UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
RELATÓRIO FINAL: BAIRRO PRIMEIRO DE MAIO
ANÁLISE E ESTUDO URBANO
LUDMILA SOUZA VIEIRA
MOZER LOPES DE FREITAS
RENATA DE SOUSA PEDROSA
THAÍS LAMONIER VARELLA ALVES
BELO HORIZONTE
2011
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3
CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO PRIMEIRO DE MAIO................................... 4
Localização ..................................................................................................... 4
Relação com bairros vizinhos ........................ Erro! Indicador não definido.7
Visadas ........................................................................................................... 9
Evolução urbana ........................................................................................... 10
Perfil socioeconômico da população do bairro/vila ....................................... 12
Caracteristicas do sítio .................................................................................. 13
ESTRUTURA URBANA ATUAL ....................................................................... 17
Uso e ocupação do solo/ equipamentos urbanos ......................................... 17
- Bairro Primeiro de Maio ........................................................................... 18
- Vila Primeiro de Maio............................................................................... 21
Aspectos da legislação vigente .................................................................. 25
Percepção dos moradores ......................................................................... 37
Espaços públicos ....................................................................................... 42
Relação entre os cursos d’água e a ocupação .......................................... 43
SÍNTESE .......................................................................................................... 45
PROPOSIÇÕES ............................................................................................... 48
CONCLUSÃO ................................................................................................... 55
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 56
ANEXOS .......................................................................................................... 57
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INTRODUÇÃO
O estudo preliminar tem como principal objetivo identificar as características
urbanísticas, físicas e socioeconômicas do bairro Primeiro de Maio. O estudo
foi baseado em informações obtidas na visita de campo, assim como na
palestra do técnico social da URBEL, do estudo e palestra ofertada pelo
sociólogo e antropólogo Frank de Paula Ribeiro, dados do portal da prefeitura
de Belo Horizonte e pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
A partir da junção de informações obtidas, tem-se o intuito de analisar e
correlacionar os dados para um estudo mais profundo e detalhado. Essa
análise foi de grande importância para a elaboração do relatório final a respeito
do bairro, bem como para a proposição de melhorias urbanas para ele.
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CARACTERIZAÇÃO GERAL DO BAIRRO/VILA PRIMEIRO DE MAIO
Localização
O bairro Primeiro de Maio localiza-se na região norte da capital sendo
circundado pelos bairros São Gabriel a leste, Providência a nordeste,
Minaslândia a noroeste, Dona Clara a oeste e Suzana a sul (ver fig. 5).
Percebe-se claramente através de análise local e também verificando dados
censitários que há maior semelhança entre o Primeiro de Maio e os bairros
Minaslândia e Providência no que diz respeito a padrão construtivo das
edificações, paisagem e contexto urbano. Até o limite entre esses bairros, em
alguns momentos, não fica muito definido tamanha é a semelhança das
características.
O contrário ocorre entre o Primeiro de Maio e o Dona Clara, que apresenta
edificações com melhores níveis de acabamento, sendo reflexo de uma
população de maior poder aquisitivo. Inclusive, entre esses dois bairros o limite
é bem marcado pela Avenida Cristiano Machado que se configura como uma
barreira física, delimitando claramente o perímetro das duas regiões.
O bairro tem como limites a Avenida Cristiano Machado, importante via de
acesso à região, e a Via 240, que divide a região nordeste e norte da cidade e
é um dos acessos à MG-020, que leva a Santa Luzia, outra cidade da Região
Metropolitana. As linhas de metrô e a Estação também se configuram como
limites, já que estas localizam-se adjacente ao bairro. Apesar de a região ter
essas importantes vias de acesso, considera-se que o bairro é introvertido, pois
essas avenidas não o cruzam, apenas são adjacentes a ele. O meio de ligação
entre o bairro e essas avenidas de fluxo rápido é feito principalmente pela Rua
Volts.
A região é abastecida por várias linhas de transporte coletivo (dentre elas estão
as linhas 703, 710, 734, 1502, 1510, 5508 que percorrem as ruas locais e mais
outras tantas linhas que passam pela Cristiano Machado e que também servem
ao bairro). No entanto, para aqueles que desembarcam nessa via, completar o
percurso a pé é mais complicado já que o relevo íngreme do bairro é
considerado um fator negativo para os pedestres. Além disso, a estação de
metrô Primeiro de Maio e a estação São Gabriel também são bastante
5
utilizadas por quem deseja chegar ao bairro, embora os seus acessos
apresenta deficiências, pois localizam-se um pouco afastada do bairro e a linha
de metrô abrange apenas algumas regiões da cidade.
Percebe-se também que nos locais cujos moradores possuem maior poder
aquisitivo e onde há edificações com melhor nível de acabamento e estrutura
física, as ruas fazem parte do itinerário do transporte coletivo e as paradas de
ônibus são mais recorrentes.
A presença de “ruas sem saída” em alguns pontos acaba por gerar sítios
específicos onde apenas moradores dessa área frequentam, não servindo
como via de passagem aos demais moradores do bairro.
Como barreira física pode-se observar o cercamento por toda a extensão dos
limites da estação de metrô São Gabriel. Já que o local é considerado
perigoso, na maior parte do dia
algumas pessoas evitam passar
beirando o gradil, assim como
evitam atravessar a linha férrea em
certos horários. Na estação Primeiro
de Maio até a própria edificação é
vista como uma barreira visual do
bairro, sendo possível observar a
configuração da paisagem apenas quando se ultrapassa o viaduto da Rua
Sônia.
Já na Vila Primeiro de Maio, uma
análise mais específica deve ser feita.
Como há becos estreitos, a passagem
de automóveis e ônibus fica
comprometida, assim como a
passagem de viaturas policiais para
garantir a segurança dos moradores.
Esses becos, inclusive, funcionam
como barreira visual já que suas
construções estreitas, sem Figura 2: Ao lado da estação Primeiro de Maio Fonte: acervo de Hudson Nepuceno
Figura 1: Estação de metrô Primeiro de Maio Fonte: acervo de Hudson Nepuceno
6
afastamento lateral e muitas vezes altas não permitem visibilidade dos
arredores.
Barreiras subjetivas de cunho
social também são verificadas,
como é o caso dos becos, nos
quais muitas pessoas evitam
entrar. Isso acontece
principalmente por se tratar de
uma área caracterizada por
maiores índices de violência,
como é comprovado por
depoimento de moradores.
MAPA
Figura 3: Divisão de Belo Horizonte em bairros e destaque para o Primeiro de Maio Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte <www.pbh.gov.br>
Figura 4: Vista aérea da região do bairro Primeiro de Maio. Fonte: GoogleMaps
7
Relações com os bairros vizinhos
O Bairro Primeiro de Maio se encontra próximo a dois aeroportos, o da
Pampulha, além de estar circundado por grandes avenidas, como a Cristiano
Machado, o Anel rodoviário e a Risoleta Neves (via 240). Essas são as
principais vias de ligação do bairro com bairros vizinhos e até mesmo com o
centro da cidade. Há também o acesso do Primeiro de Maio pelo metrô cuja
estação recebe o mesmo nome.
Apesar de as grandes e largas avenidas favorecerem o acesso à região, elas
configuram barreiras em relação ao bairro, pois possuem grande fluxo de
carros e acabam se tornando perigosas e movimentadas. Isso acaba
desfavorecendo o deslocamento a pé e o consequente contato do bairro com o
vizinho que se encontra do outro lado da avenida. As pessoas acabam
preferindo utilizar os serviços e equipamentos públicos mais próximos. Isso
Figura 5: Localização dos bairros.
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pode ser observado no bairro Primeiro de Maio com o bairro Dona Clara (pela
Avenida Cristiano Machado), o São Gabriel (pela Avenida Risoleta Neves) e o
Vila Maria Virgínia e o Fernão Dias (pelo Anel Rodoviário) (vide figura 4). No
entanto, a Avenida Cristiano Machado se localiza em um vale longo que por
não possuir grandes irregularidades do solo, favorece o deslocamento a pé.
Dessa forma, apesar de pouco contato entre os bairros que se encontram
nessa situação, ela não é nula, há possibilidades favoráveis também para esse
intercâmbio cultural e de serviços.
O bairro Providência, que se localiza a nordeste do Primeiro de Maio, é ligado a
ele por pequenas vias, ao contrário dos exemplos anteriores, o que favorece
mais intensamente um intercâmbio cultural e social entre os moradores dos
diferentes bairros. Pode-se perceber que a utilização de serviços entre eles é
mais frequente. No entanto, as irregularidades do relevo pela presença de
encostas se caracterizam como um dificultador do fluxo de pessoas a pé, o que
também relativiza esse contato.
Além disso, o crescimento descontrolado da região provocou a ocupação de
áreas inapropriadas para habitação. Foram erguidas moradias em morros, em
áreas íngremes e nas margens de córregos. Isso resultou em situações
conflitantes: bairros habitados por uma população com melhor poder aquisitivo
e infraestrutura urbana contrastam com bairros e vilas habitados por uma
população carente, com condições mínimas de moradia, o que favoreceu a
segregação de muitas pessoas.
