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P rtelamagazine

Distribuição gratuitaSetembro 2013 Periodicidade Bimestral11#

Revista da Associação dos Moradores da Portela

Entrevistas a todos os candidatosEspecial Autárquicas 2013

Entrevista à presidente da APRe! Maria do Rosário Gama«Quando a comunicação social fala dos mais velhos é quase sempre para dizer que não há dinheiro»

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Portela Magazine – Revista Bimestral – Proprietário Associação dos Moradores da Portela – Director Manuel Monteiro – Redacção Eva Falcão, Filipa Assunção, Leonor Noronha – Colaboradores Armando Jorge Domingues, Bonifácio Silva, Carla Marques, Fernando Caetano, Filipa Lage, Humberto Tomaz, José Alberto Braga, Miguel Esteves Pinto, Miguel Matias, Patrícia Guerreiro Nunes, Rui Garção, Rui Rego – Sede de Redacção Associação dos Moradores da Portela, Urbanização da Portela, Parque Desportivo da AMP, Apartado 548, 2686-601 Portela LRS – Telefone 219 435 114 – Site www.amportela.pt – E-mail [email protected] – Email Comercial [email protected] – Direc-ção Comercial: António Nascimento – Grafismo ITW-Ideas That Work, Lda. – Impressão Nova Gráfica do Cartaxo – Tiragem 6500 exemplares – Depósito Legal n.o 336956/11 – ISSN N.o 2182-9551

Ficha Técnica

Por paradoxal que possa pare-cer, apesar da ideia largamen-te disseminada de que não são

os políticos quem nos governa, mas os grandes grupos económicos, o es-crutínio feito pelos media à elite eco-nómica permanece residual ou nulo. Dezenas de comentadores, dezenas de «especialistas» enxameiam a tele-visão e os jornais, sempre atreitos a discutir os tacticismos partidários e a futebolização da política, sem discutir demoradamente as questões de fundo da política nacional e internacional.Repare-se como se difunde, sem um exame profundo e crítico, a diaboliza-ção das PPP, anátema que surgiu re-pentinamente após anos e anos a fio de PPP e que rapidamente se instalou como uma verdade feita para o cida-dão comum, sem que contudo esse mesmo cidadão comum saiba quem está por trás dos contratos. Quem são estes grupos, os seus accionistas, quem beneficia e continuará a benefi-car por muitos anos com tais contra-tos? Quem «rouba» afinal o Estado (que a maioria dos comentadores nos quer fazer esquecer de que somos to-dos nós)?

Ainda Jorge Sampaio era presidente da República e uma sondagem aos jornalistas revelou que 90% se confes-savam compelidos a produzir jornalis-mo (uma contradição nos termos) de acordo com a linha editorial do órgão em que estavam. Na altura, o presi-dente mostrou uma certa comoção e apreensão, mas desde então nada mu-dou. Pelo menos, para melhor, nada mudou.A concentração da propriedade da dita comunicação social cresce a par com os mecanismos de coacção pela publicidade, cada vez mais tremen-dos numa época de crise, de falência de publicações periódicas e de pre-cariedade do jornalismo. Veja-se o tom bajulatório e deliciado com que a directora do Público descreve a filha do arquipoderoso Belmiro ou o editorial que José António Sarai-va escreveu a endeusar Balsemão quando era director do Expresso, ve-ja-se como os grandes senhores do dinheiro têm sempre entrevistadores neutrinhos, sorridentes e de panca-dinhas nas costas, veja-se como o Governo de Angola é abordado com um extremo cuidado, para se achar tudo isto uma grotesca farsa. Faça-se um estudo de quantos media ousam investigar ou criticar os seus patrões

ou as empresas que lhes pagam a publicidade. Qual é o pensamento destes grandes senhores do dinheiro? Os sinais que temos do seu «pensamento» são terri-velmente antidemocráticos, caverníco-las e racistas sociais de uma forma des-denhosa e sarcasticamente perversa.Belmiro de Azevedo, o homem que não está habituado a ouvir uma crí-tica e que disse que Marcelo Rebelo de Sousa tinha de ser «erradicado» e «aniquilado» da vida política quando ousou contrariá-lo, o companheiro de squash de Vítor Gaspar, garante que «se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém», assegu-rando que «as manifestações são um divertimento para desempregados».Soares dos Santos, o homem que tra-ta qualquer jornalista com enfado e condescendência, salpicando cons-tantemente o seu interlocutor com «Ó filho, não é nada disso», entende que a economia enferma de problemas nascidos nesse terrível ano de 1974, sublinhando que não lhe interessa a Constituição e que «andamos sempre a mamar na teta do Estado. Porquê, porquê?».Fernando Ulrich soltou o célebre «ai, aguentam, aguentam» e reiteraria a sua certeza mais tarde desmontando a ideia de que se tratara de uma gafe, quando jurou que, sim, os Portugue-ses aguentavam mais austeridade, se até os sem-abrigo aguentavam, ho-messa! Este mesmo homem marcou presença na Quadratura do Círculo, naquele que foi um dos discursos mais confrangedores no espaço mediático, quer na forma nervosa que demons-trou perante quem o confrontava no plano das ideias, quer na total ausên-

Manuel Monteiro

Bater onde dói, a antítese do jornalismo hodierno

EDITORIAL

[email protected]

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cia de conteúdo, singularmente vácuo e contraditório. Quem quiser que veja o tristíssimo exercício em vídeo para aferir como estas conspícuas criaturas tartamudeiam e se afundam perante um homem culto e com relativa inde-pendência de espírito e coragem como Pacheco Pereira.Ricardo Salgado, o homem que se «esqueceu» de declarar 8,5 milhões ao Fisco, o homem que não se sabe com que mandato entra no Conselho de Ministros em que se irá aprovar o Orçamento do Estado, é severo a ana-lisar a moralidade dos Portugueses que «preferem o subsídio de desem-prego a trabalhar». Desempregados são, no fundo, preguiçosos. Alguém explique ao Dr. Ricardo Salgado que o subsídio de desemprego diminuiu ao longo dos últimos anos, sucessiva-mente, em montante, em condições de acesso, em extensão no tempo, e que o desemprego cresceu mais do que nun-ca. E de caminho pergunte-se a estes senhores como é que a sua solução da desregulamentação do mercado de trabalho que sempre preconizaram (por eles docemente referida como «flexibilização»), aplicada pelos su-cessivos Governos não contribuiu para a diminuição do desemprego. Muito antes pelo contrário. Alguém lhe explique também que noutros pa-íses, que muitas vezes são referencia-dos parcialmente nas suas políticas, a desregulamentação foi contrabalan-çada pelo reforço das prestações so-ciais e que aqui sucedeu o contrário, aumentando-se o desemprego e agra-vando-se as condições de quem cai nas malhas do flagelo, cada vez mais contíguo à miséria e à exclusão social. E alguém o acompanhe na vida de um desempregado de longa duração (que os dados da OCDE de 2010 mostra-vam ser Portugal o país com mais per-centagem de desempregados de longa duração) que toda a vida trabalhou e que o mercado de trabalho penaliza pela idade. Mas Ricardo Salgado está preocupado com questões maiores e decidiu brindar-nos com a conclusão filosófica das suas profundas elucubra-ções: «O sistema capitalista é amoral, tem de produzir resultados. As pesso-as é que podem ser morais ou imorais, mas o sistema de ser amoral.»

O excelso empresário Miguel Pais do Amaral «foi acusado pelo Ministério Público de ter apresentado, enquanto presidente da Media Capital, várias facturas, entre 2001 e 2004, num valor total superior a 4,5 milhões de euros, que circularam por empresas criadas no estrangeiro com o objectivo de fugir aos impostos». Esse mesmo homem que comanda inúmeras editoras em Portugal afirmou alegremente desco-nhecer Oscar Wilde e não «saber nada de poesia, filosofia e literatura» porque «não lhe interessam para nada».António Lobo Xavier, o homem da Sonae, da Mota-Engil, do fundo Vallis, da Riopele, da Fundação Serralves, da SIC Notícias, da Morais Leitão, Gal-vão Teles, da Soares da Silva & Associados, da ACEGE, da As-sociação Comer-cial do Porto, da Têxtil Manuel Gonçalves, da Jerónimo Mar-tins e do CDS, entre outros digníssimos car-gos, é um comen-tador que poderá ser independente? É um ho-mem que poderá não levantar suspeições quanto à parte interessada ao superintender a comissão de revisão do IRC? Este comentador fixo de um dos programas televisivos mais vistos de debate público defende que a redu-ção das desigualdades em Portugal, o segundo país mais desigual da União Europeia, não deve ser uma prioridade e que tal não é «sustentável».É este o ideário que dirige superior-mente as empresas destes sábios es-píritos? São estes homens que recla-mam contra «a mama», que falam em baixar salários e que troçam das prestações sociais, que a Autoridade Bancária Europeia revelou que estão entre os que mais ganharam em 2011 na União Europeia. «Num universo de 27 países, Portugal ficou em déci-mo, fruto dos rendimentos de 11 ban-queiros portugueses, cujos nomes não foram revelados.» São estes «liberais» quem mais recebe do Estado, são estes os únicos donos de empresas que têm os seus prejuízos nacionalizados, isto

é, encaminhados para todos os Por-tugueses, quando a sua gestão corre mal, ao mesmo tempo que defendem a privatização das empresas lucrativas do Estado.Termino com um episódio que vivi enquanto jornalista. No dia 28 de Fe-vereiro de 2007, estive numa palestra sobre a responsabilidade social das organizações, concretamente do Mil-lenium BCP. A extensão das palmas parecia-me própria dos discursos de Estaline. Na minha mesa, um conjun-to de funcionários do BCP reforçou-me a ideia de que estava numa litur-gia. «Estão a ver as vossas mãos? Têm todas um eme [M] nas linhas... É um eme de Millenium.» Assustei-me com

o tom. Quando perguntei pela satisfação laboral e pela

responsabilidade social do BPC, um fanático debitou: «No Mil-lenium BCP, há 11 mil trabalhadores e não há um único insatisfeito.» Notan-do a incredulidade

no meu rosto, repetiu maquinalmente: «No

Millenium BCP, há 11 mil trabalhadores e não há um

único insatisfeito.» No final, per-guntei publicamente a Paulo Teixeira Pinto se era verdade que as doenças de foro psiquiátrico tinham aumentado no sector bancário, designadamente no BCP, e se havia estudos sobre isso. Os rostos da sala ficaram tensos, sus-surando entre dentes. Enfurecido, res-pondeu-me que não havia estudos, que o mal em Portugal era preferir-se mor-rer por não se ter trabalho a morrer-se a trabalhar, desfiou a catilinária contra o rendimento mínimo, contou a piada de que quando perguntaram a um empre-sário quantas pessoas trabalhavam na sua empresa, este respondera cerca de metade. No dia seguinte, na galeria Zé dos Bois, num lançamento de um livro, um indivíduo que não conhecia veio ter comigo e disse que eu não poderia ter feito o que fiz, que Paulo Teixeira Pinto era um homem perigoso que se vestia como membro da SS na faculda-de e que se eu estava interessado em ter uma carreira não poderia voltar a fazer uma pergunta assim.

Ricardo Salgado, o homem que se

«esqueceu» de declarar 8,5 milhões ao Fisco, o homem que não se sabe com que

mandato entra no Conselho de Ministros em que se irá aprovar

o Orçamento do Estado, é severo a analisar a

moralidade dos Portugueses

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ENTREVISTAJUNTA PSD

O que pensa da fusão das freguesias de Mos-cavide e da Portela?No futuro, a União de Freguesias Moscavide e Portela irá constituir uma Freguesia de Excelên-cia com duas localidades. Trataremos da mesma forma o que é igual e de forma distinta o que é diferente: Temos um projecto que vai transfor-mar a nova freguesia num espaço de maior pro-ximidade, mais partilha e melhor qualidade de vida. Não discrimina ou exclui ninguém. Vamos ouvir todos, e promover a melhoria da qualidade de vida. É um projecto ambicioso, que traz um novo olhar sobre Moscavide e um olhar sempre atento sobre a Portela. Surge um novo desafio: um projecto autárquico positivo, inclusivo e de sucesso. Todos têm voz e contributos a dar!Sempre houve um estigma entre os habitan-tes de Moscavide e da Portela. Há inúmeras pessoas de uma freguesia que nem sequer conhecem a outra. De que forma será isto combatido?Não dou como certo que muitos moscaviden-ses não conheçam a Portela ou vice-versa. Não acho que haja estigma. Pelo contrário, sempre fui testemunha de um salutar convívio entre as duas populações vizinhas.Um bom indicador da existência de dificulda-des económicas é o número de pessoas que deixam de pagar água, pelo menos durante algum tempo. Até que ponto conhece essa realidade nas duas freguesias?Na Portela é do conhecimento geral que a Junta colabora no pagamento de despesas de casa para essas situações. Esta política será, no futu-ro, estendida a Moscavide.Qual o balanço que faz do seu mandato à frente da Junta de Freguesia da Portela e do mandato de Daniel Lima à frente da Junta de Freguesia de Moscavide?Esse balanço é feito pelos eleitores todos os dias. No dia 29 de Setembro teremos o verda-deiro balanço.Quais são as principais carências da Portela e de Moscavide que pretenderá colmatar?A Portela é hoje um exemplo, no concelho de Loures e na zona oriental da Grande Lisboa, no que diz respeito à acção social, ao apoio edu-cativo e às actividades culturais e recreativas, graças a um esforço conjunto que tem envol-vido toda a comunidade. Temos olhado com particular atenção para os mais velhos. Facili-támos a mobilidade e melhorámos a segurança, apoiámos os mais necessitados nas despesas básicas de saúde, alimentação e habitação, não esquecendo os momentos de lazer e cultura, de festas e tradições. Temos tido um olhar dinâmi-

co para os mais jovens, reconhecendo que eles são os herdeiros da nossa actuação: demos-lhes mais oportunidades ao apoiá-los nos estudos e na aquisição de manuais escolares e atribuindo bolsas de estudo e outros prémios. Proporcio-námos uma vida mais preenchida, ao nível do desporto, cultura e lazer. Temos olhado para os que vivem com maiores dificuldades, através da manutenção de um Programa de Emergência Social, que só é possível graças a uma ges-tão financeira rigorosa para poder ajudar os que mais precisam. Os laços que ligam as comunidades de Mosca-vide e Portela são fortes, apesar das fronteiras territoriais, administrativas ou políticas. Vamos integrar a mesma freguesia, mantendo as tradi-ções e a identidade de cada comunidade. Que-remos levar um projecto ambicioso, dinâmico, que traga um novo olhar sobre Moscavide. Um projecto participativo que facilita a vida de todos com pequenos gestos, especialmente daqueles que já viveram mais anos e começam a encon-trar mais dificuldades. Ir ao mercado e ao centro de saúde é difícil, os passeios sem rampas são obstáculos para os carrinhos de bebés e cadeiras de rodas. Queremos que todos se desloquem sem barreiras e em segurança e vamos implementar o “Transporte Solidário para Idosos”, um serviço gratuito porta-a-porta para quem dele necessita. Este serviço vai assegurar a mobilidade e a se-gurança dos idosos e contribuir para a diminuição do isolamento, da solidão. O Centro de Saúde, o Mercado e o Centro Comercial da Portela vão ficar mais próximos de todos. O projecto “Arranje a mi-nha Rua… Arranje o meu Bairro” vai permitir que todos sugiram obras e melhorias e será acom-panhado de uma verdadeira gestão orçamental da freguesia participada por todos. Vamos olhar para os mais novos e para as suas necessidades logo nos primeiros anos, ao nível das creches e jardins-de-infância, apoiando com oferta de manuais e equipamento. Vamos incentivar os estudos, valorizar o mérito com bolsas de estu-do e fomentar actividades extra-escolares, com actividades artísticas, musicais, culturais e des-portivas. Não esquecemos os mais carenciados, melhorando os mecanismos de distribuição de alimentos, medicamentos, roupas e outros bens. Respeitamos a identidade e tradições locais, no campo religioso, cultural e recreativo. Dos coros aos grupos de teatro, do Carnaval aos Santos Populares, não se pode apagar da memória as nossas raízes. Pretendemos também revitalizar, apoiar e incentivar o comércio local, defendendo uma nova política de estacionamento, mais so-cial, que permita o estacionamento gratuito nos

