CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL
O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS:
oferta de uma metodologia de monitoramento para o alcance da
autossustentabilidade
Belo Horizonte
2015
ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL
O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS:
oferta de uma metodologia de monitoramento para o alcance da
autossustentabilidade
Dissertação de mestrado apresentada à banca de exame de defesa constituída pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.
Área de concentração: Inovações sociais e desenvolvimento local.
Linha de pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Edimeia Maria Ribeiro de Mello
Belo Horizonte
2015
Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras
A485t Amaral, Odnélia Cristina Siqueira
O tempo social dos empreendimentos sociais: oferta de uma metodologia de
monitoramento para o alcance da autossustentabilidade. / Odnélia Cristina
Siqueira Amaral. – 2015.
176f.
Orientadora: Profa. Dra. Edimeia Maria Ribeiro de Mello
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de Pós-
graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.
Inclui bibliografia.
1. Sustentabilidade. 2. Empreendedorismo social. 3. Desenvolvimento social. I.
Mello, Edimeia Maria Ribeiro. II. Centro Universitário UNA. III. Título.
CDU: 658.114.8
“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”.
Marcel Proust
“O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda
parte”
Albert Einstein
Aos meus pais, Odávio e Nélia
Amaral, que com amor e dedicação,
me incentivaram e oportunizaram
sempre a busca do conhecimento.
Ao meu esposo, Moacir de Araujo
Cançado, que esteve ao meu lado
nos momentos de angústias e
alegrias dessa grande conquista!
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me fez trilhar esse caminho com sabedoria e dedicação.
Á todos os empreendimentos sociais dos estados de Minas Gerais e Pará,
participantes da pesquisa e suas instituições apoiadoras que contribuíram com a
experiência e o conhecimento acumulado para essa produção cientifica.
A meu amigo, Jorge Rafael Almeida, que com sua experiência profissional, trouxe
reflexões valiosas em engrandecedoras para a construção desse conhecimento.
A Professora Dr.a Ediméia Maria Ribeiro de Mello, que foi incansável e dedicada em
sua orientação científica e contribuiu com excelência no acúmulo deste
conhecimento único.
Aos professores Dr.a Eloisa Santos e Dr. Armindo Teodósio pelas valiosas
contribuições na banca de defesa dessa dissertação.
Ao meu chefe João Elias, que em todos os momentos me incentivou e foi
compreensível nos meus momentos de ausência no trabalho.
Aos meus irmãos, Elton Amaral e Odilton Amaral, esposas e filhos (meus sobrinhos)
que acompanharam essa trajetória e conquista.
A família Araújo Cançado, em especial ao Sr. Moacir Alvares Cançado (sempre
presente), que me acolheu em sua família no início dessa trajetória de estudos e
sempre acreditou em mim.
A todos os professores e colegas do curso do Mestrado Profissional em Gestão
Social, Educação e Desenvolvimento Local, pela valiosa contribuição acadêmica e
profissional.
A todos aos meus amigos, familiares e colegas de trabalho que souberam entender
meus momentos de ausência e estavam sempre dispostos a me apoiar.
RESUMO
Esta dissertação de mestrado apresenta uma reflexão conceitual científica e empírica sobre o tempo social para o alcance da autossustentabilidade de empreendimento social apoiado por instituição privada. A questão central da pesquisa foi: qual seria a dimensão do tempo de amadurecimento – tempo social – dos empreendimentos sociais, com vistas no alcance da autossustentabilidade? O objetivo geral norteador foi analisar a dinâmica dos empreendimentos sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento – tempo social – por meio do dimensionamento quali/quantitativo de suas fases e os requisitos percebidos no caminho de sua autossustentabilidade. A pesquisa à literatura disponível resgatou a lógica de um empreendimento social, com base em diversos conceitos e concepções, em seguida apresentou uma discussão sobre responsabilidade social empresarial seus conceitos e a experiência prática. Posteriormente, mostrou as dimensões de um empreendimento e os requisitos de sua sustentabilidade. Por último, refletiu a importância de se conceituar um tempo social para uma organização socioprodutiva local, conceito esse que abrange o empreendimento social, mas que reflete melhor a realidade dos grupos produtivos formados em comunidades que vivenciam a exclusão social. Essa incursão teórica possibilitou aquilatar a capacidade e as dificuldades dos empreendimentos sociais de proporcionarem a emancipação e o resgate da cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na permanência do negócio. A pesquisa de campo visitou duas instituições apoiadoras e três empreendimentos sociais, indicados por elas, localizados em Minas Gerais e no Pará, no período de agosto a novembro de 2014. A seleção amostral adotada para a realização da pesquisa de campo foi intencional e as metodologias de abordagem adotadas foram constituídas por entrevistas presenciais e individuais e grupo focal, com destaque para duas dinâmicas associadas aos grupos focais, quais sejam: a construção da linha do Tempo Social do empreendimento e o mapa dos indicadores de satisfação dos membros com o empreendimento. O conhecimento gerado pela pesquisa associado à reflexão teórica prévia e durante o processo analítico forneceram elementos orientadores para a definição de parâmetros qualitativos relevantes para a inferência do tempo social do empreendimento e a formulação de uma metodologia de monitoramento desse tempo social, que inclui o amadurecimento do empreendimento para a autogestão e a autossustentabilidade. Como uma contribuição de caráter operacional, essa dissertação concluiu, oferecendo um produto técnico na forma de uma Cartilha Orientativa, cujo objetivo é orientar a aplicação de uma metodologia participativa de monitoramento para autogestão e autossustentabilidade de empreendimentos sociais, sensível ao seu tempo social. Destina-se à direção e aos associados dos empreendimentos, bem como às suas instituições apoiadoras. Palavras-chave: Empreendimento Social. Autossustentabilidade. Autogestão. Gestão Social. Desenvolvimento Local.
ABSTRACT
This dissertation presents a scientific and empirical conceptual reflection on the social time for achieving self-sustainability of social enterprise supported by a private institution. The central research question was: what is the size of the ripening time - social time - of social entrepreneurship, aiming in achieving self-sustainability? The general objective that guided it was to analyze the dynamics of social entrepreneurship, in particular its ripening time - social time - through the sizing qualitative / quantitative phases and requirements noted in the way of their self-sustainability. Research the available literature rescued the logic of a social entrepreneurship, based on several concepts and ideas, then presented a discussion on corporate social responsibility concepts and their practical experience. Later, he showed the size of an enterprise and the requirements of sustainability. Finally, it reflected the importance of conceptualizing a social time for a local socio-productive organization, a concept that encompasses social enterprise, but that better reflects the reality of productive groups formed in communities experiencing social exclusion. This theoretical incursion enabled assess the capacity and the difficulties of social entrepreneurship to provide emancipation and the rescue of citizenship of individuals, evaluated the success and business stay. The field research visited two supporting institutions and three social entrepreneurship indicated by them, located in Minas Gerais and Pará. from August to November 2014. The sample selection adopted for conducting the field research was intentional and adopted methodological approaches consisted of classroom and individual interviews and focus groups, highlighting two dynamics associated with focus groups, namely: building the online of the entrepreneurship Social Time and the map of the indicators / member satisfaction factors with the entrepreneurship. The knowledge generated by the research associated with previous theoretical reflection and during the analytical process provided guiding elements for the definition of relevant qualitative parameters for inference of the share of the development time and the development of a monitoring methodology that social time, which includes the ripening of venture for self-management and self-sustainability. As an operational character input, this dissertation concluded by offering a technical product as a primer Orientational, which aims to guide the implementation of a participatory monitoring methodology for self-management and sustainability of social entrepreneurship, sensitive to your social time. Intended for the management and associates of the projects and their supporting institutions.
Keywords: Social Entrepreneurship. Self-sustainability. Self-management. Social management. Local development.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina
CNES – Cadastro Nacional de Entidades Sindicais
DOP – Desenvolvimento Organizacional Participativo
DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável
FGV – Fundação Getúlio Vargas
GEM – Global Entrepeneurship Monitor
ITU – World Telecommunication Indicators Database
IEA – Instituto de Estudos Avançados
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
OCDE – Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
RSC – Responsabilidade Social Coorporativa
SAF’S – Sistemas Agroflorestais
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SM – Salário Mínimo
SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária
SESI – Serviço Social da Indústria
TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................... 12
1 SUSTENTABILIDADE EM EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: UM ENSAIO
TEÓRICO REFLEXIVO PARA UMA ECONOMIA SOCIAL LOCAL................
20
2 RELATOS DE PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DA REALIDADE DOS
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DO TEMPO
SOCIAL ............................................................................................................
47
3 PRODUTO TÉCNICO: EMPREENDIMENTOS SOCIAIS APOIADOS - UMA
PROPOSTA DE MONITORAMENTO, SENSÍVEL AO TEMPO SOCIAL, NA
BUSCA DA AUTOSSUSTENTABILIDADE ....................................................
119
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 152
REFERÊNCIAS................................................................................................. 159
APÊNDICES.....................................................................................................
ANEXOS......................................................................................................
160
168
12
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como foco o empreendimento social, entendido como uma das
formas de realização da gestão social, contraposta à gestão estratégica
maximizadora de lucro (PEREIRA, 2013). O empreendimento social tem como metas
o equilíbrio financeiro (requisito da sustentabilidade econômica), a geração de
ofertas sociais ou o suprimento de demandas de mesma natureza, além de ser
responsável com o meio ambiente. O lucro, caso ocorra, se submete à restrição de
reinvestimento na mesma atividade ou de redistribuição à comunidade que o
sustenta.
O empreendimento social destacado nessa dissertação, também, traz outras
categorias importantes da gestão social, quais sejam “[...] participação, diálogo e
busca do bem comum” (PEREIRA, 2013, p.1) e, em seus objetivos, encontra uma
das grandes categorias que fundamentam a gestão social, a da emancipação social,
alcançada por meio da autogestão, traduzida em “[...] tomada de decisão coletiva,
sem coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e
entendimento esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na
emancipação enquanto fim último” (CANÇADO, 2011, p.99).
Em sua grande maioria, os empreendimentos sociais são apoiados por instituições
públicas e/ou por instituições privadas. No primeiro caso, abre-se o leque para a
implementação da política social, por meio do apoio a iniciativas de geração de
renda. No segundo caso, esses empreendimentos mobilizam a responsabilidade
social em benefício de negócios locais e fortalecimento de organizações sociais.
Os programas de responsabilidade social das empresas apoiadoras adotam, como
estratégia, a promoção do empreendedorismo social de base local, com a finalidade
de mudar a qualidade de vida de pessoas em condições de fragilidade social,
habitantes de comunidades desfavorecidas. As ações destes programas se
concretizam por meio da disponibilização de recursos financeiros e técnicos, para
garantir o fortalecimento organizacional na busca da sustentabilidade e até com
financiamentos de programas por parceiros e instituições públicas ligadas ao
desenvolvimento local para a geração de renda de populações desfavorecidas.
13
Dentre as práticas realizadas, no decurso profissional da autora, uma delas foi junto
a programas de responsabilidade social de empresas privadas e junto a instituições
de terceiro setor, no período de 2005 a 2012, em funções de apoio à formação de
empreendimentos sociais em municípios do Pará. Esta vivência profissional
proporcionou a percepção das fragilidades dos sujeitos que se associam em
empreendimentos sociais, decorrentes de sua inexperiência em aspectos da gestão
empreendedora, traduzida em grandes dificuldades para o alcance das condições de
sustentabilidade, em especial, a econômica, tão exigida pelos apoiadores externos.
Nesse contexto da responsabilidade social, que se formou o conhecimento
decorrente da experiência profissional da autora a programas de apoio a
empreendimentos sociais. Esta reflexão deu origem à proposição da atual agenda
de pesquisa para responder à seguinte questão: quais seriam os parâmetros para se
aquilatar o tempo necessário ao amadurecimento – tempo social – dos
empreendimentos sociais, com vistas ao alcance da autossustentabilidade, para
orientar o apoio e o investimento das instituições privadas que os suportam?
A prática vivenciada entre 2005 a 2012 proporcionou a percepção das fragilidades
dos sujeitos que se associam em empreendimentos sociais, decorrentes de
fragilidades de conhecimento e experiências em aspectos da gestão
empreendedora, as quais se traduzem em grandes dificuldades para o alcance das
condições de sustentabilidade econômica nos prazos exigidos pelos apoiadores
externos.
Diante da experiência acumulada junto à formação dos empreendimentos sociais
observaram-se alguns fatores potencializadores e dificultadores, tais como:
Foram observados desde empreendimentos coletivos que tiveram em sua
formação uma estrutura de base de formação consistente e consciente das
pessoas partícipes do coletivo, até aqueles que apresentaram profundas
fragilidades, percebidas já em sua fase inicial. As fragilidades acometiam,
especialmente, a preparação e a formação da base dos associados nos
valores solidários e participativos, com consequências negativas sobre o
desenvolvimento da associação e da gestão social do empreendimento. Para,
14
além disso, as dificuldades se aprofundavam em virtude da não familiaridade
previsível dos associados com a gestão empreendedora e/ou ramo de
negócio proposto, bem como, com a elaboração de planejamento inadequado
realizado pelos apoiadores externos.
As ações dos programas de responsabilidade social se concretizavam por
meio da disponibilização de recursos financeiros para garantir o
fortalecimento organizacional e a busca da sustentabilidade de
empreendimentos produtores de artefatos em madeira, bijuterias com
sementes nativas, costura em geral, ou extração da castanha, jaborandi entre
outros, bem como para fortalecer as iniciativas locais que valorizavam os
recursos locais, as pessoas e o valor social nos produtos produzidos.
As instituições privadas comprometiam ainda outras parcerias com os
projetos, como órgãos dos governos federal e estadual, cujas finalidades
eram incentivar a geração de renda, a partir da exploração de recursos
naturais ou das potencialidades locais, assim como, instituições de
cooperação internacional focadas na Amazônia.
Uma das instituições apoiadoras se orientava no âmbito de um planejamento
integrado, ao prever a formação de um grupo gestor, que era ativado
periodicamente desde a concepção dos empreendimentos. Esta estratégia
contribuía para melhorias nos resultados auferidos.
Identificou-se uma cooperativa, com quase 10 anos em atuação sob o apoio
institucional, com sérios problemas de estrutura organizacional e de gestão
financeira dos recursos.
Houve empreendimentos constituídos sob uma estrutura de base formativa no
contexto de valores solidários, que avançaram no caminho para a
sustentabilidade.
Houve, ainda, uma experiência de constituição de empreendimento em
associação, que, mesmo orientada por um plano de negócio pronto a ser
seguido, não conseguiu se implantar com base no plano, pois este
desconsiderou a realidade social local, ou seja, a sua “lógica peculiar”.
(KRAYCHETE, 2006, 2011). Nesse caso, o plano havia sido elaborado por
um especialista, desconhecedor da realidade local, e de forma não
15
participativa, transformando-se “[...] em mais um documento a ser muito bem
guardado e esquecido em alguma prateleira”. (KRAYCHETE, 2006, p. 4).
Outra experiência presenciada não apresentou essa base preparatória para
os associados e, num processo avaliativo reflexivo, percebeu-se que erros
graves foram cometidos, quais sejam: (1) convocação aleatória de
“beneficiários” da comunidade para montar um negócio; (2) baixa
escolaridade dos associados; (3) desconhecimento ou falta de experiência
prévia no negócio proposto; (4) implantação de plano de negócio não
participativo e descolado da realidade do interior do estado; (5) investimento
de recurso financeiro inicial, prevendo contratação de encarregados na
produção e/ou administração, sem uma preparação educativa consistente
para os associados lidarem com questões econômicas e de gestão; (6)
cronograma irreal, baseado em um tempo empresarial normal, que não previu
a condição especial de um empreendimento social e cujo tempo de
maturação não incluiu a promoção da emancipação dos associados.
Ressalte-se em outra experiência, na qual se realizou um trabalho de base
para a transformação das pessoas em empreendedoras, com valores
cooperativos e associativos, em que no período de três anos, foram
desenvolvidas varias atividades, entre as quais: (1) preparação das pessoas
com valores solidários e cooperativos para uma formação empreendedora; (2)
preparação para o desenvolvimento do produto e para a gestão do
empreendimento (individual ou coletivo); (3) e, posteriormente, realização de
convite a pessoas para desenvolver e gerir um empreendimento social, à livre
escolha, com garantia de apoio técnico e financeiro. Nesse caso, mesmo
depois de longos processos de envolvimento com os sujeitos, a gestão do
empreendimento ainda apresentava dificuldades a serem superadas como,
por exemplo, resultados financeiros demorados ou apenas suficientes para
equilibrá-lo. Alguns associados desistiam do empreendimento, em virtude de
encontrarem trabalho assalariado. Em outros casos os sujeitos eram taxados
de “jovens preguiçosos” por parte do apoiador externo.
Esses casos relatados demostram as dificuldades do alcance de resultados
sustentáveis em empreendimentos sociais, mesmo aqueles beneficiados, com “[...]
16
apoio financeiro, muitos [...] apresentam resultados frustrantes - para si e para as
instituições financiadoras”, coincidentemente com as observações de Kraychete
(2006, p.4). Ainda, segundo este autor,...
Por um período, o empreendimento parece funcionar bem, inclusive com resultados econômicos aparentemente positivos. Enquanto dura o projeto, os recursos permitem pagar as despesas e garantem uma remuneração aos associados. Durante algum tempo, como usualmente se diz, parece que “o projeto contribuiu para elevar a autoestima do grupo”. A instituição financiadora publica fotos e folders no seu site dos resultados alcançados. (KRAYCHETE, 2006, p.4).
Portanto, a experiência vivenciada junto a ações de responsabilidade social que
contemplem empreendimentos sociais abriu caminho para a realização de um
estudo aprofundado, podendo melhor compreender a dinâmica deste tipo de
empreendimento no Pará e Minas Gerais, em especial, com respeito ao tempo de
amadurecimento requerido por estas organizações.
Essas experiências demonstraram claramente a necessidade do reconhecimento de
um tempo de maturação para empreendimentos desta natureza, diferente do
observado em empreendimentos tradicionais capitalistas, e denominado aqui, como
tempo social.
A concessão deste tempo visa garantir a efetivação, a implementação do
empreendimento e o alcance de sua sustentabilidade, apoiado no exercício da
autogestão, da cooperação, da preparação do produto com qualidade, do
enfrentamento do mercado com inovação e participação em arranjos institucionais e
em redes consorciadas de comercialização, para firmar seu espaço dentro de uma
economia local.
Diante do exposto, a pesquisa desenvolvida propôs a seguinte questão central: qual
seria a dimensão do tempo de amadurecimento – tempo social – dos
empreendimentos sociais, com vistas ao alcance da autossustentabilidade, para
orientar o apoio e o investimento das instituições privadas que os suportam?
A hipótese que norteou a pesquisa foi a de que os sujeitos dos empreendimentos
sociais apresentam condições culturais e educacionais restritas e limitadas, fatores
17
dificultadores para o alcance da sustentabilidade de seus negócios, mesmo sendo
apoiados técnico/ financeiramente por programas de reponsabilidade social de
instituições privadas. Mantido o foco da responsabilidade social na formação de tais
empreendimentos, se se incorporar à ação dos apoiadores junto aos
“empreendedores” uma prática educativa para a autogestão dos estabelecimentos
coletivos autogestionários, os programas de responsabilidade social das empresas,
tendem a produzir impactos mais positivos na realização dos seus objetivos de
geração de renda. Propõe-se dessa forma, a ampliação da visão dos gestores da
responsabilidade social para perceber a indispensabilidade de um tempo que
comporte a superação das dificuldades de formação dos grupos coletivos, enquanto
coletivos solidários dotados das funções autogestionárias para administrar um
empreendimento social autossustentável. Se adotarem os requisitos relativos ao
tempo de maturação e indicadores sociais adequados para o seu acompanhamento
sistemático, amplia-se a probabilidade de sucesso e de alcance de
autossustentabilidade dos empreendimentos sociais.
A realização desse trabalho, orientado para o tempo social dos empreendimentos
sociais, orientou-se pelo seguinte objetivo geral: analisar a dinâmica dos
empreendimentos sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento – tempo
social – por meio do dimensionamento quali/quantitativo de suas fases e os
requisitos percebidos no caminho de sua autossustentabilidade.
Para o alcance dessa finalidade os objetivos específicos foram:
(1) Contextualizar historicamente a experiência do empreendimento social na
sua relação com seus investidores/apoiadores;
(2) Identificar os processos de gestão vivenciados pelos empreendimentos
sociais, para identificar parâmetros de sua tendência à autossustentabilidade;
(3) Levantar indicadores de sustentabilidade que proporcionem identificar o
momento de desprendimento do empreendimento social dos seus apoiadores;
Essa dissertação contemplou, como objetivo operacional, a realização de um
produto técnico, fundamentado na pesquisa em forma de uma metodologia a ser
divulgada como uma cartilha orientativa para os empreendimentos sociais e seus
18
apoiadores. Essa metodologia desenvolvida visa orientar o monitoramento do tempo
social de amadurecimento do empreendimento social e seus indicadores, com o
intuito de contribuir para a realização dos avanços decorrentes da superação das
fragilidades dos associados até o alcance da autossustentabilidade. Este produto
técnico introduz uma inovação no campo da gestão social, com vistas ao
desenvolvimento local.
A escolha do tema em pauta – empreendimentos sociais de geração de renda
coletivos e autogestionários, apoiados por instituições privadas – se justificou
pela importância de acessar conhecimentos que permitam inferir sobre o ciclo de
vida e os processos dos empreendimentos sociais, que visem fundamentar uma
contribuição para a gestão social efetiva no desenvolvimento de projetos em grupos
sociais e comunitários, e a transformação de realidades locais.
Deste modo, a vivência em empreendimentos sociais gerou um grande desafio e
introduziu um longo caminho a percorrer, visto que se verificaram poucas
experiências que, de fato, mudaram a condição de vida de seus associados.
O estudo desse tempo de maturação de empreendimento social requereu um
aprofundamento científico, podendo ser considerado de suma importância para o
fortalecimento da linha de pesquisa sobre gestão social e desenvolvimento local.
Objetivou ainda, abstrair e aprofundar cientificamente, à luz dos conceitos de gestão
social e desenvolvimento local, a prática em processos sociais de empreendimentos
sociais, para permear a reflexão de consistência teórica.
Isto proporcionou discussões metodológicas dos processos vivenciados e do
monitoramento do tempo de amadurecimento (tempo social) dessas organizações,
pretendendo contribuir para a efetivação de uma gestão social no desenvolvimento
de projetos em grupos sociais e comunitários, a partir do conhecimento do local e
das potencialidades pessoais, visando, de fato, a transformação de realidades
locais.
Além de ampliar os conhecimentos práticos e teóricos sobre a gestão social de
empreendimentos sociais para a geração de renda apoiados por instituições
19
privadas, permitiu conhecer mais sobre o ciclo de vida dos empreendimentos, seus
processos e tempo social, e propor melhorias para os processos com o intuito de
contribuir para o aumento do sucesso de tais experiências de empreendimentos
sociais.
Por fim, a estrutura da dissertação apresenta três capítulos em formato de artigos. O
primeiro capítulo apresenta uma fundamentação teórica sobre os conceitos e
concepções de empreendimentos sociais, responsabilidade social coorporativa,
autogestão e produção associada, além de sustentabilidade de empreendimentos e
o seu tempo social. A pesquisa à literatura disponível possibilitou aquilatar a
capacidade e as dificuldades do empreendimento social de proporcionar a
emancipação e o resgate de cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na
permanência do negócio, que busque o alcance de sua sustentabilidade, no âmbito
de uma economia social local.
O segundo capítulo, expõe os resultados da pesquisa envolto em uma análise de
três empreendimentos sociais localizados em Minas Gerais e no Pará e suas
instituições apoiadoras, sob a perspectiva do tempo social com o intuito de
compreender a dinâmica desses empreendimentos, auferindo o seu tempo de
amadurecimento e o seu processo de gestão, por meio do delineamento de suas
fases de execução até a sustentabilidade. Por meio de uma pesquisa exploratória-
descritiva de viés qualitativo, procurou-se detectar parâmetros qualitativos relevantes
para a inferência do tempo social do empreendimento social.
O terceiro capítulo apresenta uma proposta de Cartilha Orientativa cujo objetivo é
apresentar uma metodologia de monitoramento para Autogestão e
Autossustentabilidade dentro de um Tempo Social de Empreendimentos Sociais.
Este produto técnico propõe ser uma ferramenta participativa para a promoção da
Gestão Social dentro de empreendimentos sociais com fim de autossustentabilidade
e contribuir para a Inovação social e Desenvolvimento local.
20
1 - SUSTENTABILIDADE EM EMPREENDIMENTOS SOCIAIS PARA UMA
ECONOMIA SOCIAL LOCAL: UMA REVISÃO TEORICA
AMARAL, Odnélia Cristina S. de1
MELLO, Ediméia Maria Ribeiro2
RESUMO
Este artigo pretende suscitar algumas reflexões, com base no arcabouço teórico sobre gestão social para o desenvolvimento local, autogestão para o desenvolvimento de negócios e responsabilidade social da iniciativa privada, a partir de experiências vivenciadas em empreendimento social. A pesquisa sobre a literatura disponível possibilita aquilatar a capacidade e as dificuldades do empreendimento social proporcionar a emancipação e o resgate de cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na permanência do negócio. A partir da reflexão teórica, pretende-se exercitar o olhar reflexivo, com base em uma prática em empreendimento social, que busque o alcance de sua sustentabilidade, no âmbito de uma economia social local, segundo parâmetros que considerem a sua condição de iniciante num mundo de competitividade exacerbada.
Palavras-chave: Empreendimento Social; Sustentabilidade; Responsabilidade Social; Tempo Social.
ABSTRACT This article aims to raise some reflections on the theoretical framework of social management for local development, self-management to business development and social responsibility of private initiative, from experiences on social entrepreneurship. A survey of available literature allows the evaluation of the ability and the difficulties of the social entrepreneurship provide the emancipation and recuperation of citizenship of individuals, based on the success and permanence of their business. From the theoretical discussion it is intended to exercise a reflective view, based on a practice in social enterprise, which seeks to reach its sustainability in the context of a local social economy, according to the parameters that consider their condition of beginners in a world of heightened competitiveness. Keywords: Social Entrepreneurship; Sustainability;Social Responsibility; Social Time.
1 Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA.
Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 2 Orientadora e Professora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no
Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].
21
1.1 Introdução
Esse artigo apresenta como objetivo analisar o enfrentamento do desafio da
sustentabilidade pelos empreendimentos sociais de geração de renda, apoiados por
instituições públicas ou privadas, em seus programas de responsabilidade social.
O apoio à formação de empreendimentos geradores de renda nos territórios da
pobreza vai ao encontro das políticas públicas instituídas nos últimos anos pelo
governo federal, que incentivam todo tipo de instituições a se envolver com a
promoção do desenvolvimento local. Nesse sentido, o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome oferece um Guia, assinado por Patrus
Ananias, que tem por objetivo:
Apoiar gestores públicos federais, estaduais e municipais, instituições não governamentais, empresários de todo o porte, movimentos sociais, religiosos e as empresas com responsabilidade social, para a articulação das ações e alcance de resultados mais efetivos na geração de Trabalho e Renda com a promoção do desenvolvimento local. (Brasil, 2009, p. 5).
Assim, os empreendimentos sociais apoiados no âmbito de projetos implementados
pela Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são incentivados pelas Políticas
Públicas de Geração de Trabalho e Renda, destinados aos membros de
comunidades pobres e/ou impactadas pelos grandes investimentos realizados pelas
empresas privadas.
Tais iniciativas alcançam pessoas dispostas a trabalhar para o autossustento, que,
eventualmente estão envolvidas em atividades produtivas pouco rentáveis ou até
mesmo deficitárias, em virtude das diversas carências que as acometem, frente aos
requisitos postos para o sucesso de uma organização produtiva via mercado. Na
maioria das vezes, são necessárias "[...] ações que despertam a autoestima e
conscientizam dos direitos de cidadania as pessoas que vivem em situação de
extrema miséria, destituídas de tais sentimentos, por viverem processos históricos
de exclusão social”. (Brasil, 2009, p.11).
A experiência vivenciada por uma das autoras permitiu constatar a raridade das
tentativas de sucesso na promoção de empreendimentos sociais por instituições
22
privadas. Um número muito pequeno contabiliza os que atingiram a sua
sustentabilidade de forma emancipadora e autônoma e que de fato mudaram a
condição de vida de seus associados. Considera-se sustentável e autônomo, o
empreendimento social que consegue sobreviver por um tempo longo em condições
de equilíbrio financeiro, assim como internalizar em seu processo decisório a
autogestão, mesmo que inserido numa rede de parcerias variável no tempo e no
padrão de troca estabelecido.
Pressupõe-se que, no caso dos empreendimentos sociais apoiados no âmbito dos
projetos de RSC, parte das dificuldades associadas aos insucessos decorra das
diferentes lógicas que confrontam as organizações envolvidas: de um lado do
empreendimento social, o objetivo de resgate social, que se implementa a partir de
uma gestão coletiva realizada por detentores da força de trabalho e dos meios de
produção, pessoas à margem do mercado de trabalho, alijadas da cultura do
mercado e carentes do conhecimento de todas as fases pelas quais se conduz um
negócio.
Do outro lado, o apoiador privado, movido pela lógica capitalista, fundada na
“expertise” do desenvolvimento de seu negócio, cujo cronograma prescinde o
esforço de qualificação e preparação da força de trabalho, mas exerce o seu apoio
com uma expectativa irreal com respeito ao resultado de seus esforços. O prazo
concedido para o alcance da sustentabilidade econômica e de gestão do
empreendimento social é muito curto, relativamente às suas carências iniciais.
Este fato impacta o desenvolvimento do empreendimento social e requer a atenção
e o entendimento da lógica operativa do negócio inclusivo, por parte do associado e,
principalmente, pelo apoiador privado.
Diante do exposto, para um melhor entendimento sobre empreendimento social, este
capítulo apresenta a seguinte estrutura: primeiramente irá retratar a lógica de uma
organização desse tipo, com base em diversos conceitos e concepções; na
sequência apresentará uma discussão a respeito da responsabilidade social
corporativa (RSC) ou empresarial, seus conceitos e sua vivência prática. Em seguida
serão apresentadas as dimensões de um empreendimento e os requisitos de sua
23
sustentabilidade. E por último, será descrito uma reflexão acerca da importância de
se ter um tempo social no empreendimento social dentro de um contexto local.
1.2 Empreendimento social: visitando conceitos e concepções
O conceito de empreendimento social que este estudo privilegia, refere-se às
organizações socioprodutivas que reúnem pessoas movidas por interesses em
empreender de forma independente, segundo um modelo de organização coletiva e
autogestionária, inseridos dentro de uma lógica peculiar (KRAYCHETE, 2011) 3 em
uma economia social local4.
Reflete a realidade dos grupos produtivos formados em comunidades que
experimentam a exclusão social, que, conforme Amaro (2000) alcança seis níveis
principais da pessoa, quais sejam:
- do SER, ou seja, da personalidade, da dignidade e da autoestima e do auto-reconhecimento individual; - do ESTAR, ou seja, das redes de pertença social, desde a família, às redes de vizinhança, aos grupos de convívio e de interação social e à sociedade mais geral; - do FAZER, ou seja, das tarefas realizadas e socialmente reconhecidas, quer sob a forma de emprego remunerado (uma vez que a forma dominante de reconhecimento social assenta na possibilidade de se auferir um rendimento traduzível em poder de compra e em estatuto de consumidor), quer sob a forma de trabalho voluntário não remunerado; - do CRIAR, ou seja, da capacidade de empreender, de assumir iniciativas, de definir e concretizar projectos, de inventar e criar ações, quaisquer que elas sejam; - do SABER, ou seja, do acesso à informação (escolar ou não; formal ou informal), necessária à tomada fundamentada de decisões, e da capacidade crítica face à sociedade e ao ambiente envolvente; - do TER, ou seja, do rendimento, do poder de compra, do acesso a níveis de consumo médios da sociedade, da capacidade aquisitiva (incluindo a capacidade de estabelecer prioridades de aquisição e consumo). (AMARO, 2000, s/p).
3 Segundo esse autor os empreendimentos associativos não podem ser avaliadas ou projetados,
tomando-se por referência os critérios de eficiência e planejamento típicos à empresa capitalista, pois não considerará a realidade dos mesmos e distanciará de formas de trabalhos economicamente viáveis dentro de uma gestão emancipadora e autogestionária. (KRAYCHETE, 2011). . 4 A economia social agrega as cooperativas e as associações que tem como princípios “servir a
comunidade e os interesses sociais em detrimento dos interesses do capital [...]”. (PARENTE; COSTA; SANTOS; CHAVES, 2011, p.10).
24
Ao longo da história dos movimentos sociais no Brasil, conforme Gohn (2004), a
sociedade civil foi se configurando e avançando segundo novos formatos. A partir
dos anos 1980, destacam-se os movimentos de luta por direitos civis, políticos e
sociais, que garantiram desdobramentos na efetivação das políticas públicas de
cunho social. Esse foi um processo de amplas conquistas, mas, principalmente,
desde a última década do século XX, com o acirramento das políticas neoliberais,
houve perda de direitos conquistados, frente ao cenário de “desemprego, aumento
da pobreza e da violência urbana e rural”. (GOHN, 2004, p. 25).
Forjou-se, então, uma nova modelagem para os movimentos sociais, centrada em
articulações, construção de agendas políticas e em busca de uma readaptação às
mudanças decorrentes de tempos economicamente mais duros.
Nesta nova perspectiva, a escassez de recursos restringe a capacidade de resposta
do Estado às demandas sociais crescentes. Dessa forma, foram buscadas “[...]
novas formas de articulação com a sociedade civil, envolvendo a participação de
ONGs, da comunidade organizada e do setor privado na provisão de serviços
públicos” (FARAH, 1998, p. 383). Assim, as ONGs passaram a ter um papel menos
reivindicativo e mais ativo, por meio da prestação de serviços, visto que a nova
gestão pública passou a delegar às empresas da sociedade civil a execução das
políticas, mantendo-se nas funções de financiamento e fiscalização. Estas ONGs
apresentavam um novo perfil...
O perfil do novo associativismo civil dos anos 1990. Um perfil diferente das antigas ONG´s dos anos 1980, que tinham fortes características reivindicativas, participativas e militantes. O novo perfil desenha um tipo de entidade mais voltada para prestação de serviços, atuando segundo projetos, dentro de planejamentos estratégicos, buscando parcerias com o Estado e empresas da sociedade civil. (GOHN, 2004, p. 27).
Por outro lado, o poder público passou a atuar por meio do fomento e da garantia de
recursos e incentivos fiscais para que, cada vez mais, a sociedade civil assumisse a
responsabilidade parceira na solução dos problemas sociais, acirrados pelo
neoliberalismo, contribuindo, assim, para redução da despesa pública, por meio da
estratégia de transferência da responsabilidade da oferta de serviços sociais para a
25
sociedade civil, conforme explicam Alves Junior; Fontenele e Faria (2008). Em
consequência, abriu-se espaço para a ampliação do terceiro setor, no Brasil,
constituído por instituições privadas de finalidade pública, discutida por Fischer e
Falconer (1998).
