UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3
PATRÍCIA GUIMARÃES DE SANTANA
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA NA PRÉ-ESCOLA
Caetité 2015
PATRÍCIA GUIMARÃES DE SANTANA
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA NA PRÉ-ESCOLA
Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica.
Orientadora: Profa. Ma. Adriana Santos de Jesus
Caetité 2015
PATRÍCIA GUIMARÃES DE SANTANA
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA NA PRÉ-
ESCOLA
Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.
Aprovado em janeiro de 2016.
Banca Examinadora
Adriana Santos de Jesus – Orientadora ___________________________________ Mestra em Educação pela Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia
Daniel Silva Pinheiro___________________________________________________ Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia
Rosemary Lopes Soares da Silva________________________________________ Mestra em Educação pela Universidade Federal da Bahia Universidade do Estado da Bahia
Ao meu marido Mario Junior e aos
meus filhos Eduardo e Gabriela, por
compreenderem minha ausência
durante a elaboração deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me permitir mais esta conquista.
A meus familiares, pelo apoio neste momento. A todos, meu muito obrigado.
A minha orientadora, Professora Adriana Santos de Jesus, pela paciência e
competência ao me auxiliar nesta jornada.
A nossa tutora Nara Dantas, aquela que esteve presente durante todo o curso,
agradeço pelo apoio e incentivo no momento que mais precisei, a minha admiração
e carinho
À Faculdade de Educação da UFBa e ao Programa Escola de Gestores, por levarem
a cabo esta iniciativa que beneficia tantos Coordenadores Pedagógicos como eu.
“Não se ensina uma criança a escrever, é ela quem ensina e si
mesma (...) cada criança possui seu caminho próprio; é preciso
que ela viva as situações de aprendizagem que lhe permitam
ao mesmo tempo ter referencias constantes e construir suas
próprias competências. ”
(Jolibert)
SANTANA, Patrícia Guimarães. Alfabetização na Educação Infantil: reflexões sobre a leitura e escrita na pré-escola. 2015. Projeto Vivencial (Especialização) – Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.
RESUMO
O presente trabalho tem como tema central a Alfabetização na Educação Infantil: reflexões sobre a leitura e a escrita na pré-escola. Tendo como principal objetivo responder quais as concepções de aprendizagem da leitura e escrita apresentadas pelos professores de Educação Infantil e como acontece o processo de alfabetização e letramento antes do ensino fundamental e no que isso irá repercutir no desenvolvimento dos alunos. Utilizei como metodologia a pesquisa-ação buscando dados reais de aprendizagens através de questionários realizados com as educadoras da escola, onde elas puderam compartilhar suas teorias e experiências. Para a concretização deste estudo, abordei questões sobre a alfabetização, o letramento e a educação infantil, buscando embasamento teórico que definem esses processos. É realizada uma coleta de dados, com o objetivo de identificar quais são os recursos utilizados pelas professoras, que respaldam o processo de alfabetização e letramento. O trabalho traz sugestões de práticas para promover de modo lúdico as competências da leitura e da escrita, concluindo que o processo de alfabetização e letramento já estão presentes nas atividades que permeiam a educação infantil.
Palavras-chave: Alfabetização, Letramento, Educação Infantil.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CECOP Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica
CP Coordenador Pedagógico
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação
UFBA Universidade Federal da Bahia
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11
1 MINHA VIDA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO SABER ...................... 13
1.1 RELATO HISTÓRICO DA MINHA FORMAÇÃO ESCOLAR E
ACADÊMICA ................................................................................................................... 13
1.2 VIDA PROFISSIONAL E A BUSCA POR ENTENDIMENTO .................. 15
1.3 PERSPECTIVAS DE ESTUDO E PESQUISAS EM RELAÇÃO AO
CURSO ............................................................................................................................... 17
2 REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL. ............................................................................................ 18
3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL..... 23
3.1 O ESPAÇO DA PESQUISA ..................................................................................... 23
3.2 O PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................................... 26
3.3 OS DADOS DA PESQUISA: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO ......... 28
3.4 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS .............................................................. 30
3.5 PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: TRAÇANDO POSSIBILIDADES
DE AÇÃO .......................................................................................................................... 35
3.6 CRONOGRAMA ............................................................................................................. 37
4 TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .................................................... 39
REFERÊNCIAS. ............................................................................................................ 40
11
INTRODUÇÃO
A escolha pelo tema “Alfabetização na Educação Infantil: reflexões sobre a
leitura e a escrita na pré-escola”, deu-se principalmente por ser um assunto no qual
sempre me interessei, pelo menos desde quando atuo nesta área. Sempre ouvi falar
que não se alfabetiza na educação infantil, portanto, por tentar responder às
inquietações dos pais, professores e principalmente as minhas, decidi por
apresentar uma pesquisa com fundamentos teóricos sobre o processo de
alfabetização e as possibilidades de se aprender a ler e escrever nas séries finais da
educação infantil.
Assim procuro no decorrer do desenvolvimento desse trabalho, buscar
pressupostos que respondam quais as concepções de aprendizagem da leitura e
escrita apresentadas pelos professores de Educação Infantil e como acontece o
processo de alfabetização e letramento antes do ensino fundamental e no que isso
irá repercutir no desenvolvimento dos alunos.
Por acreditar que na escola em que atuo como coordenadora pedagógica já
acontece esse processo normalmente onde é oferecido um espaço de acesso à
leitura e escrita, através do Projeto de Leitura, do Material estruturado utilizado pela
escola através do Programa Alfa e Beto e pela mediação das professoras além do
acesso às crianças ao mundo letrado e entre outros meios, busco trazer nesta
pesquisa pressupostos já determinados, os quais confrontam com situações reais de
aprendizagem. Procurei assim, embasamento teórico para explicar que a
alfabetização e o letramento já ocorrem com as crianças da pré-escola do Centro de
Educação Infantil Gente Nova e utilizei como metodologia a pesquisa-ação
buscando dados reais de aprendizagens, além da minha experiência como
coordenadora desta escola há mais de seis anos, foi realizado uma entrevista com
as professoras atuantes a anos na educação Infantil através de um questionário
onde elas puderam compartilhar suas teorias e experiências.
O primeiro capítulo dessa pesquisa apresenta um breve relato sobre a minha
história de vida pessoal, profissional e acadêmica relacionando às minhas
experiências com o objeto de estudo e a temática aqui exposta.
O segundo capítulo, é realizada uma revisão da literatura buscando como
referencial teórico para elucidar questões sobre o processo de leitura e escrita na
Educação Infantil, leituras de Brandão e Silva, Ferreiro, Souza, entre outros
12
estudiosos da educação infantil, alfabetização e letramento com o objetivo de
identificar como ocorre o processo de letramento e alfabetização na educação
infantil, mostrando o que foi alcançado.
No terceiro capítulo é apresentado o contexto escolar do Centro de Educação
Infantil Gente Nova, descrevendo um pouco de sua história, sua localização,
estrutura física. É delineado o desenvolvimento metodológico da pesquisa, com a
descrição dos instrumentos de coleta de dados e a verificação de todo o percurso da
investigação, a partir das categorias de análise, que são: as concepções de
educação infantil que as docentes construíram a partir da prática e a relevância
atribuída para a iniciação do processo de alfabetização e do letramento na educação
infantil. Apresento ainda, algumas discussões justificando a metodologia adotada,
bem como a escolha da escola pesquisada e das participantes da pesquisa. Com as
considerações finais foi apresentado algumas sugestões práticas para promover de
forma lúdica a alfabetização e o letramento na educação infantil.
