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Os espíritos seOs espíritos secomunicam nacomunicam naIgreja CatólicaIgreja Católica

(as almas do purgatório semanifestam a fiéis)

“O diálogo com os mortos não deve serinterrompido, pois, na realidade, a vida nãoestá limitada pelos horizontes do mundo”(Papa João Paulo II).

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“Ora, ninguém, dotado de sensocomum e que saiba racionar, podeignorar a existência de umacomunidade e de uma comunhão entreos que vivem, com os que faleceram”.(Golo Mann, 1909-1994).

“Estamos rodeados por pessoasfalecidas que, indizivelmente tristes,querem comunicar-se conoscoenquanto olhamos unicamente para omundo terreno. Oh! que miserávelescravidão em que nos metem ossentidos!”(Dr. Peter Gehring, 1953-2003).

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ÍndiceIntrodução......................................................................7Vestígios dessa crença na igreja primitiva.........................19

1º Caso: Hermas (?-?)................................................192º Caso: Justino de Roma (100-163)............................20

O contato dos católicos com os mortos.............................221º Caso: Maria-Ana Lindmayr (1657-1726)...................222º Caso: Irmã Maria da Cruz (?-1917)..........................333º Caso: Eugênia von der Leyen (1867-1929)...............364º Caso: Maria Faustina Kowalska (1905-1938).............475º Caso: Maria Ágata Simma (1915-2004)....................596º Caso: Dr. Lino Sardos Albertini (1915-2005).............687º Caso: Maria Gómez Cámara (1919-2004).................748º Caso: Museu das almas do purgatório......................759º Caso: Irmã Ana Felícia (?-?)....................................83

Padres Católicos que acreditamno intercâmbio com os mortos.........................................85

1º Caso: Pe. Pascoal Magni.........................................852º Caso: Pe. João Martinetti........................................883º Caso: Pe. Gino Concetti..........................................924º Caso: Pe. Gebhard Frei (1905-1967)........................935º Caso: Pe. Pistone (? - ?).........................................94

Padres Católicos que se envolverame os pesquisadores do fenômeno....................................108

1º Caso: Pe. Agostino Gemelli (1878-1959).................1082º Caso: Pe. Léo Schmidt (1916 - 1976).....................1103º Caso: Pe. Landell de Moura (1861-1928)................1124º Caso: Pe. Miguel Martins Fernandes (? - )...............1315º Caso: Pe. François Brune (1931 -)..........................133

Conclusão...................................................................135Referências bibliográficas:.............................................143

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Introdução

Embora, num esforço inaudito, se tente provar que osmortos não se comunicam, a verdade é que eles não estãonem aí para isso e se comunicam assim mesmo. Podemos verque, dentro da Igreja Católica, a manifestação dos defuntos écoisa comum, apesar de fazerem de tudo para que isso nãovenha à tona, porquanto haverá de se mudar dogmasimpostos à força, o que poderá abalar a sua credibilidadecomo uma instituição religiosa.

É evidente a contradição dos católicos, pois, apesar demuitos dizerem que os mortos não se comunicam, mesmoassim não deixam de fazer seus pedidos ao santo quededicam a sua devoção. O pobre do Santo Antônio então,coitado, desde quando foi elevado a esse status de santo, nãotem mais paz, tantos os petitórios que lhe fazem assolteironas, que não largam de sua batina, em súplicadesesperada para conseguirem um bom marido. Ele faz cada“milagre” que espanta a qualquer um.

Quando lhes demonstramos que também eles evocamos mortos (já que santo vivo, só mesmo o Santo Padre, oPapa), nos apresentam o argumento de que não “evocam”,mas “invocam”. Diante disso é bom socorrer-nos com oHouaiss:

evocar: 1 t.d. chamar (algo, ger. sobrenatural),fazendo com que apareça “evocou todos ossantos que conhecia para ajudá-lo naquelahora”; 2 t.d. tornar (algo) presente pelo exercício damemória e/ou da imaginação; lembrar “saudoso,evocava a infância com frequência”, “apaixonado,evocava o rosto da amada”; 3 t.d. JUR passar (causajudicial) de um tribunal a outro.

Invocar: 1.t.d. chamar em auxílio, pedir a proteção de(falando ger. de seres ou forças divinas,sobrenaturais); suplicar “i. os santos”; 2 t.d. pedirauxílio, assistência; recorrer “i. a ajuda dos amigos”;

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3 t.d. evocar (quaisquer forças sobrenaturais,ocultas) “i. os espíritos de antepassados”; 4 t.d.B infrm. causar irritação a; provocar (alguém) “aconversa mole dele invoca qualquer um”; 5 t.d. Binfrm. deixar cismado; dar o que pensar a, intrigar“ele o invocou quando evitou o assunto do relógioroubado”; 6 t.i. e pron. B infrm. não simpatizar;antipatizar com “invocou(-se) com a cara dele logode saída”; 7 t.d. JUR alegar a seu favor, aduzir comoprova do que se diz “i. leis, precedentes,testemunhos”.

Todos os dois verbos poderão ser usadosindistintamente, já que ambos podem assumir o mesmosignificado, que é chamar por algo sobrenatural, uma vez queé assim que todos veem os fenômenos de aparição de umsanto; dessa mesma forma é que também veem amanifestação de qualquer outro espírito. Somente a DoutrinaEspírita é que procura demonstrar que tais fatos estãoestritamente dentro das leis divinas; consequentemente, sãoleis naturais, que ainda não são vistas assim, porquantoprevalecem a ignorância e o preconceito diante delas.

Seriam as comunicações com os mortos algoabominável a Deus (Dt 18,12)? A questão é: Deus fariaalguma lei que pudesse levar a algo contrário ao que Eledeseja ou que viesse a aborrecê-Lo? Certamente que não!Portanto, se existe a possibilidade de se comunicar com osmortos, é porque Deus criou uma lei para que isso aconteça,sem nenhuma dúvida. Mas, e a proibição? Reputamo-laprovinda da vontade de Moisés, que não queria que seevocasse os mortos para fins de adivinhação, pois o que eleproibiu foi a necromancia, que é exatamente isso. Só queespertamente alguns teólogos querem fazer dessa proibiçãomosaica seu cavalo de batalha, ou seja, uma proibição divina,contra as manifestações, porquanto, morrem de medo de queos “mortos” venham a revelar outra verdade, da qual nemquerem ouvir falar.

Vejamos o que Kardec falou a respeito disso, no Cap.XI, de O Céu e o Inferno:

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Da proibição de evocar os mortos

1. - A Igreja de modo algum nega a realidade dasmanifestações. Ao contrário, como vimos nas citaçõesprecedentes, admite-as totalmente, atribuindo-as àexclusiva intervenção dos demônios. É debalde invocaros Evangelhos como fazem alguns para justificar a suainterdição, visto que os Evangelhos nada dizem a esserespeito. O supremo argumento que prevalece é aproibição de Moisés. A seguir damos os termos nosquais se refere ao assunto a mesma pastoral quecitamos nos capítulos precedentes:

"Não é permitido entreter relações com eles (osEspíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dosque os evocam e interrogam. A lei moisaica punia osgentios. Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nemprocureis saber coisa alguma dos adivinhos, de maneiraa vos contaminardes por meio deles. (Cap. XIX, v. 31.)Morra de morte o homem ou a mulher em quem houverEspírito pitônico; sejam apedrejados e sobre eles recaiaseu sangue. (Cap. XX, v. 27.) O Deuteronômio diz:Nunca exista entre vós quem consulte adivinhos, quemobserve sonhos e agouros, quem use de malefícios,sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm oEspírito pitônico e se dão a práticas de adivinhaçãointerrogando os mortos. O Senhor abomina todas essascoisas e destruirá, à vossa entrada, as nações quecometem tais crimes." (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12.)

2. - É útil, para melhor compreensão do verdadeirosentido das palavras de Moisés, reproduzir por completoo texto um tanto abreviado na citação antecedente. Ei-lo: "Não vos desvieis do vosso Deus para procurarmágicos; não consulteis os adivinhos, e receai que voscontamineis dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vossoDeus." (Levítico, cap. XIX, v. 31.) O homem ou amulher que tiver Espírito pitônico, ou de adivinho, morrade morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairásobre eles." (Idem, cap. XX, v. 27.) Quando houverdesentrado na terra que o Senhor vosso Deus vos há dedar, guardai-vos; tomai cuidado em não imitar asabominações de tais povos; - e entre vós ninguém hajaque pretenda purificar filho ou filha passando-os pelofogo; que use de malefícios, sortilégios eencantamentos: que consulte os que têm o Espírito de

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Píton e se propõem adivinhar, interrogando os mortospara saber a verdade. O Senhor abomina todas essascoisas e exterminará todos esses povos, à vossaentrada, por causa dos crimes que têm cometido.(Deuteronômio, cap. XVIII, vv. 9, 10, 11 e 12.)

3. - Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamenteobservada neste ponto, força é que o seja igualmenteem todos os outros. Por que seria ela boa no tocante àsevocações e má em outras de suas partes? É preciso serconsequente. Desde que se reconhece que a leimoisaica não está mais de acordo com a nossa época ecostumes em dados casos, a mesma razão procede paraa proibição de que tratamos.

Demais, é preciso expender os motivos quejustificavam essa proibição e que hoje se anularamcompletamente. O legislador hebreu queria que o seupovo abandonasse todos os costumes adquiridos noEgito, onde as evocações estavam em uso e facilitavamabusos, como se infere destas palavras de Isaías: "OEspírito do Egito se aniquilará de si mesmo e euprecipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos,seus adivinhos, seus pítons e seus mágicos." (Cap. XIX,v. 3.)

Os israelitas não deviam contratar alianças com asnações estrangeiras, e sabido era que naquelas naçõesque iam combater encontrariam as mesmas práticas.

Moisés devia, pois, por política, inspirar aos hebreusaversão a todos os costumes que pudessem tersemelhanças e pontos de contacto com o inimigo. Parajustificar essa aversão, preciso era que apresentassetais práticas como reprovadas pelo próprio Deus, e daiestas palavras: - "O Senhor abomina todas essas coisase destruirá, à vossa chegada, as nações que cometemtais crimes."

4. - A proibição de Moisés era assaz justa, porque aevocação dos mortos não se originava nos sentimentosde respeito, afeição ou piedade para com eles, sendoantes um recurso para adivinhações, tal como nosaugúrios e presságios explorados pelo charlatanismo epela superstição. Essas práticas, ao que parece,também eram objeto de negócio, e Moisés, por maisque fizesse, não conseguiu desentranhá-las doscostumes populares.

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As seguintes palavras do profeta justificam oasserto: - "Quando vos disserem: Consultai os mágicose adivinhos que balbuciam encantamentos, respondei:-Não consulta cada povo ao seu Deus? E aos mortos sefala do que compete aos vivos?" (Isaías, cap. VIII, v.19.) "Sou eu quem aponta a falsidade dos prodígiosmágicos; quem enlouquece os que se propõemadivinhar, quem transtorna o espírito dos sábios econfunde a sua ciência vã." (Cap. XLIV, v. 25.)

"Que esses adivinhos, que estudam o céu,contemplam os astros e contam os meses para fazerpredições, dizendo revelar-vos o futuro, venham agorasalvar-vos. - Eles tornaram-se como a palha, e o fogoos devorou; não poderão livrar suas almas do fogoardente; não restarão das chamas que despedirem, nemcarvões que possam aquecer, nem fogo ao qual sepossam sentar. - Eis ao que ficarão reduzidas todasessas coisas das quais vos tendes ocupado com tantoafinco: os traficantes que convosco traficam desde ainfância foram-se, cada qual para seu lado, sem que umsó deles se encontre que vos tire os vossos males."(Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15.)

Neste capítulo Isaías dirige-se aos babilônios sob afigura alegórica "da virgem filha de Babilônia, filha decaldeus" (v. 1). Diz ele que os adivinhos não impedirãoa ruína da monarquia. No seguinte capítulo dirige-sediretamente aos israelitas.

"Vinde aqui vós outros, filhos de uma agoureira, raçadum homem adúltero e de uma mulher prostituída. - Dequem vos rides vós? Contra quem abristes a boca emostrastes ferinas línguas? Não sois vós filhosperversos de bastarda raça - vós que procurais confortoem vossos deuses debaixo de todas as frontes,sacrificando-lhes os tenros filhinhos nas torrentes, sobos rochedos sobranceiros? Depositastes a vossaconfiança nas pedras da torrente, espalhastes ebebestes licores em sua honra, oferecestes sacrifícios.Depois disso como não se acender a minha indignação?"(Cap. LVII, vv. 3, 4, 5 e 6.)

Estas palavras são inequívocas e provam claramenteque nesse tempo as evocações tinham por fim aadivinhação, ao mesmo tempo que constituíamcomércio, associadas às práticas da magia e dosortilégio, acompanhadas até de sacrifícios humanos.

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Moisés tinha razão, portanto, proibindo tais coisas eafirmando que Deus as abominava.

Essas práticas supersticiosas perpetuaram-se até àIdade Média, mas hoje a razão predomina, ao mesmotempo em que o Espiritismo veio mostrar o fimexclusivamente moral, consolador e religioso dasrelações de além-túmulo.

Uma vez, porém, que os espíritas não sacrificamcriancinhas nem fazem libações para honrar deuses;uma vez que não interrogam astros, mortos e augurespara adivinhar a verdade sabiamente velada aoshomens; uma vez que repudiam traficar com afaculdade de comunicar com os Espíritos; uma vez queos não movem a curiosidade nem a cupidez, mas umsentimento de piedade, um desejo de instruir-se emelhorar-se, aliviando as almas sofredoras; uma vezque assim é, porque o é - a proibição de Moisés nãolhes pode ser extensiva.

Se os que clamam injustamente contra os espíritasse aprofundassem mais no sentido das palavras bíblicas,reconheceriam que nada existe de análogo, nosprincípios do Espiritismo, com o que se passava entre oshebreus. A verdade é que o Espiritismo condena tudoque motivou a interdição de Moisés; mas os seusadversários, no afã de encontrar argumentos com querebatam as novas ideias, nem se apercebem de que taisargumentos são negativos, por serem completamentefalsos.

A lei civil contemporânea pune todos os abusos queMoisés tinha em vista reprimir.

Contudo, se ele pronunciou a pena última contra osdelinquentes, é porque lhe faleciam meios brandos paragovernar um povo tão indisciplinado. Esta pena, aodemais, era muito prodigalizada na legislação moisaica,pois não havia muito onde escolher nos meios derepressão. Sem prisões nem casas de correção nodeserto, Moisés não podia graduar a penalidade comose faz em nossos dias, além de que o seu povo não erade natureza a atemorizar-se com penas puramentedisciplinares. Carecem portanto de razão os que seapoiam na severidade do castigo para provar o grau deculpabilidade da evocação dos mortos. Conviria, porconsideração à lei de Moisés, manter a pena capital emtodos os casos nos quais ele a prescrevia? Por que,

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então, reviver com tanta insistência este artigo,silenciando ao mesmo tempo o princípio do capítulo queproíbe aos sacerdotes a posse de bens terrenos epartilhar de qualquer herança, porque o Senhor é a suaprópria herança? (Deuteronômio, cap. XXVIII, vv. 1 e2.)

5. - Há duas partes distintas na lei de Moisés: a leide Deus propriamente dita, promulgada sobre o Sinai, ea lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes ecaráter do povo. Uma dessas leis é invariável, ao passoque a outra se modifica com o tempo, e a ninguémocorre que possamos ser governados pelos mesmosmeios por que o eram os judeus no deserto e tampoucoque os capitulares de Carlos Magno se moldem à Françado século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo, emreviver este artigo da lei moisaica: "Se um boi escornarum homem ou mulher, que disso morram, seja o boiapedrejado e ninguém coma de sua carne; mas o donodo boi será julgado inocente"? (Êxodo, cap. XXI, vv. 28e seguintes.)

Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha,no entanto, outro objetivo que o de punir o boi einocentar o dono, equivalendo simplesmente àconfiscação do animal, causa do acidente, para obrigaro proprietário a maior vigilância. A perda do boi era apunição que devia ser bem sensível para um povo depastores, a ponto de dispensar outra qualquer;entretanto, essa perda a ninguém aproveitava, por serproibido comer a carne. Outros artigos prescrevem ocaso em que o proprietário é responsável.

Tudo tinha sua razão de ser na legislação de Moisés,uma vez que tudo ela prevê em seus mínimos detalhes,mas a forma, bem como o fundo, adaptavam-se àscircunstâncias ocasionais. Se Moisés voltasse em nossosdias para legislar sobre uma nação civilizada, decertonão lhe daria um código igual ao dos hebreus.

6. - A esta objeção opõem a afirmativa de que todasas leis de Moisés foram ditadas em nome de Deus,assim como as do Sinai. Mas julgando-as todas de fontedivina, por que ao decálogo limitam os mandamentos?Qual a razão de ser da diferença? Pois não é certo quese todas essas leis emanam de Deus, deveriam todasser igualmente obrigatórias? E por que não conservaram

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a circuncisão, à qual Jesus se submeteu e não aboliu?Ah! esquecem que, para dar autoridade às suas leis,todos os legisladores antigos lhes atribuíam uma origemdivina. Pois bem: Moisés, mais que nenhum outro, tinhanecessidade desse recurso, atento ao caráter do seupovo; e se, a despeito disso, ele teve dificuldade em sefazer obedecer, o que não sucederia se as leis fossempromulgadas em seu próprio nome!

Não veio Jesus modificar a lei moisaica, fazendo dasua lei o código dos cristãos?

Não disse ele: - "Vós sabeis o que foi dito aosantigos, tal e tal coisa, e eu vos digo tal outra coisa?"Entretanto, Jesus não proscreveu, antes sancionou a leido Sinai, da qual toda a sua doutrina moral é umdesdobramento. Ora, Jesus nunca aludiu em partealguma à proibição de evocar os mortos, quando esteera um assunto bastante grave para ser omitido nassuas prédicas, mormente tendo ele tratado de outrosassuntos secundários.

7. - Finalmente, convém saber se a Igreja coloca alei moisaica acima da evangélica, ou por outra, se émais judia que cristã. Convém também notar que, detodas as religiões, precisamente a judia é que fazmenos oposição ao Espiritismo, porquanto não invoca alei de Moisés contrária às relações com os mortos, comofazem as seitas cristãs.

8. - Mas temos ainda outra contradição: - Se Moisésproibiu evocar os mortos, é que estes podiam vir, poisdo contrário inútil fora a proibição. Ora, se os mortospodiam vir naqueles tempos, também o podem hoje; ese são Espíritos de mortos os que vêm, não sãoexclusivamente demônios. Demais, Moisés de modoalgum fala nesses últimos.

É duplo, portanto, o motivo pelo qual não se podeaceitar logicamente a autoridade de Moisés na espécie,a saber: - primeiro, porque a sua lei não rege oCristianismo; e, segundo, porque é imprópria aoscostumes da nossa época. Mas, suponhamos que essalei tem a plenitude da autoridade por alguns outorgada,e ainda assim ela não poderá, como vimos, aplicar-seao Espiritismo. É verdade que a proibição de Moisésabrange a interrogação dos mortos, porém de modosecundário, como acessória às práticas da feitiçaria.

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O próprio vocábulo interrogação, junto aos deadivinho e agoureiro, prova que entre os hebreus asevocações eram um meio de adivinhar; entretanto, osespíritas só evocam mortos para receber sábiosconselhos e obter alívio em favor dos que sofrem, nuncapara conseguir revelações ilícitas. Certo, se os hebreususassem das comunicações como fazem os espíritas,longe de as proibir, Moisés acoroçoá-las-ia, porque oseu povo só teria que lucrar.

9. - É certo que alguns críticos jucundos ou mal-intencionados têm descrito as reuniões espíritas comoassembleias de nigromantes ou feiticeiros, e os médiunscomo astrólogos e ciganos, isto porque talvez quaisquercharlatães tenham afeiçoado tais nomes às suaspráticas, que o Espiritismo não pode, aliás, aprovar.

Em compensação, há também muita gente que fazjustiça e testemunha o caráter essencialmente moral egrave das reuniões sérias. Além disso, a Doutrina, emlivros ao alcance de todo o mundo, protesta bem altocontra os abusos, para que a calúnia recaia sobre quemmerece.

10. - A evocação, dizem, é uma falta de consideraçãopara com os mortos, cujas cinzas devem serrespeitadas. Mas quem é que diz tal coisa? São osantagonistas de dois campos opostos, isto é, osincrédulos que nas almas não creem, e os crédulos quepretendem que só os demônios, e não as almas, podemvir.

Quando a evocação é feita com recolhimento ereligiosamente; quando os Espíritos são chamados, nãopor curiosidade, mas por um sentimento de afeição esimpatia, com desejo sincero de instrução e progresso,não vemos nada de irreverente em apelar-se para aspessoas mortas, como se fizera com os vivos. Há,contudo, uma outra resposta peremptória a essaobjeção, é que os Espíritos se apresentamespontaneamente, sem constrangimento, muitas vezesmesmo sem que sejam chamados. Eles também dãotestemunho da satisfação que experimentam porcomunicar-se com os homens, e queixam-se às vezesdo esquecimento em que os deixam. Se os Espíritos seperturbassem ou se agastassem com os nossoschamados, certo o diriam e não retornariam; porém,

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nessas evocações, livres como são, se se manifestam, éporque lhes convém.

11. - Ainda uma outra razão é alegada: - As almaspermanecem na morada que a justiça divina lhesdesigna - o que equivale dizer no céu ou no inferno.Assim, as que estão no inferno, de lá não podem sair,posto que para tanto a mais ampla liberdade sejaoutorgada aos demônios. As do céu, inteiramenteentregues à sua beatitude, estão muito superiores aosmortais para deles se ocuparem, e são bastantementefelizes para não voltarem a esta terra de misérias, nointeresse de parentes e amigos que aqui deixassem.Então essas almas podem ser comparadas aos nababosque dos pobres desviam a vista com receio de perturbara digestão? Mas se assim fora, essas almas semostrariam pouco dignas da suprema bem-aventurança,transformando-se em padrão de egoísmo!

Restam ainda as almas do purgatório, porém, estas,sofredoras como devem ser, antes que de outra coisa,devem cuidar da sua salvação. Deste modo, nãopodendo nem umas nem outras almas corresponder aonosso apelo, somente o demônio se apresenta em seulugar.

Então é o caso de dizer: se as almas não podem vir,não há de que recear pela perturbação do seu repouso.

12. - Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se asalmas bem-aventuradas não podem deixar a mansãogloriosa para socorrer os mortais, por que invoca aIgreja a assistência dos santos que devem fruir aindamaior soma de beatitude? Por que aconselha invocá-losem casos de moléstia, de aflição, de flagelos? Por querazão e segundo essa mesma Igreja os santos e aprópria Virgem aparecem aos homens e fazemmilagres? Estes deixam o céu para baixar à Terra;entretanto, os que estão menos elevados não o podemfazer!

13. - Que os cépticos neguem a manifestação dasalmas, vá, visto que nelas não acreditam; mas o que setorna estranhável é ver encarniçar-se contra os meiosde provar a sua existência, esforçando-se pordemonstrar a impossibilidade desses meios, aquelesmesmos cujas crenças repousam na existência e nofuturo das almas! Parece que seria mais natural

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acolherem como benefício da Providência os meios deconfundir os cépticos com provas irrecusáveis, pois quesão os negadores da própria religião. Os que têminteresse na existência da alma deploramconstantemente a avalancha da incredulidade queinvade, dizimando o rebanho de fiéis: entretanto,quando se lhes apresenta o meio mais poderoso decombatê-la, recusam-no com tanta ou mais obstinaçãoque os próprios incrédulos. Depois, quando as provasavultam de modo a não deixar dúvidas, eis queprocuram como recurso de supremo argumento ainterdição do assunto, buscando, para justificá-la, umartigo da lei moisaica do qual ninguém cogitara,emprestando-lhe, à força, um sentido e aplicaçãoinexistentes. E tão felizes se julgam com a descoberta,que não percebem que esse artigo é ainda umajustificativa da Doutrina Espírita.

14. - Todas as razões alegadas para condenar asrelações com os Espíritos não resistem a um examesério. Pelo ardor com que se combate nesse sentido éfácil deduzir o grande interesse ligado ao assunto. Daí ainsistência. Em vendo esta cruzada de todos os cultoscontra as manifestações, dir-se-ia que delas seatemorizam.

O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de queos Espíritos muito esclarecidos viessem instruir oshomens sobre pontos que se pretende obscurecer,dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, da certezade um outro mundo, a par das verdadeiras condiçõespara nele serem felizes ou desgraçados. A razão deveser a mesma por que se diz à criança: - "Não vá lá, quehá lobisomens." Ao homem dizem: - "Não chameis osEspíritos: - São o diabo." - Não importa, porém: -impedem os homens de os evocar, mas não poderãoimpedi-los de vir aos homens para levantar a lâmpadade sob o alqueire.

O culto que estiver com a verdade absoluta nadaterá que temer da luz, pois a luz faz brilhar a verdade eo demônio nada pode contra esta.

15. - Repelir as comunicações de além-túmulo érepudiar o meio mais poderoso de instruir-se, já pelainiciação nos conhecimentos da vida futura, já pelosexemplos que tais comunicações nos fornecem. A

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experiência nos ensina, além disso, o bem que podemosfazer, desviando do mal os Espíritos imperfeitos,ajudando os que sofrem a desprenderem-se da matériae a se aperfeiçoarem. Interdizer as comunicações é,portanto, privar as almas sofredoras da assistência quelhes podemos e devemos dispensar.

As seguintes palavras de um Espírito resumemadmiravelmente as consequências da evocação, quandopraticada com fim caritativo:

"Todo Espírito sofredor e desolado vos contaráa causa da sua queda, os desvarios que operderam. Esperanças, combates e terrores;remorsos, desesperos e dores, tudo vos dirá,mostrando Deus justamente irritado a punir oculpado com toda a severidade. Ao ouvi-lo, doissentimentos vos acometerão: o da compaixão e odo temor! Compaixão por ele, temor por vósmesmos. E se o seguirdes nos seus queixumes,vereis então que Deus jamais o perde de vista,esperando o pecador arrependido e estendendo-lhe os braços logo que procure regenerar-se. Doculpado vereis, enfim, os progressos benéficospara os quais tereis a felicidade e a glória decontribuir, com a solicitude e o carinho docirurgião acompanhando a cicatrização da feridaque pensa diariamente." (Bordéus, 1861.)

(KARDEC, 1995, p. 155-165).

O texto de Kardec é claro por demais, nãonecessitando, portanto, de nossa parte, de nenhumcomentário adicional.

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Vestígios dessa crença na igreja primitiva

Apresentaremos dois personagens que, segundopodemos inferir, acreditavam na possibilidade dacomunicação com os mortos, o que nos poderá levar tambémà conclusão de que isto era uma crença comum naquelaépoca, embora, não necessariamente possa ter sido umaunanimidade.

1º Caso: Hermas (?-?)

Léon Denis menciona o livro O Pastor, escrito porHermas, um dos discípulos dos apóstolos e citado por Paulo,que teria sido escrito entre 142 a 155 d.C., no qual se lê “osmeios de distinguir os bons dos maus espíritos” (DENIS,1987):

O espírito que vem da parte de Deus é pacífico ehumilde; afasta-se de toda malícia e de todo vão desejodeste mundo e paira acima de todos os homens. Nãoresponde a todos os que o interrogam, nem às pessoasem particular, porque o espírito que vem de Deus nãofala ao homem quando o homem quer, mas quandoDeus o permite. Quando, pois, um homem que tem umespírito de Deus vem à assembleia dos fiéis, desde quese fez a prece, o espírito toma lugar nesse homem, quefala na assembleia como Deus o quer.

Reconhece-se, ao contrário, o espírito terrestre,frívolo, sem sabedoria e sem força, no que se agita, selevanta e toma o primeiro lugar. É importuno, tagarela enão profetiza sem remuneração. Um profeta de Deusnão procede assim. (DENIS, 1987, p. 61).

Um grave problema desse texto é que, na maioria dastraduções, ele aparece tão truncado que não mais se vê essaideia nele; certamente, que os interesses de líderes religiososprevaleceram.

Observamos que a afirmativa de que “o espírito quevem de Deus não fala ao homem quando o homem quer, masquando Deus o permite” é tudo quanto se diz no Espiritismo,pois os espíritos só se manifestam com a permissão de Deus.

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E, lendo-se a frase “o espírito toma lugar nesse homem, quefala na assembleia como Deus o quer”, vemos o que às vezesacontece com certos médiuns que, ao iniciarem sua palestra,um espírito “toma lugar” passando a usá-lo para transmitir asua mensagem.

2º Caso: Justino de Roma (100-163)

Chamado também de Justino, o Mártir, é consideradoum dos “Pais da Igreja”, tendo sido um dos seus apologistasdo séc. II. Uma outra denominação que lhe atribuem é “PadreApostólico”. De uma de suas obras, denominada de IApologia, escrita por volta de 155, transcrevemos:

A imortalidade da alma

18. 1 Vede o fim que tiveram os imperadores quevos precederam: todos morreram de morte comum. Sea morte terminasse na inconsciência, seria uma boasorte para todos os malvados. 2 Admitindo, porém, quea consciência, permanece em todos os nascidos, nãosejais negligentes em convencer-vos e crer que essascoisas são verdade. 3 De fato, a necromancia, oexame das entranhas de crianças inocentes, asevocações das almas humanas e os que sãochamados entre os magos de espíritos dos sonhos eespíritos assistentes, os fenômenos que acontecem soba ação dos que sabem essas coisas devempersuadir-vos de que, mesmo depois da morte, asalmas conservam a consciência. 4 Do mesmo modo,poderíamos citar os que são arrebatados eagitados pelas almas dos mortos, aos quais todoschamam de possessos ou loucos; aqueles que entre vóssão chamados de oráculos de Anfíloco, de Dodona, dePiton e outros semelhantes; 5 as doutrinas de escritorescomo Empédocles e Pitágoras, Platão e Sócrates, aquelacaverna de Homero, a descida de Ulisses para averiguaressas coisas, e outros que disseram coisas parecidas. 6Recebei-nos, portanto, pelo menos de modo semelhantea esses, pois não cremos menos do que eles em Deus esim mais do que eles: esperamos recuperar nossospróprios corpos depois de mortos e enterrados, porquedizemos que para Deus não há nada impossível.(Justino, 1995, p. 35-36). (grifo nosso).

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Conclama a todos acreditarem na continuação da vidaapós a morte usando de, entre outros, os argumentos daprática da necromancia, o da evocação das almas humanas e,para nossa grande surpresa, até a possessão por conta daação das almas dos mortos; portanto, coisas nas quais tinhacomo fatos verdadeiros.

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O contato dos católicos com os mortos

Ao liberar os relatos de aparições e manifestações, aIgreja Católica, mesmo que não tenha sido essa a suaintenção, e, talvez, nem seja do agrado de seus líderes,acabou abrindo espaço para que tais fenômenos viessem apúblico. Acreditamos que alguns deles vão se arder por contadisso. São os ortodoxos que não abrem mão das tradiçõesantigas, vivem num mundo da lua, sem qualquer sintoniacom os tempos modernos de liberdade de expressão epensamento. Esses, certamente, são os que dariam tudo pararestabelecer os tempos negros da Inquisição, pois sesentiriam felizes em ver as pessoas, que não pensam comoeles, provando, ainda no plano físico, do gostinho do inferno,nas chamas da intolerância. Oh! desculpe-nos, da fogueira!Ora, é tudo a mesma coisa!

Transcrevemos, para conhecimento do nosso leitor,essa declaração constante da Edições Boa Nova, umapublicação portuguesa de fonte católica:

Depois de terem sido ab-rogados os cânones 1399 e2318 do C.D.C., mercê da intervenção de Paulo VI emAAS 58 (1966) 1186, os escritos referentes a novasaparições, manifestações, milagres, etc., podem serespalhados e lidos pelos fiéis, mesmo sem licençaexpressa da autoridade eclesiástica, contanto que seobserve a moral cristã em geral. (LINDMAYR, 2003, p.4).

1º Caso: Maria-Ana Lindmayr (1657-1726)

O primeiro caso que iremos apresentar é de Maria-AnaLindmayr, carmelita descalça do Convento da Trindade, emMunique (Alemanha). Ela, ao longo de suas experiências, foiescrevendo um diário, no qual relatava o seu contato com asalmas do purgatório. Segundo o que consta desse livro, elapossuía o dom da profecia.

Suas palavras:

Para fortificar a minha alma, aprendi por

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experiências que força há no Nome de Jesus. Deus sejalouvado por me ter assim fortificado e a tal pontoinstruído, fazendo-me muitíssimas vezes experimentarcomo é importante pronunciar o Santíssimo Nome deJesus com uma grande confiança. Por este NomeSantíssimo, eu mesma beneficiei de um auxílioespecial, na presença dos maus espíritos quetantas vezes me atacavam visivelmente, olhando-me como se fossem fazer-me em pedaços. Quandopronunciava o Santíssimo Nome de Jesus, eles punham-se logo em fuga. (LINDMAYR, 2003, p. 10-11). (grifonosso).

