PRODUTOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS DO CULTIVO DE CURAUÁ (Ananas comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal, Bromeliaceae)
EM PLANTIO FLORESTAL
Iracema Maria Castro Coimbra Cordeiro; Augusto César da Silveira Andrade; Gracialda Costa Ferreira; Rogério da Silva Braga Eng Ftal Dra. Pesquisadora da Tramontina Belém S.A, [email protected]; Gestor Marketing Embrapa Amazônia Oriental, [email protected] Profª, Dra, Universidade Federal Rural da Amazônia, [email protected]; Discente de Agronomia, Universidade Federal Rural da Amazônia. Bolsista FAPESPA, [email protected]. RESUMO: O curauá (Ananas erectifolius L.B.Sm.) é uma planta fibrosa e por isso destaca-se na economia do estado do Pará. Diante disso, foi realizado estudo no campo experimental Tramontina no município de Aurora do Pará-PA com objetivo de verificar quais os produtos e serviços ambientais se obtém com o cultivo de curauá em plantio florestal. Quadrimestalmente folhas de curauá foram desfibradas e separadas em fibras mucilagem e soro. Após a secagem, a fibra e mucilagem foram enviadas para o Núcleo de Responsabilidade Socioambiental da Embrapa Amazônia Oriental – NURES, Belém-PA para uso na composição do papel reciclado. O soro foi usado como adubação orgânica no plantio da espécie e acompanhado por meio de análises químicas realizadas em amostras do solo pelo laboratório de análises química da Embrapa Amazônia Oriental. Plantas oportunistas registradas nas áreas de plantio foram depositadas no Herbário da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA. O cultivo é ambientalmente correto, favorece o uso de áreas alteradas, pode ser usado com espécie florestal e não necessita da utilização de agrotóxico, gera renda, seu manejo ocupa maior parte de mão-de-obra no campo durante o ano. O sistema de cultivo com curauá apresenta benefícios sócio-econômicos e ecológicos. Palavras chave: Curauá, sustentabilidade, fibra, melhoria do solo.
INTRODUÇÃO
Na nova realidade ecológica mundial nota-se um crescente interesse pelos
produtos naturais biodegradáveis que geram novos padrões de consumo. Este fato deve-
se principalmente à clientela mais exigente, preocupada em adquirir produtos naturais
que sejam biodegradáveis e atendam aos preceitos da sustentabilidade. Assim, a
exploração de novas fontes de alternativas que venham a beneficiar o homem, não
somente na criação de novos produtos, mas também criar oportunidade de gerar
emprego e renda através do desenvolvimento de novas tecnologias é de extrema
importância.
No estado do Pará, dentre as espécies que vem sendo utilizadas em diferentes
sistemas de cultivo como uma solução alternativa com benefícios sócio-econômicos e
ecológicos encontra-se Ananas comosus var. erectifolius (L.B. Sm.) Coppens & F.Leal
Geralmente a espécie se desenvolve em campo aberto sob alta luminosidade,
porém CORDEIRO (2007) verificou que a espécie pode ser utilizada em sistemas
agroflorestais com intensidade luminosa entre 53% a 100%, além de apresentar
benefícios ecológicos, propiciou rendimentos, minimizou os custos, maximizou o
espaço do reflorestamento alem de possibilitar geração de emprego e renda à
comunidade.
(Bromeliaceae), conhecida vulgarmente como curauá. É uma planta fibrosa, terrestre,
monocotiledônea, herbácea, perene. Suas folhas são eretas, coriáceas de coloração
púrpura, com infrutescências vermelhas (BORGES, 2000).
Nos últimos anos a cultura do curauá vem assumindo um lugar de grande
importância com relação a economia regional. A espécie apresenta uso diversificado e é
degradável e reciclável. Suas fibras possuem ótimas propriedades mecânicas, e são
utilizadas para a fabricação de papel, na produção de componentes para bancos e
revestimento de automóveis, confecção de cordas e barbantes (MONTEIRO et al,
2006). Um genótipo de curauá já é largamente exportado para a Europa, como flor de
corte, sendo responsável por 75% das exportações de abacaxi ornamental do Estado do
Ceará (Junqueira e Peetz, 2006). Os resíduos, mucilagem e soro, obtidos do
desfibramento das folhas, podem ser utilizados na fabricação de papel e adubação
orgânica conforme resultados preliminares obtidos por BRAGA et al. (2010). Além do
mais as mudas que surgem da coroa e dos rebentos podem ser comercializadas.
