ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
PROJETO DE GRADUAÇÃO INTERNACIONAL
PLANO MONOGRAFICO
ALINE RUSSO CARNEIRO BORGES
JULIA GONZAGA CLEMENTE
MARINA FAJARDO MARMO
DIPLOMACIA CULTURAL E ANO DO BRASIL NA FRANÇA
São Paulo
2012-2
ALINE RUSSO CARNEIRO BORGES
JULIA GONZAGA CLEMENTE
MARINA FAJARDO MARMO
DIPLOMACIA CULTURAL E ANO DO BRASIL NA FRANÇA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como requisito para
obtenção do título de Bacharel de
Relações Internacionais com Ênfase em
Marketing e Negócios pela Escola
Superior de Propaganda e Marketing –
ESPM.
Professor Orientador: Geraldo Campos
São Paulo
2012
Diplomacia cultural e ano do Brasil na França / Aline Russo Carneiro Borges,
Marina Fajardo Marmo, Julia Gonzaga Clemente. - 2012
100 p. : color.
Trabalho de Conclusão de Curso (bacharelado) - Escola Superior de Propaganda e
Marketing, São Paulo, SP, 2012
Relações Internacionais – Projeto de Graduação Internacional (PGI)
Orientador: Geraldo Campos
1. Cultura 2. Soft power 3. Diplomacia cultural 4. Ano do Brasil na França. I.
Título. II. Borges, Aline Russo Carneiro. III. Marmo, Marina Fajardo. IV.
Clemente, Julia Gonzaga. V. Campos, Geraldo. VI. Escola Superior de Propaganda
e Marketing.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1
2 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL............................................. 3
2.1 A NOÇÃO DE CULTURA....................................................................... 3
2.2 IDENTIDADE CULTURAL..................................................................... 11
2.3 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO .................................................. 15
3 SOFT POWER E HARD POWER ............................................................. 19
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE PODER..................................................... 19
3.2 HARD POWER e SOFT POWER NA VISAO DE JOSEPH NYE.......... 20
3. 3 CULTURA COMO SOFT POWER......................................................... 26
4 DIPLOMACIA CULTURAL..................................................................... 27
4.1 DEFINIÇÕES............................................................................................. 27
4.2 O ESTADO E A DIPLOMACIA CULTURAL......................................... 29
4.3 A EXPERIÊNCIA FRANCESA................................................................. 32
4.4 O PODER DA DIPLOMACIA CULTURAL............................................. 37
5 DIPLOMACIA CULTURAL NO CONTEXTO BRASILEIRO............. 43
5.1 O ANO DO BRASIL NA FRANÇA........................................................... 52
6 CONCLUSÃO............................................................................................... 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 68
APÊNDICES.............................................................................................. 75
APÊNDICE A.................................................................................................... 75
ANEXOS ................................................................................................... 86
ANEXO A.......................................................................................................... 86
ANEXO B.......................................................................................................... 87
RESUMO
Este projeto monográfico de graduação Internacional tem como principal objetivo
discutir o uso da diplomacia cultural pelo Estado brasileiro como forma de Soft power. O
trabalho se propõe a discutir teoricamente os conceitos de Cultura, Identidade Cultural,
Diplomacia e Soft power, para em seguida, realizar um estudo de caso, sobre o Ano do Brasil
na França, 2005. Serão investigadas as ferramentas usadas pelo Estado brasileiro para a
realização do evento e os impactos na relação entre os dois países. A monografia visa,
principalmente analisar formas pelas quais a cultura pode ser usada como uma forma de
disseminação de poder e promoção da imagem de um país perante outro.
Palavras-chave: Cultura, Soft power, Diplomacia Cultural, Ano do Brasil na França.
ABSTRACT
This monographic project for under graduation in International Affairs has as its main
objective to discuss the use of cultural diplomacy by Brazil as a form of Soft power. The
paper aims to discuss theoretically the concepts of Culture, Cultural Identity, Diplomacy and
Soft power, to then conduct a case study on the Year of Brazil in France, 2005. The tools used
by the Brazilian state to the event and the impacts on the relationship between the two
countries will be investigated. This monographic project is principally examining ways in
which culture can be used as a means of dissemination of power and promotion of the image
of a country to another.
Keywords: Culture, Soft power, Cultural Diplomacy, Year of Brazil in France.
1
1 INTRODUÇÃO
Tendo em vista as diferentes formas de representação da cultura brasileira, este
Projeto de Graduação Internacional visa estudar especificamente as representações artísticas
que estiveram presentes no ano do Brasil na França como meio de transmitir uma mensagem
àqueles que, em contato com a arte, passam cada um à sua maneira a compreender não só a
obra, como a situação vivenciada neste país e com isso são capazes de moldar sua imagem
deste imenso e diverso território nacional, rico em paisagens naturais, danças, festas
populares, culinária, artesanato, línguas e povos. Assim, a questão-problema a ser
desenvolvida ao longo desta monografia é “Qual o papel do Estado brasileiro na promoção da
diplomacia cultural no Ano do Brasil na França?”
Neste trabalho de conclusão de curso, o estudo da diplomacia cultural não irá
abordar a discussão sobre a identidade brasileira, somente o estudo desta forma de diplomacia
no campo das Relações Internacionais, excluindo assim, a discussão sobre a brasilidade e seus
principais representantes.
A escolha do tema de estudo deste trabalho se mostra atual no debate sobre as
formas de condução de poder adotadas pelos Estados modernos, no qual a diplomacia cultural
aparece como uma importante ferramenta na consolidação da imagem de um país e de suas
relações com outros Estados. Neste sentido, o conceito de soft power aparece como apelo
cultural e ideológico de um país, utilizando a atração como meio de atingir os resultados
desejados. Se um país pode tornar a sua posição atraente aos olhos dos outros e fortalecer as
instituições internacionais que incentivem outros Estados a definir os seus interesses, de
maneira compatível, ele pode não precisar gastar tanto em tradicionais recursos econômicos
ou militares. Posto isso, utilizaremos o estudo de caso do Ano do Brasil na França para
analisar as aplicações da diplomacia cultural de ambos os países neste cenário, o qual irá
ilustrar a discussão sobre o poder da cultura na atualidade.
O ano do Brasil na França foi escolhido como estudo de caso para este projeto,
pois, além de ter sido um evento de grande porte, mobilizando mais de dois milhões de
franceses, teve importância significativa no âmbito cultural, acadêmico e econômico para os
dois países, aprofundando as relações bilaterais. Além disso, com base neste evento é possível
também realizar comparações com o ano da França no Brasil, ajudando qualitativamente a
medir os resultados deste soft power brasileiro.
Este projeto de monografia irá estudar a cultura como uma das formas de
disseminação de poder, analisando a capacidade de um país influenciar nas relações
2
internacionais e ainda, intensificar suas trocas comerciais, através da influência e sedução da
cultura, como artes plásticas, filmes, música e moda, por exemplo.
Neste trabalho realizamos a coleta de dados através de pesquisa bibliográfica:
artigos, livros, sítios eletrônicos e teses acadêmicas. Vale ressaltar que a principal fonte de
informação, o site oficial do evento, estava fora do ar, o que prejudicou a pesquisa. Além
disso, entrevistamos o ex-embaixador do Brasil na França, Sérgio Amaral, que participou da
organização do Ano do Brasil na França, o que nos permitiu ter uma visão mais próxima e
aprofundada sobre o tema.
Em relação aos principais conceitos estudados neste projeto, pode-se destacar:
diplomacia cultural, soft power , cultura e identidade. Isto permitiu uma reflexão do grupo em
relação ao tema abordado, assim como uma melhor compreensão das estratégias de ambos os
governos na execução deste evento. Este texto faz o diálogo entre campos teóricos distintos:
social, antropológico e das Relações Internacionais, o que permitiu uma maior amplitude de
visões sobre o tema, assim como uma discussão teórica mais rica, sem se prender a apenas
uma corrente teórica.
Este trabalho está dividido em 5 capítulos. O primeiro abordará os conceitos
teóricos da cultura e identidade cultural, traçando uma linha do tempo destes termos, que se
inicia com o pré-romantismo até os pós-modernos. Dando sequência aos termos chave para a
compreensão do tema, o segundo capítulo visa apresentar o conceito de poder, destacando
especialmente o soft power, assim como sua distinção do hard power. O terceiro capítulo
introduzirá o conceito de diplomacia para, em seguida, dar enfoque a diplomacia cultural e
como esta se tornou uma importante ferramenta para os países em sua inserção no cenário
internacional. O último capítulo fala sobre diplomacia cultural no governo brasileiro, no qual
apresenta as principais instituições governamentais envolvidas na difusão cultural e seus
discursos sobre o tema. Além disso, o capítulo traz o estudo de caso do Ano do Brasil na
França.
Vale ressaltar que o comércio internacional de bens culturais movimenta cerca de
dois trilhões de dólares por ano, o que mostra o quanto este campo é valioso tanto para o
governo, como para as empresas, convergindo na importância da diplomacia cultural. Sendo
assim, como o Brasil pode se beneficiar neste cenário?
3
2 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL
2.1 A NOÇÃO DE CULTURA
A cultura adquire parte do seu significado moderno como um modo de vida
característico a partir do idealismo alemão, constituindo um ataque consciente contra o
universalismo do Iluminismo. Neste contexto, o crítico e filósofo Johann Gottfried von
Herder aparece como uma importante figura do movimento Sturm und Drang1 (Tempestade e
Ímpeto) no século XVIII. Com suas inovações na filosofia da história e cultura, ele provou ser
um precursor do movimento romântico alemão, ao tratar a ideia de nação como uma entidade
essencialmente étnica ou cultural.
Herder escreve em 1774 em sua obra Sobre a filosofia da história para a
educação da humanidade que o caráter inato de cada grupo nacional foi fundamentalmente
determinado pelo seu ambiente natural, clima e geografia física de forma a moldar o estilo de
vida, hábitos de trabalho, atitudes e tendências criativas de um povo. Acima de tudo, ele
enfatizou a importância da linguagem, que se acredita ser a encarnação das tradições
distintivas e memórias históricas de um povo. Cada nação, assim, possui um Volksgeist
(literalmente, o "espírito da nação"), que se revela em canções, mitos e lendas, e fornece a
uma nação sua fonte de criatividade e o povo, por meio de sua cultura particular, poderia
expressar, cada um de sua forma individual, um feito da humanidade. O nacionalismo de
Herder, portanto, equivalia a uma forma de culturalismo, enfatizando uma conscientização e
valorização das tradições nacionais e memórias coletivas em vez de uma busca abertamente
política para um Estado (HERDER apud CUCHE, 1999).
A implicação do culturalismo de Herder é que as nações são entidades "naturais"
ou orgânicas, que podem ser rastreadas de volta aos tempos antigos e, por isso mesmo,
continuam a existir enquanto a sociedade humana sobrevive.
Do naturalismo da concepção nacionalista de Herder à critica pós-moderna do
conceito de nação, é possível notar a evolução do termo e como a cultura é relacionada à estas
diferentes fases, sendo marcante na percepção de pertencimento à uma sociedade.
Segundo Herder (1774 apud EAGLETON, 2000), a cultura não significa uma
narrativa grandiosa e unilinear da humanidade em seu todo, mas uma diversidade de formas
1 Sturm und Drang (tempestade e ímpeto) foi um movimento literário romântico alemão, que ocorreu no período
entre 1760 a 1780.
4
de vida específicas, cada uma com suas leis evolutivas próprias e peculiares. Herder faz uma
associação explícita do combate entre a Europa e suas colônias, que, segundo ele, resulta em
opor o eurocentrismo de uma cultura como civilização universal ao brado daqueles de outras
partes do mundo que lutaram e morreram em prol de sua honra (EAGLETON, 2000).
Herder (1774 apud EAGLETON, 2000, p. 24), escreve: “O que certa nação julga
indispensável para o círculo de seus pensamentos nunca entrou na mente de uma outra, e por
outra ainda foi julgado ultrajante.” A ideia de cultura como um modo de vida característico é
retomada como plataforma política no contexto de libertação colonial, em que as colônias
subjugadas eram vistas como “exóticas” por não seguirem os moldes de seus colonizadores.
No século XX, o exotismo, já discutido na obra de Herder no século XVIII, ressurge nos
aspectos primitivistas do modernismo, a partir do crescimento da moderna antropologia
cultural. Em caráter pós-moderno, o exotismo assenta-se na romantização da cultura popular,
que toma o lugar que antes era ocupado pelas culturas “primitivas” (EAGLETON, 2000).
Contrapondo a ideia das sociedades em resistências anticoloniais apresentada
acima, a teoria evolucionista de Tylor sobre as sociedades avançadas e primitivas sofrerá
críticas nos séculos seguintes, sendo vista como um sistema de hierarquia para classificar as
diversas sociedades humanas, que supostamente funcionariam de modo linear, dado seu
argumento de que todas as sociedades deveriam superar as mesmas etapas que foram traçadas
pelas sociedades ocidentais a fim de ser tornarem avançadas (TYLOR, 1871).
Edward Tylor (1832-1917), diferentemente de Herder, foi menos influenciado
pelo conceito de Kultur germânico, que se refere a toda grande produção do espírito humano,
e utilizou também a noção de civilization presente no Iluminismo francês para sintetizar
ambos os termos (Kultur e Civilization) no vocábulo inglês Culture, que “tomado em seu
amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871, p.1). Esta concepção universalista caracteriza a
cultura por sua dimensão coletiva, sendo algo adquirido e independente da hereditariedade
biológica, sendo a expressão da totalidade da vida social do homem.
Tylor criou a teoria antropológica do evolucionismo cultural, um estudo de
antropologia com base nas teorias evolucionistas de Charles Darwin, que afirma que todas as
sociedades seguem as mesmas etapas previsíveis e padrões de desenvolvimento. O autor é
principalmente conhecido por duas obras: Cultura primitiva: Pesquisas para o
Desenvolvimento da Mitologia, Filosofia, Religião, Arte e Personalizado (1871) e
Antropologia: Uma Introdução ao Estudo do Homem e da Civilização (1881). O livro
5
Cultura Primitiva ofereceu a primeira definição antropológica de cultura, que foi crucial no
desenvolvimento da ideia da antropologia como ciência. Tylor também é conhecido pela sua
análise das culturas primitivas, o desenvolvimento de teorias sobre crenças animistas
primitivas, e sua noção de sobrevivência, que ele usou para mostrar como as práticas culturais
do presente são muitas vezes devido às superstições primitivas há muito descartadas.
Tylor (1871), em sua definição de cultura, argumenta que o homem é um ser
predominantemente cultural e graças à cultura, ele é capaz de superar suas limitações
orgânicas e sobreviver aos desafios da vida ao longo do tempo. Neste sentido, a cultura é vista
como meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes e tem como característica ser
um processo acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências que são fruto de
outras gerações que o antecederam e que não são uma ação isolada e sim, um esforço
resultante de uma comunidade.
Em seu livro Primitive Culture, o autor argumenta como as artes, costumes e
ideias são moldadas entre nós pelas ações combinadas de muitos indivíduos, das quais o
motivo e efeito muitas vezes vêm distintamente dentro de nossa visão. A história de uma
invenção, uma opinião, uma cerimônia, é uma história de sugestão e modificação,
encorajamento e oposição, ganho pessoal e prejuízo, e os indivíduos envolvidos agem cada
um segundo sua própria motivação, conforme determinado pelo seu caráter e circunstâncias.
Neste livro, ele estabeleceu a ideia de que a mente humana e as capacidades eram as mesmas
em todas as culturas do mundo, não importa em quais diferentes estágios de sua evolução que
se encontram.
O trabalho de Tylor se verá presente posteriormente nos estudos do crítico galês
Raymond Williams (1921-1988), ao conter a noção proposta de que a cultura evolui do estado
menos complexo ao mais complexo ao longo do tempo, sendo algo dinâmico e não uma série
de objetos de valor fixo e universal. Williams foi um dos pensadores mais importantes da
segunda metade do século XX e uma figura importante na renovação da tradição socialista
marxista. Sua obra é relevante para a compreensão da complexidade da noção de cultura e da
sociedade, dando um contributo decisivo para o desenvolvimento de estudos culturais na Grã-
Bretanha, Europa e Estados Unidos. Em seu livro “Keywords”, ele dá enfoque à forma como
as transformações culturais se registaram como mudanças nos significados de palavras,
fazendo um remapeamento de alguns dos principais pontos de transformação da cultura
inglesa. Em seu livro “Marxismo e Literatura”, Raymond Williams procura criticar e
desenvolver tanto o marxismo e a teoria literária, em simultâneo, rever dogmas
inquestionáveis da teoria cultural marxista e conceitos problemáticos da teoria literária para
6
avançar uma nova teoria que fosse capaz de lidar com os problemas teóricos em ambos os
campos. A essa nova teoria ele dá o nome de materialismo cultural: uma teoria das
especificidades de material cultural e produção literária dentro do materialismo histórico.
Ele indica o uso da palavra cultura em dois sentidos: para significar um modo de
vida - os significados comuns; para significar as artes e aprendizagem - os processos especiais
de descoberta e esforço criativo. Alguns autores reservam o termo para um ou outro desses
sentidos, porém Williams (1993) insiste em ambos e no significado de sua conjunção e afirma
que a cultura é comum, em cada sociedade e em cada mente, argumentando:
uma palavra que havia indicado, numa sociedade mais autoconfiante, um processo
de instrução, tornou-se, no século XIX, o foco de uma reação profundamente
significativa contra uma sociedade lutando com o sofrimento de uma mudança
radical e dolorosa. (WILLIAMS,1993, p.60)
O autor faz essa narrativa em sua obra Culture and society 1780-1950 , publicada
em 1958, na qual esforça-se para unir vários significados de cultura que cada vez mais estão
se separando: cultura (no sentido das artes) define uma qualidade de vida refinada (cultura
como civilidade) cuja realização na cultura (no sentido de vida social) como um todo é a
tarefa da mudança política, unindo assim o aspecto estético e o antropológico.
Não há, porém, um consenso no que diz respeito ao conceito de cultura no meio
antropológico. Roger Kessing, antropólogo, em seu artigo “Theories of Culture” (1974),
define cultura de acordo com duas correntes. Na primeira corrente, a cultura é entendida como
sistema adaptativo, formada por padrões de comportamento socialmente transmitidos que são
necessários para a adaptação dos indivíduos ao modo de vida de suas comunidades
(tecnologias, modo de organização econômica, padrões de agrupamento social, organização
política, crenças, práticas religiosas, etc.).
A segunda corrente utiliza três abordagens para cultura: a primeira que a define
como um sistema cognitivo, a qual “consiste de tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou
acreditar para operar de maneira aceitável dentro da sociedade”; a segunda abordagem usa a
definição de cultura como “um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente
humana, que gera elaborações culturais nos domínios do mito, arte, parentesco e linguagem”;
a terceira abordagem considera a cultura como um “sistema de símbolos e significados que
são partilhados por uma sociedade, incluindo regras sobre as relações humanas e modos de
comportamento”. Esta terceira abordagem feita por Kessing está mais relacionada ao conceito
liberal, que não se limita apenas a extensão intelectual do conhecimento, ao invés disso,
propõe parâmetros que são comuns tanto às elites intelectuais dos países desenvolvidos
quanto para as sociedades classificadas como primitivas.
7
Neste trabalho, será utilizada a perspectiva construtivista de cultura, que é
diferente das visões até então apresentadas. É possível notar a divergência entre as ideias de
Herder, Tylor e Williams, em que o primeiro defende a singularidade de cada povo enquanto
Tylor e Williams, cada um a sua maneira, ilustram a universalidade da vida em sociedade,
sendo marcados pela visão evolucionista e materialista do termo cultura respectivamente.
Após apresentar o conceito de cultura nos campos da antropologia e estudos
literários sociais, é importante destacar como o conceito aparece nas teorias das Relações
Internacionais, com enfoque sobre a teoria construtivista. O construtivismo aborda a visão de
que o comportamento do Estado é moldado pelas crenças, identidades e normas sociais das
elites. Indivíduos em coletividades forjam, moldam e mudam a cultura por meio de ideias e
práticas. Estados e interesses nacionais são o resultado das identidades sociais desses
protagonistas. Assim como os realistas e os institucionalistas liberais, os construtivistas
consideram o poder importante. Porém, enquanto os primeiros só veem o poder em termos
materiais (militar, econômico, político), os construtivistas também veem o poder em termos
discursivos – o poder das ideias, da cultura e da linguagem. A contribuição singular dos
construtivistas pode perfeitamente ser a elucidação das fontes de poder em ideais e mostrar
como as ideias moldam as identidades. Este conceito de identidade se relaciona diretamente
com a diplomacia cultural e o poder do Estado de utilizar a cultura como forma de influência,
ilustrado no estudo de caso do Ano do Brasil na França e na visão de Nye sobre soft power.
O produto da interação dos seres humanos com o ambiente que os cerca traduz o
“universo simbólico”, que é capaz de prover sentido às experiências humanas e forma a
linguagem dos integrantes de uma determinada sociedade em certo período da história. No
que tange ao sistema internacional, os construtivistas entendem que ele é socialmente
construído, não podendo tratar valores, ideias e a cultura como variáveis endógenas. A
interação contínua dos atores neste sistema contribui para a constituição de novas formas de
identidade e cultura, tendo este movimento se intensificado e diversificado a partir do século
XX com novas formas de comunicação entre os atores. O construtivismo nega a visão de que
identidade é uma essência fixa ou um dado objetivo e defende que as identidades são
construções plásticas, fluídas e dinâmicas, fruto da fricção de culturas que formam novas
experiências. Sendo assim, o construtivismo traz em sua definição de cultura a contraposição
do que era defendido pelos românticos alemães e dos autores do início da antropologia, como
Herder e Tylor, o que mostra que o conceito de cultura foi evoluindo com o passar dos anos e
caminhando para outras direções.
8
Alexander Wendt, um dos principais teóricos do construtivismo nas Relações
Internacionais, afirma que os Estados são os atores principais do sistema internacional e uma
parcela do que são é socialmente construída no nível do sistema, ao passo que também existe
parte das identidades e dos interesses que é exógena, compondo a individualidade. A
identidade é o que os atores são, ao passo que interesses representam aquilo que os atores
querem, mas os interesses pressupõem a existência de identidade (WENDT, 1999, p. 231).
Para Wendt, o poder é constituído principalmente por ideias e contextos culturais.
Neste sentido, a definição de um sistema de conflito ou de paz não depende da anarquia e do
poder, mas sim da cultura compartilhada criada por meio de práticas sociais discursivas. Deste
modo,
os Estados não estão condenados a preocuparem-se constantemente com o seu poder
relativo e à atração da conflitualidade, devido à sua situação anárquica. Eles podem
agir para alterar a cultura intersubjetiva que constitui o sistema, consolidando ao
longo do tempo as ideias não egoístas imprescindíveis a uma paz prolongada
(COPELAND, 2006: 2).
As identidades são construídas pela ação humana e por um conjunto de ideias, que
forma uma cultura, a qual desempenha o papel de fator dinâmico de ação, formação e
transformação que enquadra e altera as relações sociais. Neste sentido, a cultura integra a
equação de poder como fator decisivo, contrapondo o poder formal advindo das instituições.
Este jogo de poder é visto tanto no plano interno, como no plano internacional. O debate
construtivista de cultura aborda também o conceito de ideias, força motriz do processo
cultural, que engloba o conjunto de convicções, crenças, opiniões, interesses, motivos, que
quando utilizadas pelo ser humano em plano individual ou coletivo, determinam o seu modo
de agir.
Goldstein e Keohane (1993) afirmam que as ideias influenciam a política uma vez
que se enraízam sob a forma de crenças e opiniões firmadas como princípios ou motrizes de
ação. Essas ideias funcionam como roteiros, guias, diretrizes para orientar os agentes (ou dar-
lhes mais segurança) quanto aos objetivos do agir, tendo nelas uma forma de interpretar o
passado, explicar a situação presente e projetar o futuro. A articulação entre o plano das
ideias, formador do campo cultural, com o da ação, estruturador do exercício do poder, mede
as relações pessoais ou sociais sempre que estas afetam o cotidiano de cada um, seja ele
individuo, grupo ou comunidade. Para estes autores, o conjunto de ideias usuais serve como
um mapa de decisões, preenchendo o campo cultural como referências identificadoras para os
indivíduos e suas comunidades, percorrendo uma via de dois sentidos, em que o agente
racional humano serve o conjunto de realidade histórica e vice versa.
9
Como dito anteriormente, de acordo com o construtivismo, as identidades não são
essências, entidades ou dados objetivos, mas sim construções plásticas e fluídas, sendo
observada na construção de espaços que promovam o contato e fricção das culturas, iniciando
novas experiências. Esta visão das nações está presente na obra de Benedict Anderson,
cientista político americano. Anderson (2008) argumentou que a identidade nacional é “uma
comunidade imaginada”. Sendo assim, as nações modernas são todas “híbridos culturais”.
Para Anderson (2008), as nações modernas têm suas origens culturais em alguns eventos
históricos da modernidade: na mudança na concepção de tempo, no declínio das comunidades
religiosas e dos impérios dinásticos, no desenvolvimento da cultura impressa de massa (livros,
jornais). Nas palavras do próprio autor, uma nação é uma comunidade imaginada pelos
seguintes motivos:
[...] proponho a seguinte definição de nação: uma comunidade política imaginada –
e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo,
soberana.Ela é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das
nações jamais conhecerão, encontrarão ou nem sequer ouvirão falar da maioria de
seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão
entre eles (2008, p.30).
[...] ela é imaginada como uma comunidade porque, independentemente da
desigualdade e da exploração efetivas que possam existir dentro dela, a nação
sempre é concebida como uma profunda camaradagem horizontal (2008, p.32-34).
Este autor defende que as identidades são discursos construídos, imaginados, o
que não os caracteriza como narrativas irreais. Com base nessa definição, a realização do Ano
do Brasil na França e as ações de diplomacia cultural caracterizam uma forma de produção
discursiva. Ou seja, a visão de Brasil apresentada neste evento não pode ser caracterizada a
partir da distinção entre representações falsas ou reais, mas da construção de diferentes
discursos que estão articulados a distintas questões de poder, já que a cultura integra a
equação de poder como fator decisivo, sendo vista como uma forma de contrapoder ou poder
paralelo.
Ao dissertar sobre o caráter real ou irreal destas comunidades imaginadas,
Benedict Anderson afirma: “As comunidades se distinguem não por sua
falsidade/autenticidade, mas pela forma em que são imaginadas” (ANDERSON, 2008, p.33).
Sendo assim, a identidade nacional pode adotar como base a língua, o passado, a raça, os
hábitos e comportamentos do povo, fato este que irá diferir de cada país, grupo ou classe que
delineou uma proposta de identidade que se transformou no tempo e no espaço.
Canclini (2003) define em sua obra “Globalização Imaginada” o papel da cultura
no mundo globalizado atual:
10
o cultural abrange o conjunto de processos mediante os quais representamos e
instituímos imaginariamente o social, concebemos e administramos as relações com
os outros, ou seja, as diferenças, ordenamos sua dispersão e sua incomensurabilidade
por meio de uma delimitação que flutua entre a ordem que possibilita o
funcionamento da sociedade (local ou global) e os atores que a abrem ao possível.
(CANCLINI, 2003, p.57-58)
O conceito de globalização imaginada de Canclini recai sobre um ponto chave do
caráter opressivo ou libertador do processo de globalização que é proporcionar, ou não, a
imaginação sobre várias identidades, flexíveis, modulares, por vezes superpostas, e ao mesmo
tempo permitir que as identidades ou as culturas dos outros povos sejam vistas como
legítimas e combináveis, não somente como ameaçadoras e competitivas. Este antropólogo
argentino, a partir de diversos estudos e análises de diferentes situações, dissemina a ideia de
que cultura e identidade não são apenas patrimônios a serem mantidos e compartilhados entre
os membros de uma sociedade. Para ele, as mudanças constantes e a intensa troca de
experiências colaboram para a formação e construção de identidades (CANCLINI, 2003).
Sendo assim, enquanto Anderson (2008) afirma que as nações são comunidades
imaginadas e Canclini (2003) ressalta que a globalização gera novos cenários, é possível
relacionar ambos os conceitos, ao sugerir que a globalização impacta as formas pelas quais as
pessoas imaginam as coisas.
Seguindo esta linha de comparação e aplicando-se ao estudo de caso analisado, a
vontade de um país de se mostrar cuidadosamente no cenário Internacional, globalizado, vem
da possibilidade de criar uma imagem positiva que passará a caracterizar tal país,
influenciando a opinião de outras culturas.
Destacado novamente no decorrer deste estudo, em discurso para o Ano do Brasil
na França, o Ministro Gilberto Gil afirmara:
Ao longo deste ano, queremos propor aos franceses uma imagem significativa da
variedade e intensidade da Cultura Brasileira, sem qualquer filtro ou mediações a
fim de evitar quaisquer simulacros e distorções (GIL, 2005).
Sendo assim, torna-se clara as intenções de imagem que o governo brasileiro
buscava passar aos franceses, e também a toda a comunidade internacional, de um Brasil
verdadeiro, apresentado pelo seu próprio povo. Porém é preciso ter análise crítica ao acreditar
que a seleção de uma imagem não implica em qualquer tipo de filtro ou mediação.
Em suma, este capítulo abordou as diferentes dimensões do conceito de cultura,
que pode ser visto como um conflito político, um fator de diferenciação e união e como um
aspecto relacional. Este é um conceito de extrema importância para as ciências sociais. Em
seus primeiros usos, a ideia de cultura teve uma marcante característica trazida pelo
11
essencialismo e pelo “mito das origens”, que contribuíram para o avanço epistemológico do
termo. Com isso, foi possível que viesse à tona a dimensão relacional de todas as culturas.
Porém o conceito não se resume apenas à situação relacional e engloba um significado em si
mesmo. A cultura também pode ser em um diferente grau motivo de conflitos entre
sociedades. No entanto, o estudo do termo não deve ser restrito às lutas sociais. Os elementos
de uma cultura tem valor significativo para a distinção social e diferenciação étnica
envolvendo o compartilhamento de elementos comuns como a língua, artes, festas, literatura.
