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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM SALA DE LEITURA: RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Autor: Lilian dos Santos Lacerda
Pontifícia Católica de São Paulo (PUC-SP)
Resumo: Esta comunicação apresenta um relato de experiência de uma professora que atua na Sala de Leitura
em escola em tempo integral da rede estadual de Piracicaba. O objetivo foi refletir acerca do curso de formação
ofertado aos professores que atuam na sala de leitura e a prática pedagógica. Para tal compreensão buscou-se
aporte teórico nos estudos de Schön (2000) e de Tardif (2002) que se dedicaram a investigar a formação
e os saberes docente e a prática pedagógica. Os autores alertam para o fato de que a reflexão é uma
prática fundamental no processo de formação docente. A análise do relato da professora evidenciou
a importância da formação com ênfase na reflexão de modo a contribuir para um repensar da prática
pedagógica o aprimoramento das ações didático-pedagógicas do cotidiano escolar.
Palavras-chave: Formação continuada, prática pedagógica, sala de leitura.
Introdução
Devido às mudanças geradas pela evolução da tecnologia, verifica-se o surgimento da
necessidade de reorganização do sistema educacional, pensando-se nos últimos 50 anos. Neste
contexto, o exercício da docência demonstra sua complexidade ao exigir o domínio de um repertório
diverso de saberes e conhecimentos o que torna a compreensão da prática pedagógica, das concepções
de ensino e de aprendizagem um desafio.
A temática da leitura tem se configurado como objeto de discussão e preocupação por parte
dos estudiosos do assunto, haja vista a grande influência que exerce sobre a sociedade. No entanto, a
educação passou a apresentar novas exigências quanto aos usos da leitura; diversificaram-se os
objetos de leitura e as práticas sociais.
Assim, o processo de ensino e de aprendizagem na sociedade contemporânea “(...) está
relacionado com a aprendizagem cognitiva sofisticada, com um repertório crescente e inconstante de
práticas de ensino informadas por pesquisas, aprendizagem e auto-acompanhamento profissional
contínuo, o trabalho coletivo (...)” (HARGREAVES, 2004, p. 40) e, cabe a escola como espaço de
formação superar a práxis da transferência de conhecimentos pelo envolvimento do professor em
práticas pedagógicas reflexivas que visem formar indivíduos críticos.
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Com o objetivo de compreender como a formação continuada contribui para a prática
pedagógica esta comunicação tomou como elemento central, a análise do relato de uma professora
que atua na sala de leitura, numa escola em tempo integral da rede estadual da cidade de Piracicaba.
A análise do relato mostra o modo como a prática pedagogia reflexiva contribui na relação do
ensino e da aprendizagem e se expressa no cotidiano escolar. A percepção que a professora traz aponta
para uma compreensão mais ampla do processo educativo.
Nesse processo, a prática reflexiva é fundamental, pois pressupõe pensar sobre o processo
educativo, sobre o saber fazer, sobre a ação.
A formação continuada permitiu que a professora expressar sua prática, suas ações com mais
autonomia ao intercalar sua experiencia, seus saberes e conhecimentos e a formação adquirida. Para
Schön (2000, p. 250) “o desenvolvimento de um ensino prático reflexivo pode somar-se a novas
formas de pesquisa sobre a prática e de educação para essa prática, para criar um momento de ímpeto
próprio, ou mesmo algo que se transmita por contágio.
Assim, a realização desta comunicação ressalta a importância da formação continuada do
professor e da prática pedagógica reflexiva no processo de ensino e de aprendizagem escolar.
Sala de leitura e formação de leitores
Com a evolução dos meios de comunicação e de expressão, proporcionados pelo avanço da
tecnologia, a educação passou a apresentar novas exigências quanto aos usos da leitura;
diversificaram-se os objetos de leitura e as práticas sociais.
A temática da leitura tem se configurado como objeto de discussão e preocupação por parte
dos estudiosos do assunto, haja vista a grande influência que exerce sobre a sociedade. Por ser um
tema relevante e que abriga diversas áreas, a leitura na escola deve caminhar em consonância com as
mudanças ocorridas na sociedade.
