PLANO EMERGENCIAL PARA
AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS1
UNIVERSIDADE SEMPRE PÚBLICA
1. A UNIVERSIDADE QUE TEMOS
O sistema federal de ensino superior vive uma grave crise. Desde o primeiro
mandato de FHC, o Ministério da Educação (MEC), comandado pelo ministro Paulo
Renato de Souza, procura adequar nossas universidades à “nova” ordem mundial
expressa nas orientações dos documentos para o ensino superior do Banco Mundial e,
agora, do Fundo Monetário Internacional-FMI. Ambos têm o objetivo de subordinar
os países em desenvolvimento aos centros de tecnologia do primeiro mundo.
É por isso que as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) têm sofrido
uma política de desmonte de seu patrimônio científico e tecnológico. Os recursos da
União para o investimento em educação minguam, tendo sido reduzidos em R$
462.986.882,00 entre 1995 a 20002. Enquanto isto, no mesmo período, o Brasil pagou
mais de R$ 215 bilhões com o juros, encargos e amortização da dívida interna e
externa3. Já o ensino particular tem sido privilegiado pela política governamental e
teve seu número de matrículas aumentado em 59,1% no período de 1994 a 1999. Nas
IFES, com a redução orçamentária, o aumento de matrículas foi de apenas 21,8% no
mesmo período4. E ainda assim é nas IFES que estão 48,78% dos estudantes de pós-
graduação do país5.
Verifica-se também que os recursos públicos estão sendo destinados ao
investimento nas instituições privadas de ensino superior em contradição às
universidades federais, prova disso foi o empréstimo de 500 milhões de reais do
1 Elaborado pelo Comando Nacional de Greve e Mobilização da UNE, com base no documento original da Direção da UNE.2 Endereço eletrônico ca Câmara dos Deputados-2001: camara.gov.br3 Amaral, Nelson C.; In: Tópicos especiais em administração universitária: Gestão Econômico - financeira; 20004 Censo do ensino superior do INEP/MEC - 20005 Idem.
1
BNDES6 mesmo as IES particulares ter a capacidade de se autofinanciar, com seus
lucros que superaram mais de cinco bilhões de reais no ano passado.
A situação demonstra que é imprescindível uma solução emergencial para o
sistema de Universidades Federais de nosso país. A primeira versão do Plano
Emergencial mostrou que é possível unirmos a resistência contra esta reforma
educacional, com a proposição de soluções viáveis ao problema dos estudantes. Prova
disto é que estão em fase final de aprovação o fim da lista tríplice para eleição de
Reitores das IFES e a regulamentação das moradias universitárias na Câmara dos
Deputados.
2. A MANUTENÇÃO DA GRATUIDADE NO ENSINO SUPERIOR:
A gratuidade no ensino superior é um tema que sempre ganha destaque
quando um organismo internacional, como o Banco Mundial-BM e/ou o Fundo
Monetário Internacional-FMI, propõe a sua extinção nas Universidades Públicas do
país, sempre argumentando que a manutenção é cara demais e consome recursos que
poderiam ser utilizados para desenvolver o ensino fundamental e médio.
No entanto, como disse o próprio Fernando Henrique Cardoso7: “o ensino
superior deve ser gratuito, como reza a Constituição Federal. E seria um equívoco
discutir no entendimento nacional o fim da gratuidade. As razões básicas para este
princípio têm a ver com a própria questão da cidadania e da democracia”.
Mas não é bem isso o que temos visto no ensino superior brasileiro. O corte de
recursos das IFES tem condicionado o funcionamento destas instituições à cobrança
de taxas nos mais variados cursos de graduação e pós-graduação, a exemplo da
UFMG. O Ministro da Educação, Paulo Renato, já defende a cobrança de
mensalidades nos cursos de pós-graduação das Universidades Públicas em nosso país.
Porém, esta política adotada no Brasil não encontra parceiros em outros
países, pois na Suécia, Espanha, Itália e EUA, os estudantes que freqüentam
instituições públicas representam, respectivamente, 95%, 90%, 89% e 76% dos
6 Fonte: Gabinete do Deputado Federal Gilmar Machado (PT/MG)7 Ensino público pago? Fernando Henrique Cardoso, Folha de São Paulo, em 21/03/1991.