Observamos que a nobre freira era alvo de espíritosobsessores que lhe queriam mal; contudo, como era muitofervorosa, conseguia afastá-los apenas pronunciando o nomede Jesus. Isso prova que a fé é um elemento substancial paranos livrarmos das ações desses espíritos ignorantes que aindase comprazem na prática da maldade. Nada de novo emrelação ao que acontece por todos os lados, mas que,infelizmente, somente os Espíritas parecem ser os únicosacordados para tais ocorrências. Quantas pessoas não foramtomadas como loucas, quando, na verdade, apenas estavamsubjugadas por espíritos maus? Infelizmente, a ignorânciasobre esses fenômenos fazia com que se relacionassem taiscasos à perda de juízo da pessoa que sofria as suas nefastasinfluências.

Nas experiências, dizia Maria-Ana, que passavaperíodos de êxtase, dos quais havia três espécies. Conta-nos:

No princípio, quando ainda não tinha nenhumaexperiência destas três espécies de êxtases, preparava-me para a morte. No decurso destes êxtases, recebi agarantia (e a experiência ensinou-mo) de que oespírito ou a alma saía completamente do corpo eabandonava-o completamente. Este êxtase produziusempre, como consequência, uma tal força, que me éimpossível descrevê-la... mas o corpo é que ficava maisfortemente surpreendido, quando a alma volta a entrarnele. Muitas vezes, durante três dias, eu não podiaaquecer-me; os meus membros estavam tãoadormecidos, e inutilizados, como os de um corpo

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morto”. (LINDMAYR, 2003, p. 15). (grifo nosso).

Não é outra coisa senão aquilo que se denomina dedesdobramento, fenômeno pelo qual o espírito se afasta docorpo, mas ainda não completamente desligado dele, e entrana dimensão espiritual, onde passa a viver temporariamenteenquanto durar essa situação. Kardec o chamou deemancipação da alma. Nessa situação, pode o corpo ficartotalmente enrijecido, mantendo-se numa atividade mínimaque lhe permite conservar-se vivo. Durante o período dosono, é comum passarmos por isso; o grande problema étermos a consciência dele. Inclusive, diga-se de passagem,que Lindmayr os comparava a essa fala de Paulo: “Conheçoum homem em Cristo que, há catorze anos – ignoro se nocorpo ou fora dele, Deus o sabe -, foi arrebatado até oterceiro céu” (2Cor 12,2).

No caso desta freira, veja o que ela fez: “pedi aoSenhor que me fizesse perceber o desenrolar do êxtase,mantendo-me o pleno uso da minha razão,... Esta graça foi-me concedida...”. (LINDMAYR, 2003, p. 16). Tal fato, queacontece com muitas pessoas, é conhecido comodesdobramento consciente, pois a pessoa, sabe e retém namemória os fatos acontecidos na dimensão espiritual, duranteo período em que ela lá permaneceu.

E deste modo, já alguns anos antes que Deus Sedignasse conceder-me a graça de comunicar com asALMAS DO PURGATÓRIO, eu lhes fui dando testemunhoou prova da minha afeição por elas. Aprendi muitocom esta prática das virtudes, e precisamenteporque as próprias almas me avisavam eaconselhavam com todo o cuidado, não caíafacilmente numa falta. Mas, em tudo isso, eu nãopensava em nenhuma outra coisa e muito menos aindaeu poderia sonhar com libertar assim as ALMAS DOPURGATÓRIO. (LINDMAYR, 2003, p. 27). (grifo nosso).

Não muito diferente do que acontece nas casasespíritas, onde os médiuns, em contato com os espíritos,aprendem com eles, e a alguns deles, dependendo dacondição evolutiva em que se encontram, transmitem-lhes

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seus conselhos, exortando-os à prática das virtudes e dobem. Não raro podem, os medianeiros, pela dedicação e amoraos espíritos, libertá-los de suas prisões mentais,proporcionando-lhes a luz do entendimento, para quecontinuem a sua caminhada evolutiva em busca da LUZPLENA.

Observe, caro leitor, que Maria-Ana considerou umagraça a possibilidade de comunicar-se com os mortos;entretanto os que nunca passaram por uma experiência dessetipo, dizem coisas absurdas, até mesmo atribuindo-as comosendo demoníacas. A quem assiste a razão? Nem precisaresponder, tão óbvia é a resposta.

Contando como tudo começou, diz ela:

Há já alguns anos que eu recebo, da parte dasALMAS DO PURGATÓRIO, muitos avisos e isso dediversos modos, isto é, na medida em que eu mesmaprogrido na prática das virtudes. Sempre pedi a Deusque me libertasse de tais manifestações, comreceio de que o Maligno se intrometesse nelas eassim me enganasse. (LINDMAYR, 2003, p. 28). (grifonosso).

O sentimento da freira é o mesmo de tantos que sãomédiuns sem o saberem e que muito menos conhecimentopossuem do fenômeno, situação que os leva a sofrer asinfluências dos espíritos, muitas das vezes, maus; outras, dosviciados de ordem geral (sexo, bebida, prazeres, etc). Portemor, fruto do desconhecimento, pedem a Deus que lhesretirem tal “dom”, como se isso fosse possível. Quantos, noinício do afloramento de sua mediunidade, não foramconfundidos como tomados de possessão demoníaca...Infelizmente, a ignorância tem mantido a ideia de que não sepode utilizar-se de tais dons, o que impede de se levar ajudaa muitos espíritos, para que encontrem o seu caminho, de umlado, e, de outro, o restabelecimento emocional do própriomédium.

Seu primeiro contato:

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As minhas relações mais estreitas com as ALMAS DOPURGATÓRIO começaram pouco depois da morte demeu pai. Uma jovem, Maria Pecher, deu-me a entenderque tinha uma grande confiança em mim e desejavafalar-me. Mas como ela era doente, não podia vir aminha casa. Até então, eu não tinha ainda tido qualquerrelação amistosa com ela, mas soube que ela queria, jáantes, encontrar-se comigo, e que tinha então sidoimpedida de o fazer por sua mãe, com medo de que euviesse a meter a sua filha em beatices ou na vidareligiosa. Depois da morte de sua mãe, Maria Pechercontinuou a comportar-se de uma forma exemplar edigna de elogio, uma ótima jovem. Estava então noivade um jovem de nome Hufnagel.

Tive de escusar-me, alegando que não podia sair decasa, antes que as cerimônias religiosas pela alma demeu pai tivessem sido celebradas, mas prometi-lhe irnessa mesma semana. Ora, justamente na festa deSanta Catarina, virgem (25 de novembro), um sábado,fui ver essa jovem, na sua casa. Ela falou-me com todaa franqueza, pediu-me que rezasse por ela, para quepudesse morrer virgem. Passados dois dias, depois deter posto em ordem todos os seus assuntos e de terfeito tudo quanto era necessário a um feliz fim, morreu,no dia 28 de novembro de 1690. Fiquei espantada comesta rápida morte e o Maligno sujeitou-me a verdadeirasangústias, como se eu tivesse rezado realmente paraque ela morresse. Por isso, fiquei mesmo contente pelofato de ninguém ter sabido daquilo que nós tínhamosdito uma à outra. Eu não tinha a menor ideia de que elaviria a minha casa, depois de sua morte. Mas bemdepressa vários sinais me fizeram perceber a suapresença. Todavia, como não tinha experiênciaalguma de tais fenômenos, e muito menos os poderiaimaginar, pouco auxílio conseguiu obter de mim.

Alguns dias mais tarde, no dia 1º de dezembro, umasexta-feira, enquanto eu fazia as minhas orações danoite, diante do meu quadro da Santíssima Virgem, foi-me dito, em alta voz: “Reza por mim!”. Foi como setivesse ouvido um cântico fúnebre. Depois, arejou-me orosto com um vento frio e puxou-me pelo hábito.Seguidamente, quando andava de noite com umalanterna, via como que uma sombra, a caminhar diantede mim. Mas verdade é que, apesar de tudo isto, eu não

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pensava em coisa alguma de especial. (LINDMAYR,2003, p. 28-30). (grifo nosso).

Uma observação se faz necessária: é que o espírito semanifestou sem ter sido evocado, provando,peremptoriamente, que as manifestações só acontecemmesmo porque Deus as permite. A tão alegada proibiçãobíblica, tomada à conta de divina é, na realidade, fruto daobservação de Moisés, quando via, na prática danecromancia, que era a evocação dos mortos para fins deadivinhação, um completo desrespeito aos mortos. Istotambém é proibido no âmbito do Espiritismo, conforme nosorientou o codificador: “A verdade é que o Espiritismocondena tudo que motivou a interdição de Moisés”. (KARDEC,1995, p. 159). Reforça também a famosa frase de ChicoXavier: “o telefone toca de lá para cá”.

A primeira visita:

Por fim, no dia da festa da Imaculada Conceição (8de Dezembro de 1690), eis o que me aconteceu: tinhapor costume, em todas as festas da Santíssima Virgem,sempre que não estava doente, assistir à Missa das 4horas ou das 4,30, na nossa capela da SantíssimaVirgem. Inteiramente só, pelo caminho, munida de umapequena lanterna, ia apressadamente à Missa. No meioda rua chamada ”Allée des Carmes”, vi diante de mimuma pessoa vestida de branco. Tinha a estatura etalha de Maria Pecher. Eu não pensava em nada deespecial e seguramente por isso mesmo não senti pavoralgum. Esta forma branca vai à minha frente aolongo de toda a caminhada de que já falei, aolongo das ruas e até à igreja dos jesuítas. Mas aímesmo, quando quis ver exatamente o que era, nãopude descobrir ninguém.

Apenas o consegui depois, uma vez na capela,quando me veio à mente quem tinha caminhado diantede mim e tive então o conhecimento interior dissomesmo. Mais tarde, Maria fez-se uma vez maisreconhecer também de noite. E criei por ela uma ternaafeição e, na minha oração da noite, diante do quadroda Santíssima Virgem, perguntei com uma grandeconfiança, se era para glória de Deus e salvação desta

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alma que ela vinha e se dava a conhecer, a fim de quenão fosse enganada.

Ora, esta mesma noite, à meia-noite, uma almaapresentou-se. Era como se alguém me calcasse opé com um dedo ardente, como uma agulha nofogo. Era tão doloroso como se uma perna se metivesse partido. Levantei-me imediatamente e dirigi-mepara o meu altar. Ali, Deus levou-me, por três horas, aum estado tal, que não era senhora de mim, sem que,no entanto, tivesse perdido os sentidos. Tinhaverdadeiramente de acautelar-me. Foi-me claramentemostrado o que faltava a esta minha alma. Foi-memostrado também que tinha sido chamada no estado devirgindade e que o único motivo pelo qual o Senhor atinha levado para Si tão depressa, era o fato de sernoiva. Ora, ela devia morrer virgem. Jamais teria podidoimaginar que o Além se poderia mostrar tão severo.Não, ninguém seria capaz de o compreender. Mas eu fuiafinal instruída por esta alma e, deste modo, pudeseguidamente acreditar em coisas que, de outraforma, jamais teria acreditado. Eu não me tinhaenganado: a sua mãe, que veio no dia seguinte, deu-meuma sua confirmação tangível. Ela queimou-me aindamuito mais fortemente. Tive também de passar trêshoras em oração, junto dela, e notar o que lhe faltava.Foi-me então manifestado que a mamã Pecher haviatambém ela morrido tão depressa unicamente porquetudo tinha feito para impedir a sua filha de abraçar oestado religioso. Era também por este motivo que elatinha de sofrer muito no Purgatório. Esta alma indicou-me também muitas outras faltas que tinha cometido,comendo e bebendo boas coisas, sem que se tenhaquerido moderar. Porque não gostava de dar esmolas,durante a sua vida, ela disse-me que seu marido, aindavivo (morreu apenas em 15 de Junho de 1700), meenviaria um pouco de dinheiro, que eu deveria distribuirpelos pobres da região. E de fato, o dinheiro foi-meentregue. Esta alma custou-me muito. Tive também dejejuar por ela a pão e água. Quatro semanas maistarde, ainda eu via as marcas dessas queimaduras,porque a forma da mão e do dedo com que estaalma me tinha tocado o pé ainda continuavamvisíveis. Quanto mais consolação eu experimentava ousentia com estas aparições, tanto mais estas almas mecustavam. Logo que ofereci todas as satisfações ou

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reparações por elas, a mãe e a filha vieram uma vezmais ao meu quarto, no dia 13 de Dezembro de 1690,dia da festa de Santa Luzia, virgem e mártir. Ressoouum belíssimo canto, tirado do Salmo.

“Que alegria, quando me disseram: vamos para acasa do Senhor!”.

Isso encheu-me de uma alegria, que jamais sereicapaz de descrever. (LINDMAYR, 2003, p. 31-33). (grifonosso).

O importante aqui é registrar as queimadurasprovocadas no corpo da freira pelo contato desse espírito.Fatos como esse, mas em objetos, poderão ser vistos noMuseu do Santo Sufrágio em Roma, assunto que iremos falarmais à frente. Ao que tudo indica, estamos diante defenômenos de efeitos físicos, comuns outrora, mas hoje sãoraros, não sabemos por qual motivo. Digna, também, é ainformação de que o espírito lhe passou informações para queacreditasse no que lhe estava acontecendo.

Deus deu-me também muitas luzes a respeito dasalmas dos que viveram e morreram noluteranismo. Um grandíssimo número delas não sãoreprovadas e vão mesmo para a Bem-Aventurançaeterna, porque não tiveram suficiente compreensão doseu erro ou foram completamente inocentes.(LINDMAYR, 2003, p. 48). (grifo nosso).

Fantástica a confirmação de que Deus não faz mesmoacepção de pessoas. A freira católica comprova isso ao veralgumas almas, que “morreram no luteranismo”, indo para abem-aventurança eterna, dando a explicação: “porque nãotiveram suficiente compreensão do seu erro” (aqui reflete opensamento eclesiástico de que só quem está na IgrejaCatólica é que se salva) “ou foram completamente inocentes”(quer dizer sem pecado, ainda no conceito Católico).

As pobres almas mostraram-me que, no outromundo, tudo está calculado com uma exatidãoabsoluta e que, nesta vida, dificilmente se pode fazeruma ideia perfeita dessa duração... A permanência no

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Purgatório dura muitas vezes algumas centenas deanos. Tudo isso me fez ver como é grande a ofensa feitaa Deus pelo pecado e que tudo quanto não foiexpiado nesta vida o deve ser na outra. (LINDMAYR,2003, p. 51). (grifo nosso).

Embora agindo dentro dos padrões católicos, e nempoderíamos esperar algo diferente, é certo que “tudo quantonão foi expiado nesta vida o deve ser na outra”, confirmandoque não há “perdão”, puro e simples, mas pagamento,exatamente o que disse Jesus: “... a cada um segundo suasobras” (Mt 16,27) e “... dali não sairás, enquanto nãopagares o último centavo” (Mt 5,26).

As pobres Almas do Purgatório fizeram-me ver queno outro mundo tudo é tão exatamente contado eexaminado, que quase se não pode fazer uma ideiadisso mesmo, nesta vida, e que no Além tudoveremos de uma forma absolutamente diferentedaquela que poderemos imaginar neste mundo.(LINDMAYR, 2003, p. 54). (grifo nosso).

São quase que as mesmas palavras dos EspíritosSuperiores, prepostos de Jesus, que disseram que nossapercepção no plano espiritual realmente irá mudar. Nacondição de espíritos a nossa visão se amplia, de tal formaque perceberemos muitas coisas de um jeito bem mais clarodo que imaginávamos aqui, quando encarnados, eacontecerá, certamente, que muitas outras nem sonhávamosexistir.

Apareceram-lhe vários sacerdotes e bispos; sobre umdeles a freira disse:

A este respeito, foi-me dada uma bem maravilhosacomparação. Vi, ao lado deste sacerdote, uma lâmpada.Uma lâmpada ordinária. Estava toda suja, cheia degotas de sebo e não havia no interior mais que umpequeno coto de vela. E foi-me dito: “A lâmpada é aimagem da alma e do corpo. A alma deve dar o bomexemplo e iluminar, como uma luz. O corpo, em quehabita a alma, deve dirigir-se segundo a alma; é

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necessário que não seja uma lâmpada suja, a fim deque a luz ilumine a lâmpada e a lâmpada seja para a luzum ornamento. Eu devia interrogar-me se colocaríamosuma lâmpada assim tão suja, sobre a mesa, diante deum homem todo limpinho e respeitável. E foi-me dito:“Tal como se não metem belas velas de cera brancanuma lanterna ordinária e suja de cozinha, assim Deusjá não dá a Sua Graça a um homem que, colocandono candelabro, deveria iluminar, mas que já nãodá luz, já não dá bom exemplo. É antes umapequenina e má luz, pronta a apagar-se, aquilo queconvém a uma lanterna deste gênero. (LINDMAYR,2003, p. 67). (grifo nosso).

Jesus já alertara de que “a quem muito foi dado,muito será exigido” (Lc 12,48). Se os líderes meditassemmesmo na missão que lhes cabe em conduzir os fiéis àverdade, deixariam o egoísmo e o orgulho de lado,assumiriam de vez a sua condição de cristãos, informando-osdesses fatos. Aos infratores da Lei, não importa quem, seráexigida a prestação de contas; aos líderes que muito sabiam,mais ainda.

No dia 19 de Outubro de 1716, festa de São Pedrode Alcântara, indo à igreja, à noite, para rezar oÂngelus, vi uma figura a caminhar à minha frente.Era como que uma sombra de uma brancura de neve ede grande estatura. Recomendei a sua alma a meuBem-Amado. No dia 21 de Outubro, chegou-me anotícia da morte de meu antigo confessor, o PadreInácio Wagner, S.J., falecido no dia 15 de Outubro,em Regensbourg.

Este confessor tinha-me dito outrora, para que eupudesse dormir sem ser incomodada pelas ALMAS DOPURGATORIO e assim pudesse descansar melhor, que,das 8 horas da noite às 4 horas da manhã, nenhumaALMA DO PURGATÓRIO deveria apresentar-se em minhacasa. Quando eu perguntei a esta alma por que razãoela se não havia feito anunciar mais cedo, elarespondeu-me: “Minha querida filha, eu não pudemanifestar-me mais cedo porque Deus queria quea notícia da minha morte te não chegasse senãopelos homens. Como isso já aconteceu, eu posso já

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fazer-me reconhecer por ti e falar-te. Minha filha! Sóagora eu vejo o que significa estar no Purgatório.Anuncio-te que a minha proibição feita às ALMASDO PURGATÓRIO, de se apresentarem em tuacasa, de noite, não tem valor algum. Di-lo ao PadreProvincial e ao teu confessor. Minha querida filha,quanto eu gostaria de vir, mesmo durante a noite,se isso me não tivesse sido proibido, por causadessa minha proibição. Ah! Que nos seja, pois,consenti vir de novo a tua casa, porque o próprioDeus o permite e só a obediência aos homens aquiestá posta em causa. Eu não pensei que agi mal,fazendo-te uma tal proibição, e as almassofredoras mostraram-se obedientes.

Mas quanto as penas do Purgatório são pesadas, issosó o sabem aqueles que as experimentaram”.

E eu disse a esta alma: “Em que posso eu, pobrecomo sou, prestar-te algum auxílio?”

A alma disse-me: “Minha filha, como aconteceaí, convosco, na terra? Acaso não gostam aspessoas de estar com os seus amigos ebenfeitores? Pois dessa mesma forma eu gosto deestar contigo”. (LINDMAYR, 2003, p. 79-80). (grifonosso).

Aqui se confirma o que foi informado pelas almas dopurgatório, ou seja, que a visão da pessoa muda, quando elapassa para o mundo espiritual. O seu confessor, que antesproibia o contato com as almas, vem, do mundo espiritual,dizer que estava enganado. Vai mais longe ainda, quandodisse que essas coisas só acontecem “porque o próprio Deuso permite”, derrubando toda e qualquer citação bíblicacontrária; para nós de Moisés, para os fanáticos de Deus. E opróprio Moisés, depois de morto, também muda de opinião,pois aparece a Jesus e a três de seus discípulos (Lc 9,29-36).Assim, o padre confessor vem por os pingos nos “is”,colocando tudo no devido lugar. Se os fundamentalistastivessem a coragem de ler isso, será que mudariam deopinião? Como se diz popularmente: “sei não...”.

Na condição de espírito, reconheceu humildemente, opadre-confessor, que a proibição que fizera, de as almas não

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se apresentarem à freira, não tinha valor algum; obviamenteporque passou a ter conhecimento de que ele não tinha essepoder, que somente a Deus pertence. A explicação que eledeu para estar junto à freira (ao final do trecho acima) émuito interessante; merece reflexão profunda dos contráriosàs comunicações com os mortos: “... se nós gostamos deestar junto aos amigos, por que os mortos também nãogostariam?” Perguntamos, por nossa vez: seria uma coisa mádeixar que isso acontecesse? Se tivermos um Deus de amor,certamente, que deixará isso acontecer, pois tal atituderevelará o seu amor por nós. O nosso Deus é assim; e o seu,caro leitor, como é?...

Nenhum período da minha vida foi mais feliz emais cheio de graças do que o tempo que eupassei com e pelas ALMAS DO PURGATÓRIO.Aprendi também que, amando as ALMAS DOPURGATÓRIO, se dá a Deus o maior prazer, porqueestas Almas O têm muito a peito e O amam de verdade,mas são também as mais pobres e não podem jáconseguir em nada o mais pequeno alívio para elaspróprias. O próprio Deus as não pode já ajudar aelas, por mais forte que seja o Seu amor por elas,porque, pelas faltas cometidas durante a sua vida,elas caíram sob o golpe da Justiça Divina. Então,não é já o tempo da graça, mas o da estrita justiça.(LINDMAYR, 2003, p. 94). (grifo nosso).

Os que acreditam que se comunicar com os mortos é“algo abominável a Deus” ficarão sem saída para explicarcomo uma coisa dessa natureza venha fazer feliz uma pessoaque passou a vida se dedicando às coisas de Deus, como é ocaso dessa freira.

Se as que foram para o lado de lá não podem serajudadas por Deus, porquanto, caíram “sob o golpe da justiçaDivina”, por que então se crê no perdão puro e simples denossas faltas, que, de igual modo como as das nossas almas,são cometidas quando estamos vivos?

2º Caso: Irmã Maria da Cruz (?-1917)

No livreto Manuscrito do Purgatório, tradução de uma

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edição francesa, no qual não logramos identificar o autor,narra-se as mensagens feitas a uma religiosa da Ordem deSanto Agostinho, Irmã Maria da Cruz, durante os anos de1873 a 1890.

A alma que se apresenta a essa religiosa se identificadizendo: “Não tenhais medo! Eu sou a Irmã M.G.” (umareligiosa falecida em X, com 36 anos de idade, no dia 22 defevereiro de 1871, vítima da sua dedicação). (p. 7).

O Manuscrito do Purgatório contém o que foi escrito dodiálogo desta alma, durante o período citado. Destacamos osseguintes trechos:

É Verdade que não sois digna, mas Deus permitiuisto tudo... Ele é o Senhor e concede as Suas graças aquem lhe apraz. (Manuscrito, p. 15).

Eu compreendo bem o vosso embaraço. Eu sei o quetendes sofrido com isto, mas já que Deus o permite, e épara meu alívio, deveis ter piedade de mim, não é?(Manuscrito, p. 35-36).

Em quase todos os casos os espíritos que semanifestam fazem questão de informar, que tudo acontececom a permissão de Deus. Além disso, as manifestações são,invariavelmente, espontâneas, o que vem a confirmar essapermissão, pois não podemos supor que algo aconteça semque Deus o permita.

- Conhecei-vos uma às outras no purgatório?As almas se comunicam entre si quando Deus o

permite, porém, à maneira das almas, sem palavras...- Sim, é verdade que eu vos falo, mas sois um

espírito! Havíeis de me compreender se eu nãopronunciasse as palavras?

Para mim, pois que Deus o permitiu, eu voscompreendo sem que pronuncieis palavras com oslábios. Há, entretanto, comunicações de almas assimquando vos vem um bom pensamento pelo vosso Anjoda Guarda, ou por Deus mesmo. Eis a linguagem dasalmas. (Manuscrito, p. 46).

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Não diferente do que se sabe na Doutrina Espírita, ouseja, que a linguagem dos espíritos é o pensamento, não aspalavras articuladas. Que eles podem comunicar-se entre si,e conosco, os que ainda se encontram na carne, viainspiração de um bom pensamento.

É uma lembrança bem doce para as almas do outromundo, ver que os parentes e os amigos não asesqueceram na terra,... (Manuscrito, p. 50).

Exatamente como os Espíritos responderam a Kardec,que os espíritos são sensíveis à lembrança que deles guardamos que lhes foram caros na Terra, muito mais do quepodemos imaginar. Se são felizes, essa lembrança lhesaumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo.(KARDEC, 2006).

No mesmo instante em que vosso corpo se separarda alma, vossa consciência aparecer-vos-á como numespelho e vós mesmos podereis julgar o estado davossa alma, com o próprio olhar de Deus. Aparecerão asvossas ações, com todas as suas imperfeições. Osvossos pensamentos, embora escondidos, aos olhos detodos, serão tão claros diante de vós, como se os vísseisescritos. Os afetos, as palavras, as intenções surgirãocomo se fossem escritas numa página impressa comtipos claros e indeléveis. Tudo terá então, de seravaliado, examinado, na origem, no ato da realização eno fim. Coisa alguma, por pequena que seja, poderáfugir a esse exame perfeito, no qual vós mesmos estaisem causa e, nele, dar-vos-eis perfeitamente conta domal feito, do bem feito mal e do bem que deveríeis epoderíeis ter feito e que não fizestes, por má vontade,preguiça e indolência ou por terdes preferido a vossacomodidade à lei de Deus. (Manuscrito, p. 91-92).

Daquilo que nos informaram os espíritos, nada maisprecisaria acrescentarmos ao que está dito acima. Apenaspara ressaltar essa visão retrospectiva, vemos que as pessoasque passam pela EQM (Experiência quase morte), falam quepassaram por semelhante processo, confirmando, portanto,as informações do plano espiritual.

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3º Caso: Eugênia von der Leyen (1867-1929)

Informa-nos Arnold Guillet, editor do livroConversando com as Almas do Purgatório, que Eugênia erauma princesa da dinastia germânica dos “von der Leyen”, dolado materno, da estirpe dos Thyurn e Taxis, de cuja família opapa Pio XII foi amigo íntimo, e que, no período de 1921 a1929, teve contato com as almas do purgatório,apresentando o pároco Sebastião Wieser, seu diretorespiritual, que testemunha:

Conheci a vidente nos últimos doze anos de sua vidae todos os dias eu ficava ciente dos acontecimentosque se davam com ela e das aparições que lhesurgiam... A vidente levava uma vida santa; suacaridade não conhecia limites; era prestativa e sempresolícita em ajudar a quem quer que fosse. Era queridapor Deus e pelos homens. É verdade que levei aprincesa a anotar os fatos que com ela aconteciam;declaro, porém, sob palavra de honra, que nunca, emocasião alguma, lhe sugeri qualquer opinião minha.Responsabilizo-me, pela veracidade de seu diário,que é totalmente digno de fé... (VON DER LEYEN,1994, p. 7). (grifo nosso).

Aqui, temos um padre atestando, sem o mínimoconstrangimento, que os fatos são verdadeiros; isso éimportante, pois, muitas vezes, os que ficam preocupados emter as provas científicas dos fenômenos, se esquecem de queo testemunho de pessoas idôneas deve também ser levadoem conta. Nos outros casos que citamos, isso tambémacontece, ou seja, a própria liderança religiosa afirma daveracidade dos fenômenos.

A informação que o pároco nos dá de que Eugênia “eraquerida por Deus”, nos remete à questão sempre levantadapor alguns fundamentalistas, de que a comunicação com osmortos é coisa abominável a Deus. Se fosse, como umapessoa que estava em contato com as almas “do outromundo” poderia ser querida por Deus, conforme atesta o seupároco? Aliás, como em todos os casos aqui citados, asaparições desses espíritos sempre se iniciavam sem que

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nenhuma das pessoas envolvidas, por algum ato de vontadeprópria, as tivessem provocado, confirmando, portanto, queas coisas só acontecem com a permissão e por vontade deDeus. Por que, nesses casos, são almas do purgatório e asque aparecem aos espíritas são os demônios? Por qualprivilégio e desgraça isso se dá?

Eugênia von der Leyen teve de levar uma vidaopressiva entre dois mundos, tão pesada que lhecomprimia o coração. Unicamente o pequenopríncipe herdeiro Wolfram e os animaisdomésticos viram algumas de suas aparições, emais ninguém. E com ninguém podia conversar sobreesses assuntos, a não ser com seu diretor espiritual.Deve ter sido para essa mulher algo de obscuro econfuso: uma invasão do sobrenatural que só foipossível por especial permissão de Deus. Algo tãoespantoso, que não se compara com banalidades,... Ocontato com o Além é incomparavelmente maisprofundo, pois fica ligado, por assim dizer, a umacorrente de alta tensão, impossível de ser suportado,até fisicamente, por qualquer criatura. Só graçasespeciais de Deus podem sustentar uma talsobrecarga do Além, sem consequências letais para oente que a recebe. (VON DER LEYEN, 1994, p. 17).(grifo nosso).

Realmente para uma pessoa que não temconhecimento nenhum do plano espiritual a coisa pode secomplicar. Quantos não foram taxados de loucos por contadisso? Sabemos que os animais, algumas vezes, percebem osespíritos, fato confirmado aqui.

As pessoas que podem receber essa “sobrecarga doAlém”, nós as denominamos simplesmente de médiuns.

Dizem que em tempos passados reinava entre opovo uma forte crença em aparições de espíritos. Poisbem, tal crença, antigamente, era geral em toda parte eentre todos os povos. A parapsicologia temdemonstrado, por meio de provas, que tal crençatem razão de ser; baseia-se em fatos reais. (VON DERLEYEN, 1994, p. 19). (grifo nosso).

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Mas é exatamente isso que estamos falando o tempotodo. O que nos causa estranheza é que os contrários são,invariavelmente, os que não estudam e nem pesquisam nada;por isso, ficam presos aos dogmas teológicos de antanho, queforam impostos a ferro e fogo.

E para finalizar as colocações do editor Arnold Guillet,citaremos apenas mais duas coisas do que ele disse. Aprimeira diz respeito ao que apresenta como autenticidade daatuação divina desses casos:

Na sexta-feira santa de 1949, morria emGerlachscheim, Baden, após 68 anos de sofrimentosexpiatórios pelas Almas do Purgatório, com a idade de86 anos, Margarete Schäffner. Como escreve oprofessor Georg Seigmund, ela pedira “a Deus umsinal de que ela não era vítima de um engano, desua própria fantasia ou de um logro diabólico.Apareceram-lhe então, duas vezes, Almas doPurgatório, que deixaram gravada num pano amarca dos dedos da mão, que parece ter estadoem fogo, fornecendo, pois, um sinal visível que elahavia pedido. O Ordinariato de Freiburg exigiu erecebeu para exame aqueles panos...” (VON DERLEYEN, 1994, p. 29). (grifo nosso).

A segunda é como essas coisas são vistas pelo público,culpando os pregadores por não o esclarecer sobre isso:

Seremos tolos, se não nos convencermosdestas verdades. Se os nossos pregadores, em vezde se dedicarem tanto à psicologia e as obras sociais,dissessem aos homens as verdades sobre asAlmas do Purgatório e sobre as outras grandesrealidades da religião, em breve, as nossas igrejasvazias se encheriam de fiéis, ávidos de ouvirem emeditarem sobre essas verdades, ao invés de reduzidas,como se encontram hoje, a uma existência meramentemuseológica. ((VON DER LEYEN, 1994, p. 33). (grifonosso).

Agora, iremos transcrever um trecho da fala do Dr.Peter Gehring, prefaciador desse livro com o diário de

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Eugênia:

Sabe-se, no entanto, que os mortos continuam aviver no Além. A experiência dá testemunho de que osfalecidos continuam vivos. Nunca se ignorou que osseres humanos têm uma vida eterna e pode-se dizerque as relações com os mortos não se trata deuma crença, mas de um saber, de conhecimentosde todos os povos e de todas as comunidadestribais. (VON DER LEYEN, 1994, p. 40). (grifo nosso).

E ainda há os teimosos que querem negar tudo.Infelizmente, também encontramos os que sabem de tudo epreferem esconder do povo, cujos interesses própriossobressaem à mensagem de conforto e consolação quedeveriam proporcionar, pela função que exercem, junto aseus fiéis.

