Módulo 2
“Tendências e incertezas na Europa e no Mundo”
Docente: Dr. José Manuel Félix Ribeiro
Perú – Ambiente e Negócios
2012
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MBA em Gestão de Negócios Internacionais IV Edição
Trabalho executado por:
Simone Vasconcelos
José Carlos Freitas
Patrícia Jesus
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Índice
0 – Sumário Executivo p. 5
1 – Caracterização básica do país
1.1. Social p. 7
� População e sua taxa de crescimento
� Estrutura etária da população
� Taxas de escolarização
� Desemprego – geral – e se possível por faixas etárias
� Parte da população residindo em cidades e em cidades com mais de um
milhão de habitantes
� Avaliação do país em termos de Índice de Desenvolvimento Humano
1.2. Económica p. 17
� Produto Interno Bruto per capita no último ano disponível
� Taxas de crescimento anual do PIB nos últimos 5 anos (se possível)
� Evolução do PIB per capita
� Distribuição do rendimento
� Dimensão e dinâmica de crescimento das “classes médias”
� Estrutura da produção por sectores e das exportações por tipo de
produtos e por mercados principais
� Detalhe da parte ocupada nas exportações por matérias-primas bem
como de produtos resultantes da transformação directa de matérias-
primas
� Principais países investidores e principais sectores onde têm investido
� Evolução da balança de transacções correntes e nível de endividamento
externo em do PIB
� Agrupamentos regionais a que o país pertence e existência de zonas de
livre comércio no quadro desses Agrupamentos
1.3. Política p. 38
� Organização do Estado
� Tipo de regime político e sua estabilidade
� Existência de tensões internas continuadas – étnicas, religiosas ou sociais
� Avaliação do país em termos de corrupção
� Conflitos latentes ou existentes com países vizinhos
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2 – Perspectivas futuras de desenvolvimento e investimento p. 43
� Factores favoráveis ao crescimento económico no futuro
� Travões ao desenvolvimento económico e social no futuro
� Principais tipos de investimentos públicos previstos
� Sectores exportadores – bens e serviços que mais podem vir a contribuir para o
crescimento
� Sectores do mercado interno que poderão ter maior crescimento
3 – Avaliação do “Ambiente de Negócios” p. 52
� Fiscalidade
� Estado de direito e funcionamento da Justiça
� Segurança – pessoas e bens
� Administração pública, qualidade no processo de egstão administrativa
� Qualidade do sector de serviços privados de apoio às empresas
� Qualidade dos serviços infra estruturais
4 – Análise do risco país pelo COFACCE p. 60
5 – Informações Adicionais p. 61
6 – Fontes p. 64
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0. Sumário Executivo
O presente trabalho pretende efectuar uma breve caracterização do Perú em termos sociais,
económicos e políticos. Pretende também abordar o ambiente de negócios assim como as
perspectivas futuras de desenvolvimento e investimento no país. Por último faz-se uma breve
abordagem à avaliação do Risco do país pela COFACE.
O Perú é o quarto país mais populoso da América Latina situado na Costa do Pacífico e com
um território orograficamente muito distinto e difícil que determinou o panorama económico,
social e político ao longo dos tempos.
Os peruanos descendem da civilização inca e culturalmente são o resultado da multiplicidade
de etnias, línguas e religiões acolhidas ao longo dos tempos. Os peruanos são também um
povo jovem e maioritariamente urbano mas muito heterogéneo em termos de
desenvolvimento humano. A este nível, o país tem de lidar com uma diferença abismal entre
os meios urbanos e rurais, com uma percentagem elevada de população pobre (apesar das
grandes melhorias a este nível na última década) e de analfabetos, com desigualdade entre
sexos, com cuidados de saúde ainda muito precários (quando comparamos ao standard dos
países de alto desenvolvimento humano onde o Perú está inserido) e níveis de insegurança
elevados (que decorrem de fenómenos vários como a tradição das guerrilhas, o negócio da
cocaína assim como a corrupção e abuso de poder transversal às várias instituições públicas
de defesa dos cidadãos).
País cujos pontos fracos são tradicionalmente institucionais e os pontos fortes económicos,
mais recentemente também políticos.
A economia é determinada pela riqueza em recursos naturais, pela posição geográfica
estratégica na costa do Pacífico, pela orografia do território que determina uma economia
dual próspera na Costa e de subsistência nas regiões montanhosas e muito pela Política que
ao longo do século XX teve múltiplos actores.
Nos últimos cinco anos o Perú foi a economia da América Latina que mais cresceu em
termos médios e uma das que melhor reagiu à crise financeira mundial do sub prime (com
efeitos reais em 2009). O crescimento económico resultou essencialmente do grande
dinamismo do consumo interno, do investimento privado e da política governamental
orientada para as exportações.
No Perú alguns são os fenómenos que explicam este dinamismo: (i) a notável diminuição da
pobreza na última década e emergência da classe média extremamente dinamizadora do
consumo interno; (ii) liberalização da economia que se substancia num tratamento muito
favorável do governo ao investimento directo estrangeiro que tem no país grandes
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oportunidades de investimento quer a nível da mineração como da construção de
infraestruturas claramente insuficientes; (iii) a abertura da economia ao exterior (em 2011,as
exportações representavam mais de 25% do PIB) muito potenciada pelos inúmeros acordos
comerciais existentes com outros países (particular relevância para os acordos com os
países da região).
País com superávites comerciais sucessivos, dívida pública reduzida, elevados montantes de
reservas cambiais e inflação controlada que o deixam numa posição privilegiada para
acomodar eventuais choques económicos futuros.
O Perú é também um país que só recentemente goza de estabilidade política mas com
fragilidades a nível da segurança das populações quer devido à guerrilha como à produção e
tráfico de estupefacientes (assunto que não iremos desenvolver) e à corrupção e abuso de
poder instalada a nível das instituições (polícia e tribunais pouco independentes do poder
político e financeiro).
A construção do futuro numa conjuntura internacional tão débil passará por aproveitar a
posição robusta da economia peruana para investir na construção das infraestruturas
necessárias ao desenvolvimento económico e social e aposta na inovação para dinamizar
sectores industriais de maior valor acrescentado.
Nota: trabalho redigido de acordo com antiga ortografia.
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1. Caracterização básica do país
1.1. Social
População e sua taxa de crescimento
O Perú, com 29 549 517 milhões de habitantes (2012 est.), é o 42º país mais populoso do
mundo e o 4º da América do Sul (atrás do Brasil com 199 milhões, da Colômbia com 45
milhões e da Argentina com 42 milhões).
A taxa média anual de crescimento da população, que nos primeiros anos da década de
1990 era de 1,9% tem sofrido um acentuado decréscimo, nos primeiros cinco anos desta
década estima-se que a mesma tenha o valor de 1,1% (valor estimado para 2012 de
1,016%). Para este facto contribuíram uma diminuição acentuada da taxa de fertilidade nos
mesmos períodos de 3,6 para 2,4 nascimentos por mulher (valor estimado para 2012 é de
2,29 crianças por mulher) assim como uma taxa de migração líquida negativa (desde o início
do século XXI, inúmeros peruanos têm deixado o país rumo aos Estado Unidos da América e
Europa, com destaque para Espanha).
Em 2011, a esperança de vida ao nascer era de 74 anos (maior nas mulheres), muito
próxima da América Latina e Caribe.
Em termos geográficos, de acordo com o Censos 2007, verificamos que desde 1940 se tem
assistido a êxodo demográfico da Serra para a Costa. Assim, a evolução da população é a
seguinte: a Costa que passa de 28,3% em 1940 para 54,6% em 2007, a zona da Serra passa
de 65% para 32% e a zona da Selva de 6,7% para 13,4%.
A densidade demográfica do Peru é de 22,7 habitantes/km².
A população urbana era, em 2011, cerca de 77,3% da população total. Esta é uma
percentagem inferior à região onde foi superior a 79,8%.
No Perú, o tecido populacional é heterogéneo sendo o resultado da coabitação de várias
etnias, línguas e religiões. A distribuição étnica era, em 2007, 45% ameríndia (cuja origem é
essencialmente quéchua e aymará), 37% mestiça (mistura de ameríndios e brancos), 15%
branca (essencialmente europeus: espanhóis, italianos, franceses e ingleses) e 3% afro
descendentes e minoria asiática (chineses e japoneses). Relativamente às línguas, 84,1% da
população falava o espanhol, 13% falava o quéchua, 1,7% falava o aymará e 1,2% outras;
estas três línguas são oficiais. Em termos religiosos a população é maioritariamente católica,
cerca de 81,3%, 12,5% são evangelistas e 6,2% de outras religiões especificadas, não
especificadas ou sem religião.
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Estrutura etária e por sexo da população
A estrutura etária da população peruana (estimativa 2012) está dividida em três grandes
grupos que a seguir se descrevem e cuja representação gráfica é a do Gráfico Nº1:
� dos 0 aos 14 anos: 28,1% (50,9% homens e 40,1% mulheres)
� dos 15 aos 64 anos: 65,4% (48,9% homens e 51,1% mulheres)
� a partir dos 65 anos: 6,5% (47,5% homens e 52,5% mulheres)
Fonte: The World Factbook da Central Intelligence Unit (CIA)
Se analisarmos uma série temporal superior, verificamos que a tendência tem sido de
diminuição do grupo de pessoas com idade inferior a 15 anos (em 2007 eram 30,5% da
população total) e do grupo de pessoas com idade superior a 65 anos (em 2007 eram 9,4%)
por contrapartida do aumento das pessoas com idades compreendidas entre 15 e 64 anos
(em 2007 eram 63,1%).
Estatisticamente, verifica-se que os departamentos com maior percentagem de jovens (idade
inferior a 14 anos), Huanvelica (39,7%), Loreto (38,6%) e Amazonas (37,8%), são os que
apresentam Índice de Desenvolvimento Humano médio e médio alto (de acordo com o IDH
de 2005). Ao contrário, os departamentos onde esta percentagem é menor, Moquegua
(25,3%), Ica (25,4%) e Arequipa (26,4%), apresentam um IDH alto. O grupo etário a partir
dos 65 anos é mais expressiva em Ancash (7,7%) e Apurimac (7,5%) e menos em Madre de
Dios (2.6%) e Ucayali (3.7%).
Gráfico Nº1
O Gráfico Nº1 é uma pirâmide de base reduzida e um progressivo alargamento no centro que
reflecte o menor número de nascimentos e um aumentado progressivo do número de
pessoas da população em idade activa. Apesar de em termos temporais poder antever-se o
início do processo de envelhecimento da população (evolução semelhante ao dos países
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muito desenvolvidos), a idade média da população é ainda bastante jovem (em 2010 era de
25,6 anos e estima-se que para 2012 seja de 26,5) e mais jovem que a média da região (em
2010 era de 27,5 anos).
Em termos de sexo, de acordo com o Censos de 2007, cerca de 49,7% eram homens e
50,3% mulheres. O índice de masculinidade, que indica o número de homens para cada 100
mulheres, era idêntico em 2007 e 1993, o mesmo valor de 98,8. Ao longo do território
peruano este índice varia muito, é menor em Lima metropolitana (96 homens para cada 100
mulheres), seguido do Departamento de Lambayeque (94,9), verificando-se o valor mais
elevado no departamento de Madre de Dios (130) e nas comunidades indígenas da
Amazónia no grupo e pessoas entre os 15 e os 64 anos (120) e com mais de 65 anos (127).
Taxas de escolarização
A taxa de escolarização aqui considerada é a taxa de literacia para adultos, ou seja, a
percentagem da população com idade igual ou superior a 15 anos que sabem ler e escrever.
Este indicador é de particular importância dado que está comprovado empiricamente que
baixos níveis de alfabetização e educação em geral são entraves ao desenvolvimento
económico, especialmente no mundo actual em rápida transformação impulsionada pela
tecnologia. Este indicador de acordo com o Human Development Report (HDR) 2011 era
para o Perú de 89,6%.
Contudo, esta base de dados não nos dá a distinção por sexo, pelo que recorrermos ao
Censos de 2007 que já o faz. A Tabela Nº1 abaixo mostra-nos a taxa de alfabetização total
da população por sexo, de acordo com o último Censos efectuado (2007). Na tabela deverá
apenas ser analisado a questão do sexo e não devem ser efectuadas comparações entre os
agregados totais.
Tabela Nº 1
Taxa de alfabetização do Perú Total população e por sexo Censos 2007
Mulheres 89,40%
Homens 96,40%
População total 92,90%
Fonte: CIA Publications - The world Fact Book (Censos 2007)
De acordo com o Censos de 2007, verificamos que em termos gerais as mulheres são
menos alfabetizadas que os homens.
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Se quisermos ainda detalhar outros aspectos da Educação do país podemos ainda
acrescentar que, de acordo com o HDR 2011: (i) a taxa de literacia média dos adultos no
período entre 2005 e 2010 foi de 89,6%; (ii) o número médio de anos de escolaridade da
população total é de 8,7 e (iii) o número de anos expectável de escolaridade total é de 12,9.
A educação no Perú é obrigatória e gratuita nas escolas públicas para os níveis da educação
infantil, primária e secundária. É também gratuita nas universidades públicas para estudantes
com aproveitamento e que não possuam condições financeiras para pagá-la. A Educação
está sob jurisdição do Ministério da Educação que está encarregado de formular,
implementar e supervisionar a política educacional nacional.
Os sistemas educacionais formais vêm mostrando um firme processo de ampliação da
inclusão em todos os níveis mas com maior incidência ao nível da educação infantil e do
ensino médio. No ensino fundamental, que se encontra muito perto da universalização, o
principal desafio é a inclusão dos que habitualmente têm sido excluídos. Actualmente, o
maior défice reside no ensino médio.
Como se pode verificar pela Tabela Nº 2 da taxa de escolaridade da população estudantil
distribuída por níveis de ensino, o Perú tem pela frente um árduo trabalho a efectuar, quer ao
nível do sistema educativo, quer ao nível da motivação/incentivo das populações para
estudar.
Tabela Nº 2
População estudantil do Perú - por nível de Ensino (Taxa de escolarização %)
Nível de Ensino - Escolaridade 2006 2007 Inicial 1.185.072,00 12,9 1.254.432,00 13,3
Primária 4.029.192,00 43,8 4.010.058,00 42,5
Secundária 2.655.546,00 28,8 2.763.453,00 29,3
Superior - Não Universitário 383.296,00 4,2 377.999,00 4,0
Outras modalidades 332.259,00 3,6 337.293,00 3,6
Universitária (2007) 597.881,00 6,5 645.711,00 6,8
Básica - Alternativa 22.903,00 0,2 43.152,00 0,5
9.208.155,00 9.434.105,00
Fonte: CIA Publications - The world Fact Book (Censos 2007)
Em termos previsionais, para o período 2007-2015, estima-se um analfabetismo absoluto de
12,30% com maior incidência nos meios rurais e nas mulheres. Como ilustra a Tabela Nº 3.
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Tabela Nº 3
Analfabetismo por Sexo e Residência
(Programa Nacional período 2007-2015)
Analfabetismo absoluto 12,30%
Taxa de analfabetismo urbano 5,90%
Taxa de analfabetismo rural 25,80%
Taxa de analfabetismo masculino 6,50%
Taxa de analfabetismo feminino 17,80%
Taxa % primária incompleta 36%
Fonte: OEI - Estatísticas oficiais para o período 2007-2015
Em termos regionais, uma das características da América Latina e Caribe é um atraso
educacional grande caracterizado por: (i) uma percentagem de analfabetos relativamente
elevada, a taxa de alfabetização média das pessoas com idade superior a 15 anos para o
período entre 2005 e 2010 era de 9%; (ii) a % de crianças com idade de frequência do ensino
fundamental que o frequenta é de cerca de 90%, contudo, esta percentagem reduz-se para
68% no ensino médio; (iii) cerca de 40% da população regional total não termina os estudos
do ensino fundamental.
Para além disso, as diferenças são muitas entre países e dentro de cada país entre regiões.