Levando em consideração esses aspectos, pode-se perceber que o bairro
Primeiro de Maio possui características variadas que nem sempre favorecem o
contato entre os bairros vizinhos, tornando-o muitas vezes independente, com
seus próprios serviços locais. No entanto ele é considerado a principal
referência cultural da região e é ponto de encontro dos acontecimentos
culturais, movimentos festivos e de lazer que acontecem próximo à Igreja
Santo Antônio, no bairro Providência.
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Figura 6: Visada do bairro Primeiro de Maio a partir do anel rodoviário. Fonte: GoogleMaps
Visadas
O bairro Primeiro de Maio situa-se em um
lugar de destaque, uma vez que se encontra
em uma altitude maior em relação à Avenida
Cristiano Machado, onde há um grande fluxo
de automóveis. O bairro é uma referência
tanto pela altimetria, como pela localização
entre a Avenida Cristiano Machado e o Anel
Rodoviário.
O melhor ponto de visada do bairro a ser
explorar é a Rua Ladainha, pois ela é
retilínea, o que permite a visão do
prolongamento desta, assim como é menos
estreita que as demais ruas do bairro. Outra
característica importante é que essa rua
situa-se em uma crista, o que
geomorficamente confere a ela uma posição
de destaque, uma vez que permite uma
melhor visibilidade do entorno.
As ruas do bairro, com exceção da Rua Ladainha, Volts, Nossa Senhora da
Glória e demais vias da região noroeste, são estreitas o que lhes conferem
uma baixa visibilidade e com isso, uma difícil leitura do entorno. Entretanto,
Figura 7: Visada da Av. Cristiano Machado a partir do final da Rua Berilo. Fonte: GoogleMaps
Figura 8: Rua Ladainha Fonte: GoogleMaps
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vale lembrar que, apesar de estreitas,
algumas ruas por situar em uma altitude alta
possibilita a visualização de áreas em contas
mais baixas, o que pode ser averiguado na
Rua Badaró Júnior. Nos becos, as ruas se
estreitam, o que implica em uma menor
percepção do espaço.
Evolução urbana
De acordo com o portal* da prefeitura de
Belo Horizonte o bairro Primeiro de Maio
ocupa áreas de antigas fazendas do início
do século XX que posteriormente deram
origem a povoados. Sua ocupação
definitiva ocorreu por volta de 1930,
quando a cidade de Belo Horizonte se expandiu para além dos limites da
Avenida do Contorno. Com o crescimento demográfico surgiram os déficits
habitacionais cuja solução adotada foi a criação de vilas operárias, já que os
lotes em tamanhos reduzidos tinham um menor preço no mercado.
Em 1937, com a inauguração do Matadouro Municipal, que foi deslocado para
a região devido à disponibilidade de água e para proporcionar fácil acesso aos
boiadeiros, foi promovido um novo parcelamento do solo na região, resultando
na criação da Vila Operária. Esta deu origem ao bairro São Paulo, nas
proximidades de onde é hoje o bairro Primeiro de Maio.
Como pôde ser observado no livro** “Primeiro de Maio: memórias e imagens
de um lugar “ no início, a Vila Operária mantinha intensas relações com o bairro
São Paulo pelo fato de nele existirem as únicas igrejas e escolas da região.
Entretanto, uma diferença de caráter socioeconômico passou a existir entre a
vila e o bairro, principalmente na década de 50, quando a Vila foi invadida por
um novo contingente populacional. Esta invasão se deu devido ao rompimento
da barragem da Pampulha, o que levou um grande número de desabrigados a
se instalar nas vilas da região. A união das Vilas Santa Maria, Operária,
Figura 9: Visada da Av. Cristiano Machado a partir da Rua Badaró Júnior. Fonte: GoogleMaps
Figura 10: Avenida Cristiano Machado Fonte: GoogleMaps
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Minaslândia e São José, em 1967, deram origem ao bairro Primeiro de Maio,
nome escolhido pelos próprios moradores. Em 1991, a Prefeitura de Belo
Horizonte fez o desmembramento definitivo dos bairros Primeiro de Maio e São
Paulo.
A unidade de planejamento do Primeiro de Maio é composta pelos seguintes
bairros: Guarani, Aarão Reis, Minaslândia, Providência, Primeiro de Maio, Boa
União e Conjunto Habitacional Providência. Sendo a principal referência
cultural da região, ele conta com o Centro de Referência da Cidadania, e é
ponto de encontro dos acontecimentos culturais, movimentos festivos e de
lazer que acontecem próximo à Igreja Santo Antônio e Praça JASC.
Sendo uma região de difícil ocupação, por tratar-se de um maciço rochoso,
formado por rochas graníticas, apresentando linhas de serra, há a presença de
moradias em lotes irregulares e construções sem habite-se, principalmente
porque a população possui um perfil carente e com baixo grau de instrução.
Nos arredores há pequenos comércios e serviços de atendimento local e
algumas indústrias de médio porte em áreas mais próximas da Avenida
Cristiano Machado (vide mapa de equipamentos urbanos – figura14) já que se
trata de uma avenida em um vale longo, que liga diversos pontos da região
metropolitana, caracterizada por um fluxo rápido e intenso de veículos e
pessoas. Estas informações serão mais bem desenvolvidas adiante.
Atualmente, a partir das obras urbanas que melhoraram a integração do Norte
com o restante da capital mineira, como a linha de metrô que liga o Minas
Shopping a Venda Nova, e a construção da Via 240, que cobriu parte do
Córrego do Onça, abriram-se novos eixos de crescimento econômico nos
bairros. A implantação da Linha Verde e a construção do novo Centro
Administrativo do Governo de Minas Gerais criam uma nova perspectiva da
região, com a valorização das áreas do entorno, tanto em bairros como o
Primeiro de Maio, como na Regional Norte de maneira geral.
*Portal da prefeitura: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idConteudo=39120&chPlc=39120&termos=primeiro%20de%20maio
**Livro “Primeiro de Maio: memórias e imagens de um lugar” : RIBEIRO, Frank de Paula; BENJAMIN, Raquel Côrrea. Primeiro de
Maio: memórias e imagens de um lugar. Belo Horizonte, 2005.
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Perfil sócio econômico da população do bairro/ vila
O bairro Primeiro de Maio possui em geral uma população homogênea, com
características comuns entre si. Uma diferença um pouco mais significativa
ocorre principalmente entre o bairro e as vilas. No entanto, os dois se
caracterizam por possuir uma população de baixa renda, com uma renda
média por responsável pelo domicílio entre zero e cinco salários mínimos de
acordo com dados do IBGE (ano 2000). Além disso, há uma alta taxa de
famílias chefiadas por mulheres, o que demonstra um forte indício de
desestruturação e desorganização social, que se caracterizam por casais
divorciados, ou maridos ausentes.
Ao serem realizadas entrevistas com moradores locais é possível perceber que
provavelmente um dos fatores que contribuem para esse perfil de renda é a
baixa escolaridade das pessoas em geral do bairro. Muitas delas não
completaram o ensino fundamental e médio, mas a maioria das crianças e
adolescentes está na escola. Outro fator a se analisar é que há na região uma
presença de instituições de ensino técnico e profissionalizante, no entanto elas
se encontram de certa forma vazias, com muitas vagas disponíveis. Isso ocorre
principalmente por serem cursos que oferecem uma profissionalização muita
básica, o que não atende a demanda da população.
Há também uma alta taxa de desemprego estrutural, no qual as pessoas que
não se requalificam e não se adaptam às novas demandas do mercado são, de
certa forma, excluídas do cenário profissional. Isso é comprovado, no Primeiro
de Maio, com um grande índice de trabalhadores informais e desempregados
em geral.
Além disso, há muitos domicílios sem banheiro, o que caracteriza residências
muito simples com questões de saneamento muito precárias. De acordo com o
mapa do IBGE (ano 2000), tem-se que na maioria do bairro o índice é
pequeno, entre 0,1% a 5%, mas concentrado em algumas áreas,
principalmente na Vila, esse número chega a 15%. Essa situação é um pouco
preocupante, pois mostra uma carência de necessidades básicas em uma
residência.
Levando em consideração esses aspectos, pode-se concluir que o bairro
convive com questões muitas vezes complicadas, pois há carências de alguns
13
elementos sociais básicos, o que contribui para a violência e miséria. No
entanto, de acordo com entrevistas realizadas pelo grupo com os moradores, a
maioria das pessoas residentes no bairro Primeiro de Maio gosta de morar lá.
Isso ocorre principalmente por possuírem uma relação de vizinhança, por
existir uma coesão social entre os moradores. Além disso, o bairro possui
proximidade das principais vias de Belo Horizonte e o metrô Primeiro de Maio,
o que facilita o acesso e o deslocamento deles pela cidade.
