei a construir (...).” (ENTREVISTADO 4).
- “O povo trabalhava tudo junto era mais unido, um ajudava o outro na
construção da casa e ali também eu gostava.” (ENTREVISTADO 15).
- “Eu gosto, gosto muito do bairro. Eu gosto de pessoas, eu acho que o
bairro é um bairro de pessoas simples como eu e eu acho que é um bairro
que... que eu posso ajudar. Você entendeu?” (ENTREVISTADO 6).
Assim, os resultados das análises do DSC e AC assinalam que o sentimento
de pertencimento é um construto que deve ser considerado quando se intenta
o desenvolvimento local. A partir desse sentimento os sujeitos desenvolvem a
identidade social que contribui para o desenvolvimento local.
A contribuição dos indivíduos pertencentes ao território propicia a utilização de
estratégias de gestão que visam à potencialização do sentimento de pertença
de outros sujeitos. Tais estratégias possibilitam também que ocorra a gestão
social das demandas apresentadas pela própria comunidade e que que essa
gestão seja a protagonista em todo o processo. Dessa maneira, torna-se
possível uma gestão com características de inovação social, pois serão
consideradas as potencialidades e criatividades presentes no âmbito local.
Assim, esta pesquisa revelou que o sentimento de pertencimento influencia na
maneira de como os moradores do bairro Jardim Felicidade se relacionam com
este território. O sentimento de pertencimento influencia no engajamento dos
moradores nas atividades locais de desenvolvimento. Esta pesquisa
demonstrou também o que fora anteriormente assinalado por Silva e Almeida
(2016): a participação dos moradores nas atividades pode despertar o
sentimento de pertencimento destes moradores para com o bairro, motivando-
os a se engajarem nas ações de desenvolvimento local.
139
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou identificar se existe relação entre o sentimento de
pertencimento social e o engajamento comunitário dos moradores do bairro
Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG).
Para atender ao objetivo geral, os instrumentos usados para coleta de dados
foram a entrevista semiestruturada e o grupo focal. Para cada instrumento de
coleta de dados, utilizaram-se diferentes métodos de análise, Análise de
Conteúdo (AC) e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).
A escolha desses instrumentos metodológicos de análise foi feita devido à
convergência identificada entre ambos, visto a extração dos sentidos e
significados presentes nos depoimentos dos sujeitos investigados (LEFÈVRE
et al., 2010). Nesse sentido, os instrumentos metodológicos se mostraram
eficazes no que tange aos resultados adquiridos.
Os dois métodos preconizam a identificação de categorias de base para
análise, que são fundamentais na sistematização e compreensão dos
resultados dessa pesquisa. Na AC, as categorias são classes que se
organizam por meio dos elementos textuais reunidos a partir de características
semelhantes (SANTOS, 2012; BARDIN, 2016). No DSC, as categorias são os
pensamentos e crenças socialmente compartilhados pelos indivíduos de uma
determinada sociedade, num determinado momento histórico (LEFÈVRE;
LEFÈVRE, 2003; 2014).
As categorias identificadas com base na AC foram: Responsabilidade e
cuidado com o território; Identidade social; Engajamento comunitário;
Mobilização comunitária; Sentimento de pertencimento social.
Os resultados de análise destas categorias mencionaram que a
responsabilidade e o cuidado aos quais moradores do bairro Jardim Felicidade
se referem é o zelo pelo ambiente, lugar onde vivem. Esta constatação é feita
quando se observa que as palavras em maior evidência, nesta categoria foram:
140
jogar (93,65%) e lixo (85,85%). Os relatos dos sujeitos, quando se referem ao
cuidado e responsabilidade com o território, afirmaram a importância de não se
jogar (lançar, atirar, arremessar) o lixo, nas ruas, nas esquinas e,
principalmente, no córrego Tamboril, o que corrobora com Salgado, Soares e
Vasques (2011).
Sobre a categoria Identidade social, os resultados demonstram que o trabalho
de construção das moradias, de forma compartilhada entre os moradores,
favoreceu que estes formassem com o bairro sua identidade social (SILVA;
GOMES, 2013). Além disso, essa identidade social está associada também à
história desta construção, conforme sinalizam Moreira (2014) e Silva e Gomes
(2013). Observa-se nos depoimentos dos sujeitos, que aqueles moradores
participantes direta ou indiretamente da construção, ou mesmo aqueles que
conheceram e se apropriaram da história do bairro, exteriorizam maior
identificação com esse local.
Os resultados aludiram ainda que a identidade social é formada a partir do
sentimento de pertencimento desses moradores para com o território, a partir
de identificações com causas e necessidades comuns, da afiliação com o
território e com outros moradores. Dessa maneira, o sentimento de
pertencimento manifesto na maioria dos moradores entrevistados está
relacionado ao fato de existir uma vinculação e inserção ao espaço territorial
por parte destes moradores. Assim, eles adotam ações coletivas e estratégias
que possam promover melhores condições de sobrevivência, impulsionando o
desenvolvimento local (FISCHER et al., 2006; LIZUKA; GONÇALVES-DIAS;
AGUERRE, 2012; SOUSA; VASCONCELOS; VASCONCELOS SOBRINHO,
2012).
Nestes termos, o sentimento de pertencimento e a identidade social estão
diretamente relacionados, corroborando com o apresentado por Sarlot e
Schmidt (2014) que assinalam a importância do pertencimento na formação da
identidade social.
141
Quanto ao engajamento comunitário, os resultados revelam que ele acontece a
partir da mobilização. A mobilização comunitária atingiu cerca de metade dos
moradores do bairro Jardim Felicidade participantes dessa pesquisa, sendo a
maioria deles participantes da fundação do bairro. Estes moradores,
mobilizados e engajados em alguma atividade no bairro, afirmam que se
mobilizaram a partir do convite e do incentivo de outros moradores. E que o
fazem em razão de uma demanda coletiva por melhoria da qualidade de vida e
pelo desenvolvimento local (SARLOT; SCHMIDT, 2014). No entanto, alguns
moradores relataram que, a partir do momento em que as pessoas que os
motivaram se distanciaram e deixaram de participar dessas ações, eles
também deixaram de se envolver e participar.
No contexto do bairro Jardim Felicidade se engendra a participação e o
engajamento dos moradores nas ações de cuidado com o território e nas
atividades que promovem o desenvolvimento local.
As categorias identificadas com base no DSC foram: a história fortalece o
sentimento de pertencimento e identidade; ter uma casa no Jardim Felicidade
representa a emancipação social; o engajamento e mobilização comunitária
são diferentes entre os moradores mais recentes e os mais antigos no bairro.
Com base nestas categorias de análise, os dados processados por meio do
DSCSoft geraram resultados sinalizadores de que conhecer a história do bairro
motiva o sentimento de pertencimento e a identidade social dos moradores em
relação a esse território.
Nesse sentido, há convergência entre os resultados gerados a partir da AC que
revelam que o sentimento de pertencimento favorece a identidade social, e os
resultados do DSC que revelam que conhecer a história do bairro leva os
moradores a expressarem maior pertencimento e identidade social. Outro fato
constatado é que, também no DSC, os resultados mostram que os moradores
mais antigos manifestam um nível maior de pertencimento social e, em
consequência, são os que também aparecem como os moradores mais
142
envolvidos e engajados nas ações de cuidado com o território. Isto está de
acordo com Menezes (2010) e Brea (2014).
Os autores assinalam que as pessoas que se sentem pertencentes e inseridas
num espaço territorial criam uma identidade com este local e, assim, buscam
melhorias para este local e envolverão outras pessoas, como observado
também por Maldonado e Oliva (2009) e Silva e Almeida (2016). Além disso, os
fundadores do bairro Jardim Felicidade atribuem a baixa participação dos
moradores mais recentes/jovens ao fato deles não terem vivenciado os
desafios e conquistas que os moradores mais antigos vivenciaram e também
por não conhecerem a história do bairro, corroborando com os estudos de
Moreira (2014).
Portanto, embora os resultados revelem o desejo de alguns de nunca saírem
do bairro, há de se ter um olhar mais crítico sobre esse sentimento, uma vez
que estes sujeitos podem nutrir sentimentos de resignação e apatia latentes,
manifestos em forma de alívio e gratidão. Há de se considerar também que os
construtos pertencimento e identidade social são processos psicossociais que
têm em sua constituição fatores históricos e contextuais que os afetam
cotidianamente (TAVARES, 2014).
É interessante observar que a nuvem de palavras gerada pelo Iramuteq (figura
3) evidenciou que os vocábulos mais significativos foram gente, bairro e
pessoa. Esses termos demonstram a filiação que os moradores manifestam em
relação ao bairro e a importância da coletividade no âmbito dessa comunidade,
uma vez que a palavra - gente - em maior evidência é interpretada como nós,
nas duas análises realizadas nessa pesquisa apresentadas nas figuras 3 e 8.
Ressalta-se que foram desconsideradas as interjeições relacionadas ao
vocábulo GENTE que apareceram no contexto do diálogo, por serem
expressões que, no contexto deste trabalho, não são relevantes.
Assim, compreende-se que, para haver a participação e o engajamento, é
necessário promover o sentimento de pertencimento e a identidade social, uma
143
vez que estes construtos, como vistos na literatura, são instáveis, negociáveis
e revogáveis (BAUMAN, 2005). Conclui-se ainda que o sentimento de
pertencimento dos moradores do bairro Jardim Felicidade está diretamente
ligado à forma como eles interagem com o território (BREA, 2014; CUCHE,
1999; SANTOS, 2010).
Nesse aspecto pode-se inferir que, no contexto do bairro Jardim Felicidade é
iminente a possibilidade de se promover a gestão social em prol do
desenvolvimento local. Este fato pode ser constatado quando se observa que
alguns dos moradores, que em 1987 começaram a construção deste bairro,
alcançaram resultados notórios de desenvolvimento local. Atualmente, a
demanda de revitalização do córrego Tamboril tem sido a causa comum que
une alguns moradores do bairro Jardim Felicidade na busca da solução deste
problema, por meio de um processo dialógico caracterizando a gestão social,
conforme assinala Góes e Machado (2013).
