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Herdeiros da facúndia: a herança retórica oitocentista
Raphael Silva Fagundes1
Resumo: A cultura letrada do XIX foi marcada por uma grande dimensão retórica. Nessa
oportunidade buscaremos analisar as heranças desse elemento fundamental no discurso dos
eruditos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro empenhados na construção da
identidade nacional no Império do Brasil. Partindo da tese de que essa herança é proveniente
do Barroco, nada mais justo que nos debruçar sobre um dos maiores ícones do barroco
português para entender a prática da retórica: o padre Antonio Vieira.
Palavras-chaves: Retórica. IHGB. Antonio Vieira. Barroco. Império do Brasil.
Abstract: The lettered culture of the XIX Century was characterized by a wide rhetoric
dimension. This article intends to analyze the legacy of this fundamental factor on the
discourse of the IHGB's erudite committed to the construction of a National Identity at the
time of the Empire of Brazil. Considering that this legacy comes from the Baroque, one of the
most prominent icons of the Portuguese Baroque is addressed in this article: Father Antonio
Vieira.
Keywords: Rhetoric. IHGB. Antonio Vieria. Baroque. Empire of Brazil.
“uma coisa é expor, e outra é pregar; uma ensinar, e outra persuadir”.2
Para o padre Antonio Vieira pregar era persuadir, por isso dizia que “os discursos”, de
um pregador, “hão de ser vestidos e ornados de palavras”. No entanto, isto não era uma
especificidade do famoso jesuíta setecentista, mas um fenômeno do seu meio cultural. Nesta
ocasião iremos abordar a permanência da importância dada à retórica na cultura letrada do
século XIX, compreendendo este fenômeno como uma herança da cultura do Barroco.
Nossas fontes serão os sermões de Antonio Vieira, basicamente o Sermão da
Sexagésima e as revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. No entanto, o
caminho entre estas duas fontes serão preenchidas por outras como o dicionário de Raphael
Bluteau, a tese de Joao Antonio da Silva, a Retórica Sagrada obra póstuma de Vieira, mais
precisamente o que os seus censores falaram sobre ela, a obra impactante de Luis Vernei.
1 Doutorando do programa de Pós-Graduação da UERJ. Email: [email protected] 2 VIEIRA, Pe. Antonio. Sermão da Sexagésima. In: Sermões. Vol. I. Erechim: Edelbra, 1998. Disponível em: <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=36684>. Acesso em: 06 jan. 2014.
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Com estas fontes foi possível traçar uma trajetória da retórica ao longo do mundo luso-
brasileiro pela qual se explica o orgulho que as elites do IHGB tinham dessa herança cultural
marcada pela eloquência.
1. O Barroco como cultura persuasiva
Aqui compreendemos que o Barroco foi uma cultura extremamente voltada para a
persuasão. José Antonio Maravall destaca que “a retórica e o uso variadíssimo de seus
múltiplos recursos” significam muito “nesse momento cultural”. Segundo o autor, “a passagem
da retórica para o primeiro plano entre as artes da expressão [...] e o retorno à retórica
aristotélica são fenômenos ligados ao desenvolvimento europeu do Barroco”.3 A retórica, deste
modo, foi um dos instrumentos utilizados pelas monarquias absolutistas para restaurar a ordem
social medievalizante.
No século XVII havia um aspecto ao mesmo tempo religioso e cultural que interferiu
diretamente na atividade retórica: o mistério. Michel de Certeau destaca que este elemento do
oculto comanda “o ‘estilo’, a retórica, quer dizer, esta arte de falar, onde a alegoria representa
um papel decisivo e que consiste em dizer uma coisa dizendo outra coisa”.4 Os seiscentos era
um mundo em declínio em que a retórica teria uma função extremamente importante.
Outro aspecto que podemos apreender da retórica deste período é o que demonstra
Giulio Carlo Argan. Segundo o autor, o empenho da arte barroca era transformar o ideal
religioso em um ideal burguês, ou seja, “convertirlo en norma para la vida social y política”.5
Segundo Argan, os artistas se apoderaram da teoria dos afetos do segundo livro da Retórica
de Aristóteles como “condición fundamental para que el arte sea capaz de cumplir su tarea de
convencer”. Já no limiar de seu artigo, o autor deixa bem claro que “en contraste con el
neoplatonismo de Miguel Ángel, el barroco significa una comprobación del pensamiento
aristotélico, no sólo respecto a la ya investigada influencia de la Poética, sino, sobre todo, en
cuanto a la Retórica”.6
3 MARAVALL, José Antonio. A Cultura do Barroco: análise de uma estrutura histórica. Trad: Silvana Garcia. São Paulo: EDUSP, 2009. p. 334. 4 DE CERTEAU, Michel. A Escrita da História. Trad: Maria de Lourdes Menezes. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. p. 140. 5 ARGAN, Giulio Carlo. La retórica aristotélica y El barroco: El concepto de persuasion como fundamento de La temática figurativa barroca. In: ANALES DEL INSTITUTO DE INVESTIGACIONES ESTÉTICAS, nº 96, pp. 111-116, 2010. p. 112. 6 ARGAN, Giulio Carlo. La retórica aristotélica y El barroco: El concepto de persuasion como fundamento de La temática figurativa barroca. In: ANALES DEL INSTITUTO DE INVESTIGACIONES ESTÉTICAS, nº 96, pp. 111-116, 2010. p. 111.
