PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL R e l a t o s e E x p e r i ê n c i a s d e Q u e m V i v e d e C u l t u r a
Rodrigo Gava
(ORGANIZADOR)
Allan Gustavo de Sales Tibúrcio
Alice Sanches Melo
Amauri Rocha
Brendow de Oliveira Fraga
Doris Dornelles de Almeida
Eduarda Nogueira Vieira
Fernanda Márcia Souza
José Ricardo Vitória
Magnus Luiz Emmendoerfer
Marcelo Soares Andrade
Patrícia Lima
Rodrigo Gava
Sérgio Lopes
Wescley Silva Xavier
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Rodrigo Gava
(Organizador)
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL
Relatos e Experiências de que Vive de Cultura
1ª edição
Viçosa – MG Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – UFV
(Programa de Educação Tutorial em Administração – PET-ADM) 2014
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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FICHA TÉCNICA
Organizador: Rodrigo Gava
Diagramação: Rodrigo Gava
Capa: Rodrigo Gava e Tomás Carneiro Roland Gava
Acabamento: Rodrigo Gava
© 2014. Todos os direitos reservados - Rodrigo Gava
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos
direitos autorais (Lei nº 9.610). O conteúdo expresso em cada capítulo deste livro é de
responsabilidade exclusiva de seus autores.
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Departamento de Administração e Contabilidade - DAD
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36571-000 - Viçosa, MG - Brasil
Telefones: (31) 3899-2892 / Fax: (31) 3899-2429
Homepages: www.dad.ufv.br / www.pet.ufv.br
FICHA CATALOGRÁFICA
Produção e gestão cultural: relatos e experiências de quem vive de cultura / Organizador: Rodrigo Gava
2014 Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2014.
140p. : il. ; 23cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-66482-06-5 (e-book)
1. Cultura. 2. Produção cultural. 3. Gestão cultural. 4. Programa de Educação tutorial. – Viçosa, Minas Gerais. 5. Desenvolvimento social. 6. Ensino Superior e Estado. I. Gava, Rodrigo, 1970-.
CDD 700
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APRESENTAÇÃO
Em 2009, retornando ao Departamento de Administração e Contabilidade após meu
treinamento de doutorado, tive a oportunidade me colocar à disposição do Colegiado deste
departamento para assumir o Programa de Educação Tutorial em Administração, à época sob
responsabilidade do Prof. Adriel Rodrigues de Oliveira, do qual se afastava.
Naquele momento, minhas impressões sobre o PET tinham vínculos diretos com minha
graduação, momento em que eu, bolsista de Iniciação Científica, frequentava algumas das
atividades do PET organizadas pelos próprios alunos. Mantive, desde então, a imagem de um
espaço privilegiado para estudos e discussões que avançavam frente ao que víamos nas
disciplinas, o que colocava os petianos numa posição de destaque dentre os graduandos.
Cerca de 20 anos depois eu viria a ter a oportunidade de trabalhar com o grupo.
consolidada minha entrada como tutor do PET-ADM, o início foi de muito mais aprendizado
que ensinamentos. Os petianos ralmente eram alunos de destacada dedicação e compromisso
nas atividades que justificam o programa, como será possível ver em detalhes no primeiro
capítulo deste livro.
Considerando a importante missão de fomentar a formação cidadã dos integrantes,
ampliando sua visão de mundo ao considerar temas pouco explorados na graduação, e, assim,
avançar frente à precoce especialização técnica a que costumam ser expostos, é que
chegamos ao tema da cultura.
Como pode ser visto no capítulo que dediquei ao programa, começamos lendo O Povo
Brasileiro, de Darcy Ribeiro, e daí partimos para diversas outras contribuições que iniciaram os
petianos em temas do pensamento social brasileiro sobre nossa realidade histórica. Essa
aproximação à cultura brasileira e suas empressões artísticas vierama culminar no I Seminario
de Gestão Cultural, em 2012.
Neste seminário, vivenciamos uma tarde de discussões sobre a produção cultural local
com vários de seus promotores, à sombra de uma árvore no quintal da Divisão de Assuntos
Culturais, na Vila Gianetti. Esta primeira experiência de aproximação aos produtores culturais
locais ainda contou com quatro palestras que nos encantaram a todos; Amauri Rocha, Patrícia
Lima, Sérgio Lopes e Marcelo Andrade, cujos depoimentos estão aqui registrados.
Mantendo o tema da cultura em nossos planejamentos anuais nos anos de 2013 e
2014, chegamos ao II Seminário de Gestão Cultural, já circunscrito diante de compromissos
assumidos junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Aliás, este e-book também faz parte dos produtos prometidos a esta fundação.
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O livro tem seus capítulos antecedidos pelo Prefácio de Wescley Silva Xavier, cuja
dedicação aos estudos organizacionais relacionados ao marxismo, estética marxista, produção
cultural, produção crítica do espaço e aos estudos históricos, passou a ser parceiro direto de
meus trabalhos de pesquisa e extensão ligados à questão cultural.
Sua chegada ao DAD representou uma ampliação significativa aos interessados nesses
temas. Fortalece-se, assim, pelo meu ponto de vista, o aprofundamento no exercício da crítica
fundamentada, que amplia os limites das percepções enlatadas e superficiais, geralmente
diagnosticadas por uma sequência linear e segura por resultar de numa dinâmica de
pensamento superficial e de fácil apego ao aparente, não a seu emaranhado novelo de
complexidades subjacentes. Meu tempo como tutor no PET-ADM se aproxima do fim, mas a
parceria iniciada nesses momentos de II Seminário já sinalizam para uma agenda de profícua
produção em nossos projetos de pesquisa e extenção no tema.
Seguindo ao prefácio, inauguro o Capítulo I do livro com um resgate das ações do PET-
ADM no tema da cultura, quando aproveito para trazer maiores esclarecimentos sobre o
próprio programa, tanto em âmbito nacional como naquilo que nos caracteriza como o PET-
ADM/UFV. Além disso, procuramos contribuir um pouco com o que marca a produção cultural
em Viçosa. Para tanto, nos dedicamos a um intenso trabalho de codificação e descrição da
produção cultural local a partir do que foi noticiado de 1985 a 2013 no Jornal da UFV e no
Jornal Folha da Mata. Apesar de ser apenas um breve resgate descritivo, o arquivo contendo
todos os dados codificados podem ser acessado na página do facebook do PET-ADM para os
interessados em proceder a novas explorações dos dados. Talvez aí resida uma contribuição
importante para pesquisadores de quaisquer níveis.
O Capítulo II é de autoria do Prof. Magnus, também do DAD, e explora os museus
universitários e a dinâmica das visitações que recebem, especialmente buscando relações
entre suas representações e as implicações para sua gestão em Viçosa. Já a Profª Doris
Dornelles, do Departamento de Dança da UFV, assume a autoria do Capítulo III, com um
emocionante depoimento sobre a (sua) vida de bailarina. Esses três capítulos encerram a
primeira parte do livro, que procura, nessas contribuições, trazer um pouco da UFV na cultura.
A segunda parte é toda dedicada a pessoas diretamente dedicadas à produção cultural
local, quando são expostos seus relatos e experiências. São aqueles que, de fato, vivem de
cultura, seja por amor ou, além disso, por ter adotado a produção e ou realização de bens
culturais e artísticos como profissão.
Eessa parte se inicia com o relato de Patrícia Lima, cuja trajetória de vida artística
guarda tamanha riqueza que é inimaginável, até este momento, não haver um resgate de seu
trabalho. Sabendo da raridade de seu tempo disponível, optamos por entrevista-la, o que foi
realizado com o apoio de um gravador que garantisse a integridade do depoimento. Para a
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elaboração deste Capítulo IV tivemos o apoio de José Ricardo Vitória e Bárbara Calçado Lopes
Martins, a quem coube todo esforço de transcrição e redação final do relato, que, finalizado,
foi encaminhado para a devida validação de Patrícia.
A mesma dinâmica decidimos proceder com Marcelo Andrade, no Capítulo V,
contando, neste caso, com o apoio de Brendow de Oliveira Fraga e José Ricardo Vitória.
Marcelo tem larga contribuição com a questão cultura, com atuações nos dois lados,
mantendo ativa agenda de produção e de atuação ao longo de sua vida. É um grande orgulho
podermos ter aqui registrado seu depoimento.
O Capítulo VI foi de autoria de Sérgio Lopes, amigo de infância que mantém a arte de
conjugar a medicina com uma consistente e crescente produção cultural por meio do ViJazz e
da Vi Produções. Participar de tais eventos sempre me faz agradecer pela possibilidade de
poder frequentar shows em Viçosa da qualidade musical que tem marcado o ViJazz. Meu
desejo é de que mantenha sua habilidade de conciliador profissional, pois as duas profissões
que assumiu são carências há muito tempo presentes em Viçosa.
Ainda nas discussões no DAD sobre o formato do livro e do seminário, entre o Prof.
Magnus, o mestrando José Ricardo Vitória e eu, houvi pela primeira vez sobre o trabalho do
Allan Tibúrcio frente ao Centro de Pesquisa e Promoção Cultural (CEPEC), ONG sediada no
Município de Araponga/MG, a cerca de 60 km de Viçosa. Ao participar da palestra dele no II
Seminário, fiquei impressionado com quanta ação de valorização da cultura do povo da Serra
do Arrepio e proximidades. Este foi o conteúdo do Capítulo VII, onde consta registrado todo
trabalho do CEPEC para o resgate, a preservação e a divulgação cultural da região, desde 2003.
Deixo aqui meus parabéns e minha admiração pelo trabalho que realizam.
O último capítulo, Capítulo VIII, conta com um breve relato de Amauri Rocha. Amauri
assume a coordenação e direção geral da AMAR Produções, uma equipe de profissionais
especializados em diversas áreas da cultura, com o objetivo de promover o desenvolvimento
da arte e da cultura, a profissionalização do setor e a otimização dos recursos obtidos através
de patrocínios, políticas de fomento e leis de incentivo, principalmente. Sua experiência revela
a riqueza de quem atua nas duas pontas de processos voltados para a captação de recursos
para a promoção cultural, uma vez que tanto auxilia aqueles que procuram apoio para buscar
os recursos quanto é concultor do próprio Ministério da Cultura nas avaliações para a
concessão dos recursos. Seu papel na produção local e extra local já acumula destaques pelos
êxitos como pode ser percebido não só em seu depoimento como de Sérgio Lopes, sobre o
caminho do sonho de se fazer o ViJazz.
Para maiores conhecimento e busca de informações sobre os autores, após o capítulo
VIII deixamos um resumo descritivo de cada um deles, assim como seus contatos.
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Para finalizar, é já assumindo o risco de me olvidar de nomes, faço questão de deixar
especiais agradecimentos aos estimados petianos envolvidos com o tema da cultura, de seu
início até a realização do II Seminário. São eles, Anderson de Oliveira Reis, Andira Luiza Felipe
Barreto, Andressa de Paula Felizardo, Brenda Rodrigues Galvao, Brendow de Oliveira Fraga,
Bruna Alves Almeida, Bruno Lima da Silva, Bruno Ribeiro Targaglia, Bruno Rodrigues Lima
Madeira, Cinthya de Freitas Silva, Emanuelle dos Reis Costa, Felipe Rodrigues Cruz, Fernanda
Souza Tibúrcio, Fernando Luiz de Castro, Gabriela Brandao Lopes, Gabriela Cruz Caldeira
Teixeira, Guilherme Guimaraes Reis, Helio Junior Borel Emerick, Humberto Rodrigues
Marques, João Pedro Sobreiro, Jhenyffer de Souza Lima Coutinho, Joao Carlos Oliveira Mota,
Joao Paulo de Oliveira Louzano, Juliana Andrade Cambraia, Laiana Gonçalves Sabioni, Leticia
Moreira Andrade, Lívia Riboli de Oliveira Alves, Lucas Durso Neves Caetano, Luiz Felipe Leite
dos Reis, Lusvanio Carlos Teixeira, Maria Julia Clemente Vecchi, Marina De Carvalho Almeida,
Pamela Maria Martins de Oliveira, Patrick Guimaraes Figueiredo, Rafael Morais Pereira,
Raphael Araujo Dutra, Sabrina Olimpio Caldas de Castro, Samantha Karine de Oliveira Ferreira,
Samuel Teixeira Lopes, Tamiris Cristhina Resende da Silva, Thais de Souza Amaral, Thiara
Pereira Chiarello e Veronica Silva Ricardo. Adicionou aqui o ex-petiano e hoje meu orientado
de mestrado Marcelo de Oliveira Garcia, sempre disponível e solícito,e specialmente nos
momentos em que o tempo corre mais do que conseguimos acompanhar.
Também agradeço muito a todos que participaram como palestrantes nas duas edições
do Seminário e aos autores que aqui possibilitaram a reunião dos depoimentos. Dentre os
palestrantes, gostaria de destacar a participação de Jeane Doucas (Casa da Mãe Jeanne) e
Carlos Marques (Musical Box). Adicionais agradecimentos à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura
(PEC) e à Divisão de Assuntos Culturais (DAC), especialmente ao Prof. Gumercindo Souza Lima
e Geraldo Leandro da Silva Filho, dos respectivos setores.
Esta iniciativa teve o objetivo de tornar mais visível este trabalho, algo cumprido com
os benefícios de seu formato digital (e-book), no entanto, nossa expectativa é de que
possamos ampliar o resgate de novos depoimentos ainda não contemplados e lançar, em
versão impressa, uma segunda edição.
Desejo uma boa leitura!
Rodrigo Gava Organizador
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SOBRE O ORGANIZADOR
Rodrigo Gava
Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV) (2009); Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2000); Especialista em Gestão Estratégica de Marketing pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) (1997) e Graduado em Administração pela UFV (1995). Preside a Comissão Permanente de Propriedade Intelectual da UFV (CPPI), Coordena a Rede Mineira de Propriedade Intelectual (RMPI) e é Membro Nato do Conselho de Tecnologia e Inovação (CT&I), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FIEMG, e Tutor do Programa de Educação Tutorial em Administração da UFV (PET-ADM/UFV). É Professor do Departamento de Administração e Contabilidade (DAD) da UFV, onde leciona e pesquisa na área de Administração, com ênfase em Organizações, Inovação e Desenvolvimento e Metodologia de Pesquisa Aplicada à Administração.
Email: [email protected]
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SUMÁRIO
PREFÁCIO
Wescley Silva Xavier.............................................................................................................. 09
PARTE I – UM POUCO DA UFV NA CULTURA
O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO (PET-ADM/UFV) E O TEMA DA CULTURA: ENTRE DISCUSSÕES TEÓRICAS E O REGISTRO DA PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL
Rodrigo Gava ....................................................................................................................... 14
MUSEUS UNIVERSITÁRIOS E VISITAÇÕES: REPRESENTAÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA A SUA GESTÃO EM VIÇOSA (MG) – BRASIL
Magnus Luiz Emmendoerfer, Alice Sanches Melo, Fernanda Márcia Souza e Eduarda
Nogueira Vieira .................................................................................................................... 36
VIDA DE BAILARINA
Doris Dornelles de Almeida .................................................................................................. 49
PARTE II – RELATO E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
PATRÍCIA LIMA E O NÚCLEO DE ARTE E DANÇA
José Ricardo Vitória, Patrícia Lima e Bárbara Calçado Lopes Martins ................................. 61
MARCELO ANDRADE
Brendow de Oliveira Fraga, Marcelo Soares Andrade e José Ricardo Vitória ...................... 82
VIJAZZ, DO SONHO À REALIDADE
Sérgio Lopes ......................................................................................................................... 97
O CEPEC E AS AÇÕES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO
Allan Gustavo de Sales Tibúrcio e José Ricardo Vitória ........................................................ 121
ELABORAÇÃO, CAPTAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS: UM RELATO PESSOAL
Amauri Rocha ....................................................................................................................... 134
SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................... 137
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PREFÁCIO
Wescley Silva Xavier
O campo da administração tem se mostrado cada vez mais aberto à incorporação de
temáticas que vão muito além da busca pela eficiência típica em organizações capitalistas.
Essa abertura tem se consolidado como tomada de posição, tanto por permitir a inclusão de
formatos organizacionais historicamente esquecidos, quanto por incorporar temáticas para
além da esfera produtiva. A cultura como objeto de estudo não foge a esta tendência. Pelo
contrário, permite tanto a tomada de posição quanto incursões por abordagens menos
pragmáticas.
Não obstante as possibilidades, o mergulho no campo da cultura pode apresentar
armadilhas. Nesta seara, emancipação e preservação identitária podem facilmente cambiar
para aprisionamento e comercialização de identidades. Desde já me posiciono a favor da
cultura para os primeiros fins/meios, sendo este o fio condutor da argumentação aqui lançada.
O sentido de cultura como resultado da capacidade produtiva do homem remete muito
além dos produtos culturais. Etimologicamente, a palavra cultura origina-se do verbo colere.
Cultura representava o cultivo e o cuidado com plantas, animais e tudo que se relacionava a
terra, ou exatamente, agricultura – percurso este muito bem ilustrado nas obras de Terry
Eagleton e Marilena Chauí. Em complemento, o termo cultura era utilizado para tratar do
cuidado com as crianças, sua educação e o desenvolvimento de suas virtudes naturais;
puericultura. Sob outro aspecto, a filósofa húngara Hannah Arendt destaca que este cuidado
com a educação referia-se ao cultivo do espírito, sendo a cultura também atrelada ao cuidado
com os deuses, os ancestrais e seus monumentos, recobrados pela memória.
A partir do século XVIII, o termo cultura incorpora novos significados. Marcado pela
substituição da fé pela razão, no século XVIII os ideais iluministas são consolidados, bem como
as bases positivas para o desenvolvimento da ciência, da libertação do homem do período das
trevas. O ideário progressista ressoa na própria condição de vida da população,
particularmente na Europa, e encontra na cidade seu locus de manifestação, de forma que a
cidade seja vista como produto da razão e o rural do empirismo.
Esta transição implica em uma cultura mediada pela educação formal, enquanto
instrumento de transformação do espírito humano. Espírito este que se manifesta como um
campo ordenado e produtivo de ideias e comportamentos que caracterizam o ethos de um
homem educado, e que portanto, se afasta da ideia de natureza humana pura. Assim, o
homem se projeta não como produto da natureza, mas como produto de uma sociedade,
naquilo que ela apresenta de melhor. Este processo se desenvolve sob os pilares do
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conhecimento acumulado que designa à cultura um caráter de saber. Por consequência, o
homem de cultura possui instrução, espírito cívico e público.
Estabelece-se aqui um ponto fundamental para o processo de elaboração da cultura a
partir de uma base racional, reflexiva. Para o crítico literário britânico Raymond Williams, o
termo cultura articula-se, ora positiva, ora negativamente com o termo civilização. Derivado
do latim cives e civitas, civilização referia-se ao civil dado à ordem social – sociedade civil.
Contudo, o significado de civilização extrapolava o sentido civil, representando um estado de
perfeição, uma etapa evoluída do desenvolvimento histórico-social, remetendo à ideia de
progresso.
A cultura enquanto produto é historicamente imersa neste mecanismo de distinção,
inclusão e exclusão, de modo que o processo histórico de produção artística tem sido colocado
como espectro distintivo no decorrer da história da humanidade. A busca pela distinção de
classes dominantes e o advogar das atividades exercidas por parte desta classe, num
ordenamento que assume um ar de naturalidade, é responsável por estabelecer quem deve
empregar seus esforços no processo de transformação produtiva clássica e aqueles que
destinam seu tempo ao desenvolvimento de formulações científicas e artísticas. Dessa forma,
a distinção se daria em preservar a legitimidade de alguns grupos em produzir e ditar o que
deve ser encarado como produção artística/cultural, e de outro lado, a existência de uma
massa que destinaria seu tempo ao trabalho convencional.
Apesar do caráter aprisionador, a importância da inserção cultural através de
determinadas produções artísticas confere a possibilidade de determinadas manifestações
culturais excluídas operarem a resistência frente à produção da cultura mediada pelo capital,
pelo Estado, enfim, pelos grupos que exercem hegemonia. A hegemonia constitui-se pelas
relações de atividades que podem ser fixadas e que apresentam capacidade de controlar e
produzir mudanças sociais. Seu caráter dinâmico se dá nas alterações de acordo com as
condições históricas, cujas mudanças auxiliam a manutenção da dominação.
A cultura pode tornar-se resistência quando assume sua capacidade criativa, quando se
remodela, permanecendo intacta às investidas de grupos hegemônicos, ou mesmo se
apropriando destes a fim de tornar-se um movimento coletivo pela vida, e por conseqüência,
potencializar alternativas. Este campo de batalha se opõe evidentemente frente à concepção
acadêmica de cultura, cujo pressuposto está ancorado no conhecimento formal, em
conformidade ou rompendo com o estabelecido, mas erguido sob o mesmo pano de fundo. A
resistência através da cultura emana do movimento oposto a esta dualidade que se estabelece
com os aspectos formais, estabelece-se sobre a base dos saberes construídos empírica e
historicamente, na própria luta pela vida.
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Estabelece-se aqui uma situação de ambiguidade profunda, na qual apesar do potencial
da arte para que problemas sociais possam ser superados, é intensa a imputação da
manifestação artística como expressão subjetiva do homem capaz de deflagrar um processo
transformador que tenha reflexos no próprio indivíduo. À arte recai a conotação do belo, a
capacidade de tornar algo esteticamente aprazível, métrico, consonante ao classicismo
historicamente imposto. Além disso, assim como na ciência, ao artista recai certa genialidade
e capacidade criativa que o distingue dos trabalhadores comuns cujo processo de
transformação produtiva se baseia na própria capacidade corporal, dando continuidade à
distinção daquilo que deve ser considerado cultura.
A oposição a este aprisionamento seria a tomada de posição do homem frente aos
problemas sociais através da arte, em conexão com os problemas concretos de ordem tanto
econômica quanto social, e assim, determinando a originalidade da obra de arte. As produções
culturais necessitam conter em si tomadas de posições justas frente aos conflitos da vida, aos
problemas da época, sejam estas posições positivas ou negativas, expressando
adequadamente o partidarismo do artista.
Por ser a obra de arte algo que expressa objetivamente a representação que o sujeito
faz da realidade, o pensamento de Györg Lukács se faz presente ao afirmar que “a arte não
pode representar nenhum fato ou relação fora de seu partidarismo”. O fato aqui já é
carregado do partidarismo, mesmo quando projetado como mero dado, uma vez que contém
sempre atitudes positivas ou negativas diante da própria realidade. Neste sentido, podemos
assumir a produção artística e cultural, de forma mais ampla, como um artefato que é em si
expressão frente a conflitos e lutas que marcam a sociedade a partir das questões materiais da
vida, portanto, sendo representativa de uma tomada de posição.
Mas o que isso tem a ver com a gestão da cultura? Quais escolhas devem ser feitas? A
busca por respostas é a mola propulsora de muitos debates lançados neste livro. Talvez o
grande desafio seja fomentar produções culturais sem estabelecer mecanismos de distinção,
ou indo além, rompendo com a lógica mercantilista e/ou elitista da produção cultural
deflagrada no século XVIII e mantida nos dias de hoje.
A meu ver, o ponto nevrálgico do dilema se situa na divisão de classes. Se por um lado a
operação distintiva da cultura separa os cultos dos iletrados, noutro é parte de uma tentativa
de supressão das contradições existentes na vida social, no trabalho, na distribuição de renda.
Os resultados podem ser encontrados tanto na vanguarda cultural quanto na docilização do
corpo pelos produtos culturais massificados.
A dualidade no uso da cultura – embora produzindo o mesmo efeito – ocorre porque
antes disso há mediações pautadas em assimetrias de poderes. Nesta seara, é possível
observar a primazia por determinadas produções que vão ao encontro dos interesses de
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grupos que dominam e exercem maior poder no campo da cultura. Estes grupos acabam por
delimitar não apenas o que deve circular enquanto mercadoria, mas também a quem este
produto cultural deva servir. Produção e consumo apresentam elos inelimináveis. Explicam,
por exemplo, o esvaziamento de público em eventos de cultura erudita, mesmo que gratuitos.
O distanciamento entre a produção e o público não está no desinteresse deste último, mas na
distinção historicamente imposta a este tipo de produção.
A centralidade da produção cultural não se dá de maneira isolada ou solitária. Estado e
grupos privados dão a entender que encontraram o ponto médio. No caso do primeiro, a
resignação instaura-se na suposta autonomia atribuída a produtores culturais com a
possibilidade de acesso a recursos através das leis de incentivo à cultural. Todavia, o caráter
formal imposto aos projetos por si só já limita o tipo de produção a ser contemplada. Já as
corporações privadas encontraram na prerrogativa dada pelo Estado a possibilidade de
investirem em produções culturais que lhes tragam retorno de imagem, obtendo ainda
descontos significativos em tributos. Configura-se aqui o investimento público em demanda
privada.
Retornando ao ponto de partida, é necessário refletir sobre uma política cultural que
possibilite a preservação de traços identitários e viabilize através do produto cultural
transformações sociais. Transformações sociais que infelizmente têm sido restritas à geração
de renda através da produção em escala de bens culturais, que embora seja importante,
ameaça conduzir a cultura – num sentido antropológico – à mesma lógica de mercado que a
aprisionou. Para muito além da inserção econômica, creio que a produção cultural deve
fomentar reflexões sobre o indivíduo frente à sociedade, sobre a historicidade e os processos
que têm sistematicamente operado os mecanismos de distinções e gerado círculos
privilegiados da cultura.
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PARTE I
UM POUCO DA UFV NA CULTURA
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO (PET-ADM/UFV) E O TEMA DA
CULTURA: ENTRE DISCUSSÕES TEÓRICAS E O REGISTRO DA PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL
Rodrigo Gava
1. INTRODUÇÃO
Buscar fontes que nos sensibilize com o País Real, revelador dos melhores extintos, em
detrimento do País oficial, caricato e burlesco1, foi o principal motivo para colocar os alunos do
PET/ADM em proximidnade com o tema da cultura.
Estando vinculados a um curso que precocemente os especializa em técnicas e pouco
nas inquietações que explicam as antecedências e consequências dos modelos que os chegam,
já no primeiro planejamento que realizei como tutor, em 2009, iniciamos os passos
comprometidos com o signicado da prática administrativa num país como o Brasil. Se nos vem
fácil o apego à afirmação de que organizações são organizações em qualquer lugar, daí
compartilharmos conteúdos tão similares em quase todas as escolas do mundo, um breve,
mas breve mesmo contato com as expressões culturais de cada local já nos dá a imediata
sensação de que as coisas não são bem assim.
Essa linha de pensamento poderia nos fazer questionar se a administração que
praticamos é mesmo nossa ou se a formatamos a partir dos países que iniciaram as escolas a
ela dedicadas, implementando-as a fórceps na prática local? Será que a prática administrativa
a mover nossas organizações não poderiam ter expressões distintas das atuais? Antropofagia à
parte, é bastante coerente percebermos que isso já acontece, embora sempre percebido
como disfunções ou desalinhamento, uma vez que a cada abrasileiramento nos afastamos do
modelo de origem, algo geralmente percebido como ruim no Brasil.
Em meio a inquietações como estas, começamos a estudar passagens importantes do
pensamento social brasileiro, especialmente a partir de leitura, documentário e discussões de
O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Outras atividades se somaram, e mesmo com as
alterações naturais pelas saídas e entradas de novos estudantes no programa o tema da
cultura jamais saiu de cena. Desde então, ele tem estado presente em nossos planejamentos
1 Resgate que Ferraz (2014) faz a Machado de Assis em reportagem sobre Ariano Suassuna, logo após seu falecimento.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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anuais e permitido um olhar que estimula discussões e respeito da riqueza das possibilidades
humanas e o quanto somos os valores de onde nascemos e vivemos, e, assim, ajudando a nos
vermos nos outros com o devida constância.
Neste capítulo, a pretenção foi trazer mais detalhes da importante proposta dos grupos
PET, programa que leva os alunos a experimentarem atividades relacionadas à tríade
universitária – ensino, pesquisa e extensão – ainda em nível de graduação. Em seguida, o foco
se volta para uma descrição do envolvimento do grupo com o tema da cultura e, por fim,
disponibilizamos uma primeira descrição sobre a produção cultural local, feito por meio de um
panorama longitudinal fruto de intenso trabalho de resgate à matérias jornalísticas de dois
veículos de comunicação do município de Viçosa; material que foi fotografado, codificado e
tabulado, estando disponível aos interessados em acessar a memória dessa produção2.
Ademais, o principal motivo da organização panorâmica sobre a produção cultural
nestes anos de ações culturais noticiadas é despetar o ímpeto científico de pesquisadores
interessados na área e também a todos que a ela se interessam, seja para que fins forem.
2. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL - PET
O Programa de Educação Tutorial tem suas atribuições definidas pelo Ministério da
Educação – MEC para que os alunos participantes desenvolvam atividade que integram a
pesquisa, o ensino e a extensão, buscando sempre definir suas ações de forma indissociada no
equilíbrio de esforços entre essas três ações. Trata-se, pois, de um projeto do governo federal
para a melhoria da formação não só dos envolvidos, mas também do ensino superior do curso
ao qual está vinculado. Característica que são claramente definidas em seu Manual de
Orientaççoes Básicas, quando, sobre seu objetivo, indica que cabe ao PET
promover a formação ampla e de qualidade acadêmica dos alunos de cursos de
graduação envolvidos direta ou indiretamente com o programa, estimulando a
fixação de valores que reforcem a cidadania e a consciência social de todos os
participantes e a melhoria dos cursos de graduação (MEC, 2014c).
Criado em 1979 no governo militar de João Batista Figueiredo, tinha as mesmas três
letras em sua sigla, mas sua definição era distinta, como Programa Especial de Treinamento.
Neste período, era subordinado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
2 O banco de dados proveniente desta coleta está disponível em: https://www.facebook.com/petadm?fref=ts.
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Superior – CAPES e objetivava preparar de forma diferenciada um grupo de alunos, inclusive
para a Pós-Graduação. Só em 1999, após vinte anos de funcionamento, devincula-se da CAPES
e passa ao domínio do MEC, junto à Secretaria do Ensino Superior - SESu. Apesar das
tentativas em extingui-lo, por ser considerado elitista e oneroso ao erário público, mobilização
da comunidade acadêmica e dos próprios grupos PET do país levam à conquista de seu
reconhecimento legal3, em 2005, logo após se tornar vinculado ao ensino da graduação
(PORTAL PET, 2014). A partir deste momento, o PET inaugura seu forte vínculo com o
desenvolvimento de atividades relacionadas à tríade pesquisa, ensino e extensão.
Segundo o próprio MEC, o PET é desenvolvido por grupos de estudantes tutorados por
um docente, preferenciamente doutor, e orientados pelo princípio da indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão e da educação tutorial. Uma vez criado, mantém suas atividades
por tempo indeterminado, embora seus membros tenham um tempo máximo de vínculo: ao
bolsista de graduação é permitida a permanência até a conclusão da sua graduação e, ao
tutor, por um período de, no máximo, seis anos, desde que obedecidas as normas do
Programa (MEC, 2014a).
Ao participar do programa, os alunos passam a estar envolvidos e a envolver os demais
alunos do(s) curso(s) de graduação ao(s) qual(is) o programa está vinculado em experiências
não contempladas nas estruturas curriculares convencionais. O norte a orientar o trabalho dos
petianos é uma formação mais ampla do que tradicionalmente marca a graduação,
promovendo uma mescla entre a formação profissional necessária ao ingresso no mercado de
trabalho, a formação científica esperada para o êxito nos programas de pós graduação e a
formação cidadã, capaz de dar sensibilidade crítica a seus participantes e fazê-los qualificados
também em termos humanos e conscientes de seu papel na sociedade.
A tutoria, nesse âmbito, circunscreve-se como aquele que irá desenvolver nos alunos a
capacidade de resolução de problemas e pensamento crítico para além do que caracteriza o
“ensino centrado principalmente na memorização passiva de fatos e informações, e
oportuniza aos estudantes tornarem-se cada vez mais independentes em relação à
administração de suas necessidades de aprendizagem” (MANUAL, 2014).
3 O Programa de Educação Tutorial foi oficialmente instituído pela Lei 11.180/2005 e regulamentado pelas Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006 e nº 1.046/2007. A regulamentação do PET define como o programa deve funcionar, qual a constituição administrativa e acadêmica, além de estabelecer as normas e a periodicidade do processo de avaliação nacional dos grupos. A Portaria 976/2010 trouxe inovações para a estrutura do PET como, por exemplo, a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, a união do PET com o Conexões de Saberes, a definição de tempo máximo de exercício da tutoria, a aproximação com a estrutura acadêmica da universidade e a definição de estruturas internas de gestão do PET (MEC, 2014b).
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
17
Destaca-se que esses impactos complementares que marcam as atividades do PET não
se restringem aos integrantes do programa, uma vez que as mesmas são voltadas para o
incremento da formação de todos os alunos do(s) curso(s) a que está vinculado. É justamente
essa ampla gama de experiências que irá minimizar os riscos da especialização precoce à qual
estão submetidos na maior parte dos cursos de graduação.
Mas claro que há pontos que acabam destacando o privilégio da participação diária no
programa, o que acaba diferenciando os alunos do PET, bolsistas ou não, em relação aos
demais. Este é o caso da maturidade que resulta de um trabalho intenso em atividades a
serem administradas entre as demandas a que são expostos nas disciplinas de graduação. Essa
resultante deriva da relação que deve ser desenvolvida/aprimorada entre as capacidades e
interesses individuais e a percepção da responsabilidade coletiva e do compromisso social,
dado que ninguém pode se colocar acima do próprio grupo.
A garantia do bom funcionamento do programa addvém do envolvimento de dois
atores na instituição de ensino superior (IES) onde o PET mantém suas atividades:
O tutor é o responsável, perante a IFES e a SESu/MEC pelo planejamento e
supervisão das atividades bem como pelo desempenho do grupo sob sua
orientação, contanto com a indispensável contribuição de outros docentes da IES
para o desenvolvimento do programa. Cabe a ele orientar os bolsistas no caminho
de uma aprendizagem segura, relevantes, ativa, planejada e adequada às
necessidades do grupo e do curso com um todo. A IES é responsável por dar o
suporte administrativo aos grupos, desenvolver o processo de acompanhamento
institucional do programa e contribuir no aumento do significado acadêmico-
pedagógico de suas atividades, garantidno a autonomia dos grupos. Estas três
finções devem ser desenvolvidas de forma coordenada por todos os afores
responsável pelo programa na IES (MEC, 2014c).
