PERSPECTIVAS LEITORAIS NA EJA: O QUE O ALUNO LÊ? 1
Janete Cristina Bernarde Monteiro2 Ana lúcia Buogo3
Resumo O presente trabalho pretende abordar as práticas de leitura na Educação de Jovens e Adultos - EJA, com o objetivo de apresentar algumas reflexões do ponto de vista textual, tendo que dentro do mundo pós-moderno há um grande rol de gêneros emergentes que circundam os indivíduos, sendo uma das tarefas da escola e do professor propiciar interações comunicativas com a maior diversidade de textos possíveis, tanto escritos como falados. Neste sentido, o trabalho aqui apresentado justifica-se no intuito de salientar a necessidade de práticas de leituras constantes em sala de aula, a fim de promover os educandos. Para tanto, ocupar-se-á de opiniões de vários autores que desenvolvem ideias sobre leitura, texto, discurso, gênero e produção de sentidos. Nesta perspectiva, salienta-se que a leitura exerce um papel fundamental na construção do ser humano enquanto cidadão, tendo em vista que cada vez mais o processo de ler e escrever vêm sendo requisitado em diversos âmbitos.
Palavras-chave: Texto. Leitura. EJA.
INTRODUÇÃO
A EJA - Educação de jovens e adultos articula, em consonância com diversos
processos, uma educação multicultural, que possibilita o desenvolvimento do
conhecimento e a integração na diversidade cultural; processos voltados para uma
educação da compreensão mútua, contra a exclusão por motivos de raça, sexo,
cultura ou outras formas de discriminação. Para isso, o educador deve conhecer
1Artigo resultante de pesquisa realizada para o TCC, sob orientação da Profa. Ms. Ana Lúcia Buogo da Universidade de Caxias do Sul, dentro das atividades do Curso de Especialização em EJA – Educação de Jovens e Adultos. 2Pós-graduanda do curso de Especialização em EJA, do Projeto "Ler e escrever o mundo: a EJA no
contexto da educação contemporânea" da Universidade de Caxias do Sul. 3 Graduada em Licenciatura Plena Em Letras Português e Inglês pela Universidade de Caxias do Sul
(1983). Possui Especialização em Ensino e Pesquisa pela Universidade de Caxias do Sul,
Aperfeiçoamento em Formação para Educação a Distância pela Universidade de Caxias do Sul e
Mestrado em Educação pela Universidade de Caxias do Sul (2012). Atualmente é professora da
Universidade de Caxias do Sul, atuando principalmente nos seguintes temas: educação a distância,
produção de textos, ensino superior, orientação acadêmica e leitura, ensino de língua portuguesa.
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bem o próprio meio do educando, pois somente conhecendo a realidade desses
jovens e adultos é que haverá uma educação de qualidade.
O educador mantém-se, portanto, como um norteador do aluno, mostrando-
lhe os horizontes possíveis. Nesse contexto, o processo de leitura é evidenciado
como de suma importância, já que esta abre as portas para a construção de um ser
reflexivo e que sabe como transformar sua realidade. A partir disso, o presente
estudo se justifica na medida em que se entende que é relevante abordar os tipos de
leituras efetuados e as perspectivas educacionais, nesse caso da EJA, no processo
de construção do indivíduo enquanto cidadão.
A presente pesquisa caracteriza-se do tipo bibliográfico e de campo, sendo
realizadas também análises, interpretações e descrições sobre a questão da leitura
que os alunos da EJA realizam, tendo como foco uma Escola Estadual de Ensino
Fundamental, localizada em Caxias do Sul.
O presente trabalho possui como eixo temático ―as perspectivas de leitura do
aluno da EJA em uma escola da rede pública de Caxias do Sul‖, tendo o intuito de
investigar sobre os tipos de leitura que os alunos da EJA realizam e a sua
contribuição no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, apresentamos na
sequência reflexões teóricas sobre perspectivas de leituras, a metodologia utilizada
na pesquisa, a análise e discussão dos dados e as considerações finais.
