O XADREZ ESCOLAR: um instrumento para melhorar a atenção e concentração dos alunos da 6ª série do ensino fundamental
Autor: Francisco Carlos Bortoluzzi1
Orientador: Prof. Dr.Dourivaldo Teixeira2
Resumo
Apesar de ser um dos esportes mais praticados no mundo o xadrez é ainda considerado um jogo difícil de ensinar por parte da maioria dos professores. Mas dentre suas vantagens estão o fato de ser um grande impulsionador da imaginação, contribuir para o desenvolvimento da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de raciocínio. Foi constatado que o xadrez desempenha um importante papel socializante, por ensinar a lidar com a derrota e com a vitória. Portanto, podemos considerar que o jogo do xadrez pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem e é sob essa perspectiva que desenvolvemos esse projeto. O objetivo do trabalho foi o de analisar as possibilidades de melhoria das habilidades cognitivas do educando no contexto escolar, por meio da prática do xadrez. A proposta foi desenvolvida com alunos da 6ª série, utilizando o xadrez como uma atividade com predominância lúdica, tornando-se ferramenta no desenvolvimento da concentração e consequentemente, contribuindo para um melhor desempenho escolar.
Palavras-chave: Xadrez. Ensino. Aprendizagem.
1 Introdução
A ideia básica de se trabalhar com o xadrez na escola, reside no fato de ele
ser um jogo pedagógico, auxiliando no desenvolvimento das demais disciplinas
curriculares. Quem não precisa, por exemplo, adquirir uma boa memória para
guardar acontecimentos e datas quando está em uma aula de história? Qual de nós
não tem necessidade de ter precisão nos cálculos matemáticos? Sem contar que o
xadrez oferece um ambiente ímpar para desenvolver nossa criatividade, sendo ainda
um excelente meio de recreação e formação do caráter dos jovens.
1 Prof. da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná (e-mail: [email protected])2 Prof. Dr. do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá
(e-mail: [email protected])
O xadrez é considerado um dos esportes mais praticado no mundo. É um
grande impulsionador da imaginação, que também contribui para o desenvolvimento
da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de raciocínio. Foi
constatado que o xadrez desempenha um importante papel socializante, por ensinar
a lidar com a derrota e com a vitória, mostrando que a derrota não é sinônimo de
fracasso nem vitória é sinônimo de sucesso. Na interpretação de Filguth (2007, p.
36), “[...] o xadrez também ensina sobre a esportividade, como ganhar com cortesia
e não desistir após uma derrota”.
No Paraná, desde 1998, são desenvolvidos projetos propondo a utilização
do xadrez, entre os escolares, todos com resultados positivos. Exemplo disso é o
Projeto “Xadrez na Escola”, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação
(SEED) e pelo Centro de Excelência do Estado do Paraná, inclusive, servindo de
modelo metodológico para os demais estados do Brasil.
Na verdade, o ensino e a prática enxadrística são alternativas possíveis no
ensino, bastando que o professor desenvolva atividades motivadoras que levem o
aluno a aprender a jogar xadrez. Para tanto, é necessário que os profissionais
envolvidos no projeto estejam suficientemente preparados para inserir esta atividade
em sala de aula, de forma adequada para explorar todos os benefícios que o jogo
pode oferecer ao aluno.
Outro fator importante que nos levou a desenvolver este projeto com o
xadrez é o que se vem percebendo que a juventude de hoje não sofre apenas de
sedentarismo físico, mas também de sedentarismo “mental”, porque o novo estilo de
vida sofreu transformações devido ao aparecimento de avançados recursos
tecnológicos e que se multiplicam a todo o momento.
Tanta inovação facilita o acesso ao conhecimento, mas causa também um
comodismo que permite ao adolescente deixar de exercitar a reflexão, a análise e
até mesmo bloqueia a capacidade de discernir o que é proveitoso ou não para
desenvolver uma atividade que exija raciocínio mais aguçado.
Ainda há de se considerar que a falta de atividades de socialização, do
engajamento da família com a escola, e que resultam no pouco envolvimento em
relação á educação do adolescente, contribuem para uma maior acomodação por
parte do jovem no tangente ao desenvolvimento de suas habilidades cognitivas.
A internet, o e-mail e os computadores estão mudando rapidamente as
habilidades essenciais para ter sucesso na escola e no trabalho. Com a aceleração da globalização, a informação está fluindo cada vez mais rapidamente. Informações que demoravam meses para serem captadas há alguns anos, hoje podem circular na internet em alguns minutos (FILGUTH, 2007, p.14).