(CUCHE,1999). Tais questões serão abordadas no próximo tópico.
2.2 IDENTIDADE CULTURAL
A identidade cultural é um sistema de representação das relações entre indivíduos
e grupos, que envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião,
as artes, o trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de
construção continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço. Contudo, ao
longo de muitos anos, este termo não foi adequadamente contextualizado no campo das
ciências sociais.
Com o aparecimento da sociedade moderna que, muitos teóricos preocuparam-se
em demonstrar a grande ameaça que a evolução de transformações tecnológicas e econômicas
oferecia a certos grupos sociais, por conta da fragmentação das velhas identidades que
serviam como base sólida dos indivíduos e o surgimento de novas identidades, não mais
baseadas em tradição, nação, estado, território e sim mediadas pela globalização de estilos,
lugares, viagens, mídia. O indivíduo passa a sofrer de deslocamento, não estando mais preso a
um local ou cultura, o que desperta a questão de como ele irá lidar com a sua identidade e
como ela é afetada pelo processo de globalização (BAUMAN, 2012).
As culturas nacionais, que formavam um dos principais fatores da identidade
cultural, estavam embasadas na veneração do passado e dos símbolos que representavam e
mantinham a experiência de gerações. Porém, a crescente complexidade das sociedades
trouxe a percepção de que este núcleo interior não era de fato independente e sim formado
pela relação com outros, que lhe mostravam valores e sentidos, símbolos do ambiente em que
estavam inseridos. A identidade não era algo pré-moldado e sim construído na interação entre
o individuo e a sociedade que o cerca.
12
As culturas estão se desintegrando e se homogeneizando, ou estão resistentes às
mudanças advindas da globalização, lutando para manter suas tradições tão bem conservadas
anteriormente? Surge o dilema de como o individuo manterá o seu senso de pertencimento e
identidade nacional, pois o que antes era considerada único e tradicional de sua cultura pode
não mais existir. As nações também se fragmentam, pois grande parte delas foi fruto de
culturas separadas que foram unificadas por meio da força e conquista de outros povos.
No século XX, o conceito clássico de identidade foi dissolvido e reposicionado
por conta dos avanços dos meios de comunicação, o que fez com que perdesse a sua eficácia
nos dias atuais. Apesar das manifestações culturais ainda serem feitas como forma de
expressar as tradições da nação (música, literatura e artes plásticas, entre outras) como
imaginário do povo, surgem cada vez mais fortes as expressões cosmopolitas e virtuais,
libertas de um território ou nação, adotando uma nova percepção sob o meio artístico. As
barreiras culturais são redimensionadas para absorver novas formas de expressão, identidade,
alterando também o modo como as pessoas convivem entre si em lugares comuns e o senso de
pertencer a grupos que possuam interesses convergentes, como música, compras, esportes,
entre outros. Estas barreiras podem caracterizar-se como embasamento sociológico da
perspectiva construtivista.
As contribuições da antropologia são importantes para enriquecer as teorias das
Relações Internacionais, que defende a relevância da identidade como conceito e que as
identidades mudam como resultado do comportamento cooperativo e aprendizado, retomando
o conceito já abordado de identidade relacional.
Neste sentido, é interessante apresentar a discussão sobre o conceito de identidade
étnica2 feita por Stuart Hall, que tem como ênfase em seus trabalhos as questões de
hegemonia no campos dos estudos culturais, a partir de uma visão pós-gramsciana. Em seu
livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, Stuart Hall (2006) apresenta três
concepções para o conceito de identidade: sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico e sujeito
pós-moderno:
2 O estudo comparativo da etnicidade repousa no fundamento criado pelo antropólogo norueguês Fredrik Barth
(1969) em sua introdução bem conhecida a uma coleção de estudos de caso etnográficos. De acordo com Barth
(1969), a identidade é uma construção que se baseia na relação de oposição entre um grupo e os outros grupos
com os quais está em contato. Para Barth, o fenômeno da identidade deve ser compreendido por meio da ordem
das relações entre os grupos sociais, sendo um modo de categorização utilizado pelos grupos para organizar suas
trocas. A identidade é resultado das interações entre os grupos e os procedimentos de diferenciação que eles
utilizam em sua relações. É importante ressaltar que a identidade se constrói e se reconstrói de maneira constante
nos intercâmbios sociais. Este dinamismo é oposto a concepção de identidade como um atributo original e
permanente que não permite evolução. A identidade está sempre acompanhada da alteridade, visto que a relação
de identificar e diferenciar são dialéticas.
13
O sujeito do Iluminismo se baseava na concepção do indivíduo totalmente centrado,
unificado, dotado das capacidades de razão, consciência e de ação, cujo “centro”
consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia
e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo -
contínuo ou “idêntico” a ele - ao longo da existência do indivíduo. O centro
essencial do eu era a identidade de uma pessoa. O conceito de sujeito sociológico
refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este
núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na
relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os
valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. A
identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem
um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado
num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que
esses mundos oferecem (HALL, 2006).
Hall (2006) introduz a noção do sujeito pós-moderno por meio do fato que os
indivíduos projetam a si mesmos nas identidades culturais, enquanto também internalizam
seus significados e valores, o que os torna “parte de si mesmos” e colabora para que os
sentimentos subjetivos se alinhem com os lugares objetivos ocupados por eles no mundo
social e cultural. Porém, é exatamente essa concepção que está mudando na atualidade. Como
relata Hall (1987):
O sujeito, previamente vivido como tendo identidade unificada e estável, está se
tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades,
algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. Esse processo produz o sujeito pós-
moderno, contextualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou
permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada
continuamente em relação as formas pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987).
De acordo com Hall (1990), não há mais um “eu” coerente, que unifique todas as
identidades, e sim, o dinamismo de assumir identidades diferentes em diferentes momentos.
Ao contrário de uma identidade única e completa, há uma multiplicidade cambiante de
identidades possíveis, com cada uma das quais o sujeito pode se identificar, pelo menos por
um certo período, devido a multiplicação dos sistemas de significações e representação
cultural, que se torna uma traço marcante da pós-modernidade. Sendo assim, a identidade
apresenta de um lado o núcleo essencial que a distingue um grupo do outro, e, do outro, ela é
fruto de uma inserção de diferentes elementos, de discursos políticos e culturais e de histórias
particulares.
Houve uma verdadeira explosão discursiva nos anos recentes em torno do
conceito de identidade, conforme observado por Stuart Hall na introdução de um volume de
estudos publicados em 1996. Neste cenário, Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, está
presente como uma das principais figuras do pensamento social contemporâneo. Seu trabalho
abrange as questões de ética, cultura e política na atualidade, em suas análises sobre a
14
modernidade, pós-modernidade e modernidade líquida. Bauman discorre sobre a identidade
como uma construção permanente e uma narrativa no mundo contemporâneo.
De acordo com Bauman (2002), em nossos tempos de "modernidade líquida",
quando não apenas os canais individuais na sociedade, mas os locais a que os indivíduos
podem ter acesso e em que podem desejar alcançar estão se dissolvendo rápido e dificilmente
podem servir como alvos para projetos de vida. A ideia de identidade não sinalizaria um
núcleo “estável do eu, desdobrando-se desde o início ao fim através de todas as vicissitudes
da história, sem mudança (BAUMAN, 2002:30).”
O atual estágio cultural apresenta como marcante característica a independência
parcial ou total da produção e distribuição dos produtos culturais em relação às comunidades
institucionalizadas. De acordo com Bauman (2012):
A maioria dos padrões culturais atinge o domínio da vida cotidiana a partir de fora
da comunidade, e a maior parte deles detém um poder de persuasão muito superior a
qualquer coisa que os padrões nativos possam sonhar em reunir e afirmar. Eles
também viajam a uma velocidade inacessível ao movimento corporal, o que os
coloca a uma distância segura da negociação face a face ao estilo da ágora; sua
chegada, como regra, pega os destinatários de surpresa, e a duração da visita é muito
curta para permitir o teste dialógico (BAUMAN, 2012, p. 68).
Este novo estágio não implica o desaparecimento final das identidades culturais,
porém indica que houve uma mudança tanto no conceito de identidade como na dispersão de
padrões e produtos culturais, em comparação com suas versões na imagem ortodoxa da
cultura. De acordo com Bauman (2012), a nova “realidade” da cultura abrange mobilidade,
desarraigamento e disponibilidade/acessibilidade global dos padrões e produtos culturais; bem
como identidades culturais distintas, que são frutos de uma vasta cadeia de “processos
secundários” de escolha, retenção e recombinação seletivas. Desta forma, a visão de Bauman
sobre o conceito da identidade no mundo atual está em contraposição a uma ideia de “cultura”
como algo estático, permanente (BAUMAN, 2012).
As visões sobre a fragmentação e fluidez das identidades são uma crítica pós-
moderna que aparecem nos trabalhos de Hall, Bauman e Canclini, entre outros, ao apontarem
as mudanças que aconteceram e estão acontecendo nas nações, as quais permitem um fluxo
constante de informações e trocas culturais entre os indivíduos, contribuindo para que as
identidades sejam moldadas constantemente, não apresentando desta forma uma característica
estática. Os elementos sociológicos de Bauman e Hall e antropológicos de Canclini e Barth
serviram de base teórica do construtivismo na concepção de identidade.
15
2.3 O CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO
Nesse contexto, é interessante apresentar também o conceito de representação,
que está diretamente relacionado com a noção de identidade, por ser uma forma de atribuição
de sentido, de produção de significado. A representação é uma das práticas centrais que
produzem cultura. Agora, a linguagem é o meio privilegiado em que nós damos sentido às
coisas, em que o significado é produzido e trocado. Significados só podem ser compartilhados
através de nosso acesso comum à linguagem. Assim, a linguagem é central para o significado
da cultura e sempre foi considerado como um repositório principal de valores e significados
culturais. A linguagem é capaz de fazer isso porque ela opera como um sistema
representacional. Na linguagem, usamos os sinais e símbolos - sejam eles sons, palavras
escritas, imagens produzidas eletronicamente, notas musicais, até mesmo objetos, para
representar para outras pessoas os nossos conceitos, ideias e sentimentos. A representação
através da linguagem é, portanto, central para os processos pelos quais o significado é
produzido e trocado entre os membros de uma cultura. Como define Hall (1990):
[...] a representação é um sistema linguístico e cultural: arbitrário, indeterminado e
estreitamente ligado a relações de poder. A representação expressa-se por meio de
uma pintura, de uma fotografia, de uma filme, de um texto, de uma expressão oral.
A identidade e a diferença são estreitamente dependentes da representação e é por
meio da representação, assim compreendida, que a identidade e a diferença
adquirem sentido. É por meio da representação, que por assim dizer, a identidade e a
diferença passam a existir (HALL, 1990).
A combinação entre a identidade e a diferença e os sistemas de poder é feita
através da representação, aquele que detém o poder de representar também é capaz de definir
e determinar a identidade. O questionamento da identidade e da diferença está diretamente
relacionado com a discussão dos sistemas de representação que lhe servem como suporte e
sustentação. No cerne da crítica da identidade e da diferença está inserida a crítica de suas
formas de representação. Uma ideia importante sobre a representação é a aceitação de um
grau de relativismo cultural entre uma cultura e outra, certa falta de equivalência, e daí a
necessidade de tradução, quando nos afastamos da mentalidade ou universo conceitual de uma
cultura ou de outra. (HALL, 1990).
No objeto de estudo deste trabalho, o Estado é um dos atores que possui o poder
de representar o Brasil no Ano do Brasil na França, fazendo parte da escolha daqueles que
representaram o país no evento, sendo esta ação de diplomacia cultural uma forma de definir e
determinar identidades construídas da nação brasileira. O Estado contou também com a
importante participação das empresas privadas e públicas como forma de patrocínio dos
16
projetos, tendo como grande atrativo a visibilidade proporcionada pelo Ano do Brasil. Da
quantia aproximada de 18 milhões de reais de patrocínios, cerca de 10 milhões de reais
vieram de empresas estatais e o restante da iniciativa privativa, como exemplo o grupo Pão de
Açúcar, Embraer, Acesita, Banco Safra, Gerdau, Natura, Federal Capitalização, Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração, Thyssenkrupp do Brasil, Vale do Rio Doce, Mineração
Brasileira Reunida e Banco Itaú, entre outras.
Sendo assim, não só o Estado, que através da escolha dos Comissários e de parte
dos projetos a ser apresentado pôde estabelecer um filtro daquilo que seria mostrado, e
portanto visto como a "cara do Brasil", mas também as empresas privadas que patrocinaram,
conforme lhes convinha, as manifestações através da Lei Rouanet, são juntos, detentores do
poder de representar e portanto têm papel relevante na determinação da identidade brasileira
que seria passada à comunidade internacional. Desta forma, torna-se difícil excluir por
completo o peso do mercado, que influencia as decisões onde o patrocínio se faz necessário.
O Estado, nesse contexto, pode adotar duas formas distintivas de disseminação do
conhecimento e das representações culturais: a visão arbórea e a rizomática3. Para Gallo
(1977), a metáfora tradicional do conhecimento é arbórea:
ele é tomado como uma grande árvore, cujas extensas raízes devem estar fincadas
em solo firme (as premissas verdadeiras), com um tronco sólido que se ramifica em
galhos e mais galhos, estendendo-se assim pelos mais diversos aspectos da
realidade. Embora seja uma metáfora botânica, o paradigma arborescente representa
uma concepção mecânica do conhecimento e da realidade, reproduzindo a
fragmentação cartesiana do saber, resultado das concepções científicas modernas
(GALLO, 1997, p.122)
O método rizomático, por outro lado, remete a multiplicidade, sendo regido por
seis princípios básicos:
·Princípio da conexão: qualquer ponto de um sistema pode ser/estar conectado a
qualquer outro;
·Princípio da heterogeneidade: dado que qualquer conexão é possível, o rizoma
rege-se pela heterogeneidade;
· Princípio da multiplicidade: o rizoma é sempre multiplicidade que não pode ser
reduzido à unidade;
·Princípio de ruptura a-significante: o rizoma não pressupõe qualquer processo de
significação, de hierarquização. Embora seja estratificado por linhas, sendo assim
territorializado, organizado, etc., está sempre sujeito às linhas de fuga que apontam
para novas e insuspeitas direções;
·Princípio de cartografia: o rizoma pode ser mapeado, cartografado, e tal cartografia
mostra-nos que ele possui entradas múltiplas;
·Princípio de decalcomania: os mapas podem, no entanto, ser copiados,
reproduzidos; colocar uma cópia sobre o mapa nem sempre garante, porém, uma
sobreposição perfeita (GALLO, 1997, p.126).
3 Os conceitos de rizoma e multiplicidade são retirados da obra Capitalisme et Schizophrénie de Gilles Deleuze
(1980).
17
De acordo com Gallo (1997), o rizoma tem como proposto uma multiplicidade de
conexões, aproximações e cortes, rompendo com a hierarquia fortemente presente na visão
arbórea, permitindo movimentações transversais do conhecimento, ao criar novos espaços de
construção e circulação do conhecimento, no qual não haverá uma estrutura básica
hierárquica. Esta distinção entre o modelo rizomático e o arbóreo é pós-construtivista. O
Brasil tem como característica de conhecimento o modelo rizomático, o que é resultado da
distribuição de poder e autoridade no corpo social.
A adoção de um curriculum histórico unificado com a intenção de preservar o
“patrimônio nacional comum” exigiu a supressão de diversas memórias coletivas que eram
cultivadas em comunidade. De acordo com Bauman, tradições, costumes, festas, rituais
comunais foram substituídos por um calendário uniformizado de festividades nacionais e por
uma lista oficial de “costumes nacionais”; ou arrancados da administração comunal e em
seguida adaptados e dotados de significados nacionais novos e globais (BAUMAN, 2011).
Com este ideal em mente, as políticas culturais tinham a concepção de conservar e administrar
o patrimônio histórico acumulado em territórios definidos, nação/etnia/região ou cidade. Ao
Estado cabia o papel de decidir o que merecia ser preservado e ensinado em instituições de
ensino e desenvolvimento cultural.
Como prioridade do Estado-nação na conquista de seu domínio real ou pretendido
estava a construção da nação por meio do desenvolvimento e aquisição de uma visão
supralocal, supraclassista e supraétnica da “consciência nacional”, que deveria ser um esforço
conjunto e prolongado da população. Assim, deveriam ser combatidas e derrotadas as
tentativas de nações concorrentes em se apropriar e assimilar as mesmas histórias, línguas e
culturas locais. A elite educada, titulada como os “líderes espirituais da nação” ou como “os
guardiões do patrimônio nacional”, foi posta no núcleo do processo de “acumulação primitiva
de autoridade” no Estado moderno (BAUMAN, 2011).
Ao possuir um referencial cultural, é iniciada a produção de formas tangíveis de
disseminação da cultura: objetos, símbolos e tecnologias que representam esse conteúdo.
Nesse contexto, as representações culturais ligam-se aos fatores mais objetivos, sendo
responsáveis pelo constituição de processos mais abrangentes de agregação de interesses e
criação de identidades no cerne de ações sociais de diversas naturezas (BOURDIEU apud
FURTADO, 1997:123). Desta forma, as representações culturais de determinada sociedade
seriam meios de expressar como os processos históricos de transformação social mundial
foram recebidos e trabalhados dentro de tal sociedade, seus impactos e resultados. O conjunto
de representações serviria para exemplificar a forma como a sociedade se percebe nas
18
relações com os objetos que a afetam, se revelando de forma simbólica por meio de seus atos,
costumes e instituições.
19
3 SOFT POWER E HARD POWER
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE PODER
Retomando o conceito de representação do tópico anterior, a noção de Gramsci
(1978) para o conceito era que determinados grupos sociais lutam de muitas maneiras
diferentes, inclusive ideologicamente, para ganhar o consentimento dos outros grupos e
alcançar uma espécie de ascendência tanto em pensamento e prática sobre elas. Esta forma de
poder Gramsci chamou de hegemonia. A hegemonia nunca é permanente e não é redutível à
hegemonia dos interesses econômicos ou a um simples modelo de classe da sociedade.
Neste mesmo debate, Foucalt aparece no trabalho de Hall sobre representação.
Apesar de o conceito de ideologia para Foucault apresentar semelhanças com a noção de
hegemonia do italiano Antonio Gramsci, o francês introduziu duas noções radicalmente
novas. Em primeiro lugar, a de que o conhecimento é sempre uma forma de poder, pois por
meio do poder consegue assumir autoridade e a capacidade de tornar-se verdadeiro. Sendo
assim, o Estado pode fazer uso do conhecimento em seu discurso de representação, de modo a
influenciar a seu favor indivíduos e outros Estados. Em segundo lugar, Foucault desenvolve
uma concepção totalmente nova de poder. Ele argumenta que os indivíduos tendem a pensar
de poder, como sempre, irradiando em uma única direção - de cima para baixo - e vindo de
uma fonte específica soberana- o Estado, a classe dominante e assim por diante. Para Foucault
(1980), no entanto, o poder não funciona sob a forma de uma cadeia – e sim, circula. Nunca é
monopolizado por um único centro. Ele está implantado e é exercido através de uma
“organização em rede” (FOUCAULT, 1980, p. 98).
Para analisar o poder na visão de Foucault, inicialmente é necessário compreender
a forma como o autor enxerga o objeto de estudo, por meio de análises das existentes relações
de poder. Embasa-se para essa decisão o argumento de que não existe „o Poder‟ como
decorrente de fatores externos, e atesta-se a existência de formas ou práticas de poder, que
sofrem alterações no contexto em que ocorrem. Sendo assim, ao afirmar a não existência de
um detentor de poder, Foucault desloca sua análise de poder para além do Estado, instituindo-
se nas diversas estruturas sociais.
De forma a „localizar‟ as relações de poder dentro da sociedade, o autor atesta a
existência de micro-poderes entre as estruturas que se relacionam, conjuntamente, com o
Estado – estrutura mais geral de poder. A estratégia de analisar o poder „capilarizado‟ busca
entender o exercício de poder em instâncias locais e regionais – onde ele se organiza,
20
corporifica e mune-se de instrumentos (FOUCAULT, 2009) – passando de uma tradicional
análise descendente para uma análise ascendente. (DANNER, 2009) Vale ressaltar, que essa
abordagem, mais uma vez, nega o poder como algo obtido por uma parte e, principalmente,
nega a detenção do poder pelo Estado.
Assim, para comprovar a existência de tais estruturas na sociedade, Foucault
apresenta instituições que, ao longo da formação das sociedades, não só estiveram fora do
espectro de poder estatal – exercendo diversas relações de poderes com outras partes – como
também influenciaram a própria racionalidade deste Estado.
Digamos assim: não apenas o Estado, na modernidade, foi o centro de controle e de
formação da sociabilidade; instituições como a escola, as ciências, a fábrica, o
quartel, o hospício, etc., também foram fundamentais (basta citar o caso da escola
enquanto uma das instituições centrais da modernidade e de nosso tempo) no que diz
respeito à formação das massas, no que diz respeito à legitimação da racionalidade
capitalista. (DANNER, 2009)
Em suma, Foucault estabelece o poder como uma estratégia e/ou uma tática,
disseminado por toda a sociedade. Porém, ressalta-se a preocupação do autor em explicitar
que não nega a importância do Estado nesse emaranhado de práticas – uma vez que este é
responsável por basear as ligações políticas e sociais entre essas instituições. (DANNER,
2009).
Portanto, ao negar o poder como um objeto a ser negociado e detido e ao atribuir
as relações de poder aos mais diversos níveis da sociedade – da ciência às artes, Foucault cria
bases para que seja possível repensar as definições convencionais de poder no cenário
internacional. Porém, essa relação abre caminho, principalmente, para analisar como as outras
esferas citadas podem fazê-lo, não somente estes Estados enquanto unidades.
3.2 HARD POWER e SOFT POWER NA VISÃO DE JOSEPH NYE
Normalmente, o poder é definido de uma maneira genérica como a possessão de
capacidades ou recursos que podem influenciar fatores externos. Alguém que tem autoridade,
riqueza ou uma personalidade atrativa é chamado de “poderoso”. Nas relações internacionais,
com uma segunda definição, um país é considerado poderoso quando tem uma população
relativamente grande, assim como o território, recursos naturais e ainda poder militar e
econômico, bem como estabilidade social (NYE, 2011).
21
Mas quando as pessoas medem o poder de acordo com os recursos de um país,
conforme citado acima, normalmente, cria-se um paradoxo, levando-se em conta que às vezes
quem possui muitos recursos, nem sempre recebe o retorno esperado. Converter recursos em
poder, no sentido de receber respeito em troca, requer uma boa estratégia e liderança. (NYE,
2011).
Medir poder em termos de recursos existentes, é uma forma imperfeita de medi-
lo. É igualmente importante compreender quais recursos oferecem a melhor base para o poder
em um contexto particular. Petróleo não foi um recurso importante de poder até a era
industrial ou, por exemplo, o urânio até a era nuclear. Os recursos de poder não podem ser
julgados sem ter conhecimento sobre o contexto em que está inserido. Em algumas situações,
aqueles que detêm maior poder de força, ou riquezas, não são necessariamente os mais
poderosos. É nesse contexto que Joseph Nye introduziu o termo “soft power”. Um dos mais
importantes intelectuais dos Estados Unidos, Joseph Nye, foi o fundador ao lado de Robert
Keohane, da teoria liberal das relações internacionais, ajudando na criação de conceitos como
interdependência e, pioneiro na teoria do soft power. Atualmente, é professor na Universidade
de Harvard (onde também já foi reitor), e membro da Coalizão de Orientadores para o Projeto
de Segurança Nacional. De acordo com Nye, (2004):
O conceito básico de poder é a habilidade de influenciar outros a fazer o que você
quer. Há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com galhos; a
segunda é comprá-los com cenouras; e a terceira é atrai-los ou cooperar com eles
para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atrai-los a querer o que
você quer, te custará muito menos cenouras e galhos (NYE,2004).
A guerra e o uso da força sempre tiveram muita influência e importância na
história humana. Normalmente, a história política é frequentemente contada como histórias
de guerra e de conquistas. No entanto, o poder coercitivo duro é geralmente acompanhado de
algum soft power. Dificilmente um ser humano irá conseguir grandes proezas no que diz
respeito a domínios, agindo sozinho. Por isso, ao atrair seguidores e conseguir as condições
necessárias para utilizar o hard power em grande escala, este líder está usando também o soft
power, uma vez que terá que influenciar outros a segui-lo. Para compreender o poder militar,
é necessário entender não apenas a natureza humana, mas também a estrutura da política
internacional. Não há maior autoridade do que os próprios Estados, por isso, o poder militar é
visto como um recurso de autoajuda, auxiliando em sua autoridade e principalmente,
segurança. O poder militar vai muito além de um desejo de dominação e ganância, é
principalmente um recurso de defesa, uma vez que não se pode confiar em outros Estados. Em
condições anárquicas, quanto mais desconfiança entre os países existe, maior se torna a
22
importância do poder militar, uma vez que apresenta importantes recursos de defesa. (NYE,
2011).
Conforme dito anteriormente, o poder militar sempre teve uma grande
importância para a história, sendo marcado pela presença de diversas guerras, sendo, ainda
hoje um dos principais poderes. De acordo com o realismo clássico de Maquiavel, ou ainda o
realismo estrutural moderno:
os recursos militares que proporcionam a capacidade para prevalecer na guerra são
convencionalmente retratados como a forma mais importante de poder nos assuntos
globais”. (NYE, 2011, pág. 52).
Sabe-se que o poder militar e econômico normalmente fazem com que os outros
se influenciem e até mudem de lado. Hard power pode ocorrer através de chantagem ou
ameaças. Mas às vezes, é possível conseguir o que se espera ou que se deseja, sem ameaças
ou pagamentos. O modo indireto de conseguir o que se deseja é o que é chamado de “segunda
face do poder”. Um país pode conseguir o que deseja no mundo da política, devido ao fato de
outros países o respeitarem e admirarem seus valores e apoiarem o exemplo, e não por serem
obrigados. Esse tipo de poder, o brando, funciona através da influência e cooperação, ao invés
da coerção. (NYE, 2011). Soft power consiste na habilidade de moldar as preferências nos
outros. Por isso, este poder se torna não apenas uma liderança pelo exemplo, mas também
uma força para atrair outros para fazer o que se quer. Utilizando os países como exemplo, isto
poderia ser visto através de uma política amigável e atrativa, visando atrair objetivos em
comum. (NYE, 2011).
Vale destacar ainda que soft power não é o mesmo que influência. Influência pode
também implicar nas ameaças e pagamentos do hard power. Já o soft power é mais do que a
persuasão e habilidade de mover pessoas pelo argumento, embora esta seja uma parte
importante deste poder. É também a habilidade de atrair. Em palavras simples, soft power é a
habilidade de atração, é possuir os recursos para atrair outros. (NYE, 2011).
O soft power é um conceito que tem sido bastante utilizado de uma maneira muito
ampla, especialmente se referindo a qualquer outro poder que não o militar, o que significa
uma conotação inadequada ao termo. Além disso, muitos intelectuais o interpretam como uma
alternativa oposta à política de hard power, fazendo referência a uma posição ética. No
entanto, o soft power, assim como qualquer outra forma de poder, pode ser usado de diversas
formas, visando ações positivas ou negativas para a sociedade, não retratando, portanto,
necessariamente uma posição ética. Um exemplo disso é o fato de líderes políticos como
23
Hitler e Stálin, por exemplo, também terem utilizado este tipo de poder, o qual não possui um
conteúdo ético inerente (NYE, 2011).
Ao contrário do que pensam os céticos, as habilidades de atração como forma de
poder, já existiam na história humana, mesmo antes de serem conceitualizadas nas relações
entre grupos políticos, gerando efeitos reais. Vale ressaltar que até mesmo os realistas
tradicionais acreditam neste conceito. Ao contrário dos neorrealistas que definem poder a
partir de recursos mensuráveis e tangíveis, realistas tradicionais como por exemplo E. H. Carr
(1939) descreveram o poder em três categorias, sendo elas: poder militar, poder econômico e
poder sobre a opinião. Apesar de não usarem o mesmo conceito, a terceira categoria de poder,
está bem próxima da ideia de soft power. O conceito de soft power é, por isso, muito mais
descritivo do que normativo. Ele não é uma forma de idealismo ou liberalismo, é apenas,
assim como outros, uma forma de poder que visa atingir os objetivos esperados. (NYE, 2011).
Vale ressaltar que o soft power não é apenas destinado aos Estados, é também um
poder fluido, destinado a corporações, instituições, ONGs e até mesmo aos indivíduos. No
entanto, ao contrário do que possa parecer, este tipo de poder é muito mais difícil de ser
utilizado, pois, ao contrário do hard power, o alvo tem muito mais controle sobre os
resultados. Além disso, normalmente os resultados são vistos apenas em um longo prazo,
deixando a maioria de seus atores sem um retorno imediato de seus investimentos.
As principais “armas” do soft power não estão em total controle do governo. Isso
acontece, pois quando se trata deste tipo de poder, as principais ferramentas para sua
incorporação são a cultura e os valores dentro da sociedade civil, ou seja, por mais que o
governo tente controlar 100%, uma parcela disso está nas mãos da sociedade, cabendo ao
governo controlar a política, mas não estes aspectos. Assim, por mais que esta forma branda
de poder possa parecer de mais fácil utilização, é na verdade mais complexa e intangível.
(NYE, 2011).
Assim como os outros poderes, há situações em que este tipo de poder não exerce
uma influência muito grande, no entanto, é incorreto afirmar que mesmo assim esta não é uma
forma de poder. De acordo com a situação e o contexto, este poder, assim como os outros,
exerce uma influência maior ou menor sobre determinado alvo. No caso da Coréia do Norte,
por exemplo, é difícil imaginar que o soft power resolveria a disputa sobre as armas nucleares,
podendo, porém, auxiliar determinadas decisões.