Manuela Dias

primeiros 30 minutos, durante a hora do almoço e acautelando também as cargas e descargas e ainda a possibilidade de estacionamento dos veículos dos comerciantes e dos que trabalham em Moscavide. Vamos continuar a privilegiar o diálogo mantendo a porta do gabinete aberta a todos.Quais as relações que pretende estabelecer com as principais instituições e forças vivas da Portela e de Moscavide?Um relacionamento cordial e sempre e só a favor do interesse das populações.Espaços VerdesContinuar a ser exemplo. Manter a Portela bo-nita, melhorar Moscavide. Sensibilizar toda a população. Qualidade é a proposta.CulturaManter o dinamismo e as actividades/eventos ao ritmo dos últimos 4 anos.SegurançaManter o veículo oferecido à PSP e um diálogo regular e de proximidade com as forças de se-gurança. Ser a força transmissora das insegu-ranças e necessidades da população.Iluminação PúblicaContinuar a pressionar quem de direito das defi-ciências no sector, solicitando as melhorias ne-cessárias. Pela população, desde 2010 a Junta não deixa sossegar por escrito o Município e a EDP.Apoios SociaisEstender a toda a freguesia a política social existente actualmente na Portela, melhorá-la e de facto ajudar as pessoas.Habitação SocialManter o diálogo com o Município e as suas estruturas de acção social. Transportes públicosPrivilegiar o contacto directo com os responsá-veis pelo sector e ter sempre presente o inte-resse das populações.Relação com a Câmara Municipal de Loures e relação ante o Poder CentralCordial mas reivindicativa. O interesse dos habi-tantes e a boa prestação de um serviço público é a prioridade.

PSD / MPT /PPM

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ENTREVISTA JUNTA PS

O que pensa da fusão das freguesias de Moscavide e da Portela?O Partido Socialista rejeitou esta proposta de fusão das freguesias de Moscavide e Portela aprovada pelo Governo P.S.D./C.D.S., por considerar que a mesma foi desenhada à revelia dos autarcas, sem critérios obje-tivos na sua configuração tendo levado a um amplo repúdio das populações de Norte ao Sul do País. En-tendemos no entanto que pelo respeito que nos me-recem os cidadãos das duas Freguesias, tudo faremos para cumprir os principais desígnios que constituem uma referência da nossa gestão nas autarquias onde somos maioria e onde repetidamente os cidadãos nos têm renovado a sua confiança. Sempre houve um estigma entre os habitantes de Moscavide e da Portela. Há inúmeras pessoas de uma freguesia que nem sequer conhecem a outra. De que forma será isto combatido? Não podemos considerar que existe um desconhe-cimento total entre os cidadãos das duas Freguesias. Aliás muitos cidadãos de Moscavide frequentam o Centro Comercial da Portela e instalações des-portivas da Portela, assim como muitos cidadãos da Portela usufruem de instalações educativas de Moscavide (creche e jardim de infância), bem como se regista uma assinalável presença de cidadãos da Portela junto do comércio tradicional em Moscavide. O “Rodinhas” transporte que faz o percurso entre Moscavide e Portela tem promovido o intercâmbio e a mobilidade das populações. Certamente com o desenvolvimento de iniciativas no campo da cultura, do desporto e do lazer será certamente potenciada uma maior aproximação entre as duas Freguesias, salvaguardando-se no entanto as identidades espe-cíficas de cada Freguesia.Um bom indicador da existência de dificuldades económicas é o número de pessoas que deixam de pagar água, pelo menos durante algum tempo. Até que ponto conhece essa realidade nas duas freguesias?Tenho acompanhado com elevada preocupa-ção as crescentes dificuldades económicas dos Moscavidenses e dos Portelenses. Vivi na Portela durante 20 anos, onde ganhei sólidas amizades e um profundo conhecimento da Freguesia e dos seus problemas. Possuo indicadores mensais so-bre a situação nas duas freguesias, que revelam que as dificuldades das famílias, face à actual situação económico-financeira, são cada vez mais crescentes a todos os níveis. Temos procurado apoiar as famílias mais carenciadas, nas despesas relacionadas com as necessidades mais básicas como alimentação, habitação e saúde, olhando para os que vivem com maior dificuldade. Para além do referido, a Junta mantém em funcionamento a Loja Social, onde presta os mais variados apoios às fa-

mílias que manifestam insuficiência económica.Qual o balanço que faz do seu mandato à frente da Junta de Freguesia de Moscavide e do mandato de Manuela Dias à frente da Junta de Freguesia da Portela?Os cidadãos avaliarão no dia 29 de Setembro a qualidade do trabalho desenvolvido pelos dois Pre-sidentes e o cumprimento das promessas eleitorais assumidas junto dos eleitores. Em Moscavide estou ciente que essa avaliação será bastante positiva. Em Moscavide, fruto de um trabalho contínuo, com ampla participação e escuta das necessidades dos cidadãos temos conseguido não só o cumprimento das metas que nos propusemos como em algumas áreas temos inovado em particular junto da popu-lação idosa com práticas inovadoras que em muito tem beneficiado este setor da população.Quais são as principais carências da Portela e de Moscavide que pretenderá colmatar?Portela e Moscavide têm algumas realidades co-muns e outras que se diferenciam. Apesar de ambas estarem dotadas de boas infraestruturas a nível social, da educação, do desporto e dos tempos livres há projetos estruturantes que pensamos vir a concretizar no próximo mandato: – O Centro de Saúde que se encontra a ser ultima-do nas instalações da Urbanização do Oriente e que servirá as populações das duas Freguesias.– A requalificação do atual espaço da Junta de Fre-guesia da Portela com vista à criação de um Centro Comunitário com valências transversais a todas as faixas etárias residentes na Freguesia, mantendo em pleno funcionamento as instalações da junta de freguesia com a habitual prestação de serviços à população.– A iluminação Pública em áreas das duas Fre-guesias deverá ser uma prioridade, já que algumas reduções de intensidade de iluminação efetuadas pela EDP colocam diretamente em causa a segu-rança dos cidadãos.– Em termos de apoios sociais deverá ser reali-zado em conjunto com todas as instituições das Freguesias e com a Rede Social, um diagnóstico atualizado e encontrar alternativas solidárias, como as Lojas Sociais que minimizem o impacto da cri-se económica de dezenas de famílias. Serão neste campo potenciadas através de sinergias entre as várias instituições existentes nas duas Freguesias as políticas de apoio social a desenvolver.– O serviço de apoio aos reformados e idosos através da “Oficina do Reformado”, serviço prestado pela Junta de Freguesia de Moscavide que é pionei-ro em Portugal e que será estendido à Portela, a fim de apoiar os idosos da futura freguesia.– A Carris tem vindo a reduzir na Freguesia da Por-tela a frequência e os horários da sua oferta de

Daniel Lima

transportes. Uma situação preocupante que mere-cerá uma atenção especial para que os cidadãos da Portela não fiquem prejudicados no seu acesso à mobilidade.– Revitalização do comércio tradicional – Tanto em Moscavide com a reestruturação do Mercado assim como na Portela deverão ser encontradas as for-mas que permitam a dinamização do seu comércio. Intercederemos, também junto da Loures Parque, empresa que gere o estacionamento de Moscavide e Portela para que implemente medidas de apoio aos comerciantes locais.– Ambiente, Espaço Público e Espaços Verdes – Depois de terminada a erradicação das barracas na Quinta da Vitória na Portela (onde subsiste apenas uma dezena de famílias por realojar) procurar-se-á a nível dos espaços verdes uma melhor e mais ampla utilização desses espaços dotando-os de melhores equipamentos e fazendo do espaço pú-blico um espaço amigável e revitalizado.– Cultura – Este setor hoje tão subalternizado na sociedade portuguesa tem merecido da parte do executivo a que presido um carinho muito especial. A recuperação do Cinema de Moscavide e a sua transformação em Centro Cultural tornou possível a realização de um espaço abrangente onde Esco-las, Instituições e agentes culturais ligados à dança ao teatro e à música passaram a poder usufruir e utilizar um espaço de qualidade ímpar. Disponibili-zei sempre que solicitado este espaço a pedido da Junta de Freguesia da Portela e de outras institui-ções dessa Freguesia. A concretização destas medidas e a continuação daquelas já atualmente em execução serão realiza-das com um amplo diálogo e participação de toda as instituições das duas Freguesias.As dinâmicas introduzidas por estas instituições geridas com dedicação, empenhamento e criativi-dade face aos escassos recursos que muitas vezes dispõem merecerão o meu total apoio.Finalmente cumpre-me assinalar que as relações com a Câmara Municipal de Loures se têm pautado por uma enorme lealdade e respeito institucional, através de uma estreita cooperação da qual têm resultado benefícios óbvios para as populações.Queremos prosseguir este caminho e se possível aumentar as competências atualmente atribuídas às Juntas. Só assim conseguiremos uma concretização plena dos nossos propósitos e das nossas metas.Com ambição e com a confiança num projeto que é de todos e para todos. O

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ENTREVISTAJUNTA BE

O que pensa da fusão das freguesias de Mosca-vide e da Portela?Como a maior parte dos cidadãos destas fre-guesias, sou contra esta união forçada, considero que a extinção administrativa de freguesias le-vada a cabo por este governo foi descuidada e incompetente, levando ao aglomerar de pessoas e locais que nada têm em comum, diminuindo a qualidade e quantidade dos serviços públicos já em si deficitários. E esta é a nossa posição desde o primeiro momento. A democracia local é incompatível com estas imposições, tantas ve-zes absurdas e alheias a qualquer continuidade histórica e urbana. Ainda mais grave, a agenda (pouco) escondida é a eliminação de serviços de proximidade até agora assegurados pelas dife-rentes juntas. Neste processo de reorganização deveria ter-se dado voz à vontade popular atra-vés de referendos locais. Combaterei todos os encerramentos de serviços e valências admi-nistrativas e sociais das nossas freguesias agora agregadas.Sempre houve um estigma entre os habitantes de Moscavide e da Portela. Há inúmeras pessoas de uma freguesia que nem sequer conhecem a outra. De que forma será isto combatido? São de facto duas freguesias completamente distintas quer ao nível social e cultural, e por isso a integração forçada não faz sentido, já que por um lado temos uma Portela mais abastada, contrapondo com uma freguesia de Moscavi-de mais envelhecida e multicultural, devido ao grande número de imigrantes que aqui escolhe-ram morar. Será preciso um esforço enorme para combater essas diferenças, mas temos projectos de políticas de inclusão através dos serviços pú-blicos disponibilizados pela Junta agora agrega-da que irá permitirão – principalmente aos mais jovens – construir um tecido populacional mais solidário e mais homogéneo na defesa dos seus interesses. Inclusão para responder à exclusão.Um bom indicador da existência de dificuldades económicas é através do número de pessoas que deixam de pagar água, pelo menos durante algum tempo. Até que ponto conhece essa rea-lidade nas duas freguesias?O acesso a água é um direito humano. Todos os lares onde o desemprego e a pobreza conduzi-ram à incapacidade de enfrentar as contas es-senciais (também luz e gás) devem ter acesso a um abastecimento mínimo assegurado, tal como o Bloco defendeu no seu plano de emergência social.É urgente a necessidade de criar um departa-mento de census social, para através de um inquérito porta a porta, identificar situações de

carência extrema ou casos de prolongado aban-dono de idosos.Qual o balanço que faz do mandato de Manuela Dias à frente da Junta de Freguesia da Portela e de Daniel Lima à frente da Junta de Freguesia de Moscavide?Também aqui como no resto do país, é na altura das eleições que se nota um rebuliço em torno de movimentações e obras que são concluídas para “freguês ver”. Em Portugal os autarcas do chamado “arco da governação” parecem ter dois únicos objectivos: “cimento” e “reeleição”. São usados fundos públicos em acções eleitoralistas, com recurso a publica-ções locais que nada mais são que propaganda partidária, usa-se o apoio social como contra-partida do voto, fazem-se “festanças” em câ-maras endividadas, aumentam-se os impostos locais. Enquanto tudo isto acontece, os autar-cas locais tornam-se pequenos caciques que apoiam grandes caciques que apoiam governos e nós continuamos a pagar. Loures não foge infelizmente a este retrato, nem Manuela Dias, nem Daniel Lima.Quais são as principais carências da Portela e de Moscavide que pretenderá colmatar?O meu compromisso é com a reabilitação ur-bana e mais e melhor política social. Teremos de combater a inexistência de um posto médi-co digno no caso de Moscavide, e nenhum no caso da Portela. Ao contrário dos actuais au-tarcas, não aceito a gravíssima situação em que permanece a população das nossas freguesias, que não é abrangida pelo Hospital de Loures e que perdeu o atendimento de urgência que recebia no Hospital de Curry Cabral, em Lisboa. O seu encaminhamento para o Hospital de São José constitui hoje a maior falha da prestação de cuidados de saúde pública no concelho. Isto é de extrema importância dado o número de cidadãos idosos nas nossas freguesias. Há ou-tras alternativas: em Lisboa – do Santa Maria à reabertura das urgências do Curry Cabral; ou em Loures, com o atendimento pelo Hospital de Loures de toda a população do concelho.Recuso ainda uma união de freguesias que não disponha de mínimos essenciais no que toca à segurança pública.Pretendo a extinção da Louresparque, pois nada de bom ganhámos com ela. Pelo contrário, assistimos a um deslocamento de pessoas para as grandes superfícies (cuja implantação beneficia de todas as facilidades camarárias) pondo em causa o pequeno comércio pelo qual Moscavide era amplamente conhecido. Defen-do lugares de estacionamento reservados para

Rui Marques

moradores e comerciantes e gerido localmente por estes.Quais as relações que pretende estabelecer com as principais instituições e forças vivas da Portela e de Moscavide?Deveremos juntar forças no sentido de apoiar as pequenas colectividades e associações com trabalho quotidiano, no sentido de potenciar a prática do desporto e as expressões culturais. A necessidade de acesso a equipamentos e meios para as actividades desportivas e cultu-rais é da maior importância, não apenas para os jovens. A uma visão elitista do desporto e da cultura, que privilegia os grandes eventos, a publicidade dos média, a rentabilidade de equi-pamentos privados, contrapomos uma gestão rigorosa e o acesso público aos equipamentos existentes.Espaços VerdesNas zonas de maior densidade como é o nosso caso, é necessário ocupar o espaço que ainda não foi tomado pela especulação imobiliária para a criação de áreas verdes com dimensão e centralidade, capazes de atrair população, projectar jardins, áreas de lazer de proximidade e espaços abertos para permitir o convívio e o encontro. Devem ordenar-se e regularizar-se as hortas urbanas, prevendo ainda locais adi-cionais para a sua implantação e gestão por novos candidatos que a isso se comprometam, garantindo acompanhamento técnico pela Câ-mara Municipal. A criação de uma ciclovia que una as duas freguesias passando pelos vários espaços verdes e conjugada com uma ou mais ligações à futura freguesia do Oriente, abrindo o acesso ao Tejo que nos tem sido negado.CulturaA crise não é desculpa para as autarquias lo-cais esquecerem a promoção cultural, e porque a informação também é cultura, para atrair vida para o espaço público, defendo a criação de spots WiFi de acesso gratuito à internet nas freguesias, em lugares como jardins, praças, bibliotecas, escolas secundárias, associações e colectividades.Pretendemos recuperar a vitalidade do Cine- -Teatro de Moscavide, que pode e deve ser pal-co de novas expressões culturais e artísticas e acolher espectáculos a preços acessíveis para a população.Segurança e Iluminação PúblicaDefendemos uma esquadra de proximidade na Portela e outra em Moscavide, onde o encerra-