Sendo a escola um lugar privilegiado para a formação de leitores, a prática pedagógica
expressa o modo como os professores concebem e lidam com a leitura. Dessa forma, a escola deve
ofertar aos alunos diversos tipos de leitura em diferentes linguagens e suportes. Soares (2005)
corrobora ao afirmar que “é função e obrigação da escola dar amplo e irrestrito acesso ao mundo da
leitura. [...] a leitura para fins pragmáticos, mas também a leitura de fruição; a leitura que situações
da vida real exigem, mas também que nos permita escapar por alguns momentos da vida real”
(SOARES, 2005, p.33).
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Ainda segundo Soares (1995), apesar de a escola representar um espaço legítimo de formação
de leitores, as avaliações oficiais como: Prova Brasil, ENEM e PISA apontam cada vez mais para os
baixos desempenhos dos alunos com relação a leitura. A autora alerta para o fato de que no mundo
contemporâneo, o leitor deve responder às demandas sociais de uso da leitura e da escrita, sabendo
utilizar diferentes linguagens.
Para Hargreaves (2004) a sociedade contemporânea apresenta novas exigências que requer
um novo modo de pensar e de agir. Para o autor, neste novo cenário, cabe ao professor
“(...) promover a aprendizagem cognitiva profunda, aprender a ensinar por
meio de maneiras pelas quais não foram ensinados, comprometer-se com
aprendizagem profissional contínua, trabalhar e aprender em equipes de
colegas, desenvolver e elaborar a partir da inteligência coletiva, construir uma
capacidade para a mudança e o risco, estimular a confiança nos processos”
(HARGREAVES, 2004, p. 40).
O processo de ensino e de aprendizagem na sociedade contemporânea “(...) está relacionado
com a aprendizagem cognitiva sofisticada, com um repertório crescente e inconstante de práticas de
ensino informadas por pesquisas, aprendizagem e auto-acompanhamento profissional contínuo, o
trabalho coletivo (...)” (HARGREAVES, 2004, p. 40).
Portanto, cabe a escola como espaço de formação superar a práxis da transferência de
conhecimentos pelo envolvimento do professor em práticas pedagógicas reflexivas que visem formar
indivíduos críticos.
Expostas as considerações, no ano de 2009, a Secretaria do Estado de São Paulo (SEE-SP)
implantou nas escolas em tempo integral salas de leitura. Apresentada como uma estratégia inovadora
as salas de leitura tem por objetivo enriquecer as atividades de leitura escolar.
Segundo dados da SEE/SP (2018), as salas de leitura se configuram como
(...) um ambiente pedagógico e multidisciplinar que costuma receber iniciativas de
diversos docentes das unidades e oficinas de contação de histórias, clubes de leitura,
teatros e jogos lúdicos. O espaço também é equipado com livros, jornais, revistas e
conteúdo audiovisual, como DVDs e CDs (SEE/SP, 2018).
Para salas de leitura, foram designados professores readaptados para atuarem como monitores
e realizar atendimento especializado.
Formação continuada
No Brasil, pesquisas na área de formação de professores na educação básica têm aumentado
nos últimos anos. Desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, – que
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determina que os sistemas de ensino devem promover a valorização dos profissionais da educação,
mediante aperfeiçoamento profissional continuado – as secretarias de educação passaram a destinar
recursos financeiros de modo a oportunizar aos professores espaços de formação continuada.
Verifica-se no artigo 63 da LDB:
I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal
superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras
séries do ensino fundamental;
II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação
superior que queiram se dedicar à educação básica;
III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos
níveis. (BRASIL, 1996).
Já no ano de 2001, o Conselho Nacional de Educação apresentou as Diretrizes Nacionais para
a Formação de Professores da Educação (CNE/CP no 009/2001) estabeleceu novos parâmetros de
qualidade para os cursos de formação de professores. O documento baseou-se nos estudos teóricos
de Schön (2000) que enfatiza o conceito de reflexão-na-ação como o resultado da prática reflexiva.