13
1 MINHA VIDA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO SABER
O presente memorial resulta da análise de minha trajetória educacional, das
minhas perspectivas de estudos e pesquisas em relação ao curso de Pós-
Graduação em Coordenação Pedagógica, CECOP 3, pela Universidade Federal da
Bahia. Visa resgatar parte de fragmentos das experiências e transformações
percebidas e adquiridas na minha experiência profissional e acadêmica, tecendo
uma discussão sobre o processo de alfabetização na educação infantil a partir do
trabalho com as diversas linguagens.
Confesso não ser uma tarefa fácil falar sobre nossas aventuras e
sentimentos, pois assim estaremos delineando um retrato crítico de nós mesmos.
Portanto, ao elaborar o presente memorial levei em conta as condições e situações
que envolveram o desenvolvimento dos meus trabalhos aqui expostos, procurando
destacar os elementos que possibilitaram a construção de minha vida acadêmica e
profissional.
Escrevê-lo é trazer para o presente momentos jamais esquecidos e
vivenciados em diferentes situações e nas diversas etapas da vida. No decorrer
dessa narrativa, pretendo contextualizá-la com as teorias estudadas durante o curso.
1.1 RELATO HISTÓRICO DA FORMAÇÃO ESCOLAR E ACADÊMICA
Desde muito cedo meus pais me estimularam para o mundo da leitura e da
escrita, acredito que esse estímulo aumentou o meu interesse pelo universo das
letras: cada livro infantil que eu ganhava e em cada história contada por eles era um
mundo fascinante para mim. Além disso a minha irmã mais velha sempre me levava
a brincar de escolinha, todas as paredes da casa tinham registros de letras e
desenhos feitos por nós duas.
Comecei a estudar aos cinco anos de idade na Pré-escola na Escola
Estadual Fernando Presídio do ano de 1986. Tenho poucas lembranças dessa fase
da minha vida: recordo-me da sala bem colorida e da minha primeira professora
Maria de Lourdes, uma pessoa muito paciente conosco. Recordo ainda das nossas
atividades que eram voltadas mais para as pinturas em desenhos mimeografados.
Tudo chamava a minha atenção, o primeiro contato com os códigos de escrita, a
cada dia memorizávamos as “familinhas” do alfabeto e aos poucos íamos
14
encaixando as sílabas, sem questionamentos, sem uma visão mais ampla do que
significava a leitura e a escrita, só sabia que era algo muito importante para
aprender e eu gostava dessa possibilidade.
Acredito que a leitura frequente de histórias para crianças é, sem dúvida, a
principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Se
adequadamente desenvolvida, essa atividade conduz a criança a conhecimentos e
habilidades fundamentais para a sua introdução no mundo da escrita. No ano
seguinte, fui para a sala de alfabetização, lembro-me que nessa fase eu aprendi a
ler e escrever, era um estudo delimitado por cartilhas, os professores faziam com
que memorizássemos as sílabas, mas achava tudo aquilo muito prazeroso, pois
enfim eu conseguia decifrar todos aqueles códigos.
Sempre fui muito dedicada aos estudos, e nos anos seguintes, tive o incentivo
de várias professoras em suas diversas disciplinas. Acredito que nenhuma disciplina
torna-se difícil, se trabalhada com estratégias que levem o aluno a aprender de
maneira lúdica, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental, porque
nessa fase a criança tem curiosidade e prazer em aprender.
Quando ingressei no Magistério no Colégio Padre Anchieta em Tauápe/Ba,
percebi que não era bem essa área em que eu gostaria de atuar, mas ao longo do
curso, no processo de formação foram iniciadas reflexões sobre a prática
pedagógica desenvolvida no interior das salas de aula. Começava a se delinear a
minha busca por um novo sentido para a experiência vivida na escola. Conclui assim
o magistério no ano de 1999.
Como a maioria das meninas, possuía sonhos de adolescente, e fazer
faculdade era um deles, o qual parecia tão distante da minha realidade. Anos
depois, em 2001, com o incentivo de minha família pude começar o curso de
Licenciatura Plena em História na UNEB (Universidade do Estado da Bahia) de
Caetité, pois acreditava que das poucas opções, este era o curso com o qual mais
me identificava. Apesar de que, nos tempos do colégio, não tive uma boa
experiência quanto à disciplina de História, pois o ensino se dava como uma
narração de fatos, onde personagens importantes, aquelas pessoas que faziam
parte do poder ou que eram membros dos grupos dominantes, tomavam atitudes
que determinavam os acontecimentos. Aulas totalmente monótonas e tradicionais.
Contudo, me apaixonei pelo estudo da História, achava fascinante a visão dos
variados autores, que agora, passava a conhecer. Tudo era muito diferente e
15
instigante: as discussões, as continuidades e descontinuidades históricas, o uso das
tecnologias que cada dia instigava ainda mais o conhecimento e o contato com
novas pessoas. A minha concepção de História transformou-se totalmente, pois a
relação que até então eu tinha com a disciplina era meramente factual.
O curso de História deveria ser obrigado para todo cidadão, devido à
preocupação com o desenvolvimento de uma consciência crítica, levando a uma
compreensão e interpretação dos fatos, especialmente nos dias de hoje em que a
mídia bombardeia as pessoas com informações e análises deturpadas dos
acontecimentos. Nesse sentido, a História pode desempenhar um importante papel,
pois fornece aos seus alunos a capacidade de compreensão da construção do
conhecimento, oferecendo habilidades e competências para o seu aprendizado e o
desenvolvimento e envolvimento em trabalhos que favoreçam sua autonomia para
aprender.
Tive a oportunidade de participar de vários cursos nesse período como: o II
Encontro Estadual de História oferecida pela ANPHU/BA na UEFS (Universidade
Estadual de Feira de Santana) em julho de 2004. Participei ainda do II Encontro
Baiano dos Estudantes de História e III Semana de História - os movimentos Sociais
e suas facetas na História, na UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
em novembro de 2005 e do I Encontro de História e Cultura pela UNEB
(Universidade Estadual da Bahia), também em novembro de 2005.
Apesar do vasto conhecimento adquirido na experiência dos anos de
faculdade, não poderia esquecer das dificuldades enfrentadas: a falta de acesso a
internet era um deles, pois mesmo estando já na era digital, ainda tínhamos
dificuldade no manuseio e contato com os mesmos. Entretanto, a minha
persistência, o apoio da família, a força dos colegas e a vontade de concluir mais
uma etapa na vida, foram mais fortes que os obstáculos. Conclui o curso de
Licenciatura em História no ano de 2006.
1.2 VIDA PROFISSIONAL E A BUSCA POR ENTENDIMENTO
Apresentar alguns dos fatos considerados por mim como relevantes na
trajetória de minha atuação profissional me coloca diante de escolhas. A partir
dessas escolhas, passo a abordar acontecimentos que ofereceram as condições
para que os fatos acontecessem como eu os vejo e narro. O meu primeiro contato
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com a sala de aula como professora foi no ano de 2002 para ministrar as aulas de
Biologia para alunos de Ensino Médio no Colégio Estadual Duque de Caxias. Nessa
época eu tinha iniciado o curso de História e mesmo sem trabalhar com a minha
área, conseguia passar os conteúdos de uma forma que os alunos pudessem
entender e assimilar, fazendo com que eu também me identificasse com a área de
ciências naturais.
Em 2007 fui convocada a assumir o cargo de professora após aprovação no
concurso público que tinha feito na Prefeitura Municipal de Caculé. Lecionaria em
uma turma de 2ª série do Ensino Fundamental, numa escola da zona rural, a 28
quilômetros de casa. Lecionar para crianças de escolas municipais de zona rural por
um período de dois anos foi uma experiência extremamente significativa. Aprendi
muito com esses alunos, sei que deve ser respeitado as individualidades de cada
um, e que no processo de alfabetização deve-se levar em conta as várias
características da criança, o professor deve se comprometer a fazer o melhor pelo
aluno, e pensando na alfabetização deles, vi que a aprendizagem do processo de
escrita implica uma história no interior do desenvolvimento individual, iniciado pela
criança muito antes da primeira vez em que o professor coloca um lápis em sua mão
e lhe mostra como formar letras. Aprendi que ler e escrever não se iniciam na
escola, nem se restringem a ela. Temos que tomar como ponto de partida a
realidade do aluno, tendo o professor a função de criar um ambiente alfabetizador.