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mento da esquadra anterior não se pode acei-tar. A eficiente iluminação pública em algumas zonas das freguesias é uma obrigação para combater o sentimento de insegurança dos moradores. as poupanças que houver a fazer não podem ignorar a função essencial deste serviço.Apoios SociaisO apoio social, com o fortalecimento das re-des sociais, de solidariedade e apoio mútuo no concelho são a primeira prioridade do Bloco de Esquerda no concelho de Loures. Um retrato da situação no concelho é-nos dado pelo facto de, cada dia em que abre as portas, o Tribunal de Loures executa mais três hipotecas e coloca assim mais três famílias no corredor do des-pejo. Em casos de comprovada carência, deve haver isenção de pagamento da água para uso doméstico, até a um nível de consumo sus-tentado. Defendemos ainda o alargamento dos refeitórios e cantinas sociais das freguesias que deveriam servir refeições a preços simbólicos às famílias necessitadas, idosos e crianças.Habitação SocialDefendo uma bolsa de habitação como resposta ao arrendamento das actuais habitações devo-lutas, apoiando os proprietários e respondendo ao problema habitacional dos jovens casais e pessoas sem casa.Transportes públicosApesar da população de Moscavide dispor de boas ligações de transportes públicos a Lisboa, é necessário um reforço do serviço para quem precisa de se deslocar à capital do concelho. O domínio do grupo Barraqueiro sobre quase todas as redes rodoviárias do concelho (excep-to as da Carris) tem mantido uma situação de subdesenvolvimento com exemplos aberrantes de falta de mobilidade. Em relação à Portela, a grande prioridade é o prolongamento da linha do metro, tal como previsto desde há muito...Relação com a Câmara Municipal de Loures e relação ante o Poder CentralA autarquia deve encontrar-se na primeira li-nha da resistência popular ao encerramento de serviços essenciais – saúde, correios, finanças, ensino, segurança, etc., que ocorrem como fru-to das estratégias de privatização que podem servir para alguns mas não para os cidadãos das nossas freguesias. Loures é um concelho brutalizado pela política da troika, com de-semprego e pobreza galopantes. O Bloco quer contribuir para colocar este município na frente da luta contra a catástrofe social e da defesa das populações ameaçadas pela austeridade. Uma viragem à esquerda em Loures terá de enfrentar um período difícil da vida da popula-ção de Loures e também da sua autarquia. Sob o memorando, as Câmaras são estranguladas financeiramente e têm dificuldades maiores a cumprir a sua missão. Só se pode querer fazer “mais e melhor” colocando a autarquia ao ser-viço das populações na luta pelo que é essen-cial e por um futuro digno para todos.

AUTÁRQUICAS2013

NOTA EDITORIAL DA PORTELA MAGAZINE

Neste número, entrevistamos os candidatos das próxi-mas eleições autárquicas de dia 29 de Setembro à Câ-mara Municipal de Loures e à Junta de Freguesia de

Moscavide e da Portela. Não excluimos, evidentemente, nenhu-ma candidatura. As entrevistas feitas aos candidatos à câmara foram presenciais. As entrevistas feitas aos candidatos à junta foram por escrito. Em nome do princípio, para nós essencial, da equidade no tratamento das candidaturas, demos o mesmo número de caracteres e o mesmo prazo de resposta a todos os candidatos. (O candidato à junta que ocupa mais espaço na revista excedeu ligeiramente o número de caracteres pedido, não tendo a Portela Magazine «cortado» ou «alterado» as res-postas.) Mais: as perguntas foram as mesmas. Contactámos o CDS-PP para averiguar da existência de candidatos, não obten-do qualquer resposta e não encontrando qualquer registo dos mesmos. A candidata da CDU à junta não respondeu à entrevis-ta. Nenhum dos elementos da Portela Magazine é politicamen-te eunuco, coabitando várias ideias políticas na sua redacção. Enquanto jornalistas, contudo, sempre demos e daremos voz aos diferentes quadrantes políticos e ideológicos – algo que o leitor atento sabe. Deixo um apelo a quem ganhar as próximas eleições da Câmara Municipal de Loures. O Gabinete de Co-municação da Câmara de Loures não deve obstar à realização do trabalho dos jornalistas. A mais recente dificuldade foi sen-tida pela jornalista Filipa Assunção, que nunca chegou a obter a informação reiteradamente solicitada sobre o racionamento da electricidade pública em Loures. Termino dizendo que o can-didato Bernardino Soares da CDU não figura nesta edição, por ter sido entrevistado na edição anterior. Entendemos que tendo feita capa com duas figuras proeminentes do PSD (uma delas, o primeiro-ministro), uma do PS, uma do PCTP-MRPP, teríamos de conceder visibilidade a outras figuras de outros partidos – no caso, um líder parlamentar. Relembramos que a entrevista a Bernardino Soares continua disponível no nosso espaço na Internet. Continuaremos nas próximas edições a entrevistar ou-tras figuras de outros partidos. Orgulhosamente, digo a palavra sem medo, não fazemos cálculos eleitorais nem temos uma re-vista que é um mero panegírico das actividades do seu proprie-tário, dando repetidas vezes a conhecer os trabalhos de outras instituições da freguesia. De resto, o director desta revista e a sua redacção não são membros da direcção da Associação dos Moradores da Portela, e têm total independência para escrever o que quiserem.Em jeito de nota de rodapé, e contrariando os rumores, não sou candidato a nada, nem militante de nenhum partido (nunca o fui). Não uso o jornalismo como trampolim para a política.

M. M.

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ENTREVISTA

Como nasceu a APRe!?A APRe! nasceu a partir de um grupo de 3 pessoas, na sequência das medi-das anunciadas para o Orçamento de Estado para 2013, altamente gravosas para o nosso grupo social. Começou por uma nota de divulgação na comu-nicação social e um convite para uma primeira reunião, que se realizou em Coimbra, a 22 de Outubro [de 2012], e que excedeu as nossas expectativas dado o elevado número de presenças [500] para a sala que comportava 150 lugares sentados. Nesta reunião esti-veram presentes pessoas de diferen-tes pontos do país (Lisboa, Cascais, Porto, Leiria, Braga...) e logo aí ficou decidido avançar com a Associação, apartidária, que permitisse associados do público e do privado e que tivesse como principal objectivo a defesa dos direitos dos aposentados/pensionis-tas e reformados. Aprovámos logo o nome, com a carga simbólica que ele tem com o ponto de exclamação, uma vez que pretendemos dizer BASTA! Logo nessa reunião formou-se, a partir de voluntários desconhecidos entre si, uma Comissão Instaladora, com pes-soas que se ofereceram para trabalhar na divulgação e legalização da APRe! e assim se deu início ao processo.Desde a sua criação, a APRe! tem crescido? Que principais actividades destaca?As principais actividades têm sido até agora: pressão junto do poder político, mantivémos encontros com todos os grupos parlamentares, com os partidos políticos com o Presidente da Repúbli-ca; junto do poder jurídico, através de contactos com o Provedor de Justiça

e 6 acções em tribunal administrativo contra a Caixa Geral de Aposentações [CGA] e a Segurança Social; contactos com as duas centrais sindicais. Entre-gámos uma Petição na AR com 13500 assinaturas. Outra das nossas principais actividades tem a ver com a divulgação e implantação no terreno com núcleos a funcionar de Faro a Chaves. Temos organizado diferentes debates com in-tervenções variáveis e de grande pres-tígio, como o Prof. Adriano Moreira, Dr. Rui Rio; Prof. Augusto Santos Silva, Dra. Raquel Varela, Prof. Pedro Ramos, Dr. Paulo Morais, Dr. Eugé-nio Rosa, Prof. Conceição Couvanei-ro. Também ao nível da comunicação social temos tido grande actividade com a participação em debates como o Expresso da Meia Noite, A Hora do Fecho, Política Mesmo, Prós e Contras ou ainda Opinião Pública, Querida Jú-lia, A Tarde é Sua, para além de parti-cipações no Canal Q, no Porto Canal e

no CMTV. A imprensa escrita semanal e diária, nacional e regional tem dado um bom destaque à Associação e às suas actividades. Participamos ainda na Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida, tendo como principal objectivo o esclarecimento das dívidas da CGA e da Segurança Social.Afirmou que o que está a acontecer aos reformados é um roubo. Quem beneficia desse roubo?Do roubo feito aos reformados bene-ficiam todos aqueles a quem o Estado podia ir buscar o dinheiro e não foi, nomeadamente bancos, grandes em-presas, grandes fortunas, PPP, rendas fixas...O Governo veicula o discurso de que os mais carenciados fora da po-pulação activa têm sido poupados à austeridade. Sente que houve esse esforço tendo em consideração os di-tos «cortes» efectuados nas pensões e reformas?

Manuel Monteiro

«Um milhão de pensionistas têm pensões sociais abaixo de 294 euros»

Entrevista a Maria do Rosário Gama, presidente da APRe!

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desempregados; muitos de nós têm fi-lhos e netos na situação de desemprego e por isso compreendemos bem esta si-tuação. Temos participado em sessões que os jovens desempregados levam a efeito, como por exemplo aconteceu com um encontro promovido pelo Mo-vimento dos Sem Emprego no início deste mês. Ainda no que se refere aos desempregados, acho que se deviam organizar num movimento único que representasse este enorme grupo de pessoas tão maltratadas no seu país. Há muitos jovens, casados, que já tiveram a sua independência e agora estão a regressar a casa dos pais; estes enten-dem bem a relação entre mais jovens e menos jovens. Os nossos encontros e participação com os movimentos jo-vens servem também para dizer que não aceitamos essa «arma» do Gover-no que a usa também para tentar criar divisões entre reformados e pessoas no activo, entre reformados do público e do privado...Vasco Pulido Valente escreveu: «Esse minúsculo bando que nos pastoreia prepara em público e com a boa consciência da loucura um plano para o extermínio democrático dos velhos.» Concorda?

Estamos a falar de uma grande percen-tagem de carenciados, pois os refor-mados que têm pensões abaixo de 500 euros representam mais de 80% deste grupo social. Um milhão de pensionis-tas têm pensões sociais abaixo de 294 euros. Como era possível fazer cor-tes nestas pensões? Já é inimaginável como é possível sobreviver com esses valores numa altura da vida em que as pessoas necessitam de tantos cuidados médicos, que gastam tanto em medi-camentos, que estão sujeitos às novas leis das rendas, que viram aumentado o IVA em tudo o que compram!!! Não considero que tenham sido poupados à austeridade, posso afirmar é que estão cada vez mais pobres.Fala-se e escreve-se muito mais sobre o desemprego jovem do que sobre os direitos dos pensionistas, aposenta-dos e reformados. Sente que há uma discriminação dos mais velhos pela comunicação social?Quando a comunicação social fala dos mais velhos é quase sempre para dizer que não há dinheiro para as reformas e todos os comentadores «oficiais» das televisões, com forte impacto na população, repetem à exaustão que as pensões são despesa pública. «Esque-cem-se» de dizer que do Orçamento do Estado são pagas as pensões sociais do regime não contributivo (o tal milhão de que lhe falei na questão anterior); as outras pensões (do regime contributi-vo) são pagas pelas contribuições dos actuais trabalhadores e, por enquan-to, essas contribuições são suficientes para pagar estas pensões. Quanto aos desempregados, é normal que sejam mais referidos pois o desemprego é um grande flagelo social. Se o desemprego diminuísse (e isso só é possível com crescimento económico), as pensões também melhorariam. Nós achamos que a nossa luta é também a luta dos

Não chegaria a tanto, mas estamos lá perto... O desprezo com que alguma classe política olha para os «velhos», traduzida na sua máxima força pela expressão do deputado César Peixoto, quando nos apelida de «Peste Grisa-lha», é bem a tradução de que, a partir do momento em que deixámos de estar no activo passámos à categoria de «não utilitários», e, por isso mesmo, com direitos reduzidos, nomeadamente ao nível de cuidados de saúde em estabe-lecimentos hospitalares públicos. Daí, até à frase de Vasco Pulido Valente é um salto...Qual é a situação do idoso em Portu-gal em 2013?Dramática, face aos dados que lhe apresentei e principalmente pela in-segurança gerada pelas notícias cons-tantemente divulgadas. Apesar da ida-de, todos perspectivámos o futuro em função da pensão que nos foi atribuída, feita com base em cálculos atuariais, e foi em função dessa pensão que as-sumimos compromissos, muitos dos quais por resolver. Também o regresso dos filhos com as suas famílias a casa dos pais gerou intranquilidade e, apesar da forte relação entre uns e outros, o es-paço físico torna-se insuficiente para o aumento do número de habitantes que passaram a coexistir. Também temos conhecimento de pessoas que tiveram de sair de lares que tinham escolhido, por impossibilidade de custearem as suas despesas e ainda de reformados que saíram dos lares para irem para a casa de filhos desempregados e cujo único rendimento é a pensão do seu pai ou da sua mãe. Isto para não falar do isolamento/solidão em que vivem tan-tos reformados neste país.

Como aderir ou contactar a apre!Para aderir basta ter essa condição: Aposentado, Pensionista ou Reformado. Pode fazê-lo através do nosso endereço postal (APRe! – Rua do Teodoro, 72-2.Esq. 3030-213 Coimbra), ou através do correio electrónico: [email protected] contacto telefónico da sede é 239 713 438 ou 239 704 072. Após qualquer des-tes contactos, será enviada uma ficha de inscrição que, depois de preenchida, será devolvida juntamente com o comprovativo da jóia. A jóia de inscrição é de 5 Euros e a quota (anual) é de 12 Euros. Quem ganhar menos de 500 Euros fica dispensado da quota, depois de o comunicar à direcção.