Da mesma forma, em um contexto de interesses estruturais de um governo, como
por exemplo, através da promoção da democracia, o soft power se mostraria mais adequado, e
ainda superior ao duro, especialmente em um século de informação global, com a difusão de
24
poder para atores não estatais, tornando sua importância ainda maior. (NYE, 2011).Se é
possível fazer com que um país ou uma pessoa desejem aquilo que você deseja, então não é
preciso realizar chantagens ou pagamentos. O soft power é uma das partes mais importantes
da política democrática uma vez que a democracia implica em um consenso entre as partes,
sendo necessário o poder de persuasão e argumentação. A habilidade de estabelecer
preferências tende a ser associada com recursos intangíveis, como uma personalidade atrativa,
cultura, valores políticos e instituições e políticas vistas como legítimas ou com autoridade
moral. Se um líder representa valores que os outros querem seguir, custará menos para ser
líder. No entanto, como já visto anteriormente, nem sempre o soft power é utilizado de uma
maneira positiva ou para o bem, como é o caso de líderes como Hitler e Stálin ou do uso que
os Estados Unidos fazem de Hollywood para legitimar suas intervenções militares (NYE,
2011).
Assim, os dois tipos de poder podem ser relacionados, porque os dois possuem o
propósito de afetar o comportamento de outros. A distinção entre eles, no entanto, se dá na
natureza do comportamento e tangibilidade dos recursos. O poder de comando – a habilidade
de mudar o que os outros querem – pode implicar em coerção ou chantagem. Já o poder de
cooperação – a habilidade de moldar o que os outros querem – pode implicar na atratividade
de uma cultura e seus valores. Enquanto um tende a ser associado pelo comportamento de
cooperação, o outro é conhecido pelo comando. (NYE, 2011).
Nos últimos anos, diversas transformações no mundo, alteraram drasticamente as
condições em que o soft power é projetado, tornando-se por isso, cada vez mais relevante para
um país. Entre elas, podem ser citadas principalmente a revolução da informação e ainda a
globalização, responsáveis por aproximar o mundo e diminuir distâncias. Com o tempo, a
tecnologia se espalhou para muitos países e populações do mundo. Assim, a revolução da
informação criou comunidades virtuais e ainda redes de relacionamento ao redor do mundo, e
além das fronteiras nacionais. Por isso, empresas multinacionais e atores não governamentais
começaram a ter um papel mais importante na sociedade, uma vez que através do soft power,
conseguiram atrair pessoas além de suas fronteiras. Neste cenário, a liderança política se
tornou em parte uma competição por atratividade, legitimidade e ainda credibilidade, uma vez
que estava situada na era da informação e disseminação de ideias. A habilidade de espalhar e
compartilhar informações se tornou um importante recurso de atração e especialmente, de
poder. Por isso, não apenas o hard power trazia retornos para um país. Historicamente,
mesmo o hard power sendo o poder mais utilizado, através das forças, tecnologia militar,
capacidade econômica de um país e ainda tamanho da população, entre outras, eventos como
25
a Guerra do Vietnã, por exemplo, demonstraram que muitas vezes, utilizar apenas este tipo de
poder, não era o suficiente, como sentiram os Estados Unidos. (NYE, 2011).
Por isso, na era global da informação, o papel do soft power frente ao hard power
cresceu ainda mais. Isso ocorreu devido a diversos fatores, como por exemplo, os diversos
canais de comunicação existentes, a disseminação de ideias e culturas, prevalecendo sobre as
normas globais e ainda a credibilidade associada a valores e políticas. No entanto, vale
ressaltar que os recursos de soft power são difíceis de controlar e mensurar pois atuam
indiretamente nos efeitos de aceitação de uma população, uma vez que moldam o próprio
ambiente da política. (NYE, 2011).
Desta forma, na era do conhecimento, a informação se torna poder e atualmente, a
maior parte da população mundial tem acesso a esse tipo de poder. O resultado disso é uma
explosão de informações que gera um paradoxo, uma vez que ao mesmo tempo em que as
pessoas estão cobertas de diferentes tipos de informação, não possuem recursos suficientes
para saber distinguir o que é relevante e o que não é. (NYE, 2011).
Por isso, apesar de historicamente o poder político estar sempre com aqueles que
possuem maior poder militar ou econômico, sob as novas condições da revolução da
informação e da globalização, o soft power se tornou tão relevante quanto estes outros
poderes. Em entrevista com Joanne Meyers em 2004, Joseph Nye descreve o contexto de
poder no século XXI:
Eu usaria a metáfora de uma pirâmide tridimensional: no topo, os Estados Unidos
são a única superpotência, e é improvável que nós vejamos um balanço no poder
militar pelas próximas décadas. Mas se você for para o meio, nas relações
econômicas entre os países, já existe uma balança de poder. Os Estados Unidos não
conseguem um acordo ou soluções antitrustes se a União Europeia atuar
coletivamente, e sem esse balanço e acordo, não é possível atingir o resultado
esperado. Por isso, nesta camada intermediária não é comum chamar as relações
econômicas internacionais de “Império Americano”. Mas se você for para a última
camada no que diz respeito a problemas entre fronteiras fora do controle de
governos, doenças contagiosas ou ainda terrorismo, ninguém está no comando. O
poder está igualmente divido e distribuído. O único jeito de lidar com esse tipo de
questões é através da cooperação entre os Estados. Por isso, nesta etapa da pirâmide
não se pode afirmar que existe uma hegemonia americana (NYE,2004).
De acordo com esta afirmação, é possível compreender que em muitos casos
possuir o hard power, não é o bastante. Especialmente, em meio a revolução da informação,
muitas questões vindas da parte baixa da pirâmide não conseguem uma resolução com o
poder militar, do alto. Por isso, se torna cada vez mais importante possuir outras formas de
poder,(NYE, 2011).
26
3.3 CULTURA COMO SOFT POWER
Nye considera que diplomacia cultural é o melhor exemplo do assim chamado soft
power. Para ele, a atratividade de uma determinada cultura, os ideais políticos e a substância
da política de um determinado país podem ser um substituto para as formas tradicionais de
poder (medidas militares, sanções econômicas).
Os teóricos da diplomacia cultural argumentam que hoje, mais do que nunca, a
cultura tem um papel vital a desempenhar nas relações internacionais. Isto deriva de valores
mais amplos, conectivos e humanos que a cultura tem: a cultura é o meio pelo qual chegamos
a compreender os outros. O intercâmbio cultural nos dá a oportunidade de apreciar pontos de
semelhança e, onde há diferenças, entender as motivações e da humanidade que lhes estão
subjacentes. Como a política de identidade exerce uma influência crescente nas trocas
nacionais e internacionais, estes atributos fazem da cultura um fórum crítico para a
negociação e um meio de troca na busca de soluções compartilhadas. O contato cultural
proporciona um fórum para uma política de construção de relacionamento extraoficial: ele
mantém abertos canais de negociação com países onde as ligações políticas estão em perigo, e
ajuda a recalibrar relações para a mudança dos tempos com potências emergentes como a
Índia e a China no cenário atual.
A diplomacia cultural também ganhou em importância com a mudança do mundo
a partir da bipolaridade da Guerra Fria para as incertezas do presente mundo multipolar.
A aproximação dos povos ocorre em sua forma mais rica e diversificada em
termos simbólicos por meio das manifestações culturais e é por essa razão que o debate
cultural tem sido cada vez mais valorizado pelos Estados. Nada parece ter mais a capacidade
de convencer – e isso é de relevante importância na mediação cultural de conflitos – do que a
cultura, que vai muito além de argumentos políticos ou econômicos. Como afirma o
diplomata brasileiro Edgar Teles Ribeiro, o poder político, a pujança econômica e a
superioridade militar intimidam, ao passo que a cultura seduz (RIBEIRO, 1989, p.26).
A cultura é um dos principais determinantes de como as pessoas percebem uns
aos outros e negociam suas diferenças. Oportunidades de contato global e troca estão se
proliferando como nunca antes, e por causa desses contatos, a própria cultura está mudando.
Não podemos mais pensar em culturas relativamente estáticas se apresentando umas às outras
para a compreensão e avaliação. Em vez disso, as culturas estão se encontrando, misturando e
transformando.
27
4 DIPLOMACIA CULTURAL
4.1 DEFINIÇÕES
Em um primeiro momento, é importante definir o significado do termo
“diplomacia”, que segundo Antonio Houaiss, é “ciência, arte e prática das relações
internacionais entre Estados”, ou ainda, “a condução dos negócios estrangeiros de uma nação,
seja diretamente por seus governantes, seja por seus representantes acreditados em outro país
ou órgão internacional”. O termo diplomacia pública foi definido pelo então Reitor Edmund
A. Gullion da Fletcher School of Law and Diplomacy, em 1965:
“Public diplomacy” deals with the influence of public attitudes on the formation and
execution of foreign policies. It encompasses dimensions of international relations
beyond traditional diplomacy; the cultivation by governments of public opinion in
other countries; the interaction of private groups and interests in one country with
those of another; the reporting of foreign affairs and its impact on policy;
communication between those whose job is communication, as between diplomats
and foreign correspondents; and the processes of intercultural communications
(GULLION, apud CULL, 2006, p. 1).
É importante destacar que há a distinção entre a diplomacia pública tradicional e a
nova diplomacia pública. A diplomacia pública tradicional seria o ato dos governos ao
falarem com o público no exterior, contemplando as iniciativas de informar, influenciar e
envolver os públicos em função dos objetivos nacionais e políticas externas, na qual a
definição de Fletcher se associa (SNOW, 2009, p. 6). Com relação a nova diplomacia pública,
Melissen (2005) argumenta que se trata de uma forma de diplomacia aberta que visa
influenciar a opinião pública em sociedades externas com ou sem o aval de seus governos, na
qual se insere a formação explícita de grupos não-oficiais dentro da esfera doméstica de um
Estado alvo, exemplos disso são os grupos da sociedade civil, os indivíduos influentes e
outras organizações não-governamentais.
Após a discussão dos conceitos de cultura, identidade e poder, é necessário aliá-
los a discussão sobre a diplomacia. A Diplomacia cultural, instrumento especifico de
utilização da cultura de um Estado em apoio das suas metas de política externa ou da
diplomacia, é frequentemente vista nos dias atuais como um subconjunto da prática de
diplomacia pública, a comunicação de um governo com o público estrangeiro, a fim de
influenciar e construir uma imagem positiva. No entanto, a diplomacia cultural tem o
potencial de contribuir mais efetivamente para os objetivos de política externa, para a
diplomacia, e para os objetivos dos governos nacionais.
28
Ao apresentar uma imagem nacional no exterior, a diplomacia cultural pode
superar a suspeita da audiência sobre as mensagens oficiais e serve para dar substância à
reputação nacional. Internamente, pode contribuir para a coesão social nacional, em especial
quando dirigida à grupos étnicos minoritários. A diplomacia cultural contribui para a "coesão
social", sendo um processo que auxilia a construção de valores comunitários compartilhados,
dando às pessoas um sentido de identidade e continuidade dentro das comunidades. Esta visão
dialoga com o conceito da identidade cultural apresentado no capítulo anterior, destacando as
interações dos grupos por meio das relações diplomáticas culturais que possuem como campo
potencial as infinitas diferenças culturais. A coesão social refere-se ao nível em que uma
sociedade é coerente, unida, e funcional, proporcionando um ambiente no qual seus cidadãos
possam se desenvolver, ou seja, esconde as diferenças internas a uma nação.
O cientista político norte-americano Dr. Milton C. Cummings oferece uma
definição da diplomacia cultural como:
a troca de ideias, informações, valores, sistemas, tradições, crenças e outros aspectos
da cultura, com a intenção de promover a compreensão mútua que também pode ser
mais uma via de mão única do que uma troca de duas vias, como quando uma nação
concentra os seus esforços para promover a língua nacional, explicando as suas
políticas e pontos de vista, ou "contar a sua história" para o resto do mundo
(CUMMINGS, 2003, p.1).
Podendo ser realizada por Estados, atores individuais ou instituições e grupos não
governamentais, a Diplomacia Cultural é mais facilmente descrita como o início ou a
facilitação do intercâmbio de ideias, valores, tradições e outros aspectos da cultura ou
identidade, muitas vezes promovendo os interesses nacionais, com o objetivo-fim de
melhorar as relações entre culturas díspares (INSTITUTO DE DIPLOMACIA CULTURAL,
2012).
Não mais relegada para a periferia da disciplina de Relações Internacionais, a
diplomacia cultural hoje é um campo inovador de pesquisa e se estabeleceu, com sucesso,
como ferramenta prática de disseminação de ideias e aspectos culturais e ao alcançar os
objetivos culturais, ela facilita, por via indireta, a realização de objetivos políticos, comerciais,
econômicos e quaisquer outros que a política externa do país se proponha. Embora o termo
"diplomacia cultural" só tenha sido recentemente criado, as práticas descritas pelo conceito
podem ser vistas ao longo da história e têm existido há séculos. Exploradores, viajantes,
comerciantes, professores e artistas podem ser considerados todos os exemplos vivos de
embaixadores informais ou primeiros diplomatas culturais (INSTITUTO DE DIPLOMACIA
CULTURAL, 2012).
29
4.2 O ESTADO E A DIPLOMACIA CULTURAL
Os fatores culturais têm sido cada vez mais importantes na determinação da
política externa dos Estados – junto aos físicos (posição geográfica, recursos naturais e
demografia) e estruturais (natureza e forma das instituições políticas e econômicas). Podem
ser descritos como fatores culturais “a cultura propriamente dita, a ideologia, as mentalidades
coletivas, a opinião pública, a personalidade dos responsáveis políticos e a estrutura de suas
percepções” (BRAILLARD E DJALILI, 1988, p.68). O sistema de valores compreendido pela
cultura serve como um poderoso aliado da política externa dos Estados, que pode gerar tanto a
aproximação como o conflito entre eles e auxilia o Estado em sua luta por influência e
prestígio no cenário internacional.
As Relações Internacionais se modificam e se ampliam a todo vapor no mundo de
hoje, com a fragmentação do sistema internacional e aumento das esferas e distribuição de
poder, criou-se uma demanda constante de intercâmbio econômico e cultural.
Esta análise considera que as trocas culturais internacionais não são um fenômeno
recente, mas sim uma ferramenta de poder contemporânea. Como relata o diplomata Edgar
Ribeiro (2007):
A maior parte das grandes culturas se formou por empréstimo de outras culturas, ou
por troca. A influência dos grandes filósofos, artistas e estadistas sempre atravessou
fronteiras. A Atenas de Péricles, a Universidade Medieval, as artes, obras literárias e
revoluções no campo do pensamento do século XIX constituem alguns dos
exemplos desse universalismo (RIBEIRO, 2007, p. 22).
Na verdade, qualquer pessoa que interage com diferentes culturas, (no passado ou
atualmente), facilita uma forma de intercâmbio cultural, que pode ocorrer em áreas como arte,
esportes, literatura, música, ciência, negócios e economia e além. Através da interação dos
povos, a troca de idioma, religião, ideias, artes e estruturas sociais têm melhorado
constantemente as relações entre grupos divergentes, retomando o conceito da dimensão
relacional da identidade, construída a partir dos contatos e trocas entre os indivíduos
(INSTITUTO DE DIPLOMACIA CULTURAL, 2012).
O Estado, porém, exerce papel importante em assegurar e mesmo facilitar a
aproximação internacional e o fluxo de ideias, mesmo que seja esta, uma característica natural
do homem. Principalmente no mundo contemporâneo, a rapidez dos meios de comunicação se
tornou uma importante ferramenta de disseminação de informação e mesmo, de diplomacia.
Sendo assim, procura-se, através do meio cultural, projetar os valores do Estado em questão.
A multipolaridade do mundo, e a consequente interdependência, tornaram comuns muitas das
30
questões e problemas de cada país, havendo assim, a transformação de questões nacionais em
questões internacionais. Buscando, principalmente, ressonância internacional, os Estados se
utilizam das relações culturais para atingir indivíduos, promover sua cultura e alcançar
objetivos políticos, econômicos ou comerciais (RIBEIRO, 2007).
O papel do Estado tem se modificado com a globalização que permeia as relações
culturais e internacionais. Antes detentor do monopólio e controle de informações, hoje o
Estado perdeu este poder diante do grande fluxo permitido pelo acesso horizontal da
sociedade às redes de comunicação, dificultando a diplomacia cultural praticada por este ator.
As relações culturais internacionais passam a deixar de ser prioritariamente reguladas pelos
Estados para passar a pertencer aos indivíduos e comunidades, tornando este um marco de
nossa época contemporânea. Este poder assumido pelos indivíduos e comunidades é difícil de
ser mensurado e extrapola o controle do Estado, retomando o conceito já visto de soft power.
De todo modo, os Estados continuam a desempenhar um papel primordial ao assegurar e
facilitar estes fluxos de trocas que os homens estabelecem entre si. Os Estados, cada vez mais,
estão em busca de alcançar vantagens com este canais espontâneos de comunicação para
conferir uma dimensão cultural às relações diplomáticas que mantêm entre si. Valendo-se
destas avenidas naturalmente abertas pelos homens, os Estados multiplicam suas interligações
culturais, e por meio delas, circulam ideias, impõem produtos e negociam alianças.
A importância das trocas culturais se dá pela capacidade de influência que
exercem: o cinema, as artes plásticas, a música, a publicidade, entre outros, são importantes
meios de disseminação da cultura de uma nação, podendo também, alterar costumes e hábitos
daqueles que atinge (RIBEIRO, 2007).
Para Edward Carr (2001, p.172-88), as ideologias também aparecem como forma
de poder político das nações, juntamente ao poder econômico e militar. Porém, as ideias só
ganham eficácia política quando defendidas pelo poder político nacional, o qual as agrupa ao
poder econômico e militar. Ele define em sua análise outra dimensão para o fator cultural:
o fato de a propaganda nacional, em toda parte, se disfarçar tão astutamente em
ideologias de caráter aparentemente internacional prova a existência de um estoque
internacional de ideias comuns, por mais limitado ou franco que seja, ao qual pode
se apelar e de uma crença em que estas ideias comuns se colocam, de algum modo,
numa escala de valores, acima dos interesses nacionais. Esse estoque de ideias
comuns é o que entendemos por moral internacional (ibid, p.188).
Diferente de Edward Carr, Jans Morgenthau utiliza o termo cultura ao invés de
ideologia, defendendo que o “imperialismo cultural” é mais sutil e efetivo do que o
“imperialismo militar” e o “econômico”, pois busca “o controle das mentes dos homens
enquanto ferramenta necessária para a modificação das relações de poder entre duas nações” e
31
“a substituição de uma cultura por outra” (1992, p.83-4). Mesmo dando relevância a força da
cultura como antiga forma de imperialismo, Morgenthau não acredita no papel da UNESCO
na busca da cooperação internacional e da paz, pois “o problema da comunidade mundial é
moral e politico, e não intelectual e estético” (ibid., p.596). Vale notar, portanto, como os
autores realistas enxergam o tema da cultura nas teorias de Relações Internacionais.
A diplomacia cultural tem sido praticada há bastante tempo por países
desenvolvidos como França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, o que ilustra sua
importância na construção da imagem do próprio país e ferramenta de poder e disseminação
da cultura local, tendo sido incorporada ao universo da política externa. O panorama destes
países mostra a participação intensa das chancelarias nas decisões relacionadas às políticas
culturais e a partir do término da Segunda Guerra Mundial, essa participação se tornou
constante, independente das flutuações políticas que possam ter passado os governos em
questão, bem como os investimentos realizados no setor cultural (RIBEIRO, 2007).
Os governos dos países em desenvolvimento, em consequência de sua
independência tardia e consolidação posterior do Estado-nação, têm notado a importância
deste mecanismo. A diplomacia cultural é uma prática diplomática dos governos -
principalmente os governos individuais, mas também grupos de governos como a União
Europeia, e governo subnacionais. A este respeito, o argumento de Fox (1999) - que o termo
diplomacia cultural implica o envolvimento do governo a qualquer nível com o objetivo de
projetar a imagem do país no exterior - é persuasivo. A diplomacia Cultural é realizada em
apoio às metas de política externa de um governo ou de sua diplomacia, ou ambos, porém isto
não significa que sua ação esteja limitada somente a práticas instrumentalizadas, como
apresentado no início do capítulo. Devido à sua ligação à política externa ou a diplomacia, a
diplomacia cultural geralmente envolve direta ou indiretamente o Ministério das Relações
Exteriores (FOX, 1999).
Tradicionalmente, os governos têm dito que se comprometem com a diplomacia
cultural para atingir fins idealistas - para desenvolver a compreensão mútua, combater o
etnocentrismo e os estereótipos, e evitar conflitos. Estes objetivos idealistas frequentemente
incluem a ideia de um relacionamento de dois sentidos, baseado na troca mútua, embora na
prática, a diplomacia cultural tende a não ser tão recíproca quanto os seus praticantes desejam
que ela seja (BOUND, K.; BRIGGS, R.; HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).
Os objetivos funcionais da diplomacia cultural também incluem o avanço do
comércio, interesses políticos, diplomáticos e econômicos, o desenvolvimento de relações
bilaterais em todas as áreas, incluindo o comércio, elementos econômicos, políticos, culturais
32
e diplomáticos, a conexão com grupos no exterior que são importantes para o praticante da
diplomacia cultural (como diásporas), e auxiliando a manter relações bilaterais em tempos de
tensão. A diplomacia cultural também pode alavancar os interesses de outros países, não
apenas os interesses do país que está realizando a diplomacia (BOUND, K.; BRIGGS, R.;
HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).
A diplomacia cultural quando realizada por meio de uma entidade independente é
mais suscetível a incorporar aspectos da cultura de um Estado opostos, ou críticos, à um
governo, suas políticas ou ao seu desempenho. O British Council é um exemplo bem
conhecido deste tipo de diplomacia, priorizando à sua independência e dando menos valor à
contribuição para os grandes objetivos de política externa do governo do Reino Unido. O
British Council consegue ter uma relação mais próxima com a diplomacia do Reino Unido e
as suas missões diplomáticas, sem perder sua independência (BOUND, K.; BRIGGS, R.;
HOLDEN, J.; JONES, S., 2007).
Criado em 1934, o British Council é um órgão de grande importância na difusão
da cultura e valores britânicos pelo mundo. Focando na cooperação cultural entre países e no
apoio a instituições britânicas pelo globo, o volume de negócios total realizado pelo órgão em
2010-11 foi de £ 693.000.000 (BRITISH COUNCIL, 2012), demonstrando que a ligação
entre projeção cultural e sucesso comercial e diplomático. Dentre as suas principais atuações,
exemplificando o papel da diplomacia cultural, o British Council exerceu função importante,
dentro da Europa, nos anos 1950, com a criação da Comissão de Relações Soviéticas (Soviet
Relations Committee), para desenvolver as relações culturais entre o Reino Unido e a União
Soviética no período da Guerra Fria. Essa instituição privada com apoio público possibilita a
manutenção de uma continuidade e imparcialidade em relação às políticas do Estado
britânico, seja no ensino de inglês, seja na doação de livros e treinamento de pessoal,
passando a ser uma marca da diplomacia cultural inglesa, dando ênfase na educação da língua
inglesa como segunda língua estrangeira e na promoção da excelência da formação acadêmica
inglesa (BRITISH COUNCIL, 2012).
4.3 A EXPERIÊNCIA FRANCESA
Também pioneira neste setor, a França vem desenvolvendo sua política cultural
desde 1909, quando foi criado um órgão para controlar as ações culturais do país no exterior:
a Oficina de Escolas e Obras francesas no estrangeiro. Atualmente, a coordenação deste setor
33
fica a cargo da Direção Geral de Cooperação Internacional e Desenvolvimento, que controla
os Ministérios interessados e as iniciativas públicas e privadas. São importantes atuantes, a
Associação Francesa de Ação Artística, Aliança Francesa, Rádio França Internacional,
Edufrance (MINISTÈRE DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES, 2007).
Quando Raymond Aron (1984, p.58 e 101) diz que o fator cultural é utilizado com
frequência como meio de potência, ele utiliza a França como exemplo. Ele elenca os
diplomatas e os intelectuais, “os soldados da paz”, como os grandes atores dessa política. Os
diplomatas, para Aron, buscam sempre atrair aliados ou reduzir o número de inimigos,
enquanto os intelectuais são os construtores de ligações mais profundas, motivados pela
defesa da grandiosidade e da glória francesa (ARON, 1984). Esta ideia se aproxima com os
conceitos pré-românticos alemães apresentados anteriormente de Herder em sua concepção da
luta colonialista das potências mundiais.
A França é vista por vários autores como pioneira na instrumentalização de sua
cultura nacional a serviço da política externa. A política linguística do país remonta aos
tempos da monarquia com os subsídios de Luís XIII (1601- 1643) e Luís XIV (1638-1715)
oferecidos às entidades religiosas para promover a cultura e a língua em suas missões pelo
mundo e mais recentemente no suporte que é oferecido à Aliança Francesa desde sua criação
em 1883 (RIBEIRO, 1989). Este pioneirismo marca a promoção da língua do país no exterior
sem que estivesse vinculada ao colonialismo no final do século XIX.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) francês foi criado em 1910,
constituindo uma divisão para a promoção da língua e cultura francesas no exterior. De
acordo com Telles Ribeiro (1989, p. 54), após a Primeira Guerra Mundial, 36% do orçamento
do MNE estava direcionada a este fim e em 1987 alcançou a marca de 50%. Segundo a
Embaixada da França em Brasília (2012):
A França dispõe de 144 estabelecimentos culturais franceses no exterior, instalados
em 90 países, e de uma rede de 283 Alianças Francesas. A política de promoção da
língua francesa atinge 110 milhões de estudantes em 130 países e conta com um
corpo docente de 850.000 professores. A Agência para o Ensino do Francês no
Exterior coordena as atividades dos 252 estabelecimentos escolares franceses no
mundo. (AMBAFRANCE, 2012)
O governo francês realizou transformações na diplomacia cultural do país,
modificando o modelo francês, que estava em crise desde o início do século XXI, tendo como
objetivo principal a irradiação cultural da França. Mais de um século atrás, o país crente nas
virtudes do diálogo e dos intercâmbios culturais e no valor da diversidade e solidariedade,
estabeleceu uma vasta rede cultural no exterior formada por institutos, centros culturais e
34
alianças francesas. Mesmo com as mudanças que aconteceram durante o século XX, esta
ampla e diversificada rede se manteve atuante e congruente com as necessidades da
diplomacia cultural do país. Porém, na primeira década do século XXI, o modelo passou a
apresentar dificuldades em continuar atingindo as suas metas. Neste momento, a França
deveria incrementar seu poder e influência internacional por meio do estímulo do expertise
internacional nas áreas tecnológicas, gerenciais, administrativas e culturais.
A crise revelou um esgotamento do modelo tradicional de diplomacia cultural e a
necessidade de modernizá-la. Para combater uma ausência de estratégia e perda de sentido e
identidade, a França decidiu adotar alterações em seu modelo no campo cultural, dando maior
participação do Ministério da Cultura em estabelecer a nova estratégia internacional,
rompendo barreira de atuação somente no meio nacional, desconectado da rede de instituições
culturais no exterior.
Um das iniciativas do governo francês foi o programa das temporadas culturais
estrangeiras, adotado em 1985 com o Ano da Índia, e em especial a partir da década de 90
quando este passou a fazer parte do cotidiano da política de intercâmbio cultural francês. Foi
abandonada a política com foco na difusão da língua em benefício de uma nova voltada para o
diálogo das culturas, cooperação cultural, para o reconhecimento da interdependência das
culturas, para a necessidade de uma verdadeira reciprocidade e atenção às demandas
expressas por seus parceiros. O recebimento das culturas estrangeiras pôde ser concretizado
com as temporadas culturais. De acordo com Ruy Pacheco de Azevedo Amaral (2008, p.29),
o princípio das temporadas culturais baseia-se sobre alguns pilares:
Apóia-se na crença de que promover culturas estrangeiras na França, não
apenas facilitando o acesso mas prevendo meios de apoio, é compromisso
que deve ser perseguido em nome da luta em defesa da diversidade cultural e
fator importante para criar nos países concernidos clima propício à difusão
da cultura francesa. Funda-se, também, no princípio de que organizar
manifestações culturais concebidas com base na reciprocidade –mediante a
qual o apoio humano e financeiro de um dado país na organização de uma
grande manifestação francesa, em seu território, tenha como contrapartida o
compromisso francês de semelhante engajamento na realização de uma
temporada voltada para sua cultura, na França – promove substancial
redução de custos, ao propiciar seu compartilhamento com instituições
locais, e a otimização da eficiência, ao envolver em sua organização equipes
inseridas na vida cultural do país onde se desenrola a manifestação e,
portanto, melhor habilitadas a auscultar seus anseios e a medir os riscos
implícitos em qualquer iniciativa cultural. Baseia-se, igualmente, na ideia de
que difusão cultural eficiente é difusão cultural visível, e que, com meios
financeiros limitados, somente se pode obter visibilidade mediante
concentração de eventos concomitantes e das sinergias decorrentes.
Fundamenta-se, finalmente, na constatação de que grande visibilidade é
indispensável para atrair os meios empresariais e outras fontes de patrocínio.
35
Com o sucesso da ideia inicial de apresentar culturas estrangeiras na França, com
objetivo de fomentar o intercâmbio entre operadores culturais e despertar nos países
convidados o interesse pela cultura francesa e ambiente receptivo para integrá-la, este
instrumento passou a ser utilizado de maneira crescente pela França em suas relações
externas, como exemplo do Ano da França no Brasil em 2009, onde foi possível notar as
mudanças na diplomacia cultural francesa. Antes, o Estado era o responsável exclusivo da
cultura, tanto no âmbito nacional como internacional por meio do Ministério da Cultura, o que
atualmente não funciona desta forma. Com a criação da FranceCultures e do CampusFrance,
dando incentivo à cultura, ensino superior e o mecenato de empresas francesas, a diplomacia
cultural se transformou por meio de novas formas de disseminar a cultura francesa no exterior
e o aumento do número de funcionários e de empresas francesas e dos países sede nos
programas.
