GLOBALIZAÇÃO E CULTURA OS EFEITOS CULTURAIS DA GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO
COMTEMPORÂNEO.
VANESSA CARVALHO 1
RESUMO
Este artigo tem como objetivo se aprofundar nas perspectivas para o
estabelecimento de uma cultura de alcance global unificada e estabelecer os
efeitos da globalização para a cultura como modificadora ou não da identidade de
um povo.
Reconhecer também as transformações ocorridas nas últimas décadas,
relacionando tais mudanças com a identidade cultural da sociedade mundial,
entendendo as possibilidades de reações a essas transformações, que podem
atingir a esfera global com tanta ansiedade e analisar questionamentos a uma
possível “sociedade global”.
ABSTRACT
This article has the aims to show the prospects for establishing a culture of
unified global reach and assess the effects of globalization on culture as a
modifier or not the identity of a people.
Also analyze the changes occurring in recent decades, relating these
changes with the cultural identity of the global society,
Understanding that there will be possible reactions to these changes, which will
reach the world with such global anxiety and also analyze the
questions of a possible "global society".
1 Pós Graduação Geopolítica e Relações Internacionais. [email protected] História
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INTRODUÇÃO:
Um dos conceitos predominantes na atualidade é de que globalização é
uma tendência crescente de unificação de todos os povos e países da Terra,
tornando-os cada vez mais interdependentes tanto em termos econômicos quanto
socioculturais.
Cada vez mais, a sociedade está ligada por redes de informação e
comunicação, constituindo formas de organização do mundo surgindo, assim,
questionamentos, tais como:
a) A globalização pode chegar a uma mundialização de trocas pelo
desenvolvimento das comunicações, cuja lógica é funcionar de maneira universal
no qual os povos e os indivíduos se beneficiam das maravilhas da técnica,
semeando uma consciência planetária que triunfará no mundo globalizado atual?
b) A globalização é um processo de uniformização das culturas, pregando
uma mundialização produzida de forma economicamente injusta, valorizando a
hierarquia entre os povos?
Pensar esses questionamentos e refletir sobre a globalização como um
processo cultural são objetivos desse artigo.
Para dar uma visão geral sobre o assunto proposto, demonstro a seguir os
principais pontos desenvolvidos, enfocando nesses pontos a organização do
artigo:
GLOBALIZAÇÃO: delimitação sobre o que a globalização esta trazendo
para a sociedade, as novas expectativas que surgem a nível global, relacionando
há uma rede de conexões que encurta as distâncias entre os povos.
ANTIGLOBALIZAÇÃO: Grupos que se opõem a globalização por
considerarem esse processo com aspectos sem vantagens, trazendo vários riscos
e caos a sociedade.
INTERNACIONALIZAÇÃO,GLOBALIZAÇÃO E MUNDIALIZAÇÃO:
Essas são palavras que estão em evidência nos últimos anos, é preciso observar
conceitos como globalização, internacionalização e mundialização e como esses
são assimilados nesse universo social.
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CULTURA: Definição do que é a Cultura, estabelecendo como esta pode
interagir com a globalização e de que maneira o conhecimento de várias culturas
pode refletir no mundo.
IDENTIDADE CULTURAL: a diversidade de formas de vida existentes
nas sociedades contemporâneas, aspectos fortemente ligados entre si, a
contradição entre afirmação da identidade e o avanço da globalização.
PREDOMÍNIO DAS COISAS SOBRE OS HOMENS: “Os fins justificam
os meios” se a necessidade do mundo atual é acumular riquezas e mostrar seu
poder através de uma economia forte, o ser humano tem que agir da mesma
maneira, procurando sempre obter os melhores lucros, no principio da
produtividade, quantidade e lucratividade, nesse sentido o individuo pode deixar
em segundo plano sua cultura, pois se vê diante de outros padrões de vida e vai
se perdendo em nome do principio.
Nessa perspectiva o individualismo aparece em um contraste com o
mundo que está perdendo suas fronteiras, o homem se tornando universal e ao
mesmo tempo individualista.
DA SOCIEDADE NACIONAL PARA A SOCIEDADE GLOBAL: um
novo estilo de vida, muito diferente começa a surgir, o enfraquecimento do
Estado se torna claro, esse fato reúne muitas mudanças a serem discutidas.
O NOVO CONTRATO SOCIAL: o velho contrato já não se ajusta a
situação atual, onde com o enfraquecimento do Estado é necessário cooperação e
negociações entre os Estados.
PODER DO MERCADO: A globalização hoje tem como característica
relevante um mercado no qual a cada dia é visível a facilidade de comunicação,
transmissão e processamento de informações, além da mobilidade internacional
de capital. No plano econômico, a globalização caracteriza-se pela
desnacionalização financeira.
GLOBALIZAÇÃO DESIGUAL: Não se explica nos dias de hoje, com
tecnologia tão avançada, com sistemas logísticos tão bem desenvolvidos, que
cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo passem fome, O preço alto da tecnologia
favorece os grandes produtores e especuladores, o trabalhador mais pobre sofre
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demais com as conseqüências, a globalização trás muito mais benefícios para
países ricos e industrializados.
O CHOQUE DAS CIVILIZAÇÕES: Surgem novas estruturas de poder,
novas estratégias de dominação, o choque das civilizações seria um choque entre
culturas.