Quando comparamos os dados do Perú de 2011 com os restantes países da América Latina
verifica-se que a este nível os números estão muito aquém dos aí verificados, à excepção do
Equador e El Salvador com taxas de alfabetização de adultos de 84,2% e 84,1%
respectivamente.
Desemprego – geral – e por faixas etárias, se possível
A taxa de desemprego aqui utilizada define-se como a percentagem da força de trabalho, em
idade para trabalhar (idade igual ou superior a 14 anos de idade) e que está sem trabalho. A
evolução da taxa de desemprego entre 2005 e 2011 é a que consta da Tabela Nº 4 abaixo.
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Tabela Nº 4
Taxa de desemprego
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
9.6 7.6 7.2 8.1 8.1 7.9 7.9
Fonte: CIA World Factbook, inf. actualizada a 2011/01/01
De acordo com dados do Economist Intelligence Unit deste ano, estima-se uma manutenção
da taxa entre os 7,7% e 7,9% nos próximos três anos (valor semelhante ao verificado no ano
passado, 7,9%). Como aliás, a Tabela Nº 5 nos ilustra.
Tabela Nº 5
Taxa de desemprego média do Perú estimada
2011 2012ª 2013ª 2014ª
7,90% 7,70% 7,80% 7,90%
ª Estimativa
Fonte: The Economist Intelligence Unit (EIU) 2012
O desemprego juvenil (pessoas com idades compreendidas entre os 14 e os 24 anos) é o
mais elevado. A Tabela Nº 6 ilustra a distribuição por sexos deste fenómeno onde se pode
verificar a maior incidência nas mulheres.
Tabela Nº 6
Taxa de desemprego juvenil no Perú
População total 14,00%
Mulheres 15,60%
Homens 12,50%
Nota: últimos dados disponíveis 2008
Fonte: The Economist Intelligence Unit 2009
Em termos de distribuição da população desempregada por faixa etária, os dados
disponibilizados pelas autoridades peruanas são para as zonas urbanas mas tendo em conta
a representatividade dos mesmos vamos utilizá-los.
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A Tabela Nº 7 dá-nos a taxa de desemprego da população urbana por zonas e escalões
etários.
Tabela Nº 7 Taxa Desemprego população urbana por Zonas e Escalões etários
2007 2008 2009 a b c d a b c d a b c d Costa 15,0% 4,2% 2,7% 3,4% 13,4% 3,8% 3,3% 1,3% 13,0% 4,5% 3,8% 3,8% Serra 17,2% 4,4% 1,5% 0,6% 13,6% 4,4% 2,0% 1,6% 13,1% 4,1% 2,2% 3,3% Selva 11,5% 3,1% 2,4% 0,5% 10,0% 2,4% 2,1% 1,4% 10,9% 2,9% 2,3% 2,3% Lima 14,8% 4,6% 4,8% 3,9% 14,4% 5,0% 4,1% 4,8% 12,6% 4,4% 4,0% 5,4% Escalões etários:
a - 14 aos 24 anos
b - 25 aos 44 anos c - 45 aos 64 anos
d - igual ou superior a 65 anos
Nota: por Lima referimo-nos à área metropolitana
Fonte: INEI
Analisamos os anos de 2006 a 2009 (último ano) e concluímos que, em termos gerais, os
escalões mais jovens são os que evidenciaram taxas de desemprego superior.
Especificamente, o escalão etário mais jovem, dos 14 aos 24 anos, é o que regista taxas de
desemprego destacadamente mais altos independentemente do ano e da zona em questão.
O desafio aqui pode ser a implementação de políticas de Educação e formação destes
jovens de forma a melhor habilitá-los ao mercado de trabalho.
Em termos geográficos: (i) na Costa, existe uma evolução positiva da taxa de desemprego
(diminuição) nos dois escalões mais jovens enquanto que os dois escalões mais velhos
mantém-se ou pioram (aumentam); (ii) na Serra, ressaltam os comportamentos muito
errantes da taxa ao longo do tempo em alguns escalões e uma melhoria para os escalões
dos 14 aos 24 anos e dos 45 aos 64 anos; (iii) na Selva, volta a verificar-se a evolução
positiva no escalão mais jovem mas uma deterioração do escalão mais velho que aumentou
cerca de um ponto percentual. Refere-se que a zona da Selva é uma área geográfica onde
nos últimos anos foram concedidos ao investimento estrangeiro a concessão de projectos
das indústrias extractiva e madeireira, projectos esses que têm absorvido a mão-de-obra
local e por isso mantido as taxas de desemprego historicamente reduzidas e
comparativamente as mais baixas do país.
Particularizando à região metropolitana de Lima verificaram-se, no período em questão,
taxas de desemprego elevadas no escalão mais jovem mas com evolução positiva no
período considerado, destacando-se os anos de 2006 e de 2009 com reduções de 4,9% e
1,85% respectivamente.
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Ainda na área metropolitana de Lima os dados mais actualizados apontam para um aumento
da população economicamente activa (PEA) de 1,6% no primeiro trimestre de 2012, quando
comparamos ao período homólogo do ano anterior. A taxa de desemprego diminuiu de 7%
para 6,7% da PEA, enquanto a taxa de trabalho precário reduziu-se de 39,7% para 39,2% da
PEA. O salário médio foi de US$ 490,00, registando-se aumento de 8,4% comparativamente
ao período homólogo.
Contra algumas expectativas, a taxa de desemprego em Lima reduziu de 7% para 6,2% no
trimestre móvel de Maio a Julho deste ano (dados do INEI). O número de desempregados na
capital diminuiu 31 mil pessoas, para 298,7 mil e os sectores que mais contribuíram para isso
até Agosto foram os sectores da Construção (cresceu cerca de 21,47%), a Indústria Fabril e
o Comércio.
É ainda possível fazer outra análise também pelas diferentes zonas urbanas mas por níveis
de escolaridade. A Tabela Nº8 permite-nos tirar algumas conclusões: (i) na Costa, e no
Ensino Primário, apesar dos movimentos serem oscilantes ao longo do período considerado,
o valor de 2005 é praticamente igual ao de 2009; (ii) a Serra, no Ensino Secundário, é a área
onde existe maior taxa de desemprego, em todos os anos à excepção de 2009, ano em que
passa a ser a zona do país com menor taxa de desemprego; (iii) a nível do Ensino Superior,
na Costa e Serra verificaram-se diminuições e na Selva não houve alteração significativa.
Tabela Nº 8 Taxa Desemprego população urbana por Zonas e Nível de educação
2006 2007 2008 2009 a b c a b c a b c a b C Costa 4,1% 7,1% 7,4% 3,9% 7,6% 6,3% 2,2% 7,0% 6,4% 4,1% 7,3% 5,5% Serra 1,4% 7,3% 6,4% 2,3% 8,0% 6,7% 2,0% 7,2% 6,2% 2,1% 5,9% 4,6% Selva 3,4% 5,8% 5,4% 2,5% 5,8% 6,5% 2,2% 5,8% 3,8% 2,2% 6,9% 6,2% Lima 5,6% 8,9% 5,4% 4,6% 7,4% 6,5% 3,9% 7,7% 6,5% 4,5% 7,2% 5,2%
Nível de educação:
a - Primária ou menos
b - Secundária c -superior
Nota: por Lima referimo-nos à área metropolitana
Fonte: INEI
Parte da população que reside em Lima e nas cidades com mais de 1 milhão de
habitantes
A cidade mais importante do Perú é a sua capital, Lima, quer em termos de distritos,
densidade populacional e população recenseada. Fica situada na costa, no litoral do Oceano
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Pacífico. Para além da capital, outras cidades importantes são Cuzco, Piura, Arequipa, La
Libertad, Junín, Cjamarca, Lambayeque, Puno e Áncash.
A distribuição da população peruana pelas maiores cidades (com mais de um milhão de
habitantes) e pelas menores é a que consta da Tabela Nº 9 abaixo.
Tabela Nº 9 Densidade populacional de algumas cidades
Departamento Capital Províncias Distritos Superfície km2
População Recenseada
Densidade Populacional
Hab/Km2
Peru (total) X 195 1.833 1.285.216 28.220.764 22,0
Cajamarca Cajamarca 13 127 33.318 1.455.201 43,7
La Libertad Trujillo 12 83 25.500 1.663.602 65,2
Lima Lima 10 171 34.802 8.564.867 246,1 Madre de Dios
Puerto Maldonado 3 11 85.301 112.814 1,3
Moquegua Moquegua 3 20 15.734 165.492 10,5
Pasco Cerro de Pasco 3 28 25.320 290.275 11,5
Piura Piura 8 64 35.898 1.725.488 48,1
Puno Puno 13 109 71.999 1.320.075 18,3
Tacna Tacna 4 27 16.075 294.965 18,3
Tumbes Tumbes 3 13 4.669 204.650 43,8
Nota: cidades com mais de 1 milhão de habitantes e as menores
Fonte: MRE - Ministério das Relações Exteriores Perú - Censos Nacional 2007
Segundo o Censos Nacional de 2007, Lima encabeça as cidades peruanas com mais de um
milhão de habitantes, com uma população recenseada total de 8.564.867 habitantes que
representa 30,4% da população peruana, quase um terço da população do país. Como
seguidoras surgem as cidades de Piura, Trujillo, Cajamarca e Puno.
As cidades com menor número de habitantes são Puerto Maldonado, Moquegua, Tumbes,
Cerro de Pasco e Tacna. Quanto à distribuição da população por regiões naturais, pelo
Censos 2007, aproximadamente 54,6% da população residia na Costa, 32% na Serra e
13,4% na Selva. Se compararmos com os valores apurados em 1940, 28,3% na Costa, 65%
na Serra e 6,7% na Selva, verificamos que nesses 67 anos ocorreu um êxodo das
populações da Serra essencialmente para a zona costeira.
Avaliação do País em termos de Índice de Desenvolvimento Humano
O Perú, em 2011, obteve um Índice de Desenvolvimento Humano (HDI) de 0,725 que o
colocou no grupo de países com Elevado Desenvolvimento Humano e que o fez ocupar o 80º
lugar do ranking mundial. Este valor está acima do 0,731 calculado para a região da América
Latina e Caribe e quando analisamos os últimos 31 anos representa uma taxa de
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crescimento anual médio deste índice de 26% o que é notável e que a continuar o colocaria
no Top 10 do grupo dos países de Muito Elevado Desenvolvimento Humano (abusos à
parte).
Apesar disso, são diversos os problemas de ordem socioeconómica que actualmente os
peruanos têm de lidar de que são ilustrativos:
• a nível da pobreza: cerca de 5,5 milhões de peruanos (19,9% da população) está em
situação de pobreza multidimensional e destes 14,1% não tem acesso a água
potável, 19,4% não tem acesso a saneamento básico e 19,2% tem de cozinhar com
madeira, carvão ou estrume, o pior resultado em termos relativos e absolutos dos
países da região; para além disso, cerca de 16,9% da população está vulnerável à
pobreza e 34,8% ainda vive com rendimentos abaixo do limiar de pobreza nacional
(e 5,9% do limiar mundial);
• a nível de Educação, um índice de analfabetismo próximo dos 10%;
• a nível da mortalidade infantil expectável para 2012, uma taxa de 21,5 mortes por
cada mil nados vivos;
• a nível de desigualdade entre sexos, uma acentuada desigualdade consubstanciada
por exemplo na percentagem de mulheres com idade igual ou superior a 25 anos
com o Nível de Educação Secundário que continua ainda a ser muito inferior à dos
homens (57,6% e 76,1%, respectivamente), na percentagem de mulheres que
participam no mercado de trabalho (58,2% das mulheres contra 76% dos homens) e
nos apenas 83% de nascimentos levados a cabo por pessoal qualificado que é muito
inferior quer às melhores práticas internacionais como aos restantes países da
região.
Em termos de desvio na distribuição do rendimento (ou consumo) entre indivíduos e famílias
de uma distribuição perfeitamente igualitária, medido pelo coeficiente de Gini, o Perú registou
um valor de 48 pontos percentuais o que o torna um país tendencialmente mais igualitário
mas pouco conforme ilustrado nos parágrafos anteriores.
Para além de todas estas questões aqui mensuradas e ainda neste âmbito, interessa focar a
questão da segurança pública muito pertinente num país que é um dos maiores produtores
mundiais de cocaína. Questão desenvolvida à frente no Ponto 3. Avaliação do “Ambiente de
Negócios” em “Segurança – pessoas e bens”.
Parafraseando o actual presidente Humala numa das visitas ao interior do país é como se
existisse ainda um mundo inteiro a ser construído.
17
1.2. Económica
Tabela Nº 10
Informação Geral do País – Peru
2010 2011 2012
I trim. II trim.
Área: 1.285.216 kms2
População e emprego
Milhões de habitantes 1/ 29,5 29,8
Desemprego área metropolitana 2/ 7,9 7,7 8,6 6,3
Inflação últimos 12 meses (%) 2,1 4,7 4,2 4
Inflação sem alimentação e combustíveis 1,4 2,4 2,5 2,5
Produto Interno Bruto Taxa de crescimento
8,8 6,9 6,1 6,1
Tipo de câmbio (valor médio do período)
Soles por USD (Moeda Local: Nuevo Sol - Soles) 2,83 2,75 2,68 2,67
Composição PIB por sectores (%) [A]/a [A]/a
-Agro pecuário 5,3 5,2 6,6 9,1
-Pesca 0,5 0,7 0,3 0,4
-Minérios e hidrocarbonetos 7,1 6,6 5 4,5
-Manufactureiro 14,5 15 14,6 13,5
-Electricidade e agua 2 2 2,1 1,9
-Construção 7,5 7,2 6,9 6,3
-Comércio 17,2 17,5 15,9 16,1
-Outros Serviços 45,9 45,8 48,6 48,1
Produção sectores primários 15,6 15,2 14,3 16,5
Produção dos sectores não primários 84,4 84,8 85,7 83,5
Percentagem do PIB
Comercio Exterior Bens
-Exportações 23,1 26,2 25,3 20,6
-Importações -18,7 -20,9 -20,5 -19,9
Divida Externa
- Pública e privada 28,4 26,9 28,6 28,6
- Pública de médio e longo prazo 14,9 13,7 14,2 14
Investimento Total 25,3 25,5 26,2 27,5
- Público 5,9 4,5 3,8 3,9
- Privado 19,3 20,9 22,4 23,5
Dívida pública bruta 23,3 21,2 20,4 19,8
Fontes: BCRP Banco Central Reserva Peru II Trimestre 2012 [A] CEPAL: Comission Económica para América Latina e Caribe: 1/ INEI – Boletin de análisis demográfico nr. 36 Proyecciones de Poblacion 1950-2050 2/ Encuesta Permanente de Empleo (EPE) do Instituto Nacional de Estadística e Informática (INEI). Notas: a/ Calculo efectuado a preços constantes de 2005
18
A economia do Perú é determinada pela sua localização sendo, implicitamente pela sua
geografia, um território muito diversificado que engloba quase todos os climas do planeta,
possuí notáveis recursos naturais, minerais e energéticos.
A nível económico a imagem tradicional do país é intrinsecamente relacionada com a
exploração mineira. Durante séculos a única riqueza valorizada do país foi o ouro e a prata.
Actualmente, a exploração mineira mantém-se relevante nos recursos e nas exportações do
país (Tabela Nº 11 e Tabela Nº 16, respectivamente), contudo, a sua exploração tornou-se
diversificada: à exploração das minas de prata (que continuam a merecer um lugar
destacado na economia do país) somamos a exploração do bismuto (metal caro e pouco
abundante utilizado na industria farmacêutica) e do vanádio (usado na produção de aço e
outras ligas). Actualmente, o Perú é um dos principais exportadores mundiais destes metais.
Assumem, a par com o ouro, o cobre e o petróleo, uma importância fulcral para o País.
