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Temas da Aula
Revisão Anatomo-Fisiológica 2
Neuroimagiologia da Coluna Vertebral 5
Radiografia Simples (RX) 5
Ressonância Magnética (RM) 5
Tomografia Axial Computorizada (TAC) 6
Mielo-TAC 6
Mielografia 6
Cintigrafia 7
Patologias Raqui-Medulares 8
Lesões Traumáticas 9
Lesões Congénitas 10
Lesões Degenerativas 12
Lesões Tumorais 16
Lesões Infecciosas 18
Doenças Neurológicas e Sistémicas 20
Doenças Vasculares 21
Bibliografia
� Anotada correspondente de 2006/2007, Vanda Estríbio
Anotadas do 4º Ano – 2007/08 Data: 8 de Outubro de 2007
Disciplina: Neurologia Prof.: A. Almeida
Tema do Seminário: Patologias Raqui-Medulares
Autor: Vanda Estríbio
Equipa Revisora: Carlos Vila Nova e Pedro Freitas
Patologias Raqui-Medulares
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Revisão Anatomo-Fisiológica
A medula espinhal (fig.1) é a porção
do SNC contida no canal raquidiano, que é
formado pelos buracos vertebrais das
vértebras que compõem a coluna vertebral
(ou ráquis).
As vértebras estão articuladas entre si
através das apófises articulares, dos
discos intervertebrais (constituídos por um
núcleo pulposo central e um anel fibroso
periférico; funcionam como amortecedores) e
de uniões ligamentares, sendo que o canal
raquidiano segue as diferentes curvaturas da
coluna e possui um tamanho adequado ao
diâmetro da medula espinhal, protegendo-a.
A medula espinhal tem como limites:
• limite superior – plano horizontal que passa pelo bordo superior do
arco posterior do atlas e a meio do arco anterior deste osso;
• limite inferior – bordo inferior da primeira vértebra lombar (L1-L2).
Tem a forma dum cordão irregularmente cilíndrico, com:
� Duas dilatações:
• superior ou cervical, relacionada com plexo braquial, estende-se de
C4 a T1,
• inferior ou lombar, relacionada com o plexo lombo-sagrado, vai de
T10 a L1;
� Um estreitamento, inferiormente à dilatação lombar, de forma cónica
com vértice inferior, o cone terminal ou medular.
Ao cone terminal segue-se um prolongamento da pia-máter, o filamento
terminal, que se estende até ao vértice do cóccix.
Fig.1 Esquema do ráquis com a medula espinhal.
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A medula espinhal é formada por substância cinzenta disposta centralmente
(em forma de borboleta), constituída pelos corpos celulares dos neurónios motores,
sensitivos e autonómicos, e envolvida por substância branca (fig.2).
Na substância branca, encontram-se as vias longas que conduzem a
informação nos sentidos ascendente e descendente – destaca-se que nos:
� cordões posteriores correm:
• feixes de Goll e de Burdach (sensibilidade profunda);
� cordões laterais correm:
• feixe espinho-cerebelosos (informação propioceptiva e tónus),
• feixe espinho-talâmico lateral (sensibilidade termo-álgica),
• feixe cortico-espinhal lateral (motilidade voluntária);
� cordões anteriores correm:
• feixe espinho-talâmico anterior (sensibilidade grosseira do tacto e
da pressão),
• feixe cortico-espinhal anterior (motilidade voluntária).
Fig.2 Disposição dos feixes ascendentes e descendentes na medula espinhal.
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As fibras dos cordões posteriores, à medida que vão entrando, empurram as
dos segmentos inferiores para dentro, ao passo que as fibras dos cordões laterais
estão organizadas de modo inverso, ou seja, as fibras dos segmentos inferiores são
mais externas.
A medula espinhal está envolvida por três meninges (da superfície para a
profundidade):
• dura-máter,
• aracnoideia,
• pia-máter.
A medula é vascularizada por uma rede arterial perimedular, contida na pia-
máter, constituída por:
• artérias espinhais anteriores – com origem nas artérias vertebrais;
• artérias espinhais posteriores – com origem nas artérias vertebrais ou
cerebelosas postero-inferiores;
• artérias segmentares – com origem nas artérias vertebrais, intercostais,
lombares e sacradas laterais � destaca-se a artéria de Adamkiewicz, com
origem variável na aorta, responsável pela vascularização dos dois terços
inferiores da medula.