A referência à intenção de estimular a parceria com ONG's está no discurso político das autoridades brasileiras e na prática de alguns programas nacionais e alguns governos estaduais, que reconhecem o insucesso do Estado como promotor das políticas de desenvolvimento social e a necessidade de estimular a participação da sociedade civil nesta empreitada. [Assim], no Brasil, alguns governos locais já se lançavam a experiência prática, para tentar, com esta parceria, debelar os problemas crônicos da miséria total. (FISCHER e FALCONER, 1998, p. 6).
Neste novo cenário político-social, formou-se o tripé que permeia o empreendimento
social: o poder público, com sua regulamentação e financiamento; o poder privado
com sua disposição social e financiamento; e o associado ao empreendimento, com
a sua disposição para o desenvolvimento pessoal e local de características social e
econômica, conforme diagramado na Figura 1, a seguir.
Figura 1: Tripé de apoio ao empreendimento social
Ao mesmo tempo, dentro da complexidade desta realidade, cada elemento do tripé
assume sua função e busca, de forma articulada, tornar reais as oportunidades
PODER
PÚBLICO
Governo
PODER PRIVADO
Mercado
Instituições
privadas
COMUNIDADE
Associado
26
alternativas de geração de renda, por meio do desenvolvimento do empreendimento
social, para a superação da condição socioeconômica da comunidade excluída.
Dessa maneira, uma maioria dos empreendimentos sociais são suportados no
fortalecimento dessa rede de apoio e na concretização de parcerias intersetoriais,
para o alcance da sustentabilidade. Assim, se constituem de forma inovadora
surgindo neste contexto político da sociedade brasileira. Porém, não só neste
contexto, pois são negócios que vêm ganhando relevância no enfrentamento da
pobreza em nível mundial, apresentando-se como uma forma de reversão, em parte,
dos resultados pífios alcançados pela economia capitalista, sustentada em uma
dinâmica produtora de exclusão, conforme os dados apresentados por Naigeborin
(2010). Estes dados podem ser comparados com uma população mundial de 3,6
bilhões de pessoas, em 2010, segundo as fontes relacionadas pela autora:
Mais de 2,5 bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares/dia (Banco Mundial, 2007);
900 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS e UNICEF, 2010);
2,6 bilhões de pessoas não têm saneamento básico (OMS e UNICEF, 2010);
Mais de 1,8 milhões/ano de jovens (entre 15 e 24 anos) morrem por enfermidades que poderiam ser prevenidas (OMS);
1,6 bilhões de pessoas não têm acesso à eletricidade (OCDE e IEA, 2006).
5,4 bilhões não têm acesso à internet (ITU, 2008).
Este cenário ilustra quantitativamente quase todas as dimensões da exclusão social
propostas por Amaro (2000, s/p), ou seja, "o ‘não ser’, o ‘não estar’, o ‘não fazer’, o
‘não criar’, o ‘não saber’ e/ou o ‘não ter”, fortalece as iniciativas sociais de
empreendimentos, apoiados por instituições públicas e privadas, que, deram
surgimento ao conceito de negócios sociais. O Grameen Bank, fundado em 1976 por
Muhammad Yunus (economista, Prêmio Nobel da Paz em 2006), é uma importante
instituição de microcrédito pioneira nesta modalidade (NAIGEBORIN, 2010).
As definições de negócios sociais, levantadas por Naigeborin (2010), podem ser
agregadas como economias rentáveis, que oferecem soluções para problemas
sociais e/ou ambientais, por meio de mecanismos de mercado (ARTEMISIA apud
NAIGEBORIN, 2010), que visem beneficiar setores excluídos (ASHOKA apud
27
NAIGEBORIN, 2010) e às comunidades de baixa renda (BID apud NAIGEBORIN,
2010), ao oferecerem serviços básicos essenciais a um preço menor (AVINA apud
NAIGEBORIN, 2010), capazes de gerar receita suficiente para cobrir os custos, sem
que, entretanto, sejam distribuídos lucros aos seus investidores (GRAMEEN BANK
apud NAIGEBORIN, 2010). Esses negócios incluem os pobres tanto do lado da
demanda, quanto do lado da oferta (PNUD apud NAIGEBORIN, 2010), adotam
componentes de governança inclusiva, assim como, um sistema contábil ético e
transparente que prioriza a sustentabilidade ambiental, a distribuição justa dos
rendimentos por participação, destinando os lucros ao bem comum. (FOURTH
SECTOR apud NAIGEBORIN, 2010).
Segundo Hervieux (2010), apud Vasconcelos e Lezana (2012), os empreendimentos
sociais criam valor social através de inovação e fazem uso do recurso financeiro
como garantia de sustentabilidade do negócio e de seus associados.
Acredita-se que os negócios sociais ou empreendimentos sociais têm o poder de
realizar transformação social que alcance os desfavorecidos, ao se organizarem
segundo o formato coletivo, cooperativo e de gestão compartilhada do poder
decisório. Esse formato os caracteriza como organizações autogestionadas e
inclusivas, fundadas como alternativa para a melhoria da condição de vida e para o
resgate da sustentabilidade social e econômica de indivíduos alijados do processo
produtivo.
Rossoni; Onozato e Horochovski (2006) atribuem o surgimento do
empreendedorismo social a uma evolução do setor filantrópico, considerado
insatisfatório do ponto de vista administrativo, de sustentabilidade econômica e de
resultados. Mswaka (2009) enfatiza que, no Reino Unido, enquanto as estruturas
filantrópicas de apoio à pobreza declinavam, os empreendimentos sociais eram
estimulados crescentemente, introduzindo um novo modelo de organização: uma
evolução no âmbito da economia social e das organizações filantrópicas associadas.
Social enterprise is a result of the evolution of the social economy and the philanthropic organizations associated with it (Laville and Nyssens, 2001). These include earliest forms of craft guilds, building societies and savings clubs that became forerunners of the social enterprises that we know today (Conaty and McGeehan, 2000). Therefore social enterprises have gained
28
prominence perhaps because of their business-like nature in contrast to the traditional non-profit organizations associated with the social economy (Dart, 2002)
5. (MSWAKA, 2009, p. 4).
Dessa forma, os empreendimentos sociais representam alternativas ao
desenvolverem soluções de mercado para contribuir para a superação de alguns
dos grandes problemas sociais e ambientais mundiais. Esse modelo de negócio tem
o lucro, não como um fim em si mesmo, mas um meio para gerar soluções
sustentáveis que ajudem a reduzir a pobreza, a desigualdade social e a degradação
ambiental.
De acordo com Duarte e Teodósio (2013), esse universo de novos negócios
possibilita o fortalecimento de uma nova economia, dotada de características
similares à economia social, explicada pelos seguintes elementos-chave:
A autogestão para a solidariedade; 2. O fortalecimento das iniciativas econômicas cooperativadas e associativas; 3. O desenvolvimento de rede de apoio mútuo, de intercâmbios diversos; 4. A criação de formas alternativas de credito e poupança. (SINGER, 2000, p.323 apud DUARTE; TEODOSIO, 2013, p. 5).
Em 2006, no Brasil, o incentivo aos empreendimentos sociais foi transformado em
política de Estado com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidaria
(SENAES), ao mesmo tempo em que se fortalecia um novo espaço do movimento, o
Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES). Em sua fundação, o CNES,
aglutinava conselheiros representantes de 56 entidades dos três setores que o
apoiavam.
Cada consejero representa una entidad y las 56 entidades pertenecen a tres sectores distintos: a) 19 consejeros representan órganos gubernamentales; b) 13 a ministerios del gobierno federal, bancos públicos federales, el Foro de Secretarios Estatales del Trabajo y la Red de Gestores Públicos de Economía Solidaria; c) 20 consejeros representan emprendimientos de economía solidaria y son apuntados por el FBES [Fórum Brasileiro de Economia Solidaria]; d) 17 consejeros representan entidades de fomento y asesoría, que actúan en la economia solidaria, gran parte de las cuales participan del FBES. (SINGER, 2009, p. 61).
5 A empresa social resulta da evolução da economia social e as organizações filantrópicas
associadas (Laville e Nyssens (2001). Estas incluem as primeiras formas de corporações de ofício, as sociedades de construção e clubes de poupança, precursores das empresas sociais que conhecemos hoje (Conaty e McGeehan, 2000). Portanto, empresas sociais ganharam destaque, talvez por causa de sua natureza parecida com negócios em contraste com as organizações sem fins lucrativos tradicionais associadas com a economia social (Dart, 2002). (Mswaka, 2009, p.4).
29
Entretanto, as contradições inerentes ao modelo que pretende a superação das
desigualdades por meio do incentivo ao empreendedorismo, esbarram com as
contradições do modelo que se evidenciam na prática. O incentivo à formação de
organizações produtivas autossustentaveis mobiliza a concorrência entre os
desiguais e pode promover novas desigualdades.
En lo que respecta a la sociedad civil, una división ya antigua, pero que suscita confrontaciones periódicas, es la que oponen partidarios de la llamada economía popular solidaria, que priorizan el trabajo con los más pobres y excluidos y los que priorizan los esfuerzos para que los emprendimientos de la economía solidaria tengan éxito económico. Aparentemente, no hay contradicción, pues los dos elementos son em cierta medida complementarios: para que los más pobres puedan superar su condición es imprescindible que sus cooperativas se viabilicen económicamente. Pero, en la práctica, las contradicciones aparecen de inmediato. (SINGER, 2009, p.62).
Segundo Rossoni; Onozato e Horochovski (2006), diferentemente do
empreendimento privado tradicional, o empreendimento social é uma entidade que
se realiza no coletivo, privilegia a autogestão, a produção destinada a demandas da
comunidade, o foco na solução de problemas sociais, a aferição do desempenho
com base no impacto social e o objetivo de resgatar e promover sujeitos em situação
de risco social.
Duarte e Teodósio (2013) defendem que esse modelo de empreendimento "pode ser
compreendido como uma nova tecnologia social, com imensa capacidade de
inovação no processo de empreender [em prol do social], já que não se pretende ser
assistencialista e mantenedor, mas empreendedor, emancipador e transformador”.
(DUARTE; TEODOSIO, 2013, p. 44). Este tipo de empreendedorismo é foco de
programas de responsabilidade social em empresas e demais instituições privadas.
Os estudos do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), apud Dornelas (2005),
diferenciam duas formas de empreendedorismo. A primeira forma seria o
empreendedorismo de oportunidade em que o empreendedor cria um negócio, com
um foco bem estabelecido. A segunda forma é o empreendedorismo de necessidade
em que o empreendedor se lança em um negócio por falta de oportunidade de
trabalho e, em sua maioria, não apresenta uma concepção integral do negócio bem
planejado e com foco.
30
É exatamente sobre essas lacunas do empreendedorismo por necessidade, que os
programas de responsabilidade social das instituições privadas atuam, assim como,
as fundações e instituições financiadoras de projetos sociais, ao objetivar de
incorporar foco, plano e apoio técnico aos negócios de grupos de pessoas
desfavorecidas dentro de uma comunidade apoiada.
Entretanto, o apoio da iniciativa privada a tais organizações, demanda o
entendimento das limitações a serem enfrentada para se constituir uma ação
autêntica e bem intencionada, no sentido de suprir as carências do grupo, com as
dotações gestoras que promovam o sucesso da organização.
Este estudo assume, como hipótese fundamental, que o incentivo à formação de
empreendimentos sociais ou organizações socioprodutivas deve incorporar o modelo
da gestão social, de modo a ser eficaz no sentido de superar as deficiências e
fortalecer os saberes próprios do grupo constitutivo. Esse modelo deve orientar os
formatos dos projetos da responsabilidade social corporativa, caso o objetivo de
promoção ao desenvolvimento local seja assumido com todo o seu significado.
1.3 Responsabilidade Social Corporativa
A responsabilidade social de empresas tem origem em sua “decisão de participar
mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e minorar
possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce”.
(D`AMBROSIO et al., 1998, apud MELO NETO e FROES, 1999, p. 78). Porém, Melo
Neto (1999) reforça que somente estas iniciativas não garantem o exercício da
responsabilidade social. A elas devem se somar ações de preservação do meio
ambiente, de investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes, de
promoção da transparência, assegurando satisfação e sinergia que alcancem os
seus ”stakeholder”. Assim, Melo Neto e Froes (1999) relacionam os principais
vetores da responsabilidade social, quais sejam:
V1 apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; V2 preservação do meio ambiente;
31
V3 investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes em um ambiente de trabalho agradável;
V4 comunicações transparentes; V5 retorno aos acionistas; V6 sinergia entre parceiros; V7 satisfação dos clientes e/ou consumidores. (MELO NETO e FROES,
1999, p. 78).
Estes vetores aliam a gestão empresarial à dimensão social de uma empresa,
garantindo a responsabilidade social sob duas formas: interna, voltada para os
funcionários e seus dependentes; e externa voltada para a comunidade.
Na primeira metade do século XX, cientes da importância do seu papel social, as empresas passaram a se mostrar mais comprometidas com todos à sua volta, com a comunidade. Surgiram, então, os investidores sociais, que aplicam seus próprios recursos em projetos de interesse público, não através apenas da prática da caridade, mas por meio de ações voluntárias, planejadas e acompanhadas de perto. Tinham, e ainda têm como objetivo melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fortalecer laços de confiança com eles. (KRAEMER, 2005, p.3).
Na responsabilidade social externa, a empresa incorpora à comunidade, “os
recursos financeiros, produtos, serviços e know-how da empresa e de seus
funcionários”. (MELO NETO e FROES, 1999, p. 79). Nesse flanco se enquadra o
apoio aos empreendimentos sociais, entretanto, permeado pela lógica do capital, na
promoção da realização de negócios que possam transformar a condição social da
comunidade.
Nesse engajamento social, no contexto de sua dimensão externa, a empresa busca
demonstrar seu compromisso ético com a sociedade, dando-lhe um retorno pelo uso
e exploração dos recursos naturais. Desta forma se garante a realização de um
balanço social, proporcionando uma imagem positiva diante do mercado mundial
que propaga e vincula à comercialização de produtos práticas sociais justas e a
solução de problemas sociais pelas empresas. De acordo com Melo Neto e Froes
(1999) “é um mecanismo de compensação das perdas da sociedade em termos de
concessão de recursos para serem utilizados pela empresa”. (MELO NETO e
FROES, 1999, p. 84-85).
Com o tempo, são incorporadas ao conceito de responsabilidade social, novas
práticas. Uma delas refere-se ao desenvolvimento sustentável em sua dimensão
social, que “compreende os direitos humanos, dos empregados, dos consumidores,
32
o envolvimento comunitário, a relação com fornecedores, o monitoramento e a
avaliação do desempenho e os direitos dos grupos de interesse”. (MELO NETO;
FROES, 1999, p. 90). Esta dimensão, em conjunto com as dimensões econômica e
ambiental, compõem os pilares da sustentabilidade.
Assim, se de fato assumida a responsabilidade social pela empresa, essa poderá
contribuir tanto para a sustentabilidade e o desempenho empresarial quanto para o
desenvolvimento da sociedade e do seu entorno, proporcionando mudança na
realidade local e um exercício pleno de sua cidadania empresarial e de sua
responsabilidade social, como confirma Kraemer (2005)...
A responsabilidade social corporativa representa o compromisso com a ideia de organização como conjunto de pessoas que interagem com a sociedade. Assume o princípio de que as organizações têm sua origem e seus fins essenciais nas pessoas, as quais se organizam e se dispõem em diversos grupos de interesses, com peculiaridades e distintos tipos de relação. Contempla o impacto da ação da empresa em sua tríplice dimensão: econômica, social e ambiental, tendo como meta principal a consecução do desenvolvimento sustentável. (KRAEMER, 2005, p.3).
É dentro desse exercício de responsabilidade social que muitas empresas e suas
fundações/institutos desenvolvem projetos no contexto da linha de atuação do
empreendedorismo social, cujo fomento e fortalecimento se apresentam como
alternativa de renda para a população desfavorecida ou vulnerável do seu entorno.
Desse modo, os empreendimentos sociais são uma forma de enfrentamento dos
problemas sociais, que posicionam a economia a serviço da comunidade.
Segundo Melo Neto e Froes (2002) o empreendedorismo social difere do
empreendedorismo privado. O segundo tipo tem um foco individual, é centrado no
mercado e busca incessantemente o lucro. Já o empreendedorismo social foca as
pessoas, tem o intuito de utilizar a economia para possibilitar a solução de
problemas sociais e proporcionar a melhoria da qualidade de vida das comunidades.
Para ilustrar melhor tal distinção copia-se, a seguir, o quadro de Melo Neto e Froes
(2002).
33
Quadro 1: Diferenças entre Empreendedorismo Privado e Social
EMPRENDEDORISMO PRIVADO
EMPREENDEDORISMO SOCIAL
É individual É coletivo
Produz bens e serviços para o mercado Produz bens e serviços para a comunidade
Tem foco no mercado Tem foco na busca de soluções para os problemas sociais.
Sua medida de desempenho é o lucro Sua medida de desempenho é o impacto social
Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio
Visa resgatar pessoas da situação de risco social e promovê-las.
Fonte: MELO NETO e FROES, 2002, p. 11.
Portanto, incorporar e efetivar essa nova forma de exercitar a responsabilidade
social é fazer do empreendedorismo social um grande desafio para as grandes
empresas e demais instituições privadas, que com vistas em projetos de geração de
renda, lancem um olhar diferenciado para as comunidades pobres, contribuindo para
a mudança, promovendo o empoderamento das pessoas e instrumentalizando sua
ação.
Como forma de melhorar o seu campo de atuação social, as empresas, que abrigam
as ações de responsabilidade social corporativa, recorrem a parcerias com governo,
ONG´s, entidades da sociedade civil, instituições internacionais, para a execução de
seus programas, de modo a utilizar o “know how” que o terceiro setor vem
adquirindo no desenvolvimento de projetos de combate a pobreza e em especial, no
acompanhamento de negócios sociais e/ou empreendimento sociais.
O quadro abaixo de Melo Neto e Froes (1999) demonstra como essa empresa vem
desenvolvendo suas parcerias:
Quadro 2: Parcerias entre empresas, terceiro setor e governo
PARCERIA DESCRIÇÃO
Governo e Empresa A empresa privada fornece recursos para o governo desenvolver os seus projetos sociais.
Empresa e ONG A empresa contrata o serviço de uma ONG para desenvolver seus projetos sociais.
Empresa, ONG e sociedade civil.
A empresa desenvolve seus projetos sociais com o apoio de uma ou mais ONG’s e demais entidades da sociedade civil.
Governo, Empresa, ONG e sociedade civil.
O governo desenvolve seus projetos com recursos de empresas, com a participação de uma ou mais ONG’s e da sociedade civil.
34
Empresa e sociedade civil A empresa desenvolve seus projetos com a participação da sociedade civil.
Fonte: MELO NETO e FROES, 1999, p.24.
1.4 Sustentabilidade de um empreendimento social: dimensões e requisitos
Inicia-se essa discussão, trazendo o conceito de sustentabilidade, de caráter
ambiental/ecológico, publicado pela primeira vez pela ONU (Organização das
Nações Unidas) em 1987, qual seja: “conseguir prover as necessidades das
gerações presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em
garantir suas próprias necessidades”. Marcondes (2007) apud Alves Junior;
Fontenele; Faria (2008) incorporam outras dimensões à sustentabilidade, ao
caracterizar uma organização sustentável, conforme descrito a seguir:
Ser uma organização sustentável significa ser economicamente lucrativa, ambientalmente correta e socialmente responsável. Sendo assim, as ações de sustentabilidade precisam atuar como suporte das estruturas de gestão das organizações, e não apenas como ações pontuais. (MARCONDES apud ALVES JUNIOR; FONTENELE e FARIA, 2008, p. 4).
A questão da sustentabilidade vai além do aspecto de garantir as fontes de
financiamento, às quais a reduzem muitas organizações. De fato, “envolve, também,
um complexo conjunto de fatores que, por sua vez, reforçam a necessidade de
profissionalização dessas organizações”. (ALVES JUNIOR, FONTENELE e FARIA,
2008, p. 5). Esses autores recomendam às organizações, como pré-condições para
a sustentabilidade, a adoção das seguintes medidas:
(a) qualificar tecnicamente o trabalho; (b) compartilhar o projeto político/missão; (c) promover uma cultura e metodologia de planejamento e de monitoramento e avaliação; (d) aperfeiçoar os mecanismo de gestão; e (e) qualificar a participação interna e a democratização dos processos decisórios. (ALVES JUNIOR, FONTENELE e FARIA, 2008, p. 5).
Esses pontos fundamentais não são diferentes para os empreendimentos sociais,
que devem garantir todos esses requisitos, dentro de uma visão de gestão social,
com um olhar focado no negócio, no sentido de custear o empreendimento e gerar
renda aos associados e sobras para o reinvestimento na atividade ou na
comunidade, bem como, a preservação do meio ambiente local.
35
Os dados apresentados por Kraychete (2006), baseados no levantamento realizado,
em 2004, pela Secretaria Nacional de Informações em Economia Solidária
(SENAES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram a grande
dificuldade dos empreendimentos associativos alcançarem o equilíbrio financeiro.
Foram identificados quase 15 mil empreendimentos em 2.274 municípios brasileiros (o que corresponde a 41% do total de municípios), envolvendo mais de 1,2 milhão de pessoas; [...] a maior parte dos grupos se estruturou a partir dos anos 1990, tendo como principal motivação a busca de uma alternativa de trabalho face ao desemprego (citado 45% dos empreendimentos), seguida pela busca de uma fonte complementar de renda (44%) e pela possibilidade de obter maiores ganhos através de um empreendimento associativo (39%) [...] apenas 38% dos empreendimentos obtiveram uma receita capaz de pagar as despesas e ter alguma sobra. 33% conseguiram pagar as despesas sem obter sobras e 16% não conseguiram pagar as despesas. (KRAYCHETE, 2006, p. 5-6).
Para Kraychete (2006) a meta de equilíbrio financeiro em um empreendimento
associativo depende da habilidade dos associados frente às condições de
sustentabilidade, não somente de caráter econômico, mas também relacionadas a
processos de transformação social mais amplo.
Empreendimento associativo adquire condições de sustentabilidade quando os seus associados se encontram habilitados para assumir a sua condição. [...] neste termo a sustentabilidade dos empreendimentos econômicos não é um problema estritamente econômico, nem se equaciona no curto prazo, mas pressupõe ações políticas comprometidas com um processo de transformação social. (KRAYCHETE, 2006, p. 1).
Segundo Zwich, Pereira e Teixeira (2012), o empreendimento social, alicerçado em
seu tripé de apoio, sustenta-se em três dimensões operacionais, necessárias ao seu
desenvolvimento dentro de uma sociedade de mercado. Tais dimensões, úteis à
análise das organizações cooperativas são: a econômico-financeira, a institucional-
administrativa e a sociopolítica.
A gestão eficiente destas três dimensões é indispensável ao desenvolvimento de um
empreendimento social, segundo o seu formato jurídico – cooperativa, associação
ou outro. Por outro lado, elas são dinâmicas e atuam interdependentes e articuladas,
desenvolvendo-se de forma sistêmica dentro dos empreendimentos. Os formatos
como elas moldam os empreendimentos os assemelham, ou os diferenciam entre si,
de acordo com a realidade na qual estão inseridos, podendo confirmar um formato
36
voltado para a gestão social ou para a gestão estratégica tradicional, conforme será
refletido, a seguir.
A dimensão econômico-financeira visa o equilíbrio entre custos e rendimentos. De
acordo com Ventura et al. (2009), contribuem para esta dimensão as categorias
“Governança corporativa, [que] trata do governo estratégico da empresa com direitos
de propriedade e os responsáveis pela autogestão”. (VENTURA et al., 2009, p 32),
“tendo em vista a distribuição de poder entre as partes, tanto em relação à
propriedade quanto às responsabilidades”. (ZWICH, PEREIRA e TEIXEIRA, 2012, p.
9) [e à] Governança democrática “nas quais a participação nas decisões é um valor
basilar – e de autogestão” (VENTURA et al., 2009, p 35), ou seja, “a participação
constitui a base para a boa governança, no primado da autogestão” (ZWICH,
PEREIRA e TEIXEIRA, 2012, p.10).
Agrega-se ainda a essa dimensão o exercício da transparência, do controle social,
também assumindo características de controle público, bem como da
responsabilidade social, no sentido de aliar seu processo às boas práticas e ao
compromisso ético com o bem estar da comunidade para a promoção do
desenvolvimento local e da sustentabilidade.
A dimensão institucional-administrativa, em um formato mais interno à organização,
é composta das categorias planejamento, organização, direção, controle,
habilidades gerenciais e técnicas. Estas categorias desencadeiam uma forma de
gestão, que tende ou para uma forma mais autogestionária, baseada na gestão
social que se liga ao trabalho autônomo associado com meios de produção
socializados, ou, para uma forma mais heterogestionária, que apresenta uma clara
relação de submissão hierárquica em que os meios de produção estão separados da
força de trabalho, efetivando um trabalho assalariado individual. Este segundo
formato é estranho aos empreendimentos sociais.
Por último, a dimensão sociopolítica está associada à forma de participação dos
membros, permeada nos valores que regem a organização, que fazem parte do
processo educativo e do desenvolvimento do sentimento de pertencimento à
organização. A propriedade coletiva, o exercício de participação democrática no
37
processo decisório e na divisão das sobras proporciona a emancipação individual e
coletiva e, asseguram à autogestão.
Contudo, o empreendimento que priorize a concentração da propriedade em um ou
poucos membros, a organização hierarquizada, o lucro, a competição e os
benefícios individuais, tende à dominação e ao exercício da heterogestão.
Duarte e Teodósio (2013) destacam que os sujeitos envolvidos nos
empreendimentos sociais são cidadãos submetidos à vulnerabilidade social, os
quais se pretende resgatar do ciclo vicioso da pobreza. Daí a importância de se
buscar a cooperação para que, fortalecidos no conjunto, tenham a capacidade de
dinamizar processos de inovação que proporcionem sustentabilidade ao
empreendimento e resultem em transformação social.
De qualquer forma, pensar em sustentabilidade do empreendimento social, com
vista a resgatar meios eficientes de geração de renda em comunidades pobres,
segundo o modelo de organização coletiva, passa pela promoção da autonomia, por
meio da autogestão.
1.5 Produção associada e autogestão: concepções necessárias para os
empreendimentos sociais
O conceito de produção associada trazido por Tiriba (2008) ganha importância nessa
revisão de literatura na medida em que vem relacionado ao associativismo,
caracterizado “[...] pela construção de laços sociais calcados na confiança, na
cooperação e reciprocidade, o que confere aos seus membros, o sentimento de
pertencimento ao grupo”. (TIRIBA, 2008, p.81). Esse sentimento é uma condição
relevante no caminho para a autossustentabilidade de empreendimento sociais
comunitários.
Deste modo, a produção associada apresentaria como condição necessária que os
associados detenham a propriedade dos meios de produção, exerçam a gestão e o
38
controle do seu processo produtivo, bem como distribuam entre si os rendimentos do
seu trabalho. Segundo Tiriba (2008) a produção associada.
[...] pode ser entendida de duas maneiras, não necessariamente excludentes: quer como trabalho associativo ou processo em que os trabalhadores se associam na produção de bens e serviços, quer como a unidade econômica básica da “sociedade dos produtores livres associados”. (TIRIBA, 2008, p.81).
Para a autora, essa concepção não ousa querer transformar as relações capitalistas
da produção, mas sim demonstra que é possível ter outra forma de organização da
produção, onde “é possível organizar a produção em grande escala, sem ser pelos
moldes do grande capital” (SINGER, 2012, p.131). Assim, os associados podem ser
donos do seu trabalho, e devem ser formados para isso, dentro de um processo
pedagógico.
Nesse sentido, os processos educativos inspirados na pedagogia da produção associada contemplam, além dos atores da economia solidaria, os sujeitos da economia popular: aqueles que se situam nos espaços da cooperativa e outros empreendimentos solidários, mas todos aqueles que, com a utilização de sua própria força de trabalho participam do processo de reprodução ampliada da vida (e não do capital). (TIRIBA, 2004, 94).
A pedagogia da produção associada privilegia os saberes que abarcam “[...] a
socialização, a produção, a mobilização e a sistematização de saberes sobre o
mundo do trabalho que contribuem para a formação integral dos trabalhadores
associados” (TIRIBA, 2008, p. 89), para a efetivação de uma emancipação do
individual no que se refere a uma gestão onde os associados são protagonistas e
autores principais de seus processos de trabalho e de suas relações sociais, os
elevando a uma condição de autogestão.
A autogestão compreendida aqui concorda com a proposição de Singer (2013, p.4),
os “empreendimentos econômicos que praticam a autogestão, [...] aplicam a
democracia em sua gestão”. Segundo Singer (2008, p. 290) na autogestão os
associados são “proprietários de tudo o que é produzido, mas também os prejuízos
são deles”.
Segundo TIRIBA (2008), a autogestão garante a “autonomia e autodeterminação na
gestão do trabalho e em todas as instancias das relações sociais”, (TIRIBA, 2008,
39
p.83), ou seja, o associado passa a ser “senhor de si mesmo” e do seu trabalho e
torna-se um sujeito atuante e participativo em seu empreendimento.
Nessa perspectiva, o associado torna-se um sujeito emancipado, ou seja, a
emancipação ocorre “[...] quando a lei maior é o bem comum, objetivo e
universalizante”. (CATTANI, 2003, p.130). De acordo Cattani (2003), o conceito de
emancipação social vincula-se a autonomia e nesse sentido, os indivíduos
emancipados e autônomos possuem a liberdade, pautada no coletivo e na
solidariedade e a independência pautada na consciência libertadora e na conquista.
Portanto,
[...] ao se libertar, escapando da manipulação, o ser humano pode passar a ter mais claro para si que ele vive em comunidade, as questões referentes à solidariedade e sustentabilidade podem se tornar óbvias, de certa forma. (CANÇADO; PEREIRA; TENORIO, 2013, p.167).
Diante do exposto, o empreendimento social retratado considera fundamental que a
sua direção seja pautada na autogestão promotora da autonomia e emancipação de
seus sócios para que de fato a sustentabilidade do empreendimento venha a se
tornar uma realidade concreta.
1.6 Considerações finais: a proposição de um tempo social para o
empreendimento
Os empreendimentos sociais são, em sua grande maioria, apoiados por instituições
públicas e/ou privadas. Quando apoiados por órgãos públicos, abre-se o leque para
o desenvolvimento de uma área de apoio à gestão pública das políticas sociais,
contribuindo para a implementação de iniciativas de geração de renda. Quando
apoiados por instituições privadas, essas efetivam sua área de responsabilidade
social, apoiando negócios locais e fortalecendo organizações sociais.
As iniciativas apoiadas devem ser contextualizadas como agentes de
desenvolvimento dentro de um local, a partir de relações que existem em
determinado recorte territorial, onde as pessoas estão envoltas em fragilidades
40
sociais, desprovidas de condições dignas de habitabilidade, de acessos a serviços
básicos e, vivendo em situação de desemprego ou subemprego.
Deste modo, conforme Dowbor (2007), a qualidade de vida depende da iniciativa
local, tanto das pessoas como de empresas, instituições privadas, preocupadas com
o seu entorno. É junto a essa iniciativa que empresas estão promovendo a
valorização das pessoas, do local e dos recursos existentes por meio do fomento
e/ou fortalecimento de empreendimentos sociais.
Segundo Oliveira (2004), um processo de gestão social desses empreendimentos,
apresenta “uma cadeia sucessiva e ordenada de ações, que podem ser resumidas
em três fases: a) concepção da ideia b) a institucionalização e maturação da ideia e
c) a multiplicação da ideia”. (OLIVEIRA, 2004, p.16).
É na fase de maturação da ideia de um empreendimento social que se faz
importante o estudo aprofundado do caminho trilhado pelo mesmo, desde seu
nascimento até sua maturidade com vista a obter elementos da efetiva
implementação do empreendimento e o alcance de sua sustentabilidade.
Segundo Silva (1986), “o tempo social é uma designação sucinta para o conceito de
representação social do tempo, cunhado pela escola sociológica francesa”. (SILVA,
1986, p.1205).
De acordo com os estudiosos dessa escola, é própria do tempo uma classificação
social que concede a ele, também, uma noção de “ritmar”, que é intrínseco à vida
social das pessoas, podendo ser o seu andar, o seu caminhar, o seu ritmar, que
mesmo dentro do tempo físico, cronológico, garante a elas características,
representações únicas e ritmadas dentro de um contexto social.
Hubert, em seu Etude sommaire de la representation du temps dans la religion et la magie (Paris, École Pratique des Hautes Etudes, 1905), ressaltou que é próprio das classificações sociais do tempo “ritmar” e não “medir”. Essa convicção de um ritmo social, intrínseco a vida coletiva, estava inicialmente ligada à oposição entre sagrado/prafano e as especulações sobre a relação entre os calendários e rituais [...] A noção de ritmo social permanece como fundamental para analise antropológica das
41
representações sobre o tempo. Como diz. E. R Leach “... na realidade criamos o tempo, ao criar intervalo na vida social”. (SILVA, 1986, p.1205).
Este tempo social é o tempo demandado para se preparar e emancipar pessoas em
condição de vulnerabilidade social visto suas condições educacionais, culturais e
suas qualificações frágeis e destituídas de características empreendedoras,
necessitadas de serem fortalecidas e perceberem as complementaridades no
coletivo e aprenderem a desempenhar seus papeis em processos autogestionários
com a realização de um processo decisório que as levem a alcançar a
sustentabilidade de seus negócios.
É um grande desafio tornar tais iniciativas sustentáveis capazes de mudar a
realidade dos sujeitos envolvidos, pois, deve ser considerar um processo de
introjeção de valores solidários e cooperativos, além do estabelecimento uma cultura
empreendedora, baseada em princípios da gestão social. Isso demanda um
processo educativo, que opera em uma lógica de prazos longos, mas que,
atualmente, está comprometida com a expectativa dos apoiadores, segundo sua
lógica de curto prazo.
Segundo Martins, Vaz e Caldas (2010) em seus estudos sobre experiências que
envolveram a produção, a acumulação e distribuição de renda gerada e gerida
socialmente para o desenvolvimento local no Brasil, um dos elementos de sucesso
identificado foi a demonstração da possibilidade de mudar de vida por meio do
trabalho coletivo e despendendo o tempo necessário para superar as fragilidades
pré-existentes.
Outro elemento de sucesso de experiência é o tempo de execução de cada uma das etapas. Não se tratou de um tempo subordinado à lógica do capital, nem à lógica política ou institucional [cronológico], mas de um tempo próprio da comunidade e de sua população, ou seja, de longo prazo. . (MARTINS; VAZ; CALDAS, 2010, p. 575).
Assim, os sujeitos mobilizados na formação deste tipo de empreendimento
necessitam de uma formação centrada na emancipação e autonomia do individuo e
no seu processo de gestão, assim como para a atuação em associação de formato
solidário que possibilite a compensação das fragilidades individuais no coletivo.