No caso do petróleo, o Perú foi o primeiro país da América latina a explorá-lo à luz das novas
leis que atribuem facilidades fiscais i) às empresas de capital peruano que exploram este
recurso mineral, bem como ii) isenções fiscais às empresas que operam na Selva. Estas
foram medidas importantes para o ressurgimento da indústria petrolífera.
Por oposição ao petróleo, que tem uma larga tradição na economia do Perú, o gás,
descoberto há pouco mais de 20 anos, só recentemente assistiu à concentração de esforços
do Governo com vista à sua dinamização.
Em Junho 2008 com a subida ao Governo de Garcia, esta indústria é tida "como base para o
desenvolvimento económico e social do país". (Fonte REUTERS)
De acordo com aquela fonte, a dinamização da indústria do gás para consumo interno e
também exportação iria revolucionar a situação industrial, produtiva, energética e o comércio
exterior do Perú.
O gás chegou a Lima em 2004, e apenas em 2011 está a ser exportado (consorcio norte-
americano) para o México.
Os recursos económicos não se limitam aos minerais. Como já fizemos referência o Perú é
um país geograficamente privilegiado. A sua ampla linha de Costa confere-lhe abundantes
recursos marinhos.
O mar de grau é o nome oficial do domínio marítimo do Peru. Estende-se do litoral peruano
até 200 milhas da costa e apresenta características singulares: fauna marítima muito variada
e de grande importância económica.
Distinguem-se dois tipos de pesca no país:
-a artesanal que visa a satisfação das necessidades humanas e é praticada por pescadores
do litoral para consumo directo;
-a industrial, também denominada consumo indirecto ou de transformação, tem por base a
pesca da anchova e da sardinha para abastecer as fábricas de farinha e azeite de pescado.
19
Além da abundância de recursos hidro biológicos, que tornam o Perú um dos maiores
produtores mundiais de pescado e a sua indústria pesqueira uma das principais do mundo, a
sua plataforma continental possuí bastantes recursos minerais e energéticos que à excepção
do petróleo continuam por explorar.
A tradição agrícola do país é bastante antiga. A evolução e perfeição técnica nos campos, as
engenhosas obras de irrigação e os campos de cultivo em terraços é uma herança da época
dos incas.
A Agricultura é um sector muito relevante na economia, com um importante peso económico
e social: é a principal fonte de receita em mais de 34% dos lares do Perú e contribui em 7.2%
para o PIB do país.
Apesar do sector agrícola ter crescido a um ritmo mais lento que a economia nos últimos
anos, há um grande dinamismo dos produtos agrícolas destinados à exportação (como por
ex.º o algodão, a cana de açúcar, cacau, espargos, alcachofras, uvas, mangos).
A partir de 2000, a taxa média anual de crescimento dos produtos agrícolas para exportação
foi de 14.5%.
A agricultura na Costa é intensiva e utiliza tecnologia mais avançada. A produção é industrial
e a produção está essencialmente voltada para a exportação.
Na região andina a agricultura é extensiva (uma colheita ao ano), técnica escassa e baixa
produtividade. É a “despensa” do país pois a sua produção está virada para o consumo
interno: papa, maís, trigo e cevada. Esta região – andina - acolhe cerca de 64% dos
agricultores do país que, genericamente, são caraterizados por serem pobres, não
possuírem educação primária completa e viverem sob condições muito precárias: vivem com
acesso limitado à rede pública de água e electricidade. (A região da Serra acolhe 36% dos
pobres e 59.8% dos pobres extremos do país.)
O nível de dependência alimentar do peru é muito baixo: é exportador líquido de produtos
agrícolas.
20
Tabela Nº 11 Produto interno bruto (PIB) anual por actividade económica a preços constantes (em milhões de USD)
ANOS
PIB real em milhões de dólares [A]/a,b
Rubrica 2007 2008 2009 2010 2011
Agricultura, gado, caça, silvicultura e pesca 5 823.5 6 239.8 6 381.2 6 620.7 6 999.8
Agricultura, gado, caça e silvicultura 5 138.4 5 508.6 5 656.3 5 925.9 6 190.5
Pesca 677.5 720.2 689.4 597.3 785.5
Exploração de minas e pedreiras 7 311.3 7 869.0 7 927.6 7 951.9 7 963.7
Indústria manufactureira 14 161.7 15 450.3 14 361.1 16 313.9 17 292.9
Fornecimento de electricidade, gás e agua 1 892.1 2 039.2 2 063.0 2 224.5 2 387.9
Construção 5 771.6 6 721.3 7 134.3 8 378.3 8 633.8
Comercio por grosso e a retalho, reparação de bens, hotéis e restaurantes 15 589.2 17 526.4 17 507.5 19 244.2 20 960.8
Transporte, armazenamento e comunicações 7 907.8 8 701.5 8 732.6 9 325.8 10 325.8
Intermediação financeira, actividades imobiliárias, empresariais e de aluguer 12 281.7 13 533.0 14 231.8 15 525.5 17 043.3
Administração pública, defesa, segurança social obrigatória, ensino, serviços sociais e de saúde, outros serviços comunitários, sociais e pessoais
14 179.5 14 904.7 15 905.5 16 635.5 17 521.3
Serviços de intermediação financeira medidos indirectamente (SIFMI) ... ... ... ... ...
Valor agregado total 84 918.4 92 985.3 94 244.7 102 220.2 109 129.3
Impostos sobre produto - subsídios ao produto 7 998.1 8 938.2 8 795.8 9 848.1 10 632.2
Discrepância estatística do PIB por sector de origem 203.2 285.8 98.8 126.6 210.8
Produto interno bruto (PIB) 93 119.6 102 209.3 103 139.3 112 194.9 119 972.3
Informação revista em 11/OCT/2012
Fonte [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais
Notas a/ A preços de 2005
Nos últimos 5 anos, à excepção de 2009, a economia peruana tem verificado altas de taxa
crescimento do PIB resultado do consumo interno, do investimento privado e da política do
governo orientada para as exportações.
Da análise ao Tabela Nº 11 constatamos que as rúbricas que verificaram um maior
crescimento no período em análise foram: agropecuário, teve um crescimento no período de
20,2%; a indústria manufactureira de 22,1%; o fornecimento de electricidade, gás e água de
21
50%; o sector da construção 49.6%; o comércio, hotelaria e restauração contribuíram em
34,5% e, por último, a rúbrica que incluí as actividades imobiliárias, a actividade financeira,
empresariais e de aluguer verificaram um crescimento médio anual de 7,76%.
Em 2009 o desempenho económico do país foi afectado pelos choques verificados na
economia americana e europeia. A crise financeira mundial, que teve origem na esfera
económica financeira dos países desenvolvidos, afectou negativamente o consumo no
mercado de bens primários, turismo, mercado de trabalho e mercado financeiro internacional.
No entanto, o Perú, apesar da desaceleração no crescimento da sua economia, verificava
um melhor balanço das suas contas públicas – baixo nível de endividamento externo e
reservas internacionais significativas - conseguiu fazer face à perda temporária de liquidez
externa e contornar mais rapidamente a crise (ajudado, ainda, pelas políticas contra cíclicas
das grandes economias asiáticas).
Em 2011, devido ao dinamismo da procura interna, e como medida para controlar a subida
generalizada dos preços, o Governo reduziu o gasto público (o investimento público em 2011
verificou uma quebra de 17.8% face ao ano de 2010). Paralelamente, o Governo aumentou
as suas receitas correntes, impulsionadas pelo aumento dos impostos sobre o rendimento e
sobre as vendas. No último ano – 2011 – o Governo, também, introduziu impostos especiais
sobre o sector mineiro e modificou a cobrança de royalties na exploração do sector.
O PIB acumulou um crescimento de 6.9% impulsionado por maior crescimento do sector dos
transportes e das comunicações, serviços às empresas e outros serviços, bem como do
comércio, intermediação financeira e imobiliária, construção e electricidade. A indústria
manufactureira e o sector agrícola também contribuíram positivamente para o crescimento do
período, sendo o sector das pescas o único que verificou uma quebra de 13.3%.
Do lado da procura o consumo interno verificou um aumento de 6.4%, o consumo público
4.8% (uma desaceleração de 5.2% face ao ano de 2010).
A inflação do ano cifrou-se em 4.7% (mais do dobro da verificada em 2010) impulsionado
pelo maior nível de preços nos alimentos e bebidas.
A dívida pública mantém a sua tendência decrescente e, em 2011, situa-se m 21.2% do PIB
a preços constantes. (nota: dados do BCRP).
Tabela Nº 12
Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) total anual a preços constantes (em %) ANOS
2007 2008 2009 2010 2011
Taxa crescimento PIB real [A]/a 8.9 9.8 0.9 8.8 6.9
Fonte [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais
a/ A preços de 2005
22
No período em análise, e como podemos verificar pelas Tabelas Nº 13 e 14, o PIB per capita
por habitante verificou um crescimento de 25%, os sectores da construção, da industria
manufactureira e dos serviços foram responsáveis por aumento do emprego na zona
metropolitana de Lima (que como já referimos acolhia, de acordo com o Censos 2007, cerca
de 30% da população total do país). Estes factores contribuíram para o dinamismo verificado
na procura interna.
Tabela Nº 13
Produto Interno Bruto (PIB) total anual por habitante a preços constantes (em USD)
ANOS
2007 2008 2009 2010 2011
PIB per capita (dolares por habitante)
[A]/a
3 284,7 3 567,5 3 562,1 3 832,9 4 052,4
Fonte [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais
a/ A preços de 2005
Tabela Nº 14
Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) total anual por habitante a
preços constantes (em%)
ANOS
2007 2008 2009 2010 2011
PIB per capita (dólares por habitante)
[A]/a 7.7 8.6 -0.2 7.6 5.7
Fonte [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais a/ A preços de 2005 Sector externo Em 2011, as exportações de bens do Perú representavam 26.2% do PIB. Em valor, no ano
em análise, as exportações ascenderam a 46 268,5 milhões de dólares, dos quais cerca de
70% resulta de exportações para os países com quem o Perú mantém acordos preferenciais,
regionais ou bilaterais, de comércio.
23
Tabela Nº 15
Balança Comercial (Milhões de dólares) Anos 2007 2008 2009 2010 2011
Exportações de bens FOB 28 094.0 31 018.5 26 961.5 35 564.8 46 268.5
Importações de bens FOB -19 590.5 -28 449.2 -21 010.7 -28 815.3 -36 966.7
Balança Comercial 8 503.5 2 569.3 5 950.8 6 749.5 9 301.8
Informação revista em 09/OCT/2012
Fontes: BCRP Banco Central Reserva Peru – Estatísticas económicas
Tabela Nº 16
Exportações FOB por grupo de produtos (valores em milhões de dólares)
2007 2008 2009 2010 2011
1. Produtos tradicionais 21 666 23 266 20 622 27 669 35 837
Pesca 1 460 1 797 1 683 1 884 2 099
Agrícolas 460 686 636 975 1 672
Mineiros 17 439 18 101 16 382 21 723 27 361
Petróleo e derivados 2 306 2 681 1 921 3 088 4 704
Gás natural, liquefeito 284 1284
2. Produtos não tradicionais 6 313 7 562 6 186 7 641 10 130
Agropecuários 1 512 1 913 1 825 2 190 2 830
Pesqueiros 500 622 518 642 1 047
Têxteis 1 736 2 026 1 495 1 558 1 986
Madeiras e papéis manufacturados 362 428 335 355 398
Químicos 805 1 041 837 1 223 1 645
Minerais não metálicos 165 176 148 251 487
Sidero metalúrgico e joalharia 906 909 569 918 1 128
Metalo-mecânicos 220 328 366 394 464
Outros 107 121 93 110 145
3. Outros 114 190 154 254 301
4.Total Exportações 28 094 31 018 26 962 35 565 46 268
Estrutura produtos tradicionais (%)
Pesca 5,2 5,8 6,2 5,3 4,5
Agrícolas 1,6 2,2 2,4 2,7 3,6
Mineiros 62,1 58,4 60,8 61,1 59,1
Petróleo e derivados 8,2 8,6 7,1 8,7 10,2
Total produtos tradicionais 77,1 75,0 76,5 77,8 77,4
Não tradicionais 22,5 24,4 22,9 21,5 21,9
Outros 0,4 0,6 0,6 0,7 0,7
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fontes: BCRP - Banco Central Reserva Peru, SUNAT- Superintendência Nacional de Aduanas e da Administração Tributária
24
O sector mineiro é o que tem maior peso nas exportações do país. Em 2011, a exportação
mineira representava 59.1% do total exportado e verificou um crescimento de 26%. Tem
como principais mercados de exportação a Suíça (21.8%); a China (20.5%) e o Canadá
(13.5%).
Segue-se o sector do petróleo e derivados, onde incluímos o gás natural (Perú é o único país
do pacífico sul americano que possuí esta importante fonte de energia). O peso deste sector
nas exportações é de 10.2%.
Nos anos de 2010 e 2011, os valores apresentados na Tabela Nº 16 incluem pela primeira
vez a exploração do gás natural. A variação no período foi superior a 452% e as exportações
são maioritariamente destinadas à Espanha (37.8%); Coreia do Sul (17.4%), Japão (17.3%)
e Tailândia (13.1%).
Os maiores consumidores dos produtos agrícolas exportados pelo país são: Estados Unidos
(28%), Alemanha (12%), Países Baixos e Bélgica (8%) e Espanha (7%).
De entre os produtos não tradicionais, destacaria apenas 2 sectores; o sector têxtil, pela
tradição que tem no país e o sector florestal pelo potencial que este negócio apresenta – a
floresta do País possui madeiras de elevado valor comercial no mercado (madeiras duras
tropicais da região da Selva). Tema desenvolvido posteriormente no âmbito do Ponto 1.3.
Política, em “Existência de tensões internas continuadas – étnicas, religiosas e sociais”.
Os principais destinos do sector têxtil são: a Venezuela (20.2%) e os Estados Unidos da
América (37.1%)
No caso do sector florestal a exportação de madeiras tem na China (34%), no México (25%)
e nos Estados Unidos (16%) os principais mercados.
25
Tabela Nº 17
Principais países de destinos das exportações do Peru (ano 2011)
País
Exportações 2011
(Milhões de dólares)
Var.% 2011/2010
Part. % Total exportações
Perú
China 6,961 28 15
Suíça 5,938 54 13
EE.UU 5,829 -4 13
Canadá 4,177 25 9
Japão 2,175 21 5
Chile 1,977 44 4
Alemanha 1,900 25 4
Coreia do Sul 1,695 89 4
Espanha 1,669 40 4
Os acordos comerciais subscritos pelo Perú (bem como os que entrarão em vigor
brevemente ou estão em fase de negociação) fazem parte da estratégia comercial encetada
pelo país com vista à diversificação geográfica das suas exportações e à consolidação de
novos mercados para os seus produtos. Os acordos além de promoverem o comércio e o
investimento estrangeiro no País ambicionam ser a base para novas oportunidades
económicas e melhores condições dos níveis de vida para os peruanos.
Acordos comerciais subscritos e em vigor:
- ao GATT em 7 Outubro de 1951 e à Organização Mundial do Comércio (OMC) desde 1
Janeiro de 1995. (Este organismo internacional estabelece as normas do comercio
internacional e regula todas as negociações bilaterais.)
- ao bloco Económico da Ásia e do Pacífico - Ásia-Pacific Economic Cooperation (APEC).
Este bloco económico composto por alguns países americanos, asiáticos e da Oceânia,
prevê a eficiente circulação de pessoas, bens e serviços entre as fronteiras de cada Região.
Considera-se este bloco a resposta do Pacífico às transformações do sistema económico
internacional que surgia em finais dos anos 80 e início dos anos 90 que agrupava o comercio
internacional em 3 grandes blocos: Canadá/Estados Unidos; Tratado de Livre Comércio da
América do Norte (NAFTA) e na Europa, a constituição da Comunidade Económica Europeia.
