Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
PERFORMANCE, ORALIDADE, LEITURA E CRIAÇÃO DE
TEXTOS POÉTICOS E MUSICAIS EM SALA DE AULA
Jociel Duarte dos Santos1 Luciana Fracasse2
RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados e as reflexões feitas no decorrer da implementação do projeto “Performance, oralidade, leitura e criação de textos poéticos e musicais na sala de aula”, na Escola Estadual Érico Veríssimo - Ensino Fundamental. O público alvo da intervenção compreendeu os alunos do “9º Ano E”. As atividades propostas exigiram dos alunos total atenção e interação. Os estudantes passaram a ser parte integrante da aula e por isso não se tornaram alienados dos conteúdos, mas participaram ativamente de modo integral: corpo, gesto, voz, pensamento, reflexão e emoção. Trouxeram à tona, o seu potencial artístico e poético. A jornada de trabalho partiu da oralidade (palavra falada) indo até a leitura e a escrita (criação literária) e, de volta à oralidade (palavra declamada/cantada para pais, professores e colegas). O projeto possibilitou aos estudantes o contato com o dom da palavra em todo o seu potencial: oral e escrito. Aprenderam não só a declamar poemas de grandes poetas, mas os seus próprios poemas. Meditaram sobre o que leram sem repetir frases feitas ou sugestões dadas pelo professor, mas a partir de posicionamentos críticos e ideias próprias acerca do que leram. Muitos descobriram que podiam cantar mas não haviam percebido isto. Palavras-chave: Performance. Oralidade. Leitura de textos poéticos e musicais
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é fruto do trabalho desenvolvido no Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), ao vislumbrar-se a necessidade de levar para a sala de aula
noções como performance ,oralidade, poesia e música, além de propiciar aos alunos
momentos tanto de criação performática quanto de criação verbal e escrita, levando-
os a notar a intrínseca conexão que há entre o texto poético escrito e o texto poético
declamado ou musicado.
A implementação ocorreu especificamente para uma turma de 9º ano da
Escola Estadual Érico Veríssimo, em Laranjeiras do Sul, Paraná, no ano de 2014. As
vivências englobaram a oralidade da poesia e da música, o estudo das formas
textuais em sala de aula, o aprendizado sobre os ritmos, os sons, os versos e as
rimas que formam as canções e os poemas e, por fim, a criação de novas canções e
poemas privilegiando a interpretação com o corpo e a voz.
1 Professor de Língua portuguesa- PDE 2013, Graduado em Pedagogia e em Língua Portuguesa,
com Pós- graduação em Língua Portuguesa. 2 Professora-Orientadora PDE do Departamento de Letras da Unicentro/Guarapuava. Doutora em
Estudos da Linguagem, pela UEL.
Este trabalho teve por objetivo resgatar a visão integral do texto poético.
Assim, o aluno pode vivenciar a poesia e a música não somente através da leitura e
da escrita, mas também Por meio de todos os sentidos permitidos pelo seu corpo e
pela sua voz. Sabe-se que o texto poético e o texto musical são uma construção,
que necessita ser analisada e expressa de diversas formas. A sala de aula que
contempla a música e a poesia é um espaço que permite ao aluno um tipo de
conhecimento mais profundo, de si e do mundo.
Neste sentido, a partir de textos poéticos e musicais buscou-se despertar no
aluno-ouvinte, aluno-poeta e aluno-músico, o significado mais profundo da criação
na obra de arte. A ideia principal deste projeto foi usar a performance, que
geralmente na sala de aula fica restrita ao professor, como meio pedagógico. Mas, o
que é performance? De acordo com Zumthor (2010), é o momento em que
artista/performer e público interagem num único espaço e tempo. Nessa linha, a proposta compreendeu trazer à tona o potencial artístico e
poético dos alunos do 9º ano.