2
matriculados8. No Brasil, este percentual cai para 35%9 - e esta não é a tendência
internacional, pois a Conferência da UNESCO sobre educação superior, em 1998,
destacou também a importância estratégica do crescimento das Universidades
Públicas na atualidade.
PROPOSTAS:
Pela manutenção da gratuidade nos cursos de graduação e pós-graduação nas
IFES, como garante a Constituição Federal.
3. AUTONOMIA COM GARANTIA DE FINANCIAMENTO PÚBLICO:
A questão da autonomia universitária é vital para a sobrevivência e o
desenvolvimento do sistema. A atual legislação garante às universidades plena
autonomia da gestão de seus recursos, liberdade de ensino e de pesquisa. O MEC
apóia-se na falta de clareza na legislação para limitar a liberdade de gestão das
universidades, e conseqüentemente sua autonomia, cortando os recursos das
Universidades Federais do país.
Gastos dos recursos educacionais vinculados aos impostos - Valores em R$
milhões, a preço de JAN/2000(IGP-DI, FGV)10.
ANO TOTAL PARA A EDUCAÇÃO GASTOS COM AS IFES % GASTO COM AS IFES
1995 36.079 7.926 22,0%1996 37.635 7.135 19,0%1997 37.587 6.784 18,0%1998 39.297 6.990 17,8%1999 36.341 7.247 19,9%
O ministro Paulo Renato, em 1989, quando em debate sobre o processo que
gerou a autonomia das universidades paulistas, escreveu que “obviamente não teria
muito sentido concebermos a autonomia financeira como se a universidade pudesse
gerar seus próprios recursos. Falamos de autonomia de gestão, um ponto pertinente 8 Banco Mundial – 1994, In: La enseñanza superior9 INEP/MEC - 200010 Sguissardi, Valdemar; In: O Brasil e os compromissos internacionais na área da educação superior; Brasília; Nov/2000.
3
onde poderemos de fato avançar... A autonomia sem clareza sobre os recursos
significa apenas a desobrigação do governo”. As palavras do ministro contradizem
com a atual realidade por ele implementada.
É por isso que o grau de investimento em educação deve estar proporcionalmente
ligado a riqueza produzida por um país, para daí sim, vermos qual o nível de
compromisso que o Governo dá à educação.
Gastos da União aplicados nas IFES em relação ao PIB, sem o repasse para
aposentados, pensionistas e precatórios (valores em R$ milhões, a preço de
JAN/2000- IGP-DI,FGV)11
ANO PIB/BRASIL RECURSOS DAS IFES PORCENTAGEM(%)1995 981.500 5.719 0,58%1996 1.064.894 5.070 0,48%1997 1.103.144 4.704 0,43%1998 1.114.300 4.848 0,44%1999 1.052.620 4.934 0,47%
No entanto, o Brasil é conhecido como um dos países que, proporcionalmente,
menos investe em educação. Enquanto aqui se gasta US$ 215,5 por habitante/ano,
países como Bahamas e Argentina investem US$ 441,1 e US$ 312,9,
respectivamente12. Se destacarmos apenas os gastos com o ensino superior, o governo
federal disponibiliza somente 0,47% do PIB, sendo que a média em outros países é de
1%13.
Mesmo assim o governo de FHC insiste em dizer que há recursos mais que
suficiente para a educação superior e que estes deveriam ser redirecionados para
outros níveis de ensino. Outra inverdade. Do montante de verbas investidas na
educação, 22% provém da União que, constitucionalmente, investe parte deste
montante no ensino superior. Os 78% restantes vêm dos estados, municípios e do DF,
que investem nos outros níveis14.
Um outro argumento muito em voga é o do alto custo do estudante
universitário do sistema federal. Examinando os valores com precisão, este
11 Idem.12 Amaral, Nelson C.; In: Tópicos especiais em administração universitária: Gestão Econômica - financeira; 200013 UNESCO - 199414 Andifes - 1999, In: Financiamento da educação superior pública federal
4
argumento torna-se inconsistente: um estudo realizado por Amaral15 calculou o custo
por aluno nas IFES. Seguindo metodologia bastante próxima à da Organização
Econômica para a Cooperação e Desenvolvimento -OCDE, que busca levar em
consideração exclusivamente a despesa com o ensino nas universidades, chegou-se ao
valor de R$ 5.429,00 em 1997 – inferior aos US$ 5.998,00 da França, aos US$
14.229,00 dos EUA e aos US$ 16.320,00 da Holanda. Vale lembrar que em 1997 o
valor do real estava bastante próximo ao dólar.