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PNR LOURES

POLÍTICA GERAL Qual foi o seu percurso até se tornar num dos can-didatos à presidência da Câmara de Loures? Filiei-me no Partido Nacional Renovador [PNR] em 2011, em altura de eleições e propus a criação do núcleo de Loures do PNR. Foi feito um percurso na cidade de Santo António dos Cavaleiros, Loures, Lou-sa e depois no restante concelho. Na data da con-venção nacional do partido, fui convidado a integrar a lista e passei a ser Membro do Concelho Nacional. Durante a preparação deste acto eleitoral, surgiu a vontade do partido em concorrer a este município, conhecido por ser maioritariamente de esquerda, mas onde achámos que ia ser uma aposta forte na zona metropolitana da Grande Lisboa. Na altura, a direcção achou que eu seria a melhor pessoa e não pude recusar o convite, até porque sinto a obrigação de me pôr na linha da frente, de tentar fazer um pouco melhor e de mostrar o nosso ideal. Quantos candidatos existem à escala nacional do seu partido?À escala nacional temos 6 candidatos, um deles à assembleia nacional em Faro. Depois existem em Lisboa, Loures, Torres Vedras, Alcobaça e Aveiro.São justas algumas acusações de xenofobia que são feitas ao PNR? Aceita o rótulo de extrema- -direita aplicado ao PNR pelos media? Claro que essas acusações não são justas. Eu venho de Santo António dos Cavaleiros, que é uma fre-guesia conhecida pela sua multiculturalidade, mas onde não sinto qualquer receio. Essa xenofobia é fruto do desconhecimento do partido e muito ali-mentada pela Comunicação Social. O facto de não sermos muito conhecidos dá azo a algum mal en-tendimento e a esse rótulo aplicado pelos media. Temos um programa e linhas orientadoras muito fixas, que às vezes são tidas como violentas, mas só queremos combater algumas injustiças sociais e aplicar uma política de segurança rígida. As de-finições de direita e de esquerda são assunto que não nos interessa, pois essas definições e lados são assuntos para os partidos que estão na Assembleia e não sabem onde se vão sentar e se definem por aí. Para nós, isso é um assunto menor. Temos can-didatos que dão a cara em imensos concelhos e se fôssemos realmente um partido com qualquer má índole, não o fariam ou teriam medo. Nós não

temos medo, temos uma cara lavada e uma ideo-logia muito própria. Acredita que o partido tem margem de progressão para crescer nos próximos anos em Portugal?Acredito que tem imensa, mais até do que a maior parte dos restantes partidos. O PNR é um partido pouco conhecido que tem cerca de 1% nas elei-ções. Isto não acontece porque as pessoas não se identifiquem connosco, mas sim porque a maior parte das pessoas não nos conhece. Este tipo de entrevistas não é comum, até porque na maior par-te das vezes só são convidados os partidos mais conhecidos e com assento parlamentar, que ainda não é o nosso caso. Penso que, passo a passo e junto da população, temos margem de progressão e conseguiremos falar de outros valores daqui a uns tempos.O Presidente e o Secretário Geral do PNR fizeram greve de fome contra a censura da Comunicação Social. Sentem discriminação por parte da Comuni-cação social/media? Teve algum efeito?A greve durou cerca de 3 a 4 dias e a nossa grande intenção era a de desbloquear um pouco os en-traves que há por parte da Comunicação Social, tentando que não sejam só os partidos com as-sento parlamentar a serem ouvidos e a darem a sua opinião. O nosso partido é diferente e tem uma visão diferente da política. Temos toda a certeza de que se os Portugueses nos conhecessem votariam massivamente em nós, até porque eles merecem e têm o direito de nos conhecer. Foi por isso que lu-támos e foi por isso que foi feito um grande esforço heróico por parte dos nossos representantes. Houve uma aproximação dos militantes e um empenho fantástico. Houve pessoas que passaram lá 24 ho-ras a acompanhar o Presidente e o Secretário Geral, e outras que, mesmo não participando na greve de fome, tiveram lá dias inteiros. Apesar de na altura ter compromissos laborais, eu quase que passa-va lá o dia todo. Sempre que podia estava lá junto deles, até porque havia algumas necessidades que tinham de ser suprimidas e não podiam ser sempre as mesmas pessoas. Contudo, a greve não trouxe os resultados que na altura esperávamos e queríamos ver alcançados.LOURESQue balanço faz do mandato do Partido Socialista e de Carlos Teixeira? Não podemos ser cegos e temos de reconhecer que nem tudo foi mau. Houve coisas boas, algum

progresso, mas infelizmente a minha pergunta será «a que custo?», pois não sabemos o verdadeiro e real valor do endividamento da Câmara. Não se pode fazer apenas algum desenvolvimento e depois esbanjar dinheiro em negócios menos claros, que também acontecem neste concelho, que são notícia nacional e desonram qualquer munícipe que aqui esteja. A nossa candidatura tem um ponto muito forte que é a moralização do sistema político, pois é por aqui que passam grande parte dos nossos problemas. Existe uma abstenção muito grande que advém da descredibilização que a classe política tem. Apesar de não ser culpa nossa, tem de ser combatida e é preciso mostrar que a classe polí-tica existe, não para se servir dos eleitores que são enganados, mas, sim, para servir esses mesmos eleitores. Quais são as principais bandeiras da sua candida-tura?Em primeiro lugar, e tal como já referi, a moralização do sistema político é algo essencial para nós. Não podemos continuar com estas fidelizações, com as empresas particulares a prestarem serviço sem se saber o porquê, com estas adjudicações directas de bens essenciais e que levam imenso dinheiro dos contribuintes. Temos também várias preocupações ao nível do comércio local, que apesar de não se verificarem tanto nesta freguesia, existem zonas do Concelho em que o surgimento das grandes su-perfícies sufocou o comércio local, isto devido à desactualização do PDM nesta altura. Existe um cartaz que diz um dos slogans do PNR: «Basta da Criminalidade.» Qual irá ser a política de combate à criminalidade no concelho de Loures?Outra bandeira da nossa candidatura é a Segurança, já que iremos apostar no seu reforço. Infelizmen-te, o concelho de Loures é muito conhecido pe-los seus índices de criminalidade que têm de ser combatidos, não só colocando polícia ou dizendo que vamos colocar, mas é necessário dar bases à polícia, dar autoridade, dar meios para ela pode actuar. No âmbito municipal, essa é realmente uma das nossas preocupações. Ao nível nacional, além dos meios que não são equitativamente distribuídos, há uma fraca aposta nas nossas polícias e uma de-sorganização entre elas. Existe pouca preocupação da classe política em dar-lhe credibilidade, porque infelizmente os agentes estão na rua, mas não são incentivados a actuar da melhor maneira. Precisa-mos de agentes de autoridade que estejam moti-

Filipa Assunção

Leandro Eduardo Simões Pinto do Souto tem 26 anos, foi bombeiro durante um longo período e participou em vários projectos de índole social no concelho. É o candidato do Partido Nacional

Renovador à Presidência da Câmara Municipal de Loures.

Leandro Souto – pnr

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Loures. Já chegou a Odivelas e a Moscavide, mas houve falta de aposta na linha da Azambuja, que infelizmente não serve a zona oriental como devia. Temos de tentar ver qual a possibilidade de voltar a apostar na ferrovia desta zona e qual a possibilidade de trazer o metro, pois existir apenas em Moscavide é insuficiente. As pessoas com a sua viatura vão novamente aumentar o flagelo dos acessos a Lis-boa. Não existem medidas a curto-prazo e nada se resolve de um dia para o outro, sendo que é neces-sária a revisão do PDM, que já está para ser revisto há mais de 10 anos. Por fim, um outro ponto fun-damental é a habitação social, que na nossa visão não é de todo justo que uma pessoa que trabalhe e passe dificuldades como qualquer outro cidadão esteja impedido de ter uma habitação e uma ajuda da câmara. Os munícipes que vivem e trabalham em Loures, que dão ao município, também têm o direito de receber, pois pagam os seus impostos e por isso também têm o direito de ser ajudados, nomeadamente pela autarquia. O investimento na habitação social, em especial, na habitação de apoio jovem é essencial para que estes deixem de arren-dar casas que nunca serão deles, mas que se fixem no nosso concelho e não em outros.Estando ligado à natureza e tendo sido co-fundador de uma associação ecológica, quais são as suas principais preocupações com os espaços verdes em Loures?Penso que tem de existir uma maior aposta nas zonas reservadas. Loures tem zonas de reflores-tação que são uma aposta, mas nem sempre são

vados, que queiram servir, que tenham condições e que não se sintam coibidos de agir, com receio de perder a sua carreira.Quais são os principais objectivos relativamente à saúde, transportes públicos e habitação social? O que é possível ser feito a curto prazo? Alguma prioridade?Eu não acredito em medidas a curto prazo, pois estas medidas servem apenas para tirar o pó e arrastá-lo para outro lado. As medidas que são realmente benéficas são feitas a médio e a longo prazo. Na zona oriental do Concelho, no que diz respeito à saúde, existe um flagelo muito grande ao nível das urgências. Esta situação não pode ser combatida a curto prazo, mas temos de verificar que existe realmente um atraso na execução do Hospital de Todos os Santos e o Hospital de São José não tem capacidade suficiente. Fala-se muito em ser o Hospital Beatriz Ângelo a receber as pes-soas, o que até acaba por poder ser uma medida a curto prazo, mas não será o melhor, pois uma pessoa em risco de vida não pode sair daqui quase directo a Odivelas. É necessário que o tempo de resposta seja mais rápido e por isso temos de veri-ficar quais as infra-estruturas que estão disponíveis para criar um serviço de urgência básica que possa servir a população em períodos mais alargados. Não estando ao nosso nível criar aqui um hospital novo, temos ce dotar as infra-estruturas actuais de meios que sejam capazes de receber as pessoas. Relati-vamente aos transportes públicos, há muito tempo que se fala de um metropolitano em toda a zona de

bem aproveitadas, porque não há uma preocupação constante por parte da Câmara. Tem de existir um trabalho mais intensivo ao nível da limpeza que faça com que haja menos fogos florestais na época de incêndios. Essas situações dizimam por completo a nossa área verde no concelho, que é bastante importante na área metropolitana de Lisboa.Entende que o poder local deve ser mais reivindica-tivo perante o central? Em Loures, tem sido durante os últimos anos?Em Loures, não tem havido uma grande aposta reivindicativa, pelo menos em prol da comunidade. A meu ver, existe, sim, a execução de algumas directivas ao nível partidário, porque os municípios que são mais reivindicativos são aqueles que não são da mesma cor que o governo central. Para nós, isso é mais do mesmo. Para nós não está certo o facto de que por sermos todos do mesmo partido temos todos de ajudar, porque os autarcas têm uma missão única, que o poder central não pode fazer por eles. É claro que quando se trata de um hospital, o poder tem de ser reivindicativo. Não queria entrar em questões ao nível de orça-mentos, porque essas reivindicações são antigas e mudam conforme a cor dos partidos e é esse jogo que eu não quero praticar.PORTELAQual é a sua opinião acerca da fusão das freguesias de Portela e Moscavide? Não sendo completamente contra a fusão das fre-guesias na sua generalidade, Moscavide e Portela têm identidades muito próprias. Não é possível fun-dir dois pólos habitacionais que nada têm em co-mum. Penso que é uma fusão que pode ser feita de modo a diminuir alguns custos, mas que as conse-quências para as populações serão negativas. Esta fusão só poderá ser avaliada daqui a uns tempos e espero que corra tudo da melhor maneira, apesar de eu não ver esta situação com bons olhos.As duas reivindicações mais antigas dos Portelen-ses são uma esquadra e um centro de saúde. O que pode prometer aos Portelenses?Relativamente à esquadra, não posso prometer, porque não sei em que condição se encontra o concelho actualmente, até porque de pouco serve enquadrar aqui uma esquadra se eu não conseguir garantir os meios suficientes para essa esquadra poder funcionar. Uma das minhas linhas orienta-doras é sem dúvida o reforço da segurança, seja ela onde for. Em todo o concelho passará não digo só pela PSP, mas se calhar por um maior enquadramento e envolvimento de uma possível Polícia Municipal, se assim for permitido de acordo com o estado actual do concelho. Também faria todo o sentido a Portela ter um centro de saúde, mas estamos sempre dependentes do Ministério da Saúde. Não posso prometer porque gosto de ser o mais realista possível. Tenho as minhas li-nhas orientadoras, quero guiar-me por elas e farei o melhor nesse sentido. Se for eleito, não posso defraudar as expectativas daqueles que votaram em mim. Não conseguir cumprir alguma dessas promessas é danoso e é um crime, por isso não prometo nada neste momento.

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PS LOURES

É presidente da Junta de Freguesia de Loures, curio-samente como o foi Carlos Teixeira. Pode falar-nos um pouco do seu percurso político e profissional.O meu percurso político não pode ser dissociado do meu percurso profissional. Comecei a trabalhar muito cedo, tinha cerca de 14/15 anos, em várias actividades: serralharias, carpintarias, Lusomundo, fui motorista de longo curso e da Carris. Mais tarde, licenciei-me em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. A política surge com um convite do Car-los Teixeira, quando concorreu pela primeira vez a presidente da Junta de Freguesia de Loures pelo PS para ser vice-presidente. Portanto, não tinha até aí um percurso político digno de nota ou de registo. Depois surgiu um episódio, enfim a vida, por vezes, tem destas coisas, o Carlos Teixeira era director da CME e a empresa colocou-o no Brasil, logo após termos ganho a Junta de Freguesia de Loures, e como número dois teria que assumir a Presidência na ausência dele. E foi esse acaso da vida que conduziu, efectivamente, a que eu tivesse de assu-mir o cargo na ausência do Carlos Teixeira e a que, a partir daí, os meus colegas, os meus camaradas, as pessoas à minha volta entendessem que eu tinha perfil e condições para ser presidente da Câ-mara de Loures na sucessão do Carlos Teixeira.Que balanço faz do mandato do Partido Socialista e do presidente Carlos Teixeira à frente da Câmara de Loures?Não podemos dissociar este mandato da severa crise que assolou o País desde 2008. Julgo que para umas coisas somos muito atentos à crise e para outras parece que nos distraímos. É eviden-te que a Câmara Municipal de Loures tem tido a capacidade, sobretudo nas verbas que transfere para as Juntas – como é o caso aqui da Portela –, de manter, em média, os mesmos valores que transferia antes da crise. Não pararam as obras, não pararam as transferências para as juntas de freguesia. Portanto, se as juntas não se ressentem economicamente da crise à Câmara de Loures o devem. Acho que a gestão do Carlos Teixeira foi exemplar.Pelas suas palavras, sente uma responsabilidade acrescida com o legado que herda?Julgo que é uma continuidade e por muito que alguém critique ou que alguns achem que essa

continuidade esteja errada que me provem, efecti-vamente, o erro. Sinto a responsabilidade de uma herança positiva. Claro que não se fez tudo bem; nunca em lado nenhum se pode dizer «fizemos tudo bem», mas é uma boa herança que vou tentar honrar o melhor que sei alterando, como é evi-dente, os padrões que existiram ate agora, porque estamos no tempo das novas políticas autárquicas vocacionadas para ajudar o País a sair da crise. O PDM está desde 2000 em revisão. O que pre-tende fazer nesta matéria?De acordo com as informações que tenho da câmara, o PDM já está pronto e em Setembro será lançado, não por dificuldades na câmara, mas por dificuldades de conciliação de todas as instituições que têm de dar pareceres. Não é a câmara que faz o PDM e mais uma vez este assunto é tratado de uma forma leviana. O PDM depende de um conjunto de organiza-ções e de organismos, a começar pela CCDR, que complica sempre muito o processo; portanto a Câmara elabora projectos que depois têm de passar por um conjunto de instituições que têm que dar parecer favorável. E dá-se a curiosida-de de um organismo concordar com a proposta e outro dizer que não voltando tudo à primeira forma, tendo que se encontrar um meio-termo de modo a que seja favorável nos dois organis-mos, e não são dois, são vários. Conseguimos os pareceres favoráveis de toda a gente e, portanto, este PDM já vem com as novas políticas autár-quicas. Claramente com menos espaços habi-tacionais e muito mais zonas industriais e com capacidade para indústria. E eliminando também a questão dos armazéns que é outra coisa que não podemos ser: um concelho armazém.Agora queremos outro tipo de actividades que não do armazém, que é trabalho pouco qualificado, que não gera riqueza como nós entendemos. Que-remos ter, em termos de indústria e serviços, algo mais do que os simples armazéns e isso já está previsto neste novo PDM. Isto é mais uma conquista deste Executivo da câmara.Foi ponderada a possibilidade de uma coligação à esquerda?Não, não foi ponderada. O Partido Socialista con-corre com a sua bandeira. Aliás, deixe-me dizer, que o PS é o único partido, dos três grandes que poderiam ter aspirações, a concorrer com a sua bandeira; nós temos orgulho no partido. Nunca