Cabe-nos aqui provar que o Dr. Peter Gehring estácoberto de razão, porquanto, a relação com os mortos é deconhecimento de todos os povos. Traremos uma informaçãoobtida de um documento escrito no ano de 1319 a.C., que atranscrevemos do artigo de Paulo Henrique, editor da revistaUniverso Espírita:

Há 4 mil anos, o sumo sacerdote de Amon, a maisimportante autoridade a serviço do faraó Mentuhotep IIdo Egito, estava preocupado com uma influênciaespiritual que o afligia. Mas ele estava determinado a,quando chegasse à noite em sua casa, resolver essaquestão. Para os egípcios, os mortos podiam interferirem suas vidas.

Depois de dar as ordens aos servos e cuidar de suahigiene, subiu ao terraço de sua luxuosa residência eestendeu suas mãos para o céu estrelado fazendo umaevocação, pedindo auxílio dos Espíritos protetores:“Invoco os deuses do céu, os deuses da Terra, os doSul, os do Norte, os do Ocidente, os do Oriente, osdeuses do outro mundo”; então fez a eles um pedido:“Fazei com que venha até mim o Espírito”.

O Espírito veio, e lhe disse: “Eu sou aquele que vempara dormir em seu túmulo”.

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O sumo sacerdote de Amon pediu que o Espírito seidentificasse para que pudesse oferecer um sacrifício nonome dele, trazendo-lhe, assim, a paz. O Espíritorespondeu: “Meu nome é Niutbusemekh, meu pai éAnkhmen e minha mãe é Taemchas”.

O sumo sacerdote então afirmou: “Diz-me o quedesejas e farei com que isso se cumpra para ti. Não sepreocupe, pois vou ajudá-lo. Meu coração ficará agitadocomo o Nilo... Não vou te abandonar, se fosse essaminha intenção não teria me ocupado com esteassunto”.

O Espírito respondeu firme: “Chega de palavras”.Khonsuemheb, o experiente e poderoso sacerdote,

com prestígio apenas superado pelo faraó, sentou-se achorar ao lado do Espírito, e disse-lhe: “Ficarei entãoaqui sem comer e sem beber, as trevas cairão sobremim cada dia, não sairei daqui”.

O Espírito conta então, sua história: “Quando euestava vivo sobre a terra, era o chefe do tesouro dofaraó e também oficial do exército. Quando morri, meusoberano mandou preparar minha tumba, os quatrovasos de embalsamento e o meu sarcófago dealabastro. Mas o tempo passou, o túmulo caiu, o ventoe a areia arruinaram tudo. Em outras épocas, por quatrovezes já me evocaram e prometeram uma novasepultura. Mas até agora nada. Como posso acreditarem novas promessas? Somente com conversas nãoatingirei meu objetivo”.

O sumo sacerdote mandou três homensatravessarem o rio Nilo até a região funerária de Tebas.Escolheram um bom lugar e, além de uma nova tumba,o sumo sacerdote mandou que dez servos sededicassem a fazer oferendas diárias de água e trigo aoespírito. Depois de todo esse trabalho, o sumosacerdote ficou cheio de alegria por ter atendido aosdesejos do Espírito.

Esse texto, em hieróglifo, foi encontrado em diversospedaços de louça, chamados óstracos (com formasemelhante à da ostra; usado no Egito antigo comosubstituto do papiro para se desenhar ou escreverrascunhos), que hoje estão espalhados em museus daEuropa. Eles foram traduzidos por diversos egiptólogos.É o mais antigo relato de um encontro entre um vivo e

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um morto. Apesar de conter dados e personagens reaisda história do Egito, os pesquisadores consideraram otexto apenas como uma lenda fantasiosa...(FIGUEIREDO, 2007, p. 32-33).

Podemos ler esse relato no livro Mitos e Lendas doAntigo Egito, Luís Manuel (p. 195-198). Aliás, é muitointeressante esse caso por ser muito antigo, o que retira delequalquer relação com alguma das religiões tradicionais, paratrazê-lo à conta de registro histórico, longe das arengasdogmáticas atuais.

Voltando ao caso de Eugênia. O seu diário tem muitascoisas interessantes, das quais apenas iremos destacaralgumas, para não tornar esse estudo muito extenso. A formapela qual ela colocou nele os seus contatos com as almas dopurgatório é do tipo de um histórico, relacionando cada umacom o respectivo registro do diálogo que teve com ela, emsuas várias aparições. As datas, que serão citadas nastranscrições, não obedecem a uma ordem cronológica geral,mas aos casos particulares; por isso, não serão importantes;podem ser desconsideradas; estaremos colocando-as paramanter fidelidade ao texto original.

3 de dezembro – Primeiro veio Henrique; emseguida, Catarina. Perguntei-lhe: - “Ainda não enxergasa alma que está contigo?” - “Não”. - “E por que não”. -“Não estou mais na fase dele”. (VON DER LEYEN, 1994,p. 85).

A expressão “não estou mais na fase dele” é singular,pois reflete exatamente o que vemos nas várias obrasespíritas, que nos dão conta de que os espíritos que estão emfaixas vibracionais diferentes podem não se ver uns aosoutros, especialmente, quando essa variação das vibraçõesdeles é muito significativa.

Como é fraco o meu amor para com esse pobrezinho.Sinto tanta repugnância diante dele. Eis que, noinstante em que quis ceder ao impulso de me retrair,Catarina apareceu à minha frente. Ela apontou para suaboca e que ainda há pouco se assemelhava ao corpo do

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“Miserável”. E ela mudara tanto! Estava linda, mas tãolinda! e sorria para mim. Alegrei-me com ela eperguntei-lhe: “Ainda ficas comigo?” - “Não”. - “E porque vieste agora?” - “Porque ficaste fraca”. - “Sim,sempre enfraqueço... Mas tenha dó! Olha para ele! Vêcomo está! Tenho que ter medo dele. Não o vês?” -“Não. Essa fase de minha existência passou.” Com issodesapareceu.

Que visão linda que ela oferece! Sou grata quandoas Almas do Purgatório me ajudam para mudarpara melhor. ((VON DER LEYEN, 1994, p. 93). (grifonosso).

Sim, podemos aprender e muito no relacionamentocom as almas do purgatório; porém, mais poderíamos com osespíritos superiores, já que a missão deles é exatamenteessa: de nos ajudar em nossa evolução. Lembramo-nos deuma passagem bíblica que diz: “Consulte as geraçõespassadas e observe a experiência de nossos antepassados...vão instruí-lo e falar a você com palavras tiradas daexperiência deles” (Jo 8,8-9). É fácil, agora, entender que as“gerações passadas” do texto são as almas (espíritos) denossos familiares e amigos.

26 de fevereiro – Ele entrou aos gritos. Perguntei-lhe: “O que queres? Estou pronta a ajudar-te?” - “Porque não me aceitastes?” - “Porque não quis. Procuraoutras pessoas que se interessam em ajudar as almas”.- “Só tenho permissão de me dirigir a ti.” - “Quemés?” - “Reinaldo”. “Por que não encontra paz?” -“Enganei gente”. - “Por que abriste a gaveta?” - “Porcausa do dinheiro”. - “Como posso ajudar-te?” - “Furtei.Manda rezar uma missa”. - E se foi. (VON DER LEYEN,1994, p. 108). (grifo nosso).

Mais uma alma diz sobre a questão de ser permitidovir se comunicar com os vivos. Colheremos o que houvermosplantado, essa é a Lei para todos; pena que ignoramos talcoisa e por isso cometemos muitos desatinos, os quais anossa consciência cobrará, mais hoje mais amanhã. No planoespiritual, com nossa visão mais ampliada, é comum jápercebermos o mal que praticamos e tomamos resolução de

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repará-los.

15 de março – Durante muito tempo, ela ficoucomigo. Não pertence essa alma àquela classe queamedronta; por ela sinto apenas comiseração. Deveter sido muito bela, só a boca está torta. Não falou, masde bom grado rezou comigo.

16 de março – Alguns religiosos passaram a noite nocastelo. Quando Hermengarda veio, disse-lhe: - “Vai aospadres que podem rezar por ti melhor do que eu”. -Estive com eles, mas não enxergam”. - “Então épreciso enxergar-te para te ajudar?” - “Ofereces algoaos pobres se eles não te estendem a mão?” - Passastea vida aqui?” - “Não. Mas aqui eu pequei”. Ela trazconsigo tamanha tristeza como jamais observei emoutras almas. (VON DER LEYEN, 1994, p. 110). (grifonosso).

Sabemos que, no plano espiritual, existem espíritos devariados níveis evolutivos, não faltando entre eles os que secomprazem em amedrontar as pessoas, enquanto outrosbuscam mesmo é prejudicá-las, normalmente, por motivo devingança.

Nem todos poderem ver os espíritos, é um fato; porisso, é que os “cegos” dizem não haver vida após a morte. Sómesmo a morte para provar-lhes isso, caso ainda nãopermaneçam com essa cegueira do lado de lá.

25 de maio – Houve uma barulheira horrorosa emmeu quarto, estrondo e gemidos, embora eu não vissenada. Perguntei: “Quem está aí?” - “Muitos”. - “ÉFridolino quem fala?” - “Sim, sou eu”. - “Por que nãote posso ver?” - “Porque estás doente.” - “As tuasfaculdades sofrem também.” - “Poderias ajudar-me?” - “Não!” - “Como percebes que estou enferma?” -“Tu não tens poder de nos atrair.” - “Mas então, por queainda estás aí?” - “O caminho que devemos tomarnos é prescrito”. O barulho continuou, mas não maisresponderam. Por muito tempo tive a sensação de nãoestar só; é bastante desagradável tal situação. (VONDER LEYEN, 1994, p. 122). (grifo nosso).

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Essa é uma realidade mesmo; quando os médiunsestão doentes a sua mediunidade fica prejudicada. E,novamente, é falado a respeito de que os espíritos nãopodem fazer o que querem, mas o que foi prescrito,mostrando que tudo está sob controle, no caso, certamente,de Deus. Tanto é que, questionada uma alma: “'Dize-me, épor vontade de Deus que tu vens a mim?' - 'É-nos permitidopor ele'”. (VON DER LEYEN, 1994, p. 123).

Acho, porém, que suas palavras se ligam com aquelasensação maravilhosa que agora está crescendo, poisquando a sinto, tenho a impressão de estar livre demim mesma e viver num mundo diferente.Observei que meu corpo perde a faculdade de selocomover quando me sobrevém aquele estado,pois ao sentir chegar essa sensação, quis trancar aporta, mas já não o conseguia; veio a luz e tudo ficouindiferente para mim, que queria apenas gozar aqueleinefável estado. (VON DER LEYEN, 1994, p. 132). (grifonosso).

Kardec abordou a questão do estado de emancipaçãoda alma; é o que aconteceu com Eugênia; aliás, o númerodos que conseguem fazer isso é enorme. Popularmente se diz“desdobramento”, “viagem astral”, “experiênciaextracorpórea”, etc., ou seja, tudo o que acontece no dia-a-dia das pessoas; não sendo nada diferente do que se explicana Doutrina Espírita. Para nós, fatos naturais; para outros,sobrenaturais; questão de ponto de vista, apenas. Mais àfrente, Eugênia diz: “Hoje, durante meia hora, estive fora demim. Não sei onde estive; tenho a certeza de que estive forade mim mesma”. (VON DER LEYEN, 1994, p. 136). É asegunda pessoa, relatada aqui neste estudo, que passa porisso.

24 de abril – Faz três noites que me visita todanoite um animal todo preto, intermediário entrebúfalo e carneiro. Fiquei muito assustada. Pulou nomeu leito. Para remediar minha covardia, recorri à águabatismal, e o quadrúpede me deixou em paz.

26 de abril – Ele veio de dia. Tem agora um rosto

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humano, mas todo preto, e provoca arrepios. Poderiaaté tratar-se do demônio. Mas não quero, de modoalgum, pensar em tal possibilidade. (VON DER LEYEN,1994, p. 140). (grifo nosso).

Para explicar esse tipo de aparição vamos recorrer aodicionário: Zoantropia – delírio no qual um indivíduo pensater sido transformado em animal. Assim, utilizando o mesmosentido do vernáculo, na linguagem espírita é o fenômenopelo qual os espíritos devotados ao mal se tornam visíveis aosencarnados sob formas animalescas, as quais demonstramsua degradação tanto moral quanto espiritual. Aparecem sobdiversas formas, até mesmo assumindo uma aparência“diabólica”; obviamente serão tal e qual se acredita nele: carade homem, chifres, rabo e pés de bode, com direito a tridentee tudo; é capaz de trazer uma fogueirinha portátil.

29 de setembro – Três vezes tenho visto a alma deuma velhinha diante do altar de Nossa Senhora. Não aconheço. O dominicano deteve-se comigo longamente.Indaguei: - “Como é que a gente pode salvar-se?Ensina-me, por favor”. - “Crendo firmemente e sendobem humilde”. - “Posso fazer alguma coisa para queas Almas do Purgatório não me procurem mais?” -“Não podes'”. - “Posso chamar uma alma se euquisesse saber alguma coisa por intermédio ou arespeito dela?” - “Não tens nenhum poder sobreela”. (32).______(32) Os espíritas afirmam que se pode forçar os espíritos aaparecer. Se nem essa santa princesa, que via as almas emformas diversas e convivia com elas, possuía o poder que osespíritas pretendem, como o conseguiriam eles só parasatisfazer sua curiosidade? Ou perguntemos maisrealisticamente: quem é que aparece nas sessões espíritas?

(VON DER LEYEN, 1994, p. 150). (grifo nosso).

Quem possui algum tipo de mediunidade, o tem porvontade divina; não há nada que o médium possa fazer paraalterar isso. Temos conhecimento de casos em que algunsmédiuns “perderam” a mediunidade pelo motivo de nãotrabalharem com ela. Nessa situação, acreditamos que a

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missão que ele tinha foi passada a uma outra pessoa, motivopelo qual será responsabilizado por isso, quando chegar omomento oportuno, segundo o estabelecido por Deus.

O que esse espírito disse sobre ninguém ter podersobre uma alma é absolutamente verdadeiro; nenhummédium pode garantir a presença de um espírito, seja ele láquem for, porquanto, tudo funciona de acordo com as regrasestabelecidas de lá para cá, ou seja, tudo ocorre pelointeresse do plano espiritual, obedecendo, obviamente, às leisdivinas para as manifestações espirituais. Mas isso nósestamos cansado de saber; inclusive, há uma frase de ChicoXavier, que vale a pena citá-la novamente: “o telefone tocade lá para cá”.

Em relação ao conteúdo da nota, constante do livro, oque se percebe claramente é que as pessoas sempre estão afalar daquilo que não conhecem. Nunca ouvimos, em nossomeio, alguém dizer que teria poder para fazer um espíritoaparecer; isso é puro desconhecimento de quem fala umabarbaridade dessa ou má-fé de algum sabichão.

Um espírito pode ser evocado sem problema algum,mas nada há que o faça aparecer se não houver a permissãode Deus, conforme fica bem claro no que estamos vendoaqui, que não é diferente do que sabemos pela DoutrinaEspírita. A prova de que a evocação funciona pode ser vistaem 1Sm 28,3-25, onde Saul vai à necromante de Endor paraque ela evocasse o espírito de Samuel, o que de fatoaconteceu. Tem-se muito dito a respeito dessa passagem,visando descaracterizá-la como uma verdadeira sessãoespírita, dizendo que quem apareceu foi o demônio ou umpseudo-Samuel, mas não é honroso torcer os textos bíblicos ànossa conveniência. Obviamente, que não aprovamos omotivo pelo qual ela foi realizada; entretanto, o queinteressa, aqui no caso, é que o espírito Samuel atendeu aevocação.

E nós não evocamos espíritos por curiosidade; issopode até acontecer por aí, mas não é o nosso caso, o queprova que o autor da nota não entende mesmo deEspiritismo; talvez seja um daqueles que ouviu o galo cantar

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e não sabe onde.

A sugestão sobre quem se manifesta nas sessõesespíritas é mais um erro lamentável, produto da ignorânciado assunto por parte de quem se propôs a falar sobre ele, deum lado, e uma forma de amedrontar os fiéis, de outro.Senão, como mantê-los encabrestados? Usam e abusamdesse recurso, enganando os seus adeptos com uma figuramitológica da cultura persa, que foi apropriada pelos teólogosdo passado, mais apegados a superstições, crendices e coisassobrenaturais.

4º Caso: Maria Faustina Kowalska (1905-1938)

Nasceu em 1905, em Glogowiec (atualmente distritode Wielkopolskie, Polônia), vindo a falecer em 1938, comfama de santidade.

Ingressa na vida religiosa em 1924, e dois anos depoistoma o hábito e muda de nome; toma o nome religioso deIrmã Maria Faustina. Foi canonizada em 30 de abril de 2000,pelo papa João Paulo II.

Num diário, dos últimos quatro anos de sua vida,registrado por expressa ordem de Nosso Senhor, ela colocasua alma para fora, demonstrando uma grande sensibilidadee sua constante busca ao aperfeiçoamento moral. Segundo oque consta nesse diário, ela teve contato constante com JesusCristo e algumas vezes com Maria de Nazaré. Encontramosalém disso casos de contatos com as almas dos mortos, queserão objeto de nossa atenção.

Vejamos o que encontramos no seu diário.

Vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanhá-lo.Imediatamente encontrei-me num lugar enevoado,cheio de fogo, e, dentro deste, uma multidão dealmas sofredoras. Essas almas rezavam com muitofervor, mas sem resultado para si mesmas; apenas nóspodemos ajudá-las. As chamas que as queimavam nãome tocavam. O meu Anjo da Guarda não se afastava demim nem por um momento. E perguntei a essasalmas qual era o seu maior sofrimento. Responderam-me, unânimes, que o maior sofrimento delas era a

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saudade de Deus. (…) (KOWALSKA, 1995, p. 24-25).(grifo nosso)

Através do fenômeno da emancipação da alma a IrmãMaria Faustina entra em contato com o seu Anjo da Guarda e,além disso, conversa com as almas sofredoras.

Fim do postulado. [29.04.1926] – As Superiorasenviaram-me à Cracóvia para o noviciado. Uma alegriainconcebível inundava a minha alma. Quando viemos aonoviciado, a Irmã...[Henryka Losinska1] estavamorrendo. Poucos dias depois, a Irmã...[HenrykaLosinska] veio ter comigo, encarregando-me de falarcom a Madre Mestra e de lhe dizer para pedir ao seuconfessor, padre Rospond, que celebrasse por ela umaSanta Missa e rezasse três jaculatórias. No primeiromomento, eu disse-lhe que sim, mas, no dia seguinte,achei melhor não ir falar com a Madre Mestra, pois nãoentendia bem se se tratava de sonho ou de coisa real. Enão fui. Na noite seguinte, a mesma coisa aconteceu demaneira mais clara; não tinha mais nenhuma dúvida.Contudo, de manhã, decidi que não contaria isso àMestra. Contaria apenas quando a visse durante o dia.Logo encontrei-me com ela no corredor; ela merepreendeu por não ter ido falar com a Mestra. Minhaalma encheu-se de grande inquietação e, por isso, fuiimediatamente falar com a Madre Mestra e contei-lhetudo o que tinha acontecido. (…) (KOWALSKA, 1995, p.25). (grifo nosso).

Fato comum em sua vida era a manifestação dealguma pessoa recém desencarnada, pedindo-lhe algo;geralmente, missas ou orações.

(…) De súbito, o meu espírito foi arrebatadocomo que para o outro mundo. Vi uma claridadeinacessível, e nela como que três fontes de luz, que nãopodia compreender. E dessa claridade saíam palavrascomo trovões que envolviam o Céu e a Terra. Nãocompreendendo nada daquilo, fiquei muito triste. (…)(KOWALSKA, 1995, p. 28). (grifo nosso).

1 Conforme consta das notas ao final da obra.

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Eis um registro do momento em que seu espírito sedesprendia do corpo. É, inclusive, algo que acontece a muitaspessoas, e a todos nós, quando do sono, situação em que onosso espírito facilmente se desliga do corpo físico e penetrana dimensão espiritual.

Contudo, a bondade de Jesus é infinita e Eleprometeu-me ajuda visível na Terra e recebi-[a] embreve em Vilna. Reconheci o Padre Sopocko essa ajudade Deus. Antes de chegar a Vilna, conheci-o poruma visão interior. Certo dia, vi-o na nossa capelaentre o altar e o confessionário. (…) (KOWALSKA, 1995,p. 35). (grifo nosso).

Pela narrativa, percebemos que a religiosa tambémtinha a clarividência, com a qual tinha a faculdade de verfatos acontecendo em outros locais, que não o que elafisicamente se encontrava. Embora, em alguns casos, possalevar alguém a acreditar que o objeto que ela vê esteja pertodela, caso não se atenha a distância na qual ele realmente seencontra.

Em determinado momento, à noite, veio ter comigouma das nossas Irmãs, que morreu há dois meses.Era uma Irmã do primeiro coro. Vi-a num estadoterrível. Toda em chamas, o rosto retorcido de dores.Isso durou um breve momento e logo desapareceu. Umtremor atravessou a minha alma, porque não sabiaonde sofria, se no Purgatório ou no Inferno; contudo,dobrei as minhas orações por ela. Na noite seguinteveio novamente, mas a vi em estado mais terrível, emchamas ainda mais intensas; no seu rosto estampava-seo desespero. Fiquei muito admirada porque, depois dasorações que por ela ofereci, vi-a em pior estado eperguntei: “Não lhe ajudaram as minhas orações?”Respondeu-me que nada lhe ajudaram as minhasorações e nada ajudariam. Perguntei: “As orações quetoda a Congregação lhe tinha oferecido, também essasnão lhe trouxeram nenhuma ajuda?” – Respondeu-meque nenhuma. “Essas orações beneficiaram outrasalmas”. Disse-lhe então: “Se as minhas orações nadaajudaram à Irmã, peço que não volte mais a mim”. Edesapareceu imediatamente. No entanto, não cessava

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de rezar. Depois de algum tempo, veio visitar-menovamente à noite, mas num estado diferente. Jánão estava em chamas, como antes, e o seu rostoestava radiante, os olhos brilhavam de alegria e disse-me que eu de fato possuía verdadeiro amor ao próximo,que muitas outras almas tiraram proveito das minhasorações e encorajava-me a não deixar [de rezar] pelasalmas que sofrem no Purgatório e disse-me que ela jánão ficaria por muito tempo no Purgatório. Naverdade, admiráveis são os desígnios de Deus!(KOWALSKA, 1995, p. 37-38). (grifo nosso).

Novamente temos uma prova de que pelo fato depertencer a determinada instituição religiosa não garante “océu” para ninguém. Seria bom que todos pudéssemos ouviressa “alma do purgatório” e mudar nosso comportamentodiante das leis de Deus, passando a praticar o amorincondicional a todas as criaturas.

Certo dia, vi interiormente o quanto terá quesofrer o meu confessor: - Os amigos te abandonarãoe todos se oporão a ti, as forças físicas diminuirão. Eu tevi como um cacho de uvas escolhidas pelo Senhor ejogado no lagar dos sofrimentos. A tua alma, Padre, emcertos momentos, estará cheia de dúvidas, no que serelaciona com essa obra e comigo. (…) (KOWALSKA,1995, p. 47-48). (grifo nosso).

Aqui temos uma outra faculdade que a irmã MariaFaustina possuía: conseguia “ver” o que ia acontecer comalgumas pessoas; tecnicamente, seria denominada deprecognição.

Em determinado momento, quando, depois do meio-dia fui ao jardim, o Anjo da Guarda me disse: “Rezepelos agonizantes”. Logo comecei a rezar o Terço pelosagonizantes junto com as jardineiras. Terminado oTerço, começamos a rezar diversas orações pelosagonizantes. No fim destas, as educandas começaram aconversar alegremente entre si. Apesar da algazarradelas, ouvi na alma estas palavras: “Reze por mim!”Como não podia compreender bem essas palavras,afastei-me alguns passos das educandas, refletindo

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sobre quem poderia ser a pessoa que me pedia querezasse. Então, ouvi estas palavras: “Sou a Irmã...”Essa Irmã estava em Varsóvia e eu, naquele momento,em Vilna. “Reze por mim até que te diga quando devesparar. Estou agonizando”. Imediatamente, comecei arezar por ela ao Coração agonizante de Jesus e, comoela não me dava descanso, rezei assim das três a cindohoras. Às cinco horas ouvi estas palavras: “Obrigada”.Compreendi que já havia morrido. Todavia, no diaseguinte, durante a santa Missa, rezei com fervor porsua alma. Depois do meio dia veio um bilheteavisando que a Irmã... havia morrido em tal e talhora. Compreendi que era a hora em que me tinhadito: “Reze por mim!”. (KOWALSKA, 1995, p. 114).(grifo nosso).

Várias vezes lhe aconteceu fatos como o aqui narrado;pessoas no derradeiro momento da morte aparecem aFaustina pedindo-lhe preces. Duas situações aqui podem,num caso desses, ocorrer: a primeira, é que a pessoaagonizante que ainda estava viva teria aparecido, aquiteríamos a manifestação de um espírito de um vivo; asegunda, que parece-nos ser a do caso citado, a ocorrênciase deu após a morte de quem pedia as preces - o queconfirmaria a possibilidade dos mortos se comunicarem comos vivos.

À noite, quando andava pelo jardim, rezando oRosário, tendo chegado ao cemitério, entreabri aporta e comecei a rezar por um momento e pergunteiinteriormente: “Certamente, vocês são muito felizes?”Então ouvi estas palavras: “Só somos felizes, namedida em que cumprimos a vontade de Deus” - edepois do que de novo se fez o silêncio. (….)

Nesse mesmo dia, quando à noite me fui deitar,veio visitar-me uma almazinha e, batendo noarmário, acordou-me, pedindo orações. Queriaperguntar quem era, contudo mortifiquei a minhacuriosidade e juntei essa pequena mortificação com aoração que ofereci a ela. (KOWALSKA, 1995, p. 165-166).

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Pode até ser que seja essa alma com a qual secomunicou no cemitério quem a visitou à noite, provocando,inicialmente, as pancadas no armário, que, segundo oconhecimento espírita, podemos seguramente classificá-lo deum fenômeno de efeito físico, o que, também, prova ser airmã uma médium de ectoplasmia.

Quando, no dia de Finados, fui ao cemitério aoanoitecer, ele já estava fechado, mas entreabri umpouco a porta e disse: “Se desejarem alguma coisa,almazinhas, de boa vontade as satisfarei, desde que aRegra o permita”. Então ouvi estas palavras: “Cumpraa vontade de Deus: nós somos felizes na medida emque a cumprimos”.

À noite, essas almas vieram e pediram asminhas orações e rezei muito por elas. Quando, aindaà noite, a procissão voltava do cemitério, vi umamultidão de almas que iam juntamente conoscopara a capela e estavam rezando junto conosco.Rezei muito, porque tinha a autorização das superioraspara isso.

Durante a noite, novamente veio visitar-meuma alma que já tinha visto uma vez. Essa alma nãome pediu orações, mas me fazia censuras dizendo queoutrora eu fora muito vaidosa e orgulhosa: “Agora estásassim intercedendo pelos outros, enquanto ainda tensalguns defeitos”. Respondi que eu era muito orgulhosa evaidosa, mas que me tinha confessado e feito penitênciapela minha tolice, confiando na bondade de meu Deus.Se agora caio algumas vezes, ainda que nas mínimascoisas é involuntariamente e nunca de propósito.Contudo, essa alma continuou a me censurar dizendo“Por que não queres reconhecer a minha grandeza –que todos me prestam pelos meus grandes feitos, porque apenas tu não me dás glória”. Então percebi quenessa figura estava o demônio e disse: “Apenas aDeus é devida a glória! Arreda, Satanás!”” E,imediatamente, essa alma caiu num abismo terrível,inconcebível, indescritível, e eu disse a essa miserávelalma que contaria isso a toda a Igreja. (KOWALSKA,1995, p. 166). (grifo nosso).

Ao que nos parece, a irmã Faustina gostava de

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conversar com as almas que permaneciam no cemitério esempre era correspondida. No caso em questão há umingrediente a mais, pois lhe apareceu uma que fazia censurasa ela, apontando-lhe seus defeitos. Certamente, essa situaçãonão é única, pois em reuniões sérias nas quais se estabeleceo contato com os espíritos visando instruí-los, é muito comumalguns deles jogarem na “cara” de quem procura esclarecê-losuas mazelas morais. Devemos entender por demônio osespíritos que ainda persistem em fazer o mal aos outros, nãose preocupando com o seu lado moral; não é, portanto, umapotência maligna, algo como o deus do mal, em “luta” com oDeus do bem, aquele criador do Universo.

À noite, quando eu estava escrevendo, ouvi na celaesta voz: “Não saia da Congregação, tenha compaixãode si mesma, veja que grandes sofrimentos aaguardam”. Quando olhei em direção da voz, nada vi econtinuei a escrever. Então ouvi um ruído e estaspalavras: “Quando sair, nós a destruiremos. Não nosatormente”. Quando olhei, vi muitos monstros feios,mas apenas fiz mentalmente o sinal da cruz, todossumiram imediatamente. Como é terrível feio odemônio: pobres as almas dos condenados, por teremque viver na companhia dele; só a visão dele é maisabominável do que todo o suplício do inferno.(KOWALSKA, 1995, p. 173). (grifo nosso)

Se em ocorrências como essa a irmã Faustina não viunenhuma alma, mas apenas ouviu, então, podemos classificá-la como portadora da mediunidade de vidência. Por outrolado, quando um espírito ameaça a alguém, podemos tercerteza que ainda lhe falta as qualidades morais, razão pelaqual, muitas vezes, é preciso, dentro de condiçõesapropriadas, esclarecê-lo, mostrando-lhe as consequências deseus próprios atos, pois a lei é inexorável: “a cada umsegundo suas obras”.

Em certa noite, veio visitar-me uma das Irmãsfalecidas, que já antes tinha vindo visitar-mevárias vezes. Da primeira vez, eu a vi em estado muitosofredor e depois, gradualmente eram menores ossofrimentos. Essa noite, eu a vi radiante de felicidade;

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disse-me que já está no Céu, que Deus mandou essaaflição sobre essa casa, porque a Madre Geral deixou-sedominar por dúvidas, não acreditando no que eu tinhadito sobre essa alma. Mas agora, como sinal de queestava finalmente no Céu, Deus abençoará essa casa.Em seguida, aproximou-se de mim, abraçou-mecordialmente e disse: “Já tenho que ir”. Compreendicomo há uma estreita ligação entre essas trêsetapas da vida das almas, isto é: Terra, Purgatórioe Céu. (KOWALSKA, 1995, p. 186-187). (grifo nosso).

Era normal, e considerado por ela como coisa natural,o contato com os mortos; sempre as irmãs falecidas viamvisitar-lhe. Tantas vezes isso lhe acontecia que levou a IrmãFaustina a perceber e acreditar que há uma “estreita ligaçãoentre as três etapas da vida das almas”, coisa que noEspiritismo temos como absoluta certeza.

Em determinada ocasião, quando uma das nossasIrmãs ficou mortalmente doente, e se reuniu toda aCongregação e estava presente também o sacerdote,que deu a absolvição à doente, vi um grande númerode espíritos das trevas. (…) (KOWALSKA, 1995, p.188). (grifo nosso).

Obviamente que no plano espiritual não existesomente espíritos bons, além desses existem, infelizmente,os maus, fora a multidão daqueles que estão completamenteperdidos diante de sua nova realidade. O que existe naqueleplano é nada mais do que os que viveram aqui na terra,levando, para lá, todos os seus sentimentos e moralidade.Entretanto, faz parte do processo evolutivo, ao qual todos osespíritos estão sujeitos; um dia todos terão atingindo amesma meta, que é “ser perfeito como é perfeito o PaiCelestial”.

Em determinado momento, conheci o estado deduas religiosas que murmuravam interiormente contrauma ordem dada pela Superiora. Em consequênciadisso, Deus lhes reteve muitas graças especiais. (…)(KOWALSKA, 1995, p. 209). (grifo nosso).

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Como se nota, percebia também o que ia no íntimodas pessoas, demonstrando, uma sensibilidade à toda prova.Tal faculdade pode ser constatada em muitos outros médiuns,embora, seja quase que uma raridade os que podem “sondar”profundamente o que vai no íntimo dos que se aproximamdele.

11 de outubro. Esta noite, quando eu estavaescrevendo sobre a grande misericórdia de Deus e doseu grande proveito para as almas, o demônioirrompeu na minha cela com grande raiva e fúria,pegou o biombo e começou a quebrá-lo e esmagá-lo. De início, assustei-me um pouco, mas logo fiz com ocrucifixo o sinal da Cruz, e imediatamente ele seacalmou e desapareceu. Hoje, não vi essa monstruosafigura, mas apenas a sua ira. É terrível a ira dodemônio: no entanto, esse biombo não estavaestragado nem quebrado. (…) (KOWALSKA, 1995, p.214). (grifo nosso).

Como já tínhamos percebido, a irmã Faustina era umamédium de efeitos físicos, cuja energia, o ectoplasma, éutilizada pelos espíritos para provocar certos tipos defenômenos. Essa ocorrência da quebra do biombo,certamente, podemos classificar entre eles.