A gestão social a que se propõe o desenvolvimento local, no âmbito do bairro
Jardim Felicidade, deve ser contextualizada e ancorada territorialmente
(FISCHER, 2012). Deve ter como prerrogativa as relações já estabelecidas
entre os moradores e instituições que se articulam em diversos níveis de poder
individual e social e o fortalecimento da Rede de Apoio ao Desenvolvimento do
Bairro Jardim Felicidade (SILVA; GOMES, 2013).
A proposta é abarcar os potenciais humanos e os recursos culturais e
simbólicos presentes no território. Pois, de acordo com Fischer (2012), a
gestão social considera o território como a origem e o destino das ações
voltadas ao desenvolvimento local. Dessa maneira, parte-se do pressuposto de
que, em razão da ineficiência do poder público em dirimir as carências sociais,
as pessoas têm se valido de estratégias inovadoras na busca de alternativas
que solucionem ou minimizem os impactos sociais negativos, como assinalado
por Bignetti (2011).
144
E dessa maneira, tornam-se interessante as propostas de intervenções como a
Educação ambiental, conforme assinala Dias (2010) que buscam instigar e
gerar nas pessoas a percepção de que é necessário agir em busca da
melhoraria ou manutenção a sua qualidade de vida.
Nesse aspecto, questiona-se: que estratégias podem ser adotadas para que se
promova a gestão social em territórios como o bairro Jardim Felicidade. Como
se reconhece que o sentimento de pertencimento é o motor da participação e
do engajamento comunitário? Que desenvolvimento local essa comunidade
busca, quando se propõem intervenções que visam ao desenvolvimento local?
Quais recursos culturais, simbólicos, naturais, humanos existem neste território
e podem ser potencializados? Quais são as demandas comuns que tem unido
os diversos sujeitos em prol de um mesmo objetivo?
À guisa de conclusão,
Identificou-se que o sentimento de pertencimento influencia o engajamento e a
participação dos moradores do bairro Jardim Felicidade, como foi o objetivo
desta pesquisa. Entretanto, surgem ainda, inúmeras inquietações acerca das
respostas que se podem dar às comunidades de baixa renda, para que se
promova ‘com elas’ o desenvolvimento local.
Pensando nisso foi desenvolvido o produto técnico: MÉDIA-
METRAGEM/DOCUMENTÁRIO JARDIM FELICIDADE – Vozes em
transformação, que será utilizado como ferramenta de intervenção na
perspectiva da educação ambiental. A intenção é o vídeo como um produto
inovador, produzido com os recursos locais e por meio do envolvimento e da
participação da própria comunidade que, como protagonistas, contam e
recontam sua história.
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155
4 MÉDIA-METRAGEM COMO FERRAMENTA DE INTERVENÇÃO SOCIAL
PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BAIRRO JARDIM FELICIDADE EM
BELO HORIZONTE (MG).
[1] Aparecida Mendes de Paiva
[2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade a apresentação do média-
metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em Transformação,
elaborado a partir dos resultados da pesquisa intitulada: O sentimento de
pertencimento no engajamento comunitário: um estudo de caso no bairro
Jardim Felicidade (MG). Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que o
sentimento de pertencimento no bairro Jardim Felicidade (MG) influencia no
engajamento dos diferentes sujeitos nas ações de cuidado e desenvolvimento
do território. A partir desta constatação, surge a proposta de elaboração desse
curta metragem, como recurso metodológico de intervenção social para
educação ambiental visando o desenvolvimento e a potencialização do
sentimento de pertencimento desses moradores. Dessa forma, o média-
metragem/documentário apresenta a história do bairro Jardim Felicidade desde
sua fundação e narra as lutas e superações dos moradores, para a efetivação
do direito à moradia. O vídeo é um produto técnico que tem como temática a
inovação social com aspectos de gestão social, na medida em que sua
produção foi feita juntamente com os próprios moradores que atuaram como
produtores, documentaristas, roteiristas e protagonistas. É inovador visto que
surgiu da criatividade e capacidade dos próprios moradores em realizar com os
poucos recursos disponíveis, um documentário que seja capaz de transmitir e
mediar conhecimentos de forma inovadora
Palavras-chave: Documentário. Intervenção social. Gestão social.
Inovação social.
___________________________
[1] Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected] [2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
156
SHORT FILM AS A TOOL FOR SOCIAL INTERVENTION FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION IN JARDIM FELICIDADE IN BELO HORIZONTE (MG).
[1] Aparecida Mendes de Paiva [2] Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
The purpose of this article is to present the JARDIM HELICIDADE - documentary film "Vozes em Transformação," based on the results of the research entitled: The feeling of belonging in community engagement: a case study in Jardim Felicidade neighborhood (MG). The results of this research showed that the feeling of belonging in Jardim Felicidade neighborhood (MG) influences the engagement of the different individuals in the care and development actions of the territory. Based on this observation, the proposal for the elaboration of this short film appears as a methodological resource of social intervention for environmental education aimed at developing and enhancing the residents’ sense of belonging. In this way, the short film / documentary presents the history of Jardim Felicidade neighborhood since its foundation and tells the residents’ struggles and overcoming, so that the right to have a house becomes effective. This technical product that has characteristics of social innovation with aspects of social management, since its construction was made with the residents themselves who acted as producers, documentarists, writers and protagonists. It is innovative because it came from the residents’ creativity and ability to build with the few resources available, a documentary that is capable of transmitting and mediating knowledge in an innovative way. Keywords: Documentary. Social intervention. Social management. Social innovation.
______________
[1]Psicóloga, Especialista em intervenção social no Contexto das Políticas Públicas. Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, pelo Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
[2] Bióloga, Mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Doutora em Ciências (UFLA). Professora do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]
157
4.1. INTRODUÇÃO
O sentimento de pertencimento social é próprio da condição humana. Este
sentimento é necessário para a formação da identidade social, que por
consequência, propicia a participação e o engajamento dos indivíduos nas suas
ações de transformação e desenvolvimento, em consonância com os estudos
de Tavares (2014) e Bauman (2005) conforme se constata nesta pesquisa.
Após autorização do CEP, sob parecer no CAAE 75117717.8.0000.5098,
coletaram-se os dados a partir de 25 entrevistas e um grupo focal composto
por 19 participantes. Os resultados da pesquisa confirmaram o pressuposto:
sentimento de pertencimento intervém no nível de engajamento comunitário, no
contexto da comunidade do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte (MG) e
apontaram também que os moradores que participaram da construção do
bairro apresentam maior sentimento de pertença e estão mais envolvidos nas
ações de proteção desse território e na melhoria da qualidade de vida e
ambiental.
Para socializar o conhecimento oriundo dessa pesquisa, desenvolveu-se como
produto técnico, um média-metragem/documentário intitulado: JARDIM
FELICIDADE – Vozes em transformação, que teve como objetivos: (i) promover
o resgate da história de construção do bairro Jardim Felicidade; (ii)
desenvolver, a partir do resgate da história do bairro, o sentimento de
pertencimento, principalmente dos moradores que não vivenciaram a sua
construção; (iii) sensibilizar a comunidade local acerca da importância da
responsabilidade e cuidado com o território, com vistas ao desenvolvimento
local pautado numa gestão social horizontalizada e participativa.
O média-metragem/documentário tem como tema a história do bairro, que é
apresentada através de relatos, fatos, imagens e fotos que contarão as
conquistas e os desafios vivenciados pelos moradores do bairro Jardim
Felicidade, ao longo dos 30 anos de sua fundação.
158
Para isso, foram firmadas parcerias com a Associação Coletivo da Juventude
Olga Benário, a Organização Não Governamental (ONG) Casa Recriar, o
Grupo de Elaboração de Materiais para Aprendizagem (GEMA) e com a
senhora Marilda Portela.
A produção foi realizada em parceria com a Associação Coletivo da Juventude
Olga Benário, que voluntariamente colaborou na criação do roteiro, gravação
das entrevistas, edição de som e imagens. A ONG Casa Recriar, situada no
bairro Jardim Felicidade, cedeu uma sala para organizar o cenário das
gravações. Para auxiliar na organização do material e na socialização do
conhecimento produzido no âmbito do mestrado, contou-se com o Gema e com
a Senhora Marilda Portela que disponibilizou recursos financeiros para
produção do média-metragem/documentário.
O documentário produzido poderá ser utilizado como instrumento de
intervenção socioambiental na promoção do sentimento de pertencimento e no
engajamento comunitário, valendo-se dos princípios da educação ambiental
não formal, para conservação e melhorias no território. Por esse motivo, o
material desenvolvido será disponibilizado para as instituições públicas e
privadas presentes no território, as lideranças comunitárias e também nas
redes sociais (YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=uu0loKhYw-w,
Facebook, site PBH, site Porta curtas e Curta na Escola).
Dessa maneira, este artigo tem a finalidade de apresentar o média-
metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em Transformação,
elaborado a partir dos resultados desta pesquisa, com o objetivo de ser um
recurso metodológico de intervenção social para educação ambiental visando o
desenvolvimento e potencialização do sentimento de pertencimento dos
moradores do bairro Jardim Felicidade.
159
4.2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CURTA E MÉDIA
METRAGENS/DOCUMENTÁRIOS
Nos primórdios da história do cinema, a definição de curta e média metragem
era associada a uma limitação técnica. Dessa forma, a produção de curtas e
médias não era uma questão de escolha de seus produtores, mas a única
maneira de fazer cinema naquele início de produções cinematográficas no final
do século XIX.
Anos se passaram, mudanças e avanços tecnológicos ocorreram e as
características que identificavam um curta e média metragem naquele tempo,
ainda estão presentes hoje, e a principal delas é a sua extensão. Nos curta-
metragem, tem-se um filme curto, geralmente com uma duração inferior a 30
minutos, de acordo com Alcantara (2014). Já os média-metragens possuem
duração 31 a 69 minutos, como assinalado por Teles (2001).