o PS nem nenhum autarca do PS se escondeu com vergonha do seu partido ou do seu Gover-no. Há quatro anos, concorremos como PS e era Sócrates que estava no Governo, não tivemos vergonha nenhuma em fazê-lo e, curiosamente, o concelho de Loures deu-nos 48%, o melhor resultado de sempre. Um dos projectos mais elogiados da Câmara Municipal de Loures foi o projecto Rodinhas. É para manter? Este projecto tinha financiamento europeu, no iní-cio, e é, efectivamente, passível de manter; mas é um estudo ainda a fazer a posteriori. A principal função do Rodinhas é tentar incentivar a popula-ção a deixar os carros à porta de casa. Na verda-de, isso também não foi um sucesso, temos que ser sérios; não foi um sucesso a nível de partici-pação; as pessoas não aderiram muito. Mas havia quem o fizesse e, portanto, julgo que as coisas são sempre boas para se manter logo que sejam reestruturadas para poderem melhorar. Daquilo que já me foi dado a observar, o Rodinhas «tem pernas para andar». Deverá fazer-se uma maior divulgação junto da população, porque o maior problema aqui é a falta de informação. Neste momento não é auto-sustentável, mas julgo que poderá vir a ser. Qual a importância do Hospital Beatriz Ângelo para o concelho de Loures? Acha que chegou tarde demais?Durante 22 anos, na gestão CDU, todos os dias ha-via hospital. Recordo-me que assisti a ene vigílias, primeiras pedras, cartazes, manifestações. O hos-pital chegou, porque a gestão da Câmara mudou. Deixe-me que lhe diga que é muito importante os eleitores perceberem que o que se vai decidir em Setembro é muito mais do que o que se decide numas eleições normais: é se querem uma câ-mara cooperante e colaborante com este Governo e com outros Governos para trazermos para o nosso concelho equipamentos e infra-estruturas de que precisamos, ou se queremos uma Câmara dominada apenas para servir como arma de arre-messo contra este Governo ou outro qualquer que venha a seguir. Foi o que aconteceu com o hos-pital e por isso é que estou a fazer esta analogia; a CDU dizia que os terrenos estavam todos com-prados, mentira quem os comprou foi o PS quan-do chegou à câmara; estava tudo tratado com o Ministério da Saúde e afinal não havia nada tratado

Leonor Noronha

É presidente da Junta de Freguesia de Loures há 12 anos e o actual candidato do PS à Presidência da Câmara de Loures. Conheça o percurso e as ideias que defende sob a bandeira do PS para este

concelho e para a Portela.

João Nunes – pS

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as pessoas tenham de ir a São José e portanto acho que devemos fazer uma pressão tremen-da sobre a Secretaria de Estado e o Ministério da Saúde. Que alternativas tem planeadas para que a aces-sibilidade ao hospital, através de transportes pú-blicos, seja mais facilitada?Como qualquer concelho da área metropolitana de Lisboa, este vive do conceito da centralidade de Lisboa. Nestes últimos doze anos, surgiu o Túnel do Grilo que permitiu a ligação das duas partes do concelho de uma forma extremamente rápida. Hoje já é rápido ir da Portela para Loures e vice-versa, mas a memória não falha a ninguém e há uns anos tinha de se ir a Lisboa apanhar a A8, que era mais rápido do que ir pelas estradas da Serra, como eram conhecidas na altura, até à cidade de Loures. Quanto aos transportes, isso é uma das coisas que vamos equacionar com as empresas de transporte: criar condições para que haja uma plataforma na zona oriental que possa servir a zona norte, ou seja, um ponto central, provavel-mente, Sacavém, que será um ponto de referência a oriente, e ao qual todas as cidades possam ter acesso facilmente e que possa ter um acesso fá-cil a Loures. A partir do momento em que isto se faça, o sistema de mobilidade dentro do concelho fica parcialmente resolvido, porque todas as outras localidades têm transportes direccionados para Lisboa, mas que facilmente passam pelos outros locais do concelho.Em relação à freguesia da Portela, duas das rei-vindicações antigas dos seus moradores são um centro de saúde e uma esquadra. Que soluções tem em estudo?Se o Hospital de Todos os Santos estivesse já em fase terminal dizia-lhe, sinceramente, que o Cen-

nem com o ministério e nem com ninguém. No fundo era assim, para o eleitor do concelho de Loures, a CDU dizia que estava tudo bem e os malandros do Governo não faziam nada, mal a Câmara mudou para o PS descobriu-se que afinal nada estava feito e que os governos sucessivos, e recorde-se foi o Durão Barroso o primeiro a lançar o hospital de Loures e não tenho qualquer tipo de problema de colocar as pessoas certas e os no-mes certos na altura certa. Portanto foi o PSD [n.r.: enquanto Governo] que o fez e a câmara já estava em condições de dizer estamos aqui para ajudar para que o hospital se faça, o que seria impossível na gestão CDU. Claro que o hospital chegou tarde, porque durante 22 anos não o quiseram; quiseram o hospital como arma de arremesso e por isso chegou tarde. O que irá acontecer também com o metro caso a CDU ganhe. A câmara já fez o que lhe competia no PDM, traçou a linha por onde há-de passar o metro.Existem cerca de 100 mil pessoas que não estão referenciadas no hospital e têm de se deslocar ao Hospital de São José, em Lisboa, que é também um dos mais lotados da capital. Que soluções propõe para que possam utilizar também o Beatriz Ângelo como os restantes habitantes de Loures?A câmara tem defendido e vou manter o ingresso no Hospital Beatriz Ângelo, que é o que faz senti-do, mas também sei, porque sou do concelho de Loures e vou conhecendo a realidade, que a maior parte dos utentes da zona oriental gostaria de ir para o Hospital de Santa Maria. Julgo que, logo a seguir às eleições, teremos de reunir com a po-pulação da zona oriental do concelho, e não pode ser daquelas coisas pré-eleitorais – isso eu não vou fazer –, para sentir o pulsar do que querem as pessoas da zona oriental. Acho escandaloso que

tro de Saúde, se calhar, não fazia sentido. Em to-dos os conselhos municipais de segurança, onde estão presentes todos os presidentes de juntas, é-nos dito pela GNR e pela PSP que o concelho de Loures é o que tem os indicadores de violência mais baixos da área metropolitana de Lisboa. Não é o que aparece nem no Correio da Manhã nem na televisão, mas depois os dados estatísticos, aque-les que são oficiais, os verdadeiros, dizem-nos que somos o concelho com o mais baixo índice de criminalidade ou éramos, pelo menos no ano passado quando tive acesso aos últimos dados. Não tenho nenhum estudo que me diga que qual-quer uma dessas infra-estruturas são úteis para a freguesia. Temos de saber é se o Centro de Saúde e Posto da Polícia são, de facto, necessidades ou se não passam de caprichos. Foi isso que levou o País à situação em que estamos. O que pensa da fusão das freguesias de Moscavide e da Portela?Acho que foi um erro que este Governo cometeu em termos de gestão autárquica. Simplesmente não faz sentido; não reduziu custos e em termos administrativos vai criar uma complicação a toda a gente.Como vê o facto de o PSD ganhar todas as elei-ções na Portela? Considera que isto pode mudar?Julgo que, sobretudo pelo trabalho da Geni, con-sigo compreender porque é que as pessoas vo-taram Geni e não estou a dizer PSD. Conhecendo o trabalho dela percebo porque é que foi eleita. Votando Geni votam PSD até porque ela era o rosto visível do PSD aqui na Portela; já quanto à Manuela (Dias) tenho algumas dúvidas. Portanto, com a Manuela veremos se as pessoas continu-am ou não a votar PSD. Estou cá para ver, porque tenho as minhas dúvidas.

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PSD LOURES

POLÍTICA GERAL É presidente da Câmara das Caldas das Rainhas há 27 anos com com sete vitórias eleitorais consecutivas. O que explica a con-quista dos munícipes?70% de simpatia e boas relações humanas e 30% de obra. As pessoas têm de saber que o presidente está presente, que acompanha a gestão da câmara. Se está disperso e fora, não dura mais do que um mandato ou dois. Só há dois presidentes que têm os manda-tos todos: Vila Nova de Poiares e Braga. Só há cinco que têm nove mandatos. Com oito mandatos, só há dois. Com sete mandatos, estou eu e uma dúzia. Hoje, há mais presi-dentes de câmara no primeiro e no segundo mandato do que dos três para diante. A lei da restrição dos mandatos não foi, con-tudo, impeditiva para si.Pela leitura que o juiz do Tribunal de Loures fez a meu respeito, eu estou com toda a legitimidade. Eu sou contra a limitação de mandatos e sobretudo no pressuposto de que os presidentes de câmara são caciques, que são corruptos. Admito que os haja, mas isso combate-se com a Polícia Judiciária, e não com limitação de mandatos. No limite, nem podia haver nenhum mandato. Se eu quando entrei para a câmara, tivesse sido eleito por um mandato ou por dois, tinha caído mais facilmente na tentação de ser corrupto, por-que todos nós somos tentados. Não acredito que não haja um presidente de câmara que não tenha sido tentado a corromper-se. In-felizmente, alguns deixam-se cair.Teme que os resultados autárquicos do PSD possam ser penalizados pela apreciação do Governo? Houve até candidatos do PSD que retiraram a sigla do partido.Temo. Quando António Costa diz que deve ser dado um cartão vermelho ou amarelo aos autarcas do PSD por causa do Governo, eu acho que o meu colega de Lisboa deixou de merecer o respeito de todos os autar-cas, porque eu nunca diria isso. Eu já passei por todos os Governos e nunca me atreveria a dizer isso. Quando o Poder Local é um

prolongamento do Poder Central, como no tempo de Salazar, então não há poder au-tárquico. Nós fizemos uma coligação com o PPM e o MPT e com um grupo vasto de independentes quer da área socialista quer do CDS, e não andámos a pescá-los, foram eles que vieram ter connosco. Neste primei-ro documento, não apareceram os símbolos, porque estávamos a fazer esta tentativa de coligação. A grande população de Loures do ponto de vista socioeconómico e do pon-to de vista rural é uma população mais à esquerda, mas a expressão eleitoral autár-quica do PSD em Loures quantas vezes está em contraciclo com a expressão eleitoral legislativa.LOURES Que balanço faz do último mandato do Par-tido Socialista à frente da Câmara Municipal de Loures e dos três mandatos de Carlos Teixeira?A avaliação financeira parece-me muito complicada. A câmara tem uma dívida lí-quida na ordem dos 70 milhões de euros e tem uma estrutura de serviços, quer inter-nos quer contratados fora, das mais pesadas do País. Se compararmos com Cascais, por exemplo, é uma estrutura muito mais pesada. Esta dívida tem dois problemas. Os encargos para o funcionamento corrente da câmara e os impostos, o preço da água, da recolha de lixo são muito elevados. Julgo que a popula-ção já está a pagar muito. O resultado destes anos em que não houve praticamente obra de vulto é um défice elevado e uma factura dos munícipes pesadíssima. Por outro lado, não compreendo como é que uma câmara tão endividada tem tanto automóvel ligeiro, tem uma duplicação de serviços.No seu programa, refere a necessidade de aligeirar a despesa com viaturas, viagens, assessores, avenças.Nos últimos anos, Loures contratou cerca de 60 milhões de euros de serviços em aven-ças e contratos fora da câmara. Com tantos funcionários e com quadros bons e técnicos bons, a câmara tem 2170 funcionários, os SMAS têm 980 funcionários, as juntas de freguesia têm no seu conjunto um vastís-simo número de funcionários, de 30 a 90.

Quando assim é, não faz sentido haver tanta contratação de advogados, tantos técnicos, sete corporações de bombeiros, tanta frota automóvel. Loures cairá na falência se não mudar de rumo a breve prazo. Não percebo como é que numa deslocação do presidente da câmara ao estrangeiro tenha de ir o pes-soal assessor a acompanhar e a preparar a viagem. Isso não acontece com a generali-dade dos presidentes. São os 205 mil habi-tantes do concelho de Loures que já estão a pagar esta factura.Um dos pontos do seu programa é a baixa de impostos, contrária à lógica do País.Não tenho a menor dúvida de que se as câ-maras não baixarem os impostos às pessoas, cada vez haverá mais falência das pesso-as. O aumento da carga fiscal a partir de determinada altura deixa de ser rentável. Vira-se contra a economia nacional e local. É o que se passa em Loures. Uma família nas Caldas da Rainha onde sou presidente paga, em média, menos 700 euros por ano no IMI, na água, nos transportes. Para muitas famílias, isto significa um salário. Quanto ao País, o País é como um doente, o Governo tem a obrigação de evitar que o País adoeça, a responsabilidade maior é de quem deixa o País adoecer. Loures também não tem tido prevenção. Dolosamente, na minha opinião. Eu julgo que há situações que são casos de polícia. A contratação de toda uma família do presidente, eu acho que isto é imoral, muito jovens deixaram de ter emprego para darem privilégio à elite política de Loures. Os jornais, como o Expresso, as televisões têm demonstrado como Loures é um pés-simo exemplo da contratação de famílias e dos boys partidários. Esta câmara tinha também um excesso claro de chefias, que se viu obrigada pela lei a reduzir, mas mesmo assim continua a ter. Não compreendo como é que os serviços municipalizados têm três directores de departamento e nove divisões.Qual a melhor realização destes anos da gestão socialista de Loures a que gostaria de dar continuidade?Loures faz duas realizações com alguma ex-pressão, como o Festival do Caracol e o Car-naval. O que é bom é para manter, mas com

Manuel Monteiro

O PSD aposta em Loures com um autarca experiente. Fernando Costa é presidente da Câmara das Caldas da Rainha há quase trinta anos. Lançou recentemente

o livro Salve-se (d)o Poder Local pela Alêtheia.