A França deseja com esse projeto retomar a proeminência cultural desfrutada no
decorrer do século XX. A CultureFrance ajuda a aumentar o número das escolas, alianças,
centros e institutos franceses, além de cumprir com as novas atribuições dadas pela sociedade
francesa. Entre seus papéis destacam-se: acompanhar a criação cultural francesa além das
fronteiras, dialogar com as culturas do mundo e desenvolver as expertises e redes culturais e
de cooperação no exterior (CULTUREFRANCE, 2010).
É possível afirmar que a França é um país altamente consagrado no que tange a
difusão cultural internacional e que um dos que mais dedicam esforços humanos e financeiros
para esta atividade, além do tema ser constantemente tema de discussão. Jacques Rigaud
(1938, p. 34) comenta o assunto: “A dimensão cultural de nossa presença no mundo não é
elemento secundário ou decorativo, mas o fator essencial, substancial. Sem ela, a França se
apresenta mutilada.” Rigaud (1980, p.24), ex-ministro da Cultura francês, fez uma proposta de
política de difusão cultural francesa que se baseava em nove objetivos, que foram
incorporados ao passar dos anos à ação da França e servem para a discussão de qualquer
política cultural internacional:
1) divulgar a imagem de um país de alta tecnologia e cultura humanística, detentor
de uma concepção pacífica e não dominadora das relações internacionais;
2) propor o exemplo de uma nação que assume plenamente as exigências de seu
desenvolvimento, mas permanece fiel à sua própria personalidade;
3) estimular os agentes culturais franceses a se colocar em posição de diálogo e
intercâmbio com o exterior;
4) dar, dentro desse espírito de intercâmbio, prioridade à expressão do pensamento
francês, sob todas as suas formas e em todas as áreas. A promoção da língua, por si
só altamente desejável, não deve limitar as outras formas de expressão do
pensamento francês;
5) contribuir para o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, num espírito de
autêntica cooperação;
36
6) assegurar o dinamismo da presença francesa, sem se deixar levar por modelos
antiquados, levando em conta as particularidades dos outros países;
7) estabelecer um vínculo entre a presença cultural no exterior e a capacidade de
acolher manifestações de outros países, dentro de uma concepção da França como
ponto de encontro mundial;
8) permitir aos franceses no exterior uma participação efetiva na vida cultural
francesa;
9) levando em conta a vocação mundial da França, nas suas dimensões política,
econômica e cultural, assegurar uma presença cultural nas diferentes regiões e países
do mundo.
Estes objetivos ainda se mostram atuais na atuação francesa de diplomacia
cultural, a qual deseja projeta uma imagem da França de país moderno e criativo, que não está
preso a seu passado glorioso. A diplomacia cultural francesa teve dificuldade em se adaptar às
grandes mudanças que aconteceram no âmbito das relações internacionais desde o final do
século XX. Já não possui o domínio no mundo de distribuir a sua língua, seus códigos e
estilos. O Estado foi obrigado a reduzir significativamente o orçamento destinado à cultura
devido ao cenário de crise econômica com desemprego, dívida externa, entre outros. Diante
deste novo ambiente, foi necessário redesenhar a diplomacia cultural do país. A parceria com
empresas privadas foi intensificada respeitando o modelo “público-privado”. Os papéis foram
redistribuídos e ganharam destaque os interesses franceses nos países hóspedes, a
contribuição de associações profissionais, as ONGs, e no plano multilateral assumiu uma
liderança, juntamente com o Canadá, para promover a aprovação da Convenção sobre
diversidade cultural (MONTIEL, 2009).
O Brasil também teve que ajustar a sua diplomacia cultural ao novo cenário
internacional, visto ao aumento da inserção do país no ambiente externo aliado ao
desenvolvimento econômico. Ao buscar uma inserção externa mais proativa, o país precisou
multiplicar o número de mecanismos que contribuem para o atingimento das metas da política
externa. A grande mudança ocorreu com a estabilização da democracia no país, após o
autoritarismo durante as ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e dos governos militares
(1964-1985), o qual se reflete nas intervenções realizadas no campo cultural e que tinham
como objetivo instrumentalizar a cultura, ou seja, domesticar seu caráter critico, submetendo
aos interesses autoritários, aproveitando-se como fator de legitimação das ditaduras e como
meio de conformação de um imaginário de nacionalidade. A busca por superar as três
principais dificuldades enfrentadas pelo Ministério da Cultura e que por consequência
impactavam as ações do MRE, que eram o autoritarismo, a ausência e a instabilidade,
contribuíram para reformulação das políticas culturais a partir do governo Fernando Henrique
Cardoso. O processo observado de promoção comercial contribuiu para a abertura e
37
universalização da diplomacia brasileira, a qual passou a dar maior destaque e distribuir maior
investimento às ações de cunho cultural, porém este campo ainda apresenta uma atuação
modesta quando comparado a crescente importância que o Brasil passou a desempenhar no
cenário regional e internacional.
O ano do Brasil na França é uma demonstração da iniciativa francesa na
modernização de sua diplomacia cultura, tendo este exemplo de realização do ano do país sido
incorporado como instrumento de diplomacia cultural, o qual é percebido por posteriores
realização como o ano do Brasil em Portugal em 2012. Este evento fez parte do âmbito do
programa de temporadas culturais estrangeiras, desenvolvido pelo Governo francês desde
1985, tendo contado com a disposição do governo em copatrocionar a realização do mesmo,
atitude esta que reflete o amadurecimento no Brasil quanto ao importante papel
desempenhado pela difusão cultural como ferramenta valiosa para expandir a presença do país
no ambiente internacional.
4.4 O PODER DA DIPLOMACIA CULTURAL
O papel do “soft power” como uma forma de diplomacia cultural torna-se
significativo, traduzindo uma nova configuração do sistema internacional que pode
influenciar a importância deste tipo de diplomacia , que pode ganhar relevância em cenários
opostos como o atual mundo globalizado e no mundo bipolar característico da Guerra Fria
(URSS e EUA). Nesta base, a diplomacia cultural não é secundária para a diplomacia política
ou econômica, mas funciona como um componente intrínseco e necessário do mesmo.
Não obstante, a diplomacia pública incorpora um conjunto mais amplo de
atividades que a diplomacia cultural, principalmente aqueles meios governamentais e
atividades de relações públicas destinadas a um público estrangeiro, a fim de explicar um
curso de ação, ou apresentar um caso. É claro que é possível, com base em uma definição
suficientemente ampla de cultura, incluir informações do governo, mídia e relações públicas
no âmbito da diplomacia cultural, mas a sua ligação com aspectos da cultura de um Estado
pode ser razoavelmente considerada como demasiado tênue para constituir diplomacia
cultural.
Tal como a imagem tornou-se um aspecto importante da diplomacia pública, ela
também ganhou importância na diplomacia cultural. Nos últimos anos tem havido uma maior
38
ênfase no uso de diplomacia cultural para apresentar uma imagem nacional do Estado: não
apenas mostrando aspectos da face cultural de um estado para o mundo, ou, como Mitchell
coloca, “desfraldando as realizações culturais de uma nação”, mas uma apresentação mais
articulada, trabalhada e estratégica da imagem nacional, ou seja, uma imagem “editada”. A
nova ênfase sobre a imagem nacional no conceito de diplomacia cultural não só incide sobre a
diferença cultural e a vitalidade de um Estado, mas muitas vezes também sob seus resultados
econômicos e tecnológicos, o que se relaciona com a ideia de poder de representação
disfrutada pelos Estados. (MITCHELL, 1986).
A maior ênfase da diplomacia cultural na imagem nacional, particularmente
mostrando a moderna face econômica de um país, reflete o impacto da globalização sobre a
maneira pela qual os países se engajam internacionalmente. Os países devem competir - ou
pelo menos sentem como se devessem - para atrair os investimentos estrangeiros e imigrantes
qualificados, turistas, estudantes e outros. Os países passaram a acreditar que suas chances de
competir com sucesso são reforçadas por mostrar a sua imagem nacional para aqueles que
investem, visitam ou estudam, e esta apresentação no exterior de uma imagem nacional é
agora frequentemente administrada pelos governos no âmbito de uma marca nacional. Porém
também pode ser interessante aos países mostrar a pobreza para atrair ajuda humanitária
internacional (ANHOLT, 2008).
A diplomacia cultural aparentemente pode fornecer um poderoso conjunto de
benefícios para um governo e um país. Ela pode aprimorar o perfil de um Estado, antecipar os
interesses fundamentais, conectar com o público de massa e elite, e da diáspora, fornecer
poderosas oportunidades para as minorias raciais, grupos religiosos e grupos linguísticos para
mostrar sua cultura, e pode beneficiar os alunos e outros que estudam no exterior. Ela tem o
potencial para se tornar uma ferramenta mais valiosa para os estados no futuro, e um
componente mais valorizado e significativo da prática de diplomacia pública. Se a
contribuição da diplomacia cultural para a política externa de um governo e sua diplomacia
deve ser plenamente realizada, no entanto, os governos precisam entender melhor as
possibilidades desta prática, fornecer mais fundos, e pensar sobre a melhor de aplicá-la
(MELISSEN, 2005).
O potencial da diplomacia cultural baseia-se em sua intersecção com a cultura
nacional, valores nacionais, a identidade nacional. A cultura pode mostrar a personalidade de
um Estado de uma forma que se conecta com as pessoas e beneficia tanto o praticante como o
receptor. A imagem nacional apresentada no exterior por meio da diplomacia cultural não
precisa ser um conjunto de fatos e números, ou postais, ou batidas musicais, ou um slogan de
39
promoção turística. O poder de uma apresentação cultural, ou um filme, ou uma bolsa de
estudos4 não deve ser subestimado. Em um mundo moderno em que as mensagens dos
Estados divulgadas por meio da diplomacia pública às vezes são vistas com suspeita, e os
valores declarados e ideias de Estado frequentemente apresentam pouca semelhança com as
ações de política externa do Estado, e a diplomacia cultural pode ajudar a superar a lacuna
(MELISSEN, 2005).
Para todo Estado, ser reconhecido como legítimo pelos outros Estados é vital. Esta
legitimação vem de uma série de fatores, inclusive do mandato da população nacional para
conduzir relacionamentos dentro da arena internacional. A fim de fazer isso com sucesso, um
Estado deve ter uma noção do que ele deseja retratar para o mundo exterior, e o que ele deseja
ganhar com a interação. Na época pré-moderna e moderna, as relações entre os Estados foram
construídas por encontrar um terreno comum e estabeleciam relacionamentos de longo prazo.
Em épocas de guerra vividas pelos Estados, eram firmadas alianças duradoras com objetivo
de conquistar a vitória perante outras nações. Nos últimos anos pós-Guerra Fria, isso mudou e
metas mais curtas estão sendo procuradas pelas nações para cumprir os propósitos
econômicos. O cenário internacional se tornou multipolarizado, com diferentes centros de
poder e as nações têm se unido umas às outras para atingimento de objetivos específicos, não
sendo necessária mais a fidelidade à um só Estado ou bloco em diferentes tópicos, como era
visto na era bipolar. Os Estados se aliam em atividades econômicas, políticas e sociais, podem
transitar em diferente grupos de representação e acordos internacionais.
Uma das coisas que um Estado deve ser capaz de fazer se for para ser considerado
como tal é ter a autoridade e a capacidade de conduzir as relações internacionais com outros
Estados (EVANS, 1998, p. 512). Em geral, porque os outros atributos de soberania (uma
população permanente, um território definido, um governo capaz de manter um controle
efetivo sobre seu território) podem ser facilmente realizadas por Estados em diferentes graus,
a capacidade de interagir com outros Estados e ser reconhecido por eles como um ator
legítimo é um dos fatores mais importantes para ser visto como um Estado (EVANS, 1998, pp
4 Retrato disso na diplomacia cultural brasileira é o programa Ciências sem Fronteiras: um programa que busca
promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da
competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de esforço
conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por
meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de
Ensino Tecnológico do MEC. O projeto prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover
intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de
manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. Além disso, busca
atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores
brasileiros nas áreas prioritárias definidas no Programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de
empresas recebam treinamento especializado no exterior (CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS, 2012).
40
512-13). Isto dá grande importância para a diplomacia como ferramenta para os Estados
atingirem seus objetivos e cumprirem suas obrigações. A diplomacia cultural é uma parte
importante dessa diplomacia, pois permite que os estados apresentem sua cultura
internacionalmente e a utilizem para construir e manter relacionamentos que serão de valor.
Ao estabelecer a legitimidade tanto no âmbito nacional e internacional (apoio
público para o governo, bem como o apoio da comunidade internacional) com o objetivo final
de reduzir os riscos globais e aumentar a segurança, uma estratégia multi-nível, tendo ciência
de que estes níveis não são estáticos, definida como um conceito explicativo da superposição
de diferentes jurisdições políticas (Hooghe and Marks 2001) é uma necessidade absoluta. No
caso brasileiro, por exemplo, o país lida com cinco níveis distintos para estabelecimento e
conciliação entre a política interna e externa do governo: global, hemisférico, regional (ou
seja, a América Latina), "sul-regional" (ou seja a América do Sul) e sub-regional (ou seja, o
Mercosul). Apesar de sua importância vital, o uso de diplomacia cultural para enfrentar os
riscos globais permanece largamente subutilizado. Em muitos aspectos, a aplicação de
práticas de diplomacia cultural pode complementar as outras formas mais tradicionais de
aumentar a segurança (medidas militares ou o acesso maior à inteligência).
O mundo pós- moderno é caracterizado pelas migrações em massa e movimentos
e reivindicações concorrentes à lealdade nacional. Uma vasta gama de etnias e raças agora
com mais frequência se esforça para viver junta sob uma identidade comum, mantendo a sua
particularidade cultural e linguística. Em tais circunstâncias, todas as ferramentas possíveis
para ajudar a causa da coesão e inclusão social, e do reconhecimento da diversidade cultural,
devem ser usadas. A diplomacia cultural pode fazer isso: os cidadãos de um estado podem se
orgulhar do reconhecimento conferido ao Estado por meio de realizações culturais
internacionais, conquistas de todos os membros da sociedade (MELISSEN, 2006).
Sobre o soft Power, é necessário reconhecer que o nível em que a diplomacia
cultural é praticado pode ter uma influência sobre sua qualidade e integridade. Os governos
nacionais através de suas ações têm o potencial para marginalizar algumas culturas na
realização de diplomacia cultural em nome dos cidadãos nacionais, o que remete às próprias
definições de cultura previamente discutidas neste trabalho. Além disso, as decisões que se
seguem a partir de diplomacia cultural são muitas vezes responsabilidade de um indivíduo ou
de uma elite limitada cujos valores e crenças entram em jogo durante o processo de decisão. A
participação da sociedade civil, dos setores interessados, seria uma forma de lidar com estas
limitações, permitindo uma desconcentração do poder de atuação da diplomacia cultural de
alguns atores.
41
Devido ao trabalho cultural constituir uma solução de longo prazo, difusa e de
difícil mensuração para um problema urgente em uma época de soluções rápidas, o conceito
de diplomacia cultural - mais amplamente definido como a propagação da cultura e os ideais
de mundo - tende a receber pouca atenção. Além disso, a maior parte do conteúdo cultural é
transmitido pelo setor privado de filmes, gravação e indústrias de radiodifusão, funcionando
para além da esfera dos objetivos da política oficial, ilustrando que a diplomacia cultural não
se limita apenas à ação do Estado. No entanto, qualquer política significativa de diplomacia
cultural deve levar em conta o impacto considerável de setor privado de produtos culturais -
como filmes, música e televisão - sobre os sentimentos internacionais em direção ao país.
Desta forma, há o risco da diplomacia cultural envolver interesses econômicos das indústrias
culturais, influenciando a imagem que será transmitida no cenário internacional.
No caso do Ano do Brasil na França, não houve um favorecimento das indústrias,
a ideia central do evento foi a divulgação do Brasil sob o aspecto da diversidade. Vale lembrar
que, por conta da amplitude do evento, as empresas privadas que patrocinaram por meio da
Lei Rouanet atingiram uma valiosa exposição de sua marca, visto que os projetos escolhidos
pelas mesmas foram aqueles que preenchiam seus objetivos de imagem e que iriam contribuir
indiretamente para movimentação econômica, com a venda de produtos e novos negócios
advindos da parceria entre Brasil e França. O interesse econômico surge como uma
consequência do sucesso do evento, que posteriormente irá beneficiar as empresas que dele
participaram.
Os patrocínios empresariais se voltaram mais facilmente para as exposições do
que para outros tipos de manifestações culturais. De um total de 16 milhões e 500 mil reais
necessários para realizar 104 projetos, 13 milhões e 500 mil foram provenientes de
patrocínios, mais de 80% do total (ANO DO BRASIL NA FRANÇA, 2005). As exposições
ganharam destaque devido a maior antecedência de organização, permitindo maior tempo de
captação de recursos, além do material de divulgação e subprodutos são mais atrativos ao
público, como catálogos, além da oportunidade de se realizarem eventos especiais para os
convidados antes ou depois da inauguração. O Ministério da Cultura foi responsável pelo
financiamento da parte brasileira do evento, sendo a contribuição financeira do Itamaraty para
as manifestações culturais apenas simbólicas.
Ao analisar o financiamento do Ano do Brasil na França, percebe-se que é viável
a atração de importantes patrocínios empresariais para financiar manifestações culturais no
exterior. Para isso, é essencial o cumprimento de duas condições, que são: garantir
visibilidade e repercussão na imprensa e a percepção dos meios empresariais de que a ação é
42
prioritária para o Governo. No que se trata da difusão cultural internacional, em decorrência
da distância entre o público consumidor e o local onde se realizam as manifestações, o
patrocínio torna-se uma operação de marketing fora do comum.
Enquanto muitos lamentam o declínio dos eventos patrocinados pelo Estado de
intercâmbio artístico, a globalização e a mudança na tecnologia de comunicações pode ter
mudado de maneira irreversível o panorama da diplomacia cultural, e podem explicar o
crescente domínio do setor privado nesta área. A velocidade e facilidade de comunicação
global, bem como o desenvolvimento político, talvez tenham feito as pessoas mais céticas em
relação a uma comunicação patrocinada pelo Estado, porque as pessoas não são mais
dependentes de governos para obter informações. Enfrentamos uma situação em que a
mudança no equilíbrio entre as mensagens patrocinadas pelo Estado e trocas de informações
privadas estão tendo um efeito sem precedentes em programas culturais.
43
5 DIPLOMACIA CULTURAL NO CONTEXTO BRASILEIRO
O Brasil vive um momento de prosperidade econômica e estabilidade, com alta
perspectiva de crescimento para se tornar uma das cinco maiores potências do mundo. O país
tem recebido grande volume de investimento estrangeiro e é uma aposta para as empresas
tendo em vista seu potencial mercado consumidor. Contudo, não é possível limitar a visão das
relações internacionais do país aos aspectos político-econômicos. O campo da diplomacia
cultural apresenta uma ótima oportunidade de desenvolver o diálogo com as culturas de outros
países, fortalecendo o processo de integração e troca de conhecimento entre as sociedades.
Cultivar o aspecto cultural de sua nação e promovê-lo junto aos países de todo o continente é
uma forma de construir vínculos de cooperação e confianças entre seus povos, o que será
benéfico também para as relações comerciais (CAMPOS, 2007).
Ao ampliar o sentido dos objetivos de uma política externa, a cultura auxilia a
compreensão das diferenças culturais que permeiam o mosaico internacional. Respeitar e
entender a diversidade cultural são habilidades essenciais para lidar com a relação cultural
internacional e não é raro governos perceberem que isso constitui uma das funções essenciais
da diplomacia, como relata um representante do corpo diplomático brasileiro:
a diplomacia cultural pode desempenhar papel de considerável utilidade, trazendo
uma contribuição decisiva para a consecução de todas as metas de nossa política
externa. O trabalho cultural preenche uma função aglutinadora, que nenhum outro
componente de nosso instrumental diplomático, tomado isoladamente ou em
conjunto, poderia preencher (RIBEIRO, 2011, p.46).
Esta visão de diplomacia cultural tem se apresentado nos discursos políticos,
como na citação do Presidente Lula na abertura da 4ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul em
2003:
A cultura é, sem dúvida, um elo imprescindível de aproximação humana e espiritual.
Nenhum processo de integração pode prescindir do engajamento da população. Para
caminharmos de mãos dadas [na região], é preciso que nos conheçamos melhor. As
artes são as mais belas janelas sobre a alma do ser humano e o seu contexto social. É
pela mistura única de razão e emoção que a arte elimina as barreiras e as defesas.
(...) Não podemos nos esquecer (...) da dimensão econômica do evento artístico. O
comércio internacional de bens culturais movimenta hoje cerca de US$ 2 trilhões
por ano. Mas é um comércio desigual. Segundo a UNESCO, um grupo de cinco
países é responsável por mais de 50% do intercâmbio internacional de bens
culturais. Não esqueçamos que a cultura é também atividade econômica, geradora de
emprego e riqueza (REPERTÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA: POSIÇÕES DO
BRASIL, Instituto de Diplomacia Cultural, 2007).
A cultura e a produção cultural também são propulsores para geração de renda e
emprego, inclusão social, de cidadania, de crescimento individual e coletivo, e de inserção
soberana no processo de globalização. Desta forma, elas devem estar presentes no cenário de
44
negociações econômicas e políticas, visto que seu impacto ocorre tanto no ambiente interno
dos países como nas relações internacionais. O Brasil não está isolado no campo cultural, já
que compartilha com outros países costumes, valores e tradições, que contribuem para
aproximá-lo de outros povos, vizinhos ou não, o que pode servir para a promoção da cultura
em conjunto, fortalecendo as relações multilaterais.
Ao estudar o conceito de diplomacia cultural no que tange ao governo brasileiro, é
necessário analisar os principais órgãos envolvidos na disseminação da cultura brasileira
frente a outras nações, utilizando-a como ferramenta estratégica para os objetivos de política
externa do país.
Voltando um pouco no tempo, destaca-se a política cultural do governo Getúlio
Vargas que, a partir da década de 1930, cria estruturas para assumir este papel, como o
Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1937. Na visão de Miceli
(2001, p. 359), foi:
[...] um capítulo da história intelectual e institucional da geração modernista, um
passo decisivo da intervenção governamental no âmbito da cultura e o lance
acertado de um regime autoritário empenhado em construir uma “identidade
nacional” iluminista no trópico dependente.
Na época do regime militar, foram criados a Embrafilme, em 1969, o
Departamento de Assuntos Culturais (DAC), em 1972 e o Programa de Ação Cultural (PAC),
em 1973, como forma de incentivo a cultura. Em 1975, uma série de iniciativas foi posta em
prática pelo governo, como o Plano Nacional de Cultura (PNC), que posteriormente iriam
contribuir para a criação do Ministério da Cultura (MinC) e da Fundação Nacional de Artes
(Funarte). Esta última, criada em 1975, é responsável, no âmbito do Governo Federal, pelo
desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança
e ao circo. Os principais objetivos da instituição, vinculada ao Ministério da Cultura, são o
incentivo à produção e à capacitação de artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a
preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil (FUNARTE, 2012).
Para cumprir essa missão, a Funarte concede bolsas e prêmios, mantém programas de
circulação de artistas e bens culturais, promove oficinas, publica livros, recupera e
disponibiliza acervos, provê consultoria técnica e apoia eventos culturais em todos os estados
brasileiros e no exterior. Além de manter espaços culturais no Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais e Distrito Federal, a Funarte disponibiliza parte de seu acervo gratuitamente na
internet.
A política externa de Getúlio Vargas tinha como objetivo acelerar o
desenvolvimento da indústria nacional, utilizando de jogo duplo com os Estados Unidos e
45
Alemanha na Segunda Guerra Mundial para conseguir os benefícios econômicos. Os
americanos confiaram na necessidade estratégica do Brasil e concederam o sonhado apoio
econômico em troca do apoio do Brasil aos aliados. Na década de 1960, o Brasil defendeu
uma política externa independente, com atuação caracterizada como “neutralismo
estratégico”, tendo sucesso com Jânio Quadros, porém depois foi uma das causas da
desestabilização do governo Jango. João Goulart não conseguiu manejar uma vitoriosa
política externa independente com as pressões norte-americanas e da direita nacional. Desta
forma, a política externa de seu governo foi uma das razões que levaram ao golpe militar.
A política desenvolvimentista do governo militar, com exceção do mandato de
Castello Branco, tentou inserir o país de maneira competitiva no mercado internacional, além
de incentivar o crescimento da indústria nacional. Em oposição ao que era praticado
internamente na política com a violência e conservadorismo, no âmbito externo a diplomacia
brasileira conseguiu desenvolver contatos abrangentes.
Tendo em vista os últimos anos da década de 80, a política externa brasileira
estava limitada em sua atuação por princípios constitucionais que embasavam as relações
internacionais, como independência nacional, prevalência dos direitos humanos,
autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, da
solução pacífica de controvérsias, do repúdio ao terrorismo e racismo, da cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade e da concessão do asilo político (BRASIL,1988).
Sendo assim, a redefinição de sua estratégia de política externa ajudará o país a aumentar a
sua influência política e estratégia no cenário internacional, que contribuirão para que o Brasil
seja visto como um país democrático, competitivo e estável economicamente.
A redemocratização do Estado brasileiro trouxe um novo conceito de ação
cultural, promovendo uma abertura progressiva à participação da população. O fim do milagre
econômico e a crise estrutural nos anos 80, baseada na desvalorização monetária e
instabilidade econômica, promoveram o estabelecimento de planos de desenvolvimento
alternativos ao tradicional.
Tal ambiente foi crucial para que em 15 de Março de 1985, o então Presidente
José Sarney criasse o Ministério da Cultura que até então era ligado ao Ministério da
Educação, que foi rebaixado a Secretaria no governo de Fernando Collor de Mello, voltou a
sua configuração original somente em 1992, no governo de Itamar Franco. Na época
compreendida entre 1985 e 1994, anterior à posse do presidente Fernando Henrique Cardoso,
a pasta da cultura teve seu trabalho afetado pelas diversas alterações no âmbito federal. O
reconhecimento da cultura como objeto essencial e insubstituível na construção da identidade
46
nacional foi ganhando destaque, sendo uma fonte geradora de empregos e renda para a
economia do país. Sendo assim, o MinC consolida-se como “instituição de fomento e
estímulo ao desenvolvimento cultural no país” e torna-se um dever do Estado tratar a cultura
como um investimento.
A implementação da Lei de Incentivo à Cultura (Lei n˚ 8.313 de 23 de dezembro
de 1991), também conhecida por Lei Rouanet, durante a presidência de Fernando Collor,
criou um “mercado de patrocínios” que estimulou o aparecimento de setores interessados em
investir na cultura, sendo recebida na época como a única forma de avanço do setor cultural
brasileiro, após o rebaixamento do ministério à Secretaria, ligada à Presidência da República
(MINC, 2012). Como conseqüência à implementação da Lei, foi possível depreender dois
tipos de reação dos setores envolvidos: 1˚) um aumento maciço dos investimentos para a
cultura e a integração de setores antes distantes da lógica cultural – como o caso da cultura
popular, por exemplo; 2˚) o crescimento do mecenato privado, onde as estratégias
publicitárias teriam lugar de destaque na destinação de verbas em detrimento à função social
de promoção da cultura brasileira. (MOISÉS, 1998).
O método utilizado pela lei Rouanet permitiu que os investimentos feitos pelos
patrocinadores em âmbito cultural fossem 100% abatidos de impostos, o que significa que o
capital investido pela empresa compõem inteiramente de dinheiro público que seria fruto de
impostos e gera para a empresa um retorno de marketing. Isto resulta na aplicação de recursos
públicos a partir da mente do investidor do setor privado, o que veio a ser a política cultural
vigente na gestão do Ministério da Cultura por Weffort e é objeto de criticas por parte de
artistas e produtores culturais até os dias de hoje. De acordo com o mecanismo de incentivos
fiscais da Lei n° 8.313/1991 (Lei Rouanet):
O proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e,
caso seja aprovada, é autorizado a captar recursos junto a pessoas físicas pagadoras
de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real visando à
execução do projeto. Os incentivadores que apoiarem o projeto poderão ter o total
ou parte do valor desembolsado deduzido do imposto devido, dentro dos percentuais
permitidos pela legislação tributária. Para empresas, até 4% do imposto devido; para
pessoas físicas, até 6% do imposto devido. A dedução concorre com outros
incentivos fiscais federais, sem, contudo, estabelecer limites específicos, o que
poderá ser aplicado em sua totalidade no incentivo à cultura. A opção é do
contribuinte.
Além dos incentivos fiscais, a Lei Rouanet instituiu o Programa Nacional de
Apoio à Cultura (PRONAC), que canaliza recursos para o desenvolvimento do setor cultural,
com as finalidades de: estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais
(CDs, DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e outras produções na área
47
Audiovisual, exposições, livros nas áreas de Ciências Humanas, Artes, jornais, revistas,
cursos e oficinas na área cultural, etc.); proteger e conservar o patrimônio histórico e artístico;
estimular a difusão da cultura brasileira e a diversidade regional e étnico-cultural, entre outras
(MINC, 2012). O PRONAC funciona por meio dos seguintes mecanismos de apoio:
- Fundo Nacional de Cultura (FNC) – Com os recursos do FNC o Ministério da
Cultura pode realizar uma série de ações, tais como: concessão de prêmios; apoio
para a realização de intercâmbios culturais e outros programas divulgados por edital;
apoio para propostas que não se enquadram em programas específicos, mas que têm
afinidade com as políticas públicas e relevância para o contexto onde irão se realizar
(demanda espontânea), entre outras.