Assim, nossas aulas se tornaram dinâmicas e também reflexivas, abordando
canções, vídeos, declamações de poemas gravados ou ao vivo, enfim, de todo um
aparato que levou o aluno de volta à essência da arte em forma de música e poesia;
conduzi os estudantes a refletirem sobre o material dado em sala de aula e, após a
reflexão, pudemos criar, a partir do que leram e ouviram, um novo material, uma
nova canção e um novo poema.
Os alunos trilharam numa jornada que vai da oralidade (a palavra falada) até
a leitura e a escrita (criação literária) e de volta à oralidade (palavra
declamada/cantada para pais, professores e colegas), num circuito performático e
literário.
Possibilitamos aos alunos o contato com o dom da palavra em todo o seu
potencial: oral e escrito. Entendemos que os estudantes devem declamar poemas
de grandes poetas, bem como os seus próprios poemas também, refletindo sobre o
que leram sem repetir frases feitas ou sugestões dadas pelo professor, formulando
críticas e desencadeando ideias próprias acerca do que leram. Ser cidadão é ter
pensamento crítico, é ter capacidade de criar novos engenhos, novos mundos,
novos significados a partir do conhecimento tradicional. Ser cidadão é ser ativo e
criativo dono da própria voz, conhecedor do poder das palavras.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente artigo fundamenta-se em estudos sobre oralidade e escrita de
Kellogs e Scholles (1977); estudos sobre performance advindos da obra de Paul
Zumthor (2010), reflexões sobre poesia de Armindo Trevisan ( 1993) e de Norma
Goldstein (1999) e, por fim, os poemas de Vinicius de Moraes (1968) e as letras de
músicas de Vinicius de Moraes, Zé Geraldo e Oswaldo Montenegro (2013)
produzidas em diferentes momentos entre as décadas de 1960 e 1980.
Buscou-se aplicar em sala de aula uma visão globalizante da poesia e do
texto musical, levando o aluno não só para uma leitura silenciosa do texto em si, e
de uma posterior criação escrita, como também fazer com que vivencie o texto em
sua dimensão corporal, por meio do gesto e da voz, atingindo o momento de
performance em sala de aula. Segundo Zumthor (2010, p. 34),
as regras da performance - com efeito, regendo simultaneamente o tempo, o lugar, a finalidade da transmissão, a ação do locutor, e, em ampla medida, a resposta do público - importam para a comunicação tanto ou ainda mais que as regras textuais postas na obra na sequencia das frases: destas, elas engendram o contexto real e determinam finalmente o alcance.
A performance compreende justamente o momento de comunhão entre um
interlocutor (que pode ser o próprio aluno ou o professor), sua mensagem e o
público que recebe esta mensagem.
Na situação de oralidade a "formação" se opera pela voz, que carrega a palavra. A primeira „transmissão‟ é obra de uma pessoa utilizando sua voz e seu gesto. A „recepção‟ vai se fazer pela audição acompanhada da visão. É com efeito, próprio da situação oral, que transmissão e recepção constituam um ato único de participação, de co-presença. Esse ato único é a performance (ZUMTHOR, 2010, p. 52).
Na perspectiva de que a poesia é uma obra aberta, plena de significados, o
leitor irá construir os sentidos. A música, da mesma forma, apresentando um texto
melódico, com ritmo e rimas, também levará seu leitor-ouvinte para outro patamar da
arte, através da análise, da criação de novos textos e da experimentação dos textos
na voz e no corpo, o aluno poderá finalmente vivenciar toda uma experiência do
fazer poético.
Sabe-se que, no sentido etimológico da palavra, a literatura não ocorre sem a
escrita. Ela é por definição, a arte de letras. No entanto, a narrativa oral se distingue
da narrativa escrita quanto à sua forma, mas, culturalmente falando, sua diferença
não é significativa. Millman Parry escreveu: "a literatura subdivide-se em duas
grandes partes, não tanto por haver duas espécies de cultura, mas por haver duas
espécies de forma: uma parte da literatura é oral, outra é escrita" (PARRY, 1975
apud KELLOGS; SCHOLES, 1977, p. 30).