Fernando Costa – PSD/MPT/PPM

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forma de ligar Loures ao centro de Lisboa, mas também uma boa forma de ligar Lou-res propriamente dita a esta zona oriental. Esta serra de Camarate, Unhos, Apelação, em certo sentido é maior do que a serra da Estrela. A separação destas duas zonas do concelho de Loures parece que tem a sepa-rá-los «uma serra da Estrela». E tem uma grande separação física, porque também não há eventos culturais, gastronómicos, folcló-ricos. Uma questão fulcral que tem de ser atacada é que há mais de 50 mil pessoas no concelho de Loures em casas ilegais, ilegais entre aspas, porque elas foram construídas à frente dos olhos do presidente da câmara, pagam IMI, algumas têm água do município. Este município envergonha o País. Temos o maior bairro clandestino da Europa com 12 mil casas em Santa Iria. Em 2011, afirmou sentir-se ofendido por Por-tas e disse, cito, «Não estou atrás de cliente-las, nem dos sobreiros [caso Portucale] nem dos submarinos!». É por isso que não há co-ligação com o CDS-PP em Loures? [Nota de redacção: A entrevista foi concedida antes da carta de demissão de Paulo Portas.]Dizem-me que é por causa disso que não há coligação. Eu não queria atingir o Dr. Paulo Portas. O Dr. Paulo Portas tinha dito uns dias antes num debate com o primeiro-ministro

mais rigor nos custos. Quem disser que vai fazer grandes obras vai mentir. Gostávamos de acrescentar algumas realizações na área cultural que não sejam muito dispendiosas e que tenham grandes patrocinadores, na área do cinema e do vídeo, até porque há grandes empresas no concelho de Loures. Pelas igre-jas e pela arte sacra que Loures tem, podia haver uma exposição de arte sacra. Quais são as principais bandeiras da sua candidatura?Loures é o concelho na área metropolita-na de Lisboa, pela fronteira que tem, pela população, pelas ligações com Lisboa, que podia e devia ser um espaço preferido para evitar os problemas da capital. Quem vem das Caldas da Rainha, de Coimbra, de Leiria, de Castelo Branco passa por Loures obriga-toriamente. Porque é que há-de entrar tanto carro e tanta camioneta em Lisboa passan-do por Loures? Lisboa está a pensar gastar tanto dinheiro para evitar a poluição. A gran-de fórmula era que Loures fosse servida de transportes públicos e aproveitar espaços para fazer parques de estacionamento. A linha do Oeste devia ter uma ligação directa à estação do Oriente. Isso era excelente para toda a gente que vem de norte para sul, mas também era excelente para toda a po-pulação que vem de Loures. Seria uma boa

Sócrates que ao nível autárquico o PSD era um partido de caciques e arregimentador e que só assim é que ganhava eleições. Senti-me extremamente ofendido. Eu disse que não era cacique, nem estava no poder nas Caldas nem por submarinos nem por sobreiros nem por outros negócios. Não me estava a referir ao Dr. Paulo Portas, estava-me a referir a uma classe política que não está hoje pres-tigiada por causa de PPP, swaps, submarinos, sobreiros, de Freeport. PORTELAO que pode prometer aos portelenses, sendo que dois dos seus principais anseios são um centro de saúde e uma esquadra? Mais importante do que ter uma esquadra é ter polícias na rua. Eu tinha duas grandes es-quadras nas Caldas da Rainha, uma da PSP e outra da GNR. Pela experiência que tenho, quase um terço do pessoal ficava dentro do edifício. Em relação ao centro de saúde, é uma aspiração legítima, porque é uma forma de aliviar os outros hospitais.O que pensa da fusão das freguesias de Mos-cavide e da Portela?Fui muito crítico em relação a este processo. Era mais importante a agregação ou a fe-deração dos concelhos. Uma câmara pode administrar três concelhos. A mesma equipa pode fazê-lo. É aí que está a poupança.

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BE LOURES

Qual foi o seu percurso até se tornar num dos candi-datos à presidência da Câmara de Loures? Sou jornalista de formação, trabalhei como freelancer em vários orgãos de comunicação social no início da minha carreira e trabalhei no Bloco de Esquerda [BE] como responsável pela área da comunicação. Também fui deputado durante um curto período com Francisco Louçã. Nos últimos anos, tenho feito trabalho jornalístico e tenho editado alguns livros em co-autoria com outras pessoas. Em 2012 realizou o documentário Donos de Portugal, que em pouco tempo atingiu inúmeras visualizações na Internet. Como surgiu este projecto? Quais foram as suas principais motivações? Donos de Portugal teve um impacto bastante im-portante no debate público em Portugal. Foi feito conjuntamente com Francisco Louçã, Fernando Rosas, Luís Fazenda e Cecília Nor e depois realizei um documentário a partir desse livro, que circulou muito pela Internet. O projecto surgiu da necessi-dade de intervir sobre um debate que está cada vez mais presente, de saber quem é que viveu acima das nossas possibilidades, porque foi esse argumento que nos foi dado para as políticas de austeridade e para a necessidade de destruir o Es-tado social. Se vivemos acima das nossas possibi-lidades, é preciso saber quem o fez e os donos de Portugal, os grandes grupos económicos, sobretudo da banca, os grupos da grande distribuição comer-cial, esses foram os grupos que em promiscuida-de com o poder político estiveram ao longo das décadas a viver acima das nossas possibilidades. Estava à espera que algum esclarecimento fosse bem recebido pelas pessoas, porque existe sede de informação e existe interesse neste debate público, mas foi mais forte do que o que eu esperava. Ul-trapassámos os 300 mil visionamentos na Internet e o filme teve um grande impacto, tendo sido dis-tribuído comercialmente com o jornal Público. As pessoas assumiram o filme como seu e fizeram por si próprias a divulgação na Internet. Pode dizer--se que a nossa grande distribuidora foram mesmo as pessoas através das redes sociais.Foi assessor parlamentar e director de campanha do BE, tendo trabalho directamente com Francisco Louçã. Pensa que o Bloco de Esquerda se sente órfão de Louçã?Trabalhei com Francisco Louçã durante muitos anos

e fui director de campanha. O BE tem uma coorde-nação paritária que é um facto novo na política por-tuguesa, que é passar aos actos a ideia de que ho-mens e mulheres devem partilhar responsabilidades e exercê-las ao mesmo nível, e que a representação política pode e deve ser o espaço dessa igualdade. O Francisco Louçã está activo politicamente, aliás, tem tido uma intervenção muito relevante no debate público sobre o que se está a passar em Portugal, e eu penso que a liderança do BE tem mostrado a sua capacidade de iniciativa política que se esperava que ela tivesse. Creio que o Bloco tem hoje uma equipa de direcção muito forte e capaz de responder a uma situação crítica no País. Há exemplos de convergência autárquica do Bloco com o PCP?Sim, há exemplos positivos. Em Almada, a vere-adora do Bloco tem viabilizado orçamentos mu-nicipais que incluem propostas suas em diversas áreas. Mas há também casos como o da Moita, onde o Partido Comunista impôs um PDM cheio de irregularidades, ao gosto da especulação imobi-liária – e enfrentou a oposição do nosso vereador. Em Loures, o Bloco contribuirá para uma maioria à esquerda, se esta colocar na primeira linha a resposta às consequências da austeridade e uma política de habitação e transportes que rompa com os interesses mais fortes. De resto, na maioria ou na oposição, um vereador do Bloco faz falta, porque é sempre uma janela dos cidadãos sobre a prática do executivo.Que balanço faz do mandato do Partido Socialista e de Carlos Teixeira? O PS viveu alheado da situação em que o País estava a entrar. Fechou-se nos seus sonhos megalómanos de betão e esses sonhos fizeram com que pouco tempo antes da crise imobiliária que nos trouxe à situação em que estamos, houvesse um excedente de casas e algumas urbanizações ao abandono. Carlos Teixeira continuava a anunciar a vinda de mais 40 mil pessoas para o Concelho e projectos de urbanização sem fim. Essa política teve um final estrondoso que agora estamos a assistir. Essa é a grande marca do mandato anterior. A outra marca é a de uma certa autocontemplação, pois a avenida Carlos Teixeira que chega ao Hospital Beatriz Ângelo mostra a forma como ao fim de 12 anos o concelho tem insuficiência daquilo que é essencial: qualidade e direito de habitação, mobilidade, sustentabilidade do comércio local e da vida dos centros urbanos para lá das grandes superfícies comerciais que a

câmara sempre favoreceu. Quais são as principais bandeiras da sua candi-datura?O combate contra a troika e contra a ditadura da dívida é também um combate pelo resgate do poder autárquico e da democracia local. O BE parte para esta campanha nessa base. A prioridade que o BE apresenta na sua candidatura autárquica é a emer-gência social, que no concelho de Loures tem ca-racterísticas gravíssimas. O desemprego em Loures duplicou nos últimos quatro anos e os dados oficiais apontam para 12 mil desempregados no concelho, o que está muito aquém da realidade. Existe uma fatia larguíssima da população que está a entrar em es-tado de pobreza e carência extrema. Outro dos pon-tos fortes da nossa candidatura é a habitação social. Existe a contradição escandalosa de estarmos num concelho onde estão à venda mais de 3500 fogos, metade deles por estrear, ao mesmo tempo que há famílias a serem despejadas das suas casas, porque cada vez que o tribunal abre as portas, há mais três famílias que têm as suas hipotecas penhoradas, as suas casas penhoradas para fazer face ao incum-primento do pagamento das prestações. Isto é um cenário de catástrofe social e uma candidatura de esquerda tem de começar por responder a isso.Quais são os principais objectivos relativamente à saúde, transportes públicos e habitação social? Dentro do plano de emergência social, as priorida-des do BE nesta autarquia são essencialmente três. Em primeiro lugar a questão da emergência social em sentido estrito, ou seja, as pessoas que estão a passar por carências mais graves. Existe fome no concelho, há idosos isolados e com falta de apoio, há carências alimentares fortíssimas e há medidas que foram sendo tomadas pela câmara municipal, mas que são claramente insuficientes e desade-quadas da fase de agravamento extremo em que hoje estamos. A câmara tem de desenvolver uma política de apoio alimentar, de refeitórios municipais, uma linha de urgência e recurso às pessoas que estão em descontrolo financeiro total, que estão sem serem capazes de colocar na mesa a alimentação para os seus filhos. Ter esse nível de recursos e canalizar recursos financeiros para responder a essa emergência é o primeiro ponto. A escola terá um papel fundamental, bem como os serviços de saúde locais, que têm de ser parceiros de primeiro plano. A rede social da câmara tem de ser desenvolvida a partir dessas parcerias para responder rapidamente. O segundo ponto diz respeito aos transportes públi-

Filipa Assunção

Jorge Costa, membro da Comissão Política do Bloco de Esquerda, tem 37 anos e é o candidato do partido à presidência da Câmara Municipal de Loures nas autárquicas 2013.

Jorge Costa – BE

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que estão nestas situações mais extremas, é neces-sário que a câmara seja um interlocutor e protago-nista junto do poder central para que seja alterada a política na resposta às famílias que estão ameaçadas de despejo. Quem não pode pagar a prestação da casa ao banco tem de ter acesso a uma moratória no pagamento das prestações. É preciso ter atenção para que um casal que tenha perdido os seus em-pregos não perca também a casa e entre num ciclo de miséria sem saída. As famílias que deixaram de pagar as suas casas e que preferem entregá-las ao banco devem ter as suas dívidas canceladas. Para essas famílias, é necessário que exista um mercado social de arrendamento que a câmara tem de di-namizar a partir da reabilitação urbana, até porque a reabilitação urbana é uma forma de criação de emprego rápida e que cria o retorno social de dispo-nibilizar casas a quem mais precisa delas. A crise que se abateu sobre o País fez-se sentir com muita intensidade no concelho de Loures. Fo-ram muitos os cortes na iluminação pública. Estas medidas não podem pôr em causa a segurança dos cidadãos, causar mais acidentes, mais assaltos?Numa situação como a actual, têm de ser feitas várias adaptações e perceber aquilo que mesmo sendo importante não é essencial, para poderem ser definidas prioridades. Os recursos do concelho não são infinitos e por isso é necessário fazer escolhas, o que não significa que não sejam feitas escolhas melhores do que aquelas que foram feitas até agora. Pode haver necessidade de moderar o consumo de electricidade, mas não se podem criar situações em que está em causa a segurança dos cidadãos e da circulação rodoviária.Ter o escritor José Luís Peixoto como mandatário

cos, que em Loures foram esquecidos, maltratados e entregues ao benefício privado de um grupo eco-nómico e particular: o grupo Barraqueiro. A câmara municipal esqueceu o compromisso de uma das mais antigas promessas do PS no concelho que é a extensão do metro ao concelho de Loures e até ao Infantado. Há 20 anos, quando António Costa foi candidato à Câmara aqui em Loures, voltou para Lisboa para se referir à insuficiência dos transportes públicos. 20 anos depois continuamos sem rede de metro, que já deveria estar feita. Por outro lado, existe também a irracionalidade do sistema de transpor-tes rodoviários. Em Loures, além de ser caro, está também mal organizado e foi deixado ao arbítrio do grupo económico particular Barraqueiro. Este grupo tem beneficiado da parte do PS de parcerias ao ní-vel do público-privado. Esse grupo dá-se ao luxo de manter uma concessão que se vai degradando ano após ano, que está desorganizada, pois pertence ao mesmo dono que a Rodoviário, e mesmo assim não existe um sistema integrado de tarifas e de coroas ou de um passe. Essas insuficiências são colmatadas à custa da câmara com iniciativas pontuais como o Rodinhas, que sendo valiosa e desejada pela popu-lação, sai do bolso dos munícipes. Relativamente à habitação social, a câmara tem de ter um papel ac-tivo nos casos mais graves que se estão a passar no concelho. Existe a degradação dos centros urbanos, que necessitam de políticas de reabilitação que per-mitam colocar no mercado social de arrendamento casas a preços acessíveis a todos, mesmo àqueles que estão a perder as suas casas e precisam de comprar novas. Existem empresários da construção civil que não se responsabilizam por concluir urba-nizações que deixaram incompletas. Para as famílias

do Partido é uma mais-valia. Qual irá ser a política cultural no concelho de Loures?Até ao momento, a política cultural do PS concen-trou-se em alguns grandes eventos, alguns deles maioritariamente de âmbito recreativo, como é o caso do Festival do Caracol Saloio. Também houve o favorecimento das grandes superfícies comerciais como concentração dos lazeres da população. Esta visão do PS em considerar Loures como um gran-de dormitório faz com que haja a ideia de que as pessoas em Loures ou estão em casa, ou estão no shopping. Nós discordamos dessa visão de tempos livres da população. Os tempos livres têm de ser usufruídos, e, por isso, as pessoas têm de ter aces-so a bens culturais e à capacidade de serem elas próprias intervenientes culturais na vida do concelho, seja na parceria com as escolas e com as activi-dades da juventude, seja com as colectividades e associações culturais e com os intervenientes que existem no concelho, mas que têm sido figurantes secundários na visão que o PS tem tido da política cultural do concelho. Loures não tem um único cine-ma a funcionar, e isto é um retrato do fracasso das políticas culturais da câmara. Os equipamentos que são acessíveis e próximos da população, que estão desactivados ou degradados têm de ser tornados espaços comuns a que a população e os interve-nientes artísticos podem recorrer. É a partir desses equipamentos e dessa iniciativa da câmara que se pode ter outro dinamismo na vida cultural.Qual é a sua opinião acerca da fusão das freguesias de Portela e Mocavide? Concorda?As freguesias da Portela e de Moscavide são, do ponto de vista social, histórico e urbano, entidades completamente separadas e diferentes. Apesar de o BE ter proposto referendos locais para a extinção e fusão de freguesias, essa proposta nunca foi acei-te pelos outros partidos. A fusão das freguesias não foi feita por vontade das populações, mas foi feita apenas com o objectivo de cortar recursos. O perigo maior, além do afastamento e da perda de serviços de proximidade, é que a essa fusão de freguesias se siga uma série de encerramentos de outras pres-tações de serviços que as juntas ofereciam e que será inaceitável. As duas reivindicações mais antigas dos Portelenses são uma esquadra e um centro de saúde. O que pode prometer aos Portelenses?Não posso prometer nada, mas o que posso dizer é que o BE tem um vereador que quer acompanhar os problemas locais, conhecer as exigências e ten-tar responder-lhes à altura das necessidades e das prioridades do concelho. A Portela é um bairro com características muito próprias dentro do concelho de Loures. Corresponde a uma população qualificada, com nível de vida acima da média do concelho e que tem acesso a informação e a recursos muito importantes que não existe em paralelo noutras zo-nas do concelho. A AMP é um pólo de dinamismo social, cultural, desportivo que exemplifica isso mes-mo. Aqui na Portela, o BE conta com essa perspetiva crítica e informada da população para que se consi-ga, ao nível do conjunto do concelho, responder às necessidades sociais mais emergentes.