Schön (2000) aponta dois momentos de reflexão fundamentais a prática docente:
a) conhecimento ação - se relaciona com inúmeras atitudes ou ações cotidianas e consiste
na reflexão a ação de modo reconhecer-na-ação erros e acertos e na possibilidade de
adotar uma nova estratégia. Para Schön (2000, p.33) “o ato de conhecer está na ação”
(p. 33) e é sempre uma construção dinâmica, processo que não poderia acontecer de
forma tácita ou estática.
b) reflexão-na-ação - se relaciona a reflexão sobre as atitudes e ações realizadas mediante
ao inusitado. Consiste em refletir durante o desenvolvimento da ação. Segundo Schön
(2000, p.34) “na reflexão‐ na‐ ação o repensar de algumas partes de nosso conhecer
na ação leva a experimentos imediatos e a mais pensamentos que afetam o que fazemos
– na situação em questão e talvez em outras que possamos considerar como
semelhantes a ela.”
De sua parte, Tardif (2002, p.287), a formação docente não se limita a formação inicial na
universidade, “(...) trata-se, no verdadeiro sentido do termo, de uma formação contínua e continuada
que abrange toda a carreira docente”. Isto porque, os professores possuem e produzem saberes
específicos da profissão docente e, o conhecimento produzido modifica e transforma o ambiente
escolar.
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Tardif (2002, 115), afirma que o “professor é um sujeito que assume sua prática a partir dos
significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer
provenientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele a estrutura e a orienta.” Reconhecer que
o docente não é mero transmissor de conhecimentos favorece a compreensão de que o processo
educativo de ir para “além da ação pela ação”.
No ano de 2015, o CNE publicou novas diretrizes para a formação continuada dos
profissionais do magistério da educação básica, pelo Parecer CNE/CP no 02/2015, que se constitui
como um avanço, principalmente, por compreender a dimensão coletiva e a reflexão dos saberes
pedagógicos e envolver uma gama de atividades e programas de formação: grupos de estudos,
reuniões pedagógicas, cursos de extensão entre outros.
A formação continuada também é contemplada no Plano Nacional da Educação (PNE 2014-
2024):
Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos
professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a
todos (as), profissionais da educação básica formação continuada em sua área de
atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de
ensino (BRASIL, 2014).
Já Resolução SE nº 70 de 21/10/2011, que dispõe sobre a instalação de Salas e Ambientes de
Leitura nas escolas da rede pública estadual, no artigo 3º, aponta que os professores deverão
comparecer às Orientações Técnicas; participar do trabalho pedagógico coletivo (HTPCs).
Neste sentido, a formação continuada deve ter vistas o aperfeiçoamento das práticas
pedagógicas de modo a contribuir para uma aprendizagem significativa. Devem ser ofertados aos
docentes atividades orientadas por objetivos, finalidades e conhecimentos pedagógicos, numa
perspectiva reflexiva.
Formação: Leitura e mediação pedagógica nas Salas de Leitura escolares
O curso “Leitura e mediação pedagógica nas Salas de Leitura escolares” é uma proposta de
formação continuada que segundo a SEE, tem como finalidade “aprofundar os conhecimentos sobre
leitura e mediação de leitura dos professores” de modo alterar a prática pedagógica por meio da
reflexão.
A partir do ano de 2013, a Diretoria de Ensino Região de Piracicaba firmou uma parceria
colaborativa com a professora Doutora Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto, da
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Universidade Estadual de Campinas, para realizar a formação dos professores responsáveis pelas
Salas de Leitura.
Segundo a SEE/SP (2017), o curso Leitura e mediação pedagógica nas Salas de Leitura
escolares” tem como intuito garantir aos professores que atuam nas salas de leitura “o estudo
sistemático sobre os conceitos de linguagem, leitura e mediação pedagógica, com o aprofundamento
na relação teórico-metodológica (teoria-prática) a fim de “orientar a ação pedagógica” a ser realizada
nas salas de leitura sob suas responsabilidades” (SEE/SP, 2017).
O curso de formação continuada pode ser compreendido como um suporte para auxiliar na
ressignificação da prática pedagógica desses profissionais. Assim, a formação continuada tem como
objetivos propor novas metodologias e colocar os profissionais em contato com as discussões teóricas
atuais, visando contribuir para as mudanças que se fazem urgentes para a melhoria da ação pedagógica
escolar.
Durante os encontros de formação, ocorridos no ano de 2017 foram trabalhados conteúdos da
fundamentação teórica acerca dos processos de aprendizagem da leitura e da escrita, que se
sustentavam numa concepção psicogenética. A partir das leituras foram realizadas discussões como
o resultado da atividade intelectual do sujeito e das interações por ele estabelecida. Num segundo
momento, foram apresentadas as e situações didáticas para o ensino de leitura e escrita. Tais propostas
ressaltaram a importância do trabalho com textos do interesse dos alunos.
Sala de Leitura Escola Dr. Prudente
Compreendendo a importância da sala de leitura como espaço organizado em torno da leitura,
a Sala de Leitura da Escola Dr. Prudente tem como ação permanente o empréstimo de materiais livros
e a roda de leitura - momento em que os alunos trocam suas impressões sobre a leitura realizada. As
atividades acontecem semanalmente com horário fixo por turma sob a supervisão do professor
designado para a sala.
A Sala de Leitura está sob a responsabilidade da Professora Maria Luiza Oliveira Guimaro
desde o ano de 2016. Para assumir a Sala de Leitura o professor não precisa ter formação específica.
Segundo a Resolução SE nº 70 de 21/10/2011, o professor deve portar diploma de licenciatura plena,
possuir vínculo docente com a Secretaria de Estado da Educação e deve ser readaptado. No entanto,
a professora Maria Luiza possui graduação em Licenciatura em Psicologia pela Universidade
Metodista de Piracicaba, mestrado em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. É
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Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Antes de assumir a Sala
de Leitura, Maria Luiza atuava como professora concursada na rede estadual desde o ano de 1993.
A Resolução SE nº 70 de 21/10/2011, no artigo 3º, descreve as atribuições dos professores
responsáveis pelas Salas de Leitura: planejar e desenvolver atividades vinculadas à proposta
pedagógica e a programação curricular; orientar os alunos nos procedimentos de estudo, consultas e
pesquisas; controlar e organizar as instalações e o acervo; elaborar relatórios para análise e discussão
pela equipe pedagógica da escola; incentivar a visitação e a participação dos professores na Sala de
Leitura para a realização de atividades pedagógicas; promover ações inovadoras que incentivem a
leitura, e a construção de canais de acesso a universos culturais mais amplos, ter habilidade com
programas e ferramentas de informática.
No entanto, o depoimento da professora Maria Luiza, embora reconheça que o espaço passou
por mudanças positivas, ainda há desafios a enfrentar:
Este é o terceiro ano que estou na escola, lembrando que quando cheguei tive
dificuldade por falta de espaço entre outras, para organizar a sala de leitura, (estava
desmontada, livros esparramados, sujos) com ajuda da Klicia e dos alunos, limpamos
e organizamos todos os livros por áreas, criamos um ambiente organizado e afetivo,
mas, ... depois veio a reforma e desde outubro de 2017 até agora com a sala
desmanchada aguardamos o fim da reforma... este ano estou com dificuldades de
desenvolver outros projetos com os livros encaixotados....
A professora aponta a importância da implantação do Projeto Sala de Leitura e assegura que
o espaço conferiu outro status às práticas de leitura na escola:
Desde o começo do ano (2017) os alunos dos sextos anos que chegavam a escola
participaram dos projetos de leitura que a sala de leitura desenvolvia junto aos
professores e passaram a ir para esta sala. Primeiramente, por meio de um projeto em
parceria com a professora de Língua Portuguesa (...). Desta forma, como muitos desses
alunos passaram a frequentar a sala de leitura nos intervalos e a ler muitos outros
livros, conversando sobre o quanto gostaram destes ou não, pedindo ajuda para
localizar determinados gêneros, percebemos que esta escolha afetiva, pela leitura e
pelo lugar continha um potencial para formarmos um grupo de leitura e compartilhar
experiências literárias.
De acordo com Schön (2000), além da ação esperada pela professora, está realizou
observações e passou a pensar novas ações a partir da reflexão-na-ação passada, sendo capaz de
planejar ações futuras.
(...) muitos desses alunos passaram a frequentar a sala de leitura nos intervalos e a ler
muitos outros livros, conversando sobre o quanto gostaram destes ou não, pedindo
ajuda para localizar determinados gêneros, percebemos que esta escolha afetiva, pela
leitura e pelo lugar continha um potencial para formarmos um grupo de leitura e
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compartilhar experiências literárias. No seu início era composto por muitos alunos dos
dois sextos anos existentes na escola. Daí essa participação consolidou-se como
projeto para um grupo de 15 alunos por turma (às terças e quarta feiras) na sala de
leitura (...)