GLOBALIZAÇÃO
Globalização, segundo Arantes, significa uma sociedade sem fronteiras,
interdependência, paridade, fluxo em todos os sentidos, um conjunto de
oportunidades e riscos para todos. “Isso é um mito”, diz ele, “não existe, é uma
brincadeira, é um discurso, e as pessoas que estão falando em globalização estão
sonhando”.Depois de lembrar que a denominação surgiu nos anos 70, quando
alguns professores universitários norte-americanos passaram a falar em global
trade para orientar as políticas internacionais de suas empresas, Arantes afirma
que a insistência em se dizer, hoje, que “nós estamos entrando numa nova era,
porque a sociedade é global, o mercado é mundial, esconde alguma coisa”.Para
ele, uma expressão mais adequada é mundialização do capital. E, neste caso, o
fenômeno não é novo, pois “o capital é mundial desde que existe, desde o século
XIV”. Se é para falar em termos de abertura econômica, das empresas e dos
mercados, diz Arantes, “a economia mundial já foi mais aberta do que é hoje, no
apogeu da hegemonia inglesa, entre 1870 e 1914”.
O espírito comercial, incompatível com a guerra, se apodera tarde ou cedo dos povos. De todos os poderes subordinados à força do Estado, é o poder do dinheiro que inspira mais confiança e por isto os Estados se vêm obrigados - não certamente por motivos morais- a fomentar a paz ...” (I.Kant - A paz perpétua, 1795)
Em lugar das antigas necessidades satisfeitas pela produção nacional, encontramos novas necessidades que querem para a sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas os mais diversos. Em lugar do antigo isolamento local...desenvolvem-se, em todas as direções, um intercâmbio e uma interdependência universais.." (Karl Marx - Manifesto Comunista, 1848)
O mundo atual se configura pelos movimentos da globalização e suas
conseqüências sócio culturais, econômicas e até ambientais, onde o individuo
não é mais voltado ao centro das atenções, ele está submetido pela globalização.
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Daí vem à impressão de que muitas coisas estão mudando, como o modo de agir
e pensar, rupturas que ocorreram outras vezes na História quando o mundo
passava por transformações significativas.
Padrões e valores culturais se articulam conforme a situação em que o
mundo se encontra, pois a comunicação alcança todo o mundo rompendo e
ultrapassando fronteiras.
Para Octávio Ianni, o início da globalização pode ser localizado no
imediato pós-segunda guerra mundial. Geógrafos, como Milton Santos, situam o
início da globalização no período das grandes navegações, mas foi com a queda
do muro de Berlim que a globalização ganhou força tornando se evidente, com
tudo o que simbolizou em termos políticos, econômicos e ideológicos.
Evidentemente, muitos aspectos anteriores já indicavam uma nova era econômica
em formação.
O Muro de Berlim não apenas separava uma cidade e um povo. Ele
simbolizava o mundo dividido pelos sistemas capitalista e socialista. A sua
destruição, iniciada pelo povo de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989, pôs
abaixo não apenas o muro material; mais do que isso, rompeu com o mais
significativo símbolo da Guerra Fria: a bipolaridade.
De repente, o mundo tornou-se em sua maior parte capitalista e
globalizado.
A globalização, que foi estimulada pela queda da cortina de ferro, é um
termo que abrange a livre movimentação de capital, de mercadoria, de pessoas e
de idéias ao redor do mundo. É um processo que ocorre em escala global, em
partes do mundo lentamente e em outras partes rapidamente, mas esta em todos
os lugares.
Inovações tecnológicas e o incremento no fluxo comercial mundial são
uns dos motivos pelo crescimento do processo de globalização ter avançado tanto
nos últimos anos, de forma que esse é um dos temas mais comentados
atualmente.
É inegável, que não seja apenas um fenômeno econômico, vindo a
abranger também a cultura e a política.
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O rápido avanço e desenvolvimento tecnológico estreitou as relações
comerciais entre os países, noticias são divulgadas em tempo real, a revolução
nas tecnologias de informação: telefones, computadores e televisão, contribuindo
de forma surpreendente para a maior integração de todo o mundo, encurtando as
distâncias.
Muitos fatos estão mudando a História, velhos conceitos não são mais
aceitos, o Estado e as Guerras bélicas cada vez mais perdem a importância, quem
dita as regras agora é o mercado mundial, altamente globalizado.
Tudo isso quer dizer que tanto a opinião pública internacional quanto o
comportamento dos mercados passaram a desempenhar funções que antes não
tinham na redefinição dos limites possíveis de ação do Estado.
ANTIGLOBALIZAÇÃO:
Muitos acontecimentos ligados a globalização assim como o surgimento
de um novo mercado internacional, sem barreiras, as novas formas de dinheiro
que têm surgido ao longo dos últimos anos, o desaparecimento das fronteiras
terrestres, a falência do conceito de Estado, criaram o movimento Anti-
Globalização, pessoas que se opõe a Globalização por considerar que esta só traz
danos ao mundo.
INTERNACIONALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E
MUNDIALIZAÇÃO.
O que é Globalização? Internacionalização? Mundialização? São
perguntas que muitas pessoas fazem quando se deparam com estas palavras que
estão em evidência nos últimos anos. Todos os dias nos jornais, revistas e na
boca das pessoas.