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ACONTECEU NA AMP

A Associação dos Moradores da Portela recebeu a visita dos

candidatos do PSD à Câmara Mu-nicipal de Loures e à Assembleia de Freguesia da União de Fregue-sias de Moscavide e Portela. Fer-nando Costa, candidato à câmara, quis conhecer os problemas com que a AMP se depara. «Por muito bem que esteja esta freguesia e esta associação, há sempre questões para resolver e para projectar e é essa a razão da nossa presença. Ouvir-vos. Não venho pedir-vos nada, mas também não tenho muito para oferecer», alerta o ainda autarca de Caldas da Rainha. Carla Marques, presidente da AMP, apresentou os vários projectos da associação ad-mitindo haver, já, alguma dificul-dade de espaço para desenvolver, ainda mais, a parte desportiva e lembrou o candidato de que o pre-sidente da câmara de Loures é, por inerência do cargo, reitor do Porte-la Sábios, a universidade sénior da AMP. «Caso seja eleito, solicita-mos que esteja presente nos acon-tecimentos mais significativos para os nossos sábios.» Quanto a projectos «temos muitos, mas tendo em conta a conjuntura, a dificuldade nos financiamentos e a diminuição dos patrocínios, a nossa aposta futura passa por con-solidar o que está feito e garantir as condições necessárias aos pro-jectos existentes para melhorá-los», acrescenta a presidente da as-sociação que aproveitou a ocasião para explicar ao candidato o papel da associação dos moradores na constituição da freguesia da Porte-la. Rui Rego, director do desporto

Partilhar sinergias em prol da Portela

da AMP, lamentou existirem cinco instituições na Portela: «a igreja, o centro comercial, a associação de moradores, a junta de freguesia e os bombeiros» e estarem todas de costas voltadas. «Cada um realiza as suas próprias actividades. Isto é algo que todos devíamos mudar, pois trabalhando em conjunto fá-lo-íamos sempre em prol da po-pulação. Neste momento, com as dificuldades que o País atravessa, esta partilha de conhecimentos e sinergias entre todas as instituições beneficiaria a população da Porte-la e deveria ser a junta a fazer essa agregação. A associação já tomou a iniciativa de se abrir à população em geral eliminando todas as ve-dações.» O director sublinhou ain-da o facto de as modalidades des-portivas da associação (o futsal, a acrobática, o ténis, etc.) levarem o nome da Portela pelo País fora. «Tudo isto é de todos, do bairro, da freguesia. Gostaríamos que todos sentissem as nossas equipas como suas.» E pede mais envolvimento

da população. «Queremos levar o nome da Portela a todo o lado.»Manuela Dias, presidente da Junta de Freguesia da Portela, diz ser um sonho antigo esta partilha de siner-gias entre as instituições e junta a Obra da Nossa Senhora da Purifi-cação às instituições enumeradas por Rui Rego. Em resposta ao facto de dever ser a junta o seu pólo si-nergético diz que «no único evento marcante que a junta organiza anu-almente convida todas elas. Ten-tamos ser o polo centralizador da actividade e por isso ela corre tão bem. Estão lá todos e é uma semana que mostra que isso podia ser feito para outras coisas. E depois há uma quebra de novo o ano inteiro». Às questões colocadas durante a visita, o candidato Fernando Cos-ta não teve a pretensão nem de dar resposta nem de fazer promessas. «A minha opinião clara é de que a câmara e a junta devem apoiar as instituições que têm prática do desporto, mas a dinâmica deve ser dos clubes.»

Eva Falcão

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A Associação dos Moradores da Portela recebeu a Medalha de

Honra do Concelho por, juntamente com outros agraciados, «represen-tar a essência, a força, o passado e, sobretudo, as fundações» do futuro do concelho. Para Carlos Teixeira, o presidente da Câmara Municipal de Loures, a AMP terá sido uma das principais impulsionadoras da criação da freguesia da Portela através da promoção de inúmeras actividades de cariz social, cultural e desportivo. No entanto, o autarca sublinha que o propósito da AMP

não se terá resumido à actividade física e ao lazer «incutindo em mi-údos e graúdos um espírito altruís-ta, de entreajuda, de compromisso e responsabilidade, de autonomia e método», desenvolvendo, por isso, projectos «assentes na base da so-lidariedade e da preocupação para com os outros»: Portela Jovem – apoio aos jovens; Portela Sábios – a sua Universidade Sénior; Portela Amiga – dinamizando o comércio; entre outros.«O crescimento diário desta asso-ciação é notório e potenciador do desenvolvimento e da valorização da freguesia da Portela e do conce-lho de Loures», concluiu.

Futsal sénior presente no Torneio Rui Costa

A AMP agraciada com Medalha de Honra do Concelho

Façam-se amigos do Portela Sábios

e do Portela Jovem e da Portela Magazine

através do facebook

Eva Falcão

Eva Falcão

A AMP esteve presente na XXII Edição do Torneio Rui Costa or-

ganizado pelo Damaia Ginásio Clube com uma representação digna para fi-nal de época. Resultados: sexta-feira, 5/7 G.D. Fabril – 5, AMP – 3; sábado 6/7 U.P. Venda Nova – 3, AMP – 3;

desempate por penalties: U.P. Venda Nova – 5, AMP – 4.O Sporting Clube de Portugal é nova-mente o convidado do jogo de apre-sentação da equipa sénior da AMP para a próxima época. Dia 18 de Se-tembro às 21h00, no Pavilhão da Es-cola Secundária da Portela, os nossos heróis esperam por si.

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REPORTAGEM

O Brasil de hoje pode ser com-parado a um avião com o mo-tor Rolls-Royce, o qual neces-

sita de reparo em tudo o resto. Ou seja, é um país que mantém intactas todas as potencialidades económicas, mas a necessitar de melhorias em quase todas as suas infra-estruturas. Em rigor, nos últimos vinte anos, tive-mos duas partes político-económicas bem distintas. Antes de falar delas, convém dizer que o país experimen-tou décadas com índices altíssimos de inflação, de tal modo que, entre 1990 e 1994, a média da inflação anual foi de... 764 por cento. Na realidade, foram 15 anos de hiperinflação e, para quem nunca conviveu fisicamente com essa realidade, fica difícil avaliar a dimen-são de tal pesadelo. Vários programas foram lançados para acabar com essa praga, mas só um deu certo e sobrevi-ve até agora. Em 1994, com a criação do Plano Real, o País deu os primeiros passos rumo à estabilidade económica. Era o fim da correcção monetária, do congelamento de preços e da inflação acima de dois dígitos.Quando se tornou ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (FHC) lançou o Pla-no Real e, já na qualidade de presidente da República, (1995 a 2002), Fernando Henrique fez uma série de reformas que recolocaram o país nos trilhos. Destas, importa sublinhar:– Uma série de privatizações, funda-mentais para o desenvolvimento sus-tentado que veio a seguir (num país em que quase todas as importações eram proibidas ou dificultadas, conseguir um telefone alugado a terceiros, por exem-plo, chegava a valer quase tanto quanto a renda de um apartamento!);

– O Governo FHC facilitou a entrada de empresas estrangeiras no Brasil, o que permitiu uma nova dinâmica fi-nanceira. No seu Governo, foi criada a lei de responsabilidade fiscal (LRF), materializada no estrito rigor na execu-ção do orçamento público;– Também durante o seu Governo, foi quebrada a patente de remédios de grandes laboratórios e, a partir daí, a população teve acesso a medicamentos genéricos de alta qualidade e baixo pre-ço. Foi ainda ampliado o investimento privado em educação superior (facul-dades e pós-graduação), além do inves-timento em infra-estruturas, quando as rodovias brasileiras foram praticamen-te duplicadas.O Partido dos Trabalhadores (PT), que fez oposição ferrenha a tais planos, quando Lula assumiu a presidência limitou-se a dar continuidade a esse programa económico. O Bolsa Famí-lia, projecto do anterior Governo, que tinha o objectivo de melhorar a educa-ção e alimentação da classe C, passou rapidamente à situação de «salário» a custo zero para cerca de 12 milhões de pessoas. O novo Governo lançou o Fome Zero, programa logo abandona-do. Também cerca de quatro milhões de novas moradias foram prometidas, embora apenas metade ficasse pronta, a maioria em condições deficientes, sem esquecer as propinas excessivas pagas a empreiteiros ou intermediá-

rios. Entretanto, as obras dos estádios de futebol foram realizadas em regime de urgência, com os preços obviamen-te aquecidos. Os dois governos do PT anunciam que tiraram 30 milhões da pobreza. Em parte, é verdade. Mas tais pessoas ade-riram entusiasticamente ao consumis-mo, sem terem a contrapartida mais importante, como seja uma boa edu-cação, saúde, saneamento e transpor-te. Tudo isso, ou melhor, a falta disso, explica a explosão/catarse que agora se tem verificado, com as sucessivas manifestações da «velha» e da «nova» classe média, somada aos vandalismos de bandidos, anarquistas e outros radi-cais de plantão.A partir deste diagnóstico, fica claro que analisar o Brasil no estreito baliza-mento direita/esquerda é logo chegar a falsas conclusões. No Parlamento, o PT aliou-se à direita mais retrógada, visando unicamente a governabilida-de. O próprio Lula gabou-se ao dizer que, graças a ele, «os empresários e banqueiros nunca tinham ganho tanto dinheiro». Estimulou-os a terem mais lucro afirmando que, quanto mais ga-nhavam, mais empregos o Brasil teria. Tese duvidosa, vindo de alguém que se afirma de esquerda... Só não referiu que tal política contribuiu para inchar a máquina administrativa e provocar um intenso despesismo, o que redundou no desequilíbrio das contas do Esta-do, com efeitos devastadores sentidos agora na economia. Um dado aterra-dor: o País conta com 39 ministérios, o que por si só é emblemático. A partir do que aqui se conta, no Brasil, a ideia de «esquerda de sucesso» cai pela es-cada abaixo...Como pôde tudo isso acontecer? Lula e Dilma forçaram os bancos públicos a ampliarem seus financiamentos, esti-mulando a estatal Petrobrás (petróleo)

José Alberto Braga*

Uma outra visão do Brasil

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realidade, o Governo se endividou in-ternamente para pagar a dívida externa e para assumir uma situação financeira interna altamente fragilizada.Ao fazer um canal directo entre em-presários/obras faraónicas/operários, Lula atropelou a classe média, a maior pagadora de tal política (hoje, cada tra-balhador cede cerca de ¼ de seus sa-lários anuais para pagar o imposto de renda ao Estado). Ou seja, o brasileiro paga impostos iguais ou maiores de um habitante de um país escandinavo e tem serviços equivalentes a um tra-balhador da Índia...Alguém disse, e bem, que os Governos Lula e Dilma se preocuparam com os mais desfavorecidos de «portas para dentro», já que essas pessoas usaram o dinheiro do Bolsa Família para ad-quirir bens de consumo (especialmen-te televisores e outros equipamentos eléctricos), enquanto os problemas do «lado de fora» – educação, saúde, transportes, violência e corrupção, en-tre outros, continuavam intocados. Em síntese, houve o foco intenso no consu-mo e descaso com as infra-estruturas.Infelizmente, muita gente acreditou nessa miragem da «esquerda de suces-so». O próprio Mário Soares tem escri-to alguns artigos aligeirados a respei-to no Diário de Notícias, chegando a ponto de dizer o seguinte: «Sucede isto [manifestações] quando a presidente Dilma Rousseff, que lutou contra o “mensalão” e levou a tribunal e depois à cadeia, sem hesitar, vários elementos

e empresas privadas a investirem aci-ma das suas capacidades. O Governo obteve financiamento para grandes obras, como a transposição do rio São Francisco ou o trem-bala (comboio de alta-velocidade). Tudo isso foi feito dentro de um ambiente internacional extremamente favorável, o que hoje não acontece. Resumo da ópera: obras atrasadas e mais caras, investimentos que ficaram pelo caminho, indústrias locais protegidas (e ineficientes), gasto público elevado, desequilíbrios eco-nómicos e, como pano de fundo, o re-gresso à inflação.O apoio a essa orgia financeira foi dado principalmente pelo Banco Na-cional de Desenvolvimento Econó-mico e Social (BNDES), empresa pú-blica federal, principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, em uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental. Tudo isso feito (e principalmente o que foi mal feito) le-vou à colossal dívida interna. Quando Lula assumiu o seu primeiro mandato em 2002, a dívida externa era de R$ 212 bilhões, enquanto a dívida interna era de R$ 640 bilhões. Ou seja, o total, dívida externa mais a interna, chegaram a... R$ 852 bilhões de re-ais. Em 2008, quando Lula assumiu ter pago a dívida, de facto essa dívida caiu para zero, já a interna chegou – é de pasmar – a R$ 1,4 trilhão, o equi-valente a 65% do PIB do Brasil. Na

do seu partido e do de Lula». Nada mais equivocado. Os responsáveis pelo mensalão foram condenados gra-ças à actuação do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal, e nin-guém do Partido dos Trabalhadores, muito menos Lula ou Dilma, tomaram qualquer iniciativa para estimular tal condenação. Pelo contrário, tais con-denados continuam no partido e alguns deles continuam ainda a representar o PT no Parlamento, e ali ficarão até ao momento de serem presos... Espanto-so!«Governar é contrariar interesses», a frase se ajusta como uma luva no que está a acontecer no Brasil. Nos dez anos do consulado do Partido dos Trabalha-dores, o segmento mais pobre obteve alguns proveitos que de forma alguma farão com que saiam da problemática situação financeira em que se encon-tram, ao contrário do que se proclama. Alguns benefícios obtidos começam a ser «comidos» pela inflação e pela notória incapacidade de o país crescer no ritmo desejado. Curiosamente, é a classe média que tem pago a factura, já que o Estado favoreceu especialmente a classe rica, o que certamente não es-tava na cartilha do partido que governa o País...Estes são alguns dados que não são conhecidos pela maioria dos Portugue-ses. Informações estas que, além de pedirem o registo, pedem a reflexão de todos nós. (*) jornalista, Rio de Janeiro

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CULTURA

Nascido em 1978, João Paramés habita num mundo repleto de combinações de cores. Considerado um dos mais promissores ar-

tistas portugueses, frequentou o curso de Pintura na Sociedade Nacional de Belas-Artes e licen-ciou-se em Pintura na Escola Universitária das Artes de Coimbra. Com apenas 3 anos de idade, já desenhava um relógio que tinha em casa, atri-buindo nomes como «pêndulo mãe, pêndulo pai, pêndulo tia...», tendo sido na Portela que teve a sua primeira professora de Pintura. Aos 13 anos, fez o seu primeiro quadro a óleo e o gosto pelas artes foi crescendo de dia para dia. Circunstâncias da vida afastaram-no da Portela, le-vando-o para a tranquilidade do Alentejo. «Sempre gostei muito de ir para lá de férias. Quando tinha 14 anos, conheci um senhor chamado Tio Semião, de 70 anos, que se tornou o meu melhor amigo. Era um pastor de vacas e ovelhas, que não sabia ler nem escrever, mas que tinha uma filosofia de vida muito bonita. Ensinou-me várias coisas. Dizia que o mundo era um jardim constituído por várias flores e que cada pessoa era uma flor de cor diferente», recorda. Foi entre vermelhos, amarelos, verdes e azuis que João Paramés se tornou o pintor que é hoje, conhecido pelos seus quadros de cores fortes e repletas de manchas que nos transportam para o mundo distante dos sonhos: «As pessoas dizem que as minhas pinturas têm uma força muito gran-de. Há quem diga que ao olhar para elas é como se estivesse a entrar nos meus sonhos.» Confessa que gosta de dar trabalho ao observador, pois à medida que se observa cada quadro, são cada vez mais os elementos que vão surgindo: «Não se consegue ver logo aquilo que está repre-sentado e, por isso, é preciso percorrer os meus sonhos e ir descobrindo elementos que à primeira vista pareciam não existir. A interpretação depende da imaginação de cada um.» No entanto, a man-cha pode tornar-se perigosa, porque rapidamente se torna monótona e cansativa. «Para mim, ela é como um piano. Quando só utilizamos uma tecla, o som é desagradável, mas se tocarmos com todos os dedos já existe uma melodia. Com a mancha, tem de existir uma sintonia que possibilite que to-das as cores do quadro consigam conviver umas com as outras», diz. É com esta pintura «moderna, contemporânea» aliada a uma multiplicidade de interpretações, que João Paramés tem percorrido o mundo dando a conhecer o seu trabalho. A sua primeira exposição foi há 13 anos, num bar/galeria, e desde então, os seus quadros nunca mais deixa-ram de ser expostos. «A minha primeira exposição