Além de todos esse fatores que justificam a importância do jogo para a vida,
o tema “Jogos e Brincadeiras” está contemplado nas Diretrizes Curriculares de
Educação Física do Paraná (PARANÁ, 2008, p. 65), no ensino fundamental e no
ensino médio, como conteúdo estruturante, mas o que ocorre é que, na sua prática
efetiva, muitas escolas utilizam o xadrez como uma ferramenta recreativa e não
educativa.
O pedagogo Eric Piassi, em entrevista concedida ao Jornal da Cidade de
Bauru (2005), relata que, em pesquisa sobre “a prática e o ensino do xadrez nas
escolas de Bauru e região”, a maioria dos professores entrevistados considerou o
jogo de xadrez como um jogo difícil de ensinar, sendo poucos os que reconheceram
que a real função do jogo é auxiliar o processo de ensino e aprendizagem.
Por fazer parte das práticas pedagógicas em grande parte das escolas de
ensino fundamental e ensino médio, o jogo de xadrez deve, como todo conteúdo, ser
planejado de maneira a que contribua para uma mudança no contexto escolar e
familiar e na transformação dos sujeitos.
A partir dessa perspectiva, almeja-se organizar e estruturar a ação
pedagógica da Educação Física de maneira que o jogo seja entendido, aprendido,
refletido e reconstruído como um conhecimento que constitui um acervo cultural, o
qual os alunos devem ter acesso na escola (SOARES et al, 1992, p. 66).
Para alcançar esse objetivo, cogita-se apresentar uma proposta de
intervenção pedagógica com alunos da 6ª série, com a utilização do xadrez como
uma atividade com predominância lúdica, tornando-se ferramenta no
desenvolvimento da concentração e consequentemente, contribuindo para um
melhor desempenho escolar.
Tal opção pelo jogo de xadrez foi realizada por ser um jogo que foi objeto de
muita investigação, principalmente quanto aos seus benefícios no âmbito
educacional, como podemos constatar pelo número elevado de trabalhos sobre o
tema “Xadrez”, publicados no ambiente virtual dia-a-dia-educação, da SEED do
Estado do Paraná.
Portanto, é a partir desse contexto que o xadrez é apresentado nessa
proposta de trabalho, como uma atividade de desenvolvimento da concentração e
um resgate cultural, objetivando esse desenvolvimento de uma maneira lúdica e
prazerosa.
Dessa maneira, a Educação Física mostra que seu papel é fundamental na
escolarização e que, dentre outras funções, tem a finalidade de introduzir o individuo
na reflexão crítica, exigindo alternativas que permitam a participação de todos os
alunos nas aulas.
2 História do xadrez
O xadrez tem uma “carga histórica” imensamente rica e sem comparação,
mesmo que remota, com qualquer outro jogo de tabuleiro ou outra modalidade. O
xadrez é fruto direto da história humana e reflete explicitamente essa herança das
eras e dos feitos do homem e de sua cultura ao longo do tempo de sua existência e
através de sua infinita adaptação aos elementos e enfoques dessa cultura.
De acordo com os estudos de Tirado e Silva (1995), na história o xadrez já
foi dado como criação de vários povos, como chineses e outros, mas a hipótese
mais aceita é a de que ele surgiu no norte da Índia, entre o século V e VI da era
cristã, com o nome de chaturanga.
No início, o xadrez era jogado por quatro competidores utilizando-se de
dados. Passou a ser disputado por dois jogadores na Pérsia e, quando esta foi
conquistada pelos árabes, começou a espalhar-se pelo mundo. Com o advento da
renascença, nasceu o xadrez moderno.
A criação do jogo de xadrez é rodeada de algumas lendas, sendo que a
mais divulgada é a “Lenda de Sissa”, onde:
[...] diz que seu aparecimento se deve ao sábio indiano Sissa. Criou o Xadrez a pedido do rei Kaide e o rei prometeu-lhe a recompensa que desejasse, se o jogo fosse realmente interessante. Sissa pediu-lhe, então, que um grão de trigo fosse colocado na primeira casa do tabuleiro, dois grãos na segunda, quatro na terceira, sempre multiplicando o número por dois até a última casa, ou seja, a casa de número 64. O rei achou o seu pedido simples demais e lhe concedeu sem muito se preocupar. Mas, feitos os cálculos sobre o número de grãos necessários para atingir tal pedido, chegou-se a este extraordinário algarismo: 18.446.744.073.709.551.615. O rei percebeu que Sissa era mesmo um sábio, pois seu pedido era
impossível de realizar (GIUSTI, 2002, p.6).