Além da atuação dos tutores e da própria IES, é importante destacar que na estrutura
desta existe a presença do Comitê local de Acompanhamento e Avaliação (CLAA), composto
por tutores, técnicos, professores conhecedores do programa e estudantes bolsistas do PET.
Em sua composição, 2/3 dos membros são indicados pelos integrantes do programa na IES e
1/3 pela Pró-Reitoria de Graduação ou órgão equivalente. No caso da UFV, este papel cabe à
Pró-Feitoria de Ensino (PRE). O CLA é o órgão responsável por representar o PET na IFES,
cabendo a ele acompanhar e orientar os grupos de sua IES sobre os aspectos que definem o
funcionamento do programa em consideração a seu Plano de Desenvolvimento Institucional e
aos projetos pedagógicos dos cursos pertinentes, coordenar e participar do processo de
acompanhamento dos grupos, referendar processos de seleção e desligamentos dos alunos
por proposta do tutor, emitir parecer a respeito dos relatórios anuais emitidos por cada grupo,
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
18
organizar dados e informações dos PETs e emitir parecer por solicitação da SESu e orientar os
membros e órgão internos da IES sobre o PET, buscando garantir-lhes bom funcionamento,
assim como o planejamento e a execução das atividades dos grupos.
Por sua própria concepção, o PET deve ser considerado como um esforço de longo
prazo com capacidade de participar e influenciar o modelo pedagógico dentro da universidade
brasileira e apoiar a formação acadêmica de excelente nível, ajudando na formação de um
profissional crítico e atuante, orientado pela cidadania e pela função social da educação
superior. Estes termos são reforçados quando consideramos que é esperado aos cursos de
graduação que colaborem nas discussões do planejamento das atividades dos grupos, que
estimulem a interação crítica desses grupos com os respectivos projetos pedagógicos e que
acompanhem a avaliação de cada grupo por meio de uma visão acadêmico administrativa.
Os alunos que ingressam no programa formam um grupo de 18 participantes, sendo 12
bolsistas e no máximo 6 não bolsistas, embora todos tenham as mesmas atribuições e
responsabilidades, ou seja, são todos petianos, indiscriminadamente.
3. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO - PET-ADM/UFV
O PET-ADM/UFV é um dos 842 grupos distribuídos entre 121 IES brasileiras. Tendo
iniciado suas atividades em 1985, é um dos PET mais antigos da UFV. Prima por contemplar
várias atividades que marcam os esforços dos graduandos que buscam ampliar sua formação.
Para uma ideia mais clara sobre a dinâmica do PET-ADM, um breve relato assumirá o
papel de traduzir a forma por meio da qual os alunos ganham independência na tomada de
decisões diárias para cumprirem com o que preza os planejamentos anuais intensamente
discutidos entre os participantes e demais interessados. Este resgate praticamente abordará a
forma de ingresso no programa e a alaboração e implementação do planejamento, esforços
que sinalizam razoável síntese de nossas atividades.
O ingresso no PET-ADM
Para ser um programa que estimule a participação de alunos nas atividades acadêmicas
que promove, o PET diferencia-se da iniciação científica, que enfatiza a investigação de um
tema científico, dos programas de estágios, cujo objetivo é promover a aplicação prática dos
conhecimentos teóricos adquiridos nos cursos de graduação, e do apoio a atividades de ensino
e de extensão por um único fato, contemplá-los todos num só espaço. No caso dos estágios,
sua relação é também de destaque, uma vez que é comum a procura de empresas por alunos
do programa para seus quadros.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
19
Para ingressar no PET-ADM os candidatos têm que ser graduandos dos cursos de
administração ou ciências contábeis da UFV e ter coeficiente de rendimento (CR), o que exige
que tenham completado pelo menos 1 semestre letivo. Além dessas condições, deve ser
aprovado no processo seletivo em vigor.
Atualmente, o processo seletivo se extende por 5 fases. Antes do início da seleção, os
alunos são apresentados ao programa por meio de uma palestra proferida pelos próprios
petianos. Em seguida, o processo se inicia com duas fases eliminatórias, a (1) Redação e o (2)
Apresentação Oral. No caso da redação o tema é comunicado no momento de sua realização,
enquanto o tema da apresentação é apresentado com antecedência. Em seguida, os alunos
selecionados nas primeiras fases passam por uma (3) dinâmica de grupo para, enfim,
participarem de uma (4) entrevista, onde todos os petianos do programa participam junto
com o tutor e professores convidados. Após também se considerar o histórico escolar e o
coeficiente de rendimento, definem-se os aprovados para fazerem parte de um (5) estágio
probatório de até 3 meses, quando temos uma percepção mais acurada do perfil dos
candidatos, uma vez que participam das diversas comissões, onde são exigidos em novas
apresentações e atividades.
O processos se encerra quando esta última fase é percebida como suficiente para uma
decisão final. Vale destacar que o encerramento do processo seletivo não torna o petiano
“estável” no programa, pois são constantemente avaliados frente ao que deles se espera, e no
caso de não cuprimento satisfatório das atividades e de arrefecimento de compromissos com
o programa seu afastamento pode ser solicitado ao CLAA. Cabe destacar que a cada 6 meses
os petianos são avaliados a partir de julgamento que os eles fazem de si mesmos, no que
chamamos de ‘Avaliação 360º’. O tutor não participa, apenas tabula os dados e emite os
pareceres que, somados à sua própria avaliação, sugere alterações que possam contribuir para
o aperfeiçoamento nos pontos percebidos como passíveis de melhoria pelos colegas.
Como visto, os alunos que passam a integrar o grupo tutorado passam por rigoroso
processo seletivo, e apesar de ser considerado, um coeficiente de rendimento baixo não
impede o ingresso deles, uma vez que não só outras habilidades podem ser percebidas, como
nele também pode ficar destacado o interesse do candidato em se dedicar com afinco ao
programa, requisito sempre de grande importância.
Uma vez participando do programa, os alunos orientam suas atividades com base em
quatro valores principais, a (a) busca da excelência, o (b) respeito, cooperaçao e compromisso
entre os petianos na realizaçao de suas atividades, a (c) ética nas relações sociais e
profissionais com todos aqueles com os quais se relacionam e a (d) integração com os demais
grupos PET da UFV e/ou de outras instituiçoes visando o desenvolvimento de atividades
conjuntas e o incremento da capacidade de realizaçao de seus objetivos.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Orientados por estes valores, desenvolvem ações segundo uma organização própria,
que conta com um líder, um coordenador de projetos, um tesoureiro e os coordenadores de
comissão: (1) Qualidade, (2) Gestão, (3) Divulgação e Eventos e (4) Relatório e Planejamento.
O líder e o coordenador de projetos são eleitos pelos próprios petianos, cabendo ao tutor
participar apenas nos casos de voto de minerva. Os demais são indicados em comum acordo
entre os petianos. O líder facilita o contato do grupo com o tutor e vice versa, enquanto o
coordenaor de projetos auxilia os membros com o tema de suas pesquisas e na produção e
desenvolvimento destas.
Planejamento e Relatório: antecedentes e ações relacionadas à cultura
Desde 2010 todo planejamento começou a ser implementado mediante propostas de
oficinas, reuniões temáticas, filmes e leituras de livros com conteúdos inter-relacionados,
objetivando aprofundar na formação humanística dos estudantes, estimulando uma visão de
caráter totalizante da realidade, explorando as organizações numa realidade social complexa
de intensa interação. Este esforço buscava cumprir como o amparo esperado à formação dos
petianos, no sentido de compensar a especialização típica da fragmentação do conteúdo das
disciplinas dos cursos da graduação. Aqui, resgataremos apenas as atividades relacionadas à
questão da cultura.
Antecedente importante para dar consciência crítica aos posteriores estudos voltados à
cultura foi nosso envolvimento com o tema “Organização e Globalização”. Iniciamos pela a
leitura do livro “Por uma outra globalização” de Milton Santos. Além deste, trabalhamos um
artigo sobre o tema para que esse pudesse complementar os conceitos do livro. Em fevereiro
de 2010 discutimos o livro, atividade antecedida pelo filme sobre a carreira de Milton Santos,
que permitiu um enriquecimento maior da discussão e a ampliação do conhecimento dos
petianos sobre as obras do autor. O livro possibilitou um rico debate sobre globalização,
competitividade, pobreza, e outras temáticas relacionadas. O objetivo de despertar uma
opinião crítica nos graduandos foi alcançado, pois pontos de vista diferentes foram explanados
e confrontados.
Outro tema trabalhado foi o “Pensamento Social Brasileiro e Contemporâneo”, que se
deu em três momentos: inicialmente, os petianos se capacitaram para a discussão por meio da
leitura do livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. Num segundo momento, os petianos se
prepararam para a discussão por meio da exposição do documentário sobre a contribuição do
próprio Darcy, em “O Povo Brasileiro, Intérpretes do Brasil – “Notas sobre o Brasil”. Em um
terceiro momento foi realizada a discussão, em que cada petiano apresentou os pontos que
considerou mais importantes no livro e no filme, e logo após encerrei o debate comentando
diversos aspectos relevantes sobre os assuntos discutidos.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
21
No planejamento para o ano de 2011 foram realizadas consultas aos coordenadores
dos cursos de graduação em Administração e Ciêncais Contábeis, assim como à coordenadora
do programa de pós-graduação (mestrado) à época, buscando maior proximidade e inter-
relação entre as partes e objetivos do departamento.
Outra importante inovação no planejamento foi a definição de um objetivo geral a
orientar a interrelação entre as atividades. Dando continuidade aos estudos de 2010,
definimos como objetivo para 2011 “analisar expressões da organização capitalista em
território brasileiro”. Para alcançar essa motivação principal, dois objetivos intermediários
foram definidos: “a questão da inovação e o sistema capitalista”; e a “gestão cultural na
contemporaneidade capitalista”.
Dando atenção ao segundo objetivo, por sua notória relação com este capítulo, a
estratégia adotada para seu alcance foi, em um primeiro momento, a leitura dos artigos: (a)
CARVALHO, Cristina Amélia; SILVA, Rosimeri Carvalho da; GUIMARÃES, Rodrigo. Sistema
Nacional de Cultura: a tradução do dinâmico e do formal nosmunicípios da Região Sul.
Cadernos EBAPE. BR (FGV), v. 7, p. 10, 2009, (b) MADEIRO, Gustavo; CARVALHO, Cristina
Amélia. Carnaval, Mercado e Diferenciação Social. In: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de
Ciências Sociais, 2004, Coimbra. Anais do VII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências
Sociais. Braga - Portugal, 2004. v. 1. p. 1-10 e (c) SIMOES, Janaina Machado; VIEIRA, Marcelo
Milano Falcão. A influência do Estado e do mercado na administração da cultura no Brasil
entre 1920 e 2002. Rev. Adm. Pública [online]. 2010,.44(2), pp. 215-237. A segunda estratégia
foi trabalhar uma obra de referência sobre uma manifestação cultural tipicamente brasileira
como forma de nos capacitarmos para discussões sobre aspectos organizacionais na área
cultural, especialmente sua gestão e práticas administrativas. O livro escolhido foi DAMATTA,
Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de
Janeiro: Rocco, 1997.
Complementarmente, realizamos visita técnica aos estúdios do PROJAC – Rede Globo
de Televisão, que buscou relacionar teoria e prática no campo da gestão cultural. Os Estúdios
PROJAC são referência no país no campo de Gestão de Bens Culturais. A visita permitiu que os
petianos pudessem observar, analisar e criticar como se da, na prática, os temas já estudados
nas atividades previamente desenvolvidas. Outra visita técnica nos levou ao Instituto de Arte
Contemporânea Jardim Botânico-INHOTIN, em Brumadinho, MG. A visita técnica visou
complementar os estudos relacionados ao tema “Gestão Cultural”, desenvolvidos pelo grupo.
Contamos com a colaboração de um guia do museu que explicou a respeito das obras e seus
autores, contribuindo assim para uma melhor compreensão sobre a cultura e a expressão da
arte contemporânea. Tais esforços culminariam na realização do I Seminário de Gestão
Cultural, realizado já no ano seguinte, nos dias 10 e 11 de abril de 2012.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
22
Em 2012 o planejamento priorizou a busca por melhorias nas atividades inovadoras
elaboradas no planejamento de 2011. Assim, o seu objetivo final foi analisar, sob o enfoque
organizacional, dinâmicas da política pública brasileira, e, especificamente, mativemos o foco
na questão da (a) Gestão Cultural e adicionamos atividades relacionadas ao (b) Turismo. Vale
ressaltar que os planejamentos dos anos de 2011 e de 2012 também contaram com consultas
aos coordenadores do curso de graduação em administração e em ciências contábeis, assim
como espaços para que os graduandos manifestassem suas demandas, buscando, dessa
forma, maior proximidade e relação entre as partes e objetivos do departamento.
As leituras realizadas foram ELIAS, A.; FILHO, J.B.O.; OLIVEIRA, M.F. Empreendedorismo
criativo em cidades sem tradição cultural: uma primeira abordagem. 6 º Congresso do Instituto
Franco-Brasileiro de Administração de Empresas. 2011, p. 675 – 686, DURAND, J.C. Cultura
como Objeto de Política Pública. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2) 2001, p. 66-72 e
BOTELHO, I. Dimensões da Cultura e Políticas Públicas. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2)
2001, p. 73-83. Estes geraram a oficina Gestão Cultural: Políticas Públicas de Cultura.
Buscamos levar aos membros do PET/ADM o conhecimento a respeito da questão de Políticas
Públicas de Cultura. Além disso, trazer ao grupo discussões e reflexões acerca de temáticas
que não são abordadas no curso para que se possa desenvolver nos alunos a habilidade de
leitura crítica sobre o papel das políticas públicas na dinâmica da cultura e dos produtos
culturais, explorando seu potencial na alteração da estrutura econômica, política e social do
país e de suas regiões.
Posteriormente, lemos o livro FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de
crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, que acabou gerando posteriores discussões e reflexões
a acerca de temáticas também pouco abordadas no curso.
Embebidos pela temática, elaboramos um projeto sobre o tema e encaminhamos para
concorrer em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
O projeto foi aprovado, o que ampliou o apoio para realizarmos as atividades que
pretendíamos, especialmente as aque viabilizariam a realização do II Seminário de Produção e
Gestão Cultural e este e-book.
Encerramos as atividades do ano de 2012 com a visita ao Instituto de Arte
Contemporânea Jardim Botânico-INHOTIN, que complementou os estudos relacionados ao
tema “Gestão Cultural”. Contamos com a colaboração de um guia do museu que explicou a
respeito das obras e seus autores, contribuindo assim para uma melhor compreensão sobre a
cultura e a expressão da arte contemporânea. Também percorrermos o Circuito Turístico de
Petrópolis, atividade que consistiu e, visita ao Museu Casa de Santos Dumont - "A Encantada"
e ao Museu Imperial de Petrópolis, principal acervo do país relativo ao império brasileiro, em
especial sobre o Segundo Reinado.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Em 2013 a cultura continuou nos acompanhando. Realizamos as leituras EAGLETON,
Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005; BOTELHO, I. Dimensões da Cultura e
Políticas Públicas. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2) 2001, p. 73-83; PAVAM, Rosane. O belo
não está à venda. Revista Carta Capital, São Paulo, p.40-42, fevereiro, 2013; PAVAM, Rosane. A
esperança em tempos de magra colheita. Revista Carta Capital, São Paulo, p. 50-52, fevereiro
2013; SILVEIRA, Daniel. O novo Iluminismo. Revista Brasileira de Cultura, São Paulo, p. 23-27,
maio 2012; SAFATLE, Vladimir. Estética Financeira. Revista Brasileira de Cultura, São Paulo,
p.28-31, maio 2012 e KODIC, Maríla. Les Inrocks and roll. Revista Brasileira de Cultura, São
Paulo, p. 32-35, maio 2012.
Tais fontes ampliaram nossa capacidade de interação nas visitas que realizamos ao
Parque Tecnológico Vale Verde, permitindo maior conhecimento sobre a cultura e história
daquilo que está enraizado na cultura mineira, a cachaça, quando também foi possível ao
grupo conhecer o processo produtivo sustentável da mesma e como passaram a explorar a
própria atividade de produção para fins turísticos.
As mesmas leituras, especialmente a referência dada por Terry Eagleton, nos levou à
reunião temática, onde resgatamos as transformações históricas e contemporâneas pelas
quais o termo cultura passou, incorporando questões filosóficas que englobam liberdade e
determinismo, mudança e identidade, o dado e o criado. O explora a superação da definição
antropológica e a estética do conceito de cultura que, segundo ele, proporcionam
respectivamente uma ideia de cultura debilitantemente ampla e desconfortavelmente rígida.
Além deste amplo panorama conceitual, discutimos sobre a crise moderna da ideia de cultura,
permitindo uma profunda análise das questões centrais do mundo contemporâneo, dentre as
quais: a homogeneização da cultura de massas, a função da cultura na estruturação do Estado-
Nação e a construção de identidades e sistemas doutrinários. Esta atividade contou com a
participação do Prof. Wescley Silva Xavier, autor do prefácio deste livro, cuja dedicação em
doutorado abordou a cultura em seu objeto de estudo.
Ainda circunscrito nos compromissos junto à FAPEMIG, iniciamos pesquisa voltada para
a descrição da Produção e Gestão Cultural Local. Para tanto, digitalizamos todo o acervo do
Jornal da UFV e do Jornal Folha da Mata, especificamente nas reportagens que se referiam a
atividades culturais. A ideia foi gerar material que pudesse permitir um panorama das práticas
culturais no município de Viçosa após a criação do Ministério Nacional de Cultura, em 1985.
Justamente este esforço que permitiu a exposição de que trata a próxima seção.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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4. A PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL A PARTIR DA MEMÓRIA JORNALÍSTICA DO
JORNAL DA UFV E DO JORNAL FOLHA DA MATA, 1985 A 2013
O objetivo desta seção é oferecer um panorama da produção cultural local de 1985 à
2013 das notícias veiculadas nas duas fontes jornalísticas supraindicadas neste título. Sem
investidas e preocupações mais intensas com os malabarismo quantitativos e seu potencial, a
ideia é, neste momento, apenas dar este panorama, chamando a atenção para as incidências
que podem ser destacadas.
Ajudam a tranquilizar as expectativas de maior complexidade a partir dos dados já
coletados, codificados e transcritos em tabelas o fato de que estes estarão disponíveis no
facebook do PET-ADM. Fica, desde já, o estímulo aos acessos. Pesquisadores, profissionais e
demais interessados em música, dança, teatro e exposições, sirvam-se à vontade!
Breve nova metodológica
Como já antecipado, a concisa descrição aqui exposta reflete uma esforço de pesquisa
sem pretenções complexas no que se refere às quantificações que serão apresentadas. Neste
sentido, a preocupação maior foi dar apenas uma quadro geral da produção cultural limitada
pelas duas fontes utilizadas, os dois jornais já comentados.
O Jornal da UFV é uma “publicação institucional da Universidade Federal de Viçosa, de
periodicidade mensal, é distribuída para diversas pessoas e instituições do país e do exterior.
Apresentada nas versões impressa e digital” (UFV, 2014). É publicado desde 1972, estando em
seu 42º ano com última publicação tendo o número 1.457.
O Jornal Folha da Mata teve sua edição circulando pela primeira vez com o nome Folha
de Viçosa no dia 20/10/1963. Nos seus primeiros anos, o Folha teve periodicidade quinzenal,
mas posteriormente passou a ser semanal, o que perdura até hoje (JFM, 2014).
A partir dessas duas fontes, ao todo foram codificados 1.866 documentos, ou seja,
notícias relacionadas a atividades culturais em Viçosa e região, embora em sua quase absoluta
maioria se referissem apenas à Viçosa.
O trabalho de codificação seguiu a definição indicada pelo Quadro 1.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Quadro 1: Variáveis utilizadas na codificação
Variável Definição Constitutiva Definição Operacional
Ano Ano da publicação Variável do tipo ano
Data Data da publicação Variável do tipo data
Local do Evento Local da realização do evento Variável nominal, indicação do local
Área artístico-cultural Área segundo LEIC 01/2013 Variável numérica para: música,
teatro, dança e exposição.
Responsáveis Responsável pela produção/gestão do
evento, seja pessoa física ou jurídica
Variável nominal, indicação do
nome do responsável
Patrocinadores Financiadores financeiros (moeda ou
permuta) ou econômicos (infraestrutura)
Variável nominal, indicação do
nome do patrocinador
Público Quantidade estimada de pessoas presentes Variável numérica para a escala:
Até 100 pessoas; De 100 a 500
pessoas; De 500 a 2.000 pessoas;
De 2.000 a 5.000 pessoas e Acima
de 5.000 pessoas.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
O processo de delineamento da pesquisa seguiu a dinâmica exposta na Figura 1.
Figura 1: Etapas do processo de coleta e análise dos dados.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Nota: O software estatístico Statistical Pakcage for Social Science (SPPS) versão 10.0 foi o utilizado para a análise descritiva dos dados.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Resta indicar que o recorte temporal foi definido por mera conveniência da
disponibilidade de dados nas duas mídias impressas locais com a mais ampla e longa cobertura
jornalística a respeito da produção cultural local. Ademais, a definição das áreas artístico-
culturais seguiu referência da Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Superintendência
de Fomento e da Diretoria da Lei Estadual de Incentivo à Cultura segundo o Edital LEIC
01/2013 para Apresentações de Projetos Culturais. Neste estão definidas as áreas artístico-
culturais para fins de envio de projetos que concorrem ao fomento.
Panorama da produção cultural em Viçosa de 1985 a 2013.
A primeira preocupação que tivemos foi tentar perceber como se distribuiu a produção
cultural local ao longo desses últimos 28 anos. Nestes termos, o ano mais produtivo foi o de
2005, com 116 eventos e aquele com a menor incidência de eventos, com apenas 33, o de
1995. Considerando todos os anos, temos uma média de 70 eventos por ano, apesar da
variação dada pelo desvio padrão ser significativa, cerca de 23 eventos, o que faz com que os
70 eventos de média possam ser mais de 90 ou menos de 50 a cada ano.
Desconsiderando o ano de 2012, quando houve queda significativa no número de
eventos, recentemente temos tido em torno de 100 eventos por ano. Tendo por referência os
cerca de 90 mil habitantes da cidade, já incluindo a população flutuante de estudantes
universitário, teríamos uma proporção de 0,001 evento para cada morador da cidade. Parece
ruim, mas isso também significa que quase a cada 3 dias temos um evento por ano em Viçosa.
Figura 2: Número de eventos culturais por ano. Fonte: Dados da pesquisa.
A Figura 2 também nos permite perceber que sempre que a produção cultural foi baixa,
o ano seguinte indicou forte reação, sendo as mais acentuadas reações a que parte de 1995,
com 33 eventos e chega, 2 anos depois, a 100 eventos. Algo similar ocorreu de 2004 a 2005,
quando em apenas 1 ano cerca de 40 eventos se tornam 116, pico que jamais voltou a ocorrer.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Outro fato que merece aprofundamentos posteriores é a razão da queda de produção de 1990
(80 eventos) até os tais 33 por ano 5 anos mais tarde. A partir daí, as alterações de aumentos e
quedas seguem um padrão .
Ao longo da série, pôde-se notar que a maioria dos eventos foi realizado em poucos
dias, sendo que a maioria absoluta deles teve duração de apenas 1 dia (70,6%), seguidos 2 dois
(6,8%) e 3 dias (4,1%), embora haja muitos eventos cujo número de dias não foi informado,
caso de cerca de 5% das vezes.
A Figura 3 adiciona à Figura 2 duas linhas de tendência, para que pudéssemos ter um
panorama dos dados do passado em relação ao futuro da produção cultural local,
considerando contextos similares.
Figura 3: Número de eventos culturais por ano. Fonte: Dados da pesquisa.
Assim, foram consideradas duas linhas de tendências. A linha verde representa uma
tendência de média móvel4, que suaviza flutuações em dados para mostrar um padrão ou
tendência mais claramente. Já no caso da linha vermelha, a tendência é polinomial5, que é
uma linha curva usada quando os dados flutuam. É útil, por exemplo, para analisar ganhos e
perdas em um conjunto de dados grande.
4 Uma média móvel usa um número específico de pontos de dados (definido pela opção Período), determina a média e usa o valor da média como um ponto da linha de tendência. Se Período for definido como 2, por exemplo, a média dos primeiros dois pontos de dados será usada como o primeiro ponto na linha de tendência da média móvel. A média do segundo e terceiro ponto de dados será usada como o segundo ponto na linha de tendência e assim por diante 5 A ordem da polinomial pode ser determinada pelo número de flutuações nos dados ou por quantas dobras (picos e vales) aparecem na curva. Uma linha de tendência polinomial de ordem 2 geralmente só possui um pico ou vale. A ordem 3 geralmente possui um ou dois picos ou vales. A ordem 4 geralmente possui até três.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Como pode ser percebido, nos dois casos há uma tendência de crescimento, embora a
curva vermelha tenha em sua parte final leve declínio em relação a anos anteriores, sugerindo
um enfraquecimento influenciado pelo peso da produção loca mais recente.
Figura 4: Frequência de eventos realizados em relação à duração, em dias. Fonte: Elaborado pelo próprio autor
A Figura 4 traz uma breve informação, apenas abordando o número de dias mais
comuns dos eventos produzidos localmente, quando fica evidente a absoluta maioria deles
realizados em apenas 1 dia.
A UFV e a cidade de Viçosa praticamente dividem a frequência em que são utilizadas
como locais para os eventos culturais. Apesar de lentas, têm sido sólidas as iniciativas dos
empresários em ampliar os espaços privados com este fim. Chama a atenção o fato de que
quando a UFV é o local de algum evento conjuntamente com algum espaço na cidade de
Viçosa, esse número é irrisório, com apenas 12 ocorrências. Talvez, a proximidade entre esses
dois espaços seja apenas geográfica, como é comum ouvir pelo campus e ruas da cidade.
Figura 5: Local de realização dos eventos culturais Fonte: Dados da pesquisa.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
29
Entre a UFV e o espaço municipal 27% dos eventos culturais foram shows musicais,
exclusivamente música, uma vez que a música associada a algum outro evento, seja ele teatro,
dança ou exposição, foram apenas 14, contra os 872 eventos apenas com música. Como pode
ser visto na Figura 5, seguem com frequências relativamente próximas eventos ligados a
exposições, teatro e dança dentre as notícias veiculadas nas fontes que utilizamos.
Figura 6: Frequência de ocorrêmncia por tipo de evento cultural. Fonte: Dados da pesquisa.
Para uma percepção exata da distribuição dos eventos segundo o tipo, seguem os
dados conforme disposição da tabela a seguir (Tabela 1).
Tabela 1: Frequência de eventos segundo o tipo
Tipo de Evento N
Música 872
Música, teatro 6
Música, teatro, dança 1
Instrumental, solo, banda (fanfarra), coral 1
Música, teatro, exposição 3
Música, dança 1
Música, exposição 3
Teatro 334
Dança 258
Exposição 379
Não identificado 8
Total: 1.866
Fonte: Dados da pesquisa.
A música é nitidamente a principal produção cultural local, com frequência duas vezes
superior ao segundo lugar, a exposição. Relativamente próximos aparecem o teatro e a dança,
sendo que apesar de ter havido eventos em que essas modalidades aparecem combinadas,
elas foram bastante tímidas. Agora, vamos avançar na forma das apresentações e nos estilos
musicais.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
30
Para tanto, o evento música foi todo agrupado, independentemente da modalidade.
Assim, passamos a ter um total de 887 eventos musicais (soma de música; música/teatro;
música/teatro/dança; Instrumental/solo/banda (fanfarra)/coral; música/teatro/exposição;
música/dança e música, exposição) e não mais os 872 como na Tabela 1. Dentre os 887 casos,
e desconsiderando as 70 notícias onde não foi possível fazer a identificação, passamos a
contar com 817 casos. Dentre eles, em 61% a forma da apresentação musical foi por meio de
show de bandas, seguido de apresentações instrumentais (18%) e solo (14%).
Quanto aos estilos musicais mais frequentes, foram identificados 40 modalidades
diferentes, pois a mescla deles foi considerada como uma outra entrada de dados. Foram
considerados válidos 619 eventos após a exclusão dos “não identificados”. Segundo as notícias
investigadas, os estilos mais frequentes foram a música clássica, a sertaneja, a MPB e o rock,
respectivamente, e muito próximos, com valores indo de 110 a 96 casos, entre o clássico e a
MPB, ficando o rock com presença em 76 notícias. Percebe-se que as inúmeras apresentações
das bandas anteriormente identificadas se distribuem nos vários outros 36 estilos.
Já em relação ao panorama da presença do público a esses eventos, é prudente um
imediato alerta; a de que na maioria dos casos observados essa informação não pôde ser
identificada. Isso, pois boa parte das notícias se referiam a momentos prévios aos eventos,
quando a ideia é mais de convite e incitação que de relato, ou seja, notícias posteriores aos
eventos costumam ser publicados com menos frequência.
De um total de 1866 notícias investigadas, em 1589 delas a informação sobre o público
presente não aparece, ou seja, 85% dos casos. Assim, as informações de que tratamos deste
contexto tiveram estes casos omitidos, ou seja, os pencentuais dispostos na Figura 6 refletem
públicos apenas para os casos em que houve público identificado e não em relação ao total
absoluto dos 1866 casos.
Feita essa ressalva, dos eventos cujo público pôde ser identificado, aqueles com público
a partir de 100 pessoas, que podiam chegar até mais de 5000, somaram quase 80% dos casos.
Mais espeficicamente, nota-se (Figura 6) que os eventos que contaram com a presença de até
100 pessoas foram apenas 21% deles. Quando consideramos os eventos ainda maiores, com
participação de um público maior que 5000 pessoas, percebe-se que não são uma raridade,
marcando presença em 10% das vezes.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
31
Figura 7: Distribuição dos eventos culturais segundo números de pessoas presentes. Fonte: Dados da pesquisa.
Antes de caminhar para anúncios derradeiros deste panorama, faremos uma breve
indicação daqueles que mais vêm se dedicando à produzir eventos culturais no município,
tanto na figura de produtor cultural quanto na de patrocinador.
A maior parte da produção fica restrita a poucos produtores, mas no total eles são
vários, chegando a representar, ao longo desses anos, 490 pessoas, a quem destacamos
agradecimentos pelo esforço em manter a cidade com a luz da produção cultural acesa, tão
importante para iluminar a penumbra diária em que vivemos.
Novamente, destacamos que dos 1866 casos que reunimos nesta pesquisa 509 deles
(27,3%) não tiveram os produtores identificados. Dos 1357 casos restantes parte da UFV e
suas divisões cerca de 22% da produção local, seguido da Prefeitura Municiapal, com 7% da
produção. Outro importante produtor local, já amplamente conhecido no ramo, é o Núcleo de
Arte e Dança, que aparece em 5% dos eventos produzidos. Isso, considerando não só o
Núcleo, como também os grupos de dança a ele relacionados e a própria responsável, Patrícia
Lima. Na casa dos produtores que aparecem com 1% da participação na produção local
aparecem restaurantes, com destaque para o Sabor e Cia e o Pau Brasil, além de colégios,
especialmente o Colégio Equipe e o Colégio Anglo e, ainda, clubes recreativos, caso do Viçosa
Clube e do Recanto das Águas. Apensar de tímida, também aparece a Câmara Municipal de
Viçosa. A consulta ao banco de dados permitirá a identificação geral dos produtores,
marcadamente gente da própria cidade.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
32
Parte fundamental não só para o que os eventos identificados pudessem ser realizados,
como também para que possamos traçar novas conquistas, hierarquizaremos agora os
patrocinadores. Neste caso, a situação de não identificação foi ainda mais grave. Na verdade,
muito mais grave para um bom panorama desse apoio, uma vez que em 83,4% dos 1866 casos
não foi possível identificar o patrocinador, mais precisamente em 1557 notícias avaliadas.
Essa pesquisa não buscou identificar as razões de possíveis dúvidas que a descrição
pudesse levantar. Nesse mesmo sentido, a ideia é, a partir desse panorama, incitar dúvidas e
estimular novas pesquisas explicativas desse quadro da produção cultural local. Mas já
abusando de certa licença ao leitor, é possível explicar a omissão do patrocinador como uma
característica daqueles que não pretendem ter seu nome associado ao apoio concedido.
Muitas vezes eles também podem ser pessoas físicas ou mesmo jurídica que fazem apoio
pontual e não querem ser alvo de novos pedidos. Bom, são meras elocubrações que
precisariam de um longo caminho até a prova, se situando ainda em estágio preliminar de
uma futura hipótese ou suposição de pesquisa.
Daqueles que sobraram (309 casos) e foram identificados, podemos dizer que a
realidade é bastante pulverizada depois que desconsiderando a UFV e a Prefeitura Municipal
de Viçosa. A primeira parace patrocinando 43% dos eventos locais e a segunda 13%. Apesar de
pouco expressivos, também aparecem como patrocinadores a Lei de Incentivo Estuadual à
Cultura, com 3,9% e o Núcleo de Arte e Dança, com 3,2% dos patrocínios. Todos os demais são
identificados com menos de 2% dentre os patrocinadores.
Enfim, e buscando um olhar que vislumbra pistas sobre o futuro, uma última figura. Na
verdade, pouco é possível dizer com a certeza pretendida, ainda mais que o risco do erro é
fantasma a amemdrontar qualquer futurólogo. Portanto, vamos nos ater somente à produção
cultural e que tipo de tendência os próprios dados apontam.
A Figura de número 7 mostra toda a produção cultural noticiada ao longo desses 28
anos e, reunindo os dados na forma de áreas, limitadas por linhas que indicam o número de
cada produção no respectivo ano, promove sobreposições da modalidade de eveno mais
produzida sobre a menos produziva por ano.
As duas cores preponderantes são a azul e a amarela, respetivamente as indicadoras da
produção musical e das exposições. Como, assim como nas demais, e como já abordado
anteriormente nessa descrição, os picos de alta e baixa produção são uma constante, o que
parece evidenciar uma fragilidade na organização dos eventos, sugerindo haver interesses ou
capacidade de organização que não se mantém ao longo do tempo. Geralmente, há sempre
um pico ascendente a partir de um ano com baixa produção, mas que é sucedido por novo
pico, só que descendente. Quanto ao futuro, o que essas variações parecem indicar, de forma
acumulada, é que apenas a música e a dança parecem caminhar progressivamente.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
33
No caso da música essa tendência de ascendência é bastante nítida, sendo o caso da
dança menos acentuada. A tendência de queda da produção de teatro e de exposições é lenta
e com inclinações similares.