Muitas são as teorias que se desenvolvem para esclarecer o significado da
globalização e compreender esse processo, daí a existência de vários termos e
reflexões sobre o assunto.
Segundo Renato Ortiz “Internacionalização é o aumento da extensão
geográfica das atividades econômicas através das fronteiras nacionais” (não é um
fenômeno novo)
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Globalização é uma forma mais avançada e complexa da
internacionalização (implica um grau de integração funcional entre atividades
econômicas dispersas)
O conceito se aplica à produção, distribuição e consumo de bens e de
serviços, organizados a partir de uma estratégia mundial, e voltada para um
mercado mundial. Ele corresponde a um nível e a uma complexidade da historia
econômica, no qual as partes, antes internacionais se fundem agora numa mesma
síntese: o mercado mundial.
O mesmo autor afirma que mundialização redefine a noção de espaço, isto
é, o que se entende por local e nacional se altera, já globalização ele define como
um processo social que atravessa os lugares de maneira diferenciada e desigual,
sua lógica não é o Estado-Nação, a globalização rompeu o elo Estado-Nação, daí
vem sociedade global, modernidade-mundo. (ORTIZ,1994, p.21 ).
CULTURA
É fundamental para a compreensão de diversos valores morais e éticos que
guiam nosso comportamento social, entender como estes valores se
internalizaram em nós e como eles conduzem nossas emoções e a avaliação do
outro, é um grande desafio.
A cultura é o desenvolvimento intelectual do ser humano, são os costumes
e valores de uma sociedade. Quando falamos em cultura estamos nos referindo
mais especificamente ao conhecimento, desde que o Homem adquiriu a
capacidade de agir, pensar e falar aprendeu também a se comunicar e mostrar
suas referencias através de símbolos, gestos, rituais, dança e arte.
Cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um
povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade. É um processo
em permanente evolução, diverso e rico. É o desenvolvimento de um grupo
social, uma nação, uma comunidade; fruto do esforço coletivo pelo
aprimoramento de valores espirituais e materiais. É o conjunto de fenômenos
materiais e ideológicos que caracterizam um grupo étnico ou uma nação
Como resultado da evolução biológica, a humanidade conseguiu a capacidade de produzir cultura em grande escala e por sua vez de tornar-se o produto de suas culturas. A cultura como a vida começou
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de maneira muito simples e humilde. Como a vida, ela cresceu gradualmente e assumiu uma variedade cada vez maior de formas numa continuidade interrompida de formas preexistentes. (...) A cultura é, portanto, um comportamento adquirido. (HOEBEL; FROST, 1976, p.25)
Desde a Antigüidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças
de comportamento entre os homens, a partir das variações dos ambientes físicos.
No entanto, logo os estudiosos concluíram que as diferenças de comportamento
entre os homens não poderiam ser explicadas através das diversidades
somatológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico quanto o
determinismo biológico foram incapazes de resolver o dilema, pois o
comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado chamado de
endoculturação, ou seja, um menino e uma menina agem diferentemente não em
função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.
Da mesma forma, as diferenças entre os homens não podem ser explicadas
em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou
pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper
em suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força
física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores.
Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias conquistou os
mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui
cultura.
Apesar da dificuldade que os antropólogos enfrentam para definir a
cultura, não se discute a sua realidade. A cultura se desenvolveu a partir da
possibilidade da comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos,
capazes de tornar mais eficiente o seu aparato biológico. Isto significa afirmar
que tudo o que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de
imposições originadas fora da cultura.
A comunicação oral torna-se então um processo vital da cultural: a
linguagem é um produto da cultura, mas ao mesmo tempo não existiria cultura se
o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de
comunicação oral.
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A cultura desenvolveu-se simultaneamente com o próprio equipamento
biológico humano e é, por isso mesmo, compreendida como uma das
características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume
cerebral. Uma vez parte da estrutura humana, a cultura define a vida, e o faz não
através das pressões de ordem material, mas de acordo com um sistema
simbólico definido, que nunca é o único possível. A cultura, portanto, constitui a
utilidade, serve de lente através da qual o homem vê o mundo e interfere na
satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Embora nenhum indivíduo
conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento
mínimo para operar dentro do mesmo. Conhecimento mínimo este que deve ser
compartilhado por todos os componentes da sociedade de forma a permitir a
convivência dos mesmos.
A cultura estrutura todo um sistema de orientação que tem uma lógica
própria. Já foi o tempo em que se admitia existir sistemas culturais lógicos e
sistemas culturais pré-lógicos. A coerência de um hábito cultural somente pode
ser analisada a partir do sistema a que pertence. Todas as sociedades humanas
dispõem de um sistema de classificação para o mundo natural que constitui
categorias diversificadas e com características próprias.(Laraia,1997)
O OUTRO
Se reunirmos o sentido amplo e o sentido restrito, compreenderemos que a
Cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas
que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e
artística.
A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação,
os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e
os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as
instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes
diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as
festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo
isso constitui a Cultura como invenção da relação com o Outro. Em sociedades
como a nossa, divididas em classes sociais, o Outro é também a outra classe
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social, diferente da nossa, de modo que a divisão social coloca o Outro no
interior da mesma sociedade e definem relações de conflito, exploração,
opressão, luta. Entre os inúmeros resultados da existência da alteridade (o ser, um
Outro) no interior da mesma sociedade, encontramos a divisão entre cultura de
elite e cultura popular, cultura erudita e cultura de massa.