Ao conviver com pessoas simples obtive um aprendizado que não é normalmente
passado nos bancos das universidades.
No ano de 2009 fui convidada pela Secretária de Educação Adaílde Teles a
trabalhar como Coordenadora Pedagógica do Centro de Educação Infantil Gente
Nova e do Programa de Alfabetização Alfa e Beto nas escolas municipais de Caculé-
Ba. No decorrer dos anos seguintes trabalhei como elo e mediação entre a
Secretaria Municipal da Educação e Cultura (SMEC) e a equipe escolar, mais
diretamente com os coordenadores pedagógicos e professores de alfabetização. A
partir da minha experiência profissional, bem como o contato com a prática
alfabetizadora, pude delimitar o foco para o meu objeto de estudo que é a
Alfabetização na Educação Infantil. Optei por fazer uma pesquisa sobre aquilo que
mais me instigava no momento: a leitura e escrita na Pré-escola.
Muitos pais e professores tem dúvidas se o ensino e aprendizagem da leitura
e escrita é função dessa etapa de ensino e como coordenadora de uma grande
17
rede, tanto de Educação infantil como a de professores de alfabetização, tinha
minhas dúvidas e precisava respondê-las. Acredito ser importante oferecer um
espaço de acesso à leitura e escrita, assim como já acontece na Instituição que
atuo, sem uma cobrança maior. Para isso procuro um embasamento teórico para
explicar que a alfabetização e o letramento já ocorrem normalmente com essas
crianças. As dúvidas, os questionamentos e as cobranças de pais e professores que
já queriam que as crianças saíssem lendo e escrevendo da Educação Infantil me
fazem pesquisar intensamente para poder responder a estas inquietações que me
desafiam a alguns anos.
1.3 PERSPECTIVAS DE ESTUDO E PESQUISAS EM RELAÇÃO AO CURSO
Relembrar a trajetória de formações que tive e que me fizeram chegar neste
ponto é poder apresentar e mostrar as minhas experiências na área da docência e
afirmar que a formação de um profissional para atuação em classes de magistério
ou numa licenciatura obtida através de curso de graduação, deixa claro que não são
os processos formativos que nos colocam a frente das inovações, mas o nosso
desempenho enquanto profissional em assumir aquilo que desejamos alcançar
profissionalmente. De fato, não podemos negar que esses fatores nos elevam a um
patamar de descobertas e inovações. E é na minha trajetória como Coordenadora
Pedagógica no Centro de Educação Infantil Gente Nova que espero responder sobre
como oferecemos um espaço de acesso à leitura e escrita na Educação infantil (pré-
escola), sem que isso prejudique a aprendizagem lúdica das crianças nesta etapa de
ensino.
Estou tendo a oportunidade de participar desse curso de Especialização para
Coordenadores Pedagógicos, curso este, que viabiliza um trabalho de integração e
troca de experiências entre todos os participantes, contribuindo para o aumento dos
conhecimentos e informações, aliada a uma postura crítica que pressupõe
capacitação constante, estudo individual e em grupo, interesse em estar atualizado
para facilitar a prática pedagógica da gestão escolar.
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2 REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL.
Sabe-se que a alfabetização é um processo que na maioria das vezes só se
inicia no primeiro ano do ensino fundamental, mas suas bases são lançadas bem
antes disso. Desde que nasce a criança está exposta as práticas sociais da leitura e
da escrita, e a Educação Infantil, apesar de ser uma fase na qual predomina a
oralidade, torna-se uma etapa fundamental para a alfabetização e o letramento.
Antes de aprender a ler e a escrever a criança utiliza conhecimento sobre a
escrita e a leitura na vida cotidiana, derivadas do convívio na sociedade letrada.
Assim ao ingressar na escola de Educação Infantil ou Ensino Fundamental, traz
conhecimentos sobre o mundo da leitura e da escrita, embora ainda possa não
codificar e decodificar a língua. Tais conhecimentos estão relacionados com o
processo de letramento, que, diferentemente da alfabetização, é um processo social,
que não tem início com a entrada da criança na escola, mas sim, é desenvolvido
através de práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita.
De acordo com SOUZA (2008), deve-se estimular a criança a participar
ativamente do processo de construção da leitura e da escrita constituinte do seu
meio sociocultural, bem como trabalhar as suas práticas sociais. Por isso, desde que
as crianças chegam à instituição de educação infantil, deve-se trabalhar o
letramento, fazendo que:
As crianças tenham a liberdade de expressão e que possam
experimentar as múltiplas linguagens, como a música, a dança,
artes, leituras da literatura infantil clássica e brasileira, histórias
em quadrinhos, jogos, brinquedos e brincadeiras e tantas outras
(SOUZA, 2008, p. 277).
Assim, entende-se que o letramento, refere à aprendizagem dos usos sociais
das atividades de leitura e escrita, quando assim for exigido em determinadas
situações, de modo a atender às necessidades demandadas por elas. A
alfabetização, por sua vez, pode ser entendida como a aprendizagem da leitura e da
escrita, refere-se ao processo de apropriação e compreensão do sistema de escrita
que leva o aluno a ler e a escrever com autonomia.
Alfabetizar ou não na educação infantil, foi e vem sendo tema para muitas
discussões. Para algumas pessoas, pais e educadores, receiam que esse processo
seja uma antecipação de práticas pedagógicas tradicionais e que de algum modo
19
haverá a perda do lúdico. Ensinar ou não as crianças a ler e a escrever é uma
questão polêmica que precisa ser desmistificada na educação infantil e
especialmente ser compreendida neste processo de alfabetização.
Em relação a essa falta de conhecimento, Stemmer (2007, p. 136) afirma que:
Como comumente a aprendizagem da leitura e da escrita não tem
sido sequer considerada na Educação Infantil, o que existe é um
total desconhecimento do assunto. O resultado mais imediato é
que os professores diante de evidente interesse demonstrado
pelas crianças em querer aprender a ler e escrever ficam sem
saber como o que fazer e, em muitos casos, acabam por
reproduzir práticas de ensino que eles próprios estiveram
submetidos em suas experiências escolares, sem, no entanto,
terem o conhecimento necessário para compreender a razão do
que fazem e sem subsídios teórico algum para alicerçar suas
práticas.
Muitos não entendem a alfabetização e o letramento como processos que se
iniciam antes do primeiro ano do ensino fundamental e que se estendem após ele.
Ferreiro (1999) afirma que “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas
um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola e que não termina
ao finalizar a escola primária” (p. 47). Sendo assim, e se a criança tem interesse, por
que não iniciar o processo de alfabetização na Educação Infantil? Ferreiro (1993)
nos diz que:
[...] não é obrigatório dar aulas de alfabetização na pré-escola,
porém é possível dar múltiplas oportunidades para ver a professora
ler e escrever: para explorar semelhanças e diferenças entre textos
escritos: para explorar o espaço gráfico e distinguir entre desenho e
escrita: para perguntar e ser respondido: para tentar copiar ou
construir uma escrita: para manifestar sua curiosidade em
compreender essas marcas estranhas que os adultos põem nos
mais diversos objetos.