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João Adolfo Hansen mostra como a retórica foi trabalhada do século XVI até o século
XVIII através do Ratio Studiorum. A escolha do Concílio de Trento em disseminar o
Evangelho pela via oral em contraposição às propostas de Lutero em transmiti-lo através da
leitura da Bíblia, causou uma reativação da retórica antiga. Os jesuítas invocavam uma
encenação da sacralidade através da eloquência dos antigos pagãos. Contraditório à primeira
vista! Porém, houve uma apropriação dessa retórica clássica. Esse investimento na retórica
também trouxe à tona a retórica sacra da Igreja Latina e de escritores medievais. Houve uma
fusão do modelo ciceroniano e do agostiniano para “tornar a palavra não só eloquente,
persuasiva e eficaz, no sentido ciceroniano, mas principalmente para fazer dela uma revelação
substancial da sua Causa Eficiente, Deus, segundo as duas fontes autorizadas, a traditio e as
Escrituras”.7
Sem dúvida a eloquência estava a serviço dos reis cristãos. Nesta questão, em
particular, houve um grande investimento retórico por parte de Felipe II para legitimar o
domínio sobre Portugal, no período conhecido como a União Ibérica. Em um momento em
que aumentava a desaprovação de seu governo, o rei católico investiu na presença de sua
imagem no vasto território que dominava durante o século XVI. A imprensa foi fundamental
nesta tarefa, imprimiu-se as antigas leis que legitimavam a união das coroas de Portugal e
Castella. Além disso, foram criadas pela ordem real as cartas generales para plegarias, um
documento que determinava que uma propaganda do rei católico deveria ser feita em meio a
solenidade litúrgica nas igrejas de Castella. Era um sistema rígido em que três horas durante a
manhã e três durante a tarde eram dedicadas à oração ao monarca. Segundo Fernando Bouza
Alvarez, “la figura monárquica saldría reforzada después de ser continuamente consagrada”.8
Durante as missas, os sermões dos padres eram recheados de passagens bíblicas que
legitimavam o poder do monarca Habsburgo. Em 1571 o principal ministro de Felipe II, o
cardeal Diego de Espinosa, compara a conquista de Lepanto com a destruição do exército do
faraó no Mar Vermelho. Já o frei Hernando Del Castillo, em uma perspectiva mais voltada
para o passado profano, entendia que “uniendo el reyno de Portugal al de Castilla [Don
Felipe] será el mayor Rey Del mundo (...) porque se los Romanos con enseñorear solo el mar
7 HANSEN, João Adolfo. “A Civilização pela palavra”. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes Faria; e VEIGA, Cynthia Greive. (orgs.). 500 Anos de Educação no Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 28. 8 BOUZA, Fernando. Imagem y propaganda: capítulos de história cultural Del reinado de Felipe II. Madrid: Akal, 1998. p. 147.
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Mediterráneo enseñorearon el mundo”.9 Deste modo, podemos perceber que era comum o
empenho dos membros da Igreja fomentar retoricamente a atitude dos seus reis.
A retórica estava presente nas diversas formas de manifestação de poder neste mundo
ibérico. Em sua tese de doutorado, Ana Isabel López destaca as tensões e conflitos travados
entre o Santo Ofício e as instituições do governo ao longo da União Ibérica e nos primeiros
anos dos Bragança em Portugal. Nos auto de fé um sermão era pronunciado. No exórdio, era
necessário que o pregador realizasse a captatio benevolentiae, estratégia argumentativa
apresentada na Retórica à Herenio, obra que alguns atribuem a Cícero. É nesse instante que
se deve usar de argumentos para prender a atenção do auditório, torná-lo benevolente. O
conflito era quem deveria ser citado neste momento do discurso, o inquisidor-geral ou o vice-
rei. O lugar temporal no discurso representa a expressão do poder que os agentes citados
desempenhavam na cerimônia religiosa.10
Segundo Quentin Skinner, as bases por onde se desenvolveu o pensamento político
renascentista estão submetidas a duas tradições: uma é o estudo da retórica, que desde a
fundação das universidades na Itália, constituiria em um tópico de ensino fundamental ao lado
da medicina e do direito; a outra é a escolástica, que partiu da França para a Itália nos finais do
século XIII. Destas duas correntes irão nascer os humanistas dos Quatrocentos.11 Delas
surgirão diversas ordens religiosas inclusive a Companhia de Jesus na qual está inserido o
padre Antonio Vieira. Esta relação entre escolástica e retórica será a quintessência da oratória
do pregador inaciano, onde da primeira utiliza os mistérios bíblicos, quanto da segunda a
habilidade persuasiva de seus sermões. Estes elementos estão claros no Sermão da Sexagésima
pregado na capela real em 1655:
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando.12
9 PARKER, Geoffrey. David o Goliat: Felipe II y su mundo en la década de 1580. In: KAGAN, Richard L. y PARKER, Geoffrey (eds.) España, Europa y el mundo Atlântico. Madrid: Marcial Pons, 2002. p. 325. 10 LOPEZ, Ana Isabel. Poder y ortodoxia: El gobierno Del Santo Oficio en el Portugal de los Austrias (1578-1653). Tese de Doutoramento. Universidad de Castilla. 2008. pp. 322-323. 11 SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. Trad: Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Cia das Letras, 1996. p. 49. 12 VIEIRA, Pe. Antonio. Sermão da Sexagésima. In: Sermões, Padre Antônio Vieira, Erechim: Edelbra, 1998. Disponível em: <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=36684>. Acesso em: 06 jan. 2014.
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Nesta passagem podemos encontrar as três provas do discurso (etos, patos e logos)
apresentados por Aristóteles na Arte Retórica e a crença comum na época de que a
competência oratória é um dom da Graça. Em outro momento, Vieira demonstra a questão da
prova do argumento que deve ser feita por meio das Escrituras e por meio da maestria do
orador:
Há-de tomar o pregador uma só matéria; há-de defini-la, para que se conheça; há-de dividi-la, para que se distinga; há-de prová-la com a Escritura; há-de declará-la com a razão; há-de confirmá-la com o exemplo; há-de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que hão-de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar; há-de responder às dúvidas, há-de satisfazer as dificuldades; há-de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários; e depois disto há-de colher, há-de apertar, há-de concluir, há-de persuadir, há-de acabar. Isto é sermão, isto é pregar; e o que não é isto, é falar de mais alto.
Certamente, precisamos compreender que “os Padres da Igreja primitiva adaptaram a
Retórica antiga, via Cícero e Quintiliano, como modo de formar, às categorias da
hermenêutica, método de interpretar, coisa que a Idade Média repetiu essencialmente”. João
Adolfo Hansen afirma que tais padres criaram a “alegoria dos teólogos”, um método de
interpretar os eventos do mundo por meio das Escrituras Sagradas. A Retórica antiga usava a
alegoria como um simbolismo linguístico; os padres da Idade Média a adaptaram, “pensando-a
como simbolismo linguístico revelador de um simbolismo natural, das coisas, escrito desde
sempre por Deus na Bíblia e no mundo”.13
2. As transformações da retórica e a permanência de uma cultura persuasiva
Como os jesuítas dominavam o ensino, tanto em Portugal quanto no Brasil, a educação
foi marcada pelo domínio da retórica e tinha como objetivo formar jovens eloquentes. No
século XVIII o monopólio jesuítico do ensino passou a ser criticado. A ordem religiosa
passou a representar algo que deveria ser superado, sendo taxada como tradicional, antigo.