Além disso, toda poesia é também, por definição, uma arte que deriva da
oralidade: ela necessita ser declamada, falada e escutada.
[...] a poesia tem um caráter de oralidade muito importante: ela é feita para ser falada, recitada. Mesmo que estejamos lendo um poema silenciosamente, percebemos seu lado musical, sonoro, pois nossa audição capta a articulação (modo de pronunciar) das palavras do texto (GOLDSTEIN, 1999, p. 22).
Por essa razão, este estudo engloba a oralidade da poesia e da música, o
estudo das formas textuais em sala de aula, o aprendizado sobre os ritmos, os sons,
os versos e as rimas que formam as canções e os poemas e, por fim, a criação de
novas canções e poemas e sua interpretação com o corpo e a voz. Assim, o aluno
tem ao seu dispor o espaço-tempo da poesia, da escrita, da leitura, mas também, da
oralidade e da performance.
3 METODOLOGIA
Inicialmente foi realizada a pesquisa bibliográfica acerca do referencial
teórico a ser desenvolvido no projeto. Referência esta que possibilitou maior
conhecimento do assunto e, consequentemente, direcionou trabalho.
Neste sentido, a proposta centrou-se em uma comunhão entre texto e
contexto, onde foram utilizados textos poéticos e musicais para despertar no aluno-
ouvinte, aluno-poeta, aluno-músico, o significado mais profundo da criação na obra
de arte.
Este esquema pedagógico foi desenvolvido desde o primeiro semestre de
2013 sob orientação da professora Lívia Petry Jahn da Unicentro, a qual estimulou
este trabalho junto aos alunos sob a ótica da oralidade, da performance e da
criatividade em sala de aula, e no segundo semestre deu-se continuidade deste
trabalho sob orientação da professora Luciana Fracasse, também da Unicentro.
4 IMPLEMENTAÇÃO DA PRODUÇÃO PEDAGÓGICA
As aulas partiram de performances em vídeo e áudio ou ainda ao vivo, sendo
disponibilizadas pelo professor. A partir da escuta da canção ou de assistir ao vídeo
com declamação de poema, o aluno foi levado à segunda parte: a leitura do texto.
Após uma segunda leitura, o estudante fez reflexões sobre o conteúdo do texto.
Estas reflexões foram em forma escrita e oral, para que todos na sala de aula
pudessem discutir as ideias abordadas a partir da reflexão textual. Seguiu-se então
uma vivência de criação literária, na qual o aluno foi instigado a criar novos textos a
partir daqueles que leu. E, por fim, os aprendizes se tornaram donos da própria voz
e do seu próprio gesto quando transformaram o que escreveram em palavra
declamada ou cantada. Assim, as aulas da implementação compreenderam:
1) Performance inicial – audição de música / poesia / vídeo;
2) Leitura do texto objeto de performance - poesias de Vinícius de Moraes,
letras de canção, etc...
3) Reflexão individual e em grupo sobre o texto;
4) Partilha da reflexão;
5) Escrita criativa a partir do que foi lido em aula;
6) Performance para os colegas do texto produzido em aula;
7) Ensaio usando voz, corpo e gesto;
8) Performance final declamando ou cantando as produções de aula para
colegas, pais e professores.
4.1 AULA 1
Na primeira aula, com o recurso didático da apresentação em Power Point,
expliquei sobre o que consistia o projeto para que os alunos se sentissem motivados
e interessados quanto à participação das atividades a serem desenvolvidas. Falei
que o tema do projeto é “Performance”, e isso seria trabalhado a partir de poemas e
de canções.
Na sequência, estabeleci um diálogo com a turma, inferindo os seguintes
questionamentos: o que os alunos entendiam por poesia? Quais são as suas
preferências poéticas e musicais? A partir da socialização das respostas, expliquei
sobre a relação entre poesia e música. Esse primeiro contato com a turma foi
bastante estimulante tendo em vista o intenso interesse dos estudantes pelo assunto.