Filipa Assunção

João Paramés, o pintor que transforma

cada quadro num festival de cores

internacional foi em 2004, na Alemanha. Todas elas são especiais, mas a mais marcante para mim foi a de Nova Iorque, quando consegui realizar o meu sonho. É importante termos sempre mais sonhos, ideias, patamares na vida, porque nunca podemos estagnar. Agora tenho o sonho de expor no Brasil», conta.Inseparável do seu bloco de notas, é em conversas e leituras ou em ópera, música clássica, ballet e filmes dos anos 20 que vai buscar inspiração. Mas, apesar de o seu estúdio ser na Portela, numa di-visão repleta de luz, pincéis espalhados e salpicos no chão, João também tem um atelier ao ar livre no Alentejo. «A natureza também é uma inspiração para mim. Gosto muito de estar naquela paz e tranquilidade das paisagens alentejanas, entre pás-saros e árvores. Chego a estar lá cerca de 9 a 10 horas por dia. É uma maneira de estar em contacto com a natureza, de ver a vida de uma forma mais fácil e bonita. Gosto mais de pintar lá do que cá, apesar de a maior parte dos meus quadros terem sido feitos aqui. É muito diferente estar fechado entre quatro paredes, mas o atelier tem de viver com o artista, para podermos estar sempre liga-dos», conta de sorriso no rosto. Diz-se uma pessoa com sorte, porque sempre conheceu as pessoas exactas nos momentos

certos. Apesar de sempre ter trabalhado sozinho, actualmente trabalha com o portelense Rui Óscar, que já teve uma galeria no Centro Comercial da Portela: «Tenho de lhe agradecer todo o apoio que me tem dado ao longo destes anos.» Considerada por muitos como sendo algo supérfluo, os reflexos da crise também se fazem sentir na arte: «Noto que cada vez é mais difícil viver da pintura e o nosso país não ajuda muito. Sinto alguma diferen-ça quando vou lá para fora. Mesmo assim, continuo a trabalhar constantemente, porque as coisas mais difíceis acabam por ter outro sabor», conta. Apesar de não ter noção de quantos quadros já pintou, é com amor e carinho que fala, olhando para as suas paredes cheias de vida: «Dou nome a cada um, porque eles são como se fossem meus filhos. Pinto quase todos os dias e não tenho horas para pintar. Sou capaz de me levantar durante a noite, porque a inspiração é mais importante. Ainda me considero só um bocadinho pintor, porque um pin-tor vai-se fazendo ao longo da vida. Talvez quando chegar aos 80 anos já o seja. A melhor coisa da vida é pintar, sem dúvida!» A sua próxima exposi-ção estará patente a partir do dia 20 de Outubro, na Assembleia da República, e em Setembro rumará à Alemanha, onde irá mostrar que Portugal é um país de artistas.

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FOTOGRAFIA MIGUEL ESTEVES PINTO

Belezas e Assimetrias

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CULTURA

Como no amor, talvez exis-tam livros que se impõem como paixões maiores, di-

minuindo a eventualidade de arre-batamentos fátuos. Tenho lido muito. Quando me dei-to na cama para descansar, os os-sos dos múltiplos alugueres quoti-dianos e ler, é como se o tempo se dilatasse de forma milagrosa. Às vezes, consigo ler um livro intei-ro nessa hora. No entanto, jamais pouso numas palavras para voar e adormeço invariavelmente como que envolta numa tristeza pós-coital, não sabendo o que fazer desse novo silêncio que fica após cada livro. Nem sabendo como o nomear: deserto, morte ou paz? Sinto-me uma leitora insípida, frígi-da como uma estátua. E é tão difícil viver sem um livro bonito. A vida pa-rece mais absurda e os dias surgem aflitivamente habituais, como se toda a hipótese de uma cumplicidade se tornasse insustentável. Tento entender as razões desta esterilidade. A primei-ra que me ocorre é culpar o Crime e Castigo de Dostoiévski. O meu livro mais amado. Durante anos, temi a sua leitura, dezenas de vezes li o primei-ro capítulo e dezenas de vezes desisti, tomada por um mal-estar que passava das letras para a minha pele.Foi na sequência de um desgos-to amoroso que consegui ter força para me confrontar com a revolta de Raskólnikov. Rodion Romanovitch Raskólnikov, ainda hoje não consigo dizer o seu nome sem me deliciar com a sua subtil aspereza. Nunca me senti tão próxima, tão fisicamente solidá-ria com uma personagem como nes-se Outono. Com o coração em carne viva, nada importava, porque todas as noites me reunia nos teus braços, Ró-dia, e era-me impossível não te amar no teu desacordo íntimo com o mun-do e no teu orgulho ferido.

Patrícia Guerreiro NunesLeiturasdemadamebovary.blogspot.com

Um bom livro é difícil de encontrar

– Agora só te tenho a ti – acrescentou Raskólnikóv. – Vamos juntos... Eu vim a ti. Somos ambos malditos, então va-mos juntos!– Vamos aonde – perguntou cheia de medo e, involuntariamente, deu um passo para trás.– Como posso saber? Só sei, tenho a certeza, que iremos pelo mesmo ca-minho, e mais nada. Até ao mesmo destino!Sónia olhava e não percebia nada. Apenas sabia que ele estava muito in-feliz, infinitamente infeliz.– Ninguém, deles, compreenderá nada se lhes falares – continuou Raskólni-kov–, e eu compreendi. Preciso de ti, por isso aqui estou.Nunca mais amei um livro depois do Ródia. O nosso affaire d’amour ter-minou quando ele partiu e encontrou a redenção. Durante meses, esperei com calma o mesmo destino, julgando que sendo camaradas no nosso desacor-do, teríamos forçosamente de seguir juntos pelo mesmo caminho. Mas a redenção não me aconteceu ainda.E é difícil viver sem um livro bonito. A solidão não encontra aconchego e fica-se refém da melancolia. Temos, portanto, um primeiro diagnóstico, talvez demasiado leviano: a ligação melancólica com um único livro. Se-gundo Freud, a melancolia caracteri-za-se por uma identificação narcísica

do objecto perdi-do com o ego que passa a comandar todos os investi-mentos da libido. Ocupado por um luto quase impos-sível, o melancóli-co torna-se incapaz para o amor e para o trabalho. Numa primeira abor-dagem, o diagnóstico parece válido. Ain-da segundo Freud, o melancólico não tem

qualquer tipo de vergonha ou pudor, denotando uma propensão extraordi-nária para a confissão das suas infâ-mias. Uma parte do ego toma outra parte por objecto, avaliando-a critica-mente. Os inúmeros stripteases que tenho feito no meu blogue seriam jus-tificados por essa premente tendência a comunicar-me, que encontra satis-fação apenas no autodesnudamento. Além disso, o complexo melancóli-co é indissociável da mania e é bem verdade que durante muito tempo ha-bitei esse pólo, devorando compulsi-vamente vários livros sem me ligar a nenhum.Sempre dependi da beleza para viver. E sempre que a encontrei, consumi-a com toda a voracidade que era capaz, sem qualquer tipo de avareza. Nunca contei que me faltasse. Mas falta-me. Talvez tenha abusado das suas do-ses, apunhalando o meu coração até restar apenas uma ferida aberta. E é difícil sobreviver num país e tempo onde tudo escasseia, sobretudo a be-leza. Será este o meu crime e terei de suportar o seu castigo até encontrar a redenção.Até lá, vou prevaricar com vários li-vros. Mesmo que tudo me pareça de-trito. Porque é preciso escoar o luto que sucede aos grandes amores. E não há nada mais temível do que uma mu-lher de um só livro.

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Procura-se ladrão, gatuno ou salafrário para assalto a vários apartamentos na Urbanização

da Portela, concelho de Loures. O pa-tife deve ter disponibilidade para tra-balhar no mês de Agosto e em regime de isenção de horário. O larápio ideal tem o português como língua materna e sabe ler e escrever vários hieróglifos egípcios. Valoriza--se um espírito de iniciativa apurado, capacidade de trabalhar sozinho ou em equipa e uma mente criativa para solucionar os obstáculos que esta pro-fissão tipicamente coloca, nomeada-mente portas.Será dada preferência a pessoas com capacidade de carregar televisões com 42 ou mais polegadas, por vários lan-ces de escada, e com maus hábitos de higiene pessoal.A remuneração base é de zero euros, à qual se acresce 100% em comissões sobre os bens furtados. O ambiente de trabalho é casual, recomendando-se o uso de sweat shirts com capuz e calçado confortável. Desodorizante é opcional.É providenciado seguro contra aciden-tes de trabalho, cobrindo cenários de esfaqueamento, colisão com móveis e captura pelas autoridades. Também se disponibiliza um telemóvel com minutos grátis para chamadas entre colaboradores.Existe a possibilidade de uma rápida progressão de carreira, sendo expectá-vel que, no prazo de 1 ano, o candida-to eleito alargue o seu raio de acção para o Parque das Nações.As condições salariais são revistas de 6 em 6 meses, mediante os resultados de um processo de avaliação. O saca-na mais bem avaliado recebe ainda uma semana de férias em Carcavelos, pagas pela empresa.À candidatura deve-se anexar uma carta de motivação original que se dis-tinga de todas as que vamos receber. Estamos à sua espera.

Hugo Rosa

HUMOR

www.facebook.com/hugohrosa

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«Oportunidade de Emprego»

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TECNOLOGIA

Bonifácio Peter da Silva

Caros leitores, em tempos, uns amigos alertaram-me para um processo de ex-tinção da privacidade. Ainda defendi que

estávamos no caminho certo para melhorar a segurança e aumentar a simplicidade dos nossos actos diários.O certo é que eles tinham razão, o simples Cartão do Cidadão regista todos os nossos actos médi-cos, as doenças, os nossos imóveis, substitui a assinatura presencial, podemos solicitar diversos actos notariais, emitir guias de pagamento. Além de todos os dados que estão visíveis, existe uma base de dados onde ficam registados muitos outros dados da nossa vida privada. O certo é que nem todos têm acesso a esses dados sem o consentimento do titular mas… é verdade que alguns não precisam de qualquer consentimento. Chama-se a isto invasão de privacidade.A tecnologia leva-nos por caminhos dúbios, tor-na tudo mais fácil, mas ao mesmo tempo mais aberto e transparente, o certo é que todos são ludibriados ou forçados a ir por esses caminhos, no caso do Cartão de Cidadão são já 8,5 milhões de utilizadores, restam poucos que ainda conse-guem resistir, mas até estes têm a sua privaci-dade condenada.Vejamos agora o exemplo do mero cartão de multibanco, todos nós pensamos que nos veio facilitar a vida, sendo aceite em praticamente qualquer lado, não precisamos de carregar no-tas nem encher os bolsos com os trocos mas… através de uma simples utilização desse cartão tão banal, deixamos um rasto de quando e onde estivemos, o que gastámos e até o que com-prámos.O telefone já passou à história, os telemóveis seguem pelo mesmo caminho, hoje em dia, o que está na moda são mesmo os smartpho-nes, quem ainda não tem deseja ter, dá muito jeito ter um pequeno aparelho para poder ace-der à Internet, poder registar umas fotografias e no segundo seguinte estarem publicadas nas redes sociais, um aparelho que nos indica o caminho para o restaurante mais próximo, onde podemos até fazer a reserva enquanto nos indica o caminho e escolher o prato para que não se tenha de esperar muito, aceder ao nosso banco e fazer umas transacções, ter uma agenda repleta de afazeres. São fenome-nais estes aparelhos que permitem a instala-ção de diversos aplicativos para nos facilita-rem a vida, mas, tal como os cartões, deixam um rasto, através da triangulação de antenas e de satélites, conseguem localizar-nos em

tempo real, uns acham piada mostrar na rede social a hora e o local exacto em que estamos, outros nem se apercebem desta monitorização nem sequer se apercebem dos inúmeros pe-rigos deste simples acto. Mais grave ainda, nem precisamos de ter o smartphone ligado.Quantos sítios existem que possamos frequen-tar livremente e de forma descontraída, com a companhia que mais desejamos e em que não exista uma câmara que fique com a nossa ima-gem? Alguma vez pensamos nisto? Se existem, isso tambem irá acabar e não vale a pena lu-tar contra a maré, existe um poder gigantesco que nos controla todo e qualquer movimento e qualquer tentativa de lutar contra é rapidamente camuflada. Apenas dois grandes exemplos que mostram a veracidade desta afirmação. Julian Paul Assange (WikiLeaks), que veio dar conhe-cimento de inúmeros documentos classifica-dos apenas para demonstrar que, com alguns contactos e algum conhecimento, podemos aceder aos dados mais bem guardados, por mais encriptados que estejam os nossos da-dos e, sem qualquer consentimento, é possível que os mesmos sejam divulgados, basta para isso que tenha algum «interesse público». Outro exemplo é o de Edward Snowden (Ex-Analista da Agência Central de Inteligência), que divulgou

o programa de monitorização global produzido pelo Governo norte-americano e com isso foi condenado a viver o resto da vida longe do seu país natal e de qualquer outro solo que tenha acordo de extradição com o maior Big Brother do mundo.A tecnologia permitiu que este mesmo Big Bro-ther pudesse gravar todas as conversas telefó-nicas e correspondência electrónica trocada em todo o mundo e, ao mesmo tempo em que se discute a violação do direito à privacidade, estão fortemente lançados num novo desafio: o de lançar satélites capazes de fornecer, através de streaming, imagens em tempo real de qualquer parte do mundo.Caminhamos a passos largos para o futuro, em breve teremos grupos de analistas e psi-cólogos a monitorizar as nossas reacções em frente a nova geração de televisores que pos-suem câmaras de filmar, dizem ser para vídeo- -chamadas e jogos interactivos, mas escondem outras possibilidades, não é por nada que em qualquer portátil ou outro objecto tecnologica-mente avançado, têm uma câmara apontada para o utilizador (tal como acontece com as caixas multibanco). Uma coisa é certa, acabou--se a privacidade, mas o mais grave é que exis-te gente por aí que se julga ser Deus.

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AMP

Acampamento Portela Jovem 2013Pelo terceiro ano consecutivo, a Associação dos Mora-

dores da Portela promoveu o Acampamento de Verão. Dezoito jovens rumaram até São Pedro de Moel, acompa-nhados de quatro monitores, para uma semana em que a boa disposição, a amizade, o espírito de entreajuda e a ca-maradagem estiveram sempre presentes. Houve tempo para passeios, jogos tradicionais e muitos mergulhos na piscina do Parque de Campismo. No final, ficou a promessa de re-gresso para o Verão de 2014. De sublinhar a gentil colabo-ração da Junta de Freguesia de Moscavide que cedeu, mais uma vez, o transporte.

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