A criança, desde pequena, começa a desenvolver a escrita, um exemplo
disso são as garatujas, tentativas de escrita que não devem ser concebidas pelo
professor como simples rabiscos porque nelas há um processo de construção
pessoal (Teberosky e Colomer, 2003). Após as garatujas, a criança, com o estímulo
e interferência do professor, vai aprimorando o conhecimento alfabético e
avançando na escrita, passando por diferentes níveis, até chegar à escrita alfabética
20
(Ferreiro e Teberosky identificaram, na pesquisa deu origem ao livro Psicogênese da
Língua Escrita (1999), cinco níveis pelos quais a criança passa para chegar à escrita
alfabética: pré-silábico I; pré-silábico II; silábico; silábico-alfabético e alfabético).
Portanto, independente da visão que a instituição tem sobre o trabalho com a
alfabetização em turmas de pré-escola, sabe-se da importância de desenvolver
práticas de letramento nas atividades que envolvem o trabalho com a linguagem.
De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999, p. 5) a alfabetização inicia-se
muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por vários caminhos. De acordo
com as autoras, nenhuma criança entra na escola regular sem nada saber sobre a
escrita (ibidem, p.8). Desta forma, pode-se afirmar que a alfabetização não ocorre
isoladamente e em um determinado período da vida escolar do educando, ela é um
processo que acontece antes, durante e depois da vida escolar.
A criança aprende a ler e a escrever da mesma forma que aprende a falar,
dependendo da influência e motivação do meio ambiente em que vive. Segundo
PEREZ (1992, p. 66):
A alfabetização é um processo que, ainda que se inicie formalmente
na escola, começa, de fato, antes de a criança chegar à escola,
através das diversas leituras que vai fazendo do mundo que a cerca,
desde o momento em que nasce e, apesar de se consolidar nas
quatro primeiras séries, continua pela vida a fora. Este processo
continua apesar da escola, fora da escola, paralelamente à escola. A
criança vai construindo conhecimentos sobre o mundo em que vive.
Nesse processo de construção está inserida a escrita, como um objeto
cultural socialmente construído.
Desta forma, pode-se perceber a importância do processo de alfabetização na
Educação Infantil, no entanto, muitos pais e professores tem dúvidas se o ensino e a
aprendizagem da leitura e escrita é função dessa fase de ensino. Mas o que se
analisa é que atualmente a função pedagógica da pré-escola envolve o
favorecimento de novas aprendizagens, considerando as crianças como parte da
totalidade que as envolve. Todas as atividades desenvolvidas nessa etapa de ensino
precedem, de alguma forma, a aprendizagem das técnicas de leitura e escrita e,
sem dúvida, beneficiam o processo de alfabetização.
Brandão e Rosa (2011) na obra Ler e Escrever na Educação Infantil:
discutindo práticas pedagógicas, contribui muito com a ampliação do olhar sobre a
21
leitura e a escrita com crianças que ainda não sabem ler e escrever
convencionalmente. Para as autoras,
(...) ler e escrever constituem um patrimônio cultural que deve ser
disponibilizado a todos. Considerando, portanto, que a cultura letrada
faz parte do nosso cotidiano, ainda que se apresente com nuances
específicas para segmentos diferenciados da população, entendemos
que a leitura e a escrita também interessam às crianças, incluindo as
menores de seis anos. (Brandão e Rosa, 2011, p. 7)
Nessa opção, o processo de leitura e escrita se inicia de forma lúdica e
divertida, não negando o direito ao conhecimento nem tampouco o direito de ser
criança. Por isso é preciso um preparo, planejar, pensar em situações de
aprendizagem que abranjam esses interesses, fazendo com que o ensino da língua
escrita esteja em harmonia de maneira a “integrar projetos de trabalho em que as
crianças estão envolvidas, bem como entrar nas atividades de sua rotina no
ambiente educativo, de modo a não quebrar o significado assumido por essas
ferramentas na nossa cultura” (Brandão e Leal, 2011, p. 30).
É através de atividades dinâmicas e construtivas que a criança aprende a ler
o mundo a sua volta. No entanto, faz-se necessário que a criança realmente esteja
motivada e sinta desejo de participar das atividades individualmente e com o grupo
para que se efetive os objetivos propostos.
Nas brincadeiras de ler por exemplo, as crianças aprendem e desenvolvem
atividades que contribuem para o enriquecimento da linguagem oral, ampliação do
repertório textual e comportamento leitor dos educandos. A leitura já faz parte do dia
a dia das crianças pequenas, nos ambientes em que vivem é possível ajudá-las a
imergir ainda mais na cultura escrita, através de brincadeiras. Uma das formas de
contato com a leitura e a escrita de maneira prazerosa, por exemplo, é a roda de
histórias, Brandão e Rosa (2011, p. 33-34) justificam a importância desse momento
para avaliar a qualidade da Educação Infantil, são postos alguns indicadores como:
leitura diária de histórias realizadas pelas professoras, incentivo às crianças para
manusear livros e o incentivo às crianças para que recontem as histórias lidas ou
ouvidas.
Nesse mesmo sentido, pode-se constatar a leitura frequente de histórias para
crianças é a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil,
22
uma vez que essa atividade leva a criança a se familiarizar-se com a texto além de
enriquecer o seu vocabulário e proporcionar o desenvolvimento de habilidades de
compreensão da leitura.
23
3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O presente trabalho se desenvolveu em torno da temática das práticas de
letramento e alfabetização na educação infantil, de modo específico, nos anos finais
dessa etapa de ensino, isto é, na pré-escola. Tendo como objetivo analisar e
apresentar uma pesquisa com fundamentos teóricos sobre o processo de
alfabetização e as diferentes possibilidades de se aprender a ler e escrever na
Educação Infantil. Essa temática faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade de Projeto Vivencial - TCC/PV tendo como objeto de estudo
“Alfabetização na Educação Infantil: reflexões sobre a leitura e escrita na pré-escola”,
e tem como base o eixo temático escolhido “A relação entre Aprendizagem Escolar e
Trabalho Pedagógico”. Esse projeto é decorrente do Curso de Especialização em
Coordenação Pedagógica – CECOP 3, oferecido por uma parceria entre a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Escola de Gestores do Ministério da
Educação (MEC), tendo como Pólo a cidade de Caetité- Bahia.
3.1 O ESPAÇO DA PESQUISA
O Centro de Educação Infantil Gente Nova é a escola na qual atuo como
Coordenadora Pedagógica, localizada no Município de Caculé – BA, fundado em
2006 como uma instituição da rede pública de Ensino Infantil, devido a necessidade
de atender as crianças na faixa etária de 4 e 5 anos de idade. Tem sua área de
atuação estendida ao centro e todos os bairros da cidade, atendendo atualmente a
uma clientela de duzentos e noventa e três alunos no total, sendo cento e cinquenta e
dois no turno matutino e cento e quarenta e um alunos no turno vespertino,
matriculados no Infantil I e Infantil II, tendo em média de 5% dos alunos residentes na
zona rural.
A instituição conta com uma diretora, vice-diretora, uma coordenadora
pedagógica, secretária, merendeiras, auxiliares de serviços gerais e duas porteiras. O
corpo docente é constituído por dezoito profissionais em educação, em sua maioria
concursada e licenciada ou licenciando em alguma área específica, sendo uma
contratada e tendo o curso de magistério.
Em relação à caracterização socioeconômica e cultural das famílias das
crianças, são de classe média e baixa, predominando famílias onde pais e mães
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trabalham como faxineiras, pedreiros, comerciantes, recepcionistas, lavradores têm
também filhos de professores da nossa escola, crianças de profissionais da área de
saúde e do executivo; uma parte dessas famílias encontra-se desempregados. De
acordo com a Proposta Política Pedagógica da Escola e da coleta de dados para
informações escolares, pode-se perceber que a maioria dos membros da família
dessa instituição tem nível de escolaridade entre o ensino fundamental completo e
incompleto, ensino médio. Apesar dos problemas, como a falta de formação
continuada para as professoras, espaço físico não adaptado inteiramente para essa
faixa etária das crianças, falta de assistência por parte de alguns pais, acreditamos
que com o trabalho em equipe, a parceria com os pais e a Secretaria Municipal da
Educação e Cultura - SMEC, possamos oferecer um ensino de qualidade para as
crianças desta comunidade.