- Incentivos fiscais – por meio deste mecanismo, titulares de iniciativas que não se
enquadram nos programas do Ministério da Cultura e nas políticas públicas traçadas
em determinado período, mas que têm consistência e relevância para competir no
mercado, podem buscar apoio junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de
Renda (IR) e empresas tributadas com base no lucro real, que por sua vez terão
benefícios fiscais sobre o valor incentivado;
- Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) – mecanismo até o momento
não implementado; consiste na comunhão de recursos destinados à aplicação em
propostas culturais de cunho comercial, com participação dos investidores nos
eventuais lucros (MINC, 2O12).
De acordo com os dados do Ministério da Cultura, ainda é pequeno o volume de
recursos de incentivos fiscais destinados à cultura quando comparado à países como França,
Inglaterra e Estados Unidos– cerca de 1,5% de todo o incentivo fiscal federal. Em 2003, foi
direcionado à renúncia fiscal para a cultura o valor de R$ 135 milhões. Em 2011, esse valor
alcançou R$ 1,35 bilhão, um aumento de 1.000% em oito anos. Nesse período (2003-2011),
foram alocados 5,9 bilhões de reais para a Lei Rouanet, a qual exerce um importante papel
para a divisão de recursos necessários para a execução de eventos culturais, como por
exemplo os anos do Brasil no exterior. No caso do Ano do Brasil na França, por exemplo, de
acordo com o relatório de gestão do Comissariado brasileiro, o custo da temporada cultural foi
de R$ 58.912.863,12, dos quais, R$ 41.039.720,18 provenientes de verbas orçamentárias do
Ministério da Cultura e R$ 17.883.142,94, de patrocínio, sendo R$ 9.161.142,00 ao amparo
da Lei Rouanet (MINC, 2012).
Frente ao contexto internacional do pós-Guerra Fria com suas polaridades
indefinidas, o governo Itamar Franco traçou a política externa brasileira com o objetivo de
restaurar a credibilidade perdida durante o governo Fernando Collor de Mello, incentivando
práticas que se relacionavam aos princípios constitucionais de democracia, direitos e garantias
fundamentais, estando aberto a novos temas da agenda internacional ao lutar pela democracia,
desenvolvimento e paz (ABDENUR, 1995).
Os altos e baixos com relação ao incentivo à cultura repercutiram
significativamente no Brasil, tanto durante o governo de Getúlio Vargas na década de 1930
48
até alcançar novos rumos nos anos 90 com a abertura de novas instituições. Estas mudanças
aconteceram principalmente durante o mandato de oito anos do Ministro da Cultura,
Francisco Weffort, o qual implantou as alterações da Lei Rouanet, em maio de 1995, sob a
presidência de Fernando Henrique. (MINISTÉRIO DA CULTURA. DOCUMENTOS
OFICIAIS, 1995).
Com o aumento da credibilidade e respeito à atuação do Brasil no ambiente
externo, tornou-se imprescindível a inserção na economia global, tendo essa ideia sido
defendida pela política externa dos governos de Fernando Henrique Cardoso, facilitada pela
estabilidade monetária e abertura do mercado, tornando o país mais competitivo no cenário
interno e externo. Esta ação foi pautada pelas políticas neoliberais adotadas pelo governo
como prioridade em desenvolver o país economicamente, liberalizando o comércio,
substituição monetária, desnacionalização e privatização de empresas públicas e
investimentos estrangeiros. (CARDOSO, 2001).
O então Ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Palmeira Lampreia resume
as finalidades e objetivos desse paradigma diplomático adotado pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso:
Em uma ofensiva diplomática sem precedentes na história brasileira, o presidente da
República assumiu pessoalmente a execução da política externa através de uma ativa
diplomacia presidencial, desenhada para elevar o perfil externo brasileiro e para
levar aos nossos parceiros a imagem, o discurso e as oportunidades de comércio,
investimentos e cooperação que identificaram o Brasil do Plano Real [...] As visitas
oferecem a oportunidade de apresentar os avanços brasileiros a públicos seletos de
empresários, formadores de opinião, políticos e representantes do meio acadêmico, e
de fazer o marketing de oportunidades de investimentos no Brasil (LAMPREIA
apud DANESE, p. 38, 1999).
Em 1999, ocorreram transformações no Ministério da Cultura, com ampliação de
seus recursos e reorganização de sua estrutura, promovida pela Medida Provisória 813, de 1º
de janeiro de 1995, transformada na Lei 9.649, de 27 de maio de 1998. Em 2003, o Presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aprovou a reestruturação do Ministério da Cultura,
por meio do Decreto 4.805, de 12 de agosto, que se mantém até os dias atuais. Neste ano de
2003, o Ministério lançou programas como o Mais Cultura, o Cultura Viva, o Vale Cultura e
o Cinema Perto de Você com o objetivo de ampliar o acesso aos bens culturais (MINC, 2012).
Em 2002, a mudança no governo com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva
insere uma nova ordem na política externa brasileira, que tem como objetivo a retomada de
antigos parceiros e o estabelecimento de novas parcerias por meio de um posicionamento
mais estratégico internacional. Como exemplo, a parceria histórica entre Brasil e França é
restabelecida, com o intuito de promover os interesses de ambos países na arena internacional,
49
em tomadas de decisões conjuntas sobre assuntos estratégicos (fome, comércio e
desenvolvimento), além de ter ganhado um incentivo maior no campo da diplomacia cultural
por meio dos eventos que ocorreram durante o mandato de Lula, com destaque para os anos
2005 e 2009, Ano do Brasil na França e Ano da França no Brasil, respectivamente. Estes
acontecimentos marcaram não só o desejo brasileiro de aproximação, como também do
governo francês no Brasil como importante aliado no âmbito internacional.
A política externa de Lula buscava instaurar mudança, buscando aproximar-se
estrategicamente dos países em desenvolvimento e emergentes e alcançar suas prioridades por
diferentes meios tradicionais – diplomacia tradicional do Itamaraty, diplomacia presidencial e
por uma forma pouco usual denominada de:
diplomacia partidária, feita de alianças privilegiadas com aliados progressistas e
esquerdistas do período oposicionista anterior, quais sejam, os partidos de orientação
socialista e marxista (…) e os movimentos sociais, cuja agenda política e foco de
atuação estão obviamente mais próximos daqueles do Fórum Social Mundial do que
do Fórum Econômico Mundial, de Davos”(ALMEIDA, 2007).
Desta forma, o governo Lula orientou a política externa brasileira com a ajuda de
Marco Aurélio Garcia, Assessor da Presidência para Assuntos Internacionais – membro
fundador do Partido dos Trabalhadores-, junto ao MRE. Como argumenta Amorim (2004):
a ação diplomática do Governo Lula é concebida como instrumento de apoio ao
projeto de desenvolvimento social e econômico do país, possuindo também, uma
dimensão humanista, que se projeta na promoção da cooperação internacional para o
desenvolvimento e para a paz. Está profundamente enraizada nos interesses e
esperanças do povo brasileiro. É nacional, sem deixar de ser internacional
(AMORIM, 2004).
São ações que “requerem uma aproximação entre os povos e sociedades, por meio
da arte, da cultura, da multiplicação da oportunidade de contato, baseada na vocação para o
diálogo (do governo Lula) com os mais diversos atores do cenário internacional” (AMORIM,
2004).
Um traço marcante da política externa nos dois mandatos do governo Lula foi a
presença da cultura como elemento de desenvolvimento nacional, entrelaçada nos objetivos
de inserção internacional do país. Sendo assim, o Ministério da Cultura uniu forças com o
Ministério das Relações Exteriores para adotar uma estratégia política fundada pelas relações
culturais internacionais com destaque para a Diplomacia Cultural. Desfrutando de uma maior
abertura para a cultura brasileira no campo internacional, o Ministério das Relações Exteriores
inicia uma estratégia embasada na diplomacia cultural, colocando a cultura como meio de
estreitar os laços em busca de uma maior projeção externa do Brasil, valorizando os símbolos
culturais do país, promovendo eventos artísticos e culturais em embaixadas e centros culturais
50
brasileiros ao redor do mundo. O Ministério da Cultura sob a gestão do ex-ministro Gilberto
Gil durante os seis anos (2002-2008), nome de influência na música nacional e força
internacional, teve como preocupação comparecer ativamente em eventos de divulgação do
Brasil no exterior e nestas oportunidades defendeu não somente a promoção da cultura
brasileira, mas que esta significava também a defesa da diversidade cultural, lutando contra as
diásporas do mundo afetado pela globalização.
Alfredo Maney, secretário do Ministério da Cultura, elenca as prioridades da
política cultural durante a gestão dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, tendo participado
diretamente da mesma. O autor destaca dez tópicos fundamentais deste período em seu artigo:
1) a adoção de um conceito ampliado de cultura de modo a encará-la como ponto
estratégico para o desenvolvimento do país; 2) a incorporação da cultura como
direito fundamental e necessidade básica tão importante quanto outras áreas, como
saúde e educação; 3) o imperativo de considerar a promoção da diversidade
concomitantemente à política universalista, possibilitando maior visibilidade a
grupos que lutam para se afirmar simbolicamente e mitigando preconceitos; 4) a
valorização das culturas tradicionais, como a indígena e a africana, por exemplo; 5)
o estabelecimento de diretrizes para uma economia da cultura por meio da ativação,
estímulo e fomento das cadeias criativas, intelectuais e produtivas e da ampliação do
mercado consumidor; 6) a modernização da legislação do direito autoral; 7) a
modernização da política de fomento à cultura por meio do aperfeiçoamento da lei
Rouanet e de seleções públicas para a transferência de recursos; 8) o incentivo ao
protagonismo social e o apoio a periferias e comunidades em todo o país, princípio
que encontra no Programa Cultura Viva e nos Pontos de Cultura sua principal
expressão; 9) a renovação da compreensão do papel do Estado em relação à cultura;
10) a viabilização de orçamento público adequado para a consecução dos objetivos
evidenciados nas nove ações anteriores (MANEY, 2010).
Após ser comandado pelo ministro Gilberto Gil, depois pelo ministro Juca
Ferreira no governo Lula, atualmente o Ministério da Cultura é dirigido pela Marta Suplicy, a
qual tomou posse no dia 13 de Setembro de 2012 em substituição a Ana Maria Buarque de
Hollanda, que ocupava o cargo desde Janeiro de 2011 na presidência de Dilma Roussef. A
gestão de Ana de Hollanda deu indícios desde o princípio que seguiria passos opostos aos
seus antecessores, Gilberto Gil e Juca Ferreira, que defendiam a flexibilização da lei de
direitos autorais e da manutenção de políticas de cultural digital. Em suas ações, mostrou que
não compartilhava da visão anterior de promoção da cultura livre e circulação de ideias, em
especial no espaço digital.
Marta Suplicy deve seguir um meio termo entre a gestão de sua antecessora e a
gestão do Ministério no governo Lula, sobretudo na área de direito autoral e cultura digital.
Em seu discurso de posse, a nova ministra destaca a importância da cultura brasileira e de sua
projeção no cenário internacional:
O ministério não faz cultura. Ele proporciona espaços e autonomia para que a
cultura se produza. Não se pode pautar pelo mercado. Ao mesmo tempo nossos
51
artistas têm que viver da sua arte. Devemos incentivar nossa participação
internacional, esse será nosso outro desafio (MINC, 2012).
Já o Ministério das Relações Exteriores aparece como importante ator na
condução da política cultural em cenário internacional e elenca o papel da diplomacia cultural
para o Brasil:
As relações culturais no campo internacional objetivam proporcionar maior
compreensão e aproximação entre os povos. No campo da diplomacia, a cultura
constitui uma maneira de criar um ambiente propício ao entendimento por meio do
intercâmbio de ideias, experiências e patrimônios. No caso do Brasil, busca-se
promover a imagem de uma sociedade com diversidade de etnias, inclusiva,
tolerante e em constante processo de renovação. Apresenta-se o que torna a cultura
brasileira única, mas, ao mesmo tempo, revelam-se as afinidades que a une a outros
povos. Esse processo de conhecimento mútuo estimula a compreensão da imagem
do Brasil no exterior e gera familiaridade com a realidade do país (MRE, 2012).
As palavras do Ministério das Relações Exteriores têm ligação direta com o que
aconteceu no evento Ano do Brasil na França, estudo de caso apresentado no último capítulo
deste trabalho de conclusão de curso. Com o estabelecimento de relações no campo da
cultura, o Brasil aumentou sua aproximação com a França, que não se limitou, porém, apenas
a este campo específico, como veremos mais a diante, mas sim, provocou acima de tudo, uma
pré-disposição favorável para decisões futuras. Neste caso, foi através da realização dos
eventos culturais que tornou-se possível mostrar em ambiente estrangeiro a imagem que o
Brasil procurava passar: uma sociedade com diversidade de etnias, inclusiva, tolerante e em
constante processo de renovação.
Neste contexto, o Departamento Cultural do Itamaraty desempenha um importante
papel na diplomacia brasileira, abrangendo uma variada gama de funções com intuito de
aproximação do Brasil com outras nações. Resumidamente, tem como função apoiar a
divulgação da cultura brasileira no exterior, e em particular, da língua portuguesa falada no
Brasil. Além disso, trata do relacionamento do país com as instituições multilaterais de
natureza cultural. Estas ocupações são colocadas em prática pelas cinco Divisões do
Departamento: Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP), Divisão de Operações de
Difusão Cultural (DODC), Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais (DAMC), Divisão de
Temas Educacionais (DCE), Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV) e Coordenação de
Divulgação (DIVULG) (ITAMARATY, 2012).
Cabe ao Departamento Cultural, através de suas Divisões, negociar acordos,
desempenhar suas atividades como organização e estabelecer contatos para realização de
eventos culturais. No início de cada ano, é examinada e definida uma programação de
iniciativas no exterior baseada nas sugestões dos Postos, a qual considera entre outros fatores,
52
as prioridades da política externa brasileira. É também função do Departamento apoiar
eventos realizados no Brasil, como festivais e bienais. (ITAMARATY, 2012).
Em cenário bilateral, o Departamento Cultural negocia, nas comissões mistas
periódicas, os programas de trabalho para implementação dos acordos culturais existentes.
Além disso, é feito o acompanhamento e a orientação da rede de Institutos Culturais e Centros
de Estudos Brasileiros no exterior e o repasse dos recursos necessários às atividades de
divulgação cultural.
Os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, no âmbito das relações
internacionais, têm atuado em conjunto em benefício da Convenção da UNESCO sobre
Diversidade Cultural, por meio da qual as nações assumiram uma lista de compromissos para
a promoção e proteção da diversidade cultural. Desta forma, de acordo com discursos oficial,
é peça-chave a adoção e fortalecimento dos mecanismos de política cultural no nível das
relações internacionais. De acordo com o Governo brasileiro, proteger e promover as
expressões culturais em sua diversidade é direito legítimo dos cidadãos, da sociedade civil e
dos estados nacionais (MINC, 2012).
Sendo assim, é relevante destacar a participação do Brasil na UNESCO. Como
exemplo desta missão dos países que colaboraram culturalmente entre si, a Declaração de
Viena na IV Cúpula ALC-EU relata:
Reconhecemos [os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia e da América
Latina e Caribe] a importância da diversidade cultural enquanto fator de
desenvolvimento, crescimentos e estabilidade, conforme exemplificados pela
aprovação, em outubro de 2005, da Convenção da UNESCO para a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Apoiamos a sua rápida
ratificação e implementação. Reconhecemos que a cooperação cultural é essencial
para fomentar o diálogo intercultural e a compreensão mútua. Reafirmamos, além
disso, a nossa convicção de que as atividades e indústrias culturais desempenham
um papel importante na defesa, desenvolvimento e promoção da diversidade
cultural. Comprometemo-nos a procurar meios que permitam reforçar tanto a
cooperação União Europeia-América Latina e Caribe como a cooperação intra-ALC
e os intercâmbios de conhecimentos e boas práticas neste domínio, além de
incrementar a cooperação entre a UE e a ALC no quadro da UNESCO
(DECLARAÇÃO DE VIENA IV CÚPULA ALC-UE. 2006).
De acordo com o sítio eletrônico oficial da UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), esta tem como propósito contribuir para a paz
e para a segurança, promovendo colaboração entre as nações através da educação, da ciência e
da cultura, para fortalecer o respeito universal pela justiça, pelo estado de direito, e pelos
direitos humanos e liberdades fundamentais, que são afirmados para os povos do mundo pela
Carta das Nações Unidas, sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião (CONSTITUIÇÃO
53
DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA,1945). Para realizar este propósito, a Organização deverá:
(a) Colaborar no trabalho de fazer avançar o conhecimento e o entendimento mútuos
entre os povos, através de todos os meios de comunicação de massa, e com esse
objetivo recomendar aqueles acordos internacionais que possam ser necessários para
promover o livre fluxo de ideias, através da palavra e da imagem;
(b) Oferecer impulso renovado à educação popular e disseminação da cultura:
colaborando com os Membros, mediante solicitação deles, no desenvolvimento de
atividades educacionais; Instituindo a colaboração entre as nações para fazer avançar
o ideal da igualdade de oportunidades educacionais, sem levar em consideração raça,
sexo ou quaisquer distinções, de natureza econômica ou social; sugerindo os
métodos educacionais mais adequados à preparação das crianças do mundo para as
responsabilidades da liberdade;
(c) Manter, expandir e difundir o conhecimento: garantindo a conservação e a
proteção do legado mundial de livros, obras de arte e monumentos de história e de
ciência, recomendando as convenções internacionais necessárias às nações
envolvidas; estimulando a cooperação entre as nações em todos os ramos de
atividade intelectual, incluindo o intercâmbio internacional de pessoas ativas nos
campos da educação, da ciência e da cultura, além do intercâmbio de publicações,
objetos de interesse artístico e científico, bem como outros materiais de informação;
desencadeando métodos de cooperação internacional calculados para dar aos povos
de todos os países acesso a material impresso e publicado, produzido por qualquer
um deles.
3. Com vistas à preservação da independência, da integridade e da diversidade
frutífera das culturas e dos sistemas educacionais dos Estados Membros da
Organização, fica a ela vedada a intervenção nas questões essencialmente restritas à
jurisdição interna desses Estados. (CONSTITUIÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA,1945).
De acordo com a Constituição da UNESCO, “… a incompreensão mútua entre
nações tem estado sempre, no decorrer da história, na origem da suspeita e da desconfiança
entre os povos, por meio das quais seus desacordos acabam, com demasiada frequência, em
guerras.” Apesar de terem sido escritas há mais de 60 anos, essas palavras conservaram sua
pertinência, porque a necessidade de compreensão mútua é incontestável e continua sendo
atual.
A Representação da UNESCO no Brasil foi estabelecida em 19 de junho de 1964
e se tornou Escritório Nacional no âmbito do Cluster Mercosul + Chile desde a nova
estratégia de descentralização implementada pela sede da UNESCO. Em Brasília, o escritório
da UNESCO iniciou suas atividades em 1972 (UNESCO, 2012).
Por muitas décadas, a colaboração foi estreita e produtiva, mas somente em 1992,
sob a base da Declaração Mundial sobre Educação para Todos, elaborada e aprovada por
ocasião da Conferência Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990), a
UNESCO assinou um acordo de cooperação amplo com o Ministério da Educação do Brasil.
Em 1993, com base no Acordo Geral de 1981 (Acordo de Cooperação Técnica em Matéria
Educacional Científica Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e a
54
UNESCO), foi assinado o primeiro plano de trabalho com o MEC, como mecanismo auxiliar
à decisão do Governo de elaborar o Plano Decenal de Educação para Todos.
A partir de meados da década de 90, o escritório brasileiro fortaleceu sua ação por
todo o país, colocando sua competência técnica a serviço de inúmeros projetos e iniciativas no
âmbito das cinco áreas temáticas da Organização, a saber: educação, ciências naturais,
ciências sociais, cultura, comunicação e informação. Aos poucos, as atividades da
Representação foram se ampliando, multiplicando-se as articulações e convênios de
cooperação técnica, tanto com o governo como com a sociedade civil. A importância dessas
ações resultou no fato de o Escritório da UNESCO em Brasília (UBO) ter-se tornado um de
seus principais escritórios no mundo. Em 2007 foi ratificada no Brasil a Convenção sobre a
Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, aprovada em 2005, a qual
contribui para o trabalho da UNESCO no país, envolvendo as relações comerciais presentes
nos serviços culturais e bens culturais, que servem como mapa para o trabalho da Organização
em prol da diversidade cultural, buscando maior diálogo e pluralismo entre as culturas e
diversos credos e nas políticas culturais.
Neste campo, o Itamaraty colabora na divulgação da arte brasileira no exterior.
Exemplos deste trabalho são as galerias e centros culturais que são criados a partir de
iniciativas de Postos, estabelecendo-se como importantes espaços de manifestações culturais
locais. Como definido pelo próprio Itamaraty, o esforço é pela realização de eventos de alta
qualidade que promovam a integração da cultura brasileira às demais culturas e realidades
existentes. O incentivo à promoção internacional das artes plásticas brasileiras busca alcançar
cada vez mais reconhecimento não apenas limitado ao meio artístico, mas de todos que podem
participar, de alguma forma, dessas atividades culturais (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES
EXTERIORES, 2012).
Entre 2003 e 2010, a Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) do
Ministério das Relações Exteriores teve atuação significativa na difusão da cultural brasileira
no âmbito externo, além de servir como meio de aproximação cultural e fortalecimento das
relações diplomáticas mantidas pelo governo brasileiro junto aos demais países. Em
seguimento a política cultural estabelecida pelo governo, a diplomacia cultural destaca como
prioridade a atuação na América do Sul e África. A França não constava na prioridade de
atuação do governo brasileiro, tendo este aproveitado a oportunidade dada pelo governo
francês em participar em conjunto na organização do Ano do Brasil na França, contribuindo
positivamente para a imagem do país no cenário internacional. Nesse contexto, o papel da
DODC é:
55
a) identificar e promover iniciativas que possam difundir a produção artística
nacional e divulgar aspectos pouco conhecidos da diversidade cultural brasileira no
exterior; e
b) apoiar programações culturais tradicionais em curso nos diferentes países com os
quais o Brasil mantém relações diplomáticas (MRE, 2012).
Como ferramentas para exercer a divulgação da cultura brasileira no exterior, a
Divisão possui o Programa de Difusão Cultural (PDC), Acordos culturais e instrumentos
jurídicos, que irão desdobrar-se em reuniões das Comissões Mistas Culturais (Comistas) para
formulação de proposta de políticas públicas que promovam a troca cultural entre os países. O
grande número de Postos no exterior permite ampla atuação para as operações da DODC. O
Ano do Brasil da França foi um exemplo de realização da DODC, por meio da parceria com o
Comissariado do Ano do Brasil na França, com o Ministério da Cultura e com a Embaixada
do Brasil na França, com destaque especial para as atividades que ofereceu na saison
francesa, no Espaço Brasil, no “Carreau du Temple”.
O Ministério das Relações Exteriores define os eventos culturais no exterior e
seus objetivos como:
Os eventos culturais no exterior representam as diretrizes de política externa no
âmbito das relações culturais, tanto em nível bilateral quanto multilateral.
Manifestam-se por meio da negociação de acordos e da difusão de informações
sobre a arte e a cultura brasileiras no plano internacional. Os objetivos são:
I – promover e difundir, no exterior, a cultura brasileira em seus mais diversos
aspectos, em especial nas áreas de artes visuais, artes cênicas, música, literatura,
dança, capoeira, gastronomia, fotografia, arquitetura e design.
II – organizar e supervisionar, em coordenação com os postos no exterior, as suas
respectivas programações culturais (Programas de Difusão Cultural – PDC), bem
como as iniciativas de difusão cultural da Secretaria de Estado;
III – administrar a alocação dos recursos financeiros recebidos para as atividades de
difusão e promoção cultural;
IV – coordenar-se com o Ministério da Cultura, outros órgãos ou instituições
públicas e privadas, como também com a comunidade cultural e artística para a
promoção da cultura brasileira no exterior;
V – preparar a participação brasileira nas Comissões Mistas Culturais, previstas em
Acordos Culturais existentes entre o Brasil e outros países, em coordenação com as
unidades interessadas da Secretaria de Estado, órgãos públicos e privados; e
VI – coordenar a elaboração de Acordos Culturais bilaterais e de Programas
Executivos Culturais com países com os quais o Brasil mantém Acordos Culturais,
bem como acompanhar a sua implementação (MRE, 2012).
O apoio da DODC é feito através de concessão de passagens aéreas, pagamento
de cachês, hospedagem, organização, recepções, divulgação, montagem de mostra, edição de
livros e CDs, entre outros. Além do suporte financeiro, a DODC atende os artistas e grupos de
divulgação da cultura brasileira e apoia o Ministério da Cultura e seus órgãos, além de
contribuir para o estabelecimento da política cultural brasileira no exterior (MRE, 2012).
Os eventos culturais promovidos pela DODC têm atraído diferentes públicos
como formadores de opinião, governo local, imprensa, artistas e moradores em geral,
56
resultado de maior interesse pela cultura do Brasil, bem como o número destes eventos tem
aumentado e diversificado sua atuação em diferentes localidades, o que contribui para que
cada vez mais cresça a difusão da rica cultura deste país.
5.1 O ANO DO BRASIL NA FRANÇA
Conforme visto no decorrer deste trabalho, a utilização da cultura como recurso de
auxílio para ações diplomáticas e estratégicas de Estados na criação, ou estreitamento das
relações bilaterais com outros Estados, vem sendo largamente utilizada. Pioneira na utilização
deste recurso, a França é hoje um dos países com maior número de centros culturais, escolas
de língua e liceus, espalhados pelo mundo. Desta maneira, foi escolhido como estudo de caso,
para ilustrar a discussão presente, a relação bilateral, entre Brasil e França, estabelecida
através do evento: O Ano do Brasil na França. A partir da descrição e análise de tal evento,
busca-se perceber a utilização de ações diplomáticas brasileiras no campo da cultura e o uso
de ferramentas de soft power na relação direta com a França.
Para início da análise do evento ocorrido no ano de 2005, não cabe a ingenuidade
de acreditar que a França teve seu primeiro contato com a “verdadeira” cultura brasileira neste
ano e passou, a partir daí, a conhecer o Brasil. Vale lembrar que a cultura brasileira vem há
muitos anos participando, mesmo que de maneira sucinta, das atividades culturais francesas, e
mais do que isto, deixando influenciar-se por tal. Basta recordar o importante movimento
modernista, que incorporou de maneira direta e assimilou, as vanguardas europeias, para a
partir daí surgirem movimentos de característica brasileira como a Antropofagia e o
movimento Pau Brasil, que culminaram na semana de Arte Moderna de 1922. Além disto,
Tarsila do Amaral, Chico Buarque, Oswald de Andrade, Emiliano Di Cavalcanti, Cândido
Portinari, Heitor Villa-Lobos, Lygia Clark, Oscar Niemeyer são apenas alguns dos
importantes artistas brasileiros que viveram em Paris, tendo levado um pouco do Brasil e
trazido um pouco da França a terras nacionais.
Como descrito acima, o Ano do Brasil na França aconteceu durante todo o ano
de 2005, com início oficial, em Paris, no dia 18 de janeiro. Tendo como eixo principal a
questão da diversidade cultural brasileira, o evento, que aconteceu entre os meses de março e
dezembro, não ocorreu apenas em Paris, mas sim espalhado por toda a França. Caracterizado
como a maior manifestação brasileira ocorrida no exterior até então, uma das razões para sua
escolha como estudo de caso, o evento que teve cerca de 400 projetos culturais, entre dança,
57
Teatro, Artes Plásticas, cinema, música (de erudita a popular) e outras atividades culturais,
como seminários e discussões que abrangeram desde temas culturais até políticos e
econômicos, surgiu como uma iniciativa do governo francês. Apesar de ter representado uma
importante oportunidade para que o Brasil se mostrasse culturalmente a França e também ao
mundo, o evento cultural faz parte de um programa de origem francesa, o que provoca a
reflexão de que, através deste, a França também buscou aspectos positivos em uma
aproximação com o país.
Para marcar o inicio oficial, no início de 2005, o então Ministro da Cultura do
Brasil, Gilberto Gil, se reuniu com dois ministros franceses, Michel Barnier, Ministro das
Relações Exteriores, e Renaud Donnedieu , Ministro da Cultura, para a abertura do evento, no
Palais des Affaires Etrangères (Palácio das Relações Exteriores) (MINISTÉRIO DA
CULTURA, 2005).
O projeto faz parte do programa Saisons Culturelles Étrangères en France,
que desde 1985 homenageia diferentes países: a cada ano, um país é convidado a
levar sua produção cultural a todas as regiões francesas. Até o momento, o governo
francês já tinha recebido eventos de 18 países, entre eles: Índia, Argélia, Tunísia,
Japão, Egito e China (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005).
Apesar do convite francês, o evento contou com organização de ambas as
nações. No Brasil, a organização foi orquestrada, principalmente, pelo Ministério da Cultura e
pelo Ministério das Relações Exteriores. Na França, pelo Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Associação Francesa de Ação Artística (AFAA) 5, e pelo Ministério da Cultura e
da Comunicação. Para elaborar a parte conceitual dos eventos que compuseram o Ano
Cultural, foi criado um comissariado, liderado, no lado brasileiro, por André Hadar Midani,
importante figura da indústria fonográfica brasileira, convocado diretamente pelo ministro
Gilberto Gil e no lado Francês, por Jean Gautier. Através da escolha dos comissários, foi-se
desenhando a linha de conduta que o Ano do Brasil na França seguiria, afinal, Esta comissão
mista era responsável por selecionar e organizar os projetos, que fariam parte do calendário
oficial. A parte de promoção foi feita pelos franceses e a sua principal ferramenta foi o site
elaborado para o evento, desativado atualmente (AMARAL, 2012 e MINISTÉRIO DA
CULTURA, 2005).
5 Association française d'action artistique (AFAA) é parte do Instituto Francês. O Instituto Francês é o
operador da Ação Cultural fora da França. Foi criado pela Lei de 27 de Julho de 2010 relativa a ação externa do
Estado e seu decreto de aplicação de 30 de dezembro de 2010. Sob a tutela do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, este órgão é responsável, no âmbito da política e diretrizes estabelecidas pelo Estado, por trazer
uma ambição renovada para a diplomacia de influência. Deve contribuir para reforçar o diálogo da França com
culturas estrangeiras e atender à demanda da França em um processo de parceria escuta e abertura. Presidido por
Xavier Darcos, do Instituto Francês substitui o Culturesfrance associação de caráter público, com fins industrial
e comercial.
