Belém, vol. 1, n. 2, p. 21 - 33, julho/dezembro 2015
Sobre disciplina e espontaneidade:
Panorama visual de atividades escoteiras
On discipline and spontaneity
Visual panorama of Scouting activities
Caio Fernando Flores Coelho1
Este ensaio fotográfico traz imagens da pesquisa de campoque realizei sobre o
movimento escoteiro no estado do Rio Grande do Sul.“A Dádiva de Si: estudo
etnográfico sobre movimento escoteiro” disserta sobre práticas de trabalho voluntário de
escoteiros, assim como investiga osritos de passagem que envolvem atingir a
maioridade para jovens deste movimento juvenil.
O movimento escoteiro é, no Brasil, uma associação voluntária que trabalha com
jovens de diferentes idades (dos 07 aos 21 anos) através de um projeto educacional
baseado em “atividades ao ar livre”. Na prática, este movimento configura-se como uma
atividade extracurricular que se realizaem finais de semana em ambiente aberto:
acampamentos, jornadas, mutirões voluntários, reuniões etc.
As fotografias aqui reunidas oferecem um panorama visual do que encontrei em
campo e, a partir delas, proponho uma narrativa visualsobre as práticas dos escoteiros
quando realizam estas atividades. Na tentativa de compreender diferentes tipos de ações
em sua completude, apresento momentos de descanso, conversas informais, atividades
de limpeza em mata nativa, atividades aquáticas, detalhes do cotidianoe do ambiente
onde estes escoteiros se encontram. Estas fotografias foram registradas nos anos de
2011 e 2012 em diferentes locais: Ilha do Pavão em Porto Alegre e no Parque de
Eventos da cidade de Caxias do Sul.
Nota-se através dos registros realizados a farda militaresca que estes jovens
usam, assim como a importância do culto à bandeira que ocorre nestas atividades. Ao
mesmo tempo, a versatilidade em relação a forma comoeste uniforme é usado, sendo
1 Professor auxiliar da Unisinos, RS, nos Cursos de Fotografia e de Comunicação Digital. Possui mestrado em
Antropologia Social pela UFRGS e licenciatura plena em História pela Unisinos. Trabalha com história das
sensibilidades, fotografia documental, movimentos sociais e sistemas simbólicos. Pode ser contatado através do
email [email protected] ou pelo twitter em @caogris.
Caio Fernando Flores Coelho
Belém, vol. 1, n. 2, p. 21 – 32, julho/dezembro 2015
readaptado à necessidade, reflete a natureza diáfana do papel da disciplina entre pessoas
tão jovens.
O principal identificador visual que estes escoteiros “portam sobre si” acaba por
ser o lenço triangular enrolado que usam ao pescoço. Feito em diferentes cores, padrões
e estéticas, ele funciona como um símbolo de diferenciação entre os grupos escoteiros e
acredito ser importante notar que mesmo quando os jovens removem os outros adereços
que compõem sua farda, este panopermanece ao pescoço. Outro ponto que cabe
salientar é a mistura de meninos e meninas nas mesmas equipes e atividades. Não posso
me estender sobre este tema, mas politicamente os escoteiros têm desenvolvido um
pensamento progressista desde os anos 1970 em relação ao debate sobre gênero e,
atualmente, sobre a questão da diversidade sexual.
O olhar que coloco sobre este tema não reflete com acuidade um registro
documental estruturado do cotidiano destes jovens, mas oferece, ao invés disso, um
olhar familiar. Isso se deve principalmente ao fato de que realizei um longa observação-
participante entre estes grupos. Podendo, com a facilidade do entrosamento, obter
imagens mais espontâneas.
Referências Bibliográficas
ACHUTTI, Luiz E. R. Fotoetnografia: Um estudo de antropologia visual sobre
cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1997.
ACHUTTI, Luiz E. R. Fotoetnografiada Biblioteca Jardim. Porto Alegre: Editora da
UFRGS: Tomo Editorial, 2004.
BATESON, Gregory. MEAD, Margaret. BalineseCharacter: a photographicanalysis.
New York: New York AcademyofSciences, 1942.
FAVRET-SAADA, Jeanne. “Ser Afetado”. In Cadernos de Campo, n. 13, p. 155-161,
2005.
SONTAG, Susan.Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.