Com o tempo, os ideais propostos pela ordem inaciana foram se afastando da realidade prática
de Portugal, principalmente com o advento das Reformas Pombalinas.
A crítica à retórica tradicional começa por volta de 1743, quando João Antonio da
Silva propõe uma reforma. Em sua tese oferecida ao rei D. João V, Silva destaca os preceitos
da retórica e da poética com base principalmente em Cícero e Quintiliano. Destaca os afetos
como um dos principais artifícios da eloquência (assim como pensavam os jesuítas), mas para
13 HANSEN, João Adolfo. Alegoria: construção e interpretação da metáfora. São Paulo: Hedra; Campinas: Unicamp, 2006. p. 12.
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que este artifício seja eficaz no discurso é necessário seguir algumas regras básicas. Dentre
estas regras encontramos exatamente uma crítica do autor a um dos principais elementos
explorados na oratória barroca de Vieira: a Antítese. Segundo Silva para ser eficaz é
necessário deixar “as Antíteses, períodos harmoniosos, e toda a colocação de palavras, que
pareça estar de propósito em correspondência, e desafio de outras semelhantes”.14 O
virtuosismo da imagem do orador criada pelo ethos também foi criticada por Antonio da
Silva, pois para ele os oradores que buscam “primeiro neles a própria estimação, do que a
utilidade dos próprios ouvintes” prejudicam a essência da retórica clássica. Por isso apóia-se
em Cícero para corroborar sua posição: “nas Obras, que analisarmos: notando ao mesmo
tempo como não é preciso ostentar virtudes, para se mostrar virtuoso”.15
Vale lembrar a colocação importante de Aníbal de Castro sobre a prática retórica do
próprio Vieira, já que no Sermão da Sexagésima apresenta críticas ao modelo barroco, ou
melhor, ao exagero de metáforas, antíteses etc. No entanto, explica o autor, e o que se
confirma ao compararmos os discursos de Vieira com a parenética da época, o padre inaciano
deixou-se “seduzir pela exuberância ou pela sutileza barrocas”, pois foi por meio deste
modelo pomposo da fala que o padre inaciano ganhou fama e projeção no cenário em que
vivia.16 Foi “forçado” a jogar o jogo.
O padre Raphael Bluteau, grande pregador da primeira metade do século XVIII,
destaca em seu dicionário uma retórica especificamente eclesiástica que não aparecerá mais
em João Antonio da Silva. No verbete “retórica” destaca Bluteau:
Retórica Eclesiástica, ou Eloquência Evangélica na Arte de pregar, ou falando mais individualmente tem a dita retórica três gêneros, que são o Panegírico, com o qual louva a Deus, aos Anjos, e aos Santos; o Didascalico, com o qual expõe as Escrituras, e declara os mistérios de nossa Religião, e o Parenetico, que oferece razões, e motivos, para exortar os Cristãos a abraçar as virtudes, e aborrecer os vícios.17
João Antonio da Silva vai mostrar que a retórica é uma só, e faz divisão apenas entre
os oradores: há oradores sagrados e profanos, no entanto os dois estão submetidos a mesma
retórica. A divisão dos gêneros que faz é a mesma de Aristóteles: deliberativo, demonstrativo
e judiciário. Diz: “e faremos servir igualmente toda esta doutrina aos Oradores sagrados; tanto
mais obrigados a praticá-la, quanto os seus discursos têm objetos de maior importância, e é a 14 SILVA, João Antonio. Os preceitos da retórica, e poética. Mafra: Real Colégio de Mafra, 1743. p. 14. 15 SILVA, João Antonio. Os preceitos da retórica, e poética. Mafra: Real Colégio de Mafra, 1743. p. 11. 16 CASTRO, Aníbal Pinto de. Retórica e Teorização Literária em Portugal: do humanismo ao neoclassicismo. 2 ed. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008. p. 106. 17 BLUTEAU, Raphael. Voculário Portuguez e Latino. p. 305. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/pt-br/dicionario/1/retorica>. Acesso em: 20 jan. 2015.
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Arte de os conduzir felizmente, quase sempre a mesma, que a dos Oradores profanos”.18 Ou
seja, não há uma Retórica Eclesiástica. Aqui o século das luzes já mostra a sua influência em
Portugal.
Por isto, acreditamos que João Antonio da Silva representa o marco divisório desta
adaptação da retórica ao mundo moderno luso-brasileiro. Na mesma década, Luis Antonio
Verney entrará em cena causando um barulho maior e se aproveitando de uma posição
diferente no campo de atuação no mundo social.
Um dos mentores das reformas nos estudos menores de 1759 e da Universidade em
1772, frade da ordem oratoriana, filósofo, teólogo, professor e escritor português, autor do
Verdadeiro Método de Estudar (primeira edição em 1746), uma compilação de cartas que se
transformou em livro, Verney tinha o intuito de combater o modelo oratório baseado na Ratio
Studarium. Seu alvo principal era nada mais nada menos que Antonio Vieira. Destaca que as
cartas de Vieira foram suas melhores obras, porque nelas apoderou-se apenas do “estilo
simples” para se explicar. Sabe do radicalismo (natural dos iluministas como o era) de sua
posição quando escreveu ao seu destinatário, o Padre Diogo Vernei da Congregação do
Oratório de Lisboa: “Conheço que, se eu falasse com outra pessoa que não fosse V. P., se
escandalizaria muito que eu não aconselhasse aqui a leitura do Padre Vieira”.19 Destaca que
os Sermões são um equívoco, pois “parecem bonitos quando se ouvem a primeira vez, mas,
quando se examinam de perto, não concluem nada”.20
Havia um grupo que publicaria uma obra póstuma de Antonio Vieira, Rhetorica
Sagrada, em 1745, editada por João Batista de Castro, para combater este novo modelo
retórico, proposto por Vernei, que alguns chamavam de “método francês”. Quem mais destaca
esta questão é Aníbal de Castro. Segundo o autor, o método formulado com regras baseadas
principalmente nos conceitos predicáveis21 - que se enquadra o de Vieira – foi chamado de
“método português” “para o opor a uma nova maneira de pregar – à francesa, quando a reação
anti-barroca encontra, para lá dos Pirineus, modelos diferentes, mais simples e de maior
proveito às almas”.22 De fato, estabelece-se uma guerra de retórica. A publicação de Vieira
teve apoio da Igreja, já a de Vernei sofreu com a proibição em um momento inicial.