À noite, fui subitamente acordada e percebi queuma alma estava pedindo as minhas orações e que seencontrava [em] grande necessidade de oração. Por uminstante, mas de toda a alma, pedi ao Senhor graçapara ela.

No dia seguinte, já depois do meio-dia, quandoentrei na sala vi uma pessoa agonizante e soubeque a agonia tinha começado de noite. Comoverifiquei, foi na hora em que me pediram orações. (…)(KOWALSKA, 1995, p. 233-234). (grifo nosso).

Hoje à noite, conheci que certa alma necessita daminha oração. Rezei com fervor, mas sentia que aindanão era suficiente, e continuei a rezar por mais tempo.No dia seguinte soube que, justamente nessahora, tinha começado a agonia de certa alma, etinha durado até a manhã. Conheci as lutas difíceis

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pelas quais estava passando. Nosso Senhor me dá aconhecer de maneira especial, quando uma almaagonizante necessita de minha oração. Sinto esteespírito, que me pede oração, de uma forma viva eclara. Não sabia que existe tal união com as almas, e omeu Anjo da Guarda fala-me disso frequentemente.(KOWALSKA, 1995, p. 237). (grifo nosso).

(…) Hoje, às onze horas da noite, fui, derepente, despertada e senti claramente que estavajunto de mim um espírito me pedindo oração; háuma espécie de força que me obriga a rezar. A minhavisão é puramente espiritual, através de uma repentinaluz, que Deus me concede nesse momento. Rezo até mesentir tranquila na alma, e nem sempre levo o mesmotempo. (…) (KOWALSKA, 1995, p. 238-239). (grifonosso).

Mais três casos em que percebe uma pessoa emagonia, pedindo-lhe orações e depois comprova a sua morte.O que aqui aparece de novo é que o Anjo da Guarda da irmãFaustina sempre lhe falava sobre a “união com as almas”;certamente como algo natural e permitido por Deus.

Oh! como é belo o mundo do espírito! E tão real queem comparação com ele, a vida exterior não passa depura ilusão e fragilidade. (KOWALSKA, 1995, p. 251).

Sim, a nossa pátria espiritual deve ser mesmo muitomelhor do que a em que vivemos, já que “vida exterior”, ouseja, a vida na carne, “não passa de pura ilusão efragilidade”. Exatamente, como se diz no Espiritismo.

Hoje soube da morte de uma de nossas Irmãs, quefaleceu em Plock, mas veio visitar-me antes de mecontarem de sua morte. (KOWALSKA, 1995, p. 272).(grifo nosso).

09.07.1937. Esta noite, veio visitar-me uma dasIrmãs falecidas e pediu-me um dia de jejum e quenesse dia eu oferecesse todos os meus exercícios porela; concordei. (KOWALSKA, 1995, p. 310). (grifonosso).

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Quando faleceu, por volta de uma hora da noite, aIrmã Dominika, veio ter comigo e deu-me aconhecer que havia falecido. Rezei ardentemente porela. De manhã, as Irmãs me disseram que ela já estavamorta. Respondi que sabia, porque tinha vindo falarcomigo. (...0 (KOWALSKA, 1995, p. 355). (grifo nosso).

Registro de mais casos de contato com irmãs falecidas.

De repente, a presença de Deus me inundou e me viem Roma, na capela do Santo Padre, embora, aomesmo tempo, eu me encontrasse na nossacapela. (…) (KOWALSKA, 1995, p. 286). (grifo nosso).

Fenômeno conhecido como bilocação oubicorporeidade, onde o corpo físico está num determinadolugar e a alma, após se emancipar dele, está em outro, e,nessa condição, consegue “ver” o que acontece ali. Nessescasos, inclusive, o espírito do vivo pode ser visto pelas outraspessoas, como aconteceu com Santo Afonso de Liguori eAntônio de Pádua.

O espírito mau não podia suportar isso. [Apareceu-me em forma de fantasma e esse] fantasma me disse:“Não rezes pelos pecadores, mas por ti mesma, porqueserás condenada”. Não dando a mínima atenção aodemônio, rezei com fervor redobrado pelos pecadores.O espírito mau uivou de raiva: “Oh! Se eu tivessepoder sobre ti!” - e desapareceu. Conheci que o meusofrimento e a minha oração tolhiam o demônio earrancaram muitas almas das suas garras. (KOWALSKA,1995, p. 371-372). (grifo nosso).

17.01.1938. Hoje, desde manhã, a minha alma seencontra no calabouço. (…) Apoderou-se de mim umdesânimo por tudo. Então ouço a voz do demônio:“Olha como é contraditório tudo o que Jesus te dá:manda que fundes um Convento, e te dá a doença;manda que te esforces para conseguir essa Festa daMisericórdia, e o mundo nem quer saber dessa festa.Essa festa é tão inoportuna”. A minha alma se mantinhacalada e rezava por um ato de vontade, não travandodiálogo com o espírito das trevas. (…)

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Já eram onze horas da noite, todas as Irmãsdormiam nas celas, apenas a minha alma estavalutando, e com um grande esforço. O tentadorcontinua a falar-me: “Por que te importas com asoutras almas? Tu deverias rezar apenas para ti mesma.Os pecadores, eles se converterão sem as tuas preces.Estou vendo que estás sofrendo muito neste momento;por isso vou te dar um conselho, do qual vai depender atua felicidade: nunca fales da misericórdia de Deus e,especialmente não encorajes os pecadores à confiançana misericórdia de Deus, porque eles merecem o justocastigo. Outra coisa muito importante é que não falesdo que ocorre em tua alma aos confessores,especialmente a esse Frade extraordinário e a essePadre em Vilna. Eu os conheço e sei quem são eles, e,por isso, quero prevenir-te contra eles. Olha que, paraser uma boa religiosa, basta viver como todas; por quete expões a tantas dificuldades?”

Guardando o silêncio por um decidido ato de vontadeconsegui perseverar em Deus, embora um gemido selevantasse do coração. Finalmente afastou-se otentador e eu, cansada, adormeci imediatamente. (…)(KOWALSKA, 1995, p. 385-386). (grifo nosso).

Enquanto estou escrevendo estas coisas, ouço oranger de dentes do demônio, que não pode suportara misericórdia de Deus e arremessa objetos naminha cela. (…) (KOWALSKA, 1995, p. 402). (grifonosso).

A ação dos espíritos malignos sobre a pobre da irmãFaustina era constante, ela os venceu pela oração e, commuito maior razão, pelas condições morais de sua almadevotada a Deus, consubstanciada na prática do amor aopróximo.

Quando entrei por um momento no dormitóriovizinho para visitar as Irmãs doentes, uma delas disse:“Quando a Irmã morrer, não terei medo da Irmã.Venha falar comigo depois da morte, porque tenhoum segredo da alma a confiar-lhe, para que a Irmã meresolva isso com Nosso Senhor. Eu sei que a Irmã podeconseguir isso para mim junto de Nosso Senhor”. (…)(KOWALSKA, 1995, p. 410). (grifo nosso).

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Esse pedido, de uma das irmãs doentes, é inusitado;porém prova que, entre elas, o contato com os mortos nãoera visto como coisa proibida e, muito menos, como ação dodemônio.

Ó meu Senhor, agradeço-Vos por me assemelhardesa Vós pelo aniquilamento. Vejo que está começandoa se despedaçar o meu invólucro terrestre. Alegro-me com isso, porque em breve estarei na casa de meuPai. (KOWALSKA, 1995, p. 410). (grifo nosso).

Certamente que diante de tanto contato com osmortos ela passou a ter certeza absoluta que a vida continua,razão pela qual não tinha o menor medo de morrer; aocontrário, desejava despojar-se das vestes que lhe prendia aoplano terrestre.

O que vemos de mais importante nos relatos da IrmãMaria Faustina é que devem ser tomados à conta deverdadeiros, uma vez que a Igreja a canonizou (30.04.2000),e que, por isso, passou à condição de Santa.

5º Caso: Maria Ágata Simma (1915-2004)

O nosso quinto caso é de Maria Simma (1915-2004),nasceu em Sonntag (Vorarlberg), na Áustria. A partir de 1940as almas vieram, algumas vezes, pedir-lhe orações. Asinformações sobre ela foram dadas pelo Pe. Alfonso Matt,pároco da cidade.

As almas do purgatório se mostram de várias formase modos. Algumas batem à porta, outras surgem desúbito. Umas se manifestam em aparência humana,claramente visíveis como em sua vida mortal,vestidas comumente, outras se apresentam de modoevanescente. (ALBANO, 2004, p. 9). (grifo nosso).

Novamente temos a prova de que não há evocaçãodessas almas, sinal que elas vêm de livre vontade,certamente com permissão para fazerem isso. É um pontoimportante nesses fenômenos, razão pela qual estamosrepetindo-o.

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Aqui também se nota que a forma, em que seapresentam, é a que tinham em vida mortal, exatamenteconforme diz a Doutrina Espírita. Inclusive, aparecemvestidas; isso é bom, pois alguém poderia, por gozação, dizerque são “almas peladas”, ao invés de “almas penadas”.

Interessante esta frase no livro: “Sem dúvida, éagradável a Deus que os parentes se preocupem com seusmortos” (p. 14), à qual poderíamos acrescentar: “por isso, é,também, agradável a Deus que nos comuniquemos com eles.

“O purgatório encontra-se em vários lugares”,respondeu um dia Maria Simma. “As almas nunca estão'fora' do purgatório, e sim ‘com’ o purgatório”. Ela viu opurgatório de várias maneiras. Há ali uma multidão dealmas; é um contínuo vaivém. Viu, certo dia, umnúmero de almas na totalidade desconhecidas para ela.As que pecaram contra a fé tinham sobre o coração umachama escura; as que pecaram contra a pureza, umachama vermelha. Depois viu as almas em grupos:padres, religiosos, religiosas; viu católicos, protestantes,pagãos. Os católicos sofriam mais que os protestantes.Os pagãos, ao contrário, têm um purgatório mais suave,e como recebem menos socorros sua pena dura mais.Os católicos, favorecidos com socorros, são libertadosmais rapidamente. Viu também muitos religiosos ereligiosas, que ali estavam por causa de sua tibieza nafé e sua falta de caridade. Crianças de apenas seisanos podem ser levadas a sofrer por longo tempono purgatório.

Foi revelado a Maria Simma a maravilhosa harmoniaque existe entre o amor e a justiça divinos. Cada almaé punida de acordo com a natureza de suas culpase o grau de apego ao pecado cometido

A intensidade dos sofrimentos não é a mesmapara todas. Algumas têm que sofrer como se sofre naterra quando se vive uma vida dura, e devem esperarpara contemplar Deus. Um dia de purgatório rigoroso émais terrível que dez anos de purgatório leve. A duraçãodas penas varia muito. O padre de Colônia ficou nopurgatório desde 555 até a festa da Ascensão de 1954 ese não fosse liberto pelos sofrimentos aceitos por MariaSimma, continuaria ali por longo tempo.

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Há também almas que têm de padecer terrivelmenteaté o Juízo final. Outras têm apenas meia hora desofrimento, ou até menos: apenas “atravessam opurgatório”, por assim dizer.

O demônio pode torturar as almas dopurgatório, sobretudo as que foram causa de perdiçãoeterna de outras.

As almas do purgatório sofrem com paciênciaadmirável e louvam a misericórdia divina, graças à qualescaparam ao inferno. Sabem que merecem sofrer edeplorar suas culpas. Suplicam a Maria, Mãe damisericórdia. (ALBANO, 2004, p. 19-20). (grifo nosso).

Certamente, descontando-se o excesso, em virtude desua crença religiosa, muitas coisas são bem semelhantes aoque sabemos em relação aos espíritos desencarnados. A leide afinidade, por exemplo, faz com que sejam agrupadosnuma mesma faixa vibracional os espíritos que possuem osmesmos sentimentos e gostos, fazendo com que, nadimensão espiritual contígua à Terra, haja várias faixas,compatíveis ao nível evolutivo e vibracional dos milhares deespíritos que lá estão aguardando a sua vez de reencarnar,porquanto, ainda não têm evolução para ir para outrosmundos mais evoluídos que a Terra.

Se cada alma é punida de acordo com o que ela fez, ese a intensidade do sofrimento não é igual para todos,estamos, inevitavelmente, diante do “... a cada um segundoa suas obras” (Mt 16,27), conforme dissera Jesus. Eprevalecendo isso, no que de fato acreditamos, então ascrianças de apenas seis anos que “podem ser levadas a sofrerpor longo tempo no purgatório”, terão que, necessariamente,ter pecado em outra vida, uma vez que, nem nós, os homens,por justiça, punimos com tanto rigor crianças de tão tenraidade.

Nessa dimensão há espíritos ainda tão trevosos, que énatural confundi-los com os demônios, especialmente paraquem acredita neles.

E conforme já vimos em caso anterior, nessa dimensãohá padres, religiosos e religiosas, deixando-nos tranquilos

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quanto à questão da justiça divina atingir a todosindistintamente. Mas ainda prevalece o alerta de Jesus de que“a quem muito foi dado muito será pedido; a quem muito foiconfiado, muito será exigido” (Lc 12,48); é o que podemosver, quando se fala que os pagãos sofrem menos; claro que épor saberem menos; não é mesmo?

Muitas vezes me perguntei como poderia mandaruma alma do purgatório a uma pessoa. Pensava: “Porque elas não se dirigem diretamente a seus parentes?Seria muito mais simples para mim do que ter eu defazer isto”. Então veio uma alma que me fez estacorreção severa:

“Não peque contra as decisões divinas!Deus distribui as graças a quem quer. Você nãoteria nunca o poder de enviar uma alma a outrapessoa. Não é por seus méritos que Deus lheconcede estas graças. Considerando os méritos,muitos outros poderiam ser preferidos a você. Éverdade que, desde pequena, tem ajudado muitoas almas; mas também isto é graça. Essa graça,em outra pessoa, renderia muito mais do que emvocê. Junto aos santos que operam grandesmilagres na terra estavam santos ainda maioresque não tiveram tal poder, e, no entanto,alcançaram santidade maior do que a daquelesaos quais Deus concedeu o poder dos milagres.Não se pode esquecer: EXIGE-SE MAIS DE QUEMRECEBE MAIS GRAÇAS. Deus quer que lhepeçamos as graças; uma prece perseveranteultrapassa as nuvens; ela é sempre atendida damelhor maneira em favor de quem a faz”.

(ALBANO, 2004, p. 26). (grifo nosso).

Traduzindo para uma linguagem espírita, diríamos quecada pessoa, portadora de mediunidade, vem com ela parauma determinada missão. Por ser missão atribuída pelosespíritos superiores, visando o progresso daquele indivíduo,nenhum médium tem o poder de passá-la a uma outrapessoa. Daí, a coisa fica cada vez mais clara: tudo acontececom a permissão de Deus. Nesse caso, por que Deus dotaria

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uma pessoa da faculdade de comunicar-se com os espíritospara, imediatamente, proibi-la de fazer isso? Para nós, issonão tem sentido algum.

Esse caso de Maria Simma tem uma particularidadeinteressante; é que ela fez várias considerações pessoaissobre o seu contato com as almas do purgatório, que tevelugar na segunda parte do livro. Vejamos alguns tópicos:

Por que Deus o permite?

Muitos se perguntam: “É possível que Deus permitaaos mortos aparecerem aos vivos?”

Admitindo que tudo seja possível à sua bondade, porque Deus permite coisas tão extraordinárias?Certamente não é para satisfazer nossa curiosidade: se,pela misericórdia de Deus, acontecem fatosextraordinários, é porque fazem parte do planodivino da salvação. Este é o ponto de vista quedevemos ter para um juízo e para proveito espiritual.Estes fatos são de grande consolação para os falecidos,porque permite que sejam libertados dos sofrimentos, eincitam os vivos a rezarem mais pelas almas dopurgatório e a se desapegarem do que é terreno.

O maior perigo hoje é que nas coisas materiais tudovai muito bem. Devemos estar alerta e preocupar-nosmais com a vida eterna, que dura para sempre. Nãoapeguemos nossos corações ao que é temporal: de tudoo que passa, nada levaremos. Propriedades, negócios,belas casas, tudo isso passa e mais rápido do queimaginamos. Só levaremos as boas obras. É evidenteque precisamos dos bens terrenos para viver, mas aquestão é não apegar a eles o coração: eis o problema.Tal é o sentido e o escopo das aparições das almas dopurgatório, como de todas as demais revelaçõesparticulares. E o único motivo pelo qual Deuspermite esses contatos sobrenaturais. Que o bomDeus misericordioso se digne dar-nos sua bênção e asua graça, para podermos tirar proveito.

A alma a quem Deus quer conceder uma graçaparticular tem tal graça desde o nascimento, mas não éraro que seja concedida mais tarde. Os caminhos doSenhor são admiráveis, insondáveis. Um pecador podetornar-se um grande santo, como o prova Santo

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Agostinho. Saulo, se tornou São Paulo de repente.

Prudência no que concerne às revelaçõesparticulares

Seguido (sic) as pessoas se admiram da grandereserva da Igreja Católica em relação às revelaçõesparticulares. Ela tem seus motivos, como guardiã que éda verdade: é melhor não reconhecer comoautênticos dez casos verdadeiros que reconhecerum só não verdadeiro. Mas, quando os fatos estão depleno acordo com os ensinamentos de Cristo, a Igrejanão pode rejeitá-los, mesmo no caso de não terem sidoainda objeto de um exame teológico mais profundo.

O bispo D. Bruno Wechner convocou-me para medizer: “Duvido que seja da vontade de Deus que vocêpergunte às almas do purgatório a respeito de outrosmortos”.

Eu lhe respondi: “Perguntei a uma alma: ‘Comopodes dar-me conselhos a respeito das almas sobre asquais vos faço perguntas?’ E recebi a seguinte resposta:“Por meio de Maria, Mãe da misericórdia, nóssabemos”.”

O bispo então ponderou que a gente não deveimiscuir-se nestes fatos, já que entre céu e terrahá coisas que ainda não foram entendidas doponto de vista teológico, e que, contudo, existem.Declarou, por fim, que eu não devia esperar verreconhecido o caso, como verdadeiro; que a Igreja nãopoderia jamais fazê-lo enquanto eu vivesse, e que aIgreja era muito severa (devemos reconhecê-lo), porque mesmo uma pessoa favorecida por graçasextraordinárias pode ser infiel à graça, e que nada estáfora do alcance do inimigo. Por isso, tal alma devia terum bom guia espiritual como proteção contra osenganos do demônio.

É necessário conhecer estes fatos? ou é melhorcalar?

“Por que as almas do purgatório vêm até você?”

Eis uma pergunta que me fazem seguidamente. Comcerteza não é por causa da minha devoção: há pessoasmais devotas que eu. Contudo, as almas não se dirigema elas. Os fenômenos sobrenaturais não são“termômetros de santidade”: a pedra de

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comparação da perfeição é a caridadedesinteressada - sofrer pelos outros por amor,imitando Cristo. Não podemos levar uma vida terrenasem cruzes e sofrimentos. Uma alma do purgatório medisse um dia:

“O que tem maior eficácia é o sofrimento, quandosuportado com paciência e colocado como oferta nasmãos da Mãe de Deus, a fim de que dele se sirva emfavor de quem o desejar, onde será melhor e maisnecessariamente utilizado”.

Custa menos, evidentemente, exortar uma pessoaque sofre a suportar a sua dor com paciência, do quenós mesmos sofrermos com coragem. Sei o quesignifica sofrer, mas justo porque o sofrimento é penosoque tem tanto valor.

Não saberia dizer exatamente por que as almasdo purgatório vêm a mim. Certamente podem dirigir-se a outras pessoas. Em Voralberg conheci duas, jáfalecidas, com as quais elas se comunicavam.Atualmente, com certeza, há ainda muitas outrasàs quais as almas vêm pedir ajuda, mas sãomenos conhecidas. A missão delas é diversa daminha.

Seria bem mais fácil, eu sei, manter estas coisasencobertas ao público, porque isso traz incompreensõese desprezo, muitas vezes por parte até do clero. Muitospadres se consideram tão sábios que pretendementender de tudo. Mas os caminhos de Deus sãoinsondáveis: requer-se grande humildade, e isto faltamuito em nossos dias. (ALBANO, 2004, p. 27-30). (grifonosso).

Realmente Simma está coberta de razão; a permissãode Deus é dada para proveito nosso e dos espíritos. Provandoque a vida continua após a morte, concentraremos maisnossos objetivos às coisas “aonde não chega ladrão e a traçanão rói” (Lc 12,33). Tudo quanto ela falou para justificar oporquê Deus permite, se encaixa no que os EspíritosSuperiores disseram. Inclusive, há uma frase dita por ela cujosentido é o mesmo dessa orientação do espírito Erasto:“Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única

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falsidade, uma só teoria errônea”. (KARDEC, 1996, p. 292).

O bispo que a chamou para explicar-se, reconhece quehá fatos ainda não explicados pelos teólogos; mas que elesexistem, existem! Enfim, mesmo que seja a contragosto,reconhece a realidade dos fatos. O grande problema sempreé: como dar o braço a torcer...

Os espíritos também disseram que ser médium não énenhum privilégio, não coloca ninguém no pedestal de santo;ao contrário, trata-se de uma necessidade evolutiva daqueleque é o intermediário entre os dois planos da vida. A sintoniados espíritos com os médiuns se faz obedecendo à lei deafinidade vibracional, uma lei fora da alçada do médium.

Se a pedra de comparação da perfeição é a caridadedesinteressada, então a máxima da Doutrina Espírita – FORADA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO – está corretíssima.

E vamos parabenizá-la pela oportuna frase: “Muitospadres se consideram tão sábios que pretendem entendertudo”. Sem pestanejar, assinaremos embaixo!

As mensagens das almas tornam conhecidas estasaparições

Em 1954 – ano mariano – vinham almas todas asnoites. Às vezes revelavam quem eram e meencarregavam de transmitir várias tarefas para seusparentes.

Deste modo, o caso (o contato com as almas)tornou-se público; isso me desagradou muito, pois eunão falaria a ninguém a não se ao meu pai espiritual.

Tive de transmitir alguns recados até em certoslugares que me eram desconhecidos. Acontecia-me de ter que anunciar aos parentes a devoluçãode bens mal adquiridos, o que era claramenteindicado. Houve casos em que os membros dafamília não sabiam de nada; contudo, era verdade.(ALBANO, 2004, p. 33). (grifo nosso).

Quem tem a oportunidade de servir-se deintermediário, como no caso de Simma, não tem dúvidaalguma de que tudo é verdadeiro, uma vez que a experiência

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é mais forte que qualquer argumento teológico dogmático.Vamos mais longe ainda: até mesmo da Ciência, pois essasempre anda a reboque dos acontecimentos para estudá-los,visando descobrir-lhes, se possível, as leis que os fazemfuncionar. E se ela, por puro preconceito, não descobriu oespírito, muito menos a sua sobrevivência, após a morte docorpo físico, como, então, aceitar que eles se comuniquem? Écerto que, hoje em dia, alguns renomados cientistas estãoaceitando essa realidade, como, por exemplo, é caso do físicoquântico Amit Goswami, que, usando a física quântica, explicaa realidade da sobrevivência do espírito em seu livro A físicada Alma, Editora Aleph.

Tudo, quanto aconteceu com ela, acontece com váriosmédiuns nos dias atuais. Entretanto, se um deles é Espírita,bom; aí as coisas são: “fruto da mente”, “truque”, “ésatanás”, etc, qualquer opção é válida, menos que os fatossejam verdadeiros. Intolerância, incoerência e ignorância?!

O que sabem de nós as almas do purgatório?

As almas sabem a nosso respeito e o que nosacontece, mais do que pensamos. Sabem, porexemplo, quem foi ao funeral delas, se se reza ouapenas se vai para marcar presença, sem rezar, o queacontece com frequência. Sabem se a pessoa sai após oofertório, sem participar da Missa que está sendocelebrada por elas.

As almas sabem tudo o que se diz a seurespeito e o que se faz em seu favor; acham-semuito mais próximas de nós do que podemosimaginar. (ALBANO, 2004, p. 34-35). (grifo nosso).

Embora não possamos generalizar como a Simma fez,realmente, alguns espíritos sabem mesmo tudo de nós; quiçáaté mais que nós mesmos. Segundo os Espíritos Superiores,estamos literalmente num “mar de espíritos”, já que onúmero deles é bem maior do que o daqueles que seencontram encarnados.

O que sofrem as almas do purgatório?

Sofrem de mil maneiras. Há tantos tipos de

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purgatório quantas são as almas. Cada uma sentesaudade de Deus e esta é a dor mais lancinante. Alémdisso, cada alma é punida naquilo e por aquilo quea fez pecar. Acontece também na terra, quando apunição segue uma má ação: quem come demais sofredor de estômago; quem muito fuma fica intoxicado pelanicotina e corre o perigo de ter câncer nos pulmões.

Nenhuma alma gostaria de retornar à terrapara viver como antes, nas trevas deste mundo,porque conhece coisas das quais não temossequer ideia. (ALBANO, 2004, p. 37). (grifo nosso).

No umbral, dimensão espiritual onde os espíritos ficamretidos até cumprirem toda a evolução possível na Terra, hámesmo várias faixas vibracionais, que, para simplificar,podemos dizer que são várias regiões. Os que lá seencontram, conforme já falamos, se agrupam por interesses evibrações semelhantes. Os poucos que conseguem ver umplano superior ao nosso, realmente, não têm a mínimavontade de voltar aqui para reencarnar novamente.

6º Caso: Dr. Lino Sardos Albertini (1915-2005)

Embora esse caso não seja tratado como manifestaçãode almas do purgatório, mas como de um espírito, vamoscolocá-lo neste rol, porquanto, sendo de origem católica nãohá outro lugar para onde essa alma tenha ido senão este; nãoé mesmo?

Dr. Lino Sardos Albertini foi um advogado católico,morou em Trieste, Itália, autor do livro O Além Existe, noqual narra várias mensagens que recebeu de seu filho André.Foi presidente da Academia de Estudos Jurídicos eEconômicos “Cenáculo Triestino” e também da JuntaDiocesana de Ação Católica de Trieste. Foi vice-presidentenacional da União Pan-europeia Italiana, presidente doArqueoclube de Trieste e autor de vários ensaios.Transcrevemos o texto da contracapa do livro citado:

Este livro é a crônica de um diálogo incomum, entreduas diferentes dimensões, entre o aquém e o além,entre um pai que chama e um filho, morto emcircunstâncias dramáticas, que responde. O diálogo

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ocorre através de uma sensitiva que categoricamenteexclui qualquer recompensa e se recusa a desenvolveruma atividade pública.

Ela pratica um tipo de escrita automática por meioda qual desemaranha o fio que mantém unidos oadvogado e seu filho, André.

Crítico e descrente no começo, Lino Sardos Albertiniteve de resignar-se aos fatos inexplicáveis que Andréapresentava, a lógica severa das respostas, a suacoerência. Extraordinária é a maneira da transmissãodas mensagens.

Envolvente como um romance, impregnado – mesmona situação dolosa – de fé e esperança, este livro há deinduzir os seus leitores a uma meditação profunda.

Resumindo o caso: o desaparecimento de André,nascido a 29.07.1955, o caçula de seis filhos, se deu em09.06.1981; portanto, aos 26 anos de idade; na época estavacursando o último ano de Direito, após ter saído para umaviagem para alguns dias de férias. Como nunca maisaparecia, seus pais ficaram em extrema aflição, iniciaramuma desesperada busca para ver se o encontrava, mas nada.Foi como se ele tivesse sumido do mapa.

A família já estava perdendo as esperanças, quandouma nova cliente sugere ao Dr. Lino procurar a médium D.Anita (nome fictício). Recusou-se, no início; porém, diante dasituação, acabou por marcar um encontro com ela. Por essamédium ele ficou sabendo da morte de seu filho, vítima deum assalto, obtendo provas incontestáveis que ele estavamais vivo que nunca, só que na dimensão espiritual. A grandequestão era o porquê isso veio a acontecer com ele; mas opróprio André disse, da outra dimensão da vida, o motivo aseu pai:

Depois de nos ter dado espontaneamente notícias dacondição privilegiada em que se encontrava no além,pelas tarefas recebidas e pela possibilidade decomunicar-se conosco, André disse-nos ter nascido emorrido para executar uma missão especial, istoé, fornecer as provas da existência da vida após amorte, de modo que muitas pessoas acreditem mais

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em Deus e respeitem a sua lei. É inútil dizer que suamensagem nos chocou e nos emocionouprofundamente”. (ALBERTINI, 1989, p. 24-25). (grifonosso).

Veja bem, caro leitor: o espírito reencarnou apenaspara cumprir a missão de se manifestar depois de morto,visando provar que a vida continua. Mas quem lhe deu essamissão senão Deus? E ainda dizem que a comunicação comos mortos é abominável a Ele. Até quando irão manter aspessoas nessa ignorância mediante o terror dos dogmas?

Vejamos como o Dr. Lino descreve como D. Anitaprocedia para escrever as mensagens de André:

Sem qualquer aparato ou encenação, com a máximasimplicidade, à qualquer hora e em qualquer ambiente,põe a mão esquerda aberta perpendicularmente e umpouco erguida sobre um papel.

Apoia perpendicularmente um pincel atômico ou umacaneta qualquer (uma vez usou até um batom). Opincel, ao invés de escorregar, como aconteceria comqualquer outra pessoa, fica colado à mão.

Pergunta mentalmente a seu pai, falecido, se aassiste. Obtida a resposta afirmativa, passa a fazerperguntas.

D. Anita não é canhota, porém, usa exclusivamente amão esquerda quando desenvolve sua atividademediúnica. O pincel, ao dar as respostas, se move nãoda esquerda para a direita, mas de cima para baixo. Àsvezes o pincel procede vagarosamente ao escrever asrespostas; em outros momentos, de repente, aceleramuito a ponto de D. Anita ter dificuldade de segui-locom a mão. Outras vezes, o pincel, inesperadamente,ao invés de continuar escrevendo, força a mão paradistanciar-se da linha e começa e fazer sinais, deixandotodos os presentes surpresos.

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Enquanto o pincel escreve, D. Anita pode até sedistrair: fuma, assiste à televisão, conversa com ospresentes sobre diversos assuntos.

Acrescento que, ao receber as respostas, D. Anitanunca sabe do seu conteúdo, quer por estarem escritasde cima para baixo, quer por ela se distrairfrequentemente. Só no fim, a folha é girada tornandopossível ler a resposta da esquerda para direita.

D. Anita pode escrever assim a qualquer momento:fê-lo, por exemplo, mais de uma vez num hall de hotel,dentro de um carro e em muitos outros lugares,fechados ou ao ar livre.

Ela rejeita de maneira categórica qualquerrecompensa e não quer, de modo algum, que o fato sejadifundido, para evitar toda publicidade e, também, odescrédito que poderia recair sobre quem exerce tãoestranha atividade.

D. Anita fica muito perplexa com os resultados queobtém e está aberta a todas as interpretações.

Diante dos extraordinários resultados obtidoscomigo, ela amadureceu um natural interesse emcompreender melhor o fenômeno e mais nada.

Ela é do lar e só cursou o 1º grau. Inteligente, lêjornais e revistas normalmente, como as senhoras desua idade e posição. Não acompanha as publicaçõesespecializadas em parapsicologia: nunca leu livros quetratem dessa matéria. No máximo, lê, quando lheaparece a oportunidade, um ou outro artigo de revista

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ou acompanha algum programa na televisão, e semprepor acaso. Em outras palavras, ela não é, por nada,uma fanática. (ALBERTINI, 1989, p. 18-20).

Com isso, o Dr. Lino nos deixa a par de como ocorreuo fenômeno, o que nos dá a oportunidade de podermosavaliar a sua autenticidade, porquanto ele não tinha nenhummotivo para mentir sobre a forma pela qual D. Anita escreviaas mensagens de seu filho André.

Convém ressaltar que o livro, que temos em mãos, éuma tradução da 12ª edição italiana, o que o faz, na Itália,um best-seller, sem dúvida alguma. O lamentável nisso é quea editora brasileira, de orientação católica, publicou somenteuma edição desse livro, preferindo empurrar a verdade paradebaixo do tapete de forma a manter os dogmas da Igreja,como se isso bastasse para que ela não venha à tona.

Tivemos a oportunidade de atualizar esses dados, aorecebermos um exemplar intitulado Existe o mais além daeditora Área, Lisboa, Portugal, cuja publicação ocorreu em1998, e até esse ano o livro, na edição italiana, já estava na29ª edição, com mais de 160.000 exemplares vendidos naItália.

Dr. Lino dá o seu testemunho pessoal:

Acredito ser necessário e oportuno antepor asrazões, absolutamente extraordinárias, que me levarama escrever este livro e a dar-lhe o título que tem.

Antes de tudo declaro que, sendo convictamentecatólico, nunca duvidei da existência do além, verdadeque constitui um pressuposto para a minha fé e paratodas as religiões que não sejam mero sistemafilosófico. No entanto, nem de longe pensei que uma talverdade pudesse ser confirmada pelos fatos.