O Centro de Educação Infantil Gente Nova é mantido pelo poder público
através da Secretaria Municipal da Educação e Cultura, mantendo parceria com as
Unidades de Saúde, Conselho Tutelar e Secretaria de Assistência Social. Sua
organização é estabelecida de acordo com as normas municipais e pelo regimento
interno, documento este, baseado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de 1996 (LDBEN), nas resoluções governamentais do município e no Estatuto da
Criança e do Adolescente.
A escola se propõe a um trabalho baseado nas diferenças individuais e na
consideração das peculiaridades das crianças na faixa etária atendida pela Educação
Infantil. Embora as crianças desenvolvam suas capacidades de maneira heterogênea,
a educação proposta pelo Centro de Educação Infantil Gente Nova tem por função
criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças, considerando,
também, as possibilidades de aprendizagem que apresentam nas diferentes faixas
etárias, através de uma atuação que propicia o desenvolvimento de capacidades
envolvendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética e no processo da leitura
e escrita dos alunos.
Sendo assim, é importante a formação continuada dos professores e o
compromisso da equipe na educação infantil para atender as mudanças e interferir no
processo ensino-aprendizagem por meio de ações que incentivem e incrementem o
trabalho com as crianças para a melhoria da socialização, afetividade e
aprendizagem dos alunos.
25
São cinco dias semanais em horário normal em sala de aula, com três horas e
quarenta e cinco minutos de duração em atendimento em sala de aula. E para a
organização da escola, é utilizado quatro horas para realização do planejamento
quinzenal, socialização entre professores, troca de experiências e estudo juntamente
com a Direção e Coordenadora Pedagógica.
Durante o ano, a escola desenvolve o projeto de leitura que tem como principal
objetivo desenvolver e estimular na criança o prazer pela leitura, incentivando o
hábito através da realização dos contos em livros infantis, proporcionando à criança
momentos de interação com material escrito na perspectiva de ampliação das
experiências de práticas de letramento. As crianças têm a oportunidade de levar para
casa um exemplar do cantinho da leitura, para que no outro dia elas possam fazer a
contação da história lida com seus pais. A instituição não dispunha de uma biblioteca,
no entanto, o acervo da escola fica à disposição das professoras, organizado no
“Cantinho da leitura” nas salas de aula.
Rodas de leitura são feitas num canto específico da sala, onde as crianças
ficam à vontade para ouvir as histórias. Nesse sentido, Faria e Mello (2009, p. 13)
elucidam que “[...] o canto da leitura torna-se um lugar onde o conteúdo é fascinante.
O fato de que a criança pode fantasiar faz de qualquer lugar um espaço fantástico”.
Esse e outros projetos realizados na escola são proporcionados aos alunos
possibilitando situações de leitura e escrita no seu dia a dia. Acredito que ações de
extensão como esta, contribuem não somente para o desenvolvimento linguístico oral
das crianças, mas também para a inovação das práticas pedagógicas realizadas
pelos professores da escola.
Conforme Brandão e Leal (2011), ao brincar de ler as crianças vão
desenvolvendo as competências culturais que as práticas de leitura proporcionam,
apropriando-se da linguagem oral e escrita, a partir do reconhecimento dos textos
literários, apresentando em suas falas a formação do comportamento leitor.
Propomos assim, uma forma de incentivar os futuros leitores, de modo que as
crianças, desde pequenas, possam usufruir prazerosamente desta competência
cultural, que é a leitura.
Os alunos do Centro de Educação Infantil Gente Nova do Pré I (4 anos) ao Pré
II (5 anos) utilizam um material didático estruturado do Programa Alfa e Beto Pré-
escola. O conjunto de materiais inclui livros para alunos e professores, além de
26
ferramentas pedagógicas para toda a classe e um Manual para a escola com
orientações para a implementação adequada do Programa.
Todas as crianças recebem cada uma, três livros voltados para o
desenvolvimento de habilidades e competências próprias da idade. Cada classe
ganha ainda um livro gigante, cartazes com letras do alfabeto, materiais para
desenvolver atividades em grupo e um par de Bonecos Alfa e Beto, parceiros
preciosos para ensinar comandos, organizar atividades, promover transições.
Os professores recebem o Manual da Pré-escola, com informações básicas
sobre o programa de ensino, o Manual do Livro Gigante Conte Outra Vez e Chão de
Estrelas, e o Manual da Consciência Fonêmica. Esse por sua vez, apresenta um
conjunto de atividades lúdicas para ajudar as crianças a identificar os fonemas,
grafemas e suas relações, ou seja, os sons que as letras representam. Os bonecos
Alfa e Beto são envolvidos nas brincadeiras que introduzem as atividades e dão o tom
de brincadeira. De acordo com João Batista Araújo e Oliveira, presidente do IAB,
A forma privilegiada da criança aprender é brincando. Mas brincar por
brincar não é suficiente. Seja em casa, com a babá, cuidadores ou em
instituições de Educação Infantil, a criança precisa brincar enfrentando
estímulos e desafios compatíveis com o seu nível de desenvolvimento e
capazes de estimulá-la a ir além.
No Livro de Atividades há 400 atividades para o Pré-I e 480 atividades para o
Pré-II. As atividades são contextualizadas nas leituras do Livro Gigante, integram as
rotinas de cada dia no contexto de uma atividade significativa e contribuem para
desenvolver, a cada semana, um conjunto das 250 competências que integram o
programa da Pré-escola.
Pode-se perceber que este material bem como o acompanhamento que o
programa oferece e contribui de forma significativa para a formação do hábito de
leitura que está fortemente associada ao desenvolvimento cognitivo da linguagem, à
maior facilidade para aprender a ler de forma lúdica, favorecendo assim ao processo
de alfabetização e letramento.
3.2 O PERCURSO METODOLÓGICO
27
Na busca por respostas e dados sobre como acontecem as práticas de
alfabetização e letramento, antes do ensino fundamental, mais especificamente na
pré-escola, e no que isso irá repercutir no desenvolvimento da criança, o presente
trabalho foi desenvolvido através da metodologia da pesquisa-ação, buscando dados
reais na escola em que atuo com entrevistas e questionários estruturados. Segundo
Thiollent (1986),
Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que
é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou
com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou
problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo
(1986, p.14).
Com ela é necessário produzir conhecimentos, adquirir experiência, contribuir
para discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas. A
pesquisa-ação pode ser vista como modo de conceber e de organizar uma pesquisa
social de finalidade prática e ·que esteja de acordo com as exigências próprias da
ação e da participação dos atores da situação observada.
O instrumento de coleta de dados escolhido foi o questionário, a partir dele
será possível apresentar algumas concepções analisadas pelas professoras de como
acontece o processo da leitura e escrita na Educação Infantil. Quanto ao uso de
questionário como instrumento de coleta de dados, Thiollent (1986) afirma que, a
partir da observação direta, se estabelece um contato afetivo com as pessoas,
segundo o autor “Questionários, formulários e entrevistas são considerados como
técnicas de observação direta pelo fato de estabelecerem um contato efetivo com as
pessoas implicadas no problema investigado. (p. 32)
A escolha pelo tema “Alfabetização na Educação Infantil: reflexões sobre a
leitura e escrita na pré-escola”, deu-se principalmente por ser um assunto no qual
sempre me interessei, pelo menos desde quando atuo nesta área. Sempre ouvi falar
que não se alfabetiza na educação infantil, portanto, por tentar responder às
inquietações dos pais, professores e principalmente as minhas, decidi por realizar
uma pesquisa com fundamentos teóricos sobre o processo de alfabetização e as
possibilidades de se aprender a ler e escrever nas séries finais da educação infantil.