Essa característica atribuída ao média-metragem propicia seu uso como
ferramenta de intervenção social. Além disso, outros fatores que favorecem a
produção e exibição de curtas e médias são o tempo e o baixo custo na
produção; a necessidade de poucos participantes e recursos; um mínimo de
personagens e diálogos, além de possuir narrativas menores e tempo de
história linear (ALCANTARA, 2014). A produção a partir de histórias reais,
vivenciadas por seus espectadores, pode provocar encantamento nas pessoas
que a eles tem acesso (PERINELLI NETO; PAZIANE, 2015), devido à
semelhança entre a realidade e a ficção que produz sentidos, para o autor que
o desenvolve, para aquele que encena o texto audiovisual e para o
telespectador.
Estas características fazem com que os curtas e os média-metragens ocupem
“cada vez mais um lugar de destaque na organização das práticas sociais,
gerando efeitos em todo o universo social e criando dinâmicas diferenciadas
onde o conhecimento passa a tomar um lugar central” nas sociedades atuais
(RODRIGUES; COLESANTI, 2008, p. 60).
160
trata-se na realidade de um cinema dinâmico, que se voltou, sobretudo a formação critica e de atitudes do espectador. Um cinema cuja ficção nos conduz a uma realidade nada fantástica e o documentário nos faz querer transformar nosso contexto. Um cinema cuja duração faz um verdadeiro vácuo a maioria dos padrões dos filmes de longa-metragem, que estão em todos os circuitos comerciais cinematográficos e os de curta-metragem, que por muitas vezes "abriu" as sessões de cinema antes da exibição dos longas: os chamados filmes de media-metragem (TELES, 2001, p. 21).
Assim como os curta-metragens e os média-metragens, os documentários são
produções audiovisuais com características próprias, que também favorecem
sua utilização como ferramenta de intervenção social. De acordo com Guido e
colaboradores,
trata-se de uma manifestação artística que desencadeia reflexões que podem ser compartilhadas em atividades coletivas, a fim de se constituir um espaço criativo, emancipador, oportunizando um ambiente em que se pode pensar juntos, e assim permite um aprofundamento das relações entre os sujeitos. (GUIDO et al., 2013, p. 136).
Desta maneira, optou-se para o contexto desta pesquisa, trabalhar com a
expressão média-metragem/documentário, por entender que o produto técnico
oriundo dos resultados dessa pesquisa agrega características, tanto de um
quanto do outro. Além disso, o material produzido constitui um produto da
Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) com possibilidades de inclusão
social em consonância com Perinelli Neto e Paziane.
Atualmente, as possibilidades abertas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) incentivaram a produção e o compartilhamento de vídeos, ampliando assim os espaços e as ocasiões em que a visualização dos filmes se faz presente, para além da sala de cinema ou dos aparelhos de televisão, o que nos faz pensar na importância de se promover processos formativos voltados, especialmente, para o emprego consciente e crítico dessas tecnologias no ensino/aprendizagem. (PERINELLI NETO; PAZIANE, 2015, p. 281).
Dessa maneira, compreende-se a importância do média-
metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em transformação
161
como recurso para a intervenção social e a educação ambiental, por ser este
vídeo um instrumento capaz de promover o sentimento de pertencimento,
engajamento e participação da comunidade em relação ao ambiente, pois
existe na
verossimilhança com a realidade, grande carga emotiva e
sugestiva, além de apresentar desfechos geralmente
surpreendentes. E, pela sua natureza cinematográfica, é
grande a possibilidade de veicular conteúdos culturais com
valores educativos. Por isso mesmo, torna-se uma fonte
inesgotável e valiosa para trabalhar aspectos da interação
humana, como cultura e linguagem. (ALCANTARA, 2014, p.
17).
Nesse aspecto, acredita-se que este recurso midiático em articulação com a
educação ambiental pode possibilitar a interação entre o ser humano e o
ambiente, proporcionando condições para que o ser humano desenvolva ou
resgate o sentimento de pertença pelo espaço vivido, ao favorecer o diálogo
acerca das questões socioambientais (COUSIN, 2013), potencializando novas
maneiras de conhecer, pensar e agir sobre as relações estabelecidas pelo tripé
indivíduo, o Outro e o meio ambiente.
Em concordância com Alcântara (2014), com Perinelli Neto e Paziane (2015),
Cousin (2013) e Teles (2001), Benjamin (1987) mencionou o fato de que o
contato com as produções cinematográficas propiciava aos seres humanos
exercitarem novas percepções e relações condizentes com sua vida cotidiana.
Dessa forma, os média-metragens/documentários, tornam-se importantes
instrumentos técnicos que podem ser usados nos processos de educação
ambiental, nas intervenções sociais em tempos em que as TIC têm aberto
novas possibilidades e oportunidades.
Nesse aspecto, Duarte (2009) observa que em sociedades com amplo acesso
às tecnologias audiovisuais, é comum atribuir atitudes, valores e crenças
adquiridas pelas pessoas a estes meios de comunicação. Isso faz com que
seja necessário avaliar cada vez mais o conteúdo das produções áudio visuais
a serem disponibilizados e exibidos e quais seus objetivos.
162
Parece ser desse modo que determinadas experiências
culturais, associadas a uma certa maneira de ver filmes,
acabam interagindo na produção de saberes, identidades,
crenças e visões de mundo de um grande contingente de
atores sociais. Esse é o maior interesse que o cinema tem para
o campo educacional sua natureza eminentemente
pedagógica. (DUARTE, 2009, p. 19).
O uso de vídeos tem sido um recurso bastante utilizado na educação formal5 e
não formal6, em processos formativos e educacionais, por ser um recurso
dinamizador do aprendizado e instrumento de comunicação audiovisual que
facilita a apreensão do conteúdo informativo ao impulsionar mais de um dos
sentidos para a compreensão do conteúdo (JESUS et al., 2013), e assim,
produz-se conhecimento de maneira crítica e interativa. Nesse contexto, cita-se
como exemplo o Projeto Curta na Escola7 que foi desenvolvido pela Petrobrás,
com intuito de promover e incentivar o uso de curtas metragens como material
de apoio pedagógico no ensino.
Essa educação baseada no diálogo crítico sobre as questões ambientais
favorece “o desenvolvimento da autonomia, da curiosidade, da postura crítica,
da observação e da análise”, conforme estudos de Cousin (2013, p.2) para que
os sujeitos envolvidos nesse processo educativo ampliem seus conhecimentos.
Dessa forma, podem contribuir com ações que visam à melhoria do ambiente
em que vivem. Assim, o média-metragem/documentário pode atuar como
5 Ensino desenvolvido pela escola a partir de conteúdos previamente estipulados e dentro de uma proposta curricular, “com conteúdos previamente demarcados” (GOHN, 2014, p. 40). É definida como educação institucionalizada, intencional, planejada através de organizações públicas e organismos privados reconhecidos e, que na sua totalidade, formam a educação formal sistema de um país (OLCOTT, 2013). 6 “aquela que se aprende "no mundo da vida", via processos de compartilhamento de
experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas” (GOHN, 2014, p.40). Ela pode acontecer também em múltiplos e diversos espaços (GADOTTI, 2005; OLCOTT, 2013). 7 Esta iniciativa já existia desde o início do Porta Curtas Petrobras, em agosto de 2002.
Em março de 2006, foi criado dentro do Porta Curtas, o canal Curta na Escola em que havia a indicação de filmes do acervo para o uso pedagógico, com sugestões de especialistas e produção de planos de aula para todos os níveis de ensino. O canal sempre teve uma grande adesão de professores, que baixaram planos de aula e elogiaram o serviço, motivando o desenvolvimento do Projeto Curta Na Escola, que reúne hoje, neste website, um conjunto de ferramentas dedicadas à promoção do uso dos curtas-metragens brasileiros na educação. (PORTACURTAS, 2018).
163
ferramenta para conhecimento e desenvolvimento de habilidades e promoção
de atitudes, em que tanto a família, quanto o Estado podem lançar mão desse
recurso metodológico.
Nesse contexto, Marcelo Tas assevera que o interventor/mediador é a figura
necessária para estimular no sujeito a percepção acerca dos processos
socioambientais, sendo portanto, um facilitador desse gigantesco download de
conteúdos (TAS, 2008), contribuindo para que o grupo possa processar,
assimilar e selecionar criticamente as informações, tornando-as aplicáveis ao
seu cotidiano.
Essa mediação assinalada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1999) pode ser expressa através de diversos recursos
tecnológicos como a linguagem, sons, imagens, dentre outras. Em observação
ao proposto por Casale et al. (2014) de que o processo de educação ambiental
deve se expressar através de múltiplas linguagens, em integração com as TIC,
justifica a utilização do média-metragem/documentário como recurso de
intervenção social no processo de educação ambiental.
De acordo com Sato (2003), a educação ambiental é um processo de
reconhecimento de valores e elucidação de conceitos, com o objetivo de
desenvolver habilidades e modificar as atitudes do homem em relação ao meio,
visando entender essas relações e suas culturas. A educação ambiental está
também relacionada à maneira de como as pessoas tomam suas decisões e
com a ética que os conduzem na busca por melhoria na qualidade de vida. A
autora ainda argumenta que
a tarefa da Educação ambiental é reconstruir uma nova ética
capaz de comportar a tensividade e o diálogo, recuperando o
movimento das mãos e das mentes de cada sujeito ecológico.
Nesta ciranda epistemológica, o movimento terá início quando
reducação ambientalmente compreendermos que a Educação
ambiental exige um esforço multissetorial para poder cumprir,
pelo menos em parte, os desafios da humanidade. (SATO,
2003, p. 15).
164
Em face dos objetivos da educação ambiental, a Conferência
Intergovernamental sobre Educação ambiental, em Tbilisi, no ano de 1977
expõe que
cabe à Educação ambiental transmitir os conhecimentos
necessários para interpretar os fenômenos complexos que
compõem o ambiente; estimular os valores éticos, econômicos
e estéticos que constituem a base de uma autodisciplina,
favorecer o desenvolvimento de comportamentos compatíveis
com a preservação e melhoria desse ambiente e promover
uma ampla gama de habilidades práticas necessárias à
concepção e à aplicação de soluções eficazes para os
problemas ambientais. (TBILISI, 1977, p. 3).