Características do Sítio
As características geográficas podem influenciar a forma de ocupação de uma
área ou região conforme descrito nos textos complementares da disciplina*. No
bairro Primeiro de Maio e em seu entorno, foi identificado um vale curto na Rua
Sônia, propício a instalação de atividades que exigem grandes áreas como
clubes, condomínios e cemitérios, porém isso não ocorre, uma vez que foi
identificado foram instalações de pequeno comércio local e pontual. Isso
principalmente por ele formar um espaço envolvente em sua concavidade final.
Além disso, ele se caracteriza por ter fácil acesso ao vale principal, onde se
localiza a Av. Cristiano Machado. Esta por sua vez, se localiza ao longo de um
vale contínuo, o que é coerente, já que esse tipo de relevo se presta à
passagem e fluxos rápidos devido à sua baixa declividade. Como os vales
contínuos apresentam grandes áreas planas, são propícios a atividades que
exigem muito espaço e fácil acesso de veículos de carga como depósitos e
oficinas. Terrenos com essas características possuem baixo custo, devido aos
problemas de drenagem e saneamento.
Outra característica geográfica do bairro é a linha de crista curta, que se
localiza próxima à Rua Américo Martins. Ela é pouco adequada à passagem, já
que existem alternativas com menor declividade. Entretanto, ela se mostra
importante para vias de acesso local. O lugar chamado pico-lugar (ponto
simétrico em relação aos limites da coluna) é propício a formação de núcleo de
atividade de bairro, como praças. Além disso, existe a sela que se encontra
também próxima a Rua Américo Martins. Ela é favorável aos assentamentos de
comércio e serviços quando próximas as áreas residenciais, também
apresentam alto potencial de passagem, como é possível observar no local.
14
As encostas se encontram ao longo de todo o bairro apresentando declividades
variadas e por isso se prestam a diversas ocupações. Em geral tem um menor
potencial para servir como passagem.
Textos complementares da disciplina: SEPLAN, Superintendência de desenvolvimento da região metropolitana, Plambel. Plano de Ocupação do Solo da Aglomeração Urbana de Belo Horizonte - Os sistemas naturais. Belo Horizonte (p.14-34)
ANDRADE, Rodrigo Ferreira e MAGALHÃES, Beatriz de Almeida. A formação da cidade. In: CASTRIOTA, L.b. (Org.). Arquitetura da Modernidade. Belo Horizonte: Editora UFMG; IAB-MG, 1998.
ANDRÉS, Maurício. Notas sobre o corpo urbano de Belo Horizonte. Revista Fundação JP, Belo Horizonte, v. 5, n. 4, p. 13 - 20. abr.1975.
15
Figura 12: Mapa de altimetria Fonte: Prodabel adaptado pelo autor
Figura 11: Mapa de declividade Fonte: Prodabel adaptado pelo autor
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Figura 13: Áreas de observação no bairro Fonte: Mapa elaborado pelo autor
PROBLEMA DE INUNDAÇÃO
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ESTRUTURA URBANA ATUAL
Equipamentos Urbanos
Figura 14: Mapa dos principais equipamentos urbanos Fonte: PRODABEL adaptado pelo autor
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- Bairro Primeiro de Maio
A ocupação do bairro Primeiro de Maio é predominantemente horizontal,
unifamiliar e se dá predominantemente por casas, que possuem um, dois ou no
máximo três pavimentos. As edificações em geral não apresentam
afastamentos frontais e laterais, de maneira que as testadas se encontram
diretamente nas calçadas (quando estas existem) e as casas vizinhas se
apresentam justapostas. Além disso, os quarteirões são estreitos e as casas
não possuem quintais e áreas livres, o que favorece a configuração da rua
como espaço de convívio entre os moradores.
As casas são continuamente adaptadas a novas necessidades da família,
através da ampliação e criação de novos cômodos, o que gera um cenário de
um bairro sempre em construção. Dessa forma é recorrente a presença de
LEGENDA
Locais de Adoração
Parques/áreas de lazer
1. Igreja Batista Esperança Plena 2. Mitra Arquidiocesana de Belo Horizonte 3. Igreja do Evangelho Quadrangular 4. Exército de Salvação 5. Igreja Santo Antônio 6. Igreja Evangélica Assembleia de Deus 7. Igreja Nossa Senhora da Glória
1. Campo de Futebol 3. Parque do Córrego Primeiro de Maio 5. Praça esportiva
Instituições de ensino
Comércio/serviços
1. Centro de formação profissional Divina Providência - unidade Nita Chaves 2. Creche Agostinho Cândido de Souza 3. Escola Estadual Helena P. R. Costa – anexo creche 4. Escola Madre Paula 6. Escola Municipal Josefhina Souza Lima 9. Escola Estadual Professor Hilton Rocha
Concentração de comércio de abrangência local (mercearias, bares, salões de beleza, açougues, lojas de roupas, etc.)
Concentração de comércio de abrangência municipal (oficinas, lojas de materiais de construção, etc.)
Mercearias
Postos de gasolina
Restaurantes
Farmácias
Lojas
Atendimento de saúde
Trem
1. Centro de Saúde Primeiro de Maio 2. UPA Norte - Policlínica Albert Sabin
1. Estação de metrô São Gabriel 2. Estação de metrô Primeiro de Maio
Ônibus
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entulhos e materiais construtivos nas calçadas, uma vez que não há espaço
para o destino destes na própria edificação e nem locais apropriados para
caçambas. Além disso, as edificações têm aspecto inacabado, com ausência
de acabamento, o que compromete a estética do bairro, favorece patologias
construtivas, como infiltração e contribui para a proliferação de vetores de
doenças.
Outro aspecto observado é que parte das casas não se restringe à ocupação
residencial e reserva cômodos para atividades que gerem renda para a família,
através de comércio, aluguel de quartos e/ou prestação de serviços. Essas
atividades são, em geral, de pequeno porte, destinadas ao público local e
concentradas em ruas específicas.
A Rua Volts, localizada em uma
encosta, se destaca pela concentração
de comércio e serviços de pequeno
porte e de diversas naturezas, tais
como mercados, salões de beleza e
bares. Além disso, ela apresenta
equipamentos de grande abrangência
local, como a Creche Agostinho
Cândido Souza, o Centro de formação
profissional Divina Providência (unidade Nita Chaves) e um posto de saúde
(vide mapa de equipamentos urbanos – fig. 14). Esta concentração de
comércio e serviços talvez se explique devido ao fato de que a Rua Volts
termina próximo à estação de metrô São Gabriel, em uma via de retorno que
possibilita aos motoristas acesso ao Anel Rodoviário e à Av. Cristiano
Machado. Vale lembrar que nesse local é possível detectar a presença de
grandes espaços vazios entre as avenidas, os quais poderiam ser mais bem
aproveitados com a melhor adequação do espaço público, através de praças,
área de convívio e lazer.
A Rua Ladainha localiza-se em uma crista
e em uma área de baixa declividade em
relação ao entorno. Dessa forma, ela se
destaca como importante eixo de acesso
Figura 16: Rua Ladainha com Rua Nossa Senhora da Glória. Fonte: GoogleMaps
Figura 15: Rua Volts com Rua Padre Cyr Assunção. Fonte: GoogleMaps
20
local e de assentamento de atividades de comércio e serviço de bairro, o que é
geomorficamente adequado. Observa-se a existência de padarias, açougue,
salões de beleza, mercearias, armarinhos, entre outros. A Rua Ladainha se
prolonga para fora do bairro, onde recebe o nome de Rua Américo Martins da
Costa, que apesar de se desviar um pouco da linha da crista, continua sendo
um importante centro comercial. Além disso, ela funciona como via de ligação
do Primeiro Maio com outros bairros. No encontro das duas vias há um
alargamento da rua e a formação de um centro de convergência de atividades,
o que configura um ponto nodal. Este local compreende a cela e atua como
importante ponto de integração entre as principais vias. Apesar disso, esse é
um ponto mal estruturado e poderia ser mais bem explorado pela importância
que tem na ligação do bairro com as demais regiões vizinhas.
A Avenida Cristiano Machado contorna grande parte do bairro e está localizada
ao longo de um vale contínuo, com baixa declividade. Isso favorece as
passagens e fluxos rápidos, com vias arteriais,
expressas e/ou de transporte de massa, e a
instalação de atividades que exigem muito
espaço e acesso fácil de veículos de carga.
Esses aspectos foram confirmados pela
presença de grande tráfego na avenida e de
estabelecimentos como oficinas e lojas de
material de construção. Em comparação com as
atividades do interior do bairro, tais
estabelecimentos apresentam maior porte e
atendimento mais abrangente, o qual se estende a toda a cidade de Belo
Horizonte. Vale destacar a existência da Escola Estadual Hilton Rocha e da
estação de metrô Primeiro de Maio, estruturas de grande porte da avenida
(vide mapa de equipamentos urbanos).