0
10
20
30
40
50
60
70
80MÚSICA
TEATRO
DANÇA
EXPOSIÇÃO
Figura 8: Frequência das principais produções culturais locais de 1985 a 2013. Fonte: Dados da pesquisa.
Fica, portanto, o alerta aos envolvidos com a produção teatral e de exposição, pois arte
como expressão cultural é fundamental para nos questionarmos e nos reconhecermos uns nos
outros. O alerta é de esperança, que todas e ainda outras sempre cresçam em nossa
proximidade e acesso, pois a balisa mercadológica, tão importante para o apoio à produção,
também guarda seu viés original que a limita pela via exclusiva da demanda, levando à
tendência de se produzir sempre o que já é conhecido e produzido, enquanto que o que irá
marcar a boa e qualificada resposta à exposição cultural é justamente o que ainda não se
conhece, o que surpreende, o que não se sabia e nos leva ao pensar de imediato e
continuamente.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicio o enredo deste fim recuperando ressalva feita no início deste capítulo, de que os
nesta descrição a pretensão foi módica, exíqua no sentido exato da palavra. Não só porque
paralelos foram os esforços para se trazer mais luzes à organização do Programa de Educação
Tutorial, no cômputo geral, e do PET-ADM, especificamente, mas por esperar que a partir do
banco de dados que disponibilizamos novas pesquisas sejam realizadas.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
34
Explorar e promover discussões sobre a questão cultural foi prática inteiramente
condizente com conteúdos que escapam aos interesses de formação profissional de quem
costuma procurar e se formar administrador ou cientista contábil.
Ampliar o horizonte para além das naturalidades aparentes, ao se permitir navegar por
temas abstratos e inerentes às relações humanas, nos faz lembrar da importância de vermos
para além do alcance. Isso fortalece a opção de limpar o horizonte turvo dos acometidos pela
cegueira que resulta da formação que marca a maioria dos cursos de graduação atualmente,
fortemente compromissados com a formação técnica para tornar os alunos úteis ao mercado
de trabalho e pouco no sentido de despertá-los à crítica e aos questionamentos. Como em
muitos casos é justamente essa carga tecnicista que deixa claro a vários alunos que seu
talento é outro, talvez um curso que permita estímulos as suas aspirações artísticas acabe o
levando a afirmar: “dos cegos do castelo me despeço e vou. A pé até encontrar. Um caminho, o
lugar. Pro que eu sou”, e, assim ache seu rumo como o fez o titã Nando Reis. Estudar a cultura
aproxima, contamina, faz pensar, sonhar e mudar. Este é o espírito que personifica o próprio
PET mas, e principalmente, a educação.
A cultura local numa cidade de pequeno e médio porte vem sofrendo muito desde os
anos de 1990. A dinamização dos espaços nacionais em um grande mercado global aliciado
pelo retorno financeiro nos tirou os cinemas, encareceu o acesso aos grande nomes e inibiu as
expressões artísticas locais em detrimento do pop mastigado previamente pela TV.
Este trabalho vem acompanhado da esperança do efeito do álcool no fogo para manter
acesa a produção que pudemos aqui retratar. Fica a expectativa de que tenhamos contribuído
para a valorização de discussões culturais e estimulado quaisquer manifestações neste
sentido, afinal, se avanços já nos são nítidos para a erradicação da miséria no Brasil,
permanente também são nosso clamor de que nunca nos esqueçamos de que “agente não
quer só comida”!
8. REFERÊNCIAS
FERRAZ, A. O poeta do Brasil profundo: memória, ao selar um pacto com o País real, Ariano
Suassuna universalizou o Sertão. Carta Capital, São Paulo, n.810, p.68-69, 30 jul. 2014.
Jornal Folha da Mata (JFM). O Folha da Mata. Disponível em:
<http://www.folhadamata.com.br/site/o_folha_da_mata.php>. Acesso em: 07 ago 2014.
Ministério da Educação (MEC). Apresentação - PET. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12223&ativo=481&Ite
mid=480. Acesso em: 04 ago. 2014a.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
35
Ministério da Educação (MEC). Apresentação - PET. Legislação - PET. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12227&Itemid=4
84>. Acesso em: 04 ago 2014b.
_______. Manual de Orientações – PET. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12228&Itemid=48
6>. Acesso em: 04 ago 2014c.
PORTAL PET. Disponível em: <http://www.portalpet.feis.unesp.br/sobreopet/>. Acesso em: 04
ago 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Jornal da UFV. Disponível em:
<http://www.portal.ufv.br/crp/?page_id=602:>. Acesso em: 07 ago 2014.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
36
MUSEUS UNIVERSITÁRIOS E VISITAÇÕES: REPRESENTAÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA A SUA GESTÃO EM
VIÇOSA (MG) – BRASIL6
Magnus Luiz Emmendoerfer, Alice Sanches Melo, Fernanda Márcia Souza e Eduarda Nogueira Vieira
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho parte da premissa de que as cidades, que estão fora das regiões
metropolitanas das capitais das unidades federativas no Brasil e que possuem Universidades
Públicas mantidas pelo governo federal possuem, por meio de uma história entrelaçada e
influenciada por estas Instituições de Ensino Superior, uma representação associada a elas.
Esta premissa surgiu da vivência dos autores deste trabalho como docente e alunos em
sua Universidade, bem como em visitas a outras Universidades brasileiras, que estão inseridas
neste contexto supramencionado.
Nesta cidade, foi criada em 1926 a Escola Superior de Agricultura e Veterinária – ESAV
por Arthur da Silva Bernardes, viçosense e então pelo presidente do Brasil. Em 1948, ESAV se
tornou Universidade Rural do Estado de Minas Gerais - UREMG. Em 1969 a UREMG passou se
chamar Universidade Federal de Viçosa (UFV, 2014). A implantação da UFV dentro do
“perímetro urbano constituiu um fator de cristalização num dos vetores de crescimento da
cidade. A UFV tem atraído pessoas em busca de emprego e traz estudantes e professores de
diversos locais do País, promovendo o crescimento da cidade” (WIKIPEDIA, 2013).
A UFV é uma instituição de difusão de conhecimento de nível internacional, sendo
historicamente a principal imagem que tem representado a cidade de Viçosa, fora dela. Porém
a UFV é vista também nesta cidade como um espaço distante da maioria de sua população,
devido aos seus conhecimentos produzidos não resultarem necessariamente em melhoria na
qualidade de vida dos habitantes de Viçosa. Pressupõe-se que isso gera uma imagem interna
negativa junto aos habitantes residentes na cidade de Viçosa, ao mesmo tempo uma imagem
positiva externa a cidade, associada aos resultados de pesquisa publicizados e parcerias
realizadas pela UFV. Somado a isso, pode acrescentar as expectativas positivas e de esperança
6 Este trabalho foi ampliado e atualizado a partir do trabalho apresentado no III Congreso Internacional de Cidades Criativas, realizado na Universidade de Campinas – UNICAMP em 2013. Cf. http://congreso2013.ciudadescreativas.es/index.php/es/
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
37
em uma boa formação profissional que aos alunos chegam na UFV, bem como as experiências
adquiridas e levadas pelos alunos formados que vão atuar profissionalmente, em sua maioria,
em outras cidades.
Diante desta situação dessas imagens que coexistem no imaginário das pessoas que ali
convivem, nas últimas décadas a UFV tem procurado mudar essa imagem interna, buscando
estreitar seu relacionamento junto à comunidade. Assim, a instituição tem elaborado espaços
culturais como os museus, que promovem o desenvolvimento da cidade, interligando assim a
Universidade e a comunidade, de modo a beneficiar ambos.
Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender a representação da cidade de Viçosa
a partir da relação estabelecida entre os seus habitantes e a comunidade da Universidade
Federal de Viçosa (UFV) em visitações públicas a museus nesta cidade.
2. MUSEUS E O CAMPO DO PATRIMÔNIO NA ECONOMIA CRIATIVA
Os museus7 são espaços culturais de lazer e entretenimento, abertos para visitação
pública e acessíveis para todos os tipos de públicos. Segundo o Instituto Brasileiro de Museus
(IBRAM), os museus representam um grande incentivador da cultura, pois trabalham
permanentemente com o patrimônio cultural no seu estudo, conservação e valorização e
abrem possibilidades de expressão de identidade, percepção crítica da realidade,
oportunidades de lazer e produção de conhecimentos (BRASIL, 2011). O IBRAM define que:
Os museus são casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos,
pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e
formas. Os museus são pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos,
tempos, culturas e pessoas diferentes (BRASIL, 2011).
Assim, inspirados em Suano (1986) e Barja (2013) observa-se que o museu é um local
que preserva e expõe objetos considerados testemunhos e patrimônios materiais e imateriais
da humanidade para fins de educação, difusão da ciência e tecnologia e desenvolvimento
cultural. Os museus são locais que permitem a interação desses objetos com os visitantes, que
permitem despertar o interesse pelo conhecimento ali existente por parte dessas pessoas que
visitam os museus.
7 Para mais informações online sobre museus, Daniel Viana de Souza, mantém um site na internet que disponibiliza diversos trabalhos nacionais e internacionais sobre os museus, sua gestão e a museologia. Cf. http://minhateca.com.br/Daniel.Viana.de.Souza/Textos+diversos/Museus+e+Museologia
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
38
Em 2013, o IBRAM juntamente com os museus em diversas cidades do Brasil, inclusive
com aqueles universitários, realizaram a semana dos museus, que é um evento anual para
estimular a visitação e sensibilizar a população sobre a importância dos conteúdos existentes
nos museus. Neste ano de 2013, o tema foi a criatividade, que pode ser conduzida e
principalmente estimula pela visita aos museus.
A associação dos Museus ao tema da criatividade tem relação com as ações que o
Ministério da Cultura (MinC) no Brasil está empreendendo nesta gestão governamental,
período 2011-2014.
Em 2011, o MinC publicou em 2011 o Plano da Secretaria da Economia Criativa, onde
são estabelecidas as diretrizes políticas e ações a serem seguidas entre 2011 e 2014 no setor
da Economia Criativa, por meio de organizações culturais nos seguintes campos(Figura 1).
A Figura 1 demonstra os campos e os segmentos ou ramos de negócios do setor
chamado economia criativa, no Brasil. Essas organizações estão inseridos neste setor porque
em suas práticas, os indivíduos em suas ocupações possuem a criatividade como base do
processo produtivo de seus serviços que são imbricados de dimensão simbólica, cujo valor é
agregado pelos consumidores ou usuários, ao contrário de outras formas de organizações no
mercado que embutem em seus produtos, elementos chave como preferências, estilos de
vida, status, padrões de consumo, e outras (EMMENDOERFER e MARTINS, 2013).
Desta forma, os produtos na economia criativa não são valorizados pela sua utilidade
prática, por sua materialidade, como os bens produzidos pelas indústrias e organizações
tradicionais, mas sim pela interpretação subjetiva (LAWRENCE e PHILLIPS, 2009) de um
significado por parte do consumidor ou usuário.
Figura 1 – Campos e setores produtivos da economia criativa
Fonte: Brasil (2011, p.30).
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
39
Observa-se que os museus estão contemplados no campo do patrimônio no contexto
da economia criativa. Neste sentido, isso pode seu uma perspectiva para a criação de novas
imagens ou revitalizar as já existentes por meios dos bens e serviços culturais que podem ser
desenvolvidos nos museus e que necessitam de gestão (BARJA, 2013), para o desenvolvimento
deste local.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foram empregados dados documentais e de entrevistas com visitantes de museus
nesta cidade. Os documentos utilizados forma aqueles sobre os museus obtidos em suas
respectivas sedes, bem como em dados na internet obtidos no site da UFV. Além disso, foi
também manejado o plano nacional de economia criativa, disponível na internet para domínio
público, conforme constam nas referências bibliográficas deste trabalho.
Com o levantamento de dados com base em roteiros estruturados Tabela 1, aplicados
em forma de entrevista com “grupos de participantes”, considerados nesta pesquisa como
estratégicos da população viçosense. Por ser uma cidade universitária, é possível encontrar
territorialidades e diferenças na população, temos: os universitários, os ditos “nativos”,
aqueles mais velhos que presenciaram os processos de modificação que ocorreram em viçosa
- que puderam contribuir com a diversidade dos dados em seus variados aspectos e visões.
Tabela 1: Roteiro estruturado de entrevista utilizado
I- Qual o seu sexo? 1-masculino 2-feminino
II- Qual a sua idade? |___|___| anos
III- Qual é o seu grau de escolaridade?
1-Ensino Fundamental (Incompleto)
2-Ensino Fundamental (Completo)
3-Ensino Médio (Incompleto)
4-Ensino Médio (Completo)
5-Técnico
6-Ensino Superior (Completo)
7-Ensino Superior (Incompleto)
*Se cursando, qual?_________________________
VIII – O que menos agradou ou faltou na sua visita ao(s) museu(s)?
IX – O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo?
X – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?
XI – Você acredita que tem algum museu em Viçosa que se destaca e que poderia representar a cidade?
NÃO CONHECE E NUNCA VISITOU EM VIÇOSA
XII – Porquê?
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
40
8-Pós Graduação: Mestrado ou Doutorado
9-Alfabetização de Jovens e Adultos
10-Nenhuma das Alternativas
IV- Você mora em Viçosa?
1-SIM 2-NÃO - onde?_____________
V – Conhece os museus da cidade?
( ) Não e nunca visitei (vá para a questão XII)
( ) Sim, conheço, mas nunca visitei (Assinale as opções e vá para a questão XV)
( ) Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef visita:____
( ) Museu de Zoologia João Moojen visita: ____
( ) Sala Mendeleev visita:_____
( ) Museu Histórico da UFV visita: _____
( ) Pinacoteca da UFV visita:_____
( ) Casa Arthur Bernardes visita:_____
CONHECE E VISITOU ALGUM MUSEU EM VIÇOSA
VI – O que motivou a sua visitação?
VII – O que mais lhe chamou a atenção no museu?
XIII – O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo para você?
XIV – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?
Conhece, mas nunca visitou na cidade
XV – Porquê?
XVI - O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo para você?
XVII – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?
XVIII - Você acredita que tem algum museu em Viçosa que se destaca e que poderia representar a cidade?
Fonte: Elaboração própria.
Para conhecer a relação entre a população viçosense e os museus e espaços de ciência
da cidade, além da representação que se tem em relação aos museus da cidade, foram
realizadas com dois agrupamentos de pessoas distintos. O primeiro composto por (30) trinta
estudantes da UFV, com idades entre dezoito e vinte e cinco anos, e o segundo composto por
(65) sessenta e cinco moradores da cidade, com idades bem variadas, entre doze e noventa e
três anos, sendo que estes 2 grupos possuem indivíduos de diferentes, escolaridades e sexo.
As entrevistas foram realizadas em 6 museus, sendo que 5 são de fato e 1, apesar de
ser um espaço de ciências, possui características de organização e visitação semelhante a um
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
41
museu. Logo, para fins desta pesquisa este último espaço, foi considerado também um museu.
Esses museus foram descritos na seção seguinte.
Os dados coletados foram cotejados e organizados por meio da análise de conteúdo
categorial que considerou os elementos indicados na Tabela 1, o roteiro de entrevista, para
exposição dos resultados.
4. MUSEUS DA CIDADE DE VIÇOSA – MINAS GERAIS – BRASIL
A Universidade Federal de Viçosa (UFV) é responsável atualmente pelos seis museus na
cidade de Viçosa - MG, sendo que estes espaços possuem grande potencial de lazer, cultura,
arte, entretenimento e conhecimento a serem explorados. Com diferentes temáticas,
atendem principalmente o público escolar, através de exposições, oficinas, minicursos e
palestras.
Contudo, cada um desses museus ou espaço de ciência tem suas próprias
particularidades, que aqui serão caracterizadas de maneira sucinta, através de um breve
histórico a fim de se entender o contexto das relações estabelecidas entre a comunidade e os
museus/universidade.
O Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, Figura 2, antigo Museu de Minerais,
Rochas e Solos, foi criado em quinze de dezembro de 1993, com o intuito de popularizar as
ciências da terra na Zona da Mata Mineira, através de ações voltadas principalmente para a
educação em solos e meio ambiente.
A exposição permanente do espaço conta com um acervo diversificado de rochas e
minerais, juntamente com o espaço denominado “Proibido Não Tocar”, onde os visitantes têm
acesso a uma abordagem mais dinâmica e interativa, aprendendo sobre solos e meio
ambiente através de demonstrações práticas.
Este Museu oferece atividades educativas a alunos das escolas da região, realizadas a
partir de exposições itinerantes, minicursos, oficinas variadas, dentre elas de tintas de solos,
percepção ambiental e biomas. Há também a existência de uma “Sala Verde”, projeto do
Ministério do Meio Ambiente para promover a educação ambiental a partir do empréstimo de
materiais como jogos, vídeos e livros com temáticas ambientais à população.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
42
Figura 2: Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef Fonte: Arquivo Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef.
O Museu de Zoologia João Moojen, Figura 3, teve sua exposição permanente criada em
1993, sendo composta por vários animais taxidermizados da fauna brasileira. Sua coleção
atinge mais de vinte mil exemplares, entre répteis, anfíbios, aves, mamíferos e fósseis.
Esse espaço também desenvolve várias pesquisas com espécimes, sendo possível a
realização de minicursos de identificação de serpentes e observação de aves, além de
palestras temáticas e exposições temporárias. É considerado um dos mais importantes
espaços de pesquisa zoológica em vertebrados de Minas Gerais.
Figura 3: Museu de Zoologia João Moojen
Fonte: UFV (2013).
A Sala Mendeleev, Figura 4, está inserida em um espaço de popularização científica
denominado Ciência em Ação, onde são desenvolvidos projetos de extensão do departamento
de química da UFV.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
43
Esse espaço possui uma exposição da Tabela periódica dos elementos gigante, com 3
metros de comprimento e 2 metros de largura, onde os visitantes podem conhecer a aplicação
prática desses elementos no cotidiano e suas curiosidades. ]
Há também a possibilidade do manuseio de amostras desses elementos e realizar
experimentos químicos demonstrativos.
Figura 4: Espaço Ciência em Ação, onde se localiza a Sala Mendeleev. Fonte: UFV (2013).
O Museu Histórico da UFV, Figura 5, foi inaugurado em 26 de Agosto de 1986 e a
Pinacoteca foi fundada em fevereiro de 1973, sendo que atualmente os dois espaços
funcionam em conjunto, em um mesmo prédio. A Pinacoteca apresenta diversas exposições
temporárias de artistas de várias partes do Brasil, conhecidos e iniciantes, além de possuir
variado acervo de arte contemporânea, sendo grande parte proveniente de doações de
artistas e colecionadores. Busca a difusão cultural entre toda a comunidade local. Possuindo
como acervo de sua exposição permanente peças que representam a trajetória e evolução da
antiga Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) até a atual Universidade Federal de
Viçosa (UFV), o Museu Histórico da UFV recebe principalmente a visita de instituições da rede
pública e particular de Viçosa e região e promove o resgate e preservação da memória da
Universidade.
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Figura 5: Museu Histórico e Pinacoteca da UFV. Fonte: Arquivo Museu Histórico da UFV.
Situada na região central da cidade de Viçosa – MG, a Casa Arthur Bernardes, Figura 6,
foi construída em 1926 para servir de residência para o então presidente e responsável pela
implantação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) – atual UFV -, Arthur da
Silva Bernardes, sendo transformada em museu em 1993, em parceria com a Universidade
Federal de Viçosa (UFV).
Figura 6: Casa Arthur Bernardes
Fonte: Lucas Teixeira
A exposição permanente é composta por fotos da carreira política e vida pessoal do ex-
presidente viçosense, além de vários objetos pessoais, condecorações e mobiliário original
que compunham a casa em Viçosa e a residência presidencial no Rio de Janeiro na época do
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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seu mandato. Com ampla área externa, o espaço também é utilizado para a realização de
eventos como palestras, feiras literárias e mostras na cidade, atuando como importante
agente disseminador da cultura, arte, e história de Viçosa.
5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Na cidade de Viçosa – MG pode-se perceber através da referida pesquisa que a maioria
da população nativa da cidade conhece os museus existentes na mesma, mas nunca visitou
estes espaços, que estão abertos à visitação de toda a comunidade local e regional
gratuitamente.
Segundo os entrevistados que não conhecem e nunca visitaram os museus de Viçosa,
estes não freqüentam esses museus e espaços de ciência devido ao pouco tempo disponível,
além da realidade cultural dessa população, residente em uma cidade do interior, onde não há
o hábito e o incentivo à visitação museológica e a outros espaços culturais como forma de
lazer.
Muitos entrevistados ainda, não consideram esses locais como museus e espaços de
ciência de fato. Um exemplo notório seria a Casa Arthur Bernardes, antiga residência do ex-
presidente da República Arthur da Silva Bernardes, natural de Viçosa – MG. A Casa busca
preservar e divulgar sua trajetória política e pessoal, através de fotos, móveis e objetos
pessoais. Apesar de estar bem localizada, situada na região central da cidade, a população
desconhece seu acervo e objetivo.
Outra forma de desmotivação dessas pessoas a visitarem esses museus é a falta de
divulgação de forma que atraia àqueles espaços e o interesse pelo que está sendo exposto.
Além disso, vários entrevistados alegaram também que a falta de companhia para realizar esse
tipo de atividade é um fator relevante.
Dentre os entrevistados que conhecem e visitaram os museus, em sua maioria a
motivação foi simplesmente o interesse e curiosidade, uma vez que esses são fatores
relatados tanto pela população da cidade quanto pelos alunos da Universidade.
Devido ao vínculo de muitos funcionários desses espaços e da própria UFV com as
pessoas da cidade, muitos disseram conhecer esses lugares por terem conhecidos que
trabalham ou trabalharam na instituição.
Em sua maioria, as visitas recebidas pelos museus e espaços de ciência são motivadas
pelos professores das escolas tanto públicas quanto particulares das redes de ensino da cidade
e região, o que de alguma forma faz com que alguns pais tenham conhecimento sobre a
existência desses espaços.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
46
Há uma parte da população da cidade que nunca ouviu falar e por isso nunca visitou
os museus existentes, sendo que estes reclamam da falta de divulgação desses espaços pelos
meios de comunicação da cidade de viçosa da universidade, como rádio, TV, folders, cartazes e
placas indicativas. Segundo os mesmos há um descaso, ou até mesmo uma desvalorização
desses espaços pelo poder público e uma falta de recursos que promovam a cultura e o
turismo.
Focando nos alunos da Universidade entrevistados, muitos também conhecem os
museus por curiosidade ou interesse, sendo que a maioria deles já visitou alguns desses
espaços, tendo destaque o Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, que devido a algumas
disciplinas do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, ao qual este espaço
é vinculado, algumas atividades realizadas neste museu acabam se tornando parte do período
letivo, além da Casa Arthur Bernardes, também amplamente citada.
Na visão da maioria da população entrevistada da cidade de Viçosa - MG, o museu
que se destaca e que poderia representar a cidade seria a Casa Arthur Bernardes, pois
segundo os mesmos este espaço traz consigo a história da cidade vinculada à vida do ex-
presidente Arthur Bernardes que é uma figura nativa importante também na história nacional.
Outra justificativa desse espaço ser considerado um representativo da cidade seria o fato dele
estar situado no centro da cidade, uma vez que os outros museus e espaços de ciência estão
situados no espaço da Universidade, que é um ambiente visto muitas vezes como inacessível
pela população, principalmente de classes mais baixas.
Outras realidades puderam ser identificadas por meio dessa pesquisa, pois é grande o
contingente populacional da cidade que não sabe que a universidade, por ser uma instituição
pública, é aberta a qualquer cidadão, agravando a relação entre os museus e a cidade, pois
todos eles estão vinculados à mesma.
Por receber visitas de boa parte do estado de Minas Gerais, tanto por escolas como por
faculdades, o Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, foi considerado por alguns como um
dos museus que se destaca e que poderia representar a cidade de Viçosa. Devido também a
sua estruturação e também as atividades que desenvolve fora de seu espaço físico, tendo
destaque as exposições itinerantes.
Outros consideraram que o Museu Histórico da UFV se encaixa nesse grupo, por contar
a história da universidade e sua evolução, que influenciou fortemente o crescimento da
cidade.
Porém algumas pessoas que foram entrevistadas consideraram todos os museus da
cidade como uma forma de representação da cidade de Viçosa, pois um museu conta um
tempo ou uma história daquele lugar, pois independentemente do tipo de museu que exista,
ele pode representar de alguma forma a história de determinado lugar.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
47
Em meio os entrevistados, foi grande o número de pessoas que enxergaram o museu
como local de caráter meramente histórico, contendo apenas peças antigas de uma
determinada época.
Esses resultados servem de evidências para a premissa que foi traçada no inicio deste
trabalho. E que apesar de Viçosa ter seis museus coordenados pela UFV, observou-se que eles
são mal utilizados, isso por que ao mesmo tempo em que há o potencial para o
desenvolvimento deste tipo de atividade no contexto da economia criativa, existe o
desconhecimento ou o desinteresse por parte da população.
6. CONCLUSÕES
As evidências identificadas e observadas nesta da pesquisa confirmaram a premissa
traçada neste trabalho de que os museus de Viçosa são uma parte da cidade praticamente
desconhecida pela população, principalmente aqueles que se encontram dentro do Campus -
que seriam todos, exceto a Casa Arthur Bernardes, que por ser um museu localizado fora do
campus, vários entrevistados disseram já o ter visitado por terem certeza que aquele não seria
um espaço restrito àqueles que têm algum vínculo com a UFV. Essas evidências trazem dados
importantes para a reflexão e a ação de gestores culturais que lidam com museus
universitários.
Com os dados levantados foi possível observar que o motivo mais relatado de
desconhecer os museus é a falta de tempo e interesse nos temas dos museus. Por
funcionarem essencialmente em horário comercial, aqueles que trabalham durante a semana,
realmente não conseguem encontrar um horário compatível para que ocorra a visitação.
Essa realidade mostrada pelas entrevistas aponta para onde teria que haver
modificações para melhorar esse cenário de desconhecimento por parte da população. Uma
maior divulgação, horários de visita mais flexíveis e abrangentes, abordagens mais dinâmicas
dos temas, interatividade do público com o acervo, foram os pontos mais destacados pelos
entrevistados.
O resultado desse distanciamento da população quanto a UFV traz um estigma à
instituição de ser um agente segregador e que seu acesso está restrito àqueles que fazem
parte dela. Isso faz com que haja um grande investimento em saberes - por parte daqueles
que integram estes espaços - a fim de atender e transmiti-los a essa comunidade, mas que
acaba não sendo aproveitado em seu todo. Tal realidade reforça a coexistência das duas
imagens centrais e incongruentes sobre Viçosa, que fragilizam sua identidade de cidade, por
meio de representações socialmente construídas e reificadas, apesar dos esforços estarem
centrados na UFV. Especificamente, no trabalho executado por professores, técnico-
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administrativos e estudantes nos museus enquanto extensionistas, mantendo estes em
condições mínimas, mas importantes, para se manter frequente as visitações.
7. REFERÊNCIAS
BARJA, W. (Org.). Gestão museológica [recurso eletrônico]: questões teóricas e práticas / Seminário Internacional sobre Gestão Museológica realizado pelo Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013. Disponível em: http://pdf.escrbc.com/SeminarioInternacionalGestionMuseologica Brasilia2013.pdf. Acesso em 01 de agosto de 2014.
BRASIL. Plano da secretaria da economia criativa: políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014. Ministério da Cultura. 2.ed. Brasília, 2011. Online. Disponível em <http://www.cultura.gov.br>. Acesso em fevereiro de 2014.
LAWRENCE, T. B.; PHILLIPS, N. Compreendendo as indústrias culturais. In: Wood JR., T., Bendassolli, P. F., Kirschbaum, C. & Cunha, M. P. (orgs.). Indústrias criativas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2009.
EMMENDOERFER, M. L.; MARTINS, B. C. L. Gestão de circo: um campo de atuação profissional (des)conhecido, Tourism & Management Studies, v.9, n.2, p.118-123. 2013. Disponível em http://tmstudies.net/index.php/ ectms/article/view/597. Acesso em 01 de agosto de 2014.
SUANO, M. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986. Online. Disponível em: http://minhateca.com.br/Daniel.Viana.de.Souza/Textos+diversos/Museus+e+Museologia/SUANO*2c+M.+O+que+*c3*a9+museu,47179482.pdf. Acesso em: 01 de agosto de 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Museus. Viçosa. MG. Brasil. 2013. Online. Disponível em: http://www.portal.ufv.br/?page_id=154. Acesso em: 20 de maio de 2013.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Uma viagem pela história da instituição. Online. Disponível em: https://www2.cead.ufv.br/linhaTempo87Anos/. Acesso em: 01 de agosto de 2014.
WIKIPEDIA (2013). Viçosa. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Vi%C3%A7osa_(Minas_Gerais). Acesso em 30 de junho de 2013.
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VIDA DE BAILARINA
Doris Dornelles de Almeida
Para introduzir a trajetória de vida dedicada à dança, farei uma breve apresentação
com um resumo do meu currículo como bailarina, coreógrafa, professora e pesquisadora nesta
área. Nasci em porto Alegre capital do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil e tenho trinta e seis
anos. Minha formação em dança ocorreu primordialmente na técnica ballet clássico, jazz e
contemporâneo.
Sou Professora de Ballet Clássico e Música do Curso de Graduação em Dança do
Departamento de Artes e Humanidades na Universidade Federal de Viçosa-UFV, bailarina com
experiência profissional nacional e internacional em companhias de dança desde 1994,
diretora, coreógrafa e fundadora do Ballet Virtuose e pesquisadora nas Ciências Humanas,
Sociais, Filosofia e Arte na temática da dança, cultura nas organizações e indústria cultural,
baseada na perspectiva do corpo sócio-histórico-cultural e do embodiment (corporalidade).
Sou Mestre em Administração e Negócios com Louvor pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul-PUCRS (2012), Especialista em Teoria do Teatro-Cena Contemporânea pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (2005), Bacharel em Administração de
Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS (2006) e Bacharel
em Artes-Dança - Folkwang Hochschule Essen- Alemanha (2002).
A palavra bailarina traz consigo diversos significados de origem cultural, social e
histórica, por refletir um ser apaixonado pela sua profissão: a dança. Ser bailarina significa em
poucas palavras, dedicação, disciplina, persistência, controle físico e emocional na arte da
dança.
Embora seja o sonho de toda menina, pelo menos nos países ocidentais, ser bailarina
vincula-se a imagem de que ao usar as sapatilhas, os tutus e os brilhos as pequenas
sonhadoras se transformem como num passe de magica em ‘borboletas dançantes’, fadas que
voam e dançam com seus príncipes. Os familiares apoiam e estimulam as crianças esta dança
que se inicia como uma brincadeira, entretanto a realidade se transforma quando estas
crescem e optam por seguir uma carreira profissional.
Quem já teve contato com a dança clássica percebe que por detrás desta figura ‘linda e
leve’ existem inúmeras privações que estas mulheres e homens devem fazer para tornar-se
‘BAILARINO’ como profissão. Mesmo aqueles que vivem o ballet como hobby sentem as dores
físicas e emocionais, esforços, pressões e algumas das facetas do que é ‘ser bailarino’. O
enfrentamento de uma rotina caracterizada ‘militarizada’ do ballet como profissão geram
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
50
reflexões sobre algumas questões relacionadas sobre o uso exacerbado do corpo,
alimentação, obsessão pelo movimento, abdicação da infância e juventude nos
Conservatórios, adiamento da união familiar e maternidade, discriminação, prolongamento da
juventude e medo do corpo ‘não responder’ aos anseios da ‘mente’. A princípio ser bailarina
associa-se culturalmente aos fatores de: beleza física, leveza, destreza, magreza, agilidade
motora, sucesso, artista, feminilidade, fragilidade, sapatilhas de pontas, tutu, ser etéreo e
‘super humano’.
Os mistérios dos bastidores desta arte, em especial das vidas dos bailarinos, causam
polemicas e são registradas por diversas áreas através de filmes, documentários, livros, cartas,
vídeos, fotografias, pesquisas e relatos de vida. No entanto, esta carreira permeada pela dor e
esforço também possui seus momentos de glória. Estes momentos refletem as emoções
provenientes dos aplausos da plateia, ao interpretar um personagem, de viver
financeiramente ‘fazendo o que se gosta’, de obter reconhecimento dos pares,
professores/treinadores (ballet masters), coreógrafos, diretores e críticos e o inexplicável
prazer de dançar. Contudo, ser bailarino para além de uma função profissional de execução de
coreografias e movimentos de dança, engloba participar ativamente de processos de criação
coreográficos, ensaiar, treinar diariamente na técnica a qual dança, dedicar-se ao
conhecimento do próprio corpo e percepção dos corpos dos seus pares, participar
constantemente de testes de seleção (audições) para as obras coreográficas, desenvolver boa
comunicação verbal e corporal, ensinar dança, compartilhar experiências corporais, pesquisar
e estar atualizado sobre técnicas e obras coreográficas a nível mundial, adaptar-se a diferentes
espaços, bailarinos, coreógrafos, ballet masters (treinador de ballet), ensaiadores, técnicos de
palco, figurinos, musicas, emoções, horários de trabalho, alimentação, especialmente nas
tournées.
Quando fui convidada a escrever este capítulo de livro me deparei com reflexões sobre
como esta arte da dança delineou e ainda guia minha trajetória de vida. Estas sensações,
vivências e lembranças, traduzidas em palavras, registram esta minha experiência pessoal ha
trinta anos nesta arte tão intensa.
1. AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EM DANÇA
Meu primeiro contato com o ballet clássico foi aos três anos de idade, com tom de
brincadeiras propostas por uma professora dentro de um Jardim de Infância em Porto Alegre-
Rio Grande do Sul; Brasil, onde as meninas faziam ballet enquanto os meninos faziam futebol
no horário destinado às atividades físicas.
Nesta época se percebe a distinção social que se incitava nas crianças do Jardim de
Infância, no qual as meninas estavam estimuladas a dançarem e os meninos ao jogo de
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
51
futebol, entretanto trinta anos depois este modelo social em relação ao gênero e ao ballet
continua se perpetuando.