Assim, a partir do objetivo desta pesquisa passou-se a recolher e analisar as
principais contribuições teóricas sobre o determinado assunto, utilizando-se de
dados obtidos por meio da exploração de outros autores. Portanto, pode ser
entendida como um processo que envolve as seguintes etapas: levantamento
bibliográfico, formulação de hipóteses, busca de fontes, realização da pesquisa de
campo, leitura do material, organização lógica do assunto e a redação textual.
A partir disso, aconteceu a produção escrita, refletindo toda a pesquisa
realizada, interpretação de dados e exposição das ideias encontradas durante o
processo de pesquisa.
1 Perspectivas teóricas do processo de leitura
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Ler as informações, a literatura, os sentimentos, o mundo e tudo que envolve
os sujeitos pós-modernos não é tarefa fácil, tendo em vista a grande lista de
construções textuais propostas, com margens extensas além do texto, sendo ainda
que a ideia deste expande-se com a grande propagação dos gêneros textuais.
Dessa forma, texto e contexto estão ligados por meio da construção e re-construção
de significados, ideias, opiniões.
A imagem de texto vem mudando de acordo com as construções sociais,
assim os indivíduos mudam e transformam-se, língua, texto e literatura também
mudam. Para Koch (2008) um texto ―resulta de um tipo específico de atividade de
influência consciente, teleológica e intencional de sujeitos humanos, individuais ou
coletivos, sobre seu ambiente natural e social‖ (KOCH, 2008, p. 11).
Todo e qualquer processo de leitura é tido como importante no ambiente
escolar, já que o contato com a diversidade de linguagens é essencial como suporte
e condutor de formação de reflexão. De acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais:
Produzir linguagem significa produzir discursos. Significa dizer alguma
coisa para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto
histórico. Isso significa que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um
discurso, não são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes —,
mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado. Quer
dizer: quando se interage verbalmente com alguém, o discurso se organiza
a partir dos conhecimentos que se acredita que o interlocutor possua sobre
o assunto, do que se supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e
antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que se tem,
da posição social e hierárquica que se ocupa em relação a ele e vice-versa
(BRASIL, 1998, p. 22).
Neste contexto, leitura e produção textual são competências e habilidades
que ganham enfoque especial, tendo em vista que é no processo de leitura e
produção de textos que o ser humano passa a ―moldar‖ todo o conhecimento já
construído. Abrir caminhos para o mundo da leitura, da interpretação e da produção
textual é uma tarefa fundamental para os professores.
Ainda, seguindo nesta linha é perceptível que os processos de leitura
concretizam condições para que o indivíduo ―viaje‖ e descubra outros mundos,
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sendo a escola uma protagonista no processo de ―fomentar‖ o aluno para que este
mergulhe neste processo. Soares (2000) ressalta que:
A leitura é muito importante, pois ela traz benefícios inquestionáveis ao ser
humano. Ela é uma ―forma de lazer e de prazer, de aquisição de
conhecimentos e de enriquecimento cultural, de ampliação das condições
de convívio social e de interação‖ (SOARES, 2000, p. 19).
Tem-se, também, a perspectiva da interdisciplinaridade já que a
aprendizagem da leitura colabora para que haja o desenvolvimento de
aprendizagens em qualquer outra disciplina ou tema de um currículo escolar. Nessa
perspectiva, o interesse pela leitura pode solidificar entusiasmos e ânsias por
conhecimentos, fazendo com que o aluno procure e busque cada vez mais.
Dentro desse âmbito, a leitura passa a exercer papel fundamental dentro da
escola, propiciando ao aluno jovem e adulto a interação com grande diversidade de
conhecimentos. Há, então, uma grande ferramenta: a prática da leitura desde cedo
para o processo da edificação do ser enquanto sujeito agente da sociedade.
Por leitura entende-se ―como o conjunto de procedimentos de ordem
cognitiva, isto é, que envolvem a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio‖
(KLEIMAN, 2005, p. 09).
Para tanto, o ambiente escolar deve propiciar:
(a) A ampla disponibilização de livros e materiais de leitura diversificados e
de boa qualidade; (b) A leitura cotidiana de livros, jornais e revistas de
modo a oferecer modelos positivos de leitura, que possam ser
continuamente introjetados pelas crianças; (c) Debate frequente das
leituras realizadas; (d) A constante visita a bibliotecas, feiras do livro, bate-
papos com escritores e ilustradores, entre outras possibilidades (SANTOS,
NETO, ROSING, 2009, p. 211).