42
Para tal, é necessária a preparação das pessoas para a autogestão. A autogestão
influencia para uma gestão social. Segundo Maia (2005) a gestão social é:
Um conjunto de processo sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário, emancipatório e transformador e é fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania [...] com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder. (MAIA, 2005, p. 15 a 16).
Por fim, não se pode perder de vista, em um empreendimento social o processo de
formação de base, alicerçada nos valores solidários e de cooperação, na autogestão
e no empoderamento dos associados como “donos do negócio” no sentido de que,
ao nível individual, constate a sua importância no processo e, ao nível coletivo,
constate a sua corresponsabilidade frente ao empreendimento. Além de promover e
estabelecer articulação em rede com outros empreendimentos sociais, sem perder
de vista os requisitos dos investimentos “centrados em aspectos sociopolíticos e
técnicos e [nas] interações com o mercado”, (DIAS; SOUZA, 2012, p. 18), buscando
sustentar a inovação em arranjos locais, sem deixar perder a essência cooperativa
dentro de uma cadeia de valor para uma economia social.
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47
2. RELATO DE PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DA REALIDADE DOS
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DO TEMPO SOCIAL
AMARAL, Odnélia Cristina S. de6
MELLO, Ediméia Maria Ribeiro7
Resumo
Este artigo relata a pesquisa que visou a analise dos empreendimentos sociais sob a perspectiva do tempo social, com o intuito de compreender a dinâmica desses empreendimentos, inferindo o seu tempo de amadurecimento e o seu processo de gestão, por meio do delineamento de suas fases de execução até a sustentabilidade. A pesquisa exploratória-descritiva de viés qualitativo foi desenvolvida no período de agosto a novembro/2014 e utilizou entrevistas individuais e grupos focais com duas instituições apoiadoras e três empreendimentos sociais indicados por elas, localizados em Minas Gerais e no Pará. O conhecimento adquirido com a pesquisa forneceu elementos orientadores para a inferência do tempo social do empreendimento social e a confirmação da necessidade de monitoramento do empreendimento para o caminho da autogestão e da autossustentabilidade. Palavras-chave: Linha do Tempo Social; Mapa de Indicadores; Tempo Social; Empreendimento Social; Gestão Social.
Abstract
This article reports the research aims to analyze the social entrepreneurship under the perspective of social time in order to understand the dynamics of these establishments. The goal was to verify their maturing time and management process, through the design of its implementing phases to sustainability. The exploratory-descriptive research with qualitative orientation was developed from August to November 2014 trough individual interviews and focus groups within two supporting institutions and three social entrepreneurship indicated by those institutions. The researches occurred in de states of Minas Gerais and Pará. The knowledge obtained through the research provided guiding elements with for the inference of social time of social Social entrepreneurship and confirmed the need for project monitoring on the path of self-management and self-sustainability. Key words: Online Social Time; Indicators Map; Social time; Social Entrepreneurship; Social management;
6 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local
no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 7 Orientadora e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].
48
2.1 Introdução
O espaço de investigação dessa pesquisa é delimitado pelo cenário de desafios e
conquistas da sustentabilidade dos empreendimentos sociais de geração de renda
localizados no estado de Minas Gerais e no estado do Pará.
Sua finalidade foi compreender a dinâmica desses empreendimentos, focado no seu
tempo de amadurecimento, que envolvem observar, na trajetória já percorrida, o
amadurecimento dos associados, dos gestores, bem como, a evolução do processo
de gestão e de organização, por meio do delineamento de suas fases de execução
até a autossustentabilidade.
A experiência vivenciada pela autora dessa dissertação, ao longo de sua vida
profissional, em instituições privadas apoiadoras de empreendimentos sociais
geradores de renda, possibilitou conhecer a urgência dos investidores/apoiadores
externos de que os empreendimentos se tornassem autossustentáveis.
Compreendeu-se, nessa expectativa, a influência da gestão capitalista das
empresas financiadoras e apoiadoras, nos empreendimentos sociais apoiados por
essas iniciativas privadas, que partem da sua experiência empresarial para
estabelecer um tempo, em sua maioria de curto prazo, para que atinjam a
sustentabilidade, cessando tanto o investimento como o apoio.
O financiamento e o apoio oferecidos, muito frequentemente, contemplaram
empreendimentos que, em sua maioria, decorrem de formações coletivas com o
intuito de gerar renda, para um determinado grupo heterogêneo, constituído de
forma aleatória dentro de uma comunidade, e que, portanto, reúne pessoas com
diferentes concepções de negócios – negócios sociais – e diferentes formações
educacionais a serem transformadas em empreendedoras. Essas peculiaridades dos
negócios coletivos em formação, empreendimentos sociais típicos, implicam na
necessidade de um tempo de maturação, denominado nessa pesquisa de tempo
social, qual seja: o tempo das pessoas, não cronológico ou empresarial, mas o
49
tempo conhecido como “kairós” 8, palavra originaria da lingua grega antiga que
significa “o momento oportuno”, "certo" ou “supremo” e segundo a mitologia grega
pode estar presente dentro do espaço de um tempo fisico, determinado por
“Chronos”.
Os gregos antigos tinham duas palavras para designar o tempo: chronos e kairos. O primeiro refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, enquanto o último é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. Pode-se afirmar, de forma bastante simplificada, que chronos é o tempo humano, portanto, medido e descrito contemporaneamente em unidades de anos, dias, horas e suas divisões. Já kairos seria o tempo divino, o tempo vivido, subjetivo, que não é passível de medições. (KUSTER, 2013, p.148).
Assim, kairós seria o tempo das pessoas, diferente do tempo do relógio, e das
metas.
Portanto, a pesquisa representou um esforço no sentido de conhecer o tempo real
de maturação do empreendimento social, na busca de parâmetros relevantes para a
sua inferência, no sentido de se analisar o seu caminho para atingir a
autossustentabilidade.
A seguir, detalha-se a metodologia aplicada e apresenta-se a análise dos resultados
de acordo com os objetivos propostos.
2.2 Metodologia aplicada
Os tópicos a seguir descrevem os participantes da pesquisa e as metodologias de
abordagem adotadas, constituídas por entrevistas presenciais e individuais e grupo
focal, com destaque para duas dinâmicas associadas aos grupos focais, quais
sejam: a construção da linha do Tempo Social do empreendimento e o mapa dos
indicadores de satisfação dos membros com o empreendimento.
8 Segundo o dicionário grego-português e português-grego, kairós significa oportunidade, ocasião,
tempo conveniente, vantagem, utilidade, tempo presente, as circunstancias, tempo particular [...].
(ISIDRO PEREIRA, 1998).
50
2.2.1 Sujeitos da pesquisa
A seleção amostral adotada para a realização da pesquisa de campo foi intencional,
caracterizada como “não aleatória”, pois não se pretendeu realizar inferência
estatística, mas, sim, utilizar a estatística descritiva para isolar os eventos que
explicam a evolução de um empreendimento social com vistas em conhecer a sua
lógica interna (MARCONI & LAKATOS, 1996; OLIVEIRA, 1997), bem como os
indicadores que permitam dimensionar o tempo requerido para o alcance da
autossustentabilidade.
Os critérios para a escolha dos empreendimentos foram: ser uma organização
produtiva coletiva, geradora de renda para os seus associados e ser apoiados por
instituições privadas. Por outro lado, foram escolhidos empreendimentos em
diferentes estágios em seus ciclos de vida, o que veio a contribuir para a descrição
da trajetória percorrida por eles em seu tempo social.
A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de agosto e novembro de 2014.
Ressalte-se que, inicialmente, foram previstos três instituições apoiadoras (uma no
estado do Pará e duas no estado de Minas Gerais) e quatro empreendimentos
sociais (dois no estado do Pará e dois no estado de Minas Gerais). Infelizmente não
foi possível coletar as informações completas em todos os empreendimentos e
apoiadores previstos. Houve incompatibilidade de agenda com um dos
empreendimentos mineiro e seu apoiador.
Em síntese, a pesquisa contemplou duas instituições apoiadoras, uma no estado do
Pará e outra no estado de Minas Gerais, e três empreendimentos, dois já
formalizados, no Pará, uma associação agroextrativista e outra cooperativa de
costura industrial, e um Grupo Produtivo em Minas Gerais. A Figura1 a seguir mostra
a lógica amostral realizada:
ANGLO
AMERICAN
51
Figura 1: Lógica amostral da pesquisa de campo
Obs.: (1) A pesquisa se restringiu ao terceiro setor. (2) RSC: Responsabilidade
Social Corporativa. (3) $: oferta de financiamento; AT: oferta de assistência técnica.
Os sujeitos da pesquisa foram abordados segundo os seguintes procedimentos9: os
componentes das diretorias da Associação, da Cooperativa e do Grupo Produtivo
informal e os representantes das instituições apoiadoras, em entrevistas individuais
e submetidos a um roteiro semiestruturado. Os associados, em grupos focais
estruturados, organizados de acordo com a disponibilidade dos participantes.
9 Esta pesquisa, em virtude de envolver seres humanos, foi submetida e aprovada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA, sob o número 629.924 (Anexo III). Dessa forma todos os procedimentos previstos na Resolução 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos foram obedecidos.
3º
SETO
R
EXECUTOR DE
PROGRAMA RSC
EMPREENDIMENTO
SOCIAL:
ASSOCIADOS
DIRETORIA
2º
SETO
R
GESTOR DO
PROGRAMA RSC
AT
02
EMPRESAS
FINANCIADORAS
02
INSTITUIÇÕES
APOIADORAS
03
EMPREENDIMENTOS
$
52
2.2.2 Entrevistas individuais realizadas e instrumento de pesquisa
A realização das entrevistas individuais, exceto uma delas, antecedeu a
implementação dos grupos focais e contemplou os diretores dos empreendimentos
pesquisados e as instituições apoiadoras, relacionados, a seguir, por instituição:
Na Associação Agroextrativista paraense, foram entrevistados o presidente e
o tesoureiro, ocupantes de cargos diretivos desde o inicio do
empreendimento.
Na Cooperativa paraense foram entrevistadas a presidente e a vice-
presidente, também, ocupantes de cargos diretivos desde o início do
empreendimento.
No Grupo Produtivo mineiro, pelo fato de ainda ser um grupo informal, foi
entrevistada uma pessoa de referência no grupo da fibra de bananeira.
A Fundação Social paraense, por sugestão do coordenador entrevistado,
proporcionou incluir, além da entrevista concedida por ele próprio, entrevistas
com os técnicos que acompanharam e deram apoio aos empreendimentos,
para conhecer o ponto de vista deles.
Em Minas Gerais, o Instituto Social indicou duas representantes para
participar das entrevistas, quais sejam: a diretora institucional e a
coordenadora de projetos de geração de renda.
Os roteiros de entrevistas preestabelecidos para os apoiadores (Apêndice I) visaram
conhecer seus pontos de vista e o acompanhamento realizado por eles aos
empreendimentos, buscando as seguintes informações: modo de seleção do
empreendimento, visão de empreendimento social, concepções de apoio para
garantir a formação e a sustentabilidade do empreendimento, e visão sobre o
momento adequado para suspender o apoio, entre outras.
Para os membros da direção dos empreendimentos sociais adotou-se o roteiro
disponível no Apêndice II, cujo objetivo foi conhecer as formas de gestão, conforme
o entendimento deles, situação financeira e de como é dado o suporte pela
instituição apoiadora, bem como indicadores de monitoramento da evolução do
empreendimento, entre outras.
53
Segundo Fraser e Gondim (2004) a entrevista está sujeita a influências verbais e
não verbais, sendo as entrevistas semiestruturadas mais utilizadas em pesquisas
qualitativas em que o entrevistado fica livre para discorrer sobre o assunto e segue
apenas um roteiro de tópicos, sendo mais flexível para obter a informação
pretendida. É importante ressaltar que o entrevistado e o entrevistador podem
chegar a conclusões distintas sobre o assunto, devendo o pesquisador, durante sua
análise, deixar bem claro as concepções percebidas sobre o assunto.
2.2.3 Grupo focal associado a dinâmicas estruturadas participativas
Os membros dos empreendimentos foram convidados a participar nos grupos focais
e tiveram a liberdade de recusar. A seleção dos participantes utilizou critérios de
“acessibilidade” (FREITAS; FREITAS; DIAS, 2012, p. 1208) e buscou associados
dos empreendimentos ou componentes do grupo produtivo, com uma vivência maior
das experiências, informada pelos apoiadores, sendo em sua maioria, presentes
desde a fundação do empreendimento, ou membros que não necessariamente
estiveram desde o início, mas que trouxeram contribuições importantes para o
empreendimento social.
A metodologia de grupo focal é conhecida como uma técnica de avaliação que
oferece informações qualitativas e permite diferentes interações. Na pesquisa esta
técnica foi aplicada a grupos formados por 6 a 12 pessoas, e sua implementação
seguiu os seguintes passos:
1. Apresentação do objetivo e dos participantes identificados com crachá para
facilitar a organização do grupo;
2. Leitura coletiva e esclarecimentos de duvidas sobre os termos de
consentimento livre esclarecido (TCLE), anexo I, e de autorização de uso de
depoimento e imagem, disponível no anexo II;
3. Orientações para melhor funcionamento do grupo focal: identificação do nome
no momento da fala e manutenção do foco no assunto; e
4. Apresentação do roteiro.
54
Um roteiro estruturado (Apêndice III) direcionou o modo de organização de
parâmetros para as discussões do grupo, visando obter dados sobre a evolução e o
processo de gestão do empreendimento, a visão sobre os apoiadores, as
dificuldades e as facilidades vivenciadas e as contribuições do empreendimento nas
vidas dos participantes.
Foram associadas duas dinâmicas participativas na técnica de grupo focal: a
construção da linha da vida10 do empreendimento, adaptada à pesquisa como o
nome de Linha do Tempo Social e o mapa dos Indicadores de Satisfação dos
membros com o empreendimento. A aplicação dessa metodologia objetivou levantar,
de forma participativa, informações objetivas e subjetivas a cerca da história e dos
tempos da organização.
A ferramenta Linha do Tempo Social apresentou aos participantes fases e eventos
pré-estabelecidos de um empreendimento social, desenvolvidos a partir do
referencial teórico e da experiência com empreendimentos sociais. Já se esperava
que, no decorrer da prática, esses, não necessariamente todos, e na mesma ordem
proposta, se confirmassem. Dessa forma, os participantes preencheram uma escala
temporal horizontal, apresentada previamente, demarcando os divisores de fases e
eventos, conforme quadro 1 abaixo:
10
A ferramenta da construção da linha da vida é desenvolvida pela metodologia Desenvolvimento
Organizacional Participativo (DOP), difundida pelo ORGANIPOOL e pela Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) que é uma Agência Alemã de Cooperação Técnica.
55
Quadro 1 Linha do Tempo Social Pré-Estabelecida para a Pesquisa
Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de
planos/projetos
Implantação do
empreendimento
Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio
F1: constituição dos
membros
F2: estrutura
organizativa
F3: modelo de gestão
F4: modelo de
remuneração
F5: divisão de
tarefas/modo de
funcionamento do
grupo
F1: formalização da
direção
F2: registro e
legalização da
entidade
F1: acessos aos
recursos financeiros e
materiais
F2: definição do
produto
F3: definição de
mercado
F4: planejamento de
produção
F5: definição de
valores
F1: instalação física
F2: compra de
equipamento/
maquinários
F3: organização da
produção
F4: estabelecimento
de fornecedores
F1: produção iniciada
F2: estoque
F3: formação do custo
F4: controle de
qualidade do produto
F1: estabelecimento
da freguesia
F2: estabilidade entre
a produção e
colocação da
produção
F3: formação do preço
F4: realização da
receita
F1: ponto de equilíbrio
(receita = custo)
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Para cada fase:
ano/mês/dia de início
ano/mês/dia de fim
Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado
OBS: F1= Fase 1; F 2= Fase 2 e assim sucessivamente. Acima estão às fases pré- estabelecidas e apresentadas aos participantes.
56
A construção da Linha do Tempo Social teve início com a sua fixação, na parede ou
no chão, e a apresentação aos participantes das tarjetas pré-definidas dos marcos e
eventos possíveis de terem ocorrido. Em seguida perguntou-se ao grupo, o tempo
de duração de cada um dos marcos, por exemplo: quanto tempo levou a fase da
formação do coletivo? Depois, perguntou-se sobre os eventos ocorridos dentro da
fase, por exemplo: quais os eventos ocorreram na formação do coletivo? Quanto
tempo foi consumido na constituição dos membros?
Desse exercício resultou a linha do tempo social do empreendimento pesquisado
(Foto 1)
Linha do Tempo Social do Empreendimento. 2014.
Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015. Acervo AMARAL, BH/MG.
Foto 1
Anotou-se o tempo cronológico informado, percebido a partir das experiências
vivenciadas pelos associados e membros dos grupos no desenvolvimento do
empreendimento. Perguntou-se, também, aos participantes se o tempo informado
teria sido suficiente, ou se foram necessários acréscimos ao tempo inicialmente
planejado. As informações dos tempos cronológicos por grupos de diversos
empreendimentos, segundo hipótese de trabalho, provavelmente viria a confirmar a
crença que há variação de tempo, não obedecendo a padrões lineares para a
57
superação de fases entres os empreendimentos sociais. Fato importante de ser
demonstrado para o reconhecimento da existência de um tempo social não
redutível a um cronograma padrão.
Após a elaboração da Linha do Tempo Social do empreendimento, os participantes
foram convidados a refletir/discutir, em grupo, sobre as dificuldades, facilidades e
aprendizados, bem como sobre o futuro do empreendimento, sentimento de
pertencimento, o tempo e as condições para o avanço para autonomia, ou seja, a
independência em relação às instituições financiadoras/apoiadoras.
Para a finalização do grupo focal foi utilizada uma ferramenta visual, denominada no
projeto de pesquisa de Mapa de Indicadores de Satisfação11, para captar, de forma
participativa, as informações relativas a retornos positivos usufruídos pelos
membros, decorrentes da participação nos empreendimentos. Os participantes
foram convidados a observar três painéis que apresentavam alguns indicadores a
serem ordenados por eles, segundo a importância atribuída. Os painéis continham
indicadores agrupados nos seguintes painéis:
Painel Pessoal – dividido em 04 partes, continha os seguintes indicadores:
realização profissional/vocação; melhoria de qualidade de vida; novos
conhecimentos adquiridos; retorno e/ou términos dos estudos. Nesse painel, o
objetivo era que o participante deveria fazer uma analise pessoal dos ganhos
proporcionados pelo empreendimento.
Painel Família – dividido em 04 partes, continha os seguintes indicadores:
aumento da renda familiar; participação em reunião e eventos de interesse
comunitário; aquisição de bens e moveis e remuneração satisfatória. Nesse
painel o participante deveria considerar suas responsabilidades em coletivos.
Painel Profissão/Negócio – dividido em 04 partes, continha os seguintes
indicadores: satisfação com o trabalho; satisfação com o grupo; participação
no processo decisório e sensação de pertencimento e dono do negócio.
Nesse painel o participante deveria considerar o seu trabalho no
empreendimento.
11
Essa ferramenta foi elaborada com base na mesma lógica do mapa do conhecimento da metodologia Desenvolvimento Organizacional Participativa (DOP).
58
Para dar início à dinâmica, os participantes foram convidados a se dirigir aos painéis,
para avaliar um painel de cada vez, munido de três bloquinhos de etiquetas de cores
(vermelho, laranja e amarelo) a serem afixadas em cada painel. Neste momento, foi
feita a seguinte pergunta: o que você considera mais importante dentre esses
indicadores relacionados à satisfação que seu empreendimento lhe proporciona?
Escolha três em ordem de importância. Assim, eles responderam ao comando de
apontar os indicadores nos painéis, em ordem de importância, por meio da
colocação das etiquetas seguindo a legenda: a etiqueta vermelha, para o indicador
mais importante; a laranja, para o segundo indicador mais importante; e o amarelo,
para o terceiro indicador mais importante.
Foi esclarecido que não seria necessário usar todas as cores no mesmo painel, se
assim o preferissem. Deste modo os participantes direcionaram-se aos painéis e
realizaram suas marcações. Os painéis iam sendo coloridos e as cores
predominantes, em cada uma das partes dos painéis, demonstravam os graus de
importância dos indicadores para o grupo de participantes da atividade.
Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.
Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015. Acervo Amaral, BH/MG.
Foto 2
59
É importante acrescentar que o formato realizado para conseguir obter do grupo os
indicadores de satisfação, ao oferecer um mapa visual por meio de painéis,
possibilitou ao grupo um movimento direcionador que possa ter demonstrado a
representatividade do empreendimento em suas vidas. Além disso, a ferramenta
visual teve um efeito instigante sobre o grupo, incentivando maior participação e
interesse no processo.
2.2.4 Metodologia de análise dos resultados
A análise de dados foi realizada à luz dos objetivos e das hipóteses básicas
apresentadas no projeto e a sua interpretação referenciada nas teorias estudadas, a
partir da abordagem de análise de conteúdo que “consiste em demonstrar a
estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes
características e extrair sua significação”. (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 214).
Segundo Freitas; Freitas; Dias (2012) não devem ser seguidas regras rígidas, mas
ser construídas etapas de análise possíveis de acordo com a percepção do
pesquisador.
Em se tratando de uma pesquisa qualitativa, para a análise das informações tomou-
se por base à análise de conteúdo de Bardin (1979) em que foi adaptada em parte
na analise das categorias elencadas. Oliveira et al (2003) destacam Bardin (1979)
como uma referencia para a obtenção das principais etapas da análise de conteúdo,
quais sejam: (a) organização do material de trabalho (parte da escolha, passa pela
rápida organização para a manipulação); (b) definição da unidade de registro
(palavra ou conjunto de palavras, obedecendo a critérios formais ou semânticos); (c)
definição e delimitação do tema; (d) definição de categorias (com base na orientação
teórica e nos objetivos da pesquisa); (e) contagem e análise frequencial; (d) análise
estatística multivariada e interpretação.
Segundo essas recomendações, as principais categorias de análise definidas se
dividiram entre as indicativas das condições necessárias para o alcance da
autossustentabilidade do empreendimento e as categorias presentes nas fases
percorridas até a autossustentabilidade. São elas:
60
a) Coletivo do empreendimento;
b) Organização e divisão do trabalho (estrutura);
c) Remuneração e distribuição das sobras;
d) Treinamento e aprendizagem da dinâmica do negocio;
e) Planejamento, direção e controle;
f) Captação de recursos (financiamento do investimento e do capital de giro e
acesso a políticas públicas);
g) Participação no processo decisório;
h) Autonomia e visão de pertencimento;
i) Diversificação e inovação de produto (qualidade);
j) Distribuição do produto (logística, comercialização, marca e mercado);
k) Melhoria na qualidade de vida dos associados (levantamento da satisfação).
Essas categorias foram fundamentais para a análise da constituição dos
empreendimentos sociais e do tempo despendido em cada uma delas, para a
reflexão do tempo social e da condição de autossustentabilidade.
A pesquisa resultou no aprofundamento do conhecimento relativo ao processo de
autogestão para a sustentabilidade de um empreendimento social, com o foco no
seu tempo de maturação: tempo social.
2.3 Resultados da pesquisa
2.3.1 Expectativa com relação aos tempos dos empreendimentos e
observações gerais do trabalho de campo
Durante o planejamento da pesquisa, realizou-se uma classificação dos estágios
esperados dos empreendimentos a serem pesquisados, baseado no tempo
dedicado a eles pelo apoiador, resultando na seguinte classificação: o Grupo
Produtivo mineiro estaria em um estágio intermediário; a Cooperativa mineira, cuja
investigação não foi completada (conforme explicado no tópico sobre os sujeitos da
pesquisa), estaria num estagio inicial; a Cooperativa e a Associação paraense
61
estariam em um estágio mais avançado, contempladas há mais tempo por
apoiadores externos. Entretanto, essa classificação não se sustentou, após a
realização da pesquisa.
Após a análise no campo, nova classificação foi realizada, reposicionando os
empreendimentos coletivos entrevistados da seguinte forma:
1. As experiências contatadas em Minas foram percebidas em estágio
embrionário de formação. Foram, então, reclassificadas: uma, em fase inicial,
e, a outra, em fase intermediaria, em seus ciclos de vida. O Grupo Produtivo
mineiro, em fase inicial, pois ainda necessita trilhar algumas etapas e fases
importantes e necessárias para o desenvolvimento de um empreendimento,
apesar de já ter anos de apoio recebido.
2. As informações obtidas no contato incompleto realizado na cooperativa
mineira demonstraram uma longa historia de construção, de investimento, de
conquistas e desafios superados antes do apoio despendido pela instituição
apoiadora, avaliando-se que se encontra e encontra-se em um nível de
organização intermediária, mesmo com as dificuldades de participação por
parte dos membros.
3. A Cooperativa e a Associação paraenses demonstraram encontrar em
estágios mais avançados na direção de se tornarem empreendimentos
autossustentados.
Antes de serem apresentados os resultados da pesquisa por empreendimento
pesquisado, serão tecidas algumas observações de caráter geral sobre a
construção da Linha do Tempo Social no grupo focal.
Em todos os três empreendimentos sociais, a Linha do Tempo Social, apresentada
para os grupos refletirem, foram alterados tanto na ordem, quanto na inclusão de
novas fases. Houve eventos previstos dentro de cada marco/fase migrados para
outro marcos, assim como, foram inseridos novos marcos/fases em todas as linhas
reconstruídas.
62
O tempo de duração de cada fase, apontado pelos participantes, também, variou
entre os grupos, destacando a possibilidade de definição de um padrão. Além disso,
todos os grupos mudaram as ordens dos eventos e acrescentaram fases e eventos.
Por outro lado, na maioria das vezes, não souberam estabelecer com precisão o
período de duração para as fases / eventos. Nesse sentido, destaque-se que, em
todos os três grupos focais, apareceu um marco/fase “capacitação”, comum aos
mesmos e com dada importância, tendo sua ordem de ocorrência variando entre os
grupos.
Assim, cada grupo focal construiu uma Linha do Tempo Social diferente, variável de
um empreendimento para outro, em virtude das diferentes realidades, bem como, do
formato e da complexidade do negócio.
Este exercício proporcionou aos participantes refletirem sobre os caminhos
percorridos pelos empreendimentos, uns, iniciando sozinhos; outros, iniciando com
parceiros e apoiadores, proporcionando a pensar o caminho para a sustentabilidade
do empreendimento.
Percebeu-se, no decorrer da aplicação da metodologia, a importância do
pesquisador aproximar-se da realidade local, previamente à construção da
metodologia, visto que alguns dos termos técnicos relativos às fases/eventos da
linha da vida demandaram esclarecimento aos associados. A citação, a seguir,
demonstrou isso:
O que eu acho que está faltando entender os questionamentos dela primeiro, para poder ser respondido. Essas palavras se aplicam mais pra lá [outra região]. E que tem palavras mais técnicas e eles tem que tentar compreender para responder. Eu acho que precisa pergunta em que sentido está, por exemplo, sentido de estoque eu pensava em outro sentido. (ESAX_PAGF3).
Outro ponto verificado foi o tempo necessário para o desenvolvimento do grupo
focal. Previu-se de 1h30 a 2h00, mas o horário se estendeu devido, principalmente,
à leitura, esclarecimento de dúvidas e assinatura do TCLE e do termo de autorização
63
de imagens e depoimentos, necessários à realização da pesquisa com seres
humanos, estendo em média 40 minutos em relação ao tempo previsto.
2.3.2 Codificação dos participantes da pesquisa para a preservação do
anonimato
Em respeito às prescrições éticas, os participantes da pesquisa foram mencionados,
nesta análise, segundo um sistema de codificação. Os membros do empreendimento
social não formal mineiro, denominado Grupo Produtivo pelo Instituto Social que o
indicou, serão identificados conforme os códigos a seguir:
Entrevistado Código Identificador
Grupo produtivo Fibra de Bananeira/Bambu = ESGP_MG2012/2013
Representante grupo produtivo ESGP_MGR
Grupo produtivo Fibra Bananeira/Bambu – Grupo
Focal (8 participantes)
ESGP_MGGF1 a ESGP_MGGF8
Instituto Social apoiador = IS_MG
Diretora Institucional IS_MGDI
Coordenadora de projeto IS_MGCP
No Pará, a pesquisa abordou dois empreendimentos sociais formais. Um é uma
associação rural, pertencente à área agroextrativista; e o outro uma cooperativa
urbana, pertencente à área de costura industrial, ambos apoiados por uma
Fundação Social local, por meio de uma incubadora social a ela vinculada. A
codificação desses empreendimentos, adotada nessa pesquisa será:
64
Entrevistado Código Identificador
Empreendimento Social Agroextrativista = ESAX_PA2001
Diretor – presidente ESAX_PADP
Diretor – tesoureiro ESAX_PADT
E.S Agroextrativista – Grupo Focal (12 participantes). ESAX_PAGF1 a ESAX_PAGF12
Empreendimento Social Costura Industrial = ESCI_PA2006
Diretora – presidente ESCI_PADP
Diretora – vice presidente ESCI_PAVP
E.S Costura Industrial - Grupo Focal (7 participantes) ESCI_PAGF1 a ESCI_PAGF7
Fundação Social apoiadora = FS_PA
Coordenador Operações FS_PACO
Técnico 1 FS_PAT1
Técnico 2 FS_PAT2
Técnico 3 FS_PAT3
Técnico 4 FS_PAT4
A seguir, apresentam-se os resultados, por empreendimento, da pesquisa realizada.
65
2.3.3 Empreendimentos sociais apoiados pela Fundação Social Paraense
2.3.4 Empreendimento Social Agroextrativista (ESAX_PA2001)
O empreendimento social ESAX_PA2001 foi fundado em 19 de abril de 2001, no
meio rural, em uma comunidade ribeirinha, constituída principalmente, por
colhedores da castanha, no oeste do estado do Pará. Desde então, atua como uma
Associação agroextrativista representativa de cinco comunidades próximas. No
momento de realização da pesquisa, havia uma nova comunidade pleiteando para
se tornar membro da Associação.
Seu formato legal é o de associação, entidade civil sem fins lucrativos, sem
vinculação partidária, cujos objetivos são: a melhoria nas condições de vida dos
seus associados; a autonomia da prática extrativista; a manutenção e defesa dos
direitos e interesses coletivos e individuais dos sócios, inclusive em questões
judiciais ou administrativas; e a defesa da instituição democrática da sociedade.
Em 2010, houve uma retificação no Estatuto para a diminuição do número de cargos
da diretoria, cujo mandato é renovado a cada dois anos E inclusive está previsto a
realização de nova eleição neste ano de 2015. Atualmente, a Associação conta com
34 membros associados.
O atual presidente declarou estar cumprindo o seu terceiro mandato e que, desde a
fundação da Associação, ocupou cargos na diretoria. Segundo ele, “É na verdade,
eu, desde a primeira diretoria eu tive alguma função, eu fui secretário de 2001 até
2006. Iniciei como sócio fundador e sempre com função na diretoria” (ESAX_PADP).
Vale ressaltar a existência de uma restrição legal para eleição dos membros a
cargos diretivos: esses somente tornam-se elegíveis para cargos na Associação
quando já tem uma caminhada e vínculo com a Associação de ao menos três anos
como sócio, ou seja, há uma exigência de comprometimento comprovado para
exercer algum cargo na entidade. O vínculo forte de pertencimento e demonstração
de doação à causa é uma atitude comum e coletiva nesse empreendimento, tendo
66
sido percebidos no momento da pesquisa, citam-se, a seguir, palavras do
presidente.
Na verdade, o que me trouxe fazer parte da Associação, justamente foi na época era a opressão por parte dos patrões [falando da exploração do atravessador da castanha]. Não era possível ter um retorno satisfatório no final da safra, sempre tinha um saldo devedor nos cadernos dos patrões. Isso foi o que me motivou na busca de sair um dia desta situação. (ESAX_PADP).
De acordo com o relato acima, a constituição da Associação foi motivada por um
problema comum aos associados, à exploração do atravessador da castanha12.
Depois de uma longa caminhada com outras parcerias e, em especial, com o apoio
recebido da Fundação, a partir de 2008/2009 puderam acessar políticas públicas de
crédito como o DRS- Desenvolvimento Regional Sustentável junto ao Banco do
Brasil13, bem como a capacitação em boas práticas no manejo da Castanha. Isso
possibilitou a eles ter recursos próprios para o custeio das despesas e compras de
equipamentos. Assim com a superação da dependência do patrão, passaram a obter
ganhos diretos, tanto do lado da comercialização e geração da receita, quanto a
gerir seus custos e a realização das despesas e investimentos.
Esse amadurecimento organizacional na forma coletiva, motivado por uma causa
comum, fez o empreendimento buscar a sua autonomia, dentro de um processo
econômico exploratório, possibilitando a eles o exercício autogestionário e o
reconhecimento de seus parceiros, em especial pela Fundação, aproveitando as
oportunidades de capacitação e o acesso a conhecimento e créditos.
[...] eles conseguiram responder de uma forma mais rápida, acho que pela necessidade que era mais eminente de conquistar a sua independência, eles eram refém do chamado sistema tradicional de aviamento da produção, onde a produção não pertence a eles, pertence a quem financia que predefine um preço, eles conseguiram romper com isso a partir do momento que eles implantaram as boas práticas, acessaram o conhecimento dos padrões de boas práticas da Embrapa pela via da incubadora. Eles vivenciaram a experiência do desenvolvimento organizacional participativo, das capacitações sobre politicas para o setor extrativista na Amazônia,
12
O atravessador é conhecido também por patrão que é a pessoa que oferece o recurso financeiro, materiais de consumo, equipamentos, para que os castanheiros vão para a floresta e colham a castanha, em geral três meses, e quando entregam as mercadorias estão sujeitos ao preço de pagamento desse atravessador para a sua força de trabalho, o que geralmente os tornava dependentes e endividados. 13
O DRS é uma estratégia negocial de desenvolvimento de promoção de atividades produtivas que foi proporcionada pelo Banco do Brasil aos extrativistas no sentido de garantia de um produto economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente correto.
67
participaram do projeto SAF (Sistema Agro florestal) desenvolvendo uma alternativa de produção agrícola na entre safras da castanha, já acessam credito por mais de sete anos do Banco do Brasil através do DRS, e [...] eles mantem índice zero de inadimplência. (FS_PACO).
Ao se falar de exercício autogestionário e a formação/preparação dos
empreendimentos sociais, resgata-se o conceito de produção associada e educação
emancipadora da estudiosa Tiriba (2008). Esta propõe que o objetivo da educação
de homens e mulheres trabalhadores por meio de “[...] rearticular os saberes sobre a
vida em sociedade, apropriando-se do processo de trabalho em sua totalidade”.
(TIRIBA, 2008, p.72). Dessa forma, a autora defendeu a importância da
ressignificação da educação para o empreendedorismo14 exercitada em muitos dos
casos, sob a ótica do capital, promover uma formação integral do trabalhador em
que, em especial, nas “organizações econômica de iniciativas populares” seus
associados venham, de fato, se “tornar” protagonistas dos processos de produção
da vida social, ensaiando uma cultura do trabalho calcada numa racionalidade
econômico-social distinta da logica do capital”. (TIRIBA, 2008, p. 74).