Durante os mil e quinhentos anos em que o xadrez é praticado, incontáveis
partidas já foram jogadas, gerando um conhecimento especializado sobre o jogo.
Através de um sistema de registro próprio, este corpo de conhecimento foi
organizado e sistematizado de forma a facilitar seu estudo e transmissão.
Uma mudança importante se deu no século XV, quando Gutenberg criou o
tipo móvel, possibilitando a impressão de livros de xadrez. A partir da proliferação
dos livros, ocorreu a democratização do jogo.
No Brasil, Gambôa (2007), afirma que o xadrez tenha sido introduzido a
partir de 1808, quando D. João VI ofereceu à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
um exemplar do primeiro trabalho impresso sobre o jogo tendo tomado impulso
somente a partir do século XX.
2.1 Características cognitivas na prática do jogo de xadrez tais como: atenção
e concentração.
O dicionário Aurélio define atenção como ”aplicação cuidadosa da mente a
alguma coisa” e concentração como “aplicação da atenção da mente de modo
interno e exclusivo”. Nesse sentido, vale lembrar algumas investigações realizadas
em diversas partes do mundo sobre a utilização do xadrez como ferramenta
pedagógica, analisadas por Rezende:
(1976): Bélgica (os psicólogos da Universidade de Gand, os Dr. Christiaen Verhofstadt, depois de dois anos de experiências com dois grupos de 20 crianças entre 10 e 11 anos (alunos de 5ª série), observaram que o grupo experimental que receberam aulas de xadrez obteve aproveitamento 13,5% superior ao do grupo do ensino regular; New York-USA (1981): Joyce Brown constatou considerável melhora no comportamento dos – 60% menos incidentes e suspensões, além da melhora no aproveitamento escolar de até 50% na maioria dos estudantes envolvidos. Marina, Califórnia-USA (1985): George Stephenson, após 20 dias consecutivos desenvolvendo um trabalho com um grupo de estudantes, constatou os seguintes resultados entre os alunos que apresentaram maior aproveitamento escolar: rendimento acadêmico (55%); comportamento (62%); esforço (59%); concentração (56%) e auto-estima (55%) (REZENDE, 2005).
Baptistone (2000) também concorda que o jogo de xadrez, embora
considerado como uma atividade lúdica, apresenta-se profundamente intelectual,
pois os estudos realizados mostram que este jogo de estratégia, quando trabalhado
como ferramenta educativa, pode reforçar habilidades como a capacidade de
cálculo, a concentração, a responsabilidade e a tomada de decisões.
Acredita-se que o jogo de xadrez é uma modalidade que desenvolve e
melhora as seguintes capacidades: a concentração, o raciocínio lógico, a tomada de
decisão, a reflexão, a organização, a memorização, e a atenção.
Vale ressaltar que Rezende (2005) ainda afirma que o ensino do xadrez é
um grande auxiliar para o desenvolvimento das habilidades mentais, pois o jogo
trabalhará as habilidades cognitivas: a atenção, a projeção, a imaginação, a
percepção de mundo, o rigor mental, a recordação, o pensamento obtido, a análise
sistemática e a matemática.
Assim, a atenção e a concentração podem estar relacionadas entre si e, por
meio do xadrez, abrir um leque de opções para a integração com outras disciplinas,
de maneira a formar no educando uma visão global e de consciência ampla do
mundo que o cerca.
2.2 Aspectos motivacionais importantes a partir da prática do xadrez na
escola
Nos estudos da Educação Física, as atividades lúdicas da criança e do
adolescente são, muitas vezes, analisadas com vistas à melhoria do rendimento do
aluno, seja nas atividades esportivas de competição no futuro, seja nas demais
atividades escolares. Trata-se, naturalmente, de uma visão muito reduzida das
possibilidades pedagógica dessas atividades.
Na nossa sociedade atual, é um problema pedagógico transformar
atividades lúdicas que contrastam com as atividades “sérias” do trabalho e das
tarefas escolares, em valor pedagógico-educacional.