Nesse sentido, a educação ambiental pode contribuir como instrumento de
Gestão Social e Desenvolvimento Local, a partir do momento em que orienta
as atitudes do homem em relação ao meio ambiente. Por ser “um instrumento
eficaz para superar os atuais embaraços da sociedade” conforme Reis;
Semêdo e Gomes (2012, p. 48), ela contribui na orientação dos atores sociais
para que estes percebam a visão da coletividade, em detrimento do papel
individual dentro da comunidade.
Ainda sobre a educação ambiental, a Lei 9795 de abril de 1999, institui a
Política Nacional de Educação ambiental (PNEA), evidenciando que a
educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional. A lei afirma também que a educação ambiental deve estar articulada
em todos os níveis e modalidades do processo educativo, tanto em caráter
formal quanto não formal (BRASIL, 1999).
Alguns autores, como Gohn (2014); Garé (2014); Olcott (2013); Gadotti (2005)
discursam sobre a educação formal e não formal apontando as contribuições e
especificidades de cada uma. Vê-se nos apontamentos dos autores que,
embora diferentes, ambos assumem a responsabilidade de promover a
educação em diferentes esferas da sociedade. No contexto deste trabalho,
corrobora-se com Trajber quando este assinala que
165
a Educação ambiental precisa saber se expressar em múltiplas
linguagens, para além da fala e da escrita, experimentando as
linguagens da imagem, do som e do movimento em suas
integrações com o uso das novas tecnologias da informação e
da comunicação, principalmente a Internet. (TRAJBER, 2005,
p. 153)
Nesse contexto, a educação não formal constitui num processo sociopolítico,
cultural e pedagógico de educação para a cidadania, em que a formação do
cidadão é entendida como o processo político que propicia a interação deste
indivíduo com outros indivíduos em sociedade. Essa formação configura-se em
um conjunto de práticas sociais e culturais de aprendizagem e produção de
saberes que conta com a participação de vários setores sociais e institucionais
para a elaboração e execução de atividades, programas e projetos valendo-se
de formas e recursos variados e criativos.
O fato deste formato de educação acontecer para além dos muros da escola
regular, rompendo com os paradigmas e com as representações sociais que se
tem acerca da escola e suas funções, faz com que a educação não formal
possua um lugar de importância. Nesse sentido, a escola se insere como
ferramenta de intervenção na comunidade tendo como recurso didático e
metodológico a exibição do média-metragem/documentário.
Embora a educação não formal se apresente de forma pouco estruturada e
mais flexível, ela é constituída sob condicionalidades e intencionalidades
específicas em seu desenvolvimento e “volta-se para a formação de cidadãos
(as) livres, emancipados, portadores de um leque diversificado de direitos,
assim como de deveres para com o(s) outro(s).” (GOHN, 2014, p. 40).
Ghanem, Trilla e Arantes (2008) acrescentam que quando a educação não
formal é aplicada em comunidades socioeconomicamente desfavorecidas, ela
promove a inclusão social por meio do resgate da riqueza cultural daquela
comunidade, através de diversificados métodos, procedimentos, sistemas
individualizados e coletivos e também através do uso de tecnologias que
166
podem ser sofisticas ou simples, além da possibilidade de ter uma
programação minuciosamente planejada ou não.
Assim, o processo de elaboração e construção do média-
metragem/documentário exemplifica o que foi descrito por Ghanem, Trilla e
Arantes (2008) e evidencia o fato assinalado por Bezerra et al. (2014), pois
estimulou a criatividade, oferecendo oportunidade para que os jovens
desenvolvessem suas habilidades e capacidades.
Além disso, o vídeo pode contribuir para o engajamento em processos de
mudança local e propiciar a inclusão social desses jovens cinegrafistas e dos
moradores que participaram dando seus depoimentos. Foi promovido também
o resgate da riqueza cultural daquela comunidade, que é a história de luta e
superação vivenciada durante a construção do bairro. A realização do vídeo
demonstrou a capacidade e a criatividade dos produtores/documentaristas ao
desenvolver o documentário de maneira diversificada e inovadora, através de
métodos, procedimentos e o uso de recursos tecnológicos simples.
No entanto, não se deve considerar a educação não formal e a exibição dos
curtas como aquelas capazes de resolver todos os problemas e desafios
sociais, educacionais e ambientais. Não é prudente considerá-las como um
“remédio para as desigualdades educacionais e sociais, e para os vícios em
que a escolarização formal tem caído” (TRILLA, 2008, p. 54). É importante
conciliar tais ações com a proposta da educação formal, ainda que uma das
críticas que recaia sobre este modelo é que o mesmo tenha se tornado
estático, obsoleto e ultrapassado.
Destaca-se ainda que não se deve arrazoar a educação ambiental, sem levar
em consideração o fato de que a sociedade, de um modo geral, ainda ignora a
importância de buscar estratégias que minimizem os impactos do agir do
homem sobre a natureza. E tampouco a sociedade se encontra engajada para
uma participação coletiva ou individual que priorize a preservação e
preocupação com o meio em que se vive (GOBIRA; TOMASI, 2017).
167
Assim, busca-se através da educação ambiental não formal promover nas
pessoas o engajamento, o comprometimento e a sensibilidade, haja vista que
“quando o indivíduo é sensibilizado, passa a adotar comportamentos
ambientalmente desejáveis e abandona as atitudes que causam qualquer tipo
de impacto no ambiente” (CORDULA et al., 2015, p. 75).
A proposta de se trabalhar a educação ambiental não formal através de
exibições do média-metragem/documentário que tem como tema a própria
história do bairro Jardim Felicidade, suas lutas, suas conquistas (em
seminários, congressos, reuniões comunitárias, escolas, igrejas, ONG,
instituições públicas e privadas) está de acordo com o que foi proposto por Bosi
(2003), quando esta afirma que o resgate da memória através da história
restitui o que o passado enxergou e o presente esqueceu.
Este fato justifica a proposta de intervenção através da educação ambiental,
quando se tem como objetivo desenvolver na comunidade o sentimento de
pertencimento dos moradores em relação ao seu território, suscitando em seus
moradores, o desejo e o prazer pelo cuidado e preservação do meio ambiente,
a busca do desenvolvimento local e da qualidade de vida.
Dessa maneira, o média-metragem/documentário JARDIM FELICIDADE –
Vozes em transformação, a ser usado como recurso didático e metodológico de
intervenção social, através da educação ambiental não formal no bairro Jardim
Felicidade, emerge com o propósito de desenvolver ou potencializar o
sentimento de pertencimento dos moradores, propiciando o engajamento
comunitário nas ações de cuidados socioambientais com vistas ao
desenvolvimento local.
4.3. METODOLOGIA
O média-metragem/documentário foi produzido com e pelos moradores do
bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte/MG. Este é um bairro constituído
por 26 setores censitários e por uma população aproximada de 19.175
168
pessoas, de acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE-2010), sendo considerado um território de
elevada presença de risco e vulnerabilidade social (BELO HORIZONTE, 2016).
Os resultados que nortearam esse média-metragem/documentário são
oriundos da dissertação intitulada Sentimento de pertencimento social no
engajamento comunitário: um estudo de caso no bairro Jardim Felicidade, Belo
Horizonte (MG) aprovada sob o n°. CAAE 75117717800005098.
Posteriormente, para compor o curta, foram gravadas nove (9) entrevistas. A
seleção dos moradores para participação no média-metragem considerou a
aproximação da pesquisadora com os membros do coletivo da juventude Olga
Benário, que indicou os três jovens que fizeram parte da produção do vídeo.
O cenário de gravação foi montado a partir de materiais recicláveis e
alternativos como cano de PVC, papel de seda, pedestal quebrado para
microfone, latas de tintas vazias, lâmpadas frias, tecido não tecido (TNT) preto,
barras de ferro, abajur de mesa, câmera digital pessoal, gravador de som, um
notebook, muita criatividade e boas ideias. As sessões de gravação ocorreram
duas vezes por semana em horários variados de acordo com a disponibilidade
do grupo, em sala cedida pela ONG Casa Recriar.
Todas as etapas de elaboração do vídeo foram previamente agendas com os
envolvidos por meio de contato telefônico e por mensagens realizadas através
de aplicativos de celular.
A primeira etapa de elaboração do média-metragem/documentário foi o
encontro de planejamento das ações com os jovens moradores do bairro que
fizeram a produção. Na oportunidade, foi apresentada a pesquisa que estava
sendo realizada e a demanda de produção do média-metragem/documentário,
que foi bem aceita pela comunidade.
A segunda etapa foi a realização de um encontro com a comunidade, mais
especificamente, com os potenciais sujeitos a participarem do média-
169
metragem/documentário, para apresentar-lhes a pesquisa e organizar o
cronograma das gravações. Participaram nove pessoas da comunidade
interessadas em atuar nas gravações.
Na terceira etapa, foi definido o formato de entrevista com os participantes e
quem seriam entrevistados, pois era necessário retratar os resultados da
pesquisa que evidenciaram: (i) o sentimento de pertencimento e identidade
social dos moradores do bairro Jardim Felicidade capaz de influenciar no
engajamento e participação destes, nas ações de desenvolvimento local e (ii) o
sentimento de pertença é maior, quando se trata dos moradores que
participaram da fundação do bairro. Assim, optou-se por convidar para fazer
parte do documentário os moradores que estão no bairro desde a fundação.
Neste encontro também foram elaborados as questões norteadoras e o roteiro
do documentário, a composição de cenas, áudios e vídeos in loco que
deveriam constar no documentário e o cronograma de gravação.
A quarta e quinta etapas compreenderam as gravações e a edição dos vídeos
que aconteceram simultaneamente durante os meses de novembro e
dezembro de 2017 e janeiro de 2018. O trabalho foi integrado a fim de realizar
ajustes técnicos e adequação à proposta da dissertação.
A sexta etapa constituiu a apresentação e entrega de cópia do média-
metragem/documentário para a comunidade. Em 14 de abril de 2018,
aconteceu o Fórum Comunitário JARDIM FELICIDADE – Vozes em
Transformação, organizado em parceria com a Rede de moradores do bairro e
o Centro Universitário Una.
As estratégias de abordagem para produção do documentário foram:
1. Apresentação do projeto de pesquisa, da proposta do documentário e das
intenções de uso futuro para o representante da Associação Coletivo da
Juventude Olga Benário – visto a participação dos jovens membros desta
Associação como produtores e protagonistas.