ETNOCENTRISMO
É uma atitude na qual a visão ou avaliação de um grupo sempre estaria
sendo baseado nos valores adotados pelo seu grupo, como referência, como
padrão de valor. Trata-se de uma atitude discriminatória e preconceituosa.
Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico sendo
considerado como superior a outro.
Não existem grupos superiores ou inferiores, mas grupos diferentes. Um
grupo pode ter menor ou maior desenvolvimento tecnológico se comparado um
ao outro, possivelmente, é mais adaptável a determinados ambientes, além de não
possuir diversos problemas que esse grupo "superior" possui.
RELATIVISMO CULTURAL
É uma ideologia político-social que defende a validade e a riqueza de
qualquer sistema cultural e nega qualquer valorização moral e ética dos mesmos.
O relativismo cultural defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. O "bem" coincide com o que é "socialmente aprovado" numa dada cultura. Os princípios morais descrevem convenções sociais e devem ser baseados nas normas da nossa sociedade. (HARRY, 1998 p.77).
IDENTIDADE CULTURAL
É possível, no atual contexto, articular identidade e globalização? É
preciso opor identidade a globalização? O contexto global representa
possibilidades ou ameaças à experiência local? Como compreender o tipo de
problema que a lógica global introduz no espaço-tempo da identidade? Como
enfocar a globalização de forma a entender o lugar que aí ocupa a experiência da
identidade?
A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre
indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns
como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros.
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É um processo dinâmico, de construção continuada, que se alimenta de várias
fontes no tempo e no espaço. Identidades que não estão impressas em nossos
genes entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de
nossa natureza essencial, assim como nos definirmos dizemos que somos de uma
nação.
Stuart Hall acredita estar havendo uma mudança estrutural na sociedade,
uma descentração do sujeito que constitui uma “crise de identidade” onde as
pessoas estão perdendo “o sentido de si” “A questão da identidade está sendo
extensamente discutida na teoria social. Em essência, o argumento é o seguinte:
as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão
em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo
moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada "crise de
identidade" é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está
deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e
abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem
estável no mundo social. (HALL, 2006, p.104).
PÓS-MODERNIDADE E IDENTIDADE CULTURAL:
Segundo alguns estudiosos o homem se perde no meio de tantas
informações e acaba por não conseguir distinguir mais sua própria cultura
A lógica da identidade que assinala uma especificidade para cada um, diferenciando um Estado do outro, interage no sistema internacional com a lógica da globalização que dilui a fronteira entre o interno e o externo; reescrevendo em novos termos o jogo dialético de implicação mútua entre a “História do eu” e a “História do outro”. (LAFER, 2006, p.126).
A pós-modernidade é ainda a própria modernidade, porém, sem ilusões. A
modernidade está ligada diretamente aos novos paradigmas da sociedade,
agravada pelo fenômeno da globalização e das implicações desta, razão pela qual
também utilizamos a expressão liquidez, o que significaria falar das novas
tecnologias, da aceleração do tempo, da fragmentação do espaço e das
coletividades, provocando o crescimento do individualismo. (BAUMAN, 2000,
p121)
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O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o "eu real", mas
este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais
"exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem.
A identidade, nessa concepção sociológica, preenche o espaço entre o
"interior" e o "exterior" - entre o mundo pessoal e o mundo público. O fato de
que projetamos a "nós próprios" nessas identidades culturais, ao mesmo tempo
em que internalizamos seus significados e valores, tornando-os "parte de nós"
contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos
que ocupamos no mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, para
usar uma metáfora médica, "sutura") o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os
sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos
reciprocamente mais unificados e previsíveis.
Argumenta-se, entretanto, que são exatamente essas coisas que agora estão
"mudando". O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada
e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de
várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas.
Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais "lá
fora" e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as "necessidades"
objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças
estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual
nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório,
variável e problemático.
Esse processo produz o sujeito pós-moderno, como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma "celebração móvel": formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora "narrativa do eu" A identidade plenamente identificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam,
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somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar ao menos temporariamente. (STUART HALL, 2006, p.99).
PREDOMÍNIO DAS “COISAS” SOBRE OS HOMENS
Por mais que uma cultura não absorva nada de outra, ela muda
internamente devido a globalização, pois uma das conseqüências sociais da
globalização é a obsessão pelo lucro, onde o ter se sobrepõe ao ser, reduzindo o
ser humano a competência que tem em seu trabalho, a competência que tem em
acumular bens, como consta no livro sociedade Global de Octavio
Ianni(1990,p.118) diz que o homem é obrigado assim a ficar a margem da função
global do mundo, a renunciar ao prazer em busca do rendimento...”
A vida econômica assume o aspecto do egoísmo racional do homo oeconomicus, da busca exclusiva do máximo de lucros, sem qualquer preocupação pelos problemas da relação humana com outrem e, sobretudo sem qualquer consideração pelo todo. Nessa perspectiva os outros homens tornar-se-ão, para o vendedor e o comprador, objetos semelhantes aos outros objetos, simples meios que lhes permite a realização de seus interesses e cuja qualidade humana única e importante será a capacidade para concluírem contrato e engendrarem as obrigações constrangedoras. (GOLDMANN, 1967, p.178).