58
Segundo o diplomata Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio e um dos organizadores do evento como integrante do Itamaraty, em entrevista
concedida aos autores:
A organização do evento era feita, principalmente, pelos 2 comissários, responsáveis
por dar aos projetos, o carimbo da parte oficial – daquilo que os dois governos iriam
se envolver de forma direta. Fora do calendário oficial, foram realizados eventos
paralelos que contavam com um apoio (não financeiro) da organização do evento.
Os eventos seguiam desde esportes até cultura, questões indígenas, exposições de
arte, seminários e feiras comerciais. Podemos dividir estes projetos em 3 grupos:
1) Dos mais de 500 eventos propostos, cerca de 300 integraram a programação
oficial, e destes, todos receberam o carimbo “labilisé” da organização oficial do
Evento, cedido pelos 2 comissários. Isto significa, que foram aqueles que os 2
governos se responsabilizaram pela execução.
2) Eventos que recebiam algum tipo de apoio informal, sem lei e sem compromisso
do governo. Não faziam parte da programação oficial.
3) salve-se quem puder.... sem apoio nenhum, eram as manifestações espontâneas
que surgiram por toda a França.
Ao aplicar e receber o carimbo – o projeto ganhava condições mais favoráveis para
se beneficiar da Lei Rouanet, e assim buscar o apoio das empresas, com o slogan:
“este projeto foi aprovado para fazer parte do Ano do Brasil na França (AMARAL,
2012).
Os governos do Brasil e da França também foram grandes financiadores do
evento, não se responsabilizando porém, pelos custos de todos os projetos envolvidos. Os
projetos que não fossem financiados pelos dois governos, eram financiados, em sua maioria,
por órgãos ou empresas brasileiras ou pelos próprios grupos artísticos, sempre estabelecendo
parcerias com instituições locais. O Governo brasileiro financiou inteiramente alguns dos
projetos, considerados como projetos do Governo, como foi o caso da exposição do artista
plástico Amilcar de Castro e também o pavilhão Brasileiro construído especialmente para o
Ano Cultural. Estes projetos representavam o que o Governo apoiava 100% e gostaria que
fizessem parte do calendário oficial, como propostas do Governo. Grandes empresas
brasileiras, como a Vale e a Petrobrás, foram as principais fontes de subsídios, tendo como
retorno a dedução de seu Imposto do Renda, através da Lei Rouanet, anteriormente
explicitada, que serve de mecanismo governamental para o patrocínio de projetos culturais
pelas empresas por meio de incentivo fiscal, tendo sido bastante utilizado nos últimos anos, ao
aliar tanto a exposição da imagem da empresa em um evento/mostra cultural, como também
beneficiando os interesses financeiros com o bom uso dos impostos em prol de uma causa
maior de divulgação da cultura brasileira (FIGUEIREIDO, 2010).
A ação estratégica do governo brasileiro, de participar de um evento cultural de
grande porte na França, como uma maneira de difundir a imagem do Brasil no exterior,
envolvendo a comunidade local de brasileiros e buscando estreitar as relações entre os dois
países fica clara no artigo escrito para o jornal O Estado de S.Paulo pelo Embaixador Rubens
59
Barbosa, que esteve na França em outubro de 2005, surpreso com a repercussão do Ano do
Brasil:
Num mundo globalizado e de comunicação imediata, é regra do jogo a competição
em todos os campos – econômico, financeiro, por espaço na mídia, no mundo das
artes e por aí a fora. Em recente passagem por Paris pude constatar como uma ação
planejada conjuntamente pelos Governos da França e do Brasil pode ampliar e
diversificar a percepção dos franceses sobre nosso país. Trata-se do Ano do Brasil
na França. (...) A presença cultural do Brasil numa cidade irradiadora de informação
como Paris e visitada por um enorme número de turistas de todas as nacionalidades
mostra como é possível querendo e sendo criativo ajudar a projetar nosso país como
um parceiro moderno, dinâmico, e não apenas o país do carnaval.
Declarações como esta mostram o grande interesse do Brasil em participar de um
evento como este para mostrar a imagem desejada aos franceses e a toda comunidade
internacional, tomando cuidado para que não seja passada uma imagem “incorreta” do país.
Mesmo assim, não se esconde a importância dada ao impacto do evento, presente ainda no
mesmo discurso do Ministro:
Um outro aspecto importante é o impacto que essas relações bilaterais podem
produzir em vários níveis, (…) sobre a expressão artística, o comércio de bens e
serviços, o turismo e a política (GIL, 2005).
Do outro lado, a França não deixou de concordar e afirmar que o evento estreitaria
os laços políticos e diplomáticos (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005).
Com o objetivo maior de mostrar a diversidade cultural brasileira, foram
apresentados diferentes aspectos da nossa cultura, desde o samba e a capoeira, até a música
clássica e a arte contemporânea. Simultaneamente, eram apresentadas e discutidas questões
importantes da nossa economia, política e aspectos sociais. Segundo Sergio Amaral (2012), o
Governo brasileiro preocupou-se em não levar apenas cultura de elite, mostrando também a
produção popular. Buscou-se, acima de tudo, mostrar não apenas à França, mas também ao
mundo, a riqueza de inovação cultural que o Brasil possui, e principalmente, seu pluralismo –
um país de pluralidade religiosa, étnica e cultural em que impera a boa convivência e em que
há uma interpenetração. Mostrar o Brasil em sua diversidade. Ao mesmo tempo havia
manifestações que passavam a imagem de um Brasil moderno, como era o caso das feiras de
tecnologia e exposições de arte contemporânea. Também segundo Amaral:
Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior, as nações colonizadoras
devido a sua própria história, já são conhecidas por todos, mas as nações que foram
colonizadas querem se mostrar ao mundo. Fazer com que as pessoas saibam de sua
cultura, gastronomia, queiram conhecer o país, esta é a forma de estabelecer relações
que não se baseiem apenas no poder econômico e político – a cultura traz uma
espécie de persuasão, de entendimento e de admiração (AMARAL, 2012).
60
Sendo assim, torna-se clara a importância dada pelo Governo brasileiro, aos
impactos e respostas advindas de ações como estas. Através da intensificação das
manifestações culturais de um país no exterior, este pode estabelecer relações de diferentes
naturezas com outras culturas, o que pode implicar em aproximações tanto econômicas, como
sociais.
Divididas, pelos comissários, em três grupos, ou três fases, as manifestações
culturais eram agrupadas seguindo características temáticas, com os títulos: Raízes do Brasil,
focando mais nas raízes indígenas e na natureza brasileira, Verdade Tropical, que deu
destaque à música, e por último, a fase Galáxias, que mostrou a produção contemporânea e
também jovem do país.
Em Raízes do Brasil, foi homenageado o reconhecido historiador Sérgio Buarque
de Holanda, cuja obra homônima descreve o processo de formação da cultura brasileira,
passando por aspectos históricos importantes, como a colonização portuguesa, até as origens
indígenas e influências africanas no país. Sendo a fase de abertura da programação, é
relevante observar a Mostra de abertura: Le Brésil Indien, no Drapper Musée; que apresentou
a história das influências indígenas em nossa cultura, até a atualidade, marcando não só o
início do evento, mas também o início do Brasil. Diversas apresentações musicais
aconteceram, principalmente, mas não só, na Cité de La Musique, mostrando desde a música
regional brasileira, bem como a música popular e contemporânea. Um exemplo foi a
exposição Músicas Brasileiras: os Ritmos do Brasil, que aconteceu entre os meses de março e
junho, no Musée de La Cité de La Musique, e procurou contar um pouco da história musical
do país (FIGUEIREDO, 2010).
A importância da música como linguagem presente no país desde os primórdios,
fica em evidência nesta fase e exemplifica um setor cultural brasileiro muito explorado
internacionalmente.
Os espetáculos, que também atraem norte-americanos, são, no mais das vezes,
organizados por brasileiros e representam momentos únicos para galvanizar a
imaginação dos migrantes sob o mesmo guarda-chuva simbólico-cultural, a musica,
que os une verdadeiramente, naquelas horas, como uma comunidade que, em co-
presença, pode se ver, se tocar, se conhecer... De fato, os músicos brasileiros em
turnê pelo exterior são uma das maiores fontes de manutenção e reprodução da
identidade brasileira (RIBEIRO, 1999, p.50).
A fase que se segue, Verdade Tropical, homenageou o intérprete e compositor
brasileiro, Caetano Veloso, tendo como ponto de partida seu livro autobiográfico homônimo.
Apesar do título, esta fase não se limitou a dar enfoque ao Tropicalismo, importante
movimento de ruptura, ocorrido entre as décadas de 1960 e 1970 e encabeçado,
61
principalmente, pelos cantores e compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, mas
sim, caracterizou-se pelas manifestações de rua, espalhadas por diversas cidades francesas.
Atendo-se à questão da liberdade de expressão artística e diversidade cultural brasileira. Para
tornar mais clara a relação que se buscou estabelecer entre a visão do livro Verdade Tropical e
este grupo de manifestações culturais, segue trecho escrito na contra capa da obra de Caetano:
Do Fundo escuro do coração solar do hemisfério sul, de dentro da mistura de raças
que não assegura nem degradação nem utopia genética, das entranhas imundas (e, no
entanto, saneadoras) da internacionalizante indústria do entretenimento, da ilha
Brasil pairando eternamente a meio milímetro do chão real da América, do centro do
nevoeiro da língua portuguesa, saem estas palavras que, embora se saibam de fato
despretensiosas, são de testemunho e interrogação sobre o sentido das relações entre
os grupos humanos, os indivíduos e as formas artísticas, e também das transações
comerciais e das forças políticas, em suma, sobre o gosto da vida neste final de
século (VELOSO, 1997).
Os eventos de Verdade Tropical possibilitaram que um grande número de pessoas
tivesse seu caminho intercedido por manifestações culturais que mostravam um Brasil
diversificado, e culturalmente rico. Ali foram apresentadas manifestações de caráter livre e
popular, como o carnaval, concertos e teatros a céu aberto, levando à França, um pouco das
manifestações de rua que acontecem no Brasil (TROPICALIA, 2007).
A atração Samba Parade, merece destaque por, além de ter representado a
manifestação brasileira de rua mais conhecida Internacionalmente, o Carnaval, ter também
sido itinerante, transitando por cinco diferentes regiões da França, atraindo um grande
público, e apresentando desde o samba em si, até atividades esportivas e gastronômicas
(FIGUEIREDO, 2010).
No que diz respeito às Artes Plásticas, vale dar destaque a exposição individual da
artista Tarsila do Amaral, apresentada, pela primeira vez na França, em quase 100 anos. O
evento que aconteceu, originalmente, no ano de 1926, ganhou tamanha importância na época
por ter caracterizado o lançamento da artista brasileira no cenário Internacional e também, o
motivo pelo qual Tarsila não participou da semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil,
momento que mudou, para sempre, a história artística do país. Com curadoria de Paulo
Herkenhoff, Tarsila do Amaral: O Nascimento do Modernismo no Brasil exibiu cerca de 50
obras, entre pinturas, estudos, documentos que marcaram a trajetória da artista no país, assim
como, obras de artistas por ela influenciados. Apresentando os traços do modernismo,
movimento surgido na Europa, em sua versão brasileira, repleto de cores e formas, a
exposição acaba por exemplificar a inserção do Brasil no cenário Internacional através das
artes, ainda na década de 1920 (FIGUEIREDO, 2010).
62
A Terceira e última fase foi chamada de Galáxias, fazendo referência ao livro de
Haroldo de Campos, importante poeta concretista brasileiro, e tendo como centro temático, o
continuo desenvolvimento do Brasil, e a sua inserção no cenário e Mercado mundial. Assim,
foram apresentadas, principalmente, manifestações de caráter contemporâneo, como danças,
artes visuais e teatro. Um destaque foi o artista plástico brasileiro, Hernesto Neto, bastante
reconhecido internacionalmente, com diversas exposições realizadas na Europa e Estados
Unidos, que criou uma de suas instalações, em tecidos, “Leviathan Thot”, dentro do
Pantheón, um dos principais edifícios da capital francesa. Produzida especialmente para a
ocasião, mas apresentada posteriormente, em 2006, a obra demonstra a qualidade e
singularidade da arte contemporânea brasileira e a conquista de espaço que as nossas
representações ganharam após 2005. O artista baiano, Merepe, também ganhou destaque, por
apresentar obras com fortes características da cultura de seu Estado, exemplificando a
diversidade e riqueza da cultura e produção brasileira (BBC BRASIL, 2006).
Além dos já descritos eventos culturais, foram também apresentados eventos de
caráter comercial, como foi o caso dos encontros de empresários da indústria criativa. Um
exemplo, foi a Semana do Rio de Janeiro, entre 6 a 12 de junho, promovida pela Firjan e pelo
Sebrae, para promover a indústria e comércio do país. Cerca de 150 empresários dos setores
de turismo, moda, tecnologia, audiovisual, entre outros estavam presentes no evento com
amostras de produtos e serviços. Ainda nas conhecidas Galeries Lafayette e no Printemps,
foram introduzidos diversos produtos brasileiros, muitos passaram a fazer parte do portfólio
de mercadorias destes centros comerciais, até os dias de hoje. Ações como estas deixam claro
o uso da Diplomacia Cultural em conjunto com a Diplomacia Econômica para aproximar
outros setores dos dois países (Jornal do Brasil RJ, Leneide Duarte, 2005 e AMARAL, 2012).
Quando questionado sobre os impactos de tal evento cultural em áreas diferentes,
Sérgio Amaral comenta:
Esta parte cultural é muito boa para o comércio. Se é oferecido um jantar onde
serve-se caipirinha, após este jantar as pessoas podem passar a comprar cachaça. O
que fizemos muito, inclusive foi iniciativa minha, foi o Ano Cultural do Brasil na
França, na Galeries Lafayette e no Printemps , com amostras de produtos brasileiros,
desfiles de moda e apresentações musicais, como o show do cantor Seu Jorge. A
moda brasileira entra no Lafayette via Ano cultural do Brasil na França
(AMARAL,2012).
A cerimônia de encerramento aconteceu no Brasil, em São Paulo, em
dezembro de 2005. Marcada por números expressivos: 161 cidades francesas receberam os
mais de 1900 artistas brasileiros, parte dos 430 eventos oficiais. Aconteceram, ao todo 224
63
exposições, mais de 850 espetáculos musicais e de dança, 31 mostras de cinema e 83 eventos
de literatura e discussões (FOLHA ONLINE, 2006).
Um ponto interessante a ser destacado foi o grande envolvimento da sociedade
civil brasileira, que demonstrou o real interesse do público em participar e apresentar projetos,
ou mesmo, criar projetos espontâneos que seriam realizados paralelamente. Segundo a
organização do evento, o envolvimento maior foi o da comunidade de brasileiros que vive na
França, uma preocupação dos Governos desde o início. Este tipo de iniciativa ajudou a
enriquecer a oferta de atrações em solo francês e mostrou a receptividade desta comunidade
de brasileiros, ajudando a fortalecer a idéia de um país onde impera o pluralismo cultural
(AMARAL, 2012).
Ainda sobre esta questão, Sérgio Amaral comenta:
No momento em que a diplomacia não é mais apenas uma área privativa dos
funcionários diplomáticos, ficando apenas entre os governos e intermediada pelos
diplomatas, mas sim, foi se abrindo, hoje as relações entre os Estados não são mais
apenas entre o “soldado e o diplomata” (um para fazer a paz e o outro para fazer a
Guerra). Existem hoje milhares de atores no jogo internacional, é preciso
comunicar-se com a sociedade também. Na medida em que surge uma necessidade
de falar coma sociedade, o Governo tem que se estruturar e criar instrumentos que
permitam este diálogo, pois a opinião publica – nacional e internacional – conta
muito. É a partir daí que a questão cultural se transformou em um instrumento
importante da diplomacia pública. Este é o papel principal de tudo isto que se faz:
promover uma determinada Imagem do país, o que se torna muito importante no
jogo internacional (AMARAL, 2012).
A partir das palavras do diplomata, torna-se fácil entender a importância do
grande envolvimento da sociedade civil, o que exemplifica a sua aceitação e também o
sucesso do evento. Através da disseminação da imagem desejada, um país procura ganhar
espaço no cenário Internacional e acima de tudo, conquistar respeito, confiança e força,
perante os demais atores.
Os resultados desta iniciativa são difíceis de mensurar, mais difícil ainda dizer se
houve retorno financeiro direto, porém números comprovam o sucesso e importância do
acordo cultural que gerou o Ano do Brasil na França. O público total do evento, na França, foi
estimado em 15 milhões de pessoas, divididos entre uma media de 7.979.556 visitantes
frequentaram as exposições, 6.100.000 estiveram presentes em eventos multidisciplinares e
mais de 442 mil pessoas nas apresentações musicais, segundo números oficiais. Estima-se que
a mídia francesa destacou o Ano do Brasil na França em mais de 15 mil artigos impressos, 35
revistas com tiragem superior a 8 milhões de exemplares, mais de 80 programas de Televisão
e 66 programas de rádio (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2005)
64
Partindo de uma história de boas relações entre Brasil e França e resultando no
aprofundamento dos laços, Sergio Amaral observa:
O Ano do Brasil na França, gerou frutos positivos, mas é impossível medir
quantitativamente estes eventos culturais, porém, eles ficam no imaginário das
pessoas. A cultura é de extrema importância pois cria uma proximidade e uma
familiaridade entre países, o que influencia nas relações políticas e econômicas. Um
exemplo foi a recente escolha do Brasil pelos aviões franceses, advinda não apenas
de interesses econômicos, mas também de uma pré-disposição favorável
(AMARAL, 2012).
Sendo assim, fica clara a ação diplomática cultural do Governo brasileiro ao
aceitar o convite para participar da Saison Culturel francesa. Além disto, demonstra a crença
de que uma ação de Diplomacia Cultural possa influenciar indiretamente uma relação
comercial entre dois países, trazendo, através da cultura, frutos econômicos. Apesar da
dificuldade em mensurar os resultados, impactos em diferentes áreas puderam ser percebidos.
Sobretudo, cumprindo seus objetivos maiores, o governo brasileiro empenhou-se em passar
uma imagem estratégica do país. Seguindo os maiores objetivos do governo vigente ao aceitar
participar de tal evento, procurou-se mostrar ao mundo, acima de tudo, uma imagem de um
país que se destaca no cenário global, por suas características únicas. Segundo as palavras do
ex-embaixador:
Lembrem-se que nós estávamos em meio a um Governo Lula, e o Ministro da
Cultura era o Gilberto Gil. A politica cultural do Brasil, normalmente quer cobrir os
déficits (até alguns anos atrás os déficits estavam na imagem de um país simpático,
atraente, futebol, samba, praia, mulheres de biquíni, mas não um país sério.) A ideia
então, sempre foi mostrar ao mundo, um Brasil sério, do avanço tecnológico, de uma
arte de boa qualidade. Porém com o Governo Lula, e o Gil, eles fizeram um outra
opção de imagem a ser passada: mostrar o Brasil tal como ele é – a diversidade
brasileira. A preocupação não se focou no déficit de seriedade, mas sim inteiramente
na questão da diversidade, o Brasil como um país onde as pessoas vivem bem entre
segmentos muito diferentes. O objetivo é mostrar um país, que em meio a um
período mundial que vive corroído por conflitos, por seitas e guerras, vive em paz, e
possui diferentes comunidades que convivem muito bem. Um país de atrações
incríveis, que as pessoas ficam curiosas a conhecer, como por exemplo a Amazônia.
Este foi o objetivo: mostrar o Brasil na sua diversidade, na sua riqueza cultural, na
sua capacidade de inovação (AMARAL, 2012).
Esta mudança na imagem que o Brasil deseja passar à comunidade
Internacional, deixa clara não apenas as diferenças entre o governo vigente na época e o
anterior, mas também as conquistas já alcançadas na inserção do país como um importante
player no cenário mundial e os objetivos de imagem para complementar aquilo que já se
conquistou.
O Brasil não foi o único beneficiado de tal iniciativa, a França tem na Cultura
um ponto importante da sua formação externa, além de sua tradição no setor. Através da
realização das Saisons Culturelles, o país promove um diálogo interessante e intenso entre as
65
culturas e abre as suas portas para receber grandes exposições e outras manifestações, não só
criando um ambiente de intensas trocas culturais, mas também criando atrações adicionais que
enriquecem sua oferta cultural e atraem mais pessoas ao país (AMARAL, 2012)
Através deste instrumento da Diplomacia Cultural, a França mostra sua
cultura ao mundo, objetivando, assim, a criação de uma imagem de simpatia,
proximidade e afetividade, sobretudo para países que têm, como o Brasil, uma forte
tradição de laços culturais com o país. A presença francesa no Brasil data desde o
século XVI, com a chegada de Dom João VI e sua missão cultural repleta de
pintores portugueses e Franceses. Mais recentemente, a Universidade de São Paulo,
foi fundada com grande influência de uma missão francesa no país, sendo assim, o
Ano do Brasil na França relembra e aprofunda estes laços históricos, além de
promover, em conjunto, a cultura de ambos os países. (AMARAL, 2012)
Este relato ilustra a ideia do evento em mostrar ao mundo o Brasil do avanço
tecnológico, em passar uma imagem “séria” do país, para que não fosse visto apenas como o
país da festa, samba e futebol.
66
6 CONCLUSÃO
Este trabalho de conclusão de curso buscou sensibilizar o leitor sobre a relevância
de ações de Diplomacia Cultural para as relações de um país com outros no cenário
internacional, aproximando ou afastando Estados e influenciando nas decisões políticas e
econômicas. Através de ações culturais, um Estado pode incrementar suas ferramentas de
poder, tornando possível pensar soluções diferenciadas para a conquista de espaço no cenário
mundial.
Partindo da ideia de que as nações modernas são híbridos culturais e que portanto,
desenvolvem uma cultura própria que pode ser difundida pelo mundo, ações como o Ano do
Brasil na França desempenham um papel fundamental na construção da imagem de um país,
influenciando a maneira como este é visto por todos no jogo de poder internacional. Através
da construção de um discurso, estrategicamente pensado, são transmitidos ao mundo, os
ideais de um país e seu posicionamento frente a questões comuns.
Aliadas as ferramentas de hard power, o soft power, e neste caso o “soft power
cultural”, tornou-se uma importante maneira de posicionamento de um país, principalmente
do Brasil, que pode assim distanciar-se das comparações de força “física” e militar.
Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior e tornar-se familiar às
nações que os interessam, criando vantagens para si, e fazem isto aproveitando-se das
características culturais comuns ou da unicidade de cada um. No momento em que a
diplomacia não é mais uma área reservada apenas aos governos e encabeçada por diplomatas,
mas aberta para a comunicação com a sociedade, como mostrou a análise de caso, a questão
cultural tornou-se um instrumento importante para a diplomacia pública.
Se indivíduos em coletividades forjam, moldam e mudam a cultura por meio de
ideias e práticas, os impactos de uma ação como o Ano do Brasil na França são de fato
imensuráveis, afinal a cultura oferece uma característica única de aproximar as pessoas pela
semelhança ou pela curiosidade da diferença, exercendo um poder sutil de influência no
campo das ideias que transborda para respostas concretas em todos os campos de decisão, seja
pela criação de uma pré-disposição favorável, ou seja por despertar afinidades. Através de
ferramentas de Soft Power, uma nação procura controlar a imagem a ser passada, de maneira a
atingir seus objetivos em todos os campos: econômico, politico e social.
O poder exercido em termos discursivos, assim como pregam os construtivistas,
nasce e ganha força através da união de um povo em torno de suas características comuns e
67
da maneira escolhida por este, ou por seus governantes, para transpassá-las ao mundo,
fortalecendo a sua identidade e sua unicidade.
Os governos precisam entender melhor as possibilidades desta prática, fornecer
mais fundos, e pensar sobre uma maior participação e “democratização” dos instrumentos de
diplomacia cultural, buscando assim possibilidades para substituir as clássicas maneiras de
conquista de poder.
Neste cenário encontra-se um embate entre o público e o privado. Ao mesmo
tempo em que o Estado patrocina eventos e manifestações culturais, convive com um
crescente domínio do setor privado nesta área, beneficiado pela revolução da informação. A
comunicação não depende mais apenas do patrocínio do Estado, o que impacta as mensagens
recebidas pela sociedade civil, tendo um efeito direto sobre os programas culturais. Porém o
Estado também conta com o apoio do poder privado no patrocínio de seus eventos culturais,
como ocorrido no Ano do Brasil na França. O Estado não perdeu o seu poder de
representação, porém na era moderna necessitou aprender em como partilhá-lo com outros
atores.
O uso da diplomacia cultural é importante para a construção da imagem do país,
o que tem sido utilizado pelo Estado brasileiro em sua estratégia de moldar um discurso sobre
o Brasil, disseminando não apenas a diversidade deste rico país, como também destacando a
sua seriedade no que tange o desenvolvimento econômico e tecnológico, sendo este um
aspecto marcante no debate realizado sobre o Ano do Brasil na França.
Além disso, o Estado também se preocupa em apresentar uma face cultural
“editada” do Brasil, o que se reflete na escolha dos artistas e projetos que formaram o evento
do Ano do Brasil na França, fazendo parte assim da estratégia de política cultural do governo.
Pode-se concluir, portanto, que a realização do ano do Brasil na França
comprovou que a apresentação da cultura brasileira, mostrada de forma diversificada, em sua
enorme quantidade de etnias e complexidades, por meio de diversos tipos de manifestações
culturais de alta qualidade e que atraíram grande público ao evento, trouxe assim, visibilidade,
despertando um inesperado interesse da população, assim como da mídia, mesmo em um país
com alto grau de exigência como a França. Assim, ficou nítida a capacidade do Brasil de
alcançar novos e ainda mais altos patamares de grau de interesse e conhecimento do país.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDENUR, Roberto. Textos de política externa brasileira. Brasília: FUNAG, 1995.
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Relações internacionais e política externa do Brasil. 2.ed.
Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1998.
AMARAL, R. O Ano do Brasil na França: um modelo de intercâmbio cultural. 1ª edição.
Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2008.
AMORIM, C. Conceitos e estratégias da diplomacia do Governo Lula. Diplomacia,
Estratégia, Política. Brasília: ano I, nº 1, p. 41-48, out-dez 2004.
AMORIM, Celso. Política externa. Democracia. Desenvolvimento. : gestão do Ministro
Celso Amorim no Itamaraty (agosto de 1993 a dezembro de 1994). Brasília: FUNAG, 1995.
ANDERSON, B. Imagined Communities. Londres: Verso, 1983.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. México: Fondo de Cultura Económica,
2008.
ANHOLT, Simon. Place branding: is it marketing, or isn’t it?. Place Branding and Public
Diplomacy, 4 (2008), 1-6.
O ANO DO BRASIL NA FRANÇA – Brésil, Brésils 2005 –Relatório de Gestão, p.336.
ARAÚJO, Herton Ellery; SILVA, Frederico Augusto Barbosa da. O mercado formal de
cultura: características e evolução. In ÁLVAREZ, Gabriel (Org.) Indústrias culturais no
MERCOSUL.Brasília: IBRI, 2003, p. 291-342.
ARON, Raymond. Paix et guerre entre las nations. Paris: Calmann-Lévy, 1984.
ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado;
Brasília: Ed.UnB, 2002. Clássicos IPRI, 4.
BARBOSA, Rubens. Percepção externa. O Estado de S.Paulo. 8.11.2005
BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito da cultura. Tradução Carlos Alberto
Medeiros– Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
BAUMAN, Zygmunt. Vida em fragmentos: sobre a ética pós-moderna. Tradução
Alexandre Werneck – Rio de Janeiro: Editora Zahar,2011.
BBC. Brazil emerges as a leading exponent of 'soft power'. Robin Lustig, 2010. Disponível
em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/8580560.stm> Acesso em: 14 abr. 2012
BOUND, K.; BRIGGS, R.; HOLDEN, J.; JONES, S., 2007. Cultural Diplomacy. London:
Demos, 2007, pp. 54-55.
69
BRASIL. Constituição (1988), Artigo 4º. Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira).
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil.
Coordenação da edição por Anne J. Angher. 10 ed. São Paulo: Rideel, 2004. 284 p.
______. Ministério das Relações Exteriores. Departamento Cultural (DC). Disponível em:
<www.dc.mre.gov.br>. Acesso em 01.06.2012.
BRITISH COUNCIL. Culture. Disponível em: <britishcouncil.org> Acesso: 11 mar. 2012
CAMPOS, Ana Cristina Pinheiro. A cultura tem poder: uma reflexão sobre o processo de
institucionalização do campo cultural brasileiro. (séculos XIX –XX –XXI). Brasília:
UnB,2007, 145 p.
CAMPOS, Antonio. Por uma nova diplomacia cultural. Portal da Cultura, 2010. Disponível
em: <http://www.cultura.gov.br/site/2010/02/08/por-uma-nova-diplomacia-cultural-artigo/>
Acesso: 2 abr. 2012
CANCLINI, Nestor Garcia. Diversidade e direitos na interculturalidade global. In: Revista
Observatório Itaú Cultural nº.8 (abril/julho). São Paulo: Itaú Cultural. 2009.
CARDOSO, Fernando Henrique. A política externa brasileira no inicio de um novo século:
uma mensagem do Presidente da República. Revista Brasileira de Política Internacional.
Brasília, v. 44, n.1, p. 5-12, 2001.
CARR, Edward H. Vinte anos de crise (1919-1939): uma introdução ao estudo das relações
internacionais. Brasília:Ed. UnB, 2001.
CHARON, Joel. Sociologia. Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Saraiva, 2004.
COPELAND, Dale (2006) “The constructivist challenge to structural realism: a review
essay” in Guzzini, S.; Leander A. (Eds.) Constructivism and International Relations
Alexander: Wendt and his Critics. Oxon, UK: Routledge, 1-20.
COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, Anholt: Countries Must Earn Better Images
through Smart Policy, 2008, p. 2.
COX, Robert W. Production, Power, and World Order: Social Forces in the Making of
History, Volume 1, Columbia University Press, 1987.
CUCHE, Denys, A noção de cultura nas ciências sociais, Lisboa, Fim de Século, 1999.
CULL, Nicholas. „Public Diplomacy’ Before Gullion: The Evolution of a Phrase. Los
Angeles: USC Center on Public Diplomacy, 2006. Disponível em: <
http://uscpublicdiplomacy.com/pdfs/gullion.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2012.
CUMMINGS, Milton C. Jr. Cultural Diplomacy and the United States Government: A
Survey, Washington, D.C: Center for Arts and Culture, 2003, 1.
70
DANESE, Sérgio. Diplomacia presidencial: história e crítica. Rio de Janeiro: Topbooks,
1999.
DANNER, Fernando. A Genealogia do Poder em Michel Foucault. Porto Alegre: Pontifícia
Universidade Católica, 2009.
EAGLETON, Terry (1943). A ideia de cultura. Tradução de Sandra Castello Branco; revisão
técnica Cezar Mortari – São Paulo: Editora UNESP, 2005.
EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os Estudos Culturais e o pós-
modernismo. Tradução de Maria Lucia Oliveira – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2005.
EVANS, Graham, and NEWNHAM, Jeffrey. Penguin Dictionary of International
Relations. Penguin Books: London, New York, 1998.
FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. revista
e aumentada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.
FIORI, José Luis. A nova geopolítica das nações e o lugar da Rússia, China, Índia, Brasil
e África do Sul. Revista de Economia Heterodoxa, N° 8, ano V. 2007.
FOUCAULT, Michel. “Soberania e Disciplina”. In: Microfísica do Poder. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1979, p. 182.
FOX, Robert (1999). Cultural Diplomacy at the Crossroads. Cultural Relations in
Europe and the Wider World (London: The British Council).
FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
GALLO, Sílvio. Conhecimento, transversalidade e Educação. Impulso Piracicaba: Editora:
UNIMEP. Revista de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Metodista de Piracicaba,
vol.10, nº 21, 1977.
GELLNER, E. Nations and Nationalism. Oxford: Blackwell, 1983.
GIDDENS, A. The consequences of Modernity. Cambridge: Polity Press, 1990.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
GIL, G. Discurso de abertura do Ano do Brasil na França. Ministério da Cultura. Paris, 2005.
GILL, S. Gramsci, Historical Materialism and International Relations. Cambridge.
Cambridge University Press. Index. Digital Paperback Reprint Edition, 2010.
GOLDSTEIN, Judith e KEOHANE, Robert O.. Ideas and foreing policy: an analytical
framework, In: Goldstein e Koehane (orgs), Ideas & foreing policy. Beliefs, institutions
and political change, Ithaca: Cornel University Press, 1993.
71
GRAMSCI, Antônio. Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Nação, Nacionalismo, Estado. . Disponível em:
<http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15200>. Acesso
em: 24 mar. 2012
HALL, STUART (1990). Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD, J. (org.).
Identity. Londres: Lawrence &Wishart.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da
Silva, Guaracira Lopes Louro – 11 ed. –Rio de Janeiro:DP&A, 2006.
HAMELINK, C.J. Direitos Humanos para a Sociedade da Informação. In: MARQUES DE
MELO, José; SATHLER, Luciano (Orgs.). Direitos à Comunicação na Sociedade da
Informação. São Bernado do Campo: UMESP, 2005.
HARRIS, Marvin. Theories of Culture in Postmodern Times. Walnut Creek, California:
AltaMira Press, 1999.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 13.ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1979.
HUNTINGTON, Samuel. O choque das civilizações e a recomposição da nova ordem
mundial. Rio de janeiro: Objetiva, 1997.
IBÁÑEZ, T. Aproximaciones a la Psicologia Social. Barcelona, Sendai, 1989.
ICD. Cultural Diplomacy Institute. 2011 Disponível em:
<http://www.culturaldiplomacy.org/index.php?en_culturaldiplomacy#Definition> Acesso em:
10 mar. 2012
ITAMARATY. Diplomacia Cultural. 2011. Disponível em:
<http://www.itamaraty.gov.br/divulg/diplomacia-cultural> Acesso: 15 mar. 2012
KESSING, R. Theories of culture. Annual Review of Antropology, California, 1974.
KRÜGER, H. (1986). Introdução a Psicologia Social. São Paulo, SP: EPU.
KRÜGER, H. (1995a). Psicologia das crenças: perspectivas teóricas. (Tese de Concurso
para Professor Titular). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Instituto
de Psicologia - Departamento de Psicologia Social e Institucional.
KRÜGER, H. (1995b). Identidade étnica, identidade transcultural e transnacionalismo.
Monografias Psicológicas, 10, 21-43.
LACLAU, E. New Reflections on the Revolution of our Time. Londres: Verso, 1990.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Zahar. Rio de Janeiro,
1986, pg. 25.
72
LESSA, M. Relações Culturais Internacionais. In: MENEZES, L. Olhares sobre o político:
novos ângulos, novas perspectivas. Rio de Janeiro: Ed UERJ, 2002.
LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1986.
MANEVY, Alfredo . Dez mandamentos do Ministério da Cultura nas gestões Gil e
Juca in: CADERNOS CENPEC. Educação, Cultura e Ação Comunitária, nº7, 2010.
MARTINS, Estevão. Relações Internacionais – Cultura e Poder. Rio de Janeiro: Revista
Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 3, Nº14, Rio, 2008 [ISSN 1981-3384]
MELISSEN, Jan (2005). „The New Public Diplomacy: Between Theory and Practice,‟ in
Jan Melissen (ed), The New Public Diplomacy. Soft power in International Relations
(Basingstoke: Palgrave), 3-27.
MELISSEN, Jan (2006). „Reflections on Public Diplomacy Today,‟discurso feito na
conferência „Public Diplomacy,‟ Ministry of Foreign Affairs, Republic of Turkey, Ankara,
February.
MELISSEN, Jan. The new public diplomacy: soft power in international relations. New
York: Palgrave Macmillan, 2005.
MICELI, Sergio. (2001), “SPHAN: refrigério da cultura oficial”. In: ______. Intelectuais à
brasileira, São Paulo, Cia. das Letras, pp. 357-368.
MINISTÈRE DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES, França, 2007.
MITCHELL, J. M (1986). International Cultural Relations (London: Allen & Unwin).
MONTIEL, E. Diplomacia cultural: Por uma política internacional de La era intercultural.
Disponível em: <www.lacult.org/Diplomacia_cultural_2009_esp.doc> Acesso em 29 de
junho de 2012.
MORGENTHAU, Hans J. Política entre las naciones: la lucha por el poder y la paz. Buenos
Aires: Grupo Editor Latinoamericano, 1992.
MRE. Ministério das Relações Exteriores. 2012 Disponível em:
<http://www.dc.mre.gov.br/artes-plasticas> Acesso: 11 mar. 2012
NYE, Joseph S. Soft power. Foreign Policy. Washington, v.80, p. 153-171, Autumn 1990.
NYE, Joseph (2004). Soft power: The Means to Success in World Politics, Public Affairs
New York.
NYE, Joseph (2004). The benefits of Soft Power. Harvard Business School. Disponível em:
http://hbswk.hbs.edu/archive/4290.html Acesso: 11 abr. 2012
NYE, Joseph S .Propaganda Isn't the Way: Soft Power. The International Herald Tribune,
January 10 2003.
73
NYE, Joseph S. (2011) O futuro do poder. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Benvirá.
NYE, Joseph S. Soft power: The Means to Success in World Politics. Transcrição do
programa Carnegie Council Books for Breakfast, 2004. Tradução de Marina Fajardo Marmo.
REPERTÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA: POSIÇÕES DO BRASIL, Instituto de
Diplomacia Cultural, 2007.
REVISTA BRASILEIRA DE POLÍTICA INTERNACIONAL, 2008. artigo: A diplomacia
cultural no Mercosul.
RIBEIRO, Edgar Telles. Diplomacia cultural: seu papel na política externa brasileira.
Brasília: Fundação Alexandre Gusmão. Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais,1989,
104 pag.
RIBEIRO, Edgard. Diplomacia Cultural, Seu Papel na Política Externa Brasileira.
FUNAG. pg. 22.
RIBEIRO, Gustavo Lins. "O que faz o Brasil, Brazil: Jogos identitários em Sao
Francisco," Cenas do Brasil Migrante, Ed. Rossana Rocha Reis, Teresa Sales (Sao Paulo:
Boitempo Editorial, 1999 [45-85]), 50.
RIGAUD, Jacques, Les Relations Culturelles Extérieures, 1980, p. 22, 34.
RIORDAN, Shaun (2003). The New Diplomacy, Themes for the 21st Century (Cambridge:
Polity).
ROBINS, K. Tradition and translation: national culture in its global context. In Corner, J.
and Harvey, S. (orgs.), Enterprise and Heritage: Crosscurrents of National Culture. Londres:
Routledge, 1991.
SNOW, Nancy e TAYLOR, Philip M. (eds) Routledge Handbook of Public Diplomacy.
Nova York / Routledge, 2009.
TYLOR, Edward. Primitive Culture. 2 vols. 7th ed. New York: Brentano's, 1871.
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Disponível
em: <www.unesco.org/> Acesso em: 20 set. 2012.
UNESCO. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de dados para a cultura.
Brasília: UNESCO Brasil, 2003.
USA. US Department of State. Cultural diplomacy: the linchpin of public diplomacy.
Report of the Advisory Committee on Cultural Diplomacy. Washington. September/2005.
Disponível em:<http://www.publicdiplomacywatch.com/091505Cultural-Diplomacy-
Report.pdf>. Acesso em 16 jun. 2012.
VELOSO, Caetano. Verdade Tropical, 1997.
74
VON HERDER, J. G. Reflections on the Philosophy of the History of Mankind. 1784-91
(reimpr. Chicago:1986). P.49.
WENDT, Alexander. Theory of international politics. Cambridge: Cambridge University
Press, 1999
WILLIAMS, R. The idea of culture. In: McILROY, J.,WESTWOOD,S. (Ed.) Border
Country:Raymond Williams in Adult Education. Leicester:1993. P.60
WILLIAMS, R., Keywords, Croom Helm, 1976, p.81.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p.24.
75
APÊNDICE A - TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTACOM PROFISSIONAL
ENTREVISTA COM SÉRGIO AMARAL
PERGUNTAS ELABORADAS PELOS AUTORES:
1. A França vem realizando há algum tempo, “anos de países” dentro do seu
território. Em 2005 foi a vez do Brasil. Da onde surgiu o convite? Foi uma idéia do governo
francês ou o projeto já começou com uma parceria?
2. Quando começou a ser realizado o projeto para o Ano do Brasil na França?
3. Quem foram os principais envolvidos?
4. Como se deu o financiamento para o evento? A França teve algum papel neste
ponto?
5. Como funcionava o apoio dos órgãos públicos e particulares? Havia dedução
de Imposto de renda? As empresas escolhiam quais artistas gostariam de apoiar?
6. O Evento foi dividido em três fases: Verdade Tropical, Galáxias e Raízes do
Brasil. Como se deu esta divisão?
7. Quem fez a proposta destas 3 linhas?
8. Os artistas podiam “aplicar” seus projetos para que fossem parte do Ano do
Brasil na França. Através de um processo de edital aberto, correto? Qual foi o critério para a
seleção dos artistas? Todos artistas passaram por um processo de seleção ou existiram artistas
convidados? O mesmo aconteceu nos casos dos curadores, como Paulo Herkenhoff
9. Quem criou a concepção artística do evento?
10. Quem selecionou e convidou estes artistas/midias?
11. Os artistas tinham liberdade total para criar sua obra ou havia algum tema?
12. Houve uma preocupação quanto ao equilíbrio de linguagens?
13. Como foi divulgado isto?
14. Qual foi o critério para o corte dos projetos não participantes?
15. Alguns projetos não selecionados para o calendário oficial fizeram parte de
um evento paralelo. Houve algum apoio dos organizadores do evento, ou foi algo realmente a
parte?
16. Qual o envolvimento com a Sociedade Civil? Houve um diálogo? As pessoas
podiam dar opiniões na seleção dos projetos?
76
17. Há uma grande comunidade de brasileiros na França. Isto foi uma
preocupação?
18. Podemos dizer que o Ano do Brasil na França foi um exemplo de
Diplomacia Cultural?
19. Todos os envolvidos tinham clareza desta característica? (reformular esta
pergunta...)
20. Do ponto de vista da Diplomacia Cultural, como o Sr classifica os resultados?
21. A mídia francesa teve um importante papel na divulgação do evento. Como
foi a divulgação da mídia brasielira?
22. Houve retorno financeiro?
23. Como o próprio Ministro da Cultura na época, Gilberto Gil, disse, o objetivo
maior era mostrar a diversidade cultural e a modernidade brasileira. O Sr. Acredita que o
Ano do Brasil na França modificou a imagem do Brasil para os franceses, de maneira geral?
24. Muitos dos resultados são impossíveis de mensurar. Quais resultados são
possíveis de medir?
25. Quais foram as principais diferenças entre o Ano do Brasil na França e o Ano
da França no Brasil?
ENTREVISTA
Sérgio Amaral: Qual é o tema de vocês?
Julia Clemente: Diplomacia Cultural e Soft power, usando como estudo de caso o
Ano do Brasil na França.
S.A: E o conceito de Diplomacia Cultural e de Soft power é a mesma coisa?
(risada). Ok, vamos começar.
Julia Clemente: A França vem realizando ha algum tempo, “anos de países”
dentro do seu território, as chamadas Saisons Culturelles . Em 2005 foi a vez do Brasil. Da
onde surgiu o convite? Foi uma ideia do governo francês ou o projeto já começou com uma
parceria?
Sérgio Amaral: A ideia foi da França, que tem na Cultura um ponto importante da
sua formação externa, uma grande tradição do país em matéria de cultura. Por exemplo, eles
criaram o site do programa, foi uma sugestão deles e criado por eles.
77
Primeiro de tudo, podemos dizer que existiram alguns objetivos e proveitos para a
França. Em primeiro lugar, ao receber grandes exposições culturais de países que têm uma
relevância cultural, a França está criando atrações adicionais para o turismo. Assim, é criado
um conjunto de atrações adicionais que enriquecem a oferta cultural da França para os seus
turistas. Em segundo lugar, a França tem na cultura, um aspecto muito importante da sua
diplomacia e da sua projeção cultural.
Tem também o ano cultural da França no exterior, então é este um instrumento
importante de ação diplomática cultural, e uma maneira de mostrar a França.
Através destes projetos, busca-se não apenas mostrar a cultura francesa, mas sim,
criar uma imagem de simpatia, de afetividade, sobretudo para países que têm, como nós, uma
tradição muito forte de laços culturais com a França.
A presença francesa no Brasil começa desde o século XVI, com os Corsários”.
Com o tempo ela vai se tornando cada vez mais, de um lado, uma presença econômica e
comercial, e de outro uma presença cultural: Dom João VI, quando veio para ca trouxe uma
missão cultural que gerou muitas das pinturas dos períodos coloniais, que em grande parte,
eram de autoria de pintores franceses.
Mais recentemente, a Universidade de São Paulo, foi criada por uma missão
francesa, ou com a participação deles.
A França já tem, com o Brasil, uma relação cultural histórica. O Ano do Brasil na
França e também o Ano da França no Brasil, relembra e aprofunda estes laços. Isto conta
muito.
Um país que o Brasil, hoje, tem uma boa vontade, uma simpatia, é a França. Toda
esta história de boas relações e este aprofundamento dos laços, que se deu a a partir do Evento
Ano do Brasil na França, gerou frutos positivos, mas é impossível medir quantitativamente
estes eventos culturais, porém, eles ficam no imaginário das pessoas. A cultura é de extrema
importância pois cria uma proximidade e uma familiaridade entre países, o que influencia nas
relações políticas e econômicas. Por exemplo, a escolha do Brasil pelos aviões franceses, no
ano passado. Não há uma ligação direta entre as ações, mas podemos enxergar uma
predisposição favorável.
Ao realizar o nosso ano cultural, nós também estamos buscando nos mostrar ao
mundo, afinal a França é um grande espaço cultural internacional. Tivemos vários
personagens da nossa história cultural com uma forte influência francesa, como por exemplo,
Heitor Villa Lobos, e muitos pintores estudaram na França. Então nós nos mostrarmos neste
78
espaço, é muito importante para a Imagem do Brasil. Busca-se passar uma imagem de
simpatia, de cultura, de realizações.
Este intercâmbio cultural ocorre cotidianamente, mas o Ano Cultural é uma
grande concentração: um choque cultural!
A cobertura da mídia francesa foi impressionante, e em sua maioria foi mídia
gratuita. Emissões de TV as mais prestigiosas da França, cobriram o evento e fizeram
matérias inteiras, não apenas sobre o Ano, mas também sobre o Brasil, assim como os rádios
e jornais, revistas de turismos. Foi uma presença maciça.
Julia Clemente: Esta incrível resposta da mídia francesa foi uma característica
específica do Ano do Brasil, ou isto acontece todos os anos?
Sérgio Amaral: Depende do país, mas com certeza há um interesse especial no
Brasil. Nos casos dos anos do Marrocos ou da Bulgária, não houve tanta resposta. No nosso
caso o que houve foi uma participação muito intensa, pois os franceses conhecem e gostam do
Brasil, e principalmente porque há uma grande comunidade de brasileiros vivendo na França.
Mais de 500 eventos previstos, não apenas organizados pelo governo brasileiro,
ou pelo ministério da Cultura francês, mas também centenas de eventos espontâneos –
organizados principalmente pelas comunidades de brasileiros nas cidades francesas. Houve
uma participação maciça da comunidade franco-brasileira, os organizadores do evento
apoiavam (não financeiramente) estes eventos paralelos espontâneos. O Ano do Brasil na
França chamou muita atenção devido a proximidade entre os 2 países – muitos franceses
conhecem o Brasil, a música brasileira é muito conhecida na França, assim como a literatura -
Jorge Amado foi muito traduzido para o Francês – e acima de tudo, o Brasil tem uma
singularidade, é um país diferente que por isto, desperta interesse. Houve uma certa vontade
de participação, nos fazemos parte do universo de interesses deles, e vice-versa. Pasteur já era
amigo de Dom Pedro II.
Não sei se vocês se lembram, mas a primeira ida de um índio brasileiro à Europa
foi para Rouen, no centro norte da França, então para o evento, os organizadores quiseram
levar um grupo de índios para o evento: Caiapós, que se apresentaram na rua, em Nancy.
Houveram vários pontos de contato entre o Brasil e a França que foram
rememorados, revalorizados, mostrando como esta comunhão entre França e Brasil vem de
muito tempo. As convergências politicas e os interesses econômicos, no Brasil há empresas
francesas a mais de cem anos....
Durante o Ano Cultural há algumas coisas que a França tem interesse em mostrar,
como foi o caso da exposição do Levi-Strauss, que aconteceu no Grand Palais (ou Louvre), o
79
maior antropólogo francês - criou o estruturalismo - buscaram coisas do antropólogo aqui no
Brasil.
Fizemos a exposição sobre a Amazônia, patrocinada pelos Estados Amazônicos.
No inicio é uma espécie de colheita, você vai colhendo aquilo que faz sentido....
Aliás, houveram as grandes exposições, patrocinadas pelos 2 governos, como foi
o caso da exposição do Krajberg, artista que está diretamente ligado a questão ambiental –
levada muito a sério na França. E muitas vezes com contribuição financeira da grandes
empresas brasileiras e francesas.
As grandes exposições foram os carros chefes do evento, mas aconteceram
também as exposições de médio porte, muitas vezes promovidas pelos Estados. Houveram
grandes empresas ou entidades ligadas a França que quiseram fazer coisas lá, tudo isto foi
juntado pelos 2 governos, através dos comissários: um Francês e um brasileiro, que
selecionavam os projetos.
Organizaram as exposições, os 2 comissários com ajuda das embaixadas. A parte
de promoção foi feita pelos franceses e a sua principal ferramenta foi o site, hoje fora do ar,
que era dividido por setores.
Quem selecionou o comissário brasileiro foi o ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Os gastos eram compartilhados entre os dois governos e haviam muitos
patrocínios, mas o projeto em si era muito caro devido ao tamanho das exposições.
Todo mundo queria participar, a prefeitura de Paris resolveu fazer uma praia
brasileira a beira do Sena (Paris Plage), que depois virou um hábito e existe até hoje no verão
europeu.
Como eu disse, a organização do evento era feita, principalmente, pelos 2
comissários, que eram responsáveis por dar o carimbo da parte oficial – daquilo que os dois
governos vão se envolver. Fora do calendário oficial, foram realizados eventos paralelos que
contavam com um apoio (não financeiro) da organização do evento.
Havia eventos desde esporte, até cultura, índios, exposições de artes, seminários,
etc. Havia 3 grupos:
1) Dos mais de 500 eventos, cerca de 300 integraram a programação oficial e
destes, todos receberam o carimbo “labilisé”, da organização oficial do Evento, cedido pelos 2
comissários. Isto quer dizer que foram aqueles que os 2 governos se responsabilizaram pela
execução.
2) eventos que recebiam algum tipo de apoio informal, sem lei e sem
compromisso do governo. Não faziam parte da programação oficial.
80
3) salve-se quem puder.... sem apoio nenhum, manifestações espontâneas!
Você poderia aplicar apenas para ter o carimbo – dava condições mais favoráveis
para se beneficiar da Lei Rouanet, ter o apoio das empresas. “este projeto foi a provado para
fazer parte do Ano do Brasil na França”
O governo bancou alguns projetos, tidos como projetos Do Governo, por exemplo
a exposição do artista Amilcar de Castro, que foi quase inteiramente financiado pelo governo
e mais algumas empresas que entraram junto.
O que foi apresentado no Pavilhão do Brasil foi inteiramente financiado pelo
Governo brasileiro, assim como a construção do próprio pavilhão.
J: Havia algum objetivo específico ao selecionar os artistas que iriam participar?
Do ponto de vista da diplomacia cultural...
S.A: A maior preocupação do governo, e do Gil, foi que o evento não trouxesse
apenas cultura de elite, mas que também mostrasse o Brasil “tal como ele é”, e também o seu
lado de cultura popular. Tiveram algumas exposições de artesanatos populares de boa
qualidade. Tentou-se mostrar a riqueza de inovação cultural que o Brasil tem. De uma
sociedade que tem o Pluralismo Cultural: um país de uma pluralidade religiosa, étnica e
cultural. Mostrar o Brasil na sua diversidade. Uma das coisas importantes que o governo quis
mostrar era justamente esta pluralidade, a boa convivência entre etnias tão diferentes –cada
um trazendo sua contribuição cultural. Ao mesmo tempo, havia algumas manifestações que
focavam em mostrar o Brasil moderno. Por exemplo, feiras de tecnologia, artistas de
vanguarda e exposições de artistas recentes.
Cada país tem uma atividade cultural permanente, o Brasil promove o ensino de
português em outros países e já realizou projetos mais avançados em matéria de diplomacia
cultural. Por exemplo, tínhamos um programa de ensino de português na TV na argentina, que
foi muito bem sucedido.
Cada país tem a preocupação de se mostrar no exterior, as nações colonizadoras
devido a sua própria história, já são conhecidas por todos, mas as nações que foram
colonizadas querem se mostrar ao mundo. Fazer com que as pessoas saibam de sua cultura,
gastronomia, queiram conhecer o país, esta é a forma de estabelecer relações que não se
baseiem apenas no poder econômico e político – a cultura traz uma espécie de persuasão, de
entendimento e de admiração.
Estes eventos culturais são parte da atividade normal de uma embaixada, porém,
em um evento como o Ano do Brasil na França, isto é feito de maneira intensa, com grandes
investimentos dos 2 países, tanto recursos, quanto gente, para se mostrarem reciprocamente.
81
A Diplomacia pública é uma realidade ha muito tempo, começa no inicio da
Guerra Fria, quando os Estados Unidos viram que eles tinham que mostrar ao mundo a sua
realidade como um componente importante do conflito latente que havia entre a União
Soviética e os Estados Unidos. A criação da UCI americana, hoje desativado, que era um
serviço de informação dos Estados Unidos, que distribui coisas para estudantes, escolas etc. ..
No momento em que a diplomacia não é mais apenas uma área privativa dos
funcionários diplomáticos, ficando apenas entre os governos e intermediada pelos diplomatas,
mas sim, foi se abrindo, hoje as relações entre os Estados não são mais apenas entre o
“soldado e o diplomata” (um para fazer a paz e o outro para fazer a Guerra). Existem hoje
milhares de atores no jogo internacional, é preciso comunicar-se com a sociedade também.
Na medida em que surge uma necessidade de falar com a sociedade, o Governo tem que se
estruturar e criar instrumentos que permitam este diálogo, pois a opinião publica, nacional e
internacional, conta muito. É a partir daí que a questão cultural se transformou em um
instrumento importante da diplomacia pública. Este é o papel principal de tudo isto que se faz:
promover uma determinada Imagem do país, o que se torna muito importante no jogo
internacional.
Por exemplo a China, há alguns anos atrás, possuía uma má imagem de produtor
de produtos de qualidade. Se você tivesse a opção de escolher entre um Marca-Passos Suíço e
um da Nigéria, obviamente o primeiro seria o escolhido. Os Suíços criaram a imagem da
precisão.
O que a diplomacia pública e seu instrumento cultural buscam mostrar são certas
facetas da Imagem do país que não são bem percebidas no exterior e que são importantes para
a Imagem do país.
J: Qual era a Imagem que o Brasil queria passar, como o Ano do Brasil na
França?
S.A: Lembrem-se que nós estávamos em meio a um Governo Lula, e o Ministro
da Cultura era o Gilberto Gil. A politica cultural do Brasil, normalmente quer cobrir os
déficits (até alguns anos atrás os déficits estavam na imagem de um país simpático, atraente,
futebol, samba, praia, mulheres de biquíni, mas não um país sério.) A ideia então, sempre foi
mostrar ao mundo, um Brasil sério, do avanço tecnológico, de uma arte de boa qualidade.
Porém com o Governo Lula, e o Gil, eles fizeram uma outra opção de imagem a ser passada:
mostrar o Brasil tal como ele é, a diversidade brasileira. A preocupação não se focou no
déficit de seriedade, mas sim inteiramente na questão da diversidade, o Brasil como um país
onde as pessoas vivem bem entre segmentos muito diferentes. O objetivo é mostrar um país,
82
que em meio a um período mundial que vive corroído por conflitos, por seitas e guerras, vive
em paz, e possui diferentes comunidades que convivem muito bem. Um país de atrações
incríveis, que as pessoas ficam curiosas em conhecer, como por exemplo a Amazônia. Este foi
o objetivo: mostrar o Brasil na sua diversidade, na sua riqueza cultural, na sua capacidade de
inovação.
J: O senhor acha que houve uma mudança na Imagem do Brasil, no que diz
respeito em como as pessoas passaram a enxergar o país?
Neste ponto cometemos um erro , que foi não ter feito um pesquisa antes e depois.
Sem esta, não é realmente possível medir. Mas eu não tenho dúvidas que sim, até hoje ao
conversar com franceses é possível perceber que eles guardam uma lembrança de um Ano
Cultural, durante 8 meses ininterruptamente apresentando coisas.
J: Me lembro do Ano da França no Brasil, e a impressão que deu foi de uma
importância muito menor, tanto na dimensão dos eventos, quanto na cobertura da mídia.
S.A: Aqui não houve o engajamento que teve na França. Na França teve um
engajamento muito grande e uma cobertura da mídia muito grande. A razão: o Brasil é muito
diferente. É o oposto da Europa, que tem uma sólida tradição cultural, acadêmica, escolar,
científica. E nós temos uma capacidade de atrair pelo calor da relação humana. Os europeus
são educados, mas nós somos espontaneamente calorosos, gentis, atenciosos. Isto cativa o
europeu, afinal nós temos o que eles não têm. Ao mesmo tempo que nós admiramos o
europeu porque eles têm o que nós não temos.
Julia: Houve uma preocupação quanto ao equilíbrio de linguagens?
S.A: Não podíamos dizer previamente se iria ter 30% de uma linguagem, 20% de
outra, etc. O que ia aparecendo e era bom poderia ser incluído. Mas houve algumas opções,
focando em mostrar o que o Brasil tem de melhor, opções como por exemplo, de levar uma
grande exposição antropológica (esta escolha foi francesa), uma grande exposição de Barroco,
entre outras. As coisas se impunham e tentava-se mostrar aquilo que o Brasil é bom. Um
exemplo são os intérpretes de música clássica, houve algumas apresentações, mas não
focamos nisto afinal, a França possui os maiores intérpretes, porque escolheríamos apresentar
algo que eles já são muito bons?
Temos que apresentar aquilo que nós somos bons. Por isto, não houve uma
procura deliberada pelo equilíbrio de setores.
Julia: Qual foi o critério para o corte dos projetos não participantes?
S.A: Qualidade. A capacidade de expressar o que era visto como aquilo que
queríamos mostrar ao mundo: a imagem de uma sociedade de pluralidade cultural, religiosa e
83
étnica, em que impera a boa convivência e em que há uma interpenetração . O Brasil como
um país de tolerância, diferente de muitos cenários que vemos hoje em dia pelo mundo.
Mostra-se também a riqueza cultural muito grande, uma diversidade ambiental muito grande
(foi mostrada a Amazônia, jantares de gastronomia amazônica).
Foi um evento que atingiu diferentes segmentos da sociedade francesa – desde
eventos entre as duas academias, com umas sessão solene. Foi um momento de encontro de
vários segmentos da sociedade francesa com vários segmentos da sociedade brasileira.
J: A Concepção artística do evento foi criada pelos dois governos em parceria?
S.A: Pelos curadores de cada exposição.