Assim, a escola se torna então um ambiente privilegiado para a aquisição do
conhecimento e, às vezes, apresenta-se como única opção de acesso a variedades
textuais, seja por desconhecimento da multiplicidade de gêneros ou por
impossibilidade financeira de aquisição de obras mais significativas. Também
importa refletir sobre o que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais a esse
respeito.
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[...] a escola deve assumir o compromisso de procurar garantir que a sala
de aula seja um espaço onde cada sujeito tenha o direito à palavra
reconhecida como legítimo, e essa palavra encontre ressonância no
discurso do outro. Trata-se de instaurar um espaço de reflexão em que seja
possibilitado o contato efetivo de diferentes opiniões, onde a divergência
seja explicitada e o conflito possa emergir; um espaço em que o diferente
não seja nem melhor nem pior, mas apenas diferente, e que, por isso
mesmo, precise ser considerado pelas possibilidades de (re)interpretação
do real que apresenta um espaço em que seja possível compreender a
diferença como constitutiva dos sujeitos (BRASIL, 1998, p. 48). O tratamento dado ao processo de ensino e aprendizagem identifica o
conhecer ao processamento de informações e sua aplicação. Como se pensa na
inteligência, o entender do ensino deixa de ser somente uma transmissão de
informações, mas uma aprendizagem que instiga a curiosidade, levanta hipóteses,
soluciona os problemas. Assim o aluno precisa desenvolver a habilidade da leitura,
sendo que esta abre um grande leque de possibilidades para as descobertas de
novos mundos.
É observável, na perspectiva da pós-modernidade que:
A nova cognição, própria dos nativos da era da informática globalizada,
possivelmente represente o elemento mais desafiador no contexto da
atualidade [...] o triunfo da técnica e as inovações no campo das
tecnologias, desde os primeiros momentos da revolução industrial e da
inserção da máquina nas rotinas públicas, emergiram na ordem das
relações do homem com o mundo como uma aterrorizante ameaça contra
os processos e poderes humanos (RETTENMAIER, 2009, p. 73).
As ideias supracitadas permeiam um ponto de partida para o suporte da
pesquisa apresentada, sendo que durante o levantamento e análise dos dados
serão agregados outros autores que apresentem ideias para sustentar a
evidenciação dos resultados.
Diz Kleiman (2005) que letramento é um conceito criado para referir-se aos
usos da língua escrita não somente na escola, mas também em todo lugar, pois a
escrita está em todos os cantos, fazendo parte do cotidiano e diante de qualquer fato
ou circunstância, há que se ter uma ―leitura‖ e um posicionamento. Infere-se aqui
que ensino e aprendizagem transcendem as paredes e muros da sala de aula,
partindo para o âmbito da vida pessoal, profissional e social.
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2 Análise e discussão dos dados: a tarefa da escola no processo do trabalho
da leitura
A pesquisa de campo envolveu a aplicação de um questionário que trazia
questões relacionadas ao hábito de leitura dos alunos da EJA, com o intuito de
investigar o que os alunos leem. Foram aplicados 40 questionários para alunos de
EJA entre 15 e 50 anos de idade. Para análise dos dados foram separadas as
respostas por dois grupos de faixa etária: faixa I (de 15 a 25 anos) e faixa II (de 26 a
50 anos).
A primeira pergunta realizada foi ―Você acha importante ler?‖. Nesse contexto,
todos os alunos, tanto da faixa etária I quanto da faixa etária II, responderam sim.
Percebe-se aqui que os alunos da EJA têm a consciência da importância de ler,
tendo como justificativa diferentes motivos. Eis alguns citados pela faixa etária I:
porque você não tem erro de português; para nossa leitura ser mais bonita; para
falar correto; para ler corretamente; para ter um desenvolvimento melhor na escola;
amadurecer mais; para descobrir novas coisas; ajuda a refletir sobre o que lê; por
que ajuda no aprendizado; é interessante ler para saber; para o desenvolvimento do
cérebro; exercita a mente e para desenvolver o conhecimento.