Essa corrida em possuir muda a convivência social que agora esta baseada
em “poder econômico”, o que muda modos de ser, agir, sentir, imaginar podendo
levar o homem a uma solidão em meio a multidão transformando o homem em
individualista, abdicando de sua liberdade, sufocado sobre a pressão de precisar
sempre de mais.
Simmel diz que a existência do homem moderno está numa rede de
relações de interesses monetários, do qual ele (indivíduo) não pode existir sem.
Nesse sentido o dinheiro se tornou para o homem moderno um meio de
realização dos seus desejos mais íntimos,sendo, dessa forma, um meio de
condução para a felicidade. Assim, o homem moderno vive ativo em seu mundo,
sempre em busca do ganho de dinheiro para que sua felicidade, sua liberdade e
sua individualidade sejam alcançadas. É o que ele explica na sua obra: “Assim
como o dinheiro em geral fez surgir - como resulta,evidentemente da nossa
explicação – uma proporção radicalmente. Precisamente uma tal relação tem de
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gerar um forte individualismo, pois não é o isolamento em si que aliena e
distancia os homens, reduzindo-os a si próprios. Pelo contrário é uma força
específica de se relacionar com eles, de tal modo que implica anonimidade e
desinteresse pela individualidade do outro, que provoca o individualismo”.
(SIMMEL, 1998, p. 28)
PODER DO MERCADO
O mercado globalizado é um mercado desregulamentado, sobre o qual os
Estados possuem cada vez menos controle. Conforme Kaufmann (1999, p.09-
42), é um mercado privatizado, com tudo aquilo que implica na transferência das
decisões tocantes aos setores de primeira necessidade. Um mercado caracterizado
por uma competitividade exacerbada, que é invocada para proceder à fusões, às
reconfigurações de empresas. No contexto da globalização financeira, os
sucessos das bolsas são julgados mais importantes do que o investimento na
"riqueza das nações", quer dizer, na educação, na saúde ou na segurança. Trata-se
de um mercado do qual podem fazer parte somente as empresas de alta
intensidade tecnológica.
O processo de globalização e, mais particularmente, a desregulamentação
e a abertura econômica que o caracterizam, vêm sendo responsáveis por um
crescimento acentuado da volatilidade de capitais. Capitais podem ser aplicados
rapidamente em diferentes tipos de ativos financeiros e monetário num grande
número de países. A abertura permite ainda que os mercados financeiros e de
câmbio se comuniquem facilmente. O resultado é o que, na busca por lucros
fáceis e rápidos, os capitais se movem de um lado para outro. Como as moedas
ficam sujeitas a livres transações, suas cotações flutuam acentuadamente, criando
problemas internos aos seus países, e aos governos, que não podem realizar as
políticas econômicas desejadas. Além disso, a facilidade com que podem sair do
país provoca grande instabilidade financeira, uma vez que o sistema bancário
pode estar com um grande montante de ativos em divisas e as mudanças abruptas
de cotações e de montantes aplicados pode deixá-los de repente sem a reservas
necessárias.
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Os lucros obtidos nesse processo especulativo fogem do controle dos
países e das Autoridades Monetárias de cada país, tornando as tendências
econômicas mais imprevisíveis. Tal imprevisibilidade conduz ao tateamento,
pelo mercado, das melhores opções de aplicação de recursos e ao aparecimento
de novas opções de aplicação, inovações financeiras e produtos novos.
Entretanto, apesar de terem surgido para reduzir a incerteza, tais tateamentos e
inovações não fazem mais do que aumentá-la, ao proporcionar ainda mais
movimento de capital de um lado para outro, na ânsia de ganhar muito com
pequenas flutuações de preços, ou de se proteger contra perdas esperadas.
Finalmente, tais facilidades de ganhos especulativos em aplicações
internacionais acaba por representar uma punção de recursos que de outra forma
representariam investimentos na esfera produtiva, em desfavor, portanto, de
maior crescimento a médio e longo prazos.
Todos estes acontecimentos são fruto da desregulamentação, que tirou o
Governo do setor financeiro; da abertura, que liberou o câmbio e tirou as
barreiras às entradas de capital controladas pelo Estado; da queda do poder
financeiro do Estado, que reduziu sua atuação nas políticas anti-cíclicas da
economia.
DA SOCIEDADE NACIONAL PARA A SOCIEDADE GLOBAL:
À necessidade de um mundo globalizado se dá hoje, pelas políticas
econômicas, convenções sobre direitos humanos, convenções e acordos sobre
ambientes globais, acordos multilaterais, sobre o comércio e seus investimentos.
A interdependência mundial se torna cada dia mais clara em consequência
o Estado-Nação esta em declínio, e a discussão sobre a Sociedade Global ganha
espaço.