Constatou-se na pesquisa de campo realizada com os associados e direção dessa
Associação, o exercício do protagonismo dos trabalhadores no processo de
produção, ao exercitar a autogestão com transparência, por meio de prática de
reuniões e tomadas de decisões coletivas.
Eles têm um nível de empoderamento, capacidade de tomar decisões colegiadas, decisões coletivas com uma preocupação, com visão mais de futuro, menos imediatista, que acho que em parte tem haver com o grau de necessidade e o perfil dessa comunidade, com a complexidade do negocio e a forma como as estratégias responderam exatamente no ponto da quebra da dependência deles ao sistema de aviamento e também pelo projeto da incubadora, da qualidade de seus serviços estarem mais amadurecimentos. (FS_PACO).
Apresentam um nível alto de arquivamento documental, com as documentações
organizadas e a realização de registro em atas das reuniões extraordinárias e
ordinárias, tanto da diretoria quanto dos associados, além de estarem em dias com
seus registros legais e impostos pagos. Desde 2012, a Associação apresenta aos
14
Educação para o empreendedorismo quando se estimula a “gestão do próprio negocio” e/ou tornar-se patrão de si mesmo”. (TIRIBA, 2008, p. 73).
68
associados relatórios organizados da diretoria para o controle da produção, do
pagamento e do repasse de valor de cada associado.
Quanto à remuneração dos associados essa é proporcional à produção retirada de
cada colocação (área da floresta destinada à colheita da castanha) de castanha.
Cada membro possui sua área, recebida dos seus antepassados.
Em relação a castanha a gente trabalha com nossas colocações, as colocações que tem uma produção maior, aí a remuneração varia de acordo com a produção. Por exemplo, tem extrativista que ele consegue produzir até 80 hectolitros, [...] outros não conseguem coletar nem 20 hectolitros porque a colocação dele é pequena, ai varia essa remuneração, não chega a satisfazer todos.
Tem colocações que abrigam sete extrativistas, outros abrigam duas, três, é de acordo com a produção. [...] Por exemplo, a colocação que era do meu pai, agora meu pai por peso da idade, eu continuo lá, e assim sucessivamente. (ESAX_PADP).
Antes da colheita, a Associação verifica o melhor preço para a venda da castanha e
negocia os melhores preços com fornecedores dos equipamentos necessários para
subir aos castanhais.
Segundo ESAX_PADT “[...] só junta o produto de todo mundo na hora de vender,
mas ai cada qual tem a sua quantia. Na hora que vem o pagamento cada um sabe a
sua quantia”. No auge da produção a média do rendimento com a castanha já
chegou a ser 1 SM (Salário Mínimo) por associado. Atualmente os associados vêm
agregando aos seus rendimentos ganhos com a agricultura, pecuária e pesca, o que
já chegou a render mais de 1 SM por associado. No processo organizativo produtivo,
a Associação vem trabalhando, em conjunto com a Fundação e outros parceiros,
para diversificar a produção, na entressafra da castanha. Para esse fim, vem
investindo na agricultura familiar e em outras culturas produtivas como o mel,
segmento produtivo, em crescimento na região.
Hoje nós já não temos só a castanha, já temos cultivo da agricultura também, temos a produção de farinha da mandioca e temos também a abóbora, o mamão a macaxeira. Já aderimos também outros produtos da castanha como o biscoito, a paçoca. Nesse período de festa de aniversário do município, a gente faz também para exposição os bombons, o doce da castanha. (ESAX_PADP).
69
Para a formação de um fundo reserva é recolhida uma mensalidade no valor de R$
4,00 e são realizadas atividades diversas para arrecadar fundos.
Nós temos uma mensalidade, inclusive nos vamos até agora tentar aumentar, de quatro reais por mês, de cada sócio. A gente faz eventos dentro da Associação para ganhar recursos. Por exemplo, a gente faz o festival da castanha, a renda é para Associação, do que a gente vendeu no evento. Esse movimento de vendas com a participação na Feira de Arte e Cultura do município também é para a Associação, a gente às vezes faz bingo, torneios. (ESAX_PADP).
Quanto aos indicadores de acompanhamento do empreendimento, para medir a sua
evolução, informaram ainda não possuir uma metodologia sistemática. De fato, os
membros da diretoria acham que seria importante ter esse acompanhamento, pois
as informações precisam ser sistematizadas e os resultados apresentados. Para
organizar melhor as informações, a diretoria está verificando a possibilidade de
adquirir um computador para a Associação, pois todos os controles e registros são
feitos de forma manual.
Na época da pesquisa, em agosto de 2014, a diretoria aguardava o resultado de um
projeto, elaborado com a colaboração de parceiros. Esse projeto foi apresentado
para o Fundo DEMA15 cujo pleito era o financiamento a fundo perdido para implantar
uma cozinha do biscoito da castanha. O projeto foi orçado em R$36 mil reais, para a
infraestrutura. Se aprovado, será instituída uma nova linha de produção na
Associação.
Além disso, havia uma articulação com o Banco do Brasil para obter financiamento
para uma casa de farinha mecanizada. Segundo os dizeres do presidente da
Associação, “[...] o gerente já esteve aqui [na comunidade], já foi olhar a roça e está
disposto a financiar a casa de farinha mecanizada para nós também”.
(ESAX_PADP).
Na oportunidade, foram perguntados sobre como procediam para formalizar a
comercialização enquanto Associação. Informaram que emitem a nota fiscal avulsa,
15
O FUNDO DEMA é um fundo fiduciário criado em 2003, que financia projetos coletivos dos “Povos da Floresta – povos indígenas, quilombolas, comunidades extrativistas, ribeirinhas e da agricultura familiar”, que visem à valorização socioambiental dessas populações. (retirado do site fundodema.org.br).
70
no prazo de uma semana, no posto da Secretaria da Fazenda (SEFA) do seu
município. No caso do biscoito da castanha, a Associação paga 17% de imposto,
valor considerado elevado, mas os produtos agrícolas e a castanha “in natura” são
isentos.
Esse empreendimento social sustenta sua coesão no objetivo comum aos seus
membros. Assim, eles refletem um intenso sentimento coletivo, fortalecedor da
condução do negócio.
2.3.5 Visão da diretoria do Empreendimento Social Agroextrativista
As entrevistas com os representantes da diretoria para identificar a visão do negócio,
incluíram o presidente e o tesoureiro da Associação. O primeiro é sócio fundador e
faz parte da diretoria desde o primeiro mandato. O segundo chegou posteriormente
e já compõe a diretoria por dois mandatos.
Destaca-se, na visão da direção, a importância do coletivo que traz elementos
importantes para o processo de formação do empreendimento.
Vimos que o coletivo seria melhor para a gente chegar a um objetivo, que seria melhora de vida, a gente buscar um melhor para os nossos produtos e consegui informações, parcerias, credito no banco que no individual a gente não consegue, foram esses fatores que fez eu me associar e chegar a direção, também, acho que foi o empenho na Associação, no decorrer do tempo os associados puderam depositar confiança em mim e me colocaram na direção também. Acho o coletivo não pode faltar é importante o compromisso e a participação de todo mundo, porque só um é meio difícil caminhar. (ESAX_PADT).
A visão manifestada pela direção do empreendimento sobre a formação do coletivo
é refletida nos membros da Associação e demonstra a coesão do coletivo,
decorrente da visão de futuro do grupo e da perseguição de interesses semelhantes,
fundada no bem estar individual, que segundo, Cançado, Pereira e Tenório (2013),
expressa que “desta forma ao defender os interesses coletivos, em ultima instancia,
o individuo defende seus próprios interesses” (CANÇADO; PEREIRA; TENÓRIO,
2013, p.140).
71
Além disso, a Associação mostra uma dinâmica de diálogo permanente com
transparência, utilizando as reuniões para aproximar e situar todos nos processos
decisórios.
A gente reúne na presença de todos. Depende da necessidade, porque a gente tem mesmo como regra, uma reunião por mês, mas se houver necessidade a gente tem até quatro, cinco. E, por exemplo, quando a gente esta buscando negócios e tem duas empresas que querem comprar a nossa produção, que estão com a proposta igual, ai a gente reúne, por exemplo, e decide. Eu nunca decidi sozinho. (ESAX_PADP).
Esse formato dialógico constante e a transparência nas informações chamam a
atenção de outros membros de comunidades próximas, que não são filiados, mas
manifestaram interesse em filiar-se à Associação.
O que faz permanecer, o que eu vejo é a transparência, por exemplo, é uma coisa que eu ouço nas reuniões, é que se eu vendo minha produção a cem reais, um exemplo, um hectolitro de castanha, todos os associados vendem também a cem reais. Isso é que faz estar permanecendo. Muitas outras associações aqui na região, já foram instituídas, mas nunca vingou por conta disso, só o presidente ou algum diretor se davam bem. Tanto é que eu citei em outro momento, que esta havendo membros de outra Associação se agrupar a nós. (ESAX_PADP).
A direção informou ter ouvido falar da Fundação em 2005/2006, por intermédio de
um negociador de castanha da região, cliente da Associação e, posteriormente,
empregado da empresa mantenedora do grupo.
Segundo a direção da Associação, a Fundação contribuiu muito para o crescimento
da Associação e para melhoria do seu processo produtivo, oferecendo o
conhecimento para acessar aos recursos e financiamentos, bem como para o
desenvolvimento da agricultura como alternativa de renda na entressafra da
castanha.
Digo para você que é fundamental a participação da Fundação com o acompanhamento técnico, porque quando nós não tínhamos acompanhamento técnico na área [de plantio], nós só produzíamos mandioca. Hoje a gente consegue produzir milho, abóbora, arroz, mamão, macaxeira e agora vamos plantar feijão. Por exemplo, o mel que vendemos na feira do município, foram os técnicos da Fundação que nos instruiu, trouxeram as caixas, nós temos equipamentos hoje para tudo isso. A castanha, ela [Fundação] nos deu a capacitação das boas práticas foi para o controle de qualidade, para questão do comercio, do mercado, nos deixou a vontade para procurar o caminho melhor. (ESAX_PADP).
72
2.3.6 Visão dos associados do Empreendimento Social Agroextrativista
Doze associados, entre sócios fundadores e outros sócios, com participação efetiva
na Associação, participaram do grupo focal. No primeiro momento, quando foi
realizado o detalhamento dos objetivos da pesquisa e a leitura do TCLE e do Termo
de autorização de imagem e depoimentos, todos se mostraram interessados e
dispostos a participar.
Seus depoimentos sobre o empreendimento ESAX_PA2001 demonstraram uma
visão de futuro amadurecida do negócio, pois relataram que conseguem se
sustentar da floresta e gerar renda, precisando apenas ajustar alguns pontos, entre
os quais: garantir maior número de membros para diversificação de frentes de
produção e trabalho.
Apresentaram um processo de organização bem avançado, compromisso com o
negócio e um grau de amadurecimento fundamental para atingir, de fato, a
autossustentabilidade. De uma forma geral, destacaram que as facilidades
favoreceram o avanço no empreendimento foram proporcionadas pelos parceiros,
cujas contribuições se realizaram na forma de aprendizados e ganhos para a
Associação. Eles citaram:
A gente encontrou facilidade com os parceiros, por exemplo, o DRS foi a Fundação e a Prefeitura que apertaram o gerente do Banco do Brasil. Mas quando éramos somente nós isolado, não encontramos facilidades [...] Também temos os SAF’s [sistema agroflorestais] estamos plantando açaí, tem um mercado já em ação e eu já tenho 200 pés açaí plantado e estão desenvolvendo bem. E eu estou bastante animado [...] a questão do comercio hoje a gente não tem dificuldade e também através dos parceiros a gente já tem mais facilidade. Somos livres para buscar o comprador que nós queremos e a empresa que a gente quiser negociar, a gente define. Isso veio depois do DRS a partir de 2007 quando começamos a ter acesso ao credito, ai todo mundo passou a comprar a sua rabeta [canoa com motor], adquirir a sua própria canoa, alguns animais cargueiro. (ESAX_PAGF11).
Quanto às dificuldades, mencionaram, como as principais, a falta de estrutura na
comunidade e a mão de obra, conforme o relato abaixo:
As dificuldades que enfrentamos ainda é a falta de estrutura para determinadas situações. Por exemplo, estamos ai com um cilindro do
73
secador de castanha, temos proposta de mercado para produção beneficiada, mas não temos energia, ainda falta estrutura, porque a matéria prima temos. E ai, já teríamos beneficiamento da castanha, do cacau, da própria andiroba, para a produção do biscoito a castanha seria secada lá, pois ainda faz no processo manual. Um grande problema é mão de obra, gente tem pouco, pois produto tem na floresta, mas não tem ninguém para ir buscar”. (ESAX_PAGF11).
O quadro 2 a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Empreendimento
Agroextrativista modificada pelos participantes do grupo focal, com base na linha
genérica apresentada. A quarta linha divide os/as marcos/fases, a quinta linha
apresenta os eventos/acontecimentos de cada fase, a sexta linha mostra o período
de duração do evento informado por eles em dias, meses e anos e a sétima linha
acumula o tempo desde o primeiro evento apontado por eles.
74
Quadro 2 Linha do Tempo Social do Empreendimento Agroextrativista
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo
Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de
planos/projetos Implantação do
empreendimento Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo
“Formação do
coletivo” (1)
“Início da
operação”
“Comercialização
”
“Constituição
legal”
“Capacitação” “Elaboração de
planos/projetos”
“Implantação do
Empreendimento”
“Ponto de
equilíbrio”
Parte 1 Parte 2 (5)
F1:
constituição
dos membros
F2: estrutura
organizativa
(formação
informal da
direção)
F3: divisão de
tarefas/modo
de
funcionamento
F1: formação do
preço/ formação
de custo (preço
no mercado)
F2: produção
iniciada
(3.2002)
F3: “formação
de estoque –
323hct”
F1: estabilidade
entre produção e
colocação no
mercado
F2:
estabelecimento
da freguesia
(Caiba –
comprador
castanha)
F1:
formalização
da direção
F2: registro e
legalização da
Associação
(7.2002)
F1: capacitação
para as
mulheres na
produção do
biscoito da
castanha (2)
F2:
comercialização
do biscoito na
Feira de Arte e
Cultura
Municipal
F1: acesso aos
recursos
financeiro e
materiais - DRS
concorreram a
financiamento
sem sucesso
(3)
F2: definição de
mercado
F1: instalação
física/acesso
ao crédito DRS
F2: compra de
equipamentos
e maquinários
(4)
F3:
organização da
produção ( com
expansão )
F1: Formação para
boas práticas para
a qualidade da
castanha (FS)
F2: fixação da
marca dos
produtos no
mercado (2009)
F3: Controle de
qualidade do
produto
F4: emissão de
DAP (6)
F5: Receita
F6: fornecimento
da castanha para
F1: Diversificação
de produtos para
venda (7)
F2: Ponto de
equilíbrio (8)
75
merenda escolar
2001
F1; F2; F2.1;
F3 - 4 meses
(1.2001-
4.2001)
2001
F1: 8 dias
F2 e F3: 3
meses (3.2002-
6.2002)
2002
F1: (-)10 dias
produção
negociada
F2: 8 meses
entre safra (final
de junho a
março do ano
seguinte)
2002
F1;F2: 2
meses
(6.2002-
7.2002)
(entressafra)
2003
2 meses
(7.2003-8.2003
– capacitação e
venda)
2006
F1: 3 meses
F2: 3 meses
2007
2008-2012
F1: a partir
out/2008
F2;F3:2009
F5: 2010 em diante
F6: setembro/2012
2013-2014
4 meses 7 meses e oito
dias
1 ano 1 ano 2 anos e 6
meses
5 anos 6 anos 11 anos 13 anos
(1) Os membros do coletivo tinham a produção individual da castanha com territórios demarcados; (2) Nesta fase é citada a 1ª capacitação para (agregar valor ao produto da castanha e ter outra forma de obter renda com a castanha, mas voltada para as mulheres). Início parceria com a prefeitura; (3) nesse processo já contaram com a contribuição da Fundação, de forma pontual; (4) novos equipamentos e maquinários: canoa, rabeta (barco a motor), animais cargueiros; (5) a partir de 2008, foi estabelecida uma parceria solida com a Fundação com o desenvolvimento de projetos extrativistas e de agricultura familiar, bem como no fortalecimento do negocio com a Incubadora de Econegócios; (6) Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) obtido pela EMATER/PA para subsidiar o recebimento de benefício do governo do preço mínimo da castanha que, se não fosse isso, ficariam endividados com o banco; (7) Alternativas de plantio - abobora, macaxeira, milho, batata doce, kará, mamão, apicultura - mel e SAF´s (Sistema Agro Florestal) para gerar renda entre safra da castanha – intervenção da Fundação; (8) consideram que estão próximos do alcance da autossustentabilidade cerca de 70 a 80% e estão mais próximo do que distante da autossustentabilidade.
76
Conforme a Linha do Tempo Social elaborada pelos participantes do grupo focal, a
primeira intervenção da Fundação foi posterior à constituição da Associação, quando
já contavam com cerca de seis anos de existência. Segundo um técnico da empresa
do grupo mantenedor e comerciante de castanha, que conhecia a Associação desde
seu inicio, a colaboração da Fundação representou um grande avanço para o
empreendimento, principalmente, no fortalecimento da cadeia da castanha e na
emancipação dos extrativistas do ciclo de dependência do patrão e no processo de
qualidade da Castanha.
Se a gente for mensurar, essa comunidade trabalha com o extrativismo a mais de 100 anos, dentro desses anos a gente já avançou mais do que esses anos todos. Esse para mim é um diferencial. Se fizer um comparativo com a estrutura de produção antes da comunidade e que hoje possui, com numero de animais de tração, barcos para transportar o produto, a rabeta para transportar dentro do igarapé, a estrutura de barracões, a castanha deles tem uma aceitação com um preço diferenciado, e que tem zero por cento de corte [100% aproveitamento],enquanto outras comunidades estão produzindo castanha com vinte cinco a trinta por cento de corte. (FS_PAT3).
Considerou-se relevante destacar que os primeiros grandes marcos/fases–
Formação do Coletivo, início da Operação e Comercialização – significaram um
processo de preparação que fortaleceu o coletivo para a decisão de formação legal
da entidade.
A gente acreditou que na formação coletivo ia dar certo! Há um tempo a gente tentou o individual e não conseguiu fazer nada e vimos que junto seria mais fácil consegui as coisas e se não for o grupo a gente não conseguia, facilitou muito pra gente; credito a gente tinha, mas aumentou o mercado, hoje tem mais ainda, e não temos preocupação de vender o nosso produto e vimos o que é melhor para todos. (ESAX_PAGF1).
Estes marcos/fases iniciaram com o processo da castanha (produto principal na
linha de produção) e depois agregaram alternativas de produtos para obtenção de
renda.
Ainda na formação da Linha do Tempo Social do empreendimento, surgiu um novo
marco/fase a Capacitação –, informados pelos participantes. Essa capacitação foi a
primeira da Associação, realizada para as mulheres que aprenderam a desenvolver
biscoito da castanha. Segundo eles, essa produção não conseguiu avançar por falta
de estrutura e melhor qualificação, mas não perdeu de vista essa linha de produção,
77
pois informaram estarem concorrendo a um fundo de apoio para esse fim. Ressalte-
se que essa fase passa a permear os demais marcos/fases posteriores do
empreendimento, como citado na fase – Implantação do Empreendimento – durante
a qual aconteceram processos de capacitação, em especial com a intervenção da
Fundação.
Destacou-se ainda a importância das parcerias estabelecidas. No início do
empreendimento foram citadas a Prefeitura Local, a Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER/PA) e, em especial, a Fundação, que
passou a ter uma atuação intensa a partir de 2008. A Fundação contribuiu para o
acesso ao Banco do Brasil, agente financeiro que possibilitou acesso a créditos,
bem como, trouxe outros parceiros internacionais como a Deutsche Gesellschaft für
Internationale Zusammenarbeit (GIZ/ GmbH), instituição alemã de apoio a projetos
na Amazônia; nacionais como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da
Amazônia Oriental (Embrapa-PA) e estaduais como o Instituto de Desenvolvimento
Florestal do Estado do Pará (IDEFLOR).
[...] parceiros permanentes aqui é a prefeitura, a Fundação que investe na gente, a Emater com a questão da DAP e o Banco do Brasil que é nosso agente financeiro e que depois que a gente conseguiu credito, eles não deixaram mais a gente. Tem outras instituições por ai que foram conveniadas com a Fundação que foi a GIZ, Ideflor, Embrapa, que a Fundação trouxe. (ESAX_PAGF11).
Ao final da reconstrução da Linha do Tempo Social, os participantes do
empreendimento ESAX_PA2001 expuseram com respeito à fase – Ponto de
Equilíbrio –, que acreditaram ter ultrapassado, quando começaram a diversificar os
seus produtos, apontado por eles como um evento importante para o coletivo. Os
participantes destacaram que a intervenção da Fundação no fomento ao
fortalecimento da agricultura familiar, introduzindo produtos de interesse das
prefeituras (merenda escolar), bem como o estimulo à apicultura e desenvolvimento
de Sistemas AgroFlorestais (SAFs) com plantio de frutíferas. Todos agregaram valor
à renda familiar, antes limitada à colheita da castanha.
Então fevereiro, março e abril é a época que eles começam a entrar nos castanhais, ou seja, eles passam três meses só envolvidos com a castanha. E aí vão sobrar oito meses. Nesses oito meses eles não faziam nada. Ou seja, eles não tinham outra renda, não tinham outra opção. [...] E aí foi onde
78
conversando com eles chegaram à conclusão de que eles precisavam de uma forma de agregar e trazer mais renda para eles. E foi onde a gente entrou com essa parte de mecanização, todo o trabalho técnico: calagem, adubação, controle de insetos. (FS_PAT2).
Desse modo, os participantes do grupo focal, consideram que estão mais próximos
do que distante do alcance da autossustentabilidade, estimando em cerca de 70 a
80%, do caminho, já percorrido.
Dentro desse cenário, é possível afirmar que realmente este empreendimento social
apresenta um estágio avançado em direção à autossustentabilidade, demonstrado
na construção de sua historia, na visão de sua diretoria e na atuação de seus
associados, um amadurecimento com vivência de autogestão, sendo necessário um
tempo de maturação para a chegada nesse estágio.
Perguntados sobre o futuro do empreendimento, apresentaram perspectivas positivas
e expuseram as ações necessárias ao crescimento referentes a alguns ajustes
internos, tais como: ampliação de pessoal e da frente de trabalho dentro da
Associação e acesso a fundos para construir a estrutura necessária para a
ampliação. Com a diversificação de produção, para além da castanha, a Associação
ampliou suas possibilidades de inclusão em programas de políticas públicas de
incentivo ao desenvolvimento no meio rural, como o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF). Com respeito à diversificação produtiva, mediante a uma política
interna de segmentação de mercado frente à oportunidade representada por
interesses identificados em comercialização de outros produtos da floresta, tais como,
a andiroba, o pracaxi, entre outros, visualizam a possibilidade de aprofundamento de
uma economia de escopo fortalecedora da posição de mercado da Associação.
A pretensão de segmentação de mercado é um indicador de maturidade na gestão, o
que permite contribuir para o avanço acelerado na direção da autossustentabilidade.
E também em 2012 (em setembro) começamos a fornecer produtos para a merenda escolar, castanha e derivados, foi para a secretaria municipal da educação e inicia agora em setembro novamente e vamos fornecer pelo PNAE. Nós estamos com o mercado aberto, têm interessados, mas está faltando matéria humana pra ir coletar [...].(ESAX_PAGF11).
79
No caso a andiroba ela não passa muito tempo, dar na mesma época da castanha, e quando a gente termina a castanha e já acabou o tempo dela. Por exemplo, temos mercado para andiroba, muru-muru, tucumã, pracaxi, veio gente que quer. (ESAX_PAGF7).
2.3.7 Visão da Instituição Apoiadora sobre o Empreendimento Social
Agroextrativista
A Fundação passou a investir nesse empreendimento depois de ele já está formado
e atuante. Segundo a concepção do apoiador é um empreendimento considerado
amadurecido e de gestão independente, dotado de autossuficiência e autonomia. O
empreendimento respondeu rapidamente ao apoio e ao investimento e usufrui de um
crédito, juntamente com outra associação apoiada pela Fundação, de R$700 mil,
com zero de inadimplência.
[...] é uma Associação que já produz e já comercializa, eles mesmos, como empresários, a sua produção. A Fundação procurava novos mercados tentando escoar as mercadorias deles. Eles participam de oficinas, capacitações, já aprenderam. Ela é uma Associação que a gente falava que era a cereja do bolo da Fundação. A produção e a forma dela que é uma associação familiar, composta em sua maioria de família. (FS_PAT1).
De 2008 até o momento da pesquisa, o apoiador garantiu apoio técnico na forma da
capacitação em boas praticas da castanha; do acesso ao crédito (por meio do
programa DRS do Banco do Brasil); da articulação para venda da produção; da
captação de recursos; da capacitação dos filhos na cadeia sucessória; da
articulação de parcerias, com o Banco da Amazônia, com a Embrapa, para a
obtenção de mudas; e com a assistência técnica rural para o fomento de agricultura
familiar. Além de apoio financeiro, por meio da doação de adubo para a preparação
de área de plantio.
Na verdade em 2008 foi quando começaram os projetos, mas anterior a isso já havia apoio, mas não tão direto como a partir de 2008. Teve um investimento com relação às boas práticas, inclusive foram muitos investimentos. Outro investimento foi umas máquinas também desfibra curauá, que também estão lá. Outro investimento que eu creio que é um dos principais agora que foram as áreas mecanizadas, 10 hectares de área, em parceria com a prefeitura e Embrapa, onde a prefeitura entrou com a mecanização, a Embrapa entrou com a tecnologia, com a certificação e a Fundação entrou com a assistência técnica, os insumos de produção como o calcário, fertilizantes e alguns defensivos, uns defensivos naturais para pragas. Essas áreas são destinadas a implantação de SAF. [...] E tendo uma produtividade maior através dessa tecnologia. Depois desses quatro
80
anos a gente entra com as plantas frutíferas e as plantas florestais. (FS_PAT2).
A Fundação Social identificou como ponto de amadurecimento e crescimento dos
membros, a saída do empreendimento do ciclo de dependência do atravessador,
através das boas pratica de manejo da castanha e do acesso ao credito rural para
financiar a sua colheita. Mesmo com essas melhorias, perceberam que precisavam
avançar mais e garantir através dos recursos florestais e de outras atividades uma
diversificação de produtos, para ocupar o período da entressafra da castanha,
incluindo assim outros produtos agrícolas que venham agregar valor à produção
original.
Apesar do grau de amadurecimento atingido pelo empreendimento, o apoiador
informou algumas preocupações que poderão se constituir ameaças ao êxito
alcançado, entre os quais se encontram o esvaziamento dos jovens que vão
continuar o estudo na cidade e o pouco interesse deles pelas práticas rurais
desenvolvidas por seus pais. A maioria dos membros já se encontra em idade de
intermediaria a avançada e precisará, daqui a um tempo, ser substituída pelos mais
jovens.
A gente vê que não há a presença muito de jovens. O mais novo lá deve ter vinte e cinco anos. Então, a preocupação é dessa continuidade, dessas pessoas que estão lá. Daqui a cinco anos tem pessoas lá que vão estar com 65 e já não tem mais aquela mesma vontade, aquela mesma força. Quando vai chegando à idade, mesmo que você queira não consegue mais. (FS_PAT2).
Essa preocupação é compartilhada pelos extrativistas que informaram “[...] que está
melhorando as estruturas e os preços do extrativismo que a gente faz, mas já me
sinto cansado, mas o que penso que eu puder fazer eu vou segurar, pois da
juventude não espero tanto” (ESAX_PAGF7).
Quanto à autossustentabilidade declararam que este estágio já foi alcançado.
Ela se autossustenta. Os números dela falam por si. Hoje o acompanhamento da Fundação é mais técnico e ele não é constante na, ele é bem pontual. Então ela para mim ela já saiu desse processo, ela se autossustenta. Ela sente uma dificuldade ou outra, recorre ao parceiro para orientação, mas eu acho que já está fora desse processo de vinculação. (FS_PAT1).
81
2.3.8 Empreendimento Social Costura Industrial (ESCI_PA2006)
O empreendimento urbano ESCI_PA2006 foi formado numa vila que compõe um
distrito urbano municipal no Oeste do Pará, cujos residentes são flutuantes, pois, em
sua maioria, são familiares de funcionários das empresas terceirizadas da grande
empresa da região. Em virtude disso, as sócias, esposas de funcionários das
empresas terceirizadas, estão sujeitas a terem que se mudar da vila por motivo de
desligamento e/ou fechamento da empresa e retornar aos seus lugares de origem, já
que os maridos estão lá em função do emprego.
Esse empreendimento foi fundado em 12 de abril de 2006, na forma de uma
Cooperativa de mulheres, cuja linha de produção era a confecção de uniformes
básicos e industriais, com ênfase maior para uniformes para empresas. Seu objetivo
era gerar renda para as cooperadas. Na época de sua fundação eram 43 mulheres
associadas. Segundo a direção atual, esse número caiu para 14 associadas, 10 das
quais são mais atuantes e presentes, principalmente com a crise da empresa
mantenedora e a redução de suas atividades em 2013.
Antes de se tornar um empreendimento formalizado, foi alvo de um trabalho
intensivo da Fundação apoiadora e do programa de voluntariado da empresa
mantenedora. Segundo registro em relatório técnico da Fundação, essa ação foi
desencadeada a partir de um diagnostico realizado no final de 2003, para a
verificação da aptidão e interesse das mulheres.
Quando cheguei ao Planalto tinha uma associação de mulheres e uma vizinha minha me convidou para fazer parte daqui, de umas reuniões que faziam [...] e ai comecei a participar e depois veio o pessoal da Fundação que vieram fazer pesquisa e reuniu com a gente e queria saber o que a gente estava precisando no momento aqui na Vila e pedimos para fazer costura, fazer costura para as empresas, porque tinha muito empresa. (ESCI_PADP).
Este era o início de um projeto de geração de renda que atuava na região e
desenvolvia ações com mulheres de desenvolvimento humano, capacitação em
tecnologia e capacitação gerencial. Para estas mulheres foram desenvolvidos cursos
82
de artesanato e costura em geral e oficinas de relações humanas voltadas para
fortalecimento da autoestima e valorização da mulher.
[...] Então foi feita a seleção porque a oportunidade que a gente opinou assim para a gente seria a costura e artesanato em geral, Porque o artesanato ele entra no bordado, ele entra no crochê, e tudo de artesanato, tecelagem, eu trabalhava com cipó. E tudo isso nós fizemos. Mas o que [...] veio a calhar para a gente foi a costura porque a necessidade era muito grande. Já tínhamos pessoas que entendiam um pouco da costura [...]. (ESCI_PAVP).
Este empreendimento teve, para sua formação a preparação das mulheres, no
âmbito de um projeto de geração de renda, que funcionou previamente à
formalização da Cooperativa. Esse projeto proporcionou a elas atividades de
desenvolvimento humano e capacitação profissional no segmento da costura, bem
como, articulou parcerias para aquisição de equipamentos, matéria-prima e
organização do espaço físico. Posterior a essa etapa, as mulheres participantes
foram convidadas a montar uma Cooperativa.
A princípio, esse projeto foi oferecido sem restrição para os interessados da
comunidade. Posteriormente, foi se consolidando um grupo produtivo e se
desenhando o interesse de garantir um rendimento, por meio da costura. Nessa
fase, permaneceram somente as mulheres que manifestaram um desejo real de
trabalhar em coletivo na costura. O apoiador e os voluntários vinculados ao
programa de voluntariado, promovido pela empresa mantenedora, desenvolveram
ações de preparação do grupo produtivo, durante cerca de dois anos.
Ao final desse período, realizaram oficinas de fortalecimento do coletivo, trabalhando
os conceitos de cooperativismo e associativismo, para estimular o grupo a pensar na
possibilidade de realizar um trabalho coletivo, entre seus membros. Concluído o
processo, no final de 2005 e início de 2006, as mulheres foram perguntadas sobre o
desejo de formar uma cooperativa ou uma associação. Algumas não quiseram, mas
outras decidiram aderir à formação da Cooperativa e posteriormente aderiram à
assessoria da Incubadora de Econegócios Solidários e Sustentáveis, fomentada
pela Fundação apoiadora e outros parceiros da Fundação.
83
O estatuto da Cooperativa é o mesmo desde a sua fundação. Nele estão descritos
os cargos da diretoria formados pela presidente, vice-presidente, secretária e
tesoureira e, ainda, o conselho fiscal, constituído por três titulares e três suplentes.
Além do estatuto, a Cooperativa possui um regimento interno que detalha as normas
internas relativas à produção, horário de chegada e saída, direitos e deveres, entre
outros. A Cooperativa tem instrumento de controle para a prestação de contas,
operado por um contador que realiza os balancetes e os balanços anuais e está em
dia com suas documentações legais.
A maioria das mulheres trabalha na sede da Cooperativa, onde se encontram os
maquinários, o estoque de materiais, entre outros. Algumas mulheres trabalham em
casa, principalmente, as que residem em localidades distantes da sede.
A dispensa de vários maridos, pela redução das atividades da empresa
mantenedora da Fundação, a partir de 2013, impactou a Cooperativa, reduzindo o
numero de cooperadas, pois as mulheres retornaram ao seu local de origem, além
de ter tido uma baixa nos pedidos e encomendas de uniformes industriais.
Atualmente precisam assegurar mais membros para ter a conta mínima de uma
cooperativa (20 cooperados), além de garantia da produtividade e rendimento.
Esses problemas obrigaram a Cooperativa a criar novas estratégias de captação de
membros e buscar no mercado uma nova linha de confecção para comercialização.
Olha atualmente está muito baixa nossa produção, [...] desde junho [de 2014] para cá vem sendo muito baixa, estamos costurando, produzindo o mínimo dos mínimos. Algumas empresas que aparecem para fazer umas encomendas, mas é muito raro. Antes da parada da fabrica a gente tinha uma boa demanda, até atrasava com a entrega dos uniformes, com os pedidos, eram uns 100, 200 uniformes e agora depois de junho ficamos com 50 uniformes. (ESCI_PADP).
No sentido de diversificação da produção, decidiram se inserirem no mercado de
confecção de uniformes escolares, assim como no segundo semestre de 2014, as
costureiras estavam sendo treinadas para a fabricação, também, de outros tipos de
roupas femininas e masculinas, por meio de apoio oferecido pelo SEBRAE/PA e,
com suporte da Fundação Social apoiadora. Essa estratégia, associada à economia
84
de escopo, foi adotada no sentido de garantir sustentabilidade em diversas frentes
de desenvolvimento de produto e de segmentos do mercado.
O curso está agregando conhecimento e até estamos colocando em prática o que estamos aprendendo. Ele é para aperfeiçoar as peças e é para quando não tiver uniforme das empresas, assim, é para fazermos outras roupas, roupas de festa e é como alternativa [...], é bom ter isso, que por exemplo você estão sofrendo com a fabrica parada, e aí teríamos outro produto de roupa para venda (ESCI_PADP). É um curso de modelagem básica industrial, que abrange um todo. Tanto na parte masculina como na feminina. Porque, da feminina nós não temos muito conhecimento. [...] Mas como a gente precisa de ambas as partes Isso vem muito a calhar para a gente. (ESCI_PAVP).