O fascínio pelo primeiro espetáculo, a surpresa da sensação e a expectativa de se
apresentar em publico causavam ‘frios na barriga’, mas era emocionante pensar que em dado
momento, para um grupo de pessoas nos apresentaríamos como bailarinas. O figurino
caracterizado pela meia calca rosa, malha rosa, tutu composto por uma camada de tules
presos por uma seda e decorado com lantejoulas, as sapatilhas novas, o cabelo puxado na
forma de coque e a maquiagem nos remetiam a outro mundo, o mundo da fantasia. Ainda
guardo este tutu, pequeno, singelo, mas que carrega consigo toda emoção que ao olha-lo
sinto a emoção de pisar no palco pela primeira vez, e com essa sensação a de que aquele lugar
magico me transportava para outro lugar, um lugar do qual nunca mais conseguiria como em
um vício deixar de estar, no palco.
Contudo, além do palco me fascinavam as aulas de ballet, as músicas clássicas e as
brincadeiras lúdicas de dança ao interagir com as outras crianças dançando. A dança
possibilitava errar e acertar, viver personagens diversos, conviver com as professoras que
eram nossas guias e nosso maior exemplo, o aprendizado sobre dançar em equipe,
experimentar no corpo movimentos, desenvolver percepções auditivas, visuais, cinéticas,
espaciais, espirituais e mentais.
Após alguns anos, perto dos seis anos de idade, quando estava entrando no ensino
fundamental, a cidade de Porto Alegre oferecia na época, em meados de 1984, uma gama
variada de escolas de ballet para crianças. Minha mãe após uma pesquisa decidiu junto a meu
pai a me matricular na escola de ballet do meu novo colégio. A diretora e minha professora
era bailarina em outra escola e havia fundado aquele estabelecimento para obter uma renda
financeira para pagar por seus estudos na Universidade. Assim continuei meus estudos em
ballet, iniciando meus estudos em pontas aos nove anos de idade.
Nesta escola éramos poucas alunas, o que tornava o ensino bem particular, éramos
como uma família, tratadas com muito carinho e atenção e neste lugar dancei meu primeiro
solo coreográfico. Nossa sala de aula, localizada no andar superior do colégio, de onde víamos
diariamente o palco, e também a dançar cada vez mais e a sonhar em estar naquele lugar. A
sala era pequena e não possuía espelho, o que nos estimulava por um lado, a percepção
corporal e a criatividade, algo atípico para o ballet.
Os espetáculos se tornaram mais frequentes e junto a estes as vivencias com os
ensaios, figurinos, as estórias para contar com movimentos e a serem interpretadas eram
cuidadosamente ensinadas, com introdução a técnica do ballet, mas também dando espaço
para a ludicidade e o florescimento da bailarina que existia em cada uma de nos. Eu era
disciplinada, apaixonada por dançar, mas ainda tinha muito a aprender, então depois de seis
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anos neste ambiente ‘protegido’ pela intensa relação com as colegas e com a professora, onde
trabalhamos o lado lúdico da dança pedi para a minha mãe para ir para uma escola ‘maior’,
ambiente muito diferente do qual havia vivenciado meus primeiros contatos com a dança.
2. ESCOLAS DE DANÇA E SUAS PARTICULARIDADES
Importante destacar que nesta nova escola havia somente mulheres, não havia, com
homens dançando, com diversos níveis de aprendizado, a técnica era rígida e as bailarinas que
não atendiam prontamente a estes movimentos corporais eram desestimuladas a dançar,
havia uma competição extrema nas politicas de gestão e ensino nesta escola, as quais eram
marcadas nos uniformes, posições no espaço, onde as que eram melhores eram colocadas na
frente, nos tipos de tratamento das professoras e diretoras da escola que davam atenção
especial às alunas que se destacavam em técnica e tipo físico ‘adequado’ para a dança. Aos
onze anos de idade, junto a um grupo de alunas e diretoras desta escola realizei na minha
primeira viagem de dança internacional a Nova Iorque, Estados Unidos para assistir
espetáculos e ensaios de renomadas companhias e fazer aulas com renomados profissionais
da dança.
Esta experiência foi deslumbrante e chocante ao mesmo tempo, pois se por um lado
tivemos contato com bailarinos, escolas e companhias mais destacadas do mundo. Fiquei
emocionada ao ver os bailarnos ensaiando com figurinos somente para nós em estúdios de
dança com linóleo e cortinas, aquecidas e com piano, diferentes da realidade em que
vivíamos.
Todo aquele mundo era magico, nas aulas, no entanto, como eram realizadas em
escolas de dança abertas ao publico, onde qualquer pessoa pode pagar a aula no dia e entrar,
ai era onde começava toda a competição, tanto entre as alunas americanas, quanto entre as
alunas brasileiras. Essa atmosfera era percebida nos olhares das bailarinas quando entravamos
nas salas de aula, nos olhavam de cima abaixo como se fossemos extraterrestres, depois na
colocação espacial para os exercícios, onde ficávamos sempre atrás para que as bailarinas mais
acostumadas com a aula nos guiassem, contudo a diferença entre esta aula e a que fazíamos
em Porto Alegre era de que o professor não colocava as pessoas espacialmente, ele deixava
livre para que os bailarinos se colocassem. O uso da sapatilha de ponta e um vestuário
impecável com coques bem puxados e umas meninas ate usavam maquiagem nesta idade na
aula.
Passada esta experiência da viagem quando retornamos as aulas eram épocas de
espetáculos e na escola as seleções dos elencos eram feitas em função de quem pagava um
curso extra no final de ano para dançar. Ou seja, era uma politica capitalista de ‘pagar para
dançar’, em um âmbito de competição extrema sobre o corpo nos quesitos físico e emocional,
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de modo que muitas jovens já decidiam parar de dançar naquela idade. Vivendo diariamente
naquele ambiente por dois anos, no qual tínhamos que ser magras, com ‘peitos de pé’
salientes, pernas e torso com ampla flexibilidade, destreza técnica e nos faziam acreditar que
quem não possuísse estas características não poderia dançar. Todos aqueles acontecimentos
passados na escola de dança remetiam as expectativas físicas e técnicas disseminadas naquele
grupo sobre um estereótipo de bailarina.
3. DA ESCOLA PARA AS COMPANHIAS DE DANÇA PROFISSIONAIS
Aos treze anos, estava dançando na Escola de Bailados Clássicos Tony Seitz Petzhold.
Era uma Escola onde também funcionava uma Companhia de Dança, então a atmosfera era
outra diferente da minha ultima experiência. Aquele novo lugar possuía muitos artistas, onde
existia um tratamento interpessoal mais digno e ‘humano’, onde se trabalhava a técnica e o
artístico e havia mulheres e homens dançando. Comecei fazendo ballet com a professora
Anette Lubisco, uma bailarina expecional. Logo ela me incentivou a dancar jazz. Havia muitos
bailarinos no jazz, e já no primeiro espetáculo que dancei junto a eles no ballet e no jazz
percebi que sim, todos podiam dançar com seus diferentes corpos, apresentando suas
particularidades artísticas.
Senti muito feliz por perceber que poderia dançar novamente. Comecei a fazer outras
aulas na escola como ballet com a Sra. Tony Seitz Petzhold e também me dedicava ao Jazz, que
havia iniciado na minha primeira escola no colégio. A sensação naquele lugar e convivendo
com aqueles artistas marcou minha trajetória, e era somente o começo.
Logo surgiu audição para a Companhia Ballet Phoenix, eu tinha quinze anos e minha
professora me estimulou a realizar o teste. Eu não tinha ideia do que era uma audição e como
era trabalhar em uma companhia. A professora me deu dicas para as roupas de dança a serem
usadas na audição, fiz um coque e fui aproveitar a experiência de participar de uma seleção de
dança junto a inúmeros concorrentes experientes junto a uma banca avaliadora composta por
renomados profissionais de dança da cidade de Porto Alegre Magali Fett, Anette Lubisco e
Edson Garcia. Fui selecionada pela primeira vez como bailarina para dançar uma companhia de
dança.
O trabalho era realizado diariamente das 18 às 22h na sala de ensaios localizada perto
do Centro de Porto Alegre, com espetáculos e viagens de tournée nos finais de semana. Tinha
quinze anos e estava no colégio e possuía meu primeiro registro como bailarina no Sindicato
dos Artistas. Eu era a mais nova da companhia e o repertório variava do clássico ao jazz e
contemporâneo.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Os bailarinos do Ballet Phoenix, por serem mais experientes me proporcionaram
aprendizados como ‘estar em cena’, estar presente com todas as suas energias desde o
momento em que se pisa no palco, a se aquecer antes de entrar em cena, dedicação constante
tanto na melhora da técnica quanto na parte artística, dançar em conjunto e em solo, cuidar
de cada detalhe do movimento, doar-se para a plateia através da expressão corporal no palco,
treinar e ensaiar constantemente no aperfeiçoamento do movimento, a aplicar maquiagem no
rosto e no corpo quando necessário para atenuar as linhas musculares, contratar artistas de
outras áreas para auxiliar no desenvolvimento artístico do grupo e a riqueza de
conhecimentos compartilhados que um grupo de artistas proporciona.
Neste mesmo ano de 1994 tive a sorte de conhecer um ator e preparador teatral que
foi trabalhar conosco na companhia, o qual me convidou a treinar ballet em uma escola
chamada Ballet Concerto de uma preparadora de ballet muito qualificada chamada Victoria
Milanez. Desde aquele momento comecei a fazer aulas de ballet e pontas com a Victoria pela
manha e pela noite dançava na companhia Ballet Phoenix. Nestes dois principais centros de
dança de Porto Alegre concentravam-se os melhores bailarinos da cidade e arredores, sendo
que no Ballet Phoenix estavam os bailarinos contemporâneos e jazz e no Ballet Concerto os de
ballet clássico, dois estilos diferentes porem complementares. Existe um ditado interessante
que diz que o ‘mundo da dança e muito pequeno’, ou seja, que muitas vezes todos acabam
trabalhando juntos em algum momento, e a Victoria já havia treinado e dado aulas de ballet
clássico para todos os bailarinos do Ballet Phoenix quando a companhia havia sido fundada.
Na escola Ballet Concerto também funcionava concomitantemente uma companhia
com bailarinos e bailarinas clássicas, e logo fui convidada para dançar junto a eles. Dançava
então em duas companhias ao mesmo tempo e começava o segundo grau. Meus turnos eram
preenchidos entre aulas no colégio, aulas de ballet clássico, aulas de ballet na companhia à
noite e ensaios para os espetáculos das respectivas companhias.
Nestas duas companhias foram os primeiros contatos com a dança profissional,
vivenciei os bastidores e a cena dançando nos melhores teatros e lugares alternativos da
capital e no interior do Rio Grande do Sul. Além disso, os espetáculos eram dançados em
palcos praticáveis no centro da cidade, orquestras ao vivo, plateias lotadas, reportagens e
críticas em diversos jornais locais e na televisão RBSTV, so diversas obras coreográficas
clássicas e contemporâneas.
Trabalhando ainda em duas companhias de dança os horários de ensaio eram
alternados e pelo menos não trabalhava mais no período noturno diariamente. Estava no
último ano do colégio me preparando para o vestibular e comecei a pesquisar Universidades
de Dança para dar continuidade nos meus estudos na área que era mina paixão a dança. Nas
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minhas primeiras pesquisas começou mina preocupação, primeiro devido ao fato de não
haverem Universidades de Dança perto da minha cidade.
Continuei minha pesquisa e o próximo destino era Nova Iorque na Julliard School, meus
sonhos eram grandes. No entanto, quando investiguei as taxas de mensalidades e moradia o
sonho acabou por terra. Acabei permanecendo em Porto Alegre e investindo em meu
aprendizado em dança, fazendo duas aulas de ballet diariamente e não desisti. Neste processo
de aprendizagem continuei como bailarina da companhia Ballet Concerto durante cinco anos,
participando também das companhias de dança Anette Lubisco e Cia e Muovere Cia de Danca.
Neste período fiz aulas de contemporâneo, ballet e jazz em diversos centros de dança,
participando da criação coreográfica, ensaios e espetáculo. Quando retornamos a Porto Alegre
fizemos tour no Rio de Janeiro e participamos de importantes eventos culturais como o Porto
Alegre em Cena.
Dançando em tempo integral, como profissão, não tínhamos nenhuma segurança social
e jurídica trabalhista, retorno financeiro e contribuição daquele trabalho para a previdência
social, enfim não existíamos socialmente como classe trabalhadora. As bailarinas precisavam
estudar e trabalhar para poderem dançar ali já que não recebíamos retorno financeiro pelo
nosso trabalho. Já no Ballet Concerto recebíamos cachês proporcionais ao trabalho realizado
com espetáculos de ballet, o que tornava o trabalho mais estimulante visto que poderíamos
ser reconhecidos como classe trabalhadora e investirmos na carreira profissional em dança.
4. BAILARINA COMO PROFISSÃO
Durante estes quatro anos dançando em quatro companhias de dança locais e uma
internacional minha família estava preocupada que tivesse uma carreira que me desse
‘sustento financeiro’ e meu pai e mãe conversavam comigo sobre o mercado de trabalho das
artes no Brasil. Após minhas experiências com as companhias de dança locais e contatos com
amigos bailarinos a nível nacional, percebia que o mercado de trabalho de dança no Brasil era
muito restrito, ou seja, havia em torno de cinco companhias de diferentes estilos (Grupo
Corpo, Theatro Municipal Rio de Janeiro, Balé da Cidade de São Paulo, Cisne Negro e Raça
Companhia de Dança) no país inteiro para absorver todos nós como profissionais. Nesta época
tinha uma amiga bailarina que havia ido recentemente para Alemanha cursar especialização
em Dança. Logo, em 1998 duas amigas minhas do Ballet Concerto haviam sido premiadas com
bolsas de estudo de dança para Alemanha, fatos que me incentivaram a tentar obter uma
carreira internacional.
Com dezenove anos de idade, decidi e me inscrevi em uma Universidade da Alemanha,
a Folkwang Hoschule Essen, a qual era uma instituição pública, dirigida por uma das maiores
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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coreógrafas de todos os tempos chamada Pina Bausch. Era junho, era pleno inverno e lembro
até hoje de abrir a caixa de correio da casa e receber a carta convite da Universidade da
Alemanha. Pensava em como o contato com profissionais que viviam da dança poderiam
contribuir para minha formação e como poderia também repassar minhas experiências
adiante no futuro.
A Universidade na Alemanha possuía dois prédios com salas de dança com portas de
vidro e visão para uma floresta, salas de espetáculos, estúdios aquecidos, com piso de linóleo,
vestiários amplos com chuveiros, ou seja, infraestruturas que apenas havia tido contato breve
quando viajei por curtos períodos para dançar nos Estados Unidos e Canadá. Somados a toda
infraestrutura propícia par a dança, os bailarinos e coreógrafos da Pina Bausch e de ouras
companhias renomadas internacionalmente eram professores na Universidade. A audição
durou toda uma tarde, fizemos uma aula de ballet, uma de contemporâneo e logo cada um
dos cinqüenta pré-selecionados deveria apresentar um solo coreográfico para todos os
professores e concorrentes. No final participávamos individualmente de uma entrevista e
recebíamos as notas totais do nosso teste. Passei diretamente para o segundo ano do curso!
Fiquei muito feliz com minha colocação, éramos somente eu e outro menino que havíamos
entrado em anos superiores do curso e para mim todo aquele trabalho realizado já havia sido
recompensado com as avaliações destes profissionais.
5. DANÇAR ALÉM DAS FRONTEIRAS
Na Folkwang Hochschule Essen, dirigida Pina Bausch tínhamos oportunidade de assistir
ensaios da companhia e espetáculos gratuitamente por sermos estudantes de dança. Tive
formação com inúmeros profissionais os quais contribuíram para experiências inéditas como
Derek Williams, Agnes Pallai, Dominique Mercy, Lutz Foster, Libbie Nye, Malou Airoudo, Marie
Benatti, Norbert Steinwarz, Rodolpho Leoni, Frey Faust, Judy Bassing, Patricia Martin, Michael
Mills, entre outros. Agradeço até os dias de hoje cada momento que aquela Universidade me
proporcionou. Nossa grade de horários era no turno da manha e tarde, começávamos a
semana com aulas diárias de ballet e contemporâneo e logo eram intercaladas aulas de jazz,
flamenco, folclore europeu, Laban Kinetographie, ‘Dança Atual’, história da dança, Alexander
Technique e composição coreográfica. Graduei-me em Dança na Universidade Folkwang
Hoschule Essen em 2002.
Seis meses antes da minha formatura comecei a fazer audições em teatros na
Alemanha, foram mais de sessenta companhias para as quais audicionei, havia vezes que
passava a noite viajando de trem para chegar a cidades no interior da Alemanha de manhã
cedo para audicionar e retornar no mesmo dia para continuar as aulas na Universidade. Até
que em uma destas tentativas, em um teatro magnífico imponente pela sua arquitetura e
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pelos bailarinos e coreógrafos que lá trabalhavam de mais alto nível técnico e profissional fiz
uma audição. Era uma aula de ballet junto à companhia, na qual se encontravam presentes
trinta e cinco bailarinos, diretor, secretária, e o ballet master que ministrou o treino junto ao
pianista. Assim que terminou a audição, o diretor nos recepcionou e me ofereceu emprego
como bailarina clássica de uma companhia renomada. Meu sonho havia se tornado realidade!
6. COMPETIÇÃO NO BALLET
O ballet possui uma característica de competição, a qual é indigna da arte, pois somos
seres humanos com suas particularidades e compararmos técnicas ou artistas desmerece a
arte per se.
Quando começou a temporada em agosto de 2002 em Essen na Alemanha, minha
carreira profissional nunca esteve melhor. O teatro onde trabalhei como bailarina possuía
coreógrafos residentes, os quais eram diretores de companhias de dança renomadas, Boris
Eiffman (Russia), Heinz Sporeli (Suica), Sergei Gordiyenko (Russia), José Udaeta (Espanha),
Mário Schroder (Alemanha) e Birgit Scherzer (Alemanha), tendo a honra de interpretar e
dançar suas coreografias.
Os espetáculos no teatro eram um evento especial, no entanto existia neste ambiente
uma tensão de provocada de uma competição entre os membros da Companhia a qual ocorria
através dos olhares de superioridade quando um bailarino era elogiado ou escalado para o
repertório, no posicionamento na sala de treino, nas cenas de ciúmes (carteas e suspiros)
quando um bailarino era selecionado de última hora para substituir algum colega que estava
lesionado, nas ‘fofocas nos corredores’, e até mesmo em agressões verbais entre os bailarinos,
ou seja, a disputa pelos papéis para dançar era intensa e manifestada de diversas formas no
ambiente organizacional.
Éramos de diferentes nacionalidades, com trajetórias completamente diferentes
socialmente trabalhando juntos, havia bailarinos da Espanha, República Tcheca, Rússia,
Eslováquia, Japão, Itália, Alemanha e Brasil. As idades variavam entre dezoito e trinta e sete
anos. Nossa rotina era distribuída de segunda a sexta, entre treinos, ensaios e espetáculos,
sendo que começávamos o dia às 9h com treino de ballet e os ensaios terminavam as 18h, nos
sábados o treino começava ás 9h e os ensaios eram até ás 14h seguido de pausa atá ás
17h30min quando deveríamos estar no Teatro para o espetáculo que durava até ás 23h.
Domingos não havia treino. Havia somente um dia de descanso na semana e trabalhávamos
inclusive me datas festivas como Natal, Páscoa, Ano Novo. As férias eram no período do verão
durante quatro semanas consecutivas.
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Embora muito feliz trabalhando como bailarino no teatro, algumas vezes nos
momentos dos aplausos no final dos espetáculos, percebia que estava enfrentando uma fase
de crescimento e aquele mundo trazia consigo outros aspectos, como o fato de estar longe de
todos familiares e viver somente para os palcos. Existia dentro de mim um desejo de
contribuir para a dança em meu país.
7. DANÇA NO BRASIL
Em 2004 retornei a ‘pátria amada’ Brasil e vivi um dos momentos mais difíceis
profissionalmente ao me adaptar a realidade local e artística. Decidi dançar no Ballet Concerto
com a Victoria, a qual me acolheu de braços abertos.
Desde que cheguei dancei durante dez anos com o Ballet Concerto, onde havia iniciado
minha formação em ballet clássico. Percebendo a realidade da dança no Brasil, na qual havia
piorado o mercado de trabalho para os bailarinos, mesmo assim me dediquei a continuar
dançando.
Graduei-me em 2007 em Administração na PUCRS. Como havia residido na Alemanha e
era fluente na língua, fui trabalhar numa indústria alemã em Porto Alegre na área de
Marketing. Na rotina de trabalhar com a Administração, percebia que nunca conseguiria
trabalhar em algo que não fosse a dança e que minha experiência de quinze anos na área
deveriam ser aplicadas de outra maneira.
Então fui convidada para dançar em uma companhia em Nova Iorque de um colega de
dança da Folkwang. A dinâmica da cidade oferecia diversas oportunidades profissionais, e
treinava ballet com inúmeros bailarinos e professores considerados estrelas da dança mundial.
Nesta época aproveitei cada Segundo para fazer contatos, aprender e assistir a muitos
espetáculos de ballet, contemporâneo, festivais de dança. Dancei duas temporadas com a
companhia, incluindo uma tournée na Califórnia.
Entre 2009 até 2013, de volta ao Brasil, dancei no Ballet Concerto e fiz Pós Graduação
Mestrado, com intuito de ensinar em Universidades, pois poderia me dedicar á dança através
do ensino contínuo, da pesquisa, extensão e espetáculos artísticos.
Havia um Concurso Público para Professor de Ballet na Universidade Federal de Vicosa,
Minas Gerais. Estava disposta a mudar a situação de que não se pode trabalhar com dança no
Brasil e me dedicar com que outros bailarinos tenham formação e oportunidades de dançar,
além do fato de poder continuar dançando ou construir um grupo de dança.
Estudei e preparei diversas aulas que poderiam ser solicitadas no concurso. Foram dois
dias de concurso com provas de longa duração testando nossos conhecimentos e experiências
de todas as formas. Na primeira fase fizemos uma prova teórica e no dia seguinte, a segunda
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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fase foi composta da parte páatica. Ministrei aula de ballet avançado para quarenta alunos da
dança no estúdio do Curso de Dança, com três professoras compondo a banca de avaliação,
um profissional de filmagem e plateia composta em torno de vinte estudantes do curso.
O resultado do concurso havia sido publicado no site da Universidade, e quando
cheguei em casa recebi a notícia de que havia passado. Assumi o cargo de Professora do Curso
de Graduação em Dança da Universidade Federal de Viçosa-UFV, em fevereiro de 2014.
Continuo com meus treinos de ballet, dançando em vários espetáculos que organizo e sou
convidada como artista-docente eventos internos e externos á Universidade. Além disso,
coordeno e ministro cursos de extensão, eventos, participo de congressos e aperfeiçoamentos
técnicos e práticos.
Em 2014, fundei o grupo de dança chamado Ballet Virtuose, dentro do Departamento
de Artes e Humanidades da Universidade. Atualmente neste grupo materializamos as ideias
criativas em coreografias através de uma companhia jovem. O Ballet Virtuose compõem-se de
nove bailarinos voluntários, entre eles Thamiris, Gabrielly, Cleison, Anderson, Gustavo,
Paloma, Nailanitta, Gabriela e Tarcisio, com os quais trabalho com muito orgulho e alegria.
Não possuímos financiamento para figurinos e espetáculos, então os bailarinos trazem seus
próprios, embora nosso trabalho venha sendo reconhecido pela comunidade artística. Este
breve registro está traçado por uma trajetória de abdicação e dedicação nos âmbitos
profissional e pessoal á dança, na qual trabalho para que muitos bailarinos possam se
desenvolver profissionalmente fazendo o que mais gostam: Dançar.
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PARTE II
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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PATRÍCIA LIMA E O NÚCLEO DE ARTE E DANÇA1
José Ricardo Vitória
Patrícia Lima
Bárbara Calçado Lopes Martins
O Núcleo de Arte e Dança – mais conhecido apenas como Núcleo – é um conjunto de
instituições sediadas em Viçosa - MG e que há mais de 30 anos leva a magia da arte e da dança
para todo o Brasil. Atualmente é dividido em instituições distintas: Núcleo Academia, Núcleo
de Arte e Dança e outras instituições de outros projetos com logomarcas e CNPJ separados,
formando o Núcleo. O Núcleo de Arte e Dança, é uma escola igual a qualquer outra, com
divisão de períodos letivos e férias. Já a academia funciona de janeiro a dezembro; o aluno faz
diferentes atividades – campanha de verão, campanha de inverno, entre outros – o ano todo,
se desejar. E os demais projetos do Núcleo contam com apoio de financiamentos, de
patrocínios e de leis de Incentivo á Cultura. No entanto, mesmo separadas – com o objetivo de
melhorar organização e administração – essas instituições sempre trabalharam juntas.
A história do Núcleo, por varias vezes, confunde-se com a história de Patrícia Lima, sua
fundadora e administradora durante toda sua existência. História de paixão e dedicação de
quem atuou como dançarina, professora, diretora, produtora e gestora do Núcleo. A ideia do
Núcleo começou em 1980 quando Patrícia, ainda jovem, com apenas 20 anos, se casou e
mudou pra Viçosa.
Antes de se casar Patrícia vivia em Belo Horizonte (BH), cidade onde nasceu e foi criada.
Ainda em BH, ela já havia estudado dança e, desde os 15 anos de idade, já dava aula na escola
de dança “Balé Ana Lucia”, como estagiária. Além disso, estudou administração na Fundação
Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), porém, por causa do casamento, interrompeu o
curso quando estava faltando um ano para se formar. Quando veio para Viçosa transferiu–se
para o curso de Administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Entretanto, devido à
1 Nota Metodológica
Este capítulo foi feito a partir de um relato, feito em entrevista, com Patrícia Lima. Posteriormente essa foi transcrita e transformada no texto que se segue. Para não perder a parte emotiva da entrevista, algumas das falas de Patrícia foram mantidas na integra e colocadas em recuo à direita. Agradecemos pela ajuda voluntária nas transcrições à; Tháila Rezende da Costa, Daniela Queiroz do Prado e Vitória das Neves de Souza.
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grade curricular ser bem diferente, na UFV ainda faltavam três anos para ela se formar e teria
que estudar quase tudo novamente. Somando a isso, não conhecia praticamente ninguém na
nova cidade. Isso a desestimulou a terminar os estudos e, dessa forma, não chegou a se
formar.
Todavia, a experiência obtida no curso a ajudou muito para que ela obtivesse sucesso
nos desafios e experiências futuras. Sempre muito organizada, programava-se e tomava conta
de tudo, do que ficaria devendo e como iria pagar, tal como havia aprendido na
Administração. De maneira que foi ela quem sempre cuidou da parte administrativa e de
como funcionavam os negócios, afirmando que seu verdadeiro diploma veio de outra maneira.
Ao se mudar para Viçosa, Patrícia se deparou com uma cidade carente de atividades
culturais e, imediatamente, começou a procurar um lugar onde pudesse montar uma escola
de dança. Porém, apesar de procurar por toda a cidade, só encontrou imóveis muito
pequenos, e com salas menores ainda, que não comportavam uma sala de dança. Os poucos
encontrados estavam indisponíveis ou apresentavam algum problema estrutural, como por
exemplo, uma pilastra no meio que inviabilizava a possibilidade de iniciar um espaço de
cultura e de arte.
Enquanto não encontrava um espaço para abrir uma escola de dança, Patrícia abriu
uma loja de artesanatos, onde trabalhava como lojista.
Um ano depois de sua mudança para Viçosa, é aberta uma nova rua – a Rua Doutor
Milton Bandeira – onde a primeira loja construída era de uma construtora do empresário
Antônio Chequer, e que havia um espaço disponível com dois pisos. Era uma sala grande de
mais ou menos 10 m por 8 m com a frente dando porta para a rua e um escritório e vestiário
ao fundo no segundo piso. E Patrícia não pensou duas vezes, já foi logo alugando o espaço.
Naquela época era uma rua de terra, mas anos depois se tornaria um dos principais centros
comerciais de Viçosa. E ali mesmo foi inaugurada a primeira sede do Núcleo de Arte e Dança.
Já no primeiro ano, em 1981,o Núcleo abriu as matriculas para todas as pessoas que
quisessem fazer aula de dança. E, como não havia muitas opções culturais em Viçosa, teve um
grande numero de inscrições, principalmente de estudantes da universidade e,
surpreendentemente, homens em sua maioria. Na universidade tinha atividades ligadas a
musica – pela história do professor Benito Taranto com o piano. Mas na dança era muito
carente, até então na cidade.
Antes de completar um ano, em outubro de 1981, o Núcleo de Arte e Dança já realizou
o seu primeiro festival, que foi o primeiro realizado em Viçosa neste formato. Nesse primeiro
festival os alunos ainda tinham pouco conhecimento sobre dança e pouca experiência – os
alunos mais experientes tinham entre 8 e 6 meses de aula. Entretanto, era preciso mostrar
para cidade o que era fazer arte, o que era fazer cultura e o que era fazer dança com
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profissionalismo. Então, o Núcleo enfrentou o desafio de fazer um espetáculo, mesmo não
tendo muitos recursos técnicos e nem artísticos.
Para sonorizar e iluminar o espetáculo foi preciso dividir o serviço e trazer parte da
estrutura de Belo Horizonte, pois em Viçosa não tinha nenhuma empresa que trabalhava com
iluminação cênica e a única empresa de sonorização era a ‘Som Fly’. Por isso veio uma kombi
de BH com a iluminação. Era ainda um pouco amadora, com iluminação no chão, mas já com
pessoas que trabalhavam propriamente com essas coisas.
Esse festival foi realizado no ginásio da Universidade e teve duração de meia hora, com
apresentações avulsas, onde tinham cinco números independentes e uma com todos os 60
alunos. Na universidade os professores Benito Taranto, juntamente com a Sandra Cavalcanti
da Divisão de Assuntos Culturais, deram todo apoio pra ter o primeiro espetáculo, ajudando a
fazer o programa, liberar o espaço físico da universidade, dentre outras coisas.
Para surpresa de Patrícia, foi um grande sucesso. Porque as pessoas da localidade ainda
não conheciam o que era e como era feito tudo aquilo. E a partir do primeiro ano, foi um
grande bum de inscrições para o Núcleo. De 60 alunos passou para mais de 170. E com apenas
uma sala, Patrícia, sozinha como professora, dava aula o dia inteiro.
...em função dessa carência de arte, de cultura, de atividades que davam prazer
as pessoas de fazer. Porque as pessoas só tinham a universidade e o Núcleo
propunha uma nova opção...
No segundo ano, já com um numero maior de alunos, inovou com o primeiro
espetáculo de formato temático, intitulado ‘Viçosa em Jazz’. Este festival contava um pouco da
história da própria cidade através do jazz, que era a dança do momento nos anos 80. Nesse
espetáculo era representada a praça Silviano Brandão com todos os seus personagens
caricatos da época como: engraxate, padeiro, leiteiro, açougueiro, babás com as crianças,
estudantes da universidade, ciclistas, dentre outros. Tudo foi contado e representado pelos
artistas, que deram vida a esses personagens com 30 bicicletas e quase 200 alunos, numa
história que ilustrava um dia inteiro vivido em Viçosa desde manhã cedinho até a noite,
quando tinham as festas típicas do lugar.
Pela primeira vez teve um cenário, onde José Antônio Santana – um artista de Viçosa –
foi convidado para ser o primeiro cenógrafo a trabalhar com Patrícia. Ela queria um cenário
que falasse um pouco da cidade. E José Antônio elaborou um, onde as próprias empresas
apoiadoras faziam parte, junto com outros elementos que se destacavam em Viçosa. Dessa
forma, tinha: a sorveteria ‘Creola’, que era também uma sorveteria diferente na cidade e que
ganhou uma coreografia exclusiva; o ‘Number one’ que era uma escola de idiomas; o bar
“Boate Avalone”, que era funcionava ao lado do Núcleo e; a ‘Pá de Coisas’, que era uma
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boutique. E para completar o cenário, trouxeram de Belo Horizonte uma equipe forte de som
e luz com tudo de mais moderno naquela época. O povo mais uma vez ficou encantado, lotou
o ginásio da UFV e foi um grande sucesso.
Dessa forma, a história do Núcleo foi se concretizando com os festivais anuais que eram
montados aumentando, a cada ano, o número de público e de alunos. Quando começou, era
apenas uma escola de dança, mas, atendendo à pedidos de mães de alunos, começou a ter
aulas de ginástica também, isso foi na segunda sede. Quando se mudaram para a sede atual, a
atividade física aumentou muito, e além da ginastica começou a musculação. E, com a renda
dessas atividades muitas dívidas da dança foram pagas. Sendo assim, as atividades físicas
minimizaram as dívidas para que pudessem continuar os festivais. A academia obteve sucesso
antes que a escola de dança e os projetos culturais do Núcleo. E por um bom tempo a
academia financiava as demais atividades. Todavia, anos mais tarde, grandes mudanças
ocorreram com as leis de incentivo, e as dívidas com os trabalhos de dança não eram mais um
problema para a academia, podendo ser desmembradas.
No terceiro no do festival foi apresentada uma versão moderna do ‘Quebra Nozes’, que
se chamou ‘O Sonho Mágico’. Era a história de um conto de natal, onde tinham 300 alunos
representando soldadinhos de chumbo, princesas e os diversos personagens de conto de
fadas. Neste ano, o público chegou a cinco mil pessoas em apenas um dia, atingindo a
capacidade máxima do ginásio da universidade.
Figura 1: O Sonho Mágico, versão moderna do Quebra Nozes (anos 1980). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
Até o terceiro do festival do Núcleo, Patrícia atuava nos espetáculos como bailarina, até
perceber que não tinha tempo para ensaiar. Ela ensaiava a todos, deixava todos prontos,
ficava por último e acabava tendo que fazer improvisação. Então decidiu não mais atuar nos
espetáculos e cuidar mais da direção e produção.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Nesses primeiros anos Patrícia trabalhava praticamente sozinha, contou com apoio de
bailarinas que já se destacavam e se tornaram as primeiras professoras do Núcleo, sendo
Jaqueline Castro, a primeira delas, além de muito apoio familiar. O lado profissional e técnico
dependia da Patrícia e de seus alunos, mas o sucesso do festival contava também com o
esforço de sua família e o apoio da família dos alunos e bailarinos.
...e realmente é uma família fazendo um trabalho de arte. E por isso eu acho que
deu muito certo porque todo mundo abraçou a ideia.
Ainda neste terceiro ano, Marcelo Andrade, que se tornou ao longo do tempo um
grande amigo de Patrícia, assistiu ao espetáculo e logo em seguida foi a sua casa e a convidou
para fazer um trabalho juntos. Ele já fazia teatro antes e tinha trabalhos conhecidos e
admirados por Patrícia, que imediatamente aceitou o pedido.