Pela noção de globalização pretende-se caracterizar a vida num mundo
global que tende ao rompimento ou à dissolução das fronteiras, das economias,
das culturas e das sociedades. (LOMBARDI , 2001, p.94)
Esta acontecendo no mundo varias revoluções da tecnologia da
comunicação, passamos a enxergar o mundo de outra forma através da aceleração
do conhecimento, da metamorfose do Estado Nacional, com o aumento do fluxo
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internacional as fronteiras começam a ficar menos rígidas, não tem como
controlar as informações, o fluxo econômico se tornou muito intenso, o Estado
não consegue controlar o que acontece dentro do seu próprio território.
Em seu livro Sociedade Global o autor Octavio Ianni destaca a crescente
importância dessa sociedade “tudo que é local regional, nacional e continental é
também determinada pela Sociedade Global em franca expansão.” Esse mesmo
autor afirma que o que esta ocorrendo no momento é a transição dessa sociedade
onde ainda vivem ao mesmo tempo o nacional e o Global “Uma sociedade
atravessada por nações e nacionalidades, etnias e classes sociais, empresas
transacionais e organizações multilaterais, estruturas de poder nacionais e
estruturas de poder supranacionais, geopolíticas, continentais e indústrias
culturais nacionais e internacionais.” (IANNI, 1990, p.27).
O NOVO CONTRATO SOCIAL
O Muro de Berlim não apenas separava uma cidade e um povo. Ele
simbolizava o mundo dividido pelos sistemas capitalista e socialista. A sua
destruição, iniciada pelo povo de Berlim, na noite de 9 de novembro de 1989, pôs
abaixo não apenas o muro material; mais do que isso, rompeu com o mais
significativo símbolo da Guerra Fria: a bipolaridade.
Assim como a mudança do mundo que hoje é coordenado pela
interdependência dos países onde são necessárias cooperações e negociações e a
guerra não cabe nesse contexto, se fez necessário o nascimento de um novo
contrato Social.
“Enquanto a globalização torna as fronteiras que separam os Estados mais
e mais permeáveis, o direito e as instituições globais, que unem a humanidade em
torno de objetivos comuns, ampliam as suas próprias fronteiras.
A globalização tem efeitos sobre a efetividade e a autonomia do poder
estatal, alterando o modelo do Estado soberano, provocando uma diluição da
soberania, que passa a ser compartilhada em um contrato social renovado, dando
origem a um novo paradigma que atende ao modelo da sociedade global.”
(MATIAS , 2005,p.63).
Esse novo contrato também tem sua força no enfraquecimento do Estado.
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O Estado perde parte de suas prerrogativas e funções. Enquanto ele, no
século passado, era uma espécie de pai de seus nacionais, tendo que velar pelo
bem-estar e pela proteção da economia interna, atualmente está envolvido numa
compreensão bem mais abrangente, na qual tem que velar para que a economia
interna caminhe no mesmo compasso da economia internacional. É uma espécie
de regulador, totalmente inserido nesse novo contexto. (IANNI, 1990, p.60).
Segundo Celso Mello (1997, p.73), “a figura do Estado tende a ser
substituída por forças mais atuantes que correspondam melhor as necessidades
políticas, econômicas e sociais do nosso século”
Segundo W. Hein, citado pelo mesmo Celso Mello (1997,p.75) “os
conceitos de Nação e Estado-Nação são produtos de processos históricos, que,
certamente, serão substituídos por outras formas de representação e organização.
Prenuncia o autor o surgimento de uma “estatalidade transnacional”.
GLOBALIZAÇÃO DESIGUAL A globalização desigual dos Estados é vista em termos como
“subdesenvolvidos”, “Em desenvolvimento” e até pouco tempo atrás “Terceiro
mundo”, países que não possuem estrutura suficiente e um ideal coletivo, mas
demonstram um desejo de melhora, África, Ásia e América Latina em sua
maioria sofrem com esses impasses. Como esses países de uma história sofrida
explorados, colonizados pelos países ricos podem ter a mesma chance no
processo de Globalização que depende de recursos financeiros altos para
sustentar a tecnologia avançada?
Assim como na expansão marítima a Europa precisava de novos
mercados, hoje esses mesmos países encontram-se saturados e precisam de novos
consumidores, a globalização traz a ligação desses países com uma comunicação
em tempo real, mas também com uma grande concorrência.
Através dos processos de concentração e centralização do capital os
principais setores da economia são controlados cada vez mais por um pequeno
grupo de empresas que fica cada vez mais poderoso. Os processos ocorrem
através de reinvestimentos das próprias empresas nos setores onde atuam
(concentração), ou através de fusões e incorporações de outras que sucumbem à
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concorrência (centralização). Várias são as razões para tal resultado. Existem
custos irrecuperáveis de instalação das empresas que desestimulam a saída de
firmas de um setor. Sociedade de Informação são aquelas nas quais são
amplamente utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e
informação a baixo custo, que alteram o modo de vida tanto no mundo do
trabalho como na sociedade em geral transformando assim, em uma sociedade de
aprendizagem.
É o caso de gastos em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de inovação e
imitação, que desestimulam a saída das firmas que já realizaram tais gastos. Esse
é o primeiro fator que conduz à concentração. Além disso, os gastos em pesquisa
e desenvolvimento são muitos elevados e são os mais concentrados do mundo,
expressando a concentração já existente e promovendo seu agravamento.
Finalmente, os custos de coordenação e de tecnologia de informação para operar
as redes de produção sofisticadas e internacionalizadas são também barreiras à
entrada de novas firmas, funcionando como terceira razão para o processo de
concentração do capital.