- Acordo de Livre Comércio entre Perú e a Comunidade Andina: acordo assinado em 26 de
Maio de 1969, entre a Bolívia, Colômbia, Chile, Equador e Perú (posteriormente, em 1973, a
26
Venezuela também faz parte deste grupo) . Denominado Acordo de Cartagena ou Pacto
Andino, o acordo previa melhorar as condições de vida dos respectivos habitantes através
da integração e cooperação económica e social.
Na prática, em 1993 o acordo veio a eliminar as tarifas entre os países participantes e a
formação de uma zona de livre comércio de bens e serviços.
Os princípios orientadores do acordo evoluiram e sairam reforçados a partir de 1997,
substituindo-se o Pacto Andino pela Comunidade Andina (CAN).
Desenvolve-se um plano integrado de desenvolvimento social para os países da CAN. Em 4
décadas o comercio entre os paises participantes aumentou 77 vezes.
Em 2010 as exportações do Perú para a Comunidade Andina foram de 1 992 milhões de
dolares e representava 5.7% do total das exportações do País.
Neste “mercado” e no mesmo período as importações do Perú ascenderam a 2 948 milhões
de dólares (10.6% do total importado).
De entre os países que compõem este bloco, a Colômbia, o México e o Chile são os mais
representativos do investimento directo estrangeiro (IDE) no país.
Em 2011, a Colômbia participa em 4.8% do IDE do país. No período compreendido entre
1980-2011, investiu um total de 1.048,7 milhões de Dolares, essencialmente em dois
sectores: energia (36.4%) e industria (48.6%).
Relativamente ao investimento directo estrangeiro do Chile e do México no Perú,
destacaremos à frente, quando abordarmos os acordos bilaterais de comércio,
complementares ao deste bloco (ACE 38, no caso do Chile e Acordo de Integração
Comercial com o México ).
- Acordo de Complementação Económica (ACE 58), subscrito pelo Perú, Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai. Assinado em 30 de Novembro de 2005 e em vigor desde Janeiro de
2006, assenta nas condições jurídicas e institucionais que facilitam a livre circulaçao de bens
e serviços bem como a plena utilização dos factores produtivos.
Prevêem formar uma área de livre Comércio mediante expansão e diversificação do
intercâmbio comercial, eliminando as barreiras tarifárias e não tarifárias que afectam o
comércio recíproco. Também promove e impulsiona os investimentos entre agentes
económicos dos países e a cooperação energética, científica e tecnológica.
Em 2010 as exportações do Perú ao Mercosul representam 100 milhões de dólares, dos
quais 97% têm como destino o Brasil e a Argentina (países que a partir de Janeiro de 2012, e
à luz do Acordo, gozam da total isenção de tarifas).
Os produtos exportados são essencialmente minerais e manufacturas: cobre, prata, camisas
de algodão.
27
Neste bloco, em 2011, apenas o Brasil assume uma posição relevante no IDE do país
(4.6%). No período compreendido entre 1980-2011 o Brasil investiu 1.021,9 milhões de
Euros, em particular no sector mineiro (69.3%) e na indústria (20.3%). Os maiores
investimentos verificaram-se nos anos de 2004, 2009 e 2010.
- Acordo de Complementação Económico Nº. 50, assinado entre o Perú e Cuba, a 5 de
Dezembro de 2000. Assinado entre as partes no âmbito da Associação Latino Americana de
Integração (ALADI) que prevê a integração e desenvolvimento social da Região latino
Americana, o acordo prevê facilitar, expandir e fortalecer as relações bilaterais entre as
partes.
Em 2010 as exportações para Cuba alcançaram 8,9 milhões de dólares e concentraram-se
essencialmente no sector mineiro, petróleo e gás natural, sector das pescas, químico e
sidero metalúrgico.
- Acordo de Livre Comércio entre Perú e Chile, subscrito em 2006 com entrada vigor em
2009. Assenta no Acordo de Complementação económica Nº. 38 (ACE 38) e prevê a
liberalização gradual entre as economias até Junho de 2016. É um acordo abrangente, que
além da zona de livre comércio de bens que pretende estabelecer também considera
cláusulas para a plena circulação de pessoas.
Chile é um dos principais parceiros comerciais da Região: é o 7º destino das exportações e o
4º país que mais investe no Perú.
Em 2010 as exportações do Perú ao Chile ascenderam a 1 372 milhões de dólares (3.9% do
total exportado).
Em 2011, o Chile contribuiu em 6.1% no total do IDE do Perú.
No período compreendido entre 1980 e 2011 investiu 1.348 milhões de dólares no país, em
particular nos sectores do comércio (10.1%), na indústria (12.5%) no sector mineiro (14.2%)
e nas Viviendas (37.3%).
- Acordo de Integração Comercial entre Perú e México, assinado em 6 de Abril de 2011, com
entrada em vigor em 2012. Substitui o ACE 8, subscrito em 1987 à luz da ALADI e que
limitava as condições preferenciais a um número muito reduzido de mercadorias.
O novo acordo abrange condições preferenciais a 12.000 produtos e, em particular, aos
produtos agropecuários exportados. Esta negociação foi muito importante para o Perú que
viu facilitadas e livres de quaisquer tarifas as exportações de produtos como: lagostins,
flores, conservas de pescado ou vinhos.
A partir de 2012 aos produtos anteriores associaram-se os têxteis e as confecções.
28
Com a assinatura do acordo saem facilitadas, ainda, os investidores peruanos no México,
bem como o tratamento e a protecção dos investimentos que tem por objectivo o
aproveitamento das actividades produtivas entre ambos os países.
O México é um mercado bastante aliciante para o Perú: tem 112 milhões de habitantes com
um rendimento per capita (a preços constantes de 2011) de 9.250 dólares. É um dos seus
principais parceiros comerciais.
No período compreendido entre 2000-2010 as exportações do Peru para o México cresceram
a uma taxa média anual de 13.7%: ou seja, passou de 389,2 milhões de dólares em 2000
para 1 412.8 milhões em 2010.
O stock de investimento directo estrangeiro do México no país, em 2011, foi de 2.1%. No
período compreendido entre 1980 e 2011 o México investiu um total de 464,8 milhões de
dólares nas comunicações.
- Acordo de Promoção Comercial Perú/ Estados Unidos (EE.UU), assinado em 12 de Abril de
2006 e vigente desde Fevereiro 2009. Apesar das dificuldades inerentes à assinatura deste
acordo, o mesmo proporcionou uma abertura comercial permanente e a estabilidade que
faltava para aumento do investimento no país.
Os principais produtos exportados para o EE.UU são minerais/metais, têxteis, produtos
pesqueiros, petróleo, crude, café, cacau, pimenta, alcachofras, uvas, mangos e espargos.
Os Estados Unidos são um dos principais participantes no investimento estrangeiro
efectuado no Perú. Em 2011, participou em 14.4% no stock de IDE do país.
O total acumulado do investimento dos Estados Unidos no Perú, no período de 1980 a 2011,
ascendeu a 3.166,4 milhões de dólares em sectores tão diversificados como: mineiro (29,7%
do investimento total); indústria (28.8%); bancos/Finanzas (12.7%) e Energia (12.5%).
- Acordo livre Comércio entre Perú e Canadá, entrou em vigor em 1 de Agosto de 2009, e
incluí, além das obrigações com o livre comércio de bens e serviços, capítulos dedicados a
temas ambientais e de trabalho (compromissos substanciais assumidos na Organização
Internacional do Trabalho – OIT).
Os principais produtos exportados são o ouro, minerais de prata, cobre e prata em bruto,
azeite de pescado, mineral de zinco, farinha de pescado, gás natural, produtos
agropecuários, uvas, artesanatos, madeiras e papeis, metalomecânicos, pesqueiros, peles e
couros, químicos, têxteis e joalharia.
Em 2010 o Canadá é o 4º mercado de destino das exportações do Perú e a taxa de
crescimento face a 2009 foi de 44% (dos quais 18% em produtos não tradicionais).
29
Em 2011, o Canadá é o país de origem de 3.8% do IDE no Perú. O total de investimento
acumulado entre 1980-2011 ascendeu a 845,2 milhões de dólares, e incidiu no sector
bancário (77.9%) e mineiro (18.2%).
- Tratado de Livre Comércio entre Perú e China, assinado em Abril de 2009 e com entrada
em vigor em Março de 2010, foi o primeiro passo para estabelecer e desenvolver as relações
económicas e comerciais entre os países.
Para o Perú este acordo é bastante relevante pois permite-lhe acesso a um mercado
bastante atractivo de 1.300 milhões de pessoas, cuja economia tem verificado um
crescimento muito elevado nas últimas décadas e que revela uma grande apetência pelos
bens importados, quer os bens de consumo, os bens intermédios e os bens de capital, dos
seus sócios comerciais.
Este tratado também foi um passo importante na para a aproximação do Perú à Ásia.
É o mercado mais importante das exportações do país, como podemos verificar na Tabela Nº
17.
- Tratado de Livre Comércio entre Perú e os Estados da Associação Europeia de livre
comércio (European Free Trade Association): Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia.
Adicionalmente ao Tratado com a EFTA foram estabelecidos acordos bilaterais – sobre a
agricultura – com a Suíça, Noruega e Islândia.
Em 2010 a EFTA foi o 3º mercado das de exportações dos produtos peruanos, destacando-
se de entre os bens exportados: ouro, azeite de pescado, minerais de cobre, produtos
pesqueiros e agrícolas, espargos, têxteis.
A Suíça, isoladamente, é o principal mercado das exportações do Perú.
Nos últimos 10 anos (2000-2010) a taxa média de crescimento anual do comércio bilateral
entre o Perú e a EFTA foi de 20% (97% daquele representado pelas exportações).
- Tratado de Livre Comércio Perú/Coreia do Sul, vigente desde Agosto 2011, assume-se
desde início como outro importante passo para a expansão do Perú nos mercados da região
Ásia-Pacífico.
Este tratado, fortalece as relações comerciais e cria condições muito favoráveis ao comércio
e ao investimento em ambos os países.
- o Tratado de livre comércio entre o Perú e o Japão, cuja entrada em vigor foi em Março do
corrente ano, está a em linha com a estratégia preconizada com o Perú para tornar-se o
centro das operações da Asia na América do Sul.
30
Este acordo estabelece e delimita regras bem claras relativamente ao comércio bilateral
ordenado entre os países subscritores e salvaguarda os interesses nacionais de cada país.
Transmite um claro sinal do interesse que o Perú tem em aumentar os capitais procedentes
do Japão no país.
- Em linha com a sua estratégia de converter-se no centro das operações da Asia na América
do sul, o Perú subscreveu Acordo de livre comércio com Singapura (assinado em Maio de
2008 e que entrou em vigor em Agosto de 2009) e também um Protocolo com a Tailândia
para acelerar a liberalização do comércio de bens e de facilidades económicas.
No caso de Singapura os produtos beneficiados no acordo são essencialmente agro
alimentares: cacau, uvas e espargos, mas também t-shirts e camisas.
No caso da Tailândia, os favorecidos no protocolo são minerais de zinco e seus
concentrados, cobre e seus concentrados, farinha, polvo, pescado e uvas frescas.
- Acordo de liberalização do comércio entre Perú e o Panamá, subscrito em Maio de 2011,
entrou em vigor em Maio de 2012, e prevê que 95% das exportações peruanas ao Panamá
num prazo de 5 anos fiquem liberalizadas de taxas. Nesse mesmo período 99% das
importações provenientes do Panamá goza de livre acesso ao mercado peruano.
Os produtos mais favorecidos e com acesso imediato ao acordo são os agrícolas exportados
como: espargos, alcachofras, uvas, mangos, pimenta, maís, limão e tangerinas.
Entre 2000 e 2010 o intercâmbio comercial entre o Panamá e o Perú cresceu a uma taxa
média de 21.6%.
Acordos comerciais assinados que, ainda, não se encontram em vigor:
- Acordo de Alcance parcial de natureza comercial entre o Perú e a Venezuela, assinado em
07 Janeiro de 2012 (trata-se de uma “retoma” do acordo de Cartagena que foi denunciado
pela Venezuela em Abril de 2006.
Para já as partes acordaram em manter preferências/reduções tarifárias entre os países.
- Acordo comercial entre Perú e União Europeia, subscrito em Bruxelas a 26 de Junho do
corrente ano, que ainda aguarda ratificação.
A União Europeia, mercado comum com mais de 500 milhões de habitantes e elevado PIB
per capita, foi um dos principais destinos das exportações peruanas em 2011 (18%). Nesse
31
mesmo ano, esta região económica é a primeira entre os países com investimento directo no
Perú (destacando-se o investimento de Espanha – líder destacada do investimento no Perú –
o Reino Unido, a Holanda e a França).
O investimento directo de Espanha no Perú representa, em 2011, 20.2% do stock total. No
período compreendido entre 1980 a 2011 o total do investimento ascendeu a 4.458,5 milhões
de Euros. Abrange investimento em sectores como Telecomunicações (66.8%), Energia
(17.7%) e Finanzas (10.3%).
Alguns grandes projectos de investimento privado em curso no Perú são os incluídos na
Figura Nº 1.
Do montante global dos projectos cerca de 70% são no sector da mineração, seguido das
telecomunicações (cerca de 10%), da energia (6%) e das Vias de transporte (3%).
32
Figura Nº 1
33
Principais destinos das exportações em 2011 (em Milhões de dólares), à luz dos Acordos
em vigor.
Figura Nº 2
As exportações verificaram um crescimento de 30% face ao ano anterior (este valor reflecte,
essencialmente, o agravamento do valor dos bens exportados em detrimento das
quantidades).
O superávite da balança comercial ascendeu a 9 302 milhões de Euros (crescimento de
37.8% face a 2010).
34
Tabela Nº 18
Balança de Pagamentos (em milhões de dólares)
2010 2011
I Balança em conta corrente -3782 -3341
1. Balança Comercial 6750 9302
Exportações FOB 35565 46268
Importações FOB 28815 36967
2. Saldo de Serviços e Rendas
Serviços -2345 -2132
exportações 3693 4364
importações -6038 -6497
Rendas -11212 -13710
privado -10982 -13173
publico -230 -537
3. Transferências unilaterais 3026 3200
das quais: remessas do exterior 2534 2697
II Conta capital e financeira 13606 9161
Sector privado 11396 9620
Sector público 2468 848
Capitais de curto prazo -258 -1307
III Financiamento excepcional 19 33
IV Erros e omissões líquidos 1348 1129
V Resultado da Balança de pagamentos 11192 4724
Variação das reservas internacionais liquidas 10970 4711
Efecto valuation -222 -13
Fonte: Banco Central Reserva do Perú, Boletim Económico 2º trimestre 2012
Como já referimos, no último ano – 2011 - o superávite da balança comercial ascendeu a 9
301,8 milhões de dólares (crescimento de 37.8% face a 2010). Este valor, conjuntamente
com o saldo apurado na conta financeira, foram determinantes para a redução do défice da
conta corrente, em 441 milhões de dólares, pois a balança de rendas – que representa
essencialmente a saída de lucros, juros e dividendos por parte das empresas estrangeiras no
país - mantém-se deficitária e tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos.
As melhorias significativas das exportações e do saldo da conta financeira do país, que
integra os fluxos de investimento directo estrangeiro no país - 9 620 milhões de Euros em
2011 - têm sido determinantes para a evolução positiva da balança de pagamentos e
consequentemente para a melhoria das reservas internacionais líquidas.
35
Gráfico Nº 2
Nos últimos 5 anos, o PIB a preços constantes da América Latina e Caraíbas aumentou,
12.7%.
A Argentina, Brasil e México são os que mais contribuem para o PIB da zona. Em 2011,
estes 3 países representam 70% do PIB global gerado na América latina e Caraíbas.
Genericamente as economias da América Latina, ricas em recursos naturais, têm verificado
um crescimento do seu produto interno bruto nos últimos anos, impulsionado pelo
crescimento de um dos principais parceiros económicos – China – que tem verificado
bastante propensão ao consumo de matérias-primas provenientes da Região.