Marcelo já fazia teatro e eu já assistia espetáculos dele... ‘Aurora da Minha Vida’
entre outros, e eu sempre gostava e admirava.
Dessa forma, começou uma história de trabalho conjunto que foi uma revolução para
arte em Viçosa. Juntou-se aí um grupo de alunos de dança mais experientes do Núcleo com o
grupo de atores que já trabalhavam com Marcelo Andrade, somando um total de 40 jovens
artistas. E com um projeto ousado, unindo o teatro, a dança e algumas técnicas de áudio
visual, montaram ‘O Grande Mentecapto’ da obra de Fernando Sabino.
O espetáculo tinha Patrícia e Marcelo como diretores e ele ainda fazia o papel de
‘Geraldo Viramundo’. Para a parte do audiovisual foi preciso rodar por varias cidades de Minas
Gerais, fotografando e transferindo para slides de retroprojetor. E a cada apresentação tinha
que montar os slides para ter uma fusão na interação do teatro e da dança. As fitas usadas
para sonorização do espetáculo eram rolos bem grandes. Na sua primeira versão, o espetáculo
durou três horas sem intervalo e o público com mais de mil pessoas manteve-se paralisado
assistindo atentamente até o final. Este foi apresentado no centro de vivência da UFV que,
naquela época, ainda não era um teatro, e sim um salão com cadeiras colocadas.
Mais uma vez foi um trabalho de grande sucesso, que teve a presença de Fernando
Sabino, que veio a Viçosa assistir. Ele gostou muito do que viu e, como um padrinho, os levou
para se apresentarem no Rio de Janeiro, onde ficaram por mais de um mês em uma
temporada no teatro do Glauce Rocha. A crítica ao espetáculo foi muito boa, tanto na área de
dança quanto na área de teatro, pela ousadia, pela inovação, mesmo com poucos recursos –
quase não usando cenário – mas ao mesmo tempo com um elenco muito apaixonado pelo que
fazia.
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todo mundo fazendo sempre tudo pela paixão... a gente não vivia disso, a gente
sobrevivia disso... é diferente... com o de hoje comíamos amanha, é assim que a
gente vivia.
E foi dessa maneira, trabalhando com poucos recursos e muita paixão, que Patrícia,
Marcelo e seu grupo rodaram boa parte do Brasil, se apresentando em varias capitais e nos
teatros mais famosos do país – como o Teatro Nacional de Brasília – além de rodar por quase
todo estado de Minas Gerais. Isso sempre com grande público e com críticas excelentes, o que
mais motivava o grupo.
Nós jovens saindo do interior, com um tanto de jovens mais jovens que a gente, e
fazendo arte e cultura por esse Brasil a fora, e dando certo... nos motivou muito a
lutar pela arte e a cultura, pra gente continuar a fazer o que gostávamos... foi
muito prazeroso poder sentir o retorno,,, mesmo saindo do interior conseguimos
chegar lá as capitais e fazer sucesso... acho que a gente era até... acho não, tenho
certeza que a gente não tinha tanta consciência do que estavamos fazendo. A
gente ia pela paixão e pelo impulso da alegria que nos dava aquele trabalho, de
estar fazendo aquilo, e de estar dando certo...
Depois disso, Patrícia continuou com os festivais, que foram se aprimorando, com a
divisão do balé entre o jazz e o contemporâneo, por exemplo, sempre trazendo coreógrafos e
bailarinos convidados de outras escolas, cidades, paises para poder incrementar o trabalho do
festival. Isso fez com que o Núcleo fosse sendo conhecido e reconhecido para além de Viçosa.
Pois as pessoas começaram saber da existência de uma escola de dança que trabalhava sério,
com artistas talentosos e muitos bailarinos, tendo condições de fazer um bom trabalho
artístico e de dança. Ao passo que, paralelamente, Marcelo também continuava com o teatro,
fazendo as suas turnês e os seus trabalhos de direção, roteiros e apresentações. E com muito
trabalho continuaram a crescer até que precisaram mudar de sede, pois aquela onde
começaram as ideias e trabalhos já não suportava mais o tamanho do Núcleo.
No quinto festival, com a evolução da tecnologia, utilizaram o primeiro projetor e telão
no espetáculo do Núcleo. Era ilustrada uma viagem ao mundo, onde eram projetadas imagens
de vários países, e os bailarinos representavam esses países. Coincidentemente na época que
Zé do Pedal – um atleta aventureiro de Viçosa, que rodava o mundo de bicicleta – estava
chegando de uma de suas viagens pelo mundo. Ele chegou em outubro e o festival era em
dezembro, o que gerou mais uma parceria que encaixou perfeitamente. Pois, de uma forma
intuitiva, o espetáculo já contava a história de um viajante pelo mundo. E, dessa forma,
através das fotografias do Zé e sua participação, eles contaram a sua história.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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é tudo muito intuitivo também... eu sabia o que precisava e o que queria, mas
ouvi sempre muito minha intuição ... tanto é que isso aconteceu, do Zé do Pedal
chegar uns dois meses antes do festival, foi especial e embora o que estava
programando pra ser o link do trabalho ser um grupo de turistas, se tornou o
personagem principal e tão importante – pra cidade de viçosa – como o Zé do
Pedal, e sua história pelo mundo... de rodar o mundo.
O festival de dança acontecia todos os anos e sempre foi, desde o primeiro ano,
ininterrupto. Dessa forma, ele se tornou o carro chefe, pelo fato de que foi o primeiro trabalho
artístico que existiu para daí existirem os outros projetos e as outras atividades. Foi a partir
dele que surgiu a formação da escola Núcleo, onde surgem os bailarinos que se aprimoram e
vão fazer parte de outros espetáculos.
Figura 2: Bailarinos de Capitães da Areia (anos 1990). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
O Grande Mentecapto também aconteceu por muitos anos, e foi considerado uma
grande ousadia, que sobreviveu devido ao grande apoio; da UFV, das prefeituras das cidades
por onde passavam, das hospedagens de viagens inesperadas em sedes de bombeiros,
quarteis, escolas, etc. Isso porque o Mentecapto sempre foi muito solicitado para
apresentações em outras cidades, pelas secretarias de cultura, em aberturas de seminários e
conferências, dentre outros tantos convites.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Passados os primeiros anos, as ideias de trabalho conjunto com Marcelo Andrade
foram se aperfeiçoando e montaram outro espetáculo de nome ‘De Minas a Nova York’, que
também foi baseado em crônicas do Fernando Sabino, e ainda juntando em cena o teatro e a
dança, que também ficou três anos em cartaz.
Já no início da década de 90, Patrícia e Marcelo resolveram fazer um trabalho conjunto,
porém, com espetáculos separados, um de teatro e outro de dança. Nesse trabalho
escolheram homenagear a família do Jorge Amado e Zélia Gattai. Marcelo Andrade montou o
espetáculo teatral baseado nas obras“Anarquista graças a Deus” e “Um chapéu para viagem”
de Zélia Gattai, e Patrícia montou um trabalho de dança baseado na obra “Capitães de Areia”
de Jorge Amado. Isso, com a ideia de rodar com os dois espetáculos simultaneamente pelo
Brasil e encontrar na Bahia, na terra dos autores escolhidos.
Esse foi o primeiro trabalho feito com um projeto para pleitear um patrocínio, e teve a
aprovação do Banco do Brasil. Este patrocínio serviria para financiar uma turnê desses
espetáculos nos meses de janeiro e fevereiro. O projeto previa uma turnê de dois meses,
vindo de Maranhão até Ilhéus, passando de capital em capital com ‘Capitães da Areia’. Já o
espetáculo ‘Anarquistas’ viria de outra turnê, mas pro sudeste pra encontrar com a equipe do
Núcleo em Salvador. Dessa forma, estava previsto de, quando lá chegassem, Jorge Amado e
Zélia Gattai assistiriam os dois espetáculos.
Nesse espetáculo Capitães de Areia, toda cenografia, iluminação e elenco eram simples
e ao mesmo tempo complicados. Isso porque eram próprios para viajar, mas eram muito
grandes para transportar e sem contar que não tinham apoio de técnicos para montagem,
desmontagem e de atender todos detalhes de um espetáculo que durava uma hora e
quarenta minutos.
Os roteiros eram de coautoria de Marcelo Andrade e Patrícia. Ela, além do roteiro, era
responsável também pela produção e direção geral e algumas coreografias Além disso,
durante a tourné oferecia oficinas para os bailarinos e escolas de dança locais, o que tornava
tudo muito complexo para ela. Porém, contava com os produtores Paulo Bustamante e
Marcos Lourenço, que rodavam todas as cidades da turnê antes da chegada da trupe, e faziam
varias parcerias com os governos, fundações, hotéis, teatros, universidades e todos que
conseguiam, para que pudessem realizar os espetáculos.
Ao chegar a São Luiz do Maranhão toda a mídia foi procurar o grupo; radio, televisão, a
Rede globo, jornais principais da cidade. Isso atraia os artistas da cidade, principalmente por
saber que o grupo estava levando um trabalho com nome de Jorge Amado através da dança, o
que aumentava a curiosidade.
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...e uma imagem que eu não esqueço é eu sentada no teatro José de Alencar com
um monte de cenário no meu colo tendo que... organizar aquele cenário todo, por
pra funcionar e os bailarinos já tendo passado o ensaio, indo pro hotel dar uma
descansadinha e já vinha a televisão para entrevistar, e eu me via naquela
situação ‘nossa não sabia que era assim’, era uma grande loucura e uma grande
ousadia... a gente trabalhava pelo coração, mais do que ..pela experiência
mesmo... não tínhamos experiência com uma tourné deste porte. Com as viagens
do Mentecapto era mais tranquilo porque a gente ia numa cidade e voltava se
reestruturando cada vez. Então sempre dava pra organizar bem. Com os capitães
de areia não, já era uma turnê completa. Saía de uma cidade já seguia pra outra,
ficavamos três dias aqui, mais três dias em outra, seguia para próxima e tal... e
foi bastante difícil apesar das parcerias, dos apoios. E é uma coisa bem louca
porque a gente vivia dias difíceis nesta questão da produção principalmente, e
noites gloriosas, porque quando abriam-se as cortinas era um alivio. Porque o que
a gente confiava muito, era o que dava certo, era a parte artística. Então abriam-
se as cortinas e o público adorava o espetáculo, fomos sempre muito aplaudidos e
tivemos excelentes criticas. Mas o dia a dia era muito difícil... desmontagem ,
viajar de madrugada pra outras cidades, o dia seguinte de manha ministrando
oficinas na nova cidade ,montar tudo de novo em outro teatro...
Tudo corria apertado mas bem, até que chegou o dia em que o patrocinador que
deveria depositar a parcela de 50% do patrocínio cedido, não depositou. Esse fato
desestruturou todo restante da viagem, pois estavam viajando com mais ou menos 25 pessoas
de avião, ficando em hotéis , tinham que honrar com as dívidas com os parceiros e não tinham
nenhum dinheiro. Até então, estavam se alimentando com o cartão de credito que, ao chegar
à data do vencimento, parou de funcionar.
Tiveram que passar a se alimentar e viajar com a bilheteria do dia anterior. Num dia
faziam o espetáculo, pegavam bilheteria, com a qual almoçavam e jantavam no outro dia,
além de contar com o café da manhã no hotel. Tentavam conversar com o responsável pelas
passagens aéreas que constantemente ligava cobrando e alegando que eles não tinham
dinheiro – o que era verdade. E, aos poucos,Patrícia foi ficando desesperada, porque não tinha
dinheiro nem para pegar os bailarinos e manda-los de volta para Viçosa – jovens os quais os
pais haviam confiado à responsabilidade a Patrícia. Então viram que tinham que ficar vivendo
dia a dia até conseguirem voltar para casa. E foi assim por um mês e vinte dias, com pessoas
atrás deles cobrando e ameaçando em por a polícia federal atrás deles,em interditar o
espetáculo.
...até que eu peguei o telefone e falei com o senhor que estava nos cobrando as
passagens aéreas, ‘senhor– não lembro o nome dele... O Senhor é pai? Se o
Senhor é pai, então o senhor pensa por favor que se interditar o espetáculo hoje,
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eu não vou ter como mandar nossos 20 meninos embora pra casa deles, eu vou
ter de ficar com todo mundo aqui na rua.
Mesmo a equipe tendo amigos influentes que estavam tentando facilitar a liberação do
restante do dinheiro com o Banco do Brasil, e eles tentando pagar como podiam, as pessoas
foram ficando desacreditadas . Chegaram a ligar para Prefeitura de Viçosa e Universidade
explicando o que tinha acontecido e pedindo ajuda, pois eles representavam não só o seu
trabalho, mas representavam também a cidade de Viçosa. Porém, os responsáveis receberam
as notícias, ouviram os primeiros telefonemas, mostraram-se dispostos a ajudar durante um
tempo até que, a partir de um certo dia, não atenderam mais nenhum telefonema, sem ter
dado nenhuma solução concreta.
Foi muito... muito.. sacrificante , pra mim e Marcelo principalmente, como
produtores e diretora e hoje parece até engraçado como conseguimos sobreviver
a essa situação. Os bailarinos não vivenciaram os problemas não sabiam de nada.
Eles passeavam na praia de dia, se apresentavam a noite... mas a gente passou
muitos perrengues lá, de chegar o dia que não tinha como dar o café da manhã
pra eles, e... contar com o suquinho do avião, pra poder... ser o alimento da
manhã daquele dia
Ao chegar à cidade de Natal–RN– era véspera de carnaval – eles conseguiram o ginásio
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para que pudessem passar a noite.
Na época, era um ginásio mal cuidado onde só haviam alguns colchonetes para toda a equipe
dormir. Patrícia, juntamente com o produtor Marcos Lourenço, saiu para pra ver se
conseguiam resolver alguma coisa. Foram na fundação cultural da cidade e lá já não tinha mais
ninguém. Saíram andando pela cidade, pra ver o que poderiam fazer para melhorar a situação,
tentando achar algum lugar onde pudessem passar o carnaval com esse tanto de pessoas sem
dinheiro. Passando em frente ao Palácio do Governo não pensaram duas vezes e foram lá
pedir ajuda. Foram muito bem recebidos por um assessor do governador. Explicaram a
situação daqueles jovens bailarinos que estavam fazendo obra de Jorge Amado, mostraram os
jornais que tinham suas trajetórias.Todos os principais jornais, a Rede Globo do nordeste
faziam chamadas para o espetáculo, provando que era um grande sucesso – mesmo sem
dinheiro nenhum. Ouvindo isso, o assessor os encaminhou e colocou o grupo numa pousada
onde permaneceram durante toda estadia em Natal. Em troca, o grupo do Núcleo que neste
trabalho se passou a chamar Grupo Êxtase de Dança fez apresentações para o governo na
cidade de Touros - RN–na ponta do Brasil. E foi assim que passaram o carnaval em Touros,
fazendo apresentações para pagar a pousada e alimentação que o governo tinha cedido em
Natal.
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E assim foi até chegar em Salvador – BA, local que era a grande expectativa de todo o
grupo. Porque lá, Jorge Amado e Zélia Gattai iriam assistir os espetáculos. Apresentação que
proporcionou Patrícia o que ela própria chamou de, talvez, a maior emoção de sua vida nesses
35 anos de Núcleo.
Jorge Amado... ele ouvia falar da gente, mas ele não conhecia nosso trabalho ...ele
não sabia quem eu era, só tinha até então contato com o Marcelo que conseguiu
com a liberação para montar os espetáculos. No dia da estreia antes do
espetáculo estava montada uma exposição, com apoio da casa de Jorge Amado,
com as gravuras do livro, do 1° livro capitães de areia... e ele Jorge Amado estava
nessa exposição. Chegou muito cedo. E eu vendo ele com o seu neto , andando
pra lá e pra cá, curiosa, é claro, fiquei andando atrás dele, foi quando ele virou
assim... falando com o neto dele: ‘Será que vai demorar?’ – Isso ainda faltava uma
meia hora pra começar – ‘Será que vai demorar ?’ O espetáculo durava 1 hora e
40, eu pensei: ‘Nossa senhora! Como que eu vou fazer com esse cara?..’ É uma
aflição muito grande, você apresentar uma obra de um autor vivo, ele assistir já
aflito pra acabar, pra ir embora pra casa. Ai eu falei:‘Ai Deus, vamos lá!’ Foi
quando ele entrou e já sentou na plateia do teatro ... eu fiquei na cabine, numa
direção bem atrás dele pra ver tudo, até a cabecinha que ele ia mexer. Zélia
chegou foi lá e sentou-se ao lado deles... e o espetáculo acontecendo e eles
paradinhos, assim...todos eles ... ‘Ai Deus do céu! O que que vai ser né?’ Ao final,
minha surpresa quando ele foi o primeiro a se levantar, aplaudia muito de pé com
os braços pra cima, não falava nada, saiu correndo , apressadamente, foi pra
dentro do palco. Aí fui atrás dele, cheguei lá ele chorava, eu chorava, os bailarinos
choravam, todo mundo chorava, chorava, chorava e foi embora não teve...
assim... nenhuma palavra sabe...mas foi muito forte a emoção. E no dia seguinte,
quando vi o Jorge Amado foi dar uma entrevista pra televisão, quando ouvi ele
dando um depoimento que eu não esqueço nunca o que ele falou, que não sabia
que ia ser através da dança, que ele ia sentir a emoção dos personagens que ele
criou, que ele já tinha visto capitães de areia no cinema, na televisão e no teatro
e que foi através da dança que ele sentiu toda emoção dos personagens que ele
criou. Melhor premio da vida...
Depois de assistirem e saberem das dificuldades que Jorge Amado e Zélia Gattai
entraram em contato com o Banco do Brasil, no qual eram conselheiros, e conseguiram pedir
para liberarem a verba do patrocinio, mesmo com atraso. Então a turnê foi finalizada em
Ilhéus e o grupo retornou para Viçosa, onde foram recebidos pelos familiares com
comemorações, faixas e banda de música, para comemorar a vitória alcançada depois de tanto
sacrifício.
Segundo Patrícia, esses acontecimentos foram como um diploma de produção e de
aprendizado para grupo sobre o que devem ou não fazer. Desde então, o grupo não saiu mais
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72
de Viçosa sem a verba já estar na conta, por causa da alta pressão que isso representava. Não
apenas pela produção cultural, mas principalmente pelas pessoas e suas famílias.
O espetáculo ‘Capitães da Areia’ ainda durou muito tempo. Patrocinados pela Toyota,
foram para a Argentina e para o Paraguai com vários espetáculos extras. Apresentaram no
‘Iate Golf Clube’– um dos principais clubes do Assunção Paraguai – para a grande elite do País,
que doou toda a verba da bilheteria para instituições carentes. E o Núcleo ainda fez uma
apresentação só pra meninos carentes do Paraguai.
Foi também com Capitães de Areia e a partir dos anos 90 que o Núcleo – Grupo Êxtase
de Dança passou a se apresentar gratuitamente para meninos de rua. E esse trabalho passou
a fazer parte da história do Núcleo. Hoje trabalham com mais de mil e quinhentos jovens
através de projetos sociais.
Figura 3: Cena do espetáculo “Lago dos Cisnes” (2010). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
Algumas meninas do balé clássico foram crescendo e participando de muitos concursos
nacionais e internacionais. Os bailarinos se tornavam profissionais, primeiramente com o balé
clássico através de bolsas, posteriormente começaram a despontar e a ganhar bolsas no
exterior para se aperfeiçoarem.
Vários profissionais eram trazidos à Viçosa para aperfeiçoar e especializar cada dia mais
os bailarinos, possibilitando fazerem vários balés de repertório– que até hoje é uma coisa
muito rara no Brasil. Além do balé clássico e do jazz, com o tempo surgiram as danças
contemporâneas e s danças urbanas, também conhecida como dança de rua. O que levou o
Núcleo a ganhar mais de cem premiações em diversas modalidades da dança ao longo de sua
história.
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A lei estadual de incentivo a cultura começou em 1996, porém apenas em 2000 tiveram
o conhecimento e buscaram aderência à mesma. Com a entrada da lei, surgiu uma perspectiva
diferente. Pela primeira vez foi possível que trabalhassem com verba disponível para fazer um
espetáculo e leva-lo gratuitamente para pessoas que não tinham condições de pagar o
ingresso. Dessa forma, ficou mais democratizado e o foi ampliando o público que já chegou de
mil e quinhentas até duas mil pessoas assistindo gratuitamente por espetáculo e já tendo
alcançado mais de duzentas mil pessoas em todos os trabalhos.
Com isso, tiveram ampliadas as possibilidades de fazer arte cultura, pois, até então, o
que acontecia muito era que eles pagavam para se apresentar e ainda ficavam devendo.
Depois, voltavam a se apresentar para pagar as dívidas, num circulo vicioso. E isso ocorreu
dessa maneira durante anos, iniciando com festivais de dança. Além disso, havia um
crescimento artístico muito grande. Dessa forma, havia um desequilíbrio, enquanto o nível
técnico e artístico estava crescendo, os patrocínios e o nível financeiro eram baixos.
e por isso que sempre repito o que movia tudo era a paixão pela dança, paixão
pela arte, sempre foi o que mantinha tudo, o que não se tinha jeito de fazer.
Muitas coisas mudaram a partir do momento que se teve oportunidade deste apoio, a
partir das leis de incentivo a cultura. Patrícia consegue planejar e executar melhor, alcançando
melhor trabalho final, devido aos novos recursos. Com esses recursos poderia pagar e fazer as
melhores negociações, além de conseguir melhorar também os preços, aperfeiçoar os
processos, conseguindo no final qualificar mais os projetos.
Com a possibilidade de entrada de um recurso, parece que eu me vi nas nuvens...
sempre trabalhei sem nem um recurso, planejando como pagaria dividas. E agora
podendo pagar, mudou tudo , porque passei a poder fazer melhores negociações,
melhorar os preços conseguindo otimizar os projetos e qualificando mais tudo ao
final...porque uma coisa e você falar por exemplo com um cenógrafo ... ‘Eu posso
te pagar tudo em dez parcelas? – não dá não – por favor, por favor’...ou eu vou
ter dinheiro pra comprar tinta e depois começar a te pagar... ou não vai ter
cenário...mas sempre conseguia porque contei com a boa vontade de muitas
pessoas. É muito diferente quando você passa a poder contratar as pessoas com
prazos, com datas com os recursos esperados, raramente, e principalmente para
os artistas como por exemplo os bailarinos, os cenógrafos, técnicos e todos
outros que trabalham com arte, acontecia isso. Sempre busco encontrar valores
dignos porque sei o quanto que eles pelejaram também até chegar aqui. Se um
cenógrafo pede pra mim x eu faço de tudo pra conseguir pagar aquele x. Eu
trabalho pra minimizar o preço de materiais como uma gráfica, um banner, um
aluguel de teatro, para poder valorizar os artistas e tudo que o envolve .
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Um dos primeiros trabalhos feitos através da lei de incentivo – aprovado e captado no
ano 2000 – foi um espetáculo em comemoração aos quinhentos anos do Brasil. E a primeira
grande empresa incentivadora foi a Metalsider que apoia os trabalhos do grupo até hoje. O
espetáculo se chamava ‘Vera Cruz’ e era baseada na obra homônima de Eduardo Bueno. Com
ele fizeram varias apresentações em escolas públicas, e foi um dos primeiros trabalhos
apresentados em Belo Horizonte, através da Lei de Incentivo e apresentado no SESI Minas,
para grande público. Com isso, pode-se notar mudanças significativas que o Brasil passava
sobre o fazer cultural.
também tem depoimentos ... muito legais, de quem via de perto as mudanças
ocorrendo como o da Léa Medeiros jornalista... quando ela retratou sua emoção
de ver pela primeira vez um menino de chinelo de borracha, assistir um
espetáculo de arte de dança. E isso modificou toda uma historia, a seguir dai, e
que a gente não parou mais e continua tentando manter essa historia viva.
Figura 4: Espetáculo “O Menino Que Achou Uma Estrela” (2011).
Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
Contudo, apesar das leis de incentivo e começar a melhorar a situação, não era sempre
que os projetos eram aprovados, pois não havia uma forma de aprovação clara e transparente.
Isso beneficiava muito as capitais e muito pouco o interior. E mesmo quando o interior era
beneficiado com a aprovação, era muito difícil conseguir incentivo.
Mas mesmo assim a melhora foi muito grande em vista do que se vivia antes das leis do
incentivo. Um ano era aprovado um espetáculo, dois anos depois outro até que, através da
entrada na Secretaria de Estado de Cultura Eleonora Santa Rosa, esse processo se tornou mais
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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transparente, passou a ser mostrada como era a avaliação de um projeto. Assim, praticamente
todos os seus projetos passaram a ser aprovados, já que, com a transparência, puderam
perceber o que precisavam melhorar e o que deveriam seguir e antes não o faziam, abrindo a
possibilidade de se adaptarem com as exigências dos editais. Isso sem perder a essência do
espetáculo e de suas idealizações.
Apesar da história de muita luta, nunca teve que modificar o espetáculo para atender
as exigências do patrocinador ou do público. As leis de incentivo podem até ter influenciado,
através dos recursos captados dentre os projetos aprovados, porém, como diversas vezes não
se consegue captar tudo que previsto no projeto original, é necessário se adaptar
proporcionalmente a este recurso.
Um exemplo foi o que aconteceu com Êxtase em 2014, pela lei de incentivo eles não
tinham recurso para cenário. Mas como é um espetáculo feitos especialmente para a rua,
caberia muito bem ao cenário chamar atenção na rua. Iriam para as principais praças do Rio de
Janeiro e de Belo Horizonte, e o cenário completaria bem essa ideia de levar a arte para a rua.
Felizmente, ganharam o prêmio ‘Cena Minas’ dado pela Secretaria de Cultura de MG e com o
recurso fizeram o cenário. Ganharam também o premio Funarte ‘Klauss Vianna’, o que
permitiu pagar parte da turnê no Rio e em BH.
As dificuldades são de todos os tipos e níveis, como falta de empresas patrocinadoras
em Viçosa, pois algumas das empresas que já apoiaram são de Ubá e a Metalsider é de Betim.
Já foram também apoiadores a Microvet , Renner Sayerlack, Itatiaia Móveis e algumas outras
que acreditam e gostariam de apoiar mais não o fazem como o Amantino Supermercados e
Mundi Center porque passaram a pagar ICMS através de substituição tributária, outra grande
incentivadora e a empresa Haskell de Cajuri e a Serjus Anoreg de BH. Dessa forma, a grande
maioria do incentivo ainda é de fora de Viçosa.
As empresas de fora que os patrocinam não faziam apenas pelo marketing, mas sim
porque acreditavam nos trabalhos do Núcleo. Nenhuma empresa que os apoiaram
vislumbrava vender mais por apoiarem o grupo. Todas que deram o incentivo foi pela história
construída ao longo do tempo. Sempre se fez muito com muito pouco, e mesmo com pouco
recurso, o que aconteceu e é muito raro no interior é que o Núcleo passou a contar com dois
grupos profissionais de dança.
Com todas as mudanças, todavia não era possível trabalhar da mesma forma, porque as
exigências também mudaram. Uma coisa é a companhia que vem de histórias amadoras se
apresentar, outra é trabalhar de forma profissional que exige mais esforço em outras
questões. Tudo tem que ser mais impecável, se o grupo já fazia de uma forma semi
profissional sem dinheiro nenhum, espera-se que se faça ainda melhor ainda possuindo o
recurso.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
76
Foi quando surgiu a ideia de profissionalizar os grupos de dança, que já tinham um rico
histórico técnico e artístico, e experiência. Sabiam que público também existia, desde que se
leve a eles um espetáculo de qualidade, dessa forma, precisava profissionalizar aqueles
artistas que até então só faziam por paixão e amor a arte.
Em 2005 Patrícia Lima realizou o feito de aprovar e captar recursos para o primeiro
grupo profissional de dança de Viçosa, o grupo ‘Êxtase de Dança’. Inicialmente foram dez
bailarinos, que também pela primeira vez tinham um ajuda de custo, mesmo que fosse baixa.
Dessa forma, montaram mais uma espetáculo, baseado no livro ‘ A Caravana da Ilusão’de
Alcione Araújo, mantendo a tradição de trabalhar com a literatura. E fizeram várias
apresentações com este trabalho. Ainda no primeiro ano desta profissionalização, já ganharam
prêmios. No segundo ano houve também premiação no ‘Cena Minas’ com o espetáculo
‘Alguém atrás de mim’ do coreografo Mario Nascimento.
Figura 5: Grupo êxtase de Dança. Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
No terceiro ano, alguns alunos dos projetos sociais já estavam em um nível técnico bom
o suficiente para se pensar na profissionalização. Fundaram então o Instituto ASAS, que é uma
ONG que busca o aperfeiçoamento e a profissionalização desses jovens vindos de projetos
sociais e que passaram por mudanças significativas através do contato com a dança. O ASAS
buscava dar melhores oportunidades de inserção no mercado de trabalho e acesso à educação
fundamental e superior.
Sendo assim, são dois grupos fazendo trabalhos profissionais: o grupo Êxtase, que está
no seu oitavo ano e o grupo Impacto, que está no seu quinto ano de trabalhos. Um projeto
consolida o outro, pois circulam pela mesma região. Já rodaram o Brasil. Mas ao perceberam
que a própria região deles é mais carente de arte e cultura do que outros lugares que estavam
indo, fizeram seus projetos com foco para a Zona da Mata de Minas Gerais. Já levaram
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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espetáculos à mais de 40 cidades deste região, espalhando arte e cultura para um público de
mais de 200 mil espectadores. Junto com esses espetáculos, eles têm levado diversas oficinas
ligadas a arte e cultura para as cidades da região.
O projeto do grupo Impacto leva as cidades vizinhas de Viçosa à possibilidade de
multiplicar a ideia do projeto, na busca de mais democratização da arte. Os bailarinos vão até
as cidades, ministram as oficinas, percebem quais são os meninos que têm alguma aptidão e
capacitam esses meninos para que estes deem continuidade nos bairros das cidades deles,
isso causa o efeito multiplicador.
Figura 6: Grupo Impacto. Fonte: Núcleo de Arte e Dança.
O grupo Êxtase já ofereceu oficinas de cenografia, figurino, produção cultural,
iluminação e marketing. Já o grupo Impacto da oficina de dança urbana e capacita os jovens
que têm aptidão para que possam se tornar multiplicadores.
mais interessante de tudo é ver esse jovem lá da pontinha entrando na
Universidade, ele esta sendo sensibilizado pelo projeto, ele gosta do que
apreende, ele vê a importância disso na vida dele, ele estuda, e tem entrado na
Universidade e graças a Deus e a diversas pessoas de visão temos o curso de
dança para recebê-los.
Hoje são 18 bailarinos profissionais que vivem da dança. Além disso, empregam
maitres, diretores, produtores, fotógrafos, técnicos, cenógrafos, assessores de imprensa entre
outros, que contabilizam mais de 40 empregos diretos apenas com os projetos de dança.
Porém, ainda há a necessidade de conscientizar e qualificar os parceiros e fornecedores sobre
a real importância de se fazer cultura. Além da indigência de mão de obra qualificada,
principalmente das funções que são ligadas a produção.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 7: Cena do Espetáculo “In Sanidade”, Grupo Impacto (2012). Fonte: Núcleo de Arte e Dança
O curso de dança da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – do qual Patrícia Lima
participou da comissão de criação – é um importante aliado para a consolidação da
profissionalização dos bailarinos e alunos do Núcleo e dos projetos sociais. A cada dia tem
muito mais jovens desses projetos da região vindo para a universidade estudar graduação em
dança. Quatro ds dançarinos do grupo Impacto, com integrantes de quase 30 anos, e diversos
alunos dos projetos já estão na universidade.
Não só a técnica e a arte evoluíram, mas toda a forma de se administrar os negócios
também. Como visto anteriormente Patrícia havia feito parte do curso de Administração, e
isso a ajudou muito para que ela obtivesse sucesso nos desafios e experiências futuras.
Sempre muito organizada, programava-se e tomava conta de tudo, do que ficaria devendo e
como iria pagar. Tal como havia aprendido na Administração. No início, todo planejamento e
controle eram feitas a mão em cadernos com diferentes tipos de anotações. Todas as
contabilidades de despesas, bilheterias dos espetáculos eram feitas em cadernos que Patrícia
tem até hoje.
Hoje, com os avanços tecnológicos tudo é feito em planilhas virtuais e há um
acompanhamento de todos os números. Existe uma planilha pra cada projeto, com cada
cheque que é dado, cada movimentação bancária, e com todas entradas e saídas de caixa e
Patricia conta com apoio de diversos profissionais para isso.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 8: Cena Espetáculo “Lago dos Cisnes” (2012). Fonte: Núcleo de Arte e Dança
Atualmente, os únicos eventos não gratuitos e que mantem a bilheteria são os festivais.
por mim tudo teria de ter alguma bilheteria, por acreditar que isso que fazemos
vale muito, por acreditar que isso tudo é o meio de vida de varias pessoas, que
não podemos viver da lei de incentivo pra sempre, e outras varias muitas coisas...
Só que, se a gente não democratizar e formar público primeiro não tem jeito...
nosso papel, e a forma que enxergo é que, através do Êxtase e grupo Impacto, é
necessário primeiro formar publico. Com isso podemos ver nossos trabalhos
sendo apreciados por muita gente, como já aconteceu quando mais de
quinhentas pessoas assistiram numa segunda-feira de frio e garoa nas quatro
pilastras, seis e meia da tarde uma de nossas estreias, ou quando fomos a um
ginásio em Visconde do Rio Branco e tivemos um público de mais de duas mil
pessoas. Sempre usamos toda a mídia que temos para divulgar os trabalhos. E eu
acredito que tudo isso vem porque também, todos que nos acompanham sabem
que a gente trabalha duro e muito pelo que estamos nos propondo, e que alguma
coisa de qualidade vai ver, podendo ou não gostar, mas sabem que a gente esta
caprichando na sua execução. Uns preferem este, outros aquele espetáculo mas
vejo que esse público que temos consolidado tem aumentado.. lembrando que
mesmo para este público “consolidado” a gente sempre tem que trabalhar muito
para fidelizar... não é só traze-lo e fazer se sentar na cadeira para assistir e
pronto, não, não existe isso não tem de trabalhar duro sempre.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Para Patrícia, hoje, seu maior objetivo é capacitar o maior número de pessoas que ela
conseguir, para que toda sua história tenha valido a pena.