Dentro de uma visão para a sustentabilidade de empreendimentos coletivos, com
fins de geração de renda, a economia de escopo possibilita ampliar o leque de oferta
destinada ao mercado, no caso da Cooperativa, sem sair de sua área de “expertise”
– a costura –, deixando, assim, de ficar refém de um único produto. Esse
empreendimento, desde 2010, vem apresentando balanços econômicos excelentes.
A Fundação apoiadora considerou isso como um ponto forte, ao indicá-lo como um
empreendimento que, na sua visão vem trilhando o caminho para a
autossustentabilidade.
Eu considero esse empreendimento um dos mais bem sucedidos, mesmo que apresente alguns problemas. Seguindo os indicadores econômicos, em quase 10 anos, ele vai para 2 milhões (mais de 200.000/por mês) para uma empreendimento de base comunitária isso é relevante. O que não exime ele de problemas básico de gestão e empoderamento, até porque eles vêm do primeiro ciclo do nosso apoio, onde honestamente a gente estava aprendendo a fazer incubação e hoje a gente está aprendendo, mas já tem um legado. (FS_PACO).
A Cooperativa demonstrou ter uma participação importante na economia doméstica,
ao contribuir para o aumento da renda familiar. Nesse aspecto, mostrou-se um
instrumento relevante de distribuição de renda e possibilitador de acesso a novos
bens de consumo, em virtude da ampliação do poder aquisitivo das famílias. Além
de ter possibilitado identificar e trabalhar relações de gênero, ao proporcionar às
mulheres a sua valorização e a superação da submissão sofrida no seio da família.
85
A adesão à Cooperativa ocasionou conflito de gênero, pois os maridos buscaram de
todo modo força-las a desistir do empreendimento.
A Cooperativa, em seu desenvolvimento, obteve apoio técnico e de infraestrutura,
em especial, quanto ao espaço e maquinários, usufruindo de um sistema de
microcrédito oferecido pelo apoiador, a ser paulatinamente liquidado, à medida que
fossem atendendo as encomendas. O apoiador, após mais de 50% de parcelas
pagas, permitiu que a dívida com o microcrédito fosse cancelada, em troca as
mulheres multiplicariam o conhecimento adquirido, oferecendo cursos em costura
para os membros da comunidade. Além disso, informaram que realizaram doação
das primeiras maquinas adquiridas para uma associação de mulheres de um
município próximo.
A Fundação [...] também nos ajudou para termos na época, um microcrédito para comprarmos máquinas, pagamos uma parte e agora ele dispensaram o restante, ou seja, eles nos doaram parte dos valores das máquinas. Já tem um tempo isso. E também tem outras três máquinas que eles fizeram outro microcrédito, a de caseado, a tripla e rebatadeira de cós e esse também teríamos que pagar com cursos para meninas da comunidade, daqui mesmo da vila e até fizemos duas vezes esses cursos. Essas máquinas ajudavam no aprimoramento de nossas produção. Essas já entraram também junto com a doação das outras. (ESCI_PADP).
Quanto à remuneração da Cooperativa, esta é proporcional à participação na
produção. Uma das costureiras faz o controle manual do número de peças
produzidas por cada uma delas. Ao final do mês são realizados os pagamentos, por
meio dessa contabilização. No auge da produção, já chegaram a obter mais de um
salário mínimo por associada/mês, a média contabilizada encontra-se entre R$
500,00 e R$ 600,00/mês. No período de baixa de produção esse rendimento sofreu
uma queda para entre R$ 300,00 e R$ 400,00/mês.
Hoje a gente produz 50 peças e ai a gente divide por quem está aqui, quem costuraram. E em media quando estava na alta à produção tirava mensalmente tirava R$500,00 a R$600,00 e com a produção baixa de 50 uniformes de R$300,00 a R$400,00 e esse mês [agosto de 2014], então, vai dar muito pouco. (ESCI_PADP).
86
A nova eleição para um novo mandato da diretoria da Cooperativa, equivalente há 3
anos, foi programada para meados de 2015. O início dos preparativos para a eleição
contava com a participação da Fundação Social apoiadora.
2.3.9 Visão da diretoria do Empreendimento Social Costura Industrial
Na Cooperativa foram entrevistadas a presidente (tesoureira, no primeiro mandato) e
a vice-presidente, ambas em exercício de funções diretivas desde a fundação da
Cooperativa, e também sócio fundadoras. Ambas pensaram a Cooperativa como
uma forma de contribuir com a renda em casa, se sentirem úteis e correrem risco.
Sem ter conhecimento algum de gerenciamento de Cooperativa, apenas acreditaram
nos parceiros que as estavam incentivando.
Precisava ajudar em casa, nossos filhos, nossos maridos e foi ai que começamos o trabalho da formalização da Cooperativa. No primeiro momento já fazia parte da direção, estava como tesoureira. Estava desde o inicio, teve a eleição e fiquei na parte da tesouraria. Não sabia nada e fui aprendendo com o tempo com o apoio do pessoal da Fundação davam esse apoio para aprender. (ESCI_PADP).
Mesmo havendo espaços de diálogo entre as cooperadas, em reuniões semanais da
equipe da produção, com a diretoria, a entrevistada ESCI_PADP apontou que falta
maior engajamento entre as cooperadas e comprometimento. Chegou a dizer “não
saber mais o que fazer”. Mas ao ser consultada, ESCI_PAVP, chegou a declarar que
a frequência de reuniões caiu muito e que estão dialogando pouco, gerando
desmotivação. Na verdade, o compromisso com a capacitação está deixando pouco
tempo para outras atividades. Esses depoimentos demostram divergência nos
pontos de vista, quanto à participação das cooperadas, e fragilidades no processo
de gestão.
Destaca-se aqui, na visão da diretoria, a preocupação com as questões legais, em
especial referentes às taxas e impostos que envolvem uma Cooperativa. A diretoria
sabe que o pagamento é uma obrigação legal, mas, a redução dos ganhos, e com o
pagamento de altos impostos é desmotivadora.
87
Essa nossa Cooperativa, só tem o nome de Cooperativa, mas é uma empresa em si como qualquer outra, que paga impostos, tem gastos, tudo que você possa imaginar que não tenha uma Fundação para pagar, de encargos, nós temos aqui. Então isso tem afetado muito em cima da gente. Nosso lucro [ganho] tem sido muito pouco. (ESCI_PAVP).
Ressalte-se que há uma visão de pertencimento por parte da diretoria em relação à
Cooperativa, exercendo com zelo e responsabilidade suas funções mesmo com a
adversidade, reconhecendo como delas a Cooperativa.
Hoje nós pagamos essas máquinas, hoje são nossas. Tudo o que tem dentro dessa Cooperativa hoje é nosso. Hoje a minoria que está são aquelas que acreditaram que isso iria dar certo e que um dia nós íamos conseguir e ia vencer. A gente está aqui. (ESCI_PAVP).
Demonstraram ter obtido, com a experiência na Cooperativa e com o apoio técnico
recebido da Fundação, um grande aprendizado que as fizeram superar várias
dificuldades como, por exemplo, na elaboração do preço do produto, ao perceberem
que seu preço não estava considerando vários fatores de custo. “É que a gente
achava que o tempo que a gente passava numa máquina costurando, isso não tinha
que entrar na cotação do preço. E tudo isso entra. Tem até depreciação do total de
máquinas. Tudo isso ele nos ensinou [...]”. (ESCI_PAVP).
De fato, se faz presente a contribuição da instituição apoiadora no desenvolvimento
do empreendimento, em que a mesma investiu no sentido de garantir para estas
cooperadas uma mudança de vida, uma atuação de valorização das mulheres,
portanto a Fundação é vista como “um grande patrocinador, temos grandes aliados
que sempre acreditaram na gente, que sempre confiaram na gente: que é a
Fundação e incluídos todos aqueles que ainda continuam lá”. (ESCI_PAVP).
Quanto à sustentabilidade, a presidente informa estarem no caminho, precisando de
alguns ajustes.
Nós já estamos funcionando por nossa conta mesmo, nós mesmos que fazemos o nosso próprio capital e inclusive nos mesmos que compramos nossos tecidos, materiais tudo a vista, de Belém e a gente paga com o nosso dinheiro e temos um estoque que controla e temos nosso capitalzinho de giro. (ESCI_PADP).
88
Os ajustes indicados pela direção são: a participação e a dedicação das cooperadas
em relação ao empreendimento, alternativas e formas de diversificação de produto
para a obtenção de ganhos para todas e o aumento das dedicações individuais, das
motivações e do apoio à direção.
[...] cada uma das cooperadas se doasse mais, se dedicasse mais, pensasse alternativas como, por exemplo, sobre muito retalho e ai pensar vamos junta e fazer tapete/trapo para vender nas oficinas, já ajudaria muito. Eu acho que da minha parte, precisava de apoio mais das colegas. Acho que falta pouco pra gente atingir a sustentabilidade, esse curso de modelagem já vai ajudar, aí vamos ter mais associados [...]. (ESCI_PADP). Se nós nos organizar direitinho, como manda o figurino isso aqui vai expandir, nós vamos ganhar muito dinheiro, entendeu, e vai ser uma benção. As pessoas participarem mais. Serem mais participativas. Terem compromisso com aquilo que querem fazer. (ESCI_PADVP).
As diretoras ressaltaram que têm todas as condições para garantir a
autossustentabilidade, pois a Cooperativa tem saída no mercado local e pode
expandir para o mercado regional. A Cooperativa já vendeu para Macapá/AP,
Ferreira Gomes/AP, além disso, apresenta uma carteira de clientes importante e é
conhecida no mercado local, por sua capacidade de produção com qualidade.
2.3.10 Visão dos associados do Empreendimento Social Costura Industrial
A visão das associadas foi colhida na técnica de grupo focal em que participaram
oito mulheres, entre as quais sócias fundadoras, que têm uma participação efetiva
dentro da Cooperativa. No primeiro momento, quando foi realizado um detalhamento
dos objetivos da pesquisa e leitura do TCLE e do Termo de autorização de imagem
e depoimentos, 04 participantes manifestaram vontade de desistir, mas feito
esclarecimentos e tiradas duvidas e, com a colaboração do profissional da
Fundação, para maiores esclarecimentos e mostrar a importância da participação,
apenas uma manteve a sua negativa em participar.
Durante o desenvolvimento do grupo focal, detectaram-se conflitos interpessoais e
divergências, nas relações coletivas entre as mulheres. Esse é um ponto
circunstancial a ser trabalhado nas relações coletivas do empreendimento e que
deve ser gerenciado e trabalhado por um profissional especializado, pois se trata de
89
questões que geram desconfiança e mal estar na dinâmica do coletivo, ao ponto de
comprometer a continuidade da gestão, pois fragilizam o desenvolvimento de
lideranças e a cadeia sucessória nos cargos diretivos dentro da organização.
Mesmo tendo sido feito um grande investimento na preparação do coletivo, é
necessária a continuidade de esforços avançados para fortalecer o coletivo, na
direção de uma formação para a governança e para o aprofundamento do
sentimento de pertencimento por seus membros, por meio da percepção de serem
donos do negócio.
O quadro 3 a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Empreendimento Social
Costura Industrial modificada pelos participantes do grupo focal, com base na linha
genérica apresentada. A quarta linha divide os/as marcos/fases, a quinta linha
apresenta os eventos/acontecimentos de cada fase, a sexta linha mostra o período
de duração do evento informado por eles em dias, meses e anos e a sétima linha
acumula o tempo desde o primeiro evento apontado por eles.
90
Quadro 3: Linha do Tempo Social do Empreendimento Costura Industrial
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo
Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de
planos/projetos Implantação do
empreendimento Início de operação Comercialização
Ponto de
equilíbrio
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo
“Formação do coletivo”
“Capacitação”
profissional
“Comercialização” “Constituição Legal” “Elaboração de
planos/projetos”/
Implementação do
empreendimento”
“Inicio da operação” “ Ponto de
equilíbrio”
F1: constituição dos
membros
F2: estrutura
organizativa
F3: Divisão de
tarefas/modo de
funcionamento do grupo
F1 (90 dias):
Capacitação em
costura básica
industrial
F1: “ Pedido -
Encomenda” ( + de
100 uniformes)
F2: Estabelecimento
da freguesia/cliente
(1)
F1: Produção iniciada
(2)
F3: Formação do
preço
F1: Discussão
coletiva para
formação do
empreendimento
F2: Registro e
legalização da
Entidade
(cooperativa)
F3: Formalização da
direção
F1:Formação de
parceiros para montar
negócio (3)
F2: Definição do
produto
F3: Definição de
valores
F4: Instalação física
F5: compra de
equipamentos/
Maquinários (4)
F6: Estabelecimento
F1: Produção
iniciada (5)
F2: Realização da
receita
F3: Controle de
qualidade do produto
F4: Formação do
custo
F5: Estoque
F1: Ponto
de
equilíbrio -
a partir de
2010 (6)
91
(1) primeiros clientes: 1º LC Bueno; 2º RR; 3º empresa do grupo mantenedor e na 1ª venda o cliente adiantou 50% e depois pagou o restante; (2) produção
iniciada com 200 peças – 100 pares enquanto grupo; operação iniciada sem entidade legalizada; (3) Parceiros em 2007 para montar o negócio: NDR,
Fundação e empresas do grupo mantenedor; (4) no mesmo período da capacitação (5) operação inicia com entidade legalizada; (6) consideram próximo da
autossustentabilidade em torno de 50%.
de fornecedores
2002
2003/2004
F1 - 1 ano
F2;F3 – 2 anos
2005
F1: 3 meses
2005
F1: 1 semana
2006
F1; F2: 1 ano
2006/2007
F1; F2; F3: 1 ano
F4;F5;f3: 3 meses
2006/2007
2008/2009
2010 –
2014
1 ano 3 anos 3 anos 4 anos 5 anos 7 anos 9 anos
92
Os primeiros grandes marcos/fases destacados na linha – Formação do Coletivo,
Capacitação profissional e Comercialização –, aconteceram enquanto era um
grupo informal de mulheres catalisadas pelo projeto de geração de renda fomentado
pela Fundação. Nessa fase, ao mesmo tempo, em que eram formadas
empreendedoras já exercitavam a venda de uniformes para as empresas, utilizando
nota avulsa. Estas fases também aconteceram ao longo do empreendimento após
sua legalização.
A Fundação garantiu a seus empreendimentos sociais, em especial a este, uma
base inicial a partir de um projeto de geração de renda, focado no fortalecimento da
mulher na família, por meio de uma estrutura de acompanhamento, do microcrédito
para investimentos, que possibilitaram ganhos para a Cooperativa.
[...] da Fundação temos também de investimentos em maquinários, também parte do apoio técnico, temos da Fundação apoio quanto à gestão através de treinamentos com todos. Sempre tem um apoio na questão de comercialização, eles mesmos divulgam a gente. (ESCI_PADP).
Com a legalização da entidade, a Cooperativa passa a ser apoiada por outro projeto
dentro da Fundação: a Incubadora de Econegócios Solidários e Sustentáveis,
desenvolvida em conjunto com inúmeros parceiros regionais, nacionais e
internacionais, membros do Fórum de Desenvolvimento Local, cujo objetivo é
fomentar negócios solidários e sustentáveis.
Segundo relatórios técnicos da Fundação, a Incubadora possibilitou aos seus
empreendimentos incubados, capacitações gerais (em consultoria motivacional,
gestão financeira e contabilidade cooperativa, gestão da qualidade e sistema de
produção cooperativista) e capacitações específicas para a Cooperativa (plano de
negócio para a montagem de núcleo de produção e comercialização, gestão da
qualidade na produção de uniformes profissionais, gestão de estoque e logística de
materiais), bem como, monitoramento e orientações a cerca da administração,
finanças, rotinas organizacionais, produção e relacionamento com cliente/mercado,
orientação técnica financeira e contábil e elaboração de projetos para a captação de
recursos via entidades financiadoras privadas.
93
Durante o grupo focal, em especial na formação da Linha do Tempo Social do
empreendimento, surgiu uma grande fase referente à capacitação profissional em
costura básica industrial pelas mulheres. Segundo relatório técnico da Fundação
sobre o histórico do grupo, o processo de qualificação ou capacitação profissional foi
desenvolvido em vários momentos, de forma continua, em parceria com o SENAI do
Amapá. Foi composto por cursos de costura básica, costura industrial, camisaria e
calçaria em tecido e malharia, buscando a qualificação das mulheres para atender
as necessidades das empresas locais.
[...] foi lançada uma proposta para a gente: fazer uma capacitação para saber se realmente era aquilo que nós queríamos. E essa capacitação foi de corte e costura. Aí a Fundação entrou em parceria com Senai. Foi consultado com eles sobre uma professora que poderia ser destacada para cá, para nos capacitar. E essa capacitação durou três meses [...]. (ESCI_PAVP).
Nessa nova fase incluiu-se um novo evento – Pedido encomenda –, e foram
acrescentados eventos previstos em outras fases como o Estabelecimento da
freguesia/cliente, Produção iniciada e Formação do preço. A produção iniciada
aparece nessa fase como produção com o grupo ainda não formalizado, tanto que
esse evento se repete na fase Início da Operação, cuja produção já tem um grupo
legalizado.
Na fase Elaboração de planos/projetos/ Implementação do empreendimento foi
incluído um novo evento Formação de parceiros para montar negócio de grande
importância para a Cooperativa.
Destacou-se ainda na Linha do Tempo Social a importância das parcerias
estabelecidas, em especial com a Fundação e com a sua Empresa Mantenedora, a
todo o momento, citadas nos marcos/fases importantes do empreendimento. Além
dessas parceiras, foram citadas, também, a Prefeitura local e o SEBRAE.
Ao final, os participantes do grupo focal expuseram o alcance da fase Ponto de
Equilíbrio em 2010, quando vivenciaram um auge nas vendas dos uniformes na
região e, segundo registro técnico da Incubadora, nesse período realizaram um
faturamento ano da ordem de R$ 440 mil reais.
94
Nessa ocasião, a Cooperativa expandiu seus clientes para além das terceirizadas da
grande empresa, vendendo uniformes para uma prestadora de serviços de uma
grande hidrelétrica da região com atuação também em Ferreira Gomes/AP. “[...] eles
começaram com a gente aqui na Barragem, e quando eles retornaram para lá para
Ferreira Gomes, eles pediram [uniformes] novamente. Eles são nossos clientes”.
(ESCI_PAVP).
De 2010 a 2013, a Cooperativa se manteve em situação de equilíbrio. Em 2013, a
paralização da fabrica da grande empresa mantenedora provocou uma queda em
sua demanda, fazendo cair à produção e as vendas. Mas, os participantes acreditam
que este é um período conjuntural, mas de grande aprendizado para buscar a
diversificação de produtos e a independência do mercado local.
Com relação ao caminho da autossustentabilidade, eles estimam já terem superado
50% dessa trajetória. Expressaram, ainda, que, em 2015, o cenário deve mudar com
a modernização da fabrica e com o retorno das suas atividades normais na região.
De acordo com o site da empresa e com os grandes jornais em circulação na região,
a fábrica retomou suas atividades normais em meados de 2015.
2.3.11 Visão da Instituição Apoiadora do Empreendimento Social Costura
Industrial
O objetivo da Fundação ao fomentar esse empreendimento foi o de desenvolver a
economia local, melhorando as condições de vida das suas famílias através da
ampliação da renda familiar e do desenvolvimento da cidadania das mulheres.
Após incentivar a formação legal do empreendimento, a Fundação garantiu o
suporte e o direcionamento do negocio por meio da Incubadora Econegócios com
um atendimento prestado com ações e atividades focadas no fortalecimento do
negócio durante quatro anos, sendo três dentro do prazo previsto e um ano de
extensão necessária avaliada tecnicamente. Entre 2009 e 2010, esse
empreendimento foi desligado do atendimento da Incubadora, dando espaço para
novos empreendimentos a serem incubados.
95
A Fundação presta todo assessoramento administrativo e contábil para essas instituições com a finalidade delas se autossustentarem. Tanto técnico quanto o acompanhamento das atividades e também procurando novos mercados para ajudar a escoar essa produção, e capacitando essas instituições para que elas consigam fazer as vendas dos seus produtos (FS_PA1).
A instituição apoiadora nos últimos anos, 2011 a 2013, manteve o relacionamento
com o empreendimento egresso da incubadora (dando suporte e apoio sempre que
solicitada) e acompanhou os indicadores econômicos, focada no faturamento.
Em 2014, optou por realizar uma nova intervenção, em virtude do cenário econômico
crítico instalado na região e por ter identificado algumas questões a serem
trabalhadas, além de ter sido procurada pela Cooperativa. Foi nessa época que
buscaram a parceria com o SEBRAE local para a capacitação em linha de produção
diversificada da costura e também para oportunizar a inserção de novas mulheres na
Cooperativa, além de resgatar a gestão participativa para resolução de conflitos
interpessoais, por meio da disponibilização de um técnico com a função de fortalecer
o engajamento da equipe e desenvolver lideranças potenciais.
Na visão de FS_PAT1, que acompanhou a Cooperativa na Incubadora ela ainda
carece de se tornar independente do parceiro (a Fundação), de um trabalho de
fortalecimento de gestão do empreendimento com vista ao preparo de lideranças
dentro de um processo de autogestão, bem como de abertura de mercado regional.
Ela continua dependente do parceiro. Não procura novos mercados. Espera muito o parceiro procurar por elas. É uma Cooperativa composta por senhoras já com idade acima de cinquenta anos e então eu acho que pessoas novas iria fazer a diferença, pois capacitações na parte técnica elas tem, elas sabem fazer, mas falta uma pessoa hoje para gerir melhor. Isso não significa que elas estão no vermelho, não. Pelo contrário. Elas têm receita, elas têm mercado local. Mas elas se prendem muito a esse mercado local. No meu ponto de vista elas deveriam procurar um mercado mais fora, Macapá [Amapá], Belém [Pará]. Elas já têm um nome, já têm uma história escrita. Então já está na hora delas tentarem procurar. (ES_PAT1).
A Fundação continuou apoiando a iniciativa e trazendo oportunidades para a
Cooperativa por meio de seus parceiros no intuito de promover a diversificação dos
produtos, mesmo após o encerramento das atividades de incubação na Incubadora
de Econegócios Solidários Sustentáveis, Atualmente, a Fundação vem garantindo o
suporte técnico, trabalhando com o grupo o fortalecimento do coletivo, para evitar os
96
conflitos existentes, por meio do desenvolvimento de ações de relações
interpessoais. Além disso, vem garantindo o suporte orientativo para a organização
das eleições para os cargos diretivos e de conselho fiscal.
Graças a Deus quem tem sido o nosso patrocinador muito especial é a Fundação. Inclusive agora [agosto de 2014] está acontecendo esse curso que nós queremos muito, mas não tínhamos condições de bancar um curso desses porque o custo iria ser muito alto. Como a Fundação tem a parceria com o SEBRAE. Inclusive lá no SEBRAE hoje tem um amigão que era da Incubadora (Incubadora de Econegócios da Fundação). Então eu creio que ele também teve sua contribuição de puxar isso aqui para o Planalto, porque eles andaram esses arredores todinhos e não encontraram um laboratório igual ao nosso, ou seja, a Cooperativa, para que fosse produzido esse curso. (ESCI_PAVP).
Para a Fundação apoiadora a Cooperativa vem trilhando um caminho para a
autogestão e sustentabilidade, por conta de apresentar nos indicadores econômicos
resultados notáveis para um empreendimento de base comunitária.,
Quando perguntado sobre a autossustentabilidade da Cooperativa, o coordenador
FS_PACO colocou que “[...] mais dois anos, fazendo um trabalho de
acompanhamento, eu acho que aí elas se autossustentam mesmo”.
Deste modo, é perceptível que a Cooperativa, mesmo com todos os investimentos
realizados em um tempo considerável de acompanhamento e com condições
favoráveis, ainda necessita de mais um tempo de maturação para finalmente ser
considerada autossustentável e capaz de enfrentar as adversidades e a
complexidade do processo de formação de um empreendimento social de viés
comunitário.
Ressalte-se que essa visão é corroborada pela Fundação e pelas próprias
associadas que estimaram, em sua Linha do Tempo Social, em cerca de 50% o
caminho já trilhado para a autossustentabilidade, precisando fazer, ainda, alguns
ajustes. ESCI_PAGF5 comenta que:
Não precisa de muito tempo, o mercado tem, a demanda tem, agora está um pouco baixa, mas vai melhora, vai voltar e precisamos chamar pessoas novas para cá para trabalhar, porque somente nós não vamos dar conta. Então tendo demanda, tendo quem produza e entregando no dia certo para nossos clientes, o dinheiro vai entrar, pois nessa região alguns dizem que
97
nosso preço é alto, ou que nossa costura não é boa, de qualidade, mas eu aposto nessa região quem faz melhor. (ESCI_PAGF5).
A seguir, registram-se os resultados da pesquisa realizada no grupo produtivo
mineiro.
2.3.12 Empreendimento social apoiado pelo Instituto Social mineiro: Grupo
produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu (ESGP_MG2012/2013)
Os empreendimentos sociais apoiados pelo Instituto Social em Minas Gerais são
dois grupos operativos produtivos informais: um formado em fevereiro de 2012,
desenvolvendo produtos da fibra da bananeira; e o outro, datado de outubro do
mesmo ano, desenvolvendo produtos do bambu.
A instituição apoiadora designou esses grupos, sediados em um município na
Macrorregião Central do Estado de Minas Gerais, como os que já estariam mais
avançados em relação ao investimento realizado pela instituição e ao processo
organizacional entre as unidades produtivas apoiadas. Segundo o Instituto Social,
antes de serem acolhidos como uma “unidade produtiva”, os participantes passam
por diversas oficinas de capacitação e formação.
O grupo produtivo que trabalha o bambu confecciona objetos de decoração, entre
outros. O grupo produtivo da fibra de bananeira utiliza essa matéria prima principal,
para a confecção de luminárias, caixas, cadernos, agendas etc. Todos os produtos
são feitos sob encomenda e destinam-se a eventuais feiras e eventos, e a clientes
diversos. O produto que sobra é exposto para a venda nas lojinhas do Instituto
Social.
2.3.13 Visão da representante do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu
Como esses grupos ainda estão na informalidade, e não estão dotados de uma
estrutura organizacional e nem física própria, a entrevista foi realizada com uma
pessoa de referência de um dos grupos produtivos, alocada atualmente no grupo da
98
fibra de bananeira, mas com experiência também no outro grupo. Recorreu-se a
essa representante (ESGP_MGR) para obter o entendimento da dinâmica dos
grupos, bem como sua visão sobre o coletivo e sobre o futuro dos empreendimentos.
A ESGP_MGR faz parte deste grupo deste o seu início. Ela chegou a pertencer tanto
ao grupo da Fibra de Bananeira quanto ao do Bambu, mas teve que optar por um
dos dois, em razão de uma escala de encomendas recebidas.
Eu participo só da fibra, a gente participava da fibra e do bambu, só que estava vindo encomenda muito grande, ai a gente tinha que ficar só na fibra. Ai quem é do bambu ficou só no bambu e a gente ficou só na fibra, para poder dar conta, senão a gente não ia dar conta de fazer (ESGP_MGR).
No grupo da fibra de bananeira são produzidos “capas de cadernos, caixas, flores,
jarros, criação nossa, tem de porta guardanapos” (ESGP_MGR), sendo os porta-
guardanapos e as flores os produtos de maior saída. Entretanto, atualmente, as
vendas estão muito fracas. ESGP_MGR informou que, por ocasião da pesquisa,
apenas 4 membros eram frequentes no grupo, em sua maioria senhoras de idade,
sendo ela a mais nova do grupo. O grupo iniciou com um número significativo de
membros, mas muitos foram saindo em busca de fontes de renda fixa.
O artesanato que não é tão valorizado. É o tempo de espera que precisa para isso acontecer. Não uma questão que a pessoa é remunerada pelo trabalho que ela faz. Ela pode até ser remunerada, mas o tempo que leva para isso acontecer é muito grande. Por isso que várias desistem, porque não uma coisa imediata. (ESGP_MGCP).
ESGP_MGR tem consciência da necessidade de um número maior de membros no
grupo, entretanto, não associou isso ao aumento de produção, visto que declarou
receio de haver uma redução no rendimento individual. Por outro lado, informou o
cuidado de evitar abrir o diálogo no grupo sobre os problemas enfrentados, em
especial, aqueles relativos ao compromisso do grupo com o horário das atividades
para na perder outros componentes. “[...] a gente evita, porque já são tão poucas.
Depois vai que sai mais uma”. (ESGP_MGR).
ESGP_MGR informou, ainda, que os rendimentos, de acordo com a escolha das
trabalhadoras, são rateados mensalmente pelo Instituto Social, responsável pelo
monitoramento diário da presença e do número de peças produzidas. 70% do
99
faturamento ficam para o Instituto, que oferece à logística e a infraestrutura de
produção e de venda; 30% são distribuídos proporcionalmente entre os membros
dos grupos responsáveis pela produção, de acordo com a frequência e o número de
peças produzidas.
[...] ai a gente anota tudo que é feito em um dia, ai quando vem o papel com o pagamento falando o que vem sendo pago, eu anoto lá e divido por presença. Por exemplo, a gente olha lá pagando 20 jarros, ai eu olho lá na presença da produção do jarro, ai vê a presença de todo mundo e divido aquele valor. [...] É por enquanto esta sendo, porque ai a pessoa vai estar pelo menos recebendo, pelo que ela trabalhou. É porque se a pessoa falta demais ela irá ganhar pelo que ela fez, proporcional a presença dela. (ESGP_MGR). Tanto da fibra quanto do bambu é assim, a gente anota que veio no dia e trabalhou e depois para somar os dias trabalhados. E se faltar, não recebe. O pagamento é feito por presença. Ao final soma tudo que foi vendido e divide pelos presentes pela quantidade de presenças.(ESGP_MGGF5).
As vendas nas lojas da Instituição Social não absorvem as produções semanais, o
rendimento proporcionado é inferior a R$60,00/reais mês. Os melhores rendimentos
advêm do atendimento das grandes encomendas trazidas pelo Instituto Social, que
proporcionam uma renda média em torno de R$ 400,00 a 500,00 reais para cada
trabalhadora/ mês.
Segundo a direção do Instituto Social, o acordo com as participantes dos grupos
produtivos é muito claro, com respeito ao usufruto da infraestrutura e à distribuição
dos rendimentos.
Elas não têm gasto nenhum. Elas vêm para o espaço, aqui elas têm todo o maquinário, todo material necessário que elas gastariam naquele produto; e fora a infraestrutura: água, luz, telefone, lanche [...]. Se elas quiserem passar o dia inteiro aqui, elas têm a estrutura necessária para trabalhar um dia inteiro. Isso foi um acordo, foi conta feita pela contabilidade, pelo administrador financeiro, que a gente chegou nesse número que não poderia ser diferente. Que a gente cobriria os custos. Se não tiver isso [os 70%], a gente não conseguiria nem recomprar o material para elas e manter bambu e o orientador, que é um responsável daqui, porque elas só trabalham quando tem um responsável acompanhando. (IS_MGCP).
Quanto à visão de autossustentabilidade e autonomia, ESGP_MGR informou que
não consegue vislumbrar isso no futuro, visto que para a fabricação dos objetos é
100
dependente do suporte e da estrutura do Instituto Social, que oferece o maquinário,
o espaço físico, e o capital de giro para compra de insumos e materiais necessários.
2.3.14 Visão dos associados do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu
Oito mulheres pertencentes ao grupo produtivo da Fibra de Bananeira/ Bambu
participaram do grupo focal. No primeiro momento foi realizado um detalhamento
dos objetivos da pesquisa e leitura do TCLE e Termo de autorização de imagem e
depoimentos. Elas realizaram questionamentos que foram esclarecidos pelo
pesquisador. Após os esclarecimentos, todas se manifestaram interessadas e
dispostas a participar.
O quadro a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Grupo produtivo Fibra de
Bananeira/ Bambu modificado pelos participantes do grupo focal. A quarta linha
divide os/as marcos/fases, a quinta linha apresenta os eventos/acontecimentos de
cada fase, a sexta linha mostra o período de duração do evento informado por eles
em dias, meses e anos e a sétima linha acumula o tempo desde o primeiro evento
apontado por eles.
A construção dessa Linha do Tempo social apresentou um nível maior de dificuldade
pelo fato de reunir num mesmo grupo focal os dois grupos produtivos. Além de
apresentarem características diferenciadas, o de Fibra de Bananeira iniciou suas
atividades em fevereiro de 2012 e o do Bambu, em outubro de 2012.
101
Quadro 4: Linha do Tempo Social do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo
Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de
planos/projetos Implantação do
empreendimento Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio
Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo
“Capacitação”
“Formação do
Coletivo”
“Elaboração de
plano/projetos”
“Inicio da operação” “Comercialização”
F1: Oferta de Cursos
F1: Constituição dos
membros
(Quem quer ficar)
F2: Divisão de
tarefas/modo de
funcionamento do
grupo
F1: doação de
matéria prima
(somente a fibra)
F2: Definição do
produto
F3: Planejamento da
produção
F4: definição dos
valores do produto
(entra formação
custo)
F1: Estoque (1)
F2: Produção
Iniciada
F3: Controle de
qualidade do produto
(2)
F1: Modelo de
remuneração
F2:Estabelecimento da
Freguesia
F3: Modelo de gestão
(3)
102
2012
F1:
Fev/2012 – Fibra da
bananeira
Out/2012 - Bambu
2012 / 2013
F1;F2;
Jun/2012 - Fibra; Final
de 2013 - Bambu
2013 / 2014
F1;F2;F3 e F4
Inicio 2013 – Fibra
Inicio 2014 - Bambu
2013 /2014
F1;F2;F3
Inicio 2013 – Fibra
Inicio 2014 – Bambu
2014
F1; F2; F3
Fibra e Bambu
Fibra: 04 meses
Bambu: 1 ano
Fibra: 10 meses
Bambu: 2 mês
Fibra:1 ano
Bambu: 1 ano
Fibra:1 ano
Bambu: 1 ano
Fibra: 2 ano e 08
meses
Bambu: 2 anos
(1) G. Bambu - tem o bambu, mas não está tratado e o G. Fibra tem papel em estoque; (2) Profissionais da instituição apoiadora que fazem o controle de qualidade; (3) somente o G. Fibra tem o modelo de gestão.
103
Também nesse caso incorporou-se uma nova fase à Linha do Tempo Social usada
como referência para dar início aos trabalhos, denominada Capacitação,
responsável por desencadear a formação dos grupos produtivos, posicionando-se
no início da Linha do Tempo Social nos dois grupos. Este fato decorreu da
Instituição Social ter iniciado suas atividades na comunidade, por meio da promoção
de vários cursos, introduzidos de forma aleatória, tais como: artesanato, bordado,
bijuteria, fibra de bananeira, bambu etc.
A maioria das fases e eventos, na Linha do Tempo Social, foi comum aos dois
grupos. As poucas diferenças foram identificadas no grupo da fibra de bananeira,
relativas a um evento novo, na fase de elaboração de projetos – Doação da
matéria-prima – recebida dos membros da comunidade. Na fase de
Comercialização foi incluído o evento modelo de gestão.
Os dois grupos adotaram a divisão de funções entre os membros, mas todos são
capacitados em todas as etapas dos processos produtivos.
Durante o grupo focal, percebeu-se nas falas dos participantes, um sentimento de
ligação fraternal entre os membros dos grupos e com o Instituto Social. Elas entram
com a força de trabalho e o Instituto Social define a clientela e garante a
infraestrutura e a logística necessária. ESGP_MGGF5 colocou que:
[...] não gostaria de trabalhar no grupo independente. É muito difícil! Acho que seriam cinco anos. Eu não dependo financeiramente daqui e dependo das pessoas porque sinto bem com elas, e eu seria voluntária se fosse independente. (ESGP_MGGF5).
Alguns participantes manifestaram que não queriam ser independente do Instituto
Social, e que se isso ocorresse, as perspectivas seriam diferentes: alguns acreditam
que seriam capazes de continuar o negócio, outros veem o grupo como uma terapia,
um local de encontro e descontração.
Os parceiros citados pelos grupos incluem o Instituto Social, intermediário na
aplicação do investimento de uma empresa local. Ao serem indagados sobre a
autossustentabilidade dos grupos, argumentaram que para realmente atingir essa
104
fase, precisariam de um prazo mais longo, com um acompanhamento para a gestão
de negócio, além de necessitarem mais pessoas, maquinário próprio, capital de giro,
atividade de marketing/divulgação, formação em gestão de negócio e
comercialização, além de espaço físico próprio.
[...] acho que precisaria empenho porque conseguir material, maquina, tem que ter se não, não tinha grupo produzindo. Tudo no inicio é difícil e certa coragem pra fazer empréstimo e montar uma equipe solida. O que é necessário é maquinas e tem que ter. Falo de empenho, por exemplo ter, mais pessoas para depois tá montando o maquinário. Tem que levar mais tempo para as pessoas conhecerem o trabalho, tem que ter divulgação para acreditar no produto. É complicado arriscar, gastar por um produto que as pessoas não conhecem. (ESGP_MGGF1).
Segundo ESGP_MGGF7, “[...] não adianta, ter produto e não ter pra quem vender.
Tem que ter gestão. Acredito que com dois anos com gestão de negócios daria para
ter um caminho para autonomia”.
2.3.15 Visão da Instituição Apoiadora do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/
Bambu
Sob o ponto de vista do Instituto Social Mineiro, fomentar núcleos produtivos
possibilitaria às pessoas uma alternativa de vida diferente das que estavam
vivenciando. Dessa forma, seu objetivo foi a capacitação para o aperfeiçoamento
técnico em um produto com o qual a pessoa se identifique e queira trabalhar.
O grupo produtivo pesquisado apresentou a necessidade de que sejam introduzidas
muitas outras fases para ser transformado em empreendimento social. O Instituto
Social já implementou a incubadora social em outras unidades e apontou durantes
as entrevistas que tem um planejamento para que a incubação seja uma realidade
com esses grupos produtivos.
No início era muito informal. A gente simplesmente queria as pessoas fazendo alguma coisa que elas gostassem, até como uma forma de sair de casa, de ter essas pessoas por perto e elas terem um momento de encontrar. Então era despretensioso o projeto no início. Era para a gente fazer as oficinas juntos, ficar juntos, trocar ideias e tal. Mas tudo tende a aumentar e crescer, e também existe uma expectativa dos dois lados, a gente queria vê-las crescendo e elas também queriam crescer, e a gente começou realmente a ter um material em mãos bastante significativo. A
105
qualidade do artesanato, isso definiu demais a linha de trabalho. Eram artesãs muito primorosas com o trabalho. A gente foi criando peças e o negócio não parou mais. Mas a formalização disso, agora que a gente está começando com a incubação. (ESGP_MGCP).
As entrevistadas informaram que a instituição apoiadora em determinado momento
ponderou sobre o custo/benefício do investimento em núcleos produtivos, mas
decidiu continuar com a atividade e qualificar tecnicamente melhor a equipe de
acompanhamento para um trabalho contínuo junto ao grupo produtivo.
Então assim, é isso que a gente está pensando: vale a pena gerar toda essa energia de recurso e de investimento num grupo que não está coeso nos seus objetivos? Se esse processo vai ser contínuo, as pessoas que estão mediando esses grupos também precisam ter uma capacitação porque elas não estão prontas. O Instituto Social se formou com uma pessoa daqui com outra dali, vamos juntar e aprender juntos, mas não tem ninguém pronto; ninguém chegou pronto. Não é um lugar de profissionais
que vieram profissionalmente, foi se formando aqui. (ESGP_MGDI).
Segundo a diretora institucional ainda não há uma metodologia unificada para esse
trabalho de geração de renda, apesar de já ter acumulado experiência,
principalmente, porque, ela avalia que o processo de implementação de projetos de
geração de renda demanda um longo prazo. Entretanto, muitas das vezes os
investimentos são de curto prazo ou pontuais, como, por exemplo, os prêmios
(valores financeiros) que já receberam pelo desenvolvimento dos núcleos produtivos.
Existe uma unanimidade na hora que a gente vai avaliar o processo, se não está funcionando, realmente esse sintoma é percebido, isso precisa ser tratado, isso precisa ser resolvido, isso precisa ser transformado. Mas na hora de lidar com a coisa não existe uma metodologia, uma pedagogia unificada que garanta um processo contínuo de formação de grupo. O prêmio é bacana, é, mas ele é pontual. Então ele tem uma dimensão importante de chegar no momento e salvar. Mas ele não dá sustentabilidade e ele não tem dimensão para gerar sustentabilidade num projeto como este, de economia viva, de geração de renda. Porque é processo de longo prazo. (entrevistada ESGP_MGDI).
Os investimentos nos grupos produtivos tiveram início sem muita clareza e sem
conhecimento técnico. Elas reconhecem a falta de uma metodologia para lidar com
os grupos residentes, tornando-os dependentes da instituição.
A gente não tinha uma clareza planejadora. Éramos tão crus como eles nesse processo. Só com alguma intenção. Foi tudo uma descoberta. Então, foi um processo de aprendizado. [...] Eles [os grupos] não são nem ainda de
106
incubação ou de pré-incubação, eles estão num processo tão anterior a isso e são residentes, eles estão no nosso espaço. [...]. A gente não conseguiu criar uma metodologia de como conduzir grupos residentes para que eles não se sintam dependentes, para que sejam co-participativos, para que eles se compreendam no processo. (entrevistada ESGP_MGDI).
No desenvolvimento dos grupos produtivos, os representantes do Instituto Social
identificaram alguns resultados, conforme citado a seguir:
Tem pessoas que falam aqui que saíram da depressão na época que elas ficaram aqui, tem pessoas que ganharam empregos por conta do que aprenderam aqui. Tem pessoas que montaram negócios por conta do que aprenderam aqui. Tem pessoas que não fizeram nada, a princípio visível, com o que elas aprenderam aqui. É uma diversidade enorme de impactos sobre o outro que você tem muito pouco controle depois se você não cria os instrumentos para medir, para entender, para avaliar. (ESGP_MGDI).
No âmbito do investimento em grupos produtivos, a instituição criou uma linha de
atuação para a geração de renda que visa à empregabilidade. Para isso, contratou
pessoas com “expertise” nas técnicas oferecidas nos cursos, para introduzir as
linhas de produção nas comunidades trabalhadas. No processo os participantes dos
primeiros cursos se apropriaram das técnicas dos cursos e se tornaram monitores
em outras unidades, dessa forma se exercita um protagonismo não exatamente em
empreendedorismo, porém em multiplicação do conhecimento.
O que é da loja é um trabalho de empregabilidade, que é tão benéfico para a sociedade quanto. Mas não é um trabalho de autogestão, de protagonismo produtivo. Além de gerar empregos, hoje eles são os monitores que estão dando aulas [...].Então, essas pessoas que são funcionárias, elas também têm alto nível de evolução. Talvez não na parte criativa, mas na parte do conhecimento técnico, para poder repassar. Até nisso a gente conseguiu ver um benefício social e elas se sentem orgulhosas. (ESGP_MGDI).
Para a instituição apoiadora, a parceria com uma Fundação empresarial atuante na
região para promover processos de incubação, vem garantindo um cenário de
fortalecimento técnico em metodologia social para a incubação de empreendimentos
coletivos e individuais comunitários. No momento da realização da pesquisa, o
Instituto se encontrava em preparação para fortalecer o Grupo Produtivo em questão
e inseri-los na Incubadora Social e que seria financiado por uma nova instituição
financiadora desse grupo. Essa nova modalidade de apoio a ser oferecido é dotada
de recurso financeiro para os empreendimentos incubados, restringido a um prazo
de três anos de incubação, segundo o modelo da instituição financiadora. “[...], um
107
[ano] para o diagnóstico e capacitação, e dois [anos] para o processo de incubação
formal”. (ESGP_MGDI). Neste caso, o Instituto Social exercerá a função de
mediador e o controle do novo parceiro será mais rigoroso do que o método de
monitoramento dos parceiros habituais.
Quanto à autossustentabilidade, ainda estão realizando ações de fortalecimento do
negócio do grupo produtivo. Sobre a previsão do momento de suspensão do apoio
aos grupos, a coordenadora do projeto confirmou essa preocupação, mas, ressaltou
que a instituição está amadurecendo essa possibilidade.
É difícil para a instituição ter essa maturidade, entender isso, mas a gente sabe da necessidade disso e a gente se prepara para isso. E a gente ao mesmo tempo coloca que inclusive outras pessoas virão e a gente não pode ficar abraçando e apoiando um único grupo.[...]. (ESGP_MGCP).
2.3.16 Síntese dos resultados segundo as categorias
Diante do detalhamento de cada empreendimento, se destacam nesse item as
categorias escolhidas para demonstrar o desenvolvimento de um empreendimento
social envolto em um tempo social, dentro de um processo de gestão social, para
que se possa pretender o alcance da autossustentabilidade.
No quadro 5 abaixo, se destacaram as principais inferências de cada organização a
partir de uma análise comparativa, exercitando o aprendizado para a
autossustentabilidade, proporcionado pelo conhecimento das experiências vividas
pelos três empreendimentos pesquisados, a partir de uma concepção de gestão
social.
108
Quadro 5: Síntese das Categorias por empreendimentos e parâmetros de gestão Social
Nº CATEGORIA EMPREENDIMENTO INFERENCIAS COMPARADAS CORRELAÇÃO GESTÃO SOCIAL
PRÓXIMIDADE DA
AUTOSSUSTENTABLIDADE
1 Coletivo do
empreendimento
ESAX_PA2001 Formalização legal; coletividade familiar; unidos por objetivo comum;
presença de coesão entre membros
Coletivo solidário, dialógico e coeso. Entretanto, é ainda necessário alcançar um tipo de governança mais horizontal
ESCI_PA2006 Formalização legal; redução de membros; fragilidade relações
interpessoais
ESGP_MG2012/2013 Grupo informal; redução de membros; mentalidade de empregado;
unidos pelo afeto
2 Organização e divisão do
trabalho (estrutura)
ESAX_PA2001 Estatuto; há divisão de trabalho/ mas não é suficiente para a oferta da
floresta; estruturas individuais e coletivas para coletar castanha
Autogestão, estrutura organizacional horizontal
e definição democrática das funções de acordo
com os conhecimentos, habilidades, atitudes do
associado e mediante participação dele nas
definições
ESCI_PA2006 Estatuto e regimento interno; espaços e maquinários próprios
ESGP_MG2012/2013 Não tem estrutura própria / utilizam a do apoiador
3 Remuneração e
distribuição das sobras
ESAX_PA2001 Existência de fundo coletivo (contribuição e eventos); remuneração por
produção; media com alta produção: mais de 1 SM/ associado
Definição democrática e participativa, de acordo
com o comprometimento com a organização em
trabalho ESCI_PA2006 Remuneração por produção/dia frequência; media com alta produção:
500,00 a 600,00; media com baixa produção: R$ 300,00
ESGP_MG2012/2013 Remuneração por frequência e produtos vendidos; media com alta
produção: R$ 400,00 a 500,00; media com baixa produção: R$ 50,00 a
60,00
4 Treinamento e
aprendizagem da dinâmica
do negocio
ESAX_PA2001 Valorização do aprendizado; realização de várias capacitações em
técnica e gestão; direcionamento para diversificação da produção
Organização de aprendizagem para o processo
de aperfeiçoamento
ESCI_PA2006 Valorização do aprendizado; realização de várias capacitações em
109
técnica e gestão; direcionamento para diversificação da produção
ESGP_MG2012/2013 Valorização do Aprendizado; realização de varias capacitações em
técnica; escola de aprendizagem
5 Planejamento, direção e
controle
ESAX_PA2001 Consolidação do negocio; empreendimento incubado; gestão do negócio;
orientação para a demanda do mercado local e visão maior da demanda
Processo em avanço para governança
ESCI_PA2006 Consolidação do negocio; empreendimento incubado; gestão do negocio;
orientação somente para a demanda do mercado local
ESGP_MG2012/2013 Esperam as encomendas do apoiador; não têm projeto/ plano de
negocio; não têm gestão de negocio; empreendimento a ser incubado
6 Captação de recursos ESAX_PA2001 Participação em concorrência para financiamento de projetos (cozinha
para biscoito, casa de farinha mecanizada); financiamento do
investimento e capital de giro; acesso a políticas públicas (DRS Banco do
Brasil, PRONAF, PNAE)
Acesso a políticas publicas de credito; captação
de projeto a fundo públicos e privados e busca
de parcerias
ESCI_PA2006 Acesso microcrédito do apoiador; financiamento privado a fundo perdido
(Petrobras)
ESGP_MG2012/2013 Não acessou
7 Participação no processo
decisório
ESAX_PA2001 Participação ativa dos sócios; processo decisório coletivo; diálogo
permanente e transparente nas reuniões; direção participativa
Indícios de pratica de autogestão e demonstra
está mais independente da participação do
apoiador nas decisões coletivas.
Pratica da transparência juntos aos associados.
ESCI_PA2006 Pouca participação; não vêm realizando reuniões; direção centralizada
ESGP_MG2012/2013 Dependência da instituição apoiadora
8 Autonomia e visão de
pertencimento
ESAX_PA2001 Autogestionários; visão de donos do negocio; visão de pertencimento Construção de identidade coletiva e
empoderamento ESCI_PA2006 Cooperativos; não se veem como proprietárias do negócio
ESGP_MG2012/2013 Não se veem sem a instituição apoiadora
110
9 Diversificação e inovação
de produto (qualidade)
ESAX_PA2001 Atingiram qualidade no produto principal; inserção de outros produtos
para comercialização como agricultura e derivados e derivados da
castanha
Busca de caminhos de inovação para
crescimento coletivo
ESCI_PA2006 Qualidade de produto nos uniformes; inserção de novos tipos de
vestuário
ESGP_MG2012/2013 Diversificação de produtos, a partir de encomendas
10 Distribuição do produto
(logística, comercialização,
marca e mercado)
ESAX_PA2001 Marca reconhecida na região; negócio incentivado/ mas ainda pagam
impostos altos para os derivados agroindustriais (17%)
Publicização do seu trabalho com articulação
entre politica publica e privado e entre social e
econômico ESCI_PA2006 Marca reconhecida na região; impostos e taxas altos para as atividades;
carteira de clientes
ESGP_MG2012/2013 Dependência do apoiador
11 Melhoria na qualidade de
vida dos associados
ESAX_PA2001 Credito na praça; renda satisfatória; aquisição de bens e moveis;
realização profissional
Mudança e transformação social no individuo e
no coletivo com articulação entre o social e
econômico; direitos de cidadania
ESCI_PA2006 Aumento da renda familiar; novos conhecimentos adquiridos; aquisição
de bens e móveis
ESGP_MG2012/2013 Novos conhecimentos adquiridos; aumento na autoestima; participação
em eventos de interesse comunitário; satisfação com o grupo
111
Na comparação dos três empreendimentos pesquisados concluiu-se sobre a
seguinte ordem de avanço para a autossustentabilidade: o mais próximo deste
estado é o ESAX_PA2001; em seguida posiciona-se o ESCI_PA2006; e, por último,
o ESGP_MG2012/2013.
Os empreendimentos ESAX_PA2001 e o ESCI_PA2006 mesmo que apresentem
problemas e necessidades de ajustes, são de empreendimentos quase
independentes, pois superaram fases relevantes e estão próximos da
autossustentabilidade.
O que fez indicar esses dois empreendimentos foi a sensação que eu tenho a gente indo ou não no (ESAX_PA2001) [ou no] (ESCI_PA2006) eles funcionam lá e eles tem renda, hoje não posso dizer isso de outros, pois eles ainda apresentam uma dependência. (FS_PACO).
De uma forma geral, a partir da análise da Fundação Social paraense, os principais
gargalos identificados nos dois empreendimentos, ESAX_PA2001 e ESCI_PA2006
foram: gestão e mercado. Diante desse fato, é importante um monitoramento técnico
das ações e atividades para correção de rumos e ajustes.
O problema de todas as associações e cooperativas na região se chama gestão. Porque já é uma mão de obra experiente que sabe o que fazer na prática, mas não sabe gerir. Por isso, hoje, o maior gargalo se chama gestão. Tentar inserir novas pessoas nas instituições, pessoas com perfil de gestão. Vai ser aquela pessoa que vai gerir o negócio. Ela que vai ter o controle de quanto foi produzido, quanto foi gasto, como vai ser feita a distribuição, como vai ser feito o fundo do capital de giro. [...] Se não tiver mercado é frustrante. Para eles é. Porque eles produzem, o extrativismo vai lá e se não tiver mercado a mercadoria fica estocada ou estraga. [...] se não tiver monitoramento, se não tiver controle das receitas e dos custos, é a fase em que geralmente as instituições fecham. Quando a instituição realmente se autossustenta é quando já tem o domínio para gerir sua própria instituição. (FS_PAT1).
O empreendimento ESGP_MG2012/2013, mesmo com um tempo de caminhada,
ainda encontra-se em uma fase embrionária, necessitado de outra etapa de apoio a
ser executada com a incubadora social da instituição apoiadora, a partir de uma
metodologia de fortalecimento de um negócio, e em especial, para a promoção da
independência desse grupo produtivo do apoiador.
112
Destaca-se que mesmo em diferentes estágios, os empreendimentos sociais são
canais proporcionadores de melhoria de qualidade de vida aos seus associados.
Essa afirmativa pode ser auferida no grupo focal com os associados através do
Mapa de Indicadores de Satisfação, identificando em cada empreendimento, o grau
de satisfação dos seus membros e quais as melhorias proporcionadas por essa
participação.
Neste momento será dado destaque para o que foi considerado o primeiro mais
importante indicador entre os empreendimentos, segundo os três painéis de
indicadores apresentados – Painel Pessoal; Painel Profissão/Negócio e Painel
Família.
No painel Pessoal, para a maioria dos participantes do empreendimento ESAX-PA
2001 o indicador realização profissional/vocação é o mais importante. Todos os
presentes demonstraram ter o empreendimento como um espaço de exercício de
sua vocação como extrativista, tendo como objetivo a luta por melhores dias em
suas vidas. Este indicador pode ser evidenciado no seguinte depoimento:
Eu, na verdade, eu sou dependente disso quase que total, porque eu não tenho nenhuma outra profissão para dizer que vou me assegurar em outro local, o que sei fazer é trabalhar com o extrativismo com o que a floresta nos dar, trabalhar com a agricultura e se eu perder isso eu vou ficar de mão atadas [...]. Eu tenho uma dependência quase que total daqui. (ESAX_PAGF11). Um dos fatores é de eu ter nascido e ter ficado aqui eu sou dependente daqui totalmente e o que sei fazer é ser extrativista e agricultor e se eu for para cidade eu não tenho o que fazer, não tenho uma profissão e não tenho o saber, por isso que meus planos é por aqui. ( ESAX_PAGF4).
No entanto, no empreendimento ESCI_PA 2006, foi apontado pela maioria dos
participantes, empatados como o 1º mais importante os indicadores melhoria de
qualidade de vida e novos conhecimentos adquiridos. De fato, essa Cooperativa
transformou a vidas das mulheres daquela região, aos lhes garantir uma valorização
e um aprendizado contínuo para o crescimento pessoal. Este fato se confirma no
seguinte relato:
113
[...] a Cooperativa trouxe muito conhecimento para mim, me ajudou e continua me ajudando, hoje tenho duas filhas estudando em Belém [...] depois da Cooperativa e ela me ajudou, possibilitou a ter filhos estudando. Então a gente tem o momento da gente, a gente faz todo ano uma comemoração e leva a nossa família. (ESCI_PADP).
Naquela época eu estava à beira de uma depressão, [...] Para mim foi uma terapia. Foi tudo de bom. Foi quando eu vim me entender e me conhecer realmente que eu tinha condições de fazer algo e de melhorar. Porque levantou a autoestima e isso é fundamental na vida do ser humano. (ESCI_PAVP).
O empreendimento ESGP-MG 2012/2013, aproximou-se de um dos indicadores do
ESCI_PA 2006, sendo o seu primeiro mais importante o indicador Novos
conhecimentos adquiridos. Este demonstra o estágio que passa os componentes
do grupo produtivo, que se vê ainda como aprendizes no processo produtivo e
coletivo.
Para ESAX_PA 2001, no painel da Família, o indicador mais importante, apontado
pela maioria foi o Aumento da renda familiar. Esse resultado demostra a extensão
para a família da importância na participação no empreendimento. Por meio do
coletivo, puderam retirar do empreendimento seu rendimento e contribuir com a
família. Copia-se a seguir, o depoimento do técnico 3 da Fundação que conheceu a
trajetória do grupo, desde 2005.
Aumentaram o rendimento, a qualidade de vida [...]. Outra coisa quando vê uma pessoa, a esposa do presidente, já fez uma faculdade, esta concluindo a segunda faculdade dela, então isso é resultado, os filhos estão na escola, estão estudando, e o pessoal esta vendo que com o extrativismo consegue qualidade de vida, isso faz a diferença. Se for mensurar cada avanço. A gente vê um comunitário com o carro do ano, andando de lancha, isso é qualidade de vida, ganhando dinheiro com castanha. (FS_PAT3).
Para ESCI_PA 2006 destaca-se também o indicador o aumento da renda familiar
como o mais importante indicador. Esse indicador confirma a valorização da mulher
no rendimento da família, apesar dos conflitos de gênero na família, ocasionado pela
sua participação na cooperativa. Elas destacaram as aquisições de bens, imóveis e
o envio dos filhos para estudar nos grandes centros urbanos da região.
No empreendimento ESGP-MG 2012/2013 o indicador apontado como o primeiro
mais importante foi a Participação em reunião e eventos de interesse
114
comunitários. Esse indicador também foi indicado como o segundo mais
importante.
Por ultimo, no painel de Negocio/profissão, ficou demonstrado pelo ESAX_PA 2001
que, para a maioria dos participantes, o indicador mais importante foi a Satisfação
com o trabalho, seguido pelo Sentimento de ser dono do negócio.
Os resultados apurados neste painel foram de extrema relevância para a
demonstração da importância da satisfação com o trabalho, a sensação de
pertencimento e o sentimento de dono do negócio, ambos necessários para o
sucesso de um empreendimento coletivo.
[...] hoje sim nos sentimos donos do negocio, na época que ele falou de 1977 até 2000 não tínhamos esse sentimento. Nós temos sim certa autonomia, hoje não temos um patrão que quer levar o nosso produto e levar, não a gente já escolhe qual o preço melhor. Não é qualquer um que chega aqui e leva. (ESAX_PAGF8).
Nesse painel, o empreendimento ESCI_PA 2006 não realizou escolha para o
primeiro mais importante dos indicadores, porém, a maioria das participantes
escolheu como o segundo ponto mais importante, o indicador satisfação com o
trabalho. Possivelmente, isso se deva ao fato de que mesmo com a participação no
empreendimento tendo provocado um sentimento de valorização da mulher nessa
região, a maioria das mulheres cooperadas considerem o negócio/profissão ainda
em segundo plano, apesar de ter satisfação com o trabalho.
Para ESGP-MG 2012/2013 no painel negócio/profissão, o indicador mais importante
foi a Satisfação com o grupo. Este é o ponto de vista demostrado pelas
participantes que ainda não vêm o grupo produtivo como um negócio e sim como um
grupo de encontro. Tal situação foi expressa no seguinte relato: “Eu não dependo
financeiramente daqui e dependo das pessoas porque sinto bem com elas”.
(ESGP_MGGF8).
Por fim, para o desenvolvimento de um empreendimento social é primordial a
participação da instituição apoiadora nas fases de desenvolvimento de
empreendimentos sociais, pois seus próprios membros consideram fundamental seu
115
apoio técnico e financeiro, pois se sentem frágeis diante das adversidades e das
necessidades requeridas para a solidez do seu negócio, apontando como fator
principal para sua sobrevivência e autossustentabilidade a formação sólida e
consistente do coletivo.
Digo para você que é fundamental a participação da Fundação em qualquer empreendimento e não pode faltar, são fases que não podem ser esquecidas, primeiramente, para se manter em organização, o que não pode faltar é a formação do coletivo. O coletivo tem que estar no primeiro lugar, porque a partir dai a gente abre os caminhos para as atividades. Como por exemplo, nos começamos, no inicio a gente começou com a castanha, depois de certo tempo começou com outros produtos, porque tem a participação do coletivo. Também tem que manter a organização em dia, para ela poder estar sempre acessando os benefícios. (ESAX_PADP).
2.4 Considerações finais:
O desafio do resultado dessa pesquisa e dos empreendimentos sociais apoiados por
instituições privadas é demonstrar para os investidores e apoiadores, a importância
de que seja respeitado um tempo de maturação, de acordo com a necessidade do
coletivo e com a sua realidade.
Para facilitar tal processo ainda é de suma importância a intervenção técnica e
colaborativa da instituição apoiadora para indicar os caminhos e oferecer
possibilidades.
Os empreendimentos sociais pesquisados no Pará se encontram em estágio
bastante avançado. De acordo com os depoimentos, percebeu-se a visão técnica
comprometida com o desenvolvimento das etapas do trabalho por parte da
instituição apoiadora, o que promoveu um diferencial importante para a solidez dos
empreendimentos sociais e para trilhar um caminho para a autossustentabilidade.
Nestes empreendimentos a etapa de formação do coletivo, fundamental para a
constituição do empreendimento, é tratada com grande importância, pois se sabe
que as circunstâncias identificadas, que envolvem os empreendimentos, refletem as
muitas dificuldades vivenciadas por eles, que ora os afastam, ora os aproximam do
caminho da sustentabilidade.
116
O monitoramento das atividades e a avaliação dos resultados ainda são etapas
desafiadoras, tanto para as instituições do Pará, quanto de Minas Gerais, apesar
dos avanços nos registros e mensuração dos dados. De certa forma, os indicadores
econômicos e ambientais estão mais bem observados e registrados, mas os
indicadores sociais ainda são deficientes, principalmente, por envolverem
informações não mensuráveis, que despendem um tempo maior de apuração,
requerem capacidade de avaliação qualitativa e variam de realidade para realidade,
de grupo para grupo, de região para região.
Uma das coisas que trabalhei sempre foi o tempo da comunidade que o nosso é diferente deles. Um tempo que a gente trabalhou foi de dois anos, de organizar, de buscar recurso e fazer investimento. Agora o nosso tempo está parado na comunidade, mas eles estão no processo de buscar parcerias para está trabalhando, por isso o tempo deles é diferenciado. (FS_PAT4).
Os dados levantados juntos aos entrevistados a partir da praticas das fases de
implementação do empreendimento forneceu elementos orientadores para o
monitoramento do tempo de maturação do empreendimento, bem como na
elaboração de indicadores a partir de uma visão de sustentabilidade dentro de um
tempo social. .
Portanto, fez–se necessário avançar na organização de um sistema de
acompanhamento unificado, em especial, acrescido de indicadores sociais, que
proporcione uma rotina padrão que sinalize o caminho para autogestão e
autossustentabilidade.
2.5 Referências CANÇADO, Airton Cardoso; PEREIRA, José Roberto; TENÓRIO, Fernando Guilherme. Gestão Social: epistemologia de um paradigma. Curitiba, PR: CRV, 2013. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: Transformando ideias em negócios. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
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119
3. PRODUTO TÉCNICO: EMPREENDIMENTOS SOCIAIS APOIADOS - UMA
PROPOSTA DE MONITORAMENTO, SENSÍVEL AO TEMPO SOCIAL, NA BUSCA
DA AUTOSSUSTENTABILIDADE
AMARAL, Odnélia Cristina S. de16
MELLO, Ediméia Maria Ribeiro17
Resumo O artigo apresenta o desenvolvimento da proposta do produto técnico no contexto da Gestão Social, gerando uma Inovação Social, para fins de Desenvolvimento Local, a partir da realização de pesquisa em Minas Gerais e no Pará sobre o tempo de maturação e a autossustentabilidade de Empreendimentos Sociais apoiados pela iniciativa privada. Esse produto técnico propõe uma Cartilha Orientativa cujo objetivo é apresentar uma metodologia de monitoramento para a Autogestão e a Sustentabilidade apropriada aos Empreendimentos Sociais. Essa cartilha destina-se à direção e aos associados dos empreendimentos, bem como, às instituições apoiadoras. A produção dessa cartilha baseou-se na vivência profissional de uma das autoras (AMARAL), em leituras de referenciais que trouxeram reflexões teóricas sobre a metodologia de monitoramento, indicadores e autossustentabilidade de empreendimentos e nos resultados analíticos da pesquisa realizada. A pesquisa sinalizou a presença de fragilidades importantes na metodologia de monitoramento para a sustentabilidade, cujos indicadores desconsideram as diversidades de carências presentes em empreendimentos sociais de base comunitária. Essa cartilha parte do pressuposto da necessidade do entendimento da existência de um tempo social (tempo de maturação típico dos empreendimentos sociais) afeto a diferentes fases a serem superadas para o sucesso. Assim, oferece uma metodologia de monitoramento participativa e empoderadora, dentro de um instrumental de Matriz de Sinalização para Autogestão e Autossustentabilidade, contendo indicadores de sustentabilidade de empreendimentos, que contribuam para a promoção da Gestão Social para fins de sustentabilidade com autonomia dos empreendimentos sociais.
Palavras-chave: Metodologia; Monitoramento; Tempo Social; Autogestão; Sustentabilidade.
Abstract
The paper presents the development of the technical product proposal in the context of Social Management, generating a Social Innovation for local development
16
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 17
Orientadora e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].
120
purposes, trough researches about on the time of maturation and the self-sustainability indicators for Social Entrepreneurships supported by the private sector. The researches were conducted in the Brazilian states of Minas Gerais and Pará. This technical product aims to be an orientation guide for Social Entrepreneurship and contains a monitoring methodology for self-management and for an appropriate sustainability. This booklet is designated for boards and for enterprise members, as well as for supporting institutions. The production of this booklet is based on the professional experience of one of the authors (Amaral), as well as on reading of references which led to theoretical reflections on the methodology of monitoring indicators and self-sustainability of projects. The booklet is also the analytical results of the survey. The survey evidenced the presence of important weaknesses in the monitoring methodology for sustainability, since its indicators ignore the diversity of present deficiencies in community-based social entrepreneurship. The booklet assumes the need of understanding the existence of a social time (typical maturation time of social entrepreneurship) considering the different phases to be overcome to accomplish success. Thus, it offers a participatory and empowering monitoring methodology within an instrumental Signaling Matrix for Self-Management and Self-Sustainability, containing entrepreneurship sustainability indicators which contribute to the promotion of Social Management for sustainability purposes with autonomy of social entrepreneurship. Key words: Methodology; Monitoring; Social time; Self-management; Sustainability
3.1 Introdução
Neste artigo, é descrita uma proposta de monitoramento para a autogestão e
sustentabilidade, cujo prazo de cumprimento das fases está baseado em parâmetros
qualitativos que admitem a existência de um tempo social, típico dos
empreendimentos sociais, como forma de acompanhamento dos seus processos,
propondo novos indicadores para a gestão da sustentabilidade.
Nos resultados analíticos da pesquisa foi percebido a real necessidade desses
empreendimentos em terem uma rotina organizada de dados e informações onde
possam sistematizar, registrar e acompanhar o andamento das atividades,
sinalizando, para os seus associados e para os apoiadores, o percurso trilhado na
direção, ou não, da sustentabilidade.
A pesquisa nos permitiu analisar a dinâmica dos empreendimentos sociais, em
especial, seu tempo de amadurecimento por meio do delineamento de suas fases e
de seu caminho para a sustentabilidade. Os dados coletados juntos aos
121
entrevistados quanto ao desenvolvimento de suas fases para implementação dos
empreendimentos permitiram trabalhar uma proposta de intervenção, que levantasse
os indicadores de sustentabilidade, por meio de uma metodologia de monitoramento
que qualificasse o estágio do empreendimento, em relação ao caminho a ser
palmilhado em direção ao seu amadurecimento e ao momento de sua emancipação.
Essa emancipação reconhecida pela independência da instituição apoiadora,
efetivação da autogestão e consolidação no mercado, qualificado, então, como
momento da autossustentabilidade.
Assim essa proposta encaminha uma metodologia de monitoramento e avaliação
com indicadores da autossustentabilidade, baseada na dinâmica dos
empreendimentos pesquisados, contendo um instrumental denominado Matriz de
Sinalização para a Autogestão e a Autossustentabilidade para qualificar o estágio do
empreendimento social em relação ao seu tempo social.
De acordo com a definição da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL
1997) as metodologias de monitoramento conhecidas apresentam caracteres de
elevada concretude na direção de acompanhar a absorção dos insumos para a
realização dos objetivos propostos envolvendo indicadores, em sua maioria,
quantitativos. Entretanto, na maioria das vezes o alcance do sucesso, ou não, do
empreendimento social esta associado a fatores qualitativos ainda pouco explorados
nas metodologias conhecidas.
Desse modo, este apresentará como parte integrante dessa dissertação de
mestrado, o produto técnico intitulado de Cartilha Orientativa: Metodologia de
monitoramento para a autogestão e autossustentabilidade para
empreendimentos sociais, sensível ao tempo social, cujo objetivo é contribuir
com o processo de Gestão Social, importante dentro de organizações coletivas que
busquem sustentabilidade e autonomia emancipadora, comprometido com o
desenvolvimento local.
Para maior clareza, a sua estrutura foi dividida em duas partes: a primeira parte
contextualiza o produto técnico e aborda referenciais teóricos sobre indicadores e
122
processos de monitoramentos sociais bem como sobre o tempo social, objeto dessa
pesquisa. A segunda parte descreve o produto técnico que é a Cartilha Orientativa
dividida em: Antecedentes; Etapas necessárias para o desenvolvimento de um
empreendimento social e Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e
Autossustentabilidade sensível ao Tempo Social para Empreendimentos Sociais.