Como católico sempre acreditei na comunhão dossantos, na possibilidade de a Igreja militante, nósviventes nesta terra, poder comunicar-se com a Igrejapurgante e com a Igreja triunfante, isto é, todos osnossos mortos. Com este espírito sempre rezei pelasalmas dos meus familiares, pedindo a eles e aos santospertencentes à Igreja triunfante ajuda para as

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necessidades materiais e espirituais dos meus familiarese minhas. Porém, mesmo nutrindo tais convicções,nunca pensei em poder ou dever fornecer provas dessaverdade dogmática.

Devo acrescentar que, de minha, parte, nunca meinteressei pelos problemas da parapsicologia, termo quenem mesmo conhecia, antes – dada a mentalidadepositivista dos meus estudos clássicos e da minhaatividade profissional e o rigor religioso com que fuieducado – considerava aquele pouco que havia ouvidofalar sobre os fenômenos mediúnicos, mágicos,espíritas, etc., como fruto de enganos, artifícios,exaltações e até intervenções diabólicas.

Nunca em minha vida havia pensado em escrever epublicar uma obra como esta, e se alguém houvessepredito, eu o teria desmentido categoricamente.

Se, no entanto, cheguei a esse ponto, é porque fui esou testemunha de uma série de fatos extraordináriosque me causaram dúvidas e resistências, e obrigaram-me a seguir um caminho que nunca cogitara percorrer.

Se disser ter sido impulsionado a isto pelasmensagens de meu filho falecido, quem ler estasminhas linhas, terá todo o direito de pensar logo que eume tenha enlouquecido pela dor. Mais ainda o pensaráquem tem uma postura semelhante à minha, nosmomentos iniciais.

Estou, porém, certo de que, após conhecerem asminhas experiências, confirmadas com fatoscientificamente documentados e ocorridos nopassado, no presente e que, com certeza, ocorrerão nofuturo, se lerem o meu livro com espírito aberto, serenoe sem preconceitos, julgarão bem diferente os fatos deque fui testemunha. (ALBERTINI, 1989, p. 15-16). (grifonosso).

Testemunho inquestionável, porquanto é um católicoque vem provar a autenticidade da comunicação entre osplanos físico e espiritual, inclusive mencionando provascientíficas para sustentar isso. Uma atitude louvável do Dr.Lino foi a de pedir a opinião de dois padres, cujos textosiremos apresentá-los mais à frente, em outro item.

Em 23 de novembro de 1985, no grande salão do

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Círculo da Cultura e das Artes de Trieste, o livro do Dr. Linofoi lançado, ocasião em que D. Anita recebeu essamensagem:

Sorria com quem sorri. Chore com quem chore. Amesem ser amado porque a luz infinita é amor. Aquele quepermanece no amor permanece na luz infinita e a luzinfinita permanece nele. Obrigado a todos. André.(ALBERTINI, 1989, p. 151).

Que bela mensagem!!! Ficamos a imaginar quantasdesse tipo não poderiam vir caso não se fizesse tantoobstáculo às comunicações com os mortos.

7º Caso: Maria Gómez Cámara (1919-2004)

Na localidade de Bélmez de la Moraleda, província deJaén, Espanha, nos fins do mês de agosto de 1971, a famíliade Maria Gómez Cámara, passou a presenciar fenômenosinsólitos. No chão da cozinha de sua casa começaram aaparecer “caras humanas”, depois chamadas de “As caras deBélmez”. Esses fatos aconteceram até a ocasião de suamorte, em fevereiro de 2004.

Vários pesquisadores e Institutos de Pesquisasestiveram no local, entre os quais citamos o parapsicólogoGermán de Argumosa e S.E.I.P. – Sociedad Española deInvestigaciones Parapsicológicas, que comprovaram a suaautenticidade.

Descobriu-se que, antigamente, no local onde foiconstruída a casa de Maria Gómez existia um cemitériocatólico, fato comprovado pelos ossos encontrados numapequena escavação feita em busca das causas do fenômeno.Mesmo assim, ainda aparecem alguns padres jesuítas, paranegarem o fenômeno; tentando colocá-lo à conta de efeitosdo inconsciente, mas nunca provaram cientificamente essasua hipótese.

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Quem quiser ver maiores detalhes desses fenômenos,recomendamos o livro Las Caras de la Discordia – Elfenómeno paranormal más importante de la história,publicação em espanhol da Editora Nowtilus.

8º Caso: Museu das almas do purgatório

Esse item estava nos deixando muito preocupado decomo iríamos apresentá-lo, visto ser um assunto mantidosobre sete chaves. Mas tivemos a grata satisfação de vê-losendo tratado no livro Maria Simma e as Almas do Purgatório,do qual transcrevemos o seu Apêndice:

Uma janela para o além

O museu. Se já na antiguidade - (Egito, Roma,Grécia) - havia coleções de obras de arte, porém, érelativamente recente o museu visto como lugardestinado a acolher e conservar obras de arte e objetosde interesse histórico-científico. De fato, somente emmeados de 1400 é que se deu vida e desenvolvimentoao embrião desta instituição a que chamamos museu(do grego = lugar sagrado das musas), devido aonascimento da arte de colecionar, brotado daconsciência do valor autônomo da arte.

Hoje, ao lado de inúmeros lugares de cultura e deestudo, abertos ao público em todos os continentes, quese ramificam em museus de arte, históricos, científicos,de história natural e etnográfica, surgiram os museus

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escolásticos, navais, das peças de cera, gesso, etc.Roma, rica em museus de grande valor - museus

“clássicos”, que vão desde os dedicados às pinturas,esculturas, até os dedicados aos manuscritos, tapetes,troféus e armas - com o tempo foi enriquecida demuseus qualificados como “originais”: do folclore e dospoetas romanescos, do fonógrafo e dos instrumentosmusicais, da eletricidade e do pão.

Mas em Roma entre os museus originais, o maisoriginal é o que contém uma documentaçãoexcepcional: uma coletânea de “provas” daimortalidade da alma, ou seja, da existência de umdos três reinos do além-túmulo: o purgatório.

No Lungotevere Prati, nas proximidades do CasteloSanto Anjo, numa igreja de estilo gótico dedicada aoSagrado Coração do Sufrágio, está sediado o “museudas almas do purgatório”. É uma pequena aberturapela qual é possível vislumbrar algo da misteriosa vidados mortos.

Esta janela - a única do mundo - foi aberta (com aaprovação do papa Bento XV) pelo padre Vítor Jouet,missionário francês do Sagrado Coração.

Mas o que levou o padre Jouet - fervoroso apóstoloda devoção às almas do purgatório (fundara umaassociação para o sufrágio das santas almas) - arecolher a modesta mas impressionante documentaçãoque constitui o museu? Foi um acontecimentoextraordinário, sensacional, que se deu em 15 denovembro de 1897, numa capela dedicada a N. Senhorado Rosário. Nesta, havia um pequeno oratório, que opróprio padre mandara fazer em maio de 1893. Naqueledia, no altar da capela, se alastrou, de repente, ummisterioso incêndio, no qual os fiéis ali presentespuderam ver, entre as chamas, a imagem de umapessoa padecendo. Passado o incêndio, a silhuetadaquela pessoa ficou delineada no painel de madeiraque estava à esquerda do altar. Visto que todosconsideraram o fato como aparição de uma alma dopurgatório, a notícia do acontecido na capela de N.Senhora do Rosário de Lungotevere espalhou-serepentinamente pela cidade, como sendo um milagre.

O afluxo de gente para ver a silhueta impressa e asconsequentes cenas de exaltação e fervor foram tais

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que as autoridades eclesiásticas, por prudência,decidiram tirar o painel.

Recordar-se dos defuntos

Padre Jouet, levando em conta a grande devoção àssantas almas do purgatório, suscitada pela suposta oureal aparição daquela figura humana sofredora,empregou suas energias na construção de uma igreja,ponderando também o acontecimento como um meiousado pela Providência para convidar os vivos a selembrarem dos falecidos, ou seja, um misterioso pedidode orações pelas almas da Igreja padecente, dirigido àIgreja militante.

Essa igreja - a atual - deve recordar às geraçõesfuturas - além do misterioso acontecido de 15 denovembro de 1897 - a existência de um lugar onde osfalecidos, sofrendo sem mérito, esperam dos vivos acaridade dos sufrágios (orações, Missas e obras decaridade) capazes de aliviar e abreviar seussofrimentos.

Na nova igreja, dedicada ao Sagrado Coração doSufrágio, foi colocado o painel no qual se encontraimpresso o que parece ser a figura humana sofredora.Para protegê-lo das intempéries, decidiu-se escondê-locom um tríptico representando Nossa Senhora entre osanjos (mas uma reprodução do painel é visível numaparede da sala usada como museu).

Padre Jouet, ardente apóstolo do sufrágio das almasdo purgatório, movido pelo interesse e devoçãosuscitados nos fiéis pelo misterioso evento, pensourealizar o que denominou “Museu Cristão do além-túmulo”. Para concretizar sua ideia, pôs-se em busca detestemunhos e documentos que, de certa maneira,pudessem chamar atenção dos fiéis sobre a realidade dopurgatório. O resultado de suas buscas forma o maisoriginal e - por que não? - interessante museu doplaneta.

Valor e elenco dos cimélios

O pequeno museu não tem, obviamente, objetivosespeculativos. Muito menos de lucro. O autêntico fimdesta original, e única coletânea de objetos raros(cimélios) foi e é fazer pensar na vida pós-morte; etambém lembrar aos distraídos mortais que existe uma

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prisão - o purgatório - da qual não se sai até pagar oúltimo centavo.

Ademais, os próprios religiosos, missionários doSagrado Coração, aos quais está confiada a guarda doscimélios, esclarecem que a documentação do museutem valor apenas humano. Não podem constituir umaprova a respeito da fé. Mesmo se tratando detestemunhos de fatos que têm a garantia de pessoasdignas de crédito, a fé no além baseia-se em motivosbem acima de provas deste gênero.

Os cimélios expostos no museu foram recolhidospara manter viva nos fiéis a lembrança das almas dosmortos. Portanto, cumprem o papel específico de todosos elementos sensíveis e aptos a suscitar a devoção ealimentar a piedade religiosa.

Os visitantes, como não devem assumir atitudescéticas a priori, também não devem condicionar a fé naoutra vida ao que observam. Os documentos do museudeveriam ser objeto de investigação e de estudo para seaceitar, ou não, seu valor. (Para alguns estudiosos deparapsicologia, estes cimélios são um testemunho detransformação e exteriorização da energia somática dosvivos, e não apresentam indícios de provirem do além.Seriam os vivos, em virtude do fenômeno definidospelos parapsicólogos como “dramatização”, aprovocarem, inconscientemente, aquelas marcasatribuídas às almas do purgatório).

Antes de elencar os cimélios, considero útil citar aspalavras de Monsenhor Benedetti primeiro sucessor econtinuador da obra do padre Jouet:

“Há pessoas que, a priori, erguem os ombros e dãouma risadinha diante das manifestações sensíveis doalém, e negam totalmente o fato, e alguns até apossibilidade do fato... Não é justo rejeitar, semexaminar, os testemunhos de pessoas respeitáveis,dignas de fé, cuja virtude, de algumas, foi reconhecidaoficialmente pela Igreja. E claro que se precisa tercautela, avaliar e estudar, mas nem nos critérioshumanos e científicos se admite o apriorismo danegação, quando um fato não se explica de outra forma,senão pela intervenção do sobrenatural. Este existe e,assuste-nos ou não, se existe deve poder manifestar-se.A vida das almas padecentes é ‘vida’, e, portanto,

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admite manifestações tais, cujo âmbito nos escapa, masque não se pode racionalmente negar. Deus é senhor doespírito e da matéria, criador de um e de outro. Quemaravilha se ele quiser - sempre em favor de suascriaturas - servir-se de uma e de outra por meios a nósdesconhecidos! As negações sistemáticas, as risadinhasdesdenhosas não têm sentido: deixemos límpida a fé enão perturbemos a verdadeira ciência”.

Cimélios especiais

Os dez objetos raros conservados no museu, bemem evidência numa grande vitrina, são elencados porordem de disposição. Ei-los:

1 - Reprodução fotográfica do altar de N. Senhora doRosário, de uma capela existente antes de 1900, entre aigreja atual e a casa religiosa. É visível a marca deixadana parede, após o pequeno incêndio de 15 de novembrode 1897.

2 - Marca de três dedos deixada no dia 5 de marçode 1871, no livro de orações de Maria Zaganti, daparóquia de Santo André de Poggio Berni (Rimini) pelafalecida Palmira Rastelli, irmã do pároco, morta em 28de dezembro de 1870, a qual, por meio da amiga, pediaao irmão, padre Santo Rastelli, a celebração de Missa.

3 - Aparição, em 1875, de Luísa Le Sénèchal, nascidaem Chanvrières, morta em 7 de maio de 1873, a seumarido Luís Le Sénèchal, em sua casa em Ducey(Manche - França), para pedir-lhe orações: deixou comosinal a marca dos cinco dedos sobre um gorro. Segundoa narração autêntica da aparição, o queimado no gorrofoi feito pela falecida para que o marido documentassecom sinal visível à sua filha o pedido de celebração desantas Missas.

4 - Fac-símile fotográfico (o original está emWinnenberg) de uma marca de fogo deixada, em 13 deoutubro de 1696, sobre o avental de Irmã MariaHerendorps, do mosteiro beneditino de Winnenberg,perto de Warendorf (Vestfalia), da mão da falecida IrmãClara Schoelers, religiosa da mesma Gidem, morta pelapeste de 1637. Na parte inferior da foto vê-se a marcaqueimada de duas mãos, deixada pela Irmã sobre umatira de tecido.

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5 - Fotografia de uma marca deixada pela falecidasenhora Leleux na manga da camisa de seu filho José,em sua aparição, em Wodecq (Bélgica). Segundo anarração deste, a mãe, morta há 27 anos, apareceu-lhena noite de 21 de junho de 1789, após onze noites emque ele ouvia rumores que o assustaram e o deixaramdoente. A mãe lembrou-o da obrigação de santasMissas, como constava no testamento paterno, echamava-lhe seriamente atenção pela vida dissipadaque estava levando, pedindo-lhe para mudar de condutae trabalhar pela igreja. E pôs a mão sobre a manga desua camisa, deixando uma marca bem visível. JoséLeleux mudou de vida e fundou uma Congregação deleigos piedosos. Morreu com fama de santidade em 19de abril de 1825.

6 - Marca de fogo de um dedo, deixada pela piedosaIrmã Maria de São Luís Gonzaga, numa aparição à IrmãMargarida do Sagrado Coração, na noite entre 5 e 6 dejunho de 1894. O relato, guardado no mosteiro deSanta Clara do Menino Jesus de Bastia (Perugia - Itália),conta como a Irmã Maria de São Luís Gonzaga, sofrendopor dois anos de tuberculose com grandes febres, tosse,asma e hemoptises, ficara desalentada e, portanto,desejosa de morrer logo para não mais sofrer. Porém,sendo bastante fervorosa, ante a exortação da Madresuperiora, entregou-se à vontade divina. Dias depois, namanhã de 5 de junho de 1894, faleceu santamente.Apareceu na noite entre 5 e 6 de junho, vestida comoclarissa, circundada de sombras, mas reconhecível.

Irmã Margarida, maravilhada, perguntou onde seencontrava; respondeu que no purgatório, tendo desofrer pela sua impaciência para com a vontade divina.Pediu orações de sufrágio e, para atestar a realidade desua aparição, colocou o dedo indicador sobre a fronhado travesseiro e prometeu voltar. Reapareceu-lhe nosdias 20 e 25 de junho para agradecer e dar avisosespirituais à Comunidade, antes de voar ao paraíso.

7 - Marcas deixadas numa mesinha de madeira, namanga da túnica e forro da venerável Isabel Fornari,abadessa das clarissas do mosteiro de S. Francisco, emTodi, pelo falecido abade Panzini de Mântua, no dia 10de novembro de 1731. São quatro marcas: uma da mãoesquerda sobre uma mesinha da qual se servia avenerável abadessa para seu trabalho (é bem visível o

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sinal da cruz impresso profundamente na madeira). Asegunda é da mão esquerda numa folha de papel. Outramarca, da mão direita, na manga da túnica. A quarta éa mesma marca que, furando a túnica da Irmã, queimouo pano que estava sob a túnica, manchado de sangue.O relato é do padre Isidoro Gazala do SantíssimoCrucificado, confessor da venerável, a quem ordenoupor obediência, cortar pedaços da túnica, da outra vestee da mesinha, para que lhe fossem entregues econservados.

8 - Marca deixada num livro de Margarida Demmerlé,da paróquia de Ellinghen (diocese de Metz), pela sogra,que lhe apareceu trinta anos após a morte (1785-1815).Vestia as roupas da região, como uma peregrina: desciaa escada do celeiro, gemendo e olhando a nora comtristeza, como a lhe pedir alguma coisa. Margarida,aconselhada pelo pároco, na aparição seguinte dirigiu-lhe a palavra e teve esta resposta: “Sou tua sogra,morta de parto há 30 anos. Vá em peregrinação aosantuário de N. Senhora de Mariental e mande celebrarali duas santas Missas por mim”. Após a peregrinação, aaparição se mostrou novamente para anunciar sualibertação do purgatório. Margarida, orientada pelopároco, pediu um sinal e a falecida o deixou, pondo amão sobre o seu livro “A Imitação de Cristo”.

9 - Marca de fogo que o falecido José Schitz deixoutocando com a ponta dos cinco dedos da mão direitanum livro de oração em língua alemã pertencente a seuirmão Jorge, no dia 21 de dezembro de 1838, emSarralbe (Lorena). O falecido pedia orações para repararsua pouca piedade em vida.

10 - Fotocópia de uma nota de 10 liras. Entre 2 desetembro de 1918 e 9 de novembro de 1919, foramdeixadas 30 delas no mosteiro de São Leonardo, emMontefalco, por um padre falecido que pedia Missas. (Acédula original foi restituída ao mosteiro, onde seconserva). (ALBANO, 2004, p. 67-74).

Algumas das provas que as almas do purgatóriodeixaram, para atestar a sua presença, existentes no Museu:

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O cientista, orador, jornalista e escritor HenriqueRodrigues (1921-2002), foi presidente do Centro de EstudosPsicobiofísicos de Belo Horizonte, que visitou esse museu,disse que lá existem 280 peças comprobatórias, comidentificação de nomes, datas, lugares em que os fatosaconteceram. Uma coisa curiosa delas é que “pelos própriosrelatos os fenômenos foram passados dentro dos conventos eigrejas, com freiras, irmãs, confessores e até padres e bispos,eles vinham suplicar socorro, em preces, orações e missas”(RODRIGUES, 1998, p. 12-15).

Sobre o Museu das Almas do Purgatório e suasconsequências, trazemos esse depoimento:

A vida após a morte

Encerro este escrito sobre o museu das almas dopurgatório com as palavras do notório estudioso defenômenos ocultos, Alois Gatterer, de Innsbruck, o qual,ao ser questionado se o estudo das aparições ocultaspode esclarecer com segurança o destino das almasapós a morte, disse: “Para responder a tal questão,interessante do ponto de vista científico, masextraordinariamente importante para a práxis de vida,são de grande valor muitos fenômenos ocultosespontâneos, pertencentes à categoria das

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manifestações benignas, como as aparições das almaspadecentes. Só uma hipercrítica insana poderejeitar totalmente estes fatos e negar-lhesqualquer valor científico, só por causa dadificuldade de demonstrar a identidade”

Se a opinião de Gatterer é importante em razão desuas muitas experiências no campo das apariçõesocultas, as manifestações e aparições espontâneas pormim elencadas - por gentil concessão dos responsáveisdo museu - deveriam representar um importantesubsídio para aqueles que, prescindindo em boa-fé doensinamento da Igreja, procuram provas da continuaçãoda vida após a morte”. (1).

_______(1) Artigo de Salvador Nofri, em “Sinal do Sobrenatural”, n. 31,de novembro de 1990.

(ALBANO, 2004, p. 74) (grifo nosso).

Então, infelizmente, estamos vendo, até os dias dehoje, só hipercríticos insanos.

9º Caso: Irmã Ana Felícia (?-?)

Caso importante, porquanto a veracidade da apariçãoé atestada por um líder da Igreja Católica, que visitou o localdo acontecimento. Vejamos:

Este fato portentoso é narrado por Monsenhor deSegur, que visitou o Convento das Terceiras RegularesFranciscanas daquela cidade, foi submetido a umrigoroso processo ordenado pelo Bispo de Foligno, em23 de novembro de 1859:

Em 1870, diz o piedoso prelado, eu vi e toquei emFoligno, perto de Assis, na Itália, uma destas terríveisprovas do fogo pelas quais as Almas do Purgatório,por permissão de DEUS, às vezes atestam que ofogo do Purgatório é um fogo real. Em 1859 morreu deuma apoplexia fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, quedurante longos anos foi mestra das noviças. Doze diasdepois, em 16 de novembro, uma Irmã chamada AnaFelícia, estava na rouparia quando ouviu um angustiosoe triste gemido: - JESUS! Maria! Assustada a Irmãexclamou: — Que é isto? Não havia acabado de falar,

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quando ouviu uma queixa: Ai! Meu DEUS! Meu DEUS!Quanto sofro! Irmã Ana reconheceu logo a voz dadefunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaçaencheu toda a rouparia e percebeu-se o vulto da IrmãTeresa que dirigia-se para a porta e tocava a mesmacom a mão direita, dizendo: Aqui fica a prova damisericórdia de DEUS. E na madeira da porta ficoucarbonizada e impressa a mão da defunta, quedesapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar numa grandeexcitação nervosa. A comunidade correu para a acudir esentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã contao que se passou e todas reconhecem, na mãopequenina gravada no portal, a mão da IrmãTeresa, que se distinguia muito pela sua pequenez edelicadeza. As Irmãs comovidas, vão à capela e orampela defunta. Passam a noite em oração e penitênciasem sufrágios da saudosa mestra de noviças. No diaseguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela Alma.Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vêdepois Irmã Teresa radiante de glória, toda bela, quelhe diz com doce voz: “Vou para a glória! Sede fortes ecorajosas na luta, fortes em carregar a cruz!” Edesapareceu numa luz brilhantíssima... (LivretoSufrágio, Belo Horizonte: Divina Misericórdia, 1996, p.12-13). (grifo nosso).

Mais um caso que poder-se-ia juntar às provas doMuseu das Almas do Purgatório.

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Padres Católicos que acreditamno intercâmbio com os mortos

1º Caso: Pe. Pascoal Magni

Como prometemos anteriormente, quando falamos dolivro do Dr. Lino, O Além Existe, vamos apresentar a opiniãodo Pe. Pascoal Magni, que fez a sua apresentação:

Apresentação

Falando em meio a cristãos praticantes sobre osriscos que a Fé acarreta, frequentemente, esquece-sede um que consiste na perda de dimensão. Esseesquecimento, sob o pretexto de fidelidade, tornoumíopes teólogos da época de Galileu. Daí ter acontecidotudo aquilo.

Essa miopia, há um século intacta, nós areencontramos diante da profundidade do fenômeno davida. Ainda hoje, ela domina mesmo diante de um novofenômeno que lembra a profundidade meta-histórica davida, tudo o que ultrapassa as dimensões do espaço-tempo. O católico praticante, todo domingo, conclui seu“Ato de Fé” com aquele admirável “pentagrama” quetem na “vida além da vida” – Creio na Vida Eterna – seufoco, sua plenitude. Mas quando ele deixa o recintosagrado e entra no mundo, parece se esquecer daquiloque professou.

Entre o ato de fé na Vida Imortal – a vida no sentidopleno – e os atos existenciais, corriqueiros ouextraordinários, interpõe-se não uma porta decomunicação, mas uma barreira.

O véu do templo que, nos diz o Evangelho, se rasgouna morte de Cristo, está se reconstruindo em muitaspessoas como uma membrana, bem diferente damembrana acústica, feita exatamente para por emcomunicação dois mundos distintos, mas nãoestanques: o mundo exterior, sensorial por definição, eo mundo da interioridade, por natureza espiritual eimortal.

A perda das dimensões “do alto e do profundo” –conforme imagem paulina – torna surdos, para nãodizer obtusos, muitos incrédulos e não poucos fiéis.

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O contato com este livro e com os acontecimentosque constituem a sua essência provocará, com certeza,duas reações imediatas e opostas, análogas a umchoque elétrico não muito forte. A reação de quem temee solta imediatamente a tomada e a reação de quempede: “Luz! Mais luz!”.

Aos míopes geralmente se atribui o medo: “Não mearrisco”, dirá sempre o bom positivista, fiel aopentagrama dos sentidos. Mas como é possível viversegundo o pentagrama, quando a ciência moderna jáescreve a própria partitura acima e abaixo das clássicaslinhas?

“Não me arrisco”, dirão a mulher, o homem de fé,repetindo fórmulas que já viraram chavões e que, comotodo lugar-comum, resistem à dinâmica do processovital: são como pedras dificilmente biodegradáveis.

A circularidade a que se referia Paulo VI, falando de“Evangelho e cultura moderna”, exige adoração e, aomesmo tempo, comunhão: tal como a Eucaristia, atovital por excelência.

O típico processo vital do homem “criatura de Deus”não é o conhecimento articulado ao amor?

Esse livro fala do amor de um pai que perdeu o filho,sem saber como nem onde.

A sua procura do “como” e do “onde” levou-o parauma dimensão com a qual nunca sonhara. Ele acreditana Vida Eterna. Repetia, como todos os praticantes, aspalavras do Creio. Como dirigente da Ação Católica deuma cidade de fronteira, até ajudava os outros apraticar as obras da fé. E, no entanto, não imaginavaencontrar-se na fronteira da vida além da vida. Foipreciso que seu filho desaparecesse na noite para queem sua alma pudesse surgir o alvorecer.

Nós, ouvintes e leitores, encontramo-nos ante umdrama humano que nos envolve. A comoção é comouma onda do mar agitada pelo vento. Vive as suasmodulações de frequência que são, também, o sinal departicipação direta.

Mas o autor deste livro não nos pede compaixão.Pede participação: participação numa Fé que se tornoucerteza. Seu filho vive, além da fronteira cercada peloarame que chamamos de morte.

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Não é mais um coração ferido que nos pede umagota de óleo para suavizar a ferida. É um coraçãoiluminado, como se aquela gota de óleo se tivessetransformado num feixe de luz, como bem o sabiam oscristãos das catacumbas.

“Será?”, diz o cético, voltando para a rotina damediocridade. Às vezes, o coração paterno sabeinventar milagres. Quem recebe as mensagens senão ocoração de pai, para transformar a ponta pungente doespinho em um botão de rosa?”

Nossas explicações permanecem autógenas. Mas ohomem insiste. E nos convida a considerar ascircunstâncias desse reencontro, num plano bem diversodo que inicialmente previmos: não estaria ele buscandoconsolação segundo as razões do coração, ou ainda,investigar segundo os hábitos culturais da era datelevisão?

Nada disso. Trata-se de outra dimensão, dadimensão de uma existência que se faz presençaatravés de uma mediação, às vezes chamada deinspiração. A mão escreve de modo incomum. A pessoatranscreve mensagens que, realmente, não parecemelaboradas pela consciência pessoal ordinária. Como aselaboraria? O horizonte hipotético se abre exatamentepara além das fronteiras costumeiras, em um domínioem que a metapsíquica, que ainda não é ciência, estátateando.

Passo a passo poderemos chegar longe.

O que a Fé anuncia com firmeza, e que a teologiadas últimas coisas vem indicando como o termo de vidaalém da vida, já se revela suscetível de renovadareflexão.

É hora de passar do primeiro leite – alimentocompleto para crianças, como lembra o apóstolo Paulo –para uma alimentação condizente com a nossa idade. Anossa época talvez seja a mais privilegiada. A riquezados fenômenos e a perfeição dos instrumentos usadosna pesquisa levam-nos a reconhecer na expressão vidaalém da vida, não só a projeção transfigurante dasnossas aspirações, como também nos leva a individuaro núcleo constitutivo do ser, que é imortal.

A luz que une a nossa existência à “trans-existência”não constitui o mais alto valor na escala logarítmica dos

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valores humanos?

Pe. Pascoal Magni

Teólogo, epistemólogo, escritor

(ALBERTINI, 1989, p. 7-9).

2º Caso: Pe. João Martinetti

Esse é o outro padre, cuja fala consta no livro do Dr.Lino.

A IGREJA ANTE OS FENÔMENOS PARANORMAIS

À Igreja, a meu ver, agrada que a verdadeanunciada por Jesus Cristo receba hoje, num mundosecularizado, novas confirmações por meio de fatos eprovas concretas, aptos a despertar o interesse dosindiferentes e dos agnósticos que, sem ele, dificilmentecompreenderiam o valor das motivações mais interiorese profundas da Fé.

Entre os sinais e os indícios, já indicados pelosSantos Padres, de uma vida no Além, em primeiro lugarse apresentam alguns fenômenos paranormaisespontâneos, isto é, não-mediúnicos, como asbilocações de viventes e as aparições de mortos(inumeráveis as dos santos). Esses fenômenos, seforem enriquecidos de credibilidade testemunhal econexos com acontecimentos objetivos (revelações deacontecimentos desconhecidos ou futuros e, emseguida, realizados, curas instantâneas etc.), oferecemum precioso e convincente convite ao homem moderno:aceitar a Fé, como tive oportunidade de ilustrar numlivro recente (G. Martinetti, La vita fuori Del corpo, ElleDi Ci, Turim, 1986), do qual estou preparando asegunda edição, com acréscimos de muitos fatoshistóricos e contemporâneos.

Uma segunda categoria de fenômenos em favor doAlém nos é dada pelas comunicações mediúnicas, queconstituem um campo delicado e perigoso como a Igrejamuitas vezes o declarou, fundando-se na Bíblia.

A Bíblia condena a necromancia (tipo particular decomunicação com presumíveis falecidos, conforme ocostume das culturas tribais, mas não ausente nosnossos países), por causa de suas estreitas relações

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com as religiões mágicas e animistas. Deus, como éapresentado pela Revelação bíblica, quer nos conduzirpara uma felicidade supra-terrena, por meio do amor eobediência confiante nele e a aceitação deacontecimentos futuros – por nós desconhecidos, maspor ele permitidos para cada um de nós. O homem nãopode pretender, servindo-se do poder dos “espíritos”(magia, adivinhação, necromancia), conhecer o própriofuturo, prejudicar, com feitiços, os próprios adversáriose construir a seu gosto um destino de sucesso, riquezae poder. Nas culturas tribais atuais, em que se praticama magia e a necromancia, o Criador vem sendoesquecido, enquanto todo o culto é orientado, por meiode feiticeiros, para os falecidos. Eles querem, por meiodos mortos, obter “feitiços” para os inimigos evantagens materiais para os que pedem.

As proibições do Magistério (a última é de 1971) sãomotivadas pela condenação bíblica à necromancia (quepode apresentar afinidades com certos tipos deespiritismo) e sobretudo pela possibilidade, não remotae teórica, de que nas comunicações mediúnicas seintroduzam, sob nome falso, espíritos negativos, com aintenção de desviar os viventes do caminho certo e atéprovocar em alguém o fenômeno chamado “possessão”.

Com o progresso da parapsicologia científica, osestudiosos e também os que acreditam veem na maioriadas mensagens mediúnicas ordinárias nãonecessariamente a presença de Satanás, mas reflexosda psique do médium e dos participantes.

Em alguns casos reconhecem somente sérios indíciosde contato com seres inteligentes que não vivem nestemundo.

1 – São os casos em que o presumido falecido revelao caráter, a maneira de pensar e de falar que possuíanesta vida aquele que diz ser, os nomes e os costumesde pessoas conhecidas por ele e pelos participantes dasessão, mas, sobretudo, notícias absolutamentedesconhecidas dos médiuns e dos participantes,conhecidas somente pelo falecido quando estava nestavida e verificadas, hoje, como exatas.

2 – Essas revelações possuem notável valor indicialquando se pode constatar a ausência de especiais eextraordinários dotes de clarividência no médium e nos

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participantes (isto é, nunca mostraram esses dotes emsua atividade ordinária) e, ainda mais, se as revelaçõesacontecem com particularidades paranormais nãoatribuíveis a eles (como, por exemplo, com uma canetaque escreve sem a guia do médium). As notícias atéagora desconhecidas e que se revelaram exatas são,então, um sinal bastante convincente da presença deum espírito que se comunica do além, mas nãooferecem ainda fortes probabilidades de que sejaverdadeiramente o falecido que diz ser.

Poderiam provir de entes de baixo nível moral quereferem notícias exatas e verificáveis para enganar emoutros campos que não se podem provar facilmente eassim induzir os viventes para posições que, com opassar do tempo, tornar-se-iam moral e religiosamentedesviantes.