170
2. Articulação de parcerias internas e externas à comunidade que tornaram a
produção viável, pois toda a materialidade para execução do projeto veio da
própria comunidade.
3. Encontro com os moradores – Toda a produção foi feita na comunidade,
com os moradores. A narrativa se constituiu a partir da história desta
população. Esse fato foi considerado pelos representantes desta
comunidade como algo positivo vírgula, sendo autorizada a realização
dessa intervenção.
4. Encontro com os três jovens para elaboração do documentário (temática,
recursos materiais necessários, distribuição de tarefas como: seleção de
imagens, gravação in loco, gravação no estúdio, elaboração do roteiro,
cronograma e financiamento).
5. Organização do estúdio para gravação das cenas de entrevista, utilizando a
sala cedida pela ONG Casa Recriar e adaptada pelos jovens produtores. O
material utilizado na montagem foi todo improvisado com muita criatividade,
disposição e com base em conhecimento não formal adquirido pelos três
jovens, em diversas situações na própria comunidade.
6. Realização de entrevistas individuais com duração de vinte minutos a uma
hora, com nove moradores do bairro. Cada entrevistado foi orientado
quanto às questões técnicas (foco de iluminação, posição frente à câmera,
altura de voz) e posicionado para a gravação após assinatura de termo de
autorização de imagem (ANEXO C). Permaneceram na sala apenas os
cinegrafistas, o entrevistado e a entrevistadora.
7. Após cada entrevista, o conteúdo foi arquivado em notebook, para futura
inclusão de imagens e vídeos, decupagem8 e edição final, que ficou sob
responsabilidade dos jovens da Associação Coletivo da Juventude Olga
Benário.
8. Seleção das imagens e fotos feita com base na temática proposta de
elaboração do média-metragem/documentário e com base na decupagem,
ocorreu no processo de edição das entrevistas.
8 Decupagem – do francês découpage, derivado do verbo découper, recortar –
é no audiovisual, no cinema e na comunicação, a divisão do planejamento de uma filmagem e
planos e cortes. Fonte: https://www.infoescola.com/cinema/decupagem/
171
9. Revisão final do material produzido – Após decupagem e edição do
material, com seleção e ordenação de informações, sons, imagens, vídeos
e fragmentos da entrevista ou como dito por Melo (2002, p. 32) “costura de
vozes”, foi realizada a revisão final do documentário que ocorreu após
assistir todo o vídeo gravado.
10. Disponibilização do média-metragem/documentário em suporte pen drive
card para a comunidade – esta ação é de fundamental importância, pois é a
forma de dar feedback e retribuir à comunidade todo seu envolvimento e
participação nesse projeto. Dessa maneira, foi realizado um fórum
comunitário, em que serão entregues cópias para as instituições públicas e
privadas, participantes da produção e colaboradores externos após a
defesa dessa dissertação.
4.4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.4.1. MÉDIA-METRAGEM/VÍDEO DOCUMENTÁRIO: JARDIM FELICIDADE
– VOZES EM TRANSFORMAÇÃO.
O média-metragem/vídeo documentário: Jardim Felicidade – Vozes em
transformação é um produto técnico com características de inovação social
elaborado para ser um instrumento capaz de produzir o desenvolvimento local
através da gestão social, tendo a educação ambiental, mais especificamente a
não formal, como ferramenta de intervenção socioambiental.
Os resultados da análise dos dados evidenciaram que o pertencimento
favorece o engajamento comunitário e influencia o nível de participação no
âmbito desta comunidade. No entanto, há moradores que se queixam da falta
de comprometimento dos mais jovens em relação ao bairro e argumentam que
isso se dá, pelo fato desse público não ter vivenciado a história do bairro.
A partir disso, os moradores mais antigos e os que de participaram da
construção do sugeriram criar mecanismos que propiciassem o resgate da
memória de construção do bairro, de modo que as gerações atuais, e também
172
os antigos moradores não percam o sentimento de pertencimento em relação
ao bairro e a motivação para a luta, como pode ser constatado nos
depoimentos a seguir:
- “Talvez seja interessante ele saber que as pessoas andaram
com sacola no pé. Seria interessante que os mais jovens
ouvissem as histórias de seus pais, desse bairro, como foi. As
escolas podiam falar disso. Ai ainda que eles não teve isso eles
iam saber.” (INDIVÍDUO 1).
- “Então às vezes a gente desanima sim. Dá vontade de sair do
lugar, mas quando a gente lembra da história dos nossos pais,
do que eles passaram para construir isso. Se a gente for olhar
lá atrás o que eles fizeram. O que a minha mãe passou. O que
meu pai passou. Eu vejo que é muito fácil eu desistir, deixar
para lá, tentar fugir disso. Isso é que me dá força para poder
tentar mudar isso aqui. É lembrar da história, lembrar daquelas
pessoas de tanto que elas lutou para que eu pelo menos
tivesse isso aqui.” (INDIVÍDUO 15).
Nesse sentido, Pollak (1992) assinala que a memória é um elemento que
constitui o sentimento de identidade, tanto individual quanto coletiva. E, como
visto anteriormente, o sentimento de pertencimento está relacionado à
formação da identidade social. Dessa maneira, o resgate da história do bairro
Jardim Felicidade é importante na promoção do sentimento de pertencimento e
por meio deste promover a participação e o engajamento comunitário neste
território.
Em concordância com o proposto por Pollak (1992), Guido et al. (2013)
argumentam que as produções midiáticas podem servir de intermédio para o
resgate da memória coletiva, pois a partir do momento em que se contam ou
resgatam as lembranças de um povo, essas lembranças se tornam memórias.
Seguindo esta constatação, o média-metragem/documentário JARDIM
FELICIDADE – Vozes em Transformação foi roteirizado de maneira que o
conteúdo de sua produção suscitasse no receptor o desejo de transmitir a
história do bairro e sensibilizá-los para a importância de se lançar um novo
olhar para as questões sociais e ambientais, oportunizando um ambiente em
173
que possam pensar juntos e, dessa maneira, fortalecer as relações entre os
sujeitos e destes para com o meio ambiente (GUIDO et al., 2013).
4.4.2 ROTEIRO DO MÉDIA-METRAGEM/DOCUMENTÁRIO: JARDIM
FELICIDADE – VOZES EM TRANSFORMAÇÃO
ARGUMENTO/PROPOSTA DE DOCUMENTÁRIO:
A proposta é realizar um documentário no formato de média-metragem que
descreva a história do bairro Jardim Felicidade desde sua fundação. A ideia é
realizar uma construção coletiva, cuja produção possa valer-se das pessoas da
própria comunidade, em todas as fases de produção do Média-
metragem/documentário.
O Título do documentário é JARDIM FELICIDADE: Vozes em transformação e
aborda a história de luta e de superação vivenciada pelos moradores do bairro
Jardim Felicidade (MG), que estabeleceram suas moradias a partir da cessão
de lotes em um terreno desapropriado pela Prefeitura de Belo Horizonte, no
ano de 1987. A conquista da moradia e o desenvolvimento do bairro ocorreram
a partir das vozes que ecoaram e ecoam na comunidade que tem reivindicado
desde sua fundação, condições melhores de sobrevivência.
A produção do documentário segue as especificidades técnicas de um média-
metragem quanto à escala temporal, podendo ter em média entre trinta e um
minutos a sessenta e nove minutos de duração, segundo Teles (2001). O
média-metragem/documentário JARDIM FELICIDADE – Vozes em
transformação tem duração de trinta e um minutos e 7 segundos.
O média-metragem/documentário foi produzido a partir dos depoimentos dos
moradores, que foram incentivados a se sentirem à vontade para descrever
sua história de maneira livre, contando como foi e como tem sido seu dia a dia
no bairro e as experiências vividas, os desafios e as conquistas ao longo dos
anos. Objetiva-se com esta metodologia singular de produção, cuja
participação dos envolvidos é estimulada e valorizada, aproveitando as
potencialidades e recursos existentes na própria comunidade e desenvolvendo
174
e/ou potencializando neste grupo, incentivar o sentimento de pertencimento em
relação ao território Jardim Felicidade.
Para tanto, após cada sessão de gravação, foram realizados diálogos sobre a
experiência vivida pelos sujeitos, nos quais foi possível discorrer sobre a
importância do sentimento de pertencimento e da participação na
transformação local. Estes diálogos pós gravação tinham uma duração média
de 15 minutos e evidenciaram o sentimento de pertença por parte dos
moradores que participaram da construção desse bairro.
O intuito de produção do documentário é sua utilização como ferramenta de
intervenção socioambiental, com vistas ao resgate da história e preservação
das memórias de construção do bairro Jardim Felicidade, a fim de que se
promova o sentimento de pertencimento dos moradores, sensibilizando-os a
respeito da importância de se cuidar com responsabilidade do território.
4.4.3 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E TRATAMENTO DO MATERIAL
GRAVADO
Num primeiro momento, apresenta-se a imagem de preparação do estúdio de
gravação para as entrevistas, com fotos de alguns dos materiais recicláveis
usados, conforme a figura 9.
Figura 9 - preparação para gravação em estúdio
(a) Material usado na montagem do estúdio (b) Estúdio montado
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
175
Situação 1 –Imagem do vídeo em preto e branco do córrego Tamboril que
corta a principal Avenida do bairro Jardim Felicidade (Figura 10). Durante a
exibição do vídeo de apresentação, tem-se ao fundo, áudio com mistura de
música instrumental, voz em off de uma das moradoras e a apresentação dos
nomes das pessoas entrevistadas participantes do documentário.
Figura 10 - Imagem de abertura do vídeo
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Situação 2 –Imagem de uma parte do bairro (Rua 16) gravada em um ponto
mais alto, com visão panorâmica e sua configuração atual (FIGURA 11). Ao
fundo, voz em off de um dos moradores e de um líder comunitário que
participou ativamente da construção do bairro, contando a história da
construção do bairro.