Para finalizar a aula, cantei a música Porta do mundo, de Peão Carreiro e Zé
Paulo, com o intuito de conduzir os alunos para a reflexão sobre como é importante
nos comunicarmos por meio de canções e poemas.
4.2 AULA 2
Iniciei esta aula com uma imagem do poeta Vinicius de Moraes questionando
se a turma conhecia aquele homem? Quem foi ele? O que ele fez de importante?
Em seguida, apresentei na tela o poema “Soneto de Fidelidade” em forma de
Vídeo, depois, em forma escrita. O soneto foi lido em voz alta para que pudessem
ser trabalhadas a voz e a postura.
A turma foi dividida em grupos e cada grupo analisou o poema, fazendo suas
anotações. Primeiramente expuseram as ideias, os sentimentos, as emoções do eu-
poético / eu-lírico que são apresentadas no poema. Em seguida, os alunos
prepararam-se para declamar em grupo ou individualmente. Cada grupo teve a
liberdade de usar a maneira mais criativa de representar.
4.3 AULAS 3 E 4
Iniciei explicando para a turma o que são versos, sons, ritmos e rimas,
exemplificando a partir da música “Menestrel de Alagoas”, de Milton Nascimento.
Na sequência, retomei o texto “Soneto de Fidelidade”. Pedi que cada aluno
lesse uma estrofe. Aproveitei para explicar que cada linha métrica é um verso; cada
conjunto de versos é uma estrofe, que este poema possui rimas; que a rima é a
repetição de sons no final dos versos de um poema.
Registrei no quadro, as atividades propostas, nas quais mostrei aos estudantes
como podemos classificar um texto(anúncio, poema, dentre outros) e como pode ser
classificado o texto Soneto de Fidelidade. As atividades envolveram, ainda, análise
de versos e estrofes, rimas bem como a identificação da parte do soneto que mais
despertou atenção nos alunos.
Além disso, disponibilizei a cada estudante uma cópia do soneto com a falta de
algumas palavras para que os versos fossem completados, sempre observando o
uso correto de rima métrica e estrutura do poema. Durante esta atividade, os alunos
ouviram a canção “Monte Castelo”, composta por Renato Russo. O objetivo dessa
canção foi mostrar que o amor é um sentimento universal e extrapola a barreira do
tempo e do espaço.
Diante da participação e do interesse dos educandos sobre o assunto e a
comparação do tema “amor” através dos tempos, estimulei um debate sobre o
assunto, levando os alunos a perceberem que o amor e o tema estudado estão
presentes em diferentes épocas e contextos sociais.
4.4 AULAS 5, 6, 7 e 8
Primeiramente, apresentei um texto teórico utilizando data show. Falei que a
poesia lírica ou gênero lírico está presente nas sete artes tradicionais: 1ªArte-
Música( a arte do som);2ª Arte – Dança( a arte do movimento); 3ª Arte- Pintura(a
arte da cor);4ª Arte – Escultura( a arte do volume); 5ª Arte- Teatro(a arte da
apresentação);6ª Arte-Literatura ( a arte da palavra); 7ª Arte – Cinema
(cinematografia- une-se a fotografia).
Expus que a poesia retrata que tudo pode acontecer, dependendo da
imaginação do autor e do leitor. Poesia, segundo o modo comum de falar, quer dizer
duas coisas: arte que ensina e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra em
forma de poesia e, o poeta é o artífice.
Comentei com a turma que o sentido da mensagem poética também pode ser
importante, ainda que seja a forma estética a definir um texto como poético. A
poesia compreende aspectos metafísicos (no sentido de sua imaterialidade) e da
possibilidade desses elementos transcenderem ao mundo fático.
Propus uma atividade poética, abordando a música “Tarde em Itapoã”, de
Vinícius de Moraes. Em seguida, expliquei que, na maioria das vezes, as paixões
constituem as temáticas das poesias. Assim, solicitei que cada aluno elaborasse
uma lista com coisas/sentimentos/objetos que não gostavam e que gostavam,
podendo ser palavras ou frases inteiras. Em seguida, sugeri o acréscimo de alguns
ingredientes poéticos, como o estranhamento. Assim, ao lado da lista produzida
anteriormente, acrescentaram algumas palavras estranhas, esquisitas, incomuns. Os
estudantes também puderam selecionar uma palavra que achassem bonita para
colocar ao lado de cada coisa que gostaram na lista, por exemplo: Eu amo.