É por isto que as entidades da comunidade universitária (UNE, Andes/SN,
Andifes, SBPC, ANPG e Fasubra) defendem que a União repasse recursos suficientes
para que as IFES mantenham e desenvolvam o sistema e ainda propomos alguns
princípios:
a) que o pagamento de aposentados, pensionistas e precatórios sejam feita pela
União, mas não como rubrica da educação superior;
b) que leve em consideração as riquezas produzidas pelo país, que é expressa através
do seu PIB;
c) que leve em consideração um gasto médio por estudante/ano, que possa garantir
recursos para o ensino, a pesquisa e a extensão, sempre visando um padrão
internacional de qualidade e socialmente referendada;
d) que nenhuma política econômica desvie recursos da educação;
e) que se crie um fundo crescente de recursos para que garanta a expansão das vagas
e o crescimento no sistema das IFES.
PROPOSTAS:
Garantia da autonomia didática, científica, pedagógica e de gestão financeira, tal
como versa o artigo 207 da Constituição Federal, com a ampliação do
investimento público nas IFES;
Execução da norma do PNE que garante a criação de um fundo composto de 75%
dos recursos da União16 vinculado à educação.
15 Estudo do Prof.° Nelson Cardoso Amaral: O financiamento do sistema público federal de ensino superior - maio/199916 Constitucionalmente a União deve investir 18% de seus investimentos, prioritariamente no ensino superior.
5
Realizar um ciclo de debates entre a ANDES, ANDIFES, FASUBRA, ANPG,
SBPC, a UNE e o MEC, visando propor um cronograma de recursos públicos
para as IFES até 2010.
4. AMPLIAÇÃO DAS BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA:
No atual cenário mundial, onde o saber suplanta o capital físico na produção
de novas riquezas, a pesquisa é um instrumento decisivo para o desenvolvimento
socioeconômico dos países. No Brasil as universidades públicas, dentre elas as IFES,
são responsáveis por 90%17 das pesquisas científicas nacionais e seus programas de
iniciação científica têm contribuído para a formação de novos pesquisadores e para a
melhoria da qualidade no ensino.
Pressionado pela comunidade científica, indignada pelos constantes cortes de
recursos para a C&T em nosso país, que entre 1990 a 1996 caiu de 0,36% para 0,32%
do PIB e pelo baixo investimento de US$ 39,1 por habitante, contra US$ 39,9 e US$
297,9 de El Salvador e Coréia do Sul18, respectivamente. É por isso que o Congresso
Nacional aprovou a transferência de verbas públicas para a criação de Fundos
Setoriais, mas até agora esta medida virou artigo de ficção científica.
Mesmo assim, o Governo Federal não fez nenhum pagamento das bolsas dos
estudantes e tutores do programa PET, mesmo com a garantia de recursos . Vale
lembrar que os Grupos PET tem estreita ligação com a melhoria da qualidade na
graduação das IFES. É por sua excelência, que em todas as avaliações da
Coordenadoria de Aperfeiçoamento ao Ensino Superior (Capes), este programa ficou
caracterizado como consistente e completo, a tal ponto que serve de referência para
outros países.
Outro programa que sofreu com o corte de verbas de R$ 1.047.568,50, entre
1998 a 200119, é o de bolsas do Programa de Incentivo a Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC) / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e ainda assim o MCT baixou um decreto que restringe a
17 Estudo: A presença da universidade pública - IEA/USP - 200018 Amaral, Nelson C. ; In. Tópicos especiais em administração universitária/200019CNPq –2001.
6
participação dos estudantes na seleção para essas bolsas. Mesmo assim este programa
abrange atualmente 14.506 bolsistas, considerando a redução de 4.350 bolsas no
período de 1998 a 200120. Além do desenvolvimento científico das IFES, este
programa melhora a qualidade da educação, uma vez que o estudante bolsista se
dedica à pesquisa.