3 – Deus pode querer a intervenção de algunsfalecidos em nossa vida para nos ajudar a acreditar naVida eterna e para nos admoestar a que não nosapeguemos às coisas deste mundo (cf. Sto. Tomás,Suma, I, 89,8 ad 2; Supl. 69, 3; e noutros trechos). OMagistério católico, alertando para o perigo doespiritismo, nunca declarou que o mesmo tenha sempreorigens diabólicas. A Igreja permite que se tentemexperiências neste campo por pessoas competentes(sólida formação religiosa e moral, senso crítico, umaboa cultura em parapsicologia, equilíbrio psíquico), àprocura da verdade, com os devidos cuidados (porexemplo: que o médium tenha demonstrado retidãomoral e não busque o lucro ou esteja à procura denotoriedade).

Sob tais condições, o Magistério se conforma àopinião que prevalece entre os estudiosos de que osfenômenos mediúnicos são originados, às vezes, porcausas infra-terrenas (o inconsciente dos participantesou as fraudes do médium), mas não exclui que, emalguns casos, se manifestem determinados mortos.

Podemos razoavelmente concluir que o presumidomorto que se comunica seja exatamente aquele que dizser somente se apresentar suficientes indícios capazesde convencer que sua comunicação tenha sidoautorizada por Deus e realizada em comunhão com ele.Nesse caso, nós, que acreditamos, sabemos que:

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a) o morto nunca negará pontos substanciais doEvangelho e do ensino da Igreja;

b) poderia até fornecer deles confirmação eaprofundamento;

c) de sua intervenção hão de surgir efeitos positivosdo ponto de vista moral e religioso (aproximação da fé,recuperação da paz e da tranquilidade, oração, perdão,reconciliação, etc.).

Se se verificarem todas as precedentes condições, aexigência, para acreditar na autenticidade dascomunicações, de provas científicas, provas tais queexcluam absolutamente qualquer possibilidade de erro,embora mínima, e que apresentem a certezamatemática-física, representaria, a meu ver, umposicionamento de excessiva severidade metodológica,capaz de fechar o caminho a qualquer outro resultado ea qualquer outra pesquisa, quer de parapsicologia, querde todas as outras disciplinas que não estudamexclusivamente os fenômenos físico-químicos.

De fato, o cientista acredita nas pessoas e nosacontecimentos e toma decisões comprometedoras ouaté vitais só à base de certezas morais suficientementemeditadas (as relações humanas, os fatos históricos eos relativos testemunhos, os processos indiciários, osvalores humanos não oferecem certezas científicas). Ocientista que tem fé pode com razão acreditar, comocom efeito acontece, nas aparições de Lourdes, deFátima etc., apesar de esses fenômenos não seremsuscetíveis de provas científicas, mas de certezasmorais somente.

Até as aparições contadas pelos Atos dos Apóstolos,os milagres de Jesus, as profecias realizadas e asaparições dos Ressuscitados, que os Evangelhos e aIgreja sempre consideraram sinais qualificados da Fé,não podem ser comprovados cientificamente, mas sebaseiam em certezas de ordem moral seriamentefundadas.

A intuição pessoal, além do mais, graças àiluminação divina, chega à certeza absoluta da Fé.

Os inúmeros e significativos reflexos positivos nasconsciências, obtidos por meio de O Além Existe,demonstram a necessidade que tem o homem de sinais

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exteriores e de provas objetivas que ajudem a Fé, hojemais difícil, e o dever para nós que acreditamos, deestudar este caso relevante e todo o imenso ecomplicado campo do paranormal, deixando a atitude dedesinteresse e de estranheza que, no último século, porinfluência do positivismo dominante, caracterizou boaparte da cultura católica.

Pe. João Martinetti

Estudioso da paranormalidade

(ALBERTINI, 1989, p. 11-14).

3º Caso: Pe. Gino Concetti

Pe. Gino, teólogo católico, pertence à Ordem dosFranciscanos Menores, comentarista do Jornal L'ObsservatoreRomano, órgão oficial do Vaticano, disse, em novembro de1996, numa entrevista a esse jornal que:

Segundo o catecismo moderno, Deus permite aosnossos caros defuntos, que vivem na dimensãoultraterrestre, enviarem mensagens para nos guiar emcertos momentos de nossa vida. Após as novasdescobertas no domínio da psicologia sobre oparanormal, a Igreja decidiu não mais proibir asexperiências do diálogo com os trespassados, nacondição de que elas sejam levadas com uma finalidadeséria, religiosa, científica. (2)

Essa entrevista do Pe. Gino Concetti deu “panos paramangas” aqui no Brasil; não faltou fundamentalista para dizerque essa declaração era falsa, embora a imprensa mundialtenha dado notícia disso; fora a questão de que, no próprioJornal do Vaticano, isso pode ser comprovado. Tentamosbuscá-lo na Internet, mas, infelizmente, não consta mais dosite do Jornal. Entretanto, vimos essa notícia sendo divulgadaem vários outros sites (3) e na Revista El Gran Corazón nº174, janeiro 2002, p. 8-10 e nº 175, março 2002, p. 5-6,publicação da Federación Espírita Cristiana de España.2 http://www.universoespirita.org.br/GAIVOTAS%20DA%20PAZ/b_32.htm,

consulta dia 18.04.2007, às 11:50hs.3 Ver os sites listados nas referências bibliográficas.

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Em 28 de outubro de 2001, no programa “Fantástico”,da Rede Globo, quando foi apresentada a reportagem doMuseu das Almas do Purgatório, Pe. Gino Concetti, foientrevistado pelo repórter da matéria, de cuja falatranscrevemos o seguinte trecho:

Repórter: “Podem acontecer comunicações entre osvivos e os mortos?”

Pe. Concetti: “Eu acredito que sim. Eu acredito eme baseio em um fundamento teológico que é oseguinte: todos nós formamos em Cristo um corpomístico, do qual o Cristo é o soberano. De Cristoemanam muitas graças, muitos dons; e se somos todosunidos, formamos uma comunhão e onde há comunhão,existe também comunicação”.

Repórter: “O que o senhor pensa do Espiritismo?”

Pe. Concetti: “O espiritismo existe. Há sinais naBíblia, na Sagrada Escritura. Mas não é do modo fácilcomo as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar oEspírito de Michelangelo ou de Rafael. Mas comoexistem provas na Sagrada Escritura, não se pode negarque exista essa possibilidade de comunicação”.

(CAJAZEIRAS, 2002, p. 89).

Diante disso, os católicos não teriam mais como negaras comunicações com os mortos; entretanto, não é o queacontece; há tantos fundamentalistas no meio, que é bemprovável que nem em Galileu Galilei ainda eles acreditem Aúnica ressalva é a confusão que fez entre o Espiritismo comouma doutrina religiosa e as manifestações dos espíritos(almas), tomando um pelo outro.

4º Caso: Pe. Gebhard Frei (1905-1967)

Precisamos, primeiro, dar algumas informações dequem foi o Pe. Gebhard Frei:

Padre católico e professor de filosofia e religiãocomparativa. Nasceu 24 de março de 1905, noLichtensteig, St. Gallen, Suíça. Em 1935, formou-se emPh.D. pela Universidade de Innsbruck e depois se tornou

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um professor de filosofia e religião comparada noSeminário Teológico de Schöneck/Weggis, na Suíça.Fundou e atuou como professor do Instituto CG Jung,em Zurique, também atuou como presidente daSociedade Suíça de Filosofia e da Sociedade Suíça dePsicoterapeutas Católicos. Foi, ainda, presidente daImago Mundi, da Sociedade Internacional deParapsicólogos Católicos.

Escreveu vários artigos sobre temas parapsicológicose editou uma série de livros intitulados Grenzfragen derPsychologie (Perguntas sobre Psicologia). Atuou comoconsultor do Vaticano sobre a parapsicologia econtribuiu para Konstantin Raudive nos estudos dofenômeno da voz eletrônica. (Internet4)

Seu pensamento nós o transcrevemos do livro Osespíritos comunicam-se por gravadores, de Peter Bander, quetambém informa ter o Pe. Gebhard publicado cerca de 450obras:

Pelo que li e ouvi, tudo me faz crer que as vozesprovenham de entidades transcendentais. Não possoduvidar da realidade dessas vozes, quer me convenhaou não. (BANDER, 1999, p. s/n, entre 88/89).

Essa opinião se refere ao “Fenômeno da Voz”, comoficara, inicialmente conhecidas as gravações de vozes dosespíritos em gravadores.

5º Caso: Pe. Pistone (? - ?)

Peter Bander, dá essas informações antes de colocar aopinião do Pe. Pistone:

Uma vez que vários aspectos do Fenômeno5 foramdiscutidos nesses programas6, torna-se necessárioreverter aos mesmos para uma contribuição e avaliação

4 http://www.answers.com/topic/gebhard-frei , acesso em 26.09.2009, às10:22hs.

5 Fenômeno da Voz6 Está referindo-se aos programas de rádio e TV que colocaram o assunto

Fenômeno da Voz em discussão.

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dos resultados obtidos; os comentários do Padre Pistonee o diálogo subsequente deverão, portanto, seranalisados sob a luz do contexto total do programa. A 8e 22 de maio de 1971, o Padre Pistone revelou-se umadas duas pessoas que mais se destacaram nosprogramas. Foi descrito como o "representante doVaticano" por vários jornais e revistas (Quarterly Reviewof the Churches Fellowship), e de "Superior-Geral dosPadres Paulinos" (num anúncio da RTE e em cincojornais), e realmente se julgava que os seuscomentários tivessem o selo de aprovação oficial doVaticano. O Padre Pistone era, de fato, Superior daSociedade de São Paulo na Inglaterra, e delegado doPadre Valente, o Superior Regional, que se encontravaem Roma por ocasião dos programas. A Sociedade de S.Paulo é uma ordem católica incumbida da doutrinaatravés da imprensa, rádio e televisão. Controla amaioria das estações de rádio e televisão da IgrejaCatólica, principalmente no Extremo Oriente; publicauma das maiores revistas do mundo, impressa a cores,e possui máquinas impressoras próprias, bem comocasas publicadoras e serviços jornalísticos pelo mundointeiro. Quase todos os seus superiores são italianos eeducados em Roma. Entre os padres e irmãos, contam-se desde teólogos eminentes até habilidosos artesãos,impressores, oradores e profissionais de diversos tipos etalentos. [...] (BANDER, 1999, p. 118-119).

Imediatamente, na sequência do texto, é que podemosver a opinião desse prelado:

O Padre Pistone deixou bem claro, no início dasdeclarações, que estava expondo a sua própria opinião,e tentaria esclarecer, em termos simples, o que julgavaser a atitude da Igreja Católica. A primeira pergunta àque respondeu referia-se à posição da Igreja comrelação às vozes em geral.

"Existe algo nesses experimentos, nas vozes ou nolivro, contrário aos ensinamentos ou à teologiacatólica?", perguntou Gay Byrne.

"Li o livro de ponta a ponta. Aceito todo o conteúdocomo experiência científica. O próprio subtítulo o definecomo um experimento surpreendente. Não encontrei

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nada em oposição às doutrinas da Igreja; pelocontrário, o livro confirma os nossosensinamentos e aquilo em que acreditamos, isto é,que há vida após a morte. Não corrobora mais queisso: que existe vida pós-mortal; podemos entrar emcontato com pessoas que morreram. Esse contato,segundo a Igreja, é o auxílio que podemosoferecer aos mortos. Verifica-se, também, pelaexpressão da maioria das vozes, que não se podemajudar a si próprias".

Perguntou-se então ao Padre Pistone se acreditavano que as vozes diziam quanto à sua pretensa origem eidentidade.

"Creio que as vozes são algo de extraordinário. Nãopoderia apontar qualquer uma delas e dizer: Esta édefinitivamente a voz de tal e tal pessoa. A mensagemque estas vozes contêm, é, para mim, umaconfirmação - se essa prova fosse necessária - deque a vida continua após a morte. Há uma fase,após a transição, durante a qual ficamos na expectativade cumprir o nosso período de vida, para entãoretornarmos ao Criador e gozarmos da felicidadeeterna."

A terceira questão versara sobre os perigos inerentesà pesquisa sobre a existência pós-mortal e a possívelintervenção de espíritos maléficos.

"Não vejo perigo nenhum, nem vejo motivo paratemores. Além disso, cumpre ainda à ciência confirmarque estamos realmente lidando com as vozes dosmortos. Estamos atualmente diante de umfenômeno; não precisamos aceitar mais nempodemos aceitar menos que isso. Pessoalmente,sinto-me satisfeito de que a vida continue após amorte e também acredito que haja umacomunicação entre os vivos e os mortos, pois essecontato está incluído no conceito da Igreja: acomunhão dos Santos, como se diz. Podemos sempremanter ligação com os que nos deixaram através depreces e ajudá-los. Portanto, se eles possuemrecursos para comunicar-se, direta ouindiretamente, é uma questão que diz respeito aospoderes de Deus, pois os mortos também estãosob o Seu domínio. Quanto a malefícios, tudo deveráser feito e visto sob um prisma adequado.

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Naturalmente, poderiam surgir casos de demência noseio do Fenômeno da Voz, pois o uso indevido e o abusoocorrem em todas as descobertas e experimentos. Vejao telefone, por exemplo: ele também pode ser usadoimpropriamente. Entretanto, se os experimentos einvenções são conduzidos ou tratados de modoadequado, resultam em pesquisa científica. Tal buscanão precisa necessariamente ser posta em prática como fim de se obterem vantagens. Na maioria daspessoas, a curiosidade é uma qualidade inerente.Desejamos apenas aprender e saber mais; é o únicoobjetivo. Mas, como disse, tudo o que existe, estásujeito ao uso indevido." (BANDER, 1999, p. 119-120).(grifo nosso).

Disso conclui Peter Bander:

As declarações do Padre Pistone são claras eobjetivas. Não há ambiguidade diplomática nelas, nemqualquer tentativa de evitar uma decisão final. Édesnecessário dizer que suas afirmações na televisãofizeram notícia. As implicações religiosas subitamenteganharam destaque. (BANDER, 1999, p. 120) (grifonosso).

Concordamos plenamente com Bander, a respeito daimportância de uma entrevista do Pe. Pistone, razão, pelaqual, iremos transcrever o que ele relata:

A 15 de julho de 1971, o "The Irish Times" publicavauma entrevista do Padre Pistone, na qual Ian van Durenfez as perguntas que pareciam estar na mente demuitos: arrependera-se o padre de ter aparecido natelevisão para um assunto tão controvertido, e sentia-serealmente satisfeito com a explicação da atividade daIgreja diante do Fenômeno, da maneira pela qual ohavia feito? Esta entrevista, que também apareceunos jornais e revistas inglesas, é provalmente odocumento mais importante hoje em dia, quandose fala num "ponto de vista católico oficial". Vale apena ser lido na íntegra, pois as perguntas são tãoimportantes quanto as respostas:

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Perg.: Há um mês atrás, o senhor apareceu no "LateLate Show" da Telefis Eireann, pela segundavez em duas semanas, discutindo o livro"Breakthrough", o Fenômeno da Voz e aspretensões extraordinárias dos cientistas sobrea comunicação com os mortos. Verificou-sealguma repercussão ou resistência quanto àsua participação?

Resp.: Pelo que ouvi, o interesse em torno do assuntofoi bastante grande, especialmente na Irlanda.É claro que não posso valorizar minha própriapresença nos programas, pois não tenho meiosde saber se minha participação contribuiu emalguma coisa. O fato de eu ser um padrecatólico poderá, sem dúvida, ter causadoapreensão a algumas pessoas.

Perg.: O senhor acredita, - refletindo bem -, que umrepresentante da Igreja Católica deveria terparticipado desse diálogo científico, que, afinal,abordou um tema bastante delicado, isto é, ode pessoas mortas entrarem efetivamente emcontato com os vivos?

Resp.: Acredito que isso foi muito importante enecessário. Primeiro, tive a oportunidade deatingir um número de pessoas bem maioratravés da televisão, do que pregando dopúlpito durante uma vida inteira. Em segundolugar, embora as discussões girassemprincipalmente em torno de problemascientíficos, um padre sempre refletirá, numdebate desse tipo, os pontos de vista morais eteológicos; isso é importante, especialmentenum país onde predomina o Catolicismo. Amoral e a teologia representam um fator muitoimportante em todos os assuntos relativos àpsicologia, parapsicologia e disciplinassimilares, que lidam com a mente humana.Como se verificou, o fato de eu não entenderde eletrônica não me prejudicou em nada;vários cientistas de renome estavam presentese suas palavras me satisfizeram no que serefere aos fatos científicos. Considero muitoimportante a participação da Igreja em todasas questões que se relacionam direta ou

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indiretamente com os seus fiéis.

Perg.: Até há pouco tempo, a Igreja permaneciacalada ou manifestava-se com relevância sobreassuntos dessa natureza. O que provocou amudança de atitude da Igreja?

Resp.: Não creio que a Igreja alguma vez ficassecalada. No seio da Igreja, diversospersonagens eminentes sempre deramcontinuidade aos diálogos. Isso refere-se avários assuntos. Temos os nossos própriosentendidos em todas as matérias. É tarefadesses consultores cuidar de que osensinamentos da Igreja estejam. isentos detudo o que possa contrariar a autoridade quelhe foi dada por Cristo. Entretanto, a atitudeda Igreja tornou-se mais flexível notocante a muitas questões - sem mudar osprincípios fundamentais - desde o últimoConcílio do Vaticano.

Perg.: A verdade é que os programas aos quaiscompareceu, aprofundaram-se num temabastante incomum. A existência após a mortefoi discutida fora dos padrões normais de Céue Inferno, ou Purgatório, para os que não sedecidem por este ou aquele. Na opinião demuitos espectadores, o programa foirevolucionário.

Resp.: Sempre acreditamos e ensinamos que há vidaapós a morte. Nunca houve uma fórmulaatravés da qual a Igreja pudesse apresentar aexistência de uma pós-vida em termos depreto e branco. O debate sobre umexperimento científico, tal como o Fenômenoda Voz, podia esclarecer vários pontos. Mesmoassim, nunca apresentaria uma respostacompleta a muitas questões. A Igreja quermuito mais do que simples vozes.Suponhamos que os cientistas ofereçamprovas irrefutáveis de que as vozesprovenham dos mortos; isso ainda nãoresolveria qualquer problema no que serefere à Igreja, e acredito que nem tornariaa morte mais atrativa ao homem. Uma pessoa

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do auditório estava bastante preocupada como lugar onde a alma descansaria. A Igrejaensina que, ao morrer, deixamos o nossocorpo físico e adquirimos um corpoespiritual. Mas devemos precaver-nos com aterminologia, tão usada, que insinua umaflutuação, voos alados ou confinação físicanum lugar ou noutro, como o Céu ou Inferno.Todavia, quando deixarmos de usar essestermos de referência, podemos considerar-nossuperiores à média das pessoas. É o que euquis dar a entender quando afirmei que nuncafoi possível à Igreja provar o fato de formaevidente.

Perg.: Uma das questões respondidas durante oprograma versava sobre o conteúdo de váriassentenças proferidas pelas vozes; sugeriu-seque eram banais ou patéticas. Isso causou-lhepreocupação ou afastou-o do problema?

Resp.: Muitas das vozes suplicam por preces. Isto,naturalmente, está em harmonia com osnossos ensinamentos. A Igreja semprepreceituou que os mortos necessitam denossas orações. O fato de essas vozessolicitarem preces não faz nenhuma diferença:a Igreja sempre as ofereceu aos que nosdeixaram. No entanto, levantamos aqui umproblema importante: no passado, a IgrejaCatólica sempre olhou o Espiritismo combastante reserva. Muitas críticas se fizeramcontra a posição firme que assumimos, e aIgreja, por sua vez, sempre condenou talprática. É algo bastante complexo e não mejulgo qualificado a fazer um pronunciamentosobre as razões invocadas pela Igreja.Entretanto, posso afirmar, sem hesitação, queo conteúdo de muitas das pretensasmensagens é contrário à doutrina eclesiástica.Até agora, nunca houve necessidade, por parteda Igreja, de examinar as evidências da mortede uma pessoa. Quando se trata de verificar einvestigar as afirmações de pessoas quepretendem ter ouvido vozes ou visto imagens,tocamos num assunto muito delicado, para não

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dizer mais. Devemos certificar-nos de que nãoestamos tratando com imaginações ou, comoaconteceu no passado, com insanidadesmentais. Esta é a razão pela qual a Igreja sedemora na investigação de tais alegações. Narealidade, para que a Igreja aceite a existênciade vozes ou visões, devem existir provasirrefutáveis e visíveis a todos, de umaintervenção divina.

Perg.: Mas por que a Igreja sempre condenou oEspiritismo, sem nunca ter examinado algumasdas demonstrações notáveis com aspecto defenômeno genuíno?

Resp.: Quem afirma que são realmente genuínos?Talvez sejam, talvez não. Qual foi a provaapresentada? Todavia, houve tantos relatoscontraditórios e perturbadores no passado,para o esclarecimento de certas práticasespíritas, que foi e tem sido certo duvidar-seseriamente do valor do Espiritismo. A Igrejadesaprova alguns espíritas, e digo-o com todaa humildade, quanto à pretensa aparição decertos santos nas suas sessões, como porexemplo, São Paulo, patrono da nossa Ordem,transmitindo ensinamentos totalmente imbecise contrários a tudo o que afirmou nas suascartas. Tenho uma resposta simples para essaspessoas. Que vejam o evangelho de S.Lucas e leiam, no capítulo 16, o que Cristofalou sobre o assunto. O verso 31 tambémoferecerá a razão pela qual a Igrejadesaprova a prática da invocação dosmortos7. Acreditamos que seja um erroperturbar-lhes a paz, unicamente pelo nossodesejo de assim fazê-lo.

Perg.: Até que ponto são diferentes os experimentosdescritos no livro "Breakthrough" e aquelesdiscutidos na televisão, e qual a atitude que aIgreja toma ou deveria adotar com relação aodesenvolvimento de tais pesquisas?

Resp.: A atividade, ou iniciativa, como preferir,no decorrer desses experimentos, parece

7 Vamos comentá-lo mais à frente.

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caber "a eles", quem quer que sejam.Porém, vamos ser exatos. Estamos colocandoa carroça na frente dos burros; discutimos oassunto, pressupondo que as vozes sejamdos mortos. Se a hipótese for correta,parece-nos que eles desejam comunicar-se. A razão, ainda não sei, e ninguém sabepor enquanto. Mas existe outra diferença: asvozes têm existência física e pode-secomprovar a sua manifestação através devários dispositivos mecânicos e eletrônicos.Sabemos também, pelos entendidos, que asvozes não são produzidas pelo homem, nempor quaisquer meios conhecidos no campo dafísica ou eletrônica. Não podemos afastar-nosda realidade física dessas vozes. Uma vez queas experiências estão justificadas, são dignasde fé, mas não podemos entendê-las. Tambémnão conhecemos o propósito dessascomunicações.Quanto ao papel da Igreja no ulteriordesenvolvimento, estou certo de que deverámanter-se alerta quanto aos acontecimentosnesse setor. Se a pesquisa tivesse sidorealizada por um só indivíduo ou por umpequeno grupo de pessoas, a Igreja, semdúvida, manter-se-ia afastada; entretanto, osexperimentos foram amplamente divulgados erealizados com impacto. Qualquer pessoapoderá ser induzida a executar umexperimento independente de supervisãocientífica; a Igreja deverá estar preparadapara falar com autoridade sobre o tema.Por enquanto, a Igreja não viu razõespara opor-se aos experimentos com oFenômeno da Voz; não tem motivos paraafirmar que sejam errados. Igualmente,não tem nenhum pretexto para garantir quesejam corretos e que deverão ser propagados.Duvido que a Igreja alguma vez se pronuncieoficialmente sobre o assunto. Deixe-merapidamente voltar a uma questão levantadahá pouco: duvidei da sanidade daqueles quesustentam estarem S. Paulo e outros santos

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comunicando-lhes novas doutrinas. A Igrejaensina que a Revelação Divina é completa. Oúltimo livro do Novo Testamento é o capítulofinal da Revelação. A Igreja tem a autoridadeconferida por Cristo - de ensinar a seus fiéis ede proporcionar a instrução, segundo a DivinaRevelação. Cristo não a teria pronunciado,caso pretendesse promover a descida deprofetas dos últimos dias para modificar aRevelação. O Fenômeno da Voz, por outrolado, nada ensina, nem pretende alterarqualquer coisa que a Igreja Cristãpropagou desde o tempo de Cristo. Asvozes fazem declarações, solicitam preces,expressam felicidade em alguns casos edesespero e arrependimento em outros. AIgreja sempre acreditou que a vida terrena éseguida de um período de purificação. Se ochamam de purgatório ou de qualquer outronome, faz pouca diferença. Seria portantoconcebível que o conteúdo das vozes gravadasprovenha de tal período; porém, devo frisarque essa afirmação carece de provas.

Perg.: Não poderíamos conceber que membros jáfalecidos da Igreja quisessem contribuir paraos ensinamentos? Quem pode afirmar quemédiuns, dizendo ter recebido doutrinas ouinstruções de certos santos ou mestres, sejamfalsos ou enganadores?

Resp.: Não estou dizendo que sejam impostores oumentirosos, nem que aquilo que receberamseja pura imaginação. O que afirmo, é que aDivina Revelação é completa, que aqueles,cujos livros e cartas foram acrescidos àRevelação nos evangelhos, não alterariam osseus ensinamentos de modo tão patético. Osespíritas não têm prova da comunicação comSão Paulo ou qualquer outra personalidade.Podem estar aceitando ter ouvido certapessoa, mas não mais que isso. No que serefere às vozes, isto é, das que foramgravadas, à parte do seu conteúdo, sãoproduzidos para que todos as ouçam eexaminem. O perigo da influência pessoal está

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afastado. O Sr. Peter Bander afirmou, duranteo programa, que o único fato que lamentava,era o lançamento do disco contendo gravaçõesde vozes, juntamente com a publicação dolivro. O disco continha um breve comentáriosobre as vozes; Bander achou que as pessoaspoderiam sofrer a influência das palavras docomentarista. Está absolutamente certo. Nomomento em que submetemos alguém àpersuasão, não podemos ter certeza deobjetividade. Um médium, por mais honestoque seja, não teria meios de provar aidentidade do emissor da mensagem - se estarealmente existe. Do mesmo modo, nãopodemos afirmar com certeza que uma voz nogravador seja de determinada pessoa. Adiferença é que o médium colocará em jogo asua reputação e integridade nas mensagensque transmite ao povo, enquanto que oFenômeno da Voz poderá ser julgado pelo seupróprio mérito, sem desacreditar ninguém.

Perg.: Na sua opinião, a Igreja Católica usaria umgravador de fita para investigar pretensasaparições? Acredita que seja um métodopreferível ao processo embaraçoso usadoatualmente?

Resp.: A Igreja tem os seus próprios métodos bemtestados e meios de aprovar ou desaprovarquaisquer pretensões. Não creio que algumavez façamos uso de outro método, pois não hárazão de substituirmos algo que provou sersatisfatório e bem sucedido, por outro meioque em nada poderia contribuir à pesquisa emdesenvolvimento. Se uma voz transpirassedurante uma dessas investigações, não viria aocaso. Tomemos, por exemplo, o longo etedioso processamento da canonização: opersonagem em questão seria obrigado ademonstrar os milagres a si atribuídos, e osmesmos teriam que ser provados. A Igrejanunca se interessa por provas verbais, mas porevidências práticas e tangíveis, que nãodeixem margem a qualquer dúvida.

Perg.: Se não existe aplicação prática para o

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Fenômeno da Voz no seio da Igreja, por queela deu o seu apoio às experiências e permitiuque padres e mesmo prelados participassemdas mesmas?

Resp.: A Igreja compreende não poder controlar aevolução da ciência. Estamos aqui lidando comum fenômeno científico; isto significaprogresso, e a Igreja é progressista. Estousatisfeito em saber que os representantes damaioria das Igrejas adotaram a mesma atitudeque a nossa: reconhecemos que o assunto doFenômeno das Vozes agita a imaginaçãomesmo daqueles que sempre alegaram quenunca haveria provas ou bases para discussõesda questão da sobrevivência após a morte.Este livro e os experimentos subsequentes,levantam sérias dúvidas, mesmo namentalidade dos ateus. Esta é, por si mesma,uma boa razão para o apoio da Igreja aosexperimentos. Um segundo motivo poderá serencontrado na maior flexibilidade incutida àIgreja pelo Vaticano II: pretendemos ter umamentalidade aberta para todos os assuntosque não contradigam as doutrinas de Cristo."

(BANDER, 1999, p. 121-130) (grifo nosso).

Percebe-se que, mesmo diante da realidade dofenômeno, há um medo de mudar de opinião; entretanto,levando-se em conta todos os dados aqui apresentados e osmilhares dos quais não temos conhecimento, é necessáriorever posições e mudar de caminho; caso contrário, maisuma vez a Igreja terá que se render, como no caso da Terraser o centro do Universo.

Ao longo da fala do Pe. Pistone nós vimos que ele citouuma passagem de Lucas que achamos oportuno comentar,porquanto, muitos leitores, possivelmente, não a conhecemou não se lembram dela. Trata-se da parábola do rico eLázaro, cuja narrativa é:

Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linhofino, e dava banquete todos os dias. E um pobre,chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à

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porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobrasque caíam da mesa do rico. E ainda vinham oscachorros lamber-lhe as feridas. Aconteceu que opobre morreu, e os anjos o levaram para junto deAbraão. Morreu também o rico, e foi enterrado. Noinferno, em meio aos tormentos, o rico levantou osolhos, e viu de longe Abraão, com Lázaro a seu lado.Então o rico gritou: “Pai Abraão, tem piedade de mim!Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para merefrescar a língua, porque este fogo me atormenta”.Mas Abraão respondeu: “Lembre-se, filho: vocêrecebeu seus bens durante a vida, enquanto Lázarorecebeu males. Agora, porém, ele encontra consoloaqui, e você é atormentado. Além disso, há um grandeabismo entre nós: por mais que alguém desejasse,nunca poderia passar daqui para junto de vocês, nemos daí poderiam atravessar até nós”. O rico insistiu:“Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai,porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los,para que não acabem também eles vindo para estelugar de tormento”. Mas Abraão respondeu: “Eles têmMoisés e os profetas: que os escutem!” O rico insistiu:“Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até eles, elesvão se converter'. Mas Abraão lhe disse: “Se elesnão escutam a Moisés e aos profetas, mesmoque um dos mortos ressuscite, eles não ficarãoconvencidos”. (Lc 16,19-31).

Têm-se erroneamente interpretado o versículonegritado como se fosse uma condenação bíblica ao contatocom os mortos. A bem da verdade, o que se está dizendo aí ésobre a completa inutilidade dos mortos voltarem para avisaraos vivos, porque eles nem ao menos deram ouvidos aosvivos (Moisés e aos profetas) que dirá aos mortos? Não éexatamente isso que anda acontecendo desde há muitotempo? Os mortos tentam de todas as maneiras semostrarem “vivos”, chegando até mesmo a apelar parainstrumentos eletrônicos; entretanto, não são ouvidos;visivelmente, pregam no deserto.

Os pobres coitados são confundidos com os demônios,

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manifestação do inconsciente, inteligências extra-terrenas,entre outras coisas. Até quando isso???!!!

Por outro lado, se, pela narrativa, o rico pede a Abraãopara enviar Lázaro avisar a seus irmãos, então, podemosconcluir que essa era a crença daquela época; vejam queAbraão não disse que isso não poderia acontecer, mas queera completamente inútil; assim, por pura lógica, com basenesse texto, somos forçados a aceitar que os mortospoderiam e podem se comunicar com os vivos.

Como nunca se apresenta uma passagem bíblica parajustificar o contato com os mortos, nós a daremos: paraseguir o exemplo de Jesus. Como??? Simples: considerandoque disse que o que ele fez nós podíamos fazer e até mais,então se, no monte Tabor, ele conversou com os espíritosMoisés e Elias (Mt 17,1-4; Lc 9,28-31), nós também podemosconversar com os espíritos. Nem ao menos precisamosargumentar que o próprio Cristo voltou depois de morto e deusuas últimas instruções aos discípulos, conforme registradonos Evangelhos e é do conhecimento de todos nós.

Vale, antes de fechar esse item, transcrever umacuriosa observação contida no livro de Bander:

Entretanto, a questão ainda não respondida"oficialmente" ou não pelos teólogos, apareceu numacarta dirigida ao jornal "The Irish Times":

"Se as vozes forem realmente dos mortos, eum pecado ouvi-las, haverá um jeito de tirá-lasdo ar, através de dezenas de terços?"

(BANDER, 1999, p. 131).

E terminamos acrescentado o que disse o Rev.Monsenhor Prof. C. Pfleger a respeito do “Fenômeno da Voz”:"Os fatos demonstram, que entre a morte e a ressurreição,existe outro reino de existência pós-mortal. A Teologia Cristãtem pouco a dizer sobre esse reino". (BANDER, 1999, p. s/n,entre 88/89).