Após isso, solicitei que buscassem relações surpreendentes a partir dos
dados da lista. Os alunos misturaram toda essa massa de palavras com a
brincadeira de palavras misturadas com emoções e criaram um poema abordando
variados temas. Além disso, a turma selecionou dez palavras de cada grupo para
formar um texto poético.
Em grupos, dividiram a letra da canção “Tarde em Itapoã” em vários trechos e
fizeram nova montagem e representaram para os demais colegas da forma que
cada grupo julgou mais apropriada. Para finalizar, cada grupo falou das sensações
sentidas após a leitura e a reflexão do texto. Escreveram as sensações sentidas e
socializaram para os demais.
4.4 AULAS 9, 10, 11 e 12
A abertura da aula foi na voz de Vinícius de Moraes, ouvindo: “Há canções e
há momentos / Que eu não sei como explicar / Em que a voz é um instrumento /
Que eu não posso controlar / Ela vai ao infinito / Ela amarra todos nós / E é um só
sentimento / Na plateia e na voz” (NASCIMENTO; BRANDT, 2010).
A turma assistiu a um vídeo com apresentação das canções “Gente humilde” e
“Se todos fossem iguais a você”, de Vinícius de Moraes.
Tendo as letras das músicas foram expostas por meio do data show, os alunos
analisaram as letras de forma reflexiva e oralmente. Leram em voz alta, prestando
atenção na postura do corpo e da voz.
Posteriormente separei a turma em dois grupos. Um grupo apresentou a
canção “Gente Humilde” e o outro grupo apresentou a canção “Se todos fossem
iguais a você”. Em seguida, cada grupo explicitou quais as sensações sentidas com
aquela canção, quais as ligações que puderam fazer com a realidade. Para cada
grupo foi destinado um tempo para análise e discussão, depois, em grande grupo.
Esta atividade foi bastante produtiva e os educandos demonstraram muita
criatividade, pois cantaram a letra da canção e leram-na em forma de poema
expressando tristeza, preocupação, felicidade, etc.
4.5 AULAS 13, 14, 15 e 16
A aula iniciou com a apresentação de áudio e imagem da canção “Cidadão”,
do cantor e compositor Zé Geraldo e, posteriormente, conduzi uma discussão em
torno do tema abordado.
Os alunos foram levados a observar os versos da letra da canção
identificando os temas centrais, o momento em que o personagem sente mais dor,
analisando expressões e queixas presentes na letra, como o autor se manifesta e o
uso de rimas. Além disso, a turma estabeleceu relação entre a música e a realidade
sobre o fato de não poder estudar, a questão da profissão, entre outros.
Propus aos alunos cantarem juntos, ou individualmente, a canção em karaokêi,
observando a ênfase na voz e na expressão ao cantar pelo estilo do que se estava
propondo no texto. Usei o texto para fazer declamação de texto poético, separando
a turma em grupos para que declamassem.
Em seguida, organizei a turma em dois grandes grupos para que
representassem a canção de alguma maneira. Também propus para que, em duplas,
criassem uma paródia a partir da canção “Cidadão” do cantor e compositor Zé
Geraldo. Após as apresentações, fiz uma avaliação individual sobre os temas
propostos relacionados à canção e ao poema, questionando se a canção proposta
ajudou a refletir sobre algum assunto em particular e se os alunos consideram esta
canção ultrapassada. Pedi também que julgassem a música segundo as próprias
aptidões e que fizessem uma consideração pessoal falando sobre a vantagem de se
trabalhar com a canção e se ela ajudou no conhecimento e na reflexão de algum
assunto.