Há também as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAP’s) vinculada
aos orçamentos estaduais, que somados investem R$ 646.443.900,0021, que apesar
das particularidades de cada estado, têm contribuído para o desenvolvimento
científico das regiões, mesmo sofrendo cortes e ameaças de extinção por parte dos
governos estaduais.
PROPOSTAS:
Defesa e ampliação do Programa Especial de Treinamento (PET), como fomento
do ensino, pesquisa e extensão nas universidades públicas. Pagamento imediato
dos bolsistas e tutores, garantindo a inclusão deste programa no PPA 2001/2003.
Investir R$ 7.245.300,00 nas Bolsas do PIBIC/CNPq, para chegar a meta de
30.000 bolsistas, entre 2001/2002.
Revogação da portaria que limita a idade de inscrição dos estudantes à seleção das
bolsas do MCT.
Defesa da manutenção dos recursos vinculados as FAP’s, nos respectivos estados.
5. CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PROGRAMA
DE AVALIAÇÃO UNIVERSITÁRIA:
20 Endereço eletrônico do CNPq/200121Amaral, Nelson C.; In. Tópicos especiais em administração universitária/2000
7
A avaliação universitária é peça chave para o desenvolvimento das
instituições de ensino superior. É através da avaliação que a universidade busca
subsídios para a melhoria e aperfeiçoamento da qualidade educacional. Para isto a
avaliação deve ter como finalidade a identificação de insuficiências, de vantagens e a
definição de políticas e de metas, servindo desta forma para a tomada de decisões.
Alguns princípios e características são básicos para termos uma avaliação com
esta perspectiva:
a) a avaliação tem de ser global - da instituição e de todo o sistema de universidades
públicas - diagnosticando a relação ensino e aprendizagem com a pesquisa,
extensão e gestão.
b) a avaliação tem de ser sistemática.
c) a avaliação tem de ter competência técnica e legitimidade política.
d) não deve ter concepção punitiva ou premiativa.
e) deve objetivar a melhoria da educação.
PROPOSTAS:
Promover um debate a Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior
(Andes/SN), a Federação dos Servidores das Universidades Brasileiras (Fasubra),
a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior
(Andifes), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a
Associação Nacional de Pós-Graduação (ANPG) e o MEC, em conjunto com a
UNE, para elaborar um novo processo de avaliação para o ensino superior
brasileiro.
6. RESPEITO À DEMOCRACIA INTERNA:
Os atuais mecanismos utilizados no processo de escolha dos dirigentes
universitários e da composição dos órgãos colegiados das universidades federais são
autoritários e não serve à construção de uma autonomia efetiva.
8
A obrigatoriedade da presença de, no mínimo, 70% dos docentes nos
Conselhos Deliberativos e nas consultas para escolha dos Dirigentes é absurda e não
encontra respaldo nem na comunidade universitária, nem na tradição da composição
desses colegiados no Brasil.
Pior ainda é a Lei número 9.192/95 que permite a nomeação dos dirigentes
das IFES pelo Presidente da República, por meio de escolha em lista tríplice
apresentada pelo conselho máximo da universidade. O governo tem se utilizado deste
dispositivo para garantir a promoção de dirigentes ligados ao seu projeto, mesmo
quando estes são rejeitados nas consultas universitárias, a exemplo do que ocorreu
nas UFRJ, UFBA, UFMS, UFPA e em tantas outras.
É impossível gerir uma universidade sem a definição de um projeto que haja
em consonância com a maioria de seus principais atores (professores, estudantes e
funcionários). Esta atitude só colabora com a queda na eficiência e na falta de
transparência, contribuindo para o desmonte do sistema.
Para que a democracia possa se refletir em todos os órgãos defendemos
representação paritária entre os três segmentos principais das IFES e o fim da
nomeação dos Reitores por meio de lista tríplice. Estas medidas são fundamentais
para que cada universidade possa definir seus rumos e possa utilizar com mais
transparência os recursos nela investidos.