A drenagem venosa é efectuada para seis canais longitudinais tortuosos que
comunicam superiormente com as veias do cérebro e com os seios cavernosos, e
para o plexo da pia-máter, que drena para o plexo intra-raquidiano.
A linfa circula nas bainhas perivasculares, que se abrem no espaço
subaracnoideu.
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Neuroimagiologia da Coluna Vertebral
Existem diversos métodos imagiológicos de estudo do ráquis.
RADIOGRAFIA SIMPLES (RX)
A radiografia simples, um método barato e muito acessível, está indicado no
estudo das curvaturas e da biomecânica, e na primeira aproximação ao
diagnóstico topográfico das lesões traumáticas. Para além disso, é útil na
demonstração de hemivértebra, diastematomielia, espinha bífida, agenesia do
sacro, angioma vertebral, espondilite anquilosante e tumores.
A incidência de perfil é a mais informativa, na maioria das situações.
Não mostra hérnias discais nem a maioria das alterações dos tecidos moles,
pelo que se deve avançar para a RM ou TAC, nestes casos.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM)
A ressonância magnética é o método imagiológico preferencial por ter uma
excelente resolução de contraste, uma capacidade multiplanar e não utilizar
radiação ionizante. Contudo, devido ao seu preço elevado, recorre-se muito à TAC.
A RM é um bom método para evidenciar tumores (hiposinal em T1 e hipersinal
em T2, regra geral) extradurais e intradurais em toda a sua extensão, cavidades
siringomiélicas, medula ancorada, patologia medular que se exprime mais por
alteração de sinal do que por alteração morfológica (esclerose múltipla, mielites,
lesões isquémicas), hematomas intramedulares ou epidurais, malformações
vasculares, malformações de neurulação, de disjunção e de regressão caudal.
Para além disso, é preferível à TAC para avaliar hérnias discais cervicais,
permite diagnosticar espondilodiscites numa fase muito precoce, devido à elevada
sensibilidade à água em T2 (hiperintensa), e é um óptimo meio de diagnóstico
complementar, no que respeita a lesões traumáticas.
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TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTORIZADA (TAC)
A tomografia axial computorizada, largamente disponível, é de fácil e rápido
acesso por um custo baixo. Em relação à RM, a TAC tem uma resolução espacial e
distinção entre tecidos moles e osso superiores; no entanto, tem uma resolução de
contraste inferior para tecidos moles.
É suficiente na suspeita de hérnia discal lombar.
MIELO-TAC
A mielo-TAC é uma TAC realizada após a injecção no espaço subaracnoideu
de produto de contraste positivo hidrossolúvel. Permite aumentar muito a
sensibilidade da TAC para definir os contornos da medula espinhal e das raízes. É
um bom recurso quando a RM está contra-indicada e serve também de exame
complementar à RM no estudo de lesões traumáticas do plexo braquial, visto que,
na maioria das vezes, há arrancamento das raízes junto à medula.
MIELOGRAFIA
A mielografia trata-se de um RX após injecção de produto de contraste
(positivo, hidrossolúvel e não iónico) no espaço subaracnoideu, sendo, por isso, um
método invasivo, com potenciais efeitos adversos (meningismo, contracturas
musculares, etc.), não aconselhável em ambulatório.
Permite a definição da medula e das raízes e só é indicada quando a RM
e/ou TAC não podem ser utilizadas.
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Fig.3 Cintigrafia óssea (projecção posterior) com Tecnécio-99m, demonstrando zonas hiperfixantes (seta).
CINTIGRAFIA
A cintigrafia é uma técnica diagnóstica que utiliza uma pequena dose de um
químico radioactivo (isótopo), denominado marcador, para identificar áreas do corpo
onde a radioactividade se acumula preferencialmente. O marcador é administrado
ao doente por via oral ou por via endovenosa e, uma vez dentro do corpo, ele
percorre a corrente sanguínea até ao órgão alvo, emitindo radiação gama, que é
detectada por uma câmara-gama e posteriormente interpretada por um computador,
de forma a obter-se uma imagem do órgão que se está a estudar.
Os locais dos potenciais problemas podem então aparecer como:
• zonas quentes ou hiperfixantes, isto é, zonas onde é emitida maior
quantidade de radiação;
• zonas frias ou hipofixantes, onde a quantidade de radiação emitida é
menor que pelo tecido normal circundante.