Figura 11 – Rua 16 - bairro Jardim Felicidade em 2017
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
176
Situação 3 – Apresentação das entrevistas e entrevistados em estúdio de
gravação. Nesta primeira abordagem, eles contaram a história que vivenciaram
ou conheceram em relação ao bairro. Com apresentação de imagem com fotos
antigas do bairro (FIGURA 12) e voz em off de morador.
Figura 12 - Fotos antigas do bairro na época de sua fundação.
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
Situação 4 –Voz em off do morador e vídeo com imagens atuais do bairro
Jardim Felicidade, com apontamentos da realidade atual, cujo desafio é a
questão ambiental como a degradação do córrego Tamboril. (FIGURA13) e as
sociais como a violência, o tráfico de drogas, precarização nas ofertas das
políticas publicas de educação, saúde, esporte, lazer, cultura.
Figura 13 – Parte do Córrego Tamboril atualmente - Poluição
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
177
Situação 5 – Entrevistas em estúdio em que os entrevistados narram a história
de luta pela melhoria do bairro e as principais demandas das famílias naquela
época e atualmente. Voz em off e áudio com música instrumental ao fundo.
Situação 6 – Voz em off de morador. Exibição de vídeos gravados em
diferentes pontos do bairro.
Situação 7 – Vozes em off dos moradores e exibição de imagens em preto e
branco com os créditos de produção do documentário (entrevistados,
idealizadores, realização, direção e montagem, captação e edição de som,
produção, voz off, agradecimentos, apoio), conforme quadro 8.
Quadro 8: Créditos de produção do média-metragem/documentário JARDIM
FELICIDADE: Vozes em transformação.
Entrevistados Marcos Aurélio Barbosa de Oliveira Cleiton Henriques da Silva João Bosco Miranda Zilma de Oliveira Souza João Carvalho Paixão Italo Pedro de Oliveira Ketleyn Stefane Lopes Pereira Vilmar Pereira Dias
Idealizadores Aparecida Mendes de Paiva Cleiton Henriques da Silva
Direção e imagem Rafael Santos Paiva
Captação e edição de som Ítalo Dias
Produção Ítalo Dias Rafael Santos Paiva Coletivo da Juventude Aparecida Mendes de Paiva
Voz off Antonio Soares de Souza
Agradecimentos Gleison Henriques da Silva Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Marilda Portela
Apoio NAVLAB – produções Projeto GEMA Rede de Apoio ao Desenvolvimento do bairro Jardim Felicidade Associação Coletivo da Juventude Olga Benário Casa Recriar Centro Universitário UMA
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Situação 8 - O Média-metragem/documentário intitulado: JARDIM
FELICIDADE – Vozes em transformação – foi gravado em pencard
personalizado com imagens do bairro, conforme figura 13. O média-
178
metragem/documentário está disponível no final da dissertação e pode ser
acessado por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=uu0loKhYw-w
divulgado após a defesa.
Figura 14 - Imagens usadas na personalização do pencard
Frente do pencard Verso do pencard
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
As imagens que compuseram o média-metragem/documentário foram
selecionadas de acordo com o roteiro criado para atender à proposta do
documentário que é resgatar a história de fundação de bairro Jardim
Felicidade. Assim, as fotos e os vídeos foram intercalados entre as imagens
dos moradores entrevistados, procurando seguir uma linearidade temporal da
historia do bairro.
As entrevistas realizadas para compor a produção do média-
metragem/documentário em tela, evidenciaram que existem pertencimento e
engajamento comunitário por parte desses moradores. Esta constatação ocorre
na medida em que relatam estar colaborando com a produção do vídeo, por
acreditarem que o mesmo pode ser um canal de sensibilização da comunidade
para as questões sociais e principalmente as ambientais que são ainda,
questões desafiadoras na comunidade.
Após cada sessão de gravação, os três jovens cinegrafistas que fizeram um
pequeno curso de cinema e tornaram-se apaixonados por essa tecnologia,
juntamente com a autora desta pesquisa, permaneciam por alguns momentos
179
no estúdio de gravação e dialogavam sobre as impressões ocorridas durante
as entrevistas. O relato dos jovens é emocionante, no que tange ao relato
sobre a oportunidade que estão tendo em participar deste trabalho e contribuir
com a possível transformação da comunidade local.
De acordo com um deles, ao ser perguntado sobre o valor financeiro do seu
trabalho, sua resposta é: “Não faço isso por dinheiro. Faço porque gosto. Gosto
de ajudar a comunidade.” (INDIVÍDUO 10). Outro a ser indagado sobre a forma
como se improvisou o estúdio de gravação, sem recurso e usando materiais
recicláveis argumentou: “Eu gosto de inventar coisas, de experimentar. O que
eu não sei como funciona, eu pergunto a um amigo meu que é formado em
cinema e ele me dá dicas de como fazer.” (INDIVÍDUO 11). Os demais
envolvidos na produção do vídeo declararam satisfeitos por participarem do
trabalho, mencionando o desejo de em conjunto com outros moradores,
realizarem outras ações na comunidade.
A produção do documentário foi coletiva e seguiu os princípios da gestão
social, por ter adotado o processo de participação ativa da própria comunidade
na elaboração do roteiro, na escolha do local das filmagens e das pessoas que
fariam os depoimentos (GUIDO et al., 2013). Esta participação resultou na
aproximação destes sujeitos com a sua própria história corroborando com
Sarlot e Schmidt (2014), quando assinalam a importância dos sujeitos
conhecerem seu território, se identificando com seus desafios e suas
potencialidades, pois é desse modo ocorrerá o sentimento de pertencimento
social.
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constatação de que o sentimento de pertencimento e a identidade social
podem influenciar no engajamento e na participação comunitária motivaram a
elaboração deste média-metragem/documentário. Por ser um instrumento
didático metodológico de fácil acesso, ele deverá ser usado como ferramenta
de intervenção social, não só no bairro Jardim Felicidade, que foi objeto deste
180
estudo, mas também poderá ter sua metodologia de elaboração e produção
replicada em outras comunidades nas quais se pretenda desenvolver trabalhos
semelhantes.
O conhecimento adquirido e a experiência vivenciada na elaboração e
produção do média-metragem/documentário: JARDIM FELICIDADE - Vozes
em transformação impulsionam novos estudos sobre a importância da inclusão
digital, das formas inovadoras de criar estratégias usando os recursos
disponíveis e os saberes locais das comunidades, com vistas à promoção e
potencialização do sentimento de pertença e o engajamento comunitário bem
como na efetiva gestão social para e com essa comunidade.
Ratifica-se com esta pesquisa a constatação de que, através do pertencimento
e do engajamento da comunidade, pode ser possível valer-se de estratégias de
intervenções sociais que promovam a educação ambiental, mesmo em face de
parcos recursos, usando a criatividade e os saberes tácitos e práticos
existentes na própria comunidade.
Dessa forma espera-se com este trabalho contribuir para que os moradores do
bairro Jardim Felicidade, e outras comunidades socioeconomicamente
desfavorecidas que se encontram em áreas de vulnerabilidade social, se
despertem para o engajamento nas ações de cuidado com o bairro, mesmo
diante de recursos insuficientes. Espera-se que a ampla divulgação do média-
metragem/documentário produzido (portalcurtas.com.br; You Tube) possa
promover nos diferentes atores (comunidade local, instituições, estudantes,
acadêmicos...), o interesse pela temática da inclusão digital e da educação
ambiental como ferramentas relacionadas às intervenções sociais.
A partir disso, espera-se também reconhecer que a gestão social nas
comunidades propõe reflexões que promovem o sentimento de pertencimento
e, consequentemente, a mobilização e engajamento dos seus moradores. Tudo
isso pode levar à integração dos indivíduos nas ações necessárias para
181
melhoria do ambiente social, à valorização dos saberes e fazeres da
comunidade no sentido de favorecer o desenvolvimento local.
Sugere-se a realização de novas pesquisas em outras comunidades, a fim de
conhecer essas diferentes realidades, o grau de gestão social que elas
possuem, possíveis intervenções socioambientais bem, como conhecer
práticas utilizadas nesses espaços e as relacionadas à utilização de novas
tecnologias, inclusive as digitais que podem propiciar visibilidade e
empoderamento a esses jovens. Outra temática relevante é a compreensão de
como estas tecnologias têm sido usadas para produzir ferramentas
metodológicas de baixo custo e eficazes nas propostas de intervenção social.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O delineamento desta pesquisa foi norteado pela seguinte questão: Qual a
influencia do sentimento de pertencimento social na participação e
engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade, em Belo
Horizonte – MG?
A partir dessa pergunta, a revisão teórica, a pesquisa empírica e a metodologia
aplicada tiveram como objetivo analisar como o sentimento de pertencimento
social pode contribuir para a promoção do engajamento comunitário, tendo em
vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com
características de inovação social potencializadora do desenvolvimento local.
Os resultados obtidos na pesquisa empírica no território estudado, o Jardim
Felicidade, em Belo Horizonte – MG, sinalizaram que a relação entre o
sentimento de pertencimento social e o nível de participação e engajamento
comunitário existe e está em consonância com a literatura apresentada
(GASTAL; PILATI, 2016; OLIVEIRA; CAVALCANTE, 2017; BENINCÁ, 1995;
SILVA; ALMEIDA, 2016).
Nesse aspecto, verificou-se que os moradores do bairro Jardim Felicidade, que
manifestaram sentimento de pertencimento e formaram com este território sua
identidade social, são os que mais se engajam nas atividades que promovem a
melhoria da qualidade de vida e ambiental e que propiciam o desenvolvimento
local desta comunidade. Ressalta-se que o engajamento comunitário desses
moradores ao longo dos 30 anos de existência do bairro, promoveram algumas
melhorias e conquistas foram notórias.
Entretanto, tem havido um tensionamento entre o grupo de moradores que se
engajam em ações para que o bairro se desenvolva e se torne um lugar melhor
de se viver, e o grupo de moradores que não participam dessas atividades. De
acordo com os resultados da pesquisa, este grupo de moradores é constituído
187
por indivíduos que não vivenciaram a historia de construção de bairro e não se
apropriaram do espaço, a ponto de formar com ele sua identificação social.