18 SILVA, João Antonio. Os preceitos da retórica, e poética. Mafra: Real Colégio de Mafra, 1743. p. 14. 19 VERNEI, Luis Antonio. Verdadeiro Método de Estudar. Lisboa: Editora Verbo, 1965. p. 47. 20 VERNEI, Luis Antonio. Verdadeiro Método de Estudar. Lisboa: Editora Verbo, 1965. p. 47. 21 Segundo Aníbal de Castro conceito predicável “era uma sentença engenhosa tirada da Sagrada Escritura ou dos textos da Patrística, artificiosamente adaptada para servir de prova a determinada afirmação”. CASTRO, Aníbal Pinto de. Retórica e teorização literária em Portugal: do humanismo ao neoclassicismo. 2 ed. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2008. p. 132. 22 CASTRO, Aníbal Pinto de. Retórica e teorização literária em Portugal: do humanismo ao neoclassicismo. 2 ed. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2008. p. 139.
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Mas nessa guerra de retórica, qual seria melhor, o método português (defendido pelos
defensores de Vieira) ou o francês (defendido pelos aliados de Vernei)? Margarida Vieira
Mendes acredita que não era uma questão de método, até porque, havia elementos do francês
e do italiano no português e vice-versa. Era de fato a iminência de uma nova era
epistemológica, em que a semelhança para compreender a realidade não era mais convincente:
Vieira e Verney movimentam-se em dois horizontes epistemológicos inconciliáveis, dos quais o segundo, conhecido geralmente por cartesiano, viria finalmente a impor-se e a colocar definitivamente na penumbra arqueológica o discurso, o habitus, o mudus operandi e a mentalidade que o antecederam acabando por destruir a eloqüência sacra como formação discursiva.23
As críticas em relação à retórica tradicional se institucionalizam quando, em 1759, D.
José I, rei de Portugal, assinou o Alvará de Lei:
por que - como o apresentava a ementa preparada por Joaquim José Borralho, da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino - V. Majestade há por bem reparar os estudos das línguas latina, grega e hebraica, a arte da Retórica da ruína a que estavam reduzidos e restituir-lhes o antecedente lustre que fez os portugueses tão conhecidos na república das Letras, antes que os religiosos jesuítas se intrometessem a ensiná-los, abolindo totalmente as classes e escolas dos mesmos religiosos, estabelecendo no ensino das aulas e estudos das letras humanas uma geral reforma, mediante a qual se restitua nestes reinos e todos os seus domínios, o método antigo, reduzindo aos termos símplices e claros e de maior facilidade que atualmente se pratica pelas nações mais polidas da Europa. Tudo na forma acima declarada.24
Na segunda metade do século XVIII, consolidou-se em Portugal a corrente filosófica
do empirismo mitigado. Esta vertente visava combater o monopólio jesuítico respondendo às
necessidades do Estado e não do gênero humano. Reduziu a filosofia à ciência e esta à ciência
aplicada. Deste modo, a aritmética política do Marquês de Pombal estava vinculada a um
projeto no qual o Estado seria o grande empresário que, com o auxílio da ciência, garantiria a
riqueza da nação. Segundo Ricardo Vélez Rodriguez, “configurar-se-ia assim, sob Pombal,
uma forma de dominação patrimonial modernizadora ou, em outros termos, uma modalidade
de despotismo esclarecido”.25 Deste modo, Pombal torna-se o berço do ideal cientificista no
mundo luso-brasileiro que irá influenciar as gerações futuras.
23 MENDES, Margarida Vieira. A oratória barroca de Vieira. Lisboa: Caminho, 1989. p. 187. 24 ALMEIDA, José Ricardo Pires de. História da Instrução Pública no Brasil (1500-1889). Trad. Antônio Chizzotti. São Paulo, EDUC/ Brasília, INEP/MEC, 1989. p. 34. 25 RODRIGUEZ, Ricardo Véllez. Tradição e modernidade no mundo ibero-americano: o caso brasileiro. In: PRADO, Maria Emília. (org). Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-Americano. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. p. 67.
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No entanto, esta reforma encontrou uma solução eclética por meio da qual lidou com
os princípios da ciência e da filosofia não só em Portugal, mas na Península Ibérica. Segundo
Beatriz Helena Domingues, o ecletismo buscava a assimilação da “ciência moderna sem
contradizer a fé”.26 Uma conciliação entre física e teologia.
Podemos encontrar ecos do ecletismo no periódico oitocentista no Brasil na revista
“Minerva Brasiliense”, fundada em 1843 por Francisco Torres Homem, publicista importante
da época. Apesar de reconhecer que a Revolução Francesa deu “sinal de que uma grande
mudança se havia operado nas ideias dos povos”, observou que o empirismo materialista,
“que formava o alicerce do edifício filosófico do século XVIII”, foi combatido de forma
colossal pela “ciência da alma” de Kant e Hegel. Deixar Deus de fora das convicções morais
foi um grande erro, na visão de Torres Homem, da ciência do século XVIII. A força do
cristianismo supera a incredulidade e “o vazio horrível, que ela [a ciência materialista] deixara
nos corações”.27
O mesmo pode ser encontrado nas palavras do orador Manoel de Araujo Porto Alegre
no elogio aos sócios no sexto ano do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Segundo
Porto Alegre essa “empresa patriótica” tem seu início nos finais do século XVIII e promoveu
a “reação dos valentes idealistas, que combatem as doutrinas do ceticismo, deste cancro
horrível da sociedade moderna”.28
A língua vernácula adquire um espaço entre as atividades letradas revelando a
influência da retórica para o fortalecimento do conceito de nação moderna. Verney critica o
ensino jesuítico por ele não ter como fim o bem coletivo e por não usar a língua pátria:
Nesse sentido, a Retórica popularizaria o ensino de uma lógica que permitiria a expressão de opiniões na língua portuguesa e transportaria as prerrogativas do saber e do estudo para o cotidiano das pessoas, modificando o estatuto do saber e colocando num mesmo patamar – ainda que gradativamente – aqueles que ensinavam e aqueles que aprendiam.29
A retórica também ganha uma dimensão importante com o nascimento da opinião,
porque ela ajudava a falar com as próprias palavras e não a memorizar como os jesuítas. Em
1759 é escrito o “Alvará de regulamentos para os estudos menores das línguas latinas, grega e 26 DOMINGUES, Beatriz Helena. O medieval e o moderno no mundo ibérico e ibero-americano. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 20, pp. 195-216, 1997, p. 207 27 HOMEM, Francisco de Salles Torres. Introdução. Revista Minerva Brasiliense: jornal de sciencias, letras e arte. Rio de Janeiro, n 1, v.1, 1º de novembro, 01-05, 1843. p. 5. 28 PORTO ALEGRE, Manoel de Araujo. Elogio dos sócios do Instituto. In: R.IHGB, Rio de Janeiro, Tomo Sexto, Kraus Reprint, 1973. p. 36. (1844) Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1844t0006c.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015. 29 DURAN, Maria Renata da Cruz. Retórica à moda brasileira: tradições da cultural oral para a cultura escrita no ensino fluminense de 1746 a 1834. São Paulo: EdUnesp, 2013. p. 39.
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hebraica e da arte da retórica” que foi o ponta pé inicial para incutir a reforma na educação
lusitana. No mesmo ano, a 28 de junho, outro documento destaca a importância da retórica
para a sociedade, era as “Instruções para os professores de gramática latina, grega, hebraica e
de retórica, no campo dos estudos menores, ordenados e mandados publicar pelo Rei para uso
das escolas novamente fundadas neste reino e em seus domínios”. A retórica, neste
documento, é vista como sendo mais útil que a gramática. Segundo os autores deste decreto, a
clareza das ideias facilitava o funcionamento da sociedade. A comunicação entre o reino e as
colônias seria melhor, pois as normas ficariam mais claras com o aprimoramento da
retórica.30 Deste modo, a retórica continua tendo uma relação direta com o poder e se não
pode ser reconhecida com a principal protagonista das reformas na educação de cunho
iluminista no mundo luso-brasileiro, era o caminho por onde tudo deveria passar. Ecos do
Barroco e da cultura persuasiva.
O aspecto “nacional” da retórica deve ser levado em conta no Brasil também devido à
importância dada a disciplina no sistema educacional durante o século XIX. Para este caso,
são as Lições elementares de eloqüência nacional para uso da mocidade de ambos os
hemisférios de Francisco Freire de Carvalho que mais representa esta questão. Publicadas em
1834 esta obra uniformizou o ensino de Retórica no país. Nela a noção de Eloquência tem um
foco principal, pois ela trata “de todos os assuntos do discurso, sendo os de mais importância
os que tem por objeto o manejo ou direção dos negócios públicos, sobre estes é que se faz
mais ostensivo e importante o poder da Eloquência”.31
A retórica continua sendo um dos aspectos mais valorizados da manifestação pública.
No discurso político, científico e religioso, a composição dos argumentos era levada em conta
sendo tão importante quanto o conteúdo do discurso. Esta permanência da retórica como
carro-chefe da produção do saber é fruto de uma tradição que encontra nas estratégias
linguísticas e cênicas as bases de sua legitimação.
O mundo ibérico dos seiscentos assegura a manutenção das tradições medievais por
meio do Barroco, resistindo às transformações do norte europeu que, por sua vez,
desembocarão no individualismo e no utilitarismo do mundo moderno. Os resquícios deste
mundo tradicional irão permanecer na América Latina até mesmo após as independências
onde, segundo Richard Morse, as elites perderam suas bases morais legitimadoras e tiveram
30 DURAN, Maria Renata da Cruz. Retórica à moda brasileira: tradições da cultural oral para a cultura escrita no ensino fluminense de 1746 a 1834. São Paulo: EdUnesp, 2013. p. 48. 31 CARVALHO, Francisco Freire de. Lições elementares de eloqüência nacional. 2 ed. Lisboa: Tipografia Rollandiana, 1840. p. 14.
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que reconstruir por meio de qualquer aparência ideológica a cristalização de seu poder.32 De
acordo com Morse, a Península Ibérica, no século XVII, tentou resistir aos ventos da mudança
que anunciavam um mundo voltado para o individualismo, fruto de elementos contidos nas
Reformas Religiosas e na Revolução Científica. Estas duas revoluções, que seriam as bases
para a formação do mundo moderno, não atingem a Ibéria devido à grande acrobacia política
das elites que não queriam perder o poder escolhendo persistir com o empirismo medieval,
além da prática que visava à manutenção do Império sob a ótica da incorporação dos diversos
povos submetidos aos seus domínios.
A retórica teve uma missão fulcral. Segundo o próprio Mayer, “os bardos e fautores da
modernidade também recorriam a antigos tropos quando se tratava de justificar seu projeto e
torná-lo compreensível”.33 São estes “bardos e fautores” que irão se debruçar em construir os
diversos projetos de nação do mundo ibérico.
Em uma perspectiva política, esta herança está vinculada ao que Eric Hobsbawm
chamou de “invenção das tradições”. Quando um evento exige uma nova avaliação de si, a
estrutura deve ser reavaliada. As tradições inventadas aparecem neste instante, estabelecendo
uma continuidade artificial com o passado, de natureza ritual ou simbólica. Em situações
novas, elas assumem a forma de referência a situações anteriores para legitimar os interesses
defendidos em questão. Hobsbawm é enfático quando afirma que “houve adaptação quando
foi necessário conservar velhos costumes em condições novas ou usar velhos modelos para
novos fins”.34 Tais tradições, não obstante, servem para tornar o impacto das mutações menos
chocante e traumático. “Às vezes, as novas tradições podiam ser prontamente enxertadas nas
velhas; outras vezes, podiam ser inventadas com empréstimos fornecidos pelos depósitos bem
supridos do ritual, simbolismo e princípios morais oficiais – religião e pompa principesca...”35
Segundo o historiador britânico, o fenômeno nacional não pode ser adequadamente
investigado sem dar-se a atenção devida à “invenção das tradições”.
3. Os sócios do IHGB e a herança da facúndia
Adotando esta perspectiva, observamos que, no caso brasileiro, uma instituição
específica se dedicou a inventar tradições com o intuito de forjar as bases da nacionalidade: o 32 MORSE, Richard M. O Espelho do Próspero: cultura e ideias nas Américas. Trad: Paulo Neves. São Paulo: Cia das Letras, 1988. p. 55. 33 MAYER, Arno J. A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime. Trad: Denise Bottmann. São Paulo: Cia das Letras, 1987. p. 188. 34 HOBSBAWM, Eric. Introdução: A invenção das tradições. In: __________ e RANGER, Terence. (orgs.) A Invenção das Tradições. Trad: Celina Cardim Cavalcante. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 13. 35HOBSBAWM, Eric. Introdução: A invenção das tradições. In: __________ e RANGER, Terence. (orgs.) A Invenção das Tradições. Trad: Celina Cardim Cavalcante. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 14.