O meu projeto pessoal hoje é capacitar o maior numero de pessoas que eu
conseguir para que tudo tenha valido a pena...porque isso já esta implantado, isso
não tem jeito de morrer, mas como isso ai vai continuar, esse é grande desafio...
as vezes, vejo jovens falando comigo nossa mas esta muito difícil... eles tem
menos de 25 anos e falando assim... ai eu digo;‘olha eu vou te falar é difícil
mesmo. Eu tenho 55 anos e continua difícil, então vê bem qual é o caminho que
você vai querer seguir... se você quer isso mesmo para sua vida, porque eu acho
que ainda vai ter de muita luta, não acho que vai ser fácil pra ninguém...’
Patrícia tem participado o máximo possível junto à secretaria municipal de cultura das
iniciativas que estão realizando para Viçosa entrar no Sistema Nacional de Cultura, para vir
mais verba de cultura dos diversos âmbitos para cidade, para que se possa ter um coro
artístico completo não só de dança. Para que o município não fique dependendo de esforços
que ela começou mesmo que ela não esteja mais aqui, ou seja, seu desejo é capacitar o
máximo de pessoas, para que elas busquem o caminho delas, dependendo cada vez menos
dos trabalhos que foram feitos por ela e por outros à muitos anos atrás.
“... num encontro que tivemos eu falei lá pro pessoal do curso de dança que
minha torcida é para que cada um dos bailarinos do grupo Impacto e do Êxtase
consigam fazer o seu projeto... que isso se multiplique muito e que ai é que vai
ficar legal ...mas mesmo assim não vai ser fácil... eu tenho muita sorte de ter
conseguido fazer isso tudo. Foi por paixão que começou e por amor se solidificou,
vejo as vezes os jovens pensando assim; ‘ah vou ganhar dinheiro’ Eu digo a eles
que com a arte não se ganha dinheiro . Fui muito afortunada de ter conseguido
todos esses trabalhos... de ter credibilidade pra os apoios surgirem, para estar
fazendo o que fazemos hoje... ‘façam, acreditem’... é isso que tento passar pros
meninos”
O que já está dando frutos. Os integrantes do grupo Impacto, por exemplo, trabalham
cada um em uma cidade. Essa cidade pode ser a porta de entrada da região para que eles
possam mostrar e desenvolver o seu trabalho. Porque muitas produtoras concentradas apenas
em Viçosa podem saturar o mercado. O trabalho conjunto deve ser feito em toda região para
fazer da Zona da Mata um polo de produção Cultural.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 9: Cena do Espetáculo “For Sale”, Grupo Êxtase (2013). Fonte: Núcleo de Arte e Dança
A partir do momento que a UFV abriu o primeiro curso de formação de dança de Minas
Gerais, em nível superior, aumentou muito o potencial para o aperfeiçoamento dos bailarinos,
bem como a capacidade de desenvolvimento artístico, turístico e cultural da região. Mas o
trabalho ainda depende muito a vontade das pessoas apaixonadas pela arte.
Quando eu morrer pode por lá em cima: ‘Morreu de tanto fazer arte e cultura’.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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MARCELO ANDRADE
Brendow de Oliveira Fraga
Marcelo Soares Andrade
José Ricardo Vitória
Arte. Sendo essa o oxigênio da atuação profissional de Marcelo Soares Andrade, esse
ator construiu um legado de sonhos e oportunidades para jovens de baixa renda que desejam
se tornar artistas, por meio da ONG Humanizarte em Viçosa MG, que desde 2002, vem
democratizando a arte em vários pontos do país e trazendo desenvolvimento de
comunidades, estimulando as manifestações culturais, apregoando a inclusão e a
sustentabilidade e, sobretudo, descobrindo e potencializando talentos.
Com um profundo senso artístico e a uma clara vocação para a arte-educação, Marcelo
Andrade, iniciou por demasiado jovem sua jornada no caminho da disseminação da cultura.
Desde sua infância, Marcelo, que contribuía como coroinha na paróquia de sua comunidade
na cidade de Cajurí MG, declamava poesias para os bispos e para os fiéis, demonstrando
interesse e talento para a manifestação de sua expressividade artística. Aos cinco anos,
ganhou de seu avô um cinema para administrar, ao qual se dedicava em conciliação com a
prática teatral; atividades que o artista efetuou até os quatorze anos.
Marcelo sustentava a caixa escolar com o fruto de suas atividades teatrais. Desta
forma, com o que auferia, comprava mantimentos básicos para a comunidade escolar de seu
município e abastecia as despensas para a feitura da merenda escolar. Já aos dez anos, iniciou
a prática do ensino em pontos pobres da cidade de Cajurí.
Aos dez anos comecei a dar aula para as crianças pobres da cidade. As crianças
não gostavam muito de mim... Mas as mães me adoravam.
A infância de Marcelo é avaliada pelo mesmo como muito rica, uma vez que o
esse artista tenha experienciado na prática, os princípios da arte-educação e da dispersão do
saber à comunidade, ainda em seus primeiros passos como defensor das artes. Mesmo com os
poucos anos de vida, seu portfólio de apresentações era extenso e o mesmo se apresentava
em diversas localidades.
Eu fazia teatro na redondeza inteira... Paraguai, Coimbra, Cachoeirinha, Canaã...
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 1: Marcelo, aos 14 anos de idade na cidade de Cajuri, MG. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Aos quatorze anos, o jovem educador se mudou para Viçosa com sua e iniciou nessa
época os estudos no Colégio Viçosa, cujas turmas eram segmentadas em A, B e C, sendo as
duas primeiras voltadas para estudantes nativos e a turma C direcionada para internos.
Marcelo escolheu integrar-se à turma C, ainda que sua família residisse no município e fosse
bastante conhecida na comunidade viçosense. No convívio com pessoas advindas de diversas
localidades, Marcelo descobriu a presença de inúmeros artistas com os quais começou a
interagir. Satisfazendo à sua necessidade de fazer e viver arte, o estudante iniciou atividades
teatrais em seu ensino médio, movimentando a cultura, e transcendendo seu talento pelas
dependências da escola.
Eu comecei ali a fazer um movimento de teatro. Foi tão forte, que o diretor, Dr.
Januário de Andrade Fontes que era professor de matemática e os professores de
português José Henrique Rodrigues e Sebastião Lopes de Carvalho paravam, todas
as aulas, sábado, às dez horas, para que eu fizesse meus teatros. O Colégio inteiro.
E quem participasse dos teatros, ganhava ponto na prova de português. Você não
imagina a fila que era para participar do teatro....
Ao final do ensino médio, Marcelo se mudou para o Rio de Janeiro, para se preparar
para os exames vestibulares, tendo em vista que objetivava prestar vestibular medicina.
Fui tentar vestibular para medicina. Fazer porque... Né, aquela coisa de que ser
artista não pode. Apesar de sempre ter tido força da minha mãe. Mas assim,
artista naquela época, era coisa... Horrível! Era maior preconceito contra. Não é
igual hoje, que ser artista é chique.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
84
No Rio de Janeiro, os talentos artísticos deste jovem ator encontraram vias de
desenvolvimento, de modo que Marcelo participou de uma escola de teatro, tendo inclusive
realizado e sido aprovado em um teste da Rede Globo de televisão para atuar na novela
Estúpido Cupido, ainda que não tenha podido participar deste trabalho na televisão.
Após este período, Marcelo regressou a Viçosa e iniciou os estudos no curso de
Engenharia Civil, sem contudo, ter concluído essa graduação. Iniciou ainda os estudos em
outros cursos como Agronomia, Matemática, Letras e Pedagogia. Todavia, com uma extensa
carga de 60 aulas a lecionar de matemática e de teatro em Ubá, Viçosa, Ponte Nova, Visconde
do Rio Branco e Cataguazes, além da feitura de suas peças com o grupo local de teatro, não foi
possível que concluísse quaisquer destes cursos.
Entretanto, seu sucesso enquanto artista era crescente, de modo que com a Peça
Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza em 1983, conseguira grande aprovação do
público e afirmava de modo contundente sua vocação para as artes cênicas. É valido ressaltar
a preocupação deste artista com a renovação de sua equipe, a fim de se manter a excelência
nas atuações cênicas realizadas.
Figura 2: Marcelo em cena de Aurora da Mina Vida (1983). Fonte: Marcelo Soares Andrade
Durante a feitura de uma disciplina na Universidade Federal de Viçosa, Marcelo tivera
contato com o livro de Fernando Sabino, O Grande Mentecapto; pelo qual se encantou,
decidindo levar essa obra para os palcos. É neste momento, em 1984, que o artista entra em
contato com os trabalhos em dança de Patrícia Lima.
Empenhados com a excelência, mobilizando quarenta artistas, por meio de recursos
próprios e mesclando teatro, dança e artes visuais, a apresentação mostrou-se uma expressão
vívida de talento, cultura e empreendedorismo.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
85
Comecei a entrar em Contato com o Fernando Sabino, ele nunca me atendia,
nunca me atendia... Até que um dia, lá pelo vigésimo telefonema, eu disse: O
senhor é muito importante né? Pois eu vou fazer o seu livro, quer você queira,
quer não queira, você vai ter de mandar me prender, porque eu vou fazer. Cinco
minutos depois, me liga a secretária dele. A gente estreou lá para setembro,
outubro. E ele viria aqui lá pela décima apresentação em novembro. Nesse
interim, eu tive muito contato com a dona Stella Costa Val Brandão e a dona
Dulce Chaves na casa da cultura em Viçosa. E ai eu resolvi ir para o Rio de Janeiro
pedir apoio do Roberto Marinho, pedindo apoio da TV Globo o que me foi
concedido. Quanta audácia. O Fernando Sabino veio, assistiu, amou e começou a
divulgar o trabalho pelo Brasil. Teve Fantástico, Jornal Hoje, tudo o que você
puder imaginar em termos de veículos, principalmente da Globo. E ai eu lembro
que ele virou para mim naquela mesa grande da reitoria, e me perguntou: - O
que que você quer da vida? E falou coisas Maravilhosas comigo. O que eu tenho
escrito, do Fernando Sabino, a respeito do Viramundo, do mentecapto que eu
interpretei, é coisa que dá muita satisfação, inesquecível.
Figura 3: Marcelo em cena de O Grande Mentecapto (19??). Fonte: Marcelo Soares Andrade
Nesse momento, o talento e a arte de Marcelo ganhavam visibilidade em âmbito
nacional e as propostas de trabalhos em função dos dons artísticos dele se tornaram cada vez
mais frequentes. Com o apoio de Fernando Sabino e a equipe da Rede Globo, a equipe
viçosense de teatro, conduzida por Marcelo Andrade viajou pelo país e trouxe imenso orgulho
para a cidade. O Grande Mentecapto fora considerado pelo Jornal do Brasil um dos dez
melhores espetáculos nacionais. Essas conquistas ratificavam a excelência na produção
cultural conduzida por Marcelo, denotando que o dom para as artes se dá em qualquer lugar,
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
86
que talento e expressividade se manifestam em quaisquer contextos e que o mundo ainda
tinha muito o que ver em relação à produção cultural deste artista-empreendedor.
Ficamos em quatro anos viajando[...] Nesse meio termo, pediram para fazer o
livro dele no cinema, O Grande Mentecapto. Ele não quis dar. Só dava o direito
autoral se eu fosse o Viramundo. E o diretor não quis. Queria um pessoal mais
conhecido. E ai ele não quis dar o direito, e o diretor pediu para eu o convencer. E
eu disse, só se for o Diogo Vilela, o mentecapto. E ai foi o Diogo Vilela, o
Viramundo[...] ”
Figura 4: Marcelo com Diogo Vilela, Débora Bloch e Marcelo Soares Andrade, durante gravação do filme O Grande Mentecapto (19??). Fonte: Marcelo Soares Andrade
O livro fora transformado em filme e Marcelo foi um agente fundamental na
consecução dos objetivos deste projeto. Além disso, como frutos de seu dinamismo e de sua
sede cultural, novos trabalhos foram criados por Marcelo. Dessa forma, a fim de perpetuar sua
disseminação da arte teatral, criou uma brilhante peça ao lado de Patrícia Lima.
Eu fiz de Minas a Nova Iorque, juntamente com Patrícia Lima de novo. Né, minha
grande parceira, com dança. Onde eu fazia o Fernando Sabino. Peguei todos os
livros de crônica dele, Encontro Marcado, mais o Encontro Marcado e criei uma
história chamada De Minas a Nova Iorque.
Concomitantemente, os Trabalhos com o Grande Mentecapto continuavam a
acontecer, bem como Marcelo realizava neste período outros trabalhos teatrais, como “E Por
Falar em Amor” da Marina Colasanti, e, “Projetos Para Um Dia de Amor” de Affonso
Romano de Sant'Anna. Além disso, lecionava matemática em várias cidades e estava com
uma graduação em andamento. Tendo no teatro sua grande paixão e devoção, Marcelo
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empregava quase todo o dinheiro que auferia, como investimento em suas peças, revelando o
caráter de afinco e autodoação que o labor artístico requer. Neste sentido, novos e novos
trabalhos foram surgindo:
Depois, eu fiz com Patrícia o espetáculo de dança, Capitães de Areia do Jorge
Amado. Eu fiz a adaptação e ensaiei o grupo de bailarinos a parte teatral. O
movimento teatral deles. E ao mesmo tempo em teatro só Zélia Gattai baseado
em Anarquistas Graças a Deus e Um Chapéu para viagem, da Zélia. Fui para a
Bahia, fiquei uma semana ou duas semanas convivendo na casa de Jorge Amado e
Zélia Gattai. Porque era a vida dos dois. E a gente começou a viajar. E a gente fez
um sucesso tremendo. Fizemos uma turnê no nordeste, patrocinado pelo banco
do Brasil, porque o Jorge Amado, pediu.
Em um outro momento, Marcelo realizara a peça Hilda Furacão de Roberto Drummond.
Além disso, efetuou com um sócio um projeto para o governo de Minas, chamado Minas Além
das Gerais, que levava cultura mineira a diversas localidades do Brasil, valorizando e
promovendo a identidade e os aspectos intrínsecos de ser mineiro. Essa produção, simbolizava
a difusão da identidade cultural de Minas para todas as regiões do país.
Nós fizemos Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Vitória, levava é... E Salvador.
Levava cultura em todas, todas as áreas. Teatro, dança, música, artes plásticas...
Show de Milton Nascimento, Tudo o que você imaginar.
A todo momento, é reconhecido e valorizado por Marcelo, o trabalho da fundadora do
Núcleo de Arte e dança de Viçosa, Patrícia Lima, artista que acompanhou a trajetória do ator
em grande parte de sua vida e atuou com ele na produção cultural de inúmeros de seus
trabalhos. Nas palavras do ator, não foram economizadas elogios, consagrações, dedicatórias
em agradecimento, e exaltações ao trabalho de Patrícia. A parceria destes dois artistas,
consolidou-se com nobreza, sofrimento, empenho dedicação, talento, esforço e doação de si.
A Patrícia é uma artista. Só que ela, além de artista, de grande criadora é também
uma maravilhosa empresária. Nos espetáculos ela cuidava, da luz, som, e de toda
técnica. Além de ser grande criadora na área de dança.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 4: Marcelo e Patrícia Lima. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Marcelo não apenas vivia, como transcendia a arte. Com um olhar analítico e valendo-
se da cultura como um instrumento de transformação social, o professor, que lecionava em
uma rede de ensino em Viçosa, Ponte Nova, Ubá, Cataguazes e Rio Branco, percebeu que
dentre seus alunos de matemática havia um grande percentual de jovens com desempenhos
ruins. Dessa forma, Interveio e passou a ler crônicas e poesias para seus discentes nos minutos
iniciais da aula, como forma de se desenvolver a concentração, a imaginação e o raciocínio.
Como resultado, houve considerável melhora, no nível de desempenho de suas turmas.
Além disso, em 1993, Marcelo é convidado para ser o primeiro secretário de cultura
esporte, lazer e turismo de Viçosa, e não aceita, sendo que, antes, só havia a casa de cultura
como o ente público de promoção de medidas culturais na cidade. O convite se deu, quando
Geraldo Reis, um ex-aluno de matemática, ganhou as eleições municipais para prefeito.
Geraldo convidou Marcelo Andrade para assumir o cargo de secretário, mas Marcelo recusou.
Todavia, por inúmeros pedidos de agentes sociais que vislumbravam as múltiplas
possibilidades para a cultura de Viçosa que a gestão desse artista poderiam trazer, Marcelo
aceita o cargo como chefe do departamento de cultura, sob a condição de que o prefeito
autorizasse a criação de um centro experimental: uma escola de artes para jovens de escola
pública.
O prefeito aceitou essa condição e Marcelo assumia a gestão municipal da cultura de
Viçosa. A partir daí, conseguiu articular medidas com Affonso Romano de Sant’Ana que era
presidente da biblioteca nacional, de trazer o PROLER - Programa Nacional de Incentivo à
Leitura, para a cidade. A primeira cidade a implementar o PROLER foi Vitória da Conquista. A
segunda foi Viçosa.
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Figura 4: Posse de Marcelo como Secretário de Cultura de Viçosa, em 1996. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Poucos meses depois, Marcelo tornou-se secretário e ficou doze anos e meio como tal.
Afastou-se do cargo apenas para montar Hilda Furacão, baseado no romance de Roberto
Drummond, em Belo Horizonte.
Uma das medidas mais incisivas de Marcelo, diz respeito à democratização e à sua
intenção de tornar a arte e a cultura, benesses de toda a comunidade. O centro experimental
começou com trezentas crianças e depois esse número ampliou-se para mil. Tão impactante
fora essa medida, que a empresa de telefonia TIM, valendo-se da lei de incentivo à cultura,
difundiu o projeto por doze cidades mineiras.
A TIM convidou para fazer o TIM arte educação em doze cidades mineiras. Viçosa,
Ubá, Barbacena, Lavras, Varginha, Poços de Caldas, Uberaba, Uberlândia, Montes
Claros, Governador Valadares, Divinópolis, Juiz de Fora... Treze. Durante quatro
anos em doze cidades da Bahia.
Os dirigentes da TIM ligados à cultura, sabendo da conexão de Marcelo com autores e
personalidades da literatura, convidaram-no para fazer um projeto com escritores. Dessa
forma, A TIM patrocinou a remontagem de O Grande Mentecapto. Neste projeto com
escritores, participaram alguns dos maiores nomes da literatura brasileira. Levaram-se livros
para a biblioteca e oficinas de leitura a trinta e duas cidades mineiras por oito anos, dez do Rio
de Janeiro por dois anos, três do Espirito Santo e onze da Bahia por um ano, ambas.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 5: TIM Grandes Escritores. Na foto, Zuenir Ventura, Alcione Araujo, Ignácio de Loiola Brandão, Luis Fernando Veríssimo, Marina Colasanti, Afonso Romano de Sant’Ana, Roberto DaMatta,Carlos Herculano Lopes, Bartolomeu Campos de Queiós, Nelson Motta e Marcelo. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Após, Marcelo executou um projeto a convite do Jornal Estado de Minas, dos Diários
Associados e do Correio Brasiliense em Brasília chamado, Brasília das Gerais, o qual levava a
cultura mineira para Brasília. Nessa época, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) o
convidou para realizar um projeto de escritores com a participação de atores. Assim,
participou com esse projeto durante três anos no CCBB de Brasília. E um ano no CCBB Rio.
Figura 6: Marcelo e Regina Duarte no Projeto Escritores Brasileiros (CCBB) Fonte: Marcelo Soares Andrade
Depois, o Banco do Brasil contratou a toda a equipe para ir em todas as capitais do
Brasil, além de Ribeirão Preto, Baurú e Campinas durante um ano. Além disso, hoje, Marcelo
continua conduzindo este projeto no SESC Juiz de Fora, mantendo, pois, a feitura da arte.
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Figura 7: Arlete Salles Luis Fernando Veríssimo e Marcelo Andrade no SESC. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Marcelo preside também a ONG Humanizarte, porque o TIM ArtEducação, é feito pela
ONG. Com esse projeto, cento e vinte empregos diretos são gerados em Minas Gerais. São em
torno de quatro mil crianças por ano. Em quatorze anos cerca de sessenta mil crianças já
passaram pelo projeto, em diversas modalidades da oficina. A modalidades são teatro, dança,
música, artes plásticas, coral, arte digital, capoeira e contação de histórias.
Figura 8: Encontro dos TIM ArtEducadores em Sabará MG. Fonte: Marcelo Soares Andrade
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A pedido do governo de Minas, existiu também o chamado ArtEducação Digital em
Cataguazes, Leopoldina, Juiz de Fora, Ponte Nova, Viçosa, e em várias escolas públicas de Belo
Horizonte. Este projeto ensinou aos jovens arte no meio digital, gerando incentivos à
inovação, ação social e difusão de desenvolvimento tecnológico.
O TIM ArtEducaçãopatrocina isso... Em todas as cidades do projeto. E agora vai
patrocinar em Belo Horizonte. E o apoio do governo foi em um projeto da
FAPEMIG, Secretaria de Ciência e Tecnologia, da Cultura do Estado de Minas
Gerais. Uma responsabilidade muito forte. No TIM ArtEducAção cento e vinte
empregos diretos são gerados, fora os indiretos que as mostras dão. Porque
depois das oficinas têm as mostras em que todos os alunos vão ao palco. Ai você
contrata som, luz... Isso é uma revolução. Né. Porque os meninos juntam todas as
linguagens, para interagir as linguagens. Que é mostra de final de ano do TIM Arte
Educação. Ai contrata som, figurino, iluminação, mídia, assessoria de imprensa. Ai
vai dar muito mais emprego...
Figura 9: Marcelo no TIM Educação. Fonte: Marcelo Soares Andrade
O trabalho de Marcelo não se limitou ao campo das artes, se estendendo para a área
do turismo cultural. A Secretaria começou a trabalhar na área de turismo cultural,
coordenando e direcionando os esforços dos agentes sociais envolvidos com o turismo.
Entramos no Ministério do Turismo. Fizemos de Viçosa uma cidade com conselho
turístico. Eu lembro que eu fazia um projeto para o governo de Minas que se
chamava Minas Além das Gerais no Brasil e no exterior. O BNDS criou uma linha
de crédito para hotéis. Viçosa foi o primeiro lugar a receber o pessoal do BNDS.
A secretaria também se empenhou muito na gestão patrimonial local. Desenvolveu-se
um departamento de patrimônio, para trabalhar com os patrimônios móveis e imóveis.
Trabalharam muito no sentido de preservar a história das pessoas, a cultura popular, o
congado, a folia de reis, a contação de histórias. Esse resgate foi efetuado em parceria com o
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Ministério da Cultura. Dessa forma, a estação ferroviária, o Balaústre, vários colégios da cidade
e algumas casas foram tombados.
Tombamos e reformamos o balaústre. Aquela área balaustrada. Aquelas árvores
que têm ali, a gente que colocou. Né? Tudo na área de patrimônio. Para
embelezar, porque... Para ficar mais bonito. Esqueci de falar. Vários colégios na
Estaçãozinha de Silvestre. Então a gente trabalhou em todas as áreas.
Na área de esporte, Marcelo implementou o projeto “Bom de Nota, Bom de
Bola”, com várias oficinas para jovens e adolescentes de baixa renda. Essas medidas
entretanto eram advindas de recursos que o secretário auferia com patrocinadores e
apoiadores externos, de maneira que os recursos da prefeitura e das parcerias muito
contribuíam para a geração de muitas conquistas para a comunidade. Percebe-se nestas
ações, o zelo, a acurácia e a responsabilidade deste gestor, em cumprir com suas atribuições e
potencializar as aptidões das pessoas.
Através da Secretaria Municipal de Cultura entrávamos em quase todos os editais
angariar recursos do Ministério e de Secretária de Estado da Cultura. No
patrimônio, conseguimos implantar a lei Robin Hood que é estadual mas se você
trabalha adequadamente reverte verbas para o município no patrimônio. Através
desta lei, quanto mais você investe na cultura, no patrimônio, mais você recebe.
Ademais, atuando como diretor de cultura da universidade na época, Marcelo ajudou
como podia na criação do curso de dança, diretamente com o reitor, professor Evaldo Vilela
daquela época, o qual era afeto à área. Neste mesmo momento, concomitantemente surgia o
espaço Fernando Sabino.
Eu ajudava na universidade, e Fernando Sabino veio aqui várias vezes. Não tinha
nada no salão para festa. Quando eu fiz Aurora da Minha Vida, a gente fez ali um
palco tablado. E depois no Grande Mentecapto, um palco. E ai foi até chegar
naquele teatro. E ai eu trouxe o pessoal da FUNARTE, do INACEN no Rio de
Janeiro, consultoria técnica tanto ali quanto na estaçãozinha.
Marcelo Soares reconhece ainda que as leis de incentivo à cultura viabilizaram e
subsidiaram seus trabalhos culturais, os quais já impactaram positivamente a vida mais de
sessenta mil jovens que foram beneficiados com este projeto, em treze cidades mineiras. O
apoio que as empresas começaram a oferecer devido aos incentivos da lei, possibilitaram
grandes avanços no campo das artes.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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[As leis de incentivo] Deram dignidade. Fundamentais. Nós não teríamos TIM
ArtEducAção, não teria Grandes Escritores, não teria Hilda Furacão... Não teria
Comunhão de Bens.
O TIM ArtEducAção que modifica vidas e isto comprovado através de sérias
pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Viçosa a oito anos, com
professores de rede pública de ensino, com arte-educadores, com a família, com
as crianças, que participam do Projeto permitindo a TIM ganhar pontos na bolsa
de Nova Iorque. Este Projeto permite uma intensa mudança na vida dessas
crianças, desses jovens, desses pré-adolescentes que participam.
Ah::: E Patrícia [Lima] né. Com a ONG dela. Com o Instituto Asas. Com este
trabalho que ela faz aqui nas cidades vizinhas todas. Ela também, A partir das leis,
fundamentais essas leis, Viçosa Virou um Centro de Referência na área de dança
no Brasil pelo Trabalho dela, pela equipe dela, que nasceu no centro experimental
depois também com o TIM ArtEducAção, dando empregos, dignidade, auto
estima. Se não fossem as leis, como ela iria fazer?
Um dos principais frutos do brilhante trabalho realizado por Marcelo, é o
reconhecimento sua capacidade como artista e como gestor cultural na cidade de Viçosa.
A ONG é aqui. Toda a equipe é daqui. Eu nunca tirei daqui. Né. Qualquer projeto
que eu faço fora, eu tenho que chamar...
Como seus principais legados os quais deixou à população viçosense, Marcelo
considera que tenham sido o Centro Experimental de Artes, a estação e a mudança de
mentalidade. Segundo o artista, as pessoas começaram a enxergar cultura de um modo
diferente, ainda que haja muito o que progredir. A arte passou a ser respeitada. Dessa forma,
pode-se considerar que Marcelo, por meio de seus esforços, conseguiu modificar o paradigma
da arte e da cultura na região.
E o centro experimental deu muitos frutos, né? Olha o trabalho da Patrícia Lima,
Thomas Medeiros e tantos outros, né? Nasceu tudo ali. Se o poder público não
tivesse ajudado naquele início, contratando professores, alugando as salas do
Núcleo para as aulas as coisas não teriam chegado , onde chegou.
Marcelo se reconhece como artista e se orgulha de pertencer a esta categoria.
Carrega a arte em seu olhar, em sua essência, em sua alma. Não se rendeu a
desventuras políticas ou submissões a convenções e preconceitos. Avante, com a bandeira da
cultura em punho, este artista-educador mudou consideravelmente a vida de muitas pessoas
e de maneira efetiva, contribuição essa, reconhecida nos depoimentos agradecidos, pelos
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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inúmeros indivíduos cujo dom fora valorizado e potencializado pelo Centro Experimental de
Artes, pelo TIM ArtEducação, ou pelo TIM Grandes escritores.
Figura 10: Marcelo e a atriz e Vera Holtz, madrinha do TIM ArtEducação, em uma comemoração do programa. Fonte: Marcelo Soares Andrade
Esse ator, educador e empreendedor cultural entrega à sociedade uma vida cuja
finalidade fora democratizar, disseminar e conscientizar o campo das artes. Suas contribuições
revelam o poder transformador da arte em outras searas do saber e do fazer humano,
mostram que as pessoas podem mudar o rumo de sua existência por meio da cultura e
sobretudo, expressam a arte tem o poder de humanizar, aprimorar e conscientizar uma
sociedade para o respeito e o pensamento crítico.
Figura 11: Marcelo em dois momentos no Projeto Escritores Brasileiros (CCBB). À esquerda com Marília Pêra e Nelson Motta e, à direita, com Eduardo Moscovis e Zuenir Ventura. Fonte: Marcelo Soares Andrade
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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No decorrer de sua trajetória, Marcelo sempre tivera a preocupação de valorizar Viçosa
e legitimar que a sua arte, que ia para todo o Brasil, era originária desse município. As pessoas
na rua o agradecem e clamam por novos trabalhos, demonstrando assim, o impacto de sua
caminhada rumo à democratização e disseminação da arte, da cultura e da educação.
Minha vida se chama trabalho. E amor pela arte.
Figura 12: Leonardo Vieira, Marcelo Andrade, Eliane Giardini e Fernando Sabino na Casa da Gávea, Rio de Janeiro. Fonte: Marcelo Soares Andrade
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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VIJAZZ: DO SONHO À REALIDADE
Sérgio Lopes
1. INTRODUÇÃO
Em forma de relato pessoal, pretendo descrever neste capítulo toda a trajetória do
ViJazz, desde seu início aos tempos atuais, seus princípios, seu trabalho em equipe e a
profissionalização consequente ao seu crescimento.
Afora esta breve introdução, o capítulo segue uma ordem cronológica, sendo
organizado em sete tópicos e considerações finais.
2. O INÍCIO
Tudo começou em 2001, quando a paixão pela música fez nascer a ideia de realizar um
festival de música instrumental em Viçosa. Sendo filho de uma pianista e tendo o convívio com
os sons desde pequeno, com certeza contribuiu para me fazer passear pelos instrumentos
flauta doce, clarineta e depois o saxofone, instrumento ao qual dediquei bons anos de minha
vida, até terminar a faculdade de Medicina em Juiz de Fora - MG.
Após concluir a residência médica em Otorrinolaringologia no Instituto Penido Burnier
em Campinas, voltei para Viçosa, minha terra natal, em 2000. Observando a oferta cultural na
cidade, sobretudo para os estudantes universitários, somada à vivência de grandes shows pelo
mundo afora, foi amadurecendo em mim, com o passar dos anos, a vontade de fazer algo
diferente.
No ano de 2001, na semana em que a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, da
qual faço parte, chamou atenção para os problemas das cordas vocais, organizei a Semana da
Voz em Viçosa, que, além de palestras e atendimento médico, terminou com um evento no
Departamento de Economia Rural da UFV, o Dia da Voz. Nessa ocasião, foram realizadas três
apresentações musicais que mostraram a grande capacidade do nosso sistema fonatório, com
diferenciação de timbres vocais e estilos, do popular ao canto lírico, evento este que, após
uma retrospectiva profunda, avalio que foi, sem dúvida alguma, a semente do ViJazz.
Como médico otorrinolaringologista, a possibilidade de realizar algo diferente, num
universo muito distante da minha formação básica, ficou reprimida por muitos anos, pois eu
não permitia que este anseio aflorasse.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Em 2006, reencontrei um amigo de infância, Amauri Rocha, músico, exintegrante do
conjunto Do Fundo do Baú, banda que, em minha opinião, foi uma das mais expressivas de
Viçosa, vanguarda na sua época e da qual era confessadamente um grande fã. Ele então
presidia a FACEV (Fundação Artística, Cultural e de Educação para a Cidadania de Viçosa),
fundada em fevereiro de 1998.
Figura 1: Sérgio Lopes e Amauri Rocha. Fonte: Vi Produções.
Numa conversa informal, lancei a antiga ideia de fazermos um festival em Viçosa.
Na época, o grande evento musical da cidade era o FECAVI (Festival da Canção de
Viçosa), criado em 1996 e produzido pela TV Viçosa, Universitária FM, FACEV e Universidade
Federal de Viçosa. Além de revelar novos talentos da música popular brasileira, o evento
também tinha o caráter filantrópico de arrecadar alimentos para as famílias carentes do
município, por intermédio da Sociedade São Vicente de Paulo. Esse festival persistiu até o ano
de 2007, sendo subitamente encerrado, ocasionando, sem dúvidas, uma grande perda musical
para Viçosa e região.
Quase um ano se passou e, em agosto de 2007, após novo encontro casual com
Amauri, na Avenida P H Rolfs, quando ia trabalhar no consultório, a minha primeira pergunta
foi: “E o festival que havíamos falado, quando o faremos?” Como uma das grandes
coincidências da vida, a resposta dele foi: “Acabei de reservar o Teatro Fernando Sabino para
duas noites de música instrumental no mês de novembro. Você, que conhece muitos artistas,
monte uma programação e vamos conversando”.
No mesmo dia liguei para o meu amigo Dudu Lima, grande baixista natural de Juiz de
Fora com quem, no início de sua carreira, havia formado um conjunto e tocado muito na noite
juizdeforana. Naquela altura, além da carreira solo em ascensão, ele já fazia parte do Stanley
Jordan Trio, grupo do grande músico norte-americano que, em suas Dudu Lima, na edição de
2011 apresentações no Brasil, sempre é acompanhado pelo Dudu e por um dos maiores
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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bateristas brasileiros, o Ivan Conti (Mamão) da Banda Azymuth. Iniciava-se, assim, a
negociação para o primeiro festival.
Figura 2: Dudu Lima na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
Quando a notícia se espalhou entre os amigos que faríamos um festival em Viçosa,
fomos procurados pelo Argeu Brust, que, na maior sinceridade e boa vontade, nos disse que
ficou sabendo que faríamos um festival de música instrumental em Viçosa e gostaria muito de
nos ajudar. Estava constituída a base para a produção do primeiro festival. A LBS Produções,
de propriedade do Luizinho Souza, foi então contratada e estava assim formada a equipe.
3. ViJazz 2007 e 2008
A primeira edição do ViJazz aconteceu em novembro de 2007, com 2 dias no Auditório
Fernando Sabino. Desde seu início, o festival teve como princípios a interiorização da cultura, a
democratização cultural, com ingressos populares, e a oportunidade de artistas locais se
apresentarem em estrutura profissional de produção ao qual não tinham acesso no dia a dia
dos bares onde se apresentavam. Esta oportunidade de assistir espetáculos de artistas
nacionais e internacionais e o Identidade Visual de 2007 convívio de perto com os mesmos,
em termos de trocas de experiências, é singular.