Na Cristiano Machado as edificações continuam horizontalizadas e sem
afastamentos, porém não se dedicam à ocupação residencial e sim, ao
comércio identificado por grandes galpões e estoques. Nessa região, as
calçadas são largas e muitas vezes servem de estacionamento para as lojas. A
vegetação identificada é pouca, mas é maior do que a vegetação do interior do
bairro, que é praticamente inexistente. Vale lembrar que nas proximidades da
Figura 17: Av. Cristiano Machado. Fonte: GoogleMaps
21
Escola Estadual Professor Hilton Rocha existem grandes vazios que poderiam
ser mais bem utilizados para atividades culturais, por exemplo. Poderia ser
analisada uma intervenção tanto na escola, quanto nos espaços livres do
entorno, com a instalação de serviços que melhor atendem e contribuem para o
desenvolvimento do bairro.
As demais ruas do Primeiro de Maio são,
em geral, estreitas e irregulares e muitas
vezes, sem saída. Algumas se afunilam na
medida em que adentram o bairro,
formando becos onde se concentram
atividades ilegais, como o tráfico de
drogas. Em algumas vias não existe
calçada ou ela desaparece em alguns
pontos. Nessas ruas, predominam as edificações residenciais. A maior parte
das casas apresenta aparência similar, mas algumas se destacam com melhor
revestimento e até mesmo com muros e grades. Na medida em que se
aproxima da Vila Primeiro de Maio, as construções tendem a ficar mais
precárias. Vale lembrar que ao longo das ruas existe carência de alguns
equipamentos urbanos, como lixeiras públicas e locais de recreação e convívio
dos moradores (praças, parques, etc.).
- Vila Primeiro de Maio
A vila Primeiro de Maio por ter sido ocupada, inicialmente ilegalmente é
conformada por becos que se ramificam, bifurcam e se estreitam
aleatoriamente, conforme a implantação das moradias. O usuário acaba
tomando a parte pública para si, sem prever as conseqüências, o que gera
problemas de locomoção, inacessibilidade aos aparatos e serviços urbanos,
como por exemplo, a coleta de lixo. Em todos os becos o trânsito de
automóveis ocorre somente em uma única faixa e, normalmente, não existem
calçadas. O fluxo, em alguns casos, é possível quando os veículos são de
pequeno porte. Em outros becos a largura da via pública é tão pequena, que só
é possível o trânsito de pessoas e carrinhos-de-mão. Em alguns casos, o beco
é tão estreito, que se torna impossível também o trânsito destes.
Figura 18: Rua Faraday. Fonte: GoogleMaps
22
A Vila, por se situar em uma área de encosta relativamente íngreme e possuir
um relevo irregular, apresenta possíveis
áreas de risco com deslizamento de terra,
por exemplo (figura 21 e 22). Por isto,
segundo o técnico social da URBEL,
Davidson, os terrenos devem ser
averiguados antes da sua legalização para
ocupação.
O principal ponto crítico é no Beco Roseiras
com o Beco dos Santos, onde já foram
feitas obras de intervenção pela
prefeitura. Foram retirados do local os
moradores e construída uma pequena
praça, assim como também foram
feitas obras de contenção da encosta,
através do jateamento de concreto.
Apesar da boa intenção da iniciativa
pública, percebe-se que o espaço é
inutilizado.
Outro local crítico é a pedreira, que se
situa no cruzamento do Beco
Itapanema com o Beco Lindolfo Faria,
apesar desses não serem interligados.
Esta região se conforma como uma
grande área de risco, uma vez que
apresenta o terreno muito íngreme e se
situa num vale curto, o que o torna um
percurso natural de drenagem de
águas pluviais. Já houve casos de
desmoronamento no local, e há alguns anos foram feitas obras de contenção
de encosta, nas quais foi utilizado o mesmo processo de contenção na área de
risco anteriormente citada. Entretanto, esta providência é uma medida paliativa
Figura 20: Vista da praça Figura 20: Vista da praça (Beco Roseiras com beco Dos Santos) Roseiras com beco Dos Santos)
Figura 21: Vista da pedreira. Foto tirada do Beco Itapanema. Fonte: acervo Hudson Nepomuceno
Figura 19: Mapa áreas de risco Fonte: acervo Hudson Nepomuceno
23
e não é adequada. Observam-se
moradias neste local, o que configura
uma importante e possível área de
intervenção a ser estudada.
A Vila Primeiro de Maio é configurada
principalmente por residências e
quase não existem edifícios de
comércio ou serviço. Elas são coladas uma nas outras, gerando um
aglomerado, que às vezes se tornam impossível perceber onde eles começam
e terminam. As residências, em geral, apresentam o padrão de revestimento
inacabado, de maneira que na maioria
o tijolo fica aparente e exposto e
apenas algumas apresentam pintura
externa. Apesar do grau de
precariedade observado nas casas e
do contexto urbano, a maioria das
casas apresenta rede de esgoto e
água tratada.
Observa-se também na Vila fortes
atividades criminais. Em uma entrevista concedida por uma moradora do sexo
feminino, ela reclama de vários buracos de tiros na parede de sua casa. Outro
problema é o tráfico de drogas, que ocorre principalmente no cruzamento da
Rua Jorge Francisco dos Santos com
a Rua Otis, e é facilitada pela
proximidade da Av. Cristiano Machado.
Este local é conhecido como praça
troca égua (figura 24).
No Beco Ladainha também se faz
muito presente essas atividades, o que
poderia ser amenizado com o
alargamento da via, facilitando o
acesso de policiais, iluminação e
Figura 22: Vista da pedreira. Foto tirada do Beco Lindolfo Faria. Fonte: acervo de Hudson Nepomuceno
Figura 23: Vista da Vila. Fonte: acervo de Hudson Nepomuceno
Figura 24: Praça troca égua Fonte: acervo de Hudson Nepomuceno
24
aparatos urbanos, em geral. Isso poderia proporcionar maior segurança para
os moradores que não estão envolvidos com o crime.
Observando algumas ruas do bairro Minaslândia, próximo à divisa com o
Primeiro de Maio, verifica-se o mesmo tipo de ocupação que o bairro em
análise, ainda que vias como a Rua Sônia e a Rua Joana Darc sejam mais
largas e apresentem vegetação e edificações com melhor acabamento. Vale
lembrar que no encontro das ruas Joana Darc e Penélope existe o Parque
Primeiro de Maio, um dos poucos parques da região.
25
Aspectos da legislação vigente
· Zoneamento 1996
26
· Zoneamento 2010
27
Análises
De acordo com os mapas das leis de uso e ocupação do solo dos anos 1997 e
2010 de Belo Horizonte, pode-se perceber que o bairro em estudo, Primeiro de
Maio, se encontra em três zonas principais ZAP (Zonas de Adensamento
Preferencial), ZEIS-1 (Zonas de Especial Interesse Social) e ZAR-2 (Zona de
Adensamento Restrito), segundo os potenciais de adensamento e as
demandas de cada local/ região.
Conceitos:
· Art. 8º - São ZARs as regiões em que a ocupação é desestimulada, em
razão de ausência ou deficiência de infra-estrutura de abastecimento de
água ou de esgotamento sanitário, de precariedade ou saturação da
articulação viária interna ou externa ou de adversidade das condições
topográficas, e que se subdividem nas seguintes categorias:
II - ZARs-2, regiões em que as condições de infra-estrutura e as topográficas
ou de articulação viária exigem a restrição da ocupação.
· Art. 10 - São ZAPs as regiões passíveis de adensamento, em
decorrência de condições favoráveis de infra-estrutura e de topografia.
· Art. 12 - São ZEISs as regiões edificadas, em que o Executivo tenha
implantado conjuntos habitacionais de interesse social ou que tenham
sido ocupadas de forma espontânea, nas quais há interesse público em
ordenar a ocupação por meio de implantação de programas
habitacionais de urbanização e regularização fundiária, urbanística e
jurídica, subdividindo-se essas regiões nas seguintes categorias:
· Art. 91-A - A ADE do Primeiro de Maio tem o objetivo de preservar os
traços da ambiência original dos espaços públicos e a tipologia típica da
ocupação e do uso, por meio de:
I - valorização da centralidade urbana, conformada pelo centro comercial ao
longo da Rua Ladainha, nos bairros Primeiro de Maio e Providência;
28
II - promoção da requalificação urbana da área e das fachadas de edificações
de interesse cultural, com integração ao Parque Primeiro de Maio;
III - instituição de perímetro de proteção do patrimônio cultural.
Parágrafo único - A altura das edificações não poderá ultrapassar dois
pavimentos, prevalecendo as demais disposições contidas nesta Lei.
PARÂMETROS URBANÍSTICOS: COEFICIENTES DE APROVEITAMENTO BÁSICO E MÁXIMO (Incluído como Anexo V da Lei nº 7.165/1996)
As zonas ZAP E ZAR-2, há a possibilidade da “Outorga Onerosa de Direito de
Construir”, pois o coeficiente máximo é maior que o coeficiente básico nas duas
zonas.
PARÂMETROS URBANÍSTICOS RELATIVOS À QUOTA DE TERRENO POR UNIDADE
29
HABITACIONAL. TAXA DE OCUPAÇÃO, TAXA DE PERMEABILIDADE E ALTURA MÁXIMA NA DIVISA Substitui o Anexo VI da Lei N° 7.166/96
LOCALIZAÇÃO DOS USOS (Substitui o Anexo XI da Lei n.º 7.166/96)
VR = Via Preferencialmente Residencial
30
VM = Via de Caráter Misto VRM = Via Preferencialmente Não Residencial A = Admitido AC = Admitido sob condições NA = Não admitido
AFASTAMENTOS MÍNIMOS LATERAIS E DE FUNDO (Substitui o Anexo VII da Lei n° 7.166/96)
AFASTAMENTO FRONTAL
Subseção VI
Art. 51 - O afastamento frontal mínimo das edificações é equivalente a uma
distância fixa definida em função da classificação viária da via lindeira à testada
do terreno, da seguinte forma:
I - vias de ligação regional e arteriais, 4,00 m (quatro metros);
II - demais vias, 3,00 m (três metros).
31
LOTEAMENTO DO BAIRRO PRIMEIRO DE MAIO:
Figura 25 Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
32
POSSIBILIDADES DE USO E OCUPAÇÃO:
1 - Exemplo de loteamento, quarteirão da rua Ampere com, Volts, Ohm e
Nossa Senhora da Glória. Zona ZAR-2
Usos que podem ser instalados:
Comércio varejista de bebidas, de eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo, cursos diversos e centro de treinamento de condutores, atividades complementares em saúde (fonoaudiologia, psicologia, nutricionismo), consultoria, atividade jurídicas e contábeis, informática e tecnologia da informação, serviços técnicos profissionais, serviços domésticos, chaveiros, restauração e manutenção de artigos e equipamentos pessoais e domésticos, residências assistenciais (orfanato, conjunto residência para idosos), residências, cooperativas, associações, biblioteca, parque público, templo religiosos, creche, lavoura temporária e permanente, entre outros.
Exemplo de taxa de ocupação do lote 15A:
LOTE: 20A ÁREA DO TERRENO: 250m² ( 15 x15 x 14 x 17 ) QUOTA: 45 ÁREA MÁXIMA A SER CONSTRUÍDA: 250m² ( sem outorga onerosa) ÁREA MÁXIMA A SER CONSTRUÍDA: 325m² ( com outorga onerosa) NÚMERO MÁXIMO DE UNIDADES A SEREM CONSTRUÍDAS: 5 ( sem outorga onerosa) Máximo de 50m² cada unidade se forem construídas 5 unidades NÚMERO MÁXIMO DE UNIDADES A SEREM CONSTRUÍDAS: 5 ( com outorga onerosa) Máximo de 65m² cada unidade se forem construídas 5 unidades
33
No entanto, esses cálculos não são válidos porque há de ser considerar os
afastamentos laterais e frontais. Se tivermos uma edificação de apenas 1
pavimento, cuja altura chega a 4m, a lei não obriga afastamento lateral.
Mesmo assim, se colocarmos afastamentos laterais de 1,5m, para no caso de
abrir janelas, além do afastamento frontal de 3 metros da via coletora,
teremos uma área passível de construção de 130m², conforme o esquema
abaixo:
Desta forma, com a área de construção reduzida poderemos ter, por exemplo,
2 casas geminadas cuja projeção é de 65m², mas a área construída sendo de
125m² cada ( 65m² no primeiro pavimento e 60m² no segundo pavimento) o
que caracteriza uma residência bem ampla, sem que haja outorga onerosa.
34
2 - Exemplo de loteamento, quarteirão da rua ladainha com, Volts, Badaró
Júnior e Nossa Senhora da Glória. Zona ZAR-2
Usos que podem ser instalados:
Academia de ginástica, serviço de esterilização, laboratório fotográfico,
atividades de atenção a saúde humana (fisioterapia, enfermagem), atividades
odontológicas, centro de pesquisa, atividades médicas especializadas, posto
de vacinação, escolas (ensino médio, fundamental, profissionalizantes), entre
outros.
LOTE: 20A ÁREA DO TERRENO: 190m² (15,0 x 15,0 x 12,0 x 11,0) QUOTA: 45 ÁREA MÁXIMA A SER CONSTRUÍDA: 190m² ( sem outorga onerosa) ÁREA MÁXIMA A SER CONSTRUÍDA: 247m² ( com outorga onerosa) NÚMERO MÁXIMO DE UNIDADES A SEREM CONSTRUÍDAS: 4 ( sem outorga onerosa) Máximo de 61,75m² cada unidade se forem construídas 4 unidades NÚMERO MÁXIMO DE UNIDADES A SEREM CONSTRUÍDAS: 4 ( com outorga onerosa) Máximo de 47,50m² cada unidade se forem construídas 4 unidades
35
No entanto, esses cálculos não são válidos porque há de ser considerar os
afastamentos laterais e frontais. Se tivermos uma edificação de apenas 1
pavimento, cuja altura chega a 4m, a lei não obriga afastamento lateral.
Mesmo assim, se colocarmos afastamentos laterais de 1,5m, para no caso de
abrir janelas, além do afastamento frontal de 3 metros da via coletora,
teremos uma área passível de construção de 83m², conforme o esquema
abaixo:
Desta forma, com a área de construção reduzida e com o limite de número de
pavimentos temos lotes com residências unifamiliares caracterizando o tipo
de ocupação do bairro Primeiro de Maio.
36
Apesar de a lei restringir a quantidade de unidades e a área máxima de
construção de cada unidade deve-se ainda levar em conta os afastamentos
obrigatórios o que faz diminuir ainda mais o tamanho das unidades. Desta
forma, os empreendedores, em casos de projetos multifamiliares, aumentam a
área de cada unidade e constroem menos unidades. Outra estratégia é a
compra de lotes circunvizinhos para um único empreendimento. Na região da
Savassi, por exemplo, esse tipo de intervenção vem ocorrendo
constantemente. Há a junção de lotes vizinhos de forma a aumentar a área do
terreno e com isso há possibilidade de se projetar apartamentos maiores e
edifícios com muitas unidades.
No bairro Primeiro de Maio, no entanto, por se tratar de uma região com
adensamento restrito com ADE específica as edificações não podem
ultrapassar 2 pavimentos o que diminui o adensamento da região em
comparação á outros lugares da cidade principalmente para que não haja
sobrecarga na infraestrutura desse bairro considerado de classe média baixa.
Já que o número máximo de pavimentos do bairro é 2, dificilmente teremos
uma edificação com altura maior que 12m, ou seja, a fórmula para cálculo de
afastamento lateral não será usada para o bairro Primeiro de Maio, no
entanto, há que se levar em conta os afastamentos frontais das vias.
Pensando na flexibilização do projeto recomenda-se afastamentos laterais de,
no mínimo 1,5m, para aberturas de janelas mesmo que no projeto inicial não
esteja previsto esquadrias.
Através da visita à campo foi possível perceber algumas edificações
construídas de forma inadequada já que não segue a legislação vigente,
principalmente nos becos da vila. Nas entrevistas realizadas alguns
moradores indicaram que essa irregularização se deve à falta de recurso
financeiro dos moradores para contratar um projetista ou técnico capacitado
ou ainda por se tratarem de construções que passaram por reformas
administradas pelos próprios moradores onde, muitos deles, não possuem
conhecimento a respeito das leis de uso e ocupação do solo da cidade.
37
Percepção dos moradores
Entrevista 1
Figura 26- Mapa mental. Sexo feminino 61 e sexo feminino 28
A senhora de 61 anos, entrevistada, declara gostar muito de morar no bairro
devido ao fato de estar lá desde que nasceu. Ela comenta um pouco dá
evolução do bairro: conta que no início de sua criação ele “era mato”, de difícil
acesso, constantemente inundado pelo rio e com um matadouro. Ele recebeu
melhoramentos ao longo do tempo, se tornou Vila Operária e depois Primeiro
de Maio (cerca de 47 anos atrás). As casas hoje são de meio-lote e os
primeiros terrenos foram doados pela prefeitura.
Tanto a senhora, quanto sua filha encaram o bairro Primeiro de Maio como a
região das ruas elétricas e consideram o restante como favelas que foram
sendo criadas ao redor do bairro e onde hoje se concentra a violência. No
bairro, as pessoas são solidárias, amigas, formando uma grande família.
Ao confeccionar o mapa, elas começam pelas ruas elétricas (o bairro de fato) e
destacam alguns limites importantes, a partir dos quais começam os becos e
38
as favelas: o posto de saúde (à esquerda, entre as Ruas Ampère e Ohm), a
Rua Ladainha (acima), a linha de metrô (à direita, onde acabam as Ruas
Badaró Júnior, Berilo, Campinas – atual Padre Cyr Assunção – e Ampère) e a
Rua A (abaixo).
A Igreja Santo Antônio é o limite com o bairro Providência. Logo, parte da Rua
Ladainha pertence ao Primeiro de Maio e parte, ao Providência.
Comentam que a Rua A era um antigo “faroeste” devido ao tráfico de drogas e
ao grande número de mortes. Hoje, entretanto, a maioria dos criminosos dessa
região já morreram ou estão presos.
Entrevista 2
Figura 17 - Mapa mental. Sexo feminino 31
A moradora entrevistada, apesar de sentir medo de morar no bairro devido ao
alto índice de criminalidade, não deseja se mudar, já que o Primeiro de Maio
possui boa localização na cidade (fica perto do centro) e todos os seus
serviços/comércio internos ficam próximos uns dos outros e das residências.
Além disso, todo mundo se conhece, o que cria um clima de vizinhança. Além
disso, ela destaca que a violência no bairro começou há apenas 10 anos e que
ela atinge apenas quem está envolvido com o crime, ainda que esteja presente
em todo o bairro.
39
Ao confeccionar o mapa, ela começa pelo desenho da Igreja Santo Antônio e
de sua praça e a toma como referência por ser um antigo elemento do bairro.
Ela comenta que essa praça há um tempo atrás era o local de concentração
cultural do bairro (festas, eventos) e ponto de encontro dos moradores, mas
hoje, devido ao seu abandono e falta de manutenção, ela não é mais
frequentada. Os eventos passaram a acontecer nas próprias casas do
moradores ou nos bares. Ela comenta também a disposição das edificações,
“coladas” umas nas outras, a grande quantidade de bares existentes no bairro
(“um do lado do outro”) e a concentração de comércio na Rua Ladainha.
Menciona a Av. Cristiano Machado como foco de inundação do bairro.
Entrevista 3
Figura 28 - Mapa mental. Sexo feminino 16
Gosta muito de morar no bairro, pois ele é movimentado, possui bastante
comércio, lugares para sair e as pessoas gostam de visitá-lo. Ela destaca a
frequente realização de bailes nas casas dos moradores ou no salão de festas
do bairro, bem como de eventos na rua (pagode, etc.). Ela destaca o costume
de frequentar o Parque Ecológico Primeiro de Maio e o trata como local de
convívio social, de reunião de moradores. Ao confeccionar o mapa, ela confere
destaque à igreja.
40
Entrevista 4
Figura 29 - Mapa mental. Sexo feminino 15
Gosta de morar no bairro, pois ela foi criada no bairro e todos os seus parentes
nele residem. Todos são respeitados por serem antigos no bairro e os vizinhos
são amigos. Além disso, existe muito comércio (Rua Ladainha), o elimina a
necessidade de ir para outros lugares fazer compras. Ela possui grande medo
da violência, comenta inclusive que os criminosos andam exibindo armas, e
declara que “se não tivesse violência, o bairro seria perfeito”.
Ao confeccionar o mapa, ela comenta a disposição das casas, com ausência
de afastamentos, e começa por sua casa. Destaque para a rua desenhada
(Rua Ladainha): maior largura, inclusive de mão dupla, que permite a
passagem de ônibus, tipologia de via pouco frequente no bairro. O desenho
mostra ainda que apesar da rua ser essencialmente comercial, existem
edificações residenciais também.
41
Entrevista 5
Figura 30 - Mapa mental. Sexo feminino 21
Declara que o bairro tem um pouco de tudo, é bem diversificado, e que é muito
perigoso, mas que os moradores, quem está dentro do bairro, já se acostumou
com a violência (ela é encarada como um fato social normal, cotidiano) . Não
deseja se mudar e como causa disso, ela destaca a existência de muitas
pessoas “bacanas” e humildes, as amizades com os vizinhos, o convívio de
muitos anos, o conhecimento dos limites de onde pode ir e onde não pode,
onde é perigoso.
Ao confeccionar o mapa, ela foca na Rua Ladainha (Principal), na Igreja Nossa
Senhora da Glória e na concentração de comércio e de bares. Comenta a
existência de casinhas “coladas” e com cobertura de laje.
Análise
De acordo com as entrevistas e os mapas mentais realizados em campo no
bairro Primeiro de Maio, pode-se perceber que a maioria dos residentes do
bairro são antigos moradores que acompanharam de perto as mudanças
ocorridas durante os anos. Principalmente a mudança com a chegada de uma
massa de pessoas que foram se instalando em locais nem sempre muito
apropriados, resultando na configuração que se tem hoje das vilas e favelas do
bairro. A criminalidade, por sua vez, aumentou, pois muitas vezes a presença
desse assentamento massivo da vila, representou o limite para a ação da
polícia e das regras vigentes em geral da cidade.
Outro aspecto relevante apontado pelos moradores foi à presença no bairro de
pontos de encontro, como a praça em que se localiza a igreja Santo Antonio.
42
Antigamente esse espaço era local de festas e eventos culturais em geral.
Além disso, a boa localização do bairro na cidade e a presença de muito
comércio e serviço dentro do próprio bairro e em suas proximidades são fatores
marcantes, para que esses moradores se identifiquem com o local, e gostem
de morar lá. A maioria dos entrevistados alega não querer sair do bairro, pois
além disso, eles tem entre eles um sentimento de vizinhança e a amizade.
Espaços públicos
Há no bairro Primeiro de Maio espaços livres e públicos, em que a apropriação
por parte dos moradores ocorre de forma diversa. Além dos espaços do bairro,
essa apropriação se estende para os bairros vizinhos, como o bairro
Providência primeiramente e depois o bairro Minaslândia, construindo uma
relação forte entre os moradores dos diferentes bairros, de acordo com o
sociólogo Frank, como a praça que foi requalificada pelo orçamento
participativo entre o bairro Primeiro de Maio e Minaslândia, a qual é utilizada
pelos moradores desses diferentes bairros.
O antigo espaço cultural bar calabouço foi um local de referência cultural e
política para o bairro Primeiro de Maio e para a cidade de Belo Horizonte, o bar
se localizava na praça Santo Antônio. Local em que se organizaram
importantes feiras de cultura popular da região norte, além de shows e eventos
em geral. As pessoas deram, dessa forma, ao espaço diferentes aspectos.
Outro espaço público importante para o bairro é a praça Troca-égua, em que
ocorreram muitas seções de cinema e apresentações de grupos de quadrilha e
a típica folia dos Reis. Foi nesse local também que as pessoas se organizavam
para fazer reinvidicações políticas.
Levando em consideração esses aspectos que foram citados pelo sociólogo
Frank, pode-se perceber que a apropriação dos espaços públicos era mais
intensa e presente em épocas anteriores, pois atualmente apesar de ainda
haver feiras de cultura, e a folia dos Reis, esses eventos são mais esporádicos.
No entanto a praça que foi requalificada é utilizada com freqüência,
principalmente a quadra que está sempre sendo usada pelos jovens, modelo
para outras praças que precisam de reformas, pois se encontram degradadas e
43
inutilizadas. No Beco Roseiras com o Beco dos Santos, por exemplo, já foram
feitas obras de intervenção pela prefeitura, em que foram retirados do local os
moradores e construída uma pequena praça, em que se percebe que o espaço
é inutilizado.
Relação entre os cursos d’água e a ocupação
O bairro Primeiro de Maio está situado na
bacia hidrográfica do Onça e da Pampulha,
onde se tem respectivamente, próximo ao
bairro, os ribeirões de mesmo nome.
Devido à malha retilínea, que normalmente
não acompanha as curvas de nível, à
inadequada ocupação do solo e à
inexistência de áreas permeáveis, podem-se
observar possíveis pontos de alagamento,
empoçamento e problemas gerados devido
ao grande fluxo e velocidade das águas nos
dias de chuva. Outro problema que agrava isto é o lixo que é jogado no meio
das ruas e becos.
Na encosta oeste do bairro, onde se situam as ruas Ampère, Ohm, Padre Cyr
Assunção e Berilo, podem-se observar pequenos pontos de empoçamento
devido às reentrâncias do relevo, assim como a inexistência de boca-de-lobo.
O mesmo se verifica no outro lado da encosta, no Beco Itapena, Castro e na
extremidade pertencente ao bairro Primeiro de Maio da Rua Maria Ortiz. Estas
informações foram obtidas através da leitura do mapa de curva de nível da
região (vide figura 12). Entretanto, através de entrevista com moradores locais,
elas não foram confirmadas. Segundo eles, o principal ponto de inundação e
que também foi averiguado pelo grupo, é ao longo da Avenida Cristiano
Machado, o que é justificado por se situar em um vale longo correspondente ao
ribeirão Pampulha, que foi canalizado para a construção da avenida. Isto é
agravado pela ausência de áreas permeáveis.
Figura 31: Localização do Bairro Primeiro de Maio em relação às bacias de Belo Horizonte.
44
As ruas ao longo dos vales curtos, e estes por serem um local de destino
natural da água de chuva, apresentam grande fluxo d’água, sendo
recomendável o uso de bocas-de-lobo. Isso é verificado bem adaptado na Rua
Sônia e mal adaptado no Beco Ladainha, onde há apenas um no seu ponto
mais baixo.
Muitos becos na Vila Primeiro de Maio, como, por exemplo, o beco ladainha,
Marechal Rondon e a Rua Monte Rei são muitos íngremes, o que já confere,
em dias não-chuvosos, dificuldades de locomoção, o que é agravado em dias
chuvosos pelo grande fluxo de água.
45
SÍNTESE
Residencial pouco adensada Residencial renda média Comercial grande porte
Alto índice de residência sem banheiro Comercial local/ poucas residências
Vila Primeiro de Maio Residencial muito adensado
Área de risco (pedreira) Área inundável
Residencial maior renda Comercial local Área perigosa (drogas)
Figura 32: Setorização do bairro Fonte: Mapa elaborado pelo autor
46
A partir do estudo do Primeiro de Maio, da análise de sua distribuição espacial
e do levantamento de seus dados sócio-econômicos é possível dividir o bairro
em algumas áreas com características peculiares e marcantes, ainda que ele
seja relativamente homogêneo. A figura atrás apresenta uma hipótese para a
essa setorização.
As áreas de comércio municipal e residencial de maior renda
correspondem às regiões comerciais do bairro. A área de maior renda marcada
ao longo das ruas Ladainha e Volts concentram os estabelecimentos de
abrangência local, tais como padarias, mercearias e lojas de roupas. A Rua
Ladainha se encontra em uma crista, que é naturalmente adequada a
ocupações dessa natureza. A Rua Volts, por outro lado, se localiza em uma
encosta e provavelmente desenvolveu esse tipo de atividade devido à sua
proximidade às grandes vias de acesso ao bairro. A mancha amarela, ao longo
da Av. Cristiano Machado, é caracterizada por comércios/serviços de
abrangência municipal e que não são demandados com frequência por um
mesmo consumidor, como oficinas e lojas de materiais de construção. Ela se
localiza, de forma adequada, ao longo de um vale contínuo. As demais áreas
do bairro são predominantemente residenciais e se encontram, em geral, em
encostas.
A área residencial pouco adensada do mapa corresponde a uma região
cujos lotes são maiores, permitindo maiores afastamentos e áreas livres com
vegetação em seu interior. Além disso, podem ser identificados lotes vagos ao
longo das ruas. Junto à Avenida Cristiano Machado observa-se a existência de
equipamentos públicos de grande porte, como a estação de metrô Primeiro de
Maio e a Escola Estadual Professor Hilton Rocha, os quais ocupam grandes
lotes com pequena porcentagem construída.
A área com alto índice de residência sem banheiro do mapa além de
corresponder à região com maior número de residências sem banheiro é uma
das menores rendas médias por responsável pelo domicílio do bairro. Dessa
forma, as construções são bem mais simples, sem acabamento e com graves
problemas de saneamento básico, constituindo uma das áreas mais precárias
do bairro.
47
A área da Vila Primeiro de Maio corresponde às famílias com
menores rendas da região. As construções são precárias e justapostas, sem
afastamentos, e a presença de uma grande quantidade de becos favorece o
alto índice de criminalidade. A linha cinza no mapa indica a área mais
perigosa do Primeiro de Maio, correspondente ao Beco Ladainha, que culmina
na chamada Praça Troca Égua, onde existe intenso tráfico de drogas. A
mancha vermelha demarca a área de risco da Vila devido à pedreira, a qual
não é passível de ocupação e de onde muitas famílias deverão ser removidas.
A área residencial de renda média baixa trata-se de uma região muito
adensada, onde as construções não possuem afastamentos, nem
acabamentos, ainda que possam ser identificadas casas pontuais com
melhores revestimentos. Nessa região, as vias obedecem a um traçado
geométrico e os becos são praticamente inexistentes.
A área residencial muito adensada corresponde a uma área com
a presença de famílias na maioria de baixa renda que fazem parte da Vila
Primeiro de Maio. As residências são simples, muito próximas umas das outras
e, e grande maioria não possui banheiro, cerca de 5,1 a 10%, de acordo com o
IBGE, senso de 2000.
As áreas inundáveis representam locais que durante os períodos de
chuvas alagam e trazem transtornos para o bairro e a região.
Por fim, a área residencial de alta renda demarca a região de
moradores de maior poder aquisitivo. Dessa forma, as casas possuem melhor
acabamento, ainda que os afastamentos não estejam presentes. As vias
continuam geometrizadas. A concentração desse perfil de família nessa região
pode ser explicada pelo maior custo do terreno devido à proximidade com a
área comercial do bairro. Outra hipótese é que os moradores sejam donos dos
estabelecimentos da área citada.
48
Proposição
Alargamento do beco Ladainha
Horta comunitária Contenção de encosta da Pedreira
Espaço Público – Praça, espaço para shows locais, feirinhas
Praça e criação de um marco referencial.
conjunto habitacional para assentamento de família removidas de suas casas.
Direção do fluxo de automóveis
Remoção de moradores para a criação de uma praça
Remoção e revitalização da praça
Fgura 33:Propostas de intervenção
Fonte: Mapa elaborado pelo autor
49
Propostas
A partir dos problemas observados em campo e através de entrevistas e
pesquisas, pode-se perceber que o bairro Primeiro de Maio apresenta grandes
problemas com relação à infra-estrutura. A maioria das ruas são muito estreitas
e impermeabilizadas, as quais dificultam o trânsito de automóveis, e ocasionam
alagamentos em algumas áreas de vale, em que as poucas áreas verdes
agravam isto. Além disso, percebe-se a carência de aparatos urbanos, como
iluminação, lixeiras, bancos e áreas de lazer e convívio.
Grande parte do bairro se situa em encostas em que às vezes apresenta
grandes declividades, acima de 47%, principalmente na Vila Primeiro de Maio.
Essa característica é desfavorável tanto para o fluxo de pessoas como de
automóveis, tornando muitas vias inacessíveis. Isso é acentuado pelo
estrangulamento dos becos. Além disso, essa configuração confere ao bairro
certa insegurança, uma vez que o fluxo de pessoas fica reduzido, assim como
a atuação de policiamento no local, favorecendo a criminalidade.
Apesar de o bairro estar situado em um local estratégico da cidade, próximo a
grandes avenidas como a Cristiano Machado e a estação de metrô. O bairro se
encontra de certa forma isolado, uma vez que não há uma conexão direta
dessas com o bairro, o que configura mais como barreira/ limite do que vias de
acesso rápido e fácil para os moradores.
Analisando esses problemas e condicionantes do bairro, pode-se elaborar
proposições que melhorem a vida dos moradores e da cidade, proporcionando
maior segurança, acessibilidade, lazer, etc.
Primeiramente tem-se como proposta a contensão da encosta da Pedreira,
situada no fim do beco Lindolfo Faria. Isso porque os moradores que se
encontram próximos a área, principalmente em épocas de chuva, se sentem
ameaçados devido aos possíveis deslizamentos. A contensão seria feita por
grampeamento das rochas evitando o deslocamento dessas. Dessa forma, não
seria necessária a remoção das pessoas que residem lá atualmente, elas
poderiam permanecer na área com segurança.
Outra proposta é tornar mais acessível a via demarcada no mapa que se
localiza no beco Ladainha que culmina na chamada Praça Troca Égua, onde
50
existe intenso tráfico de drogas. Pretende-se torna o beco mais acessível com
a criação de escadas com corrimãos, facilitando a mobilidade dos pedestres
que mesmo em dias não chuvosos é dificultada pela grande declividade. Além
disso pretende-se torna-lá movimentada, através de uma boa iluminação
durante a noite, e colocar mobiliários urbanos que propicie que esta se torne a
sala comunitária da vizinhança que reside neste beco. Através destas
estratégias pretende-se também inibe as práticas criminais no local.
Na praça Troca Égua pretende-se ampliá-la, tornando-a uma praça
pública de convívio e lazer. Isso seria feito através da colocação de bancos,
vegetação, tonando-a um local agradável e por isso de permanência dos
moradores da região. Para tornar isso possível, uma vez que ela se configura
atualmente pela presença de práticas criminais, uma boa e abrangente
iluminação seria ponto de foco de atuação.
No entroncamento da Rua Ladainha com Américo Martins e Joana América
tem-se a formação de um ponto nodal, que se encontra confuso, uma vez que
não se tem clara a ligação e visualização do que ocorre ao longo dessas. Por
isso propõe-se o tratamento disso, através de uma rotatória que integra essas
três vias com a Rua Zilá Silveira. Com isso o caráter de sela que essa região
apresenta seria potencializado, pois favoreceria a comunicação do Primeiro de
Maio com os bairros do entorno. Nessa grande rotatória de ligação, que é uma
das áreas mais altas do bairro, seria criada uma praça com a presença de um
marco central, que facilita e evidencia a leitura do bairro, tanto para os
moradores como também para as pessoas que não conhecem a região. Além
disso, a criação de uma grande área pública em uma das principais avenidas
de comércio do bairro proporcionará uma maior integração tanto dos
moradores do bairro como os do entorno.