Dentro desta ótica, a Empresa Tramontina Belém, Embrapa Amazônia Oriental,
Universidade Federal Rural da Amazônia com apoio da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Estado do Pará - FAPESPA vem desenvolvendo pesquisas de grande
alcance ambiental e social com a espécie através do projeto Potencialidade e uso do
Curauá em Plantios Florestais. Nesse sentido este trabalho teve objetivo de verificar os
produtos e serviços ambientais do cultivo de curauá em plantio florestal com a
finalidade de apresentar alternativa de produção sustentável.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo e Descrição do Plantio
O plantio foi instalado no campo experimental Tramontina Belém S.A.,
localizado no município de Aurora do Pará (PA), Brasil entre as coordenadas 2°10’00”
latitude sul e longitude 47°32’00” w distante em linha reta 210 Km da cidade de Belém,
capital do Estado do Pará com acesso através da Br 010 (Figura 1).
Figura 1- Localização do campo experimental da Tramontina Belém S.A., Aurora do Pará-PA.
O solo é classificado como latossolo amarelo, de textura areno-argiloso e
caracteriza-se por estar bastante degradado pela atividade pecuária, com grande
ocorrência de capim quicuio da Amazônia (Brachiaria humidicola (Rendle) Schweick.) e
outras espécies invasoras. Possui relevo plano a suavemente ondulado; clima da região
de acordo com a classificação de Köppen está no grupo A, apresentando os tipos
climáticos Afi, Ami e Awi. Conforme registros da empresa a precipitação pluviométrica
do campo experimental tem média anual de 2.300mm; temperatura média anual é de
48 47
AURORA DO PARA
ESTADO DO PARÁ
7° 7°
4° 4°
1° 1°
2° 2°
57°
57°
54°
54°
51°
51°
48°
48°
25° 25°
15° 15°
5° 5°
5° 5°
65°
65°
55°
55°
45°
45°
35°
35°
LOCALIZAÇÃO NO ESTADO DO PARÁ LOCALIZAÇÃO BRASIL
27°C, sendo que a média do mês mais quente foi de 35°C (período de 2001 a 2009); e
umidade relativa média de 74%.
Área foi preparada com limpeza mecânica seguida de adubação orgânica. Foram
utilizadas plantas de curauá e paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum (Huber
ex Ducke) Barneby
) (Figura 2) dispostas em espaçamento de 0,80m x 0,80m entre a espécie
curauá e 4 x 4 metros entre plantas de paricá.
Figura 2- Vista de uma parcela do Plantio de curauá (Ananas comosus var. erectifolius
(L.B.Sm.) Coppens & F.Leal) com paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum
(Huber ex Ducke) Barneby
) com 12 meses após o plantio. Campo experimental
Tramontina Belém S.A, Aurora do Pará, 2010.
Atividades desenvolvidas
A cada quatro meses as folhas de curauá foram coletadas pesadas e desfibradas, em
máquina volante do tipo Embrap com duas lâminas (Figura 3a). Em seguida as fibras e
mucilagem foram pesadas e postas para secar (Figura 3b) para aferição do peso seco. As
fibras e mucilagem foram enviadas ao Núcleo de Responsabilidade Socioambiental da
Embrapa Amazônia Oriental - NURES, localizado em Belém-PA para uso na
composição do papel reciclado onde foram analisados, aparência, textura e resistência
do papel.
O soro ou extrato vegetal foi acondicionado em vasilhames plásticos para ser
usado como adubação orgânica, bem como enviada ao laboratório análise química da
Universidade Federal do Pará – UFPA para verificar a composição e seu possível uso
como ração animal. Amostras do solo foram coletadas antes e após um as aplicação do
soro de curauá e enviadas ao laboratório de análises química da Embrapa Amazônia
Oriental. As plantas oportunistas foram coletadas seguindo normas padronizadas de coleta e
herborização de material botânico, e posteriormente, depositadas no Herbário Felisberto
Camargo da UFRA para identificação.
a)
b)
Figura 3- Detalhes do processamento da fibra de curauá (Ananas comosus var. erectifolius
(L.B.Sm.) Coppens & F.Leal
). a) Máquina desfibradora modelo Embrap.; b) Aspecto de fibra
e mucilagem.
ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO DO CURAUÁ
O crescimento da planta
Na associação curauá e paricá as plantas são mutuamente beneficiadas, de
forma quantitativa e qualitativa, demonstrando haver interação positiva entre as
espécies. Um ano após o plantio da muda os dados levantados possibilitaram verificar
que no sistema de cultivo as folhas de curauá apresentaram crescimento médio 1,06m de
comprimento, 21,11 folhas/planta e 1 rebento/planta. Esses resultados estão em
conformidade com os encontrados por CORDEIRO et. al. (2004). À medida que as
plantas foram amadurecendo as folhas chegaram a alcançar até 1,50m e surgiram novos
rebentos, obtendo-se em média até cinco rebentos/planta (Figura 4 a). Dos frutos, novos
filhos surgiram tanto na base como na sua coroa (Figura 4 b).
a) b)
Figura 4- Detalhes das plantas de curauá (Ananas comosus var. erectifolius (L.B.Sm.)
Coppens & F.Leal
). a) Plantas com rebentos; b) Aspecto do fruto com filhos na coro e
base.
Para o paricá as plantas apresentaram respostas promissoras quando comparados
a outras observações feitas por CORDEIRO et al. (2004) no mesmo campo
experimental, no entanto vantagens e desvantagens foram verificadas no sistema
(Tabela 1).
Tabela 1- Indicadores Sócio-econômicos e ecológicos do plantio de curauá (Ananas
comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal
).
VANTAGENS DESVANTAGENS
Demanda de mão de obra e distribuição de trabalho
Sócio-Econômicas Falta de informações sobre a real demanda das fibras.
Diversidade de produtos; produção e renda durante o ano.
Baixo rendimento da máquina e falta de qualificação do operador.
Ecológicas Adubação orgânica, melhoria do solo e controle de plantas oportunistas
:
Melhoria de crescimento e sobrevivência das árvores devido ao manejo agrícola
Falta de informações das interações ecológicas entre as espécies
Seguindo-se as orientações técnicas, a cada colheita, foi possível retirar de 5-7
folhas/planta. Os rebentos e os filhos provenientes da coroa foram retirados e
encanteirados para posterior comercialização das mudas. Essas atividades propiciaram a
diminuição da pressão sobre o solo, mantiveram as plantas mais vigorosas, favoreceram
melhor o desenvolvimento da planta mãe. Por outro lado a produção de mudas do
próprio plantio além de assegurar a manutenção e a expansão do cultivo trouxe renda
adicional.
Durante o processo de colheita foi verificado que as folhas da planta possuem
capacidade de permanecer no estado maduro muito tempo, sem estragar, possibilitando
a colheita durante várias semanas, o que demonstra ser uma espécie com grande
flexibilidade no manejo.
Beneficiamento: Peso e Rendimento de Folhas, Fibra e Mucilagem
Durante o desfibramento foi observado que em média uma folha pesa 100g e o
um quilo de folha pode render de 7% até 10 % de fibra seca (Tabela 2). Não é o
rendimento ideal, no entanto se compararmos com 2,7 a 3,5 quilogramas de fibras secas
que são gerados por 22.000 folhas de abacaxi (ALEXANDRE, 2005) é uma produção
razoável.
Tabela 2- Peso verde, Peso seco e Rendimento de Fibra e mucilagem de curauá (Ananas
comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal) cultivado com espécie florestal
paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum (Huber ex Ducke) Barneby
), Aurora
do Pará-PA, 2010.
Amostra I Rendimento (%)
Amostra II Rendimento (%)
Folha 155,48 kg - 1.249,00 kg -
Fibra verde 25,67 kg 16,51 242,93 kg 19,45
Fibra seca 11,81 kg 7,60 116,15 kg 9,30
Mucilagem verde 110,82 kg 71,27 871, 802 kg 69,8
Mucilagem seca 13,33 kg 8,57 101,46 kg 8,12
Soro 40 l 25,72 312,25 l 25
Perda 18,99 kg 12,22 134,26 kg 10,75
O processo de desfibramento é bastante rudimentar, no entanto este baixo
rendimento pode ser reparado com o aprimoramento do maquinário utilizado e maior
capacitação dos operadores. Ressalta-se que as perdas que ocorrem durante o
beneficiamento podem ser utilizadas como material orgânico para adubação, como
ração animal ou mesmo o pó como matéria prima para medicamentos. Uma variação de
rendimento em duas amostras com operadores diferentes foram observadas.