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Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tal associação erudita se empenhou em edificar as
bases legitimadoras do Império do Brasil por meio do cultivo sistemático da memória
nacional ao lado de outras instituições como Colégio Pedro II e o Arquivo Nacional.36
O IHGB estava dentro de um projeto político de extrema importância para as elites
que conduziram o processo de independência e queriam “a continuidade da ordem existente”.
O que ficou conhecido por “interiorização da metrópole” pela professora Maria Odila Silva
Dias foi um projeto adotado pelos “homens que forjaram a transição para o império”37
herdando todo um aparato tradicional. Por outro lado, essa herança exigiu a construção de
uma nação, com suas singularidades e glórias, fortificando, através dos símbolos, o que Ilmar
Mattos entende como o projeto de expansão para dentro do território.38 Deste modo, os sócios
do IHGB, ao lado de D. Pedro II, eram, ao mesmo tempo, “herdeiros” e “construtores” que
davam forma à monarquia constitucional, por meio de um empreendimento cultural que
visava atender pretensões políticas.
Herdeiro do século das luzes, o IHGB tinha a incumbência de propagar o
conhecimento e a razão, focando na missão de coligir, metodizar, arquivar e publicar
documentos para a escrita da história do Brasil. Por meio desta missão, seus membros se
envolveram no projeto monárquico de centralização política nos anos de 1840 que, através
dos seus discursos, perpassados por um grande teor retórico, e pelas atividades de coleção e
divulgação de documentos históricos, pretendiam legitimar o poder de D. Pedro II como
imperador filósofo e mecenas imprescindível para o progresso da nação.39 Permanece a
perspectiva barroca de um tutor, um protetor que conduz todos à prosperidade, um fenômeno
da cultura política ibérica que nem mesmo o cientificismo de Pombal conseguiu acabar.
Neste período inicial, o IHGB é frequentado por figuras políticas preocupadas em
forjar uma memória que não prejudicasse a sua própria imagem. Os anos de 1839 a 1849
foram os de uma “acumulação primitiva do capital arquivístico” em que uma seleção de
documentos foi edificada e aqueles considerados prejudiciais ao projeto político em questão
foram colocados na “arca do sigilo” com permissão de serem acessados apenas no futuro pelo
36 Cf. WEHLING, Arno. Estado, História, Memória: Varnhagen e a construção da identidade nacional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. pp. 33-34. 37 DIAS, Maria Odila Silva. A interiorização da metrópole. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.) 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1986. p. 180. 38 Cf. MATTOS, Ilmar Rohloff de. Construtores e herdeiros: a trama dos interesses na construção da unidade nacional. In: Almanack Braziliense, São Paulo, n 1, pp. 08-26, maio, 2005. p. 11. 39 GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Debaixo da Imediata Proteção Imperial: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). 2 ed. São Paulo: Annablume, 2011. p. 112.
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Tribunal da Posteridade.40 Em 1850, alguns documentos começam a aparecer, situação em
que a monarquia já se encontrava consolidada.
Havia uma quantidade expressiva de políticos na casa (15 dos 27 membros
fundadores) o que nos sugere que este período tenha sido o de maior intensidade retórica
destas elites para acomodar as suas intenções às circunstâncias políticas da época. A
professora Lucia Guimarães mostra que a “publicidade que a Revista deu à documentação do
passado remoto do Império traz as marcas da continuidade, da centralização e da
legitimidade”.41 Acreditamos que não só o processo seletivo da documentação mostrava este
intuito, mas os discursos, a composição argumentativa dos pronunciamentos dos sócios nas
cerimônias também. Por isto a primeira década do IHGB é tão importante.
Enquanto que no Portugal barroco de Vieira o caminho para a legitimação do poder
das monarquias eram os discursos proféticos, proferidos por padres e teólogos, no Brasil do
século XIX, por seu turno, inaugurava-se novas formas de legitimação do poder que iriam
influenciar a composição retórica para tal fim. A História passa a ser a razão pela qual se deve
dar a uns o direito de dominar e a outros o dever de obedecer. O que mostra o impacto de uma
nova episteme e do novo regime de historicidade inaugurado pela modernidade. A
institucionalização e a profissionalização da escrita da história nos oitocentos tinham como
tarefa a “construção” da nação em um contorno que visava desenvolver uma memória
coletiva, desenhando em seus horizontes objetivos funcionais. É o tempo da “história-
memória”, como mostra Pierre Nora.42 A nação, segundo Michelet, era o baluarte da
liberdade.43 Desta forma historiadores e outros letrados irão desempenhar um papel chave na
legitimação da ordem nacional.44 As fontes tornaram-se, deste modo, argumentos
selecionados que exibidas organizadamente pela narrativa revelavam-se como um recurso
retórico e, também, como prova científica45 de valor incontestável para o poder.
40 A “arca do sigilo” foi uma espécie de cofre-forte idealizado por Francisco Freire Alemão em 1847 que visava entesourar “(...) notícias históricas que alguém queira enviar, lacradas em cartas (...) que só serão abertas no tempo em que seu autor determinar”. GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Debaixo da Imediata Proteção Imperial: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). 2 ed. São Paulo: Annablume, 2011. p. 75. 41 GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Debaixo da Imediata Proteção Imperial: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). 2 ed. São Paulo: Annablume, 2011. p. 81. 42 NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto História 10, São Paulo, n 10, dezembro, 1993. p 10. 43 SMITH, Anthony. “O nacionalismo e os historiadores”. In: BALAKRISHNAN, Gopal (org.). Um Mapa da Questão Nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. p. 187. 44 IGGERS, Georg G. Nationalism and historiography, 1789-1996: the German example in historical perspective. In: BERGER, Stefan, DONOVAN, Mark & PASSMORE, Kevin (Editores). Writing national histories. London: Routledge, 1999. p. 20. 45 Aqui fizemos um trocadilho com uma passagem de um belo artigo de Lawrence Stone ao destacar que nos finais dos anos de 1970 a organização das fontes, no que enxergava como o retorno da narrativa, buscava colocar
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Os anos de 1840 são marcados pela busca dos altos escalões do regime monárquico
em consolidar a unidade nacional sob a égide de uma monarquia constitucional. O IHGB
estava totalmente envolvido neste projeto. E de certa forma sua posição permaneuceu
incólume por aproximadamente vinte anos, mas com o término da Guerra do Paraguai os
debates sobre centralização e descentralização retornam.46 Os republicanos ganham força a
partir de 1869 na opinião pública e o positivismo aparece como ideologia marcante. Os
membros do IHGB voltam as suas trincheiras com argumentos afiadíssimos defendendo a
monarquia e investindo intensamente na imagem de D. Pedro II como veremos nos capítulos
que se seguem.
A nosso ver, encontram-se no fato da cultura barroca ter como finalidade a persuasão
os motivos pelos quais seus resquícios tenham permanecido por séculos no mundo Ibérico,
em nosso caso, mais especificamente, no mundo luso-brasileiro. De fato, milhares de almas
foram convencidas por esta cultura. Isto porque a persuasão faz com que uma determinada
causa faça parte da crença dos indivíduos. Estes não são inclinados a defender algo porque
foram ameaçados ou pagos, mas porque foram persuadidos, e agem movidos pela crença.47
Por isto é tão difícil que uma causa, disseminada através da persuasão, dissipe-se ou
desmanche facilmente no ar. Torna-se sólida demais para isto. Sendo assim, os eruditos do
Império do Brasil, empenhados na missão de persuadir as elites políticas e letradas das
diversas partes do país de um projeto nacional voltado para a monarquia centralizada na corte,
se aproveitaram dos elementos dispostos, herdados pela tradição, que, por sua vez, eram em si
persuasivos. Ser persuasivo não era uma tarefa muito difícil para as elites culturais dos
oitocentos, porque, elas mesmas, já pertenciam a uma cultura marcada por estes aspectos. Já
estava consolidada uma estética receptiva, uma maneira compartilhada de receber a
mensagem.48
Como destaca Duran, os letrados do início do XIX, empenhados na missão de
construir uma identidade nacional pela imprensa, “como foram herdeiros de forte instrução
retórica houveram de passar algumas de suas artimanhas e cacoetes para a geração
as fontes como “um recurso retórico e não como prova científica”. STONE, Lawrence. “O ressurgimento da narrativa: reflexões sobre uma nova história”. Revista de História, Campinas, n 2/3, Unicamp, 1991. p. 35. 46 FERREIRA, Gabriela Nunes. Centralização e descentralização no Império: o debate entre Tavares Bastos e visconde de Uruguai. São Paulo: USP, 1999. p. 20 47 REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. Trad: Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. XV. 48 JAUSS, Hans Robert. A estética da recepção: colocações gerais. In: ___________ (et. al.) A Literatura e o Leitor: textos de estética da recepção. Coord. e trad: Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. pp. 45-46.
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vindoura”.49 E mesmo ao tentar inaugurar uma nova expressão cultural por meio do
romantismo e do historicismo, a retórica e a poética, oriundos e cristalizados pela cultura do
barroco, principalmente pelo padre Antonio Vieira, persistiram.50
Os próprios membros do IHGB se orgulhavam da tradição retórica da erudição
brasileira. Segundo Calos Honório Figueiredo, primeiro secretário interino do Instituto em
1876, comenta sobre a fundação da capela imperial por D. João VI, em seu relatório anual dos
trabalhos realizados pelo Instituto:
foi a arena onde se mostrou com toda a sua pompa o gênio brasileiro. Podemos afirmar com testemunhos valiosos, com todo o orgulho da verdade, que nenhum pregador transatlântico excedeu os oradores brasileiros. A riqueza da dicção reunia-se a pureza de estilo e força da argumentação; e, para que não faltasse uma só beleza, a doçura, a amenidade da expressão, aumentava os encantos e a magia da ação.51
Antes mesmo de Figueiredo, Joaquim Manoel de Macedo, no seu relatório de 1854,
destaca a mesma questão. Quatro padres, “oradores sagrados”, são elogiados pela eloquência
que “elevaram o púlpito brasileiro a altura, em que os Bossuet, os Bourdalou, e os Massilon
tinham deixado o púlpito francês”. São eles Caldas, S. Carlos, S. Paio e Monte Alverne,
“gênios da eloquência sagrada”.52
Voltando ao relatório de Figueiredo, mais a frente o secretário interino faz um elogio
ao trabalho do mesmo Joaquim Manoel de Macedo, destacando exatamente a habilidade
retórica do escritor, seguidor fiel dos preceitos de um dos ícones da retórica do mundo antigo:
um estilo terso e vernáculo, e alternativamente viril, suave, singelo e ornado das galas de esplendida imaginação, fazem adivinhar mais um livro de súbito valor (pela íntima afinidade da biografia referida com a história do país durante igual período de tempo), devido à conhecida proficiência daquele nosso laureado consócio, que em si realiza ou reúne o preceito de Quintiliano: ‘Vir bônus, dicendi peritus.’53
49 DURAN, Maria Renata da Cruz. Retórica à moda brasileira: tradições da cultural oral para a cultura escrita no ensino fluminense de 1746 a 1834. São Paulo: EdUnesp, 2013. p. 171. 50 SOUZA, Roberto Acízelo de. O Império da Eloqüência. Rio de Janeiro: EdUERJ/EdUFF, 1999. p. 29. 51 FIGUEIREDO, Carlos Honório. Relatório do 1º secretário interino. In: R. IHGB, Rio de Janeiro, Tomo XXXIX, vol. 2, Garnier, 1876, p. 482. Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1876t00392c.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2015. 52 MACEDO, Joaquim Manoel de. Relatório do 1º secretário. In: R. IHGB, Rio de Janeiro, Tomo XVII, vol. 17, Krauss Reprint, 1973 (1854), p. 26. Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/ rihgb1854t00017c.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2011 53 FIGUEIREDO, Carlos Honório. Relatório do 1º secretário interino. In: R. IHGB, Rio de Janeiro, Tomo XXXIX, vol. 2, Garnier, 1876, p. 490. Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1876t00392c.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2015.
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Assim como em Vieira, as lições dos antigos padres e dos antigos sábios são valiosas
para guiar os oradores na construção de um discurso adequado e condizentes com a nobreza
da missão patriótica do IHGB.
O próprio padre português é lembrado por Joaquim Norberto de Souza e Silva, já nos
últimos dias do Império, como uma voz eloquente da liberdade, potente, principalmente
porque proveniente do púlpito: “A colônia, apesar de escrava, tinha tido por três séculos a sua
voz eloquente e, o que mais é – voz livre, pois no púlpito – a única tribuna do país, - era dado
o extratagema de certas alegorias; pregava-se à vista de numeroso auditório – aos peixes!”54
Em outros casos, é claramente mostrado a importância da retórica para atrair os
brasileiros para a causa defendida pelo IHGB, principalmente a unidade ao redor da
monarquia constitucional. Januário da Cunha Barbosa em seu relatório de 1840 revela isto de
forma a lembrar Cícero: “Apenas soou nas Províncias do nosso Império a notícia da fundação
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, logo os seus literatos pareceram bradar com o
Orador Romano para assim melhor captarem a benevolência dos seus concidadãos”.55 583. É
pela retórica que se une e atrai as pessoas para a causa do Instituto.
No sermão da Sexagésima, Vieira fala da clareza do sermão:
As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há-de ser o estilo da pregação; muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem. O rústico acha documentos nas estrelas para sua lavoura e o mareante par sua navegação e o matemático para as suas observações e para os seus juízos. De maneira que o rústico e o mareante, que não sabem ler nem escrever entendem as estrelas; e o matemático que tem lido quantos escreveram, não alcança a entender quanto nelas há. Tal pode ser o sermão: - estrelas que todos veem, e muito poucos as medem.56
A comissão de geografia de 1840 composta por José Silvestre Rabello e Dr. Lino
Antônio Rabello, que julgava as reflexões de Nicolao Dreys sobre a província do Rio Grande
do Sul, fala da clareza que se deve ter ao se escrever a história:
54 SILVA, Joaquim de Souza e. Discurso de abertura. In: R.IHGB, Rio de Janeiro, Tomo XLIX, vol. 2, Lammert & C., 1886. p. 492. Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/ rihgb1886t00492c.pdf>. Acesso em: 12 ago 2015. 55 BARBOSA, Januário da Cunha. Relatório do secretário perpétuo. R.IHGB, Rio de Janeiro, 3 ed. Tomo II, Imprensa Nacional, pp, 582-603, 1916. p. 583. (1840) Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1840t0002c.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2015. 56 VIEIRA, Pe. Antonio. Sermão da Sexagésima. In: Sermões. Vol. I. Erechim: Edelbra, 1998. Disponível em: <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=36684>. Acesso em: 06 jan. 2014.
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O estilo do autor é em geral impróprio e empolado; e em vez de apresentar as suas descrições
simples e claras, de modo que parecesse ao leitor o estar vendo os lugares descritos, pelo
contrário, pelas palavras e frases que faz uso, o guinda, e eleva tão alto, que lá se perde na
região das nuvens, e fica sem entender o que leu.57
Deste modo, da mesma maneira que o sermão para Vieira, o conhecimento científico,
sendo histórico ou geográfico, não poderia ser propagado para as classes menos ilustradas,
(missão do Instituto) sem uma pedagogia em termos linguísticos; e até no IHGB (além da
exigência elocutiva dos juízos) ele era explanado “pela elegante locução do nosso benemérito
cônscio e secretário perpétuo o Sr. Januário da Cunha Barbosa”.58 Os trabalhos da “Casa da
Memória Nacional” chegavam ao conhecimento de todos pelos “Relatórios da elegante pena
do benemérito Secretário Perpétuo Sr. Cônego Januario da Cunha Barbosa”,59 a elegância ao
discursar, ao falar de algo tão primoroso como a nação, era sempre destacada. As pesquisas
eram anunciadas com todo um aparato retórico, “os primores do talento, que vão ser
explanados pela elegante locução do nosso benemérito Secretário Perpétuo, Fundador do
Instituto, o Sr. Januário da Cunha Barbosa”.60
Vieira também elogiava os antigos padres e santos pela eloquência que possuíam.
Como é o caso em relação a São João Crisóstomos quando pregou sobre a solidão:
O só na soledade nunca está só, porque Deus está com ele e ele com Deus. Profundamente São João Crisóstomo: Sendo este facundíssimo varão o mais eloqüente de quantos escreveram, e tendo composto um livro inteiro em louvor da soledade...61
O que nos fornece combustível para tal perspectiva é o fato de que para manter a
estrutura em que as elites proprietárias se sentiam confortáveis foi necessário forjar o novo, a
identidade nacional e seus mitos, por meio de elementos da tradição articulados no interior
57 Juízo sobre a obra intitulada Noticia Descriptiva da Provincia do Rio Grande de S. Pedro do Sul, por Nicolao Dreys. In: R.IHGB, Rio de Janeiro, 3 ed, Tomo II, Imprensa Nacional, pp. 99-105, 1916, pp. 99-100. (1840) Disponível em <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1840t0002c.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2011. 58 SÃO LEOPOLDO, Visconde de. Discurso de abertura. In: R.IHGB Rio de Janeiro, 3 ed, Tomo I, Imprensa Nacional, 1908. p. 212. (1839). Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1839t0001c.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011. 59 VIANNA, Cândio José de Araujo. Discurso de abertura. In: R.IHGB, Rio de Janeiro, 3 ed., Tomo V, Tipografia Universal de Laemmert & C. pp. 01-03, 1885. p. 2. (1843). Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/rihgb1843t0005c.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2011. 60 COUTINHO, Aureliano de Souza e Oliveira. Discurso d’abertura recitado pelo Vice-Presidente. In: R.IHGB, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 3 ed, Tomo II, pp. 574-582, 1916. p. 575. (1840). Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb/ rihgb1840t0002c.pdf>. Acesso: 12 mai. 2011. 61 VIEIRA, Pe. Antonio. Sermão da quarta dominga da Quaresma. In: Sermões. Vol. II. Erechim: Edelbra, 1998. Disponível em: <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=36665>. Acesso em: 06 jan. 2014.
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das práticas retóricas dominantes. A retórica foi o caminho para conciliar a tradição e a
modernidade no Império do Brasil. O próprio modelo, as peripécias da facúndia, a forma pela
qual esse projeto se constrói para se tornar persuasivo, se vale desta tradição. O novo é
forjado pelo velho, ou melhor, como a frase que conduz todo o filme de Luchino Visconti
baseado no romance O Leopardo de Guiseppe Tomasi di Lampedusa: “Se queremos que tudo
fique como está, é preciso que tudo mude”.
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