Uma das maiores aplicações prende-se
com o estudo do esqueleto (fig.3), sendo que a
cintigrafia permite pesquisar a possível
existência de metástases ósseas de um tumor
primariamente localizado noutra região do corpo,
como a mama ou a próstata. Também permite
detectar tumores com origem nos próprios
ossos, bem como patologias traumáticas
(fracturas), isquémicas e infecciosas
(osteomielite). Nestes casos, a cintigrafia pode
fornecer importantes informações, numa fase
precoce, na qual ainda não há alterações
radiográficas significativas.
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Patologias Raqui-Medulares
A medula espinhal pode ser lesionada de muitas maneiras, produzindo
diversos padrões de sintomas. Estes padrões permitem que o médico possa
determinar a localização (nível) da lesão espinhal.
Em regra geral, as lesões medulares podem provocar:
• alteração da força (lesão dos feixes piramidais), acompanhada por
espasticidade e reflexos tendinosos vivos abaixo do segmento lesado; nas
lesões agudas existe hipotonia e reflexos tendinosos fracos ou abolidos;
• nível de sensibilidade;
• alterações esfincterianas e da esfera sexual;
• dores radiculares.
As patologias raqui-medulares podem ser classificadas em:
� Lesões traumáticas;
� Lesões não-traumáticas:
• lesões congénitas,
• lesões degenerativas,
• lesões tumorais,
• lesões infecciosas,
• doenças neurológicas e sistémicas,
• doenças vasculares.
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LESÕES TRAUMÁTICAS
As lesões traumáticas geralmente são resultado de:
• acidentes de viação;
• ferimentos por armas de fogo;
• quedas em actividades recreativas ou desportivas.
Destas lesões podem resultar os seguintes sindromas medulares:
� Choque Medular – Perda de todas as funções neurológicas abaixo do nível da
lesão medular, o que representa uma interrupção fisiológica e não anatómica
da medula espinhal. Caracteriza-se pela ausência de toda a actividade reflexa,
flacidez, e perda da sensibilidade abaixo do nível da lesão. Pode prolongar-se
até diversas semanas, mas tipicamente resolve-se dentro de 24 horas.
� Lesão Medular Completa – As funções motora e sensitiva estão ausentes
abaixo do nível da lesão.
� Lesão Medular Incompleta – Pode haver alguma função motora ou sensitiva
abaixo do nível da lesão.
� Sindroma Medular Anterior – Lesão incompleta, onde se observa perda dos
movimentos voluntários e sensibilidade dolorosa, com preservação de
sensibilidade táctil e vibratória.
� Sindroma Medular Posterior – Perda de sensibilidade táctil e vibratória.
� Sindroma Central da Medula – Caracteriza-se por paresia, de predomínio
distal dos membros superiores, e anestesia suspensa (predomínio dos
membros superiores e tórax, podendo estar preservada nos membros
inferiores).
� Sindroma de Brown-Séquard – Caracteriza-se por uma hemissecção da
medula, com alterações da motricidade e sensibilidade profunda no mesmo
lado da lesão e da sensibilidade termo-álgica contralateral.
� Sindroma do Cone Medular – Caracteriza-se por paraparesia, hipostesia nos
dermatomas lombares e sagrados, “em sela”, alterações esfincterianas e
atingimento da esfera sexual.
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LESÕES CONGÉNITAS
As lesões congénitas compreendem os defeitos abertos e fechados.
Os defeitos abertos (fig.4), associados à falha do encerramento do canal
vertebral, compreendem:
1. Espinha bífida – deficiência óssea.
2. Meningocelo – cavidade quística preenchida com líquido cefalo-raquidiano
e limitada pelas meninges e/ou pele mas sem tecido nervoso.
3. Mielomeningocelo – protusão da medula espinhal e raízes através do
defeito ósseo para a cavidade quística limitada pelas meninges e/ou pele;
deve proceder-se a um exame neurológico cuidado para determinar o grau
e o nível da lesão neurológica e procurar outras anomalias congénitas
associadas.
Fig.4 Esquemas exemplificativos de espinha bífida (A), meningocelo (B) e mielomeningocelo (C).
A B C
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Os defeitos fechados compreendem:
1. Espessamento do filamento terminal.
2. Lipomeningocelo.
3. Diastematomielia – divisão congénita parcial da medula espinhal,
normalmente ao nível lombar superior.
4. Quistos dermóides e epidermóides.
5. Malformações de Arnold-Chiari – envolvem o deslocamento caudal do
rombencéfalo; existem três tipos primários, sendo o mais simples e
comum o tipo I, no qual as amígdalas cerebelosas se encontram abaixo do
foramen magnum (pode associar-se a siringomielia – cavidade quística
dentro da medula espinhal); os sintomas do tipo I surgem na adolescência
ou na idade adulta; quando se suspeita deste tipo, o método imagiológico
de escolha é a ressonância magnética, devido à sua maior acuidade
(fig.5).