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Padres Católicos que se envolverame os pesquisadores do fenômeno

1º Caso: Pe. Agostino Gemelli (1878-1959)

O padre Agostino Gemelli nasceu como EdoardoGemelli em Milão a 18 de Janeiro de 1878. Foi um religioso,médico, reitor e psicólogo italiano. Foi membro da OrdemFranciscana e fundador da Universidade Católica do SagradoCoração, de Milão e do Instituto Missionari della Regalità diCristo (Missionários da Realeza de Cristo). Faleceu em Milão a15 de Julho de 1959.

Quem nos dá notícias do Pe. Gemelli é o pesquisadorPe. François Brune, que, falando de um fato acontecido comele, assim o narra:

INCIDENTE BIZARRO

NA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MILÃO

Parece, de fato, que o primeiro caso de voz gravada,e identificada como proveniente do além, tenhaacontecido em Milão, no laboratório de físicaexperimental da Universidade Católica. Ali, dois bonspadres estavam realizando experiências: o padreAgostino Gemelli, físico de renome, fundador daquelauniversidade, e então presidente da Academia Pontifícia,e o padre Pellegrino Ernetti, beneditino, físico também,especialista em música pré-polifônica. Eles tentavamfiltrar cantos gregorianos para eliminar os harmônicos.Ainda não havia gravadores com fitas, mas apenas comfio. Este fio se rompia com frequência, e então eranecessário dar-lhe um nó, tão fino quanto possível, paranão prejudicar a escuta, mas suficientemente sólido.

Naquele dia, 17 de setembro de 1952, o fio acabarade se romper, mais uma vez, e o padre Gemelli haviaexclamado: "Oh, papai, me ajude!", como tinha o hábitode dizer há muitos anos, desde a morte de seu pai.Uma vez feito o conserto, os dois padres começaram aescutar novamente a fita, ou melhor, o fio. Mas, aoinvés do canto gregoriano esperado, ouviram,estupefatos, a voz do papai: "Claro que o ajudo,estou sempre com você!"

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Padre Ernetti, que me contou a história, disse-meque, naquele exato momento, padre Gemelli teve umenorme choque. Mas padre Ernetti estimulou-o aprosseguir e fazer uma nova tentativa. Obtiveram,então, a mesma voz, perfeitamente reconhecível, quedizia em tom levemente irônico: "Mas claro, bobão(zuccone ), você não está vendo que sou eu mesmo?"Zuccone é um tipo de abóbora grande, e era o termoafetuoso que seu pai , enquanto estava vivo,empregava sempre que se dirigia a ele.

O acontecimento pareceu-lhes bastante importante,e logo decidiram levá-lo ao conhecimento do papa PioXII. O bom padre Gemelli estava tão confuso por terque narrar semelhante história que, ao entrar nogabinete do papa, pediu ao padre Ernetti que fizesse elemesmo o relato. Pio XII tranquilizou padre Gemelli:

- Meu caro Padre, fique tranquilo. Trata-se de umfato estritamente científico e nada tem a ver com oespiritismo. O gravador é um aparelho objetivo que nãopode ser sugestionado: ele capta e registra as vibraçõessonoras de onde quer que venham. Esta experiênciapoderá, talvez, marcar o início de um novo estudocientífico que virá a confirmar a fé no além.

Estou convencido da autenticidade do texto queacabo de citar, pois foi o próprio padre Ernetti que, apóscontar-me em detalhes a história, fez chegar a mim onúmero da revista Astra, onde o mesmo aparece(1).

_____(1) Astra, nº de junho 1990, p. 90-91.

(BRUNE, 1994, p. 48-49). (grifo nosso).

Temos aqui, além do fato da manifestação do espírito,o respaldo da figura máxima da Igreja Católica, o Papa PioXII, para a realidade da comunicação com os mortos. Issodeveria ser algo suficiente para que os católicos pudessemaceitar, e acreditar, obviamente, no intercâmbio com os queagora vivem no plano espiritual. Convém salientar que, se aspalavras proferidas por Pio XII, fossem relacionadas comoutro assunto e acontecesse como agora está acontecendocom o Fenômeno das Vozes, fatalmente estar-se-iadivulgando-as como palavras proféticas; ou não?

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2º Caso: Pe. Léo Schmidt8 (1916 - 1976)

Schäfer nos fornece os seguintes dados sobre ele:

Leo Schmidt nasceu em 2 de abril de 1916, emHagglingen, Suíça, e em 9 de outubro de 1948 foiordenado em Wurzbug. Trabalhou até 1946 comoprofessor no St. Josef, em Altdorf; em seguida, foivigário durante três anos em Grenchen, depois emNeuenhof; e até 1952 em Arlesheim. A partir dedezembro de 1952 até sua morte, em 28 de fevereirode 1976, exerceu o cargo de pastor em Oeschgen-Aargau.

Desde 1969, e até a morte, o pastor Schimidtocupou-se intensamente com as “vozes”, devidamenteautorizado pela autoridade eclesiástica máxima. Tornou-se um dos mais apaixonados defensores do fenômeno, enão teve medo de defender essa convicção em público,no rádio, na TV e em muitos encontros e congressosinternacionais.

Durante muitos anos, ele manteve estreito contatocom todas as autoridades no campo da pesquisa dasvozes. Quase todos os dias sentava-se diante do seuaparelho, chegando a registrar, ao longo dos anos,perto de doze mil vozes. Tal como Jürgenson eRaudive, também o pastor Schmidt conseguia contatosem diversas línguas, como latim, francês, inglês,alemão-suíço e alemão oficial. (SCHÄFER, 1998, p. 31)(grifo nosso).

Relata-nos Carlos Bernardo Loureiro, em Dos Raps àcomunicação instrumental, o seguinte:

O Reverendo Léo Schmidt é uma das figuras maisrepresentativas da igreja católica Helvécia, Pároco deOeschgen, no Cantão suíço de Argau, estudou ciências eBiologia na Universidade de Friburgo. Homem de vastacultura, publicou obras teológicas e hagiográficas degrande importância, dedicou-se aos estudos de

8 Optamos por grafar Schmidt, e não Schimidt como o autor grafou, tentoem vista que é assim que é citado por Hildegard Schäfer, em Ponte Entreo aqui e o além, e pelo site: http://www.vtf.de/literat.shtml (acesso25.09.2009, às 14:15hs.

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astronomia e astrologia e começou a se interessar,também, pelas VOZES DOS MORTOS.

"Tinha lido nos jornais notas sobre as experiênciasdo Dr. Raudive" - conta ele. "Fui procurá-lo,conversamos longamente e convenci-me de que não setratava de necromancia, mas de fenômenos que devemser estudados simplesmente com muita atenção".

Léo Schmidt comprou um gravador e passou aescutar. Era o dia 23 de janeiro de 1969. Até 10 demarço ele não houvera conseguido nenhumamensagem. Nesse dia, ouviu uma voz que diziaalegremente: "Na est das sô?" (E então, é assim?).

No dia 29 de março conseguiu uma confirmaçãodecisiva. Uma voz masculina, empregando seu dialeto,falou claramente: "Sou Nicolau, seu protetor. Saúdo-oLéo." Tratava-se de São Nicolau de Flüe, que évenerado nesta região.

De acordo com a declaração de Léo Schmidt a igrejacatólica se interessa pelo assunto, criando por isso, naPontifícia Universidade de Latrão cursos regulares deparapsicologia para sacerdotes.

Léo Schmidt, perplexo com o resultado obtido,resolveu consultar um engenheiro eletrônico daTelefunken - Theodor Rudolph -, homem de 50 anos,muito gentil e modesto, que morava em Ulm, nopequeno povoado de Unterbalzheim. Em resposta à suapergunta sobre a possibilidade de um gravador captar,como receptor de rádio, ondas de uma estação emissorarespondeu que é raríssima. Em qualquer caso, é semprepossível eliminar essa ocorrência com filtros.(LOUREIRO, 1993, p. 190).

Em Ponte entre o aqui e o além, a autora HildegardSchäfer, estudiosa da filosofia, psicologia e história daliteratura, tendo, desde 1972, dedicado-se à Parapsicologia,ainda nos informa que:

Durante muitos anos, ele manteve estreito contatocom todas as autoridades no campo da pesquisa dasvozes. Quase todos os dias sentava-se diante do seuaparelho, chegando a registrar, ao longo dos anos,perto de doze mil vozes. Tal como Jürgenson e

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Raudive, também o pastor Schmidt conseguia contatosem diversas línguas, como latim, francês, inglês,alemão-suíço e alemão oficial. (SCHÄFER, 1998, p. 31)(grifo nosso).

A reputar-se verdadeira a informação das doze milvozes, podemos dizer que Léo Schmidt foi um tenazpesquisador diria-se-ia, popularmente: “entrou de cabeça noassunto”. Nos seus doze anos dedicados à pesquisa dofenômeno das vozes, conseguiu juntar material parapublicação de um livro Quando os Mortos Falam, que, porironia do destino, só foi publicado pouco depois de sua morte.

3º Caso: Pe. Landell de Moura (1861-1928)

De Sonia Rinaldi, tomamos estas informações9:

Gaúcho, aos 18 anos optou pelo sacerdócio, não sópor vocação, mas também pela chance de frequentar aUniversidade Gregoriana. Lá, graduou-se em Física eQuímica e depois completou sua formação eclesiásticaem Roma, formando-se em Teologia, e por fim,ordenando-se sacerdote em 1886.

Foi um dos pioneiros na descoberta do telefone semfio, ou rádio, como é hoje conhecido, o precursor daradiotelefonia e o bandeirante da própria televisão. Em1893, muito antes da primeira experiência realizada porGuglielmo Marconi, padre Landell realizava, em SãoPaulo, do alto da Avenida Paulista para o alto deSant’Ana, as primeiras transmissões de telegrafia etelefonia sem fio, com aparelho de sua invenção, numadistância aproximada de oito quilômetros, entreaparelhos transmissor e receptor. Tratava-se daprimeira radiotransmissão da qual se tem notícias. Sóum ano depois foi que Marconi iniciou as experiênciascom seu telégrafo sem fio. Em virtude do êxito de suasexperiências inéditas, Landell obteve uma patentebrasileira para um “aparelho destinado à transmissãophonética à distância, com fio ou sem fio, através doespaço, da terra e do elemento aquoso”, patente nº.3.279. O mérito do Padre Landell é ainda maior seconsiderarmos que desenvolveu tudo sozinho. Era

9 Consta no texto de sua tese de doutorado na PUC – SP, em andamento.

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dessas pessoas que além do seu lado místico, integravaem sua personalidade o gênio, o cientista, o engenheiroe o operário ao mesmo tempo. Partiu então com destinoaos Estados Unidos da América, onde se encontrou comThomas Edison e conseguiu patentear os seusaparelhos: o “Transmissor de Ondas” (precursor dorádio), o “Telefone sem fio” e o “Telégrafo sem fio”. Em1904 nosso padre inventor começa a projetar, de formaprecursora, a transmissão de imagem, ou seja, atelevisão. (RINALDI, 2009).

Não podemos deixar de registrar algo sobre o Pe.Landell, que, possivelmente, não teria se dado conta, de queera um médium de efeitos físicos, levando-se em conta osfenômenos ocorridos com ele.

No dia 21 de janeiro de 1907, estando eu na egrejano meu escriptório pela volta das 10 horas, ouvialguns estalos característicos, por mais de umavez. (ABATTE, 2004, p. 17). (grifo nosso)

[…] Alem disso, quando elles falleciam os invisíveisdavam sempre algum signal, que coincidia com amorte delles e faziam tantas outras cousas, que out'roranão costumavam fazer, como o simular ou fazer ouvirno meu gabinete de estudos, lá na egreja, um tic-tac deum espertador; dos estalos caracteristicos para avisar-me que havia alguem que precisava de meusserviços sacerdotães, ou que me procurava, antesmesmo que o sacristão tocasse a campainha e muitomais quando se tractava de enfermos, a igreja estavafechada e eu lá me achava fora, da hora de expedienteparochial. (ABATTE, 2004, p. 19). (grifo nosso)

[…] Não obstante isto, no dia 17 de fevereiro, pelavolta das 12 a 1 hora da tarde, tive que lá ir em vista dofato que nunca se dera de fazerem me ouvir um tic-tac de um espertador, como signal não commumde que fazia-se preciso a minha presença lá em cima,pois na ultima vez que lá estivera, disse que lá estivera,disse que não voltaria a não ser que elles fizessemalguma cousa em virtude da qual eu pudesse encontrarfundamento par lá ir visitar a familia, mas que me deviaser feito lá onde eu costumava estar durante a hora deexpediente, isto é, na egreja em meu escriptório.

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(ABATTE, 2004, p. 19). (grifo nosso).

Essas ocorrências, seguramente, provam amediunidade do Pe. Landell.

Padre Landell acabou por se envolver com oexorcismo, conforme podemos ver em Landell de Moura, deB. Hamilton Almeida, que disse:

E foi em Mogi das Cruzes que padre Landell seenvolveu numa experiência inédita e insólita. Eleobservou a ocorrência de fenômenos sobrenaturais nacasa dos Rocha e praticou o exorcismo, ato que chamoua atenção dos espíritas da cidade e desagradou a IgrejaCatólica pela repercussão em si. Ao padre Landell,restou a sensação de abandono de todo um trabalho,em que não faltou a criação de aparelhos científicos.

A experiência foi relatada em mais de 200 páginasmanuscritas. Padre Landell não só registrou o queaconteceu nas muitas sessões de esconjuro, como tiroutambém muitas reflexões acerca dos fenômenos. Berti,o ex-coroinha, disse que acompanhou padre Landell noexorcismo, o que fecha as informações, pois que, nosmanuscritos do padre, há citações a respeito.

Tudo começou em julho de 1906. Na casa de ManoelCorreia da Rocha, a menina Rosa apresentava estranhasmanifestações. No dia 31 de outubro de 1906, padreLandell relatou ao vigário capitular:

"Referindo-me aos fenômenos tão extraordináriossobre os quais em tempo falei a V. Exa. Revma., é meudever levar ao conhecimento de V. Exa. Revma. que setratava de um caso de dupla obsessão diabólica, local epessoal.

"Tendo procedido de acordo com as prescrições doritual romano, pude apurar no decurso dos exorcismos,que essas obsessões foram permitidas por Deus para obem espiritual de alguns membros da família em cujacasa esses fatos tiveram lugar; para a conversão deoutras e, finalmente, por motivos que mais tardetornar-se-ão bem patentes a todos.

"Duas levas infernais habitaram a casa. A primeiracompunha-se de 21 indivíduos e a segunda de onze.

"A primeira era chefiada por Demon e a segunda por

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Lúcifer."A primeira entrou no dia 21 de julho deste ano e

saiu no dia quinze de outubro ao meio-dia, e a segundateve ingresso no dia dezessete e retirou-se no dia 29 àmeia-noite.

"Ambas, quando se retiraram, deixaram o sinalexigido pelo ritual romano.

"Sobre todos esses fatos tem-se guardado muitareserva e todos eles foram por mim muitoescrupulosamente verificados, estudados ecomprovados experimentalmente e cientificamente,mediante instrumentos e aparelhos engendrados adhoc, no intuito de remover a mais leve suspeita de dolo,engano, mistificação, sugestão ou alucinação.

"Agora, só me resta pedir a V. Exa. Revma. tenha-me sempre presente no Santo Sacrifício da Missa e sedigne deixar-me no gozo das faculdades que V. Exa.Revma. me concedeu, pelo o que possa porventurasuceder".

O vigário capitular não respondeu a Carta, "apesarde tratar-se de um assunto assaz importante", segundopadre Landell. Os primeiros exorcismos foram feitos emsetembro de 1906: "Nessa ocasião, eles começaram aresponder por pancadas".

As manifestações não se restringiram às duas "levasinfernais". Padre Landell anotou: As manifestações quese deram no Alto do Ipiranga apresentaram várias fasesou períodos. A primeira começou com a entrada e saídade Demon. A segunda começou com a entrada e saídade Lúcifer. Estas duas fases ou períodos abrangeram operíodo em que eu me achava em pleno gozo dasfaculdades de exorcista. A terceira fase começou com aentrada do invisível que se intitulava, primeiro, Satanás,depois, Luci. A quarta fase começou com o que se diziaLuci e terminou dando a conhecer que era o mesmoSatanás, Em todas essas manifestações percebe-se algoque não parece depender unicamente da vontadedesses seres invisíveis. Primeiro, para a conversão dapessoa principal da casa, Segundo, para dar-nosprovas da possibilidade da intervenção diabólicanos fenômenos ditos espíritas e, terceiro, paraconfirmar o ensinamento da Igreja sobre estesassuntos".

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No encontro que manteve com o vigário capitular, nodia dezoito de janeiro de 1907, à tarde, odesapontamento: "Ao sair da secretaria do bispado,encontrei-me com o sr. vigário capitular. E tendoperguntado se devia considerar-me ainda no gozo dasfaculdades de exorcista, ele encaminhando-se para oseu escritório, e um pouco perturbado, disse-me quepensava não poder mais me conceder as supra ditasfaculdades, porque os espiritistas tendo tido notícias doque se passava, estavam tirando partido, dizendo queos fatos eram verídicos e tinham sido observados porum padre de ciências.

"Depois disso, nunca mais fiz os exorcismos, nemmesmo benzi a casa, nem fiz nenhuma oração ou preceoficial, limitando-se, apenas, de quando em vez, achamá-los à ordem em nome da igreja, quando elespareciam querer exorbitar".

Pelo menos quatro conclusões, padre Landell extraiudos fatos ocorridos em Mogi: "Primeira: que existeuma força desconhecida e que, segundo osfenômenos que a manifesta, deve ser classificadaentre as forças ditas físicas.

"Segunda: que essa força inteligente é imaterial eincorpórea. "Terceira: e apesar de imaterial, pode agirsobre a matéria e impressiona os nossos órgãossensíveis.

"Quarta: e, por conseguinte, servindo-se de meiosdesconhecidos, pode afetar ou realmente se revestir deum corpo semelhante ao nosso ou servir-se deelementos capazes de produzir direta ou indiretamentetodos os fenômenos da vida orgânica".

No dia quatro de março de 1907, a surpresa. Ovigário capitular mandou padre Landell pedir demissãoda paróquia por "não haver cumprido com certascláusulas relativas à congregação da doutrina cristã".

No livro da paróquia de Mogi das Cruzes, nada estáescrito sobre o período em que padre Landell foi vigário.Cita-se a sua substituição, mas como tendo ele própriosolicitado a sua exoneração. O jornal A vida noticiou, a24 de março de 1907, que padre Landell pediriaexoneração do cargo de vigário da paróquia.

O padre Braz Mercadante tomou posse do cargo devigário da paróquia de Mogi a sete de abril de 1907.

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Padre Landell ficaria uns tempos em São Paulo, sem terdefinição de onde ir. Hospedou-se no Hotel Albion, aindahoje existente na rua Santa Ifigênia. Esteve emTambaú, depois voltou à capital e só aos dois de julhode 1908 seria nomeado pároco de Caconde, no Estadode São Paulo. Tomou posse a dezenove de julho, foiprovisionado a 24 de julho, e pediu demissão antes desetembro.

"Mas quem é Satanás? Como o definiremos? ComoDeus por suas infinitas perfeições não pode ser definido,assim também Satanás, pela sua insondável malícia emaldade é indefinível. Não obstante isto, vos direi queele é o inimigo inconciliável de Deus e dos homens, omaldito dos céus e da terra..." (Reflexão do padreLandell).

(ALMEIDA, 1984, p. 51-54).

Num dos casos de exorcismos, provocou umamaterialização através de uma câmara metálica, que mandoufazer exatamente para isso. Vejamos:

No dia 10 de fevereiro [1907] fui ter com a funilariaafim de que elle introduzisse algumas modificações nacaixa methalica, allegando que a queria transformarem um apparelho que podesse servir para tomar banhoa vapor. Mandei alterar o diametro da abertura em queestava a rede methalica, aos lados mandei abrir duasvigias tanto estas vigias como a abertura superiorpodiam ser tapadas as vigias com dois tampos de folha,e a abertura superior com um lado bem alto cujo fundoterminava por uma rede methalica. Depois depromptificado o trabalho mandei pintar a caixa,apresentando assim uma forma muito agradavel emuitissimo mais commodo, se porventura a meninativesse de permanecer dentro della.

No dia 21 de fevereiro depois do almoço mandei acamara methalica para a casa do Im. Manuel, ao chegarlá nenhuma impressão causou aos habitantes da casasynistra; porque como de antemão fizera crer a muitaspessôas; deppendiam que de facto se destinava paratomar banhos a vapor, […]

As 4 e tanto desse mesmo dia segui para casa do Im.Manuel. […] Seriam 5 e meia quando fomos para o

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quarto dos fundos, e chegando fiz as orações como naultima vez, e aguardei pelo signal de presença o qual sódepois de haver dicto o terço e mando em nome daEgreja que se estava presente que desse o signal, foique elle o deu estalando com a boca. Então colloquei acaixa no lugar da cadeira. Os estalos continuavam aserem dados sempre que eu interrogava, affirmando ounegando, porem fora da caixa. Nesse occasião pudemosperceber perfeitamente que alli estavam taesenteidades; uma que estalava com a boca outra queexaminava com muita curiosidade a caixa metallica,mexendo nas tampas, nas aberturas laterais e umaoutra finalmente que se divertia arrastando a cadeiraque estava no interior da caixa metallica dando com ellavoltas sobre si mesma. […] Tendo voltado oreinovamente a Deus pedindo que se elle ou elles alliestavam sem sua permissão que não permitisse que deforma alguma dessem signal de presença e depoislevantando a voz disse em nome de Deus se háaqui algum ser invisivel, e o que se acha porpermissão de Deus, que falle, porque do contrario sede qualquer outra forma de signal de presença, seremoscomo intruso e neste caso mando desde já que emnome de Deus se retire. Ouviu-se então uma voz. Einterrogado entre outras respostas que deu, disseque realmente alli se achava por mandado deDeus, que se chamava Luci, que estava só, queaquelles tres entraram sem permissão que um era Roth;outro Repolhe e o outro kalcer, realmente o que elesfizeram fazia lembrar os officios de cada um delles;todavia penso que eram os mesmos que de um modoinvisivel porem perceptiveis, faziam as transformaçõespromettidas entre elles mesmos para assim provaremaos visiveis que elles em outros logares haviam feitonas nações espiritas. Penso que alli se achavamLucifer, Satanaz e Demon, que muito embora, sob aação dos exorcismos tivessem se retirado, todavia poruma especial permissão de Deus, acompanhando talvezalguma outra entidade diabolica que occultava seunome rendiam testemunho a verdade catholica. […]Depois tendo instado para que deixasse tocal-oafim de verificar se estava realmentematerializado, puz minha mão no interior da caixa,elle brincou muito com minha mão como faria umapessôa que tivesse muita confiança em mim e que

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muito me estimasse, e pela delicadeza com queagia dava-me a entender que quem assimpraticava era uma pessôa do sexo feminino. Penso,talvez me engane, que houve em todas estasmanifestações, principalmente depois que Luci, entrouem impeto de diabolico e animico e talvez até deangelico, que se sucediam de um modo muito subtil equase imperceptivel, aquellas mãos que eu apertei etantas vezes eu apertei; aquelles labios tão quentes quetantas vezes ascularam respeitosamente a minha mão,certas vezes, as vezes tão suave, e tão cheia demeiguice, de affecto, de candidez de ternura e as vezesrevestida ou de uma doce mesticia ou de uma explosivaalegria, e tanta e tantas outras circunstancias que nosfaziam esquecer que estavamos tractando com umser invisivel, fez-me suppor que além da invasãoaos meios espiritas, outros seres que nos eramcaros, e a Deus, que nos conheceram e amaram navida alli estiveram, talvez com o fito de assimparticiparem ou se aproveitarem de um meu para sepurificarem; de um modo occulto e inconfessavel, paradepois mais tarde tornar-se por elles mesmo ou dequalquer outra forma patentes os grandesacontecimentos que alli se desenrolaram sob o mantoimpenetraram de uma invasão ou obsessão diabolica,por tantas vezes e sob tantas formas identificadas ecomprovadas até mesmo experimentalmente. Tendodepois instado para que mostrasse a sua mão efizesse ver a manga da sua vestimenta para assimnão suporem que era a mão da menina, por variasvezes e com a luz accesa e posta bem junto dasaberturas laterais, vimos que alguem punha parafora da vigia uma mão muito bem conformada,animada de movimentos semelhantes a mão deum ser humano vivente. E não só essa mão, maisvarias outras se fizeram ver, talvez mostrando-se atéos pulsos, as quaes se achavam revestidas de mangasque defferiam uma das outras.

[…]Até hoje elles nunca nos deixaram tocar as mãos,

quando se tornam visiveis. Porem na escuridão,tanto no interior da caixa methallica, quando sefaz uso della, como quando não se faz uso della,mas sempre na escuridão e sem que, sejam vistos,

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temos tocado por muitas vezes as suas mãos eelles tambem tocado as nossas. […] (ABATTE, 2004,p. 21-25) (grifo nosso).

Arrematando, o caso, conclui Pe. Landell objetivandoatingir aos incrédulos e aos que apontam tais fenômenoscomo fraudes:

[...]. Tanto faz suppor os varios factos queobservamos, e que não se poderiam admittir semintroduzir essa hypothese, porque, não se tracta aquide uma allucinação, porque estudadas ecomprovadas experimentalmente como tem sidopor mim e os assistentes, estes factos, teriamos tododireito de dizermos, que ante os que assim se exprimemque estão realmente allucinados pelo despeito de veresque todos os seus esforços são insufficientes paraanniquillar ou quando menos deixar como duvidosas eambiguas essas manifestações; porque afinal contrafactos, não há argumentos. Assim tem acontecidocom todos os homens, que pelo simples facto denão ter visto alguma cousa que outros viram e emcircunstancias incapazes de toda, fraude ouallucinação, as negam; assim tambem temaccontecido com todos aquelles que negavamporque não os tinham visto, e que mais tardetendo tido occasião de verem, negaram tambemnão os factos, mais a origem delles, e por nãopoderem encontral-a acabaram por negal-as emoutro argumento que as negativas. E natural queesse corpo que elle assume para por-se emcommunicação com o mundo, não conservará mais apropria personalidade, mas sim a do invisivel que omaneija pela obsessão ou possessão. Todavia o invisiveltem que conformar-se com as disposições physicas,moraes e intellectuaes do nosso ambiente em que ellese achar, porque e indirectamente isto é cesante doorganismo do ser desdobrado que elle poderá agir parapor se em contacto sensível com o mundo. Nessascondições o invisivel participará de todos ossentimentos, inclinações emoções do individuo, cujocorpo elle assumir. Então é susceptível de poder-seemocionar, e adaptando-se ao ambiente organico emoral, participará de suas alegrias e tristezas, de suas

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dores e enfermidades e se a pessôa for piedosa, sentir-se-há inclinada as cousas santas ou viceversa, se apessôa for descrente ou impia. E na realidade pelo modode proceder daquelles tres via-se perfeitamente queelles haviam tomado corpos de creaturas differentes,sendo algumas ingenuas, travessas, barrulhentas,curiosas e timidas, mas de uma curiosidade e timidezverdadeiramente infantil. (ABATTE, 2004, p. 26) (grifonosso).

Pena que alguns parapsicólogos da atualidade parecemnão ter lido Pe. Landell, pois, certamente, saberiam o que falaacima e, mais ainda, dessa peremptória afirmação:

Sobre todos esses factos tem-se guardado muitareserva e todos elles foram por mim muitosescrupulosamente verificados, estudados ecomprovados experimentalmente e scientificamente,mediante instrumentos e apparelhos engendrados adhoc, no intuito de remover a mais leve suspeita de dolo,engano, mistificação, suggestão ou allucinação.(ABATTE, 2004, p. 154).

E aos religiosos e seus fiéis, seria bom tambémouvirem mais isto:

“[...] tinha que admittirmos que Deus agirapermitindo aquellas manifestaçõeos tãoextraordinárias, sem que ninguém as provocasse[…] (ABATTE, 2004, p. 29). (grifo nosso).

E aquelle que se mostrava tão meigo, e que oclassifica como um ser mais que angélico, será o quecom o volver dos tempos, verá derramar luz sobre osfactos do Alto do Ipiranga, manifestando-seclaramente dizendo quem é e porque Deuspermittira que aquelles tenebrosos penetrasseaquella casa, antes e depois de me haverem cassadoas faculdades de exorcista. (ABATTE, 2004, p. 49).(grifo nosso).

Os espíritos por uma permissão especial deDeus podem se apoderar no estado anormal do seuPerianto, sempre vitalizado pela a alma e podem-se

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manifestar, tornando isto é, sensível. (ABATTE,2004, p. 64) (grifo nosso).

[…] Aquelles porem, que morrerão da mortephísica podem mais facilmente se manifestarem,também com uma permissão de Deus, ou paraconfirmar-nos na fé catholica ou para converternos oufinalmente para directa ou indirectamente claro ousimuladamente haurirmos meios necessários a suapurificação. (ABATTE, 2004, p. 68). (grifo nosso).

E com o ter dicto isto, encerro as muitas notas sobreos factos tão extraordinários do Alto do Ipiranga, nacerteza que, mais cedo ou mais tarde elles terão a suacabal explicação de um modo directo ou indirecto;porque é impossível que aquelles phenomenos tãomaravilhosos se fizessem sem uma permissãoespecialíssima de Deus, e se Deus os permittia, écerto que elle tenha algum fim e de accordo com agrandiosidade tão inaudita naquellasmaniffestações, ora esse fim até hoje permaneceainda occulto muito embora se possa attribuir a este ouaquella circunstancia; por exemplo para a conversãodaquella família; mas então os effeitos se manifestaramde um modo claro e evidente se fossem permittidospara a conversão daquella família. E além disso o que setem notado nella não caracteriza ou por outra não fazsuppor que esse seja o único fim pelo qual Deuspermittiu essas manifestações. Deve haver um outrofim; é ver desde que directo ou indirectamenteparece que Deus permittiu para de um modo claroe evidente provar aos incrédulos e materialistas aexistência de uma vida suprasensível, ou para darargumentos capazes de aniquilar o espiritismo;mas nenhum desses fins podemos attingir atéagora, porquanto muito embora hajam muitos factosextraordinários, todavia, é preciso que a luz se faça, afim de poder se apresentar um todo harmonico e capazde resolver toda e qualquer difficuldade, que osmaterialistas e os espiritistas possam apresentar.(ABATTE, 2004, p. 69). (grifo nosso)

Como os que gozão de visão beatífica, isto é, osanjos e os santos podem, permitindo Deus, semanifestarem; assim também as almas dos queestão nas várias moradas na casa de Deus, podemse manifestar. […]

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Os maus espíritos também podem semanifestar, sob várias formas, simulando até oscarismas com que os anjos, os santos, as almaspurgantes e até mesmo os parasitas vem semanifestar. [...] (ABATTE, 2004, p. 78). (grifo nosso).

Em quase todas as manifestações que temos visto noseio da Igreja estamos, repetidas vezes, ouvindo que taisfenômenos só ocorrem com a permissão de Deus; portanto,não há motivo algum para condená-los.

Aos padres, aconselha sem medo:

Caso lançando mão dessas verificações para deduzirnovos argumentos scientificos em prol das verdadeschristãs, compreendo que há nisso uma disposição daprovidencia, procedo com toda a liberdade, massempre evitando tudo aquilo que pareça supérfluoe inútil e procure agir de tal forma que mantenhasempre alta e bem elevada a sua missão comosacerdote e pesquisador, dos segredos da vida,além túmulo, não por simples curiosidade saber,mas pelo o amor a verdade emquanto que poderedundar para maior glória de Deus e bem espiritual enatural das creaturas […] (ABATTE, 2004, p. 85). (grifonosso).

Se determinado padre católico, cujo nome nem épreciso citar, pois todos sabem de quem se trata, que selançou às pesquisas parapsicológicas tivesse ouvido esseconselho do Pe. Landell, teria evitado falar, publicamente,tantas asneiras.

A sua principal preocupação sempre foi o Espiritismo,seus experimentos visavam colocá-lo na sarjeta:

[...] Essas prolongadas vigias, tu bem sabes quepodem fazer mal principalmente a essa menina que tuexiges não sei porque, que vá para o interior da caixametallica, como uma apparente condição para quepossas manifestar-te em estas circunstancias. Se fossesó por mim, eu estaria prompto a passar não sóuma noite, mas quantas approuvesse a Deus, comtanto que eu pudesse colher argumentos positivos

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contra essa perniciosa seita que se intitulaespiritismo. Se por ventura ainda não forneceste essesargumentos, devido as minhas misérias, creias, Luci euestar prompto a fazer todas as mortificações epenitencias que para esse fim de mim exigir oOnnipotente. Não respondeu, elle não é preciso fazerpenitencias, porque já é uma penitencia as noites quetens que passar quase todas em claro, e a lida continuano exercício do ministério. Fiz então ver o mal queaquellas aparições espiriticas faziam no mundoaté mesmo nos centros cathólicos e lamenteiprofundamente não poder conseguir em occasiãotão adequadas e propicias manifestaçõesidênticas, com as quais certamente, se por ellefossem feitas seria a morte do espiritismo e arenascença do espiritualismo cathólico. Pelo quevejo parece que aquelles que são maus, que trabalhamcontra nossas crenças, são mais bem servidos eobedecidos por vós, do que nós que aqui estamos paracolhermos todas em prol do ensinamento da Egreja eem nome da Egreja de J. Chisto. Fiz então ver tudoquanto se dizia pelos livros com relação asmanifestações por elles feitas nas sessões espíritas,tomando as formas das pessoas que eram invocadas eque haviam um tempo habitado a terra. E que noentanto quando elle assim agia era como ummensageiro do avesso, e que aqui parecia que devíamosser mais felizes, visto como elle diria, vinha compermissão de Deus, para esclarecer e apresentarargumentos contra essa nefasta seita. (ABATTE,2004, p. 32) (grifo nosso).