Como exemplos da melhoria na qualidade de vida desta população e do
desenvolvimento local ocorridos desde sua fundação, citam-se: a
regulamentação das atividades relacionadas ao saneamento básico (coleta de
lixo nas ruas); implantação de dois postos de saúde para atendimento da
comunidade e também de escolas municipais e estaduais de Ensino
Fundamental e Ensino Médio além das unidades municipais de educação
infantil. O comércio no bairro é ativo e conta com padarias, mercados,
sacolões, farmácias, restaurantes. No entanto, os moradores afirmam que
estes serviços – públicos e privados - ainda são incipientes na oferta e
prestação de serviços à comunidade.
O bairro conta com o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e a
Casa Recriar que prestam serviços socioassistenciais à população. De acordo
com os próprios moradores, estas conquistas para o bairro se deram devido ao
processo de mobilização dos primeiros moradores junto aos órgãos públicos.
Acrescenta-se às conquistas, a posse das moradias que foram entregues aos
moradores nos anos de 2010 e 2011, devido à mobilização social destes
moradores. (SILVA; GOMES, 2013).
Entretanto, os resultados também revelam que o crescimento desordenado do
bairro trouxe consideráveis problemas socioambientais, como a invasão de
áreas verdes do bairro, construções irregulares em áreas de risco e a poluição
do córrego Tamboril. Uma das críticas e preocupações dos moradores é que o
desenvolvimento chegou ao bairro, mas também os problemas
socioambientais.
De acordo com o morador fundador, no início, as casas tinham fossas onde
eram lançados os esgotos domésticos. Mas, com a canalização do esgoto para
o córrego, a população entendeu erroneamente que poderia descartar também
todo tipo de resíduo sólido o que tem causado assoreamento, erosão de suas
188
margens e contaminação das águas. Observa-se que tanto a disposição final
quanto o descarte dos resíduos sólidos de maneira incorreta também em ruas
e vielas têm sido uma prática comum, adotada por vários moradores locais e
inclusive de bairros adjacentes. Este fato tem provocado indignação em alguns
moradores, principalmente por parte daqueles que apresentam o sentimento de
pertencimento social por esse território.
Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que o pertencimento social é típico
da condição humana, em consonância com os estudos de Tavares (2014),
sendo necessário ao ser humano sentir-se pertencente à sociedade. Assim,
esse estudo no bairro Jardim Felicidade confirmou que quando o sujeito se
sente pertencente à comunidade, os processos participativos são favorecidos
em nível local e a possibilidade de uma gestão social com práticas inovadoras
em prol do desenvolvimento ocorrem efetivamente nesse território.
A constatação de que há, por parte de alguns moradores do bairro jardim
felicidade o sentimento de pertencimento é evidenciado no envolvimento e na
participação dos jovens que atuaram na produção do média-metragem
documentário.
Outra constatação baseada nos estudos de Brea (2014); Cousin (2013);
Bauman (2005) é que o sentimento de pertencimento é um construto que pode
ser desenvolvido ou potencializado de maneira individual ou coletiva. Pode ser
construído por meio de estratégias como a educação ambiental não formal que
possibilita a interação entre o ser humano e o ambiente, dando a esse sujeito
condições de desenvolver e/ou resgatar o sentimento de pertença ao espaço
vivido (ALCANTARA, 2014; GADOTTI 2005; GOHN, 2014).
Este sujeito pertencente e que se identifica com o território poderá adotar
práticas de gestão social que propiciem o desenvolvimento local. Uma vez que
o sentimento de pertencimento está relacionado ao conjunto de sentimentos,
percepções, desejos e necessidades construídas sobre as bases das práticas
cotidianas de desenvolvimento nos espaços (BREA, 2014).
189
A partir da constatação de que a educação ambiental é importante ferramenta
de intervenção na promoção do sentimento de pertencimento na comunidade
foi desenvolvido o produto técnico, que é o média-metragem/documentário,
produzido e protagonizado pelos próprios moradores do bairro Jardim
Felicidade. Este produto técnico foi proposto e elaborado buscando seguir os
princípios da gestão social e da inovação social, portanto a sua construção foi
feita a partir de uma intervenção com a participação dos próprios moradores
que utilizaram recursos disponíveis, identificaram as suas potencialidades para
que cada um pudesse contribuir nas diferentes etapas do processo (elaboração
de proposta do vídeo, captação de pessoal, montagem do estúdio, gravação de
cenas externas, entrevista dos moradores, gravação em estúdio, edição final).
Esse média-metragem/documentário foi intitulado JARDIM FELICIDADE –
vozes em transformação e tem como principal objetivo divulgar a história do
bairro, pois os resultados da pesquisa evidenciaram que os moradores que
vivenciaram a construção do bairro e aqueles que vivenciaram essa história
mesmo que pela ótica dos seus antecessores, manifestaram um nível de
sentimento de pertencimento e identidade social mais eminente que aqueles
que se fixaram nesse território recentemente e, assim, não vivenciaram esse
processo, não se apropriaram da história e não criaram nenhum sentimento de
pertencimento ao bairro.
O objetivo a que se pretendeu esta pesquisa foi alcançado, tendo em vista que
o sentimento de pertencimento em relação ao bairro Jardim Felicidade por
parte dos moradores mais antigos é maior quando comparado ao dos
moradores que chegaram recentemente ao bairro. Este fato ficou evidente nos
resultados da análise de conteúdo e na análise do discurso do sujeito coletivo
em que a maioria dos moradores que afirmaram exercer alguma atividade no
bairro, são moradores a mais de trinta anos ou filhos desses moradores que
vivenciaram a construção do bairro. Constatou-se também que esse
pertencimento social interfere no engajamento comunitário dos moradores do
bairro Jardim Felicidade, principalmente, no que tange as ações de cuidado
com o território.
190
Entretanto, no que tange ao sentimento de pertencimento e identidade social,
problematiza-se o fato de que os moradores mais antigos do bairro Jardim
Felicidade expõem em seus relatos, o pensamento de terem conseguido
adquirir um terreno no bairro e construir suas moradias como sendo a
realização de um sonho ou uma graça divina.
Problematiza-se a identidade social destes moradores formada a partir da
identificação com os problemas comuns entre eles, como a vulnerabilidade
social. Pois, os resultados assinalam que no processo de construção do bairro
Jardim Felicidade houve a formação da identidade social dos moradores, na
medida em que estes desenvolveram o sentimento de pertencimento para com
este território a partir do compartilhamento das necessidades e desafios de
construção das moradias e adaptação ao local.
A questão é: A identidade formada a partir de um contexto de privação social,
em que os sujeitos desenvolvem o sentimento de pertencimento ao território,
não geraria o fatalismo e a resignação?, conforme os estudos de Martín-Baró
(1998) e Cidade (2012) e de Bauman (2007), respectivamente. Com base em
que um determinado bairro, considerado um dos mais vulneráveis de Belo
Horizonte, é considerado o melhor lugar para se viver?
Mesmo em face destes questionamentos, os resultados desta pesquisa foram
importantes porque mostraram que o sentimento de pertencimento pode
favorecer os processos participativos. Que a identidade social se forma a partir
do sentimento de pertencimento e que esse pode ser desenvolvido por meio de
intervenções sociais e ferramentas de educação ambiental, desde que haja o
envolvimento da comunidade em todo o processo.
Dessa maneira, se verificou com esta pesquisa que o pertencimento e a
identidade social estão relacionados à maneira como os moradores interagem
com o território e com as histórias do bairro conforme destaca Brea (2014).
Estão associados aos códigos específicos da interpretação da realidade, do
191
sistema de valores, da forma de sentir e de pensar que definem as ações
desses sujeitos.
Percebeu-se que os moradores entendem que o desenvolvimento do bairro
ocorreu por causa da participação e engajamento dos primeiros moradores e
que se os jovens não se envolverem, o bairro não continuará o processo de
desenvolvimento.
Com base nos resultados apresentados, esta pesquisa apresenta algumas
implicações socioambientais, principalmente no que tange aos aspectos
sociais, a saber: a compreensão de que o sentimento de pertencimento pode
ser um construto adquirido e promovido através de intervenções sociais; a
gestão social e o desenvolvimento local decorrem da participação e do
engajamento comunitário, que se manifesta nas relações entre os sujeitos, e
destes sujeitos com o local, o espaço vivido conforme proposto por Santos
(1996; 2000) Koga (2003) e Brasil (2008).
Dessa maneira surgem as indagações:
Quais medidas de intervenção social adotar em comunidades
vulneráveis para que se promova o sentimento de pertencimento social?
Quais abordagens poderão ser mais efetivas em determinado contexto
social em detrimento de outros?
Quais estratégias de intervenção poderão contribuir para que se
identifiquem os fenômenos sociais que incidem nos territórios
vulneráveis e que impactam diretamente o desenvolvimento local?
Os resultados desta pesquisa demonstraram que o sentimento de
pertencimento está diretamente relacionado com a formação de identidade
social e que em consequência influencia o modus operandi dessa comunidade
em relação às práticas de gestão social e promoção do desenvolvimento local.
Nesse sentido, recomenda-se que estudos diagnósticos sejam realizados no
âmbito de outras comunidades para verificar quais fatores endógenos e
exógenos paralisam ou potencializam as práticas de gestão social?
192
Acerca da gestão social integrada ao desenvolvimento local, os resultados
assinalam que o sentimento de pertencimento social e a participação e o
engajamento comunitário dos sujeitos inseridos no bairro Jardim Felicidade têm
sido fortalecidos na medida em que os moradores se reúnem para buscar
melhorias na qualidade de vida. Este fato foi constatado da literatura
apresentada por Tenório (1998), Cançado (2011), Wanderley (2013) e Sabino e
Araújo (2015) que apontam que na medida em os sujeitos se identificam e se
sentem pertencentes ao território, eles passam a participar e se engajar em
ações que promovam seu desenvolvimento.
As lacunas que se pretendem dirimir com esta pesquisa é o reconhecimento de
que a comunidade do bairro Jardim Felicidade, em Belo Horizonte, embora seja
desfavorecida economicamente, é uma comunidade em que a gestão social
para o desenvolvimento local é possível. Desde que haja o reconhecimento das
potencialidades do local e que os indivíduos sejam inseridos no processo de
construção desse desenvolvimento. Assim, como os dados indicaram, a
participação e o engajamento comunitário serão maximizados a partir do real
sentimento de pertencimento de cada um dos moradores, na medida em que
eles se sentirem parte do que ajudarem a construir.