Fig.5 RM T1 sem contraste: Setas marcam as margens do buraco occipital; amígdalas cerebelosas 6,5mm abaixo do foramen magnum.
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LESÕES DEGENERATIVAS
Na infância, o núcleo pulposo dos
discos intervertebrais é formado
predominantemente por água. Com o passar
dos anos, ocorre uma progressiva
desidratação dos núcleos pulposos,
tornando-os predispostos à degeneração e
consequente protusão.
Adicionalmente, devido a traumas
microscópicos recorrentes, instalam-se
progressivamente alterações degenerativas
nos discos intervertebrais, vértebras e suas
articulações (os discos colapsam e produzem
deformação excessiva – degeneração e
hipertrofia – das superfícies articulares
superior e inferior das apófises transversas).
Na protusão discal, o disco pode não ultrapassar o ligamento longitudinal
posterior. Contudo, nas rupturas totais do anel fibroso, a protusão do disco é
completa, designada por hérnia discal (fig.6), que ultrapassa o ligamento
longitudinal posterior e comprime a medula ou uma raiz espinhal.
A maioria das hérnias discais são póstero-laterais, porque o ligamento
longitudinal posterior é três vezes menos espesso que o ligamento longitudinal
anterior, os núcleos pulposos são mais posteriores e as fibras do anel fibroso são
mais finas posteriormente. No entanto, também podem ocorrer hérnias laterais ou
centrais. Assim, pode haver compressão da raiz sensorial, da raiz motora ou de
ambas.
Fig.6 Hérnia discal lombar.
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As radiografias da coluna vertebral podem mostrar esclerose dos planaltos
vertebrais, a redução do espaço do disco intervertebral, presença de gás e
osteofitos1 mas a TAC e a RM são os exames que melhor identificam o problema
(fig.7).
A TAC, na hérnia discal cervical abaixo de C6, não é suficiente para o estudo
de todos os espaços discais, dada a interposição de ombros, em regra de C5-C6
para baixo. Contudo, na suspeita de hérnia lombar, é suficiente na maioria dos
casos.
Na RM, as hérnias discais vêem-se em T1 e em T2 (mostra grau de
compressão e existência de edema medular; discos degenerados com sinal menos
intenso que os discos normais) e devem ser estudadas axial e sagitalmente. Nos
casos em que haja suspeita de hérnia mas com imagens de RM sem contraste
negativas, deve-se proceder a uma RM com contraste paramagnético, pois pode
tratar-se dum tumor.
1 Também conhecidos como "bicos de papagaio", são calcificações dos bordos dos ossos ao nível das inserções das cápsulas e ligamentos. Correspondem ao envelhecimento progressivo das articulações, ou reacções do osso pós-traumatismos de vária ordem.
Fig.7 À esquerda, RX da coluna mostrando osteofitos (setas) e redução dos espaços dos discos intervertebrais; ao centro, TAC com 1) hérnia de disco comprimindo a raiz nervosa e 2) raiz nervosa passando no foramen; à direita, RM, onde A) disco desidratado com hérnia discal a comprimir uma raiz nervosa próxima do canal medular, B) disco sadio, C) medula espinhal, D) apófise espinhosa e 1, 2, 3 e 4) Corpos vertebrais.
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Além das hérnias discais, existem outras lesões degenerativas da coluna que
causam compressão radicular:
� Canal raquidiano lombar estenótico devido à hipertrofia das superfícies
articulares2
Predispõe à compressão lateral de raízes e produz o
sindroma de claudicação intermitente neurogénico
(dor radicular, parestesia ou fraqueza quando o indivíduo
permanece na posição ortostática ou anda, que podem
desaparecer quando ele se senta ou deita). O diagnóstico
é feito recorrendo à TAC; no entanto, a avaliação do canal
vertebral lombar pelo RX simples continua a ser
obrigatória. Neste último método imagiológico, quando se
tem um canal vertebral lombar estenótico, na incidência
simples de frente, os pedículos são espessos e a distância
interpedicular uniforme ou decrescente de cima para
baixo, em vez de aumentar ligeiramente entre L1-L5. Na
incidência simples de perfil, há retroscavação dos corpos
vertebrais, maciços articulares volumosos e buracos de
conjugação estreitos (aspecto em fechadura) – fig.8.