Pedagogicamente, deve-se levar em consideração que oportunizar à criança
e ao adolescente a chance de vivenciar experiências bem sucedidas de vida, que
escapam do sentido cotidiano das atividades obrigatórias, é contribuir com a
possibilidade da formação de indivíduos críticos e emancipados. Pois, a
[...] preparação para o futuro e alegria no presente são duas funções que deveriam ser complementares, caso nenhuma tentasse obliterar a outra. [...] Para crescer harmoniosamente, a criança precisa munir-se de alegria do
presente (SNYDERS, 1993, p. 30).
O xadrez é uma ferramenta pedagógica especialmente efetiva. Pode
desafiar igualmente as mentes de meninas e meninos, talentosos e medianos,
atléticos e não atléticos, ricos e pobres. Pode-se ensinar às crianças a importância
de planejar e as conseqüências de suas decisões. O xadrez também ajuda a
construir a autoconfiança e a auto-estima, sem egos inflados, pois algumas perdas
são inevitáveis até mesmo para campeões mundiais. Também ajuda potencialmente
as crianças menos talentosa a aprenderem como estudar, gerando nelas, talvez, até
mesmo uma paixão por aprender.
Nuno Cobra, um dos maiores especialista em Educação Física do país, ao
comentar sobre a importância da prática do xadrez, assevera:
[...] o xadrez é realmente um excelente exercício para o cérebro e exige muito das emoções. A pessoa adquire um senso muito prático de organização, concentração e desenvolve de forma muito especial a memória. O xadrez trabalha a imaginação, memorização, planejamento e paciência. Nas escolas do primeiro mundo, o xadrez já é praticado há décadas, onde os alunos além de todo esse desenvolvimento citado melhoram muito sua disciplina, relacionamento com as pessoas, respeito às leis, às regras (COBRA, 2007).
Talvez mais importante seja o fato de o xadrez ser um modo divertido para
ensinar as crianças a pensar e resolver uma ordem sempre variável e diversa de
problemas difíceis. Com milhões de possibilidades em toda partida, os jogadores
têm de enfrentar posições e problemas novos continuamente. Eles não podem
resolvê-los usando uma fórmula simples ou confiando em respostas memorizadas.
Em vez disso, têm de analisar e calcular, confiando em princípios gerais e padrões,
mas, ao mesmo tempo, com uma dose de criatividade e originalidade uma
habilidade que crescentemente reflete o que os estudantes têm de confrontar em
sua lição escolar cotidiana.
Existem diferentes formas de se aplicar o xadrez:
A primeira forma que o jogo se apresenta é chamada de Xadrez Lúdico, no
qual o enfoque é a distração, o lazer e a diversão, de grande importância, pois o
homem tem necessidades de atividade lúdica utilizada para o seu descanso físico e
mental.
Segundo Cailois (1986), o lúdico faz parte de dimensão humana, onde há
espontaneidade de ação. São atividades sem nenhuma pretensão, sem qualquer
intenção ou vontade alheia e sem pressões e avaliações.
A segunda forma é o Xadrez Competitivo ou Técnico, onde o objetivo
principal é o treinamento para participações em campeonatos. A terceira forma é
Xadrez Pedagógico em que o enfoque é desenvolver e trabalhar as habilidades
cognitivas nas quais os estudantes tenham dificuldades, tornando-se uma
ferramenta pedagógica que venha a colaborar em uma possível melhora no
desempenho escolar do praticante. Apesar das três formas estarem interligadas, o
presente projeto terá enfoque no pedagógico, ficando claro que o ensino do xadrez
em qualquer das formas (lúdica, técnica ou pedagógica) desenvolverá habilidades
necessárias na vida escolar do educando.
A aproximação entre jogo de xadrez e a educação já foi amplamente
estudada e posta em prática por autores consagrados ao longo da história e tem
sido objeto de estudo nas mais diversas abordagens, a exemplo da sociologia, da
psicologia e da psicopedagogia, onde são salientados os resultados expressivos
com relação à melhoria da concentração; do raciocínio, da criatividade, dentre outras
habilidades, por meio da prática enxadrística.
Barreto (2003) compreende que a construção do saber é considerada como
produto de uma atividade que ocupe um espaço e um tempo para pensar e
exercitar-se. O xadrez, tanto na forma lúdica como na competitiva utiliza-se de um
espaço-tempo para pensar que irá exercitar e desenvolver o educando.
