Faculdade de Economia Universidade Coimbra
Pobreza Urbana em Portugal
Ana Gonçalves da Silva
Coimbra, 2008
Faculdade de Economia Universidade Coimbra
Pobreza Urbana em Portugal
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica da Licenciatura em Sociologia sob orientação de Paulo Peixoto.
Ana Gonçalves da Silva
Coimbra, 2008
Ficha Técnica
Título: Pobreza Urbana em Portugal
Trabalho realizado por: Ana Cláudia Gonçalves da Silva
Nº 20080932
1º Ano de Sociologia
Imagem
Fotografia da Capa
Fonte:
http://www.idrc.ca/es/ev‐5911‐201‐1‐DO_TOPIC.html
Olhando‐me profundamente
com seus grandes olhos tristes,
timidamente sorriu...
Um sorriso agonizante
trôpego, morno, ofegante
de quem só sorri porque...
não tem mais o que fazer.
Senti naquele momento
saudade perdida no tempo
de uma infância que eu vivi.
De olhos grandes também...
agonizante também...
morno e ofegante também...
e timidamente sofri.
Naquele menino triste
recoberto de pobreza
que tanto esperava de mim
eu pude ver com certeza
o que deixei de fazer
o que depressa esqueci.
Máscara cruel da fome
impossibilidade de ser
por não ser ou por não ter
ou simplesmente por ser.
E foi então que eu senti
bem lá no fundo de mim
uma pergunta a bailar:
‐ Como é que pode, meu Deus,
alguém ter na sua frente
esse tiquinho de gente,
e uma moeda negar?!...
SCRPardo, 18/04/1985
Índice
1. Introdução 1 2. Desenvolvimento 3 2.1 Estado das Artes 3 2.2 Descrição detalhada da pesquisa 14 3. Avaliação da página da Internet 17 4. Ficha de Leitura 19 5. Conclusão 25 6. Referências Bibliográficas 26 ANEXO I Página da Internet avaliada ANEXOII Texto de suporte da ficha de leitura
1. Introdução
“A pobreza, enquanto uma das principais manifestações da desigualdade, expressa‐se na situação desvantajosa dos indivíduos, famílias e grupos que estão colocados nos lugares mais baixos da estratificação social”. (Botella apud Cardoso: 1993)
No âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica, leccionada pelo
Professor Paulo Peixoto preferi a realização de um trabalho académico. Ou seja, escolhi
o regime de avaliação contínua, uma vez que, sendo uma cadeira cujo objectivo é
formar para a realização/ utilização de fontes de informação, nada melhor que meter
em prática as aulas leccionadas ao longo do semestre.
A elaboração deste trabalho exige um estudo exaustivo e bastante longo, dada a
sua abrangência e importância.
O primeiro obstáculo que me surgiu, na realização do trabalho, foi a escolha de
um tema. Dada a variedade de temas proposta e a sua importância não foi fácil escolher
um para desenvolver.
Preferi a “Pobreza urbana em Portugal” porque é um tema sempre actual e
estudá‐lo do ponto de vista sociológico pareceu‐me bastante interessante. Confesso que
inicialmente estava um pouco aterrorizada no que diz respeito à realização do trabalho
em si, mas a partir do momento em que me dediquei completamente à realização
deste, essa etapa foi ultrapassada.
A pobreza urbana é um fenómeno característico não só das cidades portuguesas,
porque é de Portugal que se trata, mas também de todas as cidades do Mundo. Este
problema é um dos mais preocupantes da actualidade, existindo associações públicas e
privadas espalhadas pelas cidades para tentar atenuar estas situações. Sendo a
solidariedade um importante ponto de combate à pobreza.
Posto isto, decidi começar o trabalho por definir o conceito de pobreza urbana.
Para isto foi necessário recorrer a indicadores que me ajudassem a definir o conceito, e
Pobreza Urbana em Portugal
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finalmente identifiquei as políticas de erradicação da pobreza urbana. Formulei o meu
estado das artes da seguinte forma: “2.1.1 O que é a Pobreza Urbana?”; “2.1.2
Indicadores de pobreza”; “2.1.3 Políticas de Combate à Pobreza”. Seguidamente “2.2
Descrição detalhada da pesquisa”; “3. Avaliação da página da Internet”; e finalmente “4.
Ficha de Leitura”. Para finalizar o trabalho é necessário a elaboração do ponto “5.
Conclusão” e as importantes “6. Referências Bibliográficas”.
“Por pobres devem entender‐se as pessoas, famílias e grupos de pessoas cujos recursos (materiais, culturais e sociais) são tão limitados que os excluem do nível de vida minimamente aceitável do Estado membro onde residem”. (OIT, 2003: 17)
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2. Desenvolvimento 2.1 Estado das Artes
Como já referi, a pobreza é um fenómeno característico de todas as cidades à
escala mundial.
O conceito da “pobreza urbana” tem vindo a registar algumas alterações ao
longo das décadas, é um conceito inacabado, que ao longo dos tempos se manifesta e
apresenta de diferentes maneiras. Como admite Dominique Schnapper, “é difícil
escrever sobre os pobres e a pobreza”. (Schnapper apud Fausto e tal: 2001)
“Pobreza não é só falta de recursos: é falta de poder, de capacidades e de oportunidades para alcançar níveis mínimos de bem‐estar e dignidade” (MENESES, 2008)
Em primeiro lugar, foi necessário perceber um conceito que engloba várias
definições, mas algumas bastante ultrapassadas. Depois do conceito definido é
necessário perceber os motivos e as causas deste fenómeno. Mas, não basta perceber
as causas, é preciso percebê‐las e combatê‐las. É então, que nascem as políticas de
combate e erradicação da pobreza.
Assim, percebe‐se que a erradicação não é fácil. É notório um aumento da
pobreza a cada dia que passa, o que transmite uma ideia de urgência em relação a este
fenómeno. É indispensável uma reflexão sobre as políticas postas em prática e o seu
sucesso ou até mesmo o seu fracasso. Devido ao impacto mundial da pobreza, “No dia
17 de Outubro assinala‐se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza”. (REDE
EUROPEIA ANTI POBREZA, 2008).
A pobreza é um fosso de desigualdade social que pode tomar proporções
gigantescas se nada for feito para o impedir.
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2.1.1 O que é a pobreza urbana?
“Falar da pobreza é evocar um conjunto heterogéneo de situações individuais, familiares e de grupo, cuja caracterização sócio‐económica e cultural tem de incluir uma vasta gama de variáveis, de tal modo a realidade a descrever se apresenta complexa e multifacetada.”. (Silva apud Cardoso: 1993) O conceito de pobreza, é difícil de definir. Porque além de existirem vários tipos
de pobreza1 é um fenómeno que não e fácil de investigar. Este trabalho apenas focaliza
um tipo de pobreza, a pobreza urbana.
“É uma pobreza exposta, ainda que tendencialmente contida fora da vista do resto da Cidade. É uma pobreza cumulativa, de que a expressão mais visível é a carência de alojamento – a sua precariedade, insalubridade, insegurança, ausência de conforto são factores de “guetização” e de exclusão social ”. (Silva, apud Cardoso: 1993)
Mas a pobreza não se fica por aqui, são protagonistas da pobreza indivíduos e
famílias cujos rendimentos ou as habilitações, bem como as condições de vida e de
trabalho sejam inferiores aos da média dos indivíduos ou famílias da mesma sociedade.
Na cidade estes contraste acentuam‐se sendo mais notória a diferença entre
ricos e pobres, ente o luxo e a miséria e entre o excesso e a escassez.
Segundo o ponto de vista do Rowntree2, existem dois tipos de famílias pobres: “
– Famílias cujos rendimentos são insuficientes para satisfazer as necessidades básicas; ‐
famílias cujos rendimentos seriam suficientes para a satisfação dessas necessidades,
mas que são canalizados para outras despesas, segundo o autor, muitas vezes
supérfluas.”. (Townsend apud Fausto et al.: 2001)
1 Pobreza absoluta, pobreza relativa e a pobreza subjectiva (Baptista et al. apud Fausto et al: 2001). 2 Investigador da política social e das causas das dificuldades sociais.
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Em Portugal existem várias situações de pobreza urbana que é necessário
distinguir. Os bairros de lata, realojamentos, barros sociais, zonas envelhecidas e de
construção clandestina, habitações sem condições de vida e concentração de população
idosa e com baixos recursos, compreendem os espaços urbanos degradados.
(CARDOSO, 1993)
Didier Fassin discute a origem de três noções ligadas à pobreza urbana e os seus
contextos originais: a “marginalidade”, que estaria ligada à relação centro/periferia; o
“underclass” que trataria da relação hierárquica alto/baixo; e a de “exclusão”, que
privilegiaria as relações dentro/fora. (Fassin apud Fausto et al.: 2001)
A um nível mais avançado, a pobreza pode mesmo transformar‐se em exclusão
social, “quando o nível dos recursos é muito baixo para participar da vida social
(problemas de saúde, fracasso escolar, dificuldades de trabalho)”. Renato (2008)
“ «Exclusão social» como a fase extrema de «marginalização», entendido este como um percurso «descendente», ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas na relação do indivíduo com a sociedade… A fase extrema ‐ a da «exclusão» ‐ é caracterizada não só pela ruptura com o mercado de trabalho, mas por rupturas familiares, afectivas e de amizade” (Robert Castel apud Costa, 1998: 9).
Assim, percebe‐se a diversidade de temas com que a pobreza está relacionada e
a delicadeza com que o tema tem que se analisado. Mas para avaliar a pobreza é
indispensável considerar uma série de indicadores.
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2.1.2 Indicadores da Pobreza
Existem vários indicadores de pobreza que nos ajudam a compreender a sua
origem, as causas e a necessidade de existir um fim para este fenómeno.
De acordo com o livro “Pobreza Urbana em Portugal” os principais indicadores
são: rendimento e despesa; situação na actividade económica; grau de instrução;
saúde e alimentação e ainda habitação e conforto3.
O rendimento e a despesa são o indicador mais importante na avaliação da
pobreza. Portugal cresceu de forma heterogénea entre o litoral e o interior. Tendo as
famílias de procurar melhores condições de vida deslocando‐se do interior para o litoral.
Mas quando confrontadas com as dificuldades que as cidades colocam, (integração
social e económica), vêem‐se obrigadas em adaptar modos de vida que não sendo os
melhores são os mais atingíveis.
“A pobreza é por outro lado, um fenómeno estrutural e as suas características (intensidade, incidência e tipologia) no momento presente são determinadas pelo(s) modelo(s) crescimentos seguido(s) nas últimas décadas pela economia portuguesa, originando a marginalização de certos grupos sociais e criando situações de vulnerabilidade nestes grupos.” (Silva et al. 1989).
“A natureza circular destes mecanismos conduz, assim, a uma
tendência para a perpetuação do fenómeno da pobreza dentro de uma mesma geração, e para a sua transmissão entre gerações.” (Silva et al. 1989).
É a situação na actividade económica que dita o nível de vida da
população.
“As famílias cujos representantes são activos com emprego a tempo inteiro, e sobretudo aquelas em que mais de um membro trabalha, são
3 Para a indicação dos diferentes indicadores de pobreza, recorri ao livro “Pobreza Urbana em Portugal” (Costa et al. 1985), seguindo a tipologia do livro, estes indicadores relativos às cidades de Portugal Continental, restringem os espaços urbanos degredados de Lisboa, Porto e Setúbal.
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claramente menos ameaçadas pela pobreza do que as famílias em que os representantes não trabalham, seja por razões de desemprego, de doença, de deficiência ou de velhice.” (idem, 1989).
O facto de ser inactivo ou activo desempregado está directamente ligado com a
pobreza. Uma vez que não exercem profissão também não são renumerados, recebem
apenas uma pensão concebida pela Segurança Social.
O grau de instrução está relacionado com o nível de escolaridade, com o
emprego/desemprego e com o nível de rendimento. Quanto maior é o nível de
instrução, maior é o rendimento e por sua vez menor é o grau de pobreza. Indivíduos
com pouca ou nenhuma escolaridade, possuem fracos empregos, e estão mais próximos
a uma situação de pobreza.
Um outro indicador também extremamente importante é a saúde e a
alimentação. A saúde resulta da precariedade monetária, uma vez que em Portugal
grande parte dos cuidados intensivos continuam dependentes dos recursos económicos
disponíveis das famílias. (Almeida et al. apud Fausto et al.: 2001)
Embora a saúde seja sinónimo de ser saudável, na realidade, nem sempre é
assim, também está relacionado com a herança genética. (Silva et al. 1989: 115).
Ao contrário do que se pensa não é nos bairros de lata que se encontra a maior
parte da população debilitada, esta encontra‐se fundamentalmente nos bairros de
realojamento (Almeida et al. apud Fausto et al.: 2001)4.
No que toca à alimentação, é importante referir que acima de tudo é uma
necessidade básica.
A alimentação deste tipo de população não é igual à dos indivíduos com
remunerações mais elevadas, “com efeito, a maioria das famílias viu‐se excluída do
acesso a determinados produtos alimentares”. (Silva et al. 1989)
Famílias com rendimentos mais elevados alimentam‐se melhor em termos de
variedade e de quantidade do que famílias que vivam em áreas urbanas degradadas.
4 Esta informação, aparentemente contraditória, resulta do facto destes indivíduos terem sido transferidos de bairros degradados, os chamados bairros de lata, para bairros de realojamento por motivos essencialmente de saúde, pois pessoas com problemas graves de saúde/deficientes são uma prioridade no que diz respeito à habitabilidade.
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Por fim, a habitação e o conforto são vistos, muitas vezes, como bens supérfluos.
“A situação habitacional dos sectores mais desfavorecidos da população urbana nunca foi boa”. (Silva et al. 1989)
Os elevados custos das habitações e as dificuldades de empréstimo, não deixam
outra saída se não viver em habitações sem as condições mínimas. “Os bairros de lata
constituem um dos aspectos mais chocantes da segregação social e espacial a que certas
camadas pobres da população urbana foram «condenadas»” (idem, 1989). Os bairros de
lata, os bairros de realojamento, as barracas e as casas velhas servem de abrigo aos mais
desfavorecidos. Muitas vezes, estas casas não possuem água, luz, saneamento etc.,
agravando também as condições de segurança dos habitantes (Almeida et al. apud
Fausto et al.: 2001e Silva et al. 1989).
A população residente neste tipo de bairros é bastante numerosa (Silva et al.
1989; Almeida et al. apud Fausto et al.: 2001). Onde por vezes existem as condições
necessárias para a criminalidade e a insegurança. Mas o facto de viverem num “habitat
à parte” não impede de se relacionarem com outros. Embora a convivência seja
possível, apresenta‐se bastante limitada pelas dificuldades impostas pelo quotidiano
(Silva et al. 1989).
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2.1.3 Políticas de Combate à Pobreza
O meu trabalho incide principalmente nas políticas de combate à pobreza. As
principais políticas de combate à pobreza vão de encontro com os indicadores, mas a
diferença entre estes é que as políticas aprofundam e avaliam os indicadores na medida
do que é importante fazer.
“Ser pobre é também não ter tido tempo para ser criança, é ter começado a trabalhar muito cedo, é integrar as profissões menos prestigiadas, é pertencer às camadas menos alfabetizadas, é correr mais riscos de saúde, é sentir‐se pobre, excluído, marginalizado. É, enfim, viver um acumular de situações desvantajosas.” (Cardoso, 1993).
Segundo o livro ”A outra face da cidade: pobreza em bairros degradados de
Lisboa”5 as principais políticas de erradicação da pobreza devem seguir a política de
habitação; política de urbanização e equipamento social; política de emprego; política
de formação profissional; política de segurança e de acção social; política educativa e a
política de saúde.
A política de habitação e realojamento levanta muitas questões principalmente
no “modo como se tem realizado grande parte dos processos de realojamento”.
(Cardoso, 1993). O realojamento é feito através do aglomerados de famílias pobres que
depois resulta em inúmeros problemas sociais como a integração social e a dificuldade
de saída de uma situação de pobreza. (Ferreira apud Fausto et al.: 2001).
Os bairros são sempre construídos em zonas periféricas. Muitas vezes é
necessário o realojamento porque é preciso dar utilização rentável ao espaço ou
construir estradas e infra‐estruturas. O que significa que os habitantes dos bairros são
despejados para áreas menos acessíveis e equipadas e com dificuldades de integração
no novo espaço. O realojamento está sempre ligado à mudança de casa mas também à
mudança dos hábitos do quotidiano.
5 Para a indicação das políticas de erradicação de pobreza, recorri ao livro ”A outra face da cidade: pobreza em bairros degradados de Lisboa” (Cardoso, 1993), seguindo a tipologia do livro, estas políticas restringem aos espaços urbanos degradados de Lisboa.
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Os realojados que viviam as habitações unifamiliares passam a viver em prédios
de vários andares onde residem também muitas outras famílias. Quebram‐se hábitos de
rua que depois dão origem a “uma apropriação indevida dos espaços colectivos”.
(Cardoso, 1993)
O realojamento deve “contemplar as identidades sócio‐culturais em presença, os
modelos de “habitat” diferenciadamente interiorizados, as redes de relações pré‐
existentes os laços de sociabilidade construídos (antes do realojamento), os projectos e
estratégias de vida”. (Rodrigues apud Silva et al.: 1989)
As populações são obrigadas a residirem nestes bairros, não têm escolha. Na
maioria dos casos as famílias admitem que só habitam naqueles locais porque não têm
condições monetárias para mudarem de habitação.
O desemprego e a fraca formação profissional são “a grande rota para a
pobreza”. (Milano apud Fausto et al.: 2001)
“o emprego é um dos mais importantes problemas de luta contra a exclusão. Porque é ele que garante o rendimento, confere a identidade social, estar numa situação de exclusão relativamente ao emprego constitui um processo que, sem intervenção específica conduz quase inevitavelmente à exclusão social” (Comissão das Comunidades Europeias apud Cardoso: 1993).
Das famílias que se encontram abaixo do nível da linha de pobreza, pelo
menos um dos elementos é desempregado. Por isso, é necessária “uma adequada
política de salários devidamente articulada com políticas de produtividade e de
preços” (cfr. COSTA, 1985).
A Segurança Social como meio de atenuar a pobreza muito pouco pode
fazer uma vez que a maioria dos indivíduos recorre ao trabalho clandestino e
precário.
É também “indispensável uma política de formação profissional
devidamente adaptada às condições dos menos favorecidos”. (Comissão das
Comunidades Europeias apud Cardoso: 1993) A formação da população pobre
Pobreza Urbana em Portugal
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deve começar pela mudança de atitudes e comportamentos e na criação de novos
hábitos. Esta formação tem que ser adequada ao grupo alvo inteirando as
limitações dos mesmos.
O baixo nível de educação é uma característica dos bairros degradados.
“As crianças residentes em bairros e alojamentos onde imperam as más condições de habitalidade; pertencentes a famílias com fracos níveis de instrução e de baixos recursos económicos, o que frequentemente “empurra” as próprias crianças muito cedo para o trabalho; tendo uma alimentação deficiente; possuindo um estado de saúde vulnerável, não se encontram certamente em “pé de igualdade” com as outras crianças na escola, são, por isso, mais propensas ao insucesso escolar, ao abandono precoce, a se integrarem, no futuro, nos níveis de escolaridade mais baixos” (Cardoso, 1993).
Com a importância da educação no processo da integração social e económica
é necessário que se criem condições de acessibilidade ao ensino para as populações
pobres. A escola contribui também para a reprodução da pobreza na inserção dos
indivíduos no mercado de trabalho. É inevitável repensar o actual sistema educativo.
Uma medida educativa tem que ser articulada com uma outra política – habitação,
saúde, emprego, salários, família, etc … ‐ de forma a atenuar as desigualdades sociais
sem criar diferentes oportunidades de acesso/sucesso ao ensino. (Cardoso, 1993)
Na maioria dos casos, existe um desinteresse por parte dos pais no
acompanhamento das actividades educativas dos filhos. Com particular intensidade
para as famílias com baixos rendimentos, maior deficiência de integração no mundo do
trabalho e um ambiente familiar com inúmeros problemas sociais.
Uma política de educação tem que abranger também adultos para uma
educação permanente na aquisição de conhecimentos e desenvolvimento das
capacidades dos indivíduos. (Davies apud Fausto et al.: 2001)
Ao nível da saúde, “aqueles que têm poucos recursos recebem menos
assistência na gravidez; tendem mais frequentemente a ter bebés com pouco peso e a
proporcionar dietas inadequadas às suas crianças. Isso contribui para atrasar o
Pobreza Urbana em Portugal
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desenvolvimento físico, diminuir a capacidade de prestar atenção e aumentar o número
de doenças infantis”. (WOLFE e GAAG apud Fausto et al.: 2001)
Melhorar a saúde pode ser uma saída para a pobreza. Uma política de
erradicação da pobreza terá que visar a melhoria dos níveis de vida da população. “ter
saúde, para inúmeras crianças e respectivos pais, seria antes de mais alimentar a sua
fome, habitar em alojamentos que não fossem húmidos ou insalubres, trabalhar em
condições que não pusessem a sua saúde permanentemente em risco” (Anglade apud
Fausto et al.: 2001)
É necessário implementar programas relacionados com higiene, alimentação,
planeamento familiar e vacinação com alguma projecção social importante. É necessária
também a presença e a criação de unidades de saúde permanentes nos bairros
desfavorecidos, para os indivíduos serem acompanhados e também para aprenderem
uma rotina de higiene e adequada para a saúde.
Para evitar que as crianças fiquem sozinhas na rua entregues a si próprias é
necessária a criação de equipamento social próximo dos bairros degradados. O
surgimento de creches, ATL6 e jardins‐de‐infância surge como meio de prevenção contra
a pobreza, na medida em que guarda e possibilita um desenvolvimento das crianças.
“há que dotar estes bairros de equipamentos desportivos e culturais” melhorar
os esgotos e a limpeza das ruas investir em “animadores de rua”e em postos de saúde.
(Cardoso, 1993).
Os objectivos da acção social “são a melhoria da qualidade de vida social da
população, pelo desenvolvimento e reforço da autonomia das pessoas e grupos e pela
harmonização das relações sociais. … (“a pessoa é considerada tanto no seu
funcionamento individual como social. O seu próprio desenvolvimento e autonomia
apresentam uma dupla dimensão: o benefício próprio e o benefício da colectividade em
que está integrada”. (GOES apud Cardoso: 1993).
A população assistida deve abranger as creches, jardins de infância, ATL’s e
centros de dia. É necessária uma reflexão que dê prioridade à prevenção, favoreça a
6 ATL – Actividades de Tempos Livres
Pobreza Urbana em Portugal
13
autonomia das pessoas em relação aos serviços e que estimule a participação das
populações. (Machado apud Fausto et al.: 2001)
Assim, o principal desafio da acção social é um conjunto de acções “destinadas
a dar a conhecer aos pobres os seus direitos e auxiliá‐los a fazer valer tais direitos”.
(Comissão das Comunidades Europeias apud Cardoso: 1993)
Em suma, citando (Sachs, 2005)7 existem quatro investimentos fundamentais
para sair de uma situação de pobreza. Investimento em saúde básica, em educação, em
serviços como a electricidade, transportes e comunicações e ainda em água potável e
saneamento.
Já existe investimento e políticas a trabalhar nestas áreas, mas o problema que
é colocado é o fracasso das mesmas. Estas políticas desvalorizam‐se a níveis como a
eficácia, a equidade, accountability8, o localismo9, o efeito de
proximidade/familiaridade e a escala. (Sousa et al., 2007).
As políticas sociais são caracterizadas pela “individualização, contratualização,
inserção/activação, descentralização e integração”, mas “a renovação das políticas
sociais em Portugal é tardia, limitada e pouco consiste …” (Sousa et al., 2007).
(sublinhado por mim).
Num análise, Alfredo Bruto da Costa certifica que pouco ou nada se tem feito no
combate à pobreza, calculando que 46% da população passou por esse estado entre
1995 e 2000. Parece pois lícito concluir que a democracia portuguesa falhou nos dois
objectivos essenciais: promover a coesão social e melhorar o nível de vida.
7 Segundo o livro “O Fim da Pobreza” de Jeffrey Sachs, (2005) existem quatro investimentos para acabar com a pobreza. Neste livro o autor refere a pobreza a nível mundial mas os mesmos investimentos servem para acabar com a pobreza nos bairros degradados de Portugal. 8 Segundo o livro “Famílias Pobres: Desafios à intervenção Social” de Liliana Sousa et al. (2007), accountability é ‐ “maior dificuldade em controlar a aplicação de recursos públicos”. 9 “Localismo – possibilidade de “desvios” significativos na execução de políticas, entre os objectivos nacionais e a sua concretização local.” (Sousa et al., 2007).
Pobreza Urbana em Portugal
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2.2 Descrição detalhada da pesquisa
Depois de toda a adaptação à disciplina e ao método de avaliação escolhido
colocou‐se o primeiro problema, o tema do trabalho. Do tema do trabalho definido
dediquei‐me à pesquisa. Ao dedicar‐me à pesquisa surgiram diversos problemas que
depressa foram eliminados, tais como “onde pesquisar?” e “como pesquisar?”.
Comecei por pesquisar em livros, em primeiro lugar no catálogo on‐line da
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e em segundo lugar no catálogo on‐line da
Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Recorri a uma
pesquisa Simples e escolhi o campo “Qualquer campo”. Então, as palavras‐chave que
utilizei foram: “Pobreza”, “Pobreza Urbana”, pobreza Portugal” e “combate à pobreza”.
Recorrendo inicialmente à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, na
expectativa de poder encontrar de forma rápida tudo o que queria, cheguei à conclusão
que de facto a Biblioteca da Faculdade de Economia é bastante boa, neste tema, até me
arriscaria a dizer que está bem mais equipada. Mas, mesmo assim, não deitei fora o
trabalho já realizado e os livros já recolhidos utilizando‐os na composição do trabalho.
Recorrendo a pesquisa simples e à (“opção todas as palavras”) para a palavra‐
chave <pobreza urbana> registei cinco livros. Dois dos quais utilizei no trabalho;
A outra face da cidade: pobreza em bairros degradados de Lisboa de Ana Cardoso,
(1993); Filhos e netos da pobreza: estudo de uma família numa área urbana degradada
de Fausto Amaro et al. (2001).
Depois desloquei‐me para o catálogo da Biblioteca da Faculdade de Economia.
Utilizando novamente a pesquisa simples e à (“opção todas as palavras”). A minha
primeira palavra – chave foi <pobreza urbana em Portugal> onde apenas obtive um
registo: Pobreza Urbana em Portugal: Um inquérito a famílias em habitat degradado,
nas cidades de Lisboa, Porto e Setúbal de Manuela Silva et al. (1989). Considerando que
a pesquisa deste modo se tornava difícil continuei com a “opção todas as palavras” mas
desta vez com <pobreza urbana> e obtive quatro livros. Dos quatro, três deles
Pobreza Urbana em Portugal
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encontravam‐se Inglês e desde logo os exclui, e o quarto já o tinha obtido com a palavra
– chave atrás referida. Se com estas palavras‐chave a pesquisa estava restrita quando
utilizei a “opção todas as palavras”, para <Pobreza>, onde obtive cento e sessenta e
nove registos (169). Foi então que me deparei com um ruído densamente grande. Quase
já a entrar numa situação de desespero resolvi utilizar a palavra – chave <pobreza
Portugal>. Encontrei trinta e seis registos e uma palavra que não era muito limitada e
que não produzisse muito ruído.
Dos trinta e seis encontrados escolhi os três que me pareceram mais
importantes, voltando depois à biblioteca e requisitando mais alguns livros. O primeiro
foi: A Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social em Portugal: Experiências do Programa
Nacional de Luta contra a pobreza, (2003); depois Famílias Pobres: Desafios à
Intervenção Social de Liliana Sousa e et al.; O Fim da Pobreza: como consegui‐lo na nossa
geração de Jeffrey Sachs.
Depois das pesquisas simples efectuadas dediquei‐me às pesquisas avançadas.
As pesquisas avançadas não se revelaram positivas. Primeiro pesquisei a palavra
<pobreza>, onde registei uma pesquisa com demasiado ruído. Procurei então a palavra
– chave igualmente em “assunto” <pobreza urbana em Portugal>, onde não foram
encontradas entradas. Seguidamente pesquisei a palavras – chave <pobreza urbana> e o
resultado foi um livro em Inglês.
Desloquei‐me também ao Centro de Estudos Sociais para completar ainda mais a
minha pesquisa, mas não encontrei nenhum artigo relevante para vincular ao meu
trabalho. Apenas encontrei artigos sobre pobreza mas muito centralizadores. Ou dados
estatísticos sobres cidades e outros países ou a pobreza estudada de um outro ângulo
que não o meu.
Relativamente à pesquisa efectuada na Internet, os meus motores de busca
foram o Google e o Altavista para comparar resultados e cruzar informações. Iniciei a
minha pesquisa, no Google, de forma simples com a palavra <pobreza> onde os
resultados obtidos foram 22.000.000. Recorri a uma pesquisa mais selectiva com a
palavra <pobreza+urbana> tendo obtido 1.770.000 registos. Resolvi ainda recorrer a
Pobreza Urbana em Portugal
16
uma outra palavra, a <pobreza+urbana+Portugal> onde obtive 571.000. Do mesmo
modo e seguindo a mesma tipologia, pesquisei no Altavista e obtive os seguintes
resultados respectivamente: 730.644, 66.018, 18.485. Em ambos os motores de busca
pesquisei <políticas de combate à pobreza urbana em Portugal> onde os registam foram
438.000 e 4.759 respectivamente. Utilizei as mesmas palavras – chave inicialmente
seleccionadas para a pesquisa de livros. Perante uma numerosa recolha de sites na
internet seleccionei os que me pareciam mais interessantes:
• http://fisioterapiasocial.blogspot.com/2008/04/pobreza‐urbana.html
• http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnis
tas/pt/desarrollo/1183237.html
• http://5dias.net/2008/05/30/pobre‐portugal/
• http://reapn.org/documentos_visualizar.php?ID=109
Pobreza Urbana em Portugal
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3. Avaliação de página da Internet
Caracterização Geral:
Nome do sítio: Rede Europeia Anti Pobreza / Portugal
Tipo de Informação: Informar
Público‐alvo: Vasto
Língua Original: Português
Endereço URL: http://reapn.org
Preferi escolher esta página da Internet uma vez que está estreitamente ligada
ao tema do meu trabalho e como tal achei interessante efectuar a sua avaliação.
Primeiramente esta página apresenta‐se bastante acessível, uma vez que não se
dirige a um público especializado, pois a REAPN é uma entidade sem fins lucrativos,
reconhecida como Associação de Solidariedade Social, de âmbito nacional. É
reconhecida, como Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD).
Relativamente ao Check list referente ao autor do sítio, este é identificado, o
autor é uma instituição. O autor é um especialista no combate à pobreza, até porque é
uma associação a nível europeu, nunca se exprime em nome individual mas sempre
como instituição privada.
Relativo à estrutura e navegação, o endereço é intuitivo e curto, dispõe apenas
de um instrumento de pesquisa e de navegação, o mapa de sítio, não dispondo assim de
motor de pesquisa interna. A navegação é bastante simples de efectuar, as ligações
estão activas e são pertinentes. O sítio não contém publicidade.
Quanto ao conteúdo e alcance do sítio, a informação apresentada é bastante
clara, exacta e objectiva. Corresponde ao meu nível de estudos e é apresentada
ordenadamente. A informação confirma a que li noutro local, o conteúdo respeita as
regras e a forma da língua portuguesa. A última actualização foi realizada em Dezembro
de 2008, e existem quatro páginas na internet com ligação a este sítio.
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Referente ao seu grafismo, é singular mas bastante atractivo não dificultando a
leitura. A página não dispõe de grandes imagens, apenas o logótipo da associação, e
utiliza um formato de leitura bastante adequado.
Por último, a utilidade do sítio para a realização do trabalho foi indispensável
mesmo não abordando a generalidade das questões estudadas.
Um outro critério também importante é a amplitude da página. Neste caso,
apresenta‐se com bastante informação, uma vez que é esse o seu objectivo, dispõe de
uma diversidade de ícones de fácil acesso, não tornando a informação exaustiva e
pesada para quem a lê.
Mesmo a página não tratando o assunto da pobreza de forma exaustiva, que
esse também não é a sua intenção, trata o tema através da solidariedade e da
apresentação e divulgação de projectos de combate à pobreza.
Esta é uma instituição com vários anos, mas que se encontra com uma página
bastante actual uma vez que podemos ver por exemplo programas, eventos, seminários,
workshops, congressos que se encontram na data actual, e com informações
relativamente importantes como o preço de formações fornecidas nesta área.
Deste modo podemos concluir que a página é actual, e embora não apresente
um autor identificado, é uma página que reúne informação das delegações distritais da
associação uma vez que esta está assim organizada.
Concluindo, considero esta página bastante bem elaborada, acessível e apelativa,
conseguindo deste modo realizar o seu objectivo de informar e apelar ao combate da
pobreza em Portugal uma vez que a página permite também aos visitantes tornarem‐se
sócios ou apenas voluntários.
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4. Ficha de Leitura
Caracterização Geral:
Titulo da publicação: A luta contra a pobreza e a exclusão social em Portugal
Autor da obra: OIT – Organização Internacional do Trabalho
Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra
Data de publicação: 2003
Edição: 1ª
Local de edição: Genebra
Editora: Bureau Internacional do Trabalho
Título do capítulo: As primeiras respostas das políticas sociais aos problemas da pobreza
e da exclusão social em Portugal (até ao início da década de 90)
Cota: 304 ‐ LUT
Número de páginas do capítulo: 41 ‐ 51
Assunto: Resultado das políticas sociais face à pobreza e à exclusão social
Palavras‐chave: política social, pobreza, luta contra a pobreza
Data de leitura: Dezembro de 2008
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O que é o OIT (Organização Internacional do Trabalho)?
É uma agência multilateral ligada à Organização das Nações Unidas (ONU),
especializada nas questões do trabalho. Possui representação dos governos dos 180
Estados‐Membros e de organizações de empregadores e de trabalhadores. A sua sede é
em Genebra, na Suíça, mas possui uma rede de escritórios em todos os continentes.
A OIT foi criada pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial. A ideia
da legislação trabalhista internacional surgiu como resultado das reflexões éticas e
económicas sobre o custo humano da revolução industrial.
A criação de uma organização internacional para as questões do trabalho
baseou‐se em argumentos:
• Humanitários: condições injustas, difíceis e degradantes de muitos
trabalhadores;
• Políticos: risco de conflitos sociais ameaçando a paz;
• Económicos: países que não adoptassem condições humanas de trabalho
seriam um obstáculo para a obtenção de melhores condições em outros
países
Em 1969, no seu 50º aniversário, a Organização foi agraciada com o Prémio Nobel da
Paz. O presidente do Comité do Prémio Nobel afirmou que a OIT era "uma das raras
criações institucionais das quais a raça humana podia orgulhar‐se". Desde 1999, a OIT
trabalha pela manutenção de seus valores e objectivos, um equilíbrio entre a eficiência
económica e a equidade social.
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Resumo
A criação tardia de um Estado‐Providência é o resultado do Estado‐Novo. Só
depois do 25 de Abril se tomaram medidas como a pensão social e a assistência ao
desemprego, até aí não existia qualquer ajuda.
Portugal, depois da sua entrada na CEE, foi integrado no Programa Pobreza III.
Este tinha como princípios fundamentais: a investigação‐acção; multidimensionalidade;
dimensões sociais e económicas; partenariado; participação e valorização do nível local.
Destes princípios resultaram quatro projectos em Portugal, o que permitiu
conhecimentos mais aprofundados sobre a pobreza, uma visão crítica sobre as acções,
um reforço do papel do Estado, articulação da acção estatal com a sociedade civil,
inovação de projectos e ainda a articulação da luta com o desenvolvimento local.
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Estrutura
O capítulo está dividido em duas partes. Na primeira parte o autor inicia
explicando os factos que levaram à criação tardia do Estado‐Providência. Começa por
explicar sucintamente que o que levou ao atraso do Estado‐Providência foi a situação
política e económica vivida durante o Estado‐Novo. Depois recua até 1933 e explica que
até então a protecção social era pela assistência pública e pelo mutualismo. Este tipo de
assistência dependia de iniciativas de voluntariado.
Com a Constituição de 1933 apareceram os seguros sociais obrigatórios e
corporativismo como forma de organização do Estado. Os resultados destas medidas
foram limitados, explicando que não cobriam toda a população e eram exclusivos para
casos de doenças, desastres, invalidez e velhice.
Mais tarde, em 1962, houve necessidade de criar uma reforma destas políticas.
Apesar de grande parte da população continuar excluída esta reforma já contribui para
a evolução da Segurança Social. Depois da Revolução de 1974 foram criadas medidas há
muito esperadas como a criação de um salário mínimo nacional, a criação do Sistema
Nacional de Saúde, a pensão mínima e social e um novo esquema de abono familiar.
A Constituição de 1976, sagrou o dever do Estado em responder a políticas que
tivessem por objectivo o bem‐estar social e económico da população bem como a
participação em associações.
O autor afirma que é através destes avanços que a Segurança Social consegue a
sua universalidade e direito de todo e qualquer cidadão.
O Estado‐Providência começou a desenvolve‐se em Portugal numa altura de recessão
económica o que tornou esta tarefa ainda mais difícil depois da ditadura. Durante o
período de ditadura a sociedade auto‐regulava‐se de forma formal, através da Igreja
Católica, ou informal, através das famílias.
Na segunda parte o autor explica os projectos europeus em que Portugal
participou e os seus efeitos no combate à pobreza.
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A primeira iniciativa comunitária ligada à pobreza iniciou‐se nos anos 70, com o I
Programa Europeu de Luta Contra a Pobreza que teve como seu objectivo a
investigação. O autor chama à atenção que já não estávamos perante um problema de
privação mas sim de insuficiência de recursos. Este primeiro programa tinha como
objectivo o debate e o diálogo relativamente à pobreza.
A expressão deste primeiro projecto em Portugal foi bastante reduzida. Só em
1986, com a entrada de Portugal para a CEE é que registou uma participação mais activa
no II Programa Europeu de Luta Contra a Pobreza. Este projecto teve como principal
objectivo a recolha de dados estatísticos sobre a pobreza e troca de conhecimentos e
processos de investigação. Com este projecto, mais prático que o primeiro, permitiu
entender‐se a pobreza para além da tradicional concepção de falta de rendimentos
introduzindo assim uma nova expressão, a exclusão social.
O autor refere o III Programa Europeu de Luta Contra a Pobreza como o mais
ambicioso e importante, este desenvolve essencialmente estratégias preventivas. Possui
três principais objectivos: o aprofundamento do conhecimento e da sensibilização, a
inovação de novas estratégias de combate à pobreza e a recomendação de políticas ao
nível local/nacional.
Para cumprir estes objectos o Programa Pobreza III adoptou três princípios: a
multidimensionalidade; o partenariado e a participação. Da aplicação prática dos
objectivos através dos princípios resultaram mais seis princípios que o autor apresenta
de forma sucinta e clara. Esses seis princípios metodológicos são: a investigação‐acção
que procura a natureza e a extensão dos acontecimentos através de conhecimento
científico; a visão societal e multidimensional da pobreza tendo em conta as diferentes
expressões sociais, económicas, culturais, políticas e ambientais; a integração das
dimensões económicas e sociais dos excluídos e a adopção de políticas integradas; o
partenariado significa corresponsabilização da sociedade civil à articulação de
estratégias e recursos; a participação criando uma capacidade de auto‐inserção; e a
valorização do nível dos projectos e das acções em busca da transformação dos
contextos socioeconómicos‐culturais.
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Estes princípios foram a base de experiências realizadas nos estados‐membros
divididas em trinta Acções Modelo e doze Iniciativas Inovadoras. Em Portugal
realizaram‐se três Acções Modelo uma Porto, em Almeida e na Covilhã, e uma Iniciativa
Inovadora em Lisboa.
Já no final do texto o autor compara o investimento feito em infra‐estruturas e
os escassos recursos financeiros aplicados no combate à pobreza.
O processo de escolha dos projectos era feito pelos estados‐membros que
depois eram avaliados pela Comissão que financiava parcialmente sendo completado
por instituições a nível nacional.
Da aplicação deste programa resultaram vários dados bibliográficos. Os
resultados obtidos em Portugal face ao Programa de Luta Contra a Pobreza foram os
seguintes, um conhecimento mais aprofundado sobre a pobreza, uma visão crítica sobre
as acções convencionais, um reforço do papel do Estado articulando políticas sociais,
articulação da acção estatal com a sociedade civil, inovação de projectos e ainda a
articulação da luta com o desenvolvimento local.
Concluindo, o autor sublinha que os princípios obtidos e resultados alcançados
constituem apenas o ponto de partida na luta contra a pobreza.
Na minha opinião este texto é bastante interessante. Uma vez que no meu
trabalho optei por focar com mais ênfase as políticas de combate à pobreza, este texto
foi fundamental para perceber o que já foi feito, como foi efectuado e quando se
percebeu que a pobreza era um assunto de máxima importância.
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5. Conclusão
Ao longo da realização deste trabalho surgiram‐me muitas dificuldades e
barreiras que tive de ultrapassar. Procurei realizá‐lo da melhor forma possível definindo
o fenómeno da pobreza de forma sucinta e clara bem como os seus indicadores, e as
políticas de combate à mesma.
O trabalho trata de um fenómeno muitíssimo vasto e complexo, por isso os
temas aqui abordados ficam muito à margem do fenómeno em si mesmo, ficaram por
abordar temas de igual importância quando analisamos a pobreza em geral. Assim
sendo, esforcei‐me ao máximo para o realizar da melhor forma possível tornando‐o num
trabalho simples e de fácil compreensão para todos.
Repensando nos objectivos iniciais da cadeira penso que os consegui alcançar.
Durante a realização do trabalho aprendi imenso, até com erros cometidos e depois
corrigidos, o que transformou este trabalho numa tarefa animada apesar de esforçada.
Quanto ao tema do trabalho, é bem mais preocupante do que aquilo que eu
imagina quando agarrei este projecto. A pobreza é um fenómeno preocupante na
sociedade que em vez de regredir está cada vez e mais depressa a progredir.
Apesar de existirem diversos investigadores nesta área e de muitas políticas
estarem já em curso é necessário repensar este fenómeno. Porque não interessa
existirem muitas e diversas políticas, o que interessa é que estas sejam eficazes. E neste
momento isso não se está a verificar. Assim sendo, é aqui que é indispensável investir e
progredir. O bem‐estar dos indivíduos é o progresso da sociedade.
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6. Referências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
i) Fontes de imprensa:
Amaro, Fausto et al. (2001), Filhos e netos da pobreza: estudo de uma família numa área
urbana degradada, Lisboa: Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Cardoso, Ana, (1993), A outra face da cidade: pobreza em bairros degradados de Lisboa,
Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.
Costa, Alfredo Bruto (1998), Exclusões Sociais, Lisboa: Gradiva. Cadernos democráticos
2.
Costa, Alfredo Bruto et al., (1985), A pobreza em Portugal, Lisboa: Caritas.
Ministério da Solidariedade e Segurança Social (1997), Pobreza Não – Erradicação da
Pobreza 1997 – 2006. Lisboa: Departamento de Estatísticas, Estudos e Planeamento do
Ministério e Solidariedade e segurança Social.
OIT – Organização Internacional do Trabalho (2003), A luta contra a pobreza e a
exclusão social em Portugal. Genebra: Bureau Internacional do Trabalho.
Sachs, Jeffrey D., (2005), O Fim da Pobreza: como consegui‐lo na nossa geração, Cruz
Quebrada: Casa da Letras/Editorial Notícias.
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Silva, Manuela e Costa, Alfredo Bruto da, (1989), Pobreza Urbana em Portugal, Lisboa:
Colecção Caritas.
Sousa, Liliana et al. (2007), Famílias Pobres: Desafios à Intervenção Social, Lisboa:
CLIMEPSI Editores.
ii) Internet
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2008. Disponível em: http://5dias.net/2008/05/30/pobre‐portugal/
Meneses, João Wengorovius (2008), “Ser Pobre”. Página Consultada a 16 de Dezembro
de 2008. Disponível em:
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desar
rollo/1183237.html
Rede Europeia Anti Pobreza / Portugal (2008). Página Consultada em 18 de Dezembro
de 2008. Disponível em: http://reapn.org/documentos_visualizar.php?ID=109
Renato (2008), “Pobreza Urbana”. Página consultada a 18 de Dezembro de 2008.
Disponível em: http://fisioterapiasocial.blogspot.com/2008/04/pobreza‐urbana.html