Mais à frente, explica-nos Pe. Landell:

Sobre os seres intermediários

Há duas espécies, uns bons e outros maus. Ambosforam creados por Deus e como elle, são creaturasespirituaes infinitamente superiores. Os bons, sãonossos intermediários para o bem; os maus são nossosintermediários para o mal. Aquelles guiam, nosamparam, deffende e nos conduzem a Deus; estes nostentam, seduzem, enganam e nos affastam do caminhoda verdade.

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Aquelles como estes por uma permissão especial deDeus podem se tornar visíveis e sensíveis, como acimadissemos. E nestes casos, os maus muitas vezescostumam até se transformarem em anjos de luz, paranos enganar e arrastar-nos ao mal. Se alguma causahá de real nas secções epíritas, devemos attribuiraos maus espíritos que tomam as formas daspessôas que elles evocam para enganar ahumanidade e confundir as crenças cathólica. Porisso mesmo, para que o engano seja mais perfeito, ellesmuitas vezes rezam, contam causas novas, beijam oufingem beijar as imagens dos santos, deffendem areligião, fallam contra elles próprios e até mesmo setransformam em apóstolos da verdade, por umaespecial permissão de Deus. […] (ABATTE, 2004, p. 65)(grifo nosso).

Continua com o seu desejo íntimo:

Há ainda muito que desejar, a fim de convencer osmaterialistas a impossibilidade de poder attribuir estesfactos a uma cousa natural, como elles dizemdesconhecido, e por outro lado convencer tambémaos espiritistas, que se alguma causa de realexiste em suas secções, não passa senão de umaallucinação, de uma fraude ou de uma intervençãodiabólica, que assumindo as formas dos seresevocados, como taes se fazem passar ouempossessando-se dos taes médiuns pela bocca dellesdirecta ou indirectamente se externa, fallando ou secommunica por golpes, escripta ou outro qualquer meioem que se patentea a existência de um ser intelligente einnvisível. (ABATTE, 2004, p. 70) (grifo nosso).

Não bastasse tudo isso ainda dedica uma reflexãoespecial contra o Espiritismo:

Sobre um erro assaz pernicioso

Há muita gente entre os cathólicos e até mesmoentre os padres e bispos, que deante dos factosespíritas tem escripto e pregado do alto dos pulpitos,que o espiritismo é uma realidade, dando assim aentender que as almas por elles evocadas realmente

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apparecem, e que por isso a Egreja o condenna eprohibe taes sessões.

Todas affirmações não só são contrárias aoensinamento da Egreja, mas também errôneas quantoao que diz respeito ao motivo porque a Egreja prohibeessas sessões ou evoccações.

Errôneas quanto ao admittir-se que as almasevocadas apparecem, porque dado e não concedido,que taes almas apparecessem; segundo nos ensina aEgreja em taes circunstancias, embora .esses seresque apparecem com todas as formas da pessôaque um dia hábitou a terra, não seria essa a almada pessôa evocada, mas sim o inimgo que servindo-se de meios ad hoc se appresentaria tomando aforma da alma invocada. É errônea quanto a outraparte, isto é, que a Egreja prohibe essas sessões porqueas almas evocadas apparecem; pois se realmente asalmas evocadas pudessem apparecer, como depoisos espiritistas e muitos cathólicos até padres ebispos o affirmam, a Egreja seria a primeira afazer ou instituir um rito e regular essaconsoladora mutua communicação entre as almasdos seres que nos foram caras na vida. Detémtambém que estes factos são permittidos por Deus paraprovar a existência de um mundo sobrenatural. Estaproposição assim aventada é errônea; porque estesfactos foram apenas, encarados scientificamente, aexistência não já de um mundo sobrenatural, mas simsupersensível, transcendental ou por outro podernatural, a existência de um mundo su prasensível.

Ao meu ver Deus permitte todos esses factos, parahumilhar e confundir a soberba dos sábios deste seculo,que desprezando a revelação, deante do maravilhoso einigmático, deante n'uma palavra dos factos naturaes oudiabólicos que revelam a existência ou poder somenterevelar a existência de um mundo suprasensível,pensam terem penetrado no segredo de um novoconhecimento, que apparentemente parece confirmar osobrenatural, mas na realidade o destrói pela base,porque, repito esses factos taes quaes como sãoapresentados pelos espiritistas, apenas de direito aohomem descende de acreditar na existência de ummundo cohabitado por seres, cuja natureza nos édesconhecido, ou optar pelo o que nos ensina o

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espiritismo ou o catholicismo.Todavia baseado nesses factos quando reaes e

incontestáveis, quaes repito revelam unicamente aexistência de um mundo ou de uma sciencia queexcede os limites dos conhecimentos humanos, eque por isso mesmo o chamo de supersensível,poderemos servir-nos della para provar, sendosempre bem erguido o acchado de pé para provar-noscom razões a posteriori, a existência de um mundosobrenatural, não como elles ou alguns delles bemintencionados procuram provar, mas como nos ensina aEgreja. Os factos que apparecem ou se dãoexpontaneamente, é que sob a acção do exorcismodevidamente exercido, podem certamente servirem decritério para provar o sobrenatural, principalmentequando pelos phenomenos que apresentam fazemlembrar os que os espiritistas trazem para confirmarema sua doctrina errônea. Então neste caso, podemospiamente crer que Deus, haja permittido taesmanifestações, não já como uma nova ponta derevelação que é absurdo, mesmo que nol-o pareça, massim como um argumento ao homem para conflitar oscom os espíritas, e de supersensibilistas o concebermosem sobrenaturalistas. E penso que Deus prepara oscaminhos para esse novo methodo de fazer triunphar asua Egreja. Os outros methodos de adoctar diretamenteo espiritismo analisando as suas proposições penso quealém de serem infructiferas, são perigosíssimas; porqueexcita a caridade dos fiéis deante do apparentementemuitas vezes maraviglioso, e irrita o aninmo dos queprofessam essa nova seita, porque verdade o nãoverdade, deante dos seus olhos elles vêemdesenvolverem-se phenomenos, que constituemverdadeiros prodígios para elles e mais nada por estesphenomenos do que pela opinião ou doctrinas destaterrivel seita, elles vivem e morrem impenitentes,porque estão plenamente persuadidos que nós estamoscom essa e que elles estão de posse da verdade. ComoJesus C. pregou e fundou a sua religião e confirmou asua doctrina com os milagres; o inimigo por sua vezpretende fundar a sua religião ou culto, servindo-se eapparentando prodígios. Apparentando digo euprodígios, porque pelo o estudo que tenho feito emnenhum desses factos apparentemente periculososexista com effeito um só que possa ser classificado

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como tal ainda mesmo quando tenho algo que façalembrar os milagres de primeira ordem.

O espírito das trevas servindo-se de leis que talvezmuitas dellas mais tarde nos sejam conhecidas, podemfazer e tem feito ou melhor tem apparentado fazermilagres, Deus suscitará um homem, dizia eu anosattrás a um bom religioso do Campo de Jesus.

Deus suscitará um homem, que revestido decertos carismas, poderá provar com argumentosdo homem o erro em que essa irreversivelmultidão espirita labuta.

E mais tarde esse homem appareceu, impróprio venitit sui eum man (ilegivel). E é muito provavel que depoisde pagar o seu tributo como pessôa escolhida por Deus,nelles reconheção esses carismas. Esse homem eu oconheço elle vive no meio de nós, elle tem sidodesprezado, e até abandonado, por aparições que fazemlembrar os que proferiam contra J. C. quando expulsavaos demônios, têm-se também proferida contra elle. Masno entando os factos estão confirmandoexhuberantemente que J.C. confirmou em seusacerdócio as promessas que fizera aos seus apóstolosantes de se levar aos ceos.

Todavia para que a grandeza desse poder não ofizesse suppor mais do que elle é, isto é, um pobre eingrato pecador, approuve a Deus permittir que o anjosatanás o moleste com os terriveis estimulos daconcupiscencia, em quanto para o sublevar de quandoem quando deante dos tabernáculos eternos onde suamagesta divina habita elle experimenta transportarconsolações que qual outro Paulo no meio de suastribulações, o fazer (ilegivel) e sentir saudades dessasregiões, para as quaes todo santo tenha como em voltade si o convida. Eu conheço esse homem e em seusacerdócio, adora o de J.C. e admira a infinita sabedoriade Deus que por caminhos tão extraordinários e aomesmo tempo tão novamente o vae preparando paraa grande obra da morte do espiritismo e arenascença do espiritualismos cathólicos."

Lous Deo Virginiz Madre.Padre Roberto Landell de Moura

(ABATTE, 2004, p. 91-93) (grifo nosso)

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O que mais nos deixa perplexos é ver a pessoa provarpor “a” mais “b” que é real o fenômeno da manifestação dosmortos, tentar negá-lo quando ele ocorre no meio espírita;seria Deus tão parcial assim estabelecendo privilégios aoscatólicos e a ninguém mais??? Como se vê, apesar de terprovado cientificamente os fatos, ainda ficava preso aodogma de sua Igreja, contradição sua de que não se davaconta.

Nos escritos contendo suas reflexões, pode-seencontrar uma sua narrativa sobre um diálogo que mantevecom uma alma, através de uma menina-médium; leiamos oseu minucioso relato:

Conversando com uma alma

Perguntei então, quem és tu, és homem ou mulher?Sou homem. Vives? Não, eu estou no cemitério.

E quando falleceste? Exitou um pouco e depois disse,há quatro annos. Onde falleceste? Ainda exitou mais, erespondeu dizendo: Pois em Viamão mesmo.

Quantos anos tinhas? 30 annos.

Em que te empregavas? Pois era embarcadiço? Eminha mulher também já morreu, acrescentou sem queeu perguntasse.

Como te chamas? Pedro.

De que? Rodrigo de Oliveira.Que religião tinha? Pois a das Egrejas.

O padre te assistiu antes de morrer? Sim, tambémna egreja quando levaram o meu corpo.

Fostes julgado logo apóz a morte? Fui.Sofrestes alguma cousa? Um pouco.

Onde estás no espaço? É no espaço.Tem algum planeta? Sim, é n'um planeta.

Como se chama? Não sei.Parece ser como a terra? Não.

É formado? É.Porque estás aqui? Não sei.

Tens em tua companhia no lugar onde estás outraspessôas? Não, estou só.

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O que soffres? Eu sinto como que cansado.Tens então plena certeza, estás morto? Tenho.

Conheces o Manuel que hontem aqui esteve? Não.Não és por ventura satanáz disfarçado ou algum de

seus representantes?

Não, disse-me com acento de sinceridade.Então, és mesmo o Pedro Rodrigo de Oliveira? Sou,

respondeu-me com ascentuação de sinceridade.Tu creias a J. Christo? Não, disse-me com certa

admiração.Crês em Deus, ouves a Deus a sua santa mãe, etc?

Sim!Então, és Pedro? Sou!

Escuta Pedro ou melhor Lucifer, tu estás em teupapel; porém lembra-te que não estás tratando com umdaquelles que tendo deixado de ser crentes, tornaram-se crédulos, bem está que tu o enganes com estesembustes; mas, a mim que já te conheço (sorriu nessemomento); é preciso que declares quem realmente tués, és Lucifer? Dize em nome de Deus, sou? Credes aJ.Chisto? Não.

Cres na tua divindade? Creio.Mas então, és Lucifer ou um dos seus comparsas?

Não sou.És então Pedro? Seu lucifer deixes de alugar, do

contrário rogarei a Deus que te mande para o abysmo.Tu te aproveitas da decahida da I personalidade, tua edesta creatura. Tu creia a J. Christo não e? Mas estamenina o ama.

Em última anályse, tu queres dizer que te servesdesta pessôa ou melhor actuas sobre sua imaginação,como eu faço quando a queria fazer sonhar, suggerindo-lhe a idéia; assim tu também o fazes; e devido aoautomatismo ella forma o phantasma da imaginaçãotem em sonho, na qual ella falla, responde, pergunta,forma varias entidades objectivas, as quaes se revestemdas notas características de suas idéias, physicas,moraes e religiosas dessas pessôas, em as quaes ellasonha. Sim, é assim, e ao dizer assim, correu à menina.

Pois bem, não faças mais assim. Deixes em paz estapessôa em nome de Deus. Promettes? Prometto.

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Pois bem, em confirmação de tudo isto, dá-me umaprova, e aceitarei como prova escreveres alguma cousa?

Vistto ella não saber escrever. Puz o lápis na mão damenina, e ella com muito esforço traçou o nome PedroRodrigo de Oliveira, só a lettra p é intelligível, como sevê pelo escripto. Agora retira-te para o lugar ondemenos soffres. A menina deu um profundo susphiro epassou a sonhar com seu anjo da guarda, por mimsuggerido. Accordou-se bem disposta. Esquecida detudo que vira e se passara durante o sonno, menos davisão do sonho com seu anjo da guarda. Escondi o lápise o papel. Não fallei sobre a experiência que fizera ecom muito jeito sem que ella desconfiasse, pudecertificar-me de tudo quanto dissera acerca de Pedro.

Pedro era seu pae e fallecera em Viamão, e sua mãeapóz a sua morte. Tinha com effeito aquelle sobrenome,era espanhol, embarcadiço. 30 annos, morreu a 4 a 5annos, era crente etc...

(ABATTE, 2004, 159-161).

Pe. Landell convivia com dois fantasmas: um era odemônio, entidade que via em quase todas as manifestações,e o outro era o Espiritismo, que não dava nenhuma trégua,querendo derrubá-lo a todo custo. Será que, após sua morte,lá no outro mundo, eles continuaram a atormentá-lo???

4º Caso: Pe. Miguel Martins Fernandes (? - )

Em Sobradinho, uma das cidades satélites do DistritoFederal, o sacerdote católico Padre Miguel, após celebrar suamissa e retirar seus paramentos, incorpora o espíritochamado de Frei Fabiano de Cristo e, ainda dentro da Igreja,passa a atender aos fiéis, que ali vão em busca de alentoespiritual.

Numa entrevista ao apresentador de TV Alamar Régis,ele disse que tudo começou no ano de 1969, quando oespírito Frei Fabiano aparece-lhe dizendo que tinha quetrabalhar com ele. Fez de tudo para que isso nãoacontecesse; mas, vencido pelas evidências e a bondade doFrei, acabou cedendo e hoje é, talvez, o único Padre que,assumidamente, se diz médium. Vejamos um pouco dessasua entrevista:

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Alamar: Mas a mediunidade em um padre, é umacoisa muito esquisita, do ponto de vista tradicional,considerando os dogmas da Igreja. O senhor não ficasem jeito quando enfrenta os seus próprioscompanheiros de doutrina?

Padre Miguel: Não é que eu tenha vergonha daminha espiritualidade – vocês chamam de mediunidade,mas eu chamo de espiritualidade . Eu venho aceitando aela porque eu só tenho visto caridade no Espiritismo. Eutenho visto pessoas que não acreditavam em Deus epassaram a acreditar, pessoas que se afastaram pormuito tempo de Deus e voltaram, pessoas que nuncaleram o Evangelho e passaram a ler, porque o Frei deuo Evangelho Kardecista(?), porque ele não aceita outroEvangelho. Eu até brigo com ele porque ele diz que o“Evangelho Segundo o Espiritismo” é muito maisexplicado e mais profundo que o da Igreja Católica.Apesar de eu não ver dessa maneira, ele acha isso.

Hoje até uma briga feia que dois padres pegaramcomigo, falando sobre o Evangelho. Foi uma confusãomuito grande, e eu tive de explicar que era uma opiniãodo Frei Fabiano, e pedi para que eles maneirassem umpouco, porque aquilo já estava causando um sofrimentoenorme.

Eu fui parar numa reunião só de bispos e padres. Mechamaram de charlatão, de vigarista, macumbeiro e detudo quanto é nome.

Eu percebo que tenho um gênio muito forte, e nessabriga estava para reagir, quando o Frei Fabiano meencostou e disse:

- Não diga uma palavra, não fale nada. Assim comoJesus ficou calado diante de Pilatos, fique tambémdiante desse tribunal”.

Aí, quando terminou, um dos participantes dessareunião, que eu chamo de Inquisição, falou assim:

- “Você não vai se defender não?”A resposta foi a que o Frei mandou que eu desse:

- “O tempo é que dirá e julgará o que eu faço emSobradinho”.

Alamar: No nível moral, como o senhor define oespírito Frei Fabiano?

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Padre Miguel: A ele devo muita coisa. Ele mudouminha vida toda. Eu gostava de tomar uma“brahmazinha”, escondido, hoje não tomo mais. Eu saíamuito, hoje não saio mais; fiquei caseiro; rezo muito.Eu não era de ler o Evangelho, era meio relaxado, hojejá estudo e procuro vivenciá-lo muito mais. Depois delea minha vida mudou completamente.

Alamar: Quais as orientações mais significativas queo Frei Fabiano lhe tem dado?

Padre Miguel: Só boas orientações. Ele só fala dascoisas do Alto. Para ele falar das coisas daqui, eu tenhoque insistir. Ele tem uma coisa de que eu gosto muito, asinceridade. Se alguém estiver para morrer, ele dizmesmo. Agora ele até já parou um pouco de dizer.Prefere não tocar no assunto porque o mundo nãocompreende a morte e as pessoas sofrem muito quandoé revelada antes.

A entrevista completa poderá ser vista na RevistaVisão nº 1, abril/1998, p. 40-43, e na nº 2, maio/1998, p.36-37.

5º Caso: Pe. François Brune (1931 -)

Estamos diante de um renomado pesquisador daTranscomunicação Instrumental, nome pelo qual passou-se adesignar a comunicação dos mortos através de aparelhoseletrônicos. Pe. Brune teve a coragem de se lançar àpesquisa, para saber se tais fatos eram reais ou não. Aconclusão a que chegou está registrada no livro de suaautoria intitulado Os mortos nos falam.

Vamos transcrever sua opinião sobre o assunto, já quenão nos cabe, aqui, senão dar uma ideia de como ele pensa,deixando, ao leitor, a oportunidade de ler o seu livro.

Interrogar sobre as origens, no pensamentoocidental, desta recente ideologia do nada, não é o meupropósito. O mais escandaloso é o silêncio, o desdém,até mesmo a censura exercida pela Ciência e pelaIgreja, a respeito da descoberta inconteste maisextraordinária de nosso tempo: o após vida existe enós podemos nos comunicar com aqueles que

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chamamos de mortos.Escrevi este livro para tentar derrubar esse espesso

muro de silêncio, de incompreensão, de ostracismo,erigido pela maior parte dos meios intelectuais doocidente. Para eles, dissertar sobre a eternidade étolerável; dizer que se pode vivê-la torna-se maisdiscutível; afirmar que se pode entrar em comunicaçãocom ela é considerado insuportável.

O padre e teólogo que sou quis, como se diz,certificar-se completamente da verdade. Por quetodos esses testemunhos deveriam ser, a priori,considerados suspeitos? Quando o conteúdo dasmensagens e das comunicações gravadas reúne, comoeu o demonstro, os maiores textos místicos de diversastradições, existe nisso mais que uma simplescoincidência. Eu acompanhei, pois, e estudeiapaixonadamente os resultados das pesquisas maisrecentes nesse campo. As conclusões deste trabalhoultrapassam minhas previsões: não somente acredibilidade científica das experiências decomunicação com os mortos encontra-seconfirmada e não pode ser mais posta em dúvida,mas a prodigiosa riqueza dessa literatura do alémreanimou em mim o que os séculos deintelectualismo teológico haviam extinguido.

[...]

Todos sabem, a Igreja nutre a maiordesconfiança em relação a esse tipo defenômenos: Ela prega a eternidade, é verdade,mas não aceita que se possa vivê-la e entrar emcomunicação com ela. Eu mostro que não foisempre assim. [....] (BRUNE, 1991, p. 15-16). (grifonosso).

Suas pesquisas o levaram a afirmar “o após vida existee nós podemos nos comunicar com aqueles que chamamos demortos” e a questionar a posição ainda intransigente daIgreja a qual pertence. Dia virá que, certamente, ela mudaráde opinião, que isso não demore muito, é o que desejamos,pois essa verdade poderá mudar a maneira de viver de muitagente, tornando-nos mais amáveis e gentis uns com osoutros.

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Conclusão

E já que acabamos de falar da intransigência daIgreja, seria oportuno, nesse momento que vamos concluir,transcrevermos o que alguns espíritos disseram sobre o papeldela, no que se refere às pesquisas:

a) Em 13 de fevereiro de 1987:

Dr. D.10: “Qual é a melhor maneira de propagar atranscomunicação entre os homens? Sua utilização podeexpandir-se?”

T.: “Um papel importante caberá à Igreja Católica.Os responsáveis de todos os lados omitiram-se na suaobrigação de transmitir à humanidade uma visãoaceitável do mundo. O Papa tem ciência da TC, emandou fazer pesquisas. A Igreja Católica está bemassessorada, caso aproveite desta oportunidade que lhefoi oferecida”. (SCHÄFER, 1998, p. 112).

b) Em 15 de maio de 1987:

Dr. D.: “Que tipo de ajuda é mais necessária para oprogresso da TC?”

T.: “A ajuda mais importante é aquela que terá queser prestada pela Igreja Católica”. (SCHÄFER, 1998, p.119).

Sinceramente, esperamos que ela possa assumir adianteira das pesquisas da Transcomunicação Instrumental(TC), visando, especialmente, provar que, após a morte, avida continua. Uma vez que a morte é apenas umapassagem, pela qual o nosso espírito retorna a seu plano deorigem. Que Deus possa iluminar seus representantes!

Ocorre-nos a ideia de realçar duas coisas em relaçãoaos casos citados: uma, que isso ocorre na Igreja Católicadesde antes da codificação Espírita; a outra, que os médiunssão encontrados nas mais variadas religiões, independente declasses sociais, já que não há privilégio algum quanto a esse

10 “Dr. D.” = dr. Ralf Determeyr, de Kirchzarte; “T.” = entidadeespiritual que usava o nome Técnico.

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“dom”. O fato disso acontecer em vários países vem provar asua universalidade e, por isso, deveria merecer mais atençãodos cientistas. Veja e constate você mesmo, caro leitor, comos casos aqui citados, listados na ordem cronológica:

l Maria-Ana Lindmayr (1657-1726), uma freira,carmelita descalça, Alemanha - início 12/1690;

l Irmã Ana Felícia (?-?), religiosa, Itália - apariçãovista em 11/1859;

l Irma Maria da Cruz (? - 1917), religiosa, França –início 11/1873;

l Pe. Landell de Moura (1861-1928), sacerdotecatólico, pesquisador, Brasil – início 01/1907;

l Eugênia von der Leyen (1867-1929), uma princesa,Alemanha - início 08/1921;

l Irmã Maria Faustina (1915-1938), religiosa e hojeSanta Faustina, Polônia, início por volta de04/1926;

l Maria Simma (1915-2004), filha de um dono deuma hospedaria, Áustria - início 12/1940;

l Pe. Agostino Gemelli (1878-1959), sacerdotecatólico, físico, Itália – contato com o pai em09/1952;

l Pe. Léo Schmidt (1916-1976), sacerdote católico,pesquisador, Suiça – início 03/1969;

l Maria Gómez Cámara (1919-2004), humildeagricultora, Espanha - início em 08/1971;

l Dr. Lino Sardos Albertini (1915-2005), advogado,Itália - contato com o filho em 02/1983;

l Pe Miguel Martins, sacerdote católico, médium,Brasil - início 12/1985.

l Pe. François Brune, sacerdote católico, pesquisador,França – início 07/1987;

Quanto à recomendação de Kardec sobre asevocações, é bom ressaltar, porquanto, a maioria das pessoas

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acha que fazemos isso levianamente; o fato é que acontecejustamente ao contrário:

Não há, para esse fim, nenhuma fórmulasacramental. Quem quer que pretenda indicar algumapode ser tachado, sem receio, de impostor, visto quepara os Espíritos a forma nada vale. Contudo, aevocação deve sempre ser feita em nome de Deus.Poder-se-á fazê-la nos termos seguintes, ou outrosequivalentes: Rogo a Deus Todo-Poderoso que permitavenha um bom Espírito comunicar-se comigo e fazer-meescrever; peço também ao meu anjo de guarda sedigne de me assistir e de afastar os maus Espíritos.(KARDEC, 1996, p. 248). (grifo nosso).

Quando queira chamar determinados Espíritos, éessencial que o médium comece por se dirigir somenteaos que ele sabe serem bons e simpáticos e que podemter motivo para acudir ao apelo, como parentes, ouamigos.

Neste caso, a evocação pode ser formuladaassim: Em nome de Deus Todo-Poderoso peço quetal Espírito se comunique comigo, ou então: Peço aDeus Todo-Poderoso permita que tal Espírito secomunique comigo; ou qualquer outra fórmula quecorresponda ao mesmo pensamento. (KARDEC, 1996, p.249). (grifo nosso).

Quando dizemos que se faça a evocação emnome de Deus, queremos que a nossarecomendação seja tomada a sério e nãolevianamente. Os que nisso vejam o emprego de umafórmula sem consequências, farão melhor abstendo-se.(KARDEC, 1996, p. 350). (grifo nosso).

Outras considerações de Kardec sobre o tema:

2ª O Espírito evocado atende sempre ao chamadoque se lhe dirige?

"Isso depende das condições em que se encontre,porquanto há circunstâncias em que não o pode fazer."

3ª Quais as causas que podem impedir atenda umEspírito tão logo ao nosso chamado?

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"Em primeiro lugar, a sua própria vontade; depois, oseu estado corporal, se se acha encarnado, as missõesde que esteja encarregado, ou ainda o lhe ser, paraisso, negada permissão.

"Há Espíritos que nunca podem comunicar-se: osque, por sua natureza, ainda pertencem a mundosinferiores à Terra. Tão pouco o podem os que se achamnas esferas de punição, a menos que especial permissãolhes seja dada, com um fim de utilidade geral. Para queum Espírito possa comunicar-se, preciso é tenhaalcançado o grau de adiantamento do mundo onde ochamam, pois, do contrário, estranho que ele é às ideiasdesse mundo, nenhum ponto de comparação terá parase exprimir. O mesmo já não se dá com os que estãoem missão, ou em expiação, nos mundos inferiores.Esses têm as ideias necessárias para responder aochamado."

4ª Por que motivo pode a um Espírito ser negadapermissão para se comunicar?

"Pode ser uma prova, ou uma punição, para ele, oupara aquele que o chama."

8ª O Espírito evocado vem espontaneamente, ouconstrangido?

"Obedece à vontade de Deus, isto é, à lei geral querege o Universo. Todavia, a palavra constrangido não seajusta ao caso, porquanto o Espírito julga da utilidadede vir, ou deixar de vir. Ainda aí exerce o livre-arbítrio.O Espírito superior vem sempre que chamado com umfim útil; não se nega a responder, senão a pessoaspouco sérias e que tratam dessas coisas pordivertimento."

9ª Pode o Espírito evocado negar-se a atender aochamado que lhe é dirigido?

"Perfeitamente; onde estaria o seu livre-arbítrio, seassim não fosse? Pensais que todos os seres doUniverso estão às vossas ordens? Vós mesmos vosconsiderais obrigados a responder a todos os que vospronunciam os nomes? Quando digo que o Espírito poderecusar-se, refiro-me ao pedido do evocador, visto queum Espírito inferior pode ser constrangido a vir, por umEspírito superior."

10ª Haverá, para o evocador, meio de constranger

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um Espírito a vir, a seu mau grado?"Nenhum, desde que o Espírito lhe seja igual, ou

superior, em moralidade. Digo em moralidade e não eminteligência, porque, então, nenhuma autoridade tem oevocador sobre ele. Se lhe é inferior, o evocador podeconsegui-lo, desde que seja para bem do Espírito,porque, nesse caso, outros Espíritos o secundarão."

12ª Serão necessárias algumas disposições especiaispara as evocações?

"A mais essencial de todas as disposições é orecolhimento, quando se deseja entrar em comunicaçãocom Espíritos sérios. Com fé e com o desejo do bem,tem-se mais força para evocar os Espíritos superiores.Elevando sua alma, por alguns instantes derecolhimento, quando da evocação, o evocador seidentifica com os bons Espíritos e os dispõe a virem."

13ª Para as evocações, é preciso fé?"A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá, se

desejardes o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos."

22ª Para se manifestarem, têm sempre os Espíritosnecessidade de ser evocados?

"Não; muito frequentemente, eles se apresentamsem serem chamados, o que prova que vêm de boa-vontade."

(KARDEC, 1996, p. 358-364).

Como ficou demonstrado pelas manifestações dosespíritos que aqui apresentamos, independentemente deevocar ou não, os espíritos só aparecem porque hápermissão; nada acontece por vontade deles mesmos, poisseguem o controle de Espíritos Superiores, que são osprepostos de Jesus, que, com Ele, fazem cumprir a vontadede Deus.

As provas que tanto nos exigem determinadosevangélicos, nós as apresentamos usando as que os católicospossuem – citadas aqui neste estudo -, exatamente, de quemse faz também de nossos adversários, ficando, dessa forma,fora de propósito eles contestá-las.

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Visando mostrar o que anda acontecendo na IgrejaCatólica, apresentamos o que disse o jornalista e escritoritaliano Alfredo Lissoni, no livro Os Enigmas do Vaticano:

Poucos sabem que, como o FBI, o Vaticanocolecionou os próprios Arquivos-X, e que, como noconhecido seriado americano, tem os seus Fox Mulder,seus investigadores paranormais. É desde 1970 quejunto à Pontifícia Universidade Lataranense da Cidadedo Vaticano existe uma cátedra de Paranormalogia eUfologia. Instalada por Paulo VI e existente até os diasatuais, é dirigida pelo sacerdote redentorista austríacoAndréas Resch, no passado anfitrião de congressosinternacionais de parapsicologia além de inventor dotermo paranormologia (estudo do paranormal). Resch édocente de Psicologia Clínica e Paranormologia naAcademia Alfonsiniana de Roma e é, apesar dacondenação eclesiástica ao espiritismo, um cultuador damediunidade. Não esconde ter participado, em 1987, deuma sessão espírita, durante a qual foi utilizada umacâmera para eternizar os espíritos. Obteve um ótimoresultado, captando em um rastro magnético a imagemde Henry Sainte Claire Deville, químico francês mortoem 1881. E ainda em fevereiro de 2002, Resch trouxeao conhecimento do público, pela revista Grenzgebieteder Wissenschaft, dirigida por ele próprio, o caso daalemã Sabine Wagenseil, que afirma ouvir a voz dopadre Wolfgang Bruno, teólogo beneditino morto vítimade um infarto em 2001. (LISSONI, 2005, p. 109).

Aos católicos recomendamos que, se pesquisarem,acabarão percebendo que nem tudo que lhes dizem éverdadeiro, especialmente aqui no Brasil, onde parece que acúpula católica odeia os espíritas, apesar de que, diante deholofotes, dizem amá-los. É o tal do “tapinha nas costas”,comum aos hipócritas. É certo que eles não fazem a mínimaquestão de seguir as recomendações do Papa João Paulo II,que, na Basílica de São Pedro, disse, em alto e bom som: “Odiálogo com os mortos não deve ser interrompido, pois,na realidade, a vida não está limitada pelos horizontesdo mundo” (SABINO, 2005, p. 93). (grifo nosso).

A certos líderes continua prevalecendo o que disse

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Simma: “Muitos padres se consideram tão sábios quepretendem entender de tudo”. Outros negam o Espiritismo,por dever de ofício.

Não sabemos se teríamos algum argumento aoscéticos, porquanto, é difícil mesmo demovê-los do quepensam; apenas lhes pediríamos que refletissem um poucomais, diante dessas provas que aqui apresentamos, eestudassem cientificamente o Espiritismo!

Paulo da Silva Neto SobrinhoAbril/2007(revisado em Mar/2009)(revisado em Set/2009)

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Reportagem sobre declaração do Pe. Gino Concetti(visitadas em 20/04/2007):http://victorzammit.com/book/spanish/chapter03.htm;http://www.karine-tci.com/Noticias.html#universalhttp://www.lesquatrer.fr/37803.html?*session*id*key*=*session*id*val*http://www.worlditc.org/d_07_brune_rediscovered_beyond.htmhttp://www.after-death.com/articles/vatican.htm