� Espondilolistese
Deslocamento anterior dum corpo
vertebral sobre outro (normalmente L4
ou L5), devido a um defeito degenerativo
ou congénito das superfícies articulares
ou a uma falha ou alongamento da
lâmina, que leva a um estreitamento do
canal raquidiano, podendo, assim,
acentuar os sintomas de compressão de
raízes por protusão do disco ou
hipertrofia da articulação (fig.9).
2 A estenose do canal raquidiano lombar também pode ter causa congénita.
Fig.8 Mielografia de perfil, duma estenose do canal vertebral lombar, onde há 1) retroscavação dos corpos vertebrais e 2) os buracos de conjugação inferiores não têm expressão.
Fig.9 Espondilolistese de L5 sobre S1.
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� Espondilose cervical com mielopatia ou radiculopatia
Com a idade, há degeneração e colapso do disco intervertebral, que leva a
lesão das articulações apofisárias: há instabilidade e hipertrofia, o que origina
crescimentos osteofíticos. Para além disso, o ligamento amarelo tende a espessar,
ocorrendo o estreitamento do canal raquidiano.
A protusão do disco ou os osteófitos podem comprimir a medula espinhal
(mielopatia) e/ou as raízes nervosas adjacentes (radiculopatia). A lesão resultante
da medula espinhal pode dever-se à pressão directa ou a compromisso vascular.
Os métodos de imagem escolhidos para investigação desta patologia são o RX
da coluna cervical (para observar as superfícies articulares, os espaços dos discos
intervertebrais e a formação de osteofitos), e o mielo-TAC3 cervical (para observar
estenose dos buracos de conjugação e a medula espinhal) ou a RM (dá imagens do
tipo da mielografia e é não invasivo) – fig.10.
3 Como se trata dum método invasivo, a maioria dos médicos prefere a RM.
Fig.10 À esquerda, mielografia cervical com mudanças espondilóticas avançadas e múltiplos osteófitos a comprimir a medula espinhal; à direita, RM que mostra a medula espinhal esbatida ao nível de C4-5 e C5-6, ventralmente por espondilose e dorsalmente por hipertrofia ligamentosa.
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LESÕES TUMORAIS
As lesões neoplásicas são habitualmente classificadas e sistematizadas
segundo a sua localização relativamente aos espaços meníngeos e à sua relação
com o parênquima medular.
� Lesões extradurais (55%)
São as mais frequentes e correspondem a processos neoplásicos com ponto
de partida nos elementos ósseos da coluna vertebral e possível extensão epidural.
Englobam os tumores ósseos primitivos e as metastáses (as mais
frequentes, provêm do tumor da mama, pulmão, próstata ou rim).
No RX, a erosão dos pedículos, na grande maioria das vezes, corresponde a
uma vértebra metastática (fig.11).
Fig.11 Sacorradiculografia de frente, que mostra 1) ausência de pedículo direito na vértebra L3, 2) erosão parcial do esquerdo e 3) bloqueio na progressão do contraste.
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� Lesões intradurais extramedulares (40%)
As mais frequentes nos adultos são o neurofibroma e neurinoma (também
apelidados de schwannomas, pois derivam das células de Schwann; ocorrem a
qualquer nível e a grande maioria tem origem numa raiz raquidiana posterior) e o
meningioma (neoplasia derivada da célula aracnoideia, mais comum no sexo
feminino, que surge normalmente na região torácica) – fig.12.
O método de imagem preferido é a RM com constraste. Se a realização deste
não for possível, realiza-se uma mielo-TAC.
� Lesões intradurais intramedulares (5%)
O mais frequente no adulto é o ependimoma,
uma lesão de crescimento lento com origem nas
células de revestimento do canal central da medula,
que causa um alargamento simétrico da medula
espinhal.
Mais uma vez, o método de imagem de escolha
é a RM sem e com contraste (fig.13), sendo que a
mielografia pode ajudar na localização do tumor.
Fig.12 A – RM a mostrar uma massa tumoral com origem na cauda equina (schwannoma). B – RM com contraste, em corte sagital, demonstra uma massa intradural extramedular com ligação à dura-máter (meningioma). C – RM com contraste, em corte axial, mostra uma massa intradural extramedular a comprimir e a deslocar a medula espinhal para a esquerda.
A B C
Fig.13 RM com contraste, corte sagital, demonstra uma massa redonda no cone medular, ao nível de L2, consistente com um ependimoma.