3.2 Contextualizando o produto técnico
Uma proposta de monitoramento para a autogestão e autossustentabilidade de
empreendimentos sociais, contemplados por programas de fomento à geração de
renda para membros de comunidades portadoras de deficiências, do ponto de vista
da capacidade empreendedora, necessita definir indicadores aptos a abarcar as
providências, para superar lacunas de difícil padronização, assim como, dotadas de
uma previsibilidade cronológica relativa.
Os indicadores para compor um processo de monitoramento e avaliação dessa
natureza são estabelecidos com a finalidade de serem “medidores” / “indicadores” de
como está uma determinada realidade, seja de forma quantitativa e/ou qualitativa.
Segundo os pressupostos estabelecidos no Manual da CEPAL (1997), indicadores
para avaliação devem ser confiáveis, válidos, além de aferir mudanças específicas,
bem como se explicar de forma clara e precisa, ou melhor, serem autoexplicativos.
Para o Manual do SESI/PR (2010), indicadores são relevantes pelo fato de
estabelecerem o marco zero – situação dos objetos/processos de monitoramento
e/ou avaliação antes de serem submetidos às intervenções pretendidas –, monitorar
processos e comunicar resultados. Portanto os indicadores “são variáveis definidas
para medir um conceito abstrato, relacionado a um significado social, econômico ou
ambiental, com a intenção de orientar decisões sobre determinado fenômeno de
interesse”. (SESI/PR, 2010, p.11).
Abdala (2004) define a atividade de avaliação, como “[...] um processo sistemático,
metódico e neutro que mede os efeitos de um programa, relacionando com as metas
123
e os recursos utilizados”. (ABDALA 2004, p.26). Ele ressalta, ainda, como fator
importante na realização desse processo, o comprometimento dos envolvidos e a
observação dos seguintes aspectos: bom planejamento, dialogicidade e definição
adequada das etapas, bem como, fidelidade ao contexto da realidade. Essas
recomendações implicam em...
Fazer com que o processo de definição de indicadores seja o mais participativo possível, envolvendo todos os principais atores do projeto; promover reflexões periódicas com os atores ao longo de todo o projeto; explicitar os meios de verificação e coleta de dados, bem como seus responsáveis; e buscar fazer uso de informações já existentes ou de simples produção, com o objetivo de otimizar o uso de recursos. (ARMANI, 2001 apud BORBA; FARAH; FADATO; FILHO; PIRES, 2004, p. 6).
Ávila (2001) destaca a importância da realização de um monitoramento sistemático
de processos, projetos ou organizações, o que possibilita benefícios como o controle
das ações, otimização de recursos, além de correção de rumos em tempo do
andamento das ações. Deste modo garante um resultado mais positivo e efetivo dos
objetivos/fins que se propõe.
No momento da implementação, o monitoramento sistemático das atividades e os custos do projeto fornecem as informações necessárias não só para o momento da avaliação final, mas também para todos os níveis gerenciais, possibilitando o controle efetivo das ações em sua relação com nossos objetivos, nossos prazos e nossos resultados, em uma ligação direta com o anteriormente planejado, possibilitando corrigir os rumos, apontando ações corretivas necessárias, exigindo de nós um replanejamento que, não raro, afetará nossos custos, prazos e o desenvolvimento do projeto. (AVILA, 2001, p.40).
Faz-se necessário ao processo de monitoramento, um cronograma real e efetivo em
que seja possível visualizar todas as ações propostas, além de identificar o que não
está indo muito bem. Dentro dos empreendimentos esse acompanhamento e
controle são primordiais e necessários para que se possam identificar desvios e agir
para a correção, no decorrer e andamento das ações.
Portanto, a partir das inferências analíticas da pesquisa, expostas no capitulo 2, bem
como as referências teóricas descritas no capitulo 1, elaborou-se um conhecimento
metodológico para se desenvolver um sistema avaliativo, com princípios e
124
procedimentos emancipatórios, contínuos e construtivos, para possibilitar a
implementação de um processo de monitoramento.
A expectativa é de que essa metodologia possibilite aos associados serem sujeitos
do processo, capazes de refletir sobre seus potenciais e limitações garantindo o
exercício de um processo sistematizado, com sinalizadores de desvio ou
permanência no caminho da autossustentabilidade, observado o tempo social típico
dos empreendimentos sociais, objetos de programas de geração de renda
destinados a comunidades com deficiências socioeconômicas.
3.3 Produto Técnico
A seguir, apresenta-se o conteúdo da cartilha a ser oferecida aos associados e
dirigentes de empreendimentos sociais e às instituições apoiadoras.
125
CARTILHA
ORIENTATIVA
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: METODOLOGIA DE
MONITORAMENTO PARA A AUTOGESTÃO E
AUTOSSUSTENTABILIDADE, SENSÍVEL AO TEMPO
SOCIAL
2015
Autoras:
Odnélia Amaral e Ediméia Mello
Matriz de Sinalização Autogestão e
Autossustentabilidade
Meio
ambiente
Economia
Gestão Social
126
CARTILHA ORIENTATIVA
AMARAL, Odnélia Cristina S. de18
MELLO, Ediméia Maria Ribeiro19
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: METODOLOGIA DE
MONITORAMENTO PARA A AUTOGESTÃO E
AUTOSSUSTENTABILIDADE, SENSÍVEL AO TEMPO
SOCIAL.
Belo Horizonte
2015
18
Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 19
Orientadora e Professora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].
127
Apresentação
sta Cartilha Orientativa é produto da dissertação de mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local
do Centro Universitário UNA e foi elaborada com o objetivo de contribuir
para a implementação da gestão social nas organizações produtivas comunitárias,
como forma de alcançar a autossustentabilidade e autogestão, com vistas ao
desenvolvimento local.
A produção dessa cartilha tem origem nas inferências realizadas a partir dos dados
coletados juntos aos entrevistados quanto ao desenvolvimento de suas fases para
implementação de um empreendimento, bem como, se apoia nas leituras de
referenciais teóricos e na experiência prática de uma das autoras (AMARAL). Seu
objetivo é nortear os sócios dos empreendimentos sociais coletivos e seus
apoiadores, por meio de uma metodologia de monitoramento do processo de
maturação do empreendimento, adotando indicadores balizadores das dimensões
da autossustentabilidade.
Considera-se emancipado e autônomo o
empreendimento social que consegue
sobreviver por um tempo longo em condições
de equilíbrio financeiro, assim como
internalizar o seu processo decisório, mesmo
que inserido numa rede de parcerias variável
no tempo e no padrão de troca estabelecido.
Kraychete (2006, 2011) condiciona a meta de
equilíbrio financeiro em um empreendimento
associativo às habilidades dos associados, e
não somente aos aspectos econômicos, mas também aos processos de
transformações sociais mais amplos.
Por outro lado, o conceito sustentabilidade é bastante amplo e abrange os aspectos
econômicos, ambientais e sociais.
E
Empreendimento associativo
adquire condições de
sustentabilidade quando os seus
associados se encontram
habilitados para assumir a sua
condição (plena de habilitados). [...]
neste termo a sustentabilidade
dos empreendimentos econômicos
não é um problema estritamente
econômico, nem se equaciona no
curto prazo, mas pressupõe ações
políticas comprometidas com um
processo de transformação social.
(KRAYCHETE, 2006, p. 1).
128
Alves Junior, Fontenele e Faria (2008) recomendam
ainda às organizações, algumas pré-condições para
a sustentabilidade, as quais implicam na adoção
das seguintes medidas:
Essa busca por autossustentabilidade pelos
empreendimentos implica em superar estágios em
um processo de desenvolvimento.
Assim para Kraychete (2006), os empreendimentos
sociais necessitam de maior tempo para sua
maturação e sua sustentabilidade, que não se
restringe apenas ao seu bem estar econômico, mas
às diversas dimensões em que estão inseridos.
A autogestão é um dos requisitos para a
sustentabilidade dos empreendimentos sociais por
contribuir com o empoderamento dos associados.
Para Singer (2013, p. 4), “empreendimentos
econômicos que praticam a autogestão, [...] aplicam
a democracia em sua gestão” e atribuem a
responsabilidade aos associados, pois na
autogestão os associados são “proprietários de
tudo o que é produzido, mas também os prejuízos são deles” (SINGER, 2008, p.
290).
TIRIBA (2008) destaca que a autogestão garante a “autonomia e autodeterminação
na gestão do trabalho e em todas as instâncias das relações sociais” (TIRIBA, 2008,
p. 83), ou seja, o associado passa a ser senhor de si mesmo e do seu trabalho e
torna-se um sujeito atuante e participativo em seu empreendimento.
(a) qualificar tecnicamente o
trabalho; (b) compartilhar o
projeto político/missão; (c)
promover uma cultura e
metodologia de planejamento e de
monitoramento e avaliação; (d)
aperfeiçoar os mecanismo de
gestão; e (e) qualificar a
participação interna e a
democratização dos processos
decisórios. (ALVES JUNIOR,
FONTENELE e FARIA, 2008, p. 5).
Ser uma organização sustentável significa ser economicamente lucrativa ambientalmente correta e
socialmente responsável. Sendo assim, as ações de sustentabilidade precisam atuar como suporte das
estruturas de gestão das organizações, e não apenas como ações pontuais. (ALVES JUNIOR,
FONTENELE e FARIA, 2008, p. 4).
A sustentabilidade dos
empreendimentos da economia
popular solidária envolve tanto
questões internas como externas
aos grupos. Certamente, nada
substitui a necessidade dos
trabalhadores associados saberem
tocar e gerir os seus
empreendimentos. [...] a
sustentabilidade dos
empreendimentos associativos não é
uma questão técnica ou
estritamente econômica, mas
essencialmente política.
(KRAYCHETE, 2011, p. 17).
129
Neste sentido essa cartilha objetiva contribuir com a sinalização do caminho a ser
trilhado para a autogestão e autossustentabilidade, oferecendo uma metodologia de
monitoramento através de uma matriz de indicadores, possibilitando reflexões das
fases a serem superadas e sinalizando os avanços a cada aplicação da
metodologia.
Essa proposta partiu de reflexões teóricas e práticas sobre as atuações de
empreendimentos sociais, compreendidos como organizações sócio produtivas que
reúnem pessoas movidas por interesses em empreender de forma independente,
segundo um modelo de organização coletiva e autogestionária inseridas dentro de
uma “lógica peculiar” (KRAYCHETE, 2011) em uma economia social local.
A pesquisa realizada junto aos três empreendimentos sociais dos estados do Pará e
Minas Gerais apoiados por instituições privadas geraram informações que
proporcionaram elementos abundantes a serem considerados. Foi confirmada a
existência de um tempo social a ser observado quando da concessão de apoio
técnico e/ou financeiro, um tempo necessário à maturação. Esse é um tempo das
pessoas relativo e subjetivo, que impacta o desenvolvimento do empreendimento e
que não pode ser condicionado ao tempo cronológico. Considerar o tempo social de
fato pode ser o caminho rumo à sustentabilidade
dos empreendimentos.
Esse tempo social é o demandado para se
preparar e emancipar pessoas atuantes, ou que
se interesse por processos produtivos
comunitários, entretanto, necessitadas de
perceberem as complementaridades no coletivo,
aprendendo a desempenhar seus papéis em
processos autogestionários e a realizarem um
processo decisório que as levem a alcançar a
sustentabilidade de seus negócios.
Essa cartilha destina-se aos empreendimentos sociais envoltos em uma economia
social e comunitária que buscam alcançar sua autossustentabilidade para fins de
Pela cooperação econômica em
âmbitos que inviabilizam a
competição, e nas comunidades
(principalmente as rurais) buscam-se
alternativas viáveis para a
subsistência das pessoas dessas
comunidades, de modo a contemplar
também o equilíbrio territorial e
demográfico, a preservação de
costumes e tradições, os laços
históricos e o potencial dos recursos
intrínsecos a elas. (FELSKI,
SAMPAIO e DALLABRIDA, 2010, p.
84).
130
fortalecer a “ecossocioeconomia”, caracterizada por um padrão de relação
cooperativo, típico da convivência territorial, conforme explicam Felski, Sampaio e
Dallabrida (2010).
Por fim, destina-se também, às instituições apoiadoras ou de fomento que se
empenham em contribuir na busca da sustentabilidade e na melhoria da qualidade
de vida dos associados dos empreendimentos sociais.
A Cartilha está dividida da seguinte forma:
Antecedentes;
Etapas necessárias para o desenvolvimento de um empreendimento social
Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e
Autossustentabilidade, sensível ao Tempo Social para Empreendimentos
Sociais.
Então, venha conhecer essa cartilha!
131
1. Antecedentes
onsiderando a necessidade do respeito ao Tempo Social demandado
pelos empreendimentos, para o alcance da autossustentabilidade em
função do conjunto de fatores e do contexto que envolve os associados,
bem como, da natureza do empreendimento, sua situação geográfica, social e
econômica é importante observar os aspectos a seguir, para se realizar o
monitoramento do processo de implementação de um empreendimento dessa
natureza.
a) Empreendimentos coletivos de viés
social são instrumentos de
geração de renda e de
transformação, na medida em
que promovem a emancipação de
seus associados, tornando-os empreendedores colaborativos. Para tanto
será importante adotar o formato de gestão preconizado pela gestão
social, segundo as seguintes caraterísticas: autogestão; condução
dialógica e democrática; aprendizado permanente de habilidades técnicas
e gerenciais, em favor da inovação contínua e da produção de
conhecimento sobre o negócio e sua inserção mercadológica; participação
dos associados no processo decisório, tanto no produtivo quanto no sócio
organizacional, detenção dos meios de produção e força de trabalho;
investimento no sentimento coletivo de responsabilidade conjunta do
negócio.
b) As ações em conjunto aos empreendimentos devem ser sequenciais
dentro de um tempo social necessário para atingir a sua
autossustentabilidade, portanto, não poderá estar sujeito a financiamentos
pontuais e estanques, nem tão pouco há um tempo condicionado pelo
investidor financeiro. A instituição apoiadora, que depende de recurso
externo para manter e/ou dar continuidade nos projetos desse cunho, tem
o desafio de demostrar que a necessidade do investimento deve estar
aliada ao perfil do empreendimento e à sua complexidade, e não sendo
desse modo, não será viável a sua sustentabilidade.
C
132
c) A instituição apoiadora tem participação relevante no desenvolvimento
desses empreendimentos e deve se comprometer no alcance da
autossustentabilidade do mesmo. Portanto, deve contribuir para a
captação de recursos para investimentos em recursos técnicos,
financeiros, materiais e assegurar o respeito ao tempo social necessário,
em função da realidade do empreendimento, evitando a imposição de um
tempo cronológico rígido de alcance de metas objetivas, visto que as
metas que comprometem o uso de tempo no empreendimento, têm caráter
subjetivo e é moldado dentro da necessidade de seus associados.
d) A relação da instituição apoiadora com o empreendimento social é uma
relação de capacitação permanente, e necessariamente participativa. A
cada estágio de evolução da implementação do empreendimento é
necessário à realização de diagnóstico, de treinamento, de monitoramento
e de ajustes, ocasião em que os membros do empreendimento
acompanhados pelos apoiadores aprendem juntos, pois, as dificuldades
podem ser de caráter geral ou serem peculiares ao empreendimento,
neste caso, implicando num aprendizado de mão
dupla. Dessa forma é necessário o domínio do
conhecimento gerado no processo pelas duas
partes: empreendedores associados e apoiadores.
e) Ressalte-se, como uma decorrência do aspecto anterior, que a instituição
apoiadora, durante o exercício de apoio ao empreendimento social,
também se submete a um processo de incorporação de novos
conhecimentos à sua rotina de atuação que abrange, além da adaptação
dos aspectos gerais do suporte oferecido ao caso em foco, a criação ou
busca de procedimentos novos, específicos a cada coletivo em formação.
Esse processo de formação de conhecimento também demanda tempo.
133
2. Etapas necessárias para o desenvolvimento de um Empreendimento
Social
a pesquisa realizada e experiências
vivenciadas foram possíveis
perceber que cada empreendimento
apresenta a sua especificidade de contexto e
de complexidade. Entretanto, identificaram-se
algumas etapas presentes no processo de
desenvolvimento dos empreendimentos que
sinalizam momentos reflexivos.
Essas fases são fundamentais para a garantia
de uma base sólida ao empreendimento,
portanto, não podem ser evitadas no
planejamento e na criação do
empreendimento social. As etapas
identificadas, a partir da reflexão
proporcionada pelas leituras realizadas e
pelas pesquisas de campo são:
1) Fase preparatória – tempo social:
antecede a formalização do empreendimento
e tem o intuito de promover a qualificação
profissional, por meio da oferta de cursos
técnicos e gerenciais. Paralelamente à
capacitação profissional deve ser ofertada
uma educação promotora do desenvolvimento
de habilidades humanas, de relacionamento
em ambientes coletivos, pautados na
cooperação e habilidades empreendedoras.
N
O que não pode falta na fase
Preparatória é:
Capacitação para a formação
do coletivo, com noções básicas para o
desenvolvimento humano, que incluem o
resgate da autoestima, a valorização do
trabalho no coletivo, o desenvolvimento
da solidariedade e de habilidades em
gestão do trabalho em equipe.
Capacitação profissional, por
meio da oferta de formação em técnicas
produtivas em profundidade, a partir da
verificação da afinidade do grupo com
uma linha de produção; tecnologias
gerenciais e comerciais, com
aprofundamento em aspectos relevantes
do marketing, especialmente, formação
de preço de custo e preço de mercado,
atendimento ao cliente e acesso a
canais de distribuição e divulgação.
Promoção de experiências de
venda dos produtos confeccionados
para promover o exercício da
comercialização e remuneração entre os
participantes no sentido de contribuir
para a sustentabilidade econômica
dessa fase.
Avaliação da capacitação, do
interesse e do comprometimento do
coletivo em formalizar um negócio sob
o formato da gestão social.
134
2) Fase de
constituição do
empreendimento social –
tempo social: Formalizado
o coletivo para constituir um
negócio, seja cooperativa,
associação ou outro
formato, passa a percorrer o
caminho até ao alcance da
autossustentabilidade, que
são:
A complexidade de um
empreendimento social
pode se dar em função, por
exemplo, da localização –
logística de acesso aos
fornecedores e ao mercado
–; do nível de instrução das
pessoas – grau de
escolaridade inicial –; do
nível de conhecimento para
uma preparação com
qualidade do produto a ser
comercializado; do tipo de
produto; do nível de
preparação das pessoas
para a gestão e para o
pensamento empreendedor.
Segundo um dos
entrevistados da pesquisa
realizada no Pará, a
complexidade permeia os
A fase de constituição do empreendimento social deve
percorrer:
Fortalecimento do coletivo, por meio da preparação das
pessoas para uma gestão social, assim como para o mercado e
para a competitividade;
Estruturação organizativa horizontal, ou seja, na qual o
poder de decisão da organização é distribuído entres todos
associados, cada um assumindo seu papel e responsabilidade;
Constituição legal e identificação participativa da forma
legal mais adequada para o empreendimento;
Elaboração do projeto/plano de negócio específico, feito
de forma participativa para a captação de recursos e de parcerias;
Estruturação física do empreendimento (aquisição de
local e maquinários, de acordo com a capacidade de aquisição);
Capacitação pedagógica para a autogestão com o
desenvolvimento de habilidades gerenciais e administrativas;
Capacitação profissional para qualidade do produto e
adequação da tecnologia de produção ao mercado e à produção em
escala comercial, no contexto dos associados serem detentores dos
meios de produção e da força de trabalho;
Estabelecimento do preço justo, que inclua os custos de
produção, pagamento de pró-labore e a geração de recurso para
reinvestimento;
Estabelecimento da remuneração proporcional à
participação no processo produtivo e função da realização da
produção no mercado, garantindo os rendimentos dos membros do
grupo, a serem distribuídos imediatamente após o início dos
recebimentos;
Estabelecimento de relacionamento com parceiros e
articulação em redes solidárias;
Produção e colocação do produto nos pontos de
comercialização, por meio da adoção das estratégias de marketing
adequadas;
Inovação e aprimoramento do produto;
Diversificação de produção.
135
empreendimentos e é um fator que deve ser considerados nesses empreendimentos
sociais e comunitários para o planejamento e a execução das funções de apoio e
monitoramento/avaliação.
Para tanto, é importante destacar que o grau de complexidade dentro do
contexto social de um empreendimento tende a estabelecer o tempo social
necessário para sua maturação e para a sua autossustentabilidade e, portanto, não
deverá ser submetido a uma “camisa de força” ou a uma análise fundamentalista de
que se alcançar a independência, tem um prazo rígido, cronológico de, por exemplo,
3 anos ele não seja viável e/ou que seus associados não tenham interesse, pois
deve se considerar que....
Tais indagações são confirmadas pelo estudioso Kraychete (2011):
A sustentabilidade dos mesmos [empreendimentos], entendida como a capacidade de ampliarem continuamente o alcance de suas práticas, depende de condições culturais, econômicas, tecnológicas, sociais etc, impossíveis de serem alcançadas apenas através do empenho dos trabalhadores associados e de suas articulações em redes e fóruns. (KRAYCHETE, 2011, p. 17).
Portanto a estimativa proposta de tempo de maturação ou tempo social pode ser
confirmada como também pode ser antecipada ou prolongada por um determinado
período, dependendo das circunstâncias internas e externas às quais os
empreendimentos estão sujeitos.
Cada empreendimento tem sua natureza e tem sua complexidade, tem sua dinâmica de
produção e de mercado, têm seus riscos, algum tem risco muito alto, outros têm
margem de risco mais baixa, alguns, da matéria prima ao mercado estão tudo no mesmo
local, outros não, além disso, (deve considerar) do grupo, o nível formação e de
informação, o grau de articulação, a capacidade que ele tem de interação, do grau de
motivação, é que esse time (tempo) vai variar. (FS_PACO).
136
3. Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e Autossustentabilidade
sensível ao Tempo Social para Empreendimentos Sociais
ara mensuração de resultados e andamento dos processos, destacam-se
as metodologias de monitoramento consideradas fundamentais para o
acompanhamento das ações e atividades e para a verificação do alcance
dos objetivos propostos e planejados ou da necessidade de realização de ajustes.
Segundo Ávila (2001), a atividade de monitoramento tem sua importância devida à
possibilidade de “[...] corrigir os rumos, apontando ações corretivas necessárias,
exigindo de nós um replanejamento que, não raro, afetará nossos custos, prazos e o
desenvolvimento do projeto”. (ÁVILA, 2001, p. 40).
Para este fim, foram definidos indicadores para monitorar processos e comunicar
resultados. Estes buscam medir conceitos abstratos e contribuem na tomada de
decisões.
Indicadores funcionam como um termômetro, permitindo balizar (demarcar) o entendimento e o andamento das ações e são fundamentais para avaliar os objetivos, metas e resultados propostos, quantitativamente e qualitativamente. (SESI-PARANÁ, 2010, p. 11).
No decorrer da pesquisa que originou essa cartilha, se constatou lacunas no
processo de sistematização e monitoramento das informações, tanto por parte das
instituições apoiadoras, quanto dos empreendimentos sociais pesquisados, em
especial, no que se refere aos indicadores sociais, No intuito de suprir essa lacuna,
buscou-se contribuir com os empreendimentos sociais, a partir de uma visão de
garantia de sustentabilidade no formato autogestionário, por meio da oferta de uma
matriz de sinalização. Essa matriz estabelece indicadores no contexto das quatro
seguintes dimensões de sustentabilidade: do meio ambiente, da economia, da
gestão e do social, descritas a seguir:
Dimensão do meio ambiente – relativa ao uso sustentável do meio ambiente
em que está inserido e as práticas de proteção ao meio ambiente.
Dimensão da economia - retrata a eficiência econômica do empreendimento
dentro de uma visão em que os associados exercem o controle total sobre
P
137
sua força de trabalho e são detentores dos meios de produção, tornando o
seu negócio economicamente viável.
Dimensão da gestão - confere ao empreendimento o seu planejamento,
organização, direção, controle, habilidades gerenciais, habilidades
administrativas e relacionamentos externos. Nesse sentido a dimensão deve
ser promotora de uma capacitação pedagógica permanente de seus
associados para uma gestão autossuficiente.
Dimensão do social - está centrada em valores baseados de reciprocidade e
de solidariedade para com seus associados. Estes valores regem a
organização e dentro de um processo educativo e do desenvolvimento do
sentimento de pertencimento à organização, desencadeiam uma forma de
gestão autogestionária.
Essas dimensões devem ser vistas de forma dinâmica, interdependentes e
articuladas, evoluindo de forma sistêmica dentro dos empreendimentos. Os formatos
pelos quais elas moldam os empreendimentos, ora os assemelham, ora os
diferenciam entre si, de acordo com a realidade na qual estão inseridos rumo à
autossustentabilidade. Ressalta-se que a dimensão gestão e social são única, no
sentido do conceito de gestão social, mas foram agrupadas em blocos separados,
por conta de destacar e facilitar ao empreendimento a trabalhar a problemática de
gestão apontada em todos os empreendimentos pesquisados.
Meio
ambiente
Gestão
Economia
Social
Matriz de Sinalização Autogestão e
Autossustentabilidade
138
Matriz de Sinalização para a Autogestão e Autossustentabilidade do
Empreendimento Social
Esta matriz tem por finalidade contribuir com o empreendimento social no sentido de
demonstrar o estágio em que se encontra com base nos indicadores de
sustentabilidade, e oferecer uma sinalização para o caminho, se é ou não, o da
autossustentabilidade. A ideia foi gerar um instrumental simples que atendesse,
tanto aos associados dos empreendimentos, quanto aos seus apoiadores.
Assim, tanto o corpo diretivo e os associados do empreendimento, quanto os
técnicos das instituições apoiadoras poderão aplicar esse instrumento, buscando
avaliar, cada indicador dentro da dimensão elencada, indicando o “status” no
momento da avaliação. Essa avaliação deve ser coletiva, envolvendo todos os
associados, e acompanhada pela direção
do empreendimento e pelas instituições
apoiadoras.
A primeira matriz aplicada será
considerada o marco zero no processo de
monitoramento. Recomenda-se a sua
aplicação periódica: de quatro em quatro
meses. A seguir, apresentam-se os passos necessários à aplicação da matriz.
139
Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4
Preencha a matriz
impressa com o nome
do empreendimento e a
data de atualização.
Leia a legenda que
mostra a possibilidade
de avaliação de 4 a 0,
para o seu grau de
satisfação, com o
andamento do
empreendimento. Preste
a atenção ao significado
de cada classificação.
Avalie os indicadores
em conjunto com mais
de um associado e com
o técnico da instituição
apoiadora. É importante
que todos tenham
conhecimento efetivo da
evolução do
empreendimento.
Reflita cada dimensão e
cada indicador e
marque, de acordo com
a legenda, seu grau de
satisfação com o
indicador percebido no
empreendimento.
Feita a avaliação de
cada dimensão, faça a
somatória por
dimensão. Em seguida,
faça a somatória geral.
Somando os graus de
satisfação de cada
dimensão, ao final da
tabela. Por exemplo,
para o grau de
satisfação 4, foram 8
marcações, para o 3
foram 10 marcações e
assim por diante.
Coloque, no espaço ao
lado da legenda, o
resultado alcançado para
uma melhor visualização.
Passe para a segunda
pagina da matriz.
Destaque a classificação
que obteve maior
pontuação e leia a
interpretação do
resultado. Em caso de
empate, leia os dois
indicadores de maior
pontuação.
Volte à matriz e
identifique, em cada
dimensão, os itens
avaliados como 3, 2 ou 1
para realizar possíveis
correções de rumo, para
verificar na próxima
aplicação da matriz, a
evolução desses itens.
Apurado o resultado da
matriz, a reflexão
conjunta sobre as
sinalizações, trace um
planejamento conjunto
com os associados e o
seu apoiador para que
sejam feitas as correções
de rumos.
Ressalte-se que para
uma evolução de
acompanhamento dos
empreendimentos e das
instituições apoiadoras,
foi disponibilizado arquivo
eletrônico da matriz com
cruzamentos de
informações e o arquivo
em pdf para que possa
realizar impressões da
matriz, caso, a use
manualmente.
A seguir, apresenta-se a matriz:
140
Uso sustentável - recuperação de áreas degradadas
Uso sustentável - materiais (papeis, plasticos, metais, outros)
Uso Sustentável - água ( consumo consciente)
Uso Sustentável - energia (economia no consumo)
Respeito às leis ambientais com relação ao negócio (certificações, autorizações)
SOMATORIA PARCIAL - DO MEIO AMBIENTE 0 0 0 0 0
Rendimento satisfatório do empreendimento
Em situação de equilíbrio (receita = custo)
Carteira de clientes diversificada e grande
Rede de fornecedores consolidada
Preço Justo do produto (proporciona boa remuneração)
Capacidade de prospecção mercado (identificação de oportunidades)
Capital reserva (produz sobra para reinvestir)
Inovação e aprimoramento do produto
Diversificação de produção
Captação de recursos - financiamento de projetos, microcrédito, emprestimos
Acesso a políticas públicas (assiStência técnica, fomento e comercialização)
Empreendimento está adimplente
Propriedade coletiva do patrimônio do empreendimento
Capacidade de formação de patrimônio
SOMATORIA PARCIAL - DA ECONOMIA 0 0 0 0 0
DIMENSÃO INDICADORES
AVALIAÇÃO DO PERÍODO
EMPREENDIMENTO SOCIAL
MATRIZ DE SINALIZAÇÃO PARA A AUTOGESTÃO E AUTOSUSTENTABILIDADE
EMPREENDIMENTO SOCIAL ________________________________________
DATA DE ATUALIZAÇÃO: ________/________/__________
DO MEIO AMBIENTE
DA ECONOMIA
4 3 2 1 0
141
Documentação legal do empreendimento atualizada (alvarás, certidões)
Estatuto e regimento autalizados
Taxa, impostos e fornecedores em dia
Comunicação da prestação de contas em dia com os associados
Planejamento de atividades e produção
Apresenta visão de futuro para o empreendimento
Cargos suficientes e exercício das funções eficiente
Quantidade de sócios suficiente
Habilidades gerenciais - capacitação e preparação em gestão
Habilidades produtivas - capacitação e preparação em técnica produtiva
Habilidades administrativas - capacitação em conhecimentos contábeis, financeiros, jurídicos e outros
Entrega do produto ao cliente (logística)
Diversificação de pontos de comercialização
Divulgação do produto no mercado local, regional, nacional
Marca do produto reconhecida pelo cliente
Marca associada a bom padrão de qualidade
Controle de produção adequada ao mercado Acesso à informação e ao desenvolvimento tecnológico
Remuneração satisfatória do associado
Relacionamento com parceiros em geral (fornecedores, clientes, governo, apoiadores, vizinhança outros)
Articulaçao em rede solidarias (consorcios, central de abastecimentos, comercialização e outros)
SOMATORIA PARCIAL - DA GESTÃO 0 0 0 0 0
Participação ativa dos asssociados nas decisões
Sentimento de pertencimento aos associados (sente-se dono)
Comprometimento do sócio com o empreendimento
Preparação e surgimento de lideranças entre os sócios
Preparação dos sócios para a sucessão em cargos de gestão
Transparência e exercício do diálogo constante com associados
Prática da gestão participativa e democrática
Satisfação com o coletivo dos associados
Satisfação com o trabalho (realização profissional/vocação)
Autogestão do associado no trabalho
SOMATORIA PARCIAL - DO SOCIAL 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0SOMATÓRIA GERAL (Nº de vezes marcados para o grau de satisfação)
DA GESTÃO
DO SOCIAL
142
LEGENDA Relacione aqui quanto deu cada item/ depois confira o resultado
Muito Satisfeito 0
Satisfeito0
Regular0
Pouco Satisfeito0
Não se aplica** 0
**Item que nunca estará relacionados ao seu empreendimento
4
3
2
1
0
Em seguida preencha a planilha de resultado e observe a recomendação correspondente.
143
0 0 0 0 0
RESULTADO
Se o monitoramento marcou todos esses itens (fechou cinquenta pontos) o
empreendimento é autossustentável e autogestionário
Sendo a maioria nesse nível, a organização está avançada para a autogestão e
sustentabilidade
Satisfeito
Sendo a maioria nesse nível, a organização está no caminho certo para autogestão e
sustentabilidade -
Regular
Sendo a maioria nesse nível, você está proximo do desvio da autogestão e
sustentabilidade -
Pouco Satisfeito
Sendo a maioria nesse nível, ATENÇÃO a organização está desviando da autogestão e
sustentabilidade -
Não se aplica
OBS: Volte na matriz e anote em cada dimensão por item o que não está no nivel ideal satisfastorio e planeje correção de rumos
EMPREEDIMENTO SOCIAL
MATRIZ DE SINALIZAÇÃO PARA A AUTOGESTÃO E AUTOSUSTENTABILIDADE
EMPREENDIMENTO SOCIAL ________________________________________
DATA DE ATUALIZAÇÃO: ________/________/__________
RESULTADO DO PERÍODO
SOMATÓRIA GERAL (QUANTO ITEM DERÃO CADA )
RECOMENDAÇÃO
Esteja atento às mudanças e invista em sua visão de
futuro. CONTINUE e VENÇA!
Ainda tem varios pontos a MELHORAR! O que falta
para sua satisfação completa? Em que é preciso
investir para melhorar?
A organização precisa urgente PARAR e AVALIAR
os pontos fracos e decidir a sua CONTINUIDADE!
Vale CONTINUAR?
Muito Satisfeito
Não há resultado
Esteja atento aos indicadores avaliados com nível
de satisfação menor! É importante ficar muito
satisfeito em todos os itens!
4 3 2 1 0
4
3
2
1
0
144
Além da avaliação de evolução do empreendimento na direção de sua
autossustentabilidade essa cartilha oferece uma dinâmica participativa,
complementar ao monitoramento, a ser utilizada pelo empreendimento social para a
apuração da satisfação dos membros do coletivo com o empreendimento.
Mapa de Indicadores de Satisfação20
A dinâmica do Mapa de Indicadores de Satisfação foi desenvolvida na fase de
planejamento da pesquisa e implementada durante a realização dos grupos focais
na pesquisa de campo, com o objetivo de identificar, de forma participativa, os
retornos positivos usufruídos em termos de satisfação, pelos membros dos
empreendimentos, decorrentes da sua participação neles.
A aplicação dessa dinâmica deve envolver
todos os associados, aproveitando momentos
de encontros e reuniões coletivas. A
periocidade sugerida é semestral ou anual,
dependendo da disponibilidade e do interesse
do coletivo para a reflexão das conquistas
realizadas por meio da participação no
empreendimento. A seguir, apresentam-se os
passos para a realização dessa atividade.
Passo 1: Fazer 3 painéis em folha de papel Kraft ou papel madeira, traçando um
círculo em cada uma deles e um para cada painel de indicadores, quais sejam:
Painel 1, família/comunidade; Painel 2, profissão/negócio; e Painel 3, pessoal,
conforme foto abaixo.
20
Essa ferramenta foi desenvolvida com base na mesma lógica do mapa do conhecimento da metodologia Desenvolvimento Organizacional Participativa (DOP).
145
Painel 1 familiar/comunidade
Objetivos: proporcionar ao
participante realizar uma
análise de sua satisfação
decorrente de suas
responsabilidades no coletivo.