Assim sendo, o jogo xadrez é ferramenta poderosa que ajudará no
desenvolvimento e aprendizagem do praticante, através de experiências de forma
lúdico-cognitiva, que poderá ser útil em sua vida psíquica e social.
Vista dessa maneira, nas aulas de Educação Física, quando o aluno pratica
o xadrez, valendo-se da capacidade espaço-temporal para solucionar problemas,
pode melhor visualizar o jogo, sob diferentes ângulos. Considerando que neste jogo
de estratégias o binômio espaço-tempo é negociado a cada jogada, o aluno, quando
levado a elaborar estratégias por meio da organização de seu pensamento, pode ter
uma considerável melhora no seu desenvolvimento mental e prático.
Ricardo Reis, poeta português, citado por Fernando Pessoa, dizia que “[...] o
jogo de xadrez prende a alma toda, mas, perdido, pouco pesa, pois não é nada”, ou
seja, ele propicia uma liberdade para que seu aluno erre sem temer as
conseqüências.
Em um mundo onde ele tem poucas oportunidades de decidir, a partida de
xadrez passa a ter uma função privilegiada, pois cada lance é precedido de uma
análise e de uma tomada de decisão, o que contribui para o treinamento dessas
habilidades.
3 Desenvolvimento das Atividades
É comum observar que a maioria dos nossos alunos possui uma visão
parcial da aplicabilidade do jogo de xadrez. Diante deste fato propomos um
programa que contribua para a melhoria dos aspectos cognitivos e sociais dos
alunos e dessa forma, transformar o xadrez em um importante instrumento que
possibilite, aos mesmos, assimilarem de forma satisfatória para que possam resolver
com mais clareza as questões do seu cotidiano.
Inicialmente apresentamos o projeto e seus objetivos à direção, equipe
pedagógica, professores e funcionários e em um segundo momento aos alunos da
6ª série A, público-alvo do projeto desenvolvido na Escola Estadual Honório Fagan –
Ensino Fundamental, de Floraí, Pr.
As experiências com o xadrez foram desenvolvidas por meio da aplicação de
quinze aulas, organizadas numa sequência didática de quatro momentos.
No primeiro momento, com duração de três horas-aulas e o objetivo de
resgatar a importância histórica da origem do xadrez, iniciamos com a verificação do
nível de conhecimento dos alunos participantes sobre o xadrez. Esse teste auxiliou
na modificação do plano de aplicação, através dos dados coletados, pois
observamos que os alunos não apresentavam conhecimentos básicos sobre o
xadrez, como havíamos julgado no início.
As aulas foram ministradas em sala de aula, ou seja, foram teóricas e
práticas, apresentando a historicidade do xadrez, sua importância, o histórico da
lenda de Sissa e outros, utilizando as salas de aulas, com o auxilio da TV-
Multimídia, pendrive e vídeo.
Na sequência tivemos o segundo momento com seis horas-aula de duração
e o objetivo de conhecer o tabuleiro de xadrez, as peças com seus posicionamentos,
movimentos e a captura das peças no tabuleiro por meio de atividades pedagógicas
específicas e atividades pré-enxadrísticas do xadrez.
Ainda em sala de aula, apresentamos o tabuleiro e suas características, já
dando noções para o aprendizado, no sentido de anotação algébrica. E seguida
iniciamos o movimento das peças começando pelo peão, torre, cavalo, bispo, dama
e rei. Após os movimentos das peças, foram abordados os jogos pré-enxadrísticos
de iniciação (ex: gato e o rato, batalha dos peões, jogo da velha etc.), para fixação
de como as peças andam e capturam.
No terceiro momento do programa foram destinadas duas horas-aula, tendo
como objetivo levar os alunos a compreender determinados movimentos e situações
que ocorrem com as peças durante uma partida de xadrez.
Também realizamos a explanação sobre movimentos especiais e outros
fundamentos do xadrez: xeque, xeque mate, roque maior e menor, promoção,
aberturas simples. Numa segunda etapa, foram realizados jogos em duplas, jogo a
três, simultaneamente. Durante as partidas, foram feitas diversas modificações,
como por exemplo: mudar o oponente sem prévio aviso e outros, com o objetivo de
aumentar as dificuldades e que venha auxiliar no desenvolvimento das habilidades
de atenção e concentração. Valorizando os conhecimentos e as práticas realizadas
até o momento oportunizamos o jogo propriamente dito em tabuleiros oficiais.