4.6 AULAS 17, 18, 19 e 20
Primeiramente mostrei um vídeo do Youtube com o cantor Oswaldo
Montenegro. Depois, por meio do data show, expus uma estrofe da música “Metade”,
também de Montenegro.
Após organizar a turma em grupos, estimulei-os a perceberem os principais
pontos tratados na canção. Observei que eles se identificaram com alguma das
estrofes mostradas.
Auxiliei para que os grupos declamassem oralmente a letra da canção, como
um poema, sempre prestando atenção nos detalhes do corpo, da voz e das
expressões, chamando a atenção para o fato de que só conseguimos demonstrar
mais subjetividade ao tema quando mudamos nossa postura.
A partir da letra da canção proposta como tema, os alunos produziram poemas
com o tema “Metade”. Esta foi uma atividade individual para ser apresentada aos
colegas em forma de declamação.
4.6 AULAS 21, 22, 23 e 24
Iniciei a aula colocando, para os alunos ouvirem, as canções “Violeiro triste”
de Alvarenga e Ranchinho e “Quando a gente ama” de Marcelo Barbosa Barreti, Nil
Bernardes e Fábio Caetano, interpretada por Osvaldo Montenegro.
Socializei com a turma que certas canções, principalmente as que tratam de
amor, são verdadeiras poesias. A canção "Quando a gente ama" é uma dessas.
Surge vontade de ouvir, ouvir de novo e cantar... A catarse que ocorre, a emoção
dos sentimentos que afloram em uma canção é, para mim, uma das funções mais
belas da arte: induzir a sentimentos. Ouvindo uma canção, é possível se sentir tão
alegre ou tão triste, de acordo com os pensamentos e acontecimentos do dia, ou
pela interpretação de quem canta. Já em outras canções, a paz é exaltada no íntimo
de cada um...
Na sequência, propus algumas atividades interpretativas envolvendo trechos
da música bem como estabelecendo relações com a vida dos estudantes.
Dividi a turma em quatro grupos e sorteei um verso para cada grupo. Pedi que
eles explicassem o que entenderam do verso sorteado e os sentimentos que
sentiram. Além disso, os alunos inventaram novas estrofes com os versos postos.
Solicitei atividades de compreensão do texto, explicitando as principais
características, a diferença entre as músicas e qual das duas é mais marcante para
cada um. Os estudantes declamaram as letras das canções e cantaram juntos, no
vídeo que foi projetado no telão em forma de playback. Alguns alunos fizeram uma
apresentação solo da música. Durante as vivências, observei a diferença entre os
estilos que os alunos cantam e os que, geralmente, ouvem.
4.7 AULAS 25, 26, 27 e 28
Este momento foi bastante dinâmico e diferente das aulas tradicionais. Os
estudantes cantaram com voz bem alta as canções apresentadas no karaokê
(mesmo que desafinadas).
Fizeram ginástica abdominal, tendo em vista que orientei a puxar e soltar o
fôlego no momento certo, com atividades de contar os números até o máximo do
fôlego, repetir várias vezes e ir aumentando a contagem. Fizeram narração de gol
usando a mesma técnica.
Assim, os alunos cantaram com a boca fechada, fazendo o som da música
sem abrir a boca; Chamaram o nome do colega sussurrando; Falaram o nome de
um colega em vários tons: de entusiasmo, de alegria, de tristeza, entre outros.
Frases foram declamadas por alunos com olhos vendados, os quais tentaram
descobrir quem as declamou.
A partir de pequenas histórias, os aprendizes dramatizaram a mesma cena de
várias maneiras: em tom de entusiasmo, de alegria, de tristeza, de dúvida, entre
outros. Além disso, fiz ensaio com a turma com os poemas e canções que foram
apresentadas aos pais.
4.8 AULA 29
Esta aula consistiu num momento exclusivo para preparar os alunos para o uso
da voz em público. Foram conduzidos exercícios vocais usando consoantes e vogais,
utilizando a respiração abdominal e utilizando papéis, com o objetivo de exercitar a
desinibição em público e, principalmente, o volume da voz.