Indicadores de satisfação:
aumento da renda familiar;
aquisição de bens e móveis;
remuneração satisfatória;
participação em reunião e
eventos de interesse comunitário.
Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.
Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015.
Foto 1
Passo 2: Escrever os quatro indicadores
sugeridos em cada painel subdividido em
quatro partes, cada indicador em uma
parte do círculo conforme a sugestão
a seguir:
Passo 3: Fazer bloquinhos de
etiquetas adesivas coloridas21 (por
exemplo, vermelho, laranja e
amarelo), para serem afixadas nos
painéis, em que cada participante
deverá receber três bloquinhos de
etiquetas coloridas para usar um
bloquinho em cada painel.
21
A sugestão é a utilização de “etiquetas de preço” que poderão ser pintadas uma a uma, em cores
como, por exemplo: vermelho, laranja e amarelo. De três em três etiquetas, vão se formando os
bloquinhos coloridos.
146
Painel 3 pessoal
Objetivos: proporcionar ao
participante realizar uma
análise de sua satisfação
decorrente dos ganhos
proporcionados a ele pelo
empreendimento.
Indicadores de satisfação:
melhoria da qualidade de
vida, novos conhecimentos
adquiridos; retorno e ou
término dos estudos;
realização
profissional/vocação.
Painel 2 profissão/negócio
Objetivos: proporcionar ao
participante realizar uma
análise de sua satisfação
decorrente do seu trabalho no
empreendimento.
Indicadores de satisfação:
participação ativa nas
decisões do negócio;
satisfação com o trabalho;
satisfação com o grupo;
sensação de pertencimento e
dono do negócio.
Passo 4: Fazer uma tarjeta grande com a
seguinte pergunta: o que você considera
mais importante entre os indicadores
abaixo que seu empreendimento lhe
proporciona? Escolha três, em ordem
de importância, em cada painel.
Fazer, também, uma tarjeta contendo
a legenda que relacione as cores à
importância do indicador de
satisfação. Por exemplo: vermelho,
para o indicador mais importante;
laranja, para o segundo mais
importante; e amarelo, para o terceiro
mais importante (de acordo com a foto
acima).
Passo 5: Afixar os painéis, a pergunta e a legenda na parede, ou
em local de melhor visualização do grupo, e
convidar os participantes a observá-los e a
partir da reflexão estabelecer uma ordem dos
indicadores de satisfação, segundo a
importância atribuída por eles.
Passo 6: Pedir aos participantes, um de
cada vez, munido dos três bloquinhos de
etiquetas coloridas, que avalie um bloco
por vez e afixe, no círculo referente ao
indicador de satisfação a cor
correspondente, segundo a legenda.
Pedir, ainda, que o participante repita esse
procedimento mais duas vezes, enquanto
atribui importância aos outros indicadores de
satisfação ou até se esgotarem as etiquetas
coloridas. Dessa forma os painéis vão sendo
147
coloridos e as cores predominantes, em cada 1/4 dos círculos, demonstrarão os
graus de importância dos indicadores para o grupo de participantes (foto 2).
Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.
Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015.
Foto 2
Passo 7: Após a marcação é feita a leitura com todos os participantes para terem
ideia das marcações realizadas, destacando em cada painel o grau de importância
atribuído para cada indicador. Pode-se aproveitar esse momento para realizar
reflexões em grupo, estimulando os participantes a dizerem o que os levaram a ter
os painéis preenchidos dessa forma.
Resultado: A análise dos painéis dentro de um viés de tendência à autogestão e
autossustentabilidade deverá demonstrar o grau de satisfação dos associados para
o indicador escolhido como o primeiro mais importante.
1. No painel família/comunidade a visualização por parte da maioria, deverá ser
para os indicadores Remuneração Satisfatória e Aumento da renda familiar.
Esses indicadores traduzem a importância do empreendimento para a
sobrevivência dos associados ao gerar poder aquisitivo.
2. Para o painel profissão/negócio deverá ser para os indicadores de Sensação
148
de pertencimento e dono do negocio e participação ativa nas decisões do
negócio. Do ponto de vista, de empreendimentos coletivos autogestionários, é
indispensável que os associados tenham a sensação plena de pertencimento
deles próprios ao empreendimento e do empreendimento a eles.
3. E, por último, para o painel pessoal os indicadores seriam o de Realização
profissional/vocação e Melhoria de qualidade de vida, ambos responsáveis
por gratificar os esforços no sucesso do empreendimento.
A utilidade dessa ferramenta de reflexão permite realizar comparativos de período
avaliados e da evolução dos indicadores destacados, bem como mudanças no grau
de priorização e satisfação dos associados.
Essa ferramenta por ser visual tem efeito instigante sobre o grupo, incentivando
maior participação e interesse no processo, tendendo a demonstrar a
representatividade do empreendimento nas vidas dos associados, possibilitando aos
gestores um termômetro de satisfação por meio de uma atividade lúdica, que
preserve certo grau de anonimato, que informe por exclusão aspectos relevante ao
sucesso de um empreendimento social, eventualmente ausentes na avaliação.
4. Considerações Finais
expectativa com a oferta dessa Cartilha Orientativa é de contribuir para a
autossustentabilidade dos empreendimentos sociais, e com as Instituições
Apoiadoras abordadas por essa pesquisa, bem como outros
Empreendimentos Sociais, Empreendimentos Associativos, Empreendimentos
Populares, Organizações Sócio produtivas, entre outros, além de Instituições de
fomento dessas inciativas espalhados pelo Brasil, que lutam diariamente para
alcançar a sua autonomia e autossustentabilidade em meio a uma economia global
excludente e opressora, demonstrando em sua trajetória que é possível, exercitar a
autogestão em seus processos produtivos, visando possibilitar qualidade de vida
para seus associados e sustentabilidade para seus negócios inclusivos e coletivos.
Por fim, espera-se que a metodologia de monitoramento proposta para os
Empreendimentos Sociais possa ser uma iniciativa fortalecedora nas discursões
A
149
teóricas e práticas sobre indicadores de sustentabilidade e metodologia de
monitoramento dessas iniciativas, podendo ser a cada momento construído e
reconstruído, tendo como ponto de partida a vivencia dos desafios e possiblidades
da realidade dos Empreendimentos Sociais.
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150
CEPAL. Division de Desarrollo Social. Manual de formulação e avaliação de projetos sociais. 1997. Disponível em:<http://www.ssc.wisc.edu/~jmuniz/CEPAL_manual%20de%20formulacao%20e%20avaliacao%20de%20projetos%20sociais.PDF>. Acesso em: 12 dez. 2012 FELSKI, Henrique; SAMPAIO, Carlos Alberto Cioce. DALABRIDA, Ivan Sidney. O processo de tomada de decisão sobre o viés da Ecossocioeconomia das organizações: o caso de uma cooperativa catarinense de artesão. Organizações Rurais Agroindustriais, Lavras, v. 12, n.1, p.83-97, 2010. HUDSON, Mike. Administrando Organizações do Terceiro Setor: o desafio de administrar sem receita. São Paulo: Makron Books do Brasil Editora, 1999. KRAYCHETE, Gabriel. Economia popular solidária: sustentabilidade e transformação social, 2006. Disponível em: <http://www.capina.org.br/download/pub/gkrtxtsemi.pdf>. Acessado em 11 de jul. de 2013. KRAYCHETE, Gabriel. Estudos de viabilidade dos empreendimentos associativos: uma metodologia apropriada IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. _________, Gabriel. Viabilidade econômica e sustentabilidade dos empreendimentos da Economia Solidária: conceitos básicos. IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. MELO NETO, Francisco de Paulo; FROES, César. Responsabilidade Social & Cidadania Empresarial: A Administração do Terceiro Setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. MILANI, Carlos. Teorias do capital social e desenvolvimento local: lições a partir da experiência de Pintadas (Bahia, Brasil). Anais do IV Conferência Regional ISTR-LAC,2003. TIRIBA, Lia. Cultura do Trabalho, autogestão e formação de trabalhadores associados na produção: questões de pesquisa IN: PERSPECTIVA - Dossiê - Trabalho, Movimentos Sociais e Educação, v. 26, n 1, jan/jun, 2008, p.69-94. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795x.2008v26n1p69/9566>. Acesso em 13 de abr. de 2015. SESI/ORBIS-PR Serviço Social da Industrial. Departamento do Estado do Paraná. Construção e analise dos indicadores. Curitiba: ORBIS,2010. SEPLAN. O Marco Lógico. Disponível em: <http: www.seplan.am.gov.br>. SINGER, Paul. Economia Solidária: Entrevista com Paul Singer. In: Revista Gerenciais, São Paulo, vol. 2, set. 2003, p. 3 a 5.
151
_________, Paul. Economia Solidaria: Entrevista com Paul Singer. In: Estudos Avançados. São Paulo, vol. 22, n.62, 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n62/a20v2262.pdf>. Acesso em: 15 de fev. 2013. VASCONCELOS, Alexandre Meira de; LEZANA, Álvaro Guillermo Rojas. Modelo de ciclo de vida de empreendimentos sociais. Revista Administração Pública 46 (4): 1037-58, Rio de Janeiro, jul/ago, 2012, p. 1037-1058. ZWICK, E; PEREIRA, R. J; TEIXEIRA, M. P.R. Gestão de Cooperativas: uma Análise a partir das Derivações Teóricas do Pensamento Utópico. Anais do VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social, 2012, p.1-21.
152
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio dessa dissertação foi demonstrar a importância do tempo social para os
empreendimentos sociais e, por conseguinte, defender junto aos financiadores e
instituições apoiadoras dessas iniciativas que seu apoio considere esse tempo de
maturação dentro da necessidade que o coletivo apresente, contextualizado em sua
realidade.
O conceito de empreendimento social que este estudo privilegia refere-se a
organizações sócio produtivas que reúnem pessoas movidas por interesses em
empreender de forma independente, segundo um modelo de organização coletiva e
autogestionária e inseridos dentro de uma lógica peculiar (KRAYCHETE, 2011) em
uma economia social local.
No Pará, conforme retratado nos resultados da pesquisa, há uma experiência valiosa
e de sucesso, no apoio a formação de empreendimentos sociais, mesmo que estes
apresentem limitações a serem superadas. Conta-se ali com uma lógica
metodológica no desenvolvimento dos projetos de geração de renda e fomento a
empreendimentos, segundo a qual se prevê a dedicação de um tempo de trabalho,
anterior à formação do empreendimento, que prepara as pessoas a serem
contempladas algum tempo antes de elas manifestarem o desejo de montar um
negócio, de fazer parte de um empreendimento social. O que leva a considerar um
tempo de dedicação à formação pedagógica para o coletivo e para o despertar do
espírito empreendedor, fundamental para alicerçar um empreendimento que queira
trilhar o caminho para a sustentabilidade.
Os empreendimentos sociais pesquisados no Pará se encontram em estágio
avançado no caminho para a autossustentabilidade. Nos depoimentos, percebeu-se
que a visão da instituição apoiadora promovia um diferencial importante para o
alcance dos objetivos do grupo. Este é um modelo de visão técnica comprometida
com o desenvolvimento das etapas do trabalho.
O grupo produtivo em Minas Gerais ainda encontra-se em estágio embrionário,
apesar de ter anos de caminhada. Na época da pesquisa, estava em fase
153
preparatória, que antecede à formalização do empreendimento. Foi percebido a total
dependência da instituição apoiadora e segundo a mesma, o grupo estaria iniciando
uma nova etapa de investimento com a participação em sua incubadora social,
embasada em uma metodologia sociocomunitária da FGV. Para tanto, tem um
tempo cronológico e recurso limitado por parte de seu instituidor.
Considerando a necessidade de respeito do Tempo Social demandado pelos
empreendimentos sociais para o alcance da autossustentabilidade, em função do
conjunto de fatores e do contexto que envolve os associados, bem como, da
natureza do empreendimento, sua situação geográfica, social e econômica é
importante observar os aspectos, a seguir, para se realizar o monitoramento do
processo de implementação de um empreendimento dessa natureza.
a) Empreendimentos coletivos e de viés social são instrumentos de geração
de renda e de transformação social, na medida em que promovem a
emancipação de seus associados, tornando-os empreendedores
colaborativos. Para tanto será importante adotar o formato de gestão
preconizado pela gestão social, segundo as seguintes caraterísticas:
autogestão; condução dialógica e democrática; aprendizado permanente
de habilidades técnicas e gerenciais em favor da inovação contínua e da
produção de conhecimento sobre o negócio e sua inserção mercadológica;
participação dos associados no processo decisório, tanto no produtivo
quanto no sócio organizacional, detenção dos meios de produção e força
de trabalho; investimento no sentimento coletivo de responsabilidade
conjunta pelo negócio.
b) As ações juntos aos empreendimentos devem ser sequenciais dentro de
um tempo social necessário para atingir a sua autossustentabilidade,
portanto, não poderá estar sujeito a financiamentos pontuais e estanques,
nem tão pouco há um tempo condicionado pelo investidor financeiro. A
instituição apoiadora, que depende de recurso externo para manter e/ou
dar continuidade nos projetos desse cunho, tem o desafio de demostrar
que a necessidade do investimento deve estar aliada ao perfil do
empreendimento e à sua complexidade e que em não sendo desse modo,
não será viável a sua sustentabilidade.
154
c) A instituição apoiadora tem participação relevante no desenvolvimento
desses empreendimentos e deve se comprometer no alcance da
autossustentabilidade do empreendimento. Portanto, deve contribuir para
a captação de recursos para os investimentos em recursos técnicos,
financeiros, materiais e assegurar o respeito ao tempo social necessário,
em função da realidade do empreendimento, evitando a imposição de um
tempo cronológico rígido de alcance de metas objetivas, visto que as
metas que comprometem o uso de tempo no empreendimento, têm caráter
subjetivo e moldados dentro da necessidade de seus associados.
d) A relação instituição apoiadora empreendimento social é uma relação de
capacitação permanente e, necessariamente, participativa. A cada estágio
de evolução da implementação do empreendimento é necessária à
realização de diagnóstico, de treinamento, de monitoramento e de ajustes,
ocasião em que os membros do empreendimento acompanhados pelos
apoiadores aprendem juntos com eles, pois as dificuldades podem ser de
caráter geral ou serem peculiares ao empreendimento, nesse caso,
implicando num aprendizado de mão dupla. Então é necessário o domínio
do conhecimento gerado no processo pelas duas partes: empreendedores
associados e apoiadores.
e) Ressalte-se como uma decorrência do aspecto anterior, que a instituição
apoiadora, durante o exercício de apoio ao empreendimento social,
também se submete a um processo de incorporação de novos
conhecimentos à sua rotina de atuação que abrange, além da adaptação
dos aspectos gerais do suporte oferecido ao caso em foco, a criação ou
busca de procedimentos novos, específicos a cada coletivo em formação.
Esse processo de formação de conhecimento e aprendizado também
demanda tempo e não pode ser permitido “amadorismo”.
Nas experiências vivenciadas pôde-se perceber que cada empreendimento
apresenta a sua especificidade de contexto e de complexidade. Entretanto,
identificaram-se algumas etapas presentes no processo de desenvolvimento dos
empreendimentos que sinalizam momentos reflexivos.
Essas fases são fundamentais para a garantia de uma base sólida ao
empreendimento, portanto, não podem ser evitadas no planejamento e na criação do
155
empreendimento social. As etapas identificadas, a partir da reflexão proporcionada
pelas leituras realizadas e pela pesquisa de campo, são:
a) Fase preparatória – tempo social –. Antecede a formalização do
empreendimento e tem o intuito de promover a qualificação profissional, por
meio da oferta de cursos técnicos e gerenciais. Paralelamente à capacitação
profissional deve ser ofertada uma educação promotora do desenvolvimento
de habilidades humanas de relacionamento em ambientes coletivos pautados
na cooperação e habilidades empreendedoras, discriminadas, a seguir:
Capacitação para a formação do coletivo, com noções básicas para o
desenvolvimento humano, que incluem o resgate da autoestima, a
valorização do trabalho no coletivo, o desenvolvimento da solidariedade e
de habilidades em gestão do trabalho em equipe.
Capacitação profissional, por meio da oferta de formação em técnicas
produtivas em profundidade, a partir da verificação da afinidade do grupo
com uma linha de produção; tecnologias gerenciais e comerciais, com
aprofundamento em aspectos relevantes do marketing, especialmente,
formação de preço de custo e preço de mercado, atendimento ao cliente e
acesso a canais de distribuição e divulgação;
Promoção de experiências de venda dos produtos confeccionados para
promover o exercício da comercialização e remuneração entre os
participantes no sentido de contribuir para a sustentabilidade econômica
dessa fase.
Avaliação da capacitação, do interesse e do comprometimento do coletivo
em formalizar um negócio sob o formato da gestão social.
b) Fase de constituição do empreendimento social – tempo social –. Formalizado
o coletivo para constituir um negócio – cooperativa, associação ou outro
formato– passa-se a percorrer os grandes marcos até ao alcance da
autossustentabilidade, quais sejam:
Fortalecimento do coletivo, por meio da preparação das pessoas para uma
gestão social, assim como para o mercado e para a competitividade;
156
Estruturação organizativa horizontal, ou seja, onde o poder de decisão da
organização é distribuído entres todos associados, cada qual assumido
seu papel e responsabilidade;
Constituição legal e identificação participativa da forma legal mais
adequada para o empreendimento;
Elaboração do projeto/plano de negócio específico22 de forma participativa
para a captação de recursos e de parcerias;
Estruturação física do empreendimento (aquisição de local e maquinários,
de acordo com a capacidade de aquisição);
Capacitação pedagógica para a autogestão com o desenvolvimento de
habilidades gerenciais e administrativas;
Capacitação profissional para qualidade do produto e adequação da
tecnologia de produção ao mercado e à produção em escala comercial, no
contexto dos associados serem detentores dos meios de produção e da
força de trabalho;
Estabelecimento do preço justo, que inclua os custos de produção,
pagamento de pró-labore e a geração de recurso para investimento;
Estabelecimento da remuneração proporcional à participação no processo
produtivo e função da realização da produção no mercado, garantindo os
rendimentos dos membros do grupo, a serem distribuídos imediatamente
após o início dos recebimentos;
Estabelecimento de relacionamento com parceiros e articulação em redes
solidárias;
Produção e colocação do produto nos pontos de comercialização, por
meio da adoção das estratégias de marketing adequadas;
Inovação e aprimoramento do produto;
Diversificação de produção.
A complexidade influencia no tempo de maturação e preparação do
empreendimento para a autossustentabilidade. Ela considera a localização –
logística de acesso aos fornecedores e ao mercado –; o nível de instrução das
pessoas – grau de escolaridade inicial –, o nível de conhecimento para uma
22
Organizações sócioprodutivas comunitárias demandam um plano de negócio diferenciado em virtude de seu caráter especial em termos de suas carências gestoras. É imprescindível que este seja participativo, respeitando as condições do local e das pessoas. (KRAYCHETE, 2011)
157
preparação com qualidade do produto a ser comercializado; o tipo de produto; o
nível de preparação das pessoas para a gestão e para o pensamento
empreendedor.
Segundo um dos entrevistados da pesquisa realizada no Pará, a complexidade
permeia os empreendimentos e é um fator que deve ser considerado nesses
empreendimentos sociais e comunitários.
Para tanto, é importante destacar que o grau de complexidade dentro do contexto
social de um empreendimento tende a estabelecer o tempo social necessário para
sua maturação e para a sua autossustentabilidade e que, portanto não se submeter
a uma “camisa de força” ou a uma análise fundamentalista de que se não se tornar
independente num prazo cronometrado de, por exemplo, três anos ele não seja
viável e/ou que seus associados não tenham interesse, pois deve se considerar
que...
Cada empreendimento tem sua natureza e tem sua complexidade, tem sua dinâmica de produção e de mercado, tem seus riscos, alguns tem risco muito alto, outros tem margem de risco mais baixa, alguns, da matéria prima ao mercado estão tudo no mesmo local, outros não, além disso (deve considerar) do grupo, o nível formação e de informação, o grau de articulação, a capacidade que ele tem de interação, do grau de motivação, é que esse time (tempo) vai variar. (FS_PACO).
Tais indagações são confirmadas pelo estudioso Kraychete (2011).
A sustentabilidade dos mesmos [empreendimentos], entendida como a capacidade de ampliarem continuamente o alcance de suas práticas, depende de condições culturais, econômicas, tecnológicas, sociais etc, impossíveis de serem alcançadas apenas através do empenho dos trabalhadores associados e de suas articulações em redes e fóruns. (KRAYCHETE, 2011, p. 17).
Portanto, a estimativa proposta de tempo de maturação ou tempo social pode ser
confirmada como também pode ser antecipada ou prolongada por um determinado
período, dependendo das circunstâncias internas e externas às quais o
empreendimento está sujeito.
No decorrer da pesquisa, se constataram lacunas no processo de sistematização e
monitoramento das informações, tanto por parte das instituições apoiadoras, quanto
158
dos empreendimentos sociais pesquisados, em especial no que se refere aos
indicadores sociais, devido ao fato de estarem mais envolvidos com a execução do
que com a dedicação de tempo de reflexão do andamento das atividades.
O monitoramento das atividades e a avaliação dos resultados ainda são ações
desafiadoras, tanto para as instituições do Pará, quanto de Minas Gerais, apesar
dos avanços nos registros e mensuração dos dados. De certa forma, os indicadores
econômicos e ambientais estão mais bem observados e registrados, mas os
indicadores sociais ainda são deficientes, principalmente, por envolverem
informações não tão mensuráveis, que despendem de um tempo maior de apuração
e que variam de realidade para realidade, de grupo para grupo, de região para
região.
O conhecimento adquirido com a pesquisa forneceu elementos orientadores para a
proposição de indicadores para o monitoramento do tempo de maturação do
empreendimento a partir de um instrumental cuja aplicação diagnosticará o estágio
em que se encontra o empreendimento, em sua evolução para a sustentabilidade.
A oferta de uma Cartilha Orientativa denominada Metodologia de Monitoramento
para a Autogestão e Autossustentabilidade para Empreendimentos Sociais,
sensível ao Tempo Social, traz uma matriz de sinalização para o caminho da
autossustentabilidade desenvolvida a partir de indicadores de sustentabilidade para
empreendimentos sociais. Ela pretende contribuir para a autossustentabilidade dos
empreendimentos sociais e com as Instituições Apoiadoras abordados nessa
pesquisa e visa também ser utilizado como ferramenta de trabalho para
Empreendimentos Associativos e Instituições de fomento dessas inciativas
espalhados pelo Brasil, que estão na luta diária em busca da sua autonomia e
autossustentabilidade, em meio a uma economia global excludente e opressora,
demonstrando em sua trajetória que é possível, exercitar a autogestão em seus
processos produtivos, possibilitando qualidade de vida para seus associados e
sustentabilidade para seus negócios inclusivos e coletivos.
Espera-se que esta metodologia possa ser uma ferramenta fortalecedora nas
discursões teóricas e práticas sobre indicadores de sustentabilidade, metodologia de
monitoramento dessas iniciativas, podendo ser a cada momento construída e
159
reconstruída, tendo como ponto de partida a vivência dos desafios e possibilidades
da complexidade dos empreendimentos sociais.
Deste modo, tornar empreendimentos sociais sustentáveis e capazes de mudar a
realidade dos sujeitos envolvidos é um grande desafio. Para tanto, faz-se necessário
um processo educativo e pedagógico de aprendizado permanente para estabelecer
uma cultura empreendedora, baseada em princípios solidários e associativos,
aliando a vivência de uma gestão social com a eficiência econômica com vistas à
autogestão e autossustentabilidade, o que demanda uma lógica de prazos, de tempo
condicionado à necessidade e à maturação dos processos, dos sujeitos, e que de
fato, demandam um tempo social.
Por fim, essa temática desperta nesse campo de estudo outras possibilidades de
avanço para pesquisa entre as quais: estudar o tempo social em empreendimentos
sociais formalizados e com um tempo de maturação maior do que foi pesquisado em
Minas gerais; verificar se há variações de tempo social entre os empreendimentos
sociais a partir de sua maior ou menor complexidade do negocio; e ainda se o
monitoramento e avaliação constante das fases/ etapas de um empreendimento
pode ocasionar sinalizações de caminho para a sustentabilidade de um
empreendimento social.
Referências KRAYCHETE, Gabriel. Economia popular solidária: sustentabilidade e transformação social, 2006. Disponível: http://www.capina.org.br/download/pub/gkrtxtsemi.pdf >. Acesso em 11 jul. 2013. _________, Gabriel. Estudos de viabilidade dos empreendimentos associativos: uma metodologia apropriada IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. _________, Gabriel. Viabilidade econômica e sustentabilidade dos empreendimentos da Economia Solidária: conceitos básicos. IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011.
160
5 APÊNDICES
Apêndice I
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
APOIADORES DE EMPREENDIMENTO SOCIAL
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições
privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no
contexto do desenvolvimento local.
Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral
Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello
Instituição:__________________________________________________________
Nome: _____________________________________________________________
Cargo:_____________________________________________________________
Entrevistado:________________________________________________________
Data de aplicação:___/____/____
1. Desde quando a empresa ou instituição privada está investindo em empreendimentos sociais?
2. O que motivou a instituição a investir nessa linha de atuação?
3. Qual a política adotada para a formação desses empreendimentos? (formação dos empreendimentos, treinamentos incubação, incentivo a cooperação, estrutura).
161
4. A sua instituição tem uma metodologia de acompanhamento desses empreendimentos? Se sim, descreva as atividades desempenhadas pela instituição junto ao empreendimento.
5. A sua instituição tem indicadores para acompanhar a realização destas atividades, com base nas necessidades do empreendimento?
a. Se sim, quais e como são mensurados?
b. Quais são os parâmetros para a interrupção das atividades?
6. Como a instituição determina o momento em que deverá ser suspenso o apoio ao empreendimento?
7. Comente as principais dificuldades identificadas que possam frustrar o sucesso do empreendimento.
8. Segundo o quadro abaixo, quantos empreendimentos sociais a sua instituição apoia:
Item Em projeto Em
implantação
Em operação Concluído
c/ apoio s/ apoio
Quantidade
9. Sobre o(s) empreendimento(s) indicado(s) para a pesquisa:
162
Nome do empreendimento:___________________________________________
Situação: ( ) em projeto ( ) em implantação ( ) em operação ( ) concluído
Localização: ______________________________________________________
Formato do empreendimento: ( ) individual ( ) coletivo ( ) autogestionário
( ) cooperativo ( ) outros:____________________
Apoio Financeiro:
Período
Valor
Finalidade
Apoio Técnico:
Período
Finalidade
163
Nome do empreendimento:___________________________________________
Situação: ( ) em projeto ( ) em implantação ( ) em operação ( ) concluído
Localização: ______________________________________________________
Formato do empreendimento: () individual ( ) coletivo ( ) autogestionário
( ) cooperativo ( ) outros:____________________
Apoio Financeiro:
Período
Valor
Finalidade
Apoio Técnico:
Período
Finalidade
164
Apêndice II
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
EMPREENDIMENTO SOCIAL- MEMBROS DA DIREÇÃO
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições
privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no
contexto do desenvolvimento local
Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral
Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello
Empreendimento
Social:_________________________________________________
Estrutura Social: ( ) Cia. Ltda. ( ) Associação ( ) Cooperativa ( ) Grupo produtivo
Ano de fundação do empreendimento:____________________________________
Número de associados: __________________
Tempo na direção:
______________________________________________________
Linha de
produção:_____________________________________________________
Endereço:___________________________________________________________
Telefone:____________________________________________________________
Nome do
entrevistado:___________________________________________________
165
Cargo do entrevistado:
___________________________________________________
Data de aplicação:___/____/____
1. Como e quando você começou a fazer parte da direção?
2. Como são realizadas as remunerações dos membros do empreendimento?
3. Descreva o processo decisório no empreendimento. Destaque:
a. os aspectos de participação dos colaboradores;
b. as decisões tomadas com eles;
c. as decisões tomadas sem eles
d. informe a frequência de convocação de reuniões gerais
4. Informe a situação financeira atual do empreendimento e a dependência do
apoiador externo.
5. Como acontece o apoio oferecido pelo apoiador externo? Comente os itens a
seguir:
a. Técnico
b. financeiro (investimento/giro)
c. colocação do produto no mercado
6. Conte a história do empreendimento, descrevendo as fases, os eventos em
cada fase e a influência dos eventos na dimensão da fase?
7. Como é acompanhada a evolução do empreendimento? Relacione os
Indicadores qualitativos e quantitativos de acompanhamento/monitoramento.
8. Em que condições o empreendimento estaria pronto para avançar com
autonomia. Em quanto tempo aconteceria esse avanço.
166
Apêndice III
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
EMPREENDIMENTO SOCIAL - ASSOCIADOS
ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL
Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições
privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no
contexto do desenvolvimento local
Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral
Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello
Empreendimento
Social:_________________________________________________
Data de aplicação:___/____/____
1. História do empreendimento. Construa a linha do tempo e distribua os marcos
e eventos vivenciados.
a. Qual a atividade que define o tempo de demora ou avanço de cada
fase?
b. Quais as facilidades encontradas? Comente-as.
c. Quais as dificuldades encontradas? Comente-as.
d. Dê sugestões de como administrar as dificuldades encontradas?
2. Como você se sente em relação ao futuro deste empreendimento? Discorra
sobre:
167
a. sua responsabilidade;
b. suas expectativas;
c. suas percepções;
d. sua dependência (qualidade de vida)
3. Visão de pertencimento do empreendimento. Comente sua participação como
dono do empreendimento.
4. Em que condições o empreendimento estaria pronto para avançar com
autonomia?
5. Em quanto tempo aconteceria este avanço?
6. Quais desses fatores você mais identifica ter acontecido em sua vida após a
sua participação nesse empreendimento? (Identificar o respondente com o
tempo de empreendimento)
Melhoria de qualidade de vida
Aumento da renda familiar
Remuneração satisfatória
Satisfação com o trabalho
Satisfação com o grupo
Participação em reunião e eventos de interesse comunitário
Participação no processo decisório
Sensação de pertencimento e dono do negocio
Aquisição de bens e moveis
Novos conhecimentos adquiridos
Retorno e/ou términos dos estudos
Outro:___________________
168
6 ANEXOS
Anexo I
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO LOCAL
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições
privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no
contexto do desenvolvimento local.
Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral
Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello
Natureza da pesquisa: a sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta
pesquisa que tem como finalidade analisar a dinâmica dos empreendimentos
sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento por meio do delineamento de
suas fases e os requisitos percebidos no caminho de sua sustentabilidade. Espera-
se, como resultado dessa investigação, o aprofundamento de um conhecimento
relativo ao processo de autogestão coletiva para a sustentabilidade de um
empreendimento social, com um olhar para o seu tempo de maturação – tempo
social. A metodologia que a orienta é condizente com uma pesquisa exploratória-
descritiva, por meio dos procedimentos técnicos da pesquisa bibliográfica,
documental e de campo, com base em um viés qualitativo com nuances
quantitativas que utilizará de técnicas de pesquisa como aplicação de formulários
individuais e grupo focal com associados, entrevistas individuais com apoiadores e
responsáveis pela direção do empreendimento. A seleção amostral para a pesquisa
de campo foi intencional realizada pela pesquisadora, ou seja não aleatória, pois se
pretende utilizar a estatística descritiva. Serão abordados membros de 01 empresa
apoiadora, 02 instituições privadas do 3º setor apoiadoras/executoras e que
indicarão realização da pesquisa em 04 empreendimentos sociais apoiados
localizado no estado de Minas Gerais e no Pará. E sua contribuição será a de gerar
uma metodologia para monitorar o tempo social de amadurecimento do
169
empreendimento social com o intuito de prever o alcance da autossustentabilidade e
suas condições.
2. Participantes da pesquisa: participarão desta pesquisa associados, pessoas
da direção do empreendimento social e técnicos das instituições privadas
apoiadoras, responsáveis pelo acompanhamento da implantação do
empreendimento.
3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá
que o (a) pesquisador (a) supra citada realize a pesquisa. A sra (sr.) tem
liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar
participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra
(sr.) (...). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa
através do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através
do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.
4. Sobre as entrevistas: será realizados com os associados a aplicação de
formulário individual para colher percepção de indicadores de melhorias com
a participação no empreendimento e grupo focal entre 05 a 10 associados. E
ainda entrevistas com membros da direção a partir de um roteiro prévio. Nas
empresas e instituições privadas apoiadoras/executoras será abordados os
analistas técnico, responsável pelo acompanhamento dos empreendimentos
apoiados, segundo a orientação de um roteiro para a realização de
entrevistas.
5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações
legais. Existe uma possibilidade remota e relativa de surgir algum
constrangimento ao responder uma ou mais pergunta, mas o entrevista tem o
direito de responder apenas as perguntas que lhe deixarem confortável. Por
outro lado, assegura-se a confidencialidade com respeito aos nomes dos
respondentes, conforme mencionado no item 6. Os procedimentos adotados
nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres
Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.
6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são
estritamente confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador
(a) terão conhecimento dos dados.
7. Forma de Acompanhamento e Assistência: os responsáveis pela pesquisa
encontram-se à disposição antes, durante e depois de realizada a entrevista
170
para explicar com detalhes o que se pretende com as perguntas, esclarecê-
las devidamente e que fim se destinam e como serão analisadas.
8. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum
benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo proporcione
informações importantes para o alcance de condições de sustentabilidade dos
empreendimentos sociais, de forma que o conhecimento que venha a ser
construído a partir desta pesquisa possa contribuir para o surgimento de
novos empreendimentos sociais estruturados de forma a que alcancem
condições de perenidade temporal. Por outro lado, os resultados deste
trabalho serão posteriormente divulgados também para todos aqueles que
contribuíram com informações, durante o processo de pesquisa de campo.
9. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta
pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre
e esclarecida para participar desta pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens
que se seguem.
Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito
1 Consentimento Livre e Esclarecido
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e
esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que
recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a
divulgação dos dados obtidos neste estudo.
__________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
___________________________________
Nome do Participante da Pesquisa:
171
__________________________________
Assinatura do Pesquisador
___________________________________
Assinatura do Orientador
Pesquisador Principal: ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL
CONTATO (31)75658185
Demais pesquisadores: EDIMÉIA MARIA RIBEIRO MELLO
CONTATO (31) 99923268
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA: Rua Guajajaras,
175, 4º andar – Belo Horizonte/MG
Telefone do Comitê: (31) 35089110
172
ANEXO II
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS
Eu ______________________________________, CPF_____________________,
RG_______________, representante da(o)_________________________________
depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e
benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de
imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, os pesquisadores
através do presente termo, a pesquisadora Odnélia Cristina Siqueira de Amaral do
projeto de pesquisa intitulado “Empreendimentos sociais apoiados por instituições
privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no contexto
do desenvolvimento local,” a realizar as fotos e/ou vídeos, bem como disponibilizar
fotos do banco de acervo institucional que se façam necessárias sem quaisquer
ônus financeiros a nenhuma das partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos
negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros,
artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima
especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os
direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,
Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das
pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº
5.296/2004).
_____________________________, ______ de ______ de 20_____.
_______________________ ______________________________
Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto