Policiando a Polícia: a inserção dos jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário
de Notícias e Jornal do Brasil nos debates sobre a reforma do Departamento
federal de Segurança Pública (1954).
Caio César Cuozzo Pereira
Resumo
Durante o mandato de Getúlio Vargas (1951-54) a imprensa foi um dos atores mais
envolvidos nas discussões políticas. Muitos dos jornais mantinham uma postura
oposicionista a figura do presidente. Em 1954, a agressão a um repórter mobilizou o
governo a encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de reforma da Polícia Civil
carioca. Tendo em vista este cenário, questionamos como a imprensa carioca se
posicionou em relação ao projeto de reforma preconizado pela administração Vargas?
Para responder este problema, analisaremos edições dos jornais Diário Carioca, Diário
da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil. Os quatro veículos possuem históricos
de disputas com Getúlio Vargas que remetem aos tempos do Estado Novo. Na parte um,
discorremos sobre o cenário da imprensa nos anos 50 e seu exercício de poder simbólico.
Em seguida, explicamos o caso Nestor Moreira, o crime que mobilizou os debates pela
reforma da Polícia. Em terceiro lugar, pontuamos a atuação do jornal Última Hora –
veículo com ligações governistas – na publicidade do projeto de reforma. Por fim, na
parte quatro, discutiremos como os quatro jornais supracitados se inseriram nas
discussões sobre a reforma da Polícia.
I. As transformações estruturais na imprensa carioca (1950).
Durante a década de 1950, o jornalismo experimentou um contexto de
modificações em seu ofício. As alterações abarcavam os campos tecnológico, estrutural,
profissional e identitário. Estes processos – ocorridos em vários periódicos – possuem
especificidades de caso a caso.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPHR/UFRRJ).
Pesquisador Bolsista da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected]
O produto do jornalismo – a notícia – sofreu alterações com a implementação de
novas técnicas. O lead, introduzido por Pompeu de Souza no Diário Carioca1, orientava
o jornalista a resumir os principais pontos da notícia na abertura do texto. O lead deveria
responder a seis perguntas: quem? Fez o quê? Quando? Onde? Como? Por quê?2 Em
proposta similar, o conceito de pirâmide invertida propunha a construção do texto
jornalístico através de uma ordem decrescente de importância3.
Além disso, as redações foram introduzindo a figura do copidesque. Estes
profissionais eram incumbidos de revisar os textos que iriam para a impressão nas oficinas
dos jornais. Junto ao texto, a fotografia ia se tornando um recurso muito valorizado pelos
editores. A Luta Democrática, em suas notícias policiais, tinha por característica publicar
fotos de cadáveres envolvidos em histórias criminais4. Prática esta que se estendia para
outros jornais: os repórteres disputavam para ver quem conseguiria ser o primeiro – ou o
único - a conseguir fotografar o morto5.
A valorização salarial dos jornalistas influenciou diretamente na
profissionalização da atividade. A Última Hora teve papel de destaque neste campo.
Quando criou a folha, Samuel Wainer ofereceu salários acima dos praticados pelo
mercado para contratar grandes nomes do jornalismo6. Repórter de carreira, Wainer pode
fazer estas ofertas graças aos financiamentos conseguidos junto ao Banco do Brasil para
a criação da Última Hora. Este cenário deflagrou um processo de incremento salarial em
outros periódicos que precisavam reter seus funcionários7.
Além da criação de curso superior em jornalismo8, há um processo de construção
identitária. Para demarcar fronteira com a imprensa das décadas anteriores, os periódicos
difundiram os ideais de objetividade e neutralidade. Através destas duas premissas,
buscavam se apresentar à sociedade como imparciais ou espelhos da realidade9. O
1 Em artigo, Albuquerque busca responder que espécie de modernização ocorreu no jornalismo do Brasil e como as modificações
impetradas no Diário Carioca contribuíram para esta. ALBUQUERQUE, Afonso. A modernização autoritária do jornalismo
brasileiro. Revista Alceu, PUC-RJ, v. 10, n. 20, p. 100 a 115, jan./jun. 2010. 2 RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa carioca nos anos 1950. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, n° 31, 2003, p. 147-160. 3 Idem. 4 SIQUEIRA, Carla Vieira de. Sexo, Crime e Sindicato: sensacionalismo e populismo nos jornais Última Hora, O Dia e Luta
Democrática durante o segundo governo Vargas (1951-1954. Tese de Doutorado – Rio de Janeiro: PUC, 2002. 5 Segundo Edmar Morel, na gíria dos jornalistas do período, esta imagem era chamada de “boneco”. MOREL, Edmar. Histórias de
um repórter. Rio de Janeiro: editora Record, 1999. 6 RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Op. Cit. 2003. 7 Idem. 8 Ibidem. 9 BARBOSA, Marialva Carlos. História cultural da imprensa. Brasil 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
jornalismo construía para si a imagem de fidelidade aos fatos, de instituição que
intermediava a relação entre o poder e o público10.
Apesar de todos estes processos ocorridos ao longo da década de 1950, o
jornalismo carioca manteve suas interações com o campo político. Os ideais de
objetividade e neutralidade serviam, de fato, para a capitalização de poder simbólico para
a imprensa11. Dois jornais são casos basilares para exemplificar a relação entre jornalismo
e política: Tribuna da Imprensa e Última Hora12. Porém, este contexto não se limitava a
estes dois jornais. Além disso, cabe-nos ressaltar que estes processos de modernização –
ao contrário do que foi difundido por jornalistas – foram ações de longo prazo, se
estendendo até as primeiras décadas do século XX13.
Durante o mandato de Getúlio Vargas (1951-54) esta imprensa participou
ativamente dos debates políticos. Cada qual expressando suas críticas, elogios e posições
em relações a propostas, partidos e parlamentares. Entrementes, não só as pautas políticas
movimentavam as interações da imprensa com os campos legislativo e executivo. Um
crime poderia deflagrar discussões na imprensa que se direcionavam para a política.
II. Um crime perpetrado nas dependências policias.
Nestor Moreira era repórter policial há mais de vinte anos. Empregado do jornal
A Noite, era um dos responsáveis por rondar as delegacias do Rio de Janeiro em busca de
acontecimentos que poderiam virar notícias. No mês de maio de 1954, estava envolto na
cobertura do homicídio da francesa Renée Aboab, morta em seu apartamento localizado
nas cercanias da praia de Copacabana.
Na madrugada do dia 11 de maio, após o expediente no jornal A Noite, Moreira
embarcou em um táxi para o supracitado bairro. O carro era o instrumento de trabalho do
chofer Hermenegildo Alves Vizeu. Copacabana – bairro projetado para a classe
10 Idem. 11 Ibidem. 12 De um lado, Carlos Lacerda dirigia a Tribuna da Imprensa como um jornal de oposição à Getúlio Vargas e de propaganda de seu
próprio nome. Por outro, Samuel Wainer promoveu na Última Hora a defesa do governo Vargas, tanto que foi alvo de uma CPI para
explicar como havia conseguido dinheiro para criar o jornal. Sobre estes jornais, ver: LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Lacerda x
Wainer: o Corvo e o Bessarabiano. São Paulo: editora SENAC, 1998. 13 BARBOSA, Marialva Carlos. Op. Cit. 2007.
média/alta carioca14 - contava com casas de diversões noturnas, as chamadas boites.
Chegando ao local, Moreira rumou a pé para a boite Drink Bar.
Na saída, o repórter foi abordado por Vizeu. O motorista lhe cobrava a corrida até
Copacabana (Cr$ 75,00) e argumentava que Moreira havia lhe pedido para aguardá-lo na
porta do Drink Bar. Entretanto, Moreira se negou tanto a saldar a dívida quanto que teria
pedido a Vizeu que o esperasse. O debate entre as partes foi apartado pelo guarda Celito
Ferreira Quitete que patrulhava aquela região. Tendo em vista o impasse, Quitete decide
conduzir ambos para o 2° Distrito Policial, situado na rua Hilário Gouveia.
A repartição policial – subordinada ao Departamento Federal de Segurança
Pública – estava sob responsabilidade do comissário Gilberto Alves Serqueira.
Entretanto, quem recebeu a ocorrência entre Moreira e Vizeu foi o guarda Paulo Ribeiro
Peixoto, também de plantão no 2° Distrito. Após tomar conhecimento das especificidades
do caso, Peixoto decide prender o jornalista por não pagar os Cr$ 75,00. Em meio ao
processo de prisão, Moreira e Peixoto discutiram, culminando em uma série de agressões
do guarda contra o repórter.
Moreira nunca chegou a ser recolhido ao xadrez do 2° Distrito Policial. Após as
sevícias, o repórter foi liberado pelo comissário Siqueira (que havia sido informado da
confusão) e rumou para casa. Porém, as queixas de dor levaram sua esposa – Antonieta
Moreira – a procurar ajuda médica. No hospital público Miguel Couto, os médicos
diagnosticaram as sequelas dos golpes e decidiram internar Moreira com um quadro de
saúde considerado grave.
Durante onze dias, Moreira sobreviveu no Miguel Couto graças à intervenção dos
médicos. Paralelamente a sua luta pela vida, os jornais do Rio de Janeiro noticiavam o
crime e exigiam punições para os envolvidos. As associações de profissionais do
jornalismo pressionaram o governo a demitir o Chefe de Polícia, general Morais Âncora.
Os periódicos reforçavam as críticas divulgando relatos de agressões policiais
averiguadas ou enviadas por leitores. A morte de Moreira foi manchete em vários dos
jornais impressos da cidade.
14 AMADO, Daniele Chaves. Nem tudo que reluz é ouro: a Última Hora, a Tribuna da Imprensa e a campanha de saneamento
moral de Copacabana. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFF, 2012.
O jornalismo carioca explorou o caso Moreira em variadas frentes narrativas.
Moreira teria sido agredido por criticar a demora da polícia em resolver o homicídio da
francesa? Se o D.F.S.P. chegou ao ponto de agredir um jornalista, qualquer cidadão
poderia ser vítima da polícia? Qual era o grau de responsabilidade do governo no caso
Moreira? As questões se alongavam em editorias, reportagens, colunas e notícias. E a
Última Hora foi um dos protagonistas da discussão sobre a violência da polícia carioca.
III. O protagonismo de Última Hora.
O papel do jornal na representação do caso em notícias é essencial para as
discussões que propomos a seguir15. Cabe-nos, portanto, debater brevemente o
protagonismo do jornal na cobertura do crime do 2° Distrito.
Em sua linha editorial, Última Hora servia como um veículo de difusão dos feitos
governamentais e, também, de defesa deste contra as críticas publicadas pela imprensa
carioca. Através de uma confluência de políticos e empresários ligados ao presidente16,
Wainer conseguiu reunir o montante suficiente para suprir as necessidades de produção
de um jornal (maquinário, distribuição, sede, pessoal, entre outros). Paulatinamente, UH
se tornou um sucesso de tiragem.
No dia 13 de maio de 1954, a página n° 06 do primeiro caderno de Última Hora
foi dedicada quase inteiramente a cobertura do caso Moreira17. Foram publicadas duas
matérias. Em “UM INQUÉRITO FARSA PARA INOCENTAR OS TRUCIDADORES DE
NESTOR MOREIRA18”, o periódico reproduziu o depoimento de Hermenegildo Vizeu, o
motorista envolvido na discussão com Moreira:
[...] Peixoto mandou que Moreira tirasse a gravata e o cinto, pois ia ser
recolhido ao xadrez. No momento da arrecadação dos valores, conta
Hermenegildo que Moreira reclamou a falta de uma nota de mil cruzeiros que
estaria no seu bolso. Vi apenas que havia sido retirado de seus bolsos um lenço,
uma nota de dois cruzeiros e outras 2 de um cruzeiro. O guarda Peixoto, que já havia identificado o jornalista, tendo inclusive tomado seu nome, pois ia pô-lo
15 Em nossa dissertação de mestrado estamos desenvolvendo análise que busca evidenciar como o jornal Última Hora utiliza as notícias
policiais para capitanear um projeto político. Neste processo, UH irá relacionar o caso Moreira com o projeto de reforma da Polícia
idealizado pelo ministro Tancredo Neves e enviado para o Congresso por Vargas antes dos acontecimentos de agosto de 1954. 16 LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Op. Cit. 1998. 17 São, ao todo, duas matérias jornalísticas sobre o caso e a coluna Coisas da Vida e da Morte. A coluna era a única que não tratava
do caso Moreira. 18 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0891. 13 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18688 Acesso em: 19/06/2019.
no xadrez, ao ser aventado o desaparecimento da cédula, partiu feroz para o
jornalista e começou a soqueá-lo de preferência nos rins19.
Ao lado desta notícia foi estampada uma reportagem feita por Edmar Morel,
redator do jornal. Adentrando no 2° Distrito Policial, Morel entrevistou uma série de
detentos que poderiam ter assistido as agressões. Em “O Repórter Nestor Moreira Foi
Espancado no Corredor, Com as Luzes Apagadas20”, o redator expôs o relato de Germano
dos Santos, preso naquele xadrez:
Pouco depois das 2 horas da madrugada ouvi algazarra no corredor, gritos
característicos de quem é surrado. Mas como os espancamentos aqui são
diários, não dei importância ao fato. [...] Depois o guarda Peixoto [...] apagou
as luzes do corredor e a pancadaria aumentou21. [Grifos meus].
A partir destas matérias, Última Hora desenvolveu uma cobertura extensa sobre
o Departamento Federal de Segurança Pública. Além dos desdobramentos do caso
Moreira, o periódico se dedicou a explorar a violência policial e a precariedade do sistema
prisional carioca. Almir Quintanilha, Antônio Evaristo de Moraes Filho, Edmar Morel e
Hélio Rocha foram alguns dos profissionais que assinaram reportagens neste viés para a
Última Hora.
Após o falecimento de Nestor Moreira, os editores do jornal publicaram, na
primeira página, três manchetes. Duas lado a lado e a terceira logo abaixo destas. Os
títulos foram:
MORREU O REPÓRTER NESTOR MOREIRA, NA MADRUGADA DE
HOJE!
O CRIME Que Revolta Uma Nação!
NO FUNDO DE UMA GAVETA BUROCRÁTICA A ESPERANÇA DE
SALVAÇÃO DOS PRESOS22.
O crime que, segundo o jornal, “revolta a nação” era a superlotação e precariedade dos
xadrezes policiais. A terceira manchete indicava o culpado por este cenário: a burocracia
estatal. Adentrando em diversos distritos policiais e delegacias especializadas, Edmar
19 Idem. 20 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0891. 13 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18688 Acesso em: 19/06/2019. 21 Idem. 22 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 0899. 22 de Maio de 1954. P. 06. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/386030/18811 Acesso em: 19/06/2019.
Morel entrevistou presidiários e analisou a situação calamitosa do sistema carcerário.
Tudo isto somado com fotografias feitas por Jader Neves, fotógrafo de Última Hora.
Através destas reportagens, Última Hora capitaneou a luta por uma reforma
estrutural no Departamento Federal de Segurança Pública. Em editorias, o jornal se
posicionava a favor de duas demandas. Primeiro, um expurgo geral na Polícia. A falta de
critérios para o ingresso na corporação ocasionava a degradação da instituição policial.
Era preciso extirpar os maus elementos, melhorar os vencimentos dos policiais e
aprimorar a formação dos novos agentes. Em outra frente, defendia a reforma do sistema
prisional. Imediatamente, era necessário resolver a questão dos presidiários enfermos que
poderiam contagiar outros internos. Além disso, construir um novo presídio de grande
capacidade para então resolver a questão da superlotação.
Após a morte de Moreira, a campanha de Última Hora não arrefeceu,
principalmente na questão ligada ao sistema prisional. Paralelamente a isto, o Ministro da
Justiça Tancredo Neves – responsável pelo D.F.S.P. – encaminhou a Getúlio Vargas um
projeto de reforma da instituição. Acompanhado de uma mensagem do presidente, a
proposta foi enviada para discussão no Congresso Nacional.
A ação reformista do governo foi amplamente apoiada por Última Hora.
Entretanto, o debate sobre a reforma não se limitou ao periódico de Samuel Wainer. Os
diversos jornais que circulavam pela cidade também discutiram a questão da violência
policial. Quando o projeto de reforma se tornou público, outros jornais se posicionaram
em relação ao tema.
IV. Policiando a polícia: os jornais Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias
e Jornal do Brasil no debate sobre a reforma do D.F.S.P.
A repercussão de um crime contra um jornalista não se limitaria ao cenário
nacional. Primeiro pelo local onde o acontecimento se desenrolou. Copacabana era um
bairro de classe média/alta recentemente projetado e em expansão. Além disso, o bairro
era o destino de muitos estrangeiros que desembarcavam no Rio de Janeiro.
Logo, a imagem internacional de Copacabana estava em xeque com a perpetração
do crime. Em 16 de maio, este foi o mote do Jornal do Brasil. Lamentando este cenário,
o periódico pontuou que “[...] não há suficiente garantia pela vida e pela liberdade dos
cidadãos23”. Para o jornal, as sevícias contra Moreira uniram a sociedade em um
movimento de revolta contra as práticas violentas do D.F.S.P.
Apesar de apresentar este cenário, o JB defende que os suspeitos sejam julgados
e punidos de acordo com o código processual vigente. Mas era preciso ir além. A
estratégia seria direcionar o foco para a instituição:
Esperemos que a indignação coletiva pela brutal agressão sofrida por Nestor
Moreira faça compreender às autoridades superiores a indispensabilidade de
adotar castigos exemplares contra os culpados e começar a depuração, sempre prometida, dos maus elementos que a polícia – especialmente a política –
infiltrados na organização policial24.
Dois dias após a publicação desta crítica, o Jornal do Brasil discutiria o projeto
de reforma policial encabeçado pelo Ministro da Justiça Tancredo Neves. O político
pessedista vinha sendo questionado diariamente pela imprensa carioca (o D.F.S.P. estava
sob sua autoridade). Tancredo prometeu punir os envolvidos no crime e também
reestruturar a polícia. Ele previa transformações para além dos quadros policiais:
modificar o sistema carcerário deficitário era o outro objetivo do pessedista.
A imprensa noticiava as aspirações de Tancredo e aguardava pelo projeto que seria
encaminhado ao Congresso Nacional. Em artigo, o Jornal do Brasil expressou sua
decepção com o texto da reforma preconizada pelo governo. O teor da crítica se encontra
expresso no título publicado: “A REFORMA INÚTIL25”:
Está certo que se pretenda modificar os métodos policiais, principalmente em
face de acontecimentos como esse que levantou uma classe em protesto uníssono
contra a violência de agentes da autoridade. Não se compreende, porém, que o
fato sirva de pretexto para levar a termo uma reforma cujo projeto apenas
aumenta repartições, cria cargos, mas não inaugura nenhum sistema de exercer
a função policial dentro dos limites do respeito à liberdade dos cidadãos. [...]
Conviria, pois, que o Governo meditasse antes de prometer uma reorganização
que pouco adiantará, pois não vem resolver o problema da vigilância
metropolitana nem impedir que ocorram em qualquer tempo condenáveis violências de autoridades26.
23 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0111 16 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40315 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 24 Idem. 25 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0112 18 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40387 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 26 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0112 18 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40387 Acesso em: 19/06/1954. P. 05.
O projeto endossado por Vargas previa as seguintes medidas: criação do Conselho
Superior de Polícia (1), criação de Superintendências policiais (5), criação de Delegacias
Regionais (5) e ampliação do número de Distritos Policiais (de 30 para 40). Além disso,
preconizava modificações na estrutura de cargos e salários da instituição. Se
implementada, a reforma teria um custo adicional de Cr$ 57.000.000,00 aos cofres
públicos27.
Para o Jornal do Brasil, os tópicos da reforma não apresentavam um retorno real
para a sociedade carioca. Visando reforçar o argumento, o periódico citou a suposta
opinião de técnicos da Polícia sobre as modificações. Segundo o JB, estas fontes não
identificadas teriam afirmado que o projeto era “[...] absolutamente inidôneo28”. Sendo
assim, o jornal opina que “[...] a projetada transformação nada transforma, mantendo tudo
como dantes, introduzindo apenas modificações nos quadros, que ficam bastante
ampliados, permitindo a entrada de grande número de funcionários29”.
Poucos dias após tecer tais críticas, o JB propagandeou que um novo projeto de
reforma do D.F.S.P. seria encaminhado para a Câmara dos Deputados. A elaboração deste
novo projeto estava sendo capitaneada pelo deputado Heitor Beltrão (UDN) e pelo juiz
Cristóvam Breiner. O Jornal do Brasil não se furtou de comparar os projetos do governo
e da oposição:
Ora, uma reforma que não vai aos pontos nevrálgicos da atual organização, que
já evidenciou lacunas que a tornam incompatível com os postulados
democráticos, no centro dos quais se encontra o respeito devido à dignidade
do ser humano, não deve merecer a atenção do Parlamento. Paralelamente com
essa iniciativa infeliz, um outro projeto será apresentado pelo deputado Heitor Beltrão [...]. O projeto de iniciativa da própria Câmara tem o salutar propósito
de estender a alçada do Judiciário até a órbita até agora dominada pelo poder
policial. [...] As vantagens de uma reforma concebida nestes termos saltam aos
olhos de qualquer observador. Com sua execução teríamos o inquérito
presidido por um magistrado, que imporia sua autoridade, inclinando os
temperamentos impulsivos à consideração pela pessoa humana e ao respeito
pelos direitos do cidadão, consagrados pelo regime democrático30.
27 ÚLTIMA HORA, Rio de Janeiro. Ano: IV. Edição: 910. 03 de junho de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/docreader/386030/18970 Acesso em: 19/06/1954. P. 02. 28 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0120 27 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40651 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 29 Idem. 30 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0129 06 de junho de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/40943 Acesso em: 19/06/1954. P. 05.
O grande mérito da proposta udenista seria a alocação de juízes nos distritos
policiais. Assim, o magistrado, profissional de dignidade, coordenaria os inquéritos,
aceleraria as investigações e poria fim em possíveis violências praticadas por agentes do
D.F.S.P. O tema do respeito a liberdade individual – repetido nas publicações do JB sobre
a reforma – receberia a devida atenção com o emprego de juízes nos distritos policiais.
Assim, haveria um ganho real para os cidadãos cariocas: chegaria ao fim o cenário de
insegurança social que a polícia contribuía para perpetuar:
Se a reforma que propomos, e que coincide com a iniciativa que a Câmara
tomará através o deputado Heitor Beltrão, tiver seguimento rápido, teremos,
então, alguma coisa de cunho essencialmente democrático e que concorrerá
para maior eficiência na repressão sem prejuízo do respeito ao ser humano31.
Nesse ínterim, no dia 18 de maio de 1954 o Diário Carioca publicou, em aspas, a
manchete “É impossível moralizar nossa polícia32”. Abaixo, o jornal trazia uma análise
da entrevista coletiva dada por Tancredo Neves sobre o tema da violência policial.
Segundo o Diário Carioca, o Ministro da Justiça “[...] confessou ontem, na sua entrevista
aos jornalistas, que não possui meios para uma imediata moralização da polícia,
erradicando a violência e banindo a corrupção [...]33”.
Posteriormente, o Diário Carioca publicou o seguinte alerta na página n° 12: “A
REFORMA DA POLÍCIA NÃO É PARA MELHORAR34”. Na opinião do jornal, o projeto
de Tancredo Neves não significaria uma mudança no D.F.S.P, mas sim uma forma de
tornar a instituição uma arma eleitoral. Os novos policiais contratados – por intermédio
da verba solicitada pelo governo – formariam um grupo que acataria as orientações
políticas do Chefe de Polícia:
Ascenderá acerca de dez mil o número de cabos eleitorais e instrumentos de
coação que a polícia pretende incluir nos seus quadros, a pretexto de reformar
os seus processos, com piora evidente na execução do seu principal objetivo:
a defesa dos direitos e da segurança do povo. A grande maioria desses
servidores será de livre escolha e nomeação do Chefe de Polícia, que se
transforma, desse modo, numa das maiores forças eleitorais do Distrito
31 JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. Ano: LXIV. Edição 0142 23 de junho de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_07/41439 Acesso em: 19/06/1954. P. 05. 32 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: Edição: 07933. 19 de maio de 1954. Disponível em: Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/2370019/06/1954. P 01. 33 Idem. 34 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07938. 25 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23791 Acesso em: 19/06/1954.
Federal, inclusive porque harmoniza, com a sua liberdade de dar empregos, o
arbítrio de coagir, utilizando os elementos que emprega, com a deturpação de
suas funções. [...] Entretanto, no momento de preocupações em que vive a
população do Distrito Federal, importa mais que tudo o fato de tais admissões
por simples ato de chefia tornarem-se do maior perigo para a segurança
pública, de vez que toda essa corte de apaniguados ganhará, sem preparação
prévia, uma autoridade que dificilmente saberá usar e servida por revólveres,
“casse-tetes” e imunidades que tem protegido até hoje, os agentes do DFSP35.
A crítica direcionada à Getúlio Vargas se tornou mais consistente no editorial
publicado pelo proprietário do Diário Carioca, José Eduardo Macedo de Soares. No
texto, o autor alça a imprensa ao posto de bastião dos costumes brasileiros. O jornalismo
seria a antítese do que representa Vargas e a Polícia. Sendo assim, a imprensa seria a
instituição que garantiria a manutenção da democracia:
A Imprensa tornou-se, na degradação dos costumes que está corrompendo
progressivamente o nosso meio social, uma espécie do anti-Polícia. Somente a
Imprensa pode assegurar as garantias da lei contra os atentados da violência
por isso considera-se o inimigo jurado de uma maneira de viver à sombra da
autoridade e à margem do Código Penal. [...] O culto da estupidez e da
barbaridade celebra-se quase ostensivamente quando a humildade das vítimas
garante a impunidade ou, então, quando os interessados no crime têm prestígio
e poderes para preservar os criminosos. Assim impõe-se, na Polícia, mais do
que em qualquer outro serviço, a separação do trigo do joio. Seria essa a tarefa
de um Governo habilitado por sua anormal duração e, portanto, pelas oportunidades que teve de prestar ao país tão relevante serviço. O último dos
ministros da Justiça no período da legalidade de 1934 apresentou, então, ao
Chefe do Governo dois planos completos para reforma do sistema
penitenciário e construção de nova Casa de Correção [...]. Nenhum desses
assuntos jamais interessou ao sr. Getúlio Vargas que ainda teve diante de si
oito anos de poderes discricionários durante os quais não se falou mais no
assunto. [...] Mais uma vez encontramos o sr. Getúlio Vargas embaraçado na
própria imagem do passado. Não se pode desmanchar antecedentes, que são
fatos indeléveis, para explicar as mistificações e os equívocos de um
personagem que não pode resistir ao próprio confronto. Essa é, também a
amargura dos tempos presentes. Quem nos governa é um fantasma de memória tenaz. Debate-se nos crimes do passado, perdendo-se nos erros do presente36.
Os argumentos de Macedo de Soares se estenderam para a Guarda Pessoal do
presidente, criada anos antes por Vargas. O noticiário do jornal formava, junto da opinião
do proprietário, um discurso de combate contra o projeto de reforma. O Diário Carioca
não era contra modificações na Polícia, mas era essencialmente contrário a esta
35 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07938. 25 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23791 Acesso em: 19/06/1954. 36 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: 07940. 27 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/23804 Acesso em: 19/06/1954.
organização ser reformada nos moldes previstos pelo governo. A Polícia representava um
problema antigo, que precisava urgentemente de alguma solução política. Na página n° 8
do Diário Carioca, o colunista Epitácio Timbaúba condensou este ponto de vista:
A matéria está portanto bem esclarecida. O assunto está mais do que debatido.
O que é necessário para solucionar o impasse é ação, energia, desejo de
resolver, vontade de trabalhar. [...]. O que é preciso é uma ação enérgica do
Governo, solicitando ao Congresso os recursos financeiros indispensáveis para
a construção de prédios para as delegacias, devidamente aparelhados, para sua
mais alta missão preventiva e repressiva, [...]. A reforma do DFSP, que acaba
de ser enviada à Câmara, somente visando aumento de pessoal e
desdobramento de serviços, onerará a despesa pública em quantia superior a
50 milhões anuais. [...] A Câmara, que conhece oficialmente o estado miserável em que se encontram os xadrezes policiais, que aproveite a
oportunidade e forneça ao Governo os elementos de que ele necessita para pôr
termo a um estado de coisas contra o qual todos falam demagogicamente mas
ninguém age criteriosamente37.
O Diário da Noite publicou em tom de ceticismo a notícia sobre o
encaminhamento de um projeto de reforma do DFSP. Assim como o Jornal do Brasil e o
Diário Carioca, o Diário da Noite historiou sobre a violência da polícia contra civis e as
tentativas fracassadas de se reformar a polícia carioca. Em 26 de maio, o periódico
imprimiu uma capa com quatro manchetes sobre o caso Moreira e a Reforma da Polícia.
No topo da página, acima das notícias destacadas, o jornal estampou a frase “Reforma
imediata da Polícia, até que esfrie tudo dentro de dias, como sempre38”.
Abaixo, o Diário da Noite trouxe uma fotografia ampliada do delegado Fernando
Bastos Ribeiro, titular do 2° Distrito Policial, acompanhada pelo título “Eis aqui, nesta
foto, o verdadeiro responsável pela chacina de Moreira39”. Ao lado, em um box, o
periódico comentava o projeto de reforma da polícia:
Está havendo verdadeira psicose de reforma da polícia em consequência do
bárbaro crime, cometido na delegacia do 2° Distrito, contra a vida do repórter
Nestor Moreira. Realmente se impõe completa reorganização do aparelho
policial, obsoleto e desacreditado. Esquecem-se, porém os que se batem com
maior ardor por essa providência de que existem tramitando pelos mais
diferentes canais competentes ou arquivadas, diversas reformas da polícia que
jamais foram efetivadas, saindo do papel para a realidade. A experiência, nesse
37 DIÁRIO CARIOCA, Rio de Janeiro. Ano: Edição: 07959. 18 de junho de 1954. Disponível em: Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093092_04/24095 19/06/1954. P 08. 38 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 26 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34057 Acesso em: 19/06/1954. P. 01. 39 Idem.
ponto, como em tantas outras da administração pública, é desconsoladora. [...]
Nossos votos são os que, passada esta onda de indignação pública [...] a
convicção da necessidade de aparelhar, limpar, e dignificar a polícia continue
no mesmo ímpeto40.
Para Carlos Cavalcante, colunista do jornal, a proposta de reforma seria apenas
mais uma. Na página n° 3, sob o título de Beira & Calçada, Cavalcante traçou uma crítica
à política e a civilização brasileira. Para o autor, propor reformas em uma instituição como
a polícia seria apenas um discurso teórico. Colocar em prática medidas que transformem
a estrutura policial só seria possível se a sociedade brasileira fosse outra:
A mais recente reforma da polícia que o governo encaminhará ao Congresso
deve ser uma obra prima no papel, como as outras muitas. Para fazer coisas no
papel somos os maiores. [...] Tudo, porém, ainda por muito tempo não sairá do
papel. Sairá o general Âncora, sairá Dr. Getúlio, entrará novo Âncora, novo
Getúlio e tudo ficará no papel, a espera de tempo. A bíblia aliás diz que tudo tem seu tempo. Estamos no tempo de gritar pelas reformas, mas ainda não no
tempo das reformas propriamente ditas. Quando estivermos atochados de
progresso e os papeis das reformas bem amarelinhos, começará a chegar uma
coisa sutil e agradável, com feito de flor, que só chega com o tempo: -
civilização41.
O diagnóstico pessimista de Cavalcante indica uma descrença nas instituições
brasileiras. Em tempos de largos debates sobre o desenvolvimento nacional, o colunista
enxergou um país ainda claudicante, sem a capacidade de mobilizar agentes e instituições
para ter êxito em reformar a polícia. Mesmo que indiretamente, o jornalista terminou por
relativizar o próprio poder da imprensa. A reforma do D.F.S.P. era uma pauta
recorrentemente noticiada pelos jornais. Porém, para Cavalcante, a pressão da imprensa
sobre o espectro político não obteria êxito.
Há um paralelo entre a visão do colunista e a frase impressa pelo Diário da Noite
na primeira página da edição anterior. Os editores do periódico, responsáveis por definir
a capa do dia42, já haviam expressado a descrença daquele jornal com o projeto de reforma
endossado por Tancredo Neves. Com estes argumentos, o Diário da Noite também estava
40 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 26 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34057 Acesso em: 19/06/1954. P. 01. 41 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5789. 27 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34077 Acesso em: 19/06/1954. P. 03. 42 A primeira página como um espaço de protagonismo das notícias foi um dos conceitos implementados durante as reformas dos
jornais verificadas ao longo do século XX. Editores selecionavam um grupo de notícias que mereciam destaque e, com auxílio dos
diagramadores, as editavam na primeira página. Este espaço também detinha função comercial: atrair o leitor para a compra do
exemplar. Portanto, as notícias que estão na capa são expressões de um processo avaliativo, onde agentes dos jornais auferem valores
simbólicos para as matérias jornalísticas. Portanto, o valor da notícia é outorgado pelos editores que as avaliam.
tecendo uma crítica a Getúlio Vargas. Afinal de contas, resguardadas as especificidades
dos cenários políticos, o gaúcho esteve à frente do Executivo entre 1930-1945 e, naquele
momento, desde 1951, ou seja, mais três anos. Neste longo período, segundo o jornal,
somam-se projetos de reforma da polícia que nunca chegaram a ser postos em prática.
Em outra coluna, intitulada “Ronda Policial” o Diário da Noite comentou a
alienação da sociedade do debate sobre a reforma ideal. Para o autor(a)43, a tramitação do
projeto deveria ocorrer após consultas aos segmentos sociais diretamente interessados nas
mudanças. Isto também incluía os próprios policiais, agentes que estavam no foco das
transformações ventiladas pelo governo Vargas. O colunista da “Ronda Policial” buscou
publicizar as demandas dos profissionais lotados nos cargos de menor remuneração do
D.F.S.P.:
A reforma da Polícia civil, ora em andamento, não teve a necessária
divulgação, para ser debatida em campo raso, diante da opinião pública, pelos
interessados, que, no caso, são os próprios servidores e mais o povo
contribuinte e beneficiário da segurança pública ou, paradoxalmente,
prejudicado pela falta de garantias, como acontece atualmente. [...] O que
sabemos, até agora, é que, quanto a restruturação dos quadros do pessoal, as
melhorias recaem apenas nos mais altos funcionários [...]. Para os detetives, ao
que fomos informados, a melhoria é de apenas uma letra, igual a mais 440
cruzeiros do que, atualmente, percebem, e, quanto a investigadores, estes nem são mencionados. Não se trata, portanto, da desejada, reclamada e exigida
reforma da Polícia Civil [...]. Não estamos depreciando o papel dos delegados,
comissários e escrivães de Polícia, [...] mas estamos situando atividades e
posições para que se faça justiça ao lado fraco da corda, à “carne de canhão”
que é a linha de frente do combate. Como está, a reforma não satisfaz, porque
não soluciona o grande problema da eficiência moral e material da Polícia44.
Com este argumento, o colunista evidenciou que a moralização da Polícia
dependeria de uma melhoria substancial nos vencimentos dos policiais. A pauta dos
salários já vinha sendo discutida pela imprensa desde a gestão de João Goulart (PTB) na
pasta do Ministério do Trabalho. Um mês antes da publicação desta coluna, o governo
implementava o aumento de 100% do salário mínimo, ação criticada por setores da UDN
e da imprensa45.
43 A coluna não contém assinatura ou iniciais de seu autor. 44 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5802. 10 de junho de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34322 Acesso em: 19/06/1954. P. 06. 45 LAURENZA, Ana Maria de Abreu. Op. Cit. 1998.
Dois dias antes, na edição n° 5800, o Diário da Noite noticiava “Nasceu no Catete
a corrida para o aumento. Civis militares e especialmente a magistratura fazendo
milagres para viver com dignidade46”. Portanto, o periódico já propagandeava as
demandas de alguns setores por novos vencimentos. Nesta linha, o colunista de “Ronda
Policial” criticou o projeto de reforma do D.F.S.P. por intermédio da alienação de setores
da Polícia das melhorias salariais previstas para agentes no topo da hierarquia
institucional.
Diferentemente do Diário Carioca, o Diário de Notícias comentou de forma
elogiosa a postura do ministro Tancredo Neves durante a sabatina com os jornalistas na
sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Sob o título de “EXPURGO
NECESSÁRIO47”, o periódico afirmou que o pessedista, frente as perguntas dos
repórteres, “manteve o debate”, “resistindo satisfatoriamente48”. Indo além, o Diário de
Notícias argumentou que, desde que Tancredo assumiu a pasta (na reforma ministerial de
1953), o político vinha trabalhando para reformar a instituição policial.
No dia seguinte, a página de notas políticas do jornal publicava a análise “A
REFORMA É OUTRA49”. Assim como alguns dos outros jornais, o Diário de Notícias se
colocou como porta-voz da sociedade. No texto, o periódico questiona se a reforma do
governo atenderia as reais demandas da população carioca. Indo além, o jornal criticou o
momento em que o projeto foi posto em tramitação pelo governo Vargas:
Ao governo pareceu oportuníssimo o momento para essa prova de seu desvelo
pela segurança da coletividade. Mas, porventura, o que a cidade reclama é uma
reorganização administrativa, no sentido de uma amplitude maior dos
serviços? Sem dúvida, ela clama contra a deficiência numérica do
policiamento, a bem dizer inexistente; mas sabe que, acima de tudo, há a
atender à formação moral da instituição. [...]. Majorar verbas, superlotar
quadros, não será reformar a Polícia. Se não se lhe der uma estrutura digna, ela
se tornará tanto mais perniciosa, quanto maiores sejam os seus recursos de coação, de perseguição, de violência. Antes viva uma comunidade
despoliciada, entregue a si mesma no tocante à sua segurança, do que à mercê
da sanha ou da cupidez de janízaros. A reforma da Polícia, portanto, não vai
depender do Congresso ou apenas dele. [...] deve o Executivo ir cumprindo o
que lhe cabe fazer, a menos que queira dar ao povo brasileiro a prova de sua
46 DIÁRIO DA NOITE, Rio de Janeiro. Ano: XXVI. Edição: 5800. 08 de junho de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/221961_03/34282 Acesso em: 19/06/1954. P. 02. 47 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9673. 19 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32449 Acesso em: 19/06/2019. P. 06. 48 Idem. 49 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9674. 20 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32463 Acesso em: 19/06/2019. P. 04.
anuência, quando não da sua cumplicidade, a atentados da ordem desse que ora
repercute no seio da opinião nacional, como um toque de rebate50.
Em sua coluna, Magalhães Júnior comentou a reportagem de Edmar Morel
publicada por Última Hora. Segundo ele, as fotografias dos xadrezes e as entrevistas com
os presos – feitas por Morel e Jader Neves - se configurariam em mais um capítulo da
luta da imprensa em geral pela reforma da polícia. Após esta colocação, o colunista do
Diário de Notícias construiu uma narrativa similar àquela feita por Carlos Cavalcante no
Diário da Noite.
A razão para a reforma policial não se tornar uma realidade se encontrava na
própria sociedade brasileira. Para Magalhães Júnior faltava para os brasileiros a vontade
necessária para conseguir a reforma do D.F.S.P. Indo além do seu colega do Diário da
Noite, Magalhães Júnior aponta as razões para este cenário:
Há prisão especial para o jornalista, para o militar, para o advogado. Prisão
especial para os que pertencem a uma elite social, os que figuram nas camadas
dirigentes da sociedade e que, por isso mesmo, fecham os olhos para a
condições vergonhosas e torpes como as que são agora denunciadas [...]. Ou
existe igualdade perante a lei e o Estado ou não existe. No dia em que o militar,
o jornalista, o advogado e o professor conhecerem, igualmente, a dureza de um
chão gelado de xadrez de delegacia, então essas condições mudarão. [...] Diz-se que o que é bom deve tocar a todos. O que é mau também devia tocar, para
que existisse um propósito unânime de modificação de condições que seriam
em tal caso tidas como intoleráveis51.
Além disso, a crítica de Magalhães Júnior se prolongou para o espectro político.
O jornalista recobrava que parlamentares já haviam investigado a situação prisional
carioca. Logo, legisladores e governistas eram os responsáveis pela inércia que imperava
sobre a necessidade de se reformar a polícia e as cadeias do Rio de Janeiro:
Onde estão esses deputados e esses senadores? Por que não reorganizam aquela
comissão? Por que não voltam a visitar de surpresa as delegacias? Por que não dão corretivo aos erros e vícios encontrados, através de um ou mais projetos
de lei? Por que o ministro da Justiça não procura saber o que se passa nos
domínios de sua pasta? Evidentemente, sua função não é ficar num gabinete, a
despachar papéis, dar vãs audiências e fazer mexidos políticos, visando a
sucessão nos grandes Estados e, por consequência, a sucessão presidencial52.
50 Idem. 51 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9676. 22 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/093718_03/32500 Acesso em: 19/06/2019. P. 03. 52 Idem.
Na mesma página da coluna de Magalhães Júnior, o Diário de Notícias publicou,
esporadicamente, matérias sobre a repercussão política do caso Nestor Moreira e o tema
da reforma da polícia. Entre os parlamentares citados pelo jornal, estavam: Frota Aguiar,
Hamilton Nogueira, José Bonifácio, Heitor Beltrão e Afonso Arinos, todos da União
Democrática Nacional (UDN). Os títulos de algumas matérias adaptavam trechos das
declarações dadas por algum destes parlamentares:
ALÉRGICO O SR. GETÚLIO VARGAS À TRANQUILIDADE PÚBLICA,
À LEGALIDADE E à ORDEM53.
EXPURGO NO PESSOAL, O PROBLEMA DA POLÍCIA CIVIL
CARIOCA54.
Portanto, o crime contra Nestor Moreira foi utilizado pela imprensa carioca para
exigir a reforma do Departamento Federal de Segurança Pública. Proprietários de jornal
e colunistas expunham posições sobre o tema e comentaram o projeto governista
encaminhado para o Congresso Nacional. Até mesmo repórteres expuseram análises
sobre figuras governistas e também acerca das violências praticadas pela polícia civil
carioca. Desta forma, a agressão contra um jornalista – deflagrada a partir de uma dívida
deste para com um motorista de táxi no valor de Cr$ 75,00 – inflamou debates políticos
que se prolongaram até os idos do Estado Novo. A polícia de Vargas, novamente,
simbolizava a violência estatal, só que naquele momento sob a égide da democracia.
V. Conclusão:
A princípio, são perceptíveis algumas similaridades entre as posições dos quatro
jornais. Apesar de todas as críticas ao projeto governista, estes jornais se mostraram
favoráveis a uma reforma que modificasse o então sistema policial carioca. O crime
contra um jornalista empenhou os jornais no debate por uma reforma da Polícia. Nesse
ínterim, Diário Carioca, Diário da Noite, Diário de Notícias e Jornal do Brasil buscaram
ser porta-vozes dos anseios da suposta opinião pública. Através desta estratégia discursiva
estes jornais apontavam as disparidades entre o projeto do governo Vargas e as
concepções que eles possuíam sobre qual seria a melhor reforma a ser implementada.
53 Ibidem. 54 DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro. Ano: XXIV Edição: 9680. 27 de maio de 1954. Disponível em:
http://memoria.bn.br/docreader/093718_03/32615 Acesso em: 19/06/2019. P. 03.
Apenas o Jornal do Brasil saiu do campo das críticas ao projeto para propor, de
fato, outro caminho reformista. Com isso, o JB encampou o projeto de um parlamentar
udenista que coadunava com a opinião do jornal sobre a necessidade de maior penetração
do judiciário nas atividades policiais. Para o Diário Carioca, a reforma seria um artifício
eleitoral dos correligionários ligados à Vargas. O Chefe de Polícia era um funcionário
subordinado ao Ministro da Justiça que, em sequência, respondia ao presidente. Se se
aumentasse seu poder de contratar policiais aos milhares, haveria se formatado um quadro
de clientelismo eleitoral que favoreceria o presidente e o ministro.
O Diário da Noite orientou suas posições através do pessimismo. O jornal não
enfoca suas críticas ao projeto governamental, mas sim a sociedade brasileira. A falta de
mobilização pela moralização policial era a razão que perpetuava aquele cenário de
violências. Um projeto consistente só se implementaria em outro tempo, sob a égide de
uma outra geração de brasileiros. Já o matutino Diário de Notícias manteve uma posição
ambígua. O periódico conjugou críticas ao projeto de reforma com elogios a seu
idealizador, Tancredo Neves. Em linha similar ao Diário da Noite, o jornal culpou - em
parte – a sociedade pela violência policial.
Portanto, apesar de suas diferenças com o governo Vargas, os quatro jornais
concordavam sobre a necessidade de ser implementada uma reforma da polícia. Este
cenário evidencia que a violência praticada por policiais do D.F.S.P. havia atingido
patamares que mobilizavam até mesmo instituições oposicionistas pela reforma. A
questão era que tipo de reforma seria ideal para a Polícia Civil carioca.
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