A alta do preço das commodities impulsionou todas as economias, mesmo em países como
a Argentina e Venezuela cujas políticas económicas adoptadas também se traduziram em
aceleração da inflação.
Contudo, a desaceleração mundial, a partir de 2009, resultado da crise financeira no final de
2008, criou uma divisão entre as economias deste bloco: por um lado, os países mais
abertos mantêm alta taxa de crescimento das suas economias, por outro, os países mais
proteccionistas (como o Brasil) têm verificado desaceleração nas respectivas economias.
Países como o Peru, têm verificado uma trajectória notável da sua economia. Nos últimos 10
anos o país teve a maior expansão da Região, crescendo anualmente em torno de 6%. Logo
seguido pelo Chile que no mesmo período cresceu a uma taxa média de 4.5%.
36
O México, segunda maior economia da Região, tem um sector manufactureiro muito forte (o maior exportador de bens manufacturados da Região) e não depende tanto do preço das commodities.
Tabela Nº 19 Produto Interno Bruto (PIB) total anual a preços constantes
Anos
Países 2007 2008 2009 2010 2011
Argentina [A]/a 215 900.1 230 491.5 232 451.3 253 746.0 276 252.1
Bolívia (Estado) [A]/a 10 464.0 11 107.3 11 480.2 11 954.0 12 572.5
Brasil [A]/a 972 801.7 1 023
111.1
1 019
737.7
1 096
561.5
1 126
528.4
Chile [A]/a 136 099.7 141 084.2 139 621.9 148 132.2 157 002.6
Colômbia [A]/a 167 174.2 173 103.6 175 962.5 183 003.1 193 825.9
Cuba [A]/a 51 259.3 53 370.1 54 143.3 55 436.5 56 938.9
Equador [A]/a 39 486.2 42 345.7 42 498.9 44 021.1 47 448.0
México [A]/a 918 793.7 929 982.6 874 207.4 923 077.2 959 175.2
Perú [A]/a 93 119.6 102 209.3 103 139.3 112 194.9 119 972.3
Venezuela [A]/a 173 873.9 183 050.7 177 188.9 174 550.9 181 840.9
América Latina y el Caribe
[A]/a 3 013
565.7
3 133
467.5
3 073
889.4
3 256
882.7
3 395
957.9
Fonte: [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais
a/ A preços de 2005
Ao isolarmos nesta análise a evolução do IDH e do coeficiente de Gini para a Região,
verificamos que o PIB per capita do Peru aproximou-se do PIB per capita da Região (passou
de 62% em 2007 para 70% em 2011).
No período em análise o PIB per capita do Brasil aumentou 12% e o do Perú 23%. Há uma
clara aproximação do rendimento per capita entre o Perú e os “gigantes” do bloco: Argentina
e Brasil. Contudo, apesar da evolução positiva do PIB per capita do Perú, em valor: 4.052,4
dólares (em 2011), aquele mantém-se bastante distante do México e do Chile (onde, em
2011, estes apresentam um PIB per capita de 8.444,1 dólares e 9.073,7 dólares,
respectivamente).
37
Tabela Nº 20 Produto interno bruto (PIB) total anual por habitante a preços constantes (em USD)
Anos Países 2007 2008 2009 2010 2011
Argentina [A]/a 5 488.1 5 808.5 5 807.7 6 285.5 6 784.3
Bolívia [A]/a 1 098.1 1 146.8 1 166.6 1 196.1 1 239.0
Brasil [A]/a 5 120.1 5 335.3 5 270.7 5 619.0 5 723.9
Chile [A]/a 8 163.5 8 381.1 8 216.6 8 637.9 9 073.7
Colômbia [A]/a 3 757.0 3 833.9 3 841.9 3 939.9 4 115.8
Cuba [A]/a 4 533.5 4 721.0 4 791.0 4 906.6 5 040.3
Equador [A]/a 2 845.6 3 006.6 2 974.2 3 038.0 3 230.4
México [A]/a 8 465.9 8 467.7 7 867.9 8 215.1 8 444.1
Perú [A]/a 3 284.7 3 567.5 3 562.1 3 832.9 4 052.4
Venezuela [A]/a 6 287.1 6 509.6 6 199.4 6 011.0 6 165.8
América Latina y el Caribe
[A]/a 5 333.6 5 483.1 5 319.4 5 574.8 5 750.7
Fonte [A] CEPAL: Comisión Económica para América Latina y el Caribe : Estimativas próprias com base em fontes oficiais
a/ A preços de 2005
38
1.3. Política
Organização do Estado
Tipo de Regime político e sua estabilidade
O Estado, desde 2002, está organizado/dividido em 25 regiões e a Província de Lima (onde
se situa Lima, capital do país).
A história do Perú remonta a mais de 15.000 anos atrás mas a civilização pré-colombiana de
maior destaque é a Inca, que se estendia pelo rio Paraguai e Amazonas, pelo Equador,
Bolívia, Perú e norte do Chile. O Perú foi a sede do império Inca que tinha em Cuzco a sua
administração política e centro de forças armadas.
O império Inca, rico em ouro e prata, tornou-se por volta do século XVI alvo de cobiça dos
espanhóis que já estavam, nesta altura, sedeados na América Central e que dominaram o
Perú, pelas mãos de Francisco Pizarro em 1534, colonizando-o até à independência em
1821.
O Perú é uma república presidencialista democrática com uma Constituição (a Constituição
peruana é de 1993) que consagra três poderes, executivo, legislativo e judicial, que em teoria
são autónomos e independentes. O Poder Executivo é exercido pelo presidente que é o
chefe de estado e de Governo. O Poder Legislativo é exercido por um Congresso Unicameral
com 120 membros. Estes dois poderes têm mandatos de 5 anos conferidos por votação
popular. O Poder Judicial é em teoria independente, apesar de historicamente ser frequente
a intervenção política em matéria de justiça.
Se observarmos a história recente, desde a década de 30 do século passado, o sistema
político-económico peruano caracteriza-se por um liberalismo económico que decorre das
profundas divisões sociais aliadas a longos períodos de autoritarismo e consequente falta de
legitimidade da representação partidária. A fragilidade institucional do Estado e instabilidade
do sistema político teve como consequência uma sucessão de presidentes democráticos,
golpes militares (que abriam a economia e diminuíam o papel do Estado privilegiando os
grandes investidores estrangeiros em detrimento da equitativa distribuição da riqueza
doméstica), ditaduras e movimentos paramilitares contrários aos regimes totalitários que os
combatem, sendo a forma mais comum de combate a guerrilha (os movimentos de maior
expressão no Perú são o Movimento Revolucionário Tupac Amaru e o Sendero Luminoso
que tiveram o seu auge na década de 80 do século XX). A constante alternância democrática
favoreceu a corrupção e o descrédito popular sobre a capacidade do Estado em fazer valer a
lei, satisfazer as necessidades sociais e controlar o território. Vamos realçar aqui alguns
momentos desse período.
39
Na década de 1960, a região foi marcada pelas repercussões da Revolução Cubana, pelos
avanços na industrialização e pela emergência de movimentos de libertação nacional. Em
termos económicos o contexto é de restrições creditícias que implicaram um crescente
endividamento externo e uma inflação galopante que obrigou os governos a fixarem câmbios
para evitar desvalorizações e estimularem as importações. É neste quadro desfavorável que,
no final da década, sobe ao poder o General Velasco Alvarado com um pacote de políticas
intervencionistas (reforma agrária e reforma urbana, controlo de preços, promoção das
exportações, nacionalização do petróleo, centralização do Estado e nacionalização dos
Bancos) mas que quando postas em prática fracassaram. Houve uma tentativa de ruptura
com a anterior lógica de dependência de investimentos estrangeiros e rigidez de recursos
sem integração das populações indígenas na vida política. A adopção deste tipo de políticas
não é nova na região uma vez que já tinham sido experimentadas por outros países da
região mais de duas décadas antes, no final da II Guerra Mundial.
O início da década de 1980 tem como pano de fundo a Globalização e o 2º choque
petrolífero (1979). Foi atravessada pela crise da dívida mundial que teve grande impacto na
América Latina e terminou com a crise bolsista e imobiliária do Japão. Na região, o México
entrou mesmo em default em 1982 tendo sido resgatado pelos EUA. Todos estes
acontecimentos a nível mundial tiveram como consequência profundas alterações
geopolíticas. É neste contexto que surge Alberto Fujimori (1990-2000).
Alguns autores dividem os mandatos de Fujimori em três tempos: protofujimorismo (com
duração de 2 anos, caraterizado por quadro democrático e constitucional), fujimorismo
clássico (autoritário mas com alta legitimidade popular, período de quatro anos que começa
com o “Autogolpe de 1992”) e o fujimorismo tardio (com a promulgação da Lei de
Interpretação Autêntica da Constituição cujo objectivo era uma segunda reeleição). A
resposta à crise passou pelo regresso ao liberalismo, programa de controlo da inflação para
normalizar o serviço da dívida, desregulamentação dos mercados financeiro e laboral,
redução e unificação tarifária, privatizações, esforços para a redução à evasão fiscal e
reintegração do Perú no circuito financeiro internacional. Fujimori, contudo, voltou a excluir
dos seus mandatos as questões sociais estruturais, a distribuição da riqueza e a integração
social das populações indígenas. Com a queda de Fujimori restabeleceu-se novamente a
democracia no Perú.
Na primeira década do século XXI, o país evidenciava níveis de pobreza muito inferiores e
elevados níveis de crescimento económico, acima da média da América Latina sendo o
principal motor deste crescimento o investimento privado. Apesar disso, um Estado de Direito
fraco e níveis de corrupção elevados continuavam a minar as perspectivas de
desenvolvimento económico de longo prazo.
40
Desde 2011, o Perú é governado pelo actual presidente Ollanta Humala, um ex-militar, que
goza do apoio da classe média urbana e que pôs em prática políticas fiscais e monetárias
prudentes de forma a manter as elevadas taxas de crescimento económico, uma dívida
pública controlada (em 2011, representava 19,9% do PIB), elevadas reservas cambiais,
sector bancário forte e com pouca exposição aos bancos europeus. Em termos sociais,
persistem protestos sociais que preocupam mas não representam um sério risco à
estabilidade política.
Existência de tensões internas continuadas – étnicas, religiosas ou sociais
A realidade sociocultural peruana, à semelhança da Bolívia e Guatemala, é de uma grande
diversidade resultante da convivência entre muitas etnias e entre estas e as culturas
ocidentais, asiáticas e africanas.
No Perú coabitam várias etnias, línguas e religiões, como já referido na caracterização
básica do país. Neste espaço interessa referir que relativamente à diversidade étnica o El
Instituto de Desarollo de los Pueblos Andinos, Amazónicos Y Afroperuanos del Peru
(INDEPA) reconhece a existência no Perú de 77 etnias e de 68 línguas pertencentes a 16
famílias etnolinguísticas. Esta composição étnica é o resultado quer dos movimentos
migratórios com outros países da América do Sul e outras áreas do globo como de guerras e
pestes e está consagrada na Constituição.
Desde a colonização espanhola iniciaram-se dois processos de migração importantes: o
processo de migração de brancos da Europa que se acentuou nos períodos de auge
económico do país (os peruanos de origem europeia são cerca de 15% da população) e o
processo de migração de negros de origem africana cuja entrada maciça culminou com a
abolição da escravatura (os peruanos de origem africana são em número residual). Na
América do Sul, o Perú tem a maior colónia de chineses e a segunda maior de japoneses
(depois do Brasil).
São comuns tensões e confrontos étnicos e sociais que advêm do facto dos governos darem
à exploração de multinacionais estrangeiras os recursos do país, minerais e madeireiros, sob
o pretexto do desenvolvimento económico. Os grupos indígenas têm-se mobilizado contra o
que chamam de poluição e destruição dos seus territórios. São exemplo, em Abril de 2008 os
confrontos entre activistas indígenas e as forças armadas do Perú sob a bandeira anti-
imperialista.
41
Outra tendência verificada é a alteração do foco geográfico dos conflitos tradicionalmente
ocorridos nos Andes para a Amazónia devido às recentes Concessões das indústrias
extractivas, que tem merecido forte oposição das comunidades nativas.
Trata-se pois da luta das comunidades locais contra o governo peruano pela preservação
dos recursos naturais das suas localidades. Mas sendo a mineração representativa de mais
de 50% das exportações peruanas (o Perú está no Top 5 do ranking mundial de produtores
de vários minérios), o aumento da taxa de crescimento do país implica também um aumento
dos conflitos sociais e ambientais nas áreas abrangidas por essas actividades. Os conflitos
mais duros na Amazônia aconteceram em áreas de extração de petróleo e gás.
Por outro lado uma das principais atividades económicas da Amazónia peruana é a extração
de madeira. Esta actividade tem-se expandido colocando em risco algumas comunidades de
índios brasileiros. O avanço desta indústria tem feito com que algumas dessas comunidades,
por questões de sobrevivência (uma vez que estas comunidades são dependentes destes
rendimentos), invadam terras de outras etnias provocando conflitos. O equilíbrio sociocultural
é posto em causa.
Avaliação do país em termos de corrupção
A população peruana, à semelhança de outros países da América do Sul, tem a percepção
que o sector público do país é, em geral, corrupto e que o Estado não cumpre leis. Para além
disso, os políticos são vistos como mais corruptos que o resto da sociedade. O Perú foi
classificado, em 2011, com 3,4 no Corruption Perception Index- CPI, o que lhe conferiu a 80ª
posição num ranking de 183 países. Excluindo o Chile e o Uruguai com 7.2 e 7.0
respectivamente, os restantes países da região têm valores baixos que variam entre os 3.8
do Brasil e 1.9 da Venezuela. Este mesmo índice diz-nos também que: (a) quando
questionados sobre como, nos últimos 3 anos, o nível de corrupção mudou no país, a
esmagadora maioria (79%) diz que aumentou; (b) 85% dos peruanos pensam que a forma
que o governo usa para lutar contra a corrupção é ineficaz; (c) as instituições mais afectadas
pela corrupção são os tribunais (seguido do Congresso e dos partidos políticos).
Do Informe Latinobarómetro 2008 conclui-se que na América do Sul, o Perú é o único país
que vê a economia como o principal problema, o país que tem as piores expectativas futuras
da região e uma confiança nos agentes económicos internos (bancos, empresas não
financeiras e empresários) abaixo da média. Abaixo da média está também a perceção dos
peruanos sobre a forma como o presidente enfrenta a crise. Consultando o Informe seguinte
não se verificam alterações.
42
O Human Development Report 2010 dá-nos também a indicação que a percentagem de
pessoas que enfrentou uma situação de suborno em 2008 foi de 12% (na região, se
excluirmos a Bolívia com 18%, o Perú foi o país com a percentagem mais elevada).
Adicionalmente, no Perú, a percentagem de pessoas que manifesta livremente a sua opinião
a funcionários públicos era de 18%, com os valores dos países da região a variarem
bastante, entre 11% na Argentina e 29% da Colômbia
Conflitos latentes ou existentes com países vizinhos
As disputas territoriais são outra das características da região.
São disso exemplo a Guerra entre a Colômbia e a Venezuela pela disputa do Lago de
Maracaibo (1987), a Guerra das Malvinas (1982) entre a Argentina e o Reino Unido e a
Guerra do Chaço, entre a Bolívia e o Paraguai (1932 a 1935), para disputa da região de
Chaço Boreal no sopé dos Andes onde se descobriu petróleo. O Perú travou várias guerras
com países vizinhos desde a independência, as mais graves das quais com o Chile e
Equador.
Com o Chile travou o maior dos conflitos – Guerra do Pacífico – entre 1879 e 1883, onde
contou com a Bolívia como aliado; em causa estava a disputa da província de Arica e a
exploração dos recursos naturais no Deserto de Atacama. Este conflito foi ganho pelo Chile.
Com o Equador, o Perú também esteve em guerra devido à definição da fronteira e por
diversas vezes: em 1941 na Guerra equatoriana-peruana, em 1981 e novamente em 1995 na
Guerra do Cenepa. Estas guerras deixaram marcas na sociedade peruana até hoje.