Contempla-se aqui o texto, tendo em vista que este é uma ação uniforme
comunicativa, baseando-se na necessidade de se ―ler‖ os diferentes códigos,
mensagens e discursos estabelecidos, podendo assim se dizer:
A complexidade da sociedade moderna exige conceitos também
complexos para descrever e entender seus aspectos relevantes. E o
conceito de letramento surge como uma forma de explicar o impacto da
escrita em todas as esferas de atividades e não somente as atividades
escolares (KLEIMAN, 2005, p. 6).
Assim, sob as teorias que envolvem o letramento pode-se dizer que este é
caracterizado pelos usos da linguagem dentro de uma perspectiva social, bem como
as ações e reações que a mesma incita no mundo. Desta forma, o texto dentro do
contexto passa ser o foco e este possibilita interações comunicativas, sejam de
ordem oral ou escrita. Para tanto, um mesmo texto pode conduzir a diversos
significados, discursos diferentes, sendo que dependerá do contexto ao qual é lido e
das condições sócio-histórico-ideológicos dos leitores (ORLANDI, 2005).
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Na faixa etária II também foi possível encontrar ideias que circulam no
âmbito de: conhecer histórias diferentes; adquirir conhecimento; se distrair; aprender
coisas novas, informações; é um ato de amor; porque viajamos sem sair do lugar e
porque é um aprendizado a mais.
Neste sentido, ao se deparar com uma diversidade de situações e grupos
culturais, observa-se também um grande rol de gêneros discursivos diferentes que
emergem conforme dada situação, concretizações estas que fazem com que a
leitura seja elevada em diferentes âmbitos.
Diante do questionamento ―O que você gosta de ler?‖, pode ser observado o
gráfico da sequência que representa o seguinte resultado encontrado:
Fonte: Pesquisa realizada com alunos da EJA - elaboração da autora.
A partir do gráfico percebe-se que, uma grande parcela dos jovens da faixa
etária I e II – entre 55% e 60% - realizam leituras de livros, mas é destacável o
universo onde há uma grande inclinação dos alunos da faixa etária II para a leitura
do jornal, 80%.
Desse modo constata-se que a leitura é um fator essencial na escola, dando
percepção aos alunos da importância da leitura e que a mesma está presente no dia
a dia, sendo que esta abre os caminhos para, não apenas o que está escrito, mas
indo além, desvelando o mundo.
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A importância dada à leitura vem crescendo consideravelmente nos últimos
tempos, tendo em vista que os padrões da atualidade pedem sujeitos pensantes e
que possuam uma reflexão-ação diante de sua realidade. Neste aspecto, leitura
associada às ações culturais torna-se extremamente relevantes, sendo que:
A ação cultural busca a expressão e a criatividade dos indivíduos no grupo
e na comunidade. Está ligada à ideia de transformação, de emancipação a
partir da expressão. Diz respeito não apenas a produtos culturais
acabados, como também as condições quem levem à capacidade criativa,
à produção cultural (SANTOS; NETO; ROSING, 2009, p. 39).
Para tanto, no âmbito escola é essencial a presença de professores
transformadores, que assumam seu papel como participantes do processo de
construção e edificação de sujeitos transformadores, pelo lúdico, ensinem seus
alunos a olharem seu mundo interior ao tempo que assimilam os novos conceitos
linguísticos que estão vivendo. Os professores da EJA passam a saber que, ao
trabalhar com a emoção é tão ou mais complexo que trabalhar de forma tradicional,
estimulando seus alunos a pensarem antes de agirem e se tornarem donos de
novas conquistas, não tendo medo do novo. Esses professores transformadores
devem saber filtrar estímulos e aprenderem a trabalhar não somente a gramática
formal e suas regras, mas seus problemas concretos, as contradições na vida de
seus alunos de EJA e toda magia que há dentro do processo de leitura e
desbravamento de diferentes textos, inclusive de revistas, jornais e online.
O gráfico abaixo apresenta dados que nos permitem fazer uma reflexão
sobre o quanto a escola influenciou no hábito de leitura dos alunos pesquisados.
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Fonte: Fonte: Pesquisa realizada com alunos da EJA - elaboração da autora.