Um workshop com o músico Juarez Moreira iniciou as atividades de formação musical.
Na sexta-feira, dia 23/11, quem abriu a noite foi o violonista viçosense Roberto Rosado,
atualmente residente na Espanha, e depois o violonista mineiro Juarez Moreira. O ingresso foi
trocado por 1 kg de alimento não perecível.
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Figura 3: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2007 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
No segundo dia, 24/11, Stanley Jordan Trio mostrou toda sua habilidade e peculiar
técnica (tapping) onde transporta seus conhecimentos do piano, seu primeiro instrumento,
para a guitarra.
Figura 4: Stanley Jordan Trio, edição de 2007. Fonte: Vi Produções.
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A viabilidade do festival se deu através do Projeto Atividades da FACEV pelo qual
pudemos captar recursos via Leis de Incentivo nas empresas Móveis Itatiaia, Microvet,
FUNARBE, Brahma e recursos diretos da Corretora Leite Ribeiro e do Curso Praetorium Viçosa.
A Direção Geral foi de Amauri Rocha, Direção Artística Sérgio Lopes, Palco Argeu Brust,
Identidade Visual do artista plástico Sérgio Ramos e Produção LBS. Estabeleceuse uma parceria
com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFV. A cobertura fotográfica foi feita pelo
fotógrafo profissional Reyner Araujo, contando também com a colaboração de 2 fotógrafos
amadores, os professores da UFV José Lino e Luiz Eduardo Dias.
Ao todo foram cerca de 25 profissionais envolvidos na edição 2007.
Houve lotação completa nos dois dias de evento, sucesso absoluto, que nos deixou
motivados a pensar na edição 2008. O produtor de Stanley Jordan no Brasil e também
produtor do maior festival de jazz e blues da América Latina, o Sr. Stênio Matos, dono da Azul
Produções, gostou muito da vinda a Viçosa e me motivou a continuar nesta caminhada.
Como na edição 2007 a guitarra e o violão foram os instrumentos principais, resolvi, a
cada ano, escolher um instrumento como tema para o festival, o que me facilitaria na escolha
dos artistas, dado ser um processo difícil pela grande oferta de músicos talentosos. A maioria
dos artistas principais toca o instrumento escolhido do ViJazz. Quando isto não acontece, tem-
se no palco um instrumentista do tema como integrante da banda ou tem-se um artista
convidado. Esta temática de privilegiar diferentes instrumentos em cada ano do Vijazz é
muitissimamente bem representada nos trabalhos do artista plástico Sérgio Ramos, que
assumiu com maestria a identidade visual do festival.
Figura 5: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2008 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
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Em 2008, nasceu o ViJazz & Blues.
Festival que, com a introdução do blues, agregou mais estudantes ao nosso público.
Uma falha na reserva da data no auditório Fernando Sabino por parte da Pró-Reitoria de
Extensão e Cultura vigente, nos fez, menos de dois meses antes, mudar o local, sendo o II
ViJazz realizado na sede social do Clube Campestre de Viçosa. O lançamento da programação
do festival ocorreu no Restaurante Cedrus, com uma exposição das fotos da edição 2007.
Formatou-se no Clube Campestre um autêntico Jazz Club, muito elogiado até hoje por todos
os presentes, pois a informalidade e o serviço de buffet do Marquinho do Acamari deixaram as
2 noites de festival muito agradáveis. O fato de termos saído da UFV, nesta edição, diminuiu o
público universitário e aumentou o de profissionais liberais.
Na sexta-feira, 27/11, com a temática no saxofone, Leo Gandelman e Igor Prado Band fizeram
grandes espetáculos. O primeiro é o maior nome da música instrumental brasileira, e o
segundo o bluesman brasileiro mais reconhecido nos EUA com seu estilo jumping blues, com
um jovem saxofonista de 18 anos na banda, roubando a cena.
Figura 6: À esquerda, Igor Prado Band. À direta, Lynwood Slin. Fonte: Vi Produções.
No dia 28/11, Dudu Lima Trio convidou Tiago Barros, saxofonista de Viçosa atualmente
residente na Suíça, e depois se apresentou Lynwood Slin, grande nome do blues norte-
americano. Nos intervalos, o trio Maracá executava o melhor da bossa nova e da música
instrumental brasileira.
Este festival foi viabilizado através do projeto Atividades da FACEV e patrocínio
Móveis Itatiaia, Microvet, FUNARBE, Haskell e recursos diretos do Curso Praetorium
Viçosa, Distribuidoras de Bebidas Paraiso, Transportadora Eureka - Ponte Nova e apoio do
Clube Campestre de Viçosa. A Direção Geral foi Amauri Rocha, Direção Artística Sérgio Lopes,
Palco Argeu Brust e Oswaldo Santana e Identidade Visual do artista plástico Sérgio Ramos,
sendo sucesso de público e crítica. Participaram da produção cerca de 40 profissionais.
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4. ViJazz 2009 e 2010
Não houve ViJazz em 2009, por uma série de dificuldades e imprevistos com projetos,
captação e patrocinadores. O cancelamento dessa edição foi uma decisão muito difícil, fruto
principalmente do atraso na aprovação do projeto na lei federal e da saída de cena de um
importante patrocinador. Por outro lado, gerou grande aprendizado, mostrando a importância
do tempo de execução dos projetos.
Após algumas noites mal dormidas, e várias reuniões, tivemos a árdua tarefa de
comunicar aos artistas previamente consultados que o festival não ocorreria naquele ano.
Contamos com a compreensão da grande maioria dos músicos, que entenderam
perfeitamente a situação, desejaram sucesso em próximos eventos e se colocaram à
disposição para a próxima edição. Foi duro este aprendizado, mas ainda estávamos no começo
da caminhada.
Pela primeira vez tínhamos um projeto aprovado nas leis de incentivo próprio, mas não
captamos recursos suficientes para manter o festival em ritmo crescente. A falta de
experiência e orientação suficientes me fizeram desistir de fazer um evento menor que os
anteriores, o que, sem dúvida alguma, posteriormente me causou arrependimento.
No ViJazz 2010, teclas foi o tema.
Figura 7: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2010 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
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O festival foi realizado entre os dias 11 e 13 de junho. Quem abriu o festival no
auditório Fernando Sabino foi o pianista de Juiz de Fora e residente em São Paulo Fabiano de
Castro, que levou uma super banda com metais de primeira linha, incluindo o saxofonista
Vinicius Dorin.
Como um dos melhores expoentes do tema no Brasil, a grande atração da edição foi o
músico mineiro Wagner Tiso, que, com um afinadíssimo duo com o guitarrista argentino
naturalizado brasileiro Victor Biglione, deram um show de brasilidade e entrosamento.
Encerrou a noite o bluesman natural de Angola e naturalizado brasileiro Nuno Mindelis, um
dos guitarristas de blues mais festejados do mundo, que, em sua competente banda, tinha um
dos melhores tecladistas do Brasil, Flávio Naves, showman também, fechando brilhantemente
a segunda noite do festival. Este show sem dúvida alguma é listado como um dos melhores
que já passaram pelo festival.
O pianista de Chicago, Donny Nichillo, ex-integrante da banda de Budy Guy, mostrou
toda sua técnica e nos fez pensar que estávamos em um dos berços do blues americano. Fez
no improviso um “Blues for Viçosa”, sozinho no piano e tocando simultaneamente a gaita.
Encerrou a primeira noite deixando todos boquiabertos.
Figura 8: Donny Nichillo, ViJazz na edição 2010 do ViJazz.
Fonte: Vi Produções.
O domingo foi a concretização de um sonho que eu tinha desde a primeira edição, a
realização de shows ao ar livre. O local que escolhi foi a estação de trens desativada em Viçosa
há anos. Os músicos tocando na plataforma de embarque e o público embaixo deram o clima
intimista ao festival, citado por alguns como o “ovo de Colombo”. O tecladista de Viçosa Leo
Marota montou um time de primeira para abrir a noite do último dia, fazendo releituras de
grandes clássicos do jazz. A grande noite foi finalizada pelos mineiros de Barbacena Rodrigo
Nézio e DuoCondé. Iniciávamos a fórmula ideal, a meu ver, com shows indoor e outdoor.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
105
.
Figura 9: Show ao ar livre na edição 2010 do ViJazz.
Fonte: Vi Produções.
Os patrocinadores foram Supermercado Escola, Laticínios Porto Alegre, Microvet,
Frigorífico Saudali, Mundial Confecções e Calçados, Aquazero, Maxmoto, Unimed Serras de
Minas, Distribuidora de Bebidas Paraíso e a cota Apresenta pela CEMIG, que deu força ao
festival. Agradeço ao amigo Rodrigo de Castro que me apresentou ao Sr. Luiz Henrique
Michalick, Diretor de Relações Institucionais da estatal mineira. O apoio foi da PEC, Secretaria
de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia: Atelier do Arquiteto e
Interminas. A equipe de produção contou com cerca de 50 pessoas.
Duas semanas após esta edição, a grande repercussão nacional que o festival teve
motivou o convite para uma reunião em Brasília, com mais 10 produtores de festivais de
música instrumental, jazz e blues no Brasil.
Desta reunião foi escrita uma carta, e partir da carta de Brasília e de várias reuniões em
Rio das Ostras, Salvador e
Fortaleza foi criada a ABRAFEST (Associação Brasileira dos Produtores de Festivais de
Música Instrumental, Jazz e Blues) entidade que visa fortalecer os estilos musicais no Brasil,
bem como a representatividade nas esferas Estaduais e Federais.
Fazem parte da ABRAFEST: Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras (RJ), Festival de
Jazz e Blues de Guaramiranga(CE), Bourbon Fest São Paulo (SP), Bourbon Fest Paraty (RJ),
Vijazz e Blues Festival (MG), Bossa Jazz Festival (RN), Phoenix Jazz Festival (BA) e República
Blues (DF).
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Figura 10: Integrantes da ABRAFEST. Seria legal ter os nomes.
Fonte: Vi Produções.
5. VIJAZZ 2011
Realizado entre os dias 16 a 19 de junho, o ViJazz 2011 apresentou muitas novidades.
A maior foi a inclusão da cidade vizinha de Ponte Nova - MG, com grande espírito
empreendedor e sede de importantes empresas de nosso estado.
O tema foi contrabaixo e voz. Mais uma exposição de fotos das edições anteriores foi
realizada, desta vez na Pinacoteca da UFV, com a apresentação de Julie Amaral e banda.
Figura 11: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Abriu a noite do dia 16 na Praça de Palmeiras, em Ponte Nova, a banda Lúdica Música,
de Juiz de Fora, interpretando o fabuloso repertório de MPB (Música Popular Boa) em versões
de jazz e blues de primeira qualidade. Na sequência, o grande baixista brasileiro Rodrigo
Mantovani, listado recentemente entre os melhores pela revista Bass Player, convidou a
simpaticíssima Tia Caroll, originária de Richmond, Califórnia, que, com uma potente voz,
encantou a todos. No final do show, se surpreendeu ela ficou surpresa em constatar que já
tinha vários fãs na cidade de Ponte Nova.
Figura 12: Tia Caroll eRodrigo Mantovani, em Viçosa, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
Na sexta-feira, no Auditório Fernando Sabino, foi a vez da diva do jazz americano Jane
Monheit acompanhada de seu excelente trio mostrar sua belíssima voz e interpretação
singular. Em seguida, Rodrigo Mantovani e Tia Caroll.
No sábado, na lotada área externa da Estação Cultural Hervê Cordovil, foi a vez da Prata
da Casa, o baixista Nilton Santiago convidar outros artistas viçosenses para apresentações
ímpares. O baluarte da música de Viçosa Zé Boia, Chico Marimbondo, Luciano Cocó, Jule
Amaral e Thiago Barros. Em seguida, o carioca Big Joe Manfra mostrou porque é um dos
maiores do blues brasileiro, incendiando a plateia com clássicos do blues e canções autorais.
No mesmo sábado à noite, no Auditório Fernando Sabino, o viçosense Marcus Paiva,
radicado em São Paulo, exibiu seu talento ímpar no baixo acústico, tendo como convidado
nada menos que Danilo Caymmi, grande flautista e dono de uma das vozes mais belas do
Brasil. Fechou a noite o astro norte-americano Tommy Castro, da Califórnia, com uma banda
de experientes e brilhantes músicos, e, imperativo citar, com o baixista Scott Sutherland, e
com um dos maiores trompetistas do mundo, Tom Poole, ex Etta James, Santa Esmeralda,
dentre outros.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 13: Tommy Castro, em Viçosa, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
O domingo finalizou a melhor edição do ViJazz até aquela data, no Recanto das
Cigarras, antológico lugar dentro da UFV, que estava fechado para shows há 8 anos. O baixista
mineiro de Juiz de Fora, Dudu Lima, com seu entrosadíssimo trio, convidou o também mineiro
Emmerson Nogueira e juntos fizeram um grande show com releituras do The Police e Pink
Floyd.
Figura 14: Show no Recanto das Cigarras, na UFV, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
Finalizou a noite a Tommy Castro Band, que fez, sem dúvida alguma, o melhor show do
ViJazz, contagiando a todos com sua guitarra eletrizante e com solos impecáveis de todos
demais músicos, destacando-se o baixista Scott Sutherland.
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Nessa edição, houve patrocínio da CEMIG, Laticínios Porto Alegre, Saudali, Açúcar
Alvinho, Jatiboca, Supermercado Escola, Microvet, Heineken, Burn, Brasil Tem Jeito, Cadernos
Bartofil, Yamaha Instrumentos Musicais, Corretora Preferencial, Praetorium Viçosa, Mundi
Shoes, Distribuidora de Bebidas Paraíso, Guaraciaba Premium, Unimed Serras de Minas,
Unimed Ponte Nova, JL produções, Viação União, Café Braúna. O apoio foi da UFV, PEC,
Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia Atelier do
Arquiteto e Interminas.
O grand up grade sonoro desta edição foi proporcionado pela Yamaha Instrumentos
Musicais que desde então envia moderníssimas mesas de som, bateria, teclados e técnicos de
primeira qualidade que fizeram e fazem a diferença. Menção especial ao Aldo Linares.
Participaram da produção cerca de 60 pessoas.
Após essas 4 edições, em setembro de 2011, decidi que precisava fundar uma
produtora cultural para iniciar um processo de maior profissionalização do festival e, assim,
nasceu a Vi Produções Ltda.
6. VIJAZZ 2012
Realizado entre 17 de agosto a 7 de setembro, o ViJazz 2012 contou com uma variada
programação, e a grande novidade foi a introdução da cidade de Juiz de Fora - MG. Os músicos
e produtores culturais Big Joe Manfra e Marcelo Panisset (Marcelão) me convidaram para uma
reunião em Juiz de Fora e, então, decidimos produzir lá uma edição do ViJazz.
Figura 15: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Desta vez tivemos os instrumentos de percussão e bateria como tema. Para o
lançamento, escolhemos a boite Samsara, com shows de Amauri Rocha e Banda (Viçosa), Tulio
Araujo (BH) e Thomas Santana e banda (Viçosa). Foi uma noite com um publico eclético em
uma boite que nunca tinha sido palco para esse tipo de som. Sucesso! Em seguida, a casa
noturna Galpão também foi palco para uma prévia do festival, com apresentações de Gilson
Reis e Banda seguido de Rodrigo Nézio e Duo Conde (Barbacena).
Em Ponte Nova, no dia 29 de agosto, na Praça das Palmeiras, a Big Band Palácio das
Artes mostrou porque é uma das mais conceituadas do gênero em MG. Sob a regência do
cubano Nestor Lombida a banda arrasou. No dia 30 de agosto, novamente na Praça das
Palmeiras, o Sambajazz Trio, liderado pelo pianista Kiko Continentino, mostrou a música
instrumental brasileira de uma forma irreverente, técnica e abrilhantou a noite com o
baterista ‘’Neguinho’’ (Clayton Sales), que toca bateria e trompete simultaneamente com
maestria. Em seguida, o norte-americano Coco Montoya e banda, ex guitarrista do John
Mayall na banda Bluesbrakers, mostrou sua habilidade, sendo a dinâmica mais destacada.
Figura 16: Show de Coco Montoya, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
Em Viçosa, no dia 31 de agosto, no Auditório Fernando Sabino (UFV), Célio Balona (BH)
convidou Esdra ‘Neném’ Ferreira, um dos maiores bateristas brasileiros de todos os tempos, e
também o percussionista de mais expressão em MG, Serginho Silva. Na sequência, Coco
Montoya (EUA) e banda finalizaram a noite de sexta.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
111
No sábado, mais uma novidade do ViJazz que veio para ficar. Na Praça das Quatro
Pilastras, entrada da UFV, ponto de integração da cidade com a universidade, houveram
shows no começo da tarde com Perifonia (Viçosa) e convidado Bituca (Barbacena). O grupo de
percussão Perifonia é liderado pelo músico, professor e produtor Thomas Medeiros (Buldog) e
é formado por crianças e adolescentes carentes da periferia viçosense, por isso o sugestivo
nome. Bituca, por outro lado, é uma escola de musica da cidade de Barbacena, que tem
excelentes professores e o padrinho é o Milton Nascimento. Foi emocionante.
Em seguida, Marco Lobo Quinteto (RJ) trouxe toda sua experiência como
percussionista, tendo tocado 8 anos na banda de Milton Nascimento e sendo atualmente
integrante da banda do norte americano Billy Cohbam. Ele veio acompanhado de belíssimos
músicos, Marco Lobo, ViJazz edição 2012 com destaques para Marcelo Martins (sax) e Rafael
Vernet (teclados). Fechou a tarde a Brazilian Blues Band, com seus irreverentes blues,
balançando as quase 6000 pessoas que lá estavam. Foi o recorde de público do ViJazz.
Figura 17: O percussionista Marco Lobo, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
Dando sequência no bar Flor&Cultura, a banda Lúdica Música, de Juiz de Fora, colocou
todos os presentes para dançar, com muito alto astral e boa música. Esta edição foi a mais
eclética de todas, com espaços diferenciados recebendo apresentações do festival.
No domingo, o Auditório Fernando Sabino recebeu José James (EUA) e banda, uma das
vozes mais belas da atualidade, que mistura hiphop, soul e jazz e, nessa apresentação,
mostrou o porque de seu crescente sucesso. Fechou a noite o paulista Ari Borger Quartet que,
com seu entrosadíssimo quarteto, agradou a todos.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
112
Na semana seguinte, no belo e grandioso Cine Theatro Central, construído em 1920, a
edição de Juiz de Fora teve no palco José James (EUA), Coco Montoya (EUA), que levou ao
palco o guitarrista brasileiro Big Joe Manfra, encerrando o show com um duelo de guitarras
memorável. Fechou a noite de sexta-feira a talentosa banda local São do Mato que havia
chegado na véspera de um tour na Europa.
Figura 18: José James, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
No sábado, na casa noturna Cultural em Juiz de Fora, a banda Blues Etílicos fechou a 5ª
edição do ViJazz e Blues Festival, a maior até então, em 3 cidades e 21 shows realizados.
Nessa edição, o ViJazz contou com os patrocínios da CEMIG, Bartofil, Viação Salutaris,
Saudali, Yamaha Instrumentos Musicais, Funarbe, Brasil Tem Jeito, Café Braúna, Cachaça
Guaraciaba e Distribuidora de Bebidas Paraíso, Mundial Confecções e Calçados, Libélula
Boutique, Empório Andrade, Unimed Serras de Minas, Unimed Ponte Nova, Roberto Andrade
Apoio UFV, PEC, Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia
Atelier do Arquiteto e Interminas. Participaram da produção cerca de 60 pessoas.
7. VIJAZZ 2013
Este ano foi, sem dúvidas, quando ocorreu o grande e ousado salto. Após convite da
ACIA (Associação Comercial e Industrial de Araxá), através do Amauri, que dá consultoria para
essa instituição há muitos anos, aprovamos o projeto de um festival de jazz e blues para lá.
Estava assim definida mais uma cidade para o festival. Pensei, então, que, com 4 cidades
(Viçosa, Ponte Nova, Araxá e Juiz de Fora), o festival evoluía para um formato de circuito.
Porque não lançá-lo em Belo Horizonte, nossa Capital, que ainda não conhecia o ViJazz?
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Criamos, assim, o projeto do Circuito ViJazz, que despertou interesse de grandes
patrocinadores e, por intermédio do Ricardo Souza, proprietário do posto de gasolina Santa
Rosa da bandeira SHELL em Viçosa, me apresentou ao setor de marketing da empresa e enfim,
depois de 6 edições, conseguimos uma grande multinacional como patrocinadora.
Foi feito o show de lançamento em BH no grandioso SESC Palladium, numa terçafeira,
com a lenda do jazz americano Stanley Clarke e banda. A vinda dele ao Brasil foi uma parceria
com o Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, produzido pelo grande amigo Stenio Matos.
Esse show ocorreu numa terça-feira, 28 de maio, com casa quase lotada e sucesso absoluto. O
jovem baterista Michael Mitchel, de 19 anos, quase roubou a cena
Figura 19: Stanley Clarke, na abertura do Circuito ViJazz 2013, em Belo Horizonte. Fonte: Vi Produções.
O talentosíssimo artista plástico Sérgio Ramos, desenhando simultaneamente ao show
e com os seus desenhos sendo projetados no fundo do palco em tempo real, foi uma grande
surpresa e um brilho especial na noite de lançamento do Circuito Vijazz & Blues Festival.
Figura 18: José James, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Na semana seguinte, recebi vários e-mails e convites de cidades que queriam o festival.
Novos rumos foram tomados.
O Circuito começou no dia 28 de agosto, na Praça de Palmeiras em Ponte Nova, com
show da Bêjazz de Araxá e em seguida o grande gaitista norte-americano Peter Madcat,
ganhador de Grammy, mostrou como a pequena gaita tem a versatilidade e variedade sonora,
inovando nos efeitos.
No dia seguinte, o artista local Zé Doné mostrou, com sua banda, que talentos locais
não faltam. Em seguida, o músico e professor de New Orleans, Johnny Sansone, eleito melhor
gaitista de blues de New Orleans em 2013, num show performático onde também executou o
acordeom no estilo cajun, fechou a edição em Ponte Nova.
Sansone foi o primeiro artista que a Vi Produções trouxe exclusivamente para o ViJazz,
pois assisti a um show dele no Festival de New Orleans em 2013 , no mês de abril, e fiz o
contato logo após o show. Foi sua primeira vez em terras brasileiras.
No dia seguinte, Viçosa recebeu o gaitista Gabriel Grossi, sem dúvidas o maior
expoente da gaita na atualidade no Brasil. Em seguida, foi a vez de o Peter MadCat mostrar
seu talento em Viçosa. No sábado, o gramado das 4 pilastras recebeu mais uma edição do
festival, com Nova shows de Vagner Moura e banda, Juarez Moreira Trio e Johnny Sansone,
eletrizando a plateia que, pela primeira vez, teve um show internacional gratuito na cidade de
Viçosa.
Figura 19: Peter MadCat, na edição 2013 do ViJazz, em Ponte Nova. Fonte: Vi Produções.
No domingo à tarde, ao estilo Central Park, começou com a Big Band do Palácio das
Artes, seguida pela excelente banda do viçosense Luciano Soares, que convidou o gaitista de
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
115
mais expressão em Minas, Leandro Ferrari. Foi um grande show. Finalizando a edição 2013 em
Viçosa, o gaitista de blues Flávio Guimarães incendiou a plateia tocando clássicos de sua
autoria e do Blues Etílicos. Com talento e carisma ímpar, chamou ao palco o gaitista Leandro
Ferrari e depois o astro Johnny Sansone, com dois duelos de gaitas fantásticos. Foi um
encerramento à altura da cidade natal do ViJazz.
Figura 20: Flávio Guimanrães, à esquerda, e Johny Sansone, à direita, na edição 2013 do ViJazz, em Belo Horizonte. Fonte: Vi Produções.
Na semana seguinte, no dia 05 de setembro no Cine Theatro Central em Juiz de Fora, o
mestre João Donato mostrou todo seu carisma e talento, às vésperas de completar seus 80
anos. Na sequência, Johnny Sansone repetiu a performance realizada em Viçosa e Ponte Nova.
Figura 21: Cosmo Soul, na edição 2013 do ViJazz, em Juiz de Fora. Fonte: Vi Produções.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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No dia seguinte a casa Cultural foi o palco do Circuito, com um show emocionante da
Banda CosmoSoul, oriunda de Madri. Essa world band fez todos os presentes dançarem ao
som de seus hits no estilo jazz, soul e black music. Foi a primeira vinda ao Brasil, por
intermédio também da Vi Produções. Fechou a noite de sexta Big Joe Manfra e sua
competente banda, que relembrou seus bons tempos no Cultural.
No sábado, os jardins do Museu Mariano Procópio receberam os dois maiores
expoentes da musica instrumental de Juiz de Fora. Abriu a tarde Marcio Hallack e banda e
depois Dudu Lima Trio.
Figura 22: Show nos jardins do Museu Mariano Procópio, no ViJazz 2013, em Juiz de Fora. Fonte: Vi Produções.
No domingo, o belo-horizontino Juarez Moreira e seu trio abriram a tarde e quem
finalizou a edição em Juiz de Fora em altíssimo astral e estilo foi Peter Madcat, sendo recorde
de público no Museu. Gostaria de destacar aqui o apoio do diretor do Museu Mariano
Procópio, Douglas Fasolato.
Em Araxá, na sexta-feira, Juarez Moreira abriu a noite, seguido de Peter Madcat e no
sábado Vagner Faria seguido de Johnny Sansone.
No domingo, WPE (World Percussion Ensemble), outra world band sediada em
Munique, liderada pelo pianista alemão Walter Lang, fez o show de música instrumental mais
inédito, gerando uma comoção na plateia. Na tarde de domingo, um workshop com o
percussionista japonês de tambores taico, Takuia Tanigushi, também emocionou a todos. Foi
também a primeira vinda do WPE ao Brasil, pela Vi Produções.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 23: Show da banda WPE, no ViJazz 2013, em Araxá. Fonte: Vi Produções.
Encerrou o Circuito Vijazz & Blues a banda local de Araxá Big Band Blues e Afins. Todos
os shows em Araxá foram realizados no belíssimo Grande Hotel e os ingressos foram retirados
gratuitamente na ACIA.
A SHELL, CBMM, CEMIG, FUNARBE, Bartofil, Viação, Salutaris Café Braúna, Roberto
Andrade, Pão de Queijo Forno de Minas, Cachaça Guaraciaba, UNIMED (JF, Ponte Nova e
Serras de Minas) patrocinaram a edição 2013.
Apoio UFV, PEC, Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova,
Funalfa, Museu Mariano Procópio e Mídia Atelier do Arquiteto e Interminas. Participaram da
produção cerca de 70 pessoas.
No final do segundo semestre de 2013, com o objetivo de avançar na organização
administrativa da Vi Produções Ltda., e consequentemente do Circuito ViJazz & Blues,
estabeleci uma sociedade com Rosa Fontes, professora aposentada da UFV com sólida
formação na área econômico-financeira. Exerço na Sérgio Lopes e Rosa Fontes, na sede da Vi
Produções empresa a função de Diretor e ela a função de Diretora Executiva. A partir de 2014,
a empresa passou a ter sua instalação física, com todo o suporte necessário ao planejamento e
execução das atividades do Circuito ViJazz & Blues e demais iniciativas culturais9
9 Para maiores detalhes, ver www.viproducoes.com e, no Facebook, www.facebook.com/viproducoesculturais.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 24: Sérgio Lopes e Rosa Fontes, na sede da Vi Produções, em Viçosa. Fonte: Vi Produções.
Numa iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, reconhecendo a
importância e a vocação de Minas Gerais para os festivais de Cultura no ano de 2013 fomos
convidados a participar da criação do Fórum Mineiro dos Festivais de Cultura, que permite a
participação em diversas ações que estão sendo realizadas e planejadas como o fomento a
ações de intercâmbio, articulação e qualificação por meio de concessão de passagens para
gestores, produtores e curadores de Festivais Mineiros participarem de festivais e eventos
similares que acontecem no Brasil e no mundo, ações de capacitações e palestras. Em abril de
2014 como membro do Fórum participamos do 1º Pitching, para apresentação de projetos
culturais a potenciais patrocinadores, entre outros.
8. CIRCUITO VIJAZZ & BLUES 2014
Em 2014 o lançamento ocorreu no dia 5 de agosto, no SESC Palladium, em Belo
Horizonte, com o renomado baixista norte-americano Marcus Miller, ex- arranjador de Miles
Davis e além de brilhante carreira solo integrante do projeto Legends, ao lado de Eric Clapton,
David Samborn e Steve Gadd com lotação esgotada neste show.
As cidades do interior do Circuito em 2014 são Ponte Nova, Viçosa e Ubá e Juiz de Fora.
Após lançamento espetacular de Marcus Miller em Belo Horizonte no dia 5 de agosto,
no Teatro SESC Palladium, o Circuito ViJazz & Blues apresenta a programação para sua sétima
edição, nas cidades de Ponte Nova, Viçosa, Juiz de Fora e Ubá.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 25: Show de abertura do Circuito 2014, com Marcus Miller em Belo Horizonte.
Fonte: Vi Produções.
Em Ponte Nova, no dia 28, o ViJazz contará com os shows da Corporação Musical SS.
Trindade e uma das atrações internacionais desse ano, Shawn Holt and the Teardrops (EUA).
Os shows serão na Praça de Palmeiras.
Em Viçosa, o Circuito acontece nos dias 30 e 31 no Gramado das Quatro Pilastras da
UFV. No sábado, conta com as apresentações do Coral da UFV (regência do maestro
Ciro Tabet), WPE (Alemanha) e Shawn Holt and the Teardrops. Já no domingo, terá a presença
de Luciano Cruz (Cocó), Armandinho Macedo e Nuno Mindelis.
A banda de blues norte-americana Shawn Holt and the Teardrops volta aos palcos
brasileiros no ViJazz Juiz de Fora, no dia 31 de agosto, no Museu Mariano Procópio.
O Circuito se encerra com o ViJazz Ubá, que será no dia 6 de setembro, no Horto
Florestal e terá a participação dos músicos Armandinho Macedo, Nuno Mindelis, Tango
Reflections (Argentina) e Lenine. Todos os shows nas cidades do interior são gratuitos.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Circuito ViJazz & Blues, desde seus primórdios, se pautou por alguns princípios, sendo
o principal deles a descentralização e interiorização da cultura. A formação do festival, a partir
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
120
do interior, inverteu o fluxo usual, que na maioria das vezes acontece, dos eventos culturais se
iniciarem nas metrópoles e posteriormente chegarem ao interior.
Outro princípio caro ao Circuito é a inclusão e democratização cultural, com
acessibilidade de shows a preços populares e/ou gratuitos.
Há também ênfase na formação de plateia jovem, principalmente universitários.
Através de parcerias com algumas Universidades, o Circuito, cada vez mais, se preocupa em
aprofundar na formação e capacitação musical de jovens.
Figura 26: Público no show ao ar livre, Edição de 2010, em Viçosa.
Fonte: Vi Produções.
Por último, mas não menos importante, é o princípio da valorização de artistas locais. É
única a oportunidade de artistas locais se apresentarem em estrutura profissional de produção
ao qual não tem acesso no dia a dia, a possibilidade de assistirem espetáculos de artistas
nacionais e internacionais, conviverem de perto com os mesmos e trocarem experiências.
Em termos de perspectivas futuras para 2015, existem algumas cidades fora do estado
de Minas Gerais com possibilidade de serem integradas ao Circuito, como Campinas por
exemplo. Se isso ocorrer, será iniciada a escalada interestadual do Circuito ViJazz &Blues.
Em síntese, a partir de uma primeira edição inesquecível do ViJazz, em 2007, que
começou timidamente na cidade de Viçosa, houve uma evolução, nesses sete anos, para o
atual Circuito ViJazz & Blues, consolidando-se como um dos maiores e mais importantes do
gênero no Brasil.
Vida longa ao Circuito ViJazz & Blues!
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O CEPEC E AS AÇÕES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO
Allan Gustavo de Sales Tibúrcio
José Ricardo Vitória
1. INTRODUÇÃO
No intuito de reconhecer e divulgar a cultura do Território Rural da Serra do Brigadeiro,
o CEPEC – Centro de Pesquisa e Promoção Cultural, ONG sediada no Município de
Araponga/MG cujo objetivo principal é o resgate, a preservação e a divulgação cultural da
região, vem desde a sua fundação, no ano de 2003, realizando diversos trabalhos de pesquisa
na região.
O Território Rural da Serra do Brigadeiro compreende os municípios de Araponga,
Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Rosário da Limeira, Sericita e Pedra Bonita e
podendo, ao longo dos anos, vir a englobar outros municípios. Dentro deste território
encontram-se as terras do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro – PESB, criado em 1986, que
com aproximadamente 14.000ha, sendo uma importante área de preservação da Mata
Atlântica. Rios, cachoeiras, vales, picos, montanhas e espécies vegetais e animais em extinção,
além do povo e sua cultura, são alguns dos atrativos que caracterizam e dão identidade à
região.
É importante ressaltar que nos diversos trabalhos desenvolvidos foram de suma
importância as parcerias com os governos municipais (Prefeituras e suas Secretarias,
principalmente de Cultura, Educação e Turismo); estaduais (através da Secretaria de Cultura e
de Esportes) e federais (através do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da
Cultura e Ministério do Turismo), e com a comunidade em geral e instituições parceiras como
sindicatos de trabalhadores rurais, a igreja, escolas família agrícola, associações de
trabalhadores rurais, o PESB entre outras.
2. AÇÕES PRELIMINARES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL
Com a fundação do CEPEC em março de 2003, algumas ações iniciais de resgate cultural
foram realizadas no município de Araponga.
O primeiro projeto aprovado pela instituição foi junto ao BDMG, em um edital lançado
objetivando o fomento da cultura popular. O projeto aprovado visava a aquisição de roupas e
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
122
acessórios para o grupo de dança de caboclos “Folguedo dos Arrepiados”, um grupo folclórico
que resgata as danças típicas dos índios Puris, considerado os primeiros habitantes da Serra do
Brigadeiro, anteriormente conhecida como Serra dos Arrepiados, nome dado pelos índios
devido às baixas temperaturas da região. Com o recurso liberado pelo BDMG (na época
R$720,00 apenas, o projeto vislumbrava o valor de R$1.440,00), foi possível adquirir as saias
típicas de uma tribo indígena da região do norte de Minas Gerais e alguns acessórios como
cocar, pulseiras e colares.
Figura 1: Grupo de Dança de Caboclos “Folguedo dos Arrepiados”, Araponga/MG.