Trata-se claramente de uma região onde as questões territoriais se encontram por resolver e
que historicamente têm emergido à medida das conveniências políticas. O Brasil é a
excepção, com as suas fronteiras bem definidas, tem frequentemente servido de moderador
de conflitos.
43
2. Perspectivas futuras de desenvolvimento e investimento
Factores favoráveis ao crescimento económico de futuro
Travões ao desenvolvimento económico e social no futuro
Sectores exportadores – bens e serviços (turismo, transporte, etc) que mais podem vir
a contribuir para o crescimento
A recuperação financeira e económica mundial continua a ser frágil e ameaçada pela
instabilidade dos mercados financeiros e cambiais, pela limitação ao crédito, pelas crises
soberanas na Europa, pela desaceleração da economia na China e pela manutenção da
baixa expansão da economia dos Estados Unidos.
Perante este cenário de perda de dinamismo do comércio mundial, que contempla uma
tendência decrescente do crescimento dos países que são mais dependentes das
exportações de produtos básicos para a China, há alguma prudência nas projecções da
economia do Perú e na forma como este responderá a factores que foram (são)
determinantes na performance económica do país: as exportações e o investimento directo
estrangeiro.
A política macroeconómica do Perú tem sido dirigida para atracção do investimento directo
estrangeiro como forma de promover o crescimento económico sustentável a longo prazo e,
como “financiador” numa economia onde a falta de crédito limita o investimento doméstico.
De acordo com Proinversion (Agencia de Promocion de la Inversion Privada, criada com o
objectivo de promover o investimento privado, nacional ou estrangeiro), o Perú tem adoptado
algumas medidas e alcançado metas que, no seu conjunto, são determinantes para o
investimento no país: a estabilidade macroeconómica verificada nos últimos anos, o “trato
nacional” dado aos investidores estrangeiros no país, o desenvolvimento de algumas
infraestruturas e a intrínseca abundância dos recursos naturais do país.
Para fomentar o clima de investimento o Perú tem sido pró activo na negociação de tratados
de livre comércio, acordos regionais e bilaterais com vista à maior liberalização do comércio
e à promoção da integração do país à economia mundial, além de criar regime de incentivos
fiscais bastante atraentes aos investidores e desonerar as exportações de empresas que se
estabeleçam no território.
O Perú tem interesse, e por isso tem privilegiado, a participação da iniciativa privada no
desenvolvimento das infra estruturas. A captação de investimentos neste sector é tido como
um dos pilares do crescimento e desenvolvimento económico no país: por um lado, cria
44
condições para diminuição de custos de produção e distribuição de custos das empresas que
investem no país e, por outro lado, reduz as assimetrias regionais, melhora a qualidade de
vida da sua população e potencia o emprego.
Consequência desta vontade política, o sector da construção no Peru está em franca
ascensão. De acordo com os últimos dados facultados pelo INEI a economia do Perú
apresenta um crescimento de 6.5% a Setembro 2012, fortemente impulsionada pelo aumento
verificado no sector da construção.
Esta é a actividade mais dinâmica da economia nos últimos meses e a grande fonte de
emprego no país.
As previsões de crescimento nesta área manter-se-ão no futuro, quer por via dos
investimentos públicos e privados projectados nas infra estruturas e nos segmentos
residencial e comercial.
A imagem do Perú e a confiança no país têm saído reforçadas com as notações de rating da
Standard and Poor´s que outorgou ao país a qualificação de Investment grade em 2008,
Classificação também ratificado pela Fitch em Novembro de 2012.
Esta classificação é determinante e influencia a movimentação dos fluxos de investimento
mundial.
No entanto, apesar dos factores enumerados influenciarem a decisão de investir no país, o
factor determinante para o IDE tem sido a abundância dos recursos naturais do país.
Até 2008 o IDE no Perú estava concentrado nos sectores das comunicações, seguido da
mineração, finanças e energia. A partir daquele ano, os recursos naturais têm sido decisivos
para quem procura investir no país e assiste-se a uma clara desaceleração dos
investimentos nos restantes sectores.
Apesar do aumento do investimento directo estrangeiro verificado nos últimos anos (com
consequências positivas sobre a balança de pagamentos e nas reservas internacionais de
moeda estrangeira no país), é evidente a grande concentração de IDE na exploração dos
recursos naturais e, por esse motivo, o crescimento económico e o desenvolvimento do país
poderá ser bastante afectado no futuro. O investimento está canalizado para exploração de
recursos não renováveis que se esgotam no tempo, que não acrescentam valor à exportação
por meio do desenvolvimento tecnológico e do fortalecimento da inovação e também não
desenvolvem cadeias produtivas (o que é uma barreira à expansão da actividade económica
sustentada no país).
Como já tivemos oportunidade de expor, as exportações do Perú também são
predominantemente de produtos primários e intensivos em recursos naturais.
45
Sem descurar a importante fonte de divisas que a exportação destes produtos representa
para o país (nos últimos anos a taxa de cobertura do país é sempre superior a um, ou seja,
as exportações pagam integralmente as importações), a expansão da sua actividade
económica e desenvolvimento sustentado da economia passa por explorar e diversificar as
actividades a montante e jusante da extracção dos recursos para obter maior valor
acrescentado ao produto primário.
Recentemente, o Perú iniciou a exploração e produção e exportação de uma importante
fonte de energia: gás natural. Apesar de haver estudos há mais de 20 anos que indicam a
existência do gás natural no país, apenas em 2004 este começa a ser explorado e a
abastecer a capital do país: Lima.
A exploração deste novo recurso é vital para o país: quer para abastecimento do mercado
interno quer para o externo. No entanto, tendo em consideração que a exploração deste
recurso é essencialmente de IDE americano, e que os Estados Unidos são a par do maior
importador de gás natural o seu maior produtor, uma questão se coloca: qual o mercado que
será beneficiado?
Em resumo, do nosso ponto de vista, é inegável a importância do IDE no desenvolvimento
económico dos países receptores, bem como na diversificação das respectivas exportações,
na transferência de tecnologia, no aumento de produtividade e inovação e, também, na
criação de empregos. Por essas razões há uma disputa entre os países em desenvolvimento
para captar este investimento.
A grande maioria do IDE é efectuado por multinacionais que além do capital, têm know how
na gestão de negócios, tecnologias e acesso aos mercados internacionais: estes são
factores determinantes para a economia do Perú, cujo desempenho em matéria de ciência,
tecnologia e inovação fica muito aquém do desenvolvimento macroeconómico do país. Estas
corporações transnacionais são “veículos” para a economia do conhecimento e assume
bastante relevância num dos países que tem um dos investimentos mais baixos do mundo
em Investigação e Desenvolvimento.
O sector privado será determinante para potenciar a inovação empresarial: quanto mais
empresas inovadoras investirem e se desenvolverem no país, saem melhoradas a
diversificação produtiva, a competitividade e o desenvolvimento económico do país.
No Perú, há sectores que sairão beneficiados com a inovação empresarial: por exemplo, o
das matérias-primas e da agro indústria onde o uso de novas tecnologias pode ser
potencialmente mais intensivo.
46
Algumas das medidas convencionais de actividade em inovação incluem despesas com
Investigação & Desenvolvimento, patentes e divulgações científicas.
Em todas estas áreas a economia da América latina, no geral, e do Perú, em particular,
perdem quando comparadas com os países da OCDE ou as economias asiáticas.
A inovação inicia-se com a educação e neste ponto o Perú tem, ainda, um longo caminho a
percorrer.
Nos anos mais recentes, resultado da estabilidade económica e política mas também das
excelentes qualidades naturais, culturais, gastronómicas e riqueza histórica, o Perú tem
assistido ao florescimento da sua indústria turística: em 7 anos, praticamente duplicaram as
visitas de turistas ao país (em 2004: o total de turistas nacionais e estrangeiros no Peru
ascendeu a 1.349 959 pessoas, em 2011 este valor atingiu 2.597.803 turistas). Actualmente
a indústria do turismo é a terceira do país, logo a seguir à da pesca e da mineração. Em
2011 assistiu a um aumento de 13% do número de turistas quando a média mundial foi de
4%.
Este é um factor relevante do crescimento económico do país no futuro, pois o sector do
turismo é convencionalmente um dos motores de desenvolvimento da economia, com efeito
multiplicador sobre os serviços e o emprego.
Actualmente, o turismo é a principal fonte de receitas da Região de Cusco: onde está
localizada a maior atracção turística do país – Machu Picchu – património mundial da
Unesco.
Principais tipos de investimento público previstos – Transportes, Energia, Habitação,
Equipamentos sociais (escolas, hospitais, ambiente – água e saneamento público)
Segundo o Ministério da Economia e Finanças, para o período 1980 – 2000, quando
comparamos o Perú com o Chile e a Colômbia, verificamos que o investimento público no
país foi muito inferior.
Torna-se difícil identificar projectos com investimento puramente público visto que, como já
explicado, o país privilegia as parcerias público – privadas.
Em termos de investimento privado ou público – privado no País, para o biénio 2012 – 2013,
estavam previstos cerca de 15 mil milhões afectos à Mineração (essencialmente privados) e
11,3 mil milhões em 26 projectos de parcerias público privadas nas área de (por ordem
decrescente de montantes envolvidos) Transportes, Energia, Telecomunicações, Agricultura
e outros, anunciados pela ProInversión (Agência de Promoção do Investimento Privado).
47
Muito tem sido feito no sentido de minorar a lacuna existente no país em termos de
infraestruturas nomeadamente a criação de incentivos financeiros e fiscais de apoio ao
investimento privado em projectos de interesse público.
O recém-criado SNIP (Sistema Nacional de Inversión Pública), organismo do Ministério da
Economia e Finanças) criado em 2011 cuja função é a identificação, aprovação e
monitorização de projectos privados co-financiados em áreas infra estruturais importantes
assim como a coordenação entre o Governo Central e os Governos Regionais e Locais de
projectos públicos.
Segundo o SNIP, em 2011, foram declarados viáveis projectos no valor global de 28.786
milhões de Soles (o equivalente a aproximadamente US$ 10.500 milhões) o que representa
um acréscimo de 5% face ao não anterior. Este montante foi distribuído pelos sectores dos
Transportes (25%), Saneamento (17%), Educação (17%), Agricultura (12%), Saúde (5%),
Habitação (4%), Energia (3%), Defesa e Segurança Pública (3%), Assistência Social (1%) e
Outros (13%). Estes projectos são essencialmente levados a cabo por pequenas e médias
empresas que para além de se substituírem ao Estado neste tipo de investimentos criam
emprego estável nas regiões e sectores onde operam sendo o principal empregador da
classe média emergente.
Um elevado número e montante de investimentos públicos são levados a cabo por
Associações Público Privadas (APP). Esta prática no Perú teve início em 1998 com a
concessão da Linha de Transmissão Eléctrica Mantaro – Socabaya e tem sido replicada,
dadas as claras vantagens que o sector privado traz a estes projectos ao nível dos
conhecimentos, tecnologia e experiência. Os projectos mais relevantes ocorreram
essencialmente ao nível das vias de comunicação, nomeadamente nas áreas das vias de
comunicação aeroportuárias (exemplo, Aeroporto Internacional Jorge Chavez), nas vias
rodoviárias (exemplos, Eixo Multimodal da Amazonas Norte – IIRSA Norte e Corredor viário
inter oceânico Sul – IIRSA Sul ) e nas vias portuárias (exemplo, Novo Terminal Portuário de
Contentores del Callao – Molhe Sul).
Neste âmbito, em 2012 e de acordo com o SNIP, foram considerados prioritários 10 grandes
projectos de investimento público – privado a rondar os US$ 1.000 milhões, nas áreas
Agrícola, Energia, Telecomunicações móveis, Redes viárias e Edifícios sociais. A Tabela Nº
20 descrimina os projectos e respectivos montantes.
Este tipo de parcerias é muito incentivado pelo Governo Central que tem criado legislação
nesse sentido. Um exemplo é a Lei 29230 de Maio 2008 que estimula a execução de
projectos de investimento público através de convenções entre os Governos Regionais ou
Governos Locais e as empresas privadas. Esta lei permite às empresas privadas
participarem em investimentos públicos levados a cabo pelos Governos Regionais ou Locais
através da obtenção de certificados de investimento público no final da obra que podem ser
48
usados para pagamento do imposto sobre o rendimento. Os projectos têm de ser
previamente considerados viáveis pelo SNIP e devem ser maioritariamente infra estruturais e
nas áreas das Estradas, Transporte Rural, Transporte Urbano, da Produção agrícola,
Saneamento, Energia, Saúde, Educação, Turismo, outro tipo de infraestruturas sociais como
centros cívicos, polidesportivos, etc e Segurança.
Tabela Nº 20 Projectos prioritários em 2012
Nome do Projecto
Investimento estimado (M
US$) Reserva Fría de Generación: planta Puerto Maldonado - Planta Pucallpa 15 - 18 Mw 22.6
Línea de Transmisión Carhuaquero - Cajamarca Norte - Caslic - Moyobamba en 220 Kv 120
Sistema de Abastecimiento de GLP para Lyma Y Callao 90
Línea de Transmisión 220 Kv Machupicchu - Quencoro - Onocora - Tintaya y Subestaciones asociadas 70
Línea de Transmisión Moyobamba - Iquitos 220 Kv 330
Panamericana Sur: Ica - Frontera com Chile (Tramo Dv. Quilca - Dv. Arequipa; Dv. Matarani - Dv. Moquegua; Dv. Ilo - Tacna - La Concordia) 50.8
Sistema de Abastecimiento de LNG para el Mercado Nacional 100
Banda 899-915 MHz y 944-960 MHz en Lima y Callao, y bandas 902-915 MHz y 947-960 MHz para el resto del país 174
Gestión y Explotación del Gran Teatro Nacional 95
Venta de acciones de titularidad de FONAFE Por determinar Fonte: MEF - DGPI
Ainda no âmbito do SNIP, foram criados fundos específicos para determinada área de
actuação.
O FONIPREL - Fundo de Promoção do Investimento Público Regional e Local – é um fundo
específico para os Governos Regionais e Locais que co-financia projectos de investimento
público desenvolvidos por estes governos especificamente direccionados para a diminuição
de lacunas em infraestruturas sociais, económicas e na pobreza extrema do país. Isto é, nas
áreas da Desnutrição, Saúde, Educação, Saneamento e infraestruturas agrícolas.
O PROCOMPITE é outro instrumento dos governos regionais e locais que se podem co-
financiar até 50% do investimento total em propostas productivas, mediante Planos de
Negócio dos Agentes Económicos Organizados.
49
Este tipo de políticas são extremamente importantes no Perú de forma a fazer convergir o
sector urbano e rural através de uma maior articulação entre o Estado, o mercado, o sector
privado e as instituições no sentido de diminuir as ainda grandes lacunas existentes ao nível
das infraestruturas sociais e económicas. As instituições mais uma vez têm um papel
fundamental na eficiência da execução de todas estas políticas. Num país, como vimos, onde
a corrupção é viral e ameaça a confiança entre as várias partes, é necessário eliminá-la para
permitir um melhor funcionamento das políticas.
Uma última nota para o facto da percentagem de execução dos projectos co-financiados ser
ainda considerada baixa necessitando por isso uma maior e melhor divulgação de todos
estes meios ao dispor dos vários agentes.
Estes investimentos em infraestruturas são essenciais na nova fase de crescimento para
onde o Perú espera aceder, a fase da economia Impulsionada pela Eficiência e não pelos
mios de produção.
Sectores do mercado interno que poderão ter mais crescimento (resultantes de
procura de camadas de rendimento médio/alto VERSUS procura das camadas de
rendimento baixo).
O Perú foi o país da América do Sul que mais cresceu nos últimos 5 anos e uma das economias (a par da Colômbia e Bolívia) que melhor reagiu à crise financeira mundial despoletada pela falência do Lehman Brothers nos Estados Unidos da América e com efeitos reais no ano seguinte 2009.