5.1 – Limitações da pesquisa
Como todo trabalho de pesquisa, este também apresenta suas limitações:
i. Os instrumentos de coleta de dados - entrevista semiestruturada e grupo
focal - não foram suficientes para trazer informações mais precisas
sobre o engajamento comunitário, para além do cuidado com o território,
em seus aspetos de manutenção de limpeza.
ii. A abordagem qualitativa utilizada para a pesquisa, embora tenha sido
suficiente para responder aos objetivos propostos, não trazem
informações quantificáveis que poderiam constituir uma séria histórica
sobre o histórico da área, o número de moradores engajados e em quais
ações, por quanto tempo.
193
5.2 – Sugestões para trabalhos futuros
Para trabalhos futuros, sugere-se a história de vida como método de pesquisa.
Esta abordagem utiliza as narrativas de vivências do sujeito ao longo da vida e
possibilita o acesso à singularidade das pessoas diante dos fenômenos e
dimensões sociais de sua vida cotidiana o que pode gerar informações
importantes para o estabelecimento de estratégias de gestão social que
possam promover o desenvolvimento local.
Sugerem-se pesquisas em outras comunidades, com características
semelhantes às do bairro Jardim Felicidade, ou mesmo, em bairros com
características diferentes, como por exemplo, em bairros não vulneráveis, a fim
de verificar o nível de pertencimento de seus moradores em relação aos seus
espaços vividos. Assim, será possível identificar e analisar questões que
envolvem a mobilização comunitária e o engajamento destes moradores, no
que tange à gestão social e ao desenvolvimento local e como estão
relacionados ao pertencimento social.
Recomenda-se que outros estudos sejam feitos sobre a importância da
participação dos sujeitos em projetos que lhes dizem respeito; estudos que
discorram sobre a eficácia da intervenção social baseada em processos
participativos; estudos sobre autogestão nas comunidades para que as
intervenções feitas tenham continuidade e sejam geridas pela própria
comunidade.
Sugere-se a realização de mais estudos sobre o uso das tecnologias digitais e
como estas têm sido utilizada nas comunidades. E como estes estudos
potencializam o protagonismo social e auxiliam no empoderamento dos
indivíduos na medida em que reconhecem seu potencial criativo e inovador.
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197
APÊNDICE A
ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS
MORADORES DO BAIRRO JARDIM FELICIDADE / MG
Nome:
Idade:
Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino ( ) Outro
Tempo de moradia no bairro: ( x ) 30 a 20 anos ( ) 20 a 10 anos ( ) menos de
10 anos.
Quantas pessoas moram em sua casa/terreno? (x ) até 5 pessoas ( ) até 10
pessoas ( ) mais de 10 pessoas.
Você pode me contar um pouco sobre sua história, como chegou aqui e de
onde veio?
Fale-me um pouco sobre seu dia-a-dia na comunidade?
Fale-me sobre o que este bairro representa para você.
Fale-me sobre o que você gosta e o que não gosta no bairro.
Você tem feito alguma coisa aqui no bairro para torná-lo melhor? Conte-me
sobre o que você tem feito.
Você participa de alguma atividade aqui no bairro? Fale-me sobre essas
atividades.
Fale-me um pouco sobre como as pessoas podem cuidar do local onde mora.
Que tipo de cuidado você acha que o bairro precisa?
Você acha que a responsabilidade de cuidar do bairro é de quem? Fale-me um
pouco sobre isso.
198
APÊNDICE B
ROTEIRO DE PERGUNTAS NORTEADORAS PARA GRUPO FOCAL O objetivo da roda de conversa é possibilitar um clima acolhedor, onde todos se sintam entrosados e à vontade para participar de um momento de discussão sobre o bairro Jardim Felicidade. Quais suas possibilidades e desafios no que se refere às questões socioambientais e de cuidado com o território. A roda será coordenada pela pesquisadora, podendo contar com a colaboração de colegas acadêmicos com interesse na temática. As questões norteadoras serão as mesmas da entrevista semiestruturada aplicada à priori aos participantes, considerando a possibilidade de alterações, resguardando o foco na temática principal: pertencimento e engajamento comunitário. Local: Data: Coordenador: Sistematizador: Atividade: Participantes: QUESTÔES NORTEADORAS
1. O que o bairro Jardim Felicidade Representa para você? 2. Como os moradores mais recentes vêem o bairro? 3. Você se sente responsável pelo que o bairro se tornou hoje?
4. Você acredita que algo ainda pode ser feito pela melhoria do bairro?
CONVITE PARA O GRUPO FOCAL
199
APENDICE C
PRODUTO TÉCNICO
Vídeo/documentário Jardim Felicidade - VOZES em transformação
Anexar o pencard
201
ANEXO B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Programa: Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento
Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte/MG.
Título da pesquisa: “Sentimento de pertencimento social no engajamento comunitário: um
estudo no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG)”
Nome da pesquisadora orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
Nome da pesquisadora aluna: Aparecida Mendes de Paiva
1. Natureza da pesquisa: o sr.(sra.) está sendo convidado(a) a participar dessa
pesquisa que tem como finalidade Analisar a relação entre o senso de pertencimento
social e o engajamento comunitário dos moradores do bairro Jardim Felicidade – BH, MG e
como a Educação Ambiental poderá contribuir como instrumento de intervenção. Para isso
serão realizadas pesquisa de campo com entrevistas e roda de conversa.
2. Participantes da pesquisa: participarão dessa pesquisa moradores do bairro Jardim
Felicidade.
3. Envolvimento na pesquisa: ao participar desse estudo, o sr. (sra) permitirá que a
pesquisadora Aparecida Mendes de Paiva, utilize na pesquisa as informações prestadas
durante a entrevista, salvaguardando a confidencialidade da identidade daqueles que
prestaram as informações. Tem ainda a liberdade de se recusar a participar ou a continuar
participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para si. Sempre que
quiser, poderá pedir mais informações sobre pesquisa através do telefone do pesquisador
do projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
4. Sobre as entrevistas: serão realizadas presencialmente no bairro, em local adequado
para sua realização acordado entre o entrevistado e a pesquisadora. Em caso específico,
ainda poderá ser realizada por de telefone ou conferência virtual.
5. Riscos e desconforto: a participação nessa pesquisa não traz complicações legais.
Durante a entrevista os riscos e/ou desconfortos potenciais identificados são o
constrangimento acerca das as informações prestadas durante a entrevista . Os
procedimentos adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres
Humanos, conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum
dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.
6. Confidencialidade: todas as informações coletadas nesse estudo são estritamente
confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados e
será mantido em sigilo a identidade das pessoas que as prestaram as informações.
7. Forma de acompanhamento e assistência: em caso de constrangimento a
entrevista será suspensa até que possa ser continuada por anuência do entrevistado.
8. Benefícios: ao participar dessa pesquisa, o(a) sr.(sra.) não terá nenhum benefício direto.
Entretanto, esperamos que esse estudo traga informações importantes sobre os
202
fenômenos presentes no território, que potencializam ou fragilizam as ações de
desenvolvimento, de forma que o conhecimento que será construído possa amadurecer os
debates a respeito do sentimento de pertencimento e engajamento na comunidade em que
a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos.
9. Pagamento: o(a) sr.(sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar dessa
pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.
Após esses esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para
participar da referida pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens que se seguem.
Obs.: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.
Consentimento Livre e Esclarecido
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,
manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo
de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste
estudo.
__________________________________ Assinatura do(a) participante da pesquisa
Nome do(a) participante da pesquisa
__________________________________ Assinatura do pesquisador
___________________________________
Assinatura da Orientadora
Pesquisadora Aluna: Aparecida Mendes de Paiva. Telefone (31) xxxxxxxxx.
Pesquisadora Orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos. Telefone (31) xxxxxxxxx.
Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar. Belo Horizonte/MG. CEP
30.180-100. Telefone (31) 3508-9110.Email: [email protected]
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP): Esplanada dos Ministérios,
Bloco G, Anexo B, Sala 104B. Brasília. CEP 70.058-900. Telefone (61) 3315-2150
/ 3315-2151 / 3315-3566.Email: [email protected]
203
ANEXO C
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE GRAVAÇÃO E USO DE IMAGEM E
DEPOIMENTOS
Eu ____________________________, CPF ____________, RG_______________,
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e
benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha
imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, a pesquisadora aluna
Aparecida Mendes de Paiva, sob a orientação da Dra. Fernanda Carla Wasner
Vasconcelos, do projeto de pesquisa intitulado O SENTIMENTO DE
PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: um estudo de
caso no Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG), a realizar as fotos e/ou vídeos que
se façam necessários e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus
financeiros a nenhuma das partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização dessas fotos e/ou vídeos (seus respectivos
(Negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros,
artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa,
acima especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam
os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das
pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº
5.296/2004).
Belo Horizonte, ______ de ________________ de 2017.
______________________________
Participante da pesquisa
________________________________
Pesquisador responsável pelo projeto
*Em duas vias
204
ANEXO D
AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS
Eu, ________________________________________________________ AUTORIZO a coleta de dados do projeto: “SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO NO JARDIM FELICIDADE, BELO HORIZONTE (MG) realizado pela pesquisadora Aparecida Mendes de Paiva, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, para fins de pesquisa do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, no bairro Jardim Felicidade, Belo Horizonte (MG), após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, ______ de ____________________ de ______.
_____________________________________________ Assinatura do entrevistado
205
ANEXO E
TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO Nº 466/2012
Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número 876.491.956-00, e Aparecida Mendes de Paiva, inscrito no CPF sob o número 04.1450.556-59, responsáveis pela pesquisa intitulada “SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO SOCIAL NO ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO: UM ESTUDO NO JARDIM FELICIDADE, BELO HORIZONTE (MG)” declaramos que:
Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;
Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;
O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa responsabilidade;
Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação;
Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento.
O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa;
As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa.
Belo Horizonte, ____ de________de 2017.
___________________________________ Aparecida Mendes de Paiva
__________________________________
Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos