Universidade Federal de Goiás Mestrado em Educação em Ciências e Matemática
Conhecimento e Diversidade de Cultural
PENSAMENTO ABISSAL
José Pedro Machado Ribeiro Rogério Ferreira
PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL:
das linhas globais a uma ecologia de saberes
Baoventura de Sousa Santos
Pensamento abissal
Consiste em um sistema de distinções visíveis e invisíveis, sendo que as invisíveis fundamentam as visíveis. As distinções invisíveis são estabelecidas através de linhas radicais que dividem a realidade social em dois universos distintos:
“deste lado da linha' “ “do outro lado da linha”
O “outro lado da linha” desaparece enquanto realidade, torna-se inexistente, e é mesmo
produzido como inexistente. (não relevante, não compreensível)
A característica fundamental do pensamento abissal é a impossibilidade da co-presença dos dois lados
da linha.
Modernidade Ocidental
- Paradigma fundado na tensão entre regulação e a emancipação social; - Distinção entre as sociedades metropolitanas e os territórios coloniais.
A dicotomia regulação/emancipação apenas se aplica a sociedades metropolitanas. Seria impensável aplicá-la aos territórios coloniais. Nestes aplica-se uma outra dicotomia, a dicotomia apropriação/violência que seria inconcebível aplicar deste lado da linha.
O conhecimento e o direito representam as manifestações mais bem sucedidas do pensamento
abissal. No campo do conhecimento - o pensamento abissal consiste na concessão: - à ciência moderna do monopólio da distinção entre verdadeiro e o falso; - em detrimento de dois conhecimentos alternativos: a filosofia e a teologia.
Os conhecimentos populares, leigos, plebeus, camponeses, ou indígenas estão do outro lado da
linha.
Eles desaparecem como conhecimentos relevantes ou comensuráveis por se encontrarem para além do
universo do verdadeiro e falso.
Do outro da linha, não há conhecimento real;
existem crenças opiniões, magia, idolatria, entendimentos intuitivos ou subjetivos, que, na
melhor das hipóteses, podem tornar-se objectos ou matéria-prima para a
Investigação Científica.
No campo do direito moderno, este lado da linha é determinado por aquilo que conta como:
* legal * ilegal
Isso de acordo com o direito oficial do Estado ou com o direito internacional.
Ciência e Direito – Linhas abissais
Tudo o que não pudesse ser pensado em termos de verdadeiro ou falso, de legal ou ilegal, ocorria na zona
colonial (território social).
Deste lado da linha, vigoram a verdade, a paz e a amizade;
do outro lado da linha, a lei do mais forte, a violência e a pilhagem.
O que quer que ocorra do outro lado da linha não está sujeito aos mesmos princípios éticos e jurídicos
que se aplicam deste lado.
O colonial é o estado de natureza onde as instituições da sociedade civil não têm lugar.
Os humanistas dos séculos XVII e XVIII
chegaram à conclusão de que os selvagens eram sub-humanos.
De acordo com a Bula Sublimis Deus, de 1537, pelo Papa Paulo III –
“os índios eram verdadeiros homens e […] não eram capazes de entender a fé católica mas, de acordo com nossas informações, desejam ardentemente recebê-la”
A apropriação envolve incorporação, cooptação e assimilação,
enquanto a violência implica destruição física, material, cultural e humana.
Cartografia moderna dual: - a cartografia jurídica; - a cartografia epistemológica.
A humanidade moderna não se concebe sem uma sub-humanidade moderna. A negação de uma parte da humanidade é sacrificial, na medida em que constitui a condição para que a outra parte da humanidade se afirme como universal. Essa realidade é tão verdadeira hoje como era no período colonial. O pensamento moderno continua a operar mediante linhas abissais que separam o mundo humano do mundo subumano
Guantámano representa uma das manifestações mais
grotescas do pensamento jurídico abissal, da criação do outro lado da fratura
enquanto não-território em termos jurídicos e políticos,
um impensável para o primado da lei dos
direitos humanos e da democracia.
O governo americano não dá a eles direitos estabelecidos pela
Convenção de Genebra, sob o argumento de que não são
"prisioneiros de guerra" e, sim, "combatentes inimigos" - uma
definição que não existe no mundo jurídico mas que, na
prática, colocou os presos num limbo fora das leis internacionais.
Divisão abissal entre regulação/emancipação e apropriação/violência.
Nos últimos sessenta anos, as linhas globais sofreram dois abalos tectônicos: - lutas anticoloniais e os processos de indepêndencia das antigas colônias; - O regresso do colonial e o regresso do colonizador.
O regresso do colonial
O regresso do colonial é a resposta abissal ao que é percebido como intromissão ameaçadora do colonial nas sociedades metropolitanas.
Esse regresso assume três formas:
O terrorista;
O imigrante indocumentado;
O refugiado.
O colonial que regressa é um novo colonial abissal. O colonial retorna não só aos antigos territórios coloniais, mas também às sociedades metropolitanas. A nova intromissão do colonial tem de ser confrontada com a lógica ordenada pela apropriação/violência. A regulação/emancipação é cada vez mais desfigurada pela presença e crescente pressão da apropriação/violência no seu interior.
O regresso do colonizador
Implica o ressuscitar de formas de governo colonial, tanto nas sociedades metropolitanas, agora incidindo sobre a vida dos cidadãos comuns, como nas sociedades anteriormente sujeitas ao colonialismo europeu.
Ascensão do fascismo social:
fascismo do Apartheid Social;
fascismo Contratual;
fascismo territorial.
Pensamento pós-abissal
O pensamento pós-abissal envolve uma ruptura radical com as formas ocidentais modernas de pensamento e ação.
O pensamento pós-abissal pode ser sumariado com um aprender com o Sul usando uma epistemologia do Sul.
Ecologia de saberes – baseia-se no reconhecimento da pluralidade de conhecimentos.
Como ecologia de saberes, o pensamento pós-abissal tem como premissa a ideia da diversidade epistemológica do mundo,
o reconhecimento da existência de uma pluralidade de formas de conhecimento além do conhecimento
científico.
E o que você tem a dizer sobre o pensamento pós-abissal?
Epistemologias do Sul
PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL: das linhas globais a uma ecologia de saberes
Baoventura de Sousa Santos