Parâmetros dos Cálculos Estimativos da Produção
Nos cálculos da produção de fibras parâmetros estimativos foram usados sobre
quantidade da massa de folhas e de fibras, com dados experimentais de tempo e
porcentual de desfibramento por folha na máquina desfibradeira, com valor estimado do
quilograma da fibra considerando 1 coleta (Tabela 3).
Tabela 3 - Parâmetros de calculo da estimativa de produção para 1 hectare de curauá
(Ananas comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal) em plantio de paricá
(Schizolobium parahyba var. amazonicum considerando-se 3 colheitas /ano (Huber ex
Ducke) Barneby
Espaçamento
).
0,80m x 0,80m
Nº plantas 15.000
Nº Folha/ ano 70.000
Peso/folha (g) 100
Massa da folha (kg/ano) 7.000
Massa de fibra verde (kg/ano) 21.000
Massa de fibra seca (kg/ano) 4.410
Tempo de desfibramento / folha (s) 4
Preço de kg de fibras (estimativa) R$ 6.00
Folhas / hora 504
Produção de fibras / hora (kg/h) 1,53
Produção de fibras /dia (kg/dia) 12,25 kg/dia
Uso da Fibra e Mucilagem na Produção de Papel e embalagens
As sobras e aparas de papel misturado a fibra e mucilagem de curauá,
apresentaram potencialidade na fabricação de papel reciclado (Figura 5 a) e embalagens
(Figura 5 b). No entanto para não comprometer a qualidade do papel e manter um
padrão das características como espessura, resistência, aparência e textura as misturas
devem conter 45% de fibra, 5% de mucilagem e 50% de sobras e aparas de papel.
Normalmente o uso de maior quantidade de fibra quando misturado a outros
componentes proporcionam qualidade superior do papel pela resistência, elasticidade,
alongamento máximo que as fibras possuem (MONTEIRO et al., 2006). Ressalta-se que
durante o processo de produção de papel reciclado não foram utilizados produtos
químicos.
O baixo rendimento das fibras durante o processo de desfibramento sugere
diminuir o uso de fibras na composição do papel reciclado e promover o uso da mucilagem,
principalmente pelo alto custo do processamento das folhas e pela quantidade de mucilagem
gerada durante o processo de desfibramento. Essas adequações, além de gerar um produto
de padrão aceitável, poderão promover a confecção de produtos 100%
reciclado/reaproveitado.
a) b)
Figura 5- a) folhas de papel reciclado produzidos com de fibra e mucilagem de curauá
(Ananas comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal) e sobras e aparas de
papel; b) embalagens produzidos do papel reciclado
Potencialidade do Soro
O soro extraído do curauá durante o processo de desfibramento apresentou um
potencial para o aproveitamento na adubação orgânica, inibidor de plantas oportunistas
e também como ração animal.
No que se refere à melhoria do solo foi verificado que a atividade é constante e
passível de enriquecimento do solo. Nas análises de solo (Tabela 3) na profundidade até
20 cm houve melhoria na quantidade de matéria orgânica depositada no solo e elevação
nos teores dos elementos N, P, K e Mg, melhorando a qualidade do solo e
proporcionando maior número de folhas/planta que saíram da média de 17,84
folhas/planta para 24,29 folhas/planta. Estes resultados confirmam os encontrados por
BRAGA et al. (2010) nos estudos iniciais com a espécie no mesmo campo
experimental. A utilização de adubos verdes na agricultura tem sido usada e é
recomendada para manter ou incrementar os teores de matéria orgânica dos solos
(Fernandes et al., 1998).
Tabela 3- Algumas características do solo antes a após aplicação do soro de curauá
(Ananas comosus var. erectifolius (L.B.Sm.) Coppens & F.Leal
) no Campo
Experimental Tramontina Belém, Aurora do Pará-PA, 2010.
pH N MO P K Na Ca Ca+Mg Al H+Al
Tratamentos água % g/kg mg/dm³ cmolc/dm³
Implantação 5,00 0,22 20,20 1,00 31,00 8,00 1,30 1,90 0,90 5,78
Sem soro (1 ano) 5,03 0,21 21,05 1,00 23,33 8,00 1,30 1,77 0,90 5,67
Com soro (1 ano) 5,00 0,26 27,74 2,00 27,33 7,33 0,97 1,43 1,00 6,22
A eficiência da aplicação do soro como inibidor de plantas oportunistas foi
verificado no plantio de curauá cultivado com paricá. No primeiro levantamento foram
registradas 50 espécies distribuídas em 23 famílias, com maior freqüência de Fabaceae.