Dentro desse contexto, é possível destacar a escola como promotora e
formadora de leitores, especialmente quanto ao fato de nas duas faixas etárias, em
especial a faixa II haver um grande percentual de respostas positivas.
A leitura é fundamental para o processo de aprendizagem do aluno, sendo
que a escola ainda tem sido vista como um espaço necessário e essencial para o
desenvolvimento desta prática.
O gráfico que segue apresenta a síntese da questão ―Você foi incentivado a
ler?‖ Por quem?:
Fonte: Fonte: Pesquisa realizada com alunos da EJA - elaboração da autora.
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Visualiza-se que parte dos alunos foram influenciados ao mundo da leitura
pela família, seguido da escola; contudo há cerca de 30% tanto na faixa etária I
quanto na faixa etária II, que não foram influenciados, o que aponta falhas no
sistema familiar e escolar nesse processo, uma vez que a escola é uma instituição
que complementa a família e juntas tornam-se lugares essenciais para a convivência
dos alunos. A escola não deveria viver sem a família e nem a família deveria viver
sem a escola. Uma depende da outra na tentativa de alcançar objetivos de
influenciar positivamente os educandos para uma vida melhor.
Moura (1994), ―além de reconhecer a deficiência da escola que forma o
professor, aponta, também, na família (em geral analfabeta e com baixo nível
econômico) fatores determinantes que podem justificar a prática sem objetivos e
sem função para o ato de ler‖. (In MAIA, 2007, p. 35).
Cabe destacar aqui um enfoque especial para leitura, já que a prática desta
faz com que haja concretização e interligação para a construção de novos
conhecimentos.
O texto falado apresenta-se ―em se fazendo‖, isto é, em sua própria
gênese, tendendo, pois a ―pôr a nu‖ o próprio processo da sua construção.
Em outras palavras, ao contrário do que acontece com o texto escrito, em
cuja elaboração o produtor tem maior tempo de planejamento, podendo
fazer rascunhos, proceder a revisões e correções etc., no texto falado
planejamento e verbalização ocorrem simultaneamente, porque ele emerge
no próprio momento da interação: ele é o seu próprio rascunho (KOCH,
2008, p. 79).
Nesse sentido, tanto texto falado como escrito adentram na modalidade de
leituras que possibilita ao leitor desbravamentos de novos mundos ou a simples
compreensão dos fatos que estão diante dos olhos. No que tange aos textos
escritos, destacamos a presença da literatura na vida dos indivíduos, sendo o gráfico
da sequência uma amostra de quantos leem livros literários, na escola pesquisada.
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Fonte: Pesquisa realizada com alunos da EJA - elaboração da autora.
Pode-se vislumbrar que mais de 60% dos alunos pesquisados na faixa etária
I e II realizam a leitura de livros literários espontaneamente, ou seja, por livre procura
estes adentram no mundo da literatura; restando um pequeno grupo 30% na faixa
etária I e 40% na faixa etária II que leem textos literários apenas quando solicitado
pelos professores a fim de realizar atividades escolares avaliativas.
Conforme Brandão (2012) tornar a leitura um hábito permanente que possa
se desenvolver independente da aula de Português, mas em todas as áreas, como
forma de pesquisa, sistematização, prazer, descoberta e aprendizagem, seria um
objetivo para tornar os alunos assíduos à leitura espontaneamente.
Contudo, ainda salienta-se que num mundo onde as novas informações
crescem exponencialmente, em que tudo vira notícia, mídia, dados, gera discussão,
leitura, releitura, publicidade, humor, arte, vídeo, dados, a necessidade de saber ler,
ler e entender nunca foi tão importante para a sobrevivência humana.
Um dos enfoques relacionados à pós-modernidade incide sobre o fato de
que, na civilização da imagem, o que prevalece é o olhar. Isso advém, em
grande parte, das implicações entre meios de comunicação de massa e
normatização das relações sociais estabelecidas a partir da utilização,
principalmente, dos elementos visuais. Como resultado, de acordo com
Silvano Santiago, as pessoas hoje já não conseguem narrar o que
experimentaram na própria pele (KONZEN, 2002, p. 76).