Na rotatória que liga a Cristiano Machado ao bairro, pretende-se
fazer um grande espaço público, multifuncional, no qual poderia ocorrer
eventuais feiras, shows, ou servir no dia-a-dia como área de entretenimento e
lazer. Ela é cortada pela Cristiano Machado, que a subdivide em duas partes,
em que essas atividades poderiam se realizar. É uma área estratégica, por ser
de fácil acesso para a população em geral, além de ser um convite para
freqüentarem o bairro, e utilizarem seus serviços.
51
No Beco Roseiras com o Beco dos Santos, onde já foram feitas obras de
intervenção pela prefeitura, foram retirados do local os moradores e construída
uma pequena praça, em que se percebe que o espaço é inutilizado. Por isso
propõe-se a revitalização dessa com a criação de espaços mais atrativos,
arborizados e iluminados. Dessa forma, essa área seria mais freqüentada pelos
moradores, tornando-a mais segura.
Há ao redor da praça muitas casas, e uma das moradoras reclama por falta de
privacidade, por isso essa intervenção seria uma ação conjunta com os
moradores do local, para garantir que seus interesses sejam assegurados. A
intenção é de torná-la: “uma sala de estar, não só para a interação cotidiana
como também para as ocasiões especiais, de modo que as atividades
comunitárias e as atividades importantes para a comunidade local possam ser
realizadas ali.” HERTZBERGER, Herman, (1996). Lições de arquitetura. P.59.
Essa valorização do espaço público como espaço comum se baseia
principalmente na idéia de que os moradores têm interesses e necessidades
comuns. Há uma constante busca para que a arquitetura, moradia tenham
reciprocidade com o espaço público, para que elas se relacionem e não se
tornem elementos isolados e interdependentes.
Em parte do bairro a linha de metrô deixa de ser subterrânea, a noroeste
do bairro próximo a rua Júlio Verne e a nordeste próximo a rua Cinco de Julho,
o que conforma para os moradores uma grande barreira física. A ligação das
áreas que o metrô subdivide se torna perigosa e muitas vezes inacessível. Há
ao lado da linha, grandes corredores murados em que se formam áreas
deterioradas propícias às atividades ilícitas. Pretende-se superar esse
condicionante, desfavorável para a configuração urbana, através da atribuição
a esses grandes corredores de uma nova atividade urbana, e que ela não seja
apenas uma área de passagem.
Levando em consideração o que foi observado no bairro, a criação de uma
horta comunitária intensificaria o sentido de coletivo e identidade entre os
moradores. A horta poderia ser subsidiada por uma ONG criada por eles, que
poderiam nessa atividade incrementar a renda familiar. Dessa forma a
presença dos próprios trabalhadores, incentivaria a formação de um local não
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só de passagem como também de encontro para os comerciantes e curiosos,
aumentando assim, o fluxo de pessoas.
Outra proposta é direcionar o fluxo de automóveis no bairro , tornando
algumas ruas de sentido único, pois como elas são muito estreitas, torna-se
complicado e muitas vezes caótico o transito de veículos e pessoas. Por isso a
intenção é diminuir o fluxo de automóveis e favorecer o fluxo de pessoas,
aumentando, dessa forma, algumas calçadas. Visa-se uma valorização do
pedestre em relação aos motorizados.
Quadro síntese dos problemas, condicionantes e potencialidades observados no bairro Primeiro de Maio.
Problemas Condicionantes Potencialidades
Ruas muito estreitas, que impossibilitam o trânsito de automóveis, principalmente na Vila.
Grande declividades, acima de 47% principalmente na Vila.
Presença de áreas não ocupadas, ou pouco adensadas. Ex. Áreas próximas a linha de metrô e à Estação Primeiro de Maio.
Impermeabilização excessiva do solo.
Presença do anel rodoviário, da Av. Cristiano Machado, da Via 240 e o metrô, como grandes barreiras/limites.
Presença marcante de movimentos culturais e feiras de cultura.
Poucas áreas verdes e sombreadas.
Áreas degradadas e de risco são ocupadas por moradores
Ligação de vias locais como a rua Jorge Francisco e a Rua dos Trabalhadores com a Cristiano Machado.
Deslizamento de rochas na encosta da Pedreira.
Linha de metrô deixa de ser subterrânea, próximo a Rua Júlio Verne e rua B.
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Proposta Prioritária: Praça Troca Égua
Julga-se a revitalização e
ampliação da praça troca
égua como prioritária, uma
vez que das propostas
apresentadas é a que mais
contribuirá positivamente
para o desenvolvimento do
bairro, principalmente
socialmente. Através desta
proposta pretende maior
controle das práticas
criminais, que é intenso no local, assim como realçar o caráter histórico-cultural
do bairro, dos moradores e do local específico, que de acordo como o
sociólogo Frank de Paula já ocorre. A intenção é potencializar as
manifestações culturais e feiras de cultura que anos atrás acontecia mais
frequentemente, assim como gerar um ambiente “espaçoso” de lazer e
agradável dentro da Vila Primeiro de Maio, uma vez que a maioria dos
moradores desta não encontra isto em casa.
Entretanto para que
isto seja possível
seria necessário a
remoção de três
casas (figura 35)
onde estas famílias
seriam realocadas
para um conjunto
habitacional a ser
construído na Rua
Vitorino Cerqueira
próximo a Escola
Estadual Hilton
Rocha (ver mapa de
Figura 35 Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 34: Vista da Praça Troca Égua
Fonte: GoogleMaps
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proposição- figura 33). Pretende-se fechar uma pequena parte da rua
adjacente a rotatória, mantendo a antiga praça e incorporando esta a nova
praça. Entretanto para facilitar o fluxo de carro na região pretende-se criar uma
nova rua a noroeste a futura praça (figura 36).
O objetivo é tornar
esse local uma praça
pública de convívio,
lazer e exacerbação
do conhecimento e da
cultura. Isso seria feito
através da colocação
de bancos,
playground,
vegetação, boa
iluminação e
arquibancada com
espaço para
realização de teatro,
shows e demais
manifestações. Dessa
forma ela seria tanto um local agradável e de permanência dos moradores da
região assim como um local onde culminam e se manifestam os anseios da
população.
Figura 36. Fonte: Elaborado pelo autor
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CONCLUSÃO
O Bairro Primeiro de Maio é, em geral, habitado por pessoas de classe social
baixa, o que explica a sua aparência pouco organizada e com carência de
manutenção. O bairro apresenta algumas ruas com concentração de comércio
e serviços de âmbito local, que atendem os moradores em suas necessidades
cotidiana. O acesso ao Primeiro de Maio é privilegiado por grandes vias de
tráfego de Belo Horizonte e por duas estações de metrô. Existe uma forte
relação entre os moradores e o sentimento de vizinhança é resultado da
história de luta do Primeiro de Maio.
O bairro, entretanto, necessita de maior investimento em infraestrutura, em
áreas de lazer e em segurança. Dessa forma, as condições de vida dos
moradores melhorariam, bem como a estética da região e o seu
posicionamento frente à cidade.
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BIBLIOGRAFIA
RIBEIRO, Frank de Paula; BENJAMIN, Raquel Côrrea. Primeiro de Maio:
memórias e imagens de um lugar. Belo Horizonte, 2005.
SEPLAN, Superintendência de desenvolvimento da região metropolitana,
Plambel. Plano de Ocupação do Solo da Aglomeração Urbana de Belo
Horizonte - Os sistemas naturais. Belo Horizonte (p.14-34).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em
<www.ibge.gov.br> Acesso em: 06 de maio de 2011.
ANDRÉS, Maurício. Notas sobre o corpo urbano de Belo Horizonte. Revista Fundação JP, Belo Horizonte, v. 5, n. 4, p. 13 - 20. abr.1975. BELO HORIZONTE. Lei n. 7166, de 27 de agosto de 1996. Estabelece normas
e condições para parcelamento, ocupação e uso do solo urbano no Município.
DOM - Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, ano 2, n. 224, p. 1-11, 28
ago. 1996 e legislações posteriores
HERTZBERGER, Herman, (1996). Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes. Tradução de Carlos Eduardo Lima Machado. Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em <www.pbh.gov.br> Acesso em: 06
de maio de 2011.
Notas pessoais da palestra proferida pelo técnico social da Urbel, Davidson e
pelo sociólogo Frank de Paula Ribeiro.
Imagens e fotos de Hudson Nepuceno Maciel, GoogleMaps.
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ANEXOS
Mapas temáticos do Bairro Primeiro de Maio e região. IBGE – senso de 2000.
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