28
Por acreditar ainda que na escola em que atuo como coordenadora
pedagógica já acontece esse processo normalmente onde é oferecido um espaço de
acesso à leitura e escrita, através do Projeto de Leitura, do Material estruturado
utilizado pela escola do Programa Alfa e Beto e entre outros meios, busco trazer
nesta pesquisa desígnios já determinados, os quais confrontam com situações reais
de aprendizagem. Procurei assim, embasamento teórico para explicar que a
alfabetização e o letramento já ocorrem com as crianças da pré-escola do Centro de
Educação Infantil Gente Nova e para buscar dados reais de aprendizagens, além da
minha experiência como coordenadora dessa escola há mais de seis anos, foi
realizado uma entrevista com as professoras atuantes a anos na educação Infantil
através de um questionário onde elas puderam compartilhar suas teorias e
experiências.
A pesquisa contou com a participação de quatro professoras do Centro de
Educação Infantil Gente Nova para investigar como a educação infantil auxilia no
processo de alfabetização e letramento, buscamos elencar os recursos utilizados pela
docente na sala de aula. Os procedimentos adotados para a coleta de dados foram
os seguintes: • Aplicação de questionário com as professoras da escola, com o objetivo de verificar
a concepção de Alfabetização e de letramento na educação infantil destas
profissionais da educação. • Observação sistemática com objetivo de identificar quais são recursos utilizados
pelas professoras que respalda o processo de alfabetização e letramento. Tendo
como foco da investigação as atividades realizadas que estimulam o desenvolvimento
do letramento infantil. • Análise documental com base no Projeto Político Pedagógico do Centro de
Educação Infantil Gente Nova, bem como o seu regimento, para a caracterização da
instituição.
3.3 OS DADOS DA PESQUISA: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
A pesquisa de campo nos possibilita observar no contexto escolar, os recursos
pedagógicos mais utilizados no processo de alfabetização e letramento, e
concomitantemente com essas práticas direcionadas à alfabetização vivenciadas na
pré-escola, as crianças estão rodeadas de eventos de letramento nas diversas
29
esferas da vida social. Sabemos que nas instituições educativas, essas ações podem
ser vivenciadas em maior ou menor grau, dependendo do trabalho da educadora, isto
é, caso ela considere relevante propiciar condições para a promoção do
desenvolvimento não apenas da alfabetização, mas também do letramento. Assim,
cabe refletir: em que medida, educadoras da pré-escola consideram favorecer o
desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento de seus alunos?
Com o intuito, então, de refletir em torno dessa questão, este estudo foi
direcionado ao desenvolvimento dos processos de letramento e alfabetização de seus
alunos. Dessa forma pode-se confrontar os relatos adquiridos, mediante as
entrevistas com as professoras e as observações realizadas, com a teoria auferindo
reflexões significativas.
Assim, o questionário buscou respostas para as seguintes questões:
1) Qual sua concepção de Educação Infantil? 2) Em sua opinião, a criança deve ser alfabetizada e letrada na educação infantil? E
como isso pode acontecer? 3) De que forma a criança aprende? 4) Para você como se desenvolvem as práticas de alfabetização e letramento na
Educação Infantil? 5) Quais são os recursos que você utiliza para promover o conhecimento de mundo
para as crianças? 6) Qual o espaço da literatura infantil em sua atuação docente? 7) É possível oferecer um espaço de leitura e escrita na sala de aula na Educação
Infantil, sem ser cobrado o processo de alfabetização? Como?
A título de identificação, as envolvidas na investigação foram nomeadas da
seguinte forma: Professora A – Pré I do turno matutino
Professora D – Pré II de ambos os turnos
Professora K – Pré II do turno matutino
Professora V – Pré I do turno vespertino
Observou-se que, das quatro educadoras entrevistadas, três possuem
formação em nível superior e uma estava em formação (concluindo o curso de
Pedagogia). Todas juntavam muita experiência na educação infantil, uma vez que o
tempo de atuação delas nessa modalidade de ensino variava entre 4 e 9 anos.
30
Professora Formação Tempo de Tempo de entrevistada atuação como atuação na
Educadora Educação Infantil
Professora A Licenciatura em Pedagogia 4 anos 4 anos
Letras Vernáculas/
Professora D Especialização em
Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira
25 anos 9 anos
Professora K Licenciatura em Biologia
10 anos 8 anos
Professora V Licenciatura em História
9 anos 9 anos
3.4 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL: COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS
Quando indagadas sobre o conceito de Educação Infantil, as respostas das
professoras foram semelhantes, não se distanciaram do que realmente dizem as
teorias sobre educação infantil. Em suas respostas, as professoras passaram a ideia
de que a educação infantil é a base, é quando a criança reúne as informações que
darão o respaldo necessário para os próximos processos escolares. Dando a ideia
de que educação infantil é lugar onde a criança se sinta segura para dar os seus
primeiros passos em direção à vida escolar.
A Professora V diz que ela vê a Educação Infantil como a “porta de entrada
para o mundo da educação. E esta conduzirá a criança a uma educação bem
edificada e motivadora, onde o fascínio pelo aprender seja constante.”
As teorias que reforçam essa ideia da educação vista como a base entendem
o desenvolvimento da criança a partir de suas interações com o meio. Ou seja, é
preciso partir da realidade da criança e do que ela já traz consigo para desenvolver
novas aprendizagens. De acordo com Oliveira (2000):
31
O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos. (OLIVEIRA, 2000, p.158)
Quando a professora K responde à questão: Como a criança aprende? Ela traz
o lúdico como principal ferramenta para o desenvolvimento infantil, para ela “os jogos
e brincadeiras são fundamentais para a aprendizagem da criança, principalmente no
aspecto cognitivo pois proporciona criatividade, com o objetivo de desenvolver suas
habilidades (...) garantem divertimento, alegria e aprendizagem”. O brincar como um
dos aspectos citados pela professora é de grande relevância para o desenvolvimento
infantil principalmente se for mediado por um adulto, segundo Leal e Silva (2011):
Assim, entendemos que tanto as brincadeiras livres ou espontâneas quanto aquelas apoiadas pelos adultos podem ter um efeito positivo no desenvolvimento infantil e devem estar presentes na educação de crianças pequenas (Leal e Silva, 2011, p. 54)
Ainda na questão de como a criança aprende, a professora D menciona a
observação como um meio da criança aprender, como afirma o trecho a seguir:
Acredito que a criança aprenda num processo continuo de observar, classificar, encontrar semelhanças e diferenças entre as coisas, os objetos, os fenômenos da natureza, etc. E, sempre podemos observar que as crianças esperam de nós uma opinião a respeito do que elas fazem, dizem ou produzem. (Professora D)
Nessa mesma perspectiva a professora V também responde que “a criança
aprende pelo exemplo, ao observar as pessoas adultas no meio em que vive, na
escola e no grupo social. Aprende ainda experimentando, brincando...”, a esse
respeito Leal e Silva (2011) afirmam que,
ao brincarem, elas vivenciam situações em que imitam o mundo adulto, e, consequentemente, aprendem sobre a sociedade, sobre as relações sociais e sobre o papel da linguagem nas variadas situações.
32
Vivenciam experiências em que exercitam a produção de textos diversos, realizando variações decorrentes dos tipos de interação social. (Leal e Silva, 2011, p. 60)
Acredito assim que a criança como um ser ativo necessita ir além dos
conhecimentos teóricos e aprender através dos sentidos, de seus movimentos e de
suas ações, ela aprende vivendo, experimentando, fazendo descobertas, agindo.