PROPOSTAS:
Pressionar o Congresso Nacional a aprovação do Projeto de Lei n.º 2961/2000, do
Dep. Federal Wilson Santos (PMDB-MT), que estabelece o fim da lista tríplice na
escolha dos Reitores das IFES.
Elaborar um Projeto de Lei que estabeleça a paridade de representação para os
órgãos colegiados e eleição de dirigentes das IFES, alterando o artigo 56 da Lei
de Diretrizes e Bases (LDB).
7. ABERTURA DE CONCURSO PARA A CONTRATAÇÃO DE MAIS
PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS:
9
Hoje a falta de professores é um dos graves problemas enfrentados pela
maioria das IFES. De 1990 a 1997 este déficit chegou a 13%22.Em 1999 existia cerca
de 46.68723, sendo que aproximadamente 600024 substitutos. Em relação aos
funcionários técnico-administrativo, houve um decréscimo de 26,2% entre 1994 a
199925. Os motivos são basicamente as mudanças ocorridas na previdência sociais e a
ida de vários “cérebros” para as instituições particulares em busca de melhores
condições de trabalho e salários.
Esta tendência tende a se agravar, caso o Projeto de “emprego público” - que
visa implantar o sistema de CLT para os futuros contratados das Universidades
Federais - proposto pelo Governo Federal, seja aprovado e não repor as perdas
salariais dos últimos sete anos.
Estas razões têm levado as IFES a contratar servidores terceirizados e
professores temporários que não têm estabilidade no emprego e, conseqüentemente,
ficam limitadas para desenvolver pesquisas, diminuindo desta forma as qualidades do
ensino nas universidades federais.
PROPOSTA:
Reposição das 8000 vagas de professores e 21 mil vagas dos funcionários
técnicos administrativos, pelo Regime Jurídico único.
Reposição salarial dos professores e técnicos- administrativos.
Contratação gradual de professores e funcionários técnicos- administrativo com a
ampliação das vagas dos novos estudantes.
8. ABERTURA DE NOVAS VAGAS:
Nos últimos anos a política de abertura de novas vagas nas instituições de
ensino superior implementada pelo MEC, tem aumentando o ingresso dos jovens a
este nível de ensino através das universidades particulares. No período de 1994 a
22 Andifes - 1999, In: Financiamento da educação superior pública federal23 Censo do Ensino Superior 2000; MEC/INEP.24 Ramos, Mozart N. ; In: Ensino Superior no Brasil: expansão e avaliação do sistema universitário; pags. 27 a 43; 2000.25 INEP/ MEC-2000
10
1999, enquanto o aumento das vagas nas pagas foi de 59,1%, nas IFES foi de
21,8%26.
O que se tem percebido é um forte estímulo ao crescimento das particulares
em detrimento das IFES, que em 1999 tinham 442.835 estudantes, o equivalente a
18,62% dos alunos universitários no país. Destes, somente 21,45% estudavam à
noite27.
Distribuição dos alunos no Ensino Superior e nas IFES por região, na faixa etária de
18 a 24 anos28
REGIÃO JOVENS COM 18 A 24 ANOS EM IES
ESTUDAM NAS IFES
POPULAÇÃO NO ENSINO
SUPERIOR(%)
POPULAÇÃO NAS IFES(%)
NORTE 77.735 42.982 4,77 2,64NORDESTE 289.625 111.317 4,76 1,83CENTRO-OESTE 146.408 42.730 11,71 3,42SUL 380.455 75.728 12,84 2,56SUDESTE 1.053.281 125.025 11,92 1,41
Esta realidade não interessa ao desenvolvimento tecnológico do país, pois é
nas IFES que se produz grande parte da ciência brasileira e é nelas que podemos
democratizar o conhecimento para contribuir com a melhoria da qualidade de vida da
população.
PROPOSTAS:
Elaboração de um plano nacional de universalização e estruturação do ensino
superior público.
Aumentar em 10% a taxa de crescimento das vagas nas IFES em 2001, para
atingir 487.119 estudantes;
Abrir, em 2002, 142.186 novas vagas para termos 629.305 estudantes
matriculados nas IFES, ou seja, ter um crescimento de 30% em relação ao ano
anterior;
26 INEP/MEC-200027 Idem28 ANDIFES-1999
11
Ter em 2003, 818.096 estudantes matriculados nas IFES, sendo que 278.153 dos
estudantes no período noturno, ou seja, 1/3.
9. ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL:
A assistência estudantil é a forma encontrada para que os estudantes de baixa
renda possam estudar nas IFES. No Brasil, cerca de 45% dos estudantes são oriundos
das classes C, D e E.
Fonte: Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das IFES-Andifes - 1997CLASSIFICAÇÃO
SOCIALNORTE NORDESTE CENTRO-
OESTESUDES
TESUL BRASIL
A 5,8% 12,37% 14,1% 12,53% 14,09%
12,61%
B 33,49% 37,77% 35,13% 47,59% 51,37%
43,11%
C 41,03% 31,58% 32,69% 29,62% 25,82%
30,54%
D 15,95% 12,94% 13,96% 8,2% 7,01% 10,5%E 3,74% 5,12% 4,12% 2,06% 1,72% 3,25%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Desde que assumiu o MEC, o ministro Paulo Renato desenvolveu uma
política de corte de recursos para a assistência estudantil, até que, em 1997, as verbas
para a manutenção destes programas foram extintas.
Fonte: Políticas públicas sociais – INESC - 1999ANO 1995 1996 1997 1998
RECURSOS R$33,07milhões R$37,12milhões - -
Mesmo com a falta de incentivo por parte do governo algumas IFES, por
pressão estudantil, têm se esforçado para manter estes programas, em especial as
residências e os restaurantes universitários, que são utilizados pelos estudantes de
acordo a tabela seguinte.
Situação de moradia:SITUAÇÃO DE MORADIA A B C D EMORADIAS UNIVERSITÁRIAS
0,22% 0,74% 2,54% 7,23% 16%
12
PENSÃO 1,45% 1,46% 1,66% 1,59% 2,16%AMIGOS 0,37% 0,71% 1,31% 2,36% 3,84%OUTROS(PAÍS,FAMÍLA,ETC) 97,96% 97,09% 94,49% 88,82% 78%TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das Ifes-Andifes-1997 Utilização de Restaurante Universitário:Atividade A B C D E MÉDIAAlmoço/Jantar 1,74% 2,86% 5,63% 12,37% 25,37% 5,31%Almoço 8% 11,57% 14,94% 17% 15,86% 12,85%Jantar 0,12% 0,5% 1,21% 2,3% 2,93% 0,94%Eventualmente 25,87% 25,22% 22,97% 19,92% 15,72% 23,76%Não utiliza 45,28% 38,56% 34,12% 28,25% 22,78% 36,48%Não responderam 18,99% 21,3% 21,11% 19,8% 17,34% 20,66%Fonte: Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das Ifes-Andifes-1997
Outras instituições passaram a cobrar taxas de matrícula e outros serviços dos
alunos, por meio de fundações ou da própria universidade. Estas taxas representam o
início da política de cobrança de mensalidades, refletem a desvinculação do Estado
com o financiamento do ensino superior e constituem desrespeito à Constituição
Federal que obriga a gratuidade do ensino superior.
Estas dificuldades têm levado 11,52% dos estudantes a trancarem ou
desistirem de seus cursos e que apenas 69,3%29 dos alunos concluam seus cursos, não
potencializando os recursos que são destinados à educação superior federal e
excluindo ainda mais a juventude brasileira.
Por tudo isto consideramos fundamental a elaboração de um plano nacional de
combate a evasão nas IFES que englobe a política de assistência estudantil, de apoio
pedagógico, de transferência de matrículas, de bolsas de monitoria, extensão e
iniciação científica vão prioritariamente para estudantes de baixa-renda, além de
reforço e revisão de currículos básicos. Para tanto propomos uma verba de
emergência de R$ 70 milhões que compense o déficit de quatro anos sem manutenção
dos restaurantes e moradias estudantis e que possibilite o início da aplicação do
plano.
29 INEP/MEC-2000.
13
PROPOSTAS:
Aprovar, com urgência, através do Congresso Nacional o PL n.º 1018/99, do Dep.
Fed. Nelson Pelegrino (PT-BA), que regulamenta a moradia estudantil nas
Universidades Públicas;
Elaboração do Plano Nacional de combate à evasão nas IFES;
Destinar R$ 70 milhões para o primeiro ano do plano nacional de combate a
evasão.
10. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA:
A extensão universitária tem uma função social muito importante para a
sociedade pois é através dela que se introduz, apóia e fortalece programas que visam
ao enfrentamento dos problemas sociais e das condições atuais de desigualdade e
exclusão, ressaltando que não cabe as universidades cumprirem a função do Estado.
Além do mais, a extensão universitária contribui para a formação profissional do
aluno, na produção de novos conhecimentos a partir da experiência e democratiza o
saber produzido nas IFES.
É por isso que precisamos regulamentar a extensão universitária, garantindo
recursos públicos para o desenvolvimento destes programas e direitos para os
estudantes que participem de tais programas.
PROPOSTAS:
Elaborar um plano de Extensão Universitária em conjunto com a ANDIFES e os
movimentos sociais e populares, que tenha a garantia de recursos da União e
direito aos estudantes, para as IFES executarem políticas voltadas para a
sociedade.
11. REFORMA CURRÍCULAR:
Na contemporaneidade, a Universidade ganha uma dimensão jamais vista na
história da humanidade. Desta forma os currículos tornam-se ferramenta fundamental
14
na formação de cidadãos críticos e ao mesmo tempo, aptos para acompanhar as
mudanças tecnológicas.
Mas, neste processo de construção dos novos currículos, a autonomia das
Universidades não pode ser infringida, ou seja, não se deve manter a atual forma de
“currículos mínimos” que tanto engessam a formação acadêmica dos estudantes,
levando-os, muitas vezes, a trancarem ou desistirem de seus cursos.
É por isso que os currículos devem visar a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e a extensão, a formação integral do cidadão, a interdisciplinaridade e a
articulação entre teoria e prática, mas respeitando as características de uma
determinada região, e que os Parâmetros Curriculares Nacional sirva para:
a) orientar para a elaboração dos currículos, respeitando a Autonomia das IFES;
b) assegurar as IES ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida;
c) apontar apenas indicações de tópicos ou campos de estudo e demais experiências
de ensino- aprendizagem;
d) incentivar uma sólida formação geral, permitindo variados tipos de formação e
habilitações diferentes em um mesmo programa.
PROPOSTAS:
A UNE realizar, em conjunto com as Executivas de Curso, o Fórum de Pró-
Reitores de Graduação (FORGRAD), a Associação Nacional pela Formação dos
Profissionais em Educação (ANFOPE), o MEC e a ANDES, um Seminário
Nacional de Reforma Curricular, visando debater sobre os Parâmetros
Curriculares Nacionais.
12. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E CEFET’s:
O sistema de IFES é composto, além das 47 Universidades e/ou Faculdades, de
mais 05 (cinco) Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET’s) e mais 44
(quarenta e quatro) Hospitais Universitários (HU’s), onde são realizadas mais de 17
mil cirurgias e prestam atendimento a mais de 80 mil pessoas por mês 30, sendo assim,
30 Amaral, Nelson C.; In: Tópicos especiais em administração universitária: Gestão Econômico - financeira; 2000
15
os HU’s prestam um serviço gratuito e de qualidade para a população de baixa-renda
que não é assistida pelo Sistema Único de Saúde-SUS, aliado a formação educacional
dos estudantes
Mas tanto os CEFET’s, quanto os HU’s têm sido atingidos pela política de FHC
e Paulo Renato. O primeiro, por uma grande reforma que visa tirar a capacidade
intelectual dos estudantes na produção de novas formas de produção tecnológica, e o
segundo, devido ao corte de recursos que está prejudicando seu funcionamento.
PROPOSTAS:
Realizar um Seminário Nacional de Educação Tecnológica, conjuntamente o
ANDES, SINASEFE e o MEC, para discutir a perspectivas da educação
tecnológica do país;
Realizar um Seminário Nacional, que discuta o futuro dos Hospitais
Universitários, em conjunto com a ANDIFES, ANDES, FASUBRA, MEC e Min.
da Saúde.
Vincular, obrigatoriamente, recursos do SUS aos HU’s.
Pela revogação da lei 449/99, que garante 25% dos leitos do HU’s para
atendimento particular.
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