Tal processo de concentração do capital encontrou os setores mais fortes e
desenvolvidos nos países mais avançados. Com isso, cresce o hiato entre os mais
avançados - Alemanha ou Europa Ocidental, enquanto bloco, Estados Unidos e
Japão. A este processo, que amplia o hiato de renda e desenvolvimento entre os
países mais desenvolvidos e os demais, chamamos polarização. Para essa
polarização contribuíram o montante elevado de pesquisa e desenvolvimento que
os países mais ricos despendem, fundamental para o sucesso no processo de
globalização; a irreversibilidade dos investimentos muito elevados; e os
rendimento crescentes proporcionados pelo fato de terem chegado primeiro. O
processo de polarização mostra que a difusão da mudança tecnológica é grande,
mas é desigual e amplia as desigualdades.
Estas desigualdades são também ampliadas no interior de cada país,
mesmo aqueles que obtêm maior sucesso no processo de globalização. Elas
podem ser medidas por indicadores como taxa de desemprego, nível dos salários,
desigualdades de renda e deterioração das condições de trabalho.
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Contudo, a globalização traz seus conflitos e podemos dizer, concordando
com Richard Sennet, a crise da solidariedade, pois passa existir fechamento do
indivíduo num pequeno setor e o impede de ver os problemas globais, visto que o
desenvolvimento adotado pelas economias monetárias também vão ao sentido
contrário da solidariedade, surgindo à crise ética. (SENNETT, 2001, p.95)
Desta forma, as transformações na organização do trabalho estão
provocando desigualdade, como aparição de um novo fenômeno social, ou seja, à
exclusão da participação no ciclo produtivo. Neste sentido, os estudos sobre as
possibilidades que oferecem as novas formas de organização do trabalho,
indicam que elas poderiam incorporar de maneira estável só uma minoria de
trabalhadores, para os quais haveria garantias de segurança no emprego, em troca
de uma identificação total com a empresa e com suas exigências de reconversão
permanente aos demais, condição de extrema precariedade como contrata
temporários, trabalhos interinos, por tempo parcial e no extremo dessas situações
o desemprego.
Para a maior parte do Mundo, a globalização, como tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com o demônio. Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, as estatísticas do PIB - pelo valor que possam ter - aparentam melhoras, mas o modo de vida e os valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como deveria ser. (STIGLITZ, 2002, p 36).
As teorias econômicas que assumem rendimentos crescentes mostram que
os maiores e mais desenvolvidos sempre têm vantagens e por isso tendem a se
manter na dianteira do processo de desenvolvimento que iniciaram. Assim, é
hora de pensar em padrões de desenvolvimento alternativos, que se preocupem
mais com a solução dos nossos problemas específicos
O “CHOQUE” DAS CIVILIZAÇÕES Enquanto vários estudiosos analisam a existência de uma perspectiva de
uma cultura global ou a afirmação e manutenção de muitas e novas ou velhas
formas de cultura no mundo, Huntington propõe um novo paradigma para a
política internacional.
Buscando desafiar as concepções tradicionais e modernas da política
internacional, ele apresenta uma nova concepção que denomina “choque das
civilizações”.
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Para Huntington (1994, p.25-51), desde a queda do muro de Berlim, os
conflitos internacionais decisivos não são mais de natureza ideológica, militar ou
econômica, mas entre culturas. E as unidades políticas entre as quais essas
relações de poder ou conflitos ocorrem passam a ser as unidades culturais, em
particular as civilizações.
Segundo Chiappin, a civilização é o “mais amplo agrupamento cultural de
pessoas e o mais abrangente nível de identidade cultural que se verifica entre os
homens, excetuando-se aquilo que distingue os seres humanos das demais
espécies. Define-se por elementos objetivos comuns, como língua, história,
religião, costumes e instituições, e também pela auto-identificação subjetiva dos
povos” Sob este enfoque, a clivagem civilizacional vai estabelecer o nível mais
geral deidentificação de um indivíduo, grupo ou nação, substituindo o critério da
nacionalidade.
A política internacional deixa de ser uma política de características
predominantemente ocidentais, marcada e coordenada por agentes, valores ou
instituições ocidentais, para tornar-se uma política entre culturas, e, portanto,
entre civilizações; em particular entre a civilização ocidental e as não-ocidentais,
e entre as não-ocidentais.
Nesta nova fase, a civilização ocidental terá de competir com as outras
civilizações não-ocidentais e estas serão agentes que lutarão para construir a
configuração e o arranjo institucional do sistema internacional. (Chiappin, 1994,
p.45).
De acordo com Huntington, na política das civilizações, as civilizações
não ocidentais já não são mais os objetivos e alvos da história ocidental, pois
agora se unem ao ocidente como agentes e sujeitos da história.
Dentro desta perspectiva, o Estado nacional continuará a ser o agente mais
poderoso dos acontecimentos mundiais. Mas ele também deverá ser visto como
membro de uma unidade mais fundamental, agora cultural, que se torna um novo
agente dos acontecimentos globais das civilizações.
Huntington rejeita o paradigma do mundo único ou da civilização
universal. Para ele, a espécie humana tem características comuns, que, no
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entanto, sempre foram compatíveis com a existência de culturas muito distintas.