Ao responderem se a criança deve ser alfabetizada e letrada na Educação
Infantil e como isso deve acontecer, pode-se perceber uma certa insegurança e
timidez em algumas das docentes entrevistadas em relação a esses processos. Mas
a maioria apresentou definições bastante abrangentes, abarcando não apenas as
habilidades desenvolvidas no processo de alfabetização, mas também do letramento:
Sobre a alfabetização e letramento na educação infantil, penso que a criança não deva ser alfabetizada, o que não a impede de estar inserida em um ambiente alfabetizador, que lhe proporcione meios para que ela possa interagir com o conhecimento e com crianças da mesma faixa etária. Nesse ambiente, o letramento pode acontecer da forma mais natural e lúdica possível, com a prática de atividades que despertem a imaginação, que motive a ação, o ato de criar e recriar; e também com leituras de livros, dramatizações de histórias e afins. (Professora D)
De modo semelhante, a Professora V apresentou uma visão abrangente sobre
esse processo. Para ela, a criança deve ser alfabetizada na Educação Infantil,
Desde que o ato de alfabetizar seja condizente com a fase que se encontra. O ato de alfabetizar deve ser de forma dinâmica, respeitando o ritmo da criança, sem pressão psicológica, para que ela tenha seus primeiros contatos com o mundo letrado enquanto brinca, observa cartazes ou na hora da história. Tendo a consciência que o objetivo não é que a criança leia o que está escrito, mas que desperte nela o desejo de se comunicar através do mundo da leitura. (Professora Vanda)
A professora A em sua resposta demonstra a importância de que esse
processo se dê de forma “gradativa, no qual aconteça no decorrer dos anos de
permanência da criança na escola, sendo que, começa na educação infantil e se
estenda até os primeiros anos do ensino fundamental” (Professora A). Ela ressalta
ainda a oralidade como fator que contribui para os processos de letramento,
33
oportunizando as crianças da educação infantil familiarizar-se com a língua escrita em
suas diversas formas.
Ainda por meio do questionário procurei saber como se desenvolvem as
práticas de alfabetização e letramento na Educação Infantil e quais recursos
utilizados por elas para promover um conhecimento de mundo para as crianças. A
professora V afirma que a melhor maneira é “através da leitura de livros infantis,
mostrando as crianças o título, com que letra começa a palavra, etc... com jogos,
brincadeiras envolvendo rimas (sons das letras)”, usando como recursos “livros,
revistas, rótulos, imagens de obras de arte, módulos do Instituto Alfa e Beto.”
Segundo as demais professoras,
Tais práticas de alfabetização e letramento pressupõem-se o fazer de acordo com a maturidade da criança, respeitando-se os limites. Isso implica em uma prévia organização do material a ser disponibilizado ao educando nessa fase (ou fases) e um planejamento bem estudado sobre o que ensinar. Os recursos devem estar de acordo com a idade, com o interesse e, pedagogicamente, devem constituir algo significativo que venha a criar bases para o progresso físico, social e escolar do mesmo. (Professora D)
Fica claro também que na prática do ensino da leitura e escrita realizada pelas
professoras, alfabetização e letramento caminham juntos, o que configura uma
compreensão por parte delas, que os dois processos fazem parte da entrada da
criança no mundo da escrita, embora tenham dificuldade em defini-los.
De acordo com a professora A ela emprega “como estratégia no ensino da
leitura, o uso de quadrinhas, parlendas, músicas, poesias, receitas, rótulos e cartazes
na leitura coletiva de diferentes gêneros, além da leitura compartilhada (roda de
histórias) ” onde a professora lê historias para os alunos.
Observa-se que as educadoras buscam recursos no qual os alunos vivenciem
as funções sociais da leitura e da escrita e os utilizavam em diversas situações de
interação social nos jogos, nas brincadeiras, na construção de livros de parlendas ou
receitas, nos trava-línguas, nas conversas da rodinha etc. Essas situações permitem,
entre outras coisas, a liberdade de expressão e a vivência de diferentes linguagens.
Inclusive a leitura das histórias infantis considerada por Soares (2009) na mais
importante e imprescindível atividade de letramento na educação infantil.
De alguma forma, o trabalho descrito por elas evidencia o desenvolvimento do
letramento, ainda que de maneira não intencional, em razão, principalmente, do
34
caráter lúdico característico das atividades da educação infantil. Isso pode ser
observado quando elas citam os recursos que utilizam para trabalhar esses
processos:
São diversos os recursos utilizados, dentre eles posso citar: as músicas, brincadeiras, livros infantis, contação de histórias, conversas informais, objetos concretos. Procuro usar de diversas metodologias e recursos para que eu possa transmitir o conhecimento, atendendo a necessidade das crianças para o desenvolvimento satisfatório. (Professora K)
De acordo com o relato a seguir, a professora D caracteriza sua maneira de
transmitir conhecimentos:
A fim de que a criança seja participante do mundo em que vive, com liberdade para pensar e agir, se apropriando de forma espontânea do conhecimento, procuro disponibilizar os recursos materiais e imateriais, na forma de livros, áudios, vídeos, brinquedos, sucatas, cultura regional, histórias e lendas, apoio afetivo e transmitir também segurança, credibilidade e incentivos positivos. Na sala de aula, todas as atividades a serem desenvolvidas devem estar relacionadas ao desenvolvimento psicomotor, afetivo e cognitivo. De forma que não acredito na existência de um livro que cumpra todas as necessidades educacionais. Há muito mais o que se fazer e esse pensamento nos deixa com aquela sensação de ansiedade e despreparo para lidar com determinadas situações em sala de aula. No entanto, a cada descoberta feita pela criança, nos reanimamos e recomeçamos com um novo olhar e a esperança de que podemos transformar vidas. Isso é mágico!
Através da observação feita em sala de aula, é possível constatar a aplicação
de atividades variadas, utilizando a Literatura Infantil no desenvolvimento de
linguagens das crianças. Além da contação de histórias com o uso do livro, foi
possível observar em outros momentos o uso de fantoches, figuras com sequência de
cenas, como também cantigas populares, parlendas e poesias, havendo grande
interesse das crianças por estas atividades
De uma forma ou de outra, as descrições das educadoras em relação à suas
práticas pedagógicas evidenciam que elas favorecem o desenvolvimento das
habilidades da alfabetização e do letramento dos alunos, embora o trabalho da
maioria voltado para o desenvolvimento desses dois processos não seja intencional.
Acabam promovendo o desenvolvimento das habilidades do letramento com
atividades voltadas para a alfabetização, principalmente pelo caráter lúdico
característico das atividades da pré-escola.
35
3.5 PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO: TRAÇANDO POSSIBILIDADES DE AÇÃO
A partir dos resultados encontrados na análise de dados e do Projeto Político-
Pedagógico, junto a observação do cotidiano na sala de aula, do planejamento que se
dá enquanto coordenadora pedagógica dentre outros, pode-se afirmar que o
letramento e a alfabetização estão presentes nas atividades que permeiam toda a
educação infantil de modo específico na pré-escola. Cabe à educadora infantil
conscientizar-se e perceber a complexidade desses processos, de modo a refletir em
sua prática pedagógica sobre a presença desses instrumentos.
Diante disso, faz-se necessário a construção de estratégias metodológicas que
viabilizem o desenvolvimento significativo da alfabetização, a partir de aspectos
teóricos que subsidiem as ações inovadoras e que orientem para a superação de
problemas identificados no processo de ensino e aprendizagem das crianças.
O desafio é repensar a alfabetização e letramento, a partir dos dados coletados
e analisados, com o propósito de contribuir com a construção de metodologias que
levem à formação de leitores e escritores e não apenas sujeitos que possam
“decifrar” o sistema da escrita. Essa tomada de decisão justifica-se em razão da
alfabetização ser muitas vezes compreendida como abordagem mecânica do
ler/escrever, limitando-se a uma mera decodificação dos sinais gráficos.
Assim, tendo em vista a falta de uma formação continuada na qual o professor
possa analisar e compreender teoricamente o processo de letramento e
alfabetização, decorrentes dos vários estudos sobre a psicogênese da língua escrita,
propõe-se a organização de um grupo de estudo sobre tal temática, recorrendo as
pesquisas desenvolvidas na área. Deste modo, a questão não é simplesmente
discutir se deve ou não alfabetizar já na educação infantil, mas sim como fazê-lo,
considerando as especificidades da criança na faixa etária de 4 e 5 anos, ampliando
essa discussão com vistas a compreender melhor a dinâmica desse processo dentro
das salas de educação infantil.
Espero que este contribua para melhor responder sobre como oferecermos um
espaço de acesso à leitura e escrita na Educação infantil (pré-escola), sem que isso
prejudique a aprendizagem lúdica das crianças nesta etapa de ensino e como
acontece a alfabetização e letramento, antes do ensino fundamental e no que isso irá
repercutir no desenvolvimento dos alunos.
36
Acredito que é possível delimitar algumas ações que viabilizem o processo de
reflexão e problematização sistemática sobre as práticas de alfabetização e as
diferentes possibilidades de se aprender a ler e escrever na Educação Infantil.
As ações abaixo foram pensadas no intuito de organizar um grupo de estudo
sobre o processo de construção da leitura e escrita pelas crianças, onde alguns
conhecimentos serão acrescidos dos saberes que as educadoras do Centro de
Educação Infantil Gente Nova foram construindo por meio de suas experiências.
Dentre elas estão:
1. Reunião de conscientização: Discutir as ações para formação do grupo de
estudos voltados para a temática onde possa atender as necessidades dos
participantes, tendo como eixo principal dessa formação, os processos de
alfabetização e letramento presentes na Educação Infantil e nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental.
2. Relatos construtivos das práticas vivenciadas: Construção dos relatórios
parciais pelas professoras, coordenadora e a gestão escolar.
3. Socialização das práticas: Pretende-se produzir textos escritos que
subsidiarão os relatórios parciais e finais além de propiciar momentos de
pesquisa e reflexão sobre questões pertinentes à docência. Os resultados
desta produção escrita poderão se constituir em artigos que possibilitem a
participação de todos.
4. Construção de materiais didáticos para o trabalho com classes de
alfabetização: construção de jogos didático pedagógicos para auxiliarem na
prática pedagógica da sala de aula, despertando a curiosidade e
promovendo o prazer ao aprender. Pode-se aproveitar as sugestões dos
livros do Programa Alfa e Beto já utilizados em sala de aula pelos
professores de Pré-escola do Centro de Educação Infantil Gente Nova.
5. Inserção de práticas pedagógicas lúdicas: Resgate das brincadeiras
infantis, estimulando o gosto e o interesse pela leitura como fonte de
informação e recreação, através de atividades lúdicas.
Remetendo este pensamento ao contexto da Educação Infantil, isto implica em
oportunizar aos profissionais espaços de avaliação e discussão entre as demais
atividades desenvolvidas nas instituições, para que a formação aconteça como um
processo contínuo e integrado ao cotidiano, configurada não somente como
37
necessidade, mas como direito e premissa para a oferta de uma Educação Infantil de
qualidade.
A formação é necessária não apenas para aprimorar a ação do profissional ou melhorar a prática pedagógica. A formação é direito de todos os professores, é conquista e direito da população, por uma escola pública de qualidade. Podem os processos de formação desencadear mudanças? Sim, se as práticas concretas feitas nas creches, pré-escolas e escolas e aquilo que sobre elas falam seus profissionais forem o ponto de partida para as mudanças que se pretende implementar (KRAMER, 2005, p. 224)
Assim é preciso pensar num paradigma de formação para os
professores em que a relação da teoria e da prática esteja presente desde o
início de forma que eles possam, em sala de aula, reconstruir as teorias
aprendidas, reformular e melhorar a sua prática. Uma formação que instrua
esses profissionais a refletir antes, durante e depois das ações realizadas e
trazer para o contexto de sala de aula a criança pequena em todas as suas
dimensões. É preciso que esses professores promovam um aprendizado que
transforme a criança em um usuário competente da língua sem esquecer o
caráter lúdico e prazeroso que deve conter as atividades desenvolvidas na
educação infantil.
3.6 CRONOGRAMA
DATA AÇÃO PÚBLICO-ALVO RESPONSÁVEL
Reunião para Professores e gestão Coordenação
Janeiro apresentação das escolar Pedagógica ações
Relatos construtivos da Coordenação
Janeiro Práticas vivenciadas Professores e gestão
Pedagógica, professores
escolar e gestão escolar
Socialização das Professores e gestão Coordenação
Janeiro práticas escolar Pedagógica
Construção de Secretaria municipal da
Fevereiro materiais didáticos
para Professores e gestão Educação e Cultura de
(Semana o trabalho com classes escolar Caculé, Coordenação
38
Pedagógica) de alfabetização
Pedagógica do Centro de
Educação Infantil Gente Nova
Inserção de práticas Coordenação
Fevereiro a pedagógicas lúdicas Professores e gestão
Pedagógica, professores
Dezembro escolar e gestão escolar
39
4 TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Ao finalizar o trabalho, busco apresentar algumas considerações que
responde como acontece o processo de alfabetização e letramento antes do ensino
fundamental e no que isso irá repercutir no desenvolvimento dos alunos. Através do
embasamento teórico, da realização da análise de dados, bem como a observação
constante em sala de aula, posso considerar que, embora a alfabetização não seja o
objetivo dessa etapa de ensino, é importante que a leitura e a escrita façam parte do
processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil, mais especificamente na
pré-escola, uma vez que a criança já chega na escola com habilidades e um
conhecimento preestabelecido de acordo com o mundo em que vive.
É importante que o educador tenha maior conhecimento e consciência do
trabalho com alfabetização, levando em conta os detalhes referentes ao processo.
Consciente de seu papel no processo de alfabetização, o educador pode realizar um
trabalho de ação pedagógica com enfoque no desenvolvimento e construção da
linguagem, cuja prática pedagógica se apresente em forma de propostas de jogos e
atividades que permitam à criança pensar e dialogar com a linguagem.
Ao se tratar do processo de alfabetização e letramento, pode-se concluir que
estes estão presentes nas atividades que permeiam toda a educação infantil, de
modo específico na pré-escola. Cabe à educadora infantil perceber a complexidade
desses processos, de modo a refletir em sua prática pedagógica sobre a presença
desses instrumentos. E, ainda, compreender o trabalho a ser desenvolvido em torno
desses processos nessa modalidade de ensino.
40
REFERÊNCIAS BRANDÃO, Ana Carolina Perussi; LEAL, Telma Ferraz. Alfabetizar e letrar na Educação Infantil: o que isso significa? In: BRANDÃO, Ana Carolina Perussi; ROSA Ester Calland de Sousa (org). Ler e escrever na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
BRANDÃO, Ana Carolina Perussi; ROSA, Ester Calland de Sousa. Brincando, as crianças aprendem a falar e a pensar sobre a língua. In: BRANDÃO, Ana Carolina Perussi; ROSA Ester Calland de Sousa (org). Ler e escrever na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
FARIA, Ana Lúcia Goulart de; MELLO, Suely Amaral (orgs.). Linguagens Infantis: outras formas de leitura. 2º ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
FERREIRO. Emília. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 1993.
FERREIRO Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. KRAMER, Sonia. Profissionais de Educação Infantil: Gestão e Formação. São Paulo: Ática, 2005.
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