O relato da professora mostra que a proposta pedagógica da Sala de Leitura constituiu-se em
um dispositivo de incentivo fomento à leitura; um espaço de pesquisa, de investigação; um ambiente
de estímulo no processo de ensino e de aprendizagem dos alunos.
Nosso objetivo a princípio foi desenvolver práticas de incentivo à leitura de textos de
gêneros literários diversos; discutir e narrar os textos lidos; construir materiais escritos
sobre os livros lidos.
Para viabilizar os primeiros encontros esses jovens escolheram seus livros de forma
livre para posteriormente serem discutidos, indicando para os colegas.
Uma vez tendo escolhido seus livros os alunos levaram para casa, para realizar a
leitura. Posteriormente depois da leitura feita aconteceram as trocas onde teceram
comentários dos livros lidos com os colegas.
A professora desenvolve a prática pedagógica que Schön (2000) denomina de prática reflexiva
tendo, haja vista que demonstra empenho e conhecimento ao propor atividades que visam despertar
o gosto pela leitura e sobretudo, fazer com que tais atividades sejam significativas aos alunos.
A prática realizada pela professora partiu do interesse e da realidade dos alunos com a
finalidade de levar os alunos a estabelecer uma relação íntima com a leitura, bem como trabalhar as
relações afetivas, o compartilhamento de experiências. A atividade inicia-se de forma coletiva, parte
para o individual e retorna para o coletivo. Portanto, o processo de ensino e de aprendizagem se dá
de forma ativa e por meio de uma prática reflexiva.
A esse respeito Tardif (2002) assevera que a relação docente com os saberes não deve ser
restrita à de transmissão de conhecimentos, pois a prática docente integra diferentes saberes e que
mantém diferentes relações com eles. Assim, o trabalho pedagógico deve apresentar uma prática
pedagógica com uma dinâmica que valorize a autonomia e o pensamento crítico dos alunos.
Ainda sobre a prática pedagógica, a professora Maria Luiza propõe que os alunos façam
anotações sobre suas experiências de leitura. A professora acredita que essa é uma forma dos alunos
sistematizar o que leram, de compartilhar suas impressões, de acompanhar a evolução das leituras
realizadas e, ainda, um exercício de escrita.
Faz parte também das atividades escrever nas cadernetas uma impressão dos livros
destacando alguns dos aspectos que mais chamaram a atenção, obra, título, autor,
editora, ano e ilustrações que por ventura o texto apresente, assim, construindo um
diário do leitor, bem como, escrever ou desenhar uma propagando do livro preferido
e “vender” a ideia para os colegas fazem parte da pauta de cada reunião.
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Dentre as atividades propostas, o registro nas “cadernetas” aponta para uma prática
pedagógica em que a reflexão e o planejamento procuram valorizar o processo de ensino e de
aprendizagem e, nos dá indícios que a professora reflete na ação, sobre a ação e sobre a reflexão na
ação, conforme indica Schön (2000).
A professora demonstra muito orgulho do trabalho realizado e declara:
No início de 2018 alguns alunos da Roda de leitura participaram de um evento de
Poesia na escola que reunia escritores poetas e poetisas, daí surgiu a ideia de adaptar
para teatro um livro (Patuskinho) cuja autora estaria presente na festa organizada pela
escola. Participaram da adaptação e posteriormente fizeram a leitura para a
apresentação, ainda, colaboraram na confecção dos bonecos de fantoche e do cenário.
Também participaram da adaptação de uma música para finalizar a peça. Essa
apresentação foi muito festejada, foram convidados para conhecer e participar do
programa “Passa Balaio Recheado de Histórias” da Rádio Educativa FM Municipal.
Também participarão da Semana Literária de Piracicaba, entre outros convites.
A medida em que as ações propostas pela professora foram se consolidando, novas estratégias
foram adotadas. A professora desenvolve a prática reflexiva ao encorajar e ampliar o repertorio dos
alunos. A prática reflexiva redimensiona a prática pedagógica possibilita a professora refletir acerca
de suas ações, de suas escolhas de modo contribuir para a aprendizagem dos alunos.