O autor recusa a convergência do sistema internacional para uma única sociedade
ou Estado mundial. Sustenta que a história não terminou e que o mundo não é um
só. E a razão dessa multiplicidade de mundos é a dimensão cultural e
civilizacional que apregoa que a universalização da democracia liberal é uma
falácia, encontrando-se por detrás da idéia de que “o colapso da União Soviética
significa o fim da história e a vitória da democracia liberal em todo o mundo”
O que de fato importa para as pessoas não é a ideologia política ou o interesse econômico. Fé e família, sangue e crença, é com isso que as pessoas se identificam e é por isso que lutam e morrem. É por isso que o choque entre civilizações está substituindo a Guerra Fria como fenômeno central da política global. (Chiappin, 1994, p.49)
O autor faz referência ao pensamento de Huntington quanto à proposta de
Francis Fukuyama sobre o “fim” da história, segundo o qual, o paradigma da
democracia liberal foi elaborado no sentido de ser a única alternativa ao
comunismo. Seguindo esta reflexão, é de grande audácia imaginar que devido ao
fracasso do comunismo o Ocidente ganhou o mundo para sempre.
Outro argumento refutado por ele é o de que a modernização e o
desenvolvimento econômico têm um efeito homogêneo sobre o mundo,
favorecendo a produção de uma cultura moderna comum à cultura que tem
existido no Ocidente neste século. Apesar de aceitar que no mundo
contemporâneo as sociedades modernas têm sido as sociedades ocidentais,
Huntington recusa a identificação entre ocidentalização e a modernização.
O mesmo autor afirma que o atual estado do mundo é o de conflito, ao
contrário da visão de um mundo único, para qual esses conflitos se reduziriam,
devido à expansão até os limites do planeta, do liberalismo econômico.
A correção a ser feita na previsão dos defensores da tese do mundo único
é que os conflitos e violências entre Estados e grupos vão diminuir, mas apenas
no que diz respeito aos membros de uma mesma civilização. Em contrapartida,
devem aumentar para os membros de civilizações diferentes, pois ”quando dois
grupos fazem parte de uma mesma civilização, a probabilidade de conflito é
menor” (Chiappin, 1994, p.51).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Como podemos verificar nesse artigo, tanto podemos encontrar estudiosos
que se posicionam a favor como contra o processo de globalização.
Há, no entanto, aspectos tanto positivos quanto negativos na globalização.
No que concerne aos aspectos negativos há a referir a facilidade com que tudo
circula não havendo grande controle como se pode facilmente depreender pelos
atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos da América. Esta globalização
serve para os mais fracos se equipararem aos mais fortes pois tudo se consegue
adquirir através desta grande auto estrada informacional do mundo que é a
Internet. Outro dos aspectos negativos é a grande instabilidade econômica que se
cria no mundo, pois qualquer fenômeno que acontece num determinado país
atinge rapidamente outros países criando-se contágios que tal como as epidemias
se alastram a todos os pontos do globo como se de um único ponto se tratasse. Os
países cada vez estão mais dependentes uns dos outros e já não há possibilidade
de se isolarem ou remeterem-se no seu ninho, pois ninguém é imune a estes
contágios positivos ou negativos. Como aspectos positivos, temos sem sombra de
dúvida, a facilidade com que as inovações se propagam entre países e
continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens.
É impossível oferecer afirmações conclusivas ou fazer julgamentos
seguros para afirmar até que ponto a globalização coloca em risco a cultura de
um povo, a única certeza é que esta acontecendo uma mudança estrutural na
sociedade modificando a estrutura de muitos conceitos, como a de Soberania que
agora se deve a cooperação e não mais a imposição.
Alem das trocas de mercadorias, cresce a evolução das relações sociais, a
globalização é um processo de aceleração do tempo histórico, o tempo esta
correndo mais rápido, sabemos de tudo no mundo no exato momento desses
acontecimentos, pois não existem mais fronteiras para a comunicação, o tempo e
espaço é real, o que promove profundas alterações nas relações do homem,
gerando conhecimento de varias culturas, o que não significa de imediato a
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adesão a essa cultura, mas talvez uma maior tolerância gerada por esse
conhecimento
É inegável que esta ocorrendo uma mudança radical nos valores da
civilização, o individualismo crescente, uma ruptura na forma de pensar ligada a
tecnologia, em como o mundo passa a se conectar, é um processo, passando por
cima das diferenças, a cultura se transformando aos poucos, é a adequação de
uma cultura a outra cultura que vai alem das fronteiras, as culturas já nascem de
ligações de varias culturas, nascem de uma mesma raiz e se transformam, pois as
pessoas estão se transformando.
Todo esse intercambio de produtos e trocas de informação, traz a
preocupação em um direito supranacional e da defesa dos direitos humanos por
uma possível Sociedade Global, tais direitos já são observados em convenções e
tratados porem sem sanções expressas.
A globalização assim como qualquer outro fenômeno tem vantagens e
desvantagens e só o conhecimento nesse assunto pode nos levar a aproveitar as
vantagens e tentar descartar o que for ruim.
O processo da globalização tanto pode promover os Homens, a sua
dominação, o esgotamento da diferença e a universalização cultural, como
aproximar os Homens e as culturas entre si.
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