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LESÕES INFECCIOSAS
As espondilodiscites ou espondilites são infecções que atingem o disco
intervertebral e as vértebras contíguas. Tratam-se de uma identidade de difícil
diagnóstico, especialmente na criança, devido à clínica inespecífica e aos sinais
radiológicos tardios. A persistência da vascularização dos pratos vertebrais,
cartilagem hialina e anel fibroso, permite, de certo modo, justificar o aparecimento
desta entidade clínica na infância4. As crianças e os adolescentes estão
predispostos a infecções por traumatismos minor. Estes causam um pequeno
hematoma, obstrução vascular e, finalmente, uma área de necrose avascular. Esta
área é susceptível à inoculação por uma bacteriémia transitória existente. Os
agentes infecciosos atingem os corpos intervertebrais e/ou corpos vertebrais
contíguos, através de segmentos arteriais do plexo vertebral que nutrem os dois
corpos vertebrais, e pela persistência da vascularização discal. As vértebras mais
atingidas são as lombares (45%), seguidas das torácicas (35%).
Na criança com 1-3 anos de idade,
previamente saudável, os agentes etiológicos
piogénicos mais comuns são: Staphylococcus
aureus (fig.14), Streptococcus pyogenes e
Haemophilus influenzae (a incidência de
infecção por este agente decresceu
abruptamente desde a instituição da vacina anti-
H. influenzae). No caso de doença por agentes
não-piogénicos, os mais comuns são: as
micobactérias5 (fig.15), a brucelose (contacto
com gado infectado e seus produtos), a sífilis e
vários fungos.
4 Nos adultos, as espondilodiscites têm causa iatrogénica. 5 Há predomínio do componente osteomielítico em relação ao discítico.
Fig.14 RM T2, corte coronal. Pode observar-se o desaparecimento do espaço do disco intervertebral, a erosão dos corpos vertebrais e a extensão a partes adjacentes.
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Para haver imagens radiológicas osteolíticas, é necessário a destruição de
50% da matriz óssea.
As radiografias (RX) da coluna vertebral revelam lesões compatíveis com
espondilodiscite, dois a vários meses após o início da sintomatologia (dependendo
da indolência do agente).
A ressonância magnética (RM) é o exame mais adequado para um diagnóstico
precoce (com uma sensibilidade e especificidade superiores a 90%), delineando a
área vertebral e paravertebral atingidas, sendo útil para a monitorização da resposta
ao tratamento.
Fig.15 RM’s na espondilodiscite tuberculose. A – Osteomielite a envolver os corpos vertebrais T10 e T11 e o espaço do disco intervertebral (seta). B – Abcesso paravertebral multiloculado (seta).
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DOENÇAS NEUROLÓGICAS E SISTÉMICAS
São exemplos de doenças neurológicas e sistémicas que atinjam a medula
espinhal:
• esclerose múltipla,
• esclerose lateral amiotrófica,
• doenças reumáticas.
A Espondilite Anquilosante, uma doença reumática do tipo inflamatório que
afecta o tecido conjuntivo, acometendo frequentemente as articulações sacro-ilíacas,
pode também envolver a coluna cervical e torácica, as grandes articulações
periféricas, os olhos e as válvulas do coração. É mais frequente entre os
caucasianos e no sexo masculino.
As alterações radiológicas são precocemente reconhecidas pela típica
morfologia quadrada dos corpos vertebrais lombares (fig.16), devido ao processo
inflamatório no lugar de inserção das fibras externas do anel fibroso. Os achados
tardios compreendem a formação de pontes sindesmofitárias, dando o aspecto de
espinha em "linha de comboio" ou "bambu" (fig.17). A fusão das articulações sacro-
ilíacas é achado patognomónico.
Fig.16 A – Sacroileíte bilateral. B – Vértebras quadradas, desaparecimento da lordose fisiológica, calcificação e fusão das articulações interapofisárias.
A B
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DOENÇAS VASCULARES
Os quadros isquémicos da medula, geralmente pós-trauma, provocam
determinadas sintomatologias medulares.
De destacar que o sacrifício da artéria de Adamkiewicz ou Artéria Radicular
Magna implica alterações nas funções:
• vegetativas (não controlo dos esfíncteres),
• motoras (paraplegia),
• sensitivas (perda de sensibilidade).
Fig.17 RX’s em incidência de perfil e AP, onde se observam a “coluna de bambu” e calcificação dos ligamentos lombares.