Para finalizar o relato, a professora Maria Luiza ressalta:
É muito importante pontuar que a professora da Roda de Leitura participa de uma
experiência formativa para professores que atuam em sala de leitura desde 2013 que
era denominada “Grupo de leitura pesquisa e formação” parceria da Diretoria de
Ensino de Piracicaba com a prof. Claudia Nascimento Ometto da Unimep/Unicamp.
No ano de 2017 tornou-se curso com publicação no diário oficial: “Leitura e mediação
pedagógica nas salas de leitura”. Nesta experiência formativa teve a oportunidade,
entre outras, de realizar leituras literárias e de textos teóricos de referência, aprender
acerca de concepções de leitura diversas, organizar um projeto de leitura, compartilhar
relatos de experiência, comentar livros sobre diversos aspectos e a orientar alunos para
que estes se tornassem leitores.
A professora valoriza o conhecimento adquirido na formação continuada, já que os saberes
apreendidos contribuem para a prática pedagógica ao serem articulados com as experiências e
vivências tanto da professora, quanto dos alunos no contexto escolar.
O grande desafio da formação de professores está em aproximar a teoria e a prática. Assim, o
aprender a fazer deve ocorrer por meio da reflexão a fim de evitar que a prática pedagógica aconteça
descontextualizada da realidade. Segundo Schön (2000), o desenvolvimento de um ensino prático
reflexivo pode somar.
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Considerações finais
Para alcançarmos nosso objetivo buscou-se analisar o relato da professora da Sala de Leitura
acerca da sua prática de ensino, tendo como suporte a formação continuada. As práticas de leitura
descritas nesse trabalho estão incorporas ao fazer pedagógico e evidência a formação continuada
como fundamental no processo de adaptação da função que a professora passou a assumir.
O relato da professora Maria Luiza traz traços de uma prática pedagógica reflexiva, já que
expressa modelos didático-metodológicos oriundos de vários saberes, inclusive os saberes da
formação continuada. A professora proporciona momentos de interação, de troca e de livre expressão
entre os alunos; instiga os alunos a avançarem nas leituras, a realizarem registros e valoriza a leitura
em seu potencial crítico. Sua prática revela o desenvolvimento de um trabalho comprometido que
aspira melhora na qualidade do processo de ensino e de aprendizagem.
A análise do relato da professora Maria Luiza mostra a disposição e o interesse por participar
do curso “Leitura e mediação pedagógica nas salas de leitura”. No entanto, seria necessário investigar
a fundo a prática dessa professora para afirmar que sua prática é de fato reflexiva, conforme as
definições de Schön (2000). O que podemos analisar é o relato de uma professora que teve a
necessidade de redimensionar sua prática em detrimento de uma nova função buscando a integrar o
conhecimento adquirido no curso de formação de modo a produzir experiências significativas.
Constatou-se que, as experiências de leitura se constituíram principalmente por meio de livros
relacionados aos interesses dos alunos, à socialização/interação no contexto escolar valorizando a
leitura enquanto formação cultural.
Neste contexto, a formação continuada do professor demonstra ser importante para a reflexão
da prática pedagógica contribuindo para o aprimoramento das ações didático-pedagógicas do
cotidiano escolar.
Referências bibliográficas
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Brasília, 1996.
Lei nº 13.005, de 24 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/civil_03/_ ato2011-
2014/2014/lei/l13005.htm
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HARGREAVES, Andy. Ensino na sociedade de conhecimento: educação na era da insegurança.
Porto Alegre/RS: Artmed, 2004.
SÃO PAULO (Estado). Sala de Leitura, 2018. Disponível em:
http://www.educacao.sp.gov.br/noticia/sala-leitura/motivos-para-voce-desenvolver-o-habito-da-
leitura/
___________________. Resolução SE nº 70, de 21/10/2011. Dispõe sobre a instalação de Salas e
Ambientes de Leitura nas escolas da rede pública estadual. Disponível em:
http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/70_11.HTM
SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a
aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SOARES, Magda Becker. Língua escrita, sociedade e cultura: Relações, dimensões e perspectivas.
Revista Brasileira de Educação,1995.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.