Desta forma, em pé e em círculo, os alunos aprenderam a respirar pelo
abdômen, utilizando o ar inspirado pelo nariz para encher o abdômen fazendo uma
espécie de balão de ar na barriga. Inspiraram o ar pelo nariz e expiraram pela boca
usando todo o pulmão e o abdômen, entre outros exercícios.
Divididos em grupos, os educandos fizeram uma espécie de jogral, cada grupo
cantando uma parte da música para o outro e depois os dois grupos cantando a
música juntos.
Para a atividade seguinte, cada aluno recebeu seu "tipo de voz" (Voz fina,voz
grossa,Voz “triste”, Voz “alegre”) escrito num papel que não pode mostrar aos
demais. Então, cada estudante teve de entoar com essa voz a seguinte parlenda,
sem jamais se desviar do texto: HOJE É DOMINGO / PÉ DE CACHIMBO / O
CACHIMBO É DE OURO / BATE NO TOURO / O TOURO É VALENTE / BATE NA
GENTE / A GENTE É FRACO / CAI NO BURACO/ O BURACO É FUNDO /
ACABOU-SE O MUNDO.
Depois de cada apresentação, os colegas tiveram que adivinhar que voz era
aquela que o aluno estava fazendo. Foram dadas pistas, sem contar qual era a voz,
exceto se depois de um bom tempo ninguém acertou. Os alunos puderam fazer
gestos, imitando os personagens de suas respectivas vozes.
4.9 AULA
Nesta aula organizei um ensaio para preparar os alunos para o uso do gesto e
do corpo em público. Para tanto, desenvolvi diversos exercícios envolvendo:
expressão corporal, jogos teatrais para não atores (jogo do espelho, jogo do urso de
Nanterre, jogo do gato e rato, utilização de personagens em caminhadas) etc..
Para preparar corporalmente os alunos, integrei melhor a turma com alguns
exercícios, como o da caminhada de personagens, com a finalidade de integração,
concentração e desinibição. Propus, como exercício final, que cada aluno
caminhasse com o gestual de um personagem. Distribui para cada estudante um
papel com um personagem de contos de fadas, o qual precisava ser imitado pelo
aluno, inclusive a voz, apresentando o personagem aos colegas.
4.10 AULA 31
Nesta aula busquei ensaiar a turma para a apresentação. Apliquei exercícios
de relaxamento e respiração, inclusive junto dos alunos que iriam declamar e cantar.
4.11 AULA 32
Tendo em vista a aproximação do final do projeto de intervenção, nesta aula
foram realizados os últimos ensaios para as apresentações no sarau-espetáculo.
Foram trabalhados exercícios de respiração, relaxamento e técnicas corporais.
Conduzi o ensaio dos alunos para a apresentação de suas músicas e poesias ao
público. Retomei os exercícios de relaxamento e respiração realizados na aula
anterior.
4.12 SARAU-ESPETÁCULO
Após ensaiar nas aulas, os alunos do 9º ano realizaram um sarau-espetáculo
em que as canções e os textos poéticos criados foram apresentados aos pais,
colegas e professores da escola, socializando o talento e a criatividade dos jovens
da turma.
Este sarau-espetáculo consistiu no fechamento de todo o trabalho realizado
em classe, desde os princípios da performance culminando na apresentação dos
alunos.
As apresentações compreenderam textos poéticos e musicais, tendo como
ponto de partida a primeira performance em sala de aula (vídeo, Power point,
audição de canções, etc.), passando pela análise e criação de textos e culminando
numa outra performance, na qual a palavra poética encontrou expressão por meio
do corpo, do gesto e da voz dos estudantes.
5 O GRUPO DE TRABALHO EM REDE
A implementação do meu projeto pedagógico representou um período muito
importante na minha carreira docente, principalmente com as contribuições dos
professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), pois as
informações, apontamentos e entrosamento destes docentes somaram e
enriqueceram ainda mais a prática pedagógica na medida em que ampliou as
possibilidades de implementação de cada atividade.