Após a segunda aplicação do extrato vegetal no levantamento realizado foi possível
verificar que ocorreram apenas 14 espécies de 12 famílias, com a maior freqüência de
Rubiaceae. Paspalum conjugatum e Desmodium barbatum apresentaram maior
freqüência no primeiro levantamento, respectivamente.
Espécies que apresentaram maior dificuldade no controle foram Annona sp
Borreria verticillata ( L.) G. F.W. Meyer; Calopogonium mucunoides Desv.;
Doliocarpus sp.; Mimosa pudica L.; Paspalum maritimum Trin; Polygala martiana
A.W. Bennet; e Urena lobata L., porém podem diminuir a tolerância em função do uso
continuado do soro ou mesmo apresentar modificações na dinâmica das invasoras
A presença de espécies oportunistas na agricultura propicia aumento do banco de
sementes dificultando a operação e manejo durante a colheita, assim a prática de
aplicação do soro evita a disseminação de plantas daninhas, bem como diminui os custos
com manutenção e limpeza rigorosa. Por outro lado a aplicação de adubação orgânica
líquida age como inibir crescimento de ervas daninhas aumentando a eficiência de
utilização da água e dos nutrientes pelas plantas (Raven et al., 2001).
No que diz respeito ao uso do soro como ração animal foi possível verificar
que apesar do soro do curauá apesar possuir um alto teor de água, a composição
centesimal do soro se adéqua à utilização como ração animal, visto que possui os teores
de carboidratos, gorduras e proteínas, tanto na amostra pura como nas amostras diluídas
em água (Tabela 4). Assim pode-se indicar o uso como ração animal, no entanto há
necessidade de testes com animais para efetiva comprovação no exercício dessa função.
Tabela 4- Análises físico-químicas do extrato vegetal de curauá (Ananas comosus var.
erectifolius (L.B. Sm.) Coppens & F.Leal) retirado do plantio florestal no campo
exprimental da Empresa Tramontina Belém S.A
Elementos
., Aurora do Pará (PA).
Concentração 25% 75% 100 %
Valor calórico total (Kcal/100g) 12,63 17,86 26,29 Carboidratos (g/100g) 1,14 2,2 4,24 Proteínas (g/100g) 0,15 0,15 0,22 Gorduras Totais (g/100g) 0,83 0,94 0,97 Resíduo mineral fixo (g/100g) 0,64 0,52 0,64 Umidade (g/100g) 97,24 96,19 94
Os resultados apresentados neste trabalho são parciais, contudo indicam um
possível efeito do extrato vegetal para adubar o solo e também agir como supressor de
plantas espontâneas. Novos ensaios estão em andamento para verificação desses
possíveis feitos na fertilização do solo e sua correlação com o crescimento das plantas,
bem como indicar a quantidade suficiente que deve ser utilizada e o intervalo de tempo
que o produto deve ser aplicado. De todo modo essas vantagens produzem uma nova
modalidade de produto, chamada serviço ambiental, que pode, inclusive, agregar valor
ao sistema produtivo.
Considerações Finais
Após os estudos e análise dos dados de todas as informações levantadas,
verificou-se que no cultivo do curauá os benefícios de produção, sócio-econômicos e
ambientais manifestam-se a médio e longo prazo.
O cultivo é ambientalmente correto, favorece o uso de áreas alteradas, pode ser
usado com espécie florestal e não necessita a utilização de agrotóxico. Durante todo o
processo produtivo, desde o plantio, passando pelo processamento da fibra e a
fabricação de papel e embalagens, não há geração de resíduos poluentes ao meio
ambiente.
Sob o aspecto econômico e social, o sistema oferece diversidade de produtos,
gerando várias fontes de renda para os produtores, ao mesmo tempo em que contribuem
para maximizar o uso da área e minimizar os custos do plantio florestal, com a
possibilidade de auferir rendimentos com a produção de folhas, mudas e fibras com
várias colheitas, gerando retorno e renda em curto período até o corte da espécie
florestal. Os subprodutos gerados durante o processo produtivo são reutilizados com
reaproveitamentos sucessivos gerando renda para os pequenos produtores da região,
renumerando o seu trabalho com preço justo. Também apresenta maior ocupação de
mão-de-obra no campo durante o ano, proporcionando melhoria na qualidade de vida e
contribuindo para reduzir o êxodo rural, sendo, portanto socialmente justo.
REFERENCIAS
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