Fonte: Arquivo CEPEC/2004.
Foi também realizado no município um levantamento de todas as pessoas que
trabalhavam com artesanato e trabalhos manuais, além de identificar a produção de cada um
deles. Posteriormente, com o apoio da prefeitura foi criada a “Oficina do Artesão”, um espaço
dedicado à comercialização dos produtos.
Figura 2: Uma amostra do artesanato em madeira e piteira, Araponga/MG.
Fonte: Arquivo CEPEC/2004.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
123
Com o objetivo de divulgar e também resgatar a cultura local foi realizado, em parceria
com do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural de Araponga o I Fórum Municipal de
Cultura de Araponga, onde foram apresentados todos os trabalhos realizados na área da
cultura, palestras sobre identidade, preservação e divulgação cultural, apresentação de grupos
folclóricos como Dança de Caboclos, Folia de Reis, Banda de Música e exposição de
artesanato. Este projeto foi de suma importância para consolidar o trabalho cultural no
município, pois despertou um grande interesse na comunidade em geral. Serviu para
aproximar o tema às pessoas, que muitas vezes não davam a necessária importância para a
identidade e cultura local.
Figura 3: I Fórum cultural de Araponga/MG.
Fonte: Arquivo CEPEC/2004.
Paralelamente a tudo isso iniciava as discussões sobre o desenvolvimento do Território
da Serra do Brigadeiro e o CEPEC, juntamente com diversas outras instituições passaram a
compor o CODETER – Conselho de Desenvolvimento Territorial, onde foram criados eixos de
desenvolvimento para os municípios, nos quais o eixo Cultura, proposto pelo CEPEC, foi
considerado de grande importância para o desenvolvimento da região, uma vez que os
municípios participantes possuíam uma grande semelhança em seus aspectos culturais. Diante
disso, através de projetos de infra estrutura e custeio, financiados pela SDT (Secretaria de
Desenvolvimento Territorial) do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) o CEPEC
aprovou a construção de 02 Casas de Cultura, bem como os equipamentos e mobiliário, que
foram construídas em Araponga, que desde a sua inauguração em 2007 é também a sede
administrativa do CEPEC e Miradouro, que atualmente está sendo administrada pela
Prefeitura local. As Casas de Cultura foram concebidas para serem espaço de suporte para
todo tipo de atividade cultural e como apoio para a divulgação cultural da Serra do Brigadeiro.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
124
Figura 4: Casa da Cultura “Arrepiados da Serra”, Araponga/MG, às vésperas de sua
inauguração.
Fonte: Arquivo CEPEC/2004.
3. OS POVOS DA SERRA DOS ARREPIADOS: SUAS FESTAS, SUA CULTURA PRONAT/2006
Figura 4: Capa do livro “Os povos da Serra dos Arrepiados”.
Fonte: Arquivo CEPEC.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
125
Este projeto, financiado pela SDT/MDA, traz como resultado final o lançamento de um
inventário das festas populares da Serra do Brigadeiro. Intitulado de “Os povos da Serra dos
Arrepiados: suas festas, sua cultura”, sua função é divulgar as festas locais através de um
calendário anual permitindo assim, a preservação das manifestações culturais da região. Além
disto, este livro é o resultado de uma proposta do CEPEC baseada de que a cultura é de
essencial importância para o desenvolvimento socioeconômico do Território da Serra do
Brigadeiro. Dentro desta perspectiva, “Os povos da Serra dos Arrepiados: suas festas, sua
cultura”, vem convidar o leitor, para uma viagem à cultura local da Serra do Brigadeiro através
de suas festas e manifestações.
4. FORTALECIMENTO E PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO - PRONAT/2008: FÓRUNS TERRITORIAIS DE CULTURA
Dando continuidade aos trabalhos de resgate e preservação cultural da Serra do
Brigadeiro desenvolvido durante 18 meses, o projeto de custeio Pronat/2008 teve como
objetivo a divulgação e promoção cultural da Serra do Brigadeiro. Foram realizados 09 Fóruns
Territoriais de Cultura, 01 em cada município que compõe o Território da Serra do Brigadeiro.
Estes fóruns tinham como objetivo discutir e identificar potencialidade e problemas para
então propor diretrizes e soluções para a preservação cultural da região. Foram discutidos 04
eixos básicos, sendo eles Cultura e Patrimônio, Cultura e Tradição, Cultura e Educação e
Cultura e Turismo, nos quais todos os participantes foram convidados a participar de acordo
com o seu maior interesse. O resultado dos Fóruns atingiram resultados melhores do que
imaginavam, tanto em termos de participantes quanto em volume de discussão e propostas.
Figura 5: Banner de divulgação dos Fóruns Territoriais de Cultura.
Fonte: Arquivo CEPEC.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
126
5. FORTALECIMENTO E PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO - PRONAT/2008: TERREIROS CULTURAIS
Após a realização dos Fóruns Territoriais de Cultura o CEPEC promoveu o 1º Terreiro
Cultural da Serra do Brigadeiro. Esta meta do projeto teve como principal objetivo a
divulgação e promoção da cultura da Serra do Brigadeiro. O evento aconteceu no município de
Araponga e contou com a apresentação de aproximadamente 30 grupos e manifestações
folclóricas como Folias de Reis, Grupo de Caboclos, Congado, Calangueiros, Violeiros, João do
Mato, Encomendação das Almas, Banda de Música, exposição de artesanato, comida típica
entre outras, num total de aproximadamente 500 pessoas. O evento aconteceu em praça
pública, sendo acessível a toda a comunidade, sem custo algum. Posteriormente já foram
realizados mais 06 Terreiros Culturais, em diferentes municípios, objetivando o intercâmbio, a
promoção e a divulgação da diversidade cultural da Serra do Brigadeiro.
Figura 6: Diversidade Cultural da Serra do Brigadeiro: 1º Terreiro Cultura, Araponga/MG.
Fonte: Arquivo CEPEC.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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6. SERRA DO BRIGADEIRO, TERRITÓRIO DE CULTURA – FEC/2008: CONVERSA AO PÉ DA SERRA
Figura 7: Página interna do livro “Conversa ao Pé da Serra”, Araponga/MG.
Fonte: Arquivo CEPEC.
Este projeto, financiado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais,
aprovado no edital FEC/2008 que teve como objetivo registrar os saberes do povo que habita
nossa região através de entrevistas com dezenas de moradores das diversas comunidades
rurais e urbanas dos nove municípios do Território. Foram centenas de horas de gravações de
conversas informais onde se pode registrar histórias, casos, lendas, tradições, receitas,
simpatias e tudo o mais que caracterizam os costumes desse povo que tanto tem a nos
ensinar. Um povo sofrido, mas que não se esquece nunca de suas origens e de sua identidade.
Um rico material foi levantado e um pouco dele pode ser visto nas páginas do livro intitulado
“Conversa ao Pé da Serra: saberes, sabores, casos e causos da Serra do Brigadeiro”.
Este projeto realizou também a estruturação de vários grupos folclóricos da região
através da doação de instrumentos musicais e tecidos e aviamentos para confecção de roupas
e acessórios, além do Terreiro Cultural da Serra do Brigadeiro, um encontro dos grupos
folclóricos e manifestações culturais, proporcionando uma troca de experiências para as cerca
de 500 pessoas que participaram diretamente deste evento e de todos aqueles que tiveram o
prazer de vivenciar essa experiência.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
128
7. BOAS PRÁTICAS PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA MINTUR/2008
O Projeto ‘Boas Práticas de Turismo de Base Comunitária na Serra do Brigadeiro’
nasceu como resultado das ações das diversas entidades que trabalham no Território Rural da
Serra do Brigadeiro para permitir uma melhor diversificação de renda e uma melhor qualidade
de vida às famílias que lá residem. O CEPEC - Centro de Pesquisa e Promoção Cultural iniciou
este trabalho no ano de 2009, resgatando as ‘Boas Práticas’ da agricultura familiar, sendo
estes os principais produtos e serviços do Turismo de Base Comunitária. Neste trabalho,
financiado pelo Ministério do Turismo, contamos com a parceria da Associação Amigos de
Iracambi, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), com sede no
município de Rosário da Limeira. Nesta publicação, resultante do trabalho de 18 meses onde
30 famílias moradoras da zona rural de 05 municípios foram preparadas para inserir na sua
propriedade rural a atividade turística como uma nova opção de geração de renda para a
família, apresenta-se a economia solidária das famílias de agricultores residentes por entre as
belezas naturais desta porção de Minas Gerais, com seus modos de vida nos convidando a
viver momentos inesquecíveis. Este catálogo busca aproximar os visitantes dos povos da Serra
do Brigadeiro, através de seus modos de fazer e saberes, vividos por entre estas montanhas de
minas.
Reforçando o potencial turístico da região vale ressaltar a presença dos Circuitos
Turísticos Serras de Minas e Serra do Brigadeiro, que criados com o objetivo de fomentar o
turismo na região tem um papel importante na concretização deste projeto. Dos dois circuitos
participam cidades distintas, tornando mais heterogêneo o processo, sendo ao mesmo tempo
parte de um único objetivo: a potencialização da atividade turística na região.
O projeto ‘Boas Práticas para o Turismo de Base Comunitária’ propõe para a Serra do
Brigadeiro a valorização de seu potencial natural e de seu povo através de sua cultura,
abrangendo os modos de fazer e os saberes da região.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
129
Figura 8: Banner de Divulgação do Projeto
Fonte: Arquivo CEPEC.
8. RESGATE DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE ARAPONGA E PEDRA BONITA - FEC/2009
Com o advento da globalização cuja tendência é a homogeneização cultural está
ocorrendo um desrespeito à singularidade de expressão de cada povo, afastando-os de suas
culturas genuínas. Portanto conhecer a própria história é relevante para qualquer população,
principalmente aquelas que possuem suas raízes culturais ricas, mas que estão se diluindo
com esse fenômeno.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
130
Tanto Araponga quanto Pedra Bonita possuem uma história cultural muito valiosa que
está resguardada no seu patrimônio histórico material. As cidades em questão fazem parte do
Território Serra do Brigadeiro. Esta abrange uma área na qual está inserida uma importante
unidade de conservação: o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Em função da
exuberante fauna e flora do local, a paisagem natural muitas vezes aparenta ser mais atrativa
às atividades turísticas. No entanto, sabemos que a “paisagem construída”, ou seja, o
patrimônio cultural arquitetônico das cidades (entende-se como sendo as sedes de fazendas,
casas, igrejas, praças, largos, dentre outros) possui um papel importante para o
desenvolvimento da atividade turística em uma determinada região. Sendo assim objetiva-se
com este projeto, o inventário do patrimônio arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita, a fim
de transformar este patrimônio em atrativo turístico, podendo mais tarde tal metodologia ser
utilizada nos outros municípios do território.
Neste projeto fez-se um levantamento completo das edificações mais relevantes
existentes nos municípios por meio de pesquisas bibliográfica, visitas in locu, levantamento em
cartórios, igrejas e prefeituras. Para tanto contau-se com profissionais da área de história,
arquitetura e turismo. Além disso, buscamos parcerias com as Prefeituras através dos seus
setores de educação e cultura, da ABRIGA (Associação dos Municípios Integrantes do Circuito
Turístico da Serra do Brigadeiro), EMATER, Igrejas, Universidades, EFAS (escolas famílias
agrícolas), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e todas as Associações Comunitárias e Grupos
Organizados que possam auxiliar na efetivação do inventário proposto, resgatando e
valorizando a cultura local.
No mundo contemporâneo a cultura tem uma relevante importância na formação da
identidade de um povo e de uma região. Historicamente é sabido que a arquitetura é um
registro dos modos de pensar e agir de um povo. Ao longo dos séculos a arquitetura se
modificou diversas vezes de acordo com diferentes momentos (guerras, religião, revoluções,
entre outras). Portanto, a preservação do patrimônio arquitetônico local é de suma
importância para uma comunidade, configurando-se como memória da sua própria história.
Assim a comunidade atual e as gerações futuras poderão estabelecer laços com suas raízes
tornando-se consciente, responsável, orgulhoso e atuante sobre sua riqueza patrimonial. Além
disso, ele terá uma conduta apropriada em relação a seu patrimônio cultural como um
potencial para a atividade turística na região.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Figura 9: Capa da Publicação do Inventário Arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita
Fonte: Arquivo CEPEC.
Figura 10: Página interna do Inventário Arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita
Fonte: Arquivo CEPEC.
9. PONTO DE CULTURA “...OS CABOCLOS DA MATA OLELÊ...” SEC. DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS/MINC
O Território do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro que outrora se chamava Serra
do Arrepiados é, sem duvida, um importante marco no desenvolvimento do Interior de Minas
Gerais, participando ativamente no processo de desenvolvimento histórico do Estado. Em
1693 por estas paragens veio dar um bandeirante, conhecido por Antônio Rodrigues de Arzão,
sendo este o primeiro a encontrar e registrar a ocorrência de ouro nas Minas Gerais,
encontrado nas encostas da Serra dos Arrepiados, numa das nascentes do “Rio da Casa de
Casca”, hoje “Rio Casca”. Este mesmo ouro, mais tarde, precisamente em 1780, trouxe o
próprio Governador da Capitania de Minas, que à época percorreu toda a região povoando e
distribuindo sesmarias. Na ocasião, ele próprio fundou o Arraial dos Arrepiados, hoje
Araponga, um dos municípios que compõem o Território da Serra do Brigadeiro.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
132
Esta região foi também, um dos últimos redutos dos índios da nação Puri, hoje
considerados extintos, mas com fortes marcas no cotidiano das comunidades rurais
espalhadas pela extensa encosta da Serra do Brigadeiro. Ainda hoje, há fortes evidencias desta
civilização, marcas e traços desta cultura permanecem vivas, sendo uma das expressões mais
clara o “Grupo de Dança Cabocla” que no folclore busca manter vivas as tradições dos seus
antepassados. A dança de “caboclos” é a principal representação folclórica regional, uma vez
que nos remete ao nosso passado e às nossas origens. Esta dança que até a pouco, por volta
de cem anos atrás, era praticada na forma de ritual pelos descendentes. Como eram inibidos
de praticarem suas crenças, muitos deste costumes se perderem em um curto espaço de
tempo. Hoje nos restam as manifestações em forma de folclore, que também por falta de
apoio e estímulo, foi deixando de ser praticadas, restando apenas um grupo, este localizado
em Araponga.
Outro fator de grande relevância foi devido à exploração de ouro na região, que trouxe
à época, centenas de escravos que por aqui se enraizaram, misturando-se principalmente aos
índios. Assim com a escassez do ouro esta mesma mão de obra passou a ser empregada na
“roça branca” e mais a diante na cafeicultura, que nessa época começava a se expandir na
região e hoje é o principal produto da agricultura regional, sendo responsável por oxigenar a
manter a economia desta região, tornando-se referência na produção de café para o Estado e
para o País, comprovado pelos concursos de qualidade de cafés a nível nacional.
Assim, com este projeto predente-se explorar todo este potencial cultural e econômico,
difundindo e dando segmento aos projetos já inicados por esta instituição, com foco ao
projeto “Inventario Cultural do Territorio da Serra do Brigadeiro”. Apropriando-se do
calendário festivo já produzido, como mecanismo de promoção das atividades que serão
desenvolviddas com este projeto, garantido também a manutenção e fortalecimento do
próprio evento.
No que se refere ao folclore regional, será promovida ações que visem a disseminação
e o avivamento do “caboclo”, como folclore e como “gente” portadores de uma identidade
cultural, realizando oficinas de dança, pintura, confecção de indumentários e instrumentos
como, colares, cocás, arco-e-flecha e outros, usados nas danças. Também serão ministradas
palestras naS comunidades estudantis, focando a importancia desta manifestação para nossa
cultura e para nossa própria identidade. Além do apoio e incentivo para recriação de novos
grupos, considerando que houveram vários grupos de dança cabocla na região, resgatando o
folclore e agregando valor ao turismo.
Como fomento ao desenvolvimento econômico, será implantado nas comunidades o
projeto “Arte-Café”, uma iniciativa que tem se mostrado bastante promissora, que tem como
materia prima os restos da agricultura, em especial a palha do café, abundante na região, que
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
133
serão transformados em artesanato, sendo o café, um dos mais importantes produtos
econômicos dos municipios que compõe o territorio da serra do brigadeiro, formados por
grandes e principalmete pequenos produtores rurais. Com o artesanato, busca-se agregar
valor aos restos da agricultura, onde serão capacitadas e treinadas pessoas em risco social
para produção. Busca-se com este projeto, ainda, o apoio na comercialização das produçõses
artesanais, as quais já vêm acontecendo de forma singela, dadas as condições e recursos.
Dentro da proposta de inclusão digital e comunicação, serão realizados cursos e
oficinas de qualificação em audio, vídeo e foto, capacitando agentes sociais locais, afim de
difundir a cultura local tradicional através de registros e documentários, implementando
assim o projeto “Cine-comunidade”, que atualmente, uma vez por semana, exibe filmes para a
comunidade do município de Araponga. Neste segmento serão propostas atividades de
registros do cotidiano destas comunidades, bem como registros das atividades desenvolvidas
pelo próprio projeto, onde depois editados, serão exibidos em suas comunidades e também
em outras comunidades, como forma incercâmbio, troca de experiencias, buscando elevar a
autoestima dos envolvidos direta e indiretamente no processo.
Por fim, aproximação da cultura popular aos alunos das escolas públicas e grupos de
maiores idade, através do desenvolvimento de ações educativas de cunho cultural, ambiental
e social, como: oficinas, palestras, exposições, debates e exibição de vídeos sobre a história e o
folclore regional e meio ambiente.
Figura 10: Oficinas do Projeto ArteCafé
Fonte: Arquivo CEPEC.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
134
ELABORAÇÃO, CAPTAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS: UM BREVE RELATO
Amauri Rocha
Foi com um certo desafio que recebi a solicitação do Prof. Rodrigo Gava para “escrever
um relato sobre sua ou parte de sua vivência/experiência com a produção e/ou gestão
cultural”.
Como falar de mim, passar um pouco de minha experiência e ser útil a quem lê este
texto? Pois o que vejo nos meus colegas de trabalho, nesses mais de 25 anos de atividade, é
que os mais diversos caminhos foram trilhados em suas formações profissionais.
O que é importante na formação de um profissional em produção e/ou gestão cultural?
Escolho citar o livro da Carla Lobo “Diário de Produção” (Referência Bibliográfica: Lobo, Carla.
Diário de produção: relatos, dicas, experiências e casos de quem aprendeu a produção cultural
na prática/ Carla Maria Lobo Bastos. – Belo Horizonte: Ed. Da autora, 2009. 188 p.). Neste
livro, ela ressalta a importância de um produtor cultural dominar assuntos tais como:
LOGÍSTICA, COMUNICAÇÃO, JURÍDICA, ADMINISTRAÇÃO-FINANCEIRA & TÉCNICA. No relato
que farei a seguir, é possível perceber que convivi com todos estes procedimentos, que
permitem com que, hoje, eu seja um especialista em elaboração de projetos, captação de
recursos e gestão de projetos culturais.
Mas, antes de tudo, precede uma coisa essencial: viver a arte e a cultura. Na infância,
já participava de datas comemorativas e esquetes declamando, cantando ou representando.
Reforçando esse comportamento, ressalto também a convivência com os músicos dos anos 70
em Viçosa, minhas participações em bailes da cidade como cantor mirim e no saudoso “Show
de Ouro”, que acontecia aos domingos no Cinema Brasil. Nem todo produtor precisa ser
artista, mas é importante entender aspectos relevantes do mundo artístico. O que estamos
produzindo é arte e cultura e, se não tivermos a essência artística como base, não estaremos
afinados com o que realmente é importante no nosso trabalho.
Nos anos 80, trabalhei em lojas de discos; como músico, toquei pelo interior de Minas
Gerais, fiz várias viagens ao Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde trabalhei como “peão de
produção”(vendendo revistas programa, ajudando em setores básicos como transporte,
camarim, segurança, credenciamento e recepção), produzi vários artistas do Rock dos anos 80
e da MPB no estado e na Zona da Mata, montando e às vezes operando som e luz. É neste
período que tive a minha formação “prática”.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Outro elemento importante na minha formação foi a conclusão do segundo grau e o
meu curso de tecnólogo em cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa. Nos anos 90,
quando cheguei ao Rio de Janeiro, a profissionalização do setor estava a pleno vapor, de uma
certa forma marcada pelo sucesso do Rock in Rio anos antes. Vi então um mercado dividido
entre profissionais que conheciam bem o processo de produção, mas desconheciam técnicas
administrativas e procedimentos básicos da atividade empresarial, tais como impostos,
procedimentos contábeis, trabalhistas, planejamento, finanças etc. O contrário também era
percebido no mercado: contadores, secretárias e gerentes que não sabiam ou que
desconheciam um equipamento de som e luz, necessidades de logística, planejamento de
mídia ou posição no mercado de certo produto artístico.
A minha experiência com música e com a prática de produção cultural, associada à
minha formação acadêmica (onde aprendi a pesquisar, procurar, questionar, processar e
sistematizar o conhecimento), permitiram que me destacasse no mercado carioca, onde
trabalhei em várias funções em uma das maiores produtoras da América Latina ( DellArte
Soluções Culturais), fosse diretor de uma das principais casas de show (Rio Jazz Club), sócio de
uma empresa produtora de livros e CD’s (Amalgama Ltda) e, por fim, controlador de uma das
mais importantes agências de Marketing Cultural do Rio de Janeiro (Arte com Trato).
Já nos anos 2000, de volta à Viçosa, fui diretor da Fundação Artística, Cultural e de
Educação para a Cidadania de Viçosa – FACEV por 8 anos e Diretor do Sistema de Rádio e
Televisão da UFV por 2 anos e meio. E foi nestes anos que sedimentei um tipo de atividade
que já tinha convivido nos meus tempos de Rio de Janeiro e que até hoje resumem minha
atividade no setor cultural: a realização de projetos culturais através dos fomentos e leis de
incentivo a cultura.
Nesta atividade, uso toda a minha experiência para planejar, descrever, articular
equipes, quantificar financeiramente; estar de acordo com a legislação e impostos; ater aos
procedimentos básicos administrativos, financeiros e contábeis; estar atualizado com os
processos de comunicação e mídia, desenvolver técnicas de captação de recursos, desenvolver
formas de gestão, retornos institucionais e prestação de contas.
Até os dias hoje é isso que eu faço na minha empresa, a Amar Projetos Culturais, nos
estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, diversas cidades brasileiras e alguns que já
alcançaram todo o território nacional. Destaco aqui, entre centenas de edições, diversos
projetos da lei estadual de incentivo a cultura para a realização e fomento da produção
artística em Viçosa há 16 anos:
Programa TIM ArtEducação (14 anos), Projeto Grandes Escritores Brasileiros (12 anos),
ViJazz & Blues Festival (7 anos), FestNatal Araxá (5 anos) e coordenação em programas e
projetos de capacitação em elaboração e gestão de projetos culturais (10 anos).
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
136
Além disso, hoje sou articulador de cultura credenciado pelo Governo de Minas Gerais
e, em nível federal, dou parecer para projetos apresentados ao Ministério da Cultura nas
áreas de literatura e audiovisual. No momento, desenvolvo um projeto de construção de um
Centro Cultural no Alto Paranaíba, composto por um teatro para 700 pessoas e uma
biblioteca e o Museu do Móvel em Ubá. Projetos na área de Dança, Teatro, Literatura, Música,
Capacitação, Manutenção de entidades culturais e Festivais, entre outros, permeiam o dia a
dia da Amar Projetos Culturais e sua equipe.
Cabe mencionar uma palavra a respeito do estilo de vida deste profissional. Preparem-
se para encontrar todos os tipos de pessoas, transitar pelas mais variadas instituições e áreas,
viajar bastante, abrir mão de uma vida rotineira (sem fins de semana ou horários
estabelecidos), desafiar o tempo, passar por decisões difíceis, situações estressantes e,
principalmente, desafios de relacionamento humano.
Encerro por aqui, com uma frase que vi na parede de uma produtora onde trabalhei:
“Talento, Tesão e Trabalho”. É uma frase que se aplica a qualquer tipo de atividade. Se faltar
algum desses elementos, os objetivos a serem alcançados ficam muito mais difíceis e
onerosos. Nesta frase, estão incluídas inúmeras outras coisas, tais como, gostar do que se faz,
alegria, paciência, criatividade, convivência profissional, princípios e ética, entre outras.
A todos aqueles que quiserem seguir este caminho, da Elaboração de Projetos, Captação de
Recursos e Gestão de Projetos Culturais, só posso desejar que realize-se e seja muito feliz,
pois, pela minha experiência e o quanto a produção cultural faz parte da minha vida, acho
que isso é muito possível.
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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SOBRE OS AUTORES
Allan Gustavo de Sales
Tibúrcio
Especialista em Planejamento Municipal e Graduado em Arquitetura e Urbanismo, ambos pela UFV. Colaborador do Centro de Pesquisa e Promoção Cultural (CEPEC), de 2007 a 2010. Assessor de Planejamento do Instituto de Planejamento Municipal de Viçosa, entre março/2011 a dezembro/2012. Arquiteto consultor em Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura Municipal de Araponga, de 2002 a 2010.
Site: http://www.allantiburcio.arq.br
Email: [email protected]
Alice Sanches Melo
Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Foi Estagiária no Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef (2012-2014), atuando em projetos como "Circuito de Museus e Espaços de Ciência de Viçosa" sendo bolsista e no "Terra e Arte" e "Programa de Educação em Solos e Meio Ambiente", ambos como voluntária. Atualmente é bolsista do PIBID de Geografia. Também atua em pesquisas nos ramo de: ensino em geografia, solos e meio ambiente e conflitos socioambientais.
Email: [email protected]
Amauri Rocha
De 1981 a 1990 foi músico, produtor cultural e artístico de diversos eventos e festivais de música em Viçosa (MG), Belo Horizonte e Rio de Janeiro, graduou-se em Tecnologia de Cooperativismo pela Universidade Federal de Viçosa em 1989. Desde 1990, atende todo território nacional na elaboração e gestão de projetos culturais para leis, fundos e editais de incentivo à cultura públicos e privados. Presta serviços de consultoria em captação de recursos e marketing cultural. Entre os mais de 60 projetos em atividade administrados pela sua empresa, a Amar projetos culturais ltda, destacam-se o Programa TIM ArtEducAção (14 anos em 12 cidades), Sócio e co-criador do Circuito ViJazz & Blues (7 anos em 8 cidades) e FestNatal Araxá (5 anos). Já ocupou diversos cargos em empresas e entidades culturais no Rio de Janeiro onde foi produtor de eventos musicais, professor de música, assessor para marketing cultural e produtor na empresa Dellart, projeto “Minas Além das Gerais” no Rio de Janeiro e São Paulo, diretor do Rio Jazz Club e gerente financeiro da Arte com Trato (1990-2000). Em Minas Gerais foi Diretor Artístico-Cultural da FACEV (Fundação Artística, Cultural e de Educação para a Cidadania de Viçosa) de outubro de 2000 a abril de 2008, Diretor Geral da TV Viçosa e da Rádio Universitária FM de outubro de 2000 a abril de 2002, Instrutor em elaboração e gestão de projetos culturais para inúmeros projetos e eventos. É membro fundador e consultor do Instituto Asas, ONG Humanizarte e foi presidente daCooperativa de Artistas, Produtores Culturais e Técnicos de Viçosa, de janeiro de 2013 a janeiro de 2014. É parecerista do Ministério da Cultura nas áreas de Audiovisual e Eventos literários, desde 2009.
Email: [email protected]
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Brendow de Oliveira Fraga
Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Possui passagem pelo curso de Bacharelado em Cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Coordenador de Projetos do Programa de Educação Tutorial de Administração da Universidade Federal de Viçosa (PET/ADM/UFV). Atuou como diretor de Marketing no Conselho de Assistência Múltipla em Pesquisa e Informação Cooperativista (CAMPIC Jr.) - Empresa Junior do Bacharelado em Cooperativismo e como estagiário bolsista do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV) na condição de assessor administrativo do pólo responsável pela Central de Empresas Juniores (CEMP). Atualmente, é monitor nível I da disciplina Teoria Geral da Administração - ADM 100 - Na Universidade Federal de Viçosa, vice-presidente do Centro Acadêmico de Administração da UFV, representante discente da comissão coordenadora e do colegiado do curso de Administração da UFV, membro do Grupo de Pesquisa/CNPq em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos e Assessor de Gestão de Pessoas na Central Estudantil de Empresas Juniores. Realiza pesquisas nas áreas de Gestão e Politicas Publicas no Turismo, Economia e Organizações Criativas, Gestão Social e Cooperativismo.
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Doris Dornelles de Almeida
Professora de Ballet Clássico e Música no Curso de Dança, Departamento de Artes e Humanidades da Universidade Federal de Viçosa-UFV. Há vinte anos atua como bailarina tendo experiência profissional nacional e internacional em companhias de dança. Também coreógrafa e pesquisadora nas Ciências Humanas, Sociais, Filosofia e Arte na temática da dança, cultura nas organizações e indústria cultural, baseada na perspectiva do corpo sócio-histórico-cultural e do embodiment (corporalidade). Mestre e Bacharel em Administração com Louvor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Especialista em Teoria do Teatro-Cena Contemporânea pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Bacharel em Artes-Danca - Folkwang Hochschule Essen- Alemanha.
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Eduarda Nogueira Vieira
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Atuou no projeto Circuito de Museus e espaços de ciência em Viçosa: integração e valorização cultural (2013). Também atuou e atua em pesquisas nas seguintes áreas: ensino de geografia, formação docente, educação, solos e meio ambiente, cultura latino americana e PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência) com o projeto "Globalização e cultura";
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Fernanda Márcia Souza
Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Estagiária no Museu de Ciẽncias da Terra Alexis Dorofeef (2012-2014), atuando em projetos como "Terra e Arte" sendo bolsista, "Circuito de Museus e Espaços de Ciência de Viçosa" e no "Programa de Educação em Solos e Meio Ambiente", ambos como voluntária. Também atua em pesquisas nos ramo de: ensino em geografia, solos e meio ambiente, turismo e cultura.
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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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José Ricardo Vitória
Atualmente é mestrando do curso de Administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Faz parte do Grupo de Pesquisa no CNPq "Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos" e trabalha nas linhas de pesquisa " Políticas Públicas e Sustentabilidade (PPS)" e "Turismo Cultura e Lazer (TLC)". Graduado no curso de Administração da UFV. Tem experiências no setor cultural atuando nas áreas de: eventos, gestão e produção cultural, teatro e artes cênicas. Atua como DJ na equipe JP Musicas desde 2006 e na montagem e acompanhamento de eventos para Passarin Ind. e Com. de Bebidas Ltda desde 2011.
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Magnus Luiz Emmendoerfer
Pós-Doutorado em Ciências da Administração pela Universidade do Minho, Portugal. Doutor em Ciencias Humanas: Sociologia e Politica pela UFMG. Administrador e Mestre em Administracao pela UFSC. Professor no Departamento de Administracao e Contabilidade da Universidade Federal de Vicosa (UFV). Líder do Grupo de Pesquisa/CNPq em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos. Possui projetos de pesquisa e de extensão sobre Políticas Públicas de Turismo, Cultura e Economia Criativa.
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Marcelo Soares Andrade
Ator, diretor de teatro, produtor cultural, presidente da ONG Humanizarte e idealizador do programa TIM ArtEducAção e do Projeto Grandes Escritores que durante oito anos levou nomes consagrados da literatura do país, como Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti, para 55 cidades de quatro estados brasileiros: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo. Idealizou, ainda, o Projeto “Escritores Brasileiros” viabilizado por parceiras com o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e do Rio de Janeiro e com o SESC-Brasília. Durante 18 anos Marcelo também atuou como professor de matemática e de teatro vários colégios de Viçosa e região e como Seretário de Cultura de Viçosa em 1993.
Site: http://www.humanizarte.org.br/
Email: [email protected] ou http://www.humanizarte.org.br/
Patrícia Lima
Fundadora do Núcleo de Arte e Dança, onde atuou como dançarina, professora, diretora, e é produtora e gestora há mais de 30 anos. Tem vários trabalhos desenvolvidos, na área de dança, onde se destacam; o ‘Festival Anual de Dança’, e outros projetos desenvolvidos com o grupo ‘Êxtase de Dança’ e o ‘Grupo Impacto’. Onde tem diversos trabalhos premiados a nível municipal, estadual e nacional.
Email: [email protected]
PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA
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Sérgio Lopes
Sócio fundador e Diretor da produtora cultural ViProduções Ltda. Idealizador, Diretor Artístico e Coordenador Geral do ViJazz & Blues Festival, em 7 edições, de 2007 a 2014. Membro fundador do Fórum Mineiro de Festivais Culturais. Sócio fundador e membro da Associação Brasileira dos Produtores de Festivais de Música Instrumental, Jazz & Blues (ABRAFEST). Podutor do Vídeo-curso “Circuito de Festivais - Lei Rouanet, Organização, Bastidores no Congresso Nacional de Profissionais da Música (CONAPROM)”. Palestrante sobre Empreendedorismo Cultural e participante em mesas redondas sobre Jazz e Blues. Assumiu a direção e a produção da tour da banda norte-americana Generation Esmeralda no Festival Mundial da Arte pela Paz em Ubá, Juiz de Fora (Bar Cultural) e São Paulo (Clube A e Programa Jô Soares), em 2013. Também foi diretor e produtor, pela primeira vez no Brasil, de cinco tours; da banda norte-americana Shawn Holt and The Teardrops, que se apresentou no Circuito Vijazz em Ponte Nova, Viçosa e Juiz de Fora e Rio de Janeiro, no ano de 2014, da banda espanhola CosmoSoul, que se apresentou em Ubá, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro , no ano de 2013, da banda alemã World Percussion Ensemble (WPE), que se apresentou em Ubá, Belo Horizonte, RIo de Janeiro e Araxá, em 2013, do músico e professor norte-americano de harmônica e acordeon Johnny Sansone, com shows em Viçosa, Juiz de Fora, Ponte Nova e Araxá, em 2013 e da banda norte-americana Generation Esmeralda, na Festa das Nações em Ubá, em 2012.
Site: www.viproducoes.com
Email: [email protected]
Wescley Silva Xavier
Doutor e Mestre em Administração pela UFMG; Graduado em Administração pela UFV; Professor Adjunto do Depto de Administração e Contabilidade da UFV; Membro do Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade da UFMG, e do Grupo Trabalho e Marxismo da UFJF
Email: [email protected]