Como já anteriormente analisado, os motores do crescimento económico peruano (e dos países da região em geral) foram o elevado dinamismo da procura interna, tanto do consumo como do investimento, e da procura externa.
Em termos de procura externa foram essencialmente as exportações de minérios que mais contribuiram para o superávite da balança comercial. É também na mineração que se concretizaram a maioria do investimento directo estrangeiro no país.
Em termos de procura interna, a melhoria dos indicadores do trabalho (quer salariais como de emprego), as melhores expectativas de funcionamento da economia assim como as melhorias no acesso ao crédito do sector privado e mesmo o crescimento das remessas dos emigrantes (ainda que o contributo desta última rúbrica seja pequeno na balança de pagamentos) alimentaram o aumento do consumo interno e recentemente (na última década) o surgimento de uma classe de rendimentos superiores – classe média - que é dinâmica e mais exigente quer com as instituições como com os bens e serviços a consumir. São mais urbanos, têm um nível de estudos superiores, têm empregos formais em empresas privadas e são essencialmnte trabalhadores dos serviços e indústria.
50
Aliás, é expectável que, com o actual cenário internacional e a previsível diminuição futura
dos recursos naturais (que não são infinitos), seja o consumo privado e esta classe média
emergente os dinamizadores económicos e sociais.
Dinamizadora porque sendo uma classe de rendimentos superiores, opera uma alteração
aos hábitos de consumo que passam de básicos a mais sofisticados obrigando assim a uma
maior diversificação e inovação na indústria de bens e serviços. Para além disso é exigente
em termos de infraestruturas sociais e com as instituições públicas (judiciais, policiais e
partidos políticos).
A inovação da indústria de bens e serviços mais sofisticados, nomeadamente carros,
computadores pessoais, telemóveis, turismo internacional e produtos culturais, tem um efeito
positivo no controlo das tensões inflacionistas (habituais nas economias dependentes da
exploração dos recursos naturais dada a grande volatilidade a que o preço destas
commodities está sujeito nos mercados internacionais) uma vez que melhora a eficiência e
competitividade sendo possível tornar acessíveis este tipo de produtos a um maior número
de pessoas. Em termos internacionais, o crescimento desta classe de maior poder de
compra nos países emergentes poderá mitigar e mesmo compensar a tendência decrescente
da procura dos países europeus e americanos.
Julgamos que este é um dos principais desafios do Perú nos próximos anos, aproveitar a
abundância de recursos de que actualmente goza para investir na inovação que é ainda
extremamente insipiente (neste aspecto o país teve a pior classificação em termos de Global
Competitiness Index 2012-2013 do World Economic Forum, 117ª posição em 144 países
classificados).
Em termos de infraestruturas sociais referimo-nos a redes viárias, escolas e hospitais
essencialmente, onde no Perú ainda existem muitas lacunas. Empiricamente verifica-se que
uma classe média em crescimento tem força suficiente para exercer pressão sobre as forças
políticas para efectuar reformas. De facto, com o crescimento da classe média as políticas de
Educação e Saúde tornam-se mais activas. Em muitos países da América Latina, a classe
média não depende do Estado para os serviços básicos como Educação e Saúde, e até
outros como a segurança (questão atrás abordada) e electricidade. Esta classe de
rendimentos médios são por isso determinantes nas políticas sociais e no contrato social.
Esta classe de rendimentos superiores funciona também como agente de mudança
institucional e na democratização porque preferem e exigem melhores instituições (maior
participação democrática e menores níveis de corrupção), melhores políticas sociais (maior
valor de fundos públicos afectos à Saúde e Educação) e podem fazer diminuir os conflitos da
redistribuição dos rendimentos porque dão prioridade à paz social.
51
Em termos económicos, existe uma correlação positiva entre rendimentos superiores e uma
maior liberalização económica nomeadamente na redução de tarifas de comércio
internacional e liberalização dos mercados de crédito.
Assim, é expectável um maior crescimento no sector automóvel, no sector imobiliário, no
sector das telecomunicações móveis. O consumo deste tipo de bens e as facilidades
concedidas aos investidores estrangeiros pelo Estado peruano deverão impulsionar o
crescimento deste tipo de indústria.
Dever-se-á também assistir ao crescimento do comércio de vestuário e calçado,
especialmente de grandes marcas de segmento superior que são tão apreciadas e
consumidas em larga escalar pela classe média mundial. Por outro lado, serão imperativos
investimentos públicos ou público – privados em hospitais, escolas e universidades.
52
3. Avaliação do Ambiente de Negócios
Numa análise ao Ambiente de Negócios de qualquer país interessa analisar alguns aspectos
de carácter mais geral e outros específicos que foram sistematizados e analisados em alguns
índices.
Em termos genéricos, fomos analisar a Liberdade Económica uma vez que estatisticamente
se verifica uma relação positiva entre a liberdade económica e a prosperidade, eliminação da
pobreza e florescimento da actividade empresarial. Os dados de 2012 do Economic Freedom
Index 2012 voltam a confirmá-lo: o PIB per capita é muito maior nos países com maior
liberdade económica; nesses países existem maiores taxas de crescimento do produto e
progresso social; a intensidade da pobreza (medida pelo Índice de Pobreza Multidimensional
da ONU que analisa a natureza e intensidade da pobreza ao nível individual na educação,
saúde e níveis de vida) é em média mais baixa em países com maior liberdade económica; a
actividade empresarial que cria novos postos de trabalho é potenciada.
A média mundial da liberdade económica obtida em 2012 foi de 59,5 (uma redução de 0,2
face ao índice de 2011) igualando o segundo nível mais baixo nos últimos 10 anos o que se
compreende à luz da estagnação e incerteza económica causada pela crise das dívidas
soberanas. Para além disso, apesar de a nível mundial registar-se maior progressão da
liberdade económica ainda cerca de três quartos da população mundial vivem em países
onde a liberdade económica e oportunidades são restritas.
Em termos regionais, a região da América Central e do Sul (inclui 29 países com 460 milhões
de pessoas, cerca de 7% da população mundial) registou uma média global de 60,0 sem
alteração significativa face ao ano anterior e muito idêntica à média mundial. Apesar disso, a
região regista um atraso a nível de 6 componentes do índice com destaque para o Estado de
Direito (nível da corrupção e direitos de propriedade).
Em temos individuais, o Perú obteve uma classificação de 68,7, o que o torna
moderadamente livre, o sexto da região e acima da média dos países que a compõem. A
nível mundial ocupa a 42ª posição. Face ao ano anterior não houveram alterações
significativas, destaca-se apenas a melhoria a nível do controlo da inflação e da flexibilidade
do mercado de trabalho mas mais do que compensadas pelo declínio em termos da
corrupção.
Nos últimos anos o Perú tem levado a cabo reformas económicas que têm suportado o
crescimento económico e a diminuição da pobreza. O sector empresarial tem beneficiado da
melhoria no acesso ao crédito e de uma melhoria da eficiência regulatória. A este último
nível, medidas recentemente adoptadas eliminaram barreiras a nível da constituição e
manutenção de empresas, simplificaram requisitos para emissão de licenças, as leis laborais
também continuam a evoluir para tornar o mercado de trabalho mais flexível. Paralelamente,
53
políticas de mercado têm suportado quer o comércio como o investimento e o governo tem
fechado um número significativo de acordos internacionais de comércio livre. Contudo, o
Estado de Direito não é forte. O sistema judicial continua a demonstrar falta de
independência e é frequente a interferência política. Em termos oficiais, desde 2008, o
Estado de Direito assim como associações políticas e civis têm trabalhado no sentido de
diminuir o nível de corrupção mas os peruanos continuam cépticos no empenho do governo
nisso. A aplicação dos direitos de propriedade intelectual também é fraca.
Em termos específicos, existem outros aspectos práticos a ter em conta e que são medidos e
hierarquizados pelo Doing Business Report do Banco Mundial, que fornece um ranking
agregado da facilidade nos negócios baseado em indicadores e legislação aplicável a
pequenas e médias empresas ao longo do seu ciclo de vida. Mede e monitoriza alterações
em legislação que afectam 10 áreas do ciclo de vida de um negócio: constituição da
empresa, obtenção de licenças de construção, instalação de electricidade, registo de
propriedade, facilidade de obtenção de crédito, protecção de investidores, pagamento de
impostos, comércio externo, fazer cumprir contratos e resolução de insolvências (apesar de
um ranking elevado significar que um governo criou um ambiente regulatório facilitador de
negócios, não mede todos os aspectos que interessam aos investidores e que afectam a
competitividade da economia).
Assim, este ranking em 2012 classifica o Perú na 41ª posição mundial realçando que as suas
vantagens comparativas são a protecção de investidores, o registo de propriedade, a
facilidade de obtenção de crédito, constituição da empresa e o comércio externo (apesar
disso existe um longo caminho a percorrer dado que se observou que a facilidade de
constituição de uma empresa e de obtenção de crédito são os dois aspectos onde o Perú se
distancia bastante da prática mais eficiente a nível mundial). As desvantagens são a
resolução de insolvências, obtenção de licenças de construção e fazer cumprir contractos.
Podemos de forma breve, detalhar um pouco mais algumas destas vantagens e
desvantagens competitivas. Assim, em termos de constituição de uma empresa verificaram-
se melhorias consideráveis nos últimos 8 anos na redução do número de horas,
procedimentos (em 2012 o Perú eliminou a necessidade de micro pequenas empresas terem
de depositar o capital inicial no banco antes do registo) e custo associado. Hoje, para
constituir uma empresa no Perú são necessários 5 procedimentos, 26 dias e custa 11,9% do
rendimento per capita. Para registar uma propriedade leva em média apenas uma semana, 4
procedimentos e um custo relativamente baixo (em termos de tempo e número de
procedimentos, o Perú é o país da região com melhor performance). Na protecção de
investidores, o Perú consegue obter a sua melhor posição no ranking mundial (17ª). A nível
do comércio externo, interessa referir que nos últimos 6 anos, verificou-se uma diminuição do
tempo necessário mas um aumento do custo destas transacções. Por outro lado,
relativamente à obtenção de licenças de construção é necessário, em média, cerca de meio
ano e têm um custo muito elevado.
54
Finalmente, em termos de competitividade o Global Competitiveness Index 2012-2013
classifica a economia peruana na 61ª posição a nível mundial, com 4,28, com progressão
positiva nos últimos 3 anos. Para a classificação global do país contribuíram positivamente
essencialmente os factores considerados potenciadores de eficiência nomeadamente dos
mercados de bens financeiro e laboral e a sua dimensão. Contudo, a nível dos requisitos
básicos existem ainda fortes lacunas a nível quer das Instituições como das Infraestruturas e
da Educação e Saúde Primária; a este nível a classificação só é atenuada pelo ambiente
macroeconómico (21ª posição mundial). Em termos de inovação, o país ainda tem um longo
caminho a percorrer (na Inovação está classificado na 117ª posição mundial).
Estes resultados colocam o Perú no 2º estágio de desenvolvimento, o das economias
impulsionadas pela eficiência.
Uma pequena nota para a recomendação da COSEC (seguradora de riscos de crédito) em
termos de política de cobertura de Risco. Para o Perú, no curto prazo e no médio e longo
prazo para clientes soberanos é aberta sem condições restritivas, no médio e longo prazo
para outros clientes públicos e clientes privados é aberta, caso a caso, com eventual
exigência de garantia soberana ou bancária.
Fiscalidade
Os impostos são cruciais numa economia porque financiam as infraestruturas e os serviços
necessários ao funcionamento da economia mas é necessário escolher o nível e
complexidade adequados. Ainda de acordo com os dados do Doing Business 2012, a
dificuldade e intensidade da carga fiscal propicia o florescimento da economia paralela onde
não se pagam impostos. No ranking desta rúbrica, o Perú está na 85ª posição acima da
média da região. Assim, uma pequena e média empresa faz em média 9 pagamentos de
impostos por ano, gasta cerca de 309 horas com todos os requisitos necessários e tem uma
carga fiscal de cerca de 40,7% do resultado antes de impostos (incluem-se os impostos
sobre rendimentos de pessoas colectivas, contribuições sociais e impostos sobre os
rendimentos do trabalho, impostos sobre a propriedade e sua transmissão, impostos sobre
transacções financeiras, sobre ganhos de capital e sobre dividendos, impostos sobre
resíduos, veículos, sobre a utilização de estradas e outros), 26,6% dos quais taxa de imposto
sobre o lucro (taxa fixa). Nos últimos 6 anos, manteve-se praticamente inalterada quer o
número de pagamentos de impostos que uma empresa tem de efectuar por ano (9) como a
carga fiscal (evolui de 41,6% em 2006 para 40,7% em 2012).
55
Contudo, verificou-se melhorias claras na redução da burocracia associada ao pagamento de
impostos (nº de horas associada ao pagamento de impostos reduziu cerca de 115 horas nos
últimos 6 anos.
Em relação aos restantes impostos importa referir que, entre outras considerações, o Perú
adopta um sistema de tributação progressiva sobre os rendimentos das pessoas singulares,
a contribuição para a Segurança Social é de 10,2%, a taxa normal de IVA (imposto que
incide sobre a venda de bens, a prestação e utilização de serviço, sobre a primeira venda de
imóveis por um empreiteiro e sobre importações) é de 19%, o imposto sobre os combustíveis
é de 0,5%, o imposto sobre transacções financeiras é de 0,4%, o imposto sobre propriedade
é de 1%.
Estado de Direito e funcionamento da justiça
Administração pública, qualidade do processo de decisão administrativa
O Estado de Direito e o funcionamento da Justiça são aspectos cruciais na dinamização
económica e na atracção do investimento estrangeiro. Onde os níveis de corrupção são
baixos e controlados e os tribunais funcionam regularmente, as empresas terão maior
probabilidade de atrair mais clientes e melhor acesso ao crédito. Este é um dos aspectos
mais desafiantes da sociedade e economia peruana.
Relativamente aos níveis de corrupção remetemos para o ponto 1.3. deste relatório.
Relativamente ao funcionamento da justiça em caso de litígio, o Doing Business 2012 foi
medir quão eficiente são os tribunais no Perú a resolver disputas comerciais. Chegou à
conclusão que para fazer valer um contrato é necessário um processo extremamente
burocrático (41 procedimentos), moroso (428 dias) e caro (35,7% do valor da queixa). Estes
resultados colocam o Perú na 111ª posição a nível mundial. O sistema judiciário pode ser
melhorado de diferentes formas. Economias de maiores rendimentos tendem a olhar para
maneiras de reforçar a eficiência através da introdução de nova tecnologia. Economias de
menores rendimentos geralmente trabalham na redução de processos pendentes
introduzindo revisões periódicas e tornando os procedimentos mais rápidos. Mas o Perú não
regista desde 2010 qualquer reforma neste campo. A única evolução registada a este nível
nos últimos oito anos foi a diminuição do tempo porque quer o custo como o número de
procedimentos manteve-se.
Neste âmbito, outro aspecto relevante é a eficiência na resolução de insolvências.
Novamente de acordo com o Doing Business 2012, a resolução de insolvências demora
cerca de 3,1 anos e custa cerca de 7% da propriedade do devedor, em média. Este aspecto
56
coloca o Perú na 100ª posição do ranking. A estes dois níveis, o Perú está a par com a
região. Extrapolando, conclui-se ser esta uma das características da América Latina e
Caribe.
Segurança – pessoas e bens
A segurança de pessoas e bens é um dos aspectos que definem a qualidade de vida das
pessoas e tem influência determinante no desenvolvimento humano e no normal
funcionamento dos negócios. Este aspecto, contudo, tem sido negligenciado pelas políticas
públicas pelo menos em termos teóricos.