Todos ficaram cientes desde os primeiros contatos, do que eu esperava deles
como participantes e o que eles esperavam do curso, tendo em vista a expectativa
gerada de quem estava envolvido.
Ressalto que todas as atividades foram realizadas no prazo previsto, sendo
que as mesmas estavam relacionadas ao Material Didático-Pedagógico. Houve a
participação efetiva da maioria dos participantes, os quais demonstraram dedicação
e empenho em entender, problematizar e enriquecer a proposta. Segundo a
professora M.L.C.S:
[...] todas as sugestões de atividades do professor Jociel são ótimas. Gosto muito de Vinicius de Moraes, mas o compositor Zé Geraldo com a canção Cidadão continua sendo atual e foi emocionante poder ouvir novamente.
Com certeza sempre vou apresentar músicas e poesias na sala de aula, que emocionem meus alunos.
No total, estavam inscritos dezessete professores de várias regiões do
Paraná. O grupo manifestou-se, de forma unânime, com opiniões positivas e elogios
em relação ao tema e ao trabalho implementado, tendo em vista a abordagem
diferenciada das aulas de Língua Portuguesa.
Diversos docentes compartilharam o desejo de colocar em prática as
atividades planejadas, para isso questionaram sobre a forma de condução de cada
exercício, bem como sugeriram alternativas variadas.
É importante salientar, ainda, que as contribuições recebidas englobaram
referenciais bibliográficos e outras atividades, do mesmo teor, para serem
trabalhadas com turmas diferentes.
6 CONCLUSÃO
A implementação do projeto objetivou atender as demandas e necessidades
de alunos, professores, enfim, aqueles que porventura queiram algo voltado para a
formação e qualificação.
Sabemos que, geralmente, os alunos do ensino fundamental terminam seus
estudos com pouco contato com textos poéticos e menos ainda com textos musicais.
A falta de atenção a este tipo de literatura e de arte, cria ao longo dos anos, leitores
desinteressados em poesia. Cria também ouvintes que nada conhecem sobre
música e pouco ou nada sabem dos textos que dão lugar às melodias.
Nesse âmbito, este projeto, buscou levar, ao aluno do ensino fundamental,
uma nova visão sobre textos musicais e textos poéticos, ofereceu-lhes a
oportunidade de vivenciar estes textos de forma integral.
Cabe ressaltar que as atividades implementadas podem ser adequadas
conforme a turma abordada, inclusive os textos poéticos e as músicas.
As práticas pedagógicas implementadas demonstraram resultados positivos,
uma vez que o recuo da metodologia tradicional e rotineira das aulas de Língua
Portuguesa, já é um motivo a mais para o entusiasmo e interação do aluno diante do
novo. Foi nesta perspectiva que alguns estudantes, tidos como “indisciplinados” e
“apáticos” em outras disciplinas, demonstraram desempenho surpreendente, o que
não se restringiu à participação mecânica das vivências, mas ao envolvimento
integral, resultando em efetiva expressão artística, tanto por meio do corpo, do gesto,
da voz, das atitudes, da reflexão e, principalmente, por meio da emoção,
demonstrando evidente potencial artístico e poético. Entendemos que nós,
educadores, temos esse compromisso: abarcar as dimensões do ser humano
transformando-o, levando-o a pensar e agir de forma reflexiva e crítica a partir de
seu próprio cotidiano, ou seja, a oralidade, trilhando experiências que englobem a
criação literária e que despertem de fato o gosto poético, seja via música ou via
poesia.
REFERÊNCIAS
GERALDO, Z. Cidadão. Disponível em: www.letras.mus.br Acesso em: maio 2013. GOLDSTEIN, N. Versos, Sons e Ritmos. São Paulo, Ática, 1999. KELLOGS, R.; SCHOLLES, R. The Nature of Narrative (A Natureza da Narrativa. Tradução: Lívia Petry Jahn) New York: McGraw-Hill, 1977.
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