A era das novas tecnologias, da internet, da divergência social e de outros
tantos novos processos que surgem a cada dia possibilitam criar cada vez mais
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gêneros textuais, reprodução de textos e de discursos em ambientes diferentes com
diferença de tempo, ou simultaneamente. O gráfico abaixo traz uma síntese dessas
ideias.
Fonte: Fonte: Pesquisa realizada com alunos da EJA - elaboração da autora.
Como se percebe na faixa etária II o acesso ao mundo virtual (internet) é
escasso ou até inviável para 30% dos alunos da EJA, tornando assim a necessidade
de se trabalhar na escola esse mecanismo tão moderno, mas inacessível a alguns
alunos com vistas a democratizar o acesso a esse novo contexto.
José Luís Jobim (2003), em seu artigo A produção textual e a leitura: entre o
livro e o computador? Discute, entre outros assuntos aspectos, sobre o futuro do
livro e mostra-se cauteloso ante esta interrogante, assumindo uma postura
conciliatória. Ele mesmo reconhece que, dada a constante transformação
tecnológica, não existem respostas definitivas. Escreve o professor Jobim:
O livro, com seu suporte de papel, ainda é um objeto de grande
funcionalidade. Se a substituição de determinado artefato cultural por outro
geralmente ocorre quando este outro pode perfazer todas as funções do
anterior, com vantagem, então podemos dizer que isto não ocorreu, pois o
livro, entre outras coisas, não tem necessidade de eletricidade ou de
upgrading, e o leitor pode acessa-lo sem a mediação de uma máquina. Isto
não significa, contudo, que a posição do livro (e de sua leitura) permanecerá
a mesma neste novo contexto cibernético (JOBIM, 2003, p. 232).
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Assim, o papel que os professores cumprem na escola, fica cada vez maior, já
que a cada dia são agregadas novas possibilidades, novos textos, novos discursos.
Cabe aos educadores desenvolverem tanto leitura como escrita de gêneros diversos
encontrados em sites: receitas, poesias, charges, notícias de vários segmentos,
reportagens e tantos outros que envolvem direta ou indiretamente o cotidiano dos
jovens e adultos, para com estes utilizarem em suas aulas e planejamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo aluno, jovem ou adulto, dentro do espaço escolar não pode ser visto
como um mero consumidor e repetidor de informações, mas como alguém capaz e
com direitos de participar ativamente da produção de conhecimentos. A escola, se
assumir este papel, revelará aos educandos os novos discursos que vêm surgindo,
como novos gêneros também. Mesclar textos, discursos, tanto falados quanto
escritos é trabalhar linguagem, na sua perspectiva de interação e de possibilidade
de estar e ser no mundo. Tornar a leitura um hábito permanente que possa se
desenvolver em todas as áreas do conhecimento é fundamental.
Cabe destacar, portanto, a importância de práticas efetivas de leitura no
ambiente escolar, tendo em vista que esta propicia ao aluno de EJA interações de
se desbravar práticas e posicionamentos que poderão ser utilizados ao longo da
vida.
Os alunos jovens e adultos evidenciam a importância que dão à leitura (e à
literatura) e aos processos de compreensão da realidade por meio dessa prática.
Nesse sentido a escola deverá ser o espaço para o desenvolvimento da leitura e da
produção de textos como instrumentos de inclusão social.
Assumir as perspectivas das diversidades das práticas de leituras implica
conceber os processos de aprendizagens como tarefas de cidadania para com os
alunos da EJA.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Sérgio Vieira. Ler e escrever para tecer a Rede. Tramandaí: SVB,
2012.
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: língua portuguesa. Brasília: 1998.
JOBIM, José Luís. A produção textual e a leitura: entre o livro e o computador. In:
______. Formas da teoria. 2. ed. Rio de Janeiro: Caetés, 2003. p. 217-242.
KLEIMAN, Ângela B. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a
escrever?. Campinas: Cefiel - Unicamp; MEC, 2005.
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ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: Princípios e procedimentos.
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SANTOS, Fabiano dos. NETO, José Castilho Marques. ROSING, Tânia M. K.
Mediação de leitura: discussões e alternativas para formação de leitores. São
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SOARES, M. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. In:
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