Na região da América Latina, onde os níveis de violência são elevados e crescentes, esta é
uma questão central e de difícil resolução. Medi-lo também é complicado nesta geografia do
globo. Em termos standards, habitualmente é utilizado o rácio de número de habitantes por
polícia apesar de todas as limitações na análise daí resultantes (a análise dessas limitações
distanciar-nos-ia da discussão central pelo que não o faremos). O standard
internacionalmente aceitável é de um polícia por 250 habitantes. No Perú, apenas seis
províncias cumprem ou aproximam-se ( <300 ) deste standard e a maioria está acima dos mil
habitantes por polícia.
No Perú, interessa contudo mencionar outros aspectos relativos à segurança. O primeiro dos
quais é a natureza contraditória da necessidade da força policial afecta à segurança dos
cidadãos. Se por um lado os elevados níveis de violência implicam uma grande procura da
Polícia por outro o abuso de poder e os níveis de corrupção desta classe não tornam
consensual, na opinião pública, a sua necessidade. Para já não introduzir na discussão
factores motivacionais desta classe.
O segundo aspecto é que, no Perú, tem muito peso outras forças de segurança que não a
policial nomeadamente a segurança privada (essencialmente utilizada nas grandes
empresas) e os vigilantes informais que cumprem o mesmo papel.
O terceiro aspecto é de que a questão da segurança é um problema essencialmente urbano
devido à elevada densidade populacional nas zonas urbanas como atrás referido. Nos meios
rurais também existem problemas a este nível mas de dimensão inferior.
Finalmente um aspecto mais específico que se prende com o facto de na Província de Lima
(a mais populosa) onde concentra cerca de 59,1% da força policial do país (dados de 2009)
existir uma distribuição muito heterogénea destes efectivos pelos 43 distritos que a compõe.
57
A extensão e complexidade geográfica do território peruano aliada a outros factores
socioculturais como o abuso de poder e corrupção das forças polícias são um desafio futuro
para o poder político.
Qualidade dos serviços de apoio às empresas
Qualidade dos serviços infraestruturais – electricidade, comunicações, transportes
O crescimento económico e o desenvolvimento humano estão intimamente ligados aos
serviços infraestruturais – electricidade, telecomunicações e transportes.
Na questão das infraestruturas é novamente relevante a questão da extensão e
complexidade geográfica do território assim como a sua heterogeneidade e insuficiente
investimento público e mobilização do sector privado. Estas razões explicam o défice destas
infraestruturas que a região da América Latina e Caribe tem apresentado nos últimos anos
apesar das elevadas e sustentadas taxas de crescimento económico que derivam da forte
procura de commodities locais. As ameaças da conjuntura actual impõem o desafio do
aumento da competitividade que passa obrigatoriamente pela criação e manutenção de
infraestruturas. Na 6ª Cimeira das Américas, realizada em Abril deste ano na Colômbia, os
líderes regionais reconheceram-no, comprometeram-se a melhorar as estradas, caminhos-
de-ferro, portos, redes eléctricas e tecnologias de informação do continente.
O Perú enfrenta os mesmos desafios da região. A nível das Infraestruturas, está classificado
pobremente na 89ª posição do GCI 2012-2013 com 3,51 pontos com a pior classificação na
qualidade das infraestruturas portuárias e viárias. Se formos mais longe analisar o
Infrastructure Quality Gap Índex (IQGI), vemos que em 2007 o Perú era a 2ª pior economia
da América Latina em termos de infraestruturas com 5,5 pontos. O passado recente explica
em parte este atraso. Na década de 90, o processo de estabilização orçamental levou a
cortes drásticos nos fundos governamentais afectos a estes investimentos. Na década
passada, existiram melhorias mas ainda claramente insuficientes.
Contudo, a dimensão do gap significa que existe um elevado potencial ao investimento
público e privado nesta área. O que nos leva ao Índice da Atractividade do Investimento
Estrangeiro em infraestruturas - o Infrastructure Private Investment Attractiveness Index
(IPIAI) - que hierarquiza os vários países e analisa os factores potenciadores da atractividade
do investimento estrangeiro. Assim, este índice tem como pilares o Ambiente
Macroeconómico (aspecto principal), o Enquadramento Legal, o Risco Político (importante
nesta região geográfica), a Facilidade no acesso a informação, os potenciadores dos
Mercados Financeiros, Historial do Investimento Privado em infraestruturas, Governo e
sociedade (vontade de pagar) e Boa vontade do governo para o Investimento Estrangeiro.
58
Neste índice, o Perú vem classificado na 4ª posição dos países da região com uma
classificação de 4,2 (as pontuações nos países analisados varia entre 3,3 e 5,4). Os
aspectos melhores classificados estão essencialmente relacionados com a economia do País
e com o estímulo do Governo ao Investimento Privado, neste último o país obteve a melhor
classificação da região. Os piores estão mais uma vez relacionados com factores de ordem
institucional, nomeadamente a vontade de pagar do Governo e sociedade, a facilidade de
acesso a informação, o enquadramento legal e o risco político.
Em termos geográficos, as melhores infraestruturas mais uma vez estão no litoral onde
existe uma grande concentração do potencial consumidor de serviços (com excepção da
engenharia e construção civil) devido à maior densidade populacional e melhores condições
de vida. Para além disso, a cordilheira dos Andes constitui uma grande dificuldade à
circulação de pessoas e mercadorias e tem grandes necessidades de obras de grande
dimensão.
Em termos de redes viárias, existe uma distribuição muito desigual das condições de acesso
e transporte ao longo do território, com menor densidade de infraestruturas viárias na região
da Selva e algumas zonas da Serra e maior densidade nos centros urbanos e zonas da
Serra com presença de actividade mineira (algumas que fazem a ligação a portos e a centros
turísticos). Verificam-se ainda algumas situações, intoleráveis aos olhos das economias
desenvolvidas, que passam pela impossibilidade de circulação em algumas estradas em
algumas alturas do ano devido à falta de manutenção das mesmas e pela falta de ligação
automóvel entre alguns distritos essencialmente os que se encontram a altitudes muito
elevadas. Existe todavia a consciência da urgência de dotar o país com boas infraestruturas
viárias. Verificou-se nos últimos anos, uma maior afectação de fundos públicos a este tipo de
investimentos. Vamos dividir as grandes infraestruturas em curso em internas e externas
(entre países da região).
Nas externas temos 2 grandes investimentos: o Eixo Intermodal Manta-Manaus (ligará o
Equador, o Perú a norte e Brasil) e a Rodovia Interoceânica (que vai desde o Brasil até o
Oceano Pacífico passando a sul do Perú).
Nas internas, são várias mas essencialmente ligadas quer ao sector da mineração, ao sector
hidroeléctrico, abastecimento de água e de electricidade, melhoria de infraestruturas
portuárias e aeroportuárias.
Em termos de Electrificação, de acordo com o Censos 2007, a cobertura nacional de
electricidade (medida pela percentagem de vivendas com energia eléctrica) era de apenas
74,1%, apesar de mais uma vez a distribuição ser muito heterogénea ao longo do território a
variar entre máximos de 93,1% e mínimos de 40,2%, com défice de Electrificação muito
superior nas províncias mais rurais. A Electrificação rural é sem dúvida uma prioridade
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indiscutível - o Plano Nacional de Electrificação Rural 2009-2018 pretende alcançar no final
um índice de Electrificação de 84,5%.
Apesar de se reconhecer a criação e manutenção de infraestruturas como uma necessidade
urgente quer em termos económicos como sociais e de nos últimos anos serem avultados os
investimentos nestas áreas, existe ainda um longo caminho a percorrer.
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4. Análise de Risco País pela COFACE
A COFACE atribuiu, em 15 Outubro de 2012, o rating A4 ao Perú. Este rating é uma medida
do nível médio de risco de incumprimento de curto prazo associado às empresas a operar
nesse país.
Esta classificação significa que a COFACE considera que existe uma perspectiva económica
e política de alguma forma instável e um ambiente de negócios relativamente volátil que
pode afectar os pagamentos das empresas. A probabilidade de default das empresas é ainda
aceitável em média.
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5. Informações Adicionais:
( a ) HDI – Human Development Index - elaborado anualmente pela United Nations
Organizacion, é um indicador de medida do desenvolvimento que combina a Esperança de
vida à nascença, anos de escolaridade e o Produto Nacional Bruto per capita. Esta
estatística serve para enquadrar simultaneamente o desenvolvimento social e económico. O
HDI estabelece um mínimo e um máximo para cada dimensão, chamados metas e depois
mostra onde cada país se situa em relação a essas metas, expresso num valor entre 0 e 1.
Os dados aqui apresentados são do HDR de 2010.
( b ) O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade, que existe desde 1912,
habitualmente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição da riqueza. O
coeficiente de Gini varia entre 0 e 1, onde 0 corresponde à absoluta igualdade de
rendimentos (onde todos têm o mesmo rendimento) e 1 corresponde à absoluta
desigualdade (onde uma pessoa tem todo o rendimento e os demais nada têm). O índice de
Gini é um coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado
por 100).
( c ) Movimento Revolucionário Túpac Amaru é um grupo guerrilheiro peruano, fundado em
1984, cuja ideologia é marxista-leninista e que tem como objectivo organizar e dirigir a
revolução do Povo à queda do governo legal, estabelecendo um poder popular em direcção
ao Socialismo.
( d ) Sendero Luminoso é uma organização terrorista de inspiração maoísta fundada na
década de 1960 pelos docentes e alunos da universidade do Perú. O seu objectivo principal
era através da revolução comunista de base camponesa eliminar as instituições peruanas.
Estima-se que este grupo guerrilheiro tenha sido o responsável de mais de 31.000 mortes. O
Sendero Luminoso e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são os dois
maiores na região.
( e ) “O auto-golpe significou, entre outras coisas, a dissolução do Parlamento e a
intervenção nos governos regionais, no poder judiciário, no Tribunal de Garantias
Constitucionais, na Controladoria Geral da República e na Justiça Eleitoral. Ou seja, todo o
poder ficou concentrado no Executivo, que passou a ser chamado de Governo de
Emergência e Reconstrução Nacional.” (ver “A economia política do Peru: da ruptura
interrompida aos dilemas contemporâneos” de Pedro Silva Barros, publicado em *
www.revistaoikos.org.
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( f ) Para uma melhor contextualização do Perú numa lógica regional, interessa a análise
dos dados do “Informe Latinobarómetro 2008” que reforça e ilustra o aparente paradoxo
peruano entre êxito económico e fracasso político.
( g ) Corruption Perception Index da Transparency International – CPI - dá-nos os níveis
percebidos de corrupção no sector público em 183 países em todo o mundo. A pontuação
de um país indica o nível percebido de corrupção sector público numa escala de 0 a 10 onde
0 significa que o país é percebido como altamente corrupto e 10 significa que o país é
percebido como muito calmo. O ranking de cada país indica a sua posição relativamente a
outros países incluídos no índex.
( h ) Economic Freedom Index, da Heritage Foundation, é um índice que mede 10
componentes da liberdade económica atribuindo uma pontuação a cada usando uma escala
de 0 a 100, onde 100 representa a máxima liberdade. As 10 liberdades económicas estão
agrupadas em 4 categorias maiores ou pilares da liberdade económica: 1. Estado de Direito
(inclui direitos de propriedade, liberdade para a corrupção); 2. Governo limitado (liberdade
fiscal, gastos do governo); 3. Eficiência Regulatória (liberdade dos negócios, liberdade
mercado de trabalho, liberdade mercado monetário); 4. Abertura dos mercados (liberdade no
comércio, liberdade no investimento, liberdade financeira). Cada uma destas liberdades
dentro destas 4 categorias gerais está individualmente classificada entre 0 e 100. A liberdade
económica de um país é a média simples de cada pontuação nas 10 liberdades individuais.
O índice de 2012 analisou os desenvolvimentos da política económica em 184 países.
( i ) Doing Business é um índice do Banco Mundial que procura ajudar os governos nas suas
políticas. Mede a dificuldade de constituir ou manter uma pequena ou média empresa
quando confrontada com a legislação relevante, em 2012 analisou e classificou 183 países.
( j ) o Global Competitiveness Index, do Forum Económico Glogal, é um índice que resulta de
sucessivas agregações de pontuações obtidas em cada indicador(variável), devidamente
ponderadas, até o nível geral. O GCI global divide-se em 3 grandes pilares: (1) Requisitos
básicos (inclui 4 sub-pilares: Instituições; Infraestruturas; Ambiente macroeconómico; Saúde
e Educação primária); (2) Potenciadores de eficiência (inclui 6 sub-pilares: Educação
superior; Eficiência mercado bens; Eficiência mercado trabalho; Desenvolvimento mercados
financeiros; Velocidade tecnológica; Dimensão do mercado); (3) Inovação e sofisticação
(inclui 2 sub-pilares: Sofisticação nos negócios; Inovação). As pontuações obtidas variam
entre 1 e 7, sendo que 1 representa o pior resultado e 7 representa o melhor resultado.
( l ) O IQGI é um índice que mede a distância (gap) entre a média alemã (o país de
referência, o control country) e a do país em 5 grandes pilares (Gap infraestrutural global,
Gap infraestrutural rodoviário, Gap infraestrutural portuário, Gap infraestrutural aeroportuário
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e Gap infraestrutural em Electricidade). O índice classifica as várias rubricas com pontuações
entre 1 e 7: 1 significa que o país alcançou níveis de desenvolvimento das infraestruturas
idênticos aos dos países mais desenvolvidos e não precisa de investimento nessa área e 7
significa o oposto.
( m ) o IPIAI é um índice composto por 8 pilares de um total de 62 variáveis, 4 deles
relacionados com o Ambiente dos investimentos em termos gerais (Ambiente
macroeconómico, Enquadramento legal, risco político e facilidade de aceder a informação) e
os outros 4 com os factores específicos do investimento em infraestruturas (mercados
financeiros, histórico do investimento privado nas infraestruturas, Governo e sociedade,
Apetite do Governo para o Investimento privado). O índice classifica as várias rubricas com
pontuações entre 1 e 7, sendo 1 o pior possível e 7 o melhor possível. Os valores
apresentados neste trabalho reportam-se a 2007 e os países da região que comparam com o
Perú são 11 – Chile, Brasil, Colômbia, México, Uruguai, El Salvador, Guatemala, Argentina,
Venezuela, Bolívia e Republica Dominicana.
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6. Fontes:
� The world factbook da Central Intellenge Agency (CIA).
� Censos 2007
� Human Development Report de 2010.
� Serviço Geológico Britânico, dados de Julho 2008.
� Serviço Geológico Britânico, dados de Julho 2009.
� AICEP Portugal
� INEI, Instituto Nacional Estatística do Perú.
� Informe Latinobarómetro 2008
� “O conflito entre o governo neoliberal de Alan García e os indígenas peruanos”, de
Thiago Lucas Alves da Silva, na Revista IDeAS, v. 4, n. 2, p. 366-392, 2010.
� Dados da Oficina General de Planificación, Ministério del Interior, 2009
� Ministério Economia y Finanzas Peru, SNIP – Sistema Nacional de Inversión Pública
� IPERU – Información y Asistencia al Turista / Presidencia de la República del Perú
� www.infoescola.pt
� www.wikipedia.org
� http://www.peru.gob.pe
� http://www.embperu.org.br
� “A economia política do Peru: da ruptura interrompida aos dilemas contemporâneos”
de Pedro Silva Barros, publicado em * www.revistaoikos.org
� Informe Latinobarómetro 2008
� http://www.indepa.gob.pe/
� The Heritage Organization.
� “O conflito entre o governo neoliberal de Alan García e os indígenas peruanos”, de
Thiago de Thiago Lucas Alves da Silva, na Revista IDeAS, 2010.
� The Economist business unit.
� “A estrutura macroeconómica do Peru contemporâneo”, artigo da revista OIKOS.
� Fórum Económico Global, publicações diversas.
� BBC News – Brasil.
� Revista Veja – Brasil.
� CEPAL – Comissión Económica para America Latina e el Caribe, publicações
diversas.
� Banco Central Reserva do Perú.
� ProInversión – Agencia de Pomoción de la Inversión Privada.
� MININTER – Dirección General de Migraciones e Naturalización (DIGEMIN).