O quarto momento do programa contemplou, com quatro horas-aula de
duração buscando motivar os alunos a aplicar e treinar os conhecimentos adquiridos
nas aulas anteriores, jogos de modo a desenvolver a competitividade em partidas de
xadrez.
A primeira prática enxadrística foi à realização de um torneio entre os
alunos. No torneio foi adotado o sistema de eliminatória simples, pois, esse sistema
é propício para competições que possuem um grande número de jogadores e que
deve ser realizado em um período de tempo o menor possível.
Com o torneio os alunos puderam vivenciar o xadrez na sua forma
competitiva. Além disso, essa prática enxadrística é uma excelente prática
motivadora do xadrez.
Também foi realizada uma partida viva. Essa atividade, para Silva (2002) é a
apresentação figurativa e dramática de uma partida de xadrez por meio de
representação de pessoas atuando como peças.
Para a efetivação dessa prática, os alunos foram divididos em duas equipes.
Foi montado um tabuleiro gigante na quadra da escola e os alunos vestiram coletes
representativos para serem as peças do jogo. Dois alunos, um de cada equipe foram
eleitos para realizarem a partida viva.
Nessa atividade, os alunos se divertiram muito, pois tiveram a chance de
serem as peças e de jogar com peças vivas.
A terceira atividade proposta foi uma partida simultânea. A simultânea,
segundo Silva (2002), é uma partida no qual um enxadrista, chamado simultanista,
deve disputar dentro de um período de tempo relativamente igual certo número de
partidas, cada uma das quais é jogada com um adversário diferente.
Silva (2002) recomenda ainda que, algumas regras sejam observadas
durante uma simultânea: o simultanista sempre joga com as brancas; os
participantes da simultânea só podem efetuar seu lance quando o simultanista
estiver em frente ao seu tabuleiro. Nesse momento devem jogar obrigatoriamente e
ao simultanista é permitido voltar lances.
A simultânea foi realizada no pátio da escola com todos os alunos e
contamos com a participação da professora de matemática atuando como a
simultanista.
Essa atividade mostrou-se motivante para a prática do xadrez, pois por meio
dela os alunos puderam vivenciar outras formas de praticar o jogo.
4 Considerações Finais
Após realização deste estudo sobre o xadrez, concluimos que a escola vem
enfrentado diversos desafios no seu meio, que a falta de interesse e de
concentração por parte dos alunos, são fatos comuns no meio escolar, interferindo
diretamente no processo de ensino e aprendizagem.
Baseados em investigações realizadas por diversos autores, sobre a
utilização do xadrez como ferramenta pedagógica, que vem apresentando muitos
benefícios, principalmente no que se refere aos aspectos cognitivos no âmbito
educacional, por isso, considerado por muitos como sendo um excelente recurso
pedagógico para a educação física escolar, construímos essa proposta de trabalho
de iniciação ao xadrez.
Como resultado do trabalho realizado com o xadrez, aplicado em uma
sequência pedagógica, com alunos da 6ª série do Ensino Fundamental, afirmamos
que foi possível atingir os objetivos propostos.
Apoiamos nossa afirmativa no fato de que os alunos se mostraram
motivados nas aulas, devido ao trabalho organizado em uma sequência didática,
abordando o xadrez passo a passo, utilizando-se dos jogos pré-enxadrísticos e
atividades lúdicas motivadoras. Podemos considerar, mesmo de forma subjetiva,
que, passado o tempo destinado ao projeto, os alunos concluíram a fase de
aprendizagem inicial do xadrez e se encontraram em condições de jogar e a decidir
sobre suas jogadas sem a intervenção do professor. Foi muito positiva a recepção
que os alunos tiveram deste novo aprendizado e, principalmente, pudemos constatar
em reuniões com professores desta série que os mesmos apresentavam melhorias
quanto a concentração e o raciocínio nas aulas de outras disciplinas, constatado.
Sendo, portanto, oportuno sugerir que o xadrez pedagógico possa ser
trabalhado em sala de aula como forma de desenvolver e aprimorar a proposta
educacional dos alunos.
No entanto, sugerimos que novos estudos aconteçam no sentido de
concretizar a proposta que ora se apresenta, e poder assim, contribuir para que o
xadrez seja trabalhado pedagogicamente de forma mais enfática na escola.
5 Referências
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