J: O Evento foi dividido em três fases: Verdade Tropical, Galáxias e Raízes do
Brasil. Como se deu esta divisão?
S.A: Os comissários que criaram.
J: Qual o envolvimento com a Sociedade Civil? Houve um diálogo? As pessoas
podiam dar opiniões na seleção dos projetos?
S.A: Na França, enorme. Principalmente porque demos a oportunidade para que
quem quisesse apresentar projetos, apresentasse. Se o projeto era bom, ele ganhava o selo e
fazia parte das obras selecionadas, as outras iniciativas eram apoiadas na medida do possível.
O diálogo com a Sociedade foi enorme: houve muita gente envolvida, fazendo,
discutindo e apresentando.
J: Tanto aqui, quanto lá?
S.A: Aqui menos. Estavam envolvidos aqueles que foram selecionados aqui, o
resto da Sociedade pouco se envolveu. A Mídia brasileira soltou algumas reportagens, nós
incentivamos, mas o que levamos para a França não era algo novo aqui, as exposições
apresentadas lá, muitas foram vistas também no Brasil.
O objetivo todo era na França.
J: Sobre as empresas que mais apoiaram, existiram empresas brasileiras e
Francesas, correto? Quem eram estas empresas, em sua maioria empresas de grande porte?
S.A: Sim, empresas muito grandes, como por exemplo a Petrobras, que se
beneficiaram, todas, da Lei Rouanet.
Evidentemente, que as empresas brasileiras tinham mais interesse em apresentar
na França e as empresas francesas tinham mais interesse de apresentar no Brasil. Escolhiam o
lugar em que a exposição e a visibilidade rendia frutos para elas.
J: Então, o apoio veio tanto de órgãos Públicos, quanto particulares?
S.A: O governo, e suas estatais (na área de comunicação) e as empresas privadas.
84
J: As empresas escolhiam, livremente, quais projetos iriam apoiar, ou havia algum
direcionamento?
S.A: Sim, as empresas escolhiam as exposições que preenchiam, mais de perto, os
seus objetivos de Imagem. Mas, eventualmente, o Governo pedia um apoio específico, e as
empresas o faziam.
J: Há uma grande comunidade de brasileiros na França. Isto foi uma preocupação?
S.A: Sim, no sentido de apoia-los no que eles queriam fazer, tanto quanto
possível. A mobilização desta comunidade foi enorme, desde o restaurante de comunidade
brasileira em Nice que resolveu promover um festival, até carnavais de rua e pessoas usando
camisas de futebol pelas ruas – manifestações espontâneas que foram muito interessantes.
J: Quando começou a ser realizado o projeto para o Ano do Brasil na França?
S.A: A preparação teve início cerca de anos antes, era preciso escolher os
comissários, buscar o engajamento de grandes instituições como o Pompidou, o Grand Palais,
o Jardim de Plantes, etc.
Não foi tudo levado do Brasil, o Louvre, por exemplo, fez uma exposição de sua
coleção de pintores da época colonial, com curadoria brasileira, buscou também quadros na
Holanda, de pintores que retrataram o Brasil.
Aconteceram muitos grandes eventos, cada um com sua organização e suas
especificidades.
J: Muitos dos resultados são impossíveis de mensurar. Quais resultados são
possíveis de medir?
S.A: Em primeiro lugar a sua exposição na mídia – tivemos um número
impressionante de cobertura gratuita de mídia.
Você mede a quantidade de eventos que você tem em 10 anos e comprara com a
quantidade de eventos que aconteceram em 1 ano, e você qual o impacto que tem. Ter 50
exposições importantes no país, é uma questão importante.
Impossível medir os resultados econômicos diretos, pode-se dizer que após alguns
anos tornam-se visíveis alguns resultados, como por exemplo, setores que antes não
exportavam começaram a exportar, mas é difícil dizer que tenha sido este um resultado direto
do Ano do Brasil na França.
Esta exposição gera resultados que não são mensuráveis a curto prazo, mas que a
médio prazo, têm um impacto. Não é fácil de mensurar.
J: E quanto ao retorno financeiro, houve algum que podemos medir?
S.A: Impossível dizer se houve retorno financeiro....
85
Esta parte cultural é muito boa para o comércio. Se é oferecido um jantar onde
serve-se caipirinha, após este jantar as pessoas podem passar a comprar cachaça. O que
fizemos muito, inclusive foi iniciativa minha, foi o Ano Cultural do Brasil na França, na
Galeries Lafayette e no Printemps , com amostras de produtos brasileiros, desfiles de moda e
apresentações musicais (Seu Jorge). A moda brasileira entra no Lafayette via Ano cultural do
Brasil na França.
Comissários: Brasil - André Haidar Midani - considerado um dos nomes mais
importantes da indústria fonográfica brasileira dos anos 60 aos 90 e França.
86
ANEXO A - CURRÍCULO SERGIO SILVA DO AMARAL (ENTREVISTADO)
O Embaixador Sergio Amaral nasceu em São Paulo em 1944. Formou-se em
Direito pela Universidade de São Paulo e, poucos anos depois, obteve diploma de pós-
graduação em Ciência Política (DESS) pela Universidade de Paris I – Panthéon Sorbonne, sob
a direção do Professor Maurice Duverger. Como diplomata serviu em Paris, Bonn,
Washington e Genebra. Foi Embaixador do Brasil em Londres e em Paris, onde também
representou o Brasil junto à OCDE. Foi professor assistente de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília.
Foi designado para chefiar a delegação para negociação da dívida externa
brasileira junto ao Comitê Assessor dos Bancos e o Clube de Paris. Nesta capacidade
concluiu, em 1988, um conjunto de acordos de reestruturação no valor de 80 bilhões de
dólares. Foi Governador alterno junto ao FMI e o Banco Mundial. Foi ainda o representante
alterno junto ao GATT por ocasião das negociações da Rodada Uruguai.
O Embaixador Sergio Amaral exerceu altas funções no Governo brasileiro, tais
como Secretário para Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Secretário Executivo
do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia. Durante o Governo Fernando Henrique
Cardoso, foi Ministro de Estado duas vezes. Primeiro, como Secretário de Comunicação
Social e porta-voz do Presidente. Em seguida, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. e Desenvolvimento. Nessa ocasião exerceu a Presidência do Conselho de
Ministros para o Comércio Exterior (CAMEX) e do Conselho do Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Atualmente, Sergio Amaral é sócio diretor da SSA Consultoria Internacional,
Sócio Conselheiro de Felsberg e Associados, Diretor da FAAP e Conselheiro da Fiesp. É
membro do Conselho Diretor da WWF e do conselho de algumas empresas, entre os quais o
Conselho Internacional da Total, uma das maiores empresas de petróleo.
Fala seis idiomas (português, francês, inglês, espanhol, alemão e italiano) e tem
diversos artigos e ensaios publicados no Brasil e no exterior.
87
ANEXO B - PROGRAMAÇÃO OFICIAL DO “ANO DO BRASIL NA FRANÇA/2005
Exposição Patrimonial Projeto Local-França Data do Evento
As Artes dos Índios do
Brasil: o Desejo da
Beleza
Grand Palais, Paris 22-março a 27-
junho/2005
Herança Africana Musée Dapper, Paris setembro/2005 a
fevereiro/2006
Frans Post e o Brasil do
Século XVII
Chapelle do Musée du
Louvre, Paris
28-setembro/2005 a 01-
janeiro/2006
O Brasil na Época
Romântica
Musée de La Vie
Romantique, Paris
25-junho a 27-
novembro/2005
Amazônia Brasil Palais de la Découverte,
Paris
18-abril a 14-
agosto/2005
Origem e Originalidade
da Arte Brasileira –
Coleção Beatriz e Mário
Pimenta Camargo
Musée de Beaux Arts,
Rouen
01-março a 29-
maio/2005
Sant'Ana Maestra –
Coleção Ângela
Gutierrez
Palais Lascaris, Nice 15-junho a 15-
outubro/2005
Músicas Brasileiras: os
Ritmos do Brasil
Musée de La Cité de La
Musique, Paris
17-março a 26-
junho/2005
O Brasil Brasileiro Museu de Art Naïf, Nice 25-junho a 30-
outubro/2005
Arte Plumária da
Amazônia
Musée de Histoire
Naturel et de
Etnographie, Lille
1-setembro a 31-
dezembro 2005
Tarsila do Amaral Musée Fernand Léger,
Biot
01-setembro a 30-
dezembro/2005
Da Terra à Terra Fondation Bernardaud,
Limoges
25-junho a 30-
setembro/2005
Cícero Dias Maison de L'Amérique
Latine, Paris
01-abril a 31-julho/2005
O Universo da Literatura
de Cordel
Bibliotèque de Alcazar,
Marseille
07-setembro a 30-
novembro/2005
Relação entre Medicina
Francesa e Brasileira
Musée de La Santé des
Armées, Val de Grâce –
Paris
19-novembro a 10-
dezembro/2005
Tristes Trópicos: Um
Outro Olhar -Diário de
Luiz de Castro Faria
Maison Auguste Comte,
Paris
01-setembro a 30-
dezembro/2005
O Popular no Barroco e
o Barroco no Popular
Musée de Chambéry Junho a setembro/2005
Amazonas, Amazônia Musée de Histoire
Naturel, Dijon
1-junho a 31 - dezembro
Sonhos da Amazônia Abbaye, Daoulas 1 -maio a 31- dezembro
88
Santos Dumont Musée de l'air et de
l'Espace, Le Bourget –
Paris
junho/2005
Victor Brecheret Salon d'Automne, Paris Outubro/2005
Villegagnon e o sonho
da França na Antártica
Provins
As embarcações do
Maranhão
Musée de La Marine,
Paris
Antônio Bandeira Ambassade du Brésil,
Paris
30-setembro a 13-
novembro/2005
O Brasil em selos Musée de La Poste, Paris 15 - junho a 30 - agosto
Arte Contemporânea
Projeto Local-França Data do Evento
Frans Krajcberg Parc de Bagatelle, Paris Maio a outubro/2005
25 Anos de Obra-
Acontecimento de Lygia
Clark
Musée des Beaux Arts,
Nantes
21-março a 30-
abril/2005
Iberê Camargo: Diante da Pintura Musée des Beaux
Arts, Bordeaux
Março a
maio/2005
Concretismo e Neoconcretismo
Espace de L'Art
Concret, Mouans
Sartoux
16-março a 19-
junho/2005
Imagens do Inconsciente Musée Halle de St
Pierre, Paris
15-setembro/2005
a 28-
fevereiro/2006
Ernesto Neto
Chapelle Saint
Louis de la
Salpêtrière, Paris
01-setembro a 30-
outubro/2005
Tunga
École Nationale
des Beaux Arts,
Paris
18-setembro/2005
O Corpo Onde Não Há
Espace
Topographie de
l'Art, Paris
22-setembro a 24-
outubro/2005
Espaço Urbano – Natureza Intrínseca
Espace
Topographie de
l'Art, Paris
03-novembro a 05-
dezembro/2005
Monica Nador Rio Loco,
Toulouse
Je Ne Suis Pas d'Ici / Júlio Villani
Maison de
L'Amérique
Latine, Paris
Setembro a
dezembro/2005
Jovem Gravura Brasileira
Cité Internationale
des Arts et Galerie
Michelle Broutta,
Paris
Maio a junho/2005
Eduardo Srur e outros Artistas
FRAC,
Bourgogne
Lorraine
89
Ernesto Neto Domaine de
Kerguéhennec
Artur Barrio FRAC, Paca
"O Sena" ENSBA, Paris
Artur Barrio Palais de Tokyo,
Paris
Wagner Morales Pavillon du Palais
de Tokyo, Paris
Maurício Dias e Walter Riedweg Villa Arson, Nice
Carmela Gross e outros artistas Passage de Retz,
Paris
Jac Leirner, Marcelo Cidade e
Rubens Mano
Grand Café, Saint
Nazaire
Rosangela Rennô
Euro RSCG/
Festival
d'Automne
Arthur Luiz Piza Galerie Jeanne
Bucher, Paris
Lygia Pape CAPC, Bordeaux junho/2005
Falsos Movimentos
Centre d'Art
Contemporaine,
Metz
Junho a
outubro/2005
Luciano Figueiredo
Musée
Departamental,
Gap
13-março a 18-
setembro/2005
Regina de Paula Centre d'Art
Passarele, Brest
Maurício Dias e Walter Riedweg Plateau/ Festival
d'Automne, Paris
Fotografia
Projeto Local-França Data do Evento
A Fotografia Brasileira do século
XIX
Musée d'Orsay,
Paris Maio a julho/2005
Pierre Verger Hôtel de Sully,
Paris Setembro/2005
Marc Ferrez Musée
Carnavalet, Paris
01-outubro/2005 a
15- janeiro/2006
O Brasil de Salgado
Galerie Photo
Richelieu e
Bibliotèque
Nationale de
France, Paris
20-setembro/2005
a 15- janeiro/2006
Miguel Rio Branco
Maison
Européenne de la
Photo, Paris
27-setembro a 27-
novembro/2005
Cid Collection
Maison
Européenne de la
Photo, Paris
27-setembro a 27-
novembro/2005
90
Mata Atlântica Parc de Bagatelle,
Paris
Julho a
outurbro/2005
Brasil Místico Abbaye,
Fontevraud
Maio a
setembro/2005
Imagem do Negro
Maison de la
Photographie,
Lille
Encontro Intenacional da Fotografia Arles
Festival Outsiders
Maison
Européenne de la
Photographie,
Paris
“O Cruzeiro”
Musée de
Nicéphore
Niepce, Chalons
Festival de Videoformas Clermond –
Ferrand
Eder Santos e Lucas Bambozzi :
Imagems Passagens Annecy
Transphotographique Lille 01 a 30-
novembro/2005
“Olhares do morro” - Vincent
Rosenblatt Arles e Paris Julho/2005
Floresta Atlântica de Carlos Renato
Fernandes Printemps, Paris
Visto para a Imagem Perpignan
Nação Caiapó - Regina Santos Pontoise 15-junho a 15-
julho/2005
Arquitetura
Projeto Local-França Data do Evento
Le Corbusier no Rio 1928 - 1936 Fondation Le
Corbusier, Paris Novembro/2005
Favelidade Metro, Paris
Os Moradores Construtores de São
Paulo/Coloco
Le Lieu Unique,
Nantes
Relação França Brasil-Docomomo
Institut Français
de Arquitecture,
Paris
21-junho a 10-
julho/2005
Herança e Modernidade da
Arquitetura Brasileira
Institut Français
de Arquitecture,
Paris
21-junho a 10-
julho/2005
Lina Bo Bardi Pavillon de
Arsenal , Paris
Caminho de Papel - Sergio Cesar
Centre Culturel
Franco- Brésilien,
Paris
Zanine
Morrinho Couvent de
91
Recollets, Paris
Burle Marx Chaumont
“Brasilia” Maison du Brésil,
Paris
Dança
Projeto Local-França Data do Evento
Quatour e Zona Branca
1) Scène Natinale
de Martigues; 2)
Châteauvallon; 3)
Maison de La
Danse, Lyon
1) 26 e 27-maio; 2)
09 a 11- junho; 3)
21 a 24-junho
Ritual Cotidiano/ grupo Clara Scotch
Marseille; Aix en
Provence; Le
Mans; Lyon;
Lille; Grasse;
Paris
17 a 20 de maio /
24 de maio
(existem datas a
serem fixadas para
os meses de
novembro e
dezembro)
Tempo de Verão/ Márcia Milhazes
1) Maison de La
Danse; 2) Théatre
du Muselet –
Scène Nationale
de Châlon en
Champagne; 3)
Centre Nationale
de La Danse,
Lyon; Danse à
Aix, Aix en
Provence; Scène
Nationale de Gap,
Gap; Centre
Culturel l'Espal,
Mans;
L'Apostrophe
Scène Nationale
de Cergy
Pontoise; Espace
Jean Legendre,
Théatre de
Compiègne
1) 17 a 20 de
maio; 2) 24 de
maio-2005; 3)
Datas ainda não
definidas para
novembro e
dezembro/2005
Like an Idiot/ Cristina Moura
Saint Nazaire,
Aubusson;
Malakoff/ Paris
07-novembro a 07-
dezembro/2005
Grupo Corpo
Théatre de
Champs Elysées,
Paris; Maison de
La Danse, Lyon
Abril/2005
Coreografia “Que reste-t-il de nos
amours?” - Como se não coubesse no
Maison de La
Danse, Lyon;
28 de fevereiro a
29 de março e
92
peito/ Association à Fleur de Peau Scène Nationale
d'Angoulême,
Angoulême;
Théatre de La
Madeleine,
Troyes; Théatre
Aragon Triolet,
Orly; Théatre Le
Vanves, Vanves;
Théatre Firmin
Gémier, Antony;
Théatre du Lierre,
Paris
novembro/2005
(existem datas a
serem fixadas para
o 2o semestre)
Mildred Mildred + Criações
Individuais de Frederico Paredes &
Gustavo Ciríaco
Gap; Paris;
Châlons-en-
Champagne;
Compiègne; St
Nazaire;
Marseille; Dijon;
Malakoff
07 a 27-
novembro/2005
Bruno Beltrão
Petit-Quevilly;
Armentières; Aix
en Provence; Gap;
Dieppe; Paris;
Marseille; Grasse;
Auxerre;
Strasbourg; St
Michel sur Orge;
Mauperas; Reims
31-março a 24-
maio/2005
Lia Rodrigues Companhia de Dança
CND – Festival
d'Automne;
Maison de La
Danse, Lyon;
Marne La Vallée;
Danse à Lille,
Lille; Grenoble;
Rampe; Aix
Novembro e
dezembro/2005
Groisman
La Passarelle,
Gap; Marseille;
Cergy Pontoise
Novembro e
dezembro/2005
Dos à deux
Théatre Simone
Signoret,
Conflans-Ste-
Honorine
01 a 05-abril/2005
A Dança das Máscaras Amazônicas
Musée Quai
Branly; Festival
Montpellier,
Montpellier
21 a 25-julho/2005
Samwaad - Ivaldo Bertazzo Ile de France setembro/2005
93
Design
Projeto Local-França Data do Evento
Made in Brazil
Galerie VIA -
Valorisation de
l'Innovation dans
l'Ameubleument,
Paris
Março/2005
Artes Cênicas
Projeto Local-França Data do Evento
Turnê 2005 – Enrique Diaz
La Rose des
Vents, Villeneuve
d'Asq; La Filature,
Milhouse; Ferme
du Buisson,
Festival
d'Automne;
Théatre de la Cité
Internationale,
Festival
d'Automne;
Théatre du
Merlan, Marseille;
Le Maillon,
Strasbourg
01-maio a 20-
dezembro/2005
Hysteria
Scène Nationale,
Arles; La
Passarelle/Scène
Nationale, Gap;
Théatre Les
Ateliers, Lyon;
Théatre
d'Auxerre,
Auxerre; Théatre
Jean Lurçat/Scène
Nationale,
Aubusson; La
Rose des Vents/
Scène Nationale,
Villeuneuve
d'Asq; Théatre
71/Scène
Nationale,
Malakoff; Théatre
de Roman,
Roman; Théatre
Maxime
Gorki/Scène
Nationale, Petit
Quevilly
21 de abril a 10 de
junho
94
Mue
Festival
d'Avignon,
Avignon
13 a 28 de julho
Criação em Torno de Paulo Autran
Théatre National
de l'Odéon-
Europe, Paris
Os Sertões de Euclides da Cunha Cartoucherie,
Paris
Circo "O Sol Também" Fevereiro a
setembro/2005
Circo Paradiso
Música Clássica
Projeto Local-França Data do Evento
Concertos d'Accentus na França
Auditório do
Louvre, Paris;
Orne; Rouen
12 e 14-outubro;
18- setembro/2005
Jovens Intérpretes no Auditório do
Louvre
Auditório do
Louvre, Paris
12-setembro; 12 e
13-outubro; 04-
novembro
Mês Nacional do Barroco
Turnê em mais de
20 cidades
francesas
Novembro e
dezembro/2005
Programação do Festival d'Ile de
France
Festival d'Ile de
France, Paris
4 de setembro a 18
de outubro
Concertos de Nelson Freire
1) Arsenal de
Metz, Metz; 2)
Jacobins,
Toulouse; 3)
Châtelet, Paris;
1) 13-
dezembro/2005; 2)
23 e 24-
setembro/2005; 3)
31- janeiro e final
de dezembro/2005
Opéra “Condor” Grand Théatre,
Dijon
02 e 04-
dezembro/2005
Concertos de Música Barroca do
século XVIII na Igreja Val de Grace
Igreja de Val de
Grâce, Val de
Grâce
08 e 09-
dezembro/2005
Conjunto Calliope
Mês Nacional do
Barroco, diversas
cidades
11-novembro a 07-
dezembro/2005
Trilogia do carnaval - Marcel Bratke
Festival Saint
Dennis, Saint
Dennis
Junho e julho/2005
Concerto da Orquestra Nacional do
País de la Loire com Isaac
Karabtchevsky
Parque Expos de
La Beaurjoie,
Nantes
28 e 29-
junho/2005
Música Popular
Projeto Local-França Data do Evento
Participação no MIDEM 2005
Local de
Realização do
MIDEM 2005
Janeiro/2005
95
Carnaval promenade Paris e ruas da
Côte d'Azur Junho-2005
Tropicália Europa La Villete, Paris 10 a 17-julho/2005
Encontro da Cultura Franco-
Brasileira Chatou junho/2005
Oquestra Nacional d'Ile de France e
conjunto de jovens coristas no Zénith
Música na Maratona de Paris Paris 10-abril/2005
Música Popular Brasileira no Cité de
La Musique
Cité de La
Musique, Paris
19 a 29-
março/2005
Fiesta des Suds /Festa do Sul Marseilles 13 a 30 de outubro
38o Rugiantes Satellite Canbaret 24 de novembro a
4 de dezembro
Africolor Seine, Saint-Denis 3 a 18 de
dezembro
Jazz à Vienne Vienne 30 de junho a 14
de julho
Transmusicales Rennes 5 a 7 de dezembro
Printemps de Bourges Bourges 19 a 24 de abril
Vieilles Charrues Carhaix 23 a 25 de julho
Musiques Metisses Angouême 2 a 5 de junho
Banlieues Bleues Seine, Saint-Denis 11 de março a 16
de abril
Brésil Grand Écran La Villete, Paris 14 a 17 de julho
Nuits Atypiques Langon 5 a 7 de agosto
Rio Loco Toulouse 17 a 21 de junho
Brasil pop na Opéra de Paris 16o Festival Paris
Quartier d'été
14-julho a 15-
agosto/2005
Nuits de Fourvière Lyon 8 de junho a 6 de
agosto
Festival Saint Denis Saint Denis 20 de junho a 14
de julho
Eurockéennes Belfort 1 a 3 de julho
Francofolies La Rochelle 12 a 17 de julho
Paris Quartier d'Eté Paris 14 de julho a 15 de
agosto
Festival de l'Imaginaire
Elektronica – Scopitone Nantes 03 a 06-
junho/2005
Val Latina Pléneuf Val
André 05 a 07-maio/2005
Concerto à Bercy Paris
Lenine InCité Paris
Festival do Choro Ile de France
Oficinas e representações da
associação "Yakajouer" Perpignan
Eventos no Espaço Jemmapes Paris Ao longo do ano
2005, com maior
96
concentração de
eventos no mês de
maio/2005
Maestro Uirapuru
Festival Rio Loco;
Friche de la Belle
de Mai/ Marseille;
Foire de Nancy;
ABI de Daoulas
17 a 21 junho; 09 a
12-junho; 26-maio
a 07-junho; junho-
2005
Colóquios
Projeto Local-França Data do Evento
Brasil-Brasis: Fórum Franco-
Brasileiro da Sociedade Civil
Conseil
Economique et
Social de France,
Paris
11 a 17-julho/2005
Diversidade Cultural
Bibliotèque
Nationale de
France, Paris
13 a 16-
outubro/2005
A Cidade no Brasil dos Séculos
XVIII e XIX – Nascimento e
Renascimento
Espace Nouveau
Monde/
Université de La
Rochelle, La
Rochelle
16 a 18-
junho/2005
Meio Ambiente, Segurança e
Soberania na Amazônia
Maison de
L'Amérique
Latine, Paris
05 a 07-
outubro/2005
Brasil: Grande Potência Sorbonne, Paris Julho-2005
Imprensa e Midia no Brasil Maison de La
Radio, Paris 3 e 4-maio/2005
Brasil: Diversidade como Identidade Institut des Études
Politiques, Paris 01-abril/2005
Ciclo de conferências sobre o
imaginário brasileiro na literatura
francesa
Maison de
L'Amerique
Latine, Paris
Colóquio econômico MEDEF e CCIP,
Paris
I Congresso Internacional de
Literatura de Cordel
Maison des
Sciences de
l'Homme et de la
Societé, Poitiers
Setembro/2005
Brasil Místico
Maison de
L'Amérique
Latine, Paris
Bienal Franco-Brasileira em Torno
da Transformação do Corpo
O Esporte no Brasil Paris
Espaces atlantiques à l'époque de
l'esclavage../Espaços atlânticos na
época da escravatura
Nantes
Passeurs en sciences sociales Paris
97
Debate Fome Zero e Projeto Vigário
Geral Marseille
Agricultura Familiar-CIRAD
Salon de
l'Agriculture,
Paris
Ensino de línguas: a porta para a
cultura Paris
Semana da TV Brasileira
Institut Nationel
de l'Audiovisuel,
Paris/ Festival de
la TV, Reims
Forum sobre democracia
participativa Paris
Brasil em Cergy Cergy
Literatura
Projeto Local-França
Brésilivre
Espace FNAC,
Paris/Lyon/
Toulouse/
Bordeaux; L'autre
Livre, Paris
Março, maio,
outubro e
novembro/2005
Festival do livro da Juventude Montreuil
O Brasil na Casa dos Escritores e
Tradutores Saint Nazaire
Lançamento Revista Europa Paris
Paris Bibliotecas Paris
"As lindas Latinas" Lyon, Marseilles e
outras
Festival “Etonnants Voyageurs”
/Festival"Estranhos Viajantes" Saint Malo
Exposição Literária Itinerante Vichy
Cafés Literários
Cinema e Audiovisual
Projeto Local-França Data do Evento
Festival de cinema sobre 3 cidades
brasileiras (Rio, São Paulo e Brasilia)
Forum das
Imagens, Paris junho/2005
Ciclo de filmes sobre mestissagem e
diversidade cultural BNF, Paris Outubro/2005
Jangada: Festival do Cinema
Brasileiro L Arlequin, Paris Abril/2005
Jangada : Circulação de filmes na
França
diversas salas de
cinema alternativo diversos meses
Festival La Cita Biarritz 26 setembro a 2
outubro/2005
Comissão França-América Latina Bordeaux
Festival "Teatro no cinema" Bobigny 16 março a 1 abril
de 2005
Viva Brasil Bibliot que junho/2005
98
Publique
d Information no
Centre Georges
Pompidou
Bem Te Vi em Paris
17a edição dos Encontros do Cinema
da América Latina Toulouse Março/2005
Festival de filmes estrangeiros sobre
o Brasil
Cinemateca de
Toulouse junho/2005
Paris Cinema diversas salas em
Paris Julho/2005
Festival dos Três Continentes Nantes Novembro/2005
Festival de Cannes Cannes junho/2005
Festival de documentários Paris junho/2005
Apresentação de filmes brasileiros no
Instituto Lumière Lyon Abril/2005
Festival Silhouette (curta metragens
ao ar livre)
Parc des Buttes
Chaumont, Paris Agosto/2005
Outros
Projeto Local-França Data do Evento
Espaço Brasil Carreau du
Temple, Paris
10-junho a 25-
setembro/2005
Brasil Antropofágico - Sampaca Marseille 30 maio a 13-
junho/2005
Programação do Festival de l'Epau
Festival de L'Epau
(L'Abbaye de
l'Epau e Le Centre
Culturel de
l'Espal)
Maio a
novembro/2005
Texto e Documento para a classe
produzido pelo SCEREN
DVD sobre o Brasil produzido por
SCEREN
Manger le Brésil École de La Main
d'Or
Cor quo vado Notre Dame, Paris
Cerimônia de Lavagem das
Escadarias da Igreja da Madeleine
Église de
Madeleine/Paris,
Marseille, Biarritz
15-maio a 15-
junho/2005
Cerimônia de Lavagem das
Escadarias da Igreja do Sagrado
Coração
Église Sacré
Coeur
Evénements à Grenoble Grenoble 30-maio a 22-
junho/2005
Prêmio Escolar para um Concurso de
Educação Nacional
Cisne Branco (Turnê por diversos
portos da França)
99
Apolônio de Carvalho Musée Jean
Moulin
Le Vivat Armentières
Música (15 a 29-
novembro/2005);
Dança (22-
novembro/2005);
Artes Plásticas
(novembro/2005).
Festival de l'Oh Val de Marne
Cycle de
Conférences (08 a
24- maio/2005);
Congrès des
collégiens (21-
abril/2005);
Exposição
Sebastião Salgado
(maio-
junho/2005);
outras exposições
(maio-2005);
apresentações
musicais de Belém
(19 a 24-
maio/2005); dança
(19 a 24-
maio/2005); artes
cênicas (08 a 24-
maio/2005).
Evento Gastronômico no Plaza
Athénée Plaza Athénée
Evento Gastronômico do Grupo
Accor
Hotels/Groupe
Accor
Eventos na FNAC Réseau des Fnac
en France
A partir de 22-
março/2005
Traços da Bahia de Coustiou
Champigny sur
Marne, Lannion,
Magny les
Hameaux
Eventos na Guianas Guyane
Eventos no Futuroscope Futuroscope,
Poitiers
Fevereiro a
dezembro/2005
Paris Praia Paris Verão/20005
Corrida Transatlântica 6,5 La
Rochelle-Bahia La Rochelle
Corrida Transatlântica Le Havre-
Bahia Le Havre
Legenda/outros
Projetos sob a responsabilidade da
Coordenadora Mequita